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FABIO NAVARRO CYRILLO AVALIAÇÃO DA SENSAÇÃO DE POSIÇÃO ARTICULAR DO JOELHO EM INDIVÍDUOS COM SÍNDROME PATELOFEMORAL UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID SÃO PAULO 2009

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FABIO NAVARRO CYRILLO

AVALIAÇÃO DA SENSAÇÃO DE POSIÇÃO ARTICULAR DO JOELHO EM INDIVÍDUOS COM SÍNDROME PATELOFEMORAL

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO UNICID

SÃO PAULO

2009

FABIO NAVARRO CYRILLO

AVALIAÇÃO DA SENSAÇÃO DE POSIÇÃO ARTICULAR DO JOELHO EM INDIVÍDUOS COM SÍNDROME PATELOFEMORAL

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

UNICID

SÃO PAULO

2009

Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Fisioterapia junto à Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, sob a orientação da Profª. Drª. Cristina Maria Nunes Cabral.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho inicialmente à Deus pela graça eterna da minha

existência. Aos meus pais Waldyr e Ana pelo amor, exemplo de família e

constante orientação do melhor caminho. Ao meu irmão Francisco pela

lealdade e companheirismo. Às minhas adoráveis sobrinhas Laura e Sofia pela

alegria de suas presenças. E a minha querida esposa Luara que ocupa

plenamente meu coração.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profª Drª Cristina M.N. Cabral pela ajuda e orientação do

trabalho. Aos professores do programa de mestrado em Fisioterapia por de

alguma forma terem participado desta etapa, e aos professores da banca pela

ajuda no fechamento do trabalho. Aos colegas professores dos Cursos de

Fisioterapia, em especial a Profª Francine e ao Profº Sergio pela amizade e

oportunidades, e aos professores Fabio Passos e Sandra Alouche, exemplos

profissionais de dedicação e estimuladores inconscientes da busca de

conhecimento. Aos amigos fisioterapeutas Camila, Rodrigo, Fabiane, Pedro,

Rebeca, Ado e Célia pelos bons momentos na profissão e aos amigos de

outras horas Daniel, Ronaldo, Marcelos, Vinicius e Ricardo pela lealdade e

descontração necessária nos dias de hoje (quanto???). Aos voluntários do

estudo, essenciais para a realização deste. Aos queridos alunos da graduação,

que são o objetivo da busca de informação e conhecimento.

Profª Drª. Cristina Maria Nunes Cabral

Profª. Drª. Stela Mattielo G. Rosa

Profª. Drª. Sandra Regina Alouche

COMISSÃO JULGADORA

6

SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................ 7

1 Introdução ........................................................................................................ 9

1.1 Propriocepção ........................................................................................... 12

1.2 Sensação de Posição Articular (SPA) ....................................................... 17

1.3 Síndrome Patelofemoral e a SPA .............................................................. 18

1.4 Justificativa ................................................................................................ 22

2 Objetivos ........................................................................................................ 23

2.1 Geral.......................................................................................................... 23

2.2 Específicos ................................................................................................ 23

3 Métodos .......................................................................................................... 24

3.1 Tipo do estudo ........................................................................................... 24

3.2 Casuística .................................................................................................. 24

3.3 Materiais .................................................................................................... 26

3.4 Procedimento ............................................................................................ 27

3.5 Análise dos dados ..................................................................................... 30

3.6 Análise estatística ..................................................................................... 31

4 Resultados ..................................................................................................... 32

5 Discussão ....................................................................................................... 38

6 Conclusão ...................................................................................................... 45

7 Referências .................................................................................................... 46

8 Anexo .............................................................................................................. 51

9 Apêndice I ...................................................................................................... 52

9 Apêndice II ..................................................................................................... 53

9 Apêndice III .................................................................................................... 55

7

Resumo

Introdução: Pacientes com síndrome patelofemoral (SPF) parecem apresentar alteração da sensação de posição articular do joelho, favorecendo a evolução da doença. Identificar estas alterações pode ser fundamental para a prevenção de futuras disfunções da articulação do joelho que podem ter início durante o desenvolvimento das alterações encontradas na SPF. Objetivo: Avaliar a sensação de posição articular (SPA) do joelho em indivíduos com SPF e sem alteração musculoesquelética. Métodos: Participaram do estudo 29 mulheres, com idade entre 20 e 30 anos, divididas em grupo controle, com 15 sujeitos sem alteração musculoesquelética, e grupo experimental, 14 com SPF. Os sujeitos reproduziram ativa e passivamente os ângulos alvo de 45º e 60º de flexão do joelho em cadeia cinética aberta (CCA) e 45º em cadeia cinética fechada (CCF), sendo a angulação mensurada por um eletrogoniômetro (Miotec) e a escolha da sequência de realização dos ângulos alvo aleatória. Foram analisados os erros relativos e absolutos das reproduções dos ângulos. Para a análise estatística foi utilizada a ANOVA com post-hoc de Tukey e o nível de significancia foi de 5%. Resultados: Foi observada diferença estatisticamente significante no grupo experimental para a reprodução ativa no ângulo alvo de 45º de flexão do joelho em CCA tanto para o erro absoluto (p=0,048) quanto para o relativo (p=0,045). Na comparação entre a reprodução ativa e passiva no mesmo grupo houve diferença significante no ângulo alvo de 45º em CCA para erro absoluto (p=0,001) e relativo (p=0,001). Na comparação entre grupos, observou-se diferença significante para a reprodução ativa no ângulo alvo de 45º em CCA para erro absoluto (p=0,029) e erro relativo (p=0,032), e em CCF houve diferença significante nos dois erros (absoluto p=0,002 e relativo p= 0,022). Para os demais erros e reproduções não houve diferença estatisticamente significante (p>0,05). Conclusão: O estudo sugere que, para a amostra analisada, os sujeitos com SPF apresentam alteração da SPA somente nas reproduções ativa do ângulo alvo de 45º, tanto em CCA quanto CCF, quando comparados com o grupo controle. Além disso, foi possível observar também que os membros assintomáticos dos sujeitos com SPF apresentam alteração da SPA quando comparados com o membro acometido e que os erros são maiores nas reproduções ativas do ângulo de 45º de flexão do joelho.

Palavras Chaves: Síndrome da dor Patelofemural; Propriocepção; Joelho.

8

Abstract Introduction: Patients with patellofemoral pain syndrome appear to change the joint position sense of the knee, favoring the evolution of the disease. Identifying these changes may be crucial for the prevention of future disorders of the knee joint that could start during the development of pathological change in the patelofemoral pain syndrome. Aim: To evaluate the joint position sense of the knees in individuals with and without patellofemoral pain syndrome. Methods: The study included 29 women, aged between 20 and 30 years, divided into control group, with 15 subjects without musculoskeletal disorders, and the experimental group, with 14 subjects with patellofemoral pain syndrome. The subjects reproduced active and passively the target angles of 45° and 60° of knee flexion in open kinetic chain and the target angle of 45° in closed kinetic chain. The angle was measured by an electrogoniometer. The choice of the accomplishment sequence of the angles was random. It was analyzed the relative and absolute errors of the angles reproductions. For statistical analysis, was used the ANOVA with Tukey post-hoc test and the level of significance was 5%. Results: There was statistically significant difference in the experimental group for the 45° active reproduction of knee flexion in open kinetic chain for both absolute (p = 0.048) and relative errors (p = 0.045). In the comparison between passive and active reproduction, in the same group, there was significant difference of the target of 45° knee flexion in open kinetic chain for absolute (p = 0.001) and relative errors (p = 0.001). Comparisons between groups showed a significant difference for the 45° active reproduction in open kinetic chain for absolute (p = 0.029) and relative errors (p = 0.032), and in closed kinetic chain there was significant difference of the both errors (absolute p = 0.002 and for p = 0.022). For other errors and reproductions there was no statistically significant difference (p> 0.05). Conclusion: This study suggests that for the sample analyzed, the subjects with patellofemoral pain syndrome have the joint position sense changed only in active reproductions of the target of 45° knee flexion in both kinetic chains, compared with the control group. In addition, we observed that the asymptomatic limb of the subjects with patellofemoral pain syndrome presents joint position sense change when compared with the affected limb and that the errors are higher in active reproduction of the 45° of knee flexion. Keywords: patellofemoral pain syndrome, proprioception, knee.

