ii seminÁrio “ recursos geolÓgicos, ambiente...
TRANSCRIPT
RECURSO HIDROMINERAL DE LONGROIVA
COMO UMA NOVA ÁGUA MINERAL TERMAL NATURAL
L. M. FERREIRA GOMES(1); J. A. MARQUES DANIEL(2), V. M. PISSARRA CAVALEIRO(3)
Resumo As Termas de Longroiva utilizadas há muitíssimos anos e em particular no
Século XX, nunca foram alvo de uma legalização efectiva, apesar de várias tentativas. No presente trabalho apresentam-se os principais estudos e pesquisas efectuados
nesta fase de modo a propor o recurso em estudo, água sulfúrea quente, como “água mineral”. De entre os vários estudos enfatizam-se o modelo geohidráulico e os resultados estatísticos dos vários parâmetros físico-químicos que evidenciam a estabilidade do recurso. Por fim, a água em estudo compara-se com outras já classificadas e apresentam-se as potenciais aplicações da mesma. PALAVRAS CHAVE: água mineral, recurso hidromineral, Longroiva, modelo geohidráulico. ________________________________________________
(1) Professor Associado, Univ. da Beira Interior, Dep. De Engª Civil, 6200 Covilhã. (2) Chefe de Divisão, Câmara Municipal de Mêda, 6430 Mêda. (3) Professor Auxiliar, Univ. da Beira Interior, Dep. De Engª Civil, 6200 Covilhã.
CO - 85
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________
1 - Introdução
O presente trabalho insere-se no âmbito de um projecto sobre as Termas de
Longroiva, em parceria entre a C.M. de Mêda e a Universidade da Beira Interior,
havendo como objectivo final a legalização das Termas. Outros objectivos e trabalhos
parciais têm-se atingido, merecendo referencia os estudos iniciais para a localização da
nova captação (Furo AC1A), estudos de gabinete e de campo hidrogeoambientais para
conhecimento do modelo geohidráulico da água mineral, estabelecimento do plano de
exploração, e por fim, em realização o perímetro de protecção.
As “Termas de Longroiva” localizam-se na freguesia de Longroiva, Concelho de
Mêda e Distrito da Guarda.
Os principais resultados obtidos até ao momento foram organizados nos relatórios
internos de UBI (1999,2001a,b) onde, também, são explanados com detalhe trabalhos
efectuados na zona em estudo por outros autores. A primeira referência bibliográfica às
águas de Longroiva que os signatários observaram, foi no Aquilégio Medicinal, de
Fonseca Henriques de 1726, entretanto re-editado pelo IGM (1998). Merecem ainda
referência o estudo hidrogeológico efectuado por GeoHidrol (1972), os trabalhos de
Teixeira Duarte (1974) e de KELLER e A. CAVACO (1998,1999).
A captação definitiva (Furo AC1A) é constituída por um furo vertical, com 211.7
m de profundidade. Apresenta-se revestido de 0 a 104.3 m com tubo fechado de aço
inóx AISI 304, com diâmetro de 5 polegadas, e recebe água apenas de 106 m para baixo
e em especial com maior significado aos 137.6 m e 200.5 m. Em relação à litologia
atravessada pela sondagem é essencialmente granito de grão médio de duas micas,
designado por Granito de Mêda (Ferreira da Silva e Ribeiro,1991) e que apresenta um
grau de alteração moderada (W3/W4) até aos 50 m e, daí para baixo, alteração ligeira
(W2/W1) excepto pontualmente junto a algumas fracturas produtivas de maior
significado, que apresenta um grau W4. O furo é artesiano, pois, estando tamponado
sem sair qualquer recurso, possibilita registar na sua cabeça, a 60 cm da superfície
topográfica, 1.1 a 1.2 bar. A debitar 6.3 l/s em caudal constante, a sua água apresenta
temperatura de 45.4 ºC, pH de 8.7 e conductividade de 580 µS/cm aproximadamente.
É importante referir que na zona das Termas havia uma Nascente Tradicional e
ainda dois Furos (TD1 e TD2) e que após a execução do Furo AC1A, anularam-se com
sua cimentação, para minorar os problemas de contaminação.
CO - 86
Comunicações_______________________________________________________________________
2– Aspectos Geomorfológicos e Modelo Geohidráulico
Em termos regionais, predominam os maciços graníticos sin-tectónicos e ainda
com menor importância os tardi a pós-tectónicos em relação a F3 da fase hercínica,
além dos maciços de rochas xistentas com um papel importante em termos
hidrogeológicos, que apesar de não constituírem qualquer tipo de sistema aquífero de
interesse ao presente estudo, têm um papel passivo, ao servirem como que de uma
barreira aos recursos que circulam essencialmente nos granitóides.
