impactos da ordem ditatorial na vida das associaÇÕes populares

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IMPACTOS DA ORDEM DITATORIAL NA VIDA DAS ASSOCIAÇÕES POPULARES.. Ailton Benedito de Sousa Dedico este artigo ao IPCN cuja existência me serviu como guia no trabalho de reflexão, especialmente ao seu presidente nessa segunda, difícil e honrosa jornada, Benedito Sérgio de Almeida Parte I - Explicando conceitos básicos e método e a questão das referências bibliográficas O embasamento teórico das proposições que justifico ou defendo abaixo é moeda corrente entre autores que, quanto ao estudo do homem, nas ditas ciências sociais, perfilam compreensões relacionadas à fenomenologia, à semiologia, ao desconstrutivismo, autores e áreas em que, com minhas limitações, venho visitando. Parto do ponto de vista que meu leitor aceite participar de uma experiência de construção do objeto que ele se dispôs compreender. Não posso falar de fenômenos que se dão na cultura, no seu interior, tomando de empréstimo noção e conceitos sobre a cultura vindos dos EUA, de cuja elaboração nem eu nem o leitor participamos... O artigo é uma tentativa de construir o objeto de conhecimento proposto no título. De modo deliberado, evito a certificação de minhas proposições e argumentos a partir da profusão de referências bibliográficas. Conhecimento tem que ser mais criticado, que certificado... Rompi o pacto pelo qual as palavras de um autor, para serem consideradas críveis, tenham que “encadear-se”, argola por argola, palavra por palavra, até chegar-se às cangalhas do falso demiurgo da presente formatação do “saber”, ou seja, o dito “saber

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o artigo procura criar, na consciência do leitor, o objeto de conhecimento expresso em seu título, para tanto evitando tomar de empréstimo conceitos certificados pelo setor acadêmico.

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IMPACTOS DA ORDEM DITATORIAL NA VIDA DAS ASSOCIAES POPULARES..

Ailton Benedito de Sousa

Dedico este artigo ao IPCN cuja existncia me serviu como guia no trabalho de reflexo, especialmente ao seu presidente nessa segunda, difcil e honrosa jornada, Benedito Srgio de AlmeidaParte I - Explicando conceitos bsicos e mtodo e a questo das referncias bibliogrficasO embasamento terico das proposies que justifico ou defendo abaixo moeda corrente entre autores que, quanto ao estudo do homem, nas ditas cincias sociais, perfilam compreenses relacionadas fenomenologia, semiologia, ao desconstrutivismo, autores e reas em que, com minhas limitaes, venho visitando. Parto do ponto de vista que meu leitor aceite participar de uma experincia de construo do objeto que ele se disps compreender. No posso falar de fenmenos que se do na cultura, no seu interior, tomando de emprstimo noo e conceitos sobre a cultura vindos dos EUA, de cuja elaborao nem eu nem o leitor participamos... O artigo uma tentativa de construir o objeto de conhecimento proposto no ttulo.De modo deliberado, evito a certificao de minhas proposies e argumentos a partir da profuso de referncias bibliogrficas. Conhecimento tem que ser mais criticado, que certificado... Rompi o pacto pelo qual as palavras de um autor, para serem consideradas crveis, tenham que encadear-se, argola por argola, palavra por palavra, at chegar-se s cangalhas do falso demiurgo da presente formatao do saber, ou seja, o dito saber ocidental. Num quadro de convivncia que resulta exclusivamente de guerras de pilhagem, racismo, escravizao e domnio com lavagem cerebral dos povos dominados, no h mais bvia forma de aceitao e justificao dessa dominao e subjugao, que esse dobrar-se a convenes que buscam legitimar e justificar como sacro um serial-killing process of dehumanization um processo civilizatrio baseado na ao desumanizadora de assassinos em srie. Refestele-se o leitor, isto , entendida a ironia, julgue o leitor minhas proposies, no a partir