i. introduÇÃo e objetivos -...

43
1 I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Upload: hoangdien

Post on 15-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

1

I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Page 2: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

2

I – INTRODUÇÃO E OBJETIVO

Este trabalho abordou como tema a responsabilidade civil por erro médico no que

tange especificamente a conduta do médico radiologista no diagnóstico do câncer através do

exame mamográfico.

Desenvolver este tema se revelou necessário, pois no Brasil nos dias de hoje, face o

aumento dos índices de mortalidade por câncer de mama na população mundial, tendo como

uma das causas deste aumento de mortalidade o erro médico, como consequência, vêm

crescendo as ações ajuizadas por paciente em face dos seus médicos, além do crescente

aumento da incidência da doença 13,16.

A projeção do câncer de mama no Brasil ainda revela índice de mortalidade

considerado alto, apesar das estratégias de rastreio mamográfico incorporadas pelo Ministério

da Saúde, como exame bi-anual para mulheres com faixa etária entre 50 – 69 anos e exame

clínico mamário anual entre 40 – 49 anos 16.

Em alguns países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos, Canadá, Reino

Unido, Holanda, Dinamarca e Noruega, um aumento da incidência do câncer de mama,

acompanhado de uma redução da sua mortalidade, está associado à detecção precoce por meio

da introdução da mamografia para rastreamento e à oferta de tratamento adequado.

Entretanto, mesmo com a facilidade ao acesso dos pacientes ao sistema de saúde em todo o

mundo tem se observado um aumento progressivo da ocorrência do câncer de mama na

população, e o mais contraditório, nas mulheres com maior nível sócio-econômico e

cultural28.

Como se sabe, apesar do câncer de mama ser considerado um câncer de bom

prognóstico se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade deste tipo de

Page 3: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

3

câncer continuam elevadas no Brasil e no mundo, muito provavelmente porque a doença não

raro ainda é diagnosticada em estágios avançados 9,28.

Como os índices de mortalidade por câncer de mama vêm aumentando, também tendo

como uma das causas o erro médico, que, por sua vez, é decorrente do aumento do número de

mamografias realizadas no Brasil, as ações ajuizadas por pacientes supostas vítimas destes

erros em laudos mamográficos e ultrassonográficos vêm crescendo substancialmente 13,16.

Entre as causas dos supostos erros médicos encontra-se o diagnóstico tardio do câncer

de mama, que pode ocorrer devido à falta de valorização das alterações em exame

mamográfico anterior, suscetível de gerar a responsabilidade civil repercutindo na obrigação

de ressarcimento aos pacientes, chegando muitas vezes a significativas indenizações, pois

para que exista dever de indenizar, no curso do processo, precisa ficar demonstrada a

existência de responsabilidade civil12.

Dentro deste contexto, isto é, para regular esta demanda da sociedade, consubstanciada

na necessidade de regulação das conseqüências do erro do médico interpretador, a legislação

utilizada tem sido a mesma para os casos de responsabilidade civil em geral e essa não tem,

em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange à responsabilidade civil

no erro médico20.

A doutrina tem se destacado, com exceção de alguns autores, por ter um enfoque

médico e não jurídico, visto que a abordagem do assunto ocorreu, inicialmente, mais por

autores médicos do que por juristas. Nota-se uma mudança nítida nessa tendência,

recentemente, embora ainda insuficiente para se considerar que já exista uma doutrina

tradicional sobre o tema. Nas decisões judiciais, as discrepâncias ainda são significativas,

tanto que, sobre casos iguais, podem-se esperar decisões diferentes, reformadas ou não, nas

instâncias superiores 18,19.

Page 4: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

4

I.1. Objetivos

1. Discorrer sobre as consequências legais do erro médico, no concernente à conduta

culposa do médico radiologista na interpretação do exame mamográfico com vistas

a diagnosticar o câncer de mama.

2. Analisar as decisões judiciais ocorridas no período de janeiro/2000 a junho/2011 e

relacioná-las ao tipo de obrigação, a responsabilidade civil e a falha na

interpretação do exame mamográfico.

Page 5: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

5

II. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Page 6: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

6

II.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ERRO MÉDICO DENTRO DA

RESPONSABILIDADE CIVIL

Inicialmente, se faz necessária uma breve análise da evolução histórica do erro médico

de uma maneira geral dentro do instituto da Responsabilidade Civil, para apenas em momento

ulterior traçarmos um panorama do erro médico no campo específico da radiologia.

Dentro deste contexto histórico necessário se faz destacar as lições de Delton Croce

Júnior12: “É assaz difícil convictamente falar que, nos primórdios da humanidade, no que

pertine ao castigo da imprudência médica, existiam preceitos que regulavam de modo

específico o dano, a lesão e o homicídio culposo, como forma de vingança privada, primitiva,

selvagem, de reação contra o prejuízo sofrido, pois dominava então o materialismo no

Direito, com a proclamação do princípio geral do castigo como conseqüência imediata do

dano”.

Este mesmo doutrinador12 afirma, na seqüência, em suas obra que os povos da

Antigüidade foram os pioneiros na elaboração de uma legislação reguladora da conduta

profissional da atividade médica. Desta feita, o Código de Hamurabi (1686 – 1750 a.C.) –

confeccionado pelo rei da Babilônia – que consagra em seu art. 218 a lei do Talião, a qual,

tem alguns de seus dizeres reproduzidos na Lei das Doze Tábuas (adotada em Roma por volta

de 425 a.C.) – que imputava, entre outras, penas cruéis como a amputação das mãos, aos

cirurgiões que não lograssem êxito nos seus procedimentos.

Os cirurgiões também tinham punição prevista no Código de Ur-Nammu (2111 – 2084

a.C.) – em seu artigo 625 referia-se à responsabilidade do médico - no Código de Manu, no

Page 7: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

7

Cho-King dos chineses, na Lei de Zoroastro, sendo econômica a penalização. O Talmude

implantou a multa, prisão e imposição de castigos físicos. No Egito, ao lado da elevada

posição que desfrutavam, os médicos tinham um livro com regras estabelecidas para seu

exercício profissional que na hipótese de descumprimento eram punidos com a morte. A Lei

Aquilia, entre os romanos obrigava o médico a indenizar se um escravo morria sob seus

cuidados; também o médico que agisse com imperícia ou negligência era exilado ou

deportado. Persistiram ainda na Idade Média as pesadas sanções aos médicos12.

