imigração espanhola (galegos) em santos

38
1 EDUARDO MARIÑO RIAL A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS FACULDADE DON DOMÊNICO GUARUJÁ 2007

Upload: eduardo-marino-rial

Post on 22-Aug-2015

201 views

Category:

Education


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

1

EDUARDO MARIÑO RIAL

A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA

PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS

FACULDADE DON DOMÊNICO

GUARUJÁ

2007

Page 2: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

2

EDUARDO MARIÑO RIAL

A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA

PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS

Este trabalho corresponde à disciplina de Orientação para Elaboração da Monografia, como parte dos requisitos para obtenção da Conclusão de curso de História, apresentado a Faculdade de Educação Ciências e Letras “Don Domenico”, sob a orientação da Profª Mestre Solange Padilha Oliveira Guimarães.

FACULDADE DON DOMÊNICO

GUARUJÁ

2007

Page 3: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

3

EDUARDO MARIÑO RIAL

A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA: ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DA

PRESENÇA GALEGA NA CIDADE DE SANTOS

Este trabalho corresponde à disciplina de Orientação para Elaboração da Monografia, como parte dos requisitos para obtenção da Conclusão de curso de História, apresentado a Faculdade de Educação Ciências e Letras “Don Domenico”.

Data da Aprovação: Profª. Mestre Solange Padilha Oliveira

Guimarães. Assinatura:

FACULDADE DON DOMÊNICO

GUARUJÁ

2007

Page 4: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

4

DEDICATÓRIA

A meus pais, esposa, filha, irmão, cunhada,

afilhado, sogro, sogra, avôs (in memorian), avós (in

memorian) e a toda comunidade espanhola que

contribuíram para a realização do curso e conclusão

deste trabalho.

Às pessoas amigas que foram solidárias e me

apoiaram no momento necessário.

Aos colegas de curso com os quais muito aprendi.

Page 5: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

5

AGRADECIMENTOS

A Deus por me guiar em mais uma jornada de

estudos e sabedoria. Aos meus amigos: Delei,

Mendonça, Leonn, Isa e Ceci, pela grande amizade

que compartilhamos. Ao Sr. Antônio da cantina que

me ajudou muito nos momentos difíceis. Aos

queridos mestres que me abriram novos horizontes

no conhecimento.

Page 6: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

6

RESUMO

A proposta deste estudo é analisar a imigração espanhola na cidade de Santos, especialmente da comunidade galega, na metade do século XX. Trata-se de um estudo de população no qual proponho analisar o comportamento dos imigrantes de origem espanhola em Santos, contemplando a espacialidade e temporalidade de sua presença nesta cidade. Sob a perspectiva da história social da cultura, o presente estudo analisa as estratégias de inserção deste grupo na sociedade santista, e as formas que estes imigrantes encontraram para preservar sua identidade. Logo, este trabalho retrata o universo de relações de sociabilidade estabelecidas entre os imigrantes espanhóis e a população local, na tentativa de integração social e realização do sonho imigrante de origem européia de Fazer a América.

Palavras-chave: Imigração, Espanha, Sociedade.

Page 7: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................8 Procedimentos Metodológicos..........................................................................................9 CAPÍTULO 1 - HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL......................10

1.1 - A Saída dos Espanhóis para o Brasil......................................................................13

1.2 - A Chegada dos Espanhóis no Brasil, na Cidade de Santos...................................16

CAPÍTULO 2 - OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS..........................................18 2.1 – Os Bairros de Preferência para Moradia................................................................18

2.2 – A Mão-de-obra Espanhola......................................................................................18

2.3 – As Relações Sociais dos Espanhóis com os Santistas..........................................20

CAPÍTULO 3 - A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL SANTISTA?....................................................................................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................29

ANEXO 1.........................................................................................................................33

ANEXO 2.........................................................................................................................34

Page 8: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

8

INTRODUÇÃO

O fato de ser filho de imigrantes espanhóis incentivou-me a pesquisar assuntos

relacionados ao tema. Nas inúmeras leituras sobre o mesmo, tive oportunidade de

observar a presença de grande contingente de espanhóis vindos da Galícia (região

norte da Espanha) e que se instalaram na cidade de Santos.

O presente trabalho consiste em um estudo sobre a imigração espanhola na

Cidade de Santos, especificamente a comunidade galega. As interrogações a respeito

do tema suscitaram uma busca no sentido de desvendar aspectos temporais e

espaciais da presença desses imigrantes, com o propósito elucidar suas contribuições

para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Cidade.

No primeiro momento temos a história da imigração espanhola, na qual tratamos

os aspectos da emigração / imigração com a posterior chegada à Cidade de Santos

pesquisa busca verificar os motivos da vinda bem como as políticas de imigração, tanto

por parte do governo espanhol como por parte do governo brasileiro.

Em seguida, temos a visão do imigrante já instalado em Santos onde temos a

visão do trabalho e da relação entre eles e os trabalhadores locais e com a sociedade

em geral.

Para melhor esclarecimento dos aspectos citados, julguei necessário o contato

direto com imigrantes, objetivando, através de análise de seus discursos, encontrar

justificativas para a instalação nessa cidade e conhecimento do sistema de vida que

eles levam, ou seja, se os costumes de sua terra natal ainda estão presentes em seu

cotidiano.

Page 9: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

9

Procedimentos Metodológicos

A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de

prescrições oficiais e de documentos produzidos sobre o tema, bem como de

depoimento de imigrantes que residem na cidade de Santos. A discussão foi feita à luz

de produção teórica sobre imigração (AZEVEDO, 1941; KLEIN, 1989, entre outros), e

em documentos encontrados no Centro Español y Repatriación de Santos.

Page 10: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

10

CAPÍTULO I

1. HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL

A produção de estudos sobre a emigração espanhola para a América tem sido

incrementada nos anos recentes, em decorrência do interesse intrínseco do próprio

tema, da sistemática realização de Congressos internacionais e, finalmente, como

resultado das comemorações referentes ao Quinto Centenário da integração da

América á civilização ocidental, por obra e ação de Espanha e Portugal.

