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ISSN 2176-9095 Artigos de revisão/review Articles

Science in Health mai-ago 2013; 4(2): 92-6

I D E N T I F I C AÇ ÃO D E S O B RE P E S O E M G E S TAN T E S AT E N D I DA S E M U M A U N I DAD E B Á S I C A D E S AÚ D E DA C I DAD E D E S ão pAu l o - S p

Ov E Rw E I G H T I D E N T I F I C AT I O N I N P REG N AN C y w O M E N AT T E N D E D I N A B A S I C h E Alt h u n I t f ro m S Ao pAu l o – B rA z I l

fabiana Dias ferreira 1

João Victor fornari2

Anderson Sena Barnabé3

renato ribeiro nogueira ferraz4

R E S U M O

Introdução: O atendimento à mulher no ciclo grávido-puerperal é uma atividade prevista nas Ações Básicas da Assistência Integral à Saúde da Mulher e preconizado pelo Ministério da Saúde, sendo desenvolvido pelos profissionais de saúde da rede básica. No Brasil, a atenção à mulher na gestação e parto permanece como um desafio para a assistência, tanto no que se refere à qualidade propriamente dita, quanto aos princípios do cuidado. Objetivo: Caracterizar o perfil das gestantes atendidas na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vargem Grande, localizada na cidade de São Paulo - SP. Método: A amostra foi constituída por 27 gestantes que se encontravam em atendimento pré-natal da UBS citada. Resultados: A maior parte das gestantes tinha menos de 25 anos, eram pardas e apresentavam sobrepeso. Conclusão: Na unidade estudada, a assistência pré-natal deve focar o controle do peso, visando diminuir a morbi-mortalidade materno-fetal.

Palavras-chave: Gestantes • Cuidado pré-natal • Sobrepeso • Saúde pública.

ABSTRACT

Introduction: The care for women during pregnancy-puerperal cycle is an activity planned in the Comprehensive Basic Healthcare for Women and recommended by the Brazilian Ministry of Health, being developed by health professionals. The attention to women during pregnancy and childbirth remains a challenge for the assistance, both in terms of quality itself, as to the principles of care. Objective: To characterize the profile of pregnant women in the Basic Health Unit (BHU) “Var-gem Grande”, located in Sao Paulo city, Brazil. Method: The sample consisted of 27 pregnant women who were in pre-natal care at BHU. Results: Most women had less than 25 years and were overweighted. Conclusion: In this sample, the prenatal care should focus on weight control in order to reduce morbidity and mortality and fetal outcome.

Key words: Pregnant womem • Prenatal care • Overweight • Public health.

1 Fisioterapeuta pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) – SP. Especialista em Saúde Coletiva com Ênfase em Saúde da Família da Universidade Nove de Julho (UNINOvE) – SP. 2 Enfermeiro e nutricionista, mestre em farmacologia pela unIfESp. Docente do Departamento de Saúde da unInoVE.3 Biólogo, mestre e Doutor em Saúde pública pela uSp – Sp. Docente do Departamento de Saúde da unInoVE.4 Biólogo, mestre e Doutor em nefrologia pela universidade federal de São paulo – Sp. Docente do Departamento de Saúde da unInoVE. professor do mestrado profissional em Gestão da Saúde da UNINOvE - SP.

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Ferreira FD, Fornari JV, Barnabé AS, Ferraz RRN. Identificação de sobrepeso em gestantes atendidas em uma Unidade Básica de Saúde da Cidade de São Paulo - SP • Science in Health • mai-ago 2013; 4(2): 92-6

I N T RO D U Ç ÃO

A reprodução é definida como o processo no qual se torna possível a continuidade da espécie, podendo ser assexuada ou sexuada. Na espécie hu-mana a reprodução é sexuada, dependendo, para tanto, da união de duas células, o ovócito (femi-nino) e o espermatozoide (masculino). Sua impor-tância, pelo ponto de vista evolutivo, é que, através da gestação, dá-se origem a um descendente prove-niente de dois indivíduos1.

A gestação caracteriza-se pelo período de de-senvolvimento do embrião no útero, no qual as ne-cessidades nutricionais são elevadas, decorrentes dos ajustes fisiológicos da gestante e das demandas de nutrientes para o crescimento fetal2.

