igreja luterana 1963 nº2

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5/17/2018 IgrejaLuterana1963nº2-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/igreja-luterana-1963-no2 1/65  Igreja Luterana REVISTA TEOLóGIC da Igreja Evangélica Luterana do Brasil •• Ano XXIV Pôrto Alegre 963  CASA PIJBLICADORA CONCóRDIA S A

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Marxismo e Cristianismo

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    IgrejaLuterana\

    REVISTA TEOLGICAdaIgrejaEvanglicaLuteranado Brasil .

    Ano XXIV Prto Alegre1963

    .CASA PIJBLICADORA CONCRDIA S.A.

  • IGREJA LUTERANA REVISTA TEOLGICA

    da Igreja Evanglica Luterana do Brasil (trimestral)

    Autorizada a circular por despacho do D. I. P. - Proc. 9.631-4G

    Redatores: Prof. Prof.

    Dr O.

    H A.

    Rottrnann Goerl

    Editora Casa Publicadora Concrdia S.A. Tiragem: 350

    Ano XXIV Porto Alegre 1963 N" 2

    MARXISMO E CRISTIANISMO Arnaldo SCHLER

    Trabalho apresentado conferncia de pastores e professo-res do distrito de Porto Alegre, em julho do ano em curso.

    "Todos os que creram estavam juntos, e tinham tudo em co-mum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o pro-duto entre todos, medida que algum tinha necessidade" (Atos 2.44,45).

    "Da multido dos que creram era um o corao e a alma. Nin-gum considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que pos-sua; tudo, porm, lhes era comum. Com grande poder os apstolos davam o testemunho da ressurreio do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graa. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuam terras ou casas, vendendo-as, tra-ziam os valores correspondentes, e depositavam aos ps dos aps-tolos; ento se distribua a qualquer um medida que algum tinha necessidade" (Atos 4.32-35).

    comum verem-se referidas em apoio do marxismo as passa-gens que epigrafamos. Cristianismo e marxismo o assunto que vamos conferenciar.

    Questo terminolgica Devemos tratar, preliminarmente, uma questo terminolgica.

    Existe a tendncia de sinonimizar marxismo e comunismo. Anuncia um autor que vai criticar o marxismo, e, a certa altura, autoriza-se com a Quadragsimo Anno, de Pio XI: O comunismo considera a produo como fim nico da organizao social que preconiza. Seus leitores passam adiante a noo: Um dos erros de Marx foi ensinar que a produo o fim nico, etc. Vai-se s fontes, e descobre-se que a produo, para Marx, nem sequer o fim principal. Mais alm, nosso autor afirma que o marxismo nada mais do que a explorao do proletariado por um sistema de capitalismo estatal e aponta a Unio Sovitica, provando que l no se discutem

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    salrios, explora-se a mais-valia, no se paga na medida da neces-sidade de cada um, mas segundo o .trabalho, pratica-se, enfim, um monoplio da pior espcie, um capitalismo com alguns dos vcios prin-cipais do pr-capitalismo. Vai-se s fontes, e deseobre-se que o pro-testo contra a explorao do trabalho por parte de qualquer forma de capitalismo a substncia do miolo das ideias marxistas sobre o problema econmico. O sonho de Marx era ver os instrumentos de produo a servio da sociedade humana, no a servio de um Estado.

    Queremos esclarecer que marxismo ou marxista, em nossos comentrios, referir-se- sempre doutrina da Carlos Marx e Fre-derico Engels, ou concepo do mundo obra coletiva que tem na figura de Marx um de seus principais representantes. Mar-xismo, nestes comentrios, nunca designar a ideologia e a prtica do bolchevismo. No analisaremos, portanto, oposies entre o cris-tianismo e o mundo dos horrores e comunistas de hoje, ou entre cristianismo e um marxismo deturpado e caluniado por ignorantes, por comentadores de pouca exao ou por simples maldosos a ser-vio de interesses menos nobres. Procuraremos verificar o que Marx e Engels realmente ensinaram e quais os elementos de sua doutrina, ou da mundivivncia de cuja estruturao foram os prin-cipais arquitetos, em antagonismo efetivo com o cristianismo, no com possveis preconceitos de cristos ou com um cristianismo de-turpado e rnal compreendido. Mais. Procuraremos evitar tambm os inmeros erros de interpretao ocasionados por incoerncias do prprio Marx.

    Retificaes preambulares

    Afirmamos que existe um Marx deturpado, caluniado, no bem interpretado. Ilustrando a afirmao, avanar-nos-emos na anlise de nosso assunto.

    J se condenou como praga marxista a ideia do comunismo sexual, a ideia da transformao da mulher em rameira, internacio-nal. Eis o que escreveu Marx: "Na relao com a mulher, como presa e serva da luxria comunal, expressa-se a infinita degrada-o de si prprio existente no ntimo do homem" (Manuscritos Eco-nmicos e Filosficos, pg. 126). Esta sua opinio sobre a ideia de alguns pensadores comunistas que julgavam razovel abolir tam-bm a propriedade privada no que diz respeito s mulheres. A ideia do comunismo quanto s mulheres do sublime Plato. Preconi-za-a em seu Estado ideal, restringindo, porm, a abolio da pro-priedade privada s duas classes superiores: os filsofos e os vigi-lantes, ou guerreiros. Do que se pode colher dos escritos de Marx, pensava le que numa sociedade de comunismo integral o amor seria livre, sim, mas no sentido de a mulher no ser nunca escrava do homem e no sentido de a unio monogmica s perdurar en-quanto haja amor, no havendo nenhum empecilho dissoluo

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    do matrimnio e constituio de outro. Claro que isto no se har-moniza com a posio crist. Todavia, claro tambm que a ideia de Marx no se confunde com quaisquer teses de comunismo sexual, entendido este como comrcio sexual de grupos de homens com gru-pos de mulheres, ou de todos os homens com todas as mulheres.

    Basta dizer que Marx foi materialista lembra algum. Cre-mos que no basta. Convm esclarecer em que sentido o foi. Mate-rialismo, na acepo filosfica do termo, no sinnimo de hedo-nismo, ou epicurismo, no sentido de sensualidade; no a afirmao do primado do ganho e conforto materiais, o primado do deus-ventrc e do bezerro de ouro. Estas coisas o materialismo de Marx as expro-bra ao capitalismo de seu tempo. Materialismo, em filosofia, designa sistemas que negam a substncia imaterial. Quando se fala em materialismo a propsito de Marx, deve entender-se o termo nesta sua acepo filosfica, no no sentido que se lhe empresta em debates de natureza tica ou axiolgica, ou quando se discute psi-cologia das paixes.

    Vejamos agora duas inexatides muito difundidas no que diz respeito ao materialismo histrico, designao equvoca que deve-ria ceder o lugar expresso materialismo econmico. Dmos a palavra a Marx, para que nos diga o que entende por materialismo histrico: "O resultado geral a que cheguei, e que, uma vez al-canado, serviu de guia a meus estudos, pode ser assim sintentiza-do: na produo social de sua vida, os homens ingressam em rela-es definidas, que so indispensveis e independem de sua von-tade, relaes de produo correspondentes a determinada etapa de evoluo de suas foras produtivas materiais. O grande total dessas relaes de produo constitui a estrutura econmica da sociedade, o verdadeiro alicerce sobre o qual se ergue uma super-estrutura ju-rdica e poltica qual correspondem formas definidas de conscin-cia social. O sistema de produo da vida social condiciona o pro-cesso da vida social, poltica e intelectual em geral. No a cons-cincia dos homens que determina seu ser social, porm pelo contr-rio, seu ser social que determina a conscincia deles" (Prefcio a uma Contribuio Crtica da Economia Poltica, Obras Seletas, Marx-Engels, vol. I, Moscou, 1955, pginas 362-362).

    Notemos, em primeiro lugar, que, segundo o materialismo histrico, o modo de produo determina o modo de pensar, os dese-jos, os interesses, ao passo que segundo o materialismo na acepo vulgar, extrafilosfica, a motivao fundamental do homem o ouro, o estmago e a libidinagem.

    De passagens como a que transcrevemos, poder-se-ia inferir que o homem, no entender de Marx, mero joguete de circunstncias. Todavia, no foi esta a exata posio de Marx. Nega-o le explici-tamente: "A doutrina materialista referente mudana das cir-cunstncias e da educao esquece que as circunstncias so modifi-cadas pelos homens e que o prprio educador tem de ser educado" (Ideologia Germnica, Marx-Engels, N. Iorque, 1939, ng. 197).

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    paradoxal e incoerente que Marx afirme a existnxia de ideais inerentes ao homem, bem como a capacidade do homem no sentido de faz-los valer no processo histrico, mas a verdade que le afir-ma ambas as coisas. Voltaremos questo mais a diante.

    Convm chamar ainda a ateno para um ataque ao marxismo que representa uma incoerncia da parte de muitos de seus crticos quando feito em termos absolutos: a agresso tese marxista sobre o uso da violncia. Como sabido, Marx defende o apelo para a revoluo pelas armas, que foi o mtodo usado em' 70 % das revolu-es, segundo uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard. Muitos democratas costumam falar dessa tese com ares de mahatma Ghandis contrafeitos por semelhante filosofia de ani-mais. Esquecem que a revoluo a me da democracia ocidental. Se no h dvida que o ideal a transformao pacfica do quei deva ser transformado, tambm no h dvida que os democratas sempre admitiram, pelo menos na prtica, a hiptese da revoluo sangrenta. Apenas queremos dizer que no muito convincente atacar, de um lado, e em termos absolutos, a ideia que legitima o uso da fora, e de outro, fazer discursos vibrantes sobre o Sete de Setembro, exaltar a Revoluo Francesa, celebrar figuras como Jorge Washington e Abrao Lincoln, ou endossar o nosso Rui Bar-bosa quando afirma, numa conferncia em que tritura o governo do marechal Hermes: "A maior das revolues estaria cem vezes justificada com esses desvarios, que anulavam a federao, des-truam o regmen constitucional, aboliam a justia e canibalizavam a poltica brasileira" (A Crise Moral, Organizao Simes, pg. 104).

    Marx via na atividade revolucionria apenas um meio de le-var a termo uma nova ordem social j em gestao: "A fora ' a parteira de toda sociedade antiga que carrega no ventre uma nova" (O Capital, vol. I, pg. 824). O certo que a maioria dos demo-cratas escandalizados com a defesa da violncia sempre aplaudiu de p as intervenes cesarianas da parteira marxista. Observa-se que os elogios ou as condenaes de que ela objeto dependem do ventre em que mete ou ameaa meter o bisturi.

    Outro* equvoco diz respeito tese marxista da abolio da propriedade privada. H quem diga: No abro mo do direito de posse exclusiva de uma casa, uma horta, um automvel, etc. Impor-ta notar que Marx usa a expresso propriedade privada num sen-tido histrico bem definido. Em seus escritos, esta expresso designa a posse individual dos meios de produo no sistema capitalista. Meios de produo, para le, matria-prima e ferramenta. ISfo interfere com a casa, a horta e o automvel de ningum, interes-sante citar aqui a Constituio Sovitica, de 1936. Diz ela, no arti-go dcimo, que a lei protege o direito pessoal de propriedade, o di-reito de salrio e economias, de moradia e atividade econmica a ela anexa, dos instrumentos da atividade econmica anexa e dos utenslios de uso domstico, dos objetos que satisfaam necessi-

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    dades ou o conforto pessoal, bem como o direito de herana no que diz respeito propriedade pessoal do cidado.

    Ainda uma advertncia para os que desejam julgar acertada-mente da economia poltica de Marx, a parte de sua obra que mais interessa cincia: preciso no perder de vista que sua anlise crtica tinha por objeto o capitalismo decimononista, da primeira revoluo industrial, fato que torna sua anlise caduca em grande medida, pois as coisas evoluram de l para c. J ingressamos na era da revoluo tcnica, na era da ciberntica, da aplicao da energia atmica, etc. O elemento positivo de sua crtica est nos defeitos que apontou no capitalismo da velha guarda, defeitos que o neoliberalismo econmico de nossos dias tenta superar.