No início do século XIX, o Código Civil Francês introduziu a regulamentação dos atos

humanos prejudiciais a outrem. A obrigação de indenizar passou a ser conseqüência de

qualquer ato humano, quando causasse dano e, por analogia, os médicos passaram a ser

incriminados por sua imprudência ou negligência. Em 1829, a Academia de Paris proclamou a

exclusiva responsabilidade moral e não econômica, quase extinguindo a necessidade do

médico indenizar os seus erros – salvo erro grosseiro e inescusável. Isso não durou muito e

em 20 de maio de 1836, na França, a jurisprudência sobre responsabilidade médica tornou-se

palpável através do aresto de André Marie Jean-Jacques Dupin, Procurador-Geral da Câmara

Civil da Corte de Cassação de Paris, que estabeleceu bem a necessidade de se submeter à

apreciação judicial a possibilidade do erro médico e afirmava: “Cada profissão encerra em

seu seio, homens dos quais ela se orgulha e outros que ela renega”12.

Atualmente no Brasil, a Responsabilidade Civil por erro médico é norteada pelas

regras da responsabilidade civil genérica previstas nos artigos 927 e 951 do Código Civil.

Entretanto, no concernente aos profissionais liberais, dentre eles os médicos, a legislação

pátria adotou a teoria da responsabilidade subjetiva, na qual a reparação do dano encontra

arrimo na constatação conduta culposa do agente.

Page 8: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

8

II.2 –ANÁLISE CONCEITUAL DO INSTITUTO DA RESPONSABI LIDADE CIVIL

Feita esta breve análise histórica relevante se faz, por oportuno, um breve

esclarecimento conceitual acerca do instituto da Responsabilidade Civil.

A idéia de Responsabilidade Civil está intimamente ligada à existência da conduta

culposa que, por sua vez, restará configurada sempre que estiverem presentes a imprudência,

imperícia ou negligência.

Com relação ao médico, sempre que este for o agente provocador do dano ao paciente,

agindo de maneira temerária, isto é, precipitadamente sem a cautela exigida (imprudência) ou,

quando o profissional não possui conhecimentos técnicos suficientes ou ainda desatualizados

para diagnosticar o caso (imperícia). Já a negligência estará configurada quando o agir do

profissional da medicina revelar desatenção na utilização das cautelas de praxe exigidas ao

diagnóstico da enfermidade do paciente.

Acerca das supramencionadas modalidades de culpa leciona Sérgio Cavalieri Filho10:

"A imprudência é falta de cautela ou cuidado por conduta comissiva, positiva, por ação. (...)

Negligência é a mesma falta de cuidado por conduta omissiva. (...) a imperícia, por sua vez,

decorre da falta de habilidade no exercício da atividade técnica (...) O erro médico grosseiro

também exemplifica a imperícia."

Com visto, o conceito de responsabilidade civil por erro do médico, como dos demais

profissionais liberais está entrelaçado a idéia de culpa sendo sobremaneira discutido

atualmente. Entretanto, apesar a multiplicidade de conceitos existentes na doutrina, indene de

dúvidas pode-se utilizar os ensinamentos de Pontes de Miranda23 na tentativa de defini-lo.

Vejamos: “Quando fazemos o que não temos o direito de fazer, certo é que cometemos ato

lesivo, pois que diminuímos, contra a vontade de alguém, o ativo dos seus direitos, ou lhe

elevamos o passivo das obrigações, o que é genericamente o mesmo”. E complementa mais à

Page 9: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

9

frente: “O que se induz da observação dos fatos é que em todas as sociedades o que se tem

por ofensa não deve ficar sem satisfação, sem ressarcimento”.

O autor Jerônimo Romanello Neto25 traça um paralelo entre a reparação civil e a penal

em sua obra “Responsabilidade Civil dos Médicos” aduzindo que: “A reparação civil serve, e

deve servir para reintegrar o prejudicado na sua situação patrimonial anterior, em razão do

prejuízo experimentado. A reparação penal restitui a ordem social ao estado anterior do

ilícito praticado. A responsabilidade civil tende à reparação, a responsabilidade penal tende

à punição”.

Com efeito, o dever jurídico da responsabilidade na maioria dos casos encontra

alicerce num contrato, fato ou omissão, advindo, assim, tanto da convenção como da norma

jurídica. Pode, pois, a responsabilidade civil, singelamente, definir-se como a obrigação de

reparar o prejuízo causado a alguém21.

Pode-se complementar a assertiva acima com o ensinamento de Irineu Antônio

Pedrotti21: “Na acepção jurídica responsabilidade corresponde ao dever de responder (do

latim respondere) pelos atos próprios e de terceiros, sob proteção legal, e de reparar os

danos que forem causados”.

Neste diapasão, muito auxiliam o entendimento e conceituação do que é a

responsabilidade civil da Professora Maria Helena Diniz14: “A responsabilidade civil é a

aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial

causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela

responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal”.

Page 10: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

10

II.3. – RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO DO MÉDICO INTERPRETADOR

Analisados os conceitos acima, podemos extrair para o propósito deste trabalho que a

responsabilidade civil do médico se caracteriza quando estiverem presentes os seguintes

requisitos: ocorrência do dano ao paciente, ação ou omissão culposa do médico e por fim o

nexo de causalidade entre a ação ou omissão culposa do médico e o dano causado. Assim,

uma vez presentes estes pressupostos, necessária se revelará a necessidade imposição de

condenação pecuniária.

Como visto acima, é notório que a relação que se estabelece, entre o médico e o

paciente em um atendimento médico pode ser também contratual. Não é diferente nos

Serviços de Radiologia, sendo esta relação contratual estabelecida entre o paciente e o médico

interpretador submetida ao que determina o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº

8.048/1990) 8.

Isto porque, o prestador de um serviço de radiologia, seja pessoa física ou jurídica,

apresenta-se como fornecedor de serviços de exames médicos, assim caracterizando-se uma

relação de consumo. O referido diploma legal em seu artigo 3º, no caput, conceitua

fornecedor: "Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de (...)

prestação de serviços". O mesmo Código de Defesa do Consumidor exclui como prestação de

serviço, dentro de uma relação de consumo regida por este código, aquelas atividades

exercidas como decorrência de uma relação de caráter trabalhista8.

Por outro lado, a lei consumerista, em seu artigo 2º, nos fornece também o conceito de

consumidor como: “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço

Page 11: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

11

como destinatário final".8. Desta forma, o paciente que é submetido a um exame radiológico

é, pois, um consumidor deste serviço, ou seja, nada mais é que o destinatário final, portanto

consumidor do serviço utilizado para fazer um diagnóstico, ou até tratamento, do seu eventual

problema de saúde.

A jurisprudência pátria é assente no sentido de ser objetiva a responsabilidade das

empresas prestadoras de serviços em radiologia por eventuais danos causados aos pacientes.

