x seminário da francofonia - uefs 2013

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1 X Seminário da Francofonia: terras de exílio, terras de acolhida: identidades X Seminário Brasil-Canadá de Estudos comparados Sessão de comunicação E Diálogo entre Cultura e Imperialismo de Edward Said e a narrativa de O outro pé da Sereia de Mia Couto: militância política e crítica literária. Silvania Cápua Carvalho CUCA - Sala 02 -Feira de Santana 30 de maio 2013

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Diálogo entre Cultura e Imperialismo de Edward Said e narrativa de O outro pé da Sereia de Mia Couto: militância política e crítica literária. Silvania Cápua Carvalho (Mestre/UEFS) Resumo: Busca-se estabelecer um diálogo entre as considerações tecidas por Edward W. Said no livro Cultura e imperialismo e a escrita da literatura de matriz africana de Mia Couto no romance O outro pé da sereia. Nesse diálogo considera-se, sobretudo, a temática da diáspora em território africano. A primeira obra trata da luta do ativista palestino e, a segunda, a do moçambicano, com destaque para a sua militância política e literária. A escrita de sujeitos culturais híbridos revela-se, ao mesmo tempo, como semelhança e desafio para o leitor. Estudos sobre a nova expressão da Literatura Africana, cada vez mais consagram o escritor Mia Couto como intelectual de uma nova geração de autores responsáveis por congregar na sua escrita, análises originais e polêmicas de temas centrais da atualidade como hibridismo, pós-colonialismo, representação e nação. Palavras-chave: Cultura; Imperialismo; Militância Politica; Crítica Literária

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X Seminário da Francofonia: terras de exílio, terras de acolhida: identidades

X Seminário Brasil-Canadá de Estudos comparados

Sessão de comunicação E

Diálogo entre Cultura e Imperialismo de Edward Said e a narrativa de O outro pé da Sereia de Mia Couto:

militância política e crítica literária.Silvania Cápua Carvalho

CUCA - Sala 02 -Feira de Santana

30 de maio 2013

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X Seminário da Francofonia

Resumo:

Busca-se estabelecer um diálogo entre as considerações tecidas por Edward W. Said no livro Cultura e imperialismo e a escrita da literatura de matriz africana de Mia Couto no romance O outro pé da sereia. Nesse diálogo considera-se, sobretudo, a temática da diáspora em território africano.

A primeira obra trata da luta do ativista palestino e, a segunda, a do moçambicano, com destaque para a sua militância política e literária. A escrita de sujeitos culturais híbridos revela-se, ao mesmo tempo, como semelhança e desafio para o leitor.

Estudos sobre a nova expressão da Literatura Africana, cada vez mais consagram o escritor Mia Couto como intelectual de uma nova geração de autores responsáveis por congregar na sua escrita, análises originais e polêmicas de temas centrais da atualidade como hibridismo, pós-colonialismo, representação e nação.

Palavras-chave: Cultura; Imperialismo; Militância Politica; Crítica Literária.

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As palavras iniciais de Said em Cultura e Imperialismo

[...] objetivos deste livro, concentrei-me nas disputas efetivas pelas terras e pelos povos

dessas terras. O que tentei fazer foi uma espécie de exame geográfico da experiência

histórica, tendo em mente a ideia de que a terra é, de fato, um único e mesmo mundo, onde

praticamente não existem espaços vazios e inabitados. Assim como nenhum de nós está fora

ou além da geografia, da mesma forma nenhum de nós está totalmente ausente da luta pela

geografia. Essa luta é complexa e interessante porque não se restringe a soldados e

canhões, abrangendo também ideias, formas, imagens e representações (SAID, 2011, p. 39).

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A narrativa Coutiana destaca a importância do passado, dos ancestrais para a

continuidade de uma nação e sua cultura, podemos também encontrar esta

mesma necessidade de valorização do passado em Cultura e Imperialismo, já

que Said inicia sua escrita afirmando que:

A invocação do passado constitui uma das estratégias mais comuns nas interpretações do presente. O que inspira tais apelos não é apenas a divergência quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas também a incerteza se o passado é de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outras formas. Esse problema alimenta discussões de toda espécie — acerca de influências, responsabilidades e julgamentos, sobre realidades presentes e prioridades futuras( SAID, 2011, p.34).

