i p “l s a gava dos santos - avm.edu.br · candido mendes como condição prévia para conclusão...

36
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSUAUTISMO INFANTIL DEISE GAVA DOS SANTOS RIO DE JANEIRO 2010

Upload: dangkhue

Post on 09-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AUTISMO INFANTIL

DEISE GAVA DOS SANTOS

RIO DE JANEIRO

2010

2

DEISE GAVA DOS SANTOS

A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE NO AUTISMO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para

conclusão do curso de pós graduação “Lato

Sensu” em psicopedagogia.

Por: Deise Gava dos Santos.

ORIENTADOR: PROF. CARLY MACHADO.

RIO DE JANEIRO

2010

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me amar e permitir realizar mais um sonho, a Ele

toda honra, glória e louvor.

Aos meus pais que com afinco e muito amor sempre me incentivaram a

lutar pelos meus ideais, vocês são meu maior exemplo, amo vocês.

Aos meus mestres que estavam sempre dispostos a me ouvir sanando

minhas dúvidas e com suas contribuições facilitaram na transformação das

minhas dificuldades em crescimento, a vocês o meu muito obrigado.

A mestra Dayse Serra que com muita propriedade, seriedade e

conhecimento mostrou-me o caminho para o tratamento do autismo,

possibilitando- me ver uma nova educação sem ranço de preconceito.

Agradeço também aos meus colegas que sempre estavam atentos para

o enriquecimento de todo o processo de aprendizagem.

4

Dedico este trabalho ao meu aluno T.V.F. que com o seu

jeito de ser fez-me crescer e que na rotina do dia a dia

fomentou dentro de mim a busca de novos caminhos

para uma educação inclusiva.

5

“Descobrimos assim que a educação não é aquilo que o

professor dá, mas um processo natural que se

desenvolve espontaneamente no individual humano; que

não se adquire ouvindo palavras, mas em virtude de

experiências efetuadas no ambiente.” Maria Montessori

6

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é mostrar que o educador que conhece a

síndrome do autismo pode ser também um instrumento no processo de

intervenção. E quando o diagnóstico é acompanhado de um esclarecimento e

orientação aos pais e educadores, torna se possível associar o diagnóstico e

intervenção precoce, ajudando no desenvolvimento da criança e possibilitando

um resultado final eficaz. Para isso foi traçado um perfil de pais, educador e

criança portadora de síndrome de autismo. Através de participação direta no

desenvolvimento do aluno autista de 4 anos de idade e diálogo constante com

sua a mãe. Fazia-se necessário entender o comportamento da criança autista,

realizar intervenção precoce e orientar aos pais como proceder com o filho.

7

METODOLOGIA

Este trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica. Os principais autores

utilizados na realização deste trabalho Chris Williams, Barry Wright, Pierre

Ferrari, Eugênio Cunha, Cláudio Roberto Batista e Cleonice Bosa. Na

elaboração deste, foi estudada a vida social e escolar de uma criança

portadora da Síndrome do Autismo em seu convívio escolar, com participação

direta no seu desenvolvimento.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................... 9

I. AUTISMO INFANTIL ........................................................................ 12

1.1 DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO E DA PERSONALIDADE ..... 15

1.2 A INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA AUTISTA ....................................... 18

1.3 MOVIMENTO PSICANALÍTICO E SUAS CONTRIBUIÇÕES ............. 19

II. DIAGNÓSTICO ................................................................................ 21

2.1 SINAIS OBSERVADOS PRECOCEMENTE POR KANNER ............... 22

2.2 SITUAÇÕES DA FAMÍLIA EM RELAÇÃO À AFECÇÃO .................... 26

2.3 AJUDA PROFISSIONAL AOS PAIS DE CRIANÇAS PORTADORAS DO

AUTISMO .................................................................................................. 27

III. A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE ............. 28

3.1 A FUNÇÃO DO PROFESSOR ................................................ 29

3.2 ESCOLA E CURRÍCULO FUNCIONAL ..................................... 30

CONCLUSÃO ................................................................. 34

BIBLIOGRAFIA ...............................................................36

9

INTRODUÇÃO

O presente tema originou-se de observações feitas ao comportamento

de um aluno autista inserido na classe de educação infantil.

Neste processo seria necessária a aproximação entre aluno e

professora na intenção de fazer uma ponte na elaboração dessa pesquisa

O relacionamento dia após dia só fomentou a busca de novos

instrumentos que pudessem ser utilizados como meio de intervenção no seu

desenvolvimento.

