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IMPASSES NO ENSINO MÉDIO: jovens e o sentido da escola

Autora: Rosa Maria Pimenta Pedro¹ Orientadora: Profª Doutora Monica Ribeiro da Silva²

RESUMO

O presente artigo é resultado de uma investigação junto aos alunos do ensino médio, que buscou descobrir os motivos que levam os mesmos ao desinteresse e apatia tanto com relação aos conteúdos quanto ao sistema escolar. Percebeu-se que o desinteresse é resultado de diferentes motivos. Partiu-se para uma pesquisa junto aos alunos que investigou por meio de um questionário as prováveis causas. A partir dos resultados, realizou-se um trabalho com os professores e foram desenvolvidas atividades de aprofundamento sobre as relações interpessoais, as metodologias e a forma de conhecer melhor o adolescente para nortear o trabalho em sala de aula. As atividades foram desenvolvidas por meio de leituras de textos, debates e pesquisas de aprofundamento sobre diferentes metodologias e a relação professor/aluno. Procurou-se investigar com os alunos, o que realmente buscam na escola e propôs-se junto aos professores reflexões que levam a novas formas de interagir, com vistas a enfrentar os problemas mencionados e criar diferentes situações de aprendizagem que tornem o ensino mais significativo e a escola mais justa e atraente. Considerou-se que os resultados foram satisfatórios ao observar que mudanças positivas nas relações em sala de aula sinalizaram mudanças também, tanto na aprendizagem quanto no interesse dos alunos. Percebeu-se ainda, que por meio de pesquisas, leituras, troca de experiências enfim, de formação continuada, o professor passa a compreender a ação pedagógica como um todo, possibilitando as transformações necessárias em sua prática.

Palavras-chave: alunos; ensino médio; ação pedagógica.

¹ Pedagoga na rede estadual de ensino do Estado de Paraná desde 1987, e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – turma 2010, com lotação na Escola Estadual “São José”– Ensino Médio e Profissional–Lapa, Núcleo Regional área Metropolitana Sul de Curitiba. [email protected] ² Doutora em Educação: História, Política e Ciências Sociais pela PUC-SP. Professora na Universidade Federal do Paraná. [email protected]

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1 Introdução

O presente artigo trata de um trabalho desenvolvido junto aos alunos do

ensino médio, que teve como objetivo, investigar as causas dos problemas

relacionados à ação pedagógica que leva o aluno ao desinteresse e à apatia e

buscar entender as suas dificuldades em descobrir o que realmente esperam da

escola. O desinteresse é resultado de diferentes motivos, logo, partiu-se para uma

pesquisa, onde investigou-se por meio de um questionário as prováveis causas.

Concluída a primeira etapa de investigação, partiu-se para a pesquisa bibliográfica,

com a finalidade de proporcionar aos professores informações de autores que

sugerem um trabalho em sala de aula que seja mais significativo, onde pequenas

mudanças na forma de ensinar geram novas maneiras de aprender.

Embora esse tema seja muito discutido nas escolas, raras são as pesquisas

sobre o assunto. O impasse entre o que se ensina ao aluno e o que ele busca para a

vida e para o seu dia a dia encontra-se muito distante de nossa realidade. Por conta

disso, surge o desinteresse que torna as aulas cansativas e os professores e alunos

insatisfeitos. Com esse artigo, pretende-se descrever o desenvolvimento e a

aplicação dos conhecimentos adquiridos, desde a construção do projeto de

intervenção pedagógica elaborado no âmbito do PDE até sua implementação na

escola, finalizando com os resultados obtidos e sinalizando a continuidade do

processo de aprimoramento das ações pedagógicas, por meio da pesquisa.

O trabalho estrutura-se em três partes, sendo que na primeira apresenta

breve diagnóstico dos alunos por meio de pesquisa, na segunda parte apresenta-se

a elaboração teórica por meio de pesquisa bibliográfica e em seguida relata-se a

aplicação de atividades desenvolvidas com os professores no decorrer do projeto e

os resultados obtidos.

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1.1 Entendendo as causas do desinteresse dos alunos

Em busca de compreender as causas que tornam a escola desinteressante

ao aluno do ensino médio, realizou-se uma pesquisa para verificar que motivos

levam os mesmos a freqüentar a escola. Nas respostas, ficou evidente o que eles

esperam e ainda deixaram pistas imprescindíveis para que se possam rever as

ações da escola. Entre elas, a necessidade de transformação de suas vidas por

meio da educação, mesmo não tendo certeza se isso é possível. Destacaram-se

entre as principais respostas: o desejo de ter um bom emprego com salário justo;

vontade própria de aprender para superar as dificuldades em suas vidas; incentivo

dos pais para freqüentarem a escola e ter uma vida mais digna no futuro; o estudo é

o único meio de torná-los críticos para participarem das decisões da família e da

sociedade de forma mais consciente. Percebeu-se que a escola ainda é a esperança

de transformação dos sujeitos para terem uma vida digna. Então esse aluno, não

pode ser mais um número na sala de aula para fazer parte das estatísticas que

determina o grau de escolarização da sociedade. Ele deve ser parte do processo

educacional como sujeito que sabe o que quer. É possível a escola eximir-se de

suas obrigações, deixando de incluir esse aluno no processo de construção da sua

própria identidade? Se ele sabe o que busca, então porque é tão difícil ensiná-lo?

