Ç dqr volume 1 - conquista | guiasecure site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... ·...

68
Capítulo 1 Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33 Capítulo 4 Revolução Francesa 50 Volume 1

Upload: others

Post on 28-Oct-2020

9 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Capítulo 1Revoluções Inglesas 2

Capítulo 2 Iluminismo 16

Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Capítulo 4 Revolução Francesa 50

Volume 1

Page 2: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

capí

tulo

Revoluções Inglesas1

2

O Palácio de Westminster, construído no século XI, foi uti-lizado como residência real até 1547 e, desde então, é sede do Parlamento inglês. Na década de 1830, foi reconstruído após um incêndio e, em 1987, foi tombado como patrimônio da hu-manidade. Esse local foi o cenário de discussões e decisões so-bre direitos humanos, guerras e disputas por territórios, entre tantos outros assuntos, que impactaram a história do Reino Unido e do mundo. O que você conhece sobre a história desse país, em tempos remotos e atuais?

Sociedade inglesa

do século XVII

A monarquia inglesa

e o Parlamento

Revolução Puritana

Revolução Gloriosa

o que vocêvai conhecer

©Diliff

ILIFF, David. Palácio de Westminster. 2007. 1 fotografia. Londres, Inglaterra.

Palácio de Westminster, em Londres

2

Page 3: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Analisar o contexto histórico em que ocorreram as Revoluções Inglesas.

Compreender o processo da Revolução Puritana.

Entender a República Puritana de Cromwell.

Conhecer os motivos da restauração da monarquia.

Compreender o processo da Revolução Gloriosa.

Conhecer as origens da construção da ideia de direitos humanos.

objetivos do capítulo

Sociedade inglesa do século XVII

O Renascimento Comercial e Urbano no final da Idade Média, ocorrido na Europa, pro-porcionou o crescimento das cidades e o florescimento da produção artesanal e do comér-cio. Essa situação fortificou a classe da burguesia, que passou a reivindicar maior participa-ção política, algo a que a nobreza se opunha.

As divergências de interesses entre essas duas classes produziram uma série de atritos que resultaram nas chamadas Revoluções Burguesas. Na Inglaterra, no século XVII, esses eventos ficaram conhecidos como Revoluções Inglesas.

Contexto econômico e socialNo início do século XVII, a sociedade inglesa

era composta por três grupos sociais: os porta-dores de títulos de nobreza, identificados como alta nobreza ou aristocracia; os camponeses, que pagavam impostos e trabalhavam nas terras dos nobres; e os pequenos e médios proprietários de terras, que estavam ligados à burguesia comercial e eram chamados de gentry.

Esse terceiro grupo se dedicava à produção e à comercialização da lã. O aumento da produção de lã de carneiro impulsionou o desenvolvimento da indústria têxtil em toda a Europa. A Inglaterra passou a ser grande fornecedora de tecidos manu-faturados para outros reinos e para as colônias da América.

O desenvolvimento do comércio favoreceu o crescimento da frota mercante da Inglaterra, que pas-sou a fazer concorrência com outros reinos e tornou-se uma das maiores potências marítimas do período. Esse impulso comercial resultou no aumento do poder fi-nanceiro da burguesia inglesa e, em decorrência disso, na ampliação de seu poder político, o qual era exercido por meio de sua participação no Parlamento.

©N

atio

nal G

alle

ry, L

ond

res

GAINSBOROUGH, Thomas. Sr. e Sra. Robert Andrews. 1748. 1 óleo sobre tela, color., 70 cm × 119 cm. Galeria Nacional, Londres.

O jovem casal retratado em estilo rococó representa o modo de vida da gentry

Era composto pelo monarca, pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos Comuns. O Parlamento inglês ainda é a mais importante instituição política do Reino Unido.

3

Page 4: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Uma série de inovações tecnológicas motivou a fabricação de produtos manufaturados,

principalmente os tecidos de lã de ovelha. A lã era vendida para os burgueses das cidades, os

quais, nas oficinas, a transformavam em tecido para revenda.

Visto que a criação de ovelhas se tornara lucrativa, algumas medidas foram tomadas

para a proteção dos rebanhos. Assim, por exemplo, para impedir que os rebanhos se mistu-

rassem, causando conflitos entre os proprietários de terras, o Parlamento aprovou leis que

determinavam o cercamento das propriedades rurais (Enclosure Acts ou Lei do Cercamento).

Esses fatos trouxeram mudanças no campo.

Os camponeses, até então, viviam com liberdade nas antigas terras comunais, onde plan-

tavam, criavam seus rebanhos e obtinham lenha. Com a implantação do sistema de cercamen-

to, essas terras passaram a ser propriedades privadas, e os camponeses que ali viviam foram

expulsos. Sem muitas opções, essas pessoas migraram para as cidades em busca de trabalho.

Thomas Morus (1478-1534) trabalhou como chanceler do rei Henrique VIII, mas acabou

sendo executado ao se recusar a reconhecer o casamento do monarca com Ana Bolena.

Morus era um pensador humanista e publicou, em 1516, a obra A Utopia, na qual descre-

ve um Estado imaginário sem propriedade privada ou dinheiro. Com isso, fazia uma crítica

aos cercamentos de terra e à miséria dos camponeses. O trecho a seguir faz parte desse livro.

interpretando documentos

Desse modo, a fim de que um único glutão de apetite insaciável, temível flagelo para sua pátria, possa cercar com um único cercado alguns milhares de hectares de um único dono, granjeiros serão expulsos de suas casas, geralmente despojados de tudo que possuíam, sedu-zidos por engodos ou constrangidos por atos de violência. [...]

De fato, o trabalho dos campos, cuja rotina possuem, deixou de ser praticado no momento em que se parou de semear. Um único pastor, um único vaqueiro são suficientes para uma terra transformada em pasto aos rebanhos, terra que, quando era semeada e cultivada, recla-mava muitos braços.

É o que faz que o preço do trigo aumente em muitas regiões. Mesmo a lã se torna tão cara que as pessoas humildes, que tinham o costume de tecê-la, não têm condições de comprá--la, o que agrava ainda mais o desemprego. [...] De resto, mesmo se o número de carneiros aumenta, os preços não baixam. Pois, se não se pode falar de monopólio quando há mais de um vendedor, a lã constitui pelo menos um oligopólio. Ela está nas mãos de alguns homens muito ricos que não têm necessidade de vendê-la a não ser quando têm vontade. E eles só têm vontade quando os preços lhes são vantajosos.

MORUS, Tomás. A Utopia. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 32-33.

glutão: indivíduo que come em excesso.

flagelo: catástrofe, calamidade.

engodos: ciladas.

monopólio: controle exclusivo de uma atividade, atribuído a determinada pessoa ou empresa.

oligopólio: situação em que poucas pessoas detêm posse de algo, no caso, carneiros e lã.

4

Page 5: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

No século XVII, os piratas eram pessoas que cruzavam os mares em seus navios e saqueavam riquezas de

outros navios e cidades. Eles agiam de forma autônoma, ou seja, buscavam as riquezas para si próprios. Já

os corsários, apesar de atuarem da mesma maneira que os piratas, eram autorizados pelos reinos aos quais

serviam para saquear. Por isso, tinham de dividir as riquezas de seus saques com os reinos que os tinham

contratado. A autorização para os corsários era garantida por um documento chamado carta de corso.

No texto, Thomas Morus critica o cercamento de terras que ocorria na Inglaterra no século XVI. Ex-plique a relação entre o processo de cercamento de terras e o fortalecimento da gentry.

A monarquia inglesa e o Parlamento

Os ingleses tentaram limitar os poderes do rei

primeiro por meio da Magna Carta e mais tarde pela

instituição do Parlamento. Este último foi criado no

governo do rei Eduardo III (1327-1377) e era forma-

do por duas câmaras: a dos Lordes e a dos Comuns.

A aristocracia e o alto clero compunham a Câmara

dos Lordes enquanto a Câmara dos Comuns era

constituída por membros da gentry (proprietários

e produtores rurais) e da burguesia (comerciantes).

Mesmo enriquecidos, os membros da Câmara

dos Comuns não conseguiam participação ativa na

vida política inglesa, uma vez que a monarquia here-

ditária e aristocrática os impedia de exercer cargos

políticos ou dificultava o alcance desse objetivo.

Em 1485, os Tudors assumiram o poder real na

Inglaterra. O período foi considerado de desenvol-

vimento econômico e paz interna, o que contribuiu

para que o Parlamento apoiasse os governantes,

interferindo cada vez menos em suas decisões.

A rainha Elizabeth I, filha de Henrique VIII, for-

taleceu o poder inglês e a religião anglicana. Em

seu governo (1558-1603), a rainha implantou uma política econômica mercantilista que se ca-

racterizou pelo início do processo de colonização na América do Norte e pelas iniciativas pro-

tecionistas. Além disso, ela estimulou a pirataria, permitindo que piratas e corsários atuassem

no Oceano Atlântico, onde saqueavam navios espanhóis cheios de riquezas retiradas de suas

colônias na América. Com Elizabeth I, a Inglaterra obteve o domínio do comércio marítimo.

©R

oy

al

Co

lle

ctio

n, W

ind

sor

LEEMPUT, Remigius van. Henrique VII, Elizabeth of York, Henrique VIII e Jane Seymour. 1667. 1 óleo sobre tela, color. 88,9 cm × 98,7 cm. Coleção Real, Windsor.

Os reis Henrique VII (apoiado no bloco de pedra) e Henrique VIII deram início ao processo de centralização do poder na Inglaterra, consolidado no governo de Elizabeth I

5

Page 6: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

A política econômica de Elizabeth I propiciou riquezas aos cofres ingleses e favoreceu o

desenvolvimento cultural e artístico do reino. No entanto, essa política econômica aumen-

tou a miséria de uma grande parcela da população, principalmente de camponeses, como

resultado da Lei do Cercamento.

Em 1603, com a morte de Elizabeth I, que não deixou descen-

dentes diretos, a dinastia dos Tudors chegou ao fim. Com ela, se

encerrava também o período áureo do absolutismo inglês. Jaime

Stuart, primo de Elizabeth e rei da Escócia, assumiu o trono da In-

glaterra com o título de Jaime I (1603-1625), iniciando, assim, uma

nova dinastia, a dos Stuarts.

Sem ter o mesmo carisma de sua antecessora, Jaime I pro-

curou governar a Inglaterra de forma absolutista. Buscou, assim,

inspirar-se nos monarcas franceses e apelar para a teoria do di-

reito divino dos reis, pretendendo, com essa atitude, impor suas

decisões sem aceitar qualquer questionamento.

Logo de início, o rei se indispôs com o Parlamento inglês em razão das questões relacio-

nadas à legalidade de seus atos como governante. Com o objetivo de aumentar os recursos

da Coroa, o monarca elevou alguns impostos e criou outros, procedimentos que provocaram

a ira e a resistência do Parlamento, o qual, pela legislação, deveria ser consultado pelo rei

antes de que tais decisões fossem impostas à população. Desrespeitando a ordem legal, o

rei fechou o Parlamento, passando sete anos sem convocá-lo.

©C

ole

ção

Wo

bu

rn A

bb

ey

, Be

dfo

rsh

ire

GOWER, George. Retrato da Rainha Elizabeth I. [ca. 1590]. 1 óleo sobre tela, color. 105 cm × 133 cm. Coleção Woburn Abbey, Bedfordshire.

Pintura de Elizabeth I, encomendada para comemorar a vitória sobre a armada espanhola (ao fundo) em 1588. A mão direita da rainha sobre o globo terrestre representa seu poder

Réplica da fragata Golden Hinde – com a qual Francis Drake circum-navegou o globo –, em exposição na cidade de Londres, Inglaterra

©S

hu

tte

rsto

ck/T

on

y B

ag

ge

tt

Ao assumir o trono inglês, o rei

da Escócia uniu os dois reinos

e, em 1707, seus parlamentos

se juntaram. Anos antes, em

1536, o País de Gales já havia

se unido à Inglaterra. A união

dos três reinos recebeu o

nome de Reino da Grã-Bretanha,

e todas as pessoas que

nele viviam passaram a ser

chamados de britânicos.

6

Page 7: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

A Magna Carta foi elaborada por nobres e representantes do clero e assinada pelo rei inglês em 1215. Por esse documento, o rei aceitava uma limitação à centralização do poder dos governantes da Inglaterra. Leia um trecho da Carta e responda às questões.

interpretando documentos

Magna Carta das Liberdades da Inglaterra, João Sem-Terra (1215)

João, pela graça de Deus, Rei da Inglaterra, Senhor da Irlanda, Du-que da Normandia e Aquitânia e Conde de Anjou, aos seus arcebispos, bispos, abades, condes, barões, juízes, governadores florestais, correge-dores, mordomos e a todos seus bailios e fiéis vassalos, saúde.

Saibam que Nós, em reverência a Deus e para a salvação da nossa alma e as dos nossos ancestrais e herdeiros, em louvor de Deus e para maior glória da Santa Igreja, e a melhor ordenação do nosso Reino [...] oferecemos a Deus e confirmamos pela presente Carta, por nós e pelos nossos sucessores, para todo o sempre, o seguinte:

[...]

12) Não se poderá exigir tributo nem auxílio em nosso Reino sem o consentimento geral. [...]

14) Para obter o consentimento geral no estabelecimento de um auxílio [...] faremos con-vocar individualmente e por carta aos arcebispos, bispos, abades, duques e barões principais. [...]

35) Haverá padrões de medida para o vinho, a cerveja e o grão em todo o Reino, e haverá também um padrão para a largura dos panos tingidos, o pano natural e a cota de malha. [...]

39) Nenhum homem livre poderá ser detido, encarcerado ou privado de seus direitos ou de seus bens, nem posto fora da lei, nem desterrado, ou privado de sua posição de qualquer outra forma, nem usaremos da força contra ele, nem enviaremos outros que o façam, senão em virtude de sentença judicial de seus pares e conforme a lei do Reino. [...]

COMPARATO, Fábio K. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 95-97.

1 No início da Magna Carta há uma saudação. A quem ela é dirigida?

2 Os artigos 12 e 14 estabeleciam que a cobrança de qualquer imposto ou contribuição precisaria do consentimento geral. A partir de 1265, tal consentimento passou a ser dado pelo Parlamento. Pes-quise sobre as formas de governo parlamentarista e presidencialista. Depois, responda:

a) Quais são a origem e o significado da palavra “parlamento”?

b) Atualmente, no Brasil, vigora o sistema de governo denominado presidencialismo. Aponte as principais diferenças entre o parlamentarismo e o presidencialismo.

3 O artigo 35 da Magna Carta definia a existência de um padrão de pesos e medidas em todo o reino inglês. Qual era o objetivo dessa determinação?

mordomos: majordomus ou “prefeitos do palácio”. Na Idade Média, cargo administrativo ocupado por indivíduo indicado pelo rei; posteriormente, tornou-se hereditário.

bailios: indivíduos que atuavam como representantes do rei nas províncias para fiscalizar os funcionários, convocar para o serviço militar, arrecadar impostos e reunir a corte judicial no território sob sua jurisdição, chamado bailiado.

7

Page 8: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

organizando a história

Contexto ideológico e religioso

As transformações econômicas e os consequentes problemas sociais (em virtude da mi-gração dos camponeses para as cidades) somaram-se aos conflitos de ordem religiosa. Na Inglaterra, além dos anglicanos (religião oficial do Estado) e dos católicos, havia grande nú-mero de protestantes calvinistas (puritanos), organizados em diferentes grupos.

Os puritanos eram favoráveis à limitação do poder do rei, havendo, entre eles, alguns mais radicais que lutavam pela implantação de um regime republicano. Já os anglicanos e católicos eram defensores da monarquia absolutista.

O rei Jaime I era anglicano e defendia a religião oficial do Estado. Para forçar as conver-sões da população inglesa, passou a perseguir católicos e puritanos. Muitos burgueses, boa parte da nova aristocracia rural (a gentry) e um significativo número de pessoas das camadas populares da população eram adeptos do calvinismo (puritanos).

Foi durante esse período, e motivados pelas perseguições religiosas, que muitos pu-ritanos emigraram para a América do Norte, onde fundaram colônias, as quais, mais tarde, deram origem aos Estados Unidos da América.

Ao morrer, em 1625, Jaime I deixou a Inglaterra em meio a grandes dificuldades. As dis-putas políticas e religiosas se radicalizavam, e o seu sucessor, Carlos I (1625-1649), pouco fez para reverter essa situação; ao contrário, envolveu-se em sérios embates com o Parlamento.

Estavam preparadas as condições para a explosão de um conflito que recebeu uma de-nominação religiosa – Revolução Puritana –, pois um dos principais grupos envolvidos era puritano.

1 Entre a metade do século XVI e início do século XVII, a Inglaterra teve como soberana a rainha Elizabeth I. Quais das ações listadas abaixo foram tomadas por essa rainha?( ) Implantou a política mercantilista.( ) Estimulou a atuação de corsários.( ) Perseguiu católicos e protestantes.( ) Aumentou as riquezas dos cofres ingleses.( ) Fechou o Parlamento.

Quando o rei Henrique VIII criou o anglicanismo, essa religião pouco se diferenciava do catolicismo. No de correr dos séculos XVII e XVIII, o anglicanismo se manteve entre o cato-licismo e o puritanismo, fator que levou ao fortalecimento do grupo puritano. A denomi-nação "puritano" se deve à proposta desse grupo, que se baseava na simplicidade, ou seja, na concepção de uma religião mais pura, livre das influências mundanas, como no caso dos templos suntuosos ou das residências luxuosas dos sacerdotes.