de referncias bibliogrficas, mas confrontando-as com os espetculos miditicos protagonizados pelos carniceiros sados da despudoradamente chamada segunda guerra mundial.Como compreendo e uso o termo culturaOs fenmenos de que rapidamente vamos tratar tm sede no campo da cultura, palavra que encontra assento em diversos universos de significados, o que no impede, ao contrrio obriga ou estimula a elaborao de novos esboos que tentem fixar seu perfil fugaz. Para meu uso, defino cultura alegoricamente como uma tenda imaterial, armada num lugar nenhum das conscincias, sob a qual vive o bicho homem enquanto conscincia. Apenas os da Espcie vivem nesse outro mundo ou dimenso. Trabalho de tecitura que se quer permanente, seus fios so nuvens de signos, significantes e significados, o modo de form-los, codific-los (de-e-recodific-los). Vejo-a tambm como o repertrio do trabalho de subsuno da Espcie: usando sua capacidade simblica, Ele observa algo, d-lhe forma, nome e atributos (linguagem e subsuno so concomitantes) passando a controlar esse algo enquanto viso do ambiente externo e do interno (a conscincia), concomitantemente comunicando seus atos de subsuno, evitando que cada ser humano tenha que comear a subsuno a partir de um quadro mental vazio. Para esse permanente processo de subsuno, serve-se das linguagens, pois subsumir o outro transmiti-lo sua prpria conscincia, de modo que o ato de subsuno j linguagem: gestos, sons, rudos, traos, formas, textos , narrativas, representaes, signos cujos significados, por bvio em nossa conscincia, marcham para o olvido (a contradio essencial da cultura), tanto no individual quanto no social, a menos que, eternamente interagindo, levemos essa massa fibrilar e nubilosa prtica, pela extrao de seu contedo e plasmao/expresso de seus significados no plano aceito como de interao real, assim confirmando nossa essncia como seres sociais que interagem em funo do sentido que do sua experincia de viver, ou seja, em funo de uma outra dimenso. Repetindo, a interao se d por intermdio de sistemas de signos linguagens.Com essa definio provisria, aproximativa, do meu objeto, a) no me afasto da compreenso geral de que o significado no est nas coisas, mas na mente dos humanos; b) que o significado se constitui sempre por ferir outros significados, fato a partir do qual o Eu aceita/negocia o significado que lhe seja apresentado como adequado ou inadequado (da nascendo a lgica?), nascendo o dissenso e o consenso, o acordo, a conveno, reconfirmando-se a dimenso semiolgica como campo da ambigidade; c) relativiza-se, tambm, o conceito de cultura fssil. Repetindo de outro modo: vetores de significados, os signos, no tm vida ou expresso seno atravs de interaes intersubjetivas envolvendo indivduos e coisas, interaes que s podem ocorrer por intermdio de linguagens, hoje com destaque para a visual e verbal terceirizadas por meios de alta tecnologia, o que potencializa a fruio da mensagem, mas despotencializa o trabalho de sua crtica, de sua anlise (da a fixao pelas referncias bibliogrficas e a expanso generalizada de conhecimento velho, cola ou decalque da produo da cultura colonizadora.... Coca-cola isso a). Assim, o gesto, o trao , o som ( caso tambm da lngua enquanto sistema de signos sonoros), o silncio, a luz e as sombras, quando subsumidos como signos, geram linguagens (mmica, dana, pintura, msica, a fala etc.) cuja sistematizao a cada lugar e poca socialmente condicionada.Note-se que quanto mais se firma a hegemonia de uma nica Fonte, a do demiurgo, hierarquizando as linguagens (ballet versus funk, dana de rua; pintura europia dita acadmica, versus pintura ingnua) mais se ossificam as linguagens classificadas como populares, chulas, mais limitando-se as possibilidades de sua recriao por parte das massas brutalizadas pela ignorncia (a irreflexo ou alienao como conquista do lazer). Que caminho de evoluo pode ter o Rap, o Hip Hop?Destacando a memriaComo ponto