    Contexto histrieo-social

    oportuno acrescentar aqui algumas palavras que ajudem a compreender o surgimento e florescimento da ideologia marxista.

    Criaram-lhe ambiente propcio as consequncias prticas da concepo imoral de uma economia absolutamente autnoma. O liberalismo do sculo passado, que concebia o Estado como orga-nismo destinado a manter a ordem pblica e fazer cumprir a lei, deixando o bem-estar econmico do povo merc do jogo de inte-resses da livre empresa (laissez-faire), provocou tambm o surgi-mento dos Estados totalitrios. O individualismo liberal, que rela-xou, sem dvida possvel, o aspecto social do ser humano, atomi-zando a sociedade, s poderia resolver os problemas econmicos e sociais se fossem verdadeiros seus pressupostos. Um destes presu-postos o da espontnea autolimitao de cada um. A histria do sculo passado e a do nosso evidencia a insuficincia de se assegurar a autodeterminao do indivduo num sistema de livre concorrn-cia, sonhando que da resultar a harmonia no plano econmico e social. Este sistema no impede, por exemplo, a formao de mo-noplios que suprimam exatamente a livre concorrncia. O fato in-discutvel que o simples aumento da produo de forma nenhuma garante automaticamente mais bem-estar para todos. Tambm no padece contestao que s a gancho os operrios conseguiram a fi-xao de salrio-mnimo, seguro contra acidentes, limitao das horas de trabalho, frias remuneradas, direito de se associarem para a defesa de seus interesses, etc.

    Marx tornou-se intrprete da vasta desiluso produzida nas massas pelo liberalismo selvagem de seu sculo, que rebaixou o trabalho humano a mercadoria e o explorou criminosamente.

    O interesse nico que orienta o mau capitalismo o lucro do indivduo. Sacrifica ao lucro, sempre que possvel, todo e qualquer interesse coletivo. A criatura humana lhe um animal capaz de realizar determinados trabalhos e obrigado a comprar determina-dos produtos. Este inumanismo, praticamente materialista, o gran-de responsvel pelo surgimento e florescimento da esquerda radical.

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    Ningum pode negar que o capitalismo liberal em sua primeira fase desempenhou papel til e at necessrio em sua poca, criando o desenvolvimento tcnico e o progresso industrial. Reconhecem-no Marx e Engels no Manifesto Comunista (1848), onde afirmam que a burguesia realizou maravilhas superiores s pirmides egpcias, aos aquedutos romanos, s catedrais gticas: civilizou as naes. falso, contudo, o princpio deste capitalismo: o maior lucro poss-vel para o dono absoluto da empresa. Marx afirma que esta nsia desvairada de lucro na economia liberal-individualista conduz fa-talmente explorao do operrio. Nenhum cristo duvidar esta afirmao. Nem assinar a tese do dono absoluto da empresa. Se-gundo o cristianismo, no h proprietrios absolutos de nada; ape-nas h mordomos. A tese do dono absoluto da empresa nem se pode sustentar luz da razo. Por sua finalidade, a empresa no interessa exclusivamente ao dono. Sua finalidade social no permite que o proprietrio lide com ela como se lida com bens de uso e consumo. O bom senso jurdico sujeitar o dono a preceitos de direito pblico que defendam os interesses coletivos envolvidos na empresa.

    O cristo repudiar tambm o princpio do livre jogo das for-as econmicas. Seu princpio outro: Amars o teu prximo como a ti mesmo. Estes dois princpios mutuamente se excluem. A men-sagem social do cristianismo a lei do amor, no o catch as catch can do liberalismo econmico em sua forma selvagem.

    No se cometa, porm,, o erro de pensar que Marx apenas cri-ticou defeitos do pr-capitalismo de sua poca. Para le, o esbulho capitalista da lgica do sistema. Baseia esta crtica na teoria da mais-valia. Exporemos, rapidamente, esta teoria e em seguida apon-taremos as divergncias irredutveis entre marxismo e cristianismo, que propriamente nosso tema.

    Conceito de mais-vaia

    Diz Marx que o assalariado vende fora ou capacidade de tra-balho, produzindo, entretanto, valor superior ao que recebe. A di-ferena a mais-valia, que vai ao bolso do dono da empresa. Em outras palavras: o assalariado trabalha mais do que seria neces-srio ao seu sustento. Desse tempo a mais apropria-se o capitalis-mo. Ilustremos com um exemplo hipottico: um operrio ganha Cr$ 500,00 por dia. Em quatro horas de trabalho produz, por hip-tese, mercadoria no valor deste salrio. Trabalhando, porm, oito horas, produz mercadorias no valor de Cr$ 1.000,00. Sustentando-se o operrio com apenas quatro horas de trabalho, no sobretempo (mais quatro horas) realiza produto cujo valor comutativo corres-ponde aos vveres de mais um dia de trabalho. Deste sobretempo beneficia-se o capitalista. O aumento de valor correspondente ao trabalho do sobretempo a mais-valia. O capitalista emprega parte de seu capital em melhorias e aquisies capital constante; em-prega outra parte em salrios capital varivel. este capital

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    varivel, assim chamado porque varia conforme a fora de tra-balho empregada pelo empresrio, que produz a mais-valia, pois o capital gasto em salrios produz mais valor do que o valor dos salrios. A tendncia do empresrio ser, pois, aumentar a taxa da mais-valia (o lucro o motor da economia capitalista). Na poca de Marx o capitalista podia alcanar esse objetivo atravs da ex-plorao dos assalariados, diminuindo o salrio ou aumentando as horas de trabalho. Quando surgiram as leis que limitam as horas de trabalho e fixam o salrio-mnimo, viu-se o capitalista obrigado a seguir outro mtodo: aumentar a produtividade atravs de mqui-nas cada vez mais aperfeioadas. Mas isto implica em aumento mais rpido do capital constante do que do varivel. Nesta situao, a taxa de lucros tende a baixar. Os prejudicados reagiram de vrias maneiras. Uma delas a formao de monoplios, o que lhes per-mite controlar a produo.

    Em resumo, a tese de Marx a seguinte: o direito ao valor to-tal da produo do conjunto dos que produzem. No procede a afirmao de que Marx haja defendido o direito do indivduo ao valor total do que produz. Falsa tambm a afirmao, muito comum, de que segundo Marx apenas o trabalho manual produz valor, e que apenas este trabalho tem direito a remunerao. Marx reconhece que tambm produz valor o crebro que dirige a produo, e defen-de, como bvio que fizesse, a remunerao de quem trabalha na distribuio dos produtos. Sua crtica incide sobre o fato de um indivduo ou grupo se beneficiar da mais-valia.

    No teria cabida aqui uma anlise pormenorizada da economia poltica de Marx. Cairamos fora de nosso tema. Expusemos o con-ceito de mais-valia porque a le j nos referimos duas vezes. Acres-centaremos to somente algumas linhas a propsito das expresses "valor comutativo" e "valor de uso", de que acima nos valemos.

    Valor comutativo de uma mercadoria a estimativa dela quan-do encarada sob o seu aspecto de capacidade de troca. Valor de uso de uma mercadoria a estimativa do objeto sob o aspecto de sua utilidade. Marx defende a tese de que o trabalho humano a me-' dida pela qual se afere o valor de troca, Salta aos olhos que defei-tuosa esta teoria, que se aplica apenas na hiptese de ser o valor da mercadoria determinado pelo trabalho. Qualquer madeireiro dir que o valor de troca do jacarand superior ao do pinheiro por causa do diferente valor de utilidade dos dois, no por causa do trabalho humano. E se dois moos por exemplo, visitam, durante o mesmo espao de tempo, uma escola tecnolgica, e, formados, empregam, por hiptese, o mesmo tempo de trabalho na produo de determinados utenslios, e assim mesmo o valor comutativo do utenslio de um deles superior ao do outro, a causa da diferena de valor estar na maior ou menor perfeio do produto, devida a. diferena de talento. Em ambos os exemplos, o valor de utilidade pesa na determinao do valor de permuta. Segundo a teoria econmica aceita pelo maior nmero de tericos de hoje, o valor

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    da mercadoria determinado pela utilidade que ela representa para o comprador. Todos este tericos, por isso mesmo, esto de acordo com Joseph Schumpeter quando o renomado professor declara a teoria marxista morta e sepultada (cf. Capitalismo, Socialismo e Democracia). uma teoria que s funciona quando se pressupe uma srie de condies que no se verificam na realidade. O prin-cpio do trabalho-quantidade no leva em considerao o trabalho especializado, a habilidade, as diferenas naturais entre operrios, a maior ou menor aplicao. Considera o trabalho apenas do ponto de vista do tempo mdio social, isto , o tempo socialmente necessrio para fabricar certa espcie de objetos: aqueles que podem ser re-produzidos em srie.

    Se justo salientar estes pontos fracos da teoria, no justo, porm, de outro lado, dar a entender, como tantas vezes se faz, que Marx no percebeu estas lacunas. Marx no pretende, por exem-plo, que sua teoria tenha aplicao ao trabalho artstico. Podera-mos dizer ainda que do ponto de vista do dever-ser marxista, a; ilustrao do jacarand e do pinheiro no subsiste, pois no mundo sonhado por Marx o dono destas riquezas naturais a humanidade.

    Antagonismo fundamental entre marxismo e cristianismo

    Passaremos a estudar agora o antagonismo doutrinrio funda-mental e irredutvel entre marxismo e cristianismo. Este espiri-tualista. -lhe essencial a finalidade extra-terrena. Aquele mate-rialista. O horizonte de sua filosofia e o marxismo acima de tudo uma filosofia a vida terrena. Em oposio ao terrenismo marxista, que sonha com uma ptria utpica do aqum a ser orga-nizada pelo homem, o cristianismo nos aponta um mundo renovado por Deus, afirmando que s nele o homem se realizar integral-mente.

    Base filosfica do marxismo

    A base filosfica do marxismo o materialismo dialtico. Cha-ma-se assim porque sua filosofia do ser materialista e seu mtodo de pesquisa o mtodo dialtico.

    O conceito dialtica vem da filosofia grega. A tcnica dialti-ca, a princpio, era a arte da discusso, a arte de raciocinar divindo os conceitos em gneros e espcies, a fim de descobrir as contradi-es do adversrio e super-las, para alcanar a verdade. Era o movimento do logos. No vocabulrio marxista, dialtica a lei da mudana, a lei das contradies no mundo e no pensamento. A ideia fundamental da filosofia dialtica a unidade de todas as contradi-es. A partir desta ideia, Hegel, filsofo idealista (identificou o contedo do pensamento com o objeto do pensamento e negou a existncia de objetos reais independentes do pensamento), criou a frmula tese (posio ou afirmao) anttese (oposio ou nega-

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    o) sntese (composio ou negao da negao). Segundo este jogo trifsico, firmada a sntese, transforma-se ela em tese, reinician-do-se o processo. A tese o equilbrio primitivo, a anttese a ruptura do equilbrio e a sntese o restabelecimento do equilbrio em nova base. Esta trade ocorre nas ideias, que constituem a substncia da realidade. A histria universal o desenvolvimento do espirito no tempo, como a Natureza o desenvolvimento da ideia no espao. Esta , em sntese, a filosofia dialtica de Hegel, um dos mais difceis sistemas filosficos. No precisa sentir-se muito deprimido quem no entendeu nada. Confessou Hegel, quando se aproximava a hora de sua morte, que ningum o havia entendido, com exceo de Miche-let. E acrescentou, desolado: E este ainda me entendeu mal.

    Os discpulos de Hegel dividiram-se em direita e esquerda hege-liana. Aqueles, conservadores, adotaram o mtodo e a doutrina do mestre e procuraram conciliar hegelianismo e cristianismo. Estes aceitaram o mtodo, rejeitando, porm, o idealismo de Hegel e substituindo-lhe o materialismo. Entre eles esto Ludwig Feuerbach e Marx.

