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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial História Moderna e Contemporânea I

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

História Moderna e Contemporânea I

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ORGANIZAÇÃO:EDIÇÃO DE CONTEÚDO:

EDIÇÃO:ANALISTA DE ARTE:

PESQUISA ICONOGRÁFICA:EDIÇÃO DE ARTE:

CARTOGRAFIA:ILUSTRAÇÃO:

PROJETO GRÁFICO:EDITORAÇÃO:

CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

Joseph Razouk Junior

Maria Elenice Costa Dantas

Cláudio Espósito GodoyMaria Bethânia de Araujo / Norton Frehse Nicolazzi Junior / Rogério Pereira da CunhaAriete NasuliczLysvania Villela CordeiroRosana Fidelix / Roland CiriloTatiane Esmanhotto KaminskiVictor Oliveira PuchalskiAngela Giseli de SouzaJulio Manoel França da SilvaAngela GiseliO

2 Comunicação

Danielli Ferrari Cruz / Expressão Digital© 2001-2009 HAAP Media Ltd/nkzs’s; © Wikimedia Commons/Spoladore; © 2001-2009 HAAP Media Ltd/theswedish’s; © Shutterstock/ilker canikligil; © Dreamstime.com/Lee SniderEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

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@HIS1246Estandarte de Ur: a

guerra entre os povos

da Mesopotâmia

@HIS1246

A663 Araujo, Maria Bethânia de.Ensino médio : modular : história : história moderna e contemporânea I / Maria Bethânia

de Araujo, Norton Frehse Nicolazzi Junior, Rogério Pereira da Cunha; ilustrações Angela Giseli. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7053-0 (livro do aluno)

ISBN 978-85-385-7054-7 (livro do professor)

1. História. 2. Ensino médio – Currículos. I. Nicolazzi Junior, Norton Frehse. II. Cunha, Rogério Pereira da. III. Giseli, Angela. IV. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIO

Unidade 1: Antigo Regime

Conceito 6

Política, economia e religião 7

Contexto histórico dos séculos XVI, XVII e XVIII 11

Unidade 2: Iluminismo

Revolução Científica 19

Revolução intelectual 21

Despotismo esclarecido 26

Unidade 3: Revolução Industrial

Conceito 32

Origens 33

Primeira Revolução Industrial 34

Segunda Revolução Industrial 38

Era Meiji: o caso japonês 43

Unidade 4: Revoluções burguesas

Ascensão da burguesia 48

Revoluções inglesas 49

Revolução Francesa 54

Repercussões nas Américas portuguesa,

espanhola e inglesa 59

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O professor Eduardo de Almeida Navarro, da USP, em artigo

sobre a reedição de Uma festa brasileira celebrada em Rouen

em 1550 – um livro de Ferdinand Denis, publicado originalmente

em 1850, na França –, traz alguns registros sobre o evento de

que trata a obra, revelando detalhes de um espetáculo que

acredita ter sido belíssimo. Segundo o autor do artigo, o livro

trata da cerimônia de recepção ao rei Henrique II (1519-1559),

da França e a sua esposa, Catarina de Médicis (1519-1589), ten-

do a participação de vários indígenas tupinambás do

Brasil, no papel de protagonistas, e contando com

cortejos e desfiles triunfais.

Antigo Regime1

História Moderna e Contemporânea I4

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Durante viagem à Normandia, Henrique II havia sido rece-bido triunfalmente na cidade de Lyon. Por isso, Rouen buscava “empanar o brilho da festa da cidade vizinha com algo ainda mais apoteótico e retumbante”, como afirma Navarro.

Assim, em 1.º de outubro de 1550, a cidade de Rouen ofereceu uma “fête brésilienne” aos reis que a visitavam. Foram construídas, às margens do rio Sena, réplicas de aldeias indígenas. Nessas aldeias os france-ses organizadores da cerimônia puseram trezentos ato-res, a representarem índios brasileiros. O que ocorreu, aí, de mais notável foi que cerca de cinquenta deles eram índios legítimos levados do Brasil. Os demais eram marinheiros normandos e bretões, vezados no trato com os silvícolas da costa do Brasil havia muito tempo, frequentadores que eram do litoral brasileiro para o tráfico de pau-brasil. Também participavam da encenação mulheres francesas. Todos os atores, índios e europeus, apresentavam-se nus e pintados com urucu, tinta rubra que disfarçava a nudez dos brancos.NAVARRO, Eduardo de Almeida. Uma festa brasileira celebrada em Rouen em 1550. Educação em linha, Ano II, no. 5, jul-set. 2008. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/downloads/EducacaoemLinha5.pdf>. Acesso em: 5 maio 2011.

Alguns anos depois, em 1562, o rei Carlos IX (1550- -1574), filho de Henrique II e então com 12 anos, recebeu, na mesma cidade de Rouen, outros três tupinambás, que causaram grande frêmito na corte.

Nessa ocasião, estava presente o escritor e ensaísta fran-cês Michel de Montaigne (1533-1592), que teve a oportunidade de conversar com os tupinambás. Montaigne registrou na sua obra aquela conversa, destacando a impressão que os nativos brasileiros tiveram da sociedade do Antigo Regime francês.

O Rei departiu com eles longo tempo. Mostraram- -lhes os nossos costumes, nosso luxo, o que era uma bela cidade. Depois, alguém pediu-lhes a opinião sobre o que mais os havia surpreendido. Responde-ram que [...] (têm uma forma de falar que divide os homens em duas partes), tinham reparado que havia entre nós pessoas cheias e fartas de comodidades de toda ordem, enquanto a outra metade mendigava a suas portas, descarnada de fome e de miséria; e que

o luxo e o requinte que foram característicos no Antigo Regime francês. Apesar de ter existido em pratica

pp p

Tornado rei aos dez anos de idade, Carlos IX vivenciou Tornado rei aos dez anos de idade, Carlos IX vivenciouo luxo e o requinte que foram característicos no Antigo o luxo e o requinte que foram característicos no AntigoRegime francês. Apesar de ter existido em praticaRegime francês. Apesar de ter existido em pratica--mente toda a Europa, o Antigo Regime francês foi mente toda a Europa, o Antigo Regime francês foi mente toda a Europa, o Antigo Regime francês foiemblemático, podendo ser considerado como modelo emblemático, podendo ser considerado como modelopppap ra as demais cortes europeiaspap ra as demais cortes europeias

CLOUET, François. Retrato do Rei Carlos IX da França. 1561. 1 óleo sobre madeira, 25 cm x 21 cm. Kunsthistorisches Museum, Viena.

lhes parecia também singular como essa outra metade podia suportar tamanha injustiça sem estrangular os demais e lançar fogo a suas casas.

MONTAIGNE, Michel de. Dos canibais: Capítulo XXXI do Livro 1 dos Ensaios. Disponível em: <http://www.consciencia.org/dos_cani-bais_montaigne.shtml>. Acesso em: 5 maio 2011.

Luxo e esplendor de um lado, desigualdade e miséria de outro, assim era a sociedade do “Antigo Regime”, denominação de um sistema de organização política e econômica, social e cultural que vigorou na Europa entre meados do século XV e o fim do século XVIII. Compreender as características do Antigo Regime é fundamental para entender as principais dinâmicas históricas do mundo ocidental no Período Moderno e Contemporâneo.

Ensino Médio | Modular 5

HISTÓRIA

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Conceito

A expressão Antigo Regime, ou Ancien Régime, como é grafada em francês, surgiu no fim do século XVIII, nos debates da Assembleia Constituinte francesa, designando um conjunto de práticas e instituições aristocráticas características dos governos absolutistas. “No plano social, ele [o Antigo Regime] se caracterizava pelo privilégio aristocrático e, no âmbito do Estado, pelo absolutismo monárquico de origem divina”, como defende o historiador Georges Lefebvre.

Apesar de ser mais facilmente identificado na sociedade francesa, o conceito de Antigo Regime também pode ser aplicado a outros contextos históricos, como nos casos de Portugal, Espanha, Inglaterra e Brasil. A aplicação do conceito extrapolando o universo histórico francês é corroborada pelo especialista em relações sociais e instituições jurídico-políticas, Cesar Luiz Pasold, para quem “a expressão Ancien Régime é utilizada não apenas para designar o fenômeno francês, mas extrapolando-o, para indicar aquela condição de governo absolutista predominante em qualquer país da Europa”.

Cronologicamente, “no final do século XVIII, a França e a maior parte da Europa estavam submetidas ao que foi chamado de Ancien Régime”, segundo Georges Lefebvre. Naquela época, como afirmam os historiadores Ronaldo Vainfas e Guilherme Pereira das Neves, uma das principais características do Antigo Regime era a ausência de igualdade social, de igualdade entre os indivíduos.

Assim, imperava a desigualdade, pautada em privilégios que apenas uma pequena parcela da população desfrutava, principalmente a nobreza e alguns membros do clero. Em outras palavras, era basicamente a corte que gozava da prerrogativa de possuir vantagens em relação ao restante da sociedade. Nas palavras do historiador Jorge Grespan, “o ‘Antigo Regime’ se caracterizou essen-cialmente pelo rearranjo de forças entre a aristocracia e a realeza que permitiu a centralização do poder conhecida como a monarquia absoluta”.

Luís XIV (1638-1715), reiLuís XIV (1638-1715), reida França conhecido como da França conhecido comoRei Sol, foi um dos grandes Rei Sol, foi um dos grandesexpoentes do Antigo Regime. expoentes do Antigo Regime.Toda representação do rei tinha Toda representação do rei tinhaimplícito o objetivo de projetá-implícito o objetivo de projetá--lo como o símbolo maior do-lo como o símbolo maior doEstado francêsEstado francês

OO Antigo Regime inglês teve OO Antigo Regime inglês teverepresentantes à altura do Rei representantes à altura do ReiSol. Henrique VIII (1491-1547)Sol. Henrique VIII (1491-1547)governou de maneira absolutista, governou de maneira absolutista,exercendo seu poder nas mais exercendo seu poder nas maisvariadas esferas da organização variadas esferas da organizaçãoda Inglaterra. Política, religião, da Inglaterra. Política, religião,economia e cultura estavam sobeconomia e cultura estavam sobo o controle direto do rei inglêsoo controle direto do rei inglês

RIGAUD, Hyacinthe. Retrato de Luís XIV. 1701. 1 óleo sobre tela, color., 277 cm x 194 cm. Museu do Louvre, Paris.

a Rainha Virgem, comandou

FFilha de Henrique VIII, Elizabeth FFilha de Henrique VIII, ElizabethI (1533-1603) foi uma legítimaI (1533-1603) foi uma legítimarepresentante do Antigo Regime representante do Antigo Regimena Inglaterra. Chamada de na Inglaterra. Chamada dea Rainha Virgem, comandoua Rainha Virgem, comandouo Estado inglês com rigidez e o Estado inglês com rigidez edeterminação, conduzindo adeterminação, conduzindo aInglaterra à posição de uma das Inglaterra à posição de uma dasmais poderosas potências da épocamais poderosas potências da época

GHEERAERTS, Marcus o Jovem. Retrato da Rainha Elizabeth I.1590. 1 óleo sobre tela, 176 cm x 144 cm. Galleria Palatina (Palazzo Pitti), Florença.

DUFLOS, Pierre. Retrato de Maria Antonieta, Rainha da França. 1780. 1 gravura colorida à mão. Coleção particular.

A austríaca Maria Antonieta A austríaca Maria Antonieta(1755-1793) foi casada (1755-1793) foi casadacom Luís XVI (1754-1793) e com Luís XVI (1754-1793) eambos reinaram na França ambos reinaram na Françade 1774 até o início dos anos de 1774 até o início dos anosde 1790. Foram, de fato, os de 1790. Foram, de fato, osúltimos representantes doúltimos representantes doAntigo Regime francês, que Antigo Regime francês, quefoi colocado em xeque com foi colocado em xeque como movimento revolucionário o movimento revolucionárioocorrido a partir de 1789ocorrido a partir de 1789

Latin

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HOLBEIN, Hans o Jovem. Henrique VIII, após 1537. 1 óleo sobre tela, color., 233,7 cm x 134,6 cm Walker Art Gallery, Liverpool.

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Política, economia e religião

Considerando que o Antigo Regime foi um sistema de organização política e econômica, social e

cultural, que vigorou na Europa entre meados do século XV e o fim do século XVIII, torna-se fundamental entender quais eram suas principais características.

De acordo com o conceito de Antigo Regime, anteriormente apresentado, sabe-se que os historia-dores concordam que a desigualdade foi uma constante naquele tipo de organização.

Politicamente, vigorava nos Estados modernos o sistema absolutista, que o historiador Michel Morineau destaca como sendo uma organização central, cuja “autoridade do rei exercia-se por toda parte através dos funcionários que nomeava”.

Morineau julga fácil identificar um Estado moderno de caráter absolutista, pois para ele os sinais mais patentes eram “o imposto, o exército permanente, a criação de um corpo de funcionários ou oficiais, designados pelo rei e diretamente dependentes desse, o nascimento de um governo central mais fundamentado e mais adaptado às suas tarefas”.

É somente na minha pessoa que reside o poder soberano... é somente de mim que os meus tribunais recebem a sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso nunca pode ser contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem dependência e sem partilha; é somente por minha autori-dade que os funcionários dos meus tribunais procedem, não à formação, mas ao registro, à publicação, à execução da lei, e que lhes é permitido advertir-me o que é do dever de todos os úteis conselheiros; toda a ordem pública emana de mim, e os direitos e interesses da nação, de que se pretende ousar fazer um corpo separado do Monarca, estão necessariamente unidos com os meus e repousam inteiramente nas minhas mãos.

RESPOSTA do rei ao Parlamento de Paris, em 3 de março de 1766. In: MARQUES, Adhemar Martins. História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2010. p. 58.

Com base no documento são feitas as seguintes afirmações:

(01) Foi no Período Moderno que, progressivamente, os reis conseguiram eliminar ou enfraquecer, de forma sensível, os poderes locais medievais.

(02) O documento refere-se diretamente ao poder supranacional da Igreja Católica, que influencia-va ilimitadamente a Coroa real francesa.

(04) A resposta do rei ao Parlamento de Paris pode ser considerada como uma carta de boas inten-ções no sentido de separar as funções do poder.

(08) No documento, o rei deixa claro ao Parlamento como ele encara o seu próprio poder, em uma explícita identificação que o rei faz de si próprio com o poder estatal.

De acordo com a análise das afirmações, o somatório das afirmativas corretas é:

HISTÓRIA

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Uma das estratégias de comunicação do regime absolutista francês, no sentido de fabricar a imagem do rei foi sua representação em diferentes situações, convenientemente adequadas a atos heroicos, imbuídos de simbo-lismos e paralelos com figuras míticas. As representações assumiam os mais diferentes gêneros: retratos, moedas, tapeçarias, poemas, estátuas, balés, alegorias, arcos do triunfo e obeliscos. O historiador Peter Burke analisou, em sua obra A fabricação do Rei: a construção da imagem pública de Luís XIV, esse processo “publicitário” organizado em torno da arte e do poder. Burke ressalta que a função da imagem era celebrar o rei, glorificá-lo, ou seja, convencer o público quanto à sua grandeza. As obras de arte eram exaustivamente estudadas na sua concepção, contendo símbolos associados ao poder e que exaltavam as qualidades que se pretendia explorar.

seus familiares, os membros da família real são retratados como deuses e deusas da mitologia clássica. Todos estão ao redor da-

Na imagem, em que se encontram representados o rei da França e Na imagem, em que se encontram representados o rei da França eseus familiares, os membros da família real são retratados como seus familiares, os membros da família real são retratados comodeuses e deusas da mitologia clássica. Todos estão ao redor dadeuses e deusas da mitologia clássica. Todos estão ao redor da---quq ele que seria o mais importante entre todos os deuses, o Rei Sol quq ele que seria o mais importante entre todos os deuses, o Rei Sol quele que seria o mais importante entre todos os deuses, o Rei Sol

NOCRET, Jean. A família de Luís XIV. 1670. 1 óleo sobre tela, color., 305 cm x 420 cm. Palácio de Versalhes, Versalhes.

qq e os reconheceria rapidamente e poderia simpatizar mais facilmente

A cunhagem de moedas com a representação de governantes, impeA cunhagem de moedas com a representação de governantes, impe---radores e reis existe desde a Antiguidade. Imperadores romanos já radores e reis existe desde a Antiguidade. Imperadores romanos já radores e reis existe desde a Antiguidade. Imperadores romanos jáutilizavam a estratégia para tonarem-se mais próximos à população, utilizavam a estratégia para tonarem-se mais próximos à população, utilizavam a estratégia para tonarem-se mais próximos à população,quq e os reconheceria rapidamente e poderia simpatizar mais facilmenteque os reconheceria rapidamente e poderia simpatizar mais facilmente

Ao longo do reinado de Luís XIV houve a institucionalização da fabricação da imagem do rei, a centrali-dade residia na figura do próprio rei, com base em homens de confiança que tratavam dos diferentes planos envolvidos na criação dessa imagem pública e envolvia a literatura, a pintura e escultura, a arquitetura e a música (incluindo balé e ópera).

WARIN, Jean. Ludovicus XIIII (XIV) Rex Christianissimus. 1666.

História Moderna e Contemporânea I8

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As representações de Luís XIV durante o século XVII, assim como o aparato burocrático colocado a serviço da criação da imagem do rei, podem se aproximar bastante das ações políticas de alguns governantes da contemporaneidade.

1. De acordo com as informações apresentadas, faça o que se pede:

a) Explique por que o historiador Peter Burke considera que a fabricação da imagem pública do rei Luís XIV foi um processo “publicitário”.

b) É possível afirmar que a mídia pode fabricar a imagem pública de um governante? Justifique a resposta fornecendo exemplos de situações que sustentem a sua argumentação.

Nesse contexto, ocorreu o fenômeno chamado de “mercantilismo”, ou seja, o controle da economia pelos Estados modernos, que envolvia uma série de práticas, como o metalismo, a balança comercial favorável e o protecionismo.

Tais práticas tinham peculiaridades próprias de acordo com o Estado que as adotava, ou seja, variavam conforme os objetivos e as necessidades de cada governo.

Independentemente das especificidades mercantilistas de cada Estado, é inegável a aproximação que os Estados modernos tinham com a classe burguesa. O historiador Fernand Braudel considera que,

2. Sobre a construção da imagem pública de Luís XIV, observe a imagem e assinale a alternativa correta:

a) O rei utilizava mantos e outros aparatos de vestuário apenas porque gostava muito de moda.b) A majestade, sem o manto, a peruca e os sapatos, seria inegavelmente respeitada da mesma maneira. c) A peruca e os sapatos de salto contribuíam para engrandecer a imagem do rei perante seus súditos,

aparentando-lhe maior estatura e imponência.d) Como todas as pessoas da época usavam perucas e sapatos de salto, isso contribuía para apresentar o

rei como uma pessoa comum, igual às outras.e) O rei só utilizou saltos altos e peruca durante a sua coroação; em todas as outras cerimônias ele era

conhecido pela utilização de vestuário simples e confortável.

BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 2.

Ensino Médio | Modular 9

HISTÓRIA

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A respeito do absolutismo europeu são feitas as seguintes afirmativas: I. Nos regimes absolutistas, a concentração de poder nas mãos dos monarcas favoreceu a burguesia ao

permitir o desenvolvimento de diversas atividades comerciais. II. Durante a Idade Moderna, o monopólio comercial exercido pelos reis europeus ocorreu graças à aliança

com os nobres que dominavam as atividades mercantis.III. Surgiram teorias absolutistas que justificavam a concentração de poder nas mãos dos monarcas sobre os

demais membros da nobreza e do clero.É correto afirmar que:

a) todas as afirmativas estão certas. b) todas as afirmativas estão erradas.

c) apenas as afirmativas I e II estão certas. d) apenas as afirmativas I e III estão certas.

e) apenas as afirmativas II e III estão certas.

mesmo com um poder centralizador, de caráter absolutista, o Estado moderno não dá conta da sua tarefa. Braudel enfatiza sua interpretação afirmando que, “para fazer a guerra, receber os impostos, administrar os seus negócios, fazer justiça, [o Estado] tem de se apoiar nos homens de negócios e nos burgueses à procura de promoção social”.

Para o filósofo e sociólogo Nicos Poulantzas, a aliança entre nobreza e burguesia caracterizou o processo de transição do feudalismo para o capitalismo. De acordo com Poulantzas, a referida transição ocorreu, principalmente, devido à existência simultânea de “um Estado com traços marcadamente capitalistas, em um momento em que a burguesia não é a classe politicamente dominante”.

Portanto, é correto afirmar que o Antigo Regime estava baseado, politicamente, no absolutismo e, economicamente, no mercantilismo. Além desses dois pilares de sustentação dos Estados modernos no contexto do Antigo Regime, é necessário fazer menção ao papel da religião, baluarte dos mais importantes para garantir a manutenção do poder real.

Tão logo os Estados modernos foram se estabelecendo, uma aliança entre a Igreja e as coroas também foi se delineando. Nesse caso, tanto o poder real como o poder religioso dependiam entre si, em uma relação recíproca de autoridade e domínio. Pensadores, como Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), que afirmou que “o trono real não é o trono de um homem, mas do próprio Deus”, contribuíram para legitimar a parceria do Estado com a Igreja (ou da Igreja com o Estado).

Jean Bodin (1530-1596), um dos teóricos do absolutismo, reiterava a opinião de Bossuet ao dizer que não havia nada maior sobre a Terra além de Deus, a não ser os príncipes soberanos, que eram “por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens”. Por isso, Bodin advertia que era “necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na Terra”.

