Ç dqr volume 1 - conquistaguia.com.br · x proclamação da república xrepública da espada x...

68
Capítulo 1 Brasil: Primeira República 2 Capítulo 2 Grande Guerra 19 Capítulo 3 Revolução Russa 36 Capítulo 4 Período Entreguerras: Crise de 1929 52 Volume 1

Upload: others

Post on 11-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Capítulo 1

Brasil: Primeira República 2

Capítulo 2

Grande Guerra 19

Capítulo 3

Revolução Russa 36

Capítulo 4

Período Entreguerras: Crise de 1929 52

Volume 1

Page 2: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

capí

tulo

Brasil: Primeira República 1

No final do século XIX, depois de quase 70 anos de

Monarquia, o Brasil passou a ser uma República. Desde a

proclamação, em 1889, o cenário político brasileiro conhe-

ceu várias mudanças. Ao observar a imagem de abertura

deste capítulo, podemos considerar que a Proclamação

da República foi um movimento popular? Por quê?

Proclamação da República

República da Espada

República Oligárquica

Movimentos sociais na

Primeira República

Fim da Primeira República

o que vocêvai conhecer

©Pinacoteca do Estado de São Paulo

No Campo de Santana, no Rio de Janeiro, o Marechal Deodoro da Fonseca é saudado depois de depor os ministros do imperador D. Pedro II

CALIXTO, Benedito. Proclamação da República. 1893. 1 óleo sobre tela, color., 123,5 cm × 198 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

2

Page 3: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Retomar os motivos que levaram à crise no Império.

Identificar as principais características da organização política, econômica e social brasileira durante os primeiros anos da República.

Conhecer as principais realizações dos governos dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Compreender o funcionamento da máquina eleitoral que se estabeleceu durante a República Oligárquica.

Conhecer os principais movimentos sociais que ocorreram durante a Repú-blica Oligárquica nos meios rural e urbano.

Entender as mudanças políticas, econômicas e artísticas ao final da Primeira República.

objetivos do capítulo

Proclamação da República

O período monárquico no Brasil contou com dois imperadores: D. Pedro I – no Primeiro

Reinado (1822-1831) – e D. Pedro II – no Segundo Reinado (1840-1889). O intervalo entre

1831 e 1840 ficou conhecido como Regência. Nesse tempo, o Brasil foi governado por re-

gentes que guiaram o país até o imperador alcançar a maioridade e assumir o trono. Desde o

início da década de 1880, o Império brasileiro passou a ter dificuldades no governo. Diversas

eram as questões problemáticas, entre elas:

Questão religiosa – a Igreja Católica afastou-se gradativamente do governo, pois se

opunha às interferências do imperador D. Pedro II em assuntos religiosos.

Questão militar – o Exército pleiteava uma participação mais ativa no governo, princi-

palmente após o término da Guerra do Paraguai (1864-1870). Os militares também se

sentiam desatendidos pelo imperador, que atrasava salários.

Ideais republicanos – por meio de livros, panfletos e informações em geral que cheg-

avam de outros países, a classe média brasileira (funcionários públicos, profissionais

liberais, jornalistas, estudantes, artistas, comerciantes) entrou em contato com ideias repu-

blicanas e passou a buscar mais liberdade e maior participação nos assuntos políticos do

país. Nesse sentido, passou a apoiar a instituição de uma República.

Movimento abolicionista – o processo lento e gradual que levou ao fim da escravidão

despertou a insatisfação de setores conservadores da sociedade brasileira. Fazendeiros

dependentes da mão de obra escrava abandonaram o imperador, deixando-o cada vez

com menos apoio.

Ainda que, em 1888, a Lei Áurea tivesse extinguido oficialmente a escravidão, muitos

afrodescendentes enfrentavam dificuldades para se incorporar à sociedade e ao mercado de

trabalho brasileiros. Alguns periódicos que aqui circulavam, no final do século XIX, questiona-

vam a condição social dos libertos e, inspirados nos ideais de liberdade, igualdade e fraterni-

dade propagados pela Revolução Francesa, defendiam a instalação de uma República.

3

Page 4: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Na tentativa de contornar a crise no Segundo Reinado, o chefe do Conselho dos Minis-

tros de D. Pedro II, Visconde de Ouro Preto, levou à Câmara um documento que sugeria uma

reforma política. Essas sugestões foram rejeitadas pelos membros da Câmara que, por se-

rem conservadores, não tinham interesse em alterações políticas. Tendo em vista tal atitude,

D. Pedro II decretou a dissolução da Câmara e convocou uma nova, formada por políticos que

ainda o apoiavam.

A dissolução da Câmara foi vista como abuso de poder pelos republicanos de São Paulo e

do Rio de Janeiro que foram em busca de apoio dos militares. Em 15 de novembro de 1889,

Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República no Brasil, tomando o quartel-general

do Exército. É importante destacar que esse movimento de passagem da Monarquia para

a República aconteceu sem a participação popular e sem grandes anúncios. D. Pedro II foi

obrigado a embarcar para a Europa dois dias depois da Proclamação.

Em frase que se tornou famosa, Aristides Lobo, o propagandista da República, manifestou seu desapontamento com a maneira pela qual foi proclamado o novo regime. Segundo ele, o povo, que pelo ideário republicano deveria ter sido protagonista dos acontecimentos, assis-tira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar. Não nos interessa aqui discutir em que medida a observação correspondia à reali-dade [...]. Interessa-nos, sim, o fato de que um observador participante e interessado tenha percebido a participação do povo dessa maneira; interessa-nos o fato de que três dias após

a proclamação este observador já tenha percebido e confessado o pecado original do novo regime.

CARVALHO, José M. de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 9.

bestializado: embasbacado, pasmo.

©M

use

u C

asa

de

Be

nja

min

Co

nst

an

t, R

io d

e J

an

eir

o

SILVA, Oscar Pereira da. Proclamação da República. 1889. 1 óleo sobre tela, color., 80 cm × 124 cm. Acervo do Museu Casa de Benjamin Constant, Rio de Janeiro.

Representação da Proclamação da República brasileira pelo artista Oscar Pereira da Silva

4

Page 5: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

República da Espada

Proclamada a República, tornou-se necessário organizar a situação política e administra-

tiva do país. Os republicanos não formavam um bloco coeso, ou seja, não tinham um projeto

político unificado para o Brasil. Havia ainda o receio de que surgissem movimentos em prol

da Família Real, portanto era necessário assumir o poder o quanto antes.

Apesar das divergências, ficou estabelecido que um governo provisório, comandado

pelo Marechal Deodoro da Fonseca, seria o responsável pela recém-criada República até que

a Constituição fosse elaborada e o chefe de governo fosse escolhido.

De 1889 a 1894, o Brasil foi governado por dois marechais: Manuel Deodoro da Fonseca

e Floriano Vieira Peixoto; daí a denominação República da Espada para esse período.

Marechal Deodoro da Fonseca

O governo do Marechal Deodoro foi dividi-

do em duas etapas: Provisório e Constitucional.

Durante o Governo Provisório, coube a ele to-

mar as primeiras medidas para que a República

brasileira fosse consolidada. Assim, em junho

de 1890, convocou eleições para a formação da

Assembleia Nacional Constituinte.

Após três meses de intensos debates, foi

promulgada a Constituição de 24 de fevereiro

de 1891, a qual sofreu a influência marcante da

Constituição dos Estados Unidos da América e

dos revolucionários franceses.

BERNARDELLI, Henrique. Deodoro da Fonseca. [ca. 1902]. 1 óleo sobre tela, color.

Academia Militar das Agulhas Negras, Rio de Janeiro.

©A

cad

em

ia M

ilit

ar

da

s A

gu

lha

s N

eg

ras,

Rio

de

Ja

ne

iro

Na abertura deste capítulo, você observou uma obra do pintor Benedito Calixto, que

registrou a ausência de populares no dia da Proclamação da República do Brasil. Acredita-

-se que Calixto apresentou fielmente o evento, ao contrário de Oscar Pereira da Silva,

que retratou a presença popular no episódio. Reúna-se com um colega e observem essa

pintura, reproduzida no final da página 4. Depois, busquem as diferenças e as semelhan-

ças entre ela e a obra de Benedito Calixto. Compartilhe o que observaram com os demais

colegas de sala para ver se encontraram as mesmas evidências.

troca de ideias

5

Page 6: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

No texto da Constituição não havia menção à questão da demarcação de terras indí-

genas ou da inclusão deles na sociedade, tampouco falava da parcela da população negra,

recém-libertada da escravidão. Além disso, como grande parte das pessoas que formavam

esses grupos eram analfabetos, também foram excluídos do direito de votar. Eles viviam à

margem da sociedade, não eram considerados cidadãos.

Ainda que a recém-criada Constituição definisse que as eleições seriam diretas, ficou de-

cidido pelo Congresso que a primeira eleição seria indireta, apenas os senadores poderiam

votar. Dessa forma, Deodoro da Fonseca foi eleito o primeiro presidente do Brasil, como

vice, outro militar, o Marechal Floriano Peixoto.

Na área econômica, uma das principais políticas adotadas pelo governo de Deodoro da

Fonseca foi o incentivo à industrialização. No entanto, o Brasil enfrentava dois graves pro-

blemas: a falta de capitais e a oposição das elites agroexportadoras a qualquer incentivo à

indústria nacional.

Para estimular a atividade industrial interna, Rui Barbosa, então ministro da Fazenda,

aumentou as tarifas alfandegárias dos produtos industrializados similares aos fabricados no

Brasil. A nova política também permitia que vários bancos emitissem papel-moeda, com o

objetivo de investir no setor industrial.

Essa medida econômica criou um enriquecimento e um crescimento ilusórios, pois os

bancos concediam empréstimos a pessoas interessadas em criar projetos que levassem à

industrialização do Brasil, porém nem todos os projetos poderiam ser ou foram executados.

Graças à emissão exagerada de papel-moeda e à produção interna baixa, a inflação aumen-

tou continuamente. A política econômica de Rui Barbosa ficou

conhecida como encilhamento, pois a euforia na Bolsa de Valores

lembrava o local de apostas de corridas de cavalo.

encilhamento: ato de encilhar, de

colocar arreios ou sela em animais.

Voto direto – os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos poderiam votar. No entanto,

havia exceções, como analfabetos, mendigos, praças de pré e religiosos sujeitos a voto

de obediência. Não constava no texto constitucional qualquer men-

ção à participação das mulheres nas eleições, fato que, na prática,

deixava implícita a inexistência do direito à cidadania feminina.

Separação entre os poderes político e religioso – o Brasil firmava-se como um Estado laico,

defensor da liberdade religiosa. Podem ser citadas duas consequências dessa medida: a cria-

ção do casamento civil, único a ser reconhecido pelo Estado, e a instalação do ensino leigo

nos estabelecimentos públicos.

Definição dos órgãos de soberania nacional – os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário

harmônicos e independentes entre si.

praças de pré: militares com graduação de soldado ou cabo.

A Constituição de 1891 estabeleceu um sistema federativo e presidencialista com a divisão

dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário, concebidos como livres e independentes.

Entre as mudanças previstas no novo texto constitucional em relação à Constituição Imperial de

1824, é possível citar o voto direto, a separação entre os poderes político e religioso e a definição

dos órgãos de soberania nacional.

6

Page 7: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

O Governo Constitucional de Deodoro da Fonseca foi de

curta duração e marcado pela crise econômica e pela pressão

de seus adversários, que o acusavam de promover um governo

autoritário. As pressões levaram o presidente a tomar medidas

impopulares que agravaram ainda mais a crise política. Com

problemas de saúde, enfraquecido politicamente, envolvido

em casos de corrupção e pressionado pela Primeira Revolta da

Armada, Deodoro renunciou em 23 de novembro de 1891.

Marechal Floriano Peixoto

Floriano Peixoto deveria convocar novas eleições, como estabelecia a primeira Constitui-

ção Republicana do Brasil. Entretanto, alegou que o artigo 42 da Constituição só poderia ser

aplicado aos presidentes eleitos pelo povo e não de forma indireta, como havia sido o caso

de Deodoro da Fonseca.

Com base nessa interpretação, Floriano Peixoto decidiu dar continuidade ao governo de

Deodoro da Fonseca. A classe média urbana, que via em Floriano um presidente forte, austero,

honesto e comprometido com o progresso, apoiou sua posse e permanência no cargo.

Em 1892, a preocupação com o estado sanitário do Rio de Janeiro, então capital federal,

levou Floriano a tomar medidas expressivas, como a demolição de cortiços e a perseguição

aos ambulantes. Por outro lado, em busca do apoio do povo, iniciou ações populares, como a

diminuição de impostos e a redução do preço de alimentos. Os setores da sociedade descon-

tentes com as medidas populares e com a não convocação de eleições passaram a pressionar

o presidente. A seguir, destacamos algumas das várias dificuldades que Floriano enfrentou

em seu governo.

Segunda Revolta da Armada (1892-1894)

Comandados por Custódio de Melo, inte-

grantes da Marinha ameaçaram bombardear a

cidade do Rio de Janeiro caso Floriano Peixoto

não convocasse novas eleições conforme pre-

visto na Constituição. O movimento fracassou,

Floriano Peixoto terminou o mandato iniciado

por Deodoro, e Custódio de Melo, no comando

do encouraçado Aquidabã, aderiu à Revolução

Federalista.

Revolução Federalista (1893-1895)

Teve início no Rio Grande do Sul em 1893.