Este entendimento, realmente não poderia ser diferente, uma vez que nos termos do artigo 14

do Código de Defesa do Consumidor "O fornecedor de serviços responde, independentemente

da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos

relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas

sobre sua fruição e riscos” 8.

Todavia, este mesmo artigo em seu parágrafo 4º ("A responsabilidade pessoal dos

profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa") expressa que o caput

deste artigo não se aplica aos profissionais liberais, no caso os médicos. Compartilha deste

entendimento Regina Beatriz Tavares da Silva26 ao analisar o teor de um acórdão: "Como

esclareceu o acórdão, o alegado dano não ficou provado, sendo que não se aplica o Código

de Defesa do Consumidor, em responsabilidade civil dos profissionais liberais, por

determinação legal expressa do artigo 14, §4º, desse diploma legal." .

Assim quando se analisar a responsabilidade civil de uma empresa prestadora de

serviços de saúde em Diagnóstico por Imagem, antes de considerar objetiva a

responsabilidade desta, há que se averiguar, em juízo, se houve responsabilidade em termos

de responsabilidade subjetiva do médico profissional liberal (presença de culpa na atuação do

profissional), que porventura tenha causado dano a um paciente. Só, então, comprovado que o

Page 12: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

12

dano eventual a um paciente resultou do agir culposo do médico, poderá vir a ser

responsabilizado objetivamente, nos tribunais, o serviço de radiologia onde este exercer as

suas atividades.

Em regra os serviços de radiologia são responsáveis pelos danos causados por erros

dos radiologistas e outros profissionais que exerçam atividades nestes serviços médicos

caracterizando a responsabilidade in eligendo e in vigilando. No concernente a

responsabilidade in eligendo nos diz Rui Stoco27: "Culpa in eligendo é a oriunda da má

escolha do representante, ou preposto.". Acerca da mesma responsabilidade in eligendo, nos

ensina Caio Mário da Silva26 Pereira: "culpa in eligendo, quando há má escolha de uma

pessoa a quem é confiada uma certa tarefa". O mesmo Caio Mário 26 leciona sobre a

responsabilidade in vigilando: "culpa in vigilando, quando uma pessoa falta ao dever de

zelar, ou comete uma desatenção quando tinha o dever de observar".

Estes institutos já estão consagrados pela legislação pátria, nos termos do artigo 932,

inciso III, do Código Civil brasileiro, verbis: "São também responsáveis pela reparação civil:

(...) III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais ou prepostos, no

exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele", que instituiu como sendo objetiva

a responsabilidade do empregador ou comitente pelos atos lesivos pelos quais sejam

responsabilizados, em juízo, os seus empregados, serviçais ou prepostos 22.

Na mesma linha de raciocínio, apesar de não mencionar que a responsabilidade é

objetiva, mas sim presumindo a culpa no agir do patrão ou comitente - preponentes - foi

editada a Súmula 341, do STF - Supremo Tribunal Federal: "É presumida a culpa do patrão

ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto"24.

Page 13: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

13

Sendo assim, os serviços de radiologia podem ser responsabilizados nos tribunais

pelos prejuízos que venham a sofrer pacientes em decorrência dos procedimentos aos quais

são submetidos. Esta responsabilização poderá ocorrer mesmo quando causados danos aos

pacientes por seus agentes ou prepostos.

E, no que se refere aos médicos, ainda que estes não possuam vínculo laborativo com

o serviço de radiologia, não estará afastada em juízo a responsabilidade pelo ressarcimento

aos pacientes que porventura sofrerem dano em virtude das características das atividades

profissionais desenvolvidas nestas empresas de saúde. Isto porque, o preposto, médico

radiologista, estará sempre executando atividades com um objetivo específico: realizar

exames médicos especializados na área da radiologia oferecidos por estas entidades 23.

Além da responsabilidade pelos seus prepostos, os serviços de radiologia também são

responsáveis pelo fato da coisa, nos termos do artigo 938, do Código Civil brasileiro ("Aquele

que habitar prédio, ou parte dele, responde, pelo dano proveniente das coisas que dele

caírem ou forem lançadas em lugar indevido"), uma vez que através de uma interpretação

extensiva os medicamentos que ocasionarem danos aos pacientes podem gerar

responsabilidade pelos prejuízos aquele que os tenha ministrado ou prescrito 25.

Neste momento, vale frisar que os contrastes radiológicos dentre outras substâncias

semelhantes utilizadas nos exames por imagem são consideradas medicamentos à luz do

nosso direito positivo no Decreto federal nº 79.094/77, em seu artigo 3º, inciso II:

"Medicamento é o produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade

profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico".

Desta forma, ante as considerações feitas acima, pode-se extrair que se impõe aos

serviços de radiologia o dever de cuidar da conservação dos pacientes para que estes estejam

Page 14: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

14

sempre livres de qualquer dano, desenvolvendo atividades que não os coloque em risco. Aliás,

será sempre necessário levar-se em conta relação risco-benefício dos procedimentos

favoráveis ao paciente, em respeito a outro dos três princípios básicos da ética médica, ou

seja, o princípio da beneficência/não-maleficência - o terceiro seria o da justiça.17

II.4 – FUNDAMENTOS DOS LITÍGIOS ENTRE PACIENTES, MÉ DICOS E OS

SERVIÇOS DE RADIOLOGIA

Nos itens subsequentes serão abordados os principais aspectos atinentes ao diagnóstico

do câncer de mama, que podem servir de fundamento para litígios entre médicos, Serviços de

Radiologia e pacientes, dentre eles os diagnósticos falso-negativos, diagnósticos falso-

positivos e falha na comunicação 7,25.

II.4.1 – DIAGNÓSTICOS FALSO-NEGATIVOS

Em regra, os diagnósticos falso-negativos quase sempre servem de arrimo para a

maioria das ações ajuizadas em face dos serviços de radiologia e médicos radiologistas.

Algumas décadas passadas, as fraturas não diagnosticadas eram as causas mais ordinárias dos

pleitos judiciais. No final da década de 80, os erros falso-negativos de tumores malignos,

mormente os de câncer de pulmão e do cólon, se transformaram numa base mais significativa.

A título de exemplo, a falha no diagnóstico da neoplasia mamária foi apontada em

2002 pelo relatório de Physicians Insures Association of América (PIAA - uma organização

que reúne 26 companhias de seguro de responsabilidade civil médica) como condição mais

usual e segunda mais cara relacionada a ações entre pacientes e todos os médicos das mais

Page 15: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

15

variadas especialidades, sendo os radiologistas os especialistas mais regularmente

acionados22.

