produtos são envolvidos pela cor - deise carla bossardi

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Produtos são envolvidos pela cor Products are involved for color Deise Carla Bossardi Noeli Reck Maggi (Co autora) RESUMO O presente artigo, baseado na dissertação “ A cor aplicada a utensílios do- mésticos: implicações para o projeto de produtos”, aborda como assunto cor relacionado a produtos, reunindo estudos de diversos autores, como: Munari, Löbach, Bonsiepe, Danger, Lidwell; Holden; Butler, Pereira, Fraser e Banks, Sutton e Whelan, Barros, com ênfase sobre o design e a cor. Sob a perspectiva de Medeiros e Gomes (2010), abordam-se nove fatores projetuais: antropoló- gico, ecológico, econômico, ergonômico, geométrico, filosófico, psicológico, mercadológico e tecnológico, e, também, a questão da cor. PALAVRAS-CHAVE Cor; Projeto de produtos; Fatores projetuais. ABSTRACT This present article is based on the dissertation: Color applied to domestic ware: implications for products project, it approaches the subject color related to products, and assembles studies from many authors, for example: Munari, Löbach, Bonsiepe, Danger, Lidwell; Holden; Butler, Pereira, Fraser and Banks, Sutton and Whelan, Barros, with an emphasis on design and color. Within the perspective of Medeiros and Gomes (2010), the nine projectual factors: anthro- pologic, ecologic, economic, ergonomic, geometric, philosophical, psychological, marketing and technological, also concerning color. KEY WORDS Color; Product project; Projectual factors. 1 INTRODUçãO A relevância da dissertação, “A cor aplicada a utensílios domésticos: implicações para o projeto de produtos” se justifica, uma vez que este

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Produtos são envolvidos pela cor

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  • Produtos so envolvidos pela corProducts are involved for color

    Deise Carla BossardiNoeli Reck Maggi (Co autora)

    RESUMOO presente artigo, baseado na dissertao A cor aplicada a utenslios do-msticos: implicaes para o projeto de produtos, aborda como assunto cor relacionado a produtos, reunindo estudos de diversos autores, como: Munari, Lbach, Bonsiepe, Danger, Lidwell; Holden; Butler, Pereira, Fraser e Banks, Sutton e Whelan, Barros, com nfase sobre o design e a cor. Sob a perspectiva de Medeiros e Gomes (2010), abordam-se nove fatores projetuais: antropol-gico, ecolgico, econmico, ergonmico, geomtrico, filosfico, psicolgico, mercadolgico e tecnolgico, e, tambm, a questo da cor.

    PalavRaS-chavECor; Projeto de produtos; Fatores projetuais.

    aBSTRacTThis present article is based on the dissertation: Color applied to domestic ware: implications for products project, it approaches the subject color related to products, and assembles studies from many authors, for example: Munari, Lbach, Bonsiepe, Danger, Lidwell; Holden; Butler, Pereira, Fraser and Banks, Sutton and Whelan, Barros, with an emphasis on design and color. Within the perspective of Medeiros and Gomes (2010), the nine projectual factors: anthro-pologic, ecologic, economic, ergonomic, geometric, philosophical, psychological, marketing and technological, also concerning color.

    KEy wORdSColor; Product project; Projectual factors.

    1 InTROdUO

    A relevncia da dissertao, A cor aplicada a utenslios domsticos:

    implicaes para o projeto de produtos se justifica, uma vez que este

  • Produtos so envolvidos pela cor

    86 Revista D 4 2012

    estudo complementa e agrega valor ao tema cor. Ao reunir abordagens de

    diversos autores, busca-se assim contribuir com o exerccio profissional

    dos designers, em face de ter sido encontrado, como fruto da pesquisa,

    apenas um trabalho especfico do mbito do Desenho Industrial no

    Brasil, relacionado a uma dissertao de mestrado nesta rea.