9

1 Introdução

A dor no joelho é uma das queixas ortopédicas mais comuns na prática

clínica, sendo a patelofemoral a mais observada. A síndrome patelofemoral

(SPF) é caracterizada por dor difusa na região anterior do joelho, geralmente de

início insidioso e progressão lenta, agravada principalmente por atividades que

aumentam as forças de compressão na articulação patelofemoral, como subir e

descer escadas e permanecer longos períodos sentado (Thomeé et al., 1995;

Baker et al., 2002; Lobato et al., 2005).

É uma doença com causas multifatoriais, na qual uma combinação de

fatores pode contribuir para o desenvolvimento do mau alinhamento patelar,

entre eles: aumento do ângulo Q, dor durante palpação da patela, compressão

patelar, desequilíbrio muscular entre o vasto medial (VM) e vasto lateral (VL),

encurtamento do músculo quadríceps femoral, alteração do alinhamento da

patela, trato iliotibial encurtado, rotação lateral da tíbia, excessiva pronação da

articulação transversa do tarso e alteração da propriocepção da articulação do

joelho (Jerosch et al., 1997; Baker et al., 2002; Hazneci et al., 2005; Selfe et al.,

2006; Pons e Pasarín, 2009). Geralmente ocasionada pelo desequilíbrio ou

atividade inadequada dos componentes do músculo quadríceps femoral, a

lateralização da patela pode ser atribuída à redução da ativação do músculo VM,

o que por sua vez pode estar associado à cinemática anormal da patela,

principalmente em mulheres (Powers, 2000).

Embora por décadas a dor anterior do joelho envolvendo a articulação

patelofemoral tenha sido definida e classificada basicamente pelos

desequilíbrios e alterações estruturais e biomecânicas, Dye (2005) considera

10

que deve ser observada também a patofisiologia da dor patelofemoral. Os

estudos realizados pelo autor indicam que a alteração da homeostase tecidual,

provocada, por exemplo, pela inflamação sinovial e do tecido gorduroso,

neuroma do retináculo, aumento da pressão intra-óssea e aumento da atividade

metabólica óssea da patela podem alterar a percepção da dor anterior do joelho

(Dye, 2004; Dye, 2005). Além disso, Barton et al. (2009) observaram que os

pacientes com SPF podem apresentar aumento da eversão do retropé durante a

marcha, e durante a corrida apresentam aumento da rotação lateral da tíbia no

momento da extensão da articulação do joelho.

A SPF acomete com maior incidência os adolescentes e adultos jovens, e

é reportada em diferentes atividades esportivas como uma das queixas mais

comuns envolvendo a articulação do joelho (Thomeé et al., 1999).

Independente da causa da lesão, o controle neuromuscular da articulação

do joelho, que envolve a atividade coordenada dos músculos, principalmente do

quadríceps femoral, fornecendo estabilidade ativa para essa articulação, é

fundamental.

O diagnóstico da SPF é realizado com um bom exame clínico, que

envolve palpação, testes especiais, avaliação da amplitude de movimento e

força e presença dos sinais e sintomas citados anteriormente, além dos exames

de imagem, como raio-X e ressonância nuclear magnética. Vale ressaltar que

um fisioterapeuta com experiência em testes especiais e palpação, além de

conhecimento para a interpretação de imagens, pode identificar os sinais e

sintomas da SPF (Marczyr e Gomes, 2000; Cowan et al., 2001; Crossley et al.,

2001).

11

Em relação ao tratamento da SPF, Crossley et al. (2001) observaram que

as evidências para suportar as intervenções são muito limitadas. Nesta revisão

sistemática, os autores avaliam que não há evidências que permitam afirmar que

o tratamento com órteses, bandagens e técnicas isoladas como laser,

mobilização com quiropraxia e acupuntura são efetivos. Além disso, embora a

intervenção com exercícios terapêuticos seja clinicamente muito indicada,

Heintjes et al. (2007) observaram, também com uma revisão sistemática, que a

evidência da efetividade dos exercícios nos pacientes com SPF são limitados,

principalmente em relação à dor e função.

Entre os tratamentos direcionados para a SPF relatados na literatura,

destacam-se a ativação seletiva do músculo VM, uma vez que o desequilíbrio

muscular do quadríceps femoral ainda é a causa mais comentada, no qual em

atividades de subida e descida de escada o músculo VL é ativado antes do

músculo VM (Cerny, 1995; Cowan et al., 2001; Crossley et al., 2001; Coqueiro et

al., 2005).

Os exercícios de agachamento com adução do quadril parecem ser os

que mais recrutam o músculo VM, possibilitando menor discrepância na relação

de ativação entre os músculos VM e VL (Passos e Cerqueira, 2003). Além disso,

o recrutamento seletivo do músculo VM e a ativação do quadríceps femoral

favorecem melhora da função e qualidade de vida de pacientes com SPF,

quando comparado com pacientes que não receberam a intervenção (Syme et

al., 2009).

12

1.1 Propriocepção

A propriocepção, do latim proprius, que pertence a si próprio, é a

sensação de posição e movimento dos membros e do corpo sem o uso da visão

(Kandel et al., 2003). Foi originalmente descrita como o resultado de todas as

aferências oriundas de articulações, tendões, músculos e proprioceptores de

tecidos profundos associados. Essas aferências são projetadas ao sistema

nervoso central (SNC) para o seu processamento, resultando na regulação de

reflexos e do controle motor. Atualmente, a literatura mostra que propriocepção é

uma condição complexa acompanhada por duas sub-modalidades, a sensação

de posição estacionária dos membros ou sensação de posição articular (SPA) e

a percepção de movimentação dos membros ou cinestesia (Hewett et al., 2002;

Kandel et al., 2003; Lobato et al., 2005).

Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), a função

proprioceptiva pode ser definida como as funções sensoriais que permitem sentir

a posição relativa das partes do corpo (Buchalla, 2003).

Além disso, a propriocepção pode ainda ser classificada em consciente ou

voluntária e inconsciente ou reflexa. Ambas são essenciais para o bom

funcionamento articular nas atividades funcionais, esportivas e para a

estabilização reflexa (Lephart e Fu, 2000, Andrews et al., 2000).

Para a propriocepção consciente estão envolvidos estímulos liberados por

meio dos mecanoceptores e chegam ao corno posterior da medula, emergindo

rumo ao córtex cerebral pelo funículo posterior por meio do fascículo grácil,

responsável pela condução dos estímulos dos membros inferiores e metade

inferior do tronco. A outra porção emerge do funículo posterior por meio do

13

fascículo cuneiforme, responsável pela condução dos estímulos dos membros

superiores e metade superior do tronco. Atingem o córtex cerebral na região da

área somestésica, sendo responsáveis pelos sentidos de posição e movimento

(Lephart e Fu, 2000, Andrews et al., 2000).

Na propriocepção inconsciente, os estímulos liberados por meio dos

mecanoceptores atingem a medula espinal, regulando a ação reflexa muscular

(arco reflexo miotático). Sendo assim, quanto melhor e mais rápida for a

velocidade do sistema neuromuscular frente aos estímulos, mais eficiente será a

estabilização reflexa (Lephart e Fu, 2000, Cohen e Abdalla, 2002, Kandel et al.,

2003).

O SNC é importante neste processo, pois é o mediador primário da

percepção e execução do controle musculoesquelético e do movimento, no qual

a percepção e sensação do movimento articular são monitoradas por três

subsistemas: o sistema somatosensorial, sistema vestibular e sistema visual.

Para a propriocepção, o mais importante é o sistema somatosensorial, pois

geralmente é quem refere a SPA para o córtex cerebral, por meio de impulsos

nervosos para os receptores articulares e musculotendinosos, informando o

comprimento e a tensão no músculo, a posição e o movimento da articulação

(Lephart e Fu, 2000).

