impactos jurídicos da tipificação do contrato

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO BRUNO BALTIERI DARIO Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração no Brasil: o caso do setor avícola Ribeirão Preto 2018

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Page 1: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO

BRUNO BALTIERI DARIO

Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração no

Brasil: o caso do setor avícola

Ribeirão Preto

2018

Page 2: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
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BRUNO BALTIERI DARIO

Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração no

Brasil: o caso do setor avícola

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Direito da Faculdade de Direito de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Mestre em Ciências. Versão

original.

Área de concentração: Desenvolvimento no Estado

Democrático de Direito

Orientador: Profa. Dra. Flavia Trentini

Ribeirão Preto

2018

Page 4: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca

e Seção Técnica de Informática da FDRP/USP,

com os dados fornecidos pelo autor

D218i

Dario, Bruno Baltieri

Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de

integração no Brasil: o caso do setor avícola / Bruno Baltieri Dario;

orientadora Flavia Trentini. -- Ribeirão Preto, 2018.

336 p.

Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Direito)

-- Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, Universidade de São

Paulo, 2018.

1. CONTRATO AGROINDUSTRIAL DE INTEGRAÇÃO. 2.

AVICULTURA. 3. DIREITO AGRÁRIO. I. Trentini, Flavia, orient.

II. Título

Page 5: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

FOLHA DE APROVAÇÃO

Nome: DARIO, Bruno Baltieri.

Título: Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração no Brasil: o

caso do setor avícola.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade

de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre

em Ciências - Área de Concentração: Desenvolvimento no Estado Democrático de Direito.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: _________________________ Assinatura: _________________________

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: __________________________ Assinatura: ________________________

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: __________________________ Assinatura: ________________________

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Page 7: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

Para Raquel, Peter, Eliana e Marina, minha

família, minha razão de ser.

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Page 9: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento deve ser obrigatoriamente aos avicultores que me receberam com

cordialidade ímpar e disponibilizaram tempo de seu trabalho para discutir e conversar o sistema

de integração. Muito mais do que a coleta de dados, esse contato permitiu um conhecimento

único sobre histórias de vida, de luta e das dificuldade diariamente enfrentadas na vida no

campo.

Agradeço especialmente à minha noiva, Raquel Moraes Barros Chaddad, que sempre esteve ao

meu lado, me apoiando em todos os momentos. Sem você nada disso seria possível!

Agradeço à minha família, em especial ao meus avós, exemplos de honestidade, que sempre

lutaram por uma vida melhor e me ensinaram o valor do trabalho no campo. Agradeço aos meus

pais, Eliana Maria Baltieri e Peter Willians Dario, que sempre incentivaram a realização desta

pesquisa e que muito contribuíram com conhecimentos agronômicos.

Agradeço à Professora Flavia Trentini, além de brilhante orientadora, uma grande amiga que

me acompanha desde a Graduação. Agradeço pela paciência e pela confiança depositada.

Professora e pesquisadora exemplar, tenho seus ensinamentos para a vida e como modelo para

meu desenvolvimento acadêmico Não poderia deixar de agradecer também ao Professor

Alexandre Nicolella, com que aprendi verdadeiramente a pesquisar o mundo rural. Agradeço

também à pequena Clara, que tornou as reuniões de pesquisa muito mais divertidas.

Agradeço à Professora Mariagrazia Alabrese, que carinhosamente me recebeu em Pisa durante

os meses de janeiro e fevereiro de 2017, tendo fundamental importância para concretização dos

estudo que desenvolvi no Istituto di Diritto, Politica e Sviluppo da Scuola Superiore Sant’Anna.

Não poderia deixar de agradecer à Professora Eloisa Cristiani, com quem cursei a disciplina

Diritto Ambientale, e que a todo momento se esforçou para garantir que compreendesse todos

os seus ensinamentos.

Page 10: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

Agradeço ao Professor Paulo Eduardo Alves da Silva, responsável por despertar a paixão pela

pesquisa empírica em Direito, sempre solicito em discutir técnicas de pesquisa e que muito

contribuiu para o direcionamento deste trabalho na avaliação de qualificação.

Agradeço ao Professor Gustavo Saad Diniz, por quem já nutria distinta admiração desde a

Graduação, como docente exemplar e profundo conhecedor do direito comercial brasileiro.

Tive a honra de tê-lo presente em todas as etapas de desenvolvimento deste trabalho, proferindo

fundamentais contribuições na banca de ingresso ao mestrado e na banca qualificação,

possibilitando a interseção do agrário com o comercial, e, ao final, como avaliador do resultado

dessa pesquisa.

Agradeço aos Professores Alessandra di Lauro e Luc Bodiguel, pela presteza em avaliar este

trabalho. É uma grande honra e uma grande responsabilidade ser avaliado por agraristas de

tamanha magnitude.

Agradeço à Associação dos Avicultores do Sul Catarinense, inicialmente Rosileia Inocenti

Bresciani, que aceitou de imediato me receber para a realização das entrevistas, e a todos que

cordialmente me receberam em Lauro Müller, Lucia Cimolin, Alcimar De Brida, Emir Tezza e

André Tartarê.

Agradeço, por fim, ao fomento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior - CAPES, que tornou possível a exclusiva dedicação ao mestrado nesses dois anos,

possibilitando, também, a realização das entrevistas no Estado de Santa Catarina, que

contribuíram de modo significativo para o cumprimento dos objetivos deste trabalho.

Page 11: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

“Farming looks mighty easy when your plow is a pencil, and

you're a thousand miles from the corn field”.

(A agricultura parece muito fácil quando seu arado é um

lápis, e você está a mil milhas do milharal).

Dwight D. Eisenhower, 1956.

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Page 13: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

RESUMO

DARIO, Bruno Baltieri. Impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de

integração no Brasil: o caso do setor avícola. 2018. 336 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade

de Direito de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2018.

O objetivo do trabalho é verificar os impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial

de integração no setor avícola, partindo da perspectiva apresentada pela Nova Economia

Institucional. Para isso, foram utilizados como fonte de dados pesquisa bibliográfica e dados

secundários oficiais. Além disso, realizou-se pesquisa documental de instrumentos contratuais

e entrevistas com avicultores em duas regiões, localizadas no Estado de São Paulo e Santa

Catarina. Utilizou-se como marco teórico as premissas da Nova Economia Institucional,

relacionando-se as estruturas de governança com a regulação do contrato. Os objetivos do

trabalho voltaram-se para: i) analisar a formação e a tipificação dos contratos à luz da Nova

Economia Institucional; ii) estudar o contrato de integração; iii) verificar os impactos jurídicos

da Lei n. 13.288/2016 para o setor avícola brasileiro. Os resultados mostram a opção do

legislador por estabelecer regras de conduta em contrapartida às normas imperativas que regem

os contratos agrários típicos do Estatuto da Terra. Apesar da importante previsão de órgãos

colegiados de formação paritária e de mecanismos de transparência, a lei mostrou-se

insuficiente para coibir abuso de dependência econômica. Por fim, verificou-se que, mesmo

após dois anos de sua publicação, os avicultores pouco têm ciência sobre a sua existência e o

seu conteúdo, não sendo respeitada na relação contratual de integração.

Palavras-chave: Contrato agroindustrial de integração. Avicultura. Direito Agrário.

Page 14: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 15: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

ABSTRACT

DARIO, Bruno Baltieri. Legal impacts of the typification of contract farming in Brazil: the

case of the poultry farming sector. 2018. 336 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito

de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2018.

The objective of this study is to verify the legal impacts of the typification of contract farming

in the poultry farming sector, starting from the perspective presented by the New Institutional

Economics. For this purpose, bibliographic research and official secondary data were used as

data source. In addition, documentary research on contractual instruments and interviews with

poultry farmers were carried out in two regions, located in the States of São Paulo and Santa

Catarina. The premises of the New Institutional Economics were used as theoretical framework,

relating the structures of governance with contract regulation. The objectives of the study were:

i) to analyze the formation and regulation of contracts in the light of the New Institutional

Economics; ii) to study the integration contract; iii) to verify the impacts of Law n. 13,288/2016

on the Brazilian poultry farming sector. The results show the legislator's option to establish

rules of conduct in contrast to the mandatory rules that govern the typical agricultural contracts

regulated by Law 4,504, 30th November 1964. Despite the important prediction of collegiate

bodies of parity formation and mechanisms of transparency, the law has proved insufficient to

curb abuse of economic dependence. Finally, it was found that, even after two years of the law's

publication, the poultry farmers are not aware of its existence and content, and it's not being

respected in the contractual relationship of integration.

Keywords: Contract farming. Poultry farming. Agrarian Law.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Esquema de indução das formas de governança ....................................... 35

Figura 2 Setores do agronegócio ............................................................................ 70

Figura 3 Sistema produtivo típico do agronegócio (simplificado) .......................... 194

Figura 4 Resultado final da participação do produtor integrado ............................. 222

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões ton) ........... 138

Gráfico 2 Projeção de produção de carnes no Brasil (2017-2027) (mil ton) ............. 139

Gráfico 3 Produção mundial de carne de frango por país (2016) (milhões ton) ........ 140

Gráfico 4 Exportação de carne de frango por país (2016) (milhões ton) ................... 141

Gráfico 5 Evolução das exportações brasileira de carne de frango (mil ton) ............ 142

Gráfico 6 Evolução da participação das exportações sobre a produção anual de

frangos no Brasil ...................................................................................... 142

Gráfico 7 Exportações brasileiras por região de destino (2016) (milhões ton) ......... 144

Gráfico 8 Entrevistados filiados à associação de avicultores .................................... 156

Gráfico 9 Grau de concordância sobre a existência de outro parceiro viável na

região ....................................................................................................... 159

Gráfico 10 Utilização de financiamento destinado à atividade avícola ...................... 161

Gráfico 11 Distribuição de financiamentos (R$) ........................................................ 162

Gráfico 12 Tempo de dívida dos avicultores .............................................................. 162

Gráfico 13 Bens oferecidos em garantia ..................................................................... 164

Gráfico 14 Número de empresas com que celebrou contrato de integração desde o

início da atividade .................................................................................... 164

Gráfico 15 Razões para a troca do integrador ............................................................. 165

Gráfico 16 Grau de satisfação em relação ao atual integrador .................................... 166

Gráfico 17 Grau de satisfação em relação aos produtos e/ou serviços prestados pelo

integrador ................................................................................................. 167

Gráfico 18 Vantagens do sistema de integração ......................................................... 168

Gráfico 19 Desvantagens do sistema de integração .................................................... 169

Gráfico 20 Ciência sobre a existência da Lei n. 13.288/2016 ..................................... 171

Gráfico 21 Grau de concordância sobre a contribuição positiva da Lei n.

13.288/2016 para o sistema de integração avícola .................................... 172

Gráfico 22 Produtores integrados com problemas na relação contratual .................... 173

Gráfico 23 Problemas identificados e relatados na relação contratual ........................ 174

Gráfico 24 Meio utilizado para a solução de conflitos ................................................ 177

Gráfico 25 Grau de satisfação em relação à solução do problema .............................. 177

Gráfico 26 Percepção sobre o Poder Judiciário .......................................................... 178

Gráfico 27 Ciência sobre a criação de CADEC na região ........................................... 179

Gráfico 28 Grau de concordância sobre a influência do integrador determinação da

decisão ..................................................................................................... 180

Gráfico 29 Percentual sobre o custo operacional, desconsiderando financiamento e

depreciação .............................................................................................. 181

Gráfico 30 Razões para não adquirir o seguro ............................................................ 188

Page 20: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 21: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Percentual do valor da produção agropecuária Norte Americana

mediante contratos ................................................................................... 72

Tabela 2 Evolução do percentual da produção de commodities sob contratos,

entre os anos de 1991-2008, na agropecuária Norte Americana ............... 72

Tabela 3 Percentuais de remuneração do contrato de parceria ................................ 103

Tabela 4 Produção mundial de carne (2015) ........................................................... 137

Tabela 5 Produção brasileira de carne (2016) ......................................................... 137

Tabela 6 Abate de frango por Estado (2016) ........................................................... 144

Tabela 7 Perfil dos avicultores entrevistados .......................................................... 155

Tabela 8 Reivindicações realizadas pela Associação dos Avicultores do Sul

Catarinense .............................................................................................. 158

Tabela 9 Custo de produção .................................................................................... 169

Tabela 10 Energia em Santa Catarina ....................................................................... 182

Tabela 11 Energia em São Paulo ............................................................................... 185

Tabela 12 Contratos analisados ................................................................................ 192

Tabela 13 Nomenclatura das partes .......................................................................... 197

Tabela 14 Principais obrigações do integrador ......................................................... 198

Tabela 15 Principais obrigações do produtor integrado ............................................ 199

Tabela 16 Propriedade dos insumos .......................................................................... 201

Tabela 17 Quantidade de aves alojadas ..................................................................... 203

Tabela 18 Hipóteses expressas de variação da quantidade alojada de “pintos de um

dia” ........................................................................................................... 204

Tabela 19 Responsabilidade pela apanha para carregamento ................................... 208

Tabela 20 Pesagem das aves ..................................................................................... 213

Tabela 21 Prazo de vigência e notificação para resilição .......................................... 215

Tabela 22 Prazo de alojamento das aves ................................................................... 217

Tabela 23 Prazo de intervalo entre lotes .................................................................... 218

Tabela 24 Hipóteses expressas de aumento do intervalo entre lotes .......................... 219

Tabela 25 Prazo e forma de pagamento ..................................................................... 223

Tabela 26 Prazo de vigência e notificação para resilição .......................................... 227

Tabela 27 Hipóteses de resolução imediata sem aviso prévio ................................... 231

Tabela 28 Cláusula de eleição de foro ....................................................................... 238

Page 22: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 23: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABAI ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AVICULTORES

INTEGRADOS

ABCS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE SUÍNOS

ABPA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL

AVISULSC ASSOCIAÇÃO DOS AVICULTORES DO SUL DO ESTADO DE

SANTA CATARINA

CADEC COMISSÃO PARA ACOMPANHAMENTO,

DESENVOLVIMENTO E CONCILIAÇÃO DA INTEGRAÇÃO

CELESC CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA CATARINA

CERLAM COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL DE LAURO

MÜLLER

CERTREL COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL DE TREVISO

CLT CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

CNA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO

BRASIL

COOPERA COOPERATIVA PIONEIRA DE ELETRIFICAÇÃO

COOPERMILA COOPERATIVA MISTA DE LAURO MÜLLER LTDA

COORSEL COOPERATIVA REGIONAL SUL DE ELETRIFICAÇÃO

RURAL

CPC CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

DIPC DOCUMENTO DE INFORMAÇÃO PRÉ-CONTRATUAL

ECT ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

FAO ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA

AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO

FMI FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

FONIAGRO FÓRUM NACIONAL DE INTEGRAÇÃO

IPESE INSTITUTO DE PESQUISA SOCIOECONÔMICA APLICADA

MAPA MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, ABASTECIMENTO E

PECUÁRIA

MPT MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

NEI NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

PL PROJETO DE LEI

PLS PROJETO DE LEI DO SENADO

RIPI RELATÓRIO DE INFORMAÇÕES DA PRODUÇÃO

INTEGRADA

Page 24: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

SAG SISTEMA AGROINDUSTRIAL

STF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

STJ SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

TJSC TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

TJSP TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

TRF TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

TRT TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO

TST TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

UBABEF UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA

Page 25: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 27

2 INSTITUIÇÕES E CONTRATO ........................................................................ 31

2.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL ........................................................ 32

2.2 CONTRATO .................................................................................................... 40

2.2.1 Concepções sobre contrato .................................................................... 41

2.2.1.1 Liberalismo........................................................................................ 41

2.2.1.2 Estado Social ..................................................................................... 43

2.2.1.3 Neoliberalismo .................................................................................. 46

2.2.2 Funções socioeconômicas do contrato .................................................. 47

2.2.3 Contratos atípicos ................................................................................... 49

2.2.4 Regulação contratual .............................................................................. 53

3 INTEGRAÇÃO AGROINDUSTRIAL ............................................................... 61

3.1 INTEGRAÇÃO VERTICAL X INTEGRAÇÃO CONTRATUAL ................ 62

3.1.1 Razões econômicas para a integração vertical ..................................... 63

3.1.2 Vantagens e desvantagens econômicas da integração vertical ........... 65

3.1.3 Desverticalização .................................................................................... 67

3.2 SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS E INTEGRAÇÃO .................................. 69

3.3 DEPENDÊNCIA ECONÔMICA .................................................................... 74

3.4 CONTRATO AGROINDUSTRIAL DE INTEGRAÇÃO .............................. 81

3.4.1 Características ........................................................................................ 81

3.4.2 Diferenciação com outros tipos contratuais ......................................... 84

3.4.2.1 Compra e venda ................................................................................. 84

3.4.2.2 Empreitada ........................................................................................ 85

3.4.2.3 Sociedade .......................................................................................... 86

3.4.2.4 Trabalho subordinado ........................................................................ 86

3.4.2.5 Parceria .............................................................................................. 88

3.5 ASPECTOS LEGAIS ...................................................................................... 89

3.5.1 Histórico legislativo ................................................................................ 91

3.5.2 Nomenclatura .......................................................................................... 92

3.5.3 Conceitos legais ....................................................................................... 93

3.5.4 Princípios ................................................................................................. 97

3.5.5 Conteúdo mínimo ................................................................................... 99

3.5.6 Órgãos colegiados ................................................................................. 106

Page 26: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

3.5.6.1 Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da

Integração (CADEC) ......................................................................................... 107

3.5.6.2 Fórum Nacional de Integração (FONIAGRO) ................................ 111

3.5.7 Mecanismos de transparência ............................................................. 113

3.5.7.1 Documento de Informação Pré-Contratual (DIPC) ......................... 115

3.5.7.2 Relatório de Informações da Produção Integrada (RIPI) ................ 118

3.5.8 Propriedade dos insumos ..................................................................... 119

3.5.9 Responsabilidade ambiental ................................................................ 120

3.5.10 Obrigações sanitárias ........................................................................... 123

3.5.11 Recuperação judicial e falência ........................................................... 124

3.5.12 Foro ........................................................................................................ 125

3.5.13 Regulamento.......................................................................................... 127

3.5.14 Vigência ................................................................................................. 128

4 ANÁLISE EMPÍRICA ....................................................................................... 131

4.1 MÉTODO E JUSTIFICATIVA ..................................................................... 132

4.2 SETOR PESQUISADO ................................................................................. 134

4.2.1 Panorama da avicultura mundial e brasileira ................................... 136

4.2.2 Sistema de integração avícola .............................................................. 145

4.3 ENTREVISTAS ............................................................................................. 150

4.3.1 Procedimentos para coleta de dados ................................................... 152

4.3.2 Procedimentos para organização e análise de dados ......................... 154

4.3.3 Resultados.............................................................................................. 155

4.3.3.1 Caracterização dos avicultores entrevistados .................................. 155

4.3.3.2 Contrato de integração .................................................................... 158

4.3.3.3 Lei n. 13.288/2016 .......................................................................... 170

4.3.3.4 Solução de conflitos ........................................................................ 173

4.3.3.5 Energia ............................................................................................ 181

4.3.3.6 Seguro .............................................................................................. 187

4.4 ANÁLISE DE INSTRUMENTOS CONTRATUAIS ................................... 190

4.4.1 Objeto e Finalidade .............................................................................. 194

4.4.2 Partes ..................................................................................................... 196

4.4.3 Obrigações das Partes .......................................................................... 197

4.4.3.1 Obrigações do integrador ................................................................ 197

4.4.3.2 Obrigações do produtor integrado ................................................... 198

4.4.3.3 Propriedade dos insumos ................................................................. 201

Page 27: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

4.4.3.4 Quantidade de aves alojadas ........................................................... 203

4.4.3.5 Manejo pré-abate ............................................................................. 206

4.4.4 Prazos ..................................................................................................... 213

4.4.4.1 Prazo de vigência do contrato ......................................................... 214

4.4.4.2 Prazo de alojamento do lote ............................................................ 217

4.4.4.3 Prazo de intervalo entre lotes .......................................................... 218

4.4.5 Preço e Forma de Pagamento .............................................................. 220

4.4.5.1 Auxílio baixa produtividade ............................................................ 224

4.4.5.2 Descontos automáticos e retenção................................................... 224

4.4.6 Extinção ................................................................................................. 225

4.4.7 Disposições gerais ................................................................................. 234

4.4.7.1 Obrigações ambientais e sanitárias ................................................. 234

4.4.7.2 Utilização de mão de obra infantil ou escrava ................................ 236

4.4.7.3 Boa conduta na relação contratual .................................................. 236

4.4.7.4 Confidencialidade............................................................................ 237

4.4.7.5 Cláusula de eleição de Foro ............................................................ 238

4.4.8 Considerações finais sobre a análise dos contratos ........................... 240

4.5 IMPACTOS DA TIPIFICAÇÃO PARA O SETOR AVÍCOLA .................. 242

4.5.1 Tipificação ............................................................................................. 244

4.5.2 Dependência econômica ....................................................................... 245

4.5.3 Contrato de integração ......................................................................... 248

4.5.4 Solução de conflitos .............................................................................. 249

4.5.5 Responsabilidade ambiental ................................................................ 251

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 253

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 257

APÊNDICE A - QUADRO COMPARATIVO PROJETOS DE LEI .................... 277

APÊNDICE B – ROTEIRO ENTREVISTA ............................................................ 297

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO ............................................... 305

ANEXO A – CONTRATO BRF ................................................................................ 307

ANEXO B – CONTRATO JBS ................................................................................. 319

ANEXO C – CONTRATO AGROVÊNETO ........................................................... 325

ANEXO D - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO BRF ........................................... 327

ANEXO E - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO JBS ............................................ 329

ANEXO F - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO AGROVÊNETO ...................... 331

ANEXO G - SUGESTÃO DE REGIMENTO DA CADEC - AVES E SUÍNOS

(ABPA/CNA) ............................................................................................................... 333

Page 28: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 29: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

27

1 INTRODUÇÃO

O contrato agroindustrial de integração é resultado do processo de modernização da agricultura,

que deixa de ser atividade eminentemente primária, voltada para a subsistência, e passa a se

inserir no mercado. As mudanças operadas pela agricultura alteraram as relações do agricultor

com os demais agentes econômicos, contribuindo para a especialização da produção e para a

modernização dos modelos industriais e de comercialização (PAIVA, 2010).

O sistema de produção integrado ganhou importância no Brasil na década de 1960, na avicultura

catarinense. O modelo contratual tornou-se fundamental para o crescimento e desenvolvimento

de diversas atividades agrárias, destacando-se a avicultura, suinocultura, fruticultura e

piscicultura. Criado pelas necessidades socioeconômicas dos agentes da produtivos, foi

tipificado no Brasil no ano de 2016, pela Lei n. 13.288 (BRASIL, 2016)

Desse modo, este trabalho busca verificar quais são os impactos jurídicos da tipificação do

contrato agroindustrial de integração para o setor avícola brasileiro. A análise do setor avícola

justifica-se pela sua importância econômica e social, bem como pela utilização preponderante

do contrato de integração no desenvolvimento da produção.

O Brasil apresenta-se como o segundo maior produtor de aves do mundo, totalizando 12,9

milhões de toneladas no ano de 2016. Além disso, apresenta-se como líder do ranking mundial

de exportação há dez anos, comercializando aproximadamente 40% da carne de frango exigida

pelo mercado mundial, exportando para 150 países. O setor da avicultura gera, direta e

indiretamente, 3,5 milhões de empregos. No campo, 130 mil famílias proprietárias de pequenos

aviários produzem em um sistema totalmente integrado com as agroindústrias exportadoras.

O sistema de integração permite a coordenação da produção, garantindo à agroindústria o

alcance da demanda quantitativa e qualitativa da matéria-prima ou do produto, possibilitando o

planejamento da produção sem a necessidade de investir na atividade agrícola, propriamente

dita. Para o produtor, por outro lado, destaca a garantia de comercialização de toda a sua

produção, antes mesmo de iniciar o ciclo produtivo.

Page 30: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

28

Na avicultura, de maneira geral, a agroindústria é responsável pelo fornecimento de pintos de

um dia, ração, medicamento, vacina e pela prestação de assistência técnica e veterinária. Ao

final do período de criação dos frangos, quando estiverem em condições ideais para abate, a seu

critério, responsabiliza-se pela apanha e carregamento das aves, bem como pelo transporte até

o abatedouro.

O produtor integrado, por sua vez, é responsável pelo manejo da produção, ou seja, fornece

galpão adequado com equipamentos de aquecimento e ventilação, além de água, energia e mão

de obra, recebendo os pintos de um dia e entregando as aves quando estiverem prontas para o

abate, seguindo os critérios do integrador.

O contrato agroindustrial de integração é caracterizado pela repartição de riscos e pela renúncia

por parte do produtor integrado de parcela de seus poderes de autodeterminação em favor do

integrador por meio da assunção de obrigações, dentre as quais as mais comuns são as de

submeter-se às regras técnicas, ao controle e à produção exclusiva de certos bens condicionada

pela indústria (PAIVA, 2010).

Em razão do desequilíbrio do poder contratual existente entre produtores integrados e

agroindústrias integradoras, agravado pela transformação tecnológica no campo, o presente

estudo se faz necessário pela possibilidade de mitigação da liberdade de transações, verificada

na ocorrência de abuso de dependência econômica.

Desse modo, a Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) buscou garantir segurança jurídica ao

sistema de integração, trazendo algumas inovações, como a determinação para criação de

órgãos colegiados, como a Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação

da Integração (CADEC), com objetivo de acompanhar o sistema de integração e dirimir

questões e solucionar litígios mediante acordo, e o Fórum Nacional de Integração

(FONIAGRO), com competência para estabelecer metodologia de cálculo para o valor de

referência para a remuneração do produtor integrado.

Além disso, criou dois instrumentos acessórios ao contrato de integração, o Documento de

Informação Pré-Contratual (DIPC) e o Relatório de Informações da Produção Integrada (RIPI),

com a finalidade de garantir maior transparência na relação contratual.

Page 31: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

29

Desta forma, o trabalho busca responder ao problema de pesquisa: quais são os impactos

jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração para o setor avícola brasileiro?

Já os objetivos específicos são: i) analisar a formação e a tipificação dos contratos à luz da Nova

Economia Institucional; ii) estudar o contrato agroindustrial de integração; iii) verificar os

impactos da Lei n. 13.288/2016 para o setor avícola brasileiro.

A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, uma vez que objetiva a melhor compreensão

dos fatos e não a sua mensuração. Assim, além do acesso à informação, busca identificar as

demandas dos avicultores que atuam no sistema de integração avícola. Pode ser classificada

também como exploratória-descritiva. Exploratória pois o tema é pouco explorado em âmbito

jurídico, necessitando esclarecimento dos problemas. Descritiva, por sua vez, pois também

apresenta a finalidade de descrever as características do sistema de integração avícola, a partir

da percepção dos produtores integrados e da análise de contratos.

Além disso, a análise empírica realizada pode ser caracterizada como uma documentação direta

mediante pesquisa de campo. A documentação direta consiste no levantamento de dados

diretamente no local onde os fenômenos ocorrem, ao passo que a pesquisa de campo tem a

finalidade de obter informações e conhecimentos a respeito de um problema para o qual se

procura resposta e descobrir fenômenos ou relações entre eles.

Por fim, quanto às técnicas utilizadas para a coleta de dados, empregou-se pesquisa

bibliográfica, análise de dados secundários, entrevistas e análise documental de instrumentos

contratuais. As duas primeiras técnicas foram utilizadas para o levantamento dos problemas e

hipóteses de pesquisa, bem como para apresentar um panorama sobre o tema em estudo. Por

sua vez, as entrevistas tiveram como objetivo o acesso a informações não disponíveis na

literatura e nos bancos de dados analisados, bem como verificar as percepções dos produtores

integrados sobre o sistema de integração. Por seu turno, a análise documental de contrato

possibilitou a verificação com exatidão do arranjo do sistema de integração e a sua conformação

em relação às disposições da Lei n. 13.288/2016.

O presente trabalho está estruturado em três partes, correspondentes aos três objetivos

específicos.

Page 32: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

30

Na primeira parte, o objetivo é analisar a formação e a tipificação dos contratos à luz da Nova

Economia Institucional. Apresenta-se como um referencial teórico necessário para a

compreensão do objetivo geral de pesquisa. Busca-se, assim, compreender a relação entre as

instituições, que incluem as regras sobre contratos, e as escolhas de forma de governança. Em

um segundo momento será realizado estudo sobre os contratos, quanto à sua definição, às

funções socioeconômicas, à classificação de contratos típicos e atípicos e à sua tipificação.

Na segunda parte, será estudado o contrato agroindustrial de integração, partindo da teoria

jurídico-econômica a ele aplicada. Serão diferenciados os conceitos de integração vertical e

integração contratual, aprofundando as razões, vantagens e desvantagens e riscos da integração

vertical, além da tendência de desverticalização. Por fim, será abordada a relação dos sistemas

agroindustriais com a integração, verificando-se a caracterização da dependência econômica,

para analisar, assim, as características do contrato de integração e as disposições previstas na

Lei n. 13.288/2016.

Por fim, na terceira parte, a finalidade é verificar os impactos da Lei n. 13.288/2016 para o setor

avícola brasileiro. Desse modo, corresponde a uma análise empírica sobre o setor avícola,

utilizando duas técnicas de pesquisa empírica, análise de dados secundários e entrevistas,

conjugada com uma análise documental mediante estudo de instrumentos contratuais de

integração celebrados entre agroindústria e avicultores. Ao final desta terceira parte, será

realizada uma triangulação das discussões apresentadas no trabalho, com o objetivo de verificar

os impactos da tipificação do contrato agroindustrial no setor avícola.

Page 33: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

31

2 INSTITUIÇÕES E CONTRATO

O objetivo deste capítulo é o estudo da Nova Economia Institucional e do contato, como

referenciais teóricos para a compreensão da estruturação da relação contratual, além da

concepção dos impactos econômicos e sociais de sua tipificação. O contrato1, como relação

jurídica bilateral, é influenciado diretamente pelas instituições2 que permeiam o seu

desenvolvimento, podendo promover ou restringir a contratação e modificar o seu conteúdo.

Entretanto, essa relação tem sido pouco estudada pelos teóricos jurídicos do contrato,

assentados em um modelo tradicional baseado no consentimento e na troca.

Ricardo Lorenzetti (2014, p. 90) aponta três razões principais para explicar o distanciamento

da teoria contratual tradicional em relação à influência das instituições: i) a teoria da ação

racional toma em conta um sujeito isolado, prescindindo das influências prévias nesta decisão;

ii) tradição do Direito Privado de se considerar independente do Direito Público; iii) temor do

intervencionismo do Estado sobre as liberdades individuais.

Aprofundando a análise das razões descritas, Ricardo Lorenzetti (2017, p. 91) entende que a

consideração do sujeito isolado pela teoria da ação racional é uma decisão metodológica,

adotada para a construção de um modelo de estudo dos contratos. Isso não significa dizer que

o contexto não existe ou não influencie, pois, na tomada de decisão, um indivíduo pode ser livre

ou sofrer pressões econômicas; pode ser um sujeito instruído ou um ignorante. A principal

preocupação da teoria contratual, por seu turno, reside nos elementos intrínsecos da relação

contratual. Entretanto, o ordenamento jurídico reconhece a existência de racionalidade limitada

e de falhas de mercado, prevendo normas de ordem pública e de direção econômica, com o

papel de promover ou restringir o contrato.

Quanto ao segundo argumento, Ricardo Lorenzetti (2014, p. 91) postula a progressiva

referenciabilidade pública das normas privadas, ou seja, que o Direito Privado deve reconhecer

a existência da inter-relação entre o marco institucional e os comportamentos individuais,

1 O contrato pode ser definido como “acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir

direitos (BEVILÁQUA, 1950). 2 As instituições correspondem ao conjunto de restrições formais e informais que regulam a interação humana na

sociedade. O ambiente institucional é definido pelo conjunto das regras políticas, sociais e legais que estabelecem

as bases para produção, troca e distribuição, i.e., as próprias regras do jogo social (ZYLBERSZTAJN, 1995, p.

160).

Page 34: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

32

transcendendo a ideia de sujeito isolado para uma concepção de sujeito situado. Nesse contexto,

as regras institucionais devem fixar preceitos mínimos para coordenar a relação do sujeito com

os demais indivíduos e com os bens públicos.

Por fim, Ricardo Lorenzetti (2014, p. 91) identifica dois temores relativos ao intervencionismo

do Estado sobre as liberdades individuais: i) possibilidade da ocorrência de distorções

voluntárias, uma vez que o Estado pode adotar medidas que premiem riqueza ou restrinjam as

liberdades individuais; ii) possibilidade da existência de defeitos involuntários, em razão da

dificuldades encontradas por um organismo centralizado de conhecer o suficiente e a um custo

razoável o comportamento e valores dos indivíduos.

Dessa forma, pode-se observar que a relação contratual não se desenvolve em um sistema

hermético, restrito aos contratantes. Pelo contrário, a contratação e o seu conteúdo são

influenciados pelas instituições que os permeiam. Assim, a análise do contrato por meio da

Nova Economia Institucional mostra-se um instrumento complementar ao estudo jurídico.

Conforme destaca Fernando Araújo, (2007, p. 14) “são visões que não se excluem nem se

desmentem”.

2.1 NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

A Nova Economia Institucional tem seu fundamento nos estudos de Ronald Coase (1937;

1960), que aproximou os conceitos de mercado3 e firma4 de suas dimensões jurídicas. No

primeiro estudo, The nature of the firm (1937), evidenciou como os custos de transação

promovem as formas organizacionais e as instituições do ambiente social. Já no segundo, The

problem of social cost (1960), demonstrou que os custos de transação são positivos e que as

instituições induzem o comportamento dos agentes econômicos.

3 Ronald Coase (1937, p. 388) identifica o mercado como mecanismo de preços em concorrência perfeita,

constituindo em conjunto com o empresário meios de efetuar a alocação dos recursos produtivos, ou seja, modos

alternativos de coordenar a produção (PONDÉ, 2007, p. 13) 4 João Luiz Pondé (2007, p. 13) apresenta a concepção de firma para Ronald Coase (1937), segundo o qual

“enfatiza as especificidades dos arranjos contratuais que compõem a sua essência e como estes diferem dos

contratos estabelecidos para a troca de produtos nos mercados. As firmas se constituem quando determinados

agentes, ao adquirirem serviços de fatores de produção, obtêm o direito de dirigir a sua utilização, e

consequentemente, tomar decisões acerca das maneiras como os recursos produtivos são alocados. Tal relação

entre os empresários e os proprietários dos fatores é distinta daquelas estabelecidas entre produtores independentes,

onde são tomadas decisões alocativas autônomas, apenas guiadas e coordenadas pelo mecanismo de preços”

Page 35: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

33

Os custos de transação, segundo Oliver Williamson (1996) os custos ex-ante, de preparar,

negociar e salvaguardar um acordo, bem como os custos ex-post, dos ajustamentos e adaptações

que se resultam quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e

alterações inesperadas. Em suma, são os custos de conduzir o sistema econômico

(WILLIAMSON, 1996). Yoram Barzel (1997) sintetiza como os custos de transferir, capturar

e proteger os Direitos de Propriedade.

Nesse sentido, Ronald Coase (1937; 1960) demonstrou que os mercados e a organização interna

da firma não funcionavam a custo zero. Os custos de funcionamento dos mercados, por sua vez,

poderiam exceder os custos da organização interna, resultando em uma visão da firma com um

feixe de contratos. Isso porque a escolha do de organização, via mercado ou via hierárquica,

depende da comparação entre alternativas de menor custo, tendo as instituições papel

fundamental na redução dos custos de transação. Nesse cenário, o Estado possui a função de

garantir as instituições, dando segurança e criando condições para o funcionamento dos

mercados e outros arranjos institucionais (ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, 2005, p. 6).

Ao identificar a firma contratual, Ronald Coase (1937; 1960) propõe a substituição da função

de produção pelo nexo de contratos. Desse modo, as organizações podem ser compreendidas

como relações contratuais coordenadas por instrumentos desenvolvidos pelos agentes

produtivos. Assim, problemas relacionados com quebra e salvaguardas, além de instrumentos

para manter a relação contratual e resolver problemas de inadimplemento, passam a ser

relevantes também para a Economia. Isso porque tais aspectos influenciarão o desenho dos

arranjos institucionais das empresas, pois percebendo os riscos futuros potenciais inerentes ao

ambiente institucional, procuram criar salvaguardas (ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, 2005, p. 7).

Decio Zylbersztajn (2005, p. 397) aponta duas vertentes analíticas complementares aplicáveis

ao estudo das organizações resultantes da Nova Economia Institucional:

macrodesenvolvimentista e microinstitucional.

A vertente macrodesenvolvimentista pode ser atribuída a Douglass North (1990), que realizou

um estudo sobre a origem, a estruturação e as mudanças das instituições. Tal perspectiva

influenciou diretamente os estudos sobre Direito e Desenvolvimento a partir da década de 1990,

buscando-se compreender como as instituições influenciam o desenvolvimento, alterando a

Page 36: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

34

noção de mero crescimento econômico em direção a uma perspectiva em que a sustentabilidade

ambiental e melhores condições sociais devem ser perseguidas simultaneamente.

Douglass North (1990) contribuiu para o estudo da Economia, Direito e Organizações ao

identificar que as organizações são concebidas para buscar eficiência e a que a sua estrutura é

modelada pelo ambiente institucional. Elizabeth Farina (2005) afirma que o estudo de Direito

e Economia possui tradição na área de Antitruste e Defesa da Concorrência, entretanto, a

relação entre justiça e eficiência tem se tornado cada vez mais importante para as demais áreas,

já que os arranjos institucionais não são neutros em relação ao uso dos recursos econômicos.

Dessa forma, o arcabouço legal e as decisões judiciais produzem efeitos sobre a eficiência

econômica, impactando diretamente o desenvolvimento de um país.

Para Daron Acemoglu e James Robinson (2012), as instituições políticas e econômicas de um

país devem ser inclusivas, possibilitando um crescimento sustentável, pois somente uma

sociedade verdadeiramente livre tem condições de fomentar a inovação capaz de promover o

desenvolvimento. No mesmo sentido, a perspectiva de desenvolvimento como liberdade

proposta por Amartya Sen (2010), que afirma ser a própria liberdade “o argumento mais

imediato em favor da liberdade de transações de mercado”.

Por outro lado, a vertente microinstitucional é representada pela economia das organizações,

cujo foco é voltado para a natureza explicativa dos diferentes arranjos institucionais

(ZYLBERSZTAJN, 2005, p. 397). Diversos autores contribuíram para essa perspectiva, com

destaque para Oliver Williamson (1985), Claude Menard (1995) e Yoram Barzel (1997). Decio

Zylbersztajn (2005, p. 397) explica que as “operações das firmas vistas como arranjos

institucionais são pautadas pelas regras do jogo (instituições), o que confere a ligação entre as

duas vertentes”.

Nesse sentido, o mercado é entendido como uma instituição, necessitando regras definidas para

o seu funcionamento, a fim de se garantir eficiência. Isso porque o comportamento oportunista

dos agentes econômicos e o choque entre direitos de propriedade resultam em custos para o

mercado, intensificando os custos de transação.

A eficiência apresenta duas perspectivas: i) possibilidade de elaboração de contratos completos,

com expressa vinculação ao pressuposto neoclássico de racionalidade plena; ii) proposição

Page 37: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

35

decorrente da Economia dos Custos de Transação, de que os contratos são incompletos por sua

natureza, em virtude do pressuposto da racionalidade limitada. Essa segunda vertente,

aprofundada por Oliver Williamson (1985), faz parte das premissas que buscam explicar o

alinhamento entre as características das transações e as formas de governança5, com objetivo

de minimizar os custos de produção e de transação. Assim, conforme aponta Decio

Zylbersztajn (2005, p. 398), “os contratos surgem como estruturas de amparo às transações que

visam controlar a variabilidade e mitigar riscos, aumentando o valor da transação.

Oliver Williamson (1985) buscou explicar a relação existente entre as características das

transações e as formas de governança, pautando-se pelos objetivos de comportamento eficiente

e de minimização dos custos de produção e de transação. Identificou, nesse estudo três indutores

de formas de governança: ambiente institucional, características da transação e pressupostos

comportamentais.

Figura 1. Esquema da indução das formas de governança

Fonte: ZYLBERSZTAJN (1995, p. 23)

O pressuposto fundamental, a partir da teoria de Ronald Coase (1937; 1960), é a existência de

custos na utilização do sistema de preços, assim como na celebração de contratos. Outro

pressuposto é a interferência das instituições nos custos de transação, na medida em que as

transações se verificam em um ambiente institucional estruturado e que as instituições não são

neutras. O ambiente institucional pode ser entendido como o conjunto de normas que afetam o

5 João Luiz Pondé (2007, p. 16) explica que as “estruturas de governança correspondem a formas institucionais

particulares, que diferem em termos dos mecanismos de monitoramento, incentivo e controle de comportamentos,

possuindo capacidades distintas em termos de flexibilidade e adaptabilidade em cada ambiente econômico

particular”.

Page 38: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

36

processo de transferência dos direitos de propriedade, dentre elas regras legais, sociais e

políticas (ZYLBERSZTAJN, 1995, 16).

Além disso, dois pressupostos comportamentais são fundamentais para a compreensão da

Economia dos Custos de Transação: Racionalidade limitada e Oportunismo. Herbert Simon

(1961) afirma que os atores econômicos desejam ser racionais, mas apenas conseguem sê-lo de

forma limitada.

Racionalidade limitada refere-se ao comportamento que pretende ser racional mas

consegue sê-lo apenas de forma limitada. Resulta da condição de competência

cognitiva limitada de receber, estocar, recuperar e processar a informação. Todos os

contratos complexos são inevitavelmente incompletos devido à racionalidade limitada

(ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 17).

O oportunismo apresenta uma conotação ética comportamental dos indivíduos, que agem na

busca do seu autointeresse, partindo de um princípio de jogo não cooperativo, onde a

informações que um agente possa ter sobre a realidade não acessível a outro agente pode

permitir que o primeiro desfrute de algum benefício. A simples possibilidade de que um

indivíduo aja dessa forma expõem os contratos a ações que demandam monitoramento, o que

agrega um custo na transação (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 17).

Para a Economia dos Custos de Transação, os contratos são incompletos por natureza, em razão

da racionalidade limitada, o que não seria um problema se não fosse a característica

comportamental esperada do oportunismo. Ademais, as transações caracterizam-se por três

elementos: frequência, risco e especificidade dos ativos que serão fundamentais na indução das

formas de governança.

A frequência na qual determinada transação ocorre é importante para determinar a possibilidade

de internalizar determinada etapa produtiva sem perder eficiência relacionada à escala6. O risco

6 De acordo com Maria Silvia Possas (1993, p. 70-71), “há economias de escala quando o aumento do volume da

produção de um bem por período reduz os seus custos. Esta redução pode se dar pela possibilidade de utilização

de métodos produtivos mais automatizados ou mais avançados, mas também pode estar relacionada a ganhos em

propaganda, marketing, P&D, financiamento, enfim qualquer etapa da produção e comercialização. Até a

recentemente a ocorrência de economias de escala de grande porte era em geral associada à produção, por maior

de processos contínuos, de insumos de uso generalizado, para os quais não cabe diferenciação do produto”. Decore

dessa caracterização a noção economias de escopo, referindo-se a um conjunto de bens e não apenas um só.

Segundo Robert Pindick e Daniel Rubinfeld (1992, p. 222), “economias de escopo estão presentes quando a

produção conjunta de uma única firma poderia ser obtida por duas firmas diferentes cada uma produzindo um

único produto”. Nesse sentido, Cláudio Szwarcfiter e Paulo Roberto Dalcol (1997, p. 123) apontam que o conceito

Page 39: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

37

afeta a divisão do ônus entre os participantes da transação. Por fim, o indutor mais importante

da forma de governança é a especificidade, uma vez que ativos mais especifico estão associados

a formas de dependência bilateral que implicará na estruturação de formas organizacionais

apropriadas. A existência de ativos específicos pode provocar a ação oportunista dos atores.

(ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 23).

Desse modo, são três os fatores que induzem a escolha da forma de governança: ambiente

institucional, características da transação e pressupostos comportamentais. O ambiente

institucional é marcado pela tradição legal, existência de leis de proteção intelectual, tradições

de arbitragem para a solução de conflitos, aspectos culturais. (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 24)

Os pressupostos comportamentais indicam os motivos pelos quais o contrato firmado poderá

não conter as características desejadas após um determinado período, em razão do oportunismo

e da racionalidade limitada. Por fim, as características da transação, frequência, risco e

especificidade, são fatores preponderantes para a escolha da governança.

A estrutura de governança adotada deverá compatibilizar os custos associados à celebração dos

contratos aos incentivos associados a cada arranjo contratual e aos custos burocráticos

associados. Observa-se, desse modo, que as relações jurídicas contratuais são fundamentais

para o desenvolvimento da organização, na medida em que, segundo a teoria de Coase (1937;

1960), a firma se configura como um conjunto de contratos, e as suas relações resultam em um

exame de custos de produção e custos de transação.

Portanto, a opção por produzir internamente, de forma integrada, ou adquirir no mercado7, por

meio de arranjos contratuais, resulta da análise dos custos de transação. Dessa modo, do ponto

de vista econômico, os contratos podem ser compreendidos como um facilitador da circulação

de economia de escopo não é novo, mas as inovações tecnológicas permitiram uma diferente operacionalização:

“o novo fator-chave baseado na microeletrônica permite a exploração de economias de escopo em setores onde

isso antes era impensável, com destaque para os bens de consumo duráveis - liderados pela indústria

automobilística. Outrossim, torna-se mais fácil e barato o controle de qualidade com a crescente automação, assim

como a coordenação do fluxo de produção”. 7 João Luiz Pondé (2007, p. 17-18) explica que as hierarquias têm como característica “a submissão dos

comportamentos dos agentes a relações de autoridade e a introdução de adaptações nas interações a partir de

sistemas administrativos de monitoramento, incentivo e controle a estas associados”. Já nos mercados, “a

coordenação resulta espontaneamente das adaptações em suas condutas que os agentes introduzem a partir da

busca do lucro privado”. Têm-se, assim, a identificação de transações instantâneas, marcadas por contratos de

curta duração, como, por exemplo, a compra e venda para entrega imediata. Pode-se fazer um paralelo com o

mercado spot, ou seja, transações imediata de entrega do produto e pagamento do preço. Por fim, as formas

híbridas “consistem em contratos de longo prazo apoiados em salvaguardas adicionais e um aparato para

disponibilizar informações e resolver disputas”.

Page 40: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

38

de titularidades de valores, possibilitando a circulação de bens e serviços em direção a quem

revele maior necessidade e capacidade de obtê-los. Em razão da disposição descentralizada dos

bens e serviços, o acesso a tais recursos, por quem não seja titular, dependerá de trocas,

mediante o pagamento de um preço (ARAÚJO, 2007, p. 18).

Ricardo Lorenzetti (2004, p. 92) identifica três relações entre as instituições e os contratos:

regulação da entrada e saída do mercado; distribuição de informação; promoção de

previsibilidade ou de incerteza. Em primeiro lugar, as instituições podem facilitar ou dificultar

a entrada no mercado. Nesse sentido, observa-se no ordenamentos jurídico brasileiro, por

exemplo, a Lei n. 4.595/1964 (BRASIL, 1964), que dispõe dobre a Política e as Instituições

Monetárias, Bancárias e Creditícias, e a Lei n. 9.656/1998 (BRASIL, 1988), que regula os

planos e seguros privados de assistência à saúde.

Em segundo lugar, ao distribuir informação, as instituições podem incrementar ou diminuir os

custos de transação. Douglass North (1990) aponta que os custos de informação são a chave

dos custos de negociação, compostos pelos custos em se medir os atributos valorativos do que

se está negociando e os custos de proteger e fazer cumprir o acordo. Observa-se uma clara

relação entre o dever colateral de informação e a sua distribuição assimétrica. Assim, as

instituições devem ser coerentes com o contrato, permitindo a livre circulação de informação e

diminuindo os custos de sua busca (LORENZETTI, 2004, p. 92)

Por fim, as instituições podem promover a previsibilidade, mas também a incerteza. Ricardo

Lorenzetti (2004, 93) exemplifica com a atividade agrária, tradicionalmente conhecida por sua

estabilidade e seguridade, mas que atualmente deixou de ser. Os mercados de produtos agrários

se transformaram em especulações sobre commodities, submetidos a uma instabilidade própria

das bolsas. Assim, o homem do campo se rende aos preços por seus produtos determinados pelo

mercado financeiro, sujeito a grandes oscilações. Os custos também lhe são alheios, escapando

de sua capacidade de decisão, como ocorre com os tributários, de combustível e de exportação,

já que muitos são cotados em dólar e também sujeitos a sua flutuação. No mais, a rápida

transformação tecnológica o obriga a realizar elevados investimentos e adiantar-se às

mudanças, para que consiga competir no mercado. Esse marco institucional ao qual está

submetido redimensiona o contrato agrário, fazendo-se necessário a adoção de mecanismos de

cobertura de risco frente ao incremento da incerteza externa, uma vez que a incerteza pode

resultar em recessão econômica.

Page 41: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

39

Com o contributo da teoria de Ronald Coase (1937; 1960), a firma pode ser configurada como

um feixe de contratos, e as relações entre elas resultam em um exame de custos de produção e

custos de transação. Desse modo, a análise dos custos de transação irá determinar se produzirá

internamente, de forma integrada, ou buscará no mercado, por meio de arranjos contratuais8.

Assim, o contrato assume um papel fundamental para o desenvolvimento da organização, pois

pode ser compreendido como um facilitador da circulação. Nesse ponto, as instituições também

desempenham um papel primordial, em garantir a previsibilidade e diminuir a incerteza, fatores

essenciais ao desenvolvimento.

Ressalta-se que Joaquim de Souza Ribeiro (2007, p. 74) identifica uma forte pressão invasiva

de racionalidade econômica ao direito dos contratos. Entende que a reflexão excessiva de

determinantes econômicas parece reservar ao direito dos contratos um papel meramente

instrumental em relação às leis do mercado. Entretanto, não foi este o propósito desta análise,

mas sim a complementariedade apontada por Fernando Araújo (2007, p. 14)9. Nesse sentido, o

objetivo desse capítulo foi estudar a Nova Economia Institucional como referencial teórico para

compreensão das formas de governança e, consequentemente, da estruturação da relação

contratual, pressupostos para a análise dos impactos econômicos e sociais de sua tipificação.

Para que entre o jurídico e o económico se estabeleça a “interação circular” necessária

à estabilidade e equilíbrio geral do sistema, a intervenção constitutiva e reguladora do

direito nas estruturas e processos das “transacções” deve fazer-se na sua linguagem

própria, sem abandono das suas próprias valorações. Só assim desempenhará, com

eficácia, a sua função de instância mediadora entre exigências sociais contraditórias

(RIBEIRO, 2007, p. 74)

Para tanto, no item 2.2 serão estudados os contratos, sua definição, as concepções econômicas

modernas, suas funções socioeconômicas, a classificação de contratos típicos e atípicos e a

regulação contratual, analisando a autonomia privada, a ordem pública e a tipificação do

contrato. Esses temas são essenciais para a compreensão do objetivo geral da pesquisa, de

analisar os impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de integração para o

setor avícola brasileiro.

8 Nessa hipótese, haverá duas opções: mercado, com a celebração de contratos de curto prazo, de execução

imediata, ou formas híbridas, caracterizadas por contratos de longa duração com o estabelecimento de mecanismos

de coordenação. 9 Fernando Araújo (2007, p. 14) entende que a análise econômica do contrato contrapõe visões que não se excluem

e nem se desmentem, mostrando-se um instrumento complementar ao estudo jurídico.

Page 42: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

40

2.2 CONTRATO

A noção de contrato sofreu significativo impacto das transformações sociais e políticas, da

internacionalização da economia e das inovações tecnologias ocorridas sobretudo a partir do

século XIX. Em poucos anos, em razão da mudança do clima político, a figura contratual sofreu

forte desconfiança como símbolo da dominação liberal, passando a ser considerado em setores

tradicionalmente destinados a prevalência do interesse público e coletivo.

As novas formas de estruturação, gestão e controle da relação econômica, marcadas pela

velocidade do progresso de todas as relações na sociedade, resultam em um caminho de

superação da prática, da lei e da interpretação dos contratos. A regulamentação do contrato

desigual se coloca como momento essencial da reestruturação das relações econômicas segundo

a nova fisionomia do mercado.

Nesse sentido, Fabrizio Di Marzio (2004, p. 6) afirma que a desigualdade entre as partes se

apresenta como pressuposto da disciplina, como horizonte do novo direito dos contratos e como

sua fronteira. Assim, a preocupação legislativa com a contratação desigual ocorre sobretudo na

categoria dos contratos de consumo, mas também pode ser verificada nos contratos

empresariais. O Código Civil (BRASIL, 2002) apresenta uma tutela generalizada da parte

vulnerável, aprofundada nas leis setoriais, principalmente após a promulgação da Constituição

Federal de 1988 (BRASIL, 1988).

A tutela incondicionada da autonomia e da lei privada deu espaço a um controle do Estado. A

teoria liberal não foi verificada na prática, resultado na incapacidade político-jurídica de se

restituir a credibilidade e a legitimação ao contrato como mecanismo de troca econômica

baseada na liberdade de autodeterminação, visto, em muitos casos, como instrumento de

dominação econômica.

Apesar da evolução caminhar para o sentido contrário, Orlando Gomes (2008, p. 8) entende

que o modelo liberal ainda é encontrado nos compêndios de Direito Civil, amarrados à definição

do Código Civil (BRASIL, 2002), alheia à profusa legislação especial, que a contradiz e a

contesta. Desse modo, conforme Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 9), o contrato pode ser

compreendido como a “manifestação de duas ou mais vontades, objetivando criar,

Page 43: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

41

regulamentar, alterar e extinguir uma relação jurídica (direitos e obrigações) de caráter

patrimonial”.

Do ponto de vista econômico, Robert Cooter et al. (1999, p. 205) apresentam duas acepções

sobre o termo contrato: i) contrato como operação econômica; ii) contrato como veste jurídica

da operação econômica. Enquanto operação econômica, o contrato revela uma forte vocação de

promoção da eficiência, porque favorece a tendência dos recursos de deslocar-se para usos mais

rentáveis (ROPPO, 2001). Por outro lado, enquanto formalização jurídica de operações

econômicas, o termo contrato se refere ao conjunto de regras que regulamentam as atividades

negociais, ou seja, o direito dos contratos.

Para Robert Cooter et al. (1999, p. 205), parece razoável supor que essas regras são inspiradas

no objetivo de garantir a vocação eficientista do contrato. A partir dessa crença está enraizada

a tentativa de se delinear uma teoria econômica do contrato. A análise econômica do direito,

conforme aponta James Boyd White (1986, p. 161), nasce da constatação de que juristas e

economistas se ocupavam dos mesmos problemas: externalidades negativas e positivas,

monopólios, custos de transação, assimetria de informação, bens públicos, dentre outros.

Ultrapassando a mera definição legal, a concepção sobre a figura contratual sofreu alterações

em razão das ideias dominantes, nos planos econômico, político e social em determinado

período, influenciando a interpretação dogmática e a criação de instrumentos legais conexos,

de cunho protetivo ou libertário.

Nesse sentido, se a vertente microinstitucional explica a adoção dos diferentes arranjos em

razão da conjuntura institucional do Estado, a vertente macrodesenvolvimentista mostra como

o modelo econômico adotado pelo Estado irá influenciar a própria concepção sobre o contrato

e, consequentemente, o seu regramento legal. Assim, o item 2.2.1 terá como objetivo a análise

das modernas concepções sobre o contrato, em determinados modelos socioeconômicos, a

partir dos estudos de Ricardo Lorenzetti (2004): liberalismo, estado social e neoliberalismo.

2.2.1 Concepções sobre contrato

2.2.1.1 Liberalismo

Page 44: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

42

Patrick Atiyah (1979) identifica o liberalismo como a idade de ouro da liberdade contratual.

Nesse sentido, Orlando Gomes (2008, p. 7) aponta que a ideologia individualista dominante e

o processo econômico de consolidação do regime capitalista de produção contribuíram para

formação da concepção moderna do contrato, como acordo de vontades mediante o qual as

pessoas instituem um vínculo jurídico a que se sujeitam.

Para Ricardo Lorenzetti (2004, p. 24), o corpo congruente de princípios e regras que deram

origem à concepção amplamente aceita sobre contrato foram resultados de uma enorme

elaboração teórica no campo filosófico, econômico, sociológico, político e jurídico, tendo como

principais características: autonomia e prevalência da vontade; consensualismo; conduta

adversarial; força de lei entre as partes; efeito relativo.

A autonomia da vontade, personificada pela liberdade, é ponto central para o liberalismo

político, uma vez que o indivíduo somente se obriga quando assim o desejar, expressando uma

vontade livre (LORENZETTI, 2004, p. 24). Essa autonomia se referia à possibilidade de

contratar ou não, de selecionar o contratante e de determinar o conteúdo do vínculo. Desse

modo, apenas a vontade expressamente declarada seria obrigatória.

Além disso, Ricardo Lorenzetti (2004, p. 24) entende que o contrato refletia um modelo de

conduta adversarial, tendo em vista duas pessoas com interesses contrapostos que negociam

para maximizar o benefício pessoal, sendo lícito que cada uma busque obter o máximo proveito.

Nesse modelo, seria legítima a astúcia, o engano e o dolus bonus. Incorporando o respeito à

palavra empenhada, assegurando-se o consentimento pleno, a função dos tribunais deveria se

limitar a aplicar a o contrato, a “lei” para as partes.

Nesse sentido, verificava-se a prevalência da forma obrigatória do convencionado, não se

admitindo a modificação judicial ou legislativa do acordado. A lei deveria garantir segurança

jurídica e o livremente acordado era considerado justo e não revisável (LORENZETTI, 2004,

p. 25). Por fim, agregando-se a esse entendimento, o efeito relativo dos contratos apresentava-

se como princípio essencial, no qual os efeitos jurídicos só produziriam efeitos entre as partes,

não podendo afetar terceiros.

Portanto, a função do direito dos contratos, conforme Patrick Atiyah (1979, p. 681), era refletir

o modelo das transações no mercado e ser um instrumento de descentralização das decisões

Page 45: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

43

econômicas baseadas na iniciativa privada. Durante o desenvolvimento do processo econômico

capitalista, o contrato foi alçado a instrumento jurídico por excelência da vida econômica, pois

exigia-se a generalização e a abstração das relações de troca. Assim, Orlando Gomes (2008, p.

7) discorre que “o contrato surge como uma categoria que serve a todos os tipos de relações

entre sujeito de direito e a qualquer pessoa independentemente de sua posição ou condição

social”.

Nesse cenário, não se distinguia se o objeto do contrato era um bem de consumo ou um bem

essencial, um meio de produção ou um bem voluptuário10. Assim, conforme Ricardo Lorenzetti

(2004, p. 7), a preocupação legislativa era a de criar regras de orientação, já que os resultados

seriam meras consequências e seriam os melhores se essas regras fosse eficientes. Entretanto,

Orlando Gomes (2008, p. 7) entende que a ideia basilar de que todos são iguais perante a lei e

devem ser igualmente tratados, e a concepção de que o mercado de capitais e o de trabalho

devem funcionar livremente, favoreceram a dominação de uma classe sobre a economia.

Deste modo, a concepção liberal de contrato foi consolidada no século XIX com as grandes

codificações, mas entrou em crise durante a segunda metade do século XX, com a manifestação

do estado social. Entretanto, foi revivida no final do século XX com o afloramento do

neoliberalismo.

2.2.1.2 Estado Social

No início do século XX, a concepção liberal de contrato foi contrastada com o modelo

keynesiano da economia (KEYNES, 1936), que resultou na planificação estatal e na regulação

dos contratos com base na ordem pública, impactando os princípios liberais que regiam os

contratos.

A autonomia da vontade passou a ser considerada um direito que poderia ser limitado, e não

mais anterior à própria organização do Estado. Desse modo, Ricardo Lorenzetti (2004, p. 26)

aponta que a liberdade de estabelecimento do conteúdo do contrato sofreu enormes

modificações, com os institutos da lesão, da onerosidade excessiva, da causa, da frustração do

10 Bens voluptuários são aqueles relacionados com a satisfação de desejos (SCHMIDT NETO, 2014, p. 64).

Page 46: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

44

fim, do abuso de direito e da boa-fé. Assim, observa-se que a ordem pública passou a interferir

nas obrigações acordadas pelas partes.

O consensualismo, por sua vez, passou a ser limitado, pois muitas obrigações não eram

decorrentes da vontade das partes, mas sim na própria lei. No mesmo sentido, a força obrigatória

perdeu soberania, permitindo-se que os juízes revissem o pactuado e que os legisladores

intervissem no caso de emergência econômica. Por fim, observou-se um retorno ao formalismo

com finalidade protetora, restringindo-se a informalidade, principalmente nos contratos

comerciais e internacionais (LORENZETTI, 2007, p. 27)

Orlando Gomes (2008, p. 9) identifica três fatores das transformações ocorridas na teoria geral

do contrato nesse período: i) insatisfação de grandes estratos da população pelo desequilíbrio

entre as partes, atribuído ao princípio de igualdade formal; ii) modificação na técnica de

vinculação por meio de uma relação jurídica; iii) intromissão do Estado na vida econômica.

Observou-se que a simples igualdade formal entre os indivíduos não garantia o equilíbrio entre

os contratantes. Assim, o desequilíbrio mostrou-se patente nas relações contratuais celebradas

entre partes de diferentes níveis sociais e econômicos, com evidente desvantagem para a parte

vulnerável, como nos contratos de trabalho. Para corrigir tais distorções e retornar a uma

condição de real de equilíbrio, a teoria contratual começou a examinar a justiça intrínseca das

transações (HORWITZ, 1977).

Nesse sentido, Ricardo Lorenzetti (2004, p. 27) afirma que o próprio direito do Estado social

configurou-se como instrumental, ou seja, como meio para o desenvolvimento dos objetivos ou

diretrizes políticas. Em razão da planificação centralizada, o contrato passa a ser visto como um

instrumento dentro da ordem pública de direção econômica, sendo regulado frente aos

resultados, e não mais pelas regras para obtê-los.

Por sua vez, Orlando Gomes (2008, p. 8) ressalta que a crescente complexidade da vida social

resultou em novas técnicas de contratação, com a simplificação do processo de formação,

observada nos contratos em massa, e a acentuação do fenômeno da despersonalização. Essas

técnicas contribuíram para o aumento da interferência do Estado na vida econômica, na

limitação da liberdade de contratar e na redução da autonomia privada, sobretudo na liberdade

em se determinar o conteúdo da relação contratual.

Page 47: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

45

A interferência do Estado nas relações contratuais teve como objetivos a proteção de

determinadas categorias de pessoas, a tentativa de compensar juridicamente a debilidade da

posição contratual de seus componentes e eliminar o desequilíbrio. Para tanto, desenvolveu-se

uma legislação de apoio a essas categorias, impondo o conteúdo de certos contratos, proibindo

determinadas cláusulas e exigindo, para sua formação, a autorização do Estado (GOMES, 2008,

p.8-9).

O tratamento jurídico desigual como técnica para se assegurar a igualdade material tem

aplicação mais nítida nas relações de trabalho e de consumo, mas também pode ser encontrada

no direito agrário. A lógica vigente na legislação agrária, sobretudo no Estatuto da Terra

(BRASIL, 1964), segue a tendência restritiva característica do Estado de bem-estar, com

objetivo de se proteger o pequeno agricultor, que trabalha diretamente a terra.

Assim, o Estatuto da Terra e seu decreto regulamentador (BRASIL, 1966)11 determinam

expressamente, como normas de ordem pública, a formação do preço, o modo de pagamento, o

prazo mínimo, o direito de preferência, a renovação automática do contrato, deixando pouco

espaço para a autonomia das partes. Seguindo essa lógica, o Poder Judiciário interpreta a

legislação agrária de forma a proteger a parte vulnerável, permitindo-se, nessa circunstância, o

tratamento desigual, como pode ser verificado na decisão do Superior Tribunal de Justiça, no

julgamento do Recurso Especial n. 1.447.082, que entendeu não ser aplicável as normas do

Estatuto da Terra à empresa de grande porte, visto a ausência de vulnerabilidade da parte.12

11 Estatuto da Terra, Lei n. 4.504, de 30 de novembro de 1964 (BRASIL, 1964); Decreto n. 59.566, de 14 de

novembro de 1966 (BRASIL, 1966). 12 RECURSOS ESPECIAIS. CIVIL. DIREITO AGRÁRIO. LOCAÇÃO DE PASTAGEM. CARACTERIZAÇÃO

COMO ARRENDAMENTO RURAL. INVERSÃO DO JULGADO. ÓBICE DAS SÚMULAS 5 E 7/STJ.

ALIENAÇÃO DO IMÓVEL A TERCEIROS. DIREITO DE PREFERÊNCIA. APLICAÇÃO DO ESTATUTO

DA TERRA EM FAVOR DE EMPRESA RURAL DE GRANDE PORTE. DESCABIMENTO. LIMITAÇÃO

PREVISTA NO ART. 38 DO DECRETO 59.566/66. HARMONIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO

SOCIAL DA PROPRIEDADE E DA JUSTIÇA SOCIAL. SOBRELEVO DO PRINCÍPIO DA JUSTIÇA

SOCIAL NO MICROSSISTEMA NORMATIVO DO ESTATUTO DA TERRA. APLICABILIDADE DAS

NORMAS PROTETIVAS EXCLUSIVAMENTE AO HOMEM DO CAMPO. INAPLICABILIDADE A

GRANDES EMPRESAS RURAIS. INEXISTÊNCIA DE PACTO DE PREFERÊNCIA. DIREITO DE

PREFERÊNCIA INEXISTENTE. 1. Controvérsia acerca do exercício do direito de preferência por arrendatário

que é empresa rural de grande porte. 2. Interpretação do direito de preferência em sintonia com os princípios que

estruturam o microssistema normativo do Estatuto da Terra, especialmente os princípios da função social da

propriedade e da justiça social. 4. Proeminência do princípio da justiça social no microssistema normativo do

Estatuto da Terra. 5. Plena eficácia do enunciado normativo do art. 38 do Decreto 59.566/66, que restringiu a

aplicabilidade das normas protetivas do Estatuto da Terra exclusivamente a quem explore a terra pessoal e

diretamente, como típico homem do campo. 6. Inaplicabilidade das normas protetivas do Estatuto da Terra à grande

empresa rural. 7. Previsão expressa no contrato de que o locatário/arrendatário desocuparia o imóvel no prazo de

30 dias em caso de alienação. 8. Prevalência do princípio da autonomia privada, concretizada em seu consectário

Page 48: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

46

Ainda no âmbito dos contratos agrários, também é possível verificar a aplicação de novas

técnicas de constituição das relações jurídicas, como a massificação dos contratos,

determinando-se a uniformização de suas condições ou cláusulas. Observa-se com frequência

a imposição dos termos contratuais pelas agroindústrias, sem ser dada oportunidade aos

produtores rurais para se discutir suas cláusulas, em uma clara tendência de despersonalização

dos contraentes, sobretudo em relação ao agricultor.

Em suma, Orlando Gomes (2008, p. 9) identifica três modificações no regime jurídico do

contrato como tentativas para se corrigir o desequilíbrio: i) promulgação de leis de proteção à

categoria de indivíduos mais fracos econômica ou socialmente, compensando-lhes a

inferioridade fática com uma superioridade jurídica; ii) intensificação da legislação de apoio

aos grupos organizados, como os sindicatos, para enfrentar em igualdade o contraente mais

forte; iii) dirigismo contratual, exercido pelo Estado por meio de leis que impõe ou proíbem

conteúdo a determinados contratos ou sujeitam sua conclusão ou sua eficácia a uma autorização

do poder público.

A vertente ativa do Estado na regulação da atividade econômica, no Brasil, ainda persiste em

âmbito contratual. Entretanto, a partir da década de 1990, observou-se uma retomada de

princípios liberais, com a manifestação do neoliberalismo, que impactou, em certa medida, este

papel interventivo do Estado.

2.2.1.3 Neoliberalismo

A política intervencionista do Estado social gerou uma forte reação nas últimas décadas do

século XX, que atingiu seu ápice na década de 1990. Criticava-se a abundância de regulações

e o excesso de intervenção, pois gerariam ineficiência. Desse modo, pregava-se a volta dos

princípios liberais: liberdade e iniciativa privada.

De acordo com Ricardo Lorenzetti (2004, p. 27), postulava-se o retorno da autonomia privada

irrestrita, para que cada indivíduo retomasse o controle sobre sua vida. Um sistema de livre

lógico consistente na força obrigatória dos contratos ("pacta sunt servanda"). 9. Improcedência do pedido de

preferência, na espécie. 10. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS. (STJ, REsp 1447082/TO, Terceira Turma,

Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, d.j. 10/05/2016).

Page 49: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

47

troca de bens seria mais eficientes, uma vez que a propriedade das coisas terminaria sob o

domínio de quem mais a valorizava e estava disposto a pagar o preço mais alto. As principais

características desse período são: i) exaltação da liberdade e do mercado; ii) desregulação; iii)

respeito à autonomia privada; iv) restrição da atividade dos juízes na revisão e na modificação

do contrato; v) possibilidade de limitar indenizações; vi) refutação dos instrumentos protetivos,

como o abuso de direito e a lesão.

No Brasil, constata-se a coexistência entre as concepções neoliberais e do Estado social. Na

década de 1990, o neoliberalismo teve forte influência na diminuição da restrição da atividade

econômica pelo Estado, com uma onda de privatizações e desregulamentações. Entretanto, no

âmbito contratual, foram criadas leis especiais protetivas, pós-Constituição Federal de 1988

(BRASIL, 1988), pautando-se pelas regras gerais da função social do contrato e da boa-fé, com

objetivo de promoção da igualdade material e proteção da parte vulnerável, preceitos

legitimados no Estado de bem-estar. Pode-se citar como exemplos o Código de Defesa do

Consumidor (BRASIL, 1990) e o novo Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002).

Conclui-se, assim, que as funções desempenhadas pelos contratos, em determinado

ordenamento jurídico, são influenciadas pelas concepções político-econômicas vigentes no

país, em um certo período de tempo. Dessa maneira, após a análise das concepções sobre o

contrato a partir do século XIX, serão estudadas as funções socioeconômicas desempenhadas

pelo contrato de acordo com a atual teoria jurídico-econômica.

2.2.2 Funções socioeconômicas do contrato

Em primeiro lugar, antes de se estudar as funções do contrato, apresenta-se necessária a análise

das funções do direito dos contratos. Para Patrick Atiyah (p. 2000, 35), o direito dos contratos

possui como principal função proteger as expectativas razoáveis geradas pelos contratos. Isso

cria um incentivo para a celebração de contratos, no entendimento de Wolfgang Friedmann

(1972, p. 121), na medida em que se assegura a repartição de riscos previsíveis compactuados

pelas partes.

Outra função é a de facilitar a contratação, levando a execução dos acordos e impedindo

restrições indevidas. Como instrumentos de eficiência econômica (ATIYAH, 2010, p. 3), o

Page 50: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

48

ordenamento jurídico deve estabelecer regras básicas para garantir o funcionamento e a

segurança de um sistema de trocas entre indivíduos livres e iguais.

Uma terceira função, identificada por Claudia Lima Marques (1999), é a protetiva, já que o

direito do contrato pode funcionar como uma licença dada a uma das partes para explorar a

outra, mas também como uma proteção da parte vulnerável.

Retomando as prescrições da Nova Economia Institucional, o direito contratual pode beneficiar

a sociedade diminuindo os custos de transação, facilitando a atividade econômica, fazendo-a

mais eficiente e promovendo a evolução dos recursos para seu uso mais valioso. Para que isso

ocorra, o Direito contratual auxilia as partes, promovendo modelos de atuação, termos

standards e instrumentos para solução de conflitos (BROWSWORD, 2000, p. 25). Assim,

pode-se concluir que o direito dos contratos apresenta-se como uma experiência social

consolidada em regras de caráter supletivo e imperativo (LORENZETTI, 2004, p. 154).

Analisando-se especificamente as funções do contrato, Anna Carolina Resende de Azevedo

Maia (2004) identifica duas como primordiais: econômica e social. A função econômica é

configurada pelo auxílio à circulação de riquezas, ao passo que a função social é caracterizada

pelo papal civilizatório do contrato.

Orlando Gomes (2008, p. 22) afirma que todo contrato tem uma função econômica, na medida

em que o ambiente econômico é regido por uma imensa rede de contratos que o ordenamento

jurídico disponibiliza aos sujeitos para que regulem seus interesses com segurança. Desse

modo, Fernando Araújo (2007, p. 13), compreende que os arranjos contratuais estabelecidos

entre indivíduos, em uma relação colaborativa, não são apenas o liame da coesão social e da

divisão de tarefas, mas são também o meio pelo qual os indivíduos coordenam livremente as

condutas da atividade econômica.

Em razão das funções econômicas que desempenham, Orlando Gomes (2008, p. 22) classifica

os contratos em seis espécies: a) para promover a circulação de riqueza; b) de colaboração; c)

para prevenção dos risco; d) de conservação e acautelatórios; e) para prevenir ou dirimir uma

controvérsia; f) para a concessão de crédito; g) constitutivos de direitos reais de gozo, ou de

garantia, observando-se que no direito brasileiro o contrato não basta de forma isolada para

constituir direitos reais, sendo indispensável a tradição ou a transcrição.

Page 51: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

49

Já a função social do contrato, para Gino Gorla (1954, p. 206) significa que ele deve ser

socialmente útil, de modo que haja interesse público na sua tutela. Por outro lado, Orlando

Gomes (2008, p. 24) interpreta a função social do contrato como a função típica desempenhada

por cada contrato, ou seja, a função que serve para determinar o tipo ou os caracteres típicos de

cada contrato, assim, por exemplo, na compra e venda, sua função típica é a da troca entre

dinheiro e bens.

De todo modo, a função econômica e social do contrato pode ser entendida como a razão

determinante de sua proteção jurídica. Em sentido contrário, os contratos que regulam interesse

sem utilidade social, fúteis ou improdutivos, não merecem proteção jurídica, pois reservada

àqueles com função econômico-social reconhecidamente útil (GORLA, 1954 p. 199).

Por fim, destaca-se que a complexidade da atividade econômica e das relações sociais,

observadas nos dias atuais, faz com que os contratos definidos e disciplinados na lei não

atendam plenamente as necessidades das partes. Por conta disso, o ordenamento jurídico admite

arranjos e combinações atípicas, ampliando-se, assim, imensuravelmente, a esfera dos contratos

(GOMES, 2008, p. 23). Dessa forma, o item 2.2.3 terá como objetivo o estudo dos contratos

atípicos no ordenamento jurídico brasileiro, para se compreender a sua natureza e o seu

objetivo, além da eventual necessidade de sua tipificação.

2.2.3 Contratos atípicos

O ordenamento jurídico brasileiro permite que o sujeito de direito crie obrigações, por meio de

vínculo contratual. Isso porque não está adstrito a usar os tipos contratuais definidos na lei,

desfrutando a liberdade de contratar ou obrigar-se (GOMES, 2008, p. 119).

A lei prevê e disciplina diversos tipos de contratos (compra e venda, empréstimo, locação,

prestação de serviço, seguro etc.), que correspondem às operações econômicas mais propagadas

na sociedade, e são diferenciados entre si, pois cada um reflete um regime particular de

operação, ou seja, um tipo. Quando esse regime é previsto e regulado pela lei, pode-se falar em

tipo legal. Assim, os contratos que correspondem a um tipo legal são denominados contratos

típicos.

Page 52: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

50

Desse modo, quando duas partes precisam regular interesses patrimoniais, na maioria das vezes,

bastará recorrer a um contrato típico. Entretanto, em alguns casos, nenhum tipo legal se mostra

adequado para regular seus interesses. Para essa hipótese, o ordenamento jurídico permite que

as partes elaborem um contrato que não corresponde a nenhum dos esquemas previstos e

regulados pela lei. Esses contratos, criados pelas partes fora dos tipos legais, são denominados

contratos atípicos.

A liberdade para celebrar contratos atípicos não é absoluta, mas sim subordinada às limitações

impostas pela lei. O Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 425, permite às partes estipular

contratos atípicos, observadas as normas gerais do próprio código, respeitando-se, assim, as

normas de ordem pública, os bons costumes e os princípios gerais de direito13.

Pedro Arruda França (2000, p. 47) explica que contratos atípicos surgem das necessidades

socioeconômicas para a realização de negócios e circulação de riquezas, uma vez que seria

impossível a regulamentação de todas as formas de relações intersubjetivas (AZEVEDO, 2009,

p. 69).

Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 109) explica que as relações jurídicas existem desde os

primórdios da civilização, principalmente as convenções, sendo o contrato tão antigo quanto o

próprio ser humano. Destaca, assim, que as regulamentações legais dos institutos jurídicos

ocorreram após a sua existência, reafirmando-os perante a sociedade, que o concebeu pelos

usos e costumes.

Os primeiros contratos eram verbais e suas regras decorriam dos usos e costumes do local. Ao

longo do tempo, com a sedimentação desses contratos e com o aumento da complexidade das

relações socioeconômicas, exigiu-se uma regulamentação sistêmica, aperfeiçoada até os dias

atuais (AZEVEDO, 2009, p. 110).

13 As normas de ordem pública ou cogentes são aquelas de aplicação obrigatória, pois interessam à coletividade,

não podendos ser afastadas pela autônima privada (TARTUCE, 2014, p. 32). Pode-se citar como exemplo os

direitos de personalidade, artigos 11 a 21 do Código Civil (BRASIL, 2002), e nulidade absoluta dos negócios

jurídicos. Já os bons costumes, conforme Carlos Alberto da Mota Pinto (1996), referem-se a um conjunto de regras

éticas, com peso social relevante, aceitos por pessoas corretas e de boa-fé, vinculando-se ao conceito de moral

social dominante. Por fim, os princípios gerais de direito, conforme a lição de Carlos Roberto Gonçalves (2014,

p. 66) são constituídos de regras, de caráter genérico, que orientam a compressão do sistema jurídico, estando ou

não incluídas no direito positivo. Afirma que em sua maioria estão implícitos no sistema jurídico civil, como por

exemplo, que ninguém pode valer-se da própria torpeza e que boa-fé se presume.

Page 53: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

51

Entretanto, novas figuras contratuais foram surgindo em decorrência das necessidades das

partes e observou-se a impossibilidade do legislador em regulamentar todas as possíveis formas

contratuais que poderiam existir. Desse modo, privilegiou-se a liberdade de contratar, com a

permissão para a criação de contratos pelos indivíduos, que atendessem as suas necessidades.

Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 110) constata que “a liberdade no âmbito contratual

revolucionou os meios jurídicos, e foi responsável, ainda, pelo desaparecimento dos

formalismos exagerados vindos dos romanos”.

A liberdade de contratar apresenta-se como uma particularização do princípio da autonomia da

vontade, que significa, de acordo com Orlando Gomes (2008, p. 25), “o poder dos indivíduos

de suscitar, mediante declaração de vontade, efeitos reconhecidos e tutelados pela ordem

jurídica”. Manifesta-se, assim, sobre um tríplice aspecto: i) liberdade de contratar propriamente

dita; ii) liberdade de estipular o contrato; iii) liberdade de determinar o conteúdo do contrato.

Entretanto, a liberdade de contratar não é absoluta, uma vez que pode se transformar em um

instrumento de dominação da parte vulnerável. Assim, Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 111)

atenta que ela “está condicionada a certos princípios de convivência intersubjetiva, para que

não se verifiquem abusos e para que se reafirme, sempre, a ideia de que o Direito não pode ser

a própria Justiça, mas para ela deve tender”.

Portanto, os contratos atípicos são aqueles que não se enquadram nos moldes estabelecidos pela

lei. Assim, Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 69) entende que “a tipicidade significa presença,

e a atipicidade ausência, de tratamento legislativo específico”. Será atípico, dessa forma, o

contrato não disciplinado por lei, que não se enquadrar em nenhum dos tipos legalmente

definidos, mas não necessariamente desprovido de denominação. Isso, porque, apesar de

legalmente atípicos, são socialmente típicos, apresentando um nome e um regramento

decorrente dos usos e costumes.

Os contratos atípicos podem ser criados a partir de elementos originais ou serem resultado da

fusão de elementos próprios de outros contratos. De acordo com Orlando Gomes (2008, p. 120),

podem se formar “pela modificação de elemento característico de contrato típico, pela

eliminação de elementos secundários de um contrato típico ou estabelecidos livremente pelas

partes, sem a observação de um padrão”.

Page 54: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

52

Desse modo, podem ser classificados como atípicos puros ou atípicos mistos. Os atípicos puros

são os que decorrem da livre criação pelas partes, sem fazer referência a elementos de contratos

existentes. Já os contratos atípicos mistos resultam da fusão de elementos próprios de contratos

típicos, ou conjugados com elementos criados pelas partes.

A classificação externa importância prática, pois na celebração de um contrato atípico, as partes

devem tomar o cuidado de minuciar ao extremo suas cláusulas, porque falta a sua

regulamentação legal. Além disso, Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 52) atenta que “na

solução das controvérsias que surgirem, o julgador ou intérprete terá de invocar, em suprimento

do conteúdo das cláusulas próprias, os princípios relativos ao contrato típico mais próximo”.

Dessa maneira, um dos principais problemas dos contratos atípicos refere-se à aplicação do

regime jurídico apropriado. Enquanto não receberem uma tutela legal específica, o contrato

deverá ser interpretado de acordo com as normas do próprio instrumento e as normas gerais das

obrigações e contratos, previstas do Código Civil (BRASIL, 2002). Por fim, pode-se utilizar

como parâmetro interpretativo as normas dos contratos típicos om os quais, segundo a análise

do caso concreto, mais se aproxime.

Nesse sentido, segundo Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 70), incumbe ao Poder Judiciário a

tarefa de “controlar os excessos contratuais que desfiguram os interesses normais dos

contratantes e fazem das convenções verdadeiros instrumentos de escravização do homem”.

Por sua vez, incumbe ao Poder Legislativo, quando se demonstrar necessário, regular o contrato

atípico, estabelecendo legalmente o seu conteúdo.

Isto, porque, a liberdade pode ser limitada para que não se configurem abusos. Assim, a lei deve

trazer uma orientação segura para os contratos atípicos, mas também vesti-los com a tipicidade,

quando o seu exercício representar um risco aos indivíduos vulneráveis. Acentua-se que no

processo de tipificação, o legislador deve estar ciente de que uma lei restritiva pode gerar a

criação de outros contratos atípicos, formados com a finalidade de desobrigar-se da

interferência estatal.

Esse fato pode ser observado na formação de contratos agrários atípicos, como o contrato de

fornecimento com corte, carregamento e transporte, e o de agroindustrial de integração, que,

Page 55: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

53

em alguns elementos, aproximam-se dos contratos típicos de arrendamento e parceria, mas

também deixam de se obrigar a cláusulas contrárias aos seus interesses.

Desse modo, no item 2.2.4 será estudada a regulação contratual como limitadora da autonomia

da vontade. Assim, pretende-se discutir como o processo de tipificação deve ocorre para evitar

a criação de novos contratos atípicos, como forma de esquivar-se de leis restritivas. Em suma,

como o Estado deve proceder na tipificação de um contrato atípico.

2.2.4 Regulação contratual

A crescente limitação da liberdade contratual pelo poder público é um dos aspectos mais

significantes da moderna evolução do direito do contrato, assim como do próprio direito

privado. O fenômeno relaciona-se às transformações sociais, econômicas e políticas que

caracterizaram a passagem do Estado liberal para o Estado social.

No Estado liberal, Vincenzo Roppo (2010, p. 436) aponta que o princípio da absoluta liberdade

de iniciativa econômica (laissez-faire) trazia consigo o corolário da absoluta liberdade

contratual. Assim, os indivíduos eram livres para celebrar entre si contratos, da maneira como

gostariam, sem que o poder público intervisse, controlando ou limitando o acordado.

Entretanto, em razão da profunda desigualdade existente entre as diversas categorias de

contratantes, os vulneráveis nos planos econômico e social gozavam de uma liberdade apenas

formal, porque, em substância, a sua liberdade era esmagada pelo poder contratual superior dos

mais fortes (COSENTINI, 1911).

Já no Estado social, afirmou-se a ideia de que compete ao poder público assegurar aos

indivíduos liberdade e igualdade, não apenas no sentido formal, mas fundamentalmente em

sentido substancial, impedindo que a perseguição de interesses meramente privados violem

interesses gerais.

Nesse sentido, verificou-se a multiplicação de intervenções públicas limitadoras da liberdade

contratual, com objetivo de proteger o interesse geral e os interesses de categorias sociais

vulneráveis. Isso, porque, reconheceu-se que a desigualdade econômica-social entre as partes

se traduz em uma disparidade de poder contratual, pela qual a parte vulnerável não possui a

Page 56: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

54

efetiva possibilidade de proteger adequadamente os seus interesses através do contrato

(ROPPO, 2010, p. 437).

Para atingir essa finalidade, Orlando Gomes (2008, p. 36) pontua três técnicas que o Direito

Positivo utiliza para impedir as consequências da aplicação absoluta dos interesses

individualistas: i) conversão de leis supletivas em leis imperativas; ii) controle da atividade de

certas empresas; iii) discussão corporativa. Pode-se observar, assim, que a intervenção do

Estado na economia não ocorre apenas nas formas tradicionalmente reconhecidas, como o

controle da atividade empresarial ou das relações de trabalho, mas também na imposição do

conteúdo contratual.

De acordo com Orlando Gomes (2008, p. 36) “o processo de conversão de leis supletivas em

imperativas ensejou a elaboração de novo princípio do Direito Contratual, o da regulamentação

legal do conteúdo dos contratos”. Dessa maneira, em razão das disposições legais imperativas,

as partes são obrigadas a aceitar determinado conteúdo, não podendo pleitear efeito jurídico

diverso, o que configura um estreitamento da autonomia e da liberdade. Seguindo o estudo de

Louis Josserand (1938), tais circunstâncias representariam a publicização do contrato,

instrumentalizada pelo que denominou contrat dirigé14.

O dirigismo contratual, de acordo com Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 24), pode ser

considerado sinônimo da intervenção do Estado na vida do contrato e deve ser analisado sobre

três aspectos: i) imposição da contratação, como nos casos da prorrogação da locação de prédio

urbano, segundo artigo 46 da Lei n. 8.245/1991 (BRASIL, 1991) ou da prorrogação do

arrendamento rural em caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, de acordo

com o artigo 95, I, do Estatuto da Terra (BRASIL, 1964); ii) instituição de cláusulas coercitivas,

insuscetíveis de derrogação pelas partes, conforme observado em diversos elementos dos

contratos agrários de arrendamento e parceria, como o prazo mínimo de duração, previsto no

artigo 13, II, a, do Decreto n. 59.566/1966 (BRASIL, 1966); iii) concessão legal ao juiz da

faculdade de rever o contrato e estabelecer condições de execução, substituindo a vontade dos

contratantes, projetando a sentença como se fosse a declaração volitiva da parte.