Temos neste capítulo, uma retrospectiva da história da imigração espanhola no

Brasil. Trabalhos como os de J. Hernández Garcia (1978), D. Ramos Pérez (1978), N.

Sánchez- Albornoz (1985), J. Nadal (1966), F. Iglesias (1985), B. Sánchez-Alonso

(1985), A. Vázquez (1985), H. A. Silva (1987)e P. Tornero Tinajero (1984), entre outros,

que discorrem sobre a imigração espanhola para o continente americano, sobre

legislação e políticas emigratórias, sobre marcos conjunturais da emigração, sobre

países fornecedores, conceituando a dimensão teórica do processo e dando-lhe o

indispensável suporte quantitativo.

Especificamente em relação á emigração espanhola para o Brasil, seja

particularizada ou não a região emissora, como a Andaluzia, a Galicia, a Catalunha ou

as Canárias, por exemplo, ou a receptora, como São Paulo, Bahia ou outra qualquer,

recentes estudos têm permitido delinear com rigor a análise das conjunturas e o perfil

do processo imigratório e seus desdobramentos sociais, econômicos, políticos e

demográficos. (Ramos Pérez, 1978).

Referências básicas para a segunda metade do século XIX, como as crises

econômicas e políticas e a superpopulação na Europa e na Ásia, de um lado, e a

Page 11: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

11

demanda de povoamento e de mão-de-obra para as nascentes/ crescentes economias

americanas, de outro, representam marcos conjunturais do grande fenômeno de

emigração/ imigração, que caracteriza marcadamente o período iniciado em meados do

século XIX e que se estende por grande parte da primeira metade do XX. (Ramos

Pérez,1978).

As migrações em massa no período somam um total de cerca de 75.000.000

entre emigrados europeus e asiáticos (Ramos Pérez, 1978) de regiões continentais ou

insulares, que demandaram, sobretudo as terras americanas, em busca de melhor

qualidade de vida e de prosperidade futura. Evidencia-se que empresa de tal vulto não

poderia deixar de produzir marcas profundas em vários setores da vida dos países de

origem e dos países de destino: trata-se de questões ligadas ao desenvolvimento ou a

decadência econômica, a aculturação, a colonização, ao povoamento ou

despovoamento, a psicologia social, ao confronto cidade, versus, campo etc.

Os fatores que condicionaram a emigração em massa estão relacionados a superpopulação, ás crises agrícolas e as alterações observadas no regime de produção, responsáveis por uma desorganização na economia e no setor social, que implica num elevado número de desempregados e desocupados nas cidades e no campo dos países de origem (Nogueira, 1973:16).

Segundo Nogueira, os primeiros grupos de espanhóis que se dirigiram ao Brasil

em massa no século XIX eram principalmente camponeses da região da Andaluzia.

Atraídos pela oferta de emprego e expulsos pela superpopulação e fome na Espanha,

fixaram-se principalmente no campo.

Page 12: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

12

Nas primeiras décadas do século XX os espanhóis continuaram a aportar em

terras brasileiras, ocupando ainda principalmente a região sudeste, com destaque para

São Paulo, estado que recebeu mais de 70% do contingente total desses imigrantes. As

maiores cidades da região, com acelerado crescimento urbano e industrial, fixavam-se

como novo espaço de habitação e trabalho.

No período posterior à Segunda Guerra Mundial, a entrada definitiva da Espanha

no esteio do capitalismo marcou um forte aumento do êxodo rural, provocando imensa

pressão em centros urbanos como Madri e Barcelona.

Nessa segunda imigração em massa, um terço dos espanhóis que chegaram a

São Paulo nesse período eram galegos e a diversidade cultural continuava uma forte

marca. Os espanhóis que vieram para o Brasil não eram um grupo homogêneo e é

preciso identificar as diferenças. Atraídos pelo slogan “São Paulo, a cidade que mais

cresce no mundo” e fugindo da proletarização do campo, esperavam acumular divisas e

voltar para Espanha para poder usufruir a sociedade de consumo que se instalava.

Entretanto, a maioria, jamais retornou (Sánchez- Albornoz, 1985).

Em 1964 foi ratificado o Acordo de Migração entre Brasil e Espanha, assinado

em 1960, que colaborou para o fim do movimento imigratório espanhol, uma vez que

basicamente só permitia a entrada de técnicos. De qualquer maneira, dentre os mais

de três milhões de europeus que atravessaram o oceano com destino ao Brasil

(WITTER, J.S., 1987).

Page 13: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

13

1.1 A SAÍDA DOS ESPANHÓIS PARA O BRASIL

Segundo Dollot (1949), ainda no século XIX, o êxodo emigratório foi praticamente livre;

já nos primeiros anos do século XX, quando os governos dos países fornecedores de

mão-de-obra passaram a se dar conta dos prejuízos internos advindos da emigração

em grande escala, indiscriminada, buscaram definir mecanismos de controle e limitação

da emigração.

As políticas emigratórias, portanto, oscilaram entre a aquiescência plena das saldas, estimulando mesmo a instalação oficial de agências governamentais de recrutamento, e o ponto extremo dos decretos restritivos, tão bem exemplificados, na Espanha, pelo Real Decreto de 26 de agosto de 1910, o qual objetivava a proibição imposta aos emigrantes de viajarem gratuitamente para o Brasil. (Dollot, 1949 – pp. 152 - 155).

Com isso, as companhias de navegação viam-se impedidas, a partir daquelas

datas e naqueles países, a celebrar com os interessados contratos que visassem ao

transporte de seus cidadãos. Não estava proibida, no entanto, a emigração, já que era

possível que esta se efetuasse á base do custeio feito pelos próprios emigrantes ou por

parentes já emigrados, por meio das denominadas "cartas de chamada" (espécie de

contrato, no qual o trabalhador já vinha da Europa com emprego garantido).

A questão da emigração tem razões, características e desenvolvimento algo

semelhantes nos vários países de "expulsão". Mas, certamente, cada um deles mantém

suas particularidades no tangente á sistemática da partida, ás fases de intensificação

ou diminuição numérica ou qualitativa da gente que parte, ao acolhimento dos

retornados etc.

