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i UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE QUÍMICA Programa de Pós-Graduação em Química IAN POMPERMAYER MACHADO Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por micro-ondas Versão corrigida da Dissertação conforme Resolução CoPGr 5890 O original se encontra disponível na Secretaria de Pós-Graduação do IQ-USP São Paulo Data do Depósito na SPG: 30/03/2016

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Page 1: IAN POMPERMAYER MACHADO...Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE QUÍMICA

Programa de Pós-Graduação em Química

IAN POMPERMAYER MACHADO

Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras

preparados por síntese no estado sólido assistida por micro-ondas

Versão corrigida da Dissertação conforme Resolução CoPGr 5890

O original se encontra disponível na Secretaria de Pós-Graduação do IQ-USP

São Paulo

Data do Depósito na SPG: 30/03/2016

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IAN POMPERMAYER MACHADO

Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras

preparados por síntese no estado sólido assistida por micro-ondas

Dissertação apresentada ao Instituto de

Química da Universidade de São Paulo para

obtenção do Título de Mestre em Química

Orientador: Prof. Dr. Hermi Felinto de Brito

São Paulo

2016

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Aos meus pais Marco e Soli, que sempre estiveram

presentes, nos bons momentos e nos mais difíceis.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Marco e Solinéia, e ao meu irmão Levi, as melhores pessoas que tive a sorte de

conhecer nessa vida.

Ao professor Hermi Felinto de Brito, por ter me acolhido neste mestrado e pelos valiosos

ensinamentos sobre química e sobre a vida, que me ajudaram muito nesta caminhada.

Ao professor Lucas Carvalho Veloso Rodrigues, por me introduzir no campo da luminescência

persistente, pelos grandes ensinamentos, pelas madrugadas em claro no LNLS e pela amizade.

Aos professores Rogéria Rocha Gonçalves e Sidney José Lima Ribeiro, por aceitarem o convite

em participar da banca de defesa e pelas valiosas contribuições no trabalho.

Aos professores Fábio Rodrigues, Marcia Carvalho de Abreu Fantini e Liane Marcia Rossi,

pelas contribuições no exame de qualificação.

Aos amigos Zé e Cássio, pelas cervejas que tomamos juntos e por me ajudarem muito nesta

pesquisa. Sem vocês este mestrado não estaria pronto.

Ao amigo Ivan, pelos massivos ensinamentos sobre espectroscopia e por pegar no meu pé

sempre que necessário.

Ao professor Jivaldo do Rosário Matos, pela indicação do mestrado, pelos deliciosos cupins e

pela amizade.

Ao professor Danilo Mustafa, pelo apoio à pesquisa e pela amizade.

Ao professor Jorma Hölsä, pelas discussões científicas sobre luminescência persistente.

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Aos amigos do Laboratório dos Elementos do Bloco f, Leonnam, Zé, Cássio, Helliomar, Ivan,

Israel, Liana, Latif, Tiago, Luis, Pedro, Otávio, Miguel, Maria, por tornarem os dias de trabalho

e os congressos muito mais divertidos.

Ao técnico Cézar Guizzo, por todo suporte fornecido e pela amizade.

À minha namorada Aryane, pela perfeita companhia, pelos momentos de descontração e

diversão durante todo o mestrado.

Aos meus amigos do Kung Fu na USP, Aline, Sérgio, Márcio, Paty, Marco, Gian, Lucas,

Débora, Rafael, Letícia, Leo e muitos outros. Vocês adicionaram paz e tranquilidade durante

minha caminhada.

Aos meus amigos da graduação em química da Universidade Federal do Espírito Santo,

Leonnam, Fernando, Zeca, Bruno, Dedél, Rohne e mais uma dezena, por todas as alegrias e por

todo apoio.

Aos qualhiras atuais e antigos da ilustríssima república 83b, Maneco, Batata, Melete, Pejô

Hans, Cariri e Pipoca Man. Saindo da defesa vamos tomar algumas.

Aos meus amigos de infância, Dayan, Fábio, Kevin, Henrique, Matheus, Cayo e demais, por

tornarem essa jornada mais divertida nas vezes que volto de São Paulo.

À professora Maria Claudia França da Cunha Felinto, pela contribuição para a pesquisa e pela

ajuda na interpretação dos complicados espectros de európio, além das boas risadas.

Ao Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas em Energia Nuclear

(CQMA–IPEN), pelas análises de difração de raios X.

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À Central Analítica do IQ–USP, pelas análises de espectroscopia de absorção no infravermelho

e microscopia eletrônica de varredura.

Ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e à equipe das linhas TGM e SXS, em

especial Verônica, Douglas e Flávio, pelas análises de espectroscopia na região do UV–UV

vácuo e de absorção de raios X.

Ao Laboratório Multiusuário de Espectroscopia Óptica Avançada (IQ–UNICAMP), ao

professor Dr. Fernando Aparecido Sígoli e à Milene Martins e ao pelas medidas de tempo de

vida de emissão.

Ao Laboratório de Cristais iônicos, filmes finos e datação (LACIFID–USP), ao professor Dr.

Shigueo Watanabe e à Dra. Roseli Gennari pelas medidas de termoluminescência.

Ao Laboratório de Processos Foto-induzidos e Interface (IQ–USP), ao professor Dr. Maurício

S. Baptista e ao pesquisador Divinomar Severino pelas micrografias de fluorescência.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa

concedida.

À USP, pela oportunidade e pelas experiências vividas.

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“Maybe God is a melody we all serenade”

Kamelot – III Ways to Epica

Baseado em “Fausto”, de Goethe

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RESUMO

Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de

terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por micro-ondas. 2016. 148p.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Química. Instituto de Química,

Universidade de São Paulo, São Paulo.

A maioria dos materiais que apresentam o fenômeno da luminescência persistente possuem o

íon Eu2+ como ativador, exibindo emissões sintonizáveis entre o azul e o verde. Entretanto,

materiais com luminescência persistente na região do vermelho e infravermelho próximo (Near

Infrared – NIR) são ainda pouco reportados na literatura. Portanto, foram preparados neste

trabalho os materiais TR2O2S.Ln3+ e TR2O2S.Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y; Ln3+: Eu e

Yb) pelo método de síntese no estado sólido assistido por micro-ondas. Os materiais foram

caracterizados pelas técnicas de Difração de raios X (DRX), Microscopia eletrônica de

varredura (MEV), Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV), Espectroscopia de

absorção de raios X próximo a borda com radiação síncrotron (XANES), Termoluminescência

(TL) e Espectroscopia de excitação na região do UV–UV vácuo com radiação síncrotron.

Quando excitados na banda de absorção da matriz (band gap) ou por exemplo, nas bandas de

transferência de carga LMCT O2-(2p) → Eu3+(4f6) e S2-(3p) → Eu3+(4f6), os materiais

TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV apresentam um grande número de bandas de emissão

finas atribuídas às transições 5D2,1,0 → 7FJ do íon Eu3+. Os dados espectroscópicos sugerem um

alto grau de covalência e uma baixa energia de fônons para as matrizes TR2O2S. Além do mais,

os materiais TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV apresentam bandas de emissão finas na

faixa 900–1050 nm (NIR) atribuídas à transição 2F5/2 → 2F7/2 do íon Yb3+. Os mecanismos de

luminescência persistente foram propostos para os materiais TR2O2S:Ln3+ e

TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y; Ln3+: Eu, Yb) e podem ser via armadilhamento

de buracos ou via armadilhamento de elétrons. O mecanismo via armadilhamento de buracos é

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relativo à excitação dos íons Eu3+ e Yb3+ e explica a existência do fenômeno da luminescência

persistente nos materiais sem co-dopantes (TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Yb3+). De outra forma, o

mecanismo via armadilhamento de elétrons ocorre nos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV para a emissão oriunda do íon Ti3+. Nos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV observa-se o processo de transferência de energia Ti3+ → Eu3+, o que

leva a uma luminescência persistente mais eficiente do íon Eu3+. Por outro lado, devido à grande

diferença de energia entre os íons Ti3+ e Yb3+, o processo de transferência de energia

Ti3+ → Yb3+ não acontece para os materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV. Portanto, a

luminescência persistente ocorre via mecanismo de armadilhamento de buracos

simultaneamente ao de armadilhamento de elétrons, obtendo uma luminescência persistente

com contribuição no visível oriunda do íon Ti3+ e no NIR do íon Yb3+. Os materiais apresentam

um grande potencial em aplicações e inovação tecnológica na área de fotônica como sondas

biológicas luminescentes e sensibilizadores de células solares.

Palavras-chave: Materiais luminescentes, Síntese em micro-ondas, Oxissulfetos, Európio,

Itérbio, Luminescência persistente no infravermelho.

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ABSTRACT

Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de

terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por micro-ondas. 2016. 148p.

Masters Thesis - Graduate Program in Chemistry. Instituto de Química, Universidade de São

Paulo, São Paulo.

Most of persistent luminescent materials have the Eu2+ ion as an activator, displaying tunable

emission color from blue to green region. However, there is a few examples of red and near

infrared (NIR) persistent luminescent materials reported in literature. In this work, the

TR2O2S:Ln3+ and TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd and Y; Ln3+: Eu and Yb)

luminescent materials were prepared by microwave-assisted solid state synthesis. The materials

were characterized with X-ray diffraction, Scanning electron microscopy, Infrared absorption

spectroscopy, synchrotron radiation X-ray absorption spectroscopy near edge (XANES),

Thermoluminescence (TL) and synchrotron radiation UV-VUV spectroscopy. When excited at

the host absorption band (band gap) or at the ligand-to-metal-charge-transfer bands (LMCT),

O2-(2p) → Eu3+(4f6) and S2-(3p) → Eu3+(4f6), the materials TR2O2S:Eu3+ and

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV display a large number of narrow emission bands assigned to Eu3+

5D2,1,0 → 7FJ transitions. Spectroscopic data indicate a high degree of covalency and low phonon

energy of TR2O2S hosts. The TR2O2S:Yb3+ and TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV materials show

emission bands in the range from 900 to 1050 nm (NIR) assigned to the 2F5/2 → 2F7/2 transitions

of Yb3+ ion. The persistent luminescence mechanisms were proposed for TR2O2S:Ln3+ and

TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd and Y; Ln3+: Eu and Yb) materials, there are two

possible ways, hole-trapping or electron-trapping mechanisms. The hole-trapping mechanism

is related to the excitation of Eu3+ and Yb3+ ions and explains the persistent luminescence

phenomenon in non-co-doped materials (TR2O2S:Eu3+ and TR2O2S:Yb3+). The electron-

trapping mechanism governs the persistent luminescence of Ti3+ ion in

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TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV and TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV materials. The Ti3+ → Eu3+ energy

transfer was observed in TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV materials and leads to an improvement of

Eu3+ persistent luminescence. On the other hand, due to the large energy levels gap between

Ti3+ and Yb3+ ions, there is no Ti3+→Yb3+ energy transfer in TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

materials. Therefore, the persistent luminescence in these materials occurs with hole-trapping

and electron-trapping mechanisms simultaneously, obtaining a visible–NIR persistent

luminescence composed by Ti3+ and Yb3+ emissions, respectively. The materials exhibit great

potential in biological and technological innovation in photonic areas such as luminescent

probes and solar cell sensitizers.

Keywords: Luminescent materials, Microwave synthesis, Oxysulfides, Europium, Ytterbium,

Infrared persistent luminescence.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

' Carga relativa negativa

× Carga relativa neutra

• Carga relativa positiva

BC Banda de Condução

BV Banda de Valência

CIE Comissão Internacional de l'Eclairage

DRX Difração de raios X

e- elétron

eV elétron-Volt (1 eV = 8065 cm-1)

Eg Energia do band gap

EI Energia de Ionização

h+ Buraco

IV Espectroscopia de absorção no infravermelho

LMCT Transferência de carga ligante-metal

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

NC Número de Coordenação

NIR Near Infrared (infravermelho próximo)

τ Tempo de vida da luminescência

TL Termoluminescência

UV Ultravioleta

XANES Estrutura de alta resolução da borda de absorção

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

1.1 Terras raras .......................................................................................................... 18

1.1.1 Propriedades espectroscópicas dos íons terras raras .................................. 21

1.1.2 O íon európio trivalente ............................................................................. 24

1.1.3 O íon itérbio trivalente ............................................................................... 29

1.1.4 Materiais luminescentes contendo íons terras raras ................................... 30

1.2 Fenômeno da luminescência persistente ............................................................. 32

1.2.1 Histórico ..................................................................................................... 33

1.2.2 Mecanismos da luminescência persistente ................................................. 34

1.2.3 Luminescência persistente no infravermelho ............................................. 39

1.3 Síntese no estado sólido assistida por micro-ondas ............................................ 41

Referências ................................................................................................................... 44

2. OBJETIVOS ................................................................................................................. 51

3. PARTE EXPERIMENTAL ........................................................................................ 53

3.1 Preparação dos materiais ..................................................................................... 54

3.2 Medidas instrumentais ......................................................................................... 59

3.2.1 Difratometria de raios X – método do pó (DRX) ....................................... 59

3.2.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) .............................................. 60

3.2.3 Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV) .................................... 60

3.2.4 Espectroscopia de absorção de raios X próximo à borda (XANES) .......... 60

3.2.5 Espectroscopia de fotoluminescência na região do UV–Visível ................ 62

3.2.6 Micrografias de fluorescência na região Vis–NIR ..................................... 64

3.2.7 Termoluminescência (TL) .......................................................................... 64

3.2.8 Espectroscopia com radiação síncrotron na região do UV–UV vácuo ...... 66

Referências ................................................................................................................... 67

4. CARACTERIZAÇÃO ................................................................................................. 68

4.1 Difratometria de Raios X – método do pó (DRX) .................................................. 68

4.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) .......................................................... 73

4.3 Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV) ............................................... 75

4.4 Espectroscopia de absorção de raios X próximo à borda (XANES) ...................... 76

Referências ................................................................................................................... 80

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5. ESTUDO DA FOTOLUMINESCÊNCIA ................................................................. 82

5.1 Materiais dopados com o íon Eu3+ ....................................................................... 85

5.1.1 Espectros de excitação ................................................................................ 85

5.1.2 Espectros de emissão .................................................................................. 87

5.1.3 Fotoluminescência de Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV em

função da concentração do dopante Eu3+ ................................................... 93

5.1.4 Parâmetros de intensidades experimentais (Ω) ........................................ 95

5.1.5 Diagrama de cromaticidade CIE ................................................................ 98

5.2 Materiais dopados com o íon Yb3+ ....................................................................... 100

5.2.1 Espectros de excitação ................................................................................ 100

5.2.2 Espectros de emissão .................................................................................. 101

5.2.3 Fotoluminescência de La2O2S:Yb3+ e La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV em

função da concentração do dopante Yb3+ ................................................... 103

5.2.4 Micrografias de fluorescência na região visível–NIR ................................ 104

Referências ................................................................................................................... 107

6. FENÔMENO DA LUMINESCÊNCIA PERSISTENTE ......................................... 109

6.1 Luminescência persistente dos materiais dopados com Eu3+ ............................ 111

6.1.1 Curvas de decaimento da luminescência persistente .................................. 111

6.1.2 Espectros de emissão da luminescência persistente ................................... 112

6.1.3 Termoluminescência ................................................................................... 115

6.1.4 Espectroscopia de excitação na região UV–UV vácuo .............................. 119

6.1.5 Posição dos níveis de energia dos íons Eu3+ e Ti3+ .................................... 120

6.1.6 Mecanismo de luminescência persistente ................................................... 124

6.2 Luminescência persistente dos materiais dopados com Yb3+ ............................ 132

6.2.1 Curvas de decaimento da luminescência persistente .................................. 132

6.2.2 Espectros de emissão da luminescência persistente ................................... 133

6.2.3 Mecanismo de luminescência persistente ................................................... 135

Referências ................................................................................................................... 142

7. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ........................................................................... 144

8. ANEXO: Súmula curricular ....................................................................................... 148

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Capítulo 1

Introdução

___________________________________________________________________________

1.1 Terras Raras

1.2 Fenômeno da luminescência persistente

1.3 Síntese no estado sólido assistida por micro-ondas

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1. INTRODUÇÃO

A partir da descoberta dos primeiros elementos terras raras no final do século XIX, muito

foi estudado sobre as vastas propriedades desses elementos. Desde então, as terras raras vêm

sendo aplicadas em diversas áreas, como catalisadores automotivos, craqueamento de petróleo

e materiais magnéticos. Em relação às suas propriedades luminescentes, as terras raras

apresentam grande versatilidade por apresentar tanto transições finas de caráter atômico quanto

bandas largas sintonizáveis pelo ambiente químico. Materiais luminescentes baseados em terras

raras são aplicados em amplificadores para comunicação óptica, tubos de raios catódicos,

lâmpadas fluorescentes, lasers, diodos emissores de luz (LEDs e OLEDs) etc.

Nas últimas duas décadas, os íons terras raras também vêm sendo largamente aplicados na

área de luminescência persistente, devido às suas propriedades espectroscópicas intrínsecas. No

fenômeno da luminescência persistente, o material continua emitindo luz por um longo período

de tempo, depois de cessada a excitação sobre ele. Esses materiais podem ser aplicados em

sinalização de emergência, tintas luminescentes, sensores de temperatura e pressão, detectores

de radiação etc.

Apesar do grande avanço em aplicações, o mecanismo desse fenômeno ainda não foi

inteiramente esclarecido. Os compostos mais investigados são os ativados pelo íon Eu2+ e, com

isso, grande parte dos mecanismos propostos são voltados para esses materiais. Sabe-se que o

armazenamento da energia luminosa ocorre nos defeitos dos materiais, todavia, os mecanismos

sugeridos para os demais materiais com luminescência persistente ainda são escassos e

qualitativos. Além do mais, a maioria dos compostos reportados exibem luminescência

persistente na região do visível. Materiais com luminescência persistente na região do

infravermelho próximo (Near Infrared - NIR) são pouco explorados e apresentam propriedades

excelentes para aplicações como marcadores biológicos e sensibilizadores em células solares.

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Outra limitação consiste na preparação destes materiais fotônicos, que muitas vezes se dá

pelo método cerâmico, empregando altas temperaturas (>1500 °C) por longos períodos (>24 h).

Esse método é trabalhoso e dispendioso, pois demanda um grande gasto de energia elétrica.

Uma alternativa consiste na metodologia de síntese no estado sólido assistida por micro-ondas,

que emprega o aquecimento dielétrico gerado pela radiação micro-ondas para aquecer os

materiais. Esta metodologia permite a obtenção de materiais no estado sólido em curtos tempos

de síntese (~30 minutos), reduzindo significativamente o custo de sua produção.

Tendo em vista esses obstáculos, este trabalho de dissertação visa a inovação a partir do

desenvolvimento de materiais com luminescência persistente na região do NIR, bem como pelo

método de preparação destes materiais. Os compostos TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV e

TR2O2S:Yb3+.Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) foram preparados pela metodologia de síntese

no estado sólido assistida por micro-ondas e exibem luminescência persistente nas regiões do

vermelho e NIR, respectivamente. Vale destacar que os mecanismos para luminescência

persistente destes materiais, ainda não reportados na literatura, foram propostos baseados nos

dados obtidos a partir das medidas espectroscópicas realizadas e nas informações existentes na

literatura. Esta nova proposta de mecanismo, aliada ao estudo espectroscópico desenvolvido

sobre os materiais abordados neste trabalho, amplia a janela de possibilidades na área de

luminescência persistente.

1.1 Terras Raras

As terras raras (TR) compreendem 17 elementos da tabela periódica, a “série lantanídica”

– La, Ce, Pr, Nd, Pm, Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb, Lu (Z: 57–71) e os elementos

Sc (Z: 21) e Y (Z: 39). O termo “raras” pode ser interpretado de maneira equívoca, já que o

elemento Ce, o mais abundante das terras raras, é tão abundante quanto o Cu, e o elemento Tm,

o menos abundante das terras raras, é mais abundante que a Ag. Este termo se refere a

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dificuldade de separar quimicamente os elementos TR a partir de seus minerais, visto que suas

propriedades químicas são muito semelhantes [1–3].

O termo da palavra “terras” advém dos “óxidos” ou minérios desses elementos. Os minerais

mais comuns de TR são a bastnaesita (TRCO3F) e a monazita (TRPO4), que compõem 70 e 20

% das fontes de extração no mundo, respectivamente [2]. A Tabela 1.1 apresenta os elementos

terras raras, suas configurações eletrônicas e de seus íons TR3+, o termo espectroscópico

relativo aos estados fundamentais dos íons TR3+, os raios iônicos das espécies TR3+ (NC:

Número de Coordenação) e a abundância destes elementos na crosta terrestre.

Tabela 1.1 Configuração eletrônica (TR0 e (TR3+), termos espectroscópicos do estado

fundamental e raios iônicos (TR3+), e abundância na crosta terrestre [4–6].

TR Configuração

eletrônica TR0

Configuração

eletrônica TR3+

Termo espec.

estado fund.

Raio TR3+

(Å) (NC = 6)

Abundância

(ppm)

21Sc [Ar]3d14s2 [Ar]3d0 1S0 0,885 18 39Y [Kr]4d15s2 [Kr]4d0 1S0 0,90 31 57La [Xe]5d16s2 [Xe]4f0 1S0 1,032 35 58Ce [Xe]4f15d16s2 [Xe]4f1 2F5/2 1,01 66 59Pr [Xe]4f36s2 [Xe]4f2 3H4 0,99 9,1 60Nd [Xe]4f46s2 [Xe]4f3 4I9/2 0,983 40 61Pm [Xe]4f56s2 [Xe]4f4 5I4 0,97 0,0 62Sm [Xe]4f66s2 [Xe]4f5 6H5/2 0,958 7 63Eu [Xe]4f76s2 [Xe]4f6 7F0 0,947 2,1 64Gd [Xe]4f75d16s2 [Xe]4f7 8S7/2 0,938 6,1 65Tb [Xe]4f96s2 [Xe]4f8 7F6 0,923 1,2 66Dy [Xe]4f106s2 [Xe]4f9 6H15/2 0,912 4,5 67Ho [Xe]4f116s2 [Xe]4f10 5I8 0,901 1,3 68Er [Xe]4f126s2 [Xe]4f11 4I15/2 0,890 3,5 69Tm [Xe]4f136s2 [Xe]4f12 3H6 0,880 0,5 70Yb [Xe]4f146s2 [Xe]4f13 2F7/2 0,868 3,1 71Lu [Xe]4f145d16s2 [Xe]4f14 1S0 0,861 0,8

É observado que o raio dos elementos lantanídeos diminui com o aumento do número

atômico. Essa diminuição, entretanto, é mais pronunciada na série lantanídica do que nos

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períodos Na–Ar e K–Kr [4]. Os raios dos íons Ln3+ decrescem regularmente do La3+ ao Lu3+

que é denominada como contração lantanídica, esta retração ocorre devido ao aumento da

carga nuclear efetiva evidenciada pela blindagem imperfeita que um elétron 4f exerce sobre

outro elétron 4f [19]. As TR são consideradas ácidos duros de Pearson [7], quanto maior o

número atômico, maior o caráter duro dos íons TR3+.

A configuração eletrônica dos elementos La−Lu é do tipo [Xe]4fN5d16s2 ou [Xe]4fN+16s2,

de modo que seus elétrons de valência se encontram nas subcamadas 5d e 6s (Tabela 1.1).

