idos de março

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Idos de Março I São as águas de março fechando o verão é promessa de vida no meu coração” (Tom Jobim) Na Roma Antiga, eram chamados de Idos os dias 15 dos meses de março, maio, julho e outubro, e os dias 13 dos demais meses do ano. Na História, esta data ficou conhecida como “Idos de Março”, quando o imperador romano Julio Cesar foi morto por um grupo de conspiradores liderados por Brutus e Cássio. O crime aconteceu em 44 a.C. Até tu Brutus? Se fevereiro foi de uma febre arrebatadora, onde quase todos os dias ardiam meus pensamentos, talvez março, com suas tempestades e dilúvios me arrastem para caminhos por onde imaginava que não mais caminharia. Que meu corpo barco seja levado. Uma parte de mim não lutará com a correnteza, não nadará contra as águas turbulentas, eu vou fluir pelo curso do rio carregando comigo as minhas indagações, remos que orientam a minha direção. Ah! Como eu quero girar num rodamoinho! Como eu desejo me entontecer. Preciso não sentir os pés tão firmes no chão, escrever é um pouco “voar fora da asa”. E que minhas palavras flutuem ao sabor das águas. Que meus pensamentos dancem nas ondas, formando um circulo dentro de outro círculo. E que o corpo repouse na cama na luz da manhã. Março inicia astrologicamente com o sol no signo de Peixes e termina no signo de Áries. Embora desde Júlio César os romanos tenham passado a iniciar o ano com o mês de janeiro, originalmente, o primeiro mês era março, pelo que o signo de Áries é chamado de primeira casa zodiacal. A parte “promessa de vida no meu coração” vai se deixar levar e fluir, mas o hemisfério “um pouco sozinho” seguirá a origem da Roma Antiga onde o nome "março" era o primeiro mês do ano e chamava-se Martius, de Marte, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês da primavera, um evento lógico para se iniciar um novo ano, bem como para que se comece a temporada das campanhas militares. Os Idos de Março são as águas fechando o verão, por onde se flui, mas também são um espinho no pé e um corte na mão, que se cicatrizam, é o mistério profundo, é o queira ou não queira de uma luta que não pode parar.

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Série de textos sobre o desenvolvimento espiritual ao longo do mês de março contida em http://andre.aquino12.blog.uol.com.br

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Page 1: Idos de Março

Idos de Março I

“São as águas de março fechando o verãoé promessa de vida no meu coração” (Tom Jobim)

Na Roma Antiga, eram chamados de Idos os dias 15 dos meses de março, maio, julho e outubro, e os dias 13 dos demais meses do ano. Na História, esta data ficou conhecida como “Idos de Março”, quando o imperador romano Julio Cesar foi morto por um grupo de conspiradores liderados por Brutus e Cássio. O crime aconteceu em 44 a.C.Até tu Brutus? Se fevereiro foi de uma febre arrebatadora, onde quase todos os dias ardiam meus pensamentos, talvez março, com suas tempestades e dilúvios me arrastem para caminhos por onde imaginava que não mais caminharia. Que meu corpo barco seja levado. Uma parte de mim não lutará com a correnteza, não nadará contra as águas turbulentas, eu vou fluir pelo curso do rio carregando comigo as minhas indagações, remos que orientam a minha direção. Ah! Como eu quero girar num rodamoinho! Como eu desejo me entontecer. Preciso não sentir os pés tão firmes no chão, escrever é um pouco “voar fora da asa”. E que minhas palavras flutuem ao sabor das águas. Que meus pensamentos dancem nas ondas, formando um circulo dentro de outro círculo. E que o corpo repouse na cama na luz da manhã.Março inicia astrologicamente com o sol no signo de Peixes e termina no signo de Áries. Embora desde Júlio César os romanos tenham passado a iniciar o ano com o mês de janeiro, originalmente, o primeiro mês era março, pelo que o signo de Áries é chamado de primeira casa zodiacal.A parte “promessa de vida no meu coração” vai se deixar levar e fluir, mas o hemisfério “um pouco sozinho” seguirá a origem da Roma Antiga onde o nome "março" era o primeiro mês do ano e chamava-se Martius, de Marte, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês da primavera, um evento lógico para se iniciar um novo ano, bem como para que se comece a temporada das campanhas militares.Os Idos de Março são as águas fechando o verão, por onde se flui, mas também são um espinho no pé e um corte na mão, que se cicatrizam, é o mistério profundo, é o queira ou não queira de uma luta que não pode parar.