Então, foi utilizado como bússola para a construção desta pesquisa a

observação e o diálogo com os pais.

No percurso do trabalho pode-se notar a necessidade da intervenção

precoce, do apoio aos pais e professores. Que o autismo precisa de uma ação

que requer do professor estudo, preparação, dedicação e muita primazia no

esforço de todas as partes. Os capítulos aqui apresentados surgiram desta

problematização.

No decorrer do mesmo veremos o que é o autismo, suas características,

a importância do diagnóstico e da intervenção precoce, ressaltando que para

desenvolver um trabalho sério e eficaz demanda a associação de todos os

interessados no desenvolvimento e na busca da autonomia da criança autista.

O primeiro capítulo descreve o que é a síndrome do autismo, suas

anormalidades, as áreas que são afetadas devido ao transtorno, a idade que se

manifesta a síndrome, a história da afecção na visão de Kanner.

10

Observaremos os distúrbios do desenvolvimento e da personalidade da

criança ASD, sua inteligência e algumas contribuições psicanalíticas.

No segundo capítulo notaremos o processo do diagnóstico e sua

importância, quanto mais cedo for diagnosticado, melhor será para o trabalho

de intervenção precoce.

Sinais observados por Kanner no desenvolvimento da avaliação como o

impacto emocional da família ao receber o diagnóstico e a ajuda profissional

aos pais com terapias.

No terceiro capítulo notaremos a importância da intervenção precoce,

destacando três educadores: Maria Montessori, Piaget e Vygotsky na

abordagem do desenvolvimento das crianças típicas, fazendo uma ponte com o

desenvolvimento da criança ASD.

Ressaltando a função do professor na intervenção e a importância da

elaboração do currículo funcional direcionado para as crianças portadoras de

síndrome do autismo.

Contudo fez-se um aparato de elementos, buscando visibilizar caminhos

que levem os profissionais de educação a uma atuação consciente e sem

medo.

A principal meta é a de mostrar que o diagnóstico precisa estar

acompanhado de um esclarecimento aos pais e educadores, que para ocorrer

o processo de intervenção todos devem estar informados e envolvidos, assim

tornando possível um desenvolvimento eficaz da criança autista, possibilitando

um resultado de vida mais perto do normal.

11

Cunha (2009, p. 107) “Em toda intervenção, é preciso que a

psicopedagogo esteja consciente das possibilidades educacionais de seu

educando, mesmo diante de qualquer inadaptabilidade inicial.”

12

I. AUTISMO INFANTIL

Trata-se de um transtorno invasivo de desenvolvimento, definido por

uma anormalidade que se manifesta aos 3 anos de idade, que por sua vez

atinge três áreas do sujeito levando o a um bloqueio na interação social, na

comunicação e no comportamento restrito e repetitivo.

Esse transtorno desenvolve em crianças do sexo masculino numa

proporção de três ou quatro vezes mais do que em crianças do sexo feminino.

O termo “autismo” é de origem grega autos e quer dizer “de si mesmo”.

Em 1911 o psiquiatra suíço Bleuer utilizou o mesmo para descrever os

pacientes de esquizofrenia.

No século XIX o autismo era considerado uma doença resultante da

deficiência da inteligência.

Em 1943 o austríaco Kanner caracterizou pela primeira vez a afecção

própria da infância, autismo infantil. Realizou um trabalho com 11 crianças com

idades entre 2 anos e meio e 8 anos.

Kanner traçou algumas diferenças no comportamento individual de cada

paciente com resultados significativos, tendo em vista que a identificação na

síndrome do autismo é necessária na observação e no tratamento dos

portadores do autismo.

Retraimento autístico refere-se a ausência do contato com a realidade

externa, ou seja, a criança fica indiferente ao que está acontecendo ao seu

redor, o contato físico muitas vezes causa irritabilidade.

13

Ferrari (2007, p.10) “A criança parece não ver os objetos

nem as pessoas e se comporta como se o próximo não

existisse; nas formas mais extremas, pode parecer

insensível à presença ou à ausência dos próprios pais”.

Ferrari (2007, p.10) “Às vezes, a criança utiliza uma parte do corpo de

outra pessoa como objeto de prolongamento do próprio corpo; usa, então, de

bom grado, a mão com o objetivo de que algo lhe seja feito”

Imutabilidade é a necessidade que a criança autista tem em ritualizar

sua conduta e repetir gesto que realizou anteriormente. Ferrari (2007, p.11)

“Kanner enfatizou a extraordinária memória que algumas crianças

demonstram”.

