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RELATRIO FINAL DE PESQUISA

A LEI DE CRIMES HEDIONDOS COMO INSTRUMENTO DE POLTICA CRIMINAL

So Paulo julho/2005

RELATRIO FINAL DE PESQUISA

A LEI DE CRIMES HEDIONDOS COMO INSTRUMENTO DE POLTICA CRIMINAL

APOIO:

EQUIPE

Coordenao GeralIsabel Figueiredo

Superviso TcnicaGuaracy Mingardi

PesquisadoresEdson Luz Knippel Laura Davis Mattar Liana de Paula

EstagiriosAdriana Rezende Faria Taets Manuel Bonduki Sofia Amaral

ColaboraoAlessandra Teixeira Juliana Benedetti Karyna Sposato Llian Ronishi Mait Figueiredo

Conselho Superior de Direo

Joo Benedicto de Azevedo Marques (Presidente) Alberto Silva Franco Antonio Carlos Mathias Coltro Cludia Maria de Freitas Chagas Davi Tangerino Dora Cavalcanti Elias Carranza Fernando Salla Flvia Rahal Igncio Cano Jos Vicente Tavares Mara Machado Maria Tereza Rocha de Assis Moura Oscar Vilhena Vieira Paulo Afonso Garrido de Paula Paulo Queiroz Theodomiro Dias Neto Vera Malaguti Batista

Diretoria ExecutivaKaryna Sposato

Diretoria CientficaGuaracy Mingardi

SUMRIOAPRESENTAO INTRODUO .............................................................................. 1. CONSIDERAES SOBRE O USO DE ESTATSTICAS EM JUSTIA CRIMINAL ..... 2. AVALIAO DO IMPACTO DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS NOS NDICES DE CRIMINALIDADE ........................................................................ 2.1. FONTES E DADOS OBTIDOS ..................................................... 2.1.1. Estatsticas do Rio de Janeiro ........................................... 2.1.2. Estatsticas de So Paulo ................................................. 2.1.3. Estatsticas do Rio Grande do Sul ....................................... 2.2. OBSERVAES METODOLGICAS .............................................. 2.3. APRESENTAO E ANLISE DOS GRFICOS CONSTRUDOS ................. 2.3.1. Anlise da evoluo da criminalidade registrada por regio ........ 2.3.1.1. Comparao entre a Capital e a Regio Metropolitana de So Paulo .......................................................................... 2.3.1.2. Comparao entre a Capital, a Regio Metropolitana e o Estado do Rio de Janeiro ................................................... 2.3.1.3. Comparao inter-regional: So Paulo e Rio de Janeiro ....... 2.3.2. Anlise da criminalidade registrada por crime ........................ 2.3.3. Anlise comparativa entre as projees e o nmero de crimes efetivamente registrados ...................................................... 3. AVALIAO DO IMPACTO DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS NO SISTEMA PENITENCIRIO ........................................................................ 3.1. A LEI DE CRIMES HEDIONDOS E AS ESTATSTICAS PRISIONAIS: POSSVEIS IMPACTOS ........................................................................... 3.1.1. Aspectos metodolgicos .................................................. 3.1.1.1. Tratamento dos dados obtidos ..................................... 01 09 16 17 19 22 25 26 27 28 29 33 38 40 43 53 54 55 59

3.1.2. Dados sobre o sistema penitencirio nacional ........................ 3.1.3. Estatsticas do sistema penitencirio paulista ........................ 3.2. APRESENTAO E ANLISE DAS ENTREVISTAS ............................... 3.2.1.Aspectos metodolgicos ................................................... 3.2.2. Perfil dos entrevistados ................................................... 3.2.3. Execuo Penal ............................................................ 3.2.3.1. Comportamento prisional e expectativa de obteno de benefcios ..................................................................... 3.2.3.2. Fortalecimento das faces ........................................ 3.2.4. Reflexos da Lei de Crimes Hediondos .................................. 3.2.5. Outras observaes sobre as entrevistas ............................... CONCLUSO ............................................................................... REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................... ANEXOS

61 68 72 73 79 82 83 91 94 98 100 104

APRESENTAO

O Instituto Latino Americano das Naes Unidas para Preveno do Delito e Tratamento do Delinqente ILANUD/Brasil concentra suas aes na produo de pesquisas, anlises e mecanismos de avaliao sobre o sistema de Justia Criminal brasileiro, com o intuito de contribuir para uma bem sucedida implementao de programas de preveno ao crime e respeito aos direitos humanos. Para tanto, tem como parmetro as diretrizes e recomendaes das Naes Unidas para Preveno ao Crime, Justia Criminal e Direitos Humanos, e busca envolver e co-responsabilizar os governos locais e a sociedade na busca de solues e na formulao de polticas pblicas. O relatrio final de pesquisa ora apresentado traduz o resultado do trabalho realizado pela equipe do Instituto, a pedido do Ministrio da Justia, na avaliao dos impactos gerados pela Lei n 8072/90, conhecida como Lei de Crimes Hediondos, nos ndices oficiais de criminalidade e no sistema prisional e, conseqentemente, na aferio de sua eficcia enquanto instrumento de poltica criminal.

INTRODUO

As discusses a respeito da Lei de Crimes Hediondos, sob os mais variados aspectos, no constituem novidade no Pas. De fato, desde sua promulgao, em 1990, a Lei tornou-se objeto de intensas polmicas e debates doutrinrios que versavam e versam, essencialmente, acerca da constitucionalidade de determinadas medidas por ela institudas 1 , e da convenincia e adequao de seu contedo construo de uma poltica criminal eficiente. Do ponto de vista terico, muito se escreveu a respeito e encontramos uma srie de argumentos tanto favorveis quanto contrrios Lei. Do ponto de vista jurisprudencial, aumentam as divergncias acerca da constitucionalidade de determinados aspectos da norma e ganha vulto a hiptese de que o Supremo venha a consider-la inconstitucional, por via difusa, no julgamento do Habeas Corpus n 82959 2 .

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Como exemplo de polmica sobre a constitucionalidade da Lei, podemos citar a vedao progresso de regime no cumprimento da pena.

Por se tratar de controle difuso de constitucionalidade, ainda que o vcio seja reconhecido pelo STF a eficcia da deciso opera apenas inter partes e no tem o condo de vincular juridicamente as decises sobre o mesmo tema que venham a ser tomadas pelos demais rgos do Poder Judicirio. Porm, o eventual reconhecimento da inconstitucionalidade neste caso certamente dar origem a um paradigma poltico que influenciar o posicionamento subseqente dos demais rgos do Poder Judicirio.

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Os principais argumentos contrrios Lei sustentam-se no apenas em aspectos tericos como tambm em aspectos prticos. No primeiro sentido, sustentase que a Lei se apresenta em flagrante descompasso com uma orientao polticocriminal tida como democrtica, baseada na adoo de medidas que reforam os aspectos preventivos e ressocializadores da pena 3 . Essa mudana de rumos na orientao da poltica criminal brasileira se deveria essencialmente necessidade de resposta por parte do Poder Pblico presso popular exercida em momentos de ocorrncia de crimes de grande repercusso social. Do ponto de vista prtico, a percepo generalizada dos estudiosos do Direito Penal e dos operadores e especialistas em Segurana Pblica se d no sentido de que a Lei no produziu efeitos concretos na reduo ou estabilizao da criminalidade. Diante desses principais argumentos opostos Lei, cabem aqui, a fim j de adentrarmos o terreno especfico do nosso trabalho, algumas consideraes a respeito da finalidade da pesquisa realizada. O trabalho consistiu em uma tentativa de avaliar a eficcia 4 da mencionada Lei, ou seja, de aferir quais os efeitos decorrentes de sua adoo. Nesse sentido, do ponto de vista metodolgico, cumpre esclarecer quais os efeitos almejados quando

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Podemos citar como exemplo de medidas focadas na preveno e na ressocializao a reforma da Parte Geral do Cdigo Penal e a adoo de um sistema de penas alternativas priso.

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A eficcia de uma norma pode ser abordada essencialmente sob dois prismas: o jurdico e o social. Do ponto de vista jurdico, a norma eficaz se exigvel e aplicvel, ou seja, se consegue produzir efeitos jurdicos. Do ponto de vista social, a norma eficaz se consegue alterar comportamentos.

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da sua confeco. Para tanto, temos como ponto de partida no apenas o projeto que a originou, mas tambm as discusses desenvolvidas pelo Parlamento durante sua confeco. Poderamos resumir a histria da Lei de Crimes Hediondos da seguinte maneira: aps a promulgao da Constituio Federal em outubro de 1988 e diante da necessidade de regulamentao do inciso XLIII de seu artigo 5, foi apresentada Cmara dos Deputados, no transcorrer do ano de 1989 5 , uma srie composta por pelo menos 10 projetos de lei acerca do tema 6 . Dentre esses projetos teve especial importncia o projeto n 3734/89, de autoria do Poder Executivo e confeccionado pelo Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria, que determinava os tipos penais que seriam considerados hediondos e o aumento no rigor da execuo da pena dessas condutas. Os projetos da Cmara estavam em regular tramitao quando, em maio de 1990, foi apresentado no Senado Federal o projeto de lei n 50/90, que estabelecia disposies penais e processuais penais atinentes prtica de seqestro e extorso mediante seqestro. Em junho do mesmo ano, o projeto, que tramitava em regime de urgncia 7 , foi aprovado pelo Senado e encaminhado Cmara, que elaborou um

Corrobora o argumento referente presso social exercida em momentos seguintes crimes de grande repercusso o caso do seqestro do empresrio Ablio Diniz, passado no 2 semestre de 1989. Projetos n 2105/89, 2154/89, 2529/89, 2334/89, 3734/89, 3874/89, 4252/89, 5270/89, 5281/89 e 5375/89.7 6

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A aprovao do projeto pelo Senado se deu em apenas 34 dias, contados da data de apresentao do projeto. Durante esse perodo, ocorreu o seqestro de outro famoso empresrio brasileiro, que permaneceu 40 dias em cativeiro. Esse caso foi incessantemente comentado pela mdia e

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substitutivo englobando os projetos que j tramitavam na Casa 8 e aprovou o texto em seguida 9 . O substitutivo voltou ao Senado, onde tambm foi aceito, e foi promulgado pelo Presidente da Repblica em 25 de julho10 . A celeridade que caracterizou a tramitao do projeto no Congresso no foi, porm, acompanhada da necessria segurana dos parlamentares quanto matria nos momentos de votao. A simples leitura das discusses empreendidas sobre o tema, principalmente na Cmara, possibilita a percepo do desconhecimento, das incertezas e da sensao de inocuidade da lei manifestada por alguns parlamentares. A propsito, a ttulo meramente exemplificativo, cabe o resgate das seguintes manifestaes 11 :Sr. Presidente, parece-me que seria melhor se tivssemos possibilidade de ler o substitutivo. Estamos votando uma proposio da qual tomo conhecimento atravs de uma leitura dinmica. Estou sendo consciente. Pelo menos gostaria de tomar conhecimento da matria.(...) quero que me dem, pelo menos, um avulso, para que possa saber o que vamos votar. Deputado rico Pegoraro (PFL)

essencialmente a ele que se costuma creditar a rapidez e a emotividade que pautaram a confeco da Lei de Crimes Hediondos. O requerimento de urgncia na tramitao do projeto foi apresentado exatamente uma semana este caso.8

A ampliao do objeto original do projeto sustentou-se na idia de que, ao agravar apenas o crime de seqestro, o Congresso estaria adotando medida de proteo apenas da camada mais rica da populao. Esse argumento, junto a detectada existncia de um clamor nacional com relao ao latrocnio e o enfoque relaxado dado pelo Cdigo Penal ao estupro com leso corporal ou seguido de morte, sustentou, de acordo com o Deputado Roberto Jefferson, relator do projeto, a ampliao do seu objeto. A elaborao do substitutivo, sua discusso e aprovao na Cmara se deram entre os dias 27 (data da entrada do projeto na Casa) e 28 de junho (data da votao). Aprovao no Senado no dia 10 de julho e promulgao em 25 de julho. Dirio do Congresso Nacional. Edies de 29/06/1990 e 11/07/1990.

