homens com uma mensagem - john-stott

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HOMENS COM UMAM E N S A G E M

UMA INTRODUÇÃ O AONOV O TESTAMENTO E SEUS ESCRITORES

JOHN STOTTRevisado por Stephen Motyer

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iggSáâ

HOMENS COM UMAM E N S A G E M

Uma Introdução aoNovo Testamento eseus Escritores

J O H N S T O T TRevisado por

Stephen Motyer

"A particularidade de cadaautor do Novo Testamentonão è de modo algum restritaa um único processo deinspiração. Antes, pelocontrário, o Espírito Santoprimeiro preparou, e emseguida usou suaindividualidade de formação,

experiência, temperamento epersonalidade, a fim detransmitir por meio de cadaum alguma verdade distintae apropriada."John Stott

O objetivo desta ediçãocompletamente revisada daobra clássica do Dr. Stott foa de torná-la acessível ànova geração, refundindo alinguagem, adaptando-a àsversões bíblicas recentes, eacrescentando fotos a corese mapas informativos.

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Homens com

uma Mensagem

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Homens com

uma MensagemUma Introdução aoNovo Testamento eSeus Escritores

por John Stottrevisado por Stephen Motyer

Editora Cr is tã Un idaAsso c iação Ev an g é l ica M en o n i ta

Rua Venezuela, 3181 3 . 0 3 6 - 3 5 0 C a m p i n a s - S P

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Homens com uma Mensagem:

Um a Introdução ao Novo Testamento

Traduzido do original em inglês:Men with a Message:An Introduction to the New Testament and Its WritersHarperSanFrancisco

Texto Copyright © 1951 John Stott1994 Stephen Motyer e John StottEsta edição Copyright © 1996 Associação Evangél ica Menonita

Desenhado e cr iado porThree ' s Company12 Flitcroft StreetLondon WC2H 8DJ

Co-edição mundial organizada porAngus Hudson Ltd. ,Mill HillLondon NW7 3SA

Publicado no Bras i l com a devida autorizaçãoE D I T O R A C R I S T Ã U N I D AAssociação Evangél ica MenonitaRua Venezuela , 318Ja rd im Nov a Europa13.036-350, Campinas , São PauloFone (019) 231-1190 Fax (019) 231-7640

Impresso em Cingapura

Tradução: Rubens Cast i lho

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Conteúdo

Prefácio de John Stott

Prefácio de Stephen Motyer

Marcos e sua Mensagem

Mateus e sua M ensagem

Lucas e sua Mensagem

João e sua Mensagem

Paulo e sua Mensagem

A Carta aos Hebreus

Tiago e sua Mensagem

Pedro e sua M ensagem

A Mensagem de Apocalipse/

índice

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Prefácio de John Stott

Foi logo depois de minha posse como rei tor de Ali Souls Langham Place,em 1950, que, para minha to tal surpresa, o b ispo Will iam W and (que hav iame ordenado e empossado) convidou-me a escrever para 1954 o que eraconhecido como "Livro da Quaresma do Bispo de Londres" . Como resu ltadosurgiu Homens com uma Mensagem. Foi na verdade meu pr imeiro l ivro ,dois anos antes de Fundamentalismo e Evangelismo, e quatro anos antes deCristianismo Básico e O Que Cristo Pensa da Igreja.No início dos anos 50 eu estava lendo e refletindo bastante sobre a inspiraçãoda Escr i tura e sobre as relações en tre seus au tores d iv ino e humanos. Eue s t a v a i m p r e s s i o n a d o m o r m e n t e p e l a n e c e s s i d a d e d e e n f a t i z a r q u e apar t icu lar idade de cada au tor do Novo Testamento não é de modo algumrestr i ta a um único processo de insp iração . Antes , pelo contrár io , con form eescrevi na in trodução do l ivro de 1954, "o Espír i to Santo pr imeiro preparou ,e e m s e g u i d a u s o u s u a i n d i v i d u a l i d a d e d e f o r m a ç ã o , e x p e r i ê n c i a ,temperamento e personalidade, a f im de transmitir por meio de cada umalguma verdade d is t in t iva e apropr iada". Desta forma, is to se tornou, epermanece, o tema essencial de Homens com uma Mensagem.Agora, passados quarenta anos, s in to-me gratif icado pelo fato de o l ivroexper imentar uma espécie de "ressurreição", através da contr ibuição deSteve Motyer , que aceitou nobremente meu convite para rev isá- lo . Somosagora considerado s co-autores , embo ra, na realidade, o l iv ro seja mais de ledo que meu. Sensib il iza-me sua d isposição de preservar tan to o t í tu lo dolivro or ig inal como alguma de sua essência. Ao mesmo tempo, teve ele

to tal l iberdade de reescrever , amenizar , expandir e atualizar o tex to . Eleexecutou sua tarefa com atenção conscienciosa e notável habil idade.Creio f irme me nte que o conteú do e a nova apresenta ção do l ivro rev isado otornarão bem mais agradável de ser l ido do que a pesada e condensadapr imeira ed ição!

Domingo de Páscoa, 1994

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Prefácio de Stephen Motyer

Foi um grande pr iv ilég io par t icipar desta rev isão do l ivro or ig inal de JohnSto tt . Qua ndo de sua publicação , ele era o rei tor recente men te nom ead o de AliSouls Lang ham Place, no centro de Londre s , e eu ainda não es tava na escola. Eum tes temunho da qualidade da pregação usufru ída pela congregação de AliSouls naqueles d ias que es te l iv ro tenha in iciado al i sua v ida como uma sér iede sermões. Em sua pr imeira versão ele trazia o selo de qualidade do que minh ag eração mais n o v a ch amav a " sa f r a d e S to t t " : b asead o n u m co n h ec imen toabrangente do tex to , marcado por um aguçado r igor in telectual e poder de

análise, expresso em prosa exata e v igorosa. Ele teve uma longa permanêncianas es tan tes , quer no Reino Unido quer nos Estados Unidos, passando pornumerosas impressões durante vár ios anos e br indando os crentes evangélicoscom uma in trodução ao Novo Testamento de excelente n ível , num tempo emque havia pouca l i teratura evangélica nas l iv rar ias . Entendo por que um bispo(anônimo) da igreja da Inglater ra tenha alegado que fo i aprovado em NovoTestamento em seu exame geral de ordenação apoiado na força de Homenscom uma Mensagem!

Espero qu e tudo o que havia de melhor na pr imeira versão tenha s ido man tidonesta segunda. O ob jet ivo da rev isão fo i to rnar seu conteúdo ace ssível às fu turasgerações , u t i l izando uma l inguagem mais leve, associando-a ao conhecimentobíb lico recente, e incorporando o tex to ao forma to da publicação "user - f r iendly "associado aos produtos de Three ' s Com pany. John Sto tt permitiu-me uma grandeliberdade na rev isão , mas senti-me muito bem familiar izado com suas ênfasese a n á l i s e s . M a n t i v e b a s i c a m e n t e a e s t r u t u r a d o s c a p í t u l o s o r i g i n a i s ,suplementando-os com mater ial ad icional e reescrevendo-os em esti lo menosmarcado pelas caracter ís t icas formais da prosa dos anos 50 .

Acrescentei os capítu los de Marcos e Mateus , que haviam sido exclu ídos dapr imeira versão e ret irei o pr imeiro capítu lo or ig inal sobre Jesus , que desde oin ício pareceu um tan to fora de lugar.

O t í tu lo Homens com uma Mensagem poder ia ser levemente desor ien tador .Is to não s ignif ica suger ir que não há d iferenças en tre os d iversos au tores donosso Novo Testamento . Na verdade, um dos pr incipais propósitos deste l iv ro

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H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

é investigar sua var iedade. Eles foram indiv íduos com diversas formações,

personalidades e exper iências , e seus escr i tos ref letem tal d ivers idade.No caso dos Evangelhos, por exemp lo , parece que os evangelis tas p lan ejaram

suplementar um ao outro à luz de seus propósitos e preocupações indiv iduais .Assim, Mateus expandiu muito Marcos, Lucas inclu iu novas ênfases no mate-r ial ex traído dos outros dois e acrescentou ainda m ais , e João p in tou um retratode Jesus que fo i além dos outros três , tan to em c onteúdo quanto e m profu ndidadeespir i tual . E ass im por d ian te, para cada um de nossos "homens". Eles foramtodos escolh idos por Deus, moldados pela exper iência, e investidos de poderpelo Espír i to Santo , pr imeiro para compreender a revolucionár ia Boa Nova deJesus, e depois para comunicá-la e aplicá-la nas várias situações que enfrentaram.

Mas, ao mesm o tempo, eles foram Homens com uma Mensagem , e não home nscom muitas mensagens. Por meio de sua var iedade, eles comunicaram uma

mensagem da graça salv íf ica de Deus em Cris to . O "evangelho" pode ser ex-presso em diferentes palavras e aplicado a diferentes necessidades, mas incorporaum a mensa gem p ara todos os hom ens e mulheres em todos os tempos e lugares .Neste l iv ro é a var iedade que é pr incipalmen te realçada, porém , através dela, au n id ad e f e l izmen te tamb ém emerg e :

• a consciência unif icada da necessidade do mund o, al ienado de Deu s e af l ig idop e lo p ecad o

• a crença unif icada na in iciativa de Deus, que tem agido para l iber tar o mu ndodo mal e reconcil iá- lo consigo

• a focalização un if icada desta in iciat iva sobre Jesus Cr is to , que fo i ungido edesignado por Deus para ser o Salvador do mundo

• a crença unif ic ada no envolv ime nto de Deus, que não apenas age através deJesus , mas age pessoalmente nele

• a crença unif icada na exaltação de Jesus Cr is to , que morreu e ressuscitou ,de modo que podemos compar ti lhar a v ida do própr io Deus.

Estes elementos es tão todos lá , nos escr i tos de nossos "homens", expressosdiferentemente, mas igualmente fundamentais . Somente num caso alguma coisaestá fal tando: a pequena epís to la de Tiago não contém referência à mor te deCris to como o foco de sua identif icação salv íf ica conosco . Porém esta crençan ão é in co mp at ív e l co m a "men sag em" d e T iag o . E le a r e je i to u ? Cer tamen tenão . Ele não poder ia ter l iderado a igreja em Jerusalém por tan to tempo se otivesse fei to . Sua car ta tratou de suas preocupações imediatas , e es tas foramtransmitidas sem qualquer referência à cruz.

Na verdade , ele não es tá só . A epís to la de Judas també m não faz referência àmorte de Cr is to . Judas é o único "ho me m" de ixado fora deste l iv ro . Esperam os

que ele nos perdoe! Sua ep ís to la é poderosa, s ingular , desaf iadora, tão fascinantecomo qualquer outra par te do Novo Testamento , mas também cur ta! Cremosque ele pode compreender por que não lhe es tamos dando todo um capítu lonum livro que tem somente um capítu lo para Paulo e outro para Lucas . Af inalde contas , e les dois são responsáveis por metade do Novo Testamento!

John Sto tt e eu somos também unidos em nossa oração e desejo de que es tel ivro continue a ser um meio de levar os cr is tãos a um conhecimento e amormais profun dos do Livro que tem sig nif icado tan to para nós dois— para ele , porquase toda uma exis tência de serv iço e trabalhos escr i tos que o levaram muitoalém daqueles d ias in iciais em Ali Souls ; para mim , por mais de me ia e x is tênciap ro cu ran d o ex p lan ar e en s in ar o No v o Tes tamen to co m d iscern imen to een tu s iasmo .

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H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M 1 1

Permitamos que Judas tenha, ao menos, a ú l t ima palavra neste prefácio .D e s e j a m o s o b e d e c e r a o s e u a p e l o d e e n c o r a j a m e n t o p a r a " b a t a l h a r

d il igentemente pela fé que uma vez por todas fo i en tregue aos santos" (3) ecom ele cantar "ao único Deus, nosso Salvador , median te Jesus Cr is to , Senhornosso , g lór ia , majestade , impé r io e soberania, an tes de todas as eras , e agora, epor todos os séculos . Amém" (25) .

Queremos expressar nossos agradecimentos em conjunto a Tim Dowley ePeter Wyar t , de Three ' s Company, for sua in iciat iva, conselho , habil idade ededicação , sem o que es te l iv ro jamais ter ia t ido uma exis tência renovada.

Dia da Conversão cle Paulo, janeiro de 1994

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Marcos e suaMensagemEntão, convocando a multidão e juntamente

os seus discípulos, disse-lhes: "Se alguém

quer vir após mim , a si mesmo se negue, tome

a sua cruz e siga-me." ( M a r c o s 8 . 3 4 )

O Evangelho de Marcos é dest inado aos d iscípulos . Ele compar ti lha com osoutros evangelis tas a preocupação de capacitar seus lei tores a compreender apessoa de "Jesus Cr is to , o Filho de Deus" (1 .1) . Mas ele vai além do quesimplesmente apresentar Jesus . Jesus é o personagem pr incipal no drama deMarcos, mas os d iscípulos vêm logo a seguir .

Em toda a h is tór ia , Marcos se preocupa com o d iscipulado—seus pr iv ilég ios ,o b s tácu lo s , p e r ig o s , d esa f io s e p erp lex id ad es . Es ta é a ên fase marcan te d oEv an g e lh o d e M arco s . De fo rma mu i to h u man a e an imad o ra e le r ev e la o q u ão

dif íci l fo i para os pr imeiros seguidores de Jesus dar os pr imeiros passos nodiscipulado , e quão pacientemente Jesus perseverou com eles , apesar de suacom preensão tão l imitada e sua obediência tão f rág il . Com o veremos, es ta ênfaseprovavelmente amadureceu a própr ia exper iência de Marcos como cr is tão .

Um a produção pioneiraO Evangelho de Marcos fo i provavelmente o pr imeiro dos quatro a ser escr i to ,e , ass im, tornou-se seu au tor um desbravador que preparou o caminho para queos outros seguissem seu modelo . Sua contr ibuição fo i considerável , uma vezque jam ais qualquer co isa sem elhante t inha s ido escr ita an tes . Em vár ios aspectossurpreende ntes o reg is tro de Marcos a respeito de Jesus d ifere de outras an tigasbiograf ias dos notáveis :

• Marcos a nuncia no in ício que o personagem de seu relato não é nenhu m simplesh o mem, mas s im o "F i lh o d e Deu s" .• Ele class if ica seu trabalho sob um nome novo: é um "evangelho" (1 .1) .• Ele nada informa a respeito do nascimento ou infância de seu personagem.• Surpreende ntem ente, ele faz um pe queno reg is tro do ensino de Cr is to , emboramencione com freqüência que Ele ensinava (por exemplo , 1 .38; 2 .2) .• Ele dedica cerca de um terço de seu livro para narrar a morte de seu per sona gem .• Seu trabalho é es tranhamente cur to! Não ter ia ele , na verdade, mais do queestes dezesseis pequenos capítu los para falar sobre esse "Filho de Deus"?• Por que ele reserva tan to de seu ex íguo espaço concentrando sua atenção não

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 1 3

e m s e u p r i n c i p a l p e r s o n a g e m , m a s n o s d i s c í p u l o s q u e s e r e u n i a m à v o l t a d e l e ?

T o d a s e s t a s c a r a c t e r í s t i c a s f a z e m d o r e g i s t r o d e M a r c o s s o b r e J e s u s u m a o b r a

s i n g u l a r e n t r e a s b i o g r a f i a s d e s e u t e m p o . O s o u t r o s e v a n g e l i s t a s s u p r e m a l g u m a sd e s t a s o m i s s õ e s . T a n t o M a t e u s c o m o L u c a s d e f a t o r e p r o d u z e m e m s e u s p r ó p r i o s

t r a b a l h o s a m a i o r p a r t e d o c o n t e ú d o d o E v a n g e l h o d e M a r c o s , c o m b i n a n d o - o

c o m e l e m e n t o s a d i c i o n a i s , p r i n c i p a l m e n t e h i s t ó r i a s d o n a s c i m e n t o e i n f o r m a ç õ e s

m a i s e x t e n s a s s o b r e o e n s i n o d e J e s u s . P o r e s t a r a z ã o a m b o s s ã o

c o n s i d e r a v e l m e n t e m a i s l o n g o s — n o c a s o d e L u c a s , q u a s e d u a s v e z e s m a i s .

C o n t u d o , e le s n ã o n o s a j u d a m a e n t e n d e r p o r q u e M a r c o s a b r i u c a m i n h o c o m

t a l e x t r a o r d i n á r i o t r a b a l h o .

A r e s p o s t a a a l g u m a s d e s t a s p e r g u n t a s p o d e m e s t a r n a e x p e r i ê n c i a d o p r ó p r i o

M a r c o s . Q u e m e r a e l e ?

0 r i o J o r d ã o j u n t oa o s u l d o m a r d aGa l i lé ia . 0E v a n g e l h o d eM a r c o s i n i c i a c o mJ o ã o Ba t i s t ap r e g a n d o n od e s e r t o e b a t i z a n d on o r i o J o r d ã o .

A pessoa de MarcosA s e m e l h a n ç a d o s o u t r o s e v a n g e l i s t a s , M a r c o s n ã o e s t a v a i n t e r e s s a d o e m

d i v u l g a r s u a p r ó p r i a i d e n t i d a d e e m s e u E v a n g e l h o . E l e n ã o m e n c i o n a a s i m e s m o

p e l o n o m e . P o r é m o u t r o s f o r a m z e l o s o s a o i n s e r i r o n o m e d e s e u a u t o r , e

" S e g u n d o M a r c o s " f o i a s s o c i a d o a e l e d e s d e o s p r i m e i r o s a n o s . S e h o u v e d ú v i d a

d i f u n d i d a s o b r e t a l a t r i b u i ç ã o , a t r a d i ç ã o e n c a r r e g o u - s e d e d e s f a z ê - l a e se f i x o u

n u m a f i g u r a d a m a i o r p r o e m i n ê n c i a d a i g r e j a a p o s t ó l i c a . A s s i m , p o is , p o d e m o s

e s t a r c o n f i a n t e s d e q u e e s t e l i v r o f o i e s c r i t o p o r u m " M a r c o s " . F e l i z m e n t e

p o d e m o s i d e n t i f i c á - lo c o m f a c i l id a d e , e o t e s t e m u n h o d o N o v o T e s t a m e n t o n o s

p o s s i b i l i t a p i n t a r u m f a s c i n a n t e r e t r a t o d e l e .

1. Marcos pertencia a uma famíl ia fundadora da igreja cris tã.

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1 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

Palavras Latinas em Marcos

U m a d a s c a r a c t e r í s t i c a s p e c u l i a r e s d o E v a n g e l h o d eM a r c o s é o u s o , s e m e x p l a n a ç ã o , d e v á r i o s t e r m o sla t inos :

• Leg ião (5 . 9 )

• C e n t u r i ã o ( 1 5 . 3 9 )

• P r e t ó r i o ( 1 5 . 1 6 ) — a q u i M a r c o s a c r e s c e n t a a p a l a v r al a t i n a p a r a e x p l i c a r a p a l a v r a g r e g a " p a l á c i o " .

• E x e c u t o r ( 6 . 2 7 ) — a p a l a v r a u s a d a p o r M a r c o s a q u i éo t e rmo técn ico para po l i c i a l mi l i t a r .

• Q u a d r a n te ( 1 2 . 4 2 ) — a m o e d a q u e M a r c o sm e n c i o n a a q u i c i r c u l a v a s o m e n t e n a m e t a d eo c i d e n t a l d o I m p é r i o R o m a n o , á r e a d e l í n g u ala t ina .

M a r c o s e s c r e v e u e m g r e g o , p o r é m t r a i s e uc o n h e c i m e n t o d o l a t i m . E , a s s i m f a z e n d o ,d e n u n c i a u m a c l a r a e v i d ê n c i a d e q u e e s t a v ae s c r e v e n d o p a r a u m p ú b l i c o d a r e g i ã oo c i d e n t a l , ta l v e z a p r ó p r i a R o m a .

Indubi tavelmente ele é o "João, apel idado Marco s" , mencionado em Atos 12.12e 25. Ele não é incom um pelo fato de ter dois nomes que refle tem sua form açãobilíngüe, e, em seu caso, o fato de um deles ser latino (Marcos) pode apontarpara conexões da famíl ia com as forças romanas n a Pales t ina. A formação la t inade Marcos é indicada também pela presença de algumas palavras la t inas emseu Evangelho (ver indicações no quadro acima).

Em Atos 12 encontramo s a igreja reunida na casa de Maria , mãe de M arcos ,para orar em fav or de Pedro, que es tava na prisão. Essa casa era certamente umcentro importante na vida da igreja iniciante de Jerusalém, porque Pedro sedir igiu diretamente para lá quando foi miraculosamente l ibertado, admit indoclaramente que a igreja estaria reunida lá. Deve ter sido uma casa espaçosa, e afamíl ia de Marcos era suficientem ente abas tada para permit i r-se ter pelo m enosuma criada em casa, a exci tada Rode, que deixou Pedro do lado de fora daporta . Alguns es tudiosos têm especulado se essa casa não conteria o famoso"cenáculo espaçoso", no qual foi servida a Ult ima Ceia (Marcos 14.15), e naqual a igreja se reuniu após a ascensão de Jesus (Atos 1.13).

2. Marcos foi testemunha ocular da morte e ressurreição de Jesus .Marcos pode ter viajado para ver e ouvir Jesus em outro lugar, mas, se ele viviaem Je rusa lém, deve t e r t e s t emunhado os de r rade i ros acontec imentos dominis tér io de Jesus . Podemos imaginar o impacto que eles t iveram sobre ojovem Marcos . Ele medi tou sobre o s ignif icado da morte de Jesus . E quandodecidiu escrever seu Evangelho, ela tornou-se o foco de toda a sua história,pressagiada tão cedo quanto M arcos 3.6, predi ta freqüen temente por Jesus , queviajava para Jerusalém com o f im del iberado de morrer , e interpretada como

morte sacri f ic ial , um "resgate por muitos" (10.45). Vamos examinar abaixo oaspecto central des ta mensagem.

E prováve l que e le t enha pas sado por um doloroso desenvolv imento ,semelhante ao que Pedro sof reu (ve r capí tu lo 8) : começou com a c rençatradicional nu m M essias conquis tador e vi torioso, que rees tabeleceria os judeuscomo o povo soberano de Deus , e terminou vendo o Messias como uma figurasofredora que morreu por seu povo para salvá-lo de seus pecados . Es te era o"Cris to, Fi lho de Deus" , cuja his tória era a "boa nova" para todos os que aouvissem (1.1) .

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Tiro

-, Palestina no"empo doNovo Tes tamento

5-70 d.C.

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O REINO DENABATÉIA

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1 8 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

3. Marcos teve falhas em seu próprio discipulado.I s to é mui to impor tan te pa ra a nos sa compreensão da forma pe la qua l a

experiência de Marcos o preparou para escrever seu Evangelho.Paulo e Barnabé estavam presentes na casa de Marcos, participando da célebre

reunião de oração, quando Pedro foi l ibertado da prisão. Barnabé era , narealidade, prim o de Marcos (Co lossenses 4.10); e quand o retornaram a Antioquia,Barnabé e Paulo levaram M arcos com eles (Atos 12.25). Logo depois disso, oEspír i to Santo induziu a igreja em Antioquia a enviar Paulo e Barnabé parauma viagem missionária (Atos 13.2). Eles levaram consigo Marcos para auxiliá-los (13.5) , enquanto pregavam o evangelho em Chipre, e depois cruzaram omar em direção a Panfí l ia , na província romana da Galácia .

Neste ponto, entretanto, Marcos resolveu não cont inuar, deixando Paulo eBarnab é e retornando a Jerusalém (Atos 13.13). Isso deixou Paulo profu ndam entecontrariado, pois mais tarde ele se recusou a levar Marcos co m ele n ovam ente,

pois "não ach ava jus to levarem aquele que se afas tara desde a Panfí l ia , não osacompanhando no t rabalho" (Atos 15.38). A palavra "afas tara" aqui lembra aque foi usada na parábola do semeado r referindo-se à semente que caiu sobre apedra: "A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem comalegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tem po, e na hora da pro vaçãose desv iam " (Lucas 8.13). Era o que Paulo pensava a respei to de Marcos . Quan doenfre ntou o teste, ele se desviou e mostro u ser um discípulo sem raízes, relu tanteem obedecer ao chamado do Espír i to.

Não sabemos por que Marcos os abandonou. A Panfí l ia era uma área queficava quase ao nível do m ar e era infes tada pela febre; além disso, eles estavamenfren tando uma v iagem di f í c i l a t é a P i s íd ia . Marcos t inha acabado detes temunhar um confronto emocionalmente extenuante com Elimas , o mágico,

em Pafo s (Atos 13.6-12). E ta lvez ele t ivesse tido algum pressent imento do qu eiriam encontrar pela frente. Se tivesse continuado a viagem com Paulo e Barnabé ,ele enfrentaria perseguição f ís ica em Lis t ra , onde Paulo foi apedrejado ao pontode quase morrer (Atos 14.19). Parece que o esgotam ento e o perigo foram dem aispara que ele pudesse suportar , e então ele fugiu para sua casa em Jerusalém.Podem os supor que, a lém de jove m, ele era um tanto t ímido ou es tava saudosodo lar.

A his tória tem seu modo de repet i r-se . Seria o próprio Marcos o jovemmencionado em Marcos 14.51,52? A t radição vem de longa data sus tentandoque era ele. Se assim for, não será difícil imaginar o senso de deficiência queMarcos deve ter experimentado em Panfí l ia , quando se viu, pela segunda vez,incapaz de suportar o desafio do discipulado. Mas pod emo s ver também como,através des ta experiência , e le se qual i f icou para dar ao seu Evangelho a

mensagem inconfundíve l de ân imo a todos quantos cons ide ram di f í c i l odiscipulado. Examinaremos abaixo o ens ino de Marcos sobre o discipulado,mas convém antes assinalar duas de suas características, porque elas se ajustammuito claramente à própria experiência de Marcos:

a. Marcos destaca com exclusividade o medo sentido pelos discípulos aoseguirem Jesus. Mateus e Lucas amenizam sua l inguagem, ou mesmo omitem-na completamente, em três episódios em que Marcos menciona esse medo.• Em Marcos 4.40,41ele nos diz que os discípulos es tão "possuídos de grandetemor" (um a expressão muito forte) quando vêem Jesus acalmar a tem pestade—

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 1 7

Era Marcos o discípulo desnudo?

T r a d i c i o n a l m e n t e , M a r c o s t e m s i d o i d e n t i f i c a d oc o m o m e s m o j o v e m q u e e l e m e n c i o n a e mM a r c o s 1 4 . 5 1 , 5 2 , o q u a l s e g u e J e s u s a t é oG e t s ê m a n i u s a n d o s o m e n t e u m l e n ç o l , e e ms e g u i d a f o g e d e s n u d o q u a n d o a g u a r d a d oS i n é d r i o t e n t a p r e n d ê - l o j u n t a m e n t e c o m J e s u s .T r ê s f a t o r e s d e p õ e m e m f a v o r d e st a i d e n t i f i c a ç ã o( e m b o r a n e n h u m d e l e s s e j a c o n c l u s i v o ) :

• E s t e f o i u m d o s m u i t o p o u c o s i n c i d e n t e s q u eM a t e u s e L u c a s p r e f e r i r a m n ã o u s a r e m s e u sE v a n g e l h o s , a i n d a q u e s o u b e s s e m q u e M a r c o st inha s uas p rópr ias r azões para inc lu í - lo .

• Se a U l t ima Ceia t inha s ido r ea l i zada na cas ad e M a r c o s , p o d e m o s m u i t o b e m i m a g i n a r q u eMarcos qu i s s a i r com J es us e s eus d i s c ípu los .

T a l v e z e l e e s t i v e s s e j á d e i t a d o q u a n d o o u v i u as urpreendente no t í c i a de que J es us es t ava s a indo , en ã o p e r m a n e c i d o l á c o m o s e e s p e r a v a , e p o r i s s ov e s t i u - s e d e p r e s s a .

• O jov em que s egu iu J es us e r a c l a r am ente r i co , porqueu s a v a u m l e n ç o l " d e l i n h o " : g e r a l m e n t e , t a i s p e ç a se r a m d e a l g o d ã o . O t e r r o r d o j o v e m é r e a l ç a d o t a n t op o r f u g i r d e s n u d o c o m o p o r s u a d i s p o s i ç ã o d ed e s f a z e r - s e d e u m a v e s t i m e n t a t ã o v a l i o s a .

N ão podemos s aber com cer t eza . Mas , s e es t a t r ad içãoé c o r r e t a , p o d e m o s v e r a i n d a c o m m a i o r c l a r e z a p o rq u e M a r c o s m o s t r a t a n t a c o m p a i x ã o p o r d i s c í p u l o sf r acos e indec i s os .

e muito huma nam ente torna claro que não são somente as ondas que ater ror izamos d iscípulos: mais do que is to , é a demonstraç ão da absolu ta grand eza e pod erde Jesus .• De modo s imilar , em 10 .32 ele reg is tra que os d iscípulos es tão "ad mira dos" e"ap reen s iv o s" , q u an d o aco m p an h am Jesu s a té Je ru sa lém, mesm o an tes d e Je -su s te r - lh es en fa t izad o mais d e u ma v ez seu p ró x imo so f r imen to e mo r te(10 .33 ,34) .

• E, o mais ex traord in ár io de tudo , ele termin a seu Evangelh o com um a nota deespanto e medo, quando conta a reação das mulheres d ian te do anúncio da

ressurreição . Elas foram instru ídas a transmitir a mensagem de que o Jesusressurreto encontrar ia seus d iscípulos na Gali léia . Porém, em vez d is to , "sain doelas , fugiram do sepulcro , porque es tavam possuídas de temor e de assombro;e de medo nada d isseram a n inguém" (16 .8) .

Desde os pr imeiros anos, os copis tas acharam que es te era um f inal bastan teinadequado para o Evange lho e apresentaram alternativas . E cer tamente possívelque o f inal or ig inal de Marcos tenha s ido perd ido na transmissão . Entretan to ,f ica c la ro p e lo s an t ig o s man u scr i to s g r eg o s d e M arco s q u e n en h u ma d asalternativas apresentadas é or ig inal . E, na realidade, o f inal grego harmonizacom todo o retrato da f raqu eza human a dos seguidores de Jesus , com a qual eledever ia terminar seu Evangelho de forma s ingular .

b. Marcos ressalta de forma singular a disposição de Jesus de confiar em

discípulos que estão ainda muito inseguros em sua fé. Em M arco s 6 .7 -1 3 Jesu senvia os Doze revestidos de au tor idade para pregar e curar em seu nome. L emo sque "eles pregavam ao povo que se ar rependesse; expeliam muitos demônios ecu rav am n u mero so s en fe rmo s , u n g in d o -o s co m ó leo " (6 .1 2 ,1 3 ) , e d ep o is"voltara m os apósto los à presenç a de Jesus e lhe relataram tud o quanto ha viamfeito e ensinado". (6 .30) . A pr ime ira v is ta es tes d iscípulos parec em gigantesespir i tuais , mas a h is tór ia continua em seguida para p in tar suas verdadeirascores: seus corações es tão endurecidos (6 .52) , seu en tendimento es tá obtuso(7 .18) , e sua memória es tá obli terada (8 .2-5 ; compare com 6 .35-38) , de sor teq u e J e s u s t e m d e c o n t e n d e r c o m e l e s : " A i n d a n ã o c o n s i d e r a s t e s n e m

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2 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

compreen destes? tendes o coração endurecido? tendo olhos , não vedes? e , tendo

ouvidos , não ouvis? Não vos lembrais . . .?" (8.17,18).E mesm o quando os discípulos f inalmen te reconhecem que Jesus é "o Cris to"

(8.29), e les demonstram apenas um t ímido começo. Eles precisam aprenderárduas lições sobre oração (9.28,29; 11.21-25), sobre humildade (10.13-16),sobre sacrifício próprio (10.26-31), e sobre status (9.38,39; 10.35-45). E Marcosdá pouca indicação de progresso. Pedro, Tiago e João caem de sono em vez deorar no Getsêmani (14.37-42), e quand o Jesus é preso todos o deixam e foge m(14.50). O único discípulo que volta atrás e segue Jesus, em seguida nega-oostens ivamente (14.71).

Por t rás dis to tudo podemos ver a experiência do próprio Marcos . Tambémele t inha experimentado os impulsos confl i t ivos que ret rata nos primeirosdiscípulos de Jesus. Por um lado eles se sentem fortemente atraídos a Jesus

(1 .16-20) , t e s t emunham di re tamente s eus ex t raord iná r ios poderes (6 .13) ,ident i f icam-no co mo "o Cris to" (8.29), deixam tudo para segui- lo (10.28), e sesentem prontos a morrer por Ele (14.31). Mas, por outro lado, são constantem enteconfundidos e surpreendidos por Jesus , a ta l ponto que Marcos faz poucadistinção entre eles e os fariseus no que respeita à compreensão das palavras doMestre (8.11-21). Com o vimos, e les são freqüentem ente muito medrosos , e porf im f racas sam comple tamente.

Assim, pois , Marcos fala compass ivamente a todos quantos sentem extremadificulda de de seguir este Cristo. Mas, está ele finalm ente desesperançado quantoà poss ibi l idade de verdadeiro e vi torioso discipulado? É vi ta l que passemos àquarta característica da pessoa de Marcos, a qual lança mais luz sobre seuEvange lho:

4. Marcos torna-se companheiro tanto de Pedro como de Paulo.Fracasso não foi o f im da his tória de Marcos . Não sabemos quanto tempo eleficou em Jerusalém depois de seu retorno. Mas, após o Concí l io apostól icoregis t rado em Atos 15, encontramo-lo de vol ta a Antioquia novamente comBarnabé e Paulo. Paulo recusou a companhia de Marcos em sua vis i ta de re-torno às mesmas igrejas . Porém, à cus ta de sua parceria com Paulo, Barnabéafavelmente ajudou Marcos a retomar seu t rabalho miss ionário, levando-onovamente a Chipre, a cena de seu fracasso (Atos 15.38,39).

Não t ivemos m ais novas not íc ias de Marcos até que o encontramos em q uatrodas úl t imas epís tolas do Novo Testamen to. Na época em que fora m escri tas ascartas aos Colossenses e a Filemom (cerca de dez ou doze anos mais tarde).Marcos es tá com Paulo, que o chama de "cooperador" (Fi lemon 24; comparecom Colossenses 4.10). E então Marcos recebe uma calorosa recomenda ção naúl t ima carta de Paulo, escri ta provavelmente pouco antes de sua morte . Paulodiz a Timóteo: "T oma contigo a Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério"(2 Timóteo 4.11). Evidentemente, a ruptura com Paulo t inha s ido completamen tecurada!

Marcos ap arece , f ina lmente , em 1 Pedro 5 .13 , quando Pedro o cham aamorosam ente de "meu f i lho" , ao fazer suas saudações juntamente com Marcos ,que está com ele, aos cristãos localizados "no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásiae Bitínia", a quem a carta é dirigida (1 Pedro 1.1).

Todas es tas cartas foram provavelmente escri tas de Roma, onde claramenteM a r c o s m i n i s t r a v a t a n t o p a r a P e d r o c o m o p a r a P a u l o , t e n d o s i d o u mcompanheiro confiável e muito amado de ambos. Claramente também ele era

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P a r te d o F ó r u m ,R o m a , c o m oC o l i se ud e s t a c a n d o - s e n oh o r i zo n t e . Ma r co sd e v o t o u t e m p o

m i n i s t r a n d o e mR o ma , e se uE v a n g e l h o f o ie sc r i t o p a r a u mp ú b l i c o o c i d e n t a l ,p o s s i v e l m e n t er o m a n o .

nesse tempo conhecido das igrejas na Galácia e na Ásia Menor , a mesma áreada qual ele havia fugido quando sua fé ar refecera. Por tan to , o cu idado de Barnabépara com seu pr imo t inha s ido amplam ente jus t if icado . Ma rcos havia enfrentad oe dominado seus medos, to rnando-se to talmente "ú ti l" no serv iço cr is tão .

E não somente Marcos. Pedro também tinha saído do malogro para ser a"Ro cha" sobre a qual a igreja es tava sendo constru ída. Marcos destaca o f racassode Pedro mais do que dos outros d iscípulos . "Ainda qu e todos se escanda lizem,eu jamais! . . . Ainda que me seja necessár io morrer contigo , de nenhum modo tenegarei" (14 .29 ,31) . Então , com chocante compaixão e ironia, Marcos narra ah is tór ia de cada uma das negações preditas por Jesus (14 .66-72) . As negaçõestornam -se mais enfáticas até que ele "com eçou a praguej ar e a jurar : 'Nãoconheço esse homem de quem falais! ' " (14 .71) .

Ta lv ez a amizad e en t r e Ped ro e M arco s fo i a l ice r çad a em su a mú tu aexper iência de queda e res tauração . E bem possível que o própr io Evangelhode Marcos tenha nascido dessa exper iência comum. Em data remota acreditou-se que Marcos baseou seu Evangelho na pregação de Pedro . A posição maisantiga desta versão veio de Papias , b ispo de Hierápolis por volta de 130 d .C.Ele fo i apoiado no f im do segundo século por I rineu (b ispo de Lyon, c . 178-195

d.C.) , que acrescentou a idéia de que Marcos ter ia reg is trado toda a pregaçãode Pedro em Roma, após a mor te deste ú lt imo. Depois , Clemente de Alexan-dr ia (c . 200 d .C.) contr ibuiu com a sugestão de que Marcos fo i press ionado afazer isso pelo povo que ouviu a pregação de Pedro .

Não sab emo s a ex a ta seq ü ênc ia d o s aco n tec imen to s , p o rém p o d emo s a f i rmarcom cer teza que:• M arco s d ed ico u temp o min is t r an d o co m Ped ro em Ro m a;• Pedro é destacado mais do que qualquer outro d iscípulo no Evangelho deM arco s ;• Seu Evangelho fo i escr i to para um público ocidental , ta lvez romano (ver o

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Pedro em MarcosP e d r o é c i t a d o p e l o n o m e n ã o m e n o s d o q u e v i n t e et r ês vezes no Evangelho de Marcos . O s per s onagensm a i s p r ó x i m o s , p o r f r e q ü ê n c i a d e m e n ç ã o , s ã oT i a g o e J o ã o ( n o v e v e z e s ) ; p o r t a n t o , P e d r o é d el o n g e o m a i s p r o e m i n e n t e d o s d i s c í p u l o s e mM a r c o s . I s t o p o d e b e m r e f l e t i r a p r ó p r i a p r e g a ç ã od e P e d r o , q u e f o r n e c e u a b a s e d o E v a n g e l h o d eM a r c o s . E e s t a h i p ó t e s e é f o r t a l e c i d a q u a n d oe x a m i n a m o s e s s a s v i n t e e t r ê s r e f e r ê n c i a s ,p o r q u a n t o n ã o m e n o s d o q u e t r e z e s e r e l a c i o n a mc o m q u a t r o i n c i d e n t e s q u e e s c a s s a m e n t e m o s t r a mP e d r o s o b u m f o c o p r e d o m i n a n t e !

1 . Pedro procura r epreender J es us por p red izer s uam o r t e e r e c e b e u m a re s p o s t a c á u s t i c a : " A r r e d a !

Satanás , porque não cog i t as das co i s as de D eus , es i m d a s d o s h o m e n s " ( 8 . 3 3 ).2 . Pedro d iz s em pens ar um cont r a- s ens o a r es pe i tode cons t ru i r t endas , porque es tava a te r ro r i zado an tea v i s ã o d e J e s u s c o m M o i s é s e E l i a s n at r a n s f i g u r a ç ã o ( 9 . 5 ,6 ) .

3 . Pedro , com T iago e J oão , dorme t r ês vezes noj a r d i m d o G e t s ê m a n i , e m v e z d e o r a r c o m J e s u s .S o m e n t e M a r c o s r e g i s t r a s u a r e a ç ã o q u a n d oa c o r d a d o s p e l a s e g u n d a v e z : " E n ã o s a b i a m o q u elhe r es ponder " (14 . 40) . N o en tan to , e l es novamentes e e n t r e g a m a o s o n o !4 . E ac ima de tudo Pedro nega J es us , a ú l t ima vezc o m i m p r e c a ç õ e s ( 1 4 . 7 1 ) , m u i t o e m b o r a t e n h aa n t e r i o r m e n t e , n a m e s m a n o i t e , p r o t e s t a d o s u a

e terna l ea ldade a E le .

A s s i m , d e f o r m a c o m o v e n t e , M a r c o s n o s d áa l g u m d i s c e r n i m e n t o s o b r e o t e s t e m u n h o d e P e d r oa J es us . Seu Eva ngelh o mos t r a r ea lmente um es t r e i topara le lo com o r es umo do min i s t é r io de J es us que op r ó p r i o P e d r o a p r e s e n t o u a C o r n é l i o e m s e u s e r m ã ode A tos 10 . 34-43 :* A h i s t ó r i a t e m i n í c i o n a G a l i l é i a " d e p o i s d ob a t i s m o q u e J o ã o p r e g o u " , e e m s e g u i d a a f i r m a" como D eus ungiu a J es us de N azaré com o Es p í r i toSanto e poder , o qua l andou por toda par t e , f azendoo b e m e c u r a n d o a t o d o s o s o p r i m i d o s d o d i a b o ,p o r q u e D e u s e r a c o m e l e " (A t o s 1 0 . 3 7 , 3 8 ).

* A h i s tó r i a a t inge s eu c l ím ax " n a t e r r a dos jud eus ee m J e r u s a l é m " c o m a m o r t e e r e s su r r e i ç ã o d e J e s u s(A tos 10 . 39 , 40) .* P e d r o p õ e ê n f a s e s o b r e s e u p a p e l c o m o" t e s t e m u n h a " ( A t o s 1 0 . 3 9 , 4 1 ) , d o m e s m o m o d oc o m o , n o E v a n g e l h o d e M a r c o s , o e n c o n t r a m o s n ocen t ro de toda a ação .* P e d r o t a m b é m r e s s a l t a o c u m p r i m e n t o a n u n c i a d opelos p rofe tas s obre J es us (A tos 10 . 43) , uma ênfas eq u e e n c o n t r a m o s t a m b é m e m M a r c o s ( 1 . 2 , 2 ; 1 . 1 1 ;11 . 9 , 10 ; 12 . 10 , 11 ; 12 . 36 ; 14 . 27) .

M a s n o E v a n g e l h o h á e s t a n o t a a d i c i o n a l , n ã or e f l e t i d a n o b r e v e s e r m ã o a C o r n é l i o . Q u a n d op r e g o u , P e d r o d e v e t e r u s a d o s e u p r ó p r i o e x e m p l opara adver t i r s eus ouvin tes : N ão f açam o que euf i z !

q u a d r o " P a l a v r a s L a t i n a s e m M a r c o s " ) ;

• S e u E v a n g e l h o t e ri a si d o e s p e c i a l m e n t e a d e q u a d o e e n c o r a j a d o r p a r a o s

c r i s tã o s q u e e n f r e n t a v a m o d e s a f i o d a p e r s e g u i ç ã o .

E s t a s o b s e r v a ç õ e s l e v a r a m o e s t u d i o s o n o r t e - a m e r i c a n o W i l l i a m L a n e a

a d m i t i r s e r i a m e n t e a t r a d i ç ã o d e q u e M a r c o s b a s e o u s e u E v a n g e l h o s o b r e a

e s s ê n c i a d a p r e g a ç ã o d e P e d r o , e a s u g e r i r q u e M a r c o s o e s c r e v e u e s p e c i a l m e n t e

p a r a a i g r e j a e m R o m a , q u a n d o e l a f o i v i t i m a d a p e l a p e r s e g u i ç ã o s o b N e r o e m

6 5 d . C . , d u r a n t e a q u a l m u i t o p r o v a v e l m e n t e o p r ó p r i o P e d r o f o i m a r t i r i z a d o .

S e M a r c o s b a s e o u s e u E v a n g e l h o n a p r e g a ç ã o d e P e d r o , e n t ã o a l g u m a s d e

s u a s s u r p r e e n d e n t e s c a r a c t e r í s t i c a s s ã o e x p l i c a d a s .

• Sua extensão: M a r c o s s i m p l e s m e n t e u t i l iz o u o m a t e r i a l q u e t i n h a o u v i d o P e d r oe m p r e g a r . E l e n ã o p r o c u r o u f a z e r u m a p e s q u i s a c o m p l e m e n t a r , c o m o f e z L u c a s .

• Seu começo: P e d r o n i t i d a m e n t e n ã o u s o u e m s e u m i n i s t é r i o h i s t ó r i a s s o b r e o

n a s c i m e n t o d e J e s u s e s u a i n f â n c i a . Q u a n d o e l e r e s u m e o m i n i s t é r i o d e J e s u s

p a r a C o r n é l i o , e l e f a l a d o s e u c o m e ç o " d e s d e a G a l i l é i a , d e p o i s d o b a t i s m o q u e

J o ã o p r e g o u " ( A t o s 1 0 . 3 7 ) .

• Seu nome: o n o m e q u e M a r c o s e s c o l h e u p a r a s e u l i v r o , " e v a n g e l h o " , r e f l e t e

s u a o r i g e m n a p r e g a ç ã o d a " b o a n o v a d e J e s u s C r i s t o " , p e l a q u a l P e d r o e o s

o u t r o s a p ó s t o l o s f o r a m c o n h e c i d o s .

• Seu enfoque: p o r t rá s d a ê n f a s e d e M a r c o s s o b r e a m o r t e d e J e s u s , p o d e m o s

o u v i r P e d r o t e n t a n t o p e r s u a d i r o s j u d e u s d e q u e J e s u s e r a r e a l m e n t e " o C r i s t o ,

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 2 1

o Fi lho de Deus" , muito embora tenha sofr ido uma morte cr iminal . Sua mortecumpriu a Escri tura!

Marcos, o escritorPodemos falar mais sobre Marcos s implesmente com base em seu t rabalhoescrito. Aqui também ele expõe as qual idades e dons pessoais que o qual i f icampara a tarefa de ser o primeiro escritor do evangelho. Três coisas em particularse sobressaem.

1. Marcos era um esti l is ta bem dotado.Ele escreve num estilo vívido, direto e vigoroso. Apequena palavra grega euthusé u m a d e s u a s f a v o r i t a s , u s a d a q u a r e n t a e u m a v e z e s . T r a d u z i d a p a r a"imediatamente" , "prontamente" , "sem demora" e equivalentes , es ta palavraac rescenta um sent ido de compasso e movimento . Marcos subl inha i s to

utilizando sentenças curtas e vocabulário vívido e forte. A história segue umri tmo acelerado de incidente a incidente .

Marco s tem um dom especial para o detalhe visual que t ransmite vida à cena.Com freqüência ele introduz um detalhe que Mateus e Lucas omitem. Porexemplo, e le é o único a mencionar que Jesus tomou uma criança em seusbraços e disse: "Qualquer que receber uma criança, ta l como es ta , em meunome, a mim me recebe" (Marcos 9.36,37). Somente ele regis t ra que o jovemhomem rico "correu" até Jesus e a joelhou-se diante dele antes de perguntar:"Que farei para herdar a vida eterna? (10.17). E unicamente ele conta como"Jesus , f i tando-o, o amou " (10.21), e como o hom em "ret i rou-se t r is te" (10.22).

Os exemplos pod em m ultiplicar-se. Este amor com detalhe plástico geralm entesignifica que as histórias de Marcos são mais rechead as do que suas eq uivalentes

em Mateus e Lucas . Com o exemplo pod emos com parar o inventário de palavrascont idas nas duas his tórias—da f i lha de Jairo e da mulher co m hemo rragia:• Marcos faz a narrat iva com 4 16 palavras , 5.21-43 .• Lucas utiliza 331 palavras, 8.40-56.• Mateus maneja ambas com somente 162 palavras , 9.18-26.Alguns dos pormenores que Marcos introduz empres tam um "toque humano"a estas histórias:• Jai ro não apenas "supl ica" a Jesus que vá, mas o faz " ins is tentemente"(l i teralmente, "dizendo-lhe m uitas coisas") .

• A mulher "muito padecera à mão de vários médicos" , mas , em vez de sercurada, f icava cada vez "pior" (5.26).

• Quando ela tocou a ves te de Jesus , Ele percebeu " imediatamente que delesaíra poder" , e então virou-se "no meio da m ult idão" , e "olhava ao redor para

ver aquela que f ize ra is to" (5.30,32).• Quando Jesus chegou à casa de Jairo, viu "os que choravam e os que

pranteavam muito" (5.38).• Jesus então "tomou o pai e a mãe da criança... [com Ele]", e "entrou onde

ela estava" (5.40).• Em seguida, Marcos acrescenta um traço de rara sensibilidade, o que, aliás,e le faz também em três outras ocas iões : mantém a palavra original da voz decoman do de Jesus em aramaico, Talitha koum! , "Menina, eu te mando , levanta-te!" (5.41).

Outra técnica emprega da pelo es t i l ista Marcos p ara fazer que sua narrat iva se

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2 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

torne dinâmica é a chamad a "presente his tórico" . Es te consis te do uso repent ino

tempo presente do verbo nu ma his tória passada. Na his tória de Jairo e sua f i lha,isto ocorre quando Jairo aparece: ele " c h e g a " e, vendo-o, "prostra-se a seuspés... e lhe suplica". De igual modo, M arcos usa o tempo presen te no cl ímax dahistória. Quando Jesus chega à casa de Jairo, ele "v ê o alvoroço", "fala" ao spranteadores , "entra" com pais , e "diz" à menina. . . .

No seu conjunto, Marcos é um notável es t i l ista .

2. Marcos foi um convincente contador de his tória.Esta é uma qual idade com plementar nu ma escala mais ampla. Da mesm a formaque Marco s conta suas his tórias individuais com grande vivacidade e força, e lecompõe todo o seu Evangelho com igual habi l idade.

Papias , escri tor cr is tão dos tempos primit ivos , certamente entendeu is toe r roneamente . Na pas sagem em que e le t e s t i f i ca que Marcos baseou seu

Evangelho na pregação de Pedro, Papias também diz que Marcos "anotoucuidadosamente tudo quanto recordava das coisas di tas ou real izadas peloSenhor, porém não em o rdem cronológica" . Es ta fal ta de "orde m" ele a t r ibui aPedro, que "não art iculou um relato cri ter ioso das revelações do Senhor" .Portanto, Marcos copiou Pedro s implesmente com o propósi to de não deixarque fal tasse alguma coisa .

O Evangelho de Marcos , entretanto, é qualquer coisa menos um amontoadode reminiscências desconexas . Em anos recentes os es tudiosos têm apreciado ahistória de Marcos mais claramente do que nunca. Ela é graciosamente c omp osta,e suas r iquezas ainda es tão sendo exploradas . Por meio dessa composição bemcuidada. Marcos confere energia à mensagem que procura comunicar . Apenasumas poucas caracterís t icas podem ser aqui mencionadas:

a. Estrutura global. Depois d a introdução em 1.1 -15, o Evang elho f ica divididoem duas partes , com 8.27-30 forman do a "dobradiça" bem no m eio. A confissãode Pedro d e ser Jesus o "Cristo" é o clímax da narrativa até aqui. Mas ela introd uzum a dramática mudança: "E ntão começ ou ele a ens inar- lhes que era necessárioque o Fi lho do h om em sofresse muitas coisas , fosse rejei tado. .. [e] fosse morto(8.31). Esta nota do sofrime nto vindouro tinh a sido antes parte da história, porémnão predi ta por Jesus . Ago ra a cruz começa a avul tar , como se verá abaixo.

Nu m ou noutro lado desta "dobradiça", cad a metade se distribui em três seções.Na primeira metade, cada uma dessas seções começa com uma his tória sobreos discípulos (1.16-20, 3.13-19, 6.6-13), e termina com um pequeno resumoincidente que encapsula a mensagem daquela seção:• 3.7-12: grandes multidões são atraídas a Jesus, que realiza curas e as ensina.

Os demônios sabem quem Ele é (compare com 1.1) .• 6.1-6: contrastando com 3.7-12, a cidade do lar de Jesus o rejeita, e Ele nãofaz nenhum a cura al i. O tom de confl i to e oposição atravessa toda es ta seção.• 8.22-26: esta cura em dois estágios (somente em Marcos) ilustra o que deveacontecer aos discípulos. Em toda esta seção eles têm-se esfo rçado para en tenderJesus . Eles vêem o que Ele faz, mas não com preende m, co mo o hom em qu e vêas pessoas que parecem árvores que caminham (8.24). Jesus res taura suacomp reensão, e imediatamente segue-se a confissão de Pedro: "Tu és o Cris to"(8.29).

A segunda m etade do Evang elho dis t r ibui-se , de igual modo, em três seções :8 .31-10 .52 ( t e rminando com a cura de um homem cego, como na seção

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 2 3

precede nte da pr imeira metad e) ; 11 .1-13 .37 (enfocand o a oposição e o conf l i to ,como na seção do meio da pr imeira metade) ; e 14 .1-16 .8 (que conta a h is tór ia

da mor te de Jesus , at ingindo o cl ímax com a conf issão do centur ião , que nosleva d iretamente de volta ao começo, 1 .1 ,11) .

b. Repetição e reminiscência. Freq ü en temen te M arco s f az co m q u e a n ar r a t iv ase rep ita , e essas repetições são v itais à sua me nsage m.• Nu ma esca la amp la , o b serv amo s as t r ês o cas iõ es v i ta i s em q u e Jesu s éidentif icado como "o Filho de Deus", em conexão com uma palavra v indadiretam ente do próprio céu: em 1.10,11 no seu batism o, em 9.7 na transfigura ção,e em 15 .39 pelo centur ião em seguida ao ep isódio do véu do santuár io "rasgar-se em duas par tes de al to a baixo" (aqui o véu é "rasgado" como os céus" r asg aram-se" em 1 .1 0 —M arco s u sa a mesm a p a lav ra ) . O tes temu n h o d iv in o éseguido pelo tes temunho hum ano: os lei tores somarão suas vozes à do centur ião?

• Numa escala menor , há as repetidas e miraculosas mult ip l icações dos pães(6 .30-44; 8 .1-10) , repetidas curas de cegueira (7 .31-37; 8 .22-26; 10 .46-52) , erepetidos exorcismos ( todos muito d iferentes : 1 .21-28; 5 .1-20; 7 .24-30; 9 .14-29) . Em tod os es tes casos os exem plos poster iores nos lem bram os pr imeiros , eas d i f e r en ças en fa t izam as d iv er sas f ace tas d o min is té r io d e Jesu s , o u o sdiferentes desaf ios enfrentados pelos d iscípulos , ou pelos lei tores de Marcos.• Numa escala menor ainda, Marcos cr ia conexões su tis en tre h is tór ias querealçam aspectos de sua mensagem. Ele cr ia , por exemplo , uma comparaçãosurpreendente en tre o pobre menino possuído do demônio , no capítu lo 9 , e ooutro jovem (r ico , rel ig ioso , bem educado) que Jesus encontra no capítu lo 10 .Amb o s fo r am a lg u ma co isa "d esd e a in f ân c ia"— u m fo i p o ssu íd o d o d emô n io ,o outro fo i obediente aos mandamentos (9 .21; 10 .20) . Ambos, porém, sãoigualm ente escrav izados, um pelo mau esp ír i to , o outro por sua r iqueza; amb ospode m ser l iber tados somente pelo poder d ireto de Deu s (9 .29; 10 .27); em am -bos os casos os d iscípulos reconheceram sua própr ia incapacidade de fazeralguma coisa (9 .28; 10 .26) .

Ma s um é l iber tado , o outro não . E o que faz a d iferenç a en tre eles é a fé e aoração do pai: "Eu creio , ajuda-me na minha fal ta de fé" (9 .24) .

c. Justaposiçõ es criativas. A conexão entre es tes dois "meninos" em capítu losadjacentes é tam bém u ma i lus tração da " justaposição cr iat iva". Marc os c omb inahis tór ias , ou as apresenta lado a lado , sem fazer qualquer co me ntár io explíci to ,mas p ermi t in d o q u e se jam in te rp re tad as co n ju n tamen te .

Um ex emp lo é a co mb in ação d a p u r i f icação d o temp lo e d a mald ição d af igueira es tér i l em 11 .11-25 . Marcos faz a nar rat iva juntando as h is tór ias e

en t r e laçan d o -as—u ma técn ica q u e e le emp reg a tamb ém em 5 .2 1 -4 3 e 6 .7 -3 1 .Cada h is tór ia completa a mensagem da outra. A "f igueira" fo i uma das vár iasárvores usadas com freqüê ncia como im agem pa ra Israel . A inspeção do t emp loem 11.11 é seguida pelo exame da f igueira em 11 .12-14—e por sua mald içãocom o sendo estéri l . Então , a mald içã o é seguida pelo que usualmente cham amo sde "pur if icaç ão" do templo , embo ra ela seja mais um ato de ju lgam ento . A quelea quem per tence a "casa" (11 .17) examinou-a e a encontrou fal tosa.

No d ia seguin te os d iscípulos notam que a f igueira es tá seca. Um sinalagourento! E entã o Jesus lhes oferec e um nov o e rad ical ensino sobre a oração ,que deixa to talme nte de lado o temp lo , a "casa de oração para todas as na ções"

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2 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

(11.22-25). Não f icamos absolutamente surpresos quando, mais tarde naquele

dia, Jesus prediz a total destruição do templo (13.2).Nenh uma das partes des ta narrat iva combinad a ter ia o mesmo s ignif icado, seuma das partes não estivesse ali inserida. Exemplos desta técnica podem sermult ipl icadas em outras partes do Evangelho de Marcos .

3. Marcos era um porta-voz persuasivo.O prop ósi to de todo es te escri to met iculoso era persuadir . Quem Marcos ter iaem m ente? Os es tudiosos não são concordantes . E poss ível que Marcos t ivessevários propósitos, tanto evangelísticos como pastorais. Sua meta global não édifícil de definir: ele desejava persuadir seus leitores a crer no "evangelho deJesus Cristo, Filho de Deus" (1.1), e segui-lo.

Ele, na verdade, deu a seu livro o título: "Princípio do evangelho de JesusCris to" (1.1) . As opiniões diferem sobre o s ignif icado da palavra "princípio"

aqui . Refere-se ela apenas à sua introdução (1.1-15), ou a todo o l ivro? Umavez que esta é a frase de abertura, parece mais provável que Marcos esteja sereferind o a todo o livro com o "o princípio do evangelh o". Portanto, ele consideraque seus le i tores já es tão cientes da pregação do "ev angelh o" e da com unidadede crentes que já o aceitaram. Ele deseja dizer-lhes como tudo isto começou.

Há outras indicações de que ele sabe que não está contando toda a história do"evangelh o", e adm ite o conhecimento da his tória pos terior entre seus le i tores :• A promessa de João Batista em 1.8 de que Jesus batizaria com o EspíritoSanto não se cumpre dentro de seu Evangelho.• De mo do semelhante , a promessa de Jesus de t ransformar seus discípulos em"pescadores de homens" (1.17) não é cumprida em seu Evangelho.• Tampouco o é sua promessa em 14.28 de encontrá-los na Gal i lé ia após a

ressurreição (a me nos que isto indique que o original de Ma rcos tivesse incluíd oa ressurreição).• Ele enfatiza a centralidade vital da pregação e ensino no ministério de JesusCristo ("Para isso é que eu vim", 1.38), porém registra pouco mais do queresumos de seu conteúdo. Isto sugere que tanto ele como seus leitores sabiamque esses regis t ros do ens ino de Jesus es tavam disponíveis em algum outrolugar.• A apresentação dos d i sc ípulos rea lça a f raqueza des tes , sua fa l t a decomp reensão, m edo e infidel idade em tal extensão que parte de sua mensag emparece ser: pense apenas no que Jesus seria capaz de fazer mais tarde com estematerial humano tão pouco promissor, depois que o Espír i to foi derramado!Esses discípulos—particularmente Pedro—tornaram-se grandes líderes da igreja.O próprio Marcos ministrou ao lado deles, e sabia por sua própria experiência

que "para Deus ttido é possível" (10.27). A falha não é a última palavra.• Este sentido de história contínua é claramente discernível bem no final, com oregis t ro do medo e desobediência em 16.8. Poderia "a boa nova" terminar des taforma? Tanto Marcos como seus le i tores sabem que não. Longe disso!

A estratégia de Marcos, pois, é mostrar "o princípio", as fundações, de sorteque os le i tores possam compreender por que a mensagem de Jesus Cris to é a"boa nova", e que ela, em essência, significa segui-lo. Voltamos finalmente aum breve resumo de sua mensagem.

A mensagem de Marcos

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 2 5

C o s t a d o m a r d aGa l i lé ia . Depo is dap r i s ã o d e J o ã oBa t i s t a , J e s u s f o ipara a Gal i lé ia , eboa par te de seu

m i n i s t é r i oc o n c e n t r o u - s e n ol a g o e n a c i d a d ed e C a f a r n a u m .

Há muitos aspectos na men sagem de um livro tão brilhante. Contudo, po dem osresumir seus principais e lementos como segue:

1. O Reino de DeusMarcos resume a pregação de Deus como uma mensagem sobre o Reino deDeus: "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o

evangelho de Deus , dizendo: 'O tempo es tá cumprido e o reino de Deus es tápróximo; a r repende i -vos e c rede no evange lho . ' " (Marcos 1 .14 ,15) . Aqui"evange lho" corresponde a "boa nova" . Ass im, Marcos l iga o "evang elho" co ma mensagem sobre a proximidade do Reino de Deus , anunciado por Jesus .

Vamos considerar o significado de "Reino de Deus" no capítulo sobre Mateus,porque Mateus faz dele uma caracterís t ica mais proeminente do ens ino de Je-sus do que Marcos . Enquanto Mateus se refere ao "Reino do céu" cinqüentavezes , Marcos o menciona somente quinze vezes .

"O Reino de Deus" projetava-se como um futuro bri lhante para os judeus(compare com Marcos 15 .43) . Quando o Re ino v ies se , e l e s ign i f i ca r i a oesmagamento dos inimigos de Deus e a confirmação de Is rael como povo deDeus . Contra es te pano de fundo, podemos resumir a mensagem de Marcos

como segue:• O Reino está perto, prestes a chegar (1.15)!• Ele está perto porque Jesus veio (11.10; com pare com 2.18-22).• O processo que ensejará seu pleno aparecim ento já foi iniciado (4.26,30).• Contra toda a expectativa presente, é difícil entrar no Reino (10.24). Estaentrada não é certamente automática. Uma ação drás t ica pode ser necessária(9.47). Na real idade, a entrada es tá aberta somen te àqueles que deixaram tudoe seguiram Jesus (10.15,21).

2. A morte d e JesusCom o observamo s acima, a ênfase de Marcos sobre a morte de Jesus é uma das

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2 8 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

mais admiráveis caracter ís t icas de seu Evangelho p ioneiro . O que ele ensina a

respeito dela?O Evangelho in icia com um conf l i to . O conf l i to en tre Jesus e o s is tema

relig ioso v igente é apontado logo cedo, como em Marcos 1 .22: "M aravilha vam-se da sua doutr ina, porque os ensinava com o quem tem autor idade, e não com oos escr ibas ." Torna-se imediatamente claro que es te tom de au tor idade seráo lh ad o co mo b las f emo p e lo s f a r i seu s (2 .6 ,7 ) . E q u an d o Jesu s a leg a su aindependência e au tor idade de associar -se com os "pecadores" (2 .15-17) , e dereordenar as regras prescr i tas para o jejum (2 .18-22) , a observância do sábado(2 .23-28) , e a cura (3 .1-5) , o resu ltado é imedia to e execrável: "R etirando -se osfar iseus , conspiravam logo com os herodianos, contra ele , em co mo lhe t irar iama v ida" (3 .6) . Ante a menção de co laboração entre far iseus e herodianos nestep lano (os quais v iv iam geralmente br igando entre s i) , Marcos sal ien ta a forçada oposição a Jesus .

O co n f l i to é mais ad ian te r ea lçad o p e lo in c id en te em 3 .2 0 -3 0 , o n d e o s"professores da lei" acusam Jesus de es tar possuído do demônio , e Ele, emcontrapar t ida, acusa-os de b lasfe ma r contra o Espír i to Santo . Com e feito , e les oestavam acusando de ser um falso profeta , para quem a penalidade era a mor te(Deute ronôm io 13 .1-5), ao passo que Ele os acusava de rebelião ar rogante c on-tra o Senhor , como aquela dos f i lhos de Eli , para a qual nenhuma expiação erap o ss ív e l ( 1 Samu el 2 .2 5 ; 3 .1 3 ,1 4 ) . I n d ag amo -n o s p o r q u an to temp o u maresolução f inal pode ser retardada.

Não obstan te, de fato nenhuma ten tat iva houve para matar Jesus , uma vezque Ele es tava na Gali léia . Marcos faz -nos saber que a oposiçã o a Jesus vem d eJerusalém (3 .22) , e nos relembra is to novamente no capítu lo 7 , quando "osfar iseus e alguns escr ibas , v indos de Jerusalém" (7 .1) acusam Jesus de ensinar

a impurez a, e Ele rep lica que eles ensinam a desobediê ncia (7 .5-9).Com este conf l i to tramado nos bastidores , não nos surpreende a reação dos

discípulos quando Jesus decide v iajar a Jerusalém: eles "se admiravam e oseguiam tomados de apreensões" (10 .32) .

P o r e s s e t e m p o , c o n t u d o , s u r g e m d o i s d e s d o b r a m e n t o s a d i c i o n a i s .Pr imeiramente, a oposição a Jesus se es tende. Sua família pensa que Ele es tálouco (3 .21) . Os gerasenos pedem que Jesus se afas te deles (5 .17) . Sua própr iacidade f icou escandalizada com seus atos (6 .3) . Até os d iscípulos es tavamarr iscados a ser contaminados com o "fermento dos far iseus" (8 .15) , e Pedrotenta fazer o trabalho de Satanás contra Jesus (8 .33) . A desgraça é que es ta éuma "geração adúltera e pecadora" (8 .38) , e todos os que a ela per tencem—inclusive os d iscípulos de Jesus—se oporão a Ele f inalmente.

O segundo desdobramento ocorre repentina e inesperadamente quando Pedro ,falando por todos os d iscípulos , declara que Jesus é "o Cr is to" (8 .29) . Jesusimediatamente anuncia sua mor te próxima: "Então começou ele a ensinar- lhesque era necessár io que o Filho do hom em s ofresse muitas co isas , fosse rejei tadopelos anciãos , pelos pr incipais sacerdotes e pelos escr ibas , fosse mor to e quedepois de três d ias ressuscitasse" (8 .31) . Assim , o que os far iseus e herodiano sestão trama ndo por suas própr ias razões deve acontecer , porque "está escr i to doFilho do home m que ele deva padecer muito e ser av il tado" (Alm eida, ed . 1948).

A ação t r an s f e r e - se as s im p ara Je ru sa lém co m u m esp an to so sen t id o d einevitab il idade. Por razões in teiramente humanas e polí t icas , as au tor idadesq u erem mata r Jesu s , en q u an to E le camin h a d e te rmin ad o em d i r eção à su a

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M A R C O S E S U A M E N S A G E M 2 7

armadilha por razões intei ramente celes t ia is e escri turís t icas . Ele rei tera apredição de seu sofr imen to, morte e ressurreição iminentes em três mo men tos

seguidos antes de chegar f inalmente a Jerusalém (9.31; 10.32-34; 10.45).O úl t imo des tes pronunciamentos é part icularmente s ignif icat ivo: "Quemquiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser sero primeiro entre vós , será servo de todos . Pois o próprio Fi lho do ho mem nãoveio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos"(10.43-45). Somente aqui Marcos nos oferece a compreensão das Escri turas ,nas quais estava escrito que o Cristo devia morrer. Nesta a firmação Jesus recorreà expressão de Isaías 53, e c laramente se ident i f ica como o "servo do Senhor" ,que carrega os pecados do povo de Deus enquanto é "desprezado e rejei tado"e conduzido a uma m orte violenta (53.3ss).

Defini t ivamente, o confl i to com as autoridades alcança uma nova intens idadequand o Jesus começa a minis t rar em Jerusalém (capítulos l i e 12). Mas ahis tória tem uma nova e dramática reviravol ta quando Jesus repent inamenteanuncia que sua morte não será causada apenas pela oposição das autoridadesreligiosas: um dos Doze vai traí-lo. A identidade do traidor não é revelada, etodos os discípulos professam total lealdade. Contudo, no f inal , não há muitadiferença entre Judas , que o abandon ou e al iou-se à oposição, e os demais , queo aband onaram e fugiram . E ass im, no f inal das contas , não há muita diferençaentre os discípulos que consentem em sua m orte , e seus francos oposi tores quea engendram.

A questão é que todos , quer discípulos ou inimigos , es tão igualmentenecessitados de que alguém morra por eles, que dê "sua vida em resgate demuitos" para o perdão dos pecados . Para Marcos é primacialmente sua morteque valida a alegação de que Jesus é "o Cristo, o Filho de Deus" (1.1). Logoapós sua morte , o centurião postado junto à cruz se convence da verdade:

"Verdadeiramente es te homem era Fi lho de Deus" (15.39).

3. O custo do discipuladoJá t ivemos a oportunidade de con siderar o interesse de Marcos nas dif iculdadese desafios do discipulado, bem como sua s impat ia ante as fraquezas dosprimeiros apóstolos . Es ta s impat ia , porém, não o leva a diminuir a exigênciaimposta aos discípulos de Jesus. Isto pode ter sido uma tentação para ele,naqueles dias iniciais quando ele fugiu da Pan fí l ia e vol tou a Jerusalém. A fécristã exige realmente tal sacrifício?

Mas, ao tempo em que escreveu seu Evangelho, M arcos teve de enfrentar esuperar seu medo; e, talvez como resultado de sua batalha, ele apresenta maisagudam ente do que outros evangel is tas o al to cus to requerido dos seguidoresde Jesus:

"Então, convo cando a mult idão e juntam ente os seus discípulos , disse-lhes :'Se alguém quer vir após mim, a s i me smo se negue, tom e a sua cruz e s iga-me.Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida porcausa de mim e do evangelho, salvá-la-á '" (8.34,35).

Jesus faz es ta convocação logo depois de anunciar sua própria morte pelaprimeira vez. Seus discípulos devem seguir o mesmo caminho, levando suacruz, prontos para perder suas vidas por Ele e pelo evangelho. O título daautobiografia de Frank Chikane, o Secretário Geral da Concí l io Africano deIgrejas , será também o lema de suas vidas : Minha Vida Não Me Pertence!

O signif icado des ta auto-renúncia é explanado mais c laramente em Marcos

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3 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

10.17ss . O jov em r ico é desaf iado: "Vai, vende tudo o que tens , dá-o aos pobres ,

e terás um tesouro no céu; en tão vem, e segue-m e" (10 .21) . Ele, porém , relu tou .Pedro af irm a: "Eis que nós tudo deixam os e te segui mos " (10 .28) , e en tão o uvea prome ssa de Jesus de que "n in guém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ouirmãs, ou mãe, ou pai , ou f i lhos , ou campos, por amor de mim e por amor doevangelho , que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas , i rmãos, i rmãs,mães, f i lhos e campos, [e] com [eles] perseguições; e no mundo por v ir a v idaeterna" (10 .29 ,30) .

Os d iscípulos v iv iam numa cultura em que as raízes do lar e da família erammuito impo r tan tes . Na verdade, os judeu s acreditava m que a ter ra de sua famíliafora dada a eles por Deus, e ass im, basicamente, não dever ia ser doada ouvendida. Apesa r d isso , Jesus os convida a dar as costas a tudo por sua causa. Éverdade que Ele promete que eles receberão outro tan to de volta . Porém o queeles receberão não é o mesm o que eles abandonam. Eles abandonam suas famíliashumanas, e recebem a família de Deus (3 .34 ,35) . E também sofrerão "persegui-ções" , porque es tarão desaf iando uma "geração adúltera e pecadora", e is tolhes acrescenta mais do que as co isas a que renunciam.

Nem todo cr is tão é ins tado a deixar lar e família por causa de Jesus . PorémMarcos fo i . Ele teve de deixar a segurança e r iqueza do lar de sua família emJerusalém e v iajar, p r ime iro com Barn abé a Chipre, e depois d isso não sab emosaonde, exceto que inclu ía a Ásia Menor , e terminou em Roma com Pedro ePaulo . Ele se tornou um "pescador de homens" ao lado eles , es tendendo asmãos, como seu Senhor , aos necessi tados e perd idos, esquecido de s i mesmo,renunc iando a todas as co isas para que possa receber mu ito mais . E ele tamb ématrai pessoa s a Cristo, através de seu soberbo Eva ngelh o, que fala tão viv idam entehoje como falou a Mateus e Lucas quando eles es tavam buscando inspiração

para seu própr io trabalho .

Leitura adicional

Menos exigente:D o n a l d E n g l i s h , The Message of Mark. The Mystery of Faith ( s é r i e T h e B i b l e S p e a k s

Today) (Leices te r : IV P, 1992)R . T . F rance , Divine G overnment. God's Kingship in the Gospel of Mark ( L o n d r e s : S P C K ,

1 9 9 0 )

Mais exigente, obras eruditas:E r n e s t B e s t , M a r k . The Gospel as Story (Edimburgo: T . & T . C lark , 1983)

A d e l a Y a r b r o C o l l i n s , The Beginning of the Gospel. Probings of Mark in Context

( M i n n e a p o l i s : F o r t r e s s , 1 9 9 2 )M o r n a D . H o o k e r , The Message of Mark ( L o n d r e s : E p w o r t h P r e s s , 1 9 8 3 )

J a c k D . K i n g s b u r y , Conflict in Mark. Jesus, Authorities, Disciples ( M i n n e a p o l i s : F o r -

t r es s , 1989)

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Mateus e suaMensagemPercorria Jesus toda a Galiléia, ensinando

nas sinagogas, pregando o evangelho do reino

e curando toda sorte de doenças e enfermidades

entre o povo. ( M a t e u s 4 . 2 3 )

Se o de Marcos é o Evangelho de Cr is to , o Servo Sofredor , e o de Lucas oEvan gelho de Cr is to , o Salvador universal , o de Mateus é o Evangelho de Cr is to ,o Rei que governa. O "Rein o do céu" é o grande tema do Evangelho de M ateus ,mas para Mate us sua impor tânc ia repousa na identidade de Jesus . Jesus é o Rei,que, por seu nascim ento , por seu batismo, pela escolha e ensino dos d iscípulos ,p o r su as o b ras d e p o d er e mise r icó rd ia , e su p remamen te p o r su a mo r te eressurreição , fez do Reino do céu tan to uma exper iência presente para serdesf ru tada como uma esperança fu tura para ser esperada. (Mateus segue o cos-tume judaico de refer ir -se ao "Reino do céu" e não ao "Reino de Deus". )

Durante séculos os cr is tão acreditaram que o Evangelho de Mateus t inhasido o pr ime iro a ser escr i to , e , por conseguin te, o mais im por tan te dos quatro .Po rém n o s ú l t imo s 1 5 0 an o s es te p o n to d e v is ta tem s id o amp lamen teab an d o n ad o , e mu i to s es tu d io so s—n ão to d o s—h o je co n s id eram o d e M arco scomo o pr imeiro Evangelho escr i to . O argumento que provocou esta mudançade perspectiva pode ser facilmente exposto . Dos 662 vers ícu los de Marcos,cerca de 600 aparecem também em Mateus. Faz pouco sentido imaginar queMarcos copiou 600 versos de Mateus , acrescentando apenas alguns outrospoucos, publicando-o como um Evangelho separado. E mais p lausível admitirque Mateus usou Marco s como base de um a produção de maior vulto . Seguindobasicam ente o mod elo de Marc os, Mate us suplementa -o com mater ial ad icionalque torna seu Evange lho quase duas vezes mais ex tenso que o de Marcos (1069

vers ícu los no to tal) .Em vir tude do seu ín t imo relacionamento com Marcos, pode-se identif icar

alguns dos tema s mais sensíveis ao coração de Mateus , que cer tame nte ded icouespecial atenção ao mater ial escolh ido , sobre o qual acrescenta seu relato .

Quem era Mateus?Co mo M arco s , e le man tém s i lên c io so b re su a p ró p r ia id en t id ad e . E le e r aclaramente um professor talen toso , que almejou comunicar o ensino de Jesus eincentivar a obediência a ele . I s to , porém, s ignif icava concentrar sua atençãoem Jesus e ev itá- la para s i mesmo. Sobre is to ele reg is tra as própr ias palavras

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3 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

de Jesus : "Nem vos cham eis mestres , porque um só é o vosso Mestre , que é o

Cristo. Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo seexal tar será humilhado; e o que a s i mes mo se humilhar será exal tado" (23.10-12). Es te foi o modelo adotado por M ateus , pois não há nenhum a indicação deautoria dentro do seu Evangelho.

Desde o início, contudo, o t í tulo "Segundo Mateus" foi vinculado ao seuEvange lho por outros . E precisamente porq ue Mateus é um a f igura tão obscuraentre os apóstolos, é difícil saber por que seu nome foi usado, a menos quehouvesse algu ma sól ida razão para a t radição.

O primeiro tes temunho escri to vem de Papias , bispo de Hierápol is , cuja"Explanaçã o das Palavras do Senhor" fo i publ icada por vol ta de 130 d.C. Pormui to t empo e le confundiu os es tudiosos com seu comentá r io : "Mateusorganizou [ou 'colecionou' ] as palavras do Senhor em dialeto [ou 'es t i lo ' ]

hebraico, e cada qual as interpretou da melhor maneira que pôde." De fato,parece improváv el que o Evangelho de Mateus tenha s ido originalmente escri toem hebraico; e le não contém nenhuma das marcas t ípicas que possam sugeriris to. Entretanto, apesar do tes temunho confuso de Papias , e le f i rmementeconsidera Mateus o autor des te Evangelho.

Alguns estudiosos, contudo, rejeitaram este antigo testemunho, principalm enteem razão de M ateus , que foi um dos apóstolos , dif ic i lmente ter de depender tãoamplamente do Evangelho de Marcos , que não era apóstolo. Es ta objeção,porém,a. não leva em conta a extensa capacidade literária de Marcos ao criar a f o rma

do Evange lho ,b. não admite a real poss ibi l idade de que Mateus quis endossar o trabalho deMarcos , que foi baseado na pregação de Pedro, ec. subest imar em que extensão o Evangelho de Mateus é muito diferente do deMarcos . Ele não é de modo algum apenas uma expansão ou suplemento doEvange lho de Marco s , mas conta a his tória no fei tio bem dis t into de M ateus .

O que sabemos sobre Mateus? Podemos t raçar quaisquer aspectos sob osquais e le foi preparado por D eus para ser o autor des te Evang elho? Dispom osde pouco conhecimento seguro a respei to dele , mas podemos reunir mais doque parece à primeira vis ta quando lemos seu Evangelho à luz do que sab emos.

1. Mateus era judeu."Ma teus" é um nom e hebraico. Vários de seus comp anheiros apóstolos t inhamtanto nome hebraico como grego, s ignif icando suas duplas raízes cul turais .Porém o outro nome de Mateus também era hebraico. Ele é chamado "Levi"

por Marcos e Lucas em suas narrat ivas da escolha dos apóstolos por Jesus(Marcos 2.14; Lucas 5.27-29). Seu p rofu ndo interesse pelo Velho Testamento éevidente em seu Evangelho, com o podem os constatar . Um dos seus propósi tosao escrever foi indubi tavelmente persuadir seus compatriotas judeu s a creremque Jesus é "o Cristo, o Filho do Deus vivo" (16.16).

Mas antes em sua vida Mateus foi um judeu incomum. Porque—

2. Mateus era um cobrador de impostos .Is to é revelado num a passagem em que ele f igura em seu Evangelho. "Part indoJesus dal i, viu um ho mem , cham ado M ateus , sentado na coletoria , e disse-lhe:'Segue-me! ' Ele se levantou e o seguiu" (Mateus 9.9) . Por meio de Marcos eLucas f icamos sabendo que foi Mateus quem ofereceu um banquete , no qual

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 3 1

Acréscimos de Mateus ao Evangelho de Marcos

M a t e u s p a r e c e t e r s u p l e m e n t a d o M a r c o sd e l i b e r a d a m e n t e n o s s e g u i n t e s p r i n c i p a i se p i s ó d i o s :* E n q u a n t o M a r c o s s e r e f e r e d e p a s s a g e m a oa m b i e n t e d a f a m í l i a d e J e s u s ( 6 . 3 ) , M a t e u sc o m e ç a a h i s t ó r i a c o m o n a s c i m e n t o d e J e s u s ,ded icando do i s cap í tu los in te i ros ao even to .

* E n q u a n t o M a r c o s s e r e f e r e m u i t o b r e v e m e n t ee m i s t e r i o s a m e n t e à s t e n t a ç õ e s d e J e s u s(1 . 12 , 13) , Mateus nar r a toda a h i s tó r i a (4 . 1 -11) .* M a r c o s m e n c i o n a f r e q ü e n t e m e n t e q u e J e s u se n s i n a v a a s m u l t i d õ e s r e u n i d a s e m t o r n o d e l e( ex . : 1 . 21 ; 2 . 13 ; 4 . 1 ; 6 . 6 ; 6 . 34) , porém reg i s t r as u r p r e e n d e n t e m e n t e p o u c a c o i s a d o c o n t e ú d o d e

s e u e n s i n o . M a t e u s s u p r e e s t a f a l t a i n c l u i n d oc i n c o g r a n d e s s e r m õ e s d e J e s u s , p o s s i v e l m e n t ec o l e ç õ e s d o s d i t o s d e J e s u s c u i d a d o s a m e n t ec o m p i l a d o s o u p o r M a t e u s o u n u m a d a t a a n t e -r io r :

1 . 5 . 3 - 7 . 2 7 , o " S e r m ã o d o M o n t e "

2 . 10 . 5-42 , ins t ruções para a mis s ão dos D oze3 . 13 . 3-52 , parábo las do Reino4 . 18 . 2-35 , ins t ruções s obre a v ida da ig r e ja5 . 2 3 . 1 - 2 5 . 4 6 , o j u l g a m e n t o f u t u r o e a s a l v a ç ã o* A nar r a t iva de Marcos s obre a r es s ur r e ição é mui tob r e v e e n ã o i n c lu i n e n h u m a a p a r i ç ã o d e J e s u sres s ur r e to . Mateus con t inua a h i s tó r i a a t é ao pontoe m q u e o s d i s c í p u l o s e n c o n t r a m J e s u s n a G a l i l é i a(pred i to em Marcos 14 . 28 , mas não r eg i s t r ado a l i ) , ee n v i a - o s à s u a f u t u r a m i s s ã o ( M a t e u s 2 8 . 1 - 2 0 ) .A l é m d i s s o , h á n u m e r o s o s p e q u e n o s a c r é s c i m o s ,a l g u n s d o s q u a i s c o m e n t a r e m o s n o c u r s o d e s t ec a p í t u l o .

N e m t o d o s o s e s t u d i o s o s a c e i t a m q u e M a t e u s

d e l i b e r a d a m e n t e s u p l e m e n t o u M a r c o s . R e c e n t e m e n t e ,u m e s t u d i o s o e v a n g é l i c o , J o h n W e n h a m , p u b l i c o uu m a p e s a d a d e f e s a d o p o n t o d e v i s t a d e q u e M a t e u se s c r e v e u a n t e s d e M a r c o s ( v e j a " L e i t u r a a d i c i o n a l "no f ina l des te cap í tu lo ) .

Jesus e seus d iscípulos encontraram "muitos publicanos e pecadores" (9 .10)—an tes co mp an h e i ro s d e M ateu s . E le ch ama a s i me smo "M ateu s , o p u b l ican o "na l is ta dos apósto los , em Mate us 10 .3 .

O que s ignif icava ser um cobrador de impostos naquele tempo? O Impér ioRomano t inha elaborado s is temas de cobrança de impostos , que var iavam deum lugar para outro . Naqueles d ias vár ios s is temas operavam na Pales t ina; a

Judéia, ao su l , era d iretamente governada por Roma, e isso s ignif icava que ogovernador romano e seus serv idores civ is eram responsáveis pela co leta detodos os impostos pr incipais . Dois destes se destacavam, o imposto por cabeçaarrecadad o de todos os adultos e o imposto sobre a ter ra . Entretan to , os d irei tospara co letar alguns impostos menores—taxas aduaneiras devidas nos por tos enas pr incipais es tradas—eram arrematados pelos maiores l ici tan tes .

Zaqueu havia adquir ido o d irei to de co letar esses impostos em Jer icó (Lucas19.1-10) . Ele era chamado "maioral dos publicanos" e "r ico" (19 .2) . Podemosimaginar que ele comandava uma organização de bom por te para cobr ir toda aárea de Jer icó , por onde passavam muitas mercador ias .

A Gali léia , ao nor te , era governada por Herodes Antipas , sob a au tor idadedireta de Roma. Aqui, Herodes era responsável pela cobrança dos impostos e

pela remessa anual a Roma de uma soma g lobal fixa. Não sabem os se ele cobravaos mesmos t ipos de impostos dos romanos da Judéia, mas é claro que usavauma grande força de trabalho para efetuar a co leta . "Muitos" publicanos sereuniram na casa de Mateus para encontrar -se com Jesus , e podemos imaginarq u e so men te o s d a v iz in h an ça imed ia ta d e Cafa rn au m te r iam co mp arec id o .

Não sabemos se Herodes empregou todos os seus cobradores de impostosdiretame nte com o serv idores civ is , ou se, com o os rom anos, le i loou os d irei tospara a cobrança. Uma rápida referência de Mateus "aos que serv iam" Herodes ,em 14.2 (somente em Mateus) , pode suger ir que ele tenha s ido d iretamenteem prega do pelo rei: teria ele ouvido de um de seus antigos colegas o que He rodesestava d izendo a respeito de Jesus?

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3 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

Mas, quer como empregados ou como avulsos , os cobradores de impostos

eram sum amen te impopulares e vis tos como traidores da causa judaica. M uitosde les usavam sua pos ição pa ra l evanta r d inhe i ro ex t ra pa ra s i mesmos(naturalmente, era este um dos principais motivos para comprar os direitos decobrança). Porém, m esmo que não o f izessem, eram vis tos como colaboradoresdos romanos que ocupavam o poder, ou de Herodes , que somente governavacom permissão de Roma e não era judeu.

Os judeus somente assumiriam tal emprego se amassem mais o dinheiro doq u e s u a h e r a n ç a n a c i o n a l c o m o j u d e u s . O s r a b i n o s e n s i n a v a m q u e e r aperfei tamente admiss ível enganar um cobrador de impostos . Eles colocavam a"cobrança de impostos" ao lado da pros t i tuição entre as ocupações que n enhumjudeu cumpridor da le i podia acei tar—uma vez que isso s ignif icava o mesmoque t ra t a r com gent ios e t raba lha r aos s ábados—mantendo-se to ta lmente

separado da ganância e da injustiça.Assim, pois , os publ icanos f orm avam um a classe à parte , banida, afas tada dasociedade judaica. Sua presença nas s inagogas seria inaceitável . Ass im, em suamaioria, os publicanos, por estas várias razões, tinham pouco interesse na Lei ena adoração d o Deus de Israel. Eles punh am seus coraçõ es nas riqueza s terrenas,não nas espirituais.

De tudo is to podem os form ar um quadro m uito claro de Mateus antes de seuencontro com Jesus . Mas a habi tual negl igência dos cobradores de impo stos detradição judaica dif ic i lmente se enquadra no Evangelho de Mateus , que éabundante em ci tações do Velho Testamento e repei to pela Lei . Como Mateusconseguiu desenvolver is to?

3. Mateus exper imentou um a conversão revoluc ionár ia .

O encontro de Mateus c om Jesus t ransformou sua vida. Em alguns casos , seuscompanheiros de apostolado cont inuaram prat icando suas profissões depois dese tornarem discípulos de Jesus . Pedro manteve sua casa em Cafarnaum, eprovavelm ente cont inuou em seu negócio de pescaria (compare com João 21.3) .Porém Mateus deixou defini t ivamente seu emprego de cobrador de impostos .

Concluím os is to com base em dois pontos de evidência . Primeiro, com ele nogrupo dos doze apóstolos es tava "Simão o Zelote" (Mateus 10.4)—um ex-mem bro do movimen to revolucionário que se opunh a à submissão a Rom a comviolência . Antes de se encontrarem com Jesus , Simão ter ia vis to Mateus comprofundo ódio como um colaborador t ra i çoe i ro . Mateus in tenc iona lmentemenciona tanto sua profissão como a de Simão em sua l is ta de apóstolos , em10.2-4, com o propósi to de subl inhar a reconci l iação de ambos. Eles nãopoderiam es tar juntos n o apostolado, se os dois não t ivessem aban donado suasvidas anteriores para seguir Jesus.

Segundo, unicamente Mateus se refere ao ens ino direto de Jesus sobre opagamento de imposto (17.24-27). Apenas ele regis t ra es te incidente , em queJesus paga o imposto para o templo (um encargo de todos os judeus adul tospara manter o templo e seus serviços) , mandando Pedro procurar uma moedana boca de um peixe. A interpretação des ta passagem é controvert ida, porém omais provável é que Jesus es tá declarando a isenção fundamental , tanto delepróprio com o de seus seguidores , em relação a quaisquer imp ostos o brigatórios .Eles são os filhos de Deus, que é o Rei de toda a terra. Por isso, eles estão"l ivres" de ta l sujeição. Não obstante , Deus provê o meio para o pagam ento detais impostos , apenas p ara evi tar um insul to desnecessário à sociedade.

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 3 3

P o d e m o s s u s p e i t a r q u e M a t e u s i n c l u i u e s t a h i s t ó r i a p o r q u e e l a s i g n i f i c a v a

m u i t o p a r a e l e . E l e f o i l i b e r t a d o d a i m p o s i ç ã o d e t o d o a q u e l e s i s t e m a — n a

r e a l i d a d e , l i b e r t a d o d e s e r v i r a M a m o m , o d e u s d o d i n h e i r o ( 6 . 2 4 ) .

V a m o s c o n s i d e r a r a s e g u i r c o m o a c o n v e r s ã o d e M a t e u s p o d e t ê - lo a f e t a d o ,

b e m c o m o a o E v a n g e l h o q u e e le e s c r e v e u . M a s v a l e a p e n a p e r g u n t a r t a m b é m

a r e s p e i t o d e s s a c o n v e r s ã o e m s i : P o r q u e e l e e s t a v a t ã o d i s p o s t o a a b a n d o n a r

s e u n e g ó c i o n a q u e l e d i a , q u a n d o o u v i u a p e n a s d u a s p a l a v r a s d e J e s u s : " S e g u e -

m e " ?

A r e s p o s t a p o d e e s t a r e m o u t r a f i g u r a q u e d e s e m p e n h a u m p a p e l p r e p o n d e r a n t e

e m s e u E v a n g e l h o :

4. E provável que Ma teus tenha s ido profunda men te influenciado por JoãoBatis ta.E s t a p o s s i b i l i d a d e é e s p e c u l a t i v a , m a s a e v i d ê n c i a a p o n t a n e s t a d i r e ç ã o .

S o m e n t e M a t e u s i n c l u i e m s e u E v a n g e l h o a p a r á b o l a d o s d o i s f i l h o s , e m2 1 . 2 8 - 3 2 . N e l a , o p r i m e i r o f i l h o , q u e s e r e c u s a a t r a b a l h a r n a v i n h a d e s e u p a i ,

m a s d e p o i s s e a r r e p e n d e e v a i , é i d e n t i f i c a d o c o m o " p u b l i c a n o s e m e r e t r i z e s " ,

q u e a c e i t a r a m a p r e g a ç ã o d e J o ã o B a t i s t a . E l e s e s t ã o a g o r a " e n t r a n d o n o r e i n o

d e D e u s à f r e n t e d o s " l í d e r e s r e l i g i o s o s , q u e " n ã o s e a r r e p e n d e r a m n e m c r e r a m "

e m J o ã o . " A v i n h a " n o V e l h o T e s t a m e n t o é u m a f i g u r a d e I s r a e l , o p o v o d e D e u s

( p . e x . : I s a í a s 5 . 1 - 7 ) .

R e f l e t e i s t o a p r ó p r i a e x p e r i ê n c i a d e M a t e u s ? E s t a v a e l e e n t r e o s c o b r a d o r e s

d e i m p o s t o s q u e , c o n f o r m e L u c a s , s e a p r e s e n t a r a m p a r a s e r b a t i z a d o s p o r J o ã o ?

Q u a n d o e le s p e r g u n t a r a m a J o ã o c o m o d e v e r i a m m o s t r a r s e u a r r e p e n d i m e n t o ,

e l e l h e s d i s s e : " N ã o c o b r e i s m a i s d o q u e o e s t i p u l a d o " ( L u c a s 3 . 1 3 ) .

O a r r e p e n d i m e n t o p a r a M a t e u s p o d i a t e r s i d o m a i s p r o f u n d o d o q u e a p e n a s

c o r t a r o q u e c o b r a v a a m a i s . E s t a e r a ta l v e z o p o n t o e m q u e e l e se t o r n o u m a i s

s é r i o c o m r e s p e i t o à L e i , c o n v e n c i d o p o r J o ã o d e s u a d e s c o n s i d e r a ç ã o p o r e l a ,

p r o n t o p a r a e s t u d á - l a e o b e d e c e r a e l a d e u m a n o v a f o r m a — n a r e a l i d a d e , p r o n t o

M a t e u s , c o m o Pe d r o ,v i v i a e m C a f a r n a u m .Ex c a v a ç õ e s r e a l i z a d a sn a c i d a d e d e s c o b r i r a mo l u g a r q u e f o ic o n h e c i d o n o s t e m p o sa n t i g o s c o m o a c a s a d ePe d r o , o n d e J e s u sdeve te r es tado(Mateus 8.14) .

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3 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

para entrar na vinha, arrependido de sua desobediência. Ele teria ainda ouvido

o tes temunho de João sobre Jesus : "Aquele que vem depois de mim é maispoderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar" (Mateus 3.11), eteria sido encamin hado por ele. Ma teus ouviu Jesus pregar quando Ele "percorriatoda a Gal i lé ia" (4.23) repet indo a mensagem de João: "Arrependei-vos , po rquees tá próximo o reino dos céus" (4.17; comp are com 3.2) . Gradualm ente ele foisendo preparado para alcançar um degrau posterior, de João Batista a Jesus.