14 Louis Josserand (1933, p. 223) entende por dirigismo contratual a intervenção estatal no direto dos contratos,

com a finalidade de adequar adequá-los aos fenômenos sociais e econômicos imprevistos. Baseia-se, assim, em

duas premissas: i) primazia de normas de ordem pública predeterminando o seu conteúdo; ii) possibilidade de

revisão judicial para sua modificação, em razão de mudanças econômicas.

Page 57: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

55

No mesmo sentido, Darcy Bessone (1960, p. 54-55) comunga da noção ampla de dirigismo

contratual, ao classifica-lo em: i) intervenção legislativa, por intermédio da regulamentação

detalhada, contrariando os princípios tradicionais; ii) intervenção judicial, permitindo-se aos

juízes revisarem os contratos; iii) intervenção do legislador e do juiz, com a utilização dos

princípios da equidade, da solidariedade e das teorias humanizadoras do direito – lesão,

imprevisão, abuso de direito e enriquecimento sem causa.

Ressalta-se que o dirigismo contratual pode atuar em dois estágios: anterior ou posterior à

celebração do contrato. O dirigismo anterior à celebração do contrato engloba a fase pré-

contratual e a de sua formação, representado na criação de tipos fixos de contratos, na regulação

legislativa minuciosa e na imposição de contratos padrões ou na observância de certas cláusulas,

compreendidas como de ordem pública. Já o dirigismo posterior à celebração do contratual

abrange a fase da execução, da dissolução e a pós-contratual, correspondendo ao princípio da

revisão dos contratos, assegurado pelas teorias da imprevisão, do abuso do direito, da lesão e

do enriquecimento sem causa.

Em suma, o dirigismo contratual reconhece que a existência de desigualdade social e econômica

entre as parte favorece o abuso do mais forte. Desse modo, de acordo com Orlando Gomes

(2008, p. 37), pretende-se corrigir essa situação, compensando a inferioridade econômica ou

circunstancial de uma das partes com uma superioridade jurídica.

Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 25) entente que a intervenção do Estado na vida do

contrato não representa o seu fim, mas apenas um novo capítulo de sua evolução. Afirma que

o jurista não pode desprender-se das ideias dominantes no seu tempo, como ocorre com a

redução da liberdade de contratar em benefício da ordem pública. O referido movimento tem

como principal objetivo efetivar os interesses coletivos sobre os de ordem privada.

Por outro lado, além da proteção do contratante vulnerável, Fernando Araújo (2007, p. 106)

entende que a regulação contratual deve garantir a estabilidade do pactuado, ou seja, garantir o

empenho dos contratantes na prossecução de interesses partilhados, na medida em que a

essência do contrato é a adstrição a uma conduta, a vinculação obrigacional. Entretanto, a gestão

simultânea desses objetivos pode se demonstrar uma complexa empreitada.

Page 58: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

56

De acordo com Fernando Araújo (2007, p. 106), a tutela jurídica do contrato, por meio de uma

teoria normativa, deve facilitar a promoção simultânea de três grandes valores de eficiência que

se almejam na contratação: i) gestão do risco entre as partes, promovendo a sua concentração

nas mãos do least-cost risk bearer (CHEUNG, 1969; STIGLITZ, 1974); ii) alinhamento dos

incentivos, quando verificada a assimetria de informação ou a amplitude das margens de

oportunismo (HART; HOLMSTRÖM, 1987); iii) redução dos custos de transação, incluindo

os custos inicias de busca e os custos de prevenção e de combate ao oportunismo e ao holdup

contratual, proporcionando supletivamente cláusulas eficientes, elementos de informação ou

meios de redução dos custos de litigância (WILLIAMSON, 1975; 1979).

A gestão simultânea entre os objetivos pode gerar dificuldades e impasses, em razão do

entendimento quanto às finalidades da disciplina jurídica dos contratos. Isso, porque, o regime

jurídico proposto por um defensor de critérios de justiça substantiva, com entendimento de que

o desequilíbrio entres as partes é um obstáculo à eficiência, será completamente diverso do

proposto por um defensor do critério procedimental, para o qual a eficiência constitui o próprio

fundamento da justiça entre as partes, na medida em que a eficiência resultaria em maximização

do resultado pretendido pelos contratantes (ARAÚJO, 2007, p. 107)

Nesse sentido, Fernando Araújo (2007, p. 108) identifica cinco finalidades para a disciplina

jurídica do contrato: i) tornar exigíveis os termos contratuais; ii) fornecer uma tipificação

supletiva e um vocabulário às práticas contratuais; iii) facultar critérios de interpretação do

contrato; iv) proporcionar às partes um elenco de normas supletivas; v) regulamentar e

supervisionar o processo de contratação, interferindo no seu desenvolvimento.

As normas supletivas disponibilizadas para as partes podem ser de três tipos: i) normas

supletivas facilitadoras: remover obstáculos em prol da maximização do bem-estar nas trocas;

ii) normas supletivas indutoras de revelação: desincentivar a retenção de informação; iii)

normas supletivas justas: alinhar interesses privados com objetivos coletivos (ARAÚJO, 2007,

p. 109).

Por fim, a regulamentação e a supervisão do processo de contratação pode se desenvolver em

diversas modalidades: i) impedir a validade dos contratos assentados em dolo; ii) opor-se a

modificações de contratos ou de condutas contratuais que exploram a parte contrária; iii)

favorecer soluções eficientes ex post; iv) favorecer a solução justa ex post, impondo restituição

Page 59: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

57

do excedente do limite de legitimação do enriquecimento de cada parte, dentro da troca de

utilidades (ARAÚJO, 2007, p. 109).

Entretanto, o ordenamento jurídico brasileiro pós-Constituição Federal de 1988 (BRASIL,

1988), com forte inspiração nas concepções do Estado social, não pode admitir, de modo

absoluto, a ideia do contrato como lei entre as partes, em um sistema ao arbítrio das convenções.

Desse modo, Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 133) afirma que o Estado deve intervir para

diminuir os abusos, perseguindo o fim do Direito, de garantir a Ordem Social, a Segurança

Social e a Justiça.

Arnold Wald (2002, p. 222) reafirma que a tendência atual do direito de interferir nas relações

contratuais tem como objetivo aumentar a proteção do contratante vulnerável, mas não deve

reduzir ou limitar o número de contratos atípicos e a liberdade das partes em criar novos

contratos. Esse entendimento decorre da impossibilidade de um ordenamento jurídico positivo

prever todas as soluções dos problemas humanos. Deve, assim, de acordo com Álvaro Villaça

Azevedo (2009, p. 132), limitar e regular os institutos de modo geral, impedindo que uma parte

escravize a outra, mas permitindo que cada indivíduo “se sinta livre para viver com seus direitos

e deveres, respeitando os demais.

Em razão da impossibilidade de conter todas as soluções para os problemas humanos, Álvaro

Villaça Azevedo (2009, p. 133) defende que a lei deva regular os problemas que já existem de

longa data, que são do conhecimento geral, regulados pelos usos e costumes e reconhecidos

pela jurisprudência. Assim, a lei deve conter a solução de problemas doutrinários já existentes,

mesmo que seja necessário definir institutos jurídicos, contrariando a máxima omnis definitio

in iure civili periculosa est: parum est enim, ut non subverti posset 15.

Dessa forma, o legislador deve se preocupar com a sociedade, pois dela deve emergir a lei,

atendendo aos seus anseios, trazendo soluções para os problemas existentes, resolvendo

conflitos doutrinários e jurisprudenciais e garantindo a segurança jurídica, tendo sempre como

fundamento o respeito à dignidade do ser e buscando a promoção da igualdade substancial entre

os indivíduos. Caso contrário, a lei será ineficaz, ou, ainda pior, poderá causar efeitos negativos

nas relações jurídicas, criando conflitos até então inexistentes.

15 No direito civil toda definição é perigosa: porque pouco há que não possa ser impugnado.

Page 60: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

58

As escolhas legislativas, na regulação dos contratos, são determinantes para a configuração dos

arranjos contratuais adotados pela sociedade, principalmente em âmbito empresarial, pois

afetam diretamente os custos de transação. Desse modo, a lei deve trazer soluções contratuais

que garantam eficiência à relação jurídica. Assim sendo, uma lei que apresente restrições em

excesso ou que seja mal redigida, trazendo efeitos negativos, pode resultar na criação de novos

contratos atípicos, como forma de escapar das obrigações legais existentes.

Quanto aos contratos atípicos, devem ser regulamentados pelo ordenamento, para que se

garanta segurança jurídica aos contratantes, mesmo que por um regramento genérico, como

observado no Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002). Álvaro Villaça Azevedo (2009, p. 182)

vai além, ao entender que não se trata de abandonar a disciplina dos contratos-tipos para a livre

manifestação da vontade das partes, mas torna-se necessário a regulamentação dos contratos

atípicos, com a fixação de seu conceito e dos princípios gerais que os informa, além das

limitações específicas indispensáveis.

Em suma, como deve ser realizada a gestão simultânea do princípios da autonomia da vontade

com a atual necessidade de se proteger a parte vulnerável, garantindo-se uma igualdade

substancial? A tendência moderna, decorrente do Estado social, é intervir cada vez mais nas

relações entre particulares, evitando o uso de poder social ou econômico para dominação de

outros indivíduos. Entretanto, uma intervenção em excesso pode ser prejudicial ao sistema

social e econômico, aumentando os custos de transação e diminuindo a eficiência nas relações

jurídico-econômicas.

Não se pode perder de vista as limitações inerentes de toda heterodisciplina. Nesse sentido,

Fernando Araújo (2007, p. 111) afirma que por vezes é incomportavelmente custoso tentar

fornecer soluções institucionais às complexidades e especificidades das relações contratuais,

pois minuciar e regular todo o conjunto dos contratos possíveis seria praticamente impossível,

salvo por incalculáveis custos sociais.

Nesse capítulo buscou-se estudar a relação existente entre as instituições e a opção por arranjos

contratuais, bem como a potencialidade de leis restritivas resultarem na criação de contratos

atípicos. Além disso, analisou-se como a concepção político-econômica influencia na noção

Page 61: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

59

sobre o contrato, alterando-se o conteúdo das normas que o disciplinam e o grau de interferência

do Estado nas relações econômicas.

Desse modo, o próximo capítulo terá como objetivo o estudo do sistema de integração no

agronegócio e do contrato agroindustrial de integração. Com esse aporte, conjugando-se com o

referencial teórico da Nova Economia Institucional e do Direito dos Contratos, pretende-se, no

último capítulo, verificar quais são os impactos jurídicos da tipificação do contrato

agroindustrial de integração para o setor avícola brasileiro.

Page 62: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 63: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

61

3 INTEGRAÇÃO AGROINDUSTRIAL

O contrato agroindustrial de integração16 é resultado do processo de modernização da

agricultura, que deixa de ser atividade eminentemente primária, voltada para a subsistência, e

passa a se inserir no mercado. As mudanças operadas pela agricultura alteraram as relações do

agricultor com os demais agentes econômicos, contribuindo para a especialização da produção

e para a modernização dos modelos industriais e de comercialização (PAIVA, 2010).

O sistema de produção integrado foi introduzido no Brasil na década de 1960, na avicultura

catarinense. O modelo contratual tornou-se fundamental para o crescimento e desenvolvimento

de diversas atividades agrárias, destacando-se a avicultura, suinocultura, fruticultura e

piscicultura. Criado pelas necessidades socioeconômicas dos agentes da cadeia, foi tipificado

no Brasil no ano de 2016, pela Lei n. 13.288 (BRASIL, 2016)

Desse modo, os contratos de integração desempenham uma função de modernização da

agricultura brasileira, constituindo uma cooperação entre o setor produtivo, transformador e

distribuídos. Para Nunziata Paiva (2010, p. 185), “o papel desses contratos seria o de fortalecer

a atividade empresarial através da minimização dos riscos existentes, sobretudo às oscilações

de mercado”.

Neste capítulo, pretende-se estudar a teoria jurídico-econômica aplicada aos contratos de

integração e a sua natureza agroindustrial. Como ponto de partida, deve-se analisar os conceitos

econômicos de integração vertical e de integração contratual, explicando-se as diferenças

terminológicas adotadas pelo Direito e pela Administração, delimitando-se, assim o objeto de

pesquisa. Além disso, aprofundar-se-á o estudo com as razões, vantagens e desvantagens e

custos e riscos da integração vertical, por fim a tendência de desverticalização, em sua acepção

econômica.

16 A Lei n. 13.288/2016 traz as denominações contrato de integração vertical ou contrato de integração.

Entretanto, optou-se pela não utilização da expressão integração vertical, pois refere-se a um conceito econômico

determinado, ou seja, estar sob o mesmo comando decisório e envolver a propriedade total ou parcial dos ativos

(SOUZA, 2007, p. 24). No caso em discussão, ocorre uma quase-integração ou integração contratual, em que as

partes continuam juridicamente independentes. A inclusão do termo agroindustrial faz referência ao gênero em

que se insere o contrato de integração, utilizado no Sistema Agroindustrial para programação da produção e da

transformação e para colocação no mercado de produtos agrícolas conforme à demanda de quantidade e de

qualidade (CARROZZA, 1990, p. 321). Para o texto deste trabalho, optou-se por utilizar a expressão simplificada

trazida pela lei, ou seja, contrato de integração, de modo a deixar a leitura mais fluída.

Page 64: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

62

Antes de se estudar os contratos de integração, será analisado os sistemas agroindustriais e a

integração vertical. Por fim, o estudo do contrato de integração englobará as características e a

distinção com outros tipos contratuais, além de análise dos aspectos disciplinados pela Lei n.

13.288/2016 (BRASIL, 2016).

3.1 INTEGRAÇÃO VERTICAL X INTEGRAÇÃO CONTRATUAL

Preliminarmente, é necessária uma definição geral do fenômeno de integração, comparando-se

as terminologias empregadas pelo Direito e pela Administração sobre a integração vertical e a

integração contratual, delimitando-se, assim, o objeto de pesquisa.

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL), ao definir o referido contrato, segue o que já era encontrado

nos costumes agroindustriais brasileiro, tratando-o como contrato de integração vertical ou,

simplesmente, contrato de integração. Ressalta-se que, para a Administração, a integração

vertical se refere a uma estratégia de verticalização de decisão, ou seja, de desenvolvimento de

diversas etapas de um processo produtivo dentro de um mesmo comando decisório.

Desse modo, a estrutura analisada, popularmente chamada de integração vertical, trata-se, na

realidade, de uma integração contratual, ou “quase-integração”, na medida em que há fortes

relações entre as partes, mas não estão sujeitas a um único comando decisório, envolvendo a

propriedade total dos ativos (NEVES, 1995, p. 31).

A integração vertical, para Michael Porter (2008), designa o agrupamento de vários processos

de produção, distribuição, vendas ou outros processos tecnologicamente distintos dentro de uma

mesma estrutura. Já Robert Grant (2002), concebe a integração vertical como a propriedade de

atividades relacionadas verticalmente, ou seja, quanto maior a propriedade e o controle sobre

as sucessivas etapas de produção, maior será seu grau de integração vertical.

Em vista disso, o ponto central para a configuração da integração vertical é estar sob o mesmo

comando decisório e envolver a propriedade total ou parcial dos ativos (SOUZA, 2007, p. 24).

Nessa estratégia, utiliza-se transações internas em vez de transações de mercado ou mistas, por

“acreditar ser mais barato, mais fácil e menos arriscado desenvolver atividades administrativas,

produtivas, de distribuição ou marketing internamente do que ter que recorrer ao mercado”

(NEVES, 1995, p. 31).

Page 65: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

63

A estratégia de verticalização, segundo Robert Grant (2002), pode transcorrer em duas direções:

i) integração para trás, com o controle da produção de seus insumos; ii) integração para frente,

com o controle dos canais de distribuição. Nas duas hipóteses, a verticalização pode ser total

ou parcial. Quando parcial, apenas parte da cadeia será integrada (SOUZA, 2007, p. 24).

Entretanto, deve-se notar que, na realidade, em muitas situações não se verifica uma própria e

verdadeira integração vertical, apenas o fenômeno descrito como quase-integração, que

corresponde ao meio termo entre a integração total e o mercado17. A quase-integração também

é denominada de integração contratual, pois há a manutenção da independência jurídica das

partes. Na integração vertical, não se verifica a independência econômica e jurídica das partes,

já que os processos estão agrupados dentro da mesma estrutura, sob o mesmo comando

decisório. Já na estrutura de mercado, conserva-se a independência econômica e jurídica entre

as partes (JANNARELLI, 1981, p. 327).

Desse modo, a própria definição legal do contrato de integração deixa claro tratar-se de uma

relação contratual, e não propriamente de uma verticalização, conforme a teoria econômica.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - integração vertical ou integração: relação contratual entre produtores integrados e

integradores que visa a planejar e a realizar a produção e a industrialização ou

comercialização de matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final,

com responsabilidades e obrigações recíprocas estabelecidas em contratos de

integração (BRASIL, 2016).

Destaca-se, por fim, que a principal diferença entre a integração vertical e a quase-integração é

a manutenção da independência jurídica entre as partes. Entretanto, do ponto de vista

econômico, a independência é mitigada pelo contrato, estando o produtor-integrado sujeito ao

comando decisório do integrador. Assim, algumas das razões para a integração vertical podem

ser aplicadas à integração-contratual, na medida em que ambas representam uma alternativa à

estrutura de governança de mercado.

3.1.1 Razões econômicas para a integração vertical

17 Nesse sentido, o termo mercado refere-se à estrutura de governança distinta da hierárquica e da híbrida, pautado

por transações instantâneas, ou seja, por contratos de curta duração e de execução imediata, como, por exemplo, a

compra e venda de insumos.

Page 66: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

64

Para se entender as razões econômicas que influenciam a decisão de integrar verticalmente a

atividade, parte-se dos preceitos da Nova Economia Institucional, sobretudo do estudo de Oliver

Williamson (1985), que identificou que a escolha de governança é induzida por três fatores: i)

ambiente institucional; ii) características da transação; iii) pressupostos comportamentais. Na

tentativa de ter comportamento eficiente e de minimizar os custos de transação, levando-se em

conta esses três indutores, poderá optar por três estruturas de governança: i) hierárquica, ou

seja, de integração vertical; ii) mercado, com contratos de curta duração para execução

imediata; iii) forma hibrida, mediante contratos de longa duração.

Marcos Fava Neves (1995, p. 31) aponta três principais razões para a integração vertical: i)

falhas de mercado elevando os custos de transação; ii) interdependência tecnológica em

operações tecnicamente encadeadas, como na produção de ferro e aço; iii) integração por razões

monopolísticas.

Em razão da existência de falhas no mercado18, que elevam os custos de transação, a opção por

verticalização deverá ser adotada até o nível em que os custos de produção internos sejam

inferiores aos de se buscar no mercado. Além disso, a integração pode ocorrer como reação a

mercados monopolizados de fatores de produção, redução do risco de quebra de relação

contratual, redução dos custos de transação e evasão de impostos (NEVES, 1995, p. 31).

Richard Kilmer (1986), ao estudar a integração vertical na agricultura, pontuou fatores

indutivos e inibitivos da integração. Assim, informação imperfeita, quotas, intervenções

governamentais e distorções oriundas de impostos, são fatores indutivos da integração vertical,

pois podem ser mitigados com essa estratégia. Por outro lado, custos de aquisição, financeiros

e administrativos para implementar a estratégia de verticalização são fatores inibitivos a esse

processo.

Desse modo, na tomada de decisão, deve-se avaliar as seguintes questões, apontadas por Marcos

Fava Neves (1995, p. 32): i) análise dos custos de transação; ii) economias de escala e escopo;

iii) fluxo de informações e tecnologia; iv) custos administrativos e economias fiscais; v) riscos;

vi) estratégias de diversificação; vii) barreiras à entrada; viii) custos estratégicos; ix)

18 Marcos Fava Neves (1995, p. 31) aponta que as falhas de mercado podem ser decorrentes de informações

imperfeitas, externalidades, poder de monopólio e bens públicos coletivos.

Page 67: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

65

diferenciação de produtos e serviços. A escolha, em suma, será feita com base na análise dos

custos de produção e nos custos de transação, coligada com os fatores descritos.

Isso, porque, a integração vertical apresenta benefícios, mas também custos, que precisam ser

considerados na tomada de decisão, variáveis a depender do setor produtivo analisado. Assim,

encaminha-se para a análise das vantagens e desvantagens da integração vertical, conjugando-

se uma discussão quanto aos custos e aos riscos da adoção dessa estratégia.

3.1.2 Vantagens e desvantagens econômicas da integração vertical

Michael Porter (2008, p. 309) apresenta as seguintes vantagens da integração vertical: i) reduzir

custos; ii) aprimorar tecnologias; iii) assegurar oferta e demanda; iv) compensar o poder de

negociação e as distorções nos custos dos insumos; v) melhorar a capacidade de diferenciação;

vi) consolidar as barreiras contra a entrada e contra a mobilidade; vii) inserir-se em negócio

com alto rendimento; viii) defender-se contra a exclusão.

Preliminarmente, os benefícios da integração vertical dependem do volume de produtos ou

serviços adquiridos ou vendidos, relacionado ao tamanho eficiente das instalações dessa etapa.

Assim, para se beneficiar da redução de custos, deve possuir um volume de produção suficiente

para aproveitar as economias de escala. Desse modo, poderá lograr economias na produção, nas

vendas, nas compras, no controle e em outras áreas contíguas.

Nessa hipótese, a verticalização poderá resultar em diversas economias. A integração de

operações distintas do ponto de vista tecnológico pode gerar eficiências, como redução dos

custos de transporte e da utilização de capacidade ociosa. Além disso, pode diminuir os custos

de controle e de coordenação, já que submetidos a um mesmo comando decisório. Pode-se

obter, também, economias de informação, responsável por significativa parcela dos custos de

transação. Por fim, pode resultar em economia por desenvolver relações estáveis, protegendo-

se das oscilações de oferta e preço por produtos.

Em segundo lugar, a integração vertical pode induzir o aprimoramento tecnológico, com o

domínio de novas tecnologias. Por seu turno, assegura a oferta e a demanda, mitigando a sua

incerteza, pois passam para o controle interno. No mais, a integração vertical poderá compensar

o poder de negociação e as distorções nos custos dos insumos, diminuindo o custo para obtê-lo

Page 68: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

66

ao eliminar os custos de transação. Além disso, pode melhorar a capacidade de diferenciação

de seus concorrentes, oferendo um maior valor agregado, com um maior controle de sua

qualidade.

O alcance das vantagens citadas poderá resultar em barreiras contra a entrada e contra a

mobilidade, pois possuirá vantagem competitiva sobre os demais, em relação aos preços, custos

mais baixos ou menor risco. Ademais, é possível o incremento faturamento ao adotar a

estratégia de verticalização, pois a etapa integrada representa uma fonte autônoma de retorno.

Por fim, pode ser um mecanismo de defesa contra a exclusão de mercado, em razão do

fechamento de acesso aos fornecedores, aos clientes ou aos concorrentes verticalizados, mesmo

que isso não origine outros benefícios positivos.

Anita Kon (1999, p. 95) enfatiza que a opção pela integração vertical pode decorrer de razões

técnicas ou econômicas. A primeira seria a eliminação de custos desnecessários de mercados

ou de transações, como os custos de negociação dos preços ou com despesas promocionais ou

de publicidade. Além disso, haveria uma minimização dos custos de coleta, processamento e

uso de informações. Ademais, possibilita-se a eliminação das margens de lucro embutidas no

preços dos produtos e a garantia de disponibilidade e quantidade de insumos necessários.

Com a garantia de disponibilidade dos insumos, pode-se eliminar os custos fixos de estocagem,

diminuindo, assim, os riscos inerentes à manutenção de estoques, necessários para assegurar o

acesso aos insumos frente a flutuações de preço. Por fim, pode-se adquirir maior controle do

mercado, quanto ao fornecimento de insumos ou quanto aos consumidores (KON, 1999, p. 96).

Entretanto, apesar de todas as vantagens que a adoção da estratégia da integração vertical pode

resultar, alguns riscos e custos inerentes à sua implementação precisam ser avaliados. Nesse

sentido, Michael Porter (2008, p. 315) apresenta alguns custos estratégicos da verticalização: i)

custos de superação de barreiras de entrada; ii) aumento do custo operacional; iii) diminuição

de flexibilidade; iv) dificuldades de se administrar grandes corporações; v) custos de

oportunidade; vi) uso de incentivos organizacionais internos frente aos do mercado.

Michael Porter (2008, p. 315-316) aponta que, em primeiro lugar, deve-se superar os custos de

barreira de entrada ao novo setor, sobretudo as barreiras competitivas, como, por exemplo, o

acesso aos canais de distribuição e a diferenciação de produtos. A entrada no setor pode esbarrar

Page 69: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

67

em tecnologias protegidas por patentes e no acesso restrito à matéria-prima, representando um

custo adicional. Em segundo lugar, a integração vertical representa um crescimento dos custos

operacionais, pois a empresa deverá arcar com os custos fixos de produção mesmo que a

demanda final pelo produto diminua circunstancialmente.

Além disso, optar pela integração vertical resulta na diminuição da flexibilidade para se trocar

parceiros comerciais. Assim, o desenvolvimento tecnológico expõe estruturas verticalizadas a

um risco de fracasso estratégico e a problemas financeiros, porque a adoção de nova tecnologia

demandará mais esforços, com o empenho significativo de capital, do que a simples troca de

parceiro comercial, em direção ao de tecnologia mais recente. Conjuga-se a isso necessidade

de investimento de capital e, deste modo, a integração vertical deve produzir um rendimento

maior ou igual ao custo de oportunidade (PORTER, 2008, p. 316-317).

Outro custo significativo apontado por Michael Porter (2008, p. 317-318) diz respeito à

responsabilidade de desenvolver sua própria capacidade tecnológica, pois a verticalização pode

afastar o fluxo de tecnologia que antes era oriundo de seus fornecedores ou clientes. Deve,

também, manter o equilíbrio entre as capacidades produtivas das unidades principais e das

integradas. O desequilíbrio pode resultar da desigualdade na capacidade de incremento de

eficiência nas diversas etapas ou das mudanças tecnológicas em uma das etapas.

Por fim, a integração pode representar a diminuição dos incentivos das etapas integradas, já que

produzem internamente, não disputando diretamente o mercado. Ao seu lado, as etapas

produtivas demandam distintas necessidades administrativas, o que pode ocasionar perda de

competitividade e atraso tecnológico, gerando maior custo (PORTER, 2008, p. 318-319).

Desse modo, pode-se concluir que nem sempre a opção pela integração vertical irá resultar em

benefícios. Por outro lado, Michael Porter (2008, p. 324) reconhece a possibilidade de se obter

algumas vantagens econômicas da integração vertical com a utilização de contratos,

principalmente de longo prazo. Essa estratégia é denominada de quase-integração ou integração

contratual, e representa uma desverticalização jurídica, mas com a conservação, em certo grau,

de dependência econômica, ao manter parte do poder decisório.

3.1.3 Desverticalização

Page 70: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

68

Nos últimos anos, principalmente a partir da década de 1990, foi possível observar uma

tendência para a formação de estruturas organizacionais em rede19, em decorrência do aumento

de pressões competitivas. Nota-se uma inclinação para a adoção de estruturas enxutas, ágeis e

flexíveis, ao contrário da década de 1970, em que predominava o tamanho e a robustez, como

forma de barreira à entrada de concorrentes (FLIGSTEIN, 2001).

De acordo com Timothy Sturgeon (2002), a formação de redes empresariais tem como objetivo

a retomada do foco para as atividades específicas, melhorando a performance econômica. Desse

modo, permite-se a concentração de esforços em atividades essenciais, delegando, assim, as

funções secundárias.

Para Michael Porter (2008, p. 327), com a quase-integração, é possível atingir muitos dos

benefícios da integração vertical, sem incorrer em parte de seus custos. Desta forma, a

celebração de contratos de longa duração pode garantir a comunhão dos interesses das partes,

facilitando acordos especializados que reduzem os custos de contratação, diminuem os riscos

de oscilação de preço ou de interrupção da oferta ou da demanda, e minimizam o poder de

negociação. Um dos principais benefícios é a não obrigação de investimentos de capital na

estruturação de uma integração vertical, não se exigindo a administração de atividades conexas.

Por outro lado, alguns benefícios não serão atingidos com a quase-integração, como o

incremento de faturamento por fonte autônoma ou o fortalecimento de barreiras de entrada. A

escolha dependerá da estratégia que melhor auxilie na persecução de seus objetivos. Algumas

particularidades do sistema agroindustrial influenciam nessa escolha, conforme será estudado

no item 3.2.

Com base nessas informações, a agroindústria poderá optar em realizar a produção de seus

insumos de forma integrada, sobretudo em atividades agropecuárias, ou celebrar contratos,

estabelecendo uma quase-integração, com produtores rurais. Essa situação caracteriza o sistema

de produção avícola no Brasil, em que 130 mil famílias proprietárias de pequenos aviários

produzem em um sistema de quase-integração, tendo como vínculo o contrato de integração.

19 Susan Cohen (1995, p. 172) define as estruturas organizacionais em rede como interações ou relacionamentos

entre colaboradores independentes que colaboram para atingir um objetivo. Nesse sentido, Ricardo Amoroso

(1994, p. 36) assinala como uma teia de participantes autônomos, unidos por valores e interesses compartilhados.

Page 71: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

69

3.2 SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS E INTEGRAÇÃO

Tradicionalmente, o estudo dos processos produtivos que envolvem a atividade agropecuária

eram segmentados em setores específicos: produção de insumos; atividade agrícola;

processamento; distribuição; e consumidor final. Entretanto, com o desenvolvimento dos

conceitos de agribusiness e com o reconhecimento da interdependência entre agricultura e

agroindústria, essa análise passou a ser feita de forma conjunta, levando-se em conta o sistema

agroindustrial de determinado produto como um todo.

O termo agribusiness foi definido por John Davis e Ray Goldberg (1957) 20, como “a soma total

das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção

nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos

agrícolas e itens produzidos a partir deles”. O conceito apresenta uma visão sistêmica, ao

englobar todas as etapas de um sistema agroindustrial (SAG), ampliando o enfoque estático

apresentado pela expressão agricultura, que se limitava às questões da atividade rural.

O sistema agroindustrial, por sua vez, possui um conceito mais restrito, relativo a setores

isolados, tal como o sistema agroindustrial avícola. A análise é relativa a um produto,

envolvendo seu fluxo desde a pesquisa até o consumidor final. Assim, Marcos Fava Neves

(1995, p. 12) observa que o agribusiness é composto de inúmeros sistemas agroindustriais. De

acordo com Ray Goldberg (1968), o Sistema Agroindustrial

engloba todos os participantes envolvidos na produção, processamento e

marketing de um produto específico. Inclui o suprimento das fazendas, as

fazendas, operações de estocagens, processamento, atacado e varejo

envolvidos em um fluxo desde os insumos até o consumidor final. Inclui as

instituições que afetam e coordenam os estágios sucessivos do fluxo do

produto, tais como Governo, associações e mercados futuros.

Desse modo, a agricultura deixa de ser analisada de forma isolada na economia, e passa a

integrar um sistema de interdependência com a indústria, compreendendo-se, assim, os setores

denominados antes da porteira (insumos para produção), dentro da porteira (produção

20 “The sum of all operations involved in manufacture and distribution of farm supplies, production operations

on the farm, and the storage, processing, and distribution of farm commodities” (DAVIS; GOLDBERG, 1957).

Page 72: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

70

agropecuária), e depois da porteira (armazenamento, industrialização, distribuição, consumo),

como observado na Figura 2.

Figura 2. Setores do agronegócio

Luiz Antonio Pianazza e Regis Alimandro (1999) identificam quatro segmentos dentro do

sistema agroindustrial: indústria para agricultura, que corresponde à fase antes da porteira;

produção agropecuária propriamente dita, que corresponde à fase dentro da porteira;

processamento e distribuição da produção rural; distribuição. As duas últimas são etapas para

terceira fase, ou seja, depois da porteira.

Além de mera classificação útil para a organização do estudo dos setores do agronegócio, esse

esquema reflete a interdependência da agricultura à indústria, tanto no acesso a insumos e bens

de produção, quanto nas atividades pós-colheita, de transporte, armazenamento,

processamento, transformação, distribuição e comercialização. Essa relação se acentuou na

segunda metade do século XX, com a modernização da agricultura e o emprego de práticas da

organização industrial no campo.

Se antes a agricultura era marcada por certo isolamento dos demais setores econômicos, em que

a maior preocupação do produtor rural era comercializar o excedente produtivo, hoje a

agricultura está plenamente inserida no sistema econômico, sendo o setor primário um elo de

uma cadeia coordenada que se inicia com a produção de insumos e termina no mercado

consumidor (COSNER, 2010, p. 33).

Em razão da necessidade cada vez maior de se atender as exigências dos consumidores, Fabiano

Cosner (2010, p. 33) aponta que as indústrias são obrigadas a coordenar prazos, quantidades e

ANTES DA PORTEIRA

Insumos e bens de produção

Sementes, fertilizantes, rações, defensivos, máquinas,

implementos

DENTRO DA PORTEIRA

Produção agropecuária

Preparo e manejo do solo, tratos culturais, irrigação, colheita e

criação animal

DEPOIS DA PORTEIRA

Transporte, armazenamento, processamento, transformação, distribuição e comercialização

Page 73: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

71

qualidades com o setor produtivo. Para tanto, tem se utilizado de duas estratégias: a integração

vertical e a integração contratual (quase-integração).

No entanto, observa-se com maior frequência a denominada quase-integração (integração

contratual). Essa relação, de acordo com Nunziata Paiva (2010, p. 186) é “representada por uma

empresa industrial ou comercial que adquire os produtos necessários a própria atividade através

de um ou mais contratos de cultivo ou de criação de animais estabelecidos com uma empresa

agrícola”. Desse modo, conforme Marcos Fava Neves (1995), a estratégia da integração

contratual permite compartilhar custos e riscos da efetiva integração vertical, ao passo que reduz

o volume de transferência de propriedade dos ativos de produção.

Não se trata, entretanto, da celebração de mero contrato de compra e venda ou de fornecimento,

na medida em que a integração contratual resulta em fortes relacionamentos operacionais.

Geralmente é viabilizada por contratos de longa duração, que permitem certo grau de ingerência

das agroindústrias sobre os produtores rurais. Nessa categoria encontram-se os denominados

contratos de integração.

Pode-se buscar a origem dos contratos de integração nos Estados Unidos, especificamente nos

contratos agrícolas (contract farming), celebrados entre produtores rurais e as indústrias

processadoras (GUIMARÃES, 1979). Inicialmente verbais, de mero fornecimento, passaram a

determinar a quantidade, a qualidade e as condições de produção e o emprego de insumos

(COSNER, 2010, p. 32).

Alberto Passos Guimarães (1979) explica que tais contratos se tornaram instrumentos de

vinculação intersetorial, pois a indústria integradora assegurava a matéria-prima que

necessitava, não suportando os riscos de sua exploração direta. Por outro lado, o produtor rural

garantia, de antemão, a venda de sua produção. Ao longo do tempo esses contratos passaram a

ser denominados como contratos de coordenação vertical ou de quase-integração.

James MacDonald e Penni Korb (2011), ao desenvolverem relatório para o Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos, revelam que 39% do valor da produção da agropecuária era

desenvolvida por meio contratual, no ano de 2008. Além disso, mostram a evolução do uso de

contratos na produção de commodities, conforme pode se observar nas duas tabelas a seguir.

Page 74: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

72

Tabela 1. Percentual do valor da produção agropecuária Norte Americana mediante contratos

Ano % contratos

1969 12

1991 28

2001 36

2003 39

2005 41

2008 39

Fonte: MACDONALD E KORB (2011, p. 8).

Tabela 2. Evolução do percentual da produção de commodities sob contratos, entre os anos 1991-2008,

na agropecuária Norte Americana.

Produto 1991-93 1996-97 2001-02 2005 2008

Algodão 30.4 33.8 52.6 45.0 36.2

Amendoim 47.5 34.4 28.0 65.3 73.1

Arroz 19.7 25.9 38.7 27.1 45.4

Beterraba açucareira 91.1 75.2 96.7 82.1 90.8

Frutas - 41.7 41.9 48.9 38.4

Hortaliças - 28.0 28.2 40.9 39.3

Milho 11.3 12.9 14.8 19.6 26.1

Soja 10.1 13.4 9.4 18.4 25.1

Tabaco 0.3 0.3 52.7 79.3 99.3

Trigo 5.9 9.0 6.5 7.5 22.5

Avicultura 88.7 83.8 92.3 94.2 89.9

Gado - 17.2 21.0 17.6 29.4

Laticínios 36.8 58.3 48.6 59.2 53.9

Suinocultura - 34.2 62.5 76.2 68.1

Fonte: MACDONALD E KORB (2011, p. 12).

A pesquisa revelou que o uso de contratos é mais frequente nas grandes propriedades. Cerca de

70% das grandes propriedades usaram contratos em 2008, em contrapartida apenas 7% das

pequenas propriedade21. James MacDonald e Penni Korb (2011) afirmam que as principais

razões para o uso do contrato, em detrimento do comércio via mercado22, dizem respeito à

redução dos riscos e à economia dos custos de transação. Destaca-se o amplo uso de contratos

na avicultura e na suinocultura, setores pioneiros na utilização do contrato de integração no

Brasil.

21 Considerou-se como grande propriedade aquelas com faturamento anual superior a um milhão de dólares e como

pequenas propriedade aquelas com faturamento anual inferior a duzentos e cinquenta mil dólares (MACDONALD

et al., 2008, p. 9). 22 Marcos Fava Neves (1995, p. 26) aponta que as transações de mercado são caracterizadas como “mercado puro,

onde as transações são discretas (sem identificação dos atores), a informação necessária está contida no preço do

produto, sendo que a principal tarefa é encontrar a melhor oferta. As transações são independentes (sem interação

subsequente), de produtos não diferenciados (sem marca), muito pouca especificidade do ativo e normalmente sem

abertura de crédito, muito menos a existência de preferência ou fidelidade”.

Page 75: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

73

No Brasil, a adoção de contratos nas relações agroindustriais é relevante, entretanto, vive-se um

cenário de ausência de dados oficiais, visto que o Censo Agropecuário não inclui informações

sobre contratos, como ocorre nos Estados Unidos, em que são reunidas desde 1969. Desse

modo, a maior parte dos dados disponíveis são resultados de estudos realizados por

pesquisadores. Decio Zylbersztajn (2005) aponta o uso de contratos em diversas atividades

produtivas, como soja, tomate, café, laranja, frutas, vinho, frango, ovo, suíno e gado.

Já a avicultura, de acordo com Decio Zylbersztajn (2005, p. 395), segue a mesma tendência

observada nos Estados Unidos. Estimativas da ABPA (2014) apontam que aproximadamente

90% da produção brasileira de frangos ocorre em um sistema integrado. Assim, observa-se que

a quase-integração apresenta-se como uma eficiente estrutura de governança para que a

agroindústria atinja seus objetivos. Além disso, o contrato de integração também traz benefícios

aos produtores integrados.

Nunziata Paiva (2010, p. 69) elenca os benefícios para os produtores integrados, dentre os quais

destacam-se: i) produtores garantem um mercado certo para seu produto, reduzindo os riscos

de escoamento da produção; ii) recebem assistência técnica, permitindo elevar o rendimento da

produção e a sua qualidade; iii) devem tomar menos decisões e possuem menores incertezas na

aplicação e na aquisição de insumos; iv) necessitam de menor capital operacional, pois a

aquisição de fatores de produção normalmente é financiada pela agroindústria. Por sua vez, a

agroindústria reduz os custos ao garantir o suprimento contínuo de matéria prima, permitindo

melhor eficiência produtiva e economia de escala, e garante a quantidade, qualidade e

homogeneidade da matéria-prima, adequando-se à demanda interna e externa.

Porém, a utilização de contrato de integração também gera desvantagens para o produtor

integrado, conforme enuncia Nunziata Paiva (2010, p. 71): i) submissão aos comandos da

agroindústria, como a estipulação de padrões de qualidade; ii) indução ao desenvolvimento de

uma monocultura, resultando em dependência e vulnerabilidade; iii) sujeição à determinação

dos preços pela agroindústria; iv) dever de incorporar todas as inovações tecnológicas

ordenadas pela agroindústria; e v) possibilidade de sofrer limitações contratuais quanto à

expansão de suas atividades.

Page 76: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

74

Por outro lado, a agroindústria: i) arca com a incorporação de novos custos, como transporte,

assistência técnica, controle de qualidade; ii) corre o risco de ficar sem matéria-prima, pois o

produtor pode quebrar o contrato para venda no mercado spot; iii) pode perder qualidade do

produto, em casos de negligência aos padrões de produção; iv) fica limitada a explorar novos

mercados atraentes, em razão do compromisso estabelecido (PAIVA, 2010).

Além disso, em razão o desequilíbrio econômico existente entre as partes, bem como o poder

de controle exercido pela agroindústria integradora, essa relação pode resultar em situação de

dependência econômica, possibilitando o seu abuso, conforme será estudado no item 3.3, a

seguir.

3.3 DEPENDÊNCIA ECONÔMICA

No item 3.2, discutiu-se a tendência de verticalização23 dos sistemas agroindustriais para a

coordenação da produção e de suprimento de matéria-prima. Nesse contexto, a desigualdade de

condições entre os agentes econômicos é inevitável, conforme ressaltam Martine Behar-

Touchais e Georges Virassamy (1999, p. 77), evidenciando um desequilíbrio econômico entre

agroindústria e produtor integrado.

Entretanto, Kassia Watanabe (2007, p. 92) verifica que a estrutura de organização do sistema

agroindustrial possui uma capacidade de autorregulação mediante normas internas de controle

e de solução de conflitos sem a necessidade de acionamento do Poder Judiciário24. Porém, a

autorregulação pode mostrar-se ineficiente, demandando a atuação do Estado para garantir o

equilíbrio na relação contratual e segurança jurídica para as partes, repreendendo as situações

de abuso de dependência econômica.

23 Essa tendência de verticalização pode ser observada em sua forma essencial, ou seja, na unificação de comando

decisório, ou pela quase-integração (integração contratual), que verifica-se pela celebração de contratos de longa

duração, com objetivo de coordenar o suprimento de matéria-prima, constatando-se uma ingerência do integrador

sobre a atividade do produtor integrado, como o controle de quantidade e qualidade da produção. 24 Pode-se citar como exemplos o sistema de precificação da cana-de-açúcar pelo Conselho dos Produtores de

Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (CONSECANA) e a instituição pela Lei n. 13.288/2016

das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (CADEC) e do Fórum

Nacional de Integração (FONIAGRO) para os contratos de integração. Destaca-se uma diferença significativa

entre os modelos, na medida em que o sistema CONSECANA foi desenvolvido pelos próprios atores envolvidos

no SAG da cana-de-açúcar, ao passo que no sistema de integração houve uma imposição legal para a sua

instituição.

Page 77: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

75

Destaca-se, assim, que a relação contratual marcada pelo desequilíbrio econômico pode resultar

em uma situação de dependência econômica, favorecendo o seu abuso. Entretanto, essa situação

de dependência, por si só, não deve ser repreendida, uma vez que se trata de relação

interempresarial. Por sua vez, o abuso dessa posição, decorrente de exploração oportunista de

uma das partes, deve ser combatido25, levando-se em consideração as regras e princípios

próprios do direito mercantil, afastando-se o protecionismo típico da racionalidade

consumerista.

Desse modo, de acordo com Paula Forgioni (2010, p. 35), a “dependência econômica ocorre

quando um dos contratantes está em condições de impor suas condições ao outro, que deve

aceitá-la para sobreviver”. Nesse mesmo sentido a definição proposta por Gustavo Diniz (2016,

p. 6): “influência decisiva de poder de uma das partes para impor circunstâncias relevantes e

condições à outra, que as aceita para manter o contrato e se manter no mercado”.

Para um estudo detalhado deste conceito, Gustavo Diniz (2010, p. 8-9) o desmembra em seis

elementos: i) influência decisiva; ii) de poder; iii) de uma das partes para; iv) impor

circunstâncias e condições à outra; v) que as aceita para manter o contrato e; vi) se manter no

mercado.

Inicialmente, Gustavo Diniz (2010, p. 9) indica que a dependência econômica deve ser decisiva

na condução do contrato, de sua formação à sua extinção, induzindo a parte dependente a aceitar

imposições, por conta de poder contratual, manifestado num controle não societário da parte

dominante, ou seja, de uma interferência de uma parte sobre a outra exercida por meio do

contrato.

As partes, por sua vez, a princípio, encontram-se em equilíbrio contratual, visto tratar-se de

uma relação interempresarial. Deste modo, Gustavo Diniz (2010, p. 9) ressalta que a

prevalência da parte dominante somente irá gerar consequências jurídicas quando “alterem as

25Nesse sentido a exposição Martine Behar-Touchais e Georges Virassamy (1999, p. 77): L’inégalité de conditions

entre agents économiques et cocontractants est inévitable, elle est même un des traits dominants des relations

contractuelles contemporaines. Il peut en résulter que certains contractants sont ou deviennent de manière

effective économiquement dépendante d’un autre contractant. Cette dépendance de l’un, ou à l’inverse la situation

de domination e l’autre, ne sont pas en elles-mêmes condamnables. Ce qui l’est, c’est l’abus. Le droit de la

concurrence connaît déjà une telle situation avec la notion d’apposition dominant dont seul l’abus est

répréhensible. L’exploitation abusive de l’état de dépendance économique d’une entreprise en constitue un nouvel

exemple.

Page 78: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

76

bases objetivas do contrato ou ultrapassem limites de legítimas expectativas, transfiram riscos

ou excedam os contornos da função econômica do direito contratado”.

Por fim, a imposição de circunstâncias e condições do contrato torna-se relevante quando a sua

aceitação não negociada pela parte mais fraca decorrer de obrigatoriedade para manutenção do

contrato ou de sua participação no mercado (DINIZ, 2010, p. 9).

Verifica-se, assim, que o abuso da dependência econômica pode implicar em prejuízos à

concorrência ou à outra parte do contrato. Na primeira hipótese, a coibição poderá resultar na

aplicação de repressões às infrações contra a ordem econômica26, ao passo que na segunda,

dentro do direito contratual, ensejará, por exemplo, a tutela prevista pelos artigos 187 e 422 do

Código Civil27. O foco deste trabalho está nos efeitos internos da relação jurídica provocados

pela ocorrência da dependência econômica.

Ressalta-se que a dependência econômica não se confunde com o abuso de posição dominante

stricto sensu, conforme observa Paula Forgioni (2014, p. 227). Na situação de poder dominante,

o preponderante possui indiferença e independência sobre o mercado, ao passo que na

dependência econômica, a indiferença e a independência recaem sobre um agente econômico

específico28.

Alguns contratos, como, por exemplo, o de franquia29, apresentam a situação de dependência

econômica associados à sua própria natureza. Porém, conforme ressalva Paula Forgioni (2010,

26 A Lei n. 12.529 de 30 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011) estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da

Concorrência e dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. O artigo 36 apresenta

as hipóteses de infrações da ordem econômica: “Art. 36. Constituem infração da ordem econômica,

independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir

os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre

concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar

arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante”. O parágrafo terceiro deste artigo,

por sua vez, apresenta um rol exemplificativo sobre condutas que caracterizam infração da ordem econômica. 27 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites

impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (BRASIL, 2002).

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os

princípios de probidade e boa-fé (BRASIL, 2002). 28 Em relação ao mercado, a posição dominante confere independência e indiferença ao agente econômico, de

modo a facilitar abusos (PETTER, 2005, p. 138). Paula Forgioni (2014, p. 227) ressalta que a dependência

econômica pode recair sobre um grupo de agentes econômicos, mas que não chegam necessariamente a constituir

um mercado relevante em separado. 29 “No contrato de franquia, o franqueado sabe que deverá desenvolver atividades ao abrigo de marca que não é

sua - i.e., que, de certa forma, passará a depender do fornecedor. Se, mesmo assim, abraça o negócio, presume-se

ter ponderado que os lucros vindouros compensariam as adversidades” (FORGIONI, 2010, p. 149).

Page 79: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

77

p. 147), qualquer contrato é apto para ocasionar um aumento no grau de dependência econômica

entre as partes, por exemplo, em razão de investimentos específicos necessários para a sua

celebração30.

Dessa maneira, Paula Forgioni (2014, p. 227-229) discorre sobre os principais fatores geradores

de dependência econômica: i) poder relacional (rellations d’affaires): contratos de longa

duração e investimentos específicos; ii) poder de compra (puissance d’achat): elevado poder

de compra, como ocorre com grandes redes varejistas; iii) dependência de marca famosa

(assortimento ou assortiment): obrigatoriedade de contratação sob risco de prejudicar sua

capacidade competitiva; iv) período de crise (pénurie): falta de alternativas viáveis para o

escoamento da produção.

Entretanto, não se encontra no ordenamento jurídico brasileiro um tratamento legal específico

sobre a dependência econômica e a sua reprimenda, como pode-se observar no ordenamento

italiano, a partir Lei n. 192, de 18 de junho de 1998 (ITÁLIA, 1998), que, ao disciplinar o

fornecimento da atividade produtiva, prevê a proibição de abuso de dependência econômica nas

relações interempresariais31.

Nesse sentido, Gustavo Diniz (2016, p. 9) aponta que na ausência de tratamento legal específico

sobre a dependência econômica, dois caminhos podem ser observados para a sua correção:

correção por força de lei e correção pelas cláusulas gerais.

30 Nesse sentido, Georges Virassamy (1986, p. 146) aponta as principais cláusulas que podem elevar o grau de

dependência de uma parte em relação à outra: exclusividade, duração do contrato e cláusulas pós-contratuais que

limitem a liberdade do agente. Discorrendo sobre os investimentos específicos, Paula Forgioni (2010, p. 148-149)

afirma que “nessas situações, a parte que realiza a inversão vê aumentar a sua dependência em relação à outra,

pois o desfazimento do negócio, com muita probabilidade, causar-lhe-á perdas. A sujeição será ainda maior se,

após o término da relação, esses gastos não puderem ser recuperados”. Desse modo, a jurista conclui que “maiores

investimentos e menores as possibilidades de posterior recuperação, mis ameaçador o término contratual para a

parte que os realizou”. 31 Legge 18 giugno 1998, n. 192. Art. 9. Abuso di dipendenza economica 1. È vietato l'abuso da parte di una o più

imprese dello stato di dipendenza economica nel quale si trova, nei suoi o nei loro riguardi, una impresa cliente

o fornitrice. Si considera dipendenza economica la situazione in cui un'impresa sia in grado di determinare, nei

rapporti commerciali con un'altra impresa, un eccessivo squilibrio di diritti e di obblighi. La dipendenza

economica è valutata tenendo conto anche della reale possibilità per la parte che abbia subito l'abuso di reperire

sul mercato alternative soddisfacenti. 2. L'abuso può anche consistere nel rifiuto di vendere o nel rifiuto di

comprare, nella imposizione di condizioni contrattuali ingiustificatamente gravose o discriminatorie, nella

interruzione arbitraria delle relazioni commerciali in atto. 3. Il patto attraverso il quale si realizzi l'abuso di

dipendenza economica è nullo.

Page 80: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

78

Em primeiro lugar, apesar da ausência de tratamento específico da dependência econômica na

legislação brasileira, algumas leis especiais sobre contratos concretizam instrumentos de

correções, como, por exemplo, o Estatuto da Terra (BRASIL, 1964), que garante o término do

prazo de contrato após a terminação da última colheita (art. 95, I) ou presume feito no prazo

mínimo de três anos o arrendamento por tempo indeterminado (art. 95, II). Além disso, prevê

percentuais de distribuição dos frutos da parceria (art. 96, VI) e direito de preferência na

renovação do contrato de arrendamento (art. 95, IV), dentre outras cláusulas imperativas que

objetivam proteger aquele que trabalha diretamente a terra e encontra-se em posição de

dependência econômica da outra parte32.

Apesar das críticas recebidas pelo Estatuto da Terra em razão da excessiva proteção dispendida

a uma relação entre partes que, a princípio, encontram-se em igualdade de posição, na medida

em que se tratam de empresários33, restringindo, assim, de modo demasiado a autonomia da

vontade, é inegável o seu papel de equilibrar o poder entre as partes e minimizar a situação de

dependência econômica34.

Em segundo lugar, Gustavo Diniz (2017, p. 10) aponta para a possibilidade de se “buscar no

referencial teórico das cláusulas gerais35 o potencial para correção de abusos de dependência

econômica”, nos mais variados estágios do contrato, ou seja, em sua formação, interpretação e

integração, e extinção. Destaca-se, nessa direção, a boa-fé objetiva, prevista no artigo 422 do

Código Civil36.

32 Nesse sentido, a decisão do STJ no Resp. 1.447.082/TO, sob relatoria do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,

que afastou a aplicação das normas protetivas do Estatuto Terra à empresa de grande porte, pois ausente a

vulnerabilidade social que impõe o princípio da justiça social. O microssistema normativo é orientado pelos

princípios da função social da propriedade e da justiça social, assim, a não verificação desses princípios implica

em não aplicação das normas imperativas previstas no Estatuto. 33 O artigo 966 do Código Civil (BRASIL, (2002) considera empresário aquele que exerce profissionalmente

atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Desse modo, conforme

observa Fábio Ulhoa Coelho (2014, p. 100) empresa é a atividade, podendo ser explorada por pessoa física

(empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária). 34 Defendemos em trabalho apresentado no XIII Congresso Mundial de Direito Agrário a necessidade de se discutir

e alterar algumas normas restritivas que não mais se adequam à realidade social e econômica brasileira (DARIO;

TRENTINI; AGUIAR, 2014, p. 73). 35 As cláusulas gerais podem ser definidas como “normas que não prescrevem uma certa conduta, mas,

simplesmente, definem calores e parâmetros hermenêuticos. Servem assim como ponto de referência interpretativo

e oferecem ao intérprete os critérios axiológicos e os limites para aplicação das demais disposições normativas

(TEPEDINO, 2002, p. 18-19). 36 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os

princípios de probidade e boa-fé (BRASIL, 2002).

Page 81: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

79

Apesar da importância que adquiriu modernamente, a boa-fé objetiva não é uma inovação do

Código Civil (BRASIL, 2002), já estando presente no revogado Código Comercial de 1850

(BRASIL, 1850)37. Entretanto, essa cláusula geral assume, atualmente, outras funções além da

adjuvandi (interpretativa). A boa-fé assume também a função suplendi (integrativa, no

preenchimento de lacunas) e corrigendi (corretiva, como, por exemplo, na extração de cláusulas

abusivas). Em seu aspecto objetivo, segundo Teresa Negreiros (2006, p. 122), consiste num

dever de conduta contratual ativo, obrigando-se à colaboração38.

Desse modo, a boa-fé objetiva estabelece padrões de comportamento às partes contratuais,

devendo ser observada não só na conclusão e na execução do contrato, mas também nas

tratativas (fase pré-contratual) e na fase pós-contratual, conforme entendimento do Enunciado

25 da I Jornada de Direito Civil do CEJ/CJF39.

Por fim, quanto à interrupção arbitrária das relações, aplica-se no ordenamento brasileiro as

regras de resilição (arts. 472-473) e resolução40 (arts. 474-480) previstas no Código Civil

(BRASIL, 2002). As respectivos disposições serão aprofundadas no item 4.4.6, importando, ao

presente, a observação de Gustavo Diniz (2017, p. 11-12) de que “o pressuposto não é vedar a

extinção ou intervir em favor de uma das partes, mas permitir a extinção em termos justos,

mesmo que não previstos no contrato”.

Dentre as diversas disposições sobre a extinção do contrato trazidas pelo Código Civil

(BRASIL, 2002), é primordial ao trabalho a análise do parágrafo único do artigo 473, que

condiciona a produção de efeitos da denúncia unilateral do contrato no caso de uma das partes

37 Art. 131 - Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação, além das regras sobreditas, será

regulada sobre as seguintes bases: 1 - a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa fé, e ao

verdadeiro espírito e natureza do contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras

(BRASIL, 1850). 38 Cláudia Lima Marques (1999, p. 107) define a boa-fé objetiva como “uma atuação refletida, uma atuação

refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas

expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causa lesão ou

desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual

e a realização dos interesses das partes”. 39 Enunciado 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da

boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual. Esse enunciado foi ratificado na III Jornada de Direito Civil do

CEJ/CJF - Enunciado 170 - Art. 422: a boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações

preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 40 A resilição resulta da manifestação de vontade das partes. Pode ser bilateral, denominada também de distrato,

tratando-se da declaração de vontade em sentido oposto à formação do vínculo, ou unilateral, nas obrigações

duradouras, contra a sua continuação ou renovação, independentemente do não cumprimento (GONÇALVES,

2011, p. 205). Já a resolução, decorre do inadimplemento do contrato, de modo voluntário ou involuntário.

Page 82: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

80

ter feito investimentos consideráveis para a sua execução ao transcurso de prazo compatível

com a natureza e o vulto dos investimentos.

Trata-se de dispositivo de salvaguarda contra o abuso de dependência econômica, na medida

em que a realização de investimentos específicos por uma das partes pode despertar o

comportamento oportunista da outra, impondo unilateralmente condições contratuais sob

ameaça de término da relação contratual. Assim, conforme conclui Gustavo Diniz (2017, p. 12),

haverá necessidade de reparação em perdas e danos quando não observado o transcuro de prazo

compatível com os investimentos realizados:

Na impossibilidade de continuidade do contrato, deve-se caminhar para a solução em

perdas e danos com proteção contra a má-fé, o abuso de direito e o enriquecimento

sem causa, uma vez demonstrado o nexo de causalidade pelo transcurso de prazo

incompatível com os investimentos realizados (DINIZ, 2017, p. 12)

No direito italiano, segundo previsão do artigo 9º, §2º da Lei n. 192 de 1998 (ITÁLIA, 1998),

a avaliação do abuso de dependência econômica consoante a boa-fé objetiva possibilita

averiguar quando as condições contratuais são gravosas sem justificativa, discriminatórias, ou

quando a interrupção das relações demonstrarem ser arbitrária41. A aplicação deste princípio,

conforme observa Kassia Watanabe (2007, p. 133), resulta em uma avaliação a posteriori do

comportamento de uma das partes e, portanto, não se configura como regra proposta a interferir

na formação do contrato.

Alberto Mazzoni (1999, p. 163) aponta que o artigo 9º da Lei n. 192/1998 direciona-se às

relações de integração vertical, em que se verifica a situação de dependência econômica. Desse

modo, não basta a simples dependência econômica, sendo necessário interdependência entre os

agentes, caracterizando uma estrutura de governança híbrida Desse modo, afirma que poderá

ser aos contratos agroindustriais.

A consequência para o abuso de dependência econômica, de acordo com o artigo 9º, §3º, da Lei

n. 192/1998, é a nulidade do pacto42. Entretanto Alberto Mazzoni (1999, p. 171) defende que

essa nulidade deve ser considerada relativa, sob risco de piorar a situação da parte que sofre o

41 2. L'abuso può anche consistere nel rifiuto di vendere o nel rifiuto di comprare, nella imposizione di condizioni

contrattuali ingiustificatamente gravose o discriminatorie, nella interruzione arbitraria delle relazioni

commerciali in atto (ITÁLIA, 1998). 42 3. Il patto attraverso il quale si realizzi l'abuso di dipendenza economica è nullo (ITÁLIA, 1998).

Page 83: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

81

abuso, uma vez que o término do contrato com a agroindústria poderia resultar em dificuldades

para a comercialização de sua produção.

A partir dessa base teórica, no item 3.4 terá início o estudo do contrato de integração, de modo

a verificar a sua natureza jurídica e as suas características, passando-se, então, ao estudo das

disposições previstas na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016). No capítulo 4, por sua vez, as

entrevistas e a análise dos contratos terão como uma de suas finalidades a constatação de

existência de dependência econômica na relação entre produtor integrado e integrador,

apurando-se, por fim, a previsão do legislador de mecanismos de equilíbrio de poder e de

coibição e de correção de dependência econômica.

3.4 CONTRATO AGROINDUSTRIAL DE INTEGRAÇÃO

O contrato de integração ganhou importância no Brasil na década de 1960, quando foi

introduzido na avicultura catarinense. O modelo contratual tornou-se fundamental para o

crescimento e desenvolvimento de diversas atividades agrárias, como avicultura, suinocultura,

fruticultura, piscicultura e silvicultura. Em razão de sua relevância socioeconômica, após

décadas de ausência de regulamentação legal, foi tipificado pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016).

Neste item, serão estudadas as características do contrato de integração e a sua diferenciação

com outros tipos contratuais que se aproxima. Em um segundo momento, será realizada análise

do regramento trazido pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), concluindo-se o trabalho, no

último capítulo, com análise empírica realizada no setor avícola, para se discutir o objetivo

geral do trabalho, de verificar os impactos jurídicos da tipificação do contrato agroindustrial de

integração.

3.4.1 Características

Page 84: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

82

O contrato de integração configura-se como contrato agroindustrial43, presentes além da

obrigação de dar, diversas obrigações de fazer44. Massimo Confortini e Attilio Zimatore (1983,

p. 207) conceituam o contrato agroindustrial como o acordo entre o agricultor e o empreendedor

comercial, mediante a integração da atividade agrícola e comercial, destinado à transação de

produto, com características de qualidade determinadas, em troca do respectivo pagamento45.

Trata-se, ainda, de contrato agrário, pois, conforme ensinam Antonio Carrozza e Ricardo

Zeledón (1990, p. 319), originam-se no ciclo biológico da criação de animais ou do cultivo de

vegetais, observando-se assim, a incidência da teoria da agrariedade46.

Nunziata Paiva (2010) caracteriza o contrato de integração pela repartição de riscos e pela

renúncia por parte do produtor integrado de parcela de seus poderes de autodeterminação em

favor do integrador por meio da assunção de obrigações, dentre as quais as mais comuns são as

de submeter-se às regras técnicas, ao controle e à produção exclusiva de certos bens

condicionada pela indústria. Nesse sentido, Kassia Watanabe (2007, p. 218) observa que os

contratos agroindustriais proporcionam a interferência da agroindústria na produção agrícola,

ou seja, os produtores são obrigados a seguir as técnicas determinadas no contrato.

Desse modo, o sistema permite a coordenação da produção, garantindo à agroindústria o

alcance da demanda quantitativa e qualitativa da matéria-prima ou do produto, possibilitando o

planejamento da produção sem a necessidade de investir na atividade agrícola, propriamente

dita. Para o produtor, por outro lado, destaca a garantia de alienação de toda a sua produção.

Desse modo, essa garantia de venda existe antes mesmo do início do ciclo produtivo.

43 Optou-se no desenvolvimento do texto deste trabalho em nominá-lo apenas de contrato de integração de modo

a facilitar a leitura e utilizar a terminologia empregada pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016). O artigo 2º, IV,

apresenta o conceito do contrato como integração vertical ou integração. Entretanto, como visto no item 3.1, não

se trata de verdadeira integração vertical, mas sim de quase-integração ou integração contratual, motivo pelo qual

não se utilizou o termo integração vertical referindo-se ao contrato. Entretendo, o item 3.4.1 deixa claro a sua

natureza agroindustrial, utilizada no título deste trabalho. 44 Nesse sentido, Maurizio Benincaza (1992, p. 419) observa-se não se tratar de simples compra e venda de produto

agrícola, com o pagamento do preço e recebimento do bem, mas são pautados pela existência de múltiplas

obrigações recíprocas. 45 “Gli accordi tra agricoltori ed imprenditori commerciali diretti, attraverso un’integrazione delle atività

agricola e commerciale, a realizzare uno scambio di prodotti, dalle caratteristiche qualitative determinate, verso

un corrispettivo in danaro.” (CONFORTINI; ZIMATORE, 1982, p. 2017). 46 A teoria da agrariedade, conforme aponta Flavia Trentini (2012, p. 2), foi desenvolvida por Antonio Carrozza

na década de 1970, conceituando “atividade agraria como desenvolvimento de um ciclo biológico, concernente

tanto à criação de animais como de vegetais, que surge ligado direta ou indiretamente ao uso das forças e dos

recursos naturais, resultando na obtenção de frutos (vegetais ou animais) destináveis ao consumo direto, como

tais, ou derivados de várias transformações”.

Page 85: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

83

Por outro lado, o sistema de integração pode resultar em desvantagens para as partes, conforme

elencado por Kassia Watanabe (2007, p. 216). Para o produtor integrado, pode-se verificar: i)

baixo valor pago pelo integrador; ii) dependência da agroindústria; iii) impossibilidade de

fornecer seus produtos para terceiros, buscando melhores preços. Já para a agroindústria

observa-se o risco de disponibilidade de matéria-prima em quantidade e qualidade esperadas,

por conta de eventual inadimplemento do produtor integrado.

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), em seu artigo 2º, apresenta as definições legais relativas

à integração vertical, ao produtor integrado, ao integrador e ao contrato de integração vertical,

fundamentais para a delimitação das atividades inseridas e reguladas pelo instrumento legal.

Apesar do brocardo omnis definitio in iure civili periculosa est; parum est enim, ut non subverti

posset47, Azevedo (2009, p. 133) entende que a lei, em caso de necessidade, deverá trazer a

definição dos institutos jurídicos. No ordenamento jurídico italiano, o Decreto Legislativo n.

102/2005 (ITÁLIA, 2005) segue essa mesma lógica, apresentando as definições de produto

agrícola, produtor, organizações de produtores, organizações de empresas de transformação,

distribuição e comercialização, acordo de cadeia de fornecimento, contrato-quadro e contratos-

tipo.

As definições trazidas pela lei mostram-se relevantes em função da proximidade do contrato de

integração com outras modalidades contratuais agrárias, como a compra e venda, a empreitada,

a sociedade, a parceria, o fornecimento, e até mesmo o trabalho subordinado. Assim, garante

segurança jurídica ao delimitar com clareza o seu âmbito de atuação.

A lei limita-se a regular os contratos de integração nas atividades agrossilvipastoris, entendida

como atividades de agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura, pesca ou extrativismo

vegetal, conforme artigo 2, V (BRASIL, 2016). Maurizio Benincasa (1992, p. 417) atenta que

que a locução integração não aplica-se exclusivamente aos contratos agroindustriais, mas

também às relações em diversos setores produtivos48. Desse modo, fundamental a previsão legal

para delimitar o seu alcance, excluindo setores exclusivamente industriais, ou seja, que não

envolvam o desenvolvimento do ciclo biológico.

47 No direito civil toda definição é perigosa: porque pouco há que não possa ser impugnado. 48 “La locuzione di integrazione verticale non individua solo i contratti agro-industriali, ma, come si è visto, anche

i contratti di scambio di diversi settori produttivi” (BENINCASA, 1992, p. 417).

Page 86: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

84

3.4.2 Diferenciação com outros tipos contratuais

Após a análise das características do contrato de integração, delimitando-se o âmbito de atuação

da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), é indispensável diferenciá-lo de outros tipos

contratuais aos quais se assemelha. As figuras contratuais analisadas a seguir geralmente eram

utilizadas como parâmetro de interpretação, enquanto contrato atípico, no sentido do

ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 52): “na solução das controvérsias que

surgirem, o julgador ou intérprete terá de invocar, em suprimento do conteúdo das cláusulas

próprias, os princípios relativos ao contrato típico mais próximo”

Entretanto, em nenhuma das figuras contratuais se verifica um enquadramento perfeito do

conteúdo do contrato de integração, demonstrando constituir um tipo autônomo. Comparou-se,

assim, com os seguintes contratos: i) compra e venda; ii) empreitada; iii) sociedade; iv) trabalho

subordinado; v) parceria.

3.4.2.1 Compra e venda

Partindo do disposto no artigo 481 do Código Civil, a compra e venda é definida por Caio Mario

da Silva Pereira (2001, p. 146) como o “contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a

transferir a outra pessoa (comprador) o domínio de coisa corpórea ou incorpórea, mediante o

pagamento de certo preço em dinheiro ou valor fiduciário correspondente”.

A função específica do contrato de compra e venda é instrumentalizar a alienação de um bem,

na medida em que as partes possuem o propósito de transferir e adquirir a propriedade,

respectivamente ao vendedor e ao comprador. Assim, as obrigações recíprocas geradas pelo

contrato dizem respeito à transferência do domínio de certa coisa, pelo vendedor, e ao

pagamento de certo preço em dinheiro.

Desse modo, nota-se que o contrato de integração guarda significativa semelhança com a

compra e venda, visto que também se verifica o propósito de transferência e aquisição da

propriedade de determinado bem. Entretanto, as obrigações entre as partes não se resumem à

entrega da coisa mediante pagamento de certo preço. No contrato de integração, agrega-se a

prestação de serviço por ambas as partes. O produtor integrado obriga-se a realizar a atividade

Page 87: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

85

agrária nos ditames técnicos exigidos pela agroindústria. Esta, por sua vez, fornece os meios de

produção necessários, além de prestar assistência técnica.

Na aquisição de produtos agrossilvipastoris, o contrato de compra e venda é considerado no

mercado spot, ou seja, realizado no momento da colheita ou do abate, para pronta entrega da

mercadoria, mediante pagamento. Já o contrato de integração envolve um contrato de longa

duração, com planejamento conjunto de técnicas e de meios de produção, sujeitos ao comando

decisório do integrador.

Além disso, no contrato de integração, o interesse da agroindústria não se resume a trocar

dinheiro por matéria-prima, preocupando-se com a quantidade e com a qualidade. Assim, as

partes visam “organizar o mercado em que atuam, direcionando a oferta de produtos agrícolas

ao mercado consumidor” (PAIVA, 2010, p. 173).

3.4.2.2 Empreitada

Na vigência do Código Civil de 1916 (BRASIL, 1916), a empreitada era o contrato que mais

se aproximava da integração vertical. Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 277) a define como

contrato em que uma das partes (empreiteiro) se obriga, sem subordinação ou dependência, a

realiza certo trabalho para a outra (dono da obra), com material próprio ou por este fornecido,

mediante remuneração.

Entretanto, a integração vertical não se resume a obter uma obra sob encomenda, devendo-se

sempre ter em consideração o objetivo de equilibrar o fornecimento de matéria-prima à

demanda de consumo, em quantidade e qualidade, verificando-se verdadeira coordenação

interempresarial entre produtor integrado e agroindústria.

Além disso, Antonio Carrozza (1984, p. 574) questiona quem seria o empreiteiro e quem seria

o dono da obra, no caso de aplicação do regime jurídico da empreitada à integração vertical.

Em relação ao fornecimento do produto agropecuário, o empreiteiro seria o produtor rural

integrado. Por sua vez, como também há ao fornecimento de insumos e de prestação de serviços

técnicos, estaríamos em uma singular modalidade de empreitada bilateral, com prestações

recíprocas, sendo ambas as partes empreiteiras e donas da obra.

Page 88: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

86

Apesar disso, com o regime adotado pelo Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002), essa discussão

perde o sentido, pois a empreitada deixa de se enquadrar no conceito de locação, referindo-se

exclusivamente à construção (GONÇALVES, 2011, p. 369).

3.4.2.3 Sociedade

O conceito de sociedade é apresentado pelo artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002),

segundo o qual “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a

contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,

dos resultados”.

Marlon Tomazette (2013, p. 200) aponta cinco elementos centrais ao conceito de sociedade: i)

existência de duas ou mais pessoas; ii) reunião de capital e trabalho (fatores de produção); iii)

atividade econômica; iv) fins comuns; v) partilha dos resultados.

Na integração vertical, apesar da união entre as partes para alcançar um proveito em comum,

de organizar a oferta de matéria-prima, não se verifica os demais elementos do conceito de

sociedade. Principalmente, porque não resulta na criação de uma nova pessoa jurídica. As partes

não perdem sua autonomia jurídica, por isso, não ocorre uma efetiva reunião dos fatores de

produção.

Apesar do alto grau de ingerência da agroindústria, com o fornecimento de insumos e prestação

de serviços técnicos, que resulta em uma restrição da independência econômica, o produtor

integrado continua juridicamente independente, e a atividade econômica não é desenvolvida

conjuntamente. Assim, entrega da produção ainda é feita mediante o pagamento de um preço.

Desse modo, não se verifica a existência efetiva de um fim comum e de partilha do resultado,

já que o objetivo do produtor integrado é garantir a venda de toda a sua produção, enquanto o

da agroindústria integradora é garantir o suprimento de matéria-prima na quantidade e

qualidade necessárias.

3.4.2.4 Trabalho subordinado

O contrato de trabalho é regulado pela Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943),

sendo definido por Mauricio Godinho Delgado (2012, p. 501) como “negócio jurídico expresso

Page 89: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

87

ou tácito mediante o qual uma pessoa natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou ente

despersonalizado a uma prestação pessoal, não eventual, subordinada e onerosa de serviços”.

A definição, desse modo, deriva dos elementos fáticos-jurídicos que compõe o conceito de

relação de emprego.

Os artigos 2º e 3º da CLT (BRASIL, 1943) fornecem os elementos identificadores da relação

de emprego: i) pessoa natural; ii) pessoalidade; iii) não-eventualidade; iv) subordinação; e v)

onerosidade. Em primeiro lugar, o empregado será sempre pessoa física. A pessoalidade

exprime a prestação dos serviços pelo próprio trabalhador, sem que seja substituído por

terceiros, pois o empregador contratou a sua pessoa. Já não eventual significa ser habitual,

contínuo.

Por sua vez, a subordinação é o critério de maior relevância, traduzindo-se na prestação dos

serviços dirigida pelo empregador, o qual exerce o poder de direção. Desse modo, o empregado

deve seguir as determinações e orientações do empregador. O empregador por sua vez, é quem

corre o risco da atividade exercida. Já o empregado simplesmente presta o serviço, alheio a

esses riscos. Ressalta trata-se de subordinação jurídica. Por fim, a onerosidade representa o

recebimento de remuneração como contraprestação ao serviço prestado (GARCIA, 2013).

A aproximação entre essas duas modalidades contratuais decorre da perda de independência

econômica do produtor integrado e da ingerência da agroindústria na produção rural. Nesse

sentido, conforme ressalta Nunziata Paiva (2010), o contrato de integração é caracterizado pela

renúncia por parte do produtor integrado de parcela de seus poderes de autodeterminação em

favor do integrador, por meio da assunção de obrigações, dentre as quais as mais comuns são

as de submeter-se às regras técnicas, ao controle e à produção exclusiva de certos bens

condicionadas pela indústria.

Como exemplo, no caso da produção de aves, a agroindústria integradora fornece pintos de um

dia, ração, medicamentos, assistência técnica, como assistência veterinária, garantindo ao final

a compra de toda a produção. Já o produtor integrado, fornece o galpão com equipamentos e a

sua mão de obra.

Entretanto, o produtor integrado mantém a sua independência jurídica, não estando subordinado

na acepção trazida pela legislação trabalhista para reconhecimento de relação de emprego. O

Page 90: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

88

produtor integrado exerce verdadeira atividade de empresário agrário, ao atuar com

profissionalidade, não no sentido de ter posse de algum título, mas de exercer a atividade de

modo habitual (TRENTINI, 2012, p. 52).

Além disso, assume os riscos de seu negócio, sendo remunerado pelo pagamento de sua

produção. Assim, qualquer problema inerente à atividade agrária que afete a produção, poderá

resultar em brusca diminuição da renda esperada. Nunziata Paiva (2010, p. 174) destaca que

“no contrato de integração, o que se coloca à disposição é a organização dos fatores produtivos

e não o trabalho do integrado”.

Porém, é possível que a utilização do contrato de integração se demonstre um instrumento de

fraude à legislação trabalhista, encobrindo verdadeira relação de trabalho subordinado. A

análise, para essa questão, deverá ser feita no caso concreto, não sendo válida a generalização

de que todo contrato de integração representa um contrato de trabalho subordinado.

3.4.2.5 Parceria

Por fim, a parceria é um contrato agrário típico, previsto pelo Estatuto da Terra (BRASIL,

1964), e de recorrente uso na produção agropecuária brasileira. Seu conceito foi definido pelo

artigo 4º do Decreto n. 59.566/1966 (BRASIL, 1966) e posteriormente incluído no Estatuto da

Terra pela Lei n. 11.443/2007 (BRASIL, 2007).

Art. 96, § 1º Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga

a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de imóvel

rural, de parte ou partes dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e/ou

facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração

agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega

animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-primas

de origem animal, mediante partilha, isolada ou cumulativamente, dos

seguintes riscos: (Incluído pela Lei nº 11.443, de 2007).

I - caso fortuito e de força maior do empreendimento rural; (Incluído pela Lei

nº 11.443, de 2007).

II - dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem,

observados os limites percentuais estabelecidos no inciso VI do caput deste

artigo; (Incluído pela Lei nº 11.443, de 2007).

III - variações de preço dos frutos obtidos na exploração do empreendimento

rural. (BRASIL, 1964)

Page 91: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

89

No contrato de integração não há a cessão de uso de imóvel rural, pois a atividade é

desenvolvida pelo próprio produtor integrado.

3.5 ASPECTOS LEGAIS

O contrato de integração foi tipificado pela Lei n. 13.288, de 16 de maio de 2016 (BRASIL,

2016), após a discussão em seis projetos de lei apresentados desde o ano de 199849. A tipificação

da integração em lei especial segue a tendência do direito contratual, apresentada por Vincenzo

Roppo (2011), de descodificação e criação de microssistemas e leis especiais, regulando um

tipo contratual específico ou uma classe de contratos50.

Nesse sentido, Gustavo Tepedino (1999, p. 8) reporta à segunda metade do Século XX como a

era dos estatutos, identificando uma nova onda legislativa no Brasil, destacando três

características desses estatutos: i) a adoção da técnica legislativa das cláusulas gerais, por meio

da qual a tipificação taxativa dá lugar a cláusulas gerais, abrangentes e abertas; ii) o emprego

de um linguagem mais setorial e, portanto, menos jurídica; iii) a redação de normas

promocionais ou de sancionamento positivo, não exclusivamente repressivas.

Essas características podem ser observadas na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016). O

legislador optou não prescrever normas imperativas, mas sim regras de conduta, utilizando-se

de cláusulas gerais. Desta forma, não traz a previsão de normas exclusivamente repressivas,

mas sim regras positivas de induzimento de ação.

Desse modo, a lei apresenta como objetivo a normatização dos contratos de integração nas

atividades agrossilvipastoris, estabelecendo obrigações e responsabilidades para os produtores

integrados e integradores, mecanismos de transparência na relação contratual, além de criar

Fóruns Nacionais de Integração (FONIAGRO) e Comissões para Acompanhamento,

Desenvolvimento e Conciliação da Integração (CADEC).

49 PL n. 4.378/1998 (BRASIL, 1998), PL n. 3.979/2008 (BRASIL, 208); PL n. 8.023/2010 (BRASIL, 2010), PLS

n. 330/2011 (BRASIL, 2011a) (Lei n. 13.288/2016), PL n. 1.572/2011 (EMC 33) (BRASIL, 2011b) e PLS n.

487/2013 (BRASIL, 2013). Encontra-se no Apêndice A. quadro comparativo entre os projetos. 50 “L’irrompe delle leggi speciali quali fonti sempre più rilevanti del diritto dei contratti significa decodificazione;

significa erezione, ai margini di un codice in ritirata, di microssistemi extracodicistici; significa (nella misura in

cui le leggi speciali sul contratto sono leggi su singoli tipi o classi di contratti) nuova centralità dei tipi contrattuali

a scapito ‘contratto in genere’, e difficoltà crescente a ricostruire, in questo quadro di frammentazione sempre più

spinta, una siginificativa unitarietà della figura contrattuale” (ROPPO, 2011, p. 9)

Page 92: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

90

Na Itália, a tipificação da relação contratual agroindustrial ocorreu com a Lei n. 88, de 16 de

março de 1988 (ITÁLIA, 1988)51, que estabeleceu normas sobe os acordos interprofissionais e

sobre os contratos de cultivação e venda dos produtos agrícolas. O objetivo desta lei foi garantir

a coordenação de produção entre o produtor e a agroindústria, assegurando equilíbrio entre as

partes na negociação. Kassia Watanabe (2007, p. 230) explica que os contratos

interprofissionais são de autonomia coletiva, ao passo que os contratos de cultivação e venda

dos produtos agrícolas são de autonomia privada, mas que devem respeitar os primeiro.

Com o objetivo de garantir o equilíbrio entre as partes, o artigo 6º (ITÁLIA, 1988) estabelecia

que os acordos interprofissionais deveriam necessariamente ser realizado por meio de

organismos associativos dos produtores. Nesse mesmo sentido, o Decreto Legislativo n.

102/2005 (ITÁLIA, 2005) que regula os mercados agroalimentares, estabelece a organização

de produtores para a comercialização da produção.

Na justificativa do PLS n. 330/2011 (BRASIL, 2011), a Senadora Ana Amélia destacou que os

contratos de integração eram caracterizados ora como operação de compra e venda, ora como

parceria agrícola, entretanto, nenhuma dessas opções traduziam autenticamente a relação

existente entre a agroindústria integradora e o produtor integrado. Assim, o projeto apresentava

como finalidade principal conferir garantias ao elo mais fraco da relação, considerado o

produtor integrado.

O objetivo desse item, assim, é analisar os aspectos legais relativos ao contrato de integração,

iniciando-se com o histórico de tramitação dos diversos projetos de lei que se propuseram a

regular essa relação jurídica, para depois examinar os conceitos, princípios, conteúdo mínimo,

órgãos colegiados, mecanismos de transparência, propriedade dos insumos, responsabilidade

ambiental e sanitária, previsões em caso de recuperação judicial ou falência d integrador, foro

competente, regulamento e vigência.

51 A Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988) foi revogada expressamente pelo artigo 16, §1º, do Decreto Legislativo n.102,

de 27 de maio de 2005 (ITÁLIA, 2005), que dispõe sobre a regulação dos mercados agroalimentares. Entretanto,

o seu estudo mostra-se relevante por tratarem de sistemas que se aproximam, comparando-se, assim, as opções

dos legisladores brasileiros e italianos quanto ao regramento dispendido aos contratos agroindustriais.

Page 93: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

91

3.5.1 Histórico legislativo

O primeiro Projeto de Lei relativo ao contrato de integração foi apresentado Deputado Milton

Mendes (PT/SC), em 07 de abril de 1998 - PL n. 378/1998 (BRASIL, 1998) - com o objetivo

de regular as relações jurídicas entre a agroindústria e o produtor rural integrado. Apresentava

uma característica protetiva em relação ao produtor integrado, instituindo: i) obrigatoriedade de

seguro de vida e de produção pagos pela agroindústria (integrador); ii) contribuição

previdenciária recolhida pela agroindústria; iii) garantia de remuneração não inferior aos custos

de produção, incluídos os de reposição dos meios de produção e o valor da força de trabalho

própria, familiar ou contratada, empregada na atividade.

Após dez anos de tramitação, outro Projeto de Lei foi apresentado em 02 de setembro de 2008,

PL n. 3.979/2008 (BRASIL, 2008), de autoria do Deputado Adão Pretto (PT/RS). Este projeto

seguiu a tônica do anterior, mantendo uma tendência protetiva em relação ao produtor rural

integrado. Entretanto, em 11 de janeiro de 2008 foi apensado ao PL n. 4.378/1998, que seguia

sua tramitação.

Por sua vez, no dia 15 de dezembro de 2010, a Comissão de Agricultura, Pecuária,

Abastecimento e Desenvolvimento Rural, da Câmara dos Deputados, apresentou novo projeto

sobre o tema, dispondo sobre a integração vertical na agropecuária, estabelecendo condições,

obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores integrados e

agroindústrias integradoras. O Projeto de Lei n. 8.023/2010 (BRASIL, 2010) foi apensado ao

PL 4.378/1998 em 06 de janeiro de 2011 e declarado sua prejudicialidade em 31 de março de

2016 em razão da aprovação da Lei n. 13.288/2016.

Já no dia 14 de junho de 2011, a Senadora Ana Amélia (PP/RS) apresentou o Projeto de Lei do

Senado n. 330/2011 (BRASIL, 2011a), que posteriormente foi aprovado e transformado na Lei

n. 13.288, de 16 de maio de 2016. Este projeto teve como base o PL n. 8.023/2010 e sofreu

algumas modificações até a sua aprovação, principalmente: i) instituição de foro competente

para as ações envolvendo a integração; ii) instituição do FONIAGRO; iii) disposições relativas

à falência e recuperação judicial.

Por sua vez, no mesmo dia 14 de junho de 2011, foi apresentado pelo Deputado Vicente

Candido (PT/SP) o Projeto de Lei n. 1.572/2011 (BRASIL, 2011b), com objetivo de instituir

Page 94: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

92

um Código Comercial, disciplinando no âmbito do direito privado a organização e a exploração

da empresa. Inicialmente o projeto não versava sobre o tema, mas a Emenda n. 33 de 2012

acrescentou um Livro sobre o agronegócio, trazendo a disciplina do contrato de integração

agroindustrial. O regramento proposto para a integração era superficial e marcada pela falta de

rigor técnico nos conceitos e prescrições52. Contudo, com a aprovação da Lei n. 13.288/2016,

a seção sobre a integração agroindustrial foi retirada deste projeto

Entretanto, há ainda outro projeto discutindo um novo Código Comercial, o Projeto de Lei do

Senado n. 487/2013 (BRASIL, 2013), apresentado pelo Senador Renan Calheiros (PMDB/AL),

em 22 de novembro de 2013. Este projeto, por seu turno, já contava desde o início com

disposições sobre o agronegócio (Livro III), disciplinando também a integração agroindustrial

nos artigos 693 a 700. Após um período sem movimentação, o projeto voltou a tramitar no ano

de 2018, com o agendamento de audiências públicas.

Mesmo com a aprovação da Lei n. 13.288/2016, a disciplina sobre da integração permanece.

Observa-se, entretanto, que eventual regulação prevista em novo Código Comercial torna-se

absolutamente prescindível após a publicação da lei especial. Apesar de trazer disposições

semelhantes e não conflitantes, em caso de conflito de normas será aplicada a lei especial,

mesmo que anterior, uma vez que o código caracteriza-se como lei geral.

Desse modo, após breve análise do histórico de tramitação legislativa, o objetivo de estudo

deste item será relativo aos aspectos legais do contrato de integração, trazidos pela Lei n.

13.288/2016, comparando-se questões pertinentes apresentadas pelos projetos de lei anteriores

e disposições encontradas no ordenamento jurídico italiano, com o intento de se verificar os

efeitos da lei no sistema de integração avícola.

3.5.2 Nomenclatura

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) estabelece como denominação do contrato integração

vertical ou integração53. Os demais projetos de lei trouxeram diversas nomenclaturas, mas

52 Por exemplo, o projeto apresentava a seguinte definição para produtor integrado e integrador: “Art. 30. O

produtor é o contratante integrado; o outro empresário ou os demais empresários contratantes são os integradores”

(BRASIL, 2011b). 53 O item 3.1 discorre sobre as diferenças conceituais adotadas pela Administração e pelo Direito, na medida em

que não se trata de verdadeira integração vertical, mas sim de integração contratual ou quase-integração.