Ouvi-lo, seja talvez o primeiro passo para saber o que se pode fazer e por onde

começar.

Ao perguntar sobre as ações da escola que consideram atraentes,

destacaram-se as atividades práticas, em seguida a afetividade do professor, a

relação dos conteúdos com a realidade, orientações e alertas sobre drogas, gravidez

na adolescência e DST. Tais respostas acenam para a importância de aulas

criativas e comprometidas com os objetivos a serem atingidos, sem deixar de

ressaltar a singularidade da afetividade no processo das relações que se

estabelecem durante as aulas. A relação entre os conteúdos ensinados e os fatos

que acontecem no mundo está ligada ao grau de satisfação do aluno durante as

aulas, pois o que se associa ao concreto facilita a compreensão e dá autenticidade a

elaboração de novos conceitos. Destacou-se ainda a importância do professor

revisar os conteúdos antes de começar o próximo assunto, pois esse processo é o

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fio condutor que estabelece a relação entre a essência do que se aprendeu com a

compreensão e construção de novos saberes. Ficou também evidente a importância

do respeito na relação e a prática de gestos que fazem a diferença em cada aula,

como por exemplo: O professor cumprimentar os seus alunos de forma alegre e

respeitosa. Afinal, as palavras têm força tanto para construir uma relação saudável e

um ambiente aconchegante, quanto para transformar a sala de aula num local onde

a falta de respeito e profissionalismo tecem a teia da discórdia e desestabiliza as

relações. Conclui-se, que não se podem rotular alunos sem ouvi-los, sem conhecê-

los e ainda, não se deve acreditar que a ação pedagógica está fadada ao fracasso,

porém importa ter a coragem de reinventar todos os dias as ações que conduzem o

trabalho da escola.

1.2 Aprofundamento de estudo com os professores

Nesta etapa da pesquisa, os professores realizaram leituras e discussão

sobre idéias de autores já citados neste artigo, tomando como referência principal as

idéias de François Dubet1. Partiu-se da pesquisa feita com os professores para

saber quem são os seus alunos e o que buscam na escola, para o aprofundamento

teórico, por meio de leituras, análise e interpretação dos textos, para a exposição de

idéias que viabilizaram melhor compreensão da ação dos professores e a

reconstrução da relação entre professor/aluno. Dando continuidade ao

aprofundamento da questão, buscou-se averiguar junto aos professores, quem são

seus alunos? O que eles buscam e o que esperam da escola?

Dentre as respostas, afirmaram que “São pessoas como qualquer um que

apresentam problemas emocionais, financeiros e que vive hoje um mundo moderno

com mudanças em todos os aspectos”.

1 DUBET, F. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor. Revista Brasileira de Educação.

maio a dezembro de 1997. p. 222 – 231

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Entende-se que para ensinar esse aluno que é parte das mudanças que

acontecem de forma veloz e contínua, é preciso apropriar-se cada vez mais dos

conhecimentos que estão além dos currículos escolares.

“São adolescentes que querem chamar atenção o tempo todo, mas que

também querem aprender”. Dubet (1996), diz que “os adolescentes são hostis ao

mundo dos adultos e conseqüentemente hostis aos professores”. Desta forma, é

preciso reconstruir a cada dia a ação pedagógica, criar estratégias que facilitem a

relação com esse Ser, que não por acaso é nosso aluno.

Dentre as respostas encontramos ainda: “A maioria deles está sem

expectativas, desestimulados e poucos têm interesse em adquirir conhecimentos”;

“Muitos são dedicados e esforçados para entrar no mercado de trabalho com

sucesso”. Criar possibilidades para trabalhar com o desigual, incentivar a

participação dos que produzem independente da ação do professor e ao mesmo

tempo, buscar e estimular os que ficam pelo caminho, é tarefa árdua para o

professor. “Meus alunos são adolescentes que freqüentam o colégio na busca de

formação e orientação para exercer com dignidade seus direitos de cidadãos”. Logo,

despertá-los para enxergar e buscar novos horizontes, preparando-os para viverem

de acordo com as normas da sociedade e ainda produzirem conhecimentos que

possam torná-los independentes, é sem dúvida a função principal da escola.