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Idos de Março II

Lá fora a chuva está derretendo as pedras, hoje estou com uma forte impressão que posso existir além do tempo estabelecido, não na falsa eternidade pregada pelo mundo, esses véus de Maya que fazem todos seguirem na mesma direção em fila indiana, mas numa dimensão superior onde o ego estará diluído numa consciência maior, uma espécie de soma.Ao mesmo tempo aprendo a respeitar os símbolos da vida, os signos do provisório e do contingente, tudo terá um fim inclusive o meu corpo, não é para se lamentar ou sofrer por antecipação, mas estar sempre preparado. A aceleração de tudo dá essa impressão que o tempo está mais rápido. Os estímulos do mundo a sua volta, a velocidade dos carros, da internet, provocam excitação, liberação de dopamina , que vicia. E na sua ausência, vem o tédio, a depressão, sentimos falta daquela tempestade de coisas voando a nossa volta. A gente vai enlouquecendo e nem percebe. Ando praticando mais introspecção e contemplação, tem me feito muito bem. Tenho alcançado curas através disso.E queria dividir essa experiência com as pessoas.Não nascemos prontos, vamos nos fazendo a cada dia, parece óbvio, mas essa loucura nos faz esquecer o mais essencial.Não vamos nos gastando com o tempo, envelhecer é benção, não acredite na MATRIX que prega que ser eternamente jovem é o que importa.Aliás não acredite em nada da MATRIX.Lembre-se a : MATRIX é tudo que te induz a comprar o desnecessário e a se tornar alguém que você não é. Esteja sempre atento a isso.Acorde!

Page 3: Idos de Março

Idos de Março III

"O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!”A proximidade do carnaval torna a energia nesse país mais densa, a gente sente facilmente uma agitação nas pessoas, uma perturbação. Não há época melhor para identificarmos as forças de manipulação as quais estamos submetidos do que essa. As cordas dos manipuladores das marionetes ficam expostas. A má conduta é valorizada através das propagandas de cerveja que “entronizam” comportamentos e de programas que falam de condutas para criar uma “nova moral”. É-nos introduzido, e por vezes estimulado, uma conduta de forma ardilosa, travestida de moda ou de comum. Essas idéias são implantadas em nossas cabeças sem que percebamos, a loucura moderna faz com que tudo isso pareça normal. Mas a cada geração que passa vamos nos tornando mais e mais decadentes, mais e mais ignorantes, mais e mais submissos.E o senso geral é sempre pensar que não tem mais jeito, que tudo está perdido, que não há mais volta.Por isso somos cada vez mais fracos como povo e cada vez mais manipuláveis como “gado”.Há uma engenharia social camuflada trabalhando no oculto das pessoas. E aberrações que começam com a sensualização precoce de meninas ainda crianças até transformá-las no estereotipo das louras burras, mais coberta de jóias como a Marilyn Monroe , Madonna ou Lady Gaga, ou “Cachorras” que depois apanham dos namorados ainda adolescentes ou depois que já estão casadas com cafajestes.E tudo isso todos os dias entra nas nossas casas sem pedir licença. A grande maioria dos artistas infelizmente nem sabem, mas vendem suas almas para conseguir a fama, estão a serviço de projetos para corromper e lobotomizar a sociedade. Há um grupo muito pequeno de pessoas que controlam economia, mídia e política no mundo todo. E aqueles que executam esse trabalho maligno não têm a menor idéia dos interesses por trás da direção que eles fazem a sociedade tomar."Nunca seja crédulo, nem deixe de ser sóbrio." Disse certa vez Epicarmo, poeta grego.Acorde!