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(...) Por uma questo de conscincia, fico um pouco preocupado em dar meu voto a uma legislao que no pude examinar. (...) Tenho todo o interesse em votar a proposio, mas no quero faze-lo sob a ameaa de, hoje noite, na TV Globo, ser acusado de estar a favor do seqestro. Isso certamente acontecer se eu pedir adiamento da votao. Deputado Plnio de Arruda Sampaio (PT) (...) eu gostaria apenas, em nome do PSDB e principalmente em meu nome, de declarar que mais uma vez, infelizmente, estaremos votando aqui, neste instante, matria da maior importncia sem termos tido a oportunidade de um exame completo dos seus efeitos (...) Agora, posteriormente, com mais tempo, quando retornarmos aos trabalhos normais, em agosto, entendo que o Senado deveria reexaminar essa matria, para ver se deveramos fazer ou no alguma modificao nessa legislao Senador Jutahy Magalhes (PSDB) 12 (...) eu estou com graves dvidas sobre a parte tcnica desta matria. Pergunto a V. Ex, Sr. Presidente, no pode haver uma pausa, pelo menos de cinco minutos, para examinarmos isso? Porque, do contrrio, vou me negar a votar. Senador Cid Sabia de Carvalho (PMDB) (...) quero que conste dos Anais da Casa que considero um mau trabalho, que considero isso que acabamos de aprovar uma m soluo, principalmente sob o aspecto do Direito Penal Brasileiro e do Direito processual penal. So emendas que aqui ocorrem e que vo alterar a legislao nacional, quer no processo penal, quer no Direito Penal, com

O tema voltou pauta do Congresso em 1993, por meio do projeto de lei do Poder Executivo. O projeto originou a lei n 8930/94 que incluiu o homicdio qualificado dentre os crimes hediondos. O texto foi encaminhado Cmara em setembro e aprovado pelo Senado em agosto de 1994. As discusses a respeito, desta vez, foram mais qualificadas, principalmente na Cmara. O carter emotivo da alterao, porm, fica patente em diversas menes parlamentares persistncia e obstinao de Glria Perez, novelista e me de uma atriz brutalmente assassinada. Segundo o voto do ento Senador Maurcio Corra, graas ao seu trabalho foi possvel chegar-se a esse resultado (a alterao da Lei).

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muita emotividade que, de certo modo, prejudica os princpios mais srios, os princpios mais gerais do Direito. - idem

Apesar das incertezas demonstradas pelos prprios parlamentares, que confirmaram em seus discursos o aspecto emotivo e precipitado da Lei, seus objetivos esto bastante claros na justificativa do projeto: o aumento da pena

destina-se, como bvio, a desestimular os eventuais criminosos.Nos discursos favorveis aprovao da Lei, proferidos nos pareceres e nas discusses em plenrio, podem ser identificados dois posicionamentos: um que prev sua eficcia na reduo da criminalidade por meio de seu carter intimidatrio e outro no to claro, que trabalha apenas com a necessidade da exasperao das penas e de maior rigor do Direito Penal como um fim em si mesmo. A possvel inocuidade da Lei tambm foi objeto de considerao de parlamentares em plenrio e ainda sustentada por especialistas na rea. Diante desse histrico e da nossa legislao penal e processual penal, surgem dvidas a respeito da efetiva existncia de uma poltica criminal teoricamente consistente no Pas. Conforme ensina Fbio Konder Comparato, uma poltica pblica se traduz em um programa de ao composto por normas e atos unificados pela sua finalidade.

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Assim, no constituem uma poltica pblica atos isolados, executados por autoridades distintas, sem que haja uma pr-definio de objetivos comuns 13 . A eficcia na implantao de polticas pblicas est condicionada a uma srie de fatores, pertinentes tanto a aes desenvolvidas durante sua formulao quanto aps sua implementao. Nesse sentido, as mais modernas linhas de trabalho em administrao pblica trabalham com a idia de que a criao e implantao de uma poltica pblica deveriam passar, pelo menos, pelas seguintes fases: planejamento, implementao, monitoramento e avaliao. Com o desenvolvimento desse roteiro estaramos diante de uma poltica pblica formulada para sanar um problema especificamente delimitado e identificado, continuamente monitorada e que estaria sujeita, periodicamente, anlise de resultados. Em relao poltica criminal brasileira nos deparamos, conforme

mencionado, com uma srie de medidas orientadas por concepes tericas contraditrias, adotadas sem um planejamento efetivo e com monitoramento quando existente descontnuo. Isso nos impede de dar a esse conjunto de medidas o nome de poltica criminal, uma vez que no possvel identificar uma finalidade comum que o oriente e lhe confira unidade.

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Ensaio sobre o juzo de constitucionalidade de polticas pblicas, passim.

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Especificamente com relao Lei de Crimes Hediondos, nos deparamos, conforme explicitado, com uma medida elaborada e alterada em decorrncia de apelos emocionais. No foi produzido nenhum estudo mais profundo sobre as conseqncias esperadas da adoo da Lei e sobre os reflexos negativos que eventualmente isso pudesse ocasionar. Nesse contexto, optamos por desenvolver esse trabalho com base em dois enfoques complementares: a verificao da eficcia da Lei no controle da criminalidade e do seu impacto no sistema prisional. Os dois prismas foram escolhidos por razes relacionadas, porm distintas: o primeiro como meio de avaliar o alcance do propsito intimidatrio da Lei e o segundo buscando aferir problemas eventualmente causados por ela talvez aqueles que, nos dizeres dos prprios parlamentares, no foram suficientemente considerados durante o processo legislativo.

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1. CONSIDERAES SOBRE O USO DE ESTATSTICAS EM JUSTIA CRIMINAL 14

Conforme veremos nos captulos seguintes, o desenvolvimento desse trabalho foi baseado no uso de metodologias distintas, mas houve certa preponderncia da anlise quantitativa de dados, tanto no que se refere abordagem da Lei enquanto elemento inibidor da criminalidade quanto nos seus reflexos no sistema penitencirio. Podemos afirmar, portanto, que as estatsticas constituram nossa principal ferramenta de trabalho, o que torna necessrias algumas observaes pertinentes: validade do uso de estatsticas na avaliao de polticas pblicas ou programas sociais 15 e s limitaes inerentes ao uso dessa ferramenta. Embora no seja nosso propsito especfico o desenvolvimento terico a respeito da produo de estatsticas pertinentes aos fenmenos sociais, podemos afirmar, sinteticamente, que ela tem como uma de suas funes essenciais possibilitar a identificao de padres e regularidades necessrios ao planejamento

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As instituies de Justia Criminal compreendem no apenas o Poder Judicirio, mas tambm as polcias, a administrao penitenciria e o Ministrio Pblico.

Embora j tenhamos concludo que a Lei de Crimes Hediondos no pode ser considerada em si uma poltica pblica e que sua edio no tenha sido acompanhada de outras medidas nesse sentido, seus impactos, enquanto fator determinante de mudanas de comportamentos sociais (eficcia social), podem ser aferidos pelo uso de estatsticas. A validade do uso das estatsticas ser retomada captulos posteriormente.

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das aes estatais. Vistas sob esse prisma, as estatsticas so tomadas como elemento norteador, embora no determinante, da atuao estatal. Isso porque o delineamento dos problemas a serem resolvidos pela administrao mais apurado se feito com base em estatsticas, que devem subsidiar a formulao e orientar a implantao das polticas pblicas, potencializando a eficcia das aes

governamentais. A existncia de estatsticas tambm essencial para a fase de avaliao dos resultados da implementao de polticas pblicas, o que significa dizer que, sem dados, no temos como saber se as aes governamentais esto ou no surtindo efeitos. Considerando que qualquer interveno estatal deve ser pautada pelo planejamento, e que isso demanda a identificao dos problemas a serem resolvidos, o uso de estatsticas seria um meio de buscar alguma cientificidade nesse processo, que seria feito no com base em sensaes ou no senso-comum, mas em informaes verificveis 16 . Do ponto de vista da avaliao, temos que aferir os resultados de qualquer interveno estatal tarefa possvel com base em mtodos qualitativos que se pautem, por exemplo, na percepo da populao alvo da medida com relao existncia ou no de mudanas aps a ao estatal, e com base em mtodos

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Apesar de usarmos a expresso verificveis, temos que frisar que as estatsticas no correspondem, como veremos, a um retrato fiel da realidade, mas de uma aproximao tecnicamente vlida.