8

Page 9: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

2 Por que o Parlamento inglês esteve em constante conflito com o rei Jaime I?

3 Além dos permanentes desentendimentos políticos com o Parlamento, o rei Jaime I despertou a ira de burgueses calvinistas, de católicos e de outros grupos da população em virtude de questões religiosas. Por que isso ocorreu?

Revolução Puritana

Como rei, Carlos I governou de forma absolutista. Ele tomou decisões políticas e eco-nômicas sem consultar o Parlamento, criou impostos, concedeu empréstimos, bem como perseguiu e prendeu quem não acatou suas determinações. Diante dessa situação de ex-ploração e supressão das liberdades civis, em 1628 o Parlamento impôs ao rei a Petição de Direitos, pela qual ele não poderia fixar novos impostos, determinar prisões arbitrárias ou convocar o exército sem autorização parlamentar. Em resposta, Carlos I fechou o Parlamen-to, em 1629. Era apenas o início dos conflitos.

Carlos I continuou a governar de modo arbitrário, tomou decisões econômicas impopu-lares e fez uso do poder para impor o anglicanismo à população, medidas que provocaram descontentamentos em todas as partes do reino.

A intervenção política de Carlos I na Igreja Presbiteriana da Escócia, onde pretendia for-çar a prática do anglicanismo, provocou a rebelião armada dos escoceses contra a monarquia inglesa.

Em 1640, diante da necessidade de arrecadar fundos para enfrentar a resistência dos escoceses, o rei viu-se obrigado a convocar o Parlamento. Valendo-se dessa situação, os par-lamentares de oposição procuraram forçar o rei a cumprir a Petição de Direitos. Ao se negar a assumir tal compromisso, que, segundo ele, feria a autoridade divina da qual alegava ser o legítimo representante, Carlos I tentou invadir o Parlamento, sendo impedido pelos parla-mentares e pela população.

O jogo de forças entre o rei e o Parlamento acabou por levar a população a uma guerra civil. Nesse contexto, dois grupos políticos armados se definiram: de um lado, encontravam--se os cavaleiros, os quais apoiavam o rei, e, de outro, os cabeças redondas (em razão do corte de cabelo que usavam), aliados aos parlamentares e à oposição.

Inicialmente, os cabeças redondas sofreram derrotas. Contudo, liderados por Oliver Cromwell, membro da pequena nobreza puritana, conquistaram a vitória. Cromwell organi-zou um exército diferente, o New Model Army (Exército Novo). Nesse exército, patrocinado pela burguesia, era estimulada a participação democrática dos soldados, o que contribuía para que entendessem a razão de sua luta. Pela sua bravura e resistência, seus soldados fica-ram conhecidos como ironsides (costelas de ferro).

Derrotado, o rei fugiu para a Escócia. Mais tarde, os escoceses o entregaram ao exército de Cromwell. Julgado e condenado, Carlos I foi decapitado em 1649. Consumava-se, assim, o êxito dos calvinistas mais radicais – os puritanos, sendo a maioria deles comerciantes e pe-quenos proprietários, enfim, burgueses, cada vez mais influentes naquela sociedade.

9

Page 10: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

República de Cromwell

Com a morte de Carlos I, Cromwell, que conta-

va com o apoio da maioria puritana no Parlamento

e do exército, extinguiu a monarquia e a Câmara

dos Lordes, estabelecendo, em 1649, a República,

que levou o nome de Commonwealth. Porém, isso

não significa que na Inglaterra tenha sido instau-

rada uma república democrática.

No início de seu governo, Cromwell enfren-

tou rebeliões de grupos que reivindicavam mu-

danças mais radicais:

os levellers (niveladores), que desejavam

participação política mais ampla e proteção

das pequenas propriedades;

os diggers (escavadores), que eram mais

radicais, pois defendiam uma sociedade

com base na propriedade comum da terra.

©T

he

Gra

ng

er

Co

lle

ctio

n, N

ew

Yo

rk

WEESOP, John. Execução de Carlos I, em 30 de janeiro de 1649. 1 óleo sobre tela, color. Coleção Granger, Nova Iorque.

A obra mostra a participação do povo na execução de Carlos I. A execução de um rei tinha um forte sentido simbólico em uma época em que os reis ainda desfrutavam de poderes absolutos. Os medalhões, em sentido horário a partir do superior esquerdo, mostram: Carlos I; o executor de Carlos I; o povo mergulhando suas roupas no sangue do rei morto; e o rei sendo conduzido para a execução. Observe que o rei aparece tanto como o carrasco, segurando o machado e a cabeça do executado, quanto como o condenado à morte. A intenção do artista foi demonstrar que o rei morreu em razão dos desmandos do próprio governo.

©B

riti

sh L

ibra

ry

OLIVER Cromwell entre dois pilares. 1658. 1 gravura, p&b. Biblioteca Britânica, Londres.

Cromwell esmagando o pecado (mulher seminua) e o

erro (dragão). Em sua mão esquerda, a Magna Carta; e na direita, uma espada

10

Page 11: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

A Inglaterra havia conquistado grande parte da Irlanda no final do século XII, mantendo controle firme sobre o território, apesar de toda a resistência do povo irlandês. Em 1801, aconteceu a união oficial da Irlanda à Inglaterra, à Escócia e ao País de Gales. A nova união foi chamada de Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda, ou apenas Reino Unido.

A burguesia e a gentry não concordavam com os interesses desses grupos, que acabaram sufocados por Cromwell. Além de derrotar as rebeliões radicais, Cromwell eliminou as estru-turas feudais, legalizou a propriedade privada e o campo passou a produzir para o mercado.

Para assegurar a supremacia marítima e econômica inglesa, em 1651 foi decretado o conjunto de leis chamado de Atos de Navegação. Por essas leis, ficou determinado que somente os navios ingleses podiam entrar ou sair dos portos britânicos, bem como fazer o comércio marítimo das mercadorias da Inglaterra.

Como o comércio naval era fundamental para a economia da Holanda, esse país decre-tou guerra aos ingleses. Nesse conflito, a Holanda foi derrotada, liberando o caminho para que a Inglaterra se tornasse a maior potência naval e comercial da Europa até meados do século XIX (1850), ano em que os Atos de Navegação foram revogados.

Quando foi aprovada uma nova Constituição, Cromwell recebeu o título de Lorde Protetor. Foi eleito, então, um novo Parlamento, que acabou sendo dissolvido por ele em 1653. Iniciou-se, assim, um governo autoritário, com o apoio do exército e da burguesia mercantil a Cromwell.

Com relação às questões religiosas, o governo perseguiu católi-cos e anglicanos, confiscando, inclusive, suas terras. Em 1649, quan-do as guerras civis inglesas chegaram ao fim, Oliver Cromwell foi à Irlanda para pacificar as revoltas religiosas. A maioria dos irlande-ses era católica, e a maior parte do Parlamento inglês era calvinista, assim como Cromwell. Ao chegar à Irlanda, o general inglês orde-nou um grande massacre. As tensões entre irlandeses e ingleses continuaram intensas por anos, deixando vestígios nos dias atuais.

Com a morte de Oliver Cromwell, em 1658, seu filho Ricardo Cromwell assumiu o governo, mas ficou pouco no comando da Inglaterra, pois o exército e o Parlamento restauraram a monarquia, entregando o trono a Carlos II, filho de Carlos I.

©J.

R. G

reen

OLIVER Cromwell dissolvendo o Parlamento. 1 gravura, p&b. Século XVII. Museu Britânico, Londres.

11

Page 12: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Com a Revolução Puritana, houve a instalação de uma república na Inglaterra do século XVII. Sobre esse fato, responda às questões a seguir.

a) Como ocorreu o fim da monarquia?

b) Quais eram as características da república inglesa?

c) Quais eram as intenções de Oliver Cromwell ao fechar o Parlamento e concentrar todos os poderes em suas mãos?

organizando a história

Revolução Gloriosa

Carlos II foi coroado rei da Inglaterra em 1660 e governou por 25 anos. No entanto, seus poderes estavam limitados pelos conselhos do Parlamento, cujos representantes não dese-javam o retorno de uma monarquia nos moldes absolutistas.

Jaime II, seu irmão e sucessor, era católico e causou desconten-tamento entre os anglicanos. Em novembro de 1688, Guilherme de Orange, genro de Jaime II, liderou um exército para tomar o trono. Não foi preciso derramar sequer uma gota de sangue, porque Jaime II fu-giu da Inglaterra para não ter o mes-mo fim de seu pai, Carlos I. Por essa razão, os historiadores chamam esse processo de Revolução Gloriosa.

©Isaac Fuller

FULLER, Isaac. A restauração de Carlos II em Whitehall. [ca. 1660]. 1 óleo sobre tela, color. Coleção privada.

Representação da restauração da monarquia com a entrada de Carlos II em Londres

12

Page 13: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

pesquisa

Quando a revolução terminou, o monarca Guilherme de Orange, rei dos Países Baixos e marido de Maria (filha de Jaime II), assumiu o trono inglês. Em 1689, ele jurou obedecer à Declaração de Direitos (Bill of Rights), um conjunto de leis elaborado pelo Parlamento que assegurou o próprio poder diante de restrições impostas ao rei.

Entre essas leis constavam as seguintes determinações ao monarca:

©R

om

an d

e H

oo

che

HOOCHE, Roman de. Chegada de Guilherme de Orange à Inglaterra. Século XVII. 1 gravura, p&b.

Representação da chegada de Guilherme de Orange à Inglaterra

não desobedecer às leis parlamentares ou cancelá-las;

reunir o Parlamento anualmente;

nomear inspetores para controlar suas contas;

solicitar autorização do Parlamento para dispor do exército;

levar à apreciação e à aprovação da assembleia assuntos como cobrança de novos impos-tos, vetos ou censura.

A Declaração de Direitos não se limitava a restringir a autoridade dos reis; também garantia alguns direitos e liberdades aos cidadãos, tais como liberdade individual e de propriedade, manutenção do habeas corpus e do júri popular, liberdade de imprensa, entre outros.

habeas corpus: medida jurídica que

visa proteger as pessoas que têm sua liberdade ameaçada diante de atos de abuso de autoridade.

Reúna-se em equipe e faça uma pesquisa a respeito dos tópicos listados a seguir. Registre no caderno os resultados obtidos e siga as orientações do professor para a realização de um debate.

Quais são os chefes de Estado e de governo da Inglaterra e os poderes políticos de cada um?

Qual é a forma de organização política adotada na Inglaterra atualmente?

Quais outros países, na atualidade, adotam a monarquia como forma de organização política?

13

Page 14: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

A Revolução Gloriosa pôs fim à teoria do direito divino dos reis. A Declaração de Direitos es-tabeleceu definitivamente a autoridade do Parlamento, o qual conseguiu instaurar a monarquia constitucional, ou seja, uma monarquia submetida a uma Constituição e não aos interesses do rei. Esses resultados proporcionaram o estabelecimento de um período de prosperidade econô-mica com equilíbrio político, pacificação dos conflitos religiosos e desenvolvimento econômico, o que daria à Inglaterra as condições necessárias para realizar, mais tarde, a Revolução Industrial.

1 Considerando as conquistas políticas da burguesia inglesa e a supremacia do Parlamento inglês diante de seus monarcas, resolva as atividades a seguir.

a) O conflito que colocou o monarca Guilherme de Orange, chefe do governo da Holanda, no trono da Inglaterra foi denominado Revolução Gloriosa. Explique que fatores provocaram esse episódio.

b) Qual foi a importância do documento Bill of Rights (Declaração de Direitos), imposto ao rei Guilherme de Orange?

c) Com a ascensão de Guilherme de Orange, uma nova fase na política britânica foi inaugurada. Explique como se caracterizou a monarquia inglesa de caráter constitucional e parlamentarista.

2 A partir do século XVII, foi adotado o sistema de cercamentos na Inglaterra. O que foi esse sistema? Quais consequências sociais essa prática trouxe?

o que já conquistei

14

Page 15: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

3 A partir dos séculos XVI e XVII, a Inglaterra vivenciou importante desenvolvimento econômico. Re-lacione esse panorama da economia inglesa com o aumento do poder político da burguesia local.

4 Qual relação existiu entre os corsários e o enriquecimento da Inglaterra no século XVII?

5 Com base no texto do capítulo, justifique esta afirmação: “Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, os problemas políticos e ideológicos estavam profundamente ligados às questões de ordem religiosa”.

6 Sobre a República de Cromwell, explique o que foram os Atos de Navegação de 1651.

7 Sobre o processo revolucionário na Inglaterra do século XVII, assinale com V as sentenças verdadei-ras e com F as falsas. Depois, reescreva as falsas em seu caderno, a fim de torná-las corretas.

( ) Desde 1215, quando a Magna Carta foi assinada pelo rei João Sem-Terra, havia interesses em limitar o poder do monarca.

( ) A Magna Carta foi elaborada por integrantes da nobreza e do clero.

( ) O Parlamento elaborou um documento a fim de realizar uma reforma legal, a Petição de Direi-tos (1628), que o rei Carlos I aceitou e respeitou.

( ) Carlos I assumiu o trono inglês com claros objetivos de governar com o Parlamento.

( ) Após a execução de Carlos I, seu filho, Carlos II tomou o poder na Inglaterra por meio da Revo-lução Gloriosa.

( ) Após a Revolução Gloriosa os territórios britânicos e holandeses passaram a fazer parte do mesmo Império.

15

Page 16: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

capí

tulo

Iluminismo2

Nos séculos XVII e XVIII, houve muitas transformações

na Europa. Tendo como base o desenvolvimento de um pen-

samento racional e a crítica ao absolutismo, propagaram-se

ideias associadas à defesa de direitos e deveres dos indiví-

duos e da divisão de poderes políticos, as quais adquiriram

grande importância no contexto da época. Essas ideias, cha-

madas de iluministas, espalharam-se mundo afora, chegando

também ao Brasil. O que você sabe sobre tais ideias? Obser-

vando a imagem, você consegue deduzir a que grupo social

as pessoas retratadas pertenciam? Qual a relação delas com

o Iluminismo?

Iluminismo

Precursores do Iluminismo

Filósofos iluministas

A Enciclopédia

Liberalismo econômico

Despotismo esclarecido

o que vocêvai conhecer

©Coleção particular

LEMONNIER, Anicet C. G. Le Salon de Madame Geoffrin em 1755. 1812. 1 óleo sobre tela, color., 36 cm × 52 cm. Coleção particular.

Apesar de ser pequeno o número de indivíduos letrados na época do Iluminismo, muitas ideias desse movimento ficaram conhecidas pela existência de grupos que liam coletivamente e em voz alta os textos ilustrados. Na imagem, a obra Le Salon de Madame Geoffrin em 1755 mostra uma reunião para a leitura de um texto de Voltaire, famoso filósofo iluminista.

16

Page 17: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Compreender o movimento filosófico conhecido como Iluminismo. Conhecer as ideias de pensadores que influenciaram o movimento iluminista. Entender os conceitos de liberalismo e Iluminismo, discutindo a relação entre eles e a

organização do mundo contemporâneo. Compreender o contexto do surgimento e a importância da Enciclopédia. Conhecer as políticas de alguns soberanos conhecidos como déspotas esclarecidos.

objetivos do capítulo

pesquisa

No século XVIII, Paris foi palco da realização dos chamados salões literários, nos quais letrados burgueses, artistas, políticos e escritores, entre eles os iluministas, reuniam-se para ler e discutir textos e ideias. Os espaços ocupados para a realização desses eventos localizavam-se em mansões e, entre os mais famosos, destaca-se o de Madame Geoffrin (1699-1777), que era casada com um bem-sucedido burguês. Ela era uma mulher culta, interessada por leitura e pela vida intelectual parisiense. Frequentava a mansão de Madame Tencin, mãe de Jean D’Alembert, que anos mais tarde se tornaria um pensador iluminista e um dos criadores da Enciclopédia.

Siga o roteiro abaixo para realizar uma pesquisa sobre os salões literários do século XVIII. Depois, anote o que encontrou em seu caderno.

Quais eram as atividades praticadas nos salões culturais em Paris no século XVIII.

A importância de tais salões para a difusão da filosofia iluminista.

O papel das mulheres na promoção desses salões.

Os salões literários na atualidade.

Iluminismo

Na Europa do século XVIII, a ideia de que era preciso “ilumi-nar” a ação e o pensamento humanos pelo uso da razão originou o movimento que recebeu o nome de Iluminismo. Esse movimen-to influenciou revoluções burguesas e movimentos de libertação de colônias europeias. Os pensadores iluministas defendiam que os indivíduos deveriam conhecer, compreender e julgar o mundo fazendo uso de sua capacidade de pensar, questionar e argumentar racionalmente. Dessa maneira, os integrantes do movimento pro-curavam combater a ignorância e excluir as superstições, propondo ideias que priorizavam as virtudes da razão e a igualdade. Para os iluministas, somente assim o progresso seria alcançado.

O Iluminismo defendia a autonomia intelectual dos indivíduos. O bem-estar da humanidade, de acordo com os iluministas, só seria possível se conseguissem dominar a natureza e, para isso, seria pre-ciso compreendê-la. A ciência e a razão deveriam ser os instrumen-tos que permitiriam conhecer e dominar a natureza.

©M

useu

Geo

rg S

chäf

er, A

lem

anha

SPITZWEG, Carl. O leitor ávido. 1850. 1 óleo sobre tela, color., 49,5 cm × 26,8 cm. Museu Georg Schäfer, Schweinfurt.

O interesse pelo conhecimento teve grande difusão com o Iluminismo.

17

Page 18: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Precursores do Iluminismo

Antes da Revolução Científica, que teve início no século XVI, o conhecimento tinha como

base a interpretação dos textos considerados sagrados. Portanto, todo o conhecimento

que contrariasse as verdades sagradas era negado. Não havia possibilidade de discussão ou

questionamento.