Assim, parece provável que a conversão de Mateu s passou por dois es tágios ,primeiro o da Lei, induzido por João Batista, e depois o de Cristo, movido pelaconvocação de duas palavras . De repente Mateus se decidiu a abandonar tudo eseguir Jesus . Em poucas semanas ele se viu incluído numa missão com seuscomp anheiros d iscípulos, avisado de que não f izesse nenhu ma provisão para aviagem, nenhu ma proteção contra o perigo, nem prévio arranjo para ho spedagem(Mateus 10.9-11). Mateus enfat iza muito mais do que Marcos e Lucas o auto-

sacrifício e desamparo que Jesus exigiu de seus discípulos naquela missão. Istodeve ter s ido extremamen te dif íc i l para Mateus e deve ter evidenciado para elea enorme mudança que teve lugar em sua vida. Da r iqueza para a pobrezadel iberada, da autodeterminação para o discipulado, da segurança para a vidaperigosa da fé, e, acima de tudo, do eu para Cristo—esta foi a conversão deMateus .

Podemos nós perceber outros aspectos sob os quais esta conversão influencioutanto Mateus como seu Evangelho?

O novo M ateus

Três caracterís ticas importantes do Evangelho de Mateus podem ser del ineadasa partir da sua experiência de conversão.

1. Ele aprendeu o que é misericórdia e perdão.Estas duas vir tudes são temas importantes de seu Evangelho. Mateus usa o

termo "dívidas" , e não "pecado s" na versão da Oração do Senhor que regis t ra:"Perdoa-nos as nossas dívidas , ass im como nós temos perdoado aos nossosdevedores" (Mateus 6 .12; compare com Lucas 11 .4) . Como cobrador dei m p o s t o s , e l e n u n c a p e r d o a r a d í v i d a s — e c o m o p o d e r i a ? M a s c h e g o u areconhecer a enorme dívida não paga que t inha para com Deus , a dívida doamor e da obediência .

Apenas Mateus regis t ra a parábola do credor incompass ivo (Mateus 18.23-35). Em sua vida pregressa ele deve ter exercido com freqüência o papel do

servo: "Agarrando-o, o sufocava, dizendo: 'Paga-m e o que me dev es '" (18.28).Mateus talvez nunca tenha agido tão violentamente, mas devia estar acostumadoa press ionar as pessoas a pagarem, mesmo quando elas não t inham condiçõesde fazê-lo. Agora, entretanto, ele aprendeu a lição dessa parábola. De muitomaior impo rtância é a dívida para com Deus , e nós devemo s mais , muito alémdo que jamais poderíamos pagar. Se acei tamos o perdão que Ele nos oferececomo dádiva, podemos recusar-nos a perdoar os outros?

De igual modo, somente Mateus registra a parábola dos trabalhadores na vinha(20.1-16). Indubi tavelmente, e le deve ter ouvido muitas vezes ta is queixas deparcial idade, e ta lvez ele próprio tenha t ra tado pessoas injus tamente. Agora,p o r é m , o p a r a d o x o o i m p r e s s i o n a p r o f u n d a m e n t e : in j u s t a m e n t e , c o m

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 3 5

parcial idade, e le recebeu a benevolência de Deus , que não exige injus tamen te,mas injus tamente concede muito mais do que merecemos (20.15).

Deve ter havido uma profusão de perdõ es dados e recebidos entre os apóstolosquando juntame nte se ins talaram em sua nova vida com o discípulos de Jesus .Mateus veio de Cafarnaum, como Pedro e André, e Tiago e João. Ele era o"seu" cobrador de impostos—ou, de qualquer forma, conhecido deles comotal. Pode ter havido v elhas discussões po r acertar, pecad os a confessar, injustiçasa reparar . Certamente Mateus e Simão o Zelote t inham muito de que searrepender mutuamente.

Um vers ículo parece ter s ignif icado muito para Mateus em conexão comtudo is to. Duas vezes ele regis t ra a c i tação fei ta por Jesus de Oséias 6.6:"Mise r i córd ia quero , e não sac r i f í c io . " Nenhum dos out ros evange l i s t a smenciona o uso que Jesus fez des te vers ículo. Na primeira ocas ião, Mateusrelata como Jesus ci tou es te vers ículo em sua própria casa, durante o banqu ete

que ofereceu aos seus antigos colegas cobradores, logo depois de ter-se tor-nado discípulo. Algun s fariseus locais expressaram claramente sua desaprov açãoao evento perguntando a outros discípulos de Jesus : "Por que come o vossoMestre com os publicanos e pecadores?" (9.11). Mateus descobriu que os fariseusnão gostavam de Jesus tanto quanto não gostavam dele .

A répl ica de Jesus penetrou claramente em sua memória: "Os sãos nãoprecisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa:'Misericórdia quero, e não sacri f íc io ' ; pois não vim chamar jus tos , e s impecadores [ao arrependimento]" (9.12,13). Ele t inha recebido es ta m isericórdiade Jesus—não apenas porque Jesus es tava desejoso de associar-se com ele ,mas m uito mais porque, por m eio de Jesus , e le f icou sabendo q ue sua enorme einestimável dívida tinha sido paga. Os anos que ele viveu em desobediência eganância t inham s ido perdoados .

Mateus registra o uso posterior de Oséias 6.6 por Jesus, quando Ele estavasendo criticado pelos fariseus por permitir que seus discípulos colhessem espigasde milho no sábado (12.1,2) . Após relacionar a lguns exemplos s imilares dequebra do sábado (12.3-6), Jesus conclui: "Se vós soubésseis o que significa:'Misericó rdia quero, e não sacrifício' , não teríeis cond enado a inocentes. Po rqueo Fi lho do homem é senhor do sábado" (12.7,8) . A misericórdia que Mateust inha com freqüênc ia negado c omo cob rador de impostos ocupa agora o centrodo palco em sua vida. Mas posteriormente ele aprendeu que Jesus é aquele quedecide o que é misericórdia e como ela será mostrada—na real idade, comotextos como Oséias 6.6 devem ser interpretados . Jesus— o "Fi lho do ho mem "—é o Senhor que decide tais coisas. Jesus, como o intérprete da Escritura, é otema central no Evangelho de Mateus , como veremos.

2. Ele desenvolveu uma nova visão do Rei .Não sabemos se Mateus , o cobrador de impostos , t inha s ido alguma vez um"herodiano" entus ias ta—"herodiano" era o nome dado ao part ido monarquis taque apoiava a dinas t ia de Herodes (compare com Mateus 22.16; Marcos 3.6) .Mas, se ele chegou a ser, sua conversão assinalou uma dramática mudançatamb ém aqui. Mateus, o evangelista, não tinha a mínima con fiança em autoridadepolítica. Na verdade, era bem o contrário. Ele registra o dissabor de Jesus arespeito de Israel mais enfaticamente do que os outros evangelistas: "Vendo eleas mult idões , compadeceu-se delas , porque es tavam afl i tas e exaustas comoovelhas que não têm pas tor" (9.36). O governo de Herodes deixou o povo

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3 8 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

efet ivamente desamparado, af l i to e perdido.

Mas Deus agiu para salvar seu povo. Mateus apresenta Jesus , em contras tecom H erodes , com o o verdadeiro Rei de Is rael . Logo no início, e le dá a Herodesseu t ítulo completo, " rei Herodes" , quando ele introduz "o recém-n ascido Reidos judeus" (2.1,2) . Herodes percebe a ameaça à sua posição e faz o máximoque pode para matar esse Rei r ival (2.16-18). Mas fraca ssa— e fracassa tambémem adiar sua própria e próxima morte , que Mateus regis t ra ta lvez com umaponta de sarcasmo (2.19).

Os es tudiosos têm comentado fartamente a proeminência do tema da realezaem M ateus . Sua importância é ass inalada logo no primeiro vers ículo de M ateus ,que dá seu próprio t í tulo ao Evang elho: "Livro da genealogia de Jesus C ris to,f i lho de Davi , f i lho de Abra ão" (1.1) .

Davi e Abraão são des tacados como pr inc ipa i s ances t ra i s de J esus . Agenealogia que se segue em Mateus 1.2-17 é então cuidadosam ente construídapara colocar ênfase sobre Jesus como o Rei prom etido: "D e sorte que todas asgerações, desde Abraão até Davi, são catorze; desde Davi até ao desterro para aBabilônia, catorze; e desde o desterro da Babilônia até Cristo, catorze" (1.17).Jesus é "o Filho de Davi" que revive a linha de reis quebrada 600 anos antes,quando os babi lônios devas taram Jerusalém. Ele cumpre todas as promessasfei tas por meio dos profetas de que um grand e "Da vi" vir ia para governar nãoapenas Is rael, mas o mundo inteiro. Depois dis to, "Fi lho de Dav i" tornou-se onome padrão usado pelos rabinos para referi r-se ao Messias (compare comMateus 22.42).

Este é também um dos t í tulos favori tos de Mateus para Jesus . Ele regis t ra seuuso em dez ocas iões (ao passo que Marcos e Lucas apenas somam sete entresi). Ele tem um a ligação reiterada com atos de misericórdia pa ra com os enfer mo s

e pobres (veja os exemplos no quadro a seguir), pois este era um dos papéispr inc ipa i s do re i no Ve lho Tes tamento : cab ia - lhe de fender o f raco e odesamparado .

Portanto, o que o "rei" Herodes deixou de fazer , Jesus cump re perfei tamen te.Herodes , de fato, nunca reivindicou ser "f i lho de Davi" . Ele não podia fazê-lo,porque era um idumeu, não um judeu, devendo seu t rono inteiramente aosromanos , e por es ta razão muitos judeus contes tavam seu t í tulo e rejei tavamseu governo. Mateu s deixou de pres tar serviços a um em busteiro falso e inút i lpara servir ao verdadeiro Rei de Israel.

Es te "verdadeiro Rei de Is rael" governou m uito além do minúsculo reino deHerodes . Era parte da expectat iva do Velho Testamento que o "Dav i" que vir iaseria um R ei universal . Aqui o cenário do cobrador de impo stos pode até haver

ajudado um pouco, pois e le ter ia roçado os ombros com muitos não-judeus , epode, portanto, ter sido mais fácil para ele do que para os outros aceitar que osgent ios seriam levados a desfrutar o governo des te Rei .

Repassaremos o tema da "Realeza" em Mateus com mais pormenores maisadiante , quando vol tarmos às principais caracterís ticas de sua men sagem .

3. Ele descobriu um novo dom de ens inar.Como vimos acima, é a l tamente improvável que Mateus , o cobrador de

impostos , t ivesse t ido qualquer oportunidade de es tudar a Lei em qualquerprofundidade, quanto mais ensiná-la. E, no entanto, seu Evangelho é nitidamenteo produto de alguém tanto afeiçoado à Lei como dotado para o ens ino. D evem osconcluir, pois, que Mateus descobriu um dom d o qual não tinha estado con sciente

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 3 7

"Filho de Davi"

E n t r e o s p r o f e t a s d o V e l h o T e s t a m e n t o ae x p e c t a t i v a s e d e s e n v o l v e u g r a d u a l m e n t e n os e n t i d o d e q u e D e u s t r a r ia u m p o d e r o s o " D a v i " ,c u j o g o v e r n o s e r i a m u i t o m a i o r d o q u e o d eq u a l q u e r " f i l h o d e D a v i " p r e c e d e n t e . E s t ap r o f e c i a é e n c o n t r a d a m e s m o q u a n d o a i n d ah a v i a d e s c e n d e n t e s d e D a v i r e i n a n d o e mJ e r u s a l é m ( I s a í a s 1 1 . 1 - 5 ; 1 6 . 5 ; O s é i a s 3 . 5 ) ,p o r é m d e s e n v o l v i d a n a t u r a l m e n t e c o m m a i sv i g o r q u a n d o a l i n h a g e m d a v í d i c a f o i e n c e r r a d ae m 5 8 7 a . C . p e l o s b a b i l ô n i o s : v e j a J e r e m i a s2 3 . 5 ; 3 0 . 9 ; 3 3 . 1 5 - 2 2 ; E z e q u i e l 3 4 . 2 3 , 2 4 ;3 7 . 2 4 , 2 5 ; Z a c a r i a s 1 2 . 7 - 1 3 .1 .

O Salmo 2 expres s a a v i s ão que s us ten ta es t asp r o f e c i a s . A l i o R e i é c h a m a d o " o u n g i d o " d eD e u s — i s t o é , s e u " C r i s t o " . E o R e i f a l a :" Proc lamare i o decre to do Senhor : E le me d i s s e :'Tu és meu F i lho , eu ho je t e gere i . ' Pede-me, ee u t e d a r e i a s n a ç õ e s p o r h e r a n ç a , e a se x t r e m i d a d e s d a t e r r a p o r t u a p o s s e s s ã o . C o mvara de f e r ro as r egerá s , e as des pe daça rás co mou m v a s o d e o l e i r o " ( S a l m o 2 . 7 - 9 ) . E s t e s a l m o éc i t a d o c o m f r e q ü ê n c i a p a r a r e f e r i r -s e a J e s u s n oN o v o T e s t a m e n t o , e M a t e u s o r e f l e t e n ac h a m a d a G r a n d e C o m i s s ã o , c o m a q u a l s e uE v a n g e l h o t e r m i n a : " J e s u s , a p r o x i m a n d o - s e ,f a l o u - l h e s , d i z e n d o : ' T o d a a a u t o r i d a d e m e f o id a d a n o c é u e n a t e r r a . I d e , p o r t a n t o , f a z e id i s c ípu los de todas as nações . . . ' " ( 28 . 18 , 19) .

J e s u s é c h a m a d o " F i l h o d e D a v i " e m d e zo c a s i õ e s n o E v a n g e l h o d e M a t e u s ( 1 . 1 , 2 0 ; 9 . 2 7 ;

12 . 23 ; 15 . 22 ; 20 . 30 , 31 ; 21 . 9 , 15 ; 22 . 42) . Em novedelas , o nome é as s oc iado ao min i s t é r io de J es us nac u r a e n a a t e n ç ã o a o s re j e i t a d o s , g e r a l m e n t e u s a d a sn u m a p e l o a E l e :* 9 . 2 7 , o s d o i s h o m e n s c e g o s : " T e m c o m p a i x ã o d en ó s , F i l h o d e D a v i ! "* 1 5 . 2 2 , a m u l h e r c a n a n é i a : " S e n h o r , F i l h o d e D a v i ,t e m c o m p a i x ã o d e m i m ! M i n h a f i l h a e s t áh o r r i v e l m e n t e e n d e m o n i n h a d a . "* 2 0 . 3 0 , d o i s o u t r o s h o m e n s c e g o s : " S e n h o r , F i l h od e D a v i , t e m c o m p a i x ã o d e n ó s ! " — u m a p e l o q u er e p e t i r a m q u a n d o " a m u l t i d ã o " t e n t a v a s i l e n c i á - l o s( 2 0 . 3 1 ) .O cenár io d i s to é o en tend im ento que hav ia da r ea leza

no V elho Tes tam ento , a qua l f ez do s ocor ro aos f r ac osum dos papéi s p r inc ipa i s do Rei . Por exemplo :* Concede ao Rei , ó D eus , os t eus ju ízos , e a tuajus t i ça ao F i lho do Rei . J u lgue e le com jus t i ça o t eupovo , e os t eus a f l i tos com eqüidade . . . . J u lgue e le osaf l i tos do povo , s a lve os fdhos dos neces s i t ados , ee s m a g u e o o p r e s s o r " ( S a l m o 7 2 . 1 - 4 ) .

q u a n d o s u a v i d a e s t a v a v o l t a d a à b u s c a d o d i n h e i r o .

Q u a l é a e v i d ê n c i a p a r a a c a p a c i d a d e d e e n s i n a r d e M a t e u s ? P o d e m o s i n d i c a r

q u a t r o c a r a c t e r í s t i c a s d o s e u E v a n g e l h o :

a. Sua narrativa estruturada. N o t a m o s j á a ê n f a s e d a d a p o r M a t e u s a o e n s i n o

d e J e s u s , q u e é a p r e s e n t a d o e m c i n c o g r a n d e s s e r m õ e s . E s t e s t e n d e m a t r a t a r d e

d i f e r e n t e s t e m a s ( v e j a a s c a r a c t e r í s t i c a s n o q u a d r o d a p á g i n a 3 1 ) . M a t e u s o u

o u t r o s p o d e m t ê - l o s c o m p i l a d o c o l o c a n d o j u n t o s d i t o s a r e s p e i t o d e t e m a s

c o r r e l a t o s , o u p o d e m e l e s t e r - s e b a s e a d o e m f a l a s a p r e s e n t a d a s r e a l m e n t e p o rJ e s u s . C o m o u m p u b l i c a n o a l t a m e n t e i n s t ru í d o , M a t e u s p o d i a t er t o m a d o n o t a s

à m e d i d a q u e e s c u t a v a J e s u s . D e q u a l q u e r m o d o , p o d e m o s f a c i l m e n t e i m a g i n a r

a u t i l i d a d e d e t a i s c o m p i l a ç õ e s c o m o m e i o d e e n s i n a r a o s n e o c o n v e r s o s o s

f u n d a m e n t o s d a v i d a e d a f é c r i s t ã s .

b. Seu uso do Velho Testamento. M a t e u s t r a i a i n c l i n a ç ã o d o p r o f e s s o r a o

e v i d e n c i a r a c o n e x ã o e n t r e p r o f e c i a s e s e u c u m p r i m e n t o e m J e s u s . E m n ã o

m e n o s d o q u e o n z e o c a s i õ e s e l e a s s o c i a u m e v e n t o a u m a p r o f e c i a c o m u m a

a f i r m a ç ã o c o m o : " I s t o a c o n t e c e u p a r a s e c u m p r i r o q u e f o i d i t o p o r i n t e r m é d i o

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4 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

d o p ro fe ta . . . " ( 2 1 .4 ) . Se a su g es tão ac ima é co r r e ta—d e q u e e le p r imei ro

descobr iu a Lei por meio de João Batis ta , e depois o Evangelho por meio deJesus—então ela nos ajudar ia a compreender sua nova e invulgar perspectiva arespeito da Lei . Ele a in terpreta de uma forma ímpar , o lhando-a através daslen tes da fé e do d iscipulado cr is tãos .

No v am en te , ex amin arem o s i s to co m mais d e ta lh es ab a ix o .

c. Sua preocupação acerca dos fariseus. Este é o correlat ivo do ú lt imo ponto .Mais do que qualquer outro escr i tor do Evangelho , Mateus é cr í t ico em relaçãoaos far iseus e seu ensino . "Hosti l" é a palavra usada por muitos es tudiosos aoconsiderar passagens como Mateus 23 .27 ,28: "Ai de vós , escr ibas e far iseus ,h ipócr i tas! porque so is semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora semostram belos , mas in ter iormente es tão cheios de ossos de mor tos , e de todaimundícia. Assim também vós ex ter iormente pareceis jus tos aos homens, maspor dentro es tais cheios de h ipocr is ia e de in iqüida de."

Os outros escr i tores do Evangelho hesitaram em inclu ir a sér ie de "Ais"dir ig idos aos far iseus , como ocorre nesta passagem (23 .1-36) . Porém Mateusnão hesita . Entretan to , ele não inclu i tais expressões para hosti l izá- los , e s impela preocupação d ian te do efei to ter r ível do ensino far isaico .

• "Na ca deira de Moisés se assentaram os escr ibas e os far iseus . Fazei e g uardai ,pois , tudo quanto eles vos d isserem, porém n ão os imiteis nas suas obras; porquedizem e não fazem. Atam fardos pesados [e d if íceis de car regar] e os põemsobre os ombros dos homens, en tretan to eles mesmos nem com o dedo queremmovê- los" (23 .2-4) .

• "Ai de vós , escr ibas e far iseus , h ipócr i tas! porque fechais o reino dos céusdiante dos homens; pois , vós não entrais , nem deixais en trar os que es tão

entrando" (23 .13) .Os far iseus eram os leg ít imos mestres , mas sua mensagem era inanimada e

aborrecível a todos os que a seguiam. M ateus asp irava substi tu ir o ensino d elespelo seu .

d. Seu estilo narrativo. Embora o Evangelho de Mateus seja muito mais longoque o de Marcos, ele geralmente conta as mesmas h is tór ias com muito maiorbrevidade. Enquanto Marcos inclu i muitos detalhes pessoais , Mateus l imita an ar r a t iv a ap en as ao s p o n to s es sen c ia i s , p o rém em seg u id a f r eq ü en temen teexpande o "ensino" ex traído da h is tór ia .

Por exemplo , Marcos conta a h is tór ia do menino possuído do demônio em286 palavras , a té o ponto em qu e os d iscípulos pergu ntam a Jesus: "Por que nã o

pudem os nós expulsá- lo?" (M arcos 9 .14-28) . Ares posta de Jesus a es ta perguntaem Ma rcos é s implesmente: "Esta casta não pode sair senão por meio de oraç ão"(9 .29) . Mateus , ao contrár io , usa somente 117 palavras para contar a h is tór iaaté o mesmo ponto (17 .14-20) , porém então reg is tra a resposta de Jesus combem mais ampli tude: "Por causa da pequenez da vossa fé . Pois em verdade vosdigo que, se t iverdes fé como um grão de mostarda, d ireis a es te monte: Passadaqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível" (17 .20) .

Em todos es tes aspectos Mate us expressa sua paixão pelo ensino e d iscipulado .Ele es tava trabalhando para obedecer ao mandamento de Jesus , que ele mesmoregis tra , de "fazer d iscípulos de todas as nações" (28 .19) . Talvez ele pensassede s i mesmo como sendo o "escr iba [professor da lei] versado no reino dos

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 3 9

céus" , em 13.52 (novamente, es ta pequena parábola aparece somente emMateus). Ele é "semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas

novas e coisas velhas". Mateus recorre aos tesouros do Velho Testamento paraexpor a fascinante r iqueza de Jesus , que é a "pérola de grande valor" pela qualele "vendeu tudo o que possuía" (13.45,46).

A mensagem de MateusQual era, pois, a men sagem que ardia no coração de Mateus qua ndo ele escreveuseu Evangelho ?—a m ensagem que sua experiência com Jesus o havia preparadopara proclamar? Podemos resumi-la em cinco tópicos :

1. Jesus é o cumprimento do Velho Testamento.Esta característica da apresentação de Jesus por Mateus está na base de todas asoutras . Por todo o seu Evangelho, o que Deus es tá fazendo em e at ravés de

Jesus é explana do e interpretado com ref erência às Escrituras. Mateus pressup õeque seus leitores estão familiarizados com o Velho Testamento e capacitados atirar conclusões das citações com as quais ele tempera a história.Por exemplo, Mateus segue Marcos ao relatar as curas realizadas por Jesus aoentardecer (Marcos 1.32-34), porém então introduz uma ci tação:• "Chegada a tarde, t rouxeram-lhe muitos endemoninhados; e e le meramentecom a palavra expeliu os espíritos, e curou todos os que estavam doentes; paraque se cumprisse o que fora di to por intermédio do profeta Isaías : 'Ele mesm otomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças" (Mateus8.16,17).

Espera-se que os leitores de Mateus conheçam onde em Isaías está contidaesta citação. E parte da descrição do "Servo do Senhor" em Isaías 53, o qual

toma sobre s i não somen te as enfermid ades do povo de Deus , mas também seuspecados , e que morre em favor dele . Por meio des ta breve ci tação Mateus diz aseus leitores que Jesus é a figura predita por Isaías— um a importan te e dram áticaproclam ação. Em 12.15-21, Mateu s cita extensamente parte de um dos "C ânticosdo Servo", em Isaías (Isaías 42.1-4), aplicando-a novamente a Jesus.

Mateus 5.17-20 é a mais importante passagem nes ta conexão. "Não penseisque vim rev ogar a lei ou os .profetas: não vim pa ra revogar, vim par a cu mp rir",diz Jesus (5.17). Por seu compo rtamento e ens ino muitos pensavam que Jesuses tava opondo sua autoridade à do Velho Testamento. Mateus deseja pôr ascoisas no devido lugar. Jesus não queria remover da Lei sequer um jota ou umtil "até que tudo se cumpra" (5.18).

Mas isto não quer dizer que as formas correntes de interpretação da Lei sejamaceitas. Longe disso. Já vimos a atitude altamente crítica de Mateus para comos fariseus , os guardiães contem porâneos da ortodoxia judaica. N o res tante docapítulo 5, Mateus registra a reinterpretação da Lei em seis áreas. Em algunscasos a reinterpretação é de uma abrangência tão amp la que é quase como se aprópria Lei, e não apenas a aplicação dela pelos fariseus, está sendo posta delado. Tal é o tom de autoridade com a qual Jesus ensina. A autoridade de Jesusequipara-se à da Lei, mas não a substitui. Contudo, por causa de sua autoridadecomo R ei e Fi lho de Deus , a Lei é reform ada e redirecionada, de m odo q ue, emlugar de enfatizar a diferença entre Israel e as nações gentílicas, ela é vistaagora para incentivar o amor pelos inimigos (5.38-48) e como uma demoliçãoda barreira entre judeus e gentios (veja aqui especialmente 15.1-28).

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4 2 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

A quem Mateus des t ina es ta apresentação? Muitos es tudiosos crêem que ele

t inha em men te os c r i s t ãos , t a lvez espec ia lm ente os judeu s -c r i s t ãos queprecisavam ser convencidos de que sua fé cr is tã não es tava em confl i to com suaherança judaica. Porém parece provável que Mateus também queria convenceros judeus descrentes, e que isso era parte de sua estratégia para mostrar queJesus cumpre perfe i tamente as expectat ivas do Velho Testamento. Qu e M ateust inha em men te os judeu s é sugerido pelas passagens 27.62-66 e 28.11-15, n asquais Mateus se empen ha em explicar a origem e falsidade da explana ção judaic acorrente sobre a ressurreição. Descobrimos do cristão apologista Justino Mártir,do segundo século, que escreveu por volta do ano 135 d.C., que os judeus aindaes tavam d izendo que os discípulos t inham roubado o corpo de Jesus do túmulo.Se Mateus que ria retrucar es ta falsa acusação, então parece provável qu e outrascaracterísticas do seu Evangelho, e em particular seu tratamento do Velho Tes-tamento, ter iam também o objet ivo de convenc er os jude us cépt icos .

Descobriremos mais sobre o t ra tamento da Lei por Mateus à medida quedel inearmos ou tros de seus temas centrais:

2. Jesus é o Rei!"D aí por diante passou Jesus a prega r e a dizer: ' Arrep ende i-vos, po rqu e está

próxim o o reino dos céu s '" (4.17). De longa data se reconhece que "o reino doscéu s" é um tem a crucial em Mateu s. Ele é imp ortante para todos os evang elistas,mas acima de tudo para Mateus . Ele usa a expressão cinqüenta vezes , emcom paração c om q uinze de Marcos e t r inta e oito de Lucas .

Quando colocamos ao lado des ta es tat ís t ica a proeminência do t í tulo real"Fi lho de Davi" (veja acima), vemos claramente quão importante para Mateusé a apresentação de Jesus como Rei .

Uma breve cons ide ração sobre o cenár io do Ve lho Tes tamento é aquinecessária . Deus é freqüentemen te ret ratado como "R ei" no Velho Testamento,e seu "Re ino" é um tema poderoso na teologia do Velho Testamento. As palavrasgrega e hebraica geralmente t raduzidas por "reino" têm ambas u m interessantes ignif icado duplo, que é muito importante para a compreensão tanto do VelhoTestamento como da proclamação de Jesus . Elas s ignif icam tanto "domínio"( reg ião ou t e r r i tó r io dominado por um soberano) como "governo" (guia ,controlador, legislador), senhorio e atividade própria do rei. No Velho Testa-men to is to s ignif ica que

a. Deus é descri to reinando sobre o mundo inteiro (p.ex. Salmos 47; 98-4-6;99.1);b. Israel é imag inado c om o o domínio espec ial de Deus, o lugar onde seu reinadose expressa mais claramente (p.ex. 1 Samuel 8.7; 12.12; Salmo 48.1,2);c. espera-se o dia em que todas as nações se submeterão ao governo de Deus ,is to é , quando seu domínio se es tenderá para cobrir toda a terra , do mesmomodo que agora Ele reina especialmente sobre Is rael . Es te Reino vindourotamb ém marcará a l ibertação f inal do próprio Is rael (p.ex. Salmo 47.7-9; Isaías52.7-10; Zacarias 9.9-12).

Este Reino de Deus esperado é marcad o por quatro caracterís t icas no VelhoTes tamento : justiça (p.ex. Jeremias 23.5,6) , pa z (p.ex. Ezequiel 34.23-31),estabilidade (p.ex. Isaías 9.7), e universalidade (p.ex. Zacarias 9.10).

No tem po de Jesus a expectat iva desse futuro "Reino de Deu s" era forte , masas opiniões variavam a respei to de como ele vir ia . Alguns o entenderampoliticamente, e visualizaram o dia em que Israel ficaria livre de todos os seus

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 4 1

in imigos e ser ia v ingado aos o lhos do mundo. Alguns pensavam mesmo quepoder iam apressar a v inda do Rei pegando em armas co ntra os romanos. O utros ,

p o rém, o en ten d eram esp i r i tu a lmen te , e an tev i r am u m temp o em q u e Deu sf inalmente salvar ia Israel do pecado e trar ia as nações gentias a conhecê- lot a m b é m .

Por isso , quand o Jesus anunciou que "está próx imo o reino dos céus" (4 .17) ,as pessoas reagiram com ansiedade. Mas precisavam aprender o que Jesusentendia por Reino: polí t ico ou esp ir i tual? Mateus , de igual modo, precisavarevelar a natureza desse Reino claram ente aos seus lei tores . Ele d iz quatro co isassobre ele:

a. Ele focaliza a renovaç ão espiritual de Israel. Mateus mo stra Jesus minis trandoquase exclusivamente para Israel . "Não fu i enviado senão às ovelhas perd idasda casa de Israel" , d iz Ele (15 .24; compare com 10.5 ,6) . De modo semelhante,

Jesus envia seus d iscípulos com as palavras: "Não tomeis rumo aos gentios ,nem entreis em cida de de samar itanos; mas , de preferênc ia, p rocurai as ovelhasperd idas da casa de Israel; e , à medida que seguirdes , p regai que es tá próximoo reino dos céus" (10 .5-7) .

M as E le d ep o is r eco n h ece q u e , n a v erd ad e , e les i r ão "à p r esen ça d egovernadores e de reis , para lhes serv ir de tes temunho, a eles e aos gentios"(10 .18) . O evangelho que dá v ida, endereç ado justam ente a Israel , vai propagar-se. Por isso Mateus d á relevo ao ep isódio do centur ião , que tem fé maior do quequalquer outro em Israel (8 .10) , p ressagiando os "muito s" que "v irão do Orientee do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão , I saque e Jacó no reinodos céus . Ao pa sso que os f i lhos do reino serão lançado s para fora. . . " (8 .11 ,12) .Israel dever ia es tar lá , porém não respondeu com a fé necessár ia . Por isso osgentios serão in troduzidos nele para par t iciparem com Abraão do banquete do

Reino . Quando os convidados se recusam a v ir , os cr iados são enviados paraar rebanhar " todos os que encontraram , maus e bons; e a sala do banque te f icourepleta de convidados" (22 .10) . E is to exatamente o que Jesus faz depois , nof inal do Evangelho (28 .18-20) .

b. Ele focaliza o círculo do próprio Jesus. Porque Jesus é o Rei, o Reino—istoé , o g o v e r n o q u e E l e e x e r c e — c h e g a c o m E l e . M a t e u s a s s o c i a o R e i n oin timamente com o minis tér io de cura de Jesus: "E percorr ia Jesus todas ascidades e povoados, ensinando nas s inagogas, pregando o evangelho do reino ecurando toda sor te de doenças e enfermidades" (9 .35) . Seus milagres apontampara o poder do Reino , presente nele: "Se, porém, eu expulso os demônios ,pelo Espír i to de Deus, cer tamente é cheg ado o reino de Deus sobre vós" (12 .28) .

Cabe a João narrar os milagres de Jesus como "sinais" , is to é , ações especiaisque incorporam uma mensagem e são ass im par te de sua pregação e ensino .M as e les têm es ta q u a l id ad e tamb ém e m M ateu s . E les in d icam e sp ec i f icamen teJesus como aquele que cumpre a profecia de Isaías : "Ele mesmo tomou asnossas enfermidades e car regou com as nossas doenças" (8 .17) . I s to , por tan to ,faz os milagres de Jesus peculiarmente seus , e não necessar iamente algo a seresperado onde quer que o Reino seja proclamado.

c. Os seguidores de Jesus entram já no Reino. Quando as pessoas andam sob ocomando deste Rei, e las en tram no Reino . João Batis ta inaugurou o processo:

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4 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

"Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por esforço,

e os que se esforçam se apoderam dele" (11.12). Por "esforço" aqui Jesusprovavelmente expressa a entus iás t ica acolhida de muitos ao seu minis tér io.Seguindo-o, as pessoas es tão "se agarrando" ao Reino dos céus—li teralmente"tomando-o de assal to" , como os fregueses que descobrem a maior l iquidaçãodo ano. Uma vez dentro, mesmo o menor do Reino dos céus é maior do queJoão Batista (11.11).

O jovem rico já não está tão certo. Ele deseja a "vida eterna" (esta é umaexpressão equivalente a "Reino d e Deus") , mas não pod e sat is fazer à condição:"Vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem,e segue-me" (19.21). Seguir a Jesus é conseguir o que ele perdeu: entrar "noreino dos céus" (19.23).

Um novo estilo de vida é exigido desses seguidores de Jesus—a saber, aquele

que aponta para a realidade do Reino dentro deles. É por isso que os Doze,quando enviados a proclamar o Reino, ouvem: "De graça recebes tes , de graçadai . Não vos provereis de ouro, nem de prata , nem de cobre nos vossos cintos ;nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandál ias , nem debordão: porque digno é o t rabalhador do seu al imento" (10.8-10). Deus supretudo quanto eles necess i tam para seu sus tento e proteção, bem com o tudo o queeles devem oferecer . Eles são em s i mesmos sermões vivos , evidência dareal idade do Reino que proclamam . Mateus esforça-se por esclarecer es te novoestilo de vida para seus leitores, registrando extensamente o ensino de Jesus.

d. Ele ainda está por "vir". Lucas , na real idade, enfat iza mais do que Mateus apresença do Reino. A ênfase dis t int iva de Mateus incide sobre o Reino queainda virá . Jesus , como "o Fi lho do hom em", virá novamente com grande pod er

e em juízo, e is to acontecerá logo. "Em verdade vos digo que alguns aqui seencontram que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir oFi lho do homem no seu reino" (16.28).

Esta "vinda do Fi lho do hom em " comp õe o assunto dos capí tulos 24 e 25. Ainterpretação destes capítulos é muito discutida, especialmente a do capítulo24, mas quase todos concordam que dois t ipos de "vinda" es tão associados etratados juntos nestes capítulos:• Por um lado, há um a vinda em juízo, que s ignif icará o cumprim ento da prediçãode Jesus de que o templo será des truído: "Não f icará aqui pedra sobre pedra,que não seja derrubada" (24.2) . Es ta é provavelmente a "vinda do Fi lho dohomem" que deve ter lugar dentro de uma geração (24.34).• Por outro lado, há posteriormente um a vinda em glória (25.31), que anunciará

o juízo f inal do mundo e a salvação do povo d e Deus . "O R ei" (25.34)—isto é ,Jesus— julgará as nações reunidas diante dele , int roduzindo "os jus tos" na vidaeterna, e os "malditos" no castigo eterno (25.46).

3. Jesus é o Fi lho de Deus!Um dos principais escri tores contemporâneos sobre Mateus , Professor Jack

Kingsbury, argumenta que "o Fi lho de Deus" é , na mente de Mateus , o t í tulomais importante dado a Jesus. Se ele é mais importante do que outros títulos éuma questão aberta à discussão, mas seu valor não pode ser suspeitado. Ele éempregado efet ivamente em catorze ocas iões em Mateus .

E é quase sempre usado por outros a respeito de Jesus:• Pelo Diabo ou demô nios : 4.3,6; 8.29

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 4 3

• P e l o s i n i m i g o s d e J e s u s , e m a c u s a ç ã o o u z o m b a r i a : 2 6 . 6 3 ; 2 7 . 4 0 , 4 3

• P o r M a t e u s , o s d i s c í p u l o s o u o u t r o s e m c o n f i s s ã o d e f é : 2 . 1 5 ; 1 4 . 3 3 ; 1 6 . 1 6 ;

2 7 . 5 4

• P e l o p r ó p r i o D e u s : 3 . 1 7 ; 1 7 . 5 ; 2 1 . 3 7

E m a p e n a s d u a s o c a s i õ e s J e s u s r e f e r e - s e a s i m e s m o c o m o " F i l h o " : 2 4 . 3 6 ;

2 8 . 1 9 .

C o m o t í tu l o e l e t e m t r ê s c o r r e l a ç õ e s :

J e s u s o r d e n o u a o s

D o ze q u e n ã o sep r o v e s s e m " d e d u a st ú n i c a s , n e m d es a n d á l i a s , n e m d eb o r d ã o " , q u a n d o o se n v i o u a p r e g a r oR e i n o . Es t e p a r d es a n d á l i a s d e c o u r oq u e d a t a d o p r i me i r os é c u l o d e n o s s a e r af o i e n c o n t r a d o d u r a n t ee x c a v a ç õ e sa r q u e o l ó g i c a s e mM a s a d a .

a. Ele se correlaciona com Israel. N o V e l h o . T e s t a m e n t o , t o d o o p a í s é t i d o

c o m o " f i l h o d e D e u s " ( p .e x . Ê x o d o 4 . 2 2 ) . M a t e u s c i t a t a l p a s s a g e m a p l i c a n d o -

a a J e s u s . O s é i a s 1 1 .1 , c i t a d o e m 2 . 1 5 , r e f e r i a - s e o r i g i n a l m e n t e a o ê x o d o : " D o

E g i t o c h a m e i o m e u f i l h o . " A l g u n s e s t u d i o s o s a c u s a m M a t e u s n e s t e c a s o d e

u s o i n d e v i d o d e t e x t o , c o m o s e o e v a n g e l i s t a t i v e s s e p o u c a p r e o c u p a ç ã o p e l o

s i g n i f i c a d o o r i g i n a l . M a s n a d a p o d e e s t a r a c i m a d a v e r d a d e . E m t o d o s e s t e s

c a p í t u l o s d e a b e r t u ra d o E v a n g e l h o , M a t e u s t e n t a m o s t r a r c o m o J e s u s c a m i n h an o s c a l ç a d o s d e I s r a e l e r e p e t e a s e x p e r i ê n c i a s d e I s r a e l . E l e d e i x a o E g i t o , é

s a l v o d a s m ã o s d e u m r e i h o s t i l q u e t e n t a e x t e r m i n á - l o , p a s s a p e l a á g u a , é

t e s t a d o e t e n t a d o n o d e s e r t o , e f i n a l m e n t e c h e g a à m o n t a n h a o n d e a p a l a v r a d e

D e u s é o u v i d a ( 5 . 1 ) .

H á d i f e r e n ç a s c e r t a m e n t e . E n q u a n t o I s r a e l f a l h o u n o t e s t e d o d e s e r t o ( c o m -

p a r e c o m D e u t e r o n ô m i o 8 . 5 ) , e s t e F i l h o d e D e u s p a s s a p e l a p r o v a

v i t o r i o s a m e n t e . E e n q u a n t o I s r a e l o u v e a p a l a v r a d e D e u s n o M o n t e S i n a i , e s t e

F i l h o d e D e u s f a l a a p a l a v r a . M a s o s p a r a l e l o s s ã o c l a r o s . J e s u s a s s u m e o p a p e l

d e I s r a e l c o m o p r o p ó s i t o d e r e - f o r m a r o p o v o d e D e u s e m t o r n o d e l e . U m d i a

s e u s a p ó s t o l o s se a s s e n t a r ã o s o b r e t r o n o s a o s e u l a d o , j u l g a n d o a s t r i b o s d e

I s r a e l ( M a t e u s 1 9 . 2 8 ) .

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b. Ele se correlaciona com a realeza. O t í tulo "Fi lho de Deus" era também

uti l izado pelo rei no Velho Testamento (compare com 2 Samuel 7.14; Salmo2.7). Sobre este pano de fundo da história, a aplicação deste título para Jesusdeve associá-lo a outros temas "reais" em Mateus—especialmente "Reino" e"Fi lho de Davi" .

c. Ele se correlaciona com a deidade. Como no Evangelho de João, o t í tulo"Fi lho de Deus" indica um relacionamento da mais profunda int imidade comDeus. Em nove ocas iões Jesus se refere a "meu Pai celes t ia l" ou "meu P ai quees tá no céu" , e num a famosa passagem (somente em Mateus) es tá especif icadoo que es te relacionamento s ignif ica:• "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisasaos sábios e entend idos, e as revelaste aos pequ enin os. Sim , ó Pai, porq ue a ssim

foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai . Ninguém conhece o Fi lhosenão o Pai ; e ninguém conhece o Pai senão o Fi lho, e aquele a quem o Fi lho oquiser revelar" (11.25-27).

Jesus desfruta uma relação pecul iar de conhecimento, devotam ente e a t ividademútua com Deus seu Pai . Mas , ao mesmo tempo que é pecul iar , é tambémcompart i lhado. Em não menos do que onze ocas iões Jesus se refere a "vossoPai celestial" ou "vosso Pai que está no céu", ao dirigir-se aos seus discípulos.Mateus exul ta com a nova int imidade com Deus que, ao seguir Jesus , lhe foiconcedida. Deus era não mais o juiz a ser temido, mas um Pai em quem seconf iava .

4. Jesus é o mestre, o Cristo!M a t e u s a s s o c i a e s t e s d o i s t í t u l o s e m 2 3 . 1 0 . J e s u s c o m o u m m e s t r e é

s ingularmente importante para ele , como já vimos. E, a juntando os assuntostratados nos cinco grandes sermões de Jesus, Mateus procurou claramente proveruma apresentação aprimorada da fé e do discipulado cris tãos . Por exemplo,somente ele apresenta o ens ino sobre o espinhoso tema da discipl ina na igreja(18.15-35). Na verdade, somente M ateus regis t ra o uso fei to por Jesus do term o"igreja" (16.18; 18.17). Com base em Mateus e Marcos podem os ter a impressãode que Jesus jamais tenciono u fu ndar a igreja , porém Mateus não permite is to.Indubi tavelmente, e le t inha em mente a necess idade da igreja em seu própriotempo ao selecionar e ordenar seu material .

5. Jesus é o Salvador, o Fi lho do Homem!Como os demais evangel is tas , Mateus coloca grande ênfase no sofr imento emorte de Jesus . Ele não chega apenas a reinterpretar o Velho Testamento e

apresentar um novo ens ino de Deus—muito longe dis to. Mateus inclui o di totão importante para Marcos: "Qu em q uiser ser o primeiro entre vós será vossoservo; ta l como o Fi lho do homem, que não veio para ser servido, mas paraservir e dar a sua vida em resgate por m uitos" (20.27,28). Ele tam bém interpretaa morte de Jesus antecipadamente ao regis t rar suas palavras na úl t ima ceia:"Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derrama do em fav or de muitos,para remissão de pecad os" (26.28). Por meio de sua morte , Jesus forja t oda umanova al iança entre Deus e seu povo, t i rando os pecados des te exatamen te co moo an jo prometera a José: "E lhe porás o nome de Jesus , porque ele salvará o seupovo dos pecados deles" (1.21).

Es ta ênfase as soc ia -se ao t ema pecul i a r que menc ionamos ac ima , o da

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M A T E U S E S U A M E N S A G E M 4 5

miser icórd ia para com o f raco . O Evangelho de Mateus é muito terno:• Some nte ele reg is tra as grandes palavras de Jesus: "Vinde a mim todo s os que

estais cansados e sobrecarregados, e eu vos al iv iarei . Tomai sobre vós o meujugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareisdescanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo éleve" (11 .28-30) .• Normalmente ele encur ta as h is tór ias ex traídas de Marcos. Mas, no caso dahis tór ia do hom em com a mão ressequida, ele a expand e com outro d ito fam oso:"Qu al dentre vós será o hom em q ue, tendo um a ovelha, e , num s ábado esta cairnuma cova, não fará todo o esforço , t i rando-a dali? Ora, quanto mais vale umhomem que uma ovelha?" (12 .11 ,12) .

• E como remate ele traz o ú lt imo b loco de ensinos a um grande cl ímax coma parábola das ovelhas e dos bodes (de novo, somente reg is trado por Mateus) .O Filho do homem, o Rei d ian te de quem as nações do mundo são d iv id idas epor quem seu destino é decid ido , to rnou-se faminto e sedento , forasteiro e nu ,enfermo e rejei tado , e d iv ide todas es tas exper iências com seus " irmãos". Elen ão d esco n h ece o so f r imen to d e n en h u m d isc íp u lo , p o rq u e E le mesm o tamb é mo conhece e supor ta .

O Ev an g e lh o d e M ateu s é ce rtamen te o d o Re i q u e go v ern a , co mo in d icamo sno in ício deste capítu lo . Mas es te Rei é d iferente dos outros . Ele não governacom autor idade d is tan te nem vive em esplendor pessoal . Ele se assenta numtro n o e ju lg a as n açõ es (2 5 .3 ls s ) , m as so me n te p o rq u e " to mo u as n o ssasenfermidades e car regou com as nossas doenças" (8 .17 , ci tando Isaías 53 .4) .E le g o v ern a co mo u m serv o , n ão co m p o d er mas co m co mp aix ão , n ão co mautoproteção m as com to tal abnegaç ão . Este é o coração pulsante da m ensa gemd o Ev an g e lh o d e M ateu s—men sag em q u e o a r r as to u d a v id a d e g an ân c ia eegoísmo para a v ida e serv iço deste Rei.

Leitura adicional

Menos exigente:R i c h a r d A . E d w a r d s , Matthew's Story of Jesus (F i l adé l f i a : For t r es s P res s , 1985)J . R. W. Stot t , The Message of the Sermon on the Moun t. Christian Counter-Culture

(Leices te r : IV P, 1978)

Mais exigente, obras eruditas:R. T . F rance , Matthew, Evan gelist and Teacher (Exeter : Pa ternos ter , 1989)

D a v i d E . G a r l a n d , Reading Matthew. A Literary and Theological Comm entary on the

First Gospel ( L o n d r e s : S P C K , 1 9 9 3 )

J a c k D e a n K i n g s b u r y , Matthew as Story (F i l adé l f i a : For t r es s P res s . 1988)Paul S . Minear , Matthew. The Teacher's Gospel ( L o n d r e s : D a r t o n , L o n g m a n & T o d d ,

1 9 8 4 )

J o h n W . W e n h a m , Redating Matthew, Mark an el Luke. A Fresh Assault on the Synoptic

Problem ( L o n d r e s : H o d d e r & S t o u g h t o n , 1 9 9 1 )

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Lucas e suaMensagemE lhes disse: "Assim está escrito que o Cristohavia de padecer, e ressuscitar dentre os mortosno terceiro dia, e que em seu nome se pregassearrependimento para remissão de pecados a

todas as nações, começando de Jerusalém.Vós sois testemunhas destas coisas."(Lucas 24 .46 -48 )

O Evangelho de Lucas é , em muitos aspectos , o mais diferenciado dos t rêsEvang elhos s inópt icos , e , considerando que Lucas é também o autor do l ivro deAtos dos Apóstolos , a contr ibuição l i terária dele ao Nov o Testamento é maiordo que a de qualquer outro escri tor (mais de um quarto do todo). O Eva ngelho eAtos juntos const i tuem um a obra única em dois volumes, cu jo tema domina nteé a universal idade do Reino de Deus . Ass im, Lucas esboça a his tória da vindado Reino desde seu começo co m João Bat is ta a té sua proclamaç ão em R oma, ocoração do império. Pondo os olhos no recém-nascido Jesus , Simeão louva aDeus: "Po rque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparas te diantede todos os povos: luz para revelação aos gent ios . . ." (Lucas 2.30-32). Lucasconta a história da irradiação desta luz até, dois volumes depois, concluir suaobra com as palavras de Paulo: "Tomai, pois, conhecimento de que esta salvaçãode Deus foi enviada aos gentios. E eles a ouvirão" (Atos 28.28).

Lucas, o homemLucas era pessoalmente bem equipado para contar esta história. Podemos resumir

o que sabemos sobre ele como segue:

1. Lucas era um gentio.Na realidade, ele era o único gentio entre os escritores do Novo Testamento."Lucas" é um nome lat ino (uma forma reduzida do nome "Lucius") . Diversosfatores que se seguiram indicam as origens gentílicas de Lucas:

a . Quando Paulo envia saudações aos cris tãos de Colossos , e le menciona t rêsdos seus companheiros pelo nome como "os únicos judeus [da ci rcuncisão]entre meus comp anheiros para o reino de Deus" . Depois e le envia saudações d etrês outros, que eram presumivelmente não-judeus. Entre eles, "saúda-vos Lucas,o médico amado" (Colossenses 4.10-14).

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MATEUS E S U A M E N S A G E M 4 7

b. Sempre que cita o Velho Testamento, Lucas usa a versão grega e não traduzdiretamente do hebraico. Ele se refere quatro vezes à língua hebraica em passos

que deixa m a impressão de que ele não a fala va (Atos 1.19; 21.40; 22.2; 26.14) .

c. Há uma tradição da primeira igreja de que ele veio de Antioquia da Síria,uma das maiores cidades do Império Romano. Não podemos es tar certos daverdade d i s to , mas e le ce r t amente mos t ra in te res se pe lo nasc imento ecrescimento da igreja de Antioquia (Atos 11.19-30), e não nos deixa esquecerque ela era a igreja-lar do apóstolo Paulo (Atos 13.1-3; .14.26-28).

d. Sua obra em dois volumes é a única no Novo Testamento dedicada a umprotetor, Teófilo (Lucas 1.3; Atos 1.1). Esta era uma prática comum no mundogreco-romano, e foi também adotada por a lguns escri tores judeus , como ohistoriador Josefo, que queria atrair o leitor gentílico para sua história do povo

judeu. Mas a dedicação de Josefo de sua obra a seu benfei tor Epafrodi to édensa e afetada em comp aração c om a s imples e natural referência de Lucas aseu protetor.

Os es tudiosos cos tumava m especular sobre a ident idade de Teófi lo. Se, com opensavam , ele era um rico aris tocrata romano, então o próprio Lucas deve terpa r t i c ipado de t a i s c í rcu los—ta lvez na comunidade romana ex i l ada emAntioquia . Mas o nome "Teófi lo" s ignif ica "o que ama Deus" , sendo umprovável pseudôn imo, ta lvez dir igido a quaisquer pessoas que, como Cornél io(Atos 10 .1 ,2) , e ram gent ios devotos e t ementes a Deus , que buscavamgenuinam ente a verdade. Lucas sabia como dir igir-se a essas pessoas , e com oconvencê-las da "certeza" da verdade sobre Jesus (Lucas 1.4).

2. Lucas t inha educação superior.

Ele precisaria ter, como médico que era. Um dos mais antigos estudiosos supõeque Lucas recebeu seu t re inamento m édico em Tarso, a c idade natal de Paulo,que era um grande centro de ens ino. Na época a medicina era um ram o especialda filosofia, sendo claras a cultura e a educação de Lucas em seus escritos.

Por exemplo, e le dispunha de um rico vocabulário. O Eva ngelho e Atos têmcerca de 800 palavras que não ocorrem em qu alquer outra parte do Novo Testa-mento. Seu grego é bom: em estilo semelhante ao da carta aos Hebreus, o maise l e g a n t e d o N o v o T e s t a m e n t o . E é t a m b é m f l e x í v e l : L u c a s d e m o n s t r aconsideráve l talento literário, por exemp lo, pela form a com o é capaz de escreverseu prefácio em esmerado grego clássico (Lucas 1.1-4), e logo a seguir mudarpara um es t ilo diferente , moldado na quele do Velho Testamento grego, para ashis tórias do nascimento e infância de Jesus . Desta maneira , e le comunica umsentido de tempo e lugar aos seus leitores gentios, juntamente com os fatos e asverdades .

Avançando além do es t ilo do grego de Lucas , os es tudiosos têm recentementedevotado muita a tenção à habi l idade l i terária com que ele compõe a his tória .Ele chama sua obra mod estamente de "um a exposição em ordem " (Lucas 1.3) ,e a "ordem" es tá aparente na bela forma com que a his tória se desenrola . Porexemplo, a importância da morte e ressurreição de Jesus é subl inhada noEvang elho por repet idas referências à jornada de Jesus a Jerusalém, iniciandoem 9.51: "Ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu,manifes tou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém.. ." D epoisdes te ponto, mesm o as inocentes referências à caminh ada de Jesus pela es t rada

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5 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

(p.ex. 9.57; 10.38; 11.53) assumem u ma notável forç a dramática.

Lucas era certamente um consum ado art is ta l i terário.

3. Lucas era um historiador.De acordo com 1 .3 , sua "expos ição em ordem" base ia -se numa pesqui sameticulosa: " . . .depois de acurada inves t igação de tudo desde sua origem.. ."Assim, seu ta lento l i terário caminhou de mãos dadas com uma preocupaçãopela exat idão e , portanto, confiabi l idade.

Esta exatidão foi defendida fortemente nos anos iniciais deste século por meiode pesquisas de Wil l iam Ramsay, que, quando es tudante , adotou o ponto devista, naquele tempo amplamente sustentado por estudiosos, de que o Evangelhode Lucas foi escri to no segundo século des ta era por um autor que inventoufrancamente muito do seu material . Mas os es tudos pioneiros de Ramsay dasregiões e c idades cobertas por Paulo em sua primeira e segunda viagens

miss ionárias (Atos 13-18) mud aram com pletamente seu modo de pensar . Lucashavia mostrado precisão meticulosa em questões de geografia e adminis t raçãocivi l—na real idade, em cada detalhe em que ele podia ser aval iado. Em seulivro The Bearing ofRecent Discovery on the Trustworthiness ofthe N ew Tes-tament (O Signif icado da Recente Descoberta sobre a Fidel idade do No vo Tes-tamento), publ icado em 1915, Ramsay concluiu: "Você pode espremer aspalavras d e Lucas a um grau acima de qualq uer outro historiador, e elas resistemao exam e mais severo e ao tratamento mais rígido." Ele adm ite que essa precisãodemon strável influencia nossa at i tude em relação a toda a obra de Lucas : "H áum a certa pressuposição de que um escri tor que prova ser exato e correto numassunto mostra as mesmas qual idades em outros . Nen hum escri tor é correto pormero acaso, ou preciso esporadicamente. Ele é exato em vir tude de um certo

hábi to da mente."Lucas claramente possuía este tipo de mente. Muitos outros estudiosos atuaisestão aptos a aceitar este julgamento.

4. Lucas foi um viajante.A palavra que ele usa para definir sua " inves t igação" em Lucas 1.3 presumeque ele viajou para poder executá-la . Os chamad os " textos nós" (we-sect ions)em Atos indicam que ele viajou com o apóstolo Paulo em pelo menos t rêsocas iões . (Os " textos nós" são t rechos da his tória em que o pronome "eles" ésubst i tuído por "nós" , indican do a presença de Lucas . Veja o quadro co m es tetítulo.)

A experiência de Lucas como viajante é seguramente confirmada por seunotável cuidado ao usar os termos técnicos da navegação em seu dramático

relato do naufrágio em Atos 27. Sua precisão a es te respei to foi notada em 1848por James Smith, um escocês Mem bro da Real Sociedade. Em The Voyage andShipwreck ofSt Paul (A Viagem e o Naufrág io de São Paulo) , Smith, escrevendocomo velejador e his toriador, confirmou as referências detalhadas de Lucasquanto aos ventos , geog rafia e construção naval .

Este interesse por viagens reflete-se na própria história. Tanto o Evangelhocomo Atos baseiam-se em viagens: primeiro a de Jesus a Jerusalém, co mo vimosacima; em seguida a de Paulo (ou mais precisamente do Evangelho) até Roma .E m a m b a s o r e l a t o e s t e n d e - s e p o r v á r i o s c a p í t u l o s e e n v o l v e m u i t a scircunstâncias, incluindo mudanç as de rumo. Mas, em am bos os casos, o objetivoé alcançado, porque é do plano d e Deus que o seja .

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L U C A S E S U A M E Í N SA G E M 4 9

ü s "textos nós" em Atos

Í . A t o s 1 6 . 1 0 - 1 8L u c a s r e v e l a q u e e s t a v a c o m P a u l o e m s u af a m o s a v i a g e m à E u r o p a , v i a j a n d o c o m e l e d eT r ô a d e a F i li p o s , o n d e t e s t e m u n h o u o s e v e n t o sd a p r i s ã o e d r a m á t i c a l i b e r t a ç ã o d e P a u l o . N oe n t a n t o , p a r e c e q u e e l e f i c o u p a r a t r á s e mF i l i p o s , q u a n d o P a u l o f o i e m b o r a .

2 . A t o s 2 0 . 5 - 2 1 . 1 8E s t a p a r t e c o m e ç a o n d e t e r m i n o u a ú l t i m a , e mF i l i p o s , p o d e n d o - s e d e d u z i r q u e L u c a sa c o m p a n h o u P a u l o n o ú l t i m o t r a j e t o d e s u at e r c e i r a v i a g e m m i s s i o n á r i a , e n c e r r a n d o c o m ad e t e n ç ã o e p r i s ã o e m J e r u s a l é m .

3 . A t o s 2 7 . 1 - 2 8 . 1 6A pós do i s anos de p r i s ão em Ces aré ia , Pau lo f ezu m a l o n g a e a c i d e n t a d a v i a g e m a R o m a ,a c o m p a n h a d o d e L u c a s , e n t r e o u t r o s .

E m R o m a L u c a s p e r m a n e c e u a o l a d o d e P a u l o ,c o m o e s t e t e s t i f i c a e m 2 T i m ó t e o 4 . 1 : " S o m e n t eL u c a s e s t á c o m i g o . " I s t o s u g e r e q u e L u c a s p o d et a m b é m t e r e s t a d o c o m P a u l o d u r a n t e s u a p r i s ã o e mCes aré ia , , e i s to , por s ua vez , induz à es pecu laçã o deq u e d u r a n t e e s s e p e r í o d o L u c a s e m p r e e n d e u a" i n v e s t i g a ç ã o " q u e l h e p r o p i c i o u o m a t e r i a l p a r a os eu Evangelho e os p r imei ros cap í tu los de A tos .

Tal é o hom em que o Espír i to Santo es tava preparando p ara contr ibuir commais da quarta parte de todo o Novo Testamento. Ele era um hom em do m undo —do extenso mundo greco-romano de sua época. Sua formação gent í l ica , suaexperiência profissional, seus dotes literários e historiográficos, suas viagens esua l igação com Paulo, tudo cooperou para fazer dele o homem para a tarefa .Seu amor natural pelos af l i tos levou-o a dedicar-se à medicina. Sua vas taexperiên cia capacitou -o a ver o evangelho em seu am biente secular. A influên ciade Paulo deve ter ocupado sua mente com a mensag em da gratuidade da salvaçãooferecida a todos , sem res tr ição de raça ou privi légio. Lucas foi o homemescolhido e preparado pelo Espír i to Santo para sal ientar a universal idade do

evangelho.

Vamos agora examinar a lguns dos temas e interesses de Lucas , antes detratarmos especif icamente de seus dois volumes.

Os temas especiais de LucasAo inspecionar esses temas , notamos como o tema da relevância universal doevangelho permeia todos eles .

1. O Espírito SantoEm anos recentes os es tudiosos têm subl inhado a importância des te tema paraLucas . Os outros Evang elhos não deixam de t ra tá-lo, mas desde o início Lucas

assinala seu interesse especial em dar ênfase à ação do Espírito no evento daconcepção de Jesus (1.35), e sua inspiração a Isabel (1.41), Zacarias (1.67), eSimeão (2.25-27) para proferi rem palavras profét icas sobre o nascimento deJesus. Todos os Evangelhos relatam a descida do Espírito sobre Jesus no seubat ismo, ma s Lucas acrescenta duas referências pos teriores ao Espír i to dan dopoder a Jesus no início de seu ministério (4.1,14), coroando a seguir estes fatosao registrar a dramática alegação de Jesus de que Isaías 61.1 estava sendocumprido nele: "O Espír i to do Senhor es tá sobre mim, pelo que me ungiu. . ."(Lucas 4.18).

Um de seus destaques distintivos ao retratar nosso Senhor é, pois, que seu

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5 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

minis tério é real izado sob o poder do Espír i to Santo. E es ta é também a

mensagem de Lucas sobre a igreja . Ass im como seu Evangelho inicia com adescida do Espír i to sobre Jesus em seu bat ismo, também Atos inicia com umderramamento paralelo do Espír i to sobre a igreja , no Pentecoste . Lucas contaentão a his tória da difusão do evangelho c om repet idas referências ao Espír i toSanto (cinqüenta e nove ao todo), que inspira a pregação (Atos 4.8) , infundeousadia (4.31), di r ige a iniciat iva miss ionária (13.2-4) , concede discernimentosobrenatural (13.9-11), orienta decisões (15.28; 16.6,7; 20.22), desvenda o fu-turo (20.23; 21.11), e dá ânimo (9.31) e alegria (13.52) àigrej a. Vários estudiosostêm comentado que o l ivro Atos dos Apóstolos pode ser melhor denominadoAtos do Espírito Santo.

Contudo, is to não seria es t r i tamente exato. De modo digno de nota , Lucasconsidera o Espír i to como o dom, não de Deus , m as de Cris to: em seu sermãodo Pentecoste Pedro diz a respeito de Jesus: "Exaltado, pois, à destra de Deus,

tendo recebido do Pai a promessa do Espír i to Santo, derram ou is to que vedes eouvis" (2.33). Is to conforma-se ao relato de Lucas a Teófi lo no começo deAtos: "Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesuscomeçou a faze r e a ens ina r , a t é ao d ia em que , depoi s de haver dadomandamentos por intermédio do Espír i to Santo aos apóstolos que escolhera,foi elevado às alturas" (Atos 1.1). Isto implica que Atos continua a narrativados feitos e ensinos de Jesus. Portanto, quando Lucas fala do Espír i to Santoor ien tando e concedendo poder à ig re ja , equivocamo-nos , a menos queassociemos a atividade do Espírito à do Cristo ascenso ao céu. Ele é "o Espíritode Jesus" (Atos 16.7) , a tuando em fa vor do Senhor da igreja .

O Espír i to Santo é concedido indiscriminadamente a todos os que crêem. Aprofecia cumprida no Pentecoste—"derramarei o meu Espír i to sobre toda a

carne " (Joel 2.28)— tinha sido renovada e repetida quando se iniciou o ministériode Jesus: "E toda a carne verá a salvação de Deu s" (Lucas 3.6). Estas referênc iasà inclusão de " toda a carne" [ toda a humanidade] no oferecim ento da salvaçãoencontra-se com o s inaleiros no início de cada um dos volumes de Lucas .

A crença do judeu con temporân eo era que o dom do Espír i to Santo era raro eespecíf ico. Ass im, tanto para os judeu s com o para os gent ios , o derramam entouniversal do Espír i to foi uma not ícia dramática e maravi lhosa—, com efei to,uma reviravol ta na his tória , a lgo nunca vis to desde o início do mundo. Lucastrata des te ponto intel igentemente pela longa genealogia no início de seuEvangelho (3.23-38): a ances tral idade de Jesus é t raçada não apenas desdeAbraão, o pai da famíl ia judaica (como no Ev angelho de Mateus) , mas d esdeAdão, o fundador da raça humana.

2. Preocupação com as pessoas marginal izadasLucas gosta de mostrar o cuidado de Jesus para com vários grupos e t ipos depes soas que v iv iam à margem da soc iedade , ou e ram olhadas como semimportância ou mesmo impuras . O amor de Deus abrange ta is pessoas at ravésdo evangelho. Podemos des tacar quatro desses grupos:

a. Mulheres. As mulheres t inham u m baixo s tatus social no Império Roman o, eno pensamento judaico daqueles tempos elas eram igualmente des t i tuídas dedignidade. Uma das ações de graças rabínicas de cada dia era: "Bendito sejas, óSenhor Deus , que não me f izes te um escravo, um gent io ou uma mulher." Osescribas e far iseus evi tavam falar com uma m ulher em pú bl ico, e muitos deles

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L U C A S E S U A M E Í N S A G EM 5 1

O Espírito Santo em Atos 19.21

" D e p o i s d e s s a s c o i sa s , P a u l o r e s o l v e u p a s s a rp e l a s r e g i õ e s d a M a c e d ó n i a e A c a i a e i r a t éJ erus a lém. E le d iz ia : 'D epoi s de v i s i t a rJ e r u s a l é m , e u p r e c i s o i r a R o m a . ' " ( B L H )E s t e v e r s í c u l o a p a r e n t e m e n t e i n ó c u o éi m p o r t a n t e p a r a L u c a s . D o m e s m o m o d o q u eLucas 9 . 51 marca o ponto em que s e in ic ia al o n g a v i a g e m d e J e s u s a J e r u s a l é m , a s s i m e s t ev e r s í c u l o m a r c a o i n í c i o d a l o n g a j o r n a d a d ePaulo , p r imei ro , como s eu Senhor , aJ e r u s a l é m , e d e p o i s a R o m a . " R e s o l v e u " s e r i am a i s l i t e r a l m e n t e t r a d u z i d o " d e t e r m i n a d o n o

e s p í r i to " , o u " d e t e r m i n a d o n o E s p í r i t o " , s e n d o e s t aú l t i m a p r o v a v e l m e n t e a c o r r e t a .

N u m p o n t o d e c i s i v o c r u c i a l d e s e u m i n i s t é r i o ,q u a n d o P a u l o r e a l i z a e m E f e s o u m t r a b a l h o t ã ob e m - s u c e d i d o , o E s p í r it o o i m p e l e a f i x a r s u a sv i s t a s n u m a l v o a i n d a m a i o r . M a s s u r g e e m s e g u i d au m a c o n t r a r i e d a d e , q u a n d o i r r o m p e u m a v i o l e n t ao p o s i ç ã o : p a r t e d a m e n s a g e m d e L u c a s m o s t r a q u e ,m e s m o q u a n d o g u i a d a p e l o E s p í r i t o , a v i d a d ai g r e j a p a r e c e c a ó t i c a , e s u r g e m c o n t r a t e m p o s ,p o r q u e " a t r a v é s d e m u i t a s t r ib u l a ç õ e s , n o s i m p o r t ae n t r a r n o r e in o d e D e u s " ( 1 4 . 2 2 ) .

s u s t e n t a v a m q u e a s m u l h e r e s e r a m i n c a p a z e s d e e s t u d a r a s E s c r i t u r a sco r r e tamen te .

A ati tude cr is tã era mui to d iferente. Em sua car ta aos gálatas , Paulo já haviafei to a notável af irmação: "Não pode haver . . . nem homem nem mulher , porqueto d o s v ó s so is u m em Cr is to Jesu s" (Gála tas 3 .2 8 ) . Lu cas p o d e te r s id oinf luenciado por Paulo , mas suas opin iões eram indubitavelmente formadaspor seu conhecimento da at i tude de Jesus . Lucas é o Evangelho das mulheres ,e mais claramente do que os outros Evangelhos ele mostra a at i tude aber ta ecord ial de Jesus para com as mulheres , e o lugar que Ele permitiu que elaso cu p assem em seu min is té r io.

Luca s tem sua própr ia posição pelo destaque que dá às mulh eres nas h is tór iasdo nascimento de Jesus . E ele que conta, com tão delicada reserva, a h is tór iamiraculosa da concepção e nascimento de Jesus . Mar ia, mãe de Jesus , e I sabel ,

mãe de João Batis ta , eram parentas , e a h is tória deve ter t ido or igem diretamente,ou indiretamente, da própr ia Mar ia. In tencionalmente, o Espír i to Santo faz suareapar ição na cena humana insp irando uma mulher a profetizar (1 .41 ,42) .

b. Os doentes. A obra de cura de Jesus era uma caracter ís t ica de tal modopredomina nte em seu minis tério que todos os evangelis tas dão- lhe grande realce,porém L ucas mais do que os outros . Seus in teresses prof iss ionais com o m édicopodem ref let ir-se aqui. E ev idente que es te homem benévolo sentiu a compaix ãode Jesus para com a human idade sofredora . Os milagres de cura reg is trados porLu cas in c lu em:

• o f i lho da v iúva de Naim (7 .11-17)• A mulher encurvada curada na s inagoga no sábado (13 .10-17)

• o homem hidrópico (14 .1-4)• os dez leprosos (17.11-19)• a res tauração da orelha de Malco , cor tada pela espada de Pedro (22 .50 ,51) .Em Atos o minis tér io de cura de Jesus continua, conduzido agora pelas mãosdos apósto los:• Pedro e João curam o alei jado na por ta Formosa do templo , "em nome deJesus Cr is to , o Nazareno" (3 .1-4 .22) .• Fil ipe cura muitos sof redores em Samar ia, levando grande alegr ia à cidade(8.4-8).• Pedro cura Enéias em Lida com as palavras de conf iança: "Enéias , JesusCristo te cura! Levanta-te, e arruma o teu leito (9.32-35), e em seguida ressuscita

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5 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

As Mulheres em Lucas e AtosA s m u l h e r e s d e s e m p e n h a m u m p a p e l r e l e v a n t e n ah i s t ó r ia , c o m o i n d i c a m a s r e f e r ê n c i a s a b a i x o . O sd e m a i s e v a n g e l i s t a s c o n t a m a s h i s tó r i a s d a m u l h e rcom o f luxo de s angue , da f i lha de J a i ro , da s ograd o e n t e d e P e d r o e d a m u l h e r d e B e t â n i a , q u e u n g eJ es us , mas s omente Lucas f a l a das s egu in tes :

• p r o f e t is a A n a ( 2 . 3 6 - 3 8 )• v i ú v a d e N a i m ( 7 . 1 1 - 1 7 )• m u l h e r p e c a d o r a ( 7 . 3 6 - 5 0 )• m u l h e r e s q u e m i n i s t r a m ( 8 . 2 , 3 ) — u me x t r a o r d i n á r i o t e s t e m u n h o d e v i o l a ç ã o p o r J e s u sd a s n o r m a s e n t ã o v i g e n t e s• M a r t a e M a r i a ( 1 0 . 3 8 - 4 2 )• mulher p r i s ione i r a de Sa tanás por dezo i to anos

( 1 3 . 1 0 - 1 7 )• f il h a s d e J e r u s a l é m q u e c h o r a r a m ( 2 3 . 2 7 - 3 1 ) .Encontramos em Atos um a ênfase semelhante:• V á r i a s v e z e s L u c a s s u b l i n h a a p r e s e n ç a d e

mulheres en t r e os novos c r en tes (1 . 14 ; 5 . 14 ;

8 . 3 ; 17 . 4 , 12 , 34) .• E l e p i n t a u m q u a d r o a f e t u o s o d e D o r c a s(Tabi t a ) , que Pedro devolveu à v ida em J ope( 9 . 3 6 - 4 3 ) .• E le inc lu i a t e rna r e f er ênc ia a Rode , a c r i ada ,e s u a g r a n d e e x c i t a ç ã o ( 1 2 . 1 3 , 1 4 ) .• A pr imei r a conver s ão em F i l ipos fo i de L íd ia ,u m a m u l h e r d o c o m é r c i o : L u c a s i n f o r m a q u eP a u l o e s e u s a c o m p a n h a n t e s ( t o d o s j u d e u s )r e a l m e n t e s e h o s p e d a r a m e m s u a c a s a ( 1 6 . 1 3 -15).

• P r i s c i l a é g e r a l m e n t e m e n c i o n a d a a n t e s d es e u m a r i d o , Á q u i l a , e a p a r e n t e m e n t e e x e r c e uu m p a p e l p r e p o n d e r a n t e n a e x p a n s ã o d oc o n h e c i m e n t o d e A p o l o d o " c a m i n h o d e D e u s "

( 1 8 . 1 8 , 1 9 , 2 6 ) .• L u c a s m e n c i o n a o d e t a l h e c a s u a l d e q u eF i l i p e t i n h a q u a t r o f d h a s q u e p r o f e t i z a v a m(21 . 9) .

Dorcas (Tabita) em Jope (9.36-42).Tão ativa era a cura pela graça do Senhor que se registrou que ela operava

através da sombra de Pedro em Jerusalém (5.15,16), e pela apresentação delenços e aventais a Paulo em Efeso (19.11,12). Além disso, uma série de curasindividuais são atribuídas a Paulo:• Em L is tra ele cura um pobre a lei jado de nascença (14.8-10).• Em Fi l ipos ele liberta uma m enina escrava da possessão do demô nio (16.16-18).• Em Trôade ele res taura à vida Eut ico, ví t ima de uma queda durante um dossermões do próprio Paulo (20.7-12)!• Em Malta ele restaura a saúde do pai de Públio, e em seguida também deoutras pessoas doentes .

Para Lucas ta is curas são claramente parte da proclamação do evangelho.Mas é interessante notar o papel que elas desempenham na história . Elas muitasvezes servem s implesmente para reunir uma mult idão, a qual em seguida ouvea pregação do evangelho. Is to ref le te a c i tação-"manifes to" de Isaías 61.1,2,com a qual o ministério de Jesus inicia em Lucas, onde "evangelizar aos pobres"coloca-se ao lado de "proclamar. . . res tauração da vis ta aos cegos" (Lucas 4.18).Os milagres de cura não são um fim em s i mesmos, mas servem ao grande

propósi to de poss ibi l i tar que o evangelho seja ouvido e cr ido.

c. Os impuros. Lucas vê com grande prazer o minis tér io de Jesus ao romper abarreira que havia em relação àqueles considerados "peca dores" ou " impu ros" .De m odo geral , os judeu s man t inham essas pessoas a certa dis tância com receiode contrair sua " impure za" r i tual . Ma s Jesus aproximou-se deles com p erdão eacei tação.

Os que sofr iam de lepra eram um caso relevante . Lucas demonstra umasimpat ia pecul iar por e les . Até os rabinos cos tum avam afas tá-los at i rando-lhespedras , mas Jesus es tendeu sua mão tocou o leproso que veio a Ele (Lucas5.13). Em vez de contrair dele a impureza, Jesus foi capaz de dizer- lhe comautoridade: "Fica l impo!"

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L U C A S E S U A M E Í N SA G E M 5 3

So men te Lu cas me n c io n a q u e es se h o mem es tav a "c o b e r t o de lepra" (5 .12) .Além disso , somente ele reg is tra a cura dos dez hom ens com lepra (17 .11-19) ,

um dos quais é um samar itano e, por tan to , duplamente impuro .Na realidade, os samar itanos consti tuem outro caso de preocupação de Lucas

nesta categor ia . Ele reg is tra com exclusiv idade a parábola do Bom Samar itano(10 .25-37) . O ponto central desta parábola não é tão-somente a l ição funda-mental de que devem os socorrer os necessi tados: muito mais que is to , e la ensinauma dramática l ição sobre a pureza e a impureza. O sacerdote e o lev ita nãotocam a v ít ima do assalto , por receio de contaminar-se com a impureza de umcadáver. Porque não se preocupa com tais questões rituais, somente o samaritanoé capaz de cumprir a lei do amor que promete v ida eterna.

Somente Lucas reg is tra a reação benevolente do perdão de Jesus an te a ha-b itual hosti l idade dos samar itanos (Lucas 9 .52-56) , e em Atos Lucas ressalta oavanço do evangelho em Samar ia, onde os apósto los impõem as mãos sobre os"impuros" porém crentes samar itanos, e o Espír i to Santo é der ramado sobreeles (Atos 8.14-17).

"Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir . Emurmuravam os far iseus e os escr ibas , d izendo: 'Este recebe pecadores e comecom eles ' " (Lucas 15 .1 ,2) . Assim começa o famoso capítu lo que inclu i as trêsparábolas dos "perd idos", do is dos quais (a dracma [moeda] e o f i lho) sãorelatados unicamente por Lucas . Por meio destas três h is tór ias Jesus declaraque o própr io Deus busca o perd ido , representado pela mult idão de desti tu ídosque o cercam.

A comparação que Lucas faz en tre Deus e um pastor , na parábola da ovelhaperd ida, é sem dúvida dramática, po is os pastores eram vis tos com muitadesconf iança pelos severos far iseus e professores da lei , que murmuravam arespeito da at i tude de Jesus aqui. Em razão de seu mod o de v ida nômad e e pela

inevitab il idade de trabalhar aos sábados para cu idar dos rebanhos, os pastoreseram class if icados como "pecadores" sem esperança. Lucas , porém, já f izera ocoro celes t ial cantar a pr imeira notícia do nascimento do Salvador a um grupode pastores rejei tados (Lucas 2 .10-14) : "Hoje vo s nasceu na cidade de Davi oSalvador , que é Cr is to , o Senhor . . . " Assim, Jesus agora revela que o ponto cen-tral de seu minis tér io é atrair ta is pessoas de volta a Deus com arrepend ime ntoe fé .

Emb o ra mu i to s d e ta i s "p ecad o res" se jam p o b res , e s tão o mb ro a o mb ranaquela mult idão com os abastados "cobradores de impostos" . Apesar de todasua r iqueza, ta is pessoas são tam bém rejei ta das . São funci onár io s da alfânde ga,d ireta ou indiretamente empregados pelos odiados romanos, v is tos tambémpor muitos com o "imp uros", por causa de seu contato com os gentios , e temidos

por todos porque t iram proveito de qualquer d inheiro ex tra que possam extorquirde suas infel izes v ít imas.

Po rém D eu s o s ama— es ta é a men sa g em d e Lu cas . Jo ão Ba t i s ta p r eg a a e les(3 .12 ,13) . Jesus chama um deles para juntar -se a seus d iscípulos (5 .27 ,28) . Equando cr i t icado por comer com esses novos d iscípulos , Levi e uma multidãode seus companheiros de prof issão , Jesus responde com sua famosa sentença:"Os sãos não precisam de médico , e s im os doentes . Não v im chamar jus tos , es im pecadores ao ar rependimento" (5 .31 ,32) .

E Lucas escrev e com exclusiv id ade a h is tória de outro cobrador de imp ostos ,o pequen o Zaque u, que recebe Jesus em seu lar e em seu coraçã o , e dá ensejo àaf irmação de Jesus: "Hoje houve salvação nesta casa, po is que também este é

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5 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

f i lho de Abraão. Porque o Fi lho do homem veio buscar e salvar o perdido"

(19.9,10).De igual mo do L ucas é o único a regis trar a parábola do fariseu e o cobrador

de impostos que vão ao tem plo orar (18.9-14). A conclusão de que o co bradorde impostos e não o fariseu "desceu jus t i f icado para sua casa" deve ter ch ocadoos ouvintes de Jesus no seu ínt imo. São es tes pecadores indesejáveis osconvidados ao Re ino , exa tamente como o homem que ofe rece um grandebanquete manda que seu servo t raga "os pobres , os a lei jados , os cegos e oscoxo s" para a fes ta da qual os convidados ingratos es tão excluídos (14.15-24).

Duas outras his tórias , ambas encontradas somente em Lucas , i lus t ram suaconstante preocu pação com a graça de Deus aos pecadores. A primeira é a históriada pros t i tuta que vem s i lenciosamente por t rás de Jesus quando Ele se recl inasobre a mesa na casa de Simão, o far iseu. A lavagem dos pés que seu hóspede

não lhe havia provido, e la lhe propicia—com suas lágrimas . Ela também ungeos pés de Jesus com ungüento e os cobre com seus bei jos . Ele não afas ta seuspés. Ela foi perdoada. Por isso, em retribuição, ela o ama muito, ao contrário deSimão (7.36-50).

O outro incidente ocorre bem no f im. Mateus e Marcos dão-nos apenas ainformação de que dois cr iminosos são crucif icados com Jesus , um em cadalado de Jesus , e que amb os se juntam ao coro dos impropérios que o s escribas eanciãos vociferam contra Ele . Mas Lucas acrescenta a conversação que entãose estabelece entre um deles e o Salvador. Em meio aos insultos, o criminosotem um vis lumbre de fé no reinado de Jesus , e então recebe a promessa: "H ojees tarás comigo no paraíso" (23.39-43).

d. Os ricos e os pobres. Lucas mostra uma preocupação imparcial para com

as pessoas em amb os os poios da escala econômica. D e fato, a questão do dinheiroe os problemas que ele causa para o discipulado representam um interesserelevante em ambos os seus volumes.

Alguns dos discípulos de Jesus eram ricos (por exemplo, Zaqueu e José deArimatéia) , como foram alguns dos que corresponderam ao apelo miss ionáriode Paulo (por exemplo, Lídia) , mas eram em sua m aioria pobres . Jesus cu mprea profecia que lê na s inagoga de Nazaré: Ele prega a boa nova aos pobres (Lucas4.18; 7.22), e promete-lhes o Reino de Deus (6.20). Ele diz a seus discípulosque é preciso renunciar a tudo para ser seu discípulo (14.33). E em Atos vem osis to posto em prát ica , quando muitos dos primeiros crentes entregam seusrecursos para a formação de um fundo que atenda às necess idades dos pobresentre eles (Atos 2.44,45; 4.34,35).

Do m esmo m odo que M ateus e Marcos , Lucas acredi tou que era muito dif íc i l,se não imposs ível , que uma pessoa r ica entrasse no Reino de Deus (Mateus19.24; Marcos 10.25; Lucas 18.25). Mas ele desenvolve es te tema do perigodas riquezas mais do que os outros evangelistas—veja os detalhes no quadro aseguir.

3. OraçãoO interesse incomum de Lucas pela oração é uma característ ica fascinante de

ambos os seus volumes. Indubi tavelmente ele mesmo era um homem de pro-fund a oração, e is to é ref le t ido em suas repet idas referências a e la— ora com ouma característica da vida de Jesus, ora como um fator vital para a missão e ocrescimento da igreja nascente .

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L U C A S E S U A M E Í N S A G EM 5 5

Lucas—as riquezas e a pobreza

O in ter es s e de Lucas ev idencia- s e no in íc io pe lasp a l a v r a s d e M a r i a n o c â n t i c o q u e s o m e n t e e l er e g i s t r a : " [ E l e ] c o n t e m p l o u a h u m i l d a d e d a s u as erva . . . Encheu de bens os f amin tos e des ped iuv a z i o s o s r i c o s " ( 1 . 4 8 , 5 3 ) . M a r i a é u m a p e s s o ap o b r e : e l a p o d e t r a z e r s o m e n t e " u m p a r d e r o l a so u d o i s p o m b i n h o s " p a r a s u a p u r i f i c a ç ã o , p o r q u es u a s p o s s e s n ã o l h e p e r m i t e m o f e r e c e r u mcordei ro (2 . 22-24 ; Lev í t i co 12 . 6-8) . Em razão des u a p o b r e z a , o p r ó p r i o S a l v a d o r é e n t ã o d e i t a d on u m a m a n j e d o u r a e v i s i t a d o p o r p a s t o r e s .

A m e d i d a q u e o e v a n g e l h o c o n t i n u a , L u c a s t e mm a t e r i a l e m c o m u m c o m o s o u t r o s e v a n g e l i s t a ss o b r e e s t e a s s u n t o — p o r e x e m p l o , o e n s i n o d eJ e s u s s o b r e a p r o v i s ã o p a t e r n a d e n o s s a s

n e c e s s i d a d e s d i á r i a s ( M a t e u s 6 . 2 5 - 3 3 ; L u c a s1 2 . 2 2 - 3 4 ) , e a a d v e r t ê n c i a d e J e s u s s o b r e af a t u i d a d e d a s r i q u e z a s n a p a r á b o l a d o s e m e a d o r( M a t e u s 1 3 . 2 2 ; M a r c o s 4 . 1 9 ; L u c a s 8 . 1 4 ) .C o n t u d o , L u c a s t a m b é m i n c l u i m u i t o m a t e r ia l q u es e e n c o n t r a e x c l u s i v a m e n t e e m s e u E v a n g e l h o :

• E le inc lu i as ins t ruções p rá t i cas de J oão Bat i s t aa o s c o b r a d o r e s d e i m p o s t o s e s o l d a d o sa r r e p e n d i d o s : " N ã o c o b r e i s m a i s d o q u e oes t ipu la do . . . . não de i s denúncia f a l s a , e con ten ta i -v o s c o m o v o s s o s o l d o " ( 3 . 1 3 , 1 4 ) .• E n q u a n t o e m M a t e u s J e s u s e x c l a m a : " B e m -a v e n t u r a d o s o s h u m i l d e s d e e s p í r i t o " ( M a t e u s5 . 3 ) , L u c a s a p r e s e n t a u m a d i m e n s ã o t e r r e n a d e s t ad e c l a r a ç ã o : " B e m - a v e n t u r a d o s v ó s , o s p o b r e s ,p o r q u e v o s s o é o r e i n o d e D e u s " ( 6 . 2 0 ) . E ms e g u i d a e l e c o n t r a b a l a n ç a e s t a p r o m e s s a d e b e m -aventurança aos pobres com uma s ér i e de a i s con-tra os r icos (6.24-26) .

• E le reg i s t r a a depe ndên cia de J es us da as s i s t ênc iaque r ecebe de cer t as mulheres r i cas (8 . 2 , 3 ) .• Lucas inc lu i as pa lavras de J es us : " V endei osv o s s o s b e n s e d a i e s m o l a " ( 1 2 . 3 3 ) — u m ae x o r t a ç ã o c e n t r a l a o s d i s c í p u l o s e m L u c a s ( c o m -pare com 11 . 41 ; 19 . 8) .• O h o m e m r i c o q u e o f e r e c e u m b a n q u e t e d e v ec o n v i d a r n ã o s e u s a m i g o s r i c o s , v i z i n h o s eparen tes , mas " os pobres , os a l e i j ados , os coxos eo s c e g o s " — n a r e a l i d a d e , t o d o s a q u e l e s q u e n ã o

t ê m c o n d i ç õ e s d e r e t r ib u i r - l h e ( 1 4 . 1 2 - 1 4 ) .• Somente Lucas inc lu i t r ês parábolas ded icadas aes te tema: O r ico tolo (12.13-21) , o adminis tradorinf iel (16.1-13) , e o r ico e Lázaro (16.19-31) .• A p e n a s L u c a s r e g i s t r a e s ta i n f l e x í v e l a f i r m a ç ã od e J e s u s : " T o d o a q u e l e q u e d e n t r e v ó s n ã or e n u n c i a a t u d o q u a n t o t e m n ã o p o d e s e r m e ud i s c í p u l o " ( 1 4 . 3 3 ) .P a s s a n d o p a r a A t o s , o b s e r v a m o s c o m o o i n t e -r e s s e d e L u c a s p o r e s t e a s s u n t o c o n t í n u a :

• O s pr imei ros c r en tes es t ão d i s pos tos a abr i r mão des eu d i r e i to a s uas p ropr iedade s par t i cu lar es , e en t r egá-

l a s p a r a o b e m c o m u m .• Luc as r ea lça d ram at ica me nte a c i l ada da r iquezaquando r e la ta a t r i s t e h i s tó r i a de A nanias e Saf i r a( A t o s 5.1 -11): e les f a lharam em não a tender à aus te r aadver tênc ia de J es us : " N ão podei s s erv i r a D eus e àsr iquezas" (Lu cas 16.13 ) .

• Lucas acen tua o cu idado que a ig r e ja nas cen te t ema o a s s e g u r a r q u e a d i s t r i b u i ç ã o d e a l i m e n t o s a o sp o b r e s s e j a c o n d u z i d a a d e q u a d a m e n t e ( A t o s 6 . 1 - 7 ) .• S ã o " a s o r a ç õ e s e e s m o l a s " d e C o r n é l i o q u e f a z e mD e u s " l e m b r a r - s e " d e l e e e n v i a r P e d r o p a r a a n u n c i a r -lhe o evangelho (A tos 10 . 4) .• L u c a s e v i d e n c i a a s a ú d e e s p i r i t u a l d a i g r e j a e mA n t i o q u i a e m s u a i n i c i a t i v a d e e n v i a r s o c o r r o p a r aa l iv ia r a fome na J udéia (A tos 11 . 28-30) .

• E l e a s s i n a l a a a f i r m a ç ã o d e J e s u s : " M a i s b e m -a v e n t u r a d o é d a r q u e re c e b e r " ( A t o s 2 0 . 3 5 ) .P o r t a n t o , n o s e u c o n j u n t o i s t o t u d o c o n s t i t u i u ms u b s t a n c i a l i n t e r e ss e n a o b r a d e L u c a s , à m e d i d a q u ee le nos adver te do poder do d inhei ro para lud ibr i a r , en o s i n c i t a a u s a r o q u e c o n s e g u i m o s c o m s a c r i f í c i op a r a " g a n h a r a m i g o s " p a r a o R e i n o d e D e u s ( L u c a s16 . 9) .

L u ca s a d ve r t e d a s c i l a d a s d a s r i q u e za s . Es t ec o n j u n t o d e s i c l o s d e p r at a f o i e n c o n t r a d od e n t r o d o l a m p i ã o d e b a r r o a c i m a d e l e s . D a t a mde 66-70 d .C .

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5 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

0 m o n t e H e r m o m ,n o e x t r e m o n o r t ede I s rae l , é um dosl u g a r e s s u g e r i d o se m q u e se d e u aT r a n s f i g u r a ç ã o d eJ e s u s .

No Evang elho há nada menos do que onze pontos aos quais Lucas a crescenta

uma referênc ia à oração nas h is tór ias que ele apresenta em paralelo com Mate use M arco s :• 3.21: Jesus es tá orando quando o Espír i to desce sobre Ele em seu batismo.•5 .16: Jesus ret ira-se ao deser to para orar .• 6.12: Jesus ora durante toda a noite an tes de escolher os doze apósto los .• 9.18: Jesus ora a sós an tes de fazer a pr imeira predição de sua mor te eressurreição próximas.• 9.28,29: Jesus sobe ao monte da Transf igura ção a f im de orar , e es tá realm enteorando quando se transf igura.• 11.1: é a v isão de Jesus orando que leva os d iscípulos a pedir - lhe: "Senhor ,ensina-nos a orar" , o que deu como resu ltado a Oração do Senhor .• 22.32: ao predizer que Pedro o trair ia , Jesus , apesar d isso , assegura a Pedro:

"Eu, porém, roguei por t i , para que a tua fé não desfaleça."• 22.40: no jard im do Getsêmani Jesus ins ta com seus d iscípulos a orar "paraque não entreis em ten tação".• 22.44,45: Lucas acrescenta o detalhe de que Jesus , "es tando em agonia, o ravamais in tensamente", e em seguida, " levantando-se da oração", fo i ter com seusdiscípulos .• 23.34: Apena s Lucas faz constar a oração de Jesus na cruz: "Pai , perdoa- lhes ,p o rq u e n ão sab em o q u e f azem."• 23.46: "Pai , nas tuas mãos en trego o meu esp ír i to" es tá somente em Lucas .

Som os capazes de perscru tar a mente de Lucas quan do nos detemos a observares ta n o táv e l seq ü ên c ia d e r e f e r ên c ias . E le ap resen ta Jesu s co mo a lg u ém

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L U C A S E S U A M E Í N SA G E M 5 7

sExem plos de "E ne cessário..." em Lucas e Atos

Lucas 4.43: J es us d i s s e : " É neces s ár io que eua n u n c i e o e v a n g e l h o d o r e i n o d e D e u stambém às ou t r as c idades , po i s para i s s o é quef u i e n v i a d o . "Lucas 9.22: J es us d i s s e : " E neces s ár io que oF i l h o d o h o m e m s o f r a m u i t a s c o i sa s , s e j ar e j e i t a d o p e l o s a n c i ã o s , p e l o s p r i n c i p a i ss acerdo tes e pe los es cr ibas ; s e ja mor to e not e r c e i ro d i a r e s s u s c i t e . " C o m p a r e c o m 1 7 . 2 5;24 . 7 ; A tos 17 . 3V

Lucas 13.33: "E n e c e s s á r i o [ a d a p t a d o ] ,c o n t u d o , c a m i n h a r h o j e , a m a n h ã e d e p o i s ,p o r q u e n ã o s e e s p e r a q u e u m p r o f e t a m o r r af o r a d e J e r u s a l é m . "Lucas 22.37: Pois vos d igo que é neces s ár io

[ a d a p t a d o ] q u e s e c u m p r a e m m i m o q u e e s t áe s c r i to : ' E l e f o i c o n t a d o c o m o s m a l f e i t o r e s . 'Porque o que a mim s e r e f er e es t á s endoc u m p r i d o . "

Atos 3.21: " A o qual [ J es us ] é neces s ár io que o céureceba a té aos t empos da r es t auração de todas asco i s as , de que D eus f a lou por boca dos s eus s an tosp r o f e t a s d e s d e a a n t i g u i d a d e . "Atos 9.6,16: " Mas l evan ta- t e , e en t r a na c idade ,onde t e d i r ão o que t e é neces s ár io [ adap tado]f azer . . . . po i s eu lhe mos t r ar e i quan to lhe én e c e s s á r i o [ a d a p t a d o ] s o f r e r p e l o m e u n o m e . "Atos 14.22: " M o s t r a n d o q u e , a t r a v é s d e m u i t a st r ibu lações , nos é neces s ár io [ adap tado] en t r a r nor e i n o d e D e u s . "

Atos 19.21: Paulo dec id iu i r a J erus a lém, pas s andop o r M a c e d ó n i a e A c a i a . " D e p o i s d e h a v e r e s t a d oal i " , d i s s e e l e , " é neces s ár io [ adap tado] vert a m b é m R o m a . "

Nestes exemplos da ver são Almeida (ERA) , a t r adução foil ige i ramente a l te rada para tornar a presença da expressãomais clara, (n. t . )

constanteme nte em oração, e cujo minis tér io foi todo mo ldado e orientado poruma profunda consciência da ínt ima comunhão com Deus , seu Pai .