Quando se perguntou: como o professor vê a relação com seu aluno, responderam

que: “Deve haver o máximo de respeito do professor com o aluno e do aluno com os

professores, isso às vezes não ocorre, gerando desentendimento”. “A relação

não deve ser imposição, mas sim de cooperação, respeito, diálogo, motivação. Mas

o relacionamento não pode ficar baseado somente na amizade e sim no

profissionalismo do professor e na relação de confiança e comunicação clara e

transparente entre ambos”.

Percebe-se que a relação pautada no respeito e profissionalismo é o caminho

para que o ensino/aprendizagem ocorra holisticamente, preparando o aluno para

novas aprendizagens. Destacou-se ainda que “pela idade deles, se não houver um

bom relacionamento, torna-se difícil trabalhar com esses adolescentes”.

Voltando a refletir sobre as experiências de Dubet, entendeu-se que primeiro

é preciso que o professor conheça seu aluno, conheça sua estória de vida, saiba

seu nome e o considere como alguém importante em sua ação profissional. A partir

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daí, reconstruir todos os dias a sua ação pedagógica. Assim a ação do professor,

deve ser linear e pautada em novas experiências, tanto educativas quanto humanas.

Perguntou-se aos professores sobre os conflitos em sala de aula, onde

obteve-se diferentes interpretações, mas todas apresentadas com muito

conhecimento e competência profissional. “Se o aluno não demonstra simpatia pelo

professor, terá dificuldades nos estudos”; “Com os alunos, tudo deve ser esclarecido

com muita franqueza. Quando acontece algo que fica mal resolvido gera

desinteresse e apatia. Tudo que ocorre em sala de aula deve ser resolvido

imediatamente, porém sem ferir o direito de ambos”;

Para compreender melhor, Charlot afirma que:

Os conflitos nascem quando o professor explica algo que não é compreendido. Ainda tranqüilo, e com outras palavras, ele explica de novo, e outra vez sem sucesso. Rapidamente, ele vai considerar o estudante um incapaz. O educador culpa o aluno, mas se sente fracassado também porque a turma não avança. O jovem, por seu lado, pensa que o professor não sabe ensinar. O clima fica tenso e uma coisa sem importância vira estopim para uma agressão verbal ou física. (Charlot, 2010)

Com isso, percebeu-se que se ao invés de trabalhar de forma descontínua,

mobilizar o jovem, desafiando-o a reescrever o aprendido de forma a ampliar o seu

universo de conhecimentos. Discutir com ele o novo, o desconhecido e propor

diferentes formas de buscar aperfeiçoar seus conhecimentos, certamente provocará

transformações na forma de pensar e conseqüentemente na forma de agir e viver.

Ainda sobre as citações, os professores afirmam que: “Ninguém consegue

aprender em meio a conflitos e intrigas”; “É essencial o entrosamento entre

professor e aluno para que as aulas se tornem mais atraentes”; “O ser humano é

movido a sentimentos, e isso influência a relação em sala de aula e

conseqüentemente na sociedade”. Por conta de tais reflexões, percebe-se que a

sala de aula é um local destinado a produção do saber científico, no entanto, antes

de formar o professor para ensinar conteúdos é preciso investir na formação do

indivíduo para “ser professor”. Pois se vê em nossas salas de aula, pessoas

formadas em universidades que não sabem se relacionar com o objeto de seu

trabalho que é “o aluno”. Ser professor é ter a compreensão de que ensinar vai além

de dominar conteúdos e que sua ação deve pautar-se na ação/reação.

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Perguntou-se: Como se preparar para lidar com o aluno que temos hoje e que

fazem parte da geração tecnológica? As respostas demonstraram informação e

responsabilidade dos professores na tarefa de ensinar x aprender. “Procurar

diversificar a maneira de trabalhar os conteúdos, procurando estar sempre

atualizado para debater com os alunos diferentes assuntos da atualidade”;

“Estarmos preparados para utilizar a tecnologia a nosso favor e em benefício aos

alunos, porém sem deixar de valorizar a leitura e a pesquisa nos livros”; “Enriquecer

as aulas com o uso adequado do laboratório de informática”; ”Aperfeiçoar-se nesta