Esse conflito aconteceu em decorrência das

disputas pelo poder local por três grupos polí-

ticos rio-grandenses:

SILVA, Oscar P. da. Marechal Floriano Peixoto. [ca.1891]. 1 óleo sobre tela, color., 57cm × 46,5 cm. Museu Republicano, Itu.

Retrato do Marechal Floriano Peixoto

©M

use

u R

ep

ub

lica

no

, Itu

A Primeira Revolta da Armada

foi um movimento ocorrido em

novembro de 1891 por ação das

Unidades da Armada da Baía de

Guanabara, comandadas pelo

almirante Custódio de Melo, as

quais ameaçaram bombardear

a cidade do Rio de Janeiro caso

o presidente não renunciasse.

7

Page 8: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

O apoio de Floriano Peixoto ao presidente do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos, acir-

rou as divergências entre esse estado e o governo federal, gerando uma guerra civil. Du-

rante o conflito armado, os castilhistas ficaram conhecidos como pica-paus por conta da

vestimenta que lembrava as cores desse pássaro: uniforme azul, quepe vermelho e lenço

branco; os federalistas (ou gasparistas) foram apelidados de maragatos e usavam um lenço

vermelho amarrado ao pescoço.

A falta de unidade e de objetivos políticos comuns dificultou o avanço dos federalistas.

Isso beneficiou o governo de Floriano Peixoto, dando-lhe tempo para organizar um contra-

-ataque em 1894. O fracasso da Revolta da Armada na capital afastou qualquer possibilidade

de os federalistas desembarcarem no Rio de Janeiro, isolando-os no sul do país.

Em meio ao conflito, em 1894, ocorreu a eleição que deu a vitória a Prudente de Morais

como sucessor de Floriano Peixoto. Prudente de Morais era o candidato dos grandes pro-

prietários rurais e firmou um acordo de paz com os federalistas, concedendo-lhes anistia

restrita, pois os militares revoltosos que haviam lutado contra o governo federal, ainda que

libertos, não poderiam voltar à ativa.

Terminava, assim, o período conhecido como República da Espada. Iniciou-se um novo

período na República brasileira, que foi chamado de República Oligárquica ou República do

Café com Leite.

Leia um trecho da Constituição de 1891 e responda às questões.

interpretando documentos

Art. 1º. A Nação Brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de Novembro de 1889, e constitui-se, por missão per-pétua e indissolúvel das suas antigas províncias, em Estados Unidos do Brasil.

Art. 2º. Cada uma das antigas províncias formará um Estado, e o antigo município neutro constituirá o Distrito Federal, continuando a ser a capital da União, enquanto não se der exe-cução ao disposto no artigo seguinte.

BRASIL. Constituição (1891). In: CASTRO, Therezinha de. História documental do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1995. p. 258-265.

Cartilhistas – Liderados por Júlio de Castilhos, apoiavam Floriano Peixoto e defendiam

um governo forte e centralizado.

Governistas – Com a renúncia de Deodoro da Fonseca, assumiram o governo estadual,

entregando-o aos federalistas em junho de 1892.

Federalistas ou gasparistas – Liderados por Gaspar Silveira Martins, faziam oposição a

Floriano Peixoto, defendiam a convocação de uma nova eleição presidencial e a implan-

tação de uma República parlamentar.

8

Page 9: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

1 A Constituição de 1891 transformou o Brasil em uma República Federativa, sob o regime represen-tativo. Explique, com suas palavras, o que significam os termos “federativo” e “representativo”.

2 Por que o nome do movimento que teve início no Rio Grande do Sul, em 1892, recebeu o nome de Revolução Federalista?

República Oligárquica

Com a eleição de Prudente de Morais, os grandes proprietários de terras, principalmen-

te do setor cafeeiro de São Paulo, assumiram o controle político do Brasil. Esses ricos fazen-

deiros permaneceram no poder até 1930 e, por isso, esse período foi chamado de República

Oligárquica. A manutenção do poder carecia da elaboração de artifícios que garantissem a

vitória a certos candidatos.

Política dos Governadores e coronelismo

O poder dos grupos oligárquicos tornou-se mais forte durante o mandato de Campos

Sales, de 1898 a 1902. Esse presidente estabeleceu a Política dos Governadores, que con-

sistia na estratégia do governo federal de promover alianças entre as oligarquias locais mais

poderosas de cada região, evitando, assim, choques e desavenças entre elas. Unidas em tor-

no do governo federal, os interesses de ambos lados seriam satisfeitos.

Para a Política dos Governadores surtir o efeito esperado, foi estabelecido um acordo:

as oligarquias regionais estariam sempre no poder se apoiassem o governo central. Caso um

candidato de grupo oposto ao do governo fosse eleito, ele não

teria sua vitória reconhecida e seria substituído pelo candidato

aliado à União; essa artimanha foi chamada de degola. O órgão

chamado Comissão de Verificação dos Poderes era responsável

por fazer cumprir esse acordo.

Além da prática de alianças e fraudes que mantinha as oli-

garquias no poder, havia práticas sociais que afastavam qualquer

possibilidade de grupos divergentes ao governo vencerem as elei-

ções, é o caso do coronelismo e do clientelismo.

Os coronéis eram grandes latifundiários que exerciam in-

fluência sobre as pessoas de uma região a ponto de indicarem em

qual candidato seus empregados, agregados ou dependentes de-

veriam votar.

oligarquias: palavra grega que significa governos de poucas pessoas pertencentes ao mesmo

partido ou ao mesmo grupo social.

A figura dos coronéis surgiu

no Brasil na década de 1830.

Durante o Império, foi criada a

Guarda Nacional, uma milícia

formada por civis para a

manutenção da ordem. Após a

dissolução da Guarda Nacional,

vários fazendeiros continuaram

a utilizar títulos militares,

sem qualquer valor real.

9

Page 10: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Como o voto era aberto, os eleitores eram pressio-

nados e fiscalizados por capangas para que votassem

nos candidatos indicados pelos coronéis. Essa forma

de votação recebeu o nome de voto de cabresto. Na

época, era comum o uso da expressão “curral eleitoral”

para fazer menção à comunidade de eleitores que esta-

va sob a influência política de um coronel. Assim, o voto

de cabresto era uma das formas utilizadas para garantir

a fidelidade do eleitor, que era conduzido à urna como

“gado” mantido em “curral”, sem poder escolher livre-

mente seu candidato.

Além dos acordos políticos que asseguravam a per-

manência de grupos nos poderes municipal e estadual,

no governo federal foi estabelecida uma aliança pela

qual políticos ligados aos estados de São Paulo e Minas

Gerais se alternariam na presidência. Por essa razão, esse

período também é chamado de República do Café com Leite, pois

essas eram as oligarquias mais poderosas – em São Paulo, a do café;

em Minas Gerais, o leite, simbolizando a pecuária.

Para a manutenção de todos esses arranjos políticos, havia a necessidade de uma grande

rede de favores e conchavos que envolvia desde o chefe local, o coronel, até o presidente da

República.

Ao passo que o poder político se concentrava nas mãos dos oligarcas – que faziam o pos-

sível para preservar seus interesses, mesmo que isso significasse recorrer a métodos ilícitos

–, o setor industrial brasileiro começou a se desenvolver com a iniciativa de particulares,

em sua maioria, grandes comerciantes que haviam acumulado capital com a comercialização

do café. Assim, em São Paulo, local em que se concentravam as maiores fortunas do país, a

industrialização teve significativo desenvolvimento, sendo seguido por Rio de Janeiro, Mi-

nas Gerais, Pernambuco e Bahia. As primeiras indústrias criadas nessas cidades produziam

prioritariamente roupas e sapatos, além de produtos alimentícios e bebidas. Com o tempo,

surgiram também indústrias que produziam ferro, aço e outros materiais pesados necessá-

rios para a produção de máquinas industriais.

Faça uma pesquisa sobre dois sistemas eleitorais: o que conhecemos atualmente e o que havia durante a República Oligárquica no Brasil. Registre as informações coletadas e compartilhe-as com os colegas em sala trocando ideias sobre as semelhanças e as diferenças entre eles. Para organizar sua pesquisa, siga o roteiro abaixo.

a) Existe sigilo de voto nas eleições atuais. Em sua opinião, por que isso é importante?

b) Em sua opinião, durante as eleições brasileiras na atualidade, algumas pessoas se sentem ou são obrigadas a votar em determinados candidatos? Por quê?

pesquisa

cabresto: arreio que serve para conduzir e controlar o animal de montaria ou de tração.

STORNI. As próximas eleições... “de cabresto”. Careta, ano 20, n. 974, 19 fev. 1927.

Charge que retrata o voto de cabresto “– É O ZÉ BESTA?” “– NÃO, É O ZÉ BURRO!”

©A

cerv

o I

con

og

rap

hia

10

Page 11: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Movimentos sociais na Primeira República

Enquanto um pequeno grupo de oligarcas atuava nas instâncias políticas, a maioria da

população não recebia qualquer assistência do governo. Faltavam boas condições referen-

tes às necessidades básicas das pessoas, como saúde, educação, moradia, alimentação, sa-

neamento básico, entre outras.

A população negra, liberta no final do século XIX, também encontrava sérias dificulda-

des para se manter.

No Brasil, aos libertos não foram dadas nem escolas, nem terras, nem empregos. Passa-da a euforia da libertação, muitos ex-escravos regressaram a suas fazendas, ou a fazendas vizinhas, para retomar o trabalho por baixo salário. Dezenas de anos após a abolição, os des-cendentes de escravos ainda viviam nas fazendas, uma vida pouco melhor do que a de seus antepassados escravos. Outros dirigiram-se às cidades, como o Rio de Janeiro, onde foram engrossar a grande parcela da população sem emprego fixo.

CARVALHO, José M. de. Cidadania no Brasil: o longo Caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 52.

Foi nesse contexto de penúria, descontentamento e exclusão da participação política

efetiva que grupos formados por populares, no campo e nas cidades, promoveram movi-

mentos contrários à ordem estabelecida.

Movimentos sociais rurais

A Proclamação da República não significou melhoria nas condições de vida dos brasileiros

que moravam nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. A população já empo-

brecida teve de assumir uma alta carga de impostos estabelecidos pelos governos regionais.

Em regiões diferentes do país, os movimentos rurais reuniram grupos que lutavam pela

posse da terra, pelo sustento ou contra a ordem instituída pela República. Alguns deles fo-

ram comandados por líderes religiosos (ou messiânicos) e outros por grupos mais radicaliza-

dos e marginalizados que fizeram uso de violência.

Entre 1877 e 1879, o Nordeste foi atingido por uma grande seca. Somente no Ceará, apro-

ximadamente 60 mil pessoas morreram em consequência da fome, da sede e da varíola. As

secas se repetiram em 1888, 1898, 1900 e 1915, dificultando ainda mais a vida da população

sertaneja.

Canudos

A grave crise econômica e social vivida no Nordeste brasileiro era formada por latifún-

dios improdutivos, secas cíclicas, desemprego, miséria e fanatismo religioso. Os grandes

proprietários de terras detinham o controle político e econômico da região.

11

Page 12: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

O movimento de Canudos ocorreu na Bahia entre 1893 e 1897. Liderados pelo beato

Antônio Conselheiro, milhares de sertanejos fundaram o Arraial de Canudos. As propostas

eram a abolição da propriedade privada e o não pagamento de impostos.

Conselheiro andou pelo Sertão Nordestino rezando, organizando procissões e festas

religiosas, consertando igrejas, limpando cemitérios e fazendo pregações sobre o fim dos

tempos. Seu grande prestígio perante a população pobre preocupou as autoridades civis,

religiosas e os grandes proprietários da região. Em 1891, os dirigentes da Igreja Católica o

proibiram de fazer pregações.

À medida que cresciam a crise e a fome na região, au mentava o número de mo radores do

Arraial. Os fazendeiros ao redor passaram a temer a invasão de suas propriedades e a exigir

das autoridades a dispersão dos habitantes do

local.

Autoridades locais e estaduais promove-

ram investidas com o intuito de acabar com Ca-

nudos. Porém, não obtiveram sucesso e o im-

passe passou a ganhar repercussão nacional.

Temendo o alastramento dos movimentos

revoltosos pelo país, o governo federal enviou

tropas para a região em 1896. No entanto, so-

mente um ano depois, com um contingente de

seis mil homens fortemente armados, a comu-

nidade de Canudos foi derrotada. Centenas de

sertanejos foram mortos e mulheres e crianças

foram feitos prisioneiros.

Sedição de Juazeiro

Ao sul do Ceará, localiza-se a cidade de Juazeiro, onde

o padre Cícero Romão Batista era capelão. Ele prestava ser-

viços religiosos e favores à população. Por volta de 1889, a

notícia de que uma hóstia dada à beata Maria dos Anjos se

transformara em sangue fez crescer o prestígio de Padre

Cícero perante a população sertaneja.

As autoridades eclesiásticas e do governo, então, fica-

ram temerosas de perder o controle sobre a população e

afastaram o pároco de suas funções. Isso aumentou ainda

mais sua popularidade, e ele chegou a se tornar prefeito de

Juazeiro em 1911.

Como líder espiritual e também político, seu prestígio

cresceu a ponto de muitos atribuírem a ele o título de co-

ronel. Esse movimento foi denominado Sedição de Juazei-

ro em virtude do apoio da população ao padre, fato que

foi considerado uma contestação (sedição) em relação ao

governo.