10 História Moderna e Contemporânea I

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Na imagem, uma esplendorosa vista do Palácio de Versalhes. Na imagem, uma esplendorosa vista do Palácio de Versalhes.Observe a imponência das dimensões da residência real francesa Observe a imponência das dimensões da residência real francesadurante o Antigo Regime. Para garantir o pleno funcionamento das durante o Antigo Regime. Para garantir o pleno funcionamento dasinstalações de Versalhes, alguns autores cogitam que diariamente instalações de Versalhes, alguns autores cogitam que diariamentecirculavam no Palácio e nos seus arredores qquase 25 mil pep ssoascirculavam no Palácio e nos seus arredores qquase 25 mil pep ssoas

Contexto histórico dos séculos XVI, XVII e XVIII

O cotidiano no Antigo Regime foi um reflexo de sua organização sociopolítica, com elementos de diferenciação entre os grupos que formavam a sociedade. Como havia privilegiados e desprivilegiados, pode-se supor que, a princípio, a sociedade era dividida em duas partes. Porém, nas relações do dia a dia, a hierarquização social se constituía em uma prática muito mais complexa.

Tal complexidade pode ser verificada naquilo que o sociólogo Norbert Elias denomina de sociedade de corte. Trata-se de uma sociedade dotada de corte (real ou principesca), a qual deve ser considerada como uma formação social com relações e funções especificamente definidas.

Essa figuração formada pela sociedade de corte estava, de acordo com o historiador Roger Chartier, “indissoluvelmente ligada à construção do Estado absolutista, caracterizado por um duplo monopólio do soberano”: o monopólio fiscal e o monopólio sobre a violência legítima. Nesse sentido, cabia ao governante centralizar os impostos e retribuir em dinheiro, e não mais em terras, a seus fiéis e servidores. Também era regalia do gover-nante o controle da força militar, tornando-o senhor e avalista da pacificação de todo o espaço social.

MARTIN, Pierre-Denis. Vista de Versalhes. 1722. 1 óleo sobre tela, color., 115 cm x 161 cm. Museu do Château, Versalhes.tela, color., 115 cm

Luís XIV, rei da França (1643-1715), gostava de ver seus nobres morando sob seu teto em Versalhes. Norbert Elias afirma que “é difícil calcular o número exato de pessoas que moravam ou podiam morar no palácio de Versalhes. Todavia, um relato diz que, no ano de 1774, cerca de 10 000 pessoas – incluindo a criadagem – foram acomodadas no castelo”. O pátio do castelo devia indicar, por seu aspecto, a posição do personagem que o habitava. Em Versalhes, na descrição de Elias, “duas alamedas conduzem ao castelo, uma de cada lado, flanqueadas por uma longa ala oeste-leste que se destinava, sobretudo, a chanceleres e ministros. Chega-se, então, ao castelo propriamente dito. O pátio de entrada se torna mais estreito então. É preciso atravessar um pátio quadrado que desemboca em um segundo, menor, constituindo ambos a Cour Royale, e enfim alcança-se um terceiro pátio, de dimensões ainda menos amplas, o Pátio de Mármo-re, que a parte central do castelo cerca por três lados. Essa parte central é tão grande que abrange quatro pequenos pátios em seu interior, dois à direita e dois à esquerda. No primeiro andar dessa parte do castelo viviam o rei e a rainha com seu séquito”.

Detalhe do relógio existente noDetalhe do relógio existente nofrontão do Palácio de Versalhes. frontão do Palácio de Versalhes.O símbolo do soberano francês, O símbolo do soberano francês,o Rei Sol, foi reproduzido à o Rei Sol, foi reproduzido àexaustão. Praticamente em toda exaustão. Praticamente em todaa França havia objetos e monua França havia objetos e monu--mentos em louvor ao soberanomentos em louvor ao soberano

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1. Com base no texto e nas imagens, converse com seus colegas a respeito das características do Palácio de Versalhes e responda às seguintes questões:

a) Quais os elementos arquitetônicos do Palácio de Versalhes que mais chamam a atenção?

b) Em que sentido os elementos decorativos são detalhes importantes dessa edificação?

c) Quais deveriam ser os objetivos do rei ao manter a corte, ou melhor, a aristocracia (os nobres) convivendo tão próxima a ele?

2. A respeito do Palácio de Versalhes e do Antigo Regime francês, são feitas as seguintes afirmativas:

(01) A grandiosidade de Versalhes, como sede da corte francesa, relaciona-se ao caráter democrático do governo de Luís XIV, o que tornava necessária a participação de muitos funcionários para as tomadas de decisões políticas e administrativas.

(02) Os vários pátios que dão acesso ao Palácio de Versalhes, descritos no fragmento por Norbert Elias, são apenas um recurso estético, não tendo nenhuma importância em relação à figura e importância do rei.

(04) Os pátios, em Versalhes, deixaram de servir apenas para o acesso de seus visitantes, assumindo um valor social de prestígio, como todas as outras coisas utilizadas na corte.

(08) As milhares de pessoas descritas por Elias apenas visitavam Versalhes, pois o rei desejava o máximo de privacidade, quase não se apresentando publicamente aos seus súditos.

(16) O Palácio de Versalhes abrigava apenas o rei, sua família e amigos mais próximos, sendo utilizado pela corte francesa somente como ambiente de férias e descanso.

De acordo com a análise das afirmações, o somatório das afirmativas corretas é:

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PATEL, Pierre. Vista sobre o castelo e jardins de Versalhes, da Avenida de Paris. 1688. 1 óleo sobre tela, color., 115 cm x 161 cm. Palácio de Versalhes, Versalhes.

Atente ara a ometria das constr ões e dos j rdins,

A magnificência do Palácio de Versalhes pode ser A magnificência do Palácio de Versalhes pode serverificada na imagem, uma obra de arte de Pierre Patel. verificada na imagem, uma obra de arte de Pierre Patel.Atente para a geometria das construções e dos jardins, Atente para a geometria das construções e dos jardins,tudo milimetricamente calculado para transmitir a ideia tudo milimetricamente calculado para transmitir a ideiaded grandiosidadede grandiosidade

O Pátio de Mármore resplandece o poder da monar-quia francesa. Detalhes como o piso e os acabamen

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O Pátio de Mármore resplandece o poder da monarO Pátio de Mármore resplandece o poder da monar--quia francesa. Detalhes como o piso e os acabamenquia francesa. Detalhes como o piso e os acabamen--tos das sacadas e do telhado chamam a atenção de tos das sacadas e do telhado chamam a atenção dequalquer visitante. O brilho do mármore e a vivacidaqualquer visitante. O brilho do mármore e a vivacida--de da cobertura de ouro dos acabamentos encantam de da cobertura de ouro dos acabamentos encantamos visitantes até hojeos visitantes até hoje

12 História Moderna e Contemporânea I

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Para Chartier, é “essa monopolização fiscal e militar, que despoja a aristocracia dos antigos fundamentos de seu poder, obrigando-a a viver na proximidade do soberano dispensador de rendas, pensões e gratificações”, que caracteriza a sociedade de corte. Com a aristocracia convivendo de maneira tão próxima ao soberano, teve início um processo que estabeleceu convenções de estilo e regras de tratamento que valorizavam a cortesia, a atitude corporal, os gestos, as vestimentas, etc.

A adoção, por parte da aristocracia, de padrões de convivência diferenciados tinha como objetivo instituir uma distinção entre aqueles que deveriam ser considerados corteses e os que eram vistos como rudes. Por isso, é comum se referir àquela aristocracia como aristocracia cortesã, um grupo que, por meio de regras de etiqueta e determinados comportamentos, preten-

deu se diferenciar do restante da população.

Com o tempo, os costumes adotados pela aristocracia cortesã foram sendo apropriados pela burguesia e, em um longo processo de transformações históricas, passaram a ser, de maneira geral, os costumes da sociedade ocidental. Muitas atitudes corriqueiras na atualidade, que são consideradas demonstra-ção de educação e de bons modos, nasceram na sociedade de corte do Antigo Regime, na maioria das vezes como resultado dos rituais dos soberanos e de seus pares.

MARTIN, Jean-Baptiste. Vista do Laranjal (detalhe). 1688-90. 1 óleo sobre tela. Salon Grand Trianon, Versalhes.

-As magníficas e vastas instalações do PalácioAs magníficas e vastas instalações do Paláciode Versalhes podem ser comparadas a uma pede Versalhes podem ser comparadas a uma pede Versalhes podem ser comparadas a uma pe--quena cidade. Na imagem, é possível observar quena cidade. Na imagem, é possível observar quena cidade. Na imagem, é possível observaro laranjal e o Lago de Apolo, onde aparecemo laranjal e o Lago de Apolo, onde aparecematé alguns barcos “navegando”até alguns barcos “navegando”

Cortês: relativo à corte (cidade) ou ao

que dela provém. Termo que designa

alguém refinado, gentil, civilizado, urbanizado.

Rude: relativo ao campo, à vida rural. Termo que designa

alguém rústico, incivilizado, grosseiro,

indelicado.

Nas cortes europeias, sobretudo na francesa, “em nome da ‘etiqueta’ e da ‘civilidade’, começou-se a nor-matizar dos grandes aos pequenos detalhes da vida social cotidiana”. É assim que a historiadora Lilia Moritz Schwarcz apresenta o Código do bom-tom, escrito pelo cônego J. I. Roquette e publicado em Portugal em 1845.

Lilia afirma que em sociedades rigidamente estruturadas há uma histórica tendência de que as marcas exteriores sejam convertidas em símbolos de status e demonstração de hierarquia. Para “civilizar” as pessoas, surgiram no século XVI manuais de etiqueta que ensinavam como as pessoas deveriam proceder em situações corriqueiras da vida cotidiana.

Aqueles manuais ensinavam os rituais para que as pessoas os interiorizassem e estes passassem a ter um aspecto cada vez mais “natural”. Analisando aquelas regras, talvez elas pareçam demasiadamente exageradas.

HISTÓRIA

13Ensino Médio | Modular

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Tais rituais, verdadeiras encenações nas cortes europeias, eram regulados nos menores detalhes e com tanta meticulosidade que pareceriam, a um observador do século XXI, chatos e ridículos. Porém, naquela época, a hierarquia dos privilégios baseava-se, em parte, nos parâmetros de etiqueta. Norbert Elias salienta que a etiqueta “passou a ser mantida apenas pela competição dos indivíduos envolvidos em tal dinâmica, privilegiados por ela e compreensivelmente preocupados em preservar cada um dos seus pequenos privilégios e o poder que eles conferiam”.

FisiologiaO humanista Erasmo de Rotterdam (1466-1536), na sua obra De Civilitate Morum Puerilium

(Sobre a civilidade no comportamento das crianças), orientou as crianças a respeito dos gases corporais. Citando Hipócrates (460-377 a.C.), dizia que “se o vento sai sem ruído está tudo bem”, mas recomendava que se escondesse o ruído com uma tosse: “os que não querem que se ouça um ruído devem fingir que tossem”. Para Erasmo, valia a máxima de “uma tosse por um peido”.

No mesmo sentido, um código de regras publicado na cidade de Rouen, em 1729 preconizava ser “grande falta de educação dar saída aos ventos do corpo, que seja por cima ou por baixo, ainda que não se faça ruído algum, quando estiver acompanhado”. Mas seria “uma grande vergonha e indecência fazê-lo de maneira que os demais possam escutar”.

A seleção de regras da Corte de Braunschweig, publicada em 1598, recomendava “que ninguém, fosse quem fosse, sujasse com urina ou outras porcarias os salões, escadarias, corredores e demais aposentos antes, durante ou depois das refeições”.

Higiene pessoalNo Código do bom-tom, de 1845, J. I. Roquette orienta sua filha Eugênia para que limpe os

dentes, as orelhas, as unhas diariamente, e não apenas nos dias de festas e bailes. Porém, em relação “aos banhos de todo o corpo”, a orientação é para que “a não serem ordenados por facultativo, basta que tomes um cada mês, e que não sejam longos”. Após o banho, Roquette salienta que “não há objeto mais desagradável do que uma mulher desgrenhada ou mal penteada”. Quanto aos perfumes e cheiros, afirma que caíram em desuso, “e com razão, que eram eles prejudiciais à saúde e pouco favoráveis à fama das que os traziam porque chamavam a atenção dos homens”.

GuardanaposO cronista gastronômico J. A. Dias Lopes conta que, antes do surgimento do guardanapo, “os

comensais muitas vezes se comportavam de maneira inconveniente”, limpando as mãos nas toalhas ou nas roupas. Somente nos banquetes mais luxuosos é que havia algo semelhante a um guardanapo: “cachorros, gatos e coelhos circulando ou amarrados em pontos estratégicos”. Dias Lopes afirma que “a boa educação mandava esfregar os dedos sujos nos pelos dos animais”.

14 História Moderna e Contemporânea I

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No Palácio de Versalhes, palco por excelência dosri ua s e cos u es da soc edade de co e f a ce

imagem, a cama de Luís XIV, o Rei Sol. Atente para o detalhe da cabeceira da cama, que traz entalhado o

preferência ao poder e à posição do soberano

No Palácio de Versalhes, palco por excelência dosNo Palácio de Versalhes, palco por excelência dosNo Palácio de Versalhes, palco por excelência dosri i d i d d d f erituais e costumes da sociedade de corte francerituais e costumes da sociedade de corte france---sa, o posento real era um l gar de dest que. Na sa, o aposento real era um lugar de destaque. Na sa, o aposento real era um lugar de destaque. Naimagem, a cama de Luís XIV, o Rei Sol. Atente para o imagem, a cama de Luís XIV, o Rei Sol. Atente para odetalhe da cabeceira da cama, que traz entalhado o detalhe da cabeceira da cama, que traz entalhado o detalhe da cabeceira da cama, que traz entalhado ossímbolo do rei, revestido com ouro, em uma explícita símbolo do rei, revestido com ouro, em uma explícitareferência ao poder e à posição do soberanoreferência ao poder e à posição do soberanoreferência ao poder e à posição do soberano

O solene espetáculo começava com o chamado lever, às 8 da manhã, quando o rei tinha que levantar-se da cama. Nesse momento entravam no seu dormitório os príncipes da família juntos com os camareiros e o médico, e oferecia-se ao rei de maneira cerimoniosa duas perucas empoadas que pareciam melenas ondu-lantes. O rei escolhia aquela que lhe apetecia, vestia uma linda bata e se sentava no lado da cama. Só então podiam entrar no dormitório os mais altos aristocratas, os duques; e ao mesmo tempo que se barbeava o soberano chegavam os secretários, os oficiais e demais funcionários. Logo, abriam-se as portas e aparecia uma multidão de pomposos dignitários, marechais, governadores, príncipes da igreja e favoritos a fim de presenciar maravilhados aquele ato solene em que sua majestade se vestia.

GOMBRICH, Ernst H. Breve historia del mundo. Barcelona: Península; Oceano, 2004. p. 228. Tradução livre.O lever da rainha se cumpria de maneira análoga ao do rei. A dama de honra tinha o privilégio de ajudar

a rainha a vestir a blusa. A dame du palais vestia-lhe a saia de baixo e o vestido. Entretanto, se uma princesa da família por acaso estivesse presente, era ela quem tinha o privilégio de pôr a blusa na rainha. Certa vez, a rainha acabara de ser despida por suas damas. A criada de quarto estava segurando a blusa e ia entregá-la à dama de honra quando a duquesa de Orléans entrou. A dama de honra devolveu a blusa à criada, que pre-tendia justamente entregá-la à duquesa quando chegou a condessa de Provence, nobre de um nível superior ao da duquesa. Assim, a blusa passou novamente para a dama de honra e só então a rainha foi recebê-la, das mãos da condessa de Provence. Durante todo aquele tempo, ela permaneceu nua como Deus a pôs no mundo, e precisou esperar, assistindo à maneira como as damas se cumprimentavam com sua blusa nas mãos.

ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001. p. 103-104.

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Naquela data praticamente não havia polícia em Paris. A fome de 1661-1662 foi responsável por uma grande miséria. [...] Mas não era fácil vencer a miséria. A indigência evidentemente engendra distúrbios. [...] A miséria continuava a ser uma chaga incurável, apesar dos esforços notáveis e rudes, conforme os costumes da época. [...] O número de miseráveis aumentava durante os períodos de escassez, dos quais a capital nem sempre escapou.

Esse número aumentou igualmente na segunda metade do reinado, e não se pode deixar de constatar que o restabelecimento da ordem deve ter sido efêmero. O inverno de 1693-1694 foi terrível. Vindos dos campos vizinhos, os miseráveis invadiram Paris. O preço do trigo triplicou. [...]

A grande escassez de 1709-1710 transformou quase todos os parisienses das classes modestas em uma multidão de mendigos. Castelot publica uma carta de M. de Mircourt ao inspetor-geral das Finanças: “Paris não passa de um teatro de horrores. Em toda parte só se veem misérias. Os pobres nos sitiam de todos os lados, perturbam o repouso da noite com gritos e soluços, que só interrompem para expirar”.

WILHELM, Jacques. Paris no tempo do Rei Sol (1660-1715). São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 240-242.

Com base no texto do historiador Jacques Wilhelm, elabore um texto estabelecendo uma relação entre Antigo Regime, sociedade de corte e as opiniões dos tupinambás registradas por Montaigne, que “tinham reparado que havia entre nós pessoas cheias e fartas de comodidades de toda ordem, enquanto a outra metade mendigava a suas portas, descarnada de fome e de miséria”.

Sobre o ritual de corte descrito nos fragmentos citados, assinale V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s):

( ) As atitudes em relação à hierarquia social são apresentadas com muita nitidez nas descrições do ritual do lever.

( ) Cada ato, no decorrer da cerimônia, possuía um valor de prestígio bem definido que recaía sobre os participantes.

( ) A vida diária do rei e da rainha compunha-se de ações que não eram simplesmente recorrentes, mas carregadas de sentido simbólico, porque eram desempenhadas em público pelo rei-ator/rainha-atriz.

( ) A sucessão de pessoas que estavam encarregadas de vestir a rainha era organizada de maneira a privilegiar o status social de cada uma, ou seja, ressaltar a hierarquia que caracterizava a sociedade de corte.

( ) A importância dos rituais diários do rei e da rainha era apenas superficial, já que poucas pessoas levavam a sério as etapas cerimoniais e os atos do rei que, por nunca serem planejados, mudavam constantemente.

16 História Moderna e Contemporânea I

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1. Sobre a organização política predominante na Europa moderna, assinale a alternativa correta:

a) Caracterizou-se pela participação democráti-ca dos cidadãos, que elegiam os seus dirigen-tes por meio de eleições periódicas.

b) Era um regime político no qual havia liberda-de de associação e de expressão, não existin-do distinções ou privilégios de classe, heredi-tários ou arbitrários.

c) Era um sistema político baseado na negação do princípio da autoridade, isto é, cada um podia fazer o que bem entendesse.

d) Era um sistema de governo de caráter repre-sentativo, no qual a direção dos negócios pú-blicos era atribuída a um gabinete ministerial escolhido democraticamente pela população feminina.

e) Era um sistema político de governo em que os dirigentes assumiam poderes sem limitações ou restrições, ou seja, eram governantes ab-solutistas.

2. Sobre o mercantilismo, analise as afirmativas a seguir:

I. Consistiu no sistema de organização econô-mica predominante no mundo europeu mo-derno, caracterizado pela intensa interven-ção estatal na economia.

II. O mercantilismo previa a total liberdade de comércio entre todos os países. Esse sistema de organização econômica beneficiou so-mente a aristocracia asiática.

III. Os monarcas absolutistas adotaram práticas mercantilistas em seus Estados, com o objeti-vo de ampliar suas riquezas e, desta maneira, assegurar seus poderes ilimitados.

De acordo com a análise, assinale a alternativa correta:

a) Todas as afirmativas estão certas.

b) Todas as afirmativas estão erradas.

c) Apenas as afirmativas I e II estão certas.

d) Apenas as afirmativas I e III estão certas.

e) Apenas as afirmativas II e III estão certas.

3. (UFPR) Em seu livro O processo civilizador, Norbert Elias traz exemplos de manuais e códi-gos de comportamento, de diferentes contextos.

Em um deles, de 1672, destacam-se orientações sobre hábitos à mesa, como as que seguem:

Se todos estão se servindo do mesmo prato, evite pôr nele a mão antes que o tenham feito as pessoas de mais alta categoria, e trate de tirar o alimento apenas da parte do prato que está à sua frente. Ain-da menos deve pegar as melhores porções, mesmo que aconteça você ser o último a se servir.

Cabe observar ainda que você sempre deve limpar a colher quando, depois de usá-la, quiser tirar al-guma coisa de outro prato, havendo pessoas tão delicadas que não querem tomar a sopa na qual mergulhou a colher depois de a ter levado à boca.(COURTIN, Antoine de, p. 102. Grifos do autor original.)

Comentando especificamente a obra de De Courtin, Elias esclarece que esse autor “fala a partir de uma so-ciedade de corte que é a mais plenamente consolida-da – a da corte de Luís XIV. E se dirige principalmente a pessoas de categoria, pessoas que não vivem dire-tamente na corte, mas que desejam conhecer bem as maneiras e costumes que nela têm curso”.

(ELIAS, Norbert. O processo civilizador. 1994, vol. 1, p. 109.)

Considerando essa sociedade, explique quem se-riam essas “pessoas de categoria”, e por que o do-mínio de “bons hábitos”, como os citados no exem-plo, seria importante para elas, no âmbito social.

4. Leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.

[...] Muito do que se diz aqui acerca da socie-dade de corte sugere analogias com as socieda-des de nações industriais [...] Assim, certamente também se observa nas camadas mais altas de sociedades industriais uma pressão social para elevar-se socialmente, por meio de diversos mo-dos de consumo em função do prestígio [...].

ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001. p. 90.

a) Norbert Elias estabelece um paralelo entre a so-ciedade de corte e a sociedade industrial. Com base na análise de Elias, explique de que manei-ra é possível relacionar as duas sociedades.

b) Com base no texto de Norbert Elias é feita a seguinte afirmação: “na sociedade contem-porânea há uma pressão social para elevar- -se socialmente”. Tal afirmação é verdadeira? Jus-tifique a resposta, fundamentando-a com exem-plos práticos e concretos, isto é, exemplos reais.

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HISTÓRIA

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Compreender o Iluminismo, assim como os processos históricos que refletiram a mudança de pensamento da humanidade ocidental, exige o conhecimento do contexto em que, em geral, as ideias se desenvolveram.

Apesar de o século XVIII ser considerado o século, por excelência, do Iluminismo, também chamado de o Século das Luzes, para se pensar a respeito das ideias e pro-postas que surgiram nesse período, bem como sobre seus resultados, é fundamental levar em conta um contexto mais amplo, que abrange desde meados do século XVI até o início do século XIX.

Primeiramente, é conveniente destacar que o Iluminismo não foi uma doutrina, mas, sim, um movimento plural, que possibilitou aos filósofos daquela época o desenvolvimento de diferentes linhas de pensamento. É bom lembrar que, no século XVIII, o termo “filósofo” era aplicado de maneira muito ampla, podendo se referir tanto a um pensador teórico como a um pesquisador das plantas e dos animais. Com tanta variedade de pensadores englobados sob uma única denominação, o resultado foi que as teorias e formas de se conceber o mundo e os próprios homens também foram bastante variadas.

As transformações que o mundo ocidental experimentou desde o fim do século XV, tais como: a “descoberta do Novo Mundo”, o Humanismo e a valorização do ser humano, o Renascimento cultural, a Reforma Protestante, entre outras, contribuíram para mudar a forma de pensar e de se relacionar com o saber e com o conhecimento. Em decorrên-cia desses fatores, também ocorreram mudanças no que diz respeito à relação que os homens tinham com a fé.

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social e intelectual que caracterizou o movimento iluminis a

Durante o século XVIII muitas pessoas Durante o século XVIII muitas pessoasim rtantes do eríodo reuniram-se em importantes do período reuniram-se em importantes do período reuniram-se em

salões, como o de Madame Geoffrin. salões, como o de Madame Geoffrin. salões, como o de Madame Geoffrin.Na imagem, com um busto de Voltaire Na imagem, com um busto de Voltaire Na imagem, com um busto de Voltaire

ao fundo, os participantes discutemao fundo, os participantes discutemFilosofia, Literatura, Artes e Política, Filosofia, Literatura, Artes e Política, Filosofia, Literatura, Artes e Política,

em um exemplo da intensa vidaem um exemplo da intensa vidasocial e intelectual ue caracterizou o social e intelectual que caracterizou o social e intelectual que caracterizou o

movimento iluministamovimento iluminista

LEMONNIER, Anicet-Charles-Gabriel. Leitura da tragédia de Voltaire O órfão da China no salão de Madame Geoffrin em 1755. 1812. 1 óleo sobre tela, 126 cm x 195 cm. Museu Nacional do Château de Malmaison.

De acordo com os historiadores Kalina

Vanderlei Silva e Maciel Henrique

Silva, “o Iluminismo é um dos temas mais

importantes na História das ideias, influenciando

toda a estrutura mental do Ocidente

contemporâneo”. O termo deriva

da palavra alemã Aufklärung, que significa

“esclarecimento”, no sentido de cada

homem pensar por si próprio, de maneira

autônoma e por meio da razão. O Dicionário

de conceitos históricos afirma que o movimento

iluminista “abarcou tanto a Filosofia quanto

as ciências sociais e naturais, a educação

e a tecnologia”. As ideias iluministas se

disseminaram por toda a Europa e alcançaram

também o continente americano.

Iluminismo2

História Moderna e Contemporânea I18

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A tradição medieval de mundo já não servia para representar a sociedade de maneira homogê-nea, se é que algum dia a sociedade fora de fato representada como algo uniforme, no sentido de haver unidade e coesão entre seus integrantes. O eixo político de dominação da Igreja havia sido abalado definitivamente pela Reforma e o livre pensamento ganhava força nas ideias científicas e filosóficas. A liberdade tomava a frente de batalha em oposição aos dogmas e a razão se consagrava como autoridade única e incontestável.

Sendo a razão e a liberdade os fundamentos filosóficos e intelectuais do Iluminismo, surgiram novas formas de se tentar compreender o mundo. Entretanto, apesar das divergências entre os ilu-ministas, a base foi sempre a mesma: a razão como fonte de conhecimento do homem para a busca da emancipação e da melhoria das condições de vida em direção ao “progresso”.

Revolução Científica

O Renascimento contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do conhecimento humano e teve repercussões que ecoaram durante muito tempo na Europa e na América. A valorização do homem, resgatada da Antiguidade clássica pelos renascentistas, permaneceu sendo objeto de estudo nos séculos XVI, XVII e XVIII, complementando os estudos sobre o conhecimento humano e suas formas de apreensão. A Reforma Protestante, juntamente com o desenvolvimento do espírito crítico e do racionalismo, também contribuiu para a configuração de um contexto propício às mudanças que se anunciavam.

Nesse sentido, pode-se arrolar uma série de inovações e descobertas que, entre os séculos XVI e XVIII, prepararam o terreno para o “progresso” do conhecimento. Heliocentrismo, telescópio, leis matemáticas, geometria, empirismo e racionalismo são alguns dos termos que ajudam a compreender as mudanças que anteciparam a chegada do “progresso”.

Racionalismo e cientificismo, duasRacionalismo e cientificismo, duasdas principais características dodas principais características do

Iluminismo. A razão e a Ciência foramIluminismo. A razão e a Ciência foramo fundamento da concepção de mundoo fundamento da concepção de mundo

que rompeu com as ideias medieque rompeu com as ideias medie--vais, consideradas tradicionais. Paravais, consideradas tradicionais. Para

algumas pessoas, as ideias medievaisalgumas pessoas, as ideias medievaisrepresentavam as trevas, a escuridão,representavam as trevas, a escuridão,

a ignorância e a superstição. Paraa ignorância e a superstição. Paraacabar com as trevas, luzesacabar com as trevas, luzes

SANDBY, Paul. A lanterna mágica. 1760. 1 aquarela sobre caneta e tinta, 37 cm x 53,6 cm. Museu Britânico, Londres.

Revolução

Científica

@HIS2169

Ensino Médio | Modular 19

HISTÓRIA

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Com base em seus conhecimentos a respeito dos pensadores que contribuíram para que ocorresse uma Revolução Científica, faça o que se pede:

1. Leia com atenção a poesia de Alexander Pope (1688-1744), considerado um dos mais brilhantes poetas britânicos do século XVIII.

Nature and Nature’s law lay hid in night.God said, let Newton be! And all was light.Alexander Pope

A natureza na noite as suas leis ocultouDeus disse, faça-se Newton; tudo em luz se tornou.Alexander Pope

IM HOF, Ulrich. A Europa no Século das Luzes. Lisboa: Presença, 1995. p. 12.

Alexander Pope faz um elogio ao trabalho de Isaac Newton e de suas descobertas científicas. A respeito do desenvolvimento das ciências durante os séculos XVI e XVII, são feitas as seguintes afirmativas:

I. Newton foi um grande defensor do geocentrismo, tendo seguido os passos de Galileu na defesa de que a Terra era o centro do Universo e o Sol e os corpos celestes giravam em torno dela.

II. Newton formulou as leis da Física sobre o movimento dos corpos que até os dias de hoje são conhecidas como Leis de Newton, sendo uma delas: A toda ação há sempre oposta uma reação igual.

III. Apesar de ser mais conhecido como físico e matemático, Newton também se dedicou aos estudos de alquimia.

De acordo com a análise das afirmativas, assinale a alternativa correta:

a) Há três afirmativas corretas.

b) Há duas alternativas corretas.

c) Há uma alternativa correta.

d) Há três afirmativas incorretas.

2.

Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano, Livro 2, cap. 1, seção 2. In: STRATHERN, Paul. Locke: em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 56-57.

As ideias de John Locke apresentadas no fragmento de texto podem se relacionar com qual(is) sentença(s) a seguir? Justifique a resposta.

a) Casa de ferreiro, espeto de pau.

b) Gato escaldado tem medo de água fria.

c) É de pequeno que se torce o pepino.

d) Macaco velho não põe a mão em cumbuca.

20 História Moderna e Contemporânea I

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Revolução intelectual

O movimento cultural ocorrido na Europa Ocidental entre o final dos séculos XVII e XVIII, o Iluminismo, Ilustração ou Filosofia das Luzes, marcou profundamente o pensamento filosófico e também político da Europa e influenciou movimentos de liberdade em diferentes territórios no decorrer das décadas seguintes.

Caracterizado pela crença no poder da razão humana e pela valorização do pensamento, esse movimento não foi coeso, como se pode imaginar, a princípio. Reuniu diferentes intelectuais de diversas áreas de conhecimento, de econo-mistas a botânicos, passando por matemáticos e físicos, em torno de um ponto de convergência: o racionalismo. Mesmo com uma multiplicidade de pontos de vista, percebida nas obras deixadas por esses filósofos, pode-se falar em um mo-vimento devido à expressão dessas ideias, organizadas na maior obra do período intitulada Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado das Ciências, das Artes e dos Ofícios, por uma Sociedade de Homens de Letras. O objetivo da obra, sintetizado por Jean le Rond d´Alembert (1717-1783) na sua parte inicial, auxilia na compreen-são da importância da enciclopédia para a divulgação das ideias iluministas:

LECOMTE, Félix. Jean le Rond d'Alembert. 1791-1808. Mármore, altura: 150 cm.

Museu do Louvre, Paris.

HOUDON, Jean-Antoine. Denis Diderot. 1771. Terracota, altura: 83 cm. Museu do Louvre, Paris.

A obra que começamos (e que desejamos acabar) tem dois objetivos: como Enciclopédia, deve expor tanto quanto possível a ordem e o encadeamento dos conhecimentos; como dicio-nário raciocinado das ciências, das artes e dos ofícios, deve conter sobre cada arte, quer seja liberal, quer seja mecânica, princípios gerais que lhes sirvam de base e os pormenores mais essenciais que são o seu corpo e substância.

FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 47.

Jean le Rond d'Alembert foi um matemático, mecânico, físico e filósofo francês que coeditou a Enciclopédia juntamente com Diderot.

Denis Diderot foi um filósofo francês, dramaturgo

e romancista. Ele é mais conhecido como o editor da

Enciclopédia, um resumo das informações sobre todos

os assuntos relacionados ao homem e ao mundo, e

que também questionou a autoridade da Igreja Católica.

Muitos dos principais pensadores iluministas contribuíram para essa obra, que entre a publicação de seu primeiro volume, em 1751, e o último, em 1772, contabilizou, segundo Luiz R. Salinas Fortes, trinta e cinco volumes, entre texto, ilustrações e índice geral. Mas foi Denis Diderot (1713-1784) quem mais se de-dicou à finalização da empreitada. Mesmo tendo escrito peças de teatro, contos, romances e ensaios filosóficos, a organização da Enciclopédia é considerada por muitos sua mais importante obra. Entre os iluministas, Diderot não se desta-cou exatamente pela obra filosófica, mas rompeu com a teologia e com a filosofia tradicionais, declarando-se ateu e materialista.

Filósofos

iluministas

@HIS1913

HISTÓRIA

21Ensino Médio | Modular

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Analise o fragmento e responda às questões a seguir:

Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros. A liberdade é um presente do céu, e cada indivíduo da mesma espécie tem o direito de gozar dela logo que goze da razão... Toda autori-dade vem de outra origem, que não é da natureza... O poder que vem do consentimento dos povos supõe necessariamente condições que tornem o seu uso legítimo útil à sociedade, vantajoso para a república, e que a fixam e restringem entre limites.

DIDEROT, Denis. Autoridade política. In: ______. Os pensadores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 234.

1. De acordo com o fragmento, qual é a condição básica para que um indivíduo possa gozar de liberdade?

2. De que forma Diderot vivenciou, na prática, o que pregava?

3. Quais foram suas realizações concretas para mudar a sociedade na qual estava inserido?

Os ideais iluministas podem ser sintetizados na grandiosa obra que, segundo Diderot, Os ideais iluministas podem ser sintetizados na grandiosa obra que, segundo Diderot,“deveria mudar o pensamento comum”. Nenhuma obra semelhante havia sido feita ante“deveria mudar o pensamento comum”. Nenhuma obra semelhante havia sido feita ante---riormente, pois ariormente, pois a EnciclopédiaEnciclopédia demorou mais de 20 anos para ficar pronta e, quando seusdemorou mais de 20 anos para ficar pronta e, quando seusaa35 volumes foram impressos, revelou à sociedade uma nova forma de pensar o mundo35 volumes foram impressos, revelou à sociedade uma nova forma de pensar o mundo

Grandes nomes contribuíram para a concretização da Enciclopédia. Ape-sar de ter escrito apenas um dos verbetes dessa obra, Montesquieu foi um dos pensadores que se destacaram e suas ideias continuam influenciando o mundo até hoje. Nascido Charles-Louis de Secondat (1689-1755), o barão de Montesquieu contradiz a tese de que o Iluminismo foi essencialmente um movi-mento burguês. Aristocrata, frequentador dos salões de Paris, publicou sua obra- -prima, O espírito das leis, em 1748, já em seus últimos anos de vida. A obra tem como tema central a ideia de que as leis são decorrentes da realidade concreta de cada povo. As relações sociais e históricas determinam as leis, conforme sua realidade complexa e única. Também discorre sobre as formas de gover-no, sem eleger uma forma mais justa que outra, mas procurando demonstrar que cada uma será mais ou menos eficaz em função do contexto ou do espírito de cada povo. É lembrado pela separação das funções do poder em três: Executivo, Judiciário e Legislativo.

LEMOYNE, Jean-Baptiste II. Busto de Montesquieu. 1760. Mármore,

altura: 55,8 cm Museu de Belas Artes, Bordeaux.

Para Montesquieu, somente com as funções do poder independentes e autônomas, as liberdades

individuais estariam livres dos abusos de governantes despóticos. Legislativo, Executivo e Judiciário

independentes serviriam para se autocontrolar, pois “somente um poder limita outro poder”.

Biografia do filósofo

Montesquieu

@HIS826

Capa da Enciclopédia, publicação de 1772. Biblioteca Nacional da França, Paris.

DIDEROT, Denis. Enciclopédia ou dicio-nário explicativo da ciência, artes e ofí-cios. 1772. Monografia impressa. Biblioteca Nacional da França, Literatura e Departamen-to de Arte, Paris.

22 História Moderna e Contemporânea I

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Com base nas ideias de Montesquieu, analise as afirmativas a seguir:

I. Montesquieu propôs um sistema centralizado das funções do poder, pois, segundo o que foi exposto no seu livro A utopia, todos os homens nascem iguais e somente uma constituição pode assegurar essa igualdade.

II. A tripartição das funções do poder, ideia apresentada no livro O espírito das leis, seria a solução para o absolutismo monárquico, pois “somente um poder limita outro poder”.

III. A proposta de organização política apresentada por Montesquieu, de um Executivo, um Legislativo e um Judiciário livres e independentes não foi acolhida por nenhuma nação, isto é, não passou de uma teoria iluminista.De acordo com a análise, assinale a alternativa correta:

a) Todas as afirmativas estão certas.

b) Todas as afirmativas estão erradas.

c) Apenas a afirmativa I está certa.

d) Apenas a afirmativa II está certa.

e) Apenas a afirmativa III está certa.

François-Marie Arouet (1694-1778), que assinava com o pseudônimo Voltaire, foi uma das figuras mais polêmicas entre os iluministas e, apesar de não ter legado uma grande obra teórica à posteridade, suas críticas e polêmicas ideias estão disseminadas nos diferentes gêneros com que se envolveu: poemas, peças de teatro, tragédias, comédias, romances e até história. Foi o grande disseminador das ideias iluministas, tendo a paixão pela razão e pela liberdade de exercitá-la marcado sua vida e obra. Assim, a tradição religiosa e a autoridade política, barreiras para o livre pensamento, foram alvos privilegiados de seus ataques. Não nega a existência de Deus, mas ataca o fanatismo e o preconceito, assim como a superstição e o poder do clero. Politicamente, foi defensor do que veio a ser chama-do de despotismo esclarecido, defendendo ainda a liberdade e a propriedade privada. Contribuiu significativamente para a ciência histórica, com a defesa da exatidão na descrição dos fatos do passado e no levantamento de fontes para o seu estudo. Sua grande preocupação foi com o povo, as atividades humanas e o cotidiano.

Voltaire foi um ferrenho crítico das estruturas

tradicionais, atacando principalmente o

clero católico. Suas correspondências com

centenas de pessoas ficaram conhecidas pela maneira

como encerrava suas cartas: Écrasez l’infâme, que significa

“Esmagai o infame”.

Biografia do filósofo

Voltaire

@HIS827

HOUDON, Jean-Antoine. Busto de Voltaire. Mármore, altura:

47,9 cm. Museu de Arte Metropolitana de Nova Iorque.

HISTÓRIA

23Ensino Médio | Modular

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Um dos mais controvertidos pensadores iluministas foi Jean-Jacques Rousseau (1712- -1778). Cristão calvinista, defensor da existência de Deus, opunha-se ao ateísmo e ao mate-rialismo professado por muitos dos filósofos iluministas. Rousseau recebeu o convite para escrever para a Enciclopédia por seu contato com a música. Após essa primeira experiência, Rousseau seguiu escrevendo sobre a desigualdade dos homens e levantou questões sobre a origem das diferenças, as quais ele concluiu que não são naturais, tendo origem, portanto, no próprio homem e nas relações estabelecidas entre eles. Segundo o historiador Luis Roberto Salinas Fortes, em 1762, Rousseau publicou duas obras complementares que, apesar de diversas na intenção, buscavam entender o que o homem deveria fazer para eliminar os males

Jean-Jacques Rousseau leu as obras de Locke, que o influenciaram a defender a ideia de que a origem da

desigualdade política ocorreu quando surgiu a propriedade

privada. Rousseau também defendeu a ideia de que “o

homem nasce bom, a sociedade o corrompe”.

Após o tremor de terra que destruíra três quartos de Lisboa os sábios do país cogita-ram em que o meio mais eficaz para prevenir a ruína total da cidade consistia em dar ao povo um rico auto de fé. Fora decidido pela Universidade de Coimbra que o espetáculo de várias pessoas queimadas a fogo lento, com grande cerimonial, era um feitiço infalível para impedir a terra de tremer.

Por consequência agarraram num biscainho, criminoso de casamento com a comadre, e em dois portugueses que, ao comerem um frango, tinham posto de parte o toucinho. Depois do jantar amarraram o doutor Pangloss e o seu discípulo Cândido, um por ter falado demais, o outro por ter escutado com ares de aplauso. Ambos foram conduzidos em separado para compartimentos de extrema friagem, nos quais o sol nunca incomodava ninguém. [...] Cândido foi açoitado ao ritmo da música e do cântico; o biscainho e os dois homens que não comiam toucinho foram queimados, e Pangloss foi enforcado, contraria-mente ao que se esperava. Mas no mesmo dia a terra voltou a tremer com fragor espantoso.

VOLTAIRE. Cândido ou o otimismo. Lisboa: Guimarães, 1989. p. 28-29.GlossárioAuto de fé: cerimônias conduzidas pelo Tribunal da Inquisição. Biscainho: natural de Biscaia, região norte da Espanha.Fragor: barulho muito forte.

A respeito das ideias de Voltaire, que ironicamente criticavam as estruturas do Antigo Regime, analise as afirmativas a seguir:

I. Voltaire, de maneira sarcástica, denuncia as crenças absurdas defendidas pela Igreja Católica. Um exemplo disso são as condenações impostas pela Inquisição para se evitarem terremotos.

II. O fato de dois homens que não comiam toucinho (carne de porco) terem sido queimados pela Inquisição é uma demonstração da intolerância religiosa combatida por Voltaire.

III. A decisão da Universidade de Coimbra de queimar várias pessoas para evitar terremotos é uma prova do racionalismo defendido por Voltaire.

De acordo com seus estudos e com a análise, assinale a alternativa correta:

a) Todas as afirmativas estão certas.

b) Todas as afirmativas estão erradas.

c) Apenas a afirmativa I está errada.

d) Apenas a afirmativa II está errada.

e) Apenas a afirmativa III está errada.

História Moderna e Contemporânea I24

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HOUDON, Jean Antoine. Busto de Jean-Jacques Rousseau. Argamassa/

Gesso, altura: 67,3 cm. Museu Metropolitano de Nova Iorque.

Biografia

do filósofo

Rousseau

@HIS828

Leia o texto a seguir e responda às questões propostas:

Concebo, na espécie humana, duas espécies de desigualdade: uma a que chamo de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma; a outra, a que se pode chamar desigualdade moral ou política, por depender de uma espécie de convenção a ser estabelecida, ou pelo menos autorizada, pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos diferentes privilégios que alguns usufruem em prejuízo dos outros, como serem mais ricos, mais reverenciados e mais poderosos do que eles, ou mesmo em se fazerem obedecer por eles.