Com efeito, os erros de diagnóstico podem ser oriundos das falhas de percepção ou

erros de julgamento. A falha de percepção ocorre quando um achado anormal não é

percebido. Já o erro de julgamento ocorre quando uma anormalidade é detectada, porém não

interpretada adequadamente. Nas duas hipóteses, estará viabilizada a possibilidade de

ajuizamento de uma ação indenizatória. Todavia, vale lembrar que não é fácil diferenciar

erros simples de uma transgressão de um padrão de conduta 7,25.

Outro ponto que não se pode esquecer é a realidade de que alguns tumores mamários

serão evidentes apenas em estudos retrospectivos, ainda que o exame inicial tenha sido

analisado com um satisfatório padrão de cuidado. Realmente constatam-se, não com rara

freqüência, que alguns tumores podem ser considerados não suspeitos mesmo pelos

radiologistas mais experientes, tornando sua malignidade evidente tão somente depois de uma

análise comparativa com estudos subseqüentes 15.

Isto porque, a mamografia é por sua natureza imperfeita, possuindo sensibilidade

próxima de 90%, o que significa que, aproximadamente 10% dos tumores malignos não serão

visualizados o que nos leva a entender, que tais imperfeições, isto é, inexatidões do método

não deveriam servir sequer como esboço para uma demanda judicial 11.

II.4.2 – DIAGNÓSTICOS FALSO-POSITIVOS

Como se sabe, o diagnóstico falso-negativo por ser considerado de maior gravidade

tem merecido maior atenção da sociedade. Diz-se por merecimento, porque ainda que o

diagnóstico falso-positivo venha a causar transtornos ao paciente, muitas vezes de graus

Page 16: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

16

elevados, estes nem se comparam a um diagnóstico falso-negativo que esconde a existência

ou a malignidade de um tumor gerando não raro o óbito do paciente 25,26.

Todavia, por outro lado, os diagnósticos falso-positivos podem acarretar problemas

derivados do uso excessivo de medicamentos, biópsias e exposição freqüentes as radiações

desnecessárias, fornecendo eventualmente o fundamento para o ajuizamento de ações por

pacientes que se sentirem lesados 12.

Realmente, deve-se levar em conta que, a paciente ao ser informada que no seu exame

mamográfico existe a suspeita de um câncer de mama e uma biópsia se faz necessária, seu

estado de saúde indubitavelmente se transforma. Radiologistas podem induzir imediatamente

a modificação no estado de humor ou dependendo dos casos até de saúde de uma paciente

quando sugerem a existência de um câncer que na realidade não existe.

Por fim, um diagnóstico falso positivo pode determinar estresse emocional tão elevado

que pode, inclusive tornar a paciente incapacitada psicológica e momentaneamente para o

trabalho. Não raro, este tipo de diagnóstico pode acarretar na realização de cirurgias

desnecessárias o que sem dúvida algum consubstancia um forte alicerce para o ajuizamento de

ações12.

II.4.3 – FALHAS NA COMUNICAÇÃO

A comunicação eficiente dos resultados é indispensável para o correto uso das

informações obtidas por meio do exame mamográfico. A identificação de uma anormalidade

na mamografia pode não acarretar nenhum benefício para a paciente, se não sucedida de

medidas de tratamento adequadas em tempo hábil. Todavia, não há como negar, que mesmo

em situações satisfatórias de comunicação à paciente, através de relatório impresso, contato

Page 17: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

17

telefônico podem ocorrer atrasos no início ou no seguimento do tratamento, muitas vezes por

displicência da própria paciente em valorizar a importância do retorno ao consultório médico

com o resultado do exame. Por outro lado, se além disso houver falha na comunicação, a

demora em implementar o tratamento adequado não poderá ser imputada à paciente, mas ao

serviço de radiologia.

Diante deste quadro, pode-se entender que os radiologistas podem ser considerados

negligentes na hipótese de não notificação ao médico requisitante de maneira oportuna sobre

os achados mamográficos relevantes.

Portanto, constata-se que um dos deveres dos radiologistas está em comunicar de

forma efetiva os resultados desses achados mamográficos no tempo correto.

II.4. DEFINIÇÃO DE OBRIGAÇÕES

O presente tópico tem por objetivo discutir acerca de duas modalidades de obrigações,

polêmicas com relações a algumas profissões, e atos decorrentes de seu exercício. Tais

modalidades, presentes no Direito das Obrigações, são as Obrigações de Meio e de

Resultado14. Serão apresentados alguns exemplos práticos com relação a áreas conhecidas,

como a Medicina e o Direito. Existe uma diferença clara entre obrigação de meio e obrigação

de resultado. A discriminação entre estas duas modalidades faz toda a diferença no momento

em que se julga alguma ação de reparação de danos e processos do gênero. Para uma melhor

análise, é necessário distinguir exatamente o que significa cada uma delas.

Page 18: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

18

II.4.1. Obrigação de Meio

A obrigação de meio é aquela em que o profissional não se obriga a um objetivo

específico e determinado. O que o contrato impõe ao devedor é apenas a realização de certa

atividade, rumo a um fim, mas sem o compromisso de atingi-lo. O contratado se obriga a

prestar atenção, cuidado, diligência, lisura, dedicação e toda a técnica disponível sem garantir

êxito. Nesta modalidade o objeto do contrato é a própria atividade do devedor, cabendo a este

enveredar todos os esforços possíveis, bem como o uso diligente de todo seu conhecimento

técnico para realizar o objeto do contrato, mas não estaria inserido aí assegurar um resultado

que pode estar alheio ou além do alcance de seus esforços. Em se tratando de obrigação de

meio, independente de ser a responsabilidade de origem delitual ou contratual, incumbe ao

credor provar a culpa do devedor 14.

II.4.2.Obrigação de Resultado.

Na obrigação de resultado há o compromisso do contratado com um resultado

específico, que é o ápice da própria obrigação, sem o qual não haverá o cumprimento desta. O

contratado compromete-se a atingir objetivo determinado, de forma que quando o fim

almejado não é alcançado ou é alcançado de forma parcial, tem-se a inexecução da obrigação.

Nas obrigações de resultado há a presunção de culpa, com inversão do ônus da prova,

cabendo ao acusado provar a inverdade do que lhe é imputado 14.

Segundo o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Junior: "Sendo a obrigação de resultado,

basta ao lesado demonstrar, além da existência do contrato, a não obtenção do objetivo

prometido, pois isso basta para caracterizar o descumprimento do contrato, independente das

Page 19: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

19

suas razões, cabendo ao devedor provar o caso fortuito ou força maior, quando se exonerará

da responsabilidade".