Esta ênfase cont inua por todo o segundo volume de Lucas . A oração é umdos quatro pilares da vida da igreja (Atos 2.42), a fonte de poder e ousadiaquando em face da oposição (4.23-31). Coisas maravi lhosas acontecem nocontexto da oração (não necessariamente na resposta a ela: 3.1; 10.30; 12.5;16.25). Em vários momentos cruciais uma orientação específ ica é dada por

meio da oração (9.11; 10.9-16; 13.2,3), e a oração marca eventos significativosna vida da igreja (14.23; 21.5) , notadamente curas (9.40; 28.8) . Para Lucas ,um a igreja que não ora não é um a igreja verdadeira .

4. O plano e vontade de DeusOutra caracterís t ica vi ta l da men sagem de Lucas é sua profunda convicção deque a his tória que ele es tá contando não apenas "aconteceu". Ela é realmente ahis tória de como o plano de Deus se desenvolveu na terra . Esse cum primen todo plano de Deus não exclui evidentemente a responsabi l idade do homem. Opróprio Jesus ora: "Não se faça a minha vontade, e sim a tua", e então recebeforça adicional para fazer a vontade de Deus (22.42,43). De mod o semelhante ,Paulo tem de comprometer-se com determinação a fazer a vontade de Deusquando também ele es tá a ponto de morrer em Jerusalém, e outros tentam

persuadi-lo a não ir até lá (Atos 21.12-1 4). O plano de Deus també m é co mba tidopor aqueles que resistem a Ele. Mas, apesar de toda a oposição e através detodas as complexidades da at i tude hum ana, a vontade d e Deus é fei ta .

Este tema em Lucas foi es tudado recentemente por John Squires , em seulivro The Plan ofGod in Luke-Acts (O Plano de Deus em L ucas-Atos) . . Squiresobserva cinco mo dos pelo quais Lucas subl inha es te tema:

a. Deus está no comando da história. Desde a cr iação (Lu cas 3.38) a té ao juízofinal (Atos 17.31), Ele está no comando. Esta constatação é feita sutilmente emLucas 2.1, em que a mente do imperador romano é induzida a promulgar um

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5 8 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

0 E v a n g e l h o d eL u c a s i n i c i a c o mo n a s c i m e n t o e a

p r e p a r a ç ã o ,s i t u a n d o on a s c i m e n t o d eJ e s u s e m B e l é m ,a c i d a d e d e D a v i .N e s t a v i s t at o m a d a d a v e l h ae s t r a d a p a r aB e l é m q u ea t r a v e s s a u mp o m a r d eo l i v e i r a s , p o d e - s ev e r a o f u n d o af o r t a l e za d e

H e r o d e s oG r a n d e , e mH e r ó d i o .

decreto que traz uma jovem camponesa de Nazaré a Belém, de sor te que seubebê, o f i lho de Davi, nasça na cidade de Davi.

b. Deus está no cornando da igreja. Ele d ir ige tan to o Senhor Jesus como aigreja , na d ireção que seu minis tér io de ve tomar . Luca s de modo natural ins inuais to por seu repetido uso de uma pequen a palavra grega f reqüentem ente traduzida"é necessár io . . . " Ele usa es ta expressão em nada menos do que quarenta e duasocasiões em seus dois volumes. Se perguntarmos: "Por que é "necessár io"?, aresposta geralmente é: porque fo i is to que Deus p lanejou .

c. Deus intervém diretamente para dirigir acontecimentos. Is to ocorre em v ár iasocasiões , especialmente em Atos: por exemplo , em três ocasiões um anjo aparecea Paulo , cada vez dando- lhe or ien tação a respeito do próximo estág io de suamissão (Atos 16 .9 ,10; 23 .11; 27 .23 ,24) . As curas são também a d ireta ação deDeus, possib il i tando a d ifusão do evangelho .

d. A Escritura foi cumprida, supremamente em Jesus, mas também na vida daigreja. Lu cas co n s tan tem en te t r az o cu mp r imen to d e p ro fec ias à n o ssa a ten ção ,e is to sal ien ta a realização do p lano de Deu s. Ele faz is to de modo convinc enteno episódio da manifes tação de Jesus no caminho de Emaús (Lucas 24 .13-35) .Um a revelação pessoal de s i mes mo ter ia el iminado a agonia dos dois d iscípulos ,mas Jesus deliberadamente ad ia sua identif icação até que tenha mostrado aambos que tan to a mor te como a ressurreição de Cr is to foram preditas pelaEscr i tura (24 .25-27 ,46 ,47) .

e. Deus predeterminou certos acontecimentos vitais. Estes se realizam, a despeito

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L U C A S E S U A M E ÍN S A GE M 5 9

d a o p o s i ç ã o . P e d r o , e m s e u s e r m ã o d o P e n l e c o s t e , a c u s a s e u s o u v i n t e s d e t e r e m

m a t a d o J e s u s b r u t a l m e n t e , m a s a c r e s c e n t a o c o m e n t á r i o : " . . . s e n d o e s t e [ J e s u s ]

e n t r e g u e p e l o d e t e r m i n a d o d e s í g n i o e p r e s c i ê n c i a d e D e u s " ( A t o s 2 . 2 3 ) .S e m e l h a n t e m e n t e , e m s ua o r a ç ã o q u a n d o e n f r e n t a v a m a p r i m e i r a p e r s e g u i ç ã o ,

o s c r e n t e s d e J e r u s a l é m v ê e m o p l a n o d e D e u s p o r t r á s d a c r u c i f i c a ç ã o : " . . . p a r a

f a z e r e m t u d o o q u e a t u a m ã o e o t e u p r o p ó s i t o p r e d e t e r m i n a r a m " ( A t o s 4 . 2 8 ) .

E d i f í c i l d e f i n i r o r e l a c i o n a m e n t o e n t r e e s t a s o b e r a n i a d e D e u s e a

r e s p o n s a b i l i d a d e d o s a g e n t e s h u m a n o s e n v o l v i d o s — t a n t o o s q u e se o p õ e m a o

p l a n o c o m o o s q u e o b e d e c e m a e l e . T u d o o q u e p o d e m o s d i z e r é q u e L u c a s n ã o

v ê q u a l q u e r c o n f l i t o e n t r e a s d u a s i d é i a s . O r e s u l t a d o é u m a p o d e r o s a c o n f i a n ç a :

s e j a m q u a i s f o r e m o s p r o b l e m a s q u e p o s s a m a t o r m e n t a r a i g r e j a , p o r m a i s

t r a i ç o e i r o s q u e o s a c o n t e c i m e n t o s p o s s a m p a r e c e r , p o r m a i s p o d e r o s o s q u e o s

i n i m i g o s d o e v a n g e l h o p o s s a m s e r. D e u s l e v a r á a d i a n t e o c u m p r i m e n t o d e s e u

p l a n o . A s s i m , a t r a v é s d e m u i t o s p e r c a l ç o s , o e v a n g e l h o a l c a n ç a R o m a . o c e n t r o

d o i m p é r i o , e a h i s t ó r i a t e r m i n a a li c o m u m a p ú b l i c a p r o c l a m a ç ã o ( A t o s

2 8 . 3 0 , 3 1 ) .

O s e s t u d i o s o s f i c a m d e s c o n c e r t a d o s s o b r e o f i n a l d e A t o s . P a r e c e q u e e l e

t e r m i n a a b r u p t a m e n t e , e n u n c a f i c a m o s s a b e n d o o r e s u l t a d o d a a p e l a ç ã o a o

i m p e r a d o r q u e l e v o u P a u l o a R o m a . P o d e s e r q u e o j u l g a m e n t o a i n d a n ã o t i v e s s e

s i d o r e a l i z a d o q u a n d o L u c a s a c a b a r a d e e s c r e v e r . M a s , d e q u a l q u e r m o d o . o

a b r u p t o f in a l d á a i m p r e s s ã o d e u m a h i s t ó r ia a i n d a i n a c a b a d a , o q u e n o s p e r m i t e

l i g a r n o s s a e x p e r i ê n c i a à q u e l a d o s a p ó s t o l o s , e a s s i m t e r a m e s m a c o n f i a n ç a d e

q u e , s e j a m q u a i s f o r e m o s o b s t á c u l o s e c o n t r a r i e d a d e s q u e p o s s a m o s e n f r e n t a r ,

o e v a n g e l h o t r i u n f a r á t a m b é m p a r a n ó s .

Os dois volumes de LucasV a m o s f i n a l m e n t e e x a m i n a r o E v a n g e l h o e A t o s , e e x t r a i r d e l e s o s m e i o s p e l o s

q u a i s L u c a s e s t r u t u r o u a h i s t ó r i a e t r a n s m i t e s u a m e n s a g e m .

O Evangelho1.1-4.13 Nascimento e preparação. A p ó s o p r e f á c i o , o E v a n g e l h o d e L u c a s

c o m e ç a n u m a a t m o s f e r a t o t a l m e n t e j u d a i c a . A c e n a é c o l o c a d a n o t e m p l o e m

J e r u s a l é m , e a p r i m e i r a f i g u r a a q u e m s o m o s a p r e s e n t a d o s é u m s a c e r d o t e c a s a d o

c o m u m a d a s f il h a s d e A r ã o . O f i l h o p r o m e t i d o a e s t e p i e d o s o c a s a l d e v e m a n t e r

o a n t i g o v o t o d e n a z i r e u d e s d e s e u n a s c i m e n t o ( 1 . 1 5 ) . E l e s e r á u m p r o f e t a ,

f a l a n d o " n o e s p í r i t o e p o d e r d e E l i a s " ( 1 . 1 7 ) .

A a t m o s f e r a j u d a i c a e d o V e l h o T e s t a m e n t o c o n t i n u a a t r a v é s d a p r o m e s s a d o

M e s s i a s a M a r i a , a h i s t ó r i a d e s e u n a s c i m e n t o , e o s c â n t i c o s q u e e l a . Z a c a r i a s e

S i m e ã o e n t o a m ( 1 . 4 6 - 5 5 . 6 7 - 7 9 ; 2 . 2 9 - 3 2 ) . E s t a a t m o s f e r a n ã o é a c i d e n t a l .

E m b o r a e s c r e v e n d o a o s l e i t o r e s g e n t i o s , L u c a s n ã o p r e t e n d e s u g e r i r q u e oC r i s t i a n i s m o é u m a r e l i g i ã o n o v a , s e m n e n h u m a r a i z h i s t ó r i c a n o p a s s a d o . O

q u e a c o n t e c e u é u m c u m p r i m e n t o d o a c o r d o d e D e u s c o m A b r a ã o e d e s u a s

p r o m e s s a s p o r m e i o d o s p r o f e t a s ( 1 . 5 4 , 5 5 , 7 0 , 7 2 , 7 3 ) . M a s o c u m p r i m e n t o é

m a i s r i c o d o q u e a e x p e c t a t i v a , e d o t r o n o d e D a v i E l e d e v e r á r e i n a r s o b r e t o d o

o m u n d o , n ã o a p e n a s s o b r e I s r a e l .

E s t a p e r s p e c t i v a m a i s a m p l a s u r g e e m 2 . 1 c o m a r e f e r ê n c i a a o e n t ã o o c u p a n t e

d o t r o n o m u n d i a l . C é s a r A u g u s t o . E l e n ã o t e m n e n h u m a i d é i a d o q u e D e u s e s t á

p l a n e j a n d o e r e a l i z a n d o n u m l o n g í n q u o c a n t o d e s e u i m p é r i o — p o r i n t e r m é d i o

d e u m a f a m í l i a d e c a m p o n e s e s p o b r e s , a p o i a d a p o r u m g r u p o d e p a s t o r e s . E s t e

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6 2 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

contexto ter res tre é um pouco adiante enfatizado pelo cântico dos an jos (2 .14)

e pela forma como Lucas apresenta o minis tér io de João Batis ta (3 .1 ,2) . Estescapítu los se referem aos preparativos para o minis tér io do novo Rei: seu própr iocrescimento (2 .41-52) ; a pregação de João Batis ta (3 .1-22) ; sua genealogiaoculta, que fez dele um marco divisório na história universal (3.23-38); e suavitória sobre o Diabo no poder do Espírito (4.1-13).

4.14-9.50 O Ministério na Galiléia. Esta pr imeira parte impor tan te do E vangelhoinicia com a notável narrativa da visita de Jesus a Nazaré (4.16-30). Mateus eMarcos relatam um incidente s imilar mais ao f inal do minis tér io na Gali léia(Mateus 13 .53-58; Marcos 6 .1-6) , mas não f ica claro se Lucas es tá se refer indoa uma outra v is i ta , ou se ele al terou deliberadamente a seqüência dos eventospara in iciar sua narrat iva do minis tér io de Jesus com esta h is tór ia expressiva.

De qualquer modo, o sentido do incidente é claro para Lucas . Ele apresenta ominis tér io de Jesus em três passos: pr imeiro , a ci tação de Isaías 61 .1 ,2 af irma-se como um moto na fachada da h is tór ia . Vemos Jesus fazendo todas es tascoisas—pregar , curar e até proclamar l iberdade, como no caso de Barrabás(23 .25) , que representa todos os que recebem a l iber tação imerec ida através deJesus .

Segundo, prenuncia a rejeição f inal de Jesus pelo povo judeu . É realmenteuma h is tór ia sombria: ungido pelo Espír i to , Ele é desprezado por seu povo.

E terceiro, destaca a missã o universal que Ele vai lançar. Seus ouvinte s sen tem-se u ltrajados pela referência de Jesus a Naam ã e à v iúva de Sarepta, que foramestrangeiros abençoados por Deus, preferidos em lugar dos israelitas em idênticanecessidade (4 .25-27) . Na outra ponta da h is tór ia , Paulo faz um idêntico desaf ioaos judeus de Roma, que de igual modo rejei tam o evangelho que ele prega:

"Tomai, pois, conhecimento de que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios.E eles a ouvirão" (Atos 28 .28) . Esta missão aos gentios fo i legada desde oin ício por Jesus , muito embora Ele mesmo se d ir ig isse a Israel .

Por tan to , durante o minis tér io na Gali léia Jesus par t icu larmente revela seuamor pelo es trangeiro gentio . O servo do centur ião romano é curado (7 .1-10) .Lucas oferece um a versão desta h is tória mais longa que a de Mateus , reg is trandoa humildade do centur ião ("Eu mesmo não me ju lguei d igno de ir ter contigo"[vers ícu lo 7] ) , e mostrando a preocupação dos anciãos judeus por es te gentio .

9.51-19.40 Jesus viaja a Jerusalém. Muitos es tudiosos vêem 9 .51 como o pontocrítico do Evangelho . Ago ra Jesus deixa a Galiléia e inicia sua jorna da em direçãode Jerusalém. Um escr i tor moderno , David Gooding , considera 1.1 -9 .5 0 co mo

a "Vinda" de Jesus do céu para a ter ra , cu lminando na revelação da g lór ia natransf iguração . A segunda m etade do Evangelho , de 9.51 para frente, é correspon-dentemente a "Ida" de Jesus da ter ra para o céu , cu lminando igualmente emglór ia , a g lór ia da ascensão .

Esta par te longa do Evangelho é composta quase exclusivamente de mater ialnão encontrado em Marcos, muito dele peculiar a Lucas , e tem sido chamadode "Narrat iva de Viagem" de Lucas . Jesus movimenta-se gradativamente emdireção à rejeição f inal em Jerusalém , em direção ao sofr imento que en tendem osé o centro de sua missão , e , de incidente em incidente, descobr im os m ais sobreo que s ignif ica segui- lo . O d iscipulado s ignif ica es tarem movimento , com Ele,deixando para trás a segurança e o lar (9 .57-62) em troca de uma v ida de fé ,

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MATEUS E S U A M E N S A G E M 6 1

o r a ç ã o , o b e d i ê n c i a e s a c r i f í c i o p a r a a l c a n ç a r o s n e c e s s i t a d o s .

19.41-24.53 Jesus em Jerusalém. N o c o m e ç o d e s t a p a r t e f i n a l J e s u s e n t r a e m

J e r u s a l é m c o m g r a n d e t ri s t e z a p o r q u e s a b e q u e a c i d a d e v a i r e j e it á - l o , e a n t e v ê

u m j u l g a m e n t o e x e c r á v e l ( 1 9 . 4 1 - 4 4 ) . E s t a p a r t e t e r m i n a , e m c o n t r a s t e , c o m o s

d i s c í p u l o s e n t r a n d o e m J e r u s a l é m " t o m a d o s d e g r a n d e j ú b i l o " (2 4 . 5 2 ) , p o r q u e

e s t a r e j e i ç ã o d e J e s u s p o r I s ra e l s i g n i f i c a q u e a s E s c r i t u r a s f o r a m c u m p r i d a s , o

E s p í r i t o S a n t o f o i p r o m e t i d o , e t o d a s a s n a ç õ e s o u v i r ã o a g o r a a B o a N o v a d e

a r r e p e n d i m e n t o e p e r d ã o ( 2 4 . 4 5 - 4 9 ) .

N o i n t e r v a l o e n t r e a s d u a s " e n t r a d a s " d e s c o b r i m o s c o m o u m d e s s e s e v e n t o s —

a c r u c i f i c a ç ã o d e J e s u s — p o d e s e r d u a s c o i s a s m u i t o d i f e r e n t e s , d e u m l a d o a

h o r r í v e l r e j e i ç ã o e e x e c r a n d o c r i m e , e d e o u t r o l a d o u m c u m p r i m e n t o cio p l a n o

d e D e u s p a r a a s a l v a ç ã o d o m u n d o . É s i m p l e s m e n t e u m a q u e s t ã o d e o l h a r o

e v e n t o d e d u a s p e r s p e c t i v a s b e m d i f e r e n t e s . A s s i m L u c a s d e s a f i a s e u s l e i t o r e s

g e n t i o s : c o m o e le s v ê e m i s s o ? C o m o P i l a to s , c o n s i d e r a n d o - o u m a d i s p u t a

r e l i g i o s a i r re l e v a n t e d e p o u c a c o n s e q ü ê n c i a ? O u c o m o o s d i s c í p u l o s e o p r ó p r i o

L u c a s , c o m o o c u m p r i m e n t o d o p l a n o d e D e u s p a r a d e s t r u i r a m o r t e p a r a t o d a

a h u m a n i d a d e ?

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6 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

O livro de AtosO s e g u n d o v o l u m e c o m e ç a e x a t a m e n t e o n d e t e r m i n a o p r i m e i r o . O s d i s c í p u l o s

e s t ã o e m J e r u s a l é m , e s p e r a n d o q u e o E s p í r i t o S a n t o l h e s s e j a d a d o ( 1 . 5 ) . U m a

b r e v e i n t r o d u ç ã o r e s u m e o p e r í o d o a n t e s d a a s c e n s ã o e f i x a a a g e n d a p a r a o

p r ó x i m o e s t á g i o : " R e c e b e r e i s p o d e r , a o d e s c e r s o b r e v ó s o E s p í r i t o S a n t o , e

s e r e is m i n h a s t e s t e m u n h a s t a n t o e m J e r u s a l é m , c o m o e m t o d a a J u d é i a e S a m a r i a ,

e a t é o s c o n f i n s d a t e r r a " ( 1 . 8 ) .

E s t e q u a d r o d e c í r c u l o s g e o g r á f i c o s c o n c ê n t r i c o s f o r m a a e s t r u t u r a d e A t o s .

A t é o fi n a l d o c a p í t u l o 7 . a a ç ã o s e d e s e n r o l a e m J e r u s a l é m . M a s , c o m a m o r t e

d e E s t ê v ã o , " . . . l e v a n t o u - s e g r a n d e p e r s e g u i ç ã o c o n t r a a i g r e j a e m J e r u s a l é m ; e

t o d o s , e x c e t o o s a p ó s t o l o s , f o r a m d i s p e r s o s p e l a s r e g i õ e s d a J u d é i a e S a m a r i a "

( 8 . 1 ) . O c í r c u l o s e a m p l i a .

J u d é i a e S a m a r i a p e r m a n e c e m c o m o c e n á r i o s d e o p e r a ç õ e s a t é 9 . 3 1 . q u e é

u m d o s b r e v e s r e s u m o s d a " h i s t ó r i a a t é a q u i " : " A i g r e j a , n a v e r d a d e , t i n h a p a z

p o r t o d a a J u d é i a . G a l i l é i a e S a m a r i a , e d i f i c a n d o - s e e c a m i n h a n d o n o t e m o r d o

S e n h o r e , n o c o n f o r t o d o E s p í r i t o S a n t o , c r e s c i a e m n ú m e r o . "

M a s a s s e m e n t e s d o d e s e n v o l v i m e n t o p o s t e r i o r j á e s t ã o p l a n t a d a s . V i a j a m o s

à S ír i a p a r a t e s t e m u n h a r a c o n v e r s ã o d e S a u l o e m D a m a s c o ( 9 .1 - 1 9 ) . e o u v i m o s

a p a l a v r a d o S e n h o r a e l e p o r m e i o d e A n a n i a s : " E s t e é p a r a m i m u m i n s t r u m e n t o

e s c o l h i d o p a r a l e v a r o m e u n o m e p e r a n t e o s g e n t i o s e r e i s , b e m c o m o p e r a n t e

o s f i l h o s d e I s r a e l " ( 9 . 1 5 ) .

A g o r a e s s a s s e m e n t e s c o m e ç a m a g e r m i n a r . M u i t o e m b o r a , g e o g r a f i c a m e n t e ,

a a ç ã o s e c i r c u n s c r e v a b a s i c a m e n t e à J u d é i a e a S a m a r i a n o s t rê s c a p í t u l o s

s e g u i n t e s , a h i s t ó r i a d a c o n v e r s ã o d e C o r n é l i o n o c a p í t u l o 1 0 p r e p a r a - n o s p a r a

a e x p l o s ã o q u e t e m l u g a r n o i n í c i o d o c a p í t u l o 1 3 . A q u i P a u l o e B a r n a b é s ã o

e n v i a d o s p e l o E s p í r i t o S a n t o a o m u n d o g e n t í l i c o , e e m t r ê s v i a g e n s m i s s i o n á r i a sc o n s e c u t i v a s v e m o s o e v a n g e l h o c r e s c e n d o g r a d u a l m e n t e m a i s lo n g e d e

J e r u s a l é m e m a i s p e r t o d o s " c o n f i n s d a t e r r a " ( 1 . 8 ) .

1.9-7.60 As fundaçõ es de JerusalémO d i a d o P e n t e c o s t e p r o v ê u m c u m p r i m e n t o i n i c i a l d a v i s ã o d e A t o s 1 . 8 . 0 d o m

d e l í n g u a s c a p a c i t a o s d i s c í p u l o s a f a l a r e m s e u i d i o m a n a t i v o a t o d o s o s q u e

v i s i t a m J e r u s a l é m . C o m o in d i c a o P r o f e s s o r H o w a r d M a r s h a l l , e s s e d o m n ã o

e r a n e c e s s á r i o p a r a r e a l m e n t e c o m u n i c a r - s e c o m o s e s t r a n g e i r o s p r e s e n t e s .

I n d u b i t a v e l m e n t e , a g r a n d e m a i o r i a e r a c a p a z d e f a l a r o g r e g o koine. A s s i m , a

i m p o r t â n c i a d o a c o n t e c i m e n t o e s t a v a e m q u e e l e s o u v i a m " a s g r a n d e z a s d e

D e u s " ( 2 . 1 1 ) n o s d i a l e t o s d e s e u s v i z i n h o s p a g ã o s n ã o - j u d e u s . E l e s e r a m , p o i s ,

a q u e l e s p a r a q u e m e s s a m e n s a g e m e r a d e s t i n a d a .

P e d r o e s t e n d e a i m p o r t â n c i a d o a c o n t e c i m e n t o . E l e e x p l i c a q u e é u m

c u m p r i m e n t o d a p r o m e s s a d e D e u s o d e r r a m a m e n t o d e s e u E s p í r i t o s o b r e t o d a

c a r n e ( 2 . 1 7 , 1 8 ) , n ã o s o m e n t e s o b r e t o d a s a s n a ç õ e s , m a s s o b r e a m b o s o s s e x o s

( " f i l h o s e f i l h a s " ) , v e l h o s e j o v e n s , e s o b r e p e s s o a s d e t o d a s a s c l a s s e s d a

s o c i e d a d e ( m e s m o " s e r v o s , t a n t o h o m e n s c o m o m u l h e r e s " ) . N a r e a l i d a d e , c o m o

P e d r o c o n t i n u a a d i z e r , a i n d a c i t a n d o J o e l , " a c o n t e c e r á q u e t o d o a q u e l e q u e

i n v o c a r o n o m e d o S e n h o r s e r á s a l v o " ( 2 . 2 1 ) . N e s t e a p e l o f i n a l e l e t o r n a c l a r o

q u e a p r o m e s s a n ã o é s o m e n t e p a r a " v ó s e v o s s o s f i l h o s " , m a s t a m b é m " p a r a

t o d o s o s q u e a i n d a e s t ã o l o n g e " , f r a s e q u e s e a p l i c a a o s g e n t i o s . D e u s m a n t e v e

s e u a c o r d o c o m A b r a ã o p a r a a b e n ç o a r t o d a s a s f a m í l i a s d a t e r r a a t r a v é s d e s u a

d e s c e n d ê n c i a ( 3 . 2 5 ; G ê n e s i s 1 2 . 3 ).

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L U C A S E S UA ME Í NS AGEM 6 3

N o s c a p í t u l o s 3 - 7 a i g r e j a e m J e r u s a l é m é c o n s t i t u í d a . N a d a p o d e i n t e r r o m p e r

a m e n s a g e m d e D e u s . H á p r o b l e m a s : p e r s e g u i ç ã o ( 4 . 1 - 3 1 ; 5 . 1 7 - 4 2 , h i p o c r i s i a

( 5 . 1 - 1 1 ) , e d e s u n i ã o ( 6 . 1 - 7 ) . M a s . n o m e i o d e t o d a s e s t a s c o i s a s , " c r e s c i a ap a l a v r a d e D e u s " ( 6 . 7 ) . E m 2 . 4 1 , h á 3 . 0 0 0 c r e n t e s ; e m 4 . 4 . 5 . 0 0 0 ; e m 5 . 1 4 . h á

" m a i s e m a i s . . . c r e n t e s , t a n t o h o m e n s c o m o m u l h e r e s " , e e m 6 . 7 " e m J e r u s a l é m

s e m u l t i p l i c a v a o n ú m e r o d o s d i s c í p u l o s " .

E s t a p a r t e a t i n g e s e u c l í m a x c o m a d e f e s a e m a r t í r i o d e E s t ê v ã o ( 6 . 8 - 8 . 1 ) .

E l e é a c u s a d o d e f a l a r c o n t r a M o i s é s ( 6 . 1 1 ) . d i z e n d o q u e J e s u s d e s t r u i r á o t e m p l o

e m u d a r á a l e i ( 6 . 1 3 , 1 4 ) . A a c u s a ç ã o é s é r i a . A d e f e s a e l o q ü e n t e e h á b i l d e

E s t ê v ã o t o r n a c l a r o o q u e J e s u s e s t a v a e f e t i v a m e n t e e n s i n a n d o ; e L u c a s u s a s e u

l o n g o r e g i s t r o d o d i s c u r s o d e E s t ê v ã o ( 7 . 2 - 5 3 ) c o m o p r e p a r a ç ã o d e s e u s l e i t o r e s

p a r a a s p r ó x i m a s m u d a n ç a s q u e h a v e r á n a h i s t ó ri a .

N u m a p a l a v r a , E s t ê v ã o d i z q u e o v e l h o p a r t i c u l a r i s m o d á l u g a r a u m n o v o

u n i v e r s a l i s m o . D e u s n ã o e s t á a t a d o a u m e d i f í c i o o u a u m p a í s . E l e e s t a v a c o m

A b r a ã o n a M e s o p o t â m i a , e m H a r ã e n a P a l e s t i n a ; c o m J o s é n o E g i t o ; c o m

M o i s é s n a t e r r a d e M i d i ã ; c o m o s i s r a e l i t a s n o d e s e r t o ; c o m J o s u é q u a n d o e l e

e s t a b e l e c e u a n a ç ã o n a t e r r a p r o m e t i d a . E v e r d a d e q u e S a l o m ã o c o n s t r u i u o

t e m p l o , m a s o p r o f e t a I s a í a s d i z q u e o t r o n o d e D e u s e s t á n o c é u e q u e a t e r r a é

o e s c a b e l o d e s e u s p é s . A c o n s t a t a ç ã o d o V e l h o T e s t a m e n t o é c l a r a : " n ã o h a b i t a

o A l t í s s i m o e m c a s a s f e i t a s p o r m ã o s h u m a n a s " ( 7 . 4 8 ) .

A i m p o r t â n c i a d o d i s c u r s o e m o r t e d e E s t ê v ã o é t r i p la . T e o l o g i c a m e n t e , e l a

p a v i m e n t a o c a m i n h o p a r a a p r ó x i m a m i s s ã o a o s g e n t i o s . P e s s o a l m e n t e , e s s e s

e v e n t o s l e v a m à c o n v e r s ã o d e S a u l o , q u e p a r t i c i p a d o a p e d r e j a m e n t o d e E s t ê v ã o

e , s e m d ú v i d a , o u v e o se u d i s c u r s o . E l e s e t o r n a o m a i o r e x p o e n t e d o e v a n g e l h o

d e E s t ê v ã o ! E g e o g r a f i c a m e n t e , c o m o v e m o s , a m o r t e d e E s t ê v ã o e n s e j a a

e x p a n s ã o d o e v a n g e l h o d e J e r u s a l é m a t é à J u d é i a e S a m a r i a ( 8 . 1 ) .

8.1-12.25 A pressão aumentaT o d a e st a p a r t e p o d e s e r c o m p a r a d a a u m a á g u a e m f e r v u r a n u m a c a l d e i r a s e m

v á l v u l a d e e s c a p e ; a p r e s s ã o a u m e n t a g r a d a t i v a m e n t e a t é q u e o s r e b i t e s n ã o

p o d e m m a i s s u p o r t a r a f o r ç a e o in e v i t á v e l a c o n t e c e — u m a e x p l o s ã o . A e x p l o s ã o

o c o r r e n o c o m e ç o d o c a p í t u l o 1 3, q u a n d o f i n a l m e n t e o e v a n g e l h o s e p r o j e t a e m

d i r e ç ã o a o m u n d o g e n t í l i c o , s o b o i m p u l s o p o d e r o s o d o E s p í r i t o .

A p r e s s ã o c o m e ç a a i r r o m p e r c o m a e x p a n s ã o e m S a m a r i a , n o c a p í t u l o 8 ,

t a m b é m m a r c a d o p o r u m a a t i v i d a d e e x p r e s s i v a d o E s p í r i t o S a n t o . A c o n v e r s ã o

d e S a u l o s o m a - s e a i s t o , e e n t ã o o l o n g o e p i s ó d i o , e m q u e a v i s ã o d e P e d r o e a

e x p e r i ê n c i a c o m C o r n é l i o s ã o r e l a t a d a s d u a s v e z e s , a c e l e r a o e x p r e s s i v o

d e s e n v o l v i m e n t o d a o b r a . C o m o p o d e a i g r e j a r e s i s t i r à a t i v i d a d e d o E s p í r i t o ,

q u e e s t á e v i d e n t e m e n t e d e r r u b a n d o a s v e l h a s b a r r e i r a s e n t r e j u d e u s e g e n t i o s ?

A i g r e j a m u l t i r r a c i a l d e A n t i o q u i a p a s s a a e x i s t i r , p o r é m n ã o c o m o a p o i o f r a n c o

d a i g r e j a d e J e r u s a l é m ( 1 1 . 2 0 , 2 1 ) . N o c a p í t u l o 1 2 p a r e c e q u e v o l t a m o s

o b s t á c u l o s . " E n t r e t a n t o a p a l a v r a d o S e n h o r c r e s c i a e s e m u l t i p l i c a v a " ( 1 2 . 2 4 ) .

A t é q u a n d o p o d e a p r e s s ã o c o n t i n u a r a n t e s q u e a f e r v u r a s e e s p a r r a m e ?

13.1-15.35 Primeira viagem missionária de PauloU m a v e z m a i s o E s p í r i t o d á u m p a s s o e i m p u l s i o n a a i g r e j a a s e g u i r a d i a n t e .

P o d e n o s p a r e c e r n a t u r a l q u e p e s s o a s c h e g u e m a t o r n a r - s e c r i s t ã s s e m t a m b é m

s e r j u d i a s , m a s i s t o n ã o é a c e i t á v e l d e m o d o a b s o l u t o p a r a o s p r i m e i r o s c r e n t e s .

C o m o P a u l o e B a r n a b é e m s u a p r i m e i r a e m p r e s a m i s s i o n á r i a , e l e s d e s c o b r e m

p o r e x p e r i ê n c i a q u e , q u a n d o o s j u d e u s r e j e i t a m o e v a n g e l h o , " o s g e n t i o s . . .

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6 4 H O MEN S C OM U MA MEN SA G EM

lACEDONIA

Tessalônica

Berél&C"C:

Antioquia da Pisídia\. Icônio \

P I S I D ^ * * , , L i s t r a \

l//a %rgeVerbe CILÍ

Atenas

ACAIA

CHIPRE;,

PafosarMediterrâneo

Salaminè

Jerusalém

Pr i me i r a V i a g e m

 s t r ê s v i a g e n s m i s s i o n á r i a s d e P a u lo

e a v iagem a Rom a.

Puzuòit

Siracusa

i almoriâ

CIRENAICA Mar

Mediterrâneo'Jerusalém

EGITO

\ y —A Viagem a Roma

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L U C A S E S U A M E Í N SA G E M 6 5

regoz ijavam -se e glorificava m a palavra do Senhor, e creram todos os que haviamsido des t inados para a vida eterna" (13.48). O Espír i to Santo parece requererapenas que eles creiam no Senhor Jesus . Não se exige deles que também setornem judeus . No f inal de seu roteiro missionário, Paulo e Barnabé alegrementeconcluem que Deus s implesmente "abri ra aos gent ios aporta da fé" (14.27).

Algun s, entretanto, admitem qu e a ação do Espírito Santo precisa de cuidadosainterpretação. Algun s deles chegam a Antioquia ins is t indo em que "se não voscircuncidardes segundo o cos tume de Moisés , não podeis ser salvos" (15.1) .Ass im, o episódio relatado por Lucas e m Atos 15 é uma conseq üência vi ta l damissão recém-completada. Paulo e Barnabé são nomeados , juntamente comoutros, para subirem a Jerusalém a fim de resolverem a questão com "os apóstolose os presbí teros" (Atos 15.4): devem os gent ios também tomar-se judeus paraque sejam salvos?

É provável q ue por esse tempo Paulo escreve sua carta aos gálatas como u macircular enviada às igrejas que ele havia fund ado em sua viagem miss ionária . A

carta é uma defesa apaixonada do ponto de vis ta que também prevaleceu emJerusalém —q ue nossa " jus t i f icação", ou acei tação, diante de Deus não dependede nossa obediência à lei , mas somente a Cris to, a quem es tam os unidos pela fé .

Com es ta ques tão vi ta l resolvida, a fundaçã o é lançada para que o evangelhoavance sem obstáculo "até aos confins da terra" .

15.36-18 .22 Segunda v iagem mis s ionár ia de Pau loEsta viagem começa como um projeto para revis i tar as igrejas fundadas naprimeira viagem (15.36), porém novam ente o Espír i to Santo se antecipa, e emseguida os orienta . Em pouco tempo Paulo e seus companheiros decidem que

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6 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

d e v e m l e v a r o e v a n g e l h o a t é à G r é c i a ( 1 6 . 1 0 ) , e a c a b a m m i n i s t r a n d osuces s ivamente em F i l ipos , Tes sa lônica , Beré ia , A tenas e Cor in to . Paulopermanece mais de dezoi to meses em Corinto antes de f inalmente retornar aoseu "lar", a igreja em Antioquia.

18.23-21.16 Terceira viagem miss ionária de PauloIncl inamo-nos a pensar que Paulo t inha concebido a idéia de fazer de Éfeso ocentro do minis tér io, à semelhança de Corinto (18.21). Ele faz is to agora,despendend o al i mais de dois anos . Éfeso era , como Antioquia , uma das maiorescidades do império e o foco da vida de um a grande área adjacente . Mas de nov oo Espírito se interpõe e muda a mente de Paulo sobre tal estratégia: Roma! Oit inerário um tanto tortuoso pelo qual Paulo se decide (19.21) é provavelm enteem conseqüência da coleta que ele levantou em favor da igreja em Jerusalém(por exemplo, Ro mano s 15.25-27): e le deseja levá-la pessoalme nte até lá .

Paulo es tá vis ivelmente preocupado com a vis i ta a Jerusalém. Ele pede aosroman os que orem "para que eu me veja l ivre dos rebeldes que vivem n a Judéia ,e que es te meu serviço em Jerusalém seja bem acei to pelos santos" (R oman os15.31). Lucas destaca este pressentimento ao relatar as mensagens proféticasque falam a respeito de sua prisão (20.22,23; 21.10-14). E por certo, logo aochegar a Jerusalém, Paulo se vê em dif iculdades com os judeus e cr is tãos-judeusque desaprovam profundamente seu evangelho desvinculado da le i mosaica.

21.17-28 .31 A v iagem a Rom aEstes capí tulos f inais de Atos contêm alguns dos mais com oventes escri tos detoda a Bíblia . O fato marcante é que, desde o mom ento em que Paulo é agarradopela mult idão revol tosa em Atos 21.30, e le nunca mais consegue viver emliberdade. Ele passa o res tante do l ivro como um pris ioneiro, aparentementeabandonado diante dos caprichos da jus t iça romana.

0 g i g a n t e s c ot e a t r o d e É f e s ov i s t o d o a l t o d ot e r c e i r o l a n c e d e

d e g r a u s o ua s s e n t o s . P r e -s u m e - s e q u e f o in e s t e t e at r o q u eh o u v e o a l v o r o ç op r o v o c a d o p o ra q u e l e s c u j os u s t e n t o d e p e n d i ad a f a b r i c a ç ã o d en i c h o s d a d e u s aAr t ê m i s ( a D i a n ad o s e f é s i o s ) .

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L U C A S E S U A M E Í N SA G E M 6 7

Mas o modo co mo Lucas narra a h is tór ia dá uma impressão to talmente d is t in ta .P a u l o n ã o e s t á s u b j u g a d o e d e s a m p a r a d o . O p l a n o d e D e u s e s t á s e

desenvolvendo. Paulo tem muitas opor tunidades para tes temunhar a uma en ormemultidão em Jerusalém, ao s inédr io judaico , a dois governadores romanos, aoRei Herodes e sua esposa, a uma tr ipulação e passageiros de aproximadamentetrezentas pessoas num navio , ao governador de Malta e , a través dele, a muitosoutros habitan tes da i lha, aos l íderes de uma grande comunidade judaica emRoma, e , f inalmente, a todos os que o procuram e ouvem na capital imper ial .Paulo pode ter s ido um pr is ioneiro , mas, como ele mais ad iante expressa aTimóteo , "a palavra de Deus não es tá algemada" (2 Timóteo 2 .9) .

Por tan to a mens agem de Lucas é , af inal de contas , um grande es t ímulo a um aigreja sof redora e f raca. Sob quaisquer d if icu ldades em que ela opere, e pormais impo tente que ela possa parecer , a igreja é sempre con duzida " em tr iu nfo"(2 . Co 2 .14) , se tão-somente se guirmos o exem plo de Paulo : conf iar no Senhorda igreja e agarrar -se às opor tunidades q ue Ele nos de para.

Leitura adicional

Menos exigente:D a v i d G o o d i n g , According to Luke. A new exposition of the Third Gospel ( L e i c e s t e r :

IVP, 1987)

D a v i d G o o d i n g , True to the Faith. Afresh approach to the Acts of the Apostles ( L o n d r e s :

H o d d e r & S t o u g h t o n , 1 9 9 0 )J . R. W. Stot t , The Message of Acts: To the ends of the earth (Leices te r : IV P, 1990)

M i c h a e l W i l c o c k , The Message of Luke: The Saviour of the World (Leices te r : IV P, 1979)

Mais exigente, obras eruditas:

J . A . F i t z m y e r , Luke the Theologian. Aspects of His Teaching ( L o n d r e s : G e o f f r e yC h a p m a n , 1 9 8 9 )

W . W . G a s q u e , A History of the Criticism of the Acts of the Apostles ( G r a n d R a p i d s :E e r d m a n s , 1 9 7 5 )

I . H . Mars ha l l , Luke: Historian and Theologian (Exeter : Pa ternos ter , 1970)J o h n T . S q u i r e s , The Plan of God in Luke-Acts ( C a m b r i d g e : C a m b r i d g e U n i v e r s i t y P r e s s ,

1 9 9 3 )

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João e suaMensagemNa verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitosoutros sinais que não estão escritos neste livro. Estes,

porém, foram registrados para que creiais que Jesusé o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,

tenhais vida em seu nome. ( João 20 .30 ,31 )

Há cinco documentos separados em nosso Novo Testamento que se atr ibuema João, a saber, o Eva ngel ho que leva seu nom e, as três cartas e o livro Apo calipse .Des tes , Ap o ca l ip se é tão d i f e r en te q u an to ao as su n to q u e d ev e r eceb er u mtratamento separado, tenha s ido ou não escr i to pelo mesmo João .

Goza de ampla concordância, contudo, o fato de que o Evangelho e as trêscar tas provêem da pena do mesmo autor . Não somente o es t i lo grego é muitos e m e l h a n t e , m a s h á m u i t a s e x p r e s s õ e s t e o l ó g i c a s s u r p r e e n d e n t e s q u e

p red o min am n o Ev an g e lh o e n as ca r tas—ex p ressõ es ta i s co mo "Esp í r i to d everdade", " luz" e " trevas" , "do mundo", "f i lhos de Deus", "nascido de Deus","p erma n ecer " em Cr is to , "g u ard ar seu s man d am en to s" , "amo r" , " tes temu n h a" ,"v id a" e "mo r te" .

João, o hom emMas, quem era o au tor? Esta é uma pergunta complicada e controver t ida. Oponto d e v is ta trad icional é que o Evange lho e as car tas foram escr i tas já em suai d a d e a v a n ç a d a , e m É f e s o , p e l o a p ó s t o l o J o ã o , f i l h o d e Z e b e d e u . E s t ain terpretação remonta a I r ineu , b ispo de Lyons de 178 até sua mor te em 195d.C. , aproximadamente. I r ineu alegava ter uma l igação d ireta comJoão através

de Policarpo , o b ispo de Esmirna mar tir izado em 156 d .C. aos o iten ta e seisanos de idade. Numa famosa car ta conservada por Eusébio , o h is tor iador daigreja , I r ineu conta a um amigo como, quando jovem, sentava-se aos pés dePolicarpo e o ouvia d iscorrer sobre suas conversações com João e o ensino querecebera d iretamente do apósto lo . Podemos bem imaginar Policarpo , com seusvin te anos, ouvind o o apósto lo João , que, por sua vez, devia es tar en tão nos seusoiten ta anos, parecendo haver pouca razão para duvidar da alegação de I r ineu .

Quando, por tan to , I r ineu af irma que João , o f i lho de Zebedeu, escreveu oquar to Evangelho , e que ele era o "d iscípulo a quem Jesus amava", o qual sereclinava per to de Jesus na ú lt ima ceia (13 .23) , devemos considerar ser iamenteseu tes temu n h o .

Dev e se r d i to , en t r e tan to , q u e so men te u n s p o u co s d en t r e o s p r in c ip a is

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PAULO E S U A M E N S A G E M 6 9

estudiosos do século vinte aceitam esta evidência. Sua relutância deriva doponto de vis ta , compart i lhado pela maioria dos es tudiosos , de que o Ev angelho

de João não é fundamentalmente uma obra his tórica. Ele é , antes , o resul tadode um longo processo de desenvolvimento teológico, ref le t indo, ass im, opensamento de um período tardio t raves t ido na forma de Evangelho.

Uma in tepre tação recente in t roduz uma d i s torção s ingula r nes ta v i s ão ,argume ntando qu e o Evang elho refle te a história e as experiências , não de Je-sus e seus discípulos, mas de uma igreja particular, à qual o evangelista (nãoJoão) pertencia. Para reanimar sua igreja esse evangelista escreveu a históriade Jesus como se Ele t ivesse passado pelas mesm as experiências de rejeição eperseguição que eles sofr iam.

Esta falta de respeito pelo Evangelho de João como história resulta de três desuas caracterís t icas que certamente requerem uma explanação:

1 . Em mui tos aspec tos João apresenta uma imagem di fe ren te de J esus

comp arado com aquele dos Evang elhos s inópt icos . Por exemplo, no Evang elhode João Jesus de modo algum é ret icente ao alegar publ icamen te ser o Fi lho d eDeus (p.ex., 5.19-30).

2. Não há qualquer diferença de estilo entre o ensino de Jesus em João e aspróprias palavras do evangel is ta . Is to indica que o evangel is ta é responsávelpela l inguagem dos discursos proferidos por Jesus .

3. O Evan gelho é belamente con struído. Os es tudiosos conco rdam q ue ele éuma obra-prima l i terária . Muitos , porém, consideram qu e um autor que dedicoutanto cuidado à estrutura e composição de sua obra devia preocupar-se em narrara história.

Tomad os em conju nto, estes três pontos são sus tentados por uma m aioria dees tudiosos , o que torna improváve l que o Evangelho tenha s ido escri to por umates temunha o cular do minis tér io de Jesus . E, como co nseqüência , a a t r ibuição

de sua fei tura a João, f i lho de Zebedeu, pelos pais da igreja do primeiro séculoé rejeitada.

Entretanto, devemos ques t ionar seriamente es te consenso dos es tudiosos .

1. João e os s inópticos

As incontes táveis diferenças entre o Evangelho de João e os s inópt icos nãosignif icam necessariamente que João é his toricamente fal ível . Es tas diferençasforam no tadas na igreja dos primeiros séculos e constituem a razão do com entáriode Clemente de Alexandria (200 d.C. , aproximadamente) de que "por f im,sabendo que os fatos 'materiais ' es tavam esclarecidos nos outros Evangelhos ,compôs um Evangelho 'espiritual ' , incentivado por outros discípulos e inspiradopelo Espír i to" .

A referência de Clemente sobre o Evangelho de João com o sendo "espir i tual"tem s ido mencionada freqüentemente em apoio ao fato de que João não teveinteresse na his tória . Nada, porém , es tá tão dis tante da verdade. De acordo comClemente, João es tava preoc upado em transmit i r a essência interior de Jesus , o"espír i to" dentro do "corpo", e , des ta forma, prover um relato que pudessepretender ser tão his toricamente con fiável com o os s inópt icos .

Além disso, são dignos de observação os muitos pontos em que a narrat ivade João suplemen ta a dos s inópt icos . Es tes pontos foram ex postos e discut idosnum famoso ensaio do Dr. Leon Morris (ver no f im des te capí tulo Lei turaAdicional) . E bem poss ível que João es t ivesse del iberadamente ut i l izandotradições e lembranças qu e não tinham sido utilizadas na tradição dos sinópticos.

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7 2 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

E m v á r i o s a s p e c t o s J o ã o e l a b o r a o r e t r a t o q u e e l e s p i n t a m . P o r e x e m p l o ,

e n f a t i z a n d o a d i s c r i ç ã o d e J e s u s e m p r o c l a m a r - s e p u b l i c a m e n t e c o m o " o C r i s t o " ,o s s in ó p t i c o s p o d i a m l e v a n t a r a a c u s a ç ã o d e q u e a s p e s s o a s d i f i c i l m e n t e p o d e r i a m

s e r c e n s u r a d a s p o r n ã o c r e r e m n e l e . P o r é m J o ã o t o r n a e v i d e n t e q u e o

i m p e d i m e n t o p a r a a f é n ã o e s t a v a n o l a d o d e J e s u s . V i s t a d e u m â n g u l o d i f e r e n t e ,

s u a a u t o p r o c l a m a ç ã o e r a c l a r a c o m o c ri s t a l, e , p o r t a n t o , a r e s p o n s a b i l i d a d e c a b e

t o t a l m e n t e a n ó s , se n o s r e c u s a r m o s a c r e r .

2. A l inguagem de JoãoÉ n o t ó r i o q u e n ã o h á d i f e r e n ç a e s t i lí s t i c a e n t r e o s d i s c u r s o s q u e J e s u s p r o f e r e e

a s p a r t e s n a r r a d a s d o E v a n g e l h o , p e l a s q u a i s o e v a n g e l i s t a é r e s p o n s á v e l .

E n t r e t a n t o , d e v e m o s l e m b r a r q u e J e s u s n ã o e n s i n o u e m g r e g o . E l e u s o u o

a r a m a i c o , e p o r t a n t o t o d o s o s n o s s o s r e g i s t r o s d e s e u e n s i n o r e s u l t a m d e t r a d u ç ã o .

E b e m c o n h e c i d o o f a t o d e d u a s t r a d u ç õ e s d o m e s m o o r i g i n a l d i f e r i r e m

g r a n d e m e n t e u m a d a o u t r a p o r q u e o e s t i l o e o v o c a b u l á r i o d a t r a d u ç ã o s ã o d a

e s c o l h a d o t r a d u t o r .

V e m d e l o n g a d a t a a c o n s t a t a ç ã o d e q u e o g r e g o d e J o ã o t e m m u i t a s

c a r a c t e r í s t ic a s h e b r a i c a s e a r a m a i c a s , d e m o d o q u e o a u t o r é c l a r a m e n t e b i l í n g ü e .

A l é m d i s s o , se é v e r d a d e q u e J o ã o q u e r i a t r a n s m i t i r a e s s ê n c i a i n t e r io r d o e n s i n o

e d a p e s s o a d e J e s u s , n ã o é d e s u r p r e e n d e r q u e a l i n g u a g e m d o s d i s c u r s o s r e f l i t a

o p r ó p r i o e s t i l o d e J o ã o .

3. A estrutura de J oãoO p r ó p r i o a u t o r r e v e l a o c u i d a d o c o m q u e c o m p ô s s eu E v a n g e l h o . E l e o d e s c r e v e

e m t e r m o s d e s e l e t i v i d a d e : " N a v e r d a d e , f e z J e s u s d i a n t e d o s d i s c í p u l o s m u i t o s

o u t r o s s i n a i s q u e n ã o e s t ã o e s c r i t o s n e s t e l i v r o . E s t e s , p o r é m , f o r a m r e g i s t r a d o s

p a r a q u e c r e i a i s q u e J e s u s é o C r i s t o , o F i l h o d e D e u s , e p a r a q u e , c r e n d o ,t e n h a i s v i d a e m s e u n o m e " ( 2 0 . 3 0 , 3 1 ) . C o m o p o d e m o s v e r , a e s t r u t u r a e

m e n s a g e m d o l i v r o f o c a l i z a m o s " s i n a i s " , o s a t o s m i r a c u l o s o s d e J e s u s q u e

i n d i c a m a l é m d e l e s a s v e r d a d e s s o b r e s u a p e s s o a . E s t e s " s i n a i s " p a r t i c u l a r e s —

t o d o s e x c e t o u m e x c l u s i v o s e m J o ã o — f o r a m e s c o l h i d o s c o m u m p r o p ó s i t o p e -

c u l i a r — o d e c o n v e n c e r s e u s l e i t o r e s a c r e r e m e m J e s u s c o m o " o C r i s t o " .

I s t o q u e r d i z e r q u e o s s i n a i s f o r a m e s c o l h i d o s p a r a i n c l u s ã o , t e n d o e m m e n t e

a s n e c e s s i d a d e s d o s l e i t o r e s . O e v a n g e l i s t a e s t a v a i n t e r e s s a d o e m m o s t r a r a

r e l e v â n c i a d o m i n i s t é r i o d e J e s u s p a r a s u a s n e c e s s i d a d e s . P o r é m , p o r o u t r o l a d o ,

i s t o n ã o s i g n i f i c a q u e o e v a n g e l i s t a n ã o t e n h a n e n h u m a p r e o c u p a ç ã o h i s t ó r i c a .

P e l o c o n t r á r i o , e l e n ã o t i n h a n e n h u m e v a n g e l h o p o r m e i o d o q u a l c o n v e n c e r

s e u s l e i t o r e s , s e J e s u s r e a l m e n t e n ã o r e a l i z a s s e e s s e s " s i n a i s " q u e m o s t r a m s e u

m e s s i a d o .

S ã o p o u c o s u b s t a n c i a i s , p o r t a n t o , a s r a z õ e s f r e q ü e n t e m e n t e a p r e s e n t a d a s p a r a

r e j e i t a r o p o d e r o s o t e s t e m u n h o d e I r i n e u . M a s , s e a d m i t i m o s q u e o a u t o r d e

a m b o s o s t e x t o s , o E v a n g e l h o e a s c a r t a s , é o a p ó s t o l o J o ã o , o q u e p o d e m o s

d i z e r a s e u r e s p e i t o ?

1. Ele foi testemunha ocular.A d e s p e i t o d a a v e r s ã o g e r a l p e l a t r a d i c i o n a l a t r i b u i ç ã o d a a u t o r i a a J o ã o ,

e s t u d i o s o s a d m i t e m q u e o a u t o r e x i b e u m c o n h e c i m e n t o p r o f u n d o d a g e o g r a f i a

d a P a l e s t i n a ( p . e x . , 1 . 2 8 : 4 , 5 , 6 , 2 0 ) , d e J e r u s a l é m ( p . e x . , 5 . 2 ; 1 9 . 1 3 ) , d o t e m p l o

a n t e s d e s u a d e s t r u i ç ã o ( p . e x . , 2 . 2 0 ; 8 . 2 0 ; 1 0 . 2 3 ) , e d o e s t a d o g e r a l d o s a s s u n t o s

d e I s r a e l n o t e m p o d e Je s u s . P o r e x e m p l o , J . L o u i s M a r t y n , u m e s t u d i o s o q u e

m a i s q u e q u a l q u e r o u t r o m o l d o u o c o n t e m p o r â n e o c o n s e n s o e n t r e e l e s , c o n f e s s a .

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PAULO E S U A M E N S A G E M 7 1

n o e n t a n t o , q u e a s v á r i a s a f i r m a ç õ e s d e J o ã o s o b r e a f é e v i d a j u d a i c a s " f i g u r a m

o r g u l h o s a m e n t e e n t r e as m a i s c o r r e t a s a f i r m a ç õ e s s o b r e o p e n s a m e n t o j u d a i c o

e m t o d o o N o v o T e s t a m e n t o " .A e x a t i d ã o d e J o ã o n e s t e s a s p e c t o s d e v e c e r t a m e n t e s u g e r i r u m a p r e o c u p a ç ã o

p e l a p r e c i s ã o e m s e u r e g i s t r o d o s a c o n t e c i m e n t o s d o m i n i s t é r i o d e J e s u s — a

m a i o r i a d o s q u a i s e l e d e v e t er t e s t e m u n h a d o d i r e t a m e n t e , c o m o u m d o s D o z e .

S u a s n a r r a t i v a s s ã o t e m p e r a d a s c o m a l u s õ e s a o t e m p o e l u g a r , b e m c o m o c o m

o u t r o s d e t a l h e s c a s u a i s , t o d o s o s q u a i s n a d a a c r e s c e n t a m à h i s t ó r i a a n ã o s e r

p a r a s u b l i n h a r a i m p l í c i t a r e i v i n d i c a ç ã o d e q u e o a u t o r c o n h e c e i n t i m a m e n t e

s e u m a t e r i a l ( p . e x . , 1 . 3 9 ; 2 . 1 ; 3 . 2 3 ; 4 . 6 , 4 0 ; 1 1 . 5 4 ; 1 8 . 1 0 ; 2 1 . 1 1 ) .

2. Ele possuía um conhecimento íntimo de Jesus.E m 2 1 . 2 4 o a u t o r é i d e n t i f i c a d o , n ã o p e l o n o m e , m a s c o m o " o d i s c í p u l o q u e

J e s u s a m a v a " ( c o m p a r e c o m 2 1 . 2 0 ) . E s t e " d i s c í p u l o a m a d o " é m e n c i o n a d o

t a m b é m e m 1 3 . 2 3 ; 1 9 . 2 6 ; 2 0 . 2 ; e 2 1 . 7 , e m u i t o s e s t u d i o s o s a c r e d i t a m q u e e l e é

t a m b é m o " o u t r o d i s c í p u l o " a n ô n i m o d e 1 8 . 1 5 ,1 6 . E m c a d a o c a s i ã o e m q u e

e s t e d i s c í p u l o a p a r e c e , a i n t i m i d a d e d e s e u r e l a c i o n a m e n t o c o m J e s u s é

r e s s a l t a d a .

P r i m e i r o e l e a p a r e c e r e c l i n a d o à m e s a p e r t o d e J e s u s n o c e n á c u l o , t ã o p r ó x i m o

d e l e q u e p ô d e s u s s u r r a i - a o se u o u v i d o s e m s e r o u v i d o p e l o s o u t r o s ( 1 3 . 2 1 - 2 5 ;

c o m p a r e c o m 2 1 . 2 0 ) . E m s e g u i d a c o n s t a t a m o s q u e , m u i t o e m b o r a J e su s t e n h a

p r e d i t o q u e t o d o s o s d i sc í p u l o s o a b a n d o n a r i a m ( 1 6 . 3 2 ) , e s t e e s p e c í f i c o d i s c í p u l o

o a c o m p a n h a a t é o p á t i o d a c a s a d o s u m o s a c e r d o t e ( 1 8 . 1 5 ) . N a c r u z J e s u s

c o n f i a a e l e o c u i d a d o d e s u a m ã e ( 1 9 . 2 5 - 2 7 ) , e é e l e a p e s s o a ( n o v a m e n t e c o m

P e d r o ) a q u e m M a r i a M a d a l e n a c o r r e c o m a n o t í c i a d o t ú m u l o v a z i o ( 2 0 . 1 , 2 ).

F i n a l m e n t e , é o d is c í p u l o a m a d o q u e m p r i m e i r o r e c o n h e c e o S e n h o r r e s s u r r e t o

n a p r a i a d a G a l i l é i a e g r i t a p a r a P e d r o : " E o S e n h o r ! " ( 2 1 . 7 ) , e q u e m e m s e g u i d a

p a r t i c i p a d e u m a c o n v e r s a p r i v a d a q u e o S e n h o r t e m c o m P e d r o a p ó s a r e f e i ç ã od a m a n h ã ( 2 1 . 2 0 - 2 3 ) .

S e e s t e " d i s c í p u l o a m a d o " e r a J o ã o , p o d e m o s c o m p l e t a r e s t e r e t r a t o d e

i n t i m i d a d e c o m o s E v a n g e l h o s s i n ó p t i c o s . P e d r o , T i a g o e J o ã o f o r m a v a m j u n t o s

u m c í r c u l o í n t i m o d e n t r o d o s D o z e . p e r m i t i d o p o r J e s u s p a r a t e s t e m u n h a r c e r t o s

e v e n t o s c r u c i a i s . E l e s v ê e m a r e s s u r r e i ç ã o d a f i l h a d e J a i r o ( L u c a s 8 . 5 1 ) ,

t e s t e m u n h a m s u a g l ó r ia n o m o n t e d a T r a n s f i g u r a ç ã o ( M a r c o s 9 . 2 ) , o u v e m s e u

e n s i n o a p o c a l í p t i c o ( M a r c o s 1 3 . 3 ) , e f i c a m a o l a d o d e l e e m s u a a m a r g a a g o n i a

n o j a r d i m ( M a r c o s 1 4 . 3 3 ) .

D e m o d o g e r a l, J o ã o d e s f r u t o u o m á x i m o r e l a c i o n a m e n t o í n t i m o c o m J e s u s ,

e p o r i s s o e s t a v a m a i s q u a l i f i c a d o d o q u e q u a l q u e r o u t r o d o s D o z e a t r a n s m i t i r -

n o s a m e n t e r e c ô n d i t a d o S e n h o r . E l e o v i u c o m s e u s o l h o s ( 1 J o ã o 1 . 1 - 3 ; c o m -

p a r e c o m 1 J o ã o 4 . 1 4 e J o ã o 1 . 1 4 ) ; o u v i u - o c o m s e u s o u v i d o s e t o c o u - o c o ms u a s m ã o s (1 J o ã o 1 . 1 - 3 ) . E l e h a v i a a b s o r v i d o a p r ó p r i a m e n t e d o S e n h o r ,

p e n e t r a d o n o c o r a ç ã o d e s u a a u t o - r e v e l a ç ã o , e v e r d a d e i r a m e n t e c a p t a d o o e s p í r it o

d e s e u M e s t r e .

3. Ele fora profundamente m udado por Jesus.J o ã o e T i a g o , d e a c o r d o c o m M a r c o s , f o r a m a p e l i d a d o s p o r J e s u s " B o a n e r g e s " ,

q u e s i g n i f i c a " f i l h o s d o t r o v ã o " ( M a r c o s 3 . 1 7 ) , e v á r i o s i n c i d e n t e s n a s n a r r a t i v a s

d o E v a n g e l h o r e v e l a m s e u t e m p e r a m e n t o t e m p e s t u o s o . E J o ã o q u e m s e i r ri t a e

p r o í b e o m i n i s t é r i o d o e x o r c i s t a q u e n ã o e r a u m d o s D o z e ( L u c a s 9 . 4 9 , 5 0 ) . S ã o

o s d o i s f i l h o s d o t r o v ã o q u e j u n t o s f i c a m o f e n d i d o s c o m a r e c u s a d e u m a a l d e i a

s a m a r i t a n a d e r e c e b e r J e s u s , e , à s e m e l h a n ç a d e E l i a s , q u e r e m i n v o c a r f o g o d o

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7 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

U m a n t i g o p o ç o

n u m a a l d e i a d aJudé ia . Te r ias i d o a o l a d o d eu m p o ç o c o m oe s t e q u e J e s u ss e e n c o n t r o uc o m a m u l h e rs a m a r i t a n a .(João 4 ) .

céu para consumi-la (Lucas 9.51-56). E são os mesmos i rmãos que vêm com

sua mãe pedir que os melhores assentos no Reino pudessem ser reservados pa raeles (Marcos 10.35-45; Mateus 20.20-28).

Quão pequenos pareciam eles então para compreender o espír i to de Jesus!Ele tem de repreendê-los: "Vós não sabeis de que espírito sois" (Lucas 9.55), enovamen te: "Não sabeis o que pedis" (Mateus 20.22; Marcos 10.38). Entretanto,es te f i lho do t rovão tornou-se conhecido por nós com o "o apóstolo do amor" . Eclaro que o calor do sol do amor de seu Mestre fez com que se evaporassem asnuvens do t rovão.

Agora ele está mais do que aberto ao ministério de outros fora dos Doze: amais ef ic iente evangel is ta em seu Evangelho é a mulher samari tana (4.39). Eagora ele mostra os samaritanos sob a luz mais calorosa possível: eles excedemos judeu s em sua resposta de crença em Jesus (4.42), e " ins tam" com Jesus p ara

ficar com eles (4.40). E agora, longe de procurar reconhecime nto e pos ição aolado do Senhor, e le apaga completame nte seu nom e da his tória e dá a s i mesm oum novo nome, o que regis t ra o único epi táf io que ele deseja: esqueça todo oeu, fui amado por Jesus!

João foi ass im eminentemente apropriado a comunicar o coração de seuSenhor. Ele desejou apresentar seus leitores à Pessoa que ele veio a conhecer eamar. Ele queria que também t ivessem comunhão com Ele (1 João 1.3) , eesperava que eles t ivessem seu caráter transform ado com o ele teve.

Na realidade, ele explica claramente os propósitos para os quais escreveu.Ele esc reveu seu Evange lho pa ra que seus l e i to res c res sem em Jesus eexperimentassem a vida por meio da fé nele (20.31), e escreveu sua primeiracarta àqueles que já acredi tavam, para que pu dessem saber que t inham vida (1João 5.13). Sua teologia é profun da e desafiadora, mas seu propósi to supremo é

prático. Ele quis que seus leitores recebessem a vida eterna e ao mesmo temposoubessem que já a receberam.

Para que seus le i tores recebam a vida eterna devem pôr sua confiança emJesus Cristo, uma vez que nele está a vida (1.4). Portanto, em seu EvangelhoJoão anuncia Jesus Cristo em toda sua glória divino-humana, qu e podemo s vere em quem podemos crer. Em particular, ele parece ter dirigido sua obra aosjudeus , p or enfat izar o meio pelo qual Jesus cum pre e subst i tui todas as grandesinstituições do Judaísmo—o templo, a lei, as festas anuais. O templo e suaadoração se perderam, des truídos pelos romanos no ano 70 d.C.: depois dessadata o Evangelho de João poderia ter t ido um apelo s igni t ivamente poderosopara os judeus, cuja tristeza se converteu em alegria pela descoberta de queDeus já havia reparado aquela perda através de Jesus .

Para seus le i tores saberem que receberam a vida eterna, era necessário quecom preende ssem claram ente as indispensáveis marcas do Cristianismo au têntico.Em suas cartas, especialmente em sua primeira, ele continua a anunciar estascoisas , como veremos.

A men sagem de João: 1. O Ev angelho1. Os fundamentos da féO cam inho para a vida é a fé (3.14-16,36; 6.47; 20.31). Mas sobre o que repousaa fé? João concordaria com a resposta dada por Paulo em Rom anos 10.17: "Afé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cris to." A fé nunca es tá

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7 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

i s o l a d a . E l a é s e m p r e u m a r e s p o s t a a u m a i n i c i a t i v a d e D e u s . E m p a r t i c u l a r , e l a

é d e s p e r t a d a p o r s u a p a l a v r a , o u , c o m o J o ã o d i r i a , p o r s e u " t e s t e m u n h o " . C r e rn o t e s t e m u n h o d e D e u s , d a d o a t r a v é s d e C r i s t o , é t o m a r o s p r i m e i r o s p a s s o s

v i t a i s p a r a a f é q u e l e v a à v i d a e t e r n a : a c i m a d e t u d o , e s t a é a m e n s a g e m d o

E v a n g e l h o d e J o ã o .

A t u a l m e n t e é t e n d ê n c i a d o s e s t u d i o s o s s u st e n t a r q u e J o ã o n ã o a r g u m e n t a e m

f a v o r d a f é , m a s a s s u m e - a . M u i t o s e s t u d i o s o s p r e t e n d e m , a s s i m , q u e o E v a n g e l h o

d e J o ã o n ã o é e v a n g e l í s t i c o , i s t o é, n ã o s e d e s t i n a a c o n v e n c e r o s d e s c r e n t e s

s o b r e a r e t i d ã o d a f é e m C r i s t o . M a s e s t e p o n t o d e v i s t a m a l s e a p l i c a à e v i d ê n c i a

d o p r ó p r i o E v a n g e l h o . A d e c l a r a ç ã o d e J o ã o s o b r e s e u p r o p ó s i t o e m 2 0 . 3 1

e x p r e s s a u m i n t e n t o e v a n g e l í s t i c o ( v e j a o q u a d r o a s e g u i r ) . E n o E v a n g e l h o

e s t e t e m a d o t e s t e m u n h o p a r e c e s e r d e s e n v o l v i d o p a r t i c u l a r m e n t e c o m o s

d e s c r e n t e s j u d e u s e m m e n t e . Q u e t e s t e m u n h o J o ã o a p r e s e n t a ?

a. Testemunho humano. N a s p a l a v r a s d e a b e r t u r a d o E v a n g e l h o , c o m o n a q u e l a s

d a p r i m e i r a c a r t a e d e A p o c a l i p s e , J o ã o t r a z se u p r ó p r i o t e s t e m u n h o s o b r e o

S e n h o r J e s u s C r i s t o : " V i m o s a s u a g l ó r i a " ( 1 . 1 4 ) . A s s i m , e l e i n i c i a s e u E v a n g e l h o

c o m u m a a f i r m a ç ã o , n ã o c o m u m a p r o v a . D o m e s m o m o d o c o m o G ê n e s i s t r a z

c o m o i n t r o d u ç ã o " N o p r i n c í p i o . . . D e u s " , a n u n c i a n d o a e x i s t ê n c i a d o P a i , a s s i m

o E v a n g e l h o d e J o ã o t e m c o m o i n t r o d u ç ã o " N o p r i n c í p i o e r a o V e r b o " , a f i r m a n d o

a p r e e x i s t ê n c i a d o F i l h o c o m D e u s .

E s t a s v e r d a d e s e t e r n a s s ã o o p r o d u t o d a r e v e l a ç ã o d i v i n a , n ã o d a e s p e c u l a ç ã o

h u m a n a . A g o r a , p o r é m , s ã o e l a s c o m u n i c a d a s p e l o a p a i x o n a d o t e s t e m u n h o d e

s e r e s h u m a n o s , q u e se t o r n a r a m c o n v e n c i d o s d e l a s . O E v a n g e l h o c o m e ç a e

t e r m i n a c o m e s t a n o t a d e t e s t e m u n h o a p o s t ó l i c o ( c o m p a r e c o m 2 1 . 2 4 ) . N o s

c a p í t u l o s i n t e r p o s t o s t e m o s u m a s u c e s s ã o d e p e s s o a s q u e s e e n c o n t r a m c o m

J e s u s e d ã o t e s t e m u n h o s o b r e E l e :

• O testemunho d e J o ã o B a t i s t a é i n t r o d u z i d o j u n t a m e n t e c o m o d e J o ã o n o

c o m e ç o ( 1 . 6 - 8 ) , e é o m a i s e l a b o r a d o ( v e j a t a m b é m 1 . 1 9 - 3 6 ; 3 . 2 5 - 3 0 ; 1 0 . 4 0 -

4 2 ) , t a l v e z p o r q u e J o ã o B a t i s t a e r a a m p l a m e n t e r e c o n h e c i d o c o m o u m p r o f e t a

p e l o s j u d e u s n o s d i a s d o a p ó s t o l o J o ã o .

• Uma sucessão de discípulos e n c o n t r a m J e s u s e d ã o t e s t e m u n h o ( 1 . 3 7 - 5 1 ) :

A n d r é c o n v e n c e s e u i r m ã o S i m ã o , e F i l i p e t r a z N a t a n a e l , o q u a l f a z e n t ã o u m a

e x p r e s s i v a c o n f i s s ã o d e f é ( 1 . 4 9 ) .

• Os samaritanos d ã o u m f o r t e t e s t e m u n h o n o c a p í t u l o 4 : p r i m e i r o a m u l h e r

t o r n a - s e c o n v e n c i d a d e q u e J e s u s é " o M e s s i a s " ( 4 . 2 9 ) , e d e p o i s s e u s c o m p a t r i o t a s

a f i r m a m q u e J e s u s é " o S a l v a d o r d o m u n d o " ( 4 . 4 2 ).

• Pedro ( 6 . 6 8 . 6 9 ) , a multidão em Jerusalém ( 7 . 4 0 1 4 2 ) , o homem nascido cego

( 9 . 1 7 ) , Marta ( 1 1 . 2 7 ) , e Tomé ( 2 0 . 2 8 ) t o d o s d ã o d i f e r e n t e s t e s t e m u n h o s d e J e -s u s , d e p e n d e n d o d e s u a s d i f e r e n t e s e x p e r i ê n c i a s c o m E l e . A c o n f i s s ã o d e T o m é

c o m p õ e u m v i g o r o s o c l í m a x d e t o d a a h i s t ó r i a .

E m s u a a p r e s e n t a ç ã o J o ã o n ã o h e s i t a e m i n c l u i r t e s t e m u n h o s c o n t r a J e s u s

( p . e x . , 7 . 5 2 ; 8 . 5 2 , 5 3 ; 9 . 1 6 ; 1 0 . 2 0 ) , e a s s i m s e u s l e i t o r e s s ã o f o r ç a d o s a t o m a r

p a r t i d o : e m q u a l t e s t e m u n h o e l e s c r ê e m ?

P a r a d e c i d i r i s t o , é n e c e s s á r i o a p r e s e n t a r e v i d ê n c i a , e t e s t e m u n h o s p o s t e r i o r e s

s ã o r e q u e r i d o s . E m b o r a e s s a s t e s t e m u n h a s h u m a n a s s e j a m i m p o r t a n t e s , J e s u s

n ã o d e p e n d e d e s e u s t e s t e m u n h o s p a r a v a l i d a r s u a s r e i v i n d i c a ç õ e s ( 5 . 3 4 ) . E l e

a t é a c e i t a o p r i n c í p i o l e g a l : " S e e u t e s t i f i c o a r e s p e i t o d e m i m m e s m o , o m e u

t e s t e m u n h o n ã o é v e r d a d e i r o " ( 5 . 3 1 ). N o s t r i b u n a i s j u d a i c o s n e n h u m t e s t e m u n h o

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PAULO E S U A M E N S A G E M 7 5

João 20.30,31 e o Propósito d o" N a verdade , f ez J es us d ian te dos d i s c ípu los

mui tos ou t ros s ina i s que não es tão es cr i tosnes te l iv ro . Es tes , porém, fo ram reg i s t r adospara que cr e ia i s que J es us é o Cr i s to , o F i lhode D eus , e para que , c r endo , t enhai s v ida ems e u n o m e . "

O s manus cr i tos do t ex to g rego de J oãov a r i a m l e v e m e n t e a q u i , d e u m m o d o q u e t e mp e r m i t i d o a a l g u n s e s t u d i o s o s a r g u m e n t a r q u eo propós i to de J oão não er a o de c r i a r a f é ,m a s m a n t ê - l a . A v a r i a ç ã o a f e t a o t e m p o d ov e r b o t r a d u z i d o " p a r a q u e c r e i a i s " . A l g u n smanus cr i tos t em o t empo grego aor i s to , quep r o d u z i r i a a p a r á f r a s e " t e n h a i s c h e g a d o à f é " .O u t r o s t ê m u m t e m p o p r e s e n t e , q u e r e s u l t a r i aem " podei s v i r a c r er " , e que pode por tan to

impl icar que J oão es creveu com os c r i s t ãose m m e n t e , t e n t a n d o a p o i á - l o s e f o rt a l e c e r s u af é .

E n t r e t a n t o , m e s m o q u e o t e m p o p r e s e n t es e j a c o r re t o , a p a r á f r a s e p o d e r i a i g u a l m e n t e

Evangelhos er " podei s v i r a c r er e a con t inuar na f é" . O t empo

pres en te é us ado com es te s en t ido em J oão 6 . 29 ,d i r ig indo- s e aos não-cren tes .

I n d u b i t a v e l m e n t e o E v a n g e l h o d e J o ã o s u s t e n t a efor t a l ece a f é dos c r en tes , e t em s empre f e i to i s to .Cer tamente , i s to parece s er par t e de s eu propós i to .M a s o p l a n o d e J o ã o é m a i s a m p l a m e n t ee x t e r i o r i z a d o d o q u e m e r a m e n t e i s to . D e 2 0 . 3 0 , 3 1podemos in fer i r t r ês as pec tos a r es pe i to de s eup r o p ó s i t o :

1 . Os "sinais " desempenham um papel vital em s euplano de per s uad i r s eus l e i to r es a c r er .

2 . Ele tem os judeus particularmente em sua mente,p o r q u e e l e s p r e c i s a m a p r e n d e r q u e J e s u s é " oCr i s to" , i s to é , o Mes s ias .

3 . Ele quer que a fé cresça, da f é in te lec tua l queJ es us é o Cr i s to para a f é experencia l que s ign i f i ca" v i d a e m s e u n o m e " .

p o d i a s e r a c e i t o a m e n o s q u e f o s s e c o r r o b o r a d o . O s f a r i s e u s l a n ç a r a m i s t o a

J e s u s e m 8 . 1 3 : " T u d á s t e s t e m u n h o d e t i m e s m o , l o g o o t e u t e s t e m u n h o n ã o é

v e r d a d e i r o . " P o r é m J e s u s a c e i t a e s t e r e p t o e r e p l i c a : " T a m b é m n a v o s s a l e i e s t á

e s c r i t o q u e o t e s t e m u n h o d e d u a s p e s s o a s é v e r d a d e i r o . E u te s t i f i c o d e m i m

m e s m o , e o P a i , q u e m e e n v i o u , t a m b é m t e s t i f i c a d e m i m " ( 8 . 1 7 , 1 8 ) . E a s s i m

u m a s e g u n d a t e s t e m u n h a é c o n v o c a d a :

b. Testemunho divino. O D r . A . E . H a r v e y e s c l a r e c e o s i g n i f i c a d o d e t e r J e s u s

c h a m a d o a D e u s p a r a t e s t e m u n h a r e m 5 . 3 7 e 8 .1 8 ( c o m p a r e t a m b é m c o m 8 . 5 0 ;

1 0 . 3 2 ) . N a s c o r t e s j u d a i c a s , o t e s t e m u n h o s o l i t á r i o p o d i a s e r a c e i t o s e o a c u s a d o

i n v o c a s s e s o l e n e m e n t e a D e u s p a r a t e s t e m u n h a r q u e s u a d e c l a r a ç ã o e r a

v e r d a d e i r a . E s t e e r a u m p a s s o s é r i o a s e r t o m a d o p o r q u e , s e e s t i v e s s e d e f a t o

m e n t i n d o , o a c u s a d o e x p u n h a - s e a o j u l g a m e n t o d e D e u s . E , d e m o d o o p o s t o ,

s e u s a c u s a d o r e s t e r i a m d e p e n s a r d u a s a t r ê s v e z e s a n t e s d e r e p e t i r s u a a c u s a ç ã o ,

p o r q u e e l e s t a m b é m p o d i a m o p o r - s e a D e u s e a t r a i r o j u l g a m e n t o s o b r e s i

m e s m o s .

E s t e é o e s p í r i t o s o l e n e p e l o q u a l J e s u s i n v o c a a D e u s p o r t e s t e m u n h a e m s e u

f a v o r . E m q u a l q u e r c a s o , a n a t u r e z a d a r e i v i n d i c a ç ã o d e J e s u s é t a l q u e s o m e n t eD e u s p o d i a a u t e n t i c á - l a e a p o i á - l a : J e s u s a l e g a s e r o F i l h o , u n i c a m e n t e a u t o r i z a d o

a d a r v i d a e e x e r c e r o j u l g a m e n t o , a m b a s p r e r r o g a t i v a s d o p r ó p r i o D e u s ( 5 . 1 9 -

2 3 ) . A s s i m , é n ã o s o m e n t e u m p a s s o c o r a j o s o , m a s e s s e n c i a l e m s e u c a s o , q u e

J e s u s d e v a c i t a r a D e u s c o m o t e s t e m u n h a e m s e u f a v o r .

A . E . H a r v e y t e m m o s t r a d o p r o v e i t o s a m e n t e , e m s e u l i v r o Jesus sob

Julgamento , c o m o a f i g u r a d o t r i b u n a l d e j u s t i ç a p e r m e i a t o d o o E v a n g e l h o d e

J o ã o . J o ã o a p r e s e n t a s u a n a r r a t i v a d o m i n i s t é r i o d e J e s u s c o m o s e E l e e s t i v e s s e

e m j u l g a m e n t o d o c o m e ç o a o f i m , e n ã o a p e n a s n o f i n a l d i a n t e d o s u m o

s a c e r d o t e . N a r e a l i d a d e , n e s t e E v a n g e l h o J e s u s n u n c a é formalmente j u l g a d o .

E l e é e x e c u t a d o s e m o d e v i d o p r o c e s s o d a l e i, m u i t o e m b o r a E l e m e s m o

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7 8 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

p l e i t e a s s e q u e t e s t e m u n h a s f o s s e m c o n v o c a d a s q u a n d o c o m p a r e c e u d i a n t e d o

s u m o s a c e r d o t e ( 1 8 . 2 1 ) . O j u l g a m e n t o o c o r r e n e s t e s e n t i d o i n f o r m a l , a t r a v é s d et o d o o l i v r o , d e m o d o q u e o s l e i t o r e s d e J o ã o s ã o e l e s m e s m o s c o l o c a d o s e m

c e n a e c o m p e l i d o s a v i r p o r s u a p r ó p r i a d e c i s ã o .

E l e s p e r g u n t a m , c o m o o s o p o s i t o r e s d e J e s u s f a z e m , c o m o D e u s d á t e s t e m u n h o

d e s e u F i l h o ( p . e x . , 8 . 1 9 ) . E s t e t e s t e m u n h o d i v i n o , r e s p o n d e J o ã o , é t r i p l o :

i. O Pai profere seu testemunho por meio dos lábios de Jesus. R e p e t i d a s v e z e s

J e s u s n e g a q u e e x p o n h a s u a s p a l a v r a s p o r s u a p r ó p r i a a u t o r i d a d e . S u a a u t o r i d a d e

é d e r i v a d a d o P a i q u e é se u a u t o r . N ã o é E l e p r ó p r i o a P a l a v r a d o D e u s e n c a r n a d o

( 1 . 1 , 1 4 ) ? E n t ã o s u a s p a l a v r a s s ã o a s p a l a v r a s d e D e u s ( 3 . 3 4 ) :

• " O m e u e n s i n o n ã o é m e u , e s i m d a q u e l e q u e m e e n v i o u " ( 7 . 1 6 ) .

• " N a d a f a ç o p o r m i m m e s m o ; m a s f a l o c o m o o P a i m e e n s i n o u " ( 8 . 2 8 ).

• " E u n ã o t e n h o f a l a d o p o r m i m m e s m o , m a s o P a i q u e m e e n v i o u , e s s e m e t e mp r e s c r i t o o q u e d i z e r e o q u e a n u n c i a r . . .. A s c o i s a s , p o i s , q u e e u f a l o , c o m o o

P a i m e t e m d i t o , a s s i m f a l o " ( 1 2 . 4 9 , 5 0 ) .

• " P o r q u e e u l h e s t e n h o t r a n s m i t i d o a s p a l a v r a s q u e m e d e s t e e e l e s a s r e c e b e r a m .

. .. E u l h e s t e n h o d a d o a t u a p a l a v r a " ( 1 7 . 8 , 1 4 ) .

J e s u s e s p e r a q u e t o d o s o s q u e o o u v e m c r e i a m e m s u a s p a l a v r a s , p o r q u e e l a s

s ã o a s p a l a v r a s d e D e u s . A o f a z e r e s t a s o l e n e a f i r m a ç ã o , E l e e s t á d e l i b e r a d a m e n t e

a l u d i n d o à f a m o s a p r o m e s s a d a d a a M o i s é s e m D e u t e r o n ô m i o 1 8 . 1 8 : " S u s c i ta r -

l h e s - e i u m p r o f e t a d o m e i o d e s e u s i r m ã o s , s e m e l h a n t e a t i , e m c u j a b o c a p o r e i

a s m i n h a s p a l a v r a s , e e l e l h e s f a l a r á t u d o o q u e e u l h e o r d e n a r . "

J o ã o , n a t u r a l m e n t e , a c r e d i t a q u e J e s u s f a l e a s p a l a v r a s d e D e u s n ã o a p e n a s

p o r q u e E l e é u m " p r o f e t a c o m o M o i s é s " , q u e a s p e s s o a s e s t a v a m e s p e r a n d o

( c o m p a r e c o m 1 . 2 1 ) , m a s p o r q u e E l e é m u i t o m a i s q u e u m p r o f e t a : E l e é a

p r ó p r i a " P a l a v r a d e D e u s " e m p e s s o a . M a s c o m o ta l e l e c u m p r e a p r o f e c i a d e

D e u t e r o n ô m i o 1 8 , e s e u s l e i t o r e s p r e c i s a m s e r p o s t o s e m s e u s l u g a r e s : e l e s o

e s c u t a r ã o ?

E m r e l a ç ã o a i s t o é d i g n a d e s e r c o n s i d e r a d a a a d m i r á v e l n o v a d e s i g n a ç ã o d e

D e u s n o E v a n g e l h o d e J o ã o c o m o " a q u e l e q u e m e e n v i o u " . E s t a s p a r á f r a s e s

d o s n o m e s " P a i " e " F i l h o " q u a s e s e m p r e o c o r r e m e m c o n t e x t o s e m q u e a

a u t o r i d a d e d o F i l h o é d e s a f i a d a o u a d o P a i é r e i v i n d i c a d a . " A q u e l e q u e e n v i a "

s u s t e n t a a a u t o r i d a d e d e " q u e m E l e e n v i o u " :

• " O e n v i a d o d e D e u s f a l a a s p a l a v r a s d e l e " ( 3 . 3 4 ) .

• " A q u e l e q u e m e e n v i o u é v e r d a d e i r o , d e m o d o q u e a s c o i s a s q u e d e l e t e n h o

o u v i d o , e s s a s d i g o a o m u n d o " ( 8 . 2 6 ) .

• J e s u s , p o i s , e n q u a n t o e n s i n a v a n o t e m p l o , c l a m o u : . . . " n ã o v i m p o r q u e e u d e

m i m m e s m o o q u i s e s s e , m a s a q u e l e q u e m e e n v i o u é v e r d a d e i r o , a q u e l e a q u e mv ó s n ã o c o n h e c e i s . E u o c o n h e ç o , p o r q u e v e n h o d a p a r t e d e l e e f u i p o r e l e

e n v i a d o " ( 7 . 2 8 , 2 9 ) .

A v a l i d a d e d o t e s t e m u n h o d e J e s u s é d e v i d o à s u a v i n d a d o c é u ( 3 . 1 1 - 1 3 ) .

i i . O Pai dramatiza seu testemunho nas obras d e Jesus. A s " o b r a s " d e J e s u s ,

a s s i m c o m o s u a s " p a l a v r a s " , f o r a m - l h e d a d a s p o r D e u s , d e m o d o q u e s ã o

r e a l m e n t e o b r a s d e D e u s , u m d r a m á t i c o t e s t e m u n h o p a r a a c o n d i ç ã o ú n i c a d e

J e s u s c o m o f i l h o . D o m e s m o m o d o q u e E l e p o d e d i z e r : " O m e u e n s i n o n ã o é

m e u , e s i m d a q u e l e q u e m e e n v i o u " ( 7 .1 6 ) , a s s i m p o d e E l e f a l a r d a s " o b r a s q u e

o P a i m e c o n f i o u p a r a q u e a s r e a l i z a s s e " ( 5 . 3 6 ) ; c o m p a r e c o m 5 . 1 9 - 3 0 e 1 0 . 3 1 -

3 9 ) . A s s i m , o F i l h o a g e " d a p a r t e d o P a i " ( 1 0 . 3 2 ) , e o P a i a g e n o F i l h o ( 1 0 . 3 8 ;

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PAULO E S U A M E N S A G E M 7 7

E s t a s a l a n u m aca sa d e u mr e s i d e n t e r i c o n aJ e r u s a l é m d op r i m e i r o s é c u l od .C. f o ir e c o n s t r u í d a d ea c o r d o c o m ae v i d ê n c i a r e v e l a d ad u r a n t e a si n v e s t i g a ç õ e sa r q u e o l ó g i c a s .

1 4 . 1 0 ) . A s o b r a s s ã o d o P a i , e m b o r a r e a l i z a d a s p o r m e i o d o F i l h o . E s t e d u p l o

t e s t e m u n h o d e p a l a v r a s e o b r a s d e v e r i a t e r s i d o a d e q u a d o p a r a s u s c i t a i - a f é

( 1 4 . 1 1 ) , e n a r e a l i d a d e m u i t a s p e s s o a s s i m p l e s v ê e m a s o b r a s ( 6 . 1 4 ) , o u v e m a sp a l a v r a s ( 7 . 4 0 , 4 1 ) e c r ê e m ( 1 1 . 4 5 ) .

M a s c o m o r e a l m e n t e su a s o b r a s t r a n s m i t e m u m a m e n s a g e m s o b r e E l e ? A

p a l a v r a c a r a c t e r í s t i c a d e J o ã o p a r a o s m i l a g r e s d e J e s u s é " s i n a i s " , p o r q u e e l e s

c o n t ê m a m e n s a g e m q u e a f é p o d e d i s c e r n ir .

N i c o d e m o s e s t á m u i t o c e r t o a o d e c l a r a r q u e J e s u s p o d e r e a l i z a r t a i s " s i n a i s "

s o m e n t e p o r q u e D e u s e s t á c o m E l e : " .. . é s M e s t r e v i n d o d a p a r t e d e D e u s " ( 3 . 2 ) .

M a s , i n d i c a m e l e s a l g u m a c o i s a m a i s s o b r e J e s u s , a l é m d e s t a m e r a p e r c e p ç ã o ?

N i c o d e m o s e s tá c o n f u s o . A l g u n s d a m u l t i d ã o e m J e r u s a l é m p e n s a m q u e o s

s i n a i s p r o v a m q u e E l e é o C r i s t o ( 7 . 3 1 ) . O u t r o s , p o r é m , d i s c o r d a m : o s i r m ã o s

d e J e s u s , p o r e x e m p l o , v ê e m o s s i n a is e n ã o l h e s a t r i b u e m v a l o r ( 7 . 3 -5 ) . M e s m o

q u a n d o a s p e s s o a s c r ê e m p o r c a u s a d o s s i n a i s , J e s u s é , a p e s a r d i s s o , m u i t o

c a u t e l o s o a r e s p e i t o d a q u a l i d a d e d e s u a f é ( 2 . 2 3 - 2 5 ) .

O f a t o é q u e o s s i n a i s p o d e m s o m e n t e f a l a r s e f o r e m i n t e r p r e t a d o s , e é o q u e

J o ã o s e p r o p õ e f a z e r . A s s i m , p o r e x e m p l o , a c u r a d e u m h o m e m a l e i j a d o e m

5 . 1 - 9 n ã o m o s t r a s o m e n t e o e x t r a o r d i n á r i o p o d e r o u m i s e r i c ó r d i a d e J e s u s :

a n t e s m o s t r a s u a a u t o r i d a d e p a r a d i z e r a o p o v o d e D e u s o q u e e l e p o d e f a z e r n o

s á b a d o , e p o s t e r i o r m e n t e r e v e l a s e u r e l a c i o n a m e n t o p e c u l i a r c o m o P a i, p o r q u e

E l e e x i b e a s " o b r a s " d o p r ó p r i o D e u s p o r m e i o d e s u a a ç ã o ( 5 . 9 - 2 0 ) . D e m o d o

s e m e l h a n t e , a a l i m e n t a ç ã o d e c i n c o m i l p e s s o a s ( 6 . 1 - 1 4 ) é d e p o i s i n t e r p r e t a d a

p e l o d e m o r a d o d i á l o g o q u e s e s e g u e , n o q u a l J e s u s s e p r o c l a m a " o p ã o d a v i d a "

( 6 . 2 5 - 5 9 ) . A e s c o l h a d e J o ã o d o s s i n a is p a r a i n c l u i r e m s e u E v a n g e l h o ( 2 0 . 3 0 , 3 1 )

é f e i t a c l a r a m e n t e p o r c a u s a d a c r e s c e n t e m e n s a g e m q u e e l e q u e r t i ra r d e c a d a

u m . V o l t a r e m o s a f a l a r d i s t o m a i s a d i a n t e .

M a s , c o m o p o d e J o ã o c o n v e n c e r s e u s l e i t o r e s d e q u e t i n h a i n t e r p r e t a d o

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8 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

c o r r e t a m e n t e o s s i n a i s d e J e s u s ? C o m o p a s s a r d o t e m p o , c e r t a m e n t e , t a l

c o n v i c ç ã o s e r i a a o b r a d o E s p í r i t o S a n t o ( 1 6 . 8 - 1 1 ) . P o r é m , u m f a t o r i m p o r t a n t ea q u i , e s p e c i a l m e n t e p a r a o s l e i t o r e s j u d e u s , e r a o V e l h o T e s t a m e n t o :

iii. O Pai escreve seu testemunho nas Escrituras do Velho Testamento.• " E x a m i n a i s a s E s c r i t u r a s , p o r q u e j u l g a i s te r n e l a s a v i d a e t e r n a , e s ã o e l a s

m e s m a s q u e t e s t i f i c a m d e m i m . C o n t u d o n ã o q u e r e i s v i r a m i m p a r a t e r d e s

v i d a " ( 5 . 3 9 , 4 0 ) .

• " S e d e f a t o c r ê s s e i s e m M o i s é s , t a m b é m c r e r í e i s e m m i m ; p o r q u a n t o e l e

e s c r e v e u a m e u r e s p e i t o . S e , p o r é m , n ã o c r e d e s n o s s e u s e s c r it o s , c o m o c r e r e i s

n a s m i n h a s p a l a v r a s ? " ( 5 . 4 6 , 4 7 ) .

S u p r e m a m e n t e e f i n a l m e n t e , o t e s t e m u n h o d o P a i s o b r e s e u F i l h o e s t á e s c r i t o

n a s E s c r i t u ra s , c o m o a s s e v e r a m e s t e s d o i s d r a m á t i c o s p r o n u n c i a m e n t o s . N o

d e s e n v o l v i m e n t o d e s t a s d e c l a ra ç õ e s , J o ã o r e c o r r e a o V e l h o T e s t a m e n t o a t r a v é s

d e s e u E v a n g e l h o , t a n t o p o r c i t a ç ã o d i r e t a ( p . e x . , 2 . 1 7 ; 1 2 . 3 7 - 4 1 ; 1 9 . 3 6 , 3 7 ) , e

f r e q ü e n t e m e n t e p o r a l u s ã o a o s t e x t o s o u t e m a s d o V e l h o T e s t a m e n t o . S e u

p r o p ó s i t o a o u s a r e s t e r e c u r s o é m o s t r a r q u e s o m e n t e J e s u s f a z s e n t i d o n o V e l h o

T e s t a m e n t o .

P o r e x e m p l o , a a f i r m a ç ã o e m 5 . 4 6 d e q u e M o i s é s e s c r e v e u a r e s p e i t o d e J e -

s u s l e v a - n o s a o c a p í t u l o 6 , n o q u a l o p a p e l d e M o i s é s c o m o o S a l v a d o r d e

I s r a e l , a q u e l e q u e o t i r o u d o E g i t o , é c o m p a r a d o a o q u e J e s u s a g o r a o f e r e c e .