Page 95: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

93

mantendo-se a ideia central da integração54. Na doutrina, costuma-se incluir o termo

agroindustrial, evidenciando o pertencimento do contrato de integração ao gênero contratos

agroindustriais55. Nesse sentido, Nunziata Paiva (2009) utiliza o termo contrato de integração

vertical agroindustrial.

Os Tribunais brasileiros, por sua vez, utilizam a denominação parceria-avícola para se referirem

ao contrato de integração avícola56. Entretanto, como estudado no item 3.4.2.5, não se trata de

contrato de parceria, uma vez que não se transaciona a cessão do imóvel rural, mas sim matéria-

prima57.

Por fim, quanto às partes, a Lei n. 13.288/2016 estabelece produtor integrado ou integrado e

integrador. Nesse quesito, os projetos de lei apresentaram as algumas nomenclaturas diversas:

produtor rural integrado e produtor agropecuário integrado; agroindústria e agroindústria

integradora.

3.5.3 Conceitos legais

O artigo 2º da Lei n. 13. 288/2016 (BRASIL, 2016) apresenta os conceitos de integração,

produtor integrado, integrador, contrato de integração e atividades agrossilvipastoris. O

objetivo, assim, é definir o tipo contratual, esclarecer as atribuição de cada parte e delimitar a

aplicação da lei. Nesse sentido, todos os projetos de lei que discorreram sobre o sistema de

integração trouxeram os respectivos conceitos.

Em primeiro lugar, o artigo 2º, I (BRASIL, 2016) traz a definição de integração vertical ou,

simplesmente integração, pelo qual se entende a “relação contratual entre produtores integrados

54 Contrato de integração (PL 4.378/1998); contrato de produção integrada (PL 3.979/2008); contrato de integração

econômica vertical ou contrato de integração (PL 8.023/2010); contrato de integração agroindustrial (PL

1572/2011 – EMC 33 e PLS 487/2013). Apenas o Projeto Inicial da Lei (PLS330/2011) trouxe a ideia de parceria,

com objetivo de evidenciar a responsabilidade e obrigações recíprocas, contrato de parceria de produção integrada

agropecuária, mas que foi modificado ao longo de sua tramitação até a aprovação da Lei n. 13.288/2016. 55 Antonio Carrozza (1990, p. 321) define como agroindustrial o contrato que possui a finalidade de planificar a

produção, programar a transformação e a colocação de produtos agrícolas no mercado, adequando a oferta em

quantidade e qualidade à demanda interna e externa. 56 Por exemplo, TST, RR-310900-79.2009.5.12.0038; TJRS AC 70052425741; TJSP APL 0220849-

25.2008.8.26.0100; TJPR AC 0076561-3; TJSC AC 2003.006177-0; TJMG AC 10498110011448001; TJPA AC

2004300-32491; TRF4 AC 2001.71.14.003832-0. 57 Flavia Trentini (2017) observa que, em essência, regula relações que possuem como objeto central o

desenvolvimento de um ciclo biológico animal ou vegetal a suprir a demanda agroindustrial.

Page 96: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

94

e integradores que visa a planejar e realizar a produção e a industrialização ou comercialização

de matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final, com responsabilidades e

obrigações recíprocas estabelecidas em contratos de integração”.

Há necessidade, assim, de um planejamento de produção, com responsabilidades e obrigações

recíprocas. Portanto, conforme determinação do artigo 2º, §2º, a simples obrigação de

pagamento de preço estipulado contra a entrega de produtos não caracteriza contrato de

integração, sendo essencial a conjugação de esforços.

Em segundo lugar, no artigo 2º, II (BRASIL, 2016) conceitua o produtor integrado ou produtor

como produtor agrossilvipastoril, pessoa física ou jurídica, que, individualmente ou de forma

associativa, com ou sem a cooperação laboral de empregados, se vincula ao integrador por meio

de contrato de integração vertical, recebendo bens ou serviços para a produção e para o

fornecimento de matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final.

Desse modo, o produtor integrado pode ser pessoa física ou pessoa jurídica, independentemente

de seu tamanho, ou seja, engloba tanto agricultores familiares58 como grandes produtores59.

Importa, somente, o desenvolvimento de produção integrada, recebendo bens ou serviços para

fornecimento de matéria-prima ao integrador.

Por sua vez, o integrador também pode ser pessoa física ou jurídica, mas que se vincula ao

produtor integrado por meio de contrato de integração vertical, fornecendo bens, insumos e

serviços, e recebendo matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final utilizados

no processo industrial ou comercial, conforme previsão do artigo 2º, III (BRASIL, 2016).

58 De acordo com o artigo 3º da Lei n. 11.326 de 24 de julho de 2006 (BRASIL, 2016), considera-se agricultor

familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente,

aos seguintes requisitos: I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize

predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou

empreendimento; III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu

estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; IV - dirija seu estabelecimento ou

empreendimento com sua família. 59 Para classificação do tamanho do produtor rural, pode-se utilizar critério de tamanho dos imóveis rurais,

conforme a Lei n. 8.629/1993 (BRASIL, 1993), ou a renda bruta obtida na atividade agrária. De acordo com o

primeiro critério, considera-se minifúndio: imóvel rural com área inferior a 1 módulo fiscal; pequena propriedade:

entre 1 e 4 módulos fiscais; média propriedade: superior a 4 e até 15 módulos fiscais; e grande propriedade:

superior a 15 módulos fiscais. Por outro lado, para a concessão de crédito rural, leva-se em consideração a renda

bruta agropecuária anual (RBA), conforme Resolução n. 4.174, de 27 de dezembro de 2012, do Ministério da

Fazenda: pequeno produtor: até R$ 160.000,00 (cento e sessenta mil reais); médio produtor: acima de R$

160.000,00 00 (cento e sessenta mil reais) até R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais); grande produtor: acima de R$

800.000,00 (oitocentos mil reais).

Page 97: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

95

Na prática é recorrente a visualização do integrador como pessoa jurídica, em razão da estrutura

de organização necessária para o desenvolvimento de uma atividade integrada, uma vez que

fica responsável pelo fornecimento de todos os insumos e pelo recebimento de todos os bens

produzidos. Entretanto, não há proibição de que pessoa física opere a figura do integrador.

Ainda quanto ao integrador, o artigo 2º, §1º (BRASIL, 2016), estabelece algumas figuras que a

ele se equiparam, ou seja, comerciantes e exportadores que, para obterem matéria-prima, bens

intermediários ou bens de consumo final, celebrem contratos de integração com produtores

agrossilvipastoris. Desse modo, não há necessidade de que o produto transacionado seja

utilizado em etapa de transformação industrial, podendo ser distribuído por um comerciante ou

importador60.

Por seu turno, existe a previsão de ressalva quanto à aplicação da Lei n. 13.288/2016 para a

relação existente entre cooperativas e associados. O parágrafo único do artigo 1º expressa que

a constituição de ato cooperativo ensejará a observância da legislação específica aplicável às

sociedades cooperativas61.

Já o contrato de integração vertical ou contrato de integração é definido pelo artigo 2º, IV

(BRASIL, 2016) como contrato firmado entre o produtor integrado e o integrador, que

estabelece a sua finalidade, as respectivas atribuições no processo produtivo, os compromissos

financeiros, os deveres sociais, os requisitos sanitários, as responsabilidades ambientais, entre

outros que regulem o relacionamento entre os sujeitos do contrato.

As cláusulas obrigatórias que devem constar no contrato de integração estão previstas pelo

artigo 4º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016). Destaca-se que sob pena de nulidade, o

60 Pode-se tomar como exemplo uma sistema de integração para a produção de tomates. O integrador irá fornecer

sementes e insumos, enquanto o produtor integrado será responsável pelo manejo de cultivo, ficando o primeiro

obrigado a adquirir o resultado dessa produção. Nesse modelo, o integrador pode ser uma agroindústria que irá

utilizar os tomates para a produção de molho. Por outro lado, pode-se tratar também de um comerciante ou

exportador que irá negociar diretamente o produto in natura, não havendo necessidade de envolver um processo

de transformação industrial. 61 A Política Nacional de Cooperativismo é definida pela Lei n. 5.764, de 16 de dezembro de 1971 (BRASIL,

1971), que institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. A Cooperativa Central Aurora Alimentos, por

exemplo, institui um sistema de integração na produção de aves e suínos, mas organizado de modo cooperativo.

No ano de 2016, contou com 3.444 produtores de suínos cooperados, totalizando o abate de 4.546.000 cabeças, ao

passo que na avicultura possuía 2.395 cooperados, responsáveis pelo abate de 247.000.000 de frangos (AURORA,

2017).

Page 98: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

96

contrato deverá ser escrito com clareza62, precisão e ordem lógica63, conforme previsão do

caput do artigo 4º. Trata-se, assim, de contrato formal. Acordos verbais, desse modo, serão

nulos, não podendo ser oponíveis às contrapartes.

Além disso, o artigo 2, §3º (BRASIL, 2016) prescreve que a relação de integração configura-

se como uma relação civil, conforme as definições apresentadas, excluindo, assim, a sua

caracterização como prestação de serviço ou como relação de emprego entre integrador e

integrado. Por alguns anos, discutiu-se no Poder Judiciário a caracterização do contrato de

integração como instituidor de verdadeira relação empregatícia, conforme analisado no item

3.4.2.4. Entretanto, não foi esse o entendimento que prevaleceu no Tribunal Superior do

Trabalho64, concluindo a Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) pela sua não configuração.

Por fim, a lei estabelece a definição de atividade agrossilvipastoril, como atividades de

agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura, pesca ou extrativismo vegetal. A importância

desse dispositivo é determinar o âmbito de aplicação do sistema legal de integração. O PL n.

4.378/1998 (BRASIL, 1998), por exemplo, trazia o conceito de agroindústria, que envolvia o

beneficiamento de produtos de origem agropecuária. O termo agropecuária apresenta restrição

de alcance em relação a agrossilvipastoril, que envolve também as atividades de pesca e de

62 O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) traz referência à clareza em quatro situações: i) direito do

consumidor: art. 2º, III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação

correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os

riscos que apresentem; ii) art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; iii)

oferta: Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,

precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,

garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e

segurança dos consumidores; iv) infração penal: Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia

adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo. Relaciona-se, assim, ao princípio da

informação e da transparência, exigindo que as o contrato seja escrito com uma linguagem de fácil entendimento. 63 A clareza exige que o contrato seja de fácil entendimento; a precisão que não seja prolixo, nem escasso; por fim,

quanto à ordem lógica, pode-se seguir o disposto no artigo 11, III, da Lei Complementar n. 95/1998 (BRASIL,

1998), que discorre sobre a elaboração de leis: i) reunir apenas as disposições relacionadas com o contrato de

integração; ii) restringir o conteúdo de cada cláusula a um único assunto; iii) expressar por meio de parágrafos os

aspectos complementares ao enunciado no caput da cláusula, bem como as exceções à regra; iv) promover as

discriminações e enumerações por meio de incisos, alíneas e itens. 64 PARCERIA AVÍCOLA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A Justiça do Trabalho não tem

competência para processar e julgar as ações nas quais se discutem relações decorrentes de contrato de parceria

avícola, em cuja execução a prestação de serviços se dá sem a pessoalidade, a subordinação e a exclusividade,

características da relação de emprego, mas, antes, com ânimo tipicamente societário, com uma das partes

fornecendo o trabalho e a outra, matéria-prima. Aplicação do art. 114, inc. I, da Constituição da República. Recurso

de Revista conhecido e provido. (TST, RR-310900-79.2009.5.12.0038, Quinta Turma, Relator Ministro João

Batista Brito Pereira, d.j. 26/06/2013).

Page 99: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

97

extrativismo, por exemplo65. Desse modo, atualmente, por definição legal, o contrato de

integração pode ser utilizado para as mais variadas atividades agrossilvipastoris, destacando-se

a avicultura, suinocultura, piscicultura, fruticultura, fumicultura e silvicultura.

Na Itália, a Lei n. 88/1988 (ITÁLIA), ao tratar do contratto di coltivazione e vendita, utilizava

denominação que induzia ao entendimento de que a criação de animais estaria excluída.

Entretanto, Paola Porru (1990, p. 219) defendia a sua inclusão, uma vez que a própria lei, no

artigo 3º, §1º, ao tratar dos acordos interprofissionais, citava diretamente essa hipótese66.

Já o Decreto Legislativo n. 102/2005 (ITÁLIA) define como produto agrícola os produtos

elencados no Anexo I do Tratado de funcionamento da União Europeia (UE, 2012), nos Anexos

I e II do Regulamento (CEE) n. 2081/92 (UE, 1992), bem como outros produtos qualificados

como agrícolas no direito comunitário. Desse modo, estão incluídas as atividades agrícolas,

pecuárias e de pesca.

3.5.4 Princípios

O artigo 3º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) apresenta princípio orientador de aplicação

e interpretação da lei – a relação de integração se caracteriza pela conjugação de recursos e

esforços e pela distribuição justa dos resultados. Podemos, no entanto, dividir essa disposição

em dois princípios orientadores: i) princípio da conjugação de recursos e esforços; ii) princípio

da distribuição justa dos resultados. São princípios inter-relacionados que representam a lógica

do sistema de integração – os recursos e esforços são conjugados entre agroindústria e produtor

rural para se chegar a um resultado comum, que deve ser distribuído de maneira justa67.

65 O quadro anexo do Decreto n. 53.831/1964 (BRASIL, 1964), que regulamentava a aposentadoria especial em

serviços considerados insalubres, perigosos ou penosos, considerava no conceito de agropecuária apenas as

atividades de agricultura e pecuária, excluindo-se as produções florestais (silvicultura), a caça e a pesca. 66 Art. 3. 1. Gli accordi interprofessionali possono essere annuali o poliennali e devono essere stipulati: (...) c)

almeno due mesi prima dell'inizio della campagna di commercializzazione, per le produzioni zootecniche.

(ITÁLIA, 1988). 67 A referência à justiça da distribuição de resultados também é prevista na Lei n. 13.123/2015 (BRASIL, 2015),

que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional

associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade: “Art. 17. Os

benefícios resultantes da exploração econômica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo de acesso

ao patrimônio genético de espécies encontradas em condições in situ ou ao conhecimento tradicional associado,

ainda que produzido fora do País, serão repartidos, de forma justa e equitativa, sendo que no caso do produto

acabado o componente do patrimônio genético ou do conhecimento tradicional associado deve ser um dos

elementos principais de agregação de valor, em conformidade ao que estabelece esta Lei”.

Page 100: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

98

Tomando-se como exemplo a integração avícola, o princípio da conjugação de recursos e

esforços pode ser observado nas obrigações e responsabilidades pelo desenvolvimento da

atividade produtiva. Incumbe à agroindústria o fornecimento de pintos de um dia, ração,

medicamentos, assistência médico-veterinária e transporte, ao passo ser encargo do produtor

integrado mão de obra, galpão com equipamentos e administração do manejo da criação dos

frangos até o abate.

Por sua vez, o resultado dessa conjugação de recursos e esforços deverá ser justamente

distribuído, conforme a participação de cada parte no processo produtivo. Desse modo,

apresenta o sentido de isonomia, paridade, equidade, em seu aspecto material. O resultado não

deverá ser distribuído em igual valor para as partes, mas sim proporcionalmente aos recursos e

esforços conjugados na sua persecução.

Esse princípio é orientador de aplicação da lei, devendo, portanto, ser considerado, por

exemplo, na elaboração da metodologia para o cálculo do valor de referência para a

remuneração do produtor integrado, conforme artigo 12.

O artigo 12 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) estabelece a competência do Fórum

Nacional de Integração (FONIAGRO) para constituir tal metodologia de cálculo, observando-

se os custos de produção, os valores de mercado dos produtos in natura, o rendimento médio

dos lotes, dentre outras variáveis, a depender da cadeia produtiva. Na apreciação do peso de

cada fator, deve-se ter em propósito a distribuição justa do resultado, pois não se trata de simples

compra e venda de insumos agrícolas, mas de um sistema de responsabilidades e obrigações

recíprocas em busca de um objetivo comum.

A justiça é uma qualidade que deve ser especialmente observada, pois intencionalmente

inserida pelo legislador como atributo da distribuição. No texto original do PLS n. 330/2011

(BRASIL, 2011), bem como no PL n. 8.023/2010 (BRASIL, 2010), havia apenas a

caracterização pela distribuição dos resultados, ou seja, ao inserir o termo justa, o legislador

evidenciou a especial qualidade que deseja atingir na distribuição dos resultados no sistema de

integração.

Na Itália, o artigo 11 do Decreto Legislativo n. 102/2005 (ITÁLIA, 2005) estabelece quatro

princípios gerais a serem aplicados aos contratos-quadro: i) comparação preventiva das

Page 101: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

99

provisões de produção e demanda agroindustrial pelo produto, tendo em vista a sua

harmonização; ii) definição de requisitos para adaptação do produto objeto de contrato às

exigências de mercado, levando-se em conta as características qualitativas do produto e os

serviços logísticos que influenciam na determinação do preço de comercialização; iii)

obrigação para os adquirentes de obterem o produto objeto do contrato-quadro por meio de

contrato de cultivo, criação e fornecimento, ou outro contrato, por escrito, que respeitem o

conteúdo do contrato-quadro e prevejam expressamente a sua aplicação, inclusive para os

produtores não integrantes das organizações previstas no artigo 13, sendo possível indenização

para ressarcimento de eventuais danos por conta de sua violação; iv) definição dos critérios para

estabelecimento dos preços, levando-se em conta ao processos produtivo e às características

qualitativas dos produtos.

3.5.5 Conteúdo mínimo

O artigo 4º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), em seus incisos, apresenta as questões que

o contrato deve abordar, mas não determina de que modo, ou seja, não impõe o conteúdo das

cláusulas, apenas os assuntos obrigatórios. Nesse sentido, por não estabelecer um verdadeiro

regulamento contratual, com a concessão de direitos e a imposição de obrigações que incidem

sobre as partes, Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 163) afirma que o contrato de integração

permanece como um contrato atípico, tendo a lei estabelecido “regras de conduta a serem

observadas pelas partes na contratação”.

Entretanto, entende-se de modo contrário, ou seja, o contrato de integração foi tipificado pela

Lei n. 13.288/2016, na medida em que o define e estabelece padrões de comportamento que

devem ser observados pelos contratantes. Seguindo a explicação de Álvaro Villaça de Azevedo

(2009, p. 69), de que “a tipicidade significa presença, e a atipicidade ausência, de tratamento

legislativo específico”, não se pode negar que a lei trouxe um tratamento legal específico,

definindo um novo tipo contratual.

Desse modo, quando as partes necessitarem regular interesses por meio de um contrato de

integração, deverão recorrer ao tipo previsto na Lei n. 13.288/2016, devendo observância às

suas disposições, sob pena de nulidade, por exemplo, na celebração de contrato verbal ou na

ausência de previsão do conteúdo mínimo obrigatório.

Page 102: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

100

Por outro lado, a opção do legislador por estabelecer regras de conduta em contrapartida a

normas imperativas apresenta um alinhamento com a concepção do contrato de integração

como interempresarial, prescindindo, assim, de normas essencialmente protetivas, uma vez que

as partes encontram-se, a princípio, em condições de igualdade. Nesse sentido, Francisco de

Godoy Bueno (2017, p. 166) aponta que a lei não pretendeu proteger o hipossuficiente impondo

obrigações às partes, mas sim impedindo que a assimetria de informações interferia na

percepção do produtor integrado sobre os custos e os riscos envolvendo o contrato.

Além disso, pode-se observar o emprego de cláusulas gerais68, tendência moderna do direito

privado69, utilizadas como parâmetros interpretativos a se verificarem na análise do caso

concreto, como a reciprocidade das responsabilidades e obrigações, a conjugação de esforços,

a justiça na distribuição dos resultados e a transparência.

Desse modo, o legislador optou por não limitar a autonomia da vontade de modo excessivo,

como faz o Estatuto da Terra ao estabelecer normas imperativas70, mas trouxe parâmetros para

a verificação no caso concreto do cumprimento dos objetivos previstos para o sistema de

integração, ou seja, de planejamento e a realização da produção e da industrialização ou

comercialização de matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final, com

responsabilidades e obrigações recíprocas estabelecidas em contratos de integração.

Na Itália, quanto aos contratos individuais previstos pela Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988),

deveriam respeitar as disposições dos acordos interprofissionais. Entretanto, para serem

protegidas contra o desequilíbrio econômico, Paola Porru (1990, p. 220) atenta que os

produtores agrícolas deveriam estar associados às organizações de produtores previstas na lei.

68 Ao tratar das cláusulas gerais no Código Civil de 2002, discorre Gustavo Tepedino (2002, p. 19): “o legislador

atual procura associar a seus enunciados genéricos prescrições de conteúdo completamente diverso em relação aos

modelos tradicionalmente reservados às normas jurídicas. Cuida-se se normas que não prescrevem uma certa

conduta mas, simplesmente, definem valores e parâmetros hermenêuticos. Servem assim como ponto de referência

interpretativo e oferecem ao intérprete os critérios axiológicos e os limites para a aplicação das demais disposições

normativas”. 69 Apesar da contemporaneidade da expressão cláusulas gerais, Alessandro Giuliani, Antonio Palazzo e Ione

Ferranti (1996, p. 34) apontam para sua remota origem no direito privado romano: “Analogia, clausole generali

ed equità sono strumenti antichissimi nati sul 'terreno dei diritto privato romano e coltivati daí prudentes per

adeguare il primitivo ius civile non soltanto alle esigenze morali, ma anche a quelle sociali fin da allora incontinua

pur se diversa evoluzione”. 70 O Estatuto da Terra (BRASIL, 1964) e o Decreto n. 59.566/1966 (BRASIL, 1966), ao regularem os contratos

típicos de arrendamento e parceria, dispõem de diversas normas imperativas, tais como prazo mínimo de contrato,

percentuais de remuneração, direito de preferência na renovação do contrato e na aquisição do imóvel rural objeto

do contrato, limitando, assim, a autonomia da vontade da partes para pactuarem de modo diverso.

Page 103: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

101

Desse modo, Kassia Watanabe (2007, p. 234) observa que outros contratos poderiam ser

adotados na estratégia de integração, mas não fariam parte da categoria prevista na lei.

A opção do legislador brasileiro na normatização do contrato de integração assemelha-se à

estratégia utilizada pelo legislador italiano, quanto à tipificação dos acordos interprofissionais

e dos contatos de cultivação e venda de produtos agrícolas, pela Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988),

bem como à regulação dos mercados agroalimentares imposta pelo Decreto Legislativo n.

102/2005 (ITÁLIA, 2005) Nessas duas leis, observa-se uma preocupação com a normatização

do sistema, com a estipulação de cláusulas gerais, normas de conduta e mecanismos de

transparência, em contrapartida a normas imperativas relacionadas diretamente às cláusulas

contratuais.

As diretrizes previstas pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) deverão estar presentes em

todas as fases contratuais, ou seja, nas negociações que precedem a celebração do contrato,

especialmente no Documento de Informação Pré-Contratual (DIPC, art. 9º), na sua execução,

na sua intepretação e na sua conclusão. Assim, padecem de vício cláusulas que estabeleçam

divisão não equitativa de responsabilidades, obrigações e riscos ou vantagem desproporcional

a uma das partes, consideradas, portanto, nulas71, por desrespeitar a reciprocidades das

responsabilidades e obrigações, a conjugação de esforços e a distribuição justa dos resultados.

Os incisos do artigo 4º apresentam os assuntos que deverão estar contidos no contrato de

integração, ou seja, o seu conteúdo mínimo:

I - as características gerais do sistema de integração e as exigências técnicas e legais

para os contratantes;

II - as responsabilidades e as obrigações do integrador e do produtor integrado no

sistema de produção;

III - os parâmetros técnicos e econômicos indicados ou anuídos pelo integrador com

base no estudo de viabilidade econômica e financeira do projeto;

IV - os padrões de qualidade dos insumos fornecidos pelo integrador para a produção

animal e dos produtos a serem entregues pelo integrado;

71 Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 445) discorre que a nulidade é “a sanção imposta pela lei aos atos e negócios

jurídicos realizados sem a observância dos requisitos essenciais, impedindo-os de produzir os efeitos que lhes são

próprios”. Por sua vez, será anulável quando a ofensa atingir interesse particular que o legislador pretendeu

proteger, sendo, assim, “a sanção imposta pela lei aos atos e negócios jurídicos realizados por pessoa relativamente

incapaz ou eivados de algum vício do consentimento ou vício social (GONÇALVES, 2014, p; 448). Desse modo,

sendo considerado nulo, não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo, devendo ser

pronunciado de ofício pelo juiz, conforme previsão do Código Civil (BRASIL, 2002), em seus artigos 169 e 168,

parágrafo único, respectivamente.

Page 104: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

102

V - as fórmulas para o cálculo da eficiência da produção, com explicação detalhada

dos parâmetros e da metodologia empregados na obtenção dos resultados;

VI - as formas e os prazos de distribuição dos resultados entre os contratantes;

VII - visando a assegurar a viabilidade econômica, o equilíbrio dos contratos e a

continuidade do processo produtivo, será cumprido pelo integrador o valor de

referência para a remuneração do integrado, definido pela Cadec na forma do art. 12

desta Lei, desde que atendidas as obrigações contidas no contrato;

VIII - os custos financeiros dos insumos fornecidos em adiantamento pelo integrador,

não podendo ser superiores às taxas de juros captadas, devendo ser comprovadas pela

Cadec;

IX - as condições para o acesso às áreas de produção por preposto ou empregado do

integrador e às instalações industriais ou comerciais diretamente afetas ao objeto do

contrato de integração pelo produtor integrado, seu preposto ou empregado;

X - as responsabilidades do integrador e do produtor integrado quanto ao recolhimento

de tributos incidentes no sistema de integração;

XI - as obrigações do integrador e do produtor integrado no cumprimento da

legislação de defesa agropecuária e sanitária;

XII - as obrigações do integrador e do produtor integrado no cumprimento da

legislação ambiental;

XIII - os custos e a extensão de sua cobertura, em caso de obrigatoriedade de

contratação de seguro de produção e do empreendimento, devendo eventual subsídio

sobre o prêmio concedido pelo poder público ser direcionado proporcionalmente a

quem arcar com os custos;

XIV - o prazo para aviso prévio, no caso de rescisão unilateral e antecipada do contrato

de integração, deve levar em consideração o ciclo produtivo da atividade e o montante

dos investimentos realizados, devidamente pactuado entre as partes;

XV - a instituição de Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação

da Integração - CADEC, a quem as partes poderão recorrer para a interpretação de

cláusulas contratuais ou outras questões inerentes ao contrato de integração;

XVI - as sanções para os casos de inadimplemento e rescisão unilateral do contrato de

integração.

Os dezesseis incisos do artigo 4º são de tratamento obrigatório, sob pena de nulidade do

contrato, mantendo-se as partes, entretanto, a liberdade para definir o conteúdo específico de

cada cláusula. Distingue-se, desse modo, das cláusulas obrigatórias previstas pelo Estatuto da

Terra, ao tipificar os contratos agrários de arrendamento e parceria, que são imperativas quanto

ao seu conteúdo.

Como exemplo, as disposições sobre a forma de remuneração nos contratos de arrendamento e

parceria. O artigo 95, XII, do Estatuto da Terra (BRASIL, 1964) determina que a remuneração

do arrendamento não poderá ser superior a 15% do valor cadastral do imóvel, incluindo-se as

benfeitorias, salvo para o arrendamento parcial de glebas selecionadas para fins de exploração

intensiva de alta rentabilidade, caso em que a remuneração poderá atingir o limite de 30%. Já

na parceria, os percentuais de remunerado destinadas a cada partes estão previstos no artigo 96,

Page 105: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

103

VI, limitando-se o percentual destinado ao proprietário (parceiro-outorgante) a depender de sua

forma de participação, conforme representação na Tabela 3.

Tabela 3. Percentuais de remuneração do contrato de parceria.

Participação do parceiro

outorgante

% máximo do parceiro

outorgante

% mínimo do parceiro

outorgado

Terra nua 20% 80%

Terra preparada 25% 75%

Terra preparada e moradia 30% 70%

Benfeitorias: moradia, galpões,

banheiro para gado, cercas, valas ou

currais

40% 60%

Terra preparada, benfeitorias +

máquinas e implementos agrícolas 50% 50%

Zonas de pecuária ultra-intensiva 75% 25%

Por outro lado, a Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) estabelece que deverá ser cumprido o

valor de referência para a remuneração do produtor integrado definido pela CADEC e pelo

FONIAGRO, desde que atendidas as obrigações contidas no contrato. Trata-se, no caso, de

percentual mínimo obrigatório, que pode ser aumentado em razão do cumprimento de critérios

de qualidade estabelecidos pelo integrador. Ressalta-se uma relevante diferença entre os

sistemas, pois no Estatuto da Terra os percentuais são impostos pelo legislação, ao passo que

na Lei n. 13.288/2016, a sua instituição advém da participação direta do integrador e dos

produtores integrados.

Além disso, não estabelece uma determinação sobre o prazo de duração dos contratos Assim,

poderão ser celebrados por prazo determinado ou indeterminado, a depender do interesse das

partes, influenciado pelas características de cada setor agroindustrial. Por sua vez o artigo 13

do Decreto n. 59.566/1966 (BRASIL, 1966), que regulamenta o Estatuto da Terra, estabelece

prazos mínimos para os contratos de arrendamento e parceria, na tentativa de assegurar proteção

social e econômica aos arrendatários e parceiros-outorgados, de acordo com a seguinte

classificação:

a) de 3 (três) anos, nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de exploração

de lavoura temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos dos

casos de parceria;

b) de 5 (cinco) anos, nos casos de arrendamento em que ocorra atividade de

exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria,

engorda ou extração de matérias primas de origem animal;

c) de 7 (sete) anos, nos casos em que ocorra atividade de exploração florestal.

Page 106: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

104

Já nos contratos de arrendamento e parceria por tempo indeterminado, o prazo mínimo será de

3 anos, por força dos artigos 95, II, e 96, I do Estatuto da Terra e do artigo 21 do Decreto n.

59.566/1966.

Desse modo, o não estabelecimento de regras imperativas permite a adaptação do contrato ao

sistema produtivo de integração em que se insere, não prejudicando a especialidade de cada

setor agroindustrial. Isso, porque, setores que utilizam o sistema de integração, como avicultura,

suinocultura, piscicultura, silvicultura, agricultura anual e agricultura perene encontram-se em

realidades completamente distintas quanto às necessidades contratuais.

A ausência de qualquer dessas disposições previstas nos incisos do artigo 4º resultam na

nulidade do contrato, por expressa previsão legal. Nesse contexto, a nulidade decorre de

manifestação deficitária de vontade, pela falta de clareza, precisão e ordem lógica das cláusulas,

ou porque as partes não trouxeram ao contrato aspectos legalmente obrigatórios (GODOY,

2017, p. 168).

Ressalta-se que a nulidade em razão do conteúdo demanda uma atenção especial, uma vez que

a ausência de um dos dispositivos obrigatórios pode não impedir a fixação de responsabilidades

e obrigações entre as partes, permitindo o pleno funcionamento do sistema de integração.

Por exemplo, o inciso I determina que o contrato deve dispor sobre as características gerais do

sistema de integração e as exigências técnicas legais para os contratantes. O objetivo desta

cláusula é orientar a interpretação do contrato, mas não impede a fixação equitativa de

responsabilidades, ou seja, não impede o efetivo desenvolvimento do contrato de integração,

respeitando-se os objetivos e princípios constantes na lei. Desse modo, Francisco de Godoy

Bueno (2017, p. 169) ressalva que apesar do expresso comando legislativo, não mostra-se

razoável impor a nulidade do contrato que não apresente a descrição do sistema de integração.

Assim, com exceção de eventual fraude, o reconhecimento da nulidade do contrato implicaria

em prejuízos significativos para ambos os contratantes.

Nesse sentido, a lei apresenta como objetivo garantir segurança jurídica às partes, reduzir os

conflitos existe na relação de integração e reequilibrar assimetrias. Assim, a nulidade em razão

da ausência de qualquer conteúdo obrigatório provocaria um resultado oposto, ou seja,

implicaria em insegurança jurídica e no aumento de conflitos.

Page 107: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

105

Por isso, Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 170) interpreta a previsão de nulidade como um

objetivo político do legislador, ou seja, demonstrar a imperatividade das obrigações definidas

como necessárias, mas entende não se tratar de penalidade razoável em todas as ocasiões. Deve-

se, observar, portanto, o princípio da conservação dos contratos72. Isso, porque, conforme

Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 445), o negócio será nulo quando ofender preceitos da

ordem pública, que interessam à sociedade. Entretanto, não é isso que se observa nos incisos

do artigo 4º, pois não são requisitos essenciais que impedem o contrato de produzir os efeitos

que lhes são próprio.

Pode-se citar como exemplo o inciso IV do artigo 4º, que dispõe ser obrigatório a previsão de

padrões de qualidade dos insumos fornecidos pelo integrador para a produção animal e dos

produtos a serem entregues pelo integrado. Trata-se de importante instrumento para

concretização e verificação da conjugação de esforços, bem como de transparência na relação

contratual. Entretanto, na sua ausência, a nulidade do contrato torna-se consequência

desarrazoada. Seguindo a lição de Antonio Junqueira de Azevedo (2002, p. 65), é possível a

conservação do contrato, submetendo a questão aos padrões normais de qualidade.

Por fim, especificamente quanto ao contudo obrigatório, merece uma análise atenta o previsto

no inciso XIV, em relação ao prazo para aviso prévio em caso de rescisão unilateral do contrato,

devendo considerar o ciclo produtivo e o montante de investimentos realizados73. Trata-se de

especificação da previsão constante no artigo 473 do Código Civil (BRASIL, 2002)74, já de

observância obrigatória.

É comum para o desenvolvimento do sistema de integração a necessidade de realização de

investimentos específicos75 pelo produtor integrado, sob pena de não celebração do contrato.

Por exemplo, para a produção integrada na avicultura, o produtor integrado deve construir um

72 Antonio Junqueira de Azevedo (2002, p. 65) adverte que o legislador e o intérprete devem buscar conservar o

máximo possível do negócio jurídico realizado pelo agente, bem como o negócio jurídico concreto. 73 Art. 4º, XIV - o prazo para aviso prévio, no caso de rescisão unilateral e antecipada do contrato de integração,

deve levar em consideração o ciclo produtivo da atividade e o montante dos investimentos realizados, devidamente

pactuado entre as partes; (BRASIL, 2016) 74 Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante

denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver

feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de

transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. (BRASIL, 2002) 75 Para Roberto Natoli (2003, p. 14) o abuso de dependência econômica relaciona-se principalmente com a

assimetria de investimentos específicos.

Page 108: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

106

galpão para acomodar as aves, com diversas máquinas e equipamentos, resultando em

considerável investimento. Além disso, com a modernização das técnicas de produção, é

comum a exigência por parte do integrador de melhorias nas instalações sob pena de não

continuidade do contrato.

Entretanto, o instrumento contratual de integração celebrado entre as partes não costuma trazer

salvaguardas especiais para a proteção dos investimentos específicos, gerando, conforme

observa Kassia Watanabe (2007, p. 226), possibilidade de comportamento oportunista do

integrador, uma vez que se observa na relação contratual situação de dependência econômica,

possibilitando a imposição de condições contratuais. Assim, o produtor integrado acaba por

aceitar tais imposições, de modo a evitar o desfazimento unilateral do contrato.

Apesar desta regra já constar no artigo 473 do Código Civil (BRASIL, 2002), a condição de

obrigatória no contrato imposta pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) enseja segurança

jurídica para as partes e apresenta-se como limitadora de abuso de dependência econômica. A

análise sobre a razoabilidade do prazo constatada no caso concreto, uma vez que depende da

atividade produtiva desenvolvida, do montante dos investimentos e da existência de outro

integrador na região.

3.5.6 Órgãos colegiados

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) apresenta como grande inovação a criação de dois

órgãos colegiados, de formação paritária, com o objetivo de coordenação e definição de

cláusula gerais para os contratos de integração: Comissão de Acompanhamento,

Desenvolvimento e Conciliação da Integração (CADEC) e Fórum Nacional de Integração

(FONIAGRO)

Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 175) identifica a criação de uma estrutura corporativa para

a gestão e definição de cláusulas gerais para os contratos agroindustriais. Dentre as funções

estabelecidas, encontram-se atividades informativas e de apoio ao cumprimento do contrato,

assumindo um papel de efetivar as regras gerais e de conduta dispostas na lei.

Page 109: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

107

3.5.6.1 Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração

(CADEC)

A Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração - CADEC

deverá ser obrigatoriamente constituída para cada unidade de cada integrador, com composição

paritária. Entretanto, apesar de sua criação ser obrigatória, os estudos e pareceres não possuem

efeito vinculante, mas sim de informação e recomendação para adoção no sistema de

integração. Prevalece, assim, o disposto nos contratos, salvo quanto ao cumprimento do valor

de referência instituído pelo FONIAGRO76.

O parágrafo primeiro do artigo 6º determina que a sua composição deverá ser paritária, por

representantes: i) escolhidos diretamente pelos produtores integrados à unidade integradora; ii)

indicados pela integradora; iii) indicados pelas entidades representativas dos produtores

integrados; iv) indicados pelas entidades representativas das empresas integradoras. Atenta-se

que o parágrafo segundo do artigo 6º permite o funcionamento da CADEC mesmo com a falta

de indicação respectiva aos últimos dois incisos, ou seja, entidades representativas dos

produtores integrados e das empresas integradoras.

A participação de associações e sindicatos é importante, por conta de sua força coletiva.

Entretanto, não são todos setores produtivos e todas as regiões que possuem entidades

representativas. Desse modo, a sua constituição não pode ser obrigatória, por força da livre

associação, direto fundamental previsto no artigo 5º, XX, da Constituição Federal (BRASIL,

1988)77.

Nesse sentido, no ordenamento jurídico italiano prevalece disposição de pluralidade de

produtores. A Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988), quanto aos acordos interprofissionais,

estabelecia a participação obrigatória dos organismos associativos dos produtores agrícolas,

assegurando, assim, maior poder contratual (WATANABE, 2007, 231). Desse modo, o artigo

6º78 estabelecia como sujeitos dos acordos interprofissionais a união de produtores agrícolas e

76 Art. 6º, § 4º, VII - determinar e fazer cumprir o valor de referência a que alude o inciso VII do art. 4o desta Lei

(BRASIL, 2016). 77 Art. 5º, XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; (BRASIL, 1988) 78 Art. 6º, 1. Gli accordi interprofessionali sono conclusi a livello nazionale tra le unioni nazionali riconosciute

delle associazioni di produttori agricoli, le associazioni nazionali riconosciute di produttori agricoli, le

organizzazioni nazionali di produttori bieticoli, assistite, ai fini di quanto previsto dall'art. 9 della legge 8

novembre 1986, n. 752, dalle organizzazioni professionali agricole maggiormente rappresentative a livello

Page 110: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

108

a agroindústria. Quanto à agroindústria, poderia ser individualmente ou com vínculo

associativo.

Por sua vez, o Decreto Legislativo n. 102/2005 (ITÁLIA, 2005) também vincula os produtores

a uma organização de produtores. Desse modo, o produtor é identificado no artigo 1º, §1º, b,

como o empresário agrícola aderente a uma organização de produtores, que fornecendo a sua

produção para que seja comercializada. O artigo 2º determina que as organizações de produtores

possuem como finalidade principal a comercialização dos produtos, bem como: i) assegurar o

planejamento da produção e a sua adequação à demanda, tanto do ponto de vista quantitativo

quanto qualitativo; ii) concentrar a oferta e comercializar diretamente a produção dos membros;

iii) participar na gestão de crises de mercado; iv) reduzir os custos de produção e estabilizar os

preços da produção; v) promover práticas culturais e técnicas de produção respeitando-se o

meio ambiente e o bem-estar animal, com o objetivo de melhorar a qualidade da produção e a

higiene dos alimentos, de tutelar a qualidade da água, do solo e da paisagem, favorecendo a

biodiversidade, bem como incentivas processos de rastreabilidade; vi) garantir transparência e

regularidade das relações econômicas com os membros na determinação dos preços de venda

dos produtos; vii) realizar iniciativas de logística; viii) adotar inovações tecnológicas; ix)

favorecer o acesso a novos mercados.

Nesse sentido, Kassia Watanabe (2007, p. 245), analisando o Projeto de Lei n. 4.378/1988

(BRASIL, 1998), sugeria a disciplina dos contratos agroindustriais em conjunto à disciplina das

associações, tendo como exemplo a opção legislativa da Itália79, de modo a garantir liberdade

de contratação e equilíbrio entre as partes. Porém, observou-se que a opção do legislador

brasileiro foi pelos acordos individuais, em contrapartida aos acordos interprofissionais.

A criação da CADEC, assim, é um importante instrumento para atuação coletiva dos produtores

integrados, entretanto, a lei não discorre sobre a sua operacionalização, restando essa disposição

ao regulamento, ainda sem prazo para ser editado. Nesse sentido, Tobias Marini de Salles Luz

(2016, p. 2) apresenta diversos questionamentos que não foram tratados pela lei: i) processo de

nazionale, da un lato, e le imprese di trasformazione o commercializzazione o loro associazioni nazionali, a ciò

delegate per statuto o per atto espresso, dall'altro e le organizzazioni nazionali riconosciute di rappresentanza e

tutela del movimento cooperativo.

79 Lei n. 88/1998 (ITÁLIA, 1988).

Page 111: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

109

escolha para os membros; ii) tempo de mandato; iii) remuneração dos membros; iv) prazo para

a resolução do conflito; v) local de funcionamento.

O parágrafo quarto do artigo 6º apresenta um rol exemplificativo de objetivos e funções da

CADEC, na medida em que não exclui outros previstos pela própria Lei n. 13.288/2016 ou pelo

regulamento.

I - elaborar estudos e análises econômicas, sociais, tecnológicas, ambientais e dos

aspectos jurídicos das cadeias produtivas e seus segmentos e do contrato de

integração;

II - acompanhar e avaliar o atendimento dos padrões mínimos de qualidade exigidos

para os insumos recebidos pelos produtores integrados e para os produtos fornecidos

ao integrador;

III - estabelecer sistema de acompanhamento e avaliação do cumprimento dos

encargos e obrigações contratuais pelos contratantes;

IV - dirimir questões e solucionar, mediante acordo, litígios entre os produtores

integrados e a integradora;

V - definir o intervalo de tempo e os requisitos técnicos e financeiros a serem

empregados para atualização dos indicadores de desempenho das linhagens de

animais e das cultivares de plantas utilizadas nas fórmulas de cálculo da eficiência de

criação ou de cultivo;

VI - formular o plano de modernização tecnológica da integração, estabelecer o prazo

necessário para sua implantação e definir a participação dos integrados e do integrador

no financiamento dos bens e ações previstas;

VII - determinar e fazer cumprir o valor de referência a que alude o inciso VII do art.

4o desta Lei.

Dentre as funções e objetivos previstos, destaca-se como grande inovação e impacto na relação

contratual a sua atribuição para dirimir questões e solucionar, mediante acordo, litígios entre os

produtores integrados e o integrador. Apresenta como grande vantagem o exame por

especialistas e em menor tempo.

Essa função aproxima-se dos preceitos Thomas Ulen (1984, p. 369) de que as partes possuem

vantagem informacional em relação do Poder Judiciário. Nesse sentido, Oliver Williamson

(1996, p. 98) aponta que os agentes envolvidos possuem maior conhecimento sobre o

funcionamento da organização e, portanto, a solução de conflitos internamente possui um

menor custo. Assim, a CADEC funcionaria como uma corte de justiça de primeira instância,

seguindo o que propõe Oliver Williamson (1985).

Entretanto, a solução de conflitos exige uma posição de simetria entre as partes, além da

imparcialidade dos responsáveis pela análise. Desse modo, na ausência de disposição na lei, o

regulamento deve pormenorizar o seu funcionamento, contanto com salvaguardas contra abuso

Page 112: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

110

de dependência econômica, evitando, assim, que a CADEC se transforme em órgão legitimador

do desequilíbrio econômico e de poder existente entre integrador e produtor integrado80.

Na Itália, o artigo 11 da Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988) estabelecia um colégio arbitral para a

resolução de controvérsias relativas à intepretação ou à execução dos acordos interprofissionais

e dos contratos de cultivação e venda. Esse colégio era formado por três membros, sendo dois

escolhidos pelas partes e um terceiro escolhido de comum acordo ou, em sua falta, pelo

Ministério da agricultura e da floresta.

O Decreto Legislativo n. 102/2005 (ITÁLIA, 2005), por sua vez, apresenta previsão

semelhante, com remissão de controvérsias relativas ao contrato-quadro a um colégio arbitral,

mas independente das partes, conforme artigo 11, §4º, b. Entretanto, não discorre sobre a

formação desse colégio arbitral, como, por exemplo, fazia a Lei n. 88/1988 (ITÁLIA, 1988).

A estrutura de atribuições da CADEC aproxima-se dos disputes boards, mecanismos com

função pericial, arbitral e de acompanhamento, explicado por Arnold Wald (2005, p. 18)

Os disputes boards (DB) são os painéis, comitês, ou conselhos para a solução de

litígios cujos membros são nomeados por ocasião da celebração do contrato e que

acompanham a sua execução até o fim, podendo, conforme o caso, fazer

recomendações (no caso dos Dispute Review Boards - DRB) ou tomar decisões

(Dispute Adjudication Boards - DAB) ou até tendo ambas as funções(Combined

Dispute Boards - CDB), conforme o caso, e dependendo dos poderes que lhes foram

outorgados pelas partes (WALD, 2005, p. 18)

A composição da CADEC será estabelecida pelas partes envolvidas no contrato, de modo

paritário, com função de acompanhar o cumprimento dos encargos e das obrigações contratuais,

bem como de dirimir questões e solucionar litígios. Arnold Wald (2005, p. 19) aponta como

grande vantagem desse sistema a constituição por especialistas que acompanham todo o

desenvolvimento do contrato. Além disso, é caracterizado pela solução rápida, confidencial,

menos onerosa e mais eficiente (SKITNEVSKY, 2016, p. 9).

Por fim, o parágrafo terceiro do artigo 6º determina que a constituição da CADEC deverá

respeitar as estruturas com função similar às constituídas até a data de publicação da Lei n.

80 Por exemplo, deve haver proteção contra o desfazimento unilateral com contrato, sem justa, para os

representantes dos produtores integrados, diminuindo, assim, a imposição de interesses do integrador frente à

ameaça de término da relação de integração.

Page 113: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

111

13.288/2016 (BRASIL, 2016). Desse modo, para aproveitamento de estruturas existentes, estas

deverão ter sido constituídas até o dia 16 de maio de 2016.

Ressalta-se, entretanto, que não basta a constituição prévia. É necessário que a estrutura respeite

a composição paritária, contendo representantes escolhidos diretamente pelos produtores

integrados. Sem essa participação, o seu objetivo se enfraquece, tornando-se instituto de

legitimação de poder e interesses do integrador.

Na ausência de regulamento, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizaram uma sugestão de regimento

da CADEC para aves e suínos81. Quanto à composição, de 6 a 10 membros, equitativamente

distribuídos entre indicados pelo integrador e pelos produtores integrados, com mandatos de

dois anos, podendo ser renovado. Entretanto, não apresenta disposições relativas à solução de

conflitos.

3.5.6.2 Fórum Nacional de Integração (FONIAGRO)

O segundo instrumento previsto pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), em seu artigo 5º, diz

respeito ao Fórum Nacional de Integração - FONIAGRO, que possui atribuição para definir as

diretrizes para o acompanhamento e desenvolvimento do sistema de integração e promover o

fortalecimento das relações entre o produtor integrado e o integrador. O FONIAGRO deverá

ser instituído para cada setor ou cadeia produtiva regido pela Lei n. 13.288/2016, com formação

paritária, composto pelas entidades representativas dos produtores integrados e dos

integradores.

Por sua vez, caberá ao regulamento desta lei dispor sobre o número de participantes do fórum

e as entidades que indicarão os representantes, bem como o seu regime82 e a localidade de

funcionamento, além de outros aspectos de sua organização. Entretanto, o regulamento ainda

não foi editado, tampouco se tem notícia sobre o prazo para sua edição.

A lei permite a utilização de fórum ou entidade similar já existente, sendo, assim, opcional sua

a criação. No entanto, não se observou a existência prévia de estrutura semelhante. Porém,

81 A sugestão de regimento da CADEC para aves e suínos consta no Anexo G. 82 O caput do artigo 5 traz a definição de que o Fórum Nacional de Integração não possui personalidade jurídica.

Page 114: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

112

mesmo sem a edição do regulamento tratando sobre os requisitos para a sua criação, institui-se

um FONIAGRO conjunto para os setores de aves e suínos, composto por 12 membros,

indicados pelos produtores integrados e pelos integradores83. Em relação aos demais setores

produtivos, não se teve notícia da criação de Fóruns.

A única atribuição específica trazida pela lei para o FONIAGRO diz respeito à definição de

metodologia para o cálculo do valor de referência para remuneração do produtor integrado, que

deverá levar em consideração os custos de produção, os valores de mercado dos produtos in

natura, o rendimento médio dos lotes, dentre outras variáveis, para cada cadeia produtiva84.

Essa metodologia deverá ser reavaliada periodicamente, conforme regulamentação específica

do FONIAGRO.

Trata-se de instrumento inspirado no sistema CONSECANA85, utilizado para a definição da

remuneração devida no SAG da cana-de-açúcar. A metodologia foi instituída pelo Conselho

como um valor de referência para a remuneração da cana-de-açúcar. Possui adoção voluntária,

mas tornou-se convencional nos contratos de transação de matéria-prima entre usinas e

produtores. Desse modo, permite uma maior transparência ao mercado sucroenergético e

viabiliza um melhor planejamento da produção86.

Existe, por seu turno, uma significativa distinção entre os dois sistema. O CONSECANA foi

instituído pelos próprios produtores, ao passo que a instituição da metodologia no sistema de

integração decorre de imposição legal. Em razão de sua estrutura não estar muito bem definida

na lei, pode ser utilizada para legitimar interesses do integrador se não houver efetivos

83 Por parte dos produtores integrados, foram indicados três representantes da CNA, além do presidente da

Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e da Associação Brasileira de Avicultores Integrados

(ABAI), bem como o secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura

(CONTAG) 84 A análise empírica realizada no setor avícola, item 4, demonstrou que este valor é determinado pelo integrador,

de modo unilateral. Foi relatado pelos entrevistados que avicultores em situações semelhantes recebem valores

distintos, decorrente de puxa-saquismo ou enfrentamento do integrador. Além disso, afirmam que o aumento do

preço do frango no mercado não costuma ser repassado ao valor pago aos produtores integrados, como costuma

ocorrer na suinocultura, por exemplo. Desse modo, a instituição de um valor de referência para a cadeia produtiva,

em tese, equipara avicultores que se encontram na mesma situação, evitando descontos de preço em razão de

conflitos entre as partes, e passa a levar em consideração, obrigatoriamente, os valores de mercado do produto in

natura. 85 Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (CONSECANA). 86 A adoção do sistema CONSECANA aumenta a transparência na formação dos preços, favorecendo a confiança

entre as partes e reduzindo os riscos de oscilação, por levar em consideração o preço de venda dos derivados,

açúcar e álcool.

Page 115: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

113

instrumentos de participação dos produtores integrados e salvaguardas contra o abuso de

dependência econômica.

Por fim, a lei obriga que a metodologia seja apresentada pelo FONIAGRO em prazo máximo

de seis meses da promulgação desta Lei87. Como a promulgação ocorreu no dia 16 de maio de

2016, a metodologia deveria ser apresentada até o dia 16 de novembro de 2016. Entretanto, isso

não se verificou, em razão da não edição do regulamento e da não instituição de FONIAGRO

em diversas cadeias produtivas. Nesse período, tem-se mantido a forma de determinação dos

valores, prevalecendo, na prática, a vontade disposta pelo integrador.

3.5.7 Mecanismos de transparência

Conforme o disposto por Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 166), a Lei n. 13.288/2016

(BRASIL, 2016) instituiu instrumentos garantidores de transparência na relação contratual,

evitando que assimetrias de informações levem o produtor integrado a subestimar os custos e

os riscos envolvidos no contrato. Para isso, além de exigir que os contratos sejam escritos com

clareza, precisão e ordem lógica, obriga o integrador a disponibilizar Documento de Informação

Pré-Contratual (DIPC) e Relatórios de Informações da Produção Integrada (RIPI).

Vincenzo Roppo (2011, p. 85-86) identifica um novo paradigma na teoria dos contratos, em

que a autonomia contratual passa a ser limitada por regras de conduta impostas pelo

ordenamento jurídico. Observa-se, nesse fenômeno, uma ampliação das normas previstas na

defesa do consumidor para outros contratos, independentemente da posição socioeconômica

das partes. Isso, porque, Vincenzo Roppo (2011, p. 87) assinala a existência de assimetria

contratual nos mais variados tipos contratuais, decorrente da disparidade de poder contratual88.

Na tentativa de reequilibrar a relação entre as partes, o legislador opta pela imposição de regras

de conduta contratual.

87 Art. 12, § 3º O Foniagro terá o prazo máximo de seis meses contados da promulgação desta Lei para apresentar

as metodologias de cálculo para cada cadeia produtiva, podendo esse prazo ser prorrogado, mediante justificativa

aceita pelas partes. 88 Para Vincenzo Roppo (2011, p. 87), a assimetria de poder contratual é essencial para a caracterização da posição

do consumidor frente ao fornecedor, mas não limita-se à essa espécie contratual, podendo ser observada, por

exemplo, na locação e nos contratos agrários de arrendamento e parceria.

Page 116: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

114

Os contratos agrários, por sua vez, identificam-se como assimétricos, não em razão exclusiva

de hipossuficiência econômica de uma das partes, mas decorrente de sua posição conatural.

Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 153-153) identifica três debilidades comuns nos contratos

agrários: i) dependência e subordinação da empresa agrária ao ciclo biológico; ii) informações

disponíveis em respeito ao ciclo biológico; iii) posição das partes ao mercado.

Em primeiro momento, a caracterização de uma atividade como agrária depende da observância

da teoria da agrariedade, ou seja, do desenvolvimento do ciclo biológico. Para a sua

qualificação, basta o desenvolvimento de uma fase deste ciclo, incluindo, por exemplo, a

engorda de animais, conforme aponta Alessandra Di Lauro (2005).

Observa-se, nessa situação, que o adimplemento das obrigações não depende exclusivamente

da vontade da parte, pois sujeita a um risco particular da atividade agrícola e pecuária. Flavia

Trentini (2012, p. 3) aponta que esse risco pode ser definido como biológico em razão da

“vulnerabilidade climática que os ciclos vegetais e animais estão expostos. Acrescenta-se a este

risco as inúmeras doenças que podem vitimar estes ciclos”89.

Já quanto às informações disponíveis em respeito ao ciclo biológico, Francisco de Godoy Bueno

(2017, p. 153) demonstra ser “natural que a parte diretamente envolvida com a atividade agrária

tenha uma dominância das informações disponíveis sobre as condições de cumprimento do

contrato”. A assimetria técnica verificada nesta hipótese impõe um amplo dever de

transparência para a parte responsável pelo desenvolvimento do ciclo biológico.

Para o sistema de integração, o domínio do ciclo biológico encontra-se fragmentado entre

integrador e produtor integrado. Isso, porque, na avicultura, por exemplo, o integrador fornece

os pintos de um dia para a criação pelo produtor integrado. Assim, participa diretamente de fase

do ciclo, resultando em assimetria de informação quanto a esse estágio. Desse modo, eventual

contaminação prévia das aves que resulte em mortalidade excessiva, imputa-se a

89 Mariagrazia Alabrese (2009) propõe a classificação do risco na agricultura em duas espécies: risco para

agricultura e riscos da agricultura. A primeira espécie refere-se a fontes externas, não dependendo do modo de

desenvolvimento da atividade, mas com efeitos internos Envolvem, assim, os riscos técnicos e econômicos. Os

riscos técnicos podem ser abióticos (geada, vento, chuva, poluição, alterações climáticas) ou bióticos (vírus,

bactéria e insetos). Já os riscos econômicos envolvem a deterioração dos produtos agrícolas e o risco institucional,

derivados da mudanças políticas ou regulamentações jurídicas. Por sua vez, os riscos da agricultura advém de

fontes internas, mas com efeitos externos. Dividem-se em riscos ambientais (poluição, danos ambientais); riscos

conexos à introdução e difusão de biotecnologia (diminuição de biodiversidade, riscos ambientais e para a saúde).

Page 117: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

115

responsabilidade ao integrador, gerando o dever de informar as causas identificadas, em

decorrência da necessidade de transparência na relação contratual. Essa mesma lógica aplica-

se Aos insumos fornecidos pelo integrador.

Observa-se um dever mútuo de informação, pois a assimetria pode alcançar ambas as partes,

responsáveis por frações do desenvolvimento do ciclo produtivo. Os produtores integrados, por

sua vez, responsabilizam-se pelo manejo de engorda dos animais, definido como

desenvolvimento do ciclo biológico, conforme aponta Alessandra Di Lauro (2005). Assim,

apesar de ausência de mecanismo expresso de transparência imposto ao produtor integrado, o

contrato pode e deve prever o dever de informação do produtor integrado quanto à sua

atividade90.

Por fim, quanto à posição de mercado, a assimetria decorre da natureza perecível dos produtos

e a necessidade de rápida transformação ou comercialização após o alcance das condições ideais

para colheita ou abate. Esse fato pode resultar em situação de dependência de uma parte, por

conta da possibilidade de comportamento oportunista91, carecendo de regras de condutas para

preservação do equilíbrio entre as partes.

Destaca-se, assim, que a obrigação de transparência deve ser observada pelas duas partes no

contrato, pois a assimetria pode alcançar a ambas, dependendo do enfoque analisado. Por sua

vez, os mecanismos de transparência previstos pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), como

regras de conduta propensas à equilibrar à posição de dominância contratual, são instituídos

para o dever de informação do integrador de modo a reduzir as assimetrias verificadas na

relação sobre o produtor integrado.

3.5.7.1 Documento de Informação Pré-Contratual (DIPC)

90 Nesse sentido, a Lei n. 13.288/2016 prevê mecanismos de transparência exigidos ao integrador - Documento de

Informação Pré-Contratual (DIPC) e Relatórios de Informações da Produção Integrada (RIPI). Porém, o contrato

de integração costuma impor dever de transparência ao produtor integrado, como, por exemplo, a obrigação de

informar imediatamente a ocorrência de situações anormais na produção, principalmente relacionas à mortalidade

de animais, sob pena de responsabilização pelos prejuízos causados o integrador, bem como a possibilidade de

desfazimento unilateral do contrato, sem observância de aviso prévio. 91 Pode-se citar como exemplo de comportamento oportunista o rompimento contratual e a negociação da produção

com terceiros, em busca de melhor preço.

Page 118: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

116

O Documento de Informação Pré-Contratual (DIPC) previsto no artigo 9º da Lei n. 13.288/2016

é documento obrigatório a ser apresentado para o produtor integrado interessado em aderir ao

sistema de integração. Deve conter, nesse sentido, as informações, condições e obrigações que

decorrem do contrato de integração.

O contrato de integração pode ser caracterizado como de adesão92, uma vez que as suas

condições e os seus parâmetros são impostos pelo integrador, não havendo espaço para a

negociação de seu conteúdo. Assim, ao prever a obrigatoriedade do DIPC, o legislador busca

reduzir incertezas decorrentes da aderência a cláusulas invariáveis, possibilitando ao produtor

integrado antever as obrigações, os riscos e as vantagens do referido contrato.

Para isso, ao artigo 9º da lei impõe uma série de informações que deverão obrigatoriamente

compor o DIPC. Exige-se, também a atualização trimestral do DIPC para os setores de produção

animal e anual para os setores de produção agrícola e de extração vegetal, conforme parágrafo

único do artigo 9º.

I - razão social, forma societária, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ e

endereços do integrador;

II - descrição do sistema de produção integrada e das atividades a serem

desempenhadas pelo produtor integrado;

III - requisitos sanitários e ambientais e riscos econômicos inerentes à atividade;

IV - estimativa dos investimentos em instalações zootécnicas ou áreas de cultivo e dos

custos fixos e variáveis do produtor integrado na produção;

V - obrigação ou não do produtor integrado de adquirir ou contratar, apenas do

integrador ou de fornecedores indicados formalmente pelo integrador, quaisquer bens,

serviços ou insumos necessários à operação ou à administração de suas instalações

zootécnicas ou áreas de cultivo;

VI - relação do que será oferecido ao produtor integrado no que se refere a:

a) suprimento de insumos;

b) assistência técnica e supervisão da adoção das tecnologias de produção

recomendadas cientificamente ou exigidas pelo integrador;

c) treinamento do produtor integrado, de seus prepostos ou empregados, especificando

duração, conteúdo e custos;

d) projeto técnico do empreendimento e termos do contrato de integração;

VII - estimativa de remuneração do produtor integrado por ciclo de criação de animais

ou safra agrícola, utilizando-se, para o cálculo, preços e índices de eficiência produtiva

médios nos vinte e quatro meses anteriores, e validados pela respectiva Cadec;

VIII - alternativas de financiamento por instituição financeira ou pelo integrador e

garantias do integrador para o cumprimento do contrato durante o período do

financiamento;

92 Leonardo Estevam de Assis Zanini (2017, p. 80) discorre que “o contrato de adesão se contrapõe ao contrato

paritário, no qual as partes são colocadas em pé de igualdade, ante o princípio da autonomia da vontade, o que lhes

permite a discussão dos termos da contratação. No contrato de adesão não há discussão sobre o seu conteúdo,

existindo apenas a possibilidade de aceitação ou recusa do contrato como um todo pelo aderente, sem possibilidade

de debates acerca das disposições contratuais, salvo naturalmente o preenchimento de algumas informações ou a

realização de opções preestabelecidas”.

Page 119: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

117

IX - os parâmetros técnicos e econômicos indicados pelo integrador e validados pela

respectiva Cadec para uso no estudo de viabilidade econômico-financeira do projeto

de financiamento do empreendimento;

X - caráter e grau de exclusividade da relação entre o produtor integrado e o

integrador, se for o caso;

XI - tributos e seguros incidentes na atividade e a responsabilidade das partes, segundo

a legislação pertinente;

XII - responsabilidades ambientais das partes, segundo o art. 10 desta Lei;

XIII - responsabilidades sanitárias das partes, segundo legislação e normas infralegais

específicas.

Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 173) aponta que a abrangência das informações denota “o

objetivo da Lei de coibir o abuso de poder contratual e garantir a redução da assimetria de

informações de modo que sejam previamente apresentadas pelo integrador todas as premissas

técnicas e econômicas”.

Vislumbra-se, assim, a previsão legal da boa-fé objetiva na fase pré-contratual. A fase pré-

contratual, ou de negociação preliminar, não é indispensável para a formação do contrato, uma

vez que, conforme pondera Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 73), o negócio jurídico pode

surgir instantaneamente, de uma proposta seguida de uma imediata aceitação.

Apesar de não obrigatória, a fase de negociação preliminar é cada vez mais frequente em razão

do aumento da complexidade dos contratos. A sua finalidade, portanto, é permitir que as partes

troquem “informações fundamentais para a deliberação de cada qual, sobre realizar ou não o

negócio jurídico e sobre o conteúdo que devem imprimir nele” (PEREIRA, 2001, p. 46).

Para o contrato de integração, caracterizado como de adesão, não haverá possibilidade de

discussão sobre o conteúdo constante no instrumento contratual, servindo, assim, para a

deliberação sobre realizar ou não o negócio jurídico, ao permitir um prévio exame das

obrigações, responsabilidades, riscos, vantagens e desvantagens.

Porém, ao contrário do ordenamento jurídico italiano93 e português94, o legislador brasileiro

expressou a incidência da boa-fé objetiva apenas na conclusão e na execução do contrato,

93 Codice Civile Italiano, Art. 1337 Trattative e responsabilità precontrattuale. Le parti, nello svolgimento delle

trattative e nella formazione del contratto, devono comportarsi secondo buona fede (1366,1375, 2208) (ITÁLIA,

1942) 94 Código Civil Português, art. 227. 1 Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos

preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos

que culposamente causar à outra parte (PORTUGAL, 1966)

Page 120: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

118

conforme artigo 422 do Código Civil95, excluindo, assim, em uma interpretação literal, a sua

aplicação à fase pré-contratual. Entretanto, não foi este o posicionamento firmado pela

doutrina96 e pela jurisprudência97, estendendo a sua aplicação às tratativas.

Deste modo, seguindo os ensinamento de Ruy Rosado de Aguiar Júnior (2003, p. 250), a

aplicação da boa-fé nas tratativas preliminares resulta em dever de esclarecimento, sobretudo

nas situações em que uma das partes possui superioridade de informações ou de conhecimentos

técnicos. Destaca-se que o esclarecimento deve ser dado de forma ampla e compreensível à

outra parte, possibilitando, assim, a deliberação clara e esclarecida sobre a realização do

negócio jurídico.

3.5.7.2 Relatório de Informações da Produção Integrada (RIPI)

O dever transparência também pode ser verificado no artigo 7º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016), que traz como obrigação ao integrador elaborar e entregar ao produtor integrado

Relatório de Informações da Produção Integrada - RIPI, relativo a cada ciclo produtivo. Desse

modo, após a entrega da totalidade da produção do respectivo ciclo, o integrador deverá

informar sobre os insumos fornecidos, os indicadores técnicos da produção integrada, as

quantidades produzidas, os índices de produtividade, os preços usados nos cálculos dos

resultados financeiros e os valores pagos aos produtores integrados. Além dessas informações,

a CADEC poderá dispor sobre a obrigatoriedade de outras.

Trata-se de dever de informação, fundamental para a efetivação da transparência na relação

contratual. Apesar da ausência de tratamento sobre a qualidade da informação, ela deve ser

acessível ao entendimento do produtor integrado. A apresentação de dados e informações de

forma não acessível correspondem à não prestação e informação. Nesse sentido, o produtor

95 Código Civil, art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua

execução, os princípios de probidade e boa-fé (BRASIL, 2002). 96 I Jornada de Direito Civil do CEJ/CJF: Enunciado 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a

aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual. Esse enunciado foi

ratificado na III Jornada de Direito Civil do CEJ/CJF - Enunciado 170 - Art. 422: a boa-fé objetiva deve ser

observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência

decorrer da natureza do contrato. 97 “RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-

CONTRATUAL. NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES. EXPECTATIVA LEGÍTIMA DE CONTRATAÇÃO.

RUPTURA DE TRATATIVAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. JUROS DE MORA.

TERMO 'A QUO'. DATA DA CITAÇÃO. (...) 4. Aplicação do princípio da boa-fé objetiva na fase pré- contratual.

Doutrina sobre o tema” (STJ, REsp 1367955/SP, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, d.j 18/03/2014).

Page 121: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

119

integrado poderá solicitar esclarecimentos ou informações adicionais, devendo ser fornecidas,

sem custo, no prazo máximo de 15 dias98.

A lei determina prazo para a sua entrega, correspondendo a data do acerto financeiro entre

integrador e produtor integrado. O RIPI poderá ser entregue também, quando solicitado, à

CADEC ou entidade representativa99, sendo vedado o fornecimento de informações à terceiros

sem a autorização escrita do produtor integrado100.

Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 175) aponta a importância do RIPI na redução de

assimetrias de informação, permitindo, assim, ao produtor integrado a conferência dos valores

repassados pelo integrador a título de remuneração pela produção.

3.5.8 Propriedade dos insumos

O artigo 8º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) estabelece que, em regra, todas as máquinas

e equipamentos fornecidos pelo integrador ao produtor integrado para o desenvolvimento da

produção permanecerão de sua propriedade. Desse modo, devem ser restituídas ao final do

contrato ou se solicitadas pelo integrador, salvo estabelecimento contrário no contrato.

Enquadram-se nessa mesma situação os animais fornecidos para o desenvolvimento do ciclo

produtivo

Nessa situação, o produtor integrado atuará como fiel depositário dos bens do integrador,

devendo obediência às regras dos artigos 627 a 646 do Código Civil (BRASIL, 2002). Desse

modo, o produtor integrado deve zelar e cuidar das máquinas, equipamentos e animais, não

podendo dispor para terceiros, devendo restituir ao integrador quando solicitado, conforme

previsão do artigo 629 do Código Civil101.

98 Art. 7º, § 4º É facultado ao produtor integrado, individualmente ou por intermédio de sua entidade representativa

ou da Cadec, mediante autorização escrita, solicitar ao integrador esclarecimentos ou informações adicionais sobre

o Ripi, os quais deverão ser fornecidos sem custos e no prazo máximo de até quinze dias após a solicitação. 99 Art. 7º, § 2º O Ripi deverá ser consolidado até a data do acerto financeiro entre integrador e produtor integrado,

sendo fornecido ao integrado e, quando solicitado, à Cadec ou sua entidade representativa. 100 Art. 7º, § 3º Toda e qualquer informação relativa à produção do produtor integrado solicitada por terceiros só

será fornecida pelo integrador mediante autorização escrita do produtor integrado. 101 Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que

costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o

depositante (BRASIL, 2002).

Page 122: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

120

Por sua vez, o artigo 640 do Código Civil proíbe ao depositário, sem licença expressa do

depositante, servir-se da coisa depositada, nem dar em depósito a outrem. Desse modo, a

utilização de animais para consumo próprio deve constar expressamente no contrato, sob pena

de responsabilidade do produtor integrado por perdas e danos. Nesta circunstância, a lei prevê

a possibilidade de permissão contratual para consumo próprio familiar, ajustando-se na

apuração da produção o respectivo consumo102. Nesse caso, o contrato de integração pode

prever um número determinado ou um percentual que poderá ser utilizado para consumo

próprio, descontando-se ao final a quantidade apurada.

Destaca-se que trata-se de possibilidade do contrato, não sendo de repetição obrigatória. Assim,

o contrato pode estabelecer vedação para o consumo próprio, uma vez que a propriedade dos

insumos é do integrador e acarretará em diminuição do rendimento da produção. Além disso,

observa-se que nos setores em que for obrigatório a inspeção para o consumo do produto, será

vedado o ajuste para consumo próprio, em decorrência de disposições sanitárias.

Quando se tratar de animais, o parágrafo segundo do artigo 8º determina que o contrato de

integração deverá especificar se e quando passarão a ser de propriedade do produtor integrado.

Na prática, os animais continuam sob a propriedade do integrador, devendo, assim, o produtor

integrado restituir todos animais colocados à sua disposição, recebendo como remuneração

respectivo percentual pelo resultado alcançado na produção.

Por fim, na hipótese do integrador conceder financiamento das instalações ou a custear

integralmente, o contrato deverá especificar se e quando passarão a ser propriedade do produtor

integrado. A concessão de financiamentos pelo integrador pode ocorrer, mas atualmente, nos

principais setores integrados, é de difícil verificação. Não se trata, deste modo, de obrigação do

integrador, mas sim de uma faculdade, que, ocorrendo, deve ser descrita no contrato sobre

eventual transferência de propriedade.

3.5.9 Responsabilidade ambiental

102 Art. 8º, § 3º Poderá o contrato, ainda que por ajustes posteriores, estabelecer normas que permitam o consumo

próprio familiar, salvo para os setores que necessitam de serviços de inspeção para o consumo do produto

(BRASIL, 2016).

Page 123: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

121

O artigo 10 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) traz como obrigação conjunta do integrador

e do produtor integrado o cumprimento das exigências da legislação ambiental para o

empreendimento ou atividade desenvolvida no imóvel rural103. Desse modo, devem realizar

planejamento e implementar medidas de prevenção dos potenciais impactos ambientais

negativos e mitigar e recuperar os danos ambientais. Quanto à responsabilidade por danos

ambientais, os parágrafos primeiro e segundo104 discorrem sobre a possibilidade de ser

concorrente105 entre produtor integrado e integrador.

A responsabilidade ambiental engloba uma ampla noção de nexo de causalidade entre ação e

omissão do agente e o dano ambiental. Nesse sentido, Antonio Herman Benjamin (1998, p. 41)

entende possível a responsabilização ainda que o dano seja resultado de fato de terceiro, caso

fortuito ou força maior, cabível, somente, direito de regresso. Desse modo, todas as partes direta

ou indiretamente relacionadas com o dano ambiental constituem-se como responsáveis

solidários.

Decorre justamente de voto do Ministro Antonio Herman Benjamin o entendimento admitido

pelo Superior Tribunal de Justiça

13. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se

quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa

que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem.

14. Constatado o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes com o dano

ambiental em questão, surge, objetivamente, o dever de promover a recuperação da

103 Nos contratos analisados, o integrador transfere a responsabilidade pelo cumprimento da legislação ambiental

durante a execução do contrato exclusivamente ao produtor integrado, esquivando-se de eventual

responsabilização por dano ambiental que não tenha dado causa diretamente. Entretanto, ressalta-se que cláusulas

limitadoras de responsabilidade ambiental produzem efeito somente entre as partes, em eventual direito regressivo,

não eximindo de culpa o integrados quando verificada a sua concorrência. 104 Art. 10. § 1º Nas atividades de integração em que as tecnologias empregadas sejam definidas e sua adoção

supervisionada pelo integrador, este e o integrado responderão, até o limite de sua responsabilidade, pelas ações

relativas à proteção ambiental e à recuperação de danos ao meio ambiente ocorridos em decorrência do

empreendimento. § 2º A responsabilidade de recuperação de danos de que trata o § 1o deste artigo deixa de ser

concorrente quando o produtor integrado adotar conduta contrária ou diversa às recomendações técnicas fornecidas

pelo integrador ou estabelecidas no contrato de integração. 105 A responsabilidade concorrente decorre de verificação de culpa concorrente entre produtor integrado e

integrador na ocorrência do dano ambiental. Ressalta-se que o termo concorrente é utilizado para qualificar a culpa,

e não a modalidade de responsabilidade. Assim, a ocorrência de dano ambiental por culpa concorrente entre

produtor integrado e integrador resulta em responsabilidade objetiva e solidária, conforme aponta Celso Antonio

Pacheco Fiorillo (2011, p. 130-131) A culpa concorrente do integrador decorre da definição das tecnologias

empregadas ou da supervisão de sua adoção pelo produtor integrado. Desse modo, caso o dano resulte do

descumprimento das recomendações, a responsabilidade será exclusiva do produtor integrado, por ausência de

culpa do integrador.

Page 124: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

122

área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes, na forma do art. 14, § 1°, da

Lei 6.938/81106.

Desse modo, prevalece o entendimento de que a excludente de responsabilidade civil por fato

de terceiro só poderá ser reconhecida quando o ato praticado pelo terceiro for completamente

estanho à atividade desenvolvida e não seja possível atribuir qualquer participação na

consecução do dano, comissiva ou omissiva.

Por sua vez, Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 189) alerta que isto poderá levar os sistemas

agroindustriais a uma situação caótica, por conta da insuperável insegurança jurídica resultante.

Com isso, os contratos tornam-se insuficientes para definir responsabilidades.

Contratualmente, o integrador costuma transferir todas as obrigações ambientais para o

produtor integrado, eximindo-se de responsabilidade no caso dano ambiental. Entretanto,

seguindo o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, esta previsão apenas possui o efeito

de garantir eventual direito de regresso contra o produtor integrado, não afastando a sua

responsabilidade por danos ambientais decorrentes da atividade desenvolvida, uma vez que se

beneficia diretamente.

Ressalta-se, que no sistema de integração, o manejo da produção é realizado pelo produtor

integrado, em fundo rústico de sua responsabilidade. O integrador, por sua vez, exerce controle

sobre a produção e fornece insumos, incluindo medicamentos e vacinas, entretanto, não possui

poder de controle absoluto sobre a atividade do produtor integrado. Assim, a responsabilidade

ambiental dissociada de poder de controle apresenta-se como “um fator de grave instabilidade

nos arranjos econômicos, tornando insustentável a organização estabelecida pelo contrato”

(BUENO, 2017, p. 190).

Nesse cenário, o parágrafo primeiro do artigo 10 impõe responsabilidade concorrente do

integrador por danos ambientais quando definir as tecnologias empregadas ou supervisionar a

sua adoção pelo produtor integrado. Entretanto, o parágrafo terceiro trouxe uma expressa

limitação à responsabilidade ambiental do integrador, na hipótese de o dano decorrer de conduta

106 STJ, REsp 650.725/SC, Relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, d.j. 23/10/2007. Nesse mesmo

sentido, REsp 1381211/TO, Relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, d.j. 15/05/2014,

Page 125: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

123

contrária ou diversa às recomendações técnicas fornecidas ou estabelecidas no contrato de

integração.

Essa situação representa a lógica do sistema de integração. O produtor integrado, como

responsável pelo fundo rústico e pelo desenvolvimento da atividade produtiva, deverá ser o

responsável pelo dano ambiental resultante de sua ação ou omissão. O integrador, por sua vez,

somente será responsabilizado quando o dano for resultado de sua má orientação107.

A lei também impõe uma série de obrigações ao integrador quando definir e supervisionar as

tecnologias empregadas, conforme previsão no parágrafo terceiro do artigo 10:

I - fornecer projeto técnico de instalações e de obras complementares, em

conformidade com as exigências da legislação ambiental, e supervisionar sua

implantação;

II - auxiliar o produtor integrado no planejamento de medidas de prevenção, controle

e mitigação dos potenciais impactos ambientais negativos e prestar-lhe assistência

técnica na sua implementação;

III - elaborar, em conjunto com o produtor integrado, plano de descarte de embalagens

de agrotóxicos, desinfetantes e produtos veterinários e supervisionar sua implantação;

IV - elaborar, em conjunto com o produtor integrado, plano de manejo de outros

resíduos da atividade e de disposição final dos animais mortos e supervisionar sua

implantação.

Entretanto, na prática, não costuma haver uma determinação escrita sobre as tecnologias que

deverão ser empregadas. O integrador apresenta as exigências e transfere a obrigação do

produtor integrado, que se responsabiliza unicamente pela instalação e licenças ambientais

necessárias. Nessa circunstância, mostra-se difícil a comprovação de exigência do integrador,

que resultaria na obrigação de participação na instalação e gestão ambiental das tecnologias.

3.5.10 Obrigações sanitárias

De acordo com o artigo 11 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) a obrigação para

cumprimento da legislação sanitária é concorrente entre produtor integrado e integrador. Para

107 Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 191-192) aponta que “essa regra restabelece a necessidade de nexo causal

fático entre o dano ambiental e a ação ou omissão do integrador quanto aos cuidado ambientais da atividade do

produtor integrado, implementando um reequilíbrio da alocação de riscos ambientais conforme a participação de

cada uma das partes na execução do contrato”

Page 126: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

124

tanto, devem planejar medidas de prevenção e controle de pragas e doenças, conforme

regulamento estabelecido pelos órgãos competentes.

Na prática dos sistemas de integração que envolvem a criação de animais, a responsabilidade

pelos medicamentos, vacinas e assistência veterinária é do integrador, garantindo assim um

controle de sanidade de seus produtos, livres de contaminação por resíduos não permitidos.

Para isso, contratualmente, proíbem a aquisição de medicamentos e vacinas sem a sua expressa

autorização.

Os produtores integrados, por outro lado, devem adotar uma série de práticas de biosseguridade,

que envolvem o isolamento e cuidados sanitários e profiláticos para evitar a contaminação dos

animais com organismos patogênicos108. Desse modo, por exemplo, para a produção de aves,

devem impor barreiras físicas impedindo a entrada de aves e ratos no aviário, bem como são

proibidos de produzir outras aves e animais próximos aos galpões.

Assim, justa a previsão de corresponsabilidade pelas obrigações sanitárias, na medida em que

ambas as partes possuem atribuições práticas relacionadas à questão. Por fim, quando o

integrador fornecer os medicamentos e vacinas utilizadas, será de sua responsabilidade o

recolhimento e destinação final das embalagens de antibióticos ou de outros produtos

antimicrobianos.

3.5.11 Recuperação judicial e falência

O artigo 13 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) apresenta uma novidade em relação aos

demais projetos de lei que versaram sobre o tema, inclusive quanto ao texto inicial do PLS n.

330/2011 (BRASIL, 2011), que resultou na referida lei.

O legislador possibilitou duas situações ao produtor rural integrado no caso de pedido de

recuperação judicial ou decretação da falência do integrador: i) pleitear a restituição dos bens

108 Em abril de 2018 a Comissão Europeia vetou exportações de 20 frigoríficos brasileiros por deficiência no

controle de salmonela, sendo 12 pertencentes BRF, em decorrência da Operação Trapaça, terceira fase da Operação

Carne Fraca, investigação desenvolvida pela Polícia Federal, com início em 17 de março de 2017, envolvendo

acusações de adulteração de carne.

Page 127: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

125

desenvolvidos até o valor de seu crédito; ii) requerer a habilitação de seus créditos com

privilégio especial sobre os bens desenvolvidos.

3.5.12 Foro

O parágrafo único do artigo 4º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) determina ser

competente para as ações fundadas no contrato de integração o fórum do lugar onde se situa o

empreendimento do produtor integrado, devendo ser expressamente indicado no contrato.

Tratando-se de competência em razão do valor e do território, o artigo 63 do Código de Processo

Civil (BRASIL, 2015) permite às partes modificar a competência, elegendo foro onde será

proposta ação oriunda de direitos e obrigações, alterando, assim o previsto na lei. Desse modo,

encontra-se diante de competência relativa, podendo as partes, em regra, optarem por foro

diverso, mediante cláusula escrita no contrato.

Porém, o parágrafo terceiro do artigo 63 permite a declaração de nulidade de ofício pelo

magistrado, antes da citação109. Caso contrário, o réu deverá alegar a abusividade na

contestação, sob pena de preclusão, conforme previsão do parágrafo quarto110.

Destaca-se que o artigo 112 do antigo Código de Processo Civil (BRASIL, 1973) restringia a

possibilidade de atuação do juiz do reconhecimento de ofício da nulidade aos contratos de

adesão111. Porém, o artigo 63 do novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) ampliou essa

circunstância para todo e qualquer contrato. Assim, sendo de adesão ou não, a cláusula de

eleição de foro poderá ser declarada nula de ofício pelo magistrado.

Discute-se, assim quando ela será nula, uma vez que ao artigo 63 não especifica as suas causas.

Daniel Amorim Assumpção Neves (2017, p. 223) entende que a cláusula de eleição de foro será

nula quando impuser, presumidamente, dificuldades na defesa do réu, tratando-se, entretanto,

109 CPC, art. 63, § 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de

ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. (BRASIL, 2015) 110 CPC, art. 63, § 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação,

sob pena de preclusão (BRASIL, 2015). 111 CPC/73, art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetência relativa. Parágrafo único. A nulidade da

cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de

competência para o juízo de domicílio do réu. (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006) (BRASIL, 1973).

Page 128: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

126

de presunção relativa. Assim, no caso concreto, o produtor integrado poderá optar pela cláusula

de eleição de foro, contrariando a proteção prevista na lei.

O contrato de integração, por sua vez, caracteriza-se como um contrato e adesão. Por isso, o

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já decidiu pela nulidade de cláusula de eleição de

foro em contrato de integração112. O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, tratando de

contrato de adesão, decidiu pela não prevalência do foro contratual quando inviabilizar a defesa

de uma das partes113.

Portanto, ao estabelecer que o foro competente será o do lugar onde se situa o empreendimento

do produtor integrado, a Lei n. 13.288/2016 reconhece a vulnerabilidade114 do produtor

integrado e objetiva resguardá-lo de abusos por parte do integrador, relativos à tentativa de

dificultar a defesa de seus interesses em juízo. Além disso, como observa Francisco de Godoy

Bueno (2017, p. 182), a proximidade ao lugar onde se desenvolve a atividade pode facilitar a

compreensão do sistema de integração pelo juízo, em razão de melhor conhecimento sobre os

usos e costumes que envolvem a relação, de maior familiaridade com a atividade

agrossilvipastoril e a sua relação com o ciclo biológico, e de maior facilidade para a produção

de provas, sobretudo periciais e de inspeção judicial.

Conclui-se, desse modo, pela abusividade da cláusula de eleição de foro em sistema de

integração, quando esta dificultar a defesa do produtor integrado. Nessa hipótese, deverá

prevalecer a disposição trazida pelo parágrafo único do artigo 4º da Lei n. 13.288/2016, mesmo

para os contratos celebrados antes da promulgação da lei, por se tratar de contrato de adesão,

verificada a abusividade, aplicando a regra geral prevista no Código de Processo Civil

(BRASIL, 2015).

112 AGRAVO DE INSTRUMENTO. Parceria avícola. Demanda reparatória ajuizada pelo avicultor. Negócio de

adesão. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor (avicultor, destinatário de produtos e serviços, sob

conveniência de grupo agropecuário). Cláusula de eleição de foro. Previsão abusiva. Nulidade. Exceção de

incompetência, rejeitada. Recurso do autor. Provimento. (TJSP, Agravo de Instrumento n. 0019820-

06.2003.8.26.0000, Relator Desembargador Carlos Russo, d.j. 03/12/2003). 113 STJ, REsp 1299422/MA, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, d.j. 06/08/2016. 114 Ao discorrer sobre o Código de Defesa do Consumidor, Cláudia Lima Marques (2010, p. 87) define a

vulnerabilidade como “uma situação permanente ou provisória, individual ou coletiva, que fragiliza, enfraquece o

sujeito de direitos, desequilibrando a relação de consumo. Vulnerabilidade é uma característica, um estado do

sujeito mais fraco, um sinal de necessidade de proteção”. Desse modo, pode-se entender que a vulnerabilidade

elimina a premissa de igualdade entre as partes, merecendo proteção da legislação. Assim, Cláudia Lima Marques

(2010) classifica a vulnerabilidade em quatro espécies: i) informacional; ii) técnica; iii) jurídica ou científica; iv)

fática ou socioeconômica.

Page 129: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

127

3.5.13 Regulamento

Não foi estabelecido prazo para a edição do regulamento da Lei n. 13.288/2017 (BRASIL,

2016), que possui a função de completar e pormenorizar alguns dispositivos, como, por

exemplo, o número de participantes do FONIAGRO115. A ausência de regulamento pode

restringir a aplicação de alguns institutos, que demandam regulamentação. Apenas o PL n.

4.378/1998 (BRASIL, 1998) estabelecia um prazo para o Poder Executivo regulamentar a lei,

que seria de 45 dias, conforme artigo 11.

A técnica de deslocar ao regulamento a função de especificar alguns dispositivos segue o

Estatuto da Terra (BRASIL, 1964), que por doze vezes delega expressamente ao regulamento

a função de aprofundar a regra contida na lei. No que diz respeito aos contratos de arrendamento

e parceria, o regulamento foi editado via Decreto n. 59.566 (BRASIL, 1966), de 14 de

novembro de 1966, quase dois anos após a promulgação do Estatuto.