área e ver na tecnologia um grande aliado na aprendizagem do aluno”. Percebeu-se

que o professor, vê nesse novo aluno, uma forma de repensar sua prática, fazendo

uso dessa nova técnica de comunicar-se com o mundo. Aperfeiçoar - se

continuamente para poder entender e ensinar de forma facilitada e renovada. Dando

continuidade a investigação, realizou-se um debate com os professores sobre os

seguintes questionamentos: Qual a causa do desinteresse dos alunos em suas

aulas? Os conteúdos e as disciplinas estão interligados de forma a dar idéia de

continuidade na construção do conhecimento? Conteúdos fragmentados são

capazes de proporcionar desejo de aprender ao aluno? Explicitou-se nos debates

com os professores que os motivos são externos e conseqüentemente internos a

escola, pois a desestruturação familiar, as condições sociais adversas, a falta de

limites e o desrespeito são fatores predominantes externos que influenciam a ação

pedagógica. Ainda outros importantes fatores influem na sala de aula, tais como: a

falta de compreensão do aluno sobre a ligação entre as disciplinas, o

desconhecimento, muitas vezes do professor sobre a continuidade e a aplicação de

tais conhecimentos. Observou-se que há incertezas que propiciam desinteresse e

apatia tanto do aluno quanto do professor. Conclui-se que as mudanças

necessárias devem começar pela valorização dos profissionais da educação e pela

formação adequada para todos aqueles que desejam ser educadores.

Na seqüência dos trabalhos realizados com os professores, apresentou-se o

filme: Escritores da Liberdade, seguido de um debate sobre o mesmo. Percebeu-se

a luz do debate sobre a maneira como a professora conduziu a turma,

transformando ações negativas com incentivo e valorização dos alunos, que a

educação é o caminho para a transformação tanto do sistema escolar vigente

quanto da sociedade. Observou-se ainda que as transformações acontecem a partir

de esforço e muita dedicação, pois se o caminho a percorrer apresenta oscilações é

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preciso primeiro detectar e corrigi-lo para depois então seguir a caminhada com

segurança e atingir o destino almejado. É pertinente ressaltar que nem sempre o

currículo formal atende as expectativas na sala de aula e que o professor precisa

estar preparado para criar novas situações a partir de um currículo real que é

vivenciado exclusivamente na sua ação e no dia-a-dia com seus alunos. Percebeu-

se que a professora domina tanto o currículo formal onde ensina os seus alunos

como também conhece como ninguém o que deve ser feito quando esse se torna

inoportuno. Percebeu-se ainda que a atitude da professora obteve sucesso porque

foi planejada com o objetivo de transformar as mentes, dando-lhes oportunidade de

produzirem suas próprias estórias.

1.3 O ensino médio e seus alunos

As transformações que ocorrem na sociedade interferem no contexto escolar

e com isso exige novos olhares sobre os conteúdos, que vão além da “decoreba”

apenas para tirar notas nas provas e atingir a média estipulada para a aprovação.

Considerando o aluno como foco principal no processo entre a organização escolar

e a relação que esse estabelece com o saber, é necessário um conhecimento desse

indivíduo, para poder dialogar e tornar a relação mais concreta. Ao concluir o ensino

médio, inúmeras dúvidas persistem em relação à escolha do curso, ao vestibular e a

incerteza sobre sua formação acadêmica que transforma principalmente o último

ano em uma verdadeira angustia. Compreender o jovem e proporcionar uma

caminhada segura na busca de seus objetivos é função determinante ao professor,

nessa fase tão complexa na vida de seu aluno. Também é necessário lembrar as

dificuldades que este encontra ao chegar ao ensino médio em idade onde as

alterações hormonais, as paixões que envolvem seus sentimentos e as dúvidas que

rondam sua cabeça, são as principais preocupações. Esses problemas próprios da

adolescência, como afirmou Dubet (1997) tornam os jovens “hostil ao mundo dos

adultos, hostil aos professores”. Desta forma, surgem as dificuldades na relação

professor/aluno e logo, a necessidade de reinventar a cada aula a maneira de se

relacionar e ensinar esse aluno. Ao entrar na escola, o jovem busca novas formas

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de aprender e sistematizar o saber, porém além de trazer conhecimentos que

adquiriu antes de freqüentar a mesma, ele continua a aprender no dia a dia com o

meio em que vive. Essas experiências não devem ser ignoradas, pois elas são a

base para a interação entre o aluno, a escola e a construção do saber.

Compreendeu-se que as explicações sobre o fracasso escolar, emitidos pela

escola, parecem simples, porém de difícil compreensão ao aluno. Ao afirmar que o

aluno foi mal na prova porque não estudou, não aprende porque não presta atenção

na aula, não entendeu a explicação porque estava mexendo no celular, não se

concentra por isso não aprende,acaba determinando em meio a tantos “nãos” que a

culpa pelo fracasso é simplesmente do aluno. Talvez fosse coerente, investigar os

motivos pelos quais esse conteúdo não foi assimilado e criar novas estratégias para

melhorar o desempenho do aluno e facilitar o trabalho do professor. Antes do ensino

sistematizado, a escola deve se preocupar com a maneira que trata esse aluno

como cidadão. É necessário deixar evidente que se de um lado o aluno tem seus

direitos e deveres, do outro lado o professor também tem direitos e deveres.

os alunos têm o dever de entregar os trabalhos na data prevista, mas é preciso que os professores tenham o dever de entregar as correções na data prevista. Por exemplo, os alunos têm o dever de não xingar os professores: a recíproca também tem de existir. (Dubet, 1997, p. 227).