Essa situação começou a mudar na Idade Moderna. Uma obra em especial deu início ao

processo que passou a valorizar a ciência. Era de Nicolau Copérnico (1473-1543) e tratava

da revolução das esferas celestes. Por meio de cálculos matemáticos, Copérnico afirmava

que a Terra era apenas mais um astro girando ao redor do Sol. Além disso, de acordo com

sua teoria, o Sol seria o centro do Universo (sistema heliocêntrico). Foi apenas com Galileu

Galilei (1564-1642) que a teoria de Copérnico pôde ser comprovada, pois, por meio do teles-

cópio aperfeiçoado por esse cientista, foi possível fazer a observação

dos astros.

Outra contribuição fundamental veio de Johannes Kepler (1571-

1630), astrônomo e matemático alemão, que defendia a ideia de que o

Universo seria regido por leis matemáticas. Segundo Kepler, a natureza

funcionaria de maneira geométrica, como as engrenagens de um meca-

nismo de relógio. Assim, ao observar a natureza e realizar cálculos para

compreender o movimento de suas engrenagens, a ciência conseguiria

entender seu funcionamento.

Influenciado pelo cientificismo moderno, o filósofo, físico e mate-

mático francês René Descartes (1596-1650) acreditava que o conhe-

cimento racional havia sido deturpado, considerando que tudo o que

existia como conhecimento adquirido e acumulado era falso. A única

verdade objetiva e racional, segundo Descartes, era o pensamento hu-

mano. Como tudo era incerto e duvidoso e apenas o pensamento exis-

tia, ele chegou à conclusão acerca da própria existência, raciocínio sinte-

tizado na expressão filosófica: “Penso, logo existo”.

Você estudou que as ideias dos precursores do Iluminismo se tornaram fundamentais

para a compreensão do mundo, das sociedades e dos indivíduos. E na atualidade, em pleno

século XXI, você acredita que a ciência e a razão continuam tendo papel importante em

nossa forma de pensar e de conceber a vida e tudo o que está ao nosso redor? Por quê?

Reúna-se com seus colegas e discuta essa questão.

troca de ideias

©M

use

u d

o L

ou

vre

HALS, Frans. Retrato de René Descartes. [1649-1700]. 1 óleo sobre tela, color. 77,5 cm × 68,5 cm. Museu do Louvre, Paris.

A base do pensamento iluminista é o racionalismo, segundo o qual a única forma real-

mente segura de se chegar à verdade seria pelo uso da razão. O conhecimento adquirido por

meio do uso de nossos sentidos – visão, audição, etc. – não poderia ser considerado seguro,

pois eles poderiam nos confundir e levar a conclusões erradas sobre determinada situação.

18

Page 19: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Apesar de ser possível identificar características gerais no movimento Iluminista, exis-tiam divergências entre os pensadores, que contribuíram de forma particular para que a razão e a ciência se sobressaíssem aos pensamentos religiosos e às políticas absolutistas.

De início, observa-se que nem todos os pensadores iluministas eram de origem burgue-sa, embora esse segmento social tenha se apropriado desses princípios com o objetivo de combater o regime absolutista.

Havia também uma certa distinção entre os grupos de pensadores: os filósofos e os economistas. Os filósofos se preocupavam, principalmente, com as questões políticas, so-ciais e religiosas. Já os economistas se ocupavam em rever as questões relacionadas ao fun-cionamento do mercado e ao trabalho no sistema absolutista, propondo novas formas de reorganizá-las.

Filósofos iluministas

Durante a Idade Moderna na Europa, sobretudo nos séculos XVI e XVII, surgiram pensa-dores, artistas, escritores e cientistas que começaram a valorizar a observação e a experiên-cia para encontrar respostas acerca da realidade em que estavam inseridos.

Os cientistas (físicos, matemáticos, astrônomos, químicos, etc.) e os filósofos desse pe-ríodo produziram conhecimentos e teorias com o objetivo de tentar explicar os fenômenos do Universo de forma racional. Suas ideias inspiraram os princípios iluministas que seriam delineados mais tarde, no século XVIII. Em virtude disso, esses cientistas são aqui identifica-dos como os precursores do Iluminismo.

As contribuições do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) para o Iluminismo estão as-sociadas à defesa da ideia de que o conhecimento verdadeiro só seria alcançado com a utiliza-ção de um método que evitasse erros na investigação: sem preconceitos e ideias preestabele-cidas. A análise das informações obtidas empiricamente, ou seja, com base em experimentos, permitiria a formulação de explicações gerais e de hipóteses sobre o objeto estudado. Assim, somente por meio de experiências, as hipóteses poderiam ser comprovadas ou refutadas, mé-todo ainda utilizado em algumas investigações científicas.

Locke (1632-1704)O filósofo inglês John Locke deixou importantes contribuições rela-

tivas ao conhecimento humano e a questões sociopolíticas, combaten-do o absolutismo.

Locke defendia que o Estado deveria ser mantido por meio de um contrato estabelecido entre os membros da sociedade, como uma for-ma de garantir os direitos naturais à vida, à propriedade e à liberdade. Segundo ele, esses direitos já existiam antes, quando os indivíduos vi-viam integrados à natureza e não em sociedade, por isso deveriam ser garantidos a todos.

Para Locke, todo conhecimento humano passa pela experiência. De acordo com sua teoria, o ser humano não nasce com uma visão de mun-do já formada, ele a adquire pela experiência.

©C

olle

ctio

n o

f Si

r R

ob

ert

Wal

po

le, H

oug

hto

n H

all

KNELLER, Godfrey. Retrato de John Locke. 1697. 1 óleo sobre tela, color., 76 cm × 64 cm. Coleção Robert Walpole, Houghton Hall.

19

Page 20: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Faça uma pesquisa sobre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no âmbito federal no Brasil atual. Depois, em seu caderno, responda às questões:

1. Quem exerce esses poderes?

2. Qual é a função de cada um desses poderes?

3. De que forma as pessoas são escolhidas para representá-los?

pesquisa

Para salvaguardar a liberdade contra o despotismo, Montesquieu defendia o princípio da sepa ração dos três pode-res. Em todo governo, dizia Montesquieu, existem três tipos de poder: legisla tivo, executivo e judiciário. Quando uma úni-ca pessoa, ou órgão exerce todos os três poderes – se o mesmo órgão que instaura um processo é o que julga, por exemplo –, a liberdade não pode ser preservada. Sempre que a soberania concentra-se nas mãos de uma só pessoa ou organismo, há abuso de poder e a liberdade política é negada.

Montesquieu (1689-1755)

O filósofo francês Charles-Louis de Secondat, mais conheci-

do como Montesquieu, foi quem defendeu a ideia da divisão do

poder político em três poderes independentes, apresentada na

sua obra O espírito das leis. O Executivo seria responsável pela

administração do Estado; o Legislativo elaboraria e aprovaria as

leis; e o Judiciário se ocuparia em fiscalizar o cumprimento des-

sas leis.

©M

use

u N

aci

on

al

do

Pa

láci

o d

e V

ers

alh

es

e d

o T

ria

no

n, V

ers

alh

es

DASSIER, Jacques-Antoine. Charles de Secondat, Barão de Montesquieu. 1753. 1 óleo sobre tela, color., 63 cm × 52 cm. Museu Nacional do Palácio de Versalhes e do Trianon, Versalhes.

PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. Tradução de Waltensir Dutra e Silvana Vieira. São Paulo: M. Fontes, 2015. p. 300.

A autonomia dos três poderes faria com que todos estivessem submetidos às leis vigen-

tes do Estado, inclusive o rei ou qualquer outro dirigente. Conforme o autor, “somente o po-

der limita o poder”, daí a necessidade de dividi-lo a fim de garantir a liberdade de todos. Essa

estrutura política acabou sendo adotada, com algumas pequenas diferenças, em um grande

número de Estados na época e, na atualidade, ainda prevalece.

Locke foi considerado o “pai do Iluminismo”. Suas ideias relativas ao Estado e à socieda-

de influenciaram a elaboração do pensamento liberal burguês. Elas foram a base de vários

movimentos revolucionários, como os processos de independência das colônias inglesas da

América do Norte e a Revolução Francesa.

20

Page 21: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

©P

ictu

reno

w/U

IG/U

IG/F

oto

aren

a

LA TOUR, Maurice Q. Retrato de Jean-Jacques Rousseau. 1753. 1 pastel em papel, color., 45 cm × 35,5 cm. Museu Antoine-Lécuyes, Saint-Quentin.

Voltaire (1694-1778)

Voltaire foi um filósofo francês, considerado o mais crí-tico do movimento iluminista. Ele combatia incessante-mente os privilégios da nobreza e do clero e, mesmo não sendo ateu, não perdia a oportunidade de se ex-pressar contra os dogmas religiosos.

Como consequência de suas posições radicais em relação à Igreja e à nobreza, teve de se exilar na Inglaterra, onde entrou em contato com as obras de Locke e Newton, pensadores influentes naque-le reino. Lá, escreveu Cartas inglesas, obra em que comparava a realidade da França – por ele conside-rada atrasada e dominada pela nobreza e pela Igreja – à da Inglaterra – terra de grande liberdade.

Como opositor do absolutismo, defendia a liberdade de expressão e a igualdade de direitos. Contudo, admitia que Estados atrasados deveriam ser submetidos a um re-gime político comandado por monarcas centralizadores, auxiliados por pensadores iluministas. Esse pensamento influenciaria, posteriormente, o despotismo esclarecido, que você estudará adiante.

Rousseau (1712-1778)

Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais importantes pensadores franceses do século XVIII, nos campos da política, da moral e da educação. Suas ideias e concepções exerceram grande influência nos movimentos que levaram à Revolução Francesa, em 1789.

Na obra Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, Rousseau explicou sua teoria sobre a origem da natureza humana. Em sua perspectiva, os indivíduos nascem bons e somente a vida em socieda-de, marcada por uma série de disputas (por terras, por poder, etc.), corrompe essa bondade.

Em O contrato social, o pensador desenvolveu sua no-ção de liberdade e de igualdade para a formação de uma sociedade que tivesse como objetivo o bem comum. Par-tindo dessas reflexões, Rousseau buscou formular uma ideia de sociedade em que os indivíduos seriam livres e iguais, na qual prevaleceria a justiça, e o povo teria em suas mãos a soberania das decisões políticas.

©M

useu

Car

nava

let,

Par

is, F

ranç

aLARGILLIÈRE, Nicolas de. Voltaire com a idade de vinte e quatro anos. 1724-1725. 1 óleo sobre tela, color., 80 cm × 65 cm. Museu Carnavalet, Paris.

21

Page 22: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

As imagens das obras de arte a seguir são de Joseph Wright. Observe os detalhes e pro-cure identificar o que está retratado e quem está representado nas telas. Depois responda às questões propostas.

interpretando documentos

1 Escreva o que está sendo representado em cada imagem. Depois, discuta sobre o assunto com a turma e verifique se há informações que você não notou.

2 Explique a relação que existe entre a obra Um filósofo fazendo uma demonstração no Orrery e as contribuições de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei.

3 Estabeleça uma relação entre a obra de arte Um experimento com um pássaro em uma bomba de ar e o pensamento de Francis Bacon e John Locke.

©N

atio

nal G

alle

ry, L

ond

res

WRIGHT, Joseph. Um experimento com um pássaro em uma bomba de ar. 1768. 1 óleo sobre tela, color., 183 cm × 244 cm. Galeria Nacional, Londres.

©National Gallery, Londres

WRIGHT, Joseph. Um filósofo fazendo uma demonstração no Orrery. 1766. 1 óleo sobre tela, color. Galeria Nacional. Londres.

22

Page 23: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

A Enciclopédia

No século XVIII, foi muito grande o volume de teorias que busca-vam explicar o mundo com base na perspectiva do Iluminismo. Com o objetivo de reunir e de organizar esses novos conhecimentos, alguns intelectuais franceses, como Denis Diderot e Jean Le Rond d’Alembert, criaram uma obra chamada de Enciclopédia.

A Enciclopédia era um conjunto de 28 livros com mais de 70 mil informações organizadas em artigos e em verbetes, dispostos em or-dem alfabética. Nela poderiam ser encontrados conhecimentos sobre filosofia, ciências, matemática, história, religião, artes, entre outros,

com textos escritos por renomados pensadores e escritores europeus da época, como os próprios Diderot e D’Alembert, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Quesnay, Grimm e vários outros.

Essa obra foi responsável pela propagação das ideias iluministas, disponibilizando os conhecimen-tos acumulados até então a muitas pessoas. A Enci-clopédia foi publicada com grande dificuldade, pois o governo francês a condenou e proibiu sua divulgação. A Igreja Católica também a condenou, porque a obra a atacava severamente. Apesar disso, a Enciclopédia continuou a ser publicada, circulando clandestinamente.

©D

enis

Did

ero

t - L

oui

s-M

iche

l van

Lo

o, M

useu

do

Lo

uvre

LOO, Louis Michel van. Retrato de Denis Diderot. 1767. 1 óleo sobre tela, color., 81 cm × 75 cm. Museu do Louvre, Paris.

©B

iblio

teca

Nac

iona

l da

Fran

ça, P

aris

COCHIN, Charles-Nicolas. Frontispício da Enciclopedia. 1772. 1 gravura, p&b. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Leia o texto atentamente e, em seguida, responda às questões propostas.

interpretando documentos

A Enciclopédia consiste, fundamentalmente, em uma súmula das grandes desco-bertas científicas e técnicas da época, bem como dos grandes desenvolvimentos filo-sóficos e artísticos que marcaram o progresso da humanidade no período moderno.

A obra reflete a pretensão pedagógica e reformista de seus idealizadores, que pretendiam com isso tornar o saber acessível, libertando o homem da ignorância e das superstições e, dessa forma, transformando a sociedade; uma sociedade de homens cultos, dominando os princípios básicos do conhecimento técnico e científico, seria forçosamente mais livre e igualitária.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997. p. 204.

súmula: resumo; sinopse.

ç

A página de abertura (frontispício) da Enciclopédia, de 1772, apresentava uma representação simbólica dos ideais iluministas. Observe que, no centro, há uma mulher iluminada. Na visão iluminista, trata-se da Verdade. A luz emana no momento em que outra figura feminina – a Razão – retira seu manto e possibilita que a luz emane com força e alcance todas as áreas do conhecimento humano, como a Filosofia, as Ciências, as Artes e os Ofícios.

23

Page 24: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

O ESPANHOL FRANCISCO JOSÉ

DE GOYA Y LUCIENTES (1746-1828)

FOI UM PINTOR QUE RETRATOU, EM SUAS

PRIMEIRAS GRAVURAS, AS ESTRANHEZAS

E AS BIZARRICES DA ALMA HUMANA. EM SUA

OBRA O SONO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS,

ELE DESTACOU, EM CONFORMIDADE COM AS

IDEIAS DE SEU TEMPO, A IMPORTÂNCIA DA

JUNÇÃO ENTRE A RAZÃO E A FANTASIA PARA A

CRIAÇÃO ARTÍSTICA.

De acordo com o texto, os enciclopedistas tinham o objetivo de difundir o conhecimento para livrar os indivíduos da ignorância e torná-los mais cultos.

Relacione as informações apresentadas no texto à realidade observada na atualidade e responda às questões a seguir.

a) Quais semelhanças e diferenças você pode apontar entre a Enciclopédia e as diversas enciclo-pédias virtuais que existem na internet?

b) Em sua opinião, quais cuidados devem ser tomados ao se utilizar as enciclopédias virtuais?

Iluminismo nas artes

Além do surgimento de novas ideias nas áreas das Ciências Naturais (Física, Química, Matemática, etc.), da política e da economia, configurou-se, no século XVIII, uma cena cul-tural ampla e diversificada em toda a Europa. Muitos escritores, compositores e pintores, inspirados nesse novo mundo descrito pela razão, produziram obras-primas. Goya, Goethe, Beethoven e Balzac foram alguns desses artistas.

©M

useu

de

Art

e N

elso

n-A

tkin

s, K

ansa

s C

ity,

Mis

sour

i, Es

tad

os

Uni

do

s.

GOYA, Francisco. O sono da razão produz monstros. 1799. 1 gravura sobre papel, p&b, 188 cm × 149 cm. Museu de Arte Nelson-Atkins, Kansas City.

Na gravura, enquanto a razão está adormecida, monstros pairam sobre ela, por isso seria preciso despertá-la

24

Page 25: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

O ALEMÃO JOHANN

WOLFGANG VON GOETHE

(1749-1832) ESCREVEU OBRAS

ENFATIZANDO O CONHECIMENTO

HUMANO. EM FAUSTO, UM DE SEUS LIVROS

MAIS FAMOSOS, PUBLICADO EM VÁRIAS

PARTES, ENTRE 1790 E 1832, GOETHE

RESSALTOU AS RELAÇÕES ENTRE A RAZÃO

E A RELIGIÃO NO CONTEXTO DO ILUMINISMO

EUROPEU. O ESCRITOR FOI UM EXPOENTE

DO GÊNERO LITERÁRIO DENOMINADO

ROMANTISMO.

O ALEMÃO LUDWIG

VAN BEETHOVEN (1770-1827)

FOI UM COMPOSITOR DO GÊNERO

MUSICAL CHAMADO NA ATUALIDADE DE

MÚSICA CLÁSSICA. SUA OBRA MAIS FAMOSA

É A NONA SINFONIA, DE 1824, QUE COMEÇOU

A SER COMPOSTA NO FINAL DO SÉCULO

XVIII, EM MEIO AO CONTEXTO DOS

IDEAIS LIBERTÁRIOS ILUMINISTAS,

REMETENDO À JUSTIÇA.