U m a m u l t i d ã o e s t á a c a m i n h o d e J e r u s a l é m p a r a a P á s c o a ( 6 . 4 ) , a f e s t a e m q u e

o ê x o d o d o E g i t o é c o m e m o r a d o . J e s u s o s a l i m e n t a m i r a c u l o s a m e n t e , t a l c o m o

M o i s é s f e z n a q u e l a é p o c a . A l g u é m n a m u l t i d ã o p e r c e b e a s e m e l h a n ç a e d e c l a r a

q u e J e s u s p o d e s e r o " p r o f e t a c o m o M o i s é s " ( 6 . 1 4 ) . E n t ã o J e s u s d i r i g e - s e a e l e s

( 6 . 2 5 - 5 9 ) , e l h e s d i z q u e :

• M o i s é s n ã o a l i m e n t o u I s r a e l ; f o i D e u s q u e m o f e z ( 6 . 3 2 ) .• O m a n á e r a a l i m e n t o p u r a m e n t e f í s i c o , e e m n a d a c o n t r i b u i u p a r a s a l v a r I s r a e l

d o t e r rí v e l i n i m i g o — o p e c a d o e a m o r t e ( 6 . 4 9 ) . M o i s é s , o s u p r e m o r e c e p t o r e

c o m u n i c a d o r d a l e i n ã o p o d i a s a t i s f a z e r à s n e c e s s i d a d e s m a i s p r o f u n d a s d o

g ê n e r o h u m a n o .

• A g o r a D e u s p r o v ê o a l i m e n t o q u e d á " v i d a e t e r n a " , e f i n a l m e n t e s a t is f a z à q u e l a s

n e c e s s i d a d e s — o p r ó p r i o J e s u s ( 6 . 3 5 ).

• O p r ó p r i o V e l h o T e s t a m e n t o r e c o n h e c e a n e c e s s i d a d e d e m a i s d o q u e M o i s é s

d e u ; p o r q u e o s p r o f e t a s o l h a m à f r e n t e p a r a u m t e m p o e m q u e " s e r ã o t o d o s

e n s i n a d o s p o r D e u s " ( 6 . 4 5 , c i t a n d o I s a í a s 5 4 . 1 3 ) . A q u e l e t e m p o c h e g o u a g o r a !

O d e s a f i o d e J o ã o a o s s e u s l e i t o r e s é o m e s m o d e J e s u s a o s f a r i s e u s e m 7 . 2 4 ,

e m q u e o s i g n i f i c a d o d a c i r c u n c i s ã o e s t á e m d i s c u s s ã o : " N ã o j u l g u e i s s e g u n d o

a a p a r ê n c i a , e s i m p e l a r e t a j u s t i ç a . " S e e l e s r e a v a l i a r e m s u a c o m p r e e n s ã o d a sE s c r i t u r a s , v e r ã o c o m o J e s u s a s c u m p r e .

2. Inspecionando o EvangelhoA e s t r u t u r a d o E v a n g e l h o d e J o ã o é c o m p l e x a ; p o r i s s o , q u a l q u e r a n á l i s e r á p i d a

e s t á s u j e i t a a s e t o r n a r s u p e r f i c i a l . E n t r e t a n t o , v a m o s s e g u i r a d i r e ç ã o d o p r ó p r i o

J o ã o e f o c a l i z a r n o s s o r e s u m o n o s " s i n a i s " .

a. Agua em vinho—uma nova ordem. O p r i m e i r o c a p í t u l o a p r e s e n t a J e s u s c o m o

a P a l a v r a d e D e u s f a l a d a d e u m a f o r m a n o v a . A n t e r i o r m e n t e , D e u s f a l o u a t r a v é s

d o s p r o f e t a s , c o m o J o ã o B a t i s t a . M a s a g o r a s u a P a l a v r a " s e f e z c a r n e " ( 1 . 1 4 ) .

I s t o s i g n i f i c a t o d o u m n o v o e s t á g i o e m s e u r e l a c i o n a m e n t o c o m o m u n d o : " A

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PAULO E S U A M E N S A G E M 7 9

l e i f o i d a d a p o r i n t e r m é d i o d e M o i s é s ; a g r a ç a e a v e r d a d e v i e r a m p o r m e i o d e

J e s u s C r i s t o " ( 1 . 1 7 ) .

E s t a " n o v a o r d e m " é s i m b o l i z a d a p e l o p r i m e i r o s i n a l , a t r a n s f o r m a ç ã o d aá g u a e m v i n h o ( 2 . 1 - 1 1 ) . J e s u s t o m a o q u e o J u d a í s m o o f e r e c e c o m o u m m e i o

d e p u r i f i c a ç ã o ( 2 . 6 ) e o t r a n s f o r m a e m a l g o q u e r e a l m e n t e s a t i s f a z à n e c e s s i d a d e .

E s t a m e n s a g e m é e n t ã o t r a n s p o r t a d a : p r i m e i r o J e s u s p u r i f i c a o t e m p l o , o f o c o

d a re l i g i ã o d a " v e l h a o r d e m " , e f a l a d e u m n o v o t e m p l o , s e u c o r p o ( 2 . 2 1 ) . E m

s e g u i d a E l e d i z a N i c o d e m o s , " m e s t r e e m I s r a e l " ( 3 . 1 0 ) , r e p o s i t ó r i o d o

a p r e n d i z a d o m a i s p r o f u n d o d i s p o n í v e l n o J u d a í s m o , q u e e l e p r e c i s a s e r

c o m p l e t a m e n t e r e f e i t o p e l o E sp í r i to . E l o g o a s e g u i r a m e s m a m e n s a g e m é

c o m u n i c a d a a o s s a m a r i t a n o s , q u a n d o J e s u s l h e s o f e r e c e , a t r a v é s d a m u l h e r ,

" u m a f o n t e a j o r r a r p a r a a v i d a e t e r n a " ( 4 . 1 4 ) , á g u a m a i s i m p o r t a n t e q u e a d o

p o ç o d e J a c ó .

b. Duas curas—no va vida, novo julgamento. O s d o i s s i n a i s e m 4 . 4 6 - 5 4 e 5 . 1 - 9

f o r m a m u m p a r q u e é e n t ã o i n t e r p r e t a d o a t r a v é s d o g r a n d e d i s c u r s o e m 5 . 1 9 -

4 7 . N e s t e d i s c u r s o J e s u s f a z a m a i s o u s a d a r e i v i n d i c a ç ã o p o s s í v e l : q u e , c o m o

F i l h o , E l e e x e r c e o s p r i v i l é g i o s d o p r ó p r i o D e u s , p a r t i c u l a r m e n t e p a r a c o n -

c e d e r v i d a ( 5 . 2 1 ) e p r o f e r i r j u l g a m e n t o ( 5 . 2 2 ) . " J u l g a m e n t o " n e s t e c o n t e x t o

n ã o q u e r d iz e r a p e n a s c o n d e n a ç ã o , m a s e x p r e s s a a id é i a d e d e c i s ã o r e a l e d e c r e t o .

C o m o j u i z , J e s u s , o F i l h o , t e m a a u t o r i d a d e d e d e c i d i r s o b r e a v i d a e a m o r t e

p a r a t o d o s ( 5 . 2 5 - 3 0 ) .

E s t e s d o i s p r i v i l é g i o s s ã o " a n u n c i a d o s " n a s d u a s a ç õ e s q u e p r e c e d e m a

r e i v i n d i c a ç ã o . J e s u s p r o f e r e u m a f r a s e q u e v i v i f i c a : "V a i , d i s s e - l h e J e s u s ; t e u

f i l h o v i v e " ( 4 . 5 0 ) — e o f i l h o v i v e . E m s e g u i d a E l e p r o n u n c i a o j u l g a m e n t o a o

h o m e m a l e i j a d o , n ã o s o m e n t e p a r a o rd e n a r - l h e q u e s e l e v a n t e , m a s t a m b é m

p a r a d i z e r - l h e q u e c a r r e g u e s u a c a m a n o s á b a d o ( 5 . 8 - 1 0 ) , e a d v e r t i - l o : " N ã o

p e q u e s m a i s , p a r a q u e n ã o t e s u c e d a c o i s a p i o r " ( 5 . 1 4 ) .

c. Alimentando os 5.000— Jesus, o pão da vida. E x p l a n a n d o s u a r e i t e r a ç ã o d oê x o d o , J e s u s a l e g a t r ê s v e z e s s e r " o p ã o d a v i d a " ( 6 . 3 5 , 4 8 , 5 1 ) . Q u a n d o E l e

p a r t e o s p ã e s e a l i m e n t a o s 5 . 0 0 0 ( 6 . 1 - 1 5 — o ú n i c o m i l a g r e r e g i s t r a d o p e l o s

q u a t r o e v a n g e l i s t a s ) , E l e e s t á s i m b o l i z a n d o a d á d i v a d e s u a p r ó p r i a c a r n e " q u e

d a r e i p e l a v i d a d o m u n d o " ( 6 . 5 1 ) .

E l e e s t á a q u i s e r e f e r i n d o c l a r a m e n t e à s u a c r u z . E s u a c a r n e d i l a c e r a d a q u e

c o n s t i t u i o " o a l i m e n t o r e a l " , e é s e u s a n g u e d e r r a m a d o a " b e b i d a r e a l " ( 6 . 5 5 ) .

S o m e n t e p o r m e i o d e s u a m o r t e é q u e a v i d a s e t o r n a d i s p o n í v e l p a r a n ó s .

C o m e r e b e b e r s ã o a s u r p r e e n d e n t e i l u s t r a ç ã o d a f é , i s t o é , a a c e i t a ç ã o p e s s o a l

d e C r i s to , a a b s o r ç ã o e s p i r i t u a l d e s u a v i d a p o r n ó s m e s m o s ( 6 . 5 7 ) . C o m p a r a n d o

6 . 4 7 c o m 6 . 5 4 , v e m o s c l a r a m e n t e q u e " c r e r " é e q u i v a l e n t e a " c o m e r e b e b e r " .

S e e s t e d i s c u r s o é h i s t ó r ic o , d i f i c i l m e n t e e l e s e r á u m a r e f e r ê n c i a d i r e t a à C e i a

d o S e n h o r , q u e n ã o t i n h a s i d o a i n d a i n s t i t u í d a . E n t r e t a n t o , m u i t o s e s t u d i o s o sa c r e d i t a m q u e J o ã o e s c r e v e u s e u E v a n g e l h o t e n d o c o m o p a n o d e f u n d o o c e n á r i o

d o s s e r v i ç o s d e c u l t o d a i g r e j a , e q u e e l e p r ó p r i o t e r i a i n t e r p r e t a d o e s t e d i s c u r s o

c o m o r e f e r i n d o - s e à S a n t a C o m u n h ã o . E c e r t a m e n t e a p r o p r i a d o s e n t ir q u e ,

q u a n d o r e u n i d o s p a r a c e l e b r a r a C e i a d o S e n h o r , e s t a m o s p a r t i c u l a r m e n t e a p t o s

a e x e r c e r a f é d a q u a l e s t a p a s s a g e m f a l a .

d. Curando um homem cego—Jesus, a luz do mundo. N o c a p í t u l o 6 J e s u s

a p r e s e n t a - s e c o m o s u b s t i t u t o d a f e s t a d a P á s c o a ; n o s c a p í t u l o s 7 - 1 0 E l e f a z o

m e s m o e m r e l a ç ã o à f e s t a m a i o r d o c a l e n d á r i o j u d a i c o , a f e s t a d o s t a b e r n á c u l o s .

O c e n t r o d e a t e n ç ã o d e s t a p a r t e é a c u r a d e u m c e g o d e n a s c e n ç a ( c a p í t u l o 9 ) .

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8 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

A q u i n o v a m e n t e u m a t o f í s i c o s i m b o l i z a u m a v e r d a d e e s p i r i t u a l . P o r d u a s

v e z e s n e s t a p a r t e J e s u s p r o c l a m a : " E u s o u a l u z d o m u n d o " ( 8 . 1 2 ; 9 . 5 ) . E s t a éu m a r e f e r ê n c i a à f a m o s a c e r i m ô n i a d a s l u z e s q u e t i n h a l u g a r d u r a n t e a f e s t a d o s

t a b e r n á c u l o s , q u a n d o g r a n d e s l â m p a d a s e r a m c o l o c a d a s n o t e m p l o ,

r e p r e s e n t a n d o a " c o l u n a d e f o g o " q u e I s r a e l t i n h a p a r a s e g u i r a t r a v é s d o d e s e r t o .

A g o r a , p o r é m , J e s u s c l a m a : " E u s o u a l u z d o m u n d o ; q u e m m e s e g u e n ã o a n d a r á

n a s t r e v a s , a o c o n t r á r i o t e r á a l u z d a v i d a " ( 8 . 1 2 ) .

U m a v e z q u e , d e p o i s d e 7 0 d . C . , a f e s t a d o s t a b e r n á c u l o s n ã o m a i s e r a c e l e b r a d a

n o t e m p l o , a m a n i f e s t a ç ã o d e J e s u s d i r i g e - s e à n e c e s s i d a d e s e n t i d a p o r m u i t o s

j u d e u s d a q u e l e s t e m p o s . T a m b é m e l e s , c o m o o c e g o d o s t e m p o s a n t e r i o r e s, o

q u a l f o r a e x p u l s o d a s i n a g o g a ( 9 . 3 4 ) , t i n h a m p e r d i d o se u l u g a r d e a d o r a ç ã o .

M a s J e s u s e n c o n t r a - s e c o m o c e g o e r e s t a u r a s e u c u l t o , d a n d o - l h e u m a v i s t a

e s p i r i t u a l p a r a c o m b i n a r c o m s u a v is t a f í s i c a . E n t ã o , q u a n d o s e c u r v a e m

a d o r a ç ã o d i a n t e d o F i l h o d o H o m e m ( 9 . 3 5 - 3 8 ) , e l e m a n t é m a e s p e r a n ç a e u m a

m e n s a g e m a t o d o s o s q u e n e c e s s i t a m d e t a l r e s t a u r a ç ã o : a d o r e o F i l h o d o H o m e m ,

q u e é a l u z d o m u n d o , e v o c ê c e l e b r a r á r e a l m e n t e a f e s t a d o s t a b e r n á c u l o s !

e. Ressuscitando Lázaro— Jesus, a ressurreição e a vida. A r e s s u r r e i ç ã o d e L á z a r o

( c a p í t u l o 1 1 ) é o ú l t i m o g r a n d e a t o p ú b l i c o d e J e s u s a n t e s d e s u a p r ó p r i a m o r t e .

J o ã o p r e p a r a s e u s l e i t o r e s p a r a i s t o p o r m e i o d o " D i s c u r s o d o B o m P a s t o r " n o

c a p í t u l o 1 0 . A q u i a p r e n d e m o s q u e , s e J e s u s d e v e i r e m b u s c a d a s " o v e l h a s " e

m i n i s t r a r a e l a s , c o m o o h o m e m c e g o d o c a p í t u l o 9 , e n t ã o i s t o s e d a r á a o c u s t o

d e s u a p r ó p r i a v i d a . C o m o o b o m p a s t o r , E l e d á s u a v i d a p e l a s o v e l h a s

( 1 0 . 1 1 , 1 4 , 1 5 ) .

E s t a a u t o - e n t r e g a d e J e s u s é d r a m a t i c a m e n t e p r e f i g u r a d a n o c a p í t u l o 1 1 . E l e

e s c a p a d e u m a v i o l e n t a h o s t i l i d a d e e m J e r u s a l é m e c r u z a o r i o J o r d ã o p a r a s u a

s e g u r a n ç a ( 1 0 . 3 1 , 3 9 , 4 0 ) . T o m é s a b e p e r f e i t a m e n t e b e m q u e s e r á u m s u i c í d iov o l t a r a J e r u s a l é m ( 1 1 . 1 6 ) . M a s J e s u s , a p e s a r d i s s o , r e t o r n a p o r q u e s o m e n t e e l e

p o d e s a l v a r L á z a r o . A r e s s u r r e i ç ã o d e L á z a r o e s t á l i g a d a à r e t u m b a n t e

r e i v i n d i c a ç ã o : " E u s o u a r e s s u r r e i ç ã o e a v i d a " ( 1 1 . 2 5 ) . M a s e s t á c l a r o q u e

J e s u s s o m e n t e p o d e s e r a " r e s s u r r e i ç ã o e a v i d a " p a r a L á z a r o a o c u s t o d e s u a

p r ó p r i a v i d a . E a s s i m n ã o n o s s u r p r e e n d e q u a n d o o s i n é d r i o s e r e ú n e e d e c i d e

q u e a r e s s u r r e i ç ã o d e L á z a r o é a ú l t i m a g o t a . S e J e s u s c o n t i n u a r s u a m i s s ã o , a s

c o n s e q ü ê n c i a s s e r ã o i n c a l c u l á v e i s . E l e d e v e m o r r e r ( 1 1 . 4 7 - 5 3 ) .

A s s i m , t a n t o a m o r t e d e J e s u s c o m o s u a r e s s u r r e i ç ã o s ã o p r e n u n c i a d a s n o s

c a p í t u l o s 1 0 e 1 1. O c a p í t u l o 1 0 a p r e s e n t a - o c o m o o b o m p a s t o r q u e m o r r e

p e l a s o v e l h a s , e o c a p í t u l o 1 1 c o m o a r e s s u r r e i ç ã o q u e d á v i d a a o s m o r t o s . A

p a r t i r d e s t e p o n t o a h i s t ó r i a t o m a s e u r u m o i n e v i t á v e l . A p a r t i d a d e J e s u s d e s p o n t a

n o h o r i z o n t e ( 1 3 . 1 ) . E l e s e r e t i r a a u m l u g a r p r i v a d o c o m s e u s d i s c í p u l o s ep r e p a r a - o s p a r a u m a v i d a e m q u e a a l e g r i a d e s u a p r e s e n ç a f í s i c a s e r á s u b s t i t u í d a

p o r u m a u n i ã o e sp i r i tu a l c o m E l e (c a p í t u l o s 1 4 - 1 6 ). S e g u e m - s e o s m o m e n t o s

f a c t u a i s d e s u a d e t e n ç ã o , m o r t e e r e s s u r r e i ç ã o ( c a p í t u l o s 1 8 - 2 1 ) .

A t r a v é s d e s t a e x c i t a n t e a p r e s e n t a ç ã o J o ã o a l m e j a q u e s e u s l e i t o r e s v e n h a m

c o m p a r t i l h a r a f é , e x p e r i m e n t a r a v i d a e a s s o c i a r - s e à c o m p a n h i a d o s s e g u i d o r e s

d e J e s u s C r i s t o .

A mensag em de João: 2. As cartasA s c a r t a s d e J o ã o s u p l e m e n t a m s e u E v a n g e l h o , e m b o r a n ã o e s t e j a c l a r o s e e l a s

f o r a m e s c r i t a s a n t e s o u d e p o i s . A s o p i n i õ e s e n t r e o s e s t u d i o s o s v a r i a m , m a s o

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PAULO E S U A M E N S A G E M 8 1

c o s t u m e d e d i r i g i r - s e a s e u s l e i t o r e s c o m o " a m a d o s " e " f i l h i n h o s " , e o f a t o d e

c h a m a r a si m e s m o " p r e s b í t e r o " ( 2 J o ã o 1 ; 3 J o ã o 1 ), s u g e r e q u e e l e p o d e e s t a r

e s c r e v e n d o e m s u a i d a d e a v a n ç a d a . E n t r e t a n t o , s e j a q u a l f o r a d a t a , a m e n s a g e m

d a s c a r t a s d e s e n v o l v e a q u e l a d o E v a n g e l h o . E v i d e n t e m e n t e n ã o p o d e m o s

d e s f r u t a r u m a d á d i v a a m e n o s q u e s a i b a m o s q u e a p o s s u í m o s . A f é p r e c i s a d e

c e r t e z a . P o r t a n t o , s e D e u s d e s e j a q u e r e c e b a m o s e d e s f r u t e m o s a v i d a e t e r n a( J o ã o 6 . 4 0 ) , o c o n h e c i m e n t o q u e d e f a t o r e c e b e m o s é v i t a l. J o ã o e s c r e v e u s u a

p r i m e i r a c a r t a , p o r t a n t o , " a f i m d e s a b e r d e s q u e t e n d e s a v i d a e t e r n a , a v ó s

o u t r o s q u e c r e d e s e m o n o m e d o F i l h o d e D e u s " ( 1 J o ã o 5 . 1 3 ) .

E l e f o i i m p e l i d o a f a z e r i s t o p e l a s c i r c u n s t â n c i a s d e s u a p r ó p r i a i g r e j a . S e

J o ã o e s t a v a e s c r e v e n d o e m su a v e l h i c e , p o d e m o s r a z o a v e l m e n t e s e g u i r a

e v i d ê n c i a d e I r i n e u e i m a g i n á - l o a g i n d o c o m o u m p r e s b í t e r o l í d e r n a i g r e j a e m

É f e s o . É f e s o e r a u m a g r a n d e c i d a d e , e o c e n t r o c u l t u r a l e e c o n ô m i c o d e u m a

g r a n d e r e g i ã o a d j a c e n t e . P a r e c e q u e a s t r ê s c a r t a s d e J o ã o f o r a m e s c r i t a s a

c o n g r e g a ç õ e s l o c a i s n a " á r e a p e r i f é r i c a d e É f e s o " , s o b r e a s q u a i s o v e l h o a p ó s t o l o

e x e r c i a o r i e n t a ç ã o p a s t o r a l e s u p e r v i s ã o .

A i g r e j a e m É f e s o e s t a v a e v i d e n t e m e n t e s e n d o p e r t u r b a d a p o r e n s i n o f a l s o

d e u m a e s p é c i e p a r t i c u l a r m e n t e p e r i g o s a . O s m e s t r e s h e r e g e s e r a m " a n t i c r i s t o s "( 1 J o ã o 2 . 1 8 ) , " m e n t i r o s o s " ( 2 . 2 2 ) , " e n g a n a d o r e s " ( 2 . 2 6 ; 2 J o ã o 7 ) , e " f a l s o s

p r o f e t a s " ( 4 . 1 ) . J o ã o q u e r i a t a n t o e x p o r s u a h i p o c r i s i a c o m o c o n f i r m a r a f é d o s

v e r d a d e i r o s c r e n t e s . A h e r e s i a p a r e c e t e r s i d o u m a e s p é c i e d e g n o s t i c i s m o

p r e c o c e , m u i t o s e m e l h a n t e , s e n ã o i d ê n t i c a , à q u e l a e n s i n a d a p o r u m t al C e r i n t o ,

q u e p o d e t e r s i d o u m a d v e r s á r i o d e J o ã o e m É f e s o .

H a v i a t r ê s e l e m e n t o s p a r t i c u l a r e s n e s t e e n s i n o v e n e n o s o .

1. Erro cristológicoJ o ã o a c u s a o s h e r e g e s d e " t e r o P a i , m a s n e g a r o F i l h o " ( 2 . 2 2 , 2 3 ; c o m p a r e c o m

2 J o ã o 9 ) . I r i n e u a j u d a - n o s a c o m p r e e n d e r e s t a a c u s a ç ã o . E l e s p r o v a v e l m e n t e

J o ã o f i c o ui n t i m a m e n t el igado à ig re ja emÉfeso , e ac red i ta -s e q u e t e n h amor r ido lá . Es tas

r u í n a s f a z e mpar te dam a j e s t o s a i g r e j ad e d i c a d a a J o ã o ,c o n s t r u í d a a l i p o rJ u s t i n i a n o n os e x t o s é c u l o .

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8 2 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

e n s i n a v a m q u e Je s u s d e N a z a r é e r a u m h o m e m c o m u m , f il h o n a t u r a l d e J o s é e

M a r i a . Q u a l q u e r i d é i a d e e n c a r n a ç ã o e r a i m p o s s í v e l p a r a e le s , p o r q u e

c o n s i d e r a v a m o a s s u n t o e s s e n c i a l m e n t e n o c i v o . S o b r e e s t e h o m e m , e m s e u

b a t i s m o , " o E s p í r i t o " o u " o C r i s t o " d e s c e u ; a p e n a s p a r a d e i x á - l o e r e t o r n a r a o

c é u a n t e s d a c r u z . P o r t a n t o , q u a n d o J o ã o d i z q u e e l e s n e g a m " q u e J e s u s é o

C r i s t o " ( 2 . 2 2 ), d e v e m o s n a t u r a l m e n t e e n t e n d e r q u e i st o s i g n i f i c a q u e e l e s

n e g a v a m q u e J e s u s e o C r i s t o s ã o u m a e a m e s m a p e s s o a . M a i s t a r d e J o ã o

c o m e n t a e s t e p o n t o d e v i s t a c o m o u m a n e g a ç ã o d e " J e s u s C r i s t o v i n d o e m

c a r n e " ( 2 J o ã o 7 ; c o m p a r e c o m 1 J o ã o 4 . 2 ) , e i s t o p a r e c e r e f l e t i r a m e s m a

d i s t i n ç ã o e n t r e " J e s u s " e " o C r i s t o " .

P a r a J o ã o ta l d e s p r o p ó s i t o é u m a n e g a ç ã o ta n t o d a e n c a r n a ç ã o c o m o d a

e x p i a ç ã o . E l e d e s p o j a a p e s s o a d e C r i s t o d e s u a d i v i n d a d e , d o s e u e n s i n o c o m

a u t o r i d a d e , e d a e f i c á c i a d e s u a m o r t e . J o ã o a f i r m a n o s t e r m o s m a i s f o r t e s

p o s s í v e i s q u e n i n g u é m q u e r e j e i t a o F i l h o p o d e t e r o P a i ( 2 . 2 3 , 2 4 ) . J e s u s , o

C r i s t o , o F i l h o d e D e u s , é " a q u e l e q u e v e i o p o r m e i o d e á g u a e s a n g u e " ( 5 . 6 ) .

E s t a é u m a f r a s e o b s c u r a , m a s p o d e b e m r e f e r i r - s e a o s e u b a t i s m o e à s u a c r u z ,

a m b o s o s q u a i s , J o ã o d e c l a r a e m o p o s i ç ã o a o e n s i n o h e r é ti c o , f o r a m e x p e r i ê n c i a s

a t r a v é s d a s q u a i s p a s s o u o d i v i n o - h u m a n o J e s u s d e N a z a r é .

2. Auto-engano moralO s h e r e g e s e s t a v a m e q u i v o c a d o s t a n t o e m é t i c a c o m o e m d o u t r i n a , e

p r o v a v e l m e n t e p e l a m e s m a r a z ã o b á s i c a . S e o a s s u n t o é e s s e n c i a l m e n t e n o c i v o ,

n ã o s o m e n t e a e n c a r n a ç ã o é i m p o s s í v e l , m a s o c o r p o h u m a n o é m e r a m e n t e u m

i n v ó l u c r o p a r a o e s p í r i t o , e a m o r a l i d a d e t o r n a - s e u m a q u e s t ã o d e i n d i f e r e n ç a .

N a d a d o q u e o c o r p o f a z p o d e p r e j u d i c a r o e s p í r i t o in t e r i o r . É p o s s í v e l , e l e s

t a l v e z a r g u m e n t a v a m , " s e r j u s t o " s e m " f a z e r j u s t i ç a " — e s t a r n u m r e l a c i o n a m e n t o

c o r r e t o c o m D e u s s e m a c o r r e p o n d e n t e c o r r e ç ã o n a v i d a .

J o ã o c o m b a t e a r d o r o s a m e n t e e s t e s e g u n d o e r r o .

• " A q u e l e q u e d i z : ' E u o c o n h e ç o ' , e n ã o g u a r d a o s s e u s m a n d a m e n t o s , é

m e n t i r o s o " ( 2 . 4 ) .

• " F i l h i n h o s , n ã o v o s d e i x e i s e n g a n a r p o r n i n g u é m ; a q u e l e q u e p r a t i c a a j u s t i ç a

é j u s t o , a s s i m c o m o e l e é j u s t o " ( 3 . 7 ) .

• " N ã o i m i t e s o q u e é m a u , s e n ã o o q u e é b o m . A q u e l e q u e p r a t i c a o b e m p r o c e d e

d e D e u s , a q u e l e q u e p r a t i c a o m a l j a m a i s v i u a D e u s " ( 3 J o ã o 1 1 ).

• " S e d i s s e r m o s q u e n ã o t e m o s p e c a d o n e n h u m , a n ó s m e s m o s n o s e n g a n a m o s ,

e a v e r d a d e n ã o e s t á e m n ó s " ( 1 J o ã o 1 . 8 ) .

João e C erinto

V i m o s a c i m a o n o t á v e l r a s t o d e m e m ó r i a q u e l i g aJ oão . por in te rmédio de Po l i carpo , a I r ineu . I s ton ã o p o d e s e r i n f a l í v e l , n a t u r a l m e n t e , m a s u melem ento ne le é a t rad ição de que nos ú l t imos anosde s ua v ida J oão s e opôs a Cer in to em Éfes o .

I r ineu r e f er e- s e a um in c iden te par t i cu lar , que d izte r ouv ido de Po l i carpo . J oão fug iu de um balneár iop ú b l i c o e m É f e s o , e x c l a m a n d o : " S a l v e m o - n o s ! Obalneár io va i des abar , porque den t ro es t á Cer in to ,

o i n i m i g o d a v e r d a d e ! " O s d e t a l h e s p a r e c e minveros s ímeis , mas es te ep i s ód io ao menos a tes t a aa r d e n t e p r e o c u p a ç ã o c o m a v e r d a d e q u e c a r a c t e r i z aas t r ês car t as de J oão .

I r i n e u a p r e s e n t a u m r e s u m o d e t a l h a d o d o e n s i n ode Cer in to , que podemos r e lac ionar à ev idência dasc a r t a s d e J o ã o p a r a f o r m a r u m a i m a g e m d a h e r e s i aa que o após to lo s e opunha .

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PAULO E S U A M E N S A G E M 8 3

J o ã o p r e o c u p a v a -se de que os

c r e n t e s t i v e s s e mv i d a si r r e p r e e n s í v e i s ep u r a s ; h a v i a m u i t a sten tações a ev i ta r ,Es t e s i n a l g r a v a d on u m a p e d r a e n t r eas ru ínas da an t igaÉ f e s o m a r c a v a ol o c a l d e u m b o r d e l .

P o r t a n t o , o f i l h o d e D e u s d e v e " p u r i f i c a r - s e a s i m e s m o , a s s i m c o m o e l e é

p u r o " ( 3 . 3 ) . J o ã o é i n f l e x í v e l n e s t e p o n t o :

• " A q u e l e q u e p r a t i c a o p e c a d o p r o c e d e d o d i a b o , p o r q u e o d i a b o v i v e p e c a n d o

d e s d e o p r i n c í p i o . P a r a i s t o s e m a n i f e s t o u o F i l h o d e D e u s , p a r a d e s t r u i r a s

o b r a s d o d i a b o . T o d o a q u e l e q u e é n a s c i d o d e D e u s n ã o v i v e n a p r á t i c a d e

p e c a d o ; p o i s o q u e p e r m a n e c e n e l e é a d i v i n a s e m e n t e ; o r a , e s s e n ã o p o d e v i v e r

p e c a n d o , p o r q u e é n a s c i d o d e D e u s " ( 3 . 8 , 9 ) .

J o ã o n ã o e s t á e n s i n a n d o a t o t a l i m p o s s i b i l i d a d e d e p e c a r , p o r q u e e l e d e c l a r o u

e m 2 . 1 q u e h á p e r d ã o g r a t u i t o " s e a l g u é m p e c a r " . E l e e s t á a n t e s e n s i n a n d o a

t o t a l i m p r o p r i e d a d e d o p e c a d o p a r a a l g u é m q u e f o i t r a z i d o a o n o v o n a s c i m e n t o

p o r D e u s . N e s t a ê n f a s e J o ã o s e j u n t a a s e u M e s t r e : o J e s u s q u e e x p ô s a v i d a

i m o r a l d a m u l h e r s a m a r i t a n a ( J o ã o 4 . 1 6 - 1 8 ) , d i s s e a o j u s t o N i c o d e m o s q u e e l e

p r e c i s a v a n a s c e r d e n o v o ( 3 . 1 - 1 5 ) , a d v e r t i u o a l e i j a d o q u e n ã o m a i s p e c a s s e

( 5 . 1 4 ) , d i s s e a o s f a r i s e u s q u e e l e s e r a m m e r o s e s c r a v o s d o p e c a d o ( 8 . 3 4 ) ,

i n c e n t i v o u s e u s d i s c í p u l o s a g u a r d a r e m s e u s m a n d a m e n t o s ( 1 4 . 1 5 , 2 1 - 2 4 ) , e

o r o u p a r a q u e o P a i g u a r d a s s e e s a n t i f i c a s s e o s q u e e r a m s e u s ( 1 7 . 1 7 ) ; e s t e

J e s u s e r a o S a n t o q u e e x i g i a a v e r d a d e n a s c o i s a s e s p i r i t u a i s . " F i l h i n h o s , g u a r d a i -

v o s d o s í d o l o s " ( 1 J o ã o 5 . 2 1 ) f o r a m a s ú l t i m a s p a l a v r a s d e J o ã o a e l e s.

3. Auto-exaltação espiritualO t e r c e i r o a s p e c t o d o s i s t e m a d o s h e r e g e s q u e m e r e c e a c o n d e n a ç ã o d o a p ó s t o l o

e r a su a a t i tu d e d e s u p e r i o r i d a d e e m r e l a ç ã o a o u t r e m . E r a m r e l i g i o s o s e s n o b e s

q u e a l e g a v a m t e r u m a r e v e l a ç ã o e s p e c i a l p r ó p r i a ( 4 . 1 - 3 ) . E r a m o s " e s p i r i t u a i s " ,

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8 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

a a r i s t o c r a c i a i l u s t ra d a , a e l i te r e l i g i o s a . E l e s m e n o s p r e z a v a m o s d e m a i s .

J o ã o c o n t r a d i z c a t e g o r i c a m e n t e s u a p r e t e n s ã o . E s c r e v e n d o a t o d a a i g r e j ae l e d i z : " V ó s p o s s u í s a u n ç ã o q u e v e m d o S a n t o , e t o d o s t e n d e s c o n h e c i m e n t o . . .

a u n ç ã o q u e d e l e r e c e b e s t e s p e r m a n e c e e m v ó s , e n ã o t e n d e s n e c e s s i d a d e d e

q u e a l g u é m v o s e n s i n e " ( 1 J o ã o 2 . 2 0 , 2 7 ) . N ã o h á r e v e l a ç ã o s e c r e t a . O e n s i n o

a p o s t ó l i c o — e a c o n v i c ç ã o p r o f u n d a e í n t i m a d e s u a v e r d a d e d a d a p e l o E s p í r i t o —

é a p o s s e s s ã o d e t o d a a i g r e j a .

A l é m d i s s o , o s m e m b r o s d a i g r e j a d e v e m a m a r - s e r e c i p r o c a m e n t e . S ã o i r m ã o s

e i r m ã s . E m s u a ú l t i m a o r a ç ã o o S e n h o r p e d i u a o P a i q u e s e u s d i s c í p u l o s f o s s e m

u n i d o s ( J o ã o 1 7 . 2 0 - 2 3 ) . P o r t a n t o , n i n g u é m p o d e e s t a r " n a l u z " s e o d e i a s e u

i r m ã o ( 1 J o ã o 2 . 9 -1 1 ) . N a v e r d a d e , d e v e m o s e s t a r p r o n t o s a s e g u i r o e x e m p l o

d e J e s u s e " d a r n o s s a v i d a p e l o s i r m ã o s " ( 1 J o ã o 3 . 1 6 ) . E s t e a m o r é a b s o l u t a m e n t e

f u n d a m e n t a l : " A q u e l e q u e n ã o a m a n ã o c o n h e c e a D e u s , p o i s D e u s é a m o r "

( 4 . 8 ) .M a s e s se a m o r t e m s id o n e g a d o f u n d a m e n t a l m e n t e p e l o s h e r e g e s . P e l o

r o m p i m e n t o d a c o m u n h ã o c o m o r e s t a n t e d a i g r e j a , e l e s r e v e l a r a m s u a s

v e r d a d e i r a s t e n d ê n c i a s : " E l e s s a í r a m d e n o s s o m e i o , e n t r e t a n t o n ã o e r a m d o s

n o s s o s ; p o r q u e , se t i v e s s e m s i d o d o s n o s s o s , t e r i a m p e r m a n e c i d o c o n o s c o ;

t o d a v i a , e l e s s e f o r a m p a r a q u e f i c a s s e m a n i f e s t o q u e n e n h u m d e l e s é d o s n o s s o s "

( 2 . 1 9 ) . E l e s n ã o p o d e m d i z e r q u e a m a m a D e u s , p o i s a o m e s m o t e m p o o d e i a m

o s f i l h o s d e D e u s ( 4 . 2 0 , 2 1 ) .

J o ã o t r a n s f o r m a o t r i p l o e r r o d o s h e r e g e s n u m t r i p l o t e s t e d e C r i s t i a n i s m o

a u t ê n t i c o . A o m e s m o t e m p o q u e d e b i l i t a a c o n f i a n ç a d o s f a l s o s c r is t ã o s , e l e

f o r t i f i c a a c o n v i c ç ã o d o s r e a i s c r i s t ã o s . C o m o T i a g o , e le d e s e n h a u m c o n t r a s t e

e n t r e o q u e a s p e s s o a s a l e g a m s e r e o q u e e l a s r e a l m e n t e s ã o . C o m f r e q ü ê n c i a

e l e u s a u m a e x p r e s s ã o c o m o " n i s t o s a b e m o s [ o u s a b e i s ] . .. ", p a r a i n t r o d u z i r o s

t e s t e s d e c o n f i a n ç a , e e s t e s t e s t e s c o i n c i d e m c o m o s e r r o s d o s h e r e g e s :

• " N i s t o r e c o n h e c e i s o E s p í r i t o d e D e u s : t o d o e s p í r i t o q u e c o n f e s s a q u e J e s u s

C r i s t o v e i o e m c a r n e é d e D e u s " ( 4 . 2 ) . E s t e é o t e s t e cristológico.

• " N i s t o s ã o m a n i f e s t o s o s f i l h o s d e D e u s e o s f i l h o s d o d i a b o : t o d o a q u e l e q u e

n ã o p r a t i c a j u s t i ç a n ã o p r o c e d e d e D e u s " ( 3 . 1 0 ) . E s t e é o t e s t e moral.

• " N ó s s a b e m o s q u e j á p a s s a m o s d a m o r t r e p a r a a v i d a , p o r q u e a m a m o s o s

i r m ã o s " ( 3 . 1 4 ) ; " E n i s to c o n h e c e m o s q u e e l e p e r m a n e c e e m n ó s , p e l o E s p í r i t o

q u e n o s d e u " ( 3 . 2 4 ) . E s t e é o t e s t e espiritual.

J o ã o fa z a s m e s m a s a f i r m a ç õ e s n e g a t i v a m e n t e :

• " Q u e m é o m e n t i r o s o s e n ã o a q u e l e q u e n e g a q u e J e s u s é C r i s t o ? " ( 2 . 2 2 ) .

• " S e d i s s e r m o s q u e m a n t e m o s c o m u n h ã o c o m e l e, e a n d a r m o s n a s t re v a s ,

m e n t i m o s " ( 1 . 6 ) .• " S e a l g u é m d i s s e r : ' A m o a D e u s ' , e o d i a r a s e u i r m ã o , é m e n t i r o s o " ( 4 . 2 0 ) .

E s t a s s ã o a s t r ê s p r o v a s d e C r i s t i a n i s m o g e n u í n o . J o ã o r e ú n e t o d a s e l a s n o c o m e ç o

d e s e u c a p í t u l o c i n c o :

• " T o d o a q u e l e q u e c r ê q u e J e s u s é o C r i s t o é n a s c i d o d e D e u s ; e t o d o a q u e l e

q u e a m a a o q u e o g e r o u , t a m b é m a m a a o q u e d e l e é n a s c i d o . N i s t o c o n h e c e m o s

q u e a m a m o s o s f i l h o s d e D e u s , q u a n d o a m a m o s a D e u s e p r a t i c a m o s o s s e u s

m a n d a m e n t o s " ( 5 .1 , 2 ). A m e n o s q u e os c r i s tã o s s e j a m i d e n t i f i c a d o s p e l a c r e n ç a

g e n u í n a , o b e d i ê n c i a p i e d o s a e a m o r f r a t e r n a l , e l e s s ã o f a l s o s . E l e s n ã o p o d e m

t e r n a s c i d o d e n o v o , p o r q u e a q u e l e s q u e s ã o " n a s c i d o s d e D e u s " s ã o o s q u e

c r ê e m ( 5 . 1 ) e o b e d e c e m ( 3 . 9 ) e a m a m ( 4 . 7 ) .

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PAULO E S U A M E N S A G E M 8 5

A l i n g u a g e m d a s c a r t a s d e J o ã o é s i m p l e s , p o r é m s u a m e n s a g e m é p r o f u n d a .

M a r t i n h o L u t e r o e s c r e v e u s o b r e 1 J o ã o : " J a m a i s li u m l i v r o e s c r it o c o m p a l a v r a s

m a i s s i m p l e s d o q u e e s t a s , e n o e n t a n t o a s p a l a v r a s s ã o i n e x p r i m í v e i s . ' ' N e l a sJ o ã o d e s t i l a a e s s ê n c i a d e u m a v i d a d e d i s c i p u l a d o , q u a n d o f i n a l m e n t e d e s c r e v e

a v e r d a d e e a d e c i s ã o , d a s q u a i s d e p e n d e t o d a a n o s s a e x i s t ê n c i a : " E o t e s t e m u n h o

é e s t e , q u e D e u s n o s d e u a v i d a e t e r n a ; e e s t a v i d a e s t á n o s e u F i l h o . A q u e l e q u e

t e m o F i l h o t e m a v i d a ; a q u e l e q u e n ã o t e m o F i l h o d e D e u s n ã o t e m a v i d a "

( 5 . 1 1 , 1 2 ) .

Leitura adicional

Menos exigente:A . E . H arvey , Jesus on Trial. A Study in the Fourth Gospel ( L o n d r e s : S P C K , 1 9 7 6 )

D a v i d J a c k m a n , The Message of John's Letters: Living in the Love o f God (Leices te r :

IVP, 1988)B r u c e M i l n e , The Message of John: Here is your King! (Leices te r : IV P, 1993)

L e o n M o r r i s , Jesus is the Christ. Studies in the Theology of John ( G r a n d R a p i d s :E e r d m a n s / L e i c e s t e r : I V P , 1 9 8 9 )

Mais exigente, obras eruditas:G a r y M . B u r g e , Interpreting the Gospel o f John ( G r a n d R a p i d s : B a k e r B o o k H o u s e ,

1992)

J ohn W. Pryor , John: Evangelist of the Covenant People. Th e Narrative and Themes of

the Fourth Gospel ( L o n d r e s : D a r t o n , L o n g m a n & T o d d , 1 9 9 2 )J u d i t h M . L i e u , The Theology of the Johannine Epistles ( C a m b r i d g e : C U P , 1 9 9 1 )L e o n M o r r i s , Studies in the Fourth Gospel (Exeter : Pa ternos ter , 1969) : es t e l iv ro con tém

o ens a io s obre a r e l ação en t r e J oão e os s inóp t i cos mencionados ac ima

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Paulo e suaMensagemEstou crucificado com Cristo; logo, já não soueu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viverque agora tenho na came, vivo pela fé no Filho deDeus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.( G á l a t a s 2 . 1 9 , 2 0 )

A s t r e z e c a r t a s a t r i b u í d a s a P a u l o e m n o s s o N o v o T e s t a m e n t o f o r m a m e x a t a m e n t e

u m q u a r t o d e t o d o e l e . A l é m d i s s o , d e t o d o s o s e s c r i t o r e s d o N o v o T e s t a m e n t o ,

P a u l o p o d e i n q u e s t i o n a v e l m e n t e r e i v i n d i c a r t e r s i d o o m a i s i n f l u e n t e e m t o d a a

h i s t ó r i a d a i g r e j a . P o r e x e m p l o , é u m a r e d e s c o b e r t a d a t e o l o g i a d e P a u l o q u e

m o t i v a a R e f o r m a d o s é c u l o d e z e s s e i s , a q u e l a r e v o l u ç ã o t e o l ó g i c a q u e i n c i t a

u m a s u b l e v a ç ã o d e n t r o d a i g r e j a C a t ó l i c a R o m a n a e d á n a s c i m e n t o a t o d a s a si g r e j a s P r o t e s t a n t e s d o s t e m p o s a t u a i s .

P a u l o é t a m b é m s i n g u l a r p e l o f a t o d e s a b e r m o s m a i s s o b r e e l e d o q u e s o b r e

q u a l q u e r o u t r o e s c r i t o r d o N o v o T e s t a m e n t o . L u c a s d e d i c a m a i s d a m e t a d e d o

l i v r o de A t os pa r a na r r a r a h i s t ó r i a do m i n i s t é r i o m i s s i oná r i o de Pa u l o , e pode m os

o b t e r m u i t a c o i s a s o b r e P a u l o a t r a v é s d e s u a s c a r t a s .

Paulo, o homemP a u l o n a s c e u e m T a r s o , a p r i n c i p a l c i d a d e d a C i l i c i a , n a c o s t a s u l d a T u r q u i a

m o d e r n a ( A t o s 9 . 1 1 ; 2 1 . 3 9 ; 2 2 . 3 ) . E l e p r ó p r i o c h a m a T a r s o d e " c i d a d e n ã o

i n s i g n i f i c a n t e " e m A t o s 2 1 . 3 9 . T a r s o é u m a c i d a d e d e i m p o r t â n c i a c o m e r c i a l

c o n s i d e r á v e l e p o s s u i u m a u n i v e r s i d a d e q u e riv aliza e m f a m a c o m a s d e A t e n a se A l e x a n d r i a . P a u l o p r o v a v e l m e n t e n u n c a e s t u d o u n a u n i v e r s i d a d e p o r q u e

r e c e b e u s u a p r i n c i p a l e d u c a ç ã o e m J e r u s a l é m ( A t o s 2 2 . 3 ) . E n t r e t a n t o e l e

n i t i d a m e n t e a b s o r v e u a a t m o s f e r a e c u l t u r a g r e g a s d e T a r s o e f a l o u e e s c r e v e u

e m g r e g o c o m g r a n d e f l u ê n c i a . E l e f a z c i t a ç õ e s d e p e l o m e n o s t r ê s p o e t a s g r e g o s :

A r a t o ( A t o s 1 7 . 2 8 ) , M e n a n d e r ( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 3 3 ) e E p i m ê n i d e s ( T i t o 1 . 1 2 ) . A

c u l t u r a g r e g a r e s e r v a p o u c a s s u r p r e s a s p a r a e l e , e a s s i m s u a f o r m a ç ã o

p r o p o r c i o n a - l h e u m b o m p r e p a r o p a r a a c a r r e i r a m i s s i o n á r i a .

P a u l o p o s s u í a a c i d a d a n i a r o m a n a p o r n a s c i m e n t o ( A t o s 2 2 . 2 8 ) , o q u e e r a

e n t ã o u m a d i s t i n ç ã o i n c o m u m . I s t o s u g e r e q u e s u a f a m í l i a e r a i m p o r t a n t e e m

T a r s o , p o r q u e c o m t o d a p r o b a b i l i d a d e s e u p a i o u a v ô t e r i a r e c e b i d o e s t a c i d a d a n i a

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 8 7

o f i c i a l c o m o r e c o m p e n s a p o r s e r v i ç o s p r e s t a d o s à c i d a d e . I s to j u s t i f i c a o f a t o

d e e le t e r o n o m e r o m a n o " P a u l o " , a o l a d o d o h e b r a i c o " S a u l o " ( A t o s 1 3 . 9 ) .

M a s " S a u l o " e r a o n o m e q u e e l e u s a v a q u a n d o j o v e m . S u a fa m í l i a p o d e t e rs i d o t o t a l m e n t e e n r a i z a d a n a c u l t u r a g r e g a , p o r é m p a r a o j o v e m S a u l o f o i a

r e l i g i ã o d e s e u s p a i s q u e o c u p o u t o d o o s e u c o r a ç ã o e d e v o ç ã o . C o n t u d o , f o i

u m a v e r s ã o p a r t i c u l a r d a q u e l a r e l i g i ã o q u e o c a t i v o u : " E u s o u f a r i s e u " , f o i s u a

a p a i x o n a d a a l e g a ç ã o ( A t o s 2 3 . 6 ; c o m p a r e c o m F i l i p e n s e s 3 . 5 ) .

O F a r i s a í s m o e r a e n t ã o u m m o v i m e n t o s e p a r a d o d e n t r o d o J u d a í s m o ,

m o v i m e n t o q u e e n f a t i z a v a a o b e d i ê n c i a e s t r i t a d a l e i , i n c l u i n d o e s c r u p u l o s a

o b s e r v â n c i a d a s f e s t a s e o u t r o s r it u a i s a s s o c i a d o s a o t e m p l o e m J e r u s a l é m . P o r

e s t a r a z ã o o F a r i s a í s m o f l o r e s c e u n a J u d é i a , h a v e n d o p o u c o s f a r i s e u s e m o u t r o s

l u g a r e s . M a s d e a l g u m a f o r m a P a u l o r e c e b e a i n f l u ê n c i a d e s s e m o v i m e n t o e

t r a n s f e r e - s e p a r a J e r u s a l é m a i n d a j o v e m p a r a e s t u d a r a o s p é s d e u m d o s m e s t r e s

d o F a r i s a í s m o , G a m a l i e l o P r i m e i r o ( A t o s 2 2 . 3 ) , n e t o d o f a m o s o r a b i n o H i l l e l ,

a q u e m t o d o o m o v i m e n t o c o n s i d e r a v a s e u f u n d a d o r .O j o v e m S a u l o d e T a r s o la n ç a - s e a v i d a m e n t e à t a r e f a d e m e m o r i z a r e o b s e r v a r

o s e s t a t u t o s e t r a d i ç õ e s d o F a r i s a í s m o . E l e f o r a , e m s u a s p r ó p r i a s p a l a v r a s ,

i n s t r u í d o " s e g u n d o a e x a t i d ã o d a l e i d e n o s s o s a n t e p a s s a d o s " ( A t o s 2 2 . 3 ) . e

" q u a n t o a o J u d a í s m o , a v a n t a j a v a - m e a m u i t o s d a m i n h a i d a d e , s e n d o

e x t r e m a m e n t e z e l o s o d a s t r a d i ç õ e s d e m e u s p a i s " ( G á l a t a s 1 . 1 4 ) . E l e c h e g a a o

p o n t o d e a f i r m a r q u e f o r a " i r r e p r e e n s í v e l " n a s u a o b s e r v â n c i a d a l e i ( F i l i p e n s e s

3 . 6 ) . A p r o v a f i n a l d e s u a p a i x ã o p a r a c o m a f é d e s e u s p a i s é s u a c r u e l

p e r s e g u i ç ã o à i g r e j a c r i s t ã ( A t o s 9 . 1 , 2 ; 2 2 . 4 , 5 ; G á l a t a s 1 . 1 3 ; F i l i p e n s e s 3 . 6 ; 1

T i m ó t e o 1 . 1 3 ) .

A c o n v e r s ã o d e P a u l o n o c a m i n h o p a r a D a m a s c o é r e p e n t i n a e d r a m á t i c a .

Por que Paulo persegue a igreja?P o r q u e o e v a n g e l h o c r i s t ã o o f e n d e u t a n t o e s t ej o v e m f a r i s e u ? O s e r m ã o d e P e d r o n o d i a d oP e n t e c o s t e a t i n g e o c l í m a x c o m a g r a n d edeclar ação : " A es te J es us que vós c ruc i f i cas tes ,D eus o f ez Senhor e Cr i s to" (A tos 2 . 36) . Fo ip r o v a v e l m e n t e e s t e e l o e n t r e a c r u c i f i c a ç ã o e om e s s i a d o q u e o f e n d e u P a u l o . " O q u e f o rp e n d u r a d o n o m a d e i r o é m a l d i t o d e D e u s " é oe n s i n o d e D e u t e r o n ô m i o 2 1 . 2 3 . P o r t a n t o op r ó p r i o f a t o d a c r u c i f i c a ç ã o f a z c o m q u e ap r e t e n s ã o c r i s t ã s e j a i m p o s s í v e l . E n t r e t a n t o ,es s es c r i s t ãos parecem ter o rgu lho da c ruz!

D o i s f a t o r e s s u g e r e m q u e D e u t e r o n ô m i o 2 1 . 2 3p o d e t e r s id o u m a s i g n i f i c a t iv a m o t i v a ç ã o p a r ao ód io de Pau lo con t r a a ig r e ja .1 . C e m a n o s m a i s t a r d e e s t e m e s m o a r g u m e n t oé us ado con t r a a f é c r i s t ã por ou t ro judeu , numfamos o d iá logo com o apo log i s t a c r i s t ão J us t ino .T r i f o , o j u d e u , a r g u m e n t a : " N ó s d u v i d a m o s q u eo M e s s i a s p u d e s s e t e r s i d o c r u c i f i c a d o d e u m aforma t ão des onros a . Po i s na l e i s e d iz que umh o m e m c r u c i f i c a d o é m a l d i t o . N e s t e p o n t o v o c ênão é capa z de per s ua d i r -me . " Ma s J us t ino t en ta :

" Es ta a f i rmaç ão na r ea l idade fo r t a l ece nos s a es peranç an o M e s s i a s c r u c i f i c a d o . E l e n ã o f o i a m a l d i ç o a d o p o rD e u s , p o r é m D e u s a n t e v i u a m a l d i ç ã o q u e v o c ê et o d o s c o m o v o c ê a m o n t o a r i a m s o b r e E l e ! " ( J u s t i n o ,Diálogo com Trifo 89 . 2 ; 96 . 1) .2 . O própr io Pau lo us a o ver s í cu lo em s ua car t a aosgála tas de um modo que s ugere a r evo lução nas idé iasq u e e l e e x p e r i m e n t o u : " C r i s t o n o s r e s g a t o u d am a l d i ç ã o d a l e i, fa z e n d o - s e e l e p r ó p r i o m a l d i ç ã o e mnos s o lugar , porque es tá es cr i to : 'Mald i to todo aqueleque fo r pendurado em madei ro" ' (G ála tas 3 . 13) . Pau lot e v e a p e r c e p ç ã o d e q u e J e s u s n ã o e ra p e s s o a l m e n t e

mald i to de D eus , mas s im v icar i amente , t endo tomadoa m a l d i ç ã o q u e n o s c a b i a , d e m o d o q u e f i c á s s e m o sl i v r e s d e l a . A c o m p r e e n s ã o d e P a u l o s o b r e os i g n i f i c a d o d e D e u t e r o n ô m i o 2 1 . 2 3 e r a m a i s p r o f u n d aque a de J us t ino .

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9 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

S e u z e l o é d e m o n s t r a d o p o r s u a d i s p o s i ç ã o d e r e a l i z a r u m a l o n g a v i a g e m p a r a

d e s a r r a i g a r t o d o s o s a d e p t o s d e s s e " C a m i n h o " n o c i v o ( A t o s 9 . 2 ) . M a s ,r e p e n t i n a m e n t e , u m a l u z b r i l h a n t e v i n d a d o c é u o f u s c a - l h e a v i s ã o , e e l e é a t i r a d o

a o s o l o p o r m ã o i n v i s í v e l q u e o s u b j u g a , e n q u a n t o u m a v o z c h a m a s e u n o m e , e

e n t ã o e l e v ê J e s u s . N ã o p o d e h a v e r d ú v i d a d e q u e s e t r a t a d e u m a v e r d a d e i r a e

o b j e t i v a " v i s ã o c e l e s t i a l " ( A t o s 2 6 . 1 9 ) d o C r i s t o r e s s u r r e t o . N ã o é n e n h u m a

a l u c i n a ç ã o . P a u l o é b a s t a n t e c l a r o a e s t e r e s p e i t o . É a ú l t i m a a p a r i ç ã o t a r d i a d e

J e s u s r e s s u r r e t o : " D e p o i s d e t o d o s , f o i v i s t o t a m b é m p o r m i m , c o m o p o r u m

n a s c i d o f o r a d o t e m p o " ( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 8 ). T r ê s d i a s d e p o i s , e l e e s t á p r e g a n d o

n a s s i n a g o g a s d e D a m a s c o " q u e e s t e [ J e s u s ] é o F i l h o d e D e u s " ( A t o s 9 . 2 0 ) .

A l g u n s t ê m s u g e r i d o q u e a v i o l ê n c i a d a o p o s i ç ã o d e P a u l o à f é c r i s t ã f o i u m a

t e n t a t i v a d e r e p r i m i r d ú v i d a s q u e j á o e s t a v a m p r e p a r a n d o p a r a e s s a m u d a n ç a

d e o p i n i ã o . Q u e i m p r e s s ã o d e i x o u e m S a u l o a v i s ã o d e E s t ê v ã o o r a n d o p o r s e u s

a l g o z e s e n q u a n t o e s te s o a p e d r e j a v a m a t é à m o r t e , e n t r e g a n d o s u a v i d a n a sm ã o s d o " S e n h o r J e s u s " ( 7 . 5 9 , 6 0 ) ? Q u e e r a m o s " a g u i l h õ e s " c o n t r a o s q u a i s

P a u l o e s t a v a r e c a l c i t r a n d o ? E r a m e l e s s u a s e n s a ç ã o i n q u i e t a n t e d e q u e e s s e s

c r i s t ã o s e s t a v a m c e r t o s , a p e s a r d e t u d o ?

D e m o d o s e m e l h a n t e , a l g u n s t ê m s u g e r i d o q u e R o m a n o s 7 . 7 - 9 n o s d á a l g u m

i n d í c i o d e s e u e s t a d o d e m e n t e n e s s a o c a s i ã o : " E u n ã o t e r i a c o n h e c i d o o p e c a d o ,

s e n ã o p o r i n t e r m é d i o d a l e i ; p o i s n ã o t e r i a e u c o n h e c i d o a c o b i ç a , s e a l e i n ã o

d i s se r a : ' N ã o c o b i ç a r á s . ' M a s o p e c a d o , t o m a n d o o c a s i ã o p e l o m a n d a m e n t o ,

d e s p e r t o u e m m i m t o d a s o r t e d e c o n c u p i s c ê n c i a . . . O u t r o r a , s e m a l e i , e u v i v i a ;

m a s , s o b r e v i n d o o p r e c e i t o , r e v i v e u o p e c a d o , e e u m o r r i . " E s t á e l e d e s c r e v e n d o

u m p e r í o d o d e c o n v i c ç ã o a n t e s d e s u a c o n v e r s ã o , q u a n d o p e r c e b e u q u e s u a

o b e d i ê n c i a à l e i n ã o e r a t ã o " i r r e p r e e n s í v e l " c o m o e l e t i n h a p e n s a d o ?

E possível q u e P a u l o e s t i v e s s e a n g u s t i a d o c o m d ú v i d a s e m t a l s i t u a ç ã o . M a s

o r a c i o c í n i o e m R o m a n o s 7 é c o m p l e x o , n ã o s e n d o c e r t o q u e e l e e s t e j a s e

r e f e r i n d o à s u a e x p e r i ê n c i a p e s s o a l . A l é m d i s s o , s e u p r ó p r i o t e s t e m u n h o d i r e t o

n ã o o f e r e c e i n d í c i o s d e s s a s d ú v i d a s . E m d u a s o c a s i õ e s e m q u e P a u l o r e l a t a s u a

c o n v e r s ã o e m A t o s , e l e s e d e s c r e v e c o m o r e s o l u t o e m s u a c o n v i c ç ã o e i m p l a c á v e l

e m s e u z e l o c o m o p e r s e g u i d o r . I g u a l m e n t e e m G á l a t a s 1 . 1 3 - 1 6 e F i l i p e n s e s

3 . 4 - 1 2 , a s d u a s o c a s i õ e s e m q u e e l e e s c r e v e a c e r c a d e s u a c o n v e r s ã o , n ã o e x p r e s s a

q u a l q u e r d ú v i d a s o b r e s u a l e a l d a d e e o r g u l h o c o m o f a r i s e u " i r r e p r e e n s í v e l " . A

e x p e r i ê n c i a n o c a m i n h o d e D a m a s c o p o d e t e r s i d o u m r a i o d o c é u a z u l .

T e n h a o u n ã o s i d o p r e n u n c i a d a , a c o n v e r s ã o d e P a u l o f o i o f a t o d e c i s i v o d e

s u a v i d a . U m e s t u d i o s o , D r . S e y o o n K i m , d a C o r é i a d o S u l , r e s s a l t o u a í n t i m a

c o n e x ã o e n t r e a e x p e r i ê n c i a d a c o n v e r s ã o d e P a u l o e o e v a n g e l h o a o q u a l d e p o i s

e l e d e d i c o u s u a v i d a p r o c l a m a n d o . N a q u e l e m o m e n t o d o e n c o n t r o c o m o C r i s t o

r e s s u r r e t o , o D r . K i m s u g e r e q u e P a u l o n ã o s o m e n t e s e t o r n o u u m c r i s t ã o , m a st a m b é m r e c e b e u o q u e m a i s t a r d e e l e c h a m a " m e u e v a n g e l h o " ( p . ex . . R o m a n o s

2 . 1 6 ) , c o m o t a m b é m a o r d e m d e p r e g á - l o u n i v e r s a l m e n t e . I s t o c e r t a m e n t e e s t á

d e a c o r d o c o m s e u p r ó p r i o t e s t e m u n h o e m G á l a t a s 1 . 1 1 , 1 2 : " F a ç o - v o s , p o r é m ,

s a b e r , i r m ã o s , q u e o e v a n g e l h o p o r m i m a n u n c i a d o n ã o é s e g u n d o o h o m e m ;

p o r q u e e u n ã o o r e c e b i , n e m o a p r e n d i d e h o m e m a l g u m , m a s m e d i a n t e r e v e l a ç ã o

d e J e s u s C r i s t o . " A q u i P a u l o e s c r e v e l i t e r a l m e n t e " m e d i a n t e r e v e l a ç ã o d e J e s u s

C r i s t o " , e i n d u b i t a v e l m e n t e s e r e f e r e à r e v e l a ç ã o d e J e s u s n o c a m i n h o d e

D a m a s c o .

P o d e m o s e x a m i n a r a v e r d a d e d i s t o s e p e r g u n t a r m o s : O q u e se p a s s a v a n a

m e n t e d e P a u l o q u a n d o e l e r e f l e t i a e o r a v a n a e s c u r i d ã o n a q u e l e s t r ê s d i a s a t é

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 8 9

"Recalcitrando contra os aguilhões"

H á t r ês r e l a tos da conver s ão de Pau lo em A tos :O regis tro de Lucas sobre ela (9.1-19) , e a seguirdo i s r e l a tos do própr io Pau lo (22 . 4-16 ; 26 . 12-18) . N a t e r ce i r a des tas , as pa lavras de J es us aP a u l o s ã o p r o f e r i d a s d e f o r m a c o m p l e t a :" S a u l o , S a u l o , p o r q u e m e p e r s e g u e s ? D u r aco i s a é r eca lc i t r a r es con t r a os agu i lhões " (A tos2 6 . 1 4 ) .

" Recalc i t r a r [ es co icear ] con t r a os agu i lhões "é um provérb io , conhecido por nós t an to pormeio dos es cr i tos g regos como judaicos . E lel e m b r a u m c a v a l o t e n t a n d o e m v ã o r e c u s a r - s ea obedecer ao con t ro le de s eu cavale i ro , ou umboi no ar ado r es i s t indo às cu tucadas da vara doagr icu l to r . O que e le s ign i f i ca quando ap l i cadoa Pau lo? Três in te rpre tações s ão pos s íve i s :1 . P o d e r e f e r i r - s e a o " a g u i l h ã o " d o p r ó p r i oen tend imen to . Pau lo não podia r es i st i r ao pode r

es ma gado r e à g ló r i a do Senhor que agora lhe aparece :e l e d e v e o b e d e c e r !2 . Po de r e f er i r - s e à s ua per s egu ição à ig r e ja . Por es t ep r o c e d i m e n t o , e l e t i n h a s i d o c o m o u m b o i t e n t a n d olu tar con t r a s eu verdadeiro Mes t r e , J es us Cr i s to .3 . O u p o d e r e f e r i r - s e a d ú v i d a s e a g u l h a d a s d ac o n s c i ê n c i a q u e P a u l o v e m t e n t a n d o s u p r i m i r a ocont inuar per s egu indo a ig r e ja , a des pe i to da s ens aç ãode que es s es c r i s t ãos podem, a f ina l de con tas , es t a rcer tos . Ta lvez es s as dúvidas t enham s ido ins t igadasp e l a v i s ã o d a c o r a g e m e a m o r d e E s t ê v ã o , q u a n d oo r o u p o r a q u e l e s q u e o e s t a v a m a p e d r e j a n d o a t é àm o r t e ( A t o s 7 . 6 0 ) . E m b o r a P a u l o j a m a i s t e n h a s eref er id o a es s as dúvida s , o Senh or pode t e r pos to s eu

d e d o s o b r e a l g u m a c o i s a q u e a g i a d e n t r o d e s e uc o r a ç ã o e c o n s c i ê n c i a .

q u e A n a n i a s v i e s s e e l h e i m p u s e s s e a s m ã o s ? A s d i f e r e n t e s ê n f a s e s d e s u a s

c a r t a s a j u d a m - n o s a i m a g i n a r s e u e s t a d o m e n t a l :

1. Sua mente mudou a respeito de Jesus. A p e s a r d e c r u c i f i c a d o , J e s u s e r a a f i n a l

o M e s s i a s . O s h o m e n s o p e n d u r a r a m n u m m a d e i r o , m a s D e u s o r e s s u s c i to u

d e n t r e o s m o r t o s . P a u l o n ã o t i n h a t i d o n e n h u m a h e s i t a ç ã o a o d i r i g i r - s e a E l e

c o m o " S e n h o r " . P a u l o s e n t i a q u e h a v i a t i d o u m a v i s ã o c e l e s t i a l , e q u e J e s u s

e s t a v a s e d i r i g i n d o a e l e r e s s u r g i d o e m g l ó r i a .

2 . Sua mente m udou a respeito da Lei. A L e i o l e v o u a p e r s e g u i r o M e s s i a s !

C o m o p o d i a s e r i s t o ? E s p e c i a l m e n t e e m s u a s c a r t a s a o s g á l a t a s e a o s r o m a n o s ,

t e m o s P a u l o r e s p o n d e n d o a p e r g u n t a s c o m a s q u a i s e l e d e v e t e r d e i m e d i a t o

c o m e ç a d o a l u t a r. E l e q u e s t i o n o u t o d o o s e u m o d o d e v i d a c o m o f a r i s e u , e

p a r a l e l a m e n t e s u a c o m p r e e n s ã o d o V e l h o T e s t a m e n t o — a t é s e r c a p a z d e c o n s t a t a r

q u e a s E s c r i t u r a s t e s t e m u n h a v a m e m f a v o r d e J e s u s , n ã o c o n t r a E l e .

3 . Sua mente mudou a respeito da salvação. E s t e p o n t o s e g u e - s e a o a n t e r i o r .

A n t e r i o r m e n t e P a u l o h a v i a c r i d o q u e a s a l v a ç ã o d e p e n d i a d e s u a o b e d i ê n c i a

c o m o f a r i s e u . E l e p o d i a e s t a r s e g u r o d e u m l u g a r n o R e i n o d e D e u s p o r c a u s a

d e s e u z e l o p e l a " t r a d i ç ã o d e m e u s a n t e p a s s a d o s " . E n t r e t a n t o , n ã o p o d e r i a h a -

v e r l u g a r n o R e i n o p a r a a l g u é m q u e p e r s e g u i u o M e s s i a s ! E s t e e r a o m a i o r

p e c a d o i m a g i n á v e l .

P o r é m , e m v e z d e j u l g á - l o e r e j e i t á - l o , D e u s l h e h a v i a r e v e l a d o s e u F i l h o , e oh a v i a c h a m a d o p a r a u m i m p o r t a n t e m i n i s t é ri o . C o m o i s to f o i p o s s í v e l ? P a u l o

t i n h a experimentado s u a d o u t r i n a d e j u s t i f i c a ç ã o , a m e n s a g e m q u e e l e a n u n c i o u

c o r a j o s a m e n t e a t r a v é s d a Á s i a M e n o r , p o r t o d a a G r é c i a e , f i n a l m e n t e , e m R o m a :

D e u s s i m p l e s m e n t e o t i n h a a c e i t a d o e p e r d o a d o s e u p e c a d o , n ã o p o r q u e P a u l o

t i v e s s e o f e r e c i d o m e t i c u l o s a m e n t e o s d e v i d o s s a c r i fí c i o s n o t e m p l o , m a s p o r q u e

J e s u s t i n h a s i d o s a c r i f i c a d o e m s e u f a v o r .

4 . Sua mente mudou a respeito da igreja. " P o r q u e me p e r s e g u e s ? " , p e r g u n t o u -

l h e o C r i s t o r e s s u r r e t o . N ã o é c e r t a m e n t e f a n t a s i o s o v e r n e s t a p e r g u n t a o

n a s c i m e n t o e m P a u l o d a c o m p r e e n s ã o s o b r e a i g r e j a . H a v i a t ã o í n t i m a u n i ã o

e n t r e o S e n h o r e s u a i g r e j a q u e a t a c á - l a e r a o m e s m o q u e a t a c á - l o . E m

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9 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

P a u l o p e d e aT i m ó t e o q u e t r a g aà p r i s ã o s e u sl i v r o s [ r o l o s ] e o sp e r g a m i n h o s ( 2T m 4 . 1 3 ) . E l et a m b é m t e r i au s a d o u m t i n t e i r oc o m o e s t e, q u ed a t a d o p e r í o d or o m a n o e f o id e s c o b e r t o e m

Q u m r ã .

c o n s e q ü ê n c i a d i s t o P a u l o v e i o d e p o i s a p e n s a r n a i g r e j a c o m o " o c o r p o d e C r i s t o " ,

u n i d a a C r i s t o p e l o E s p í r i t o S a n t o q u e h a b i t a n e l a e a v i v i f i c a . N ã o s u r p r e e n d eq u e P a u l o t e n h a s e n t i d o v e r g o n h a p o r t o d a s u a e x i s t ê n c i a p e l o f a t o d e t e r

p e r s e g u i d o a q u e l e s c r i s t ã o s : e l e o s o d i o u p o r q u e e s t a v a m c h e i o s d o E s p í r i t o

S a n t o e i n s p i r a d o s p o r E l e p a r a c o n f e s s a r J e s u s c o m o C r i s t o e S e n h o r .

5 . Sua mente mudou a respeito dos gentios. N ã o e s t á e x a t a m e n t e c l a ro q u a n d o

P a u l o r e c e b e u s u a c o m i s s ã o p a r a se r a p ó s t o l o j u n t o a o s g e n t i o s . N u m d o s r e l a t o s

d a c o n v e r s ã o d e P a u l o , A n a n i a s d i z - l h e q u e D e u s o t i n h a e s c o l h i d o p a r a " s e r

s u a t e s t e m u n h a d i a n t e d e t o d o s o s h o m e n s d a s c o i s a s q u e t e n s v i s t o e o u v i d o " ,

e l o g o e m s e g u i d a P a u l o t e m u m a v i s ã o n o t e m p l o , n a q u a l D e u s o e n v i a a o s

g e n t i o s ( A t o s 2 2 . 1 5 , 2 1 ) . E m o u t r o s d o i s r e l a to s , o p r ó p r i o J e s u s r e s s u r r e t o , e m

s u a a p a r i ç ã o i n i c i a l n o c a m i n h o d e D a m a s c o , c o m i s s i o n a - o p a r a p r e g a r o

e v a n g e l h o a o s g e n t i o s ( 2 6 . 1 6 - 1 8 ) .

N ã o h á n e n h u m a c o n t r a d i ç ã o e n t r e e s t a s v e r s õ e s . E m G á l a t a s 1 . 1 5 , 1 6 P a u l o

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 9 1

e s c r e v e s o b r e o m o m e n t o " q u a n d o . . . a o q u e m e s e p a r o u a n t e s d e e u n a s c e r e

m e c h a m o u p e l a s u a g r a ç a , a p r o u v e r e v e l a r s e u F i l h o e m m i m , p a r a q u e e u o

p r e g a s s e e n t r e o s g e n t i o s " . O c h a m a d o e r a p a r t e d a c o n v e r s ã o , p o r q u a n t o s eD e u s a c e it o u e " j u s t i f i c o u " p e s s o a s g r a t u i t a m e n t e , d o m e s m o m o d o c o m o E l e

t i n h a a c e i t a d o P a u l o , e n t ã o e s s e e r a u m e v a n g e l h o p a r a t o d a a r a ç a h u m a n a .

J e s u s e r a u m M e s s i a s p a r a o m u n d o , n ã o s o m e n t e p a r a o s j u d e u s .

A n t e r i o r m e n t e S a u l o , o fa r i s e u , t i n h a c o n s t r u í d o s u a v i d a s o b r e a d i f e r e n c i a ç ã o

m a i s a c e n t u a d a p o s s í v e l e n t r e I s r a e l e o s g e n t i o s . E s t e s p o d i a m e n c o n t r a r

s a l v a ç ã o , p o r é m s o m e n t e c o m d i f i c u l d a d e , e s o m e n t e s e a c e i t a s s e m a c i r c u n c i s ã o

e t o m a s s e m s o b r e si o " j u g o d a le i " . E s s e n c i a l m e n t e , e l e s d e v e r i a m t o r n a r - s e

j u d e u s p a r a s e r s a l v o s . A g o r a , p o r é m , S a u l o t in h a a p r e n d i d o d u a s c o i s a s .

H o r r o r i z a d o , a p r e n d e u q u e a L e i ( c o m o e l e a e n t e n d i a ) t i n h a - o l e v a d o a d e s v i a r -

s e d o c a m i n h o . E c o m a s s o m b r o a p r e n d e u q u e D e u s t i n h a - o a g o r a a c e i t a d o

l i v r e m e n t e p e l a " g r a ç a " , a p e s a r d e s e u u s o e r r a d o d a L e i . C o l o c a r e s t a s d u a s

c o i s a s j u n t a s s i g n i f i c a v a a b o l i r a d i f e r e n ç a e n t r e I sr a e l e o s g e n t i o s , p o r q u e

" D e u s é u m s ó , o q u a l j u s t i f i c a r á , p o r f é , o c i r c u n c i s o e , m e d i a n t e a f é , o

i n c i r c u n c i s o " ( R o m a n o s 3 . 3 0 ) .

T u d o o q u e s e n e c e s s i t a v a e r a a f é q u e j o r r a v a e m s e u p r ó p r i o c o r a ç ã o e m

r e s p o s t a à s u a v i s ã o d e J e s u s . C o m o p o d i a e l e r e c u s á - l a ? N a v e r d a d e , e l e n ã o

q u e r i a r e c a l c i t r a r c o n t r a o a g u i l h ã o !

Paulo, escritor das cartasA n t e s d e p r o c u r a r r e s u m i r a m e n s a g e m d e P a u l o , se r á ú t i l e x a m i n a r s u a c a r r e i r a

c o m o e s c r i t o r d e c a r ta s , b e m c o m o o c o n t e ú d o d e s u a s c a r t a s . A t a b e l a - r e s u m o

a d i a n t e a p r e s e n t a u m e s b o ç o a m p l a m e n t e a c e i t o d a v i d a d e P a u l o , e m b o r a m u i t a s

d a s d a t a s e a o r d e m d a s c a r t a s s e j a m a i n d a d i s c u t i d a s p e l o s e s t u d i o s o s .

E s p e c i f i c a m e n t e m u i t o s c o n t e s t a m a a u t o r i a d e P a u l o d e 1 e 2 T i m ó t e o e T i t o ,a s c h a m a d a s " e p í s t o l a s p a s t o r a i s " , b e m c o m o l a n ç a m d ú v i d a s o b r e o p e r í o d o

p o s t e r i o r d o m i n i s t é r i o q u e e la s p a r e c e m r e fl e t i r . C o n t u d o , n o r e s u m o a b a i x o

c o n s i d e r a m o s q u e P a u l o a s e s c r e v e u .

M u i t o s e s t u d i o s o s t ê m a i n d a t e n t a d o d e t e r m i n a r e v o l u ç õ e s n o p e n s a m e n t o

d e P a u l o e n t r e a s c a r t a s . E c e r t a m e n t e p o s s í v e l q u e t a is e v o l u ç õ e s o c o r r e r a m ,

m a s p r e c i s a m o s l e m b r a r , p r i m e i r o , q u e o p r ó p r i o P a u l o a c r e d i t a v a q u e t i n h a

r e c e b i d o o e v a n g e l h o " p r o n t o p a r a u s o " n o c a m i n h o d e D a m a s c o , c o m o j á

v i m o s ; s e g u n d o , q u e t o d a s a s c a r t a s d a t a m d a s e g u n d a m e t a d e d o s e u m i n i s t é r i o ,

e n ã o d o p e r í o d o i n i c i a l e f o r m a t i v o ; e t e r c e i r o , q u e s u a s c a r t a s f o r a m t o d a s

m o t i v a d a s p o r p r o b l e m a s p a r t i c u l a r e s , d e m o d o q u e s u a s ê n f a s e s e r a m d i t a d a s

p r i m a r i a m e n t e p e l a s n e c e s s i d a d e s d e s e u s l e i to r e s . N ã o s e r i a i m p r ó p r i o , p o r t a n t o ,

r e u n i r u m r e s u m o d o p e n s a m e n t o d e P a u l o q u e a b r a n j a t o d a s a s s u a s c a r t a s a o

m e s m o t e m p o .

A m ensagem de PauloN u m a p a l a v r a , a m e n s a g e m d e P a u l o é a s a l v a ç ã o p e l a g r a ç a d e D e u s e m C r i s t o .

" G r a ç a " é u m a c h a v e e m s e u p e n s a m e n t o . E l a o c o r r e o i t e n t a e s e i s v e z e s e m

s e u s e s c r i t o s . P a r a e l e a " g r a ç a " t e m d e s e r c o n t r a s t a d a c o m a " l e i " ( v e j a , p . e x . ,

R o m a n o s 6 . 1 5 e 5 . 2 0 ; G á l a t a s 2 . 2 1 ) . I s t o e r a o q u e e l e h a v i a e x p e r i m e n t a d o ;

e l e t i n h a s e g u i d o o m o d e l o d a " le i " , c r e n d o q u e D e u s r e q u e r i a p e r f e i t a

o b s e r v â n c i a d a s r e g r a s q u e a b r a n g i a m c a d a d e t a l h e d a v i d a . M a s e n t ã o e l e

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9 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

d e s c o b r i u q u e is t o o l e v a r a a a f a s t a r - s e d e D e u s , e q u e D e u s c r u z o u s e u c a m i n h o

e s i m p l e s m e n t e o a c e i t o u e m J e s u s . Is t o f o i p u r a " g r a ç a " , a m o r i m e r e c i d o ep e r d ã o m o s t r a d o s a u m b l a s f e m o e p e r s e g u i d o r d e C r i s to .

P a r a P a u l o a g r a ç a d e D e u s n ã o é s i m p l e s m e n t e u m a a t i t u d e d e D e u s ( o l h a r

p a r a e l e c o m a m o r ) , m a s t a m b é m u m a a ç ã o d e D e u s ( a g a r r á - l o e l i v r á - l o p o r

m e i o d e C r i s t o ) . E s t a a ç ã o é v i s t a e m d o i s e v e n t o s : n a d á d i v a d e C r i s t o , e m

q u e m " a g r a ç a d e D e u s s e m a n i f e s t o u s a l v a d o r a a t o d o s o s h o m e n s " ( T i t o 2 .1 1 ) ,

e n a d á d i v a d o E s p í r i t o S a n t o , p o r m e i o d e q u e m a g r a ç a d e D e u s é t o r n a d a r e a l

e e f i c a z p a r a c a d a p e s s o a . C o m o P a u l o e s c r e v e e m T i t o 3 .5 - 7 , " e l e n o s s a l v o u

m e d i a n t e o l a v a r r e g e n e r a d o r e r e n o v a d o r d o E s p í r i t o S a n t o , q u e e l e d e r r a m o u

s o b r e n ó s r i c a m e n t e , p o r m e i o d e J e s u s C r i s t o n o s s o S a l v a d o r , a f i m d e q u e ,

j u s t i f i c a d o s p o r g r a ç a , n o s t o r n e m o s s e u s h e r d e i r o s , s e g u n d o a e s p e r a n ç a d a

v i d a e t e r n a " .

P o d e m o s r e c o r r e r a q u a t r o g r a n d e s e x p r e s s õ e s t e o l ó g i c a s , u s a d a s p o r P a u l o ,p a r a r e s u m i r e s t a m e n s a g e m d a g r a ç a d e D e u s :

1. Just if icação—D eus nos faz justosE s t e é o t e m a b á s i c o d a s c a r t a s a o s g á l a t a s e a o s r o m a n o s . S e r " j u s t i f i c a d o "

s i g n i f i c a s e r i n o c e n t a d o , s e j a p o r u m t r i b u n a l h u m a n o , s e j a p o r D e u s , o J u i z d e

t o d o a r a ç a h u m a n a . É u m a e x p r e s s ã o u s a d a n o V e l h o T e s t a m e n t o , o n d e a o s

j u í z e s f o i o r d e n a d o q u e j u l g u e m " j u s t i f i c a n d o a o j u s t o e c o n d e n a n d o a o c u l p a d o "

( D t 2 5 . 1 ) . S e m e l h a n t e m e n t e D e u s d i z s o b r e si m e s m o : " N ã o j u s t i f i c a r e i o í m p i o

[ c u l p a d o ] " ( Ê x o d o 2 3 . 7 ) .

A n t e s d e s u a c o n v e r s ã o P a u l o n ã o t e v e n e n h u m p r o b l e m a a c e r c a d is t o . C o m o

f a r i s e u e l e a c r e d i t a v a q u e j a m a i s e r a n e c e s s á r i o m o s t r a r - s e c u l p a d o d i a n t e d e

D e u s , p o r q u e D e u s h a v i a p r o v i d e n c i a d o d e t a l h a d a s i n s t r u ç õ e s n a L e i p a r a l i v r a r

a r a ç a h u m a n a d o p e c a d o — i n c l u i n d o i n s t r u ç õ e s s o b r e c o m o f a z e r a e x p i a ç ã op o r p e c a d o s o c a s i o n a i s q u e v i e s s e m a o c o r r e r . P o r é m a g o r a , c o m o c r is t ã o , e l e

s u r p r e e n d e s e u s l e i t o re s a p r e s e n t a n d o D e u s c o m o a q u e l e q u e " j u s t i f ic a a o í m p i o "

( R o m a n o s 4 . 5 ). A q u e l a t i n h a s i d o s u a e x p e r i ê n c i a — m a s e l a p a r e c e c o n t r a d i z e r

o V e l h o T e s t a m e n t o . C o m o é i s t o p o s s í v e l ?

A l u z i r r a d i a s o b r e R o m a n o s e G á l a t a s . P a u l o r e f e r e - s e a u m v e r s í c u l o d o s

S a l m o s , p a r a o q u a l e l e n ã o h a v i a t a l v e z a t e n t a d o c o m o f a r i s e u : " N ã o e n t r e s e m

j u í z o c o m o t e u s e r v o , p o r q u e à t u a v i s t a n ã o h á j u s t o n e n h u m [ n e n h u m

j u s t i f i c a d o ] v i v e n t e " ( S a l m o 1 4 3 . 2 ) , c i t a d o e m R o m a n o s 3 . 2 0 e G á l a t a s 2 . 1 6 ) .

E m R o m a n o s e s t a c i t a ç ã o f o r m a o c l í m a x d e u m a l o n g a e x p l a n a ç ã o ( R o m a n o s

1 . 1 8 - 3 . 2 0 ) , n a q u a l P a u l o m o s t r a q u e t o d a a r a ç a h u m a n a , j u d e u s e g e n t i o s

i g u a l m e n t e , e s t ã o " d e b a i x o d o p e c a d o " ( R o m a n o s 3 . 9 ) . S u a a v a l i a ç ã o d o p o d e r

d a L e i c a i u a o n í v e l m a i s b a i x o ! T u d o o q u e a l e i c o n s e g u e é f a z e r o h o m e m" c u l p á v e l p e r a n t e D e u s " e t e r " o p l e n o c o n h e c i m e n t o d o p e c a d o " ( R o m a n o s

3 . 1 9 , 2 0 ) — n a v e r d a d e , " d e b a i x o d a m a l d i ç ã o " ( G á l a t a s 3 . 1 0 ) . P o r t a n t o , s e D e u s

v a i j u s t i f i c a r - n o s , E l e d e v e " j u s t i f i c a r o í m p i o " : n ã o h á n e n h u m a a l t e r n a t i v a .

E i st o é p o s s í v e l p o r c a u s a d e J e s u s . E m G á l a t a s 2 . 1 7 P a u l o e s c r e v e :

" . . . p r o c u r a n d o s e r j u s t i f i c a d o e m C r i s t o " . A e x p r e s s ã o " e m C r i s t o " é m u i t o

c o m u m n a s c a r t a s d e P a u l o e s i g n i f i c a e s t a r u n i d o a C r i s t o , a s s o c i a d o c o m E l e

i n s e p a r a v e l m e n t e . V a m o s c o n s i d e r a r a b a i x o e x a t a m e n t e o q u e é e s t a u n i ã o . " E m

C r i s t o " o s í m p i o s p o d e m s e r j u s t i f i c a d o s — m a s n ã o e x a t a m e n t e p o r q u e e s t ã o

" a s s o c i a d o s i n s e p a r a v e l m e n t e " a o F i l h o d e D e u s s e m p e c a d o , e a s s i m

r e s g u a r d a d o s p o r s u a i m p e c a b i l i d a d e . A i d é i a d e P a u l o é m a i s p r o f u n d a . E l e

p e n s a n u m a e s p é c i e d e p e r m u t a e n t r e n ó s e J e s u s : " A q u e l e q u e n ã o c o n h e c e u

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 9 3

D a t a s E v e n t o s n a V i d a d e P a u l o

a p r o x .

C a r t a s M e n s a g e m p r i n c i p a l

5 Nasc ido em Tarso

35 Convertido no caminho de Damasco

35-38 Ministério na Arábia e em Damasco(Gálatas 1.17)

38 Visita a Jeru salé m após a conv ers ão(Atos 9.26; Gálatas 1.18)

38-43 Ministério na Síria; e em sua cidade Tarso(Atos 11.25; Gálatas 1.21)

43-46 Ministério em Antioquia com BarnabéViagem a Jerusalém (Atos 11.26; 12)

47-49 Primeira viagem missionária, em seguidaConcílio em Jerusalém (Atos 13-15)

50 Após a prime iraviagem missionária (Atos 13-15)

Gálatas Cristo, o libertador:libertação da Lei

50-52 Durante a segunda viage m missionáriaprovavelmente de Corinto (Atos 18.11)

1 & 2 Cris to, a vinda do JuizTessalonicenses e Salvador

52-55 Durante a terceira viagem missionária

provavelmente de Éfeso (Atos 19.8-10)

1 & 2

Coríntios

Cristo, o doador da lei

para a igreja, seu corpo

55-56 De Corinto (Atos 20.3) Romanos Cristo—caminho de Deuspara a salvação do judeu etambém do qentio

56 Via gem a Jerusalé m:preso (Atos 21.27ss.)

56-59 Preso em Cesaréia,viagem a Roma (Atos 24-28)

59-61 Ministério e prisão emRoma (Atos 28.30,31)

Efésios,Filipenses,Colossenses,

Filemom

Cristo, o Senhor douniverso e da igreja(Ef, Cl); Cristo, a fonte de

alegria no sofrimento (Fp)

61 Livramento do cativeiro(Filipenses 1.25; Filemom 22)

61-65 Ministério na Ásia Menore na Grécia

1 Timóteo,Tito

Vida e ministério dentro daigreja de Cristo

65 Novamente preso, julgado emartirizado em Roma

2 Timóteo Guardando a fé pelapalavra e pelo exemplo

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9 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

p e c a d o , e l e o f e z p e c a d o p o r n ó s ; p a r a q u e n e l e f ô s s e m o s f e i t o s j u s t i ç a d e D e u s "

( 2 C o r í n t i o s 5 . 2 1 ) .E a í q u e e n t r a a c r u z . F o i s o b r e a c r u z q u e J e s u s " t o r n o u - s e p e c a d o " p o r n ó s .

E s t a e x p r e s s ã o p o d e r i a s e r t r a d u z i d a " f e i t o p a r a s e r u m a o f e r e n d a p e l o p e c a d o " ,

e t a l v e z i s to e s t e j a n a m e n t e d e P a u l o . E l e t a m b é m o e x p r e s s a e m G á l a t a s 3 . 1 3 :

" C r i s t o n o s r e s g a t o u d a m a l d i ç ã o e m n o s s o lu g a r , p o r q u e e s t á e s c r i t o : ' M a l d i t o

t o d o a q u e l e q u e f o r p e n d u r a d o e m m a d e i r o ' . " E l e s e f e z p e c a d o p o r n ó s , e

t o r n o u - s e m a l d i ç ã o p o r n ó s , p a r a q u e p u d é s s e m o s f i c a r l i v r e s d e a m b o s .

P e r g u n t a m o s a P a u l o : C o m o a m o r t e d e C r i s t o o c a p a c i t a a s u p o r t a r a m a l d i ç ã o

p o r n ó s e f a z e r - s e p e c a d o p o r n ó s p o r e s t e m e i o ? E l e r e s p o n d e : P o r q u e a m o r t e

é a " m a l d i ç ã o d a l e i " e " o s a l á r i o d o p e c a d o " ( R o m a n o s 6 . 2 3 ) . B a s i c a m e n t e , a

m o r t e é a s e p a r a ç ã o d e D e u s c a u s a d a p e l o p e c a d o . E s t a m o r t e C r i s t o a m o r r e u

p o r n ó s . E l e m o r r e u n o s s a m o r t e . S e , p o i s , e s t a m o s u n i d o s a C r i s t o , i s t o é t ã o

v e r d a d e i r o c o m o d i z e r : " E u m o r r i e m C r i s t o " , q u e é o m e s m o q u e d iz e r : " E l e

m o r r e u p o r m i m . " S e C r i s t o m o r r e u a m i n h a m o r t e e e u e s t o u n e l e , D e u s m e v ê

c o m o se e u m e s m o ti v e s s e m o r r i d o . T e n d o m o r r i d o e r e s s u s c i t a d o c o m C r i s t o ,

a s e x i g ê n c i a s d a L e i s ã o s a t i s f e i t a s , e e u e s t o u l i b e r t a d o . O s v e r s í c u l o s s e g u i n t e s

d i z e m i s t o c o m a s p r ó p r i a s p a l a v r a s d e P a u l o :

• " E s t o u c r u c i f i c a d o c o m C r i s t o ; l o g o , j á n ã o s o u e u q u e m v i v e , m a s C r i s t o v i v e

e m m i m ; e e s s e v i v e r q u e a g o r a t e n h o n a c a r n e , v i v o p e l a f é n o F i l h o d e D e u s ,

q u e m e a m o u e a s i m e s m o s e e n t r e g o u p o r m i m " ( G á l a t a s 2 . 1 9 , 2 0 ) .

• " [ J e s u s ] f o i e n t r e g u e p o r c a u s a d a s n o s s a s t r a n s g r e s s õ e s , e r e s s u s c i t o u p o r

c a u s a d a n o s s a j u s t i f i c a ç ã o " ( R o m a n o s 4 . 2 5 ) .

• " O a m o r d e C r i s t o n o s c o n s t r a n g e , j u l g a n d o n ó s is t o : u m m o r r e u p o r t o d o s ,

l o g o t o d o s m o r r e r a m . E e l e m o r r e u p o r t o d o s , p a r a q u e o s q u e v i v e m n ã o v i v a m

m a i s p a r a s i m e s m o s , m a s p a r a a q u e l e q u e p o r e l e s m o r r e u e r e s s u s c i t o u " ( 2

C o r í n t i o s 5 . 1 4 , 1 5 ) .• " Q u a n t o a t e r m o r r i d o , d e u m a v e z p a r a s e m p r e m o r r e u p a r a o p e c a d o ; m a s ,

q u a n t o a v i v e r , v i v e p a r a D e u s . A s s i m t a m b é m v ó s c o n s i d e r a i - v o s m o r t o s p a r a

o p e c a d o , m a s v i v o s p a r a D e u s e m C r i s t o J e s u s " ( R o m a n o s 6 . 1 0 , 1 1 ) .

A d o u t r i n a d a j u s t i f i c a ç ã o a p r e s e n t a d a p o r P a u l o f o i a t a c a d a p o r a l g u n s o u t r o s

j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s . N a v e r d a d e , e l e t e v e d e r e s p o n d e r a t r ê s c r í t i c a s , t o d a s

e l a s b a s e a d a s n o a r g u m e n t o d e R o m a n o s :

a. Se a salvação é simplesmente pela graça por meio da fé em Cristo, entãoqual é o propósito da Lei? M u i t o s d o s c o m p a t r i o t a s j u d e u s r e a g i r a m c o n t r a

P a u l o , c o m o e l e t e r i a f e i t o a n t e s d e s u a c o n v e r s ã o . Q u a n d o e l e c h e g o u a

J e r u s a l é m , v o l t a n d o d e s u a t e r c e i r a v i a g e m m i s s i o n á r i a , e n f r e n t o u " m i l h a r e s "

d e j u d e u s c r is t i a n i z a d o s q u e e s t a v a m p r o f u n d a m e n t e d e s c o n f i a d o s d e le . C o m o

T i a g o c o m e n t o u , " [ E l e s ] f o r a m i n f o r m a d o s a t e u r e s p e i t o q u e e n s i n a s t o d o s o sj u d e u s e n t r e o s g e n t i o s a a p o s t a t a r e m d e M o i s é s , d i z e n d o - l h e s q u e n ã o d e v e m

c i r c u n c i d a r o s f i l h o s n e m a n d a r s e g u n d o o s c o s t u m e s d a l e i " ( A t o s 2 1 . 2 1 ) . H a v i a

m a i s e x a g e r o d o q u e v e r d a d e n e s t a n o t í c i a . P a u l o e s t a v a c o n t e n t e d e q u e o s

j u d e u s c o n t i n u a s s e m a o b s e r v a r a L e i ( R o m a n o s 1 4 . 3 , 4 ) . M a s e l e c e r t a m e n t e

a c r e d i t a v a q u e g u a r d a r a L e i n ã o e r a n e c e s s á r i o p a r a a s a l v a ç ã o — o q u e e r a

b a s t a n t e r a d i c a l !