II.4.3. Interpretação em relação à Medicina

Na área médica em geral é adotada a responsabilidade decorrente da obrigação de

meio, ou seja, o médico não promete curar doenças, mas ele se compromete a utilizar todos os

meios possíveis e lícitos para que isto aconteça. Não sendo alcançada a finalidade proposta na

Obrigação, o médico só responde pela responsabilidade se o paciente provar que não houve a

utilização de todos os meios para se chegar ao resultado14.

A cirurgia estética é uma das ramificações da Medicina que segue uma orientação

diversa. Para entender a razão desta diferença, é necessário tomar conhecimento de que a

cirurgia plástica pode ser dividida em dois tipos, tendo em vista a finalidade a ser alcançada:

Cirurgia plástica reparadora: intervenção cirúrgica, ainda que promova melhoria estética, não

tem neste seu objetivo principal, mas sim a resolução de problemas de natureza médica, como

a correção de defeitos congênitos e outros traumas decorrentes de acidentes de qualquer

natureza. Cirurgia plástica estética: tem seu objetivo limitado ao resultado puramente

estético, visando unicamente aperfeiçoar o aspecto externo de uma parte do corpo. Neste tipo

de cirurgia o paciente busca o cirurgião sem apresentar qualquer doença; visa, apenas, o puro

embelezamento 14.

As maiores divergências vêm do fato de existirem duas correntes que defendem todas

as modalidades de Obrigações, presentes na Cirurgia puramente estética. A corrente que

defende a obrigação de meio para este tipo de procedimento tem como defensores os

Ministros Rui Rosado Aguiar e Carlos Alberto Menezes Direito. Eles defendem que a cirurgia

Page 20: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

20

plástica é um ramo da cirurgia geral, estando sujeita aos mesmos imprevistos e insucessos

daquela, de modo não ser possível punir mais severamente o cirurgião plástico do que o

cirurgião geral, haja vista pertencerem à mesma área. Afirmam que o corpo humano possui

características diferenciadas para cada tipo de pessoa, não sendo possível ao médico

comprometer-se a resultados diante da diversidade de organismos, reações e complexidade da

fisiologia humana. Condenam até mesmo os médicos que prometem resultados aos pacientes,

uma vez que não poderiam ser responsabilizados por estes, porque não podem garantir

elasticidade da pele, cicatrização, fatores hereditários, repouso, alimentação, pós-operatório,

etc.

Aduzem ainda que o que é diferente na cirurgia estética strictu sensu é o dever de

informação que deve ser exaustivo e o consentimento informado do paciente que deve ser

claramente manifestado. Para o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Carlos Alberto

Direito: “Não se pode generalizar, pois cada caso tem a sua especificidade. Em nenhum

momento, o juiz pode trabalhar fora do problema em si mesmo, fora daquela situação em que

ocorreu a lesão. Por isso, é que se pede ter sempre a consideração de que o médico não pode

assumir, em nenhuma circunstância, a responsabilidade objetiva. Daí, ao meu ver, por

exemplo, a impertinência de se identificar a cirurgia plástica embelezadora como de resultado,

pois ela não é diferente de qualquer outro tipo de cirurgia, estando subordinada aos mesmos

riscos e às mesmas patologias.”

Porém, a maioria dos juristas defende arduamente que a obrigação do médico na

cirurgia estética não reparadora é de resultado. Entre eles, o Ministro Humberto Gomes de

Barros, do STJ. A seguir, reproduzidos alguns grifos, de diversos ministros, retirados do

acórdão por ele proferido no Recurso Especial n° 618.630, STJ, publicado no DJU em

07.04.2005: "Contratada a realização da cirurgia estética embelezadora, o cirurgião assume

Page 21: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

21

obrigação de resultado (Responsabilidade contratual ou objetiva), devendo indenizar pelo não

cumprimento da mesma, decorrente de eventual deformidade ou de alguma irregularidade.

Cabível a inversão do ônus da prova" (REsp 81.101/Zveiter): "O profissional que se propõe a

realizar cirurgia, visando melhorar a aparência física do paciente, assume o compromisso de

que, no mínimo, não lhe resultarão danos estéticos, cabendo ao cirurgião a avaliação dos

riscos. Responderá por tais danos, salvo culpa do paciente ou a intervenção de fator

imprevisível, o que lhe cabe provar (AgRg no AG 37.060/Eduardo Ribeiro).

Atualmente há um verdadeiro comércio no ramo da cirurgia plástica, com o aumento

desordenado da procura por corpos perfeitos e oferta de cirurgias por profissionais nem

sempre habilitados. Isso é um dos fatores que leva a segunda corrente a apresentar um número

maior de adeptos.

Page 22: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

22

III. MATERIAL E MÉTODO

Page 23: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

23

III.. MATERIAL E MÉTODO

No campo jurídico, a pesquisa bibliográfica é o método por excelência de que dispõe o

pesquisador, pois não se pode fundamentar um trabalho jurídico sem a apresentação das leis

que regulam o tema ou das decisões judiciais que aplicam a lei ao conflito de interesses

existente na sociedade.

A pesquisa jurídica foi basicamente bibliográfica e documental, extraída do estudo da

legislação, dos livros de ciências jurídicas pertinentes, além das decisões judiciais. Estas

contribuições foram extraídas principalmente do estudo dos livros de Direito Civil, além das

decisões dos tribunais brasileiros, que são juridicamente chamadas jurisprudência.

Com o objetivo de analisar o entendimento dos tribunais nacionais, dentre eles o

Supremo Tribunal Federal, a quem bem compete revisar, em grau de recurso as decisões

judiciais que afrontam a Constituição Federal, bem como o Superior Tribunal de Justiça que

tem a competência de julgar em grau de recurso as decisões violadoras das leis federais, além

dos Tribunais de algumas Unidades da Federação, especialmente o Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro, foi realizada a busca nos seus respectivos sites (www.tj.rj.gov.br)

de decisões judiciais no período de janeiro de 2000 a junho de 20011. Dessas decisões foram

extraídas todas as que se relacionavam a decisões de erro médico na interpretação dos exames

mamográficos.

O material utilizado demonstrou a visão dos tribunais acerca do tema objeto desta

pesquisa, revelando as conseqüências do erro do médico radiologista no âmbito do Direito

Civil consubstanciadas em indenizações monetárias.

Page 24: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

24

Foi realizada uma análise em relação à classificação do tipo de obrigação, quantas

decisões judiciais foram favoráveis aos Serviços de Radiologia no qual a responsabilidade

civil independe de demonstração de culpa, bem como do médico radiologista na qual a

caracterização da culpa é indispensável à imputação de condenação.

Page 25: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

25

IV.RESULTADOS

Page 26: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

26

IV. RESULTADOS

IV.1. Análise das decisões judiciais

Na linha do que foi proposto no objetivo deste trabalho foi elaborada uma pesquisa de

decisões judiciais, denominadas jurisprudências em três tribunais brasileiros, a saber: o

Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Tribunal de Justiça do Estado do

Rio de Janeiro.