Os mecanoceptores são estruturas nervosas especializadas, encontradas

em articulações como ombros, joelhos, tornozelos e coluna, que transmitem a

deformação mecânica por meio de sinais elétricos para acionar o potencial de

um nervo. Informam ainda sobre o posicionamento e o movimento articular,

porém sua real função ainda não está completamente definida. A percepção do

posicionamento articular e dos movimentos é essencial por exemplo para o

14

ombro, pois determina a colocação da mão no espaço, ou seja, a função

primordial do membro superior (Schmidt, 2006).

Mecanoceptores localizados no músculo e nas articulações são os

responsáveis por sinalizar a velocidade e direção dos membros durante o

movimento e a posição estacionária dos membros. Entre eles, estão os

receptores sensíveis ao estiramento muscular (receptores do fuso

neuromuscular), receptores do tendão sensível à força de contração (órgãos

tendinosos de Golgi ou receptor neurotendíneo - OTG) e os receptores

localizados nas cápsulas articulares que são sensíveis ao movimento articular

(receptores articulares). Além destes, receptores de pele sensíveis ao

estiramento como as terminações de Ruffini e as células de Merkel também

podem sinalizar informações posturais (Kandel et al., 2003).

Os mecanoceptores localizados na articulação estão mais suscetíveis a

lesões, principalmente quando o segmento realiza movimentos mais extremos.

Funcionam como gatilho ou alerta, emitindo impulsos para o SNC, acionando

mecanismos reflexos que, por sua vez, protegem a articulação, previnem os

movimentos inadequados, sensibilizam a orientação espacial do indivíduo e

ativam os estabilizadores dinâmicos musculares. O fato de o tecido cartilaginoso,

que recobre as articulações, não apresentar terminações nervosas e vasculares

ressalta a importância dessas estruturas periarticulares (Kandel et al., 2003;

Schmidt, 2006; Fox, 2007).

Quanto maior o estímulo mecânico mais rapidamente é feito o disparo de

impulsos pelos mecanoceptores. O SNC recebe a intensidade e a freqüência

dos impulsos, analisando a posição articular. Os receptores de ação rápida

identificam as mudanças de tensão dos ligamentos, porém decrescem

15

rapidamente quando os impulsos se tornam constantes, respondendo, portanto,

pelo monitoramento da aceleração ou da desaceleração da tensão ligamentar.

Já os receptores de ação lenta mantêm as respostas durante o período de

estímulo contínuo. Eles identificam o movimento e a posição do ligamento,

possibilitando a interpretação do movimento e a posição articular pelo SNC

(Schmidt, 2006; Fox, 2007).

Quando uma força de distorção é repentinamente aplicada a um lado do

corpúsculo, é instantaneamente transmitida pelo componente viscoso do

corpúsculo diretamente para o mesmo lado da fibra nervosa central,

desencadeando assim o potencial receptor. Após alguns centésimos de

segundo, o líquido dentro do corpúsculo se redistribui e a pressão se torna

essencialmente igual no todo; isto, então, aplica uma pressão homogênea em

todos os lados da fibra nervosa central, e o potencial receptor não é mais

provocado (Fox, 2007).

Assim, o potencial receptor aparece no início da compressão, mas

desaparece após uma pequena fração de segundos, embora a compressão

continue (Guyton e Hall, 2002).

O segundo mecanismo de adaptação, mais lento, resulta de um processo

de acomodação que ocorre na própria fibra nervosa e que, mesmo submetido ao

estímulo, inativa os canais de sódio da membrana da fibra nervosa. Isso significa

que o próprio fluxo da corrente de sódio pelos canais se fecha gradativamente

(Fox, 2007).

Os principais receptores proprioceptivos estão presentes nos tecidos

conjuntivos das articulações, especialmente do tecido fibroso que envolve as

16

articulações e ligamentos, que respondem a mudanças de ângulo, direção e

velocidade de movimento da articulação (Fox, 2007).

O fuso neuromuscular é um receptor sensorial encapsulado que

apresenta forma fusiforme, está localizado entre as fibras musculares e sinaliza

as mudanças do comprimento muscular, podendo ser usado pelo SNC para

perceber as posições relativas dos segmentos corporais. É constituído por três

componentes principais: um grupo de fibras musculares intrafusais

especializadas, terminações sensoriais mielinizadas e as terminações motoras

mielinizadas. Na porção central estão presentes os axônios sensoriais do grupo

Ia, que se enrolam nas fibras musculares do fuso, sendo estes especializados

em detectar alterações do comprimento muscular. Estes axônios são os mais

rápidos, maiores e mielinizados, penetrando na medula espinal pelas raízes

dorsais, ramificando-se várias vezes, formando sinapses excitatórias nos

interneurônios e neurônios motores alfa do corno ventral (Guyton e Hall, 2002;

Kandel et al., 2003; Fox, 2007).

17

1.2 Sensação de Posição Articular (SPA)

A propriocepção é uma especialização sensorial do indivíduo, que pode

ser dividida em duas sub-modalidades: SPA e a cinestesia. A SPA é o

reconhecimento e interpretação da informação sobre a posição articular e sua

orientação no espaço. A cinestesia é a habilidade de reconhecer e interpretar os

movimentos articulares (Shummay-Cook e Woollacott, 2002; Kandel et al., 2003;

Fox, 2007).

A SPA é detectada por receptores nervosos localizados na articulação,

nos músculos e na pele, sendo estes os mecanoceptores que estão integrados

ao SNC, gerando uma resposta motora coordenada. Dependendo do tipo de

treinamento, pode ocorrer uma melhora dessa capacidade, porém a ocorrência

de lesões, imobilizações, fadiga muscular, entre outras, pode diminuir a

capacidade proprioceptiva de percepção e resposta neuromuscular, aumentando

as chances de lesões ortopédicas (Lephart e Fu, 2000).

A resposta motora decorrente dos mecanoceptores atua no controle das

articulações, com a função de proteção das mesmas, prevenindo lesões,

mantendo, juntamente com os músculos presentes na região, a estabilização

dinâmica da articulação (Lephart e Fu, 2000; Schmidt, 2006). O controlador

dessa estabilização dinâmica é o cerebelo, que planeja e modifica as atividades

motoras, visto que o córtex cerebral permite a apreciação consciente da

deformação tecidual da articulação (Kandel et al., 2003; Fox, 2007).

O sistema sensoriomotor, diferenciando-se da propriocepção, é definido

por Lephart e Fu (2000), como a descrição dos mecanismos envolvidos na

18

aquisição de um estímulo e a conversão sensorial deste estímulo para um sinal

neural, junto com a transmissão deste sinal por meio das vias aferentes ao SNC.

1.3 Síndrome Patelofemoral e a SPA

A dor e o estresse anormal sobre os tecidos envolvidos com o

alinhamento da patela podem alterar a SPA do joelho de pacientes com SPF, o

que por sua vez pode iniciar alterações neuromusculares de controle do músculo

quadríceps femoral e das estruturas articulares envolvidas com a região

patelofemoral (Baker et al., 2002).

Além disso, na SPF há alteração na pressão de contato entre as

superfícies articulares do fêmur e da patela durante movimento, o que pode

desencadear desgaste da cartilagem articular e possível alteração na

propriocepção dos sujeitos, sendo que a integridade dos aspectos envolvidos na

propriocepção do joelho é essencial para um bom controle musculoesquelético

(Kramer et al., 1997).

Além de poucos, os estudos encontrados na literatura que avaliam a SPA

em pacientes com SPF apresentam divergência nas conclusões. Dois estudos

não observaram alteração proprioceptiva significante em pacientes com SPF

quando comparados com grupo controle (Kramer et al., 1997; Lobato et al.,

2005).

Kramer et al. (1997) compararam a propriocepção do joelho durante o

sentar e levantar. Sem influência visual, utilizaram um goniômetro manual para

avaliação da reprodução dos ângulos de 15º, 30º e 60º que eram percebidos

inicialmente pelos participantes por cinco segundos. Os autores observaram que

19

não houve diferença significante na propriocepção dos sujeitos com SPF quando

comparada com o grupo controle, mas acreditam que o equipamento utilizado

para mensuração do ângulo pode não ter sido o melhor recurso para avaliar a

propriocepção.