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quantitativos, que se sustentam em instrumentos confiveis de medida, ou seja, na coleta de dados e na produo de estatsticas. Foi nesse sentido, portanto, que pautamos a opo metodolgica deste trabalho no uso de estatsticas criminais e prisionais, que sero explicitadas nos captulos seguintes. Por ora, podemos esclarecer que o principal uso de estatsticas foi no acompanhamento da srie histrica de dados que apontassem algum tipo de influncia da Lei de Crimes Hediondos na incidncia dos fenmenos que abarca, bem como de suas resultantes na realidade do sistema penitencirio. Abordar os limites do uso das estatsticas como ferramenta de trabalho pressupe a verificao da sua efetiva existncia e significa tocar em temas como mtodos de produo, acessibilidade, transparncia e qualidade dos dados produzidos pelas instituies de Justia Criminal. A partir da, podemos elencar como principais limites/problemas no uso de estatsticas os que se seguem: Inexistncia de sries histricas de estatsticas criminais e prisionais que possibilitem o estudo da evoluo dos fenmenos; e Diferenas regionais e institucionais nos critrios de classificao. Esses limites/problemas encontrados devem ser compreendidos levando-se em conta que o Brasil ainda no tem uma cultura institucional de produo de dados, que as estatsticas no correspondem totalidade de eventos e que elas so

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produzidas e registradas por seres humanos e, portanto, sujeitas a erros. Especificamente a respeito da construo de indicadores oficiais de criminalidade intenso o debate de acadmicos e operadores do sistema. Com base nessas discusses e nos problemas encontrados durante a execuo deste trabalho, percebemos que, embora o uso de dados estatsticos de criminalidade seja vlido enquanto mtodo de verificao da eficcia da Lei de Crimes Hediondos, ele deve ser feito levando-se em conta que: As estatsticas criminais tm como fonte principal o boletim de ocorrncia. Isso traz como conseqncia imediata a classificao do crime a partir do primeiro relato feito na delegacia, hiptese que nem sempre vai se confirmar no transcorrer do inqurito ou da ao penal. No bastasse a diferenciao de critrios encontrados entre a polcia e as demais instituies do sistema de Justia Criminal, encontramos ainda diferenas procedimentais a respeito nos diversos Estados brasileiros. Vale aqui exemplificar com o caso do Rio de Janeiro um dos Estados estudados nesse trabalho que, a partir do incio da dcada de 2000 passou a atualizar suas estatsticas, de acordo com o desfecho do inqurito policial. Essa atualizao no ocorre em So Paulo, por exemplo outro Estado estudado nesse trabalho. Existem estatsticas referentes a vtimas e estatsticas referentes a casos. As estatsticas de homicdio em So Paulo construdas pela Secretaria de Segurana Pblica, por exemplo, at recentemente diziam respeito a casos e 12

no a vtimas, o que possibilitava que um quntuplo homicdio fosse registrado como um evento para fins estatsticos. Na cidade de So Paulo, os registros da polcia eram, em mdia, cerca de 15% menores do que os dados do sistema de sade, que sempre contou corpos e no casos. Ao longo do tempo, a polcia, de acordo com suas necessidades especficas, cria determinadas categorias de classificao, suprime outras e altera seus critrios de construo de estatsticas. Em So Paulo, por exemplo, o chamado seqestro relmpago, que antes era classificado como roubo, passou, em meados de 2004, a ser considerado seqestro. O mesmo Estado apresenta a diviso entre roubo e roubo de veculos e entre furto e furto de veculos e podemos afirmar que, se continuar aumentando o nmero de roubos em condomnios, essa passar a ser uma categoria autnoma dentro em breve. No mesmo sentido, temos Estados que contam os roubos em coletivos. Muitos dos tipos que estatisticamente constam da genrica tipologia outros crimes passam a ser autnomos conforme o aumento de sua incidncia. Do ponto de vista especfico da Lei de Crimes Hediondos, temos ainda que considerar: A reconhecida sub-notificao dos casos de seqestro e dos crimes sexuais que se deve, no primeiro caso, ao medo das ameaas feitas pelos autores em relao integridade fsica e vida da vtima e, no segundo, vergonha que 13

ainda permite, por exemplo, que muitas mulheres no denunciem seus agressores. A absoluta falibilidade das estatsticas referentes ao trfico. Os dados de trfico so sempre inverossmeis na medida em que, por se tratar de crime sem vtima, refletem mais a atuao e o empenho da polcia do que a ocorrncia real da conduta. Os homicdios registrados pela polcia diferenciam-se, no mximo, entre dolosos e culposos. O reconhecimento das circunstncias qualificadoras que permitem a incidncia da Lei de Crimes Hediondos se d apenas na fase judicial. Do ponto de vista do sistema penitencirio, os limites no se apresentam de forma menos importante e os principais problemas detectados foram: Registro incompleto dos tipos que levaram condenao. comum encontrarmos pessoas sentenciadas por diversos tipos penais, mas

geralmente s o mais importante deles de acordo com o critrio discricionrio do digitador registrado para fins de produo de estatsticas prisionais. Ausncia de estatsticas que possibilitem aferir o tempo mdio de permanncia dos sentenciados no sistema prisional. Ausncia de dados pertinentes re-insero dos presos no sistema prisional.

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Geralmente so produzidos dados sobre reincidncia jurdica, mas no existem dados sobre sentenciados que saram e retornaram ao sistema prisional (seja por fuga ou em razo de nova prtica delituosa). Todas essas limitaes apontadas, porm, no invalidam a utilizao das estatsticas como ferramenta principal de trabalho, uma vez que so os nicos dados existentes e que uma medio que prescindisse dessas falhas dependeria da reorganizao dos sistemas de estatsticas estaduais, o que extremamente necessrio, porm ainda distante. Por isso no h que se negar a cientificidade da anlise dos dados de que dispomos, mas sim afirm-la mediante essas ressalvas.

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2. AVALIAO DO IMPACTO DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS NOS NDICES DE CRIMINALIDADE

Dentro do contexto geral do projeto, uma das atividades desenvolvidas foi a aferio do impacto da Lei de Crimes Hediondos nos ndices oficiais de criminalidade. Esse propsito sustentou-se na principal motivao da criao da categoria crimes hediondos: a idia de que o endurecimento penal inibiria a prtica criminosa. O alcance desse objetivo seria verificado, do ponto de vista estatstico, se nos deparssemos com uma das seguintes situaes: estabilizao ou reduo dos ndices de criminalidade. Buscando alcanar tal propsito, nos propusemos a realizar as seguintes atividades: Verificar o comportamento estatstico dos crimes taxados como hediondos antes e depois da promulgao da lei; e Aferir se o comportamento estatstico dos crimes hediondos foi ou no compatvel com tendncias projetadas antes da edio da Lei. Essas atividades foram realizadas a partir do levantamento e da anlise dos dados estatsticos de cinco dos crimes abrangidos pela lei (extorso mediante seqestro, latrocnio, estupro, atentado violento ao pudor e trfico ilcito de 16

entorpecentes e drogas afins), no perodo compreendido entre 1984 e 2003. Tambm foram analisados os dados sobre homicdio, muito embora no tenhamos a representatividade dos considerados qualificados pelas razes j expostas. A limitao temporal sustenta-se medida que permite comparar a incidncia das prticas criminais mencionadas no perodo que antecedeu a edio da Lei com o perodo posterior sua promulgao. Desta forma, nos propusemos a trabalhar com uma srie histrica que cobre 20 anos, o que permitiu uma boa avaliao das tendncias criminais no perodo. Diante da inexistncia de sries histricas nacionais, e da impossibilidade ftica de buscarmos dados em cada uma das 27 unidades federativas, optamos por trabalhar com dados de trs delas Rio de Janeiro, So Paulo e Rio Grande do Sul que so algumas das que produzem estatsticas h mais tempo e com maior grau de confiabilidade. No desenvolvimento do trabalho, porm, constatamos que no existem dados suficientes no Rio Grande do Sul, conforme veremos adiante.

2.1. FONTES E DADOS OBTIDOS

Conforme j mencionamos, o desenvolvimento de uma cultura da produo de dados estatsticos no Brasil pode ser considerado recente. Em virtude deste fato, nos deparamos com dificuldades na obteno de sries estatsticas sistematizadas e completas, o que tornou necessria a utilizao de diversas fontes de dados. Em 17

nenhum dos Estados trabalhados foi possvel localizar uma fonte oficial nica que compreendesse os dados de todo o perodo a ser analisado. Por outro lado, parte das fontes encontradas dispunha de informaes discrepantes, o que pode ser resultado de diferentes critrios de coleta de dados. Ainda assim, possvel assegurar um patamar mnimo de confiabilidade dos dados, seja por intermdio da utilizao de fontes fidedignas, tais como rgos oficiais e ncleos acadmicos de pesquisa, seja por meio da comparao e descrio crtica das diversas fontes. Feitas essas consideraes preliminares, apresentamos, a seguir, referncias s fontes e suas limitaes, bem como tabelas dos dados j coletados 17 , por Estado. Cumpre lembrar, outrossim, que a fim de desenvolvermos a metodologia que ser explicitada no captulo seguinte, buscamos coletar dados sobre os seguintes tipos penais, pertinentes ao perodo compreendido entre 1984 e 2003: estupro atentado violento ao pudor homicdio seqestro

Nos casos em que foi possvel obter todos os dados, as tabelas a seguir apresentadas foram construdas arbitrariamente com base apenas nos anos pares. As tabelas completas encontram-se anexadas ao final do trabalho. Todos os grficos a seguir apresentados foram construdos com a considerao de todos os anos.

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latrocnio trfico total de crimes contra a pessoa total de crimes contra o patrimnio total de crimes contra os costumes

2.1.1. Estatsticas do Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, o dados que esto sendo utilizados foram levantados nas seguintes fontes: - Assistncia de Estatstica da Polcia Civil (ASPLAN/PCERJ) que nos forneceu uma srie histrica de estatsticas de latrocnio, estupro e homicdio doloso desde 1984, de trfico e atentado violento ao pudor desde 1991 e de seqestro a partir de 1999. Alm de alguns dados s estarem disponveis h pouco tempo, a fonte no dispe de dados sobre o total de crimes por natureza. - Ncleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violncia Urbana (NECVU), da Universidade Federal do Rio de Janeiro que produziu uma srie histrica de estatsticas criminais do Estado, Capital e Regio Metropolitana entre 1950 e 2001, da qual constam informaes sobre seqestro, latrocnio, atentado 19

violento ao pudor, estupro e trfico. Embora existam, nessa fonte, dados sobre todos os tipos pesquisados, a srie termina em 2001 (faltando, portanto, os dados de 2002 e 2003) e, com relao a trs deles (seqestro, atentado violento ao pudor e trfico) inexistem dados anteriores a 1991. Alm disso, tambm no existem dados sobre o total de crimes por natureza. - Centro de Estudos de Segurana e Cidadania (CESEC), da Universidade Cndido Mendes que produziu uma srie histrica de dados criminais no Estado entre 1991 e 2003, na qual conseguimos informaes sobre os seguintes tipos: seqestro, latrocnio e estupro, abrangendo o Estado e a Capital. - Instituto de Segurana Pblica (ISP NuPESP) - que produziu uma srie de dados criminais referentes ao Estado a partir do ano de 1991 at 2003, relativa ao total de crimes contra a Pessoa, os Costumes e o Patrimnio, alm de contar com dados referentes s incidncias criminais de atentado violento ao pudor, extorso mediante seqestro e trfico de entorpecentes. Esses dados diferem pouco em relao aos j obtidos por outras fontes, seguindo a mesma evoluo, o que possibilitou o uso com segurana dos dados relativos aos totais dos crimes por natureza. As fontes se complementam, mas deixam algumas lacunas (ausncia de dados de seqestro, trfico e atentado violento ao pudor, anteriores a 1991) e, em alguns casos, apesar de utilizarem os dados oficiais do Estado como fonte primria, 20

apresentam nmeros diferentes (como, por exemplo, nos homicdios dolosos, que chegam a ter diferena de quase mil casos em um mesmo ano). No obstante essas observaes, a complementaridade das fontes e a localizao exata de suas limitaes (lacunas e discrepncias) permitiu uma construo razovel de produtos para anlise.