de apoio para a introduo do objeto memria, enfatize-se que das interaes inter-objetivas e intersubjetivas, para as quais nos servimos das diferentes linguagens implicando a imprescindibilidade de ensino-aprendizagem, campo da articulao dinmica de todas as funes da mente, a imaginativa em primeiro plano, formam-se e desformam-se costumes e hbitos, formam-se portanto comunidades de criadores, aderentes e usurios de uma mesma cultura, comunidade de cdigos, linguagens, padres de valores e comportamentos, maneiras de ser e fazer, formam-se tambm instrumentos para a sua guarda e expresso, comunicao, dessa forma reconstruindo-se, para a retransmisso, o dado natural, por assim dizer seqestrando-o quanto sua naturalidade anterior essencial. Em sntese, a subsuno, a cultura em elaborao, o discurso ou mesmo a viso de mundo, o Logus (o que numa poca certifica-se como merecedor de estudo, de reflexo, de valorizao, o clssico, o que na escola vai s classes). como entendo cultura.Memria e cultura

At a suplantao definitiva da memria humana pela da mquina, se tal desiderato da tecnologia capitalista puder um dia acontecer (ou deixar de acontecer?), a cultura, a massa excretada pela atividade mental dos seres humanos (a imaginao, principalmente), faz contradana com a memria, numa especfica dinmica mnemnica. O ser humano se assumindo, tambm, como banco de dados: recalque/rememorao/decorao com fins de arquivamento ou apagamento. A massa excretada, em nossa alegoria vista como nuvem, tende a se dissipar aos influxos aleatrios de alienantes vendavais da realidade (Fanon, Marx e Freud estados da mente). Assim, memria, recalque, apagamento, rememorao, lembrana, so entidades de um universo de significados a serem entendidos como em contradio. Ela ao mesmo tempo esforo tanto para o relembrar, para a preservao, quanto para o recalque, o esquecimento, implcito um mecanismo de seleo... Em luta, as culturas em transformao se fazem e desfazem. Massa cultural, aprendizagem, memria, arquivamento, recuperao, significando vida, a sobrevivncia da cultura. Desaprendizagem, ressignificao ou dessignificao, truncamento, apagamento, olvido, significando morte. Diante desse conflito, ganha sentido a expresso resistncia cultural.Nesse quadro, a cultura frente a seu ponto de receptao e/ou excreo, a conscincia do indivduo, debate-se com a memria, assim se contrapondo reteno-reaplicao, e esquecimento, olvido e morte. Esse mundo, o da cultura, tambm se constitui pela atividade mnemnica e seus componentes registros, monumentos, repertrios, escolas, ensino, aprendizagem, repetio, costume, hbito etc. , implica, em sua base, repita-se, sistemas de signos e cdigos, meios vetoriais, instituies e prticas de contato entre as geraes e os diversos segmentos em que se hierarquize o grupo. Nessa especfica dinmica mnemnica tem peso a Vontade, o Eu e a Imaginao como funes ou entes da mente, que de individual, pelas interaes em redes se tornaria social, o imaginrio social, a viso de mundo, a memria coletiva, a cultura...Parte II Manipulao da memria coletiva e instrumentalizao poltica da culturaAs comidas tpicas da Bahia, por exemplo, o acaraj, o abar, o bolinho de estudante, ao mesmo tempo que so cultura, produto da cultura, so, existem, como memria individual e coletiva. E s tero existncia como tais, se socialmente justificados, em ltima instncia, por uma Vontade, por um quadro social de relaes objetivas e intersubjetivas, quadro que tem sua constituio muito dependente da lngua, os textos, as narrativas, as lendas, os valores por esse material referidos, de um lado, e de outro, a produo material, o jogo poltico, o legislativo. Por um lado, pense-se nos rituais do candombl, seu culto, sua transmisso; por outro, pense-se na produo artesanal do dend. Pense-se na identificao e aprovao da cor, cheiro e sabor do acaraj como indicador de pertinncia Bahia, cultura africana e brasileira. Quanto Vontade, pense-se na ocorrncia de