Estátua de Padre Cícero, na cidade de Juazeiro, no estado do Ceará. Todos os anos,

o local recebe centenas de romeiros de todo o país.

©S

hu

tte

rsto

ck/L

uci

an

o Q

ue

iro

z

Representação do Arraial de Canudos antes da guerra

©W

ikim

ed

ia C

om

mo

ns

12

Page 13: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Contestado

Movimento messiânico ocorrido na Região Sul, na divisa de Santa Catarina e Paraná, en-

tre os anos 1911 e 1915, o Contestado recebeu esse nome em virtude do território reivindi-

cado pelos dois estados.

Na região, estabeleceram-se trabalhadores rurais expulsos de suas terras – em virtude

da instalação de uma madeireira e de uma ferrovia – e operários que trabalharam nessas

obras e ficaram desempregados após seu término. Essas pessoas se recusaram a deixar o lo-

cal e passaram a ser alvo de ataques de milícias estaduais e de jagunços a serviço de coronéis

locais. Liderada pelo monge José Maria, a comunidade organizou uma resistência aos gru-

pos que passaram a atacar a região a mando de fazendeiros e autoridades locais. O monge

foi morto logo nos primeiros confrontos, em 1911, mas o restante da comunidade resistiu,

aguardando a ressurreição de seu líder religioso. Como estratégia de luta pela posse de suas

terras, mudavam-se várias vezes de acampamento.

Em razão do aumento da área sob o con-

trole dos revoltosos, tropas bem equipadas

foram enviadas à região e acabaram por des-

truir os acampamentos rebeldes. Após vários

confrontos, os membros da resistência fo-

ram finalmente derrotados pelas tropas dos

governos federal e estadual em 1915.

interpretando documentos

©B

en

jam

in A

bra

ão

/Cre

ati

ve

Co

mm

on

s

Lampião, ao centro, e sua esposa, Maria Bonita, à direita,

fotografados por Benjamin Abrahão Botto, 1936

JANSSON, Claro. Guerreiros do Contestado. Museu Paranaense, Curitiba, Paraná.

Fotografia de caboclos guerrilheiros do Contestado, na segunda década do século XX

©M

use

u P

ara

na

en

se

Além dos movimentos sociais rurais que

estudamos até aqui, houve também o canga-

ço, outro fenômeno social desse período.

Observe a imagem e faça o que se pede.

a) Quem são as pessoas retratadas na

fotografia?

b) Pesquise a respeito desse movimen-

to e registre no caderno as infor-

mações encontradas.

13

Page 14: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Movimentos sociais urbanos

No meio urbano, as péssimas condições de trabalho e de moradia levaram a greves e

revoltas. A seguir, veremos algumas das mais significativas.

Revolta da Vacina

Em 1904, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de uma revolta popular contra a política

higienista do presidente Rodrigues Alves. Para acabar com a febre amarela, a peste bubôni-

ca e a varíola, o presidente nomeou o médico Osvaldo Cruz como diretor da Saúde Pública.

Em sua luta para erradicar essas doenças, adotou medidas que desagradaram à população e

uma delas foi a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.

A falta de esclarecimento sobre a vacina, o isolamento forçado dos doentes e a maneira

como os funcionários públicos realizavam a vacinação revoltaram os populares. Outros fato-

res também contribuíram para a eclosão da revolta, como desemprego, alto custo de vida e

programa de reurbanização do Rio de Janeiro, o qual desalojou milhares de pessoas pobres,

sobretudo negros ex-escravizados que habitavam os cortiços da área central da cidade. Re-

voltada, a população enfrentou a polícia, destruiu bondes e saqueou lojas e armazéns entre

os dias 12 e 15 de novembro de 1904.

Os jovens oficiais da Escola Militar da Praia Vermelha tentaram usar o movimento para

derrubar o presidente, mas não tiveram êxito. O resultado desse conflito foi a revogação da

lei da vacinação obrigatória, a prisão de algumas pessoas, a deportação de muitos revoltosos

para o Acre e a expulsão de vários imigrantes anarquistas.

Revolta da Chibata

Em 1890, o presidente Deodoro da Fonseca restabeleceu os castigos corporais na ar-

mada brasileira, que haviam sido extintos em 16 de novembro de 1889. A punição para os

delitos leves era a prisão a pão e água; para as faltas graves, 25 chibatadas.

Esse código disciplinar foi mantido até 1910, apesar do descontentamento dos mari-

nheiros. Em 22 de novembro daquele ano, liderados pelo cabo João Cândido, eles assumi-

ram o controle dos principais navios da armada brasileira ancorados na Baía de Guanabara.

Ameaçando bombardear a cidade, os marinheiros exigiram

o fim dos castigos corporais e a anistia aos revoltosos.

O presidente e os congressistas cederam às reivindica-

ções e aprovaram um projeto que pôs fim aos castigos fí-

sicos na armada. Contudo, os marinheiros que haviam par-

ticipado do movimento foram presos. Isso provocou uma

nova revolta, duramente reprimida resultando em muitos

marinheiros deportados para a Amazônia, a fim de realiza-

rem trabalhos forçados nos seringais, e outros presos na

Ilha das Cobras, no litoral fluminense, onde foram mortos.

João Cândido, líder da Revolta da Chibata, recebeu o apelido de Almirante Negro.

©A

cerv

o I

con

og

rafi

a

14

Page 15: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Movimento operário – Greve de 1917

No começo do século XX, o operariado representava uma pequena parcela da população

concentrada em centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Suas condições de traba-

lho e de vida eram precárias e a falta de uma legislação trabalhista tornava a exploração dos

trabalhadores ainda maior.

Aos poucos, o operariado foi se organizando em sindicatos, nos quais a presença de imi-

grantes europeus foi de grande importância. Muitos deles já tinham experiência nas lutas

por melhores condições de trabalho e de vida para o operariado em seu país de origem.

A partir de 1914, as greves se intensificaram. Em julho de 1917, na cidade de São Paulo,

45 mil trabalhadores da indústria fizeram uma greve que se estendeu para outros estados.

Eles reivindicavam uma jornada de trabalho de 8 horas, a proibição do trabalho de menores,

o fim do trabalho noturno para as mulheres, o aumento dos salários e a redução dos pre-

ços dos aluguéis e dos alimentos. A repressão foi violenta, mas muitas reivindicações foram

atendidas: a obtenção de aumentos salariais, a limitação do trabalho infantil e do trabalho

noturno feminino e a redução da jornada de trabalho.

Tenentismo

Na década de 1920, os jovens oficiais do Exército Brasileiro (tenentes) estavam descon-

tentes com a realidade política brasileira, marcada por corrupção, injustiças, incompetência

administrativa e fraudes eleitorais. Eles defendiam um governo centralizado e controlado

pelos militares.

Desde 1922, houve levantes de tenentes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 1924, ocor-

reram movimentos em diversos pontos do Brasil, provocando a imediata reação do governo

federal. Assim, as tropas federais foram convocadas para impedir que o movimento dos revol-

tosos se expandisse, principalmente para o interior do Brasil.

Greve operária de 1917

©A

cerv

o I

con

og

rafi

a

15

Page 16: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

No Rio Grande do Sul, sob o comando do capitão Luís Carlos Prestes, um batalhão se rebe-

lou em outubro de 1924 e se juntou aos tenentes que estavam no interior do Paraná. Em 1925,

esses grupos formaram a chamada Coluna Prestes, o mais expressivo movimento militar con-

tra a República Oligárquica, uma longa marcha que percorreu cerca de 25 mil quilômetros en-

tre 1925 e 1927. Era comandada por Luís Carlos Prestes e Miguel Costa.

Nessa marcha pelo interior, os tenentes enfrentaram tropas federais, polícias estaduais

e grupos armados por coronéis. Enfraquecidos e isolados, os tenentes retiraram-se para a

Bolívia em 1927. Muitos retornaram e apoiaram a Revolução de 1930, que levou Getúlio

Vargas ao poder.

Durante a Primeira República, o descontentamento de parte da população brasileira levou ao surgimento de movimentos por melhores condições de vida e de trabalho e por melhorias na

administração do país. Na atualidade, percebemos movimentos parecidos. Converse com seus colegas sobre quais são as reivindicações mais comuns dos grupos que exigem mudanças. De-pois, anote suas conclusões.

troca de ideias

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. Adaptação.

Coluna Prestes 1925-1927

Ta

lita

Ka

thy

Bo

ra

16

Page 17: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Arte e sociedade

O crescimento urbano no Brasil, em meados de 1920, al-

cançava números expressivos, mesmo em um país basicamen-

te rural. Havia um movimento de industrialização impulsiona-

do pelas exportações durante a Primeira Guerra Mundial e

pelo consumo interno. Esses fatores realçaram um desenvol-

vimento nos meios de comunicação, transporte e imprensa. O

resultado dessa conjunção foi um momento de efervescência

política no país.

Artistas de diversos segmentos passaram a criticar a mera

absorção de valores europeus e defendiam a necessidade de

se criar uma arte genuinamente brasileira. Nesse sentido, a pu-

blicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, em 1902,

exemplificava parte da problemática social vivida no país.

O evento chamado Semana de Arte Moderna ocorreu no

Teatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 e 17 de feve-

reiro de 1922 e foi organizado por um grupo de artistas com a

intenção de valorizar a cultura e a realidade brasileiras.

A Semana de Arte Moderna escandalizou a elite paulis-

tana. A nova estética plástica, literária e musical foi criticada

por muitos intelectuais e críticos de arte, acostumados a pa-

drões de arte mais tradicionais.

Assim, na década de 1920, muitas das estruturas daquele

Brasil vivenciado durante a República Oligárquica encontra-

vam-se em decadência. Eram necessários novos ares e novos

padrões para se fazer política e se perceber como brasileiro.

Fim da Primeira República

A Primeira República terminou em 1930, com a Revolução de 30, que será estudada pos-

teriormente. Esse evento levou Getúlio Vargas à presidência, iniciando um novo momento

de nossa história política, a chamada Era Vargas.

Os fatores que levaram ao esgotamento da República Oligárquica estão ligados às dis-

putas de poder entre as elites agrárias, em âmbitos locais e estaduais, acirradas pela grave

crise econômica dos Estados Unidos, que atingiu também o Brasil. Getúlio Vargas pertencia

à oligarquia gaúcha, e toda a movimentação política que houve ao final da década de 1920

caracterizou-se pela crítica à Política do Café com Leite, que privilegiava as oligarquias pau-

lista e mineira em detrimento das demais.

A chamada Crise de 1929, que se instalou nos Estados Unidos, alcançou seriamente o

setor de produção de café, nosso principal produto de exportação desde os anos do Império

até as primeiras décadas da República. Isso gerou dificuldades financeiras aos grandes oli-

garcas brasileiros, levando-os, consequentemente, à perda de poder.

AMARAL, Tarsila do. Abaporu. 1928. 1 óleo sobre tela, color.,

85 cm × 73 cm. Coleção Eduardo Constantini, Buenos Aires, Argentina.

A obra Abaporu, de Tarsila do Amaral, tornou-se famosa e símbolo do Modernismo brasileiro. A desproporcionalidade entre os membros do corpo do indivíduo representado expressava uma nova visão sobre as representações artísticas.

©R

om

ulo

Fia

ldin

i/T

em

po

Co

mp

ost

o

17

Page 18: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

R

E

P

Ú

B

L

I

C

A

1 Por que a primeira fase da República brasileira ficou conhecida como República da Espada?

2 Complete a cruzadinha com informações relativas aos movimentos sociais rurais e urbanos durante a Primeira República.

1

8

4

9

6

7

2

3

3 (ENEM) A imagem representa as manifesta-ções nas ruas da cidade do Rio de Janeiro na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela

a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.

b) a consciência da população pobre acerca da necessidade de vacinação para a erradi-cação das epidemias.

c) a garantia do processo democrático instau-rado com a República, por meio da defesa da liberdade de expressão da população.

d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral.

e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite.

1. Movimento messiânico que ocorreu na Bahia.

2. Conflito ocorrido na Região Sul do Brasil entre os anos 1911 e 1915.

3. O mais conhecido e temido cangaceiro.

4. Padre importante na Sedição de Juazeiro.

5. Nome da revolta contra os castigos corpo-rais aos marinheiros.

6. Aqueles que aderiram à Greve de 1917.

7. Nome do meio da principal liderança da Coluna Prestes.

8. Estado brasileiro em que ocorreu o Movi-mento de Canudos.

9. Órgão do governo dirigido por Osvaldo Cruz.

LEÔNIDAS. A revolta da vacina no governo do presidente Rodrigo Alves. O Malho. 1904. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.

©A

cerv

o I

con

og

rap

hia

o que já conquistei

5

18

Page 19: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

No contexto da crescente industrialização e do

Imperialismo que caracterizaram o final do século

XIX, as nações europeias adentraram o século XX

organizadas econômica e militarmente. As disputas

por poder e por territórios conduziram essas ricas

nações à Grande Guerra. A imagem retrata alemães

partindo para o combate. Será que eles imaginavam

as consequências desse conflito?

A Europa no início do século XX

Política das Alianças

O início do conflito

Fases da Guerra

Anos finais da Guerra: 1917 e 1918

Os acordos de paz e as mudanças na ordem mundial

Mulheres na Grande Guerra

o que vocêvai conhecer

SOLDADOS alemães partindo para a Guerra. 1914. 1 fotografia, p&b.