Dentre os íons TRn+, o estado trivalente ([Xe]4fN) é o mais estável, contudo, alguns TR podem

apresentam estados divalente e tetravalente estáveis, principalmente quando a subcamada 4f

encontra-se vazia (4f0), semipreenchida (4f7) ou preenchida (4f14).

O estudo das energias de ionização desses elementos pode explicar a estabilidade dos íons

TR2+/3+/IV (Figura 1.1) [4]. Observa-se que as duas primeiras energias de ionização (EI)

apresentam pouca variação na série dos lantanídeos, ao contrário da terceira e da quarta EIs,

que mostram um perfil não linear na série.

La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu0

1000

2000

3000

4000

5000

TR3+

TR4+

TR2+

TR3+

TR+ TR

2+

En

erg

ia d

e io

niz

açã

o /

kJm

ol-1

TR0 TR

+

Figura 1.1 Primeira, segunda, terceira e quarta Energia de Ionização dos TR [4].

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Os menores valores de energias de ionização (EI) do processo TR2+ → TR3+ são referentes

aos elementos La, Gd e Lu (Figura 1.1), evidenciando que o estado trivalente é mais estável

para estes elementos, devido às configurações de camada vazia (La3+, 4f0), semipreenchida

(Gd3+, 4f7) e preenchida (Lu3+, 4f14). Os elementos Eu e Yb são os que apresentam a maior

terceira EI, comprovando a estabilidade dos íons Eu2+ (4f7) e Yb2+ (4f14). Ademais, a quarta EI

também indica a estabilidade dos íons La3+, Gd3+ e Lu3+, pois apresentam as maiores energias

para o processo TR3+ → TRIV (Figura 1.1). Os menores valores de EI observados para este

processo correspondem aos íons CeIV, PrIV e TbIV, consideravelmente estáveis devido às

características de suas configurações eletrôncias [8].

As terras raras são bastante aplicadas em diversos campos da ciência e tecnologia, tais

como ímãs superpotentes [9,10], ligas metálicas [11], supercondutores de alta temperatura

[12,13], motores elétricos [14] etc. Quanto às suas propriedades espectroscópicas, materiais

contendo TRN+ são referência em várias áreas da luminescência, podendo ser aplicados como:

marcadores luminescentes contra falsificação [15], LEDs [16–18], conversão ascendente e

descendente de energia (upconversion e downconversion) [20,21], sensores de temperatura

[22], biomarcadores [23,24], sensibilizadores em células solares [21,25] e luminescência

persistente.

1.1.1 Propriedades espectroscópicas dos íons terras raras

Os íons TR2+ e TR3+ apresentam propriedades espectroscópicas muito distintas. A principal

característica dos íons TR3+ é que a subcamada interna 4fN é blindada do ambiente químico

pelas subcamadas mais externas 5s2 e 5p6, fazendo com que os elétrons 4fN sofram uma

influência muito pequena do campo ligante (Figura 1.2). Como consequência, os espectros de

absorção e emissão de compostos contendo íons TR3+ apresentam transições

intraconfiguracionais 4f bastante finas, que facilitam a interpretação da estrutura dos seus níveis

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de energia. Já os íons TR2+ apresentam transições interconfiguracionais 4f–5d que, por

envolverem subcamadas mais externas, são muito influenciáveis pelo ambiente químico,

apresentando bandas largas e sintonizáveis pelo campo ligante [4,26,27].

Figura 1.2 Parte radial das funções de onda hidrogenóides dos orbitais 4f, 5s, 5p, 5d, 6s e 6p

para um íon TR3+. O esquema à direita representa as subcamadas presentes nos elementos TR,

mostrando as subcamadas 4f blindadas do ambiente químico pelo pelas subcamadas 5s e 5p [2].

A pequena influência do campo ligante sobre a subcamada 4fN, devido a blindagem pelas

subcamadas 5s2 e 5p6, leva ao comportamento atômico das transições f-f oriundas dos subníveis

2S+1LJ (MJ) (Figura 1.3). O desdobramento dos subníveis é da ordem de 102 cm-1, pequeno quando

comparado com ~15000, 20000 e 25000 cm-1 das configurações 3d, 4d e 5d, respectivamente

[5], gerando bandas de absorção de emissão muito finas. A interpretação dos espectros de

absorção e emissão revela diversas características sobre a microssimetria em torno do íon TR3+,

sendo de grande utilidade no estudo da simetria de complexos e materiais inorgânicos. Desse

modo, os íons TR3+ são considerados como eficientes sondas espectroscópicas.

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Figura 1.3 Diagrama parcial das energias dos níveis espectroscópicos dos íons TR3+ baseado nos

sistemas TROCl e TROBr [8,28].

De acordo com a regra de Laporte, as transições interconfiguracionais entre estados de

paridade diferente com Δl = ±1 são permitidas por dipolo elétrico. Desse modo, as transições

4f–4f são proibidas por paridade (Δl = 0), apresentando baixas intensidades de absorção e

emissão, além de tempos de vida de emissão relativamente longos (ms). Contudo, essa regra

pode ser relaxada quando o íon TR3+ encontra-se na presença de um campo ligante cuja simetria

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não apresenta centro de inversão. Nesse caso, ocorre uma mistura de configurações de paridades

opostas (4fN e 4fN-15d), tornando as transições intraconfiguracionais 4f permitidas pelo

mecanismo de dipolo elétrico forçado [29].

1.1.2 O íon európio trivalente

Conforme já mencionado, o conhecimento da estrutura dos níveis de energia dos íons TR3+

possibilita seu uso como sondas espectroscópicas locais. Dentre todos os íons TR3+, nenhum

apresenta propriedades de sonda tão poderosas quanto o íon Eu3+. De acordo com a estrutura

dos níveis de energia do íon Eu3+ (Figura 1.4), o principal nível emissor, 5D0, é não degenerado.

Assim, os desdobramentos observados nas bandas de emissão provenientes deste nível (5D0 →

7F0–6) são oriundos apenas do estado 7FJ [1,27,29]. Essa característica facilita a interpretação

dos dados espectrais oriundos das transições 5D0 → 7FJ.

Cada uma das transições 5D0 → 7FJ apresenta comportamento singular devido às regras de

seleção e aos mecanismos de dipolo. Portanto, cada transição está relacionada a diferentes

propriedades sobre o sítio de simetria no qual os íons Eu3+ estão inseridos (Tabela 1.2). Por

exemplo, a transição para o estado fundamental, 5D0 → 7F0, não sofre nenhum tipo de

desdobramento (J = 0 → J’ = 0). Essa transição é de extrema importância, pois apresenta apenas

uma banda quando os íons Eu3+ ocupam o mesmo sítio de simetria. A presença mais de uma

banda 5D0 → 7F0 indica a existência de mais de um sítio de simetria no material. Essa transição

apresenta baixa intensidade em geral, sendo observada apenas em sítios de baixa simetria (Cs,

Cn, Cnv) [27].

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Figura 1.4 Diagrama parcial dos níveis de energia do íon Eu3+, mostrando os desdobramentos dos

níveis gerados pelo campo ligante.

Tabela 1.2 Visão geral sobre as transições 5D0 → 7FJ do íon Eu3+ [1,27].

Transição 5D0 → 7FJ

Faixa (nm) Caráter

dipolo* Intensidade** Características

7F0 570–585 DE vw–s Não degenerada, observada somente

em Cn, Cs e Cnv

7F1 585–600 DM s Intensidade insensível ao ambiente

químico

7F2 610–630 DE s–vs Comportamento hipersensível ao

ambiente químico

7F3 640–660 DE vw–w Proibida pelas regras de seleção

7F4 680–710 DE m–s Comportamento sensível ao ambiente

7F5 740–770 DE vw Proibida, raramente observada

7F6 810–840 DE vw–w Raramente medida ou observada

* DE: dipolo elétrico, DM: dipolo magnético.

** vw: muito fraca, w: fraca; m: média; s: forte; vs: muito forte).

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A transição 5D0 → 7F1 é proibida por dipolo elétrico, porém é permitida por dipolo

magnético, logo, sua intensidade é formalmente insensível ao ambiente químico [5,27]. Já a

transição 5D0 → 7F2 é considerada hipersensível, devido à sua alta sensibilidade ao campo

ligante. Normalmente, sua intensidade pode variar em até 200 vezes e seu baricentro encontra-

se em torno de 615 nm, dependendo do ambiente químico ocupado pelo íon Eu3+. A cor

vermelha característica de materiais dopados com Eu3+ advém a alta intensidade da transição

5D0 → 7F2 [27].

A transição 5D0 → 7F4 é usualmente observada nos espectros de emissão do íon Eu3+,

corroborando com as informações importantes sobre a o ambiente químico que o íon metálico

se encontra [27,29]. Contudo, as transições 5D0 → 7F3,5,6 apresentam intensidade muito baixa e

são raramente observadas. A Figura 1.5 correlaciona o número das transições 5D0 → 7FJ

observadas nos sítios de simetria do íon Eu3+ [30].

Também é possível observar bandas de emissão do íon európio oriundas dos níveis

excitados mais energéticos 5D1, 5D2 e inclusive do 5D3. De maneira geral em materiais

cristalinos, a energia transferida para estes níveis decai não radiativamente para o nível emissor

5D0, devido às contribuições vibrônicas da rede. Assim, as bandas de emissão provenientes dos

níveis 5D1,2 podem ser visualizadas à baixa temperatura, isto é, reduzindo-se as contribuições

vibrônicas. À temperatura ambiente, as transições 5D1,2 → 7FJ são observadas apenas em

materiais que apresentam baixa energia de fônons, por exemplo, em vidros de fluoreto

(Li,Na)YF4:Eu3+ e oxissulfetos de terras raras (Y2O2S:Eu3+) [31–34].

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Figura 1.5 Uso da transição 5D0→7FJ do íon Eu3+ como prova do sítio de simetria em cristais. As transições 5D0→7F3, 7F5 são proibidas sob as regras de seleção de Judd e são usualmente muito fracas,

portanto, não estão incluídas. O esquema refere-se às transições permitidas por dipolo elétrico, exceto o caso da transição 5D0→7F1, que é permitida pelo mecanismo de dipolo magnético.

1 pico

2 picos

3 picos

1 pico Nenhum pico

1 pico Nenhum pico

4 picos 3 picos

5 picos

6 picos

1 pico Nenhum pico

2 picos

1 picos Nenhum pico

1 pico

Nenhum pico 1 pico

3 picos 2 picos

1 pico

Nenhum pico

3 picos 4 picos

1 pico

2 picos 3 picos

3 picos

4 picos 5 picos

4 picos

2 picos

4 picos

5 picos

3 picos

4 picos

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A partir dados espectrais de emissão para as transições 5D0 → 7FJ de materiais dopados

com Eu3+ é possível estimar os coeficientes de emissão espontânea (A0J), os parâmetros de

intensidades experimentais (Ω2 e Ω4) e a eficiência quântica do nível emissor 5D0 (η). Os

coeficientes de emissão espontânea para cada emissão 5D0 → 7FJ (A0J) definem a taxa radiativa

(Arad) para o nível 5D0 de acordo com a equação 1.1:

Arad = ∑ A0J =

J

A00+ A01+ A02+ A04

A transição 5D0 → 7F1 é permitida pelo mecanismo de dipolo magnético cuja intensidade

é insensível às variações do ambiente químico e, portanto, é utilizada como uma referência

interna para os sistemas dopados com o íon Eu3+. O coeficiente A01 é dado pela equação 1.2,

onde “n” é o índice de refração do material e “ν01” é o valor experimental do baricentro da

transição 5D0 → 7F1 [5]. O valor de A01 é em torno de 50 s-1, o que em geral está de acordo com

o valor n = 1,5 para os compostos luminescentes.

A01 = 0,31.10-11 n3 ν013

Com isso, os valores dos coeficientes A00, A02 e A04 são calculados a partir da normalização

do baricentro e da área integrada destas transições (ν0J e S0J, respectivamente) em relação ao

baricentro e à área integrada da transição 5D0 → 7F1 (ν01 e S01) (equação 1.3). Este procedimento

evita dificuldades experimentais relacionadas à medida das intensidades absolutas de emissão:

A0J = A01 (S0J

S01

) (ν01

ν0J

)

Determinados os valores A0J, calcula-se os parâmetros de intensidades experimentais (Ωλ).

Na equação 1.4, “e” representa a carga do elétron, “ω0J” a frequência angular da transição, “ћ” a

constante de Planck reduzida e “n” o índice de refração do material. O termo entre colchetes

(1.1)

(1.2)

(1.3)

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consiste na “correção do campo de Lorentz”, e o termo ⟨ FJ ‖U(λ)‖7

D0 5 ⟩2 é chamado de

“quadrado do elemento de matriz reduzida”, que compreende os dois estados da transição,

mediados por um operador. Este termo vale 0,0032 e 0,0023 para J = 2 e J = 4, respectivamente

[5,35]. Sendo todos estes termos conhecidos, calcula-se os valores dos parâmetros de

intensidade Ωλ para as transições 5D0 → 7F2 e 5D0 → 7F4 (Ω2 e Ω4, respectivamente).

A0J = 4e2ω0J

3

3ћc3(2J + 1)

[n(n2 + 2)2

9] ∑ ⟨ FJ ‖U(λ)‖

7D0 5 ⟩2 Ωλ

λ

Por fim, em posse dos valores de A0J, é possível calcular as eficiências quânticas de emissão

do nível 5D0 (η) a partir da taxa radiativa Arad. O valor de Arad é dado pela equação 1.1, pois a

taxa radiativa total (Atot) é dada pela soma das taxas radiativa (Arad) e não radiativa (Anrad)

(equação 1.5). Para isso, é necessário realizar as medidas de tempo de vida de emissão do nível

5D0 (τ) dos materiais, uma vez que a taxa radiativa total é dada pelo inverso do tempo de vida

de emissão (equação 1.6). A eficiência quântica de emissão é dada pela equação 1.7:

Atot = Arad+ Anrad

Atot = τ-1

η = Arad

Atot

. 100%

1.1.3 O íon itérbio trivalente

O íon Yb3+ possui configuração eletrônica 4f13, portanto, diferentemente do Eu3+, apresenta

apenas dois níveis de energia, o estado fundamental 2F7/2 e o estado excitado 2F5/2 (Figura 1.3).

A diferença de energia entre esses dois níveis é de aproximadamente 10200 cm-1 (baricentro da

banda em torno de 980 nm), atribuída a transição 2F7/2 2F5/2 localizada na região do

infravermelho próximo (Near Infrared - NIR). Devido à essa propriedade espectroscópica,

(1.5)

(1.6)

(1.7)

(1.4)

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materiais luminescentes contendo o íon Yb3+ são alvos de aplicações como luminescência no

infravermelho [36,37], termômetros óticos [38], fibras óticas [39] e, principalmente, conversão

ascendente de energia (upconversion) [40,41].

Os íons Eu3+ e Yb3+ apresentam determinadas semelhanças, por exemplo, a energia de

ionização TR2+ → TR3+. Na seção 1.1.4, serão abordadas algumas características dos materiais

luminescentes contendo íons TR, em especial, a energia desses íons dentro do band gap das

matrizes inorgânicas. Esta abordagem revela as demais semelhanças entre os íons Eu3+ e Yb3+

e contribui no estudo das propriedades dos materiais que apresentam luminescência persistente.

1.1.4 Materiais luminescentes contendo íons terras raras

De uma maneira geral, os materiais luminescentes consistem em uma matriz inorgânica

dopada com íons ativadores. A matriz absorve a energia de excitação e a transfere para o íon

ativador, responsável pela emissão de luz (Figura 1.6a). Também pode estar presente um íon

sensibilizador para absorver e transferir a energia para o ativador (Figura 1.6b). Os íons TR

apresentam baixos coeficientes de absortividade, portanto, o uso de ligantes ou matrizes

inorgânicas que absorvam e transfiram a energia de maneira eficiente geram uma luminescência

de alta intensidade para as transições 4f–4f dos íons TR3+ [5,42].

Figura 1.6 – a) Processo da luminescência de um ativador “A” dopado em uma matriz “H”;

b) Transferência de energia de um sensibilizador “S” para um ativador “A” [43].

H

H

H

H

H

H

H

A

H

H

H

H

Excitação

T.E

Emissão

H

H

H

H

S

H

H

A

H

H

H

H

Excitação

T.E

Emissão

a) b)

H: Hóspede S: Íon sensibilizador

A: Íon ativador T.E: Transferência de energia

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No caso de os dopantes possuírem valências diferentes do cátion da matriz, o processo de

dopagem pode gerar defeitos nos materiais luminescentes [44], como vacâncias e/ou íons

intersticiais devido à compensação de carga. A formação e a estrutura desses defeitos na rede

cristalina são cruciais para o desenvolvimento dos mecanismos de luminescência persistente e,

portanto, serão foram abordados na seção 1.2.2.

É importante ressaltar que em diferentes matrizes, os níveis fundamentais 4fN dos íons

TR2+/3+ não possuem a mesma energia relativa a banda de valência (BV) e de condução (BC),

como ilustra a Figura 1.3. A posição dos níveis 2S+1LJ dos íons TRs dentro do band gap de uma

matriz varia do La ao Lu [26], gerando um perfil semelhante às curvas de energias de ionização

TR2+TR3+ e TR3+TRIV. Contudo, este perfil mantem-se idêntico independentemente da

matriz (Figura 1.7), devido ao efeito de blindagem dos elétrons 4f ao campo ligante. A variação

da energia dos “níveis fundamentais” dos íons terras raras é determinada pelas propriedades

espectroscópicas intrínsecas destes íons, que não são afetadas pelo campo ligante. Assim, a

independência do campo cristalino faz com que a diferença entre os “níveis fundamentais” dos

íons TR2+/3+ não varie com a matriz hospedeira mantendo o perfil constante.

Por outro lado, a subcamada 5d é mais externa e, portanto, fortemente afetada pelo campo

ligante. Como a interação dos elétrons 5dN com o campo ligante é muito semelhante para todos

os elementos lantanídeos como ilustrado na Figura 1.7, a posição dos primeiros níveis 5d é

praticamente constante dentro da série [8,26].

É observado na Figura 1.7 que os níveis de energia dos estados fundamentais dos íons Eu3+

e Yb3+ são semelhantes, bem como os níveis de energia dos estados fundamentais dos íons Eu2+

e Yb2+. A posição dos níveis de energia dos íons TR relativos às bandas de valência e de

condução é de essencial importância no desenvolvimento dos mecanismos de luminescência

persistente. Portanto, são esperados mecanismos de luminescência persistente semelhantes para

materiais contendo os íons ativadores Eu3+ e Yb3+ ou Eu2+ e Yb2+ [45].

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Figura 1.7 Posição dos níveis de energia dos estados fundamentais 4f (linhas contínuas) e dos

primeiros níveis 5d (linhas tracejadas) dos íons TR2+ e TR 3+ na matriz Sr2MgSi2O7 [8].

1.2 Fenômeno da luminescência persistente

A luminescência persistente é um fenômeno no qual um material emite luz por um longo

período de tempo, que pode variar de minutos a várias horas, após cessada a excitação. A

energia da excitação utilizada pode estar na região do visível, ultravioleta, raios X ou radiação γ.

A luminescência persistente é muitas vezes erroneamente confundida com a fosforescência

devido ao tempo de duração da emissão, porém, tratam-se de dois fenômenos distintos. A

fosforescência ocorre em materiais orgânicos de maneira geral, e o longo tempo de emissão é

devido à transição proibida por spin (S≠0) de um estado tripleto para um estado singleto. Já

na luminescência persistente, a longa duração da emissão se deve ao armazenamento da energia

de excitação em armadilhas no interior de materiais inorgânicos. A energia armazenada é

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liberada com o ganho de energia térmica, classificando a luminescência persistente como um

tipo de luminescência termoestimulada [8,46]. Deve-se ressaltar que o termo luminescência

persistente (persistent luminescence) foi o oficialmente aceito para este fenômeno no

International Workshop on Persistent Phosphors (Phosphoros, Gent, Bélgica, 2011) [47].

1.2.1 Histórico

O primeiro relato bem documentado a respeito do fenômeno da luminescência persistente

data de 1603, quando o sapateiro e alquimista Vincenzo Cascariolo preparou a “Pedra de

Bolonha” a partir da calcinação de um mineral do Monte Padermo, Bolonha - Itália [48].

Cascariolo descreveu que esse material era capaz de emitir luz sem necessidade de

aquecimento, caso fosse previamente irradiado por luz solar ou por chamas. Apesar de

conhecido a mais de 400 anos, apenas recentemente foi relatado que a luminescência persistente

desse material, identificado como BaS preparado a partir do BaSO4, era devido a íons Cu+

presentes como impureza no mineral utilizado.

Durante os séculos XVIII e XIX foram preparados diversos materiais com luminescência

persistente, como o ZnS dopado com Cu, que foi utilizado comercialmente durante boa parte

do século XX. Além disso, diversas matrizes de sulfetos de alcalinos terrosos MS (M2+: Ca, Sr,

Ba) dopadas com diferentes íons (Mn2+, Ni2+, Cu+, Ag+, Ce3+, Eu2+, Pb2+, Bi3+ etc.) foram

descobertas. Esses materiais ficaram conhecidos como fósforos de Lenard [49], porém não

foram aplicados comercialmente devido a sua alta sensibilidade a umidade.

Em 1996, Matsuzawa e colaboradores [50] reportaram a descoberta do material

SrAl2O4:Eu2+,Dy3+, que exibia luminescência persistente por diversas horas. Essa publicação

gerou uma nova frente de pesquisa, voltada para a investigação de materiais baseados em

matrizes dopadas com Eu2+ e co-dopados com íons TR3+ [51]. Até os dias de hoje, os materiais

mais eficientes reportados são os compostos MAl2O4:Eu2+,TR3+ (M2+: Ca, Sr e Ba), cuja cor de

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emissão varia em função do cátion da matriz Ca (azul), Sr (verde) e Ba (verde-azulado) [52,53].

Além destes, os materiais Sr4Al14O25:Eu2+,TR3+ [54] e Sr2MgSi2O7:Eu2+,Dy3+ [55] exibem

luminescência persistente por mais de 24 h.

Apesar do grande foco sobre o Eu2+, outros materiais com luminescência persistente vêm

sendo reportados com a utilização de diferentes íons ativadores [56] tais como: Ti3+ [57,58],

Cr3+ [59–63], Mn2+ [64], Tb3+ [65], Eu3+ etc. No caso do Eu3+, destacam-se os oxissulfetos de

terras raras co-dopados com Mg2+ e Ti3+/IV (TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV), que apresentam

emissão de longa duração na região do vermelho [66–69]. Ademais, foram desenvolvidos novos

materiais onde a luminescência persistente é oriunda da emissão de defeitos [70,71].

1.2.2 Mecanismos da luminescência persistente

O entendimento do mecanismo da luminescência persistente foi alvo de curiosidade e

estudo desde a era dos materiais do tipo ZnS [72]. Já naquela época, sabia-se que os defeitos

presentes nos materiais eram essenciais para o fenômeno e, portanto, é necessário uma breve

contextualização sobre os tipos de defeitos presentes em matrizes inorgânicas.