Tabela 1 Estatsticas Criminais no Estado do Rio de Janeiro 1984/200284 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Total Pessoa Total Costumes Total Patrimnio 1219 * 187 * * 4.105 * * * 86 1.380 * 129 * * 4.996 * * * 88 1.204 * 157 * * 6.023 * * * 90 1.108 * 195 * * 7.858 * * 92 993 590 288 124 641 7.635 48.034 993 94 961 612 223 90 625 8.408 45.871 961 96 1.062 753 166 65 2.957 7.259 50.457 1.062 98 1.493 901 130 18 4.129 5.741 63.967 1.174 00 1.335 1.344 197 8 3.070 6.360 75.707 1.298 02 1.198 1.646 201 25 3.448 6.994 84.248 1.192

* 134.818 123.449 107.585 138.834 171.600 221.978

Fontes dos dados: PCERJ e NECVU/UFRJ * Dados no disponveis

21

Tabela 2 Estatsticas Criminais no Municpio do Rio de Janeiro 1984/200284 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio 591 * 99 * * 1.663 86 568 * 73 * * 1.922 88 522 * 85 * * 2.463 90 451 * 86 * * 3.055 92 317 184 154 159 372 3.547 94 295 181 111 129 321 4.081 96 331 241 75 46 2.043 3.081 98 715 298 52 12 2.895 2.134 00 453 513 97 4 1.720 2.761 02 362 557 94 6 1.622 2.747

Fontes dos dados: PCERJ e NECVU/UFRJ * Dados no disponveis

Tabela 3 Estatsticas Criminais na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro 1984/200284 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio 441 * 65 * * 1.909 86 580 * 40 * * 2.402 88 420 * 41 * * 2.838 90 345 * 82 * * 3.648 92 355 228 82 260 113 3.022 94 317 237 80 219 136 3.185 96 325 234 60 102 519 3.123 98 339 292 56 14 682 2.661 00 555 513 76 3 867 2.566 02 477 651 67 15 1.074 3.094

Fontes dos dados: PCERJ e NECVU/UFRJ * Dados no disponveis

2.1.2. Estatsticas de So Paulo

Em So Paulo, foram utilizados os dados da Secretaria de Segurana Pblica (SSP) e da Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados e Estatstica (SEADE). Essas fontes tambm apresentam algumas diferenas e lacunas, e seu cotejamento 22

permitiu a construo de uma srie histrica completa em relao Capital e Regio Metropolitana, porm isso no foi possvel em relao aos dados do Estado. As sries histricas completas referentes Capital e Regio Metropolitana foram construdas com dados da Fundao SEADE, que cobrem o perodo de 1984 a 2002, e da SSP com relao ao ano de 2003. A Secretaria, apesar de possuir dados referentes a todas as regies que pretendemos analisar (Estado, Capital e Regio Metropolitana), s os tem a partir de meados de 1995 e no existem informaes sobre atentado violento ao pudor.

Tabela 4 Estatsticas Criminais no Estado de So Paulo 1996/200396 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Roubo Total Patrimnio Total Pessoa Total Costumes 524 12 7467 10447 123448 674032 361217 14421 4084 97 3811 3871 541 142 7413 10545 152237 754869 451169 15187 98 3977 4091 545 188 8270 11752 189408 888327 479506 15542 99 4048 4327 722 220 9057 12877 218787 00 3952 4328 724 291 8749 12760 215818 01 3858 4392 653 431 9422 12595 220141 02 3883 5043 527 434 11322 11954 223971 03 3978 * 540 118 13935 10953 248406

993028 1007405 1039185 1049703 1150396 515767 15388 522831 14966 527914 14965 550814 15624 574639 15595

Fontes dos dados: SEADE e SSP/SP * Dados no disponveis

23

Tabela 5 Estatsticas Criminais na Regio Metropolitana de So Paulo 1984/200284 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Roubo Total Patrimnio Total Pessoa Total Costumes579 216 111 12 245 1190 17995 71463 41889 2101

86760 288 90 12 321 1534 17352 73338 55577 2584

88622 287 87 27 463 1630 17652 75504 52530 2258

90678 399 119 17 334 2294 22255 84542 58140 2368

92749 554 129 22 395 1911 22388 91049 65504 2692

94899 692 90 28 453 2693 27475 102458 70975 2956

96830 607 149 27 748 3132 36726 104385 63394 2563

98912 677 120 51 889 3411 60577 144213 75732 2513

00934 735 169 59 846 3017 79987 177031 81338 2601

02864 870 110 144 1256 3478 70185 179006 85072 2687

Fontes dos dados: SEADE e SSP/SP

Tabela 6 Estatsticas Criminais no Municpio de So Paulo 1984/200284 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Roubo Total Patrimnio Total Pessoa Total Costumes 918 395 295 24 606 2369 61220 86 1264 525 176 83 667 2576 46219 88 1195 655 186 51 726 2772 50700 90 1174 805 323 74 633 3345 60402 92 1087 842 305 50 1064 2838 64559 94 1144 939 246 42 1111 3959 75858 96 968 771 241 34 1279 4710 98 1070 833 260 60 1725 4801 00 1149 884 310 35 2209 5320 02 1219 1153 196 184 2882 4697

95556 138021 168781 164137

226837 188759 204750 228106 241568 274155 266508 338111 337640 386265 85136 3368 93228 3874 89060 3749 95194 3726 96765 108780 3494 3499 78587 2846 91973 3102 96230 2986 98849 3258

Fontes dos dados: SEADE e SSP/SP

24

2.1.3. Estatsticas do Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul esto sendo utilizados dados do DATASEG da Secretaria da Justia e da Segurana, que contm informaes referentes ao Estado apenas a partir de 1997, e referentes Capital a partir de 2000. Os dados coletados a partir desta fonte referem-se a todos os crimes selecionados, alm de conterem informaes sobre o total de crimes por natureza. No entanto, como j foi dito, as informaes tm incio a partir de 1997, o que impossibilita a anlise sobre a evoluo da criminalidade neste Estado 18 .

Tabela 7 Estatsticas Criminais no Estado do Rio Grande do Sul 1997/200397 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Total Patrimnio Total Pessoa Total Costumes 882 1500 1322 748 45 98 1507 653 27 1 993 1171 99 1567 834 33 3 1215 1024 00 1572 1003 36 2 1348 1216 01 1544 1125 45 8 1354 1295 02 1550 1260 50 12 1526 1592 03 1550 1552 43 15 1760 1387

199999 199485 259995 299564 315577 339003 403087 83060 3715 79811 3846 75413 4126 81287 4591 81548 4596 82353 4654 93619 4998

Fonte dos dados: DATASEG

18

Os dados foram solicitados Secretaria de Justia e Segurana do Estado, que informou no ter outros dados alm dos disponveis no DATASEG, que pode ser consultado pela internet.

25

Tabela 8 Estatsticas Criminais no Municpio de Porto Alegre 2000/200300 Estupro AVP Latrocnio Seqestro Trfico Homicdio Fonte dos dados: DATASEG 01 02 03

290 221 14 2 541285

264 276 8 4 511265

258 283 8 6 428397

263 345 7 6 541295

2.2. OBSERVAES METODOLGICAS

Conforme mencionado, alm de coletar os dados especficos de tipos enquadrados na Lei de Crimes Hediondos (latrocnio, estupro, seqestro, homicdio, trafico e atentado violento ao pudor), buscamos dados sobre os totais de crimes contra a pessoa, os costumes e o patrimnio, a fim de analisar comparativamente a evoluo dos crimes hediondos em comento em relao s demais categorias. Essas anlises, que sero apresentadas no captulo seguinte, foram desenvolvidas com base em diversos grficos construdos a partir dos dados coletados. Em um primeiro momento, foram produzidos grficos que possibilitam comparaes entre a evoluo dos diversos crimes e entre as regies analisadas. Quando possvel, foram tambm desenvolvidos estudos comparativos entre os diversos crimes e a proporo que representam dentre o total de crimes da mesma

26

natureza. Por fim e talvez o mais importante - foram desenvolvidas anlises comparativas entre as projees das incidncias criminais e os dados efetivamente registrados. Pretendeu-se com isso entender a trajetria, as tendncias e como a Lei pode ou no estar influenciando a criminalidade. Para podermos comparar a evoluo de dados de grandezas diferentes, tivemos que reduzi-los a um denominador comum. Desta forma, com exceo dos que trabalham com projees, os grficos partem do mesmo ponto, que representa 100% de cada uma das grandezas no primeiro ano avaliado. A partir dessa origem, as linhas do grfico representam a evoluo em termos percentuais de cada um dos crimes.

2.3. APRESENTAO E ANLISE DOS GRFICOS CONSTRUDOS

A apresentao dos grficos produzidos ser feita a partir de dois recortes: um que possibilita a comparao da evoluo dos crimes entre os Estados estudados e outro que possibilita o cotejamento entre as projees e o nmero efetivo de crimes registrados 19 .

Diante dos dados obtidos foi possvel a construo de dezenas de grficos. Nos deteremos, no corpo do trabalho, aos que consideramos mais significativos para o desenvolvimento da pesquisa. A srie completa de grficos no apresentados no corpo do trabalho est anexada ao final.

19

27

2.3.1. Anlise da evoluo da criminalidade registrada por regio

Analisar os ndices de criminalidade obtidos a partir do recorte regional uma opo metodolgica vlida em virtude, essencialmente, do fato de que as principais atribuies no mbito da Justia Criminal so desenvolvidas pelos Estados. Nesse sentido, conforme veremos a seguir, possvel identificar regularidades intra-regionais no comportamento dos ndices de criminalidade. A anlise realizada comparando Capital e Regio Metropolitana de So Paulo e Capital, Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro mostra que intra-regionalmente tem-se mais coincidncias de tendncias dos crimes do que na comparao entre as regies equivalentes dos dois Estados. Assim, nos grficos em que se compara a Capital de So Paulo com a sua Regio Metropolitana, por exemplo, encontram-se mais regularidades do que nos grficos comparativos da Capital de So Paulo com a Capital do Rio de Janeiro. Logo, uma anlise intra-regional mostra-se necessria para que seja possvel encontrar primeiro essas regularidades, para ento partir para comparaes entre regies.

28

2.3.1.1. Comparao entre a Capital e a Regio Metropolitana de So Paulo 20

Conforme se v nos grficos apresentados a seguir, possvel detectar, tanto na Capital quanto na Regio Metropolitana de So Paulo um constante acrscimo no nmero de registros criminais. Essa afirmao no se aplica exclusivamente ao latrocnio que, apesar de ter em determinados momentos aumento proporcional de mais de 100%, est em queda constante a partir de 2000. Os dados sobre latrocnio apresentam um

comportamento estatstico no linear, com grandes aumentos e quedas ao longo do perodo estudado.Grfico 01 Comparao percentual entre a evoluo do Latrocnio no municpio de So Paulo e na RMSP 1984 a 2003200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 03

Latrocnio no Municpio de So Paulo Latrocnio na RMSP

20

No compararemos com o total estadual posto que eles s existem a partir de meados de 1995.

29

Comparando o ponto de partida da linha evolutiva (1984) com o ltimo ano de apurao (2003), temos uma aproximao numrica das ocorrncias na Regio Metropolitana e uma queda dos ndices na Capital. No possvel, porm, creditar essa constatao transformao da conduta em crime hediondo, uma vez que, mesmo aps a edio da Lei no h um comportamento padro que aponte tendncia permanente de queda ou estabilizao das ocorrncias. Nos homicdios a percepo evolutiva bastante distinta. Observa-se um aumento praticamente constante dos homicdios durante todo o perodo, mesmo aps 1994, ano em que o crime passou a ser considerado hediondo.