propostas de ordem legislativa, aparentemente visando proteger a sade pblica, pelo lado da higiene, mas que de fato objetivem estigmatizar e proibir a produo, venda e consumo desses quitutes, ao mesmo tempo que favorecendo os hamburgers das cadeias de franquias internacionais.A Vontade que justificaria a existncia ou o olvido de um dado cultural, geralmente autoritria, de classe, em certos momentos tende a se apresentar e a ser aceita como justa, democrtica, conceitos tambm culturais... A tirania estabelece seu quadro justificador, assim criando bases para aceitao de mais tirania: vejam-se as conseqncias da guerra contra o terror a partir do 11 de setembro de 2001. Em nossa argumentao metodolgica mudando o que deve ser mudado, adiantamos que o mesmo que, por hiptese, no futuro, aqui na Bahia, vier a ocorrer com o acaraj, pode em qualquer tempo ocorrer tambm com qualquer criao, produto ou prtica cultural (a instituio carnaval ou o sistema presidencialista, at mesmo a religio catlica, como exemplos), se a prtica cultural em questo vier implicar comportamentos e ilaes no nvel da imaginao, que se interponham a uma Vontade maior, no caso, a opo por outra religio por parte do poder econmico, a mudana de sistema poltico, mormente se o povo (pela manipulao feito) desorganizado e aptico, no tem compreenso crtica e estruturada das bases simblicas de sua existncia, condio facilmente criada pela manipulao da memria coletiva e outras prticas de instrumentalizao da cultura.Seno, vejamos os efeitos de tais manipulaes em reas vivas de nossa cultura que hoje respondem por um lado, pelas prticas de criao, gesto (e militncia) de associaes comunitrias sem fins lucrativos, especificamente sobre a questo do processo de tomada de deciso nas mesmas, ou por outro, pela noo de cidadania, includas as obrigaes, os deveres inerentes aos membros dessas associaes.As mudanas ps-ditadura de 64

Em relao segunda metade do sculo XX, tendo-se por referncia o ambiente social brasileiro do final da segunda grande guerra do capitalismo em sua fase de quarta revoluo industrial, mudou muito a natureza das formas associativas quer na esfera pblica, quer na privada, ou seja, organizaes institucionais, profissionais, de lazer e esportes, de proteo a interesses de moradia ou vizinhana, de identificao de faixa etria e de gnero (grmios colegiais e diretrio acadmico), de defesa de bens materiais ou culturais coletivos etc., (escolas de samba), mudando mais ainda as eminentemente populares, sem base institucional, criadas para a realizao de tarefas ligadas a algo imediato, assumido por todos como de interesse comum, da comunidade, de que so exemplos o mutiro, o time de futebol de esquina, a equipe para o jogo de malha entre idosos, mas tambm o bloco carnavalesco de rua. Da parte dos indivduos como um todo, deve-se admitir, mudou muito a viso, as expectativas, os interesses justificadores da prpria existncia dessas associaes, mudou muito o modo de compreender esses grupos como devendo observar certo formato, mudaram as formas de vinculao a esses mesmos grupos. Enfim, mudou o imaginrio das pessoas com relao sua prpria natureza como entes polticos, o auto-reconhecimento de uma irrevogvel interdependncia de si para com o outro e de todos para cada um, logo mudou a noo de pertinncia a grupos concntricos; no caso de um pas como o nosso, mudou a conscincia de um ser at aqui considerado poltico, concluindo-se que a partir de agora cumpre desaprender, recalcar, submeter-se aos processos de olvido de imensos segmentos da massa cultural brasileira. Desse processo, adverte-se, tudo pode advir, menos a progresso dos seres humanos como conscientes, consensualmente iguais em sua necessria diferenciao.Causas propostasAs causas das mudanas devem ser procuradas, prioritariamente, no perodo entre o fim da segunda grande guerra capitalista e a segunda metade dos anos 80, quando j se salienta a maioria dos efeitos dessas mudanas.