Estereotipados repetem movimentos com seqüencia de modo rítmico e

às vezes apresenta condutas eróticas. Cunha (2009, p.45) “No autismo, a

gênese dos movimentos não está em ações cognitivas de raciocínio e

conhecimento, mas decorre dos impulsos extemporâneos em respostas a

diversos estímulos”.

Distúrbio da linguagem em sua descrição Kanner

“salienta que das 11 crianças estudadas, oito tinham

adquirido “linguagem, embora muitas vezes com atraso,

e três permaneceram no mutismo completo”. “Quando as

crianças adquirem uma linguagem, ela é muito particular,

marcada por certo número de anomalias características”.

Ferrari (2007, p.12)

Segundo Kanner a linguagem é marcada por três anomalias: Inversão

pronominal, repetição ecolálica e acesso ao sim.

14

Inversão pronominal __ a criança não consegue falar de si mesma usando “eu”

somente usando a terceira pessoa.

Repetição ecolálica __ ocorre quando há uma repetição de diálogos,

programas de televisão por diversas vezes, a criança repete exatamente o que

foi dito e feito.

Kanner diz: “esses fenômenos de ecolalia tardia podem

dar à linguagem um aspecto incoerente e sem sentido,

mas que pode ser compreendido caso se descubra a

situação concreta vivida pela criança na qual a frase foi

ouvida pela primeira vez. Trata se de uma substancia

metafórica cujo sentido é pessoal para a criança, não

comunicável a outra pessoa e ligado de modo direto a

uma experiência vivida anteriormente”. Ferrari (2007,

p.12)

Acesso ao sim é quando perguntamos algo à criança autista e ela

simplesmente repete a pergunta que lhe foi feita, isso se dá, pela sua excelente

capacidade de memorizar, apesar de não conseguir usar estas palavras com

meio de verbalização com objetivo de desenvolver a comunicação com o outro.

Para produzirmos a linguagem é necessária a abstração e a codificação

das palavras e isso se torna sem sentido para o autista já que ele não

consegue compreender os significados dos mesmos.

Ferrari (2007, p.14) Kanner “... os distúrbios de

linguagem na criança autista são marcados por duas

dificuldades: a de empregá-la num registro de

significados compartilhados com outras pessoas e a de

situar-se como sujeito do seu próprio discurso”.

15

Baptista e Bosa (2002), “dizem que a ecolalia no autista

poderia cumprir uma função comunicativa, servindo como

atos de fala, mas também poderia representar uma

dificuldade de compreensão. Por esta razão, ele passa a

repetir a pergunta que alguém lhe faz, por não entender o

sentido”. Cunha (2009, p.41)

Inteligência __ muitas crianças com a síndrome do autismo apresenta

déficit intelectual, mais existe caso raro de adultos autistas que conseguem

desenvolver a inteligência. Cunha (2009, p.55) Vygotsky (2007). “afirma que é

importante o entendimento dos processos mentais do indivíduo para delinear

programas de tratamento educacional e desenvolver ao máximo as

potencialidades cognitivas”.

Desenvolvimento físico __ geralmente é normal, há casos que só

percebemos que a criança é portadora da síndrome do autismo quando

observamos sua conduta.

1.1 DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO E DA PERSONALIDADE

Essa afecção mostra um quadro de deficiência no desenvolvimento do

autista, nas áreas social, de linguagem e personalidade e podemos classifica lá

como “transtornos invasivos do desenvolvimento”.

A criança tem dificuldade em se relacionar, passa a maior parte do

tempo isolada, não mantém contato visual, não aceita contato físico, opõe se

ao aprendizado, não demonstra medo diante do perigo, faz birras, comporta-se

como se fosse surda, rejeita mudança de rotina, usa pessoas para pegar

objetos, agitação, calma excessiva, apego e manuseio não apropriado de

objetos, movimentos circulares do corpo, sensibilidade a barulhos, movimentos

estereotipados, ecolalias, não brinca de faz de conta e, é compulsiva.

16

Outra dificuldade no desenvolvimento da criança autista é a de se

colocar no ponto de vista do outro. Podemos, classifica - lá como cegueira

mental, pois não tem compreensão do pensamento ou motivação do outro.

Segundo os autores Williams e Wright (2008; p. 35). A criança ASD

mostra algumas dificuldades, eles apontam algumas delas:

• Apontar coisas para outros.

• Estabelecer contato visual.

•Seguir os olhos de outro indivíduo quando esse está falando sobre

aquilo que estão olhando.

•Usar gestos para comunicar-se.

•Entender as emoções no rosto alheio.