    Entendia Marx que as ideias de Hegel valiam para algumas coisa, todavia s depois de desponta-cabeceadas. E tratou de virar a dialtica hegeliana, porque esta estava de ponta-cabea, em vir-tude do idealismo de Hegel, que concebia a histria do mundo como histria da luta de ideias. Com o mtodo dialtico hegeliano despido de sua vestimenta idealista e acrescido da crtica feita a Hegel pelo materialista Ludwig Feuerbach, formulou os princpios do mate-rialismo dialtico. Segundo a ideia nuclear do neo-hegelianismo marxista, as contradies do pensamento no se devem exclusiva-mente imperfeio da inteligncia. Tm um fundamento na rea-lidade extra-mental. O mtodo dialtico pretende ser o instrumento adequado para a anlise dos elementos contraditrios da realidade objetiva, cuja unidade est no todo em movimento. Proletariado e burguesia, por exemplo, so dois elementos contraditrios da rea-lidade objetiva, duas classes nascidas do entrechoque de foras eco-nmicas, no de ideias, como pretendia Hegel. A burguesia tese, o proletariado anttese, a sociedade comunista ser a sntese.

    O Dicionrio Filosfico Sovitico de Judin e Rosental assim define a dialtica: "A dialtica a cincia das leis gerais da evolu-o na Natureza, na sociedade humana e no pensamento." Esta ltima, a cincia das leis gerais evolutivas do pensamento, a cha-mada dialtica subjetiva. Corresponde, mais ou menos, nossa L-gica.

    Segundo Estaline, os quatro elementos bsicos da dialtica marxista so os seguintes:

    1. Considera todos os fenmenos da Natureza em sua conexo e em seu condicionamento recproco;

    2. Concebe a Natureza e todas as suas manifestaes como estando em contnuo movimento, modificao e desenvolvimento;

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    3. Considera o processo evolutivo a) como evoluir do inferior ao superior; b) como evoluo desigual, sujeita a saltos repentinos graduais modificaes quantitativas causam repentinas modifica-es qualitativas ( o chamado salto dialtico, desesperada sada de emergncia em presena do enigma da realidade espiritual);

    4. Considera o processo evolutivo como luta dos contrrios. aqui o lugar para algumas observaes adicionais sobre o

    terceiro elemento bsico da dialtica marxista. Da. matria, elemen-to primacial, originou-se a conscincia, dogmatizam os filsofos marxistas. Ficariam atarantados se os reptssemos, seguindo a ve-lha e boa norma cientfica, a que provassem sua afirmao. Per-guntasse-lhes um Scrates que matria e qual o elemento da ma-tria que gerou o mistrio indecifrado da conscincia, e far-se-ia um silncio de chumbo entre os eloquentes defensores da tese. Quanto matria, o deus desconhecido dos marxistas, ainda no elabora-ram dela um conceito claro. uma das lacunas essenciais de sua filosofia, materialista. Tericos do comunismo identificam matria, ser, natureza e realidade. Tudo em nome do preconceito do monismo materialista. E est matria, ou ser, ou natureza se reduz a um puro vir-a-ser, o que equivale a afirmar a mudana e ao mesmo tempo ne-gar a coisa que muda, a substncia. Fica muito mal chamar a esta barafunda antifilosfica tranquilamente de cincia e alegar que tudo est garantido pelo mtodo dialtico, mtodo com o qual pretendem pesquisar, cientificamente, a realidade total e radical do devenir.

    Ensinam Marx e Engels que o animal principiou a tornar-se homem quando comeou a produzir seus alimentos. pelo trabalho, pela produo de vveres, assegura Engels, que o macaco se tornou ser pensante. Engels deixou de explicar como que o macaco che-gou a valer-se de instrumentos para o fim inteligente, refletido, de produzir vveres, se a reflexo surgiu apenas com esta espcie de atividade, como afirma. S fabrica instrumentos quem sabe pre-ver-lhes a utilidade, e quem sabe fazer isto j ser pensante. difcil compreender como que um animal racional pode sustentar a tese de que o homo sapiens nasceu do macaco fabricante.

    Materialismo histrico

    Analisemos agora um pouco o materialismo histrico, aplica-o ou extenso do materialismo dialtico pesquisa da histria da sociedade humana.

    Divergem os autores na exposio do pensamento de Marx so-bre as relaes entre a base econmica e a superstrutura ideol-gica. Entendem uns que na interpretao econmica de Marx o homem movido e determinado inteiramente pelo fator material da produo. Outros afirmam que a teoria marxista no ignora os motivos extra-econmicos, pretendendo apenas que o modo de pro-duo determina fundamentalmente a estrutura social, e esta mol-da atitudes, opinies, princpios. Marx efetivamente afirma que

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    as relaes de produo constituem a base, a infra-estrutura sobre a qual se edifica a superstrutura ideolgica, mas tambm deixa claro que a seu ver as condies econmicas no constituem a nica causa ativa. A superestrutura ideolgica, embora seja estril no sentido de no criar nada de novo, reage em alguma medida sobre a sua base econmica. No ensinasse esta interao e perderia o sentido a propaganda comunista, que pressupe a possibilidade de a ao humana acelerar o processo de transformao da infra-es-trutura econmica, apressando a sonhada sntese final. Quem estu-da atentamente a obra de Marx verificar uma evoluo de seu-pensamento que o levou a modificar a tese do exclusivismo causal afirmado de incio. Ler at esta concesso de Marx: certos pero-dos de mximo desenvolvimento da Arte no tm relao direta com a base material (cf. Crtica da Economia Poltica).

    Tambm preciso ter o cuidado de evitar a confuso entre o que Marx realmente ensinou e o que expositores-do marxismo deduzem de suas ideias bsicas. O que o analista do marxismo pode dizer em todo caso que em seu modo de ver a filosofia marxista conduz logicamente tese de que o fator material , em ltima anlise, o nico fator. Os marxistas no podem negar que todo e qualquer valor espiritual, em seu monismo materialista, sendo necessariamente produto da matria, dela depende inteira-mente.

    H uma boa dose de verdade na tese marxista: a conscincia reflete, em grande parte, certas condies objetivas. Quanto ao papel que as relaes de produo realmente desempenham, ques-to que no nos cabe discutir aqui. Apenas ainda uma ligeira refe-rncia a uma das contradies da teoria marxista. Afirma-se que a base material condiciona e gera a vida espiritual da sociedade. Acontece, porm, que qualquer organizao econmica humana j inclui elementos de natureza espiritual. Ensina, demais, a Histria que determinados tipos de organizao econmica surgiram era consequncia de ideias ou teorias. Em tais casos, a superstrutura condicionou a base. Haja vista o caso da teocracia judaica. Para evidenciar a debilidade cientfica da teoria pr-fabricada do mate-rialismo histrico, basta fazer uma srie de perguntas bem con-cretas: quais as relaes de produo que geraram e condiciona-ram o sermo do monte? e as sinfonias de Beethoven? e a Reforma Luterana? e a lngua grega? e a filosofia de Spinoza? . . . Devem os marxistas optar entre duas coisas: reconhecer a insuficincia de sua teoria, ou repetir a frase que um crtico espirituoso atribuiu a Hegel: Se os fatos concordam com minhas ideias, muito bem; se no concordam, pior para os fatos. Pior, por exemplo, para o fato de que no se verificaram mudanas tcnicas radicais entre a baixa Idade Mdia e o surgimento do capitalismo, ao passo que a vida cultural passou por transformaes profundas no mesmo perodo (cf. Teoria Literria, Rene Wellek y Austin Warren, Editorial Gre-dos, 1953, pg. 178). Fatos inmeros e de sentido evidente destroem

  • 80 Marxismo e Cristianismo

    a suposio de que os fatres objetivos aniquilam praticamente a vontade do homem. Mas esta falsa suposio est implcita na aplicao do materialismo dialtico pesquisa da histria da socie-dade humana, pois esta aplicao pressupe que as regularidades dialticas da Natureza so as mesmas da sociedade. H transforma-es necessrias, que arrastam o homem, uma direo bsica do processo histrico que o homem no pode desviar de seu rumo. Mas dentro dessa direo bsica, o homem pode orientar o fluxo dos acontecimentos com seu livre arbtrio. Isto sem mencionar o fato de que Deus orienta todo o curso da Histria em direo a fins esta-belecidos por le. O erro est em nivelar o determinismo de natureza moral com a ordem existente no mundo da Natureza.

    Marxismo e religio

    luz das teses analisadas at aqui j podemos concluir que a religio, para o marxismo, superstrutura, produto de lutas so-ciais, fruto da alienao econmica. Qualquer religio fenmeno relativo, e seu tipo determinado, fundamentalmente, pelo sistema econmico dominante. A religio a pior das alineaes. s qui-meras da religio Deus, cu, inferno, etc. o homem sacrifica sua liberdade, sua independncia, sua autenticidade humana. Por ela o homem se diminui, projetando para fora de si elementos de sua natureza e personificando-os num outro Deus. E este outro no existe. Admite o marxismo que um elemento qualquer da su-perstrutura, bsm como o conjunto dela, pode exercer influncia sobre outro elemento, mas a estrutura econmica da sociedade o cimento real sobre o qual se ergue, em ltima instncia, todo o edifcio das ideias jurdicas, polticas, artsticas, filosficas e reli-giosas, e as correspondentes instituies, como afirma Engels no Anti-Dhring. ,

    A pior das alienaes a religio , por isso mesmo, a maior das iluses, o mais prejudicial dos entorpecentes. Afirma Le-nine que a tese da religio como pio do povo, tese sustentada por Marx em sua crtica filosofia do Direito de Hegel, a pedra an-gular da concepo marxista de religio. Deus criao do homem. O conceito do Deus nico surge da realidade do dspota oriental com pretenses a chefe nico e todo-poderoso. Antes s havia di-vindades tribais e nacionais. Ainda que nosso tema no abrange a refutao do marxismo no plano filosfico e cientfico, , contudo, interessante assinalar que a teoria acima delineada est em con-flito com os resultados mais recentes da pesquisa etnolgica. Gui-lherme Schmidt, a maior autoridade na matria, publicou uma obra em cinco volumes sobre a questo: Der Ursprung der Gottesidee. Trata-se de um trabalho rigorosamente cientfico, pois suas con-cluses se firmam em vastssimo acervo de fatos. Segundo le, um monotesmo primitivo no mais negado por nenhum especialista autorizado.

  • Marxismo e Cristianismo 81

    Para negar a oposio radical que h entre cristianismo e mar-xismo preciso ignorar a filosofia marxista ou a essncia da reli-gio crist.

    Afirma Erich Fromm que Marx combateu a religio por ela estar alienada e no atender s necessidades verdadeiras do homem. E acrescenta, que Marx lutava contra um dolo a que chamam Deus (cf. Conceito Marxista do Homem). Quanto a esta ltima afirma-o, note-se que Marx no lutava apenas contra dolos. Seu monis-mo a negao do Deus verdadeiro. Alm disso, criou vrios do-los, entre eles o grande dolo MATRIA, de onde provm tudo e em que tudo consiste. A outra afirmao de Erich Fromm, a de que Marx combateu a religio por ela estar alienada e no aten-der s necessidades verdadeiras do homem, nos leva ao ncleo do debate entre marxismo e cristianismo. Marx quer uma sociedade que satisfaa as verdadeiras necessidades do homem. Quais so es-tas necessidades? No se pode responder a esta pergunta sem antes haver respondido a outra: qual a natureza e o destino do homem? Com esta pergunta entramos no vivo da questo entre marxismo e cristianismo.