Grfico 02 Comparao percentual entre os homicdios no municpio de So Paulo e RMSP 1984 a 2003350

300

250

200

Homicdios no Municpio de So Paulo Homicdios na RMSP

150

100

50

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 03 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

30

A tendncia de crescimento verificvel, tambm, nos registros de trfico, estupro e seqestro. Com relao ao estupro, o crescimento perpassado por momentos de queda, mas em todos os anos aferidos os registros esto acima do marco inicial da srie.

Grfico 03 Comparao percentual entre o estupro no municpio de So Paulo e na RMSP 1984 a 2003180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 03 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

Estupro no Municpio de So Paulo Estupro na RMSP

O crime de seqestro, hediondo desde 1990, tambm apresenta tendncia de crescimento durante o perodo analisado. Essa constatao deve vir acompanhada da idia de que, dentre todos os crimes estudados, o seqestro o que apresenta menor nmero em termos absolutos, o que provoca uma grande variao nos ndices percentuais. O crime tem decrscimo durante alguns anos logo aps a promulgao da Lei, mas tambm tem uma progresso muito acentuada entre 1999 e 2002. No ltimo ano da srie, 2003, a queda foi acentuada. 31

Grfico 04 Comparao percentual entre a incidncia do seqestro no Municpio de So Paulo e na RMSP 1984 a 2003

1400

1200

1000

800

Sequestro no Municpio de So Paulo Sequestro na RMSP

600

400

200

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 03

Quanto ao trfico, a tendncia de crescimento tambm constante, mas temos que lembrar que, nesse caso, os nmeros podem significar apenas o fortalecimento da ao policial e no o aumento real na atividade.

Grfico 05 Comparao percentual entre o trfico no municpio de So Paulo e RMSP 1984 a 2003700

600

500

400

Trfico no Municpio de So Paulo Trfico na RMSP

300

200

100

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 03

Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

32

Com relao ao atentado violento ao pudor, embora o crescimento percentual se d em patamares distintos na Capital e na Regio Metropolitana, as curvas seguem exatamente a mesma tendncia, conforme se verifica no grfico abaixo.

Grfico 06 Comparao percentual entre o AVP no Municpio de So Paulo e na RMSP 1984-2002450

400

350

300

250

AVP no Municpio de So Paulo AVP na RMSP

200

150

100

50

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02

Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

2.3.1.2. Comparao entre a Capital, a Regio Metropolitana e o Estado do Rio de Janeiro

A semelhana entre o comportamento dos diversos crimes estudados verificada tambm nos grficos a seguir, que permitem a comparao das estatsticas da Capital, da Regio Metropolitana e do Estado do Rio de Janeiro.

33

O comportamento no padro apenas nos dados sobre trfico. Nesse crime temos, aps 1998, um pequeno declnio seguido de estabilizao no Estado e na Capital e um aumento significativo na Regio Metropolitana. Esse fato, porm, no elide a constatao de um comportamento padro intra-regional, uma vez que, como j dissemos, a estatstica de trfico se relaciona no s com a ocorrncia do crime, mas tambm com a atuao policial.

Grfico 07 Comparao percentual do trfico entre o Municpio, Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1991 a 20031200

1000

800

Trfico no Municpio do RJ Trfico na RMRJ Trfico no Estado do RJ

600

400

200

0 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD

Importante frisar que, nessa comparao os grficos sobre atentado violento ao pudor, trfico e seqestro foram construdos com dados a partir de 1991, portanto posteriores promulgao da Lei. Ainda assim foram considerados relevantes medida que possibilitaram a identificao de um padro

34

comportamental intra-regional. Com relao ao atentado violento ao pudor, o que se verifica nas trs abordagens uma tendncia crescente. Com relao ao seqestro, a situao diametralmente oposta: a oscilao verificvel at 1995 d lugar a uma queda bastante significativa, seguida de estabilizao, a partir de 1997 21 .

Grfico 8 Comparao percentual do AVP entre o Municpio, Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1991 a 2003450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

AVP no Municpio do RJ AVP na RMRJ

AVP no Estado do RJ

Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD

21

A queda drstica no nmero de seqestros no Rio de Janeiro pode ser atribuda, pelo menos em parte, criao do servio disque-denuncia em 1995.

35

Grfico 9 Comparao percentual entre o seqestro no Municpio, na Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1991 a 2003160 140 120 100 80 60 40 20 0 91 -20 Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

Seqestro no Municpio do RJ Seqestro na RMRJ

Seqestro no Estado do RJ

Os demais crimes, estupro, latrocnio e homicdio, tm, nas trs abordagens, comportamento absolutamente oscilante tanto antes quanto aps a promulgao da Lei, o que no nos permite identificar algum tipo de influncia por ela exercida.

Grfico 10 Comparao percentual do Estupro entre o Municpio, a Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1984 a 2003140

120

100

Estupro no Municpio do RJ Estupro na RMRJ

80

60

40

Estupro no Estado do RJ

20

0 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD

36

Grfico 11 Comparao percentual do latrocnio entre o Municpio, a Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1984 a 2003180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

Latrocnio no Municpio do RJ Latrocnio na RMRJ

Latrocnio no Estado do RJ

Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD

Grfico 12 Comparao percentual entre os homicdios no Municpio, na Regio Metropolitana e Estado do Rio de Janeiro 1984 a 2003300

250

200

Homicdio no Municpio do RJ Homicdio na RMRJ

150

100

Homicdio no Estado do RJ50

0 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 Fonte dos Dados: PCERJ e NECVU Construo do Grfico: ILANUD

37

2.3.1.3. Comparao inter-regional: So Paulo e Rio de Janeiro

As diferenas constatadas no nos permitem apontar uma relao de causa e efeito entre a Lei de Crimes Hediondos e a incidncia criminal. Essas diferenas podem ser creditadas ao fato de que as principais atribuies na rea da Justia Criminal, principalmente em relao segurana pblica estrito senso, so conferidas aos Estados. Dessa forma, a padronizao intra-regional seria conseqncia da implementao de uma poltica de segurana uniformizada pela gesto estadual e, at certo ponto, indiferente, portanto, ao endurecimento da lei penal ou processual penal. Isso significa dizer que o determinante das quedas verificadas em alguns casos mais facilmente relacionado a outros fatores - como a intensificao do policiamento preventivo, a incrementao do aparato investigativo, a atuao do Ministrio Pblico e do Judicirio e o desenvolvimento de mecanismos informais de controle social - do que Lei de Crimes Hediondos. As diferenas perceptveis na comparao entre Rio e So Paulo podem ser demonstradas tambm com o teste de correlao, que serve para estabelecer a covarincia entre duas sries distintas, calculando o coeficiente de correlao linear. Nos trs crimes cujos ndices estavam disponveis em ambos os Estados (estupro, homicdio e latrocnio) a correlao se mostrou extremamente fraca. Os ndices neste mtodo vo de -1 a 1. Quanto mais prxima de 1 maior a 38

relao positiva entre duas variveis. Por outro lado, quanto mais prxima de -1 maior a relao inversa, ou negativa, entre as variveis. Quando o nmero prximo do zero, tanto positivo quanto negativo, porque existe forte possibilidade de que uma varivel seja independente da outra. Em outras palavras: se a correlao for 1 ou quase isso, significa que quando um ndice sobe o outro acompanha o movimento; se for -1 ou prximo a isso porque as variveis tem relao inversa, quando uma sobe outra desce. No caso em pauta o resultado foi o seguinte:

Homicdios no Municpio de SP X Homicdio no Municpio do RJ Latrocnio no Municpio do SP X Latrocnio no Municpio do RJ Estupro no Municpio do SP X Estupro no Municpio do RJ

r= 0.19 r= 0.29 r= 0.10

Conforme se v acima, os trs crimes em tela tm pouca correlao em ambos os Estados. Isso tambm significa dizer que o contexto nacional tem baixa influncia sobre cada um deles em particular 22 , o que implica que a lei pode ter impacto diferente em cada Estado, dependendo de suas peculiaridades. Por outro lado a correlao entre os homicdios e os latrocnios no Rio de Janeiro razovel, conforme se v a seguir.

Homicdio no Municpio do RJ X Latrocnio no Municpio do RJ

r= 0.52

evidente que os ndices criminais como um todo podem ter um comportamento diferente, haja visto o aumento generalizado ocorrido na ltima dcada em quase todas as unidades da Federao. Isso, porm, no invalida a constatao de que nem todos os crimes especficos esto submetidos aos mesmos condicionantes em todo o pas.

22

39

2.3.2. Anlise da criminalidade registrada por crime

Embora o propsito da Lei de Crimes Hediondos fosse essencialmente inibitrio, no causa espcie afirmar que ele s poderia ser esperado em situaes em que houvesse premeditao na prtica criminosa. O criminoso que age por impulso no mede as conseqncias de seu ato, motivo pelo qual podemos considerar que a extenso ou o regime de cumprimento da pena no so elementos determinantes para a prtica criminosa nesses casos. Partindo dessa premissa, podemos abordar os crimes taxados de hediondos primeiramente a partir de sua motivao genrica, o que nos possibilitar identificar tipos nos quais a lei poderia surtir algum efeito. Trabalharemos aqui com categorias generalizantes - razes e caractersticas gerais dos crimes que sero comentados o que obviamente no implica deixar de reconhecer a existncia de excees aos padres apontados. Dentre os crimes tidos por hediondos podemos afirmar que a premeditao elemento presente na prtica do seqestro (em todos os casos), no trfico (na maioria dos casos) e no homicdio qualificado (em parte dos casos). O seqestro crime premeditado pela sua prpria operacionalizao: demanda uma logstica que inclui, alm de armas, local ou locais para servirem de cativeiro, meios de comunicao com a famlia da vtima e forma de acesso ao resgate, por exemplo. Nesse sentido, podemos afirmar que o tempo transcorrido 40

entre o planejamento e a execuo da ao daria oportunidade para que o carter inibitrio da Lei surtisse algum efeito, elidindo a prtica. Os dados, porm, no confirmam essa hiptese. Conforme j vimos, o seqestro em So Paulo no s permaneceu relativamente estvel nos sete anos seguintes promulgao da Lei, como apresenta tendncia constante de crescimento nos ltimos anos. No Rio de Janeiro, a situao bem diferente, mas a tendncia de queda s verificada de fato aps 1995, o que impossibilita relacion-la com a Lei, editada em 1990. Tambm podemos constatar a premeditao do trfico pela habitualidade 23 que o caracteriza. Essa prtica criminosa tambm implica a existncia de uma estrutura permanente que possibilite o recebimento e a dispensa do entorpecente, ou seja, sua distribuio. Ainda assim, tambm no se verifica queda nos ndices de trfico aps a edio da Lei de Crimes Hediondos. Ao contrrio, os ndices aumentam tanto em So Paulo quanto no Rio de Janeiro. Com relao aos homicdios, podemos afirmar que a premeditao est presente apenas em parte das ocorrncias. Essa informao sustenta-se em pesquisas que detectaram o carter passional da maioria das ocorrncias de homicdio 24 . A premeditao nas ocorrncias de homicdio no detectvel nas estatsticas criminais atualmente produzidas, uma vez que percebida durante o

23 24

No estamos aqui utilizando o termo habitualidade no sentido tcnico do Direito Penal.

de Armas: um estudo comparativo de polticas pblicas entre Gr-Bretanha, EUA, Canad, Austrlia e Brasil, p. 194.