Fotografia de soldados alemães em um vagão de trem, ao partirem para a Grande Guerra, em 1914

capí

tulo

História

Grande Guerra2©Friedrich/Interfoto/Fotoarena

19

Page 20: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Conhecer as principais características da

Belle Époque.

Identificar os principais fatores que leva-

ram à eclosão da Grande Guerra em 1914.

Identificar as principais alianças estabele-

cidas para a guerra.

Analisar as diferentes fases do conflito e

suas principais características.

Reconhecer quais as novas tecnologias

desenvolvidas no período da Grande

Guerra e relacioná-las com a atualidade.

Analisar a importância da saída da Rússia

e da entrada dos Estados Unidos no con-

flito em 1917.

Compreender as implicações das deter-

minações estabelecidas pelos vencedo-

res nos acordos de paz.

Identificar mudanças ocorridas na socie-

dade europeia após a Grande Guerra.

objetivos do capítulo

A Europa no início do século XX

Na Europa Ocidental, a virada do século XIX para o XX foi marcada por euforia e desen-

volvimento econômico e comercial, frutos da aceleração da industrialização, que caracteri-

zou a Segunda Revolução Industrial, e da consequente política imperialista.

O domínio sobre os novos mercados nos continentes asiático e africano, a consolida-

ção do capitalismo monopolista, a crescente industrialização, o avanço tecnológico, entre

outros fatores, geraram uma visão otimista entre as grandes nações europeias. Todo esse

progresso compôs um quadro que os historiadores denominam de Belle Époque, expressão

de origem francesa que representava a consolidação do “modo de vida burguês”, sinônimo

de tranquilidade, prosperidade e bem-estar para parte da população europeia.

A Belle Époque (1871-1914) teve a cidade de Paris como centro difusor de inovações. O

local passou por uma grandiosa reforma a partir de 1853, quando o imperador Napoleão III

nomeou o barão Georges-Eugène Hausmann para chefe do Departamento do Sena. Foram

abertas avenidas, construídas pontes, criados parques e mobiliário de rua (bancos, postes,

floreiras, fontes, etc.). A energia elétrica passou a ser a marca registrada da “Cidade Luz”.

Surgiram também as exposições universais. Nelas, os avanços da indústria, as riquezas tra-

zidas das colônias e a pujança das economias dos países participantes eram apresentadas para

atrair compradores e cativar clientes. Vários países eram convidados a organizar estandes com

o melhor de suas economias e, à medida que as exposições se suce-

deram, também exibiram suas expressões culturais e artísticas.

Durante a Belle Époque, surgiram novos meios de transporte de pessoas e de mercado-

rias. Ferrovias, navios, automóveis e até bicicletas passaram por grandes inovações. As artes

e o entretenimento também receberam grande incentivo.

pujança: poderio, grandeza.

20

Page 21: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

A Belle Époque ficou conhecida na Europa como um período de paz e prosperidade.

De acordo com nossos estudos, responda às questões a seguir.

1 Qual foi a classe beneficiada pelos progressos da industrialização?

2 Há alguma relação entre o imperialismo e o desenvolvimento econômico europeu? Explique sua resposta.

organizando a história

Em 1908, a empresa automobilística Ford lançou o automóvel Modelo T; por ser simples de dirigir e barato, tornou-se muito popular nos Estados Unidos e também na Europa. Na Grande Guerra, esse veículo chegou a ser utilizado como ambulância.

A moda feminina burguesa se transformou. Os vestidos e as saias passaram a ter formato de sino e tinham menos tecido que anteriormente, proporcionando maior liberdade às mulheres.

O pintor francês Toulouse-Lautrec retratou espaços de divertimento em Paris, como o Moulin Rouge.

O engenheiro J. K. Stalker desenvolveu, em 1880, uma bicicleta mais segura, semelhante à usada na atualidade. A partir de 1890, esse modelo começou a ser amplamente produzido na Europa.

©B

rid

ge

ma

n I

ma

ge

s/F

oto

are

na

©

Alb

um

/ak

g-i

ma

ge

s/A

lbu

m/F

oto

are

na

©M

use

u d

e A

rte

de

Fil

ad

élf

ia

©S

hu

tte

rsto

ck/R

ya

n F

letc

he

r

TOULOUSE-LAUTREC, Henry. No Moullin Rouge: a dança. 1890. 1 óleo sobre tela, color., 115,6 cm × 149,9 cm. Museu de Arte da Filadélfia.

21

Page 22: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Política das Alianças

O progresso técnico-científico conjugado ao crescimento econômico procedente da Se-

gunda Revolução Industrial promoveram a concorrência entre os países industrializados, esti-

mularam o imperialismo e estabeleceram um clima de instabilidade entre as principais potên-

cias europeias.

A animosidade entre as potências acarretou a formação de alianças político-militares:

Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) e a Tríplice Aliança (Alemanha, Império Aus-

tro-Húngaro, Império Turco-Otomano e Itália). No desenrolar do conflito, esses dois blocos

antagônicos sofreram alterações de acordo com os interesses de cada Estado diretamente

envolvido na guerra. A política de alianças deu início a uma fase denominada Paz Armada,

caracterizada por um aumento considerável de armamentos e intensa militarização da Euro-

pa, que previa um confronto direto entre as potências imperialistas.

Essa verdadeira corrida armamentista, em que cada aliança procurava superar a outra,

colaborou para o aumento da tensão no continente europeu. As disputas entre os países

acabaram por aumentar o sentimento nacionalista na Europa. Em meio a essas rivalidades,

podem ser citados os movimentos do pangermanismo e do pan-eslavismo.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 145. Adaptação.

Europa – 1914

Ma

rilu

de

So

uza

22

Page 23: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Pangermanismo: defendia a união de todos os povos germânicos da Europa Central. Os

germânicos são um grupo étnico e linguístico originário do norte da Europa e têm o ale-

mão como idioma em comum.

Pan-eslavismo: pregava a união de todos os povos de origem eslava. São considerados

eslavos os povos indo-europeus cuja língua teria uma origem comum. A maioria vive nas

regiões centrais e orientais da Europa e divide-se em grupos tão distintos como polone-

ses, russos e sérvios.

O início do conflito

Vários foram os fatores que levaram à eclosão do conflito armado, quase todos ligados

a disputas imperialistas e territoriais na Europa. Os motivos estavam postos, bastava apenas

um fato que servisse de estopim. Esse fato foi um assassinato ocorrido nos Bálcãs.

Crise nos Bálcãs

A região dos Bálcãs, que esteve durante séculos sob a dominação do Império Turco-

-Otomano, passou a apresentar sinais de crise e decadência em 1878. Esse enfraquecimento

gerou o desejo de maior autonomia política e econômica nos países da Península Balcânica.

As tensões aumentaram com a ambição de ampliar territórios.

O episódio que deu início ao conflito ocorreu no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo.

Os herdeiros do trono austro-húngaro – o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa, a

arquiduquesa Sofia – estavam em visita oficial à cidade quando foram alvejados pelo estu-

dante sérvio Gavrilo Princip, membro da organiza-

ção nacionalista sérvia Mão Negra. Essa organiza-

ção lutava pela expulsão do exército austríaco e

pelo restabelecimento das antigas fronteiras com

a Áustria-Hungria.

A Sérvia teve o apoio da Rússia, que, baseada

na ideologia do pan-eslavismo, declarou guerra ao

Império Austríaco. Daí em diante, cada membro

pertencente às alianças político-militares passou

a declarar guerra aos oponentes.

BELTRAME, Achille. La Domenica del Corriere, ano

XVI, n. 27, 5-12 jul. 1914.

O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua esposa Sofia em Sarajevo foi o estopim da Grande Guerra. Esse crime estava relacionado às questões étnicas e aos

conflitos ocorridos nos Bálcãs.

©S

tefa

no

Bia

nch

ett

i/C

orb

is v

ia G

ett

y I

ma

ge

s

23

Page 24: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Como a maioria dos países europeus eram potências imperia-

listas, várias de suas colônias foram envolvidas no conflito de algu-

ma forma, tornando-o mundial. Assim, teve início a Grande Guerra.

A Grande Guerra envolveu boa parte dos Estados europeus, ex-

ceto a Espanha, os Países Baixos, a Escandinávia e a Suíça. Soldados

indianos, canadenses, chineses, africanos e estadunidenses foram

lutar no território europeu. Os combates se deram na Europa, no

Oriente Médio, no Mar Mediterrâneo, no Oceano Atlântico e na

África. É possível dizer que a guerra iniciada em 1914 mudou para

sempre a história mundial. Nesse sentido, o historiador inglês Eric

Hobsbawm considerou esse acontecimento como o início do sécu-

lo XX. Segundo ele, nada foi igual após a eclosão desse conflito.

A Belle Époque terminou subitamente no 28 de junho de 1914, dia do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo jovem sérvio Gavrilo Prin-cip. Aquele ato de terror perpetrado em Sarajevo, nos turbulentos mas periféricos Bálcãs, empurrou as potências para a guerra geral que ninguém desejava.

HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 22.

Observe a caricatura francesa ao lado. Ela foi produzida no

início do século XX e faz a representação dos interesses dos im-

périos Russo, Austro-Húngaro e Turco-Otomano na Península

Balcânica. Depois, responda às questões.

1 Quais são os personagens presentes na caricatura?

2 Qual é a situação representada?

3 Por que a Península Balcânica era alvo de conflitos entre os três imperadores?

interpretando documentos

©L

ee

ma

ge

/UIG

/Fo

toa

ren

a

A Grande Guerra (1914-

1918) foi posteriormente

chamada de Primeira Guerra

Mundial por causa da eclosão

de um segundo conflito

mundial, em 1939. Porém,

na época, ela era chamada

apenas de Grande Guerra (a

maior de todas as outras),

denominação aqui adotada.

24

Page 25: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

HistóriaHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHHiHiHiiHiHiHiHHiHiHiHHiHiHiHiHHiHiHiHiHiiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHiHHHiHHHiHiiiHiHiHiHiHHiHHiHHHiHiHiHiHiHiHiHHHiHHHiiHiHiHiHiHiHHHHHiHHHHHHHHiHiiHHiHiHiHiHHiHHHiHiHHiiiHiiHiiHHiHHHiHHiHiHHiHiHHiiHiHiHiHiHHHiHiHHiiHiHiHiiHiHiHiHHHiHHHiHiHiiiHiHiHHHiHHiHiHHHiHiiHiiHHHiHHiHiHiHiHHiHHiiiiiHiHHiHiiHHiHHHiiHiHHiiHiHHHiHHHiHiHiHiHiHiHHHHiHHiHiiHiHHHHHHHHiHiiHHiHiHiiHiHiHHHiHiHiHHHiiiistststststststststststststststsstststststststttststststststsstststststststststststststtstststsststststststtststststststststsstststststtttsttstststtttsttststtststststsstststtstststtssstststsssssstssttsttststssttttstsstsststtstttttststststsststtttststsststtststtsstssstttttstststtsttststtttsstttttttsssttttssstttststtstttóróróróóóróróróróróróróróróróróróróróróóróróróróóóróóróróróróróróróróróróróróóróróróróóróróróróróóróróóóróróróróróróróróróóóróórórórórróróróróróóóóróóróróróróóróróróróróóróróróróóóróróóróóórórórórórrórórrórórórrrórrrórrórrrórórórórórrrrórrrórórrrrrrrórrórrórróróróóróróóóórróóróóóróóóóórróóóróóróróróóórróróóórróóóróóórórróóróóóóróóróóóóóórriaiaiaiaiaaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiiaiaiaiaiaiaiaiiiaiaiaaiaiaiaiaiaiaiaiaaaiaiaiaiaiiaiaiaaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiiaaiaiaaiaiaiaiaiaiaiaiaaiaiaiaiaiaiaiaiiiiaiaiaiaaiiiaiiaiiaaaiaiiaaaiaiaaaiaiaiiiaaaiaiiiiaiaiiiiiiaaiiiiiiiiaiaaiaiiiiiiiaaiaiiiaiiiiaaaaiiiaiiiaiaaiia

SOLDADOS do 45º. Batalhão da 4ª. Divisão Australiana. Yprès, 27 de setembro de 1917.

©SSPL/Getty Images

Fases da Guerra

A Grande Guerra pode ser dividida em duas fases: Guerra de Movimento e Guerra de

Trincheiras.

O conflito teve início com a Guerra de Movimento (1914-1915), caracterizada pelo des-

locamento dos exércitos rumo às fronteiras. Nessa fase, destacou-se a movimentação do

exército alemão em direção à França (Frente Ocidental) e em direção à Rússia (Frente Orien-

tal). No intuito de conquistarem a França e dominarem a capital, Paris, os alemães invadiram

a Bélgica, o que ocasionou a reação da Inglaterra, aliada dos franceses.

As invasões dos territórios belga e francês faziam parte da estratégia alemã para neu-

tralizar a força militar inglesa. Embora bem-sucedida no início, a Alemanha foi rechaçada por

uma contraofensiva francesa, que a obrigou a recuar após a derrota na Batalha do Marne,

ocorrida entre 6 e 9 de setembro de 1914.

Os novos meios de transporte e de comunicação, além da grande produção de armamen-

tos e munição, impossibilitaram o avanço e a luta das tropas em campo aberto. Tal realidade

gerou um combate mais estático, denominado Guerra de Trincheiras (1915-1918).

A Guerra de Trincheiras tornou o conflito mais lento, pois os exércitos passaram a cavar

valas e a equipá-las com mecanismos de defesa. Essa tática, que consistia na tentativa de

manter o território ocupado e avançar, desgastava bastante os exércitos envolvidos e pode-

ria se estender por quilômetros nas linhas de frente.