Page 4: Idos de Março

Idos de Março IV

Quero apenas cinco coisas.. Primeiro é o amor sem fim A segunda é ver o outono A terceira é o grave inverno Em quarto lugar o verão A quinta coisa são teus olhos Não quero dormir sem teus olhos. Não quero ser... sem que me olhes. Abro mão da primavera para que continues me olhando.Pablo Neruda

O outono começou. Em outras partes do mundo o outono é característico pelo amarelar das folhas das árvores, aqui a temperatura se ameniza e o coração desacelera. A chuva cai lenta, e as gotas de tão finas são como se aranhas tecessem suas teias entre as nuvens e o chão.Por ser a fase de transição entre o verão e o inverno, o outono tem um pouco de cada um. É o caminho do meio entre as estações do ano. É a época dos mistérios das neblinas, dos segredos das cerrações e dos enigmas dos nevoeiros. Nessa época os dias e as noites têm a mesma duração. O outono é o período da maturação, de amadurecimento do fruto-eu.No outono de minha existência deixei caírem às folhas secas da desilusão, do desencanto, do desamor, do abandono, sem saber que elas, mesmo no chão, serviriam para aquecer minhas raízes tão profundas, tão firmes. Enquanto se sonha demais chegamos onde a esperança vive. Só deixando a alma voar se descobre o que nos faz sentir livres. Só deixando amadurecer em mim o que precisa ser colhido e deixando cair do galho o fruto maduro demais e que por isso já estava apodrecido.

Idos de Março V

No inverno te protegerno verão sair pra pescarno outono te conhecerprimavera poder gostare no estio me derreterpra na chuva dançar e andar junto!(Beto Guedes – Amor de índio)

O outono me interioriza, em lembra, não sei porque uma dança.Talvez seja por isso que nessa tarde eu esteja sentindo saudades de dançar música lenta, dessas em que um casal dança bem juntinho. E imaginando aqui agora, a banda toca uma canção romântica e no salão todos procuram por seu par. Eu, tímido, penso em me sentar, mas logo ali do outro lado vejo a moça sorrindo, nossos olhos se cruzam e isso é tudo que precisávamos para nos convidar. Ela vai sentindo a música invadindo seus sentidos. As minhas mãos de homem em suas costas a pressionam contra meu peito, o cheiro de seu perfume me entorpece, nossas pernas entrelaçadas, as coxas dela se tocam com as minhas. As mãos dela, a princípio estavam pousadas nos meus ombros

Page 5: Idos de Março

Rodopiando pelo salão ela não quer que a música acabe.Eu também não.A dança lenta vai nos enchendo de carinho, ela então começa a acariciar meus cabelos deitando sua cabeça em meus ombros.Num movimento instintivo eu coloco minhas mãos em sua cintura, puxando-a mais para perto.Os passos da dança vão diminuindo e já se pode sentir os corações batendo mais forte do que os instrumentos da banda.Eu beijo o ombro dela e sinto seu suor levemente salgado, depois aspiro o perfume do seu cabelo.Eu posso ouvir seu suspiro.Nos Abraçamos mais forte.Nossos pés não se levantam do assoalho, mas nossos pensamentos voam longe, bem longe.Ela levanta os olhos para a esfera de espelhos pendurada no teto.Posso sentir que nessa dança de outono algo nasceu entre a gente.Naquele momento ninguém no salão era mais feliz do que nós.

Idos de Março VI

Sinto muito, mas por mim não use luto, estarei presente em toda primavera, verão, outono e inverno. Fui moldado para ser eterno.( Apocalipse 16, grupo de rap cristão)

Os frutos do outono, maduros. Sinto que meu coração tal qual uma fruta também amadurece. Sinto-o forte e ao mesmo tempo macio, mais ou menos como diria Che em uma de suas mais celebres frases onde ele dizia que temos que sim ser duros, mas sem nunca perder a ternura. A dureza serve para enfrentar com coragem o que tem de feio na vida, as desonestidades, a corrupção, os cafajestes, as pessoas canalhas, traíras, falsas, sacanas, as injustiças, a pobreza, a miséria, a fome, a desigualdade social, doenças sem cura conhecida, crianças abandonadas, velhos abandonados, o medo da violência, os pedófilos, a exploração sexual infantil, os acidentes fatais, as mortes súbitas, as mulheres espancadas e tantas outras coisas horríveis e assombrosas que precisamos de muita firmeza no coração para enfrentar todas essas atrocidades. Um coração firme não é um coração duro, um coração forte não é um coração de pedra, mas uma fortaleza , uma base firme que não se abala com qualquer terremoto.Que se mantêm de pé mesmo quando tenta lhe esfaquear ou ferir.E ainda assim não perde sua maciez. A ternura do coração é a necessidade de afeto que todos nós temos, mesmo os mais duros de nossa espécie, todo carinho se é fraternal é um afago, mas se for carnal, é caricia.A vida moderna afasta, cria cada vez mais individualidades e ameaças, quando nossas necessidades mais básicas são a proximidade, a segurança e o relaxamento.Para equilibrar é preciso um pouco de ternura nesse mundo tão caótico, tão desorganizado e violento como o que vivemos.Estou quase indo, mas não sem antes cantarolar como faz Beth Carvalho em minha “vitrola” : “Quando piso em folhas secas, caídas de uma mangueira, penso na minha escola e nos poetas de minha Estação Primeira.”Tem certas coisas que só o outono nos ensina. O resto são folhas mortas.