•Usar uma variação normal de expressões emocionais no próprio rosto.

•Mostrar interesse em outras crianças.

•Saber como envolver-se com outras crianças.

•Manter a calma quando se sente frustrada.

•Entender que alguém pode ajudá-la.

•Entender como os outros se sentem em algumas situações (por

exemplo, magoado, irritado ou amedrontado).

17

Consideramos então que os portadores de ASD encontram grande

dificuldade de pensar nas conseqüências da sua atitude e o que o outro vai

pensar, são considerados muitos deles na fase adulta inconvenientes.

•Tendência a pensar sobre o mundo de seu próprio ponto de vista, o que

a faz parecer muito egocêntrica.

•Tendência a participar de atividades que não dependem de outras

pessoas.

•Foco apenas em suas necessidades.

•Dificuldade em compreender a emoção alheia, portanto há uma falta de

empatia.

•A necessidade de estar no controle.

•Falta de flexibilidade em interações.

•O uso de regras sociais rígidas em vez de outras, adaptáveis.

•Há uma tendência a mais receber do que dar, no “dar e receber” dos

relacionamentos.

•Problemas com revezamento.

•Tendência a tratar as pessoas igualmente, sem diferenciar idade ou

autoridade.

•Ser facilmente levado por outros em conseqüência de sua incapacidade

de entender os motivos alheios.

•Tendência a relacionar-se melhor com adultos, pois estes são mais

18

previsíveis e podem ser mais tolerantes.

•Dificuldade com brincadeiras de faz-de-conta e incapacidade de

entender o fato de contar mentiras.

•Dificuldade em entender que seu comportamento afeta a maneira como

os outros pensam ou sentem.

•Não entender sobre compartilhar entusiasmo, prazer ou pertences.

•Falar excessivamente sobre determinado tópico de seu interesse sem

considerar a opinião do ouvinte (por exemplo, falta de interesse ou

tédio).

Ferrari (2007, p.18) Kanner diz que: “ A expressão •

“transtorno invasivo do desenvolvimento” agrupa um

conjunto de desvios e retardos do desenvolvimento das

grandes funções psicológicas, especialmente aquelas

envolvidas na aquisição de aptidões para as relações

sociais e para a utilização de linguagem”.

1.2 A INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA AUTISTA

Kanner “Nota-se que algumas crianças autistas, apesar

do retardo mental global, se mostram capazes de

desempenho excepcionais em alguns campos muito

específicos. Isso acarretou o conhecido fenômeno dos

“idiotas sábios” e contribuiu acentualmente para

sustentar a idéia de uma inteligência extraordinária, mas

19

intimamente oculta, em todas as crianças autistas”.

Ferrari (2007, p.45)

Uma das formas para avaliar um autista se da na reprodução de cubos

de Kohs, que consiste em reproduzir figura abstrata, sem exigir da criança uma

significação daquela situação, também é de suma importância tornar proveitosa

a facilidade de memorização que eles têm.

1.3 MOVIMENTO PSICANALÍTICO E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Bruno Bettelheim “insistiu muito na importância de

manter uma vida institucional adaptável aos problemas e

à patologia das crianças e, para que isso ocorresse,

enfatizou a formação de educadores, pedagogos e

funcionários, ressaltando a compreensão e o respeito à

criança e seus distúrbios”. Ferrari (2007, p.60)

Conscientizar e preparar os profissionais para trabalhar deve ser de

extrema importância, pois possibilitará a estes uma compreensão maior da vida

psíquica da criança autista, tornando o tratamento significativo.

Margaret S. Mahler, psiquiatra e psicanalista diferenciou duas formas de

psicose precoce, autística e simbiótica.

Para os autores Kleinianos e pós Kleinianos os atos são: indistinção

entre o eu e o mundo exterior, identificação adesiva, aspecto sensorial,

vivência corporal, experiência do buraco negro e espaço psíquico próprio do

mundo interior.

Lacanianos entendem a psicose infantil como:

“... resultado de uma alienação de palavra de criança na

20

palavra do outro, impedindo que ela possa de acesso à

condição de sujeito que deseja e a identidade própria,

permanecendo assim “objeto parcial”, barrada para o

advento de sua própria palavra”. Ferrari (2007, p.70)

A visão psicanalítica é extremamente relevante, pois conduz o educando

à compreensão do processo do desenvolvimento do autista e sua

particularidade. Remete nos a uma adequação no trabalho de intervenção,

enriquecendo e possibilitando um resultado de trabalho mais eficaz.