    Justifica-se, tambm, porque a cor no Design necessita de um olhar

    interdisciplinar, e, segundo Pereira (2000), o tema tem sido pouco estu-

    dado no desenho de produto. Neste sculo, as possibilidades envolvendo

    nuanas relacionadas a cores, devido evoluo da indstria qumica,

    refletem-se nas escolhas realizadas e nas suas consequncias. Observa-

    -se ainda a diversidade de opes que se referem a cores utilizadas na

    produo dos produtos, assim como em face da demanda de mercado

    relacionada com o marketing1 de venda:

    [...] a definio das cores de um objeto exige planejamento e requer o conhecimento dos fatores que interferem na percepo da cor e da conscincia de que a cor do produto ter implicaes na sua produo, comercializao e uso (PEREIRA, 2000, p. 22).

    2 AplicAo cRomticA A pRoDutos inDustRiAis

    O problema da cor para um designer envolve o aspecto do material j

    colorido e a insero da cor no projeto dos objetos, assim o profissional

    pode usar a cor de modo objetivo, em sintonia com a cincia e com

    a indstria, pois existem cores prprias dos materiais para produo

    de objetos e de materiais corantes. Levando-se em conta tambm que

    algumas cores no se adaptam a certos materiais, necessrio consi-

    derar igualmente o aspecto funcional da cor, que se encontra ligado

    comunicao visual, psicologia e, ainda, s exigncias da forma, s

    propriedades do material utilizado e ao papel atribudo ao objeto assim

    como tarefa (MUNARI, 1968, p.340-341).

    1 Envolve a identificao e a satisfao das ne-cessidades humanas e sociais. Para defini-lo, de uma maneira bem simples, pode-se afirmar que esse supre neces-sidades lucrativamente. (KotlER, KEllER, 2006, p. 4).

  • deise carla Bossardi e noeli Reck Maggi

    87Revista D 4 2012

    O tema da cor relacionada aos produtos amplo. Um dos princpios

    associados a essa abordagem volta-se ao uso de cores fortes e intensas

    para fins de destaque e de sinalizao; outro, ao uso de cores passivas

    e neutras, que passam despercebidas no ambiente. Com o desenvolvi-

    mento de plsticos de cores estveis, os fabricantes de matrias-primas

    oferecem ampla gama de cores. Muitos deles, na rea de produtos in-

    dustriais, oferecem variaes nas cores de um produto para satisfazer

    diversos desejos de usurios sem aumento dos custos de fabricao.

    Atualmente, h produtos de uso frequente em cores neutras ou em

    diversas cores vivas. Para a diferenciao dos produtos, o designer

    industrial pode combinar cores neutras e vivas, criando uma estrutura

    visual e usando cores diferentes nas partes distintas que constituem o

    produto. (LBACH, 2001, p. 163-166).

    No design deve-se estar atento ao fato de existirem cores adequadas

    a qualquer produto e embalagem, e dessas tambm serem adequadas

    s condies mercadolgicas, ao produto anunciado e ao pblico.

    (FARINA, 1994, p.181).

    Segundo Pereira (2002), a questo dos aspectos fsicos envolvidos

    no uso da cor em produtos aponta que superfcies escuras tendem a

    aquecer mais do que superfcies claras do mesmo material. Esse uso

    ainda possui implicaes relacionadas a aspectos fisiolgicos, pois

    possvel ocorrer fadiga ocular quando os olhos encontram-se submetido

    a ajustes excessivos, como ocorre por exemplo com as cores altamente

    saturadas e com os fortes contrastes cromticos. Quanto aos aspectos

    perceptivos e culturais envolvendo o uso da cor em produtos, esses

    constituem fenmenos de difcil quantificao e controle, dependendo

    assim do contexto, das superfcies e dos objetos prximos.

    Conforme Goldman (1964), a psicodinmica das cores ao tratar

    do estudo das reaes humanas diante das cores tem como objetivo

    colaborar com a sade humana, com o bem estar, com o aumento de

    produo e de equilbrio interno e com a reduo de cansao visual e

    de fadiga orgnica.

  • Produtos so envolvidos pela cor

    88 Revista D 4 2012

    No design de produto, simplesmente aplicando-se cores aos proje-

    tos de uma forma adequada e equilibrada, possvel serem obtidos

    resultados variados, baseados em critrios de diferenciao. De acordo

    com Bonsiepe (1986), possvel usar-se cor para: unificar, distinguir,

    camuflar, chamar ateno, estruturar, codificar, indicar e simbolizar;

    estilizar; para gerar efeito fsico2 e efeito fisiolgico3, efeito sinestsico4

    e para efeito psicolgico5.