Existem vários tipos de defeitos em materiais, porém, neste trabalho serão abordados os

defeitos pontuais (vacâncias, átomos intersticiais e substitucionais) e eletrônicos (buracos e

elétrons). Vale ressaltar que a notação usada para os defeitos será a notação de Kröger-Vink

[73]. Considerando uma rede cristalina composta por cátions e ânions, chama-se de sítio a

posição ocupada por esses íons. Define-se a notação C

SE onde:

I. E corresponde à espécie que pode ser um átomo, uma vacância (V), um elétron (e) ou um

buraco (h). Por vacância entende-se um sítio vazio, originalmente preenchido por um

átomo. Por buraco entende-se a ausência de um elétron, gerando uma carga positiva.

II. S indica o sítio ocupado pela espécie. Na ocupação intersticial utiliza-se o símbolo i.

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III. C corresponde à carga da espécie relativa ao sítio original. Para indicar carga relativa zero

utiliza-se uma cruz (×), para se indicar uma carga relativa positiva utiliza-se um ponto (•)

e para a carga relativa negativa utiliza-se um apóstrofo (').

Em um cristal, podem existir tanto defeitos intrínsecos como extrínsecos. Os defeitos

intrínsecos são aqueles que já existem nos materiais "puros", sem a presença de elementos

externos, formados por processos termodinamicamente ativados. Podem ser do tipo Schottky,

que consiste na formação de um par vacâncias na estrutura, e Frenkel, quando um átomo da

rede move-se para uma posição intersticial [50,52]. O par de defeitos Schottky formados num

cristal de NaCl (Figura 1.8a) contém uma vacância de Na+, de carga relativa negativa (VNa' ), e

uma vacância de Cl-, de carga relativa positiva (VCl• ). O defeito de Frenkel apresentado

(Figura 1.8b) é um íon Na+ intersticial (Nai•), deixando sua posição original vazia, isto é, uma

vacância de carga relativa negativa (VNa' ).

Figura 1.8 Ilustração dos defeitos pontuais intrínsecos na rede do NaCl – a) Defeitos Schottky e

b) Defeitos Frenkel [8].

Na dopagem de um material formando uma solução sólida geram-se defeitos pontuais

extrínsecos. Quando os íons dopantes possuem a mesma valência dos íons substituídos, os

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únicos defeitos formados são devidos apenas às substituições. Por outro lado, quando há

diferença nas valências dos íons dopantes e substituídos, é necessário que haja uma

compensação de carga, por meio da formação de vacâncias e/ou íons intersticiais, para manter

a neutralidade do sistema. Os defeitos extrínsecos são importantes pois atuam como armadilhas

de energia nos materiais com luminescência persistente.

As equações 1.8–1.10 mostram as compensações de carga prováveis quando se dopa um

oxissulfeto de terra rara (TR2O2S. TR3+: La, Gd e Y) com carbonato de magnésio (MgCO3) e

óxido de titânio (TiO2) [66]. Nota-se em todas as reações que devem ser mantidos os balanços

de sítios ocupados de massa e de carga. Nas equações 1.8 e 1.9, VO•• e Oi

'' também podem ser

vacâncias de enxofre (VS••) e enxofres intersticiais (Si

'').

2 Y3+ → 2 MgY' + VO

••

2 Y3+ → 2 TiY•

+ Oi''

3 Y3+ → 2 TiY•

+ Yi'''

Em relação aos materiais dopados com Eu2+, o primeiro mecanismo foi proposto por

Matsuzawa e colaboradores para sistema SrAl2O4:Eu2+,Dy3+, no mesmo trabalho que relata sua

descoberta [50]. Esta proposta apresentava inconsistências, pois considerava a formação de íons

Eu+ durante o processo de armazenamento da energia. O íon Eu+ é extremamente instável, não

se formaria por uma simples excitação UV. Além do mais, de acordo com a posição dos níveis

de energia dos íons TR em relação ao band gap (Figura 1.7), a energia dos íons TR+ estaria

acima da energia dos níveis TR2+, ou seja, dentro da banda de condução. Outros mecanismos

foram propostos para suprir essas deficiências, como os de Dorenbos (Sr2MgSi2O7:Eu2+,Dy3+)

[74] e Clabau (SrAl2O4:Eu2+,Dy3+) [75], mas ainda apresentavam falhas na explicação da

luminescência persistente em determinados sistemas.

(1.8)

(1.9)

(1.10)

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Atualmente, o mecanismo de luminescência persistente mais aceito é o proposto por

Aitasalo e colaboradores, desenvolvido para o material CaAl2O4:Eu2+,TR3+ [52] (Figura 1.9).

Este mecanismo leva em conta a posição dos níveis de energia dos íons TR2+/3+ em relação ao

band gap. Além disso, são consideradas como armadilhas tanto as vacâncias de oxigênio (VO••),

geradas pela substituição aliovalente dos íons Ca2+ por Dy3+, quanto os próprios íons Dy3+, pela

capacidade de aprisionar os elétrons ao formar íons Dy2+ (formalmente, pares Dy3+–e-). Dessa

forma, a proposta de Aitasalo suprime as deficiências dos mecanismos anteriores e explica o

fenômeno da luminescência persistente nos diversos materiais dopados com Eu2+.

Figura 1.9 Mecanismo da luminescência persistente para o material CaAl2O4:Eu2+,Dy3+,

proposto por Aitasalo e colaboradores [8,52].

O mecanismo da luminescência persistente para o material CaAl2O4:Eu2+,Dy3+ ocorre

basicamente em quatro etapas (Figura 1.9):

1) O material é irradiado na região do UV–Vis (azul), excitando o elétron do íon Eu2+, do

estado fundamental 8S7/2 (4f7) para os estados excitados 4f65d1, parcialmente sobrepostos

à banda de condução da matriz, originando o íon Eu3+, ou um par Eu2+–h+ (h+: buraco).

Banda de Condução

Banda de Valência

Eu2+

Dy3+

4f7 (8S7/2)

4f65d1

Eu3+ (Eu2+. h+ )

kT3500-5500 cm-1

(Dy3+. e- )

60 000 cm-1

24 000 cm-1 22 700 cm-1OV

' '

CaV

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2) O elétron na banda de condução é capturado pelas armadilhas (VO•• e íons Dy3+), liberando

energia térmica da ordem de kT, podendo migrar de uma armadilha para a outra com a

perda ou ganho de energia térmica.

3) Depois, o elétron então retorna à banda de condução com ganho de energia térmica,

caracterizando a luminescência persistente como um tipo de luminescência

termoestimulada.

4) Por fim, a recombinação do elétron com a espécie Eu2+–h+, por meio de decaimento

radiativo, forma novamente o íon Eu2+, gerando a luminescência persistente.

A construção do mecanismo de luminescência persistente de um material demanda das

seguintes etapas: i) determinação da energia do band gap da matriz, ii) da posição dos níveis

de energia dos íons terras raras (TR2+/3+) dopantes (ativadores) e co-dopantes e iii) da energia

das armadilhas. Em geral, a energia do band gap pode ser determinada por meio das técnicas

de espectroscopia UV convencional ou na região do UV–UV vácuo, e os níveis de energia das

armadilhas, em relação às bandas de condução ou de valência, são obtidas por medidas de

termoluminescência [8,76,77], cujos detalhes serão apresentados na seção 3.2.

Vários mecanismos foram propostos para sistemas ativados pelo íon Eu2+, contudo, até o

momento, são encontrados poucos trabalhos relatando o mecanismo da luminescência

persistente de materiais ativados por outros íons. O caso dos materiais

TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV é ainda mais curioso, pois são compostos bastante reportados na

literatura na área de luminescência persistente, mas praticamente não existem trabalhos

descrevendo o desenvolvimento de seu mecanismo.

Tendo em vista esta escassez de mecanismos para materiais dopados com Eu3+ na literatura,

foram desenvolvidos nesta dissertação os mecanismos da luminescência persistente dos

materiais TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y). Além disso, a substituição do íon Eu3+

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pelo Yb3+ (TR2O2S:Yb3+.Mg2+,Ti3+/IV) gera materiais com luminescência persistente na região

do NIR. O desenvolvimento dos mecanismos dos materiais TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV e

TR2O2S:Yb3+.Mg2+,Ti3+/IV serão discutidos em detalhes no Capítulo 6.

1.2.3 Luminescência persistente no infravermelho

Desde o trabalho de Matsuzawa [50], foi desenvolvida uma grande quantidade de materiais

que apresentam luminescência persistente com emissões que abrangem toda faixa do visível no

espectro eletromagnético [51,56]. Entretanto, materiais com emissão da luminescência

persistente na região no infravermelho (NIR) ainda consiste em um campo pouco explorado,

apesar de apresentar um grande potencial em aplicações tecnológicas em diferentes áreas. Por

exemplo, materiais com luminescência persistente no NIR atuam como excelentes sondas

biológicas in vivo, pois o comprimento de onda do NIR tem alto poder de penetração nos tecidos

[61,63,78,79]. Outra possível aplicação consiste em sensibilização de células solares, uma vez

que o band gap de vários conversores solares está na região do NIR, de modo que a maior parte

do espectro solar (UV-Vis) é desperdiçada [21,63]. Portanto, materiais com luminescência

persistente que convertem radiação UV-Vis em NIR serão capazes de aumentar o rendimento

desses conversores.

Pan e colaboradores [61,63] relataram a descoberta dos materiais Zn3Ga2Ge2O10:Cr3+ e

LiGa5O8:Cr3+, que apresentam luminescência persistente atribuída a transição 2E → 4A2 do íon

Cr3+ (~716 nm). Em especial, o material LiGa5O8:Cr3+ apresenta um tempo de luminescência

persistente muito longo (~ 1000h) (Figura 1.12a), atuando eficientemente como sonda biológica

(Figura 1.12b). Outros materiais ativados pelo íon Cr3+ apresentam luminescência persistente

na região do vermelho–NIR, exibindo emissão de banda larga sintonizável pelo campo ligante

[80,81].

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Figura 1.12 Luminescência persistente do material LiGa5O8:Cr3+ – a) imagens da

luminescência persistente registradas a partir de uma câmera de infravermelho; b) detecção do

fenômeno com o material injetado sob a pele de um camundongo (adaptado) [61].

Quanto à materiais ativados por íons TR3+, pouquíssimos trabalhos reportam o fenômeno

da luminescência persistente no NIR. Caratto e colaboradores apresenta os materiais

Gd2O2CO3:Yb3+, que apresentam luminescência persistente no NIR para atribuída a transição

2F5/2 → 2F7/2 (~980 nm) [82]. Assim, a investigação da luminescência persistente no NIR ativada

por íons TR3+ consiste em um ramo também pouco explorado e muito importante do ponto de

vista científico e tecnológico.

Como observado no diagrama dos níveis de energia dos estados fundamentais dos TR2+/3+

dentro do band gap da matriz (Figura 1.7), os níveis de energia dos íons Eu3+ e Yb3+ são muito

semelhantes. Espera-se que a substituição destes íons crie materiais com mecanismos de

luminescência persistente similares, porém, com a emissão característica do íon ativador. Desse

modo, os materiais TR2O2S:Yb3+.Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) foram preparados, buscando

a luminescência persistente para a emissão em 980 nm do íon Yb3+. As propriedades da

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luminescência persistente dos materiais TR2O2S:Eu3+.Mg2+,Ti3+/IV e TR2O2S:Yb3+.Mg2+,Ti3+/IV,

bem como seus mecanismos estão discutidos no Capítulo 6.

1.3 Síntese no estado sólido assistida por micro-ondas

Recentemente, o método de aquecimento dielétrico assistido por radiação micro-ondas tem

sido utilizado para sintetizar materiais de estado sólido [16,83]. Esta metodologia se procede

da mesma maneira que uma síntese no estado sólido convencional, isto é, o método cerâmico.

Os reagentes, na forma de pó, são misturados e homogeneizados num almofariz e em seguida

levados ao tratamento térmico. As particularidades desta metodologia advêm da natureza do

aquecimento da amostra, pois em um forno comum o aquecimento é resistivo, e em um forno

de micro-ondas o aquecimento é dielétrico.

No aquecimento resistivo, a corrente elétrica circula pelos condutores, gerando calor pela

perda resistiva desse material, fenômeno conhecido como efeito joule e a amostra é aquecida

por convecção. Já no forno de micro-ondas, o campo elétrico da radiação de micro-ondas age

no alinhamento dos dipolos elétricos das espécies presentes na amostra, uma vez que, no estado

sólido, o meio não possui partículas ou íons que se movem livremente. Este processo é chamado

de aquecimento dielétrico [76].

O campo elétrico da radiação micro-ondas, assim como toda radiação eletromagnética, é

oscilante. Dessa forma, os dipolos elétricos de sistemas sólidos mudam sua orientação com um

certo tempo de defasagem, devido a efeitos de rede cristalina ou interações de curta distância.

Se a radiação micro-ondas possui frequência de mesma ordem de magnitude que este tempo de

defasagem, o realinhamento do dipolo sofre apenas uma pequena defasagem com o campo

elétrico oscilante, e o sólido pode absorver a radiação e convertê-la em calor [76,83].

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Desse modo, no uso de aquecimento dielétrico assistido por radiação micro-ondas para

síntese no estado sólido, é necessário que pelo menos uma espécie absorva a radiação micro-

ondas [83,84]. Contudo, na frequência dos aparelhos de micro-ondas domésticos (2,45 GHz) e

à temperatura ambiente, poucos materiais refratários são capazes de gerar calor, pois são

denominados “isolantes de baixa perda dielétrica”. Quando a perda dielétrica de uma substância

é alta, ocorre absorção da radiação de micro-ondas e decaimento de estados vibracionais

excitados, liberando a energia absorvida em forma de calor [85]. Assim, é necessário o emprego

de uma substância de alta perda dielétrica, também chamada de susceptor de micro-ondas, para

promover o aquecimento inicial da amostra (Figura 1.13).

Figura 1.13 Interação de diferentes tipos de materiais com a radiação de micro-ondas, dando

destaque aos absorvedores, ou susceptores de micro-ondas.

Os materiais cerâmicos possuem baixa perda dielétrica, portanto são praticamente

transparentes a radiação de micro-ondas a temperatura ambiente. A perda dielétrica, entretanto,

é uma propriedade física do material que varia em função da temperatura. Dessa forma, o

emprego do susceptor de micro-ondas é necessário para promover apenas o aquecimento inicial.

Uma vez aquecido, a perda dielétrica do material precursor sofre mudanças, e a radiação micro-

ondas acopla diretamente com o material cerâmico, aquecendo-o pontualmente. Isso torna

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possível o alcance temperaturas muito altas (>1500 °C) em um intervalo de tempo muito curto,

reduzindo o tempo médio de síntese para poucos minutos.

Neste trabalho foram sintetizados materiais luminescentes baseados em matrizes de

oxissulfetos de terras raras (TR2O2S, TR3+: La, Gd e Y), cuja formação a partir dos reagentes

TR2O3 e S exige a redução do enxofre elementar a sulfeto (S2-). Para isso, o susceptor de micro-

ondas empregado foi o carvão ativo. O carvão ativo é um excelente susceptor de micro-ondas,

capaz de atingir temperaturas acima de 1300 °C em apenas 6 minutos de exposição [83]. Além

disso, sua reação de combustão incompleta gera uma atmosfera de CO, que possui caráter

redutor suficiente para gerar o S2- a partir de S, favorecendo a formação dos materiais

oxissulfeltos em questão. É importante frisar que, nos materiais co-dopados com titânio (TiO2),

espera-se a redução do TiIV a Ti3+, uma vez que seu potencial de redução é bem próximo do S,

conforme as equações 1.11 e 1.12 [76].

S(s) + 2 e- → S2-(s) E° = -0,48 V

TiO2(s) → Ti2O3(s) E° = -0,56 V

A preparação dos materiais de oxissulfetos luminescentes foi conduzido pela metodologia

assistida por micro-ondas, cujo tempo de cada tratamento térmico foi de apenas 25 minutos. A

descrição detalhada dos procedimentos de síntese será apresentada no Capítulo 3.

(1.11)

(1.12)

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Capítulo 2

Objetivos

___________________________________________________________________________

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2. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo principal a preparação de oxissulfetos de terras raras pelo

método da síntese assistida por micro-ondas para estudar as propriedades de fotoluminescência

e de luminescência persistente na região do visível–NIR. Os objetivos específicos são:

Preparar os seguintes materiais pela metodologia de síntese no estado sólido assistida por

micro-ondas (TR3+: La, Gd e Y):

– TR2O2S

– TR2O2S:Eu3+ – TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

– TR2O2S:Yb3+ – TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

Caracterizar os materiais por meio das seguintes técnicas: Difração de Raios X (DRX),

Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com Energia Dispersiva de Raios X (EDS),

Espectroscopia de Absorção no Infravermelho (IV) e Espectroscopia de absorção de raios X

próximo à borda (XANES) para a borda-K do enxofre.

Estudar as propriedades fotoluminescentes dos materiais a partir dos dados espectrais de

excitação, emissão, tempo de vida de emissão, termoluminescência, espectroscopia na região

do UV vácuo e luminescência persistente.

Desenvolver os mecanismos de luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV.

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Capítulo 3

Parte Experimental

___________________________________________________________________________

3.1 Preparação dos materiais

3.2 Medidas Instrumentais

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3. PARTE EXPERIMENTAL

Neste trabalho foram preparados os materiais luminescentes a partir das matrizes TR2O2S

(TR3+: La, Gd e Y) não dopadas, bem como da matriz de oxissulfeto dopada com os íons Eu3+

e Yb3+ e co-dopada com magnésio e titânio: TR2O2S:Ln3+ e TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (Ln3+:

Eu e Yb), utilizando a síntese no estado sólido assistida por micro-ondas. O objetivo principal

desta dissertação consiste na preparação e no estudo das propriedades fotoluminescentes de

materiais que também apresentam o fenômeno de Luminescência persistente. Este capítulo está

dividido em duas seções: primeiramente foi descrito o procedimento de preparação dos

materiais pelo método assistido por micro-ondas, e em seguida foram apresentadas as técnicas

experimentais de caracterização e de estudo da fotoluminescência dos compostos.

3.1 Preparação dos materiais

Na Tabela 3.1 encontram-se todos os reagentes e substâncias empregados na síntese dos

materiais pela metodologia assistida por micro-ondas.

Tabela 3.1 Substâncias químicas utilizadas na preparação dos materiais luminescentes e suas

procedências.

Substância Procedência

La2O3 Aldrich (99,6%)

Gd2O3 CSTARM (99,9 %)

Y2O3 CSTARM (99,99 %)

Eu2O3 CSTARM (99,99 %)

Yb2O3 CSTARM (99,99 %)

MgCO3 Merck (99,9 %)

TiO2 Merck (99,5 %)

S Synth (99,5 %)

Na2CO3 Vetec (99,5 %)

Carvão ativo Synth

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Na preparação das matrizes TR2O2S não dopadas (TR3+: La, Gd e Y) assistida por micro-

ondas, os óxidos precursores TR2O3 foram macerados em um cadinho de porcelana juntamente

com enxofre elementar e Na2CO3, utilizando acetona para auxiliar a homogeneização. O

composto de Na2CO3 atua como um fluxo, ou fundente, facilitando a difusão das substâncias

durante o tratamento térmico. Para todos os materiais preparados, a proporção empregada foi

de 1 TR2O3 : 0,25 Na2CO3.

A reação de formação dos oxissulfetos a partir dos óxidos de terras raras e enxofre

elementar apresenta proporção estequiométrica 1:1, conforme a Equação 3.1

TR2O3(s) + S(s) TR2O2S(s) + ½ O2(g) (3.1)

Na preparação das matrizes La2O2S e Gd2O2S, a proporção estequiométrica 1 TR2O3 : 1 S

foi mantida, adicionando-se um excesso de S de 7,5 %-mol. Por outro lado, na síntese da matriz

Y2O2S, a proporção dos precursores foi de 1 Y2O3 : 3 S, evidenciando um grande excesso de

enxofre para otimizar a reação.

Após a homogeneização dos reagentes, 0,5 g do precursor resultante foram adicionados a

um cadinho de alumina de 5 mL. Este cadinho foi disposto dentro de um cadinho de 50 mL,

previamente preenchido com o susceptor de micro-ondas (carvão ativo), de modo que o

susceptor envolveu todo o cadinho menor (Figura 3.1a). Para isolar termicamente o sistema, o

conjunto de cadinhos foi tampado e alojado no interior de um bloco de alumina (Figura 3.1b),

que, então, foi inserido no forno de micro-ondas sobre uma manta de lã de vidro (Figura 3.1c).

CO(g)

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Figura 3.1 a) Disposição dos cadinhos para síntese, contendo o precursor (interno) e o

susceptor de micro-ondas (externo); b) Arranjo dos cadinhos no bloco de alumina (isolante

térmico); c) Acomodação do sistema no forno de micro-ondas.

No caso dos materiais de oxissulfetos dopados, foi utilizado o mesmo procedimento de

preparação das matrizes. Portanto, foram adicionados os íons dopantes Eu3+ e Yb3+ nas

concentrações 0,5 %-mol e os íons co-dopantes Mg2+ e Ti3+/IV nas concentrações 4,5 e 1,5 %-

mol, respectivamente, de acordo com a Tabela 3.2.

Tabela 3.2 Porcentagem dos dopantes adicionadas aos materiais TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y).

Material Porcentagem dos dopantes

TR2O2S s/ dopagem

TR2O2S:Eu3+ 0,5% Eu3+

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

0,5% Eu3+

4,5% Mg2+

1,5% Ti3+/IV

TR2O2S:Yb3+ 0,5% Yb3+

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

0,5% Yb3+

4,5% Mg2+

1,5% Ti3+/IV

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É importante ressaltar que alguns dos materiais, por exemplo, Y2O2S:Eu3+ e

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV também foram preparados em diferentes concentrações do dopante

Eu3+ (1,0 e 5,0 %). O mesmo foi feito para os materiais La2O2S:Yb3+ e

La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV, preparados com 1,0 e 5,0 % do dopante Yb3+. Esse procedimento

experimental foi incrementado com o intuito de investigar as propriedades intrínsecas da

luminescência em função da concentração do íon ativador.

A programação do micro-ondas para a síntese dos materiais foi feita da seguinte maneira

(P: potência): P = 900 W por 10 min + P = 800 W por 15 min, totalizando 25 minutos de

tratamento. Após este procedimento, os materiais foram novamente macerados, adicionando-

se as mesmas quantidades excedentes de enxofre no primeiro tratamento térmico, e levados ao

forno de micro-ondas pela segunda vez, seguindo a mesma programação. A Figura 3.2

apresenta o fluxograma de síntese para os materiais TR2O2S e TR2O2S dopados.

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Figura 3.2 Fluxograma de síntese para os materiais TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y) preparados

pelo método de síntese assistida por micro-ondas.

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3.2 Medidas Instrumentais

3.2.1 Difratometria de Raios X – método do pó (DRX)

Os difratogramas de raios X (método do pó) dos materiais foram registrados através do

difratômetro de raios X MINIFLEX-RIGAKU, pertencente ao Centro de Química e Meio

Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (CQMA–IPEN). Os difratogramas

dos materiais foram registrados na faixa de 2θ de 10–80° com passo 0,05°, utilizando a radiação

CuKα1 λ = 1,5406 Å.