21

II. DIAGNÓSTICO

É importante ressaltar que no capítulo anterior a abordagem do

psiquiatra Leo Kanner para o estudo e diagnóstico do autismo teve como meio

de observação um grupo de crianças com faixa etária de 2 a 8 anos de idade.

Atualmente existe a necessidade de ter um diagnóstico mais precoce,

desde o nascimento da criança, vale destacar que Kanner também reconheceu

este procedimento.

Quando mais cedo percebermos os sinais e diagnosticarmos a

síndrome, será possível estabelecer meios de procedimento no trabalho

terapêutico com intuito de realizarmos a intervenção precocemente.

No caso de criança autista é necessário a realização de testes visuais e

auditivos, exame físico e exame neurobiológico completo.

Na avaliação da criança com suspeita de autismo inclui a entrevista com

os pais, o exame da criança e ações complementares de acordo com o

julgamento do psiquiatra e do neurologista.

Os sinais por si só nos primeiro 18 meses de vida não bastam, só terão

propósito para o diagnóstico se tiver uma interação da criança com seu

ambiente.

Ferrari (2007, p.97) o estabelecimento precoce se assenta sobre:

• a história clínica da criança, que pode ser reconstruída na entrevista

aos pais ou pessoas próximas e no exame pedopsiquiátrico preciso que

aprecie particularmente, a natureza dos intercâmbios da criança com

seu ambiente;

22

• um exame neuropediátrico;

• o registro sonoro e visual de certas seqüências de interação de criança

e de seus pais, permitindo observar os esboços de comunicação entre

eles, bem como sua flutuação ou ruptura em alguns momentos precisos,

além de visualizar a existência de alguns sinais precoces.

Outro exame importante para observação é o da filmagem, pois através

dela obteremos respostas da interação da criança com a família e o ambiente.

Ferrari (2007, p. 98) (S. Lebovici, Ph. Mazet, D. Sauvage) “utilizaram o exame

minucioso de filmagem realizado pela família antes mesmo que as dificuldades

e os distúrbios da criança sejam plenamente reconhecidos”.

O autista em alguns casos consegue ser um adulto relativamente auto-

suficiente, em outros o indivíduo não poderá viver de forma independente e se

fará necessário a presença da família e da instituição.

2.1 SINAIS OBSERVADOS PRECOCEMENTE POR KANNER

Apontaremos alguns sinais observados por Kanner precocemente:

Durante o primeiro semestre de vida:

• ausência de intercâmbio com a mãe e de interesse pelas pessoas.

• distúrbio de comportamento;

• Distúrbios de tônus;

• retraimento do processo perceptivo;

23

• estrabismo persistente, mas variável;

• problemas graves de sono;

• dificuldade na alimentação oral com deficiência de sucção;

• carência de vocalizações;

•ausência de sorriso diante do rosto humano;

Durante o segundo semestre de vida:

• busca ativa de estímulos sensórios que levem a estados de êxtase;

• interesse compulsivo por objetos insólitos;

• ausência de angústia diante de pessoas desconhecidas. Sabe-se que

essa angústia normalmente surge aos 8 meses;

• falta de ansiedade perante a separação de pessoas que normalmente

cuidam da criança;

Durante o segundo ano:

• o comportamento de atenção conjunta, normalmente presente a partir

dos 9-14 meses, caracteriza-se pelo fato de apontar um objeto e tentar,

com o olhar, dirigir a atenção de uma pessoa para esse mesmo objeto;

• as brincadeiras de “faz de conta” são em geral ausentes no autismo;

24

•os distúrbios de linguagem são constantes;

•nota-se também, ao longo desse segundo ano, anomalias do andar

com evitamento do apoio quando na posição em pé ,e, às vezes, o

desenvolvimento de fobias;

Associamos outros sinais como: surdez precoce, cegueira, carência

afetiva e depressões infantis precoce no autismo que pode ser considerado

com retardo mental e através desses sinais pode-se reconhecer a afecção.

Percebe-se que o diagnóstico precoce concede aos especialistas

condições de construir meios que os levem a um programa de tratamento

voltado aos cuidados educacionais e terapêuticos da criança portadora do

mesmo.

Segundo Williams e Wright (2008; p.16) Há três área primordiárias em

crianças com ASD:

• Social.

• Comunicação.

• Comportamento incomum e repetitivo.

A área social está relacionada a cegueira mental e geralmente tem

problemas com:

• Contato visual.

• Uso de gestos e expressões faciais na comunicação.

• Brincar com o outro de fazer amizades

25

• Compartilhar e revezar.