Quanto ao sistema de integração, não há previsão para edição de seu regulamento. Enquanto

isso, a instituição da CADEC e do FONIAGRO está se desenvolvendo apesar da ausência de

regras sobre o número de membros, a sua forma de escolha e o regime de funcionamento.

Desse modo, instituiu-se um FONIAGRO conjunto par os setores de aves e suínos, composto

por 12 membros, 6 indicados pelo produtores integrados e 6 pelos integradores. Por parte dos

produtores integrados, foram indicados três representantes da CNA, além do presidente da

Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e da Associação Brasileira de

Avicultores Integrados (ABAI), bem como o secretário de Política Agrícola da Confederação

Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG). Não se teve notícia sobre a criação de

Fóruns para os demais setores que utilizam o sistema de integração.

Entretanto, a falta de critérios legais quanto ao número de membros e a forma de escolha podem

levar ao questionamento sobre a legitimidade de sua composição e de suas decisões, uma vez

115 Art. 5º, § 2º O regulamento desta Lei definirá o número de participantes do fórum e as entidades dos integrados

e dos integradores que indicarão os representantes, seu regime e localidade de funcionamento e outros aspectos de

sua organização (BRASIL, 2016).

Page 130: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

128

que o FONIAGRO terá a atribuição para, por exemplo, estabelecer metodologia para o cálculo

de referência para a remuneração do produtor integrado.

3.5.14 Vigência

O último dispositivo da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) diz respeito ao início de sua

vigência. O artigo 14 determina que a lei entra em vigor na data de sua publicação, ou seja, em

16 de maio de 2016. Por sua vez, o artigo 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito

Brasileiro (BRASIL, 1942) prevê que, salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar no

país 45 dias depois de oficialmente publicada. Desse modo, por expressa previsão, possui

vigência imediata116, não subsistindo prazo de vacatio legis117.

Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 107) constata ser comum leis que entram em vigor na data de

sua publicação, considerando esse fato inconveniente. Isto, porque, a entrada imediata deve ser

destinada às leis que apresentam urgência em sua aplicabilidade. Por outro lado, leis complexas

devem apresentar um maior prazo para seu início de vigência, de modo que as pessoas

implicadas por suas regras possuam tempo hábil para conhecimento e adaptação.

Nesse sentido, a Lei Complementar n. 95/1998 (BRASIL, 1998), que apresenta técnicas de

elaboração legislativa, dispõe no artigo 8º que a vigência deverá ser indicada de forma expressa,

contemplando prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula

entram em vigor na data de sua publicação para leis de pequena repercussão. Não se pode

considerar a Lei n. 13.288/2016 de pequena repercussão, em razão da importância social e

econômica que o sistema de integração apresenta para o sistema produtivo brasileiro e das

disposições obrigações, entretanto, essa foi a opção adotada pelo legislador.

O único dispositivo vetado pelo Presidente da República foi justamente o parágrafo único do

artigo 14, que determinava prazo de 180 dias para a adequação do contratos de integração em

vigor. Entendeu-se, após manifestação da Advocacia-Geral da União, pela

116 O PL n. 4.378/1998 (BRASIL, 1998) previa a entrada em vigência no prazo de 60 dias, ao passo que o PL n.

3.979/2008 (BRASIL, 2008), 45 dias. Nos demais, a vigência era imediata. 117 A vacatio legis pode ser entendida como o intervalo temporal entre a publicação e o início de vigência da lei.

Durante esse período, a lei é válida, mas não eficaz (VENOSA, 2013, p. 107-108).

Page 131: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

129

inconstitucionalidade dessa disposição, por violar ato jurídico perfeito, conforme previsão do

artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal (BRASIL, 1988)118.

O ato jurídico perfeito é definido pelo § 1º do artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do

Direito Brasileiro (BRASIL, 1942) como ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em

se efetuou. Desse modo, para as situações jurídicas individuais, formadas em decorrência de

ato de vontade, como os contratos, a celebração outorga a condição de ato jurídico perfeito,

inibindo, assim, a incidência de modificações legislativas supervenientes119.

Observa-se, assim, que a proteção incide sobre as cláusulas contratuais pactuadas pelas partes.

Desse modo, os contratos celebrados antes da vigência da Lei n. 13.288/2016 não estão

obrigados a observar as cláusulas obrigatórias, por exemplo, restando esse fato apenas aos

contratos celebrados após a sua publicação. Entretanto, as obrigações extracontratuais são de

cumprimento obrigatório, como a instituição de CADEC e FONIAGRO, bem como a

disponibilização do RIPI. O DIPC, por sua vez, será exigido aos contratos celebrados a partir

de 16 de maio de 2016.

Por conta dessas circunstâncias, observa-se em diversos sistemas agroindústrias de integração

o não cumprimento de diversas obrigações previstas na Lei n. 13.288/2016. Desse modo, não

foi instaurado FONIAGRO em diversas cadeias produtivas, as CADEC’s estão sendo criadas

sem parâmetros que norteiam a sua instituição, podendo atenuar, assim, as suas finalidades, e,

por fim, o DIPC e o RIPI não estão sendo fornecidos aos produtores integrados, mesmo em

contratos celebrados após a publicação da lei.

118 Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Também

consta no artigo 6º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro: art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato

e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito

o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou (BRASIL, 1988). 119 STF, RE 211.304 RJ, Plenário, Relator Ministro Marco Aurélio, d.j. 29/04/2015.

Page 132: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 133: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

131

4 ANÁLISE EMPÍRICA

Os capítulos anteriores foram constituídos a partir de pesquisa teórica e documental, como

pressupostos teóricos para o desenvolvimento deste trabalho. Desse modo, iniciou-se o estudo

da Nova Economia Institucional e dos contratos, verificando-se as opções de estrutura de

governança e como as instituições, em que se incluem as regras sobre contrato, podem interferir

nessa escolha. Analisou-se, assim, a razão para criação de contratos atípicos, decorrentes da

necessidade econômica e social das partes, bem como o fundamento para a necessidade de sua

tipificação.

Em um segundo momento, aprofundou-se a análise da integração vertical, diferenciando as

concepções econômicas e jurídicas, introduzindo, assim, o estudo do contrato de integração e a

sua regulação trazida pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016).

A partir do referencial teórico abordado, dar-se-á início ao segmento empírico deste trabalho,

com o objetivo de verificar os impactos jurídico da tipificação do contrato de integração para o

setor avícola brasileiro. O Direito como objeto de pesquisa empírica, conforme reflete Rebecca

Lemos Igreja (2017, p. 11), é algo recente e ainda pouco consolidado na formação acadêmica

das faculdades de Direito, em razão da prevalência de concepção formalista, positivista e

dogmática. Entretanto, a sua utilização permite uma melhor compreensão da realidade

estudada.

Além da melhor compreensão, a escolha por uma análise empírica para a persecução do

objetivo geral deste trabalho decorre da falta de dados e estudos jurídicos sobre o sistema de

integração. Desse modo, faz-se necessário o levantamento de informações diretamente com as

partes atuantes. Nessa perspectiva, pode-se avaliar a percepção dos produtores integrados sobre

a conformação do sistema de integração na avicultura, bem como sobre a Lei n. 13.288/2016 e

seus impactos.

Para tanto, utiliza-se a combinação de duas técnicas de pesquisa empírica, análise de dados

secundários e entrevistas, conjugando-se com análise documental, mediante estudo de

instrumentos contratuais de integração celebrados entre integrador e produtor integrado.

Page 134: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

132

4.1 MÉTODO E JUSTIFICATIVA

Seguindo a classificação adotada por Mariana de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2008,

p. 69), a presente análise empírica pode ser caracterizada como documentação direta mediante

pesquisa de campo. De acordo com as autoras, a documentação direta consiste no levantamento

de dados diretamente no local onde os fenômenos ocorrem, podendo ser realizada por pesquisa

de campo ou de laboratório.

A pesquisa de campo, por sua vez, tem o objetivo de obter informações e conhecimentos a

respeito de “um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira

comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles” (MARCONI;

LAKATOS, 2008, p. 69). Nesse sentido, Maria Cecília Minayo (2009, p. 61) aponta a

relevância dessa pesquisa pela possibilidade de aproximar o pesquisador da realidade que

pretende estudar, além de estabelecer inteiração com as pessoas que vivem essa realidade.

Já em relação às técnicas utilizadas para a coleta de dados, empregou-se entrevistas e análise

documental de instrumentos contratuais. As entrevistas tiverem como objetivo o acesso a

informações não disponíveis na literatura e nos bancos de dados analisados, bem como verificar

as percepções dos produtores integrados sobre o sistema de integração. Por seu turno, a análise

documental de contrato possibilitou a verificação com exatidão do arranjo do sistema de

integração e a sua conformação em relação às disposições da Lei n. 13.288/2016.

Além disso, para a consecução da primeira fase da pesquisa de campo120, foram utilizadas

técnicas de documentação indireta e de pesquisa bibliográfica, com a finalidade de levantar os

problemas e as hipóteses de pesquisa.

A investigação de documentação indireta tem o objetivo de recolher informações prévias sobre

o campo de estudo, consistindo em documentos, relatórios e estatísticas, de diversas fontes,

especialmente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Instituto Brasileiro de Geografia e

120 De acordo com Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2008, p. 33), a primeira fase da pesquisa de campo

deve corresponder a uma pesquisa bibliográfica sobre o tema: “ela servirá, como primeiro passo, para se saber em

que estado se encontra atualmente o problema, que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões

reinantes sobre o assunto. Como segundo, permitirá que se estabeleça um modelo teórico inicial de referência, da

mesmo forma que auxiliará na determinação das variáveis e elaboração do plano geral de pesquisa”.

Page 135: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

133

Estatística (IBGE), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e Associação dos

Avicultores do Sul do Estado de Santa Catarina (AVISULSC).

A pesquisa bibliográfica, por sua vez, envolveu a análise de dissertações, monografias, revistas

e livros relacionados ao assunto, oriundos de diversas áreas do conhecimento, como direito,

economia, administração, agronomia, veterinária, engenharia de produção, dentre outras,

caracterizando a pesquisa, deste modo, como interdisciplinar. Além disso, buscou-se notícias

em jornais e revistas eletrônicas especializadas com o propósito de obter informações

atualizadas sobre a estruturação do sistema de integração avícola.

A pesquisa pode, também, ser classificada como exploratória-descritiva. Segundo Antonio

Carlos Gil (2012, p. 27), “a pesquisa exploratória é realizada especialmente quando o tema

escolhido é pouco explorado e torna-se difícil formular hipóteses precisas e

operacionalizáveis”. Desse modo, como resultado, têm-se um problema mais esclarecido. A

pesquisa jurídica sobre o contrato de integração enquadra-se nesse contexto, em razão da

incipiência dos estudos jurídicos desenvolvidos no Brasil sobre este tema.

Por sua vez, as pesquisas descritivas possuem como finalidade a descrição das características

de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Neste

trabalho, serão descritas as percepções dos produtores integrados sobre o sistema de integração

na avicultura e sobre os impactos da Lei n. 13.288/2016.

Mariana de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2008, p. 71) entendem que esses dois tipos

de pesquisa podem ser combinados: “são estudos exploratórios que têm por objetivo descrever

completamente determinado fenômeno. (...) Dá-se precedência ao caráter representativo

sistemático e, em consequência, os procedimentos de amostragem são flexíveis”.

Por fim, a abordagem apresentada é qualitativa, na medida em que se busca a melhor

compreensão dos fatos, e não sua mensuração. De acordo com Rebecca Lemos Igreja (2017, p.

14), a pesquisa qualitativa tem como finalidade proporcionar uma análise aprofundada de

processos ou relações sociais. Desse modo, não se buscar atingir dados quantificáveis, mas sim

obter informações que possibilitem a visualização do objeto de estudo em sua complexidade,

múltiplas características e relações.

Page 136: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

134

Jean-Pierre Deslauriers e Michèle Kérisit (2012, p. 147-148) identificam na pesquisa qualitativa

um realce do campo, “não apenas como reservatório de dados, mas também como uma fonte

de novas questões”

O pesquisador qualitativo não vai a campo somente para encontrar respostas para suas

perguntas; mas também para descobrir questões, surpreendentes sob alguns aspectos,

mas, geralmente pertinentes e mais adequadas do que aquelas que ele se coloca no

início. Além disso, a própria logística da abordagem qualitativa (campo de pesquisa,

observação participante, entrevistas não dirigidas, relatos de vida) obriga o

pesquisador a um contato direto com o vivido e as representações da pessoas que ele

pesquisa (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2012, p. 148).

Desse modo, além do acesso à informação, o trabalho busca identificar as demandas dos

avicultores que atuam no sistema de integração avícola, com objetivo de verificar se a Lei n.

13.288/2016 apresenta uma solução para esses problemas. Na medida em que possui como uma

de suas finalidades garantir de segurança jurídica para as partes, a lei irá cumpri-la se não

trouxer soluções para os problemas existentes na relação contratual de integração.

Por fim, reconhece-se a existência de limitações na pesquisa desenvolvida: a análise empírica

é realizada em setor específico (avicultura), em regiões determinadas (Mesorregião Sul do

Estado de Santa Catarina e Mesorregião de Piracicaba no Estado de São Paulo), mediante

abordagem qualitativa, não proporcionando generalização. Entretanto, a estrutura metodológica

proposta possibilita a verificação do objetivo geral da pesquisa, em relação aos impactos

jurídicos da tipificação do contrato de integração para o setor avícola brasileiro, a partir da

percepção de produtores integrados.

4.2 SETOR PESQUISADO

A necessidade de se restringir o setor a ser pesquisado decorre da impossibilidade de se analisar

todos os sistemas agroindustriais que utilizam o contrato integração. Restrições temporais,

financeira e pessoal impedem essa investigação. Desse modo, foi necessário a opção por um

setor, limitando-se ao sistema agroindustrial de frango de corte, ou seja, ao setor avícola.

O setor avícola foi escolhido pela sua importância histórica para o sistema de integração e pela

relevância econômica e social de sua utilização. O sistema de integração ganhou relevância no

Brasil no ano de 1961 pela Sadia, na produção de frangos de corte, importando o modelo de

produção adotado nos Estados Unidos. Esse método tornou-se referência para o setor,

Page 137: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

135

estimando-se que, atualmente, 90% da produção brasileira de aves decorra de um sistema de

integração.

Após a determinação do setor a ser estudado, fez-se necessária nova delimitação, nesse ponto

de natureza espacial, ou seja, qual região seria estudada. Optou-se, de plano, por duas regiões,

em dois Estados, de modo a se obter uma visão mais ampla sobre o setor avícola e sobre os

problemas que o atingem, ao explorar dois contextos distintos.

O Estado de São Paulo foi escolhido por sediar a Universidade em que a presente pesquisa é

desenvolvida, expondo a importância de se evidenciar o ambiente em que está inserida. Além

disso, sua importância para o setor avícola e a facilidade de acesso à informação e aos

entrevistados também foram fatores determinantes para a sua escolha. Por outro lado, a

principal razão pelo Estado de Santa Catarina foi pela sua importância atual e histórica para o

setor avícola. Atualmente caracteriza-se como o segundo maior produtor de aves do país e tem

como local de fundação das quatro maiores agroindústrias que atuam no setor: Sadia

(Concórdia) e Perdigão (Videira), que compõem a BRF; Seara (Seara), pertencente a JBS; e

Aurora (Chapecó).

Por fim, a escolha das regiões dentro dos estados teve um caráter de acesso, ou seja, de

facilidade para obtenção das informações e de contato com os avicultores para a realização das

entrevistas. No Estado de São Paulo essa escolha foi mais simples, optando-se pela região de

minha residência. O histórico familiar de vida no campo resultou em prévio conhecimento de

alguns avicultores, que indicaram outros para serem entrevistados, adotando-se, assim uma

amostragem em bola de neve121.

Por sua vez, no Estado de Santa Catarina, a escolha demandou maior esforço. Na fase de

preparação da pesquisa empírica, 47 mensagens de e-mail e Facebook foram enviadas para

diversas pessoas, com as mais variadas funções, entre parlamentares, avicultores, membros de

associação e sindicatos, e representantes de agroindústrias integradoras.

121 Amostragem denominada bola de neve (snowball sampling) apresenta-se como não probabilística e utiliza-se

cadeias de referência. Ou seja, em que os indivíduos selecionais indicam ou convidam novos participantes dentre

os seus conhecidos. Juliana Vinuto (2014, p. 203) aponta que este método é útil para estudar determinados grupos

difíceis de serem acessados.

Page 138: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

136

A maior parte dessas mensagens não foram respondidas, mas algumas conversas evoluíram.

Dentre elas, a que passou maior apoio para a realização das entrevistas foi Rosileia Inocenti

Bresciani, 2ª secretária da Associação dos Avicultores do Sul Catarinense. Desse modo,

escolheu-se como segunda região a ser analisada o sul de Santa Catarina, importante produtora

de frango, que contava com 783 produtores integrados no ano de 2014.

Dessa forma, para alcançar o objetivo de verificar os impactos jurídicos da tipificação do

contrato de integração para os setor avícola brasileiro, no presente capítulo será desenvolvida

análise empírica mediante análise de dados secundários e entrevistas, além de estudo de três

instrumentos contratuais de integração. Para tanto, empreende-se na exploração do setor a ser

pesquisado, com o panorama da avicultura mundial e brasileira e do setor de integração avícola.

4.2.1 Panorama da avicultura mundial e brasileira

A avicultura brasileira apresentou um significativo crescimento nos últimos anos, consolidando

sua importância econômica e social. Atualmente, de acordo com dados da ABPA (2017), a

cadeia produtiva de aves gera 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos, o que corresponde a

5% da população ocupada no países. A produção, por sua vez, ocorre em um sistema de

integração que envolve sobretudo agricultores familiares e pequenos produtores

Nos últimos anos, o país tem conquistado um lugar de destaque na produção mundial, ocupando

a vice-liderança no ranking de produção, com 12,9 milhões de toneladas, contando com um

plantel de 5,8 bilhões de cabeças de frango, e a liderança global de exportações, com um volume

de 4,38 milhões de toneladas, o que representa 39,2% do total da exportação mundial de carne

de frango no ano de 2016 (ABPA, 2017)

O aumento da produção brasileira de carne de frango foi viabilizada pela modernização das

técnicas de produção e pela expansão do sistema de integração, encontrando demanda na

conquista de novos mercados e no aumento de seu consumo.

De acordo com o Food Outlook 2017, relatório semestral sobre mercados globais de alimentos,

apresentado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO,

2017, p. 49), a produção de aves no ano de 2015 correspondeu a 36,47% da produção mundial

de carne, o que a coloca na liderança global dentre as proteínas animais.

Page 139: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

137

Tabela 4. Produção mundial de carne (2015)

Tipo de carne Volume (milhões ton.) Participação

Ave 116.9 36,47%

Suína 116.1 36,22%

Bovina 67.6 21,09%

Ovina 14.4 4,50%

Outros 5.5 1,72%

Total 320.5 100%

Fonte: FAO (2017, p. 7)

Este cenário de liderança da produção de aves também é observado em âmbito nacional,

correspondendo a 49,42% da produção brasileira de carne no ano de 2016, conforme observado

na Tabela 5.

Tabela 5. Produção brasileira de carne (2016)

Tipo de carne Volume (milhões ton.) Participação

Ave 12.9 49,42%

Bovina 9.5 36,40%

Suína 3.7 14,18%

Total 26,1 100%

Fonte: ABPA (2017); BRASIL (2017, p. 63)

Desde o ano 2000, a produção nacional de carne de frango encontra-se em expansão,

observando-se, no entanto, algumas flutuações durante esta década. O aumento agregado da

produção foi de 115% nos últimos 16 anos. A O crescimento foi constante até o ano de 2011,

quando o volume de produção ultrapassou pela primeira vez a marca de 13 milhões de

toneladas. Entretanto, nos anos de 2012 e 2013 observou-se uma queda na produção, em razão

da maior recessão vivenciada pelo setor, decorrente da crise de suprimento de ração.

Dois fatores principais foram responsáveis pela escassez de ração: i) a estiagem no sul do país,

com a diminuição da produção de soja, resultando em aumento de mais de 100% em seus

preços; ii) a quebra da safra do milho nos Estados Unidos, que ocasionou aumento de 40% nos

preços e falta do produto no mercado interno, pois direcionados para completar as necessidades

do mercado estadunidense.

Sucedeu-se, assim, a falta de matéria-prima para a produção de ração, resultando na falta de

ração e em diversos casos de mortalidade excessiva por falta de alimentação dos frangos. Para

Page 140: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

138

contornar o problema, as agroindústrias deixaram de alojar lotes, pois não tinham como

assegurar o fornecimento de ração. Desse modo, houve uma diminuição significativa da

produção e, mesmo assim, uma queda no preço pago ao produtor integrado. Por conta disso,

muitos avicultores abandonaram a atividade, impactando os resultados da produção de 2013. A

evolução da produção brasileira, desde o ano 2000, pode ser observada no Gráfico 1.

Gráfico 1. Evolução da produção brasileira de carne de frango (milhões ton)

Fonte: UBABEF (2013, p. 17); ABPA (2017, p. 10)

Após a passagem da crise do ano de 2012, retomou-se o crescimento da produção nos anos de

2014 e 2015, atingindo recorde histórico de volume produzido no país, com o alcance 13,14

milhões de toneladas. Porém, no ano de 2016, ocorreu nova queda da produção, ainda que o

volume produzido tenha sido o terceiro maior da história do país, com 12,9 milhões de

toneladas. A baixa foi resultado de novo aumento no preço do milho, superando em 100% a

cotação dos anos anteriores.

Para a próxima década, por seu turno, as projeções do MAPA (BRASIL, 2017, p. 61-70)

apontam para a retomada do crescimento da produção de aves no país, considerando o maior

aumento percentual dentre as proteínas animais, permanecendo na liderança, com uma variação

estimada de 33,4% até 2027. Por sua vez, as carnes bovinas e suínas deverão crescer no patamar

de 20% nesse período, mantendo suas respectivas posições de mercado.

5,9

8

6,7

4

7,5

2

7,8

4

8,4

9

8,9

5

9,3

4 10

,3 10

,94

10

,98

12

,23

13

,06

12

,65

12

,31

12

,69

13

,14

12

,9

2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6

Page 141: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

139

Gráfico 2. Projeção de produção de carnes no Brasil (2017-2027) (mil ton)

Fonte: BRASIL (2017, p. 63)

O crescimento significativo da produção de frango desde o ano 2000 é consequência de

múltiplos fatores. O aumento da renda per capita em diversos países impulsou o crescimento

da demanda mundial por proteínas de origem animal, incentivando, por seu turno, avanços em

genética, nutrição, manejo e sanidade, com o objetivo de aumento do rendimento da produção.

Particularmente quanto ao frango, possui vantagem quanto ao consumidor por ser uma carne

mais acessível, em razão de menor custo de produção.

A manutenção de baixos custos de produção, além de provir da própria natureza do

desenvolvimento do ciclo produtivo, decorre, também, da organização em sistema de

integração. Esse sistema garante uma melhor alocação de recursos e proporciona à agroindústria

a desincumbência de investir diretamente no setor agropecuário. Desse modo, fornece os

insumos necessários para a produção e garante a aquisição de seu resultado, transferindo ao

avicultor todas as responsabilidades advindas do desenvolvimento do ciclo biológico.

Sem a preocupação de despenho da atividade agropecuária, a agroindústria pode concentrar-se

na evolução das técnicas de manejo, nas questões de sanidade animal, na qualidade das rações

e desenvolvimento genético das aves, dentre outros fatores que influenciem a qualidade e

quantidade de aves produzidas. Assim, o fornecimento controlado de pintos de um dia, ração,

medicamentos, vacinas e assistência veterinária resulta em melhor rendimento da produção,

com maior peso dos animais e menor mortalidade.

2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027

Ave 13.440 13.817 14.601 14.689 15.293 15.512 16.235 16.402 17.053 17.237 17.930

Bovina 9.500 9.374 9.865 10.018 10.365 10.542 10.882 10.927 11.134 11.248 11.444

Suína 3.815 3.952 4.027 4.135 4.232 4.359 4.470 4.587 4.689 4.798 4.905

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

Page 142: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

140

Em âmbito mundial, a abertura de novos mercados e parceiros econômicos foi fator essencial

para o aumento de produção. Entretanto, a existência de protecionismo econômico nos países

desenvolvidos e o endurecimento das regras sanitária internacionais122 apresentam-se como

barreiras à exportação e à conquista de novas mercados.

No ano de 2016 o Brasil registrou a produção de 12,9 milhões de toneladas de carne de frango,

correspondendo a 14,54% da produção mundial, consolidando o país em segundo lugar no

ranking global de produção, posição alcançada em 2015, atrás apenas dos Estados Unidos, que

totalizaram 18,26 milhões de toneladas.

Gráfico 3. Produção mundial de carne de frango por país (2016) (milhões ton)

Fonte: ABPA (2017)

122 Diversas disposições da União Europeia devem ser respeitadas para a exportação de produtos alimentícios e de

origem animal: i) Regulamento (CE) n. 178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho de 28 de janeiro de 2002,

que determina os princípios e normas gerais da legislação alimentar e estabelece procedimentos em matéria de

segurança dos gêneros alimentícios (UE, 2002); ii) Regulamento (CE) n. 852/2004 do Parlamento Europeu e do

Conselho de 29 de abril de 2004, relativo à higiene dos gêneros alimentícios (UE, 2004a); iii) Regulamento (CE)

n. 853/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril de 2004, que estabelece regras específicas

aplicáveis aos gêneros alimentícios de origem animal (UE, 2004b); iv) Regulamento (CE) n. 854/2004 do

Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril de 2004, que estabelece regras específicas de organização dos

controles oficiais de produtos de origem animal destinados ao consumo humano (UE, 2004c; v) Regulamento (CE)

n. 2073/2005 da Comissão de 15 de novembro de 2005, relativo a critérios microbiológicos aplicáveis aos gêneros

alimentícios (UE, 2005); vi) Decisão da Comissão de 11 de dezembro de 2007, relativa à aprovação de programas

de controlo de salmonelas em bandos de reprodução de Gallus gallus em determinados países terceiros (UE, 2007);

vii) Regulamento (CE) n. 1099/2009 do Conselho de 24 de setembro de 2009, relativo à proteção dos animais no

momento da ocisão. Já quanto à avicultura, pode-se citar ainda: i) Regulamento (CE) n. 2160/2003 do Parlamento

Europeu e do Conselho de 17 de novembro de 2003, relativo ao controle de salmonelas e outros agentes zoonóticos

específicos de origem alimentar (UE, 2003); ii) Regulamento (CE) n. 798/2008 da Comissão de 8 de agosto de

2008, que estabelece a lista de países terceiros, territórios, zonas ou compartimentos a partir dos quais são

autorizados a importação e o trânsito na Comunidade de aves de capoeira de produtos à base de aves de capoeira,

bem como as exigências de certificação veterinária aplicáveis (UE, 2008).

EUA; 18,26

Brasil; 12,9

China; 12,3EU-28; 11,3

Índia; 4,2

Outros; 29,72

Page 143: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

141

Observa-se que 53,7% da produção mundial de carne frango é concentrada em 4 países: Estados

Unidos, Brasil, China e Índia. Dentre esses, Estados Unidos, China e Índia possuem elevados

mercados consumidores para a carne de frango, sendo, dessa forma, a produção absorvida

predominantemente pelo mercado interno. Por sua vez, o Brasil produz um grande excedente

em relação à demanda interna, destacando-se significativamente pelo suprimento da demanda

mundial de carne de frango.

Em relação às exportações, o Brasil apresentou-se como líder do mercado mundial, controlando

39,2% da exportação global de carne de frango no ano de 2016, o que representou 4,38 milhões

de toneladas.

Gráfico 4. Exportação de carne de frango por país 2016 (milhões ton)

Fonte: ABPA (2017)

Desse modo, o Brasil exporta aproximadamente 34% do total de sua produção, percentual

significativamente superior aos demais. Os Estados Unidos, maiores produtores do planeta,

exportam 16,5% do total, ao passo que a União Europeia apresenta índice de 11,2%. A China,

por sua vez, terceira maior produtora, exporta apenas 3% da produção, ao passo que a Índia não

possui participação considerável nas exportações mundiais.

O Gráfico 5 apresenta a evolução das exportações brasileiras de carne de frango. Pode-se

observar um crescimento praticamente ininterrupto do volume de exportação desde o ano de

1990, com uma acentuação deste crescimento no início dos anos 2000. Nos últimos 12 anos,

observou-se um aumento de 77% das exportações, decorrentes do aumento da produção

nacional e da abertura de novos mercados, sobretudo em países africanos e asiáticos, em uma

resposta ao aumento do consumo per capita de frango no mundo.

Brasil; 4,38

EUA; 3,01

UE-28; 1,27

Tailândia; 0,69

China; 0,38

Outros; 1,43

Page 144: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

142

Gráfico 5. Evolução das exportações brasileiras de carne de frango (mil ton)

Fonte: ABPA (2017); UBABEF (2013)

A participação da exportação sobre a produção total de carne de frango no Brasil dobrou desde

o início do Século XXI. No ano 2000, apenas 15,31% da produção foi destinada à exportação,

ao passo que 84,69% foi voltada para o mercado interno. Já no ano de 2016, 34% da produção

nacional foi destinada à exportação, enquanto 66% foi absorvida pelo mercado interno. Durante

esse período, apesar de algumas flutuações anuais, pode-se observar um crescimento

consecutivo da participação das exportações sobre a produção total, fato que deve se manter

nos próximos anos. Essa situação pode ser verificada no Gráfico 6.

Gráfico 6. Evolução da participação das exportações sobre a produção anual de frangos no Brasil

Fonte: ABPA (2017)

Essa análise demonstra a importância das exportações para o sistema agroindustrial de frangos

de corte no Brasil, uma vez que representa um terço do destino da produção, mas também

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

199

0

199

1

199

2

199

3

199

4

199

5

199

6

199

7

199

8

199

9

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

201

2

201

3

201

4

201

5

201

6

Page 145: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

143

exprime a volubilidade a que o setor está submetido, devido a instabilidades do mercado

internacional e a imposição de barreiras sanitárias ao produto brasileiro.

Os diversos escândalos que envolveram as principais agroindústrias processadoras de aves no

Brasil acabam por desqualificar todo o setor nacional, resultando em barreiras comerciais e

sanitárias à carne produzida no país. A Operação Carne Fraca, divulgada no ano de 2017, por

exemplo, apurou um esquema de fraudes para emissão de atos administrativos e corrupção e

atuação ilícita de fiscais agropecuários123. A terceira fase da operação, designada como Trapaça,

apurou fraudes em resultados de exames laboratoriais da BRF, resultando em embargo da União

Europeia à exportação de 20 frigoríficos brasileiros no mês de abril de 2018, por deficiência no

controle de salmonela, sendo 12 pertencentes à BRF.

Desse modo, o protecionismo agrícola nos países desenvolvidos e os embargos à exportação

aplicados pelo descumprimento de regras sanitárias possuem como consequência a

concentração das exportações brasileiras para um grupo específico de países, destacando-se

mercados considerados menos exigentes.

No ano de 2016, o Brasil exportou para mais de cento e quarenta países, demonstrando uma

significativa variedade de parceiros comerciais. Entretanto, os vinte e cinco principais países

representaram 89,56% do volume exportado. Já os sete primeiros corresponderam a 59,92% do

total de exportações124.

Dentre as exportações para os vinte e cinco principais, países, 30,7% da exportação são

destinadas a países considerados como economias avançadas pelo Fundo Monetário

Internacional (FMI, 2018), ao passo que o restante, 69,3% para países considerados mercados

emergentes e economias em desenvolvimento. A predominância de mercados menos exigentes

fica evidente quando a análise é feita por região de destino, sendo a Ásia e África destinatárias

de 80,57% de toda a exportação de frango do Brasil, conforme Gráfico 7.

123 A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal no Paraná aponta irregularidades envolvendo a BRF S/A,

Seara Alimentos Ltda., Peccin Agroindustrial Ltda., Frigorífico Larissa Ltda., Frigorífico Oregon S/A, Frigobeto

Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda., Frigomax – Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda., Unifrango

Agroindustrial S/A, M.C. Artacho Cia. Ltda., Wegmed-Caminhos Medicinais Ltda., Granjeiro Alimentos Ltda. E

Industria de Laticínios S.S.P.M.A. Ltda. 124 1) Arábia Saudita; 2) China; 3) Japão; 4) Emirados Árabes Unidos; 5) Hong Kong; 6) África do Sul; 7) Países

Baixos.

Page 146: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

144

Gráfico 7. Exportações brasileiras por região de destino (2016) (milhões ton)

Fonte: ABPA (2017)

O Oriente Médio é a principal região de destino das exportações brasileiras, com 36% de

participação. Em segundo lugar aparecem os demais países da Ásia, com 33%, totalizando 69%

de participação do continente asiático, Por sua vez, a África representa 12% das exportações,

mesmo percentual destinados aos países da Europa, comunitários ou não. A América, por sua

vez, apesar das facilidades geográficas para a exportação, corresponde a apenas 7% do destino

dos frangos brasileiros. Isso se deve à existência de um menor mercado consumidor e da grande

produção dos Estados Unidos, principal mercado continental. Por fim, a Oceania apresenta um

percentual irrelevante.

A produção nacional, por sua vez, concentra-se nos estados do sul do país, sendo Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente, os maiores produtores nacionais. As regiões

Sudeste e Centro-Oeste também apresentam relevância, destacando a produção realizada nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Tabela 6. Abate de frango por Estado (2016)

Estado % Milhões ton. Estado % Milhões ton.

Paraná 33,46 4,32 Pernambuco 0,86 0,11

Santa Catarina 16,06 2,07 Bahia 0,74 0,10

Rio Grande do Sul 14,11 1,82 Pará 0,63 0,08

São Paulo 9,33 1,20 Espírito Santo 0,6 0,08

Minas Gerais 7,88 1,02 Paraíba 0,38 0,05

Goiás 6,71 0,87 Rondônia 0,18 0,02

Mato Grosso 4,21 0,54 Piauí 0,11 0,01

Mato Grosso do Sul 3,06 0,39 Demais estados 0,5 0,06

Distrito Federal 1,18 0,15 Total 100 12,90

Fonte: ABPA (2017)

Oriente Médio; 1,539

Ásia; 1,42

África; 0,512

União Europeia; 0,399

América; 0,303

Europa (extra-UE); 0,132 Oceania; 0,002

Page 147: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

145

Desse modo, a região Sul é responsável pelo abate de 64% da produção nacional, ao passo que

o Sudeste corresponde a 18% e o Centro-Oeste a 15%. Nordeste e Norte apresentam pequena

participação, 2% e 1%, respectivamente.

Já quanto às exportações, a participação do Sul é ainda mais significativa, com 76,29%. O

Centro-Oeste corresponde a 12,14% e o Sudeste 11.32%. Por fim, a participação do Norte e

Nordeste apresenta-se ainda menor, 0,13% e 0,12%, respectivamente.

A importância da região Sul pode ser explicada por alguns fatores: i) histórico regional de

produção de aves em sistema integrado; ii) o centro das principais agroindústrias brasileiras125

iii) proximidade dos principais portos exportadores126; iv) proximidade de regiões de cultivo de

milho e soja, utilizadas na produção de ração. Tais fatores incentivaram o desenvolvimento da

avicultura na região, resultando em um maior número de avicultores e no maior volume de

produção de aves.

Desse modo, após a apresentação do panorama da avicultura mundial e brasileira,

demonstrando-se a importância social e econômica do setor em âmbito interno, bem como a

essencialidade do país para o abastecimento da carne de frango consumida no mundo, o item

4.2.2 terá como objetivo o estudo do sistema de integração avícola, modelo contratual

responsável por conduzir a produção nacional ao atual patamar.

4.2.2 Sistema de integração avícola

O fundamento dos contratos de integração de frango de corte é assegurar o suprimento de

matéria prima para a agroindústria. Para alcançar esse objetivo, a agroindústria possui três

meios de estruturar a sua governança127, mercado, híbrida ou hierarquia. Conforme os estudos

125 Ranking de exportação dos associados da ABPA e local de fundação das respectivas empresas: 1) BRF: Sadia

(Concórdia/SC) e Perdigão (Videira/SC); 2) JBS: Seara (Seara/SC); 3) Cooperativa Central Autora Alimentos

(Chapecó/SC); 4) C. Vale Cooperativa Agroindustrial (Palotina/PR); 5) Copacol; 6) GTB (Maringá/PR); 7) Lar

Cooperativa Agroindustrial (Medianeira/PR); 8) Vibra Agroindustrial S/A (Montenegro/RS); 9) Coopavel

Cooperativa Agroindustrial (Cascavel/PR); 10) São Salvador Alimentos S/A (Itaberaí/GO) 126 Os portos da região Sul são responsáveis pela exportação de 89,05% do volume total, destacando-se os portos

de Itajaí/SC (35,04%), Paranaguá/PR (33,97%) e São Francisco do Sul/SC (12,61%). 127 Na visão de Williamson (1996), as estruturas de governança são instrumentos de coordenação utilizados para

reduzir custos de transação.

Page 148: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

146

de Oliver Williamson (1985), essa escolha irá depender do nível de especificidade dos ativos e

da frequência em que ocorrem as transações.

Na estrutura via mercado a especificidade dos ativos é baixa e os custos de transação são

mínimos, além da frequência das transações ser diminuta. São marcadas, assim, por contratos

de execução imediata. Por sua vez, a integração vertical propriamente dita, ou seja, a

organização hierárquica, depende de elevado nível de frequência, de incerteza e de

especificidade dos ativos. Entretanto, a depender dos investimentos necessários para a sua

execução, a agroindústria pode optar por uma forma híbrida, ou seja, mediante contratos,

reduzindo riscos da estrutura de mercado e economizando investimentos necessários para uma

estruturação hierárquica.

O ativo frango para abate pode ser caracterizado como de elevada especificidade, seguindo a

categorização adotada por Fabiano Coser (2010, p. 75): i) especificidade locacional, pois

precisa se encontrar dentro de um limite máximo de distância do abatedouro, em razão do alto

custo de transporte; ii) especificidade temporal, devido à existência de data específica para

abate, de modo a maximizar o rendimento da produção; iii) especificidade física, em razão das

características das instalações dos aviários; iv) especificidade dedicada128, por conta dos

investimentos necessários

Desse modo, o sistema de integração, como estrutura híbrida, tem se destacado na coordenação

da produção de aves no Brasil129. Isso garante o fornecimento de matéria prima para a

agroindústria e permite uma maior intervenção sobre a produção, controlando critérios de

quantidade e qualidade, bem como o respeito às regras ambientais e trabalhistas, atendendo,

desta forma, às exigências atuais dos consumidores.

De maneira geral, a agroindústria, denominada integrador pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016), é responsável pelo fornecimento de pintos de um dia, ração, medicamento, vacina e pela

128 A especificidade dedicada relaciona-se aos ativos envolvidos na produção de um produto e ocorre nos casos

em que uma estrutura de produtiva é necessária para a produção de um determinado produto (OLIVEIRA; REYS,

2012, p. 213). Assim, na avicultura, são necessários para o desenvolvimento da atividade produtiva a construção

de galpões e a aquisição de equipamentos, que não serão úteis para outra atividade. 129 Até a década de 1960, as aves eram criadas pelas próprias agroindústrias. Entretanto, no ano de 1961, a Sadia

inspirou-se nos sistemas de integração observados nos Estados Unidos e aplicou o modelo em suas três unidades.

“Tudo começou com a entrega de 100 pintinhos a um colono, que geraram mil e, posteriormente, alguns milhares.

A partir daí o frigorífico passou a contratar milhares de pequenos produtores rurais, que criavam as aves que depois

seriam abatidas e industrializadas” (UBABEF, p. 49)

Page 149: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

147

prestação de assistência técnica e veterinária. Ao final do período de criação dos frangos,

quando estiverem em condições ideais para abate, a seu critério, responsabiliza-se pela apanha

e carregamento das aves, bem como pelo transporte até o abatedouro. O contrato garante

exclusividade sobre o aviário, ou seja, durante a vigência do contrato de integração, o produtor

integrado não pode cedê-lo para outro integrador, tampouco negociar as aves com terceiro. Por

outro lado, o integrador compromete-se a pagar por toda a produção percebida, mediante

percentual devido ao avicultor, de acordo com critérios de rendimento.

O produtor integrado, por sua vez, é responsável pelo manejo da produção, ou seja, fornece

galpão adequado com equipamentos de aquecimento, além de água, energia e mão de obra,

recebendo os pintos de um dia e entregando as aves quando estiverem prontas para o abate,

seguindo os critérios do integrador.

A principal vantagem da utilização de contrato de integração é a possibilidade de controle da

produção pelo integrador, que fornece todos os insumos necessários à produção e determina

índices de produtividade e de qualidade. A remuneração do produtor integrado dependerá do

cumprimento de diversos critérios, que incluem a quantidade de aves e o seu peso, bem como

critérios de qualidade, referentes ao percentual de calos de pé130, arranhaduras131,

condenações132 e papo cheio133. A prestação de assistência técnica e veterinária também são

indicadores desse controle exercido pelo integrador e influenciam na qualidade da produção.

Além disso, o contrato de integração permite a verificação do cumprimento da legislação

ambiental e trabalhista, bem como das normas de biosseguridade, principais exigências do

130 Trata-se da denominação usual da pododermatite, lesão comum encontrada em frangos de corte criados sobre

camas úmidas e compactadas (SANTOS; NUNES; BAIÃO, 2002, p. 655). Os pés têm aumentado a sua

importância comercial, em razão de exportação para os países asiáticos. Desse modo, a ocorrência de calos de pé

irá aumentar o descarte de produto, resultando em prejuízo econômico, além de ser um indicador de bem-estar

animal. 131 A arranhadura corresponde a lesões nas carcaças do frango, tendo como principais causas a densidade do

aviário, temperatura do ambiente qualidade de cama, peso e idade das aves. A depender da intensidade dos

arranhões, pode ocorre a ruptura de pele e evoluir para um processo inflamatório, resultando em dermatoses, uma

das principais causas de condenação das aves (SCHERER FILHO, 2009, p. 37-38). 132 As condenações representam o descarte das aves em razão de problemas de sanidade. Adriana Oliveira et al.

(2016, p. 84) apontam que entre os anos de 2006 e 2011, o índice de condenação do Serviço de Inspeção Federal

nos matadouros-frigoríficos foi de 5,99%, observando como principais causas: contaminação (1,80%).

Contusão/lesões traumáticas (1,57%), dermatoses (0,74%) e celulite (0,50%), artrite (0,38%), aerosaculite (0,13%)

e aspecto repugnante (0,13%). 133 Papo cheio representa a permanência do alimento do papo do animal, impedindo a sua digestão. Essa situação

pode resultar em infecção, inanição e morte do animal. Além disso, a verificação de papo cheio no abate pode

representar um risco de contaminação, pela presença de bactérias. Assim, o seu rompimento irá resultar na

contaminação e condenação de toda a carcaça (RUI; ANGRIMANI; SILVA, 2011, p. 1291).

Page 150: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

148

mercado consumidor, principalmente externo. Nos últimos anos, verificou-se um

endurecimento das exigências sanitárias internacionais, o que resulta na imposição de cláusulas

mais rígidas, como, por exemplo, a proibição de utilização de insumos não fornecidos pelo

integrador, de criação de outros animais e aves na propriedade e de visita de terceiros ao aviário

sem a expressa autorização do integrador.

Quanto à gestação ambiental, apesar de ser responsabilidade do produtor integrado, por

desenvolver a atividade, o integrador estabelece no contrato a exigência de cumprimento da

legislação, sob pena de extinção imediata do contrato, sem a necessidade de aviso prévio.

Demonstra, assim, mesmo que por uma questão mercadológica, a preocupação com a

sustentabilidade da produção. Há, nesse sentido, orientação para o uso racional da água, manejo

do solo, bem como para a destinação adequada e tratamento de dejetos e aves mortas.

Já quanto ao cumprimento da legislação trabalhista, o integrador proíbe contratualmente a

utilização de mão de obra infantil ou em condições análogas a escravo, sob pena de resolução

imediata do contrato, independentemente de notificação, respondendo ainda, o produtor

integrado, por eventuais perdas e danos.

Com essa estruturação, a agroindústria economiza os investimentos necessários na construção

de aviários e do desenvolvimento da atividade produtiva, tais como aquisição ou arrendamento

de imóvel rural, construção das instalações e compra de máquinas e equipamentos, além dos

custos de manejo da produção e de mão de obra, mas garante matéria-prima em quantidade e

qualidade desejadas. As regras específicas desse sistema serão estudadas quando da análise de

instrumentos contratuais de integração, no item 4.4, discutindo-se, neste ponto, as principais

vantagens e desvantagens da adoção da integração na avicultura.

Desse modo, o sistema de integração permite à agroindústria o suprimento de matéria-prima

em quantidade, qualidade e tempo desejáveis, adequando-se às instabilidades de mercado.

Garante, também, a sanidade das aves, em virtude do fornecimento de medicamentos, vacinas

e assistência veterinária. Por fim, assegura um desenvolvimento uniforme dos animais, uma vez

que fornecem os pintos de um dia com genética selecionada e ração balanceada.

Para os avicultores, por outro lado, o sistema de integração assegura o escoamento de toda a

produção e a sua continuidade ininterrupta. Nesse sentido, a avicultura permite fluxo de caixa

Page 151: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

149

constante, na medida em que o abate dos lotes é realizado a cada 60 dias, ao contrário de outras

atividades agrossilvipastoris que se caracterizam como anuais ou bianuais, por exemplo. Além

disso, verifica-se uma estabilidade na produção em relação às oscilações de preço, já que os

custos dos insumos são de responsabilidade do integrador.

A UBABEF134 (2011, p. 56) apontou ainda outras vantagens para o produtor integrado, como a

maior facilidade de acesso ao crédito, a incorporação mais rápida de inovações tecnológicas, a

oportunidade e capacitação dos avicultores, além da a liberdade de trabalho, de horários e

autonomia de gestão da criação.

Por sua vez, Patrícia Zaluski e Ieso Marques (2015, p. 13) realizaram estudo diretamente com

produtores de frango de corte e relataram as seguintes vantagens do sistema de integração: i)

redução de custo; ii) segurança da venda das aves; iii) rentabilidade financeira; iv) garantia de

matéria-prima; v) maior qualidade da produção de frangos; vi) garantia de assistência técnica;

vii) bloqueio dos concorrentes.

Por outro lado, as seguintes desvantagens foram apontadas pelos produtores integrados: i)

dependência do integrador; ii) pequena margem de ganho; iii) necessidade de grandes

investimentos; iv) aumento de custos; v) baixos preços de compra da produção integrada; vi)

dificuldade de saída da atividade; vii) planejamento tecnológico (ZALUSKI; MARQUES,

2015, p. 13)

Além disso, outros pontos conflituosos foram observados no sistema de integração. Desde o

início da década de 2010, por conta do expressivo aumento do preço da soja e do milho, diversos

integradores que já se encontravam em dificuldades econômicas acabaram tendo a sua falência

decretada ou efetuaram pedido de recuperação judicial. Esse cenário favoreceu algumas

agroindústrias, de maior porte, que adquiriram ou assumiram os frigoríficos em crise. Desse

modo, verificou-se uma diminuição no número de parceiros, com uma tendência de

concentração de mercado.

134 No ano de 2014, a União Brasileira de Avicultura (UBABEF) uniu-se com a Associação Brasileira da Indústria

Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), resultando na Associação Brasileira de Proteína Animal

(ABPA).

Page 152: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

150

Conforme informações da Avisite (2014), no ano de 2014, BRF e JBS foram responsáveis pelo

abate de 2,6 bilhões de cabeça de frango, representando 43,9% do total nacional. Quanto ao

mercado externo, por sua vez, ambas foram responsáveis por 73,95% das exportações

brasileiras.

Ademais, problemas quanto à remuneração recebida pelos produtores integrados são

recorrentes no sistema de integração135. Atualmente, os critérios para apuração do percentual

cabível ao avicultor, bem como o seu respectivo valor, são instituídos de modo unilateral pelo

integrador, sem a possibilidade de negociação.

Por conta desse cenário, o legislador reconheceu a necessidade de se regular o sistema de

integração e garantir segurança jurídica às partes envolvidas no contrato. Desde o primeiro

projeto de lei apresentado no ano de 1998, diversas questões foram debatidas no Congresso

Nacional, apresentando-se cinco versões até a final, publicada na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016)136.

Desse modo, com o objetivo de verificar quais os impactos que a Lei n. 13.288/2016 pode trazer

para o setor avícola brasileiro, optou-se por uma análise empírica, combinando a análise de

dados secundários, realizada neste item, com entrevistas e análise documental, mediante estudo

de instrumentos contratuais celebrados no sistema de integração.

Para a análise dos resultados, serão levadas em consideração as vantagens e desvantagens, bem

como os problemas, contidos nesse item, como hipóteses de pesquisa, a serem testadas para

comprovar a sua efetiva ocorrência, resultando, assim, na verificação dos impactos jurídicos da

tipificação do contrato de integração.

4.3 ENTREVISTAS

135 Página Rural (29/11/2004): Avicultor denuncia preço excessivamente baixo pago por indústria de frangos;

Avicultura Industrial (03/05/2010): Avicultores paranaenses reclamam de preços recebidos; A Notícia

(04/11/2013): Cerca de 600 produtores de frangos enfrentam problemas financeiros no Sul de Santa Catarina;

Gazeta de Toledo (25/01/2015): Avicultores reclamam de baixo preço pago por integradora; O Diário

(15/03/2016): Produtores reclamam de preço do frango pago por integradoras. 136 PL n. 4.378/1998, PL n. 3.979/2008, PL n. 1.572/2011 (EMC n. 33), PLS n. 330/2011 e PLS n. 487/2013.

Page 153: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

151

A entrevista pode ser entendida como uma de forma de interação social, na medida em que o

“investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de

obtenção dos dados que interessam à investigação” (GIL, 2012, p. 109). Apresenta-se como

uma técnica de coleta de dados adequada para a obtenção de informações relativas a explicações

ou razões a respeito de fenômenos, diretamente das pessoas envolvidas (SELLTIZ et al., 1967,

p. 273). Desse modo, adequada para a verificação da percepção dos avicultores sobre o sistema

de integração.

Nesse sentido, Antonio Carlos Gil (2012, p. 110) aponta as principais vantagens137 da utilização

da entrevista em pesquisa social

a) A entrevista possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos

da vida social;

b) A entrevista é uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em

profundidade acerca do comportamento humano;

c) Os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação.

Por outro lado, o autor aponta algumas desvantagens da utilização da entrevista, destacando-se:

i) a falta de motivação do entrevistado para responder; ii) a inadequada compreensão da

pergunta; iii) o fornecimento de respostas falsas (GIL, 2012, p. 110). Além disso, permite

apenas compreensão parcial de uma realidade, implicando em diferentes interpretações,

apresentando limitações quanto ao grau de generalização dos resultados obtidos. Apesar das

ressalvas, demonstra ser um instrumento útil para auxiliar no desenvolvimento e nos objetivos

do trabalho.

Desse modo, adotou-se modalidade de entrevista semiestruturada, que compreende perguntas

abertas e fechadas, possibilitando ao entrevistado pronunciar-se sobre o tema sem se limitar

absolutamente à pergunta formulada (MINAYO, 2019, p. 64).

137 O autor ainda aponta diversas vantagens quando comparada com questionários: “a) não exige que a pessoa

entrevistada saiba ler; b) possibilita a obtenção de maior número de respostas, posto que é mais fácil eixar de

responder a um questionário do que negar-se a ser entrevistado; c) oferece flexibilidade muito maior, posto que o

entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente às pessoas e às

circunstâncias em que se desenvolve a entrevista; d) possibilita captar a expressão corporal do entrevistado, bem

como a tonalidade de voz e ênfase nas respostas” (GIL, 2012, p. 110).

Page 154: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

152

Nesse sentido, Sophie Duchesne (2000, p. 10)138 entende que essa modalidade favorece uma

mudança no questionamento, com foco no conhecimento e nas questões próprias dos atores

sociais. Assim, o seu objetivo é coletar, juntamente com as opiniões dos entrevistados, os

elementos de contexto (social e linguístico) necessários para se compreender as opiniões. Além

disso, permite ao entrevistado explorar o campo de indagação aberto pelas instruções iniciais,

em vez de ser guiado pelas perguntas do entrevistador.

Dessa forma, a entrevista permite acessar a percepção dos produtores integrados sobre o sistema

de integração na avicultura, permitindo que transmitam sua opinião e expressem ambiguidades

ou conflitos existentes no grupo analisado. Assim, Maria Cecília de Souza Minayo (2009, p.

65) aponta que cada entrevista irá exteriorizar um aspecto da realidade. No item 4.3.1 será

aprofundada a utilização da entrevistas como procedimento para coleta de dados necessários

para a verificação do objetivo de pesquisa.

4.3.1 Procedimentos para coleta de dados

O objetivo deste item é discorrer sobre o procedimento utilizado para coleta de dados, ou seja,

para a realização das entrevistas, seguindo, assim, os conselhos de Howard Becker (199, p. 14)

sobre a importância de se transmitir nossas experiências para outros pesquisadores.

A revisão de literatura sobre o sistema de integração avícola e análise de dados secundários

serviram como fundamento para o levantamento dos pontos conflituosos existentes na relação

entre produtor integrado e integrador. Partindo dessa análise preliminar, elaborou-se o roteiro

das entrevistas139.

Empregou-se em seu desenvolvimento o princípio da não-diretividade, conforme descrito por

José Roberto Franco Xavier (2017, p. 125), permitindo ao entrevistado explorar suas

percepções sobre determinado aspecto da realidade social. Para a sua instrumentalização,

utiliza-se uma diretriz inicial, introduzindo o entrevistado no tema a partir de uma intervenção

138 No original, “L’entretien « non-directif » favorise un déplacement du questionnement, tourné vers le savoir et

les questions propres des acteurs sociaux. La principale raison d’être de la méthode est de recueillir, en même

temps que les opinions des personnes interrogées, les éléments de contexte, social mais aussi langagiers,

nécessaires à la compréhension des dites opinions. Elle consiste à amener la personne interrogée à explorer

ellemême le champ d’interrogations ouvert par la « consigne », au lieu d’y être guidée par les questions de

l’enquêteur” (DUCHESNE, 2000, p. 10) 139 O roteiro das entrevistas encontra-se no Apêndice B.

Page 155: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

153

inicial do entrevistador, que dá uma direção para a fala do entrevistado, entretanto, sem

bloquear o campo de possibilidade de resposta.

Tomando como base o modelo apresentado por José Roberto Franco Xavier (2017, p. 125), a

entrevista teve início com uma diretriz inicial: “Gostaria que o senhor/a senhora me falasse um

pouco do sistema de integração vertical. Me interessa saber como ocorre a relação com o

integrador, como o contrato é feito e como você avalia a atual situação de integração”

Nesse sentido, o início da entrevista desenvolveu-se como uma conversa informal, em um

espaço de conforto ao entrevistado, deixando que discorresse naturalmente sobre a sua

percepção e vivência do sistema de integração. Durante a conversa, o pesquisador realizava as

anotações pertinentes às questões elaboradas previamente, sem a necessidade de se perguntar

diretamente. Apenas em um segundo momento o roteiro foi repassado, cumprindo os pontos

não tratados durante a conversa.

Eduardo Coutinho, consagrado documentarista brasileiro, no filme Coutinho, 7 de outubro,

dirigido por Carlos Nader, que tratava justamente de sua forma de trabalho, afirmou que “a

necessidade de ser ouvido é uma das mais profundas, senão a mais profunda, necessidade do

ser humano. Ser ouvido é ser legitimado. Mas quem está preocupado em legitimar o outro?”

José Roberto Franco Xavier (2017, p. 157) aponta que “num mundo de supervalorização do ato

de falar, ouvir é um ato que causa estranhamento”. Esse sentimento de estranhamento foi

percebido na realização das entrevistas, principalmente por conta da característica de

simplicidade dos entrevistados. Diversos foram os comentários nesse sentido: nossa, mas eu

falar? Não tenho muita coisa para te ensinar, a gente que precisa aprender com vocês; ninguém

nunca quis saber qual a nossa situação.

Deixar o entrevistado falar possibilitou um conhecimento abrangente sobre diversos pontos do

sistema de integração e sobre a sua percepção sobre esse modelo. Diversos pontos relatados

não haviam sido levantados na revisão de literatura.

Por fim, para algumas questões, utilizou-se um modelo fechado de resposta, com a finalidade

de facilitar a análise dos dados, tendo por base a escala de Likert. Esse modelo foi desenvolvido

por Rensis Likert (1932) para mensurar atitudes nas ciências comportamentais. Na escala, os

Page 156: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

154

entrevistados se posicionam de acordo com o grau de concordância relativa ao item. Utilizou-

se o modelo de escala original, com cinco pontos, variando da discordância total até a

concordância total140.

Inicialmente, realizou-se entrevista piloto com 3 produtores integrados, após as quais foram

feitas alterações pontuais no roteiro de entrevista. As alterações mais significativas foram

relativas à sua condução. Em primeiro lugar, os entrevistados não se sentiram confortáveis com

a gravação da conversa. Observou-se certo receio em falar sobre o assunto sendo gravado, com

medo do que poderia ser feito com o áudio. Assim, optou-se pela não gravação, anotando-se os

principais pontos.

Em segundo lugar, o pedido para assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido

resultou em uma quebra da cumplicidade desenvolvida com os entrevistados, que se mostraram

receosos em assinar um documento sem compreender completamente o seu termo Destaca-se

que a maior parte dos entrevistados, sobretudo no Estado de São Paulo, possuíam baixo nível

de escolaridade. O restante da conversa não teve o mesmo desenvolvimento após o pedido.

Assim, optou-se por apenas entregar o documento informativo, constante no Apêndice C, sem

a colheita da assinatura.

4.3.2 Procedimentos para organização e análise de dados

A exploração e intepretação do material resultante das entrevistas sucedeu-se pelos

procedimentos da análise de conteúdo, definida por Laurence Bardin (2011, p. 78) como “um

conjunto de técnicas de análise das comunicações, com finalidade de obter, por meio de

procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

que permitam a inferência de conhecimentos realitos às condições de produção e recepção

dessas mensagens.

Para possibilitar a sua análise, dividiu-se os componentes das mensagens analisadas por um

processo de categorização, comumente utilizado na análise de conteúdo. A categorização é uma

operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, ou seja, são rubricas ou

140 Grau de concordância com a afirmação: (1) discordo totalmente; (2) discordo parcialmente; (3) Não concordo

nem discordo; (4) concordo parcialmente; (5) concordo totalmente.

Page 157: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

155

classes que reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, efetuado em razão das

características comuns destes elementos (BARDIN, 2011, p. 147).

4.3.3 Resultados

Seguindo a técnica de Laurence Bardin (2011, p. 48), a exploração e interpretação dos dados

processou mediante os procedimentos de análise de conteúdo, determinando-se seis categorias

para análise: i) caracterizarão dos avicultores entrevistados; ii) contrato de integração; iii) Lei

n. 13.288/2016; iv) solução de conflitos; v) energia; vi) seguro

4.3.3.1 Caracterização dos avicultores entrevistados

As entrevistas foram realizadas com 16 avicultores que atuam em um sistema de integração

com a agroindústria, tendo como fim a criação de frango de corte. As entrevistas foram

realizadas em duas regiões, escolhidas por suas características conforme apontado no item 4.2.

Desse modo, tem-se 8 entrevistado para cada região, com perfis identificados na Tabela 7. Em

razão da não individualização de cada produtor, foi utilizado código para identificação,

representado pela sigla do Estado seguida do número da ordem de realização das entrevistas.

Tabela 7. Perfil dos avicultores entrevistados

AVICULTOR MUNICÍPIO ANO DE

INÍCIO

NUM. DE

AVIÁRIOS

CAPAC.

TOTAL INTEGRADOR

SP.1 São Pedro/SP 2008 1 12.000 B

SP.2 São Pedro/SP 2000 1 15.000 A

SP.3 Brotas/SP 1983 1 20.000 B

SP.4 Brotas/SP 1988 1 20.000 A

SP.5 Charqueada/SP 2004 4 85.000 C-D

SP.6 São Pedro/SP 1988 1 12.500 A

SP.7 Brotas/SP 2003 1 25.000 A

SP.8 São Pedro/SP 1985 1 12.000 B

SC.1 Lauro Müller/SC 1997 2 60.000 D

SC.2 Lauro Müller/SC 2011 2 80.000 D

SC.3 Lauro Müller/SC 2000 2 60.000 E

SC.4 Treviso/SC 1995 1 21.000 D

SC.5 Treviso/SC 1994 1 20.000 D

SC.6 Lauro Müller/SC 1998 2 40.000 D

SC.7 Lauro Müller/SC 1998 2 50.000 D

SC.8 Treviso/SC 1994 1 20.000 D

Page 158: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

156

Observa-se que a região analisada no Estado de São Paulo apresenta avicultores com menor

porte, com média de capacidade de produção de 25.000 aves por produtor. Entretanto, ainda

mais, retirando-se o avicultor SP.5, que encontra-se em patamar superior, essa média diminui

para 16.600, aproximadamente. Por seu turno, a região de Santa Catarina apresentou aviários

mais modernos e, consequentemente, de maior capacidade, com média de aproximadamente

44.000 aves por avicultor.

Outra distinção é a atuação em outras atividades agrícolas. Isso reflete no tamanho dos aviários,

em razão da necessidade de investimentos e na divisão de prioridades do produtor. Dos

entrevistados em São Paulo, todos desenvolviam outras culturas dentro de sua propriedade,

destacando-se cana-de-açúcar, eucalipto, café, milho e hortaliças. Já em Santa Catarina, em

razão das características de revelo e do tamanho das propriedades, todos tinham a avicultura

como principal atividade agropecuária, apesar de desenvolverem, em menor escala e

importância, algumas atividades agrícolas.

As regiões também apresentam relevante distinção quanto à cultura associativa e cooperativa.

O Gráfico 8 mostra quais entrevistados eram pertencentes à associação de avicultores.

Gráfico 8. Entrevistados filiados à associação de avicultores

Legenda: (1) entrevistado associado à associação de avicultores; (-1) entrevistado não associado à associação de

avicultores

Na região analisada no Estado de São Paulo, não existe associação de avicultores. A única

entidade coletiva existente na região é a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São

Paulo – COPLACANA, com sede no Município de Piracicaba/SP. Dentre os entrevistados, um

desenvolve o plantio de cana-de-açúcar e figura como cooperado.

-1

0

1

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 159: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

157

Em Santa Catarina, por sua vez, todos os entrevistados eram associados à Associação de

Avicultores do Sul Catarinense (AVISULSC). A cultura associativa pode ser demonstrada

pelos dados do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP, 2017)

mostrando que o estado possui 265 cooperativas, reunindo mais de 2 milhões de associados,

mantendo 58 mil empregos diretos e faturando mais de R$ 31,5 bilhões de reais anualmente.

Dentre essas, 52 cooperativas são agropecuárias e correspondem a 63% do faturamento.

Apesar dessa força cultural associativa, os avicultores enfrentaram severas dificuldades para

instituição da atual associação. Lucia Cimolin, avicultora, ex-prefeita de Treviso/SC e membro

do comitê técnico AVISULSC, conta que duas tentativas anteriores foram barradas pela

agroindústria. Na primeira tentativa, no ano de 2009, todos os eleitos para a diretoria foram

desligados pelo integrador. Em 2010, por conta de pressão da agroindústria, não passou da

primeira reunião. Assim, apenas no ano de 2013 a associação e avicultores foi constituída, após

o domínio de mercado da JBS, quando a sua criação se tornou imperiosa.

Entretanto, a agroindústria não reconhece a existência da associação, negociando apenas de

forma individual com os produtores integrados. Mesmo assim, a associação luta por melhores

condições, participando ativamente das discussões do PLS n. 330/2011, que resultou na Lei n.

13.288/2016, tendo feito propostas de emenda, mas que foram rejeitadas141.

Em 26 de março de 2014, a Associação apresentou uma série de reivindicações à JBS,

reiterando o pedido em 26 de abril de 2014. A agroindústria respondeu às reivindicações em

reunião realizada no dia 07 de maio de 2014. Entretanto, os entrevistados afirmam que as

condições continuam a não ser cumpridas.

141 Destacam-se as seguintes sugestões: a) inserir o conceito de hipossuficiência do integrado frente ao integrador;

b) excluir e deixar omisso o que trata o parágrafo 3º do Art 2º – vínculo trabalhista; c) em hipótese alguma deixar

algo que possa levar a remuneração do integrado vinculado à tal meritocracia (entenda-se tabelas), mas deixar

claro que se estas existirem será para pagar além do custo de produção. Garantir renda mínima a cada ciclo de

produção. Do jeito que a Lei está escrita, fala de renda justa e do custo de produção, mas depois remete tudo aos

contratos firmados. Assim uma coisa anula a outra e as tabelas prevalecerão; d) buscar que os contratos sejam

instrumentos coletivos de negociação; e) a responsabilidade da saúde e da vida do integrado, bem como a

responsabilidade ambiental devem sem solidárias, no mínimo, entre as partes. Deveria ser mais responsabilidade

do integrador, uma vez que é ele quem traz elemento estranho para dentro das propriedades; f) que o governo tenha

compromisso com os produtores integrados, ver Lei do biodiesel. Agroindústria recebe incentivos e estes, em parte

devem chegar ao integrado.

Page 160: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

158

Tabela 8. Reinvindicações realizadas pela Associação dos Avicultores do Sul Catarinense

Categorias Reivindicações da Associação Respostas do Integrador

Remuneração

Correção dos valores das tabelas atualmente

aplicadas aos avicultores, não atualizadas desde o ano de 2007

Não haverá ajustes, não garante valor mínimo,

mas apresentará demonstrativo ao final do lote

Tabelas

Unificação das tabelas aplicadas nas três

unidades da JBS, para que todos os avicultores recebam o mesmo tratamento

Serão unificadas a partir de outubro de 2014

Apanha Custo da apanha seja integralmente arcado pela

JBS Sem prazo para implementação

Pagamento Prazo para pagamento seja de 7 dias úteis após

a entrega das aves para abate

Será feito em 14 dias corridos a partir do último

carregamento

Idade de abate Entre 40 e 45 dias Irá atender o solicitado

Intervalo de

alojamento Entre 10 e 20 dias Irá atender o solicitado

Capacidade

instalada

Todos os aviários devem receber a capacidade

instalada total Irá atender o solicitado

Distratos já

efetuados

- ressarcimento dos prejuízos;

- pagamento das dívidas de financiamentos;

- proibição de novos desligamentos sem o

acompanhamento da associação, buscado a solução dos problemas antes de efetivado;

Direito da empresa

Contrato

Deve ser redigido com poucas cláusulas e

escrito primeiramente pela Associação para posterior discussão com a integradora.

Há acordo com a CNA para realização de um

único contrato e todo Brasil, em conformidade com a lei que será aprovada

Essas informações são relevantes para o levantamento de problemas existentes na relação

contratual dentro do sistema de integração e para, desse modo, verificar os impactos da Lei n.

13.288/2016. A lei propôs-se a regular a integração e garantir segurança jurídica para as partes,

mas não cumprirá o seu objetivo se não trouxer solução para os problemas já existentes nessa

relação.

4.3.3.2 Contrato de integração

O primeiro questionamento feito aos entrevistados quanto ao sistema de integração foi relativo

à viabilidade de organizar-se como produtor independente, de modo a verificar a existência de

dependência econômica do avicultor integrado em relação ao integrador. Observou-se a

ocorrência de discordância total, de modo unânime, sobre a viabilidade da produção de modo

independente.

Destaca-se como principais argumentos para a inviabilidade desse modelo: i) dificuldade para

adquirir pintos de um dia; ii) dificuldade para suprir a necessidade de ração, sobretudo quanto

Page 161: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

159

às oscilações de preço do milho e da soja; iii) dificuldade para encontrar um comprador de todo

o lote, em razão da quantidade de aves e do curto período entre a nova produção.

Essa afirmação foi corroborada pelo questionamento inverso, ou seja, se o sistema de integração

seria o único modelo de produção viável para o desenvolvimento da avicultura. De modo

também unânime, os entrevistados concordaram totalmente com a afirmação de que o sistema

de integração é o único modelo de produção viável para o desenvolvimento da avicultura.

Dentre os motivos apontados, destaca-se o fornecimento de pintos de um dia, o suprimento de

ração e insumos e a garantia de venda de toda a produção.

Em continuidade à verificação da existência de dependência econômica do produtor integrado,

questionou-se sobre a presença de outro parceiro viável na região. O Gráfico 9 apresenta o grau

de concordância sobre essa afirmação.

Gráfico 9. Grau de concordância sobre a existência de outro parceiro viável na região

Legenda: (2) concordo totalmente; (1) concordo parcialmente; (0) não concordo nem discordo; (-1) discordo

parcialmente; (-2) discordo totalmente.

Curioso notar que, atualmente, nas duas regiões analisadas, existe mais de um integrador.

Entretanto, nenhum dos entrevistados concordou totalmente sobre a existência de outro parceiro

viável. Isso decorre de diversos motivos, de âmbito principalmente pessoal, envolvendo

problemas na relação contratual anterior.

Na região do Sul Catarinense, até o ano de 2012, havia três integradores atuantes: Seara,

Tramonto e Agrovêneto. Entretanto, todas foram incorporadas pela JBS, nos anos de 2012 e

2013, que passou a atuar unicamente sob a denominação JBS Aves, tendo como marca principal

a Seara. Apenas no ano de 2017 houve a entrada de novo parceiro, com a inauguração de um

abatedouro da Granja Pinheiros, na cidade de Grão-Pará/SC.

-2

-1

0

1

2

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 162: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

160

Entretanto, os avicultores entendem que não se trata de um parceiro viável, em razão de sua

pequena capacidade de abate, impedindo a absorção de um número significativo de produtores

que venham a terminar a relação contratual com a JBS. Apenas um dos entrevistados mantém,

atualmente, contrato com a Granja Pinheiros.

Em São Paulo, por sua vez, essa perspectiva depende da localidade em que se encontra o aviário.

As entrevistas foram realizadas principalmente na região denominada Serra do Itaqueri, onde

se encontravam sete avicultores entrevistados. Nessa região, apenas dois integradores mantém

atuação, a Ad’Oro e a Bello Alimentos, que há pouco tempo assumiu a operação do frigorífico

da Avícola Santa Cecília, em Itapuí/SP, que se encontra recuperação judicial. Por sua vez, na

região ao entorno da serra verificou-se a atuação da Rosaves, da Ad’Oro e da JBS, que

recentemente passou atuar nessa localidade.

Desse modo, a resposta para esse questionamento decorre de diferentes motivos. O entrevistado

SP.1, por exemplo, foi excluído por um integrador por não se enquadrar nos novos limites

mínimos de capacidade, ficando um ano sem produzir, até a entrada de nova agroindústria.

Assim, para ele, não existe outro parceiro viável. Essa mesma situação foi observada no

entrevistado SP.8.

Já o avicultor SP.3, optou por fazer a troca de integrador em busca de melhores preços, assim,

entende o contrário, que existe outro parceiro viável. Por sua vez, SP.5 encontra-se na região

ao entorno da serra, em que se sucedeu a entrada de novo integrador. Como possui 5 aviários,

contratou com o novo integrador a colocação de um lote no de maior capacidade. Entretanto,

na data da entrevista, ainda não havia iniciado essa novo ciclo, motivo pelo qual concorda

parcialmente com a afirmação.

Por fim, os entrevistados SP.2, SP.4, SP.6 e SP.7 mantêm contrato com o atual integrado há

pelo menos 15 anos, sem a verificação de qualquer problema. Contam quem recebem um pouco

menos, porém, possuem a garantia de recebimento, em uma experiência sem a ocorrência de

atrasos. O outro integrador pode até pagar um pouco mais, mas já mudou de proprietário pela

segunda ou terceira vez nos últimos anos, deixando lotes sem pagamento. Assim, não existe

outro parceiro viável, porque entendem ser melhor receber menos, mas ter a garantia de

pagamento total e sem atraso.

Page 163: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

161

Desse modo, observa-se que em nenhuma das regiões existe uma verdade concorrência entre

os integradores, ou seja, não existe agroindústria de mesmo porte capaz de concorrer

efetivamente pelo mercado. Em verdade, verifica-se a presença de um integrador de maior

porte, com maior capacidade de abate, e outro de menor, que atua principalmente absorvendo

os avicultores excluídos do sistema de integração do maior.

Em São Paulo, por conta do histórico de falência e recuperação judicial, não há garantia contra

nova ocorrência de atrasos no pagamento ou de encerramento da parceria restando parcelas a

pagar. Já em Santa Catarina, não possui capacidade de abate suficiente para concorrer.

Conclui-se, desse modo, que os produtores integrados são dependentes do integrador, pela

impossibilidade de desenvolver a atividade de modo independente e pela dificuldade em

encontrar outro parceiro viável. Por conta dos investimentos específicos empreendidos para a

consecução da atividade, predominantemente por meio de financiamento em entidades públicas

ou privadas, os produtores integrados acabam por aceitar as imposições do integrador com

medo de sofrerem o desfazimento unilateral do contrato em caso de questionamentos e

conflitos.

Nas entrevistas, verificou-se a situação apresentada no Gráfico 10 quanto à obtenção de

financiamento utilizado para construção de aviários e aquisição de máquinas e equipamentos

destinados à atividade avícola. Destaca-se que, ao contrário de hipótese levantada na literatura,

não foi constatada a participação da agroindústria em empréstimos, benefícios ou transferência

de tecnologia relativos à construção dos aviários e à aquisição de máquinas e equipamentos

utilizados na produção.

Gráfico 10. Utilização de financiamento destinado à atividade avícola.

Legenda: (1) sim; (0) não sabe; (-1) não

-1

0

1

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 164: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

162

Em estudo realizado no ano de 2013 pelo Instituto de Pesquisa Socioeconômica Aplicada da

Universidade do Extremo Sul Catarinense, em parceria com a AVICSUL, observou-se que, dos

312 avicultores analisados, 82,37% possuíam financiamento. Dentre esses, a distribuição do

valor financiado correspondia ao apresentado no Gráfico 11.

Gráfico 11. Distribuição de financiamentos (R$)

Fonte: AVISULSC; IPESE (2013).

Pode-se notar que 49,42% dos financiamentos realizados foram no valor de até R$ 100.000,00

(cem mil reais). Por sua vez, significativa a parcela entre R$ 101.000,00 (cento e um mil reais)

e R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), correspondendo a 39,30% do total. Já os

financiamentos acima de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) foram verificados em menor

número, totalizando 10,51%.

Gráfico 12. Tempo de dívida dos avicultores

Fonte: AVISULSC; IPESE (2013).

Destaca-se também a análise do tempo de dívida em que encontram os avicultores. Conforme

observado no Gráfico 12. Observa-se maior percentual com dívidas entre 1 a 5 anos (61,87%),

ao passo que de 6 a 10 anos totaliza-se 21,01%. Porém, ainda considerável a parcela que possui

dívidas a mais de 11 anos, correspondendo a 11,68%. Ressalta-se que, do total, 16,34% dos

avicultores possuem parcelas vencidas de financiamento.

127

101

24

3 2

0

50

100

150

Até 100 mil 101 - 500 mil 500 mil-1 milhão Mais de 1 milhão Não Respondeu

7

159

54

15 15 7

0

50

100

150

200

Menos de 1 ano 1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos Mais de 15 anos Não Respondeu

Page 165: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

163

Os dados sobre o percentual de financiamento dos produtores integrados importam na análise

do desfazimento unilateral da relação contratual por parte do integrador. A Associação dos

Avicultores do Catarinense (AVISULSC) informou que 110 avicultores foram cortados pelo

integrador desde 2012. A dívida respectiva desses avicultores totalizava R$ 4.000.000,00

(quatro milhões de reais). Entretanto, nesse mesmo período foi autorizada a abertura de 30

novos aviários. Para os entrevistados, isso demonstra que o desligamento dos avicultores não

decorreu exclusivamente de ajustes de quantidade de produção pela demanda de mercado.

Desse modo, defendem a proibição de desfazimento do contrato, sem justa causa do produtor

integrado, quando este ainda estiver encarregado do pagamento de financiamento. Destaca-se

que grande parcela dos investimentos realizados pelo avicultor decorre de exigência do

integrador, sem efetiva proteção contratual, em contrapartida.

Dentre os produtores entrevistados, SP.8 foi desligado nos últimos meses de financiamento, de

modo unilateral. O integrador estabeleceu um parâmetro de capacidade mínima dos aviários

para manutenção do contrato, e o extinguiu em relação a todos os avicultores que não atingissem

tal patamar. Diz que teve sorte da entrada de um novo integrador, mas nesse intervalo atrasou

parcela e teve prejuízos em decorrência disso.

O produtor SC.3 também foi desligado de modo unilateral pelo integrador, sem justa causa, e

ajuizou ação para ressarcimento dos prejuízos. Entretanto, a ação ajuizada em 2016 teve

primeira audiência agendada para o segundo semestre de 2018, o que resulta em sua percepção

de ineficiência do Poder Judiciário.

Além do prejuízo pelo término da atividade, nas situações em que o produtor estiver sob a

vigência de financiamento, a finalização da produção poderá resultar em perda da propriedade,

pois usualmente oferecida como garantia, conforme observado no Gráfico 13.

Page 166: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

164

Gráfico 13. Bens oferecidos em garantia.

Por sua vez, passa-se a analisar a mudança de parceiro, com o objetivo de verificar a sua

incidência e quais motivos acarretam a sua ocorrência. Conforme aponta o Gráfico 14, pode-se

observar com certa frequência a troca de parceiro de integração. Entretanto, os motivos que

resultam no desfazimento da relação contratual são frequentemente os mesmos.

Gráfico 14. Número de empresas com que celebrou contrato de integração desde o início da atividade

Nota-se que 43,75% dos entrevistados possuíram contrato com duas agroindústrias, ou seja,

mudaram uma vez de parceiro. Esse mesmo percentual representa os avicultores que

mantiveram contrato com três ou mais integradores. Por sua vez, apenas 12,5% dos

entrevistados não mudaram de parceiro.

Entretanto, os motivos para a troca do integrador, conforme Gráfico 15, são frequentemente os

mesmos: 56% das trocas foram resultados da falência e /ou recuperação judicial do integrador

e 24% resultaram de exclusão unilateral pela agroindústria. Por outro lado, em 12% dos casos

houve opção por parte do produtor integrado, ao passo que 8% decorreu do abandono da atuação

do integrador na região.

68,59%

13,14%8,01%

18,59%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Propriedade onde mora ou

possui o aviário

Outras propriedas Outros bens Não repondeu

2

7

5

0

2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1 2 3 4 5

Page 167: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

165

Gráfico 15. Razões para a troca do integrador

Com exceção das três mudanças decorrentes de opção do produtor integrado, destaca-se que

não se verificou nenhuma outra situação em que a razão da troca teve participação do avicultor.

Assim, em 88% dos casos apontados nas entrevistas, as causas decorreram exclusivamente do

integrador.

Quanto à elaboração das cláusulas do contrato, observou-se, em todas as entrevistas, a ausência

de negociação, ou seja, são impostas de modo unilateral pela agroindústria. Essa é uma das

reivindicações da AVISULSC, que defende a elaboração do contrato pela associação, para

posterior ajuste pelo integrador. Entretanto, não é essa a realidade encontrada. O contrato de

integração, desse modo, apresenta-se como um contrato de adesão, não se permitindo a

negociação de seu conteúdo.

Nesse sentido, questionou-se aos avicultores sobre a possibilidade de negociação de parâmetros

técnicos, econômicos, de gestão de risco e de equilíbrio distributivo142. Todos os entrevistados

discordaram totalmente sobre a possibilidade de negociação de parâmetros trazidos no contrato.

Cláusulas que preveem, por exemplo, índice de produção, critérios de qualidade, forma de

remuneração, formação do preço de referência, prazo para pagamento e obrigações das partes,

são impostas unilateralmente pelo integrador.

142 Segundo Fabiano Coser (2010, p. 91-92), os parâmetros podem ser classificados do seguinte modo: técnico:

índices de produção, definição de metas de produtividade, critérios de qualidade; econômicos: forma de

remuneração, formação do preço de referência, índices de correção; gestão do risco: fundo de catástrofe sanitária,

ambiental, mercadológica, seguro das instalações e animais, garantia de renda, prazos, formas de saída do contrato;

equilíbrio distributivo: renegociação de parâmetros econômicos, divisão de custos agregados ao sistema em

virtudes de mudanças, alterações tecnológicas que aumentam ou reduzem custos.

14

6

32

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Falência e/ou recuperação

judicial

Exclusão unilateral Opção do produtor integrado Integrador abandou a região

Page 168: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

166

Em razão da falta de poder do produtor integrado para negociar as cláusulas que compõe o seu

contrato, bem como pelo sentimento de impotência do avicultor em relação à proteção de seus

interesses, por conta de sua dependência econômica, os entrevistados encontram em uma

posição de não satisfação plena em relação ao atual parceiro, conforme apontado no Gráfico

16.

Gráfico 16. Grau de satisfação em relação ao atual integrador.

Legenda: (2) muito satisfeito; (1) satisfeito; (0) indiferente; (-1) insatisfeito; (-2) muito insatisfeito.

Observa-se que em São Paulo há uma maior satisfação em relação ao atual integrador. O

entendimento passado pelos avicultores é de que o sistema poderia ser melhor, mas é a única

opção, então estão relativamente satisfeitos. A principal reclamação é relativa ao baixo valor

da remuneração, porém, quanto às demais obrigações, consideram-se satisfeitos.

SP.1 e SP.3 foram os únicos a se manifestar como muito satisfeitos. Ambos foram cortados

recentemente por um integrador e absorvidos por outro, então estão muito satisfeitos até o

momento, recebendo até mais do que anteriormente, inclusive. Porém, observou-se problemas

de atraso para colocação de lote, o que pode resultar em diminuição da receita anual, mas isso

não atrapalhou a satisfação dos avicultores, pois entendem que são coisas que acontecem.

Já em Santa Catarina, por outro lado, verifica-se um posicionamento mais crítico em relação ao

atual integrador. A opinião de vivenciarem um monopólio no sistema regional de integração

contribui para esse resultado, pois diversos avicultores foram excluídos pelo integrador em

razão de questionamentos sobre as condições do contrato. Assim, mesmo enfrentando

problemas na relação com o integrador, acabam por aceitar as imposições com receio de

extinção do contrato, resultando, assim, em insatisfação.

Desse modo, a insatisfação com o integrador não decorre essencialmente dos produtos e

serviços prestados por ele, mas sim diretamente da condução contratual do sistema de

-2

-1

0

1

2

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 169: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

167

integração. A falta de possibilidade de negociação de parâmetros e a ausência de opção viável

de parceiros apresentam-se como fatores determinantes. O Gráfico 17 traz a análise do grau de

satisfação dos entrevistados em relação aos produtos e serviços prestados pelo integrador.

Gráfico 17. Grau de satisfação em relação aos produtos e/ou serviços prestados pelo integrador

Legenda: (2) muito satisfeito; (1) satisfeito; (0) indiferente; (-1) insatisfeito; (-2) muito insatisfeito.

Pode-se observar um sentimento geral de satisfação com os produtos e serviços prestados pelo

integrador. A preocupação da agroindústria com a qualidade dos insumos e serviços decorre de

seu impacto direto na qualidade e quantidade de produto final, porém, mesmo assim, alguns

problemas são verificados. Diversos produtores sofreram com a mortalidade de aves logo no

início de alojamento143. Apontam que isso se deve a contaminação prévia dos pintos de um dia,

ou seja, de responsabilidade do integrador. Nessas situações, mesmo com a presença de

veterinários e a administração de medicamentos e vacinas, a mortalidade não foi controlada em

todos os casos. Critica-se, também, que nesses casos, o integrador não apresentou laudo sobre

a doença verificada.

Entretanto, apenas SC.4 apresentou-se insatisfeito em relação aos produtos e serviços prestados

pelo integrador, quanto à qualidade da ração e dos pintos de um dia. Em relação ao primeiro,

afirma que em épocas de pico de preço do milho e da soja, a ração costuma vir com maior

percentual de outros componentes, diminuindo a sua qualidade e, consequentemente, a

produção. Já em relação ao segundo, diz que os pintos de um dia para compor o lote costumam

vir com uma grande quantidade de mistura, o que compromete a uniformidade de crescimento

das aves, implicando em uma produção desuniforme144 e no resultado final da produção.

143 O alojamento diz respeito ao período de colocação dos frangos nos aviários, ou seja, do fornecimento dos pintos

de um dia pelo integrador até a sua retirada para o abate. 144 Como mecanismo de coordenação para suprimento de matéria-prima, o integrador espera uma produção final

uniforme, ou seja, com aves de tamanho e peso semelhantes, atendendo aos padrões de mercado. Por isso, o

produtor integrado que entregar uma produção desuniforme, acaba por perder bonificações de qualidade.

Entretanto, quando há uma mescla genética ou de idade dos ovos nos pintos de um dia, as aves acabam por se

-2

-1

0

1

2

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 170: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

168

Por fim, quanto ao sistema de integração, diversas são as vantagens e desvantagens apontadas

pela literatura145. Entretanto, o objetivo da entrevista foi verificar a percepção dos produtores

integrados quanto às vantagens e às desvantagens desse sistema. Assim, não foi utilizado

questionário, com alternativas predeterminadas, mas sim, o que espontaneamente é entendido

como vantagem ou como desvantagem pelo avicultor. Desse modo, o Gráfico 18 apresenta as

hipóteses citadas de modo espontâneo pelos 16 avicultores entrevistados.

Gráfico 18. Vantagens do sistema de integração.

Pode-se observar, dessa forma, que todos os entrevistados apontam a garantia de venda da

produção como a principal vantagem do sistema de integração. Critérios trazidos pela literatura,

tais como, a maior qualidade da produção de frango, a garantia de assistência técnica, o bloqueio

dos concorrentes e a transferência de tecnologia não foram citadas de forma espontânea pelos

entrevistados.

Por outro lado, em relação às desvantagens do sistema de integração, a unanimidade relaciona-

se com a baixa remuneração percebida pelos produtores integrados. Os demais fatores

constantes do Gráfico 19 apontam para uma mesma ideia, ou seja, de que o contrato de

integração importa em subordinação do avicultor, mediante a imposição do contrato, da

desenvolver de modo desuniforme, tendo como resultado final tamanhos e pesos distintos, mas decorrentes de

ações do próprio integrador, e não de má-prática de manejo. 145 Patrícia Zaluski e Ieso Marques (2015, p. 13) trazem as seguintes vantagens e desvantagens apontadas pelos

produtores. Vantagens: redução de custo, segurança da venda das aves, rentabilidade financeira, garantia de

matéria prima, maior qualidade da produção de frangos, garantia de assistência técnica e bloqueio dos

concorrentes. Desvantagens: dependência da integradora, pequena margem de ganho, necessidade de grandes

investimentos, aumento de custos, baixos preços de compra da produção integrada, dificuldade e saída da

atividade, planejamento tecnológico.