Sobre grandes estruturas e em termos mega-regionais evidencia-se a ocorrência a
cerca de 1 km para Este das Termas, do grande acidente tectónico, designado por Falha
da Vilariça, que se desenvolve desde Unhais da Serra, a Sul, no Distrito de Castelo
Branco até à Vilariça, e que evolui ainda mais para Norte até terras de Espanha. As
ressurgências de águas minerais sulfúreas, por vezes quentes, associadas à referida
falha, muito profunda, denunciam bem a sua importância nos verdadeiros circuitos
geohidráulicos naturais que contribuem para as águas minerais em estudo.
A estrutura designada neste trabalho por Falha das Termas de Longroiva (Fig.1),
apresenta uma orientação global NNE-SSW, e é semi-paralela à Falha da Vilariça. Esta
última, segundo Ferreira da Silva e Ribeiro (1991), corresponde a um desligamento
esquerdo com cerca de 5.5 km de rejeito, sendo o resultado de um acidente complexo,
onde existe fracturação paralela numa faixa de 0.5 a 1 km de largura, com
desnivelamentos de blocos extremos e abatimento do bloco central, formando assim, o
“graben de Longroiva”, que se situa mais a Este da zona das Termas. O “graben de
Longroiva é prolongamento para Sul do “graben da Vilariça".
Em termos locais, para a zona em estudo e em particular para o Concelho de
Mêda, existe a carta geológica à escala 1/50000, elaborada por Ferreira da Silva e
Ribeiro (1991). Um extracto da mesma para a zona que inclui as áreas com interesse ao
presente trabalho apresenta-se na Fig.1. De todas as unidades apresentadas a que tem
maior interesse é a Unidade Granito de Mêda, devido a ser nela que está instalada a
captação definitiva, bem como as antigas captações. Salienta-se também a Unidade
Formação do Rio Pinhão (Complexo Xisto Grauváquico), por ser constituída
predominantemente por metagrauvaques e filitos, praticamente impermeáveis, servindo
de barreira aos fluxos hidrominerais que circulam de Sul para Norte, facilitando as
ressurgências naquela zona.
CO - 87
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________
Com base numa análise direccionada para o provável modelo geohidráulico do
circuito da água que ressurge na zona das Termas, cruzando mapas topográficos, mapas
geológicos e tectónicos, além de algumas confirmações no campo, pode-se concluir que
em termos geomorfológicos interessa salientar o extenso planalto granítico, a Sul das
Termas, e em particular ao longo de uma faixa com 24 km de comprimento e cerca de 4
km de largura, com a direcção de NNE-SW segundo o maior eixo. Considerando a
referida região, de Sul para Norte, as cabeceiras das linhas de água evoluem para Este
numa rede de drenagem do tipo dendrítica, de modo a se transformarem em ribeiros que
por sua vez vão confluir com a Ribeira de Massueime e esta com o Rio Côa. Neste
processo as referidas linhas de água interceptam, em planta, a Falha das Termas e a
Falha da Vilariça. Aquele território que corresponde aos primeiros quilómetros destas
linhas de água, até interceptarem a Falha das Termas de Longroiva, é considerado como
a zona de recarga ao sistema aquífero mineral de Longroiva. Os fluxos que se infiltram
em profundidade no maciço granítico, por vezes muito alterado e fracturado, ao serem
descendentes no interior dos granitóides e de Oeste para Este, encontram a Falha das
Termas de Longroiva, e que por terem dificuldade de a atravessar, migram para Norte
num movimento descendente, até encontrarem os xistos na zona das Termas, onde são
obrigados a ressurgir, devido às cargas hidráulicas desenvolvidas e acréscimo de
temperatura em profundidade.
Assim, os excedentes hídricos que resultam da precipitação, infiltram-se no vasto
Planalto Beirão, desde a zona de Trancoso, com altitudes da ordem de 800m, que dista
em linha recta cerca de 24 km até às Termas, a altitude de 360m. No movimento
descendente e em profundidade os fluxos subterrâneos ao passarem nos granitóides vão
adquirindo o quimismo próprio de água sulfúrea e em simultâneo aumentando a sua
temperatura, devido à considerável profundidade que eventualmente atingem (≈2 km ?).