Nesse perodo de praticamente 60 anos, no s na sociedade brasileira, mas em todo o mundo interpem-se eventos que se interpenetram segundo linhas de fora complexas, produzindo efeitos que hoje responderiam pelos novos padres de pertencimento e participao nas organizaes populares, agora chamadas de oscip (organizao da sociedade civil de interesse pblico). Entre eventos de monta no interior da sociedade brasileira destaquem-se: a) a ditadura de 1964 a 1985, com inflexo ascendente a partir de 1968 (AI-5) at a posse de Sarney em 1985 (membro acomodado do primeiro escalo ditatorial) como presidente da Nova Repblica, passando pelos emblemticos eventos da bomba do Rio Centro e cartas-bombas a polticos ligados redemocratizao, nesse lapso devendo-se incluir tambm o incio da desarticulao da rede repressora representada pela sigla Doi-Codi, vide o embate Geisel versus Frota em 1974; b) o nascimento seguido de hiperblico crescimento, das organizaes ligadas ao comrcio de substncias alucingenas, organizaes com base operacional ou sede nas reas de baixa renda, mas com quartis-generais nos Bunkers das altas finanas; o modo de agir dessas organizaes em relao ao tecido social comparvel metstase no caso do cncer; e c) o nascimento, tambm acompanhado de hiperblico crescimento, das seitas evanglicas. Observado que estas inibem, estigmatizam, ou melhor, satanizam os vetores africanos da cultura brasileira e abertamente criam milcias que no se justificam seno para o extermnio fsico do brasileiro de descendncia africana; organizadas a partir de f em lendas exgenas, elas pretendem se bastar aos seus fiis do mesmo modo que os estados totalitrios..da as milcias;d) fenmeno muito importante, at mesmo porque no nvel da educao (conceito que s ganha compreenso se desconstrudo) foi, e continuar sendo a desqualificao da memorizao como base da aprendizagem, ou seja, a generalizada desvalorizao do ato de memorizar, rebatizado como decoreba, ao mesmo tempo que se faz a seleo de disciplinas e contedos que so decoreba e que no so decoreba, paradoxalmente contrapondo necessidade de esforo na aprendizagem de uns (nobres), mas sem passar pela memorizao(absurdos dos absurdos) e descuido, displicncia, na aprendizagem de outros (vulgares) ditos decorebas, algo psictico, esse modo de pensar e ensinar. Esse axioma torna toda estrutura/atividade educacional no seu contrrio, ainda isentando-a (e a seus agentes) de qualquer culpa pelo baixo nvel de aproveitamento do alunato (em relao a um modela a priori inalcansvel), pois o prprio quadro cultural do ambiente aluno-escola que aceita a aprendizagem como momento de gasto desnecessrio de energia mecnica, manifestao de mal-estar, logo valendo todos os artifcios (lei do menor esforo) para torn-la, a aprendizagem, palatvel. Com rendimento superando o gasto de energia, derrogando uma das leis da termodinmica. H vrias outras ilaes: se o decorar implica esforo, sofrimento, esquentamento da cabea, o esquecer vira refrigrio, vira sinnimo de lazer... Por bvio, na boca desses mestres e mestras, o smbolo desse ambiente cultural a favela, por bvio tambm esse aluno sendo pobre, negro ou mestio... Todo o professorado, em todos os graus, aceitam e divulgam esta estupidez sem que jamais algum exera o mais mnimo esforo de crtica, de anlise, para restaurar a memorizao como condio estruturante da mente, do pensar e do pensamento. (aceito contestao, especialmente dos professores da Faetec do Rio de Janeiro).J no nvel mundial, tem-se:a) desconstruo, tijolo aps tijolo, do quadro geopoltico que nasce da Conferncia de Yalta em 1945, processo cujo comeo atribui-se ao momento de cunhagem da expresso cortina de ferro, e o eplogo seria a queda do muro de Berlim expresso smbolo do conceito de representao social a mentira, o engodo, embutidos num bombom confeitado com mel e baunilha.b) entre 45 e 89, emulao aguerrida dos sistemas capitalista e socialista, plos de potencial ideolgico (e tambm blico nuclearou tecnolgico) assimtricos, processo de redefinio de novo Outro inimigo, sintetizado pela expresso guerra fria. Como comentrio a esse item e antecipando a derrota do bloco socialista, entenda-se a partir daqui que o contedo da propaganda do dito ocidente capitalista assenta-se em profundas camadas da conscincia coletiva ou imaginrio social dos povos, incluindo noes como vontade de potncia e territorialidade, valorizao positiva reao emocional diante de estmulos como o metal, principalmente entre