[...] a ambição devoradora, a gana de aumentar sua fortuna relativa, menos por verdadeira necessidade do que para ficar acima dos outros, inspiram a todos os homens uma nefanda inclinação para se preju-dicarem mutuamente, uma inveja secreta tanto mais perigosa quanto, para aplicar seu golpe com maior segurança, frequentemente assume a máscara da benevolência; em suma, concorrência e rivalidade de um lado, oposição de interesses do outro e sempre o desejo oculto de tirar proveito à custa de outrem; todos esses males constituem o primeiro efeito da propriedade e o cortejo inseparável da desigualdade nascente.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 144-194.

a) Quando Rousseau afirmou existirem dois tipos de desigualdade entre os homens, ele chamou uma de natural e outra de política. Quanto à primeira, não há necessidade de se perguntar qual é sua fonte, porque a resposta estaria enunciada na simples definição da palavra. De acordo com o texto, em que consiste o segundo tipo de desigualdade enunciado por Rousseau?

da vida social. No campo político, a resposta é dada pelo Contrato social, e no pedagógico, por Emílio. Na primeira obra, há a ideia de que um contrato, ao ser estabelecido entre os homens, deve sempre levar à liberdade e à soberania de cada indivíduo, mesmo quando esses indivíduos abrem mão de sua liberdade individual em prol da coletividade. Em Emílio, o papel da educação e de suas etapas em busca de um indivíduo autônomo, soberano e livre, demonstra a complementaridade entre ambas e a importância da liberdade e soberania para o autor. Rousseau não era, para seus contemporâneos, um iluminista, conforme afirma Fortes. Seus textos eram incompreendidos, e ele mesmo, cristão e filósofo, não concordava com seus companheiros ateus e materialistas, mas sua obra e suas ideias influenciaram os movimentos burgueses do fim do século XVIII, ao lado das obras de Voltaire, Montesquieu, Diderot, enfim, dos iluministas.

Ensino Médio | Modular 25

HISTÓRIA

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Despotismo esclarecido

“Despotismo esclarecido” é uma expressão cunhada no século XIX para identificar os monarcas europeus que, de diferentes formas, tentaram aplicar os princípios iluministas em seus governos. Apesar de se inserirem na lógica absolutista, esses monarcas usaram a filosofia das luzes de forma prática, aplicando-a em vários campos da administração de seus domínios, com o objetivo primeiro de fortalecer o Estado e, consequentemente, seu próprio poder.

Não houve uma unidade nas práticas dos déspotas esclarecidos, mas é possível perceber tendências, entre elas: a centralização política, a crítica aos privilégios do Antigo Regime e a adoção de medidas liberais, em especial no plano econômico. Influenciados pelas doutrinas fisiocratas, que priorizavam a terra, como fonte de riqueza, e a agricultura, como verdadeira atividade realmente produtiva, ampliaram sua ideia original ao favorecerem, além do cultivo, a indústria e o comércio.

Essa prática, muitas vezes era contraditória, ao assumir posições modernizadoras ao mesmo tempo que mantinha tradições absolutistas. Nesse sentido, mesmo ao adotarem alguns ideais iluministas, os soberanos não deixaram de lado seu pertencimento à monarquia absolutista que os filósofos criticavam.

O mais representativo desses déspotas foi Frederico II (1712-1786) da Prússia, em cuja corte se hospedaram iluministas “exilados” de suas nações. Foi amigo e correspondente de Voltaire, D’Alembert e Diderot. Além da proteção e do incentivo às artes e às ciências, sua ação política modernizou Berlim, a capital do Estado prussiano na época. O desenvolvimento econômico foi sua principal meta conquistada.

Na Áustria, José II (1741-1790) introduziu reformas para modernizar o quase medieval Estado austríaco. Entre as reformas, o monarca institucionalizou a tolerância religiosa e extinguiu a servidão.

Catarina II (1762-1796), grande leitora dos iluministas, modernizou a Rússia, introduzindo mudanças significativas com a criação de um polo de minas na região dos Montes Urais, que atendia à nascente indústria metalúrgica russa.

b) Segundo Rousseau e de acordo com o texto, qual é a origem da desigualdade política? Demonstre a veracidade de sua resposta transcrevendo um trecho do texto.

26 História Moderna e Contemporânea I

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Em Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), primeiro-ministro de D. José I, conhecido como Marquês de Pombal, iniciou várias reformas que buscaram racionalizar a administração e fortalecer o po-der da Coroa portuguesa. O historiador Francisco Falcon situa sua obra em três frentes, com vistas à implantação do absolutismo em Portugal, tendo como base o modelo francês de Luís XIV. A primeira frente tem por princípío a ampliação das bases financeiras com o incentivo à expansão do comércio e da Marinha, o aumento da produção agrícola e o incremento das manufaturas. A segunda frente caracterizava-se pela concentração do poder da Coroa e a imposição da vontade do soberano, conquistada com a perseguição das famílias influentes do Reino, acusando-as de conspiração. A terceira e última frente fundamentava-se na diminuição do poder da Igreja, instituição que competia com o poder do soberano, o que foi conquistado graças à perseguição aos jesuítas, que foram expulsos dos domínios por-tugueses em 1759. O maior desafio do Marquês foi a reconstrução de Lisboa, após o terremoto de 1755.

No Brasil, a administração pombalina se concretizou por meio de um maior controle econômico, por exemplo, dos impostos e das taxas cobrados pela Coroa, conforme aponta a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva. Nesse esforço para obter uma maior racionalidade e centralização das finanças foi criado o Erário Régio, cuja função envolvia desde a fiscalização da receita das alfândegas até a manutenção dos monopólios reais.

A criação das Companhias do Grão-Pará e do Maranhão demonstrava o interesse em estimular o comércio nacional para que as casas comerciais portuguesas pudessem concorrer mais eficientemente com as britânicas. Reforçando essa política, as Companhias ainda tinham como objetivo a introdução de escravizados africanos, o incremento da agricultura e o povoamento da região.

A educação passou a ser uma prerrogativa do Estado. Segundo o historiador Kenneth Maxwell, “as reformas educacionais de Pombal visavam a três objetivos principais: trazer a educação para o controle do Estado, secula-rizar a educação e padronizar o currículo”. Com a expulsão dos jesuítas, o ensino passou a ser administrado por um funcionário da Coroa. Esse funcionário, chamado de “Diretor”, deveria estabelecer duas escolas públicas em cada aldeia, as quais ensinariam aos meninos a ler, escrever, contar e a doutrina cristã, enquanto as meninas aprenderiam, em vez de contar, a cuidar da casa, costurar e executar outras tarefas “apropriadas para esse sexo”.

LOO, Louis-Michel Van; VERNET, Cloude-Joseph. O Marquês de Pombal expulsando os jesuítas. 1787. 1 óleo sobre tela, color., Museu da cidade de Lisboa.

Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José I, responsável

to influenciado las ideias iluministas em sua lítica

Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José I, responsável Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José I, responsávelpela modernização do Estado Português no século XVIII, foi muipela modernização do Estado Português no século XVIII, foi muipela modernização do Estado Português no século XVIII, foi mui--to influenciado pelas ideias iluministas em sua políticato influenciado pelas ideias iluministas em sua política

(UFPR) As reformas pombalinas, encetadas por Sebastião José de Carvalho e Mello (1699-1782), o Marquês de Pombal, tiveram efeito entre 1755, logo após o terremoto de Lisboa, e 1777, quando esse estadista perdeu sua proeminência na administração do império português. Sobre as reformas que implantou ao longo de sua administração como ministro de Dom José I, é correto afirmar:

Ensino Médio | Modular 27

HISTÓRIA

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a) Tiveram grande impacto sobre o Brasil, uma vez que se criaram companhias de comércio em todas as capitanias, com o objetivo mais amplo de racionalizar o comércio e implantar um rígido sistema colonial, vinculando metrópole e colônia.

b) Ativeram-se, no campo da educação, ao ensino básico, deixando de lado as instituições universitárias portuguesas.

c) Basearam-se na aliança e aproximação à Ordem Jesuítica, que recebeu impulsos e estímulos fundamentais por seu papel na educação oferecida no Reino e nas colônias.

d) Consistiram, entre outras medidas, na criação de instituições e repartições públicas vitais à administração do Reino e suas colônias, como o Erário Régio.

e) Reforçaram, graças ao seu caráter absolutista, distinções de raça e classe em Portugal e suas colônias, impedindo a ascensão social de negros, índios e indianos existentes nos domínios lusos.

1. Explique a razão de o século XVIII também ser conhecido como o Século das Luzes.

2. Observe a tirinha a seguir:

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 114.

Considerando que a tirinha apresenta uma referência à mentalidade europeia durante o período de transição da Idade Média para a Idade Moderna, relacione-a com o racionalismo que caracterizou tanto o movimento renascentista como o Iluminismo.

3.

A razão e o progresso, dessa forma, foram elementos do pensamento iluminista e influenciaram as transforma-ções políticas e sociais do fim do século XVIII e início do século XIX. Tal pensamento, em sua crítica ao Absolu-tismo, à Igreja Católica e à estrutura do Antigo Regime como um todo, encaixava-se nas aspirações e desilusões da burguesia em ascensão na Europa do século XVIII. Essa classe social se inspirou no Iluminismo para construir a retórica e as bandeiras de suas revoltas naquele momento. Foi o caso da independência dos Estados Unidos, planejada e realizada por seguidores do Iluminismo, como Thomas Jefferson, assim como da Revolução Fran-cesa e da Independência da América Latina. O resultado foi que, com essas revoltas tornando-se vitoriosas, o Iluminismo se transformou na base dos novos Estados e da mentalidade emergida desses movimentos.

SILVA, Kalinda V.; SILVA, Maciel H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 211.

História Moderna e Contemporânea I28

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Com base no texto, pode-se afirmar que:

(01) A burguesia buscava, nas ideias iluministas, representatividade política, visto que no campo econômico já havia conquistado, ao longo de três séculos, sua emancipação.

(02) O apoio incondicional à fé e à religião foi um dos pontos fundamentais do pensamento iluminista.

(04) A divisão de poderes em Executivo, Legisla-tivo e Judiciário, característica dos Estados contemporâneos, é uma herança do Antigo Regime defendida pela burguesia.

(08) As ideias iluministas influenciaram líderes, como Benjamin Franklin, durante o proces-so de Independência das Treze Colônias In-glesas na América.

De acordo com a análise das afirmações, a so-matória das afirmativas corretas é:

4. (UEPB) Relacione os pensadores, comprometidos com ideias racionalistas entre os séculos XVII e XVIII, com suas máximas.

( 1 ) René Descartes( 2 ) John Locke( 3 ) Voltaire( 4 ) Denis Diderot( 5 ) Immanuel Kant( ) “Todas as ideias derivam da sensação ou re-

flexão”( ) “Posso não concordar com o que você diz,

mas defenderei até a morte o direito de você dizer”

( ) “Nossa época é a da crítica, a que tudo deve se submeter”

( ) “Penso, logo existo”( ) “Cada século tem um espírito que o carac-

teriza: o espírito do nosso parece ser o da liberdade”

Assinale a alternativa correta:

a) 4, 2, 3, 5, 1

b) 2, 3, 5, 1, 4

c) 3, 1, 5, 4, 2

d) 5, 3, 4, 2, 1

e) 1, 4, 3, 5, 2

5. Sobre o Iluminismo, pode-se dizer que:

I. Foi um movimento homogêneo, representa-do exclusivamente pela burguesia em ascen-são, com objetivos políticos.

II. Seu maior filósofo foi Maquiavel, que defen-dia que o príncipe deveria usar dissimulação

quando as condições assim o exigissem, pare-cendo a todos, entretanto, sincero e íntegro.

III. Rousseau, em seu livro sobre a origem da de-sigualdade, afirma que a raça humana estaria em situação melhor se, no momento em que a primeira pessoa cercou um pedaço de terra e disse “é meu”, alguém tivesse gritado aos com-panheiros que os frutos da terra pertencem a todos e ela mesma não pertence a ninguém.

IV. Deixando inúmeras obras de variados gêne-ros, Voltaire foi o grande propagandista e agitador do período.

a) Estão corretas as alternativas I, II e III.

b) Estão corretas as alternativas I e III.

c) Estão corretas as alternativas II, III e IV.

d) Estão corretas as alternativas III e IV.

6. Frederico II, da Prússia, Catarina II, da Rússia, José II, da Áustria, e Pombal, ministro do rei D. José I, de Portugal, são conhecidos como déspo-tas esclarecidos.

Explique o que significa a expressão “déspota es-clarecido”.

7. Analise a imagem e o texto a seguir e responda ao que se pede:

COCHIN, Charles-Nicolas. Frontispício da Enciclopédia. 1772. Ilustração. Gravação de Bonaventure-Louis Prévost.

Ensino Médio | Modular 29

HISTÓRIA

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A obra de Charles-Nicolas Cochin, gravada por Benoît-Louis Prévost em 1772, foi elaborada para o frontispício da Enciclopédia e apresenta uma síntese do pensamento iluminista. Nas pala-vras de Diderot “É uma peça composta de modo muito engenhoso. Vemos, em cima, a verdade entre a razão e a imaginação: A Razão que pro-cura arrancar-lhe o seu véu, a Imaginação que se prepara para a embelezar. Por baixo desse grupo, uma multidão de filósofos especulativos; mais abaixo, o grupo dos artistas; os filósofos tem os olhos pregados na verdade: a Metafísica, orgulhosa procura menos vê-la do que adivinhá--la; a Teologia vira-lhe as costas e espera sua Luz vinda do alto.”

SCOTTA, Larissa. Da Enciclopédia enquanto um círculo que se fecha à Wikipédia enquanto uma rede que se abre: um gesto interpretativo. Dissertação de Mestrado. UFSM-RS, 2008. Disponível em: <http://cascavel.cpd.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=176>. Acesso em: 23 abr. 2011. p. 46.

a) Qual a síntese do pensamento iluminista ex-presso nesta representação?

b) Os enciclopedistas, ao organizarem o co-nhecimento humano de forma sistemática, expondo-o aos homens de seu tempo, busca-vam também suscitar novas ideias em prol de mudanças na sociedade, em direção à liber-dade dos homens.

Assinale as afirmativas corretas sobre essa obra coletiva:

I. O sistema figurativo do conhecimento huma-no, apresentado no início da obra, estava or-ganizado com base em três ramos: “Razão, Imaginação e Memória”, ou “Filosofia, Poesia e História”.

II. Era voltada para um público letrado, ou seja, uma sociedade instruída, e foi elaborada por diversos pensadores, entre eles médicos, ad-vogados, cientistas, filósofos, matemáticos, físicos, somando-se mais de 130 colaborado-res dos diversos ramos do conhecimento hu-mano.

III. Seu maior objetivo era fomentar a capacidade de pensar com autonomia, no entanto, sem esquecer a importância da fé, da religião e de seus dogmas, em busca de uma sociedade mais igualitária, onde todos tivessem sua par-ticipação política garantida.

8.

REMPS, Domenico. Gabinete de curiosidades. 1690. 1 óleo sobre tela, 99 cm x 137 cm. Museo dell’Opificio delle Peitre Dure, Florence.

Essa obra de arte apresenta um gabinete de curiosida-des do século XVII. Entre desenhos, pinturas, escultu-ras, apetrechos científicos, exemplares de botânica e zoologia, objetos de ótica e até mesmo uma arma e um crânio pode-se identificar a ampla diversidade de interesses de um homem (ou mulher) contemporâneo da Revolução Científica. Algumas referências podem remeter às descobertas e às inovações dos séculos XV a XVII, que contribuíram para a mudança de mentali-dade em relação à natureza e às visões de mundo.

Com base nas informações, faça o que se pede:

a) Identifique os elementos que remetam aos es-tudos da natureza e do homem.

b) Relacione os itens à explicação que lhe é cor-respondente:

( 1 ) Navegação marítima( 2 ) Pólvora( 3 ) Corpo humano( 4 ) Prismas e espelhos

( ) Passou a ser objeto da ciência, que o estu-da desde sua composição ao funcionamento dos diferentes sistemas.

( ) A experimentação passou a ser considerada como fonte de conhecimento.

( ) Ampliação da noção de mundo e conquista de novos territórios.

( ) Trazida do oriente, sua aplicação garantiu a supremacia bélica no Novo Mundo.

9. Sobre o contexto histórico do Iluminismo, anali-se as afirmações a seguir:

I. Rousseau buscava, com sua proposta para a organização da sociedade, encontrar uma forma de associação na qual o cidadão e os bens de cada associado fossem administra-dos pelo poder absoluto do monarca.

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II. Montesquieu, para evitar abusos dos governantes, defendia a ideia de que tudo estaria perdido se um mesmo homem exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares.

III. Para Voltaire, somos todos cheios de erros e fraquezas. Por isso, ele propôs que perdoásssemos, uns aos outros, nossas loucuras. Assim, Voltaire estava defendendo a tolerância e as liberdades individuais.

De acordo com a análise, assinale a alternativa correta:

a) Todas as afirmativas estão certas.

b) Todas as afirmativas estão erradas.

c) Apenas a afirmativa I está certa.

d) Apenas as afirmativas I e II estão certas.

e) Apenas as afirmativas II e III estão certas.

10. (ENEM) O texto foi extraído da peça Troilo e Créssida de William Shakespeare, escrita, provavelmente, em 1601.

Os próprios céus, os planetas, e este centro reconhecem graus, prioridade, classe, constância, marcha, distância, estação, forma, função e regularidade, sempre iguais; eis porque o glorioso astro Sol está em nobre eminência entronizado e centralizado no meio dos outros, e o seu olhar benfazejo corrige os maus aspectos dos planetas malfazejos, e, qual rei que comanda, ordena sem entraves aos bons e aos maus.

(personagem Ulysses, Ato I, cena III). SHAKESPEARE, W. Troilo e Créssida. Porto: Lello & Irmão, 1948.

A descrição feita pelo dramaturgo renascentista inglês se aproxima da teoria:

a) geocêntrica do grego Claudius Ptolomeu.

b) da reflexão da luz do árabe Alhazen.

c) heliocêntrica do polonês Nicolau Copérnico.

d) da rotação terrestre do italiano Galileu Galilei.

e) da gravitação universal do inglês Isaac Newton.

11.

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 84.

Considerando-se a tirinha e conhecendo os ideais iluministas de igualdade, é correto afirmar que:

a) a igualdade entre os homens, para Manolito, é uma realidade contemporânea.

b) a tirinha demonstra que o ideal de igualdade é algo fácil de ser compreendido.

c) a Mafalda acredita que todos os homens são iguais. Ela não demonstra possuir dúvidas quanto a essa ideia.

d) a igualdade entre os homens é uma ideia negada tanto pelo Manolito quanto pelo pai da Mafalda.

e) a tirinha representa uma contradição intelectual de Manolito. Pois, se não há igualdade entre os ho-mens, como todos os pais são iguais?

Ensino Médio | Modular 31

HISTÓRIA

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Revolução Industrial3Desde o século XII, o mundo ocidental europeu experimentou mudanças de ordem política, eco-

nômica, social e cultural. O renascimento comercial, que a partir do século XII começou a assumir relativa importância naquele contexto histórico, possibilitou o acúmulo de capital e o estabelecimento de um grupo social até então inexistente, a burguesia.

Conceito

O termo “revolução” é, em um primeiro momento, comumente relacionado a revoltas e perturbações. Entretanto, o mesmo termo também é empregado para designar o tempo gasto por um corpo celeste para descrever a sua órbita. Existem outros significados para revolução, por exemplo, indicando transformações profundas, que alteram substancial-mente o estado das coisas. É nesse sentido que o termo será utilizado quando estiver relacionado à palavra industrial.

Logo, “Revolução Industrial” é uma expressão que designa mudanças profundas que alteraram, de maneira deter-minante, o estado das coisas, principalmente se forem consideradas as relações de trabalho e de produção de bens de consumo. Portanto, do ponto de vista histórico e historiográfico, concebe-se Revolução Industrial como um processo de mudanças que ocorreram em determinado período e que resultaram na substituição de um modelo de organização da sociedade por outro, que pode ser chamado de organização industrial da sociedade.

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BUFFORD, J. H. Sheffield steel industry, 19th century. Wentworth Works, fábrica de aço em Sheffield, Inglaterra. Litogravura colorida. [ca. 1860]. Livraria do Congresso Americano, Washington.

O surgimento

da Revolução

Industrial

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O referido florescimento comercial, impulsionado pelas inovações técnicas na agricultura e pelo consequente crescimento populacional, foi um dos fatores que impulsionou um gradativo renascimento urbano: as cidades passaram a ser um centro dinâmico de atividades artesanais e comerciais. Desse modo, paralelamente à dissolução do sistema feudal, ocorreu a formação e consolidação do sistema capitalista.

Assim, nesse longo processo de mudanças, o trabalho e as estruturas de produção modificaram-se significativamente, im-primindo aos séculos XVIII, XIX e XX ao menos uma característica em comum: o ritmo agitado do mundo industrial e urbano. No decorrer desses três séculos, o mundo, de maneira geral, viveu um intenso processo de industrialização, acompanhado pelo crescimento da população urbana.

A cidade virou o espaço característico do mundo industrial. Com as fábricas, os centros urbanos ganharam nova aparência: prédios funcionais de proporções gigantescas, com chaminés apontadas para os céus, despejando, incessantemente, uma densa nuvem escura no ar

Autoria desconhecida. O estabelecimento Krupp em Essen. [ca. 1865]. Xilogravura colorida posteriormente. Daheim, Leipzig.

História Moderna e Contemporânea I32

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Documento 1: Tirada do vocabulário dos astrônomos, a palavra revolução, no sentido de alteração, demolição de uma sociedade

instalada terá aparecido pela primeira vez em 1688, em língua inglesa. É neste sentido, mas igualmente no sentido oposto, de reconstrução, que se deve entender a cômoda expressão Revolução Industrial [...].