Nas trincheiras, que tinham uma profundidade média de dois metros, os soldados aguar-

davam o momento de atacar o inimigo. A pouca movimentação das tropas e o equilíbrio de

forças entre os exércitos fizeram dessa fase da guerra a mais duradoura e sofrida.

A estratégia das trincheiras expunha os soldados ao frio, à fome e à chuva. Eles sofriam

ainda com piolhos e ratos. Naquele cenário desolador, distantes de seus entes queridos, eles

sentiam as dimensões dramáticas da guerra; o entusiasmo dos primeiros dias dava lugar a mo-

mentos difíceis sem esperança. A violência e as condições precárias de vida causaram imensu-

ráveis prejuízos físicos e psicológicos aos envolvidos no conflito.

As condições sub-humanas a que os soldados estavam expostos, o grande número de

mortes, as amputações e o convívio com a barbárie foram responsáveis por muitas deserções.

Soldados australianos lutando pela Tríplice Entente

25

Page 26: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Em 1915, a Itália, ligada à Tríplice Aliança, passou a apoiar a Tríplice Entente. Isso acon-

teceu em decorrência de sua insatisfação com o domínio austro-húngaro sobre as províncias

italianas do norte, apesar da promessa de restituição desses territórios ao domínio italiano

após a guerra.

O livro Nada de novo no front, de Erich Maria Remarque, conta a história de Paul Baümer,

um jovem alemão obrigado a abandonar os estudos, a família, os amigos e os planos para o

futuro para lutar na Grande Guerra. Leia um fragmento dessa obra.

interpretando documentos

[...] cada soldado fica vivo apenas por mil acasos. Mas todo soldado acredita e confia no acaso. Temos de vigiar nosso pão. Os ratos têm-se multiplicado muito ultimamente, desde que as trincheiras deixaram de ser conservadas. [...] Os ratos aqui são particularmente re-pugnantes, pelo seu grande tamanho. É o tipo que se chama “ratazana de cadáver”. Têm caras horríveis, malévolas e peladas. Só de ver seus rabos compridos e desnudos nos dá vontade de vomitar. Parecem muito esfomeados. Já roeram o pão de quase todos. Kropp mete o dele embaixo da cabeça, bem embrulhado num pedaço de lona, mas, mesmo assim, não consegue dormir, porque eles correm por sobre o seu rosto para alcançar o pão. Detering quis ser mais esperto: amarrou um arame fino no teto e pendurou nele o seu pedaço de pão. Durante a noi-te, quando acendeu a lanterna, viu o arame oscilar de um lado para o outro. Montada no pão, balançava-se uma gorda ratazana. Até que, finalmente, tomamos uma decisão. Cortamos, cuidadosamente, a parte do pão roída pelos animais; não podemos nos dar ao luxo de jogar fora o pão, porque, neste caso, amanhã nada teríamos para comer.

REMARQUE, Erich M. Nada de novo no front. Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 54-55.

1 Assinale a alternativa que apresenta o pensamento central do fragmento.

a) As guerras tornam os homens mais aperfeiçoados, pois, além do conhecimento acadêmico que os jovens recebem nas escolas, em períodos de conflito, recebem ainda treinamento militar.

b) As guerras ampliam a importância da leitura e do estudo dos clássicos.

c) As guerras, durante o seu desenrolar, reforçam as noções que os soldados tinham de pátria, liberdade, governo.

d) As guerras exigem que os soldados sejam extremamente independentes e que atuem por livre

iniciativa.

e) As guerras invertem os graus de importância que os jovens tinham do estudo e da aquisição de

conhecimento acadêmico em relação aos saberes práticos e mecânicos.

2 Os soldados entrincheirados tinham a função de defender a posição conquistada a qualquer custo. No entanto, esses homens ficavam expostos a problemas causados não só pelos bombardeios e gases tóxicos. Quais eram esses outros problemas?

26

Page 27: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Tecnologia de guerra

Durante a Grande Guerra, as inovações não cessaram; ao contrário, elas se intensifica-

ram, pois era necessário criar técnicas para vencer os inimigos.

Assim, foram desenvolvidos materiais mais resistentes à ferrugem e propícios à elabo-

ração de armamentos, novos meios de transporte que viabilizavam as estratégias de ataque

aos opositores, equipamentos que ampliavam a proteção física dos soldados em combate,

aparelhos e objetos que facilitavam a fiscalização do território inimigo e o tratamento dos

feridos, entre tantos outros produtos. Muitas dessas novas tecnologias criadas durante a

Grande Guerra ainda são utilizadas em nosso cotidiano.

Aço inoxidável

Um aço mesclado ao elemento cromo, que não enferrujava, passou a ser desenvolvido a

partir de 1912 pelo inglês Harry Brearley. Ele foi utilizado na fabricação de armas mais resis-

tentes, pois o calor das balas dani-

ficava os canos dos armamentos, e

também na fabricação de motores.

Esse material é usado na atualida-

de na produção de instrumentos

hospitalares, utensílios de cozinha

e diversas estruturas presentes nas

cidades, como no caso dos meios de

transporte.

Aviões

Esse meio de transporte foi cria-

do no início do século XX e aprimora-

do na Grande Guerra. Ele era utiliza-

do para o carregamento de bombas,

que poderiam ser lançadas contra o

território e o exército inimigos com

mais agilidade e exatidão, cobrindo

distâncias maiores, em virtude da vi-

são facilitada do alto.

©R

og

er

Vio

lle

t/G

ett

y I

ma

ge

s

Estrutura feita com aço inoxidável em uma estação de metrô na Avenida Paulista, em São Paulo

Piloto alemão ao lado do modelo Albatros D. III, utilizado na Grande Guerra

©S

hu

tte

rsto

ck/A

lf R

ibe

iro

27

Page 28: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Tanques

O primeiro tanque de guerra, denomina-

do Mark I, foi criado em 1916, na Inglaterra.

Desenvolvido com a finalidade de romper o

arame farpado das trincheiras, acabou tendo

outros usos, uma vez que conseguia superar

obstáculos do solo. Os tanques eram blinda-

dos e capazes de armazenar munições e ali-

mentos para os soldados. São empregados

ainda hoje nas guerras contemporâneas, com

novas formas e recursos tecnológicos.

BROOKS, Ernest. Tanque britânico modelo Mark C-15. 1916. 1 fotografia, p&b. Museu Imperial da Guerra, Londres.

Modelo mais antigo do tanque britânico Mark I

©E

rne

st B

roo

ks/

Cre

ati

ve

Co

mm

on

s

Armas químicas e máscaras

A utilização de armamento químico em conflitos bélicos teve início na Grande Guerra; em

decorrência, os ingleses criaram máscaras protetoras para os soldados em combate. Essas

máscaras, feitas de borracha, protegiam os olhos e as narinas. Eram grandes e, de início, difi-

cultavam a locomoção, dando vantagem ao inimigo.

Os gases mais comuns eram o gás de cloro, o gás mostarda e o gás fosgênio, que causavam

mortes quase imediatas por asfixia. Esse tipo de estratégia militar é proibida em conflitos

na atualidade, mas algumas nações ainda

detêm e produzem armamentos quími-

cos, colocando em risco a paz mundial. As

máscaras contra elementos ou gases tóxi-

cos são utilizadas, atualmente, em guer-

ras, em situações de risco vivenciadas por

policiais ou investigadores e na indústria

química.

Em paralelo aos conflitos terrestres, ocorriam conflitos no mar, os quais acabaram por in-

terferir nos rumos da guerra. Utilizando novas tecnologias, como os submarinos, os alemães

iniciaram uma série de ofensivas contra navios – para eles, toda embarcação encontrada em

território inimigo deveria ser afundada, não interessando a que nação pertencesse. Dessa

forma, pretendiam cortar o abastecimento estrangeiro a seus inimigos, impondo a fome e a

escassez. Em um desses ataques, os alemães afundaram um navio estadunidense que trans-

portava mercadorias e passageiros para a Inglaterra. Os Estados Unidos, até então neutros

no conflito, reagiram ao ataque e declararam guerra à Alemanha em 6 de abril de 1917.

Para proteger os soldados contra as armas químicas, foram confeccionados vários

modelos de máscaras de gás. As versões iniciais incluíam uma bolsa ao redor do pescoço.

©L

ibra

ry O

f C

on

gre

ss/S

cie

nce

Ph

oto

Lib

rary

/Fo

toa

ren

a

28

Page 29: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Anos finais da guerra: 1917 e 1918

A entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia na Grande Guerra alterou os rumos do

conflito. Uma revolução na Rússia, iniciada em outubro de 1917, contribuiu para que o país

abandonasse a guerra buscando resolver seus problemas internos. Assim, os russos retira-

ram-se em 1917 e, em 1918, assinaram oTratado de Brest-Litovsk, cedendo parte de seus

territórios à Alemanha.

No mesmo ano, os Estados Unidos, cujos navios estavam sendo atacados por submarinos

alemães, declararam guerra aos países integrantes da Tríplice Aliança.

Desde o fim do século XIX, os Estados Unidos investiam pesado em desenvolvimento

industrial. A eclosão da guerra na Europa representou a possibilidade de ampliar seus merca-

dos, fornecendo produtos para Inglaterra, Fran-

ça e Rússia, países cujos esforços de produção

estavam praticamente todos voltados para a

guerra. Assim, alimentos, medicamentos, teci-

dos, armas e vários outros produtos estaduni-

denses passaram a ser comprados pelos países

em guerra.

O cartaz, criado pelo ilustrador James Flagg, serviu para convocar jovens para o alistamento em 1917; ele foi inspirado em um anúncio feito na Inglaterra anos antes, para recrutar jovens ingleses no início da Grande Guerra. O cartaz apresenta Tio Sam, desenhado com base no rosto do presidente Abraham Lincoln, direcionando para o observador a seguinte frase: Eu necessito de você nas forças armadas. A denominação Tio Sam apresenta inúmeras versões, mas a mais habitual é a de que os soldados estadunidenses recebiam durante a guerra, como parte integrante de sua ração alimentar, latas de carne com as iniciais U. S., de United States. Tais iniciais foram interpretadas pelos soldados como Uncle Sam (Tio Sam).

©S

hu

tte

rsto

ck/E

ve

rett

His

tori

cal

Em 1918, cerca de 1 milhão de soldados vindos dos Estados Unidos desembarcaram na

Europa. Eles tinham a energia que faltava para os soldados europeus, já exauridos com as

batalhas. Além disso, os estadunidenses estavam bem armados e treinados. A inclusão desse

novo exército desequilibrou o conflito a favor da Tríplice Entente.

A Alemanha, desgastada profundamente por conta da guer-

ra prolongada e enfraquecida pela entrada dos Estados Unidos,

sofreu seguidas derrotas e, em novembro de 1918, solicitou um

armistício.

Com as perdas materiais e humanas causadas pelo conflito e com uma grave crise polí-

tica interna, os alemães acabaram por assinar a rendição às 11 horas do dia 11 de novembro

de 1918. Desse modo, acabava a Grande Guerra.

Estima-se em 10 milhões o número de mortos, a maioria eram homens com idade entre

19 e 40 anos.

armistício: acordo que suspende um

conflito por um tempo; trégua.

29

Page 30: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Os acordos de paz e as mudanças na ordem mundial

Depois da Grande Guerra, a Europa sofreu tanto mudanças territoriais quanto no pa-

norama político. Os Aliados – Inglaterra e França – foram os grandes “vencedores”. A Itália,

embora considerada vencedora, não ficou satisfeita com os territórios que recebeu. Os Esta-

dos Unidos também foram beneficiados com os acordos de guerra. O Império Otomano foi

fragmentado em territórios independentes, bem como o Império Austro-Húngaro, dividido

em Tchecoslováquia, Iugoslávia, Áustria, Hungria e parte da Polônia.

A Alemanha foi considerada a grande causadora

da guerra e, portanto, o país mais penalizado. De acor-

do com as cláusulas do Tratado de Versalhes, assina-

do em 1919, esse país teve todas as suas possessões

coloniais divididas entre França, Inglaterra, Japão e

África do Sul; os territórios de Alsácia e Lorena foram

devolvidos à França, que também ficou com as minas

de carvão situadas no Sarre; Áustria e Polônia foram

declaradas totalmente independentes da Alemanha.

A Alemanha foi ainda proibida de fabricar armas

ou qualquer tipo de munição acima do calibre 38 e de

manter um efetivo militar superior a 100 mil homens.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 146-147. Adaptação.

Europa – 1918

Ma

rilu

de

So

uza

O Tratado de Versalhes foi o principal

documento elaborado dentro da Conferência de

Paris. O evento contou com diversas delegações

vindas dos países considerados vencedores da

Grande Guerra. Politicamente, o episódio foi

dominado por Estados Unidos, Reino Unido e

França. Durante meses, representantes de países

que participaram de alguma forma da Grande

Guerra argumentaram, debateram e divergiram,

elaboraram acordos, redigiram tratados,

criaram países e organizações na tentativa de

resolver questões causadas pelo conflito.

30

Page 31: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

As sansões financeiras vieram por meio de pesadas indenizações que a Alemanha foi

obrigada a pagar aos países vencedores (essa dívida foi totalmente quitada somente no sé-

culo XXI).

O Tratado de Versalhes tinha como objetivo desarticular as forças alemãs a fim de evitar

outros conflitos mundiais. Mas, contrariando as expectativas, foi visto como uma pena im-

posta aos perdedores e isso acirrou ainda mais as tensões no continente europeu provocan-

do graves consequências nos anos seguintes.