    Conceito de alienao

    Precisamos analisar agora o conceito marxista de alienao. Para Marx, a alienao estgio fatal da evoluo humana. Antes de chegar ao humano, o homem passa pelo inumano, que a alie-nao do humano. O homem trabalha, produz objetos, mas, ao in-vs de fruir todo o proveito do objeto produzido, encarnao de sua inteligncia e atividade, trabalha para um outro, que o escra-viza. a alienao do trabalho. Alienao de que o prprio capita-lista vtima, pois tambm a le o capital escraviza (convm lem-brar que o objeto produzido tambm representa o suor e o talento do empresrio). O homem cria o Estado, mas o Estado torna-se uma realidade autnoma e passa a dominar o homem, como um fetiche hostil, um outro, um estranho. As relaes que o homem mantm com uma criatura do homem (o Estado, v.g.), mas que se libertou dele e o domina e explora, implica em perda de si mes-mo: alienao. A religio apresenta ao homem problemas falsos. Deus, pecado, redeno, vida eterna so fetiches da alienao reli-giosa, fetiches que escravizam o homem, no lhe permitindo to-mar conscincia de sua verdadeira alienao, que se verifica prin-cipalmente na vida prtica. Por isso mesmo note-se bem isso , a religio a pior das alienaes. pio que entorpece o homem,-vu mstico de que se valem os opressores para estorvar a viso dos oprimidos, impedindo-os de se libertarem da alienao produzida pelo capital, que cria e explora falsas necessidades. Alienado de seu trabalho, do produto de seu trabalho, de si mesmo, do seme-lhante, da Natureza, o homem escravo que s pode alcanar sua libertao no processo de produo, processo este que gera o prprio homem, como i vimos.

  • 82 Marxismo e Cristianismo

    Para o cristianismo, a alienao fundamental do homem, a raiz de todas as demais alienaes, sua rebelio contra Deus. Alie-nado de Deus, e, consequentemente, de si mesmo, de sua natureza, de seu destino. Cristo o liberta desta alienao. Isto religio, su-perstrutura ideolgica, reflexo das relaes de produo, fantasia que surge na conscincia em virtude dos sentimentos de imperfei-o e impotncia, responderia Marx. "Como na religio o homem governado pelos produtos de seu prprio crebro, assim na pro-duo capitalista governado pelos produtos de suas prprias mos" (O Capital, I, pg. 681). Liberte-se o homem desses produtos, dei-xe de ser escravo das coisas que produz, e estar livre tambm da alienao religiosa, produto de seu crebro. uma antropologia em oposio fundamental com a antropologia crist.

    tica marxista Outro ponto que nos interessa particularmente a posio mar-

    xista relativamente moral. Ensina o marxismo que qualquer mo-ral no passa de cdigo em que se sanciona a prtica social mdia de uma poca e de um lugar, prtica determinada pelas condies de existncia. Moral burguesa, que sempre moral classista, no passa de um conjunto de normas com que se acoberta a classe do-minante para explorar a massa de assalariados. Aos que os acusam de ensinarem um relativismo tico radical, os marxistas respondem que eles combatem o relativismo tico entendido como arbitrarie-dade, subjetivismo. Seu critrio de moralidade o interesse do que chamam classe obreira. Moral, portanto, que acompanha dizem o desenvolvimento objetivo da humanidade em busca da sociedade comunista. Pretendem resolver o problema tico pela criao de uma moral fundamentada no que lhes parece ser a rea-lidade. Esta realidade est em constante evoluo, que obedece a certas leis. Participar desta evoluo, superando-se a si mesmo, imperativo de ao que nasce do prprio devir. isto o que os marxistas querem dizer quando falam de uma nova tica, fundada no real, tica que acompanhe o desenvolvimento objetivo da hu-manidade. De sorte que a idia-mater da tica marxista a fide-lidade revoluo. Moral, conclui Lenine, tudo o que constribui para a destruio dos exploradores.

    As classes e o Estado

    A propsito de "classe obreira", "classe dominante" e "luta de classes", algumas observaes sobre o conceito de classe. Este conceito continua sendo uma das dores de cabea dos filsofos mar-xistas. Um gerente de grande firma, por exemplo, e que no pro-prietrio de meios de produo, deve ser considerado como per-tencente classe operria, segundo o conceito marxista. Um frgil

  • Marxismo e Cristianismo 83

    sapateiro, a partir do momento em que contrata um auxiliar, deve ser considerado capitalista.

    J existiu, dizem os marxistas, uma sociedade sem classe. Quando esta sociedade se partiu em classes, surgiu, da luta das classes, o Estado. A segunda organizao social foi escravocrata. A esta seguiu-se o feudalismo, e deste nasceu o capitalismo. No dia em que estiverem abolidas as classes, morrer o Estado. Essa parte da teoria marxista foi explanada por Frederico Engels num ensaio de sociologia gentica intitulado "Origem da Famlia, da Proprie-dade Privada e do Estado". O Estado sempre o elemento de que se vale a classe dominante para oprimir os pobres. Querem os rus-sos que se abra uma exceo a essa sentena: o Estado sovitico. Mas a verdade que o Estado sovitico nada mais do que um grande capitalista que domina e explora o proletariado. Embora a propriedade privada, que consideram origem de todos os males, esteja abolida h quase meio sculo na Unio das Repblicas Socie-listas Soviticas, continuam todos os males que lhe so atribudos. Seria o caso de os filsofos soviticos examinarem a hiptese de que a origem de todos os males do Paraso Socialista talvez seja a pro-priedade privada dos americanos . . .

    Propriedade privada

    Examinemos agora a questo da propriedade privada, no sen-tido em que Marx usa a expresso: posse individual de bens pro-dutivos.

    A palavra comunismo designava, inicialmente, a socializao dos meios de produo. Em algum dos sentidos da palavra, pode falar-se em comunismo dos cristos primitivos de Jerusalm. En-saiaram aqueles cristos um sistema alis mal sucedido, pois os comunistas de Jerusalm a breve trecho estavam necessitando es-molas dos irmos de outras igrejas. Importa notar o seguinte quan-to quele comunismo:

    1. era praticado por irmos na f; 2. era prtica espontnea, livre iniciativa do amor; 3. no consideravam roubo a propriedade privada: "Conser-

    vando-o, porventura, no seria teu? E, vendido, no es-taria em teu poder?" (Atos 5.4).

    Quem condenava a propriedade privada eram os maniqueus e outras seitas, no os cristos. Nem Cristo nem os apstolos consi-deravam a propriedade privada como roubo. J citamos a palavra de Pedro e Ananias. Lembremos ainda o conselho de Cristo ao jovem rico. O Mestre no aconselharia a ningum que vendesse seu roubo. A Bblia sanciona, em muitos textos, .a posse individual dos meios de produo. Podemos, pois, dizer que luz da Escritura a posse privada de bens produtivos de forma nenhuma pode ser considerada intrinsecamente m.

  • 84 Marxismo e Cristianismo

    O acesso de todos aos bens materiais postulado do direito na-tural. Deus destinou estes bens a todos. E o direito de cada indi-vduo subsistncia material impe uma limitao inquestionvel ao direito de propriedade: este cessa na medida em que prejudica aquele. At aqui todos concordaremos. A primeira divergncia pode surgir em torno da seguinte questo: tem o Estado o direito de su-primir a propriedade privada dos meios de produo?

    Defendemos a tese de que o Estado exorbitaria se eliminasse esse direito. O direito posse de bens de produo direito natural, direito, portanto, que o prprio Criador conferiu criatura. O di-reito natural funda-se na necessidade que o indivduo tem de valer-se dele. Assim sendo, direito que resulta da natureza humana, cujo autor Deus. Argumenta-se que o Estado pode resolver com salrios o problema da subsistncia do indivduo. Esta maneira de argu-mentar superficial. Certo que o problema da subsistncia do indi-vduo pode ser resolvido com salrios pagos pelo Estado, mas com isso no cessa o direito natural da criatura humana posse de bens de produo. E a questo saber se uma lei positiva pode sobre-por-se a esse direito, que lhe anterior e superior. J dissemos que o exerccio desse direito pode e deve sofrer as limitaes exigidas pelo bem comum- Apenas impugnamos a tese dos que defendem o direito de o Estado suprimir o prprio direito de posse. Esse direito o Estado nem pode conced-lo. direito natural, como o direito de trabalhar, de ser livre, de viver. Cabe ao Estado reconhecer esses direitos, no conced-los ou suprimi-los.

    Sobre a questo da propriedade privada pronunciou-se, recen-temente, a carta encclica Mater et Magistra, reafirmando posio j anteriormente firmada pela Igreja Romana. Sua posio, em traos sumrios a seguinte: a propriedade privada, mesmo dos bens produtivos, direito natural que o Estado no pode suprimir. Se-gundo a encclica, o direito de o indivduo ser e permanecer, nor-malmente, o primeiro responsvel pela manuteno prpria e da famlia, direito essencial da pessoa humana. Entende qe o exer-ccio desta responsabilidade implica o livre exerccio das atividdes produtivas, no admitindo, por isso, que o Estado suprima a inicia-tiva pessoal no campo econmico. Afirma que esse direito natural se funda sobre a prioridade ontolgica e final de cada ser humano em relao sociedade. Quanto ao social do Estado no setor econmico, a encclica reafirma o princpio da suplementao ou subsidiariedade: o Estado, em vez de reprimir ou suprimir a ini-ciativa particular, deve suplement-la.

    Notemos bem a fora do argumento "da propriedade ontolgica e final de cada ser humano relativamente sociedade. O indivduo precede a sociedade na ordem do ser e a sociedade existe em fun-o da finalidade de cada uma das pessoas que a compem, que no o inverso.

  • Marxismo e Cristianismo 85

    A igreja e a ordem natural J criticamos, com base na Histria, o Estado da concepo

    liberal do sculo passado. Estado policial, que no intervm na or-dem econmica, deixando os assalariados merc da ganncia de maus patres. Ainda firmados na Histria, podemos fazer agora a crtica do Estado que suprime a iniciativa particular: esse Estado tende a suprimir outras liberdades. Tende ao totalitarismo. Isto nos interessa particularmente. muito comum a afirmao de que s igrejas deve ser indiferente o modo de organizao da sociedade. H mesmo quem chegue a dizer que igreja indiferente que o Estado seja totalitrio ou democrtico. provvel que no saiba o que significa totalitarismo quem assim pensa. Se o soubesse, com-preenderia que a afirmao implica em dizer que a igreja no faz diferena entre o Estado que quer absorver e substitu-la e o Esta-do que no interfere em sua misso espiritual. Quanto a organiza-es econmico-sociais, erraria tragicamente a igreja se canonizasse determinada estrutura econmico-social, declarando-a sua estrutu-ra. Xnteressa-lhe, porm, e sobremodo, a prtica de sistemas que ga-rantam e favoream o desenvolvimento da personalidade e no nos ameacem no exerccio de nossa misso. A dimenso essencial da religio crist de natureza espiritual e escatolgica, mas nem por isso a igreja deixa de ter uma palavra a dizer sobre justia na esfe-ra econmico-social, sobre famlia, sobre o uso e abuso de bens materiais, sobre a dignificao do trabalho, que no deve ser re-baixado a mercadoria, enfim, sobre os princpios basilares que, de-vidamente aplicados, favoream o desabrochar completo da perso-nalidade humana. A igreja tem uma palavra a dizer sobre liberdade efetiva para todos, submisso de todos os homens a Deus, primado do esprito, promoo do bem-estar material da coletividade. de-ver da igreja advertir, por exemplo, a todos: "O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou" (Provrbios 14.31). Dizer, por exemplo, que a igreja nada tem que ver com o problema de massas humanas esfomeadas, dizer, em outras palavras, que a igreja no deve preocupar-se com as condies scio-econmicas que predis-pem os homens a se deixarem envolver pelas promessas dos lde-res comunistas, que procuram incutir dio religio.