A propsito, confira-se: O Estado e o Crime Organizado, de Guaracy Mingardi, p. 139 e seguintes e uma pesquisa da Secretaria de Segurana Pblica de So Paulo citada por Luciano Bueno em Controle

41

transcorrer do inqurito policial. Ainda assim, no temos como constatar algum efeito da Lei na ocorrncia de homicdios, uma vez que os ndices so permanentemente crescentes em So Paulo durante o perodo estudado e a estabilizao detectada no Rio de Janeiro se d apenas a partir de 1997, o que impede sua identificao com a edio da Lei. Os demais crimes hediondos trabalhados nesta pesquisa, latrocnio, estupro e atentado violento ao pudor, so fortemente marcados pela passionalidade, o que nos autoriza a afirmar que sua preveno no passa pela intimidao. O estupro e o atentado violento ao pudor so crimes de impulso, muitas vezes desencadeados por bebida ou outras substncias que diminuem o auto-controle. evidente que ocorrem crimes desse tipo razoavelmente planejados, mas so minoria. Quanto habitualidade, sabido que existem tambm os estupradores compulsivos, ou seriais, se quisermos seguir a terminologia americana. Parte deles capaz de planejar o crime, para evitar ser pego, mas incapaz de controlar seus impulsos e acaba por execut-lo. Nesse caso o efeito dissuasivo da lei, qualquer que seja ela, quase nulo. O latrocnio tambm um crime que dificilmente ocorre de forma premeditada, tendo em vista que o criminoso no sai s ruas para cometer um latrocnio. Ele sai para roubar. A finalidade de seu ato o lucro, no a morte de algum. Alis, este um dos motivos pelos quais o latrocnio ocorre em nmero to reduzido quando comparado aos roubos a mo armada. 42

2.3.3. Anlise comparativa entre as projees e o nmero de crimes efetivamente registrados

Alm de desenvolvermos um estudo comparativo intra-regional e uma anlise do comportamento de cada tipo penal, tambm empregamos, com a finalidade de verificar o impacto da Lei de Crimes Hediondos na incidncia criminal, outro mtodo de trabalho consistente na comparao entre as projees feitas com base nos ndices anteriores Lei e a real incidncia criminal nos anos que se seguiram. Encontramos respaldo na validao desse mtodo no Tribunal de Contas da Unio (TCU) 25 , que o sugere como mtodo de avaliao de programas sociais nos seguintes termos:... comparao entre os dados do programa (aps a implementao)

obtidos em intervalos regulares de tempo, e a projeo estatstica de dados da situao anterior ao programa. Nesse caso, as mudanas provocadas pelo programa so identificadas como a diferena entre as condies existentes e aquilo que poderia ter ocorrido (projeo de tendncia) caso o programa no tivesse sido implementado. (grifo nosso)

interessante notar que o exemplo especfico que o TCU cita em uma nota de p de pgina exatamente a comparao entre a projeo das taxas de criminalidade com os ndices reais ocorridos aps a implementao do programa de preveno.

25

Manual de Auditoria de Natureza Operacional, p. 71.

43

Existem inmeras formas de projetar uma tendncia, portanto nossa primeira tarefa foi estabelecer qual o modelo a ser empregado. A deciso tomada foi de lidar apenas com uma varivel: a data da promulgao da Lei de Crimes Hediondos. claro que ningum supe que a quantidade de crimes varie apenas de acordo com a lei: inmeros outros fatores (sociais, econmicos, psicolgicos etc) exercem igual ou maior influncia sobre a deciso do indivduo de cometer ou no um delito. Do ponto de vista deste trabalho, porm, s interessa um nico fator, a Lei dos Crimes Hediondos. Analisar simultaneamente qualquer outro iria apenas complicar a anlise e torn-la mais imprecisa. Resolvemos, portanto, fazer uma projeo simples, baseada apenas nos ndices criminais, sem levar em conta qualquer outro condicionante. A idia foi verificar se havia algum indcio de influncia da Lei no nmero de crimes cometidos aps sua promulgao. Os grficos a seguir apresentados, portanto, tm apenas duas linhas: uma com a srie histrica do crime estudado e outra com a projeo construda a partir do nmero de crimes registrados nos anos que antecederam a promulgao da Lei.

44

Grfico 13 Evoluo do Homicdio X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 19946000

5000

4000 Homicdios Homicdios 3000 Potncia (Homicdios)

2000

1000

0 84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 `03 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

Grfico 14 Evoluo do Homicdio X Projeo Municpio do Rio de Janeiro: 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 19946.000

5.000

4.000

Homicdio no Municpio do Rio de Janeiro3.000

2.000

Homicdio no Municpio do Rio de Janeiro Potncia (Homicdio no Municpio do Rio de Janeiro)84 85 86 87 88 89 Fonte dos Dados: PCERJ Construo do Grfico: ILANUD 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

1.000

0

Verificando os grficos acima se pode perceber que o comportamento dos nmeros difere completamente. No caso de So Paulo os ndices de homicdio mantm-se sempre acima da projeo e no do Rio de Janeiro abaixo. Se fossemos 45

interpretar a influncia da Lei apenas nesses dois grficos a explicao seria bem dbia, pois elas indicariam que no Rio a influncia foi grande, pois os ndices despencaram aps sua edio, enquanto em So Paulo os nmeros se mantiveram sempre acima da projeo. A ausncia de um comportamento semelhante nos Estados no nos permite, portanto, afirmar algum impacto da Lei neste caso.

Grfico 15 Evoluo do Estupro X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990.1600

1400

1200

1000

Estupro Estupro

800

Potncia (Estupro)

600

400

200

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 `03 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD

46

Grfico 16 Evoluo do Estupro X Projeo Municpio do Rio de Janeiro -1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03

Estupro no Municpio do Rio de Janeiro Estupro no Municpio do Rio de Janeiro Potncia (Estupro no Municpio do Rio de Janeiro)

Fonte dos Dados: PCERJ Construo do Grfico: ILANUD

Com relao ao estupro a situao tambm diferente nos dois Estados. Enquanto em So Paulo o crime se manteve o tempo todo abaixo da projeo, no Rio houve um pico de dois anos (1998 e 1999) seguidos de um processo de queda que levou a um patamar muito prximo da projeo em 2000 e 2001, aps o que os ndices caram.

47

Grfico 17 Evoluo do Latrocnio X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990400

350

300

250

Latrocnio Latrocnio

200

Potncia (Latrocnio)

150

100

50

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 `03

Grfico 18 Evoluo do Latrocnio X Projeo Municpio do Rio de Janeiro - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 Fonte dos Dados: PCERJ Construo do Grfico: ILANUD

Latrocnio no Municpio do Rio de Janeiro Latrocnio no Municpio do Rio de Janeiro Potncia (Latrocnio no Municpio do Rio de Janeiro)

48

O latrocnio no Rio de Janeiro gravitou em torno da projeo de forma razoavelmente simtrica. Nos quatro anos aps a edio da Lei esteve acima da projeo, em 1995 manteve-se dentro dela e nos quatro anos seguintes (96/99) abaixo. Entre 2000 e 2003, os ndices estiveram ligeiramente acima da projeo. Enquanto isso em So Paulo os ndices se mantiveram acima da projeo na maior parte dos anos, ficando ligeiramente abaixo apenas em 1997, 2002 e 2003. Outra peculiaridade foi a estabilizao entre 1993 e 1996 em patamares muito prximos, ainda que acima, da linha projetada.

Grfico 19 Evoluo do AVP X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2002 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990.1400

1200

1000 AVP 800 AVP Potncia (AVP) 600

400

200

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 Fonte dos Dados: SEADE Construo do Grfico: ILANUD `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02

49

Grfico 20 Evoluo do Seqestro X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 1990200 180 160 140 120 Sequestro 100 80 60 40 20 0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 `03 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD Sequestro Potncia (Sequestro)

Grfico 21 Evoluo do Trfico X Projeo Municpio de So Paulo - 1984 a 2003 Projeo baseada em dados de 1984 a 19903500

3000

2500

2000

Trfico Trfico

1500

Potncia (Trfico)

1000

500

0 `84 `85 `86 `87 `88 `89 `90 Fonte dos Dados: SEADE e SSP/SP Construo do Grfico: ILANUD `91 `92 `93 `94 `95 `96 `97 `98 `99 `00 `01 `02 `03

50

Nos trs crimes estudados nos grficos acima (seqestro, trfico e atentado violento ao pudor no Municpio do So Paulo) no podemos identificar nenhum efeito da Lei, uma vez que as trajetrias estatsticas so muito diferentes. H uma correspondncia muito grande entre os ndices de AVP e a projeo feita com base no perodo anterior a lei. Embora existam perodos de queda e outros de aumento, o que se constata a oscilao dos ndices prxima a linha de projeo. J no caso do trfico, no existe nenhuma correspondncia entre o que foi projetado e a realidade. Os ndices foram quase que o tempo todo crescentes, enquanto a projeo indicava uma tendncia declinante 26 . Quanto ao seqestro, se pode notar que ocorreu uma tendncia de declnio logo aps a lei que se manteve at 1996. Essa tendncia foi seguida de uma oscilao por cinco anos e por um salto extraordinrio em 2002, voltando a declinar no ano seguinte. Diante do exposto, temos que o confronto da realidade com as projees demonstrou que no possvel, pelo menos a partir desse mtodo, identificar alguma influncia direta da Lei de Crimes Hediondos nas tendncias criminais como um todo. Embora possamos identificar momentos pontuais de queda, na maioria dos casos os ndices criminais tiveram picos acima da projeo. A exceo fica por conta

sempre bom lembrar um detalhe j mencionado anteriormente, que os ndices de trfico so os que menos refletem a quantidade real de crimes, j que esto intimamente ligados ao policial.

26

51

dos homicdios no Rio e os estupros em So Paulo, que ficaram sempre abaixo da projeo esses crimes, porm, conforme dito acima, so marcadamente passionais, o que no nos autoriza creditar esse comportamento edio de uma Lei dissuasiva.

52

3. AVALIAO DO IMPACTO DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS NO SISTEMA PENITENCIRIO

Neste captulo analisaremos o impacto da Lei dos Crimes Hediondos no sistema penitencirio. Conforme verificamos, este assunto no foi devidamente considerado no clere processo legislativo do qual resultou a edio da Lei. A ausncia de discusso a este respeito impossibilitou que o legislador pudesse visualizar as importantes e graves conseqncias que poderiam ser geradas no sistema penitencirio. A nica preocupao a respeito deu-se na proposta de criao de presdios federais, medida que s agora est sendo implementada, informada, porm, por outras demandas que no a Lei de Crimes Hediondos. Assim como ocorre com a questo criminal, acerca da qual a percepo generalizada de inocuidade da Lei, muito se comenta sobre os problemas que ela ocasionou no sistema penitencirio. Superpopulao, aumento no nmero de rebelies e fortalecimento das faces seriam alguns deles. Com o intuito de examinar mais atentamente essas questes, foram selecionados e analisados dados estatsticos do sistema penitencirio nacional e foram realizadas entrevistas com presos e funcionrios de estabelecimentos prisionais do Estado de So Paulo.