Page 14: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

14

No caso presente interessa considerar, sobretudo, o perfil da emigração

espanhola. Para tanto se conta com a proposta de periodização para o século XIX,

apresentada por Demétrio Ramos Pérez (1978). Parte o ilustre historiador do que ele

chama de "fase da emigração conspiradora", na qual foram razões políticas, tão em

evidência na Europa de fins da era napoleônica, que levaram tantos espanhóis á

França e Inglaterra. A segunda fase, a da "emigração dirigente", também tem o mesmo

teor e destino, embora nessa fase muitos trânsfugas políticos tenham se dirigido ao

México. Na fase seguinte, a da "emigração adaptável", já começa a se delinear o perfil

que se repetirá em fases posteriores: é o marcado pela saída de agricultores para a

América.

A primeira manifestação desta linha de emigração deu-se em relação á

Venezuela, quando de sua ruptura com a Gran Colômbia. A quarta fase corresponde á

que foi denominada "emigração forçada", ocorrida em meados do século. Trata-se do

envio de prisioneiros, principalmente para Cuba e Porto Rico, colônias de Espanha que

ainda o eram.

A fase seguinte é a das "contratas". Vinculava-se a um sistema de contratações

maciças, levadas a cabo em particular pelo Equador. Este sistema de contratação,

como também iria ocorrer no Brasil, acabou por criar conflitos, pois, com freqüência,

traz embutida a ação abusiva e exploradora dos imigrantes por parte dos contratadores.

A fase posterior, ainda segundo Ramos Pérez, é a das "emigrações abertas", a que

guarda maior interesse e vínculo com o presente estudo.

No decorrer da segunda metade de século XIX, as dificuldades econômicas

causadas em grande parte por epidemias agrícolas, que prejudicaram sobremaneira as

vinhas, fizeram com que a Espanha se interessasse em averiguar quais os países que

Page 15: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

15

poderiam oferecer melhores condições a cidadãos seus que emigrassem. O Brasil

acabou por ocupar lugar privilegiado nessa busca, pois dava condições e vantagens

aos imigrantes espanhóis, que nenhum outro país oferecia. Como resultado, tem-se a

expedição, pela Espanha, da Real Ordem de 12 de janeiro de 1865, que disciplinava o

fluxo migratório para o Brasil, em particular para São Paulo (WITTER, J.S., 1987).

A abertura para a emigração mais sistemática nos moldes da "grande emigração/

imigração", tão característica do último quartel do século XIX europeu e americano, dá-

se com a sucessão de atos dispositivos que visavam facilitar, por meio da isenção de

taxas e facilidades de recrutamento, a decisão de emigrar, o embarque, a viagem e a

escolha de destino por parte dos espanhóis. A partir daí, o número de emigrantes

cresceu tanto, que a legislação, de condescendente e estimuladora, passa a ser

limitadora e restritiva, culminando com o já referido Decreto de 1910. As baixas

demográficas, no entanto, já eram irremediáveis. Diz Ramos Pérez que, embora não se

possa obter uma estimativa global, é possível afirmar que, no período de 1882 a 1900,

saíram da Espanha para a América cerca de 300.000 emigrantes.

Por razões étnicas, familiares e psicológicas e, em inúmeros casos, por interesse

econômico, social e cultural, é evidente que os maiores contingentes de espanhóis

tenham se dirigido, prioritariamente, para os países americanos de colonização

espanhola. Outro pólo a exercer irresistível atração eram os Estados Unidos da

América, pela potencialidade e pelas perspectivas de natureza econômica que

ofereciam. O Brasil, no entanto, não obstante a diferença e o entrave de caráter

lingüístico, recebeu parte considerável da imigração espanhola, até estimulada por seu

próprio governo. A razão estaria nas condições de aproveitamento do imigrante.

Page 16: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

16

1.2 A CHEGADA DOS ESPANHÓIS NO BRASIL, NA CIDADE DE SANTOS.

Imigrantes espanhóis empregados na estiva do café,

no porto santista: até 320 kg (6 sacos) nas costas

Foto: Centro Español y Repatriación de Santos.

Não existem registros estatísticos

sobre a chegada de espanhóis em Santos.

O que se sabe é contado por um ou outro

imigrante mais idoso, ou por filhos que se lembram com carinho das histórias que

ouviram de seus pais.

Quando se procura informações sobre o assunto, esbarra-se na dificuldade da

falta de informações precisas. Talvez porque os primeiros imigrantes estivessem

mergulhados demais no trabalho e na realização de seu sonho, para perceberem que

estavam fazendo a História.

Sabe-se, com certeza, que Santos desenvolveu-se a partir de um núcleo inicial

de origem ibérica, com grande percentagem de espanhóis, embora os portugueses

formassem a grande maioria.

Um dos primeiros espanhóis a pisar as terras da Baixada foi o padre José de

Anchieta, que nasceu na Ilha de Tenerife, filho de um nobre da família Guipuzcoa,

emigrada da Espanha no reinado de Carlos V.

As imigrações tornaram-se sistemáticas, entretanto, a partir do século XIX, até o

começo do século XX, quando não só a Espanha, mas toda a Europa, vivia tempos

Page 17: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

17

difíceis, enfrentando inclusive problemas de superpopulação, o governo abriu a

emigração, e um grande número de espanhóis partiu em busca de vida melhor.

Era, em grande maioria, gente originária das quatro províncias da Galícia – a

qual é o objetivo de nossos estudos - uma das regiões mais pobres da Espanha, onde a

industrialização insistia em não chegar.

Aberta a emigração, muitas aldeias - como também aconteceu em Portugal -

ficaram apenas com seus velhos, enquanto os homens aptos para o trabalho seguiram

para a América, onde pretendiam enriquecer.

“Fazer a América” - América, na Espanha, não eram os Estados Unidos, mas

qualquer país das Américas Central e do Sul que recebessem imigrantes. “Fazer a

América”, gíria usada na época, era trabalhar de sol a sol, num desses países, durante

algum tempo, e juntar dinheiro suficiente para voltar à pátria vitorioso.