    No livro Princpios Universais do Design (2010), sinteticamente

    aborda-se a questo de as cores serem utilizadas no design para cha-

    mar a ateno, agrupar elementos, indicar significados e para realar a

    esttica. (LIDWELL; HOLDEN; BUTLER, 2010, p. 48). Os mesmos au-

    tores sugerem limitar a paleta de cores a cinco possibilidades, conforme

    a complexidade do design, devido ao que o olho consegue visualizar

    rapidamente e limitao visual de parte significativa das pessoas.

    Quanto combinao de cores, sugerem cores mais quentes para os

    elementos de primeiro plano e as mais frias para os elementos de segun-

    do plano. O cinza-claro uma boa opo para agrupar elementos, pois

    no compete com outras cores (LIDWELL; HOLDEN; BUTLER, 2010,

    p. 48). Recomendam utilizar cores saturadas6 se a questo de chamar

    a ateno for a prioridade. J o uso de cores dessaturadas7 indicado

    para a priorizao do desempenho e da eficincia.

    Para ajudar na definio das cores de um objeto, sendo essas nicas

    ou variadas, conforme o designer italiano Clino Castelli8 (apud PEREIRA,

    2000), essas cores podem ser ou cor imposta9 ou cor proposta10.

    No que se refere ao aspecto de o objeto ter sua escolha de cor relacio-

    nada a outros objetos do ambiente, o mesmo autor afirma que as cores

    podem ser denominadas cor aberta11 e cor fechada12.

    Segundo Fraser e Banks (2007, p. 11), inspirados pela infinita

    paleta do mundo natural, aprendemos, durante dezenas de milhares

    de anos a criar e a manipular a cor. Contudo, os efeitos sobre nossas

    psiques permanecem misteriosos. Para Sutton e Whelan (2008, p.32),

    a necessidade a base da inveno; a busca permanente de troca

    2 Uso da capacidade de absoro/reflexo de superfcies coloridas.

    3 O organismo humano reage inconscientemente frente s cores, sobretudo em situaes experimen-tais [...] Exemplo: uso do tom verde-turquesa em salas de cirurgia para neutralizar as ps-ima-gens provocadas pela concentrao no aparato visual sobre um campo vermelho (sangue).

    4 correlao entre a per-cepo pertencente a um sentido e a percepo de outro sentido. a cor, em si, no causa sensaes acsticas, tteis, etc.; porm, as cores so de-nominadas como cores quentes, frias, pesadas, gritantes, etc.

    5 associao entre uma percepo cromtica com outras experin-cias e/ou significados. Exemplo: a cor rosa associada em determi-nado contexto cultural condio feminina.

    6 Matizes puras.

    7 Em geral, as cores dessat-uradas e brilhantes so vistas como amigveis e profissionais, enquanto as dessaturadas e mais escuras so percebidas como srias e profis-sionais. J as cores satu-radas remetem fora e ao dinamismo. Tenha cuidado ao combinar cores saturadas, pois elas podem interferir visual-mente umas nas outras e causar fadiga visual. (lIdwEll; hOldEn;

    8 clino Trini caSTEllI, la progettazione del colore e le sue politiche, Separata de____, design Primrio, p.8-11. apud

  • deise carla Bossardi e noeli Reck Maggi

    89Revista D 4 2012

    que leva inovao. Esse princpio tem regido a busca de cores atravs

    de todos os tempos. [...]. Como est superada questes envolvendo

    limitaes tcnicas, atualmente [...] Nossas crianas crescem com cor

    em suas vidas onde, antigamente, as coisas apresentavam-se em preto

    e branco, e suas experincias, por sua vez, influenciaro o futuro da

    cor no design. (FRASER; BANKS, 2007, p. 7).