os povos europeus, protagonistas da expanso imperialista, escravagista ou colonizadora que tem incio no sculo 15, alm de individualismo, consumismo, legitimidade da estratificao social de base milenar. Essas noes so marcos do iderio capitalista, facilmente assentveis ao imaginrio dos povos, enquanto que ideais como os do coletivismo, do associativismo, solidariedade, o princpio de a cada um segundo suas necessidades, hoje derrudos de qualquer significao positiva, exigiriam trabalho intenso no mbito ensino-aprendizagem.Por ser to fcil, no se aprende a ser o que naturalmente se .c) que se note o quadro de contradies no nvel ideolgico: se por um lado o contedo da propaganda socialista divulgada pela URSS, implicando muito ensino-aprendizagem especialmente nos segmentos intelectuais e jovens, tem forte apelo no mundo ento em luta de libertao e justificam essa luta at mesmo como luta armada (frica, quase toda a sia, a Amrica do Sul e Caribe), por outro lado noes e contedos especficos da propaganda ideolgica capitalista parecem algo de aquisio grtis. Feita ou negociada a independncia desses pases haver imediata frustrao quanto s promessas socialistas, a exigirem mais luta, agora interna (especialmente a luta contra os quadros tradicionais), abrindo-se contexto vantajoso opo pelo capitalismo (a lei do menor esforo). O socialismo seria experincia nova, nos anos 70 j em crise de legitimidade, para muitos experincia utpica. Observe-se tambm que a noo de abundncia almejada por todos (obviamente tornando lgica a abundncia do mais poderoso, do mais rico, apto, inteligente etc.) ter expresso mais concreta, mais visvel no interior das sociedades capitalistas, a famosa competio por bens de consumo: quem tem mais geladeira, carros etc.). As sociedades dos pases em luta aspiram, paradoxalmente, pelo que o capitalismo esbanja: riqueza acumulada durante sculos de explorao...Seria bvia, ento, a concluso de que o capitalismo favoreceria, mesmo, um desenvolvimento holstico, integral e democrtico para todas as naes do mundo...Ria-se, pois hoje, 2015 o que est diante de todos a barbrie, a degradao.d) o Consenso de Washington, ttulo do documento resultante da reunio ocorrida na capital norte-americana em novembro de 1989, entre representantes do governo dos Estados Unidos e organismos financeiros internacionais para tratar dos temas relativos questo dos pases subdesenvolvidos diante do emergente contexto mundial poca derrocada do socialismo de estado, implicando retorno ao capitalismo das naes antes ligadas Unio Sovitica, agora vistas como subdesenvolvidas tambm. Os itens da pauta desta reunio fixam o que depois vem a ser chamado de poltica econmica neoliberal, aqui resumida em seus mais importantes aspectos: i) privatizao como base e alvo da poltica econmica desses estados, determinando que atividades, rgos e funes antes tidas como privativas do estado, deviam ser privatizadas (poucos sabem, mas hoje rgos vinculados ao poder pblico em qualquer nvel tm donos a exemplo do setor de cobrana de bancos estatais, as cooperativas criadas pelos ministrios e outras entidades para desempenharem tarefas pela Constituio ou lei ordinria antes s a eles deferidas; ii) tributao regressiva para as empresas, obrigatoriedade da participao das empresas estrangeiras nas licitaes pblicas e no mercado de capitais: iii) vinculao absoluta da moeda nacional moeda hegemnica...(de fato, a era Lula-PT tentou amenizar os efeitos de muitas dessas determinaes donde o dio dos entreguistas a essa era). Do ponto de vista cultural, podemos ver o Consenso de Washington como uma nova tbua dos dez mandamentos fixando deveres e interdies gesto capitalista das naes do ento chamado terceiro mundo (com olvido de prticas inerentes recentemente defunta viso socialista).

e) por fim, a revoluo tecnolgica na fase nano e digital que nas ltimas dcadas coloca o capitalismo no mbito da sexta Revoluo industrial, quadro em que a subsuno da natureza e dos seres vivos necessariamente ocorre tendo por referncia o mercado mundial, a moeda de curso obrigatrio e valor proativo do hegemnico...Exemplo de prticas olvidadas no que tange ao processo decisrio das organizaes associativas da sociedade civilCumpre ser feita rpida viso do quadro anterior, a qual pode ser comprovada a partir de registros ainda disponveis: literatura sobre o movimento social, a questo operria e sindical, coleo de jornais e revistas, atas dessas associaes porventura ainda