3- Aspectos Hidrogeológicos
Os resultados do cálculo do balanço hidrológico, efectuado de acordo com a
metodologia proposta por Thornthwaite e Mather (1957, in Lencastre e Franco,1984)
apresentam-se no Quadro 1. Devido à proximidade de Longroiva e tendo em
consideração a área do território que serve de recarga ao aquífero mineral, consideram -
CO - 88
Comunicações_______________________________________________________________________
C
arta
Geo
lógi
ca d
a R
egiã
o de
Foz
C
ôa –
Mêd
a. E
xtra
cto
da C
arta
G
eoló
gica
, Fol
ha 1
5-A
(Fer
reira
da
Silv
a e
Rib
eiro
,199
1).
F V –
Fal
ha
da V
ilariç
a, F
T –
Falh
a da
s Te
rmas
. D
e Lo
ngro
iva.
A z
ona
sem
tra
ma
corr
espo
nde
ao C
ompl
exo
Xis
to-
Gra
uváq
uico
.Esc
ala ≈
1/ 1
25 0
00
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território ____________________________________________________________
CO - 89
se as temperaturas da Estação de Figueira de Castelo Rodrigo. Em relação às
precipitações, ao considerar as várias estações da região, com a técnica dos Polígonos
de Thiessen (Lencastre e Franco,1984) ao longo do território considerado com potencial
à recarga do aquífero mineral, com uma área global de cerca de 96 km2, leva apenas a
considerar as áreas de influencia dos Postos Udométricos de Mêda (21%), de Marialva
(48%) e de Trancoso (31%) de modo a usar no balanço hidrológico a precipitação
ponderada.
No período húmido, o superavit divide-se em duas parcelas: o escoamento
superficial (R) e escoamento subterrâneo (G), ou seja:
SH = R + G = 325.68 l/m2
Os excedentes anuais de 325.68 l/m2 sugerem à partida uma modesta recarga
aquífera, no entanto tendo em consideração que a verificarem-se as áreas de recarga
consideradas com cerca de 96 km2, além dos declives serem no geral modestos numa
vasta área de planalto, em zonas que os maciços graníticos estão por vezes muito
alterados e geralmente muito fracturados, além de haver uma cobertura vegetal, são
factores que no conjunto facilitam a infiltração e consequentemente a recarga. Assim,
considerando uma relação “G/SH” de 35%, leva a taxas de infiltração de 114 l/m2 por
ano, para recarregar as reservas aquíferas, que a considerar a área global permite obter
uma recarga anual média de 11x106 m3, e que se fosse descarregada apenas numa
virtual única saída corresponderia a 349 l/s, continuamente durante um ano.
Aquele caudal seria de facto muito frutuoso se fosse descarregado apenas num
único ponto como água mineral, no entanto salienta-se que em toda a área considerada
há muitas ressurgências de água subterrânea e que na quase globalidade não têm carac -
Quadro 1 (*)- Balanço hidrológico sequencial mensal para a região das Termas de Longroiva Termo Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Ano T(ºc) 4.7 6.0 8.3 10.5 14.1 18.1 21.3 20.8 18.1 13.3 8.0 4.9 - P(mm) 118.1 89.3 86.5 61.7 52.1 33.4 11.3 12.4 32.5 65.6 92.8 100.4 756.1 ETP (mm)
11.52 17.75 29.91 44.89 72.02 103.24 125.15 113.58 85.22 51.37 23.63 11.85 690.13
ETR (mm)
11.52 17.75 29.91 44.89 70.16 74.59 39.00 20.70 34.45 51.37 23.63 11.85 429.82
DH (mm)
- - - - 1.86 28.65 86.15 92.88 50.77 - - - 260.31
SH (mm)
106.58 71.55 56.59 16.81 - - - - - 0 0 74.15 325.68
(*) admite-se que a capacidade utilizável pelas plantas de 100 mm, se encontra completa no inicio do período seco, ou seja, em Abril. T, é a temperatura média diária do mês; P, é a precipitação média mensal; ETP e ETR, são a evapotranspiração potencial e real, respectivamente; DH, é o défice hídrico; SH, é o superavit hídrico.
CO - 90
Comunicações_______________________________________________________________________
terísticas similares às da água de Longroiva. De qualquer modo atendendo a que a zona
de descarga natural em Longroiva tem a particularidade de ser uma das zonas de cota
mais baixa na globalidade da área, e associada à situação de fronteira com as formações
xistentas impermeáveis, considera-se uma zona francamente favorável para descarga
de água mineral. Actualmente na referida zona já emerge cerca de 8 l/s, considerando-
se que sem qualquer dúvida no futuro há potencial para incrementar aquele caudal para
o dobro.