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[...] Quem acha doce a terra natal ainda é um tenro principiante;aquele para quem toda terra é natal já é forte; mas é perfeito aquele para quem o mundo inteiro é um lugar estrangeiro. A alma tenra fixou seu amor num único ponto do mundo; a pessoa forte estendeu seu amor a todos os lugares; o homem perfeito extinguiu o seu.

Hugo de St. Victor, monge saxão do século XII, citado por Edward Said (COUTO, 2006, p.50).

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O sentido histórico, que é um sentido tanto do intemporal quanto do temporal, e do intemporal e do temporal juntos, é o que torna um escritor tradicional. E é, ao mesmo tempo, o que torna um escritor profundamente consciente de seu lugar no tempo, de sua própria contemporaneidade. Nenhum poeta, nenhum artista de qualquer arte, tem seu pleno significado sozinho (SAID, 2011 , p.35).

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A ideia principal é que, mesmo que se deva compreender inteiramente aquilo no passado que de fato já passou, não há nenhuma maneira de isolar o passado do presente (SAID, 2011, ,p.35).

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“A guerra nunca mais sairá de dentro de mim. Procuro esquecê-la, procuro que fique arrumada lá num canto, mas não é possível.”

Mia Couto

Disponível em: < http://rascunho.gazetadopovo.com.br/quando-o-sonho-encontra-a-palavra >. Acesso em: 28 mai de 2013).

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Em outras palavras, a história não é uma máquina de calcular. Ela se desdobra no espírito e na imaginação, e adquire corpo nas múltiplas respostas da cultura de um povo, a qual, por sua vez, é a mediação infinitamente sutil de realidades materiais,de fatos econômicos subjacentes, de ásperas objetividades. Basil Davidson, Africa in modern history. [A África na história moderna]. SAID, 2011, p.34.

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Silenciamento do personagem: Zero Madzero

A melhor maneira de mentir é ficar calado. Lição que o burriqueiro não aprendera com ninguém. O silêncio não é a ausência da fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra. Por isso, Madzero só falou quando a esposa deixou de lhe pedir para contar a história do astro. (COUTO, 2006, p14a).

As lágrimas de Mwadia, ao escutar o relato de seu marido, não resultavam do que ia dizendo. Comovia-a, sim, o simples fato de Zero Madzero falar. Desde há anos que a sua voz se tornara tão episódica como se ele estivesse existindo por conta de um outro que já vivera. O homem calava cobras e lagartos. No silêncio, Zero se embalava, feito um pêndulo, pontual para lá e para cá. (COUTO, 2006, p14b).

Ele era invisual para palavras. Preocupada, ainda pensou: farei com que se alimente melhor. Quem come pouco, fala pouco. O prato encheu-se, não se encheram as falas. Zero se aproximava do próprio nome: ele se anulava, em ocaso de si mesmo. (COUTO, 2006, p14c).

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, Silvania Capua. Narrativas da ancestralidade moçambicana: o mito feminino das aguas em 'O outro pé da sereia' de Mia Couto. Feira de Santana, BA, 2011. 169f Dissertação (Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural) - Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia. COUTO, Mia. O outro pé da sereia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.COUTO, Mia. Citação. Disponível em: < http://rascunho.gazetadopovo.com.br/quando-o-sonho-encontra-a-palavra >. Acesso em: 28 mai de 2013.HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomás Tadeu da Silva e Guaracira Lopes kouro. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras 2011, pp. 34 e 344.SAID, Edward Wadie. Biografia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Edward_Said>. Acesso em 29 de abril de 2013.OLIVEIRA, E. D. de. A Ancestralidade na Encruzilhada: dinâmica de uma tradição inventada. 252 f. 2001. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2001.OLIVEIRA, E. D. de. Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da educação brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007.

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Diálogo entre Cultura e Imperialismo de Edward Said

e a narrativa de O outro pé da Sereia de Mia Couto:

militância política e crítica literária.

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Silvania Cápua Carvalho.

Correio eletrônico: [email protected]