Lobato et al. (2005) avaliaram a SPA de joelhos de sujeitos com e sem

SPF num dinamômetro isocinético. Os ângulos usados para a reprodução da

posição articular foram 30º, 45º e 60º e a posição inicial da articulação foi de 90º

de flexão. Passivamente e numa velocidade de 2º/s, o dinamômetro levou o

membro nas angulações permanecendo por 15 segundos para percepção, o

membro retornava para a posição inicial e cada participante teve que reproduzir

ativamente a angulação travando o equipamento com um dispositivo quando

julgasse estar na posição adequada. Os autores não encontraram alteração

proprioceptiva no joelho de sujeitos com SPF comparado com o grupo controle.

Já nos estudos de Jerosch et al. (1997), Baker et al. (2002), Bennell et al.

(2005), Hazneci et al. (2005) e Selfe et al. (2006), parece haver evidência de que

os joelhos sintomáticos de pacientes com SPF apresentam alteração da SPA.

Jerosch et al. (1997) avaliaram as alterações na SPA de pacientes com SPF em

decúbito dorsal, com eletrogoniômetro e reprodução passiva dos ângulos de 15º,

30º e 60º, sendo observada significante diminuição na reprodução dos ângulos e

alteração proprioceptiva nos joelhos sintomáticos e assintomáticos de sujeitos

com SPF unilateral.

Baker et al. (2002) compararam a SPA do joelho em sujeitos com e sem

SPF, utilizando quatro marcas reflexivas e sistema de vídeo para mensuração

dos ângulos. Os participantes, de olhos vendados, tentavam reproduzir as

angulações de 20º e 60º de flexão do joelho em cadeia cinética aberta (CCA),

20

sendo que tinham que interromper o movimento passivo realizado pelo avaliador

e ativamente em cadeia cinética fechada (CCF) à 40º, sendo analisados os dois

membros. Os autores observaram que os joelhos sintomáticos e assintomáticos

de pacientes com SPF em comparação com grupo controle apresentam

alteração proprioceptiva.

Bennell et al. (2005) avaliaram os efeitos da indução da dor no joelho de

sujeitos normais na SPA do joelho. Para isto, o membro dominante recebeu

injeção de solução hipertônica na gordura infrapatelar e os sujeitos reproduziram

ativamente em CCA as angulações de 20º e 60º de flexão do joelho e em CCF

de 20º, que foram analisados com vídeo. Os autores observaram que a indução

da dor na região anterior do joelho não alterou a SPA na articulação.

Hazneci et al. (2005) demonstraram a SPA do joelho em pacientes com

SPF, sendo utilizado o dinamômetro isocinético para reprodução passiva das

angulações de 40º e 50º (mantida inicialmente por 10 segundos para percepção)

e com flexão do joelho inicial de 25º para a reprodução do ângulo alvo de 40º e

de 65º para a reprodução do ângulo alvo de 50º. O braço do dinamômetro

passivamente e numa velocidade de 1º/s direcionou o membro do participante

para as angulações alvo. Os autores desse estudo sugerem que nos dois

ângulos avaliados, os sujeitos com SPF apresentam alteração proprioceptiva

quando comparados com o grupo controle, uma vez que para os dois ângulos

avaliados, a diferença foi significante quando comparado com o grupo controle.

Selfe et al. (2006) investigaram os efeitos do número de repetições nos

testes de SPA, angulação articular e tipos de testes em sujeitos com SPF.

Utilizaram o dinamômetro isocinético, sem influência auditiva e visual, com um

esfigmomanômetro na região anterior da tíbia para diminuir a percepção tátil e

21

solicitaram a reprodução da SPA nas angulações de 20º e 60º de flexão do

joelho, consideradas pelos autores como sendo as mais críticas. Dez segundos

em cada angulação foi o tempo usado para a percepção e passivamente o braço

do dinamômetro à 2º/s levou o membro para as posições iniciais. Para a

reprodução passiva os sujeitos tinham que interromper o movimento, e

posteriormente de forma ativa reproduzir os ângulos alvos. Os autores concluem

que são necessárias cinco repetições para o teste passivo e seis para o ativo,

pois observaram que alguns sujeitos erram mais após algumas repetições, e

sugerem que apenas um teste pode não representar adequadamente as

alterações de SPA.

Mesmo com resultados, sistemas de avaliação e angulações diferentes,

parece existir alteração proprioceptiva nos joelhos de pacientes com SPF.

Jerosch et al. (1997) e Baker et al. (2002) sugerem também que os

joelhos assintomáticos dos sujeitos com SPF podem apresentar alteração da

percepção da sensação articular do joelho quando comparados com o grupo

controle.

Devido à complexidade do sistema proprioceptivo, não existe um recurso

capaz de avaliar de uma única vez as sub-modalidades da propriocepção. Para

avaliar a SPA, destacam-se o equipamento de manipulação passiva contínua

(CPM) utilizado em pós-operatórios e o modo de movimentação passiva do

dinamômetro isocinético. Para a mensuração do ângulo articular, pode ser

utilizada a goniometria manual, medição do ângulo no próprio dinamômetro

isocinético, sistemas de filmagens e eletrogoniometria, sendo estes dois últimos

os mais reprodutíveis (Beynnon et al., 2000).

22

1.4 Justificativa

A integridade da propriocepção no joelho é essencial para um adequado

controle neuromuscular. Como os sujeitos com SPF parecem apresentar

alteração proprioceptiva, identificar estas alterações no membro sintomático e

também no assintomático pode ser fundamental para a prevenção de futuras

disfunções relacionadas com o mau alinhamento da patela, uma vez que é

possível que muitas disfunções da articulação do joelho, como a osteoartrite,

podem ter início durante o desenvolvimento das alterações encontradas na SPF.

Além disso, possível alteração proprioceptiva também da articulação

assintomática pode indicar desequilíbrio e mau alinhamento bilateral dos

membros inferiores, o que certamente favorece o aparecimento de lesões nestes

segmentos.

23

2 Objetivos

2.1 Geral

Avaliar a sensação de posição articular do joelho em indivíduos com e

sem síndrome patelofemoral.

2.2 Específicos

Comparar a sensação de posição articular do joelho sintomático e

assintomático dos sujeitos com síndrome patelofemoral.

Avaliar a sensação de posição articular em cadeia cinética aberta e

fechada.

Avaliar a sensação de posição articular do joelho durante reprodução

ativa e passiva em cadeia cinética aberta.

24

3 Métodos

3.1 Tipo do estudo

Trata-se de um estudo transversal, e o projeto foi aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo protocolo número

13319387 (Anexo I).

3.2 Casuística

Para a participação deste estudo, foram recrutados 38 voluntários do

gênero feminino, sedentários (sem prática de atividade física regular), sendo 23

sem SPF e 15 com SPF.

Os critérios de inclusão adotados especificamente para selecionar os

sujeitos com SPF foram: apresentar o diagnóstico médico de SPF; relatar dor

anterior ou retropatelar do joelho há pelo menos seis meses, durante ou após

pelo menos duas atividades entre agachar, subir ou descer escadas,

permanecer por um tempo prolongado na posição sentada, ajoelhar, correr e

saltar; início insidioso dos sintomas sem relação com um evento traumático;

apresentar positividade aos testes patelares de compressão, raspagem, Waldron

e instabilidade durante descida de um degrau de 20 cm (Cowan et al., 2001,

Magee, 2002, Crossley et al., 2004, Powers, 2007).

Já os critérios de exclusão foram: apresentar sinais e sintomas de

qualquer outra doença no joelho, lesão ligamentar ou meniscal, cirurgia ou lesão

do complexo articular patelofemoral, subluxação ou deslocamento patelar

crônico e edema persistente do joelho (Thomeé, 1997).

25

Após a aplicação da ficha de avaliação (Apêndice I), com a realização de

anamnese e dos testes especiais, foram selecionados para o estudo 29 sujeitos,

distribuídos da seguinte forma:

• Grupo controle: 15 sujeitos sem nenhum tipo de lesão musculoesquelética

em membros inferiores (articulações do quadril, joelho e tornozelo), que

foram submetidos à avaliação física com testes específicos para essas

articulações;

• Grupo experimental: 14 indivíduos com SPF;

A média de idade foi de 23 ± 1 ano, a altura de 1,64 ± 0,05 metros e peso

58,20 ± 4,58 Kg no grupo controle e 24 ± 1 ano, 1,63 ± 0,05 metros e 57,70 ± 3

Kg no grupo experimental. O índice de massa corporal (IMC) do grupo controle

foi de 21,60 ± 1,09 Kg/m2 e de 21,82 ± 1,60 Kg/m2 no experimental.