• Entender as emoções do outro e ter compaixão (por exemplo, quando

o indivíduo está irritado).

• Compartilhar entusiasmo e prazer com outros.

Na dificuldade de linguagem e comunicação suas características

incluem:

•Atraso no desenvolvimento da linguagem com pouquíssimas tentativas

de compensação por meio de gestos.

•Para as crianças que desenvolveram a linguagem:

•Problemas para iniciar e manter o diálogo.

•Problemas com a linguagem abstrata e a tendência de entender tudo

literalmente.

•Uso de linguagem incomum, estranho ou repetitivo: por exemplo, um

professor, ao tentar incentivar um garoto com síndrome de Asperger a começar

a tarefa de matemática diz, “Pegue o livro e faça alguma coisa, Tom”,

surpreendeu-se ao encontrá-lo deitado no chão com o livro!

•Atraso no desenvolvimento de aptidões de imaginação flexível. Por

exemplo, talvez demore muito para a criança entender o conceito de fingir e ser

capaz de estendê-lo às brincadeiras de faz-de-conta.

Alguns problemas comportamentais incomuns e repetitivos estão

relacionados a:

26

•Preocupações de natureza intensa.

•Preocupações com coisas incomuns.

•Preocupações de natureza sensorial ou com padrões, detalhes ou

movimentos de objetos.

•Maneirismo e movimentos estranhos e repetitivos.

•Rotinas intensas ou compulsões e problemas ao lidar com a alteração

da rotina.

É proeminente que de forma alguma ocultemos dos pais o diagnóstico e

a extensão relacionada ao distúrbio e os tranqüilizemos de maneira excessiva

ao ponto de os tornarem passivos diante aos problemas gerando assim a

adiamento do tratamento.

2.2 SITUAÇÕES DA FAMÍLIA EM RELAÇÃO À AFECÇÃO

Estudos de casos mostram as problemáticas situações vividas por

familiares em decorrência do diagnóstico proveniente da psicose infantil.

Os responsáveis se deparam com um cotidiano muito diferente do

imaginado em relação a interação que normalmente esperavam desenvolver

com o filho na medida do seu crescimento.

Devido à falta de comunicação e o retraimento da criança os pais

sentem-se incapazes, impossibilitados de criar ambientes satisfatórios de afeto.

Decorrente da falta de orientação muitos pais cometem o grande erro de

comparar seus filhos com as demais crianças, ditas “normais” causando uma

27

situação dolorosa para ambas as partes, algumas situações conflitantes aos

pais: distúrbios do sono, agitação e gritos, estereotipados e automutilação, o

aprendizado da alimentação e do controle esfincteriano e crises de epilepsia.

2.3 AJUDA PROFISSIONAL AOS PAIS DE CRIANÇAS PORTADORAS DO

AUTISMO

As abordagens de tratamento terapêutico até o presente momento foram

direcionadas as crianças.

Porém observamos a necessidade de acompanhamento terapêutico

junto aos pais também, tendo em vista que psicologicamente ficam abalados e

com uma difícil aceitação da situação ocorrente. Kanner apresenta três

aspectos que colaboram no acompanhamento aos responsáveis.

• atividade de orientação parental;

• apoio aos pais;

• atividade terapêutica direta junto dos pais;

Kanner: “A atuação profissional junto dos pais deve visar

ao auxilio à mãe, sobretudo para que ela recupere e

possa reinvestir sua própria capacidade maternal

espontânea rudemente colocada à prova pela ocorrência

da psicose no filho, em detrimento da tentativa de lhe

proporcionar receitas educativas.” Ferrari (2007, p. 146)

28

III. A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE

Mencionaremos neste capítulo três grandes educadores que abordam o

desenvolvimento típico da criança.

Segundo a visão pedagógica de pesquisadora italiana Maria Montessori

o potencial de aprender está em cada um de nós, diz que “a criança cria a

própria “carne mental”, usando as coisas que estão no seu ambiente. Ela

chama a mente da criança de “mente absorvente”. Cunha (2009, p. 31).

O cientista suíço mostra Piaget destaca que as crianças não pensam

como adultos, mais que elas constroem a própria aprendizagem.

O psicólogo Vygotsky ressalta que a aprendizagem da criança ocorre na

interação com o outro.

Contudo, notamos que o procedimento do desenvolvimento da mente,

da criança portadora do autismo é diferente, a criança típica aprende

naturalmente funções do dia a dia.

Já informações para o autista nem sempre se tornam significativas, esta

afecção traz em si uma carga de fatores que impossibilitam um

desenvolvimento normal.