Os chefes de família vinham primeiro, deixando mulher e filhos pequenos, até

conseguir dinheiro suficiente para pagar a passagem dos parentes e acomodá-los com

conforto.

O Brasil era o país escolhido pela maioria, e Santos, como primeiro porto de

atracação dos navios, acabou recebendo muitos galegos, principalmente os naturais de

Orense - entre os mais antigos, muitos batizaram seus filhos com esse nome - . Rio de

Janeiro e Salvador também receberam muitos pioneiros, e São Paulo, com suas

enormes possibilidades, acabou sendo o destino de uma boa parte deles.

Page 18: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

18

CAPÍTULO II

2. OS ESPANHÓIS NA CIDADE DE SANTOS

Foi o ano de 1930 que praticamente marcou o fim da grande emigração dos

espanhóis para o Brasil. A lei dos dois terços, instituída pelo presidente Getúlio Vargas,

estabelecia a obrigatoriedade de que os empregadores tivessem no mínimo dois terços

de funcionários brasileiros. Isso limitou bastante as possibilidades dos estrangeiros,

principalmente dos analfabetos, em grande número. Havia também a preferência de

utilizar o trabalho dos imigrantes na lavoura, o que não agradava a maioria dos

espanhóis.

2.1. OS BAIRROS DE PREFERÊNCIA PARA MORADIA.

Com base nos levantamentos feitos a respeito da presença de espanhóis no

Município de Santos, concluiu-se que é impreciso o contingente de espanhóis por

bairro, o que se sabe é que há, no mínimo, uma família de espanhóis distribuídos pelos

vários bairros, pois tal população espalhou-se por toda Cidade. (Informação fornecida

pela secretaria do Centro Espanhol de Santos).

2.2. A MÃO-DE-OBRA ESPANHOLA

No início os espanhóis trabalhavam no que aparecesse, como empregados de

bares, restaurantes, padarias; como pedreiros, funcionários das estradas de ferro e

estivadores, na Companhia Docas. E foi justamente na Docas que eles começaram a

espalhar sua tradicional fama de agitadores: o alto grau de politização dos empregados

Page 19: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

19

espanhóis e sua participação ativa nos movimentos reivindicatórios se tornaram

famosos na Cidade e custaram-lhes, durante algum tempo, o impedimento de trabalhar

no porto.

Não foram certamente os imigrantes que perderam mais com isso. Sua

capacidade de trabalho era tão conhecida quanto sua politização, ou até mais. Eram

capazes de trabalhar até 20 horas seguidas e ganhavam muito mais com tempo e

esforço do que com tino comercial (SANTOS, 1937)

Sem dúvida, foram tempos duros. Mas nada é capaz de segurar aqueles que

querem realmente realizar um sonho. Foi graças a esse trabalho simples e esforçado

dos primeiros anos, que surgiu a estabilidade que hoje se encontra entre as famílias da

colônia e as grandes fortunas que se formaram entre os imigrantes que vieram fazer a

América.

Com suas primeiras economias, o imigrante saudoso comprava passagem para

a família e um bom lugar para instalá-la. O trabalho duro continuava e o próximo capital

economizado servia para a aquisição de um pequeno negócio, sempre no ramo de

secos e molhados, vendas, padarias, bares e restaurantes. (FILHO, 1965).

Era essa a especialidade dos espanhóis. Até pouco tempo ainda havia em

Santos alguns dos famosos restaurantes dirigidos por famílias espanholas, onde se

comia muito, mas muito bem. No começo, foram as casas de pasto - restaurantes

domésticos, nos quais a própria dona da casa cozinhava, enquanto o resto da família

se encarregava de servir os fregueses. A comida caseira, típica ou não, era de

qualidade irrepreensível.

Page 20: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

20

2. 3. AS RELAÇÕES SOCIAIS DOS ESPANHÓIS COM OS SANTISTAS.

A relação espanhola com a sociedade santista é bem marcante. Muita gente

ainda se lembra do Restaurante Quatro Nações, da Casa Espéria, do Marreiro. A

famosa Leoneza, fábrica de doces, foi fundada pela família Flores, de origem

espanhola. Atualmente, os restaurantes especializados em comida tipicamente

espanhola não existem mais; entretanto, é possível comer um polvo caprichado, um

cozido ou um bacalhau em qualquer bom restaurante da Cidade. Sem falar nos pratos

típicos do litoral espanhol, como a paella, a sopa e peixe e os crustáceos em geral, que

são servidos nos restaurantes da orla.

Outras especialidades também foram trazidas pelos espanhóis de sua terra. Os

galegos se transformaram nos mais procurados calceteiros da região, e sua habilidade

no trabalho com as pedras tem origem na própria tradição de seu país: na Galícia, as

grandes propriedades iam sendo divididas entre os filhos dos proprietários que por sua

vez as repartiam com seus filhos e assim por diante.

As fronteiras dessas inúmeras propriedades resultantes das divisões eram feitas

pela própria família, com muros de pedras cortadas e justapostas, e assim os galegos

aprenderam o ofício que mais tarde seus filhos exerceriam no estrangeiro.

No setor de secos e molhados, surgiram inúmeras vendas cujos proprietários

eram espanhóis. Muitas delas se transformaram em estabelecimentos tradicionais na

Cidade, hoje administrados pelos filhos dos primeiros imigrantes. Algumas, com o

tempo, perderam as características iniciais.

Page 21: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

21

No ramo dos transportes, a colônia espanhola também está representada por

José Villarino Cortês, espanhol naturalizado brasileiro, dono da maior transportadora da

região, Cortês começou, em Santos, como funcionário da Brahma, onde trabalhou

durante oito anos. Depois, como bom espanhol, esteve no ramo de bar e restaurante,

até que comprou um caminhão e foi trabalhar como carreteiro. A transportadora foi

adquirida em sociedade e o sucesso do negócio se deveu à sua capacidade de

trabalhar 18 horas por dia, durante toda a semana, nos primeiros tempos.