53

3.1. A LEI DE CRIMES HEDIONDOS E AS ESTATSTICAS PRISIONAIS: POSSVEIS IMPACTOS

Os dados estatsticos apresentados a seguir possibilitam analisar algumas caractersticas do sistema penitencirio nacional e, principalmente, do Estado de So Paulo. Em um primeiro momento trabalharemos as informaes de em mbito nacional para em seguida abordarmos as peculiaridades deste Estado, responsvel por quase metade da populao encarcerada do pas. Com relao a So Paulo, foi possvel trabalhar com dados sobre incidncia penal das dcadas de 1980, 1990 e 2000, o que nos permitiu identificar as mudanas ou permanncias das modalidades mais representativas, podendo-se, a partir de um olhar mais aguado sobre os tipos hediondos, trabalhar com hipteses sobre o impacto desse instrumento legal. importante frisar, entretanto, que compreender o real impacto da promulgao da Lei de Crimes Hediondos no sistema penitencirio demandaria aferir tambm em que medida suas disposies afetaram a dinmica da execuo penal, observando-se no apenas o aumento ou no da incidncia destes crimes, do tempo de condenao e do cumprimento real de pena, como tambm o impacto na predominncia de tipos de regime, na concesso de benefcios e nos mecanismos disciplinares. Isso porque a Lei trouxe importantes modificaes no que se refere ao sistema de penas, ao princpio da individualizao e progressividade dos regimes. Denota-se, ento, uma complexidade de anlise que se traduz no

54

apenas em termos de incremento da populao prisional, mas que se insere na trama jurisdicional que caracteriza o sistema de execuo penal. No entanto, em virtude dos limites encontrados na execuo desta pesquisa, o que se pde obter, em termos quantitativos, foi um retrato do incremento ou no do nmero de presos cumprindo pena pelas modalidades delitivas classificadas como hediondas, a partir ainda de uma comparao com outros tipos de crimes.

3.1.1. Aspectos metodolgicos

A primeira etapa da coleta de dados priorizou a obteno de informaes que viabilizassem uma viso panormica do sistema penitencirio e dos efeitos quantificveis da Lei nas diferentes unidades da Federao. Assim, procurou-se compilar dados junto aos rgos competentes do Governo Federal e dos Estados do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de So Paulo. A escolha desses Estados visou manter um padro de comparao entre as informaes penitencirias e a evoluo das estatsticas criminais no perodo de 1984 a 2003. Primeiramente, buscamos levantar as informaes pblicas das instituies responsveis pelo sistema, de modo que realizamos buscas nos stios oficiais do Departamento Penitencirio Nacional (DEPEN), vinculado ao Ministrio da Justia, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) para obteno de dados nacionais; da Secretaria da Administrao Penitenciria (SAP) e da Fundao 55

Sistema Estadual de Anlise de Dados e Estatstica (SEADE) para levantamento de dados do Estado de So Paulo; da Superintendncia dos Servios Penitencirios (SUSEPE), vinculada Secretaria da Justia e da Segurana, para obteno de dados do Estado Rio de Janeiro; e da Secretaria de Estado da Administrao Penitenciria (SEAP) para levantamento de dados do Rio Grande do Sul. Como poucos dados foram efetivamente obtidos - havia informaes disponveis essencialmente no IBGE, no DEPEN, na SAP e na SEADE solicitamos formalmente informaes aos rgos competentes dos trs Estados. Esse procedimento, porm, no obteve os resultados esperados, pois no existem bancos de dados coesos, organizados e digitalizados que possam ser prontamente acessados. Por conseguinte, seus dados no puderam constar deste relatrio 27 . Obtivemos no DEPEN e no IBGE uma srie de dados quantitativos referentes ao sistema penitencirio no mbito nacional. Cabe ressaltar que os dados do DEPEN foram colhidos junto aos rgos estaduais responsveis pela administrao prisional, o que pode acarretar diversas limitaes sua confiabilidade como, por exemplo, diferenas na metodologia de coleta de uma unidade da Federao para outra ou ainda em uma mesma unidade ao longo do tempo. Esse o caso de So Paulo, que ser comentado adiante.

A lista dos dados solicitados e as respostas fornecidas pelos Estados encontram-se anexadas ao final deste trabalho.

27

56

Ainda a respeito de dados nacionais, outra fonte importante foi o captulo

Sistema Penitencirio 28 , do projeto Arquitetura Institucional do SUSP, que contmuma srie de dados coligidos a partir de questionrios encaminhados aos Estados. Esses dados, embora devam ser considerados com cautela, possibilitaram uma viso geral sobre nmero de vagas nos sistemas estaduais, regime de cumprimento de pena, extenso da pena e artigos de condenao, dentre outros, o que nos auxiliou enormemente na mensurao da questo penitenciria atual do pas. O DEPEN, a SEADE, a Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitencirios de So Paulo (COESPE) a Secretaria de Administrao Penitenciria de So Paulo possibilitaram que construssemos uma srie de dados, pertinente ao Estado. Essa srie versa sobre as incidncias penais da populao carcerria e foi produzida durante as dcadas de 1980, 1990 e 2000 por fontes oficiais diversas e segundo tipo de delito. A categoria tipo do delito foi privilegiada uma vez que possibilita identificar, primeiramente, o eventual aumento da incidncia dos crimes classificados como hediondos e, num segundo momento, os reflexos de seu processamento pelo sistema de Justia Criminal em seu ltimo estgio: o cumprimento da pena. Nesse sentido, a categoria mais adequada para o tratamento o tipo do delito na condenao ou motivo da condenao.

28

A equipe responsvel pelo captulo foi coordenada por Julita Lemgruber.

57

Embora a produo das estatsticas policiais seja norteada pelo registro das incidncias penais, ou seja, da natureza do crime cometido, com relao aos dados do sistema penitencirio, essa categoria no tem constitudo a lgica informadora de sua produo estatstica. Assim, so escassos e irregulares os registros referentes natureza das condenaes, no havendo o que poderamos denominar de uma tradio na produo deste dado, do que resulta a observncia de ressalvas no seu tratamento, tanto pela sua inadequada preciso, como pela metodologia de coleta. Os dados referentes So Paulo foram registrados pela administrao prisional do Estado a partir de amostras e metodologias diversificadas. Durante a dcada de 1980, realizaram-se levantamentos nos estabelecimentos por meio de questionrios encaminhados aos diretores, nem sempre compreendendo a totalidade dos presos. 29 Nos anos 1990, no entanto, esses levantamentos passaram a se realizar de modo um pouco mais sistemtico, atravs de censos penitencirios promovidos pela Secretria de Administrao Penitenciria, estendendo seus registros totalidade dos presos nos estabelecimentos do Estado. Aps um intervalo de cinco anos, em 2002 empreendeu-se um extenso levantamento junto aos presos de todas as suas unidades, mas, dessa vez, a metodologia adotada foi uma

O rgo responsvel pela Administrao Penitenciria poca era a Coordenadoria dos Estabelecimentos Prisionais do Estado de So Paulo COESPE, extinta no ano de 2000.

29

58

sondagem de opinio, aproximando-se, assim, dos critrios de realizao do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. 30

3.1.1.1. Tratamento dos dados obtidos

Conforme mencionado, os dados obtidos junto s fontes descritas acima foram divididos e classificados em sries que nos possibilitaram: a) traar um panorama geral do Sistema Prisional nacional; b) salientar a representatividade do Estado de So Paulo em relao ao pas; e c) delinear algumas das caractersticas mais especficas da populao prisional do Estado. A primeira srie de dados buscou construir um panorama geral do sistema carcerrio nacional a partir de sua populao. Nesse sentido, importante salientar que so considerados como populao carcerria os indivduos encarcerados, provisoriamente ou por sentena judicial, em estabelecimentos prisionais, cadeias pblicas ou distritos policiais. J a populao prisional exclui os indivduos que se encontram sob custdia da polcia, quais sejam, os que esto presos em distritos policiais. Com essa srie de dados foi possvel estabelecer:

30

Esse estudo foi, em verdade, realizado por uma empresa privada de consultoria denominada LARC, contratada pela Fundao de Amparo ao Trabalhador Preso FUNAP, que uma entidade vinculada Secretaria de Administrao Penitenciria.

59

a

taxa

nacional

de

encarceramento

por

100.000

habitantes,

considerada no perodo de 1995 a 2003; a distribuio e o mapeamento da populao carcerria nas macroregies e unidades da Federao em 2003; a distribuio da populao prisional, segundo regime de priso, nas macro-regies e unidades da Federao em 2003; e as taxas de encarceramento por 100.000 habitantes das macro-regies e unidades da Federao em 2003. A partir da direcionamos o trabalho mais pontualmente para o Estado de So Paulo, responsvel, como detectamos, por quase metade da populao carcerria registrada em todo o pas. Esse direcionamento tambm se sustenta pelo fato de que So Paulo o nico Estado que tem uma produo mais sistemtica de informaes sobre essa populao considerando, por exemplo, registros de encarceramento por incidncia penal (tipo de crime cometido e motivo da condenao). Essas duas caractersticas (representatividade e a produo sistemtica de dados) fazem do Estado de So Paulo a unidade da Federao mais adequada para o desenvolvimento da avaliao do impacto das condenaes por crimes hediondos no sistema prisional. O estudo do Estado de So Paulo possibilitou aferir: a representatividade do Estado de So Paulo em termos absolutos e percentuais em relao ao total da populao prisional do Pas;

60

e as taxas paulistas de encarceramento por 100.000 habitantes, consideradas nos perodos de 1984 a 1993 e de 1994 a 2003. Com relao especificao da populao prisional do Estado de So Paulo, privilegiando a categoria tipo de delito (ainda que escassos e irregulares os registros) pudemos elaborar uma tabela com a distribuio dos condenados por natureza e tipo de delito nos anos de 1981, 1982, 1994, 1995, 1996 e 2002.