0

2

4

6

8

Garantia de venda Fornecimento de insumos Redução de custos

SP SC

Page 171: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

169

distribuição desigual do risco, da falta de controle sobre o preço, contribuindo para um

sentimento de exploração.

Gráfico 19. Desvantagens do sistema de integração.

O principal problema apontado pelos entrevistados diz respeito à baixa remuneração recebida

pela produção, na medida em que a o cálculo do percentual de remuneração e o valor do produto

são determinados pela agroindústria. A baixa remuneração fica manifesta quando analisados os

custos para a produção de frango de corte. Estudo realizado pelo IPESE (2013) em parceria

com a AVISULSC indicam os seguintes resultados146, considerando apenas os custos

dispendidos pelo produtor integrado, excluindo os de responsabilidade do integrador.

Tabela 9. Custo de produção.

Custo / Método de produção147 Convencional Climatizado Dark House

Custo fixo e depreciação 1,1961 1,0804 0,7289

Custo com financiamento 1,3296 1,2923 0,9326

Valor para a viabilidade 1,9439 1,9403 1,4130

Fonte: AVISULSC; IPESE (2013)

146 Custo fixo e depreciação: considera os custos fixos com empregados, os custos fixos gerais (cama, gás, lenha,

energia, dentre outros) e a depreciação estimada. Custo com financiamento: considera em conjunto os custos do

financiamento do empreendimento. Valor para a viabilidade: cálculo do valor da remuneração necessária para o

empreendimento ser viável. “Esse valor é compatível com o montante de receita calculada que permite ao

empreendimento i) ser viável no prazo de nove anos e sete meses; ii) atingir taxa interna de retorno superior à taxa

mínima de atratividade; iii) apresentar valor presente líquido positivo; iv) apresentar valor do fluxo de caixa

descontado superior ao investimento inicial; e, por fim, apresentar lucratividade e rentabilidade no período

analisado” (IPESE, 2013). 147 A diferença entre o aviário convencional e o climatizado decorre do sistema de climatização artificial utilizado.

O aviário convencional utiliza um sistema de pressão negativa ou exaustão, ao passo que o aviário climatizado

adota um sistema de pressão positiva ou pressurização. A principal vantagem do aviário climatizado é a

possibilidade de construção de galpões com maior área e com maior capacidade de aves. Por outro lado, o sistema

dark house constitui em uma câmara escura, sem a entrada de luz natural. Com o melhor controle de luminosidade

e temperatura, é possível melhor resultado na produção. Trata-se de tecnologia moderna, com um aumento de

implantação, mas de maior custo.

0

2

4

6

8

Baixa

remuneração

Exploração Subordinação Imposição do

contrato

Elevado

investimento

Distribuição

desigual do

risco

Falta de

controle sobre

o preço

Concentração

de mercado

SP SC

Page 172: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

170

A principal particularidade da pesquisa foi relativa ao custo de mão de obra, inserindo o trabalho

realizado diretamente pelos avicultores. Para o seu cálculo, considerou-se o tempo de mão de

obra necessária, independentemente de sua fonte. Nos cálculos de custo apresentados pelo

integrador, conforme informação da AVICSUL, não são levados em consideração o trabalho

direto da família dos avicultores, realidade encontrada em todos os entrevistados.

O preço pago ao produtor integrado, por sua vez, encontra-se na média entre R$ 0,60 e R$ 0,75

por ave, muito inferior ao custo de produção considerando a depreciação, a mão de obra familiar

e o pagamento de financiamento. Essa situação reforça a percepção de exploração manifestada

pelos entrevistados.

Desse modo, a exploração e subordinação em relação ao integrador, e a dependência econômica

existente, dá margem para comportamento oportunista da agroindústria. A falta de opção viável

para contratação, a necessidade de pagamento de financiamento e o risco de desfazimento sem

justa causa da relação contratual, a qualquer momento, implicam na aceitação das condições

impostas pelo integrador.

4.3.3.3 Lei n. 13.288/2016

Após os questionamentos sobre o contrato de integração, passou-se para o debate da Lei n.

13.288/2016 (BRASIL, 2016). Até esse momento, não foi identificado aos entrevistados que a

pesquisa tinha como objetivo o estudo de tipificação do contrato de integração, apenas de modo

genérico sobre o sistema de integração avícola. Essa sonegação de informação teve o propósito

de verificar se os avicultores, de modo espontâneo tinham conhecimento sobre a lei.

Desse modo, a primeira pergunta questionou a existência de mudanças substâncias no contrato

operadas nos últimos dois anos, ou seja, desde a publicação da Lei n. 13.288/2016. Dos 16

entrevistados, 2 não sabiam, ao passo que 14 afirmaram que não houve mudanças substanciais

nos contratos nos últimos anos. O contrato de integração é pactuado por prazo indeterminado,

mas anualmente o integrador costuma firmar novo contrato, promovendo as atualizações e

correções necessárias, sobretudo quanto ao sistema de remuneração. Entretanto, em Santa

Catarina, a JBS, desde o ano e 2016, não negociou novo contrato. Assim, verifica-se a

continuidade de sua vigência por se tratar de prazo indeterminado.

Page 173: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

171

Nessa circunstância, o veto presidencial ao parágrafo único do artigo 14 da Lei n. 13.288/2016

(BRASIL, 2016) desobrigou a adequação dos contratos vigentes às suas disposições, motivo

pelo qual os avicultores acreditam que este contrato deverá vigorar ainda por algum tempo, até

que se tenha clara definição sobre os institutos trazidos pela lei

Isso resulta no descumprimento de algumas obrigações da lei, como relatado pelos

entrevistados. O integrador não forneceu o Documento de Informação Pré-Contratual – DIPC,

previsto no artigo 9º, que deve conter informações atualizadas sobre a relação de integração e

as cláusulas que constarão no contrato. Além disso, não elaborou o Relatório de Informações

da Produção Integrada – RIPO, constante no artigo 7º, que deve trazer as informações relativas

ao resultado da produção integrada148.

Já o segundo questionamento tratou diretamente sobre a ciência da publicação da Lei n.

13.288/2016, que passou a regular o sistema de integração. O Gráfico 20 traz o resultados dessa

indagação.

Gráfico 20. Ciência sobre a existência da Lei n. 13.288/2016

Legenda: (1) sim; (-1) não.

Esse questionamento trouxe um resultado que desperta atenção. Nenhum dos entrevistados de

São Paulo tinha ciência sobre a sua existência. Por outro lado, todos os entrevistados de Santa

Catarina tinham conhecimento sobre a sua edição. Destaca-se que esse cenário é resultado da

ausência de informação por parte do integrador. Nenhum avicultor foi informado pela

agroindústria.

148 Art, 7º, § 1º O Ripi deverá conter informações sobre os insumos fornecidos pelo integrador, os indicadores

técnicos da produção integrada, as quantidades produzidas, os índices de produtividade, os preços usados nos

cálculos dos resultados financeiros e os valores pagos aos produtores integrados relativos ao contrato de integração,

entre outros a serem definidos pela Cadec (BRASIL, 2016).

-1

0

1

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 174: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

172

Em Santa Catarina, esse contexto só foi observado por conta da atuação a AVISULSC, que

participou ativamente das discussões do PLS n. 330/2011, e organizou assembleias com os

associados para discutir e informar o disposto na Lei n. 13.288/2016.

Essa ocorrência prejudicou o questionamento seguinte, de percepção do produtor integrado

sobre a possibilidade da legislação contribuir de forma positiva para o sistema de integração.

Os avicultores de São Paulo, obviamente, responderam não saber, na medida em que nem

conhecimento sobre a existência da lei possuíam. Por sua vez, o grau de concordância dos

entrevistados catarinenses com a afirmação descrita pode ser verificada no Gráfico 21.

Gráfico 21. Grau de concordância sobre a contribuição positiva da Lei n. 13.288/2016 para o

sistema de integração avícola

Legenda: (2) concordo totalmente; (1) concordo parcialmente; (0) não concordo nem discordo/não sei;

(-1) discordo parcialmente; (-2) discordo totalmente.

O avicultores catarinenses discordaram do entendimento de que a Lei n. 13.288/2016 trará uma

contribuição positiva para o sistema de integração. O problema apontado decorre da estratégia

adotada pelo legislador de regulamentar de forma genérica o sistema de integração, sem

pormenorizar as obrigações das partes. Assim, foram apontadas questões como a falta de

proteção ao avicultor, a necessidade de cláusulas protetivas, a ausência do conteúdo das

obrigações, como prazo, proibição de desligamento unilateral na vigência de financiamento,

apresentando o sentimento de que a lei não é boa para o avicultor, apenas para as

agroindústrias.

As questões atinentes às competências da CADEC serão tratadas no item 4.3.3.4, em conjunto

com o seu objetivo de dirimir questões e solucionar conflitos.

-2

-1

0

1

2

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 175: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

173

4.3.3.4 Solução de conflitos

O objetivo deste item é verificar como são resolvidos os conflitos na relação contratual de

integração. Desse modo, questionou-se os entrevistados sobre: i) os problemas existentes; ii) a

forma de solução; iii) o grau de satisfação em relação a solução; iv) a percepção sobre o Poder

Judiciário; v) a percepção sobre a competência da CADEC para dirimir questões e solucionar

litígio entre os produtores integrados e o integrador.

Desta forma, a primeira indagação feita aos entrevistados foi em relação aos conflitos

enfrentados na relação contratual de integração. Não foram apresentadas opções de resposta,

deixando que os entrevistados respondessem de maneira espontânea à questão, de modo a

verificar o seu entendimento pessoal sobre quais seriam os problemas na relação contratual.

Nesse sentido, a maior parte dos avicultores não mencionou de imediato a ocorrência de

conflitos, entretanto, durante a entrevista foi possível identificar algumas situações ocorridas.

O Gráfico 22 apresenta uma comparação entre o número de produtores que identificaram de

modo espontâneo a ocorrência de conflitos na relação contratual com o número de avicultores

que efetivamente enfrentaram problemas, conforme verificação realizada no decorrer das

entrevistas.

Gráfico 22. Produtores integrados com problemas na relação contratual.

Pode-se observar uma grande discrepância entre as duas situações, ou seja, entre os avicultores

que relataram espontaneamente a ocorrência de problemas na relação contratual e os problemas

identificados durante a entrevista. Curiosamente, nas duas regiões, os casos mencionados

apontaram uma única, distintas entre si. Em São Paulo, os três relatos espontâneos

5 5

20

3 3

68

( S P ) R E LATO S

E S P O N TÂN E O S

( S C ) R E LATO S

E S P O N TÂN E O S

( S P ) P R O B LE M AS

I D E N TI F I C AD O S

( S C ) P R O B LE M AS

I D E N TI F I C AD O S

Inexistência de problema Ocorrência de problema

Page 176: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

174

corresponderam à mortalidade de aves, ao passo que em Santa Catarina referiram-se ao

rompimento do contrato de modo unilateral pelo integrador. Por sua vez, o Gráfico 23 apresenta

todos os problemas que foram identificados durante a entrevista.

Gráfico 23. Problemas identificados e relatados na relação contratual.

Nota-se, assim, que a maioria das situações não foram identificadas espontaneamente. SP.1, por

exemplo, relatou nunca ter tido problemas com os dois integradores que manteve contrato.

Entretanto, ao longo da entrevista, foi identificado rompimento unilateral do contrato pelo

integrador, pelo fato de ser um pequeno produtor, e atraso na colocação de novo lote.

Nesse mesmo sentido, SP.3 também não citou de forma espontânea nenhum problema.

Entretanto, a entrevista foi interrompida pela chegada de caminhão para entrega da ração. Nesse

momento o entrevistado demonstrou alívio e esperança, pois o novo lote deveria chegar em

breve. Estava há mais de 30 dias sem receber lote, com o aviário parado. Esse período de

intervalo entre lotes costuma ser de 15 a 20 dias, mas, nessa circunstância, aproximaria de 40

dias. No decorrer da entrevista informou que o integrador anterior havia sido incorporado por

outro e deixara 2 lotes em aberto, sem pagamento. O novo integrador ofereceu para pagar 70%

da dívida desde que renovasse o contrato, ou então, caso mudasse de integrador, não iria receber

nada. Precisando do dinheiro, aceitou e continuou com o contrato.

Nesse sentido, SP.4 relatou não ter tido nenhum problema. Não enfrentou atrasos de pagamento,

mesmo com a falência e alteração de integradores na década de 1990, mas disse ser comum

atrasos para colocação de novo lote e, principalmente, alojamento de aves em quantidade

significativamente menor do que a capacidade do aviário. É comum a colocação de até 20%

menos da capacidade, resultando em uma diminuição de sua receita, por decisão unilateral do

integrador.

0

2

4

6

8

Descumprimento do

prazo de alojamento e

da quantidade de aves

Rompimento

contratual

Mortalidade Qualidade insumos Prestação de serviço Pagamento

SP SC

Page 177: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

175

Por sua vez, SP. 5 e SP.7 não relataram a ocorrência de problemas, identificando-se ao longo

da entrevista apenas atraso para pagamento, mas solucionado por acordo diretamente com o

integrador, estabelecendo-se prazo para acerto.

Dentre os entrevistados de São Paulo, chamou a atenção que apenas os produtores integrados

que tiveram problemas de mortalidade relataram de modo espontâneo a ocorrência de algum

conflito na relação contratual. SP. 2 teve caso de mortalidade por vírus, na primeira semana de

alojamento, resultando na morte de 40% do lote e na necessidade de sacrifício dos 60%

restantes. Entende ter sido resultado de má-prestação de serviço do integrador, pois mesmo com

a visita de veterinário e com a aplicação de remédio já no terceiro dia de alojamento, a perda

da produção foi total. Já SP.6 teve mortalidade total em razão de curto-circuito em seu sistema

interno, não recebendo qualquer compensação do integrador. Entretanto, nos dois casos, mais

uma vez, problemas de atraso para alojamento de novo lote e em quantidade inferior à

capacidade, não foram citados de modo espontâneo.

Em Santa Catarina, observou-se uma situação semelhante à encontrada em São Paulo, mas com

causa distinta. Apenas os avicultores que sofreram desfazimento do contrato de modo unilateral

pelo integrador relataram espontaneamente a ocorrência de problemas na relação contratual. O

descumprimento de prazo para alojamento de novo lote e da quantidade de aves alojadas, bem

como problemas de qualidade dos insumos, não foram identificados como tal, apesar de

verificado durante a entrevista.

SC.1 e SC.3 identificaram a ocorrência de problemas, por conta do desfazimento unilateral do

contrato pelo integradores. Ambos acionaram o Poder Judiciário em 2016 para recebimento de

indenização por prejuízos resultantes, entretanto, ainda não tiveram o atendimento de sua

pretensão em primeira instância. Por sua vez, SC.6, SC.7 e SC.8 não relataram a existência de

problemas. Porém, no casos dos cinco entrevistados citados, todos sofreram como atraso para

colocação de novo lote e redução da quantidade de aves alojadas.

Já SC.2 não relatou conflitos de modo espontâneo, mas verificou-se a ocorrência de mortalidade

de aves em três oportunidades, por conta de doenças. Em duas houve acordo para compensação

de um valor parcial pelo integrador, mas na última não recebeu nenhum valor. Destaca-se que

Page 178: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

176

nas três oportunidades, o avicultor não procurou o Poder Judiciário, justificando tal abstenção

pelo risco de perder o parceiro e pelo tempo em dar a solução para o problema.

SC.5, por seu turno, não citou a ocorrência de nenhum conflito, mas verificou-se problema

quanto à quantidade de ração entregue. O entrevistado possui depósito de ração com capacidade

para 18 toneladas, mas quando entregue pelo integrador, nessa quantidade informada, ainda

estava faltando um grande espaço para completá-lo. Ligou para questionar o representante da

agroindústria, que informou estar certa e que o custo para deslocamento da balança seria

cobrado do avicultor. O produtor integrado conta que fechou a porteira, impedindo o caminhão

de sair, e alegou que se estivesse certo pagaria o custo, mas se estivesse faltando não iria pagar

nada. A balança foi levada até o aviário e constatou-se a falta de 2 toneladas de ração, ou seja,

de 11,11% do volume previsto, fato que impactaria na sua remuneração percebida ao final do

lote.

Por fim, SC. 4 mencionou apenas problemas quanto ao rompimento unilateral do contrato, mas

constatou-se diversos outros durante a entrevista. Em 2014 sofreu com a mortalidade de 16%

do lote, por conta de doença cujo diagnóstico não foi informado pelo integrador, não tendo

ressarcimento. Além disso, mostrou-se insatisfeito em relação aos produtos e serviços prestados

pela agroindústria, por conta da qualidade da ração e dos pintos de um dia, fatores que

influenciam no resultado da produção. Ademais, atrasos para colocação do novo lote e

alojamento em quantidade inferior à capacidade do aviário também são verificados

constantemente. Porém, nenhum desses problemas foi solucionado pelo integrador.

Pode-se observar, assim, que mesmo com a ocorrência de diversos problemas na relação

contratual, a busca pelo Poder Judiciário para a sua resolução não se mostrou significativa.

Dentre os entrevistados, apenas 2 avicultores de Santa Catarina ajuizaram ação contra o

integrador para o recebimento de indenização por prejuízos causados em decorrência de

desfazimento unilateral do contrato. Nas demais situações, optou-se pela resolução diretamente

com o integrador. Entretanto, mesmo nos casos em que não tiveram a pretensão atendida pela

agroindústria, o Poder Judiciário não foi acionado, pelos motivos que serão discutidos a seguir.

Destaca-se, porém, que nem todos os problemas identificados resultaram em uma tentativa de

negociação. Questões como o atraso para alojamento do novo lote e a colocação de aves em

quantidade inferior à capacidade do aviário não foram identificadas como problemas e não

Page 179: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

177

mereceram uma tentativa efetiva de negociação, quando muito representaram apenas um

descontentamento em relação ao integrador. Os entrevistados reputam como fato corriqueiro na

integração, que faz parte do sistema.

O Gráfico 24 apresenta o meio utilizado para solução dos problemas verificados. Dentre esses,

constam apenas os avicultores que efetivamente buscaram resolver o problema enfrentado. Os

demais simplesmente aceitaram a sua ocorrência.

Gráfico 24. Meio utilizado para a solução de conflitos

Após a análise da forma utilizada, buscou-se verificar o grau de satisfação dos produtores

integrados em relação à solução do problema, nos dois meios utilizados, diretamente com o

integrador ou por meio do acionamento do Poder Judiciário. O grau de satisfação está previsto

no Gráfico 25.

Gráfico 25. Grau de satisfação em relação à solução do problema.

Legenda: (2) muito satisfeito; (1) satisfeito; (0) indiferente; (-1) insatisfeito; (-2) muito insatisfeito.

Observa-se que há um sentimento geral de insatisfação em relação à solução do problema,

independentemente da forma utilizada. O senso de impotência em relação ao integrador para

negociar um acordo e o tempo para o Poder Judiciário dar uma resposta ao caso são os fatores

indicados em todas as entrevistas.

Diretamente com o

integrador

5

Poder Judiciário

2

-2

-1

0

1

2

Poder Judiciário

-2

-1

0

1

2

Diretamente com o integrador

Page 180: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

178

Buscou-se, deste modo, verificar a percepção dos produtores integrados sobre o Poder

Judiciário. A análise envolveu sete entrevistados, sendo dois que efetivamente o acionaram e

cinco que buscaram solução diretamente com o integrador, apontando, neste caso, os motivos

pela sua não utilização, mesmo estando insatisfeitos com o resultado da negociação.

O resultado constante do Gráfico 26 diz respeito ao grau de concordância sobre cinco

afirmações que inibiriam a busca do Poder Judiciário para a resolução do conflito: i) risco de

perder o parceiro; ii) custo; iii) tempo para resolução do conflito; iv) distância do fórum em

relação à moradia; v) descrença em relação às decisões do Poder Judiciário.

Gráfico 26. Percepção sobre o Poder Judiciário.

Legenda: (2) concordo totalmente; (1) concordo parcialmente; (0) não concordo nem discordo; (-1) discordo

parcialmente; (-2) discordo totalmente.

Nota-se, assim, um cenário de descrença no Poder Judiciário para a resolução dos problemas

enfrentados pelos avicultores. Diversos foram os comentários nesse sentido: voltaria a buscar

o Poder Judiciário, pois é a única forma, mas esperava uma atuação mais forte do Estado; o

Judiciário está em função de quem tem poder e dinheiro; os juízes não conhecem a realidade

do sistema e decidem pelo integrador, que consegue pagar advogados melhores; não temos

como concorrer com um departamento jurídico do integrador, aqui nem advogado que conhece

o assunto tem.

Neste cenário, abre-se um importante espaço para métodos alternativos de solução de conflito.

Relatou-se a não existência de órgão de solução de controvérsias em nenhuma das regiões

analisadas. Assim, positiva a previsão do legislador de competência da CADEC para dirimir

questões e solucionar, mediante acordo, litígios entre os produtores integrados e integrador,

conforme artigo 6º, §4º, IV, da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) Entretanto, não se observou

uma visão positiva dos avicultores em relação ao seu uso, em função da estrutura implementada.

-2

-1

0

1

2

Risco de perder o

parceiro

Custo Tempo Distância Descrença

Page 181: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

179

Em São Paulo, os entrevistados não tinham ciência sobre eventual criação. Já em Santa

Catarina, a CADEC foi instituída de modo unilateral pelo integrador. O Gráfico 27 apresenta a

ciência dos entrevistado sobre a criação de CADEC em sua região.

Gráfico 27. Ciência sobre a criação de CADEC na região

Legenda: (1) sim; (-1) não.

Os avicultores de São Paulo não tiverem ciência e, por óbvio, não participaram de debates ou

eleições para sua criação. Já em Santa Catarina, todos tiveram ciência sobre a sua instituição,

mas não houve participação dos produtores integrados, pois instituída unilateralmente pelo

integrador, contrariando, assim, os critérios de composição previstos no artigo 6º, § 1º, da Lei

n. 13.288/2016(BRASIL, 2016)149. Entendem que o integrador acelerou o processo de sua

criação para caracterizar a hipótese prevista do parágrafo terceiro do artigo 6º, que prevê o

respeito de estruturas com função similar às constituídas até a data de publicação da lei.

Os entrevistados concebem a importância do instituto parra o setor, mas não da forma com que

foi estruturada: do modo com que ela foi criada, sem a efetiva participação dos produtores,

será apenas uma forma de legitimar as decisões unilaterais do integrador; assim não serve

para nada; é um instrumento interessante para fortalecer os avicultores, de forma coletiva,

mas como foi criada sem participação não adianta, o integrador determina os parâmetros e

excluí o contrato de quem questiona. Desse modo, nenhum dos entrevistados levaria conflitos

para serem resolvidos em sua instância150.

149 Art. 6º Cada unidade da integradora e os produtores a ela integrados devem constituir Comissão para

Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração - CADEC. § 1º A Cadec será composta

paritariamente por representantes: I - escolhidos diretamente pelos produtores integrados à unidade integradora; II

- indicados pela integradora; III - indicados pelas entidades representativas dos produtores integrados; IV -

indicados pelas entidades representativas das empresas integradoras (BRASIL, 2016). 150 Para a análise sobre solução de conflitos na CADEC, levou-se em consideração apenas as entrevistas realizada

em Santa Catarina, pelos seguintes motivos: a) desconhecimento da Lei n. 13.288/2016 e de seus termos pelos

avicultores entrevistados em São Paulo; b) desconhecimento da instituição de uma CADEC em sua região.

-1

0

1

SP.1 SP.2 SP.3 SP.4 SP.5 SP.6 SP.7 SP.8 SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 182: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

180

A não utilização da CADEC decorre principalmente de dois motivos: i) questionamento sobre

a sua imparcialidade; ii) possibilidade de determinação das decisões pelo integrador. Os

entrevistados discordaram totalmente da afirmação de que as decisões da CADEC seriam

proferidas de modo imparcial. Isso decorre da formatação atual de sua estrutura, criada de modo

unilateral pelo integrador e sem a participação da associação dos avicultores. Nesse sentido, o

Gráfico 28 demonstra o grau de concordância sobre a possibilidade do integrador determinar

as decisões tomadas pela CADEC.

Gráfico 28. Grau de concordância sobre a influência do integrador na determinação da decisão

Legenda: (2) concordo totalmente; (1) concordo parcialmente; (0) não concordo nem discordo; (-1) discordo

parcialmente; (-2) discordo totalmente.

Em maior ou menor grau, todos os avicultores entrevistados em Santa Catarina concordam que

o integrador irá interferir em seu favor na determinação das decisões da CADEC. A situação de

quase monopólio encontrada na região, com apenas uma empresa de grande porte atuando,

resulta em medo de contestação sob risco de desfazimento do contrato, aumentando ainda mais

o poder do integrador para impor o seu interesse. Assim, todos os entrevistados apontaram a

necessidade de participação efetiva da associação para que esse sistema funcione de modo justo.

Além nisso, faz-se necessária proteção aos avicultores representantes na CADEC contra

desfazimento sem justa causa de seu contrato, coibindo eventuais retaliações do integrador,

como já verificadas na região151.

Conclui-se, desse modo, que a dependência econômica do produtor integrado identificada na

análise do contrato de integração implica em uma subordinação aos interesses do integrador

quanto à resolução dos conflitos. Assim, apenas dois entrevistados buscaram o Poder Judiciário,

neste caso, somente após o desfazimento de seu respectivo contrato, quando não havia mais o

151 Os avicultores eleitos para a diretoria da Associação no ano de 2009 tiverem o seu contrato encerrado, conforme

visto no item 4.3.3.1.

-2

-1

0

1

2

SC.1 SC.2 SC.3 SC.4 SC.5 SC.6 SC.7 SC.8

Page 183: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

181

risco de perda do parceiro. Nas demais hipóteses, acabaram por aceitar as imposições da

agroindústria, desconfiando da busca pelo Poder Judiciário justamente por conta do risco de

perda do parceiro, bem como por conta do tempo para atendimento da pretensão e pelo

sentimento de descrença em sua atuação.

4.3.3.5 Energia

Apesar de não estar diretamente relacionada ao contrato de integração, a energia é essencial ao

funcionamento da produção e, portanto, à manutenção de um sistema integrado. Corresponde,

atualmente, ao maior custo operacional, conforme Gráfico 29. Analisando-se os problemas

existentes no setor, é frequente a ocorrência de mortalidade por conta de interrupções no

fornecimento, afetando, deste modo, a relação contratual entre produtor integrado e integrador.

Gráfico 29. Percentual sobre o custo operacional, desconsiderando financiamento e depreciação

Fonte: Avicultura Industrial (2016)

O objetivo deste questionamento é verificar como se desenvolve a solução este problema no

âmbito do sistema de integração, apurando eventual existência de divisão de responsabilidade

com o integrador e o tratamento dispendido pela distribuidora de energia. Em um primeiro

momento, serão analisadas as entrevistas realizadas no Estado de Santa Catarina, e a seguir no

Estado de São Paulo.

Energia; 27,50%

Mão de Obra; 25,27%Aquecimento; 10,69%

Investimentos; 9,52%

Cama e tratamento;

9,32%

Manutenção; 7,63%

Funrural; 3,34%

Seguro; 2%Geradores; 1,69%

Outros custos; 3,06%

Page 184: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

182

Tabela 10. Energia em Santa Catarina152

PROD MUN FREQUÊNCIA DE

INTERRUPÇÃO GERADOR MOTIVO PROBLEMAS

1 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

2 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Sim – 2013

Novo galpão: necessidade e

exigência

Queima de motor por

raio

3 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Sim – 2010

Novo galpão: necessidade e

exigência Não

4 Treviso Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

5 Treviso Algumas vezes ao ano Sim – 2007 Problemas anteriores Mortalidade por falta

de energia

6 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Sim

Novo galpão: necessidade e

exigência Não

7 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Sim

Novo galpão: necessidade e

exigência Não

8 Lauro

Müller Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

A responsabilidade pela distribuição de energia no município em que as entrevistas foram

realizadas é da Cooperativa de Eletrificação de Lauro Müller (COOPERMILA). Outros

munícipios da região organizam-se da mesma forma, tais como Treviso (CERTREL);

Forquilhinha (COOPERA); Içara (COOPERALIANÇA); Treze de Maio, Tubarão, Pedras

Grandes e Orleans (COORSEL).

No Município de Lauro Muller/SC, a concessão para distribuição de energia, até o início dos

anos de 1970, era da CIA Nacional de Mineração do Barro Branco, mas o cenário constatado

era de precariedade de atendimento na área urbana e falta de perspectiva para a ampliação do

sistema de distribuição na área rural. Desse modo, em 14 de dezembro de 1971, agricultores

reuniram-se e fundaram a Cooperativa de Eletrificação Rural de Lauro Müller – CERLAM.

No ano de 1972, iniciou-se uma série de obras para construção de redes de distribuição,

desenvolvida em parceria com o governo estadual. Em 1984, com a contínua ampliação das

redes, o município atingiu 85% de eletrificação da área rural. Já em 1985, por deliberação da

assembleia geral extraordinária, a cooperativa passou a ser mista, diversificando suas

atividades, incluindo o beneficiamento e comercialização de produtos agrícolas e comércio de

insumos e equipamentos destinados à produção rural, adotando a denominação social

Cooperativa Mista de Lauro Müller Ltda. – Coopermila.

152 Legenda: PROR: produtor; FREQUÊNCIA DE INTERRUPÇÃO: frequência de interrupção do fornecimento

de energia; GERADOR: propriedade possui gerador e ano em que foi adquirido; MOTIVO: motivo para aquisição

do gerador; PROBLEMAS: problemas relacionados com a falta de energia ou raios.

Page 185: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

183

No ano de 2006, a cooperativa adotou um programa de recuperação das redes de distribuição e

encerrou as atividade agregadas envolvendo o setor agrícola. A qualidade no fornecimento e

distribuição de energia pode ser verificada pela conquista do IASC Aneel (Índice de Satisfação

do Consumidor) nos anos de 2014, 2015 e 2017, além do segundo lugar em 2016.

Essa qualidade também é observada pelos avicultores. Notou-se uma melhora significativa nos

últimos anos, sem a verificação de problemas na produção decorrentes de interrupção no

fornecimento de energia elétrica. Mesmo assim, de acordo com o Presidente da Coopermila,

Alcimar Damiani De Brida, também avicultor e entrevistado na pesquisa, cerca de 90% dos

avicultores do município possuem gerador.

Na busca por melhores resultados na produção e com o avanço tecnológico, expandiu-se a

utilização do sistema dark house, a partir dos anos 2000. Em literal tradução, consiste em uma

casa escura, sem a entrada de luz natural dentro do aviário. Desse modo, luminosidade e

temperatura são melhores controladas e trazem diversas vantagens para a produção, como

observado pelo zootecnista Alfredo Lora Graña (2017): i) reduz o estresse das aves, melhorando

a qualidade de bem-estar animal; ii) reduz o tempo para abate em 5 dias; iii) reduz o índice de

mortalidade; iv) resulta em menor custo de alimentação; v) permite um maior adensamento de

frangos153; vi) melhora os parâmetros produtivos (ganho de peso e conversão alimentar); vii)

reduz a mão de obra, com a automatização do sistema.

Por outro, além do alto custo da instalação, esse sistema exige a presença de gerador de energia.

Em um aviário tradicional de cortinas, eventual falta de energia pode ser contornada com o

abaixamento das respectivas cortinas, controlando-se, assim a ventilação, a luminosidade e a

temperatura. Já em um sistema dark house, eventual interrupção no fornecimento irá resultar

na ausência total de iluminação e ventilação, ocasionando perda significativa do lote por

mortalidade. Por esse motivo, nos novos projetos, há exigência da presença de gerador. Porém,

mesmo nos aviários tradicionais, a existência de gerador passa a ser uma tranquilidade para o

avicultor.

153 Os antigos aviários possuíam capacidade, em geral para 15 a 20 mil aves. Já com a adoção do sistema dark

house, os novos aviários passaram a ter capacidade para 30 a 60 mil aves.

Page 186: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

184

A necessidade de uso do gerador na região, por seu turno, é esporádica, caracterizada como

algumas vezes ao ano. Durante o período de secas, os avicultores informaram que passam

praticamente 3 meses sem utilizá-lo. No período de chuvas a sua utilização é mais frequente,

em razão de interrupções do fornecimento da CELESC154 para a cooperativa. Raramente são

observadas interrupção na distribuição por problemas da Coopermila. Nesse sentido, no

município de Lauro Müller não se verificou, nos últimos anos, problemas de mortalidade

decorrente da problemas energéticos.

Observou-se, no município, apenas um problema decorrente de raio, com a queima de um motor

de equipamento do aviário de SC.2. O equipamento foi trocado e instalado para-raios no aviário,

para evitar novos casos. Destaca-se que nos sistemas automatizados, o para-raios compõe a lista

de equipamentos necessários, justamente por conta do risco de queima e perda de produção,

além de prejuízo financeiro direto pela queima do equipamento.

Já quanto aos problemas de mortalidade decorrentes de falta de energia, dentre os entrevistados,

foi constatado em um avicultor do Município de Treviso/SC. Nessa localidade, o sistema de

distribuição municipal também ocorre por meio de cooperativa, a CERTREL, fundada em 27

de maio de 1962, e conta com a participação de mais de 3.800 (três mil e oitocentos) pessoas

cooperadas.

SC.5 sofreu com a mortalidade de 4.000 (quatro mil) aves, correspondente a 20% de sua

capacidade de alojamento. Não houve compensação por parte do integrador. Por outro lado,

quanto à cooperativa de energia, houve acordo para ressarcimento parcial de seu prejuízo,

resultando em desconto nas faturas seguintes.

No Estado de São Paulo, por sua vez, os períodos de interrupção mais extensos também estão

adstritos ao período de chuva, porém, com uma maior frequência. Entretanto, os avicultores

observam que, mesmo no período de seca, há constante interrupção do fornecimento, mas por

breve período, que não requer o abaixamento das cortinas dos aviários tradicionais. Porém, os

avicultores que possuem gerador observam que o seu funcionamento é frequente, ainda que por

poucos minutos. A Tabela 11 apresenta um esquema das entrevistas realizadas na região.

154 CELESC: Centrais Elétricas de Santa Catarina, empresa responsável pela comercialização e distribuição de

energia elétrica para as cooperativas da região.

Page 187: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

185

Tabela 11. Energia em São Paulo

PROD MUN FREQUÊNCIA DE

INTERRUPÇÃO GERADOR MOTIVO PROBLEMAS

1 São Pedro Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

2 São Pedro Algumas vezes ao ano Sim Segurança e exigência Não

3 Brotas Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

4 Brotas Algumas vezes ao ano Sim Exigência Não

5 Charqueada Algumas vezes ao ano Sim Novo galpão: necessidade

e exigência Não

6 São Pedro Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Mortalidade por

curto-circuito

7 Brotas Algumas vezes ao ano Sim Novo galpão: necessidade

e exigência Não

8 São Pedro Algumas vezes ao ano Não Nunca teve necessidade Não

Dentre os avicultores entrevistados nessa região, apenas dois possuem aviários no sistema dark

house, sendo obrigatório a presença de gerador. Os demais, com estrutura tradicional, dividem-

se, sendo que 4 não possuem e 2 possuem. A ocorrência de mortalidade por falta de energia é

rara, com interrupções apenas algumas vezes ao ano.

Observa-se que os produtores de menor porte, com aviários de capacidade média de 12.000 a

15.000 aves, não possuem gerador. Isso se deve ao alto custo de instalação e por sua presença

constante na propriedade, caracterizada como agricultura familiar, possibilitando o

abaixamento das cortinas quando necessário. Os outros dois avicultores que possuem gerador,

em estrutura tradicional, apresentam capacidade aproximada de 20.000 aves. Entretanto, em

ambos os casos, a sua aquisição ocorreu por exigência do integrador, apesar de o conceberem

como uma segurança.

Nessa região, a responsabilidade de distribuição da energia elétrica é da Companhia Paulista de

Força e Luz – CPFL. Os produtores rurais informaram que pagaram pela instalação das redes

internas, e eram os responsáveis por sua manutenção, o que gerava constantes problemas. Nos

últimos anos, a CPFL encampou essas linhas, passando a ser responsável pela sua manutenção.

Com isso, observou-se uma significativa melhora na distribuição de energia.

Além disso, nas situações de interrupção do seu fornecimento, os avicultores relataram que

entram em contato com a companhia, por telefone, e informam que são proprietário de aviários.

Page 188: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

186

Com isso, a CPFL imediatamente presta assistência e a resolução do problema costuma ocorrer

rapidamente, não causando impactos negativos nas aves.

O único problema observado dentre os entrevistados ocorreu por conta de um curto-circuito no

sistema automatizado, resultando em incêndio e na morte de todo o lote. Nesse caso, não houve

compensação por parte do integrador, que extinguiu o contrato por descumprimento de

cláusulas. Por sua vez, a distribuidora de energia não efetuou o ressarcimento do prejuízo, pelo

fato ser resultado de falha interna do sistema do avicultor, e não de deficiência de seu

fornecimento. Com isso, o produtor rural abandonou a atividade avícola, restando, à época,

algumas parcelas a serem pagas relativas ao financiamento para a construção de seu aviário.

Desse modo, não se verificou nas entrevistas realizadas a participação do integrador na divisão

do ônus por problemas energéticos. Como responsável pelo desenvolvimento do ciclo

produtivo, o avicultor arca com todas as consequências decorrentes. Por outro lado, a

mortalidade também implica em perdas para o integrador, que forneceu os pintos de um dia e

os insumos, que não serão revertidos em aves para abate, diminuindo o seu volume de produção.

Nesse sentido, constantemente exige melhorias na estrutura dos aviários e a aquisição de

gerador, garantindo maior segurança a ambas as partes no desenvolvimento da criação das aves.

A presença de gerador, por sua vez, além de trazer segurança para a produção, apresenta-se

como argumento para afastar a concorrência de culpa do avicultor para eventuais problemas

energéticos. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, entendeu, em sede de apelação, que,

por se tratar de atividade empresarial organizada para a produção em série e de forma

profissional, a identificação, no caso concreto, de falta de manutenção e equipamentos de

segurança necessários para a preservação da energia implica em verificação de culpa

concorrente entre o produtor integrado e a distribuidora de energia155.

Por fim, quanto à distribuidora de energia, averiguou-se a realização de acordo para

ressarcimento parcial dos prejuízos causados ao avicultor. Entretanto, não é sempre que isso

ocorre, observando-se, com frequência, a necessidade de buscar o Poder Judiciário para o

recebimento de indenização por perdas e danos. O posicionamento observado nos Tribunais de

Justiça do Estado de Santa Catarina e de São Paulo é de responsabilização da distribuidora por

155 TJSP, Apelação n. 1000996-64.2016.8.26.0084, Relator Desembargador Alberto Gosson, d.j. 01/06/2016.

Page 189: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

187

danos materiais em razão de interrupção no fornecimento de energia, quando resultar em

prejuízo ao produtor integrado, principalmente quanto à mortalidade de aves156.

4.3.3.6 Seguro

O contrato de seguro é definido por Pedro Alvim (1986, p. 113) como “aquele pelo qual o

segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de

pagamento de uma prestação, se ocorrer o risco a que está exposto”. O seu regramento consta

dos artigos 757 e seguintes do Código Civil (BRASIL, 2002).

O PL n. 4378/1998 (BRASIL, 1998), primeiro projeto apresentado sobre o sistema de

integração, previa em seu artigo 3º, II, como direito dos produtores integrados seguros

obrigatórios com prêmios pagos pela agroindústria, englobando apólice de vida e de cobertura

de prejuízos decorrentes de caso fortuito ou força maior que afetem o resultado do

empreendimento contratado. Já o PL n. 3979/2008 (BRASIL, 2008), no artigo 3, § 3º, manteve

a previsão da obrigatoriedade do seguro para cobertura de eventos que poderiam comprometer

o resultado do empreendimento contratado, sob responsabilidade da agroindústria, vedando-se

o repasse do custo do prêmio ao produtor rural integrado.

Esses dois primeiros projetos caracterizaram por garantir uma maior proteção ao produtor

integrado, entretanto, essa lógica não foi reproduzida nos demais projetos e na Lei n.

13.288/2016 (BRASIL, 2016). Desse modo, caso seja de interesse do avicultor, o seguro deve

ser diretamente contratado em seguradoras privadas ou públicas que disponibilizem seguro

pecuário, abrangendo riscos de mortalidade das aves. Porém, pelo que se observou na

156 APELAÇÃO. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.

SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DA REQUERIDA. CELESC. CONCESSIONÁRIA

DE SERVIÇO PÚBLICO. PRODUÇÃO DE AVICULTURA. INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE

ENERGIA ELÉTRICA. MORTE DE FRANGOS EM NÚMERO EXPRESSIVO. PREJUÍZO AO PRODUTOR.

LAUDO TÉCNICO UNILATERAL. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA DESTA

CORTE QUE CONCLUIU PELA POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA REFERIDA PROVA QUANDO

AUSENTE IMPUGNAÇÃO PONTUAL E CONCRETA. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO

ENUNCIADO VIII DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO PÚBLICO. RESPONSABILIDADE CIVIL

OBJETIVA. INEXISTÊNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE. FALHA NA

PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CARACTERIZADA. DEVER DE INDENIZAR. DANOS MATERIAIS

DEVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação n.

0000624-73.2014.8.24.0015, Relator Desembargador Rubens Schulz, d.j. 08/06/2017).

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENERGIA ELÉTRICA – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MATERIAIS E MORAIS – INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO – DANOS MATERIAIS E NEXO DE

CAUSALIDADE COMPROVADOS – INDENIZAÇÃO DEVIDA – RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, Apelação

n. 0005462-89.2013.8.26.0451, Relator Desembargador Francisco Thomaz, d.j. 27/05/2015)

Page 190: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

188

entrevistas, a sua aquisição é rara entre os avicultores, por conta, principalmente, da não

necessidade e da baixa proporção da indenização.

Dentre os entrevistados, apenas SC.4 adquiriu seguro para produção de frango, durante um

período de 22 anos. No ano de 2018, entretanto, não o renovou, pois foi informado pelo

integrador que o contrato de integração não teria continuidade, estando produzindo apenas os

lotes respectivos ao aviso prévio. O seguro foi contratado mediante corretor, de companhia

seguradora privada, sem qualquer participação do integrador. Informou que nunca precisou

utilizar, mas manteve a contratação como uma garantia, tendo confiança em poder utilizar

quando necessário. A cobertura envolvia construção, equipamentos e aves.

Por outro lado, os outros 15 entrevistados nunca adquiriram seguro para a produção de aves.

Não se considerou, neste caso, seguros de implementos, veículos e construção, tampouco

seguros obrigatórios no caso de financiamento para o custeio da atividade. O objeto de análise

deste item é o seguro pecuário, ou seja, destinado à proteção da produção e dos animais.

Dentre os principais motivos apontados pelos entrevistados, destacam-se a falta de necessidade

ao longo do tempo em que se dedica à atividade, a baixa proporção da indenização e a excessiva

burocracia para o seu recebimento quando da materialização do risco segurado, conforme

demonstra o Gráfico 30. Considerou-se para análise as respostas os motivos indicados de modo

espontâneo pelos entrevistados.

Gráfico 30. Razões para não adquirir o seguro.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Nunca precisou Baixa indenização Prêmios elevados Não sabia que

existia

Ninguém ao redor

adquire

Nunca considerou

SP SC

Page 191: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

189

O principal motivo argumentado pelos entrevistados é quanto à falta de necessidade de se

adquirir seguro para cobrir a produção, ou seja, relativo às aves propriamente ditas. O principal

custo da produção diz respeito à estrutura e equipamentos, cobertos por seguro específico. Além

disso, os casos de mortalidade excessiva são raros, em razão do constante controle exercido

pelo integrador. No mais, a consequência para o avicultor é apenas o não recebimento do lote,

não tendo, em contrapartida, realizado investimentos significativos diretamente na produção

das aves, ao contrário do que ocorre com outras atividades agropecuárias, uma vez que esses

custos são de responsabilidade do integrador.

O segundo argumento verificado diz respeito às parcelas pagas como prêmio e a indenização

resultante da ocorrência do sinistro. Nesse sentido, os avicultores entendem que o seguro para

produção não compensa. Os prêmios são elevados em razão da baixa indenização, além da

exagerada burocracia para o seu recebimento, pois não são todas as causas de mortalidade

garantidas pelo contrato157. Além disso, em São Paulo foi apontado como causa o

desconhecimento sobre a existência do seguro, o fato de que os produtores ao redor não

adquirem e ainda nunca ter considerado a sua contratação.

Pode-se concluir quanto ao seguro pecuário, que a sua não contratação decorre sobretudo do

não investimento direto na produção por parte do avicultor. No sistema de integração, o

investimento nos pintos de um dia, ração, medicamentos e vacinas é de responsabilidade do

integrador. Assim, em caso de mortalidade, o produtor integrado não irá receber o respectivo

valor pelo lote, mas, no entanto, não resultará em perda de investimento direto, como ocorre,

por exemplo, na soja e na criação de gado de corte, ou em diversas outras atividades

agrossilvipastoris.

Os riscos de mortalidade são reduzidos com o controle direto do integrador, bem como em

razão do seu fornecimento de insumos e assistência técnica e veterinária. Por conta disso, as

opções existentes de seguro pecuário não compensam ao produtor integrado, em razão do

elevado custo, da baixa indenização paga e da não cobertura de todas as hipóteses de morte das

aves, além das dificuldades de seu recebimento.

157 As condições gerais de seguro pecuário da Mapfre (2014, p. 7), em vigência no ano de 2018, por exemplo,

prevê como hipóteses de cobertura para morte das aves decorrentes de: doença de caráter não epidêmico; incêndio,

raio, insolação e eletrocussão; fenômenos meteorológicos (alagamento, tempestades, etc.); e asfixia por

sufocamento ou submersão.

Page 192: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

190

4.4 ANÁLISE DE INSTRUMENTOS CONTRATUAIS

Neste item, serão analisadas questões relativas ao contrato de integração para a produção de

frangos de corte. O objetivo deste estudo é exploratório, mediante análise documental de

instrumento contratual, com a finalidade de verificar os impactos jurídicos da tipificação do

contrato de integração para o setor avícola. Para tanto, serão estudadas de forma integrada as

cláusulas de três instrumentos contratuais, comparando-se o seu conteúdo com as disposições

trazidas pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016). Além disso, quando cabível, far-se-á um

estudo comparativo com as disposições legais dos contratos agrários típicos, de arrendamento

e parceria, constantes do Estatuto da Terra (BRASIL, 1964) e do decreto que o regulamenta

(BRASIL, 1966).

Os contratos analisados são anteriores à edição da Lei n. 13.288/2016, pois não foi possível o

acesso a contratos posteriores. Isto, porque, nas duas regiões analisadas, os avicultores não

recebem cópia do contrato depois de realizada a assinatura, o que dificulta o acesso para estudo.

Dessa forma, o acesso foi possível por meio da Associação dos Avicultores do Sul Catarinense,

que forneceu os três em análise. Entretanto, atualmente, a principal agroindústria atuante na

região, após a incorporação das demais, é a JBS, que não celebrou novo contrato após a

promulgação da Lei n. 13.288/2016. Como os contratos são celebrados por prazo

indeterminado, eles ainda encontram-se em vigência158. Tal situação não resulta em prejuízo

para o estudo, pois nas entrevistas identificou-se que não houve mudanças significativas na

estrutura dos contratos nos últimos anos.

Conforme observado, na região analisada do Estado de Santa Catarina, não houve a celebração

de novo contrato após a edição da Lei n. 13.288/2016, continuando em vigência o último

assinado, no ano de 2016. O veto presidencial ao parágrafo único do artigo 14159, que

determinava a adequação contratos no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, possibilitou a

manutenção dos contratos anteriores sem a incidência das novas disposições legais. Como são

158 Os contratos de integração na avicultura são celebrados por prazo indeterminado, mas, usualmente, renovados

a cada ano. 159 O Presidente da República, Michel Temer, vetou o parágrafo único do artigo 14 seguindo manifestação da

Advocacia-Geral da União pela inconstitucionalidade da determinação de prazo de 180 dias para adequação dos

contratos de integração em vigor, por violar o ato jurídico perfeito, garantia prevista no artigo 5º, XXXVI, da

Constituição Federal (BRASIL, 1988). Ver item 3.5.14.

Page 193: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

191

celebrados por prazo indeterminado, a agroindústria poderá optar, desse modo, por adequar-se

às regras na nova legislação ou manter o contrato atual, bastando, para isso, a sua continuidade,

com prazo indeterminado.

Esse fato representa um enfraquecimento do referido diploma em estudo, na medida em que a

sua adoção, na prática, torna-se facultativa, determinada exclusivamente pelo integrador.

Eventuais descumprimentos da lei não poderão ser reclamados pelos avicultores, pois não

obrigatórios aos contratos anteriores que mantiveram sua vigência.

Para o estudo deste item, portanto, analisar-se-á três instrumentos contratuais, conforme

demonstrado na Tabela 12, oriundos de três agroindústrias distintas, com objetivo de

terminação de frangos de corte. A terminação de frangos de corte pode ser descrita como um

conjunto de procedimentos de engorda e criação de aves até a sua retirada para o abate. Nesse

sistema, de modo geral, a agroindústria é responsável pelo fornecimento de pintos de um dia,

ração, medicamentos, assistência veterinária e transporte para o abate, ao passo que o avicultor

fica responsável pelo manejo da criação.

Tabela 12. Contratos analisados160.

Cod. Agroindústria Ano Nomenclatura

A BRF S.A. 2013 Instrumento particular de contrato de produção

integrada em terminação de frangos de corte

B JBS Aves Ltda. 2016 Instrumento particular de contrato de integração

para frangos de corte

C Agrovêneto S.A. 2012 Frangos de corte

O Contrato A é relativo à BRF S.A., resultado da unificação das operações da Perdigão

Agroindustrial S.A. e da Sadia S.A., no ano de 2009, que passou a operar com identidade

corporativa única no ano de 2013. Desde a unificação, colocou-se como a maior exportadora

de carne de frango do Brasil (ABPA, 2017, p. 22), atendendo mais de 150 países, com um

volume global de abate de 1,715 bilhões de aves no ano de 2016. Mantém, atualmente, contrato

de integração com mais de 13 mil produtores integrados, envolvendo o suprimento de suínos,

160 Os contratos analisados encontram-se no Anexo deste trabalho: Contrato A, BRF S.A. - Anexo A; Contrato B,

JBS Aves Ltda. - Anexo B; Contrato C, Agrovêneto S.A. - Anexo C.

Page 194: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

192

aves e ovos, em noves estados no Brasil161, além de atuar na Argentina e na Tailândia, sob o

mesmo sistema de produção (BRF, 2017, p. 127)

A BRF identificou em seu Relatório Anual e de Sustentabilidade 2016 (BRF, 2017, p. 56)

alguns riscos que se relacionam diretamente ao sistema de integração, que podem impactar a

relação contratual com os produtores integrados:

i) Controle sanitário: notificações oficiais de violações, restrições temporárias às

importações e embargos como consequência do não cumprimento das legislações

aplicáveis ao mercado em questão;

ii) Segurança dos alimentos: problemas ligados à qualidade dos nossos produtos que

causam impacto negativo na saúde de consumidores.

iii) Cadeia de fornecedores: casos de não conformidade social e ambiental, falhas nos

processos de suprimento e problemas em serviços e matérias-primas

Como resposta a esses riscos, indica soluções para mitigação que influem na relação contratual.

Quanto ao controle sanitário, a mitigação deve ocorrer com o monitoramento e controle de

princípios de qualidade aplicáveis à cadeia produtiva envolvendo os produtores integrados; já

quando à segurança dos alimentos, há previsão de cláusulas de cumprimento de padrões de

qualidade nos contratos de integração; por fim quanto à cadeia de fornecedores, adota um

programa de monitoramento da cadeia, com visita mensal dos técnicos de extensão, avaliação

de sustentabilidade162 e premiação individual pelo atendimento do índice de conformidade

(BRF, 2017).

Por sua vez, o Contrato B é instrumento oriundo da JBS Aves LTDA., segmento da JBS S.A.,

qualificada como a maior produtora de proteína animal do mundo e a segunda maior empresa

de alimentos do planeta. É líder de produção mundial nos principais segmentos de atuação:

carne bovina, couros, frango e frango orgânico, além de ocupar a vice-liderança na produção

de carne suína e ovina. Atuante em mais de 150 países, possui mais de 400 unidades, com

capacidade de processamento diário de 80 mil bovinos, 14 milhões de aves e 115 mil suínos

(JBS, 2018).

161 Região de atuação da BRF em sistema de integração para produção de aves, suínos e ovos: Distrito Federal,

Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. 162 A avaliação de sustentabilidade envolve “30 questões ligadas a aspectos de qualidade, ambientais (gestão

ambiental, trabalhistas e de direitos humanos (gestão social) e econômicos” (BRF, 2016, p. 133)

Page 195: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

193

A JBS ingressou no mercado de aves no ano de 2012, com o arrendamento dos ativos da Doux

Frangosul e com a aquisição da Agrovêneto. Já em 2013, expandiu sua operação com o aluguel

das unidades da Tramonto Alimentos e com a aquisição da Seara, o que a transformou na maior

processadora de frango no mundo. No Brasil, possui 29 unidades de processamento de aves e

14 centros de distribuição, divididos em onze estados, com abate, no ano de 2017, de 1,2 bilhões

de cabeças de aves, em produção realizada exclusivamente por sistema de integração.

No Relatório Anual e de Sustentabilidade 2017, aponta como um dos principais riscos na sua

atuação a aquisição de matéria-prima oriunda de fornecedores envolvidos com desmatamento,

invasão de áreas protegidas, utilização de trabalho infantil e análogo à escravo, ou produtos que

possam oferecer risco à saúde dos consumidores (JBS, 2018, p. 49). Para mitigar tais riscos,

especificamente na produção de aves, realiza visitas periódicas e auditorias nos produtores

integrados para garantir a boa prática da produção em conformidade com os critérios

estabelecidos.

Por fim, o Contrato C origina-se da extinta Agrovêneto S.A., agroindústria integradora

localizada no município de Nova Veneza/SC, adquirida pela JBS no ano de 2012163. A

Agrovêneto possuía uma capacidade de abate diária de 140 mil aves, mas atuava com ocupação

de 50% de sua capacidade, além de acumular dívidas no montante de 118 milhões de reais.

(VEJA, 2012). A situação da Agrovêneto, assim como da Tramonto, outra integradora

absorvida pela JBS, foi agravada com a crise do preço do milho no ano de 2012, que impactou

o preço da ração e os custos de produção. Segundo o presidente da Federação da Agricultura

do Estado de Santa Catarina, José Zeferino Pedrozo, a falta de capital de giro das empresas fez

com que não conseguissem enfrentar a crise (DC, 2016).

O estudo de seu contrato mantém importância para se verificar a evolução da complexidade dos

instrumentos contratuais ao longo dos anos, além de ser exemplo de contrato de integrador de

menor porte, quando comparado com a BRF e JBS, as duas maiores agroindústrias do setor no

país.

163 A Agrovêneto foi a primeira aquisição da JBS no setor de aves no Brasil, no mês de novembro de 2012. A

compra de 100% dos ativos da Agrovêneto foi fechada por 128 milhões de reais. Anteriormente, em maio de 2012,

a JBS havia arrendado três unidades da Doux Frangosul, iniciando-se, assim, a sua trajetória para se tornar a maior

processadora de aves do mundo.

Page 196: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

194

Destaca-se que os Contratos A e B são instrumentos genéricos, sem a inserção de dados

particulares dos produtores integrados. Já quanto ao Contrato C, trata-se de cópia de contrato

de um avicultor específico, motivo pelo qual as informações pessoais foram suprimidas do

instrumento constante no Anexo C.

4.4.1 Objeto e Finalidade

A finalidade do contrato de integração, assim como os contratos agrários típicos de

arrendamento e parceria, é garantir o suprimento de matéria-prima à agroindústria. Entretanto,

como observado na Figura 3, do ponto de vista organizacional, os contratos de arrendamento e

parceria pertencem à T0, uma vez que o objeto transacionado é a terra. Nesse caso, haveria a

integração vertical propriamente dita da produção, pois a agroindústria fica responsável por

todo o ciclo produtivo.

Figura 3. Sistema produtivo típico do agronegócio (simplificado)

Insumos

T0

Produtor

T1

Indústria

Processadora

de Alimentos

T2

Distribuidor

T3

Consumidor

Final

Fonte: ZYLBERSZTAJN (2005).

Por sua vez, o contrato de integração pode ser caracterizado como híbrido, pois envolve as

transações T0 e T1. O objeto principal do contrato é o produto agropecuário, ou seja, a aquisição

de frangos de corte para o abate, por isso T1. Entretanto, diferentemente de um simples contrato

de fornecimento, em que os insumos ficam a cargo exclusivo do produtor rural, nesse método,

a produção ocorre em um sistema integrado, em que a agroindústria participa no oferecimento

dos insumos (T0) e na aquisição da produção (T1), restando ao produtor integrado o

desenvolvimento do ciclo produtivo.

Desse modo, pode-se observar que o contrato de integração ultrapassa a definição de um

contrato de compra e venda ou de fornecimento, pois envolve além da obrigação de dar,

obrigações de fazer. Nesse sentido, no estudo sobre a sua natureza jurídica, Nunziata Paiva

(2009, p. 193), aponta dificuldades de sua qualificação em razão da multiplicidade de faces de

Page 197: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

195

que se reveste, concluindo pela caracterização de categoria contratual autônoma, afastando-se

das categorias contratuais típicas previstas no ordenamento jurídico brasileiro.

O modelo de produção avícola apresenta uma tendência histórica de organização em um sistema

integrado, no qual a agroindústria não é proprietária dos aviários, transferindo aos avicultores

a responsabilidade pelo desenvolvimento da produção. Esse modelo é adotado

fundamentalmente em todo o sistema de produção de aves do Brasil, sendo um dos fatores

responsáveis pelo crescimento do setor nas últimas décadas.

Essencialmente, o integrador é responsável pelo fornecimento de pintos de um dia, ração,

vacinas, medicamentos e assistência técnica de manejo, condições sanitárias e veterinárias,

obrigando-se a receber toda a produção, ao passo que o produtor integrado fica responsável

pelo desenvolvimento da criação das aves em sua propriedade, bem como dos custos relativos

a essa atividade, recebendo, como remuneração, um percentual da produção entregue ao

integrador.

O sistema de integração apresenta como principal vantagem a redução dos custos de produção

e dos custos de transação, aperfeiçoando a coordenação do ciclo produtivo, na medida em que

mitiga os riscos relacionados à oscilação de preços e à oferta de matéria-prima. Destaca-se,

assim, como principal vantagem ao produtor integrado a garantia de preço em troca da entrega

completa da produção.

Desse modo, antes mesmo do início do desenvolvimento do ciclo biológico, o produtor

integrado possui garantia de venda, sem a preocupação de buscar comprador e preço durante o

manejo de produção. Já quanto ao integrador, assegura a qualidade e a quantidade de matéria-

prima necessária, logrando um melhor planejamento, sem a obrigação de investir na atividade

de produção agrossilvipastoril.

Entretanto, o sistema de integração também proporciona desvantagens às partes, mas sobretudo

para os produtores integrados. A principal objeção é quanto ao baixo valor pago pelo integrador.

Além disso, com a exclusividade prevista no contrato, são obrigados a entregar toda a sua

produção, impossibilitando a busca de melhores preços no mercado spot164. O integrador, por

164 Spot possui o significado de instantâneo, imediato. Desse modo, o mercado spot é caracterizado por transações

em que a entrega da mercadoria é imediata e o pagamento é feito à vista, ou seja, em curto prazo. A entrega de

Page 198: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

196

sua vez, corre o risco quanto à quantidade e qualidade da matéria-prima, pois, apesar de exercer

controle, não é o responsável direto pela produção.

4.4.2 Partes

O instrumento contratual de integração vertical é celebrado por duas partes. Seguindo a

terminologia adotada pelo artigo 2º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), temos de um lado

o produtor integrado, responsável pelo recebimento dos insumos, desenvolvimento do ciclo

produtivo e entrega da produção, e de outro lado o integrador, responsável pelo fornecimento

dos insumos e recebimento do produto final. A vinculação entre as partes ocorre por meio do

contrato de integração.

O contrato deve estipular a sua finalidade, as respectivas atribuições das partes, os

compromissos financeiros, os deveres sociais, os requisitos sanitários, as responsabilidades

ambientais, entre outros que regulem o relacionamento entre os sujeitos do contrato, conforme

disposto no inciso IV do artigo 2º.

Quanto à situação jurídica das partes, de acordo com o previsto no artigo 2º da Lei n.

13.288/2016, podem ser pessoa física ou pessoa jurídica. É mais comum a caracterização da

agroindústria como pessoa jurídica, em razão da dimensão da atividade desenvolvida e da

necessidade de organização para o suprimento de insumos dentro da cadeia produtiva. Por outro

lado, quando ao produtor integrado, apresenta-se geralmente como pessoa física, sobretudo no

sistema de integração avícola, marcado principalmente por agricultores familiares ou pequenos

e médios produtores.

Quanto à terminologia adotada, esta pode variar a depender do contrato, mas, essencialmente,

representa a definição legal de produtor integrado (ou integrado) e integrador. A Tabela 13

apresenta a nomenclatura utilizada nos três contratos analisados.

produto é única, por tempo limitado. Também pode ser denominado mercado disponível, mercado físico ou

mercado pronto. Desse modo, contrapõe-se com a ideia de contratos de longa duração e com os mercados futuros

e a termo (IPEA, 2006).

Page 199: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

197

Tabela 13. Nomenclatura das partes

A B C

Produtor integrado Integrado Integrado Produtor I

Integrador BRF Integradora Produtor II

Dentre os contratos analisados, a opção do Contrato C por “Produtor I” e “Produtor II” pode

trazer confusão ao produtor integrado, principalmente no que tange à distribuição das

obrigações. Desse modo, acertada a opção de A e B pela utilização da denominação social da

agroindústria e pela escolha dos termos apresentados na Lei, respectivamente, evitando

imprecisões quanto às responsabilidades das partes.

4.4.3 Obrigações das Partes

A distribuição das obrigações entre as partes decorre da lógica do sistema de integração, pois,

de modo geral, o integrador responsabiliza-se pelo fornecimento dos “pintos de um dia” e dos

respectivos insumos necessários para o desenvolvimento da produção, tais como ração,

medicamentos, vacinas, defensivos agrícolas, além de orientação técnica, ao passo que o

produtor integrado obriga-se ao manejo de criação das aves, juntamente com as despesas

necessárias, além de respeitar as determinações técnicas do integrador. Nos itens a seguir serão

analisados de modo aprofundado as obrigações das partes previstas nos contratos em estudo.

Ressalta-se que a Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) não determina quais devem ser as

obrigações das partes, apenas que o contrato, sob pena de nulidade, deverá dispor sobre as

responsabilidades e as obrigações do integrador e do produtor integrado no sistema de

produção, conforme inciso primeiro do artigo 4º165.

4.4.3.1 Obrigações do integrador

O contrato pode trazer de modo detalhado ou genérico quais são as obrigações do integrador,

mas mantém-se a estrutura básica de distribuição de obrigações do sistema de integração. A

Tabela 14 representa as principais obrigações contidas nos contratos analisados, que são

resultantes da organização em um sistema integrado.

165 Ver item 3.5.5.

Page 200: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

198

Tabela 14. Principais obrigações do integrador.

A B C

Fornecimento de pintos de um dia X X X

Fornecimento de ração X X X

Orientação técnica e/ou fornecimento de medicamentos,

vacinas, inseticidas, raticidas e demais aditivos e

insumos, sob orientação técnica do Integrador

X X X

Carregamento das aves (apanha) X X

Transporte X X X

Pesagem dos frangos vivos no abatedouro X X X

Pagamento pela produção X X X

De acordo com a natureza do sistema de integração, o integrador fica responsável pelo

fornecimento de pintos de um dia, de ração, de medicamentos, vacinas e outros aditivos e

insumos, além da prestação de assistência técnica quanto ao manejo, condições sanitária e

veterinárias, obrigando-se a receber toda a produção, pagando, ao final, o percentual relativo à

participação do produtor integrado.

Por outro lado, a responsabilidade pelas atividades de apanha166, carregamento e transporte das

aves podem ser divididas em razão dos interesses das partes. Por conta das particularidades e

da sazonalidade de tais atividades, é comum a contratação de empresas especializadas, ficando

tal atribuição a cargo do integrador. Entretanto, como pode ser observado na Tabela 14, os

contratos A e B determinam que tais atividades são de responsabilidade do integrador, ao passo

que o Contrato C transfere a responsabilidade pela apanha e pelo carregamento ao produtor

integrado, restando apenas o transporte das aves ao abatedouro como obrigação do integrador.

4.4.3.2 Obrigações do produtor integrado

Da mesma forma que o verificado no item 4.4.3.1, o contrato pode trazer as obrigações do

produtor integrado de forma mais detalhada ou apenas genericamente. Entretanto, em razão da

estrutura do sistema de integração, a essência é mantida nos três contratos analisados, conforme

Tabela 15.

166 O Contrato A define apanha como ato de apanhar (recolher) os frangos de corte vivos na Granja, bem como

seu carregamento em veículos e condições apropriadas ao transporte até o local de abate.

Page 201: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

199

Tabela 15. Principais obrigações do produtor integrado.

A B C

Criação das aves e despesas respectivas X X X

Retornar a quantidade de aves fornecidas X X X

Utilizar medicamentos, vacinas, inseticidas, raticidas e

demais aditivos fornecidos e sob orientação técnica do

Integrador

X X X

Cumprimento de leis e regulamentos pertinentes à

proteção do meio ambiente X X

Seguir normas e instruções técnicas de qualidade X X

Permitir o livre acesso às instalações para assistência

técnica e veterinária X X X

Higienização dos aviários X X

Seguir orientações técnicas higiênico-sanitárias X X X

Seguir o procedimento pré-abate X X

Apanha X

A principal obrigação do produtor integrado é a criação das aves, responsabilizando-se,

também, pelas despesas relacionadas, tais como: mão de obra própria ou de terceiros, limpeza

e desinfecção dos aviários, energia elétrica, seguros, manutenção, licenciamento ambiental,

cama167 do aviário, água, lenha, gás e demais insumos. Após atingir a situação ideal para abate,

conforme programação do integrador, o produtor integrado compromete-se a entregar em igual

número ao recebido, toda a produção obtida em seu aviário, que deve ser em igual número às

aves recebidas, excetuadas as mortes ocorridas ao longo do processo de criação.

Em razão da crescente preocupação com questões sanitárias, ambientais e de qualidade do

produto final, os produtores integradores devem assegurar perfeitas condições de higiene,

salubridade e segurança, além de utilizar apenas as rações, medicamentos, vacinas, inseticidas

e demais aditivos e insumos fornecidos ou receitados pelo integrador, sob sua orientação

técnica, sendo vedada a sua destinação para outros fins ou sua cessão a terceiro e proibida a

aquisição sem expressa autorização por escrito.

167 Conforme definição da EMBRAPA (1992, p. 5), a cama do aviário corresponde ao material utilizado para servir

de leito aos animais, e tem como objetivo “permitir a absorção de água, proporcionar um ambiente confortável às

aves, evitando o contato com o piso frio e duro, e incorporar as excretas e penas residuais” (AGROCERES, 2016,

p. 2-3). Atualmente, diversos são os materiais utilizados, tais como: maravalha de madeira; serragem; cascas de

arroz, amendoim, café e feijão; sabugo de milho triturado; palhadas de culturas em geral, como palhas de arroz,

trigo, cevada, centeio, milho, feijão, soja; e fenos de gramíneas, como capim gordura, Napier, braquiária e

colonião.

Page 202: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

200

Essas disposições alinham-se com o previsto nos Relatórios Anuais e de Sustentabilidade dos

dois integradores (BRF, 2017; JBS, 2018), em razão da preocupação com questões ambientais,

sanitárias e de saúde animal. O principal objetivo é evitar sanções à exportação aplicadas a

unidades de processamento dos integradores por problemas sanitários e de contaminação da

carne168.

De modo a garantir a fiscalização do cumprimento das obrigações ambientais e sanitárias, o

produtor integrado deve permitir o livre acesso às instalações de técnicos do integrador,

executando, também, assistência técnica e veterinária. Além disso, o Contrato A contém a

previsão de análise de resíduos entre os lotes, responsabilizando exclusivamente o produtor

integrado se verificado resíduo decorrente de produto não receitado pelos técnicos e veterinários

do integrador, ensejando a extinção imediata do contrato, sem aviso prévio, respondendo por

perdas e danos, se houver. Essa consequência também será aplicada para demais

descumprimentos das obrigações sanitárias.

O artigo 10 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) limitou a responsabilidade ambiental do

integrador. Ele será responsável de modo concorrente quando definir as tecnologias

empregadas ou supervisionar a sua adoção. Porém, quando o dano ambiental resultar de adoção

de conduta contrária ou diversas às suas recomendações técnicas, a responsabilidade será

exclusiva do produtor integrado169.

Após o desenvolvimento do ciclo de criação, quando as aves estiverem prontas para o abate, o

integrador deverá informar ao produtor integrado sobre a programação de retirada dos aviários,

para que se inicie o procedimento pré-abate, consistente no jejum do frangos, para posterior

apanha, carregamento e transporte ao abatedouro.

Por fim, como exposto no item anterior, a apanha e o carregamento podem ficar sob

responsabilidade do integrador ou do produtor integrado, conforme disposição contratual.

Frequentemente, tem-se tal obrigação atribuída ao integrador, que costuma terceirizar o serviço

para empresas especializadas. Já o transporte, da mesma forma, depende de ajuste contratual,

168 Em abril de 2018 a Comissão Europeia vetou exportações de 20 frigoríficos brasileiros por deficiência no

controle de salmonela, sendo 12 pertencentes BRF, em decorrência da Operação Trapaça, terceira fase da Operação

Carne Fraca, investigação desenvolvida pela Polícia Federal, com início em 17 de março de 2017, envolvendo

acusações de adulteração de carne. 169 Ver item 3.5.9.

Page 203: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

201

mas recai, conforme análise dos contratos, ordinariamente ao integrador, que também costuma

terceirizar a atividade. Observa-se que, nas duas situações, eventuais descumprimentos de

obrigações trabalhistas com responsabilização do tomador de serviço deverão ser imputadas ao

integrador, e não ao produtor integrado, por ser o responsável e beneficiário da terceirização.

4.4.3.3 Propriedade dos insumos

O artigo 8º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) determina que as máquinas e equipamentos

fornecidos ao produtor integrado pela agroindústria integradora permanecerão de sua

propriedade, devendo-lhe ser restituídos, salvo na hipótese de previsão contrataria no contrato

de integração. Nos contratos analisados e nas entrevistas realizadas, não se observou a cessão

de máquinas e equipamentos do integrador para o produtor integrado, apenas o fornecimento

de insumos de produção, como pintos de um dia, ração, medicamentos, raticidas e inseticidas.

Nessas situações, os três contratos mantinham sobre propriedade do integrador todos os bens

fornecidos ao produtor integrado para o desenvolvimento do ciclo produtivo. No caso dos

animais, não se observou a transferência de propriedade para o produtor integrado, conforme

disposto no artigo 8º, § 2º, da Lei n. 13.288/2016. A distribuição prevista no contrato possui a

finalidade de determinar o valor devido ao produtor integrado, em um percentual do resultado

da produção.

Essa condição está demonstrada na Tabela 16, que apresenta a distribuição de propriedade dos

insumos de acordo com os contratos analisados.

Tabela 16. Propriedade dos insumos.

A B C

Propriedade dos insumos Integrador Integrador Integrador

Produtor integrado Fiel depositário Fiel depositário Fiel depositário

Cláusula 3.2. 2ª, §6º 9ª

Como fiel depositário, o produtor integrado assume todas as responsabilidades advindas desta

condição, considerando as disposições do depósito voluntário nos artigos 627 a 646 do Código

Civil (BRASIL, 2002).

Page 204: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

202

Desse modo, o produtor integrado obriga-se a zelar e cuidas dos insumos e das aves, não

podendo dispor para terceiros, devendo restituir ao integrador quando solicitado, conforme

previsão contratual e no artigo 629 do Código Civil170. Além disso, o Contrato A traz

expressamente a proibição de onerar com penhor ou alienação fiduciária, dar em pagamento ou

qualquer outro tipo de alienação ou operação com terceiros. Diante disso, mesmo ausente

previsão legal, fica o produtor integrado impossibilitado de utilizar os bens depositados para os

citados fins, por conta da natureza em que os recebe, depósito para guarda até que o depositante

o reclame.

Por sua vez, o artigo 640 do Código Civil obsta ao depositário, sem licença expressa do

depositante, servir-se da coisa depositada, nem a dar em depósito a outrem. Assim, a utilização

de aves para consumo próprio deve constar expressamente do contrato, sob pena de

responsabilidade do produtor integrado por perdas e danos. Dentre os contratos analisados,

apenas o Contrato A prevê a possibilidade de consumo próprio, limitado a 20 frangos por lote,

conforme cláusula 3.3171. Nos demais, para fins de cálculo de produção, serão considerados

como mortos, pois haverá uma diferença entre o número de aves alojadas e retiradas para abate,

implicando no cálculo da viabilidade da produção e, a depender do caso, na conversão

alimentar, pois essas aves consumirão ração e não terão o peso contabilizado ao final.

Entretanto, em razão do baixo percentual em relação ao total de aves alojadas, não resultará em

um impacto significativo.

Essa disposição encontra autorização na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016), no parágrafo

terceiro do artigo 8º, que prevê a possibilidade de ajuste contratual permitindo o consumo

próprio familiar, exceto para os setores que necessitem de serviços de inspeção para o consumo

próprio172.

170 Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que

costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o

depositante (BRASIL, 2002). 171 Contrato A. Cláusula 3.3. É facultado ao(s) INTEGRADO(S), utilizar para consumo próprio, no máximo, a

quantia de 20 (vinte) frangos da sua cota parte em cada lote de frangos alojados. Neste caso, a quantidade de

frangos será informada previamente à BRF, registrando-se os eventos em ficha própria fornecida pela BRF, Será

de responsabilidade do(s) INTEGRADO(S) a observância de todas as condições e procedimentos necessários ao

abate dos frangos consumidos, inclusive no que diz respeito às condições de biossegurança (segurança das

pessoas), biosseguridade (segurança dos animais), segurança alimentar, ambiental e sanitária. 172 Na prática, essa inspeção não ocorre para o consumo próprio, apenas relativo à produção e à atividade industrial

propriamente dita, de processamento das aves, por exemplo.

Page 205: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

203

Por fim, eventual sobra de ração após a retirada do lote do aviário deverá ser informada ao

integrador, para que opte por retirar, no caso de não renovação de contrato, ou contabilizar no

novo carregamento a ser entregue para alimentação do próximo lote.

4.4.3.4 Quantidade de aves alojadas

Os aviários podem possuir os mais variados tamanhos, com diversidade de nível tecnológico.

Esses fatores irão influenciar a quantidade de ave alojada a cada lote. A construção de novos

aviários demanda um significativo investimento, fazendo com que, em muitos casos, os

produtores integrados recorram a financiamentos para execução da obra e aquisição de

equipamentos. No planejamento de pagamento do financiamento há uma expectativa de receita

por lote, tendo como base a ocupação máxima do galpão.

O adensamento médio da produção brasileira costuma variar entre 10 e 14 aves por metro

quadrado, mas pode passar de 20 a depender de diversas condições, tais como: i) raça das aves;

ii) idade de abate; iii) qualidade da ração; iv) estágio avançado de modernização do aviário; v)

boas práticas de manejo.

Na análise realizada, observa-se que os contratos A e C descrevem o tamanho e a capacidade

do aviário. O Contrato B, por sua vez, não apresenta esse conteúdo, mas garante um volume

mínimo de alojamento, conforme a capacidade tecnológica do imóvel acordado entre as partes.

Tabela 17. Quantidade de aves alojadas

CONTRATO PREVISÃO CLÁUSULA

A

GRANJA: localizada com área disponível para

alojamento de aves de m² de área útil, situada no Imóvel com

hectares, matriculado sob o nº do Cartório de Registro de

Imóvel de com cadastro no INCRA sob o n.

B

§1º. Os pintos de 1 (um) dia serão entregues no aviário do INTEGRADO

localizado na [endereço], [Bairro], [Cidade]/[Estado]. A quantidade de aves

poderá sofrer variações para mais ou para menos em função das necessidades,

desde já nominadas, inclusive, mas não limitadas aos seguintes fatos: eventos

sanitários, demandas de mercado, disponibilidade de alojamento no imóvel

do INTEGRADO. Todavia, assegura-se volume mínimo de densidade de

alojamento conforme a capacidade tecnológica do imóvel acordada entre as

partes, fato que, se não atendido, deverá ser corrigido conforme histórico de

desempenho do INTEGRADO.

2ª, § 1º

Page 206: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

204

C

CLÁUSULA PRIMEIRA: O PRODUTOR I obriga-se a instalar e/ou

manter, por sua conta e com recursos próprios e/ou terceiros, uma unidade

para a produção de frangos de corte medindo 100x12m com capacidade para

14.500 aves ou 100x14m com capacidade para 18.000 aves; ou 125x12m com

capacidade para 18.000 aves; ou 150x12m com capacidade para 22.000 aves;

ou 14x150 com capacidade para 30.000 aves; ou 28x150 com capacidade

para 60.000 aves; ou 36x165 com capacidade para 80.000 aves, podendo ser

aumentada ou diminuída a critério único do PRODUTOR II.

Entretanto, a definição contratual da quantidade de aves a serem alojadas não é absoluta,

permitindo ao integrador, unilateralmente, aumentar ou diminuir esse número, necessitando,

apenas, informar ao produtor integrado, antes de fornecer o novo lote de “pintos de um dia”,

qual será o seu tamanho. Nesse sentido, o contrato manifesta hipóteses permissivas para a

variação da quantidade de aves alojadas, conforme observado na Tabela 18.

Tabela 18. Hipóteses expressas de variação da quantidade alojada de “pintos de um dia”.

A B C

Acordo entre as partes X X

Alteração unilateral pelo integrador X

Demandas de mercado X X

Dimensões e condições das instalações e

equipamentos X

Problemas ambientais e sanitários X X

Problemas de manejo X

Falta de manutenção e/ou investimentos X

Caso fortuito ou força maior X

Dificuldades de acesso à Granja X

Disponibilidade do alojamento X X

Sinistro da Granja X

Cláusula 2.2. 2ª, §1º 1ª

Observa-se, assim, a presença de diversas hipóteses autorizadoras de variação da quantidade de

aves alojadas, que englobam problemas técnicos, sanitários, manejo e manutenção, mercado,

ou simples liberalidade do integrador.

A permissão de diminuição de lote unilateralmente pelo integrador resulta em situação de abuso

frente ao produtor integrado, que possui a expectativa de recebimento de determinada receita,

e permanece obrigado aos custos fixos de manutenção da atividade, mas poderá sofrer uma

diminuição de pagamento no respectivo lote, por conta da redução de aves alojadas. A

permissão mediante acordo entre as partes, na prática, igualmente configura uma imposição do

Page 207: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

205

integrador, em razão da dependência econômica do produtor integrado e da falta de proteção

no contrato e na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016).

As entrevistas mostraram que, na realidade, a quantidade de aves alojadas é determinada

unilateralmente pelo integrador, podendo diminuir significativamente a capacidade do aviário,

ou ainda alojar um número superior à capacidade, a depender de sua estratégia de produção. Do

mesmo modo, em algumas situações, as hipóteses expressas como problemas ambientais,

sanitários e de manejo, são utilizadas como artifício para justificar a redução da quantidade de

aves do alojadas, sem, no entanto, a comprovação de sua ocorrência.

Por esses motivos, há necessidade de maior proteção ao produtor integrado no que tange a

quantidade de aves alojadas, com a comprovação de ocorrência das previstas e eventual

compensação no caso de decisão unilateral do integrador.

Dentre as hipótese justificantes, problemas relativos à estrutura do aviário e à falta de

manutenção ou investimentos merecem atenção, para que se limite eventual abuso de poder do

integrador. Nessas situações, quando verificadas, pode ensejar a redução da quantidade de aves

alojadas, a critério do integrador, reduzindo, por consequência, a remuneração do produtor

integrado.

Para realizar as respectiva melhorias exigidas, eventualmente, há necessidade de contrair

financiamentos. Entretanto, nessa situação, não há qualquer garantia contra o desfazimento

unilateral do contrato, pois celebrado por prazo indeterminado, possibilitando a qualquer das

partes o seu término, sem indenização, desde que respeitado o prazo aviso prévio. Desse modo,

tem-se a realização de investimentos específicos, sem salvaguardas para sua proteção.

Verifica-se, assim, a primordialidade de existir comprovação, por escrito, mediante laudo

técnico, apontando as deficiências estruturais e as necessárias alterações, com garantia de tempo

de contrato ao produtor integrado, relativo, ao menos, ao período de pagamento do

financiamento. Essa garantia deve abarcar as hipóteses de extinção do contrato de forma

unilateral pelo integrador, sem indenização. Evidentemente, quando houver justa causa para o

término da relação contratual, como, por exemplo, em razão da ocorrência de problemas

sanitários e ambientais, ou mal desempenho de técnicas de manejo, excepciona-se a referida

garantia.

Page 208: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

206

Por fim, problemas ambientais e sanitários também podem ensejar a diminuição da quantidade

de aves alojadas. Entretanto, deve-se comprovar que o referido problema decorre de

responsabilidade do produtor integrado, por defeito na execução do manejo, na medida em que

o fornecimento de pintos de um dia, ração, medicamentos e insumos compete ao integrador,

bem como a prestação de assistência técnica e veterinária. Em diversas situações apontadas nas

entrevistas, a existência de doenças é resultado da má-prestação das obrigações do integrador,

verificando-se a sua ocorrência nos primeiros dias de alojamento.

Desse modo, além de não ser obrigado a ressarcir o avicultor pela mortalidade, ainda pode

impor sanções ao produtor integrado, tais como a diminuição da quantidade de aves alojadas, o

aumento do prazo entre lotes e, ainda, de forma mais grave, a extinção do contrato. Ademais,

identificou-se a falta de apresentação de comprovação pelo integrador da doença ou da situação

alegada. Nesses casos, deve haver apresentação de laudo atestando a doença verificada, a

responsabilidade pela sua ocorrência, ajustando-se eventual ressarcimento pelo tempo de

suspensão da produção.

Por fim, conclui-se que as hipóteses de diminuição da quantidade de aves alojadas da forma

como disposta nos contratos analisados implica em repartição não equitativa dos riscos, pois o

ônus por todas as situações recai exclusivamente sobre o produtor integrado,

independentemente de comprovação de culpa, de necessidade ou da efetiva ocorrência dos

problemas alegados, bastando a mera comunicação antecipada.

Os avicultores realizam o planejamento da atividade com base na ocupação máxima do aviário,

entretanto, nas entrevistas, foi observada variação de até 40% a menos da capacidade normal

das instalações, por mera liberalidade do integrador, sem qualquer espécie de compensação.

Nessa circunstância, o Contrato B autoriza a variação, mas traz a garantia de um volume

mínimo de densidade, a depender da capacidade tecnológica do imóvel acordado. Trata-se de

salvaguarda mínima ao produtor integrado, mas ainda insuficiente para equilibrar a relação

contratual.

4.4.3.5 Manejo pré-abate

Page 209: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

207

O manejo pré-abate dos frangos de corte corresponde ao estágio de carregamento das aves para

transporte ao abatedouro e envolve cinco fases: programação de retirada, jejum, apanha,

carregamento e transporte. Conforme explanam Mário Sérgio Assayag Júnior et al. (2005, p.

188), o manejo tem fundamental importância na redução de lesões dos animais, que pode

resultar em condenações das aves, e de contaminação no abate por conta do derramamento de

conteúdo do trato digestório173.

Após o período de criação das aves, quando estiverem prontas para o abate, o integrador irá

determinar quando será feito o carregamento, de acordo com a sua programação. Os frangos

atingem condições ideais para o abate entre 28 e 50 dias, a depender de diversas variáveis, tais

como a espécie do animal, o tamanho desejado para abate, as condições climáticas, a qualidade

das rações e a boa-conduta no manejo da produção. Assim, por não haver uma data previamente

estipulada, podendo ainda variar de acordo com a programação do integrador, faz-se necessário

o aviso prévio sobre a retirada dos animais do aviário.

Por conta de seu cronograma, o integrador deve avisar o produtor com antecedência sobre a

data e a hora aproximada para a retirada dos frangos de sua propriedade, a fim de que se inicie

o período de jejum das aves. O aviso de retirada pode ser realizado por qualquer meio, desde

que possibilite a programação em tempo hábil ao produtor, mas costuma ser feito por telefone,

WhatsApp, e-mail ou pessoalmente pelos técnicos do integrador.

Dentre os contratos analisados, apenas o Contrato A estabelece cláusula sobre o aviso de

retirada das aves. De acordo com a cláusula 5.4, o integrador deverá informar com antecedência

mínima de 24 horas, através de emissoras de rádio, telefone, e-mail, técnicos ou qualquer outro

meio, a data e a hora aproximada para a retirada dos frangos.

O aviso sobre a retirada das aves possibilita ao produtor integrado a correta programação sobre

o início do jejum pré-abate, configurado pela retirada de rações, mas com a manutenção de água

até o carregamento. Conforme explica Ariel Antonio Mendes (2001, p. 199), o jejum pré-abate

tem a finalidade de reduzir a contaminação no abatedouro, com o esvaziamento do sistema

173 O objetivo é reduzir o risco de contaminação durante o abate e evisceração nos frigoríficos. Com a

contaminação no frigorífico, a velocidade de abate é reduzida para inspeção das carcaças pelas autoridades

sanitárias, gerando perda pela presença de matéria fecal ou manchas de bílis na superfície interna ou externa das

aves (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2014).

Page 210: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

208

digestório, e melhorar a eficiência de produção, pois a ração consumida antes do abate não será

metabolizada e transformada em carne pelo animal.

Desse modo, de acordo com Pedro Sério Rosa, Valdir de Ávila e Fátima Jaenisch (2000, p. 4)

recomenda-se um tempo de jejum de 8 a 12 horas, incluindo o tempo de espera das aves, apanha,

carregamento, transporte, descanso no abatedouro, pendura, insensibilização e. Um tempo

inferior pode não ser suficiente para o esvaziamento do trato digestório, porém, um tempo muito

longo pode resultar em uma debilidade da parede do intestino, que passa a se romper com muita

facilidade (NORTCHUTT et al., 1997, p. 412-413).