História

©A

lbum

/Fo

toar

ena

Página manuscrita do quarto movimento da Nona Sinfonia de Beethoven. Fotografia de 2007.

Partitura original da Nona Sinfonia

©A

lbum

/akg

-imag

es/A

lbum

/Fo

toar

ena

Fotografia da capa original de Fausto, 1808, Antiquário Dr. Haack Leipzig.

Primeira edição do livro Fausto

O FRANCÊS HONORÉ

DE BALZAC (1799-1850)

ESCREVEU OBRAS QUE TÊM

COMO MAIOR DESTAQUE A ANÁLISE

PSICOLÓGICA DE SEUS PERSONAGENS.

UM DE SEUS LIVROS MAIS FAMOSOS

É A MULHER DE TRINTA ANOS,

PUBLICADO JÁ NA PRIMEIRA PARTE DO

SÉCULO XIX. BALZAC É CONSIDERADO

O FUNDADOR DO GÊNERO LITERÁRIO

DENOMINADO REALISMO.

25

Page 26: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

©Je

an-C

harl

es F

ranç

ois

et

Jean

-Mar

tial

Fré

do

u

FRANÇOIS, Jean-Charles; FRÉDOU, Jean-Martial. Retrato de François Quesnay.

1767. 1 gravura, p&b.

Liberalismo econômico

Paralelamente às ideias do movimento iluminista sobre as questões políticas, sociais, religiosas e educacionais, surgiram duas correntes de pensadores voltadas para as questões econômicas: a Escola Fisiocrata, na França, e a Escola Clássica, na Inglaterra. Esses pensadores se preocupa-vam em combater o mercantilismo dos Estados absolutistas, visto como um obstáculo ao desenvolvimento da sociedade e da economia.

Escola Fisiocrata

Para os fisiocratas, a terra era considerada a principal fonte de riqueza, isto é, a agricul-tura, a pecuária e a mineração representavam as mais importantes atividades econômicas de um Estado. Apenas mais tarde a indústria foi reconhecida como outra fonte de riqueza.

Os mais importantes representantes dessa escola foram os economistas François Quesnay e Vincent de Gournay.

Quesnay e GournayFrançois Quesnay (1694-1774) combatia o mercantilismo e as barreiras do Estado à livre

circulação de mercadorias. Em detrimento da indústria, defendia a agricultura como a princi-pal fonte de riqueza dos reinos.

Segundo Quesnay, somente a produção agrícola era responsável pela multiplicação de pro-dutos que levavam os Estados ao enriquecimento. A indústria, em sua teoria, nada produzia.

Já Vincent de Gournay (1712-1759) não era crítico à indústria: considerava que a economia tinha leis próprias e na-turais de funcionamento, não sendo, por-tanto, permitido privar os indivíduos de sua liberdade nas ações econômicas de qualquer espécie – agrárias, comerciais ou industriais.

O liberalismo econômico sugerido por Gournay e outros fisiocratas passou a ser reconhecido pela frase que se tornou lema dessa corrente de pensamento: “Laissez faire, laissez passer” (Deixai fazer, deixai passar).

Fisiocrata: em latim, fisio significa “natureza” e cratos, “poder”, ou seja, trata-se da predominância da natureza na geração de riquezas.

26

Page 27: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Escola Clássica

Os teóricos da Escola Clássica da Inglaterra sofreram influência da corrente fisiocrata francesa. As ideias desses pensadores surgiram paralelamente à consolidação da produção capitalista na Inglaterra, a partir da Revolução Industrial.

Eles defendiam a plena liberdade econômica, a propriedade privada e o industrialismo econômico. O pensador de destaque dessa corrente de pensamento foi Adam Smith.

Adam SmithO economista e filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) defendeu o trabalho aliado

ao capital como a verdadeira fonte de riqueza de uma nação. Em sua concepção, o que mo-via a economia eram os interesses individuais de sobrevivência, que levavam os homens a trabalhar, ou seja, era por meio do trabalho que a sociedade e a economia se desenvolviam. Segundo Smith,

O homem tem tendência a melhorar sua sorte e é soberanamente apto a descobrir onde se encontra seu interesse pessoal: o melhor, portanto, é deixá-lo livre. O Estado só deve inter-vir quando os indivíduos se mostrarem incapazes de criar as instituições úteis à sociedade. O trabalho é a medida real do valor das mercadorias, e é ele quem determina seu preço. Na origem, todo este valor pertence ao operário. Mas, quando um indivíduo junta capital, terras, matérias-primas, ferramentas e põe tudo isso em ação, graças a um operário, o capitalista guarda para si uma parte do valor e dá o resto, ou seja, o salário, ao operário.

CROUZET, Maurice. História geral das civilizações: o século XVIII – o último século do Antigo Regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. v. 11. p. 112.

©G

L A

rchi

ve/A

lam

y/Fo

toar

ena

RETRATO de Adam Smith. [ca.1800]. 1 óleo sobre tela, color. Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo.

A obra mais relevante de Smith foi A riqueza das nações, que se tornou um clás-sico da economia liberal inglesa a partir do século XVIII, exercendo grande influência na consolidação do sistema capitalista mundial.

27

Page 28: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Leia um trecho escrito por François Quesnay, um dos pensadores fisiocratas. Em seguida, responda à questão.

CROUZET, Maurice. História geral das civilizações: o século XVIII – o último século do Antigo Regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. v. 11. p. 111.

De acordo com o texto, por que o autor defende, no século XVIII, que a agricultura é a atividade mais importante de uma sociedade?

Só a agricultura fornece produtos líquidos. A indústria não os produz: modifica a forma de matéria existente e, ao proceder assim, cria formas úteis, mas destrói a matéria sem substituí--la. O comércio apenas transmite e troca produtos. Só a agricultura cria uma matéria nova, re-produz e a multiplica. Por consequência, a classe essencial é a dos proprietários fundiários, que valorizam o solo; depois, vem a dos cultivadores; depois, todas as outras, consideradas “classes estéreis”. Tudo deve subordinar-se à produção agrícola.

Despotismo esclarecido

A princípio, cogitar a conciliação entre as ideias iluministas e os regimes absolutistas pode parecer absurdo. No entanto, isso aconteceu na história europeia, quando alguns so-beranos incorporaram os princípios do Iluminismo para promover reformas e modernizar seus Estados. Por adotarem essa postura, esses reis passaram a ser denominados déspotas esclarecidos, ou seja, governantes inspirados nas ideias iluministas.

Os déspotas esclarecidos de maior destaque na Europa foram: Frederico II, rei da Prús-sia; José II, imperador da Áustria; Catarina II, imperatriz da Rússia; Marquês de Pombal, mi-nistro do rei D. José I de Portugal; e Carlos III, rei da Espanha.

Para esses monarcas absolutistas, modernizar o Estado significava desenvolver estru-turas econômicas e administrativas voltadas para o capitalismo industrial, realizar algumas reformas sociais e estabelecer regras mais restritas nas relações entre Estado e Igreja. Ape-sar de todos esses propósitos, em nenhum momento esses soberanos pretendiam perder o controle centralizador da política.

interpretando documentos

28

Page 29: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Frederico II, da Prússia, entre os déspo-tas esclarecidos citados, foi quem realizou o maior número de reformas. Pelo fato de ter amizade com Voltaire e proteger os pensa-dores e os artistas, Frederico II ficou conheci-do como “o rei filósofo”. Promoveu reformas na área da educação, tornando o ensino pri-mário obrigatório para todos, aboliu a tortu-ra e organizou um novo código de leis para o Estado prussiano.

Durante seu reinado, havia liberdade de expressão, porém o Estado continuou in-tervindo nos assuntos econômicos. Mesmo favorável a algumas mudanças, a estrutura agrária da Prússia manteve as característi-cas feudais por longo tempo, com os cam-poneses submetidos à servidão por seus proprietários.

Entre os déspotas esclarecidos, José II, imperador da Áustria, foi, talvez, o monarca que mais se aproximou das “verdadeiras” re-formas: acabou com a servidão, deu igualda-de a todos perante a lei e a cobrança de im-postos e liberou o culto de diversas religiões.

©Museu do Hermitage, Rússia

©P

ierr

e C

harl

es B

aquo

y

BAQUOY, Pierre C. Frederico e Voltaire. [ca. 1795]. 1 gravura em cobre, p&b, 59,6 cm × 45,8 cm. Museu Voltaire, Ferney.

Gravura representando Voltaire sendo recebido pelo rei Frederico II

BUCHHOLZ, Heinrich. Imperatriz Catarina II da Rússia. [ca. 1725]. 1 óleo sobre tela, color. Museu do Hermitage, Rússia.

A monarca russa era de origem alemã, porém considerava-se francesa pela cultura.

Catarina II, imperatriz da Rússia, foi amiga de Voltaire, de Diderot e de muitos outros sábios e filósofos. Inspirada nos princípios iluministas, deu continuidade às reformas já iniciadas no governo de seu antecessor, Pedro II. Melhorou a administração pública, fundou hospitais e or-fanatos, aboliu a tortura e a pena de morte, deu liberdade religiosa à população e procurou me-lhorar a educação dos aristocratas e dos burgue-ses, dando-lhes refinamento aos moldes da cul-tura francesa. Apesar das reformas aparentes, o regime de servidão foi ampliado e os proprietá-rios passaram a ter direito de morte sobre seus servos.

29

Page 30: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Em Portugal, o ministro de

D. José I, o Marquês de Pombal, foi

responsável pelas transformações

do reino. Partidário das ideias ilumi-

nistas, Pombal perseguiu a nobreza

e os religiosos da Companhia de Je-

sus (jesuítas), que, para ele, exerciam

políticas prejudiciais ao governo por-

tuguês. Melhorou a administração

e saneou as finanças portuguesas,

reorganizou o exército e a educação

pública e incrementou a agricultura,

a indústria e o comércio.

©M

use

u d

a C

ida

de

, Lis

bo

a

Apesar das reformas promovidas pelos déspotas esclarecidos, o absolutismo foi manti-

do como estratégia política por seus governos. Isso mostra que, para além de seus propó-

sitos mais liberais e reformadores, havia uma distância entre o pensamento iluminista e a

forma como governaram.

VAN LOO, Louis-Michel; VERNET, Claude J. Marquês de Pombal. 1766. 1 óleo sobre tela, color., 290 cm × 354 cm. Museu da Cidade, Lisboa.

Na imagem, o Marquês de Pombal estende a mão esquerda para mostrar a cidade de Lisboa e o Rio Tejo, em que as embarcações presentes são uma alusão à força da navegação para os portugueses. Embaixo de sua mão direita e espalhados a seus pés, os mapas indicam a reconstrução da cidade de Lisboa após um grande terremoto, ocorrido em 1755

A despeito das restrições da Coroa à entrada de livros e de impressos no Brasil,

a colônia portuguesa da América, as ideias iluministas chegaram até aqui, no século

XVIII. Muitos dos leitores desses materiais associaram as críticas feitas pelos iluminis-

tas à realidade vivenciada na colônia.

Pesquisadores de duas importantes revoltas coloniais pela independência do Bra-

sil – a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana – concluíram que vários partici-

pantes desses eventos tinham lido obras de pensadores iluministas e certamente se

influenciado por tais ideias. Contudo, foram poucos os que se inspiraram no Iluminis-

mo para defender, por exemplo, o fim da escravidão, que permaneceu como base de

sustentação da economia colonial até o final do século XIX.

outras histórias

30

Page 31: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

1 Complete a cruzadinha a seguir sobre o Iluminismo.

a) Estudo que se caracteriza pela compreensão do universo e da existência humana.

b) Símbolo alegórico que representa o Iluminismo.

c) Crença que o Iluminismo pretendia combater.

d) Conhecimento que só pode ser alcançado pela experiência.

e) Doutrina segundo a qual a realidade só pode ser conhecida por meio da razão.

f) Influenciou René Descartes a romper definitivamente com as ideias tradicionais.

g) Proposta de divisão das funções do poder defendida por Montesquieu.

h) Segundo esse pensador, o conhecimento verdadeiro só seria alcançado com a utilização de um método que evitasse erros.

i) Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais importantes pensadores franceses do século XVIII, nos campos da política, da educação e da .

j) Símbolo do Iluminismo, criado com a pretensão de sistematizar todo o conhecimento do período.

o que já conquistei

2 As frases “Penso, logo existo” e “O ato de duvidar das coisas é a prova da existência do homem que pensa” traduzem o pensamento de René Descartes, considerado o pai do racionalismo moderno. Explique o sentido dessas afirmações defendidas pelo filósofo.

I

L

U

M

I

N

I

S

M

O

a

b

c

d

e

f

g

h

i

j

31

Page 32: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

3 Leia o texto e assinale a alternativa correta.

Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como será ela suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade qua-se infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.

STRATHERN, Paul. Locke em 90 minutos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997. p. 56-57.

a) ( ) O pensamento apresentado no texto é de Nicolau Copérnico, que propunha conhecer o Sol por meio da experiência.

b) ( ) Trata-se das ideias de René Descartes, visto que, conforme o pensamento cartesiano, as ideias nascem com as pessoas.

c) ( ) O texto defende o racionalismo, o qual afirma que todo conhecimento só pode ser alcan-çado com o uso da razão.

d) ( ) John Locke é o autor do texto, pois ele acreditava na ideia de que a mente humana é uma tábula rasa, em que os conhecimentos precisam ser escritos.

4 Segundo Montesquieu, “Só o poder limita o poder”. Com base nessa frase, explique por que ele de-fendia a divisão do poder político em três diferentes estruturas – Executivo, Legislativo e Judiciário.

5 Justifique a seguinte afirmação: “A burguesia apoiava o liberalismo econômico porque, para ela, essa política era mais interessante que a prática mercantilista”.

6 Comente sobre a Enciclopédia e sua importância no contexto do movimento iluminista.

32

Page 33: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

capí

tulo

No século XVIII, a maior parte dos euro-peus vivia em um ambiente rural, apesar da existência de grandes cidades, como Lon-dres e Paris. Na Inglaterra a população urba-na só superou em número a rural por volta de 1850. Observe a imagem acima: Quais elementos urbanos e rurais são retratados na paisagem?

Antecedentes da Revolução Industrial Pioneirismo inglês Processo de produção industrial Novas relações de trabalho Revoltas dos trabalhadores Segunda Revolução Industrial

o que vocêvai conhecer

Revolução Industrial3

LOUTHERBOURG, Philip J. de. Coalbrookdale à noite. 1801. 1 óleo sobre tela, color., 68 cm × 106,5 cm. Museu de Ciências, Londres.

Paisagem dos primeiros anos da industrialização: o encontro entre os mundos urbano e rural

©World History Archive/Alamy/Fotoarena

33

Page 34: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Relacionar o início do processo de indus-trialização com o aumento da prática de cercamentos na Inglaterra.

Relacionar o desenvolvimento de novas técnicas de produção com a transforma-ção da Inglaterra em potência industrial.

Conhecer as transformações ocorridas na sociedade inglesa com a produção fabril.

Compreender as razões que levaram os trabalhadores a lutar por melhores condi-ções de vida.

Conhecer os avanços tecnológicos que resul-taram na Segunda Revolução Industrial.

Analisar os impactos da Revolução Indus-trial na produção econômica e na circula-ção de povos, produtos e culturas.

objetivos do capítulo

Antecedentes da Revolução Industrial

Atualmente, a produção industrial é essencial para o desenvolvimento econômico e tec-nológico dos países. Nas indústrias, o grau de aprimoramento técnico de máquinas e dos tra-balhadores é constante. Contudo, as máquinas não integravam o cotidiano da humanidade antes do século XVIII. Quando elas passaram a ser utilizadas, tanto a forma de organização do trabalho quanto a vida nas cidades sofreram importantes transformações. É fundamen-tal, portanto, estudar o processo da Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra no século XVIII, para compreender a sociedade contemporânea.

A denominação "Revolução Industrial" faz referência às mudanças que ocorreram na In-glaterra durante o século XVIII e que levaram à passagem de uma economia agrária e manual para outra urbana, mecanizada e desenvolvida nas fábricas.

Os historiadores costumam dividir a Revolução Industrial em dois períodos. O primeiro se iniciou na metade do século XVIII e se estendeu até meados de 1850. Essa fase caracteri-zou-se pela exploração do carvão e do ferro e pela invenção das máquinas a vapor.

HENDERSON, Willian O. A Revolução Industrial. São Paulo: Verbo; Edusp, 1979. p. 7.

O segundo período da Revolução Industrial teve seu começo por volta de 1850 e ficou marcado pela utilização do aço e da eletricidade e pelo emprego do petróleo como fonte geradora de energia.

Foi uma das maiores transformações da História: em cerca de cem anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais. Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas; a lojinha do artífice pela fábrica. O vapor e a eletricidade suplantaram as fontes tradicionais de energia – água, vento e músculo. Os aldeãos, como suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se operários da nova era, en-quanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, in-ventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente. Era a Revolução Industrial.

34

Page 35: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Substituição do modelo de produção

Na Grécia e na Roma antigas, as tarefas que atualmente conhe-cemos como trabalho eram, geralmente, delegadas aos cuidados de camponeses, escravizados e estrangeiros. Executar esforço físi-co para alguma atividade que não tivesse como objetivo o exercício do corpo era visto como degradante. Assim, a fadiga física somente era aceita pelos cidadãos nos esportes e nas batalhas. Nessas socie-dades, os homens livres se dedicavam à política, à filosofia, à ginás-tica e à poesia.