Como Cortês, várias outras famílias de origem espanhola hoje têm lugar

importante em vários setores econômicos da Cidade. Pertencem a espanhóis, por

exemplo, os maiores sítios de banana do Litoral, que se transformou em grande centro

exportador. Há também inúmeras carpintarias, serralherias, sacarias e, mais

recentemente, empresas do setor de construção, pertencentes a membros da colônia.

No esporte, a colônia espanhola em Santos se reúne em torno do Jabaquara

Atlético Clube, fundado a 15 de novembro de 1914. Chamou-se Espanha Futebol

Clube, até a época da Segunda Guerra Mundial, quando, com a nacionalização dos

clubes, adotou o nome de Jabaquara. Sua primeira praça de esportes foi construída no

Macuco, e recebeu o nome de Antônio Alonso, em homenagem a um de seus maiores

colaboradores.

Mais tarde, o Jabaquara adquiriu amplo terreno na Ponta da Praia, mas a

diretoria foi obrigada a vender o imóvel, na Avenida Bartolomeu de Gusmão. Hoje, o

estádio, na Caneleira, leva o nome de Espanha, antiga denominação do clube .

Page 22: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

22

A alma da colônia espanhola na

Cidade está no Centro Español y

Repatriación de Santos. Fundado em 6

de janeiro de 1895, e tendo como

primeiro presidente Manuel Troncoso,

chamou-se, de início, Casino Español,

nome logo substituído para Centro Benéfico y Recreativo Español. Funcionou,

primeiramente, em prédio construído na Rua Aguiar de Andrade, Bairro do Paquetá,

onde permaneceu durante 30 anos.

Mais tarde, com a fusão com a Sociedade de Repatriación, tomou o nome atual,

e em 1955, devido às transformações da Cidade, a diretoria comprou o terreno da

Avenida Ana Costa, onde foi construído o prédio atual, que em 1974 foi ampliado, para

atender melhor os associados (GALIÑA, 1990).

Entre as inúmeras atuações do Centro na vida da Cidade, a mais importante

talvez tenha sido a sua transformação em hospital, durante a epidemia de febre

espanhola, ocorrida em 1918. Suas instalações foram oferecidas às autoridades

sanitárias, que instalaram leitos no salão de bilhar, no teatro, no salão nobre e na

secretaria. Durante 15 dias, ali ficaram internados 128 enfermos, dos quais faleceram

24.

Antes disso, em 1916, o Centro Espanhol já havia servido de abrigo para os

sobreviventes do naufrágio do vapor Príncipe de Astúrias, que afundou na Ponta do

Boi, no dia 4 de março de 1916, com mais de 500 vítimas. Nessa ocasião, o Centro

Page 23: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

23

uniu-se às outras duas entidades espanholas existentes na Cidade: a Sociedade

Espanhola de Socorros Mútuos e a Sociedade Espanhola de Repatriação (GALIÑA,

1990).

Podemos perceber que as dificuldades enfrentadas pelos espanhóis no início de

suas atividades profissionais foram, paulatinamente, dando lugar a estabilidade através

de suas determinação e persistência, mesmo através da fama de agitadores que em

muito ajudou os demais trabalhadores em suas reivindicações.

Nota-se também a contribuição do povo espanhol para a cidade de Santos, além

do aspecto trabalhista, na saúde, cultura, esporte, comércio, transporte, enfim, a

sociedade espanhola ajudou no desenvolvimento social, econômico e cultural da cidade

de Santos.

Page 24: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

24

CAPÍTULO III

3. A FALA DOS IMIGRANTES: QUEM É O ESPANHOL SANTISTA?

A metodologia desta pesquisa, de abordagem qualitativa, prevê análise de

documentos produzidos sobre o tema e de depoimento de pessoas diretamente

envolvidas. Portanto, para um melhor entendimento sobre o espanhol santista julguei

necessário realizar entrevistas com os mesmos, promovendo assim uma maior

veracidade ao meu trabalho.

Após definir quem seriam os sujeitos da pesquisa, elaborei um roteiro de

entrevistas com questões norteadoras e semi-estruturadas que direcionaram a um

discurso livre sobre o assunto.

Ao todo foram realizadas duas entrevistas, sendo de um homem e uma mulher,

vindos da Espanha por volta do ano de 1950, transcritas com o máximo de rigor e

fidelidade, detectando aspectos relevantes provindos de emoções e expressões que

ilustraram e atribuíram ênfase aos depoimentos.

As informações obtidas foram de grande valor, visto que contribuíram muito para

a sustentabilidade da pesquisa elaborada e do trabalho proposto sobre o tema,

ressaltando que o meu objetivo, a determinação e a persistência me conduziram aos

entrevistados, os quais revelaram grande interesse e boa vontade.

Os resultados foram bastante favoráveis, não somente no que diz respeito à

imigração espanhola, mas também abrangendo outros aspectos relevantes

relacionados a sociedade santista; além, ainda, de se revelar motivos que estimulam a

preservação da cultura e dos costumes de sua terra natal.

Page 25: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

25

Durante o percurso das entrevistas percebi o quanto o período histórico do entre-

guerras constituiu em um fator de grande contribuição para a vinda deles, já que a

Guerra Civil Espanhola afetou a vida econômica e social do país. Este fato pode ser

percebido a partir dos depoimentos que revelaram aspectos traumáticos com relação ao

modo de vida pós-guerra.

Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e vida pós-guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia era pescador, que era a profissão do meu pai, mas meus pais não queriam isso pra nós pois também era um trabalho perigoso, ocorriam muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o retorno desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam. Meu pai já veio contratado para trabalhar por meio de um tio meu, Aprendeu e exerceu a profissão de encanador... (Entrevistado “A”). Como o trabalho era escasso devido as dificuldades surgidas com a Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, meus pais acabaram me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem e ele veio para trabalhar. Meu pai, como já era carpinteiro, trabalhou na Ciferal construindo portas e janelas de ônibus (Entrevistado “B”).

Diante desses argumentos, pude observar que a vida da pós-Guerra Civil

Espanhola foi um grande agravante para a vinda de muitos imigrantes ao Brasil no

início do século passado.