    Com tantas opes de cores oferecidas pela indstria, procura-se

    determinar aquela que se considera certa para o produto que est sen-

    do planejado.13 Sutton e Whelan (2008, p.8), a esse respeito, afirmam

    que A cor utilizada sempre para informar e para vender. [...] A cor

    um elemento que permite diferenciar os produtos entre si. As cores

    e suas combinaes por serem simples e complexas ao mesmo tempo

    implicam em terem os seus significados variando de uma cultura a

    outra (SUTTON; WHELAN, 2008, p.15).

    Contemporaneamente muito mais difcil obter-se uma resposta

    do que em perodos de tempo anteriores, sendo decisiva a influncia

    dos caadores de tendncias14. A esse respeito cabe ressaltar o papel

    desempenhado pelo O CMG15 [que] rene estilistas de mbitos muito

    variados, com a finalidade de determinar as tendncias gerais da cor e

    de analisar a sua evoluo. Os membros desse grupo se renem duas

    vezes por ano e prevem as tendncias de cores para dois ou trs anos

    futuros, focalizando suas previses em todas as indstrias e servios

    (SUTTON; WHELAN, 2008, p.178).

    A influncia das tendncias, conforme a viso de Danger (1973), no

    que se refere escolha da cor pelo consumidor existe, tambm, porque

    esse deixa-se influenciar pelos outros e pelo que se passa ao seu redor.

    Essas preferncias mudam conforme a parte da casa e conforme o uso

    do produto.

    J Fraser e Banks (2007, p. 66), entendem que As paletas de previso

    do CMG no especificam tanto as cores exatas, mas descrevem como

    certos matizes sero tratados. O desenho de produto geralmente leva

    um tempo mais longo no ciclo de desenvolvimento. Portanto, As

    pereira (2000). ButlER, 2010, p. 48).

    9 Seria caracterstica de produtos presentes no mercado numa nica combinao de cores, sem oferecer possibi-lidade de escolha para o usurio, como no caso de produtos ligados a modas especficas, produtos cuja cor possui certos com-ponentes funcionais ou aqueles que compem ambientes destinados ao uso pblico. (PEREIRa, 2000, p. 135).

    10 Seria caracterizada pelo fato de poder ser avali-ada e escolhida dentro de uma gama mais ou menos ampla de out-ras cores estudadas. na cor proposta o objeto permanece idntico em suas caractersticas gerais (a forma, as dimenses e o acabamento no mudam), apenas sua identidade cromtica varivel. a cor propos-ta estaria mais ligada esfera pessoal, sendo car-acterstica dos objetos e das escolhas cromticas que compem o ambi-ente privado (PEREIRa, 2000, p. 135).

    11 Quando pensada para ter uma relao particu-lar com outros objetos destinados a formar o ambiente. Exemplo, sistemas de produtos em geral monocromticos. (pEREiRA, 2000, p. 136).

    12 Quando pensada exclu-sivamente em relao ao prprio objeto, sem pressupor uma relao com os outros objetos e com o espao cromtico, no qual o objeto estar in-serido. Exemplo, induo da policromia do objeto. (pEREiRA, 2000, p. 136).

  • Produtos so envolvidos pela cor

    90 Revista D 4 2012

    tendncias cromticas so monitoradas e previstas por muitas organi-

    zaes comerciais. O[...] Instituto da Cor Pantone analisa o uso da cor

    em roupas, mobilirio e em outros setores para benefcio de seus assi-

    nantes (FRASER; BANKS, 2007, p.67). Essas informaes devem ser

    complementadas com investigaes sobre os diferentes modos de vida,

    culturas, poltica e economia, com o fim de acertar a imagem precisa das

    tendncias cromticas futuras (SUTTON; WHELAN, 2008, p.179-180).

    Ainda sobre previso de cor, conforme Fraser e Banks (2007, p. 66),

    no depende mais de avanos tecnolgicos na fabricao de pigmen-

    tos. Outras informaes, como estudar a sociedade, no mais amplo

    sentido da expresso, permite encontrar fontes de inspirao. J as

    tendncias cromticas so cclicas, os designers analisam, para tanto, o

    passado para poder determinar o futuro e os valores renovveis. [...] As

    cores reaparecem sempre, porm nunca da mesma forma. (SUTTON;

    WHELAN, 2008, p. 180-182). A cor citada por Sutton e Whelan (2008),

    como o primeiro critrio nas compras impulsivas, que se mantm

    inclusive em tempos difceis.