O tamanho médio de cristalito dos materiais foi estimado pela equação de Scherrer

(Equação 3.2), onde D (m) é o tamanho médio de cristalito, λ (m) é o comprimento de onda do

raio X, β (rad) é a largura a meia altura do pico escolhido (FWHM: full width at half maximum)

e θ é metade do ângulo 2θ experimental [1,2].

D = 0,9 λ

β cosθ (3.2)

β2 = β

amostra

2- β

referência

2 (3.3)

Os ângulos 2θ das matrizes TR2O2S variam levemente em função do cátion da matriz no

plano hkl = 101 tais como: La2O2S (28,5 °), Gd2O2S (29,9 °) e Y2O2S (30,4 °). O alargamento

das reflexões presentes nos difratogramas das amostras é atribuído ao difratômetro. Portanto,

foi corrigido usando como referência a largura a meia altura da reflexão em 32,8 ° (hkl = 200)

do NaCl monocristalino (Equação 3.3).

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60

3.2.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

As micrografias eletrônicas de varredura foram obtidas em um microscópio Field Emission

Scanning Electrons Microscope da JEOL, modelo JSM 7401F, equipado com microssonda de

energia dispersiva de raios X (EDS) da NORAN Instruments Model System SIX, pertencente a

Central Analítica do Instituto de Química da USP (IQ–USP). Os materiais foram dispersados

em isopropanol, tratados com ultrassom por 30 minutos e, por fim, depositados em porta

amostras de carbono (stubs) previamente lixados.

3.2.3 Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV)

Os espectros de absorção na região do infravermelho dos materiais foram registrados no

espectrômetro FTIR Bomem MB 100, presente na Central Analítica do Instituto de Química da

USP, no intervalo de 400 a 4000 cm-1 (resolução espectral 4,0 cm-1), usando pastilhas de KBr.

3.2.4 Espectroscopia de absorção de raios X próximo à borda (XANES)

A espectroscopia de estrutura fina de absorção de raios X - XAFS (X-ray Absorption Fine

Structure) se baseia no efeito fotoelétrico por raios X, onde um elemento libera um elétron de

um orbital interno após a absorção de um fóton com energia na região dos raios X (Figura 3.3).

Um espectro típico XAFS apresenta duas regiões, uma borda de absorção (XANES – X-ray

Absorption Near Edge Structure) e uma região de oscilações que se estende a energias acima

da borda (EXAFS – Extended X-ray Absorption Fine Structure) (Figura 3.4).

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61

Figura 3.3 Ilustração da absorção de raios X por um elemento, seguida da ejeção de um elétron

interno (adaptado da referência [3]).

Neste trabalho foi estudada a região da borda, chamada de Estrutura de alta resolução da

borda de absorção (XANES). Nessa região espectral, o elétron é ejetado do átomo absorvedor

com baixa energia cinética, sendo assim mais sensível a detalhes da estrutura eletrônica,

fornecendo informações importantes sobre o estado de oxidação deste elemento. Portanto,

consiste em uma poderosa ferramenta para elucidar os diferentes estados de oxidação dos

elementos [3].

Ener

gia

Raios X

Banda de valência

Banda de condução

1s

2s

2p

3s3p3d

K

L1

L2, L3

M1

M2, M3

M4, M5

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Figura 3.4 Espectro de XAFS para a borda K do Fe para o composto FeO, mostrando as regiões

de absorção XANES e EXAFS (adaptado da referência [3]).

As medidas espectrais de XANES para o elemento S das matrizes TR2O2S não dopadas

(TR3+: La, Gd e Y) foram realizadas na linha de luz SXS (Soft X-ray Spectroscopy) do

Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas-SP. Os espectros de absorção

foram obtidos na região 2460–2500 eV com resolução espectral ΔE = 0,45 eV, usando um

monocromador de cristal duplo de Si (111). Foi empregado o sistema de detecção Total

Electron Yield (Keitlhey electrometer, model 6514). Também foram registrados os espectros

XANES dos compostos FeS, S, Na2SO3 e CaSO4, a fim de obter padrões espectrais para os

diferentes estados de oxidação do enxofre (2-, 0, 4+ e 6+, respectivamente).

3.2.5 Espectroscopia de fotoluminescência na região do UV–Visível

Os espectros de excitação e emissão das matrizes dopadas com o íon Eu3+ (TR2O2S:Eu3+)

e co-dopadas (TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV) foram registrados a temperatura ambiente (298 K) e

a baixa temperatura (77 K), usando um espectrofluorímetro SPEX - Fluorolog 2. Foi utilizada

uma lâmpada de Xenônio de 450 W como fonte de excitação, bem como monocromadores

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duplos de excitação e emissão SPEX 1680. Os diagramas de cromaticidade CIE foram

determinados a partir dos espectros de emissão com o auxílio do software SpectraLux 2.0 [4].

As curvas de decaimento da luminescência da transição 5D0 → 7F2 para os materiais

dopados com Eu3+ foram registradas em um espectrofluorímetro Horiba Jobin Yvon - Fluorolog

3, pertencente ao Laboratório Multiusuário de Espectroscopia Óptica Avançada (IQ–

UNICAMP). Os materiais foram excitados na banda de absorção atribuída a transição

7F0 → 5L6 do íon Eu3+ (396 nm), empregando uma lâmpada pulsada de Xenônio de 150 W e,

como sistema de detecção, utilizou-se uma fotomultiplicadora Hamamatsu R928P.

As curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV foram registradas no intervalo de 0 a 1500 s, a temperatura ambiente.

As amostras foram previamente excitadas na banda de transferência de carga ligante-metal

LMCT S2- → Eu3+, no período de 5 minutos.

No caso dos materiais dopados com Yb3+ (TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV), os

espectros de excitação e emissão foram registrados utilizando um espectrofluorímetro Horiba

Jobin Yvon - Fluorolog 3, com lâmpada de Xenônio de 450 W como fonte de excitação,

monocromadores de excitação e emissão simples (iHR320) e detector Synapse Horiba Jobin

Yvon E2V CCD30 com resolução de 1024x256 pixels. Os dados foram coletados em ângulo de

22,5° (front face). O decaimento da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV foi registrado no intervalo de 0 a 240 s, a temperatura ambiente, com

excitação prévia das amostras por 10 minutos.

Vale ressaltar que os espectros de emissão da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV foram registrados em função do tempo,

no intervalo de 0 a 240 s, excitando as amostras previamente por 2 e 5 minutos, no caso dos

materiais dopados com Eu3+, e 10 minutos para os compostos dopados com Yb3+.

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64

3.2.6 Micrografias de fluorescência na região Vis–NIR

Com o objetivo de registrar a emissão na região do NIR, foram realizadas micrografias de

fluorescência do material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV, usando um microscópio Nikon Eclipse

com 10x de magnificação ótica. Um laser YAG:Nd3+ (λ = 355 nm) foi utilizado como fonte de

excitação. As imagens foram registradas empregando uma câmera Nikon NS-QI1, com tempo

de integração ajustado para 4,0 segundos. Os espectros de emissão foram registrados a partir de

uma fotomultiplicadora PMT F900, empregando monocromadores de emissão simples e filtros

tipo edge de 550 e 715 nm. O aparelho procedente da Edinburgh Instruments pertence ao

Laboratório de Processos Foto-induzidos e Interface do IQ–USP.

3.2.7 Termoluminescência (TL)

A termoluminescência ou luminescência termoestimulada é um processo de emissão de luz

que ocorre através do aquecimento de uma amostra após cessada a absorção de energia

luminosa. O fenômeno de TL evidencia a presença de energia luminosa armazenada em um

material por meio de elétrons ou buracos armadilhados nos defeitos do sistema (ex: vacâncias)

[5,6]. De forma geral, a termoluminescência pode ser resumida em três processos (Figura 3.5):

1) absorção de luz, 2) armadilhamento do elétron ou buraco (armazenamento de energia) e 3)

emissão de luz após a absorção de energia térmica.

Figura 3.5 Esquema do fenômeno da termoluminescência: 1) absorção de luz, 2) processo de

armadilhamento e 3) emissão de luz após a absorção de energia térmica [7].

(1) (2) (3)

Banda de Condução

Banda de Valência

kT

Armadilha

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O esquema de termoluminescência ilustrado na Figura 3.5 pode ser considerado como de

cinética de primeira ou segunda ordem. Na cinética de primeira ordem, o elétron ou buraco

armadilhado retorna para banda de condução e sofre decaimento radiativo (equação 3.4). Na

cinética de segunda ordem, o elétron ou buraco que retorna para a banda de condução pode

decair emitindo luz ou ser novamente armadilhado (equação 3.5) [6,8].

ρ = τ-1 = se(-EkT⁄ )

ρ' = τ-1 = s

Ne(-E

kT⁄ )

Nas equações 3.4 e 3.5, é a probabilidade do elétron ou buraco ser liberado da armadilha

(’: probabilidade de segunda ordem), é o tempo médio que o elétron ou buraco permanece

na armadilha, s é o fator de frequência (em s-1), que fornece informações acerca da facilidade

do elétron sair da armadilha, N é a concentração de armadilhas disponíveis com mesma energia,

E é a energia da armadilha em relação à banda de condução ou banda de valência, k é a constante

de Boltzmann e T é a temperatura em Kelvin [6]. Nota-se que o fenômeno de

termoluminescência é controlado pelo termo de distribuição de Boltzmann. Portanto, se a

armadilha possui energia E >> kT, o elétron permanecerá armazenado nessa armadilha por um

longo período de tempo.

As curvas de termoluminescência dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV foram obtidas

utilizando o sistema Daybreak TL Reader, modelo 1100, equipado com uma fotomultiplicadora

bialkali EMI 9235QA, contendo filtros Corning 7-59 e Schott BG-39 (em frente à

fotomultiplicadora), pertencente ao Laboratório de Cristais Iônicos, Filmes Finos e Datação do

Instituto de Física da USP (LACIFID). As curvas foram registradas com taxa de aquecimento

linear de 5 °Cs-1 no intervalo de temperatura de 50 a 400 °C, excitando previamente os

materiais em 365 nm, por 5 min com uma lâmpada Cole Parmer 6 W. Devido à insensibilidade

(3.4)

(3.5)

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da fotomultiplicadora na região do infravermelho próximo, não foi possível obter os dados de

TL para os materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV.

3.2.8 Espectroscopia com radiação síncrotron na região do UV–UV vácuo

Os espectros de excitação das matrizes TR2O2S não dopadas (TR3+: La, Gd e Y) utilizando

radiação Síncrotron na região do UV–UV vácuo foram registrados na faixa de 3,6 a 13,0 eV

(~345 a 95 nm), a temperatura ambiente na linha de luz TGM do Laboratório Nacional de Luz

Síncrotron (LNLS), Campinas-SP. Ressalta-se que o composto Salicilato de Sódio (C7H5NaO3,

ponto de fusão: 200 °C) foi utilizado com o objetivo de corrigir os espectros de excitação. O

sinal de excitação foi coletado a partir de uma fibra óptica Ocean Optics com núcleo de 1 mm,

conectada a uma fotomultiplicadora Hamamatsu R928, que opera com tensão de -1000 V.

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Referências

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York: Wiley, 1959. p. 491.

2. SHANNON, R.D. Revised effective ionic-radii and systematic studies of interatomic

distances in halides and chalcogenides. Acta Crystallographica Section A, v. 32, n. 1,

p. 751–767, 1976.

3. NEWVILLE, M. Fundamentals of XAFS. Reviews in Mineralogy and Geochemistry,

v. 78, p. 33–74, 2014.

4. SANTA-CRUZ, P.A.; TELES, F.S. Spectra Lux Software v.2.0, Recife: Ponto Quântico

Nanodispositivos, Universidade Federal de Pernambuco, 2003.

5. CARVALHO, J. M. Síntese e investigação espectroscópica de novos fósforos dopados

com Ti e Ce3+ para aplicação em luminescência persistente e iluminação de estado

sólido. 2015, 220f, Tese (Doutorado em Química) - Instituto de Química, Universidade

de São Paulo, São Paulo, 2015.

6. SUNTA, C.M.; AYTA, W.E.F; CHUBACI J.F.D; WATANABE, S. A critical look at the

kinetic models of thermoluminescence - II. Non-first order kinetics. Journal of Physics

D: Applied Physics, v. 38, n. 1, p. 95–102, 2005.

7. RODRIGUES, L.C.V. Preparação e desenvolvimento do mecanismo da luminescência

persistente de materiais dopados com íons terras raras. 2012, 208f, Tese (Doutorado em

Química) - Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

8. CHUNG, K.S.; CHOE, H.S.; LEE, J.I.; KIM, J.L.; CHANG, S.Y. A computer program

for the deconvolution of thermoluminescence glow curves. Radiation Protection

Dosimetry, v. 115, n. 1–4, p. 345–349, 2005.

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Capítulo 4

Caracterização

___________________________________________________________________________

4.1 Difratometria de Raios X – método do pó (DRX)

4.2 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

4.3 Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV)

4.4 Espectroscopia de absorção de raios X próximo à borda (XANES)

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4. CARACTERIZAÇÃO

Com o intuito de obter informações estruturais e morfológicas, os materiais de oxissulfetos

de terras raras preparados pelo método de síntese assistida por micro-ondas foram

caracterizados pelas técnicas de Difratometria de Raios X – método do pó (DRX), Microscopia

Eletrônica de Varredura (MEV) acoplada à microssonda de Energia Dispersiva de raios X

(EDS), Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV) e Espectroscopia de absorção de

raios X próximo à borda (XANES).

4.1 Difratometria de Raios X – método do pó (DRX)

Os difratogramas de raios X das matrizes TR2O2S não dopadas e dos materiais

TR2O2S:Eu3+, TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) (Figura 4.1) indicam que todos os materiais apresentam estrutura cristalina

trigonal (grupo espacial P3m1 Nº 164, Z:1, a = 3.784 e c = 6.589 Å) [1]. Neste grupo cristalino,

os íons TR3+ ocupam sítios heptacoordenados de simetria local C3v, ligados a 4 átomos e O e 3

átomos de S.

De acordo com difratogramas de raios X (Figura 4.1), os materiais preparados exibem alta

pureza cristalográfica, uma vez que não foram observadas impurezas oriundas dos precursores

(TR2O3, S, Na2CO3), exceto para os materiais de Y2O2S, que apresentam uma pequena

quantidade de Y2O3. A reatividade dos óxidos TR2O3 depende dos valores de suas entalpias de

formação, que se tornam mais negativas com a diminuição do raio do íon TR3+

(– ∆Hfo TR2O3: La < Gd < Y) [2,3]. O caráter de ácido duro das terras raras aumenta com a

diminuição do raio iônico de La3+ Lu3+ e, consequentemente, as interações TR–O tornam-se

mais fortes, ao passo que as interações TR–S tornam-se mais fracas, devido ao caráter mais

mole do S2-. Portanto, a facilidade de formação dos oxissulfetos TR2O2S segue a tendência

La > Gd > Y > Lu, sendo o Lu2O2S muito mais difícil de ser sintetizado.

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70

10 20 30 40 50 60 70

Inte

nsid

ade

norm

aliz

ad

a / U

nid

. A

rb.

La2O

2S

Yb3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Yb3+

Eu3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Eu3+

Não dopado

La2O

2S (27-263)

10 20 30 40 50 60 70

2 / graus

Gd2O

2S

Yb3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Yb3+

Eu3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Eu3+

Não dopado

Gd2O

2S (26-1422)

10 20 30 40 50 60 70

Y2O

2S

* *

* *

**

**

* Y2O

3

* *

Yb3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Yb3+

Eu3+

,Mg2+

,Ti3+/IV

Eu3+

Não dopado

Y2O

2S (24-1424)

Figura 4.1 Difratograma de raios X dos materiais TR2O2S não dopados, TR2O2S:Eu3+, TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, TR2O2S:Yb3+,

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

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Na preparação dos materiais Y2O2S foi adicionado um grande excesso de enxofre na

proporção 1 Y2O3 : 3 S. Mesmo assim, foi observado nos difratogramas de raios X (Figura 4.1)

picos de difração de baixa intensidade (29 e 34 °), indicando a presença de uma pequena

quantidade de Y2O3 no produto final, que pode ser devido a uma porção que não reagiu, ou

oriunda da decomposição térmica do próprio Y2O2S [4]. Em relação aos fatores entrópicos, a

formação dos oxissulfetos TR2O2S é igualmente desfavorável para as três matrizes TR3+: La,

Gd e Y, ou seja, não influenciam na reatividade relativa entre os óxidos precursores.

As Leis de Hume-Rothery (Lei de Vegard) estabelecem uma diferença máxima de 15 %

entre os raios do íon dopante e do cátion da matriz para haver uma completa solubilização [5,6].

Desse modo, os dopantes Eu3+ e Yb3+ alocam-se nos sítios C3v, contudo, a substituição dos íons

TR3+ pelos co-dopantes Mg2+ e Ti3+/IV pode gerar maiores distorções na rede cristalina das

matrizes TR2O2S, tanto pelas diferenças de raio quanto pela compensação de carga.

Observa-se que os valores de tamanho médio de cristalitos calculados pela equação de

Scherrer (Figura 4.2) variam pouco quando são introduzidos os dopantes e co-dopantes,

principalmente em relação a matriz La2O2S. De forma geral, essa característica está relacionada

com a semelhança dos raios iônicos dos íons TR3+ das matrizes. Como o raio do La3+ é o maior

dos demais cátions em questão, a sua substituição pelos íons Eu3+, Yb3+, Mg2+ e Ti3+/IV tem um

menor efeito na distorção da célula unitária da matriz.

A mesma tendência também é observada para os materiais de Gd2O2S, entretanto, o valor

calculado do tamanho médio de cristalito para o material Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV é destoante

dos demais. Vale informar que a síntese deste material foi refeita quatro vezes, mesmo assim

os seus valores de tamanho de cristalito médio encontram-se sempre na faixa 36–38 nm,

indicando uma maior perturbação para este sistema. O comportamento anômalo deste material

específico necessita de um estudo mais aprofundado. É observado uma maior variação nos

tamanhos dos cristalitos para os materiais de Y2O2S em função dos diferentes dopantes, devido

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ao menor raio iônico do Y3+. Ademais, pode ser devido a presença de uma pequena quantidade

de Y2O3 evidenciada pelos dados DRX, que pode influenciar os valores calculados,

influenciando maiores distorções na rede cristalina.

Tabela 4.1 Tamanhos médios de cristalito das matrizes TR2O2S não-dopadas (TR3+: La, Gd e

Y) e dos materiais TR2O2S:Eu3+, TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, TR2O2S:Yb3+ e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV.

Ñdopado Eu EuMgTi Yb YbMgTi

30

40

50

60

70

80

90

100

Dopagem

Tam

anho m

édio

de c

rista

lito / n

m

La2O

2S

Gd2O

2S

Y2O

2S

Figura 4.2 Tamanhos médios de cristalito das matrizes em função dos dopantes. Nota-se a

pouca variação dos valores, especialmente para os materiais La2O2S, e o valor destoante

encontrado para o material Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV.

La2O2S Gd2O2S Y2O2S

Não dopado 93 78 78

Eu3+ 93 83 68

Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 101 36 82

Yb3+ 92 81 82

Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV 101 87 68

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4.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

As imagens de microscopia eletrônica de varredura dos materiais TR2O2S:Eu3+ (TR3+: La,

Gd e Y) foram registradas a fim de averiguar as caraterísticas morfológicas dos oxissulfetos de

terras raras preparados pelo método assistido por micro-ondas (Figura 4.3). Observa-se que as

partículas dos materiais Gd2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+ são semelhantes, pois apresentam

distribuição de tamanho parecida (0,5–2,0 μm) e um certo grau de sinterização.

No material Y2O2S:Eu3+, os cristais apresentam faces bem definidas e é possível observar

partículas com simetria hexagonal, oriundas do sistema cristalino trigonal (grupo espacial

P3m1). Por outro lado, os cristais referentes ao material Gd2O2S:Eu3+ apresentam bordas mais

arredondadas e um maior grau de sinterização. Os tamanhos relativos de partícula sugerem que

existe um crescimento baseado no mecanismo de amadurecimento de Ostwald [7], apesar do

curto tempo de síntese em micro-ondas.

Figura 4.3 Micrografias dos materiais TR2O2S:Eu3+ – TR3+: La (esquerda), Gd (centro) e

Y (direita), sob magnificação de X15000.

No caso dos materiais La2O2S:Eu3+, as partículas apresentam um elevado grau de

aglomeração e sinterização, corroborando com a maior reatividade do La2O3 em relação aos

óxidos Gd2O3 e Y2O3. Além do mais, o ponto de fusão do La2O3 (2256 °C) é relativamente

menor que os pontos de fusão do Gd2O3 (2339, °C) e do Y2O3 (2436 °C) [3], o que também

contribui com os processos de sinterização.

1 μmX15000

1 μmX15000

1 μmX15000

TR3+: La Gd Y

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A partir das imagens de MEV dos materiais Gd2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+ foram observadas

partículas de morfologia cilíndrica e de menor tamanho quando comparadas aos cristais

facetados presentes nessas amostras (Figura 4.4). Com estas informações foi possível

evidenciar por meio das análises de energia dispersiva de raios X (EDS) (Figura 4.4) que os

cristais facetados (“pontos 1”) correspondem à fase oxissulfetos, como esperado. Já os dados

de EDS confirmaram que as partículas cilíndricas (“pontos 2”) não apresentam o elemento S,

de acordo com a proporção TR:O, sugerindo que consistem de pequenas partículas de óxidos

TR2O3. Não é comum partículas de óxidos de terras raras apresentarem morfologia cilíndrica,

o que sugere que essas partículas se formaram devido ao tratamento térmico assistindo pela

radiação micro-ondas, possivelmente pela decomposição dos oxissulfetos formados.

Figura 4.4 Micrografias de EDS dos materiais Gd2O2S:Eu3+ (esquerda) e Y2O2S:Eu3+ (direita),

sob magnificação de X15000, apresentando os valores %-mol dos elementos TR (Gd e Y), O e

S sob os pontos demarcados.

Apesar da presença destas pequenas impurezas de TR2O3, os materiais TR2O2S:Eu3+

obtidos apresentam uma dispersão homogênea de partículas, indicando que a metodologia

1 2

Gd (%) 49,59 36,89

O (%) 37,56 56,02

S (%) 12,85 0,79

12

1 μmX15000

Y

1 2

Y (%) 31,36 22,42

O (%) 50,55 73,17

S (%) 18,28 0,00

1 μmX15000

TR3+: Gd

1

2

1 μm

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75

assistida por micro-ondas é capaz de preparar materiais com alta homogeneidade, devido ao

baixo gradiente de temperatura sobre a amostra durante a síntese.

4.3 Espectroscopia de absorção no infravermelho (IV)

Observa-se que os espectros de absorção no infravermelho das matrizes TR2O2S não

dopadas e dos materiais TR2O2S:Eu3+ (Figura 4.5) são semelhantes entre si, mostrando que a

influência do dopante Eu3+ é muito pequena. Além da banda de absorção larga relativa ao

estiramento O–H (~3500 cm-1), oriunda da umidade da pastilha de KBr, é possível observar

bandas de absorção atribuídas aos estiramentos TR–S e TR–O (400–520 cm-1) [9–11]. A

presença dessas bandas de absorção na região de baixa energia indica a efetiva formação das

matrizes TR2O2S. Observa-se também o deslocamento dessas bandas para maiores frequências

com a diminuição do raio do cátion da matriz do La3+ ao Y3+.