Os oito voluntários excluídos do grupo controle, embora não

apresentassem SPF, relataram dor e pelo menos um dos testes positivos, mas

não fizeram parte do grupo experimental por não apresentar o diagnóstico

médico da SPF, item obrigatório de inclusão para o grupo. Além disso, um

sujeito do grupo experimental apresentou os testes negativos, mas não podia

fazer parte do grupo controle pois apresentava dor no joelho. A inclusão dos

sujeitos no estudo está apresentada na Figura 1.

26

3.3 Materiais

- Dinamômetro isocinético da marca Cybex Norm;

- Eletrogoniômetro da marca MIOTEC, modelo GN360º, amplitude de 360º,

100% linear e com resolução de 0,5 graus, conectado diretamente ao

eletromiógrafo da marca MIOTEC modelo Miotool 400 de 4 canais, de 14 bits de

resolução e programa Miograph para processamento e aquisição dos ângulos;

- Venda para os olhos;

- Esfigmomanômetro da marca Tycos para diminuir o estímulo tátil;

- Algodão e álcool 70%;

- Bandagem elástica da marca Kinesio Tex®.

38 sujeitos ♀

23 sem SPF

15 com SPF

15 sem SPF

8 excluídos testes positivos

14 com SPF

SPA CCA 45º

ativo e passivo

SPA CCA 60º

ativo e passivo

SPA CCF 45º

ativo

01 excluído testes

negativos

Figura 1. Fluxograma da divisão dos sujeitos nos procedimentos realizados (SPF – síndrome patelofemoral; SPA – sensação de posição articular; CCA - cadeia cinética aberta; CCF – cadeia cinética fechada).

27

3.4 Procedimento

Depois de selecionados, os sujeitos assinaram o termo de consentimento

livre e esclarecido (Apêndice II), preencheram os dados pessoais e históricos de

lesões, e realizaram os testes em CCA ativo e passivo, e CCF ativo, sendo que

a ordem dos testes e dos ângulos alvo a serem avaliados foi aleatória. A

randomização da ordem da coleta foi determinada durante a confecção das

fichas de avaliação, uma vez que a seqüência do procedimento foi alterada em

cada uma delas, tanto para o membro a ser testado quanto para o ângulo alvo

inicial, e no dia do teste os sujeitos sortearam a ficha utilizada para as

mensurações. No grupo controle foi analisado o membro dominante e não

dominante (determinados pelo próprio sujeito), e no grupo experimental os

membros com e sem SPF, sendo que apenas um sujeito não apresentou a SPF

no membro dominante.

Antes de cada coleta, o dinamômetro isocinético e o eletrogoniômetro

foram calibrados segundo as recomendações dos fabricantes. Para todos os

testes, os sujeitos permaneceram sem informação visual, a pele do membro

inferior foi limpa com álcool e o eletrogoniômetro foi posicionado e fixado com

bandagem elástica no eixo da articulação do joelho para captação do ângulo da

articulação. O braço fixo do eletrogoniômetro foi colocado em direção ao

trocânter maior do fêmur e braço móvel em direção ao maléolo lateral (Marques,

2003). É importante ressaltar que a mensuração dos ângulos alvo sempre foi

realizada pelo eletrogoniômetro.

No teste em CCA, os sujeitos colocaram a venda para os olhos e foram

posicionados na cadeira do dinamômetro isocinético, sentados, com a coluna

apoiada e fixados por cintos na região pélvica e ombros, de acordo com os

28

ajustes e recomendações do manual do fabricante, e com a região poplítea

cerca de 10 cm fora do assento para eliminar possíveis interferências cutâneas.

A articulação do joelho foi inicialmente posicionada a 90° de flexão,

considerando a angulação fornecida pelo eletrogoniômetro, com o eixo articular

do joelho alinhado com o eixo do dinamômetro. Um esfigmomanômetro inflado à

40mmHg foi posicionado na região anterior da tíbia para diminuir a referência

tátil na perna causada pelo apoio do dinamômetro (Selfe et al., 2006) (Figura 2).

Figura 2. (a) Posicionamento dos voluntários na cadeira do dinamômetro

isocinético para coleta em CCA e (b) detalhe do alinhamento do joelho com o

eixo do dinamômetro.

(CCA: cadeia cinética aberta)

O braço do dinamômetro posicionou o membro a ser testado,

passivamente e numa velocidade constante de 2º/s, até o ângulo alvo de 45º de

flexão de joelho por três vezes, permanecendo na posição por dez segundos

a b

29

para percepção articular e retornando à posição inicial. Após o procedimento

para percepção articular, o dinamômetro levou passivamente o membro inferior

na amplitude de 90º à 30º de flexão de joelho por três vezes e o sujeito teve que

dizer quando acreditar estar à 45º, parando o movimento. Neste momento o

ângulo foi armazenado pelo eletrogoniômetro.

Para o teste ativo, nova percepção do ângulo alvo de 45º de flexão foi

realizada, com os mesmos parâmetros anteriores, e os voluntários ativamente

reproduziram o ângulo por três vezes.

Após cinco minutos de descanso, o mesmo procedimento foi realizado

para o ângulo alvo de 60° de flexão de joelho. O braço do dinamômetro

posicionou passivamente o membro testado no ângulo alvo de 60º de flexão do

joelho e a amplitude articular livre para reprodução do ângulo alvo foi de 90º à

45º (Lobato et al., 2005).

Para o teste em CCF, os sujeitos foram posicionados em pé, de olhos

vendados, na frente de um espaldar, no qual utilizaram o apoio de um dedo para

facilitar o equilíbrio (Baker et al., 2002). Permaneceram inicialmente num

agachamento bilateral com 45º de flexão dos joelhos por 10 segundos e por três

vezes para percepção do ângulo alvo, sendo orientados a realizar o

agachamento de forma habitual (Figura 3). Após estas repetições foram

orientados a reproduzir o ângulo ativamente por três vezes e os valores foram

controlados e armazenados pelo eletrogoniômetro.

30

Figura 3. (a) Posicionamento dos voluntários para coleta em CCF durante o

agachamento (b) Posicionamento do eletrogoniômetro.

(CCF: cadeia cinética fechada)

Para padronização da reprodução dos ângulos, os sujeitos foram

orientados a dizer “agora” quando julgassem estar no ângulo alvo, sempre

seguindo o comando dado pelo pesquisador com a mesma frase “diga agora

quando julgar estar no ângulo alvo”.

3.5 Análise dos dados

Foram analisadas as angulações reproduzidas pelos participantes em

relação aos ângulos alvo. Para cada valor observado, tanto para os testes

passivos e ativos, foram analisados o direcionamento e o valor do erro.

A variável erro absoluto foi definida pela diferença entre a reprodução e o

ângulo alvo, desconsiderando o sinal. Já a variável erro relativo foi definida como

a b

31

a diferença entre a reprodução e o ângulo alvo considerando o valor do sinal

(Baker et al., 2002). Desta forma foi possível estabelecer em graus o valor do

erro e determinar se o alvo foi ultrapassado (valores positivos), atingido ou não

alcançado (valores negativos).

3.6 Análise estatística

A análise estatística foi realizada com nível de significância de 5%.

A normalidade das variáveis: erros dos ângulos alvo (45º e 60º) do joelho,

idade, altura, peso e IMC foi testada pelo teste de Shapiro Wilk. Depois de

verificada a normalidade das mesmas, realizou-se a aplicação do teste de Barlett

e Levene, a fim de verificar a sua homogeneidade.

Para as comparações entre os grupos, tanto para CCA quanto para CCF,

foi utilizada a ANOVA two-way, com teste de post-hoc de Tukey. Já para a

comparação intra grupos foi utilizada ANOVA one-way com teste de post-hoc de

Tukey.