Com base num ensaio de caudal efectuado no antigo Furo TD1, foi possível
efectuar a avaliação de parâmetros hidráulicos do maciço, admitindo o aquífero
mineral confinado num modelo continuo e equivalente a um meio poroso, que
aplicando o Método de Jacob em regime transitório, considerando uma espessura de 14
metros (zona produtiva de TD1), de acordo com o seguinte: transmissividade - T = 5.6
m2/dia, coeficiente de armazenamento - S = 2.4x10-3, e conductividade hidráulica – k =
0.4 m/dia; estes valores devem ser encarados apenas como aproximações, pois
salienta-se que além do Furo TD1 ser pouco profundo, se está perante um maciço
rochoso fracturado, em que a água percola só em algumas fracturas, além da situação
se complicar com a existência de duas fronteiras semi-verticais e impermeáveis,
próximas do Furo TD1, constituídas pela Falha das Termas (Granito/Xisto) a Oeste a
cerca de 7 metros, e a Norte o contacto com os Xistos, a cerca de 90 metros.
4 - Caracterização do Recurso
A água das Termas de Longroiva tendo um uso que já vem de muito longe no
tempo, foi com certeza alvo de várias análises e pesquisas, no entanto dos estudos ou
relatórios disponíveis, a análise mais antiga data de 1970, efectuada por Silva e
Almeida (1970), em água colhida na Nascente Tradicional; a análise seguinte data de
1988 efectuada por Canto Machado (1988), mas a água já foi colhida no Furo TD1.
Ambas as análises orientam para a classificação de: água fracamente mineralizada,
doce, com reacção muito alcalina e sob o ponto de vista iónico, bicarbonatada sódica,
carbonatada, fluoretada, sulfidratada, com uma “estrutura tipo” de águas sulfúreas.
Semelhantes resultados obtiveram-se nas análises efectuadas posteriormente ao
longo do tempo (1988 a 1997) orientando para a água ter sempre a mesma origem e boa
estabilidade físico-química.
CO - 91
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________
Se em termos físico-químicos a situação era aceitável, o mesmo não se pode
referir em relação aos aspectos bacteriológicos, pois os dados disponíveis para as
emergências antigas, demonstram a existência de água contaminada. Devido à
gravidade da situação realizou-se a nova captação (Furo AC1A) e neutralizaram-se as
captações antigas.
No Quadro 2 apresentam-se os principais parâmetros estatísticos dos resultados
do recurso do Furo AC1A, das análises físico–químicas efectuadas durante vários meses,
pelo Laboratório do IGM; a primeira análise, em 01/26/1999, foi realizada
imediatamente após a conclusão da captação; as outras foram realizadas mensalmente
com inicio em Maio de 1999 e fim em Novembro de 2000; a análise físico-química
completa, efectuou-se no mês de Julho de 2000. Os resultados detalhados foram
apresentados em UBI, 2001a. Salienta-se que de todos os resultados em que foi possível
calcular o desvio padrão relativo (DPR), em cerca de 50 %, DPR é inferior a 5%, sendo
sempre inferior a 11%. Por uma análise gráfica dos resultados dos principais
parâmetros, verificou-se que não há tendência de qualquer parâmetro aumentar ou
diminuir ao longo do tempo, orientando que os resultados tenham uma oscilação à volta
do valor médio devido a eventuais flutuações naturais e até a desvios relacionados com
a capacidade dos meios técnicos de medida disponíveis.
Ainda sob o ponto de vista químico, em relação às espécies vestigiárias, não
havendo um grande número de resultados, apresentam-se os disponíveis e efectuados
aquando da análise completa (Quadro 2), sendo apenas de referir que a maioria dos
elementos pesquisados se apresenta abaixo do limite de detecção, realçando apenas a
ocorrência do Boro, do Bário, do Estrôncio, do Tungsténio e ainda do Manganês.
Em termos químicos, comparando os resultados de AC1A com os obtidos nas
captações antigas, a água deste novo furo continua a ter a mesma designação, por
apresentar composição similar, evidenciando assim, que o aquífero é o mesmo; aquela
similitude é ainda maior se se considerarem os resultados obtidos a partir de 1997, em
que os procedimentos laboratoriais das análises foram no geral mais próximos aos
verificados no período em que se efectuaram as análises do Furo AC1A.
Dado que a água de Longroiva nunca foi classificada oficialmente, apresentam-se
no Quadro 3 os resultados da análise completa, junto de outros de águas minerais em
que a designação é a mesma e onde a recarga aparente é essencialmente em granitóides.