As bandas de absorção observáveis em 1635 cm-1 em todos os compostos foram atribuídas

ao estiramento C=O [12]. Este dado indica a presença de carbonato nas amostras, oriunda tanto

da decomposição incompleta do fluxo de Na2CO3 empregado, quanto da adsorção de CO2(g).

As duas bandas de absorção observadas em 1100 e 1190 cm-1 estão relacionadas aos modos

vibracionais do íon SO42- [12,16], o que não era esperado, pois a estrutura dos oxissulfetos não

apresenta ligações S–O. Este dado sugere que o elemento S sofreu oxidação após o tratamento

térmico assistido por micro-ondas, o que é plausível, visto que os processos de aquecimento

dielétrico assistido por micro-ondas para estes materiais não são completamente elucidados.

Para investigar os estados de oxidação do S e compreender os processos ocorridos durante a

síntese dos materiais, foram realizadas análises espectrais de XANES das matrizes TR2O2S não

dopadas.

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76

500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

Y2O

2S:Eu

3+

Y2O

2S

Gd2O

2S:Eu

3+

Gd2O

2S

La2O

2S:Eu

3+

293 KT

ran

sm

itân

cia

/ %

Número de onda / cm-1

TR2O

2S

TR2O

2S:Eu

3+

Pastilha de KBr

La2O

2S

Figura 4.5 Espectros de IV das matrizes TR2O2S não dopadas e dos materiais TR2O2S:Eu3+

(esquerda); detalhe de 400 a 2000 cm-1 para os espectros de IV das matrizes TR2O2S não

dopadas (direita).

4.4 Espectroscopia de absorção de raios X próximo à borda (XANES)

A espectroscopia de absorção de raios X na região de borda (XANES) utilizando radiação

síncrotron é uma técnica poderosa na determinação dos estados de oxidação do enxofre em

diferentes ambientes químicos. Sabe-se que quanto maior o estado de oxidação, maior a energia

das bordas de absorção K e LII,III do enxofre, por exemplo, a energia da borda-K pode variar de

2470 a 2482 eV desde das espécies sulfetos (S2-) até os sulfatos (SVI) [13].

Os perfis espectrais de XANES dos padrões Na2SO3, CaSO4, FeS e S elementar foram

ilustrados na Figura 4.6 e estão de acordo com a literatura [13,14].

500 750 1000 1250 1500 1750 2000T

ran

sm

itân

cia

/ %

La2O

2S

Gd2O

2S

Numero de onda / cm-1

TR2O

2S

TRS

TRO SO4

2- C=O

Y2O

2S

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77

2460 2470 2480 2490 2500

2482 eV

2471 eV

2474 eV

Na2SO

3

S

FeS

Y2O

2S

Gd2O

2S

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Energia / eV

XANESS, borda-K

La2O

2S

CaSO4

Figura 4.6 Espectros XANES das matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y) não dopadas e dos

padrões medidos para análise dos estados de oxidação do enxofre.

As matrizes TR2O2S apresentam perfis espectrais de XANES semelhantes (Figura 4.6), em

especial os compostos La2O2S e Y2O2S, exibindo duas bandas de absorção de baixa intensidade

em 2474 e 2477 eV e uma banda de absorção de maior intensidade em torno de 2482 eV. A

banda de absorção localizada em 2474 eV está relacionada à borda-K da espécie S2-, valor um

pouco deslocado em relação à borda-K no padrão FeS (2471 eV) (Figura 4.6). Entretanto, sabe-

se que a posição de energia da borda-K da espécie S2- está intimamente ligada ao ambiente

químico em volta dos íons S2-, podendo variar de 2470 a 2475 eV, consistente com a referência

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78

[14]. O ambiente químico experimentado pelos íons S2- nas matrizes TR2O2S e no padrão FeS

é bastante distinto devido à natureza dos íons metálicos em questão, de modo que o valor de

2474 eV é coerente para a borda-K dos materiais TR2O2S.

A banda de absorção em torno de 2482 eV corresponde à região de absorção da borda-K

para o maior estado de oxidação do enxofre (SVI), conforme o espectro XANES do padrão de

CaSO4 (Figura 4.6). A presença desta banda de absorção é um indicativo da espécie SO42-,

sugerindo que as matrizes TR2O2S apresentam uma determinada quantidade íons sulfato.

Também é possível observar que a banda de absorção para a espécie SO42- é menos intensa na

matriz Gd2O2S quando comparada com as matrizes La2O2S e Y2O2S, indicando uma menor

quantidade de espécies SO42- na matriz Gd2O2S. Este resultado corrobora com os dados de

infravermelho, pois são observadas bandas de absorção IV menos intensas relacionadas aos

modos vibracionais νSO42- nos materiais de Gd2O2S.

A presença de espécies SO42- nas matrizes TR2O2S se dá pelos processos químicos

ocorridos durante a síntese desses materiais. A reação de formação dos oxissulfetos consiste

basicamente no aquecimento dielétrico dos precursores TR2O3, S e Na2CO3 à altas temperaturas

(~1500 °C), provocando a redução do enxofre elementar a S2- a partir da atmosfera de CO(g)

gerada pela combustão incompleta do susceptor de micro-ondas (carvão ativo). Na temperatura

de síntese, o fluxo de Na2CO3 promove a difusão das substâncias, favorecendo a formação dos

TR2O2S. Contudo, de acordo com Machida e colaboradores [15], processos de interconversão

TR2O2S/TR2O2SO4 são passíveis de ocorrer sob altas temperaturas e em função da atmosfera

redutora/oxidante. Desse modo, as espécies oxidadas de S, ou SO42-, são possivelmente

originadas após a formação da fase TR2O2S. Além disso, a formação dessas espécies SO42- deve

ser preferencial na superfície dos materiais, onde há um maior contato com a atmosfera do meio

reacional.

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79

A diferença da quantidade de íons SO42- observado para as matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd

e Y) se deve a características intrínsecas destes sistemas. O caráter mais duro do Y3+ confere

uma menor estabilidade para o Y2O2S, visto que as interações Y–S são relativamente mais

fracas que as interações La–S e Gd–S. Portanto, a formação das espécies SO42- torna-se

favorecida sob as altas temperaturas atingidas na síntese. No entanto, a presença de espécies

SO42- nas matrizes La2O2S é devida a morfologia das partículas (Figura 4.3). Em vez das

partículas do composto La2O2S apresentarem cristais bem definidos, mostram-se aglomeradas

e rugosas, o que deve favorecer os processos de oxidação de superfície. Já a matriz Gd2O2S é

um ponto intermediário entre os compostos La2O2S e Y2O2S, pois apresenta interações Gd–S

relativamente fortes e cristais cuja superfícies são bem definidas, dificultando a formação de

espécies oxidadas de S.

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Capítulo 5

Estudo da

fotoluminescência

___________________________________________________________________________

5.1 Materiais dopados com o íon Eu3+

5.2 Materiais dopados com o íon Yb3+

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5. ESTUDO DA FOTOLUMINESCÊNCIA

Vale destacar que neste capítulo será reportado o estudo da fotoluminescência

“convencional” dos materiais dopados com Eu3+ (TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV) e

dopados com Yb3+ (TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV). Desse modo, o fenômeno da

Luminescência Persistente dos materiais em questão será discutido no capítulo 6.

Os níveis de energia dos íons európio e itérbio trivalentes são muito distintos (Figura 5.1).

O íon Eu3+ (4f6) apresenta 3003 níveis de energia quando submetido ao campo ligante, dos

quais os principais são os níveis de menor energia 7F0-6, onde 7F0 é estado fundamental, e os

níveis emissores 5D0-3. A principal banda de emissão do íon Eu3+ advém da transição 5D0 → 7F2,

e a diferença de energia entre os níveis 5D0 e 7F2 gira em torno de 16300 cm-1, originando bandas

de emissão finas na região do vermelho. Também é possível observar bandas de emissão

provenientes dos níveis mais excitados 5D1-3 e, portanto, a cor de emissão resultante pode ser

deslocada para regiões de maior energia [1,2].

Por sua vez, o íon Yb3+ (4f13) apresenta apenas dois níveis de energia, 2F7/2 (fundamental)

e 2F5/2 (excitado), cuja diferença de energia é de aproximadamente 10200 cm-1 (Figura 5.1), o

que origina uma emissão na região do infravermelho próximo (Near infrared - NIR). Apesar

deste íon apresentar apenas dois níveis de energia, pode ser observada mais de uma banda de

emissão devido aos desdobramentos dos níveis intraconfiguracionais, gerados pela perturbação

do campo ligante.

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Eu3+

Yb3+

0

5

10

15

20

25

10200

cm-1

5L

6

5D

J

2F

5/2

En

erg

ia /

10

3 c

m-1

0-123456

7F

J

0

1

2

3

2F

7/2

16300

cm-1

Figura 5.1 Comparação entre as estruturas dos níveis de energia dos íons Eu3+ e Yb3+,

apresentando os valores de energia aproximados das suas principais bandas de emissão.

Apesar da diferença na estrutura dos níveis de energia das transições 4f–4f dos íons Eu3+ e

Yb3+, os níveis de energia de seus estados fundamentais (7F0 e 2F7/2, respectivamente) são bem

semelhantes dentro do band gap de uma matriz inorgânica [3,4]. Portanto, o estudo da

fotoluminescência dos materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y)

é importante devido ao íon Eu3+ atuar como uma sonda espectroscópica eficiente. Esta

característica fotônica auxiliará na elucidação de diversas propriedades sobre a estrutura e

simetria dos materiais dopados com Yb3+ (TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV).

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85

5.1 Materiais dopados com o íon Eu3+

5.1.1 Espectros de excitação

Na Figura 5.2 estão ilustrados os espectros de excitação dos materiais TR2O2S:Eu3+ e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y), registrados a temperatura ambiente (298 K) e

monitorados na transição hipersensível 5D0 → 7F2 do íon Eu3+ (~627 nm). Os espectros

apresentam perfis semelhantes e exibem três bandas de absorção largas sobrepostas, uma de

menor intensidade na região de maior energia (250–280 nm) e duas de maior intensidade,

localizadas em menor energia (275–420 nm).

As bandas de absorção largas localizadas em maior energia (Figura 5.2) são atribuídas à

absorção das matrizes La2O2S, Gd2O2S e Y2O2S e encontram-se centradas em 280, 275 e

265 nm, respectivamente [5,6]. Os valores de energia encontrados estão em concordância com

os dados de band gap de 4,4 (La2O2S), 4,6 (Gd2O2S) e 4,8 eV (Y2O2S) reportados nas

referências [7–9].

As bandas de absorção largas encontradas na região de menor energia são atribuídas às

transições de transferência de carga ligante-metal (LMCT) O2-(2p) → Eu3+(4f6) e

S2-(3p) → Eu3+(4f6), centradas em 337 (La2O2S:Eu3+ e La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV), 328

(Gd2O2S:Eu3+ e Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV) e 320 nm (Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV).

Estas bandas estão sobrepostas e deslocan-se para o vermelho com o aumento do raio do cátion

da matriz. A influência do campo ligante torna-se maior devido à diminuição das distâncias de

ligação TR–O e TR–S. O espectro de excitação do material Y2O2S:Eu3+ foi deconvoluído na

Figura 5.2, apresentando as contribuições das bandas relativas ao band gap (264 nm), e às

transições LMCT O2- → Eu3+ e S2- → Eu3+ (290 e 328 nm, respectivamente).

Ademais, é possível notar bandas de absorção finas de baixa intensidade relativas às

transições intraconfiguracionais 4f do íon Eu3+: 7F0,1 → 5L6 (396 nm) e 7F0,1 → 5DJ, sendo

J = 3 (417 nm), J = 2 (466 nm) e J = 1 (538 nm). Vale ressaltar que a alta intensidade das bandas

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de absorção atribuídas às transições LMCT comparadas às transições 4f–4f do íon Eu3+ indicam

uma eficiente transferência de energia matriz–Eu3+.

200 250 300 350 400 450 500

0

1

2

3

4

5

Band gap

O2- Eu

3+

S2- Eu

3+

298 K

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

. (x

10

5)

Comprimento de onda / nm

5D

15D

25D

3

LMCT

O2- Eu

3+

S2- Eu

3+

0,5 % Eu3+

5L

6

7F

0,1

2S+1L

J

TR2O

2S:Eu

3+

La

Gd

Y

em

= 626 nm

em

= 627,5 nm

em

= 628 nm

200 250 300 350 400 450 500 550

Comprimento de onda / nm

298 K

5D

15D

25D

3

LMCT

O2- Eu

3+

S2- Eu

3+

0,5 % Eu3+

5L

6

7F

0,1

2S+1L

J

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

La

Gd

Y

em

= 626 nm

em

= 627,5 nm

em

= 628 nm

Figura 5.2 Espectros de excitação dos materiais TR2O2S:Eu3+ (esquerda) e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (direita) (TR3+: La, Gd, e Y) registrados a temperatura ambiente. As

linhas pontilhadas no interior do espectro de excitação do material Y2O2S:Eu3+ correspondem

à deconvolução deste espectro nas curvas relativas ao band gap e às bandas LMCT O2- → Eu3+

e S2- → Eu3+.

Nos materiais co-dopados com Mg2+ e Ti3+/IV também estão presentes as bandas LMCT

O2-(2p) → Ti3+(3d1) e S2-(3p) → Ti3+(3d1), sobrepostas na mesma faixa de energia que as

transições LMCT para o íon Eu3+. Nota-se também que a banda de menor energia estende-se

até 430 nm para o composto Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, indicando que as transições O2- → Ti3+

e S2- → Ti3+ estão presentes em energias um pouco menores que as transições O2- → Eu3+ e

S2- → Eu3+ [6].

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As bandas de absorção finas observadas em 313 nm nos materiais Gd2O2S:Eu3+ e

Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV são atribuídas à transição 8S7/2 → 6P7/2 do íon Gd3+ [10]. A

intensidade desta banda em comparação com as bandas LMCT indica que o processo de

transferência de energia Gd3+ → Eu3+ também ocorre nestes materiais.

5.1.2 Espectros de emissão

Os espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) registrados 298 K (Figura 5.3) apresentam uma grande quantidade de bandas

finas de emissão. A bandas relativas à transição hipersensível 5D0 → 7F2 do íon Eu3+ estão

localizadas em 626 (15974 cm-1), 627 (15948 cm-1) e 628 nm (15923 cm-1) para os materiais

baseados em La2O2S, Gd2O2S e Y2O2S, respectivamente. Estes valores de energia representam

um significativo deslocamento dessas bandas de emissão para regiões de menor energia quando

comparados com o valor de 613 nm atribuído a transição 5D0 → 7F2 do íon Eu3+ dopado em

matrizes TR2O3 [1,10]. O deslocamento para o vermelho sugere um maior grau de covalência

das matrizes TR2O2S em relação aos compostos TR2O3.

Os íons terras raras nas matrizes TR2O2S:Eu3+ ocupam o sítio de simetria C3v

heptacoordenado [9,11]. A presença de apenas uma banda centrada em 17112 cm-1 nos

espectros de emissão, atribuída a transição 5D0 → 7F0 (Figura 5.3), indica que o íon Eu3+ ocupa

apenas um sítio de simetria. É possível observar que a banda relativa a transição 5D0 → 7F2,

(~627 nm) apresenta maior intensidade do que a banda de emissão atribuída a transição

5D0 → 7F1 (~597 nm), indicando que realmente o ambiente químico em torno do íon Eu3+ não

possui centro de inversão.

Nota-se que os espectros de emissão dos materiais de diferentes matrizes Gd2O2S e Y2O2S

são bastante semelhantes, porém diferem dos materiais La2O2S devido a supressão dos níveis

emissores na região espectral de 450 a 550 nm. Isso pode estar relacionado tanto à simetria

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local quanto à modos vibracionais das matrizes TR2O2S. Como os raios dos íons Gd3+ e Y3+ são

próximos, as matrizes Gd2O2S e Y2O2S apresentam simetrias locais e modos vibracionais mais

semelhantes entre si. No caso da matriz La2O2S, o maior raio iônico do La3+ pode gerar

diferentes modos vibracionais, além de uma simetria local mais distinta em torno do íon TR3+.

O pequeno deslocamento para o vermelho observado das bandas 5D0 → 7F2 em relação às

diferentes matrizes também é função da diminuição do raio do íon terra rara da matriz: La3+

(1,10) > Gd3+ (1,00) > Y3+ (0,96 Å) para NC = 7 [6,18].

400 450 500 550 600 650 700 750

exc

=

320 nm

exc

=

328 nm

5D

1

7F

3

In

ten

sid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

4

2

1

5D

0

7F

J

Comprimento de onda (nm)

5D

1

7F

3

TR2O

2S:Eu

3+

0,5 % Eu3+

298 KLa

exc

=

337 nm

Gd

Y

0

01

2

4

400 450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda / nm

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

La

Gd

Y

0,5 % Eu3+

298 K exc

=

337 nm

exc

=

328 nm

exc

=

320 nm

Figura 5.3 Espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Eu3+ (esquerda) e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (direita) registrados a 298 K (TR3+: La, Gd, e Y).

Os espectros de emissão dos materiais (Figura 5.3) apresentam um grande número de

bandas finas em toda a faixa do visível (460–710 nm). Nesta figura estão atribuídas as bandas

oriundas do principal nível emissor 5D0 para os níveis 7F0-4, que se estendem de 584 (5D0 → 7F0)

até 710 nm (5D0 → 7F4). Por outro lado, as bandas de emissão localizadas em maiores energias

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89

são provenientes de decaimentos radiativos dos níveis mais energéticos 5D1 e 5D2 do íon Eu3+

(Figura 5.3), indicando que as matrizes TR2O2S apresentam um baixo acoplamento vibrônico

ou baixa energia de fônons [1].

O baixo acoplamento vibrônico das matrizes TR2O2S é evidenciado a partir dos espectros

de emissão dos materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y)

registrados a baixa temperatura (Figuras 5.4 e 5.5). Os espectros de emissão registrados a 77 K

são muito semelhantes aos registrados a 298 K, mostrando que não houveram grandes

mudanças nos modos vibracionais das matrizes TR2O2S com a diminuição de temperatura.

Nota-se um aumento de intensidade das bandas provenientes de transições do nível 5D2,

especialmente nos materiais baseados em La2O2S, além do aparecimento de bandas oriundas

do nível 5D3, que não são observadas à temperatura ambiente devido à relaxação vibrônica.

Para atribuir as bandas de emissão do íon európio é necessário o cálculo das faixas de

energia onde cada transição 5D0–3 → 7F0–4 pode ocorrer e considerar as regras de seleção caso

duas transições distintas ocupem a mesma faixa. Para isso, primeiramente foram determinadas

experimentalmente as energias das transições 5D0 → 7F0 e 5D2 → 7F2, a partir dos espectros de

emissão a 77 K. Em seguida, em posse dos dados de campo cristalino para o íon Eu3+ presentes

na literatura [12,13], calculou-se a energia das transições 5D0–3 → 7F0–4 e foi feita a atribuição

das bandas presentes nos espectros de emissão (Figuras 5.4 e 5.5). As bandas atribuídas estão

de acordo com a referência [17].

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90

400 450 500 550 600 650 700 750

7F

3

7F

2

7F

1

5D

3

5D

2

7F

05D

2

7F

15D

2

7F

2

5D

2

7F

3

5D

1

7F

1

5D

1

7F

2

5D

0

7F

4

5D

0

7F

2

5D

1

7F

35D

0

7F

1

exc

= 320 nm

exc

= 328 nm

Inte

nsid

ade

no

rmaliz

ada /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

TR2O

2S:Eu

3+

0,5 % Eu3+

77 K

La

exc = 337 nm

Gd

Y

5D

0

7F

J

5D

3

5D

2

7F

0

5D

2

7F

2

5D

2

7F

3

5D

1

7F

15D

1

7F

2

5D

0

7F

4

5D

0

7F

2

5D

1

7F

35D

0

7F

1

5D

0

7F

J

Figura 5.4 Espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Eu3+ registrados a 77 K (TR3+: La, Gd,

e Y), com atribuição das bandas relativas as transições 5D0–3 → 7F0–4.

Page 91: IAN POMPERMAYER MACHADO...Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por

91

400 450 500 550 600 650 700 750

Inte

nsid

ade

no

rma

lizad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

7F

3

7F

2

7F

1

5D

3

5D

2

7F

0

5D

2

7F

15D

2

7F

2

5D

2

7F

3

5D

1

7F

15D

1

7F

2

5D

0

7F

4

5D

0

7F

2

5D

1

7F

35D

0

7F

1

exc

= 320 nm

exc

= 328 nm

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

0,5 % Eu3+

77 K

La

exc = 337 nm

Gd

Y

5D

0

7F

J

5D

3

5D

2

7F

0

5D

2

7F

2

5D

2

7F

3 5D

1

7F

15D

1

7F

2

5D

0

7F

4

5D

0

7F

2

5D

1

7F

35D

0

7F

1

5D

0

7F

J

Figura 5.5 Espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV registrados a 77 K

(TR3+: La, Gd, e Y), com atribuição das bandas relativas as transições 5D0–3 → 7F0–4.

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92

As bandas emissão relativas as transições 5D3,2,1,0 → 7F0-4 dos materiais TR2O2S:Eu3+ e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV são observadas não só devido à baixa energia de fônons das matrizes

TR2O2S, mas também devido a posição da energia das bandas LMCT largas atribuídas as

transições O2- → Eu3+ e S2- → Eu3+, que se encontram acima e próximas dos níveis excitados

5D2,3 do íon Eu3+, como ilustrado na Figura 5.6.

Figura 5.6 Diagrama dos níveis de energia do íon Eu3+ e das bandas de transferência de carga

LMCT (O2- → Eu3+ e S2- → Eu3+), indicando a transferência de energia (T.E) LMCT→Eu3+.

A faixa de energia da transição LMCT, (28400–33800 cm-1) foi definida a partir da largura a

meia altura dessa banda.

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93

5.1.3 Fotoluminescência de Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV em função da

concentração do dopante Eu3+

Para verificar o efeito da concentração do íon ativador, os materiais Y2O2S:Eu3+ e

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV foram preparados, além da dopagem de 0,5 %, com concentrações de

Eu3+ iguais a 1,0 e 5,0 %. Ressalta-se que a concentração dos co-dopantes no material

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV foi mantida (4,5 % Mg2+ e 1,5 % Ti3+/IV). Os espectros de excitação e

emissão dos materiais Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, dopados com diferentes

concentrações de Eu3+, estão apresentados nas Figuras 5.7 e 5.8, respectivamente.

Os espectros de excitação e emissão dos materiais dopados com 0,5 e 1,0 % de Eu3+ são

bastante semelhantes. Com o aumento da concentração de 0,5 para 1,0 %, observa-se nos

espectros de excitação um aumento de intensidade das bandas de absorção referentes as

transições LMCT em relação à intensidade das bandas 4f–4f do íon Eu3+, indicando uma maior

transferência de energia LMCTEu3+. Além disso, nota-se no espectro de emissão do material

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV com 1,0 % de Eu3+ (Figura 5.8) uma pequena diminuição nas

intensidades das bandas provenientes dos níveis 5D1,2, uma vez que a probabilidade de ocorrer

relaxações cruzadas aumenta com o aumento da concentração do íon ativador [1,2].