existentes, biografias de militantes polticos etc.Militante dos movimentos sociais desde o incio dos anos 60, quando bancrio sindicalista e estudante secundarista ligado Ames e Abes, em 1961 este autor vinculou-se ao Partido Comunista Brasileiro. A essa poca, Constituio de 1946, vivia-se o grande logro histrico que vem justificando (e dando logicidade), as formataes geopolticas dominncia das sociedades hegemnicas no modo de produo capitalista. Referimo-nos ao grande logro, grande fraude, astcia, trapaa que chamar as guerras de 1914/18 e a de 39/45 de guerras mundiais, base para a concluso de que a paz de ambas resultante, por necessidade, seria mundial tambm. Mais ainda, se a guerra fora feita contra o racismo, a tirania, intolerncia, a misria e escravizao dos mais fracos, a Vitria era a porta que abria humanidade a reentrada no Paraso, principalmente o ltimo ps-guerra, uma guerra feita para acabar com todas as guerras. Fatos trabalhveis no nvel da propaganda corroboravam a crena: a guerra fora ganha em virtude da participao macia de naes ligadas ao bloco comunista, implicando que comunismo e capitalismo se uniam, e a partir de ento num clima de paz e democracia os povos optariam pelo modo de produo que mais lhes garantisse um futuro de paz e abundncia. Falava-se em emulao entre os modos de produo. A aceitao macia, acrtica dessas concluses so a base terica da socialdemocracia., partido do FHC. Nesse contexto, salvo embates nessa ou naquela questo, no nvel das organizaes polticas locais, ou seja, dos movimentos sociais brasileiros, como o sindical, o estudantil etc., conviviam de modo relativamente cordial, diferentes organizaes polticas e religiosas, anarquistas, muitas com alas de esquerda, de centro ou mesmo de direita. Nesse quadro, na abertura de uma assemblia, por exemplo, o primeiro embate era a eleio da mesa... Com ela confirmava-se proposio firmemente assentada na cabea de todos e repetida na prtica pela atividade dos movimentos sociais de que o plenrio soberano, em qualquer instncia devendo prevalecer a vontade da maioria. Logo, para o militante, a obrigao no era s de ir assemblia, mas a de chegar antes da abertura dos trabalhos, para participar da eleio da mesa, procedimento que confirmaria ou no a fora da ala no poder. Depois de abril de 1964, essa prtica de o plenrio eleger a mesa, juntamente com os valores tericos a ela inerentes, foi totalmente esquecida...ou seja, levada ao olvido, porque ilgica frente ao novo quadro existencial... A mesa hoje quer num sindicato, quer num condomnio, numa ONG ou OSCIP o prprio poder instalado. Igualmente no h a noo de que quando um rgo de natureza associativa est em assemblia, o poder instalado deve afastar-se para evitar o trusmo: o plenrio soberano; a diretoria soberana. Pior ainda, hoje esqueceu-se at o que um trusmo.bvio que os valores e formas essenciais do poder ditatorial envolvente vo contaminar, de modo adrede legitimado e justificado, todas as instituies sociais, proposio que carece de qualquer tipo de justificao, pois auto-evidente. A ditadura o imprio da Tirania, como contradiz-la na sala de aula, na reunio do clube, na igreja, no sindicato, no condomnio, nas ruas, em casa, na prpria conscincia do alienado? Por sua vez, todo processo de trabalho da assemblia, vale dizer, seu processo decisrio, devia transcorrer segundo uma cadeia de procedimentos legitimados, caros cultura, com nfase, no caso, sindical.1. O presidente lia os termos da convocao e fazia referncia ao Regimento Interno, escrito alhures ou no, mas de fato existente no ato, ali, na cabea de cada participante, j que seres racionais no se renem e deliberam de modo aleatrio, avesso a normas. Assim, sabia-se: a) quem podia votar e ser votado e por qu?; b) os limites da soberania do plenrio, isto , os termos da convocao e o Estatuto (implcito que para alterar a convocatria, cumpria primeiro suspender e correr aos Estatutos, a ver como este tal circunstncia resolveria.2. Estabelecida a ordem de discusso dos termos da convocatria, a mesa passava a aceitar inscries, vinculadas a tempo e aderncia ao tema aprovado. Os oradores falavam seguindo a ordem em que se inscreveram, rompida s em caso de questo de ordem (ficando implcito o adjetivo regimental), justificada caso comprovado o alegado, por exemplo, o descumprimento de qualquer das clusulas do regimento interno ou da convocatria... Hoje a expresso sinnimo para quero e vou falar agora e pronto!.