Desta forma o aluno vai entender que a cidadania escolar está ligada a

sociedade, onde há regras que devem ser respeitadas reciprocamente e que o que

se aprende na escola, está relacionado com a vivência nos grupos sociais. O

aprendizado amplia horizontes, cria possibilidades de lidar com o novo, com o

desconhecido. Diante das análises feitas no aprofundamento teórico, percebe-se

que para aprender é preciso saber explorar o que já se conhece, transformar essa

informação em conhecimento e ainda, saber usar o que aprendeu em diferentes

momentos. Compreendeu-se que é possível que o adolescente se sinta frustrado

toda vez que não entende para que serve o que a escola lhe ensina e quando vai

usar esses conhecimentos. Ele tem em sua essência a condição de ser imediatista,

quer tudo rápido, não se prende a conceitos e realiza qualquer atividade com a

mesma habilidade. Pergunta-se: A escola está preparada para trabalhar com o aluno

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contemporâneo? De que forma ela se organiza para ensiná-lo a aprender? Diante de

tais questionamentos, percebeu-se que o aluno tem que dominar o aprendido e o

sistema escolar deve oportunizar momentos para que o mesmo compreenda o que

se aprendeu e forme o pensamento crítico. Sabe-se que a escola enfrenta inúmeros

problemas e precisa tornar a ação pedagógica coerente, atraente e significativa para

esse aluno que busca a cada dia algo que seja concreto e faça a diferença em seu

viver. Sentiu-se que a escola precisa rever seus conceitos e partindo de uma análise

sobre o que realmente é importante ensinar, construir programas que direcione a

sua ação e que venham atender as necessidades básicas dos estudantes do ensino

médio. Percebeu-se que as indicações da pesquisa realizada com os alunos, foram

fundamentais para compreender que eles, embora não sabendo o que realmente

buscam, deixam claro que a escola “é necessária” mesmo com suas mazelas. Para

Dubet (1997), é preciso que a escola reconheça que a vida adolescente se insere

nesse contexto e que deve ser tratada em sua especificidade de maneira natural,

proporcionando diferentes formas de participar das atividades, porém sem deixar de

seguir regras que os eduquem. No ensino fundamental, a criança ainda está

envolvida pela sensibilidade do mundo que a cerca, da maneira espontânea de se

relacionar com as pessoas. Por isso é mais fácil tratar e se relacionar com esse

aluno. No ensino médio, a fase da adolescência torna-o mais egocêntrico e menos

sensível ao mundo e as coisas ao seu redor. Por conta disso, torna-se mais difícil

conviver com esse ser em transformação e ainda usar a metodologia certa para

ensiná-lo.

1.4 Encaminhamentos para reestruturar a prática em sala de aula

O primeiro passo a destacar, refere-se à relação professor/aluno.

Compreende-se que Alguns encaminhamentos seguem como meio para a

reestruturação da prática em sala de aula, tais como: Conhecer melhor o aluno para

ensiná-lo a aprender; ouvi-lo para colocá-lo como prioridade em sua ação

pedagógica; Não deixar que a rotina se instale em suas aulas, utilizando-se de

diferentes metodologias; engajá-lo em atividades que facilitem a sua compreensão

em diferentes conteúdos; incentivar pesquisas e debates onde o aluno possa expor

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suas idéias, percebendo que há diferentes maneiras de interpretar; fortalecer a

participação na sala de aula, demonstrando que o respeito na relação facilita a

compreensão e a construção do saber. Discutiu-se com os professores, tais

alternativas, para sinalizar quais mudanças são necessárias para fortalecer a

relação professor/aluno e como reestruturar a prática pedagógica para trabalhar com

esse aluno que ora se apresenta em nossa escola. Observou-se que o ato de

ensinar requer conhecimento, porém o mais importante é dominar a arte de envolver

e interessar o aluno no que se está ensinando. É saber transformar a mera

transmissão em algo maior, que dê ao mesmo a certeza de que a aprendizagem

está relacionada ao ato de viver, de transformar conceitos, de compreender o mundo

a sua volta e conquistar a cidadania para se inserir na sociedade conhecedor de

seus direitos e deveres. É possível ensinar sem provocar, sem inquietar-se, sem

desconstruir velhos paradigmas?

Torna-se importante ressaltar que os encaminhamentos são sugestões que

tem como objetivo melhorar a relação entre professor/aluno e nortear o trabalho para

minimizar as dificuldades encontradas no dia a dia em sala de aula, contribuindo

assim para uma melhor aprendizagem.