Na pesquisa inicial realizada no endereço eletrônico do Supremo Tribunal Federal com

os termos “erro médico” foram encontrados 11 casos no período compreendido entre o ano

2000 e 2011, neles incluídos todos os tipos de erros cometidos por profissionais de medicina e

Odontologia. Numa segunda busca realizada neste mesmo endereço e período foram

utilizados os termos “erro médico e mamografia” e “erro médico e câncer de mama” não

tendo sido encontrado nenhum processo sequer.

Na pesquisa inicial realizada no endereço eletrônico do Superior Tribunal de Justiça

com os termos “erro médico”, foram encontrados 200 casos no período compreendido entre o

ano 2000 e 2011, neles também incluídos todos os tipos de erros cometidos por profissionais

de medicina e odontologia. Numa segunda busca realizada neste mesmo endereço e período

foram utilizados os termos “erro médico e mamografia” e “erro médico e câncer de mama”

não tendo sido encontrado também nenhum processo.

Na pesquisa inicial realizada no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro com

os termos “erro médico”, foram encontrados 300 processos julgados neles inclusos todo e

qualquer espécie de erro médico, inclusive os odontológicos.

Page 27: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

27

Numa segunda etapa, foram utilizados os termos “erro médico e mamografia” e “erro

médico e câncer de mama”, na qual foram encontrados 8 processos julgados.

Nestes 8 processos analisados foi possível observar que os fundamentos dos litígios

entre pacientes, médicos e serviços de radiologia ocorreram em virtude de três resultados de

exames falso-positivos e dois falso-negativos. Nos outros três casos não restou configurado o

erro médico sendo que num deles foi atribuída responsabilidade de laboratório de terceiros.

Em outras palavras, foram condenados médicos e serviços em 5 casos, com indenizações

variando de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a R$ 72.000,00 (setenta e dois mil reais) e

comprovada a inocência em três casos. Na tabela I encontram-se as decisões judiciais

(acórdãos) dos 8 processos.

Page 28: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

28

Tabela 1: Relação de processos julgados referentes a erros médicos relacionados à

mamografia.

Nº do Processo Tipo de erro médico

Tipo de decisão Causa do pedido do Dano Moral

Valor da indenização

1) 0000510-17.2006.8.19.0028

Diagnóstico Exames MMG e US (Falso +).

Condenação Médico e Serviço

Alterações Psicológicas

R$15.000,00

2) 0010941-64.2006.8.19.0205 (2009.001.24142)

Diagnóstico Exames MMG e US (falso -)

Condenação Médico e Serviço

Retirada MD e QT R$20.000,00 +Cirurgia plástica restauradora

3) 0005208-39.2005.8.19.0210

Não foi considerado erro

Inocência Não comprovado N/A

4) 0131310-35.1997.8.19.0001 (2005.001.37248)

Diagnóstico (falso +)

Condenação do Médico e do Serviço

Extirpação de ambos os seios

R$40.000,00

5) 0159620-46.2000.8.19.0001 (2003.001.13839)

Não foi considerado erro do médico

Responsabilidade de terceiros (Biópsia equivocada)

Mastectomia radical + óbito

N/A

6) 0176647-76.1999.8.19.0001 (2002.001.10417)

MMG (+) Biópsia não solicitada (verdadeiro positivo)

Condenação do Médico e do Serviço

Óbito R$72.000,00

7) 0132233-75.2008.8.19.0001

Erro Diagnóstico MMG e US (falso negativo)

Condenação do Médico e do Serviço

Quadrantectomia MD e RT

R$20.000,00

8) 0012374-30.2009.8.19.0066

Divergência no BI-RADS (falso +)

Inocência Hipertensão N/A

Legenda: MMG = mamografia, US = ultrassom, MD = mama direita, RT = radioterapia, QT =

quimioterapia, N/A = não se aplica.

Page 29: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

29

V. DISCUSSÃO

Page 30: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

30

V- DISCUSSÃO

Os resultados encontrados representam demandas da sociedade com o intuito de

buscar através de uma decisão definitiva proferida pelos tribunais brasileiros uma solução

para os conflitos de interesses que surgem entre os pacientes e seus médicos, serviços de

radiologia e hospitais tendo como fundamentos supostos atos de imperícia, negligência ou

imprudência.

Destarte, percebe-se que no primeiro julgado apresentado na tabela constata-se um

resultado falso-positivo que o tribunal entendeu que provocou alterações psicológicas na

autora sendo esta merecedora da indenização por danos morais no valor de R$15.000,00

(quinze mil reais).

Vale dizer, que o tribunal entendeu ausente a prova de que o erro de diagnóstico

(falso-positivo) cometido pelo serviço de radiologia através de seu médico não teria colocado

em risco a saúde da paciente, o que interferiu no seu comportamento psicológico, para fins de

acolhimento da verba moral.

No segundo julgado destacado na tabela, constata-se um defeito na prestação de

serviço de exame clínico detectado por um erro de diagnóstico que provocou a retirada da

mama direita e tratamento quimioterápico para terapêutica de câncer gerando a condenação da

instituição de saúde ao pagamento de danos morais fixados em R$20.000,00 (vinte mil reais)

e no custeio de cirurgia plástica restauradora, a ser realizada.

Neste caso, a paciente se submeteu a exame de mamografia em 21/09/2005 e de

ultrassonografia mamária em 02/02/2006, realizados pela casa de saúde ré no processo que

apresentou laudos negativos para cisto mamário. Todavia, quando a ultrassonografia mamária

Page 31: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

31

foi realizada em outro estabelecimento, em 13/02/2006, foi constatada a presença de nódulo

sólido na mama direita. Além disso, laudo pericial médico feito no processo concluiu que

ambos os exames clínicos de imagem realizados pela casa de saúde apresentaram laudos

errôneos.

Isto porque, segundo a análise pericial das imagens do mesmo exame diagnostica

nódulo altamente suspeito desde o exame realizado em 21/09/2005, assim o erro no

diagnóstico foi causado exclusivamente pelo defeito no exame clínico realizado pela casa de

saúde.

No terceiro julgado encontrado não restou devidamente comprovada a

responsabilidade civil da casa de saúde ré no processo em virtude de ter sido declarada a

inocência do médico. Isto porque, a autora tentou fazer prova de suas alegações através de

uma requisição de exames e não de um laudo médico. Tendo o tribunal entendido que uma

solicitação de exames deve constar o suposto diagnóstico, até mesmo para facilitar e

direcionar o procedimento que, na maioria das vezes, é realizado por outro profissional que

não tem ciência do histórico da paciente.