    L-se e ouve-se muitas vezes que o dever da igreja se resume em anunciar aos homens o conselho de Deus para a salvao das almas e que o resto evangelho social. tese insustentvel. Claro que a misso precpua da igreja anunciar o conselho de Deus para a salvao eterna do homem. Disto, porm, no se conclui que a igreja deve dispensar-se do dever de lembrar princpios de moral crist que dizem respeito ordem natural e do dever de praticar a caridade. O erro do evangelho social consiste em, fazer com que a igreja abandone ou relaxe sua misso de transformar o indivduo pela pregao do Evangelho, engajando-a na tarefa de transformar o ambiente em que o homem vive. Mas praticar a caridade, ou

  • 86 Marxismo e Cristianismo

    lembrar princpios bblicos para a ordem natural, incutindo ao go-verno poder a servio da justia os deveres que lhe so pres-critos por Deus, opondo tese marxista sobre a origem do Estado a afirmao bblica segundo a qual as autoridades que existem foram institudas por Deus, e pregando a todos os homens a segunda tbua da lei, isto no evangelho social. A igreja s mete a foice em seara alheia no momento em que com,ea a discutir assuntos que no in-teressam a princpios de ordem moral, como, por exemplo, tcnicas de governo ou de organizao econmica. Mas quando num pas uma minoria de privilegiados vive a esbanjar o suprfluo, enquanto milhes carecem do necessrio, quando se queimam produtos alimentcios a fim de manter os preos, no obstante o fato de dois teros da humanidade passar fomes, estamos em presena de realidades eco-nmicas e sociais que tm claras implicaes de natureza moral, e uma igreja que no tem nada a dizer em questes desta natureza uma igreja que ignora parte dos seus deveres. Mais um exemplo: quando poderosos grupos econmicos so acusados de tentarem pr o Estado a servio de seus interesses particulares, em prejuzo do bem comum, e uma igreja alega que no tem nada a dizer sobre o assunto, esta igreja precisa reestudar a epstola aos romanos, onde o Apstolo afirma que a autoridade ministro de Deus para o bem do cidado. Claro que uma igreja no se pronunciar sobre a pro-cedncia ou improcedncia de semelhantes acusaes. Apenas lem-brar princpios aplicveis a hiptese.

    Cristo nos deixou princpios que obrigam a todos os homens e que a razo humana endossa como a expresso da mais elevada moralidade: "Amars o teu prximo como a ti mesmo", e "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos faam, assim fazei-o vs tambm a eles". dever da igreja lembrar estes e outros preceitos divinos.

    Nossa posio no problema da propriedade privada e

    consideraes finais Resumindo: admitimos vrios tipos de apropriao dos meios

    de produo (individual, privada associativa, pblica). Admitimos que a lei positiva restrinja o exerccio da propriedade privada de bens produtivos, condicionando-o ao bem comum. Objetamos propriedade pblica absoluta dos meios de produo pelo fato de tal coisa ferir um direito natural do indivduo e constituir ameaa ao bem-estar material da coletividade e liberdade, alm de ser fator de desestmulo. Os marxistas poderiam responder-nos que al-gumas destas objees deixam de subsistir na hiptese de uma so-ciedade integralmente comunista, sociedade em que tudo ser de todos e em que o prprio Estado desaparecer. Responderamos que nossa preocupao no criticar uma sociedade utpica. Falta-nos espao, tempo e vontade para inquirir como ficaria tudo numa so-ciedade que os homens nunca chegaro a estruturar.

  • Marxismo e Cristianismo 87

    Contra a heresia marxista que profetiza a extino da maldade humana numa sociedade sem classes e sem Estado, repetimos a cr-tica fundamental que antecipadamente lhe fz Aristteles, em sua Poltica, crtica que parece escrita por Lutero: "Semelhante legis-lao tem uma aparncia artifical de benevolncia e bondade (re-fere-se a legislaes comunistas). Uma assembleia a saudar en-cantada, na suposio de que sob um regime comunista todos os homens sero, miraculosamente, amigos uns dos outros. E isto se crer tanto mais facilmente, enquanto se atribuir todo abuso do sistema poltico atual propriedade privada. Todavia, a verdadeira causa desses males no a ausncia de uma ordem comunista, e, sim, a malignidade da natureza humana."

    Esta crtica atinge em cheio todas as utopias sonhadas pelo homem, bem como a tese rousseauniana da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade civilizada, tese com que Rousseau se torna o precursor moderno do que nos parece constituir a ma-; triz dos erros marxistas: sua falsa antropologia.

    Concordamos com Marx quando insiste que a produo deve estar a servio do homem e no vice-versa; que o homem no deve ser reificado, isto , transformado em coisa a servio da mquina; que o capital deve deixar de explorar falsas necessidades do homem. Discordamos de sua tese da malcia intrnseca da posse individual dos instrumentos de produo, que estaria em contradio com o carter social da produo (No se pode negar esse carter social, pois todos colaboram na feitura dos produtos, mas falso dizer que por isso a posse dos instrumentos de produo por um indivduo ou por um grupo de capitalistas germe de coletvismo intrinseca-mente m. Esta propriedade privada m enquanto o objetivo supremo e nico do capitalisca o lucro). Rejeitamos a pregao marxista do dio e da violncia, no porm, como alegam os mar-xistas, para acobertar a explorao com as virtudes do amor e da mansido, sim porque o dio e as lutas de classe, alm de repug-narem ao esprito cristo, no conduzem soluo do problema social. Discordamos de sua mundividncia materialista, de sua con-cepo do homem, de sua viso utpica do desaparecimento final do Estado, que ordenao divina. Mas no nos limitamos a re-comendar pacincia e esprito de renncia aos oprimidos e altrusmo aos ricos. Insistimos no direito de todos a uma vida realmente digna, e no dever do Estado de atender este direito.

    Para terminar; um pensamento de Nicolas Berdyaev: A nica coisa a contrapor ao comunismo integral o cristianismo integral.

    B i b l i o g r a f i a S u m r i a Bourgin, Georges, et Rimbert, Pierre Le Socialisme, 1950 Engels, Frederico Origem da Famlia, da Propriedade Privada e do Estado Fromm, Erich Conceito Marxista do Homem, 1962 Konstantinov, F. V. El Materialismo Histrico, 1957 Lajugie, Joseph Os Sistemas Econmicos, .1959

  • 88 Der Christ und die Arbeit unter dem Ersten Gebot

    Lefebvre, Henri O Marxismo, 1960 Manacorda, Guido Marxismo e Catolicismo, in Heresias do nosso tempo, 1956 . Marx, Carlos Manuscritos Econmicos e Filosficos Marx, Carlos Prefcio a uma Contribuio Crtica da Economia Poltica Marx-Engels Ideologia Germnica Marx-Engels Manifesto Comunista Marx, Carlos O Capital Messer August Histria da Filosofia Piettre, Andr Marxismo, 1961 Schmidt, Guilherme Der Ursprung der Gottesidee Schumpeter, Josepn Capitalismo, Socialismo e Democracia

    Der Chrtst -und die rSielt unter dem Ersten Oebot (Fortsetzung und Schluss)

    Wilhelm Rehr, Frankfurt I Main AusblicTc auf die ubrigen Gbote der l. Tafel Das 2. Gebot:

    "Du sollst den Namen deines Gottes nicht unntzlich fhren!" Kol. 3,17: "Alies, was ihr tut mit Worten oder mit Werken,

    das tut alies in dem Namen des Herrn Jesu!" Unter das 2. Gebot gehrt die Frage nach dem persnlichen

    Bekenntnis des Christen an seinem Arbeitsplatz. Gerade von hier aus gewinnt das gewissengebundene Verhalten des Christen zu den Ordnungen der gefallenen Welt seine grosse Bedeutung. Wie unter dem ersten Gebot besteht hier die Gef ahr der Verleugnung des Glau-bens. Es wurde schon oben davon geredet im Zusammenhang mit der unmglichen Trennung von Glaube und Leben, Wir wiederholen noch einmal- die Stelle aus dem Kolosserbrief 5,4: "Wandelt iweislich gegen die, die draussen sind und schicket euch in die Zeit." Eine Stelle, die fr das Gemeindeglied das gleiche sagt wie 1. Tim. 3.7 iir den Pfarrer: "Er muss aber auch ein gut Zeugnis haben von denen, die draussen sind, auf dass er nicht falle dem Lsterer in die Schmach und Strick!" In 1. Thess. 4,11 bekommt dies Wandeln gegen die, die draussen sind, noch eine besondere Bestimmtheit, nmlich die Unabhngigkeit von denen, die draussen sind: "Ringet danach, dass ihr still seid und das Eure schaffet und arbeitet mit euren eigenen Hnden, wie wir euch geboten haben, auf dass ihr ehrbarlich wandelt gegen die, die draussen sind und ihrer keines bedrfet." Der Christ muss hier in rechter Weise verzichten knnan, um sich diese Unabhngigkeit zu wahren. Eins wird sich allerdings nicht vermeiden lassen, nmlich der Vorwurf einer stillen Nutznies-

  • Der Christ und die Arbeit.unter dem Ersten Gebot 89

    sung der Einrichtungen innerhalb der Arbeit und Geschftswelt, die von Christen um des Gewissens willen gemieden werden. Das reizt die Welt zu offenem Hass und wird in jedem Fali ais grober Verstoss gegen die Solidaritt der Verbandspartner empfunden. Gerade an diesem Punkt wird es dem Christen schwer, wenn es sein muss, eigene Wege zu gehen, weil der Christ hier unter dem Schein des Unrechts steht, also nach der Meinung der Welt sich gerade ais ein Nicht-Christ erweist. Eine Seite unseres Bekenntnisses in Wort und Tat, die gerade in heutiger Zeit unter dem Materialismus mit teuflischem und diabolischem Wirken finsterer Mchte den Chri-sten zu verwirren in der Lage ist. Durchbricht der Christ hier den Teufelsbeweis, dann kommt es zum Leiden, und zwar steht dieses Leiden unter dem MUSS des Kreuzes Christi und seiner Nachfolge: "Ihr musset gestraft werden." 2. Tim. 3,12: "Alie, die gottselig le-ben wollen" es ist also ein Wollen wirklich ntig "alie, die gottselig leben wollen, in Christo Jesu, mssen Verfolgung leiden. Zusammenfassend noch einige Schriftstellen: Mt 5,13-16: "Ihr seid das Salz der Erde Ihr seid das Licht der Welt . . . Lasset euer' Lcht leuchten vor den Leuten, dass sie eure guten Werke sehen und euren Vater im Himmel preisen." Das Ziel ist dabei immer missionarisch. Ein Christ hat hier dies zu wissen und zu erkennen:

    Die Schpfungsordnung Gottes ist um seiner Gnadenordnung willen da. Anders und einfacher gesagt: Die Welt steht noch, dam.it noch Leute selig werden. Das soll uns Christen zu unserem Arbeitsauftrag im Bau des Reiches Gottes getrost und kiihn machen. Du stehst hier im Namen Jesu Christi! Du bist das Salz und das Licht der Welt! Du sollst Fackeltrger Gottes sein, das Feuer des Reiches Gottes weiter zu tragen! Unser Handeln ist dabei bestimmt von dem Wissen und Glauben, was Christus sagt: "Wer mich bekennet vor den Menschen, den wili ich bekennen vor meinem himmlischen Vater. Wer mich aber verleugnet vor den Menschen, den will ich auch verleugnen vor meinem himmlischen Vater." Mt. 10.32,33.

    Kommts zum Leiden so trgst Du dabei das Kreuz Christi. Wird dein Leben dabei zu einem Opfergang, so hat doch Christus vor uns und fur uns sich geopfert.

    Luter 7 WA 41, 304 zu Ag 9,16: "So Du willst ein Miterbe sein des Herrn Jesu Christi und nicht mitleiden und sein Bruder sein und ihm nicht gleich werden, so wird er dich gewisslich am jngsten Tage fur keinen Bruder und Miterben er-kennen, sondem wird dich fragen, b du deine Dor-nenkron, dein Kreuz und Ngel und Geissel habest, ob du auch der ganzen Welt ein Greuel gewesen seiest, wir er und alie seine Glieder gewesen sind von Anfang der Welt her. Wo du denn solchs nicht beweisen kannst, so wird er dich auch nicht fur seinen Bruder halten knnen. Surrtma: Es muss mitgelitten sein und miissen

  • 90 Der Christ und die Arbeit unter dem Ersten Gebot

    alle gleichformig werden dem Sohne Gottes oder wir werden mit zu der Herrlichkeit nicht erhoben wer-den. Die Zeichen Nagel, Dornkron, Geissel u.s.w. miissen ich und alle Christen auch haben, nicht an die Wand gemalet, sondern in unser Fleisch und Blut gedriickt. Diese Narben des Herrn Christi vermahnet hiermit Skt. Paulus einen jeden Christen auch zu tra-gen. Trostet also die Christen, dass sie nicht davor er-schrecken, ob man ihnen schon alles Leid anlegt."