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Idos de Março VII

Nas ruas de outono, os meus passos vão ficar e todo abandono que eu sentia, vai passar . As folhas pelo chão que um dia o vento vai levar meus olhos só verão que tudo poderá mudar.Eu voltei por entre as flores da estrada pra dizer que sem você não há mais nada.Quero ter você bem mais que perto com você eu sinto o céu aberto.Daria pra escrever um livro, se eu fosse contar tudo que passei antes de te encontrar pego sua mão e peço pra me escutar, seu olhar me diz que você quer me acompanhar...(Gal Costa - Ruas de Outono)

Aqui no Brasil por causa do clima tropical o Outono não parece assim tão belo, pelo menos não para os de olhos pequenos, aliás, como crescem nossos olhos à medida que aguçamos a sensibilidade. Os franceses gostam tanto dessa estação que a chamam de “La belle season”, porque tudo lá fica mais vermelho e tendendo para o dourado. Essa estação aqui no Brasil apesar de não ser assim tão percebida nos faz evocar Nietsche: “Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza."Além de meu coração, nesse outono ficam maduros também meus olhos, o calor do verão se foi e a amenidade temperada dessa estação nos deixa mais serenos e calmos. E olhos serenos e calmos são olhos atentos a todo movimento. As estações do ano, todas elas, são como uma parábola de nós mesmos. Um ensinamento sagrado a respeito do que somos e o que pensamos. Somos seres outonais amadurando nossos frutos e eliminando nossas folhas secas e mortas. Meus olhos castanho-madeira temperados com o dourado azeite de oliva puro.Que bela salada!E já que evoquei Nietsche chamo também Oscar Wilde : “Ser como crianças, para não esquecermos o valor do vento no rosto e ser como velhos para que nunca tenhamos pressa". Desacelera! Jogar fora o que está morto, desapegar-se das folhas mortas, reparar nas flores e brincar de bem-me-quer só para jogar fora as pétalas mal-me-quer, respirar fundo e ver bem em volta, a pressa ainda é inimiga da perfeição, ainda que a perfeição pareça inatingível, porque perfeito é o infinito. E já que chamei Gal Costa, Nietsche e Wilde, para fechar chamo Antoine de Saint-Exupéry: “A perfeição é alcançada, não quando não existe nada mais para se acrescentar, mas quando não existe nada para se retirar." 