Portanto a intervenção precoce se faz necessária deste do momento que

percebemos que o sujeito não consegue se beneficiar da interação ou de

aprender como outro. Diz Freire (2004, p. 23), “pois quem ensina aprende ao

ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Cunha (2009, p. 53)

29

3.1 A FUNÇÃO DO PROFESSOR

Sabendo que a realidade não tem sentido para a criança autista e que

sua tendência é isolar-se, cabe ao professor proporcionar meios de incluí-la

mesmo que os resultados sejam a médio ou longo prazo.

O professor deve aproveitar padrões de comportamento não apropriados

como meio de estímulos para o manuseio de maneiras e atitudes adequadas.

A função de alguns objetos como, bola, carrinho, escova de dente, copo

e etc. que para eles não tem sentido torna necessário que o mediador use da

ótima memória que possuem para lhe ensinar-lhes a forma própria de cada

objeto.

A intervenção ocorre a todo o momento em que é observado um

comportamento anormal de maneira que não o robotize, mas que o leve o mais

próximo de sua autonomia.

“Entretanto, a rotina pode ser transformada em

ferramenta, criando uma possibilidade de aprendizagem.

Este princípio pode nortear, também, a prática educativa

do professor. O estimulo para uma saudável vida diária

traz confiança e pode abrir oportunidades para o ensino

de novas habilidades”. Cunha (2009, p.35)

30

3.2 ESCOLA E CURRÍCULO FUNCIONAL

Cunha (2009, p. 59) diz “Um currículo funcional para a vida prática

compreende tarefas que podem ser executada em perfeita sintonia entre a

escola e a família, alcançando etapas previamente estabelecidas”,

Vale ressaltar que para intervenção ter um resultado produtivo a escola

precisa disponibilizar se em elaborar um currículo diferenciado e direcionado a

esse grupo.

De hipótese alguma fazer o uso de currículo elaborado para crianças

típicas, pois não trará nenhum benefício ao autista.

É de grande valia a participação dos pais e professor na construção do

currículo funcional, pois existem habilidades especificas no cotidiano da criança

que pode ser trabalhada na escola e em casa com a família.

Portanto, a ação psicopedagógica baseasse na observação da criança

junto a família, faz desse instrumento uma ponte da construção do currículo.

Tendo em vista que não se constrói um planejamento somente com

nossas idéias e métodos teóricos, toda ação requer muito esforço, amor,

sensibilidade, dedicação e principalmente um entrosamento com a família.

Dentro do currículo funcional podemos trabalhar o comportamento e a

comunicação da criança autista, pois seus gritos, birras muitas das vezes são

involuntários.

Algumas crianças autistas estão acostumadas a manter o controle, em

suas casas e conseqüentemente na escola. O controle é uma técnica para

crucial no desenvolvimento do comportamento social.

31

Em geral, isso acontece em conseqüência de vários fatores. Williams e

Wright (2008, p.86) mostra alguns exemplos

1. Os pais acreditam que, pelo fato de crianças autistas não entenderem

o que se espera delas, devem ter permissão para fazer o que

desejarem.

2. Os pais acreditam que nenhuma estratégia funciona e, portanto,

podem deixar os filhos fazerem o que desejarem.

3. Pais e familiares sentem pena das crianças que apresentam

perturbações do aspectro do autismo e, assim dão-lhes o que desejam o

tempo todo (por exemplo, os avós ás vezes agem assim).

4. Os pais ficam exaustos ou deprimidos, ou ambos, porque o

comportamento de crianças autistas é incessantemente difícil; para os

pais, isso torna-se sufocante e difícil de lidar.

5. Os pais deixam as crianças com ASD dar as ordens quando são

pequenas, levando-as a crer que serão capazes de agir da mesma

maneira quando crescerem. Poder gera mais poder.

6.Agressão por parte da criança faz os pais temerem que ela se

machuque ( por exemplo,bater a cabeça na parede) ou machucar outros

familiares.

“É indispensável que o currículo extrapole as concepções

do déficit e torne a prática pedagógica rica em

experiências educativas nas relações humanas.

Transforme as necessidades do aprendente em amor

pelo movimento de aprender e de construir. Conceda-lhe

32

autonomia e identidade. O caminho para educação está

no aprendente”. Cunha (2009, p. 53)

É de fundamental importância que aprendam comportamentos sociais

aceitáveis, Williams e Wright (2008, p.86) fazem uma comparação com os

pontos enumerados acima:

1. Mesmo se a criança não entenda por que certos comportamentos são

inaceitáveis, ela pode aprender a comportar-se adequadamente. Se ela

brinca regularmente com as próprias fezes, nós a ensinaremos a não

fazê-lo por razão de segurança e higiene, ainda que ela não entenda por

quê.