    Mt. 24,9-14: "Lange nicht mehr, darum kaufet die Zeit aus". Ebenso 1. Petr. 2,12: "Fiihret einen guten Wandel unter den

    Heiden, auf dass die, so von euch afterreden als von tibeltatern, eure guten Werke sehen und Gott preisen." Phil. 2,14.15: "Tut alles ohne Murmeln und ohne Zweifeln, auf dass ihr seid ohne Tadel und lauter und Gottes Kinder mitten unter dem unschlachtigen und ver-kehrten^Geschlecht, unter welchem ihr scheinet als Lichter in der Welt." Wir Christen miissen zunm Spiegel werden, in dem der noch Unbelehrte den Christus sieht, der auch ihn erlost hat. Liebe zu dem Mitsiinder! Das bedeutet ganz klare Scheidungen Eph. 5,8-11: "Ihr waret weiland Finstemis, nun aber seid ihr ein Licht in dem Herrn. Wandelt wie die Kinder des Lichts . . . und priif et, was da sei wohlgefallig dem Herrn. Und habt nicht Gemeinschaft mit den unfruchtbaren Werken der Finsternis, strafet sie aber vielmehr." 2. Kor. 6 v. 14: "Ziehet nicht am fremden Joch."

    Wo hier unser Reden mit unserem Tun auseinanderfallt, unser Glaube vom Leben getrennt wird und das gerade bei der Arbeit, die auch zeitlich die breitesten Beriihrungspunkte zwischen Christen und Unchristen gibt da wird es zur Lasterung des Namens Gottes durch die Heiden kommen: Rom. 2,23f.: "Du riihmest dich des Ge-setzes und schandest Gott durch Ubertretung des Gesetzes. Denn eurethalben wird Gottes Namen gelastert werden unter den Hei-den!" Die Gelegenheit zur Lasterung des Namens Gottes durch die Unglaubigen wird auch iiberall da gegeben, wo in unbefugter Weise hier die beiden Reiche vermischt werden, das geschieht in diesem Zusammenhang auch namentlich dort, wo von christlicher Seite ge-fordert wird, dass Dinge im Bereich des Arbeits- und Geschafts-lebens verchristlicht werden. Das kommt immer wieder vor in Ver-folgung materialistischer Ziele, wo jeder Zweck alle Mittel heiligt. Da steckt man den Materialismus ins Schafskleid eines Nennchri-stentums. Das ist ein unerhorter Bruch des 2. Gebotes, ein himmel-schreiender Missbrauch des Namens Gottes.

    Luther 18: WA 22,321 zu 2. Kor. 6,3: "Lasst uns niemand ein Argernis geben."

    "Ein Christ soil sich huten, dass er mit seinem Leben niemand argerlich sei, damit nicht Gottes Name ge-lastert werde. Es ist ein gross Ding um einen Christen, der da ist ein neuer Mensch, nach Gott geschaffen und ein rechtschaffen Gottesbild, darin Gott selbst leuchten

  • Der Christ unci die Arbeit unter dem Ersten Gebot 91

    und scheinen will. Darum, was ein Christ Guts tut, oder wiederum Boses tut (unter dem Namen eines Christen), das reichet Gottes Namen zur Ehre oder Schanden. Wo ihr nun euren Liisten folget und tut, was euer alter Adam will, so tut ihr nichts, denn dass ihr dem Lasterer Raum und Ursaeh gebet, dass Gottes Name um euretwillen gelastert wird. Hier soil sich ein Christ zum Hochsten vor scheuen und hiiten, wenn er sonst nichts ansehen wollte, dass er doch seines

    ^ieben Gottes und Heilandes Christi Narnen schone!"

    Das 3. Gebot: "Du sollst den Feiertag heiligen!"

    "Wir solleh Gott fiirchten und lieben, dass wir die Fredigt und sein Wort nicht verachten!" Das kann durch die Arbeit geschehen. Fiir die Sorge wurde das schon ausgesprochen! Das gilt aber auch fiir die Arbeit als soiche. Darum hat uns der HI. Geist die Geschichte von Maria und Martha aufschreiben lassen. Bei Martha ist das Got-tesdienstliche an ihrer Arbeit gegenuber dem Herrn Jesu ganz greifbar. Und doch widerspricht Jesus ihren Bemuhungen, die eigen-tlich SORGE sind. Jesus hatte der Arbeit Marthas hier gewiss nicht widersprochen, wenn eben diese wohlgemeinten Bemuhungen nicht in Konkurrenz gestanden hatten zu dem Wort des Herrn Christi. Wir horen die Stelle: Luk. 10.3842: "Und er ging in einen Markt. Da war ein Weib mit Njamen Martha, die nahm ihn auf in ihr Haus. Und sie hatte eine Schvvester, die hiess Maria, die setzte sich zu des Herrn Fussen und horte seiner Rede zu. Martha aber machte sich viel zu schaffen, ihm zu dienen, und sie trat hinzu und sprach: Herr, fragst du nicht danach, dass mien meine Schwester lasst allein die-nen? Sage ihr doch, dass sie auch angreife. Jesus aber antwortete und sprach zu ihr: Martha, Martha, du hast viel Sorge und Miihe! Eins aber ist not, Maria hat das gute Teil erwahlet, das soil nicht von ihr genommen werden." Uberall da, wo unser vermeintlicher Gottesdienst Martha nennt ihr Schaffen hier in dem! Sinne einen Dienst allzusehr dabei auf dies schaut, was wir dabei Gott als Gabe opfern und geben, da steht auch hier wieder die Arbeit in Gefahr, Gotzendienst zu werden. Zumal sie hier davon abhalt, den 1. Gottesdienst, sich selbst gefallen zu lassen, gegenuber der Gabe, die Gott uns gibt und mit der er uns dient.

    Nur inwieweit wir bereit sind, auf Gottes Wort zu horen, in dem Christus, das Licht der Welt, uns begegnet, nur insoweit kon-

    . nen wir bei all unserer Arbeit wieder unser Licht vor den Leuten leuchten lassen, dass sie unsere guten Werke sehen! Wir miissen immer an der Quelle des Glaubens bleiben, wenn unser Glaube nicht sterben soil, gerade in der heutigen Zeit des Materialismus. Diese Zeit bringt es nun mit sich, dass wir mehr und mehr in der Hetze 3 eben und nicht zu der notigen Ruhe kommen. Wir brauchen fiir das Horen der Stimme Gottes aber immer wieder Ruhe und Stille,

  • 92 Der Christ und die Arbeit unter dem Ersten Gebot

    zeitliche Ruhe und innere Ruhe. Die haben wir und konnen wir nur haben, wenn wir alle Abeit Und alles Werkzeug aus der Hand legen. Die moderne Entwicklung auf dem Gebiet der Arbeit wirft hier ernste Problem^ auf. Zunachst fur das Horen des Wortes Gottes im Hausgottesdienst. Die arbeitseilige Gesellschaftsordnung mit Schichten etc. lasst die Familie gar nicht mehr vollzahlig zu-sammenkommen. Das ist ein ernster Schade, wo diese kleinste Form einer christlichen Gemeinde so zerbrockelt. Die Folgen iassen sich noch gar nicht absehen, besonders im Blick auf'die Unterweisung der Kinder, wo sSch in den letzten Jahren namentlich im Leben einer Stadtgemeinde spiirbarer Erkenntnissch'wund bemerkbar gemaeht hat. Der Seelsorger findet sich hier mit den Eltern in einer grossen Not. Die Familie und das Elternhaus sind naeh Gottes Wort und Willen Trager der Seelsorge im kleinsten Rahmen. So heisst es 5. Mose 6.6: 'Die Worte, die ich Dir heut gebiete, sollst du zu Herzen nehmen und sollst sie deinen "Kindern scharfen!" Und die aposto-lische Mahnung an die Eltern heisst fiir ihre Kinder: "Ziehet sie auf in der Zucht und Ermahnung zum Herrn." Wo hier die Ruhe, die Zeit und die St'ille fiir Hausgottesdienste verlorengeht durch ein freiwilliges Aufgaben der Zeit, indem dem Materialismus Zeit und Arbeit geopfert wird, da ist ganz ernstlich zu warnen und zu horen: "Eins aber ist not!" Manche Eltern schicken ihre Kinder fort, urn entweder selbst Ruhe zu haben vor ihnen, wenn die Arbeit den Men-schen zermiirbt hat, oder was noch schlimmer ist um sich ein bequemes Leben zu machen. Gotzendienst ist das. Der Christ und christliche Eltern sollen sich wohl ernstlich prufen, wie sie sich hier verhalten. Christliche - Eltern konnen ihre seelsorgerliche Verant-wortung nicht vertreten Iassen. Und wie ist das nun mit dem Ge-meindegottesdienst ?

    Ich mochte hier auf die von dieser Seite her bestimmjte Proble-matik der gleitenden Arbeitswoche zu sprechen kommen. Die glei-tende Arbeitswoche liegt in der Konsequenz der technischen Struktur von dem industriellen Wirtschaftsgeflige, das als solches immer mehr von der Arbeitsteilung bestimmt ist. Eine Entwicklung, die vielleicht in ihren Ausmassen dadurch charakterisiert werden kann, dass fiir die vorliegenden Jahre 20.000 handwerkliche Kleinunfer-nehmen aufgegeben wurden. Genug, es ware ein ungeheuerlicher Schade, wenn durch diese technisch industrielle Entwicklung ein-mal der Sonntag als der einheitliche gesetzliche Feiertag in Wegfall kame. Die Folgen sind fiir die Arbeit des Reiches Gottes, besonders an der Gemeinde, kaum auszudenken. Die Glaubensgememschaft konnte da kaum mehr unter dem Wort Gottes und am Tisch des Herrn ihre Verwirklichung erfahren. Noch ist es nicht so weit! Und wir wissen uns auch gerade in dieser Frage in Gottes Hand. Sollte es einmal so weit kommen, was durchaus nicht augeschlossen ist, dann ist eine solche Entwicklung wohl bedauernsweft, es ist aber die Frage: Ob eine Kirche in dem Fall, bzw. schon jetzt im Laufe der Entwicklung befugt ist, hier als Kirche in den weltlichen Raum

  • Dio Haupterfordornisse der Predigt, die grundlegend sind . . . 93

    Forderungen und Weisungen hineinzusprechen. Ich sage: Die Kir-che ist als Kirche nicht befugt, will sie. anders Kirche bleiben. Was allerdings hier der einzelne Christ erreichen kann je nach seinem Einfluss , das sollte er zu erreichen suchen und seinen Einfluss an dem Ort geltend machen, wo ihn der gottliche Ruf hingestellt, hat. Kommt trotzdem die gleitende Arbeitswoche, dann ist es Aufgabe der Kirche und der Pastoren, durch Abendgottesdienste, Friihgot-tesdienste* durch Wortverkundigung und Sakramentverwaltung in den Hausern hin und her die Gemeinde zu bedienen. Eine Entwick-lung, die uns wieder in die Nahe urchristlicher Gottesdienstformen kommen liesse. Wir wtirden dabei moglicherweise ganz neu die Gna-denfiille dieses Jesuswortes erfahren diirfen: "Wo zwei oder drei versammelt sind in Meinem Namen, da bin ich mitten unter ihnen." Bei der Diskussion um die Frage der gleitenden Arbeitswoche gilt noch mehr eine Weisung, wir diirfen den 7. Tag hier nicht in irgen-deiner Weise falsch werten und so zu einem neuen Sabbatgebot kom-men, wie das haufig im Raum der ev. Kirche geschieht.

    Die Frage nach dem Arbeitspfarrer ware auch hier zu stellen, und sie miisste vielleicht auch von uns durchdacht werden.

    Noch einige Hinweise: Unsere Gemeindeglieder sollten bei der Wahl ihres Berufes, des Arbeitsplatzes und der Wohnung immer darauf bedacht sein: Habe ich dort eine Kirche und Gemjeinde von uns am Ort? Das Verhalten unserer Christen ist dabei nicht immer von dieser Frage bestimmt. Und gerade hier gilt: "Trachtet am ersten nach dem Reich Gottes, so wird euch solches alles zufallen!"