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Idos de março VIII

“Para me punir por meu desprezo pela autoridade, o destino fez de mim mesmo uma autoridade." (Albert Einstein) Nenhuma morte é instantânea, mesmo as mortes fatais e imediatas, aquelas que não eram esperadas, foram resultado de um caminho, de um plano insondável e misterioso do universo. Então se você morrer de repente amanhã se despeça da vida sorrindo hoje. Nada pra você é certo ou é uma certeza, apesar de você, o mundo continuará sempre a existir. Mas é certo que você deixará saudades, que você deixará lições e que você deixará vazios. Mas será a sua história que fará a diferença, não o seu dinheiro, não o seu patrimônio, não a sua herança. Eu louvo aos céus pela sua existência, porque se voce não tivesse existido esse mundo teria sido menos colorido pra mim.Em março vivo a guerra entre a carne e o espírito, uma batalha que me matará ou que me fará renascer. Mais uma vez. De quantas mortes foi feita essa minha vida? Meu Deus, meu Deus quantas mortes minhas, quando renascimentos meus. É certo que pelo mérito na luta, vivos ou mortos, todos os meus soldados vão ser promovidos a general. Pois ainda que matem meus sonhos, ainda que aniquilem os meus exércitos, ainda que destruam as minhas esperanças, nada vai matará o meu espírito. Eu sou um milagre, eis-me aqui respirando, eis-me aqui vivo, eis-me aqui lutando, eis-me aqui resistindo , eis-me aqui transformando cada lágrima minha em diamante, em brilho, em luz.Luz que não ilumina só a mim, luz que também ilumina a escuridão de alguém que caído no campo de batalha, ferido numa trincheira, já não tinha mais esperança em ser resgatado.Eu ouvi o seu chamado, eu trouxe ajuda, nem sei porque escrevo isso, não sei pra quem é, é pra mim também, mas é pra alguém que precisa de auxilio e aqui estou.Essa é a minha missão, esse é o meu caminho do meio, asas de anjo, apesar do corpo de homem.Eu também quase morro nessa guerra entre a minha carne e o meu espírito.Mas eu tenho fé e sabedoria e por isso a minha, a nossa vitória, é certa.

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Idos de março IX

"Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz." (Tom Jobim)

Em março eu estou cheio, eu sou como uma valso cheio de água, parte dessa água o meu barro absorve, a outra eu despejarei sobre você.Nossos dias estão contados, mas antes que eles se acabem eu quero me libertar de tudo que me prende a carne.Em março eu estou cheio, cheio de ousadia, eu tenho um dom e eu não desperdicei esse dom, eu o coloquei a minha disposição, para que ele me salvasse, para que ele me fortalecesse, porque quanto mais alto você voa, mas querem te derrubar.Eu coloquei o meu dom no “papel” e se não houvesse papel eu escreveria na parede das cavernas, eu o desenharia nas nuvens, eu escreveria na areia para você me ler.O que é do bem, nada detém.Em março eu estou cheio, transbordando, rios se misturando, caudalosos, vivos e repletos de peixes, rios rompendo desertos e os transformando em jardins. Tem uma chuva de mim caindo aqui, eu não sei o que digo, sou só instrumento, não é o André quem está escrevendo, há uma profecia que diz pra mim e pra você. Saia da sombra e diga quem é você, se revele, mostre pra eles que eles não têm poder nenhum sobre você, seja livre, seja cheio de água. Diga o que você sente, declare o que você pensa, chegou a hora, onde você estiver, dentro de um culto, dentro do carro, nas ruas da cidade, no seu quarto, dê um grito de liberdade!Eu não tenho uma só religião, mas eu tenho um só coração, um coração cheio de alegria por estar ainda aqui escrevendo, não como lição de moral, porque eu não sou ninguém para dar lição de moral, eu não sou nem sequer alguém que se aproxime da perfeição, mas as minhas palavras curam, curam a mim mesmo que as escrevo e curará de alguma maneira que as lê.Não se cale, não se esconda, junte-se ao exercito que já se levantou contra a opressão, contra as ditaduras, contra as enganações e contra o esvaziamento do espírito em detrimento do materialismo. Você não precisa de armas para lutar nessa guerra, você precisa apenas da sua voz e do seu pensamento. Acredite, eles são sobrenaturais.Em março é a guerra entre o espírito e a carne, em março o meu vaso está cada vez mais cheio de água viva, e eu cada vez mais vazio de mim, porque eu, o André-ego, tenho ficado cada vez menor...

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Idos de março X

“A escolha é a alma gêmea do destino.” (Sarah Ban Breathnach)