Além da saúde materna, incluindo sua própria condição nutricional e oferta de nutrientes, diver-sos fatores também influenciam o desenvolvimento fetal, como os genéticos, hormonais, ambientais e placentários. De acordo com o grau e o tipo de influência exercida por alguns desses fatores, de-tectam-se benefícios ou prejuízos no crescimento intrauterino. É importante ressaltar que o padrão de crescimento fetal “normal”, que alcança uma grande velocidade no terceiro trimestre da gesta-ção, é bastante suscetível à influência dos fatores citados anteriormente1, 3.

Quando a gestação está associada a fatores de risco, como obesidade, diabetes, hipertensão ma-terna, sofrimento fetal, trabalho de parto prolon-gado, macrossomia, parto cirúrgico, restrição de crescimento intrauterino, anemia materna e pre-maturidade, pode predispor a gestante e/ou con-cepto à morbimortalidade materno-fetal2, 3.

A gestação pode ser classificada de baixo risco, quando ela se constitui num fenômeno fisiológi-co normal, que evolui em 90% dos casos sem in-tercorrências, e de alto risco, quando já se inicia com problemas, ou estes surgem no decorrer do período, com maior probabilidade de apresentarem

uma evolução desfavorável seja para o feto ou para a mãe4.

A assistência pré-natal tem como objetivo iden-tificar adequada e precocemente quais as pacientes com mais chance de apresentarem uma evolução desfavorável e acolher essas mulheres desde o início de sua gravidez. O principal papel dos profissio-nais envolvidos nesse atendimento é promover uma atenção primordial às gestantes, transmitindo-lhes apoio e confiança necessária para que possam con-duzir com autonomia suas gestações e partos4.

Durante o pré-natal, é fundamental que se iden-tifiquem os fatores que constituem risco para o nascimento de crianças, tendo-se em vista que as distribuições do peso ao nascer e as condições de saúde são determinadas por diversos fatores com-plexos e inter-relacionados que se originam de con-dições biológicas, sociais, econômicas, culturais e ambientais às quais a mulher está exposta no perío-do gestacional, do parto e pós-parto4, 5.

O atendimento à mulher no ciclo grávido-puer-peral é uma atividade prevista nas Ações Básicas da Assistência Integral à Saúde da Mulher preconizada pelo Ministério da Saúde e desenvolvido pelos pro-fissionais de saúde nos hospitais e nos centros de saúde da rede básica4.

No Brasil, a atenção à mulher na gestação e par-to permanece como um desafio para a assistência, tanto no que se refere à qualidade propriamente dita, quanto aos princípios do cuidado6.

A assistência à gestação e ao parto deve concen-trar esforços a fim de alcançar o objetivo princi-pal de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna e perinatal. Inclui-se aí a necessidade de ampliar o acesso ao pré-natal, o estabelecimento de procedimentos e ações, cuja realização é funda-mental para esse acompanhamento, e a promoção do vínculo entre a assistência ambulatorial e o mo-mento do parto6.

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Os critérios mínimos e necessários para uma melhor qualidade de assistência à gestação e ao parto é garantir a realização dos seguintes procedi-mentos: mínimo de seis consultas pré-natais, sen-do, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre da gestação; uma consulta no puerpério, até 42 dias após o nascimento; exames laboratoriais como os de sangue e urina e aplicação de vacina antitetâni-ca6.

Uma grande deficiência no sistema de atendi-mento ao pré-natal é a inexistência de dados so-cioeconômicos e culturais das gestantes. O desen-volvimento de programas que incluam esses fatores pode facilitar a assistência às gestantes no período gestacional, do parto e pós-parto7.

Sendo assim, seria interessante que os serviços de saúde realizassem levantamentos periódicos do perfil das gestantes atendidas nas redes públicas com o intuito de conhecer essa população, identifi-car os principais fatores complicadores da gestação e criar mecanismos de sistematização, melhorando a qualidade do atendimento e, principalmente, di-minuindo os riscos de morbi-mortalidade materno--fetal, além dos custos do Sistema Único de Saúde.

O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil das gestantes atendidas na Unidade Básica de Saúde (UBS) “Vargem Grande”, localizada na Zona Sul da capital paulista.