P a u l o t r a t a e s p e c i f i c a m e n t e d e s t a q u e s t ã o e m R o m a n o s 7 . 7 - 1 4 e G á l a t a s 3 . 1 9 -

2 9 . E l e j á h a v i a p e r g u n t a d o c o r a j o s a m e n t e : " A n u l a m o s , p o i s , a l e i p e l a f é ? " , e

f i r m e m e n t e r e s p o n d e u : " N ã o , d e m a n e i r a n e n h u m a , a n t e s c o n f i r m a m o s a l e i "

( R o m a n o s 3 . 3 1 ) . E l e t i n h a d i f e r e n t e s m e i o s d e j u s t i f i c a r e s t a a s s e r ç ã o , m a s e m

G á l a t a s e l e u s a d u a s i m a g e n s q u e r e s u m e m t o d o s e l e s : " A n t e s q u e v i e s s e a f é ,

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 9 5

O papel do batismo na união com Cristo

" P o r v e n t u r a i g n o r a i s q u e t o d o s o s q u e f o m o sbat i zados em Cr i s to J es us , f omos ba t i zados nas u a m o r t e ? F o m o s , p o i s , s e p u l t a d o s c o m e l en a m o r t e p e l o b a t i s m o ; p a r a q u e , c o m o C r i s t ofo i r es s us c i t ado den t r e os mor tos pe la g ló r i ad o P a i , a s s i m t a m b é m a n d e m o s n ó s e mn o v i d a d e d e v i d a " ( R o m a n o s 6 . 3 , 4 ; c o m p a r ec o m G á l a t a s 3 . 2 6 , 2 7 e C o l o s s e n s e s 2 . 1 2 ) .

E m q u e s e n t i d o P a u l o u s a a q u i a p a l a v r a" p e l o " , n a e x p r e s s ã o " p e l o b a t i s m o " ? A l g u n sc o n c l u í r a m q u e P a u l o a t r i b u i u m p a p e l m u i t os i g n i f i c a t i v o a o b a t i s m o c o m o m e i o d e u n i ã oc o m C r i s t o e m s u a m o r t e e r e s s u r r e i ç ã o .

Ent r e tan to , parecer i a mai s exa to r epres en tá-lo como o s ina l , e t a lvez t ambém como aocas ião des ta un ião s a lv í f i ca com Cr i s to , e nãocomo s eu meio . I s to s e to rna c la ro pe lac o m p a r a ç ã o q u e P a u l o f a z e n t r e o b a t i s m o e ac i r c u n c i s ã o e m C o l o s s e n s e s 2 . 1 1 , 1 2 . E l e p e n s a

c l a r a m e n t e n e l e s c o m o o p e r a n d o d o m e s m o m o d o .N o t e x t o q u e s e s e g u e e l e d e f i n e a c ir c u n c i s ã o c o m oum " s ina l . . . como s e lo da jus t i ça da f é que t eve[ A b r a ã o ] q u a n d o a i n d a i n c i r c u n c i s o " ( R o m a n o s4 . 1 1 ). P r i m e i r o A b r a ã o r e c e b e u a j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é ,depoi s r ecebeu a c i r cunci s ão como um s ina l e s e lo daj u s t i f i c a ç ã o . D a m e s m a f o r m a e s t a m o s u n i d o s aCr i s to pe la f é , e as s im s omos jus t i f i cados , e ems e g u i d a r e c e b e m o s o b a t i s m o c o m o u m s i n a l d eD eus da nos s a jus t i f i cação , e um s e lo de la ,a s s e g u r a n d o - n o s q u e e l a é r e a l m e n t e n o s s a .

M a r t i n h o L u t e r o e s t a v a c e r t o d a c o m p r e e n s ã o d eP a u l o s o b r e o b a t i s m o n o f a m o s o i n c i d e n t e d ot in te i ro . U m d ia , t r aba lhando em s ua mes a , s en t iu - s ef o r t e m e n t e t e n t a d o a d u v i d a r d e s u a j u s t i f i c a ç ã o .R e c o n h e c e n d o a f o n t e d a t e n t a ç ã o , . p e g o u o t i n t e i r oe a r r e m e s s o u - o v i o l e n t a m e n t e c o n t r a o D i a b o ,g r i t a n d o : " B a p t i z a t u s s u m ! " — " F u i b a t i z a d o ! "

e s t á v a m o s s o b a t u t e l a d a l e i , e n e l a e n c e r r a d o s , p a r a e s s a f é q u e d e f u t u r o

h a v e r i a d e r e v e l a r - s e . D e m a n e i r a q u e a le i n o s s e r v i u d e a i o p a r a n o s c o n d u z i r

a C r i s to , a f i m d e q u e f ô s s e m o s j u s t i f i c a d o s p o r f é " ( G á l a t a s 3 . 2 3 , 2 4 ) .

A q u i e l e r e t r a t a a L e i p r i m e i r o c o m o u m a s e n t i n e l a , e d e p o i s c o m o u m g u i a .

A L e i n ã o p o d i a p r o v e r a s a l v a ç ã o , m a s p o d i a m a n t e r a s p e s s o a s s o b c u s t ó d i a

p r o t e t o r a a t é q u e e l a s p u d e s s e m o u v i r e a c e i t a r o e v a n g e l h o . E e l a p o d i a o r i e n t a r

a s p e s s o a s , c o n d u z i n d o - a s a C r i s t o p o r m o s t r a r c o m o E l e c u m p r e a s e x p e c t a t i v a s

d o V e l h o T e s t a m e n t o e p r o v ê e x a t a m e n t e o q u e a p r ó p r i a L e i n ã o p o d i a p r o v e r .C o m o P a u l o d i z n u m d e s e u s s e r m õ e s e m A t o s , " p o r m e i o d e l e t o d o o q u e c r ê

é j u s t i f i c a d o d e t o d a s a s c o i s a s d a s q u a i s v ó s n ã o p u d e s t e s s e r j u s t i f i c a d o s p e l a

l e i d e M o i s é s " ( A t o s 1 3 . 3 9 ) .

b. Se a salvação é simplesmente pela graça por meio da fé, "qual é, pois, avantagem do judeu?" ( R o m a n o s 3 . 1 ) . P a u l o p a r e c i a s o l a p a r o s t a t u s e s p e c i a l

d e I s r a e l c o m o p o v o e s c o l h i d o d e D e u s , q u e c e l e b r o u c o m e l e s a a l i a n ç a , o

c o m p r o m i s s o d e se r s e u D e u s p a r a s e m p r e ( p . e x . , G ê n e s i s 1 7 . 7 ) .

P a u l o c e r t a m e n t e a c r e d i t a v a q u e h a v i a a g o r a u m m e i o d e s a l v a ç ã o , t a n t o

p a r a o s j u d e u s c o m o p a r a o s g e n t i o s , a q u e l e d a f é e m C r i s t o . C o m o e l e a f i r m a

e m E f é s i o s , J e s u s " t e n d o d e r r u b a d o a p a r e d e d a s e p a r a ç ã o q u e e s t a v a n o m e i o ,

a i n i m i z a d e , a b o l i u n a s u a c a r n e a l e i d o s m a n d a m e n t o s n a f o r m a d e o r d e n a n ç a s "

( E f é s i o s 2 . 1 4 , 1 5 ) . M a s , q u e r i s t o d i z e r q u e D e u s r e v o g o u a s p r o m e s s a s q u e f e za I s r a e l , s e u p o v o e s c o l h i d o ? R e s p o n d e r a e s t a p e r g u n t a é u m a d a s p r i n c i p a i s

p r e o c u p a ç õ e s d e P a u l o e m s u a c a rt a a o s R o m a n o s , p o r q u e e le t a m b é m s e n t e

c l a r a m e n t e q u e s e t r a t a d e u m p r o b l e m a .

E m R o m a n o s 3 . 2 , 3 P a u l o i n s i s t e q u e h á g r a n d e v a n t a g e m e m s e r j u d e u , e q u e

a d e s c r e n ç a d e I s r a e l n ã o v a i f a z e r q u e D e u s a b a n d o n e s e u c o m p r o m i s s o c o m

e l e . D e p o i s e l e v o l t a a o a s s u n t o e m R o m a n o s 9 - 1 1 e d e d i c a t r ê s c a p í t u l o s b e m

f u n d a m e n t a d o s s o b r e o a s s u n t o . S u a p o d e r o s a a r g u m e n t a ç ã o e s t á r e s u m i d a n o

p r ó x i m o q u a d r o .

c. Se a salvação é simplesmente pela graça por meio da fé, então podemospecar como nos apraz? P a u l o c it a e s t a o b j e ç ã o e m R o m a n o s 6 .1 . A p a r e n t e m e n t e

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9 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

Rom anos 9-11: O plano de Deus para Israel

É em v i r tude da es s ência da dout r ina de Pau lo s obrea j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é q u e h á h o j e a p e n a s u m m e i od e s a l v a ç ã o p a r a t o d o s — f é e m J e s u s C r i st o . P o ri s s o , os gen t ios não prec i s am tornar - s e judeus paras er s a lvos . A ntes , ambos , judeu e gen t io , devemabandonar s ua r e l ig ião an ter io r e to rnar - s e c r i s t ãos .

I s to hor ror i zou m ui tos jud eus c r i s t i an izado s . E lesp e n s a v a m q u e , p o r c a u s a d a p o s i ç ã o p r i v i le g i a d a d eI s r ae l pe la a l i ança , os gen t ios dev iam tornar - s ejudeus para s er d i s c ípu los do Mes s ias de I s r ae l . Suaa c u s a ç ã o e r a : P a u l o , v o c ê n e g a a a l ia n ç a d e D e u scom I s r ae l d izendo que " não há d i s t inção en t r ejudeu e g rego [gen t io ] , uma vez que o mes mo é oSenhor de todos , r i co para com todos os que o

i n v o c a m " ( R o m a n o s 1 0 . 1 2 ) . R o m a n o s 9 - 1 1 é ar es pos ta de Pau lo a es t a acus ação . Es tes f as c inan tesc a p í t u l o s t o r n a r a m - s e u m g r a n d e c e n t r o d e i n t e r e s s edos es tud ios os r ecen tes .

P a u l o c o m e ç a a f i r m a n d o o q u e s e u s o p o s i t o r e spens aram que e le hav ia negado . S im, I s r ae l a inda éo l eg í t imo depos i t á r io dos p r iv i l ég ios que D eus lhedeu (9 . 3 -5) , e a pa lavra de D eus para I s r ae l nãop o d e f a l h a r ( 9 . 6) . P o r é m P a u l o t e m a l g u m a s c o i s a simpor tan tes a d izer s obre o meio pe lo qual D eus va imanter s uas p romes s as a I s r ae l :

a . Manter s ua pa lavra para com I s r ae l inc lu i p rofer i rs ua s en tença s obre e l e em v i r tude de s eu pecado er e b e l i ã o . E la n u n c a s i g n i f i c o u u m a p r o m e s s a d es a lvação genera l i zada (9 . 27-29 ; 11 . 8-10) .b . Manter s ua pa lavra para com I s r ae l não s ign i f i cau m c o m p r o m i s s o d e s a l v a r c a d a j u d e ui n d i v i d u a l m e n t e . S e r s i m p l e s m e n t e d e s c e n d e n t e d eA b r a ã o n ã o q u a l i f i c a a u t o m a t i c a m e n t e o s j u d e u spara o céu . D eus r ea l i za uma es co lha pos ter io r (9 . 6 -13) . S im, " todo o I s r ae l s e r á s a lvo" (11 . 26) , poréms e cada judeu va i s e r inc lu ído depende de le ou de laace i t a r ou não o evangelho .

c . Manter s ua pa lavra para com I s r ae l pode

envolver o in te r es s e de s a lvar os gen t ios . N ar e a l i d a d e , a s d u a s c o i s a s c a m i n h a m j u n t a s ,p r i m e i r a m e n t e p o r q u e D e u s p r o m e t e n a sEs cr i tu r as de I s r ae l abençoar os gen t ios (9 . 25 ;10 . 13 , 20) ; e , em s egundo lugar , porque um dosd o c u m e n t o s p i o n e i r o s d e I s r a e l , o f a m o s oC â n t i c o d e M o i s é s e m D e u t e r o n ô m i o 3 2 , a d v e r t ees pec i f i camente I s r ae l de que , s e e l e ca i r emp e c a d o , D e u s l h e r e s p o n d e r á d e r r a m a n d o s u a sbênçãos s obre ou t r as nações (10 . 19 ; 11 . 11-14) .Fo i i s to que aconteceu a t r avés do min i s t é r io deP a u l o .

d . Manter s ua pa lavra para com I s r ae l nãos i g n i f i c a a f i r m a r q u e I s r a el c o m p r e e n d e a L e i .E le t em grande ze lo pe la Lei , mas , na r ea l idade ,f a l h a p o r n ã o e n t e n d ê - l a . D e m o d o e s p e c í f i c o ,e le f a lha em não compreender que a f é c r i s t ã é ocumpr imento da Lei . I s to porque os que s eto rnara m cr i s t ãos , t an to jud eu s com o gen t ios ,d e m o n s t r a m u m a t r a n s f o r m a ç ã o d e c o r a ç ã o p e l aq u a l a L e i s e m p r e a n s i o u , g e r a l m e n t e e m v ã o(10 . 1-13) .

e . E , f ina lmente , manter s ua pa lavra para comIs rae l é a lgo que D eus t em fe i to duran te toda ah i s t ó r i a h u m a n a . A s v e z e s p o d e p a r e c e r q u e E l eo a b a n d o n a . E i s to p a r e c i a a c o n t e c e r n a q u e l em o m e n t o , d i z P a u l o , p o r q u e h o u v e " u me n d u r e c i m e n t o e m p a r t e a I s r a e l " (1 1 . 2 5 ) . M a se s t e " e n d u r e c i m e n t o " , n o e s q u e m a d e D e u s ,p e r m i t e q u e o e v a n g e l h o c h e g u e a t é a o m u n d og e n t i o — d e m o d o q u e , f i n a l m e n t e , I s r a e l s e r át r a z i d o d e v o l t a a o m a r a v i l h o s o c l í m a x e m q u e" t o d o s o s h o m e n s " s e r e g o z i j a r ã o n a m i s e r i c ó r d i ade D eus para com e les em Cr i s to (11 . 25-32) .E s t e b r e v e r e s u m o n ã o p o d e f a z e r j u s t i ç a àc o m p l e x i d a d e e p o d e r d a d i s s e r t a ç ã o d e P a u l o ,q u e é u m a d a s s u p r e m a s g l ó r i a s d o N o v oT e s t a m e n t o .

e l e e s t a v a s e n d o a c u s a d o d e e n s i n a r : " P r a t i q u e m o s m a l e s p a r a q u e v e n h a m

b e n s " ( R o m a n o s 3 . 8 ). O s j u d e u s c r i s ti a n i z a d o s p e n s a v a m q u e e s t a r e j e i ç ã o d a

L e i s i g n i f i c a v a i n e v i t a v e l m e n t e a r u í n a d e t o d a a m o r a l i d a d e . E , c o m e f e i t o ,

a l g u n s d o s g e n t i o s c o n v e r t i d o s d e P a u l o f o r a m n o t o r i a m e n t e n e g l i g e n t e s e m

s e u s c o s t u m e s ( p . e x . , 1 C o r í n t i o s 5 . 1 ; 6 . 1 5 ) . Q u a l f o i a r e s p o s t a d e P a u l o ? E s t a

t e r c e i r a o b j e ç ã o à s u a d o u t r i n a d a j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é l e v a - n o s a o p r ó x i m o g r a n d e

t e m a e m s u a t e o l o g i a :

2. Santif icação— Deus nos faz santosA s a n t i f i c a ç ã o é i n s t a n t â n e a . T ã o l o g o q u a l q u e r p e s s o a p e c a d o r a a b a n d o n a s u a

v i d a d e p e c a d o s e e n t r e g a - s e a J e s u s C r i s t o , q u e m o r r e u p o r e l a e r e s s u s c i t o u ,

D e u s a d e c l a r a " j u s t a " . E l a f o i " j u s t i f i c a d a m e d i a n t e a f é " e t e m " p a z c o m D e u s

p o r m e i o d e J e s u s C r i s t o " ( R o m a n o s 5 . 1 ) .

A s a n t i f i c a ç ã o , p o r é m , é o p r o c e s s o q u e e n t ã o s e i n i c i a — p e l a q u a l o p e c a d o r

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 9 7

é g r a d u a l m e n t e t r a n s f o r m a d o n a i m a g e m d e C r is t o (2 C o r í n t i o s 3 .1 8 ) . U m a é

i m p o s s í v e l s e m a o u t r a , p o i s , c o m o P a u l o d e c l a r a a o s f i li p e n s e s , " a q u e l e q u e

c o m e ç o u b o a o b r a e m v ó s h á d e c o m p l e t á - l a a t é a o d i a d e C r i s t o J e s u s "

( F i l i p e n s e s 1 . 6 ). S e D e u s v e r d a d e i r a m e n t e j u s t i f i c o u a l g u é m , e n t ã o E l e t a m b é m

o s a n t i f i c a r á .

P o r is s o , n e n h u m c r e n t e p o d e p r o p o r : " H a v e m o s d e p e c a r p o r q u e n ã o e s t a m o s

d e b a i x o d a l e i, e s i m d a g r a ç a ? " ( R o m a n o s 6 . 1 5 ) . A j u s t i f i c a ç ã o n ã o s i g n i f i c a a

r e j e i ç ã o d a L e i , m a s s u a i n j e ç ã o — n o s c o r a ç õ e s d e t o d o s o s q u e c r ê e m e m C r i s t o ,

e m c u m p r i m e n t o d a e x p e c t a t i v a d o V e l h o T e s t a m e n t o ( v e j a E z e q u i e l 3 6 . 2 6 , 2 7 ) .

S e s o m o s j u s t i f i c a d o s , e n t ã o " o a m o r d e D e u s é d e r r a m a d o e m n o s s o s c o r a ç õ e s

p e l o E s p í r i t o S a n t o , q u e n o s f o i o u t o r g a d o " ( R o m a n o s 5 . 5 ) . T o d a a q u e s t ã o

a c e r c a d e m o r r e r c o m C r i s t o é q u e d e v e m o s t a m b é m r e s s u r g i r c o m C r i s t o p a r a

u m a q u a l i d a d e d e v i d a t o d a n o v a , j a m a i s p o s s í v e l à q u e l e s q u e s i m p l e s m e n t e

c o n f i a r a m n a L e i ( R o m a n o s 6 . 4 - 7 ).

E n t r e t a n t o i s t o n ã o a c o n t e c e a u t o m a t i c a m e n t e , s e m a t i v i d a d e d e n o s s a p a r t e ;t e m o s d e t r a b a l h a r p a r a i s s o . C o m o P a u l o a f i r m a b r i l h a n t e m e n t e a o s f i li p e n s e s :

" A s s i m , p o i s , a m a d o s m e u s . . . d e s e n v o l v e i a v o s s a s a l v a ç ã o c o m t e m o r e t r e m o r ;

p o r q u e D e u s é q u e m e f e t u a e m v ó s t a n t o o q u e r e r c o m o o r e a l i z a r , s e g u n d o a

s u a b o a v o n t a d e " ( F i li p e n s e s 2 . 1 2 , 1 3 ) . D e u s e s t á t r a b a l h a n d o e m n ó s — m a s

i s t o n ã o s i g n i f i c a a c o m o d a r - n o s e d e i x a r q u e E l e f a ç a t u d o . P r e c i s a m o s

d e s e n v o l v e r n o s s a " s a l v a ç ã o c o m t e m o r e t r e m o r " , c o m o s e e l a d e p e n d e s s e d e

n ó s .

P o r i s s o a s c a r t a s d e P a u l o f e r v i l h a m d e i n s t r u ç õ e s p r á t i c a s p a r a a v i d a e

a t i t u d e c r i s t ã s . V á r i a s d a s c a r t a s p o d e m s e r n i t i d a m e n t e d i v i d i d a s e m d u a s , a

p r i m e i r a m e t a d e r e f e r i n d o - s e à f é c r i s t ã , e a s e g u n d a à v i d a c r i s tã : p o r e x e m p l o ,

R o m a n o s 1 - 1 1 e 1 2 - 1 6 ; G á l a t a s 1 - 4 e 5 - 6 ; E f é s i o s 1 - 3 e 4 - 6 ; C o l o s s e n s e s 1 - 2 e

3 - 4 . A s o r a ç õ e s d e P a u l o s ã o p a r t i c u l a r m e n t e r e v e l a d o r a s . E l e a l m e j a q u e s e u sc o n v e r t i d o s s e e n c h a m d e v e r d a d e e a m o r , c o m r e t i d ã o e p a c i ê n c i a , c o m a l e g r i a

e a ç õ e s d e g r a ç a s ( v e j a e s p e c i a l m e n t e E f é s i o s 1 . 1 5 - 2 3 ; 3 . 1 4 - 1 9 ; F i l i p e n s e s 1 . 3 -

1 1 ; C o l o s s e n s e s 1 . 9 - 1 4 ) . O q u a d r o s e g u i n t e d á u m a v i s t a g e r a l d e s e u e n s i n o

p r á t i c o .

D u a s o u t r a s f a c e t a s d o e n s i n o d e P a u l o s o b r e a s a n t i f i c a ç ã o p r e c i s a m s e r

m e n c i o n a d a s : m e i o s e i n c e n t i v o s .

а . Os meios de santificação. O q u e a i m p e d e ? P a r a P a u l o , o s m e i o s c o m p e t e m

c o m o s i m p e d i m e n t o s :

i . O Diabo— por i s s o p r e c i s a m o s r e v e s t i r - n o s " d e t o d a a a r m a d u r a d e D e u s "

( E f é s i o s 6 . 1 1 ) . P a u l o a c r e d i t a v a q u e " n o s s a l u t a n ã o é c o n t r a o s a n g u e e a c a r n e ,

e s i m c o n t r a p r i n c i p a d o s e p o t e s t a d e s , c o n t r a o s d o m i n a d o r e s d e s t e m u n d o

t e n e b r o s o , c o n t r a a s f o r ç a s e s p i r i t u a i s d o m a l , n a s r e g i õ e s c e l e s t e s " ( E f é s i o s

б . 1 2 ) . E l e n ã o e s t á c e r t a m e n t e d e s c r e v e n d o ( c o m o a l g u n s s u g e r e m ) t o d a u m a

h i e r a r q u i a d o s p o d e r e s d o m a l , d e m o d o q u e c a d a s i t u a ç ã o t e n h a s e u p r ó p r i o

d e m ô n i o , c o n t r a o q u a l d e v e m o s lu t a r . M a s e l e e s t á , e f e t i v a m e n t e , s u b l i n h a n d o

o p o d e r e a m a l d a d e d e s s a s f o r ç a s e s p i r i t u a i s e m g u e r r a c o n o s c o . N ó s a s

d e s c o n h e c e m o s e m n o s s o p e r i g o .

A s s i m , p o i s , n e c e s s i t a m o s d a a r m a d u r a d e s e i s p e ç a s q u e D e u s n o s d á ( E f é s i o s

6 . 1 4 - 1 7 ) , e s a b e m o s q u e a e s t a m o s u s a n d o e f i c a z m e n t e q u a n d o o r a m o s " e m

t o d o o t e m p o n o E s p í r i t o , e p a r a i s t o v i g i a n d o c o m t o d a p e r s e v e r a n ç a e s ú p l i c a "

( E f é s i o s 6 . 1 8 ) . O c r i s t ã o e f e t i v o e v i to r i o s o é m a r c a d o p o r u m a v i d a d e c o n s t a n t e

o r a ç ã o .

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1 0 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

i i. A carne— e t a m b é m p r e c i s a m o s " a n d a r n o E s p í r i t o " ( G á l a t a s 5 .1 6 ) .

" A c a r n e " é u m a e x p r e s s ã o i m p o r t a n t e p a r a P a u l o . A N o v a V e r s ã o I n t e r n a c i o n a lg e r a l m e n t e a t r a d u z p o r " n a t u r e z a p e c a m i n o s a " , p o r e x e m p l o e m G á l a t a s 5 . 1 7 :

" A n a t u r e z a p e c a m i n o s a d e s e j a o q u e é c o n t r á r i o a o E s p í r i t o , e o E s p í r i t o o q u e

é c o n t r á r i o à n a t u r e z a p e c a m i n o s a . E l e s e s t ã o e m c o n f l i t o u m c o m o u t r o , d e

m o d o q u e n ã o f a ç a i s o q u e d e s e j a r í e i s . " " A c a r n e " é a c o n t í n u a p r e s e n ç a d o

p e c a d o e d a m o r t e m e s m o n o s c r i s t ã o s . O p e c a d o e a m o r t e n ã o m a i s r e i n a m

s o b r e n ó s , m a s a i n d a e s t ã o p r e s e n t e s e m n ó s .

I s t o s i g n i f i c a u m a b a t a l h a in t e r i o r . " A c a r n e " d e v e s e r c o m b a t i d a , n o p o d e r

d o E s p í r i t o . E u m a q u e s t ã o d e v i d a o u m o r t e : " S e v i v e i s d e a c o r d o c o m a n a t u r e z a

p e c a m i n o s a , m o r r e r e i s ; m a s s e p e l o E s p í r i t o m o r t i f i c a r d e s o s f e i t o s d o c o r p o ,

v i v e r e i s , p o i s t o d o s o s q u e s ã o g u i a d o s p e l o E s p í r i t o d e D e u s s ã o f i l h o s d e

D e u s " ( R o m a n o s 8 . 1 3 , 1 4 ) . D e v e m o s p r o d u z i r " o f r u t o d o E s p í r i t o " , e n ã o " a s

o b r a s d a c a r n e " , p a r a q u e p o s s a m o s " c r u c i f i c a r a n a t u r e z a p e c a m i n o s a c o ms u a s p a i x õ e s e d e s e j o s " , e " a n d e m o s n o E s p í r i t o " ( G á l a t a s 5 . 2 4 , 2 5 ) .

I s t o é v i t a l . A p r o f u n d a p r e o c u p a ç ã o d e P a u l o a r e s p e i t o d o s c o r í n t i o s e r a o

f a t o d e e l e s s e r e m " c a r n a i s " ( " m u n d a n o s " o u " p r o f a n o s " ) , e n ã o " e s p i r i t u a i s "

( 1 C o r í n t i o s 3 . 1 ) . E s t a s e r i a s u a u r g e n t e m e n s a g e m t a m b é m à i g r e j a d o s é c u l o

v i n t e . M a i s i m p o r t a n t e d o q u e t o d a s a s e s t r a t é g i a s m i s s i o n á r i a s e p r o g r a m a s d e

e d u c a ç ã o , m a i s e x t e n s a d o q u e t o d a n o v a i n i c ia t i v a , m a i s u r g e n t e d o q u e q u a l q u e r

o u t r a n e c e s s i d a d e , é o c h a m a m e n t o à s a n t i d a d e : " a n d a r n o E s p í r i t o " , d e f o r m a

a n ã o n ã o s a t i s f a z e r " à c o n c u p i s c ê n c i a d a c a r n e " ( G á l a t a s 5 . 1 6 ) .

b. Os incentivos à santificação. P a u l o r a r a m e n t e f a z u m a e x o r t a ç ã o à s a n t i d a d e

s e m a c r e s c e n t a r u m m o t i v o . Q u a i s s ã o e s s e s i n c e n t i v o s ?

i . A l g u m a s v e z e s é o exemplo de Cristo. P o r e x e m p l o , P a u l o c o n c i t a - n o s

• a h u m i l h a r - n o s t a l c o m o C r i s t o , q u e " a si m e s m o s e e s v a z i o u " ( F i l i p e n s e s 2 . 5 -

7 ) .

• a a n d a r " e m a m o r , c o m o t a m b é m C r i s t o v o s a m o u , e s e e n t r e g o u a s i m e s m o

p o r n ó s , c o m o o f e r t a e s a c r i f í c i o a D e u s e m a r o m a s u a v e " ( E f é s i o s 5 . 2 ) .

• a a c o l h e r " u n s a o s o u t r o s , c o m o t a m b é m C r i s t o n o s a c o l h e u " ( R o m a n o s 1 5 . 7 ) .

i i . A l g u m a s v e z e s é a p r e s e n ç a d e C r i s t o :

• " S u j e i t a n d o - v o s u n s a o s o u t r o s n o t e m o r d e C r i s t o " ( E f é s i o s 5 . 2 1 ) .

• " P u r i f i q u e m o - n o s d e t o d a i m p u r e z a , t a n t o d a c a r n e c o m o d o e s p í r i to ,

a p e r f e i ç o a n d o a n o s s a s a n t i d a d e n o t e m o r d e D e u s " ( 2 C o r í n t i o s 7 . 1 ) .

E m a m b o s o s v e r s í c u l o s " n o t e m o r d e " é , l i t e r a l m e n t e , " e m r e v e r ê n c i a a " .

E m a m b o s o s c a s o s a m o t i v a ç ã o é a m a r c o m r e c e i o d e o f e n d e r a q u e l e e m c u j a

p r e s e n ç a v i v e m o s . E n c o n t r a m o s a m e s m a m o t i v a ç ã o e m 1 C o r í n t i o s 1 1 .2 9

( p a r t i c i p a ç ã o r e v e r e n t e n a C e i a d o S e n h o r ) , e e m E f é s i o s 4 . 2 9 - 3 1 ( n ã o e n t r i s t e c e ro E s p í r i t o i n s u l t a n d o a q u e l e s e m q u e m E l e h a b i t a ) .

i i i . M a i s f r e q ü e n t e m e n t e , é a obra de Cristo, p o r n ó s e e m n ó s , q u e m o t i v a a

s a n t i d a d e . A q u i e s t ã o t r ê s e x e m p l o s :

• M o r r e m o s e r e s s u s c i t a m o s c o m C r i s t o ; p o r t a n t o " c o n s i d e r a i - v o s m o r t o s p a r a

o p e c a d o , m a s v i v o s p a r a D e u s e m C r i s t o J e s u s " ( R o m a n o s 6 . 1 1 ) , e " b u s c a i a s

c o i s a s l á d o a l t o , o n d e C r i s t o v i v e , a s s e n t a d o à d i r e i t a d e D e u s " ( C o l o s s e n s e s

3 . 1 ) .

• N ó s n o s d e s p i m o s d o " v e l h o h o m e m " e n o s r e v e s t i m o s d o " n o v o h o m e m , q u e

s e r e f a z p a r a o p l e n o c o n h e c i m e n t o , s e g u n d o a i m a g e m d a q u e l e q u e o c r i o u "

( C o l o s s e n s e s 3 . 9 , 1 0 ) . P o r t a n t o , d e v e m o s n o s d e s p o j a r d a i r a e d a m e n t i r a , e n o s

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 9 9

Paulo, acerca de viver a vida cristã

A s car t as de Pau lo es tão de t a l f o rmacar r egadas de ins t ruções p rá t i cas que es ta v i s ãogera l não pre tende cobr i r todas . En t r e tan to , e l ap o d e m o s t r a r a l g u m a c o i s a d a a m p l a g a m a d etóp icos que e le abrange:

• Vida familiar: r e l a c i o n a m e n t o e n t r e m a r i d o s ees pos as (1 Cor ín t ios 7 . 1 -5 ; E fés ios 5 . 22-33) ,en t r e pa i s e f i lhos (Efés ios 6 . 1 -4) , en t r es enhores e es cravos (Efés ios 6 . 5 -9 ; 1 T imóteo6 . 1 , 2 ) .

• Ética sexual, t a n t o d e n t r o c o m o f o r a d oc a s a m e n t o : P a u l o t e m a l g u m a s c o i s a spar t i cu larmente inc i s ivas a d izer s obre asp r á t i c a s h o m o s s e x u a i s , q u e e r a m m u i t od i f u n d i d a s e m s e u t e m p o ( R o m a n o s 1 . 2 4 - 2 7 ; 1

Cor ín t ios 6 . 9 -20 ; 7 . 25-40 ; 1 Tes s a lon icens es4 . 3 - 8 ; 1 T i m ó t e o 5 . 1 1 - 1 5 ) .

• Cidadania: a a t i tude c r i s t ã peran te aa u t o r i d a d e s e c u l a r e s o b r e o p a g a m e n t o d eimp os tos (Rom ano s 13 . 1-7 ; 1 Cor ín t ios 6 . 1 -8) .• Conversação: e le t em mui to a d izer s obre ac o n v e r s a ç ã o p a r a o s c ri s t ã o s (p o r e x e m p l o ,R o m a n o s 1 2 . 1 4 ; E f é s i o s 4 . 2 5 - 5 . 4 ) .• A mente: Paulo dá um des taque es pec ia l ao

m o d o c o m o e o q u e p e n s a r , p o r q u e i s t o m o l d a t o d oo nos s o s er (Romanos 8 . 5 -8 ; 12 . 1-3 ; F i l ipens es 4 . 8 ;E f é s i o s 4 . 1 7 - 2 4 ) .• Trabalho: é um dever c r i s t ão , d iz e l e aostes s a lon icens es , t r aba lhar para o nos s o s us ten to enão s er p r egu iços os (1 Tes s a lon icens es 4 . 9 -12 ; 2T e s s a l o n i c e n s e s 3 . 6 - 1 3 ) .• Vingança: n u m m u n d o e m q u e s e a d m i t i a av ingança , Pau lo adver t i a que o c r i s t ão deve de ixar av i n g a n ç a p a r a D e u s e a m a r o s s e u s i n i m i g o s( R o m a n o s 1 2 . 1 7 - 2 1 ) .• Formação do caráter: é n i s to que Pau lo ins i s t ec o m m a i s ê n f a s e , p o r q u e e l e s a b e q u e a s a n t i f ic a ç ã oé p r i m e i r a m e n t e u m a q u e s t ã o d e c a r á te r , e, e ms egundo lugar , de compor tamento . Por i s s o e le

a d m o e s t a p a r a a p r á ti c a d a s v i r tu d e s d a h u m i l d a d e edo des prendimento (F i l ipens es 2 . 1 -11) ; da a l egr i a ,o ração , paz e con ten tamento (F i l ipens es 4 . 4 -13) ; o" f ru to do Es p í r i to" para des ar r a igar " as obras dacarne" (G ála tas 5 . 19-26) ; e , ac ima de tudo , as t r êsqual idades c ruc ia i s : a f é , a es perança e o amor (1Tes s a lo n icen s es 1 . 3 ; E fés ios 4 . 1 -6 ; 1 Cor ín t ios 13 . 1-1 3 ) , t e n d o o a m o r c o m o o b j e t i v o s u p r e m o( R o m a n o s 1 3 . 8 - 1 0 ; G á l a t a s 5 . 6 , 1 3 - 1 5 ) .

P a u l o e s c r e v e u c o m a l g u m a e x t e n s ã o à i g r ej a d e C o r i n t o s o b r e v i v e r a v i d a c r i s t ã . E s t a s i m p r e s -s i o n a n t e s c o l u n a s d ó r i c a s f a z e m p a r t e d o a n t i g o t e m p l o d e A p o l o , a o l ad o d a Á g o r a , e m C o r i n t o .

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1 0 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

v e s t i r d e " m i s e r i c ó r d i a , d e b o n d a d e , d e h u m i l d a d e , d e m a n s i d ã o , d e

l o n g a n i m i d a d e " ( C o l o s s e n s e s 3 . 1 2 ) .• P o r q u e s e u E s p í r i t o e s t á e m n ó s , n o s s o s c o r p o s s ã o " m e m b r o s d e C r i s t o " ( 1

C o r í n t i o s 6 . 1 5 ) — i s t o é , s o m o s m e m b r o s d e C r i s t o , s e u s b r a ç o s e p e r n a s .

P o r t a n t o , d e v e m o s g l o r i f i c a r a D e u s c o m n o s s o s c o r p o s , p o r q u e " n ã o s o i s d e

v ó s m e s m o s " (1 C o r í n t i o s 6 . 1 9 ) .

iv . F r e q ü e n t e m e n t e , é a vinda de Cristo q u e m o t i v a a s a n t i d a d e . P a u l o e s t a v a

s e m p r e t r a b a l h a n d o e o r a n d o e m f u n ç ã o " d a q u e l e d i a " , q u a n d o o S e n h o r v i r i a ,

e a l m e j a v a q u e s e u s c o n v e r t i d o s e s t i v e s s e m p r o n t o s :

• " O q u a l [ J e s u s C r i s t o ] t a m b é m v o s c o n f i r m a r á a t é a o f i m , p a r a s e r d e s

i r r e p r e e n s í v e i s n o d i a d e n o s s o S e n h o r J e s u s C r i s t o " ( 1 C o r í n t i o s 1 . 8 ).

• " V a i a l t a a n o i t e e v e m c h e g a n d o o d i a . D e i x e m o s , p o i s , a s o b r a s d a s t r e v a s , e

r e v i s t a m o - n o s d a s a r m a s d a l u z " ( R o m a n o s 3 . 1 2 ) .

• " E t a m b é m f a ç o e s t a o r a ç ã o : q u e o v o s s o a m o r a u m e n t e m a i s e m a i s e m p l e n o

c o n h e c i m e n t o e t o d a a p e r c e p ç ã o , p a r a a p r o v a r d e s a s c o i s a s e x c e l e n t e s e s e r d e s

s i n c e r o s e i n c u l p á v e i s p a r a o d i a d e C r i s t o , c h e i o s d o f r u t o d e j u s t i ç a , o q u a l é

m e d i a n t e J e s u s C r i s t o , p a r a a g l ó r i a e l o u v o r d e D e u s " ( F i l i p e n s e s 1 . 9 - 1 1 ) .

3. Edificação—Deus edif ica sua igrejaJ u s t i f i c a ç ã o e s a n t i f i c a ç ã o p a r e c e m , à p r i m e i r a v i s t a , d i z e r r e s p e i t o s o m e n t e a o

t r a b a l h o d e D e u s n o c r e n t e i n d i v i d u a l . M a s e l a s t a m b é m t ê m u m a d i m e n s ã o

c o m u n i t á r i a v i t a l . P o r e x e m p l o , o " f r u t o d o E s p í r i t o " é c o m p o s t o d e n o v e

q u a l i d a d e s , n e n h u m a d a s q u a i s p o d e s e r p r a t i c a d a o u e x p r e s s a d a p o r u m

i n d i v í d u o i s o l a d o d e o u t r a s p e s s o a s : " a m o r , a l e g r i a , p a z , l o n g a n i m i d a d e ,

b e n i g n i d a d e , b o n d a d e , f i d e l i d a d e , m a n s i d ã o , e d o m í n i o p r ó p r i o " ( G á l a t a s

5 . 2 2 , 2 3 ) . T o d a s e l a s p r e s s u p õ e m r e l a c i o n a m e n t o s . A p r o p r i a " a l e g r i a " n ã o p o d e

s e r e x p r e s s a d a i s o l a d a m e n t e , " p a z " i n c l u i a i d é i a d e v i v e r e m p a z c o m o u t r o s , e" d o m í n i o p r ó p r i o " p r e s s u p õ e a s t e n t a ç õ e s e d e s a f i o s , o s q u a i s t ã o f r e q ü e n t e m e n t e

s e m a n i f e s t a m n a s o c i e d a d e h u m a n a .

A j u s t i f i c a ç ã o c e r t a m e n t e t e m u m a p e l o i n d i v i d u a l v i t a l p a r a P a u l o . A f i n a l d e

c o n t a s , e le a t i n h a e x p e r i m e n t a d o e m s i m e s m o , f a c e a f a c e c o m o S e n h o r , a s ó s

n o c a m i n h o d e D a m a s c o . M a s e la t e v e i m e d i a t a s i m p l i c a ç õ e s c o m u n i t á r i a s . O

S e n h o r q u e l h e a p a r e c e u i d e n t i f i c o u - s e c o m a s v í t i m a s d e P a u l o . E a s s i m , t ã o

l o g o e le f o i b a t i z a d o e t o m o u u m a r e f e i ç ã o , P a u l o " p e r m a n e c e u e m D a m a s c o

a l g u n s d i a s c o m o s d i s c í p u l o s " ( A t o s 9 . 1 9 ) . E l e f o r a c o n v e r t i d o p a r a v i v e r u m a

n o v a c o m u n i d a d e .

E e l e r a p i d a m e n t e s e c o n v e n c e u d e q u e a " j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é " r e s u l t o u n a

c r i a ç ã o d e u m n o v o c o r p o , c o m p o s t o d e t u d o o q u e p e r t e n c i a a C r i s t o , n ã o

i m p o r t a n d o s u a s d i f e r e n ç a s d e f o r m a ç ã o o u p o s i ç ã o s o c i a l:

• " N ã o p o d e h a v e r j u d e u n e m g r e g o ; n e m e s c r a v o n e m l ib e r t o ; n e m h o m e m

n e m m u l h e r ; p o r q u e t o d o s v ó s s o i s u m e m C r i s t o J e s u s " ( G á l a t a s 3 . 2 8 ) .

• " O n d e n ã o p o d e h a v e r g r e g o n e m j u d e u , c i r c u n c i s ã o n e m i n c i r c u n c i s ã o ,

b á r b a r o , c i t a , e s c r a v o , l iv r e ; p o r é m C r i s t o é t u d o e m t o d o s " ( 3 . 1 1 ) .

E s t e s d o i s v e r s í c u l o s i l u s t r a m a c o n c e p ç ã o f u n d a m e n t a l d e P a u l o . A s v e l h a s

b a r r e i r a s r e l i g i o s a s , r a c i a i s , s o c i a i s , a t é m e s m o s e x u a i s , f o r a m d e m o l i d a s , p o r

c a u s a d a u n i ã o d a i g r e j a c o m C r i s t o . E l e s s ã o " u m " e m C r i s t o , o q u a l e s t á " e m "

t o d o s e l e s . O q u e c r i a e s t a u n i ã o c o m C r i s t o ? A r e s p o s t a d e P a u l o é s i m p l e s : o

E s p í r i t o S a n t o . E s t a m o s a c o s t u m a d o s a p e n s a r n o E s p í r i t o c o m o h a b i t a n d o e m

c a d a c r e n t e i n d i v i d u a l , e i s t o é u m e l e m e n t o i m p o r t a n t e n o e n s i n o d e P a u l o .

M a s e l e t a m b é m p e n s a n o E s p í r i to h a b i t a n d o n a i g r e j a c o m o u m t o d o . " N ã o

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 1 0 1

s a b e i s q u e s o i s s a n t u á r i o d e D e u s , e q u e o E s p í r i t o d e D e u s h a b i t a e m v ó s ? " ( 1

C o r í n t i o s 3 . 1 6 ) . O s c o r í n t i o s n ã o s ã o a p e n a s u m a a s s o c i a ç ã o v o l u n t á r i a d e c r e n t e s

i n d i v i d u a i s , m a s j u n t o s s ã o u m t e m p l o h a b i t a d o p e l o E s p í r i t o d o p r ó p r i o D e u s .

P o d e m o s e x a m i n a r i s to u m p o u c o m a i s . P a u l o d e n o m i n a a i g r e j a " o c o r p o d e

C r i s t o " ( 1 C o r í n t i o s 1 2 . 2 7 ; E f é s i o s 4 . 1 2 ) o u " u m c o r p o " e m C r i s t o ( R o m a n o s

1 2 . 5 ) . A e n t r a d a n e s t e c o r p o é p o r m e i o d o E s p í r i t o : " P o i s , e m u m s ó E s p í r i t o ,

t o d o s n ó s f o m o s b a t i z a d o s e m u m c o r p o , q u e r j u d e u s , q u e r g r e g o s , q u e r e s c r a v o s ,

q u e r l i v r e s . E a t o d o s n ó s f o i d a d o b e b e r d e u m s ó E s p í r i t o " ( 1 C o r í n t i o s 1 2 . 1 3 ) .

Q u a n d o P a u l o c h a m a a o E s p ír i t o " E s p í r i t o de C r i s t o " ( R o m a n o s 8 .9 ) , o c í r c u l o

l ó g i c o s e c o m p l e t a . O E s p í r i t o S a n t o é o Espírito d e C r i s t o , h a b i t a n d o n o Corpo

d e C r i s t o , e t r a z e n d o t o d o s n a q u e l e q u e m o r a e m u n i ã o e s p i r i tu a l c o m c a d a u m ,

e c o m o S e n h o r J e s u s r e s s u r r e t o e a s c e n s o a o c é u .

P a r a P a u l o e s s e c o r p o n ã o é e s t á t i c o : c o m o o c o r p o h u m a n o , e l e c r e s c e .

Q u a n d o e l e e s c r e v e s o b r e o c r e s c i m e n t o d a i g r e j a , e l e g e r a l m e n t e n ã o t e m e m

m e n t e a u m e n t a r n ú m e r o s , m a s d e s e n v o l v e r a c o m u n h ã o : " M a s , s e g u i n d o av e r d a d e e m a m o r , c r e s ç a m o s e m t u d o n a q u e l e q u e é o c a b e ç a , C r i s to , d e q u e m

t o d o o c o r p o , b e m a j u s t a d o e c o n s o l i d a d o , p e l o a u x í l i o d e t o d a j u n t a , s e g u n d o

a j u s t a c o o p e r a ç ã o d e c a d a p a r t e , e f e t u a o s e u p r ó p r i o a u m e n t o p a r a a e d i f i c a ç ã o

d e si m e s m o e m a m o r " ( E f é s i o s 4 . 1 5 , 1 6 ) . E s t e c r e s c i m e n t o é o q u e P a u l o c h a m a

" e d i f i c a ç ã o " e m 1 C o r í n t i o s 1 4 , o n d e e l e d i s c u t e a q u e s t ã o d e f a l a r l í n g u a s n a

i g r e j a d e C o r i n t o . C o m o d e v e r i a e s t a p r á t i c a s e r d i s c i p l i n a d a ? O p r i n c í p i o s o b r e

o q u a l P a u l o b a s e i a s u a r e s p o s t a é o d a e d i f i c a ç ã o : q u a l q u e r c o i s a q u e e d i f i q u e

a i g r e j a — a u m e n t e s u a c o m p r e e n s ã o , a p r o f u n d e s u a a d o r a ç ã o , f o r t a l e ç a s e u

a m o r — d e v e s e r e n c o r a j a d o . Q u a l q u e r c o i s a q u e n ã o o f a ç a d e v e s e r a f a s t a d a .

Q u a i s s ã o o s m e i o s p r á t i c o s d e e d i f i c a ç ã o ? P a r a P a u l o h á d o i s :

a. Comunhão. A u n i d a d e d a i g r e j a n ã o d e v e s e r c r i a d a . E l a d e v e s e r p r e s e r v a d a ,

p o r q u e j á e x i s te . P a u l o i n c e n t i v a o s e f é s i o s , " e s f o r ç a n d o - v o s d i l i g e n t e m e n t e

p o r p r e s e r v a r a u n i d a d e d o E s p í r i t o n o v í n c u l o d a p a z " ( E f é s i o s 4 . 3 ) . E s t a

" u n i d a d e d o E s p í r i t o " é t a m b é m c h a m a d a " c o m u n h ã o d o E s p í r i t o " ( F i l i p e n s e s

2 . 1 ) o u " c o m u n h ã o d o E s p í r i t o S a n t o " ( 2 C o r í n t i o s 1 3 . 1 3 ) , u s a n d o a p a l a v r a

g r e g a koinonia. E s t a p a l a v r a a p o n t a p a r a o f a t o d e q u e t o d o s n ó s n o s p e r t e n c e m o s

m u t u a m e n t e , d e q u e p e r t e n c e m o s a o m e s m o S a l v a d o r , e d e q u e t e m o s a

r e s p o n s a b i l i d a d e d e c u i d a r u n s d o s o u t r o s e s a t i s f a z e r à s n e c e s s i d a d e s d o s o u t r o s :

• " É j u s t o q u e e u a s s i m p e n s e d e t o d o s v ó s , p o r q u e v o s t r a g o n o c o r a ç ã o , s e j a

n a s m i n h a s a l g e m a s , s e j a n a d e f e s a e c o n f i r m a ç ã o d o e v a n g e l h o , p o i s t o d o s

s o i s p a r t i c i p a n t e s d a g r a ç a c o m i g o " ( F i l i p e n s e s 1 . 7 ).

• " P o r v e n t u r a o c á l i c e d e b ê n ç ã o q u e a b e n ç o a m o s n ã o é a comunhão d o s a n g u e

d e C r i s t o ? O p ã o q u e p a r t i m o s n ã o é a comunhão d o c o r p o d e C r i s t o ? P o r q u e

n ó s , e m b o r a m u i t o s , s o m o s u n i c a m e n t e u m p ã o , u m s ó c o r p o ; p o r q u e t o d o sp a r t i c i p a m o s d o ú n i c o p ã o " ( 1 C o r í n t i o s 1 0 . 1 6 , 1 7 ) . A C e i a d o S e n h o r e x p r e s s a

v i v i d a m e n t e n o s s a koinonia c o n j u n t a m e n t e e c o m C r i s to .

• P a u l o e s c r e v e s o b r e a â n s i a d a s i g r e j a s d a M a c e d ó n i a e m c o n t r i b u i r p a r a a

c o l e t a q u e e s t a v a s e n d o l e v a n t a d a e m f a v o r d a s i g r e j a s p o b r e s d a J u d é i a :

" P e d i n d o - n o s , c o m m u i t o s r o g o s , a g r a ç a d e p a r t i c i p a r e m d a a s s i s t ê n c i a a o s

s a n t o s " ( 2 C o r í n t i o s 8 . 4 ) .

• " [ O r o ] p a r a q u e a comunhão d a t u a f é se t o r n e e f i c i e n t e , n o p l e n o c o n h e c i m e n t o

d e t o d o b e m q u e h á e m n ó s , p a r a c o m C r i s t o " , d i z P a u l o a F i l e m o m ( F i l e m o m

6 ) , p o u c o a n t e s d e p e d i r - l h e q u e r e c e b a d e v o l t a s e u e s c r a v o d e s e r t o r O n é s i m o

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1 0 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

" c o m o i r m ã o c a r í s s i m o " ( 1 6 ) . S u a koinonia e m C r i s t o s o l a p a a v e l h a r e l a ç ã o

s e n h o r - e s c r a v o e t o r n a e s s e n c i a l o p e r d ã o .

b. Ministério. P a u l o d e s c r e v e o p r o c e s s o d e " e d i f i c a ç ã o " e m E f é s i o s 4 . 1 - 1 6 .

S e u p o n t o c e n t r a l s ã o o s d o n s p a r a m i n i s t é r i o s d e C r i s t o p a r a a i g r e j a : " E e l e

m e s m o c o n c e d e u u n s p a r a a p ó s t o l o s , o u t r o s p a r a p r o f e t a s , o u t r o s p a r a

e v a n g e l i s t a s , e o u t r o s p a r a p a s t o r e s e m e s t r e s , c o m v i s t a s a o a p e r f e i ç o a m e n t o

d o s s a n t o s p a r a o d e s e m p e n h o d o s e u s e r v i ç o , p a r a a e d i f i c a ç ã o d o c o r p o d e

C r i s t o , a t é q u e t o d o s c h e g u e m o s à u n i d a d e d a f é e d o p l e n o c o n h e c i m e n t o d o

F i l h o d e D e u s , à p e r f e i t a v a r o n i l i d a d e , à m e d i d a d a e s t a t u r a d a p l e n i t u d e d e

C r i s t o " ( E f é s i o s 4 . 1 1 - 1 3 ) . É f u n d a m e n t a l o b s e r v a r a q u i q u e o s " o f i c i a i s " d a

i g r e j a n ã o s e o c u p a m d o " d e s e m p e n h o d o s e u s e r v i ç o " . A n t e s , é s e u p a p e l

p r e p a r a r o s m e m b r o s r e s t a n t e s d a i g r e j a a o c u p a r - s e d o " d e s e m p e n h o d o s e r v i ç o " .

Q u a n d o a i g r e j a t r a b a l h a u n i d a d e s t a f o r m a , e l a é e d i f i c a d a , i s t o é , t o r n a - s em a i s s e m e l h a n t e a C r i s t o .

E m 1 C o r í n t i o s 1 2 P a u l o d e s c r e v e o m e s m o p r o c e s s o d e u m a f o r m a d i f e r e n t e .

E l e a p r o v e i t a a i m a g e m d a i g r e j a c o m o u m " c o r p o " . C a d a p a r t e pertence a

t o d a s a s o u t r a s p a r t e s , e c o n t r i b u i c o m a l g u m a c o i s a s i n g u l a r e m r e l a ç ã o a o

t o d o . C a d a p a r t e necessita d e t o d a s a s o u t r a s p a r t e s , e d e p e n d e d e s u a s

c o n t r i b u i ç õ e s e s p e c í f i c a s . E c a d a p a r t e sofre c o m t o d a s a s o u t r a s p a r t e s , s e n t i n d o

a s u a d o r ( o u a l e g r i a ) , c o m o s e f o s s e s u a p r ó p r i a . P a u l o a p l i c a t o d a s e s t a s i d é i a s

à i g r e j a . C a d a c r e n t e t e m u m m i n i s t é r i o s i n g u l a r , c o n c e d i d o p e l o E s p í r i t o S a n t o

( 1 C o r í n t i o s 1 2 . 7 ) , d o q u a l d e p e n d e m a v i d a e a i n t e i r e z a d a i g r e j a .

E s t a ê n f a s e n ã o e s t á e m c o n f l i t o c o m a c r e n ç a e m u m " m i n i s t é r i o " o r d e n a d o

o u n o m e a d o . O p r ó p r i o P a u l o " e s c o l h e u " p r e s b í t e r o s e d e u m u i t o s c o n s e l h o s a

T i m ó t e o e a T i t o s o b r e a s q u a l i f i c a ç õ e s p a r a o m i n i s t é r i o d o s p r e s b í t e r o s e

d i á c o n o s , b e m c o m o a r e s p e i t o d e s u a c o n d u t a . M a s e l a e s t á c e r t a m e n t e e m

c o n f l i t o c o m u m a n í t i d a d i s t i n ç ã o e n t r e " c l e r o " e " l a i c i d a d e " . A l é m d i s s o , P a u l o

c e r t a m e n t e n o s e n c o r a j a a v e r q u e a l i d e r a n ç a n a i g r e j a n ã o é s o l i t á r i a , m a s

p l u r a l . S o b a s u p e r i n t e n d ê n c i a d o E s p í r i t o S a n t o , a l g u m a s p a r t e s c o n t r i b u e m

m a i s d o q u e o u t r a s p a r a a o r i e n t a ç ã o e o b j e t i v o d o c o r p o , p o r é m c a d a p a r t e

c o n t r i b u i c o m a l g u m a c o i s a .

O f a t o r f i n a l e m a i s i m p o r t a n t e é o a m o r : " u m c a m i n h o s o b r e m o d o e x c e l e n t e "

( 1 C o r í n t i o s 1 2 . 3 1 ) , a a r g a m a s s a e n t r e o s t i j o l o s , a s e i v a d a á r v o r e , o l u b r i f i c a n t e

d a s j u n t a s , o s a n g u e q u e m a n t é m a v i d a d e J e s u s f l u i n d o a t r a v é s d o s m e m b r o s

d e s u a i g r e j a !

4. Glorif icação—Deus nos leva para o lar

O e n s i n o d e P a u l o s o b r e o c r e s c i m e n t o d a i g r e j a s u g e r e u m a l v o e m d i r e ç ã o a oq u a l o c r e s c i m e n t o é d i r i g i d o . E l e d á a e s p e r a n ç a d e t o r n a r - s e " a p e r f e i t a

v a r o n i l i d a d e , à m e d i d a d a e s t a t u r a d e p l e n i t u d e d e C r i s t o " ( E f é s i o s 4 . 1 3 ) . A q u i

e n c o n t r a m o s u m e l e m e n t o f u n d a m e n t a l e m s u a t e o l o g i a , o q u e c o l o c a s e u

e v a n g e l h o e m n í t i d o c o n t r a s t e t a n t o c o m a s v á r i a s f i l o s o f i a s p a g ã s q u e e l e

c o n h e c e u e m s u a j u v e n t u d e e m T a r s o , c o m o c o m o m a t e r i a l i s m o q u e r a p i d a m e n t e

s e t o r n a a c u l t u r a d o m u n d o n o f i n a l d o s é c u l o v i n t e . O p r e s e n t e é m o l d a d o p e l o

f u t u r o , o m u n d o t e m u m d e s t i n o d e f i n i d o , o t e m p o e a h i s t ó r i a p a s s a m , e u m d i a

D e u s s e r á " t u d o e m t o d o s " ( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 2 8 ) .

P a r a o s c r i s t ã o s i s t o s i g n i f i c a q u e " g l o r i a m o - n o s n a e s p e r a n ç a d a g l ó r i a d e

D e u s " ( R o m a n o s 5 . 2 ) — i s t o é , a n t e g o z a m o s n o s s a e n t r a d a d i r e t a m e n t e a t é à

p r e s e n ç a d o p r ó p r i o D e u s , f i n a l m e n t e e p l e n a m e n t e l i v r e s d o p e c a d o e d a m o r t e ,

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N a Á g o r a , o u g r a n d e p r a ç a d o m e r c a d o d a a n t i g aA t e n a s , P a u l o d e b a t e u d i a r i a m e n t e c o m o s f i l ó s o f o s

e p i c u r i s t a s e e s t ó i c o s , p r o v a v e l m e n t e n u m aco l u n a t a , t a l co mo a d e S t o a d e A t t a l u s ( n o d e t a l h e ) .A c o r t e d o a r e ó p a g o , o n d e P a u l o d e f e n d e u s u ap o s i ç ã o a r e s p e i t o d e J e s u s e a r e s s u r r e i ç ã o ,p r o v a v e l m e n t e r e u n i u - s e n a c o l u n a t a r e a l .

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1 0 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

p r o n t o s p a r a u s u f r u i r a p e r f e i t a i n t i m i d a d e d o a m o r f a m i l i a r d o s f i l h o s u n i d o s

p o r f i m c o m s e u P a i .O E s p í r i t o S a n t o é t a m b é m d e c i s i v o n e s t e p o n t o . E l e n ã o a p e n a s p r o d u z s e u

f r u t o e m n ó s ( s a n t i f i c a ç ã o ) , e n ã o a p e n a s c r i a a c o m u n h ã o q u e c r e s c e e s e

f o r t a l e c e (e d i f i c a ç ã o ) , m a s t a m b é m a s s e g u r a - n o s e s t e e s t á g i o f i n a l n o p r o c e s s o —

n o s s a g l o r i f i c a ç ã o :

• " T a m b é m n ó s q u e t e m o s a s p r i m í c i a s d o E s p í r i to , ig u a l m e n t e g e m e m o s e m

n o s s o í n t i m o , a g u a r d a n d o a a d o ç ã o d e f i l h o s , a r e d e n ç ã o d e n o s s o c o r p o "

( R o m a n o s 8 . 2 3 ) : a q u i o E s p í r i t o é " a s p r i m í c i a s " d a c o l h e i t a , a p a r t e q u e n o s

p e r m i t e v e r o q u e é e s s a c o l h e i t a e a s s e g u r a - n o s q u e o d e s c a n s o e s t á c h e g a n d o .

• " N ã o p o r q u e r e r m o s s e r d e s p i d o s , m a s r e v e s t i d o s , p a r a q u e o m o r t a l s e j a

a b s o r v i d o p e l a v i d a . O r a , f o i o p r ó p r i o D e u s q u e m n o s p r e p a r o u p a r a i s t o ,

o u t o r g a n d o - n o s o p e n h o r d o E s p í r i t o " ( 2 C o r í n t i o s 5 . 4 , 5 ) : a q u i o E s p í r i t o é u m

" d e p ó s i t o " o u p r i m e i r a p a r c e l a d e p a g a m e n t o d a v i d a c e l e s t i a l q u e n o s a g u a r d a .

• " T e n d o n e l e t a m b é m c r i d o , f o s t e s s e l a d o s c o m o S a n t o E s p í r i t o d a p r o m e s s a ;

o q u a l é o p e n h o r d a n o s s a h e r a n ç a a t é a o r e s g a t e d a s u a p r o p r i e d a d e " ( E f é s i o s

1 . 1 3 , 1 4 ) : a q u i o E s p í r i t o é u m " s e l o " , a m a r c a d e p r o p r i e d a d e d e D e u s , s e p a r a n d o -

n o s p a r a o m o m e n t o d a " r e d e n ç ã o " .

H á t r ê s a s p e c t o s d o e n s i n o d e P a u l o a r e s p e i t o d e s s e f u t u r o :

a. A volta de Cristo• " A i n d a v o s d e c l a r a m o s , p o r p a l a v r a d o S e n h o r . . . P o r q u a n t o o S e n h o r m e s m o ,

d a d a a s u a p a l a v r a d e o r d e m , o u v i d a a v o z d o a r c a n j o , e r e s s o a d a a t r o m b e t a d e

D e u s " ( 1 T e s s a l o n i c e n s e s 4 . 1 5 , 1 6 ) .

N e s t a f a s e d e s u a v i d a P a u l o e s p e r a v a q u e p u d e s s e a i n d a e s t a r v i v o q u a n d o o

S e n h o r r e t o r n a s s e : " N ó s , o s v i v o s , o s q u e f i c a r m o s , s e r e m o s a r r e b a t a d o s . . . p a r ao e n c o n t r o d o S e n h o r n o s a r e s " ( 1 T e s s a l o n i c e n s e s 4 . 1 7 ) . E c e r c a d e d e z a n o s

m a i s t a r d e e s t a a i n d a p a r e c i a t e r s i d o s u a e s p e r a n ç a :

• " A n o s s a p á t r i a e s t á n o s c é u s , d e o n d e t a m b é m a g u a r d a m o s o S a l v a d o r , o

S e n h o r J e s u s C r i s t o , o q u a l t r a n s f o r m a r á o n o s s o c o r p o d e h u m i l h a ç ã o p a r a s e r

i g u a l a o c o r p o d a s u a g l ó r i a " ( F i l i p e n s e s 3 . 2 0 , 2 1 ) .

P o r é m , m e s m o a o t e m p o d a s c a r t a s a o s t e s s a l o n i c e n s e s , e l e e s p e r a v a c e r t o s

e v e n t o s q u e p r e c e d e r i a m a v i n d a d o S e n h o r :

• " I s t o n ã o a c o n t e c e r á s e m q u e p r i m e i r o v e n h a a a p o s t a s i a , e s e j a r e v e l a d o o

h o m e m d a i n i q ü i d a d e , o f i l h o d a p e r d i ç ã o " ( 2 T e s s a l o n i c e n s e s 2 . 3 ) .

E q u a n d o e s c r e v e u 2 T i m ó t e o , u m p o u c o a n t e s d o f i n a l d e s u a v i d a , P a u l o

t o r n o u - s e c o n v e n c i d o d e q u e m o r r e r i a a n t e s d o r e t o r n o d o S e n h o r :

" O t e m p o d e m i n h a p a r t i d a é c h e g a d o . C o m b a t i o b o m c o m b a t e , c o m p l e t e i ac a r r e i r a , g u a r d e i a f é . J á a g o r a a c o r o a d a j u s t i ç a m e e s t á g u a r d a d a , a q u a l o

S e n h o r , r e t o j u i z , m e d a r á n a q u e l e d i a ; e n ã o s o m e n t e a m i m , m a s t a m b é m a

t o d o s q u a n t o s a m a m a s u a v i n d a " ( 2 T i m ó t e o 4 . 6 - 8 ) .

A l g u n s s u g e r e m q u e , c o m o p a s s a r d o t e m p o , P a u l o m u d o u s u a s i d é i a s a

r e s p e i t o d a d a t a d a s e g u n d a v i n d a d e C r i s to . M a s i s t o é i m p r o v á v e l . N a r e a l i d a d e ,

e l e p r o v a v e l m e n t e m o s t r a - n o s c o m o o s c r i s t ã o s d e to d a s a s é p o c a s d e v e m e s p e r a r

o r e t o r n o d e C r i s t o . D e v e m o s " a n e l a r p o r s u a a p a r i ç ã o " . D e v e m o s v i v e r s o l í c i t o s

e a l e r t a s à l u z d e s t e e v e n t o . E f i c a r e m o s s a b e n d o e m n o s s o l e i t o d e m o r t e q u e

e l e n ã o v a i o c o r r e r e m n o s s a p r e s e n t e v i d a !

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P A U L O E S U A M E N S A G E M 1 0 5

b. A ressurreição dos mortos. P a u l o e s p e r a v a q u e a r e s s u r r e i ç ã o o c o r r e s s e n a

v o l t a d e C r i s t o : " P o r q u a n t o o S e n h o r m e s m o , d a d a a s u a p a l a v r a d e o r d e m ,

o u v i d a a v o z d o a r c a n j o , e r e s s o a d a a t r o m b e t a d e D e u s , d e s c e r á d o s c é u s , e o sm o r t o s e m C r i s t o r e s s u s c i t a r ã o p r i m e i r o " ( 1 T e s s a l o n i c e n s e s 4 . 1 6 ) . E s t e s e r á o

m o m e n t o d o j u í z o , q u a n d o " t o d o s n ó s [ c o m p a r e c e r e m o s ] p e r a n t e o t r i b u n a l d e

C r i s t o p a r a q u e c a d a u m r e c e b a s e g u n d o o b e m o u o m a l q u e t i v e r f e i t o p o r

m e i o d o c o r p o " ( 2 C o r í n t i o s 5 . 1 0 ) .

S e r á t a m b é m a o c a s i ã o e m q u e s e r e m o s t r a n s f o r m a d o s e t o r n a d o s a p t o s p a r a

a v i d a n o c é u . " A t r o m b e t a s o a r á , o s m o r t o s r e s s u s c i t a r ã o i n c o r r u p t í v e i s , e n ó s

s e r e m o s t r a n s f o r m a d o s . P o r q u e é n e c e s s á r i o q u e e s t e c o r p o c o r r u p t í v e l s e r e v i s t a

d a i n c o r r u p t i b i l i d a d e , e q u e o c o r p o m o r t a l s e r e v i s t a d a i m o r t a l i d a d e " ( 1

C o r í n t i o s 1 5 . 5 2 , 5 3 ) . P a u l o é m u i t o c a u t e l o s o a o a f i r m a r e s t a s p a l a v r a s — " s e

r e v i s t a d a i m o r t a l i d a d e " . A r e s s u r r e i ç ã o d o s m o r t o s n ã o q u e r d i z e r a r e s s u r r e i ç ã o

d e c a d á v e r e s . E l e f a z u m a c o m p a r a ç ã o c o m o p r o c e s s o d e g e r m i n a ç ã o . A s s i m

c o m o a s s e m e n t e s p e r d e m s u a e x i s t ê n c i a q u a n d o p r o d u z e m u m a p l a n t a , a s s i mn o s s o s c o r p o s f í s i c o s s e d i s s o l v e r ã o — m a s D e u s o s t r a t a r á c o m o s e m e n t e s p a r a

p r o d u z i r e m t o d o u m n o v o " c o r p o e s p i r i t u a l " q u e é i m p e r e c í v e l , g l o r i o s o e

p o d e r o s o ( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 3 5 - 4 4 ) .

N ã o h á n a d a d e a u t o m á t i c o a c e r c a d e s t e p r o c e s s o . E a g r a ç a d e D e u s

r e s s u s c i t a n d o - n o s d a m o r t e , q u e é o n o s s o d e s t i n o f í s i c o , p a r a a v i d a , q u e é a

s u a d á d i v a e s p i r i t u a l . E n t ã o " e s t a r e m o s s e m p r e c o m o S e n h o r " ( 1

T e s s a l o n i c e n s e s 4 . 1 7 ) , v e n d o - o " f a c e a f a c e " ( 1 C o r í n t i o s 1 3 . 1 2 ) .

E m q u e e s t a d o o s " m o r t o s e m C r i s t o " e x i s t e m a n t e s q u e a c o n t e ç a a

r e s s u r r e i ç ã o ? P a u l o p o u c o e n s i n a s o b r e i s t o , p o r é m s u a r e s p o s t a e s t á c o n t i d a

n a p e r g u n t a . E l e s e s t ã o " e m C r i s t o " — o u " c o m C r i s t o " , c o m o e l e a f i r m a e m

F i l i p e n s e s 1 . 2 3 a n t e a p o s s i b i l i d a d e d e s u a p r ó p r i a m o r t e . N ã o p r e c i s a m o s s a b e r

m a i s d o q u e i s t o . " [ C r i s t o ] m o r r e u p o r n ó s p a r a q u e , q u e r v i g i e m o s , q u e r

d u r m a m o s , v i v a m o s e m u n i ã o c o m e l e " ( 1 T e s s a l o n i c e n s e s 5 . 1 0 ) .

c. Julgamento e restauração. P a u l o e s p e r a v a q u e o j u l g a m e n t o d e D e u s c a í s s e

s o b r e o m u n d o n o r e t o r n o d e C r i s t o . A t é o m o m e n t o , D e u s e s t á r e t e n d o s e u

j u l g a m e n t o p a r a p e r m i t i r q u e h a j a t e m p o e o p o r t u n i d a d e p a r a a r r e p e n d i m e n t o

( R o m a n o s 2 . 4 , 5 ) . M a s v i r á " o d i a d a i r a e d a r e v e l a ç ã o d o j u s t o j u í z o d e D e u s ,

q u e r e t r i b u i r á a c a d a u m s e g u n d o o s e u p r o c e d i m e n t o " ( R o m a n o s 2 . 5 , 6 ) . A s

p a l a v r a s d e P a u l o s ã o s o m b r i a s :

• Q u a n d o C r i s t o v i e r , E l e t o m a r á v i n g a n ç a c o n t r a o s " q u e n ã o c o n h e c e m a

D e u s e c o n t r a o s q u e n ã o o b e d e c e m a o e v a n g e l h o d e n o s s o S e n h o r J e s u s . E s t e s

s o f r e r ã o p e n a l i d a d e d e e t e r n a d e s t r u i ç ã o , b a n i d o s d a f a c e d o S e n h o r e d a g l ó r i a

d o s e u p o d e r , q u a n d o v i e r p a r a s e r g l o r i f i c a d o n o s s e u s s a n t o s " ( 2 T e s s a l o n i c e n s e s

1 .8 - 1 0 ) .A i g r e j a d e h o j e p r e c i s a r e t o m a r e s t e e n s i n o d e f o r m a a m p l a , c o m o t a m b é m

s e n t i d o d e u r g ê n c i a q u e e l e t e v e n o m i n i s t é r i o d e P a u l o .

P o r é m o o u t r o l a d o d e s t a m o e d a é a r e s t a u r a ç ã o d e t o d a s a s c o i s a s . P a u l o

t i n h a u m a v i s ã o c ó s m i c a d o p l a n o d e D e u s . E l e c r i o u " t o d a s a s c o i s a s " p o r

m e i o d e C r i s t o e p a r a C r i s t o ( C o l o s s e n s e s 1 . 1 7 ). F i n a l m e n t e E l e p l a n e j a " f a z e r

c o n v e r g i r n e l e [ C r i s t o ] , n a d i s p e n s a ç ã o d a p l e n i t u d e d o s t e m p o s , t o d a s a s c o i s a s ,

t a n t o a s d o c é u c o m o a s d a t e r r a " ( E f é s i o s 1 .1 0 ) . P o r t a n t o , a v i n d a d e C r i s t o n ã o

s i g n i f i c a r á a p e n a s a s a l v a ç ã o p a r a t o d o s a q u e l e s q u e l h e p e r t e n c e m , m a s a

l i b e r t a ç ã o p a r a t o d o o u n i v e r s o :

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1 0 6 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

• " A a r d e n t e e x p e c t a t i v a d a c r i a ç ã o a g u a r d a a r e v e l a ç ã o d o s f i l h o s d e D e u s .

P o i s a c r i a ç ã o . . . s e r á r e d i m i d a d o c a t i v e i r o e d a c o r r u p ç ã o , p a r a a l i b e r d a d e d ag l ó r i a d o s f i l h o s d e D e u s " ( R o m a n o s 8 . 1 9 - 2 1 ) .

E s t e é o e v a n g e l h o p a r a o q u a l D e u s a r r e b a t o u P a u l o n a q u e l e d i a a c a m i n h o

d e D a m a s c o . T e n d o e l e t i d o u m a e x p e r i ê n c i a d a g r a ç a , r e c e b e u t a m b é m u m a

t e o l o g i a d a g r a ç a . " P e l a g r a ç a d e D e u s s o u o q u e s o u " ( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 1 0 ) .

E n f r e n t a n d o m u i t o s s o f r i m e n t o s , p e r i g o s e i n c e r t e z a s e m s e u m i n i s t é r i o , e l e

s a b i a q u e D e u s e m C r i s t o " s e m p r e n o s c o n d u z e m t r i u n f o " ( 2 C o r í n t i o s 2 . 1 4 ) .

P o r q u e o m e s m o g r a n d e p r o p ó s i t o d a g r a ç a , q u e o c o l o c o u e m C r i s t o p a r a

a c e i t a ç ã o e o e s t a v a l i b e r t a n d o d o p o d e r d o p e c a d o n a c o m u n h ã o d o c o r p o d e

C r i s t o , i r ia p r e s e r v á - l o a t é a o f i m — e t a m b é m n o s p r e s e r v a r á .

Leitura adicional

Menos exigente:S t e v e M o t y e r . Israel in the Plan of God. L ight on today's debate (Leices te r : IV P, 1989)R o b e r t S t e i n , Difficult Passages in the Epistles (G rand Rapids : Baker , 1988; Leices te r :

IV P, 1989)

Mais exigente, obras eruditas:F. F. B ruce , Paul: Apostle of the Free Spirit (Exeter : Pa ternos ter , 1977)

M a r t i n H e n g e l , The Pre-Christian Paul ( L o n d r e s : S C M , 1 9 9 1 )M o r n a H o o k e r , From Adam to Christ: Essays on Paul ( C a m b r i d g e : C U P , 1 9 9 0 )

S e y o o n K i m , The Origin of Paul's Gospel (Tubingen: J . C . B . Mohr , 1981)

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A Carta aosHebreusJesus, porém, tendo oferecido, parei sempre,

um único sacrifício pelos pecados, assentou-se

à destra de Deus, aguardando, daí em diante,

até que os seus inimigos sejam postos por estrado

dos seus pés. Porque com uma única oferta

aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo

santificados. ( H e b r e u s 1 0 . 1 2 - 1 4 )

O g r a nde t e m a da c a r t a a os H e b r e us é a f i na l i da de de J e s us C r i s t o . E l e é a

ú l t i m a p a l a v r a d e D e u s p a r a o m u n d o , e c u m p r i u t o d a s a s e x p e c t a t i v a s d o V e l h o

T e s t a m e n t o , d e m o d o q u e n a d a m a i s s e r á a c r e s c e n t a d o . O a u t o r u t i l i z a m u i t a s

i d é i a s e p a s s a g e n s d o V e l h o T e s t a m e n t o p a r a e x p o r e s t e t e m a , d e f o r m a q u e s e u

r a c i o c í n i o p o d e e x i g i r m u i t o d o s l e i t o r e s a t u a i s . P o r é m s u a m e n s a g e m b á s i c a é

c l a r a : J e s us , a t r a vé s de s e u s a c e r dóc i o e t e r no e s a c r i f í c i o ún i c o , t r ouxe - nos

u m a " s a l v a ç ã o e t e r n a " (5 . 9 ) . " T e n d e s c h e g a d o . . . a J e s u s , o M e d i a d o r d e N o v aA l i a n ç a " ( 1 2 . 2 2 e 2 4 ) . q u e n u n c a c e s s a r á . C r i s t o s e a p r e s e n t a n o s " ú l t i m o s

d i a s " ( 1 . 2 ) e " q u a n d o o s t e m p o s e s t ã o c h e g a n d o a o f i m " ( 9 . 2 6 , B L H ) , d e v e n d o

n ó s , p o r t a n t o , s o m e n t e e s p e r a r a c o n s u m a ç ã o , q u a n d o e l e a p a r e c e r á n o v a m e n t e

p a r a a s a l v a ç ã o e o j u l g a m e n t o ( 9 . 2 8 ) .

C o m o s e m p r e , a c o m p r e e n s ã o d a m e n s a g e m d e p e n d e d e e n t e n d e r a s i t u a ç ã o

h i s t ó r i c a à qua l a c a r t a s e d i r i ge . A c a r t a é e s c r i t a " a os H e b r e us " . E s t e t í t u l o nã o

é o r i g i n a l , p o r é m s e u a l v o é s e g u r a m e n t e c o r r e t o , p o i s o u s o p r e d o m i n a n t e d o

V e l h o T e s t a m e n t o i n d i c a a p o s i ç ã o j u d a i c a t a n t o d o a u t o r c o m o d e s e u s l e i t o r e s .

M u i t o e m b o r a n ã o c o m e c e c o m o u m a c a r t a . H e b r e u s t e r m i n a c o m o c a r t a ,

d i r i g i n d o - s e a u m g r u p o p a r t i c u l a r c o n h e c i d o d o a u t o r ( 1 3 . 1 9 . 2 3 ) . m u i t o

p r o v a v e l m e n t e e m R o m a .

Sa be m os que e l e s t i nha m s i do pe r s e gu i dos qua ndo s e t o r na r a m c r i s t ã os ( 10 . 32 -3 4 ) , e q u e f o r a m b e m r e p u t a d o s p o r s e r v i r e m a o s i r m ã o s ( 6 . 1 0 ) M a s a g o r a o

a u t o r e s t á p r o f u n d a m e n t e p r e o c u p a d o c o m e l e s . E l e s o s a c u s a d e s e r e m

" de s a t e n t o s à pa l a v r a " e " i ndo l e n t e s " ( 5 . 11 : 6 . 12 ) , e r e pe t i da s ve z e s o s i nc e n t i va

a n ã o s e a f a s t a r e m d o " D e u s v i v o " ( 3 . 1 2 ) , m a s c o n t i n u a r e m n o " e n s i n a m e n t o

d e a d u l t o s " ( 6 . 1 . B L H ) .

A l g u n s e s t u d i o s o s e x p l i c a m e s t a e x o r t a ç ã o u s a n d o a t e o r i a d e q u e e s t e g r u p o

d e j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s e s t a v a s e n d o t e n t a d o a a b a n d o n a r a f é e r e t o r n a r a o

J u d a í s m o . O u t r o s p o n d e r a m q u e o a u t o r e s t á p r e o c u p a d o s i m p l e s m e n t e p e l o

q u e v ê c o m o f a l t a d e c r e s c i m e n t o , o u f r o u x i d ã o , e m s e u d i s c i p u l a d o . S e j a q u a l

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1 1 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

f o r o c a s o . o r e m é d i o é s i m p l e s : s e p u d e r e m t e r u m a v i s ã o c l a r a d e J e s u s e d a

s u p r e m a c i a d e s e u s a c e r d ó c i o , s a c r i f í c i o e a l i a n ç a , e n t ã o s u a f é e s e u z e l o d en o v o s e i n f l a m a r ã o .

Q u e m e r a o a u t o r ? O r í g e n e s , u m d o s p a i s d a i g r e j a in i c i a l , c o m e n t o u

e v a s i v a m e n t e : " S o m e n t e D e u s s a b e . " M u i t o s , t a n t o n a i g r e j a i n i c i a l c o m o m a i s

t a r d e , a t r i b u í r a m a c a r t a a P a u l o . O t e ó l o g o P u r i t a n o i n g l ê s J o h n O w e n , q u e

e s c r e v e u u m c o m e n t á r i o e m se t e v o l u m e s s o b r e H e b r e u s , d e d i c o u u m v o l u m e

i n t e i r o p a r a p r o v a r a a u t o r i a d e P a u l o , a c e r c a d a q u a l e l e " n ã o t i n h a n e n h u m a

d ú v i d a , c o m o s e e l a t i v e s s e s i d o e s c r i t a c o m a p r ó p r i a l e t r a d o a p ó s t o l o " . S e u

e n t u s i a s m o e m p r o v á - l o fo i s e m d ú v i d a a l i m e n t a d o p e l o f a t o d e o R e f o r m a d o r

J o ã o C a l v i n o te r p e n s a d o d e m o d o d i f e r e n t e ( " E u r e a l m e n t e n ã o p o s s o a p r e s e n t a r

n e n h u m a r a z ã o p a r a m o s t r a r q u e P a u l o f o i s e u a u t o r " ) , e c h e g o u a p r o p o r o

n o m e d e L u c a s o u C l e m e n t e ( b i s p o d e R o m a n o f i n a l d o p r i m e i r o s é c u l o ) .

C e r t a m e n t e H e b r e u s 2 . 3 , 4 p a r e c e e x c l u i r P a u l o , p o r q u e o a u t o r a l i s e i d e n t i f i c a

c o m o u m c r i s t ã o s d a s e g u n d a g e r a ç ã o .

L u t e r o t a l v e z t e n h a f e i t o a m e l h o r s u p o s i ç ã o a o s u g e r i r A p o l o . O r e t r a t o d e

A p o l o e m A t o s 1 8 . 24 c o m o " h o m e m e l o q ü e n t e e p o d e r o s o n a s E s c r i t u r a s " a t e n d e

à q u a l i f i c a ç ã o r e q u e r i d a ; e s u a o r i g e m a l e x a n d r i n a p o d e e x p l i c a r a s c o n e x õ e s

q u e o s e s t u d i o s o s e n c o n t r a r a m e n t r e H e b r e u s e a l g u m a s d a s i d é i a s d o J u d a í s m o

g r e g o e s p e c i a l m e n t e a s s o c i a d o c o m A l e x a n d r i a .

T u d o o q u e s a b e m o s c o m o c e r t o s o b r e o a u t o r é o q u e p o d e m o s i n f e r i r d e s u a

c a r t a . M e s m o u m a l e i t u r a c a s u a l t o r n a c l a r o q u e e l e p o s s u í a u m a c o m p r e e n s ã o

c o m p l e t a t a n t o d o V e l h o T e s t a m e n t o c o m o d e J e s u s C r i s t o , e q u e e s t a v a

p r o f u n d a m e n t e p r e o c u p a d o e m a s s o c i a r u m a o o u t r o , m o s t r a n d o q u e u m n ã o

p o d i a se r c o m p r e e n d i d o s e m o o u t r o . O q u a d r o l o g o a d i a n t e m o s t r a a n o t á v e l

e x t e n s ã o d e s e u u s o d o V e l h o T e s t a m e n t o n e s t a " b r e v e c a r t a " (1 3 . 2 2 ) . M a s s e u

t r a t a m e n t o d o V e l h o T e s t a m e n t o n ã o t e m p a r a l e l o , p o r q u e e l e o l h a p a r a e l eatravés de Jesus, p e r m i t i n d o s u a c o m p r e e n s ã o d a p e s s o a e m i n i s t é r i o d e C r i s t o

p a r a r e v o l u c i o n a r a i n t e r p r e t a ç ã o d a s E s c r i t u r a s q u e o J u d a í s m o lh e h a v i a

e n s i n a d o .

D e ig u a l m o d o , e le m o s t r a u m a p r o f u n d a c o n s c i ê n c i a d e J e s u s : u m a

c o n s c i ê n c i a e s p i r i t u a l , q u e e l e v ê e m s u a e n c a r n a ç ã o ( 2 . 1 4 ) , n a o b e d i ê n c i a ( 1 0 . 5 -

7 ) . s o f r i m e n t o ( 5 . 7 ,8 ) , m o r t e ( 2 . 9 ) . r e s s u r r e i ç ã o ( 1 3 . 2 0 ) , a s c e n s ã o ( 4 . 1 4 ) ,

g l o r i f i c a ç ã o ( 1 . 3 ) , e n a s e g u n d a v i n d a ( 9 . 2 8 ) o s m e i o s p e l o s q u a i s D e u s t r a t a o

p e c a d o e a m o r t e q u e a t o r m e n t a m a h u m a n i d a d e . M a s e l e n ã o a p e n a s i m p õ e s u a

c o m p r e e n s ã o d e J e s u s c o m b a s e n o V e l h o T e s t a m e n t o . E l e p e r m i t e q u e o V e l h o

T e s t a m e n t o l h e e n s i n e c o m o c o m p r e e n d e r a s a l v a ç ã o q u e D e u s p r o v ê p o r m e i o

d e s e u F i l h o .

O a u t o r, p o r ta n t o , e s t á a l t a m e n t e b e m p r e p a r a d o p a r a a j u d a r - n o s a c o m p r e e n d e ro V e l h o T e s t a m e n t o : p a r a m o s t r a r - n o s , r e a l m e n t e , o q u e o v i n h o n o v o t e m f e i t o

n a s g a r r a f a s v e l h a s .

P o d e m o s r e s u m i r a m e n s a g e m d e H e b r e u s s o b q u a t r o t í t u l o s :

1. A suprem acia de JesusA g r a n d e p r e o c u p a ç ã o d o a u t o r é m o s t r a r q u e J e s u s é m a i o r d o q u e t o d o s o s

o u t r o s a o s o l h o s d e D e u s . E l e d e s t a c a e s t e f a t o n o s u g e s t i v o p r e f á c i o a o i n i c i a r

s u a c a r t a ( 1 . 1 - 4 ) , n o q u a l e l e p r o c l a m a J e s u s c o m o u m r e v e l a d o r m u i t o a c i m a

d e t o d o s o s o u t r o s . A p e s a r d e t o d o o s e u a m o r p e l o V e l h o T e s t a m e n t o , e l e

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A C A R T A A O S H E B R E U S 1 0 9

0 Velho Testamento em Hebreus

E s t a s r e f e r ê n c i a s n ã o e s t ã o c o m p l e t a s . E l a s s i m p l e s m e n t e i l u s t r a m a n o t á v e l a b r a n g ê n c i a d e

s e u u s o n u m p e q u e n o l i v r o .

1 . Ci tações de 2 . P ers o n a g ens 3 . Ev en to s 4 . Ins t i tuições e. Ci tações dec e r i m ô n i a s

G ênes i s (4 . 4 ) Caim e A bel Cr iaç ão (11 . 3 : 4 . 4 ) O T a b e r n á c u l o

Ê x o d o ( 8 . 5 ) (11.4; 12.24) A queda (6 . 8 ) (9 . 1 -5)

Leví t i co (9 . 7 ) E n o q u e , q u e a n d o u c o m Mois és no Egi to O D i a d a E x p i a ç ã o

N ú m e r o s ( 3 . 5 ) D eus (11 . 5 , 6 ) (11 . 24-27 f (9 . 7 )

D e u t e r o n ô m i o ( 1 0 . 3 ) N oé (11 . 7) A Pás coa (11 . 18) O s a c e r d ó c i o

2 Samuel (1 . 5 ) O s t r ês pa t r i a r cas O êxo do (3 . 16 : 11 . 29) (5.1-3: 10.11)

Salmos ( c i t ações de 11) A b r a ã o ( 7 . 1 - 1 0 : E v e n t o s n o M o n t e S i n a i S a c r i f í c i o s

Provérb ios (12 . 5 , 6 ) 11 . 8-19) (9 . 18-21 : 12 . 18 . 21)(7 . 27 : 8 . 3 )

I s a ías (2 . 13) I s aque (11 . 21) Ent r ada na t e r r a R i tua i s de

J e r e m i a s ( 8 . 8 - 1 2 ) J a c ó ( 1 1 . 2 1 ) p r o m e t i d a p u r i f i c a ç ã o ( 9 . 1 3 )

E z e q u i e l ( 1 3 . 2 0 ) Es aú (12 . 6) (3 . 18 . 19 : 11 . 30) A Lei (7 . 28 : 8 . 4 )

O s é i a s ( 1 3 . 1 5 ) J os é (11 . 22) A a l i ança (9 , 15-20)

H a b a c u q u e ( 1 0 . 3 7 . 3 8 ) Mois és (3 . 1 -6 ; 11 . 23s s . )A g e u ( 1 2 . 2 6 ) A rão (5 . 4 : 9 . 4 )

Z a c a r i a s ( 1 3 . 2 0 ) R a a b e ( 1 1 . 3 1 )M u i t o s j u í z e s e p r o f e t a s

( 1 1 . 3 2 - 3 8 )

c o r a j o s a m e n t e o c l a s s i fi c a c o m o " f r a g m e n t á r i o e d i v e r s i f i c a d o " ( N e w E n g l i s h

B i b l e ) e m c o m p a r a ç ã o c o m a r e v e l a ç ã o d a d a p o r D e u s p o r m e i o d e s e u F i l h o

( 1 . 1 , 2 ) . S e u F i l h o n ã o é a p e n a s u m p o r t a - v o z d e D e u s , c o m o f o r a m o s p r o f e t a s .

E l e é " o r e s p l e n d o r d a g l ó r i a " d e D e u s ( a s s e g u r a n d o a c o m u n h ã o d e s u a n a t u r e z a

c o m o P a i ) e " a e x p r e s s ã o e x a t a d o s e u S e r " ( a s s e g u r a n d o a d i s t i n ç ã o e n t r e s u a

p e s s o a e o P a i ) . H e r d e i r o d e t o d a s a s c o i s a s , a g e n t e d a c r i a ç ã o , s u s t e n t a d o r d o

u n i v e r s o , p u r i f i c a d o r d o s p e c a d o s . E l e a g o r a a s s e n t a - s e " à m ã o d i r e i t a d a

M a j e s t a d e n a s a l t u r a s " ( 1 . 2 ,3 ) . E s t e é o F i l h o e x a l t a d o , i n c o m p a r á v e l n a

d i g n i d a d e d e s u a p e s s o a e o b r a , p o r m e i o d e q u e m s e m a n i f e s t a a r e v e l a ç ã o

f i n a l .

E m s e g u i d a a e s t a v i b r a n t e i n t r o d u ç ã o , o a u t o r p a s s a a e x p o r a s u p r e m a c i a d e

J e s u s e m r e l a ç ã o a o u t r a s g r a n d e s f i g u r a s d o V e l h o T e s t a m e n t o . A l é m d i s s o , e l e

o p r o c l a m a s u p e r i o r a o s a n j o s (1 . 4 - 2 . 1 8 ) . a M o i s é s ( 3 . 1 - 4 . 1 3 ) , e a A r ã o ( 4 . 1 4 -

1 0 . 3 9 ) . C a d a u m d e l e s é e s c o l h i d o p e l o q u e r e p r e s e n t a m n o p l a n o d e D e u s : o s

a n j o s p o r q u e e r a m c o m u m e n t e c o n h e c i d o s c o m o " f i l h o s d e D e u s " , s e n d o a L e i

o u t o r g a d a p o r i n t e r m é d i o d e l e s ( 2 . 2 ) ; M o i s é s p o r q u e e r a o g r a n d e " s e r v o " ( 3 . 5 ) ,p o r c u j a s m ã o s D e u s c o n d u z i u I s r a e l à e x i s t ê n c i a e p r o v e u - l h e a L e i ; e A r ã o

p o r q u e e r a o s u m o s a c e r d o t e , c u j o m i n i s t é r i o m e d i o u o p e r d ã o d o s p e c a d o s .

Jesus é maior do que os anjos, 1.4-2.18C o m o p r o p ó s i t o d e p r o v a r q u e J e s u s o c u p a u m a p o s i ç ã o m a i s a l t a d o q u e

q u a i s q u e r o u t r o s s e r e s n o c é u e n a t e r r a , o a u t o r e m p r e g a u m a s é r i e d e c i t a ç õ e s

d o V e l h o T e s t a m e n t o , p r i n c i p a l m e n t e d e S a l m o s ( 1 .5 - 1 4 ) . A f o r m a c o m o e l e

u s a e s t e s s a l m o s é b e m i l u s t r a d a p e l a c i t a ç ã o d o S a l m o 8 e m 2 . 5 - 9 . E s t e s a l m o

d e c l a r a q u e D e u s f e z o h o m e m " u m p o u c o m e n o r d o q u e o s a n j o s " , a f i m d e

c o r o á - l o d e g l ó r i a e d e h o n r a , e " t o d a s a s c o i s a s s u j e i t a s t e d e b a i x o d o s s e u s

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1 1 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

p é s " . I s to n ã o p o d e re f e r i r - s e a o h o m e m a g o r a , a r g u m e n t a o e s c r i to r , p o r q u e

t o d a s a s c o i s a s n ã o l h e e s t ã o s u j e i t a s . P o r t a n t o , i s t o d e v e r e f e r i r - s e a o H o m e mC r i s t o Je s u s , p o r q u e n ó s e f e t i v a m e n t e o v e m o s " c o r o a d o d e g l ó r i a e d e h o n r a "

( 2 . 9 ) .

T o m a n d o e s t a l i n h a d e i n t e r p r e t a ç ã o m a i s a d i a n t e , n a e x p r e s s ã o " m e n o r d o

q u e o s a n j o s " , n o S a l m o 8 . o a u t o r e n c o n t r a u m a r e f e r ê n c i a à e n c a r n a ç ã o . D e u s

p l a n e j a t r a z e r t a m b é m m u i t o s o u t r o s " f i l h o s " à g l ó r i a ( 2 . 1 0 ) . e i s t o E l e r e a l i z o u

f a z e n d o J e s u s n o s s o I r m ã o m a i s v e l h o ( 2 . 1 1 ) . q u e p a r t i c i p a d e n o s s a c a r n e e

s a n g u e , e e f e t i v a m e n t e d e n o s s a m o r t e , p a r a q u e p o s s a d e s t r u i r o D i a b o , q u e

n o s m a n t é m e s c r a v i z a d o s à m o r t e ( 2 . 1 4 ) . P o r t a n t o , t o r n a n d o - s e m e n o r d o q u e

o s a n j o s , J e s u s t o m o u - s e " o A u t o r d a s a l v a ç ã o d e l e s " p a r a t o d o s o s o u t r o s n a q u e l a

p o s i ç ã o ( 2 . 1 0 ) . E l e f o i h o n r a d o n ã o a p e s a r d e . m a s p o r c a u s a d e s e u s s o f r i m e n t o s !