Eles olham pra mim, mas não vêem nada de especial, até mesmo quando eu me olho no espelho não vejo nada demais. Tem dias que nem mesmo meus olhos têm brilho. Mas basta eu sentar para escrever que tudo muda, há uma transformação, uma mudança no meu sentimento.É como uma manifestação, ás vezes furiosa e implacável, ás vezes calma e tranqüila.Tem dia que é fogo, tem dia que é água, tem dia que é vento, tem dia que é terra.Não controlo a minha inspiração.Vozes falam através de mim.É tão difícil se desapegar das coisas, das pessoas, do mundo. Não é uma escolha fácil tomar partido na luta do espírito contra a carne. E escolher o espírito não tem significado pra mim ser um monge ou me transformar em santo.Tem sim, significado escolher o caminho do meio, estar consciente de cada ato e de cada escolha.Quando a gente desliga o piloto automático e passa a dirigir sozinho, demora um tempo para se acostumar com a responsabilidade de frear, de acelerar ou de fazer as curvas com os próprios pés e mãos.Queima em mim o desejo, mas o vaso cheio de água apaga os incêndios, o vento reascende as brasas e a terra dirá através do pó e das cinzas quem eu fui e por onde andei.De todas as escolhas que eu fiz na vida, essa foi a mais difícil, quanto tempo leva um ser humano para descobrir sua missão? Quando tempo demora um menino pára se transformar num homem? De quantas mortes precisa uma vida para ser finalmente plena? Sinto que me despeço, não da vida, acho que não morrerei amanhã, mas que me despeço de um André que está morrendo em prol de um outro André, um que aparentemente continuará o mesmo, mas que está passando por uma transformação tão profunda, que será invisível aos olhos humanos.

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Idos de março XI

“O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança.” (Friedrich Nietzsche)

Pobre homem que criou um Deus assim tão humano e tão pouco sobrenatural. Que Deus é esse que habita essas igrejas onde as pessoas só acreditam em homens que estão tão cheios de pecados, de corrupções, que estão tão sedentos de poder, de fama e de status quanto qualquer um de nós? Aqueles que pregam o desapego da matéria, que exortam as pessoas a se livrarem de seus vícios destruidores e medos infundados. Aqueles que de coração aberto sem interesse algum escrevem, falam, ou mesmo meditam numa corrente benigna, estes são tão bons pregadores quanto qualquer um daqueles que sobem em palcos, em palanques ou púlpitos.Os dons espirituais não são exclusividade ou bens de uma religião ou igreja, eles estão aí acessíveis a todos aqueles que orarem, que rezarem ou se iluminarem e mereçam tal benção porque foram escolhidos pra tanto. Quem é você para duvidar do meu dom? Quem é você para julgar se o que eu digo é da carne ou do espírito? Eu mesmo tenho um chamado, mas não sei quando virá.E quando vier eu quero estar preparado.Eu sou só um reles escritor amador, sem livros de sucesso, sem um best-seller nas livrarias, mas ainda sim escrevo com a paixão queimando meus dedos, com o mesmo sonho de um escritor famoso e reconhecido.Ainda que eu tivesse um só leitor, se eu pudesse alcançá-lo com o dom das minhas palavras, eu já me sentiria realizado.Eu escrevo desde os 10 anos de idade, e vou continuar a escrever até o fim do meus dias e mesmo depois da minha morte, se for possível escrever pra onde eu for, eu vou continuar.Ainda que seja para um só leitor.Na serie Idos de março, pelo menos nos textos em que são escritos a respeito da guerra entre o espírito e a carne, não existe André Luis Aquino, ou melhor , existe sim, tem a minha essência revolucionária , tem o menino que se tornou homem, tem o homem que é um milagre porque vencerá a morte do corpo físico. Tem o André, mas que é André é esse que eu já não reconheço mais?E apesar dessas pessoas que usam os templos para a política, para o engrandecimento de seu ego e para o enriquecimento pessoal, ainda há igrejas edificadas sob a pedra original,reuniões, cultos e templos de qualquer denominação que ainda nos religam, homens tão cheios da presença do sobrenatural que transbordam, são médicos de almas, semeadores da luz, pessoas simples e comuns, mas que tem em si um brilho capaz de iluminar as mais tenebrosas escuridões.Pessoas que aprenderam que orar é quando conversamos com Deus e meditação é quando escutamos Deus falando conosco.Hoje eu digo não para mim e digo sim para o meu espírito...esse sou eu liquido e derramado.