Durante o período medieval, era comum os nobres se dedica-rem às batalhas, aos duelos, às caçadas; e os membros do clero, às orações. O trabalho era manual e artesanal, realizado pelos mestres de ofício (sapateiros, ferreiros, marceneiros, alfaiates, ourives, etc.) com a ajuda de seus familiares. Raramente um ajudante era contratado. O espaço físico de trabalho era o espaço do lar, da residência e dos arredores da casa familiar. Ali funcionavam as oficinas. A jornada de trabalho era determina-da pelo tempo natural do dia, ou seja, trabalhava-se desde o nascer até o pôr do sol. A produ-ção atendia às necessidades locais de acordo com a demanda, portanto não havia estoques.

Na produção manual e artesa-nal, o artesão dominava totalmente o processo produtivo. Um sapateiro, por exemplo, sabia todas as etapas da confecção de um sapato. Era isso que lhe garantia a dependência por parte das outras pessoas, pois, se alguém precisasse de sapatos, deveria recor-rer a ele. Isso funcionava com todas as atividades, criando uma relação de interdependência que, muitas vezes, era controlada pelas guildas.

A palavra “trabalho” tem sua origem no termo latino tripalium, que designava um instrumento de tortura. O verbo tripaliare significava “torturar”.

degradante: rebaixado; tornado indigno.

As guildas eram associações de ajuda mútua, com a finalidade de organizar as relações entre os artesãos e os consumidores. Elas serviam para estipular preços e verificar a qualidade dos produtos. No século XVIII, foram chamadas de corporações de ofícios.

MANDEVILLE, John. Sopradores de vidro da Bohemia. 1 iluminura, color. In: Les Voyages de Sir John Mandeville. Século XV. Biblioteca Britânica, Londres.

O fabrico do vidro é um exemplo de atividade que exigia dos trabalhadores o domínio de técnicas específicas. Era um trabalho manual e artesanal, realizado pelo mestre vidraceiro e por seus ajudantes e aprendizes.

©B

iblio

teca

Bri

tâni

ca, L

ond

res

35

Page 36: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Entretanto, com a crise do sistema feudal e o Renascimento Comercial, gradualmente o trabalho foi sendo valorizado. A Reforma Religiosa contribuiu para essa mudança no status do trabalho, e começou a ser cada vez mais difundida a ideia de que o trabalho traria dignidade aos indivíduos.

Com o fortalecimento da classe burguesa, essa concepção a respeito do trabalho se con-solidou, permanecendo válida até os dias atuais.

A ascensão da burguesia fez com que, gradativamente, outras mudanças ocorressem no mundo do trabalho, como:

a ampliação dos lucros por meio do incremento no volume de vendas;

o aumento da produção de forma sistematizada;

o deslocamento das oficinas artesanais para grandes espaços;

o investimento em tecnologia;

a contratação de especialistas para o desenvolvimento de técnicas que otimizassem a produção.

Leia o texto a seguir e depois responda ao que se pede.

interpretando documentos

SINGER, Paul. A formação da classe operária. 14. ed. São Paulo: Atual, 1994. p. 31.

1 Complete as lacunas das afirmações a seguir de acordo com as ideias expostas no texto.

a) Quem realizava o trabalho antes da Revolução Industrial eram ; mais

tarde, o trabalho passou a ser realizado pelas .

b) A função do trabalhador antes da Revolução Industrial era ; depois, pas-

sou a ser .

c) Antes da Revolução Industrial, o trabalhador precisava conhecer todo o processo de

; depois, bastava a ele ter habilidades mais simples para lidar com a máquina, como

.

d) Antes, a produção de um tecelão parava ao ; porém, com a Revolução Indus-

trial e o uso das máquinas, .

O fundamental na passagem da produção manufatureira à produção industrial é que nesta o trabalho não é mais realizado pelo homem, mas pela máquina. [...] A função do homem não é mais produzir, mas alimentar, vigiar, manter e reparar a máquina que tomou o seu lugar. [...] A ação de tecer prossegue mesmo quando o operário volta as costas à máquina. Ele não precisa saber o segredo do seu funcionamento. Basta que emende o fio quando este arrebenta, que substitua os carretéis vazios, que limpe e lubrifique a máquina e a conserte quando quebra. São outras, portanto, as habilidades requeridas, em geral mais simples e mais fáceis de serem adquiridas.

36

Page 37: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

2 Agora, explique com suas palavras quais foram as principais mudanças vivenciadas pelo trabalhador que passou de artesão a operário.

existência de matéria-prima em abundância para o desenvolvimento industrial;

a criação de uma poderosa marinha mercante capaz de transportar grande quantidade de matérias-primas, as quais eram transformadas em produtos acabados nas oficinas in-glesas e, posteriormente, comercializados em várias partes do mundo;

o fortalecimento político da burguesia, proporcionado pelas revoluções ocorridas duran-te o século XVII, que possibilitaram a dinamização da economia inglesa;

o acúmulo de capitais decorrentes do comércio mercantil com o Oriente e das colônias da América, que seriam utilizados no estabelecimento das fábricas, na compra das máquinas e das matérias-primas e na contratação da mão de obra;

as jazidas de carvão e de ferro em seu subsolo;

a conversão religiosa da burguesia ao puritanismo, que defendia valores como o trabalho e a poupança.

Burguesia inglesa e capitalismo

Os comerciantes sabiam que poderiam ampliar suas margens de lucro ao buscar os for-necedores que praticavam os menores preços. Esse dinheiro extra, obtido por meio dos ne-gócios, passou a ser investido no desenvolvimento de formas mais rentáveis de trabalho, gerando um acúmulo de riquezas nas mãos da burguesia.

Pioneirismo inglês

A Inglaterra antecedeu os outros reinos europeus ao acabar com o absolutismo monár-quico em 1689, quando Guilherme de Orange assumiu o trono e assinou a Bill of Rights, documento que estabeleceu limitações ao poder dos monarcas ingleses.

Além desse aspecto político, havia na Inglaterra uma série de condições que favoreceram o início do processo de industrialização nesse reino, situação que, mais tarde, foi vivenciada por inú-meras nações do mundo:

37

Page 38: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Não era apenas a burguesia que detinha muitos recursos financeiros: a própria Ingla-terra vinha acumulando riquezas desde o reinado de Elizabeth I e, mais tarde, o governo de Oliver Cromwell favoreceu a economia com os Atos de Navegação. Essas medidas possibili-taram que a Inglaterra garantisse acúmulo de capital (recursos monetários disponíveis para investimento).

Desse modo, instaurou-se na Inglaterra o cenário ideal para mudanças: uma classe bur-guesa forte e participativa nas decisões políticas e uma grande quantidade de riquezas. Nes-se contexto, havia interesses políticos em modernizar o sistema de produção inglês e condi-ções financeiras para operar essa mudança.

Mudanças na sociedade inglesa

A Inglaterra já tinha vivido um intenso movimento de êxodo rural quando houve a trans-ferência das propriedades rurais para a gentry e os cercamentos de terra. Diante dessa situa-ção, os camponeses partiram para os centros urbanos em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Nas cidades, sem terem atividade, eles acabaram por constituir a massa de mão de obra disponível para o processo de industrialização. Outro grupo com o mesmo destino foi o dos artesãos, membros das antigas corporações de ofícios e guildas, que perde-

ram seu espaço de produção artesanal para as atividades manufatureiras e industriais promovidas pela burguesia.

Lã, algodão, ferro e carvão

As grandes propriedades tiveram suas produções intensificadas, principalmente aquelas que se dedicavam à criação de ovelhas. Assim, a produção da lã como matéria-prima para a fabricação de tecidos estava garantida em grande quantidade.

Outra matéria-prima importante para a produção de tecidos era o algodão. As colônias inglesas da América plantavam o algodão e exportavam sua produção para a metrópole a preços muito baixos. A oferta dessa matéria-prima estimulou o desenvolvimento de técnicas de fiação e tecelagem da fibra.

©Museu Petit Palais, França

DAUMIER, Honoré. Os fugitivos ou os imigrantes. [ca. 1849]. 1 óleo sobre tela, color.,16 cm × 28 cm. Museu Petit Palais, França.

Representação artística que revela as condições difíceis enfrentadas pelos camponeses ingleses que migravam para as cidades no século XIX

38

Page 39: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1990. p. 27.

A Inglaterra reuniu, então, condições para a Revolução Industrial, um dos mais impor-tantes processos históricos de transformação, pois contava com mão de obra, reservas de capital, matéria-prima para tecidos e abundância de minerais, como carvão e ferro.

Na primeira grande fase da chamada Revolução Industrial (1760-1870, aproximadamen-te), o Império Britânico quase não teve concorrentes e pôde consolidar-se como principal centro da economia capitalista mundial, posição que manteve até o começo do século XX.

1 Elabore uma definição para a Revolução Industrial.

2 Quais são os fatores que explicam o pioneirismo inglês no desenvolvimento da Revolução Industrial?

organizando a história

Até então, os tecidos de algodão vinham quase todos da Índia, com preços altos. Como houve um aumento do consumo de tecidos em razão do crescimento das cidades, além do interesse de outros reinos em adquirir esse produto, aconteceu um estímulo para que a pro-dução têxtil crescesse na Inglaterra.

Outro ponto favorável para o pioneirismo industrial inglês foi a abundante existência de recursos naturais importantes, como o ferro, usado na construção de máquinas e ferrovias, e o carvão, usado como combustível para o funcionamento das máquinas. Por volta de 1800, a Inglaterra era responsável por cerca de 90% da produção mundial de carvão.

39

Page 40: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

©W

ikim

ed

ia C

om

mo

ns/

Ecl

ipse

.sx

Processo de produção industrial

O aumento do consumo e a consequente necessidade de produção impulsionaram a in-

venção e a modernização de máquinas na Inglaterra. Esse processo teve início com a indús-

tria têxtil.

Em 1733, John Kay inventou a lançadeira auto-

mática, máquina que possibilitava aumentar a largura

dos tecidos e dava agilidade ao processo de fiação.

Mais tarde, em 1767, James Hargreaves criou outra

máquina, de maior capacidade, por meio da qual um

único funcionário conseguia trabalhar com vários fios

simultaneamente.

Não demorou muito para que Richard Arkwright in-

ventasse o tear hidráulico. Samuel Crompton adaptou

as criações anteriores, capacitando sua máquina para

a produção de fios mais finos e mais resistentes. Final-

mente, Edward Cartwright inventou o tear mecânico, o

qual fez aumentar sensivelmente o volume de produ-

ção e, assim, baixar os preços dos tecidos.

Até meados do século XVIII, a fonte de energia que

movia as máquinas nas fábricas era a hidráulica. Contu-

do, Thomas Newcomen, em 1712, inventou uma máqui-

na movida a vapor, para bombear água das minas de carvão. Em 1765, James Watt recebeu

financiamento para aperfeiçoar o uso do vapor, o qual proporcionou um grande salto para a

indústria, que passou a contar com novos motores capazes de impulsionar as máquinas das

fábricas em uma velocidade bastante superior à existente até então.

©C

ole

ção

pa

rtic

ula

r

NICHOLSON, T. E. A roda de fiar Jenny. 1834. 1 gravura. Coleção particular.

A máquina de fiar inventada por James Hargreaves fazia o serviço equivalente ao de 8 trabalhadores. O mecanismo evoluiu, chegando a substituir 80 trabalhadores, e teve de ser deslocado para amplos galpões.

Foto de motor a vapor do modelo

Watt construído na Alemanha, em 1848

40

Page 41: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Além de seu uso como força motriz nas fábricas, o vapor passou a ser utilizado nos meios

de transporte. Em 1807, o estadunidense Robert Fulton criou o barco a vapor. Em 1814,

George Stephenson inventou a locomotiva a vapor, a qual, alguns anos mais tarde, começou

a realizar o transporte de mercadorias e passageiros. Aproximadamente no mesmo período,

a imprensa também começou a fazer uso de máquinas movidas a vapor. Esse feito redimen-

sionou a velocidade da impressão de jornais e revistas, barateando os custos de produção e

aumentando a difusão da cultura.

Nascimento das fábricas

Com o emprego das máquinas, as pequenas oficinas artesanais cederam lugar aos gal-

pões, onde se reuniam vários trabalhadores sob o comando de um monitor ou capataz. As

condições desses ambientes, muitas vezes, eram insalubres: tetos com goteiras, formação

de poças de água, fuligem no ar, inexistência de janelas ou outras aberturas que permitis-

sem a entrada de luz e de ar fresco, circulação de ratos, baratas

e outros insetos. A temperatura era insuportável, variando entre

o calor excessivo no verão e o frio extremo no inverno. Também

não havia o menor cuidado com o destino dos dejetos gerados na produção, ou seja, com o

lixo industrial. Esse material era jogado em terrenos próximos às fábricas ou, simplesmente,

despejado nos rios. As chaminés lançavam nuvens de fumaça negra na atmosfera, transfor-

mando as imediações das fábricas em lugares tristes e cinzentos.

insalubres: prejudiciais à saúde.

No interior das fábricas, o tempo do trabalho começou a ser regido pelo desejo dos

proprietários em produzir cada vez mais. Em algumas delas, as atividades não paravam e os

trabalhadores não conseguiam perceber se era dia ou noite.

©A

lte

Na

tio

na

l G

ale

rie

, Ale

ma

nh

a

VON MENZEL, Adolph. Moderne cyklopen. 1872-1875. 1 óleo sobre tela, color., 158 cm × 254 cm. Galeria Nacional Antiga, Berlim.

A obra mostra as condições

de trabalho no interior de uma fábrica no século XVIII.

É possível observar, no canto inferior direito, dois operários fazendo sua refeição e, à esquerda, alguns homens parecem lavar-se e secar-se

com toalhas

Na Antiguidade, a observação dos astros ajudava a organizar a vida e o trabalho das pessoas,

para que elas soubessem, por exemplo, a melhor época para realizar o plantio e a colheita ou,

ainda, a hora de iniciar o trabalho, no começo da manhã, e a hora de parar, com o pôr do sol. Já

na Era Industrial, os donos das fábricas passaram a controlar a produção de seus operários em

relação ao tempo, conforme a contagem das horas do relógio. Cronometrar as atividades pas-

sou a ser uma maneira de organizar a vida dos trabalhadores e de garantir os lucros.

41

Page 42: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

No texto a seguir, o historiador Edward Palmer Thompson descreve a situação vivida

cotidianamente pelos moradores das primeiras cidades industriais.

Os habitantes das cidades industriais tinham frequentemente de suportar o mau cheiro do lixo industrial e dos esgotos a céu aberto, enquanto seus filhos brincavam entre detritos e montes de esterco. [...]

Nos distritos têxteis e nas cidades [...] encontravam-se os mais atrozes indícios da deterioração – superlotação, moradias em porões e imundice indescritível.

THOMPSON, Edward P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 185, 188.

Nascimento das cidades industriais

As fábricas estavam localizadas nas periferias dos centros urbanos, sempre próximas

aos rios, onde a concentração de pessoas era grande. As condições de vida nas cidades não

diferiam muito daquelas do interior das fábricas. Sem sistemas de esgoto e com um ainda

deficitário fornecimento de água potável, a higiene era rara. Não existia preocupação com a

coleta do lixo, que ficava acumulado nas ruas, sendo retirado apenas pela ação das águas das

chuvas, que o levavam para os rios.

A presença de animais nas cidades era comum, visto que grande parte dos transportes

era movida por tração animal. Com poucas ruas pavimentadas, a ação destrutiva dos cascos

de cavalos e mulas transformava o cenário urbano em um grande lamaçal. Porém, com o

crescimento industrial e com as riquezas por ele geradas, algumas regiões receberam gran-

des investimentos, ainda no século XVIII. Em bairros mais nobres, prédios eram construídos

com novos materiais, como o ferro e o vidro. De todo modo, o contraste era evidente entre

as moradias dos burgueses e dos trabalhadores das fábricas.

A imagem ao lado é uma caricatura ingle-

sa do século XIX. Qual é a relação entre essa

ilustração e a situação das cidades industriais

inglesas?

interpretando documentos©

Bib

lio

teca

We

llco

me

, Lo

nd

res

HEATH, William. Uma mulher, largando a xícara de chá, horrorificada ao descobrir o conteúdo monstruoso de uma gota amplificada de água do Tâmisa. 1828. 1 gravura com aquarela, color., 22 cm × 34 cm. Biblioteca Wellcome, Londres.

Representação de elementos existentes em uma gota de água do Rio Tâmisa

42

Page 43: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

©Sh

utte

rsto

ck/E

vere

tt H

isto

rica

l

Novas relações de trabalho

No auge da Revolução Industrial, entre o final do século XVIII e o início do século XIX, os comentários sobre as transformações econômicas do mundo demonstravam um exces-sivo otimismo em relação ao progresso da humanidade. Havia a crença de que o progresso econômico deveria reverter em benefícios à sociedade; imaginava-se que o ser humano se beneficiaria, pela primeira vez, da distribuição das riquezas, o que até então era permitido apenas a uma minoria privilegiada.

Contudo, o que se observou não correspondeu às expectativas geradas na época. É ine-gável que a Revolução Industrial foi um marco na história da humanidade. Por meio dela, operou-se uma grande transformação na produção de bens de consumo e serviços; a ela se deve a verdadeira revolução ocorrida nas estruturas institucionais, culturais, econômicas e sociais. Porém, as transformações realizadas não trouxeram benefícios iguais para aqueles que detinham o poder e para os trabalhadores. O sistema manufatureiro provocou a divisão da sociedade entre empregadores capitalistas e operários assalariados, concentrados em grandes espaços (as fábricas).