Jesus é maior do que Moisés, 3.1-4.13

E m 3 . 1 o a u t o r n o s c o n v i d a a c o n s i d e r a r " a t e n t a m e n t e o A p ó s t o l o e S u m oS a c e r d o t e d a n o s s a c o n f i s s ã o . J e s u s " . O t e m a d e J e s u s c o m o " s u m o s a c e r d o t e "

s u r g e p e l a p r i m e i r a v e z e m 2 . 1 7 . o n d e E l e é r e f e r i d o c o m o u m " m i s e r i c o r d i o s o

e f i e l s u m o s a c e r d o t e n a s c o i s a s p e r t i n e n t e s a D e u s " . É i n t e r e s s a n t e n o t a r q u e o

t e m a d a f i d e l i d a d e d e J e s u s é a g o r a t o m a d o c o m p a r a t i v a m e n t e c o m M o i s é s ,

e n q u a n t o o d a m i s e r i c ó r d i a d e J e s u s é a p o n t a d o e d e s e n v o l v i d o n o p r ó x i m o

t r e c h o , q u e e s t á v o l t a d o à c o m p a r a ç ã o d e l e c o m A r ã o ( v e j a 4 . 1 4 - 1 6 ) .

M o i s é s e r a f i e l " e m t o d a a c a s a d e D e u s " , c o m o J e s u s t a m b é m f o i . P o r é m

M o i s é s e r a a p e n a s u m a p a r t e d a c a s a . a i n d a q u e u m a p a r t e v i t a l — e n q u a n t o

J e s u s r e p r e s e n t a o c o n s t r u t o r ( 3 .3 . 4 ) . A q u i n o v a m e n t e a f i d e l i d a d e d e M o i s é s

e r a a d e u m s e r v o ; a f i d e l i d a d e d e J e s u s é a d e u m F i l h o . E m a i s , o m i n i s t é r i o d e

M o i s é s p r o j e t a v a o f u t u r o , as " c o i s a s q u e h a v i a m d e s e r a n u n c i a d a s " ; o s

b e n e f í c i o s d o m i n i s t é r i o d e J e s u s p o d e m s e r d e s f r u t a d o s a g o r a ( 3 . 5 . 6 ) .E s t e c o n t r a s t e l e v a o a u t o r a u m l o n g o e f e r v o r o s o a p e l o . C o n s i d e r a n d o q u e

t e r r í v e i s c a s t i g o s c a í r a m s o b r e a q u e l e s q u e s e r e b e l a r a m n o s d i a s d e M o i s é s ,

n ã o d e v e m o s e n d u r e c e r n o s s o s c o r a ç õ e s d i a n t e d e J e s u s , q u e é m a i o r d o q u e

M o i s é s . " T a m b é m a n ó s f o r a m a n u n c i a d a s a s b o a s - n o v a s , c o m o s e d e u c o m

e l e s " ( 4 . 2 ) . S e e l e s n ã o e n t r a r a m n o d e s c a n s o d e D e u s p o r c a u s a d e s u a

i n c r e d u l i d a d e , d e v e m o s f a z e r t o d o o e s f o r ç o " p o r e n t r a r n a q u e l e d e s c a n s o , a

f i m d e q u e n i n g u é m c a i a . s e g u n d o o m e s m o e x e m p l o d e d e s o b e d i ê n c i a " ( 4 . 1 1 ) .

O a u t o r s e n t e p r o f u n d a m e n t e a a d v e r t ê n c i a d a d a p e l o e x e m p l o d a g e r a ç ã o d o

ê x o d o , q u e r e c e b e u t a n t o d e D e u s e t u d o p e r d e u , e n ã o s e e s q u i v a d e d i z e r a

s e u s l e i t o r e s q u e e l e s c o r r e m o m e s m o p e r i g o .

Jesus é maior do que Arão, 4.14-10.39

A g o r a c h e g a m o s a o c e n t r o d a d i s c u s s ã o . A p ó s u m p a r á g r a f o in t r o d u t ó r i o , e s t ae x t e n s a p a r t e c e n t r a l c o m e ç a e t e r m i n a c o m f o r t e s e x o r t a ç õ e s , n a s q u a i s o a u t o r

a c e n t u a s u a s a d v e r t ê n c i a s ( 5 . 1 1 - 6 . 1 2 ; 1 0 . 1 9 - 3 9 ) . N o m e i o o c o r r e m d u a s l o n g a s

p a s s a g e n s , n a s q u a i s e l e c o n s i d e r a p r i m e i r o a p e s s o a d e J e s u s c o m o s u m o

s a c e r d o t e ( 6 . 1 3 - 7 . 2 8 ) , e d e p o i s se u m i n i s t é r i o ( 8 . 1 - 1 0 . 1 8 ) .

O p a r á g r a f o i n t r o d u t ó r i o ( 4 . 1 4 - 5 . 1 0 ) c o n t é m a p r i m e i r a m e n ç ã o d e u m

i m p o r t a n t e p e r s o n a g e m q u e f i g u r a a m p l a m e n t e n e s t a p a r t e d a c a r t a .

M e l q u i s e d e q u e d i f i c i l m e n t e a p a r e c e n o V e l h o T e s t a m e n t o — s o m e n t e n o S a l m o

1 1 0 . 4 , c i t a d o e m H e b r e u s 5 . 6 . e n a n a r r a t i v a d e G ê n e s i s 1 4 . 1 7 - 2 4 , a o q u a l

H e b r e u s 7 . 1 - 1 0 s e r e f e r e . P o r é m n o s s o a u t o r o c o n s i d e r a u m a f i g u r a m a i s

s i g n i f i c a t i v a , p o r d u a s ra z õ e s . P r i m e i r o p o r q u e s o m e n t e a s u a p r e s e n ç a n o V e l h o

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A C A R T A A OS H E B R E U S 1 1 1

• Í f ' - , ; . . -

MIM:

T e s t a m e n t o , e x e r c e n d o u m s a c e r d ó c i o t ã o d i f e r e n t e d o d e A r ã o , m o s t r a q u e o

p r ó p r i o V e l h o T e s t a m e n t o e s t a v a c o n s c i e n t e d a i n c o m p l e t i t u d e e i m p e r f e i ç ã o

d o s a c e r d ó c i o d e A r ã o e s e u s f i l h o s : " S e , p o r t a n t o , a p e r f e i ç ã o h o u v e r a s i d o

m e d i a n t e o s a c e r d ó c i o l e v í t i c o . .. q u e n e c e s s i d a d e h a v e r i a a i n d a d e q u e s e

l e v a n t a s s e o u t r o s a c e r d o t e , s e g u n d o a o r d e m d e M e l q u i s e d e q u e , e q u e n ã o f o s s e

c o n t a d o s e g u n d o a o r d e m d e A r ã o ? " ( 7 . 1 1 ) .

E m s e g u n d o lu g a r , a v e r d a d e i r a p e s s o a d e M e l q u i s e d e q u e . c o m o r e v e l a d an a s d u a s p a s s a g e n s q u e o m e n c i o n a m , p r e f i g u r a a p e s s o a d e J e s u s d e v á r i a s

f o r m a s :

1. M e l q u i s e d e q u e e r a u m s a c e r d o t e r e a l, u m " r e i d e S a l é m " ( is t o é . J e r u s a l é m ) ,

q u e e r a t a m b é m " s a c e r d o t e d o D e u s A l t í s s i m o " ( 7 . 1 ) . P e l a a p l i c a ç ã o d e v á r i o s

s a l m o s r e a i s a J e s u s e m s e u p r i m e i r o c a p í t u l o , o a u t o r p r e p a r o u - n o s p a r a

i m a g i n a r m o s J e s u s s e n t a d o n o t r o n o d e D a v i , c u m p r i n d o a e x p e c t a t i v a d o V e l h o

T e s t a m e n t o d e u m r ei q u e p o d e t a m b é m s e r c h a m a d o D e u s ( p .e x . , H e b r e u s

1 . 8 ). A g o r a o a u t o r d e s e n v o l v e o a s p e c t o s a c e r d o t a l d o m i n i s t é r i o d o re i d e

J e r u s a l é m — s e n d o f a s c i n a n t e o b s e r v a r q u e D a v i e s e u s su c e s s o r e s p a r e c e m t e r

e x e r c i d o e f e t i v a m e n t e u m s a c e r d ó c i o c o m o p a r t e d e se u o f í c i o ( p . e x . , 2 S a m u e l

2 4 . 2 5 ; 1 R e i s 9 . 2 5 ) .

2 . M e l q u i s e d e q u e s u r g e e m c e n a n a h i s t ó r i a d o G ê n e s i s s e m q u a l q u e ra p r e s e n t a ç ã o . N a d a l e m o s s o b r e s e u n a s c i m e n t o o u m o r t e o u p a r e n t e l a o u

g e n e a l o g i a , e n i s t o , c o n c l u i n o s s o a u t o r , e l e s i m b o l i z a a " v i d a i n d i s s o l ú v e l " d o

F i l h o d e D e u s ( 7 . 3 , 1 6 ) .

3 . A r ã o e r a d e s c e n d e n t e d e L e v i , e L e v i d e A b r a ã o . P o r t a n t o , q u a n d o

M e l q u i s e d e q u e a b e n ç o o u A b r a ã o , e A b r a ã o e n t r e g o u a M e l q u i s e d e q u e u m

d í z i m o , o " s a c e r d ó c i o le v í t i c o " e s t a v a s e n d o s u b m e t i d o a M e l q u i s e d e q u e n a

p e s s o a d e s e u a n c e s t r a l . A o s l e v i t a s c u m p r i a r e c e b e r o s d í z i m o s d o r e s t a n t e d e

I s r a e l , e e n t ã o f o r a m i n s t r u í d o s a d a r a D e u s , t a m b é m e l e s , o d í z i m o d o s d í z i m o s

r e c o l h i d o s ( N ú m e r o s 1 8 . 2 6 ) . O a u t o r d e H e b r e u s a r g u m e n t a q u e e s t a d á d i v a

e s t a v a p r e f i g u r a d a e m G ê n e s i s 1 4 , s u b l i n h a n d o o s t a t u s d e M e l q u i s e d e q u e c o m o

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1 1 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

a q u e l e a q u e m a s h o n r a s d i v i n a s s ã o d e v i d a s ( 7 . 4 - 1 0 ) .

4 . M e l q u i s e d e q u e n ã o p e r t e n c i a , p o i s , à c a s a s a c e r d o t a l d e L e v i . e p o r i s s op r e f i g u r o u J e s u s , q u e e r a u m s a c e r d o t e ( c o m o D a v i ) d e s c e n d e n t e d a t r i b o d e

J u d á ( 7 . 1 3 - 1 4 ) .

5 . D i f e r e n t e m e n t e d o s s a c e r d o t e s l e v í t i c o s . M e l q u i s e d e q u e f o i d e s i g n a d o s o b

j u r a m e n t o d i v i n o , d e a c o r d o c o m o S a l m o 1 1 0 : " O S e n h o r j u ro u e n ã o s e

a r r e p e n d e r á : " tu é s s a c e r d o t e p a r a s e m p r e ' " ( 7 . 2 1 ) . E s t e j u r a m e n t o n ã o se a p l i c a

a o s a c e r d ó c i o l e v í ti c o . p o r q u e e l e s n ã o c o n t i n u a r a m " p a r a s e m p r e " : " s ã o

i m p e d i d o s p e l a m o r t e d e c o n t i n u a r " ( 7 . 2 3 ) . P o r é m , c o m o M e l q u i s e d e q u e . J e -

s u s m a n t é m s e u s a c e r d ó c i o p e r m a n e n t e m e n t e p o r q u e E l e v i v e p a r a s e m p r e .

C o n s e q ü e n t e m e n t e , E l e " p o d e s a l v a r t o t a l m e n t e o s q u e p o r e l e s e c h e g a m a

D e u s . v i v e n d o s e m p r e p a r a i n t e r c e d e r p o r e l e s " ( 7 . 2 5 ) .

O a u t o r a r g u m e n t a e n c o n t r a n d o a l g u m a c o i s a n o V e l h o T e s t a m e n t o q u e n ã o

p o d e s e r e x p l a n a d a e m t e r m o s d e V e l h o T e s t a m e n t o — e m e s s ê n c i a , a p r ó p r i a

e x i s t ê n c i a d e M e l q u i s e d e q u e e s e u s a c e r d ó c i o : e l e e x p l a n a e n t ã o e m t e r m o s d o

N o v o T e s t a m e n t o q u a n d o a p o n t a à f r e n t e p a r a J e s u s .

E m 8 .1 n o s s o a u t o r p a s s a a u m a n o v a f a s e d e se u a r g u m e n t o : " T o d o s u m o

s a c e r d o t e é c o n s t i t u í d o p a r a o f e r e c e r a s s i m d o n s c o m o s a c r i f í c i o s ; p o r i s s o e r a

n e c e s s á r i o q u e t a m b é m e s s e s u m o s a c e r d o t e t i v e s s e o q u e o f e r e c e r " (8 . 3 ) . E l e

p a s s a d a p e s s o a d o s a c e r d o t e p a r a a n a t u r e z a d e s e u s a c r i f í c i o — o q u a l v e i o a

t o r n a r - s e l e g i t i m a m e n t e s e m i g u a l .

2. O sacrifício de JesusE s t e n o v o t r e c h o d a c a r t a t e m u m a e s t r u t u r a ' c o n c ê n t r i c a ' , c o m o s e a c h a e s b o ç a d a

n o q u a d r o q u e s e s e g u e .

E s t a e s t r u t u r a r e v e l a o c u i d a d o d o a u t o r n a c o m p o s i ç ã o — e t a m b é m n a s l i n h a sp r i n c i p a i s d e s e u p e n s a m e n t o . E l e a p r e s e n t a a q u i t r ê s c o n t r a s t e s : e n t r e o

" t a b e r n á c u l o " o u " s a n t u á r i o " t e r r e s t r e e c e l e s t i a l ( o lugar d o m i n i s t é r i o ) , e n t r e

a v e l h a e a n o v a a l i a n ç a ( a base d o m i n i s t é r i o ) , e e n t r e o v e l h o e o n o v o s a c r i f í c i o

(a função d o m i n i s t é r i o ) . E n q u a n t o o a n t i g o s u m o s a c e r d o t e e n t r a v a n o

S a n t í s s i m o L u g a r d o T a b e r n á c u l o u m a v e z p o r a n o , n o D i a d o P e r d ã o , l e v a n d o

o s a n g u e d o s a c r i f í c i o , J e s u s a g o r a e n t r a n o s a n t u á r i o c e l e s t i a l , o n d e D e u s e s t á .

l e v a n d o s e u p r ó p r i o s a n g u e , a e v i d ê n c i a d e u m s a c r i f í c i o q u e n ã o p r e c i s a s e r

r e p e t i d o , e o q u a l a n i q u i l a o p e c a d o u m a v e z p o r t o d a s ( 9 . 2 6 ) . O r e s u l t a d o é

t o d a u m a " n o v a a l i a n ç a " : i s t o é , o r e l a c i o n a m e n t o e n t r e D e u s e s e u p o v o f o i

8.1-6 [A] O lugar do minis tér io de Jesus

8 .7 -13 [B] A nova a l iança p ro met ida

9.1 -10 [C ] O antigo Dia da Ex piaç ão

9 .11 -14 [C] O novo Dia da Exp iação

9.15-22 [B] A nova a l iança no sangue de Cris to

9 .23-28 [A] O lugar do minis tér io de Cris to

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A C A R T A A O S H E B R E U S 1 1 3

c o l o c a d o s o b r e u m f u n d a m e n t o t o t a l m e n t e d i f e r e n t e . E m t o d o o c u r s o d e s t a

p a s s a g e m o a u t o r r e c o r r e a o r i t u a l d o D i a d a E x p i a ç ã o ( d e s c r i t o e m L e v í t i c o

1 6 ) . e p r o c u r a m o s t r a r , p o n t o a p o n t o , c o m o o p e r f e i t o s a c r i f í c i o d e C r i s t oc u m p r i u a i m p e r f e i t a p r e f i g u r a ç ã o d o D i a d a E x p i a ç ã o .

C o n c e n t r a n d o - n o s n a c o m p r e e n s ã o d a m o r t e d e J e s u s , p o d e m o s a p o n t a r p a r a

q u a t r o a s p e c t o s n o s q u a i s J e s u s s u p e r a a s l i m i t a ç õ e s d a " p r i m e i r a a l i a n ç a " :

1. A esfera do sa crifícioN ã o é c e r i m o n i a l , m a s m o r a l . O a u t o r p õ e n i s t o u m a c e r t a ê n f a s e . O s a n t i g o s

s a c r i f í c i o s r e a l i z a d o s p a r a a s a n t i f i c a ç ã o d o s q u e e s t a v a m " c e r i m o n i a l m e n t e

i m p u r o s " — l i t e r a l m e n t e , e l e s se sa n t i f i c a v a m p a r a a " p u r i f i c a ç ã o d a c a r n e "

( 9 . 1 3 ) . s i m p l e s m e n t e " i m p o s t a s a t é a o t e m p o o p o r t u n o d e r e f o r m a " ( 9 . 1 0 ) . M a s

o q u e s e n e c e s s i t a é d e u m s a c r i f í c i o c a p a z d e " a p e r f e i ç o a r a q u e l e q u e p r e s t a

c u l t o " ( 9 . 9 ) — i s t o é . p a r a a l c a n ç a r a t r a n s f o r m a ç ã o r e a l . p e s s o a l e i nt e r io r . O s

a n t i g o s s a c r i f í c i o s t i n h a m d e s e r r e p e t i d o s c o n s t a n t e m e n t e , p o r q u e n u n c a

a s s e g u r a v a m a o s a d o r a d o r e s a l i b e r t a ç ã o d o s e n t i m e n t o d c q u e e r a m c u l p a d o sp o r s e u s p e c a d o s ( 1 0 . 2 ) .

A g o r a , e n t r e t a n t o , o " s a n g u e d e C r i s t o " f o r m a u m s a c r i f í c i o q u e p o d e p u r i f i c a r

" a n o s s a c o n s c i ê n c i a d e o b r a s m o r t a s p a r a s e r v i r m o s a o D e u s v i v o ! " ( 9 . 1 4 ) . E

p o r i s s o q u e o a u t o r e s t á t ã o p r e o c u p a d o c o m a i n c a p a c i d a d e d e o s l e i t o r e s

c r e s c e r e m c o m o c r i s t ã o s : e l e s p a r e c e m n ã o t e r e n t r a d o c o m o d e v i a m n a p l e n a

e x p e r i ê n c i a d o p e r d ã o d a n o v a a l i a n ç a .

2. A natureza do sacrifícioE l a n ã o é t e r r e n a , m a s c e l e s t i a l . J e s u s m o r r e u n a t e r r a , p o r é m n a r e a l i d a d e E l e

" p e l o E s p í r i t o e t e r n o , a si m e s m o s e o f e r e c e u s e m m á c u l a a D e u s " ( 9 . 1 4 ) . S o b r e

e s t e s a c r i f í c i o H e b r e u s a f i r m a v á r i a s c o i s a s f u n d a m e n t a i s :

Ele foi perfeito. E n q u a n t o " é i m p o s s í v e l q u e s a n g u e d e t o u r o s e b o d e s r e m o v a

p e c a d o s " ( 1 0 .4 ) , J e s u s e r a v e r d a d e i r a m e n t e " s e m m á c u l a " , e c a p a z d e " a n i q u i l a r

p e l o s a c r i f í c i o d e si m e s m o o p e c a d o " ( 9 . 2 6 ) .

Ele foi espiritual. " P e l o E s p í r i t o e t e r n o " ( 9 . 1 4 ) s i g n i f i c a p r o v a v e l m e n t e q u e

J e s u s o f e r e c e u - s e e m p e r f e i t a h a r m o n i a e s p i r i t u a l c o m D e u s . u n g i d o p e l o E s p í r i t o

p a r a s e u p e n o s o t r a b a l h o c o n t r a o p e c a d o e a m o r t e . I s t o q u e r d i z e r q u e . p o r s e u

s a c r i f í c i o . E l e s e c a p a c i t o u a " p u r i f i c a r " o s a n t u á r i o c e l e s t i a l ( 9 . 2 3 ) . o u s e j a .

E l e t o r n o u p o s s í v e l q u e n ó s . p e c a d o r e s , n o s a p r o x i m á s s e m o s d e D e u s s e m

m a c u l a r o s a n t u á r i o e m q u e E l e h a b i t a .

Ele foi vicário. E s t e é d e t o d o s o p o n t o m a i s r e l e v a n t e . C r i s t o m a n t e v e e s t a

i m a c u l a d a h a r m o n i a e s p i r i t u a l c o m D e u s . e n q u a n t o p a s s a v a p o r u m a e x p e r i ê n c i ac o m p l e t a d e t e n t a ç ã o e s o f r i m e n t o , p e c a d o e m o r t e , q u e f o i c a p a z d e " t i r a r o s

p e c a d o s d e m u i t o s " ( 9 . 2 8 ) . H e b r e u s n ã o r e v e l a c o m o p r e c i s a m e n t e a m o r t e d e

C r i s t o é e f i c a z a o t o r n a r - s e E l e u m a f o n t e d e " s a l v a ç ã o e t e r n a " ( 5 . 9 ) e m f a v o r

d e o u t r e m . P o r é m 9 . 2 8 d e f i n e c l a r a m e n t e s u a m o r t e c o m o u m s a c r i f í c i o v i c á ri o ,

c a r r e g a n d o o s p e c a d o s d o s o u t r o s , c u m p r i n d o a p r o f e c i a d o S e r v o d o S e n h o r

e m I s a í a s 5 3 ( v e j a e s p e c i a l m e n t e o v e r s í c u l o 1 1 ) , e p o s s i v e l m e n t e t a m b é m o

r i tu a l d o " b o d e e x p i a t ó r i o " n o D i a d a E x p i a ç ã o . N e s t e ú l t i m o , o s a c e r d o t e t i n h a

d e c o n f e s s a r o s p e c a d o s d c I sr a e l , p o u s a n d o s u a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o b o d e .

e e m s e g u i d a o a n i m a l e r a b a n i d o p a r a o d e s e r t o , a f i m d e l e v a r " s o b r e s i t o d a s

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1 1 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

a s i n i q u i d a d e s d e l e s " ( L e v í t i c o 1 6 . 2 2 ) .

3. A singularidade do sacrifícioE l e é s i n g u l a r , n ã o r e p e t i d o . A e x p r e s s ã o " u m a v e z " o u " u m a v e z p o r t o d a s " é

u m a d a s f a v o r i t a s d o a u t o r , o c o r r e n d o n ã o m e n o s d e q u a t r o v e z e s e n t r e 9 . 1 1 e

1 0 . 1 4 , c o m r e f e r ê n c i a à m o r t e d e C r i s t o e s u a s c o n s e q ü ê n c i a s ( v e j a o p r ó x i m o

q u a d r o ) . O c o n t r a s t e , n a t u r a l m e n t e , é e n t r e o ú n i c o e n ã o r e p e t i d o s a c r i f í c i o d e

C r i s t o e o s r e p e t i d o s s a c r i f í c i o s t a n t o d a c e r i m ô n i a a n u a l d o D i a d a E x p i a ç ã o

c o m o d o s r i t u a i s d i á r i o s n o t e m p l o . P o r s u a m e r a r e p e t i ç ã o , s u s t e n t a n o s s o a u t o r ,

e l e s p r o c l a m a m s u a p r ó p r i a i n e f i c á c i a .

4. O cumprimento do sacrifícioE l e é p e r m a n e n t e , n ã o t r a n s i t ó r i o . A o p a s s o q u e o s a n t i g o s s a c r i f í c i o s p r o v i a m

u m r i tu a l d e p u r i f i c a ç ã o p a s s a g e i r o e e x t e r n o , o s a c r i f í c i o d e J e s u s p r e p a r a - n o s

p a r a s e g u i - l o a t é a o p r ó p r i o s a n t u á r i o . E l e n ã o é a p e n a s n o s s o r e p r e s e n t a n t e ,m a s t a m b é m n o s s o p r e c u r s o r ( 6 .2 0 ) . A g o r a , t a m b é m n ó s p o d e m o s a p r o x i m a r -

n o s d e D e u s , " t e n d o o s c o r a ç õ e s p u r i f i c a d o s d e m á c o n s c i ê n c i a , e l a v a d o o

c o r p o c o m á g u a p u r a " ( 1 0 . 2 2 ) : a q u i , d r a m a t i c a m e n t e , o a u t o r u s a p a r a " n ó s " a

l i n g u a g u e m q u e é r e s e r v a d a p a r a a o r d e n a ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e e m Ê x o d o

2 9 . 2 1 e L e v í t i c o 1 6 . 4 . E x a t a m e n t e c o m o A r ã o f o i p r e p a r a d o p a r a s u a e n t r a d a

a n u a l n o S a n t í s s i m o L u g a r , a s s i m t a m b é m n ó s s o m o s p r e p a r a d o s p a r a a e n t r a d a ,

e . d e p é n a s o l e i r a d a p o r t a , e s p e r a n d o p e l o a l v o r e c e r d o " D i a " , q u a n d o

p o d e r e m o s s e g u i r " n o s s o g r a n d e S u m o S a c e r d o t e " a t r a v é s d o v é u ( 1 0 . 1 9 - 2 5 ) .

A i d é i a d o c u m p r i m e n t o d e C r i s t o p o r m e i o d e s e u s a c r i f í c i o a b r e - n o s a p o r t a

a o t e r c e i r o t ó p i c o q u e d e s e m p e n h a u m p a p e l c r u c i a l n o p e n s a m e n t o d e H e b r e u s :

3. A nova aliança em JesusA c i t a ç ã o d e J e r e m i a s 3 1 . 3 1 - 3 4 e m H e b r e u s 8 . 8 - 1 2 é a m a i s l o n g a d e u m a ú n i c a

c i t a ç ã o d o V e l h o T e s t a m e n t o e n c o n t r a d a n o N o v o . E a f a m o s a p a s s a g e m s o b r e

a " n o v a a l i a n ç a " , n a q u a l J e r e m i a s l a m e n t a a c o r r u p ç ã o d o c o r a ç ã o q u e a r r u i n o u

I s r a e l e p r o c l a m a u m a t rí p l i c e p r o m e s s a d e g r a ç a d e q u e D e u s e s c r e v e r á s u a s

l e i s n o s c o r a ç õ e s e m e n t e s d e s e u p o v o , r e v e l a r - s e - á a c a d a u m d e l e s

i n d i v i d u a l m e n t e , e p e r d o a r á s e u s p e c a d o s . E s t a p r o m e s s a d e s a n t i d a d e i n t e r i o r ,

c o n h e c i m e n t o p e s s o a l e p l e n o p e r d ã o f o i c u m p r i d a , s e g u n d o n o s s o a u to r , a t r a v é s

d o s a c r i f í c i o d e J e s u s .

P o r t a n t o , J e s u s é " o M e d i a d o r d a n o v a a l i a n ç a " ( 9 . 1 5 ) ; e e s t a n o v a a l i a n ç a é

" s u p e r i o r " à a n t i g a , p o r q u e fo i " i n s t i t u í d a c o m b a s e e m s u p e r i o r e s p r o m e s s a s "

"Um a vez por todas"— o sacrifício único e suficiente de Jesus

" N ão por meio de s angue de bodes e debezer ros , mas pe lo s eu própr io s angue , en t rou noSanto dos San tos , uma vez por todas , t endoobt ido e te rna r edenção" (9 . 12) .

" [Cr i s to ] s e mani f es tou uma vez por todas ,para an iqu i l a r pe lo s acr i f í c io de s i mes mo op e c a d o " ( 9 . 2 6 ) .

" Cr i s to , t endo- s e o ferec ido uma vez para

s empre para t i r a r os pecados de mui tos ,aparecerá s egunda vez , s em pecado , aos que oa g u a r d a m p a r a a s a l v a ç ã o " ( 9 . 2 8 ) .

" N e s s a v o n t a d e é q u e t e m o s s i d o s a n t i f i c a d o s ,median te a o fer t a do corpo de J es us Cr i s to , umavez por todas " (10 . 10) .

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A C A R T A A O S H E B R E U S 1 1 5

O TabernáculoO autor cons idera que s eusle i to r es es t ão bemf a m i l i a r i z a d o s c o m a i m a g e mdo Tabernácu lo . E le e r ad iv id ido em doi sc o m p a r t i m e n t o s . O p r i m e i r o emaior e r a o " Lugar San to" . Oout ro , menor , e r a o " LugarS a n t í s s i m o " , o s a n t u á r i oin ter io r . A qui f i cava a a r ca ,e n c i m a d a p o r s u a t a m p a d eouro , ou prop ic ia tó r io , onde ag l ó r i a d o S h e k i n a h , o s í m b o l ov i s íve l da p res ença de D eus ,

a p a r e c i a .O s d o i s " L u g a r e s " e r a m

s e p a r a d o s p o r u m a e s p e s s ac o r t i n a c h a m a d a " v é u " . P o r

meio des ta ins t i tu ição o San tode I s r ae l es t ava ens inando s eu

povo , t an to a r es pe i to de s uapres ença no meio de le . como ares pe i to da inaces s ib i l idadedeles peran te E le . E le es t avaper to . e . en t r e tan to , longe: osp e c a d o r e s p o d e r i a ma p r o x i m a r - s e , p o r é m n ã o l h e sera permi t ido en t r a r em s uas an ta p res ença a lém do véu . Oaces s o a D eus e r a l imi tado porq u a t r o c o n d i ç õ e s ,m e n c i o n a d a s e m H e b r e u s 9 . 7 :somente o sumo sacerdotepodia entrar 110 santuár ioin ter io r : porém somente uma

vez. por ano (no D ia daE x p i a ç ã o ) , e somente trazendoo sangue do sacrifício c o mele , para es parg i r s obre o

prop ic ia tó r io ; e com i s s o e leg a r a n t i a a r e m i s s ã o somente para

certos pecados ( o s p e c a d o s" c o m e t i d o s e m i g n o r â n c i a " ) .

Para nos s o au tor , es t asl i m i t a ç õ e s m o s t r a v a m " q u e a i n d ao c a m i n h o d o S a n t o L u g a r n ã o s em a n i f e s t o u " ( 9 . 8 ) ; u m a v e z m a i s ,o V elho Tes tamento r eve la s uap r ó p r i a i n a d e q u a b i l i d a d e e s u aneces s idade de J es us . Emc o n t r a s t e c o m o a n t i g o s u m os acerdo te , J es us " en t rou no San todos San tos [San t í s s imo Lugar ] ,uma vez por todas , t endo ob t idoe t e r n a r e d e n ç ã o " ( 9 . 1 2 ) .

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1 1 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

( 8 . 6 ) . E l a p r o m e t e r e a l t r a n s f o r m a ç ã o d o c o r a ç ã o . A a n t i g a a l i a n ç a e r a

s i m p l e s m e n t e i n e f i c a z : " S e a q u e l a p r i m e i r a a l i a n ç a t i v e s s e s i d o s e m d e f e i t o , d e

m a n e i r a a l g u m a e s t a r i a s e n d o b u s c a d o l u g a r p a r a a s e g u n d a . . .. Q u a n d o e l e d i z

N o v a , t o r n a a n t i q u a d a a p r i m e i r a . O r a , a q u i l o q u e se t o r n a a n t i q u a d o e

e n v e l h e c i d o e s t á p r e s t e s a d e s a p a r e c e r " ( 8 . 7 . 1 3 ) .

O a u t o r d e f e n d e s u a p o s i ç ã o c o m t r ê s a r g u m e n t o s : p r i m e i r a m e n t e c o m u m a

ilustração humana. A p a l a v r a q u e c o r r e s p o n d e a " a l i a n ç a " n o g r e g o e n o h e b r a i c o

p o d e t a m b é m s i g n i f i c a r " t e s t a m e n t o " . A s s i m , c o m o u m t e s t a m e n t o t e m e f e i t o

s o m e n t e q u a n d o o t e s t a d o r m o r r e , a s s i m t a m b é m o N o v o T e s t a m e n t o e n t r o u

e m v i g o r s o m e n t e q u a n d o J e s u s m o r r e u ( 9 . 1 5 - 1 7 ) .

E m s e g u n d o l u g a r , e l e u t i l i z a u m a analogia bíblica. E l e d e c l a r a q u e , c o m o a

p r i m e i r a a l i a n ç a é r a t i f i c a d a p e l o d e r r a m a m e n t o d e s a n g u e , a s s i m a n o v a a l i a n ç a

é i n a u g u r a d a p e l o s a n g u e d e J e s u s , q u e é " o s a n g u e d a a l i a n ç a " ( 9 . 1 8 - 2 1 ; 1 0 . 2 9 ;

1 3 .2 0 ; c o m p a r e c o m M a t e u s 2 6 . 2 8 ) .E , e m t e r c e i r o l u g a r , e l e e m p r e g a u m argumento cla experiência. " C o m u m a

ú n i c a o f e r t a a p e r f e i ç o o u p a r a s e m p r e q u a n t o s e s t ã o s e n d o s a n t i f i c a d o s " ( 1 0 . 1 4 ) .

U m a v e z q u e o p e r d ã o t e m s i d o r e a l m e n t e c o n c e d i d o e e x p e r i m e n t a d o , n ã o h á

n e c e s s i d a d e d e q u a l q u e r o u t r o s a c r i f í c i o ( 1 0 . 1 7 . 1 8 ) : a n o v a a l i a n ç a e s t á e m

v i g o r .

E s t e t e m a d a f i n a l i d a d e d a n o v a a l i a n ç a é p o n t o c r u c i a l p a r a o e s c r i t o r d e

H e b r e u s . E l e c o m e ç o u s u a c a r t a c o m o c l a m o r : " C o r n o e s c a p a r e m o s n ó s , se

n e g l i g e n c i a r m o s t ã o g r a n d e s a l v a ç ã o ? " ( 2 . 3 ) . E l e t e m i a q u e s e u s l e i t o r e s

e s t i v e s s e m f a z e n d o i s t o — i g n o r a n d o o u ( m a i s li t e r a lm e n t e ) n ã o se i m p o r t a n d o

c o m o q u e D e u s t i n h a f e i t o p e l o m u n d o a t r a v é s d e J e s u s C r i s t o . C o m o j u d e u s

c r i s t i a n i z a d o s e l e s p o d i a m t e r s i d o t e n t a d o s a p e n s a r q u e , a f i n a l d e c o n t a s , J e -

s u s n ã o t i n h a a c r e s c e n t a d o m u i t o a o s e u J u d a í s m o . A i s t o o a u t o r r e s i s t e

a p a i x o n a d a m e n t e . J e s u s é ú n i c o . D e u s t e m f a l a d o e a g i d o f i n a l m e n t e p o r m e i o

d a p e s s o a , o b r a e a l i a n ç a d e J e s u s C r i s t o .

P o d e n ã o h a v e r q u a l q u e r i n t e r e s s e e m o u t r o s " s a c e r d o t e s " n u m s e n t i d o s a c r i -

f i c i a l , u m a v e z q u e , a t r a v é s d e n o s s o g r a n d e S u m o S a c e r d o t e , t e m o s a c e s s o

d i r e t o a D e u s e n ã o n e c e s s i t a m o s d e n e n h u m o u t r o m e d i a d o r . N o s s o s a c r i f í c i o

é u m " s a c r i f í c i o d e l o u v o r " ( 1 3 . 1 5 ) , n ã o u m " s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o " ( 1 0 . 1 8 ) . A

n o v a a l i a n ç a é a ú l t i m a a l i a n ç a , e j a m a i s s e r á s u b s t i t u í d a : é u m a " a l i a n ç a e t e r n a "

( 1 3 . 2 0 ) , q u e t r a z p a r a o p o v o d e D e u s u m a " s a l v a ç ã o e t e r n a " , u m a " e t e r n a

r e d e n ç ã o " ( 9 . 1 2 ) , e u m a " h e r a n ç a e t e r n a " ( 9 . 1 5 ) .

A m e n s a g e m d e H e b r e u s é i n f l e x í v e l . A u m m u n d o e i g r e j a t e n t a d o s a d i z e r

q u e m u i t o s c a m i n h o s l e v a m a D e u s . e q u e o C r i s t i a n i s m o é s i m p l e s m e n t e u m a

r e l i g i ã o e n t r e m u i t a s , o a u t o r d e s t a c a r t a l a n ç a u m a v e e m e n t e r e f u t a ç ã o . T o m a r

t a l p o s i ç ã o é n e g a r o q u e D e u s t e m f e i t o p e l o m u n d o e m C r i s t o . A q u a l q u e rc u s t o — a i n d a q u e p e lo d e r r a m a m e n t o d e s e u p r ó p r i o s a n g u e ( 1 2 . 4 ) — o a u t o r

e s t i m u l a s e u s l e i t o r e s a a g a r r a r - s e à u n i c i d a d e e f i n a l i d a d e d e C r i s t o , q u e c h e g o u ,

a t r a v é s d a v e r g o n h a e d a m o r t e , à m ã o d i r e i t a d e D e u s . P r e c i s a m o s o u v i - l o

h o j e .

4. A disciplina de JesusE m 1 0 . 1 9 o a u t o r c o m e ç a a d e l i n e a r a s c o n c l u s õ e s p r á t i c a s d e s u a a p r e s e n t a ç ã o

d e C r i s t o . O t r e c h o 1 0 . 1 9 - 3 9 r e t r o c e d e e a m e n i z a a e x o r t a ç ã o d e 5 . 1 1 - 6 . 1 2 .

E s t a m o s a g o r a d i a n t e d e u m f o r t e e n c o r a j a m e n t o e s ó b r i a a d m o e s t a ç ã o : u m

e n c o r a j a m e n t o p a r a a g a r r a r - s e à f é ( 1 0 . 2 2 ) , e s p e r a n ç a ( 1 0 . 2 3 ) e a m o r ( 1 0 . 2 4 ) ,

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A C A R T A A O S H E B R E U S 1 1 7

q u e d e v e r i a m s e r a s m a r c a s d o s s e g u i d o r e s d e J e s u s , o " g r a n d e s a c e r d o t e s o b r e

a c a s a d e D e u s " ( 1 0 . 2 1 ) , e u m a a d v e r t ê n c i a s o b r e a s t e r r í v e i s c o n s e q ü ê n c i a s

p a r a n ó s s e t r a t a r m o s J e s u s l e v i a n a m e n t e e " v i v e r m o s d e l i b e r a d a m e n t e e mp e c a d o , d e p o i s d e t e r m o s r e c e b i d o o p l e n o c o n h e c i m e n t o d a v e r d a d e " ( 1 0 . 2 6 ) .

H á s o m e n t e u m s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o : p o r i s s o , s e d e s p r e z a r m o s a q u e l e

s a c r i f í c i o , " j á n ã o r e s t a s a c r i f í c i o p e l o s p e c a d o s ; p e l o c o n t r á r i o , [ h á ] c e r t a

e x p e c t a ç ã o h o r r í v e l d e j u í z o " ( 1 0 . 2 6 , 2 7 ) . C e r t a m e n e o a u t o r s u p u n h a q u e s e u s

l e i t o r e s p u d e s s e m p e r d e r s u a s a l v a ç ã o e c a i r s o b o j u í z o d e D e u s .

S u a e x o r t a ç ã o c o n t i n u a n o s t r ê s s o b e r b o s c a p í t u l o s c o n c l u s i v o s d e s u a c a r t a .

E s t e s c a p í t u l o s p a r e c e m d e s e n v o l v e r o t e m a t r í p l ic e a p r e s e n t a d o e m 1 0 . 2 2 - 2 4 ,

u m a v e z q u e o c a p í t u l o 11 e n f a t i z a a f é ; o c a p í t u l o 1 2 , a e s p e r a n ç a ; e o c a p í t u l o

1 3 , o a m o r .

A f é " é a c e r t e z a d e c o i s a s q u e s e e s p e r a m , a c o n v i c ç ã o d e f a t o s q u e s e n ã o

v ê e m " ( 1 1 . 1 ) : v i v e r p e l o q u e n ã o s e v ê é i n e v i t á v e l p a r a a q u e l e s q u e p e r m a n e c e m

n a so l e i r a d a p o r t a d o s a n t u á r i o e s p e r a n d o q u e o S u m o S a c e r d o t e a p a r e ç a ( 9 . 2 8 ) .P o r t a n t o , n ã o d e v e m o s " r e t r o c e d e r " , m a s s i m " c r e r e s e r s a l v o s " ( 1 0 . 3 9 ) , c o m o

o s h e r ó i s d o V e l h o T e s t a m e n t o , q u e t a m b é m t i v e r a m d e v i v e r p e l a f é p o r q u e

p e r m a n e c e r a m f i r m e s " c o m o q u e m v ê a q u e l e q u e é i n v i s í v e l " ( 1 1 . 2 7 ) . A q u e l e s

h e r ó i s d o s v e l h o s t e m p o s f o r a m h o m e n s d e e s p e r a n ç a e t a m b é m d e f é . P e l a f é

e l e s h e r d a r a m a l g u m a s p r o m e s s a s d e D e u s e m s u a e x i s t ê n c i a , m a s , n u m o u t r o

s e n t i d o , " n ã o o b t i v e r a m . . . a c o n c r e t i z a ç ã o d a p r o m e s s a " (1 1 . 3 9 ) . A s b ê n ç ã o s

t e r r e n a s q u e r e c e b e r a m s i m p l e s m e n t e s i m b o l i z a v a m a s b ê n ç ã o s e s p i ri t u a is q u e

n ã o r e c e b e r a m . E l e s a g u a r d a r a m e s s a s b ê n ç ã o s c o m e s p e r a n ç a , i s to é , c o m

a l e g r e e c o n f i a n t e e x p e c t a t i v a . P e l a fé , p o r t a n t o , e l e s s e f i r m a r a m e m D e u s

d i a n t e d o p r o f u n d o s o f r i m e n t o .

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1 1 8 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

D e v e m o s f a z e r o m e s m o . " T a m b é m n ó s , v i s t o q u e t e m o s a r o d e a r - n o s t ã o

g r a n d e n u v e m d e t e s t e m u n h a s , d e s e m b a r a ç a n d o - n o s d e t o d o p e s o . e d o p e c a d oq u e t e n a z m e n t e n o s a s s e d i a , c o r r a m o s c o m p e r s e v e r a n ç a a c a r r e i r a q u e n o s e s t á

p r o p o s t a . " D e v e m o s o l h a r p a r a " o A u t o r e C o n s u m a d o r d a f é . J e s u s " . E l e

t a m b é m , c o m o o s h e r ó i s d a f é d o V e l h o T e s t a m e n t o , " s u p o r t o u a c r u z " , p o r

c a u s a d a " a l e g r i a q u e l h e e s t a v a p r o p o s t a " , e a s s i m d e v e m o s c o n s i d e r a r " a q u e l e

q u e s u p o r t o u t a m a n h a o p o s i ç ã o " , p a r a q u e n ó s m e s m o s n ã o f i q u e m o s f a t i g a d o s

e d e s m a i e m o s e m n o s s a s a l m a s ( 1 2 . 1 - 3 ) .

D e p o i s d e s t a e x c i t a n t e e x o r t a ç ã o , o c a p í t u l o 1 2 d e s e n v o l v e p o d e r o s a m e n t e

o s t e m a s d a d i s c i p l i n a e d a p e r s e v e r a n ç a , à l u z d a e s p e r a n ç a q u e n o s i n s p i r a : a

e s p e r a n ç a d e e n t r a r n a " J e r u s a l é m c e l e s t i a l " , e f i n a l m e n t e c h e g a r a " J e s u s , o

M e d i a d o r d a N o v a A l i a n ç a " ( 1 2 . 2 2 - 2 4 ) .

O ú l t i m o c a p í t u l o t r a t a l i g e i r a m e n t e d e v á r i o s a s p e c t o s d o " a m o r f r a t e r n a l "

( 1 3 . 1 ) , p o r m e i o d o q u a l d e v e m o s v i v e r e n q u a n t o e s p e r a m o s p o r a q u e l e D i a .N ã o d e v e m o s n e g l i g e n c i a r a h o s p i t a l i d a d e a o s e s t r a n g e i r o s ( 1 3 . 2 ) , d e v e m o s

l e m b r a r - n o s d o s p r i s i o n e i r o s ( 1 3 . 3 ) , h o n r a r o c a s a m e n t o ( 1 3 . 4 ) . p r e f e r i r o

c o n t e n t a m e n t o c o m a q u i l o q u e t e m o s à c o b i ç a ( 1 3 . 5 ), e a r e s p e i t a r n o s s o s l í d e r e s

c r i s t ã o s ( 1 3 . 7 - 9 , 1 7 , 2 4 ) . J u n t a m e n t e c o m o r e s t a n t e d o s a d o r a d o r e s d e D e u s ,

e s t a m o s l e v a n d o a i n j ú r i a q u e E l e s u p o r t o u , e n c o n t r a n d o - o " f o r a d o a r r a i a l " ,

o n d e s o f r e u — i s t o é , f o r a d a s n o r m a s e v a l o r e s d o m u n d o , o q u a l p r o c u r a a

s e g u r a n ç a t e r r e n a . P o i s , " n a v e r d a d e , n ã o t e m o s a q u i c i d a d e p e r m a n e n t e , m a s

b u s c a m o s a q u e h á d e v i r " ( 1 3 . 1 3 , 1 4 ) .

N e s t e e n t r e t e m p o t e m o s d e e n c h e r n o s s a s v i d a s c o m l o u v o r e s a D e u s ( 1 3 . 1 5 ) ,

f a z e r o b e m d i v i d i n d o n o s s a s p o s s e s c o m o s n e c e s s i t a d o s ( 1 3 . 1 6 ) , o r a n d o u n s

p e l o s o u t r o s ( 1 3 . 1 8 , 1 9 ) , e v o l t a n d o - n o s p a r a D e u s , a f i m d e q u e E l e n o s

a p e r f e i ç o e p a r a q u e f a ç a m o s a s u a v o n t a d e e l h e a g r a d e m o s ( 1 3 . 2 0 , 2 1 ) .

H e b r e u s d e s a f i a o " i n d o l e n t e " ( 5 . 1 1 ; 6 . 1 2 ) , t a n t o o i n d o l e n t e m e n t a l c o m o o

i n d o l e n t e d a d i s c i p l i n a . E l e d e s a f i a a m e n t e p o r s u a a m p l a v i s ã o d e C r i s t o , o

F i l h o d e D e u s , o h e d e i r o d e t o d a s a s c o i s a s , e q u e , n o e n t a n t o , a p r e n d e u a

o b e d i ê n c i a p o r m e i o d o s o f r i m e n t o , o b t e n d o p a r a n ó s o p e r d ã o c o m o o g r a n d e

S u m o S a c e r d o t e ; e e l e d e s a f i a a d i s c i p l i n a p o r s u a p o d e r o s a e x o r t a ç ã o p a r a q u e

a n d e m o s j u n t o s e m s u a s p e g a d a s a t r a v é s d o s o f r i m e n t o e d a m o r t e , p a r a a g l ó r i a

d e D e u s .

Leitura adicional

Menos exigente:

R a y m o n d B r o w n , The Message of Hebreus. Christ Aboré A li (Leices te r : IV P. 1982)D a v i d G o o d i n g . An Unshakeable Kingdom . The Leiter lo lhe Hebreu sfor Today (Leices -ter : IVP, 1989)

W i l l i a m L . L a n e , Hebreus. A Cali to Commitmen l ( P e a b o d y . M a s s a c h u s e t t s :( H e n d r i c k s e n , 1 9 8 5 )

Mais exigente, obras eruditas:L. D. Hurs t , The Epistle to the Hebreus. Its Background ofThought ( C a m b r i d g e : C U P .

1990)

B a r n a b a s L i n d a r s , The Theology of the Letter to lhe Hebreus ( C a m b r i d g e : C U P . 1 9 9 1 )

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Tiago e suaMensagemAssim como o corpo sem espírito é morto,

assim também a fé sem obras é morta.

(Tiago 2.26)

A c a r t a d e T i a g o é a p r i m e i r a d a s " e p í s t o l a s g e r a i s " , a s s i m c h a m a d a p o r n ã o t e r

s i d o e s c r i t a p a r a u m a e s p e c í f i c a i g r e j a o u p e s s o a , m a s d e f o r m a g e r a l , c o m o

u m a c i r c u l a r d i r i g i d a " à s d o z e t r i b o s q u e s e e n c o n t r a m n a D i s p e r s ã o " ( 1 . 1 ) .

I s t o p a r e c e s i g n i f i c a r q u e e l a f o i e sc r i t a p a r a t o d o s o s j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s d e

t o d a s a s p a r t e s . É a ú n i c a n o N o v o T e s t a m e n t o e s c r i t a n u m e s t i l o g r e g o l u m i n o s o

e r e f i n a d o e u t i l i z a n d o a b u n d a n t e s i m a g e n s . O s c r i s t ã o s s e m p r e a p r e c i a r a m s u a

ê n f a s e s o b r e a o b e d i ê n c i a , e m b o r a L u t e r o a t e n h a d e n o m i n a d o " u m a e p í s t o l a

d e p a l h a " p e l o f a t o d e 2 . 1 4 - 2 6 p a r e c e r c o n t e s t a r o e n s i n o d e P a u l o s o b r e a

j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é . V a m o s c o n s i d e r a r e s t e p r o b l e m a a b a i x o .

Tiago, o homemP e l o m e n o s t r ê s h o m e n s c o m o n o m e " T i a g o " a p a r e c e m n a s p á g i n a s d o N o v o

T e s t a m e n t o . P r i m e i r a m e n t e , h á T i a g o , o f i l h o d e Z e b e d e u e i r m ã o d e J o ã o , u m

d o s D o z e . E l e f o i d e c a p i t a d o p o r o r d e m d e H e r o d e s A g r i p a I ( A t o s 1 2 . 1 , 2 ) , e ,

p o r i s s o , n ã o p o d e t e r s i d o o a u t o r d e s t a c a r t a . E m s e g u n d o l u g a r , h a v i a o u t r o

m e m b r o d o s D o z e c h a m a d o T i a g o . E l e e r a o f i l h o d e A l f e u ( p . e x . , M a r c o s

3 . 1 8 ) , e é p r o v a v e l m e n t e T i a g o , " o M e n o r " o u " o M a i s J o v e m " , q u e é

m e n c i o n a d o , p o r e x e m p l o , e m M a r c o s 1 5 . 4 0 . N o s s o c o n h e c i m e n t o s o b r e e l e é

m u i t o e s c a s s o , s e n d o i m p r o v á v e l q u e u m a p e s s o a t ã o o b s c u r a t i v e s s e e s c r i t o

u m a c a r t a p a r a c i r c u l a ç ã o g e r a l e s e a p r e s e n t a d o s i m p l e s m e n t e c o m o " T i a g o ,

s e r v o d e D e u s e d o S e n h o r J e s u s C r i s t o " ( 1 . 1 ) , s e m u l t e r i o r q u a l i f i c a ç ã o o u

d e s c r i ç ã o .

P o r f i m , e m t e r c e i r o l u g a r , s o m o s d e i x a d o s c o m T i a g o , u m d o s i r m ã o s d o

S e n h o r J e s u s ( M a t e u s 1 3 . 5 5 , 5 6 ; M a r c o s 6 . 3 ) . É p o s s í v e l q u e e l e f o s s e o i r m ã o

m a i s v e l h o , u m a v e z q u e e n c a b e ç a a l i s t a — " T i a g o , J o s é , S i m ã o e J u d a s " . E l e

s e t o r n o u c e r t a m e n t e o m e m b r o s m a i s e m i n e n t e d a f a m í l i a , d e p o i s d o p r ó p r i o

S e n h o r . P e l o m e n o s d e s d e o f i m d o s e g u n d o s é c u l o p a r a f r e n t e , e s t a c a r t a f o i

a t r i b u í d a a e l e e c i t a d a c o m o E s c r i t u r a , s e n d o e l e , p o i s , d e l o n g e o m e l h o r

c a n d i d a t o c o m o a u t o r . Q u a n t o s a b e m o s a s e u r e s p e i t o ?

Q u a n d o s e i n i c i o u o m i n i s t é r i o p ú b l i c o d e J e s u s , T i a g o e s e u s o u t r o s i r m ã o s

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1 2 0 H O M E N S CO M U M A M E N S A G E M

n ã o a c r e d i t a v a m n e l e ( J o ã o 7 . 5 ; c o m p a r e c o m M a r c o s 3 . 2 1 ) , m u i t o

p r o v a v e l m e n t e p o r q u e E l e l h e s p a r e c i a n e g l i g e n c i a r a l g u n s d o s m a n d a m e n t o sd a L e i s a g r a d a q u e e l e s t i n h a m a p r e n d i d o a g u a r d a r e a m a r . E l e s o

a c o m p a n h a v a m e v i d e n t e m e n t e e m d i v e r s a s o c a s i õ e s d u r a n t e s e u m i n i s t é r io ,

t a n t o n a G a l i l é i a ( J o ã o 2 . 1 2 ) c o m o e m J e r u s a l é m ( J o ã o 7 . 1 - 1 0 ) , m a s n ã o t i n h a m

a t é e n t ã o d e c i d i d o s e g u í - l o .

E s i g n i f i c a t i v o , p o r t a n t o , q u e d u r a n t e o s d e z d i a s q u e s e p a r a m a a s c e n s ã o d o

P e n t e c o s t e , o s i r m ã o s d o S e n h o r s ã o e s p e c i f i c a m e n t e m e n c i o n a d o s p o r L u c a s

p r o c u r a n d o se u l u g a r e m c o m p a n h i a d o s c r i s t ã o s f i é i s e s p e r a n ç o s o s r e u n i d o s

e m o r a ç ã o ( A t o s 1 . 1 4 ). A o m e n o s n o c a s o d e T i a g o , P a u l o ( q u e s a b i a q u e m

t i n h a v i s t o o S e n h o r r e s s u r r e t o ) i n f o r m o u q u e " [ J e s u s ] d e p o i s f o i v i s t o p o r T i a g o "

( 1 C o r í n t i o s 1 5 . 7 ) . N e n h u m r e l a t o d e s s e e n c o n t r o s o b r e v i v e u , m a s a i n d i c a ç ã o

s e r v e p a r a e x p l i c a r c o m o T i a g o s e c o n v e r t e u .

T i a g o p a r e c e t e r c o n q u i s t a d o r a p i d a m e n t e a c o n f i a n ç a d o s d e m a i s , p o i s e mc u r t o e s p a ç o d e t e m p o é v i s t o c o m o l í d e r d a i g r e j a d e J e r u s a l é m ( A t o s 1 2 . 1 7 ) .

P a u l o o c h a m a d e " a p ó s t o l o " e d e c l a r a q u e o v i u e m s u a p r i m e i r a v i s i t a a

J e r u s a l é m d e p o i s d e t r ê s a n o s d e s u a c o n v e r s ã o a c a m i n h o d e D a m a s c o , o c a s i ã o

e m q u e e s t e v e q u i n z e d i a s c o m P e d r o ( G á l a t a s 1 . 1 8 , 1 9 ) .

E m G á l a t a s 2 . 1 - 1 0 P a u l o r e l a t a u m a s e g u n d a v is i t a a J e r u s a l é m , q u a n d o

n o v a m e n t e s e e n c o n t r o u c o m T i a g o . N ã o e s t a m o s c e r t o s s e e s t a v i s i t a é a q u e

e s t á r e g i s t r a d a e m A t o s 1 1 . 3 0 o u e m A t o s 1 5 . 2 , p o r q u e e m a m b a s a s o c a s i õ e s

P a u l o v i a j o u c o m B a r n a b é , c o m o e m G á l a t a s 2 .1 . P o r é m a v i s it a d e A t o s 1 5

e n v o l v e u u m e n c o n t r o i m p o r t a n t e e n t r e P a u l o e T i a g o , s e m e l h a n t e a o q u e é

m e n c i o n a d o e m G á l a t a s 2 . A l i P a u l o e x p l i c a q u e e l e e B a r n a b é f o r a m c o n s u l t a r

o s a p ó s t o l o s s o b r e o a s s u n t o d a c i r c u n c i s ã o d o s g e n t i o s c o n v e r t i d o s . P a u l o n ã o

i m p u n h a a c i r c u n c i s ã o a o s s e u s c o n v e r t i d o s , p o r é m h a v i a u m a f o r t e c o r r e n t e d e

j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s q u e a f i r m a v a m : " S e n ã o v o s c i r c u n c i d a r d e s s e g u n d o oc o s t u m e d e M o i s é s , n ã o p o d e i s s e r s a l v o s " ( A t o s 1 5 . 1 ) . N o f i n a l d e s s e e n c o n t r o ,

" T i a g o , P e d r o e Jo ã o . . . m e e s t e n d e r a m , a m i m e a B a r n a b é , a d e s t r a d e c o m u n h ã o ,

a f i m d e q u e n ó s f ô s s e m o s p a r a o s g e n t i o s e e l e s p a r a a c i r c u n c i s ã o [ j u d e u s ] "

( G á l a t a s 2 . 9 ) .

E s t e m e s m o a s s u n t o fo i d i s c u t i d o n o e n c o n t r o m e n c i o n a d o e m A t o s 1 5 . T i a g o

a s s u m i u a d i r e ç ã o , e p o r m e i o d e sá b i a s d e d u ç õ e s d a E s c r i t u r a e e x p e r i ê n c i a ,

c o n d u z i u a d i s c u s s ã o c o n c l u i n d o q u e a c i r c u n c i s ã o n ã o e r a n e c e s s á r i a p a r a o s

g e n t i o s c o n v e r t i d o s ( A t o s 1 5 . 1 9 ) . A c a r t a d e p o i s e n v i a d a p e l a i g r e j a d e A n t i o q u i a

r e q u e r i a , p o i s , c o n f o r m e o r i e n t a ç ã o d e J e r u s a l é m , q u e o s g e n t i o s c o n v e r t i d o s

d e v e r i a m f i r m e m e n t e " a b s t e r - s e " d as c o is a s sa c r i f i c a d a s a í d o l o s , b e m c o m o

d o s a n g u e , d a c a r n e d e a n i m a i s s u f o c a d o s e d a s r e l a ç õ e s s e x u a i s i l í c i t a s " ( A t o s

1 5 . 2 9 ) . A s s i m , e n q u a n t o a c i r c u n c i s ã o d e a c o r d o c o m a L e i n ã o m a i s e r ar e q u e r i d a , a s u b m i s s ã o a a l g u m a s r e g r a s d a L e i f o i m a n t i d a .

A n t e s d e a c u s a r m o s T i a g o d e i n c o n s i s t ê n c i a , f a r í a m o s b e m e m p e r g u n t a r p o r

q u e e s s a s r e g r a s p a r t i c u l a r e s f o r a m e s c o l h i d a s . I n d u b i t a v e l m e n t e , o p r o p ó s i t o

d e s s a i m p o s i ç ã o e r a p o s s i b i l i t a r q u e h o u v e s s e c o n f r a t e r n i z a ç ã o à m e s a e n t r e

g e n t i o s c o n v e r t i d o s e j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s , l e v a n d o e m c o n t a q u e e s t e s e r a m

e s c r u p u l o s o s a c e r c a d a s l e i s d o V e l h o T e s t a m e n t o s o b r e c o m i d a . E s s a m e s a d e

c o n f r a t e r n i z a ç ã o — q u e i nc l u ir i a, n a tu r a l m e n t e , c e l e b r a ç õ e s d a C e i a d o S e n h o r —

s o m e n t e e r a p o s s í v e l s e o s p a r t i c i p a n t e s g e n t i o s c o n c o r d a s s e m e m c o m e r o

a l i m e n t o " k o s h e r " [ p r e p a r a d o d e a c o r d o c o m o s p r e c e i t o s j u d a i c o s ] . I s t o e s t á

i n t e i r a m e n t e d e a c o r d o c o m o p r i n c í p i o d e P a u l o d e l i m i t a r a l i b e r d a d e d e u n s

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T I A G O E S U A M E N S A G E M 1 2 1

e m b e n e f í c i o d a s c o n s c i ê n c i a s " m a i s f r a c a s " ( v e j a 1 C o r í n t i o s 8 . 4 - 1 3 ) , e a s s i m

n ã o s e p o d e a t r i b u i r i n c o n s i s t ê n c i a d a p a r t e d e T i a g o . A o c o n t r á r i o , e l e e s t a v a

a n s i o s o p a r a q u e s e u s c o n c i d a d ã o s j u d e u s c r i t i a n i z a d o s a c e i t a s s e m o s g e n t i o sc o n v e r t i d o s e m s u a c o m u n i d a d e .

C o n t u d o , é f á c i l v e r c o m o T i a g o p o d e t e r s i d o m a l i n t e r p r e t a d o . E m G á l a t a s

2 . 1 1 - 2 1 P a u l o r e l a t a u m i n c i d e n t e n a i g r e j a d e A n t i o q u i a a n t e s d o s e g u n d o

e n c o n t r o e m J e r u s a l é m . Q u a n d o " a l g u n s h o m e n s c h e g a r a m d a p a r t e d e T i a g o " ,

l e v a r a m o p r ó p r i o P e d r o a r e t i r a r- s e d a m e s a d e c o n f r a t e r n i z a ç ã o c o m o s g e n t i o s ,

" t e m e n d o o s d a c i r c u n c i s ã o " ( 2 . 1 2 ) . F o i c o m o s e a p e q u e n a c o n c e s s ã o d a L e i

f e i t a p o r T i a g o e P e d r o a o p r i n c í p i o b á s i c o s o b r e o q u a l P a u l o i n s i s t i a — o d e

a d m i t i r o s g e n t i o s à p l e n a c o m u n h ã o s e m q u e se t o r n a s s e m j u d e u s — t i v e s s e

s o f r i d o o p o s i ç ã o d e a l g u n s .

E s t e m e s m o z e l o p e l a l e i d e M o i s é s é v i s t o n a ú n i c a p a s s a g e m n o l i v r o d e

A t o s q u e f a l a d e T i a g o — A t o s 2 1 . 1 7 - 2 6 . A n o s t i n h a m s e p a s s a d o e P a u l o t i n h a

c o m p l e t a d o d u a s v i a g e n s m i s s i o n á r i a s p o s t e r i o r e s à p r i m e i r a . C e n t e n a s d eg e n t i o s t i n h a m s e c o n v e r t i d o e s i d o r e c e b i d o s n a i g r e j a ; t i n h a m s i d o b a t i z a d o s ,

m a s n ã o c i r c u n c i d a d o s . P a u l o a g o r a v o l t a a J e r u s a l é m . N o d i a s e g u i n t e a o d e

s u a c h e g a d a , e l e e s e u s c o m p a n h e i r o s m i s s i o n á r i o s v ã o a T i a g o e l h e f a l a m d a

o b r a d e D e u s e n t r e o s g e n t i o s . T i a g o s e a l e g r a e g l o r i f ic a a D e u s . M a s a c r e s c e n t a

u m a l e r t a ; e l e l e m b r a a P a u l o q u e h á t a m b é m m i l h a r e s d e c r e n t e s j u d e u s q u e

" s ã o z e l o s o s d a l e i " ( v e r s í c u l o 2 0 ) . E l e s e s t ã o c o n v e n c i d o s d e q u e P a u l o e n s i n a

s e u s j u d e u s c o n v e r t i d o s a a b a n d o n a r e m M o i s é s . P o r i s s o T i a g o s u g e r e q u e P a u l o

v á a o t e m p l o e c u m p r a p u b l i c a m e n t e o s r i t o s d e p u r i f i c a ç ã o r e q u e r i d o s p e l a l e i

d e M o i s é s p a r a p r o v a r s u a l e a l d a d e à s a g r a d a l e i d e D e u s .

P a u l o p r o n t a m e n t e c o n s e n t e , p o r é m u m a d i f e r e n ç a n a ê n f a s e e n t r e e l e e T i a g o

e s t á c l a r a . T i a g o é a p r e s e n t a d o e m A t o s c o m o u m c r e n t r e j u d e u c r i s t i a n i z a d o ,

p e o c u p a d o c o m q u e a a c e i t a ç ã o d a n o v a f é n ã o s i g n i f i q u e o c o m p l e t o a b a n d o n o

d a a n t i g a . O e v a n g e l h o d e J e s u s t i n h a c u m p r i d o , e n ã o a b o l i d o , a l e i d e M o i s é s .

N ã o s u r p r e e n d e , p o r t a n t o , q u e T i a g o r e c e b e s s e o a p e l i d o d e " o J u s t o " . O

h i s t o r i a d o r E u s é b i o , d a i g r e j a d o q u a r t o s é c u l o , e s c r e v e u : " A f i l o s o f i a e a

r e l i g i o s i d a d e , q u e s u a v i d a m o s t r o u a u m g r a u t ã o e l e v a d o , d e u o c a s i ã o a u m a

c r e n ç a u n i v e r s a l n e l e c o m o o m a i s j u s t o d o s h o m e n s . " E c o n t i n u a , c i t a n d o

H e g e s i p o , q u e v i v e u p e r t o d o f i m d o s e g u n d o s é c u l o e q u e a f i r m o u s e r T i a g o

u m n a z i r e u . " E l e t i n h a o h á b i t o d e e n t r a r s o z i n h o n o t e m p l o , e e r a f r e q ü e n t e m e n t e

e n c o n t r a d o d e j o e l h o s , p e d i n d o p e r d ã o p a r a o p o v o , d e ta l f o r m a q u e s e u s j o e l h o s

s e e n d u r e c e r a m c o m o o s d e u m c a m e l o , e m c o n s e q ü ê n c i a d e d o b r á - l o s

c o n s t a n t e m e n t e e m s u a a d o r a ç ã o a D e u s e p e d i r p e r d ã o p a r a o p o v o . P o r c a u s a

d e s u a n o t o r i a m e n t e g r a n d e j u s t i ç a , e r a c h a m a d o " o J u s t o . . . "

D e a c o r d o c o m o h i s t o r i a d o r j u d e u J o s e f o , T i a g o f o i m a r t i r i z a d o e m J e r u s a l é m ,

n o a n o 6 2 d . C . A s c i r c u n s t â n c i a s d e s e u m a r t í r i o s ã o e x c i t a n t e s e l a n ç a m l u zt a n t o s o b r e s e u c a r á t e r c o m o s o b r e su a c a r t a . E m b o r a s e n d o a l t a m e n t e

c o n s i d e r a d o p e l o p o v o d e J e r u s a l é m , T i a g o e r a n o t o r i a m e n t e t e m i d o e o d i a d o

p e l a a r i s t o c r a c i a s a c e r d o t a l q u e g o v e r n a v a a c i d a d e . O s u m o s a c e r d o t e A n a n o s

a p r o v e i t o u u m a o p o r t u n i d a d e p a r a c o l o c a r T i a g o d i a n t e d o s i n é d r i o , s e n d o e l e

c o n d e n a d o e a p e d r e j a d o ( v e j a o q u a d r o a d i a n t e ). J o s e f o t a m b é m n o s d i z q u e

n e s s e p e r í o d o h a v i a m u i t a l u t a s o c i a l e n t r e a a r i s t o c r a c i a a b a s t a d a , à q u a l A n a n o s

p e r t e n c i a , e a s c a m a d a s m a i s p o b r e s d a p o p u l a ç ã o . Q u a n d o l e m o s a s p a l a v r a s

c á u s t i c a s c o m a s q u a i s T i a g o d e n u n c i a v a a e x p l o r a ç ã o d o p o b r e p e l o r i c o ( p . e x . ,

5 . 1 - 6 ) , é f á c i l e n t e n d e r c o m o e l e d e v e te r p r o v o c a d o a i r a d e h o m e n s c o m o

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1 2 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

A n a n o s . A " j u s t i ç a " q u e as p e s s o a s v i r a m e x e m p l i f i c a d a s e m T i a g o d e v e t e r

s i d o c o m o a d e A m ó s , q u e t a m b é m c l a m o u f o r t e m e n t e e m n o m e d e D e u s c o n t r aa e x p l o r a ç ã o e c o n ô m i c a .

A carta de TiagoA s s i m e r a o c a r á t e r d o h o m e m q u e c o n t r i b u i u c o m o q u e é p r o v a v e l m e n t e o

m a i s a n t i g o d o s d o c u m e n t o s d o N o v o T e s t a m e n t o . M u i t o s c o m e n t a d o r e s d ã o à

e p í s t o l a u m a d a t a n ã o p o s t e r i o r a 5 0 d . C . , e a l g u n s c r ê e m q u e e l a f o i e s c r i t a p o r

v o l t a d e 4 5 d . C . N a d e c i s ã o q u a n t o à d a t a d a c a r t a a e v i d ê n c i a d e 2 . 1 4 - 2 6

d e s e m p e n h a u m p a p e l i m p o r t a n t e . S e T i a g o f o i o u n ã o i n t e n c i o n a l , e s t a p a s s a g e m

p o d e f a c i l m e n t e s e r e n t e n d i d a c o m o u m a t a q u e à d o u t r i n a d e P a u l o s o b r e a

j u s t i f i c a ç ã o p e l a f é . I s t o f o i c e r t a m e n t e c o m o L u t e r o a e n t e n d e u . E n t r e t a n t o ,

v i m o s a c i m a q u e T i a g o f i c o u f e l i z e m d a r a P a u l o " a d e s t r a d e c o m u n h ã o "

( G á l a t a s 2 . 9 ) , m e s m o t e n d o s e u p r ó p r i o m i n i s t é r i o u m a ê n f a s e d i f e r e n t e . A s s i m

s e n d o , é m a i s f á c i l s u p o r q u e T i a g o e s c r e v e u 2 . 1 4 - 2 6 a n o s m a i s c e d o , a n t e s q u e

o m i n i s t é r i o d e P a u l o e n t r e o s g e n t i o s t i v e s s e r e a l m e n t e i n i c i a d o , e n ã o n u m a

d a t a p o s t e r io r , q u a n d o s u a s p a l a v r a s p u d e s s e m c e r t a m e n t e s e r t o m a d a s c o m o

c r í t i c a a P a u l o .

N e s t a f a s e a n t e r i o r , m u i t o s j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s e r a m a i n d a m e m b r o s

a d o r a d o r e s d a s si n a g o g a s l o c a i s — c o m o n a t u r a l m e n t e T i a g o o e r a e m J e r u s a l é m .

E b e m p o s s í v e l , p o r t a n t o , q u e a " s i n a g o g a " ( " r e u n i ã o " , N I V , B L H ) à q u a l T i a g o

s e r e f e r e e m 2 . 2 e r a , l i t e r a l m e n t e , a s i n a g o g a e m q u e o s j u d e u s c r i s t i a n i z a d o s

a i n d a a d o r a v a m a o l a d o d o s j u d e u s a t é e n t ã o n ã o c o n v e n c i d o s d o m e s s i a d o d e

J e s u s . E a s s i m , m u i t o e m b o r a T i a g o s e d i r i g i s s e a o s c r i s t ã o s , é t a m b é m p o s s í v e l

q u e e l e e s p e r a s s e q u e s u a c a r t a f o s s e l i d a p o r o u t r o s j u d e u s , e q u e e l e a t i v e s s e

c o m p o s t o c o m e l e s e m m e n t e . E s t a p o s s i b i l i d a d e é a p o i a d a p e l o c o n t e ú d o d ac a r t a , q u e é p r o f u n d a m e n t e j u d a i c a c o m o t a m b é m c o m p l e t a m e n t e c r is t ã .

Características da carta de Tiago1. Sua ênfa se sobre a obediência práticaA p r i n c i p a l c a r a c t e r í s t i c a d a c a r t a , c o m o s e ri a d e e s p e r a r d e u m h o m e m c o m o

T i a g o , é s u a ê n f a s e s o b r e a n e c e s s i d a d e d e j u s t i ç a p r á t i c a n a v i d a c r is t ã . O

e s p í r i t o d a c a r t a é u m a r e m i n i s c ê n c i a d o s p r o f e t a s d o V e l h o T e s t a m e n t o . E i s o l a d o

e n t r e o s a u t o r e s d o N o v o T e s t a m e n t o , T i a g o f a z u s o d e s t a c a d o d o t e m a

" s a b e d o r i a " ( 3 . 1 3 - 1 8 ) , a p r o x i m a n d o - s e d e a l g u n s d o s p r i n c i p a i s t e m a s d o s

e s c r i t o s s o b r e s a b e d o r i a d o V e l h o T e s t a m e n t o ( e s p e c i a l m e n t e P r o v é r b i o s e J ó ) .

T i a g o u s a m a i s d e c i n q ü e n t a i m p e r a t i v o s e m s e u s c u r t o s c i n c o c a p í t u l o s , ea p r e c i a m u i t o d i t o s i n c i s i v o s , t a i s c o m o " A i r a d o h o m e m n ã o p r o d u z a j u s t i ç a

d e D e u s " (1 . 2 0 ) e " A a m i z a d e d o m u n d o é i n i m i g a d e D e u s " (4 . 4 ) . D o c o m e ç o

a o f i m e l e e m p r e g a m e t á f o r a s v í v i d a s e l i n g u a g e m i l u s t r a t i v a , q u e t o r n a m s e u

e n s i n o a l t a m e n t e e x p r e s s i v o , l e m b r a n d o o u s o d e p a r á b o l a s p o r J e s u s .

É a ê n f a s e p r á t i c a d e T i a g o q u e p e n e t r a n o c e n t r o d a d i f i c u l d a d e a p r e s e n t a d a

p o r 2 . 1 4 - 2 6 . A l g u n s e s t u d i o s o s a i n d a e n d o s s a m a p o s i ç ã o d e L u t e r o a o

s u s t e n t a r e m q u e e s t a p a s s a g e m c o n t r a d i z c a t e g o r i c a m e n t e P a u l o :

Paulo: " C o n c l u í m o s , p o i s , q u e o h o m e m é j u s t i f i c a d o p e l a f é , i n d e p e n d e n t e m e n t e

d a s o b r a s d a l e i " ( R o m a n o s 3 . 2 8 ) .

Tiago: " V e r i f i c a i s q u e u m a p e s s o a é j u s t i f i c a d a p o r o b r a s , e n ã o p o r f é s o m e n t e "

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T I A G O E S U A M E N S A G E M 1 2 3

A morte de Tiago, de acordo com

A n a n o s , q u e . . . t i n h a s i d o d e s i g n a d o p a r a o s u m os a c e r d ó c i o , e r a i m p e t u o s o e m s e u t e m p e r a m e n t oe e x t r e m a m e n t e p r e s u n ç o s o . E l e s e g u i u a e s c o l ad o s s a d u c e u s , q u e e r a m , s e m d ú v i d a , m a i sins ens íve i s do que qualquer ou t ro judeu . . .q u a n d o s e s e n t a v a m p a r a j u l g a r . P o s s u i d o r d e t a lc a r á t e r , A n a n o s p e n s o u q u e t i n h a u m ao p o r t u n i d a d e f a v o r á v e l , p o r q u e F e s t o e s t a v amor to e A lb ino a inda es tava a caminho [ i s to é ,h a v i a u m v á c u o d e p o d e r e n t r e d o i sg o v e r n a d o r e s r o m a n o s ] . E a s s i m e l e c o n v o c o u o s

Josefo

j u í zes do s inédr io e t rouxe peran te e l es umh o m e m c h a m a d o T i a g o , o i r m ã o d e J e s u s q u e e r achamado o Cr i s to , e a lguns ou t ros . E le os acus oude t e r em t r ans gred ido a l e i e os en t r egou paras e r e m a p e d r e j a d o s . A q u e l e s e n t r e o s h a b i t a n t e s d ac i d a d e q u e e r a m c o n s i d e r a d o s o s m a i s h o n e s t o s eq u e e s t a v a m e m e s t r i t a o b s e r v â n c i a d a l e is e n t i r a m - s e i n j u r i a d o s d i a n te d i s s o . . .

J o s e f o , Antiguidades 2 0 : 1 9 9 - 2 0 1

( T i a g o 2 . 2 4 ) .E t a n t o P a u l o c o m o T i a g o u s a r a m o e x e m p l o d e A b r a ã o p a r a i l u s t r a r e s t e s

p o n t o s a p a r e n t e m e n t e o p o s t o s ( R o m a n o s 4 . 1 - 5 ; T i a g o 2 . 2 1 - 2 3 ) .

P o r é m e s t a é u m a d i f e r e n ç a e m ê n f a s e , n ã o e m m e n s a g e m . E a r a z ã o n ã o e s t á

l o n g e d e s e r e n c o n t r a d a . C a d a u m d e l e s t i n h a e m m e n t e u m c o n j u n t o d i f e r e n t e

d e f a l s o s m e s t r e s . O s o p o s i t o r e s d e P a u l o e r a m o s le g a l i s t a s j u d e u s , e n q u a n t o

o s d e T i a g o e r a m o s a r i s t o c r a t a s j u d e u s ( c o m o A n a n o s ) . O m e i o d e s a l v a ç ã o

d o s l e g a l i s t a s e r a m a s " o b r a s " — a t o s m o r a i s e c e r e m o n i a i s r e a l i z a d o s e m

o b e d i ê n c i a à l e i . O m e i o d e s a l v a ç ã o d o s a r i s t o c r a t a s e r a a " f é " , i s t o é , m e r a

o r t o d o x i a d e c r e n ç a , a d e s ã o s u p e r f i c i a l a o J u d a í s m o , s e m q u a l q u e r c l a r a

o b e d i ê n c i a p r á t i c a .

A o s le g a l i s t a s P a u l o a r g u m e n t a q u e s o m o s j u s t i f i c a d o s n ã o p o r n o s s a s p r ó p r i a s

b o a s o b r a s , m a s p o r m e i o d a fé e m C r i s t o . A o s a r i s t o c r a t a s T i a g o a r g u m e n t a

q u e s o m o s j u s t i f i c a d o s n ã o p o r u m a o r t o d o x i a e s t é r il ( q u e o s p r ó p r i o s d e m ô n i o s

p o s s u e m — " e e s t r e m e c e m " , 2 . 1 9 ) , m a s p o r obras, e s p e c i a l m e n t e a s s i s t ê n c i a

a o s n e c e s s i t a d o s . P a u l o , e n t r e t a n t o , a p r e s s a - s e e m a c r e s c e n t a r q u e a f é q u e s a l v a

g e r a i n e v i t a v e l m e n t e b o a s o b r a s ( E f é s i o s 2 . 8 - 1 0 ) ; G á l a t a s 5 . 6 ) , e n q u a n t o T i a g o

a f i r m a q u e a s o b r a s q u e s a l v a m b r o t a m n a t u r a l m e n t e d e u m a f é v e r d a d e i r a

( 2 . 1 4 ) , e a a u s ê n c i a d e b o a s o b r a s r e v e l a a a u s ê n c i a d a v e r d a d e i r a f é ( 2 . 1 7 ) .

N a r e a l i d a d e , n ã o s o m o s s a l v o s n e m p e l a f é m o r t a ( T i a g o 2 .1 7 ) , n e m p e l a s

o b r a s m o r t a s ( H e b r e u s 6 . 1 ; 9 . 1 4 ) , m a s p o r u m a f é v i v a q u e r e s u l t a e m " a m o r e

b o a s o b r a s " ( H e b r e u s 1 0 . 2 4 ) . N ã o p o d e m o s s e r s a l v o s p e l a s o b r a s , e t a m p o u c o

p o d e m o s s a l v a r - n o s s e m e l a s . O p a p e l d a s o b r a s n ã o é g a n h a r a s a l v a ç ã o , m a s

e v i d e n c i á - l a , n ã o é c o n s e g u i r a s a l v a ç ã o , m a s p r o v á - l a . A r e a l i d a d e d e n o s s a f é

é r e v e l a d a n a q u a l i d a d e d e n o s s a v i d a : e n i s t o P a u l o e T i a g o c o n c o r d a m

a r d e n t e m e n t e , a p o n t a n d o d i r e t a m e n t e p a r a A b r a ã o , q u e c o n f i o u n a s p r o m e s s a sd e D e u s , e c o n s e q ü e n t e m e n t e o b e d e c e u à o r d e m d e D e u s .

2. Sua confiança no ensino de JesusH á u m a f o r t e e v i d ê n c i a t e x t u a l d e q u e T i a g o t i n h a f a m i l i a r i d a d e t a n t o c o m o

S e r m ã o d o M o n t e c o m o c o m o u t r o s d i s c u r s o s d e J e s u s , e m r a z ã o d o s m u i t o s

p o n t o s e m q u e a s p a l a v r a s e c o a m a s d e J e s u s . C o m o o b s e r v o u u m v e l h o

c o m e n t a d o r , " S e J o ã o r e c l i n o u - s e n o c o l o d o S a l v a d o r , T i a g o s e n t o u - s e a o s

s e u s p é s . " E s t e a s s u n t o é t ã o i n t e r e s s a n t e e i m p o r t a n t e q u e s e r á ú t i l p a r a e l a b o r a r

a c o m p a r a ç ã o e n t r e o e n s i n o d e T i a g o e o e n s i n o d e J e s u s : v e j a o p r ó x i m o

q u a d r o .

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1 2 4 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

T i a g o b a s e o u - s e , a c i m a d e t u d o , n o e n s i n o é t i c o d e J e s u s . P o r e s t a r e s c r e v e n d o

a n t e s q u e q u a l q u e r d o s n o s s o s E v a n g e l h o s t i v e s s e s i d o p u b l i c a d o , s u a c a r t a d áa m p l o t e s t e m u n h o d o m o d o p e l o q u a l o e n s i n o d e J e s u s t i n h a s e t o r n a d o p a r t e

d a m e d u l a d a i g r e j a i n i ci a l . E m n e n h u m m o m e n t o T i a g o c i t o u f o r m a l m e n t e

J e s u s : e l e f i c o u t ã o i m p r e g n a d o d o e n s i n o d o S e n h o r q u e p a s s o u a r e f l e t i - l o

a u t o m a t i c a m e n t e e m s u a s e x p r e s s õ e s e e m s u a v i d a .

3. Seu senso de harmonia entre a Lei e o evangelhoE s t e a s p e c t o s e g u e - s e a o ú l t i m o . A o l a d o d e s t a i m p l í c i t a d e p e n d ê n c i a d o e n s i n o

d e J e s u s h á u m a e x p l í c i t a d e p e n d ê n c i a d a " l e i r é g i a s e g u n d o a E s c r i t u r a " ( 2 . 8 ) .

T i a g o p a r e c e p e n s a r e s p e c i a l m e n t e n a le i m o r a l , e n ã o n a l e i c e r i m o n i a l . P o r é m

e s s a l e i m o r a l d e v e s e r o b s e r v a d a e m t o d o s o s p o n t o s : e l a é a l e i " q u e n o s d á a

l i b e r d a d e " , e p o r e l a s e r e m o s j u l g a d o s ( 2 . 1 2 , B L H ) .

P a r a T i a g o o e v a n g e l h o e a l e i f u n d e m - s e . C o m o c r i s t ã o s f o m o s t r a z i d o s a o

n o v o n a s c i m e n t o p e l a " p a l a v r a d a v e r d a d e " ( 1 . 1 8 ) , e e s t a " p a l a v r a " d e v e i n i c i a r

u m n o v o p r i n c í p i o d e v i d a e m n o s s o i n t e r i o r , i m p l a n t a d a e m n o s s o s c o r a ç õ e s

( 1 . 2 1 ) . S o m e n t e a s s i m e s t a r e m o s a p t o s a e s c a p a r d o e r r o d e o u v i r a p a l a v r a e

n ã o p r a t i c á - l a . S e a p a l a v r a e s t á i m p l a n t a d a e m n ó s , s e r e m o s c o m o " a q u e l e q u e

c o n s i d e r a a t e n t a m e n t e n a l e i p e r f e i t a , l e i d a l i b e r d a d e , e n e l a p e r s e v e r a , n ã o

s e n d o o u v i n t e n e g l i g e n t e , m a s o p e r o s o p r a t i c a n t e . . . " ( 1 . 2 5 ) . A s s o c i a d a a o

e v a n g e l h o , a l e i d e M o i s é s t o r n a - s e r e a l m e n t e a " l e i p e r f e i t a , l e i d a l i b e r d a d e " .

A c i m a d e t u d o , o s c r i s t ã o s d e v e m c u m p r i r " a l e i r é g i a " ( 2 .8 ) , a le i q u e g o v e r n a

o s c i d a d ã o s d o R e i n o d e D e u s ( 2 . 5 ) : " A m a r á s o t e u p r ó x i m o c o m o a t i m e s m o "

( 2 .8 ) . P r o m u l g a d a p r i m e i r a m e n t e p o r m e i o d e M o i s é s ( L e v í t i c o 1 9 . 1 8 ), d e p o i s

s a n c i o n a d a p o r J e s u s ( M a r c o s 1 2 . 3 1 ) , e s t a l e i a i n d a v i g o r a . S e m o s t r a r m o s

f a v o r i t i s m o e x p l o r a n d o o p o b r e ( 2 . 9 ), m o s t r a m o s q u e s o m o s c o m o a p e s s o a

d i a n t e d o e s p e l h o : v e m o s q u e p r e c i s a m o s l a v a r - n o s , m a s a f a s t a m o - n o s d a l i en a d a f a z e m o s . S a b e r o q u e é d i r e i t o e n ã o p r a t i c á - l o é p e c a d o ( 4 . 1 7 ) !

4. Seu senso do perigo da riquezaI s t o é t a m b é m a l g o q u e T i a g o c o m p a r t i l h o u c o m s e u S e n h o r , c o m o p o d e s e r

c o n s t a t a d o e m q u a t r o v i g o r o s a s p a s s a g e n s . T i a g o e n s i n a a i n s t a b i l i d a d e d a

r i q u e z a ( 1 . 9 - 1 1 ) e a a v e r s ã o d e D e u s p e l a d i s c r i m i n a ç ã o c o n t r a o p o b r e ( 2 . 1 -

1 1 ) . E l e e m s e g u i d a a t a c a o s h o m e n s d e n e g ó c i o s q u e c o l o c a m a v o n t a d e d e

D e u s f o r a d e s e u s p l a n o s ( 4 . 1 3 - 1 7 ) , b e m c o m o o s p r o p r i e t á r i o s d e t e r r a s q u e

e x p l o r a m i m p i e d o s a m e n t e s e u s t r a b a l h a d o r e s ( 5 . 1 -6 ) . T ã o c o r t a n t e é s u a

l i n g u a g e m q u e u m r e c e n t e e s c r i t o r , P e d r i t o M a y n a r d - R e i d , c h e g a a o e x t r e m o

d e s u s t e n t a r q u e p a r a T i a g o e r a i m p o s s í v e l q u e o s r i c o s s e s a l v a s s e m .

I s t o é s e g u r a m e n t e i r d e m a s i a d o l o n g e , e n t r e t a n t o , p o r q u e e m 1 . 1 0 T i a g o s e

r e f e r e a o " i r m ã o q u e é r i c o " . S u a m e n s a g e m a e s s e i r m ã o é q u e e l e n ã o d e v e

g l o r i a r - s e e m r a z ã o d e s u a a l t a p o s i ç ã o , e s i m d e s e u s ta t u s i n s i g n i f i c a n t e ! P o r q u e ,

c o m o J ó , e l e " p a s s a r á c o m o a f l o r d a e r v a " d i a n t e d o s o l . E n q u a n t o i s to , e l e t e m

a r e s p o n s a b i l i d a d e d e u t i l i z a r s u a r i q u e z a e m f a v o r d o p o b r e ( 2 . 1 4 - 1 6 ) .

G e r a l m e n t e , p o r é m , T i a g o p a r e c e t e r e m m e n t e p e s s o a s t a i s c o m o o s u m o

s a c e r d o t e A n a n o s , q u e , p o r f i m , m a q u i n o u s u a m o r t e : s a d u c e u s a r i s t o c r a t a s r i c o s

q u e p o s s u í a m v a s t a s p r o p r i e d a d e s e p o u c a a t e n ç ã o d i s p e n s a v a m a o b e m - e s t a r

d o s q u e n ã o t i n h a m t e r r a e t r a b a l h a v a m p a r a e l e s. C o m o Z a q u e u , t a i s h o m e n s

p r e c i s a m a b a n d o n a r s u a r i q u e z a , s e q u i s e r e m s e r s a l v o s .

5. Os três pilares da vida cristã

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T I A G O E S U A M E N S A G E M 1 2 5

Jesus e Tiago: sob re a vida cristã

P o d e m o s r e l a c i o n a r p e l o m e n o s o s s e g u i n t e sv in te pontos em que o ens ino de T iago r e f l e t e ode J es us :1 . O cr i s t ão que é l evado a s of r er p rovações é" a b e n ç o a d o " : T i a g o 1 . 2 ; M a t e u s 5 . 1 0 - 1 2 .2 . O p r o p ó s i t o d e D e u s é q u e p o s s a m o s n o stornar per f e i tos : T iago 1 . 4 ; Mateus 5 . 48 .3 . E le dá generos amente a todos os que lhepedem: T iago 1 . 5 e 4 . 2 ; Mateus 7 . 7 , 8 , mas . . .4 . s omente o Pa i dá boas dád ivas : T iago 1 . 17 ;Mateus 7 . 9 -11 , e nes te cas o . . .5 . s om ente àqu eles que t êm fé : T iag o 1 . 6 ; Ma rco s11 . 22-24 .6 . O s d i s c í p u l o s d e J e s u s d e v e m n ã o s o m e n t e

ouvi r a pa lavra , mas p ra t i cá- l a : T iago 1 . 22-25 ;M a t e u s 7 . 2 1 - 2 7 .7 . E l e s d e v e m t o m a r c u i d a d o c o m a s r i q u e z a s ,porque s ão os pobres os herde i ros do Reino :T iago 2 . 5 ; Mateus 5 . 3 e Lucas 6 . 20 .8 . E l e s d e v e m a m a r s e u p r ó x i m o c o m o a s im e s m o s : T i a g o 2 . 8 ; M a r c o s 1 2 . 3 1 .9 . E l e s d e v e m g u a r d a r a t é m e s m o o s m e n o r e sm a n d a m e n t o s , c u i d a n d o d e n ã o v i o l á - l o s n om í n i m o p o n t o : T i a g o 2 . 1 0 ; M a t e u s 5 . 1 9 ; e . ..1 0 . m o s t r a r m i s e r i c ó r d i a p a r a r e c e b e r e mmis er i córd ia : T iago 2 . 13 ; Mateus 5 . 7 e 18 . 33-35 .11 . E les devem lembrar - s e de que é a á rvore qued e t e r m i n a o f ru t o : T i a g o 3 . 1 2 ; M a t e u s 7 . 1 5 - 2 0 ,1 2 . e o s p a c i f i c a d o r e s q u e s ã o a b e n ç o a d o s : T i a g o

3 . 18 ; Mateus 5 . 9 .1 3 . N i n g u é m p o d e s e r v i r a d o i s s e n h o r e s . C a d au m d e v e e s c o l h e r e n t r e D e u s e o d i n h e i r o : T i a g o4 . 4 e 4 . 1 3 - 1 5 ; M a t e u s 6 . 2 4 .14 . A q uele qu e s e hum i lha s er á exa l t ado : T iago4 . 6 , 1 0 ; L u c a s 1 8 . 1 4 ; c o m p a r e c o m T i a g o 1 . 9 , 1 0 eLucas 1 . 52 .15 . O s cr i s t ãos não devem fa la r mal uns dosout ros ou ju lgar uns aos ou t ros : T iago 4 . 12 ;M a t e u s 7 . 1 .1 6 . E l e s n ã o d e v e m c e d e r a o s p l a n o s a m b i c i o s o s em u n d a n o s p a r a o b t e r g a n h o : T i a g o 4 . 1 3 - 1 7 ; L u c a s12 . 16-21 , porque . . .17 . a r iqueza não dura . A s r iquezas s e cor roem, as

v e s t i m e n t a s s ã o c o n s u m i d a s p e l a t ra ç a , e o o u r of i c a e m b a ç a d o c o m a f e r r u g e m : T i a g o 5 . 1 - 3 ;M a t e u s 6 . 1 9 - 2 1 .

18 . Por tudo i s s o , a i dos r i cos ! T iago 5 . 1 ; Lucas6 . 24 e 16 . 19-31 .1 9 . Q u e a q u e l e q u e c r ê e s p e r e p a c i e n t e m e n t e ees te ja p ron to para a v inda do Senhor , po i s E le es t áper to , às por tas : T iago 5 . 7 -9 ; Lucas 12 . 35-40 eM a r c o s 1 3 . 2 9 .2 0 . F i n a l m e n t e , o s c r is t ã o s n ã o d e v e mabs o lu tamente ju r ar , pe lo céu ou pe la t e r r a , ou porm e i o d e q u a l q u e r o u t r o j u r a m e n t o . S u a p a l a v r adeve s er conf iáve l . Seu s im deve s er s im, e s eun ã o , n ã o : T i a g o 5 . 1 2 ; M a t e u s 5 . 3 3 - 3 7 .

O s e s t u d i o s o s a d m i t e m q u e o s d o i s ú l t i m o s v e r s í c u l o s d o p r i m e i r o c a p í t u l o ,

1 . 2 6 ,2 7 , c o n t ê m u m r e s u m o d a m e n s a g e m d e T i a g o . N e s s e s v e r s í c u l o s e l e

e s t a b e l e c e u m c o n t r a s t e e n t r e a r e l i g i ã o v e r d a d e i r a e a f a l s a , e i n d i c a u m a m e d i d a

p e l a q u a l a m b a s s ã o a v a l i a d a s . P o d e m o s i m a g i n a r q u e s o m o s r e l i g i o s o s , p o r é m ,

a m e n o s q u e n o s s a r e l i g i ã o s e j a m a r c a d a p o r c e r t a s c a r a c t e r í s t i c a s n í t i d a s ,

e s t a m o s e n g a n a n d o a n ó s m e s m o s e n o s s a r e l i g i ã o é " v ã " .

T i a g o d e l i n e i a , e n t ã o , a s t r ê s c a r a c t e r í s t i c a s d a v e r d a d e i r a r e l i g i ã o , q u e e l e

c h a m a d e " p u r a e s e m m á c u l a " . S ã o e l a s : " r e f r e a r a s u a l í n g u a " , " v i s i t a r o s

ó r f ã o s e a s v i ú v a s n a s s u a s t r i b u l a ç õ e s " , e " g u a r d a r - s e i n c o n t a m i n a d o d o

m u n d o " . E s t a é u m a a n á l i s e p e n e t r a n t e d o d e v e r m o r a l d a r a ç a h u m a n a . E l a

a b r a n g e n o s s o d e v e r t r í p l i c e — p a r a c o n o s c o , p a r a c o m o n o s s o p r ó x i m o e p a r ac o m D e u s . O c o n t r o l e d a l í n g u a é u m í n d i c e d o d o m í n i o p r ó p r i o . A v i s i t a ç ã o

a o s ó r f ã o s e à s v i ú v a s é u m e x e m p l o d e a m o r f r a t e r n a l . M a n t e r - s e i n c o n t a m i n a d o

d a s c o i s a s d o m u n d o é o e q u i v a l e n t e n e g a t i v o d e t ri b u t a r a D e u s o lo u v o r d e v i d o

a o s e u n o m e .