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Idos de março XII

Tornamos o nosso mundo significativo pela coragem de nossas perguntas e pela profundidade de nossas respostas. (Carl Seagan, o único que era cientista espacial e poeta das estrelas ao mesmo tempo)

Depois de Carl Seagan eu evoco Voltaire: “ Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta.” Sabedoria. É isso que eu vim buscar aqui, embora eu precise de ouro para satisfazer minhas necessidades físicas e materiais, se eu pudesse passaria o dia aprendendo, apenas me alimentando de conhecimento, bebendo da fonte inesgotável das descobertas humanas e flutuando nas nuvens de energia pura que emanam dos corações espirituais azuis que pulsam no centro do universo. E a noite eu me deitaria numa cama macia de lençóis brancos tendo como teto as estrelas brilhando no céu. Ao meu lado meus filhos, igualmente curiosos e me perguntando o nome das constelações. Deitada em meu peito, estaria aquela que chamo de minha amada, fruto do meu caminho, filha do meu destino. Juntos, seríamos uma família viajando pelo universo apenas com o poder da imaginação.E antes de dormirmos eu leria para eles o poema XI  do Tao Te Ching de Lao Tse : Trinta raios rodeiam um eixo, mas é onde o raio não raia  que roda a roda. Vaza-se a vasa e se faz o vaso. Mas é o vazio que perfaz a vasilha. Casam-se as paredes e se encaixam portas, mas é onde não há nada que se está em casa.Falam-se palavras e se apalavram falas,mas é no silêncio  que mora a linguagem.É o Ser que faz a utilidade.Mas é o Nada que dá sentido. Eu vim de Andrômeda, eu sou número 6, tem dias que me sinto menor que um grão de areia, outros como um coração pulsando no interior das estrelas. Sou como um filho espiritual de Hipátia (Hypathia), aquela que assim Sócrates descreveu: Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos.Quando Hipátia nasceu, época que chamamos em história de “Civilização Clássica”, as mulheres eram apenas propriedade dos homens. Por sua coragem e por seu conhecimento, ela conseguiu se tornar uma pessoa respeitada entre as instituições essencialmente masculinas. Apesar de sua beleza admirada, não deu chances aos seus pretendentes não se interessando em casamento e preferiu estudar e ensinar. A Alexandria de seus tempos vivia em grande conflito. Dominada pelos romanos, viu a religião cristã começar a aumentar sua influencia e a considerar todo o conhecimento acumulado por aquela civilização como pagão e impuro. Começou então uma guerra entre forças sociais poderosas que queriam acabar com a Biblioteca de Alexandria e com as escolas de filosofia. Cirilo, o chefe da igreja local, desprezava Hipátia, por ela ser muito famosa naquela época, simbolizava o aprendizado e a ciência que pela igreja era identificado como paganismo. Mesmo correndo perigo, Hipátia continuou lecionando e publicando seus trabalhos.Porem numa manhã em 415 depois de Cristo, a caminho do trabalho, ela foi atacada por uma multidão fanática seguidora de Cirilo.Eles a puxaram da carruagem, rasgaram

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suas roupas e arrancaram sua carne dos ossos com ganchos.Seus restos mortais foram queimados e seus trabalhos destruídos.Seu nome foi esquecido.Hoje eu celebro Hipátia e me lembro dela com saudades e orgulho.Nós seres humanos somos poeira das estrelas que tem consciência de sua própria existência. Nós somos uma maneira do cosmo conhecer a si mesmo e nós como filhos dessa criação somos sempre curiosos a respeito da nossa origem.E quanto mais descobrimos menos sabemos, e para não nos sentirmos desamparados criamos rituais, como casamentos ou funerais para estarmos sempre próximos da nossa raiz e da nossa essência primitiva.Por isso nos enganamos muito e temos poucas certezas.Vivemos numa guerra entre o espírito e a carne, entre os nossos preconceitos e a verdade comprovada ou apenas sentida.E apesar de todas essas batalhas que parecem um caos, sobrevivemos na harmonia entre o micro e o macro.é preciso ser leal a única matéria que realmente importa aqui nessa dimensão.Nosso querido planeta Terra.Ele é nossa verdadeira casa enquanto vivos nesse corpo físico e ninguém inteligente ou que tenha sabedoria destrói a própria casa.Há muitos meios diferentes de ser humano, esse é o meu jeito.

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Idos de março XIII

"Deus é a plenitude do céu, o amor é a plenitude do homem. "( Victor Hugo ) 

Senta aqui que eu vou te contar uma história.