    A presena da cor no mundo visual desperta sensaes, interesse

    e deslumbramento. uma ferramenta poderosa para transmisso de

    ideias, de atmosferas e de emoes, e pode captar a ateno do pblico

    de forma forte e direta, sutil ou progressiva na arquitetura, no design

    em geral e nas artes plsticas (BARROS, 2006, p. 15).

    Sabe-se que as cores oferecem ilimitados meios de combinar tons,

    demisturar matizes e de produzir combinaes que atraem, exercendo

    impacto ou tranquilidade. Atualmente, mesmo com a computao gr-

    fica, com os muitos tons oferecidos pelas indstrias de tintas e com os

    avanos voltados a harmonizao e composio de cores e de tons

    adequados a determinado contexto essa constitui uma tarefa difcil. H

    certa dificuldade no estudo da cor, pois se trata de um trabalho abran-

    gente, que envolve a qumica dos pigmentos, a fsica, e a fisiologia

    do nosso aparelho visual, para chegar s questes psicolgicas da sua

    interpretao e assimilao. (BARROS, 2006, p. 15-7).

    13 no h um simbolismo universal para as cores, pois culturas diferentes do significados dis-tintos para cada cor. assim, verifique o sig-nificado das cores e de suas combinaes entre seu pblico-alvo antes de utiliz-las. (lIdwEll; HolDEn; ButlER, 2010, p. 48).

    14 as oficinas de estilo ou de tendncia nasceram na Frana, entre os anos 50 e 60, a partir de uma necessidade do mundo da moda e da sociedade de consumo. a [...] ca-pacidade para predizer o que seria a moda do amanh. (SUTTOn; WHElAn, 2008, p. 178).

    15 nos Estados Unidos fun-da-se em 1962 o Color Marketing Group (cmG).

  • deise carla Bossardi e noeli Reck Maggi

    91Revista D 4 2012

    Na escolha da cor, para um produto ou design, deve-se levar em

    considerao duas pessoas: o vendedor e o cliente final. [...] Alm do

    mais, os consumidores imaginam o produto em sua casa. (SUTTON;

    WHELAN, 2008, p.187). Os objetos de um ambiente podem gerar um

    impacto to grande sobre sua aparncia quanto a decorao e a moblia.

    [...](FRASER; BANKS, 2007, p.74). Leva-se em conta, neste caso, o

    aumento das necessidades e da oferta desses produtos. Assim, o projeto

    de objetos na parte cromtica deve observar os contextos ambiental

    e de mercado, as funes do objeto e tambm deve avaliar o impacto

    que as solues cromticas tero no ambiente visual e os efeitos que

    suas percepes podem causar nas pessoas. (PEREIRA, 2000, p. 16),

    uma vez que primeiramente:

    [...] preciso lembrar que em nossa percepo visual a forma no se dissocia da cor: forma e cor complementam-se, e uma no percebida sem a outra. [...] Ao se ver, imaginar ou lembrar uma forma, sua cor tambm vista, imaginada ou lembrada. Logo, a configurao formal de um objeto no o mais importante ou mais caracterstico da identidade visual do objeto do que a sua configurao cromtica (PEREIRA, 2000, p. 22).

    Tambm se observa, de acordo com Pereira (2000), que necess-

    rio ter conhecimento, assim como dispor de planejamento na escolha

    cromtica de produtos, porque geralmente esses so produzidos em

    larga escala, necessitando da aprovao dos usurios, que por sua vez

    interferem no mercado e no uso.

    Geralmente, com relao aos produtos, ao entender a amplitude

    das possibilidades interativas das cores, a necessidade de pensar no

    conjunto torna-se absoluta. [...]. (BARROS, 2006, p. 326). Segundo

    Pereira (2000, p.142), na relao cor-objeto, a cor pode contribuir

    para as funes prticas, esttico-formais, indicativas e simblicas dos

    produtos. J a funo prtica do objeto interfere no conforto visual

    do usurio, sendo determinada, assim, a escolha da cor em funo

  • Produtos so envolvidos pela cor

    92 Revista D 4 2012

    de uma melhor legibilidade em displays visuais, ou visando reduo

    de contrastes cromticos para no submeter o olho a acomodaes e a

    ajustes excessivos, [...] (PEREIRA, 2000, p.143).