Acusa-se muitas vezes os historiadores de abusar da palavra revolução, que deveria, segundo seu significado primordial, ser reservada para fenômenos violentos e também rápidos. Mas, quando se trata de fenômenos sociais, o rápido e o lento são indissociáveis. [...] Na abordagem de um processo revolucionário, o problema será sempre aproximar o longo prazo do curto prazo, reconhecer seu parentesco e sua dependência indissolúvel. A Revolução Industrial, que surgiu na Inglaterra no fim do século XVIII, não escapa a essa regra. É ao mesmo tempo uma série de acontecimentos vivos e um processo evidentemente muito lento. Um funcionamento em dois registros simultâneos.BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: o tempo do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 499.

Documento 2:Muitos autores já discutiram a respeito do conceito de “Revolução Industrial”. Para alguns, como Paul Mantoux, não se trata de uma revolução, pois estava relacionada com causas remotas, apesar de reconhecer a velocidade de seu desenvolvimento e as suas consequências. Outros, como Rioux, Dobb, Hobsbawm consideram que estava ocorrendo, naquele momento, uma ruptura qualitativa nas estruturas socioeconômicas, sendo, portanto, pertinente a utilização do conceito de revolução. As alterações técnicas aumentaram a produtividade do trabalho e imple-mentaram um ritmo novo à produção.MARQUES, Adhemar Martins. História contemporânea através dos textos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 27.

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Origens

Para o historiador Fernand Braudel, “a Revolução Industrial,

que se inicia ou emerge na Inglaterra pelos anos 1750 ou 1760”, é resultado de outras revoluções que a antecederam do mesmo modo que “abriu a porta a uma série de revoluções que são sua descendência direta”. Outro historiador, Robert B. Marks, sustenta que a Revolução Industrial se originou da coincidência de desen-volvimentos e processos históricos que se inter-relacionam em determinado momento.

Nesse sentido, o historiador Eric Hobsbawm afirma que, apesar das condições dos séculos XVI a XVIII permitirem que “houvesse lugar no mundo apenas para uma potência industrial avançada”, que era justamente a Inglaterra, não se podem estudar as origens da Revolução Industrial na Inglaterra exclusivamente em termos de história inglesa.

Portanto, para se compreenderem as origens da Revolução Industrial é preciso considerar o renascimento das cidades e o desenvolvimento da economia mercantil que, aliados à expansão marítima europeia e ao estabelecimento de projetos coloniais nas Américas, favoreceram a acumulação primitiva de capital. Paralela-mente, durante os séculos XVI e XVII, os cercamentos (enclosures)

dos campos ingleses e a apropriação das terras de uso comum (common fields) pelos proprietários latifundiários contribuíram para o despovoamento das zonas rurais e consequente migração dos camponeses expulsos para as cidades.

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Manufatura irlandesa do século XVIII, na qual pode ser observado o trabalho artesanal desenvolvido por algumas mulheres. A oficina de trabalho é a própria residência, onde crianças e animais domésticos compartilham o mesmo espaço

HINCKS, William. À direita honorável Conde de Moira, esta placa, tomadas no local [...]. 1791. Xilogravura, colorida à mão, 38,3 cm x 44,7 cm. Livraria do Congresso Americano, Washington.

Ensino Médio | Modular 33

HISTÓRIA

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Também é importante relacionar o processo de aparecimento do maquinismo, isto é, as invenções e novidades técnicas que substituíram a manufatura pela maquinofatura. As inovações, principalmente as que concernem à metalurgia (fundição do car-vão) e à máquina a vapor, permitiram, de acordo com o historiador Pierre Vilar, “multiplicar a produtividade do trabalho humano reduzindo-o a um mecanismo cada vez mais barato”.

Manufatura: é um termo derivado do latim (manus + facere) que pode significar fazer com as mãos. No

contexto histórico da Revolução Industrial, manufatura designa o trabalho, e/ou o resultado dele, que se realiza

em máquina caseira ou manualmente.

Maquinofatura: é o termo utilizado para indicar o trabalho realizado por máquinas ou com o emprego delas.

(ENEM) A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura. Um desses estágios foi o artesanato, em que se:

a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada. b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do modelo de produção em série. c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das máquinas. d) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e trabalho assalariado. e) faziam interferência do processo produtivo por técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de produção.

A agricultura foi outro fator que favoreceu o processo da Revolução Industrial. Com os cercamentos de terras, as propriedades rurais passaram a ser administradas se-gundo critérios capitalistas, isto é, a produção agrícola foi adaptada à produção em massa para a venda. Além disso, ocorreram a adoção de novas culturas agrícolas e uma maior utilização de produtos de origem americana. O plantio de batata e de milho “proporcionou uma maneira de produzir muito mais alimento com a mesma quantidade de terra”, segundo o pesquisador Tom Standage.

Alguns estudiosos consideram a batata como um dos principais fatores que impulsionaram a Revolução Industrial na Inglaterra. O pesquisador social Sir Frederick Eden (1766-1809) escreveu, no fim do século XVIII, que, na região inglesa de Lancashire, a batata era “um prato sempre presente em todas as refeições,

exceto no desjejum, tanto nas mesas dos ricos quanto na dos pobres”. O filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790) observou que “o alimento produzido por um campo de batatas não é inferior em quantidade ao produzido por um campo de arroz, e muito superior ao que é produzido por um campo de trigo”. Eric Hobsbawm afirma que a mudança de um tipo básico de comida para outro, como no caso da adoção do hábito de consumo de batata, demonstra “o quão além da simples comida a história social dessas colheitas nos leva”.

Em suma, diante dos fatores anteriormente apresentados, ao se considerar a Revolução Industrial como o resultado de inú-meras contingências históricas, favorece-se o entendimento de um processo histórico que também é tangenciado por diversos outros processos. Apesar disso, comumente se considera a Inglaterra a precursora da Revolução Industrial.

Considerar a Inglaterra como a pioneira da Revolução In-dustrial, isto é, dizer que a origem daquele processo histórico é inglesa implica aceitar a ideia de que as diversas circunstâncias relacionadas ao processo de industrialização contribuíram, coincidentemente ou não, para que a Inglaterra desfrutasse, em meados do século XVIII, das condições essenciais para que se iniciasse a Revolução Industrial.

Uma das circunstâncias consideradas fundamentais para se compreenderem os primórdios da Revolução Industrial é o acúmulo de capital, que foi resultado, entre outros fatores, dos cercamentos de terras, do aparecimento do maquinismo e das transformações dos setores comercial e industrial. Tais fatores serão, a seguir, analisados como constitutivos do processo que originou a Revolução Industrial.

Primeira Revolução Industrial

História Moderna e Contemporânea I34

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Autoria desconhecida. Fiação Jenny. 1887. Xilogravura colorida posteriormente. LCNI.

Com base em documentos da época, o historiador da agricultura B. H. Slicher Van Bath analisa as manifestações populares contra o processo de cercamentos e a atuação dos latifundiários, que não deixaram terreno para a lavoura, convertendo-os todos em pastagens para a criação de gado lanígero. O chanceler inglês Thomas Morus (1478-1535), autor da obra A utopia, satirizou de maneira crítica os rebanhos de carneiro que, nas suas palavras, cobriam toda a Inglaterra. Para Morus, aqueles “animais tão dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte”, eram entre os ingleses “de tal sorte vorazes e ferozes que devoram mesmo os homens e despo-voam os campos, as casas e as aldeias”.

De acordo com o historiador Karl Polanyi, “os cercamentos seriam um progresso óbvio se não ocorresse a conversão às pastagens”, já que as terras cercadas valiam até o triplo das não cercadas. Apesar da destruição das habitações, do desapareci-mento de centenas de aldeias e da restrição de empregos oca-sionados pelos cercamentos, Polanyi afirma que “a lã produzida na fazenda de carneiros dava empregos a pequenos posseiros e agricultores sem-terra, e os novos centros de indústria de lã garantiam renda a uma quantidade de artesãos”.

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A revolução na produção têxtil teve início com a lançadeira volante de John Kay (1704-1764), em 1735. Depois, a máquina de fiar inventada por James Hargreaves (1722-1778), em 1763, passou a fazer o serviço equivalente a oito trabalhadores. Com James Watt (1736-1819), conhecido como o verdadeiro inventor da máquina a vapor, a produção ganhou um incremento e os produtos passaram a ser produzidos nas fábricas e em larga escala

Autoria desconhecida. Tear. Ilustração retirada do livro História das Incríveis Invenções, 1849. Biblioteca de Nova Iorque, Nova Iorque.

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Autoria desconhecida. Fiação hidráulica. [ca. 1880]. Xilogravura colorida posteriormente. LCNI.

As políticas adotadas para tornar o reino da Inglaterra próspero, rico e poderoso se basearam em práticas mer-cantilistas. Nesse sentido, o desenvolvimento do comércio externo foi um dos alicerces da acumulação de capital na Inglaterra. Para alcançar seus objetivos, os ingleses tinham ciência de que a forma mais adequada para acu-mular riquezas seria operar com uma balança comercial extremamente favorável.

Um documento relativo à política econômica inglesa, de 1549, já expunha esse ideal, afirmando: “muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro real”. Em contrapar-tida, o mesmo documento assinalava que “grande quanti-dade de nossos produtos [ingleses] seja levada anualmente além dos mares, e menor quantidade de seus produtos [de outros reinos] seja para cá transportada”.

Um século depois do referido documento, em 1650, a Inglaterra começava, de fato, a constituir um império ultramarino. Apropriando-se de colônias portuguesas e espanholas nas Índias Orientais e Ocidentais, isto é, na Índia e no Caribe, passou a disputar o mercado comercial com holandeses e franceses. A disputa acabou em conflitos bélicos entre alguns Estados europeus. Robert B. Marks, em seu estudo sobre as origens do mundo moderno, chama a atenção para o curioso fato de que os responsáveis pelos conflitos entre os Estados europeus não foram, a princí-pio, seus governos, mas, sim, as companhias comerciais privadas.

A Vereenigde Oost – Indische Compagnie (VOC – Com-panhia Holandesa da Índia Oriental), a East India Company (EIC – Companhia das Índias Orientais) e a Compagnie des Indies (Companhia das Índias) foram empresas comerciais que, apesar da organização econômica distinta, “eram companhias de propriedade privada com licença de seus governos para exercer monopólio comercial, sempre se-guindo as ideias mercantilistas”, segundo Marks.

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HISTÓRIA

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Os monopólios comerciais favoreceram o acúmulo de capital nas metrópoles, sobretudo na Inglaterra. Com recursos financeiros abundantes, gradativamente ocorreram investimentos em setores produtivos. Explicando melhor, o capital mercantil passou a ser investido na produção industrial. Essa transformação foi longa e lenta, pois começou a ocorrer no curso do século XVII e foi se consolidando na segunda metade do século XVIII, constituindo-se em uma das principais características da Revolução Industrial.

Pierre Villar explica que, “aproveitando as dificuldades do artesanato corporativo e o excesso de mão de obra existente

no campo”, os detentores de capital passaram a “distribuir, primeiro matéria-prima, e logo após instrumentos de pro-dução, tanto a domicílio entre os camponeses, quanto às grandes oficinas”. Para o economista Maurice Dobb, “essa transformação crucial [...] transformou radicalmente o proces-so de produção”, pois a partir dela se originou a separação entre produtor e meio de produção. Muitos historiadores compartilham do entendimento de que esse processo his-tórico resultou na expropriação dos trabalhadores de seus próprios meios de produção e subsistência.p

Documento 1:

A ampliação do mercado e a organização capitalista da produção fizeram triunfar um novo sistema, o do trabalho no domicílio, ou domestic system, também chamado pelos historiadores alemães Verlagsystem, pois a ação do empresário (Verleger) era fundamental. O empresário fornecia a matéria-prima e, por vezes, fazia adiantamentos aos artesãos, que trabalhavam nas suas casas a um preço geralmente estabelecido por peça (putting-out). O próprio empresário se encarregava de colocar os seus produtos no mercado ou de os exportar para países coloniais.PRADA, Valentín Vazquez de. História econômica mundial: das origens à Revolução Industrial. Porto: Livraria Civilização Editora, 1977. p. 294-295. In: MARQUES, Adhemar Martins. História Moderna através dos textos. São Paulo: Contexto, 1993. p. 50.

Segundo as informações referentes ao surgimento de um novo sistema de trabalho, são feitas as seguintes afirmações:

(01) O sistema de trabalho no domicílio originou-se em regiões que trabalhavam para a exportação, pois se adaptava muito bem à situação social e econômica de algumas zonas comerciais europeias.

(02) O referido sistema não atendia às expectativas capitalistas, pois estabelecia a centralização do trabalho com o objetivo de aumentar a produtividade.

(04) Pode-se inferir que o sistema de trabalho no domicílio favoreceu o surgimento de trabalhadores especialistas, isto é, cada trabalhador ficava encarregado de uma única etapa da produção.

(08) Um trabalhador que passava à situação de Verleger se tornava um comerciante responsável apenas pela colocação do produto produzido no mercado.

De acordo com a análise das afirmações, a soma das afirmativas corretas é: .

O emprego do capital excedente em investimentos técnicos e tecnológicos levou para dentro das grandes oficinas, ou fábricas caseiras, uma nova organização do trabalho: a divisão do trabalho, ou melhor, a divisão dos processos produtivos. A divisão do trabalho possibilitou um aumento considerável da produtividade, concorrendo para o desaparecimento do artesanato corporativo, sistema de trabalho característico do Período Feudal.

A respeito da divisão dos processos produtivos, que obviamente aumentaram a produtividade do trabalho, muitas críticas foram feitas. Desde o século XIX, economistas, filósofos, historiadores e outros pensadores têm criticado as iniciativas que retiraram dos trabalhadores a posse de seu próprio trabalho.

Um dos pensadores mais comentados sobre o assunto foi, talvez, Karl Heinrich Marx (1818-1883). Indubita-velmente, suas ideias influenciaram, direta ou indiretamente, vários desdobramentos da História dos séculos XIX e XX. Além disso, sua produção intelectual continua sendo lida e reinterpretada também no início do século XXI.

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Marx criticou de maneira atroz a divisão do trabalho que, segundo ele mesmo, prendia a classe trabalhadora aos grilhões dos interesses burgueses e capitalistas.

Documento 1: Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital, desenvolve-se, o proletariado, a classe

trabalhadora moderna, desenvolve-se: uma classe de trabalhadores que vive somente enquanto encontra trabalho e que só encontra trabalho enquanto o seu labor aumenta o capital. [...]

Devido ao uso extensivo de maquinários e à divisão do trabalho, o trabalho dos proletários perdeu todo o seu caráter individual e, em consequência, todo o encanto para o trabalhador. Ele se torna um apêndice da máquina, e dele só é exigida a habilidade mais simples, mais monótona e mais facilmente adquirida.MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. São Paulo: Paz e Terra, 1997. p. 19.

Documento 2: Não é suficiente que as condições de trabalho cristalizem num dos polos como capital e no polo con-

trário como homens que não têm nada para vender além de sua força de trabalho. Não basta, tampouco, obrigar a estes a vender-se voluntariamente. No transcurso da produção capitalista, vai-se formando uma classe trabalhadora que, pela força da educação, da tradição, do costume, submete-se às exigências deste regime de produção como se fossem as mais lógicas leis naturais. A organização do processo capitalista de produção já desenvolvido vence todas as resistências; a existência constante de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da procura de trabalho adequada às necessidades de exploração do capital, e a pressão surda das condições econômicas garante o poder de mando do capitalista sobre o trabalhador. [...]MARX, Karl. O capital. México: Fondo de Cultura, 1975. Livro I, cap. XXIV, p. 624-628. In: MARQUES, Adhemar Martins. His-tória Moderna através dos textos. São Paulo: Contexto, 1993. p. 46.

Com base nos documentos, faça o que se pede:

a) Explique qual foi a consequência da divisão do processo produtivo ocorrida com a Revolução Industrial:

b) De que forma os trabalhadores receberam as condições de trabalho que passaram a ser impostas pelos donos das fábricas?

c) Como a organização de produção capitalista garante o poder de mando do capitalista sobre o trabalhador?

Além dos fatores já mencionados, todos presentes na Inglaterra do século XVIII, também há que se destacar as reservas de recursos naturais, principalmente os minerais (ferro e carvão) de que dispunham os ingleses. O algodão e a lã, matéria-prima da indústria têxtil, abundavam em quan-tidade e eram adquiridos a preços relativamente baixos para os padrões da época. O ferro e o carvão foram empregados, respectivamente, na fabricação de máquinas e para fazê-las funcionar. A lã e o algodão eram transformados em fios e, quando entrelaçados, em tecidos.

Ao se relacionarem os diversos fatores apresentados, é pos-sível vislumbrar um amplo panorama de contingências históricas que favoreceram o que é considerado como o pioneirismo inglês na Revolução Industrial. Outras regiões e outros Estados do mundo possuíam mão de obra disponível, matéria-prima barata, recursos minerais, capital acumulado e tecnologia na mesma proporção que a Inglaterra. Porém, este reino era o único que reunia todos os fatores em um mesmo lugar e período. Por isso, considera-se a Inglaterra a pioneira na Revolução ou, em outras palavras, diz-se que na Inglaterra ocorreu a Primeira Revolução Industrial.

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HISTÓRIA

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Quando se considera a existência de uma Primeira Revolução Industrial, pressupõe-se, a priori, que exista uma Segunda Revolução Industrial. Ou melhor, a Primeira só passa a ser assim denominada quando se estabe-lece que há a Segunda. Distinguir a Revolução Industrial significa identificar características específicas desse processo histórico em determinados períodos de tempo. De acordo com as ideias de Fernand Braudel, tais distinções são pertinentes, principalmente levando-se em conta que a Revolução Industrial continua “presente à nossa volta, renovando-se incessantemente”. E, nesse sentido, também se pode arrolar uma Terceira e uma Quarta Revolução Industrial que, entretanto, não serão objeto de análise neste momento.

O processo de industrialização iniciado na Inglaterra em meados do século XVIII, com o desenvolvimento da indústria têxtil, o aperfeiçoamento de máquinas e a utilização da energia a vapor, caracterizou a Primeira Revolução Industrial. Rapidamente, novas invenções eram apresentadas aos empresários, sempre com a promessa de se pro-duzir mais no menor tempo possível. Tal compromisso assumido pelos inventores correspondia perfeitamente aos interesses dos donos de fábricas, pois baseava-se na lógica inerente ao sistema capitalista: menos custo = mais lucro.

A introdução de maquinário mecânico, inicialmente nas fiadeiras e nos teares, possibilitou o aumen-to da produtividade e, consequentemente, dos lucros. Parte do excedente de capital era investido em desenvolvimento tecnológico, em busca de máquinas que produzissem cada vez mais. Durante o século XIX, inovações técnicas modificaram a organização econômica e social do mundo europeu. Mas não só na Europa ocorreram tais transformações, pois os Estados Unidos e o Japão também foram protagonistas do processo histórico denominado de Segunda Revolução Industrial.

Segunda Revolução Industrial

Apesar das diferenças que são apresentadas em relação a um mesmo processo histórico, o da Revolução Industrial, houve uma característica que quase nada, ou muito pouco, se alterou entre a Primeira e a Segunda Revolução Industrial. Trata-se das condições de trabalho a que foram sistematicamente expostos os trabalhadores daquelas duas fases de industrialização.

Para fazer funcionar as máquinas, necessitava-se de poucos trabalhadores, sem nenhuma especialização, já que se aprendia o manuseio em poucas horas. Tal situação gerou desemprego, pois as máquinas passaram a fazer o trabalho dos operários. Consequentemente, os empresários puderam explorar a abundante mão de obra desocupada. Na imagem, observe a preferência dos empresários pelas mãos de obra feminina e infantil

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Autoria desconhecida. Trabalhadores têxteis em um moinho do Norte. [ca. 1850]. Xilogravura colorida à mão. LCNI.

O historiador Ernst H. Gombrich descreve a introdu-ção de máquinas nas fábricas propondo uma reflexão. Imagine que em uma cidade cem trabalhadores ficaram desempregados, pois o dono da fábrica comprou uma máquina que produz o equivalente ao trabalho daque-les cem operários. Mas a máquina precisa de cinco trabalhadores para que funcione perfeitamente bem.

Assim, o dono da fábrica pergunta aos cem desempregados quem trabalharia na sua fábrica e por quanto trabalharia. Ainda que houvesse trabalhadores que exigissem uma remuneração que garantisse as mesmas condições de vida anteriores ao desemprego, haveria gente que se submeteria ao trabalho pelo suficiente para uma quantidade de pão e um quilo de batatas. E, provavelmente alguém se disporia a trabalhar por menos ainda. O empresário, obviamente, escolheria entre os que lhe sairiam mais barato.

Não satisfeito, o empresário pergunta por quantas horas trabalhariam cada um. Dez horas, diria um. Doze, diria um segundo para não perder a oportunidade. “Eu trabalho dezesseis”, afirmaria um terceiro. O empresá-rio ficaria com aquele que se dispôs a trabalhar mais tempo. Mas, questiona ao operário escolhido: “Caso eu te contrate, quem faria minha máquina funcionar enquanto você dorme? Lembre-se de que a máquina

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Revolução

Meiji

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não precisa dormir!”. O trabalhador desesperado diria: “Posso mandar meu filho de dez anos no meu lugar”. “E o que devo pagar a ele?”, perguntaria o empresário, recebendo como resposta: “Um par de moedas para pão com manteiga”. “Só para o pão!”, e assim se encerrava a contratação.

A reflexão proposta por Gombrich, apesar de ficcional, poderia ter acontecido em várias situações durante as duas fases da Revolução Industrial. Mas, e atualmente, o regateio por trabalhadores com custos mais baixos ainda ocorre?

1. A submissão de trabalhadores às péssimas condições de trabalho e aos baixos salários nem sempre ocorreu de maneira pacífica. Indignação e revolta marcaram as duas primeiras fases da Revolução Industrial. Pesquise como os trabalhadores demonstraram seu descontentamento e responda aos três itens da atividade a seguir.