As variáveis demográficas – idade, peso, altura e IMC – foram

comparadas entre os grupos com o objetivo de verificar sua semelhança, por

meio do teste t para amostras independentes.

32

4 Resultados

As características demográficas (altura, peso e IMC) foram semelhantes

nos dois grupos (p>0,05). Os demais resultados serão apresentados em itens

separadamente.

4.1 Comparação da SPA entre joelho dominante e não dominante dos

sujeitos sem SPF no grupo controle.

A Tabela 1 apresenta os valores dos erros absoluto e relativo avaliados

em CCA observados no grupo controle. Houve diferença significante entre joelho

dominante e não dominante em todas as situações avaliadas, nos ângulos alvos

de 45º e 60º de flexão do joelho para reprodução ativa e passiva tanto para o

erro relativo quanto absoluto (p<0,05), no qual o membro não dominante errou

mais.

33

Tabela 1. Erros absoluto e relativo, em graus, medidos em cadeia cinética aberta

(CCA) à 45º e 60º de flexão de joelho no grupo controle (n=15).

Ângulo Alvo (º)

Tipo de erro

Reprodução Joelho dominante

Joelho não dominante

p

45º

Absoluto

Ativo

Passivo

0,95±0,71

0,83±0,65

1,40±0,69

1,33±0,58

<0,004*

<0,001*

Relativo Ativo

Passivo

0,90±0,71

0,80±0,64

1,36±0,70

1,29±0,59

0,003*

0,002*

60º

Absoluto

Ativo

Passivo

0,08±0,75

0,62±0,54

1,24±0,70

1,02±0,56

<0,001

0,003*

Relativo Ativo

Passivo

0,84±0,73

0,60±0,52

1,20±0,69

0,98±0,57

0,001*

0,030*

Dados expressos como média ± DP. * Diferença estatisticamente significante entre joelho

dominante e não dominante do grupo controle (p<0,05)

4.2 Comparação da SPA entre joelho com e sem SPF no grupo

experimental.

A Tabela 2 apresenta os valores dos erros absoluto e relativo avaliados

em CCA observados no grupo experimental. Houve diferença significante entre

joelho com e sem SPF no ângulo alvo de 45º de flexão do joelho para

reprodução ativa, somente para o erro absoluto (p=0,048).

Já no ângulo alvo de 60º de flexão do joelho, foi possível observar

diferença significante apenas no erro relativo para reprodução ativa (p<0,033) e

34

passiva (p=0,003). Neste caso, para ambas as reproduções, o ângulo alvo foi

ultrapassado.

Tabela 2 - Erros absoluto e relativo, em graus, medidos em cadeia cinética

aberta (CCA) à 45º e 60º de flexão de joelho no grupo experimental (n=14).

Ângulo Alvo (º)

Tipo de erro

Reprodução Joelho sem SPF

Joelho com SPF

p

45º

Absoluto

Ativo

Passivo

1,29±1,14

1,00±0,88

2,81±2,94

2,17±2,47

0,048*

0,060

Relativo Ativo

Passivo

1,28±1,11

0,98±0,88

2,78±2,00

2,14±1,90

0,060

0,065

60º

Absoluto

Ativo

Passivo

1,19±1,54

0,81±1,03

1,67±4,05

1,31±3,38

0,602

0,532

Relativo Ativo

Passivo

1,67±4,00

0,81±1,10

3,85±2,10

1,31±3,01

0,033*

0,003*

Dados expressos como média ± DP. * Diferença estatisticamente significante entre joelho com e

sem SPF (p<0,05)

4.3 Comparação da SPA entre joelho do membro dominante do grupo

controle com o joelho com SPF do grupo experimental.

Na Tabela 3, estão representados os valores dos erros absoluto e relativo

avaliados em CCA do membro dominante do grupo controle e joelho com SPF

do experimental. Houve diferença significante entre joelho dominante do grupo

controle e o joelho com SPF apenas no ângulo alvo de 45º de flexão do joelho e

35

para reprodução ativa tanto para o erro absoluto (p=0,029) quanto relativo

(p=0,032), sendo que neste último os sujeitos ultrapassaram o ângulo alvo.

Para o ângulo alvo de 60º de flexão do joelho não foi observada diferença

estatisticamente significante em nenhuma das reproduções e erros (p>0,05).

Vale ressaltar que apenas um dos sujeitos do grupo experimental não

apresentava SPF no membro dominante.

Tabela 3 – Erros absoluto e relativo, em graus, medidos em cadeia cinética

aberta (CCA) à 45º e 60º de flexão de joelho do membro dominante do grupo

controle (n=15) com o joelho com SPF do grupo experimental (n=14).

Ângulo Alvo (º)

Tipo de erro

Reprodução Joelho membro dominante

Joelho com SPF

p

45º

Absoluto

Ativo

Passivo

0,95±0,71

0,83±0,65

2,81±2,94

2,17±2,47

0, 029*

0, 061

Relativo Ativo

Passivo

0,90±0,71

0,80±0,64

2,78±2,00

2,14±1,90

0, 032*

0, 060

60º

Absoluto

Ativo

Passivo

0,08±0,75

0,62±0,54

1,67±4,05

1,31±3,38

0, 481

0, 457

Relativo Ativo

Passivo

0,84±0,73

0,60±0,52

1,67±4,00

1,31±3,01

0, 481

0, 457

Dados expressos como média e ±DP. * Diferença estatisticamente significante entre grupo

controle e experimental (p<0,05)

36

4.4 Comparação da reprodução da SPA ativa e passiva do joelho com SPF

do grupo experimental.

A comparação entre as reproduções ativa e passiva para os ângulos de

45º e 60º de joelho com SPF do grupo experimental estão representadas na

Tabela 4. É possível observar diferença estatisticamente significante na

reprodução ativa à 45º de flexão do joelho, tanto para o erro absoluto (p=0,001)

quanto para o relativo (p=0,001).

Para o ângulo alvo de 60º de flexão do joelho, não se observou diferença

estatisticamente significante, com p>0,05. Vale ressaltar que os sujeitos

ultrapassaram o ângulo alvo em todas as situações.

Tabela 4 – Erros absoluto e relativo, em graus, medidos em cadeia cinética

aberta (CCA) à 45º e 60º de flexão de joelho com SPF para reprodução ativa e

passiva (grupo experimental) (n=14).

Ângulo alvo

(º) Tipo de

erro Passivo Ativo P

45º

Absoluto 2,17±2,47 2,81±2,94 0,001*

Relativo

2,14±2,48

2,78±2,94

0,001*

60º

Absoluto 1,31±3,38 1,67±4,05 0,377

Relativo

1,31±3,01

1,67±4,0

0,149

Dados expressos em média e ±DP. * Diferença estatisticamente significante entre joelhos com e

sem SPF (p<0,05)

37

4.5 Comparação da reprodução da SPA em CCF entre os membros

dominante do grupo controle e experimental.

A Tabela 5 apresenta os valores do erro relativo e absoluto para a

angulação de 45º de flexão do joelho em CCF. Houve diferença estatisticamente

significante tanto para o erro absoluto (p=0,002) quanto para o erro relativo

(p=0,002), sendo que o grupo experimental apresentou o maior erro. Vale

ressaltar ainda que os sujeitos com SPF não atingiram o ângulo alvo.

Tabela 5 – Erros absoluto e relativo, em graus, medidos em cadeia cinética

fechada (CCF) entre grupo controle (n=15) e experimental (n=14).

Ângulo alvo (º)

Tipo de erro

Grupo controle

Grupo experimental

P

45º

Absoluto

1,52±6,93

3,62±0,49

0,002*

Relativo

3,50±0,58

-1,55±0,20

0,002*

Dados expressos em média e ±DP. * Diferença estatisticamente significante entre grupo controle

e experimental (p<0,05)

38

5 Discussão

O objetivo deste estudo foi avaliar a SPA da articulação do joelho de

sujeitos com e sem SPF, em CCA, CCF e durante a reprodução ativa e passiva

do ângulo alvo de 45º e 60º de flexão do joelho.