CO - 92
Comunicações_______________________________________________________________________
Quadro 2 - Resultados de análises físico – químicas da água do Furo AC1A, de Longroiva. Valores Estatísticos de análises de 18 meses Parâmetro Análise
completa 2000
08/06)
Min. Méd. Máx. Desvio Padrão (DP)
DPR (%)
pH 8.85 8.71 8.86 8.93 0.05 0.6 Conductividade (µScm–1 ) 637 515 582 728 53.5 9.2 Dureza p.p.105CaCO3 0.75 0.65 0.71 0.80 0.03 4.2 CO2 total ( mmol/l ) 2.50 2.50 2.64 2.77 0.08 3.0 Alcalinidade (HCl 0.1N) – ml/l 30.7 30.0 30.9 33.0 0.76 2.5 Sulfuração total (I2 0.01N) - ml/l 46.3 31.2 44.8 49.7 3.70 8.3 Silicio total (mg/l) 75.9 66.1 72.6 78.3 2.84 3.9 Silica (mg/l) 67.5 58.3 64.5 71.1 2.77 4.3 Resíduo seco a 180ºC (mg/l) 395 375 395.2 407 7.84 2.0 Mineralização total (mg/l) 457.0 441.0 462.3 474.0 8.40 1.8 Na+ 125.0 122 126.4 132 2.48 2.0 Ca2+ 2.6 2.6 2.7 3.0 0.13 4.8
Catiões K+ 4.3 4.1 4.6 5.3 0.24 5.2 (mg/l) Mg2+ 0.04 0.03 - 0.05 - -
Li+ 0.78 0.59 0.77 0.88 0.07 9.1 NH4
+ 0.58 0.42 0.539 0.65 0.059 10.9 HCO3
- 146.0 146.0 154.8 162.0 4.60 3.0 Cl- 45.4 44.0 45.9 48.3 1.05 2.3
SO42- 12.7 10.0 11.4 12.7 0.74 6.5
F- 24.0 22.2 23.7 25.8 0.77 3.2 Aniões CO3
2- 6.9 4.8 6.4 7.5 0.67 10.5 (mg/l) NO3
- <0.38 <0.03 - 0.38 - - NO2
- <0.02 <0.02 - <0.02 - - HS- 7.6 5.1 7.4 8.2 0.62 8.4 H3SiO4
- 13.1 9.5 12.8 15.3 1.26 9.8 Ag <0.5 - - - - - Al <12 - - - - - As <3 - - - - - B 288 - - - - - Ba 107 - - - - - Espécies Be <1 - - - - - Cd <1 - - - - -
Vestigiárias Co <6 - - - - - Cr <6 - - - - -
(mg/l) Cu <2 - - - - - (x10-3) Fe <3 - - - - -
Mn 1.1 - - - - - Mo <4 - - - - -
Ni <4 - - - - - Pb <6 - - - - -
Sb <3 - - - - - Se <3 - - - - - Sr 88 - - - - - V <2 - - - - - W 82 - - - - - Y <1 - - - - - Zn <2 - - - - -
Salienta-se que as águas de Longroiva e de S. Gemil são as que apresentam uma
maior mineralização; uma particularidade é o facto da água de Longroiva ser a que
apresenta uma maior sulfuração total, com cerca do dobro das outras que estão no
“grupo da frente”. Sobre as espécies vestigiárias verifica-se que o Boro é sempre um
elemento presente com relativo significado.
Em relação à temperatura ao longo do tempo salientam-se os registos efectuados à
boca das captações na água da Nascente Tradicional por Silva e Almeida (1970), de
CO - 93
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________
30.8ºC, por Canto Machado (1988) na água do Furo TD1, de 33.9ºC, ainda por Canto
Machado (2000) no Furo AC1A de 45.1ºC e por fim o registado em UBI (2001a) na fase
terminal do ensaio de caudal do Furo AC1A, em 26/10/2000, de 45.4ºC.
Salienta-se que se tem obtido aumento de temperatura com o melhoramento das
captações e avanço em profundidade, sendo o valor de 30.8ºC obtido na ressurgência
natural à superfície, e os de 33.9 ºC e 45.4ºC registados à cabeça dos furos com 45m e
211.7 m de profundidade , respectivamente. Esta situação orienta para o potencial que
há no local em termos geotérmicos.