2. (UFMG) Leia este trecho:Os amotinados apareceram de repente, em grupos armados, com comandantes regulares: o chefe deles, seja quem for, é denominado General Ludd, e suas ordens são tacitamente obedecidas como se tivesse recebido sua autoridade das mãos de um Monarca.Fragmento extraído do periódico Leeds Mercury, dezembro de 1811. Citado por THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. III. A força dos trabalhadores. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 126.

Na Inglaterra do início do século XIX, ocorreram vários episódios, como o mencionado nesse trecho, alcunhados, pela tradição, de movimento “ludista”.

a) Identifique as ações mais comuns dos chamados ludistas.

b) Explique os objetivos de tais ações.

c) Alguns anos depois, líderes operários ingleses criaram um movimento político de grande repercussão, deno-minado Cartismo. Explique os propósitos do movimento cartista.

Uma sucessão de inventos e aperfeiçoamentos permitiu que, no final do século XVIII, o setor têxtil inglês estivesse totalmente automatizado. No século seguinte, os trabalhadores, responsáveis pela força necessária para fazer as máquinas produzirem, foram substituídos por outras fontes de energia motriz.

No início do século XIX, imperou a energia gerada pelas máquinas a vapor, empregadas para as mais diversas finalidades: máquinas industriais, barcos, locomotivas e automóveis, por exemplo. Na segunda metade do século XIX, o vapor foi gradativamente substituído pela energia gerada pelos motores de explosão.

Para que isso ocorresse, o carvão, que com o ferro era matéria-prima primordial da Primeira Revolução Industrial, foi sendo substituído pelos derivados do petróleo. A utilização do petróleo foi uma consequência dos avanços ocorridos na indústria química, assim como o ferro foi sendo preterido, em alguns setores industriais, pelo aço, fruto dos avanços da indústria metalúrgica.

Com novas fontes de energia (derivados do petróleo) e materiais de aplicação mais versátil (aço), as aplicações das máquinas industriais extrapolaram as fábricas têxteis e passaram a ser empregadas em outros setores produtivos. Tal desenvolvimento industrial foi possível, em parte, devido aos desenvol-vimentos nas áreas de transporte e comunicação, afinal, com a alta produtividade proporcionada pelas novas máquinas, necessitava-se de mais estruturas que abastecessem as fábricas com as matérias-primas e distribuíssem os produtos industrializados para os mercados consumidores com a mesma velocidade com que eram fabricados.

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HISTÓRIA

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Parece claro que o processo de industrialização – que começou na Inglaterra – se tornou crescentemente global. E afetou todo mundo. Também parece claro que não houve uma única Revolução Industrial. Porque a Revolução Industrial na verdade continuou. Por exemplo: ali da segunda metade para o fim do século XIX, a Revolução Industrial atingiu uma nova fase, com a importância obtida por novas fontes de energia, como a eletricidade e o petróleo. As mudanças tecnológicas que afetam o processo industrial hoje – e tem sido assim nos últimos vinte anos – são, quase certamente, mais dramáticas ainda. E produzem efeitos universais. Porque afetam toda a natureza do trabalho.HOBSBAWM, Eric. Um dos maiores historiadores do planeta avisa: há quatro revoluções em andamento. Disponível em: <http://www.geneton.com.br/archives/000143.html>. Acesso em: 19 jun. 2011.

Com base na declaração do historiador Eric Hobsbawm sobre a Revolução Industrial, são feitas as seguintes afirmações:

I. Trata-se de um movimento ocorrido apenas durante o século XVIII e início do século XIX. II. A Revolução Industrial passou por transformações significativas devido a vários fatores, entre eles a contínua

substituição das fontes de energia. III. Uma das características mais notáveis da Revolução Industrial foi a introdução das máquinas automáticas,

caracterizando uma evolução tecnológica que se estende até hoje. IV. A Revolução Industrial, apesar de seu caráter global, não alterou significativamente a natureza do trabalho.

Estão corretas apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) III e IV.

No século XIX, a comunicação experimentou um avanço surpreendente para quem viveu naquela época: as distâncias podiam ser transpostas em menos tempo com locomotivas que impressionavam com suas altas velocidades (algumas locomotivas chegavam à velocidade de 48 km/h!). As infor-mações podiam ser transmitidas por centenas de quilômetros quase instantaneamente. Phileas Fogg, personagem de Júlio Verne (1828-1905) no romance A volta ao mundo em oitenta dias (1872), chegou a sustentar que a Terra diminuiu, já que seria possível percorrê-la dez vezes mais depressa do que há cem anos.

O desenvolvimento tecnológico aplicado ao transporte foi fundamental para agilizar o abastecimento de matérias-primas para as fábricas e para a distribuição dos produtos industrializados para os mercados consumidores. Na imagem, é possível observar variados fins para as locomotivas a vapor

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Apesar de ser reconhecido como um expoente da literatura de ficção científica do século XIX, Júlio Verne anteviu inúmeras inovações advindas do processo de industrialização da Segunda Revolução Industrial. Em suas obras, Verne falava de máquinas que podiam andar debaixo das águas (submarinos), por entre os céus (aeronaves) e até sobre uma viagem à Lua (Da Terra à Lua, 1865). Porém, suas ideias ficcionais podem ser, atualmente, entendidas como predições. O historiador Ernst H. Gombrich, ao se referir às linhas férreas que se multiplicavam no século XIX, afirma que elas “passavam por cima de montanhas, através de túneis e sobre grandes rios, e se viajava pelo menos dez vezes mais depressa do que se havia viajado antes com o carro postal mais veloz”.

Com base nas características da Segunda Revolução Industrial, que foram analisadas an-teriormente, é possível perceber as transformações ocorridas no processo de industrialização, como a revolução da técnica de produção que gerou a especialização e a divisão do trabalho. Também são perceptíveis as dinâmicas de trabalho que visam ao aumento da produtividade da mão de obra e do acúmulo de capital. Porém, tais características não conferem à Revolu-ção Industrial um caráter homogêneo, pois, como assinalou o economista Maurice Dobb, “a desigualdade do desenvolvimento, como aquele entre indústrias diversas, foi um dos traços principais do período”. O caso da industrialização no Japão corrobora a afirmativa de Dobb.

Charles Dickens (1812-1870) foi um escritor inglês, de família modesta, que, quando criança, trabalhou para ajudar a sustentar sua família. Sua obra literária é uma interessante fonte de pesquisa para se conhecer a vida na Inglaterra do século XIX, época da Segunda Revolução Industrial.

Em 1838, Dickens começou a publicar, como folhetim, Oliver Twist, a história de um garoto órfão que é explorado como mão de obra infantil em várias situações diferentes. No orfanato, a atividade de Oliver con-sistia em desfiar estopa o dia inteiro. Em troca, recebia alojamento e refeição. Bem, isso é o que o Conselho de Mantenedores pensava. No orfanato, assim como em uma fábrica da época, a generosidade era distribuída com cruel economia, pois o lucro dependia de como era administrado o orçamento.

1. Leia, a seguir, um trecho de Oliver Twist:

Os membros do conselho da administração eram homens profundamente filósofos. Examinaram o asilo da mendicidade e descobriram repentinamente aquilo que os espíritos vulgares nunca chegaram a descobrir; isto é, que os pobres nadavam em prazer naquele estabelecimento. As classes pobres, no pensar daqueles senhores, tinham ali uma casa de recreio, uma taverna em que não se pagava nada, almoço, jantar, chá e ceia – em suma um verdadeiro paraíso de tijolos onde se gozava de tudo sem trabalhar.

[...]Imediatamente estabeleceram como princípio que os pobres pudessem escolher (não se forçava nin-

guém) uma destas coisas: ou morrer de fome lentamente se ficassem no asilo, ou morrer de repente se saíssem para a rua. Para este fim contratou o conselho com a administração das águas uma quantidade ilimitada delas e com um mercador de trigo a remessa de um pouco de farinha de aveia em períodos determinados; concederam três pequenas rações de mingau por dia, uma cebola duas vezes por semana e a metade de um pão nos domingos.

[...]

HISTÓRIA

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Seis meses depois da chegada de Oliver Twist, o novo sistema estava em pleno vigor. A princípio foi um pouco dispendioso o tal sistema; era preciso pagar mais à empresa funerária e apertar a roupa dos pobres que emagreciam descomunalmente depois de uma semana ou duas de mingau; mas o número dos habitantes do asilo de mendicidade diminuiu muito e os administradores estavam no sétimo céu.

O lugar onde as crianças comiam era uma grande sala, com chão de tijolo, tendo ao fundo uma grande caldeira onde o cozinheiro do asilo, de avental à cintura e ajudado por duas mulheres, tirava o mingau nas horas de refeição.

Cada criança recebia uma tigelinha cheia e nada mais, exceto nos dias de festa, em que se lhes dava mais duas onças e um quarto de pão. As tigelas nunca precisavam ser lavadas; os pequenos, com as suas colheres, deixavam-nas completamente limpas e lustrosas; e quando acabavam esta operação, que não durava muito, porque as colheres eram quase do tamanho das tigelas, ficavam contemplando a caldeira com olhos tão ávidos que pareciam devorá-la e lambiam os dedos para não perderem algum resto do mingau que lhes ficasse.DICKENS, Charles. Oliver Twist. Disponível em: <http://www.superdownloads.com.br/download/185/oliver-twist-machado-de--assis/>. Acesso em: 16 jun. 2011.

Com base no trecho de Oliver Twist, converse com seus colegas a respeito das condições de vida no orfanato descrito por Dickens e do regime imposto aos órfãos, de modo a responder ao que se pede:

a) Relacione as seguintes informações: semelhanças entre as condições de vida no orfanato e nas fábricas da mesma época; remuneração concedida aos trabalhadores infantis no orfanato e nas fábricas.

Dickens, por meio de sua obra, registrou conscientemente algumas das chocantes

circunstâncias de sua época, como “personagens escolhidos entre os mais

criminosos e degradantes tipos da população de Londres”. Pareceu a ele “que juntar esses

parceiros do crime tais como eles são na realidade; retratá-los em toda a sua torpeza,

em toda a sua indigência; mostrá-los como realmente são, sempre se esquivando pelos caminhos mais sujos da vida, com a sombra negra e imponente da forca rondando suas

esperanças, derrubando-as sempre que possível; pareceu-me que fazer isso seria

tentar algo verdadeiramente necessário e que constituiria um serviço para a sociedade”

b) Quando Dickens falou dos tipos mais criminosos e degradantes da população de Londres, o autor referia-se a ladrões, receptadores, batedores de carteiras e prostitutas. Os homens do Conselho de Mantenedores, que decidiram regular as refeições dos órfãos ao máximo, para obterem maiores lucros, também podem ser considerados tipos degradantes da população? Justifique a resposta.

c) A exploração do trabalho infantil ainda existe em várias regiões do mundo. No contexto histórico con-temporâneo, justifica-se a exploração de mão de obra infantil? Explique sua resposta.

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Era Meiji: o caso japonês

A industrialização ocorrida no Japão é um exemplo de como as histórias das diversas “revoluções

industriais” deixam de coincidir no tempo, em suas etapas principais. O caso japonês, nesse sentido, ocorreu mais de um século depois de iniciada a Revolução Industrial na Inglaterra. Para entender as razões do tardio processo de industrialização japonês, é fundamental retroceder ao século XVII, quando o Japão era governado pelos xoguns, chefes militares que comandavam o xogunato.

Nos dois séculos seguintes, vigorou uma “política de isolamento” com relação aos países estrangei-ros. Tal medida visava ao desenvolvimento das indústrias nacionais, já que o comércio exterior estava proibido. De maneira semelhante ao que ocorreu na Inglaterra, durante o xogunato, houve um significativo desenvolvimento nos setores rurais. Com a utilização de novas técnicas, os camponeses aperfeiçoaram o cultivo de arroz, aumentando a sua produção.

Os progressos agrícolas foram acompanhados pelo desenvolvimento da mineração e da pesca. En-tão, no início do século XIX, o Japão experimentou um período de crescimento tanto econômico quanto populacional. Shigeo Nishimura, narrador da história do Japão em imagens, destaca que, nessa época, foi “construída uma rede de estradas e que ao longo destas surgiram hospedarias, possibilitando que transeuntes e mercadores trafegassem em maior volume”.

O aumento na circulação de mercadorias foi acompanhado pela multiplicação de estabelecimentos comerciais nas grandes cidades. Alguns comerciantes puderam, dessa maneira, acumular capital ne-cessário para outros investimentos. Entretanto, politicamente, o país vivia isolado e o isolamento dava sinais de que o xogunato estava com os dias contados: dificuldades financeiras por parte do governo e revoltas camponesas buscando reformas sociais foram mostras do isolamento.

Em meados do século XIX, os kurofune, denominação dada às embarcações estadunidenses que significa, literalmente, “navios negros”, aportaram em várias regiões japonesas, pressionando o fim do isolamento econômico imposto pelo xogunato. Nishimura afirma que “o movimento de oposição ao regime torna-se gradualmente mais violento, até que o xogunato é derrubado, encerrando o domínio dos bushi (termo genérico para os guerreiros que governaram o Japão)”.

Uma nova era iniciou-se no Japão, a Era Meiji (1868-1912). As fronteiras japonesas foram abertas ao comércio exterior e novos hábitos e costumes, basicamente de tradições ocidentais (europeia e estadunidense), foram introduzidos e assimilados. Linhas férreas e sistema de telégrafo foram instalados com a orientação técnica de estrangeiros.

Nesse período, ocorreu um rápido e intenso processo de industrialização, que contou com a ajuda do governo, o qual se concentrou em consolidar um país que tivesse um exército forte e um variado parque industrial. Assim, o Japão se transformou em um país rico e industrializado, com condições de competir em pé de igualdade com qualquer outra nação industrializada da época. Com esse objetivo, no início do século XX, o Japão passou a disputar militarmente mais espaço no mundo capitalista.

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1. Elabore um texto de no máximo 10 linhas expli-cando quais foram as contingências históricas que permitiram que a Inglaterra fosse a pioneira na Revolução Industrial.

2. (UNICAMP – SP)

Na Europa, até o século XVIII, o passado era o modelo para o presente e para o futuro. O velho representava a sabedoria, não apenas em ter-mos de uma longa experiência, mas também da memória de como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de como deveriam ser feitas. Atualmente a experiência acumulada não é mais considerada tão relevante. Desde o início da Re-volução Industrial, a novidade trazida por cada geração é muito mais marcante do que sua se-melhança com o que havia antes.(Adaptado de Eric Hobsbawm, O que a história tem a dizer--nos sobre a sociedade contemporânea?, em: Sobre Histó-ria. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 37-38.)

a) Segundo o texto, como a Revolução Industrial transformou nossa atitude em relação ao pas-sado?

b) De que maneiras a Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX alterou o sistema de pro-dução?

3. Sobre o processo histórico de transição do mo-delo produtivo, denominado Revolução Indus-trial, analise as afirmativas a seguir:

I. Trata-se de um movimento ocorrido durante o século XVIII e início do século XIX. Houve grandes mudanças na vida e no trabalho das pessoas em várias partes do mundo, em con-sequência do desenvolvimento da industria-lização.

II. A Revolução Industrial gerou um grande au-mento na produção de vários tipos de bens. Parte desse aumento resultou da introdução

A industrialização japonesa teve início na segunda metade do século XIX, mas rapidamente o Japão passou a contar com os adventos da Era Industrial. Nas imagens, é possível observar como inovações tecnológicas passaram a conviver com as tradições nipônicas. Trens, navios, telégrafo e fábricas compõem a paisagem ao lado de casas com teto de palha, pessoas vestidas com quimonos e carros de tração humana

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das máquinas automáticas e do desenvolvi-mento das fábricas.

III. Uma das características mais notáveis da Re-volução Industrial foi a introdução das má-quinas automáticas nas indústrias têxteis da Inglaterra e Escócia, fato que ocorreu entre 1750 e 1800, e assinalou o início da era da fábrica moderna.

IV. A Revolução Industrial não poderia ter se de-senvolvido sem o carvão e o ferro. O carvão fornecia energia para acionar as máquinas a vapor e era necessário à fabricação do ferro. O ferro era usado para aperfeiçoar as máquinas e ferramentas e para construir pontes e navios.

De acordo com a análise:

a) todas as afirmativas estão certas.

b) todas as afirmativas estão erradas.

c) apenas a afirmativa III é certa.

d) as afirmativas I, II e III estão erradas.

e) apenas as afirmativas II e IV estão certas.

4. A respeito do processo histórico conhecido como Revolução Industrial, são feitas as seguintes afir-mativas:

I. O processo histórico de substituição do mo-delo de produção artesanal/manual pelo em-prego de máquinas caracteriza a Revolução Industrial.

II. A Revolução Industrial originou-se, inicial-mente, na Inglaterra, país que possuía maté-ria-prima e mão de obra abundantes.

III. A Revolução Industrial teve início no século XVI, época das grandes navegações.

Entre as afirmativas, são corretas apenas:

a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III.

5. [...] a Revolução Industrial inchou as cidades.

Camponeses em busca de melhores condições de vida migravam e se deparavam com um cená-rio um tanto quanto desolador. Para descrever o cenário das fábricas que tanto atraíram os cam-poneses, bastam duas palavras: periculosidade e insalubridade. Periculosidade é o estado ou qua-lidade de algo que é perigoso. Insalubridade é a qualidade daquilo que origina doenças.NICOLAZZI JUNIOR, Norton Frehse. O trabalho na história: um longo processo de transformações. In: Os caminhos do cooperativismo. Curitiba: Editora da UFPR, 2001. p. 87.

Sobre os primórdios da Revolução Industrial, as-sinale a alternativa correta:

a) As grandes fábricas da primeira fase da Re-volução Industrial estavam dispersas pelo campo, onde era mais fácil de obter a mão de obra necessária para operar as máquinas.

b) As primeiras fábricas foram caracterizadas pelas excelentes condições trabalho, pois os seus donos preocupavam-se com a qualidade de vida de seus operários, primando pela se-gurança no ambiente de trabalho.

c) Pode-se afirmar que a descrição mais fidedig-na às primeiras fábricas da Era Industrial deve citar ambientes arejados, bem iluminados e extremamente limpos.

d) De maneira geral, se forem consideradas as condições de trabalho na primeira fase da Re-volução Industrial, pode-se afirmar que pre-valeciam as péssimas condições de trabalho.

e) De acordo com o fragmento de texto citado, as fábricas concentravam-se nos centros urbanos e eram ambientes de excelentes condições de trabalho, compondo um cenário inspirador.

6. (IFG – GO)

Com base na imagem, assinale a alternativa correta:

a) Durante a Revolução Industrial, a jornada de trabalho, não muito raro, ultrapassava 14 ho-ras diárias. Era comum o trabalhador receber hora-extra e isto significava certa melhoria na condição de vida.

b) A Revolução Industrial significou um fabuloso aumento da produção material e do rendimento

GOOCH, Edward. Crianças trabalhando em moinho durante a Revolução Industrial. [ca. 1820]. LCNI.

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HISTÓRIA

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do trabalho, o que possibilitou que os servos, que viviam sob o controle dos senhores feu-dais, tivessem uma melhor qualidade de vida.

c) A mão de obra usada nas fábricas da Ingla-terra do século XVIII foi basicamente formada por ex-camponeses que vieram das regiões pobres da África. Isto só foi possível graças à política dos “cercamentos”.

d) A Revolução Industrial significou, em termos históricos, a consolidação da classe burguesa. A partir de então, esta classe deteria o poder político e econômico de forma hegemônica.

e) Para baixar os custos da produção foi utiliza-do, na Revolução Industrial, tanto o trabalho infantil, quanto o feminino.

7. (URCA – CE)

Analise o texto abaixo extraído de um documen-to inglês do final do século XVIII e assinale a al-ternativa incorreta:

“Com a finalidade de detectar a preguiça e a vila-nia, bem como recompensar os justos e diligentes, achei conveniente criar um registro de tempo feito por um supervisor; assim determino, e fica pelo pre-sente determinado, que das cinco às oito horas e das sete às dez horas são quinze horas, das quais se tira 1,5 para o café da manhã, o almoço, etc. Haverá portanto treze horas e um serviço semirregular...”(In: THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998).

a) Trata-se de um documento relativo às transfor-mações ocorridas na organização do trabalho durante a chamada Revolução Industrial Inglesa.

b) Diz respeito ao desenvolvimento de uma nova concepção de tempo intimamente ligada à noção de produtividade e lucro, que está en-tre as principais mudanças ocorridas na orga-nização do trabalho nesse período.

c) “Preguiça e vilania” podem ser entendidas como formas de resistência cotidiana dos traba-lhadores ao novo regime de trabalho industrial.

d) Pode-se concluir que, apesar do rígido con-trole imposto aos trabalhadores na linha de produção, eles acabaram adquirindo uma maior autonomia em relação à realização e divisão das tarefas e ao ritmo da produção.

e) Pode-se deduzir que punições e recompensas fa-ziam parte das muitas estratégias de poder impos-tas cotidianamente aos trabalhadores para vencer sua resistência a esse novo regime de trabalho.

8. (UERN) Entre as consequências da Primeira e da Segunda Revolução Industrial, nas várias regiões do mundo, encontra-se:

a) a ampliação do tráfico de africanos escravizados, objetivando uma maior lucratividade, pela utili-zação de uma mão de obra gratuita nas colônias.

b) o incentivo à independência das colônias afri-canas e asiáticas, a partir dos meados do século XIX, buscando ampliar o mercado fornecedor e consumidor dos produtos industriais europeus.

c) a pressão do governo britânico a tentativas de desenvolvimento autônomo, em regiões periféricas, como ocorreu no Brasil, durante o Segundo Império.

d) a proibição do estabelecimento de ferrovias no Brasil, durante o Primeiro Império, preju-dicando o comércio interno e mantendo a economia do país circunscrita à exportação de gêneros primários.