Entre os sistemas de avaliação da SPA do joelho encontrados na

literatura destacam-se o dinamômetro isocinético para reprodução passiva do

movimento e a eletrogoniometria para mensuração do ângulo articular (Beynnon

et al., 2000). Segundo Lephart e Fu (2000), o recurso de movimentação passiva

contínua do dinamômetro isocinético foi validado e reconhecido com um dos

melhores para este tipo de avaliação.

Embora alguns autores tenham utilizado os valores angulares obtidos

pelo próprio dinamômetro isocinético, neste estudo optou-se pela mensuração

com o eletrogoniometro, uma vez que, devido ao posicionamento do braço do

dinamômetro em relação ao membro dos sujeitos, os ângulos obtidos pelo

sistema do dinamômetro não correspondem ao valor articular exato do

posicionamento do membro (Jerosh et al., 1997; Hazneci et al., 2005; Selfe et

al., 2006).

Em relação aos ângulos alvos estudados, levou-se em consideração os

momentos de sobrecarga da articulação do joelho, pois à 45º de flexão do

joelho, a porção média da superfície articular da patela entra em contato com o

sulco femoral e o estresse de contato da articulação patelofemoral ocorre de

forma semelhante tanto para a CCA quanto para a CCF (Andrews et al., 2000).

Já em relação ao ângulo alvo de 60º de flexão do joelho, mesmo apresentando

estresse de contato menor em CCA quando comparado com o ângulo de 45º, foi

um dos mais estudados na literatura e por isso, também foi avaliado neste

39

estudo (Jerosch et al., 1997; Kramer et al., 1997; Andrews et al., 2005; Baker et

al., 2002; Lobato et al., 2005; Bennell et al., 2005; Selfe et al., 2006). Ainda em

relação ao estresse de contato da articulação patelofemoral, sabe-se que em

CCF quanto maior a angulação da articulação do joelho, maior a compressão da

patela (Andrews et al., 2000), no entanto, neste estudo não foi analisado a SPA

em angulações superiores, uma vez que, durante os testes pilotos os sujeitos

não conseguiram permanecer na posição, apresentando dor, desconforto local e

instabilidade. Por este mesmo motivo, não foi possível analisar a SPA em CCF

com apoio unipodal.

Foi possível observar que o membro dominante apresenta erro

significantemente menor do que o membro não dominante dos sujeitos sem

SPF, tanto para o ângulo alvo de 45º quanto para o de 60º de flexão do joelho,

nas reproduções ativas e passivas.

Quando comparados os erros absolutos e relativos dos membros

acometidos e não acometidos do grupo experimental, foi possível observar que

para a maioria das reproduções não houve diferença estatisticamente

significante da SPA, evidenciando que mesmo assintomáticos, os sujeitos com

SPF podem apresentar alteração da SPA bilateralmente. Dados encontrados no

estudo do Kramer et al. (1997) também não evidenciaram diferença estatística

entre os membros acometido e não acometido de pacientes com SPF embora

tenham avaliado as reproduções dos ângulos em situações diferentes (sentar e

levantar). Jerosh et al. (1997) observaram alteração da SPA dos membros

assintomáticos de pacientes com SPF quando comparados com o grupo

controle, sugerindo que os joelhos não acometidos também apresentam

alteração proprioceptiva. Estes dados também foram encontrados no estudo de

40

Baker et al. (2001), no qual observaram que os membros assintomáticos de

pacientes com SPF unilateral apresentaram alteração proprioceptiva.

Todos os sujeitos com SPF apresentavam sintomas no membro

dominante, excetuando apenas um deles, cujos sintomas eram no membro não

dominante. Assim, um dos fatores que pode ter influenciado nos erros

observados no membro assintomático foi a alteração biomecânica, que pode

estar presente bilateralmente, assim como possíveis compensações que podem

ocorrer em decorrência do quadro álgico da doença. Isso pode ser sugerido, já

que no grupo controle, os membros não dominantes erraram mais que os

dominantes.

Vale ressaltar que a variabilidade observada no grupo com SPF foi muito

grande, com desvio padrão alto, o que pode ser explicado pela natureza da

doença, caracterizada pelas causas multifatoriais, cujas diferenças etiológicas

são difíceis de controlar.

No entanto, para a reprodução ativa e no erro absoluto no ângulo alvo de

45º e reprodução ativa e passiva no erro relativo no ângulo de 60º as diferenças

foram significantes. Esta análise sugere que mesmo os membros com SPF

apresentando sempre maior erro de reprodução do que os membros não

acometidos, não é possível afirmar que apenas o membro sintomático apresenta

alteração da SPA do joelho, pois para a maior parte das reproduções os

membros erraram de forma igual. É importante destacar que mesmo não

havendo diferença na maioria das variáveis analisadas, esta não se mostrou

recorrente em todas as avaliações.

Na comparação da SPA entre o joelho dominante do grupo controle e o

joelho com SPF do grupo experimental, observou-se diferença estatisticamente

41

significante tanto para o erro absoluto (p=0,029) quanto para o relativo (p=0,032)

na reprodução ativa do ângulo de 45º, considerado um ângulo crítico na

cinesiologia funcional do movimento da articulação do joelho (Andrews et al.,

2005). Mas para as outras análises, reprodução passiva do ângulo de 45º e ativa

e passiva para o ângulo de 60º, não foi possível observar diferença

estatisticamente significante (p>0,05) para os erros absolutos e relativos. Lobato

et al. (2005) não observaram alteração proprioceptiva no joelho de sujeitos com

SPF quando comparado com o grupo controle sem SPF, na avaliação da SPA

de joelhos de sujeitos com e sem SPF também com o recurso de movimentação

passiva do dinamômetro isocinético e nos ângulos alvos de 30º, 45º e 60º.

Entretanto, Baker et al. (2001) e Hazneci et al. (2005) observaram

diferença significante nos erros dos sujeitos com SPF quando comparados com

o grupo controle sem lesão, sendo que Baker et al. (2001) avaliaram as

reproduções nos ângulos de 20º e 60º e Hazneci et al. (2005) nos ângulos de

40º e 50º. No estudo de Hazneci et al. (2005) também foi utilizado um

dinamômetro isocinético para posicionamento do membro.

Na análise comparativa das reproduções ativa e passiva para os ângulos

de 45º e 60º de flexão do joelho, constatou-se no presente estudo que para o

ângulo alvo de 45º, tanto para o erro absoluto quanto para o relativo, ambos

foram significantemente maiores nas reproduções ativas quando comparados

com o grupo controle. Na literatura, com exceção de Kramer et al. (1997), Baker

et al. (2001) e Selfe et al. (2006), os autores utilizam a movimentação passiva

para percepção passiva e ativa do ângulo alvo, o que pode ter favorecido os

maiores erros para a reprodução ativa, já que Kramer et al. (1997) e Selfe et al.

(2006) não observaram diferença nas comparações. O fato da percepção do

42

ângulo ter sido realizada com movimentação passiva pode ter influenciado nos

erros encontrados durante a reprodução ativa, pois as características fisiológicas

e a ativação dos receptores e mecanoceptores são diferentes. Teoricamente, na

percepção passiva os receptores do tendão, sensíveis à ativação muscular

encontram-se com menor ativação, inclusive no momento da percepção do

ângulo alvo, o que certamente pode influenciar na resposta ativa (Lephart e Fu,

2000; Kandel et al., 2003). Fato que também foi observado na comparação

entre as reproduções passiva e ativa, no qual os erros para a ativa e ângulo alvo

de 45º foram estatisticamente maiores.

O presente estudo observou que em CCF, o grupo experimental

apresentou maior erro relativo e absoluto para o ângulo alvo de 45º, e os sujeitos

apresentaram tendência em não atingir o ângulo alvo, muito provavelmente

ocasionado pela apreensão que o aumento da compressão articular geralmente

ocasiona durante as atividades diárias (Andrews et al., 2005). Essa tendência

não foi observada nas reproduções em CCA, nas quais os pacientes geralmente

ultrapassaram o ângulo alvo. Até o momento, apenas Baker et al. (2001)

avaliaram a SPA durante reprodução em CCF, tendo observado diferença

significante tanto para o erro absoluto quanto para o erro relativo quando

comparado com o grupo controle, sendo que o grupo com SPF apresentou

sempre maior erro. Vale notar que no estudo de Baker et al. (2001) a

mensuração do ângulo foi realizada com sistema de vídeo e os sujeitos fizeram

reprodução do ângulo com apoio bilateral e unilateral e em angulações maiores

de flexão do joelho, o que pode certamente ter favorecido maior erro durante as

reproduções.