Por outro lado, os espectros de excitação e emissão dos materiais dopados com 5,0 % de

Eu3+ são distintos dos materiais com menores concentrações. É observado nos espetros de

excitação um deslocamento das bandas LMCT para o vermelho, devido à maior contribuição

dos processos de transferência de energia O2- → Eu3+ e S2- → Eu3+. Os espectros de emissão

apresentam apenas bandas de emissão provenientes do nível 5D0, pois nesta elevada

concentração de Eu3+ a probabilidade de ocorrência de relaxações cruzadas torna-se muito alta

[2,19]. A banda relativa a transição 5D1 → 7F3 está presente mas apresenta baixa intensidade,

ao contrário dos materiais dopados com 0,5 e 1,0 % de Eu3+.

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94

200 250 300 350 400 450 500

X %

Eu3+

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+298 K

5,0 %

1,0 %

0,5 %

em

= 628 nm

400 450 500 550 600 650 700 750

5D

1

7F

3

exc

= 320 nm

298 K

X % Eu3+

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+

5,0 %

1,0 %

0,5 %

5D

0

7F

J

J = 01

2

4

Figura 5.7 Espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) dos materiais Y2O2S:Eu3+

dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+, registrados a 298 K.

200 250 300 350 400 450 500

In

ten

sid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

X %

Eu3+

298 K

em

= 628 nm

5,0 %

1,0 %

0,5 %

400 450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

5,0 %

1,0 %

0,5 %

exc

= 320 nm

298 K

X % Eu3+

Figura 5.8 Espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) dos materiais

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+, registrados a 298 K.

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95

5.1.4 Parâmetros de intensidades experimentais (Ω)

Com base nas equações 1.4, 1.5 e 1.6 do capítulo 1 e nos dados espectrais de emissão,

foram determinados os valores dos parâmetros de intensidades experimentais (Ω2 e Ω4), das

taxas radiativas, não radiativas e totais (Arad, Anrad e Atot, respectivamente), dos tempos de vida

de emissão do nível 5D0 (τ) e, por fim, das eficiências quânticas de emissão do nível 5D0 (η)

para os materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y).

Os valores dos coeficientes de emissão espontânea A0J foram determinados

experimentalmente a partir dos espectros de emissão dos materiais (Figuras 5.3, 5.7 e 5.8),

tomando a transição 5D0 → 7F1 como referência devido ao seu caráter de baixa sensibilidade ao

ambiente químico [1,2]. Desse modo, o valor do coeficiente de emissão espontânea desta

transição (A01), que é sempre próximo de 50 s-1 [10], é utilizado como parâmetro para

determinar o índice de refração dos materiais preparados. Utilizando o valor de índice de

refração n = 1,5, os valores de A01 calculados para todos os materiais foi cerca de 50 s-1, sendo

assim satisfatório o valor de n empregado. Em seguida, foram calculados os valores de A00, A02

e A04, determinando-se o valor da taxa radiativa (Arad) para todos os materiais. Os valores de

Anrad foram determinados por simples subtração da taxa total (Anrad = Atot – Arad), sendo esta

obtida a partir dos valores de tempo de vida de emissão do nível 5D0 (τ).

Os valores de τ foram determinados a partir do ajuste de uma monoexponencial às curvas

de decaimento da luminescência da transição 5D0 → 7F2 do íon Eu3+. O ajuste monoexponencial

mostrou-se mais exato ao biexponencial, o que indica que os íons Eu3+ estão alocados em

apenas um sítio de simetria, corroborando com os dados da literatura [11]. Na Figura 5.9 estão

apresentados os gráficos dos valores de tempo de vida calculados para os materiais

TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) em função dos dopantes

(esquerda), e para os materiais Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV em função da

concentração de Eu3+ (direita).

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96

Eu EuMgTi0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Y

Dopantes

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

Tem

po d

e v

ida / m

sTR

2O

2S:Eu

3+

TR3+

:

Gd

La

0,5 % Eu3+

exc

= 396 nm

0,5 1,0 5,00,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Concentração de Eu3+

/ %

Tem

po d

e v

ida / m

s

exc

= 396 nm

X % Eu3+

298 K

Y2O

2S:Eu

3+

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

Figura 5.9 Tempos de vida do nível emissor 5D0 dos materiais TR2O2S:Eu3+ e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV em função dos dopantes (esquerda) e dos materiais Y2O2S:Eu3+ e

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV em função da concentração de Eu3+ (direita).

O tempo de vida de emissão do nível 5D0 nos materiais preparados aumenta no sentido

La2O2S < Gd2O2S < Y2O2S, tanto para os materiais sem co-dopantes quanto para os co-dopados.

É observado que o tempo de vida de emissão aumenta com a introdução dos co-dopantes Mg2+

e Ti3+/IV (Figura 5.9 esquerda). Isso ocorre devido à contribuição não radiativa do íon Ti3+,

sugerindo um mecanismo de transferência de energia Ti3+ → Eu3+ eficiente. Os maiores valores

tempos de vida são observados para os materiais Y2O2S:Eu3+ dopado com 1,0 % de Eu3+ e

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopado com 0,5 e 1,0 % de Eu3+.

Com o aumento da concentração de Eu3+ de 0,5 para 1,0 % observa-se que o tempo de vida

de emissão do material Y2O2S:Eu3+ aumenta e do material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV diminui

(Figura 5.9 direita), indicando que 1,0 % é a quantidade ótima de Eu3+ para os materiais

Y2O2S:Eu3+ sem co-dopantes. Por outro lado, os valores de tempos de vida de emissão são mais

baixos nos materiais Y2O2S:Eu3+ e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV quando a concentração de Eu3+ é

de 5,0 % devido aos processos de relaxação cruzada.

A Tabela 5.1 apresenta os valores calculados dos parâmetros de intensidades experimentais

Ω2 e Ω4, as taxas radiativas, não radiativas e totais (Arad, Anrad e Atot, respectivamente), os

Page 97: IAN POMPERMAYER MACHADO...Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por

97

tempos de vida de emissão do nível 5D0 (τ) e as eficiências quânticas de emissão do nível 5D0

(η) dos materiais dopados com Eu3+.

Tabela 5.1 Parâmetros de intensidades experimentais Ω2 e Ω4, taxas radiativas (Arad),

não radiativas (Anrad) e totais (Atot), tempos de vida (τ) e eficiências quânticas de emissão do

nível 5D0 (η) para os materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd, e Y).

X %

Eu3+ Material

Ω2

(10-20

cm2)

Ω4

(10-20

cm2)

Arad

(s-1)

Anrad

(s-1)

Atot

(s-1)

τ (ms)

η

(%)

0,5

La2O2S:Eu3+ 18,4 4,5 645 2363 3008 0,332 21

Gd2O2S:Eu3+ 12,9 5,3 494 1427 1921 0,521 26

Y2O2S:Eu3+ 11,7 5,5 464 1372 1836 0,545 25

La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 18,3 4,2 637 1585 2222 0,450 29

Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 11,9 5,0 461 1384 1845 0,542 25

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 12,6 4,6 478 839 1317 0,759 36

1,0 Y2O2S:Eu3+ 13,0 4,5 487 1165 1652 0,605 29

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 13,5 4,2 494 1059 1553 0,644 32

5,0 Y2O2S:Eu3+ 13,2 4,1 485 1442 1928 0,519 25

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV 12,9 4,0 475 1520 1995 0,501 24

Ao comparar os materiais TR2O2S:Eu3+ (TR3+: La, Gd e Y) dopados com 0,5 % de Eu3+,

nota-se a redução do valor de Ω2 com a diminuição do raio do cátion da matriz, sugerindo que

a diminuição do raio do cátion da matriz aumenta a simetria local em torno do íon Eu3+.

Observa-se também que os valores de Ω2 sofrem um leve aumento quanto maior for a

concentração de Eu3+ nos materiais baseados em Y2O2S, indicando que os sistemas dopados em

concentrações mais altas de Eu3+ são mais influenciados pelas pequenas mudanças angulares

da geometria local do íon terra rara. [10,14]

O parâmetro Ω4 é sensível às distâncias de ligação e à polarizabilidade do sistema [2]. É

observado que os valores calculados para o parâmetro Ω4 são semelhantes dentre os materiais

e são consideravelmente altos quando comparados à compostos TR2O3:Eu3+ [10], indicando o

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98

maior grau de covalência e de polarizabilidade das matrizes de oxissulfetos em relação aos

óxidos de terras raras. Os valores de Ω4 dos materiais TR2O2S:Eu3+ dopados com 0,5 % de Eu3+

aumentam com a diminuição do raio do cátion da matriz, mostrando que a covalência das

matrizes aumenta no sentido La2O2S < Gd2O2S < Y2O2S [15]. Isso também é visível pelo

deslocamento das bandas de emissão 5D0 → 7F2 para o vermelho neste mesmo sentido

(Figura 5.3). A introdução dos co-dopantes Mg2+ e Ti3+/IV altera sutilmente as tendências de

ambos os parâmetros Ω2 e Ω4, indicando mudanças nos sítios de simetria ocupados pelo Eu3+ e

no grau covalência das matrizes.

Os valores de eficiências quânticas de emissão do nível 5D0 (η) para os materiais

TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd, e Y) variam na faixa de 21 a 36 %,

(Tabela 5.1), sendo o maior valor de η relacionado ao material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopado

com 0,5 % de Eu3+ (36 %). É importante ressaltar que, como os materiais desenvolvidos neste

trabalho apresentam uma grande quantidade de emissões oriundas dos níveis 5D1 e 5D2, o real

“rendimento quântico de emissão” destes materiais será superior aos valores calculados, uma

vez que η refere-se apenas à eficiência quântica de emissão do nível 5D0. Essa característica

possibilita a aplicação desses materiais como eficientes dispositivos luminescentes.

5.1.5 Diagrama de cromaticidade CIE

A partir do diagrama de cromaticidade CIE (Commission Internationale de l'Éclairage) dos

materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) (Figura 5.10), obtido

sob excitação na região de máxima intensidade da banda LMCT de cada material, observa-se

que a introdução dos co-dopantes altera muito pouco as coordenadas de emissão para os

materiais baseados em La2O2S e Gd2O2S. Nota-se também a maior pureza de cor para os

materiais La2O2S:Eu3+ e La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, pois estes apresentam poucas emissões

oriundas do nível excitado de maior energia 5D2.

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99

Figura 5.10 Diagrama de cromaticidade dos materiais preparados TR2O2S:Eu3+ e

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) sob excitação na banda LMCT.

Em relação aos materiais Y2O2S:Eu3+, a posição do diagrama de cromaticidade é a mesma

para as dopagens de 0,5 e 1,0 % de Eu3+, corroborando com os espectros de emissão desses dois

materiais, que são praticamente idênticos. Porém, quando os co-dopantes são inseridos as

posições no diagrama se afastam, sendo que o material Y2O2S:Eu3+ (1,0 %) é deslocado para a

região do vermelho e o Y2O2S:Eu3+ (0,5 %) para o verde. Os materiais Y2O2S:Eu3+ e

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 5,0 % de Eu3+ estão localizados próximo à extremidade

vermelha, visto que seus espectros de emissão contém apenas as emissões provenientes no nível

emissor 5D0.

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100

5.2 Materiais dopados com o íon Yb3+

5.2.1 Espectros de excitação

Os espectros de excitação dos materiais TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) dopados com 0,5 % de Yb3+ (Figura 5.11) apresentam as mesmas

características que os espectros de excitação dos materiais dopados com o íon Eu3+. Isto é, as

bandas de absorção largas localizadas em maior energia (240–280 nm) são referentes ao band

gap das matrizes TR2O2S, e as bandas sobrepostas em menor energia (280–360 nm) são

atribuídas às transições de transferência de carga LMCT O2-(2p) → Yb3+(4f13) e

S2-(3p) → Yb3+(4f13). É importante destacar que as bandas relativas às transições LMCT

O2- → Ti3+ e S2- → Ti3+ dos materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV encontram-se sobrepostas na

mesma região que as bandas de transferência de energia para o íon Yb3+.

Observa-se na Figura 5.11 que a intensidade das bandas relativas às transições LMCT é

semelhante em relação à intensidade das bandas de absorção da matriz, mostrando que a

transferência de energia para o íon Eu3+ é mais eficiente do que para o íon Yb3+. Este resultado

é esperado, tendo em vista a posição dos níveis de energia 4f–4f excitados destes íons terras

raras. Devido a essa menor intensidade das bandas LMCT, é possível distinguir essas bandas

para os materiais Y2O2S:Yb3+ e Y2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV. Nesses compostos, as bandas

centradas em 290 e 312 nm são atribuídas às transições LMCT O2- → Yb3+ e S2- → Yb3+,

respectivamente. As bandas de absorção finas observadas em 308 e 313 nm nos materiais

Gd2O2S:Yb3+ e Gd2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV São atribuídas às transições 8S7/2 → 6PJ do íon Gd3+,

sugerindo que o processo de transferência de energia Gd3+ → Yb3+ também ocorre nestes

materiais.

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101

220 240 260 280 300 320 340 360

298 K

LMCT

O2-

Yb3+

S2-

Yb3+

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

0,5 % Yb3+

em

=

983 nm La

Gd

Y

TR2O

2S:Yb

3+

8S

7/2

6P

7/2

220 240 260 280 300 320 340 360

LMCT

O2-

Ti3+

S2-

Ti3+

Comprimento de onda / nm

0,5 % Yb3+

em

=

983 nm La

Gd

Y

TR2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

8S

7/2

6P

7/2

Figura 5.11 Espectros de excitação dos materiais TR2O2S:Yb3+ (esquerda) e

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (direita) dopados com 0,5 % de Yb3+ (TR3+: La, Gd, e Y).

5.2.2 Espectros de emissão

Os espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) dopados com 0,5 % de Yb3+ estão apresentados na Figura 5.12. As duas

bandas de emissão finas situadas na região do NIR, na faixa 900–1050 nm, são atribuídas a

transição intraconfiguracional 2F5/2 → 2F7/2 do íon Yb3+. De acordo com as referências [9,11] e

com os dados espectrais de emissão para os materiais dopados com Eu3+, o sítio ocupado pelos

íons TR3+ nas matrizes TR2O2S possui simetria C3v. No caso do íon Yb3+, a transição

2F5/2 → 2F7/2 originou duas bandas de emissão devido aos desdobramentos de J (acoplamento

spin-órbita) causado pelo campo ligante neste sítio de baixa simetria [16].

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102

500 600 700 800 900 1000

298 K

Yb3+

2F

5/2

2F

7/2

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

Eu3+

5D

0

7F

J

TR2O

2S:Yb

3+

0,5 % Yb3+

exc

= 250 nm

La

Gd

Y

500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

Yb3+

2F

5/2

2F

7/2

TR2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

0,5 % Yb3+

exc

= 250 nm

La

Gd

Y

Figura 5.12 Espectros de emissão dos materiais TR2O2S:Yb3+ (esquerda) e

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (direita) dopados com 0,5 % de Yb3+ (TR3+: La, Gd, e Y),

apresentando as bandas de emissão relativas às transições 2F5/2 → 2F7/2 do íon Yb3+ e 5D0 → 7F0–4 do íon Eu3+.

Também é possível observar bandas de emissão finas presentes na faixa 550–710 nm

(Figura 5.12) correspondentes às transições 5D0 → 7FJ do íon Eu3+, cuja presença nestes

materiais é oriunda de impureza nos reagentes de partida TR2O3. Deve ressaltar que os materiais

Gd2O2S:Yb3+ e Gd2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV apresentam a maior quantidade de Eu3+ e, também,

como a transferência de energia para este íon é mais eficiente do que para os íons Yb3+ neste

sistema. Ademais, os co-dopantes Mg2+ e Ti3+/IV exercem pouca influência nos espectros de

emissão dos materiais dopados com o íon Yb3+, assim como nos materiais dopados com o íon

Eu3+.

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103

5.2.3 Fotoluminescência de La2O2S:Yb3+ e La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV em função da

concentração do dopante Yb3+

Os efeitos da concentração do íon Yb3+ foram estudados a partir dos espectros de excitação

e emissão dos materiais La2O2S:Yb3+ (Figura 5.13) e La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 5.14)

dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Yb3+. Os espectros de emissão são bastante semelhantes e,

conforme os resultados anteriores, são pouco influenciados pelos co-dopantes. O aumento da

concentração de Yb3+ aprimorou a eficiência de transferência de energia para este íon, de modo

que as bandas de emissão oriundas das impurezas de Eu3+ não foram mais detectadas. Nestes

materiais, portanto, não foram detectadas nenhuma emissão na região do visível, apenas as

bandas de emissão na região do NIR provenientes do íon Yb3+.

220 240 260 280 300 320 340

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

298 K

em

= 980 nm

X % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+

5,0 %

1,0 %

0,5 %

500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

298 K

exc

= 275 nm

X % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+

5,0 %

1,0 %

0,5 %

Figura 5.13 Espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) dos materiais La2O2S:Yb3+

dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Yb3+, registrados a 298 K.

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104

220 240 260 280 300 320 340

Inte

nsid

ad

e n

orm

aliz

ad

a /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

X % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

5,0 %

1,0 %

0,5 %

em

= 980 nm

500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

X % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 275 nm

5,0 %

1,0 %

0,5 %

Figura 5.14 Espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) dos materiais

La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Yb3+, registrados a 298 K.

5.2.4 Micrografias de fluorescência na região visível–NIR

Afim de visualizar a emissão na região do NIR, foram registradas micrografias de

fluorescência do material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV dopado com 0,5 % de Yb3+ (Figura 5.15),

utilizando um microscópico ótico acoplado a uma câmera digital. É imprescindível dizer que

as condições experimentais disponíveis para a realização deste ensaio não foram ótimas para

adquirir as imagens e os espectros. Primeiramente, o laser de YAG:Nd3+ (λ = 355 nm) não

consiste em uma boa fonte de excitação, visto que este o comprimento de onda está localizado

no fim da banda de excitação do material. Além disso, a sensibilidade da câmera na região de

interesse (900–1000 nm) é cinco vezes menor que na região de máxima sensibilidade (~500

nm). Em relação aos espectros registrados, o limite de sensibilidade da fotomultiplicadora

disponível é de 950 nm, que corresponde apenas ao início das bandas de emissão no NIR

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105

relativas ao íon Yb3+. Entretanto, apesar destas dificuldades experimentais, as imagens foram

obtidas com sucesso, através do ajuste do tempo de integração da câmera para 4,0 segundos, e

os espectros foram capazes de fornecer as informações necessárias.

As micrografias foram registradas empregando filtros tipo edge de 550 (Figura 5.15

esquerda) e 715 nm (Figura 5.15 direita) para analisar a contribuição da luminescência na

formação das imagens.

550 600 650 700 750 800 850 900

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Inte

nsid

ad

e / U

nid

. A

rb.

Comprimento de onda / nm

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

0,5 % Yb3+

exc

= 355 nm (YAG:Nd3+

)

298 K

Filtro: 550 nm

550 600 650 700 750 800 850 900

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

Inte

nsid

ad

e / U

nid

. A

rb.

0,5 % Yb3+

exc

= 355 nm (YAG:Nd3+

)

298 K

Filtro: 715 nm

Comprimento de onda / nm

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

Figura 5.15 Micrografias de fluorescência do material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (0,5 % Yb3+)

utilizando filtros de 550 (esquerda) e 715 nm (direita). Abaixo de cada imagem segue o espectro

registrado pela fotomultiplicadora empregando o filtro em questão.

100 μm 100 μm

Filtro

550 nm

Filtro

715 nm

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106

No caso das imagens obtidas empregando o filtro de 550 nm, o espectro registrado indicou

que a imagem é formada principalmente pelas emissões na região do NIR, mas há uma

contribuição das emissões na faixa do visível, provenientes das impurezas de Eu3+. Ao usar o

filtro de 715 nm, o espectro registrado prova que a imagem é formada apenas pela emissão do

íon Yb3+. O material apresenta emissão homogênea na região do NIR, indicando uma boa

formação de fase e uma eficiente transferência de energia para o íon Yb3+. Tentou-se registrar

o fenômeno da luminescência persistente deste material ao remover a fonte de excitação,

contudo, as condições experimentais disponíveis não foram satisfatórias o suficiente para

promover este teste.

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107

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Nucleares, autarquia associada à Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.

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109

Capítulo 6

Fenômeno da luminescência

persistente

___________________________________________________________________________

6.1 Luminescência persistente dos materiais dopados com Eu3+

6.2 Luminescência persistente dos materiais dopados com Yb3+

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110

6. FENÔMENO DA LUMINESCÊNCIA PERSISTENTE

A luminescência persistente é um fenômeno no qual um material emite luz por um longo

período de tempo, que pode variar de minutos a várias horas, após cessada a excitação. É um

caso especial da luminescência termoestimulada, onde o material armazena energia nas

armadilhas e a libera de maneira gradual, principalmente a temperatura ambiente [1,2]. Este

fenômeno tem uma dependência direta com a estrutura de defeitos do material, de modo que a

intensidade e a duração da luminescência persistente são influenciadas por fatores como: matriz

hospedeira, íons dopantes e co-dopantes, método de preparação, energia do band gap, dentre

outros. O desenvolvimento dos mecanismos de luminescência persistente consiste no estado da

arte desta ciência, visto que é essencial para a compreensão das propriedades fotônicas deste

fenômeno, além de possibilitar o design de novos materiais.

A construção do mecanismo de luminescência persistente de um material demanda das

seguintes etapas: i) determinação da energia do band gap entre a banda de valência (BV) e

banda de condução (BC) das matrizes, ii) da posição dos níveis de energia dos íons dopantes e

co-dopantes e iii) da energia das armadilhas. Em geral, a energia do band gap pode ser

determinada por meio das técnicas de espectroscopia UV convencional ou na região do

UV vácuo. A posição dos níveis de energia dos íons dopantes e co-dopantes é determinado a

partir das bandas de transferência de carga LMCT e dos diagramas de níveis de energia dos

metais de transição d e do bloco f. Os níveis de energia das armadilhas são obtidos por medidas

de termoluminescência em relação às bandas de valência (BV) e de condução (BC) [1–3].

Este capítulo apresenta as propriedades da luminescência persistente exibida pelos

materiais e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y). Os

mecanismos de luminescência persistente desenvolvidos para os materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV foram propostos a partir dos resultados

experimentais e dos dados disponíveis na literatura [1,3,4].

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111

6.1 Luminescência persistente dos materiais dopados com Eu3+

6.1.1 Curvas de decaimento da luminescência persistente

A partir das curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) dopados com 0,5 % de Eu3+ (Figura 6.1), é

observado que o tempo de luminescência persistente é maior para os materiais

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV comparado aos sistemas com íons La3+ e Gd3+. A diferença entre estes

comportamentos pode estar relacionada com a natureza dos defeitos, que será mais detalhada

com base nas curvas de termoluminescência.

0 300 600 900 1200 150010

2

103

104

105

106

La3+

Gd3+

0,5 % Eu3+

em

= 628 nm

texc

= 5 min

298 K

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Tempo / s

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 320 nmY

3+

Figura 6.1 Curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5 % de Eu3+ (TR3+: La, Gd e Y), registradas em

628 nm, após cessada a excitação em 320 nm por 5 min.