9. (UFRN) Refletindo sobre os resultados da Revolu-ção Industrial inglesa do século XVIII, o historia-dor Eric Hobsbawm escreveu:

Saber se a Revolução Industrial deu à maioria dos britânicos mais ou melhor alimentação, vestuário e habitação, em termos absolutos ou relativos, inte-ressa, naturalmente, a todo [estudioso]. Entretanto, ele terá deixado de apreender o que a Revolução In-dustrial teve de essencial, se esquecer que ela não representou um simples processo de adição ou sub-tração, mas sim uma mudança social fundamental.HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial inglesa ao imperia-lismo. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária, 1983. p. 74.

A mudança referida acima resultou na:

a) crescente formação de sindicatos de orienta-ção socialista, fundamentados nas aspirações políticas e sociais da classe média inglesa.

b) ruína dos grandes proprietários de terras, a partir do deslocamento do eixo econômico, do campo para a produção fabril de natureza urbana.

c) melhoria da ordem social existente, em virtu-de da significativa remuneração do trabalho feminino em relação à remuneração do ho-mem adulto.

d) nova condição do proletariado, destituído de qualquer fonte de renda digna de menção além do salário em dinheiro que recebe por seu trabalho.

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10. (PUCRS)

A Revolução Industrial que se consolidou na Inglaterra da segunda metade do século XVIII apresentava fatores condicionantes em varia-dos campos da sociedade britânica. No campo institucional, tem-se a _________; no que se re-fere ao pensamento econômico, apresenta-se o _________; no plano ético de fundamentação religiosa, cita-se o _________ e, no campo eco-nômico, verifica-se a liberação de mão de obra causada pela prática dos _________.

a) Monarquia Parlamentar/mercantilismo/pro-testantismo/cercamentos.

b) República Parlamentar/liberalismo/catolicis-mo/campos abertos.

c) Monarquia Parlamentar/liberalismo/protes-tantismo/cercamentos.

d) República Parlamentar/mercantilismo/protes-tantismo/campos abertos.

e) Monarquia Parlamentar/liberalismo/catolicis-mo/cercamentos.

11. (ENEM)

A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escraviza-ção do homem que seu poder.DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979. (Adaptado).

Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX?

a) A facilidade em se estabelecer relações lucra-tivas transformava as cidades em espaços pri-vilegiados para a livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista.

b) O desenvolvimento de métodos de planeja-mento urbano aumentava a eficiência do tra-balho industrial.

c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas.

d) A grandiosidade dos prédios onde se loca-lizavam as fábricas revelava os avanços da

engenharia e da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de expe-rimentação estética e artística.

e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglo-merados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene.

12.

Em todas as zonas de exportação da Ásia, veem-se filas de adolescentes em camisetas azuis nas estra-das, de mãos dadas com suas amigas e carregando guarda-chuvas para protegê-las do sol. Parecem estudantes indo para casa depois da escola. Em Cavite, como em toda parte, a grande maioria de trabalhadores é de mulheres solteiras entre 17 e 25 anos de idade. [...] Mulheres são frequentemente demitidas de seus empregos na zona de exporta-ção por volta dos 25 anos, ouvindo dos superviso-res que elas são “velhas demais”, e que seus dedos não são mais suficientemente ágeis. Essa prática é uma forma muito eficaz de minimizar o número de mães na folha de pagamento da empresa.KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 244-247.

Sobre a exploração do trabalho infantil e femini-no, assinale a alternativa incorreta:

a) Casos de exploração do trabalho feminino e infantil foram recorrentes durante os séculos XVIII e XIX, deixando gradualmente de existir ao longo do século XX, estando completa-mente erradicado no século XXI.

b) A preferência pela mão de obra infantil e fe-minina decorre do fato de que esse grupo de trabalhadores é menos remunerado que os operários masculinos.

c) A Revolução Industrial possibilitou o amplo emprego de crianças e mulheres, pois com as inovações tecnológicas a força física deixou de ser um requisito fundamental para os traba-lhadores, que passaram a operar máquinas.

d) Os donos de fábrica justificavam sua prefe-rência por crianças e mulheres afirmando que eram mais facilmente disciplináveis, gerando menos problemas nas fábricas.

e) A exploração do trabalho infantil e feminino ainda é observada em pleno século XXI, assim como a permanência de remuneração propor-cionalmente menor em relação ao trabalho masculino.

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HISTÓRIA

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Revoluções burguesas4

As revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII foram frutos do esgotamento da organização social do Antigo Regime. O absolutismo e o mercantilismo barravam constantemente o crescimento da burguesia e a impediam de assumir o controle do Estado e da economia.

Contudo, as duas principais revoluções burguesas (a inglesa e a francesa) não foram organizadas nem planejadas pela burguesia. Elas ocorreram em função da ação das classes mais pobres que lutavam contra a precariedade das suas vidas e em busca de maior liberdade religiosa.

Desse modo, foi o povo que promoveu, com a sua luta e resistência, o fim do Antigo Regime, mas foi a bur-guesia que colheu os principais frutos, tendo campo aberto para implantar os seus projetos sociais pautados no liberalismo.

Ascensão da burguesia

A ascensão da burguesia está inserida em um longo processo histórico que se iniciou no século XI, com o Renas-

cimento Comercial e Urbano, passando pelo Renascimento e pela Reforma Religiosa nos séculos XIV, XV e XVI. Nos séculos XVII e XVIII, as constantes buscas por maior autonomia econômica levaram a burguesia a participar de

movimentos que tinham por objetivo reformar o Estado absolutista e estimular a expansão do comércio. Destacam-se nesse conjunto de movimentos as revoluções inglesas e a Revolução Francesa.

Para o historiador Modesto Florenzano, a burguesia não possuía um caráter revolucionário, pois em muitos casos seus objetivos consistiam em apenas reformar as instituições e manter os governos monárquicos. A insatisfação das massas que se rebelavam contra o regime dos privilégios da nobreza acabou favorecendo a burguesia, que assumiu o controle do Estado e impôs seus projetos políticos, sociais e econômicos.

Na política, a burguesia implantou o liberalismo político que era uma forma de organização do governo contrária ao absolutismo, pois defendia a independência dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a limitação do poder do soberano. Na economia surgiu o liberalismo econômico, que estimulava a livre iniciativa e criticava o mer-cantilismo, defendendo a não interferência do Estado na economia. O Estado, portanto, passou a ser um instrumento de proteção da propriedade privada, de manutenção da ordem social contendo as rebeliões populares e garantidor dos lucros da burguesia.

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Revoluções inglesas

A Inglaterra foi o primeiro local a presenciar uma ação mais contundente da burguesia. Esse grupo desejava dinamizar a economia e participar mais ativa-mente da política por meio do controle do Estado, pois, desse modo, estaria em posição privilegiada para realizar os seus projetos sociais e econômicos. Mas, para se entender o processo revolucionário pelo qual a burguesia se fez como grupo dominante na Inglaterra, deve-se conhecer o contexto político, social e econômico anterior às revoluções inglesas.

Na dinastia dos Tudors, as atividades produtivas e comerciais receberam impulso. A Inglaterra se fortaleceu no cenário comercial internacional em função dos progressos da manufatura, do aumento da produção agrícola e da expansão colonial. Todos esses fatores agradavam aos burgueses que buscavam formas de aumentar seus lucros e ter maior liberdade econômica. Na imagem, observa-se Henrique VII, primeiro monarca da dinastia dos Tudors que governou de 1485 a 1509

Artista desconhecido. Henrique VII da Inglaterra. 1505. 1 óleo sobre madeira, 45,5 cm x 30 cm. Galeria Nacional de Retratos, Londres.

A centralização política e o absolutismo foram bastante precoces na Inglaterra, iniciando-se na dinastia dos Tudors (1485-1603). Essa família chegou ao poder sem grandes dificuldades e resistências uma vez que se apresentou como pa-cificadora de uma sociedade cansada das guerras externa (Guerra dos Cem Anos) e interna (Guerra das Duas Rosas).

O Parlamento inglês, que surgiu como resultado político da Magna Carta de 1215, poucas vezes foi convocado pela Coroa durante o governo dos Tudors. A burguesia e os proprietários de terras, conhecidos como gentry, que basicamente compunham o Parlamento, não se opuseram a essa situação, pois muitos dos seus interesses eram contemplados pelo Estado absolutista inglês. Por essa razão, conforme defende o historiador Paulo Miceli, pode- -se afirmar que o século XVI presenciou uma verdadeira lua de mel entre a monarquia e o Parlamento inglês.

A imagem representa Thomas Coke, conde de Leicester e sua criação de ovelhas em terras obtidas por meio dos

cercamentos (enclosures). Os ex- -camponeses e seus descendentes, que passaram a viver

nas cidades, seriam a mão de obra que tornaria possível, no século seguinte, a Revolução Industrial

Artista desconhecido. Retrato de Thomas William Coke inspecionando suas ovelhas com Sr. Walton e Thomas Weaver. [ca. 1790]. Coleção particular. Holkham Hall, Norfolk.

Os cercamentos, portanto, criaram um contexto desfavorável para os mais pobres, que foram obrigados a viver nas cidades trabalhando em atividades às quais não estavam habituados. Além disso, os preços dos alimentos estavam inflacionados devido ao excesso de prata americana que circulava no mercado europeu, dificultando o acesso aos bens mais essenciais para assegurar a sobrevivência.

Se por um lado ficou mais fácil para os burgueses e proprietários rurais acumularem riquezas, por outro, a vida dos mais pobres foi duramente afetada nos séculos XVI e XVII. Foi nesse período que se intensificaram os cercamentos (enclosures) pelo qual as terras de uso comum, indispensáveis para a sobrevivência dos camponeses, foram cercadas e vendidas para criadores de ovelhas que forneciam lã para a crescente manufatura têxtil. Além das terras de uso comum, muitos dos pequenos proprietários também tiveram suas terras tomadas pela nobreza.

Ensino Médio | Modular 49

HISTÓRIA

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O rei Carlos I desejava ampliar seus poderes, mas para isso acabou

enfrentando uma grande oposição do Parlamento, que representava a burguesia

e os proprietários de terras (gentry)

A rainha Elizabeth I foi a última monarca da dinastia dos Tudors. Por essa rainha não ter tido filhos, abriu espaço para a chegada ao poder de uma nova família: os Stuarts

HILLIARD, Nicholas. Retrato de Elizabeth I, rainha da Inglaterra. 1575-76. 1 óleo sobre tela, color., 79 cm x 61 cm. Galeria Nacional de Retratos, Londres.

Dinastia StuartAs relações entre a Coroa e o Parlamento foram abaladas já nos primeiros

anos de governo dos Stuarts, pois o rei Jaime I (1603-1625) adotou a política de aumentar os rendimentos da Coroa por meio de novos impostos. Além disso, aumentou as taxações alfandegárias e forçou membros da burguesia inglesa a conceder empréstimos para o governo. Essas ações afetaram principalmente a burguesia, que reagiu por meio de discussões intensas no Parlamento. Chegava ao fim a lua de mel entre Coroa e Parlamento.

Jaime I abdicou da coroa em 1625, pouco antes de morrer, em favor de seu filho Carlos I, que foi mais absolutista que seu pai, decretando a obrigatoriedade dos empréstimos à Coroa e mandando prender quem se negasse a emprestar. O monarca governou até 1649, quando foi executado.

O Parlamento reagiu às medidas de Carlos I e, em 1628, produziu um documento chamado Petição dos Direitos, no qual exigia o fim das prisões arbitrárias e reforçava que o Parlamento deveria ser consultado quando fossem criados novos impostos. Além disso, o documento proibia ao rei de criar um exército permanente, pois temia-se que o soberano usasse força militar para acabar com a oposição ao seu governo.

No ano seguinte, Carlos I dissolveu o Parlamento em uma tentativa de refazer dentro da Inglaterra um governo absolutista. Os parlamentares foram obrigados a voltar para as suas casas. Entre eles es-tava um proprietário de terras chamado Oliver Cromwell. O Parlamento só voltaria a se reunir em 1640.

Na política internacional, Jaime I se aproximou da inimiga Espanha, demonstrando seu desejo de reforçar aspectos do catolicismo dentro da religião anglicana. Tinha interesse em fortalecer o catolicismo, pois poderia defender a ideia de que a monarquia advinha da natureza divina, desse modo os reis não deveriam ser questionados pelas suas escolhas. Essa posição colocou os protestantes contra o rei, pois esses defendiam que a monarquia só tinha razão de existir à medida que proporcionasse o bem comum

SOMER, Paulus van. Rei Jaime I da Inglaterra. [ca. 1603-1613]. 1 óleo sobre tela, 196 cm x 120 cm. Museu do Prado, Madri.

VAN DYCK, Sir Anthony. Retrato equestre de Carlos I, Rei da Inglaterra. 1 óleo sobre tela, 123 cm x 85 cm. Museu do Prado, Madri.

Os mais pobres também tiveram suas vidas atingidas pelas escolhas políticas do rei Jaime I, pois a intensificação da concessão de monopólios de distribuição de mercadorias dentro da Inglaterra produziu uma grande alta no preço dos produtos essenciais, tornando cada vez mais precária a vida da população.

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O texto a seguir é um trecho da obra A utopia, de Thomas Morus. Leia-o com atenção e depois responda ao que se pede.

A nobreza e a lacaiada não são as únicas causas dos assaltos e roubos que vos deixam desolado; há uma outra

Os inumeráveis rebanhos de carneiros que cobrem hoje toda a Inglaterra. Estes animais, tão dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte, são entre vós de tal sorte vorazes e ferozes que devoram mesmo os homens e despovoam os campos, as casas e as aldeias.

De fato, a todos os pontos do reino, onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa, acorrem, em disputa do terreno, os nobres, os ricos e até santos abades. Essa pobre gente não se satisfaz com as rendas, benefícios e rendimentos de suas terras; não está satisfeita de viver no meio da ociosidade e dos prazeres, às expensas do público e sem proveito para o Estado. Eles subtraem vastos tratos de terra à agricultura e os convertem em pastagens; abatem as casas, as aldeias, deixando apenas o templo para servir de estábulo para os carneiros. Transformam em desertos os lugares mais povoados e mais cultivados. Temem, sem dúvida, que não haja bastantes parques e bosques e que o solo venha a faltar para os animais selvagens.

Assim um avarento faminto enfeixa, num cercado, milhares de geiras; enquanto que honestos cultivadores são expulsos de suas casas, uns pela fraude, outros pela violência, os mais felizes por uma série de vexações e de questiúnculas que os forçam a vender suas proprieda-des. E estas famílias mais numerosas do que ricas (por-que a agricultura tem necessidade de muitos braços), emigram campos em fora, maridos e mulheres, viúvas e órfãos, pais e mães com seus filhinhos. Os infelizes abandonam, chorando, o teto que os viu nascer, o solo que os alimentou, e não encontram abrigo onde refugiar- -se. Então vendem a baixo preço o que puderam car-regar de seus trastes, mercadoria cujo valor é já bem insignificante. Esgotados esses fracos recursos, o que lhes resta? O roubo, e, depois, o enforcamento segundo as regras. Preferem arrastar sua miséria mendigando? Não tardam ser atirados na prisão como vagabundos e gente sem eira nem beira. No entanto, qual é o seu crime? É o de não achar ninguém que queira aceitar os seus serviços, ainda que eles os ofereçam com o mais vivo empenho. E aliás, como empregar esses homens? Eles só sabem trabalhar a terra; não há então nada a fazer com eles, onde não há mais nem semeaduras nem colheitas. Um só pastor ou vaqueiro é suficiente, agora, a fazer com que brote, de si mesma, a terra

onde, outrora, para seu cultivo, centenas de braços eram necessários.

Outro efeito desse fatal sistema é uma grande carestia de vida em diversos lugares.

Mas não é tudo. Após a multiplicação dos pastos, uma horrorosa epizootia veio matar uma imensa quan-tidade de carneiros. Parece que Deus queria punir a avareza insaciável dos vossos açambarcadores com esta medonha mortandade que talvez fosse mais justo lançar sobre suas próprias cabeças. Então, o preço das lãs subiu tão alto que os operários mais pobres não as podem atualmente comprar. E eis aí de novo uma mul-tidão de gente sem trabalho. É verdade que o número de carneiros cresce rapidamente todos os dias; mas nem por isso o preço baixou; porque, se o comércio das lãs não é um monopólio legal, está, na realidade, concentrado nas mãos de alguns ricos açambarcadores que nada pode constrangê-los a vender a não ser com altos lucros.MORUS, Thomas. A utopia. Disponível em: <http://www.dominio-publico.gov.br/download/texto/cv000070.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2011. p. 9-10.

a) A qual situação Thomas Morus se referia quando disse que os carneiros devoram os homens e despo-voam os campos? Justifique sua resposta.

b) De acordo com o texto de Thomas Morus, uma grande quantidade de homens e mulheres era expulsa das áreas rurais e obrigada a viver em cidades. Quais eram os métodos utilizados e que grupos sociais promoviam essa expulsão?

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HISTÓRIA

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A Inglaterra, desde a reforma anglicana de Henrique VIII, viveu um processo de intensos conflitos religiosos. A Igreja Anglicana variava, conforme o monarca que a comandava, entre aspectos católicos ou protestantes, de modo que a população civil oscilava entre épocas de liberdade de culto e épocas de perseguição. Na década de 1630, o rei Carlos I perseguiu intensamente os protestantes, principalmente os puritanos (corrente mais radical do protestantismo). Essas perseguições forçaram muitos puritanos a migrarem para a América do Norte em busca de maior liberdade religiosa. Os que permaneceram na Inglaterra entraram em conflito com o rei na guerra civil da década de 1640.

A burguesia e os proprietários rurais resistiram às tentativas absolutistas de Carlos I e muitos de seus membros começaram a se recusar a pagar os impostos arbitrariamente estabelecidos pelo rei. Essa resistência em pagar os impostos, somada à invasão escocesa que ocorreu no norte da Inglaterra, provocou uma séria crise financeira na monarquia, que se viu obrigada a convocar o Parlamento em 1640.

Uma vez reunido, o Parlamento tratou de implantar muitas das ideias da burguesia e dos proprietários de terras. Persegui-ram e prenderam os principais colaboradores do rei, passaram a controlar a política tributária, a religião, e pelo chamado Ato Trienal estabeleceram que o Parlamento devia se reunir no mínimo uma vez a cada três anos.

c) De que modo se pode relacionar os cercamentos (enclosures) com o fortalecimento dos proprietários rurais (gentry) e da burguesia?

Contudo, o próprio Parlamento era feito por pessoas que tinham projetos políticos distintos: enquanto alguns membros da alta bur-guesia conservadora e da nobreza apenas pretendiam reformar a monarquia, outros setores mais revolucionários defendiam o fim do modelo monárquico e a instauração de uma república.

O rei tomou partido dessa divisão do Parlamento e propôs a prisão de alguns líderes revolucionários. Iniciava-se a guerra civil, que colocava de um lado as forças realistas, as quais apoiavam o rei, e do outro os puritanos, que lutavam por reformas políticas, econômicas e religiosas.

Com o apoio dos habitantes das comunidades rurais e dos menos favorecidos dos centros urbanos, os puritanos consti-tuíram um exército vencedor denominado Novo Modelo do Exército, sob a liderança de Oliver Cromwell. Em 1649, a guerra civil chegou ao fim e o rei Carlos I foi julgado e condenado à morte. As camadas populares que participaram desse processo compondo as fileiras do exército puritano foram impedidas de participarem da construção do novo governo.

Oliver Cromwell comandou a nova república inglesa e uma das primeiras tarefas do governo foi a assinatura do Ato de Na-vegação pelo qual todos os produtos importados pela Inglaterra deveriam ser transportados por navios ingleses ou dos países produtores. Essa medida visava fortalecer a burguesia mercantil inglesa que temia a concorrência que sofria dos comerciantes holandeses. A política dos cercamentos persistiu, demonstrando que os ideais da Revolução não contemplavam a melhoria de vida dos mais pobres.

Revoluções Puritana e Gloriosa

Desenho satírico sobre a dissolução do Parlamento, feito por Oliver Cromwell em 1653. Nas paredes laterais, pode-se ler a expressão “aluga-se esta casa”

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RAUCH, Sammlung. Dissolução do Parlamento por Oliver Cromwell. 1653. Xilogravura.

História Moderna e Contemporânea I52

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O medo de rebeliões sociais fez com que Cromwell dissolvesse à força o Parlamento em 1653, estabelecendo uma ditadura militar. Com sua morte, em 1658, seu filho Ricardo Cromwell assumiu o poder, porém não foi capaz de mantê-lo por muito tempo e foi deposto depois de 18 meses, por uma revolta organizada pelos líderes do exército e do Parlamento que restaurou a monarquia.

De acordo com o historiador José Jobson de Andrade Arruda, a república foi simbolicamente sepultada quando desenterraram os corpos de Oliver Cromwell e outros par-ticipantes do julgamento do rei Carlos I para enforcá-los e decapitá-los depois de vários anos passados de suas mortes. A restauração da monarquia exigia a destruição dos restos mortais daqueles que condenaram Carlos I à morte.

O rei Carlos II governou por 18 anos com o apoio do Parlamento, porém seu irmão, Jaime II, desejou refazer o absolutismo na Inglaterra apoiando o catolicismo e a aristocracia. O Parlamento não aceitou a ameaça do retorno ao absolutismo e organizou, em 1688, um novo golpe ao convocar Maria Stuart e seu marido Guilherme de Orange. Esse evento ficou conhecido como Revolução Gloriosa por não ter havido nenhum derramamento de sangue, pois Jaime II, ao saber do complô, fugiu sem oferecer resistência.