Em relação aos aspectos radiológicos do recurso do Furo AC1A, foi realizada uma
análise no Departamento de Protecção Radiológica e Segurança Nuclear, em
2000/06/09, tendo-se obtido os seguintes resultados: Actividade em 226Ra: (0.029 ± 0.011) Bq/l Actividade βglobal: (0.329 ± 0.044) Bq/l
Salienta-se que de acordo com observação no referido boletim, para 226Ra, em
águas minerais, não há limites, no entanto foi sugerido pela Comissão do Codex
Alimentarius (Comissão mista da FAO e da OMS) em 1988 o valor limite de 1 Bq/l.
Em relação a βglobal o valor máximo recomendado de acordo com o D.L. nº 236/98 é de
1Bq/l, em termos de qualidade de água para consumo humano.
Em relação às análises bacteriológicas, realizadas na água do Furo AC1A, no
período correspondente ao período das análises físico-químicas, apresenta-se a síntese
dos resultados globais no Quadro 4. Dos resultados conclui-se que em termos bacterio-
lógicos o recurso do Furo AC1A é óptimo, apresentando-se sempre como água própria.
5 - Aplicações Potenciais do Recurso
O uso da água tipo Longroiva, em termos terapêuticos perde-se num passado,
inacessível às gerações actuais, por falta (ou desconhecimento) de documentos escritos.
O Aquilégio Medicinal de Fonseca Henriques (1726), publicado portanto à 275 anos, já
referencia o recurso de Longroiva, deixando a noção, de que a tradição de usar a água
sulfúrea em aplicações terapêuticas já vinha de muitos anos atrás.
Entretanto, o seu uso, na sequência de bons resultados populares, tem-se
transmitido de geração em geração, sendo mesmo de realçar que a água em causa foi já
alvo de um estudo científico preliminar (Valentim,1990), de onde resultou claramente
CO - 94
Comunicações_______________________________________________________________________
Quadro 3 - Comparação entre resultados de análises físico – químicas completas de várias águas minerais termais portuguesas classificadas como sulfúreas, apresentados em DGGM (1992) e a água da Captação AC1A de Longroiva.
Lon-groiva
S.P.do Sul
U. da Serra
Man-teigas
Carva-lhal
São Gemil
Fel-gueira
Alca-fache
Are-gos
Parâmetro
2000 08/06
1989 10/ 03
1986 06/ 10
1986 10/07
1986 11/10
1989 10/02
1991 04/19
1988 21/06
1989 11/09
Temperatura - ºC (na emergência)
45.2 67.0 28.0 21.5 23.0 48.0 35.8 48.2 61.8
pH
8.85 8.90 8.70 9.5 9.30 8.40 8.40 8.40 9.2
Conductividade (µScm–1 )
637 450 375 195 380 555 620 520 381
Dureza p.p.105CaCO3
0.75 0.80 1.2 0.90 0.60 1.45 1..33 1.20 0.70
Alcalinidade (HCl 0.1N) – ml/l
30.7 23.7 17.3 11.8 22.6 30.5 26.7 26.8 19.7
Sulfuração total (I2 0.01N) - ml/l
46.3 23.1 14.8 10.1 24.9 20.6 6.8 1.6 22.1
Silica (mg/l)
67.5 70.9 57.8 29.1 56.4 81.9 47.5 51.5 53.5
Resíduo seco a 180ºC (mg/l)
395 298.4 244.4 158.4 296.0 394.6 341.2 288.4 272.4
Mineralização total (mg/l)
457.0 341.1 284.7 169.1 336.4 468.5 414.0 359.7 313.3
Na+ 125.0 87.0 72.2 43.0 92.8 113.5 111.0 91.5 83.9 Ca2+ 2.6 3.2 5.1 3.5 1.6 5.6 5.2 4.8 2.8
Catiões K+ 4.3 3.5 2.2 0.8 2.4 4.5 2.5 2.56 2.1 (mg/l) Mg2+ 0.04 0.02 < i.d. 0.1 0.5 0.11 0.10 < i.d. 0.02
Li+ 0.78 0.55 0.38 0.18 0.38 1.44 1.11 0.70 0.21 NH4
+ 0.58 0.25 0.035 < i.d. 0.15 0.27 0.019 < i.d. 0.18 HCO3
- 146.0 103.7 87.8 31.1 87.8 170.5 162.0 153.7 84..8 Cl- 45.4 28.8 28.7 6.7 28.4 54.3 51.1 33.7 29.8