43

Para a comparação em CCF, não foi utilizado o ângulo alvo de 60º, pois

durante os pilotos os sujeitos apresentaram muita instabilidade e não

conseguiram permanecer na posição durante o tempo necessário para a

percepção, pois nesta situação, quanto maior a flexão da articulação do joelho

maior a compressão da articulação patelofemoral.

No levantamento bibliográfico realizado, divergências importantes de

definições de propriocepção e suas sub-modalidades foram encontradas, que

podem inclusive ter favorecido na diferenciação metodológica encontrada nos

estudos, pois o recurso de posicionamento e os sistemas de análise angular

foram diferentes. Neste estudo, optou-se pelos sistemas de posicionamento e

captação angular validados e aqueles mais observados na literatura (Lephart e

Fu, 2000; Lobato et al., 2005; Hazneci et al., 2005; Selfe et al., 2006).

A movimentação passiva contínua parece ser o melhor recurso de

percepção somente para a reprodução passiva, e não para a ativa como

proposto pela literatura e pelo presente estudo, uma vez que as características

fisiológicas de percepção e a ativação dos mecanoceptores são diferentes em

cada situação (Lephart e Fu, 2000; Lobato et al., 2005; Hazneci et al., 2005;

Selfe et al., 2006).

A metodologia proposta neste estudo permitiu avaliar a SPA da

articulação do joelho, considerada apenas uma etapa e sub-modalidade

importante da propriocepção, e não toda resposta proprioceptiva da articulação

como sugerido pela maior parte dos autores analisados. Além disso, o presente

estudo não avaliou a cinestesia e detecção do movimento, características

importantes para uma avaliação proprioceptiva completa.

44

Sugere-se para análises futuras, inicialmente uma padronização dos

conceitos e sub-modalidades envolvidas na resposta proprioceptiva.

Paralelamente, o recrutamento de um maior número de sujeitos com o intuito de

diminuir a variabilidade dos dados, assim como a utilização de recursos de

avaliação que possibilitem a mensuração de situações funcionais, como subir e

descer escadas, movimentos de maior solicitação articular e conseqüentemente

de maior grau de sofrimento para estes pacientes, considerando sempre a

velocidade angular e o posicionamento articular no momento dos testes.

O mau alinhamento patelar, desencadeado pelos mecanismos

multifatoriais descritos anteriormente, pode ser o início das principais lesões da

articulação do joelho. Assim, identificar alterações de SPA em pacientes com

SPF é fundamental para direcionamento dos programas de intervenção, assim

como na prevenção de futuras disfunções.

45

6 Conclusão

Nas condições metodológicas utilizadas, o presente estudo sugere que os

sujeitos com SPF apresentam alteração da SPA somente nas reproduções

ativas do ângulo alvo de 45º, tanto em CCA quanto CCF, quando comparados

com o grupo controle.

Além disso, foi possível observar também que os membros

assintomáticos dos sujeitos com SPF apresentam alteração da SPA quando

comparados com o membro acometido e que os erros são maiores nas

reproduções ativas do ângulo de 45º de flexão do joelho.

46

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51

8 Anexo

DECLARAÇÃO DE APROVAÇÃO DO PROJETO NO COMITÊ DE ÉTICA

52

9 Apêndice I

FICHA DE AVALIAÇÃO E COLETA DOS DADOS NOME: ___________________________ DN:___/___/______ IDADE: _ CONTATOS: _________________/____________ Email: __________@_________ ALTURA: ___________ PESO: ________ IMC: ________________ DIAGNÓSTICO MÉDICO: ( ) SIM ( ) NÃO ____________________________ TESTES ESPECIAIS: - INSTABILIDADE LIGAMENTAR: ( ) POSITIVO ( ) NEGATIVO _____ - MENISCO ( ) POSITIVO ( ) NEGATIVO _____ - DESCIDA DEGRAU ( ) POSITIVO ( ) NEGATIVO _____ - DOR ( ) SIM ( ) NÃO ______ - COMPRESSÃO PATELA ( ) SIM ( ) NÃO _________ - RECHAÇO PATELAR ( ) SIM ( ) NÃO _____ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ COLETA – VALOR EM GRAUS – ERRO EM RELAÇÃO AO ÂNGULO ALVO

( ) MEMBRO ACOMETIDO ( ) MEMBRO DOMINANTE

CCA Ativo 60°

DOR CCA Passivo

60°

DOR CCA Passivo

45°

DOR CCA Ativo 45°

DOR

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) MEMBRO NÃO ACOMETIDO ( ) MEMBRO NÃO DOMINANTE CCA Ativo

45° DOR CCA

Passivo 45°

DOR CCA Ativo 60°

DOR CCA Passivo

60°

DOR

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

BILATERAL CCF ATIVO 45° DOR

( ) ( ) ( )

53

9 Apêndice II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

"AVALIAÇÃO DA SENSAÇÃO DE POSIÇÃO ARTICULAR DO JOELHO DE

INDIVÍDUOS COM SÍNDROME PATELOFEMORAL"

As informações que seguem estão sendo fornecidas para a sua participação voluntária

nesta pesquisa, cujo objetivo principal é avaliar se os pacientes com síndrome

patelofemoral apresentam alteração proprioceptiva. O presente estudo é orientado pela

Profa. Dra. Cristina Maria Nunes Cabral e realizado por Fabio Navarro Cyrillo (aluno do

curso de Mestrado em Fisioterapia).

A metodologia para obtenção de dados nesta pesquisa consiste em avaliações

físicas, cujos resultados permitirão conhecer alguns mecanismos envolvidos na síndrome

patelofemoral, possibilitando intervenções mais adequadas.

Os participantes da pesquisa serão selecionados de acordo com os seguintes critérios:

apresentar três ou mais sintomas clínicos observados na avaliação: relatar dor anterior ou

retropatelar do joelho há, pelo menos, seis meses, durante ou após, pelo menos, duas

atividades entre agachar, subir ou descer escadas, permanecer por um tempo prolongado

na posição sentada, ajoelhar, correr e saltar; início insidioso dos sintomas sem relação

com um evento traumático; apresentar positividade aos testes patelares de compressão e

raspagem; teste de instabilidade positivo durante descida de um degrau de 20 cm.

Os pesquisadores garantem que não há riscos de qualquer natureza para os

participantes desta pesquisa e pretendem beneficiar a elaboração de programas de

tratamento.

Você também tem a garantia de que, em qualquer etapa do estudo, terá acesso aos

pesquisadores responsáveis para esclarecimento de eventuais dúvidas. Se desejar, pode

entrar em contato com o orientador da pesquisa, Profa. Dra. Cristina Maria Nunes Cabral,

54

que pode ser encontrado no endereço: Rua Cesário Galeno, 475, CEP 03071-000, Fone

21781479. É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e de

deixar de participar do estudo, sem comprometimento do tratamento. As informações

obtidas serão analisadas em conjunto com as dos demais participantes, não sendo

divulgada a identificação dos mesmos. Não há despesas pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada a sua

participação. Os pesquisadores se comprometem a utilizar os dados coletados somente

para esta pesquisa.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou

que foram lidas para mim, descrevendo o estudo. Ficaram claros para mim quais são os

propósitos do estudo, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de

esclarecimentos. Concordo voluntariamente em participar desta pesquisa e poderei retirar

o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante a mesma, sem penalidades

ou prejuízo.

----------------------------------------------------------------------------------- Assinatura do Participante (ou representante legal) da Pesquisa

Data: ___/___/20___

----------------------------------------------------------------------------------- Assinatura da Testemunha

Data: ___/___/20___

(Somente para o responsável do projeto)

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.

----------------------------------------------------------------------------------------- Assinatura do responsável pelo estudo

Data: ___/___/20___

55

9 Apêndice III

EXEMPLO DA TELA DE COLETA ANGULAR COM ELETROGONIOMETRO

-