2 Como recuperar o interesse do jovem pela escola?

Considerou-se que mudanças são necessárias para reverter a situação atual

e resgatar o sentido da escola.

Com o surgimento da tecnologia, o interesse do aluno pela escola passa a

ocupar o segundo plano. Enquanto estes interagem com os amigos virtuais,

resolvem situações problemas “num passe de mágica” nos jogos virtuais. Na sala de

aula, demonstram apatia às aulas monótonas e repetitivas que não oferecem

desafios e aos conteúdos que se apresentam de forma desconexa, muitas vezes

sem nenhuma relação com a sua realidade e com as diferentes disciplinas.

Desta forma, o aluno não consegue conectar-se ao que a escola ensina e

com isso, acumulam-se motivos que tornam a rotina escolar em algo sem sentido e

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desinteressante. De acordo com Menezes (2012) “a apatia em crianças e jovens não

é natural e inviabiliza nosso trabalho, já que ninguém aprende se estiver

desinteressado”. De nada adianta o desconforto dos professores e da escola diante

da situação, pois quando se fala no assunto faz-se a crítica sem aprofundamento

sobre os motivos que estão levando os alunos a agirem dessa forma. Comentários

que se multiplicam nos conselhos de classe, transformam o assunto em mera

discussão, ao invés de buscar resolvê-lo por meio do diálogo e da investigação

permanente.

Para Charlot (2010), “há duas línguas faladas na escola: a dos professores e

a dos alunos”. Entre a lógica que direciona a atividade do professor e a do aluno, há

um grande abismo que separa esse universo. Por conta dessa dicotomia, Charlot

exemplifica o surgimento do conflito na sala de aula:

Os conflitos nascem quando o professor explica algo que não é compreendido. Ainda tranqüilo, e com outras palavras, ele explica de novo, e outra vez sem sucesso. Rapidamente, ele vai considerar o estudante um incapaz. O educador culpa o aluno, mas se sente fracassado também porque a turma não avança. O jovem, por seu lado, pensa que o professor não sabe ensinar. O clima fica tenso e uma coisa sem importância vira estopim para uma agressão verbal ou física. (Charlot, 2010)

A forma como a escola conduz suas atividades, foge às expectativas do aluno

porque ele tem necessidades que são intrínsecas a idade e ao momento presente,

como destaca Charlot: “ir à escola para comer, namorar e brincar”. Com isso, tanto

a escola quanto os educandos produzem diferentes discursos que acabam

descaracterizando o real papel que a mesma deve desempenhar.

Ao invés de trabalhar de forma descontínua, mobilizar o jovem, desafiando-o

a reescrever o aprendido de forma a ampliar o seu universo de conhecimentos.

Mesmo sabendo que o aluno freqüenta a escola, muitas vezes por obrigação,

é necessário discutir com ele o que significa estudar; deixar claro os motivos pelos

quais ele deve freqüentar a escola; discutir com ele o novo, o desconhecido e

esclarecer que toda situação nova nos causam ansiedade e geram crises, porém

estas são necessárias para que haja mudanças em nossas vidas.

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A formação do aluno jamais acontecerá pela assimilação de discursos, mas sim por um processo micro-social em que ele é levado a assumir posturas de liberdade, respeito, responsabilidade, ao mesmo tempo em que percebe essas mesmas práticas nos demais membros que participam deste microcosmo com que se relaciona no cotidiano. (Gallo, 2000, p.21)

Sendo assim, a formação do aluno se dá não pelo discurso do professor, mas

pela forma como este o instrumentaliza a assumir novas posturas na relação com os

outros. A relação que se estabelece em sala de aula é singular no processo de

construção do conhecimento. É por meio da observação de posturas adequadas do

professor e do comprometimento deste, que o aluno percebe a importância de

aprender a cada vez que é instigado a participar das aulas, a assumir com clareza

as novas formas de conviver socialmente e de produzir o próprio saber.

Logo, o modo com que o professor “domina o conteúdo e conduz o processo

de transmissão”, está diretamente ligado ao sucesso ou ao fracasso na formação

integral do aluno.

Para formar integralmente o aluno não podemos deixar de lado: nem a sua instrumentalização, pela transmissão dos conteúdos, nem a sua formação social, pelo exercício de posturas e relacionamentos que sejam expressão da liberdade, da autenticidade e da responsabilidade. (Gallo, 2000, p. 20).

Segundo Gallo, se os conteúdos baseiam-se em instruções que orientam o

ensino, a forma como se ensina, denomina-se método. Por isso o currículo deve

deixar claro “o que se ensina e como ensinar”.