Outro fato interessante que tive a oportunidade de perceber é que muitos desse

contingente já vinha com um emprego estabelecido, que em muitos casos se restringia

a mesma ocupação que tinham no país de origem, embora seja grande também o

número de imigrantes que aqui aprenderam e se dedicaram a uma nova profissão.

Page 26: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

26

É notório afirmar que muitos imigrantes optaram por residir na cidade de Santos,

seja na chegada ao Brasil no início do século passado ou no movimento de migração

dentro do próprio país. Os motivos que os levaram a se estabelecerem neste município

foram os mais diversos, como pôde-se notar nos depoimentos, quando perguntados

sobre o que levou-os a optar por viver nesta cidade do litoral.

Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam pessoas e vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir morar em Santos. Outro fato que me motivou, foi a proximidade com o mar, o que tínhamos lá também (Entrevistado “A”). Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se aposentou e o nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa que tínhamos na Espanha, pois vivíamos em uma ilha. Saímos de são Paulo e viemos morar aqui (Entrevistado “B”).

O que se pôde perceber por meio dos imigrantes entrevistados é que a escolha

pela cidade de Santos para moradia parece estar relacionada – além do simples fato de

desembarcar no porto – a algo contido no sentimento de conviver com paisagens ou

ares que recordem o seu local de origem, sua gente.

O espanhol santista estabelece uma forte relação cultural com a sua terra natal,

propondo vários meios de se aproximar dela, revelados através da música, das

comidas, das bebidas, das festas, e, até mesmo de programas de televisão espanhóis

por meio de TVs por assinatura.

Page 27: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

27

Tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o país que nos acolheu, meus costumes são espanhóis. Costumo ouvir todo tipo de música espanhola e já participei do grupo folclórico de dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano-Brasileira, no bairro do Ipiranga em São Paulo, temos os trajes típicos até hoje. Agora em Santos freqüento o Clube Espanhol ... As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau, paelha, tortilha, calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá sempre quando vou e trago ou algum parente vem e traz. Já a bebida é vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não comiam nada sem vinho... Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital que pega muitos canais espanhóis...Vejo notícias de lá diariamente, vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia...Me ajuda muito a ter um elo com a minha terra....Quanto a festas a principal que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está na Galícia e é o padroeiro da Espanha (Entrevistado “A”). As músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo que canta muitas músicas de saudades da Galícia. TV, gosto da digital por estar mais próxima a minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico de dança galega por muitos anos, tenho o traje típico até hoje...As comidas espanholas aprendi com meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo, cozido, callos, paella, etc...Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana e eu vivi e tenho esse costume...As festas espanholas eu gosto daquelas com bailes e apresentações de danças (Entrevistado “B”).

Pode-se notar o quanto a cultura e os costumes espanhóis estão arraigados na

vida do espanhol santista, e que para ele é realmente uma forma de estar na sua terra,

mesmo estando do outro lado do oceano.

É interessante perceber que os imigrantes entrevistados demonstraram

consciência quanto à valorização, tanto do povo deixado (espanhol), como do povo que

os acolheu (brasileiros e santistas, particularmente), proporcionando-lhes condições de

transformar a realidade em que vivem.

Page 28: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

28

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou analisar a presença de imigrantes espanhóis na cidade de

Santos em meados do século passado, percebeu-se por meio das pesquisas em

literaturas que tratam sobre o tema e de análise das entrevistas realizadas com

pessoas diretamente envolvidos, ou seja, espanhóis que fixaram suas residências no

município em questão, que estes espanhóis adotaram o Brasil como sua segunda pátria

preservando fortemente a cultura e tradição espanhola.

Embora os motivos que os levaram a sair de seu país de origem e aqui se

estabelecer foram vários, este trabalho priorizou a perspectiva de vida pós-guerra civil

da população galega.

A presença dos espanhóis em muito contribuiu para o desenvolvimento

econômico, social e cultural do Brasil e especificamente do município de Santos.

Page 29: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ARQUIVO HISTORICO DO IMIGRANTE. Secretaria de Estado da Promoção Social.

Fundo Hospedaria dos Imigrantes. Seção Imigração.

ARQUIVO DO ESTADO DE SAO PAULO. Secretaria de Estado da Cultura. Série

Imigração.

AZEVEDO, S.A. - Imigração e colonização no Estado de São Paulo. Revista do Arquivo

Municipal, São Paulo, 7(75): abr. 1941.

BELLOTTO, M.L. - A imigração espanhola para o Brasil: a vertente canária. Um estudo

prévio. Separata de IV Coloquio de Historia Canario-Americana T. II, Gran Canaria,

1984, pp. 707-740.

DALL'ALBA, J.L. - Imigração italiana em Santa Catarina: documentário. Caxias do Sul,

Universidade de Caxias do Sul, 1983.

DOLLOT, L. - Les grandes imigrations humaines, Paris, PUF, 1949.

GONZALEZ MARTINEZ, E.E. - Españoles en Brasil: características generales de un

fenómeno inmigratorio. Ciência e Cultura. vol. 42, n. 5/6. São Paulo, 1990, pp. 341 -

346.

----- Presencia española en San Pablo: notas sobre la emigración andaluza. Ciência e

Cultura. vol 42. n. 10/ 12. São Paulo, 1990, pp. 780-785.

HERNANDEZ GARCIA, J. - Algunos aspectos de la emigración de las Islas Canarias a

Hispanoamérica en la segunda mitad del siglo XIX (1840-1895), in: Jahrbuch fÜr

Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas, vol. 13, Colonia,

1978, pp. 132-150.

Page 30: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

30

IGLESIAS, F. - Características de la inmigración española en Cuba, 1904-1930, in:

SANCHEZ- ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa,

1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.

ISENBURG T. - Hospedaria de Imigrantes: Una fonte per lo studio delle migrazioni.

Societá e Storia, 1990, n. 22, pp. 931-941.

KLEIN, H.S. - A integração social e económica dos imigrantes espanhóis no Brasil.

Fstudos Econômicos vol. 19, n. 13. São Paulo, 1989, pp. 457-476.