O período foi marcado pelas seguintes características:

Havia constantemente acidentes nas fábricas por conta do excesso de trabalho, que le-vava os operários à exaustão, e não existia pagamento de indenização aos acidentados. Para evitar a ocorrência de faltas ao trabalho ou a “irresponsabilidade” no ambiente de serviço, muitos patrões instituíram multas ao trabalhador.

surgimento de uma mentalidade de valorização das atividades lucrativas;

inexistência de uma legislação trabalhista ou de regulamentos de segurança no trabalho;

jornadas de trabalho que duravam em torno de 15 a 16 horas;

determinação de dias de trabalho mesmo aos domingos e feriados;

contratação de mulheres por salários inferiores aos dos homens;

uso do trabalho de crianças menores de dez anos.

TINGLE, J. Tear mecânico ([Fábrica de algodão Swainson, Birley & Co] / Thomas Allom). [ca. 1830]. 1 litografia. Lápis, caneta, sépia e lavagem, 12 cm × 19 cm. Museu de Ciências, Londres.

Representação de mulheres trabalhando em fábrica de Lancashire, Inglaterra

43

Page 44: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Atualmente, há fábricas, sobretudo de grande porte, que surpreendem com a tecnologia e com a limpeza. De maneira geral, elas funcionam com ma-quinário moderno e informatizado (têm suas opera-ções controladas por computadores). Os ambientes são amplos e bem iluminados. Os trabalhadores se-guem normas rígidas de segurança e higiene. Essas empresas orgulham-se de exibir seus certificados

de padrão de qualidade. Muitas investem em ações sociais e preocupam-se com o meio ambiente.

Os padrões internacionais foram criados para garantir que produtos e serviços sejam seguros, confiáveis e de boa qualidade. Dessa forma, as empresas podem ingressar nos mercados nacionais e internacionais com o mesmo padrão de qualidade. Para as empresas, a padronização e os certificados de padrão de qualidade são ferramentas estratégicas para reduzir os custos, pelo fato de minimizarem o desperdício e os erros, aumentando a produtividade.

A International Organization for Standardization (ISO) é um exemplo de organização que faz a certificação de padrão de qualidade.

Leia uma descrição sobre as difíceis condições de trabalho enfrentadas pelas mulheres nas fábricas. Em seguida, discuta com os colegas as questões propostas.

interpretando documentos

KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 230-236.

A descrição acima parece aludir às condições de trabalho no início da Revolução Indus-trial, não é mesmo? Porém, ela se refere às ZPEs (zonas de processamento de exportações), áreas localizadas em regiões pouco desenvolvidas e que, em pleno século XXI, mantêm um sistema de exploração semelhante ao de quase 300 anos atrás.

Converse sobre a situação descrita no texto, procurando refletir sobre as seguintes questões:

Houve mudanças significativas em relação às condições do trabalho feminino nos últi-mos 300 anos?

Quais são os motivos que levaram, e ainda levam, alguns empregadores a não respeitar as mínimas condições de trabalho?

O que pode ser feito para alterar a situação descrita?

[...] O dia de trabalho é longo – de 12 a 16 horas. A grande maioria dos trabalhadores é com-posta de mulheres, sempre jovens. [...] O gerenciamento tem estilo militar, os supervisores cometem abusos, os salários ficam abaixo do nível de subsistência e o trabalho exige pouca habilidade e é tedioso. [...] As estradas por onde andam para chegar ou sair das fábricas são escuras e perigosas, já que não há dinheiro para a iluminação pública. [...] Alguns empregado-res mantêm os banheiros trancados exceto durante dois intervalos de 15 minutos, durante os quais todos os trabalhadores têm de bater o ponto na entrada e na saída para que a gerência possa controlar seu tempo improdutivo. As costureiras de uma fábrica contaram que às vezes têm de lançar mão de sacos plásticos debaixo de suas máquinas para urinar. [...]

44

Page 45: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Revoltas dos trabalhadores

No contexto das mudanças trazidas pelo surgimento das fábricas e das novas condições de trabalho, não tardaram a surgir entre os trabalhadores os primeiros movimentos de protesto.

A princípio, muitos deles se organizaram para destruir as máquinas, pois consideravam que elas eram as culpadas pelos problemas que estavam enfrentando. Esse movimento ocor-reu entre 1811 e 1816 e ficou conhecido como ludismo, inspirado no nome do tecelão Ned Ludd. O movimento foi reprimido com violência pelo governo na Inglaterra.

A partir de então, surgiram ideias e teorias voltadas ao propósito de defender os direitos dos operários e aumentar sua participação política. Esse foi o caso do movimento cartista na Inglaterra, que teve início com a publicação de um documento intitulado Carta do Povo, em 1838. A carta exigia o direito ao voto para os trabalhadores e sua participação no Parlamento. O movimento cartista durou vários anos e promovia reuniões e assembleias nas quais a partici-pação dos operários era intensa. O objetivo era discutir e organizar as reivindicações dos operários.

Em todos os locais onde a in-dustrialização se desenvolvia, na Europa ou nos Estados Unidos, os operários começaram a se or-ganizar, formando associações e sindicatos que viriam a lutar por melhores condições de vida e de trabalho.

©A

PI/

Gam

ma-

Rap

ho v

ia G

etty

Imag

es

LUDISTAS destruindo um tear. 1812. 1 gravura, p&b. Inglaterra.

Gravura do século XIX que ilustra o movimento ludista

©A

lbum

/Fo

toar

ena

KILBURN, Willian. O grande encontro cartista em Kennington Comon. 1848. 1 fotografia, color. Coleção Real, Windsor.

Foto de assembleia cartista em 1848

45

Page 46: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Como resultado da luta dessas associações, as reivindicações dos operários começaram

a se tornar leis:

1 No contexto da Revolução Industrial, no início do século XIX os operários começaram a se organizar para reivindicar melhores condições de vida e de trabalho. Analise as informações a seguir e assina-le com L as que se referem ao movimento ludista e com C as que se referem ao movimento cartista.

( ) Organizou os operários para destruir as máquinas, consideradas culpadas pelos problemas en-frentados.

( ) Teve início com a publicação de um documento chamado Carta do Povo, em 1838.

( ) Ocorreu entre 1811 e 1816.

( ) O tecelão Ned Ludd foi a inspiração para o nome desse movimento.

( ) Exigia o direito ao voto para os trabalhadores e sua participação no Parlamento.

( ) Foi reprimido com violência pelo governo da Inglaterra.

( ) Durou vários anos e promovia reuniões e assembleias com grande participação dos operários.

( ) Tinha como objetivo discutir e organizar as reivindicações dos operários.

2 Houve várias conquistas após a realização desses movimentos. Cite três que você considera mais

importantes.

3 Você considera que essas são conquistas garantidas até os dias atuais? Por quê?

Em 1833, as crianças entre 10 e 13 anos passaram a

trabalhar no máximo 48 horas

por semana.

A partir de 1842, mulheres e crianças não podiam mais trabalhar nas

minas de carvão.

Em 1847, a jornada de

trabalho passou a ser de 10 horas.

Em 1878, o trabalho das mulheres foi limitado a 60

horas semanais.

Em 1919, a jornada de

trabalho passou a ser de 8 horas.

interpretando documentos

46

Page 47: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Segunda Revolução Industrial

Na primeira fase da Revolução Industrial (1760-1860), período em que a industrialização

esteve praticamente restrita à Inglaterra, as fábricas se concentravam na produção de bens

de consumo, sobretudo os têxteis. Durante essa fase, o carvão foi utilizado em grande escala

e as fontes de energia que movimentavam as indústrias eram a hidráulica e o vapor.

A partir de 1860, com as primeiras

grandes inovações tecnológicas, o proces-

so de industrialização passou a uma segun-

da fase, em que o aço substituiu o ferro, e a

energia elétrica e o petróleo suplantaram

o vapor.

Aliadas às novas fontes de energia,

as inovações técnicas multiplicaram-se no

século XIX: Samuel Morse inventou o te-

légrafo elétrico; Graham Bell, o telefone;

Thomas Edison criou a lâmpada elétrica;

Guglielmo Marconi, o telégrafo sem fio;

Rudolf Diesel, o motor a explosão; e Karl

Benz inovou na criação de diesel, produ-

zindo um motor a gasolina. A aplicação

dos novos inventos ampliou e diversificou

a produção industrial, trazendo uma nova

dinâmica às cidades da época.

Os meios de transporte também se

desenvolveram: ocorreu a ampliação das

ferrovias; com o barco a vapor, o transpor-

te marítimo se expandiu por mares e rios;

as ruas e as rodovias se tornaram mais mo-

vimentadas e extensas com a invenção do

automóvel.

Após o século XIX, o progresso do se-

tor industrial atingiu outros setores e se

expandiu entre os continentes. Surgiram, em todo o mundo, os conglomerados industriais; a

produção em série conquistou o mercado por meio da indústria da comunicação e da propa-

ganda, e houve uma revolução no mercado com as indústrias química e eletrônica.

©B

ibli

ote

ca C

en

tra

l d

e B

ath

, In

gla

terr

a

BOURNE, John Cooke. Frontispício do livro História da Great Western Railway. 1846. 1 gravura, color. Biblioteca Central de Bath, Bath.

O transporte ferroviário tornou as viagens e o transporte de cargas mais ágeis.

Em 1854, foi inaugurada a primeira estrada de ferro no Brasil, com 14,5 km. Ela li-

gava o Porto de Mauá a Raiz da Serra, no atual estado do Rio de Janeiro. Aproximada-

mente 100 anos depois, em 1960, o Brasil tinha cerca de 37 200 km de linhas férreas.

outras histórias

47

Page 48: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

1 Entre os vários conceitos apresentados neste capítulo, a palavra “revolução” foi uma das mais cita-das. Procure os significados desse termo e registre-os nas linhas a seguir.

2 Entre as definições encontradas, qual poderia ser aplicada à Revolução Industrial?

3 Relacione a Revolução Gloriosa, ocorrida na Inglaterra, em 1688, ao processo da Revolução Indus-trial, também iniciado na Inglaterra, em 1760.

4 Explique de que maneira o cercamento (enclosures) das terras comunais contribuiu para a Revolu-ção Industrial inglesa.

5 Analise os itens a seguir e assinale com a letra A os que se referem ao período correspondente à sociedade pré-industrial e com a letra B os que se referem ao período relacionado à sociedade industrial.

( ) A burguesia e o proletariado formam os principais grupos sociais desse período.

( ) A produção não tinha o objetivo de criar estoques; produzia-se de acordo com a necessidade.

( ) Para caracterizar seu local típico de trabalho, podem-se citar as fábricas e os centros urbanos, onde havia abundância de mão de obra.

( ) Nesse período, havia uma estrutura social dividida em senhores e servos.

6 Por que era comum a utilização da mão de obra feminina e infantil nas indústrias inglesas do sé-culo XVIII?

o que já conquistei

48

Page 49: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

7 (ENEM) “...Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; ...”

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre a sua natureza e suas causas. São Paulo: Nova Cultural, 1985. v. I.

A respeito do texto e do quadrinho, são feitas as seguintes afirmações:

I. Ambos retratam a intensa divisão do trabalho, à qual são submetidos os operários.

II. O texto refere-se à produção informatizada, e o quadrinho à produção artesanal.

III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade industrial não depende do conhecimento de todo o processo por parte do operário.

Entre essas afirmações, apenas:

a) ( ) I está correta.

b) ( ) II está correta.

c) ( ) III está correta.

d) ( ) I e II estão corretas.

e) ( ) I e III estão corretas.

8 Observe a imagem a seguir, que retrata uma cidade industrial na Alemanha do século XIX, durante a chamada Segunda Revolução Industrial. Relacione a imagem às informações estudadas no capí-tulo e, depois, produza um texto em seu caderno sobre a formação e as características das cidades industriais daquele século.

Jornal do Brasil, 19 de fevereiro de 1997.

©S

TIE

LE

R, R

. Pin

tura

da

em

pre

sa B

AS

F. 1

88

1

STIELER, Robert F. Pintura da empresa BASF. 1881. 1 óleo sobre tela, color. Arquivo da BASF, Ludwigshafen.

Pintura que retrata uma fábrica alemã em 1881

49

Page 50: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

capí

tulo

No século XVIII, a França passou por um pro-cesso revolucionário, em virtude das lutas da bur-guesia por maior poder político e da difusão das ideias iluministas. Ao observar a imagem, note a riqueza da corte real francesa. Você consegue imaginar os motivos da insatisfação da burguesia e dos setores populares da França em 1789?

Uma revolução burguesa A França de Luís XVI Estados Gerais Assembleia Nacional Constituinte Convenção Nacional Diretório Consulado

o que vocêvai conhecer

Revolução Francesa4

MARTIN, Jean-Baptiste. Vista em perspectiva do bosque da Galeria da Antiguidade em Versalhes. 1688. 1 óleo sobre tela, color. 140 cm × 200 cm. Museu Nacional do Palácio de Versalhes e Trianon, Versalhes.

Representação do luxuoso estilo de vida da nobreza francesa e de seu convívio social nos jardins do Palácio de Versalhes, residência do rei Luís XVI e de sua corte até a Revolução Francesa, em 1789

© J. B. Martin

50

Page 51: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Uma revolução burguesa

A Revolução Francesa, iniciada em 1789, é considerada pelos historiadores um episódio decisivo para o mundo ocidental, que marca a passagem da Idade Moderna (1453-1789) para a Idade Contemporânea (1789 até a atualidade).

Assim como a Revolução Gloriosa, ocorrida na Inglaterra em 1688, a Revolução Francesa foi liderada pela burguesia contra o regime absolutista. Derrubando as estruturas tradicio-nais do Antigo Regime, os burgueses franceses abriram espaço para o avanço do capitalismo e, principalmente, no campo político, almejaram a consolidação dos ideais de liberdade e de igualdade, tão presentes na filosofia iluminista do século XVIII.

A França de Luís XVI

Para entender as razões que motivaram a luta contra o Antigo Regime francês, é preciso refletir sobre o contexto da França no século XVIII. Nesse período, a economia interna do reino de Luís XVI encontrava-se em crise, pois o Estado gastava mais do que arrecadava.

As despesas com as guerras e os gastos para custear a pompa e o luxo da nobreza eram enormes. Além disso, dois grupos sociais, o clero (religiosos) e a nobreza, não pagavam impostos. Para completar esse quadro, no final do século XVIII, a França era um Estado essencialmente agrário, mas que, pelo uso de técnicas agrícolas atrasadas, se mostrava incapaz de fornecer o alimento necessário para uma popula-ção crescente.

Relacionar as condições políticas e socioeconômicas da França no século XVIII com o processo histórico da Revolu-ção Francesa.

Compreender a participação da burguesia e dos setores mais populares no processo revolucionário francês.

Conhecer os períodos da Revolução Fran-cesa: os Estados Gerais, a Assembleia

Nacional Constituinte, a Convenção Nacional, o Diretório e o Consulado.

Entender as transformações políti-cas da França no governo de Napoleão Bonaparte.

Identificar os fatores que levaram ao declí-nio do Império de Napoleão Bonaparte e as diretrizes do Congresso de Viena.

objetivos do capítulo

©M

useu

Nat

iona

l du

Châ

teau

, Ver

salh

es, F

ranç

a

CALLET, Antoine-François. Retrato de Luís XVI. 1788. 1 óleo sobre tela, color., 278 cm × 196 cm. Museu Nacional do Château, Versalhes.

51

Page 52: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Muitos nobres descendiam dos

senhores feudais e os que ainda

possuíam terras mantinham

os camponeses como servos,

cobrando dessa parte da

população tributos e taxas

instituídos na Idade Média.

A fome e a miséria existentes se agravaram no ano de 1788, em virtude das péssimas

colheitas que resultaram do inverno rigoroso daquele ano. Essa situação levou ao aumento

do número de desempregados e do preço dos alimentos, principalmente do pão.

Organização social da França pré-revolucionária

Outro fator importante para compreender a Revolução Francesa é a organização da so-

ciedade daquele período: era dividida em três grupos sociais – clero, nobreza e povo –, go-

vernados por um monarca absolutista.

Além de não pagarem impostos, o clero e a nobreza desfru-

tavam de uma série de outros privilégios, como o de ocupar

os cargos públicos mais importantes. Já a maioria da po-

pulação, que compunha o Terceiro Estado, pagava im-

postos ao reino, à Igreja e à nobreza latifundiária e

tinha outras obrigações impostas pelos resquícios

que ainda existiam do sistema feudal.

Entre o clero e

a nobreza existiam

diferenças, mas, de

modo geral, esses gru-

pos apoiavam o regime

absolutista.

O francês Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) tornou-se um químico reconheci-

do por ter identificado o oxigênio e por ter desenvolvido a lei da conservação natural,

expressa na frase: “Na natureza nada se

cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Ele também foi funcionário do governo de

Luís XVI, atuando como coletor de impos-

tos. Em razão de sua estreita ligação com

Antigo Regime, Lavoisier foi condenado à

guilhotina pelos revolucionários franceses,

no período chamado de Regime de Terror.

DELAISTRE, Louis J. D. Gravura representando Lavoisier (baseado em

desenho de Julien Leopold Boilly). 1847. 1 gravura, color.

Gravura representando Lavoisier, o “pai da química moderna”

©Sheila Terry/Science Photo Library/Fotoarena

Primeiro Estado – clero.

Segundo Estado – nobreza.

Terceiro Estado – maioria da

população, composta de campo-

neses, pequenos proprietários

rurais, artesãos e pequena

burguesia.

52

Page 53: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Os burgueses enriquecidos que viviam em um luxo ostensivo, rivalizando com a nobreza,

eram os únicos que tinham a chance de ascender socialmente, casando-se com algum membro

da nobreza ou comprando títulos. Porém, também careciam de direitos e aspiravam por mais

participação política, reivindicando o fim dos privilégios do clero e da nobreza e a instalação de

um governo republicano.

Assim, os políticos do Terceiro Estado propunham modificações na estrutura vigente, que,

vagarosamente, começaram a aparecer. A primeira conquista ocorreu em 1787, quando o rei Luís

XVI criou as Assembleias Provinciais, possibilitando a escolha de representantes populares.