    Schliesslich noch ein wesentlicher Zweck unserer Arbeit: Erhal-tung des Predigtamtes! Das Qpfer fur Gottes Reich, Lob und Dank fur seine Gnade. Hier steheri wir an dem Altar rechten Gottesdien-stes und werden von den Altar en des Gotzendienstes frei.

    Die Haupterfordernisse der Predigt, die grundlegend sind fur den Ban der Gemeinde Christi

    A. O. GOERL

    (Vorstehendes Referat, gehalten auf der Theologentagung' in Thiensville, Wisconsin, Juli 1960, gelangt hier zum Druck auf Beschluss der Pastoralkonferenz des Missioneirokreises).

    In der Einleitung zum 51. Psalm sagt Luther: "Der eigentliche Gegenstand der Theologie ist der Mensch, seiner Suende halber an-geklagt und verloren, und Gott, der da rechtfertigt und der Erloeser des siindigen Menschen ist." Schlichter und doch gewaltiger und warum nicht sagen: rrfutiger fuer unser Zeitalter koennten wir

  • 84 Die Haupterfordernisse der Predigt, die grundlegend sind . . .

    den Inhalt der Theologie nicht zum Ausdruck bringen. Nehmen wir diese beiden Stuecke heraus, ganz oder auch.nur teilweise, so wird die Theologie ihres Inhaltes beraubt und sinkt herab zum Tum-melplatz subjektiver Anschauungen und kurzfristiger Spekulationen. "Der Mensch, der Suende halber angeklagt und verloren", ist doch eingentlich das Motiv der gottlichen Heilsokonomie dadurch, dass er das Objekt der erbarmenden Liebe Gottes geworden und in dem Brenitpunkt des gottlichen Waltens steht, schon ehe der Welt Grund gelegt war (Eph. 1,4). Und nachdem der Welt Grund gelegt war, in der Fuelle der Zeit, wird das Wort wahr, das im heiligen Rat der ewige Logos vor seiner Menschwerdung und angesichts des armen, verlornen Suenders gesprochen: "Siehe, ich komme; im Buch ist von mir geschrieben. Deinen Willen, mein Gott, tue ich gerne." Ps. 40,8.9. Dieser Wille Gottes offenbart sich als einen Gnadcrjwillen, der sich des verlornen Menschen annimmt und ihm, um Jesu willen seine Suenden vergibt und die urspruengliche Gemeinschaft wieder herstellt. So wird die Theologie zum Hohenlied der Gnade Gottes "Von seiner Fuelle haben wir alle genommen Gnade um Gnade". Joh. 1,16.

    Es wird nun leicht, die Predigt in die rechte Beziehung zu dieser Theologie zu bringen. Die Aufgabe der Predigt besteht darin, dem Menschen zu sagen, wie er vor Gott steht, um ihm darauf zu Ge-muete zu fuehren, wie Gott zu ihm steht. Der Dualismus der Theo-logie, als der Kern ihres innersten Bestandes, wird zum Dualismus unserer Predigt.

    So steht der Prediger vor seiner Gemeinde und redet im An-gesichte Gottes ueber den "eigentlichen Gegenstand der Theologie". Es waere strafliche Vermessenheit, ja seelenverderblich.es Unterfan-gen, wollte er eigene Wege gehen, hat er doch nicht teilgehabt an dem Walten Gottes bei der ersten Schoepfung "Wo warst du, da ich die Erde gruendete?" Hiob 38,4 und auch nicht bei der zweiten Schopfung "Er hat uns gemacht, und nicht wir selbst, zu seinem Volk und zu Schafen seiner Weide." Ps. 100,3. Ja, auch ohne sein Zutun vollzieht sich das Walten Gottes bei seiner Beru-fung zum Amt des Wortes, denn Jer. 1,5 gilt nicht nur von der vocatio immediata sondern auch von der mediata: "Ich kannte dich, ehe denn ich dich in Mutterleibe bereitete, und sonderte dich aus, ehe denn du von der Mutter geboren wurdest, und stellete dich zum Propheten unter die Volker."

    So steht der Prediger vor seiner Gemeinde und neben ihm der Herr, gegenwartsnah, und beruehrt ihm den Mund und spricht zu ihm: "Siehe, ich lege meine Worte in deinen Mund." Jer. 1,9.

    1.

    Was soil er sagen? Er soil als armer Sunder zu armien Siindern reden. Er soil reden von der Not der Siinde, die er an sich selbst erfahren hat. Wo das Schuldbekenntnis in der Predigt fehlt, wo der

  • Die Hauptorfordernisse der Predigt, die grundlegend sind . . . 95

    Prediger es unterlaszt, das Schuldbewusztsein wachzurufen und stetig zu scharfen, da wird von vornherein der christliche Charakter der Wortverkiindigung verwischt und durch den heidnischen Cha-rakter ersetzt. Diesrechte Erkenntnis des siindlichen Verderbens 1st die Lime, die beide Mar scheidet. "Das Heidentum kennt dieses Problem nicht. Denn das Bose ist dem Heidentum nur Beschrankung, Unvvissenheit, ein Mangel der Natur, ein Schicksal, das der Endlich-.keit anhaftet, aber nicht Sunde, nicht die Storung eines heiligen Gottesverhaltnisses, entstanden in dem Willen des Geschopfes." (Martensen) Aus diesem Grunde sucht der Mensch in seiner Na-turreligion nicht so sehr die Befreiung von einer Schuld als vielmehr Schutz und Abwehr gegen allerlei korperliche Gebrechen und irdische Note, wie daher die Ausiibung seines Kultes, in Gestalt von Gebeten, Opfergaben und Kasteiungen, gemeiniglich eine Bezahlung fiir den erbetenen oder bereits erhaltenen Dienst darstellt. Sein Gewissen wird wenig beruhrt, sein Innerstes selten aufgewuhlt. Darum kam Paulus auf dem Aeropag in Athen nicht weit mit seiner Predigt. Kaum dass er Busse, Gericht und Auferstehung erwahnte, schwand das Interesse der mit epikureischen und stoischen Philosophie ge-sattigten Zuhorer. Die heidnische Philosophie weiss nichts von einer Schuld bei Gott. Und die Predigt, die diese Schuld leugnet oder abschwacht, wird zum Sprachrohr der Naturreligion.

    Nikodemus, als Vertreter der Naturreligion, steht dem Heiland verstandnislos gegenuber, und mit ihm die ganze Zunft der Pha-risaer und Schriftgelehrten. Sie fanden es unerhort, dass die Stimme in der Wiiste sich vermass, ihre Frommigkeit anzutasten und damit folgerichtig ihren Gottesdienst umzustossen. Und obschon sie die alttestamentlichen Waschungen verschiedenster Art gewohnt wa-ren, verwarfen sie die Taufe, weil sie Gnadenmittelcharakter besass und Schuldbewusstsein voraussetzte. Und als Jesus bei seinem, Auf-treten die gleiche ernste Rede fiihrte und ihr durch die Tempelreini-gung (Joh. 2) besonderen Nachdruck verlieh, eine Handlung, die Schatten vorauswarf, da richtete sich ihre Front auch gegen ihn, ungeachtet dessen, dass er sich als den Sohn Gottes vorstellte und dies sein Zeugnis durch Wunder erhartete.

    Das ist die Reaktion des verderbten Fleisches: es baumt sich auf in Trotz und Diinkel gegen die Predigt von der Schuld bei Gott und macht dieses Stuck der Wortverkiindigung zum schwersten Teil unserer Aufgabe. Und dennoch soil und darf uns nichts davon abhal-ten, von der Macht der Siinde zu unserer Gemeinde zu reden, den einzelnen Christen zu warnen vor dem Feind im Busen, auf dass ein jeglicher Zuhorer, ohne Ausnahme, sich dessen bewusst werde, als arrrter Sunder vor Gott zu stehen.

    Erst dann kann die Predigt ihre eigentliche Aufgabe erfiillen, die ihr von Gott gesetzt ist, namlich die Heilsbotschaft in Christo zu ubermitteln. Die Wortverkiindigung ist vornehmlich Heilsver-kiindigung. Unser Amt ist das Amt, das die Versohnung predigt, und unsere Predigt eine Bitte, die grosse Bitte an Christus Statt: "Lasst

  • 98 Die Haupterfordernisse der Predigt, die grundlegend sind , . .

    ouch versohnen mit Gott!" 2. Kor. 5,20. Das herrliche Evangelium, das jede Kanzel, auch die unscheinbarste und unansehnlichste, zu einer wahren Freudenstatte fiir den Prediger macht, bietet dem Sunder an Eii5sung von Schuld und Strafe, vollige Vergebung aller seiner Missetaten, ja ein Versenken seiner Siinden in die Tiefe des Meers (Micha 7,19), und das alles frei und umsonst, ohne auch die geringste Bedingung oder Forderung.

    Diese Verkiindigung ist einzig in ihrer Art. Sie verlangert und verstarkt den Trennungsstrich, der Christentum und Heidentum von einander scheidet, wie Tag und Nacht geschieden sind. An dieser Linie steht der Prophet Micha, wenn er vergleichsnd und in tieier Ergriffenheit ausruft: "Wo ist solch ein Gott, wie du bist? der die Sunde vergibt und erlasset die Missetat den ubrigen seines Erbteils; der seinen Zorn nicht ewiglich behalt; denn er ist barmherzig." (7,18)

    Es ist notig, dass sich der Prediger dessen immer bewusst ist, dass in dem Evangelium auch die Kraft liegt, dem Herzen die notige Willigkeit zu geben, das dargebotene Heil durch den Glauben zu ergreifen. Das Evangelium ist ja nicht nur eine vis dativa sondern auch eine vis operative!.. Wahrend bei der vis dativa dem Prediger eine gewisse Beteiligung zukommt, insofern er in der Heilsverkiin-digung als Sprachrohr in Betracht kommt, so liegt die vis operativa ausserhalb seines Bereichs; sie liegt ganz in der Hand des Heiligen Geistes. Aber und das sollte sich der Prediger immer wieder zu Gemote fuhren wenn wir auch nichts dazu tun konnen, weil wir doch "glauben nach der Wirkung seiner machtigen Starke", so konnen wir doch leider dem Heiligen Geiste in der Ausiibung seines Amtes recht grosse Hindernisse in den Weg legen, besonders durch Vermischung von Gesetz und Evangelium. Auch wir Prediger werden tins nie, solange wir in dem sterblichen Leibe wallen, von der opinio legis ganzlich freimachen.

    Besonders leiden wir gern unter Mutlosigkeit, zumal auf Mis-sionsfeldern, oder uberall da, wo wir harten Boden zu bearbeiten haben. Da werden wir oft kleinmiitig und verzagt und zweifeln an der vis operativa, und dieser Zweifel macht sich an unserer Pre-digtweise bemerkbar. Wir lassen das Evangelium nicht immer zur rechten Geltung kommen, zu seiner vollen Entfaltung, sondern hemmen es ein und verengen seine Schleusen aus Furcht, zu freige-big zu werden und Gottes Gnadenschatze zu vergeuden. Und so kommt es, dass wir zuweilen einen kleinen, durftigen Glauben pre-digen statt eines sieghaften, alliiberwindenden Glaubens, der, wie Luther sagt, "mit ausgebreiteten Armen freudig den Sohn Gottes ergreift, der fiir uns dahin gegeben ist". Es sollte unser Bestreben sein, Glaubensgewissheit, Glaubensfreudigkeit in die Gemeinde hi-neinzupredigen, sintemalen der wahre Glaube nichts anderes ist als eine felsenfeste Gewissheit, die sich griindet auf Gottes Gnaden-verheissungen in seinem Wort, das Wort, das wir verkundigen. Hinter jedem Wort steht der Heilige Geist und gibt ihm Kraft und

  • Die Haupterf ordernisse der Predict, die grundlegend sind. . . 97

    Nachdruck in den Herzen der Zuhorer, so dass bei einem Kinde Gottes das innere Zeugnis des Heiligen Geistes zustande kommt. Paulus driickt dies Gal. 4 und Rom, 8 folgendermassen aus: Durch die Erlosung, so durch Christum geschehen ist, haben wir die Kind-schaft empfangen (Gal. 4,5); die Frucht dieses seligen Verhaltnisses ist: "Weil ihr denn Kinder seid, hat Gott gesandt den Geist seines Sohnes in eure Herzen, der schreiet: Abba, lieber Vater!" (V. 6) Also kommt durch das Wort der Heilige Geist immerfort zu uns. Er gibt uns Kraft und Freudigkeit zu beten: Abba, lieber Vater! (So auch Rom. 8 Paulus kann es sich nicht versagen, diese kindlich schlichte Formel, in der seine ganze Theologie den Hohepunkt er-reicht, zweimal zu gebrauchen.) Dieser Geist nimmt uns alle Furcht aus dem Herzen (V. 15) denn es ist kein knechtllcher sondern ein kindlicher Geist. "Und derselbige Geist gibt Zeugnis unserm Geist, dass wir Gottes Kinder sind." O herrliche Gabe, dies testimonium internum des Heiligen Geistes im Gegensatz zu dem monstrum in-certitudinis der romischen Kirche! O herrliches Amt, das diese Gabe darreicht und Trost, uberreichen Trost spendet! "Trostet, trostet mein Volk!" ist der Grundton jeder wahrhaft evangelischen Predigt.