O comportamento da luminescência persistente dos materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

varia muito pouco com a variação da concentração de Eu3+, conforme as curvas de decaimento

dos materiais dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+ (Figura 6.2), indicando que a concentração

do íon ativador influencia pouco na luminescência persistente desse sistema.

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112

0 300 600 900 1200 1500

104

105

106

107

texc

= 2 min

In

ten

sid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Tempo / s

0,5 %

1,0 %

5,0 %

em = 628 nm

298 K

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 320 nm

X % Eu3+

Figura 6.2 Curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+, registradas em 628 nm, após

cessada a excitação em 320 nm por 2 min.

6.1.2 Espectros de emissão da luminescência persistente

A Figura 6.3 apresenta os espectros de emissão da luminescência persistente dos materiais

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+ (Figura 6.3). Os materiais foram

previamente excitados a 320 nm por 5 minutos, e os espectros de emissão foram registrados

nos instantes de tempo iguais a 0, 30, 60, 90, 120, 150, 180, 210 e 240 s após remover a

excitação sobre os materiais. Observam-se bandas de emissão finas na faixa 580–710 nm,

atribuídas às transições 5D0 → 7F0–4 do íon Eu3+, além de uma banda de emissão larga na faixa

espectral de 500 a 800 nm sobreposta às transições 4f–4f do íon Eu3+.

Diferentemente dos espectros de emissão convencional destes materiais (Figuras 5.3 e 5.8),

não são observadas as bandas de emissão oriundas dos níveis de maior energia 5D1,2. É possível

que estes níveis sofram decaimento não radiativo no mecanismo da luminescência persistente

destes materiais, devidos aos processos de transferência de energia intramoleculares.

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113

450 500 550 600 650 700 750

0,5 % Eu3+

exc

= 320 nm

texc

= 5 min

298 K

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Comprimento de onda / nm

J = 4

J = 2

Banda larga

Emissão

Ti3+

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

Eu3+

5D

0

7F

J

J =

01

450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

1,0 % Eu3+

exc

= 320 nm

texc

= 5 min

298 K

450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda / nm

Y2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

5,0 % Eu3+

exc

= 320 nm

texc

= 5 min

298 K

Figura 6.3 Espectros de emissão da luminescência persistente dos materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Eu3+.

Os espectros de emissão foram registrados nos instantes de tempo de 0, 30, 60, 90, 120, 150, 180, 210 e 240 s após cessada a excitação.

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114

A banda de emissão larga observada nos espectros da Figura 6.3 é atribuída à transição

d–d do íon Ti3+ [3,5], comprovando a presença de íons titânio trivalentes oriundos da dopagem

com TiO2. É importante ressaltar que esta banda de emissão do Ti3+ é ausente nos espectros de

emissão convencional destes materiais (Figuras 5.3 e 5.8), e este fato ocorre por dois fatores.

Primeiramente, os processos de transferência de energia LMCT para o Eu3+ (O2- → Eu3+ e

S2- → Eu3+) são mais eficientes do que a transferência de energia LMCT para o Ti3+ (O2- → Ti3+

e S2- → Ti3+).

O outro fator consiste no processo de transferência de energia Ti3+ → Eu3+ observado nos

materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, uma vez que, conforme discutido no capítulo 5, o tempo

de vida de emissão desses materiais é maior que o dos materiais sem co-dopantes. Durante a

excitação, as armadilhas encontram-se preenchidas, e a energia fornecida pela excitação garante

uma transferência de energia Ti3+ → Eu3+ eficiente. Ao remover a excitação, a fonte de energia

do sistema consiste basicamente nos elétrons armadilhados próximos à BC, que ao retornarem

aos estados excitados do Ti3+ podem gerar a emissão ou transferir energia para o Eu3+, o que

gera uma luminescência persistente composta tanto pelas bandas de emissão finas do íon Eu3+

quanto pela banda larga de emissão do íon Ti3+. A diminuição da intensidade das bandas de

emissão do Ti3+ com o aumento da concentração de Eu3+ (Figura 6.3) também é um indicativo

do processo de transferência de energia Ti3+ → Eu3+, pois o processo de transferência de energia

Ti3+ → Eu3+ torna-se mais favorecido com o aumento da quantidade de Eu3+.

A presença da banda do Ti3+ e a ausência das bandas de emissão 5D1,2 → 7FJ do íon Eu3+

desloca a cor de emissão para regiões de menores energias, de modo que a cor emitida pela

luminescência persistente é mais avermelhada que a cor da emissão oriunda da excitação direta

destes materiais (Figura 6.4). Nota-se também que a intensidade da emissão não varia muito

com a concentração de Eu3+ (Figura 6.4), corroborando com as curvas de decaimento da

luminescência persistente para esses materiais (Figura 6.2).

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115

Figura 6.4 Fotografias da luminescência persistente dos materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 de Eu3+, registradas sob excitação (SE), imediatamente após remover

a excitação (0 s) e em intervalos de 10 s.

6.1.3 Termoluminescência

As curvas de termoluminescência dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com

0,5 % de Eu3+ (TR3+: La, Gd e Y) apresentam diferenças significativas em relação à intensidade

das bandas de emissão termoluminescentes. A intensidade da curva de termoluminescência

referente ao material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.5, linha verde) é maior que as curvas

dos materiais La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.5, linha azul) e Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

(Figura 6.5, linha vermelha) por pelo uma ordem de grandeza, o que confirma o maior tempo

de luminescência persistente para este material. Deve-se destacar que todas as curvas de

emissão de termoluminescência foram registradas nas mesmas condições experimentais e

instrumentais.

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116

100 150 200 250 300 350 400

0,0

5,0x103

1,0x104

1,5x104

2,0x104

2,5x104

3,0x104

0,5% Eu3+

220 °C

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Temperatura / °C

Y

Gd (x10)

La (x10)

TR2O

2S:Eu

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

texc

= 5 min

tespera

= 30 s

exc

= 365 nmTR3+

:

75 °C

Figura 6.5 Curvas de emissão termoluminescente dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

dopados com 0,5 % de Eu3+ (TR3+: La, Gd e Y), registradas após cessada a excitação em 365 nm

por 5 min. A intensidade das curvas dos materiais TR3+: La e Gd foi multiplicada por 10.

O perfil da curva de termoluminescência do material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.5,

linha verde) é semelhante com os resultados da literatura [3,6]. É possível observar duas bandas

de termoluminescência com aspecto de segunda ordem, a primeira de maior intensidade

centrada em temperatura de 75 °C, e a segunda apresenta menor intensidade localizada em torno

de 220 °C. A banda de emissão termoluminescente situada em 75 °C encontra-se em uma

temperatura próxima da ideal para a liberação da energia armazenada nas armadilhas do

material a temperatura ambiente [2,7]. Por outro lado, a banda de menor intensidade em torno

de 220 °C indica armadilhas mais profundas, que não contribuem para a liberação de energia a

temperatura ambiente, podendo contribuir na capacidade de armazenamento do material e,

portanto, aumentando uma luminescência persistente mais eficiente. No caso dos materiais

La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, observa-se um pequeno deslocamento

das bandas de emissão termoluminescentes em relação ao material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV.

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117

Uma das maneiras de se determinar a energia das armadilhas consiste no método da

deconvolução das curvas de termoluminescência [7]. No entanto, de acordo com Aitasalo e

colaboradores [1], este método apresenta-se muitas vezes incerto na determinação da

quantidade de bandas e da energia real das armadilhas. Ademais, devido à restrições

instrumentais, as curvas de termoluminescência dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV só

puderam ser registradas a partir de 50 °C, o que impede a deconvolução das bandas mais

intensas presentes em 75 °C. Portanto, os níveis de energia das armadilhas presentes nos

materiais em questão foram inferidas a partir das curvas de termoluminescência registradas

(Figura 6.5) e com base nos dados das referências [1,3,6,8].

Hölsä e colaboradores [8] foram os primeiro a propor que o mecanismo de luminescência

persistente do material Y2O2S:Eu3+,Ti3+/IV ocorre via armadilhamento de buracos próximo à

banda de valência (Figura 6.6). Este mecanismo considera que os níveis de energia 7FJ e 5DJ do

íon Eu3+ estão parcialmente sobrepostos à BV da matriz Y2O2S (Figura 6.6). Esta proposta é

coerente, pois implica na formação de armadilhas próximas ao topo BV, que justificam a

existência do fenômeno da luminescência persistente para materiais Y2O2S:Eu3+ sem co-

dopantes, ainda que pouco pronunciado.

Outro ponto importante consiste na luminescência persistente para os materiais

TR2O2S:Ti3+/IV e TR2O2S:Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y), cujos mecanismos ocorrem via

armadilhamento de elétrons excitados para a BC [3,5]. O mecanismo via armadilhamento de

elétrons é mais eficiente que o por armadilhamento de buracos, devido à maior mobilidade dos

elétrons pela BC em relação à mobilidade dos buracos pela BV, além do menor número de

armadilhas para buracos. Portanto, as bandas de termoluminescência referentes às armadilhas

de elétrons são mais intensas do que as bandas referentes às armadilhas de buracos, de modo

que as bandas de emissão termoluminescentes dos materiais preparados (Figura 6.5) são

relacionadas principalmente à energia das armadilhas de elétrons próximas à BC [9].

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118

Figura 6.6 Mecanismo de luminescência persistente para o material Y2O2S:Eu3+,Ti3+/IV

proposto por Hölsä e colaboradores [8].

Em resumo, de acordo com os dados das referências [3,6,8] e com as curvas de

termoluminescência dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.5) é provável que haja

armadilhas de buracos próximas à BV na faixa de energia 0,6–1,0 eV. Em relação às armadilhas

de elétrons próximas à BC, devem haver armadilhas com energia 0,6–0,7 eV, referentes à banda

de 75 °C, além de armadilhas mais profundas relativas à banda termoluminescente localizada

em 220 °C, com energia de cerca de 1,2 eV.

Por fim, é importante ressaltar que o fenômeno da luminescência persistente foi observado

nos materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV a baixas temperaturas. Realizou-se um teste qualitativo

sobre estes materiais, resfriando-os a 77 K e excitando-os com uma lâmpada UV (365 nm) por

5 minutos. Ao removê-los do N2(l) e cessar a excitação sobre os materiais, observou-se o

fenômeno da luminescência persistente até que a temperatura ambiente fosse atingida. Esta

liberação de energia luminosa ainda que a baixas temperaturas sugere a presença de armadilhas

de baixa energia (0,1–0,2 eV) próximas à BC destes materiais [1,2].

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119

6.1.4 Espectroscopia de excitação na região UV–UV vácuo

Os espectros de excitação na região do UV−UV vácuo das matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd

e Y) (Figura 6.7, esquerda) foram registrados a 298 K, na faixa espectral 150–325 nm. Nota-se

uma borda de absorção semelhante nos materiais, que é deslocada para regiões de maior energia

com a diminuição do raio La3+ > Gd3+ > Y3+. Esta borda é atribuída à absorção da matriz,

correspondendo à diferença de energia entre o topo da BV e a base da BC, ou seja, a energia do

band gap (Eg). Para uma melhor estimativa, a primeira derivada dos espectros foi plotada

(Figura 6.7, direita). O mínimo da derivada de cada curva fornece os valores de Eg iguais a 4,4,

4,5 e 5,0 eV para as matrizes La2O2S, Gd2O2S e Y2O2S, respectivamente, que estão próximos

aos valores de band gap encontrados na literatura [10–12].

150 175 200 225 250 275 300 325

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Inte

nsid

ade

/ U

nid

. A

rb.

Comprimento de onda / nm

Y

Gd

TR2O

2S

298 KLa

4 5 6 7 8-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

Inte

nsid

ade

/ U

nid

. A

rb.

Energia / eV

Eg = 4,5 eV

Eg = 4,6 eV

Y

Gd

TR2O

2S

298 K La

Eg = 5,0 eV

Figura 6.7 Espectros de excitação na região do UV−UV vácuo das matrizes TR2O2S

(TR3+: La, Gd e Y) sem dopantes (esquerda); primeira derivada dos espectros de excitação,

indicando o valor de energia do band gap (Eg) (direita).

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120

6.1.5 Posição dos níveis de energia dos íons Eu3+ e Ti3+

Com o objetivo de desenvolver os mecanismos de luminescência persistente, é necessário

também determinar a posição dos níveis de energia dos íons dopantes e co-dopantes (Eu3+ e

Ti3+, respectivamente) em relação ao band gap das matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y). Para

a determinação desses níveis de energia foram utilizados os dados espectrais de excitação dos

materiais TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 5.2), isto é, as energias das bandas

de transferência de carga LMCT O2- Eu3+ e S2- Eu3+ destes materiais. Na determinação

da energia nos níveis d do Ti3+ utilizou-se os dados reportados na referência [3].

A Figura 6.8 apresenta o diagrama das posições das bandas de valência e de condução (BV

e BC) e da posição dos níveis de energia dos íons Eu3+, Eu2+ (8S7/2) e Ti3+ na matriz La2O2S,

cuja construção foi detalhada a seguir.

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

La2O

2S

En

erg

ia /

eV

Eg:

4,4

eV

BC

BV

3

12

0

5D

J

7F

J

6

0

E

[E

u3+(7

F0)

- E

u2+(8

S7/2)]

6,4 eV

Eu2+

(8S

7/2)

Eu3+

Ti3+

eg

a2g

eg

LMCT

3,0 eV

LMCT

4,7 eV

Figura 6.8 Posição dos níveis 4fn dos íons, Eu3+, Eu2+ (8S7/2) e dos níveis d do íon Ti3+ na matriz

La2O2S.

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121

Primeiro, o valor de band gap proveu a diferença de energia entre o topo da banda de

valência (BV) e a base da banda de condução (BC) da matriz (Figura 6.8). Posicionando o topo

da BV na posição de 0 eV, foi determinada a largura da BV a partir da largura das bandas

LMCT O2- Eu3+ e S2- Eu3+ (Figura 5.2), isto é, dos valores de energia obtidos nos pontos

de maior e menor energia desta banda. O ponto de menor energia da banda LMCT determina o

valor da diferença de energia correspondente do topo da BV à posição do estado fundamental

do íon Eu2+ (8S7/2), que formalmente consiste no estado “Eu3+ + e-” gerado pela transição

LMCT Eu3+ (Figura 6.8). Os valores encontrados para a diferença de energia do topo da BV

ao nível de energia do estado 8S7/2 do íon Eu2+ foram de 3,0, 3,1 e 3,2 eV para os materiais

baseados nas matrizes La2O2S (Figura 6.8), Gd2O2S (Figura 6.10) e Y2O2S (Figura 6.11),

respectivamente. Com o ponto de maior energia da banda LMCT determinou-se a largura da

BV, partindo da energia do estado 8S7/2 do íon Eu2+, e os valores encontrados para esta energia

foram de 4,7, 4,8 e 5,0 eV para os materiais baseados nas matrizes La2O2S (Figura 6.8), Gd2O2S

(Figura 6.10) e Y2O2S (Figura 6.11).

Para determinar a posição do estado fundamental do íon Eu3+ (7F0) a partir da posição do

estado fundamental do íon Eu2+ (8S7/2) deve-se levar em conta a diferença de energia entre os

níveis fundamentais de um mesmo elemento terra rara com diferentes estados de oxidação

(Figura 1.7). Essa energia é muito alta para o caso dos íons livres (~18 eV), mas é

consideravelmente reduzida para os íons dopados em matrizes sólidas. No caso dos íons Eu3+ e

Eu2+, esta diferença de energia é de >7 eV para fluoretos, entre 6 e 7 eV para óxidos e <6 eV

para sulfetos [13,14], isto é, a diferença de energia ΔE [Eu2+(8S7/2) – Eu3+(7F0)] é dependente

da matriz. A partir das referências [13,14] utilizou-se um valor de 6,4 eV para a diferença de

energia ΔE [Eu2+(8S7/2) – Eu3+(7F0)] nas matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y). Dessa maneira,

o nível fundamental 7F0 do íon Eu3+ foi posicionado abaixo da BV, e os níveis 5DJ encontram-

se sobrepostos à BV (Figura 6.8).

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122

Por fim, o posicionamento nos níveis de energia do íon Ti3+ no diagrama da Figura 6.8

deve considerar o desdobramento dos orbitais d devido a influência do campo ligante em um

sítio de simetria C3v. A Figura 6.9 apresenta o desdobramento dos orbitais d do Ti3+ (3d1) em

um ambiente químico contendo sítios de coordenação com simetrias Oh e C3v [3]. Em sítios

octaédricos, o estado 2D dos íons 3d1 é desdobrado nos níveis 2T2 (fundamental) e 2E (excitado),

com a separação de energia dada por 10Dq. Em simetria trigonal, o estado fundamental 2T2 é

desdobrado nos estados 2A2 e 2E2. De acordo com a referência [3], atribui-se a banda excitação

dos materiais à transição 2E→2E, enquanto que a emissão do Ti3+ se dá pela transição 2E→2A2,

o que explica a absorção em maiores energias (~30000 cm-1) e a emissão de banda larga

centrada em 600 nm.

Figura 6.9 Desdobramento dos orbitais d do íon Ti3+ (3d1) sobre campos de simetria Oh e C3v.

À direita o poliedro de coordenação relativo aos sítios C3v nos oxissulfetos [3].

As posições dos níveis de energia dos íons Eu3+, Eu2+ (8S7/2) e Ti3+ dentro do band gap das

matrizes Gd2O2S (Figura 6.10) e Y2O2S (Figura 6.11) foram determinadas da mesma maneira

que para o diagrama de níveis de energia da matriz La2O2S (Figura 6.8). Observa-se nos

diagramas de níveis de energia das matrizes Gd2O2S e Y2O2S que o nível excitado do íon Ti3+

encontra-se parcialmente sobreposto à BC (Figuras 6.10 e 6.11), posição adequada para os

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123

mecanismos de luminescência persistente via armadilhamento de elétrons [1,2]. No caso da

matriz La2O2S o nível excitado do íon Ti3+ encontra-se totalmente sobreposto à BC (Figura

6.8), o que induz a decaimentos não radiativos, diminuindo a eficiência da luminescência

persistente.

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

Gd2O

2S

Eu2+

(8S

7/2)

En

erg

ia /

eV LMCT

4,8 eV

LMCT

3,1 eV

3

12

0

5D

J

7F

J

6

0

BV

BC

Eg:

4,5

eV

E

[E

u3+(7

F0)

- E

u2+(8

S7/2)]

6,4 eV

Eu3+

Ti3+

eg

a2g

eg

Figura 6.10 Posição dos níveis 4fn dos íons Eu3+ e Eu2+ (8S7/2) e dos níveis d do íon Ti3+ na

matriz Gd2O2S.

O desdobramento dos níveis d do íon Ti3+ em função do campo ligante aumenta com a

diminuição do raio do cátion da matriz, ou seja, a maior diferença de energia entre os estados

2E fundamental e 2E excitado é observada para no sistema Y2O2S. Seria esperado que o estado

excitado 2E estive-se localizado dentro da BC desta matriz, devido ao maior valor de band gap

do Y2O2S (5,0 eV) e que este nível encontra-se parcialmente sobreposto à BC (Figura 6.11).

Observa-se também que os níveis de energia do íon Eu3+ variam muito pouco entre as diferentes

matrizes, evidenciando o pequeno efeito do campo ligante na subcamada 4f6 do íon Eu3+.

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124

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

Eu2+

(8S

7/2)

Ti3+

3

12

0

Eu3+

E

[E

u3+(7

F0)

- E

u2+(8

S7/2)]

BC

En

erg

ia /

eV

Eg:

5,0

eV

BV

6,4 eV

7F

J

6

0

5D

J

eg

a2g

eg

Y2O

2S

LMCT

3,2 eV

LMCT

5,0 eV

Figura 6.11 Posição dos níveis 4fn dos íons, Eu3+, Eu2+ (8S7/2) e dos níveis d do íon Ti3+ na

matriz Y2O2S.

6.1.6 Mecanismo de luminescência persistente

Os mecanismos de luminescência persistente para os materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) foram desenvolvidos com base nos dados experimentais obtidos da:

i) energia do band gap (Figura 6.7), ii) posição dos níveis de energia dos íons dopantes e co-

dopantes (Eu3+ e Ti3+) nas matrizes (Figuras 6.9–11) e iii) energia das armadilhas obtidas pelas

curvas de termoluminescência (Figura 6.5) e pelos dados das referências [3,6,8]. O trabalho de

Aitasalo e colaboradores [1] foi usado como base na construção dos mecanismos da

luminescência persistente das matrizes dopadas com íons Eu3+ e co-dopados com Ti3+

abordadas nesta dissertação.

É importante ressaltar que existem dois tipos possíveis de mecanismos de luminescência

persistente para cada um desses materiais, o mecanismo via armadilhamento de buracos e o

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125

mecanismo via armadilhamento de elétrons, portanto, esses mecanismos serão representados

em modelos separados. O mecanismo de luminescência persistente para o material

La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV via armadilhamento de buracos pode ser descrito pelas seguintes

etapas (Figura 6.12).

I) O material é excitado na região da banda LMCT S2- Eu3+, promovendo um elétron

(e-) da BV do material para o estado “LMCT Eu3+” (8S7/2 do íon Eu2+), criando um

buraco (h+) livre na BV;

II) O buraco (h+) é capturado pelas armadilhas presentes próximas a BV. Este processo

ocorre com perda de energia térmica da ordem de kT. O buraco pode migrar de uma

armadilha para outra com perda ou ganho de energia térmica devido à proximidade entre

os níveis das armadilhas;

III) O buraco (h+) retorna à BV com ganho de energia térmica, recombinando-se com o

elétron do estado LMCT (8S7/2 do íon Eu2+), que decai não radiativamente transferindo a

energia para os íons Eu3+ presentes.

IV) Os principais níveis excitados 5D3,2,1 dos íons Eu3+ decaem não radiativamente para o

nível emissor 5D0, gerando a luminescência persistente oriunda das transições 5D0 7FJ.

Page 126: IAN POMPERMAYER MACHADO...Machado, I.P. Luminescência persistente no visível e infravermelho em oxissulfetos de terras raras preparados por síntese no estado sólido assistida por

126

Figura 6.12 Mecanismo de luminescência persistente para o material La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (T.E: Transferência de Energia).

A energia de excitação utilizada também pode estar na região do band gap das matrizes,

visto que o elétron promovido à BC cria da mesma maneira um buraco na BV. Neste caso, a

intensidade da luminescência persistente é um pouco menor, pois a transferência de energia

LMCT Eu3+ é mais eficiente do que a transferência matriz Eu3+. Por outro lado, de acordo

com este mecanismo, não é possível obter a luminescência persistente destes sistemas ao excitar

diretamente nas transições 7F0,1 5DJ do íon Eu3+ porque não são gerados buracos livres na

BV. Esta constatação está de acordo com as observações experimentais deste trabalho.

Este mecanismo ocorre sem a assistência dos íons Ti3+ e, portanto, explica o fenômeno da

luminescência persistente dos materiais TR2O2S:Eu3+ sem co-dopantes (TR3+: La, Gd e Y). A

intensidade e duração da luminescência persistente são menores nos materiais não co-dopados

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127

devido exatamente à baixa eficiência do mecanismo via armadilhamento de buracos quando

comparado ao mecanismo via armadilhamento de elétrons.