3. Debatida a questo, a mesa abria-se aceitao de propostas, fixando tempo e condio de sua defesa e/ou fuso com outras que expressassem os mesmos interesses, momento em que a mesa, inclusive os secretrios, se legitimavam mostrando poder de sntese na compreenso das diferentes ou convergentes propostas e articulao com os proponentes, orientando estes no sentido de que se os termos de suas propostas estavam contemplados na da outra chapa, podia-se fundi-las numa s. Era comum proposta solicitando suspenso dos trabalhos por 10 ou 15 minutos para conchavos nos bastidores por parte das lideranas em plenrio. O plenrio era soberano.4. Chegado ao nmero de propostas que por consenso expressasse e esgotasse a viso e interesses do plenrio no sentido da soluo da questo em debate, a mesa abria tempo e condies para a defesa de cada proposta. Explicadas e justificadas pelos respectivos expositores, a mesa fechava o ciclo das discusses abrindo a fase de votao, explicando com firmeza: matria em votao, no mais volta discusso... e matria votada no volta a plenrio.5. Geralmente composta de quatro secretrios, a mesa ia no transcurso dos debates, elaborando a ata, ou seu rascunho, com freqncia ela sendo aprovada pelo o plenrio da respectiva assemblia e no raro assinada na sada pelos participantes. Hoje, se por hiptese a mesa perde uma proposta no plenrio, na ata que se faz meses aps, a quatro paredes e em funo dos interesses do poder instalado, essa proposta sai como vencedora.CONCLUSES.1.O quadro atual, resultante dos fatos acima correlacionados explica de chofre porque as organizaes ligadas aos movimentos sociais no tm outra opo de sustentao financeira, de participao e organizao poltica, seno a doao sempre seletiva do estado e grandes empresas. Entre as organizaes populares no h mais base cultural para uma vinculao por via do pagamento de mensalidade, votar e ser votado etc.etc. Essas organizaes populares, acossadas pelo crime organizado, pelo evangelismo miliciano, alm das lideranas e militantes contaminados pelo iderio do neoliberalismo (empreendedorismo, empo(w)deramento (palavra horrvel) s podem hoje existir como plataformas para um tipo de negcio que se poderia definir como negcio poltico-social sujo, margem de qualquer norma tica.Por um lado as empresas lhes transferem, de modo pontual, ou seja, contra apresentao de projetos especficos, parte das dedues autorizadas para incentivo desse ou daquele aspecto da vida social... A compulso por participar e/ ou ganhar um desses projetos critrio para avaliar o sucesso ou insucesso das diretorias, geralmente eternizadas como donas das organizaes antes populares. Entidades do movimento negro de Salvador do Rio e So Paulo so ldimos exemplos do que afirmamos.Por outro lado, o poder pblico diretamente ou atravs de suas empresas e demais rgos responsveis pela execuo de sua poltica especfica rea (cultural, social, religiosa, beneficente etc.) coopta as organizaes que lhes sejam estratgicas e teis (implcita a destruio das rebeldes, inteis), atravs da passagem de recursos monetrios, da construo ou concesso de infra-estrutura, alm da remunerao direta ou indireta dos quadros militantes e dirigentes.2

No mbito da conscincia ou do julgamento dos membros dessas organizaes antes populares e sem fins lucrativos, tudo contribui para a aceitao do quadro em que hoje se encontram, como algo definitivo, que no se pode jamais mudar. Em primeiro lugar, a alienao total, alienao aqui mais no seu sentido de alheamento, afastamento dos indivduos em relao sua ambincia, s suas obrigaes cidads para com esses organismos, confirma a imutabilidade do ambiente. A atuao de modo concomitante das causas antes referidas, especialmente o medo de represlias do poder miliciano (agora laico ou religioso) justifica o comportamento dos indivduos (pra no dizer associados) e das diretorias. Nelas participar virou chave de porta de cadeia ou do caixo.3

Como plataformas para negcios, essas diretorias se assumem como empresrios ilegais, logo tornando-se quadrilhas: os termos dos Estatutos nesses contextos no podem ser cumpridos, danem-se os fins a que se destina a associao, at mesmo e principalmente no que tange a eleies, prestao de contas dos vultosos resultados das festas de massa, propinas de patrocinadores, venda de abads, camisetas, pulseiras, concesses para publicidade de marcas nacionais e internacionais, procedimentos fictcios nas etapas dos projetos, alm de lavagem de dinheiro a partir dos mais simplrios expedientes, venda de droga, recompensas pela organizao de currais eleitorais etc... Fiquemos por aqui.

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