2. Não é verdade que nenhuma estratégia funciona para crianças com

ASD. Algumas têm menos chance de funcionar, como descrito acima;

mas muitas funcionam muito bem. A maioria demora mais para funcionar

e são cansativas para os pais, mas a longo prazo vale a pena.

3. Dar a qualquer criança o que ela deseja o tempo todo não é bom para

ela. Estabelece expectativas irracionais. Se as crianças estão

acostumadas a ter tudo o que querem o tempo todo, sofrerão um grande

choque quando forem para a escola e terão muita dificuldade para

interagir. À medida que crescem, acham cada vez mais difícil misturar-se

e compartilhar.

4. É importante reconhecermos e admitirmos a exaustão e (ou)

depressão. Uma pausa para cuidados e (ou) tratamento a apoio para

adultos pode ser crucial para permitir que recarreguem a bateria.

5. Permitir que a criança assuma o controle não é nada saudável. O

mundo externo não permitirá fazê-lo e terá muita dificuldade, a menos que

33

receba ajuda para entender como o mundo externo funciona. Isso não

precisa ser traumático se feito gradual e sistematicamente.

6. Se o medo nos impede de fazermos o que achamos certo para nosso

filho, talvez precisemos de apoio para colocar em prática nossas idéias.

Pode ser apoio da família ou da comunidade (amigos, igreja etc.)

ou de um profissional.

34

CONCLUSÃO

A oportunidade de ter observado e trabalhado com uma criança autista

foi enriquecedora no âmbito profissional e porque não dizer no pessoal.

Com este trabalho foi possível perceber que com esforço,

direcionamento e amor pode-se elaborar um trabalho em que todos estejam

envolvidos: professor, escola, pais e outros especialistas no intuito de juntos

tornarem-se um grande instrumento de intervenção precoce na vida do

portador da síndrome do autismo.

A melhor forma de caminhar neste processo, é a busca constante dos

sentimentos que move a tomar atitude de criar meios para elaboração de um

currículo que possa desenvolver a autonomia do autista, mesmo que para isso

requeira um tempo.

Sentimento este que nos envolve, nos faz sentir a dor e o desespero da

família ao receber a confirmação do diagnóstico, nos levando a participação

direta na vida desses pais e desta criança, fazendo de cada progresso uma

estrada a percorrer e das suas dificuldades um desafio para a busca de novos

caminhos a seguir.

Para tanto, existe um caminho a ser percorrido e só fará este percurso

quem tiver a coragem de ter um novo olhar para educação das crianças ASD,

não um olhar para fora, que nos leva a ter uma visão limitada, mais sim um

olhar para dentro, capaz de nos fazer enxergar um caminho de esperança.

“Os caminhos existem para ser percorridos. E para ser

reconhecidos interiormente por quem percorrer. O Olhar

para fora vê apenas o caminho, identifica-o como um

objeto alheio e porventura estranho. Só o olhar para

35

dentro reconhece o percurso, apropriando-se dos seus

sentidos. O caminho dissociado das experiências de

quem o percorre é apenas uma proposta de trajeto, não

um projeto, muito menos o nosso próprio projeto de vida.

O caminho está lá, mas verdadeiramente só existe

quando o percorremos- e só percorremos quando o

vemos e o percebemos dentro de nós.” Alves (1933;

p.10)

Em suma, esse sentimento e este olhar é que vai gerar dentro de nós o

despertar de um olhar diferenciado a outros alunos que aparecerão em nossa

trajetória de vida.

Portanto, a intervenção precoce para ser executada deve estar vinculada

a um diagnóstico com orientação aos pais e professores e a um grande

comprometimento de todas as partes, causando uma transformação na vida de

todos que estão inseridos neste tratamento.

36

BIBLIOGRAFIA

Alves, Rubem: A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir: Campinas, SP: Papirus, 2001.

Baptista, Claudio Roberto e Bosa, Cleonice: Autismo e Educação

Reflexão e propostas de intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2002

CUNHA, Eugênio. Autismo e inclusão. Psicopedagogia e práticas

educativas na escola e na família. Rio de janeiro: Wak Ed., 2009.

FERRARI, Pierre. Autismo infantil. O que é e como tratar. São Paulo:

Paulinas, 2007.

Williams, Chris e Wright, Barry: Convivendo com Autismo e Síndrome

de Asperger: São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2008