N o r e s t a n t e d e s u a c a r t a T i a g o r e t o m a e d e s e n v o l v e e s t e s t r ê s t e m a s

a l t e r n a t i v a m e n t e e r e l a c i o n a - o s e n t r e s i : a l í n g u a n o c a p í t u l o 3 , a a s s i s t ê n c i a

a o s n e c e s s i t a d o s n o c a p í t u l o 2 , e a r e s i s t ê n c i a a o m u n d o n o s c a p í t u l o s 4 e 5 .

V a m o s e x a m i n a r b r e v e m e n t e s e u e n s i n o s o b r e e s s e s t e m a s à m e d i d a q u e

p r o c u r a m o s r e s u m i r s u a m e n s a g e m .

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1 2 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

A mensagem de Tiago1. Domínio próprioT e n d o e s t i m u l a d o s e u l e i t o r e m s e u p r i m e i r o c a p í t u l o a s e r " p r o n t o p a r a o u v i r " ,

m a s " t a r d i o p a r a f a l a r " ( 1 . 1 9 ) , T i a g o a m p l i a a p e r i g o s a i n f l u ê n c i a d a l í n g u a n a

c e l e b r a d a p a s s a g e m d o c a p í t u lo 3 ( 1 - 1 2 ) . E l e a c r e s c e n t a i m a g e m s o b r e i m a g e m

e m v í v i d o s t r a ç o s d e s c r i t i v o s , s u b l i n h a n d o a p e r n i c i o s a i n f l u ê n c i a d a l í n g u a ,

a c i m a d e t o d a e q u a l q u e r p r o p o r ç ã o a o s e u t a m a n h o .

A s s i m , T i a g o c o n s i d e r a a expressão verbal t ã o v i t a l m e n t e i m p o r t a n t e q u a n t o

a v i d a c r i s t ã — u m g a b a r i t o p a r a m e d i r a r e a l i d a d e d o n o s s o d i s c i p u l a d o . P o r é m ,

e m s i , a l í n g u a n ã o é a f o n t e d e t e n t a ç ã o . A t e n t a ç ã o e m a n a d e n o s s o s d e s e j o s

í n t i m o s , q u e p o d e m d a r n a s c i m e n t o a o p e c a d o e , d e p o i s , g e r a r a m o r t e ( 1 . 1 5 ) .

T i a g o n o s d i z q u e q u a l q u e r d e s e j o q u e n ã o t e n h a r a i z n o a m o r d e D e u s p o d e

p o t e n c i a l m e n t e l e v a r - n o s a u m d e s v i o , d e v e n d o n ó s r e s i s t i r a e le .T i a g o e s t á p r i m o r d i a l m e n t e p r e o c u p a d o a c e r c a d o c o n t r o l e d a i r a ( v e j a 1 . 1 9 , 2 0 ;

3 . 9 ; 3 . 1 4 ; 4 . 1 - 3 ) , e a c e r c a d e s e u o p o s t o , a s a b e r , a e x p r e s s ã o v e r b a l q u e p r o m o v e

a p a z ( 3 . 1 7 , 1 8 ) . T a l e x p r e s s ã o r e s u l t a d a sabedoria d i v i n a m e n t e o u t o r g a d a .

2. A verdadeira le iO s e g u n d o e l e m e n t o n a r e l i g i ã o " p u r a e s e m m á c u l a " é o a m o r . A e x p o s i ç ã o

d e s t e t e m a p o r T i a g o t e m d u a s c a r a c t e r í s t i c a s :

P r i m e i r a m e n t e , o amor leva à ação. A b e n e v o l ê n c i a p i e d o s a n ã o s u b s t i t u i a

b e n i g n i d a d e p r át i c a . N ã o h á n e n h u m b e n e f í c i o e m s i m p a t i z a r c o m ó r f ã o s e

v i ú v a s ; d e v e m o s c u i d a r d e l e s ( 1 . 2 7 ) . É i n ú t i l d i z e r a u m p e d i n t e : " T r a t e d e s e

a q u e c e r e s e a l i m e n t a r " : d e v e m o s d a r - l h e a l i m e n t o e r o u p a ( 2 . 1 5 , 1 6 ) . O a m o r

c r i s t ã o n ã o é s e n t i m e n t o , m a s s e r v i ç o ; n ã o é a f e i ç ã o , m a s a ç ã o .

E m s e g u n d o l u g a r , o amor é imparcial. O a m o r n ã o a d m i t e d i s t i n ç õ e s e

a b o m i n a o " f a v o r i t i s m o " . T i a g o r e tr a t a p a r a s e u s le i t o r e s u m a c e n a q u e s e p a s s a v a

e m s u a é p o c a n a s s i n a g o g a s d e t o d o s o s l u g a r e s : o h o m e m r i c o c h e g a e o c u p a

Domando a Língua: Tiago 3.1-12

M e u s i r m ã o s , n ã o v o s t o m e i s , m u i t o s d e v ó s ,m e s t r e s , s a b e n d o q u e h a v e m o s d e r e c e b e r m a i o rj u í z o . P o r q u e t o d o s t r o p e ç a m o s e m m u i t a s c o i s a s .S e a l g u é m n ã o t r o p e ç a n o f a l a r é p e r f e i t o v a r ã o ,c a p a z d e r e f r e a r t a m b é m t o d o o s e u c o r p o .

O r a , s e p o m o s f r e i o s n a b o c a d o s c a v a l o s , p a r an o s o b e d e c e r e m , t a m b é m l h e s d i r i g i m o s o c o r p oin te i ro . O bs erva i , i gua lmente , os nav ios que ,s endo t ão g randes e ba t idos de r i jos ven tos , poru m p e q u e n í s s i m o l e m e s ã o d i r i g i d o s p a r a o n d eq u e i r a o i m p u l s o d o t i m o n e i r o . A s s i m t a m b é m al í n g u a , p e q u e n o ó r g ã o , s e g a b a d e g r a n d e s c o i s a s .V e d e c o m o u m a f a g u l h a p õ e e m b r a s a s t ã og r a n d e s e l v a ! O r a , a l í n g u a é f o g o ; é m u n d o d ein iqü idade; a l íngua es tá s i tuada en t r e osm e m b r o s d e n o s s o c o r p o , e c o n t a m i n a o c o r p o

in te i ro e não s ó põe em chamas toda a car r e i r a dae x i s t ê n c i a h u m a n a , c o m o é p o s t a e l a m e s m a e mc h a m a s p e l o i n f e r n o .

Poi s toda es péc ie de f e r as , de aves , de r ép te i s ed e s e r e s m a r i n h o s s e d o m a e t e m s id o d o m a d a

p e l o g ê n e r o h u m a n o ; a l í n g u a , p o r é m , n e n h u md o s h o m e n s é c a p a z d e d o m a r ; é m a l i n c o n t i d o ,c a r r e g a d o d e v e n e n o m o r t í f e r o .

C o m e l a b e n d i z e m o s a o S e n h o r e P a i ; t a m b é mc o m e l a a m a l d i ç o a m o s o s h o m e n s , f e i t o s às e m e l h a n ç a d e D e u s : d e u m a s ó b o c a p r o c e d eb ê n ç ã o e m a l d i ç ã o . M e u s i r m ã o s , n ã o éc o n v e n i e n t e q u e e s t a s c o i s a s s e j a m a s s i m . A c a s o ,m e u s i r m ã o s , p o d e a f i g u e i r a p r o d u z i r a z e i t o n a s ,o u a v id e i r a , f i g o s ? T a m p o u c o f o n t e d e á g u as a l g a d a p o d e d a r á g u a d o c e .

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T I A G O E S U A M E N S A G E M 1 2 7

u m a s s e n t o p r i v i l e g i a d o , c o m o s e t i v e s s e d i r e i t o a e l e , e n q u a n t o o s a d o r a d o r e s

p o b r e m e n t e v e s t i d o s d e v e m s e n t a r - s e n o c h ã o . T a i s d i s t i n ç õ e s d e c l a s s e s ã o

t o t a l m e n t e i n c o n s i s t e n t e s c o m a v e r d a d e i r a l e i . J . B . P h i l l i p s p a r a f r a s e i a 2 . 1n e s t a s p a l a v r a s : " M e u s i r m ã o s , j a m a i s t e n t e m c o m b i n a r o e s n o b i s m o c o m a f é

e m n o s s o S e n h o r J e s u s C r i s t o ! "

3. Fidel idade para com DeusO t e r c e i r o e l e m e n t o n a r e l i g i ã o " p u r a e s e m m á c u l a " é " g u a r d a r - s e

i n c o n t a m i n a d o d o m u n d o " (1 . 2 7 ) . U s a n d o a e x p r e s s ã o p o s i t i v a m e n t e , i s t o

s i g n i f i c a s e r f i e l a D e u s n o m e i o d e t o d a s a s t e n t a ç õ e s e p r e s s õ e s d o m u n d o .

P o r " m u n d o " e le q u e r s i g n i f i c a r a s o c i e d a d e m a t e r i a l i s ta e p a g ã c o m u m a s i m p l e s

m e n s a g e m : s e v o c ê n ã o t e m , c o n s i g a !

M a s e s t e n ã o é o c a m i n h o c r i s t ã o , a d v e r t e T i a g o . O c a m i n h o c r i s t ã o é o d e J ó ,

q u e f o i p a c i e n t e n o s o f r i m e n t o ( 5 . 1 0 , 1 1 ) , e o c a m i n h o d e E l i a s , q u e c o l o c o u

t o d a a s u a e n e r g i a n a o r a ç ã o ( 5 . 1 6 - 1 8 ) . D e u s é " c i u m e n t o " e m r e l a ç ã o a n ó s ,

a n e l a n d o p o r u m a m o r n ã o d i v i d i d o ( 4 . 5 ), s u s p i r a n d o p o r a f a s t a r - n o s d o a d u l t é r i oe s p i r i t u a l q u e o s p r o f e t a s e n c o n t r a r a m e c o m b a t e r a m n o a n t i g o I s r a e l ( 4 . 4 ) . E é

n i s t o q u e o d i n h e i r o p o d e s e r u m a c i l a d a p a r a t o d o s n ó s . S e n d o p o b r e s o u r i c o s ,

p o d e m o s c o n c e n t r a r n o s s o s d e s e j o s e m c o i s a s m a t e r i a i s , d e m o d o q u e n o s

t o r n a m o s d e " â n i m o d o b r e " [ i n c o n s t a n t e s ] ( 1 . 8 ; 4 . 8 ) , i n f i é i s a o S e n h o r .

Q u e o s c r i s t ã o s s e j a m " r i c o s e m f é " e se a l e g r e m p o r s e r e m " h e r d e i r o s d o

r e i n o " ( 2 . 5 ) . Q u e e l e s e n c o n t r e m e m D e u s s u a r i q u e z a . Q u e se h u m i l h e m " n a

p r e s e n ç a d o S e n h o r " ( 4 . 1 0 ) , s e j a m s u j e i t o s a D e u s ( 4 . 7 ) , s e j a m c h e i o s d e o r a ç õ e s

e l o u v o r e s ( 5 . 1 3 - 1 8 ) , e s e j a m " p a c i e n t e s a t é à v i n d a d o S e n h o r " ( 5 . 7 ) .

A v i d a c r i s t ã , d e a c o r d o c o m T i a g o , " o J u s t o " , é , p o i s , e s s e n c i a l m e n t e u m a

v i d a d e s a n t i d a d e p r á t i c a . E l a i n i c i a d e f a t o c o m a f é e m n o s s o S e n h o r J e s u s

C r i s t o ( 2 . 1 ) , m a s o c r i s t ã o a c r e s c e n t a : " . . . e e u , c o m a s o b r a s , t e m o s t r a r e i a

m i n h a f é " 2 . 1 8 ) .

Leitura adicional

Menos exigente:J ames T . D raper , Faith T hat Works: Studies in James ( W h e a t o n : T y n d a l e H o u s e , 1 9 8 8 )

J . A . Motyer , The Message of James: The tests offaith (Leices te r : IV P, 1985)

Mais exigente, obras eruditas:J a m e s B . A d a m s o n , James. The Man and His Message ( G r a n d R a p i d s : E e r d m a n s , 1 9 8 9 )

P. J . Har t in, James and que Q Sayings of Jesus ( S h e f f i e l d : J S O T P r e s s , 1 9 9 1 )

P e d r i t o U . M a y n a r d - R e i d , Poverty and Wea lth in James ( M a r y k n o l l : O r b i s , 1 9 8 7 )

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Pedro e suaMensagemAlegrai-vos na medida em que sois co-participantes

dos sofrimentos de Cristo, para que também na

revelação de sua glória vos alegreis exultando.

Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados,

bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa

o Espírito da glória e de Deus.(1 Pedro 4.13,14)

Pa u l o a f i r m a que a s t r ê s g r a ç a s c r i s t ã s s upe r i o r e s s ã o a f é , a e s pe r a nç a e o a m or

( 1 C or í n t i o s 13 . 13 ) . Se e l e p r óp r i o é o a pós t o l o da f é , e J oã o é o a pós t o l o do

a m o r , e n t ã o P e d r o é o a p ó s t o l o d a e s p e r a n ç a . N ã o h á d ú v i d a d e q u e e s t a é u m a

s i m p l i f i c a ç ã o f o r ç a d a .

A p r i m e i r a c a r t a d e P e d r o t e m u m a m e n s a g e m m a i s a m p l a d o q u e e s t a . C o m o

a f i r m a E . G . S e l w y n , u m f a m o s o c o m e n t a d o r b r i t â n i c o , 1 P e d r o é " u m

m i c r o c o s m o d a f é e d o d e v e r c r i s tã o s , o m o d e l o d e u m o f í c i o p a s to r a l , c o m p o s t od e d i v e r s o s m a t e r i a i s e n u m e r o s o s t e m a s " . T o d a v i a , a p r i n c i p a l ê n f a s e d a c a r t a

i n c i d e s o b r e n o s s a e s p e r a n ç a c r i s t ã , u m a e s p e r a n ç a g l o r i o s a e c e r t a q u e n o s

h a b i l i t a a s u p o r t a r o s o f r i m e n t o c o m p a c i ê n c i a , e m e s m o c o m a l e g r i a . C o m o

n o s s o M e s t r e a n t e s d e n ó s , d e v e m o s s o f r e r a n t e s d e e n t r a r n a g l ó r i a .

Pedro, o autorA p r i m e i r a c a r t a d e P e d r o t e m s i d o a c e i t a c o m o a u t ê n t i c a d e s d e o s p r i m e i r o s

d i a s . E l a é c i t a d a p o r C l e m e n t e d e R o m a e m s u a c a r t a a o s C o r í n t i o s ,

c o s t u m e i r a m e n t e d a t a d a d e 9 6 d . C . , e m b o r a C l e m e n t e n ã o m e n c i o n e

e s p e c i f i c a m e n t e P e d r o c o m o o a u t o r . E n t r e t a n t o , d e s d e o s t e m p o s d e I r i n e u

p a r a f r e n t e a c a r t a t e m s i d o r e g u l a r m e n t e c i t a d a c o m o s e n d o d e P e d r o , e , a l é m

d i s s o , e l a f i g u r a n a l i s t a c o m p i l a d a p o r E u s é b i o a o l a d o d a s o b r a s d o N o v o

T e s t a m e n t o q u e e s t ã o a c i m a d e d i s c u s s ã o .

A a u t o r i a d a c a r t a t e m , c o n t u d o , s i d o d i s c u t i d a e m a n o s r e c e n t e s , e m g r a n d e

p a r t e d e v i d o a o s e u e x c e l e n t e e s t i l o g r e g o , q u e , o b j e t a - s e , d i f i c i l m e n t e p o d e r i a

s u p o r - s e t e r v i n d o d e u m i n c u l t o p e s c a d o r g a l i l e u . E n t r e t a n t o , a s r e f i n a d a s

q u a l i d a d e s l i t e r á r i a s d a c a r t a p o d e m s e r m e l h o r e x p l a n a d a s s u p o n d o - s e q u e

S i l a s , q u e é m e n c i o n a d o e m 5 . 1 2 , e r a p a r a e l e m a i s d o q u e u m m e r o s e c r e t á r i o .

A l i P e d r o a f i r m a q u e e s c r e v e u " p o r m e i o d e S i l a s [ S i l v a n o ] " , o u a t r a v é s d e l e , e

p o d e m u i t o b e m s e r q u e S i l a s t i v e s s e u m a p a r t i c i p a ç ã o n a c o m p o s i ç ã o d a c a r t a —

t a l v e z d a n d o - l h e f o r m a a p a r t i r d e n o t a s d i t a d a s .

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TIAGO E S U A M E N S A G E M 1 2 9

Silas

Si las (ou S i lvan o) e r a ev id en te me nte um a f iguraproeminente nos anos in ic ia i s da ig r e ja . E lea c o m p a n h o u P a u l o n u m a p a r t e d e s u a s e g u n d aviagem mis s ionár ia (A tos 15 . 40 ; 16 . 19 , 25 ;17 . 4 , 10 , 14 ; 18 . 5) , e e r a um profe ta (A tos 15 . 32) .E l e e s t a v a t a m b é m a s s o c i a d o a P a u l o e T i m ó t e ona r edação das car t as aos Tes s a lon icens es (1Tes s a lo n icens es 1 . 1 ; 2 Tes s a lo n icen s es 1 . 1 ) .P e d r o t i n h a p o r e le , n i ti d a m e n t e , u m a e l e v a d ac o n s i d e r a ç ã o , c h a m a n d o - o " f i e l i r m ã o " ( 1 P e d r o5 . 1 2 ) .

É i m p r o v á v e l q u e P e d r o t i v e s s e u s a d o u m ap e s s o a t ã o p r o e m i n e n t e e d o t a d a s i m p l e s m e n t ec o m o u m s e c r e t á r i o o u c o p i s t a . C o n t u d o , P e d r onão inc lu i o nome de S i l as em s ua s audação (1Pedro 1 . 1 ) . Por tan to , mes mo que S i l as t ives s ep a r t i c i p a d o d a c o m p o s i ç ã o d a c a r t a , P e d r o ac o n s i d e r o u c o m o s u a , a s s u m i n d o s u a p r ó p r i aau tor idade (ve ja , p . ex . , 5 . 1 ) .

A a u t o r i a d e P e d r o é m a i s a d i a n t e s u s t e n t a d a p o r u m a s é r i e d e c a r a c t e r í s t i c a sn a c a r t a q u e s u g e r e m s u a s r e m i n i s c ê n c i a s p e s s o a i s . E l e h a v i a t id o u m a e x p r e s s i v a

e x p e r i ê n c i a d a " v i v a e s p e r a n ç a " , q u e v e i o g l o r i o s a m e n t e " m e d i a n t e a

r e s s u r r e i ç ã o d e J e s u s C r i s t o d e n t r e o s m o r t o s " ( 1 P e d r o 1 . 3 ) ; e l e h a v i a s i d o

t a m b é m " t e s t e m u n h a d o s s o f r i m e n t o s d e C r i s t o " (5 . 1 ), l e m b r a n d o - s e d a s

b o f e t a d a s r e c e b i d a s p o r E l e ( 2 . 2 0 , 2 1 ) e s e u s i l ê n c i o d i a n t e d e s e u s a g r e s s o r e s

( 2 . 2 2 , 2 3 ) ; e e l e n ã o p o d i a j a m a i s e s q u e c e r - s e d a t r íp l i c e o r d e m d o B o m P a s t o r

p a r a q u e a p a s c e n t a s s e a s s u a s o v e l h a s ( J o ã o 2 1 . 1 5 - 1 7 ; c o m p a r e c o m 1 P e d r o

5 . 2 ) .

D e s d e o s p r i m e i r o s t e m p o s d ú v i d a s m a i s s é r ia s c e r c a r a m a a u t o r i a d a s e g u n d a

c a r t a . E l a e v i d e n t e m e n t e i n d i c a t e r p r o v i n d o d a s m ã o s d e P e d r o ( 1 . 1 ) , e p a r e c e

r e f e r i r - s e à p r i m e i r a c a r t a ( 3 . 1 ) , m a s o e s t i l o é c o n f u s o e c o m p l i c a d o , e o s

e s t u d i o s o s s e i n t e r r o g a m s e d u r a n t e a v i d a d e P e d r o a s c a r t a s d e P a u l o p o d i a mt e r s i d o c o n s i d e r a d a s c o m o " E s c r i t u r a s " , l a d o a l a d o c o m o V e l h o T e s t a m e n t o

( 3 . 1 6 ) .

E s t e s e o u t r o s a r g u m e n t o s s ã o s é r i o s , m a s n ã o c o n c l u s i v o s . S e S i l a s f o i

r e s p o n s á v e l p e l o e s t i l o p o l i d o d a p r i m e i r a c a r t a , s e g u e - s e q u e o g r e g o r u d e d a

s e g u n d a p o d e r i a s e r d o p r ó p r i o P e d r o . A l é m d i s s o , p l e n a r e l e v â n c i a d e v e s e r

a t r i b u í d a à a f i r m a ç ã o d o a u t o r d e t e r e s t a d o p r e s e n t e n a t r a n s f i g u r a ç ã o ( 1 . 1 6 -

1 8 ) , d e te r r e c e b i d o d o s l á b i o s d e J e s u s u m a p r o f e c i a a r e s p e i t o d e s u a p r ó p r i a

m o r t e ( 1 . 1 3 , 1 4 ; c o m p a r e c o m J o ã o 2 1 . 1 8 , 1 9 ) , e d e t e r c o n h e c i d o " n o s s o a m a d o

i r m ã o P a u l o " ( 3 . 1 5 ) .

S e a c a r t a n ã o f o i e s c r i t a p o r P e d r o , e n t ã o e s s a s r e f e r ê n c i a s f o r a m

d e l i b e r a d a m e n t e f i c t í c i a s , i n s e r i d a s p e l o a u t o r a f i m d e c r i a r u m a a p a r ê n c i a d e

a u t e n t i c i d a d e .

E m b o r a o m u n d o a n t i g o e st i v e s s e a b e r t o a t a is " p s e u d o - e p i g r a f i a s " , c o m o é

c h a m a d a , h á e v i d ê n c i a d e q u e a p r á t i c a n ã o e r a a c e i t á v e l n a ig r e j a in i c i a l . M i c h a e l

G r e e n r e f e r e - s e à h i s t ó r i a , r e g i s t r a d a p o r T e r t u l i a n o , d o q u e a c o n t e c e u a o a u t o r

d a o b r a d o s e g u n d o s é c u l o , Os Atos de Paulo e Tecla. N ã o s e t r a t a d e u m a o b r a

h e r é t i c a , m a s o a u t o r f o i d e p o s t o d o o f í c i o c o m o p r e s b í t e r o p o r t e r c o l o c a d o

s e u e s c r i t o s o b o n o m e d e P a u l o . D e q u a l q u e r f o r m a , a " p s e u d o - e p i g r a f i a "

p a r e c e r i a i n c o m p a t í v e l c o m a ê n f a s e n a c a r t a s o b r e p i e d a d e e v e r d a d e ( p . e x . ,

1 . 5 - 7 ; 2 . 2 , 3 ) . U m a e x t e n s a r e v i s ã o d a e v i d ê n c i a l e v a M i c h a e l G r e e n à c o n c l u s ã o

d e q u e " a c o n j e t u r a c o n t r a a E p í s t o l a d e f a t o n ã o p a r e c e , d e q u a l q u e r m o d o ,

c o n s t r a n g e d o r a . N ã o se p o d e d e m o n s t r a r c o n c l u s i v a m e n t e q u e P e d r o f o i o a u t o r ;

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1 3 0 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

m a s d e v e s e r d e m o n s t r a d o c o n v i n c e n t e m e n t e q u e e l e n ã o f o i " .

Pedro, a pessoaS i m ã o P e d r o é , t a l v e z , o m a i s c a t i v a n t e d e t o d o s o s e s c r i t o r e s d o N o v o T e s t a -

m e n t o . E l e f i g u r a d e s t a c a d a m e n t e n a s n a r r a t i v a s d o E v a n g e l h o e n a p a r t e i n i c i a l

d e A t o s , e s u a s n o t ó r i a s f r a q u e z a s , b e m c o m o s u a p r o d i g i o s a e n e r g i a , v a l o r i z a m -

n o d i a n t e d o l e i t o r c r i s t ã o .

C o m o s e u i r m ã o A n d r é , S i m ã o e r a p e s c a d o r . E l e s e r a m s ó c i o s , j u n t a m e n t e

c o m o u t r a d u p l a d e i r m ã o s , J o ã o e T i a g o , o s f i l h o s d e Z e b e d e u ( L u c a s 5 . 1 0 ) .

E l e s v i e r a m d e B e t s a i d a , n a m a r g e m n o r t e d o m a r d a G a l i l é i a ( J o ã o 1 . 4 4 ) , p o r é m

m a i s t a r d e S i m ã o e s t a b e l e c e u s e u l a r e m C a f a r n a u m ( M a r c o s 1 . 2 1 , 2 9 ), n a

m a r g e m n o r o e s t e d o l a g o , o n d e v i v i a c o m s u a e s p o s a , s u a s o g r a e A n d r é ( M a r c o s

1 . 2 9 , 3 0 ; c o m p a r e c o m 1 C o r í n t i o s 9 . 5 ) .

N ã o é d i f í c il i m a g i n a r o t e m p e r a m e n t o d e S i m ã o n a q u e l e s p r i m e i r o s d i a s .

C o m o d i s c í p u l o , e l e e r a o u s a d o e m e x t e r i o r i z a r c o m f r a n q u e z a e a l g u m

e s t a r d a l h a ç o s e u s s e n t i m e n t o s ( p . e x ., J o ã o 1 3 . 6 - 9 ; M a t e u s 2 6 . 3 3 ) , e n a t u r a l m e n t e

t o r n o u - s e o l í d e r d e t o d o o g r u p o . E l e é c i t a d o e m p r i m e i r o l u g a r e m t o d a s a s

l i s ta s d o s a p ó s t o l o s , t e n d o a g i d o c o m o s e u p o r t a - v o z ( p . e x . , M a t e u s 1 6 . 1 5 , 1 6 ) .

P o d e m o s i m a g i n á - l o u m j o v e m n o r t i s t a i n t r é p i d o c o m u m a d i s p o s i ç ã o

d e s o r d e n a d a . E b a s t a n t e s i g n i f i c a t i v o , p o i s , q u e J e s u s o t e n h a a p e l i d a d o d e " a

R o c h a " ( o u P e d r a ) . E s t e j o v e m i m p u l s i v o s e t o r n a r i a a s ó l i d a e e s t á v e l f u n d a ç ã o

s o b r e a q u a l a i g r e j a s e r ia c o n s t r u í d a ( M a t e u s 1 6 . 1 8 ) .

P o r é m h á m a i s a s e r d i t o . S i m ã o e r a u m g a l i l e u , e a G a l i l é i a e r a u m n o t ó r i o

c a m p o f é r t i l d e e s p e r a n ç a s m e s s i â n i c a s r e v o l u c i o n á r i a s . N a G a l i l é i a , m a i s d o

q u e e m J e r u s a l é m , a s p e s s o a s a g a r r a m - s e às p r o f e c i a s q u e p r o m e t i a m a r e v e r s ã o

d o s d e s t i n o s d e I s r a e l e o e s t a b e l e c i m e n t o d o R e i n o d e D e u s . E l e s a n s i a v a mp e l o d i a e m q u e o M e s s i a s a c a b a s s e c o m a o c u p a ç ã o r o m a n a d o p a í s . O i n t r é p i d o

S i m ã o p r o v a v e l m e n t e p a r t i c i p a v a d e s s e s a n s e i o s r e v o l u c i o n á r i o s . O

t e m p e r a m e n t o e o a m b i e n t e c o m b i n a v a m p a r a f a z e r d e l e u m d a q u e l e s j u d e u s

q u e e s p e r a v a m a r d e n t e m e n t e " a r e d e n ç ã o d e J e r u s a l é m " ( L u c a s 2 . 3 8 ) , " a

c o n s o l a ç ã o d e I s r a e l " ( L u c a s 2 . 2 5 ) , e o " r e i n o d e D e u s " ( M a r c o s 1 5 . 4 3 ) .

N ã o é s u r p r e s a , p o r t a n t o , q u e q u a n d o a n o t í c i a c h e g o u a e l e s d e q u e u m p r o f e t a

t i n h a a p a r e c i d o n o d e s e r t o d a J u d é i a , S i m ã o e s e u s a m i g o s d e i x a r a m s u a p e s c a r i a

e v i a j a r a m a o s u l p a r a o u v i - l o . S e m d ú v i d a , J o ã o B a t i s t a a t r a i u m u i t o s q u e

e s p e r a v a m q u e e l e f o s s e u m l i b e r t a d o r p r o f é t i c o , l i d e r a n d o u m l e v a n t e c o n t r a

R o m a . I n f l a m a d o d e z e l o r e v o l u c i o n á r i o , S i m ã o f o i b a t i z a d o p o r J o ã o e t o r n o u -

s e s e u d i s c í p u l o . E n t r e t a n t o , J o ã o a p o n t a v a p a r a o u t r o , a q u e m S i m ã o d e s c o b r i u

a o se r p r o c u r a d o p o r s e u i r m ã o A n d r é e o u v i r d e l e a s v i b r a n t e s p a l a v r a s :

" A c h a m o s o M e s s i a s ! " ( Jo ã o 1 . 4 1 ) — q u e r e n d o d i z e r n ã o J o ã o , m a s J e s u s .

E s t a f o i a p r i m e i r a a p r e s e n t a ç ã o d e S i m ã o à q u e l e q u e d e v e r i a t o r n a r - s e o

o b j e t o d e t o d a s a s s u a s e s p e r a n ç a s . E l e o a c o m p a n h o u , o u v i u - o , o l h o u - o e

a d m i r o u - o . G r a d u a l m e n t e , a c e n t e l h a d a c o n v i c ç ã o c r e s c e u d e n t r o d e l e , a t é q u e ,

e m C e s a r é i a d e F i l i p e , e n t r e a s c o l i n a s e a o p é d o m o n t e H e r m o m , e l a e x p l o d i u

e m c h a m a s c o m s u a g r a n d e c o n f i s s ã o d e f é : " T u é s o C r i s t o , o F i l h o d o D e u s

v i v o ! " ( M a t e u s 1 6 . 1 6 ) . S u a e s p e r a n ç a e s t a v a r e a l i z a d a . E s t e é o m o m e n t o s u -

p r e m o d e s u a e x i s t ê n c i a . O M e s s i a s t i n h a c h e g a d o . J e s u s a c e i t o u o t í t u l o , d i s s e

a S i m ã o q u e f o r a o P a i q u e l h e h a v i a r e v e l a d o e s t a v e r d a d e , p r o i b i u o s d i s c í p u l o s

d e c o n t a r a o u t r o s q u e E l e e r a o C r i s t o ( M a t e u s 1 6 . 2 0 ) , e c o m e ç o u i m e d i a t a m e n t e

a m o s t r a r - l h e s " q u e l h e e r a n e c e s s á r i o s e g u i r p a r a J e r u s a l é m e s o f r e r m u i t a s

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P E D R O E S U A M E N S A G E M 1 3 1

O nome PedroO n o m e o r i g i n a l d e P e d r o e r a o g r e g o S i m ã o . N ã o

e r a i n c o m u m a o s j u d e u s o u s o d e n o m e s g r e g o s ,e s p e c i a l m e n t e n a G a l i l é i a , e o i r m ã o d e S i m ã o ,A n d r é , t a m b é m t i n h a n o m e g r e g o . D e a c o r d ocom J oão 1 . 42 , J es us deu a S imão o ape l ido" P e d r o " , q u a n d o o e n c o n t r o u p e l a p r i m e i r a v e z .Es te nome t inha as ver s ões t an to g rega ( " Pedro" )c o m o a r a m a i c a ( " C e f a s " ) : e m a m b a s a s l í n g u a se l e s i g n i f ic a v a " a R o c h a " ( o u P e d r a ) .

F o i , p o r é m , s o m e n t e m a i s t a r d e e m s e umin i s t é r io que J es us r eves t iu es t e ape l ido des i g n i f i c a ç ã o m a i s p r o f u n d a , a p o n t a n d o p a r a o

p a p e l f u n d a m e n t a l d e P e d r o n a i g r e j a . N o s

p r i m e i r o s c a p í t u l o s d e A t o s , P e d r o f o ie f e t i v a m e n t e o l íd e r d a i g r e j a d e J e r u s a l é m ( A t o s1 . 15 ; 2 . 14 ; 5 . 3 ; compare com G ála tas 1 . 18 ; 2 . 9 ) .

P a u l o h a b i t u o u - s e a u s a r a f o r m a a r a m a i c a d ono me de Pedro (p . ex . , 1 Cor ín t io s 1 . 12 ; 3 . 22 ;9 . 5 ), e x p r e s s a n d o a s s i m t a l v e z s u a a p r e c i a ç ã op e l o í n t i m o r e l a c i o n a m e n t o d e P e d r o c o m J e s u s ,o que os f az ia vo l t a r ao t empo em que oaramaico , não o g rego , e r a a l íngua f a lada porJ es us e s eus d i s c ípu los .

c o i s a s . . . e s e r m o r t o " ( M a t e u s 1 6 . 2 1 ) .

I s t o e n s e j o u u m a l i ç ã o e x t r a o r d i n a r i a m e n t e d i f í c i l d e S i m ã o a s s i m i l a r . S u ap r i m e i r a r e a ç ã o à p r e d i ç ã o d e J e s u s d e s o f r i m e n t o e m o r t e f o i d e h o r r o r e

n e g a ç ã o . O M e s s i a s n ã o p o d i a s e r m o r t o . E l e s e g u r a m e n t e v e i o p a r a r e i n a r , n ã o

p a r a m o r r e r . P o r i s s o e l e m a n i f e s t o u s u a s u r p r e s a e d e c e p ç ã o : " T e m c o m p a i x ã o

d e t i , S e n h o r ; i s s o d e m o d o a l g u m t e a c o n t e c e r á ! " ( M a t e u s 1 6 . 2 2 ) . M a s a r e s p o s t a

d e J e s u s f o i a i n d a m a i s a b r u p t a , n a v e r d a d e q u a s e v i o l e n t a : " A r r e d a ! S a t a n á s ;

t u é s p a r a m i m p e d r a d e t r o p e ç o , p o r q u e n ã o c o g i t a s d a s c o i s a s d e D e u s , e s i m

d a s d o s h o m e n s " ( M a t e u s 1 6 . 2 3 ).

F o i , p a r a J e s u s , u m a tentação p e n s a r q u e p o d e r i a s e r u m M e s s i a s d o t i p o

d e s e j a d o p o r P e d r o — v i t o r i o s o , r e i n a n d o , e x a l t a d o . O d i s c í p u l o , q u e t i n h a s i d o

p o u c o a n t e s r e c i p i e n t e d a r e v e l a ç ã o d o P a i, f o i e m s e g u i d a o b j e t o d a m a q u i n a ç ã o

d o D i a b o . P o i s J e s u s n ã o t i n h a v i n d o p a r a e x p u l s a r a s l e g i õ e s r o m a n a s d a T e r r a

P r o m e t i d a ; E l e t i n h a v i n d o p a r a m o r r e r p e l o s p e c a d o s d o m u n d o . O c a m i n h op a r a s e u t r o n o e s t a v a n o t o p o d a c o l i n a d o C a l v á r i o . E l e d e v i a s o f r e r a n t e s q u e

p u d e s s e e n t r a r e m s u a g l ó r i a ; o p r e ç o d e s u a c o r o a e r a u m a c r u z .

M a s P e d r o n ã o p o d i a c o m p r e e n d e r e n ã o m o d i f i c a r i a su a s p r e v e n ç õ e s . A p e n a s

u m a s e m a n a d e p o i s e l e v i u J e s u s t r a n s f i g u r a r - s e , v e s t i d o e m s u a g l ó r i a r e a l , e

s u a s p r e v e n ç õ e s a c a b a m s e n d o c o n f i r m a d a s — m u i t o e m b o r a e l e o u v i s s e J e s u s

f a l a n d o c o m M o i s é s e E l i a s s o b r e " s u a p a r t i d a , q u e e l e e s t a v a p a r a c u m p r i r e m

J e r u s a l é m " ( L u c a s 9 . 3 1 ) , e m u i t o e m b o r a J e s u s t i v e s s e f a l a d o r e p e t i d a m e n t e

d e s e u p r ó x i m o s o f r i m e n t o e m o r t e ( M a r c o s 8 . 3 1 ; 9 . 3 1 ; 1 0 . 3 3 , 3 4 , 4 5 ) .

A s s i m , q u a n d o c h e g a o m o m e n t o , P e d r o te n t a r e s i st i r . N o c e n á c u l o , e l e n o

p r i n c í p i o n ã o p e r m i t e q u e s e u S e n h o r f a ç a o t r a b a l h o d e u m e s c r a v o e l a v e s e u s

p é s ( l o ã o 1 3 . 6 - 8 ) . N o j a r d i m d o G e t s ê m a n i r e s i s t e à p r i s ã o d e J e s u s p e l o

d e s t a c a m e n t o : s a c a s u a e s p a d a , d á u m a e s t o c a d a n o e s c u r o , c o r t a a o r e l h a d e

M a l c o , o s e r v o d o s u m o s a c e r d o t e ( J o ã o 1 8 . 1 0 ) . E l e n ã o p o d e p e r m i t i r q u e o

R e i s e j a a p r i s i o n a d o s e m l u t a ! M a s e l e d e v e s e n t i r - s e f r u s t r a d o e c o n f u s o c o m

a r e s p o s t a d e J e s u s a o s e u h e r o í s m o : " M e t e a e s p a d a n a b a i n h a ; n ã o b e b e r e i e u ,

p o r v e n t u r a , o c á l i c e q u e o P a i m e d e u ? " ( J o ã o 1 8 . 1 1 ) .

D ú v i d a s t a l v e z a p e r t a v a m s e u c o r a ç ã o q u a n d o e l e s e g u i a J e s u s " à d i s t â n c i a "

( M a r c o s 1 4 . 5 4 ) e m d i r e ç ã o a o j u l g a m e n t o e m o r t e q u a s e c e r t a . T e r i a e l e se

e n g a n a d o ? N ã o s e r i a e s t e o M e s s i a s , a f i n a l d e c o n t a s ? E l e t i n h a a l a r d e a d o q u e

e s t a v a p r e p a r a d o a t é m e s m o p a r a m o r r e r c o m E l e ( M a r c o s 1 4 . 3 1 ) , m a s , c o m o

p o d i a e l e p r e s t a r l e a l d a d e a u m R e i v e n c i d o , r e j e i t a d o a t é p o r s u a p r ó p r i a n a ç ã o ?

E v e i o o t e s t e f i n a l , e e l e n e g o u J e s u s , n ã o u m a , m a s t r ê s v e z e s . E e l e e n t r o u

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1 3 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

A I g r e j a d o Sa n t o

S e p u l c r o ,J e r u s a l é m , f i c a n op r o v á v e l l o c a lo n d e J e s u sm o r r e u e f o is e p u l t a d o .

p e l a n o i t e c h o r a n d o a m a r g a m e n t e , l á g r i m a s n ã o a p e n a s d e r e m o r s o m a s d e c r u e l

d e s i l u s ã o . N ã o h á d ú v i d a d e q u e e l e s e g u i u a m u l t i d ã o a t é a o G ó l g o t a . E l e v i u of i m . A e s p e r a n ç a q u e e l e t i n h a a l i m e n t a d o s e e x t i n g u i r a . O M e s s i a s e s t a v a m o r t o .

É d i f í c i l i m a g i n a r o s d o i s d i a s d e a g o n i a p e l o s q u a i s S i m ã o P e d r o p a s s o u

e n t ã o . M a s n ã o é d i f í c i l s e n t i r c o m e l e a f o r m i d á v e l e x c i t a ç ã o d o D i a d a P á s c o a .

E l e c o r r e u ao t ú m u l o j u n t a m e n t e c o m J o ã o ( J o ã o 2 0 .1 - 1 0 ) . O t ú m u l o e s t a v a

v a z i o . O c o r p o t i n h a - s e i d o . E m s e g u i d a e l e s e e n c o n t r a c o m o S e n h o r ( 1

C o r í n t i o s 1 5 . 5 ) . N ã o s a b e m o s o q u e f o i d i t o n e s t a e n t r e v i s t a p r i v a d a . P o r é m

s a b e m o s q u e S i m ã o P e d r o r e c e b e u a r e g e n e r a ç ã o " p a r a u m a v i v a e s p e r a n ç a

m e d i a n t e a r e s s u r r e i ç ã o d e J e s u s C r i s t o d e n t r e o s m o r t o s " ( 1 P e d r o 1 . 3) . E l e s e

s e n t i u l i t e r a lm e n t e u m h o m e m r e n a s c i d o .

S a b e m o s t a m b é m q u e n a n o i t e d a q u e l e p r i m e i r o D i a d a P á s c o a o S e n h o r

a p a r e c e u a o s a p ó s t o l o s e m J e r u s a l é m e r e p e t i u o q u e t i n h a d i t o a n t e r i o r m e n t e

n o c a m i n h o p a r a E m a ú s . " Ó n é s c i o s " , d i s s e r a E l e a o s d o i s d i s c í p u l o s , " e t a r d o s

d e c o r a ç ã o p a r a c r e r t u d o o q u e o s p r o f e t a s d i s s e r a m ! P o r v e n t u r a n ã o c o n v i n h a

q u e o C r i s t o p a d e c e s s e e e n t r a s s e n a s u a g l ó r i a ? " A s e g u i r l e m o s q u e " c o m e ç a n d o

p o r M o i s é s , d i s c o r r e n d o p o r t o d o s o s p r o f e t a s , e x p u n h a - l h e s o q u e a s e u r e s p e i t o

c o n s t a v a e m t o d a s a s E s c r i t u r a s " ( L u c a s 2 4 . 2 5 - 2 7 ) . P o r i s s o , a g o r a n o c e n á c u l o

E l e d o m e s m o m o d o e n f a t i z a o cumprimento d a E s c r i t u r a a r e s p e i t o d e s u a

m o r t e e r e s s u r r e i ç ã o .

Q u e P e d r o t e n h a a p r e n d i d o e s t a l i ç ã o d e d u z - s e c l a r a m e n t e d e se u s s e r m õ e s

n o s p r i m e i r o s c a p í t u l o s d e A t o s . " V ó s o m a t a s t e s . . . p o r é m D e u s o r e s s u s c i t o u . . . d o

q u e t o d o s n ó s s o m o s t e s t e m u n h a s " : i s t o r e s u m e s u a m e n s a g e m . E l e n ã o m a i s s e

e n v e r g o n h a v a d o s s o f r i m e n t o s d o C r i st o , p o r q u e , e m b o r a e l e s t i v e s s e m s i d o

c a u s a d o s " p o r m ã o s d e i n í q u o s " , f o r a m t a m b é m p a r t e d o " d e t e r m i n a d o d e s í g n i o

e p r e s c i ê n c i a d e D e u s " ( A t o s 2 . 2 3 ) . D i s s e e l e n o t e m p l o : " D e u s a s s i m c u m p r i u

o q u e d a n t e s a n u n c i a r a p o r b o c a d e t o d o s o s p r o f e t a s q u e o s e u C r i s t o h a v i a d ep a d e c e r " ( 3 . 1 8 ) . M a s a g o r a E l e f o i l e v a n t a d o e e x a l t a d o p a r a s e r " P r í n c i p e e

S a l v a d o r " , a f o n t e d e p e r d ã o p a r a t o d o s o s q u e s e a r r e p e n d e m e c r ê e m ( A t o s

A Escritura cum pridaA t r i s t eza dos do i s d i s c ípu los no caminho deE m a ú s t e r i a s i d o i m e d i a t a m e n t e e l i m i n a d a s eJ es us t ives s e r eve lado s ua iden t idade a e l es .P o r é m L u c a s r e g i s t ra a s u r p r e e n d e n t e d i s c r i ç ã o d eJ es us . " O s s eus o lhos . . . es t avam como quei m p e d i d o s d e o r e c o n h e c e r " ( L u c a s 2 4 . 1 6 ) , a t éq u e l h e s t iv e s s e m i n i s t r a d o u m e s t u d o b í b l i c o

m o s t r a n d o a necessidade escriturística de s uam o r t e e r e s s u r r e i ç ã o . E s t a s f o r a m s u a s p a l a v r a s at o d o o g r u p o r e u n i d o e m J e r u s a l é m :

' " São es tas as pa lavras que eu vos f a l e i , es t andoa i n d a c o n v o s c o , q u e i m p o r t a v a s e c u m p r i s s e t u d oo que de mim es tá es cr i to na Lei de Mois és , nosProfe tas e nos Sa lmos . ' En tão lhes abr iu oe n t e n d i m e n t o p a r a c o m p r e e n d e r e m a s E s c r i t u r a s ;e lhes d i s s e : 'A s s im es tá es cr i to que o Cr i s tohav ia de padecer , e r es s us c i t a r den t r e os mor tosno t e r ce i ro d ia , e que em s eu nome s e p regas s ea r r e p e n d i m e n t o p a r a r e m i s s ã o d e p e c a d o s , a t o d a s

a s n a ç õ e s , c o m e ç a n d o d e J e r u s a l é m ' " ( L u c a s2 4 . 4 4 - 4 7 ) .

P o d e m o s c o n c l u i r p e l a l e i t u r a d a p r i m e i r a c a r t ad e P e d r o c o m o e l e a p r e n d e u e s t a li ç ã o : e m s e u sc u r t o s c i n c o c a p í t u l o s h á n ã o m e n o s d e c a t o r z ec i t a ç õ e s d o V e l h o T e s t a m e n t o , a l é m d e m u i t a sa l u s õ e s a d i c i o n a i s a e le . T o d a a s u a c o m p r e e n s ã od o V e l h o T e s t a m e n t o f o i t r a n s f o r m a d a , à m e d i d a

q u e e l e p ô d e v e r i f i c a r q u e e l e n ã o p r e d i z i a u mM e s s i a s g u e r r e i r o e v i t o ri o s o , m a s u m M e s s i a sque mor rer i a e r es s us c i t a r i a . E le es creve :

" Foi a r es pe i to des ta s a lvação que os p rofe tasi n d a g a r a m e i n q u i r i r a m , o s q u a i s p r o f e t i z a r a macerca da g raça a vós ou t ros des t inada ,i n v e s t i g a n d o a t e n t a m e n t e q u a l a o c a s i ã o o uq u a i s a s c i rc u n s t â n c i a s o p o r t u n a s , i n d i c a d a s p e l oEs p í r i to de Cr i s to , que ne les es t ava , ao dar dea n t e m ã o t e s t e m u n h o s o b r e o s s o f r i m e n t o srefer en tes a Cr i s to , e s obre as g ló r i as que oss e g u i r i a m " ( 1 P e d r o 1 . 1 0 ,1 1 ) .

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1 3 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

5 . 3 1 ; c o m p a r e c o m 2 . 3 8 ; 3 . 1 9 ; 4 . 1 2 ; 1 0 . 4 3 ) . S i m , u m d i a e s t e P r í n c i p e a g i r á

p a r a s a l v a r s e u p o v o e j u l g a r o m u n d o ( A t o s 3 . 1 9 - 2 1 ; 1 0 . 4 2 ) , m a s n ã o s e r án e c e s s á r i o q u e s e u s s e g u i d o r e s p u x e m a s e s p a d a s . T u d o o q u e e l e s p r e c i s a m

f a z e r é e s p e r a r — e d a r t e s t e m u n h o .

A s s i m , o a p ó s t o l o i m p u l s i v o q u e p r i m e i r o d e f e n d e u e d e p o i s n e g o u s e u S e n h o r ,

p e r m a n e c e u i m p á v i d o p e r a n t e o s i n é d r io , t e n d o s id o s u b m e t i d o h u m i l d e m e n t e

a u m i n t e r r o g a t ó r i o . F o i a ç o i t a d o e a p r i s i o n a d o . D o r m i u u m a n o i t e c o m a

p e r s p e c t i v a d e u m a e x e c u ç ã o ( A t o s 1 2 . 6 ) . E , se a t r a d i ç ã o p o d e s e r a c e i t a , e le

f i n a l m e n t e m o r r e u a m o r t e d e s e u M e s t r e , s e n d o c r u c i f i c a d o e m R o m a d u r a n t e

a p e r s e g u i ç ã o d e s e n c a d e a d a p e l o i m p e r a d o r N e r o ( c o m p a r e c o m J o ã o 2 1 . 1 8 , 1 9 ) .

O a n t i g o e s p í r i t o i n f l a m a d o e b e l i c o s o d e S i m ã o f o i s u b s t i t u í d o p e l a n o v a e

v i v a e s p e r a n ç a d e P e d r o . C o m o s e u M e s t r e , e l e c h e g a r i a à g l ó r i a p o r m e i o d a

c r u z .

F o i — e a i n d a é — u m a d u r a l i ç ã o a a p r e n d e r . A t e n t a ç ã o d e n e g a r a n e c e s s i d a d ed e s o f r i m e n t o é s e d u t o r a p a r a a i g r e j a . É m u i t o m a i s a t r a e n t e c r e r n u m C r i s t o

q u e n o s l i v r a do s o f r i m e n t o d o q u e através d e l e . M a s P e d r o n o s a p o n t a

f i r m e m e n t e e s t e s e g u n d o C r i s t o . O p r i m e i r o e r a s e u s o n h o i n i c i a l , a b a l a d o

n a q u e l a m a n h ã d a r e s s u r r e i ç ã o , q u a n d o a m o r t e f o i d e s t r u í d a p o r a l g u é m q u e a

s o f r e u , e n ã o a p e n a s v e n c i d a à d i s t â n c i a .

O s p r i m e i r o s l e i t o r e s d e P e d r o p r e c i s a r a m o u v i r e s t a m e n s a g e m t a n t o q u a n t o

n ó s p r e c i s a m o s .

A mensagem de PedroO s c r i s tã o s a o s q u a i s P e d r o e s c r e v e u , " e s p a l h a d o s p o r t o d a s " a s c i n c o p r o v í n c i a s

d a Á s i a M e n o r ( 1 P e d r o 1 . 1) , f o r a m e v i d e n t e m e n t e a m e a ç a d o s p e l a p e r s e g u i ç ã o .

E s t a n ã o e r a p r o v a v e l m e n t e u m a p e r s e g u i ç ã o o f i c i a l , m a s b a s t a n t e s e v e r a p a r as e r c h a m a d a " p r o v a d e a f l i ç ã o " ( 4 . 1 2 , l i t e r a l m e n t e " p r o v a p e l o f o g o " ) , q u e s e

d i s s e m i n o u p e l o m u n d o ( 5 . 9 ) . P e d r o l h e s e s c r e v e u d e " B a b i l ô n i a " ( 5 . 1 3 ) , q u e é

p r o v a v e l m e n t e u m c o d i n o m e p a r a R o m a : c o m o a a n t i g a B a b i l ô n i a , R o m a e s e u

i m p é r i o s ã o a g o r a o c e n t r o d a o p o s i ç ã o m u n d i a l a D e u s .

O s l e i t o r e s d e P e d r o t e r i a m s a b i d o o q u e e l e q u e r i a d i z e r . V i v e n d o n a Á s i a

M e n o r , m u i t o s d e l e s t i n h a m e x p e r i m e n t a d o a s p r e s s õ e s d o c u l t o i m p e r i a l , q u e

e r a p a r t i c u l a r m e n t e f o r t e n a q u e l a á r e a . O s e s t u d i o s o s c o s t u m a v a m c r e r q u e o

c u l t o i m p e r i a l e r a a l g o i m p o s t o p o r R o m a : i s t o é , p a r a r e f o r ç a r a l e a l d a d e , a s

a u t o r i d a d e s r o m a n a s e s t a b e l e c e r a m t e m p l o s à d e u s a " R o m a " e e x i g i r a m q u e a s

p e s s o a s d e t o d o o i m p é r i o o f e r e c e s s e m i n c e n s o a o i m p e r a d o r .

M a s r e c e n t e m e n t e t o r n o u - s e c l a r o q u e s e t r a t a v a , n a r e a l i d a d e , d e u m

m o v i m e n t o p o p u l ar , e m b o r a t a m b é m i n c e n t i v a d o p e la s a u t o ri d a d e s . E m g r a t i d ã op e l o s b e n e f í c i o s r e c e b i d o s d o g o v e r n o r o m a n o , a s p o p u l a ç õ e s l o c a i s f i n a n c i a r a m

a c o n s t r u ç ã o d e s s e s t e m p l o s , e i n s t i t u í r a m f e s t a s n a s q u a i s o i m p e r a d o r e r a

a d o r a d o c o m o u m d e u s . N a t u r a l m e n t e e l e s o l h a v a m c o m m u i t a d e s c o n f i a n ç a a s

p e s s o a s q u e s e r e c u s a v a m a a d e r i r. M a s o s c r i s t ã o s n ã o p o d i a m f a z ê - l o . A n t e o

r i s c o d e p a r e c e r e m s u b v e r s i v o s , e l e s s e r e t r a í a m . P e d r o o s a n i m a : " P o r q u e b a s t a

o t e m p o d e c o r r i d o p a r a t e r d e s e x e c u t a d o a v o n t a d e d o s g e n t i o s , t e n d o a n d a d o

e m d i s s o l u ç õ e s , c u n c u p i s c ê n c i a s , b o r r a c h e i r a s , o r g i a s , b e b e d i c e s , e e m

d e t e s t á v e i s i d o l a t r i a s . P o r i s s o , d i f a m a n d o - v o s , e s t r a n h a m q u e n ã o c o n c o r r a i s

c o m e l e s a o m e s m o e x c e s s o d e d e v a s s i d ã o , o s q u a i s h ã o d e p r e s t a r c o n t a s à q u e l e

q u e é c o m p e t e n t e p a r a j u l g a r v i v o s e m o r t o s " ( 1 P e d r o 4 . 3 - 5 ) .

C o m o d e v e r i a m o s c r i s t ã o s c o m p o r t a r - s e e m t a i s c i r c u n s t â n c i a s ? Q u a l é a

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P E D R O E S U A M E N S A G E M 1 3 5

a t i t u d e d o c r i s t ã o a n t e o s o f r i m e n t o n ã o m e r e c i d o ? C o m o p o d e m o s c r i s t ã o s

c o m p e t i r c o m a a l i e n a ç ã o d a s o c i e d a d e q u e o s c e r c a ? E s t a s s ã o q u e s t õ e s p r á t i c a s

q u e P e d r o t e n t a r e s o l v e r , e s p e c i a l m e n t e e m s u a p r i m e i r a c a r t a . Q u a i s s ã o s u a sr e s p o s t a s ?

1. O exemplo de JesusP e d r o d e s v i a a a t e n ç ã o d e s e u s l e i t o r e s d e si m e s m o s p a r a C r i s t o . S e t e v e z e s

e m s u a p r i m e i r a c a r t a e l e u s a a s p a l a v r a s " s o f r e r " e " s o f r i m e n t o " c o m r e f e r ê n c i a

a C r i s t o ( 1 . 1 1 ; 2 . 2 1 , 2 3 ; 3 . 1 8 ; 4 . 1 , 1 3 ; 5 . 1 ) . E l e p a r e c e g l o r i a r - s e n a q u i l o q u e

u m a v e z r e j e i t o u . S e g u i n d o o e x e m p l o d e J e s u s , o s c r i s t ã o s d e v e m s o f r e r . E l e

u s a a s m e s m a s p a l a v r a s " s o f r e r " e " s o f r i m e n t o " n o v e v e z e s e m r e f e r ê n c i a a o s

c r i s t ã o s ( 2 . 1 9 , 2 0 ; 3 . 1 4 , 1 7 ; 4 . 1 , 1 5 , 1 6 , 1 9 ; 5 . 9 , 1 0 ) . " P a r a is t o m e s m o f o s t e s

c h a m a d o s , p o i s q u e t a m b é m C r i s t o s o f r e u e m v o s s o l u g ar , d e i x a n d o - v o s e x e m p l o

p a r a s e g u i r d e s o s s e u s p a s s o s " , e s c r e v e e l e ( 1 P e d r o 2 . 2 1 ) .

A p a l a v r a t r a d u z i d a " e x e m p l o " é ú n i c a n o N o v o T e s t a m e n t o g r e g o . E l a

s i g n i f i c a o c a d e r n o d e a l f a b e t o d o p r o f e s s o r , q u e c o n t i n h a a s l e t r a s q u e a s c r i a n ç a s

t i n h a m d e d e c a l c a r p a r a a p r e n d e r e m s u a s f o r m a s . D e i g u a l m o d o , d e v e m o s

a p r e n d e r o a - b - c d o d i s c i p u l a d o c r i s t ã o s e g u i n d o o m o d e l o d a v i d a d e J e s u s .

E s t a s p a l a v r a s s ã o e l o q ü e n t e s v i n d a s d a p e n a d e P e d r o , q u e t i n h a d i to : " S e n h o r ,

e s t o u p r o n t o a i r c o n t i g o , t a n t o p a r a a p r i s ã o , c o m o p a r a a m o r t e " ( L u c a s 2 2 . 3 3 ) ,

e q u e n o e v e n t o t i n h a - o s e g u i d o " d e l o n g e " ( L u c a s 2 2 . 5 4 ) . M a i s t a r d e , n a p r a i a

d a G a l i l é i a , e l e t i n h a o u v i d o d e n o v o o c h a m a d o d o M e s t r e , " s e g u e - m e " ( J o ã o

2 1 . 1 9 ) , e e s t e c h a m a d o e l e r e p a s s a a o s se u s l e i to r e s . " E l e , q u a n d o u l t r a j a d o ,

n ã o r e v i d a v a c o m u l t r a j e , q u a n d o m a l t r a t a d o n ã o f a z i a a m e a ç a s , m a s e n t r e g a v a -

s e à q u e l e q u e j u l g a r e t a m e n t e " (1 P e d r o 2 . 2 3 ) . E l e s d e v e m f a z e r o m e s m o .

2. A razão para o sofrimento de Jesus

P o r é m a p e r g u n t a r e s s u r g e : Por que J e s u s e s t a b e l e l c e u e s t e e x e m p l o ? S e o sc r i s t ã o s d e v e m s o f r e r s i m p l e s m e n t e p o r q u e s ã o s e g u i d o r e s d e J e s u s , e E l e s o f r e u

s i m p l e s m e n t e p o r q u e o m u n d o o o d i a v a , s e g u e - s e q u e s e r c r i s t ã o é u m a

p e r s p e c t i v a p o b r e e s e m a t r a t i v o . P e d r o m o s t r a a s e u s l e i t o r e s a g l o r i o s a r a z ã o

d o s s o f r i m e n t o s d e J e s u s , u m a r a z ã o q u e t o r n a d i g n o s d e a c e i ta ç ã o o s s o f r i m e n t o s

d o s c r e n t e s .

A m o r t e d e J e s u s n ã o f o i u m h o r r í v e l a c i d e n t e . E l e " m o r r e u [ o u s o f r e u ] , u m a

ú n i c a v e z , p e l o s p e c a d o s , o j u s t o p e l o s i n j u s t o s , p a r a c o n d u z i r - v o s a D e u s "

( 3 . 1 8 ) . O g r a n d e o b j e t o d e s e u s s o f r i m e n t o s e r a a r e c o n c i l i a ç ã o , a p o n t e s o b r e o

a b i s m o e n t r e o s p e c a d o r e s e D e u s . " . . . c a r r e g a n d o e l e m e s m o e m s e u c o r p o ,

s o b r e o m a d e i r o , o s n o s s o s p e c a d o s , p a r a q u e n ó s , m o r t o s a o s p e c a d o s , v i v a m o s

p a r a a j u s t i ç a " ( 2 . 2 4 ) .

A q u i o c o n h e c i m e n t o d e P e d r o d a s E s c r i t u r a s p a g a d i v i d e n d o s . A f r a s e

" c a r r e g a n d o . . . o s n o s s o s p e c a d o s " r e l e m b r a a o f e r t a p e l o s p e c a d o s e o r i t u a l d o

b o d e e x p i a t ó r i o n o D i a d a E x p i a ç ã o , n o V e l h o T e s t a m e n t o . E l a t a m b é m r e -

c o r d a I s a í a s c a p í t u l o 5 3 , a p r o f e c i a d o " S e r v o S o f r e d o r " q u e m o r r e p e l o s p e c a d o s

d e o u t r o s . P e d r o d e v e t e r s a b i d o q u e J e s u s t i n h a a p l i c a d o e s t a p r o f e c i a a s i

m e s m o e i n t e r p r e t a d o s u a m o r t e à l u z d e s e u e n s i n o ( v e j a p . e x . L u c a s 2 2 . 3 7 ) .

E m 2 . 2 2 - 2 5 P e d r o u s a c i n c o f r a s e s e x t r a í d a s d e I s a í a s 5 3 , c o m o o q u a d r o a

s e g u i r i l u s t r a .

A l é m d o D i a d a E x p i a ç ã o e d e I s a í a s 5 3 , P e d r o u s a t a m b é m o s r i t u a i s d a

P á s c o a p a r a c o m p r e e n d e r e e x p l i c a r a m o r t e d e J e s u s . " .. . s a b e n d o q u e n ã o f o i

m e d i a n t e c o i s a s c o r r u p t í v e i s , c o m o p r a t a o u o u r o , q u e f o s t e s r e s g a t a d o s d o

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1 3 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

Citações de Isaías 53 usadas por Pedro

1 Pedro 2Isaías 53

2 2 d o l o a l g u m s e a c h o u e m s u a b o c a 9 d o l o a l g u m s e a c h o u e m s u a b o c a

2 3 q u a n d o u l t r a j a d o n ã o r e v i d a v a 3 d e s p r e z a d o e o m a i s r e j e i t a d o e n t r eo s h o m e n s

2 4 c a r r e g a n d o e l e m e s m o . . . o s n o s so s p e c a d o s 1 2 l e v o u s o b r e s i o p e c a d o n o s s o sp e c a d o s d e m u i t o s

24 por s uas chagas fos tes s ar ados 5 p e l a s s u a s p i s a d u r a s f o m o s s a r a d o s

2 5 e s t áv e i s d e s g a r ra d o s c o m o o v e l h a s 6 a n d á v a m o s d e s g a r r a d o s c o m oo v e l h a s

P e d r o t e c e e s t a s c i t a ç õ e s n u m f o r m o s o p a r á g r a f o q u e a l g u n s e s t u d i o s o s a c r e d i t a mp r e t e n d i a s e r u m h i n o .

v o s s o f ú t i l p r o c e d i m e n t o q u e v o s s o s p a i s v o s l e g a r a m , m a s p e l o p r e c i o s o s a n g u e ,

c o m o d e cordeiro sem defeito e sem mácula, o s a n g u e d e C r i s t o " ( 1 . 1 8 , 1 9 ) . P o r

m e i o d o s a n g u e d e u m c o r d e i r o d a P á s c o a f i s i c a m e n t e p e r f e i t o , o s i s r a e l i t a s

f o r a m r e s g a t a d o s d a e s c r a v i d ã o n o E g i t o . A g o r a , p o r m e i o d o p r e c i o s o s a n g u e

d o C r i s t o s e m p e c a d o a s p e r g i d o s o b r e n ó s ( 1 . 2 ) , f o m o s r e d i m i d o d a p i o r

e s c r a v i d ã o : n o s s o " f ú t i l p r o c e d i m e n t o " .

O p r o p ó s i t o d o s s o f r i m e n t o s d e C r i s t o é , p o i s , e s c l a r e c i d o . S o m e n t e p o r m e i o

d a q u e l e s s o f r i m e n t o s p o d e r i a E l e e n t r a r e m s u a g l ó r i a , q u a n d o D e u s " o

r e s s u s c i t o u d e n t r e o s m o r t o s e l h e d e u g l ó r i a " ( 1 . 2 1 ) . J e s u s e s t a b e l e c e u m

p r i n c í p i o " d a m o r t e à v i d a " q u e P e d r o e n c o n t r a s i m b o l i z a d o n a h i s t ó r ia d o d i l ú v i o

( 3 . 2 0 , 2 1 ) . A á g u a q u e d e s t r u i u o r e s t a n t e d o m u n d o f o i o m e i o d e s a l v a ç ã o p a r a

N o é e s u a f a m í l i a , f l u t u a n d o n a a rc a . A s s i m t a m b é m o b a t i s m o s i m b o l i z a a g o r a

a m o r t e c o m C r i s t o , a ú n i c a m o r t e q u e c o n d u z à v i d a . L i g a d o s a C r i s t o , p o d e m o s

p e n s a r e m n o s s o s s o f r i m e n t o s c o m o s e n d o t a m b é m d e l e ; e p o r i ss o P e d r o n o s

d i z p a r a n ã o n o s s u r p r e e n d e r m o s s e D e u s n o s c h a m a r p a r a q u e s u p o r t e m o s a

" p r o v a d e a f l i ç ã o " ( 4 . 1 2 ) . " A l e g r a i - v o s n a m e d i d a e m q u e s o i s c o - p a r t i c i p a n t e s

d o s s o f r i m e n t o s d e C r i s t o , p a r a q u e t a m b é m n a r e v e l a ç ã o d e s u a g l ó r i a v o s

a l e g r e i s e x u l t a n d o " ( 4 . 1 3 ) . A m o r t e s i m b o l i z a d a e m n o s s o b a t i s m o t o r n a - s e u m

p r i n c í p i o d i á r i o d e v i d a , à m e d i d a q u e t r a n s f e r i m o s p a r a C r i s t o n o s s o s

s o f r i m e n t o s e n o s a l e g r a m o s d e q u e " a q u e l e q u e s o f r e u n a c a r n e d e i x o u o p e c a d o "

( 4 . 1 ) . A s a l v a ç ã o e s t á a c a m i n h o .

E s t a é u m a m e n s a g e m d e g r a n d e c o n f o r t o e g r a n d e d e s a f i o : c o n f o r t o p a r a

a q u e l e s q u e j á s o f r e m , d e s a f i o p a r a a q u e l e s q u e e v i t a m o u n e g a m o s o f r i m e n t o .

3. Sendo povo de DeusL o g o n a a b e r t u r a d e s u a c a r t a P e d r o d i r i g e - s e a o s l e i t o r e s c o m o " e s t r a n g e i r o s

n o m u n d o , e s p a l h a d o s . . . " ( 1 . 1 ) , e r e p e t e d u a s v e z e s ta l c o n d i ç ã o ( 1 . 1 7 ; 2 . 1 1 ) .

A q u e l e e r a o s e u p r o b l e m a . E l e s e r a m a l i e n a d o s d o m u n d o , a n a d a p e r t e n c i a m

e s o f r i a m a r e j e i ç ã o a p l i c a d a a t o d o s o s " e s t r a n g e i r o s " . M a s e s s a a l i e n a ç ã o

p o d e s e r v i s t a d e o u t r o â n g u l o e a p r e s e n t a d a s o b o u t r o n o m e : e l e i ç ã o . O q u e

r e a l m e n t e o s f a z d i f e r e n t e s é q u e D e u s o s e s c o l h e u p a r a s e r e m s e u s , e d e s t a

p e r s p e c t i v a e l e s n ã o s ã o e s p a l h a d o s , i s o l a d o s e r e j e i t a d o s , e s i m " r a ç a e l e i t a ,

s a c e r d ó c i o r e a l, n a ç ã o s a n t a , p o v o d e p r o p r i e d a d e e x c l u s i v a d e D e u s . . . q u e a n t e s

n ã o é r e i s p o v o , m a s a g o r a s o i s p o v o d e D e u s ; q u e n ã o t í n h e i s a l c a n ç a d o

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P E D R O E S U A M E N S A G E M 1 3 7

m i s e r i c ó r d i a , m a s a g o r a a l c a n ç a s t e s m i s e r i c ó r d i a " ( 2 . 9 , 1 0 ) . P e d r o t o m a a l g u n s

d o s g r a n d e s n o m e s u s a d o s p a r a I s r a e l n o V e l h o T e s t a m e n t o ( v e j a , p . e x . , Ê x o d o

1 9 . 5 , 6 ) , e o s a p l i c a a o s s e u s l e i t o r e s e s p a l h a d o s . D i f i c i l m e n t e p o d e r i a h a v e ru m a d e s c r i ç ã o m a i s v i g o r o s a d a i g r e j a .

P e r t e n c e n d o - s e m u t u a m e n t e , e l e s p o d e m s u p o r ta r - s e m u t u a m e n t e a t r a v é s d a s

p r o v a ç õ e s q u e e n f r e n t a m :

• " T e n d o p u r i f i c a d o a s v o s s a s a l m a s , p e l a v o s s a o b e d i ê n c i a à v e r d a d e , t e n d o

e m v i s t a o a m o r f r a t e r n a l n ã o f i n g i d o , a m a i - v o s d e c o r a ç ã o u n s a o s o u t r o s

a r d e n t e m e n t e " ( 1 . 2 2 ) .

• " S e d e t o d o s d e i g u a l â n i m o , c o m p a d e c i d o s , f r a t e r n a l m e n t e a m i g o s ,

m i s e r i c o r d i o s o s , h u m i l d e s " ( 3 . 8 ) .

• " A c i m a d e t u d o , p o r é m , t e n d e a m o r i n t e n s o u n s p a r a c o m o s o u t r o s , p o r q u e o

a m o r c o b r e m u l t i d ã o d e p e c a d o s . S e d e m u t u a m e n t e h o s p i t a l e i r o s s e m

m u r m u r a ç ã o . S e r v i u n s a o s o u t r o s, c a d a u m c o n f o r m e o d o m q u e r e c e b e u , c o m o

b o n s d e s p e n s e i r o s d a m u l t i f o r m e g r a ç a d e D e u s " ( 4 . 8 - 1 0 ).

P o r t a n t o , o s c r i s t ã o s n ã o p r e c i s a m t e r r e c e i o . D e u s e s t á c o n s t r u i n d o u m a c a s a ,

f u n d a d a s o b r e J e s u s , a p e d r a a n g u l a r , e t o d o s a q u e l e s q u e p e r t e n c e m a E l e s ã o

c o m o " p e d r a s q u e v i v e m . . . e d i f i c a d o s c a s a e s p i r i t u a l p a r a s e r d e s s a c e r d ó c i o

s a n t o , a f i m d e o f e r e c e r d e s s a c r i f í c i o s e s p i r i t u a i s , a g r a d á v e i s a D e u s p o r

i n t e r m é d i o d e J e s u s C r i s t o " ( 2 . 5 ) . E m b o r a e s p a l h a d o s p e l o m u n d o , e l e s s ã o o

t e m p l o d e D e u s , o l u g a r o n d e E l e h a b i t a . P o r t a n t o , s e s o f r e m , n ã o p r e c i s a m

d e s e s p e r a r - s e . E l e s p o d e m c o n f i a n t e s e n c o m e n d a r " s u a s a l m a s a o f i e l C r i a d o r "

( 4 . 1 9 ) .

4. Vivendo em esperançaA q u a r t a r e s p o s t a d e P e d r o p a r a c o m p e t i r c o m o s o f r i m e n t o é a e s p e r a n ç a — a

r e a l q u a l i d a d e q u e p a r e c e s e r a m a i s d i f í c i l d e m a n t e r q u a n d o c h e g a o s o f r i m e n t o .

M a s a e s p e r a n ç a d e P e d r o n ã o é u m s e n t i m e n t o v a g o e i r r a c i o n a l , o u ad e t e r m i n a ç ã o d e u m o b s t i n a d o s i m p l e s m e n t e p a r a " m a n t e r a c a b e ç a l e v a n t a d a " .

E s t a e s p e r a n ç a é c e n t r a l i z a d a e m C r i s t o e a n c o r a d a n a h i s t ó r i a . E " u m a v i v a

e s p e r a n ç a " , c r i a d a p e l a r e s s u r r e i ç ã o d e C r i s t o ( 1 . 3 ), e q u e s e r á r e a l i z a d a n a s u a

v o l t a ( 1 . 7 ) . Q u a n d o E l e s e r e v e l a r ( 1 . 7 ) , n o s s a s a l v a ç ã o f i n a l t a m b é m s e r á

r e v e l a d a ( 1 . 5 ). E n q u a n t o i ss o , s o m o s " g u a r d a d o s p e l o p o d e r d e D e u s , m e d i a n t e

a f é " ( 1 . 5 ) , e a t é q u e C r i s t o s e j a r e v e l a d o à n o s s a v i s t a , p o d e m o s c r e r e a m a r

a q u e l e q u e é i n v i s í v e l , p o d e n d o e x u l t a r " c o m a l e g r i a i n d i z í v e l e c h e i a d e g l ó r i a "

( 1 . 8 ) . " P o r i s s o " , e s c r e v e P e d r o , " c i n g i n d o o v o s s o e n t e n d i m e n t o , s e d e s ó b r i o s

e e s p e r a i i n t e i r a m e n t e n a g r a ç a q u e v o s e s t á s e n d o t r a z i d a n a r e v e l a ç ã o d e J e -

s u s C r i s t o " ( 1 . 1 3 ) .

P o r t a n t o e s t a e s p e r a n ç a é f i r m e . S e p a r t i c i p a m o s d o s s o f r i m e n t o s d e C r i s t o

( 4 . 1 3 ) , c e r t a m e n t e p a r t i c i p a r e m o s d e s u a g l ó r i a (5 . 1 ) ; e p o d e m o s e s t a r s e g u r o s

d e q u e o s s o f r i m e n t o s q u e p a d e c e m o s e s t ã o p u r i f i c a n d o n o s s a f é c o m o o f o g o

p u r i f i c a o o u r o ( 1 . 7 ). E s p e r a n ç a , r e a l m e n t e ! A f r a q u e z a a t u a l s i m p l e s m e n t e

a p o n t a p a r a a f u t u r a f i r m e z a : " O D e u s d e t o d a a g r a ç a , q u e e m C r i s t o v o s c h a m o u

à s u a e t e r n a g l ó r i a , d e p o i s d e t e r d e s s o f r i d o p o r u m p o u c o , e l e m e s m o v o s h á d e

a p e r f e i ç o a r , f i r m a r , f o r t i f i c a r e f u n d a m e n t a r " ( 5 . 1 0 ) .

E s t a i n s i s t ê n c i a n o f u t u r o d e D e u s é u m a d a s ê n f a s e s v i t a i s d a s e g u n d a c a r t a

d e P e d r o , e s p e c i a l m e n t e d e 2 P e d r o 3 . A q u i e l e s e i n s u r g e c o n t r a o s

" e s c a r n e c e d o r e s " ( 2 P e d r o 3 . 3 ) , q u e p õ e m e m d ú v i d a a r e a l i d a d e d o j u í z o f i n a l .

E l e p r i m e i r a m e n t e i n s i s t e q u e v i r á r e a l m e n t e u m F i m ( 3 . 3 - 7 ) , e e m s e g u i d a

e x p l i c a s u a a p a r e n t e d e m o r a ( 3 . 8 - 1 0 ) : i st o se d e v e à " p a c i ê n c i a " d e D e u s , p o r q u e

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1 3 8 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

E l e d e s e j a p e r m i t i r p l e n a o p o r t u n i d a d e d e a r r e p e n d i m e n t o a t é q u e o c o r r a o

j u l g a m e n t o . F i n a l m e n t e P e d r o f o r m u l a a s i m p l i c a ç õ e s p r á t i c a s p a r a o s c r i s tã o s :" V i s t o q u e t o d a s e s s a s c o i s a s h ã o d e s e r a s s i m d e s f e i t a s , d e v e i s s e r t a i s c o m o o s

q u e v i v e m e m s a n t o p r o c e d i m e n t o e p i e d a d e , e s p e r a n d o e a p r e s s a n d o a v i n d a

d o d i a d e D e u s " ( 3 . 1 1 , 1 2 ) . A c e r t e z a d o f u t u r o j u l g a m e n t o d e D e u s é a m o t i v a ç ã o

p a r a a n o s s a p r e s e n t e s a n t i d a d e .

E s t a o b s e r v a ç ã o s o b r e o j u l g a m e n t o n ã o e s t á a u s e n t e n a p r i m e i r a c a r ta : " A

o c a s i ã o d e c o m e ç a r o j u í z o p e l a c a s a d e D e u s é c h e g a d a " , e x c l a m a P e d r o ( 4 . 1 7 ) .

E l e n ã o t e m e o j u l g a m e n t o d e D e u s p o r q u e s a b e q u e e s s a " s a l v a ç ã o " e s t á

e s p e r a n d o p o r e l e a t r a v é s d e C r i s t o ( 1 . 5 ) . E n t r e t a n t o , p r e c i s a m o s e s t a r p r o n t o s ,

e i s t o n o s l e v a à q u i n t a r e s p o s t a d e P e d r o s o b r e o s o f r i m e n t o :

5. Ser santos, fazer o bemA e x o r t a ç ã o e m 1 P e d r o 1 . 1 3 - 1 6 é p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e , c o n s t i t u i n d o - s e

n a p r i m e i r a a d m o e s t a ç ã o m o r a l a o s s e u s l e i t o r e s . T e n d o - o s i n c e n t i v a d o a v i v e r

e m e s p e r a n ç a ( 1 3 ) , P e d r o c o n t i n u a : " C o m o f i lh o s d a o b e d i ê n c i a , n ã o v o s

a m o l d e i s à s p a i x õ e s q u e t í n h e i s a n t e r i o r m e n t e n a v o s s a i g n o r â n c i a ; p e l o

c o n t r á r i o , s e g u n d o é s a n t o a q u e l e q u e v o s c h a m o u , t o r n a i - v o s s a n t o s t a m b é m

v ó s m e s m o s e m t o d o v o s s o p r o c e d i m e n t o , p o r q u e e s c r i t o e s t á : ' S e d e s a n t o s ,

p o r q u e e u s o u s a n t o ' " ( 1 4 - 1 6 ) . S u a s e p a r a ç ã o d o m u n d o d e v e s e r m a r c a d a p o r

u m a n í t i d a d i f e r e n ç a e m r e l a ç ã o a o m u n d o , a s a b e r , a q u e l a q u e m o s t r a o c a r á t e r

d o p r ó p r i o D e u s .

A e x o r t a ç ã o p a r a " f a z e r o b e m " a p a r e c e r e p e t i d a m e n t e n a p a r t e c e n t r a l d a

c a r t a :

• " M a n t e n d o e x e m p l a r o v o s s o p r o c e d i m e n t o n o m e i o d o s g e n t io s , p a r a q u e ,

n a q u i l o q u e f a l a m c o n t r a v ó s o u t r o s c o m o d e m a l f e i t o r e s , o b s e r v a n d o - v o s e m

v o s s a s b o a s o b r a s , g l o r i f i q u e m a D e u s n o d i a d a v i s i t a ç ã o " ( 2 . 1 2 ) .• " P o r q u e a s s i m é a v o n t a d e d e D e u s , q u e , p e l a p r á t i c a d o b e m , f a ç a i s e m u d e c e r

a i g n o r â n c i a d o s i n s e n s a t o s " ( 2 . 1 5 ) .

• S e . . . q u a n d o p r a t i c a i s o b e m , s o i s i g u a l m e n t e a f l i g i d o s e o s u p o r t a i s c o m

p a c i ê n c i a , i s t o é g r a t o a D e u s " ( 2 . 2 0 ) .

• " C o m o f a z i a S a r a . . . d a q u a l v ó s [ m u l h e r e s c r i s t ã s ] v o s t o r n a s t e s f i l h a s ,

p r a t i c a n d o o b e m e n ã o t e m e n d o p e r t u r b a ç ã o a l g u m a " ( 3 .6 ) .

• " O r a , q u e m é q u e v o s h á d e m a l t r a t a r , s e f o r d e s z e l o s o s d o q u e é b o m ? "

( 3 . 1 3 ) . C o m e s t a p e r g u n t a P e d r o c o n c l u i u m a l o n g a c i t a ç ã o d o S a l m o 3 4 , q u e

i n c l u i a e x o r t a ç ã o p a r a a p a r t a r - s e " d o m a l , p r a t i q u e o q u e é b o m , b u s q u e a p a z

e e m p e n h e - s e p o r a l c a n ç á - l a " ( 3 . 1 1 ) .

P o r t a n t o , e m b o r a e l e s p u d e s s e m s e r a c u s a d o s d e s u b v e r s i v o s p e r a n t e R o m a ,

o s c r e n t e s d e v i a m s u j e i t a r - s e " a t o d a i n s t i t u i ç ã o h u m a n a p o r c a u s a d o S e n h o r ;q u e r s e j a a o r e i , c o m o s o b e r a n o ; q u e r à s a u t o r i d a d e s c o m o e n v i a d a s p o r e l e ,

t a n t o p a r a c a s t i g o d o s m a l f e i t o r e s , c o m o p a r a l o u v o r d o s q u e p r a t i c a m o b e m "

( 2 . 1 3 , 1 4 ) . E l e s p o d e m a i n d a s e r p e r s e g u i d o s , p o r é m t e r ã o p e l o m e n o s f e i t o

" t o d a . . . d i l i g ê n c i a " , a s s o c i a n d o " a f é à v i r t u d e " ( 2 P e d r o 1 . 5 ) . T a l e s f o r ç o i n i c i a

u m a c o r r e n t e d e o u r o e m q u e a v ir t u d e s e l i g a a o c o n h e c i m e n t o , d o m í n i o p r ó p r i o ,

p e r s e v e r a n ç a , p i e d a d e , f r a t e r n i d a d e e a m o r . O r e s u l t a d o é e v i d e n t e : " . . .p o r q u a n t o ,

p r o c e d e n d o a s s i m , n ã o t r o p e ç a r e i s e m t e m p o a l g u m . P o i s , d e s t a m a n e i r a é q u e

v o s s e r á a m p l a m e n t e s u p r i d a a e n t r a d a n o r e i n o e t e r n o d e n o s s o S e n h o r e S a l -

v a d o r J e s u s C r i s t o " ( 2 P e d r o 1 . 1 0 , 1 1 ) .

A s s i m , a p r e s c r i ç ã o f i n a l d e P e d r o p a r a o s s o f r i m e n t o s d o s c r i s tã o s c o n v o c a -

o s a n ã o p e r m i t i r u m d e c r é s c i m o d a a t i v a e o b e d i e n t e e x p r e s s ã o d e s u a f é . S e j a m

Es t a e s c u l t u r a d o

Bo m Pa s t o r , u ma n t i g o s í m b o l ocr is tão , da ta dop e r í o d o b i z a n t i n oe f o i e n c o n t r a d ae m A l - M i n a h , p e r t ode Gaza .

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1 4 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

q u a i s f o r e m o s s e u s p e r c a l ç o s , d i z P e d r o , n ã o d e i x e m d e f a z e r o b e m !

R e s t a - n o s a p e n a s c o m e n t a r u m t e m a c a r a c t e r í s t i c o d a s e g u n d a c a r t a d e P e d r o .

E l e d e d i c a a m a i o r p a r t e d e s u a c a r t a a d v e r t i n d o s e u s l e i t o r e s c o n t r a o s " f a l s o s

m e s t r e s " q u e i n t r o d u z i r a m " h e r e s i a s d e s t r u i d o r a s " ( 2 .1 ) . E s s e f a l s o e n s i n o p a r e c e

t e r s i d o u m a m i s t u r a d e c e p t i c i s m o e f r o u x i d ã o m o r a l : u m a n e g a ç ã o d a s e g u n d a

v i n d a d e C r i s t o e d o f u t u r o j u l g a m e n t o ( 3 . 3 - 1 3 ) , a c o m p a n h a d o d a e n t r e g a d e

s u a s v i d a s a o s p r a z e r e s s e n s u a i s ( 2 . 1 3 - 2 2 ) . O a r d e n t e z e l o d o s p r i m e i r o s a n o s

d e P e d r o f a í s c a d e s u a p e n a e n q u a n t o e l e e x p õ e , e m p a l a v r a s d e e x t r e m a

i n d i g n a ç ã o , a i n i q ü i d a d e i m p u d e n t e d e s s e s f a l s o s m e s t r e s e s e u t e n e b r o s o d e s t i n o

(2 .1-10) .

E l e m o s t r a t a m b é m c o m o s e u s l e i t o r e s p o d e m c o n t i n u a r n a v e r d a d e s e m

v a c i l a r , d e p o i s d e s u a m o r t e ( 1 . 1 3 - 2 1 ) . E l e s t e r ã o a i n d a d u a s f o n t e s d e e n s i n o

i d ô n e o : a p a l a v r a apostólica e s c r i t a (1 5 ) , b a s e a d a n ã o e m m i t o s q u e o s a p ó s t o l o st e n h a m i n v e n t a d o , m a s n a h i s t ó r i a q u e e l e s h a v i a m t e s t e m u n h a d o ( 1 6 - 1 8 ) , e a

p a l a v r a profética e s c r i t a ( 1 9 - 2 1 ) . O s a p ó s t o l o s d o N o v o T e s t a m e n t o a p e n a s

c o n f i r m a r a m o s p r o f e t a s d o V e l h o T e s t a m e n t o . E e s s e s p r o f e t a s " f a l a r a m d a

p a r t e d e D e u s " ( is t o é , c o m s u a a u t o r i d a d e ) , n ã o p o r s e u p r ó p r i o i m p u l s o , m a s

q u a n d o e r a m i r r e s i s t i v e l m e n t e m o v i d o s p e l a i n s p i r a ç ã o d o E s p í r i t o S a n t o ( 2 1 ) .

P e d r o d e s e j a p o u p a r s e u s l e i t o r e s d a c a l a m i d a d e f i n a l , q u e é a d e s e d e s v i a r e m

d o e v a n g e l h o , o ú n i c o m e i o q u e l h e s p o d e a s s e g u r a r a e s p e r a n ç a n u m m u n d o d e

s o f r i m e n t o . " V ó s , p o i s , a m a d o s , p r e v e n i d o s c o m o e s t a i s d e a n t e m ã o , a c a u t e l a i -

v o s ; n ã o s u c e d a q u e , a r r a s t a d o s p e l o e r r o d e s s e s i n s u b o r d i n a d o s , d e s c a i a i s d a

v o s s a p r ó p r i a f i r m e z a ; a n t e s, c r e s c e i n a g r a ç a e n o c o n h e c i m e n t o d e n o s s o S e n h o r

e S a l v a d o r J e s u s C r i s t o . A e l e s e j a a g l ó r i a , t a n t o a g o r a c o m o n o d i a e t e r n o " ( 2

P e d r o 1 7 , 1 8 ) . O p r o f u n d o a m o r d e P e d r o p o r s e u S e n h o r , e s u a a r d e n t e

d e t e r m i n a ç ã o d e v i v e r e x c l u s i v a m e n t e p a r a E l e , b r i l h a m a t r a v é s d e s t a s p a l a v r a sd e e n c e r r a m e n t o d e s u a s e g u n d a c a r t a .

Leitura adicional

Menos exigente:Cars ten P . Thiede , Simon Peter: From G alilee to Rome (Exeter : Pa ternos ter , 1986)E d m u n d P . C l o w n e y , The Message of 1 Peter: The Wa y of the Cross (Leices te r : IV P,

1 9 8 8 )

I . H o w a r d M a r s h a l l , 7 Peter ( D o w n e r s G r o v e : I n t e r V a r si t y P r e s s , 1 9 9 1 )

Mais exigente, obras eruditas:John H. Elliott, A Hom e for the Homeless. A Sociological Exegesis of 1 Peter, Its Situa-

tion and Strategy ( L o n d r e s : S C M , 1 9 8 2 )

M i c h a e l G r e e n , 2 Peter Reconsidered (Leices te r : IV P, p r imei r a publ i cação 1961)

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A Mensagem deApocalipseO reino do mundo se tornou de

nosso Senhor e do seu Cristo, e ele

reinará pelos séculos dos séculos.

( A p o c a l i p s e 1 1 . 1 5 )

A p o c a l i p s e e s t á b e m s i t u a d o c o m o o ú l t i m o l i v r o d o N o v o T e s t a m e n t o . E l e f o i

p r o v a v e l m e n t e u m d o s ú l t i m o s a s e r e m e s c r i t o s . M a i s d o q u e q u a l q u e r o u t r o

l i v r o , e l e e n c a m i n h a s e u s l e i t o r e s a o f u t u r o q u e D e u s p l a n e j o u p a r a o m u n d o e

p a r a a i g r e j a . S e u r e t ra t o d e J e s u s é u m r e s u m o c o n v i n c e n t e d e t o d a s a s c o i s a s

q u e o s r e s t a n t e s l i v r o s d o N o v o T e s t a m e n t o e s c r e v e m s o b r e E l e . E , e n q u a n t o a

m a i o r p a r t e d o s l i v r o s d o N o v o T e s t a m e n t o f o i e s c r i t a p a r a g r u p o s e s p e c í f i c o s

de c r i s t ã os , A poc a l i p s e pa r e c e t e r s i do e s c r i t o c ons c i e n t e m e n t e pa r a t oda a i g r e j a ,e m t o d o s o s t e m p o s e l u g a r e s . A s s i m , p o r t o d a s e s t a s r a z õ e s , e l e t r a z o N o v o

T e s t a m e n t o a u m a c o n c l u s ã o a p r o p r i a d a e a l t a m e n t e i n s p i r a d a .

A p o c a l i p s e t e v e u m a h i s t ó r i a m a r c a d a p o r v i c i s s i t u d e s . E l e c o m e ç o u b e m ,

p o r q u e d e s d e m e a d o s d o s e g u n d o s é c u l o o s c r i s tã o s a c r e d i t a v a m q u e o " J o ã o "

q u e o e s c r e v e u ( 1 . 4 , 9 ) e r a o a p ó s t o l o J o ã o . P o r é m , n o t e r c e i r o s é c u l o s u r g i r a m

d ú v i d a s . E l e é t ã o d i f e r e n t e d o E v a n g e l h o d e J o ã o , t a n t o p e l a l i n g u a g e m c o m o

p e l o c o n t e ú d o ! — p o d e r i a e l e r e a l m e n t e s e r d o m e s m o a u t o r ? P o r o u t r o l a d o ,

n a q u e l a é p o c a v á r io s g r u p o s " f a c c i o s o s " p a s s a r a m a u s a r A p o c a l i p s e e m a p o i o

d e s u a s t e o r i a s e x c ê n t r i c a s a r e s p e i t o d e D e u s e d o m u n d o , u m p r o c e s s o q u e

d e s d e e n t ã o s e m a n t é m i n c o n t e s t a d o . P o r i s s o , o s c r i s t ã o s o r t o d o x o s c o m e ç a r a m

a s en t i r q u e A p o c a l i p s e e r a u m l i v r o i n s e g u r o . F o i o ú n i c o l i v r o d o N o v o T e s t a -

m e n t o s o b r e o q u a l J o ã o C a l v i n o , o R e f o r m a d o r d o s é c u l o d e z e s s e i s , n ã o

e s c r e v e u u m c o m e n t á r i o ( a l é m d a s e p í s t o l a s 2 e 3 d e J o ã o ) . M a r t i n h o L u t e r o

f o i a b e r t o e m s u a c r í t i c a : e l e o r e l e g o u a u m s e g u n d o p l a n o , a f i r m a n d o q u e

" C r i s t o n ã o é e n s i n a d o n e m r e c o n h e c i d o n e l e " .

E n t r e t a n t o , o s é c u l o v i n t e a s s is t i u a u m r e a v i v a m e n t o p e l o i n t e r e s s e a re s p e i t o

d e s t e l i v r o a s s o m b r o s o , t a n t o e n t r e e s t u d i o s o s c o m o n a i g r e j a e m g e r a l . E m

a n o s r e c e n t e s , a c o r r e n t e d e p u b l i c a ç õ e s t e m a u m e n t a d o a o s b o r b o t õ e s , e m u i t a

l u z f o i l a n ç a d a s o b r e s e u c o n t e x t o , p r o p ó s i t o e i n t e r p r e t a ç ã o . I n e v i t a v e l m e n t e ,

e m n o s s a a v a l i a ç ã o s o b r e a m e n s a g e m d e s t e l i v r o , d e v e m o s d e d i c a r a t e n ç ã o

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1 4 2 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

e s p e c i a l a o s p r i n c í p i o s d e i n t e r p r e t a ç ã o a e l e a p r o p r i a d o s .

"João", o autorA i d e n t i d a d e d o " J o ã o " q u e e s c r e v e u A p o c a l i p s e é t ã o i n d i s t i n t a , c o m o f o i h á

m i l e o i t o c e n t o s a n o s . R e u n i m o s a l g u m a s c o i s a s s o b r e e l e d o p r ó p r i o l i v r o :

1 . E l e r e g i s t r a a r e f e r ê n c i a d o a n j o s o b r e " t e u s i r m ã o s , o s p r o f e t a s " , a q u a l

s u g e r e q u e e l e é t a m b é m u m p r o f e t a ( 2 2 . 9 ) e s e u l i v r o é u m a " p r o f e c i a " ( 1 . 3 ;

2 2 . 1 0 ) . Is t o s i g n i f i c a q u e e l e e s t a v a p r o f u n d a m e n t e c ô n s c i o d e s e u c h a m a d o

s o l e n e p a r a t r a n s m i t i r a p a l a v r a d e D e u s a o s s e u s l e i to r e s ( 2 2 . 1 8 ) .

2 . A o m e s m o t e m p o e l e d e s e j a s er c o n h e c i d o a p e n a s c o m o o " i r m ã o " d e s e u s

l e i t o r e s , e c o m o s e u " c o m p a n h e i r o n a t r i b u l a ç ã o , n o r e i n o e n a p e r s e v e r a n ç a ,

e m J e s u s " ( 1 . 9 ) .

3 . N a é p o c a e m q u e e s c r e v e e l e s e e n c o n t r a n a i l h a d e P a t m o s , n o m a r E g e u ,

p a r a o n d e f o i e n v i a d o p o r c a u s a d a p a l a v r a d e D e u s e d o t e s t e m u n h o d e J e s u s

( 1 . 9 ) .