    Conforme Danger (1973), tambm a cor tem um papel como meio

    de venda, pois a cor do produto que aparece para as pessoas depende

    da luz e do ambiente onde esto expostos. Ainda, segundo o autor, na

    escolha da cor h influncia do tipo de produto e de determinadas ten-

    dncias. A cor atrai ateno e faz com que as pessoas parem e olhem

    (DANGER, 1973, p.5-6). De acordo com Danger (1973), cor gente

    sob o ponto de vista de vendas, porque as pessoas decidem as cores

    que vendero no mercado. Vista dessa forma, a preferncia das pessoas

    quanto s cores pode estar relacionada ao contexto, ao momento e aos

    interesses de grupos.

    Para obter equilbrio esttico na aplicao das cores, importante o

    conhecimento da teoria das cores, as classificaes, os tipos de contraste,

    a legibilidade na comunicao e o uso harmnico.

    No UniRitter iniciou-se um projeto de pesquisa para o ensino da cor

    em cursos de Design , devido necessidade de reunir e de explorar co-

    nhecimento especfico sobre a teoria e a prtica da aplicao cromtica

    em produtos, conforme artigo de Cechin, DallAgnol e Medeiros (2008).

    Entre os objetivos, encontra-se a elaborao de um Mapa de Conheci-

    mento sobre Cor Aplicada em Projetos no Uniritter, sendo esse dividido

    em captulos relacionados aos nove fatores projetuais: antropolgicos,

    filosficos, econmicos, ergonmicos, geomtricos, mercadolgicos,

    psicolgicos, tecnolgicos e ecolgicos.

    3 cOR RElacIOnada aOS FaTORES PROJETUaIS

    O que se refere aos fatores projetuais do Desenho Industrial na

    abordagem, conforme Medeiros e Gomes (2010, p.121), esses envol-

    vem 9 itens: Filosofia (esttica / tica), Geometria (ordem /arranjo),

  • deise carla Bossardi e noeli Reck Maggi

    93Revista D 4 2012

    Psicologia (percepo/ criao), Antropologia (idias/ comportamen-

    to), Ecologia (conservao/ preservao), Economia (custo / valor),

    Ergonomia (conforto/ adequao), Tecnologia (materiais/ fabricao),

    Mercadologia (preo/ promoo). Segundo Gomes (2011), para o fabri-

    cador, os 3 fatores de maior interesse so: a economia16, a ergonomia17

    e a tecnologia18. O desenhador deve ter domnio dos fatores filosofia19,

    geometria20 e psicologia21. Para o obtentor ou usurio, os 3 fatores de

    interesse so a antropologia22, a ecologia23 e a mercadologia24. A seguir,

    apresentam-se os fatores projetuais relacionados cor.

    O fator Antropolgico ressaltado em questes culturais, por exem-

    plo, no significado peculiar que as cores possuem para diferentes etnias.

    Culturas distintas podem ter diferentes significados para determinadas

    cores. [...] (CECHIN, DALLAGNOL, MEDEIROS, 2008). Foram citadas

    informaes sobre antropologia das cores nas tabelas do item 2.1,

    atravs de Bossardi (2012), que afirmou existir, h milhares de anos,

    conhecimento sobre os efeitos das cores.

    O fator Ecolgico tambm se relaciona s cores e ao ciclo de vida dos

    produtos. o caso das tintas ecolgicas, formuladas com matrias-

    -primas naturais, sem componentes sintticos ou sem insumos derivados

    do petrleo. Cabe ressaltar que existem normas internacionais para

    pinturas ecolgicas [...], algumas produzidas base de gua. (CECHIN,

    DALLAGNOL, MEDEIROS, 2008).