Outro ponto importante da Conferência de Paris foi a criação da Liga das Nações, com

o intuito de mediar as relações entre países de forma diplomática. A ideia era ter um órgão

que garantisse a paz mundial.

Em 25 de janeiro, a Conferência de Paz aprovou formalmente a organização de um comitê sobre a Liga das Nações. Alguns jovens integrantes da delegação americana acharam que da-ria um excelente e inspirado filme da época. Mostraria, segundo eles, a velha diplomacia em pleno trabalho diabólico. Mapas animados ilustrariam como as sementes da guerra tinham sido lançadas no passado: alianças secretas, guerras injustas, conferências onde as velhas e egoistas potências européias traçavam linhas arbitrárias nos mapas.

[...]

Na diplomacia, as formas permaneciam as mesmas: diplomatas apresentavam creden-ciais, tratados eram assinados e selados. As regras, no entanto, tinham mudado. No jogo das nações, não mais era de bom tom, nem aceitável, por exemplo, uma nação tomar território cheio de gente de outra nacionalidade.

MACMILLAN, Margaret. Paz em Paris, 1919: a Conferência de Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004, p. 99-100.

O termo “geração perdida” foi empregado por

Gertrude Stein, escritora estadunidense radicada

em Paris na década de 1920. A expressão referia -se

àqueles que haviam sido profundamente afetados

pela violência e pelo horror da Grande Guerra.

À “geração perdida” pertenciam os homens mu-

tilados, traumatizados e neuróticos que voltaram

para casa ao fim do conflito, mas não conseguiram

se esquecer das experiências pelas quais tinham

passado e tiveram dificuldades em se adaptar aos

tempos de paz e à vida civil. Para os jovens, o abis-

mo entre a vida antes e depois da Grande Guerra

foi ainda maior, pois o confllito havia destruído

suas crenças, suas ideologias e suas esperanças na

construção de um mundo melhor.

©C

arl

va

n V

ech

ten

/Lib

rary

Co

ng

ress

/Cre

ati

ve

Co

mm

on

s

VECHTEN, Carl V. Gertrude Stein. 1935. 1 fotografia, p&b.

31

Page 32: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Mulheres na Grande Guerra

Na Grande Guerra, as mulheres não participaram diretamente dos combates, mas exer-

ceram papel importante ao serem recrutadas. Elas eram encarregadas dos doentes durante

o conflito. Além disso a Guerra trouxe outras modificações para o cotidiano feminino, como

apontou a historiadora Françoise Thébaud:

É verdade que, para as mulheres, a guerra constituiu uma experiência de liberdade e de responsabilidade sem precedentes. Em primeiro lugar, pela valorização do trabalho feminino ao serviço da pátria e pela abertura de novas oportunidades profissionais em que as mulheres descobrem, geralmente com prazer, o manuseio de utensílios e técnicas que desconheciam.

Por toda a parte, serviços femininos (café, hotel, comércio, banco, administração) tornam as mulheres visíveis no espaço público [...]. A morte do espartilho, o encurtamento das saias e a simplificação do traje libertam o corpo e facilitam os movimentos.

A guerra destrói, por necessidade, as barreiras que opunham trabalhos masculinos e tra-balhos femininos e que vedavam às mulheres numerosas profissões superiores. [...]

THÉBAUD, Françoise. História das mulheres: o século XX. Porto: Afrontamento, 1991. p. 49-50.

O movimento feminista, que buscava a emancipação da mulher, foi significativamente

fortalecido após a guerra. Com ele, tomou força também o movimento sufragista, que rei-

vindicava a extensão do direito de voto às mulheres. Aos poucos, elas foram conseguindo

vitórias em vários países.

FISHER, Harrison. Have you answered the Red Cross Christmas roll call? [ca. 1918]. 1 litografia, color., 75 cm × 70 cm. Biblioteca do Congresso, Divisão de Impressões e Fotografias, Washington, DC.

Cartaz com a frase “Você já respondeu ao chamado da Cruz Vermelha para a campanha de Natal?”, a fim de incentivar as mulheres a atuar como enfermeiras voluntárias na Cruz Vermelha

©A

lbu

m/a

kg

-im

ag

es/

Alb

um

/Fo

toa

ren

a

Mulheres trabalhando nas fábricas de armamentos durante a Grande Guerra

©H

ult

on

-De

uts

ch C

oll

ect

ion

/CO

RB

IS/C

orb

is v

ia G

ett

y I

ma

ge

s

32

Page 33: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

pesquisa

A cientista polonesa naturalizada francesa Marie Curie teve a vida caracterizada pela dedicação ao trabalho e pela coragem de entrar em um mundo até então ocupado pelo público masculino. Currie recebeu o prêmio Nobel de Física em 1903 e o de Química em 1911. Procure informações sobre como o trabalho dessa mulher está relacionado à Grande Guerra. Depois, escreva em seu caderno o que encontrou.

No fim da Grande Guerra, a Europa estava devastada. O clima de otimismo que reinava

na Belle Époque dava lugar a cidades destruídas, famílias desfeitas, fronteiras alteradas e

governos derrubados.

Panorama de mudanças significativas causadas pela Grande Guerra.

Fronteiras entre os países: dois grandes impérios foram desfeitos – o Austro-Húngaro

e o Turco-Otomano. Isso levou à criação de vários Estados independentes, cuja definição

das fronteiras foi motivo de conflitos. Além disso, vários países antes existentes tiveram

suas fronteiras redefinidas com a transferência do controle de regiões entre perdedores

e ganhadores do conflito.

Criação de órgãos internacionais: foi criada a Liga das Nações, cujo objetivo era mediar

as relações entre os países, evitando novos conflitos.

Estrutura social: a morte de milhões de homens jovens alterou a sociedade europeia,

pois permitiu o trabalho feminino nas indústrias, além de tornar muitas viúvas as novas

chefes de família. Essa movimentação contribuiu para a emancipação feminina e para

que as mulheres conquistassem o direito ao voto.

A Gripe Espanhola, que matou cerca de 20 milhões de pessoas, principalmente

jovens, foi uma epidemia amplamente disseminada pelo mundo. Não se sabe ao certo

sua origem geográfica, mas sabe-se que o primeiro caso se deu nos Estados Unidos

em março de 1918. Chegou à Europa provavelmente em abril daquele mesmo ano e

espalhou-se rapidamente devido às más condições de higiene nos locais de combate

e à pobreza que devastava os territórios em luta.

A denominação “gripe espanhola” se deu porque a imprensa espanhola foi quem

divulgou informações a respeito da doença. A Espanha se manteve neutra durante a

Grande Guerra, então seus jornais não sofriam com a censura. Já as nações em guerra

não tinham interesse em gerar pânico entre os soldados divulgando a notícia de que

um número significativo de combatentes estava morrendo por causa de um vírus.

outras histórias

33

Page 34: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

1 Em seu caderno, escreva um texto que explique a eclosão da Grande Guerra. Para isso, você deve mencionar os seguintes acontecimentos:

o que já conquistei

Segunda Revolução Industrial Imperialismo Belle Époque

2 A seguir, é apresentada uma lista de afirmações relacionadas à Grande Guerra. Entretanto, as cau-sas, as fases e as consequências do conflito estão misturadas. Organize essas informações assina-lando nos parênteses:

( 1 ) Fatores que levaram à eclosão do conflito.

( 2 ) Fases do conflito.

( 3 ) Consequências do conflito.

a) ( ) O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco na cidade de Sarajevo, na Bósnia.

b) ( ) A participação das mulheres no mercado de trabalho tornou-se mais efetiva e elas passa-ram a ocupar o lugar deixado pelos homens que haviam partido para as frentes de batalha.

c) ( ) Destaca-se o imperialismo promovido pelos países europeus no final do século XIX e início

do século XX.

d) ( ) A Política da Paz Armada levou os países europeus a se armarem, mesmo estando em paz.

e) ( ) Aconteceram as ofensivas militares da Alemanha, que invadiu a Bélgica, país neutro, com o objetivo de atacar a França.

f) ( ) A introdução de novas tecnologias de combate incentivou, por exemplo, o combate no mar, com o uso de submarinos.

g) ( ) A Alemanha foi penalizada com a perda de todas as suas possessões coloniais, proibida de manter um exército com mais de cem mil integrantes e de produzir armas e munições.

h) ( ) A chamada “geração perdida” teve dificuldades psicológicas para se readaptar à vida em socie-dade.

©N

ati

on

al

Mu

seu

m O

f H

ea

lth

An

d M

ed

icin

e/S

cie

nce

Ph

oto

L

ibra

ry/F

oto

are

na

Hospital improvisado para receber doentes da gripe espanhola em Kansas, nos Estados Unidos, em 1918

No fim do conflito, muitos sol-

dados voltaram para seus lares com

o vírus, e a gripe se espalhou. No

Brasil, a doença foi responsável pela

morte de cerca de 17 mil pessoas,

dentre elas, o presidente Rodrigues

Alves.

34

Page 35: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

3 Sobre o contexto histórico do início do século XX, analise as afirmativas a seguir.

I. A tecnologia moderna alcançada com a crescente industrialização capacitou os combatentes a matar com uma eficiência sem precedentes.

II. Em 1920, foi criada a Sociedade das Nações ou Liga das Nações para manter a paz e solucionar litígios por arbitramento ou conciliação.

III. Os Estados Unidos da América entraram na Guerra em 1917, mesmo ano em que a Rússia assi-nou o Tratado de Brest-Litovsk.

IV. Com os prejuízos causados pelas batalhas na Europa, os Estados Unidos da América surgiram como grande potência mundial após o término da guerra.

Com base em seus estudos e na análise das afirmativas, assinale a alternativa correta.

a) ( ) Todas as afirmativas estão certas.

b) ( ) Todas as afirmativas estão erradas.

c) ( ) Apenas a afirmativa III está certa.

d) ( ) Apenas as afirmativas I e III estão certas.

e) ( ) Apenas as afirmativas II e IV estão certas.

4 Leia o fragmento a seguir, o qual faz referência à Europa após a Grande Guerra.

Longe dos grandes campos de batalha, a Europa ainda parecia a mesma. [...] As perdas foram humanas. Milhões de combatentes [...] morreram naqueles quatro anos: 1 800 000 ale-mães, 1 700 000 russos, 1 384 000 franceses, 1 290 000 austro-húngaros, 743 000 ingleses (e outros 192 000 do império) e, descendo ao fim da lista, até o pequeno Montenegro, com 3 000 baixas. Crianças perderam os pais, esposas seus maridos, as jovens mulheres a chance do casamento. E a Europa ficou sem aqueles homens que poderiam ser seus cientistas, seus poetas, seus gover-nantes, e sem os filhos que eles poderiam gerar. Porém, esse cômputo geral de mortes não conta os que ficaram com uma só perna, um só braço, um só olho, aqueles cujos pulmões foram para sempre danificados pelo gás venenoso, ou cujos nervos jamais se recuperaram.

MACMILLAN, Margaret. Paz em Paris, 1919: a Conferência de Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. p. 1-2.

Com base no texto, analise as afirmativas a seguir.

I. A maior perda causada pela guerra foi a destruição da infraestrutura urbana europeia.

II. Além dos milhões de mortes, a guerra deixou consequências psicológicas em vários soldados que nunca mais recuperaram sua plena sanidade.

III. De certa forma, os civis foram poupados, porque os confrontos, de maneira geral, ficaram restri-tos aos homens que estavam à frente de batalhas.

Agora, assinale a afirmativa correta.

a) ( ) Todas as alternativas estão certas.

b) ( ) Todas as afirmativas estão erradas.

c) ( ) Apenas a afirmativa I está certa.

d) ( ) Apenas as afirmativas II e III estão certas.

e) ( ) Apenas as afirmativas I e II estão certas.

35

Page 36: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

capí

tulo

Revolução Russa 3

Rússia czarista

A Rússia na Grande Guerra

Revoluções de 1917

Guerra Civil (1917-1922)

Nova Política

Econômica (NEP)

o que vocêvai conhecer

A revolução que ocorreu na Rússia em 1917 derrubou a

a dinastia dos Romanov. Uma nova ideologia de governo foi

iniciada, na qual o modelo econômico e social diferenciava-

-se do sistema capitalista, dominante na época. Essa mudança

gerou transformações políticas e socioeconômicas no país, e

isso se estendeu para outras nações. Busque informações so-

bre o que aconteceu com o czar Nicolau II e sua família após a

queda da aristocracia.

©Shutterstock/Everett Historical

BOISSONAS. Nicolau II e família. 1913. 1 fotografia, p&b. Biblioteca do Congresso, Washington.

Fotografia do último czar

russo, Nicolau II, com sua esposa Alexandra e os filhos

36

Page 37: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Conhecer a história da Rússia no final do século XIX e início do século XX, o cza-rismo e suas implicações para a economia e a sociedade.

Identificar as características dos principais partidos políticos que passaram a fazer oposição ao governo czarista.

Entender as razões que levaram a Rússia a sair da Grande Guerra antes do fim do conflito.

Compreender as fases do processo revolu-cionário russo.

Analisar o contexto em que teve início a

Guerra Civil Russa.

Identificar as características dos planos econômicos estabelecidos após o início do processo revolucionário, reconhe-cendo os objetivos de cada um deles.

Compreender o contexto do nascimento da União das Repúblicas Socialistas Sovié-ticas (URSS).