De forma geral, para sanar os seus problemas econômicos, a França precisava urgentemente

cortar despesas e aumentar a arrecadação de impostos. O governo, contudo, sofreu oposição do

clero e da nobreza, aqueles que estavam acostumados com os privilégios e se negavam a pagar

tributos.

Leia o texto a seguir e responda às questões.

interpretando documentos

ROCHE, Daniel. O povo de Paris: ensaio sobre a cultura popular no século XVIII. São Paulo: Edusp, 2004. p. 103.

1 Qual é o assunto do texto?

2 De acordo com o texto, em que locais é possível observar a desigualdade social na Paris do século XVIII?

A miséria de Paris no século XVIII é qualquer coisa de terrível; ela está na paisagem coti-diana, onde convivem, num contraste caro aos observadores, os pobres fadados a uma eco-nomia da precariedade e os integrados que não encontram o seu lugar, um trabalho, uma moradia. A vida cotidiana é feita de confrontação. A turba de pobres e dos miseráveis é tama-nha em todos os bairros da cidade que, de carruagem, a pé, numa loja, não se consegue fazer nada devido ao número e à importunidade dos mendigos. É lastimável ouvir o relato das suas misérias, e se derdes algo a um, logo toda uma chusma deles cairá sobre vós [...].

turba: multidão em desordem.

chusma: grande quantidade de pessoas; multidão.

53

Page 54: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Estados Gerais

Em uma tentativa de solucionar a crise econômica de seu reino, em 1788 Luís XVI con-

vocou a Assembleia dos Estados Gerais, uma reunião que aconteceria no ano seguinte com

representantes dos três estados da sociedade francesa. Tal assembleia não era convocada

desde 1614, em razão do caráter absolutista da monarquia.

A representação nos Estados Gerais era por

estado, ou seja, cada um dos três grupos sociais

tinha o direito a um único voto. Como os inte-

resses do Primeiro e do Segundo Estados nor-

malmente coincidiam, a convocação foi vista

pelos integrantes do Terceiro Estado como uma

formalidade para aprovar novos impostos que

provavelmente seriam pagos por eles mesmos.

Insatisfeito com essa situação, o Terceiro

Estado ainda tentou defender uma participação

igualitária, na qual os votos fossem nominais

(por cabeça), e não por estado. As dificuldades

em superar esse impasse fizeram os políticos

do Terceiro Estado abandonarem os Estados

Gerais e se declararem como representantes

de uma Assembleia Constituinte. Assim, deu-se

o primeiro passo para a ruptura definitiva com

o regime absolutista.

Assembleia Constituinte

Enquanto os representantes da burguesia – a maioria dos representantes do Terceiro

Estado na Assembleia Constituinte – negociavam com o clero e a nobreza, os setores mais

populares e urbanos – denominados sans-culotte – to-

mavam as ruas das cidades francesas, incluindo Paris.

Luís XVI tentou mobilizar o exército para reprimir a

população, mas muitos dos soldados se uniram à popu-

lação revoltosa. O palco da revolução estava formado e,

no dia 14 de julho de 1789, a população de Paris invadiu a

Bastilha, um antigo presídio francês. O acontecimento fi-

cou conhecido como a Tomada da Bastilha e, atualmen-

te, nessa data, é comemorado o Dia Nacional da França.

©Museu Nacional do Palácio de Versalhes e do Trianon, Versalhes.

COULDER, Auguste. Inauguração da Assembleia dos Estados Gerais. 1839. 1 óleo sobre tela, color., 400 cm × 715 cm. Museu Nacional do Palácio de Versalhes e do Trianon, Versalhes.

Representação da cerimônia de abertura da Assembleia dos Estados Gerais realizada em 5 de maio de 1789.Membros dos três estados estavam presentes

©M

use

u d

e l

a V

ille

de

Pa

ris,

Mu

sée

Ca

rna

va

let,

Fra

nça

BOILLY, Louis-Léopold. Retrato de um sans-culotte típico. 1 óleo sobre tela, color. Museu Carnavalet.

O nome sans-culotte (ou sem-calça) era devido ao fato de que a parcela da

população francesa assim identificada não usava as calças típicas dos homens da nobreza, que eram curtas e justas.

54

Page 55: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Apesar da adesão de muitos franceses, em certas partes do reino as notícias vindas de

Paris ou de outros locais agitados pelas manifestações populares pouco modificavam a ro-

tina de camponeses e artesãos ou mesmo de alguns integrantes da nobreza que viviam em

suas terras, na área rural. Muitos desses, assustados com as agitações populares, se retira-

ram para o campo, imaginando que elas logo terminariam.

No entanto, as revoltas camponesas tomaram uma dimensão tão significativa que suas

repercussões passaram a ser temidas até mesmo por muitos deputados do Terceiro Estado,

representantes da alta burguesia, que apoiavam a revolução, mas não tinham interesse na

tomada de poder pelos setores mais populares. A violência nas ruas, os conflitos constantes

e os assaltos às propriedades geraram um clima de pavor na população, o que levou esse

movimento revolucionário a ser conhecido como o Grande Medo.

Temendo a intensificação das insurreições, o rei ordenou ao Primeiro e ao Segundo Es-

tados que se reunissem ao Terceiro e formassem com ele a Assembleia Nacional. Convocada

em 27 de julho de 1789, ela passou a ter a função de Assembleia Nacional Constituinte.

A imagem a seguir representa o evento da Tomada da Bastilha. Analise-a e, em seguida,

responda às questões propostas em seu caderno.

1 Descreva a imagem, considerando os seguintes detalhes: o cenário, o aspecto físico do prédio da

Bastilha, a quantidade de pessoas envolvidas, o uso de armas e as vestimentas.

2 Agora, relacione a imagem com a importância que o episódio da Tomada da Bastilha assumiu no contexto revolucionário francês.

©B

ibli

oth

èq

ue

Na

tio

na

le d

e F

ran

ce

HOUËL, Jean-Pierre. Tomada da Bastilha. 1789. 1 óleo sobre tela, color. Biblioteca Nacional da França.

Tomada da Bastilha, Paris, em 14 de julho de 1789

interpretando documentos

55

Page 56: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Assembleia Nacional Constituinte (1789-1792)

O período em que vigorou a Assembleia Nacional Constituinte caracterizou-se pelo tér-

mino do absolutismo e pela promulgação de uma nova Constituição na França. O rei, a prin-

cípio, não foi destituído de seu cargo, mas ficou

mantido sob o controle da Assembleia.

A necessidade de definir uma nova nação,

criada a partir da Tomada da Bastilha, trouxe

à tona uma série de projetos muito divergen-

tes entre si. De imediato, em agosto de 1789, a

Assembleia Nacional aboliu os direitos feudais e

divulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento inspirado nas ideias

dos filósofos iluministas e que buscava garantir

a igualdade de direitos e a liberdade para todos.

Visando manter seus poderes absolutos,

Luís XVI recusou-se a assinar a nova Constituição.

Como resposta, a população invadiu o Palácio de

Versalhes, obrigando-o a firmar o novo documen-

to e a dirigir-se a Paris, instalando-se no Palácio das Tulherias. A participação das mulheres nesse

episódio foi especialmente marcante, como ficou registrado em uma gravura da época, reprodu-

zida ao lado.

A nova Constituição francesa

A Constituição de 1791 determinou algumas mudanças importantes no Estado francês,

como:

©M

use

u C

arn

av

ale

t, P

ari

s, F

ran

çaMULHERES marcham para Versalhes. 1789. 1 gravura, color. Museu Carnavalet, Paris.

Gravura representando a participação feminina no processo revolucionário francês

Ainda que fosse uma Constituição inspirada em princípios liberais, camponeses, arte-

sãos, mulheres e trabalhadores em geral não tiveram direito à participação política.

Com o tempo, a Assembleia Legislativa tornou-se elitista e passaram a ser ignoradas as

lutas anteriores do Terceiro Estado. Dessa forma, a Assembleia negava a igualdade entre os

cidadãos, aprovada na Constituição.

Além disso, a alta nos preços dos alimentos ainda intensificou o problema da fome, o

que levou à continuidade do processo revolucionário na França.

O poder foi

dividido entre o Executivo, exercido

pelo rei, e o

Legislativo, a cargo

da Assembleia Legislativa.

O poder do rei foi subordinado ao

Poder Legislativo,

configurando-se uma monarquia constitucional.

Os privilégios econômicos

do clero e da

nobreza sofreram alterações, o

que favoreceu

os negócios da

burguesia.

Ao Poder Legislativo

couberam o

comando da política externa e do

exército da França.

56

Page 57: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Jacobinos e girondinos

Durante o tempo de duração da Assembleia Nacional Constituinte, formaram-se alguns

agrupamentos políticos de diferentes tendências, que passaram a compor a Assembleia Le-

gislativa do novo Estado francês:

Leia fragmentos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e responda às questões.

interpretando documentos

[...] Artigo 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são: a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.

[...] Artigo 10º. Ninguém deve ser molestado pelas suas opiniões, mesmo religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública, estabelecida pela lei.

[...] Artigo 17º. Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, dela ninguém pode ser privado, salvo quando a necessidade pública, legalmente verificada, o exigir evidentemente e com a condição de uma justa e prévia indenização.

Girondinos

Eram favoráveis à monarquia constitucional.

Membros da alta burguesia, eram menos

radicais que os demais grupos políticos e

consideravam-se os defensores dos princípios

liberais. Sentavam-se no lado direito do

plenário da Assembleia Legislativa e tinham

como principais líderes Jacques-Pierre Brissot

e Marquis de Condorcet.

Jacobinos

Tinham como objetivo discutir a Constituição a ser

votada e fortalecê-la. Unidos aos sans-culottes,

pretendiam depor o rei. Durante os trabalhos da

Assembleia Legislativa, identificavam-se como

revolucionários e patriotas e reuniam-se no lado

esquerdo do plenário. Seus principais representantes

foram Georges Danton, Jean Paul Marat, Maximilien

de Robespierre e Louis de Saint-Just.

Montanheses

Ocupavam os lugares situados no alto do plenário e defendiam

posições mais radicais.

Planície

Os membros da planície, ou pântano, ocupavam os lugares mais baixos na Assembleia e caracterizavam-se pelas posições oscilantes, favoráveis ora aos girondinos,

ora aos jacobinos.

ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. França, 1789.

a) Quais ideais iluministas foram apropriados e defendidos nesses artigos?

57

Page 58: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

b) Qual interesse é defendido no artigo 17º. e a qual grupo social ele beneficiava?

Convenção Nacional (1792-1795)

Ainda que a Assembleia Legislativa fosse composta apenas de aristocratas e da alta bur-guesia, havia muitos desentendimentos políticos entre esses grupos sociais. Luís XVI, por sua vez, beneficiava-se dessas disputas internas; mantinha permanente contato com outras mo-narquias absolutistas europeias e, com elas, planejava restaurar o absolutismo na França.

Em 1792, a França decretou guerra à Áustria, que, aliada à Prússia, conseguiu importan-tes vitórias contra os franceses.

©M

useu

Car

nava

let,

Par

is, F

ranç

a

DEMARCHY, Pierre Antoine. A execução capital na Praça da Revolução. 1793-1794. 1 óleo sobre papel entoilé, color. Museu Carnavalet, Paris.

Representação da decapitação do rei Luís XVI

A Marselhesa era

um hino de soldados da

região de Marselha, cantado por

ocasião das ofensivas francesas na

guerra contra a Áustria e a Prússia.

Em virtude de sua letra fazer um

convite à luta, foi identificada com todo

o processo revolucionário francês

e instituída, em 1792, como o

Hino Nacional da França pela

Convenção, mantido até os

dias atuais.

Objetivando contra-atacar o processo revolucionário francês em curso, o rei – que mantinha estreitas ligações políticas com os monarcas dos Estados austríaco e prussiano – passou os planos de guerra aos inimigos, sendo considerado um traidor da nação. Luís XVI tentou fugir da França, mas foi reconhecido e preso em Varennes.

Em face dessa traição à Assembleia e ao povo francês, Luís XVI foi condenado à execução na guilhotina, em 1793. Dessa forma, aboliu-se a monarquia e instaurou-se a Primeira Repú-blica da França.

Com a proclamação da república, formou-se uma nova assembleia, chamada de Convenção, uma espécie de parla-mento no qual os deputados eleitos deveriam preparar outra

Constituição e, durante essa elaboração, comandar os destinos da nação. Esse período mar-cou o auge e a fase mais radical da Revolução Francesa.

58

Page 59: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Regime do Terror

O Regime do Terror durou de 1792 a 1794 e foi marcado pelo poder dos jacobinos. A

Convenção organizou o Comitê de Salvação Pública e o Comitê de Segurança Geral: o pri-

meiro, formado por nove membros, era responsável pelo Poder Executivo, e o segundo era

encarregado de investigar os suspeitos de traição à revolução.

De início, o Comitê de Salvação Pública cuidava das questões políticas externas e do

exército. Posteriormente, esse órgão tornou-se autoritário e dirigido sucessivamente pelos

líderes jacobinos Georges Danton, Maximilien de Robespierre e Louis de Saint-Just.

Abolição da

escravidão

nas colônias

francesas

Sufrágio

universal

masculino aos

21 anos

Fim da

exigência de

os camponeses

indenizarem os

antigos senhores

Direitos sociais:

ao ensino

público, ao

trabalho, à

assistência e à

insurreição

Lei do Máximo,

que estabelecia

um teto máximo

para preços e

salários

Os jacobinos, contando com o apoio dos sans-culottes, assumiram a direção política do país, instaurando o Regime do Terror com a criação de um tribunal revolucionário para julga-mento sumário dos inimigos da República. Milhares de pessoas foram julgadas e guilhotina-das por determinação desse tribunal. “Traidores: olhai e tremei, ela só perderá sua atividade quando todos vós tiverdes perdido a vida” era a legenda de uma gravura do Glaive vengeur, periódico do terror, que relatava as execuções na guilhotina dos condenados no Tribunal Revolucionário.

VOVELLE, Michel. França revolucionária: 1789-1799. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 249.

Em razão de divergências políticas e do ritmo intenso das execuções, começaram a sur-

gir as primeiras divisões entre os jacobinos. Formou-se um grupo, liderado por Danton, que

pedia a atenuação do terror e mudanças no processo revolucionário. Danton e seus segui-

dores foram guilhotinados por outro grupo, liderado por Robespierre e Saint-Just. Estes

eram mais radicais e continuaram no comando da revolução. Com o tempo, foram ficando

isolados, pois desagradavam grande parcela da população.

Cientes de que os jacobinos e o Comitê de Salvação Pública estavam enfrentando difi-

culdades, os girondinos tomaram o poder, por meio do Golpe do 9 Termidor, um dos meses

do Calendário Revolucionário criado em 1792. Era o iníco do período do Diretório, em que a

alta burguesia recuperou sua participação e pôde defender seus interesses, abolindo todas

as medidas populares que os jacobinos haviam aprovado.

Em 1793, no mesmo ano da decapitação de Luís XVI, foi concluída e aprovada a Constitui-

ção Republicana, que trazia muitas leis sociais, por exemplo:

59

Page 60: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

troca de ideias

Diretório (1795-1799)

O Diretório foi um governo regido por cinco diretores ou conselheiros, instituído em

1795, com o objetivo de evitar a volta ao poder dos jacobinos e a instauração do autorita-

rismo na França, como no caso do Regime do Terror. Mesmo assim, os constantes levantes

populares ameaçavam a estabilidade do Diretório.

A insatisfação popular diante da crise econômica ainda era uma incômoda realidade na

França, ao passo que, no campo político, a burguesia enfrentava a ameaça contrarrevolucio-

nária. De um lado, restavam resquícios da oposição jacobina, descontente com o governo

da alta burguesia; de outro, havia os restauradores, grupos que defendiam a restauração da

monarquia.

Nesse período de conflitos políticos, houve, em 1796, a Conjuração dos Iguais, liderada

pelo democrata radical Graco Babeuf. Os participantes da rebelião condenavam a propriedade

privada e as desigualdades sociais predominantes na França. O líder da Conjuração dos Iguais

e seus partidários foram duramente reprimidos, e o movimento foi sufocado pelo Diretório.

Durante o Regime do Terror, foi criado o Museu do Louvre, na cidade de Paris, que é atual-

mente o maior museu do mundo.

O museu se localiza no antigo Palácio do Louvre uma fortaleza construída na Idade MédiaO museu se localiza no antigo Palácio do Louvre, uma fortaleza construída na Idade Média

e transformada em residência dos reis da França no século XVI. Como Luís XIV, no século XVII,

escolheu o Palácio de Versalhes para residir, o Louvre se tornou um lugar de exposição da co-

lelel çãçãção o o o dededeee aaaarte da realeza. Somente no ano de 1793 ele foi inaugurado como museu da França.....

Reúnam-se em grupos e reflitam sobre a seguinte situação: os jacobinos foram radi-

cais em sua defesa das conquistas da Revolução Francesa. Eles executaram seus adversá-

rios políticos, pois os consideravam contrarrevolucionários.

Na opinião de vocês, os jacobinos agiram de acordo com os ideais iluministas, que

inspiraram a Revolução Francesa?

Compartilhem suas conclusões com os demais colegas e troquem ideias sobre esse tema.

©S

hu

tte

rsto

ck/N

ad

iia

Ge

rbis

h

Fotografia atual do Museu do Louvre

60

Page 61: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

pesquisa

Para enfrentar as demais conspirações popu-

lares que surgiram, o Diretório passou a depender

cada vez mais do exército. Na opinião dos diretores,

somente o exército era capaz de instituir um gover-

no forte, centralizado, que pudesse evitar possíveis

reações da oposição.