    Wir fdssen das erste Erfordernis unserer Predigt zusammen: Wollen wir eine Gemeinde J.esu samrneln, so miissen wir "predi-gen in seinem TStamen Busse und Vergebung der Siinden" (Luk. 24,47) wie auch Paulus den Altesten von Ephesus erklart: "Und habe bezeuget beide den Juden und Griechen die Busse zu Gott und den Glauben an unsern Herrn Jesum Christum." Ap. 20,21.

    Mogen unsere treulutherischen theologischen Hochschulen in der Betonung dieser Aufgabe ihre Daseinsberechtigung erkennen und sich durch nichts beirren lassen, die Zeugen Jesu in seinem Sinne auszuriisten. Mogen sie standhaft bleiben inmitten der Stro-mungen, die der Predigt von Busse und Glaube wohl in dern refor-matorischen Zeitalter noch einen Platz zuweisen, nimmermehr aber in unserer heutigen Zeit. Da sei diese Predigt, so sagt man, nicht mehr opportun. Der menschliche Geist habe sich zu solchen Hohen emporgeschwungen, dass es heute mit seiner Wurde unvereinbar sei, die Theologie vergangener Jahrhunderte an den Mann bringen zu wollen. Die moderne Zeit beanspruche eine moderne Predigt. Und man schaut mit einer unverhehlten Geringschatzigkeit auf die Kreise, in denen Siinde und Gnade noch Begriffe sind fiir Kanzeln und Katheder. Man vergisst jedoch, dass es, strikt genommen, gar keine moderne Predigt geben kann, und zwar aus dem einfachen Grunde, weil es, genau genommen, keine moderne Zeit gibt. Tragt doch jedes Jahr der Weltgeschichte diesen Stempel und wird ihn voraussichtlich auch in Zukunft tragen. Und was den Fortschritt in der Technik und auf den andern Gebieten des menschlichen Wissens betrifft, wird nicht zu leugnen sein, dass er den innern Menschen nicht beriihrt. Er ist derselbe geblieben mit der ganzen Tragik sei-ner Erbschuld, von der Siinde geknechtet, ein Sklave seiner selbst, der am eigenen Diinkel krankt, einerlei in welchem Jahrhundert er

  • 98 Die Haupte r fo rdern i s se de r Pred ig t , die grundlegend s i rd . . .

    lebt. Der Mensch, der Siinde halber angeklagt und verloren, beno-tigt die Predigt von Busse und Glaube heute mehr denn je.

    2.

    Wenn Jesus seinen Jungern sagt: "Wer euch horet, der horet mich, und wer euch verachtet, der verachtet mieh" (Luk. 10,16) dann soil dies Wort uns nicht nur daran erinnern, dass wir in sei-nem Namen und Auftrag predigen, sondern auch dass wir ihn selbst predigen. Jesus hat sich selbst gepredigt. So muss unser Predigen ehristuszentrisch sein, wie ja eine Heilsverkiindigung, die sich nicht auf Christum griindete, undenkbar ware. Man merkt dem Apostel Paulus die Erregung an, die aus seinen Worten spricht: "Meine lieben Kinder, welche ich abermal mit Angsten gebare, bis dass Christus in euch eine Gestalt gewinne." Gal. 4,19.

    Klar und umrissen muss diese Gestalt in den Ilerzen unserer Zuhorer sein, denn die Erlosung hangt von einem personlichen Hei-land ab. Er ist das Heil. Er nennt sich den Weg, die Wahrheit und das Leben. Er ist das Licht der Welt. Er ist die Auferstehung und das Leben. Er ist das Lamm, das der Welt Siinde tragt. "Er ist uns gemacht von Gott zur Weisheit und zur Gerechtigkeit und zur Heiligung und zur Erlosung." 1. Kor. 1,30.

    Klar und umrissen ist diese Gestalt erst dann, wenn sie Kne-chts gestalt annimmt und als solche am Kreuze hangt und f tir unsere Siinden stirbt. Nur diesen Christus kennt Paulus, wie er seiner Ge-meinde in Korinth bezeugt: "Denn ich hielt mich nicht dafiir, dass ich etwas wiisste unter euch ohn allein Jesum Christum, den Ge-kreuzigten." I, 2,2,. Einen andern Christus gibt es nicht. Die lieben Jiinger, die eine falsche Vorstellung hatten von der Gestalt ihres Heilandes, mussen sich von ihm belehren lassen, ja, Petrus sogar auf eine scheinbar harte Weise: "Heb dich, Satan, von mir! Du bist mir argerlich: denn du meinst nicht, was gottlich, sondern was menschlich ist." Matth. 16,23. Selbst innlitten der grossen Ereig-nisse erspart ihnen der Herr die Ruge nicht: "O ihr Toren und trages Herzens, zu glauben alle dem, das die Propheten geredet haben! Musste nicht Christus solches leiden und zu seiner Herrli-ckeit eingehen?" Luk. 24,25.26.

    Ein "Aber" lasst uns jedoch aufhorchen. Es steht in diesem Zusammenhange und will uns Prediger und Zuhorer warnen vor einer grossen Gefahr, die stetig zunimmt. Wenn Paulus sagt: "Wir aber predigen den gekreuzigten Christum", dann will er mit diesem "Aber" uns in eine Gegenstellung bringen zu denen, die nicht den gekreuzigten Christum predigen. Es gehort das zum grossen Betrug des Erzgauklers, dass auf vielen Kanzeln ein Christus verkundigt wird, der nur ein Zerrbild ist von dem wahren Christus, der uns zugut in den Tod gegangen. Man macht sich einen Christus, wie man ihn gebraucht. Und ich wiisste keinen Unterschied zwischen diesem Verfahren, wie es in vielen Kirche und theologischen Schu-

  • Die Haupterfordermsse der Predigt, die grundlegend smd . . . 99

    len ublich ist, und dem der Heiden, laut Zeugnis eines ihrer beriihm-testen Philosophen: "Der Menseh hat die Gotter nach seinem Bilde gemacht und ihnen seine Lebensweise gegeben." (Aristoteles, die Politik) Standig haben unsere Christen in der Lektiire, im Radio, in Aussprachen einen Christus vor Augen, der nicht in biblischer Gestalt auftritt. Im Zuge der sozialisierenden Evangeliumsverkiin-digung tritt der Christus der Bergpredigt in den Vordergrund, wah-rend das Bild von Golgatha ganz verblasst. Das Evangelium wird zum "socialgospel", das Reich Christi ein Diesseitsreich, sein tati-ger Gehorsam ein anspornendes Vbrbild, sein leidender Gehorsam die Martyrertat eines Idealisten, sein Sammlen, sein Werben, mithin die Aufgabe der Kirche, wird zum Anstreben einer allgemeinen Ver-briiderung unter dem Leitwort "Okumene". Und unsere Christen horen und lesen, wie Jesus einem Buddha oder irgendeinem andern heidnischen Religionsstifter gleichgestellt wird, und wie vor allem Manner, die das Wesen des Christentums nicht erkannt haben, den-noch wegen ihrer grossen Liebeswerke, die an sich der iustitia ci-vilis zuzuweisen und als solche anerkennenswert sind, als echte Jun-ger und Nachahmer Christi geriihmt werden.

    Mogen wir doch als treue Diener Jesu die uns anvertrauten Seelen immer wieder mit Angsten gebaren, bis dass Christus in ihnen eine Gestalt gewinne. Und damit hatten wir das zioeite Erfor-dernis der Predigt gekennzeichnet: Wir sollen Christum den Ge-kreuzigten predigen.

    3.

    Mit den beiden vorgenannten Stiicken legen wir bei unsern Zuhorern den Grund zum wahren Christentum. Nun gilt es, auf diesem Grunde weiterbauen, Stein auf Stein, damit sie den ganzen Rat Gottes zu ihrer Seligkeit kennen lernen, wie Paulus es in sei-nem Rechenschaftsbericht vor den Altesten aus Ephesus ausdruckt. EG ist von jeher das GharaJderistikum der lutherischen Predigt ge-wesen, ihre Starke und ihr Ruhm, lehharft zu sein, das heiszt, be-strebt zu sein, die Zuhorer mit oiler Lehre der Schrift vertraut zu machen das dritte Erfordernis unserer Predigt.

    Ob logos, ob didaskalia, ob didachee Lehre ist das, was Gott in seinem Worte sagt, auch wenn die Form nicht immer spezifisch didaktisch ist. Ist doch alle Schrift von Gott eingegeben, urn. uns als Lehre nutze zu sein zur Unterweisung zur Seligkeit. Es ist bezeich-nend, mit welchem Nachdruck Christus und die Apostel auf das Wort, auf die Lehre verwiesen haben. Denn die Worte der Schrift sind Geist und sind Leben. Das haben die Jiinger erkannt: "Herr, wohin sollen wir gehen? Du hast Worte des ewigen Lebens." Joh. 6,68. Jesus macht die Jungerschaft und das Freiwerden von der Sunde abhangig von dem Bleiben an seiner Rede. Darum verzehrte sich Jesus selber im Dienst des Wortes. Wo immer er sich auch be-fand, Jesus lehrte im Tempel, in Hausern bei Freund und Feind,

  • 100 Die Haupterfordernisse der Predict, die grundlegend sind . . .

    auf dem Berg, auf der Strasse, auf dem Wasser Jesus lehrte. Und dann, als sich seine Stunde naherte, fleht er im hohenpriesterlichen Gebet fur seine Jiinger: "Heilige sie in deiner Wahrheit; dein Wort ist die Wahrheit", um sie auszuriisten fiir den grossen Auftrag, der noch heute gilt: Gehet hin in alle Welt und lehret ja, lehret sie halten alles, was ich euch befohlen habe. Denn wer da glaubet und getauft wird im Einklang mit dieser meiner Lehre der wird selig werden. Mit diesem, Auftrag lauft die Warming parallel: "Las-set euch nicht mit mancherlei fremden Lehren umtreiben." Hebr. 13,9. Und: "Auf dass wir nicht mehr Kinder seien und uns wagen und wiegen lassen von allerlei Wind der Lehre durch Schalkheit der Menschen und Tauscherei, damit sie uns erschleichen zu verfuhren." Eph. 4,14. -

    Den ersten Christen wird nachgeriihmt, dass sie bestandig blie-ben in der Apostel Lehre. Und Paulus, vom Heiligen Geiste inspiriert, lasst sichs angelegen sein, den Dienern am Wort das Festhalten an der reinen Lehre auf die Seele zu binden: "Hab' acht auf dich selbst und auf die Lehre; beharre in diesen Stiicken! Denn wo du solches tust, wirst du dich selbst selig machen, und die dich horen." 1. Tim. 4,16. "Du aber rede, wie sichs ziemet nach der heilsamen Lehre." Tit. 2,1. "Allenthalben aber stelle dich selbst zum Vorbild guter Werke mit unverfalschter Lehre, mit Ehrbarkeit, mit heilsamem und untad