Relacionar a morte de Lenin às disputas travadas entre Trotski e Stalin pelo poder.

Compreender os rumos tomados pela política russa após 1924.

objetivos do capítulo

Rússia czarista

Para compreender como ocorreu a Revolução de 1917, é importante conhecer o contexto

histórico russo na virada do século XIX para o XX.

Na segunda metade do século XIX, enquanto boa parte dos países europeus passava por

um acelerado processo de industrialização, a Rússia ainda apresentava uma estrutura econô-

mica essencialmente agrícola, e a maior parte da população vivia miseravelmente.

O czar Alexandre II, que reinou até 1881, rea-

lizou algumas reformas com o objetivo de mudar

esse panorama. A eliminação do regime de tra-

balho servil era uma das reformas pretendidas.

Entretanto, seus esforços não foram suficientes

para resolver a crise econômica e social. Ele foi

sucedido por Alexandre III, seu filho, que tinha

ideias mais conservadoras e chegou a reverter

algumas das reformas feitas por seu pai.

No início do século XX, o Império Russo era

uma monarquia absolutista governada por Ni-

colau II, filho de Alexandre III. Nesse período, as

condições de trabalho e sobrevivência do povo

russo eram ainda piores, e a fome matava milha-

res de indivíduos a cada inverno.

ARKHIPOV, Abram E. As lavadeiras. 1901. 1 óleo sobre tela, color., 91,7 cm × 71,6 cm. Galeria Tretyakov, Moscou.

O quadro de Arkhipov mostra o ambiente de trabalho de mulheres na Rússia na virada do século XIX para o XX

©T

rety

ak

ov

Ga

lle

ry, M

osc

ou

37

Page 38: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

A sociedade russa adentrou o século XX marcada por contrastes: de um lado, uma rica

elite proprietária de terras interessada em manter seus privilégios e continuar explorando

os camponeses; de outro, uma massa de camponeses – cerca de 80% da população – subme-

tida à exploração e à miséria.

REPIN, Ilya Y. Barqueiros do Volga. 1870/1873. 1 óleo sobre tela, color., 131,5 cm × 281 cm. Museu Russo Imperial Sua Majestade Alexandre III, São Petersburgo.

A tela de Repin retrata as condições de penúria dos trabalhadores russos no final do século XIX e início do século XX

Para compreender a situação geral da Rússia no início do século XX e o processo revolucionário que levou à implantação de um governo socialista, é importante conhecer o significado de alguns termos. Pesquise o que significam as palavras a seguir e anote no caderno as informações obtidas.

pesquisa

Czar Bolchevique Menchevique Duma Sovietes Rublo

Os partidos políticos de oposição ao czar

Diante da situação de penúria na qual o povo vivia no início do século XX, passaram a

ocorrer diversos focos de revolta contra o regime czarista. Além disso, formaram-se parti-

dos políticos de oposição. A monarquia absolutista, que proibia manifestações contrárias ao

governo, não foi capaz de evitar que diversos grupos passassem a fazer campanha contra as

políticas do czar e até propusessem a derrubada do governo.

Partidos políticos

Em todo o imenso território do Império Russo, surgiram diversos grupos que promoviam

revoltas e clamavam por mudanças. Entretanto, a grande maioria das manifestações era con-

tida pelos nobres ligados à família Romanov.

©M

use

u R

uss

o I

mp

eri

al

Ma

jest

ad

e A

lex

an

dre

III

,

o P

ete

rsb

urg

o

38

Page 39: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Contudo, alguns grupos conseguiram se consolidar e angariar um número considerável

de filiados, como o Partido Populista, o Partido Constitucional Democrata (PCD) e o Partido

Operário Social-Democrata Russo (POSDR).

O Partido Populista defendia o Socialismo agrário e um governo mais democrático. Já

o Partido Constitucional Democrata, formado por integrantes da nobreza liberal e da bur-

guesia, propunha a implantação de um regime constitucional e parlamentar. O Partido Ope-

rário Social-Democrata Russo defendia a implantação do Socialismo. Durante o Congresso

de Unificação, em 1903, surgiram divergências internas quanto à implantação do Socialismo,

resultando na divisão do partido em dois grupos.

Observe um dos lemas dos revolucionários liderados por Lenin e depois responda: O que esse lema

revela sobre as reivindicações dos revoltosos?

“Todo poder aos sovietes”:

organizando a história

STALIN, Lenin e Mikhail. 1919. 1 fotografia, p&b.

©W

orl

d H

isto

ry A

rch

ive

/Ala

my

/Fo

toa

ren

a

©A

rch

ive

PL

/Ala

my

Sto

ck P

ho

to/F

oto

are

na

Mencheviques

(minoria)

Liderados por Martov (ao centro, na foto), defendiam que o país deveria passar

primeiro por uma revolução burguesa, como aconteceu no Ocidente, e depois

pela revolução socialista.

(maioria)

Liderados por Lenin, acreditavam que deveriam forçar o rumo dos acontecimentos

revolucionários promovendo a revolução socialista, mesmo com uma população

camponesa em sua maioria.

MARATOV e demais líderes Mencheviques. 1917. 1 fotografia, p&b.

39

Page 40: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

A Guerra Russo-Japonesa e o Domingo Sangrento

Em 1904, a Rússia se envolveu em uma guerra com o Japão por disputas territoriais.

Esse conflito, chamado de Guerra Russo-Japonesa, foi motivado pela disputa imperialista

dos dois Estados que queriam dominar a região asiática da Manchúria, próxima à Coreia. A

Rússia tinha interesse nessa região, pois ela garantia acesso ao Oceano Pacífico. Já o Japão

tinha a necessidade de expandir seu território para a instalação de colônias para onde pode-

ria levar parte de sua população em crescimento. Além disso, estava em busca de fontes de

matérias-primas para sua indústria e de mercado consumidor para seus produtos.

O conflito acabou com a vitória do Japão, em setembro de 1905, a primeira de um exér-

cito oriental sobre uma força militar europeia.

A derrota para o Japão agravou a crise social na Rússia, aumentando a insatisfação po-

pular. Por isso, no dia 9 de janeiro de 1905, cerca de 200 mil manifestantes se reuniram em

frente ao Palácio de Inverno, em São Petersburgo, para protestar contra o governo.

Apesar de seu caráter pacífico, os protestos foram violentamente reprimidos pelas tro-

pas oficiais do czar Nicolau II, o que resultou em um grande número de mortos e feridos. Esse

episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento.

NOBUKAZU, Watanabe. Batalha de Yalu. 1914. Museu de Belas Artes de Boston.Ilustração japonesa mostra a derrota dos russos na batalha que ocorreu no Rio Yalu, em 1904

©Museum of Fine Arts, Boston

40

Page 41: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Consequências dos conflitos de 1905

Depois do Domingo Sangrento, greves e insurreições tomaram a Rússia. Os estudantes,

as forças armadas, os operários, os camponeses, todos se expressaram abertamente contra

o governo. Ainda nesse ano, foram fundados os primeiros sovietes – conselhos formados por

trabalhadores que lutavam por melhores condições de vida e de trabalho.

Em outubro, aconteceu uma greve geral, organizada por sovietes e demais organizações

de trabalhadores. Alguns historiadores afirmam que esse movimento caracterizou a primei-

ra fase da Revolução Russa.

Para tentar conter os ânimos da população, em abril de 1906, o czar Nicolau II atendeu

a algumas das reivindicações populares, como a promulgação de uma constituição e a con-

vocação de eleições gerais para a Duma (parlamento russo), objetivando discutir e propor

reformas políticas na Rússia. Contudo, a Duma teve função limitada, sem grande poder de

decisão sobre o governo, pois seu papel era apenas o de ser consultada pelo czar quando

este assim desejasse. Além disso, a maior parte dos grupos políticos que a compunham era

formada por pessoas que pertenciam à elite russa, como alguns poucos industriais e muitos

proprietários de terras.

A agitação popular marcou a Rússia até 1914. Tanto que os conselheiros de Nicolau II

não recomendaram a participação da Rússia na Grande Guerra, pois temiam uma convulsão

social. Contudo, as ambições imperialistas do czar Nicolau II eram fortes.

VLADIMIROV, Ivan. Domingo Sangrento. [ca 1917]. Universidade do Estado de Saratov.

A pintura apresenta a separação de dois mundos, um representado pelo poder real com guardas agasalhados e com postura pronta para defender o palácio e outro dos trabalhadores, população com poucos recursos que buscava melhores condições de vida. O artista expõe ainda que o episódio aconteceu durante o rigoroso inverno russo

©Sovfoto/UIG/Fotoarena

41

Page 42: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

1 Sobre a Guerra Russo-Japonesa, é correto afirmar:

I. Foi motivada pela disputa imperialista entre Rússia e Japão, que queriam dominar a região da Manchúria.

II. Japão e Rússia tinham o mesmo interesse na Manchúria: garantir, com sua posse, o acesso ao Oceano Pacífico.

III. A derrota da Rússia, em 1905, foi a primeira de uma força militar europeia diante de uma asiática.

Agora, assinale a alternativa correta.

a) ( ) Apenas as afirmativas I e II estão certas.

b) ( ) Apenas a afirmativa II está certa.

c) ( ) Apenas as afirmativas I e III estão certas.

d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

e) ( ) Todas as afirmativas estão erradas.

2 Qual a relação entre o final da Guerra Russo-Japonesa e o Domingo Sangrento.

3 Como o governo do czar Nicolau II tentou conter a insatisfação popular em abril de 1906?

organizando a história

A Rússia na Grande Guerra

Em 1914, eclodiu a Grande Guerra, que se estendeu até

1918. Atrelado a acordos de guerra firmados anteriormente e

a interesses de expansão do território russo, o czar Nicolau II

decidiu que seu exército, mesmo mal equipado e despre-

parado, lutaria ao lado da França e da Inglaterra. O Império

1 cartaz. Biblioteca Estadual Russa, Moscou

Cartaz russo que incentivava o investimento da população no exército. Esse investimento, de acordo com o governo,

seria devolvido após o final da guerra, com juros

©A

lbu

m /

Fin

e A

rt I

ma

ge

s

/ A

lbu

m /

Fo

toa

ren

a

42

Page 43: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Russo passou a convocar a população masculina produtiva para lutar ou apoiar financeiramen-

te a organização desse exército. Dessa forma, a produção de alimentos e de outros gêneros

de primeira necessidade ficou ainda mais comprometida, o que agravou a fome e a miséria da

população.

Para a maioria da população russa, era difícil compreender as razões que justificavam a

participação em uma guerra com outros países, uma vez que só aumentaria os gastos e am-

pliaria os problemas internos.

[...] desde o final de junho, um número cada vez maior de soldados se recusa a obedecer aos oficiais e começa a desertar maciçamente; os camponeses-soldados queriam a terra há muito tempo e, a partir de junho de 1917, centenas de milhares deles deixam as trincheiras, depõem as baionetas e voltam para seu vilarejo para dividir os bens dos grandes proprietá-rios. Para esses desertores, assim como para os soldados que ficam nas trincheiras, a paz é a única garantia de participar da divisão da terra. [...] Indiferentes aos objetivos da guerra, os camponeses começam a tomar as terras dos grandes proprietários e frequentemente quei-mam mansões, com seus livros, quadros e pianos; quebram até mesmo os equipamentos. [...] Uma imensa revolta toma conta da Rússia.

MARIE, Jean-Jacques. História da Guerra Civil Russa: 1917-1922. São Paulo: Contexto, 2017. p. 26-27.

Nos campos de batalha, os resultados da participação russa reforçaram o desconten-

tamento da população: sucessivas derrotas do exército resultaram na morte de milhões de

russos.

Diante das derrotas, o czar Nicolau II assumiu pessoalmente o comando das tropas rus-

sas com o intuito de reverter a situação. Desse momento em diante, o fracasso do exército

russo foi creditado de maneira direta ao czar, o que colaborou ainda mais para a crescente

impopularidade do monarca. Para piorar a situação, o inverno de 1916-1917 foi particular-

mente rigoroso na Rússia, o que gerou uma crise de abastecimento. Em 1917, enquanto o

conflito mundial ocorria, membros da Duma e do Alto Exército solicitaram a abdicação do

czar.

Como você estudou, a participação da Rússia na Grande Guerra ocorreu em meio a um

conflito interno: de um lado, os interesses expansionistas do Império associados a acor-

dos anteriormente estabelecidos; de outro, a luta da população por paz e terra.

Em seu caderno, elabore duas listas de argumentos que justifiquem os pontos de vis-

ta desses dois lados e discuta com os colegas sobre a participação e a saída do Império

Russo da Grande Guerra. O desafio será você equilibrar os pontos de vista nessa discussão

e, ao final, chegar a uma conclusão sobre o desfecho ocorrido em 1917.

troca de ideias

43

Page 44: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Revoluções de 1917

Diante da crise e da pressão popular imposta pelo processo revolucionário, o czar Nico-

lau II, temendo sua retirada do poder de forma violenta, renunciou ao trono em março de

1917 e entregou o poder aos líderes mencheviques. Nesse mesmo ano, a Rússia passou por

duas revoluções.

A primeira foi em fevereiro, quando os mencheviques assumiram o poder, inaugurando

a República Democrático-Burguesa, ou Governo Provisório, comandado primeiramente

pelo príncipe Georgy Lvov e depois pelo primeiro-ministro Alexander Kerenski. Esse governo

não atendeu às reivindicações populares por paz, reforma agrária e fim dos privilégios da no-

breza. O governo estabeleceu o racionamento dos alimentos e a ração diária era insuficien-

te para um adulto (225 g). Diante das inúmeras greves dos operários, os proprietários das

fábricas pararam a produção. O Governo Provisório não retirou a Rússia da Grande Guerra.