    No que se refere ao fator Ergonmico, so relevantes aspectos como: a

    segurana, a legibilidade, a visibilidade, o contraste e a fadiga visual dos

    usurios. Quanto s normas relacionadas s cores, a NR 26 - Sinalizao

    de segurana, de 1978, essas tm por objetivo fixar as cores que devem

    ser usadas nos locais de trabalho para preveno de acidentes [...], e

    a NBR 7195 Cores para segurana, de 1995, fixa as cores que devem

    ser usadas para preveno de acidentes, ser empregadas para identificar

    e advertir contra riscos. As duas normatizaes recomendam o uso de

    cores de contraste parar visibilidade e para a especificao das cores

    obedecendo aos padres Munsell.

    16 custo produo, valor do desenho (Gomes, 2011, p. 114).

    17 adequao e conforto ao uso (Gomes, 2011, p. 114).

    18 Materiais e processos de fabricao (Gomes, 2011, p. 114).

    19 tica e esttica industriais (Gomes, 2011, p. 114).

    20 Sntese e coerncia es-ttico-formal (Gomes, 2011, p. 114).

    21 Percepo e criatividade do produto (Gomes, 2011, p. 114).

    22 comportamentos e ide-ias da praa (Gomes, 2011, p. 114).

    23 conservao da natureza e proteo do meio am-biente (Gomes, 2011, p. 114).

    24 Tipos de publicidade/promoo e preos de produtos (Gomes, 2011, p. 115).

  • Produtos so envolvidos pela cor

    94 Revista D 4 2012

    O fator Econmico, em relao s cores, envolve a observao do respec-

    tivo custo, interferindo sobre a questo do preo de produtos coloridos. No

    que diz respeito ao fator Filosfico, relacionado esttica e cor, conforme

    Lbach (2001, p. 59-60), A funo esttica dos produtos um aspecto

    psicolgico da percepo sensorial durante o seu uso. Esse fator tambm

    pode estar relacionado beleza, ( simetria, proporo, ordem): [...]

    Entre essas, h diversas espcies de Beleza, mas as cores so aquelas que

    mais deliciam o olhar. (ECO, 2004, p. 255). Quanto ao fator Geomtrico:

    Alguns estudiosos j tentaram associar cores a formas geomtricas, porm, no se pode definir uma forma nica de se analisar a morfologia das cores, tampouco conectar a cor em si a uma determinada forma geomtrica plana ou espacial. Trata-se de pontos de vista difusos entre os autores que constituem a literatura nessa rea. (CECHIN, DALLAGNOL, MEDEIROS, 2008).

    O fator Psicolgico est relacionado luz, ao rgo da viso e ao

    crebro, que produz a sensao da cor, conforme visto em tabelas do

    item 2.1 em Bossardi (2012). No tocante ao fator Mercadolgico, em

    relao s cores, os produtos destinam-se a mercados mais ou menos

    influenciados por moda, tendncias, necessidades e por desejos (CE-

    CHIN, DALLAGNOL, MEDEIROS, 2008). Segundo Medeiros e Gomes

    (2010, p.127), alm do preo h os sistemas de promoo e vendas:

    Em certas pocas, aparece, tambm, uma tendncia geral, que se pode ver refletida em todos os produtos de consumo. H poucos anos, houve uma forte preferncia pelo lils, que era visto em quase tudo, inclusive em automveis. Um produto que se encontre disponvel, na ocasio, na cor em moda, vender muito mais do que um produto semelhante em outra cor. [...] (Danger, 1973, p.9).

    No fator mercadolgico h a participao do marketing. Segundo

    Kotler (2009), essas ferramentas so conhecidas como os quatro Ps:

    Produto25, Preo26, Ponto de venda (ou distribuio)27 e Promoo28.

    25 a proposta para o merca-do em si, especificamen-te quanto a um produto tangvel, embalagem e um conjunto de servios que o consumidor adqui-re atravs da compra. (KotlER, 2009, p. 52).

    26 O preo do produto, juntamente com outros custos correspondentes entrega, a garantia e assim por diante. (KOT-lER, 2009, p. 52).

    27 Os arranjos para tornar o produto prontamente disponvel e acessvel ao mercado-alvo. (KOTlER, 2009, p. 52).

    28 as atividades de comu-nicao, como anncios, promoo de vendas, mala direta e publi-cidade para informar, persuadir ou lembrar o mercado-alvo sobre a disponibilidade e sobre os benefcios do produ-to. (KotlER, 2009, p. 52).