No quarto caso destacado na tabela um equivocado diagnóstico falso positivo gerou

uma intervenção cirúrgica na paciente da qual lhe resultou em mastectomia. Neste processo, o

ato cirúrgico, de acordo com a prova pericial produzida nos autos, era completamente

desnecessário e mesmo não recomendado, envolvendo a hipótese de erro no diagnóstico e no

procedimento cirúrgico, de modo que, mesmo sendo a cirurgia bem sucedida, não era para ser

realizada, pois, a autora não apresentava qualquer enfermidade que justificasse a retirada das

mamas.

O quinto julgado destacado na tabela não foi considerado erro médico, posto que

restou afastada a responsabilidade do médico e do hospital por culpa exclusiva de terceiro que

Page 32: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

32

realizou biópsia equivocada. O médico realizou o tratamento com base em biópsia realizada

por laboratório de terceiro que apontava apenas displasia mamária (alteração de natureza

benigna), afastando o diagnóstico do câncer.

Entretanto, quando o exame foi refeito por instituto especializado que detectou o

equívoco do anterior, identificando o câncer de mama, já era tarde demais obrigando à

realização de mastectomia radical (retirada completa da mama) e acarretando posteriormente

no óbito da paciente.

Vejamos a ementa: “RESPONSABILIDADE CIVIL DE ESTABELECIMENTO

HOSPITALAR ERRO MÉDICO LAUDO PERICIAL AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO.

CULPA DE TERCEIRO. APELAÇÃO. Responsabilidade civil de estabelecimento

hospitalar. Quer prevaleça o caráter subjetivo do erro médico quer o objetivo do serviço

defeituoso, ambos alegados pela recorrente, filha menor da autora, falecida no curso do

processo, a responsabilidade reparatória de danos materiais e morais não prescinde do nexo

de causalidade. Biópsia, por laboratório de terceiro, que afasta o diagnóstico de câncer,

apontando displasia mamária (alteração de natureza benigna), que assim tratada pelo

médico do estabelecimento réu. Diagnóstico que se mostra equivocado meses depois, quando

refeito por instituto especializado, obrigando a realização de mastectomia radical (retirada

completa da mama). Caráter definidor, afirmado em perícia, do exame de histopatológico,

que "selou" o diagnóstico de tumor benigno e desviou o tratamento. Causa espúria que se

intromete no curso regular do atendimento médico, provocando o dano, rompe a relação de

causa e efeito entre este e a conduta adotada pelo médico do réu. Procedimentos que perícia

verificou haverem sido adequados ao resultado histopatológico. Erro médico e defeito do

serviço não caracterizados diante da culpa exclusiva de terceiro, que não é parte na

demanda. Desprovimento do apelo”

Page 33: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

33

No sexto julgado destacado na tabela o médico foi condenado a pagar indenização aos

herdeiros da paciente no valor de R$ 72.000,00 (setenta e dois mil reais). Após as consultas

iniciais a paciente apresentou ao médico mamografia cujo resultado indicava a necessidade de

realização de biópsia. No entanto, o médico não determinou a realização do exame o que

inviabilizou a descoberta da doença no estágio inicial.

Em virtude desta conduta culposa, a paciente só veio a descobrir câncer de mama 2

anos mais tarde, através de outro profissional, o que acarretou no falecimento da paciente no

curso da ação.

Vejamos a Ementa: “RESPONSABILIDADE CIVIL DE MEDICO ERRO DE

DIAGNOSTICO MORTE DE PACIENTE DANO MORAL. Ação de indenização por danos

morais. Erro de diagnostico. Autora, falecida no curso da ação, que apresentou ao réu

mamografia cujo resultado indicava a necessidade de realização de biópsia. Réu que não

determinou a realização do exame. Autora que só veio a descobrir câncer de mama dois anos

mais tarde, através de outro profissional. Sentença que condenou o réu ao pagamento de

indenização no valor de 72 mil reais. Inocorrência do alegado cerceamento de defesa.

Intempestiva a alegação de que o perito nomeado não tem os conhecimentos técnicos

necessários para avaliar o caso. Laudo pericial conclusivo no sentido de que houve erro de

diagnostico. Correta a sentença adotada na forma regimental. Não provimento do recurso”15

No sétimo julgado encontrado foi aplicada ao caso a teoria da perda de uma chance uma

vez que o atendimento prestado pelo hospital à autora fora ineficiente, eis que a mesma só descobrira

sua enfermidade após realizar o exame em outra clínica, a qual chegou ao correto diagnóstico. Diante

disso, o Réu foi condenado no pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$20.000,00

(vinte mil reais) com juros de mora a contar da citação e correção monetária, a contar da publicação do

acórdão e nas custas processuais e honorários advocatícios, de 10% sobre o valor da condenação.

Page 34: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

34

No oitavo e último julgado encontrado, também não houve condenação nem do

médico, nem do serviço, uma vez que, o primeiro laudo classificou as microcalcificações na

categoria 4, apontando a necessidade de realização de biópsia, ao passo que o segundo laudo

classificou as mesmas na categoria 3, apontando que são provavelmente benignas, o que

dispensa a realização imediata de biópsia, sendo aconselhável o acompanhamento periódico.

Desta feita, o tribunal entendeu que por não ser a Medicina uma ciência exata, tendo

cada médico o seu parecer e considerando que a divergência dos laudos se resume na

classificação da categoria do sistema BI-RADS, não sendo possível constatar a configuração

de danos morais no caso concreto, por se tratar de obrigação de meio e não de resultado.

Assim sendo, diversamente do argumentado pela paciente, não existiu erro grosseiro

no laudo elaborado pelo médico, eis que a descrição dos dois laudos é de que a autora

apresenta microcalcificações na mama esquerda, havendo apenas diagnósticos distintos, fato

que não foi capaz de ensejar danos morais passíveis de reparação pecuniária.

Para concluir, pode-se dizer que dentro das mais variadas decisões judiciais

encontradas na tabela acima, não se pode chegar a um padrão definido, posto que o

sentimento de justiça é extremamente subjetivo possuindo cada juiz a sua noção de justiça.

Todavia, por outro lado, percebe-se nos julgados encontrados que as decisões estão sempre

em consonância com a perícia realizada, daí a importância da escolha de um bom assistente

técnico para auxiliar o perito do juiz no decorrer da elaboração do laudo pericial, pois é com

base neste laudo pericial que muitas vezes o juiz vai julgar o caso de erro médico na

interpretação da mamografia, levado ao seu conhecimento.