Na continuidade do planejamento pré-abate, a segunda etapa diz respeito à apanha e ao

carregamento das aves. A apanha pode ser feita de forma mecânica ou manual. Arthur Valerio

Cony (2000) explica que os elevados custos e a estrutura dos aviários dificultam a realização

da apanha mecânica, resultando, portanto, na utilização preponderante da manual. Trata-se de

operação sensível, pois pode gerar estresse e lesões nos animais, resultando em morte ou

descarte das aves. Assim, o contrato deve prever qual parte será responsável pela sua execução

e quais as consequências por irregularidades resultantes em prejuízo.

Como pode ser observado na Tabela 19, os três contratos analisados impõe ao integrador a

responsabilidade pela execução das atividades de apanha e carregamento das aves. Cabe ao

produtor integrado, por sua vez, seguir e respeitar o cronograma estipulado, garantindo efetivo

tempo de jejum dos frangos.

Tabela 19. Reponsabilidade pela apanha para carregamento

A B C

Cronograma Integrador Integrador

Execução Integrador Integrador Integrado

Cláusula 5ª 2ª, §8º 11ª

Nas situações em que a apanha assentar-se sob a esfera do produtor integrado, reside lógica a

determinação de sua responsabilidade pela morte ou lesão decorrentes do mau manejo, durante

a captura. Contudo, as disposições que imputam descontos ao produtor quando tal atribuição

couber ao integrador são eivadas de abuso, por impor uma sanção que foge ao poder de controle

e determinação da parte.

Page 211: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

209

Por fim, a última etapa do manejo pré-abate que envolve a relação contratual entre integrador e

produtor integrado diz respeito ao transporte das aves vivas dos aviários para as unidades de

processamento. Esse estágio fica contratualmente sob responsabilidade do integrador, que pode

executar diretamente ou terceirizar o serviço. Por não estar incluída em sua atividade principal,

as agroindústrias integradoras normalmente terceirizam para prestadoras de serviço

especializadas na função.

A terceirização pode ser entendida como a transferência de atividades periféricas do tomador

de serviços, passando a ser exercidas por empresas distintas e especializadas (GARCIA, 2013,

p. 349). Desse modo, conforme preceitua Maurício Godinho Delgado (2009, p. 407), provoca

uma relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no mercado. Essa relação

trilateral é formada entre trabalhador, intermediador de mão de obra e o tomar de serviço,

caracterizada pela não coincidência do empregador real com o formal (CASSAR, 2013, p. 480).

Assim como ocorreu com outros setores agrossilvipastoris174, houve questionamentos do

Ministério Público do Trabalho (MPT) quanto à licitude da terceirização das atividades de

apanha, carregamento e transporte das aves para o abate. Em linhas gerais, argumentou-se tratar

de atividade-fim da agroindústria integradora, além de verificar, no caso concreto, a existência

de subordinação estrutural. Isso, porque, as atividades são feitas a tempo e modo planejado pelo

integrador, com definição de data, horário, localidade, nome do avicultor, quantidade das aves,

peso e equipe responsável, de forma a possibilitar o abate para industrialização e

comercialização das aves.

Até a publicação da Lei n. 13.429, de 31 de março de 2017, que passou a autorizar a

terceirização geral para serviços determinados e específicos, as regras sobre terceirização

174Nos últimos anos, diversas agroindústrias do setor agrossilvipastoril foram condenados por terceirização ilícita

de atividade, tendo como exemplos: i) a Raízen foi condenada em R$ 3.000.000,00 pela 3ª Turma do Tribunal

Regional do Trabalho pela terceirização do plantio, colheita e transporte de cana-de-açúcar, pois fundamentais à

sua produção (TRT 15ª Região, ACP n. 0000994-89.2013.5.15.0079); ii) a Biosev foi condenada pela 1ª Vara do

Trabalho de Jaboticabal em R$ 5.000.000,00 por danos morais coletivos em razão de terceirização ilícita de

atividade (Processo nº 0000515-23.2011.5.15.0029); iii) a Usina Santa Adélia foi condenada pela Vara do

Trabalho de Taquaritinga por terceirizar serviços de plantio, colheita e manutenção de cana-de-açúcar (Processo

nº 0010985-89.2016.5.15.0142); iv) as quatro maiores indústrias de suco de laranja do país (Sucocítrico Cutrale

Ltda., Louis Dreyfus Commodities Agroindustrial S/A, Citrovita Agroindustrial Ltda. E Fischer S/A) foram

condenadas por terceirização ilícita de plantio, cultivo e colheita de laranjas (Processo nº 0000121-

88.2010.5.15.0081 ACP VT Matão); v) a Suzano Papel e Celulose foi condenada em R$ 2.000.000,00 pela Vara

do Trabalho de Teixeira de Freitas/BA por terceirização ilícita de produção de mudas, atividades de silvicultura,

plantio e colheita de eucalipto, ligadas a atividade-fim (ACP nº 0002069-52.2010.5.05.0531)

Page 212: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

210

emanavam da Súmula 331 do TST175, que restringia a sua aplicação a serviços especializados

ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistentes a pessoalidade e a subordinação

direta. Entretanto, não havia definição sobre atividade-fim e atividade-meio do tomador,

restando a cargo dos tribunais fazer essa delimitação, na análise do caso concreto. Com a edição

da referida lei, findou-se tal disjunção, sendo legítima a terceirização de quaisquer atividades,

ainda que essenciais, desde que não verificadas pessoalidade e subordinação direta dos

terceirizados.

Como exemplo dessa situação, o MPT da 24ª Região ajuizou Ação Civil Pública em face da

Seara Alimentos Ltda., questionando a licitude da terceirização das atividades de apanha e de

transporte de aves vivas, resultando no Processo n. 0025084-12.2014.5.24.0004, com

julgamento pela 4ª Vara do Trabalho de Campo Grande/MS, em 11 de março de 2016. Em

síntese, sustentou tratar-se de terceirização ilícita, pois atividades essenciais e realizadas

mediante subordinação direta, pedindo a contratação direta de trabalhadores e indenização a

título de dano moral no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais).

A Seara Alimentos Ltda., ré, defendeu-se argumentando tratar de atividades absolutamente

distintas. A contratação para prestação de serviços de transporte de frangos vivos dos aviários

para o seu estabelecimento era de sua responsabilidade, ao passo que a apanha envolve

contratações realizadas diretamente pelos produtores. Além disso, o transporte não

caracterizava sua atividade-fim e era desempenhado sem subordinação.

A sentença reconheceu a distinção das atividades e qualificou o transporte como atividade-meio

ou secundária do integrador, na medida em que sua atividade-fim é o abate e a industrialização

175 Súmula nº 331 do TST. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE. I - A contratação

de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços,

salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). II - A contratação irregular de trabalhador,

mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta

ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de

serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços

especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade

subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual

e conste também do título executivo judicial. V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta

respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no

cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das

obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não

decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. VI

– A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação

referentes ao período da prestação laboral.

Page 213: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

211

de aves. Quanto à apanha, ainda que contratada pelo integrador, também configuraria como

atividade-meio, pois acessória ao transporte.

Por sua vez, quanto à subordinação, entendeu-se não estar configurada, pois verificou-se apenas

a existência de diretrizes organizacionais, necessárias em razão do elevado volume de abate

diário. Desse modo, a elaboração de escalas para apanha e transporte é natural, tal como ocorre

com setores de limpeza e manutenção. Além disso, eventual acompanhamento pelo técnico

agrícola não configura subordinação jurídica, pois o objetivo de tal ato é acompanhar o manejo

das aves e prestar assistência técnica ao avicultor, não identificando fiscalização da atividade

de transporte. Finalmente, não restou comprovada a pessoalidade, pois não se exigia a prestação

do serviço por trabalhador específico, podendo ser executado por qualquer motorista das

empresas prestadoras de serviço.

Por outro lado, o Tribunal Regional do Tralho da 4ª Região, no julgamento do Recurso

Ordinário n. 0020456-28.2015.5.04.0771, sob relatoria do Desembargador Marcelo José Ferlin

D’Ambroso, reconheceu a responsabilidade subsidiária do integrador pelo pagamento das

parcelas trabalhistas devidas pela empresa de carregamento e transporte das aves.

O juiz de origem não reconheceu a responsabilidade da JBS Aves Ltda., pois o reclamante era

empregado da Griesang e Lez Transportes Ltda.-ME, que realizava carregamento e

descarregamento de frangos em diversos aviários da região, recebendo pagamento diretamente

dos produtores integrados. Na análise probatória, não foi identificado contrato de natureza civil

entre o integrador e a empresa de transporte, pois a contratação desse serviço era de

responsabilidade dos produtores integrados.

Entretanto, o Relator entendeu que o transporte da matéria-prima até os abatedouros está

incluído na atividade do integrador, pois ela se beneficia da foça de trabalho do emprego

terceirizado, não podendo, assim, esquivar-se do ônus decorrente do inadimplemento das

obrigações por parte da prestadora.

Desse modo, o integrador deverá fiscalizar o cumprimento das obrigações trabalhistas da

prestadora de serviço de transporte, mesmo que contratada diretamente pelo produtor integrado,

sob risco de responsabilidade subsidiária, por tratar de serviço essencial, integrando a sua

atividade. Destaca-se que não se discutiu a licitude da terceirização, entendida com possível,

Page 214: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

212

mas sim a responsabilidade subsidiária pelo inadimplemento das obrigações do empregador.

Por consequência, esse entendimento pode ser aplicado mesmo com permissão legal de

terceirização de atividade-fim.

Nesse mesmo sentido, a Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho decidiu no recurso de

revista n. 114-97.2010.5.09.0749, julgado em 02 de maio de 2012, sob relatoria da Ministra

Dora Maria da Costa, pelo reconhecimento de terceirização ilícita das atividades de

carregamento e transporte de frangos. O trabalhador alegou ter sido contratado verbal e

diretamente pelo integrador, como autônomo, recebendo diárias, mas que após um período teve

seu contrato encerrado, pois o integrador contratou uma empresa para prestar tais serviço. O

reclamante, bem como outros trabalhadores, foram contratadores formalmente por essa

empresa, que passou a realizar as atividades de carregamento e transporte de aves.

No caso em tela, havia previsão de exploração de granjas e transporte rodoviário de mercadorias

entre as atividades desenvolvidas pelo integrador, compondo seu objeto social, conforme

Estatuto Social da Sadia. Por não se tratar se um simples contrato de compra e venda, mas de

uma integração, na medida em que os avicultores integram a atividade produtiva da integrada,

eventuais divisões de responsabilidade no contrato não possuem eficácia erga omnes e

tampouco são capazes de obstar a incidência do artigo 9º da CLT. Tais previsões são válidas e

eficazes entre as partes contratantes, mas não oponíveis a terceiros, especialmente com objetivo

de isentar algum dos parceiros dos ônus e encargos legais.

Entendeu-se, assim, que a contratação de serviço de carregamento e transporte pelo avicultor

não ocorria apenas em seu próprio proveito, mas com o objetivo de finalizar a última etapa do

processo de desenvolvimento da produção, antes do abate. Isso, porque, não se trata de um

carregamento e comercialização e aves, mas sim de carregamento e comercialização dentro da

cadeia produtiva do integrador: sem referidas atividades não haveria o produto final.

Desse modo, a análise irá depender do caso concreto, mas destaca-se o entendimento de que a

previsão contratual tem o escopo de distribuir as responsabilidades entre as partes, não sendo

oponível a terceiros quanto aos efeitos trabalhistas. Nessa situação, deverá ser feita uma análise

da estrutura de funcionamento da cadeia produtiva em discussão, pois, tratando-se de verdadeira

integração entre agroindústria e avicultor, a relação entre as partes é ainda mais profunda que

uma parceria rural, ensejando hipótese de responsabilidade do integrador, mesmo com previsão

Page 215: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

213

contratual em contrário. Isto, porque, o artigo 9º da CLT (BRASIL, 1943) determina ser “nulos

de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação

dos preceitos contidos na presente Consolidação”.

Em conclusão, antes do abate, deverá ser realizada a pesagem dos animais para possibilitar a

apuração do preço a ser pago ao produtor integrado. A pesagem costuma ocorrer no próprio

abatedouro, com posterior informação do peso total de produção e médio por ave. O

acompanhamento do produtor a esse ato é facultativo, devendo ter sua vontade manifestada

com antecedência.

Entretanto, essa participação é dificultada por questões práticas do produtor integrado, como

distância do abatedouro, custo de locomoção e falta de tempo para acompanhamento. Assim,

resta por confiar nas informações fornecidas pelo integrador. A Tabela 20 aponta as disposições

contratuais relativas à pesagem das aves nos contratos analisados.

Tabela 20. Pesagem das aves.

A B C

Pesagem Abatedouro Balança Integrador

Acompanhamento Facultativo - Facultativo

Cláusula 5.5. 10ª

Porém, a estruturação do sistema de pesagem com atribuição ao integrador, sem a participação

do produtor integrado ou a fiscalização de terceiro, pode ocasionar situações de fraude, como

denunciado, por exemplo, na região de Feira de Santana (BA). No ano de 2010, avicultores que

atuavam em parceria com a Perdigão acusaram o integrador de fraudar a pesagem em sua

balança. Desse modo, de acordo com o vereador Marialvo Barreto, um caminhão pesando 13

mil quilos perdia cerca de 1,2 mil quilos, resultando em um prejuízo médio de 250 gramas por

frango ao produtor (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2010).

Para evitar situações de fraude, algumas alternativas podem ser adotadas, como a utilização de

balanças rodoviárias nos municípios, sindicatos ou associações, realizada a pesagem por

terceiro, ou a presença de representante dos produtores para a fiscalização da pesagem.

4.4.4 Prazos

Page 216: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

214

Dentre os diversos prazos previstos nos instrumentos contratuais analisados, três se destacam e

requerem uma apreciação aprofundada: prazo de vigência do contrato; prazo de alojamento do

lote; e prazo de intervalo entre lotes. Observa-se, inicialmente, que a Lei n. 13.288/2016 não

estabelece quais serão esses prazos, tampouco estipula um intervalo mínimo e máximo. Dispõe,

apenas, sobre a obrigatoriedade da presença de cláusula contratual que determine os prazos de

distribuição dos resultados entre os contratantes (art. 4º, VI) e o prazo para aviso prévio no caso

de resilição unilateral e antecipada do contrato (art. 4º, XIV).

4.4.4.1 Prazo de vigência do contrato

Seguindo o procedimento costumeiro do setor avícola, os contratos analisados foram

convencionados com prazo de vigência indeterminado, possibilitando a qualquer das partes, a

qualquer tempo, a solicitação de término do contrato, mediante prévia notificação, sem qualquer

ônus à parte, desde que cumprido o prazo exigido. Apesar da terminologia utilizada pelos três

contratos, trata-se efetivamente de hipótese de resilição, e não de rescisão.

O termo rescisão é incorretamente empregado como sinônimo de resolução e de resilição. Nesse

sentido, seguindo a boa técnica, deve ser utilizado nas hipóteses de dissolução contratual devido

a ocorrência de lesão ou que forem celebrados em estado de perigo (GONÇALVES, 2011, p.

208). Por sua vez, a resilição consiste na liberação dos contratantes em razão da manifestação

de vontade, independentemente do inadimplemento.

A resilição pode ser bilateral ou unilateral. Conforme a lição de Caio Mário da Silva Pereira

(2011, p. 129), a resilição bilateral, também denominada distrato, é a declaração de vontade das

partes contratantes, no sentido oposto ao que havia gerado o vínculo. Já a resilição unilateral

tem aplicação excepcional, sendo cabível nos contratos de execução continuada, quando

celebrados por prazo indeterminado, independentemente do não cumprimento da outra parte

(GONÇALVES, 2011, p. 208). É justamente esta hipótese antecedente a avençada nos contratos

analisados, conforme observa-se na Tabela 21.

Page 217: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

215

Tabela 21. Prazo de vigência e notificação para resilição

A B C

Prazo Indeterminado Indeterminado Indeterminado

Extinção Qualquer parte a

qualquer tempo

Qualquer parte a

qualquer tempo

Qualquer parte a

qualquer tempo

Ônus Não Não Não

Notificação Escrito Escrito Escrito

Prazo para notificação 1 lote 60 dias 60 dias

Indenização pela falta de notificação Média dos últimos 3

lotes

Média dos últimos 3

lotes Não previsto

Cláusula 4.1. 12ª 12ª

Nas entrevistas realizadas nos Estados de Santa Catarina e São Paulo, identificou-se que o

contrato costuma ser renovado anualmente, mediante a assinatura de novo instrumento

contratual, que revoga integralmente o anterior. Entretanto, foi evidenciado que na mesorregião

do Sul Catarinense, a agroindústria integradora não providenciou novos contratos após o último

pactuado, ainda no ano de 2016. Desse modo, este segue em vigor na regência da relação entre

as partes, visto tratar-se de contrato celebrado por prazo indeterminado.

Contudo, o prolongamento de sua vigência obsta a aplicação da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016) à relação contratual corrente. Isto, porque, houve o veto presidencial ao parágrafo único

do artigo 14, que estabelecia um prazo de até 180 (cento e oitenta) dias para a adequação dos

contratos de integração em vigor. Com isso, respeitando-se o princípio da irretroatividade, a

nova lei passa a ser aplicada às relações jurídicas constituídas após a sua vigência.

Para que se proceda o término da relação contratual pela resilição unilateral, os contratos

analisados exigem notificação por escrito da parte interessada, com antecedência mínima

determinada. O prazo de aviso prévio poderá variar, dependendo do pactuado. No Contrato A,

é de 1 (um) lote, ao passo que nos Contratos B e C é de 60 (sessenta) dias. Na primeira hipótese,

quaisquer das partes poderão notificar a sua intenção de não continuar com o contrato,

executando-se a produção de mais um lote antes de se efetivar o fim do contrato.

Nas entrevistas, foi identificada situação em que o prazo de aviso prévio era de 2 (dois) lotes.

Já na segunda hipótese, o prazo de aviso prévio é expresso em dias, no caso, 60 (sessenta) dias.

Assim, se porventura o prazo findar no decorrer da criação de um lote, dever-se-á aguardar a

Page 218: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

216

sua ultimação, com o carregamento e transporte da aves, para que se dê por encerrada a relação

contratual.

Por seu turno, não há previsão de cláusula de renovação do contrato, visto celebrado por prazo

indeterminado e com previsão de resilição unilateral, a qualquer tempo, sem ônus para a parte.

A renovação do contrato pode ser legal ou contratual. Para o contrato de arrendamento, por

exemplo, os artigos 95, V, do Estatuto da Terra, e 22 do Decreto n. 59.566/1966, impõem a

renovação automática se não houver notificação do arrendatário demonstrando sua intenção de

retomar o imóvel, no prazo de seis meses antes do seu término. Tratando-se de hipótese legal,

a renovação é compulsória.

Entretanto, não havendo previsão contatual e sendo celebrado por prazo indeterminado, não há

que se falar em direito à renovação do contrato, apenas nas possibilidades de continuação do

contrato, caso não questionada a sua vigência, ou de celebração de um novo contrato,

expressamente revogando o anterior, como ocorre na cláusula primeira do Contrato B.

B - CLÁUSULA PRIMEIRA – DAS TRATATIVAS ANTERIORES

Ficam rescindidos para todos os efeitos legais quaisquer outros contratos havidos

anteriormente entre as partes contratantes, especialmente o [informar o nome do

contrato que está sendo rescindido e a data em que foi firmado, e eventuais termos

aditivos, outorgando-se a ambas as PARTES, total e geral quitação, para mais nada

reclamar uma da outra, a qualquer título ou a qualquer tempo.

Por fim, quanto ao direito de preferência, este pode ser legal ou consensual, e pode ser

concebido em duas situações: preferência na celebração de um novo contrato ou preferência na

aquisição do imóvel em que se desenvolve a atividade objeto do contrato. A Lei n. 13.288/2016

não prescreve o direito de preferência para ambas as situações. Do mesmo modo, os três

contratos analisados silenciam-se sobre tema.

Na primeira hipótese, de preferência na celebração de um novo contrato, tal previsão ao menos

encontraria nexo, assegurando ao integrador a manutenção do suprimento de matéria-prima

necessária para o desenvolvimento de sua atividade central. Poderia, assim, celebrar novo

contrato, desde que, asseverasse as mesmas condições oferecidas por terceiro. Já quanto a

segunda hipótese, o direito de preferência na aquisição do imóvel foge da racionalidade do

sistema de integração. Em primeiro lugar, porque o integrador não executa a produção

diretamente, utilizando-se para suprimento da matéria-prima a função dos avicultores

Page 219: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

217

integrados. Em segundo lugar, pois, ao contrário dos contratos típicos de arrendamento e

parceria, em que se transaciona a posse ou o uso temporário da terra, no contrato de integração

o objeto é a criação e engorda de frangos de corte, com responsabilidade pela criação das aves

direta do produtor integrado, não havendo uso ou posse da terra pelo integrador.

4.4.4.2 Prazo de alojamento do lote

O prazo de alojamento do lote corresponde ao tempo necessário para que as aves atinjam as

condições ideais de abate, estabelecidas pelo integrador. Busca-se um ideal entre peso do

animal e consumo de ração, de modo a obter melhor eficiência na produção. O tamanho do

animal será determinado, também, pelo mercado consumidor alvo da produção específica.

Alguns mercados, principalmente externo, preferem um frango de tamanho menor, o que

resultará em um menor prazo de alojamento do lote.

Deste modo, as aves atingem condição ideal de abate após um período de 40 a 48 dias de

alojamento, mas já podem ser retiradas a partir de 28 dias, a depender do tamanho desejado. O

melhoramento genético reduziu significativamente esse tempo, que era de 60 a 90 dias. Após

os 45 dias, o frango continua a ganhar peso, mas revela uma redução de sua conversão, pois

necessita de mais ração para um mesmo ganho de peso, prejudicando o resultado da produção.

Em vista disso, o contrato pode estabelecer um intervalo de tempo em que as aves serão

alojadas, ou facultar essa decisão para sua análise técnica, conforme a necessidade do mercado.

Tabela 22. Prazo de alojamento das aves.

A B C

Prazo Não

-

35 a 55 dias

Condição Quando os frangos atingirem

condições de abate

Pode ser reduzida ou

dilatada, conforme

programação de abate do

integrador

Cláusula 4.2. 3ª

Nos três contratos analisados, apenas o Contrato C estabelecia um intervalo de tempo, entre 35

e 55 dias, podendo, entretanto, ser reduzido ou aumentado, conforme a programação de abate

do integrador. Por sua vez, os Contratos A e B não estipulavam um intervalo de tempo para o

alojamento, facultado, deste modo, a definição da data de apanha e carregamento a seu critério

Page 220: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

218

técnico, quando os frangos atingirem condições de abate, e considerando, também, a

programação dos abatedouros.

4.4.4.3 Prazo de intervalo entre lotes

Após a retirada do lote para o abate, deve-se respeitar um intervalo de dias para colocação de

um novo lote. O prazo de intervalo entres lotes deve estar previsto no contrato, bem como suas

hipóteses de aumento. Apesar da ausência de previsão legal quanto à sua obrigatoriedade, tal

fato decorre da boa-fé contratual, evitando um alargamento imotivado desse intervalo, causado

prejuízo indevido ao produtor integrado.

Tabela 23. Prazo de intervalo entre lotes.

A B C

Prazo 26 dias 28 dias

- Variação (+/-) Sim Sim

Ônus pela variação Não Não

Cláusula 2.2. 2ª, §1º

Dados da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP, 2017) apontam que no Estado

do Paraná176, no mês de outubro de 2017, o intervalo entre os lotes variou de 12 a 22 dias, ao

passo que o intervalo para limpeza foi de 15 a 50 dias. Desse modo, tem-se em torno de um lote

a cada dois meses, pois cerca de 45 dias de produção, mais 15 dias de repouso. Assim, em um

ano, o produtor integrado terá produzido e recebido, aproximadamente, 6 (seis) lotes.

Portanto, atrasos injustificados para colocação de novo lote podem representar a perda de um

lote ao longo do ano, resultando em uma diminuição de um sexto de sua receita anual. Ocorre

que, em alguns casos, esses atrasos decorrem de simples liberalidade do integrador ou como

forma de punição ao produtor integrado.

Dessa forma, há necessidade de clara e expressa regulamentação no contrato sobre o prazo de

intervalo entre lotes, havendo comprovação idônea de sua causa. Nas entrevistas, por exemplo,

foram citadas situações em que se justificou problemas sanitários para a não colocação do novo

176 Intervalo dentre lotes e intervalo entre lotes para limpeza, nas microrregiões do Estado do Paraná (FAEP, 2017):

Cambará: 17/40 dias; Cascavel: 14/25 dias; Castro: 22/30 dias; Chopinzinho: 12-18/25-30 dias; Cianorte: 12/23

dias; Dois Vizinhos: 13/28 dias; Londrina: 12-15/15-20 dias; Toledo: 12-15/30-50.

Page 221: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

219

lote, que já ultrapassava 45 dias, sem qualquer comprovação dessa ocorrência, em laudo, por

parte do integrador.

A Tabela 24 apresenta as hipóteses expressas nos três contratos analisados que permitem o

aumento de intervalo entre os lotes. Observa-se que o contrato faz não o prazo de intervalo entre

os lotes, tampouco as hipóteses de aumento desse intervalo.

Tabela 24. Hipóteses expressas de aumento do intervalo entre lotes.

A B C

Mediante solicitação X X

-

Falta de preparo do aviário para receber o novo lote X

Procedimentos não condizentes com a boa prática de

manejo X

Descumprimento de orientações técnicas X

Problemas estruturais X X

Questões sanitárias X X

Questões climáticas X

Dificuldade de acesso X X

Força maior X X

Cláusula 2.2. 2ª, §1º

Assim como ocorre na quantidade de aves alojadas, o contrato traz hipóteses expressas de

aumento do intervalo entre os lotes, decorrentes de problemas técnicos, mas também apresenta

uma possibilidade genérica, exigindo-se, apenas, solicitação por parte do integrador,

independentemente de ônus.

A solicitação depende de ajuste prévio entre as partes. Entretanto, em razão da dependência

econômica observada na relação contratual, o produtor integrado não possui meios para impor

a sua vontade sem risco de eventual término da relação contratual e, consequentemente,

dificuldades na busca para um novo parceiro. Assim, na prática, a solicitação passa a ser uma

imposição do integrador, por decisão unilateral, implicando em potenciais prejuízos ao produtor

integrado.

Desse modo, mais do que a simples menção das hipóteses, faz-se necessário o estabelecimento

de critérios claros e precisos, bem como a exigência de comprovação de sua ocorrência, em

nome da boa-fé, da transparência e do equilíbrio contratual.

Page 222: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

220

Em um sistema de integração, em tese, ambas as partes devem possuir uma posição de paridade

entre seus direitos e deveres. Porém, essa situação mostra, mais uma vez, que, na prática, o

integrador impõe a sua força sobre o produtor integrado, assegurando privilégios para o seu

lado, sem a imposição de qualquer sanção pelo descumprimento. Já quanto ao produtor

integrado, acaba por aceitar tais determinações, compelido por sua dependência econômica.

Por fim, antes da colocação de novo lote, deve o integrador informar ao produtor integrado

sobre o dia e a hora aproximada para o alojamento dos “pintos de um dia”, bem como para a

entrega da ração. Isso permite a preparação do aviário para recebimento do novo lote, evitando

sanções ao produtor por descumprimento do cronograma, na medida em que o atraso na

preparação pode resultar em alargamento do prazo para colocação do novo lote, na diminuição

da quantidade de aves alojadas e até mesmo na extinção do contrato por descumprimento de

obrigação do produtor integrado.

Nos três contratos analisados, apenas o Contrato A estabelece tal prescrição, com antecedência

mínima de 24 horas. Contudo, mesmo na ausência de previsão contratual, este é, na prática, e

assim deve ser, o procedimento adotado pelo integrador, sob pena de não imposição de sanções

aos produtor intrigado, já que decorrente de omissão do integrador quanto ao direito de informar

e em contradição com o princípio da boa-fé.

4.4.5 Preço e Forma de Pagamento

A apuração da quota-parte cabível ao produtor integrado será realizada após a retirada das aves

para abate, com a pesagem dos caminhões. Os critérios técnicos para a definição do valor a ser

pago constam em anexo no contrato, e partem de percentuais básicos predeterminado

contratualmente.

Cada contrato apresenta uma fórmula distinta para apuração do valor a ser pago aos produtores

integrados, conforme constam nos ANEXOS D, E e F. Porém, em linhas gerais, levam em

consideração critérios como sazonalidade177, sexo, peso de abate e idade das aves. Além disso,

177 A sazonalidade é relativa ao período climático de alojamento das aves. Assim, conforme Contrato A, se

realizado em períodos quentes, não há ajuste a ser feito. Porém, se períodos frios, há soma de 0,09 no percentual

Page 223: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

221

são estabelecidos critérios de meritocracia, que dependem do desenvolvimento do manejo

exercido pelo produtor integrado, como mortalidade e conversão alimentar.

A conversão alimentar é um parâmetro de rendimento da produção, consistente da divisão do

consumo total de ração pelo peso médio das aves178. Desse modo, o consumo de ração para

outras atividades por parte do produtor integrado, mesmo que não vedado contratualmente, irá

afetar a sua conversão, pois haverá um maior consumo em relação ao peso final do lote,

prejudicando a sua remuneração.

Além disso, são considerados critérios de qualidade dos frangos de corte, como percentual de

calos de pé, arranhaduras, condenações e papo cheio, que podem aumentar ou diminuir o

percentual cabível ao produtor integrado.

O percentual correspondente ao pagamento ao produtor integrado pode estar previsto

diretamente no contrato ou constar do anexo relativo à fórmula de cálculo de pagamento. No

Contato C, tal previsão consta do contrato, que estipula um percentual de 5-10% do peso total

do lote, dependendo do desempenho da produção, descontando-se o fornecimento de gás,

vacinas, medicamentos e eventuais fornecimentos extraordinários. Por sua vez, os contratos A

e B trazem nos contratos apenas os critérios técnicos que serão utilizados, designando a fórmula

de cálculo e o percentual no anexo.

O Contrato A179 estipula um percentual básico (7,17), que será ajustado em razão da

sazonalidade, sexo e peso de abete e idade das aves, resultando, assim, na quota-parte básica

cabível ao produtor integrado. Além disso, indica ajustes em razão da meritocracia,

considerando a mortalidade e a conversão alimentar. Ademais, tem em consideração ajustes em

básico, ao passo que se realizado em períodos mistos, serão considerados os dias em período quente e os dais em

período frio. 178 O fornecimento de ração corresponde ao maior custo por unidade da produção (aproximadamente 65%), por

isso o constante esforço para alcançar baixas conversões, pois isso significa um menor consumo para um maior

peso. Os principais fatores que afetam a conversão são: temperatura – no frio consomem mais ração; ventilação;

qualidade da ração; qualidade da água; refugos – aves doentes ou deficientes consomem ração, mas não serão

aproveitadas, devendo, portanto, ser eliminadas até os 14 dias; doenças e medicações (TORRETTA, 2017). 179 A forma de remuneração do Contrato A consta no Anexo D.

Page 224: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

222

função da qualidade, atinentes a calo de pé180, arranhaduras181, condenações182, papo cheio183,

peso. Por fim, prevê ajustes em razão do processos e procedimentos, tendo em conta ajustes de

adequação estrutural e ajustes de procedimentos.

Desse modo, têm-se que o resultado final da participação do produtor integrado (PT) é igual à

soma da quota-parte básica (QB), dos ajustes de meritocracia (MT), de qualidade (QT) e de

processos e procedimentos (PP), conforme observado na Figura 4.

Figura 4. Resultado final da participação do produtor integrado

PT = QB + MT + QT + PP

Após o cálculo do percentual cabível, deve-se verificar a quantidade de quilogramas de frangos

vivos pertencentes ao produtor integrado. Para isso, multiplica-se o percentual cabível pelo peso

total de frangos entregues ao integrador. Por fim, multiplica-se o peso total cabível ao produtor

integrado pelo preço base do frango vivo pago pelo integrador, obtendo-se, assim, a quota-parte

devida ao produtor integrado pela sua participação no sistema de produção.

Por sua vez, o Contrato B184 apresenta fórmula de remuneração distinta, considerando

basicamente os mesmos critérios, mas em pontos distintos do cálculo. Nessa situação, o

percentual básico já considera o sexo e peso dos animais, mas não prevê ajustes para

sazonalidade e idade. Agregam-se a esse valor básico ajustes em razão a conversão alimentar,

180 Calo de pé corresponde à pododermatite, lesão comum encontrada em frangos de corte criados sobre camas

úmidas e compactadas (SANTOS; NUNES; BAIÃO, 2002, p. 655). Os pés têm aumentado a sua importância

comercial, em razão de exportação para os países asiáticos. Desse modo, a ocorrência de calos de pé irá aumentar

o descarte de produto, resultando em prejuízo econômico, além de ser um indicador de bem-estar animal. 181 A arranhadura corresponde a lesões nas carcaças do frango, tendo como principais causas a densidade do

aviário, temperatura do ambiente qualidade de cama, peso e idade das aves. A depender da intensidade dos

arranhões, pode ocorre a ruptura de pele e evoluir para um processo inflamatório, resultando em dermatoses, uma

das principais causas de condenação das aves (SCHERER FILHO, 2009, p. 37-38). 182 As condenações representam o descarte das aves em razão de problemas de sanidade. Adriana Oliveira et al.

(2016, p. 84) apontam que entre os anos de 2006 e 2011, o índice de condenação do Serviço de Inspeção Federal

nos matadouros-frigoríficos foi de 5,99%, observando como principais causas: contaminação (1,80%).

Contusão/lesões traumáticas (1,57%), dermatoses (0,74%) e celulite (0,50%), artrite (0,38%), aerosaculite (0,13%)

e aspecto repugnante (0,13%). 183 Papo cheio representa a permanência do alimento do papo do animal, impedindo a sua digestão. Essa situação

pode resultar em infecção, inanição e morte do animal. Além disso, a verificação de papo cheio no abate pode

representar um risco de contaminação, pela presença de bactérias. Assim, o seu rompimento irá resultar na

contaminação e condenação de toda a carcaça (RUI; ANGRIMANI; SILVA, 2011, p. 1291). 184 A forma de remuneração do Contrato A consta no Anexo E.

Page 225: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

223

da qualidade do lote (condenações e calo de pé185) e de bonificações em cumprimento do chek

list determinado pelo integrador.

Assim, o valor final devido ao produtor integrado será calculado da mesma forma: soma dos

fatores descritos acima, multiplicado pelo peso vivo total de abate e pelo preço estipulado para

a partilha. Destaca-se que o produtor integrado não poderá dispor de sua parcela antes da

partilha, devendo esperar a apuração feita pelo integrador. Eventual consumo não permitido ou

venda antecipada, além de considerada falta grave, irá afetar os índices de viabilidade186 e a

conversão.

Os critérios devem ser claros e precisos, constantes em anexo do contrato, e fornecidos aos

produtores integrados para controle. Além disso, faz-se necessária a disponibilização de tabela

de resultado e desempenho após o cálculo de cada lote, em linguagem acessível, para que o

produtor integrado tenha acesso aos dados e cálculos utilizados para a determinação de sua

quota.

Apenas o Contrato A prevê a obrigação do integrador de disponibilizar, sempre que solicitado

pelo produtor integrado, todos os parâmetros relacionados ao cálculo dos resultado auferidos

pelas partes, conforme cláusula 5.9. Além disso, obriga-se a disponibilizar informe contendo

os dados sobre a quantidade de ração fornecida, quantidade de ração consumida pelo lote,

indicadores zootécnicos, quantidades produzidas, índice de produtividade e o preço base usado

nos cálculos. Trata-se de dever de informação necessário para a garantia da transparência na

relação contratual, devida independentemente de previsão detalhada no contrato. No mesmo

sentido, há necessidade de descrição do prazo e da forma de pagamento.

Tabela 25. Prazo e forma de pagamento.

A B C

Prazo 15 dias 21 dias

- Forma

Depósito em conta

corrente Moeda corrente

Prazo para contestação 3 dias

Cláusula 4ª

185 Explicar porque interfere na qualidade 186 A viabilidade diz respeito à diferença entre a quantidade de aves alojadas e a quantidade de aves retiradas para

o abate, expressa em porcentagem.

Page 226: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

224

O prazo para o pagamento pode variar a depender das disposições do contrato, mas deve estar

previsto expressamente. Do mesmo modo, a forma de pagamento, ajustada em moeda corrente,

mas que poderá ser realizado via depósito bancário, cheque, em espécie ou de outro modo

pactuado entre as partes.

4.4.5.1 Auxílio baixa produtividade

Tratando-se de uma produção em sistema integrado, os riscos pelo resultado devem ser

divididos entre integrador e produtor integrado. Nesse sentido, o Contrato B prevê um auxílio

de baixa produtividade ao avicultor. Trata-se de situação excepcional, que se verificada sua

constante repetição, pode ensejar a extinção do contrato, sem direito a pagamento a título de

indenização, multa ou compensação.

O índice de produtividade a ser alcançado pela cláusula décima primeira do Contato B é de

65%. Entretanto, em situações excepcionais, não atingido referente percentual, desde que

ocorra o cumprimento das demais obrigações, a renda será vinculada ao percentual de 65%

aplicada sobre a média dos últimos três lotes.

Há, porém, um limite de emprego do auxílio baixa produtividade. O produtor integrado poderá

valer-se deste benefício desde que não atinja o resultado igual ou superior a 65% em metade

dos lotes entregues nos últimos dozes meses. Nesta situação, a critério do integrador, o contrato

poderá ser extinto, não sendo devido pagamento a título de indenização, multa, compensação

ou de qualquer outra natureza.

4.4.5.2 Descontos automáticos e retenção

O contrato pode prever, ainda, outras hipóteses que impactam o preço e a forma de pagamento

devido ao produtor integrado. Nos contratos analisados, observou-se a presença de

possibilidade de desconto automático e de retenção do pagamento, em função de conduta do

avicultor.

CONTRATO B

CLÁSULA DÉCIMA OITAVA – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

§4º. O INTEGRADO assume inteira responsabilidade por todos os atos praticados

pelos empregados que utilizar para prestar serviços ora contratados, obrigando-se a

ressarcir quaisquer danos e/ou prejuízos eventualmente provocados pelos mesmos a

Page 227: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

225

INTEGRADORA, ainda que por imperícia ou negligência, ficando autorizado o

desconto automático dos valores apurados nos pagamentos ainda não realizados. Caso

a INTEGRADORA seja demandada por qualquer empregado do INTEGRADO, ou

ainda de prestador de serviço contratado para a realização de objeto deste instrumento,

diante da inexistência de vínculo entre as PARTES, deverá o INTEGRADO assumir

a condição de demandada, requerendo a exclusão da INTEGRADORA do polo

passivo da demanda. Caso o INTEGRADO não cumpra com o estabelecido neste

cláusula, a INTEGRADORA poderá RETER os pagamentos, até o integração

cumprimento da obrigação.

Desse modo, poderá haver, por expressa previsão no Contrato B, desconto automático dos

valores apurados nos pagamentos ainda não realizados na hipótese de prejuízos eventualmente

causados pelo produtor integrado ou por seus empregados. Além disso, a cláusula busca eximir

a responsabilidade do integrador por obrigações trabalhistas relativas a empregados e

prestadores de serviço do produtor integrado. Como sanção à desobediência desta cláusula, o

integrador poderá reter os pagamentos até o seu cumprimento.

Entretanto, como observado na hipótese de terceirização ilícita de transporte, o TST entende

que eventuais divisões contratuais de responsabilidade não possuem eficácia erga omnes e não

são capazes de obstar a incidência do artigo 9º da CLT187. Desse modo, a cláusula pode ser

entendida como um instrumento de coerção sobre o produtor integrado para que assuma a

responsabilidade por suas obrigações trabalhistas, porém, não é capaz de afastar judicialmente

a responsabilidade do integrador por tais débitos.

4.4.6 Extinção

Ao contrário do que ocorre com os direitos reais, propensos à perenidade, as obrigações, como

direitos pessoais, possuem uma natureza transitória. Desse modo, quando verificado o

cumprimento do que foi pactuado, o contrato irá extinguir-se, naturalmente. Mesmo que não

convencionado, a priori, um prazo determinado para o seu cumprimento, em razão de seu

caráter não perene, as partes possuem uma expectativa de seu término. Assim, para contratos

de trato sucessivo ou execução continuada, celebrados por prazo indeterminado, como no caso

analisado, faz-se necessária a manifestação de vontade no sentido de desfazimento do vínculo

contratual.

187 TST. RR n. 114-97.2010.5.09.0749, 8T - Relatora Ministra Dora Maria da Costa. Data de julgamento

02/05/2012.

Page 228: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

226

Trata-se de hipótese de resilição do contrato. No entanto, Miguel Maria de Serpa Lopes (1964,

p. 199) já observava que esse termo não era de uso consagrado pela prática e, em alguns casos,

tampouco pela legislação, adotando-se, com maior frequência, o termo rescisão188. A rescisão,

porém, conforme os ensinamentos de Francesco Messineo (1952, p. 2010), diz respeito a

extinção do contrato em razão da ocorrência de lesão ou celebrados sob estado de perigo. Já a

resilição, conforme definição de Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 521) é a “cessação do vínculo

contratual pela vontade das partes, ou, por vezes, de uma das partes”.

Deve-se, desse modo, atentar-se para a natureza da modalidade da extinção prevista

contratualmente, malgrado a nomenclatura utilizada, sobretudo nas hipóteses de resilição e

rescisão, confusão já consagrada pela prática contratual189.

A resilição pode-se promover bilateral ou unilateralmente. A resilição bilateral é o distrato,

previsto no artigo 472 do Código Civil (BRASIL, 2002), configurada como “o mútuo consenso

para o desfazimento do vínculo” (VENOSA, 2013, p. 522). Nesse sentido, se partes possuem a

autonomia para criar um vínculo jurídico obrigatório, conclui-se, de modo lógico, que a

manifestação de vontade de ambas possui a virtude de extingui-lo. Desse modo, conforme lição

de Orlando Gomes (2008), todos os contratos podem ser resilidos, por distrato.

Para que possa ser extinto bilateralmente, o artigo 472 do Código Civil exige que o distrato seja

feito pela mesma forma exigida para o contrato. Assim, como o artigo 4º da Lei n. 13.288/2016

exige forma escrita para sua celebração, sob pena de nulidade, o distrato também deverá se dar

por escrito.

Por sua vez, em razão na natureza do contrato, pode-se permitir que uma das partes, de modo

unilateral, coloque fim à relação contratual. É o que ocorre com “os contratos de trato sucessivo,

de execução continuada, quando por prazo indeterminado, permitindo que, por meio de uma

denúncia prévia, para não surpreender o outro contratante, sejam resilidos (ou rescindidos,

como quer o termo mais vulgar)” (VENOSA, 2012, p. 524).

188 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012, p. 270) asseveram que a legislação muitas vezes utiliza

as expressões extinção, resilição, resolução e rescisão como sinônimas. Apresentam como exemplo a CLT, que

utiliza a expressão rescisão indistintamente, para diversas modalidades de extinção contratual.

189 A resolução tem como causa o inadimplemento voluntário ou involuntário do contrato. Por sua vez, a resilição

não depende do inadimplemento, mas unicamente da vontade das partes (GONÇALVES, 2011).

Page 229: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

227

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012, p. 281) apontam que em razão da força

obrigatória dos contratos, a possibilidade de sua extinção unilateral não pode ser bem vista, por

ser, no mínimo, atentatória à segurança de uma estipulação contratual190. Nessa linha dispõe o

artigo 473 do Código Civil:

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o

permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.

Desse modo, os contratos analisados estipulam essa possibilidade, a qualquer tempo, por

interesse de uma das partes, sendo necessária apenas a notificação à outra parte, respeitando-se

o prazo definido de aviso prévio, sem a incidência de ônus pela extinção da relação contratual.

Haverá a aplicação de indenização somente nos casos de falta de notificação, conforme

observado na Tabela 26.

Tabela 26. Prazo de vigência e notificação para resilição

A B C

Prazo Indeterminado Indeterminado Indeterminado

Extinção Qualquer parte a

qualquer tempo

Qualquer parte a

qualquer tempo

Qualquer parte a

qualquer tempo

Ônus Não Não Não

Notificação Escrito Escrito Escrito

Prazo para notificação 1 lote 60 dias 60 dias

Indenização pela falta de notificação Média dos últimos 3

lotes

Média dos últimos 3

lotes Não previsto

Cláusula 4.1. 12ª 12ª

Entretanto, conforme observa Kassia Watanabe (2007, p. 226), em termos de teoria econômica

dos custos de transação, deve-se evitar comportamentos oportunistas para o funcionamento de

modo eficiente do sistema agroindustrial. Nesse sentido, caso o produtor integrado realize

investimentos específicos, deve-se criar salvaguardas contratuais para proteger os

investimentos realizados. Porém, os contratos analisados não trazem essa respectiva garantia

ao produtor integrado, tampouco é prevista na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016).

No desenvolvimento do sistema de produção integrado, é comum exigências por parte do

integrador sobre as instalações e equipamentos dos aviários, sendo sua adequação requisito para

190 Os autores sugerem que antes de efetivar a resilição unilateral, deve haver aviso prévio e, caso descumprido,

sujeita o infrator ao pagamento das perdas e danos devidos (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 281).

Page 230: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

228

continuidade da relação contratual, para garantia de uma maior quantidade de aves alojadas ou,

ainda, para recebimento de um maior percentual da produção. Para tanto, o produtor integrado

realiza investimentos específicos na modernização de sua estrutura, buscando, frequentemente,

financiamentos em entidades públicas ou privadas. Porém, o contrato e a lei, como observado,

não trazem garantias de continuidade de contratado após a realização dos investimentos,

aumentando o risco de comportamento oportunista do integrador, em razão da aumento da

dependência econômica do produtor integrado.

O Código Civil (BRASIL, 2002), no parágrafo único do artigo 473, traz proteção à parte que

realizou investimentos específicos em decorrência da denominada denúncia vazia do contrato,

ou seja,

Art. 473, parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes

houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral

só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto

dos investimentos.

Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 525) aponta que esta previsão “atende à finalidade social que

o vigente estatuto procurou imprimir ao cumprimento das obrigações e se apresenta com o

caráter cogente”. No mesmo sentido, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012,

p. 282) entendem não ser razoável, nem compatível com a boa-fé objetiva, o não ressarcimentos

de tais gastos. Desse modo, a resilição em tempo insuficiente para retorno dos investimentos

realizados mostra-se abusiva.

Entretanto, essa situação de abusividade pode ser observada nos contratos em questão. Não há

proteção para os investimentos específicos realizados pelo produtor integrado, e possibilita-se

a resilição unilateral do contrato cumprindo-se aviso prévio de 1 (um) lote ou 60 (sessenta) dias,

conforme disposto na Tabela 26. Desse modo, afora o silêncio do contrato e da Lei n.

13.288/2016, o Código Civil traz essa proteção, exigindo o transcurso de prazo compatível com

a natureza e o vulto dos investimentos.

Porém, a proteção disposta no Código Civil não tem prevalecido no Tribunal de Justiça de Santa

Catarina, que possui entendimento pacificado de que os investimentos incorporam-se ao

patrimônio do produtor integrado, não havendo, assim, prejuízo que enseja a indenização por

Page 231: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

229

dano material, independentemente do motivo pelo qual se deu o término contratual, resilição

unilateral ou inadimplemento de obrigações191.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE PARCERIA

AVÍCOLA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E

MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DOS AUTORES.

[...] CONTRATO DE PARCERIA AVÍCOLA CELEBRADO POR PRAZO

INDETERMINADO. [...] CONTRATAÇÃO DE FINANCIAMENTO BANCÁRIO,

PARA FINS DE IMPLANTAÇÃO DE BENFEITORIAS E MELHORIAS NO

AVIÁRIO QUE NÃO CARACTERIZAM DANOS MATERIAIS. - '[...] Em sede de

contrato de parceria avícola, a implantação de benfeitorias, a aquisição de

equipamentos e a contratação de mão-de-obra pelo parceiro criador, porque ínsitos à

execução da avença, não caracterizam danos materiais, até porque ele não sofreu, com

isso, segundo a prova, deterioração ou perda, parcial ou total, de bens corpóreos que

ainda lhes pertencem [...] (TJSC, Apelação Cível n. 2014.018933-0, de Ipumirim, rel.

Des. Luiz Antônio Zanini Fornerolli, j. 04-05-2015 - Grifo nosso).'. ABALO

ANÍMICO NÃO COMPROVADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO

PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO"

(AC n. 0000097-59.2014.8.24.0068, Des. Cláudia Lambert de Faria).

Esse entendimento, no entanto, não é repetido no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

que reconheceu o dever de indenizar no caso de dissolução unilateral do contrato192.

"CONTRATO DE PARCERIA AVÍCOLA - RESCISÃO UNILATERAL - LUCROS

CESSANTES-CABIMENTO. A dissolução do contrato de parceria avícola, de forma

antecipada e unilateral, vale dizer, sem causa justa, não elimina o dever de indenizar."

(TJSP, Apelação sem revisão n. 715.015-0/7, 26ª Câmara, Relator Desembargador

Renato Sartorelli, d.j. 10/10/2005).

Entende-se que nas hipóteses de resilição unilateral, o integrador deve responder pelos

investimentos específicos realizados para a execução da produção. Principalmente, pela

dificuldade em encontrar outro parceiro para celebrar novo contrato de integração. Como visto,

na região de Santa Catarina, existe apenas um parceiro viável. Esse cenário repete-se em São

Paulo. Assim, a possibilidade de resilição unilateral sem indenização ou em tempo insuficiente

representa um abuso de poder por parte do integrador, eivada, portanto, de vício.

Além disso, conforme previsão no artigo 473 do Código Civil, há necessidade de notificação

da outra parte sobre a resilição do contrato. Nessa perspectiva, o Tribunal de Justiça do Estado

de Santa Catarina entende que a resilição unilateral de contrato celebrado por prazo

191 Ap. Cív. n. 2004.015232-9, de Concórdia, rel. Des. José Volpato de Souza, j. 15.10.2004). [...]" (AC n.

2008.046096-3, Des. Sebastião César Evangelista); (AC n. 2008.045132-8, Des. Artur Jenichen Filho); (AC n.

2011.082541-3, Des. Joel Figueira Júnior); Apelação n. 0300415-58.2015.8.24.0124, Relator Desembargador

Substituto Luiz Antônio Zanini Fornerolli, d. j. 19/069/2016. 192 No mesmo sentido, TJSP Apelação sem revisão n. 750584-0/2, Relator Desembargador Luis de Carvalho, d.j.

04/06/2008.

Page 232: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

230

indeterminado depende de aviso prévio, sob pena de responsabilidade pelos prejuízos

provocados à parte contrária, bem como dos respectivos lucros cessantes.

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO INDENIZATÓRIA – CONTRATO DE PARCERIA

AVÍCOLA – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – RESILIÇÃO

UNILATERAL DOS CONTRATOS – PARCERIAS FIRMADAS POR PRAZO

INDETERMINADO – NÃO COMPROVAÇÃO DE AVISO PRÉVIO – LUCROS

CESSANTES DEVIDOS – QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO DE

ACORDO COM A LUCRATIVIDADE MÉDIA APURADA EM PERÍCIA –

AQUIESCÊNCIA DAS PARTES COM RELAÇÃO À PROVA EMPRESTADA –

DESCABIMENTO DE UTILIZAÇÃO DAS ULTIMAS REMUNERAÇÕES DOS

AUTORES PARA A FIXAÇÃO DA QUANTIA DEVIDA – RECURSO

CONHECIDO E DESPROVIDO. I – Em se tratando de contrato de parceria avícola

por tempo indeterminado, a resilição unilateral, sem a devida notificação prévia,

acarreta evidente prejuízo à parte contrária, devendo o prejudicado ser ressarcido

pelos respectivos lucros cessantes. (TJSC, Apelação n. 0001162-36.2000.8.24.0018,

Relator Desembargador Substituto Luiz Antônio Zanini Fornerolli, d.j. 15/08/2016).

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo também possui entendimento nesse sentido, de

que torna-se necessária a prévia denúncia escrita do contrato, sob pena de ressarcimento de

danos e multa contratual.

CONTRATO DE PARCERIA - RESSARCIMENTO DE DANOS E MULTA

CONTRATUAL - DECRETO DE PARCIAL PROCEDÊNCIA- NECESSIDADE –

HIPÓTESE EM QUE NÃO FOI COMPROVADA A PRÉVIA DENÚNCIA

ESCRITA DO CONTRATO, CONFORME PREVISTO NA AVENÇA -

ALEGAÇÃO DE RECUSA EM ASSINAR DOCUMENTO TRAZIDA SOMENTE

EM SEDE DE APELAÇÃO- SENTENÇA MANTIDA. (TJSP, Apelação sem revisão

n. 912564-0/3, Relator Desembargadora Cristina Zucchi, d.j. 03/07/2016).

Por outro lado, a relação contratual pode ser desfeita pela resolução, ou seja, em razão de

inexecução do contrato por uma das partes. Neste caso, mais uma vez, há habitualmente a

utilização do termo rescisão para representar a resolução, observando-se tal fato nos três

contratos analisados. A Tabela 27 apresenta as hipóteses de resolução imediata do contrato,

sem aviso prévio, devendo-se indenização por perdas e danos, quando cabível.

Page 233: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

231

Tabela 27. Hipóteses de resolução imediata sem aviso prévio

A B C

Descumprimento de qualquer cláusula contratual X X X

Uso de medicamentos, vacinas, inseticidas, raticidas e

demais aditivos sem ou contrários à orientação técnica

do Integrador

X

Não cumprimento do compromisso de biosseguridade:

não possuir animais de qualquer espécie na propriedade X

Descumprimento da legislação ambiental X

Utilização de mão de obra infantil ou em condições

análogas à escrava X X

Deficiência de manejo do plantel X

Descumprimento de normas técnicas X

Utilização indevida das rações fornecida X

Dispor de sua parte antes da partilha X

Não atingir 65% de resultado na produção em no mínimo

metade dos lotes entregues no últimos 12 meses (sem

multa e compensação)

X

A resolução representa a extinção do contrato por descumprimento do estabelecido em suas

cláusulas, e pode ocorrer por culpa ou de modo involuntário. De qualquer modo, ambas as

situações podem ensejar o pedido de resolução da relação contratual. Por sua vez, a

razoabilidade do não cumprimento importa para fins de responsabilidade por perdas e danos.

Nesse sentido, quando verificada a culpa de uma das partes, pode a outra exigir indenização por

perdas e danos.

Em todo contrato bilateral, existe uma cláusula resolutória tácita, em razão da interdependência

das obrigações. Desse modo, o descumprimento culposo do pactuado gera justa causa para a

resolução de contrato. Por sua vez, é lícito às partes estipular no contrato expressamente uma

cláusula resolutória ou pacto comissório expresso193. Essas duas situações estão dispostas no

artigo 474 do Código Civil (BRASIL, 2002):

Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de

interpelação judicial.

193 O pacto comissório possuía acento no Código Civil de 1916, no artigo 1163, permitindo o desfazimento da

venda no caso de não pagamento do preço até o dia determinado. Embora não consagrado no novo Código Civil,

subsiste em nível doutrinário, como sinônimo de cláusula resolutória, presente, por exemplo, em Sílvio de Salvo

Venosa (2013, p. 526) e em Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012, p. 289).

Page 234: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

232

O objetivo da previsão de cláusula resolutória é resguardar o contratante contra o

comportamento oportunista da outra parte. Assim, de acordo com o artigo 474, o

inadimplemento resulta em operação de pleno direito da cláusula resolutória. Isso, entretanto,

não significa que o contrato será automaticamente extinto. A parte insatisfeita possui meios

legais para postular o reexame das cláusula e até mesmo para o desfazimento do contrato, não

bastando, para tanto, o não cumprimento194.

Neste caso, o que se decorre, é a possibilidade da parte lesada exigir o cumprimento do contrato,

conforme artigo 475 do Código Civil195, ou não sendo possível ou se preferir, optar, então, pela

sua resolução, cabendo, em qualquer caso, indenização por perdas e danos. Observa-se que na

inexistência de cláusula expressa, a resolução dependerá de interpelação judicial.

Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 526-527) atenta que a existência de cláusula expressa não

afasta, necessariamente, a obrigação de declaração judicial, pois além do desfazimento do

vínculo contratual, outros efeitos concretos são observados, como o dever de indenizar ou a

demonstração de inocência da parte contrária.

Desse modo, observa-se que as hipóteses previstas para a resolução dos contratos devem

decorrer de culpa do produtor integrado, resultante de imperfeições no desenvolvimento do

manejo de criação das aves, não se imputando fatores alheios ao seu controle, como caso

fortuito e força maior, ou consequentes de atuação do integrador, como a mortalidade por causas

pré-existentes nos pintos de um dia ou por doenças não controladas por seus técnicos

veterinários ou medicamentos fornecidos.

194 “Direito civil. Contrato de intermediação. Convênio estabelecido entre o Hospital São Bernardo s/a e a

Autolatina. Cláusula prevendo o pagamento pela intermediação. Inocorrência de extinção do contrato. Inércia do

devedor. Obrigação de efetuar o pagamento enquanto perdurar a situação prevista no contrato. Valor da

remuneração. Fixação. Razoabilidade. Recurso provido parcialmente. Votos vencidos. I — Nosso sistema não

contempla a figura da extinção do contrato simplesmente porque uma das partes, não se interessando mais por ele,

resolve deixar de cumpri-lo, sem que haja previsão de indenização. II — A parte insatisfeita com a forma como se

desenrola a execução do contrato tem meios legais para postular o reexame das cláusulas nele insertas e até mesmo

para postular o desfazimento da avença. III — Na espécie dos autos, embora tenham sido firmadas diversas

repactuações entre as partes interessadas, a substância daquele primeiro contrato permaneceu, razão pela qual a

cláusula prevendo pagamento pela intermediação deve ser mantida, até que haja a efetiva extinção do ajuste. IV

— Provimento parcial do recurso para assegurar ao recorrente a percepção da remuneração pelo valor fixado em

abril de 1995, enquanto durar o convênio ou até que haja alteração imposta por decisão judicial em ação que venha

a ser, eventualmente, proposta pelo recorrido” (STJ, REsp 435.920/SP; REsp (2002/0059717-8), DJ, 22-3-2004,

Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma). 195 Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o

cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

Page 235: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

233

Além disso, a situação deve ser comprovada mediante laudo técnico, de modo a evitar a

alegação de problemas ambientais e sanitários como forma de extinguir o contrato

unilateralmente, sem o devido respeito aos investimentos específicos realizados pelo produtor

integrado. Eventuais abusos no desfazimento da relação contratual deverão ser indenizados pelo

integrador, inclusive quanto às obrigações decorrentes de financiamento para fins de estrutura

e equipamento.

Por outro lado, discute-se a necessidade de notificação na esfera do inadimplemento contratual

por uma parte, ou seja, na execução da cláusula resolutória. Nos contratos analisados, observa-

se a instituição de cláusula expressa, prevendo a resolução de pleno direito, independentemente

de notificação. Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 527) atenta que mesmo com a resolução de

pleno direito, com frequência a declaração judicial é necessária e útil, assim, a notificação torna-

se importante meio de comprovação do momento em que se caracterizou o inadimplemento.

Para as hipóteses genéricas de resolução, com referência geral ao descumprimento do contrato,

Darcy Bessone (1987, p. 319) argumenta que enfraquece a sua força, equiparando-se a cláusula

resolutória tácita, necessitando, assim de notificação. O aviso torna-se necessário para que a

outra parte tome conhecimento de que efetivamente descumpriu o contrato e para que possa

cumpri-lo, se ainda for possível (VENOSA, 2013, p. 527).

Por fim, o Contrato A é o único a prever uma escala de sanções antes de extinguir a relação

contratual. Os demais ocasionam a extinção imediata do contrato, ensejando indenização por

perdas e danos. A situação prevista no Contrato A é resultado da política de sustentabilidade da

cadeia agropecuária, prevista no Relatório Anual e de Sustentabilidade (BRF, 2017, p. 133).

Assim, o contrato de produção integrada prevê medidas de recomendação e orientação, que,

caso não observadas, não resultam automaticamente em extinção do contrato, salvo condições

especiais de natureza grave.

CONTRATO A

8.3. Em ocorrendo o descumprimento de qualquer das cláusulas contratuais ou não

atendimento das recomendações técnicas pelo(s) INTEGRADO(S), que, a juízo e

critério exclusivo da BRF, não comprometam a relação da produção integrada, poderá

esta (BRF), adotar as seguintes medidas:

a) No 1º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s)

INTEGRADO(S), solicitando a adequação necessária com prazo definido;

Page 236: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

234

b) No 2º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s)

INTEGRADO(S), desta vez suspendendo o alojamento do próximo lote, para fins de

adequação necessária, sem direito ao(s) INTEGRADO(S) de qualquer remuneração

ou indenização, com a aplicação de multa não compensatória de 5% (cinco por cento)

do valor da média dos três (03) últimos lotes;

c) No 3º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s)

INTEGRADO(S) da rescisão do contrato, com a cobrança de perdas e danos, se

houver, com a aplicação de multa não compensatória de 10% (dez por cento) do valor

da média dos três (03) últimos lotes.

Desse modo, a não observância de cláusulas contratuais ou o não atendimento das

recomendações técnicas resulta em, um primeiro momento, em notificação para adequações

necessárias, com prazo definido; em caso de reiteração, suspensão do próximo lote para

adequação, com a imposição de multa de 5% (cinco por cento) sobre o valor médio dos últimos

três lotes; por fim, no caso de novo descumprimento, dar-se-á, afinal, a extinção do contrato,

indenizando-se o integrador por eventuais perdas e danos, e aplicando-se multa não

compensatória de 10% (dez por cento) sobre o valor médio dos últimos três lotes. No ano de

2016, a BRF (2017, p. 133) informa que não houve distrato por questões ambientais.

4.4.7 Disposições gerais

Neste último item de análise, serão estudas as principais disposições gerais contidas nos

instrumentos contratos em questão, quais sejam, relativas às obrigações ambientais e sanitárias,

à proibição e ao combate de utilização de mão de obra infantil ou em condições análogas à

escrava, à boa-conduta na relação contratual, confidencialidade e, por fim, à discussão sobre a

validade da cláusula de eleição de foro.

4.4.7.1 Obrigações ambientais e sanitárias

Como responsável pelo desenvolvimento do manejo de criação das aves e pela disponibilização

da estrutura de aviário para a sua execução, cabe aos produtor integrado a obtenção das licenças

ambientais necessárias para funcionamento e viabilização da atividade, devendo obedecer e

cumprir todas as normas e regras aplicáveis.

Por sua vez, apesar de não constar no Contrato A, a BRF (2017, p. 133), em seu Relatório Anual

e de Sustentabilidade 2016, informa que, como medida preventiva, mantém um sistema que

gerencia o licenciamento ambiental das propriedades integradas. Em 2016, alcançou 98,02%

Page 237: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

235

das propriedades com licenciamento ambiental, ao passo que os 1,98% restantes estão em

processo de obtenção.

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) determina como conteúdo necessário do contrato de

integração disposições relativas às obrigações do integrador e do produtor integrado no

cumprimento da legislação ambiental, conforme artigo 4º, XII. Nos três contratos analisados, a

responsabilidade é conferida ao produtor integrado, como encarregado pelo desenvolvimento

da produção. Entretanto, o integrador é diretamente interessado no cumprimento de tais

obrigações, sob risco de danos à sua imagem, contaminação da carne produzida e,

consequentemente, embargos de exportação.

Desse modo, os contratos passam a ter uma maior preocupação com questões relacionadas

principalmente à biosseguridade e biossegurança. A biosseguridade refere-se à saúde animal,

com mediadas de prevenção e seguridade. Já a biossegurança, diz respeito à saúde humana,

devendo garantir proteção e erradicar os riscos, pautando-se pelo princípio da precaução.

Nessa circunstância, verificam-se cláusulas de obrigações genéricas de cumprimento da

legislação ambiental e de normas de biosseguridade, biossegurança, bem estar animal e

sanitárias, estabelecidas em âmbito municipal, estadual e federal, bem como as impostas pelo

integrador. Além disso, os contratos impõem obrigações específicas visando a esses objetivos.

Por exemplo, o Contrato A (6.11.a.) não permite o acesso às instalações por terceiros, sem

prévia autorização por escrito e, quanto autorizado, deve cumprir com as condições

estabelecidas. Já o Contrato B (17ª), proíbe o produtor integrado de possuir quaisquer espécies

de animais domésticos ou silvestres, bem como aves, na propriedade, ensejando, em caso de

descumprimento, a extinção imediata do contrato, independentemente de notificação, arcando,

ainda, com os prejuízos.

Portanto, de modo geral, fica sob responsabilidade do produtor integrado a segurança e saúde

de todas as pessoas que desenvolvem atividades no aviário, bem como a higienização da granja,

o controle de insetos e roedores, e adequada destinação dos frangos mortos, dos dejetos,

embalagens e equipamentos descartáveis de vacinas, medicamentos, desinfetantes, defensivos

agrícolas, bem como dos demais resíduos.

Page 238: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

236

Por sua vez, artigo 10 da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) trouxe uma limitação à

responsabilidade ambiental do integrador. Este só será responsável de modo concorrente

quando definir as tecnologias empregadas ou supervisionar a sua adoção. Por outro lado,

quando o dano resultar de adoção de conduta contrária ou diversa às recomendações técnicas

fornecidas pelo integrador, a responsabilidade será exclusiva do produtor integrado.

4.4.7.2 Utilização de mão de obra infantil ou escrava

Pode-se observar nos contratos analisados, uma preocupação com a não utilização de mão de

obra infantil ou em condições análogas a escravo por parte do produtor integrado. Referida

cláusula possui o objetivo de evitar eventual responsabilidade do integrador em razão da

produção em um sistema integrado, além de proteger a sua imagem, que acabará por ter mais

destaque midiático do que o produtor integrado infrator.

Os contratos A (6.1.b) e B (18ª, caput, §1º e 2º) trazem como obrigação do produtor integrado

a não utilização de mão de obra de pessoas com idade inferior a 18 ano, em condições

degradantes ou análogas a escravo, sob pena de resolução imediata do contrato,

independentemente de notificação, respondendo ainda por eventuais perdas e danos.

Para tanto, o contrato exclui a responsabilidade do integrador por eventual descumprimento da

legislação trabalhista protetiva, mas isso não impede que, a depender do caso concreto, seja

condenado por tal prática, em virtude do artigo 9º da CLT (BRASIL, 1943), que decreta ser

nulo de pleno direitos ato praticados com objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação

de seus preceitos.

4.4.7.3 Boa conduta na relação contratual

O Contrato B estabelece, na cláusula décima quinta, prática de boa conduta na relação

contratual, impondo às partes o cumprimento de todas as determinações do contrato e as demais

regras aplicadas à matéria, coibindo, especialmente, atos de corrupção, sob pena de perdas e

danos quando à imagem da parte prejudicada, que poderá também optar pela rescisão do

contrato.

Page 239: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

237

O objetivo de tal disposição é proteger a imagem do integrador por atos de corrupção praticados

pelo produtor integrado, mas não há restrição em relação à parte, ou seja, aplicável também ao

produtor integrado por atos praticados pelo integrador.

Destaca-se que, nos últimos anos, o integrador parte do respectivo contrato foi alvo de diversas

investigações e manchetes diárias na mídia nacional por escândalos de corrupção. O acordo de

leniência envolvendo a J&F Investimentos S.A., holding do grupo JBS foi pactuado com multa

de R$ 10.300.000.000,00 (dez bilhões e trezentos milhões de reais), a maior da história do país,

em razão dos ilícitos apurados (MPF, 2017 p. 15).

Desse modo, comprovando-se danos à imagem dos produtores integrados em razão de atos do

integrador, pode-se requerer perdas e danos e, eventualmente, optar pela rescisão do contrato.

Além disso, comprovando-se que o integrador diminuiu sua participação no mercado em razão

dos eventos citados e, com isso, repassou ao produtor integrado uma diminuição da quantidade

de aves alojadas, diminuindo, com isso, a sua receita, possibilita ao avicultor uma indenização

pelas respectivas perdas e danos.

4.4.7.4 Confidencialidade

A cláusula de confidencialidade não decorre de previsão na Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016), mas encontra uso frequente para proteger informações capazes de influenciar a

competição empresarial. Dentre os três contratos analisados, apenas o Contrato B trouxe o seu

preceito, na cláusula décima nona.

Segundo esse dispositivo, o produtor integrado obriga-se a guardar sigilo em relação a toda e

qualquer informação relacionada com a atividade da integradora, da qual tenha conhecimento

em razão da relação de integração, salvo expressa autorização por escrito permitindo a sua

divulgação196. O descumprimento resulta em responsabilização por eventuais perdas e danos.

O prazo definido para a sua validade é de 5 (cinco) anos após o término na relação contratual,

alcançando os representantes e sucessores do produtor integrado.

196Por exemplo, em razão da cláusula de confidencialidade, os produtores integrados informaram que não podem

divulgar a ocorrência de doenças ou de mortalidade. Entretanto, o integrador não informa qual é a causa verificada.

Page 240: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

238

Ressalva-se, no entanto, a disposição sobre a desnecessidade de advertência sobre a

confidencialidade de determinada informação. O contrato determina que tal característica deve

ser sempre presumida pelo produtor integrado, porém, conforme a reflexão de Leonam de

Souza e Rodrigo Corrêa (2012, p. 165), não basta a mera classificação da informação como

confidencial, sendo indispensável a possibilidade de influir de forma razoável na competição

empresarial. Desse modo, a presunção de confidencialidade resulta em ônus exacerbado ao

produtor integrado, restringindo sua atuação na defesa de seus direitos, principalmente na esfera

extrajudicial.

Assim, entende-se que o integrador deve informar, por escrito, de modo claro e preciso, quais

situações e circunstâncias são abrangidas pela cláusula de confidencialidade, garantindo

segurança jurídica na relação contratual.

4.4.7.5 Cláusula de eleição de Foro

Observa-se, nos três contratos analisados, a presença de cláusula de eleição de foro, como

mostra a Tabela 28, sendo este diferente da localidade em que se encontra o aviário de

produção197.

Tabela 28. Cláusula de eleição de foro.

A B C

Cláusula de eleição de foro Sim Sim Sim

Foro Videira/SC São Paulo/SP Criciúma/SC

Cláusula 9.13. 21ª 15ª

Entretanto, o parágrafo único do artigo 2º da Lei n. 13.288/2016 estabelece como competente

para as ações fundadas no contrato de integração, o foro do lugar onde se situa o

empreendimento do produtor integrado, devendo ser indicado no contrato.

De acordo com o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), conforme artigo 63, as partes

podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será

proposta ação oriunda de direitos e obrigações, derrogando, assim, o previsto na lei. Desse

197 Os Contratos A e B são instrumentos-padrão dos referidos integradores, podendo ter o local de foro alterado a

depender da região em que se verificar a contratação.

Page 241: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

239

modo, tratando-se de competência relativa, como a hipótese em tela, as partes podem, a

princípio, optar por foro diverso, mediante cláusula escrita no contrato, desde que se referiram

expressamente ao negócio jurídico em questão.

Porém, tal cláusula poderá ser declarada nula de ofício pelo magistrado, quando abusiva. Caso

contrário, caberá ao réu alegar a abusividade na contestação, sob pena de preclusão, em

concordância com os parágrafos terceiro e quarto do artigo supra.

Daniel Amorim Assumpção Neves (2017, p. 223) entende que a cláusula de eleição de foro será

nula quando impuser, presumidamente, dificuldades na defesa do réu, tratando-se, entretanto,

de presunção relativa. Assim, no caso concreto, o produtor integrado poderá optar pela cláusula

de eleição de foro, contrariando a proteção prevista na lei.

Destaca-se, ainda, que o Novo CPC ampliou a esfera de atuação do juiz, ao permitir o

reconhecimento de ofício da nulidade. O artigo 112 do antigo Código de Processo Civil

(BRASIL, 1973) restringia essa possibilidade ao contrato de adesão. Já com o artigo 63 do novo

Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), essa circunstância foi ampliada para todo e qualquer

contrato198.

Pormenorizando o sistema de integração, o contrato celebrado entre integrador e produtor

integrado pode ser caracterizado como um contrato de adesão. Por essa característica, o

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já decidiu pela sua nulidade da cláusula de eleição

de foro199. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça decidiu de maneira reiterada pela não

prevalência do foro contratual em contratos de adesão, por não se tratar de uma livre escolha e

implicar em dificuldade de defesa para a parte mais fraca200.

198 Art. 63, § 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício

pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu (BRASIL, 2015).

199AGRAVO DE INSTRUMENTO. Parceria avícola. Demanda reparatória ajuizada pelo avicultor. Negócio de

adesão. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor (avicultor, destinatário de produtos e serviços, sob

conveniência de grupo agropecuário). Cláusula de eleição de foro. Previsão abusiva. Nulidade. Exceção de

incompetência, rejeitada. Recurso do autor. Provimento. (TJSP, Agravo de Instrumento n. 0019820-

06.2003.8.26.0000, Relator Desembargador Carlos Russo, d.j. 03/12/2003). 200 STJ, CC n. 23968, Relator Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ 16/11/1999; REsp n. 722437, Relator Ministro

Aldir Passarinho Junior, DJ 09/05/2005.

Page 242: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

240

Desse modo, ao determinar expressamente qual será o foro competente, a Lei n. 13.288/2016

(BRASIL, 2016) reconhece a vulnerabilidade do produtor e objetiva resguardá-lo de eventuais

abusos, concernentes na tentativa de dificultar a defesa de seus interesses em juízo. Conclui-se,

assim, pela abusividade da eleição de foro por meio de cláusula contratual de adesão, quando

esta dificultar a defesa dos interesses do produtor integrado, devendo-se respeitar, no seu

interesse, a disposição trazida pela Lei n. 13.288/2016, mesmo para os contratos celebrados

anteriormente, por se tratarem de contrato de adesão e verificada a vulnerabilidade do produtor

integrado.

4.4.8 Considerações finais sobre a análise dos contratos

Apesar dos contratos analisados serem anteriores à publicação da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL,

2016), não se observou contrariedades significativas às suas disposições, na medida em que a

preocupação maior do legislador quanto ao regramento do contrato foi estabelecer o conteúdo

mínimo que deve estar previsto, sem, entretanto, impor verdadeiras obrigações às partes quanto

às cláusulas. Assim, esse conteúdo encontra-se abarcado pelos contratos A e B. Já o Contrato

C, não observou todas as disposições obrigatórias, limitando-se às disposições essenciais de

funcionamento do sistema de integração.

Deve-se destacar, também, a divisão de responsabilidades presente nos instrumentos

contratuais. Os contratos B e C caracterizam-se, sobretudo, como um código de conduta do

produtor integrado, um verdadeiro guia ou manual de suas obrigações. Tratando-se de contrato

de adesão, com conteúdo imposto pelo integrador, apresentam um peso desigual na divisão de

atribuições, na medida em que não prescreve número de responsabilidades ao integrador em

equivalência às atribuídas ao produtor integrador.

Com uma natureza jurídica que absorve circunstâncias do contrato de parceria e de sociedade,

evidencia-se um abuso de poder por parte do integrador ao distribuir de modo desigual os riscos

da atividade, contando com cláusulas abusivas, como a responsabilidade pela mortalidade de

aves no carregamento, mesmo sendo este de atribuição do integrador, e a imposição de foro

para solução de conflitos.

Nesse sentido, o artigo 4º da Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) exige a disposição sobre as

responsabilidades e obrigações do produtor integrado e do integrador, tendo como princípio

Page 243: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

241

orientador a conjugação de esforços. Desse modo, viola os seus preceitos quando verificada a

unilateralidade excessiva das cláusulas.

O Contrato A, por sua vez, aproxima-se mais de um modelo ideal de distribuição de obrigações

em um contrato que tem por fundo a parceria, com a previsão, por exemplo, de um

escalonamento de sanção ao produtor integrado antes da resolução do contrato. Nos demais

instrumentos analisados, a resolução opera-se de modo imediato. Além disso, possui cláusula

consideravelmente mais extensa dispondo sobre as obrigações do integrador.

Entretanto, de modo geral, ainda não é suficiente para se verificar um verdadeiro equilíbrio

entre as partes, marcadas pela dependência econômica, motivo pelo qual, presume-se, de modo

relativo, a vulnerabilidade do produtor integrado. Isso, porque, não há uma descrição

pormenorizada das obrigações do integrador, como existe para o produtor integrado. Questões

como a qualidade da ração, dos pintos de um dia e dos insumos fornecidos, as salvaguardas em

consequência de investimentos específicos, e a responsabilidade do integrador por não

cumprimento do contrato, não são previstas.

Desse modo, observando-se a insuficiência da autorregulação do setor produtivo, demanda-se

a intervenção do Estado para determinar as regras incidentes na relação contratual, garantindo

certa proteção ao contratante identificado como vulnerável. Nesse sentido, relevante a opção

do legislador por regular o sistema de integração com a publicação da Lei n. 13.288/2016

(BRASIL, 2016).

Porém, a legislação limitou-se a determinar o regime jurídico aplicável, preocupando-se

principalmente com a regulação geral do sistema de integração, trazendo conceitos, criando

órgãos colegiados (CADEC e FONIAGRO) e instrumentos de transparência acessórios ao

contrato, como o Relatório de Informações da Produção Integrada – RIPI e o Documento de

Informação Pré-Contratual – DPIC. Quanto à regulação efetiva da relação contratual, preservou

a competência dos atores envolvidos no sistema de integração para estipularem as suas

cláusulas.

Observa-se, assim, a adoção pelo legislador de estratégia diversa da verificada no Estatuto da

Terra (BRASIL, 1964), que impõe obrigações às partes, tratando-se de norma cogente, ou seja,

de observância obrigatória. Desse modo, na celebração de contrato de arrendamento ou

Page 244: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

242

parceria, as partes estão obrigadas a respeitar as disposições sobre prazo mínimo, preço, forma

de pagamento e direito de preferência, por exemplo. Por sua vez, a Lei n. 13.288/2016,

determina apenas os assuntos que deverão constar no contrato, sendo o seu conteúdo de livre

estipulação entre as partes.

Na prática, entretanto, o que se verifica é a imposição do contrato pelo integrador, estando o

produtor integrado impossibilitado de discutir os seus parâmetros. A limitação de integradores

disponíveis em uma mesma região dá ensejo a possibilidade de comportamentos oportunistas

em um abuso de dependência econômica.

Interessante notar, por fim, que nos contratos de arrendamento e parceria, previstos no Estatuto

da Terra (BRASIL, 1964), transaciona-se o a posse ou uso temporário da terra. Desse modo, o

gozo do imóvel caberá ao arrendatário ou parceiro-outorgado, que terão a reponsabilidade

principal pelo desenvolvimento do ciclo biológico, assumindo os riscos do resultado. Por outro

lado, no sistema de integração, a agroindústria não assume os riscos principais do

desenvolvimento do ciclo biológico, restando essa obrigação ao produtor integrado, bem como

os investimentos necessários para a atividade.

Apesar dessas características, o Estatuto da Terra promove uma proteção significativamente

maior do que a observada na Lei n. 13.288/2016. Entretanto, justamente por sua tônica

protetiva, sofre críticas quanto à imperatividade de suas disposições relativas às cláusulas

contratuais201. Desse modo, a Lei n. 13.288/2016 apresenta-se mais condizente com uma

relação contratual interempresarial.

4.5 IMPACTOS DA TIPIFICAÇÃO PARA O SETOR AVÍCOLA

Para alcançar o objetivo geral deste trabalho, utilizou-se múltiplos instrumentos para a coleta

de dados. Os primeiros capítulos tiveram como base uma revisão de literatura sobre a Nova

Economia Institucional, contratos, integração vertical e quase-integração, como referencial

teórico para o estudo do contrato de integração. Em um segundo momento, realizou-se análise

documental, referente à legislação aplicável à integração. Por fim, chegou-se nesse presente

201 Defendemos em trabalho apresentado no XIII Congresso Mundial de Direito Agrário a necessidade de se

discutir e alterar algumas normas restritivas que não mais se adequam à realidade social e econômica brasileira

(DARIO; TRENTINI; AGUIAR, 2014, p. 73).

Page 245: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

243

capítulo de análise empírica, em que por meio da análise de dados, entrevistas e análise

documental de instrumentos contratuais pode-se ter uma visão aprofundada sobre o sistema de

integração e a utilização de contratos.

Neste item, dessa forma, tem-se o objetivo de triangulação de todos os dados e informações

discutidas ao longo da pesquisa, de modo a explorar os impactos jurídicos da tipificação do

contrato agroindustrial de integração para o sistema avícola brasileiro.

A presente análise teve como ponto de partida a indagação feita por Kassia Watanabe (2007, p.

241) sobre a necessidade de intervenção do Estado com lei específica regulando os contratos

agroindustriais, na medida em que os próprios agentes econômicos envolvidos na atividade

determinam as regras para o seu funcionamento.

A necessidade de intervenção do Estado, de acordo com Kassia Watanabe (2007, p. 242), pode

ser analisada sob duas perspectivas: i) teoria normativa da regulamentação: “o Estado deve

intervir quando o sistema de transações impessoais de mercado, mediado somente pelos preços,

falha em proporcionar uma alocação eficiente de recursos” (FARINA, 1997, p. 115); ii)

complementariedade: as regras advindas do Estado serão complementares as regras determinas

pelos agentes econômicos envolvidos no sistema agroindustrial

Observa-se que as duas perspectivas foram alcançadas pelo legislador. Há intervenção das

regras estatais na obrigatoriedade de instituição de CADEC e FONIAGRO, no fornecimento de

DIPC e do RIPI, bem como na determinação de foro competente e de divisão da

responsabilidade ambiental, por exemplo. Por outro lado, quanto às cláusulas contratuais, a não

utilização normas imperativas demonstra a complementariedade das regras estatais, uma vez

que dispõe apenas sobre o que deve constar no contrato, deixando o como para definição dos

agentes econômicos.

Nesse sentido, a análise empírica desenvolvida no setor avícola demonstrou a necessidade de

regulação do contrato de integração, em razão de falhas na alocação eficiente de recursos e na

insuficiência do regramento particular, demandando, assim, a atuação do Estado para não só

complementar essas regras, mas também para impor novas diretrizes ao sistema de integração,

com objetivo de evitar abuso de poder econômico, evitando, dessa forma, comportamentos

oportunistas na relação contratual.

Page 246: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

244

O legislador, por sua vez, optou por criar regras de conduta, respeitando, assim o que já existia

na prática contratual, ao contrário do que se observa no Estatuto da Terra, que, ao regulamentar

os contratos agrários típicos de arrendamento e parceria, traz normas imperativas, impondo

conteúdo das cláusulas estruturais do contrato, tais como prazo mínimo, preço e forma de

pagamento, benfeitorias.

Por um lado, o estabelecimento de cláusulas gerais e regras de conduta asseguram maior

autonomia de vontade para as partes determinarem o conteúdo normativo do contrato, além de

instituir parâmetros interpretativos. Por outro lado, a ausência de normas imperativas pode

resultar em falha na repressão ao abuso de dependência econômica, permitindo, por exemplo,

ao integrador a imposição seus interesses nas deliberações da CADEC e do FONIAGRO, bem

como na divisão contratual de obrigações e responsabilidades.

4.5.1 Tipificação

Nessa perspectiva, enseja o questionamento de Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 163) sobre

a concreta tipificação do contrato de integração, afirmando que permanece como atípico, por

não estabelecer um regulamento contratual, com direitos e obrigações incidentes sobre as

partes, mas apenas “regras de conduta a serem observadas pelas partes na contratação”

Respeitando-se tal posicionamento, entende-se que o contrato de integração foi tipificado pela

Lei n. 13.288/2016, na medida em que o define e estabelece padrões de comportamento que

devem ser observados pelos contratantes. Há, de certo modo, uma maior preocupação do

legislador em regular o sistema de integração, mas isso não implica na continuidade do contrato

como atípico.

Isto, porque, quando as partes necessitarem celebrar um contrato de integração, não poderão

livremente estipular as suas cláusulas e o seu conteúdo. Pelo contrário, deverão observância às

disposições previstas na Lei n. 13.288/2016, quanto ao conceito do sistema de integração, do

contrato e das partes, quanto as cláusulas de repetição obrigatória, quanto aos princípios e

cláusulas gerais, bem como quanto aos instrumentos de transparência, Documento de

Informação Pré-Contratual (DIPC) e Relatórios de Informações da Produção Integrada (RIPI).

Page 247: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

245

Desse modo, conforme explicação de Álvaro Villaça de Azevedo (2009, p. 69), de que “a

tipicidade significa presença, e a atipicidade ausência, de tratamento legislativo específico”,

não se pode negar que a lei trouxe um tratamento legal específico, definindo um novo tipo

contratual.

4.5.2 Dependência econômica

A análise do sistema de integração avícola mostrou que a relação contratual envolve

empresários, conforme a definição trazida pelo Código Civil202, afastando, assim, a

vulnerabilidade típica da relação consumerista. Entretanto, isso não significa que as partes

encontram-se em igualdade de condições, caracterizando-se a relação pela existência de

desequilíbrio econômico entre integrador e produtor integrado.

O desequilíbrio econômico, por sua vez, pode resultar em situação de dependência econômica,

conforme definição de Gustavo Diniz (2010, p. 9)203. Em primeiro momento, a dependência

econômica deve ser decisiva na condução do contrato, em todas as suas fases. Esse fator é

verificado na integração avícola: o contrato é de adesão, implicando na imposição de seu

conteúdo ao produtor integrado para contratar. Além disso, o sistema é marcado pela ingerência

do integrador nas obrigações e responsabilidades do produtor integrado, com o fornecimento

de insumos e de assistência técnica, bem como o controle do cumprimento de boas-práticas de

manejo e da legislação trabalhista e ambiental.

Além disso, o integrador encontra-se em posição de impor circunstâncias e condições do

contrato, pois os produtores integrados são obrigados a aceitá-las para a manutenção do contrato

e a sua participação no mercado. Isso, resulta, dos investimentos específicos realizados para o

desenvolvimento da produção e do pequeno número de integradores viáveis para realizar novo

contrato204.

202 Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a

produção ou a circulação de bens ou de serviços. 203 Gustavo Diniz (2010, p. 9) conceitua a dependência econômica como “influência decisiva de poder de uma das

partes para impor circunstâncias relevantes e condições à outra, que as aceita para manter o contrato e se manter

no mercado”. 204 Observou-se que a produção independente é inviável e existe uma limitação de parceiros nas regiões,

dificultando o encontro de novo integrador para contratar em decorrência da elevada especificidade dos ativos,

principalmente locacional, em razão do custo e prazo para transporte.

Page 248: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

246

Desse modo, os produtores integrados não possuem a liberdade de negociar os parâmetros

constantes no contrato e são obrigados a aceitar as imposições do integrador sob risco de não

contratação ou de desfazimento unilateral do contrato. Não encontrando outras opções viáveis

para contratar, isso resultaria em interrupção da atividade avícola e em não utilização das

estruturas produtivas, acarretando prejuízos.