No ano seguinte foi elaborada a Declaração dos Direitos (Bill of Rights), que consolidava o Estado bur-guês e estabelecia a liberdade de expressão, política e a tolerância religiosa.

1. As Revoluções inglesas foram as primeiras revoluções burguesas da época moderna que permitiram criar as condições para a industrialização do século seguinte. Que condições foram essas?

2. A Revolução Puritana resultou do choque entre os interesses burgueses com o da monarquia que desejava se consolidar de forma absolutista. Um desses primeiros conflitos se deu em 1628 com a Petição dos Direitos. Explique como ocorreu esse embate:

3. Qual foi a participação das classes mais pobres no processo de revolução na Inglaterra?

Ensino Médio | Modular 53

HISTÓRIA

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Revolução Francesa

A Revolução Francesa é considerada um dos movimentos sociais mais importantes da história do mundo ocidental. Essa importância se deve a seu caráter revolucionário, ou seja, de ter rompido com um tipo de sociedade específico, a de Antigo Regime, e ter criado uma nova, pautada nas liberdades civis e na igualdade jurídica.

A Revolução começou muito antes de 1789. O século XVIII inteiro se caracterizou por contradições dentro da sociedade francesa, como afirma o historiador Eric Hobsbawm, pois, naquele século, a França aumentou em quatro vezes o seu comércio externo e suas colônias americanas lhe proporcionavam altos lucros. Porém, toda essa prosperidade era insuficiente para sustentar um Estado que gastava demais, seja nas suas festas de corte, nas pensões pagas a algumas famílias nobres ou nos inúmeros conflitos armados em que se envolveu, como a guerra da independência dos Estados Unidos.

As famílias nobres continuavam a gozar de privilégios feudais durante o século XVIII, ou seja, os resquícios da sociedade medieval permaneciam como elementos organizadores da sociedade francesa. Basicamente, podem-se dividir os nobres em duas classes: pequena nobreza e alta nobreza. Os membros da pequena nobreza faziam uso de direitos costumeiros para explorar o trabalho camponês e manter seu luxuoso estilo de vida. Já a alta nobreza formava a aristocracia, que buscou participar mais da administração do Estado, visando diminuir o poder do rei absolutista e impedir a ascensão da burguesia

ROSLIN, Alexandre. A família Martineau de Fleuriau. 1785. Col. Marquês e Marquesa de Gontaut.

Os camponeses compunham aproximadamente 80% da população francesa na época da Revolução. A grande maioria das famílias não dispunha de terras suficientes para assegurar a sua sobrevivência e os tributos pagos aos nobres e ao clero dificultavam ainda mais sua sobrevivência. Juntamente com os pobres das áreas urbanas, eram os que mais sofriam com as constantes altas nos preços dos alimentos

MIXELLE, Jean-Marie A França é retratada como um globo. 1789. 1 gravura. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Como o Estado gastava muito mais do que arrecadava, sobrava para os grupos não detentores de privilégios pagarem a conta. Desse modo, os camponeses, os pobres que viviam nas cidades (chamados de sans-culottes) e a burguesia eram constantemente onerados com impostos para manter o modelo de Antigo Regime, que organizava o Estado e a sociedade francesa.

A França ainda se organizava em Estados, remontando ao modelo feudal que dividia a sociedade entre religiosos, cavaleiros e trabalhadores. Na França, o Primeiro Estado era formado pelo clero, o Segundo Estado era composto pela nobreza e o Terceiro Esta-do, que abrangia aproximadamente 95% da população, compreendia os camponeses, trabalhadores pobres e os burgueses (profissionais liberais, banqueiros, comerciantes entre outros profissionais). Era em cima do Terceiro Estado que recaíam os impostos.

Se na Inglaterra as revoluções burguesas já haviam reformado as instituições, permitindo o desenvolvimento do capitalismo, na França as mudanças ainda estavam por acontecer. Na imagem, pode ser observada uma representação dos três estados que formavam a sociedade francesa no século XVIII

Autor desconhecido. Vestimenta cerimonial dos cavalheiros das três ordens para os Estados Gerais: Clero – Nobreza – Terceiro Estado. 1789. 1 gravura. Biblioteca Nacional da França.

Os fatos que

marcaram a

Revolução Francesa

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História Moderna e Contemporânea I54

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Contexto revolucionárioAs dificuldades enfrentadas pelos mais humildes, principalmente os camponeses

e os moradores das cidades, criaram um ambiente de muita insatisfação. As crises de abastecimento de trigo, que foram frequentes nos séculos XVII e XVIII, impunham a fome aos menos favorecidos. De acordo com o historiador George Rudé, o preço normal do pão de meio quilo correspondia a 50% do orçamento dos pobres. Logo, nas épocas de carestia, quando os preços subiam, era impossível aos miseráveis comprarem o seu principal alimento.

Nas cidades, o desemprego atingia altos níveis, forçando um grande nú-mero de pessoas a viver de forma precária, sem acesso a boa alimentação e moradia. Pelos dados levantados pelo historiador Daniel Roche, Paris possuía em 1789, ano da Revolução, um total de 25 mil habitações para uma população de aproximadamente 750 mil habitantes, ou seja, em média existia uma casa para cada 30 habitantes.

Todo esse cenário contribuiu para aumentar as críticas contra os privilégios que o Primeiro e o Segundo Estado gozavam. Os mais pobres não ficaram pas-sivamente observando seu próprio sofrimento. Eles protestaram com motins, saques e exigindo que os preços dos alimentos baixassem a valores conside-rados mais honestos.

Na imagem, são representadas uma mulher e sua filha batendo à porta de um desconhecido para pedir esmola, demonstrando as dificuldades enfrentadas pelos habitantes de Paris. Além disso, é possível observar aspectos do interior das moradias dos mais pobres. De acordo com o historiador Daniel Roche, as paredes das casas dos pobres eram frias e úmidas, havia desordem na disposição da mobília e as entradas de luz natural eram pequenas. O aluguel era muito alto e morar acabava se tornando encontrar um abrigo temporário até o próximo despejo pela falta de pagamento

DROLLING, Martin. Esmolas para os pobres. 1 oléo sobre painel, 34 cm x 28 cm. Coleção privada.

1. Observe o gráfico abaixo e depois responda ao que se pede:

Fonte: LE ROY LADURIE, Emmanuel. História dos camponeses franceses: da Peste Negra à Revolução. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p 492. v. 1.

A talha real (imposto cobrado dos plebeus) em Montpellier

200.000

100.000

50.000

20.000

10.000

5.0004.0003.000

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1.0001400 1450 1500 1550 1600 1650 1700 1750

Talha real

Preço do trigo

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a) Do que trata o gráfico?

b) De que modo as oscilações do preço do trigo a partir do século XVII podem ter interferido na vida das pessoas comuns?

Ensino Médio | Modular 55

HISTÓRIA

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A formação da Assembleia Nacional e a tomada da Bastilha foram representadas como o fim da opressão que o Terceiro Estado sofria do clero e da nobreza

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Autor desconhecido. Réveil du Tiers Etat. 1789. Bibliothèque Nationale.

Caricaturas da sociedade francesa

(1789)

Autor não identificado. A faut esperer q’eu se jeu la finira bentot. 1789. 1 caricatura. Biblioteca Nacional da França.

Autor não identificado. O tempo passa (clero e nobreza sobre as costas do Terceiro Estado). 1789. 1 caricatura. Museu Carnavalet, Paris.

Após o rei decidir dissolver os Estados Gerais, impedindo os deputados de permanecerem na sala de reuniões, os membros do Terceiro Estado resolveram se dirigir para a sala de jogos do palácio e lá formaram a Assembleia Nacional, jurando que só parariam com os trabalhos depois que dessem uma nova constituição para a França

DAVID, Jacques-Louis. O juramento na Assembleia Nacional. 1791. 1 aquarela sobre papel, color., 66 cm x 101 cm. Museu Nacional do Palácio de Versalhes, Versalhes.

O processo revolucionário

2. Observe, em seu material de apoio, as imagens que representam os estados franceses às vésperas do início do processo revolucionário. Interprete-as e, a seguir, produza um texto, em seu caderno, sobre a desigualdade social e a exploração de alguns indivíduos sobre outros.

Com o objetivo de resolver o problema financeiro do Estado, o ministro Jacques Necker convocou a Reunião dos Estados Gerais, que ocorreu em maio de 1789. Clero, nobreza e Terceiro Estado teriam que votar uma solução e a que estava mais próxima de ser escolhida era o aumento dos impostos pagos pelo Terceiro Estado, a fim de manter o governo aristocrático em funcionamento.

Por mais que o Terceiro Estado fosse composto da maioria da população, ele tinha direito a um único voto nos Estados Gerais, cabendo ao clero e à nobreza os outros dois votos. Por essa razão, apenas os interesses do Primeiro e Segundo Estados seriam atendidos.

A nobreza desejava forçar o Terceiro Estado a pagar a conta dos gastos excessivos do governo, porém esse grupo reagiu e formou, em junho de 1789, a Assembleia Nacional, que pouco tempo depois passou a ser denominada Assembleia Nacional Constituinte, pois tinha o objetivo de elaborar uma nova Constituição.

História Moderna e Contemporânea I56

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A Bastilha era uma prisão usada pelo governo absolutista para prender seus opositores. O historiador Simon Schama afirmou que, no dia em que a Bastilha foi tomada, ela abrigava somente oito presos, sendo sua queda, portanto, mais um símbolo do descontentamento do povo com as suas condições de vida do que um evento monumental. Quando o rei Luís XVI recebeu a notícia, perguntou a um de seus conselheiros se se tratava de um motim. Obteve como resposta que não era um motim, mas, sim, uma “revolução”

PFEIFFER, François Joseph. Vista da Tomada da Bastilha, 1791. Coleção Particular, Amsterdã.

A coroa reagiu à formação da Assembleia Nacional cercando Paris com aproximadamente 20 mil soldados e demitindo o mi-nistro Jacques Necker, que havia convocado os Estados Gerais com o objetivo de resolver o problema financeiro da França.

Em julho de 1789, Paris presenciou intensos conflitos. O povo, faminto e revoltado com as intenções do governo de dissolver a Assembleia Nacional, promoveu uma série de pilhagens e ataques contra prédios públicos. A principal ação foi a Tomada da Bastilha.

Em 1791, foi aprovada a nova Constituição francesa e por ela mudava-se o regime monárquico de absolutista para constitu-cional, limitando os poderes do rei. De acordo com o historiador Munro Price, Luís XVI, que forçadamente vivia em Paris desde 1789, apoiava os atos da Assembleia Nacional para se proteger. Porém, secretamente articulava um plano com o apoio da Áustria para restaurar o Estado absolutista. Muitos Estados europeus estavam dispostos a ajudar Luís XVI a recuperar seus reinos, pois temiam que a onda revolucionária invadisse seus países e colocasse em risco os seus governos monárquicos.

Como parte do plano de restauração do governo absolutis-ta, Luís XVI tentou fugir da França em 1791, porém foi preso. Devido à prisão do rei, a França passou a ser atacada e invadida por exércitos dos reis da Áustria e da Prússia.

República do terrorO processo revolucionário francês contou com a participação de vários setores

sociais que, organizados em clubes, discutiam sobre política e reformas sociais. Os dois principais grupos eram os jacobinos e os girondinos. Os jacobinos eram mais radicais, contavam com o apoio dos sans-culottes e representavam os interesses das classes mais pobres. Já os girondinos eram um grupo político mais moderado e defendiam os interesses da burguesia, tendo como membros banqueiros e importantes comerciantes.

O pintor Jacques-Louis David, considerado um dos mais importantes artistas da Revolução Francesa, pintou uma tela representando o assassinato

de Marat por uma simpatizante dos girondinos. De acordo com o historiador

Simon Schama, David fazia parte do comitê que assinava as sentenças de

morte no período do Terror

DAVID, Jacques-Louis. A morte de Marat. 1793. 1 óleo sobre tela, 162 cm x 128 cm. Museu Real de Belas-Artes. Bruxelas.

Os pobres que viviam nas cidades tiveram um papel fundamental na Revolução. Conhecidos como sans-culottes, sua insatisfação com as péssimas condições de vida foi o principal estimulante para a sua luta. Muitos deles passaram a compor as fileiras dos jacobinos

BOILLY, Louis-Léopold. Típico sans-cullotes. [ca. 1790]. 1 óleo sobre tela, color. Museu Carnavalet, Paris.

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HISTÓRIA

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Não era somente por meio da imprensa e dos panfletos que a Revolução chegava ao conhecimento de todos. Observe, no material de apoio, que jogos foram elaborados para celebrar a queda da monarquia. Nos baralhos,

os reis, as rainhas e os valetes foram substituídos por personagens que representavam a liberdade e os direitos.

Sob a liderança de Robespierre, a “república jacobina do Terror” (1792-

-1795) usou a guilhotina para silenciar seus opositores, considerados inimigos do

povo. Um desses inimigos foi o rei Luís XVI, que

foi condenado à morte e executado em janeiro de

1793. Após a morte do rei, Inglaterra, Holanda e Espanha

declararam guerra à França

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Orti

A “república do terror” chegou ao fim com a reação conservadora que instalou o Diretório e condenou à morte os líderes jacobinos, entre eles Robespierre. Com o objetivo de manter a ordem, a burguesia entregou o governo do Diretório para um jovem militar que vinha se destacando na defesa da França: Napoleão Bonaparte.

Napoleão deu um golpe de Estado em 1799 conhecido como 18 Brumário, no qual assumiu o controle total do governo francês. A ascensão de Napoleão significou uma nova etapa nos rumos políticos da Revolução. Foi nesse período que se intensificou o processo de expansão territorial da França, na qual anexou diversos territórios, submetendo-os ao seu domínio. Essa expansão resultou na crise de diversas monarquias europeias e no início dos processos de independência na América.

Sátira feita pelo artista Jacques-Louis David ridicularizando o governo inglês, que cobrava muitas taxas da burguesia mercantil

A grande inimiga de Napoleão e da França era a Inglaterra, com quem disputava o controle do mercado europeu. Por meio do Bloqueio Continental, decretado em 1806, Napoleão desejava enfraquecer economicamente a Inglaterra e mo-nopolizar o mercado europeu. Essas medidas favoreciam a burguesia francesa que via a possibilidade de aumentar os volumes dos seus negócios livres da concorrência inglesa.

ORTI, Gianni Dagli. Mort de Louis Capet 16e du Nom, le 21 Janvier 1793. Gravura francesa. 1793.

A imprensa e a circulação de panfletos tornaram intensos os debates entre jacobinos e girondinos. Jean-Paul Marat era o autor do panfleto o amigo do povo, no qual defendia reformas sociais, o fim da monarquia e, posteriormente, dos girondinos.

DAVID, Jacques-Louis. O governo inglês. 1794. Gravura colorida à mão, 24,8 cm x 39,2 cm. Biblioteca Nacional, Paris.

História Moderna e Contemporânea I58

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1. Por qual razão a Reunião dos Estados Gerais não obteve sucesso e deu lugar à Assembleia Nacional?

2. Descreva como eram as condições de vida e qual o papel das classes mais pobres na Revolução.

3. É possível afirmar que a Revolução Francesa foi planejada e executada pela burguesia? Justifique sua resposta.

4. Com base na imagem disponível no material de apoio, produza um texto sobre as relações entre França e Ingla-terra no período posterior à Revolução Francesa.

Reflexos das revoluções burguesas ecoaram na América. As discussões do Parlamento inglês serviram de base ideológica para a contestação das Treze Colônias sobre a cobrança de impostos da Coroa inglesa sobre os colonos.

Já a América espanhola acabou conquistando sua indepen-dência graças ao enfraquecimento da Coroa hispânica em função da ocupação do território espanhol pelas tropas de Napoleão.

O Brasil, também devido às invasões napoleônicas, recebeu a Corte joanina em 1808, dando início às transformações que levaram à independência.

Contudo, os processos de independência nas Américas his-pânica e portuguesa pouco contaram com a participação popular. A população mais humilde foi impedida de exercer direitos polí-ticos, cabendo apenas à elite implantar seus projetos de Estado.

Repercussões nas Américas portuguesa, espanhola e inglesa

Observe, no material de apoio, jogos de tabuleiro e cartas de baralho que foram criados durante o século XVIII, na França, para transmitir os ideais iluministas e os significados revolucionários à população, especialmente às crianças.

Tomando os documentos como base, escolha um tema atual que você considere importante de ser difundido entre a população brasileira e produza um jogo de tabuleiro.

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1. (UEL PR) Às vésperas da Revolução Francesa, com o fracasso da Assembleia dos Estados Ge-rais, membros do Terceiro Estado se reuniram no salão de jogos do palácio real, onde fizeram o Ju-ramento da Sala de Pela, que foi o compromisso:

a) da burguesia e dos sans-coulottes em elabo-rar uma Constituição.

b) do clero e da aristocracia em permanecer no poder.

c) da aristocracia e dos sans-coulottes visando ampliar as liberdades individuais.

d) da burguesia e do clero para atrelar o Estado à Igreja Católica.

e) do poder clerical e do popular para o domí-nio conjunto do Estado.

2. (UNESP)

Artigo 5º. – O comércio de mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria pertencente à Inglaterra, ou proveniente de suas fábricas e de suas colônias é declarada boa presa.

[...]

Ensino Médio | Modular 59

HISTÓRIA

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Artigo 7º. – Nenhuma embarcação vinda diretamen-te da Inglaterra ou das colônias inglesas, ou lá ten-do estado, desde a publicação do presente decreto, será recebida em porto algum.

Artigo 8º. – Qualquer embarcação que, por meio de uma declaração, transgredir a disposição acima, será apresada e o navio e sua carga serão confisca-dos como se fossem propriedade inglesa.(Excerto do Bloqueio Continental, Napoleão Bonaparte. Citado por Kátia M. de Queirós Mattoso. Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963), 1977.)

Esses artigos do Bloqueio Continental, decreta-do pelo Imperador da França em 1806, permi-tem notar a disposição francesa de:

a) estimular a autonomia das colônias inglesas na América, que passariam a depender mais de seu comércio interno.

b) impedir a Inglaterra de negociar com a França uma nova legislação para o comércio na Euro-pa e nas áreas coloniais.

c) provocar a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, por meio da ocupação militar da Península Ibérica.

d) ampliar a ação de corsários ingleses no norte do Oceano Atlântico e ampliar a hegemonia fran-cesa nos mares europeus.

e) debilitar economicamente a Inglaterra, então em processo de industrialização, limitando seu comércio com o restante da Europa.

3. (UEMG) Leia o texto abaixo:

Um povo, diz Grotius, pode entregar-se a um rei. Se-gundo Grotius, um povo é, pois, um povo antes de se entregar a um rei. Essa doação é um ato civil; supõe uma deliberação pública. Antes, portanto, de exami-nar o ato pelo qual o povo elege um rei, seria bom examinar o ato pelo qual o povo é um povo, porque esse ato, sendo necessariamente anterior ao outro, constitui o verdadeiro fundamento da sociedade.ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Tradução de Rolando Roque da Silva. Edição eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores.

Na Revolução Francesa de 1789, uma catego-ria histórica aparece renovada pela experiência revolucionária. A experiência do povo se con-trapõe à ordem tradicional que vigorava na França, desde o Período Medieval.

Assinale a alternativa em cuja afirmação se ex-pressa CORRETAMENTE o papel das classes po-pulares no movimento revolucionário francês do século XVIII:

a) As camadas populares eram indiferenciadas e compunham uma massa de trabalhadores uniforme incapaz de se organizar politica-mente diante de um projeto político iluminis-ta construído pela burguesia ascendente.

b) Os interesses das camadas proprietárias foram se afirmando sobre a inexperiência e as diver-gências dos sans-culottes, que somente con-seguiram controlar a direção do movimento revolucionário no período bonapartista.

c) As facções de extrema direita se converteram em elementos revolucionários somente no período inicial da Revolução, organizando a resistência da nobreza, através de acordos in-ternacionais com outras dinastias europeias.

d) Não havia na França uma única categoria configurada como “um povo”. O mosaico social da França Pré-Revolucionária uniu, por ocasião da convocação dos Estados Gerais, grupos sociais muito diferenciados, que ini-ciaram um projeto nacional de oposição aos abusos fiscais da Monarquia.

4. (UNICAMP – SP)

Na Inglaterra, por volta de 1640, a monarquia dos Stuart era incapaz de continuar gover-nando de maneira tradicional. Entre as forças sociais que não podiam mais ser contidas no velho quadro político, estavam aqueles que queriam obter dinheiro, como também aque-les que queriam adorar a Deus seguindo ape-nas suas próprias consciências, o que os levou a desafiar as instituições de uma sociedade hierarquicamente estratificada. (Adaptado de Christopher Hill, “Uma revolução burguesa?”. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 4, nº. 7, 1984, p. 10.)

a) Conforme o texto, que valores se contra-punham à forma de governo tradicional na Inglaterra do século XVII?

b) Quais foram as consequências da Revolu-ção Inglesa para o quadro político do país?

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Material de apoio

Caricaturas da sociedade francesa

(1789)

Autor não identificado. A faut esperer q’eu se jeu la finira bientôt. 1789. 1 caricatura. Biblioteca Nacional da França.

Autor não identificado. O tempo passa (clero e nobreza sobre as costas do Terceiro Estado). 1789. 1 caricatura. Museu Carnavalet, Paris.

Ensino Médio | Modular 61

HISTÓRIA

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GILLRAY, James. A torta de ameixas em perigo. 1805. 1 gravura, color., 240 mm x 340 mm. British Museum, Londres.

Organizando a História página 59

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