MILLIET, S. - Roteiro do café e outros ensaios. 3a. ed. São Paulo, Departamento de

Cultura, 1941.

NADAL. J. La población española. Siglos XVI a XX. Ariel. Barcelona, 1966.

NOGUEIRA, A.R. - A imigração japonesa para a lavoura cafeeira paulista (1908 -1922).

São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, 1973.

ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS - Instituto Panamericano de

Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el cono sur de América.

México, 1987. V. III: Serie Inmigración.

PETRONE, M.T.S. - Imigração assalariada, in: HOLANDA, S.B. (ed.), História Geral da

Civilização Brasileira. São Paulo, DIFEL, 1967. t.2, v.3.

RAMOS PÉREZ, D. - Fases de la emigración española a Hispanoamérica en el siglo

XIX, in Jahrbuch fÜr Geschichie von Staat, Wirschaft and Gesellschaft Lateinamerikas,

vol. 13. Colonia, 1978, pp. 151-173.

SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa,

1880 - 1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.

Page 31: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

31

SANCHEZ-ALONSO, B. - La emigración española a la Argentina, 1880 - 1930, in:

SANCHEZ-ALBORNOZ, N. (org.) - Españoles hacia América, la emigración en masa,

1880 -1930. Madrid, 1985, Alianza Editorial.

SILVA, H.A. - Introducción, in: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS,

Instituto Panamericano de Geografía e Historia, Legislación y política inmigratoria en el

cono sur de América. México, 1987.

TORNERO TINAJERO, P. - Inmigrantes canarios en Cuba y cultivo tabacalero. La

fundación de Santiago de las Vegas (1745 - 1771). IV Coloquio de Historia Canario-

americana. T. 1. Gran Canaria, 1984, pp. 507-529.

VAZQUEZ, A. - La emigración gallega. Migrantes, transporte y remesas. in: SANCHEZ-

ALBORNOZ, N. (org.), Españoles hacia América, la emigración en masa, 1880 - 1930.

Madrid, 1985, Alianza Editorial.

WITTER, J.S. - 1987-A. Levantamento e sistematização da legislação relativa aos

imigrantes (1825 - 1930). In: ORGANIZACION DE LOS ESTADOS AMERICANOS.

Instituto Panamericano de Geografía e Historia. Legislación y política inmigratoria en el

cono sur de América. México, 1987. pp. 261-290.

WITTER, J.S. - 1987-B. A política imigratória no Brasil. Idem, p. 254-260

GALIÑA, Lúcia Rivero. Centro Español y Repatriación de Santos: 1895-1940.

Monografia de conclusão de curso de pós-graduação "lato sensu" em História,

UniSantos, 1990. Orientação da professora-doutora Maria Aparecida Franco PEREIRA.

SANTOS, Francisco Martins dos. História de Santos: 1532-1936. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 1937.

Page 32: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

32

FILHO, José de Araújo. A Expansão Urbana de Santos. In: A Baixada Santista

(aspectos geográficos). Vol. 3. São Paulo: Edusp, 1965.

Page 33: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

33

ANEXO 1

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Questões a serem feitas para os imigrantes ou descendentes.

Nacionalidade?

Idade?

Casado?

Quantos filhos?

Religião?

Escolaridade?

Veio da Espanha com quantos anos?

Qual o lugar de origem?

Qual a profissão de seu pai na Espanha?

Qual o ano e o local da chegada?

Qual foi o motivo da vinda?

Sua profissão?

O que o motivou a morar em Santos?

Quanto tempo mora em Santos?

Qual o bairro de preferência?

Por quê o bairro?

Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)

Que time o(a) senhor(a) torce?

Corinhthians, e aqui na região, Jabaquara.

Já voltou alguma vez a Espanha?

Page 34: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

34

ANEXO 2

ENTREVISTAS

Entrevistado “A”

Nacionalidade?

R: Espanhol

Idade?

R: 62

Casado? Quantos filhos?

R: Sim, casei-me com uma mulher, nascida no mesmo local que eu, mas ela veio para

o Brasil um ano depois de nós. Nos conhecemos jovens, pois nossas famílias já se

conheciam na Espanha e ambas tinham amizade, moravam no Rio de Janeiro. Temos 2

filhos.

Religião?

R: Católico

Escolaridade?

R: Naquela época fiz o colegial, depois fiz o básico comercial

Veio da Espanha com quantos anos?

R: Vim com meus pais e um irmão, eu tinha 2 anos e meu irmão 6 anos

Qual o lugar de origem?

R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha

Qual a profissão de seu pai na Espanha?

R: Pescador

Qual o ano e o local da chegada?

R: 05 de Abril de 1948. O nosso destino era São Paulo, mas o do navio era o Rio de

Janeiro, como o navio pegou carga no Rio para Santos e o comandante sabia que

minha família ia para Santos, ele nos deu uma “carona”. Desembarcamos no armazém

16.

Page 35: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

35

Qual foi o motivo da vinda?

R: Meu pai foi um dos soldados de Franco na Guerra Civil Espanhola e a vida pós-

guerra civil estava dura, não havia trabalho, o único que havia era pescador, que era a

profissão do meu pai, mas meus pais não queriam isso pra nós pois também era um

trabalho perigoso, ocorriam muitas mortes no mar, as famílias ficavam esperando o

retorno desesperadas os quais muitas vezes não ocorriam.

Meu pai já veio contratado para trabalhar por meio de um tio meu (irmão da mãe).

Aprendeu e exerceu a profissão de encanador, recebia um salário mínimo e ficou 10

anos assim. Perdeu muitas oportunidades de emprego, não queria ser ingrato com o

cunhado.

Nossa vida melhorou quando meu pai passou a trabalhar para empresa, e minha mãe

noite e dia como costureira. Ela aprendeu a trabalhar com costura com uma espanhola

conhecida aqui no Brasil, emprestou a máquina e minha mãe começou a fazer as

camisas para a fábrica Digam. Quem cuidava da casa era eu e meu irmão, nossa

diversão era pregar os botões nas camisas. Com 10 anos de idade eu já ia à cidade em

São Paulo levar os embrulhos de camisas à fábrica para minha mãe não perder tempo.