Destaca-se a afirmação de Martine Behar-Touchais e Georges Virassamy (1999, p. 77) de que

a desigualdade de condições entre os agentes econômicos contratantes é inevitável, sendo uma

das características dominantes das relações contratuais contemporâneas. Assim, a situação de

dependência econômica, por si, não é repreensível, mas sim o seu abuso.

No sistema de integração avícola, observou-se a existência de abuso de dependência econômica,

principalmente quanto à imposição de obrigações sob pena de desfazimento unilateral do

contrato. Verificou-se também uma unilateralidade excessiva na distribuição de direitos e

obrigações entre as partes, transformando o contrato, praticamente, em um código de conduta

ao produtor integrado. O contrato estabelece inúmeras obrigações ao avicultor, constando suas

sanções respectivas, entretanto, são poucas as obrigações atinentes ao integrador, inexistindo

sanção para o seu descumprimento.

Assim, verifica-se a necessidade de dispositivos legais voltados para a coibição do abuso de

dependência econômica. Porém, como se trata de relação interempresarial, a tutela deve estar

“em conformidade com as regras e os princípios típicos do direito mercantil e não da lógica

consumerista” (FORGIONI, 2010, p. 35). Critica-se o Estatuto da Terra justamente pela adoção

de normas protetivas imperativas, trazendo restrições até mais rigorosas do que as previstas no

Código de Defesa do Consumidor205.

Gustavo Diniz (2016, p. 8) aponta a dicotomia que deve ser respeitada nesse sistema:

delimitação de poderes contratuais geradores de dependência econômica x preservação da

autonomia da vontade. O que se espera da lei, nesse sentido, é a constituição de mecanismos

para equilíbrio de poder e coibidores de abuso de dependência econômica, e não uma norma

essencialmente protetiva, contrária, assim, à natureza empresarial da relação jurídica.

205 Como exemplo, a obrigação de prazo mínimo para o contrato.

Page 249: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

247

A constituição de órgãos colegiados com formação paritária denota ser um importante

mecanismos de equilíbrio de poder, ao permitir a participação dos produtores integrados no

acompanhamento do sistema de integração e na solução de litígios. Entretanto, como se

verificou, a ausência de regulamento sobre a sua composição e a forma de eleição dos

respectivos membros acaba por restringir a participação dos produtores integrados. Assim,

conforme observado em Santa Catarina, a criação de CADEC unilateralmente pelo integrador

contraria a disposição legal e o seu objetivo, e transforma-se em instrumento de legitimação de

interesses.

Relevante, nesse sentido, a previsão do inciso XIV do artigo 4º, de prazo para aviso prévio, no

caso de rescisão unilateral e antecipada do contrato, devendo-se levar em consideração o ciclo

produtivo e o montante dos investimentos realizados. Apesar de disposição nesse sentido

constante no artigo 473 do Código Civil, observou-se ser comum o desfazimento unilateral do

contrato, independentemente de aviso prévio proporcional ao montante dos investimentos

realizados.

O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina entende, nessa situação, que os investimentos

não caracterizam danos materiais, pois continuam pertencentes aos avicultores.206 Entretanto,

o desfazimento unilateral do contrato implica em prejuízos, uma vez que retira o produtor

integrado da atividade, na ausência de outro parceiro viável.

Assim, a necessidade de prazo para aviso prévio, proporcional à atividade e ao investimento,

além de parâmetro interpretativo, deve constar obrigatoriamente no instrumento contratual,

promovendo uma maior segurança jurídica ao produtor integrado quanto o desfazimento

unilateral do contrato. Segue-se, deste modo, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça,

206

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO INDENIZATÓRIA – CONTRATO DE PARCERIA AVÍCOLA – SENTENÇA

DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – RESILIÇÃO UNILATERAL DOS CONTRATOS – PARCERIAS

FIRMADAS POR PRAZO INDETERMINADO – NÃO COMPROVAÇÃO DE AVISO PRÉVIO – LUCROS

CESSANTES DEVIDOS – QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO DE ACORDO COM A

LUCRATIVIDADE MÉDIA APURADA EM PERÍCIA – AQUIESCÊNCIA DAS PARTES COM RELAÇÃO

À PROVA EMPRESTADA – DESCABIMENTO DE UTILIZAÇÃO DAS ULTIMAS REMUNERAÇÕES DOS

AUTORES PARA A FIXAÇÃO DA QUANTIA DEVIDA – RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. I –

Em se tratando de contrato de parceria avícola por tempo indeterminado, a resilição unilateral, sem a devida

notificação prévia, acarreta evidente prejuízo à parte contrária, devendo o prejudicado ser ressarcido pelos

respectivos lucros cessantes. (TJSC, Apelação n. 0001162-36.2000.8.24.0018, Relator Desembargador Substituto

Luiz Antônio Zanini Fornerolli, d.j. 15/08/2016).

Page 250: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

248

quanto ao abuso da cláusula de não indenização por investimentos específicos ainda não

amortizados207.

4.5.3 Contrato de integração

Primeiramente, ressalta-se que a opção do legislador por não estabelecer normas restritivas

imperativas, mas sim regras de conduta e de conteúdo obrigatório no contrato, não resultou em

significativos impactos quanto às principais obrigações contratuais. Isto, porque, a lei assegura

a autonomia da vontade para as partes definirem o conteúdo das cláusula obrigatórias. Nesse

cenário, apresenta-se como complementar às regras determinadas pelos agentes econômicos.

Por exemplo, quanto à duração do contrato, poderá ser pactuado por prazo determinado ou

indeterminado, não havendo prazos mínimos, como se verifica no Estatuto da Terra. A

distribuição das responsabilidades e obrigações também irá decorrer da vontade das partes,

devendo, entretanto, respeito aos princípios e cláusulas gerais, tais como a reciprocidade das

responsabilidades e obrigações, a conjugação de esforços, a justiça da distribuição dos

resultados e a transparência.

Quanto ao preço e forma de pagamento, a Lei n. 13.288/2016 não determina expressamente

como deve ser apurado, como faz o Estatuto da Terra, entretanto, atribuí essa função ao

FONIAGRO, que deverá estabelecer metodologia de cálculo do valor de referência para a

remuneração do integrado. Nota-se a inspiração no sistema de precificação da cana-de-açúcar,

determinada pela metodologia do CONSECANA.

Na literatura, apontou-se como vantagem do contrato de integração, a possibilidade de

transferência de tecnologia. A lei trata dessa situação, quando discorre sobre a propriedade de

máquinas e equipamentos fornecidos pelo integrador e instalações financiadas ou custeadas

pelo integrador (art. 8º). Entretanto, essa situação não foi verificada nas entrevistas e na análise

207 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO. RESILIÇÃO

UNILATERAL. VIOLAÇÃO À BOA-FÉ OBJETIVA. ABUSO DE DIREITO. INDENIZAÇÃO. 1. As

conclusões do acórdão recorrido quanto à violação ao princípio da boa-fé objetiva, à constatação do abuso de

direito, bem como ao critério para aferição dos lucros cessantes, não podem ser afastadas sem a revisão do contexto

fático-probatório da demanda ou a análise precisa do contrato entabulado entre as partes, o que é vedado em sede

de recurso especial, a teor dos enunciados 5 e 7 da Súmula do STJ. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no REsp 1224400 / PR, Relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, d.j. 04/09/2012).

Page 251: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

249

de contrato. Na avicultura, a responsabilidade pela construção do galpão e pela aquisição de

equipamentos é exclusiva do produtor, sem a participação do integrador.

4.5.4 Solução de conflitos

A transação de matéria-prima pode ser considerada um dos pontos mais importantes no sistema

agroindustrial, porém, também, o mais conflituoso. Analisando o SAG da cana-de-açúcar,

Marcos Fava Neves, Roberto Silva Waack e Matheus Kfouri Marino (1998, p. 10) concluíram

que as partes não se comportam como parceiras, buscando relacionamentos estáveis e de longo

prazo, com divisão de riscos e margens, mas sim com uma visão de curtíssimo prazo, visando

a resultado imediato.

A análise empírica mostrou que a transação de matéria-prima na avicultura, apesar da

organização em um sistema de integração, também caracteriza-se por um comportamento não

cooperativo, não havendo uma divisão equitativa de riscos e margens, com uma visão de

curtíssimo prazo, na medida em que o contrato pode ser resilido unilateralmente a qualquer

momento. Nesse sentido, diversos foram os problemas apontados pelos entrevistados e

observou-se com certa frequência o desfazimento unilateral do contrato pelo integrador.

Em seus estudos, Nunziata Paiva (2005, p. 115) verificou serem poucas as decisões judiciais

envolvendo o contrato de integração e discorreu sobre duas hipóteses para esse fenômeno: i)

adoção de arbitragem para a solução de conflitos entre as partes; ii) o desequilíbrio econômico

entre as partes inibiria os produtores integrados a denunciar judicialmente irregularidades na

relação contratual, sob risco de exclusão.

A Constituição Federal garante o acesso à justiça para todos, de modo a terem suas pretensões

apreciadas pelo Poder Judiciário208. Assim, José Roberto dos Santos Bedaque (2003, p. 71)

disserta que

Acesso à justiça, ou mais precisamente, acesso à ordem jurídica justa, significa

proporcionar a todos, sem qualquer restrição, o direito de pleitear a tutela jurisdicional

do Estado e ter à disposição o meio constitucionalmente previsto para alcançar esse

resultado. Ninguém pode ser privado do devido processo legal, ou melhor, do devido

processo constitucional. E o processo modelado em conformidade com garantias

208 Art, 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito

Page 252: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

250

fundamentais, suficientes para torná-lo équo, correto e justo. (BEDAQUE, 2003, p.

71)

Por outro lado, explana que inúmeras são as dificuldades enfrentadas por quem busca a tutela

jurisdicional do Estado, resultantes de uma justiça em crise, sobretudo quanto à exagerada

demora e ao alto custo do processo (BEDAQUE, 2003, p. 71). Além disso, os entrevistados

apontaram o risco de perda do parceiro e a descrença no Poder Judiciário como fatores decisivos

pela sua não procura.

Retornando às hipóteses elencadas por Nunziata Paiva (2005, p. 115), não se observou a adoção

de arbitragem para a solução de conflitos, concluindo-se, deste modo, que o baixo número de

decisões judiciais resulta da inibição em buscar o Poder Judiciário, em decorrência do

desequilíbrio econômico das partes. Observou-se, assim, um sentimento de descrença em

relação à jurisdição, uma vez que a disparidade econômica e, consequentemente, técnica e

jurídica, levaria a uma prevalência dos interesses do integrador. Além disso, a sua procura

certamente resultaria em exclusão contratual.

Desse modo, nota-se um campo fértil para a promoção de mecanismos de solução alternativa

de conflitos. Acertada, assim, a opção do legislador de incluir nas funções da CADEC “dirimir

questões e solucionar, mediante acordo, litígios entre os produtores integrados e a integradora”.

Porém, a lei não menciona qual mecanismo poderá ou deverá ser utilizado: negociação,

conciliação, mediação ou arbitragem.

Em princípio, ao dispor que a solução deverá ser mediante acordo, a lei faz referência aos meios

consensuais, em que as próprias partes buscam a solução para o conflito, “não havendo,

portanto, a delegação do poder de resposta, já que a mesma é construída” (SALES; RABELO,

2009, p. 75). Desse modo, a CADEC não teria competência para a realização de arbitragem,

solução heterônoma, em que um terceiro decide a questão.

Entretanto, a estrutura de atribuições da CADEC aproxima-se dos disputes boards, mecanismos

com função pericial, arbitral e de acompanhamento, explicado por Arnold Wald (2005, p. 18)

Os disputes boards (DB) são os painéis, comitês, ou conselhos para a solução de

litígios cujos membros são nomeados por ocasião da celebração do contrato e que

acompanham a sua execução até o fim, podendo, conforme o caso, fazer

recomendações (no caso dos Dispute Review Boards - DRB) ou tomar decisões

Page 253: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

251

(Dispute Adjudication Boards - DAB) ou até tendo ambas as funções(Combined

Dispute Boards - CDB), conforme o caso, e dependendo dos poderes que lhes foram

outorgados pelas partes (WALD, 2005, p. 18)

A composição da CADEC será estabelecida pelas partes envolvidas no contrato, de modo

paritário, com função de acompanhar o cumprimento dos encargos e das obrigações contratuais,

bem como de dirimir questões e solucionar litígios. Arnold Wald (2005, p. 19) aponta como

grande vantagem desse sistema a constituição por especialistas que acompanham todo o

desenvolvimento do contrato. Além disso, é caracterizado pela solução rápida, confidencial,

menos onerosa e mais eficiente (SKITNEVSKY, 2016, p. 9).

Gilberto José Vaz (2006, p. 166) assinala dois pressupostos para os seus integrantes:

profissionais capacitados e imparciais. Assim, a indicação de representantes pelo integrador e

produtores integrados cumpre a capacitação dos profissionais, por estarem envolvidos

diretamente na atividade, possuindo, assim, conhecimento específico sobre o funcionamento do

sistema de integração. Entretanto, a lei não dispõe de instrumentos garantidores da

imparcialidade do mecanismo.

Em razão da CADEC ser constituída por componentes do sistema de integração, que

encontram-se em situação assimétrica, há necessidade de previsão de salvaguardas contra o

abuso de dependência econômica. Por exemplo, a proteção contra o desfazimento unilateral do

contrato, sem justa causa, para os representantes eleitos pelos produtores integrados. Não há

como garantir a imparcialidade do mecanismo, quando metade dos componentes da CADEC

podem sofrer exclusão contratual no caso de contrariarem os interesses do integrador.

No entanto, a Lei n. 13.288/2016 não esclarece como as controvérsias serão solucionadas e

tampouco traz proteção aos representantes dos produtores integrados na CADEC, falhando,

assim, em coibir abusos de dependência econômica. Caberá, portanto, ao regulamento assentar

as regras incidentes nesse sistema, sob pena de não ser efetivado, na prática, ou, ainda pior, de

transformar-se em instrumento para legitimação da imposição de interesses do integrador.

4.5.5 Responsabilidade ambiental

Os contratos analisados determinam obrigações ambientais e sanitárias ao produtor integrado,

em razão de seu papel no manejo da criação das aves. Por desenvolver a atividade produtiva,

Page 254: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

252

torna-se responsável pela obtenção de licenças ambientais e pelo cumprimento das normas e

regras aplicáveis, bem como, consequentemente, aos respectivos danos ambientais. Por outro

lado, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de incluir na responsabilidade pelo

dano ambiental aqueles que dele se beneficiem209. Francisco de Godoy Bueno (2017, p. 189)

alerta para a insegurança jurídica que isso resultaria no sistema agroindustrial, tornando os

contratos insuficientes para definir riscos e responsabilidades.

Nesse sentido, o artigo 10 da Lei n. 13.288/2016 trouxe uma limitação à responsabilidade

ambiental do integrador. Este só será responsável de modo concorrente quando definir as

tecnologias empregadas ou supervisionar a sua adoção. Por outro lado, quando o dano resultar

de adoção de conduta contrária ou diversa às recomendações técnicas fornecidas pelo

integrador, a responsabilidade será exclusiva do produtor integrado.

209 13. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz

quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem

se beneficia quando outros fazem. 14. Constatado o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes com o

dano ambiental em questão, surge, objetivamente, o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar

eventuais danos remanescentes, na forma do art. 14, § 1°, da Lei 6.938/81. STJ, REsp 650.725/SC, Relator Ministro

Herman Benjamin, Segunda Turma, d.j. 23/10/2007. Nesse mesmo sentido, REsp 1381211/TO, Relator Ministro

Marco Buzzi, Quarta Turma, d.j. 15/05/2014.

Page 255: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

253

5 CONCLUSÃO

Este trabalho buscou verificar quais foram os impactos jurídicos da tipificação do contrato de

integração para o setor avícola brasileiro. O contrato de integração ganhou importância no

Brasil na década de 1960, quando foi introduzido na avicultura catarinense. O modelo

contratual tornou-se fundamental para o crescimento e desenvolvimento de diversas atividades

agrárias, como avicultura, suinocultura, fruticultura, piscicultura e silvicultura, e foi tipificado

pela Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016).

No primeiro capítulo, estudou-se a Nova Economia Institucional e os contratos, observando

como as instituições, nas quais se incluem as regras sobre contratos, interferem nos custos de

transação e atuam como indutores de formas de governança, ao lado das características da

transação e dos pressupostos comportamentais.

Desse modo, esses três fatores irão influenciar na opção por uma estrutura hierárquica, de

mercado ou híbrida. A estrutura híbrida configura-se por uma quase-integração, ou integração

contratual, sendo permitida pelo ordenamento jurídico a criação de contratos atípicos que

melhor se adequem aos interesses das partes. Nesse cenário foi instituído o contrato

agroindustrial de integração, pelo qual as partes coordenam a produção e o suprimento de

matéria-prima para a agroindústria.

Entretanto, em algumas situações, mostra-se necessária a regulação contratual, de modo a

assegurar a estabilidade do pactuado, ou seja, garantir segurança jurídica às partes. O legislador,

por sua vez, deve considerar que normas excessivamente restritivas ou mal redigidas podem

gerar efeitos negativos, resultando na criação de novos contratos atípicos.

No segundo capítulo, iniciou-se a comparação entre os conceitos de integração vertical para a

Administração e para o Direito, uma vez que a terminologia empregada pela Lei n. 13.288/2016

corresponde a uma quase-integração, ou seja, uma integração contratual. A integração vertical

propriamente dita corresponde à propriedade e ao controle de etapas da produção, em um

mesmo poder decisório.

Page 256: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

254

A integração contratual, por sua vez, permite a concentração de esforços nas atividades

principais, melhorando a performance econômica, conferindo ainda algumas vantagens da

integração vertical em razão da celebração e contratos de longa duração: i) comunhão de

interesses das partes; ii) diminuição de riscos de oscilação de preço; iii) diminuição de risco de

oscilação ou interrupção da oferta ou da demanda; iv) minimização do poder de negociação.

Além disso, não exige o investimento e a administração de atividades conexas.

Os sistemas agroindustriais, com a inserção da agricultura no sistema econômico, apresentam

uma tendência moderna para a estruturação em integração contratual, devido à necessidade das

agroindústrias de coordenarem quantidade e qualidade com o setor produtivo. Desse modo,

utiliza-se contratos de longa duração, com fortes relacionamentos operacionais, permitindo a

ingerência da agroindústria sobre o produtor.

Essa relação é marcada por um situação de desequilíbrio econômico, que pode resultar em

dependência econômica, favorecendo o seu abuso, em razão de comportamento oportunista de

uma das partes. A existência de cláusula de exclusividade, de investimentos específicos

realizados pelo produtor integrado e contratos celebrados por prazo indeterminado com

permissão para a resilição unilateral, são fatores que elevam o grau de dependência econômica,

demandando atuação da lei em sua redução e na coibição o seu abuso.

A Lei n. 13.288/2016 (BRASIL, 2016) tipificou o contrato agroindustrial de integração,

optando-se pela criação de regras de conduta e de conteúdo obrigatório no contrato, em

contrapartida às normas restritivas imperativas que regem o Estatuto da Terra (BRASIL, 1964).

Quanto ao controle do abuso de dependência econômica, a Lei n. 13.288/2016 institui

importantes instrumentos com a finalidade de equilibrar o poder e permitir a participação dos

produtores integrados no acompanhamento do sistema de integração: i) órgãos colegiados de

formação paritária - CADEC e FONIAGRO; ii) mecanismos de transparência - DIPC e RIPI;

iii) aviso prévio para a resilição unilateral do contrato considerando o ciclo produtivo e o

montante dos investimentos realizados.

No terceiro capítulo, desenvolveu-se uma análise empírica do setor avícola, mediante análise

de dados e entrevistas, conjugando-se uma análise documental de instrumentos contratuais de

integração. Essa análise foi fundamental para a persecução do objetivo de pesquisa, permitindo-

Page 257: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

255

se a coleta de informações e a descoberta de fenômenos, necessárias em razão da incipiência de

estudos jurídicos sobre o contrato de integração.

Observou-se que o contrato de integração caracteriza-se como de adesão, não havendo

negociação sobre nenhum critério ou parâmetro. Assim, as sua cláusulas são impostas pelo

integrador aos produtores integrados, que podem decidir apenas entre contratar ou não. Além

disso, observou-se uma unilateralidade excessiva nos contratos, com imposição de obrigações

e responsabilidades aos produtores integrados, configurando-se como uma espécie de código

de conduta. Isso fere a lógica de cooperação do sistema, reconhecido pela Lei n. 13.288/2016

(BRASIL, 2016) no princípio orientador da conjugação de recursos e esforços e pela

distribuição justa dos resultados, conforme artigo 3º.

Além disso, observou-se a ocorrência de investimentos específicos determinantes para o

desenvolvimento da atividade avícola, resultando em dependência econômica. Assim, as

exigências do integrador para modernização das estruturas devem ser acatadas para a

continuidade da relação contratual. Porém, os contratos não estabelecem salvaguardas relativas

aos investimentos específicos, possibilitando ação oportunista do integrador. Desse modo,

importante a previsão do artigo 4º, XIV, relativo à consideração do montante dos investimentos

realizados na definição e prazo para aviso prévio no caso de resilição unilateral do contrato.

A ausência de normas restritivas imperativas demonstra o reconhecimento da natureza

interempresarial da relação contratual, afastando-se do protecionismo característico da lógica

consumerista. Entretanto, para algumas situações que envolvem diretamente as cláusulas do

contrato na avicultura, a situação de abuso de dependência econômica ainda pode ser verificada,

como o prazo para alojamento de lote e a quantidade de aves alojadas. Nesse sentido, a Lei n.

13.288/2016 não se mostrou plenamente suficiente para coibir abuso de dependência

econômica.

Por fim, verificou-se que, mesmo após dois anos de sua publicação, os avicultores pouco têm

ciência sobre a sua existência e sobre o seu conteúdo, não sendo plenamente respeitada. Os

mecanismos de transparência (DIPC e RIPI) não estão sendo fornecidos pelo integrador, e os

órgãos colegiados ainda não foram instituídos para todos os setores produtivos. Assim, o

principal desafio que se apresenta quanto à Lei n. 13.288/2016 é a sua efetivação no sistema de

integração avícola.

Page 258: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
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257

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Page 278: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 279: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

277

APÊNDICE A - QUADRO COMPARATIVO PROJETOS DE LEI

PL 4378/1998 PL 3979/2008 PL 8023/2010 PL 1572/2011 –

EMC 33 PLS 487/2013 PLS 330/2011 inicial LEI 13288/2016

Contrato de integração Contrato de produção

integrada

Contrato de integração

econômica vertical ou contrato

de integração

Contrato de integração

agroindustrial

Contrato de

integração

agroindustrial

Contrato de parceria de

produção integrada

agropecuária ou contrato de

integração

Contrato de integração vertical ou

contrato de integração

Art. 2º, III - processo de

integração - aquele em

que o produtor rural

integrado assume a

realização de etapa

determinada do

processo de produção

de animais ou vegetais,

destinados à

industrialização ou à

comercialização, por

parte da agroindústria

contratante

Art. 2º, III – sistema de

produção integrada: aquele

em que produtor rural

integrado e agroindústria

associam-se para a

realização de determinada

etapa do processo produtivo

de bens finais ou de

matérias-primas de origem

vegetal ou animal, mediante

contrato de produção

integrada;

Art. 2º, I – integração

agroindustrial ou integração: o

sistema de integração vertical

entre produtores agrícolas e

agroindústrias integradoras,

visando planejar e realizar a

produção de matéria-prima,

bens intermediários ou de

consumo final, e cujas

responsabilidades e obrigações

recíprocas são estabelecidas

em contratos de integração;

Art. 33. A atividade

econômica

agroindustrial objeto

de contrato será

explorada por meio de

um sistema de

integração.

Art. 2º, I - integração

agroindustrial ou integração: o

sistema de parceria integrada

entre produtores agrícolas e

agroindústrias integradoras,

visando planejar e realizar a

produção de matéria-prima,

bens intermediários ou de

consumo final, e cujas

responsabilidades e obrigações

recíprocas são estabelecidas em

contratos de integração;

Art. 2º, I - integração vertical ou

integração: relação contratual entre

produtores integrados e

integradores que visa a planejar e a

realizar a produção e a

industrialização ou comercialização

de matéria-prima, bens

intermediários ou bens de consumo

final, com responsabilidades e

obrigações recíprocas estabelecidas

em contratos de integração;

Art. 2º, II - produtor

rural integrado - aquele

que, de forma

individual ou

associativa, mediante

contrato, assume etapa

do processo produtivo

determinado pela

agroindústria;

Art. 2º, II - produtor rural

integrado: aquele que, na

condição de produtor

agropecuário, extrativista

vegetal ou pescador,

atuando individual ou

coletivamente, realiza etapa

de processo de produção

determinado por

agroindústria;

Art. 2º, II – produtor

agropecuário integrado ou

produtor integrado: produtor

agropecuário, pessoa física ou

jurídica, que individualmente

ou de forma associativa, com

ou sem a cooperação laboral

de prepostos, se vincula à

integradora por meio de

contrato de integração para

produção de matéria-prima,

bens intermediários ou de

consumo final

Art. 30. O produtor é o

contratante integrado;

o outro empresário ou

os demais empresários

contratantes são os

integradores.

Art. 694. O produtor

é o contratante

integrado e o outro

empresário ou os

demais empresários

contratantes são os

integradores.

Art. 2º, II – produtor

agropecuário integrado ou

produtor integrado: produtor

agropecuário, pessoa física ou

jurídica, que individualmente

ou de forma associativa, com ou

sem a cooperação laboral de

prepostos, vincula-se à

integradora por meio de

contrato de parceria integrada,

com o fornecimento de bens e

serviços, para produção de

matéria-prima, bens

intermediários ou de consumo

final;

Art. 2º, II - produtor integrado ou

integrado: produtor

agrossilvipastoril, pessoa física ou

jurídica, que, individualmente ou

de forma associativa, com ou sem a

cooperação laboral de empregados,

se vincula ao integrador por meio

de contrato de integração vertical,

recebendo bens ou serviços para a

produção e para o fornecimento de

matéria-prima, bens intermediários

ou bens de consumo final;

Art. 2º, I – agroindústria

- empresa que

industrializa ou

beneficia produtos de

origem agropecuária;

Art. 2º, I – agroindústria: a

empresa que industrializa

ou beneficia produto de

origem agropecuária,

extrativista ou da pesca;

Art. 2º, III – agroindústria

integradora: pessoa física ou

jurídica que se vincula ao

produtor agropecuário por

meio de contrato de integração

Art. 2º, III - agroindústria

integradora: pessoa física ou

jurídica que se vincula ao

produtor agropecuário por meio

de contrato de parceria

Art. 2º, III - integrador: pessoa

física ou jurídica que se vincula ao

produtor integrado por meio de

contrato de integração vertical,

fornecendo bens, insumos e

Page 280: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

278

para recebimento de matéria-

prima, de bens intermediários

ou de consumo final utilizados

no processo industrial ou

comercial;

integrada, com o fornecimento

de bens e serviços, para

produção de matéria-prima, de

bens intermediários ou de

consumo final utilizados em seu

processo industrial ou

comercial;

serviços e recebendo matéria-

prima, bens intermediários ou bens

de consumo final utilizados no

processo industrial ou comercial;

Art. 2º. Parágrafo único.

Para os efeitos desta lei,

equiparam-se à

agroindústria os

comerciantes e

exportadores que, para

obter produtos

agrícolas, formalizam

contratos de integração

com produtores rurais.

Art. 2º. Parágrafo único.

Para os efeitos desta Lei,

equiparam-se à

agroindústria os

comerciantes e exportadores

que, para obter produtos

agrícolas, do extrativismo

ou da pesca, formalizam

contratos de integração com

produtores rurais.

Art. 2º, § 1º Para os efeitos

desta Lei, equiparam-se à

agroindústria integradora os

comerciantes e exportadores

que, para obterem matéria-

prima, bens de consumo

intermediário ou final,

celebram contratos de

integração com produtores

agropecuários.

Art. 2º, § 1º Para os efeitos

desta Lei, equiparam-se à

agroindústria integradora os

comerciantes e exportadores

que, para obterem matéria-

prima, bens de consumo

intermediário ou final, celebram

contratos de integração com

produtores agropecuários.

Art. 2º, § 1º Para os efeitos desta

Lei, equiparam-se ao integrador os

comerciantes e exportadores que,

para obterem matéria-prima, bens

intermediários ou bens de consumo

final, celebram contratos de

integração com

Produtores agrossilvipastoris.

Art. 2º, IV - contrato de

integração econômica vertical

ou contrato de integração: o

contrato firmado entre o

produtor integrado e a

integradora que estabelece a

finalidade, as respectivas

atribuições no processo

produtivo, os compromissos

financeiros, os deveres sociais,

os requisitos sanitários, as

responsabilidades ambientais,

entre outras que regulem o

relacionamento entre os

sujeitos do contrato;

Art. 29. Pelo contrato

de integração,

empresários do

agronegócio, sendo

pelo menos um deles

produtor, obrigam-se a

conjugar recursos e

esforços na exploração

de atividade econômica

agroindustrial, por

meio de um sistema

congruente de

integração.

Art. 693. Pelo

contrato de

integração,

empresários do

agronegócio, sendo

pelo menos um

deles produtor,

obrigam-se a

conjugar recursos e

esforços na

exploração de

atividade econômica

agroindustrial, por

meio de um sistema

congruente de

integração, visando

à produção de bens

agrícolas, pecuários,

de reflorestamento e

pesca, bem como

seus subprodutos e

resíduos de valor

econômico.

Art. 2º, IV - contrato de

integração: o contrato de

parceria para produção

integrada, firmado entre o

produtor integrado e a

integradora que estabelece a

finalidade, a participação

econômica de cada parte na

constituição da parceria e na

partilha do objeto do contrato,

as respectivas atribuições no

processo produtivo, os

compromissos financeiros, os

deveres sociais, os requisitos

sanitários, as responsabilidades

ambientais, entre outras que

regulem o relacionamento entre

os sujeitos do contrato;

Art. 2º, IV - contrato de integração

vertical ou contrato de integração:

contrato, firmado entre o produtor

integrado e o integrador, que

estabelece a sua finalidade, as

respectivas atribuições no processo

produtivo, os compromissos

financeiros, os deveres sociais, os

requisitos sanitários, as

responsabilidades ambientais, entre

outros que regulem o

relacionamento entre os sujeitos do

contrato;

Art. 2º, V - atividades

agrossilvipastoris: atividades de

agricultura, pecuária, silvicultura,

Page 281: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

279

aquicultura, pesca ou extrativismo

vegetal.

Art. 2º, § 2º A simples

obrigação do pagamento do

preço estipulado contra a

entrega dos produtos

agropecuários não caracteriza

um contrato de integração.

Art. 2º, § 2º A simples

obrigação do pagamento do

preço estipulado contra a

entrega dos produtos

agropecuários não caracteriza

um contrato de integração.

Art. 2º, § 2º A simples obrigação

do pagamento do preço estipulado

contra a entrega de produtos à

agroindústria ou ao comércio não

caracteriza contrato de integração.

Art. 2º, § 3º A integração

definida nos termos desta lei

não configura relação de

emprego entre integradora e

integrado, seus prepostos ou

empregados.

Art. 32. O contrato de

integração

agroindustrial é

empresarial e não gera

direitos trabalhistas.

Art. 2º, § 3º A integração,

relação civil definida nos

termos desta lei, não configura

prestação de serviço ou relação

de emprego entre integradora e

integrado, seus prepostos ou

empregados.

Art. 2º § 3º A integração, relação

civil definida nos termos desta Lei,

não configura prestação de serviço

ou relação de emprego entre

integrador e integrado, seus

prepostos ou empregados.

Art. 1º Parágrafo único. A

integração vertical

agropecuária entre

cooperativas agropecuárias e

seus associados ou entre

cooperativas entre si

associadas constitui ato

cooperativo, regulada por

legislação específica aplicável

às sociedades cooperativas.

Art. 1º Parágrafo único. A

parceria de produção integrada

agropecuária entre cooperativas

agropecuárias e seus associados

ou entre cooperativas entre si

associadas constitui ato

cooperativo, regulado por

legislação específica aplicável

às sociedades cooperativas.

Art. 1º Parágrafo único. A

integração vertical entre

cooperativas e seus associados ou

entre cooperativas constitui ato

cooperativo, regulado por

legislação específica aplicável às

sociedades cooperativas.

Art. 3º É princípio orientador

na aplicação e interpretação

dessa lei que a relação de

integração caracteriza-se pela

conjugação de recursos e

esforços e pela distribuição

dos resultados.

Art. 3º É princípio orientador na

aplicação e interpretação dessa

lei que a relação de integração

caracteriza-se pela conjugação

de recursos e esforços e pela

distribuição dos resultados.

Art. 3º É princípio orientador da

aplicação e interpretação desta Lei

que a relação de integração se

caracterize pela conjugação de

recursos e esforços e pela

distribuição justa dos resultados.

Art. 3º. Sob pena de

nulidade, o contrato de

produção integrada deverá

observar os seguintes

dispositivos, sem prejuízo

de outros acordados entre as

partes:

I – especificação detalhada

de critérios objetivos de

avaliação da qualidade do

produto ou do serviço;

Art. 4º O contrato de

integração, sob pena de

nulidade, deve ser escrito de

forma direta e precisa, em

português simples e com letras

em fonte doze ou maior, e

dispor sobre as seguintes

questões, sem prejuízo de

outras que as partes

considerem mutuamente

aceitáveis:

Art. 31. Não produzirá

efeitos a cláusula do

contrato de integração

agroindustrial:

I – cuja redação não

permitir a imediata,

completa e correta

intelecção de seu

conteúdo e alcance por

empresário do setor; ou

Art. 695. São

requisitos mínimos

para os contratos de

integração, sob pena

de nulidade:

I – a redação clara e

precisa das

cláusulas

contratuais em

língua portuguesa;

Art. 4º O contrato de

integração, sob pena de

nulidade, parcial ou total, deve

ser escrito de forma direta e

precisa, em português simples e

com letras uniformes de fácil

visualização, e dispor sobre as

seguintes questões, sem

prejuízo de outras que as partes

considerem mutuamente

aceitáveis:

Art. 4º O contrato de integração,

sob pena de nulidade, deve ser

escrito com clareza, precisão e

ordem lógica, e deve dispor sobre

as seguintes questões, sem prejuízo

de outras que as partes contratantes

considerem mutuamente aceitáveis:

I - as características gerais do

sistema de integração e as

exigências técnicas e legais para os

contratantes;

Page 282: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

280

II – definição do sistema de

produção a ser adotado, do

método de trabalho, da

tecnologia a ser utilizada e

dos índices de desempenho

esperados, em face dos

padrões tecnológicos

preconizados;

III – especificação dos

critérios de remuneração,

das formas e prazos de

pagamentos pelos serviços

prestados ou pela produção

realizada;

IV - definição de prazo para

aviso prévio, pela

agroindústria, de

interrupção do contrato de

produção integrada, que

deve levar em conta o ciclo

produtivo e o montante de

investimentos realizados

pelo produtor integrado;

V – definição dos limites da

responsabilidade do

produtor rural integrado

sobre os produtos e insumos

mantidos sob sua guarda,

em decorrência de sua

participação no processo

produtivo.

I – as características gerais do

sistema de integração e as

exigências técnicas e legais;

II - as responsabilidades e

obrigações da integradora e do

integrado no sistema de

produção agropecuário;

III – os parâmetros técnicos e

econômicos indicados ou

anuídos pela agroindústria

integradora para o estudo de

viabilidade econômica e

financeira do projeto;

IV – os padrões mínimos e os

métodos de aferição da

qualidade dos insumos

fornecidos pela integradora e

do produto a ser entregue pelo

integrado;

V - as fórmulas para o cálculo

da eficiência da criação animal

ou do cultivo vegetal, com

explicação detalhada dos

parâmetros empregados e da

metodologia de obtenção dos

resultados;

VI - as formas e os prazos de

pagamento ao produtor

integrado, devendo ser

estabelecidos multa por atraso

e o valor mínimo de

remuneração financeira a ser

pago aos integrados para cada

ciclo de produção;

VII – os custos financeiros e

administrativos do crédito e

dos insumos fornecidos em

adiantamento pela integradora;

VIII – as condições para o

acesso às áreas de produção

agropecuária por preposto da

integradora e das áreas

II – impressa em

caracteres ou

formatação que não

permitam sua direta e

fácil interpretação.

Art. 35. O sistema de

integração será descrito

no contrato, com a

definição da

responsabilidade e

obrigações de cada

parte.

§ 1º Do instrumento

contratual, ou de

anexo, constarão as

condições técnicas,

econômicas e jurídicas

de implantação do

sistema de integração,

bem como o estudo de

viabilidade econômica

e financeira.

§ 2º Na implantação do

sistema de integração,

serão observados os

métodos de avaliação

da qualidade de

insumos e produtos, os

critérios de eficiência e

as metodologias de

obtenção de resultados

da produção definidos

em contrato.

II – a descrição do

sistema de

integração, com a

definição das

responsabilidades e

obrigações de cada

parte;

III – as definições

dos padrões

mínimos e os

métodos de aferição

da qualidade dos

insumos fornecidos

pelo contratante

integrador e do

produto a ser

entregue pelo

contratante

integrado;

IV - as formas e os

prazos de

pagamento ao

contratante

integrado, multa

moratória e o valor

mínimo a ser pago

ao contratante

integrado para cada

ciclo de produção;

V - os valores,

prazos e condições

dos créditos ou

insumos

eventualmente

fornecidos pelo

contratante

integrador ao

contratante

integrado, que

devem respeitar os

ciclos de produção;

VI - a definição de

prazo para aviso

I - as características gerais do

sistema de integração e as

exigências técnicas e legais;

II - as responsabilidades e

obrigações da integradora e do

integrado no sistema de

produção agropecuário;

III - os parâmetros técnicos e

econômicos indicados ou

anuídos pela agroindústria

integradora para o estudo de

viabilidade econômica e

financeira do projeto;

IV - as fórmulas para o cálculo

da eficiência da criação animal

ou do cultivo vegetal, com

explicação detalhada dos

parâmetros empregados e da

metodologia de obtenção dos

resultados;

V - as formas e os prazos de

distribuição dos resultados entre

os partícipes da relação

contratual, devendo ser

estabelecido multa à

agroindústria na hipótese de

atraso no repasse da quota parte

do integrado.

VI - os custos financeiros e

administrativos dos insumos

fornecidos em adiantamento

pela integradora;

VII - as condições para o acesso

às áreas de produção

agropecuária por preposto da

integradora e das áreas

industriais diretamente afetas ao

objeto do contrato, pelo

integrado ou seu preposto;

VIII - as responsabilidades

quanto ao pagamento de taxas e

impostos inerentes ao sistema

de produção integrada e as

II - as responsabilidades e as

obrigações do integrador e do

produtor integrado no sistema de

produção;

III - os parâmetros técnicos e

econômicos indicados ou anuídos

pelo integrador com base no estudo

de viabilidade econômica e

financeira do projeto;

IV - os padrões de qualidade dos

insumos fornecidos pelo integrador

para a produção animal e dos

produtos a serem entregues pelo

integrado;

V - as fórmulas para o cálculo da

eficiência da produção, com

explicação detalhada dos

parâmetros e da metodologia

empregados na obtenção dos

resultados;

VI - as formas e os prazos de

distribuição dos resultados entre os

contratantes;

VII - visando a assegurar a

viabilidade econômica, o equilíbrio

dos contratos e a continuidade do

processo produtivo, será cumprido

pelo integrador o valor de

referência para a remuneração do

integrado, definido pela Cadec na

forma do art. 12 desta Lei, desde

que atendidas as obrigações

contidas no contrato;

VIII - os custos financeiros dos

insumos fornecidos em

adiantamento pelo integrador, não

podendo ser superiores às taxas de

juros captadas, devendo ser

comprovadas pela Cadec;

IX - as condições para o acesso às

áreas de produção por preposto ou

empregado do integrador e às

instalações industriais ou

Page 283: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

281

industriais pelo integrado ou

seu preposto;

IX – as responsabilidades

quanto ao pagamento de taxas

e impostos inerentes ao

sistema de produção integrada

e as obrigações previdenciárias

da agroindústria integradora e

dos produtores integrados;

X – as obrigações da

integradora e do integrado no

atendimento às exigências

sanitárias legais, a prevenção e

o controle sanitário dos

rebanhos e das culturas

agrícolas, e as ações

emergenciais em caso de surto

de doença ou praga;

XI – as obrigações da

integradora e do integrado no

atendimento às exigências

legais de proteção ambiental;

XII – a obrigatoriedade ou não

de seguro da produção, os

custos para as partes

contratantes e a extensão de

sua cobertura;

XIII – a definição de prazo

para aviso prévio de

interrupção do contrato de

produção integrada, que deve

levar em consideração o ciclo

produtivo da atividade e o

montante dos investimentos

realizados;

XIV – a instituição de

Comissão de

Acompanhamento e

Desenvolvimento da

Integração e de Solução de

Controvérsias - CADISC, a

quem as partes concordam

recorrer para a solução de

prévio de

interrupção do

contrato, que deve

levar em

consideração os

ciclos de produção e

o montante dos

investimentos

realizados pelas

partes; e

VII - a previsão de

plano de descarte de

embalagens de

agroquímicos,

desinfetantes e

produtos

veterinários, sendo

certo que a

agroindústria

integradora deve se

responsabilizar pela

adequada destinação

de tais embalagens

de acordo com a

legislação específica

aplicável.

obrigações previdenciárias da

agroindústria integradora e dos

produtores integrados;

IX - as obrigações da

integradora e do integrado no

atendimento às exigências

sanitárias legais, a prevenção e

o controle sanitário dos

rebanhos e das culturas

agrícolas, e as ações

emergenciais em caso de surto

de doença ou praga;

X - as obrigações da integradora

e do integrado no atendimento

às exigências legais de proteção

ambiental;

XI - a obrigatoriedade ou não

de seguro da produção, os

custos para as partes

contratantes e a extensão de sua

cobertura;

XII - a definição de prazo para

aviso prévio de rescisão do

contrato de produção integrada,

que deve levar em consideração

o ciclo produtivo da atividade e

o montante dos investimentos

realizados;

XIII - as sanções para os casos

de inadimplemento ou rescisão

unilateral do contrato.

comerciais diretamente afetas ao

objeto do contrato de integração

pelo produtor integrado, seu

preposto ou empregado;

X - as responsabilidades do

integrador e do produtor integrado

quanto ao recolhimento de tributos

incidentes no sistema de

integração;

XI - as obrigações do integrador e

do produtor integrado no

cumprimento da legislação de

defesa agropecuária e sanitária;

XII - as obrigações do integrador e

do produtor integrado no

cumprimento da legislação

ambiental;

XIII - os custos e a extensão de sua

cobertura, em caso de

obrigatoriedade de contratação de

seguro de produção e do

empreendimento, devendo eventual

subsídio sobre o prêmio concedido

pelo poder público ser direcionado

proporcionalmente a quem arcar

com os custos;

XIV - o prazo para aviso prévio, no

caso de rescisão unilateral e

antecipada do contrato de

integração, deve levar em

consideração o ciclo produtivo da

atividade e o montante dos

investimentos realizados,

devidamente pactuado entre as

partes;

XV - a instituição de Comissão de

Acompanhamento,

Desenvolvimento e Conciliação da

Integração -

CADEC, a quem as partes poderão

recorrer para a interpretação de

cláusulas contratuais ou outras

Page 284: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

282

controvérsias quanto a

interpretação de cláusulas

contratuais ou outras questões

inerentes à relação de

integração;

XV – as sanções para os casos

de inadimplemento ou rescisão

unilateral do contrato;

§ 2º O pagamento do valor

mínimo de remuneração

financeira previsto no inciso

VI deste artigo será

condicionado ao cumprimento

pelas partes das obrigações

previstas no contrato.

questões inerentes ao contrato de

integração;

XVI - as sanções para os casos de

inadimplemento e rescisão

unilateral do contrato de

integração.

Art. 4º, § 1º O Fórum de

Justiça da localidade onde se

situa o empreendimento do

produtor integrado deverá ser

indicado no contrato para fim

de solução de litígio judicial.

Art. 696. É

competente o foro

do domicílio do

contratante

integrado para a

ação que vier a

discutir litígio

decorrente do

contrato de

integração.

Art. 4º Parágrafo Único:

Cláusula relativa à solução de

litígios judicialmente deverá

indicar o fórum de justiça da

localidade onde se situa o

empreendimento do produtor

integrado.

Art. 4º Parágrafo único. O fórum

do lugar onde se situa o

empreendimento do produtor

integrado é competente para ações

fundadas no contrato de integração,

devendo ser indicado no contrato.

Art. 5º Fica criado o Fórum

Nacional de Integração

Agroindustrial -

FONIAGRO, entidade privada

com a atribuição de definir

políticas e diretrizes para o

acompanhamento e o

desenvolvimento dos sistemas

de integração agroindustrial.

§ 1º O FONIAGRO será

constituído em número igual

de membros por representantes

dos produtores integrados, das

agroindústrias integradoras;

§ 2º O regulamento desta Lei

definirá o número de

participantes do

Art. 5º Cada setor produtivo ou

cadeia produtiva regidos por esta

Lei deverão constituir um Fórum

Nacional de Integração -

FONIAGRO, de composição

paritária, composto pelas entidades

representativas dos produtores

integrados e dos integradores, sem

personalidade jurídica, com a

atribuição de definir diretrizes para

o acompanhamento e

desenvolvimento do sistema de

integração e de promover o

fortalecimento das relações entre o

produtor integrado e o integrador.

§ 1º Para setores produtivos em que

já exista fórum ou entidade similar

Page 285: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

283

FONIAGRO e as entidades

que indicarão os

representantes, seu regime e

localidade de funcionamento e

outros aspectos de sua

organização;

§ 3º Deverão ser criadas

Câmaras Técnicas para cada

setor do agronegócio em que

exista integração

agroindustrial.

em funcionamento, será opcional a

sua criação.

§ 2º O regulamento desta Lei

definirá o número de participantes

do fórum e as entidades dos

integrados e dos integradores que

indicarão os representantes, seu

regime e localidade de

funcionamento e outros aspectos de

sua organização.

Art. 12. Compete ao Fórum

Nacional de Integração -

FONIAGRO estabelecer

metodologia para o cálculo do

valor de referência para a

remuneração do integrado, que

deverá observar os custos de

produção, os valores de mercado

dos produtos in natura, o

rendimento médio dos lotes, dentre

outras variáveis, para cada cadeia

produtiva.

§ 1º Para estabelecer metodologia

para o cálculo do valor de

referência para a remuneração do

integrado, o Foniagro poderá

contratar entidades ou instituições

de notório reconhecimento técnico,

desde que requisitada por uma das

partes e cuja escolha dar-se-á por

comum acordo.

§ 2º A metodologia para o cálculo

do valor de referência para a

remuneração do integrado será

reavaliada periodicamente,

conforme regulamentação

específica do Foniagro.

§ 3º O Foniagro terá o prazo

máximo de seis meses contados da

promulgação desta Lei para

apresentar as metodologias de

cálculo para cada cadeia produtiva,

Page 286: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

284

podendo esse prazo ser prorrogado,

mediante justificativa aceita pelas

partes.

§ 4º Compete ao Foniagro o envio

das metodologias para o cálculo do

valor de referência para a

remuneração dos integrados às

respectivas Cadecs.

Comissão – Art. 10 –

Sem prejuízo do

disposto no art. 3º desta

lei, no caso de contratos

que condicionem o

montante da

remuneração do

produtor rural integrado

à aplicação de índices

de produtividade ou

pela classificação

qualitativa do produto, a

avaliação do resultado,

do produtor e da média

da respectiva

comunidade, bem como

a definição de critérios

de classificação serão

feitas por comissão

municipal com a

participação de

representantes dos

produtores, sindicatos,

cooperativas e entidades

governamentais e

provadas que atuem no

ramo agropecuário, a

serem constituídas na

forma do regulamento

dessa lei.

Parágrafo único. A

comissão referida no

caput será incumbida,

também, de primeira

arbitragem sobre

Art. 9º As Federações

Estaduais de Agricultura e

de Trabalhadores da

Agricultura providenciarão

a criação, em municípios ou

microrregiões onde se

observar concentração de

empreendimentos em

sistema de produção

integrada, de Comissões de

Conciliação e Arbitragem,

destinadas a mediar e

arbitrar os conflitos e

divergências porventura

existentes entre a

agroindústria e os

produtores integrados.

§ 1º As Comissões de que

trata o caput deste artigo,

tantas quanto forem

necessárias para atender à

diversidade de produtos e

de localidades, terão

composição paritária, com

representantes indicados da

seguinte forma:

I – um terço dos membros

indicado pela Federação dos

Trabalhadores na

Agricultura do respectivo

Estado ou do Distrito

Federal;

II – um terço dos membros

indicado pela Federação da

Art. 6º Cada unidade da

agroindústria integradora e os

produtores a ela integrados

deve constituir Comissão de

Acompanhamento e

Desenvolvimento da

Integração e de Solução de

Controvérsias - CADISC, de

composição paritária e

integrada por membros

indicados pela integradora e

pelas entidades representativas

dos integrados, com os

seguintes objetivos, entre

outros a serem estabelecidos

em seu regulamento:

I – elaborar estudos e análises

econômicas, sociais e

tecnológicas das cadeias

produtivas ou de segmentos

das cadeias;

II – acompanhar e avaliar os

padrões mínimos de qualidade

exigidos para os insumos

recebidos pelos integrados e a

evolução dos parâmetros de

qualidade dos produtos

requerida pela integradora;

III - estabelecer o sistema de

acompanhamento e avaliação

do cumprimento dos encargos

e obrigações pelos

contratantes;

IV – promover estudos e

avaliações dos aspectos

Art. 40. O contrato

poderá prever uma

instância de solução

das divergências, de

natureza técnica ou

operacional, surgidas

na implantação do

sistema de integração.

Art. 5º Cada unidade da

agroindústria integradora e os

produtores a ela integrados deve

constituir Comissão de

Acompanhamento e

Desenvolvimento da Integração

e de Solução de Controvérsias -

CADISC, de composição

paritária da agroindústria e seus

integrados, com os seguintes

objetivos, entre outros a serem

estabelecidos em seu

regulamento.

I - elaborar estudos e análises

econômicas, sociais e

tecnológicas das cadeias

produtivas ou de segmentos das

cadeias;

II - acompanhar e avaliar os

padrões mínimos de qualidade

exigidos para os insumos

recebidos pelos integrados e a

evolução dos parâmetros de

qualidade dos produtos

requeridos pela integradora;

III - estabelecer o sistema de

acompanhamento e avaliação

do cumprimento dos encargos e

obrigações pelos contratantes;

IV - promover estudos e

avaliações dos aspectos

jurídicos, sociais, econômicos,

sanitários e ambientais do

contrato de integração;

Art. 6º Cada unidade da

integradora e os produtores a ela

integrados devem constituir

Comissão para

Acompanhamento,

Desenvolvimento e Conciliação da

Integração - CADEC.

§ 1º A Cadec será composta

paritariamente por representantes:

I - escolhidos diretamente pelos

produtores integrados à unidade

integradora;

II - indicados pela integradora;

III - indicados pelas entidades

representativas dos produtores

integrados;

IV - indicados pelas entidades

representativas das empresas

integradoras.

§ 2º A falta de indicação dos

representantes previstos nos incisos

III e IV do § 1o deste artigo não

impede a instalação e

funcionamento da Cadec.

§ 3º A constituição da Cadec

respeitará as estruturas com função

similar às constituídas até a data de

publicação desta Lei.

§ 4º A Cadec terá os seguintes

objetivos e funções, entre outros

estabelecidos nesta Lei e no

regulamento:

I - elaborar estudos e análises

econômicas, sociais, tecnológicas,

ambientais e dos aspectos jurídicos

Page 287: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

285

eventuais divergências,

sendo-lhe conferido o

direito de fiscalizar o

recebimento e a

classificação de

produtos, por ocasião de

seu recebimento pela

agroindústria.

Agricultura do respectivo

Estado ou do Distrito

Federal;

III – um terço dos membros

indicado pelo conjunto de

órgãos governamentais

estaduais e municipais, na

forma estabelecida pelo

Regulamento desta Lei.

§ 2º A Presidência das

Comissões de Conciliação e

Arbitragem será exercida de

forma alternada por um dos

representantes a que se

refere os incisos I a III do

parágrafo anterior.

§ 3º Para o exercício de

suas atribuições, a

Comissão de

Conciliação e Arbitragem

terá poderes para interpelar

as partes, convocar reuniões

de conciliação e propor

acordos, sendo-lhe

conferido o direito de

fiscalizar o recebimento e a

classificação dos produtos

objeto dos contratos de

integração.

jurídicos, sociais, econômicos,

sanitários e ambientais do

contrato de integração;

V – definir o intervalo de

tempo e os requisitos técnicos

e financeiros

a serem empregados para

atualização dos indicadores de

desempenho das linhagens de

animais e das cultivares de

plantas utilizados nas fórmulas

de cálculo da eficiência de

criação ou de cultivo;

VI – formular o Plano de

Modernização Tecnológica da

Integração, estabelecer o prazo

necessário para sua

implantação e definir a

participação dos Integrados e

da Integradora no

financiamento dos bens e

ações previstas;

VII – servir de fórum para a

conciliação e solução das

controvérsias entre os

produtores integrados e a

agroindústria integradora;

VIII – criar e administrar o

Fundo Emergencial da

Integração, para assistência

financeira temporária aos

Integrados nos casos em que

eventos extraordinários

provoquem interrupção da

atividade ou queda

significativa de produtividade,

conforme regras definidas em

regimento próprio.

Parágrafo único. A CADISC

deverá estabelecer em

regulamento próprio as formas

e os valores das contribuições

financeiras dos produtores

V - formular o Plano de

Modernização Tecnológica da

Integração, estabelecer o prazo

necessário para sua implantação

e definir, no que couber, a

participação dos Integrados e da

Integradora no financiamento

dos bens e ações previstas,

ressalvadas as adequações

eventualmente exigidas pelo

poder público;

VI - servir de fórum para a

conciliação e solução das

controvérsias entre os

produtores integrados e a

agroindústria integradora.

§ 1º A CADISC deverá

constituir-se por regulamento

próprio como entidade de

direito civil, sem personalidade

jurídica, nem constituição de

patrimônio físico e pessoal

permanente.

§ 2º Toda e qualquer despesa da

CADISC deverá ser aprovada

pelas partes, por demanda

específica.

das cadeias produtivas e seus

segmentos e do contrato de

integração;

II - acompanhar e avaliar o

atendimento dos padrões mínimos

de qualidade exigidos para os

insumos recebidos pelos produtores

integrados e para os produtos

fornecidos ao integrador;

III - estabelecer sistema de

acompanhamento e avaliação do

cumprimento dos encargos e

obrigações contratuais pelos

contratantes;

IV - dirimir questões e solucionar,

mediante acordo, litígios entre os

produtores integrados e a

integradora;

V - definir o intervalo de tempo e

os requisitos técnicos e financeiros

a serem empregados para

atualização dos indicadores de

desempenho das linhagens de

animais e das cultivares de plantas

utilizadas nas fórmulas de cálculo

da eficiência de criação ou de

cultivo;

VI - formular o plano de

modernização tecnológica da

integração, estabelecer o prazo

necessário para sua implantação e

definir a participação dos

integrados e do integrador no

financiamento dos bens e ações

previstas;

VII - determinar e fazer cumprir o

valor de referência a que alude o

inciso VII do art. 4o desta Lei.

§ 5º Toda e qualquer despesa da

Cadec deverá ser aprovada pelas

partes contratantes, por demanda

específica

Page 288: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

286

integrados e da agroindústria

integradora para o

desenvolvimento de suas

atribuições.

Art. 7º A agroindústria

integradora deverá organizar

Relatório de

Informações da Produção

Integrada (RIPI) relativo a

cada ciclo produtivo do

produtor integrado.

§ 1º O RIPI deverá conter

informações sobre os insumos

fornecidos pela integradora, os

indicadores fitotécnicos e

zootécnicos da produção

integrada, as quantidades

produzidas, os índices de

produtividade e os preços

usados nos cálculos dos

resultados financeiros, os

valores pagos aos integrados,

entre outros a serem definidos

pela CADISC.

§ 2º O RIPI deverá ser

consolidado até a data do

acerto financeiro entre

Integradora e Integrado e

fornecido ao integrado, a

CADISC e a sua entidade

representativa em meio digital

e, quando solicitado, também

em papel.

§ 3º O produtor integrado

deverá autorizar por escrito o

fornecimento do RIPI a sua

entidade representativa e à

CADISC.

§ 4º É facultado ao Integrado,

individualmente ou por

intermédio de sua entidade

representativa ou da CADISC

mediante autorização escrita,

Art. 6º A agroindústria

integradora deverá organizar

Relatório de Informações da

Produção Integrada (RIPI)

relativo a cada ciclo produtivo

do produtor integrado.

§ 1º O RIPI deverá conter

informações mínimas sobre os

insumos fornecidos pela

integradora, os indicadores

fitotécnicos e zootécnicos da

produção integrada, as

quantidades produzidas, os

índices de produtividade e os

preços usados nos cálculos dos

resultados financeiros, os

valores de quota parte do

produtor integrado, entre outros

a serem definidos pela

CADISC.

§ 2º O RIPI deverá ser

consolidado até a data do acerto

financeiro entre Integradora e

Integrado e fornecido ao

integrado.

§ 3º Toda e qualquer

informação relativas à produção

do integrado solicitadas por

terceiros, só serão fornecidas

pela integradora mediante

autorização escrita do

integrado.

Art. 7º O integrador deverá

elaborar Relatório de Informações

da Produção Integrada - RIPI

relativo a cada ciclo produtivo do

produtor integrado.

§ 1º O Ripi deverá conter

informações sobre os insumos

fornecidos pelo integrador, os

indicadores técnicos da produção

integrada, as quantidades

produzidas, os índices de

produtividade, os preços usados

nos cálculos dos resultados

financeiros e os valores pagos aos

produtores integrados relativos ao

contrato de integração, entre outros

a serem definidos pela Cadec.

§ 2º O Ripi deverá ser consolidado

até a data do acerto financeiro entre

integrador e produtor integrado,

sendo fornecido ao integrado e,

quando solicitado, à Cadec ou sua

entidade representativa.

§ 3º Toda e qualquer informação

relativa à produção do produtor

integrado solicitada por terceiros só

será fornecida pelo integrador

mediante autorização escrita do

produtor integrado.

§ 4º É facultado ao produtor

integrado, individualmente ou por

intermédio de sua entidade

representativa ou da Cadec,

mediante autorização escrita,

solicitar ao integrador

esclarecimentos ou informações

adicionais sobre o Ripi, os quais

deverão ser fornecidos sem custos

Page 289: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

287

solicitar à Integradora

esclarecimentos ou

informações adicionais sobre o

RIPI, as quais deverão ser

fornecidas sem custos e no

prazo máximo de até quinze

dias após o pedido.

e no prazo máximo de até quinze

dias após a solicitação.

Art. 8º. Para os devidos fins e

efeitos todos os bens

fornecidos pela agroindústria

integradora ao produtor

integrado em decorrência das

necessidades da produção

serão tidos como de

propriedade da integradora,

inclusive aqueles que

estiverem em processo de

desenvolvimento a cargo do

integrado, incluídos os

animais, as sementes e plantas

em fase de desenvolvimento,

podendo ser estabelecidas

normas que permitam o

consumo próprio familiar.

Art. 39. Na

implantação do sistema

de integração, todos os

bens fornecidos ou

disponibilizados ao

produtor integrado

presumem-se da

titularidade do

empresário integrador

que os forneceu ou

disponibilizou.

§ 1º A presunção

alcança também

animais, sementes e

produtos agrícolas ou

de reflorestamento,

ainda que em curso o

processo de produção.

§ 2º A titularidade

referida no caput

compreende a

propriedade do bem,

inclusive se resolúvel,

ou o direito à posse

fundado em contrato

firmado com terceiro.

§ 3º Se o produtor

integrado for

empresário individual,

o contrato de

integração

estabelecerá, se for o

caso, cotas da

produção para a sua

subsistência e de sua

família.

Art. 698. Na

implantação do

sistema de

integração, todos os

bens fornecidos ou

disponibilizados ao

produtor integrado

presumem-se da

titularidade do

contratante

integrador que os

forneceu ou

disponibilizou,

incluindo animais,

sementes e produtos

agrícolas ou de

reflorestamento,

ainda que em curso

o processo de

produção.

Parágrafo único. Se

o contratante

integrado for

empresário

individual, o

contrato de

integração

estabelecerá, se for

o caso, cotas da

produção para a sua

subsistência e de

sua família.

Art. 7º Para os devidos fins e

efeitos todos os bens fornecidos

pela agroindústria integradora

ao produtor integrado em

decorrência das necessidades da

produção serão tidos como de

propriedade da integradora,

inclusive aqueles que estiverem

em processo de

desenvolvimento a cargo do

integrado, incluídos os animais,

as sementes e plantas em fase

de desenvolvimento, podendo

ser estabelecidas normas que

permitam o consumo próprio

familiar.

Art. 8º Todas as máquinas e

equipamentos fornecidos pelo

integrador ao produtor integrado

em decorrência das necessidades da

produção permanecerão de

propriedade do integrador,

devendo-lhe ser restituídos, salvo

estabelecimento em contrário no

contrato de integração.

§ 1º No caso de instalações

financiadas ou integralmente

custeadas pelo integrador, o

contrato de integração especificará

se e quando estas passarão a ser de

propriedade do produtor integrado.

§ 2º No caso de animais fornecidos

pelo integrador, o contrato de

integração especificará se e quando

passarão a ser de propriedade do

produtor integrado.

§ 3º Poderá o contrato, ainda que

por ajustes posteriores, estabelecer

normas que permitam o consumo

próprio familiar, salvo para os

setores que necessitam de serviços

de inspeção para o consumo do

produto.

Page 290: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

288

Art. 9º A agroindústria

integradora deverá elaborar e

atualizar trimestralmente

Documento de Informação

Pré-Contratual (DIPC), para

fornecer ao interessado em

aderir ao sistema de

integração, contendo

obrigatoriamente as seguintes

informações:

I - razão social, forma

societária e histórico da

composição societária nos

últimos cinco anos, nomes dos

sócios-proprietários da

agroindústria integradora ou

dos sócios-controladores das

empresas de capital aberto;

II - descrição do sistema de

produção integrada e das

atividades a serem

desempenhadas pelo

integrado;

III - informações quanto aos

requisitos sanitários e

ambientais e os riscos

econômicos inerentes à

atividade;

IV – estimativa dos

investimentos em instalações

zootécnicas ou áreas de cultivo

e dos custos fixos e variáveis

do integrado na operação de

produção;

V – estimativa de remuneração

do integrado por ciclo de

criação de animais ou safra

agrícola, utilizando-se para o

cálculo preços e índices de

eficiência produtiva médios

nos doze meses anteriores;

VI - alternativas de

financiamento agropecuário de

Art. 8º A agroindústria

integradora deverá elaborar e

atualizar trimestralmente

Documento de Informação Pré-

Contratual (DIPC), para

fornecer ao interessado em

aderir ao sistema de integração,

contendo obrigatoriamente as

seguintes informações:

I - razão social, forma

societária, CNPJ e endereço da

integradora;

II - descrição do sistema de

produção integrada e das

atividades a serem

desempenhadas pelo integrado;

III - informações quanto aos

requisitos sanitários e

ambientais e os riscos

econômicos inerentes à

atividade;

IV - estimativa dos

investimentos em instalações

zootécnicas ou áreas de cultivo

e dos custos fixos e variáveis do

integrado na operação de

produção;

V - estimativa da quota parte do

integrado por ciclo de criação

de animais ou safra agrícola,

utilizando-se para o cálculo

preços e índices de eficiência

produtiva médios nos doze

meses anteriores;

VI - alternativas de

financiamento agropecuário de

instituição financeira ou da

agroindústria integradora e as

garantias da integradora para o

cumprimento do contrato

durante o período do

financiamento;

Art. 9º Ao produtor interessado em

aderir ao sistema de integração será

apresentado pelo integrador

Documento de Informação Pré-

Contratual - DIPC, contendo

obrigatoriamente as seguintes

informações atualizadas:

I - razão social, forma societária,

Cadastro Nacional da Pessoa

Jurídica - CNPJ e endereços do

integrador;

II - descrição do sistema de

produção integrada e das atividades

a serem desempenhadas pelo

produtor integrado;

III - requisitos sanitários e

ambientais e riscos econômicos

inerentes à atividade;

IV - estimativa dos investimentos

em instalações zootécnicas ou áreas

de cultivo e dos custos fixos e

variáveis do produtor integrado na

produção;

V - obrigação ou não do produtor

integrado de adquirir ou contratar,

apenas do integrador ou de

fornecedores indicados

formalmente pelo integrador,

quaisquer bens, serviços ou

insumos necessários à operação ou

à administração de suas instalações

zootécnicas ou áreas de cultivo;

VI - relação do que será oferecido

ao produtor integrado no que se

refere a:

a) suprimento de insumos;

b) assistência técnica e supervisão

da adoção das tecnologias de

produção recomendadas

cientificamente ou exigidas pelo

integrador;

c) treinamento do produtor

integrado, de seus prepostos ou

Page 291: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

289

instituição financeira ou da

agroindústria integradora e as

garantias da integradora para o

cumprimento do contrato

durante o período do

financiamento;

VII - Os parâmetros técnicos e

econômicos indicados pela

integradora para uso no estudo

de viabilidade econômico-

financeira do projeto de

financiamento do

empreendimento.

VIII – relação com nome,

endereço e telefone dos

integrados ativos

e dos produtores que se

desligaram da integradora nos

últimos doze meses, exceto

quando não autorizado.

VII - Os parâmetros técnicos e

econômicos indicados pela

integradora para uso no estudo

de viabilidade econômico-

financeira do projeto de

financiamento do

empreendimento.

empregados, especificando

duração, conteúdo

e custos;

d) projeto técnico do

empreendimento e termos do

contrato de integração;

VII - estimativa de remuneração do

produtor integrado por ciclo de

criação de animais ou safra

agrícola, utilizando-se, para o

cálculo, preços e índices de

eficiência produtiva médios nos

vinte e quatro meses anteriores, e

validados pela respectiva Cadec;

VIII - alternativas de financiamento

por instituição financeira ou pelo

integrador e garantias do integrador

para o cumprimento do contrato

durante o período do

financiamento;

IX - os parâmetros técnicos e

econômicos indicados pelo

integrador e validados pela

respectiva Cadec para uso no

estudo de viabilidade econômico-

financeira do projeto de

financiamento do empreendimento;

X - caráter e grau de exclusividade

da relação entre o produtor

integrado e o integrador, se for o

caso;

XI - tributos e seguros incidentes

na atividade e a responsabilidade

das partes, segundo a legislação

pertinente;

XII - responsabilidades ambientais

das partes, segundo o art. 10 desta

Lei;

XIII - responsabilidades sanitárias

das partes, segundo legislação e

normas infralegais específicas.

Parágrafo único. O DIPC deverá

ser atualizado trimestralmente para

Page 292: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

290

os setores de produção animal e

anualmente para os setores de

produção e extração vegetal.

Art. 9º São de

responsabilidade da

agroindústria todas as

obrigações legais

decorrentes da

utilização de

medicamentos e

insumos, inclusive

agrotóxicos, quando

prescritos e fornecidos

pela empresa,

respondendo civil e

penalmente por danos

ao produto rural

integrado e a terceiros

Parágrafo único.

Excetuam-se das

disposições do caput as

hipóteses comprovadas

de aplicação incorreta

dos insumos, por parte

do produtor rural

integrado, em desacordo

com as prescrições dos

profissionais da

agroindústria ou por ela

indicados

Art. 5º, § 1º São de

responsabilidade da

agroindústria todas as

obrigações legais

decorrentes da utilização de

medicamentos e insumos,

inclusive agrotóxicos,

quando prescritos ou

fornecidos pela empresa,

respondendo civil e

penalmente por danos ao

produtor rural integrado e a

terceiros.

§ 2º Excetuam-se das

disposições do § 1º as

hipóteses comprovadas de

aplicação incorreta dos

medicamentos e insumos,

por parte do produtor rural

integrado, em desacordo

com as prescrições dos

profissionais da

agroindústria ou dos por ela

indicados.

§ 3º Na hipótese de

prescrição, pela

agroindústria, de

agrotóxicos ou outros

insumos que apresentem

potencial de risco à saúde

do trabalhador, é de

responsabilidade da

agroindústria o

fornecimento de

equipamentos de proteção

individual aos empregados

do produtor integrado, bem

como o destino das

embalagens vazias, em

Art. 10. Compete ao produtor

integrado atender as exigências

da legislação ambiental para o

empreendimento ou atividade

desenvolvida em sua

propriedade rural, e o

planejamento e a

implementação de medidas de

prevenção dos potenciais

impactos ambientais negativos,

a mitigação e a recuperação de

danos ambientais.

§ 1º Nas atividades

agropecuárias de integração

em que haja suprimento de

insumos e a tecnologia

empregada seja definida e

supervisionada pela

agroindústria integradora, são

responsabilidades concorrentes

da integradora e dos integrados

as ações relativas à proteção

ambiental e à recuperação de

danos ao meio ambiente

ocorridos em decorrência do

empreendimento.

§ 2º Compete a agroindústria

integradora, nas relações de

integração em que haja

suprimento de insumos e a

tecnologia empregada seja por

ela definida e supervisionada:

I – fornecer projeto técnico de

instalações zootécnicas, das

áreas de produção agrícola e

das obras complementares, em

conformidade com as

exigências da legislação

ambiental, e supervisionar sua

implantação;

Art. 42. Será do

produtor integrado a

responsabilidade pelo

atendimento das

exigências legais

referentes à produção,

inclusive as destinadas

à proteção ambiental e

as de natureza

sanitária.

§ 1º O empresário

integrador fornecedor

de tecnologia e o titular

do direito contratual de

escolher, orientar ou

supervisionar o

emprego de

determinada tecnologia

serão responsáveis

solidários com o

produtor integrado pelo

atendimento da

legislação ambiental.

§ 2º O parágrafo

anterior aplica-se à

responsabilidade

contratual pelo

descarte de embalagens

ou inservíveis e

destinação dos

resíduos, adoção de

medidas de urgência e

recuperação de danos

ao meio ambiente.

§ 3º O empresário

integrador fornecedor

de insumos ou

medicamentos é

solidariamente

responsável com o

Art. 700. Compete

conjuntamente às

partes, planejar

medidas de

prevenção e

controle de pragas e

doenças, realizar o

monitoramento da

saúde animal e

vegetal e executar

ações emergenciais

em caso de surto

epidemiológico.

Art. 9º Compete ao produtor

integrado atender as exigências

da legislação ambiental para o

empreendimento ou atividade

desenvolvida em sua

propriedade rural, e o

planejamento e a

implementação de medidas de

prevenção dos potenciais

impactos ambientais negativos,

a mitigação e a recuperação de

danos ambientais.

§ 1º Nas atividades

agropecuárias de integração em

que haja suprimento de insumos

e a tecnologia empregada seja

definida e supervisionada pela

agroindústria integradora, são

responsabilidades concorrentes

da integradora e dos integrados

as ações relativas à proteção

ambiental, e a recuperação de

danos ao meio ambiente

ocorridos em decorrência do

empreendimento.

§ 2º A responsabilidade de

recuperação de danos de que

trata o parágrafo anterior deixa

de ser concorrente quando o

parceiro integrado adotar

conduta contrária ou diversa às

recomendações técnicas

fornecidas pela integradora.

§ 3º Compete à agroindústria

integradora, nas relações de

integração em que haja

suprimento de insumos e a

tecnologia empregada seja por

ela definida e supervisionada:

Art. 10. Compete ao produtor

integrado e à integradora atender às

exigências da legislação ambiental

para o empreendimento ou

atividade desenvolvida no imóvel

rural na execução do contrato de

integração, bem como planejar e

implementar medidas de prevenção

dos potenciais impactos ambientais

negativos e mitigar e recuperar os

danos ambientais.

§ 1º Nas atividades de integração

em que as tecnologias empregadas

sejam definidas e sua adoção

supervisionada pelo integrador,

este e o integrado responderão, até

o limite de sua responsabilidade,

pelas ações relativas à proteção

ambiental e à recuperação de danos

ao meio ambiente ocorridos em

decorrência do empreendimento.

§ 2º A responsabilidade de

recuperação de danos de que trata o

§ 1º deste artigo deixa de ser

concorrente quando o produtor

integrado adotar conduta contrária

ou diversa às recomendações

técnicas fornecidas pelo integrador

ou estabelecidas no contrato de

integração.

§ 3º Compete ao integrador, no

sistema de integração em que as

tecnologias empregadas sejam por

ele definidas e supervisionadas:

I - fornecer projeto técnico de

instalações e de obras

complementares, em conformidade

com as exigências da legislação

ambiental, e supervisionar sua

implantação;

Page 293: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

291

conformidade com a

legislação pertinente.

II – auxiliar o integrado no

planejamento de medidas de

prevenção, controle e

mitigação dos potenciais

impactos ambientais negativos

e prestar apoio técnico na sua

implementação;

III – elaborar, em conjunto

com o integrado, plano de

descarte de embalagens de

agroquímicos, desinfetantes e

produtos veterinários, e

supervisionar sua

implementação;

IV - fazer, em conjunto com o

integrado, plano de manejo dos

resíduos da atividade e

supervisionar sua

implementação;

V – implantar programa de

educação ambiental para os

integrados e seus empregados,

com enfoque nas atividades

produtivas e seus reflexos no

meio ambiente;

produtor pelo

atendimento à

legislação sanitária

afeta ao seu

fornecimento.

I - fornecer projeto técnico de

instalações zootécnicas, das

áreas de produção agrícola e das

obras complementares, em

conformidade com as

exigências da legislação

ambiental, e supervisionar sua

implantação;

II - auxiliar o integrado no

planejamento de medidas de

prevenção, controle e mitigação

dos potenciais impactos

ambientais negativos e prestar

apoio técnico na sua

implementação;

III - fazer, em conjunto com o

integrado, plano de manejo de

outros resíduos da atividade e a

disposição final dos animais

mortos e supervisionar sua

implementação;

II - auxiliar o produtor integrado no

planejamento de medidas de

prevenção, controle e mitigação

dos potenciais impactos ambientais

negativos e prestar-lhe assistência

técnica na sua implementação;

III - elaborar, em conjunto com o

produtor integrado, plano de

descarte de embalagens de

agrotóxicos, desinfetantes e

produtos veterinários e

supervisionar sua implantação;

IV - elaborar, em conjunto com o

produtor integrado, plano de

manejo de outros resíduos da

atividade e de disposição final dos

animais mortos e supervisionar sua

implantação.

Art. 11. Compete ao produtor

integrado e à agroindústria

integradora, concorrentemente,

zelar pelo cumprimento da

legislação fito e zoosanitária,

planejar medidas de prevenção

e controle de pragas e doenças,

realizar o monitoramento da

saúde animal e vegetal,

executar ações emergenciais

em caso de surto

epidemiológico.

Parágrafo único. Nas relações

de integração em que os

medicamentos utilizados sejam

de responsabilidade da

agroindústria integradora, o

recolhimento e a destinação

Art. 10. Compete ao produtor

integrado e à agroindústria

integradora, concorrentemente,

zelar pelo cumprimento da

legislação fito e zoosanitária,

planejar medidas de prevenção

e controle de pragas e doenças,

realizar o monitoramento da

saúde animal e vegetal, executar

ações emergenciais em caso de

surto epidemiológico.

Art. 11. Compete ao produtor

integrado e ao integrador,

concorrentemente, zelar pelo

cumprimento da legislação

sanitária e planejar medidas de

prevenção e controle de pragas e

doenças, conforme regulamento

estabelecido pelos órgãos

competentes.

Parágrafo único. Nos sistemas de

integração em que os

medicamentos veterinários

utilizados sejam de propriedade do

integrador, o recolhimento e a

destinação final das embalagens de

antibióticos ou de outros produtos

antimicrobianos deverão ser por ele

realizados.

Page 294: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

292

final das embalagens de

antibióticos ou de outros

produtos antimicrobianos

deverá ser realizada pela

integradora.

Art. 3º São direitos dos

produtores integrados,

sem prejuízo de outros

I – Remuneração não

inferior aos custos

despendidos, nestes

incluídos a reposição

dos meios de produção

utilizados pelo produtor

e o valor da força de

trabalho própria,

familiar ou contratada,

empregada para levar a

termo a etapa da

produção contratada

II - Seguros obrigatórios

com prêmio pago pela

agroindústria, que

contratará a apólice:

a. De vida

b. De cobertura

de prejuízos

decorrentes de

caso fortuito

ou força

maior que

afetem o

resultado do

empreendime

nto contratado

Art. 3º, § 3º A agroindústria

contratará, vedado o repasse

do custo do prêmio ao

produtor rural integrado,

apólice de seguro para

cobertura de eventos que

possam comprometer o

resultado do

empreendimento

contratado.

Art. 38. O sistema de

integração contará com

seguro da produção,

definindo o contrato os

critérios de escolha da

seguradora, a extensão

da cobertura e a

responsabilidade pelo

pagamento do prêmio.

Art. 697. O sistema

de integração pode

contar com seguro

da produção,

definindo o contrato

os critérios de

escolha da

seguradora, a

extensão da

cobertura e a

responsabilidade

pelo pagamento do

prêmio.

Contribuição

previdenciária. Art. 4º

A contribuição

previdenciária devida

pelos produtores rurais

integrados, no que

concerne à renda obtida

das atividades

Art. 4º É de

responsabilidade da

agroindústria o

recolhimento, nos prazos

legais, da contribuição

previdenciária que decorrer

da renda gerada pelas

atividades contratadas, bem

Page 295: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

293

contratadas, será

recolhida pela

agroindústria que, ao

final do contrato ou de

cada período anual,

entregará ao produtor

rural integrado os

respectivos

comprovantes

como a entrega dos

respectivos comprovantes

ao produtor integrado.

Pessoalidade. Art. 5º O

contrato de integração

não obriga a terceiros,

ainda que membros da

família do produtor

rural integrado

Art. 6º É vedado à

agroindústria fazer

recair sobre o produtor

rural integrado, a

qualquer título, ônus

decorrente de alterações

em prazos, tecnologia

de produção, uso de

insumos e demais

aspectos técnicos,

relativamente às

atividades objeto do

contrato.

Art. 3º, § 1º É nula de pleno

direito cláusula contratual

que transfira

exclusivamente para o

produtor rural integrado, a

qualquer título, ônus

decorrente de alterações em

prazos, tecnologia de

produção, uso de insumos e

demais aspectos técnicos,

relativamente às atividades

objeto do contrato.

Art. 5º As partes

contratantes, no limite de

suas atribuições legais e

contratuais, serão

individualmente

responsáveis pela

observância da legislação

em vigor, exceto nos casos

em que o contrato de

produção integrada

determine que a

responsabilidade seja

conjunta e solidária.

Art. 7º A

responsabilidade do

Page 296: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

294

produtor integrado

sobre o produto final da

atividade mantém-se até

o momento da

comunicação feita à

agroindústria da

condição de finalização

do processo produtivo,

assumindo, esta, a partir

daquele momento, a

responsabilidade por

quaisquer alterações

que venham a ocorrer

sobre o produto

Art. 8º Serão de

responsabilidade da

agroindústria todos os

custos de armazenagem

decorrentes do processo

de integração,

relativamente ao

produto final pronto,

mesmo quando

realizada na

propriedade do produtor

rural integrado

Art. 3º, § 2º Serão de

responsabilidade da

agroindústria todos os

custos de armazenagem

decorrentes do processo de

integração, relativamente ao

produto final, mesmo

quando realizada na

propriedade do produtor

rural integrado.

Preço. Art. 7º O valor

básico da remuneração

pelos serviços a serem

prestados ou pelo produto a

ser entregue será

estabelecido previamente ao

processo produtivo,

mediante negociação entre

as partes.

Parágrafo único. Na

hipótese de as condições de

mercado, à época da entrega

do produto, assim

justificarem, poderá haver

renegociação do preço final

contratado, observadas as

seguintes condições:

Art. 36. Cada

contratante é

responsável pelo

pagamento de suas

obrigações perante

terceiros, constituídas

em decorrência da

implantação do sistema

de integração.

Parágrafo único. O

contrato poderá atribuir

a contratante

integrador a

responsabilidade pelo

pagamento, em nome e

por conta do produtor

integrado ou de outro

Page 297: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

295

I – no caso de proposta de

redução do preço,

cobertura, no mínimo, dos

custos de produção

incidentes sobre a atividade

do produtor rural integrado;

II – no caso de elevação do

preço, divisão do valor

excedente de forma a

atender aos pressupostos de

equilíbrio econômico-

financeiro do contrato, e

que leve em conta a

rentabilidade dos produtos

intermediários e finais no

mercado;

III – manifestação favorável

dos sindicatos das

categorias que representem

as partes;

IV – intermediação das

negociações pela Comissão

de Conciliação e

Arbitragem a que se refere

o art. 9º desta Lei.

contratante integrador,

de obrigações perante

terceiros, inclusive de

natureza fiscal ou

previdenciária, fixando

os critérios de

compensação.

Art. 37. Se contratante

integrador fornecer,

direta ou

indiretamente, crédito

ou insumo ao produtor

integrado, o contrato

fixará os respectivos

valores, prazos e

condições.

Parágrafo único. Os

prazos serão

contratados em função

dos ciclos de produção.

Art. 8° É assegurado ao

produtor rural integrado o

direito de que a

classificação do produto a

ser entregue, ao final do

empreendimento, seja

realizada em sua

propriedade.

Art. 41. O contratante

terá o direito de

fiscalizar a

implantação do sistema

de integração

agroindustrial,

inclusive mediante

acesso ao

estabelecimento ou à

produção de

titularidade de outro

contratante.

Art. 699. O

contratante

integrador tem o

direito de fiscalizar

a implantação do

sistema de

integração

agroindustrial,

inclusive mediante

acesso ao

estabelecimento ou

à produção de

titularidade de

contratante

integrado.

Art. 13. Sobrevindo pedido de

recuperação judicial ou decretação

Page 298: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

296

da falência da integradora, poderá o

produtor rural integrado:

I - pleitear a restituição dos bens

desenvolvidos até o valor de seu

crédito;

II - requerer a habilitação de seus

créditos com privilégio especial

sobre os bens desenvolvidos.

Art. 11. O Poder

Executivo

regulamentará esta lei

no prazo de 45 dias.

Art. 12. Esta lei entra

em vigor 60 dias após a

data de sua publicação.

Art. 10. Esta Lei entra em

vigor quarenta e cinco dias

após a data de sua

publicação.

Art. 12. Esta lei entra em vigor

na data de sua publicação.

Art. 11. Esta lei entra em vigor

na data de sua publicação.

Art. 14. Esta Lei entra em vigor na

data de sua publicação.

Page 299: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

297

APÊNDICE B – ROTEIRO ENTREVISTA

PRODUTOR

1 INFORMAÇÕES GERAIS

1.1 ID do Censor: ______

1.2 País: Brasil

1.3 Estado: __________

1.4 Cidade: ______________

1.5 Nome do entrevistado: _____________________________________

1.6 Função do entrevistado: ____________________________________

1.7 Data da entrevista: ___ / ___ / _____

1.8 Tempo da entrevista: início ___:___ fim ___:___

2 CARACTERÍSTICAS DO PRODUTOR

2.1 Desde quando produz frango? ______

2.2 O produtor é associado a:

□ 02 Cooperativa de produção de frango

□ 04 Cooperativa de outros tipos de

produtores

□ 06 Cooperativa de comercialização

□ 08 Entidade de classe

(sindicatos/associações)

□ 10 Outro: ________________

□ 12 Nenhum

2.3 Qual a condição legal do produtor?

□ 01 Produtor individual

□ 03 Sociedade simples – nº de sócios:

____________________

□ 05 Sociedade empresária – nº de sócios:

__________________

□ 07 Outra condição? ________

OBS: número de sócios considerando o entrevistado

3 CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO

3.1 Qual o tamanho total da área? ______ unid. (alq/ha)

(incluindo terras destinadas a outras atividades agrícolas)

3.2 Quantas granjas existem para a produção de frangos? _____

3.3 Qual o tamanho e a capacidade das granjas?

3.4 Quais máquinas e equipamentos são utilizados na produção? Como foram adquiridos?

Ventilação forçada: ventiladores / exaustores

Page 300: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

298

Resfriamento do ar (aspersão / pulverização / nebulização / cooling)

Aquecimento (campânula elétrica / campânula gás / lenha / resistência / cortinas / outro)

Comedouro (tubular / automático linear / automático prato / outro)

Bebedouro (pressão / pendular / nipple / calha / outro)

Painel de controle (pressão negativa; controle da temperatura, umidade, ventilação)

Gerador (fonte de energia?)

Outros

3.5 Quem é responsável pela limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos?

□ 02 Produtor

□ 04 Produtor terceiriza

□ 06 Agroindústria integradora

□ 08 Agroindústria integradora terceiriza

□ 10 Outro

3.6 Qual o percentual normal de mortalidade? ______

3.7 Houve mortalidade excessiva ou total? Quando? Qual motivo?

3.8 O que acontece em caso de mortalidade anormal?

4 CONTRATOS E NOVA LEI

4.1 Qual a sua opinião a respeito da utilização de contratos na relação entre produtores e agroindústrias?

4.2 Você considera que o sistema de contratos é uma opção à produção independente? Por quê?

4.3 Quais as principais vantagens dos contratos de integração?

4.4 Quais as principais desvantagens dos contratos de integração?

4.5 Com qual empresa integradora possui contrato? ____________________

4.6 Desde quando? ______

4.7 Desde que iniciou a produção de frango, teve contratos com outras empresas? Quais?

□ Sim (4.4) □ Não (4.5) Empresas:

4.8 Existe outro parceiro viável na região? Quais?

□ Sim (4.4) □ Não (4.5) Empresas:

4.9 No caso de contratos anteriores com outras empresas, quais foram os motivos levaram à mudança de parceiro?

(Ex.: descumprimento contratual; falta de pagamento; má prestação de serviços; preço baixo; melhor proposta do

novo parceiro; desgaste na relação; falência da integradora)

Page 301: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

299

4.10 Como o produtor se sente em relação ao atual parceiro? Por quê?

□ 01 Muito insatisfeito

□ 02 Insatisfeito

□ 03 Única opção

□ 04 Satisfeito

□ 05 Muito satisfeito

4.11 Quais produtos e/ou serviços são prestados pela empresa integradora?

□ 02 Crédito para construção

□ 04 Crédito para produção

□ 06 Crédito para equipamentos

□ 08 Pintinhos

□ 10 Ração

□ 12 Medicamentos

□ 14 Veterinário

□ 16 Transporte venda

□ 18 Outros insumos. Quais?

□ 20 Outras assistências. Quais?