M ÉTO D O

Trata-se de um estudo descritivo, de nature-za quantitativa, realizado no período de julho de 2011, através da análise retrospectiva das fichas de atendimento do serviço da UBS “Vargem Gran-de”, localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo - SP. Nestas observações, realizadas com fichas de mulheres atendidas no período de junho de 2010, foram coletados dados referentes à idade, peso e altura (para cálculo do IMC – Índice de Massa

Corpórea), número de gestações e etnia, além dos valores da pressão arterial sistólica e diastólica. Qualquer puérpera atendida no período foi inclu-ída no estudo, não sendo necessária a observação de critérios específicos de inclusão ou exclusão. A variável idade foi apresentada pelos seus valores médios ± desvio-padrão. As demais variáveis foram expressas por frequência absoluta e relativa ao total da amostra, sem a aplicação de testes esta-tísticos específicos. Este trabalho foi registrado no Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, por estar de acordo com a resolução 196/96 do Conse-lho Nacional de Saúde.

RE S U LTAD O S

No período de observação, coletaram-se dados de um total de 27 gestantes, cujas idades variaram entre 14 e 42 anos (média de 23 ± 7 anos). Quanto à etnia, duas gestantes (7,5%) eram pertencentes à raça negra, doze (44,5%) eram caucasianas e treze (48%) eram pardas.

Em relação ao peso, observou-se uma variação entre 43 e 87,5 kg (média de 62 ± 11 kg). No cál-culo do IMC, notou-se que 11 gestantes (41% da amostra) apresentaram valores superiores a 25 kg/m2. Quando foram avaliados os níveis pressóricos da amostra estudada, 3 gestantes apresentaram apenas a pressão sistólica superior a 130 mmHg.

Do total, 10 gestantes (37,03%) estavam na pri-

Quantidades de Gestantes Nº gestações Porcentagem %

10 1 37,03

11 2 40,74

2 3 7,40

1 4 3,70

1 5 3,70

1 6 3,70

1 7 3,70

Tabela 1. Classificação de gestantes quanto ao número de gestações

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meira gestação, 11 (40,74%) na segunda; 1 (3,70%) na quarta; 1 (3,70%) na quinta; 1 (3,70%) na sexta e por último 1 (3,70%) na 7º gestação. Esses dados estão representados na Tabela 1.

D I S C U S S ÃO

Na literatura existem poucos estudos que pro-curaram caracterizar o perfil das gestantes atendi-das em serviços públicos, principalmente em UBS2,

4, 8.

Na amostra estudada, a maior parte das gestan-tes apresentava menos de 25 anos de idade. A faixa etária representa ponto importante na população gestante, uma vez que a gravidez precoce aumenta a chance dos filhos de mães adolescentes nascerem com baixo peso (menor do que 2.500 g)9.

No que se refere ao IMC, um número consi-derável de gestantes apresentou índice acima dos valores recomendados. Quando a gestação está associada a fatores de risco como, por exemplo, a obesidade, pode-se, da mesma maneira, predispor tanto a gestante quanto o concepto à morbi-morta-lidade materno-fetal2.

O maior risco para complicações gestacionais está relacionado às mulheres obesas, e a hiperten-são materna aumenta a suscetibilidade às complica-ções perinatais3. Embora em nosso estudo apenas

3 gestantes tenham apresentado valores de pressão sistólica um pouco acima do recomendado, a obesi-dade poderá, ainda no decorrer da gestação, elevar os níveis pressóricos e oferecer maiores riscos tanto para a mãe como para o feto.

Reconhecemos que este estudo foi realiza-do com um número reduzido de gestantes, além de levantar apenas a prevalência pontual do fator obesidade nessa amostra populacional em especí-fico. Novos estudos com um número maior de pa-cientes, realizados por um período de seguimento maior, e também com o controle de possíveis vari-áveis de influência são necessários para verificar se o fenômeno aqui observado poderá se repetir em maior escala.

CO N C LU S ÃO

Observou-se elevado índice de sobrepeso entre as gestantes estudadas. Dessa maneira, torna-se essencial a manutenção de programas de atenção integral às gestantes nas UBS. Conhecer melhor o perfil da população possibilita planejar uma assis-tência pré-natal efetiva e assim reduzir os índices de morbimortalidade materno-fetal. Com este bre-ve relato entendemos que, de imediato, campanhas para a manutenção do peso adequado entre as ges-tantes devem ser imediatamente implementadas.

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R E F E R Ê N C I A S

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