3.1.2. Dados sobre o sistema penitencirio nacional

Conforme j mencionamos, uma das argumentaes que sustentam crticas Lei de Crimes Hediondos a superpopulao prisional que ela acarretou. Essa afirmao se sustenta no raciocnio lgico segundo o qual a superpopulao seria o resultado da soma de dois fatores: o aumento da permanncia dos condenados nos presdios 31 e a manuteno ou ao incremento no nmero de prises realizadas. Conforme veremos a seguir, a constatao da superpopulao patente. Ela se sustenta tanto na avaliao do incremento da taxa de presos por 100 mil habitantes, que veremos a seguir, como tambm, nos seguintes dados 32 :

No que diz respeito Lei, o aumento da permanncia resultado do aumento das penas, da vedao da progresso de regime e das dificuldades impostas obteno de livramento condicional.32

31

Dados retirados do captulo Sistema Penitencirio, do projeto Arquitetura Institucional do SUSP. Embora tenham sido colhidos por meio de questionrios respondidos pelos Estados, os dados devem ser considerados com parcimnia em virtude de observaes j feitas sobre a inexistncia de uma

61

entre 1995 e 2003 o nmero de vagas em unidades prisionais passou de 68.597 para 180.726, um aumento de 163,4%; 75,8% dos presos cumprem pena em regime fechado; 64% dos presos foram condenados penas de 9 ou mais anos; considerando os delitos, o de maior condenao o roubo, com 23,9% dos presos; apenas 17,3% dos presos participam de atividades educacionais; apenas 26% dos presos trabalham; em 2003 a mdia nacional de novos ingressos mensais de presos no sistema era de 4,1% do total de presos j existentes. A mdia de liberaes mensais correspondia a 1,8% dos presos; em 2002 ocorreram mais de 4.400 fugas no sistema; em 2002 ocorreram mais de 230 rebelies no sistema penitencirio. Conforme se verifica na tabela a seguir, composta com dados de 2003, a regio sudeste comporta 52,94% do total da populao prisional do pas, seguida de longe pela regio nordeste, com 18,33% do total.

cultura de produo de dados e por no contarmos com uma metodologia de coleta padronizada.

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Tabela 9 Populao prisional segundo regime de priso Brasil, Macro-Regies e Unidades da Federao 2003REGIES E UF Condenados % n. abs. 172654 100,00 5971 885 542 767 1905 1627 245 26251 698 2693 8108 1364 3674 6088 404 1272 1950 16721 5877 2227 4589 3559 469 96571 1922 4978 14457 75214 27140 6529 15552 5059 3,46 0,51 0,31 0,45 1,10 0,94 0,15 15,21 0,41 1,56 4,70 0,79 2,13 3,52 0,24 0,74 1,12 9,68 3,40 1,29 2,66 2,06 0,27 55,93 1,12 2,88 8,37 43,56 15,72 3,78 9,01 2,93 POPULAO PRISIONAL Provisrios n. abs. % 67549 100,00 7383 1047 389 1257 2617 1745 328 17779 789 2624 3209 752 1740 6400 932 489 844 6341 1020 1107 2213 1356 645 30583 2206 460 4105 23812 5463 960 2869 1634 10,93 1,55 0,58 1,86 3,87 2,58 0,49 26,32 1,17 3,88 4,76 1,11 2,58 9,47 1,38 0,72 1,25 9,39 1,51 1,64 3,28 2,01 0,95 45,27 3,27 0,68 6,07 35,25 8,09 1,42 4,25 2,42 Total n. abs. % 240203 100,00 13354 1932 931 2024 4522 3372 573 44030 1487 5317 11317 2116 5414 12488 1336 1761 2794 23062 6897 3334 6802 4915 1114 127154 4128 5438 18562 99026 32603 7489 18421 6693 5,56 0,81 0,39 0,84 1,88 1,40 0,24 18,33 0,62 2,21 4,71 0,88 2,26 5,20 0,56 0,73 1,16 9,60 2,87 1,39 2,83 2,05 0,46 52,94 1,72 2,26 7,73 41,23 13,57 3,12 7,67 2,78

BrasilRegio Norte Acre Amap Amazonas Par Rondnia Roraima Regio Nordeste Alagoas Bahia Cear Maranho Paraba Pernambuco Piau Rio Grande do Norte Sergipe Regio Centro-Oeste Distrito Federal Gois Mato Grosso Mato Grosso do Sul Tocantins Regio Sudeste Esprito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro So Paulo Regio Sul Paran Rio Grande do Sul Santa Catarina Fonte dos Dados: DEPEN Construo da Tabela: ILANUD

O grfico abaixo apresenta a evoluo das taxas de encarceramento no Brasil a partir de 1995, abrangendo o total da populao presa em presdios, cadeias pblicas, distritos policiais, presos condenados e provisrios. Pelo que se observa, as taxas de encarceramento praticamente dobraram em oito anos. O crescimento dessa 63

populao se deu em percentuais bastante superiores ao da populao brasileira, que tem apresentado um crescimento sutil, quando no um decrscimo em alguns anos 33 . Dessa forma, podemos concluir que o aumento exacerbado da populao carcerria no pas nos ltimos anos, longe de ser apenas uma percepo do senso comum um fato comprovado pelos nmeros.

200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0

Grfico 22 Populao carcerria no Brasil segundo taxa de encarceramento por 100 mil habitantes 1995, 1997, 1999, 2001 e 2003181,6

127,6 114,2 95,5 103,9

"1995

"1997

"1999

"2001

"2003

Fonte dos dados: DEPEN e IBGE Construo do Grfico: ILANUD

Considerando o total da populao carcerria, ou seja, compreendendo alm dos que esto em presdios os presos de delegacias e cadeias pblicas, podemos

33

Ver stio oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE.

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avaliar as taxas de presos por 100 mil habitantes no pas e em cada Estado membro, conforme se v na tabela a seguir:

Tabela 10 Populao carcerria segundo taxa de presos por 100 mil habitantes Brasil, Macro-Regies e Unidades da Federao 2003POPULAO PRISIONAL REGIO E UF taxa por n. abs. 100.000 habitantes Brasil 240203 141 Regio Norte 13354 114 Acre 1932 347 Amap 931 195 Amazonas 2024 72 Par 4522 73 Rondnia 3372 244 Roraima 573 177 Regio Nordeste 44030 92 Alagoas 1487 53 Bahia 5317 41 Cear 11317 152 Maranho 2116 37 Paraba 5414 157 Pernambuco 12488 158 Piau 1336 47 Rio Grande do Norte 1761 63 Sergipe 2794 157 Regio Centro-Oeste 23062 180 Distrito Federal 6897 336 Gois 3334 67 Mato Grosso 6802 272 Mato Grosso do Sul 4915 237 Tocantins 1114 96 Regio Sudeste 127154 176 Esprito Santo 4128 133 Minas Gerais 5438 30 Rio de Janeiro 18562 129 So Paulo 99026 267 Regio Sul 32603 130 Paran 7489 78 Rio Grande do Sul 18421 181 Santa Catarina 6693 125 Fonte dos Dados: DEPEN Construo da Tabela: ILANUD POPULAO SOB TOTAL CUSTDIA DA POLCIA taxa por taxa por n. abs. n. abs. 100.000 100.000 habitantes habitantes 68101 40 308304 182 1618 14 14972 127 15 3 1947 349 0 0 931 195 98 3 2122 75 1139 18 5661 91 366 27 3738 271 0 0 573 177 4070 9 48100 101 334 12 1821 65 0 0 5317 41 622 8 11939 161 2451 43 4567 81 0 0 5414 157 0 0 12488 158 628 22 1964 69 35 1 1796 65 0 0 2794 157 6782 53 29844 233 50 2 6947 339 4242 85 7576 151 872 35 7674 306 1423 68 6338 305 195 17 1309 113 44849 62 172003 238 2225 72 6353 205 17718 99 23156 129 0 0 18562 129 24906 67 123932 335 10782 43 43385 173 6200 65 13689 143 4136 41 22557 221 446 8 7139 133

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Verificamos que a taxa nacional de 182 presos por 100 mil habitantes. Esto acima desta taxa a regio sudeste (238) e a regio centro-oeste (233). Dentre os Estados, constata-se que 09 esto acima da taxa nacional, dentre os quais nenhum encontra-se na regio nordeste, que tambm apresenta a menor taxa regional (101). O Estado com menor nmero de presos por 100 mil habitantes a Bahia (41) e o com maior nmero o Acre (349). importante ressaltar que as maiores taxas no esto adstritas aos centros urbanos, diferentemente de certas concepes difundidas no senso comum. Com exceo do Estado de So Paulo, os demais Estados onde se concentram plos urbanos no esto entre aqueles que ostentam as maiores taxas de encarceramento, chegando at a representar a terceira faixa (correspondente a 80 a 171 presos por 100 mil habitantes), como o caso do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, ambos na regio sudeste, a mais urbanizada do pas. Essa percepo evidenciada no mapa a seguir apresentado:

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Taxa da populao carcerria nacional por 100 mil habitantes Brasil - 2003

Dados: DEPEN Produo do Mapa: ILANUD

Conforme se percebe na anlise das tabelas apresentadas, o Estado de So Paulo comportava, em 2003, 41,23% do da populao prisional do pas, o que justifica, como j dissemos, que as estatsticas penitencirias do Estado sejam objeto de uma avaliao em separado.

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3.1.3. Estatsticas do sistema penitencirio paulista

O Estado de So Paulo apresenta 123.932 pessoas encarceradas, o que corresponde a 40,2% dos 308.304 presos do Brasil. Esse percentual praticamente se mantm se considerarmos apenas a populao prisional: o Estado responde por 41,23% do total, conforme se evidencia no grfico abaixo:

Grfico 23 Populao prisional de So Paulo e demais unidades da Federao em porcentagem - 2003

41%

59% Demais Unidades da Federao So Paulo

Fonte dos Dados: DEPEN Construo do Grfico: ILANUD

Do ponto de vista regional, o Estado responsvel por 78% da populao prisional da regio sudeste.

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Como podemos observar, as taxas de encarceramento por 100 mil habitantes em So Paulo tambm muito superior mdia nacional: 335 no Estado contra de 182 presos por 100 mil habitantes no pas. Observando os grficos abaixo 34 , possvel notar que, embora as taxas de encarceramento no Estado tenham apresentado constante crescimento desde 1984, a partir de 1997 que ele se apresenta de modo eloqente: num intervalo de seis anos, as taxas elevaram-se acima do dobro.

Grfico 24 Evoluo da taxa de encarceramento por 100 mil habitantes no Estado de So Paulo - 1984 a 1993100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0

"1984 "1985 "1986 "1987 "1988 "1989 "1990 "1991 "1992 "1993Taxa de encarceramento por 100.000 habitantesFonte dos Dados: SAP Construo do Grfico: ILANUD

Seguindo convenes internacionais sobre produo de estatsticas criminais (United Nations, 2001), as taxas de encarceramento analisadas nesse relatrio esto divididas em dois grficos, separados segundo as fontes produtoras dos dados. Mesmo dizendo respeito a um nico fenmeno, as fontes consultadas adotam metodologias de tratamento e compilao diferentes e, por isso, destaca-se a diferenciao. Todavia, para efeito de anlise, considera-se os dois grficos como indicativos de uma mesma srie histrica de taxas de encarceramento nas unidades sob responsabilidade da Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitencirios do Estado de So Paulo COESPE.

34

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Grfico 25 Evoluo da taxa de encarceramento por 100 mil habitantes no Estado de So Paulo - 1994 a 2003250,0 200,0 150,0 100,0 50,0 0,0 "1994 "1995 "1996 "1997 "1998 "1999 "2000 "2001 "2002 "2003 Taxa de encarceramento por 100.000 habitantesFonte dos Dados: COESPE e SEADE Construo do Grfico: ILANUD

Com relao s incidncias penais da populao prisional do Estado, embora pretendssemos trabalhar com uma srie his