  • deise carla Bossardi e noeli Reck Maggi

    95Revista D 4 2012

    A cor muito importante no mercado, e a indstria e o comrcio

    necessitam considerar os usurios. Por isso, deve haver as mesmas

    consideraes comerciais que h na escolha do material e do modo

    de fabricao. [...] (DANGER, 1973, p.10). Com o tempo, grupos de

    pessoas, ou mesmo pessoas, podem mudar suas preferncias devido

    s tendncias de cor que duram determinado tempo.

    Diversos fatores podem influenciar tendncias de cor, tais como condies polticas e econmicas, desenvolvimentos tecnolgicos, mudanas de valores sociais, dados geogrficos e climticos, alm de grandes eventos comerciais, esportivos ou artsticos (PEREIRA, 2000, p. 106).

    Quanto ao fator Tecnolgico, em relao aplicao cromtica no

    caso do material plstico, observa-se segundo Williams (2009), que

    desde a Segunda Guerra Mundial tm ocorrido mudanas no padro

    de utilizao dos materiais que surgiram. Constituem exemplo disso o

    explosivo crescimento da indstria dos plsticos29 (o novo material do-

    minante do mundo contemporneo), o aperfeioamento das tcnicas de

    fabricao e das propriedades de funcionamento dos produtos existentes

    e dos novos usos resultantes da combinao de vrios materiais. Quanto

    ao fator tecnologia tambm esto presentes os sistemas de cor, como

    o ABC, Pantone, Munsell, NCS (Natural Color System), e, tambm, os

    corantes30 e os pigmentos.31

    4 consiDERAEs finAis

    Neste artigo buscou-se apresentar, a partir de extratos de fontes

    bibliogrficas, uma viso ampla dos estudos sobre a cor no design. Os

    conceitos selecionados para compor a reviso no esgotam o tema,

    mas deixam claro que na aplicao da cor em produtos industriais

    deve-se considerar uma variedade de fatores, desde os perceptivos aos

    tecnolgicos, incluindo-se os culturais, pois o estudo da cor no Design

    interdisciplinar.

    29 So compostos orgni-cos, baseados em longas molculas de carbono unidas umas s outras. Essas molculas so chamadas de polmeros. (lEssA, 2008, p.24). Tm diversas origens os polmeros: natural, semi-sinttico ou sinttico.

    30 Os corantes so subs-tncias usadas para colorir superfcies de objetos. Sua ao faz-se por subtrao. O corante de uma determinada cor absorve da luz in-cidente todas as cores que a compem, com exceo da que lhe d caracterstica. as tintas no passam de corantes formados por um lquido ou por uma base na qual se encontra o pig-mento em suspenso. (GolDmAn, 1964, p. 85). os corantes podem ser divididos em corantes solveis ou anilinas e corantes insolveis ou pigmentos. (PEREIRa, 2000, p. 45).

    31 de acordo com suas propriedades fsico-qu-micas, podem ser org-nicos e inorgnicos. Os inorgnicos (geralmente sais, xidos ou sais com-plexos de metais) apre-sentam baixo poder de tingimento, resistncia trmica elevada e alta resistncia luz. Produ-zem [...] em geral cores apagadas ou sujas (de baixa saturao). por sua vez, os pigmentos or-gnicos (obtidos a partir de produtos derivados do petrleo) apresentam alto poder de tingimen-to, alta transparncia e boas propriedades de resistncia a agentes qu-micos. Produzem uma gama muito ampla de tonalidades vivas ou

  • Produtos so envolvidos pela cor

    96 Revista D 4 2012

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    DEISE CARLA BOSSARDI

    Universidade de Contestado - Curitibanos - SC

    E-mail: [email protected]

    NOELI RECK MAGGI

    UniRitter

    E-mail: [email protected]

    Recebido em 30/07/2012Aceito em 30/11/2012

  • Produtos so envolvidos pela cor

    98 Revista D 4 2012

    BOSSARDI, Deise Carla; MAGGI , Noeli Reck. Produtos so envolvidos

    pela cor. Revista D. Porto Alegre, n. 4, p. 85-98, 2012.