Page 35: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

35

VI – CONCLUSÕES

Page 36: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

36

VI – CONCLUSÕES

O presente trabalho discorreu a forma como em nosso ordenamento jurídico é

abordada a responsabilidade civil destes médicos e dos serviços de radiologia e de como os

tribunais brasileiros têm enfrentado os erros em mamografia no diagnóstico do câncer de

mama.

1. Foram mostrados os mais variados conceitos de responsabilidade civil existentes

na literatura jurídica e na legislação, os tipos de responsabilidade (objetiva e

subjetiva), foram definidas e exemplificadas as obrigações de meio e de resultado

no que concerne ao erro médico na interpretação dos exames de mamografia.

2. Ao analisar as decisões judiciais referentes os serviços de radiologia e a atuação

dos médicos radiologistas e outros profissionais de saúde, foi possível observar

que a sentença imputada pelos juízes está muito relacionada aos pareceres dos

peritos médicos.

Page 37: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

37

VII - RECOMENDAÇÃO

Page 38: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

38

VII. RECOMENDAÇÃO

Recomenda-se para minimizar a interpretação de exames de má qualidade, obter o

máximo de informações com a paciente e seu médico, realizando revisão do laudo através de

nova leitura por outro radiologista, procurando através do laudo, transmitir a paciente de

forma pormenorizada todas as informações necessárias, sempre que possível.

Page 39: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

39

VIII –REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 40: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

40

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. AgRg no AG 37.060/Eduardo Ribeiro, localizado no site do STF, www.stf.gov.br, acesso

realizado em 08.07.2010.

2. Amaral LG. Princípio da justiça dos serviços de saúde assegurados na Constituição.

Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais. Entrevista-01 em 5 de fevereiro de

2008. [acessado em 9 de julho de 2010]. Disponível em:

http://www.crmmg.org.br/Noticias/Entrevistas/28_12_2006.

3. Apelação Cível 2002.001.10417, Órgão Julgador: 15ª Câmara Cível, Relator

Desembargador Galdino Siqueira Netto, Julgamento em 19/03/2003, Tribunal de Justiça

do Estado do Rio de Janeiro, Ementário: 26/2003 - N. 17 - 02/10/2003.

4. Apelação cível 2002.001.10417. Órgão julgador: 15ª Câmara Cível. Relator:

Desembargador Galdino Siqueira Netto. Julgamento em 19/3/2003. Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro. Ementário: 26/2003 N. 17 02/ 10/2003.

5. Apelação Cível 2003.001.13839, Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível, Relator

Desembargador Jessé Torres, Julgamento em 21/07/2004, Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro, Ementário: 49/2004 - N. 57 - 02/12/2004.

6. Apelação Cível Nº 20020017179423, Órgão Julgador: Décima Câmara Cível, Tribunal de

Justiça do Rio Grande do Sul, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em

26/03/2009.

7. Berlin B. Breast Cancer, mammography and malpractice litigation: The controversies

continue. AJR 2003; 180: 1229-1237.

8. Brasil. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, Art.

14º, § 4º. [acessado em 9 de julho de 2010]. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm.

Page 41: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

41

9. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa da incidência de

câncer no Brasil 2010. [acessado em 14 de junho de 2010]. Disponível em:

http://www1.inca.gov.br/estimativa/ 2010.

10. Cavalieri-Filho, S. Programa de Responsabilidade Civil. 7.ed., São Paulo: Editora Atlas,

2007, p.29.

11. Chala LF, Shimizu C, Moraes PC, Lorenzo RG. Mamografia — acurácia, especificidade e

sensibilidade. In: Chagas CR, Menke CH, Vieira RJS, et al, editores. Tratado de

mastologia da SBM. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Revinter; 2010. p. 85—9.

12. Croce Júnior D. Erro médico e o direito. São Paulo, SP: Oliveira Mendes; 1997.

13. Consenso no controle do câncer de mama (acessado em 25 de junho de 2010). Disponível

em www.inca.gov.br.

14. Diniz, MH, Curso de Direito Civil Brasileiro Responsabilidade Civil. 10.ed. São

Paulo:Saraiva, 1996. v.7

15. Elmore JG, Wells CK, Howard DH. Does diagnostic accuracy in mammography depend

on radiologists experience? J Women Health. 1998;7:443—9.

16. Instituto Nacional de Cancer,. Estimativa 2010: Incidência de câncer no Brasil. Rio de

Janeiro, 2010. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/estimativa/2010/. Acesso em 10

de novembro de 2011. www.inca.gov.br/publicacoes/Consensointegra. pdf.

17. Kipper, DJ, Princípios da Beneficência e Não-maleficência. In: INICIAÇÃO À

BIOÉTICA. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998, p.44. Site: www.crmmg.org.br

- Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais. Consultado em 05.02.2008.

18. Leape LL. Error in medicine. J Am Med Assoc. 1994;272:1851–7.

19. Leape LL. The preventability of medical injury. In: Bogner MS, editor. Human error in

medicine. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates; 1994. p. 1325.

Page 42: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

42

20. Oliveira FGFT, Fonseca LMB, Koch HA. Responsabilidade Civil do radiologista no

diagnóstico do câncer de mama através do exame de mamografia. Radiologia Brasileira

2011, 44 (3):183-187.

21. Pedrotti, IA, Responsabilidade Civil. 2.ed. São Paulo: Universitária de Direito, 1995.

22. Pereira, CMS, Responsabilidade Civil - de acordo com a constituição de 1988. 9.ed., Rio

de Janeiro: Forense, 1999, p.72.

23. Pontes de Miranda. Tratado de direito privado. 2ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Borsoi; 1966.

Tomo LIII.Romanello-Neto, J, Responsabilidade Civil do Médico. São Paulo: Jurídica

Brasileira, 1998.

24. Recurso especial 81.101/Zveiter, localizado no site do STJ, www.stj.gov.br, acesso

realizado em 08.07.2009.

25. Romanello Neto J. Responsabilidade civil do médico. São Paulo, SP: Jurídica Brasileira;

1998.

26. Silva, RBT, Responsabilidade Civil na Odontologia, Responsabilidade Civil na Área da

Saúde. Série GVlaw, São Paulo: Saraiva, 2007, p. 212

27. Stoco, R, Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. 4.ed., 1999, p.67.

28. Wünsch Filho, V; Moncau, J.E. Mortalidade por câncer de mama no Brasil 980-1995:

padrões regionais e tendências temporais . Rev. Assoc. Med. Bras.,2002, 48(3): 250-7.

Page 43: I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS - objdig.ufrj.brobjdig.ufrj.br/.../CCS_M_FredericoGuilhermeFonsecaTorresDeOliveira.pdf · em nosso código, um ordenamento preciso muito menos no que tange

43

IX- ANEXO I: ARTIGO PUBLICADO