SO42- 12.7 0.6 6.8 12.7 4..9 7.4 11.5 3.4 8.9
F- 24.0 17.1 17.1 9.9 21.4 17.2 14.8 14.0 19.2 Aniões CO3
2- 6.9 8.6 3.3 9.6 10.5 2.7 2.7 2.4 6.0 (mg/l) NO3
- <0.38 < I.D. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. NO2
- <0.02 <I.D. <i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. HS- 7.6 3.0 2.4 1.7 3.8 2.5 1.1 0.07 3.4 H3SiO4
- 13.1 - - 20.0 23.6 - 2.9 - 17.2 Ag <0.5 < i.d. 2 0.2 < i.d. - < i.d. < i.d. 0.5 Al <12 640 n.d. n.d n.d. < i.d. < n.d. < n.d. n.d. As <3 < i.d. - 140 42 < i.d. 0.039 11 16 B 288 1303 345 135 190 2123 720 280 526 Ba 107 < i.d. 148 4 < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. Elementos Be <1 0.6 0.6 0.2 0.2 0.5 0.8 0.8 0.7 Cd <1 2.1 0.3 0.3 < i.d. < i.d. < i.d. 0.2 0.9 Secundá- Co <6 < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. 1 10
rios Cr <6 8 < i.d. < i.d. 3 < i.d. < i.d. < i.d. 5 (mg/l) Cu <2 < i.d. 1 < i.d. 3 < i.d. < i.d. 2 1
(x10-3) Fe <3 60 6 3 6 < i.d. 60 11 11 Mn 1.1 2 17 3 2 6 11 10 8
Mo <4 < i.d. 4 10 7 < i.d. 9 7 2 Ni <4 < i.d. 2 < i.d 3 < i.d. < i.d. < i.d. < i.d.
Pb <6 11 14 26 18 7 6 6 17 Sb <3 < i.d. 2 3 5 < i.d. 3 < i.d. 4
Sr 88 n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. n.d. V <2 < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. < i.d. W 82 37 18 n.d. n.d. 92 79 51 - Y <1 < i.d. < i.d. 0.1 < i.d. < i.d. < i.d. 0.1 0.8 Zn <2 8 31 7 4 4 13 11 7 Classificação iónica
Sulfúrea, Bicarbonatada, Sódica, Fluoretada
n.d. – valor não determinado; i.d. – valor abaixo dos limites detectáveis.
CO - 95
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________
Quadro 4 - Resultados de análises bacteriológicas realizadas em água do Furo AC1A para legalização das Termas de Longroiva.
PESQUISA DATA 1 2 3 4 5 6 7
99/05/04 1 1 0 0 0 0 0 99/06/09 2 4 0 0 0 0 0
99/07/20 1 2 0 0 0 0 0 99/08/24 1 1 0 0 0 0 0 99/09/07 2 3 0 0 0 0 0 99/10/19 1 1 0 0 0 0 0 99/11/10 2 1 0 0 0 0 0 99/12/07 1 4 0 0 0 0 0 00/01/24 1 0 0 0 0 0 0 00/02/08 2 1 0 0 0 0 0 00/03/14 1 2 0 0 0 0 0 00/04/04 1 3 0 0 0 0 0 00/05/02 1 1 0 0 0 0 0 00/06/19 1 2 0 0 0 0 0
00/09/06(*) 0 0 0 0 0 0 0 00/09/26(*) 0 0 0 0 0 0 0 00/10/10(*) 0 0 0 0 0 0 0 00/11/21 1 1 0 0 0 0 0 PESQUISAS:
1-Nº de Colónias por ml, em placa de gelose-padrão a 37º, 24 horas. 2-Nº de Colónias por ml, em placa de gelose-padrão a 22º, 72 horas. 3-Nº de Coliformes totais por 250 ml. 4-Nº de Coliformes fecais por 250 ml. 5-Nº de Estreptococos fecais por 250 ml. 6-Nº de Esporos de Clostridia sulfito-redutores por 50 ml. 7-Nº de Pseudomonas aeruginosa por 250 ml.
(*) - Análise efectuada laboratório da ARS de Viseu em acordo com a ARS da Guarda, devido a dificuldades no laboratório desta última, onde era usual efectuar as análises.
que a água tipo Longroiva apresenta sinais evidentes de poder desencadear respostas
biológicas passíveis de aproveitamentos terapêuticos.
Os usos do recurso no passado/recente incidiam no âmbito de doenças de
reumatismo e de pele, efectuados no balneário existente. Tendo por base as Termas com
águas sulfúreas legalizadas e mencionadas no Quadro 3, entende-se que deverá haver
estudos médico-hidrológicos, no sentido de comprovar os efeitos terapêuticos em
especial em doenças do foro reumatismal e das vias respiratórias.