Sua profissão?

R: Atualmente aposentado, mas antes era escriturário na Sabesp.

O que o motivou a morar em Santos?

R: Existiam navios espanhóis, como o Cabo São Roque, que traziam pessoas e

vínhamos para ver alguns conhecidos, isso me motivou vir morar em Santos. Outro fato

que me motivou, foi a proximidade com o mar, o que tínhamos lá também.

Quanto tempo mora em Santos?

R: 10 anos

Qual o bairro de preferência?

R: José Menino, onde moro.

Por quê o bairro?

R: Pela proximidade com São Vicente.

Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)

Page 36: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

36

R: Totalmente, tudo o que se relaciona a Espanha faz parte da minha vida. Mesmo

sendo criado no Brasil, o qual eu tenho como segunda pátria por ser o país que nos

acolheu, meus costumes são espanhóis.

Costumo ouvir todo tipo de música espanhola, mas as que mais gosto são as galegas,

da minha região. Quando morávamos em São Paulo eu e minha mulher fizemos parte

do grupo folclórico de dança galega, na Casa de Galícia, atual Sociedade Hispano-

Brasileira, no bairro do Ipiranga, temos os trajes típicos até hoje. Agora em Santos

freqüento o Clube Espanhol.

As comidas que costumamos fazer são: polvo, cozido, bacalhau, paelha, tortilha,

calhos, além dos mexilhões enlatados que vêem de lá sempre quando vou e trago ou

algum parente vem e traz. Já a bebida é vinho! Esse hábito herdei dos meus pais, não

comiam nada sem vinho, minha mãe que não gostava de vinho forte comprava caixas

com 24 garrafas de soda para misturar com o vinho.

Acompanho muito da Espanha pela televisão também, tenho tv digital que pega muitos

canais espanhóis (TV Galícia, TV Canárias, TV Basca, TV Catalã, etc). Vejo notícias de

lá diariamente, vejo até minha ilha, parentes e conhecidos através da TV Galícia. Isso

me dá oportunidade de conhecer melhor pois na TV eles passam a galícia inteira, e

vejo e conheço coisas que nas poucas vezes que estive lá eu não vi, não conheci. Me

ajuda muito a ter um elo com a minha terra.

Pra você ter uma idéia eu assisto 70% a tv digital e 30% a convencional.

Quanto a festas a principal que costumamos participar é a de Santiago Apóstolo, está

na galícia e é o padroeiro (patrón) da Espanha.

Que time o senhor torce?

R: Corinthians, e aqui na região, Jabaquara.

Já voltou alguma vez a Espanha?

R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008 e assim que tiver outras oportunidades!

Page 37: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

37

Entrevistado “B”

Nacionalidade?

R: Espanhola

Idade?

R: 58

Casada? Quantos filhos?

R: Morávamos no Rio de Janeiro, conheci o meu marido com 12 anos, éramos amigos

e todo ano no carnaval ele ia pra lá, depois ficou 2 anos sem ir, aí quando meus pais e

eu viemos passar o natal em São Paulo, já éramos um pouquinho mais velhos e

começamos a nos gostar, casamos e temos 2 filhos.

Religião?

R: Católica

Escolaridade?

R: 6º Ano

Veio da Espanha com quantos anos?

R: Com 4 anos, vim com meus pais adotivos, minha mãe adotiva na verdade é minha

tia, nasci gêmea, minha mãe adotiva não podia ter filhos e como eu nasci fraquinha e

minha mãe tinha muitos filhos (11 contando comigo) ela me deu pra sua irmã cuidar.

Qual o lugar de origem?

R: Isla de Arosa – Pontevedra – Galícia - Espanha

Qual a profissão de seu pai na Espanha?

R: Carpinteiro.

Qual o ano e o local da chegada?

R: Abril de 1954 no Rio de Janeiro.

Qual foi o motivo da vinda?

R: Então, alguns anos depois de eu ser adotada, como o trabalho era escasso devido

as dificuldades de surgidas com a Guerra Civil, e havia muito incentivo à imigração, eles

acabaram me trazendo para cá. Um primo do meu pai adotivo pagou a passagem e ele

veio para trabalhar. Após um ano e meio viemos minha mãe e eu. Moramos no

Page 38: Imigração Espanhola (Galegos) em Santos

38

Riachuelo, depois em Olaria. Meu pai, como era carpinteiro, trabalhou Ciferal

construindo portas e janelas de ônibus.

Sua profissão?

R: Sempre fiquei em casa cuidando da casa e dos filhos.

O que o motivou a morar em Santos?

R: Tínhamos casa de temporada aqui e depois que meu marido se aposentou e o

nosso sonho era morar perto do mar, que é uma coisa que tínhamos na Espanha, pois

vivíamos em uma ilha. Viemos morar aqui.

Quanto tempo mora em Santos?

R: 10 anos

Qual o bairro de preferência?

R: José Menino, onde moro.

Por quê o bairro?

R: Pela proximidade com São Vicente.

Participa de alguma manifestação cultural? (música, trajes, comidas, bebidas, tv, festas)

R: Sim, as músicas que gosto de ouvir são as do Júlio Iglesias e Juan Pardo que canta

muitas músicas de saudades da galícia. TV gosto da digital por estar mais próxima a

minha terra, inclusive já vi uma irmã e uma prima pela TV. Fiz parte do grupo folclórico

de dança galega por muitos anos, tenho o traje típico até hoje.

As comidas espanholas aprendi com meus pais e faço até hoje, empanadas, pulpo

(polvo), cozido, callos (espécie de ensopado com grão-de-bico), paella, etc.

Bom, as bebidas, meus pais bebiam vinho todos os fins de semana e eu vivi e tenho

esse costume.

As festas espanholas eu gosto daquelas com bailes e apresentações de danças.

Que time a senhora torce?

R: No Rio, Flamengo, em São Paulo, Corinthians.

Já voltou alguma vez a Espanha?

R: Sim, em 1990, 2004 e pretendo ir em 2008.