No caso do mecanismo de luminescência persistente via armadilhamento de elétrons para

os materiais La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.13) ocorre através das seguintes etapas:

I) O material é excitado na região das bandas LMCT, promovendo um elétron (e-) do nível

fundamental 2E do íon Ti3+para os estados excitados 2E sobrepostos à BC, gerando a

espécie [TiIV–e-];

II) Devido à sobreposição dos estados excitados 2E do íon Ti3+ com a BC, o elétron é

transferido para a BC, onde pode ser capturado pelas armadilhas, migrando de uma

armadilha a outra com perda ou ganho de energia térmica da ordem de kT;

III) O elétron retorna à BC com ganho de energia térmica e em seguida sofre decaimento,

recombinando com a espécie [TiIV–e-]. Este decaimento ocorre tanto por um processo

radiativo quanto não radiativo.

IV) No decaimento radiativo é produzida a luminescência persistente de banda larga oriunda

da transição 2E 2A2 do íon Ti3+.

V) No decaimento não-radiativo a energia da transição 2E 2E do íon Ti3+ é transferida para

os níveis de energia 4f64f6 do íon Eu3+ fisicamente próximo.

VI) Os níveis dos estados excitados 5D3,2,1 do íon Eu3+ decaem não radiativamente para o

nível emissor 5D0, gerando a luminescência persistente oriunda das transições 5D0 7FJ.

Os mecanismos de luminescência persistente para os materiais Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

(Figura 6.14) e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.15) são semelhantes ao do material

La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, tanto via armadilhamento de buracos quanto de elétrons. No caso

dos mecanismos por armadilhamento de buracos, os tempos de luminescência persistente

dependem basicamente de dois fatores: do valor da energia da transição LMCT Eu3+ e da

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128

energia das armadilhas de buracos próximas à BV. Como estes fatores são oriundos da natureza

das matrizes TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y) e da posição dos níveis de energia do íon Eu3+, os

tempos de luminescência persistente por este mecanismo são muito semelhantes para os três

materiais em questão.

Figura 6.13 Mecanismo de luminescência persistente para o material La2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de elétrons (T.E: Transferência de Energia, neste caso, Ti3+ → Eu3+).

Por outro lado, o tempo de luminescência persistente pelo mecanismo via armadilhamento

de elétrons é muito distinto entre os materiais em questão, pois depende de três outros fatores:

a posição do nível excitado do Ti3+ em relação à BC, a eficiência da transferência de energia

Ti3+ → Eu3+ e as armadilhas de elétrons.

A posição do nível excitado 2E do íon Ti3+ é ideal para luminescência persistente quando

está parcialmente sobreposto à BC, que é o caso dos materiais de Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

(Figura 6.14, inferior) e Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.15, inferior). Além disso, a melhor

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129

eficiência da transferência de energia Ti3+ → Eu3+ ocorre nos materiais

Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, confirmado pelo valor do tempo de vida de emissão deste material

(Figura 5.8). Em relação às armadilhas, as curvas de emissão termoluminescente indicam uma

quantidade de defeitos muito maior para os materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.5).

Considerando estas características e levando em conta as incertezas nos cálculos dos níveis de

energia, o maior tempo de luminescência persistente pelo mecanismo via armadilhamento de

elétrons e referente ao material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, corroborados pelas curvas de

decaimento da luminescência persistente (Figura 6.1).

Tanto a emissão do íon Ti3+ quanto a do íon Eu3+ são assistidas pelo mecanismo via

armadilhamento de elétrons, explicando a maior eficiência da luminescência persistente nos

materiais co-dopados. A emissão do íon Ti3+ e a transferência de energia Ti3+ Eu3+ ocorrem

de maneira simultânea, o que explica a observação das bandas de emissão provenientes desses

dois íons nos espectros de emissão da luminescência persistente (Figura 6.3).

Vale ressaltar que o mecanismo proposto via armadilhamento de elétrons nesta dissertação

foi o primeiro mecanismo para o fenômeno da luminescência persistente para os materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y).

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130

Figura 6.14 Mecanismo de luminescência persistente para o material Gd2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (superior) e via armadilhamento de elétrons (inferior).

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131

Figura 6.15 Mecanismo de luminescência persistente para o material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (superior) e via armadilhamento de elétrons (inferior).

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132

6.2 Luminescência persistente dos materiais dopados com Yb3+

6.2.1 Curvas de decaimento da luminescência persistente

Assim como nos materiais ativados pelo íon Eu3+, observa-se o fenômeno da luminescência

persistente para os materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5 % de Yb3+ (TR3+: La,

Gd e Y) evidenciadas por meio das curvas de decaimento de luminescência persistente

(Figura 6.16). As curvas apresentam comportamento exponencial e são bastante similares,

apresentando um decaimento mais rápido em relação às curvas de decaimento dos materiais

dopados com Eu3+ (TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV), indicando que a luminescência persistente dos

materiais dopados com Eu3+ é mais longa.

0 60 120 180 24010

3

104

105

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Tempo / s

La

Gd

Y

0,5 % Yb3+

em

= 983 nm

texc

= 5 min

298 K

TR2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 250 nm

TR3+

:

Figura 6.16 Curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV dopados com 0,5 % de Yb3+ (TR3+: La, Gd e Y) registradas em

983 nm, após cessada a excitação em 250 nm por 5 minutos.

O comportamento da luminescência persistente dos materiais La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

varia muito pouco com a variação da concentração de Yb3+, conforme as curvas de decaimento

dos materiais dopados com 0,5, 1,0 e 5,0 % de Yb3+ (Figura 6.17), indicando que a concentração

do íon Yb3+ influencia pouco na luminescência persistente desse sistema.

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133

0 60 120 180 24010

3

104

105

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

.

Tempo / s

0,5 %

1,0 %

5,0 %

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

X % Yb3+

em

= 983 nm

texc

= 5 min

298 K

exc

= 250 nm

Figura 6.17 Curvas de decaimento da luminescência persistente dos materiais

La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (X % Yb3+: 0,5, 1,0 e 5,0) registradas em 983 nm, após cessada a

excitação em 275 nm por 5 minutos.

6.2.2 Espectros de emissão da luminescência persistente

A Figura 6.18 apresenta os espectros de emissão da luminescência persistente dos materiais

dopados com Yb3+. Estes espectros foram registrados da mesma forma que os espectros de

emissão da luminescência persistente dos materiais Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.3). Isto

é, os materiais foram previamente excitados em 310 nm por 5 minutos, e os espectros de

emissão foram registrados nos instantes de tempo iguais a: 0, 30, 60, 90, 120, 150, 180, 210 e

240 s, após removida a excitação.

Os materiais La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.18a), Gd2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura

6.18b) e Y2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.18c) dopados com 0,5 % de Yb3+ apresentam

bandas de emissão finas na faixa 900–1050 nm atribuídas às transições eletrônicas 2F5/2 → 2F7/2

do íon Yb3+. Observa-se também a banda emissão da larga atribuída ao íon Ti3+, que se estende

de 500 a 800 nm. Nos materiais de La2O2S com concentrações de 1,0 e 5,0 % de Yb3+ (Figuras

6.18 d,e,f) não são observadas as bandas de emissão da impureza de Eu3+.

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134

400 500 600 700 800 900 1000

2

4

6

8

10

Ti3+

(banda larga)2E

2A

2

2F

5/2

2F

7/2

0,5 % Yb3+

In

ten

sid

ad

e /

Un

id.

Arb

. (x

10

3)

Comprimento de onda / nm

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 310 nm

texc

= 5 min

298 K

a)

Yb3+

Eu3+

5D

0

7F

J

400 500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

2F

5/2

2F

7/2

0,5 % Yb3+

Gd2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 310 nm

texc

= 5 min

298 K

b)

Yb3+

400 500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

Ti3+

2E

2A

2

2F

5/2

2F

7/2

0,5 % Yb3+

Y2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

=

310 nm

texc

=

5 min

298 K

c)

Yb3+

400 500 600 700 800 900 1000

2

4

6

Inte

nsid

ad

e /

Un

id.

Arb

. (x

10

3)

Comprimento de onda

2F

5/2

2F

7/2

1,0 % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 310 nm

texc

= 5 min

298 K

d)

Yb3+

400 500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

2F

5/2

2F

7/2

5,0 % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+,Mg

2+,Ti

3+/IV

exc

= 310 nm

texc

= 5 min

298 K

e)

Yb3+

400 500 600 700 800 900 1000

Comprimento de onda / nm

2F

5/2

2F

7/2

5,0 % Yb3+

La2O

2S:Yb

3+

exc

= 310 nm

texc

= 5 min

298 K

f)

Yb3+

Figura 6.18 Espectros de emissão da luminescência persistente – a) La2O2S:YbMgTi, b) Gd2O2S:YbMgTi, c) Y2O2S:YbMgTi (estes com 0,5 % de Yb3+);

La2O2S:YbMgTi com d) 1,0 e e) 5,0 % de Yb3+; f) La2O2S:Yb com 5,0 % Yb3+.

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135

Nota-se que as intensidades das bandas de emissão referentes às transições 2F5/2 → 2F7/2 do

íon Yb3+ são semelhantes na luminescência persistente em todos os materiais (Figura 6.18). Ao

comparar os materiais com 5,0 % de Yb3+ com co-dopantes (La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV, Figura

6.18e) e sem co-dopantes (La2O2S:Yb3+, Figura 6.18f) observa-se um aumento da intensidade

da banda de emissão do íon Yb3+ no material sem co-dopantes. Esses resultados mostram que

a presença dos co-dopantes, mais precisamente do Ti3+, não influencia na luminescência

persistente oriunda dos íons Yb3+. Para elucidar essas características dos materiais dopados com

Yb3+, os seus mecanismos de luminescência persistente foram desenvolvidos a seguir.

6.2.3 Mecanismo de luminescência persistente

Os mecanismos de luminescência persistente dos materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y) foram desenvolvidos seguindo o mesmo modelo dos materiais dopados com

o íon Eu3+. Portanto, é necessário determinar a posição dos níveis de energia do íon Yb3+ dentro

do band gap das matrizes TR2O2S, além do nível de energia da banda de transferência de carga

LMCT → Yb3+ (ou estado 1S0 do íon Yb2+).

De acordo com Dorenbos [14,15], a diferença de energia entre os níveis fundamentais dos

íons Yb3+ (2F7/2) e Eu3+ (7F0) é de +0,236 eV, ou seja, o nível do 2F7/2 encontra-se um pouco

acima do nível 7F0 do íon Eu3+. Partindo dos espectros de excitação dos materiais dopados com

Yb3+ (Figura 5.11), os valores encontrados para a diferença de energia do topo da BV ao nível

de energia do estado 1S0 do íon Yb2+ foram de 3,4, 3,5 e 3,6 eV para os materiais baseados nas

matrizes La2O2S, Gd2O2S e Y2O2S, respectivamente.

O mecanismo da luminescência persistente via armadilhamento de buracos foi construído

para o material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.19), cujas etapas são idênticas às do

mecanismo via armadilhamento de buracos dos materiais dopados com o íon Eu3+:

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136

I) O material é excitado na região da banda LMCT S2- Yb3+ (ou do band gap)

promovendo um elétron (e-) da BV para o estado 1S0 do íon Yb2+ (ou para a BC), criando

um buraco (h+) livre na BV;

II) O buraco (h+) é capturado pelas armadilhas presentes próximas a BV, com perda de

energia térmica da ordem de kT. O buraco pode migrar de uma armadilha para outra com

perda ou ganho de energia térmica devido à proximidade entre os níveis das armadilhas;

III) O buraco (h+) retorna à BV com ganho de energia térmica, recombinando-se com o

elétron do estado LMCT (1S0 do íon Yb2+), que decai não radiativamente transferindo a

energia para o estado excitado 2F5/2 de um íon Yb3+ presente.

IV) A transição 2F5/2 2F7/2 gera a luminescência persistente na região do infravermelho

próximo (Near Infrared – NIR).

Figura 6.19 Mecanismo de luminescência persistente para o material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (T.E: Transferência de Energia).

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137

O mecanismo de luminescência persistente via armadilhamento de elétrons para os

materiais La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.20) ocorre através das seguintes etapas:

I) O material é excitado nas bandas LMCT promovendo um elétron (e-) do nível

fundamental 2E do íon Ti3+para os estados excitados 2E sobrepostos à BC, gerando a

espécie [TiIV–e-];

II) Devido à sobreposição dos estados excitados 2E do íon Ti3+ com a BC, o elétron é

transferido para a BC, onde pode ser capturado pelas armadilhas, migrando de uma

armadilha a outra com perda ou ganho de energia térmica da ordem de kT;

III) O elétron retorna à BC com ganho de energia térmica e em seguida sofre decaimento

radiativo, recombinando com a espécie [TiIV–e-] e produzindo a luminescência persistente

de banda larga oriunda da transição 2E 2A2 do íon Ti3+.

Figura 6.20 Mecanismo de luminescência persistente para o material La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de elétrons. O processo de transferência de energia Ti3+ → Yb3+ não ocorre

neste material.

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138

Devido à estrutura dos níveis de energia do íon Yb3+, a diferença de energia entre os estados

fundamental (2F7/2) e excitado (2F7/2) não é ressonante com o processo de decaimento não

radiativo 2E → 2E do íon Ti3+. Portanto, o processo de transferência de energia Ti3+ → Yb3+

não ocorre nos materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) (Figura 6.20).

Esta consiste na principal diferença entre os mecanismos de luminescência dos materiais

dopados com o íon Eu3+ ou com íons Yb3+. A luminescência persistente dos íons Eu3+ nos

materiais TR2O2S:Eu3+ é pouco efetiva, pois ocorre por meio do mecanismo via

armadilhamento de buracos. O mecanismo semelhante ocorre nos materiais TR2O2S:Yb3+,

devido à posição dos níveis de energia do íon Yb3+ em relação a BV.

Por outro lado, os materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV exibem uma luminescência

persistente mais eficiente. Neste caso, tanto a emissão do íon Ti3+ quanto a do íon Eu3+ são

assistidas pelo mecanismo via armadilhamento de elétrons devido ao processo de transferência

de energia Ti3+ → Eu3+. O mesmo não acontece nos materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV. Como

não existe o processo de transferência de energia Ti3+ → Yb3+, o mecanismo de luminescência

persistente destes materiais ocorre via armadilhamento de buracos simultâneo ao de

armadilhamento de elétrons, o que explica a visualização das bandas de emissão oriundas de

ambos os íons Yb3+ e Ti3+, respectivamente (Figura 6.18).

Os mecanismos de luminescência persistente dos dois materiais Gd2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

(Figura 6.21) e Y2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.22) ocorrem de forma idêntica ao

La2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figuras 6.19–20), tanto em relação ao mecanismo via

armadilhamento de buracos quanto via armadilhamento de elétrons.

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139

Figura 6.21 Mecanismo de luminescência persistente para o material Gd2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (superior) e via armadilhamento de elétrons (inferior).

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Figura 6.22 Mecanismo de luminescência persistente para o material Y2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV

via armadilhamento de buracos (superior) e via armadilhamento de elétrons (inferior).

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A luminescência persistente proveniente do íon Ti3+ é mais eficiente nos materiais

contendo o íon Y3+ (Figura 6.18c) devido à posição dos níveis de energia do Ti3+ em relação ao

band gap, assim como do material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, além do Y2O2S:Mg2+,Ti3+/IV

reportado na referência [3]. Por outro lado, a luminescência persistente do íon Yb3+ é muito

semelhante em todos os materiais TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (Figura 6.18), pois

a eficiência do mecanismo via armadilhamento de buracos é semelhante dentre as matrizes

TR2O2S (TR3+: La, Gd e Y).

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v. 135, p. 93–104, 2013.

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Capítulo 7

Conclusão e perspectivas

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7. CONCLUSÃO

As matrizes TR2O2S bem como os materiais TR2O2S:Ln3+ e TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV

(TR3+: La, Gd e Y; Ln3+: Eu, Yb) foram preparados com sucesso pelo método de síntese no

estado sólido assistida por micro-ondas. Os dados MEV indicaram que os materiais baseados

em Gd2O2S e Y2O2S apresentam partículas bem definidas de tamanho médio de 1 μm. Também

foi possível visualizar partículas de morfologia hexagonal nos materiais de Y2O2S, oriundas do

sistema cristalino trigonal (grupo espacial P3m1) corroborada por DRX.

Os resultados de espectroscopia de absorção no infravermelho (IV) e de espectroscopia de

absorção de raios X próximo a borda (XANES) evidenciaram a presença de espécies oxidadas

de enxofre (SO42-) preferencialmente na superfície dos materiais, em especial nas matrizes de

La2O2S e Y2O2S. A oxidação do enxofre nos oxissulfetos se deve a processos de oxirredução

entre o enxofre elementar e a atmosfera redutora de CO(g) gerada durante a síntese assistida por

micro-ondas.

Os materiais luminescentes TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y)

apresentam bandas de emissão atribuídas às transições 5D2,1,0 → 7FJ do íon Eu3+. As bandas de

emissão provenientes dos níveis emissores mais energéticos 5D1 e 5D2 sugerem que as matrizes

TR2O2S apresentam baixo acoplamento vibrônico, ou baixa energia de fônons. A eficiência

quântica de emissão do nível 5D0 destes materiais varia de 21 a 36 %, sendo este maior valor

observado para o material Y2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV dopado com 0,5 % de Eu3+. O tempo de

vida de emissão do nível 5D0 dos materiais TR2O2S:Eu3+ aumenta quando são adicionados os

co-dopantes Mg2+ e Ti3+/IV. Isso indica a existência do processo de transferência de energia

Ti3+ → Eu3+ nos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV, que apresenta grande importância nos

mecanismos de luminescência persistente destes materiais.

Os materiais TR2O2S:Yb3+ e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y) apresentam

bandas de emissão finas na faixa 900–1050 nm atribuídas à transição 2F5/2 → 2F7/2 do íon Yb3+.

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Este resultado evidencia que os materiais ativados pelo íon Yb3+ exibem luminescência com

emissão na região do infravermelho próximo (Near infrared – NIR). A luminescência destes

materiais é favorecida em maiores concentrações de íon Yb3+ (1,0 e 5,0 %). De acordo com as

análises de micrografias de fluorescência, estes materiais apresentam uma emissão no NIR

homogênea, indicando uma boa formação de fase e uma eficiente transferência de energia para

o íon Yb3+.

A luminescência persistente dos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y)

na região do vermelho é em torno de 1h, em especial a do matriz contendo Y3+ com diferentes

concentrações de Eu3+ (0,5, 1,0 e 5,0 %). Os espectros de emissão da luminescência persistente

mostram o decaimento das bandas emissão oriundas tanto do íon Eu3+ quanto do íon Ti3+.

Ademais, foi observada a luminescência persistente na região do NIR para os materiais dopados

com o íon Yb3+. Esta característica permite a aplicação destes materiais em áreas como sondas

biológicas e em sensibilizadores de células solares. Também foi possível observar bandas de

emissão largas na região do visível, provenientes da emissão d–d do íon Ti3+.

Os mecanismos de luminescência persistente foram propostos para os materiais

TR2O2S:Ln3+ e TR2O2S:Ln3+,Mg2+,Ti3+/IV (TR3+: La, Gd e Y; Ln3+: Eu, Yb). Existem dois tipos

de mecanismo possíveis, o mecanismo via armadilhamento de buracos e via armadilhamento

de elétrons. O mecanismo via armadilhamento de buracos é relativo aos íons Eu3+ e Yb3+,

devido à sobreposição dos seus principais níveis de energia em relação à banda de valência das

matrizes TR2O2S. Este mecanismo possui uma eficiência mais baixa, devido à baixa mobilidade

dos buracos pela banda de valência, porém explica a existência do fenômeno da luminescência

persistente nos materiais sem co-dopantes (TR2O2S:Eu3+ e TR2O2S:Yb3+).

O mecanismo via armadilhamento de elétrons ocorre nos materiais

TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV e TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV para a emissão oriunda do íon Ti3+

devido à posição dos seus níveis excitados em relação à banda de condução das matizes

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TR2O2S. Este mecanismo é mais eficiente em comparação ao mecanismo via armadilhamento

de buracos, devido à alta mobilidade dos elétrons pela banda de condução, além do maior

número de armadilhas de elétrons disponíveis, gerando uma luminescência persistente

duradoura para a emissão do Ti3+. Nos materiais TR2O2S:Eu3+,Mg2+,Ti3+/IV observa-se o

processo de transferência de energia Ti3+ → Eu3+, o que leva a uma luminescência persistente

tanto para a emissão do íon Ti3+ quanto para os íons Eu3+.

Como não ocorre o processo de transferência de energia Ti3+ → Yb3+, a luminescência

persistente dos materiais TR2O2S:Yb3+,Mg2+,Ti3+/IV ocorre com o mecanismo de

armadilhamento de buracos simultâneo ao de armadilhamento de elétrons, obtendo uma

luminescência persistente oriunda de ambos os íons Yb3+ e Ti3+ pelos dois mecanismos.

Perspectivas

Dar continuidade no doutorado o estudo de materiais fotônicos à base de terras raras que

apresentem o fenômeno da luminescência persistente na região do visível–NIR.

Otimizar os parâmetros de síntese assistida por micro-ondas para as matrizes TR2O2S

(TR3+: La, Gd e Y), visando diminuir ainda mais o tempo de preparação destes materiais;

Aperfeiçoar os mecanismos de luminescência persistente dos materiais desenvolvidos

neste trabalho a partir de novos estudos;

Investigar novos materiais que apresentam luminescência persistente com emissão no

infravermelho próximo;

Estudar as aplicações destes materiais como sensibilizadores de células solares e sondas

biológicas.

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Anexo

Súmula curricular

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SÚMULA CURRICULAR

1. Dados Pessoais

Nome: Ian Pompermayer Machado

Local e Data de nascimento: Vila Velha, ES – 20 de Julho de 1992

2. Educação

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Graduação: Química – Bacharelado

3. Ocupação

Núcleo de competências em Química do Petróleo (NCPQ–UFES)

Estagiário, Laboratório de Instrumentação (2012–2013)

4. Trabalhos apresentados em congressos

I. Silva, I.G.N.; Machado, I. P.; Rodrigues, R.V.; Mustafa, D.; Brito, H.F.; “Low

Temperature Synthesis of Y2O2SO4:Eu3+ Nanophosphor Using 5-sulfoisophthalic Acid

Precursors”. XIII Brazilian MRS Meeting (SBP-Mat) – João Pessoa, PB, Brasil (2014).

II. Machado, I. P.; Carvalho, J.M.; Silva, I.G.N.; Rodrigues, L.C.V.; Brito, H.F.; “Red

Persistent Luminescence of R2O2S:Eu3+,Mg2+,TiIV materials (R3+: La, Gd and Y) prepared

by microwave-assisted synthesis”. XIV Brazilian MRS Meeting (SBP-Mat) – Rio de

Janeiro, RJ, Brasil (2015).

III. Merízio, L.G.; Machado, I.P.; Rodrigues, L.C.V.; Hölsä, J.; Brito, H.F.; “Alternative

Synthesis Methods of Persistent Luminescence Materials”. 4th Internacional Conference

on the Physics of Optical Materials and Devices (ICOM) – Budva, Montenegro (2015).