□ 22 Outros

4.12 Quais produtos e/ou serviços ficam sob a responsabilidade do produtor?

□ 02 Mão de obra

□ 04 Instalações

□ 06 Água e energia

□ 08 Gestão ambiental da produção

□ 10 Outros

4.13 Como são elaboradas as cláusulas que compõe o contrato de integração? Há participação de ambas as partes

ou são impostas pelas agroindústrias integradoras?

4.14 Como são negociados os seguintes parâmetros:

◦ Técnicos (índices de produção, definição de metas de produtividade, critérios de qualidade)

◦ Econômicos (forma de remuneração, formação do preço de referência, índices de correção)

◦ Gestão do Risco (fundo de catástrofe sanitária/ambiental/mercadológica; seguro das instalações e

animais, garantia de renda, prazos, forma de saída do contrato)

◦ Equilíbrio distributivo (renegociação de parâmetros econômicos, divisão de custos agregados no sistema

em virtudes de mudanças, alterações tecnológica que aumentam ou reduzem custos)

4.15 Qual o seu grau de satisfação em relação aos produtos e/ou serviços prestados pela empresa integradora?

□ 01 Muito insatisfeito

□ 02 Insatisfeito

□ 03 Indiferente

□ 04 Satisfeito

□ 05 Muito satisfeito

4.16 Houve mudanças no contrato no último ano?

□ Sim □ Não

Quais mudanças:

Motivo:

4.17 O produtor sabe da existência da Lei n. 13.288/2016, que passou a regulamentar o contrato de integração

vertical?

□ Sim □ Não

4.18 Como ficou sabendo? ______________________________

Page 302: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

300

4.19 Houve informação por parte da empresa integradora?

□ Sim □ Não Meio: ____________________

4.20 Houve eventos para divulgação e informação da nova lei realizado por associações e/ou sindicatos?

□ Sim □ Não Meio: ____________________

4.21 O produtor participou de algum evento para divulgação e informação da nova lei?

□ Sim □ Não O que foi discutido?

4.22 Você acredita que essa legislação específica irá contribuir para o sistema de integração e para os atores

envolvidos? De que forma?

□ Sim □ Não Forma:

5 SOLUÇÃO DE CONFLITOS

5.1 Quais os principais problemas/conflitos contratuais ocorreram nos últimos 10 anos?

□ 01 Pagamento

□ 02 Rompimento contratual

□ 03 Atraso na entrega de insumos

□ 04 Qualidade dos insumos

□ 05 Prestação de serviços

□ 06 Mortalidade

□ 07 Energia elétrica

□ 08 Outros – Quais?

5.2 Como esses problemas/conflitos foram resolvidos?

□ 01 Judicialmente

□ 02 Diretamente com a empresa

□ 03 Meios alternativos – qual: (mediação;

conciliação; arbitragem; outro

___________

5.3 Qual o seu grau de satisfação em relação à solução dos problemas/conflitos?

□ 01 Muito insatisfeito

□ 02 Insatisfeito

□ 03Indiferente

□ 04 Satisfeito

□ 05 Muito satisfeito

5.4 A relação com a empresa mudou após a ocorrência desses problemas? De que modo?

□ Sim □ Não Como mudou:

5.5 Você buscou o judiciário em algum momento para resolver problemas contratuais?

□ Sim □ Não (5.9)

5.6 Se sim, teve a pretensão atendida?

□ Sim □ Não

5.7 Qual o seu grau de satisfação com a atuação do Poder Judiciário na resolução do conflito?

□ 01 Muito insatisfeito

□ 02 Insatisfeito

□ 03 Indiferente

□ 04 Satisfeito

□ 05 Muito satisfeito

Page 303: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

301

5.8 Você voltaria a buscar o Poder Judiciário para resolver os conflitos? Por quais motivos?

□ Sim □ Não Motivos:

5.9 Se não buscou o Poder Judiciário, quais foram os motivos principais?

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Risco de perder o parceiro Distância do fórum

Custo

Tempo para resolução

Descrença no PJ

(1) Discordo totalmente

(2) Discordo parcialmente

(3) Indiferente

(4) Concordo parcialmente

(5) Concordo totalmente

5.10 Existia algum órgão de solução alternativa de conflitos do qual participavam empresa integradora e produtores

ou outro órgão independente?

Ex.: Câmara de conciliação, mediação, arbitragem.

□ Sim □ Não □ Independente – qual: ____________________

5.11 Você tem ciência sobre a criação de uma Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação

da Integração – CADEC, para a sua região?

□ Sim □ Não

5.12 Você participou de debates/eleição para sua criação? Quem realizou?

□ Sim □ Não Onde:

5.13 A CADEC terá como um de seus objetivos a solução, mediante acordo, de litígios entre produtores e

integradora, e será formada por representantes de produtores, da agroindústria integradora e de entidades

representativas. Você utilizaria a CADEC para a solução de litígios?

□ Sim □ Não

5.14 Por quais motivos?

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

CADEC será imparcial Participação da empresa não

será um problema

Empresa determinará a

decisão Não tem posicionamento

(1) Discordo totalmente

(2) Discordo parcialmente

(3) Indiferente

(4) Concordo parcialmente

(5) Concordo totalmente

Page 304: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 305: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

303

6 ENERGIA

6.1 Você teve que pagar pela instalação da rede elétrica atual?

□ Sim □Não Ano: ______

6.2 Há problemas na voltagem elétrica recebida pela propriedade (como oscilação)?

□ Sim □Não

6.3 Com que frequência ocorre interrupções do fornecimento de energia?

02 Não havia rede elétrica

□ 04 Nunca

□ 06 Algumas vezes ao ano

□ 08 Mensalmente

□ 10 Algumas vezes ao mês

□ 12 Semanalmente

□ 14 Muitas vezes por semana: ____ vezes

6.4 Como foi a evolução desse problema ao longo dos anos? Piorou ou melhorou?

6.5 A propriedade tem gerador?

□ Sim □Não

6.5.1 Quando foi adquirido? ______

6.5.2 Qual o motivo da compra?

□ 02 Vontade própria

□ 04 Problema anterior

□ 06 Imposição da integradora

□ 08 Outra ______

6.5.3 Qual a frequência de uso? □ 02 Todo dia

□ 04 Toda semana

□ 06 Todo mês

□ 08 Algumas vezes ao ano

□ 10 Não era utilizado

□ 12 Outra ______

6.6 A propriedade possui para-raios?

□ Sim □Não

6.7 Como foram resolvidos os problemas relacionados com a falta de energia e/ou raios?

7 SEGURO RURAL

7.1 Você adquiriu um seguro rural para a produção de frango?

□ Sim (7.3) □ Não (7.2) Ano: ______

7.2 Se não adquiriu, qual foi a principal razão?

□ 02 Você não sabia que existia

Page 306: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

304

□ 04 Você não precisava

□ 06 Você queria adquirir, mas não sabia como

□ 08 Você queria adquirir, mas nenhuma companhia seguradora fornecia o seguro que você queria

□ 10 Prêmios eram muito altos

□ 12 A proporção da indenização era muito baixa

□ 14 Você não queria adquirir, pois ninguém ao seu redor adquiria seguro rural

□ 16 Desconfiança nas companhias seguradoras

□ 18 Outra

7.3 Em caso de ter adquirido:

7.3.1 Teve participação da agroindústria integradora? □ Sim □ Não

7.3.2 Qual companhia seguradora (Est/Priv)? __________________________

7.3.3 Desde qual ano? ___________

7.3.4 Como ficou sabendo? _________________________________________

7.3.5 Foi utilizado? ___________

7.3.6 Qual o motivo do uso? ________________________________________

7.3.7 Como foi a experiência de uso?

□ 01 Muito insatisfeito

□ 02 Insatisfeito

□ 03 Indiferente

□ 04 Satisfeito

□ 05 Muito satisfeito

Page 307: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

305

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa Impactos jurídicos da

tipificação do contrato agroindustrial de integração no Brasil: o caso do setor avícola, desenvolvida

no Programa de Pós –Graduação em Direito da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade

de São Paulo, área de concentração Desenvolvimento no Estado Democrático de Direito.

A JUSTIFICATIVA OS OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS. O motivo que nos leva a estudar o

tema é a recente criação de uma lei que regulamenta o contrato de integração. Assim, a pesquisa se

justifica pela importância do contrato para o desenvolvimento agrário nacional. O objetivo desse projeto

é analisar quais são os impactos jurídicos da tipificação do contrato de integração para o setor avícola

brasileiro. Os procedimentos de coleta de dados serão da seguinte forma: realização de entrevista e

aplicação de questionário, requisitados aos participantes apenas no presente momento.

GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE SIGILO.

Você será esclarecido(a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você é livre para recusar-

se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua

participação é voluntária. O pesquisador irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.

Os resultados da pesquisa serão enviados para você, se houver interesse. Seu nome ou material que

indique a sua participação não serão divulgados. Você não será identificado(a) em nenhum momento da

pesquisa, incluindo publicações resultantes deste estudo. Uma cópia deste consentimento informado

será arquivada e outra será fornecida a você.

Em caso de dúvidas, poderá chamar o estudante Bruno Baltieri Dario, ou professora Orientadora Flavia

Trentini, no telefone _________________, ou no e-mail ________________.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre

e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Page 308: Impactos jurídicos da tipificação do contrato
Page 309: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

307

ANEXO A – CONTRATO BRF

INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONTRATO DE PRODUÇÃO INTEGRADA EM

TERMINAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE

INTEGRADORA: BRF S.A., atual denominação social de PERDIGÃO S.A. e de BRF –BRASIL FOODS S.A.

sucessora por incorporação de PERDIGÃO AGROINDUSTRIAL S.A. e de SADIA S.A., com sede na Rua Jorge

Tzachel n 475, Bairro Fazenda, na cidade de Itajaí (SC), com filial na Rua XV de Novembro, nº 100, Centro, na

cidade de Videira (SC), inscrita no CNPJ sob o nº 01.838.723/0224-49, neste ato, representada legalmente e

doravante denominada, simplesmente, “BRF”.

INTEGRADO(S): , residente(s) e domiciliado(s) na , na cidade de , inscrito(s) no

CPF nº(s) , e carteira de identidade nº(s) , e,

GRANJA: localizada com área disponível para alojamento de aves de m² de área útil,

situada no Imóvel com hectares, matriculado sob o nº do Cartório de Registro de Imóvel de com

cadastro no INCRA sob o n.

As partes acima qualificadas (assim consideradas em conjunto BFR e INTEGRADO(S) têm entre si, na

propriedade rural (“Granja”) acima destacada, justo e contratado, que mutuamente aceitam e outorgam a saber:

1. Considerações Preliminares

1.1. A BRF, entre outras atividades, se dedica às atividades de abate e à comercialização de frangos de corte e

pretende utilizar-se dos frangos terminados pelo(s) INTEGRADO(S) como matéria-prima em sua indústria, ou

mesmo comercializar tais produtos “in natura”;

1.2. O(s) INTEGRADO(S) é(são) proprietário(s) e/ou possuidor(es) exclusivo(s) da Granja acima destacada, livre

de quaisquer ônus, limitações ou restrições;

1.3. O(s) INTEGRADO(S) possue(m) todas as condições necessárias e suficientes para se dedicar à terminação de

frangos destinados ao abate, pretendendo fazê-lo nos termos e segundo as condições estabelecidas neste Contrato;

1.4. As Partes têm interesse em formar uma parceria integrada para a terminação de frangos de corte, no exato

termo ora contratados, em relação aos quais ambas declaram estar cientes e de acordo, de forma irrevogável e

irretratável.

Nestas condições, as Partes firmam o presente “Contrato de Produção Integrada em Terminação de Frangos

de Corte” (“Contrato”), que se regerá pelas cláusulas e condições seguintes, sendo certo que, para os efeitos

deste contrato as expressões abaixo mencionadas têm o seguinte significado:

a) Apanha: Ato de apanhar os frangos de corte vivos na Granja, bem como seu carregamento em veículos e

condições apropriadas ao transporte até o local de abate;

b) Esquipe técnica da BRF: Grupo de profissionais indicados pela BRF para a prestação da assistência

técnica ao(s) INTEGRADO(S), na terminação;

c) Frangos descartados: Frangos que não apresentam condições de terminação, por problemas físicos e/ou

sanitários e que são eliminados previamente ao abate, geralmente na própria granja;

Page 310: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

308

d) Frangos terminados: Frangos retirados da Granja e encaminhados para abate;

e) Granja: Conjunto de instalações, equipamentos e benfeitorias destinadas ao processo de alojamento e

terminação do plantel, objeto deste contrato;

f) Imóvel: Área de terras rurais de propriedade e/ou posse do(s) INTEGRADO(S), onde está localizada a

“Granja” destinada ao processo de produção avícola integrada, descrita na matrícula imobiliária, acima

mencionada;

g) Insumos: Ração, vacinas, medicamentos, desinfetantes e todo produto usado na terminação dos frangos

até a saída para o abate;

h) Lotes: frangos de corte alojados com a mesma idade, desenvolvidos numa mesma instalação;

i) Pinto(s) de um dia: frango macho ou fêmea com 01 (um) dia de idade;

j) Plantel: Todas as aves (pintos ou frangos), terminados ou não, destinados ao objeto deste contrato,

existentes na Granja de propriedade e/ou posse do(s) INTEGRADO(S), descrita no preâmbulo;

l) Preposto: Representante legal das partes;

m) Terminação: Conjunto de procedimentos de responsabilidade do(s) INTEGRADO(S) relacionados com

a criação e o desenvolvimento de frangos, em Granja de sua propriedade, até que atinjam as condições

ideais para abate estabelecidas pela BRF, tais como, exemplificadamente: peso, sanidade, etc.

2. Objeto do Contrato

2.1. Constitui objeto deste Contrato a criação e engorda até a terminação pelo(s) INTEGRADO(S), dos “pintos de

um dia”, machos ou fêmeas que serão fornecidos pela BRF, na quantidade adequada para obtenção de eficiência

no processo produtivo, considerando a área, instalações e equipamentos disponibilizado(s) pelo(s)

INTEGRADO(S) para a criação e terminação. Nesse contexto, a BRF compromete-se a remeter ao(s)

INTEGRADO(S), na Granja de propriedade e/ou posse destes, descrita no preâmbulo, lotes de “pintos de um dia”

com peso, linhagem e tipos variáveis, definindo pela BRF, além dos insumos, compatíveis com o padrão e/ou

capacidade da Granja e, o(s) INTEGRADO(S) compromete(m)-se a promover a terminação dos frangos, de modo

que, ultimada esta fase e respeitadas às demais avenças ora contratadas, a parte que couber dos referidos frangos

terminados à BRF retornem a esta para o respectivo abate, bem como a parte cabível ao(s) INTEGRADO(S), nos

termos da Cláusula 3.1., “a”, infra.

2.2. Efetuada a entrega de um determinado lote de frangos terminados pelo(s) INTEGRADO(S), obrigar-se-á a

BRF, no prazo máximo de 26 (vinte e seis) dias, a entregar um novo lote de “pintos de um dia” e os correspondentes

insumos necessários e de sua responsabilidade. Esse prazo de 26 (vinte e seis) dias, no entanto, poderá ser dilatado

ou antecipado, sem que acarrete quaisquer ônus à BRF, e a própria quantidade de “pintos de um dia” alojados

poderá variar, dependendo em cada caso de ajuste prévio entre as Partes e/ou determinado pelas variáveis

verificadas em função de diversos fatores, observando-se um ou mais de um dos seguintes critérios ou

circunstâncias:

a) Dimensões e condições das instalações e equipamentos disponíveis na Granja;

b) Por restrições ou ocorrências de problemas de natureza ambiental e/ou sanitária detectados na Granja do(s)

INTEGRADO(S) pela equipe técnica da BRF e/ou autoridades públicas;

c) Em virtude de procedimentos adotados pelo(s) INTEGRADO(S) não condizentes com a boa técnica de

manejo, capazes de propiciar resultados na terminação aquém do desejável;

d) Devido a não realização, pelo(s) INTEGRADO(S), de manutenção e/ou investimentos necessários e/ou

orientados pela BRF na Granja do(s) INTEGRADO(S), que possam de qualquer forma por em risco a saúde

e segurança do plantel de animais e/ou pessoas, bem como, possam afetar os resultados técnicos e econômicos

do lote;

Page 311: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

309

e) Caso fortuito ou força maior (sem culpa das partes), inclusive quando possam implicar em restrições de

mercado e, que produzam como consequência, a necessidade de redução da produção, observando o previsto

no item 2.2, acima;

f) Problemas que dificultem o acesso a Granja, tais como falta de manutenção em estradas;

g) A Granja não esteja devidamente preparada para receber o novo alojamento de “frangos de um dia”, conforme

orientações técnicas da BRF de prévio conhecimento por escrito do(s) INTEGRADO(S);

h) Em casos de ocorrências de sinistro na Granja. Neste caso, o(s) INTEGRADO(S), compromete(m)-se a

comunicar a ocorrência à BRF, no prazo de 3 (três) horas, seguindo as orientações fornecidas pela BRF, à

respeito.

3. Destinação dos frangos e demais Insumos

3.1. Como condições essenciais e verdadeiros pressupostos deste Contrato:

a) O(s) INTEGRADO(S) desde já manifestam o seu interesse de vender para BRF a parte dos frangos terminados

que lhe couber me razão do presente Contrato, observadas as condições estipuladas na cláusula 7, abaixo e

respectivo ANEXO;

b) Concordam as Partes com o sacrifício dos frangos alojados, a critério das autoridades públicas e/ou da BRF

caso ocorram restrições sanitárias, de biossegurança, de biosseguridade, ou outras que venham por em risco a

atividade ou saúde humana, cabendo, nestes casos a cada uma das Partes as providências e os ônus com tal evento,

conforme as orientações das autoridades públicas e/ou da equipe técnica da BRF;

c) O(s) INTEGRADO(S) comprometem-se a destinar os frangos e dos demais insumos a eles fornecidos pela BRF,

única e exclusivamente ao propósito deste contrato, sendo-lhes vedado, por conseguinte, vende-los, cedê-los a

terceiros ou dar-lhes qualquer outra destinação. Declaram ainda, o(s) INTEGRADO(S), que autorizam a BRF, ao

final do contrato, a retirar qualquer sobra de ração, medicamentos, vacinas e demais insumos fornecidos pela

mesma, bem como, que seguirão as orientações técnicas da BRF para dar o devido destino aos mesmos;

d) Comprometem-se o(s) INTEGRADO(S) a utilizaram na condução da criação de frangos exclusivamente as

rações, vacinas, medicamentos e demais insumos fornecidos pela BRF, detalhados na cláusula 5.1, infra, conforme

orientações e prescrições da equipe técnica da BRF;

e) Comprometem-se o(s) INTEGRADO(S) a não utilizar/aplicar aos frangos, objeto do presente, insumos ou

qualquer tipo de substância que não tenham sido fornecidas ou prescritas pela equipe técnicas da BRF. Outrossim,

observar o prazo de carência de medicamentos e insumos conforme orientações dadas pela equipe técnica da BRF.

3.2. Nos termos dos artigos 627 e seguintes do Código Civil Brasileiro, o(s) INTEGRADO(S) assume(m) as

obrigações de fiéis depositários em relação aos lotes de pintos de um dia, frangos terminados ou não, insumos e

quaisquer outros produtos fornecidos pela BRF em razão da presente parceria, uma vez que sabedor(es) de que

estas aves e insumos são de propriedade da BRF e cuja nota fiscal de cada remessa será parte integrantes deste

Contato. Obriga(m)-se ainda o(s) INTEGRADO(S) a não venderem o plantel e respectivos insumos, objeto da

produção integrada, para terceiros, tampouco onerá-los com penhor ou alienação fiduciária, dar em pagamento ou

qualquer outro tipo de alienação ou operação, senão em favor da BRF. Além disso, o(s) INTEGRADO(S)

compromete(m)-se em zelar e cuidar dos insumos e do plantel para que lhe forem entregues para engorda, até que

os mesmos atinjam o peso programado para devolução, responsabilizando-se pelos mesmos, até a efetiva

restituição e entrega à BRF.

Page 312: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

310

3.3. É facultado ao(s) INTEGRADO(S), utilizar para consumo próprio, no máximo, a quantia de 20 (vinte) frangos

da sua cota parte em cada lote de frangos alojados. Neste caso, a quantidade de frangos será informada previamente

à BRF, registrando-se os eventos em ficha própria fornecida pela BRF, Será de responsabilidade do(s)

INTEGRADO(S) a observância de todas as condições e procedimentos necessários ao abate dos frangos

consumidos, inclusive no que diz respeito às condições de biossegurança (segurança das pessoas), biosseguridade

(segurança dos animais), segurança alimentar, ambiental e sanitária.

4. Vigência do Contrato e dos Prazos de Terminação

4.1. O presente Contrato tem início na data de sua assinatura e vigorará por prazo indeterminado, podendo ser

rescindido a qualquer tempo, por qualquer uma das Partes, sem que lhe acarrete qualquer ônus, mediante aviso

prévio, por escrito, com antecedência mínima de 1 (um) lote, sob pena de indenização no valor correspondente a

quota-parte do(s) INTEGRADO(S) de 1 (um) lote, calculados a partir da média dos valores obtidos pelo(s)

INTEGRADO(S), a título de quota-parte nos últimos 3 (três) lotes entregues à BRF.

4.2. A atividade de terminação, a cargo do(s) INTEGRADO(S), se encerra quando os frangos alojados em sua

Granja atingirem condições de abate e forem entregues a BRF.

5. OBRIGAÇÕES DA BRF

São obrigações da BRF, além das demais obrigações previstas neste Contrato e na lei e ele aplicável:

5.1. Arcar com as despesas no atendimento de suas obrigações, ou seja, àquelas relacionadas à(ao): (a) aquisição

e fornecimento dos “pintos de um dia” a serem alojados; (b) fornecimento de ração; (c) fornecimento de vacinas,

medicamentos, raticidas, inseticidas e insumos para desinfecção sanitária das granjas e ou reembolso do valor

referente a compra de insumos para tratamento da cama aviária adquirida pelo INTEGRADO (cotação no mercado

local), sujeita à comprovação e desde que prescritos, por escrito, pelo profissional técnico da BRF; (d) apanha e

carregamento dos frangos terminados para o abate; (f) apoio laboratorial e assistência técnica necessárias para o

desenvolvimento da produção dos frangos; e (g) tributos e taxas incidentes sobre os “pintos de um dia”, frangos

para o abate (quota-parte da BRF), insumos e despesas de responsabilidade da BRF.

5.2. Encaminhar ao(s) INTEGRADO(S) os animais e insumos de sua responsabilidade, em conformidade à

legislação ambiental, sanitária, biossegurança, biosseguridade, fiscal, bem estar animal, qualidade e/ou outras

exigências de mercado que eventualmente foram se seu interesse, cabendo ao(s) INTEGRADO(S) recusarem o

recebimento, daqueles que se apresentarem em desconformidade com os respectivos requisitos. A BRF se

compromete a informar as condições de desenvolvimento sanitário do lote de origem, mediante solicitação do(s)

INTEGRADO(S).

5.3. Observar, quando das orientações técnicas e de acesso à Granja por seus prepostos, bem como quando

transportar, manter e abater o plantel, a legislação ambiental, sanitária e de bem estar animal, e/ou outras exigências

de mercado que eventualmente forem de seu interesse.

5.4. Informar ao(s) INTEGRADO(S), com antecedência mínima de 24hs, através de emissoras de rádio, telefone,

e-mail, por seus técnicos ou qualquer outro meio, a data e a hora aproximada para o alojamento dos “pintos de um

dia” e retirada dos frangos de sua propriedade;

5.5. Realizar a pesagem dos frangos vivos, no abatedouro, facultando ao(s) INTEGRADO(S) o acompanhamento

dos procedimentos de pesagem e recebimento dos lotes entregues, Para efeito deste dispositivo, o(s)

Page 313: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

311

INTEGRADO(S) deverá(ão) manifestar com antecedência esta vontade, atendendo as condições sanitárias

exigidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela BRF.

5.6. Receber a parte de frangos terminados que lhe couber na presente produção integrada;

5.7. Adquirir a parte cabível do(s) INTEGRADO(S), pagando-a até o 15º (décimo quinto) dia após a entrega do

respectivo lote, através de depósito em conta corrente no estabelecimento bancário a ser indicado pelo(s)

INTEGRADO(S), cujo comprovante de depósito as partes reconhecem para todos os fins de direito como prova

de recebimento. Em não havendo impugnação escrita do valor depositado, no prazo de 3 (três) dias a contar do

depósito bancário, entender-se-á como quitada a partilha e a compra e venda realizada entre as partes relativas ao

respectivo lote;

5.8. Efetuar os ajustes na fórmula de calcular os resultados da produção integrada (coeficientes), sempre que se

fizer necessário, dada a evolução na produtividade dos frangos em função dos avanços genéticos e nutricionais

incorporados ao setor, ou quando houver eventuais mudanças no padrão dos frangos em função da demanda do

mercado, de forma a manter o equilíbrio econômico entre as Partes. Quando se fizer necessário, esses ajustes serão

previamente negociados com a Comissão de Conciliação da Integração local (itens 7.3 e 9.12), inclusive com

respeito ao prazo de vigência das respectivas definições;

5.9. Disponibilizar ao(s) INTEGRADO(S), sempre que estes solicitarem, todos os parâmetros relacionados ao

cálculo dos resultado auferidos pelas partes decorrentes deste contrato e ajustados pela Comissão de Conciliação

da Integração;

5.10. Elaborar e disponibilizar ao(s) INTEGRADO(S) até a data do acerto financeiro de cada lote, informe,

contendo, no mínimo, dados sobre a quantidade de ração fornecida pela BRF, quantidade de ração consumida pelo

lote, indicadores zootécnicos, quantidades produzidas, índices de produtividade e o preço base do frango terminado

usado nos cálculos dos resultados financeiros, bem como os valores pagos relativos ao objeto da integração;

5.11. Disponibilizar, para que o(s) INTEGRADO(S) possa(m) fazer a respectiva retirada, em locais e horários pré-

determinados, as vacinas, medicamentos, raticidas e inseticidas e demais insumos para desinfecção sanitária,

orientada/prescritas pela equipe técnica da BRF;

5.12. Realizar, sempre que julgar necessária, a coleta de amostras dos lotes de frangos entregues, bem como da

água e outros insumos, materiais ou substâncias utilizadas na terminação dos frangos, e submetê-las a qualquer

tipo de análise laboratorial. Fica facultado ao(s) INTEGRADO(S) o acompanhamento da(s) coleta(s) da(s)

amostra(s) que a BRF julgar por bem realizar com acesso aos respectivos resultados. Em sendo de seu interesse

estas providências, o(s) INTEGRADO(S), poderá(ão) fazê-las por conta e risco, mediante prévio e expresso

conhecimento da BRF.

5.13. Receber e analisar relato de eventuais anomalias ocorridas no lote, apontadas pelo(s) INTEGRADO(S) e ou

pela BRF até a entrega dos frangos para abate e, em comunhão de esforços com os mesmos, definir o melhor

tratamento aos casos, para a manutenção do equilíbrio econômico da produção integrada.

5.14. Observar, tomando as providências cabíveis (complemento ou desconto/compensação do lote) quando do

acerto do lote, eventuais anomalias relacionadas à produção, apontada(s) pelo(s) INTEGRADO(S) e ou pela BRF,

como por exemplo, sanidade dos “pintos de um dia” entregues para recria, rações, manejo, qualidade técnica, etc.;

Page 314: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

312

5.15. Investir em conhecimento de processos de inovações de forma a otimizar os custos e melhorar a

produtividade da cadeia produtiva, repassando-as ao(s) INTEGRADO(S), sempre que possível, respeitando,

inclusive, o disposto na Cláusula 5., que trata das responsabilidades pelas despesas entre as partes, quando da

eventual implementação destas melhorias.

5.16.Manter estreito relacionamento com entidades públicas e privadas com fins de manutenção e abertura de

novos mercados.

5.17. Disponibilizar, sempre que necessário, ao(s) INTEGRADO(S), apoio laboratorial e assistência técnica

necessárias para o desenvolvimento da produção dos frangos, objeto este contrato.

6. Obrigações do(s) Integrado(s)

São obrigações do(s) INTEGRADO(S), além das demais obrigações previstas neste Contrato e na lei a ele

aplicável:

6.1 Arcar com as despesas no atendimento de suas obrigações, ou seja, àquelas:

a) relativas às instalações e equipamentos da Granja, e respectiva manutenção, de forma a assegurar perfeitas

condições técnicas de higiene, de salubridade e de segurança necessárias e suficientes à adequada acomodação do

plantel, bem como de seguro sobre as instalações e equipamentos;

b) relativas à mão de obra, incluindo todos os encargos trabalhistas, previdenciários, sociais, tributários,

capacitação, equipamentos e utensílios de segurança preventiva (EPIs), sendo-lhes vedado, por conseguinte,

exemplificativamente, usar mão de obra de pessoas com idade inferior a 18 anos, em condições degradantes ou

análogas a escravo ou sem observância às normas de medicina e segurança do trabalho, sob pena de rescisão

imediata do presente Contrato, independentemente de notificação judicial ou extrajudicial;

c) relativas à energia elétrica, água de boa qualidade, tratada e protegida, herbicidas, fonte de aquecimento, material

para a formação da cama (maravalha, serragem e outros), licenciamento ambiental e sanitário; operações de

compostagem das aves mortas, descarga dos “pintos de um dia”, rações e demais insumos necessários à criação e

terminação dos frangos; retirada das vacinas, medicamentos, raticidas e inseticidas e demais insumos para

desinfecção sanitária, no local disponibilizado pela BRF; por fim, tributos e taxas incidentes sobre o imóvel

(“Granja”) descrito e destacado no preâmbulo, bem como sobre sua quota parte e frangos para abate, insumos e

despesas de sua responsabilidade;

6.2. Conduzir a terminação dos frangos de acordo com as orientações técnicas e recomendações fornecidas pela

BRF.

6.3. Fornecer ao processo de terminação dos “pintos de um dia” alojados todos os insumos de sua responsabilidade,

de acordo com orientações e prescrições da equipe técnica da BRF.

6.4. Realizar a conferência no momento do recebimento, dos “pintos de um dia”, das rações, medicamentos,

vacinas e demais insumos fornecidos pela BRF, comunicando-lhe imediatamente qualquer anormalidade

encontrada, sendo obrigatória a presença do(s) INTEGRADO(S) ou seu preposto no momento em que os animais

e insumos forem entregues pela BRF. Não havendo imediata comunicação de anormalidade, será considerado

como correta a entrega dos animais e insumos fornecidos pela BRF, descritos nas respectivas Notas Fiscais. Caso

as anormalidades forem constatadas antes da operação de descarregamento, o(s) INTEGRADO(S) deverá(ão)

Page 315: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

313

manter contato imediato com a BRF, para fins de comunicação e orientações dos procedimentos que se fizerem

necessários.

6.5. Garantir condições segura de tráfego nas vias de acesso à Granja, de forma a permitir a permanente realização

do transporte dos “pintos de um dia”, rações, medicamentos, vacinas e demais insumos e frangos para o abate.

6.6. Utilizar e preencher a ficha de acompanhamento do lote fornecida pela BRF, anotando elementos

quantitativos, à identificação dos locais de alojamento, desenvolvimento do plantel, consumo das rações e de

medicamentos, mortalidade, e outros eventos relevantes e/ou solicitados pela BRF ocorridos ao longo do tempo

da terminação. Anotações finais do lote serão feitas em conjunto com o chefe do carregamento ou motorista do

último caminhão transportador do lote entregue, responsabilizando-se por eventuais diferenças.

6.7. Permitir à BRF, através de seus prepostos, a qualquer momento, livre avesso nas dependências da Granja, para

fins de inspecionar e acompanhar a terminação dos frangos.

6.8. Comunicar imediatamente a BRF, qualquer anormalidade que porventura venha a se verificar na Granja, nas

suas instalações, no seu funcionamento, nas suas benfeitorias e acessos ou, ainda, nos frangos de corte objeto deste

Contrato, especialmente de mortalidade de frangos, para que a BRF possa, em tempo hábil, verificar a causa e/ou

tomar providências técnicas possíveis e necessárias, devendo o(s) INTEGRADO(S) seguir(em) as orientações

fornecidas pela BRF, a respeito, bem como comunicar a BRF, com antecedência mínima de 2 (dois) dias úteis,

eventuais alterações necessárias na programação da ração.

6.9. Permitir e facilitar a BRF o cumprimento das providências necessárias previstas no item 5.12, acima.

6.10. Atender a legislação ambiental, em especial no que tange a preservação da Amazônia, quando for o caso, a

adequada destinação dos frangos mortos, dos dejetos, embalagens e equipamentos descartáveis de vacinas,

medicamentos, desinfetantes, agro-químicos, bem como de quaisquer outros resíduos decorrentes do processo

produtivo, assegurando vigência das respectivas licenças, e comprovando respectiva regularidade legal, quando

solicitado.

6.11. Alojar e manter na “Granja”, exclusivamente, o plantel fornecido pela BRF, objeto do presente contrato, e

também a cumprir as orientações técnicas fornecidas pelas autoridades públicas e/ou BRF, referentes à manutenção

de outros animais no imóvel de sua propriedade e/ou posse, onde está alojado o referido plantel, especialmente

aqueles que apresentem risco a sanidade ou qualidade do plantel, bem como observar as normas de biosseguridade,

de biossegurança, bem estar animal e sanitárias estabelecidas pela legislação e pela BRF, responsabilizando0se

pela sua comprovação no âmbito municipal, estadual e federal, de acordo com as exigências governamentais, tais

como, sem se limitar a:

a) não permitir o acesso às instalações e área de biosseguridade por terceiros, sem prévia autorização por escrito

da BRF, e quando autorizado, cumprir com as condições por ela orientadas;

b) adequar e manter a propriedade, as instalações e os equipamentos em bom estado de conservação, de forma a

evitar acidentes com as pessoas, plantel e insumos, bem como limpas, lavadas, desinfetadas e em permanentes

condição de uso, de acordo com as recomendações técnicas ditadas pelas autoridades ambientais, sanitárias, bem

como parte da BRF;

c) responsabilizar-se pela segurança e saúde das pessoas em razão das atividades desenvolvidas na Granja,

cumprindo e fazendo cumprir todas as normas de saúde ocupacional e de biossegurança estabelecida pela

Page 316: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

314

Legislação, como por exemplo, mas não limitadas a estas, o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual

(EPI’s);

d) efetuar a higienização da Granja, controle de insetos e roedores conforme orientações técnicas fornecidas pela

equipe técnica da BRF, utilizando para tanto, exclusivamente, os desinfetantes, raticidas e inseticidas fornecidos

pela BRF.

6.12. Retornar à BRF a quantidade de frangos terminados cabíveis a ela, bem como a que lhe(s) couber ao(s)

INTEGRADO(S), que, juntas, deverão corresponder à quantidade recebida de “pintos de um dia”, ressalvadas

apenas e tão somente, as eventuais faltas por mortalidade, consumo próprio e aqueles descartados por autorização

da equipe técnica da BRF, devidamente lançados nos controles a que se refere o item 6.6. acima, desde que tais

diferenças sejam aceitas pela BRF. O(s) INTEGRADO(S) deverá(ão) realizar ainda, até 2 (dois) dias úteis que

antecede a entrega de cada lote, a conferência prévia dos frangos e mortalidades, informando à BRF o número

aproximado de animais do plantel a ser entregue;

6.13. Entregar o plantel à BRF ou a quem ela expressamente indicar, mediante autorização expressa e

documentação fiscal específica (GTA, Boletim Sanitário, Nota Fiscal de Produtor, entre outros). O(s)

INTEGRADO(S) deve(m) observar para que toda saída de animais esteja acompanhada de nota fiscal do produtor

e da ordem de carregamento, que deverá consignar a data e hora da saída, as quantidades e o aspecto físico geral

dos animais, entre outras informações, respondendo pelas mesmas. Além disso, quando da retirada dos frangos da

Granja, obriga(m)-se o(s) INTEGRADO(S):

a) estar presente ou representado por preposto no momento em que os frangos serão carregados e entregues a BRF;

b) deixar a Granja preparada para a retirada dos frangos, antes da chegada do caminhão e equipe de carregamento,

tudo de acordo com as instruções da equipe técnica da BRF;

c) manter em jejum os frangos que serão retirados, pelo tempo determinado pela BRF e conforme as normas de

fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

d) disponibilizar as instalações e equipamentos (embarcadouro/encarretador) necessários para o carregamento dos

frangos, de acordo com as recomendações técnicas e instruções da BRF, inclusive fornece energia elétrica e

iluminação adequada no local, local adequado para procedimentos pessoais das equipes e apanha (toaletes e local

para refeição), água e estrutura adequada para molhar os frangos, responsabilizando-se pela operação de molhá-

los por ocasião do carregamento, quando assim se fizer necessário ao bem estar do plantel;

e) cumprir as exigências técnicas quanto aos modos preventivos e lesões dos frangos, garantindo o bem-estar e o

conforto dos mesmos, e por consequência, a qualidade do produto no abatedouro;

f) conferir o número de frangos carregados a cada veículo, conforme quantidade especificada em cada Guia de

Transporte de Animais (GTA) e respectivos documentos fiscais, que acompanham a carga. Eventuais sobras de

animais deverão permanecer na Granja, devendo o(s) INTEGRADO(S) informar a BRF, para as devis

providências.

6.14. Atender ao disposto no Código de Ética de Relacionamentos adotado pela BRF, declarando o(s)

INTEGRADO(S) desde já conhecer e concordar com todos os seus termos.

7. Resultado da Produção Integrada

Page 317: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

315

7.1. Estabelecem as partes de que o resultado da produção integrada será partilhado levando-se em consideração:

7.1.1. A proporcionalidade de participação de cada parte no custo total de um lote, podendo sofrer ajustes para

mais ou para menos em função:

a) Do sexo de peso de abate dos frangos alojados no lote;

b) Da sazonalidade (período do ano em que o lote de frangos é criado);

c) Idade de abate do lote na fase de terminação.

7.1.2. A forma, condições e cuidados dispensados, ou seja, a eficiência na condução do lote em produção, podendo

sofrer ajustes para mais ou para menos em função:

a) Mortalidade percentual obtida no lote;

b) Conversão alimentar do lote.

7.1.3. A qualidade dos frangos entregues para abate, podendo sofrer ajustes para menos em função:

a) Condenações (não aproveitamento) dos frangos entregues

b) Calo de pés;

c) Papo cheio;

d) Arranhaduras;

e) Acerto de peso.

7.1.4. Processos e procedimentos de qualidade, bem estar animal, rastreabilidade, biossegurança, biosseguridade,

segurança alimentar, ambiental e sanitária, podendo sofrer ajustes para mais, em função:

a) Da adequação estrutural;

b) Da adequação de procedimentos;

7.1.5. Dos frangos utilizados para consumo próprio.

7.2. As formas de apuração dos itens especificados constam detalhadamente no ANEXO I, que as partes

reconhecem como parte integrante deste contrato.

7.3. Pra que os índices de produção sejam mantidos ou mesmo melhorados, levando-se em consideração melhorias

tecnológicas entre outros fatores, os padrões supra referidos e vigentes, de conhecimento das partes, poderão sofrer

revisões e alterações, periodicamente, conforme previsto na Cláusula 5.8 supra.

7.3.1. As partes concordam que as alterações de padrões e coeficientes estabelecidos mediante negociação com a

comissão de conciliação da integração, conforme disposto na cláusula 5.8 supra, são de aplicação imediata e

independe de aditamento contratual, cabendo a BRF cientificar o(s) INTEGRADO(S) das alterações procedidas.

8. Rescisão e Penalidades

8.1 O presente Contrato poderá ser rescindido a qualquer tempo e por qualquer das Partes, nas seguintes hipótese:

a) Insolvência civil, dissolução judicial ou extrajudicial ou decretação de falência de qualquer das Partes;

b) Em caso de falecimento do(s) INTEGRADO(S);

c) Motivo de força maior ou caso fortuito, previsto no Código Civil Brasileiro quando não for o caso de

suspensão temporária e que impeçam a consecução do objeto do presente Contrato;

Page 318: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

316

d) Descumprimento, total ou parcialmente, de quaisquer das Cláusulas, termos ou condições previstos ou

decorrentes deste instrumento, observando-se o condido na cláusula 8.2;

e) Transferência a qualquer título e por qualquer meio, total ou parcialmente, ou venda do imóvel e/ou Granja,

acessões, construções e benfeitorias realizadas pelo(s) INTEGRADO(S), que comprometa(m) o

cumprimento do objeto do presente Contrato;

f) Relacionamento impróprio, caracterizado por agressões físicas, verbais ou morais por parte do(s)

INTEGRADO(S) contra a equipe técnica e/ou prepostos da BRF ou destes contra o(s) INTEGRADO(S) e/ou

preposto(s), devidamente comprovado;

g) Em caso de suspensão ou paralisação das atividades, transferência, venda ou fechamento da unidade de

produção do grupo econômico da BRF, qualquer que seja o motivo.

8.2. O descumprimento de qualquer uma das Cláusulas contratuais, por qualquer das partes, ensejará a rescisão

deste Contrato arcando a parte culpada com o ônus de indenização à parte prejudicada pelas perdas e danos

decorrente do inadimplemento.

8.3. Em ocorrendo o descumprimento de qualquer das cláusulas contratuais ou não atendimento das

recomendações técnicas pelo(s) INTEGRADO(S), que, a juízo e critério exclusivo da BRF, não comprometam a

relação da produção integrada, poderá esta (BRF), adotar as seguintes medidas:

a) No 1º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s) INTEGRADO(S), solicitando

a adequação necessária com prazo definido;

b) No 2º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s) INTEGRADO(S), desta vez

suspendendo o alojamento do próximo lote, para fins de adequação necessária, sem direito ao(s)

INTEGRADO(S) de qualquer remuneração ou indenização, com a aplicação de multa não

compensatória de 5% (cinco por cento) do valor da média dos três (03) últimos lotes;

c) No 3º descumprimento = notificar por simples correspondência o(s) INTEGRADO(S) da rescisão

do contrato, com a cobrança de perdas e danos, se houver, com a aplicação de multa não

compensatória de 10% (dez por cento) do valor da média dos três (03) últimos lotes.

8.4. A perda da vigência do presente Contrato, por qualquer motivo ou causa e a qualquer tempo, acarretará de

forma automática e independentemente de qualquer formalidade judicial ou extrajudicial, a imediata rescisão de

todos e quaisquer contratos, instrumentos existentes entre as partes com vencimento imediato e antecipado de

todos os débitos existentes entre as partes;

8.5. Para rescisão do contrato na forma estabelecida na cláusula 4.1. as partes deverão observar os prazos de

eventuais financiamento e/ou investimentos feitos pelo Integrado, de instalações e equipamentos solicitados, por

escrito, pela BRF, vinculados a produção integrado do presente contrato.

9. Disposições Gerais e Finais

9.1. Os documentos de qualquer natureza, inclusive os de natureza fiscal, que a BRF vier a gerar para os feitos

desta contratação e respeitada a situação cadastral do(s) INTEGRADO(S) junto à Secretaria de Estado do

Planejamento e Fazenda, serão sempre emitidos: (a) em favor ou contra um deles, ou (b) em favor ou contra ambos,

com a indicação, neste caso, da identificação fiscal apenas daquele que encabeçar a nominata.

9.2. Em havendo mais de um INTEGRADO, para efeito deste contrato, os mesmos outorgam-se, reciprocamente,

em caráter irrevogável, os poderes de transigir, receber e dar quitação, firmar compromissos e mais os que se

fizerem necessários ao fiel cumprimento da presente avença de maneira que, em qualquer circunstância, as

Page 319: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

317

obrigações assumidas e os direitos exercidos por um deles, se estenderá de pleno direito aos outros, assumindo a

responsabilidade solidária entre eles.

9.3. O(s) INTEGRADO(S) não poderá(ão) a qualquer tempo e título, ceder ou transferir a terceiros, no todo ou em

parte, os direitos, poderes, faculdades e as obrigações previstas no presente Contrato, sem a prévia e expressa

anuência, por escrito, da BRF.

9.4. No caso de falecimento do(s) INTEGRADO(S), caberá a seus herdeiros, meeiros e/ou sucessores, cumprir

todas as obrigações, bem como quitar todos os débitos decorrentes deste Contrato, entretanto, quando o Contrato

for firmado com dois ou mais INTEGRADO(S), as obrigações e direitos do INTEGRADO falecido serão,

automaticamente, transferidos para o(s) INTEGRADO(S) sobrevivente(s).

9.5. Nenhuma renúncia ou rescisão referente ao presente Contrato ou seus Anexos vinculará quaisquer das Partes

a menos que declarada de forma expressa e por escrito. Nenhuma renúncia, de qualquer das Partes, a quaisquer

termos, poderes, faculdades, direitos ou disposições do presente Contrato e seus Anexos, bem como nenhuma

tolerância a qualquer inadimplemento de tais termos, poderes, faculdades, direitos ou disposições afetará o direito

das Partes de, subsequentemente, executar seus respectivos direitos.

9.6. Este contrato somente poderá ser modificado ou alterado por instrumento assinado por ambas as Partes e

revoga integralmente outros Contratos celebrados que tenham o mesmo objeto.

9.7. As Partes entendem e concordam que todos os termos, condições e obrigações estabelecidas neste Contrato

estão sujeitos à execução específica.

9.8. Caso venha a ser declarada a nulidade de determinada cláusula, condição ou obrigação deste Contrato, tal

nulidade somente afetará a referida cláusula, condição ou obrigação, conforme o caso, permanecendo todas as

demais em pleno vigor e produzindo os respectivos efeitos de Direito.

9.9. As partes autorizam o direito de promover a compensação automática de débito/crédito existente entre si,

decorrentes deste ou de outros instrumentos contratuais firmados pelas partes, até o montante em que se

equivalerem entre os valores devidamente comprovados.

9.10. Todas as comunicações e notificações entre as Partes, relacionadas a este Contrato deverão ser feitas por

escrito e entregues no endereço do preâmbulo deste, mediante protocolo de recebimento.

9.11. O(s) INTEGRADO(S), neste ato, autorizam a BRF, de forma definitiva, irrevogável, irretratável e em caráter

gratuito, sem qualquer ônus e/ou remuneração, a utilizar e explorar seus direitos de personalidade, incluindo sua

imagem, voz e demais características pessoais, já captados ou que ainda venham a ser captados, desde que

decorrentes de eventuais entrevistas concedidas à BRF ou a terceiros e que tenham relação com o objeto do

presente Contrato. Os direitos de personalidade ora referidos poderão ser veiculados em qualquer território, através

dos seguintes meios, porém não se limitando a tais: (i) institucionais: banco de dados, divulgação em exposições

permanentes ou temporárias, acervos, publicações de qualquer natureza, apresentações audiovisuais para

divulgação ao público em geral; (ii) editoriais: em publicações de qualquer espécie, em qualquer formato

(impressas, eletrônicas, digitais e/ou composições multimídia, para veiculação em Internet, TV, vídeo, DCD, CD-

ROM ou quaisquer outros suportes existentes); e (iii) mídias sociais. O(s) INTEGRADO(S) se responsabiliza(m),

ainda, pela coleta da autorização acima referida de todas as pessoas físicas que eventualmente participem das

entrevistas, tais como seus representantes legais, membros da família produtora rural, empregados contratados ou

subcontratados, prepostos entre outros.

Page 320: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

318

9.12. Em observância a boa-fé, as Partes envidarão os melhores esforços visando tentar resolver suas controvérsias

de forma amigável, sendo facultada a criação de uma Comissão de Conciliação da Integração, a qual buscará

aproximar as partes para resolução de eventuais questões inerentes ao presente Contrato. Se criada, esta Comissão

será composta paritariamente, até o limite de 5 (cinco) representantes da BRF e 5 (cinco) do(s) INTEGRADO(S)

à ela vinculado em cada Unidade Produtora, podendo haver uso de mediação, mas não de arbitragem, por entidade

convidada, de idoneidade e capacidade técnica reconhecida pelas Partes. Sempre será lavrada Ata, que deverá ser

assinada, contendo as informações e soluções acordadas pelas partes.

Parágrafo único: A falta de interesse de alguma das Partes em relação à criação ou participação da Comissão

supracitada não implica em inadimplemento contratual.

9.13. Este Contrato será regido e interpretado de acordo com as leis da República Federativa do Brasil. As Partes

elegem o foro da Comarca da Cidade de Videira – SC, com exclusão de qualquer outro, por mais privilegiado que

seja, para dirimir todos e quaisquer conflitos oriundos do presente contrato.

E, por estarem assim justas e contratadas as partes assinam o presente contrato em duas vias, perante as duas

testemunhas que igualmente assinam.

Videira – SC, 03 de junho de 2013.

Page 321: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

319

ANEXO B – CONTRATO JBS

INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONTRATO DE INTEGRAÇÃO PARA FRANGOS DE

CORTE

INTEGRADORA: JBS AVES LTDA., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ sob o nº

08.199.996/0001-18, com sede na Avenida Marginal Direita do Tietê, 500, Bloco II, Subsolo, Sala 13, Vila

Jaguará, CEP 05118-100, São Paulo (SP), por seus representantes legais, doravante denominada

INTEGRADORA.

INTEGRADOR: NOME INTEGRADO, brasileiro(a), inscrito(a) no CPF sob o nº CPF e portador(a) da Carteira

de Identidade sob o nº RG, CASADO/SOLTEIRO com NOME DA ESPOSA, inscrito(a) no CPF sob o nº CPF e

portador(a) da Carteira de Identidade sob o nº RG, residentes e domiciliados na [endereço], [Bairro],

[Cidade]/[Estado], doravante denominado(s) INTEGRADO;

CLÁUSULA PRIMEIRA – DAS TRATATIVAS ANTERIORES

Ficam rescindidos para todos os efeitos legais quaisquer outros contratos havidos anteriormente entre as partes

contratantes, especialmente o [informar o nome do contrato que está sendo rescindido e a data em que foi firmado,

e eventuais termos aditivos, outorgando-se a ambas as PARTES, total e geral quitação, para mais nada reclamar

uma da outra, a qualquer título ou a qualquer tempo.

CLÁUSULA SEGUNDA – DO OBJETO

A INTEGRADORA entregará ao INTEGRADO, de acordo com as suas necessidades operacionais e de mercado,

pintos de 1 (um) dia para serem criados e terminados em aviários de propriedade deste. Para a consecução deste

objeto caberá à INTEGRADORA o fornecimento de ração, das vacinas, medicamentos e dos desinfetantes e, ao

INTEGRADO, o fornecimento dos inseticidas, raticidas e demais aditivos, para o tratamento dos lotes de pintos

de 1 (um) dia bem como a responsabilidade pela criação das aves.

§1º. Os pintos de 1 (um) dia serão entregues no aviário do INTEGRADO localizado na [endereço], [Bairro],

[Cidade]/[Estado]. A quantidade de aves poderá sofrer variações para mais ou para menos em função das

necessidades, desde já nominadas, inclusive, mas não limitadas aos seguintes fatos: eventos sanitários, demandas

de mercado, disponibilidade de alojamento no imóvel do INTEGRADO. Todavia, assegura-se volume mínimo de

densidade de alojamento conforme a capacidade tecnológica do imóvel acordada entre as partes, fato que, se não

atendido, deverá ser corrigido conforme histórico de desempenho do INTEGRADO.

O prazo de alojamento de um novo lote de aves na instalação do INTEGRADO deverá ocorrer no prazo máximo

de 28 dias, contados do fechamento do lote anterior salvo casos de força maior, questões de natureza sanitária,

climática, de acesso, estrutural, no descumprimento de orientações técnicas da INTEGRADORA pelo

INTEGRADO, ou ainda, mediante solicitação, por escrito, do integrado e, desde que pactuadas entre as partes.

§2º. O INTEGRADO somente poderá utilizar, para o tratamento dos lotes de pintos, os medicamentos, vacinas,

inseticidas, raticidas e demais aditivos sob orientação técnica da INTEGRADORA, através de receituário

veterinário ou produtos entregues pelo seu Departamento Técnico.

§3º. Fica estritamente proibida a aquisição, pelo INTEGRADO, de qualquer medicamento, vacina e demais

aditivos, sem a expressa autorização, por escrito, da INTEGRADORA.

Page 322: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

320

§4º. A cada entrega de lote de aves para o abate serão analisados os resíduos dos produtos veterinários e, caso seja

detectado presença de resíduo não receitado pela equipe técnica da INTEGRADORA, toda a responsabilidade

pelo uso inadequado de tais produtos será exclusivamente do INTEGRADO.

§5º. A não obediência dos parágrafos acima é motivo para rescisão imediata do presente contrato, portanto, sem

aviso prévio, por parte da INTEGRADORA, respondendo o INTEGRADO pelas perdas e danos, se houver.

§6º. Nesta condição, institui-se ao INTEGRADO, o encaro de fiel depositário de todas as remessas a ele

designadas, assumindo por isso todas as responsabilidades advindas desta condição.

§7º. Para o caso de eventuais sobras de ração, estas deverão ser repassadas para o lote imediatamente seguinte, ou

então, disponibilizadas para a INTEGRADORA.

§8º. O INTEGRADO, por ocasião do carregamento das aves para o abate, deverá seguir a programação estipulada

pela INTEGRADORA, assim como buscar evitar ao máximo a mortalidade e as contusões das aves, estando

ciente de que em casos de negligência poderá vir a ressarcir a INTEGRADORA pelos prejuízos causados.

CLÁUSULA TERCEIRA – DOS CUIDADOS NECESSÁRIOS

O INTEGRADO dispensara todos os cuidados necessários e imprescindíveis para a criação e terminação das aves,

para o que disporá de total assistência técnica da INTEGRADORA, através de técnicos habilitados, recebendo

ainda, orientação quanto à terminação de aves, tanto no que diz respeito às instalações, como quanto ao manejo e

condições sanitárias que deverão ser observadas objetivando a obtenção de resultados melhores.

§1º. O INTEGRADO providenciará junto ao órgão ambiental competente a licença para o funcionamento e a

viabilização da atividade, obedecendo e cumprindo todas as normas e regras aplicáveis.

§2º. Para atender as exigências de mercado, ambas as partes deverão zelar para atender s “Liberdades do Bem

Estar Animal” exemplificativamente, mas sem limitar, conforme abaixo descritas:

“As aves não poderão passar sede e fome”

“As aves não poderão sentir desconforto”

“As aves não poderão sentir injúria, stress, doenças”

“As aves não poderão sentir angústia e medo”

“As aves deverão expressar um comportamento normal”.

CLÁUSULA QUARTA – DA PARTILHA

Uma vez completo o período de criação e engorda de cada lote de aves, e de acordo com os critérios definidos

neste contrato, será apurada a quantidade de quilos que cabe a cada uma das partes conforme estabelecidos na

Cláusula Quinta e, até o 21º (vigésimo primeiro) dia após a devolução da totalidade das aves terminadas, a

INTEGRADORA reembolsará ao INTEGRADO, em moeda corrente nacional, o equivalente à parcela que lhe

coube na partilha.

Parágrafo único. O INTEGRADO não poderá dispor da sua parte na parceria antes da partilha, ou seja, antes do

fechamento do lote. Caso isso venha a ocorrer, será considerada falta grave, sendo motivo inclusive para a rescisão

do presente contrato.

CLÁUSULA QUINTA – DA PARTICIPAÇÃO

Page 323: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

321

Do resultado na terminação de aves, o INTEGRADO terá direito, a título de participação, a uma porcentagem

sobre o total em quilos das aves produzidas, que variará conforme especificado no Anexo I, convertidos em moeda

nacional, a qual o INTEGRADO declara expressamente ter pleno conhecimento e, que passa a fazer parte esse

instrumento.

§1º. O percentual base da participação do INTEGRADO é estabelecido em função do esforço de cada uma das

partes para produzir um lote de aves, considerando o sexo das aves e o peso de abate das aves.

§2º. Fatores externos que independem do processo INTEGRADO e afetam o desempenho zootécnico, tais qual

linhagem e peso do pinto no alojamento, serão considerados com o objetivo de minimizar seus efeitos no resultado

do lote.

§3º. O resultado previsto para a conversão alimentar ajustada a cada lote, será estimado pela INTEGRADORA,

que terá como objetivo acertar a média que deverá ocorrer quando do abate dos referidos lotes, tendo como base

os resultados correntes, conhecimento da realidade do campo e pela sazonalidade, quando for o caso.

§4º. O resultado previsto para a qualidade das carcaças será estimado pela INTEGRADORA, que terá como base

os resultados dos lotes abatidos no mês anterior.

§5º. Sobre o resultado de participação da parte cabível ao INTEGRADO, poderá ser adicionado valor a título de

bonificação pelo atendimento de critérios estabelecidos pela INTEGRADORA, conforme previsto no Check List

do Anexo II, a partir do qual o INTEGRADO toma ciência.

§6º. O valor do kg de frango, não impede que a qualquer tempo, a INTEGRADORA e o INTEGRADO, de comum

acordo possam revê-lo, respeitadas as possibilidades de cada parte.

CLÁUSULA SEXTA – DO CRONOGRAMA DE RETIRADA DAS AVES

Caberá a INTEGRADORA definir o cronograma de retirada das aves recriadas, sendo de sua responsabilidade o

carregamento e transporte das mesmas.

CLÁUSULA SÉTIMA – DAS DESPESAS COM A CRIAÇÃO

As despesas relacionadas com a criação adas aves, tais como: mão de obra para o trato, limpeza e desinfecção,

energia elétrica, seguros, manutenção, licenciamento ambiental, substrato para a “cama”, água, lenha, gás, e outros

insumos, correrão por conta exclusiva do INTEGRADO, que se obriga ainda a fornecer mão de obra própria ou

de terceiros, necessária para esse fim, responsabilizando-se por todos os encargos sociais, trabalhistas e fiscais

advindos dessa contratação.

§1º. O INTEGRADO deve fornecer técnicas necessárias para a execução dos serviços de carregamento das aves;

fornecer energia elétrica e iluminação adequada no local dos serviços; fornecer água e estrutura adequada para

molhar as aves; atender condições de acesso à água potável, bem como local de refeições e sanitários destinados

ao uso dos profissionais das equipes de carregamento; supervisionar a apanha e o carregamento de modo que sejam

aplicadas práticas preventivas quanto a lesões das aves, garantindo o bem estar e o conforto das mesmas, e por

consequência, a qualidade do produto no abatedouro; disponibilizar a documentação fiscal necessária ao transporte

das aves; proceder as devidas anotações na planilha de controle do carregamento do lote; realizar procedimentos

de jejum às aves que serão retiradas pelo tempo determinado pela INTEGRADORA e conforme as normas de

fiscalização do Ministério da Agricultura.

Page 324: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

322

§2º. A contratação da equipe de carregamento das aves vivas dar-se-á pela INTEGRADORA, por instrumento

próprio.

CLÁUSULA OITAVA – DAS DISPOSIÇÕES SANITÁRIAS

Ocorrendo mortalidade diária anormal das aves objeto deste contrato, o INTEGRADO deverá dar imediatamente

ciência do ocorrido à INTEGRADORA, para que esta possa proceder ao exame, diagnóstico e demais

providências que entender necessária.

Parágrafo único. Ocorrendo problemas sanitários com o lote, o INTEGRADO deverá seguir as orientações

técnicas especiais quanto ao manejo e a INTEGRADORA deverá dar atenção especial quanto à retirada e ao vazio

sanitário.

CLÁUSULA NONA – DAS INFRINGÊNCIAS

Eventual deficiência no manejo do plantel, bem como o descumprimento das normas técnicas, ou a utilização

indevida das rações fornecidas pela INTEGRADORA ou ainda a infringência de qualquer outra disposição desse

contrato ensejará a rescisão justificada do mesmo por parte da INTEGRADORA, arcando, nesse caso, o

INTEGRADO, com os prejuízos daí decorrentes.

CLÁUSULA DÉCIMA – DA AUTORIZAÇÃO

O INTEGRADO autoriza a INTEGRADORA a contrair em seu nome, financiamentos bancários e utilizar os

recursos para aquisição de insumos necessários à manutenção dos plantéis objeto deste contrato ficando tais

financiamentos sob a responsabilidade única e exclusiva da INTEGRADORA, até sua liquidação.

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA – DOS ÍNDICES DE COMPETITIVIDADE

O INTEGRADO não atingido a produtividade mínima de 65% (sessenta e cinco por cento) do percentual base

previsto na CLÁUSULA QUINTA, que remete ao Anexo I, desde que haja o cumprimento de todas as demais

obrigações contidas neste contrato, terá sua renda vinculada ao percentual de 65% (sessenta e cinco por cento)

aplicado sobre a média histórica dos seus últimos 3 (três) lotes, convencionando-se como auxílio baixa

produtividade.

Parágrafo único. Em face dos altos índices de competitividade do setor, o contrato poderá ser terminado a critério

da INTEGRADORA ou do INTEGRADO, caso o INTEGRADO não atinja o resultado igual ou superior a 65%

(sessenta e cinco por cento) da cota parte do INTEGRADO estabelecidos no Anexo I, em no mínimo 50%

(cinquenta por cento) dos lotes entregues nos últimos 12 (doze) meses, não sendo devido pagamento algum a título

de indenização, multa, compensação ou qualquer outro título de Parte a Parte.

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA – DO PRAZO DE VIGÊNCIA

O presente contrato terá prazo de duração indeterminado, podendo, no entanto, ser rescindido a qualquer tempo,

sem ônus, desde que a parte que o fizer dê pré-aviso por escrito a outra, com antecedência mínima de 60 dias.

Parágrafo único. Não havendo aviso prévio ou não guardando o aviso prévio no prazo mínimo de 60 (sessenta)

dias, a Partes que rescindir o ajuste pagará à outra multa equivalente à média dos pagamentos dos últimos 03 (três)

lotes.

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA – DA SUCESSÃO E NOVAÇÃO

O presente contrato obriga as PARTES, seus herdeiros e seus sucessores, a qualquer título, em todos os seus

termos. Tolerâncias de Parte a Parte no cumprimento das cláusulas ora estabelecidas não constituição novação,

devendo ser consideradas como mera liberalidade.

Page 325: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

323

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA – DO SISTEMA DA QUALIDADE

O INTEGRADO aceita e se compromete nos Termos da Lei, trabalhar segundo as normas e instruções técnicas

da Qualidade da INTEGRADORA para cumprimento de sistemas de qualidade preconizados.

CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA – DA CONDUTA NA RELAÇÃO CONTRATUAL

As partes deverão conduzir todas as atividades previstas neste instrumento de forma a cumprir todas as

determinações legais aplicáveis à matéria, assim como eventuais regulamentações, instruções e circulares de

ordem administrativa, tendo em vista a legalidade do exercício de suas funções, notadamente, a transcrição de

todas e quaisquer operações nos livros e registros contábeis competentes, coibindo, principalmente, mas sem

limitar, a realização de pagamentos a servidores públicos ou privados, que tenham por objetivo a obtenção ou

retenção de negócios ou vantagens indevidas, respondendo a parte que desta forma não agir, pelas perdas e danos

apuráveis, especialmente quanto à imagem da parte prejudicada, a qual poderá também optar pela rescisão do

contrato.

CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA – DO MEIO AMBIENTE

O INTEGRADO se responsabilizará pelo cumprimento das leis e regulamentos pertinentes à proteção do meio

ambiente, inclusive pela obtenção e manutenção válida de todas as licenças, autorizações e estudos exigidos para

o pleno desenvolvimento de suas atividades, devendo adotar, ainda, as medidas e procedimento cabíveis, a fim de

afastar qualquer agressão, perigo ou risco de dano ao meio ambiente que possa ser causado pelas atividades que

desenvolve, ainda que contratadas ou delegadas a terceiros. São de exclusiva responsabilidade do INTEGRADO

e seus representantes, as sanções impostas pelas normas ambientais decorrentes do exercício de suas atividades ou

sinistros de qualquer natureza.

CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA – DO COMPROMISSO COM A BIOSSEGURIDADE

Considerando a necessidade de biosseguridade nas granjas e as normas do MAPA – Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, compromete-se o INTEGRADO, por si e seus empregados, a não ter em suas

propriedades/residências quaisquer espécies de animais domésticos ou silvestres, bem como aves (animais de

penas).

Parágrafo único. O não atendimento ao compromisso acima firmado ensejará a imediata rescisão do presente

contrato, pela INTEGRADORA, independentemente de qualquer notificação, arcando o INTEGRADO, porém,

com os prejuízos da INTEGRADORA daí decorrentes.

CLÁSULA DÉCIMA OITAVA – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

O INTEGRADO aceita e se compromete a cumprir toda a legislação trabalhista, previdenciária e demais

legislações aplicadas à modalidade de trabalho exercida para alcançar o objeto do presente contrato,

responsabilizando-se exclusivamente pelo observância e cumprimento de toda àquela legislação, bem como pelo

respeito e cumprimento de todas as regras contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, em especial, a não

utilização de mão de obra análoga à escrava e infantil.

§1º. O INTEGRADO compromete-se a não utilizar mão de obra análoga à escrava e infantil em toda a sua cadeia

de produção.

§2º. O INTEGRADO compromete-se a utilizar produtos que tenham o menor impacto ao meio ambiente, e ainda

a destinar as embalagens e os produtos substituídos para o local adequado, de acordo com a legislação aplicável.

Devendo, ainda, possuir junto ao órgão ambiental competente a licença para o funcionamento e viabilização da

atividade, obedecendo e cumprindo todas as normas e regras aplicáveis.

Page 326: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

324

§3º. Este contrato pressupõe total obediência à legislação trabalhista e ambiental vigentes, portanto, qualquer uma

das partes que descumprir tal legislação ou que seja potencialmente causadora de degradação ambiental, permitirá

à outra parte a imediata rescisão do presente, cabendo à parte infratora responder por eventuais perdas e dados.

§4º. O INTEGRADO assume inteira responsabilidade por todos os atos praticados pelos empregados que utilizar

para prestar serviços ora contratados, obrigando-se a ressarcir quaisquer danos e/ou prejuízos eventualmente

provocados pelos mesmos a INTEGRADORA, ainda que por imperícia ou negligência, ficando autorizado o

desconto automático dos valores apurados nos pagamentos ainda não realizados. Caso a INTEGRADORA seja

demandada por qualquer empregado do INTEGRADO, ou ainda de prestador de serviço contratado para a

realização de objeto deste instrumento, diante da inexistência de vínculo entre as PARTES, deverá o

INTEGRADO assumir a condição de demandada, requerendo a exclusão da INTEGRADORA do polo passivo

da demanda. Caso o INTEGRADO não cumpra com o estabelecido neste cláusula, a INTEGRADORA poderá

RETER os pagamentos, até o integração cumprimento da obrigação.

CLÁUSULA DÉCIMA NONA – CONFIDENCIALIDADE

O INTEGRADO obriga-se por si por seus funcionários ou pessoal contratado, a guardar o mais completo e

absoluto sigilo em relação a toda e quaisquer informações relacionadas às atividades da INTEGRADORA, das

quais venha a ter conhecimento ou acesso em razão do cumprimento do presente Contrato, não podendo, sob

qualquer pretexto, utilizá-las para si, divulgar, revelar, reproduzir ou delas dar conhecimento a terceiros, sem a

prévia e expressa autorização por escrito da INTEGRADORA, responsabilizando-se, em caso de descumprimento

dessa obrigação assumida, por eventuais perdas e danos e demais cominações legais. As obrigações assumidas

nesta Cláusula subsistirão à resilição, rescisão e ao término do presente Contrato, por qualquer motivo, pelo prazo

de 05 (cinco) anos, alcançando as Partes, seus representantes e sucessores a qualquer título. Para efeitos do disposto

nesta Cláusula, as informações confidenciais da INTEGRADORA não conterão ou virão acompanhadas

necessariamente de qualquer tipo de advertência de confidencialidade, devendo tal característica ser sempre

presumida pelo INTEGRADO.

CLÁUSULA VÍGESIMA – DO CÓDIGO DE ÉTICA

Ao INTEGRADO é dado acesso ao Código de Ética da CONTRATANTE através de acesso ao sie

http://www.jbs.com.br a fim de tomar ciência do inteiro teor do referido normativo, obrigando-se a respeitar as

diretrizes e regras nele mencionadas.

CLÁUSULA VÍGÉSIMA PRIMEIRA – DO FORO

Fica eleito o foro da comarca de São Paulo/SP, para dirimir eventuais dúvidas decorrentes deste contrato.

E, por estarem justas e acertadas, assinam o presente instrumento em 02 (duas) vias de igual teor e forma, na

presença das testemunhas abaixo a tudo presentes.

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325

ANEXO C – CONTRATO AGROVÊNETO

CONTRATO DE PARCERIA RURAL PARA A PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE

Pelo presente instrumento de contrato de parceria rural para a produção de frangos de corte, que entre si fazem de

um lado, a AGROVÊNETO S.A. – INDÚSTRIA DE ALIMENTOS, estabelecida no município de Nova

Veneza, estado de Santa Catarina, registrada no CGC/MF sob nº 01.153.928/0001-79, e Inscrição Estadual sob nº

253.323.029, diante designado PRODUTOR II, e de outro NOME INTEGRADO, produtor nº ___ CPF nº ___,

sediado em ___, Município de Lauro Muller, adiante designado PRODUTOR I, fica justo e contratado o seguinte:

CLÁUSULA PRIMEIRA: O PRODUTOR I obriga-se a instalar e/ou manter, por sua conta e com recursos

próprios e/ou terceiros, uma unidade para a produção de frangos de corte medindo 100x12m com capacidade para

14.500 aves ou 100x14m com capacidade para 18.000 aves; ou 125x12m com capacidade para 18.000 aves; ou

150x12m com capacidade para 22.000 aves; ou 14x150 com capacidade para 30.000 aves; ou 28x150 com

capacidade para 60.000 aves; ou 36x165 com capacidade para 80.000 aves, podendo ser aumentada ou diminuída

a critério único do PRODUTOR II.

CLÁUSULA SEGUNDA: O PRODUTOR II remete para a propriedade e instalações do PRODUTOR I, pintos

de um dia, rações para a produção do lote de frangos, medicamentos e outros insumos que se fizerem necessários.

CLÁUSULA TERCEIRA: os frangos pertencentes ao PRODUTOR II serão entregues pelo PRODUTOR I, com

35 a 55 dias de idade, conforme programação determinada pelo PRODUTOR II, entretanto poderá a idade, ser

reduzida ou dilatada, a critério único do produtor II que variará de acordo com a sua programação de abate.

CLÁUSULA QUARTA: Ao PRODUTOR I, caberá um percentual de quilos de frangos produzidos, que deverá

estar de acordo com a Tabela de Performance e Avaliação prevista para a idade do abate, tabela esta que, para

todos os efeitos legais, faz parte do negócio jurídico firmado neste ato e terá seu registro no Cartório de Títulos e

Documentos juntamente com este Contrato.

CLÁUSULA QUINTA: A Tabela de Performance e Avaliação de resultados, estará sempre na sede do

PRODUTOR II, a disposição do PRODUTOR I, para verificação e esclarecimento de qualquer dúvida. Esta tabela

será traduzida em valores corrente, conforme as avaliações periódicas de custos de produção.

PARÁGRAFO ÚNICO: Caberá ao PRODUTOR I uma porcentagem de 5 à 10% do peso total do lote,

dependendo de seu desempenho e de acordo com a Tabela de Performance e Avaliação do lote de frango.

CLÁUSULA SEXTA: Dos valores líquidos que cabem ao PRODUTOR I, serão descontados, gás, vacinas,

medicamentos e eventuais fornecimentos extraordinários.

Page 328: Impactos jurídicos da tipificação do contrato

326

CLÁUSULA SÉTIMA: Caberá ao PRODUTOR II, a responsabilidade de dar assistência técnica e veterinária

para o lote de frangos e para isso o PRODUTOR I permitirá livre acesso às instalações.

CLÁUSULA OITAVA: O PRODUTOR I compromete-se a seguir todas as orientações técnicas (higiênico-

sanitárias) que visam um melhor desempenho e melhor apresentação do lote de frangos.

CLÁUSULA NOVA: Todo o lote de frangos, bem como os insumos, existentes na propriedade, são de posse do

PRODUTOR II, caracterizando o PRODUTOR I, como fiel depositário, até que o lote de frangos objeto desta

parceria esteja entregue ao PRODUTOR II.

CLÁUSULA DÉCIMA: A pesagem dos frangos vivos será feita na balança rodoviária do PRODUTOR II,

ficando o PRODUTOR I, com o direito de acompanhar e verificar a mesma.

CLÁSULA DÉCIMA PRIMEIRA: A apanha de frangos fica por conta do PRODUTOR I, ficando o transporte

do local de criação até o local de recepção, por conta do PRODUTOR II. Os frangos mortos e lesionados em

decorrência do mau manejo, por ocasião da captura, serão descontados do PRODUTOR I.

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: O prazo do presente Contrato é por tempo indeterminado, podendo ser

rescindido por manifestação de qualquer das partes contratantes, mediante pronunciamento, por escrito, com 60

(sessenta) dias de antecedência.

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA: O presente Contrato de Parceria Rural, somente poderá ser rescindido se

o PRODUTOR I, não possuir financiamento bancário em que o PRODUTOR II esteja citado como avalista ou

interveniente. Para que ocorra a rescisão, o financiamento deverá ser liquidado antecipadamente.

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA: A falta de cumprimento de qualquer das cláusulas deste Contrato, motivará

a sua rescisão, obrigando a parte infratora a liquidar os débitos que houverem por ocasião da rescisão.

CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA: As partes elegem o Foro da Comarca de Criciúma – SC para dirimir dúvidas

emergentes da aplicação dos preceitos aqui estabelecidos.

E por assim se haverem justos e contratados, assinam o presente termo de Contrato, perante 2 (duas) testemunhas,

a tudo presente em 2 (três) vias de igual teor, obrigando-se pelo fiel cumprimento em todas as suas cláusulas e

condições, por si só e seus herdeiros e sucessores.

Nova Veneza (SC), 25 de novembro de 2013.

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ANEXO D - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO BRF

QUOTA-PARTE BÁSICA CABÍVEL AO(S) INTEGRADO(S)

AJUSTES EM FUNÇÃO DO RESULTADO DO LOTE - MERITOCRACIA

Obs.: Tanto o preço do pinto (PP) quanto o da ração (PR) e dos frangos terminados utilizados na aferição dos

resultados da meritocracia, acima, encontram-se disponíveis para o(s) INTEGRADO(S), no fomento agropecuário

da sede da BRF onde foi assinado o presente Contrato de Produção Integrada em Terminação de Frangos de Corte.

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AJUSTES EM FUNÇÃO DA QUALIDADE DOS FRANGOS DE CORTE

AJUSTES EM FUNÇÃO DOS PROCESSOS E PROCEDIMENTOS

RESULTADO FINAL DO LOTE CABÍVEL AO(S) INTEGRADO(S)

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ANEXO E - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO JBS

1 - PERCENTUAL PARTILHA BÁSICA POR TIPO DE LOTE

Classe Descrição % Observação

Par

tici

paç

ão B

ásic

a (%

)

A

Macho Pesado 7,90 “Macho Pesado” = frangos machos (acima de 80%) com peso

médio abatido igual ou superior a 2,000kg;

Misto Pesado 8,10 “Misto Pesado” = lote formado por frangos machos e fêmeas

com peso médio abatido igual ou superior a 2.000kg;

Fêmea Pesada 8,40 “Fêmea Pesada” = lote formado por frangos fêmea (acima de

80%) com peso médio abatido igual ou superior a 2,000kg;

Macho Leve 10,40 “Macho Leve” = frangos machos (acima de 80%) com peso

abatido igual ou inferior a 1,999kg;

Misto Leve 10,45 “Misto Leve” = lote formado por frangos machos e fêmeas com

peso médio abatido ou inferior a 1,999kg;

Fêmea Leve 10,50 “Fêmea Leve” = frangos fêmeas (acima de 80%) com peso

abatido igual ou inferior a 1,999kg;

2 - AJUSTES DA PARTILHA EM FUNÇÃO DO RESULTADO DO LOTE EM %

Classe Valor + Ajuste Observação

Conv

ersã

o

Ali

men

tar

B B = ((CAPA - CARA) x VRac x 0,65) / PF x 100

CAPA = Conversão Alimentar Prevista Ajustada;

CARA = Conversão Alimentar Real Ajustada; VRac = Valor das Rações;

PF = Preço do kg de Frango

3 - AJUSTES DA PARTILHA EM FUNÇÃO DO LOTE EM %

Classe Valor + Ajuste Observação

Cond

enaç

ões

C

Se CondR = (CondP x 0,80 a 1,20):

C = 0 ConP = Condenação Prevista;

CondR = Condenação Real;

Nota: limitado em -0,5%

Se CondR > (CondP x 1,20): C = ((CondP x 1,20) - CondR) x 0,45

Se CondR < (CondP x 0,80):

C = ((CondP x 0,80) - CondR) x 0,45

Cal

o d

e P

é

D

Se CaloR = (CaloP x 0,80 a 1,20):

D = 0 CaloP = Calo de Pé Previsto;

CaloR = Calo de Pé Reaç;

Nota: limitado em -0,5%

Se CaloR > (CaloP x 1,20):

D = ((CaloP x 1,20) - CaloR) x 0,015

Se CaloR < (CaloP x 0,80):

D = ((CaloP x 0,80) - CaloR) x 0,015

4 - BONIFICAÇÃO EM %

Classe Valor + Ajuste Observação

Chec

k-

list

E E = A x 0,05 X CKL CKL = Pontuação Check List em % (Anexo II)

RESULTADOS DO LOTE - PARTILHA

Classe Valor + Ajuste Observação

Res

ult

ado

final

da

Par

tici

paç

ão

do I

nte

gra

do

(% d

a

pro

duçã

o)

F F = A + B + C + D + E

Par

tilh

a

per

tence

n

te a

o

Inte

gra

do

(Kg d

e

Fra

ngo

)

G G = (F / 100) x PVT PVT = Peso Vivo Total abatido

Co

mp

ra

da

Par

tilh

a

per

ten

cen

te a

o

Inte

gra

do

H H = G x PF PF = preço do Kg

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ANEXO F - FÓRMULA DE REMUNERAÇÃO AGROVÊNETO

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ANEXO G - SUGESTÃO DE REGIMENTO DA CADEC - AVES E SUÍNOS

(ABPA/CNA)

DA CONSTITUIÇÃO

Art. 1º. A Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração – CADEC, prevista

no contrato de Integração, de composição paritariamente por representantes:

I - escolhidos diretamente pelos produtores integrados à unidade integradora;

II - indicados pela integradora;

III - indicados pelas entidades representativas dos produtores integrados;

IV - indicados pelas entidades representativas das empresas integradoras.

§ 1º O prazo de duração da CADEC é por tempo indeterminado e o exercício social coincidirá com o ano civil.

DO OBJETIVO DA CADEC

Art. 2º. A CADEC terá os seguintes objetivos e funções, entre outros estabelecidos na Lei 13.288/2016 e neste

Regulamento:

I – Elaborar estudos e análises econômicas, sociais, tecnológicas, ambientais e dos aspectos jurídicos das

cadeias produtivas e seus segmentos e do contrato de integração;

II – Acompanhar e avaliar o atendimento dos padrões mínimos de qualidade exigidos para os insumos

recebidos pelos produtores integrados e para os produtos fornecidos ao Integrador;

III – Estabelecer o sistema de acompanhamento e avaliação do cumprimento dos encargos e obrigações

contratuais pelos contratantes;

IV – Dirimir questões e solucionar, mediante acordo, litígios entre os produtores integrados e a integradora;

V – Definir o intervalo de tempo e os requisitos técnicos e financeiros a serem empregados para atualização

dos indicadores de desempenho das linhagens de animais utilizadas nas fórmulas de cálculo da eficiência

de criação;

VI – Formular o plano de modernização tecnológica da integração estabelecer o prazo necessário para sua

implantação e definir a participação dos integrados e do integrador no financiamento dos bens e ações

previstas;

VII - Determinar e fazer cumprir o valor de referência;

VIII - Validar os custos financeiros dos insumos fornecidos em adiantamento pelo integrador;

IX - Determinar outras informações que o Relatório de Informações da Produção Integrada (RIPI) deve

conter, não previstas na Lei 13.288/16;

X - Solicitar esclarecimentos ou informações adicionais sobre o RIPI;

XI - Validar a estimativa de remuneração do produtor integrado por ciclo de criação de animais, para o

DIPC

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XII - Validar os parâmetros técnicos e econômicos no estudo de viabilidade econômico-financeira do

projeto de financiamento, para o DIPC;

XIII – Outros assuntos correlatos ao segmento da avicultura/suinocultura.

DA COMPOSIÇÃO

Art. 3º. A composição da Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração –

CADEC, será de 6 a 10 membros efetivos e respectivos suplentes, 3 a 5 indicados pela Integradora e 3 a 5 pelos

produtores integrados, e representante, das entidades representativas dos integrados e integrador, dentre aqueles

da respectiva unidade integradora com mandatos de 2 (dois) anos, podendo ser renovado.

I - A representação é atribuição personalíssima, não podendo ser transferida nem delegada à terceiros.

Juntamente com a indicação dos membros titulares, deve haver a indicação e escolha do mesmo número de

membros suplentes. Além do mais, havendo as indicações ou escolhas dos representantes, estas devem

constar na primeira ata do mandato vigente da CADEC.

II - Para a escolha direta de membros representantes pelos produtores, deverá ocorrer uma eleição,

organizada pelos próprios produtores, devendo ser indicado os membros titulares e suplentes por maior

número de votos, conforme o artigo 6º, §1º da Lei 13288\2016.

III - Uma categoria não poderá indicar pela outra os seus representantes, sob pena de nulidade do ato. Além

do mais, em nenhuma hipótese um membro, titular ou suplente, pode representar simultaneamente mais de

uma categoria ou ocupar mais de uma vaga de representatividade, na mesma CADEC.

IV - A falta de indicação pelas entidades representativas não impede a instalação e funcionamento da

CADEC.

V - O termo categoria utilizado neste Regimento Interno, se refere aos grupos de representantes dos

integrados e da integradora que compõe esta CADEC.

VI - O período do mandato será de 2 anos, podendo ser alterado e/ou renovado em comum acordo entre as

partes.

Art. 4º. Entre os membros será eleito um coordenador do integrador e um coordenador dos integrados.

Art. 5º. Pela atividade exercida na Comissão Paritária, os seus membros não receberão da CADEC qualquer tipo

de pagamento, remuneração, vantagens ou benefícios; como também não gozarão de qualquer outro privilégio.

Art. 6º. Em caso de vacância ou rescisão do contrato de integração, o suplente deverá assumir a vaga pelo período

remanescente ao mandato; A falta de suplente levará a nova indicação, conforme as regras de escolha da categoria

representada.

Art. 7º. Na ausência dos membros titulares e suplentes, no curso do mandato, serão escolhidos novos membros,

com o intuito de terminarem o exercício em andamento.

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Art. 8º. A decisão de destituição e de convocação do suplemente deverá ser comunicada por escrito, em até 3 dias,

para a categoria oposta, devendo constar na ata da primeira sessão após a destituição a identificação do suplente.

DO FUNCIONAMENTO

Art. 9º. A Comissão Paritária reunir-se-á ordinariamente conforme agenda estabelecida em ata pelos representantes

da CADEC e, extraordinariamente, por convocação de um dos seus coordenadores. Será definido pelos

coordenadores de cada CADEC.

Parágrafo Único: As sessões ordinárias serão agendadas no fim de cada reunião, devendo constar em ata sua data,

hora e local.

Art. 10. As reuniões da comissão paritária podem funcionar desde que estejam presentes dois membros de cada

parte mantida a composição paritária, sendo obrigatoriamente presente o coordenador da integradora e o

coordenador dos integrados, ou alguém indicado para a função com comunicação prévia de.

Art. 11. As deliberações da comissão paritária são tomadas por meio de consenso.

Parágrafo único. Em caso de não obter consenso nas deliberações, os Coordenadores em comum acordo, poderão

solicitar apoio de entidade representativa para conciliar a solução do conflito.

Art. 12. As reuniões são secretariadas por um membro da comissão a ser designado pelos coordenadores.

Art. 13. Em toda reunião será lavrada ata que deverá constar:

I – Data, hora e local da realização da reunião;

II – Relação nominal dos membros;

III – Sumário dos assuntos tratados e das decisões tomadas;

IV – Assinaturas dos membros presentes.

Art. 14. Os coordenadores, de comum acordo, poderão criar grupos de estudos para subsidiar as decisões dos

membros da comissão;

Art. 15. É de direito de cada membro da CADEC – previstos no caput do art. 3º deste Regulamento – se fazer

acompanhar por especialistas e pessoas de sua confiança ou escolha, desde que seja previamente informado aos

coordenadores com antecedência.

Art. 16. Toda e qualquer despesa da CADEC deverá ser aprovada previamente pelas partes, por demanda

específica.

Art. 17. Todas as atas devem possuir no mínimo duas vias, devendo ser disponibilizadas obrigatoriamente para os

coordenadores da Integradora e dos Produtores Integrados.

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DA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

Art. 18. As sessões extraordinárias serão consideradas aquelas que queiram tratar sobre tema da sessão ordinária

ou de interesse da categoria.

Art. 19. O funcionamento ocorrerá da mesma forma que descrita no artigo 9º deste Regimento.

DA MODIFICAÇÃO DO REGIMENTO

Art. 20. O regimento pode ser alterado, desde que não comprometa suas competências determinadas pela lei.

Art. 21. A proposta deve ser feita em sessão ordinária, não podendo aprovar qualquer alteração neste dia.

Art. 22. Em Sessão ordinária designada para a alteração, a proposta deve ser aceita por todos os membros da

CADEC, constando em ata e sendo designada a alteração do Regimento até a próxima sessão ordinária.

DOS COORDENADORES

Art. 23. São atribuições dos coordenadores:

I – representar a CADEC sempre em conjunto.

II – cumprir e fazer cumprir este Regulamento, bem como as deliberações resultantes das reuniões do

Colegiado;

III – convocar as reuniões ordinárias e, também, reuniões extraordinárias da CADEC;

IV – definir e divulgar a pauta de assuntos a serem discutidos em cada reunião, bem como definir o local e

data de sua realização;

V – promover a abertura e o encerramento das reuniões;

VI– assegurar o bom andamento da dinâmica da CADEC;

VII – propor ao Colegiado a realização de convite a profissionais que detenham relevante conhecimento

sobre assunto em pauta, para participar de reunião na qualidade de membro convidado;

VIII – divulgar, ampla e sistematicamente, resoluções e encaminhamentos resultantes das reuniões

ordinárias e extraordinárias do Colegiado, conforme documento único e condensado pela CADEC.

IX – estabelecer articulação permanente entre os representantes da agroindústria e os representantes dos

integrados;

X – exercer outras atividades inerentes ao cargo.

Parágrafo único. Cabe a cada coordenador garantir periodicidade mínima de inclusão na pauta das reuniões as

funções e objetivos presentes nos incisos de I a XIII do Art. 2º deste Regimento.