4 . S u a p r o f e c i a é e n d e r e ç a d a à s s e t e p r i n c i p a i s i g r e j a s d a p r o v í n c i a r o m a n a d a

Á s i a ( 1 . 1 1 ) , n o c o n t i n e n t e n ã o m u i t o d i s t a n t e d e P a t m o s ( 1 . 9 ) . E s t á c l a r o q u e

e l e c o n h e c e a s c o n d i ç õ e s l o c a i s ( t a n t o g e o g r á f i c a s c o m o e s p i r i t u a i s ) , e s a b e

q u e p o d e e s c re v e r - l h e s c o m u m a a u t o r i d a d e q u e e le s r e c o n h e c e m .

5 . E l e u s a u m e s t i l o g r e g o e x t r a o r d i n á r i o , q u e t e m c o n f u n d i d o o s l e i t o r e s d e s d e

e n t ã o . A l g u n s c o n c l u í r a m q u e o g r e g o n ã o e r a s u a p r i m e i r a l í n g u a , e n q u a n t o

o u t r o s u g e r e m q u e e l e d e l i b e r a d a m e n t e q u e b r a a s r e g r a s d a g r a m á t i c a g r e g a

p o r q u e e st á d e s c r e v e n d o c o i s a s q u e u l t r a p a s s a m a c a p a c i d a d e d a l i n g u a g e m

h u m a n a .

6 . E l e e r a p r o f u n d a m e n t e v e r s a d o n a s E s c r i t u r a s d o V e l h o T e s t a m e n t o , o q u e

s u g e r e q u e e l e e r a j u d e u . A l é m d i s s o , e l e t a m b é m e s t a v a c l a r a m e n t e f a m i l i a r i z a d on a t r a d i ç ã o " a p o c a l í p t i c a " . I s t o é i l u s t r a d o n o V e l h o T e s t a m e n t o p o r D a n i e l e

Z a c a r i a s , e v á r i o s o u t ro s j u d e u s " a p o c a l í p t i c o s " s o b r e v i v e r a m n o s p e r í o d o s

i n t e r t e s t a m e n t á r i o e n e o t e s t a m e n t á r i o . A p o c a l i p s e t e m m u i t o e m c o m u m c o m

e l e s , m a s t a m b é m d i f e r e n o t a v e l m e n t e d e l e s .

N ã o p o d e m o s c o l h e r m a i s d o q u e i s t o d o p r ó p r i o l i v r o . A p r i m e i r a v i s t a ,

t o d o s e s te s p o n t o s p o d e r i a m a j u s t a r - s e à t r a d i c i o n a l a t r i b u i ç ã o d o l iv r o a J o ã o ,

o a p ó s t o l o d e J e s u s e f i l h o d e Z e b e d e u . C o n t u d o , o q u i n t o p o n t o a p r e s e n t a u m a

d i f i c u l d a d e . F o i D i o n í s i o , b i s p o d e A l e x a n d r i a ( 2 4 7 - 6 5 d .C . ) , q u e m p r i m e i r o

d i s c o r d o u d e s s a a t r i b u i ç ã o , p o r c a u s a d a s d i f e r e n ç a s t a n t o n a l i n g u a g e m c o m o

n o c o n t e ú d o e n t r e A p o c a l i p s e e o s o u t r o s e s c r i t o s a t r i b u í d o s a J o ã o : " E l e m a l

t e m u m a s í l a b a e m c o m u m c o m e l e s ! " E e n t ã o c o n c l u i : " N ã o p o s s o d e b o a

v o n t a d e c o n c o r d a r q u e o a u t o r f o i o a p ó s t o l o , o f i l h o d e Z e b e d e u , o i r m ã o d eT i a g o . "

I s t o l e v o u E u s é b i o , a n t i g o h i s t o r i a d o r d a i g r e j a , q u e r e l a t o u o p o n t o d e v i s t a

d e D i o n í s i o p a r a r e f e r i r - s e à v i s ã o d e P a p i a s , b i s p o d e E s m i r n a p o r v o l t a d e 1 2 5

d . C . , q u e h a v i a d u a s f i g u r a s p r o e m i n e n t e s c h a m a d a s " J o ã o " n a v e l h a i g r e j a :

J o ã o , o a p ó s t o l o , e o u t r o a q u e m P a p i a s c h a m a d e " J o ã o , o p r e s b í t e r o " . E u s é b i o

s u g e r i u q u e e s t e s e g u n d o J o ã o f o s s e o a u t o r d e A p o c a l i p s e , e m u i t o s e s t u d i o s o s

m o d e r n o s t ê m a d o t a d o s u a s u g e s t ã o .

H á m a i s a s e r d i t o , e n t r e t a n t o . D i f e r e n ç a s p o d e h a v e r , m a s h á t a m b é m

s e m e l h a n ç a s m a r c a n t e s e n t r e o E v a n g e l h o d e J o ã o e A p o c a l i p s e . P o r e x e m p l o :

• E x c l u s i v a m e n t e e s t e s l i v r o s c h a m a m J e s u s d e " o V e r b o " ( Jo ã o 1 . 1 4 ; A p o c a l i p s e

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A M E N S A G E M D E A P O C A L I PS E 1 4 3

1 9 . 1 3 ) , e d ã o r e l e v o a o t í tu l o " o C o r d e i r o " ( J o ã o 1 . 2 9 , 3 6 ; A p o c a l i p s e 5 . 6 e t c . —

v i n t e e o i t o v e z e s a o t o d o ) .

• O t e m a d o " t e s t e m u n h o " é i m p o r t a n t e e m a m b o s ( p . e x . , J o ã o 1 5 . 2 7 ; A p o c a l i p s e1 2 . 1 7 ) .

• E m a m b o s o s l i v r o s J e s u s é o d o a d o r d a " á g u a v i v a " [ o u " á g u a d a v i d a " ] e a

r e s p o s t a f i n a l à " f o m e " e à " s e d e " ( J o ã o 4 . 1 0 ; 6 . 3 5 ; A p o c a l i p s e 7 . 1 6 , 1 7 ) .

• A m b o s o s l i v r o s p r e d i z e m a p e r s e g u i ç ã o c o n t r a a i g r e j a ( J o ã o 1 5 . 1 8 - 1 6 . 4 ;

A p o c a l i p s e 3 . 1 0 ; 1 3 . 7 ) , p o r é m a u n i ã o f i n a l c o m C r i s t o e m p r e s e n ç a d e D e u s ,

o s t e n t a n d o s e u " n o m e " ( J o ã o 1 7 .1 1 , 2 0 - 2 6 ; A p o c a l i p e 2 2 . 3 - 5 ) .

• " O t e m p l o " é u m t e m a f u n d a m e n t a l n o s d o i s l i v r o s — t a n t o o t e m p l o t e r r e n o ,

e m J e r u s a l é m , c o m o s u a c o n t r a p a r t e c e l e s t i a l .

O q u e d e v e m o s c o n c l u i r d i s t o ? R e v i s a n d o a e v i d ê n c i a , o P r o f . G e o r g e C a i r d

e s c r e v e u : " E p o s s í v e l l e v a n t a r u m a h i p ó t e s e d e a u t o r i a c o m u m , e m b o r a o b a l a n ç o

d a p r o b a b i l i d a d e a i n d a s e j a c o n t r a e l a . " N ó s , d e c e r t a f o r m a , t e m o s d e f i c a r

c o n t e n t e s c o m a i g n o r â n c i a s o b r e e s t e p o n t o . P a r e c e p r o v á v e l q u e o " J o ã o " d e

A p o c a l i p s e n ã o e r a o J o ã o d o q u a r t o E v a n g e l h o , m a s t a m b é m h á a l g u m a c o n e x ã o

e n t r e e l e s q u e p r o v o c o u e s t a s c o i n c i d ê n c i a s d e p e n s a m e n t o e l i n g u a g e m .

N o f i n a l d a s c o n t a s , c o n t u d o , su a i d e n t i f i c a ç ã o p r e c i s a n ã o é i m p o r t a n t e . M a i s

c r u c i a i s s ã o a s q u a l i d a d e s d e m e n t e e e x p e r i ê n c i a q u e f o r a m e m p r e g a d a s n a

r e d a ç ã o d o l i v r o . E t r ê s d e s s a s q u a l i d a d e s r e c l a m a m c o m e n t á r i o p a r t i c u l a r :

1. João estava profundamente familiarizado com as Escrituras do VelhoTestamento.E l e n u n c a c i t o u f o r m a l m e n t e o s t e x t o s d o V e l h o T e s t a m e n t o , p o r é m h á m a i s d e

q u a t r o c e n t a s a l u s õ e s i d e n t i f i c á v e i s a e l e , e m b o r a o a u t o r f a ç a m a i s r e f e r ê n c i a s

a o s S a l m o s e a o s p r o f e t a s , e e n t r e e s t e s e s p e c i a l m e n t e a Is a í a s , E z e q u i e l , D a -

n i e l e Z a c a r i a s .

E m m u i t o s c a s o s e l e r e p e t e a l i n g u a g e m d o V e l h o T e s t a m e n t o , t a l v e z a l g u m a sv e z e s i n c o n s c i e n t e m e n t e , p o r é m , m a i s i m p o r t a n t e a i n d a , e l e r e c o r r e à s g r a n d e s

i d é i a s e a o s e v e n t o s d o V e l h o T e s t a m e n t o . O ê x o d o d e I s r a e l d o E g i t o e s t á

f r e q ü e n t e m e n t e e m s u a m e n t e ; e a s s i m t a m b é m o e x í l i o d e I s r a e l n a B a b i l ô n i a

e o s e u l i v r a m e n t o o p e r a d o p o r D e u s . T o d o o t e m a d a a l i a n ç a d e D e u s c o m

I s r a e l é d e c i s i v o p a r a e l e . A t r a v é s d e t o d o o li v r o e n c o n t r a m o s r e f e r ê n c i a s a o

t e m p l o , s e u m o b i l i á r i o e a c e s s ó r i o s , b e m c o m o s e u c u l t o . E p r o f u n d a m e n t e

e s c r i t a e m s u a m e n t e e c o r a ç ã o é a f é d o s a l m i s t a , q u e o l h a v a p a r a u m m u n d o

g e n t i o q u e n ã o c o n h e c i a D e u s , d e c l a r a n d o : " R e i n a o S e n h o r " ( p . e x . , S a l m o

9 9 . 1 ) .

J o ã o , e n t r e t a n t o , n ã o r e p r o d u z s i m p l e s m e n t e o s t e x t o s o u i d é i a s d o V e l h o

T e s t a m e n t o . E l e o s d e s e n v o l v e , e , n a v e r d a d e , c r i a a l g u m a c o i s a n o v a s u g e r i d a

p o r s e u s l i v r o s . I s t o p o r q u e :

2. João era o recipiente da revelação profética.I s t o c o m e ç o u q u a n d o o E s p í r i t o i n s p i r a d o r o t o m o u n o D i a d o S e n h o r ( 1 . 1 0 ) .

U m a g r a n d e v o z d i s s e - l h e q u e e s c r e v e s s e o q u e v i a e e n v i a s s e à s se t e i g r e j a s d a

Á s i a ( 1 . 1 1 ) . E l e v o l t o u - s e e v i u n o m e i o d e s e t e c a n d e e i r o s d e o u r o " u m

s e m e l h a n t e a f i l h o d e h o m e m " (1 . 1 3 ) . U s a n d o e s t a e x p r e s s ã o " f i l h o d e h o m e m " ,

J o ã o t o r n a c l a r a s d u a s c o i s a s : e l e s a b i a q u e e r a J e s u s a q u e m v i a , e s a b i a q u e o

e s t a v a v e n d o c o m o D a n i e l o t i n h a v i s to u m a v e z — n a v i s ã o d e s c r i ta e m D a n i e l

7 . 9 - 1 4 .

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1 4 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

E m s e g u i d a , à m e d i d a q u e d e s c r e v e o q u e v i a ( 1 . 1 2 - 1 6 ) , J o ã o u s a a l i n g u a g e m

e x t r a í d a d e v á r i o s l u g a r e s d o V e l h o T e s t a m e n t o :• S e u c a b e l o e r a c o m o o d o p r ó p r i o D e u s ( D a n i e l 7 . 9 ) .

• S e u s o l h o s e s e u c i n t o e r a m c o m o a q u e l e s d o p o d e r o s o a n j o q u e a p a r e c e u a

D a n i e l j u n t o a o rio T i g r e ( D a n i e l 1 0 . 5 , 6 ) .

• S u a v o z e r a c o m o a v o z d e D e u s q u e E z e q u i e l o u v i u ( E z e q u i e l 1 . 2 4 ) .

• S u a b o c a e r a c o m o a d o g r a n d e " s e r v o d o S e n h o r " , c u j a v i n d a f o i r e v e l a d a a

I s a í a s ( 4 9 . 2 ) .

• S u a s v e s t e s e r a m c o m o a q u e l a s d o s u m o s a c e r d o t e ( L e v í t i c o 8 . 7 ) , e e l e e s t a v a

d e p é a o l a d o d e u m c a n d e e i r o c o m o o q u e h a v i a n o T a b e r n á c u l o o n d e o s u m o

s a c e r d o t e m i n i s t r a v a ( Ê x o d o 2 5 . 3 7 ) .

I n s p i r a d o p e l o E s p í r i t o , J o ã o t e c e t o d o s e s s e s t e m a s j u n t o s , e n q u a n t o d e s c r e v e

s u a v i s ã o s o b r e o C r i s t o r e s s u r g i d o e m s u a g l ó r i a . A s s i m f a z e n d o , J o ã o r e c o r r e

a v e l h o s t e m a s p a r a d i z e r a l g u m a c o i s a n o v a : e s t e s d i f e r e n t e s t e x t o s e t e m a sv i e r a m j u n t o s , c o n v e r g i n d o s o b r e J e s u s C r i s t o . À m e d i d a q u e e s t e p r o c e s s o é

r e p e t i d o s e g u i d a s v e z e s a t r a v é s d e A p o c a l i p s e , J e s u s t o r n a - s e a c h a v e p a r a a

c o m p r e e n s ã o d e t o d o o V e l h o T e s t a m e n t o .

P o d e m o s i m a g i n a r o V e l h o T e s t a m e n t o c o m o u m f i l m e e m b r a n c o e p r e t o .

A p o c a l i p s e é " u m f i l m e s o b r e a p r o d u ç ã o d o f i l m e " , e m c o r e s g l o r i o s a s . S o m o s

l e v a d o s p a r a t r á s d a s c e n a s e v e m o s a a ç ã o r e a l , s o m o s a p r e s e n t a d o s a o D i r e t o r

e t e m o s p e r m i s s ã o p a r a o u v i r p o r q u e o D i r e t o r r o d o u o f i l m e e p o r q u e a g o r a

r e s o l v e u c o n t i n u a r a h i s t ó r i a n u m s e g u n d o f i l m e , t e n d o c o m o e s t r e l a s e u P r i n -

c i p a l E x e c u t i v o .

M a s A p o c a l i p s e n ã o a p e n a s n o s l e v a a t r á s d a s c e n a s d o V e l h o T e s t a m e n t o .

M a i s d o q u e i s t o , e l e n o s l e v a a t r á s d a s c e n a s d o p r ó p r i o m u n d o . E s t e " f i l m e

s o b r e a p r o d u ç ã o d o f i l m e " l e v a - n o s d i r e t a m e n t e a o e s c r i t ó r i o d o D i r e t o r — i s t o

é , a o t ro n o d o p r ó p r i o D e u s — e o o b s e r v a m o s p r o d u z i n d o a h i s t ó r ia d o m u n d o ,

e m p a r c e r i a c o m s e u P r i n c i p a l E x e c u t i v o . I s t o é " a p o c a l í p t i c o " , u m a p a l a v r a

q u e s i g n i f i c a l it e r a l m e n t e " t i r a r o v é u " , p a r a q u e p o s s a m o s v e r o q u e g e r a l m e n t e

f i c a e s c o n d i d o .

I s t o n o s l e v a à t e r c e i r a q u a l i d a d e q u e J o ã o n i t i d a m e n t e p o s s u í a :

3. João t inha experimentado o ódio do m undo p ela igreja.E l e t i n h a s i d o a p r i s i o n a d o e m P a t m o s p o r c a u s a d e s e u t e s t e m u n h o . E l e s a b i a

q u e a l g u m a s d a s s e t e i g r e j a s à s q u a i s e l e r e c e b e u o r d e m p a r a e s c r e v e r j á t i n h a m

s i d o p e r s e g u i d a s ( 2 . 3 , 1 3 ) , e q u e o u t r a s o s e r i a m b r e v e m e n t e ( 2 . 1 0 ; 3 . 1 0 ) .

E s t a p e r s e g u i ç ã o p a r e c e t e r s i d o d e v i d a g r a n d e m e n t e p e l a r e c u s a d o s c r i s t ã o s

d e s e a s s o c i a r e m a o c u l t o d o i m p e r a d o r r o m a n o . O " c u l t o i m p e r i a l " , c o m o e r a

c o n h e c i d o , e s t a v a c r e s c e n d o c o n s t a n t e m e n t e . J ú l i o C é s a r t i n h a s i d o d e c l a r a d o

d i v i n o p o s t u m a m e n t e e m 2 9 a . C ., e h a v i a u m t e m p l o e m s u a h o n r a e m É f e s o .

T e m p l o s f o r a m e r i g i d o s p a r a o i m p e r a d o r s e g u i n t e , A u g u s t o , e n q u a n t o e l e a i n d a

e s t a v a v i v o , e t a m b é m a o s e u s u c e s s o r , T i b é r i o . D u r a n t e o p r i m e i r o s é c u l o , o

c u l t o i m p e r i a l g a n h o u i m p u l s o e m t o d o o i m p é r i o . I m a g i n a - s e q u e A p o c a l i p s e

f o i e s c r i t o d u r a n t e o r e i n a d o d e D o m i c i a n o ( 8 1 - 9 6 d . C .) , q u e p a r e c e t e r r e a l m e n t e

i n c e n t i v a d o a s p e s s o a s a d i r i g i r - se d i r e t a m e n t e a e l e c o m o " n o s s o S e n h o r e

D e u s " . I s t o p o d e e s t a r r e f l e t i d o e m A p o c a l i p s e 1 1 . 1 7 ; 1 5 . 3 ; 1 6 .7 ; 1 9 . 6 : h á

s o m e n t e u m " S e n h o r D e u s " , e n ã o é o i m p e r a d o r d e R o m a .

N a Á s i a o c u l t o e r a m u i t o p o p u l a r . C a d a u m a d a s s e t e c i d a d e s , e x c e t o T i a t i r a ,

t i n h a u m o u m a i s t e m p l o s d e d i c a d o s a o i m p e r a d o r q u e e s t a v a n o p o d e r o u à

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A M E N S A G E M D E A P O C A L IP S E 1 4 5

As cartas às Sete Igrejas

A s s e te car t as em A p oca l ips e 2 . 1 -3 . 22 s ão as p r imei r as das vár i ass é r i es d e " s e t e s " q u e a p a r e c e m n ol iv ro . Es tas car t as s ão todas d i t adasa J oão pe lo Cr i s to r es s ur r e to . Cadau m a d e l a s i n i c i a c o m a m e s m ao r d e m : " A o a n j o d a i g r e j a e m . . .e s c r e v e " , e c a d a u m a d e l a s t e r m i n ac o m a m e s m a m e n s a g e m : " Q u e mtem ouvidos , ouça o que o Es p í r i tod iz às ig r e jas . " Em cada cas ot a m b é m e s t a m e n s a g e m éa c o m p a n h a d a d e u m a p r o m e s s a :" A o v e n c e d o r . . . "

V á r i a s d a s c a rt a s c o n t ê m a l u s õ e s

deta lhadas a as pec tos da h i s tó r i a ,r e l ig ião ou geograf i a dasr e s p e c t i v a s c i d a d e s . E l a s f o r a me s t u d a d a s p e l o D r . C o l i n H e m e rem s eu l iv ro The Letters to theSeven Churches ofAsia (As Cartasàs Sete Igrejas da Asid). El eo b s e r v a , p o r e x e m p l o :

• P é r g a m o , " o n d e e s t á o t r o n o d eSatanás " (2 . 13) , e r a o cen t ro docu l to imper ia l para toda a r eg ião .• A c i d a d e d e S a r d e s o r g u l h a v a - s eh a v i a m u i t o d e s e r i n e x p u g n á v e lpor es t a r cons t ru ída no topo deu m a c o l i n a e s c a r p a d a : n o e n t a n t oe la ca iu duas vezes à no i t e emm ã o s d e i n i m i g o s , q u e e s c a l a r a mo s d e c l i v e s s e m s e r e m n o t a d o s . P o r

i s s o Cr i s to adver te a ig r e ja a l iins ta l ada : " Se não v ig iar es ,v i r e i como ladrão , e nãoc o n h e c e r á s d e m o d o a l g u mem que hora v i r e i con t r a t i "(3 . 3 ) .

• L a o d i c é i a e r a f a m o s a p e l os u p r i m e n t o d e s u a á g u a t é p i d ae ins íp ida , que e r a canal i zadaa par t i r das fon tes t e rmais a t écer t a d i s t ânc ia . C r i s to acus a ai g r e j a : " C o n h e ç o a s t u a sobras , que nem és f r io nemq u e n t e . Q u e m d e r a f o s s e s f r i o ,o u q u e n t e ! A s s i m , p o r q u e é s

m o r n o , e n e m é s q u e n t e n e mf r io , es tou a ponto de vomi tar -t e d e m i n h a b o c a " ( 3 . 1 5 , 1 6 ) .

• Em duas das ig r e jas umg r u p o c h a m a d o " n i c o l a í t a s "era mui to a t ivo (Éfes o , 2 . 6 ;P é r g a m o 2 . 1 5 ) . I s t o p a r e c e s e ru m a r e f e r ê n c i a b e m l o c a l ,p o r q u e n ã o t e m o s n o t í c i ad e s s e g r u p o e m q u a l q u e r o u t r af o n t e . P a r e c e q u e e s s e g r u p ode cr i s t ãos não s en t i a qua lquerd i f i c u l d a d e q u a n t o àp a r t i c i p a ç ã o n o c u l t o i m p e r i a le n a a d o r a ç ã o p a g ã .

Todas es s as e ou t r asr e f e r ê n c i a s l o c a i s a s s in a l a m ai n f o r m a ç ã o d e 1 . 1 2 , 1 3 , 2 0 :

Cr i s to es t á en t r e oscandeei ros " que s ão as s e tei g r e j a s " . E l e c o n h e c e s u a sc o n d i ç õ e s , b e m c o m o s u a sneces s idades es p i r i tua i s , j áes tá bem per to de las , e podep r o f e r i r p a l a v r a s d ea d v e r t ê n c i a e â n i m od i r e t a m e n t e a e l a s .

C a d a c a r t a t e r m i n a c o mu m a r e f e r ê n c i a a o " q u e oEs p í r i to d iz às ig r e jas " ,c o m o s e a m e n s a g e m a c a d ai g r e j a f o s s e t a m b é m d i r i g i d aàs ou t r as s e i s . N a r ea l idade ,

p o d e m o s p r o v a v e l m e n t eampl ia r o a lvo e admi t i r quetodas as ou t r as ig r e jas es t ãoi n c l u í d a s a q u i , n ã o a p e n a so u t r o s m e m b r o s d a s " s e t e " .S e t e é o n ú m e r o d ac o m p l e t i t u d e . C o m t o d aprobabi l idade es tas s e tei g r e j a s re p r e s e n t a m t o d a ai g r e j a u n i v e r s a l . A s s i m ,t o d o s n ó s p o d e m o s r e s -p o n d e r à s a d m o e s t a ç õ e s eperguntar o que o Es p í r i totem a d izer a cada uma dasi g r e j a s h o j e , c o m b a s e

n e s s a s m e n s a g e n s d i r i g i d a st ã o p e s s o a l m e n t e p e l o C r i s t ores s ur r e to às ig r e jas dop r i m e i r o s é c u l o n a Á s i a .

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1 4 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

d e u s a " R o m a " . O g o v e r n o l o c a l e r a e n v o l v i d o n o c u l t o . F e s t a s a n u a i s e r a m

p r o m o v i d a s , m a r c a d a s n ã o s o m e n t e p e l a i d o l a t r i a , m a s à s v e z e s p o r g r a n d ei m o r a l i d a d e — e t o d o s t i n h a m d e c o n t r i b u i r p a r a o c u s t o d e l a s , a l é m d e p a r t i c i p a r.

Q u a n d o a p r o c i s s ã o p a s s a v a , a s p e s s o a s a p r e s e n t a v a m s a c r i f íc i o s e m p e q u e n o s

a l t a r e s d o l a d o d e f o r a d e s u a s c a s a s . N a q u e l e t e m p o a Á s i a e r a p a c í f i c a e

p r ó s p e r a , e a s p e s s o a s a g r a d e c i d a s a t r i b u í a m is t o a o g o v e r n o r o m a n o .

Q u a n d o o s c r i s t ã o s e a f a s t a v a m d e t u d o i s s o , e r a m t i d o s c o m o i n g r a t o s e

d e s l e a i s . O s n i c o l a í t a s p a r e c e m t e r c e d i d o a e s s a s p r e s s õ e s e a c o n s e l h a d o o s

c r i s t ã o s a c o n c o r d a r c o m a p r á t i c a p a g ã ( v e j a o q u a d r o a c i m a s o b r e As cartas às

Sete Igrejas). M a s p a r a m u i t o s a c o n f i s s ã o " J e s u s é S e n h o r " ( 1 C o r í n t i o s 1 2 . 3 )

s i g n i f i c a v a q u e e l e s n ã o p o d i a m a s p e r g i r i n c e n s o s o b r e o f o g o q u e a r d i a d i a n t e

d a e s t á t u a d o i m p e r a d o r e d i z e r " C é s a r é S e n h o r " . T e r i a s i d o p o r i s s o q u e J o ã o

f o i e x i l a d o e m P a t m o s ?

A l é m d e s s e c o n h e c i m e n t o d a s c o n d i ç õ e s i m e d i a t a s d a s i g r e j a s, J o ã o t a m b é ms a b i a c o m o r e a l m e n t e e r a a v i d a n e s t e g l o b o . P o r t r á s d a p r ó s p e r a f a c h a d a d a

Á s i a u m a i m a g e m m u i t o m a i s f e i a s e o c u l t a v a . O p o d e r d e R o m a b a s e a v a - s e n o

p o d e r m i l it a r , n a g u e r r a , n a e x p l o r a ç ã o e c o n ô m i c a , n o t r á f i c o d e e s c r a v o s , n o

c u l t o i d ó l a t r a d o d i n h e i r o e d o p o d e r , e — J o ã o o c o n s t a t o u p o r s i m e s m o — n a

t e m í v e l a u t o r i d a d e d o d r a g ã o , o p r ó p r i o S a t a n á s , e n a s m e d o n h a s " b e s t a s " a

q u e m e l e d e l e g a v a p o d e r . A d o r a r R o m a e r a a d o r a r o p r ó p r i o d r a g ã o , r e c e b e r n a

f r o n t e s u a m a r c a ( 1 3 . 1 6 , 1 7 ) . O i m p é r i o r o m a n o p o d e t e r p a r e c i d o p r ó s p e r o e

p a c í f i c o , m a s e r a , n a r e a l i d a d e , u m a p r o s t i t u t a , m o n t a d a n a s c o s t a s d a b e s t a d o

d r a g ã o ( 1 7 .3 ) , " e m b r i a g a d a c o m o s a n g u e d o s s a n t o s " ( 1 7 . 6 ) , v i v e n d o e m l u x ú r i a

à s e x p e n s a s d o m u n d o e p r o n t a p a r a a d e s t r u i ç ã o ( c a p í t u l o 1 8 ) .

O s " s e l o s " n o c a p í t u l o 6 r e t r a t a m a r e a l i d a d e d o g o v e r n o r o m a n o : e x e r c e n d o

o p o d e r i m p e r i a l ( 6 . 1 , 2 ) , a p o i a n d o - s e n a g u e r r a ( 6 . 3 , 4 ) , p r o v o c a n d o a m i s é r i a

e c o n ô m i c a ( 6 . 5 , 6 ), e s p a l h a n d o a m o r t e ( 6 . 7 ,8 ) , e i m p o n d o o m a r t í r i o a o s s e r v o s

d e D e u s ( 6 . 9 - 1 1 ) . J o ã o r e t i r a o v é u d e c i m a d e t o d o e s s e h o r r o r , j á e x p e r i m e n t a d o

p o r m u i t o s c r is t ã o s , d e m o d o q u e p o d e t a m b é m r e v e l a r a m a r a v i l h o s a v i t ó r i a

c o n q u i s t a d a p o r D e u s p o r m e i o d e s e u C r i s t o , e p r o m e t i d o p o r C r i s t o a s e u s

s e r v o s . E l e t i n h a v i s t o J e s u s , r e s s u r g i d o , t r i u n f a n t e , g l o r i o s o , i n v e n c í v e l ,

s u s t e n t a n d o a s i g r e j a s e m s e g u r a n ç a c o m s u a f o r t e d e s t r a . E s t a f o i a v i s ã o q u e a

i g r e j a p e r s e g u i d a n e c e s s i t a v a .

Interpretando A pocalipseC o m o d e v e m o s c o m p r e e n d e r e s te l iv r o ? E l e f o i o p á t i o d e r e c r e i o d o s e x c ê n t r i c o s

d e s d e q u e f o i e s c r i t o — e a i n d a é . E x i s t e a l g u m m e i o d e n o s c e r t i f i c a r m o s d e

q u e e s t a m o s l e n d o e s t e l i v r o d o m o d o q u e J o ã o p r e t e n d e u ?H á e s s e n c i a l m e n t e q u a t r o a l t e r n a t i v a s p a r a a i n t e r p r e t a ç ã o d e s t e l iv r o . T o d o s

o s e s f o r ç o s p a r a d e s v e n d a r s e u s e n t i d o u t i l i z a m u m a d e s s a s a l t e r n a t i v a s , o u

t e n t a m c o m b i n a r d u a s o u m a i s . V a m o s e x p ô - l a s e a v a l i á - l a s u m a a u m a ,

e s p e c i a l m e n t e à l u z d a f o r m a c o m o J o ã o i n t r o d u z s e u t e x t o n o p r i m e i r o c a p í t u l o .

J o ã o e x p l i c a s e u t r a b a l h o l o g o n o p r i m e i r o v e r s í c u l o : " R e v e l a ç ã o d e J e s u s

C r i s t o , q u e D e u s l h e d e u p a r a m o s t r a r a o s s e u s s e r v o s a s c o i s a s q u e e m b r e v e

d e v e m a c o n t e c e r " ( 1 . 1 ) . M a s d e v e m o s p e r g u n t a r : " Q u a i s s e r v o s ? " e " Q u e f u -

t u r o e s t á s e n d o r e v e l a d o ? "

• A a l t e r n a t i v a preterista e n f a t i z a o s e n t i d o d e A p o c a l i p s e p a r a s e u s p r i m e i r o s

l e i to r e s , e q u e s t i o n a q u a l q u e r i n t e r p r e t a ç ã o q u e n ã o o s t e m f i r m e m e n t e n a m e n t e .

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A M E N S A G E M D E A P O C A L I P SE 1 4 7

Os "setes" de Apocalipse e a estrutura do livro

Mui tas p ropos tas t êm s ido f e i t as s obre aes t ru tura de A pocal ips e , e é ev iden te que J oãot e v e s u a v i s ã o c o m o u m a s u c e s s ã o d e " s e t e s " .H á bas icamente s e i s s ér i es de " s e tes " no l iv ro :• A s s e te ig r e jas , 2 . 1 -3 . 22• O s s e te s e los , 4 . 1 -8 . 1• A s s e te t rombetas , 8 . 2 -11 . 19• O s s e te s ina i s no céu , 12 . 1-15 . 8• As sete taças da i ra, 16.1-21• A s s e te v i s ões f ina i s , 17 . 1 -22 . 21A lém d i s s o , uma s é t ima s ér i e de s e te ém e n c i o n a d a : o s s e t e " t r o v õ e s " q u e J o ã o t e v e d e" s e lar " e não es crever (10 . 4) , como para nosl e m b r a r q u e m e s m o e s t e l iv r o n ã o é a r e v e l a ç ã ode todas as co i s as .

Cada s ér i e r es u l t a da s ér i e p recedente , de modoq u e t o d a s e la s f o r m a m u m t o d o u n i d o . P o rexemplo , o s é t imo " s e lo" é s egu ido da s ér i e dass e te t rombetas (8 . 1 , 2 ) , e o s é t imo " s ina l no céu"é s egu ido da s ér i e das s e te " t aças " (15 . 1) .

A s ér i e dos s e te " s ina i s no céu" es tá no meiodo l iv ro . Cada " s ina l " in ic ia pe la pa lavra " V i"ou " O lhei " , ou a lgo equ iva len te , s endo op r i m e i r o e o s é t i m o e f e t i v a m e n t e c h a m a d o d e" s ina l " (12 . 1 ; 13 . 1 , 11 ; 14 . 1 , 6 , 14 ; 15 . 1) . Es tet r e c h o a p r e s e n t a - n o s a r e a l i d a d e d o m a l e m t o d oo s eu hor ror c ru , e a r ea l idade da v i tó r i ac o n q u i s t a d a p o r C r i s t o e c o m p a r t i l h a d a c o m s e up o v o .

A ú l t ima s ér i e r e l ac ionada ac ima, as s e te v i s õesf ina i s , não é abs o lu tamente uma s ér i e óbv ia , en e m t o d o s o s e s t u d i o s o s c o n c o r d a m q u e e s s e sc a p í t u l o s d e v a m s e r c o n s i d e r a d o s a s s i m . S e r i am e l h o r c o n s i d e r a r e s s a s v i s õ e s f i n a i ss i m p l e s m e n t e c o m o u m a s e q ü ê n c i a e

c o m p l e m e n t o d a s é r i e d a s s e t e t a ç a s —e q u i l i b r a n d o a s s i m c o m a f o r m a c o r r e s p o n d e n t eà que os s e te s e los s ão in t roduzidos pe lasmarav i lhos as v i s ões do céu nos cap í tu los 4 e 5 .

Contudo , é pos s íve l ana l i s ar os cap í tu los 17-22c o m o u m a g r a n d e s é r i e d e seis vi s ões , cada qualm a r c a d a p e l o a p a r e c i m e n t o d e u m a p o d e r o s af igura ce les t i a l :1 . U m an jo r eve la a mulher s obre a bes ta , 17 . 1-18 .2 . O u t r o a n j o a n u n c i a a q u e d a d e B a b i l ô n i a ,18 . 1-19 . 10 .3 . O cavale i ro s obre o cavalo b ranco aparecepara des t ru i r a bes ta , 19 . 11-21 .

4 . O a n j o c o m a c h a v e a p a r e c e p a r a p r e n d e r ef e c h a r o d ra g ã o , 2 0 . 1 - 1 0 .5 . O própr io D eus aparece , s en tado em s eu t ronodo juí zo f inal, 20.1 1-15 .6 . O u t r o a n j o a p a r e c e ( 2 1 . 9 ) p a r a re v e l a r u m am u l h e r m u i t o d i f e r e n t e , a n o i v a d o C o r d e i r o , aJ e r u s a l é m c e l e s t ia l , 21.1 - 2 2 . 1 7 .

Se es ta aná l i s e é cor r e ta , s omos induzidos ap e r g u n t a r p o r q u e n ã o h á u m s é t i m oaparec imento e v i s ão nes ta par t e f ina l . E bempos s íve l que a r es pos ta s e ja que há , p o r é m a i n d an ã o a c o n t e c e u . O l i v r o t e r m i n a c o m a p r o m e s s a :" A q u e l e q u e d á t e s t e m u n h o d e s t a s c o i s a s d i z :' C e r t a m e n t e v e n h o s e m d e m o r a ' " , c o m a o r a ç ã oe m r e s p o s t a : " A m é m . V e m , S e n h o r J e s u s "( 22 .20 ) .

A n a l i s a d o d e s t a f o r m a , o l iv r o A p o c a l i p s e ées t ru turado em torno das s e te s ér i es de " s e tes " ,mas o s e te f ina l a inda não es tá comple to , porqueJ es us t em a inda de vo l t a r .

E l e s s ã o o s " s e r v o s " q u e e x p e r i m e n t a m " a s c o i s a s q u e e m b r e v e d e v e m

a c o n t e c e r " .

• A a l t e r n a t i v a historicista, p o r o u t r o la d o , v i s u a l i z a A p o c a l i p s e c o m o u m a

e s p é c i e d e a l m a n a q u e d a h i s t ó r i a u n i v e r s a l , e s c r i t a a n t e c i p a d a m e n t e . E s t a é a

a l t e r n a t i v a s e g u n d o a q u a l a l g u n s , p o r e x e m p l o , t ê m i d e n t i f i c a d o o p a p a c o m o

" a b e s t a " , o u t ê m c o n s i d e r a d o q u e a C o m u n i d a d e E u r o p é i a r e p r e s e n t a o s d e z

c h i f r e s d a b e s t a ( 1 3 . 1 ) .• A a l t e r n a t i v a / M í i i r á t o i n t e r p r e t a " q u e e m b r e v e d e v e m a c o n t e c e r " a i n d a m a i s

r a d i c a l m e n t e . E l a s u s t e n t a q u e A p o c a l i p s e s e o c u p a s o m e n t e c o m o s e v e n t o s

d o F i m , o s r e a i s ú l t i m o s e v e n t o s d a h i s t ó r i a u n i v e r s a l , i n c l u i n d o a v i n d a d e

C r i s t o e o j u l g a m e n t o f i n a l .

• D i f e r e n t e m e n t e , a a l t e r n a t i v a infinito-simbólica t r a t a o l i v r o c o m o u m a s é r i e

d e p a r á b o l a s . O q u e é i m p o r t a n t e , s u s t e n t a e s t a a l t e r n a t i v a , é a v e r d a d e i n f i n i t a

t r a n s m i t i d a p e l a s p o d e r o s a s i m a g e n s d o l i v r o — t a i s c o m o " o C o r d e i r o " e " a

J e r u s a l é m c e l e s t i a l " .

C o m o d e v e m o s n ó s a v a l i a r e s t a s a l t e r n a t i v a s a n t a g ô n i c a s ? C o m to d a a

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1 4 8 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

R u í n a s d o t e m p l o

d e A r t ê m i s e mSardes . A ig re ja deSa r d e s e s t a v aen t re as se teig re jas , sobre asq u a i s J o ã oe x e r c e us u p e r v i s ã o .

p r o b a b i l i d a d e e la s n ã o s ã o m u t u a m e n t e t ã o e x c l u d e n t e s c o m o p a r e c e m . P o r é m

é f u n d a m e n t a l o u v i r o p r ó p r i o J o ã o , p o i s s u a i n t r o d u ç ã o n o s d á u m a c l a r ao r i e n t a ç ã o p r e c i s a m e n t e s o b r e e s t e p o n t o .

1. João define os recipientes da revelação.D e u s , p o r i n t e r m é d i o d e J o ã o e d o a n j o q u e l h e e n v i o u ( 1 . 1 ) , d e u e s s a r e v e l a ç ã o

a o s " s e u s s e r v o s " . N a s a u d a ç ã o q u e s e s e g u e , e s s e s " s e r v o s " s ã o e n t ã o

m e n c i o n a d o s :

• " J o ã o , à s s e t e i g r e j a s q u e s e e n c o n t r a m n a Á s i a : G r a ç a e p a z a v ó s o u t r o s , d a

p a r t e d a q u e l e q u e é , q u e e r a e q u e h á d e v i r , d a p a r t e d o s s e t e e s p í r i t o s q u e s e

a c h a m d i a n t e d o s e u t r o n o , e d a p a r t e d e J e s u s C r i s t o . . . " ( 1 . 4 , 5 ) .

O l i v r o a b r e c o m o u m a m e n s a g e m e s p e c í f i c a , d a s t r ê s p e s s o a s d a T r i n d a d e

p a r a a s s e t e i g r e j a s . P o r t a n t o , A p o c a l i p s e t i n h a u m g e n u í n o c o n t e x t o h i s t ó r i c o .

J o ã o e v i d e n t e m e n t e e x e r c e u a l g u m t i p o d e s u p e r v i s ã o s o b r e a s i g r e j a s e m E f e s o

e E s m i r n a , P é r g a m o e T i a t i r a , S a r d e s , F i l a d é l f i a e L a o d i c é i a ( 1 . 1 1 ) . E l e a t é

m e s m o a s r e l a c i o n a n a o r d e m e m q u e s e r ia m a l c a n ç a d a s p o r u m m e n s a g e i r o

v i a j a n d o a o l o n g o d a e s t r a d a c i r c u l a r q u e a s u n i a . E c o m o v i m o s a c i m a ( n o

q u a d r o s o b r e a s c a r t a s à s s e t e i g r e j a s , p á g . 1 4 5 ) , a s n e c e s s i d a d e s p a r t i c u l a r e s d e

c a d a i g r e j a s ã o t r a t a d a s .

E s t e c o n t e x t o h i s t ó r i c o d e f i n i d o a j u d a - n o s e m n o s s a a v a l i a ç ã o d e s s a s

a l t e r n a t i v a s a n t a g ô n i c a s . A a l t e r n a t i v a preterista d e v e c o n t e r u m i m p o r t a n t e

e l e m e n t o d e v e r d a d e , a o p a s s o q u e a e s c o l a e s t r i t a m e n t e / w í M r á f a d e i n t e r p r e t a ç ã o

n ã o p o d e s e r c o r r e t a . S e a m e n s a g e m d o l i v r o s e r e f e r e i n t e i r a m e n t e a o p e r í o d o

i m e d i a t a m e n t e a n t e r i o r à v o l t a d o S e n h o r , e n t ã o e la n ã o t in h a n e n h u m a

m e n s a g e m p a r t i c u l a r p a r a a s i g r e j a s à s q u a i s J o ã o d i z q u e e s c r e v e u .

E n t r e t a n t o , c o m o t a m b é m v i m o s a c i m a , h á e v i d ê n c i a d e q u e u m a a u d i ê n c i a

m a i s a m p l a e s t á t a m b é m e m v i s t a . I s t o i n d i c a r i a q u e a e s c o l a preterista n ã o t e mm o n o p ó l i o s o b r e a p r e c i s ã o . A m e n s a g e m p o d e t er s i d o d i r i g id a p r i m a r i a m e n t e

a o s m e m b r o s d a s s e t e i g r e j a s , m a s e l a t e m r e l e v â n c i a p a r a t o d o s o s c r i s t ã o s e m

t o d o s o s l u g a r e s . P a r a i l u s t r a r i s t o , c o n s i d e r e m o s u m a d a s m a i s i m p o r t a n t e s

v i s õ e s d e J o ã o , a d o d r a g ã o e a s b e s t a s .

U m d a s m a i s h o rr i p i l a n te s i m a g e n s e m A p o c a l i p s e é a d a m u l h e r m o n t a d a

n u m a b e s t a d e s e t e c a b e ç a s ( 1 7 . 1 - 6 ) . E n q u a n t o a v i s ã o s e d e s e n r o l a , e s s a m u l h e r

é n i t i d a m e n t e i d e n t i f i c a d a c o m o R o m a . A s s e t e c a b e ç a s d a b e s t a " s ã o s e t e

m o n t e s , n o s q u a i s a m u l h e r e s t á s e n t a d a " ( 1 7 . 9 ) . R o m a e r a f a m o s a c o m o a

c i d a d e c o n s t r u í d a s o b r e s e t e c o l i n a s . A m u l h e r é r e a l m e n t e c h a m a d a " B a b i l ô n i a ,

a g r a n d e " ( 1 7 . 5 ) , m a s o s p r i m e i r o s l e i t o r e s n ã o t e r i a m n e n h u m a d ú v i d a s o b r e

s u a v e r d a d e i r a i d e n t i d a d e . A s s i m , t o d a a v i s ã o e r a p l e n a d e s e n t i d o p a r a e l e s . A

m e d i d a q u e l i a m a s p a l a v r a s d e J o ã o , v i a m a l u x ú r i a d e R o m a , o c o m é r c i o d oq u a l e l a s e n u t r i a , s u a i d o l a t r i a , a e x p l o r a ç ã o e s s e n c i a l d o s i s t e m a e c o n ô m i c o

q u e e la c o n t r o l a v a — e s u a q u e d a v i n d o u r a .

M a s , s e a m u l h e r é R o m a , q u e m o u o q u e é a b e s t a s o b r e a q u a l R o m a s e

a s s e n t a ? E s t a m e s m a b e s t a d e s e t e c a b e ç a s j á h a v i a a p a r e c i d o , e m 1 3 . 1 - 1 0 .

J o ã o v ê a b e s t a e r g u e n d o - s e d o m a r , o l u g a r d e c a o s e l a r d e t o d a s a s f o r ç a s

h o s t i s a D e u s ( 1 3 . 1 ) . D a n i e l t i v e r a u m a v i s ã o d e q u a t r o b e s t a s e r g u e n d o - s e d o

m a r ( D a n i e l 7 . 1 - 7 ) , q u e s e t o r n a r a m r e p r e s e n t a n t e s d e q u a t r o i m p é r i o s f u t u r o s

( D a n i e l 1 7. 1 7 ). A b e s t a ú n i c a q u e J o ã o v ê c o m b i n a n u m a s ó f i g u r a a s q u a t r o

c a r a c t e r í s t i c a s d i s t i n t i v a s d e c a d a u m a d a s b e s t a s d e D a n i e l . E s s a s b e s t a s -

i m p é r i o s p a r e c i a m - s e r e s p e c t i v a m e n t e c o m u m l e ã o , u m u r s o , u m l e o p a r d o e

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1 5 0 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

u m e n o r m e d i n o s s a u r o c o m d e z c h i f r e s ( D a n i e l 7 . 4 - 7 ) . A b e s t a d e J o ã o r e p e t e

t a i s c a r a c t e r í s t i c a s n a o r d e m i n v e r s a : e l a t e m d e z c h i f r e s , e " e r a s e m e l h a n t e au m l e o p a r d o , c o m p é s c o m o d e u rs o , e b o c a c o m o b o c a d e l e ã o " ( A p o c a l i p s e

1 3 . 2 ) .

O q u e d e v e m o s f a z e r d i s s o ? Id e n t i f i c a r a b e s t a s i m p l e s m e n t e c o m o o i m p é r i o

r o m a n o , s o b r e o q u a l a c i d a d e d e R o m a s e a s s e n t a , n ã o f a z j u s t i ç a à i m a g e m d e

J o ã o e a e s s e c e n á r i o e m D a n i e l . U m a i n t e r p r e t a ç ã o m e l h o r e s t á à m ã o , a q u e l a

q u e d á a A p o c a l i p s e u m a m e n s a g e m p a r a t o d o s o s c r e n t e s e m t o d o s o s t e m p o s

e l u g a r e s . A b e s t a e n c o n t r a s u a e x p r e s s ã o n ã o e m q u a l q u e r i m p é r i o i s o l a d o ,

m a s e m t o d a s a s m a n i f e s t a ç õ e s d e p o d e r i m p e r i a l q u e s e c o l o c a m c o n t r a D e u s

e se u p o v o . N a t u r a l m e n t e , n e m t o d o s o s p o d e r e s d o m u n d o p e r s e g u e m a i g r e j a .

M a s m u i t o s d e l e s o f a z e m — t a l v e z a m a i o r i a d e l e s , n o c u r s o d a h i s t ó r i a . P o r

q u e é a s s i m ? A r e s p o s t a e s t á à m ã o : " E d e u - l h e o d r a g ã o o s e u p o d e r , o s e u

t r o n o e g r a n d e a u t o r i d a d e " ( 1 3 . 2 ) . N o f i n a l d a s c o n t a s , o p o d e r i m p e r i a l d e r i v ad e S a t a n á s , p o r q u e e l e g o v e r n a o m u n d o s e m r e l a ç ã o c o m s e u C r i a d o r e r e q u e r

l e a l d a d e p a r a s i .

J o ã o r e c e b e u m a v i s ã o s e m e l h a n t e d e u m a s e g u n d a b e s t a , d e s t a v e z e m e r g i n d o

d a t e r r a ( 1 3 . 1 1 - 1 8 ) . A m a r c a d i s t i n t i v a d a p r i m e i r a b e s t a e r a f a z e r g u e r r a ( 1 3 . 4 ) ,

e e x e r c e r " a u t o r i d a d e s o b r e c a d a t r i b o , p o v o , l í n g u a e n a ç ã o " ( 1 3 . 7 ) . A m a r c a

d i s t i n t i v a d e s t a s e g u n d a b e s t a é e x i g i r l e a l d a d e à p r i m e i r a b e s t a — n a r e a l i d a d e ,

" f a z c o m q u e a t e r r a e o s s e u s h a b i t a n t e s a d o r e m a p r i m e i r a b e s t a " ( 1 3 . 1 2 ) . A

b e s t a f a z i s s o r e a l i z a n d o s i n a i s q u e " s e d u z e m o s q u e h a b i t a m s o b r e a t e r r a "

( 1 3 . 1 4 ) , d e m o d o q u e e l e s l h e p r e s t a m c u l t o a l e g r e m e n t e .

O s l e i to r e s o r i g i n a i s d e J o ã o e s t a v a m c e r c a d o s d e p e s s o a s q u e a l e g r e m e n t e

p a r t i c i p a v a m d o c u l t o i m p e r i a l . E l e s o f a z i a m p o r q u e t i n h a m a b s o r v i d o a

i d e o l o g i a r o m a n a a c e r c a d a pax romana, e s e n t i a m - s e g r a t o s a R o m a p o r s u a

p r o s p e r i d a d e , ig n o r a n t e s d a s r e a l i d a d e s d o g o v e r n o r o m a n o t ã o c l a r a m e n t e v i s -

t a s p o r J o ã o . S e a p r i m e i r a b e s t a r e p r e s e n t a o p o d e r i m p e r i a l o p r e s s i v o , e x -

p r e s s o e m t o d a s a s s u a s m a n i f e s t a ç õ e s , e n t ã o e s t a s e g u n d a b e s t a p o d i a r e p r e s e n t a r

a s m u i t a s i d e o l o g i a s p e l a s q u a i s o s i m p é r i o s s e s u s t e n t a m e i m p õ e m l e a l d a d e .

O c u l t o i m p e r i a l e r a s u s t e n t a d o p o r u m p o d e r o s o s a c e r d ó c i o q u e o p r o m o v i a e

e x e r c i a g r a n d e i n f l u ê n c i a , p r i n c i p a l m e n t e n a Á s i a M e n o r . A p r o p a g a n d a

p r o d u z i d a p o r e l e e r a i n t e n s a . É e s t e a s e g u n d a b e s t a ?

Q u a n d o a s b e s t a s s ã o f i n a l m e n t e d e s t r u í d a s p o r C r i s t o e m A p o c a l i p s e 1 9 , a

s e g u n d a b e s t a é s i g n i f i c a t i v a m e n t e d e n o m i n a d a " o f a l s o p r o f e t a " ( 1 9 .2 0 ) . E l e

i n d u z a s p e s s o a s a c r e r e m n a s a l v a ç ã o a t r a v é s d o p o d e r s e c u l a r .

J o ã o , p o r t a n t o , e s c r e v e d e u m a f o r m a g l o b a l, e x p r e s s a n d o s u a m e n s a g e m e m

t e r m o s t a i s q u e e l a p o d e s e r a p l i c a d a p e l o s c r i s t ã o s à s u a p r ó p r i a s i t u a ç ã o , m e s m o

q u e e s t a s e j a m u i t o d i f e r e n t e d a q u e l a d e s e u s p r i m e i r o s l e i t o r e s . " S e u s s e r v o s "( 1 . 1 ) i n c l u e m t o d o s n ó s q u e " o u v i m o s " ( 1 . 3 ) as p a l a v r a s d e s t a p r o f e c i a e

p r o c u r a m o s a p li c á - l a s a o m u n d o q u e h a b i t a m o s .

P o r t a n t o , e n q u a n t o h á v e r d a d e n a v i s ã o preterista, a v i s ã o infinito-simbólica

n ã o d e v e s e r d i m i n u í d a . J o ã o p r o v ê a " r e v e l a ç ã o " q u e c a p a c i t a o s c r i s t ã o s d e

t o d a s a s é p o c a s a v e r e m s e u m u n d o c o m n o v o s o l h o s .

2. João explica o caráter da revelação.J o ã o c h a m a s e u l i v r o d e " r e v e l a ç ã o d e J e s u s C r i s t o " ( 1 . 1 ) . E i m p o r t a n t e n o t a r

q u e i s t o s e r e f e r e a o c o n t e ú d o , b e m c o m o à f o n t e , d a m e n s a g e m d o l i v r o . A

a l t e r n a t i v a historicista, q u e d e s c o b r e n o l iv r o u m a h i s t ó r i a d o m u n d o e m c ó d i g o ,

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A M E N S A G E M D E A P O C A L I PS E 1 5 1

O dragão, as bestas, e sua marca

M u i t o s e s t u d i o s o s t ê m o b s e r v a d o c o m o o d r a g ã o ea s d u a s b e s t a s f o r m a m u m a i m a g e m t e r r i v e l m e n t ed i s to rc ida da Tr indade do Pai , F i lho e Es p í r i toS a n t o :• E n q u a n t o D e u s é o C r ia d o r , s e n d o s e r v i d o p o rhos tes angel i ca i s , Sa tanás é o D es t ru idor (9 . 11) , et e m e x é r c i t o s d e d e m ô n i o s s o b s u a s o r d e n s .• J e s u s C r i s to c o n g r e g a u m p o v o p a r a D e u s d etodas as nações por meio de s eu s angue (5 . 9 ) , masa p r i m e i r a b e s t a p r o m o v e g u e r r a a o p o v o d e D e u s(13 . 7) .• J es us Cr i s to é o Cordei ro " como s e t ives s e s idomor to" (5 . 6 ) , aquele que " es t ive mor to , mas e i sque es tou v ivo pe los s écu los dos s écu los " (1 . 18) .

A p r i m e i r a b e s t a p a r o d i a a m o r t e e r e s s u r r e i ç ã o d eJ e s u s r e c e b e n d o u m a " f e r i d a m o r t a l " , q u e f o ic u r a d a ( 1 3 . 3 , 1 2 ) .

• E of í c io carac ter í s t i co do Es p í r i to San to conceder" s i n a i s e m a r a v i l h a s " p a r a c o n f i r m a r o e v a n g e l h o(p . ex . , Romanos 15 . 18 , 19) , e para t es t i f i car J es us(p . ex . , A tos 5 . 32) . A s egunda bes ta parod ia es s esdo i s papéi s , r ea l i zando s ina i s para enganar asnações e induzi - l as a adorar a p r imei r a bes ta(19 . 20) , e ag i r como um " fa l s o p rofe ta" em s euf a v o r ( 1 9 . 2 0 : 2 0 . 1 0 ) .

O mal s empre s e ves te como s e fo ra o bem, e op i o r s e p a r e c e c o m o m e l h o r .

D e v e r í a m o s p r o v a v e l m e n t e i n t e r p r e t a r " a m a r c ada bes ta" (13 . 16 , 17 ; 19 . 20 ; 20 . 4) à luz des s ap a r ó d i a . O s c r e n t e s r e c e b e m u m a " m a r c a " , u m" s e l o " d e D e u s , q u e s i g n i f i c a q u e p e r t e n c e m a E l ee s ão pro teg idos de danos (7 . 3 ) . Por i s s o l emos em14. 1 : " O lhe i , e e i s o Cordei ro em pé s obre o monte

S ião , e com e le cen to e quaren ta e qua t ro mi lt endo nas f ron tes es cr i to o s eu nome e o nome de

s e u P a i . " E s t e q u a d r o e x p r e s s a o c o m p r o m i s s o d edoi s l ados p res en te em todo o d i s c ipu lado cr i s t ão :D eus em Cr i s to en t r ega- s e a s i mes mo por nós , en ó s a c e i t a m o s s e u d o m í n i o s o b r e n ó s c o ma l e g r i a . A l g u n s d o s l e i to r e s d e Jo ã o p o d e m c o mis to es t a r - s e l embrando do ba t i s mo de J es us .

M a s a b e s t a t a m b é m c o l o c a u m a m a r c a s o b r e opovo: " A todos , os pequenos e os g randes , osr icos e os pobre s , os l ivres e os esc rav os , faz q uelhe s e ja dada cer t a marca s obre a mão d i r e i t a , ous o b r e a f r o n t e , p a r a q u e n i n g u é m p o s s a c o m p r a ro u v e n d e r , s e n ã o a q u e l e q u e t e m a m a r c a , o n o m eda bes ta , ou o número do s eu nome (A pocal ips e13 . 16 . 17) .

C o m é r c i o — c o m p r a r e v e n d e r — é f a t o r f u n d a -m e n t a l à v i d a n e st a t e rr a . N ã o p o d e m o ss obrev iver s em e le . Todo r eg ime po l í t i co écons t ru ído s obre e l e . Mui tos c r i s t ãos do pr imei ros é c u l o s e n t i r a m d i r e t a m e n t e a c o n e x ã o e n t r e oc o m é r c i o e o s p o d e r e s d o m a l p o r m e i o d e g r u p o sa s s o c i a d o s v o l t a d o s à a d o r a ç ã o d e u m d e u s" d e f e n s o r " o u d e u m a d e u s a " d e f e n s o r a " . S e e l e ss e r ecus as s em a par t i c ipar de t a l ido la t r i a ,a r r i s car i am s ua s ubs i s t ênc ia .

1 . 9 0 0 a n o s m a i s t a r d e v i v e m o s n u m a e c o n o m i ag lobal que a l imenta as nações r i cas emd e t r i m e n t o d a s p o b r e s . O s " d e u s e s " s ã o m e n o so s t e n s i v o s , m a s n ã o m e n o s r e a is : t e c n o l o g i a ,v e l o c i d a d e , s e x o , m o d a , a u t o d e t e r m i n a ç ã o . E mn o s s o t e m p o t a m b é m p r e c i s a m o s c o n s i d e r a rc o m o p o d e m o s " c o m p r a r e v e n d e r " sem p o r e s s em e i o t o m a r a m a r c a d a b e s t a s o b r e n ó s , m a n t e n d on o s s o v e r d a d e i r o t e s t e m u n h o a o S e n h o r , c u j on o m e u s a m o s .

t e n t a e s q u e c e r s e u p r i n c í p i o e s s e n c i a l . D e i x a n d o t o t a l m e n t e d e l a d o a v a r i e d a d e

d e i n t e r p r e t a ç õ e s q u e o s h i s t o r i c i s t a s s u g e r i r a m , a o b j e ç ã o p r i n c i p a l a e s t e m é t o d o

d e i n t e r p r e t a ç ã o é q u e e l e p e r d e d e v i s t a t a n t o a n e c e s s i d a d e d a i g r e j a c o m o o

S e n h o r d a i g r e j a . O q u e u m a i g r e j a p e r s e g u i d a n e c e s s i t a n ã o é u m a p r e v i s ã o

d e t a l h a d a d o s e v e n t o s f u t u r o s , a q u a l t e m d e s e r l a b o r i o s a m e n t e d e c i f r a d a , m a s

u m a v i s ã o d e J e s u s C r i s t o p a r a c o n f o r t a r o a b a t i d o e a n i m a r o c a n s a d o .

O p r o p ó s i t o d e J o ã o é p r á t i c o , n ã o a c a d ê m i c o . E l e n ã o é a p e n a s u m v i s i o n á r i o ;

e l e é t a m b é m u m p a s t o r . S e u d e s e j o n ã o é o d e s a t i s f a z e r n o s s a c u r i o s i d a d es o b r e o f u t u r o , m a s e s t i m u l a r n o s s a f i d e l i d a d e n o p r e s e n t e . E l e r e p e t i u , é v e r d a d e ,

" q u e e m b r e v e d e v e m a c o n t e c e r " (1 . 1 ) , m a s o f u t u r o q u e e l e a n t e v ê e s t á

t o t a l m e n t e e m e s t r e i t a l i g a ç ã o c o m J e s u s C r i s t o , q u e e s t á r e i n a n d o a g o r a c o m o

" s o b e r a n o d o s r e i s d a t e r r a " ( 1 . 5 ) , e q u e b r e v e m e n t e v i r á ( 1 . 7 ) . É p a r a E l e q u e

J o ã o d i r i g e n o s s a a t e n ç ã o , n ã o a p e n a s p a r a o f u t u r o . E l e é r e p r e s e n t a d o p o r

u m a v a r i e d a d e d e f o r m a s :

• P r i m e i r o v e m o - l o e n t r e o s c a n d e e i r o s , s u p e r v i s i o n a n d o , i n v e s t i g a n d o ,

e s t i m u l a n d o a s i g r e j a s ( 1 . 1 2 - 2 . 1 ) .

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1 5 2 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

• E m s e g u i d a E l e é v i s t o c o m o u m C o r d e i r o , j u n t o a o t r o n o d o P a i ,

e x c l u s i v a m e n t e q u a l i f i c a d o p a r a r o m p e r o s s e l o s d o l i v r o d o d e s t i n o ( c a p í t u l o s5 - 7 ) .

• D e p o i s E l e é r e v e l a d o c o m o o C r i s t o d e D e u s , q u e i m p õ e a v i t ó r i a e o g o v e r n o

d e D e u s s o b r e t o d a s as f o r ç a s o p o n e n t e s ( 1 1 . 1 5 ; 1 2 . 1 0 ) .

• A c e n a m u d a n o v a m e n t e , e a g o r a E l e é o h o m e m - c r i a n ç a a o q u a l a m u l h e r

v e s t i d a d e s o l d á à l u z e o q u a l o d r a g ã o t e n t a d e v o r a r ( 1 2 . 1 - 6 ) .

• U m a v e z m a i s E l e é " o C o r d e i r o " , p o r é m d e s t a v e z à f r e n t e d e u m e x é r c i t o d e

c a n t o r e s r e d i m i d o s ( 1 4 . 1 - 5 ) .

• D e p o i s E l e é o " f i l h o d e h o m e m " , o a g e n t e d a i r a f i n a l e o j u í z o d e D e u s

( 1 4 . 1 4 - 1 6 ) .

• A s s e m e l h a n d o - s e a i s t o , E l e é a p r e s e n t a d o c o m o o g u e r r e i r o q u e c a v a l g a

u m c a v a l o b r a n c o à f r e n t e d o s e x é r c i t o s c e l e s t i a i s p a r a j u l g a r e f a z e r g u e r r a

c o n t r a s e u s i n i m i g o s ( 1 9 . 1 1 - 1 6 ) .

• F i n a l m e n t e , E l e é o e s p o s o p a r a q u e m a i g r e j a , s u a n o i v a , d e s c e d o c é u a d o r n a d a

e p e r f e i t a ( 2 1 . 1 - 9 ) .

J o ã o t e v e e s s a s v i s õ e s u m a a p ó s o u t r a , m a s i s t o n ã o s i g n i f i c a q u e e l a s r e t r a t a m

a c o n t e c i m e n t o s n a t e r r a q u e s e r e a l i z a m n a m e s a o r d e m . C a d a v i s ã o t r a n s m i t e

u m a v e r d a d e e s p e c í f i c a s o b r e C r i s t o q u e o s c r i s t ã o s d e t o d a s a s é p o c a s p o d e m

a s s i m i l a r e a p l i c a r a s i m e s m o s . C r i s t o n ã o d e d i c o u p r i m e i r a m e n t e u m t e m p o

e m c o m u n h ã o c o m a s i g r e j a s n a t e r r a , s u p e r v i s i o n a n d o , n o m e i o d o s c a n d e e i r o s

( 2 . 1 ) , e e m s e g u i d a p a r t i u p a r a o c é u p a r a t o r n a r - s e o C o r d e i r o s o b r e o t r o n o

( 5 . 6 ) . A s d u a s v i s õ e s s ã o v e r d a d e i r a s p a r a t o d o s o s t e m p o s , e i n c e n t i v a d o r a s

p a r a t o d o s o s c r i s t ã o s .

A s e q ü ê n c i a h i s t ó r i c a , p o r é m , e x e r c e u m p a p e l e m c e r t o s a s p e c t o s . V á r i o s

d o s " s e t e s " t e r m i n a m c o m u m a v i s ã o d o j u í z o f i n a l o u d a s a l v a ç ã o . I s t o é

v e r d a d e i r o p a r a o s e x t o s e l o ( 6 . 1 2 - 1 7 ) , a s é t i m a t r o m b e t a ( 1 1 . 1 5 - 1 8 ) , o s e x t os i n a l d o c é u ( 1 4 . 1 4 - 2 0 ) , a s é t i m a t a ç a ( 1 6 . 1 7 - 2 1 ) , e , n a t u r a l m e n t e , a v i s ã o f i n a l

d a n o v a J e r u s a l é m ( 2 1 . 1 - 2 2 . 6 ) . M a s e m t o d o s e s s e s c a s o s o s i t e n s p r e c e d e n t e s

d a s s ér i e s n ã o s e g u e m c r o n o l o g i c a m e n t e a se q ü ê n c i a q u e l e v a a o F i m . C a d a

" s e t e " é c o m o u m a e q u i p e d e f o t ó g r a f o s f o c a l i z a n d o o m e s m o c e n á r i o d e u m

â n g u l o d i f e r e n t e , c a d a q u a l p r o p o r c i o n a n d o u m a p e r c e p ç ã o d e c a d a f a c e t a

d i f e r e n t e d o m u n d o , d e s e u S e n h o r e d e s e u f u t u r o . E s t a c o m p r e e n s ã o d e

A p o c a l i p s e f o i p r o p o s t a h á m a i s d e c i n q ü e n t a a n o s p e l o e s t u d i o s o n o r t e -

a m e r i c a n o W i l l i a m H e n d r i k s e n , q u e l h e d e u o n o m e d e " p a r a l e l i s m o

p r o g r e s s i v o " . S u a t e o r i a b a s e i a - s e e m q u e c a d a u m a d a s p a r t e s d o l i v r o c o b r e

u m t o d o d a h i s t ó r i a , c o m u m a ê n f a s e g r a d a t i v a s o b r e o F i m , c o n d u z i n d o a o

g r a n d e c l í m a x n a s v i s õ e s f i n a i s d o j u í z o e d a s a l v a ç ã o n o s c a p í t u l o s 2 0 a 2 2 .

3. João indica o método da revelação.A p o c a l i p s e e m p r e g a m u i t o s si n a is o u s í m b o l o s q u e a p o n t a m — a l é m d e l e s

p r ó p r i o s — p a r a u m s e n t i d o m a i s p r o f u n d o q u e n ó s , l e i t o r e s , t e m o s d e d i s c e r n i r .

R e c e n t e m e n t e o s e s t u d i o s o s t ê m e n f a t i z a d o q u e a l g u m a s v e r d a d e s s o m e n t e

p o d e m s e r e x p r e s s a s p e l o u s o d e s í m b o l o e m e t á f o r a , p o r q u e e s t e s p o d e m d a r

v o z à s i d é i a s e p e n s a m e n t o s d e n t r o d o s l im i t e s d e n o s s a c a p a c i d a d e d e

c o m p r e e n s ã o .

A s i m a g e n s p r o d u z i d a s p e l a s v i s õ e s s ã o m u i t o r i c a s . E l a s d e r i v a m d a n a t u r e z a

( p . e x . , c a v a l o , c o r d e i r o , l e ã o , l o c u s t a , e s c o r p i ã o , á g u i a , á r v o r e , c o l h e i t a , m a r ,

r i o s , t e r r a , c é u ) , d a v i d a h u m a n a ( p . e x . , c o m é r c i o , g u e r r a , id o l a t r i a , n a s c i m e n t o ,

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P a r t e d o a q u e d u t oc o n s t r u í d o p a r a

s u p r i r a a n t i g aL a o d i c é i a . A á g u an e s t a á r e a é r i c ae m m i n e r a i s ;d e p ó s i t o s d ec a l c á r i o p o d e m s e rv i s t o s n a s p a r e d e si n t e r n a s d oa q u e d u t o .

A M E N S A G E M D E A P O C A L I P SE 1 5 3

p r o s t i t u i ç ã o , a g r i c u l t u r a , m e d i c i n a , g o v e r n o , e d i f í c i o ) , e d o V e l h o T e s t a m e n t o

( p . e x . , B a b i l ô n i a , J e r u s a l é m , J e z a b e l , E g i t o , S o d o m a , o T e m p l o e s e u s a c e s s ó r i o s ,

m a n á , a á r v o r e e o l i v r o , a á g u a d a v i d a , J e s u s c o m o C o r d e i r o , L e ã o e R a i z ,

e t c . ) T r ê s p r i n c í p i o s d e v e m o r i e n t a r n o s s a i n t e r p r e t a ç ã o d e s s a s i m a g e n s :

a. Muito dela é usado simplesmente para dar um efeito dramático intensificado

e não possui um sentido independente em cada detalhe. P o r e x e m p l o , as p e d r a s

p r e c i o s a s q u e d e c o r a m a s p a r e d e s d a J e r u s a l é m c e l e s ti a l ( 2 1 . 1 9 ) p o d e m n ã o

s i g n i f i c a r e m s i a l g u m a c o i s a d i f e r e n t e . O m e s m o s e a p l i c a à s p e d r a s p r e c i o s a s

q u e a d o r n a m a g r a n d e p r o s t i t u t a ( 1 7 . 4 ; 1 8 . 1 6 ) !

b. A imagem é simbólica e não pictórica, e entende-se que deve ser interpretada

e não visualizada. N ã o d e v e m o s s e r l e v a d o s a i m a g i n a r c r i a t u r a s c h e i a s " d e

o l h o s p o r d i a n t e e p o r d e t r á s " ( 4 .6 ) , m a s l e m b r a r - n o s d e s u a i n c e s s a n t e v i g i l â n c i a .

N e m d e v e m o s t e n t a r v i s u a l i z a r u m a b e s t a c o m d e z c h i f r e s , s e t e c a b e ç a s , e u m a

b o c a ( 1 3 . 1 , 2 ) , p o r é m d e v e m o s i m p r e s s i o n a r - n o s c o m o t e r r í v e l p o d e r d a b e s t a

e s u a a s s u s t a d o r a b l a s f ê m i a (1 3 . 5 ) . A l g u m a s v e z e s é a i m p o s s i b i l i d a d e l i t e r a l

d a i m a g e m q u e f a z c o m q u e e l a s e j a p o d e r o s a , c o m o n o c a s o d a g r a n d e m u l t i d ã o

d i a n t e d o t r o n o d e D e u s , q u e " l a v a r a m s u a s v e s t i d u r a s , e a s a l v e j a r a m n o s a n g u e

d o C o r d e i r o " ( 7 . 1 4 ) .

c. Muito embora alguns dos detalhes não sejam "significativos " por si mesmos,

basicamente todas as coisas no livro devem ser olhadas como simbólicas, e

não literais. A l g u m a s c o i s a s s ã o o b v i a m e n t e l i t e r a i s , t a i s c o m o a s r e f e r ê n c i a s

a o s n i c o l a í t a s ( 2 . 6 , 1 5 ) e a p r ó x i m a p r i s ã o d e a l g u n s d o s c r i s t ã o s d e E s m i r n a

( 2 . 1 0 ) . M a s , s e n e n h u m a r e f e r ê n c i a l it e r a l f o r ó b v i a , e n t ã o u m s e n t i d o s i m b ó l i c o

d e v e s e r b u s c a d o — m e s m o q u a n d o e s t e j a c l a r o q u e u m a c a r a c te r í s ti c a " l i t e r a l"

d a v i d a n a Á s i a M e n o r e s t e j a e m m e n t e . P o r e x e m p l o , h a v i a u m a i n d ú s t r i a

f a r m a c ê u t i c a e m L a o d i c é i a q u e p r o d u z i a u m f a m o s o c o l í r i o . M a s , q u a n d o C r i s t o

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1 5 4 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

d i z a o s l a o d i c e i a n o s q u e c o m p r e m d e l e " c o l í r i o p a r a u n g i r e s o s t e u s o l h o s , a

f i m d e q u e v e j a s " ( 3 . 1 8 ) , o c o l í r i o s i m b o l i z a a l g u m a o u t r a c o i s a . D e i g u a l m o d o ,a s p r ó p r i a s i g r e j a s s ã o t a n t o l i t e r a i s c o m o s i m b ó l i c a s : e l a s s ã o i g r e j a s r e a i s ,

p o r é m r e p r e s e n t a m a i g r e j a u n i v e r s a l d e C r i s t o .

E o n ú m e r o " s e t e " q u e s u g e r e o q u e a s i g r e j a s s i m b o l i z a m . O s i m b o l i s m o d o s

n ú m e r o s é u m a d a s c a r a c t e r í s t i c a s m a i s p r o e m i n e n t e s d a s i m a g e n s d e A p o c a l i p s e

( v e j a o q u a d r o a s e g u i r ) .

H á , p o r t a n t o , v e r d a d e e m t o d a s a s q u a t r o e s c o l a s d e i n t e r p r e t a ç ã o . O s

simbolistas e s t ã o c e r t o s e m i n s i s t i r q u e a s i m a g e n s d e A p o c a l i p s e e n s i n a m

g r a n d e s v e r d a d e s s o b r e D e u s , C r i s t o , a i g r e j a , o m u n d o e o s p o d e r e s d o m a l ,

f u n d a m e n t a i s p a r a q u e a i g r e j a a s c o n h e ç a e m t o d o s o s t e m p o s e l u g a r e s . O s

preteristas e s t ã o c o r r e t o s a o e n f a t i z a r a r e l e v â n c i a d e s s a s v e r d a d e s p a r a o s s e u s

c e n á r i o s e l e i t o r e s e s p e c í f i c o s d o p r i m e i r o s é c u l o . O s historicistas e s t ã o c e r t o s

e m p r o c u r a r a r e l e v â n c i a p a r a t o d a a h i s t ó r i a u n i v e r s a l , n ã o a p e n a s a d o p r i m e i r os é c u l o . E o s futuristas c o r r e t a m e n t e d e s t a c a m s u a p r e o c u p a ç ã o c o m o d e s t i n o

f i n a l d o m u n d o e d a i g r e j a .

Uma análise pastoralR e s u m i n d o : o q u e o l i v r o e n s i n a à i g r e j a d e C r i s t o ? P o d e m o s a n a l i s a r m u i t o

b r e v e m e n t e su a m e n s a g e m , c o m o s e g u e :

• Cap í tu l os 1 -3 : A v i d a d a i gre ja em C r i s to . E s t a pa r t e é domi nada pe l a v i sãod o C r i s t o l e v a n t a d o e g o v e r n a n d o n o c a p í t u l o 1 . S u a i g r e j a p o d e s e r f r a c a ,

s o f r e d o r a , a t é c o m p l a c e n t e , m a s e l a d e s c a n s a e m s u a s m ã o s e E l e m i n i s t r a p a r a

a s n e c e s s i d a d e s d e l a .

• Capítulos 4-7: A segurança da igreja por meio de Cristo. As visões nosc a p í t u l o s 4 e 5 a p r e s e n t a m D e u s d e u m a p e r s p e c t i v a d o V e l h o T e s t a m e n t o

( c a p í t u l o 4 ) , e d e p o i s d e u m a p e r s p e c t i v a d o N o v o T e s t a m e n t o . A p e s a r d e t o d o s

o s s o f r i m e n t o s q u e f a z e m p a r t e d a v i d a n e s t e m u n d o ( c a p í t u l o 6 ) , a i g r e j a é

s a l v a , " s e l a d a " c o m u m a m a r c a d o d o m í n i o d o s e n h o r i o d e D e u s , q u e g o v e r n a

c o m i n c o n t e s t á v e l p o d e r d o t r o n o d o u n i v e r s o .

• Capítulos 8- 11 :0 testemunh o da igreja sobre Cristo. As trombetas anunciama s a d v e r t ê n c i a s d e D e u s a u m m u n d o p e c a m i n o s o e i d ó l a t r a (9 . 2 0 , 2 1 ) , e n q u a n t o

a i g r e j a d á t e s t e m u n h o — s i m b o l i z a d o p r i m e i r o p e l o p r ó p r i o Jo ã o , a q u e m é

d a d a u m a p r o f e c i a p a r a o m u n d o ( 1 0 . 9 - 1 1 ) , e e m s e g u i d a p o r d u a s t e s t e m u n h a s ,

q u e d ã o u m f i e l t e s t e m u n h o , a d e s p e i t o d e t e r r í v e l o p o s i ç ã o ( c a p í t u l o 1 1 ).

• Capítulos 12-14: O conflito da igreja por Cristo. O que se esconde atrás dao p o s i ç ã o d o m u n d o à i g r e j a ? A q u i o v é u é r e m o v i d o , e v e m o s o s t r ê s v e r d a d e i r o s

i n i m i g o s , q u e t e n t a r a m d e s t r u i r o p r ó p r i o C r i s t o e a g o r a t e n t a m d e s t r u i r o s e u

p o v o ( 1 2 . 1 7 ) . M u i t o e m b o r a l h e f o s s e " d a d o [ à b e s t a ] t a m b é m q u e p e l e j a s s e

c o n t r a o s s a n t o s e o s v e n c e s s e " ( 1 3 . 7 ) , e n t r e t a n t o , d e o u t r a p e r s p e c t i v a , a i g r e j a

e s t á s a l v a , a l i m e n t a d a c o m o E l i a s n o d e s e r t o ( 1 2 . 1 4 ) , e c o n g r e g a d a c o m o

C o r d e i r o n o m o n t e S i ã o ( 1 4 . 1 - 5 ) .

• Capítulos 15-20: A vingança da igreja por intermédio de Cristo. A visão

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A M E N S A G E M D E A P O C A L I P SE 1 5 5

Núm eros em Apocalipse

O s n ú m e r o s s ã o u s a d o s s i m b o l i c a m e n t e e m t o d oA p o c a l i p s e , p r i n c i p a l m e n t e q u a t r o , s e t e , d e z ,d o z e e m ú l t i p l o s d e s t e s .• U m a v e z q u e h á q u a t r o p o n t o s n a b ú s s o l a equat ro ven tos na t e r r a (7 . 1 ) , o número quat rop a r e c e r e p r e s e n t a r o u n i v e r s o c r i a d o . O s quatro" s eres v iven tes " que adoram em vol t a do t rono( 4 . 6 - 9 ) p a r e c e m s i m b o l i z a r t o d a a c r i a ç ã oa n i m a d a e m s u a d e p e n d ê n c i a d o C r i a d o r .

• O n ú m e r o sete d e n o t a c o m p l e t i t u d e e p e r f e i ç ã o ,p r o v a v e l m e n t e p o r q u e a h i s tó r i a d a c ri a ç ã o c o b r es e te d ias no l iv ro de G ênes i s . A s s e te ig r e jas daÁ s i a , p o r ta n t o , e m b o r a h i s tó r i c a s , t a m b é mr e p r e s e n t a m a ig r e j a u n i v e rs a l . E s t e s i m b o l i s m o

s us ten ta o ponto de v i s t a de que cada um dos" s e t e s " d e A p o c a l i p s e a p r e s e n t a m u m r e t r a t oc o m p l e t o d o m u n d o v i s t o d e u m " â n g u l o "par t i cu lar . E le t ambém s ugere a in te rpre tação do" número da bes ta" , em 13 . 18 : 666 ind ica a to ta li m p e r f e i ç ã o , a l g u m a c o i s a q u e s e e s f o r ç a p a r ap a r e c e r p e r f e i t a , m a s é n o t o r i a m e n t e d e f i c i e n t e .

• Doze é o n ú m e r o d o p o v o d e D e u s , p o r q u eh o u v e d o z e t r i b o s n o V e l h o T e s t a m e n t o e d o z ea p ó s t o l o s n o N o v o T e s t a m e n t o . O s v i n t e e q u a t r oa n c i ã o s a s s e n t a d o s e m v o l t a d o t r o n o d e v e mp o r t a n t o s i m b o l i z a r a ig r e j a a d o r a d o r a d e a m b o sos Tes tam entos . Es te s imb ol i s m o f igura n ad e s c r i ç ã o d a n o v a J e r u s a l é m , e m 2 1 . 1 2 - 1 4 .• O n ú m e r o de z p a r e c e i n d i c a r o s o b e r a n o

c o n h e c i m e n t o e p r o p ó s i t o d e D e u s . O s c r i s t ã o s d eE s m i r n a t e r ã o u m a " t r i b u l a ç ã o d e d e z d i a s " ,

s u g e r i n d o q u e a e x t e n s ã o d a p e r s e g u i ç ã o ép r e d e t e r m i n a d a p o r D e u s ( 2 . 1 0 ) . D e m o d os e m e l h a n t e , o s d e z c h i f r e s e c o r o a s d a b e s t a( 1 3 . 1 ; c o m p a r e c o m 1 7 . 1 2 ) s u b l i n h a m as oberan ia f ina l de D eus s obre os poderes do mal .A m e s m a i d é i a é t r a n s m i t i d a q u a n d o o u t r on ú m e r o é m u l t i p l i c a d o p o r d e z . E x e m p l o :144.000 (7.4; 14.1) é 12 x 12 x 1.000, ec l a r a m e n t e r e p r e s e n t a t o d o o p o v o d e D e u sr e d i m i d o d e a m b o s o s T e s t a m e n t o s , c u j ae x t e n s ã o é e x a t a m e n t e c o n h e c i d a p o r E l e . D om e s m o m o d o , o s " m i l d i a s " d e 2 0 . 2 - 4 , 7 d e v e mq u a s e c e r t a m e n t e s e r e n t e n d i d o s p a r a s i m b o l i z a ru m l o n g o e n ã o e s p e c i f i c a d o p e r í o d o , c u j a e x a t ae x t e n s ã o é d e t e r m i n a d a p o r D e u s .• O ut ro número impor tan te é t r ês e meio , ump e r í o d o s i m b ó l i c o q u e J o ã o e x t r a i u d e D a n i e l(D anie l 7 . 25 ; 9 . 27 ; 12 . 7) . Es te per íodo pode s erc o n s i d e r a d o c o m o " t r ê s d ia s e m e i o " ( 1 1 . 9 ). " u mt e m p o , t e m p o s , e m e t a d e d e u m t e m p o " ( 1 2 . 1 4 ) ,quaren ta e do i s mes es (11 . 2 ; 13 . 5) e 1 . 260 d ias(11 . 3 ; 12 . 6) . Se o mês é con tado como t r in tad ias , es t e per íodo é o mes mo em cada cas o . E leparece s er a idade da nova a l i ança , todo o t empodecor r ido en t r e a p r imei r a e a s egunda v indas deC r i s t o , q u a n d o a i g r e j a d á t e s t e m u n h o e ép e r s e g u i d a , s e n d o c o n f o r t a d a e a l i m e n t a d a p o rD e u s e m f a c e d a g r a n d e o p o s i ç ã o .

d o s i n i m i g o s d a i g r e j a é s e g u i d a p e l a v i s ã o d e s u a d e s t r u i ç ã o . O s s e l o s ( c a p í t u l o s

6 e 7 ) m e n c i o n a m o q u e D e u s permite n e s t e m u n d o . A s t r o m b e t a s ( c a p í t u l o s 8 -

1 1) m o s t r a m c o m o D e u s adverte s e u m u n d o . A g o r a a s t a ç a s ( c a p í t u l o 1 6 )

i n d i c a m c o m o D e u s julga s e u m u n d o . D e p o i s a d e s t r u i ç ã o d e R o m a é r e t r a t a d a

( c a p í t u l o 1 8 ) , s e g u i d a p e l a d e s t r u i ç ã o d o s t r ê s i n i m i g o s , n a o r d e m c o n t r á r i a à

o r d e m e m q u e f o r a m a p r e s e n t a d o s n o s c a p í t u l o s 1 2 e 1 3 .

• Capítulos 21 e 22: A união da igreja com Cristo. Tendo tes temunhado oj u í z o f in a l d o m u n d o ( c a p í t u l o s 1 5 - 2 0 ) , J o ã o a g o r a v ê o d e s t i n o f i n a l d a i g r e j a .

E l a é u n i d a c o m C r i s t o n u m a " n o v a c r i a ç ã o " , d a q u a l a m o r t e e o s o f r i m e n t o

s ã o b a n i d o s , e a q u a l t r a z a u m p e r f e i t o c u m p r i m e n t o t o d o o p l a n o d e D e u s p a r a

o m u n d o .

A m e n s a g e m d e A p o c a l i p s e é , s e m d ú v i d a , p o d e r o s a . E l a e s t á c e n t r a l i z a d a n a

v i s ã o d o C r i s t o q u e p a r t i c i p a d o s o f r i m e n t o e m o r t e d e s e u p o v o e d e p o i s s e

a s s e n t a n o t r o n o d e D e u s . E l a n o s l e v a a l é m d o c a o s e d o t r a u m a d a h i s t ó r i a d o

m u n d o , e d e n o s s a s p r ó p r i a s v i d a s , à n o s s a s e g u r a n ç a n o p l a n o d e D e u s , t a n t o

p a r a n ó s c o m o p a r a o m u n d o . E l a n o s h o r r o r i z a c o m s e u r í g i d o r e t r a t o d a m o r t e

e d o m a l , e d e p o i s l e v a n t a n o s s o s e s p í r i t o s a o c é u p o n d o e m n o s s o s l á b i o s

p a l a v r a s d o m a i s s u b l i m e l o u v o r . E n q u a n t o c a n t a m o s c o m a s h o s t e s c e l e s t i a i s ,

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1 5 6 H O M E N S C OM U M A M E N S A G E M

s a b e m o s q u e o s p o d e r e s d o m a l f o r a m d e r r o t a d o s , e n ó s e s t a m o s r e d i m i d o s :

" A o n o s s o D e u s q u e s e a s s e n t a n o t r o n o , e a o C o r d e i r o , p e r t e n c e a s a l v a ç ã o ! "( 7 . 1 0 ) .

Leitura adicional

Menos exigente:J ohn S to t t , What C hrist T hinks of the Church ( M i l t o n K e y n e s , U K : W o r d , 1 9 9 0 ) — u m a

e x p o s i ç ã o d e A p o c a l i p s e 2 e 3

M i c h a e l W i l c o c k , The Message of Revelation. I Saw Heaven Opened ( S é r i e " T h e B i b l e

Speaks Today" ) (Leices te r : IV P, 1975)

M i c h a e l W i l l i a m s , The Power and the Kingdom . Power, Politics and the Book of Rev-

elation ( E a s t b o u r n e : M o n a r c h , 1 9 8 9 )

Mais exigente, obras eruditas:D o n a l d G u t h r i e , The Relevance of John 's Apocalypse ( E x e t e r : P a t e rn o s t e r / G r a n d R a p -

i d s : E e r d m a n s , 1 9 8 7 )

C . J . H emer , The Letters to the Seven Churches of Asia in the Local Setting ( S h e f f i e l d :

J S O T P r e s s , 1 9 8 6 )J . M. Cour t , Myth and History in the Book of Revelation ( L o n d r e s , S P C K , 1 9 7 9 )

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índiceA p o c a l i p s e 1 4 1 - 1 5 6

a u t o r i a 1 4 2 - 1 4 3

e s t r u t u r a 1 5 4 - 1 5 5

i n t e r p r e t a ç ã o 1 4 6 - 1 5 4

A p ó s t o l o s , ve r D i s c í p u l o s e nomes individuais

A t o s 5 9 , 6 1 - 6 7

e s t r u t u r a 6 1 - 6 7

B a t i s m o 9 5

C o b r a d o r e s d e i m p o s t o s 3 1 - 3 2 , 5 3 - 5 4

C u r a 5 1 - 5 2

D i s c i p u l a d o 1 2 , 2 7 - 2 8D i s c í p u l o s

m e d o 1 6 - 1 7

ver também nomes individuais

E d i f i c a ç ã o 1 0 0 - 1 0 2

E s p e r a n ç a 1 3 7 - 1 3 8

E v a n g e l h o s

r e l a ç ã o e n t r e 1 3 , 2 9 - 3 1 , 6 9 - 7 0

ver também nomes individuais

F a r i s e u s 3 5 , 3 8

F é 7 3 - 7 7 , 1 1 7

F i l h o d e D a v i 3 7

F i l h o d e D e u s 4 2 - 4 4F i l h o d o H o m e m 4 4 - 4 5

G l o r i f i c a ç ã o 1 0 2 - 1 0 5

G n o s t i c i s m o 8 1

H e b r e u s , C a r t a a o s 1 0 7 - 1 1 8

a u t o r i a 108

t e m a s 1 0 8 - 1 1 8

I s a í a s

n a s e p í s t o l a s d e P e d r o 1 3 6

J e s u s

a u t o r i d a d e 2 6 , 3 9

c o m o F i l h o d e D a v i 3 7

c o m o F i l h o d e D e u s 4 2 - 4 4

c o m o F i l h o d o H o m e m 4 4 - 4 5

c o m o M e s s i a s p r o m e t i d o 2 6 - 2 7 , 3 6 - 3 7 , 3 9

c o m o r e i de I s r a e l 35 - 3 6 , 45

m o r t e 1 4 , 2 5 - 2 7 , 4 4 , 1 1 2 - 1 1 6 , 1 3 5 - 1 3 6

s e g u n d a v i n d a 1 0 4 - 1 0 5

J o ã o ( a u t o r d e A p o c a l i p s e ) 1 4 2 - 1 4 3

J o ã o ( a u t o r d o E v a n g e l h o e d a s e p í s t o l a s ) 6 8 -

7 2

J o ã o , E p í s t o l a s 6 8 , 8 0 - 8 5

J o ã o , E v a n g e l h o 6 8 - 8 0

e o s E v a n g e l h o s s i n ó p t i c o s 6 9 - 7 0

e s t i l o 70

e s t r u t u r a 7 0 , 7 8 - 8 0J o ã o B a t i s t a 3 3

J u l g a m e n t o 1 0 5

J u s t i f i c a ç ã o 9 2 - 9 6

L a t i m , l í n g u a

n o E v a n g e l h o d e M a r c o s 1 4

L u c a s 4 6 - 4 8

L u c a s , E v a n g e l h o 4 6 - 6 7

e s t i l o 4 7 - 4 8

e s t r u t u r a 5 9 - 6 1

t e m a s 4 9 - 6 7

M a r c o s 1 2 - 2 4

a b a n d o n a P a u l o 1 6

c a s a m a t e r n a 1 4

M a r c o s , E v a n g e l h o 1 2 - 2 8

b a s e a d o e m P e d r o 1 9 - 2 0

e s t i l o 21

e s t r u t u r a 2 2

p r o p ó s i t o 2 3 - 2 4

t e m a s 1 2 - 1 3

M a t e u s 2 9 - 3 8

c o n v e r s ã o 3 2 - 3 4

e J o ã o B a t i s t a 3 3

M a t e u s , E v a n g e l h o 2 9 - 4 5

e s t i l o 38

e s t r u t u r a 3 7t e m a s 3 9 - 4 5

u s o d o V e l h o T e s t a m e n t o 3 6 , 3 7

M e l q u i s e d e q u e 1 1 0 - 1 1 2

M e s s i a s 2 6 - 2 7 , 3 6 - 3 7 , 3 9

M i s e r i c ó r d i a , ve r P e r d ã o

M u l h e r e s 5 0 - 5 2

N u m e r o l o g i a 1 4 7 , 1 5 4

O r a ç ã o 5 6 - 6 7

P a u l o 8 6 - 1 0 6

c o n v e r s ã o 8 7 - 9 1

e L u c a s 4 8 - 4 9

v i a g e n s m i s s i o n á r i a s 6 3 - 6 7

P a u l o , E p í s t o l a s 9 1 - 1 0 6

P e d r o 1 2 8 , 1 3 0 - 1 3 4

e M a r c o s 1 9 - 2 0

s e u n o m e 1 3 1

P e d r o , E p í s t o l a s 1 2 8 - 1 4 0

a u t o r i a 1 2 8 - 1 2 9

t e m a s 1 3 4 - 1 4 0

P e r d ã o 3 4 - 3 5

P o b r e z a 5 5

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1 5 8 H O M E N S C O M U M A M E N S A G E M

R e s s u r r e i ç ã o d o s m o r t o s 1 0 5

S a n t i f i c a ç ã o 9 6 - 1 0 0S e g u n d a v i n d a d e C r i s t o 1 0 4 - 1 0 5

S e t e , o n ú m e r o , e m A p o c a l i p s e 1 4 7 , 1 5 4

S e t e I g r e j a s , C a r t a s à s 1 4 5 - 1 4 6

S i l a s 1 2 9

T a b e r n á c u l o 1 1 5

T i a g o 1 1 9 - 1 2 3

T i a g o , E p í s t o l a 1 1 9 - 1 2 7

V e l h o T e s t a m e n t o

c u m p r i d o e m J e s u s 3 9 - 4 0 , 1 3 2

e x e m p l i f i c a d o c o m o e v i d ê n c i a p o r J o ã o

i n f l u ê n c i a s o b r e A p o c a l i p s e 1 4 3 - 1 4 4

n a C a r t a a o s H e b r e u s 1 0 9

n a s e p í s t o l a s d e P e d r o 1 3 5 - 1 3 6

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Fotos e Ilustrações

T o d a s a s f o t o g r a f i a s s ã o o r i g i n á r i a s d e T i g e r C o l o u r

L i b r a r y , T h r e e ' s C o m p a n y , e x c e t o a s d a s p á g i n a ss e g u i n t es , q u e f o r a m r e p r o d u z i d a s c o m p e r m i s s ã o d e

Z e v R a d ov a n : pp . 1 , 43 , 55 , 56 , 61 , 73 , 77 , 90 , 139 .

I l u s t r a ç õ e s d e J a m e s M a c d o n a l d n a s p p . 1 1 5 e 1 1 7 .

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HOMENS COM UMAM E N S A G E M

Uma Introdução aoNovo Testamento eseus Escritores

J O H N S T O T TRevisado por

Stephen Motyer

"A particularidade de cadaautor do Novo Testamentonão è de modo algum restritaa um único processo deinspiração. Antes, pelocontrário, o Espírito Santoprimeiro preparou, e emseguida usou suaindividualidade de formação,experiência, temperamento epersonalidade, a fim detransmitir por meio de cadaum alguma verdade distintae apropriada."John Stott

O objetivo desta ediçãocompletamente revisada daobra clássica do Dr. Stott foia de torná-la acessível ànova geração, refundindo alinguagem, adaptando-a àsversões bíblicas recentes, eacrescentando fotos a corese mapas informativos.

l i » . !STA U N I D A