O desinteresse pela escola é histórico e surge a partir do momento em que o

saber passa a ser desmembrado em áreas específicas para dar conta dos novos

desafios de ensinar. Com isso, os conhecimentos que buscavam apenas explicar a

realidade, passaram a ser mais profundos e produzidos a partir das ciências.

Certamente o papel da escola, tanto na formação integral do aluno quanto na

produção de novos saberes, deve pautar-se na organização permanente dessa arte

que é capaz de transformar a humanidade. Não deve, no entanto, deixar de usar a

magia e o poder de sedução, para despertar no aluno o desejo de aprender e recriar

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velhos conceitos, construir novas formas de entender as transformações que

ocorrem e que tornam as relações humanas mais significativas.

Finalizando o trabalho com os professores2, realizou-se debates sobre as

idéias e as sugestões de mudanças na forma de ensinar para que o aluno aprenda.

O que se observou durante o debate foi imprescindível para a conclusão do

trabalho realizado com os professores. Dentre as observações, destacou-se que o

desencanto começa quando o aluno “não aprende” e continua quando este não sabe

para que serve o que ele “aprende” na escola. Logo, direcionar as ações, mostrando

ao aluno a importância de sua participação nas decisões coletivas, torna-o capaz de

compreender que a escola não tem apenas o objetivo de transmitir conhecimentos

sistematizados, mas de elaborar com o educando o conhecimento que esta

transmite, preparando-o para viver num universo mais amplo e complexo que

denominamos de “sociedade”. Percebeu-se que dar continuidade aos conteúdos e

comparar com outras disciplinas o que se aprende, facilita a compreensão e o

estimula a aprofundar seus conhecimentos nas diferentes áreas. Dentre as

sugestões de mudanças, percebeu-se que a sala de aula é um local que não pode

virar rotina e como cita Dubet, a ação pedagógica deve ser reinventada a cada aula.

Dessa forma, o professor deve estar em formação constante e buscar sempre novas

metodologias que venham atender a diversidade em cada sala e em cala aula

ministrada. Ficou evidente que o trabalho do professor é árduo e pouco valorizado,

porém quem a ele se dedica deve ser um pesquisador incansável e que esteja

atento as mudanças que ocorrem e que modificam a humanidade.

Percebeu-se por meio da pesquisa que o jovem embora se encontre-

deslumbrado com a evolução da sociedade e da tecnologia, ainda acredita que

mudanças importantes podem ocorrer em suas vidas a partir de uma boa formação

escolar. Esse conceito é o diferencial que se percebe ao questionar os jovens sobre

o futuro.

2 Com a finalidade de aprofundamento teórico e metodológico foram feitas as seguintes

leituras: Simões, Carlos Artexes. Juventude e iniciação científica. Políticas públicas para o ensino

médio. Organização: Ferreira, Peres, Braga e Cardoso. Editora: MCE gráfica e Editora (2011).

Spósito, Marília Pontes: (Des) encontros entre os jovens e a escola. Ensino Médio, ciência, cultura e

trabalho (2004, p. 73-91). Menezes, Luiz Carlos de. Alunos Apáticos, Escola Idem. (Entrevista

concedida a revista Nova Escola. Maio, 2010) Dubet,Francois. Quando o sociólogo quer saber o que é

ser professor. Revista Brasileira de Educação: maio a dezembro de 1997. P. 222-231.

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3. Considerações Finais

O estudo demonstrou de forma relevante, que não se pode mais aquietar-se

diante dos problemas educacionais. É preciso que todos os sujeitos envolvidos no

processo busquem conhecer os fatos que ocorrem e as transformações que alteram

constantemente a ação da escola. Desta forma, este trabalho pretendeu investigar

as causas do desinteresse do aluno do ensino médio pela escola e partindo da

investigação, desenvolveu junto aos professores, trabalhos para aprofundamento

teórico e metodológico. Percebeu-se, por meio dos trabalhos realizados com

professores e alunos que é possível reconstruírem a forma de ensinar e aprender.

Dessa maneira, é preciso que o professor conheça seu aluno, conheça sua

história de vida, saiba o seu nome e o considere como alguém importante em sua

ação profissional. A partir daí, reconstruir todos os dias a sua ação pedagógica. Se

o sucesso do ensino é medido pelo desempenho de seus alunos, é imprescindível

que o professor esteja ciente de suas responsabilidades enquanto mediador na

construção do conhecimento. Na educação, nada há de mais importante do que a

ação do professor em sala de aula. É por meio de sua ação consciente que ele

orienta e direciona as formas como o aluno deve apropriar-se do conhecimento.

Além disso, ainda deve mostrar ao aluno como fazer uso desse conhecimento,

aplicando-o corretamente nas diferentes situações e em diferentes contextos.