De modo a ter-se uma noção sob o ponto de vista económico do aproveitamento
do recurso em estudo, considerando o cenário apresentado em UBI (2001b), com
funcionamento das Termas durante todo ano, encerrando apenas aos domingos, com
um uso diário de 8 horas, e com as técnicas principais seguintes: Banho de imersão com
hidromassagem (20min), Duche regional e local (15min), Duche com massagem Vichy
(15 min), Vapor parcial à coluna (20 min), Vapor parcial aos membros (20min),
CO - 96
Comunicações_______________________________________________________________________
Emanatórios colectivos (20min), Irrigação nasal (60min), Pulverização nasal (60min),
Aerossóis (60min), e ainda Piscina com 166.4m3 (20min), será possível efectuar 3064
tratamentos/dia. Admitindo que cada pessoa efectua em média 3 tratamentos/dia, há
potencial em termos de caudal de água mineral disponível, para um balneário com 1021
pessoas/dia. Considerando que cada pessoa passa 15 dias nas Termas, o balneário
poderá comportar durante um ano 24504 aquistas, e que, com um pagamento total por
pessoa em tratamentos e consultas de 250 EURO, possibilitará obter uma receita bruta
de 6 126 000 EURO/ano (1.2 milhões de contos).
Agradecimentos
Agradece-se a todos os que contribuíram para a constituição do presente trabalho,
e em especial à C.M.de Mêda por financiar o presente projecto.
Bibliografia ANON. (1970). O Clima de Portugal. Normas Climatológicas do Continente, Açores e Madeira correspondentes a 1931-1960. Fasc. XIII. 2ª Ed., 207p.,Lisboa. CANTO MACHADO,M.J.(1988). Caracterização Química detalhada da água do Banho de Longroiva LDGGM. 11p. CANTO MACHADO,M.J.(2000). Análises química completa da água das Termas de Longroiva (captação nova). Rel. 12/H/2000; 5p. DGGM (1992). Termas e Águas Engarrafadas em Portugal. Direcção Geral de Geologia e Minas. EGIP (1991). PDM de Vila Nova de Foz Côa. I – Estudos de caracterização. Cap.1 – Caracterização Física. C.M. de Foz Côa. FERREIRA DA SILVA, A. & RIBEIRO, M. L. (1991). Notícia Explicativa da Folha 15-A. Vila Nova de Foz Côa. S.G.de Portugal. Lisboa. 52p. FONSECA HENRIQUES, F. (1726). Aquilégio Medicinal. Edição fac-similada. Publicada por IGM, em 1998. Lisboa. GEO-HIDROL, LDA, (1972). Estudo Hidro-geológico e Projecto de Captação da Nascente Súlfurea. Caldas de Longroiva. I.G.C. (1973). Carta de Portugal. Folha 15 – Pinhel – Escala 1/100 000. KELLER & A CAVACO (1998). Trabalhos de desenvolvimento de recursos hidrominerais e geotérmicos nas Termas de Longroiva. Fase 1-Estudo.Relatório Intercalar. KELLER e ACAVACO (1999). Trabalhos de desenvolvimento de recursos hidrominerais e geotérmicos. Relatório Final. Câmara Municipal da Mêda. LENCASTRE, A. & FRANCO, F. M.(1984). Lições de Hidrologia. UNL. Monte da Caparica. 451p. SILVA, J.J.R.F. & ALMEIDA, J.D. (1970) Relatório de Análise. Água das Caldas de Longroiva (nascente sulfúrea). 10p. S.G.P.(1992). Serviços Geológicos de Portugal. Carta Geológica de Portugal. Escala 1/500000. Lisboa. TECNOPÓRTICO (1994). PDM de Mêda. Análise Biofísica. Elementos anexos. Vol.I. C.M. de Mêda TEIXEIRA DUARTE (1974). Banhos de Longroiva. Captações TD1 e TD2. D.G.M. e Serv. Geológicos. UBI (1999). Estudos , Notas e Trabalhos sobre recursos hidrominerais e geotérmicos das Termas de Longroiva. Câmara Municipal de Mêda. UBI (2001a). Estudo Hidrogeológico para enquadramento legal das Termas de Longroiva. Câmara Municipal de Mêda. UBI (2001b). Plano e Exploração das Termas de Longroiva. Aditamento ao Estudo Hidrogeológico para enquadramento legal das Termas de Longroiva. Câmara Municipal de Mêda. VALENTIM, R. (1990). Aspectos fisio-farmacologicos da água de Longroiva (Mêda). 12 p.
CO - 97
II Seminário – Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território _______________________________________________________________________