Esse contexto possibilitou a ascensão de um jo-

vem militar chamado Napoleão Bonaparte, líder do

exército nacional e com grande prestígio perante a

burguesia francesa.

Anunciando uma suposta conspiração contra o

governo francês e contando com o apoio de influen-

tes políticos burgueses, Napoleão invadiu Paris, dis-

solveu o Diretório e instituiu o sistema de Consu-

lado, em 1799. Tal episódio ficou conhecido como

Golpe do 18 Brumário. A partir disso, Napoleão ob-

teve maior importância política, consolidada com a

instauração do Império Napoleônico, já no início do

século XIX.

O governo do Consulado marcou a definitiva

consolidação dos ideais burgueses no contexto da

revolução, assegurando a continuação de seu pre-

domínio social e político. Nesse momento, criou-se,

então, uma autêntica república burguesa na França.

©M

use

u d

e A

rte

Mo

de

rna

, Liè

ge

INGRES, Jean-Auguste D. Retrato de Napoleão Bonaparte como primeiro cônsul. 1803-1804. 1 óleo sobre tela, color., 226 cm × 144 cm. Museu de Arte Moderna, Liège.

Representação de Napoleão Bonaparte como primeiro cônsul francês

Após a leitura do texto abaixo, faça uma pesquisa e responda às questões em seu caderno.

Antes de assumir o poder, Napoleão Bonaparte comandou uma expedição ao Egito, que o consagrou como chefe militar e herói nacional.

O interesse pelo Egito foi grande. Os franceses criaram o Instituto do Egito, em 22 de agosto de 1798, formado por uma comissão composta de 36 membros, pertencentes às áreas de Matemática, Física, Economia Política, Literatura e Belas-Artes. Nesse período, foi encontrada a chamada Pedra de Roseta com registros escritos egipcios. Esse documento se encontra, na atualidade, no Museu Britânico em Londres.

1. Qual o objetivo do exército francês ao invadir o Egito?

2. Qual foi a importância da expedição de Napoleão ao Egito?

3. Quem foi o francês Jean-François Champollion?

61

Page 62: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

Consulado (1799-1804)

A República da França era governada por meio do poder centralizador e militarizado do Consulado. Napoleão Bonaparte era o cônsul mais importante, pois exercia as funções de governo do país.

Assim, Napoleão era o responsável por comandar o exército, nomear os membros da administração, propor as leis e conduzir a política externa. Já os dois outros cônsules eram apenas conselheiros. As prioridades do Consulado eram enfrentar as ameaças externas e reorganizar a economia e a sociedade francesa, após o tumultuado período revolucionário.

Em 1802, Napoleão foi declarado cônsul vitalício. A partir de então, ele reconstruiu a França e ganhou o apoio de parte da população. Entre as várias ações de seu governo, devem ser citadas as seguintes:

Fundação do Banco da França para organizar

as finanças nacionais

Criação de uma única moeda que circularia

em toda a França, o franco

Aumento dos impostos para os produtos importados,

a fim de estimular as produções industrial e

agrícola internas

Reorganização do ensino público, com o objetivo principal de formar cidadãos

para servir ao Estado

BLOQUEIO CONTINENTAL

Para consolidar seu poder na Europa, a França napoleônica precisava neutralizar a Inglaterra, maior potência econômica do período e sua grande rival. Para isolar a Inglaterra do restante da Europa, em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental. Por esse decreto, as nações da Europa continental ficaram proibidas de comercializar com os ingleses. A nação que desobedecesse seria invadida pelo exército napoleônico.

RESISTÊNCIA AO DOMÍNIO NAPOLEÔNICO

A proibição do comércio com a Inglaterra impossibilitou o acesso de muitos reinos aos artigos de consumo ingleses, o que provocou insatisfação generalizada e inúmeras revoltas contra o domínio francês. Passou a existir uma resistência nacionalista, principalmente na Espanha e na Rússia, contra a imposição do domínio napoleônico. Esse processo de resistência, somado ao desejo de Napoleão de anexar territórios ao Império a fim de ampliá-lo, foi marcado por guerras, levando, posteriormente, à decadência do poder bonapartista na Europa.

GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Algumas investidas militares de Napoleão para anexar territórios vizinhos e propagar os ideais revolucionários foram bem-sucedidas, resultando na anexação de territórios italianos, espanhóis e do Leste Europeu (reinos Germânico e Austríaco). No entanto, após a campanha de Napoleão na Rússia (1812-1813), iniciou-se a decadência do Império Napoleônico.

O czar Alexandre I, em busca de mercados para a produção russa de trigo e manufaturas, abriu os portos do país ao comércio com os ingleses. Napoleão, em represália, invadiu a Rússia com um exército de mais de 600 mil homens. Sem condições de enfrentar abertamente o exército francês, os russos se retiravam cada vez mais para o interior do território, destruindo tudo o que pudesse ser útil ao inimigo, numa tática de guerra denominada terra arrasada. Depois que as tropas inimigas estão exaustas e sem provisões, inicia-se o contra-ataque. Sem abrigo, pasto para os animais e comida para abastecer as tropas e, ainda, com os constantes ataques de guerrilha russa e a chegada do inverno, Napoleão começou a retirada.

Em 1814, a França foi derrotada por uma coligação que reuniu Inglaterra, Prússia e Rússia, a qual pôs fim ao projeto expansionista francês e ao chamado período napoleônico. Quando Napoleão conseguiu sair

62

Page 63: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Napoleão utilizou os mesmos recursos dos reis absolutistas dos séculos XVII

e XVIII para fortalecer sua imagem de grande general e imperador. Muitos artistas eram financiados por ele para reproduzir sua imagem em pinturas e esculturas.

Império de Napoleão

Os grupos social e economicamente privilegiados na França, em especial a alta burgue-

sia, deram grande apoio a Napoleão e mobilizaram a sociedade para implantar um novo re-

gime, em 1804: o Império.

Assim, Napoleão criou uma corte para acompanhá-lo e governou a França com “mão de

ferro”, o que significou um retrocesso do ponto de vista político, ao se considerarem as con-

quistas da Revolução Francesa. Apesar disso, seu governo representou um período de prospe-

ridade e estabilidade para a França: tomou uma série de decisões que favoreceram os campo-

neses (que assim puderam aumentar a produção e assegurar o abastecimento da população) e

outros setores da sociedade; aprovou um código comercial, que deu segurança jurídica àque-

les que desejavam desenvolver seus negócios; e implantou um código penal, que definia todo

o corpo de leis que regulamentava as penas judiciais, pondo fim às arbitrariedades.

Contando com o apoio da população, Napoleão voltou suas atenções à expansão do Es-

tado francês e iniciou guerras por toda a Europa.

Sobre as atuações de Napoleão Bonaparte, nesse período, desta-

cam-se os seguintes episódios, que levariam o Império Napoleônico ao

auge e, posteriormente, à decadência:

GOVERNO DOS CEM DIAS

Após a deposição e o exílio de Napoleão, foi restabelecida a dinastia dos Bourbons na França. Assumiu então Luís XVIII, irmão de Luís XVI, ato considerado pela população uma imposição dos reinos vencedores. Luís XVIII ficou no poder durante alguns meses.

Em março de 1815, entretanto, Napoleão retornou à França à frente de 1 500 soldados. As tropas do rei Luís XVIII, enviadas para detê-lo, acabaram se unindo a Napoleão, recebido festivamente pelos

soldados e pela população, em uma demonstração de sua forte popularidade. Luís XVIII e sua corte

fugiram da França, e Napoleão assumiu novamente o governo francês, que dirigiu por pouco mais de três meses, o que ficou conhecido na História como Governo dos Cem Dias.

Uma nova coligação internacional, liderada pela Inglaterra, foi formada para combater a França

napoleônica. O imperador tentou uma rápida ofensiva contra a sétima coligação, mas foi derrotado, definitivamente, em 18 de junho de 1815, na Batalha de Waterloo.

Preso pelos ingleses, Napoleão foi exilado na longínqua Ilha de Santa Helena, colônia da

Inglaterra no Atlântico Sul, vindo a morrer em 5 de maio de 1821, no exílio. Suas cinzas retornaram à França em 1840 e foram depositadas no Hotel dos Inválidos, onde se localiza a atual sede do museu do exército francês.

Napoleão utilizou os mdos reis absolutistas d

e XVIII para fortalecer s

grande general e imperaderam financiados por elesua imagem em pinturas e

tado francês e iniciou guerra

Sobr

cam-se o

auge e, p

©Museu Nacional do Château de Malmaison, Rueil

DAVID, Jacques-Louis. O primeiro cônsul cruzando os Alpes. 1800. 1 óleo sobre tela,

color., 260 cm × 221 cm. Museu Nacional do

Château de Malmaison, Rueil. Detalhe.

do território russo, com menos de 100 mil homens e desmoralizado, teve de enfrentar mais uma coligação, formada por Rússia, Prússia, Inglaterra e Áustria. Foi derrotado em outubro de 1813, na Batalha das Nações, em Leipzig.

Em 6 de abril de 1814, os coligados

entraram vitoriosos em Paris. Napoleão foi deposto e obrigado a assinar o Tratado de Fontainebleau. Em troca, receberia uma pensão de 2 milhões de francos anuais e plena soberania sobre a Ilha de Elba,

situada no Mar Mediterrâneo, perto da Córsega.

63

Page 64: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

No século XIX, as ideias

nacionalistas se fortaleceram

na Europa. Elas eram baseadas

no princípio de que alguns povos

se configuravam como nações e,

por isso, deveriam ter governos

próprios e independentes.

Congresso de Viena

Com a derrota de Napoleão, as principais potências europeias reuniram-se no Congresso

de Viena. O objetivo era restabelecer a situação política europeia anterior à Revolução Fran-

cesa. Entre as principais diretrizes aprovadas, destacaram-se:

Houve também a proposta de aliança militar entre as nações

europeias, a Santa Aliança, criada em 1815. Essa aliança tinha

como objetivos proteger a paz, a justiça e a religião, lutar contra

as manifestações nacionalistas e liberais, inspiradas nos ideais

da Revolução Francesa, e garantir a realização das medidas apro-

vadas no Congresso. Inicialmente, a aliança era composta pelos

exércitos de Inglaterra, Rússia, Prússia e Áustria e, a partir de

1818, contou com a inclusão da França.

Contudo, um fator comprometeu os planos estabelecidos no

Congresso de Viena: a consolidação da economia industrial. Os industriais e os comerciantes

tinham necessidade de ampliar cada vez mais seus mercados consumidores e fornecedores

de matéria prima dentro e fora da Europa para seus negócios prosperarem. Em virtude disso,

as alianças políticas entre as nações europeias foram perdendo importância.

Assim, os princípios defendidos pelo

Congresso de Viena tornavam-se cada vez

mais um obstáculo à construção da nova

ordem política e econômica na Europa. As

alianças se desgastaram até desaparecerem,

por meio da ação das revoltas liberais na Eu-

ropa e dos processos de independência das

colônias na América Latina.

Proposto e defendido pelo diplomata francês

Talleyrand, buscava restaurar nos Estados

europeus as dinastias legítimas, isto é, as que

reinavam no período anterior à Revolução

Francesa. Visava, ainda, restabelecer as

fronteiras territoriais anteriores a 1789. No

entanto, a restauração das fronteiras nacionais

não foi inteiramente respeitada. Inglaterra,

Rússia, Áustria e Prússia, fortes e vitoriosas, não devolveram os territórios que haviam

tomado de Estados mais fracos, como Polônia, Itália e a França derrotada.

Princípio da legitimidade

Fundamentava-se na necessidade de

restabelecer o equilíbrio de forças entre as

potências europeias. A proposta era que

as vencedoras tivessem o direito de obter

novas possessões fora da Europa e manter as

que já controlavam, como recompensa pela

participação nas batalhas contra Napoleão

Bonaparte. Assim, foi facilitada a anexação de

territórios pelas grandes potências europeias, reafirmando sua soberania sobre o restante do continente. Entre todas as nações europeias, a

Inglaterra foi a que mais se beneficiou.

Princípio do equilíbrio europeu

©F.

Je

an

-Ba

pti

ste

Isa

be

y

ISABEY, Jean-Baptiste. O encontro dos representantes das oito potências presentes na Paz de Paris. 1819. 1 afresco, color. Museu do Rissorgimento, Milão.

Representação de políticos europeus no Congresso de Viena

64

Page 65: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

Reúnam-se em grupos e troquem ideias sobre a seguinte questão: Quais foram as principais influências da Revolução Francesa para o mundo contemporâneo?

Compartilhem com o restante da turma as conclusões a que chegaram.

troca de ideias

©M

useu

do

Lo

uvre

A obra a seguir retrata a coroação de Napoleão Bonaparte na Catedral de Notre-Dame, em Paris, em 2 de dezembro de 1804. Observe atentamente o detalhe da tela e responda à questão.

DAVID, Jacques-Louis. A coroação de Napoleão. 1805-1808. 1 óleo sobre tela, color., 610 cm × 931 cm. Museu do Louvre, Paris.

Representação da autocoroação de Napoleão Bonaparte

1 Na Catedral de Notre-Dame, Napoleão se autocoroou, bem como coroou sua esposa Josephine como imperatriz, não permitindo que o papa fizesse isso. Por que Napoleão agiu dessa forma? O que tal fato simbolizou?

interpretando documentos

2 Cite os principais objetivos do Congresso de Viena e comente se eles foram alcançados.

65

Page 66: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

1 Após a instalação do governo revolucionário, o governo anterior da França começou a ser chamado de Antigo Regime. Para os revolucionários, o que isso queria dizer?

2 Relacione cada um dos três estados que formavam a sociedade francesa até 1789 às respectivas características. Use 1 para Primeiro Estado, 2 para Segundo Estado e e 3 para Terceiro Estado.

( ) Assim como a nobreza, apoiava o Antigo Regime.

( ) Pagava todos os impostos.

( ) Era composto de trabalhadores urbanos e camponeses.

( ) A nobreza fazia parte dele.

( ) Era o mais atingido pelas crises de fome.

( ) Vivia à custa da monarquia.

( ) A burguesia fazia parte dele.

( ) Cobrava dízimos.

( ) Cobrava taxas para batismos, casamentos e sepultamentos.

( ) Trabalhava para gerar riqueza.

( ) Descendia de antigos senhores feudais.

( ) O clero fazia parte dele.

3 Assinale a resposta que completa corretamente cada sentença sobre a Revolução Francesa.

a) Quando eclodiu a Revolução Francesa, o rei da França era

( ) Luís XVI. ( ) Napoleão Bonaparte.

b) Os sans-culottes eram

( ) a população urbana. ( ) os camponeses.

c) Para propor e votar uma mudança na forma como o governo francês cobrava os impostos, em 1788 o rei convocou

( ) a Assembleia dos Estados Gerais. ( ) o Parlamento.

d) Os deputados do Terceiro Estado, reunidos em assembleia propuseram que o sistema de vota-ções fosse por

( ) número de representantes. ( ) Estado.

o que já conquistei

66

Page 67: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

História

4 Assinale com V as sentenças verdadeiras e com F as falsas. Depois, em seu caderno, reescreva as falsas, a fim de corrigi-las.

( ) A Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, é comumente considerada o início da Revolução Francesa.

( ) O absolutismo francês tinha pleno apoio das camadas mais baixas da população, porque, por serem menos favorecidas economicamente, estavam isentas de impostos.

( ) Durante a existência da Assembleia Nacional Constituinte, foi promulgada uma nova Constitui-ção, sendo divulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

( ) O chamado Regime do Terror foi imposto pelos girondinos.

5 Relacione os grupos de revolucionários franceses às respectivas características, usando G para gi-rondinos e J para jacobinos.

( ) Eram burgueses ricos.

( ) Eram representantes da pequena e da média burguesia.

( ) Entre eles, havia professores, médicos e alguns profissionais liberais.

( ) Eram de tendência moderada.

( ) Procuravam impedir as conquistas populares mais radicais.

( ) Eram representantes dos camponeses de Paris.

( ) Representavam a principal força popular.

6 (ENEM)

Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela probidade, os usos pelos princípios, as conveniências pelos deveres, a tirania da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade, a mesquinharia dos grandes pela grandeza do homem.

HUNT, L. Revolução Francesa e vida privada. In: PERROT, M. (Org.). História da vida privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. v. 4. Adaptação.

O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho transcrito acima é parte, relaciona-se a qual dos grupos político-sociais envolvidos na Revolução Francesa?

a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês como força política domi-

nante.

b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta burguesia.

c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram as potências rivais e que-

riam reorganizar a França internamente.

d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato com os intelectuais iluministas, desejava extiguir o absolutismo francês.

e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares, que desejavam

justiça social e direitos políticos.

67

Page 68: Ç DQR Volume 1 - Conquista | GuiaSecure Site conquistaguia.com.br/wp-content/uploads/... · Revoluções Inglesas 2 Capítulo 2 Iluminismo 16 Capítulo 3 Revolução Industrial 33

7 Explique o que foi o chamado governo do Diretório e aponte o grupo social no poder durante esse período.

8 Explique como era o governo consular de Napoleão Bonaparte, instituído logo após o tumultuado período da Revolução Francesa.

9 Uma das características do governo napoleônico foi a rivalidade da França com a Inglaterra, que se caracterizou por conflitos militares e medidas econômicas, como o Bloqueio Continental, decreta-do em 1806. O que foi o Bloqueio Continental e de que forma afetava a economia da Inglaterra e da França?

10 O que foi e quais os principais objetivos do Congresso de Viena?

11 Quais questões econômicas inviabilizaram os objetivos do Congresso de Viena?

68