Os conflitos que existem na sala de aula, interferem diretamente na

aprendizagem do aluno e isso torna a ação pedagógica ineficiente. Todavia, sabe-se

que esses conflitos surgem por algum motivo e a única forma de resolvê-los é por

meio do diálogo, do respeito mútuo e do comprometimento do professor em

continuar a aprender sempre para ensinar melhor. Observou-se que ao invés de

trabalhar de forma descontínua, a escola deve mobilizar o jovem, desafiando-o a

reescrever o aprendido de forma a ampliar o seu universo de conhecimento.

Discutir com ele o novo e propor diferentes formas de buscar conhecimentos para

que isso provoque transformações na forma de pensar e também na forma de viver.

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Por conta disso, percebeu-se que uma das maneiras de mudar esse cenário

educacional, é investir na formação do indivíduo para ser professor, pois há

profissionais formados, que entram na sala de aula sem ter aprendido como se

relacionar com as pessoas, no caso, com os alunos. Não sabem que ser professor

vai além de dominar o conteúdo a ser ensinado... É preciso ter a compreensão de

que ensinar é tarefa difícil que deve ser reinventada a cada aula. Algumas

características são imprescindíveis ao professor: Gostar das pessoas e saber

conviver com elas; ter domínio de conteúdos e das formas de ensinar; acreditar que

suas ações em sala de aula induzem o aluno tanto ao sucesso quanto ao fracasso;

Ter ciência de que ensinar requer força de vontade, dedicação e conhecimento; Ser

um pesquisador incansável que rejeite respostas prontas, mas que saiba conduzir

seu aluno a buscá-las; Ter domínio emocional e saber lidar com reações adversas;

Oportunizar momentos de reflexões sobre o que se ensinou para que o mesmo

compreenda e forme o pensamento crítico...

Considerou-se que a formação do professor (de outras disciplinas) deveria

seguir as normas do curso de pedagogia para dotá-los de métodos e técnicas que o

ajudasse a se identificar com o seu fazer em sala de aula.

O que pode ser observado é que outra forma de minimizar a crise que

vivemos atualmente na educação será: Reconstruir a relação professor/aluno, pois

essa se encontra em conflito; Conhecer melhor o aluno, saber quem ele é e o que

busca na escola; Preparar-se para poder trabalhar com esse aluno da geração do

imediatismo; Saber fazer a diferença em suas aulas; Repensar um currículo que

ensine coisas concretas e que aponte ao aluno, o caminho a percorrer na busca pelo

saber; Buscar sempre transpor o conteúdo ensinado para a realidade do mesmo,

fazendo perceber que o que se ensina na escola está relacionado com a sua vida.

Observou-se na produção deste trabalho, que há muito que se construir,

porém cada pequena ação realizada com dedicação e competência é capaz de

transformar a realidade definitivamente. Na educação, a transformação se faz ao

caminhar. É no ensinar e no aprender que se constroem as grandes mudanças,

porém é preciso que cada professor busque a formação integral e transmita ao

aluno, além dos conhecimentos a esperança de que o mundo será melhor e mais

justo somente por meio da superação da ignorância.

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Referências

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CHARLOT, Bernard. O conflito nasce quando o professor não ensina. Nova Escola. fev. 2011.

DUBET, Francois. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor. Revista Brasileira de Educação: maio a dezembro de 1997. p. 222-231.

DUBET, Francois. O que é uma escola justa? Cadernos de pesquisa, vol. 34, n. 123, p. 539 a 555, set./dez. 2004.

FRIGOTTO, Gaudêncio e Maria Ciavatta (org.) Ensino médio: ciência, cultura e trabalho. Brasília: Mec, Semtec, 2004.

GALLO, Silvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não disciplinar. In: ALVES, Nilda (org.). O sentido da escola. DP&A Editora: Rio de Janeiro, 2000.

Gestão da Escola Pública. Caderno 1: Gestão da escola pública. Angelo Ricardo de Souza, Andréa Barbosa Gouveia, Monica Ribeiro da Silva, Sonia Fátima Schwendler. Curitiba: Editora da UFPR, 2005.

GIANCATERINO, Roberto. Escola, professor, aluno: os participantes do processo educacional. São Paulo: Madras, 2007.

KUENZER, Acácia Zeneida. Ensino Médio e Profissional: as políticas do estado neoliberal. São Paulo: Cortez, 1997.

MENEZES, Luiz Carlos de. Alunos Apáticos, Escola Idem. (Entrevista concedida a revista Nova Escola. Maio, 2010).

SIMÕES, Carlos Artexes. Juventude e iniciação científica. Políticas públicas para o ensino médio. Organização: Ferreira, Peres, Braga e Cardoso. Ed. MCE gráfica e Editora (2011).

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SPÓSITO, Marília Pontes. (Des) encontros entre os jovens e a escola. Ensino Médio, ciência, cultura e trabalho (2004, p. 73-91).