Em abril de 1917, ocorreu uma assem-

bleia bolchevique, na qual Vladimir Lenin

apresentou suas ideias para o processo

revolucionário. Essas propostas foram

chamadas de Teses de Abril. Lenin defen-

dia a saída dos russos da Grande Guerra,

a distribuição mais justa da propriedade

por meio de uma reforma agrária e melho-

res condições de vida e de trabalho para

a população. Suas teses foram resumidas

em três palavras, consideradas essenciais

para melhorar a situação da sociedade rus-

sa: “Paz, terra e pão”.

DISCURSO de Lenin. 1 fotografia, p&b.

©Ann Ronan Pictures/Heritage Images/Glow Images

Revolução de Outubro de 1917

Como o governo liberal-burguês insistiu em permanecer na Grande Guerra e já não con-

tava mais com o apoio dos sovietes, eclodiu a Revolução de Outubro de 1917, liderada pelos

bolcheviques e apoiada pelos sovietes.

Com o auxílio de outros dois importantes líderes bolcheviques – Leon Trotski e Joseph

Stalin –, Lenin liderou a invasão ao Palácio de Inverno, em 26 de outubro de 1917. Esse epi-

sódio derrubou definitivamente o Governo Provisório e levou os bolcheviques ao poder. A

Duma foi substituída pelo Soviete Supremo, assembleia legislativa formada por membros

de todos os segmentos de trabalhadores da sociedade russa.

Lenin foi eleito chefe de governo pelos sovietes e anunciou a realização de mudanças

que visavam concretizar as Teses de Abril. Assim, iniciou-se uma grande reforma agrária,

nacionalizaram-se bancos e investimentos estrangeiros no país e o controle das fábricas pas-

sou para as mãos dos operários.

44

Page 45: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Nesse contexto, foi anunciada a retirada da

Rússia da Grande Guerra, firmada com a assinatura

do Tratado de Brest-Litovsk, em março de 1918.

Apesar de adotar e pôr em prática as refor-

mas de base, Lenin não conseguiu resolver os

problemas econômicos e sociais com a rapidez

que a população queria. Afinal, eram questões

consolidadas havia séculos por uma estrutura

exploradora, herança do czarismo.

Preencha o esquema a seguir com informações sobre os principais acontecimentos das Revoluções de 1917 na Rússia.

organizando a história

República Democrática Burguesa

Teses de Abril Revolução de Outubro

Revoluções de 1917 na Rússia

ASSINATURA do Tratado de Brest-Litovsk. 1918. 1 fotografia, p&b.

©S

hu

tte

rsto

ck/E

ve

rett

His

tori

cal

Guerra Civil (1917-1922)

A fome e o desemprego ainda não haviam sido vencidos. Aproveitando-se da fragilidade

e da agitação pelas quais passava a Rússia, grupos que defendiam a aristocracia ou que não

gostavam da ideia de uma revolução operária – pois iriam perder seus privilégios com uma

sociedade igualitária – adotaram uma postura contrarrevolucionária para tomar o poder. As-

sim, organizaram protestos, sabotaram alguns serviços oferecidos pelo governo e organiza-

ram um exército que ficou conhecido como Exército Branco.

45

Page 46: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Os bolcheviques, que estavam no poder, organizaram

o Exército Vermelho, defensor do Estado socialista e co-

mandado por Trotski.

Os camponeses não se associaram declaradamente

a nem um dos lados, contudo eram propensos a comba-

ter os revolucionários brancos, já que estes eram contra

as reformas no campo. Nesse contexto, poucos meses

depois do começo do governo bolchevique, ocorreu uma

Guerra Civil, na qual o Exército Vermelho e o Branco se

confrontaram.

Sem apoio popular, os contrarrevolucionários foram

derrotados pelo Exército Vermelho, em 1922, após emba-

tes sangrentos que resultaram em um número elevado de mortes. Durante a Guerra Civil, os

bolcheviques instituíram medidas drásticas, entre elas, o assassinato de Nicolau II e sua família.

Política econômica de guerra

Durante a Guerra Civil, os bolcheviques proibiram o livre comércio e controlaram as pro-

duções agrícola e industrial de todo o país. Isso porque ficou determinado que toda e qual-

quer produção seria destinada a alimentar os membros do Exército Vermelho, que, dessa

forma, garantiria a vitória da revolução contra os conservadores russos apoiados por diver-

sos países europeus.

A população passou a viver com privação de alimentos e de outros recursos; assim, além

da fome, várias doenças se espalharam, tornando-se epidemias. Para piorar a situação, em

1921, uma grande seca seguida de uma intensa onda de calor atingiu o território russo, au-

mentando as adversidades vividas pela população.

Os bolcheviques determinaram que toda a economia fosse controlada pelo Estado, assim

como as instituições políticas (partidos, sovietes e outras comissões de trabalhadores). As pes-

soas que discordavam das determinações do governo eram consideradas traidoras do povo e

podiam ser condenadas a trabalhos forçados ou à morte.

Essa política econômica organizada pelos bolchevi-

ques na época da Guerra Civil foi chamada por Lenin de

Comunismo de Guerra e gerou duas realidades opostas,

simultaneamente: de um lado, a vitória do Exército Ver-

melho e a consolidação do Estado comunista; do outro, a

falência econômica do Estado, com o aumento da miséria

e da fome. Era urgente a elaboração de uma nova política

econômica.

Estudos indicam que pode ter havido entre 4,5 e 10

milhões de mortos ou desaparecidos ao final dos confli-

tos da Guerra Civil, em 1922.

©S

hu

tte

rsto

ck/E

ve

rett

His

tori

cal

Camponeses russos em estado de penúria durante a Guerra Civil

EXÉRCITO Vermelho de três milhões de soldados! 1919. 1 pôster. Biblioteca Estatal Russa, Moscou.

O Exército Vermelho foi retratado de forma que parece infinito

©A

lbu

m /

Fin

e A

rt I

ma

ge

s /

Alb

um

/ F

oto

are

na

46

Page 47: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

A partir da década de 1980, documentos sobre o período da Guerra Civil Russa passaram

a ser liberados. Neles, é possível observar pistas sobre o destino final da Família Imperial.

Leia os documentos a seguir e responda à questão proposta.

Em abril de 1918, o bolchevique Iakovlev foi encarregado de levar a Família Imperial até

Ekaterinburgo, perto de Moscou. Ele registrou fatos da chegada na estação:

interpretando documentos

O trem chegou à estação na plataforma n. 5. Quando nos viram, as pessoas reunidas na plataforma exigiram que tirássemos Nicolau do trem e o apresentássemos. Houve um gran-de tumulto e ecoaram gritos ameaçadores por todos os lados: “Temos que estrangulá-los! Estão finalmente em nossas mãos!”. Os guardas da plataforma pouco resistiam à pressão do povo, e uma multidão tumultuada avançava para meu comboio. Dispus imediatamente meu destacamento em torno do trem e coloquei as metralhadoras em bateria. Para meu grande espanto, o comissário da estação liderava a multidão. De longe, ele gritou: “Iakovlev! Tire os Romanov do vagão! Deixe-me cuspir na cara deles!”.

[...]

[...] como já tínhamos uma locomotiva acoplada, pudemos nos afastar e desaparecemos nas inúmeras vias da estação de Ekaterinburgo [...].

MARIE, Jean-Jacques. História da Guerra Civil Russa: 1917-1922. São Paulo: Contexto, 2017. p. 64-65.

As tropas do Exército Branco se aproximaram de Ekaterinburgo e, temendo que libertas-

sem a Família Imperial, os bolcheviques mandaram matar todos os seus membros. Dezessete

anos depois, Trotski declarou:

A ferocidade dessa justiça sumária mostrava a todos que travaríamos a luta impiedosamen-te, sem que nada nos detivesse. A execução da família imperial era necessária não somente para assustar, assombrar, privar o inimigo de esperança, mas também para sacudir os nossos, mostrar-lhes que não havia volta possível, que a saída era a vitória total ou o fracasso total.

MARIE, Jean-Jacques. História da Guerra Civil Russa: 1917-1922. São Paulo: Contexto, 2017. p. 75.

Diante desses relatos, como você descreveria a relação entre a família do czar Nicolau II e o povo

russo? E por que Trotski julgou que a execução da Família Imperial era necessária?

47

Page 48: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Nova Política Econômica (NEP)

Após a vitória na Guerra Civil, sérias crises de abastecimento e revoltas camponesas obri-

garam os bolcheviques a implantar a Nova Política Econômica (NEP). Ela tinha o objetivo de

retomar o crescimento econômico e a produção de bens de consumo na Rússia.

A NEP permitiu a propriedade de bens, a livre criação de empresas (livre-iniciativa) e os

empréstimos internacionais. Entretanto, o Estado continuava como o principal agente eco-

nômico na Rússia e controlava os setores estratégicos, como o sistema financeiro, as indús-

trias de base e o comércio internacional. Os setores econômicos retomaram a produção e a

economia russa começou a mostrar os primeiros sinais de melhora.

Nesse período, foi criado o Partido Comunista, que se tornou o único partido legal no

país. O governo tornou-se cada vez mais autoritário. O uso de campos de concentração e pri-

sões em massa passou a ser comum. Em 1922, o Partido Comunista criou a União das Repú-

blicas Socialistas Soviéticas (URSS), que unia todas as repúblicas que estavam subordinadas

ao governo bolchevique.

Moeda russa em circulação em 1924, com uma represen-tação dos trabalhadores em um de seus lados

[...] De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou, no mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manufaturados do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía de 59% para 52% do total do mundo. E mais, não havia desemprego. [...] Ecoando os Planos Quinquenais da URSS, “Plano” e “Planejamento” tornaram-se as palavras da moda na política.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 100-101.

Durante a implantação da NEP, Lenin ficou seriamente doente e teve de se afastar para

o interior da Rússia, apesar de continuar governando o país. Porém, sua saúde foi piorando,

assim como sua relação com Stalin, que o representava no governo. Os dois discordavam em

relação à forma como a Rússia devia se relacionar com os países vizinhos ou como a política de

recuperação econômica do país devia ser conduzida.

Lenin morreu em janeiro de 1924 e Stalin assumiu seu lugar na presidência da URSS.

Durante seu governo (1924-1953), a NEP foi reformulada e, a partir de 1928, substituída

pelos Planos Quinquenais, elaborados com a finalidade de planificar a economia da URSS,

transformando-a em uma região industrializada e, ao mesmo tempo, socializar totalmente

sua economia.

©S

hu

tte

rsto

ck/A

lex

ey

Bro

sla

ve

ts

48

Page 49: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Formação da URSS

Com a criação da URSS, a capital passou a ser Moscou. Contornada a turbulência dos

anos da Guerra Civil, a União Soviética se reorganizou e concretizou a passagem para o sis-

tema socialista. Nessa transição, foram impostas muitas restrições à liberdade individual,

como a proibição de qualquer oposição ao governo. Quem se opusesse seria considerado

inimigo da Revolução e traidor da República Soviética.

Disputas entre Trotski e Stalin

Após a morte de Lenin, em 1924, a disputa pelo poder na Rússia ocorreu entre os dois

outros líderes bolcheviques: Trotski e Stalin.

Trotski defendia a ideia de uma “revolução permanente”, de

forma que o ocorrido na URSS se transformasse em um modelo

para os movimentos revolucionários socialistas em outros países.

Ele acreditava que, assim, os países socialistas formariam um bloco

com o objetivo de oferecer ajuda econômica mútua e que, com o

tempo, o Socialismo se tornaria a nova realidade em todo o planeta.

Trotski, integrante do Partido Bolchevique que, com Lenin, promoveu a Revolução de Outubro de 1917

Stalin defendia a consolidação do Socialismo na União So-

viética. Acreditava que a Rússia deveria se concentrar em resol-

ver seus problemas internos, sem fazer interferências nos movi-

mentos revolucionários dos demais países. Era adepto da ideia

de “Socialismo em um único país”.

Stalin venceu essa disputa e, em 1927, implantou uma dita-

dura caracterizada pela violência social e política por meio de ins-

trumentos como a tortura aos oponentes, a censura à imprensa

e as perseguições políticas. Nesse contexto, Trotski foi exilado e

acabou assassinado a mando de Stalin, em 1940, no México.

Na economia, ocorreu a efetivação dos Planos Quinquenais,

marcados pela total intervenção do Estado. Essa política econô-

mica perdurou até a morte de Stalin, em 1953.

©F

ine

Art

Im

ag

es/

He

rita

ge

Im

ag

es/

Glo

w

Ima

ge

sStalin, um dos líderes bolcheviques

de 1917 e presidente da URSS entre 1924 e 1953

©U

niv

ers

al

His

tory

Arc

hiv

e/G

ett

y I

ma

ge

s

Releia as informações sobre a NEP e discuta com seus colegas: Por que os bolchevi-

ques, que eram socialistas, incentivaram o retorno de medidas econômicas capitalistas

para a URSS? E por que Stalin e Trotski, que pertenciam ao mesmo grupo e defendiam o

Socialismo, entraram em choque?

troca de ideias

49

Page 50: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

1 Na virada do século XIX para o XX, havia na Rússia uma organização social e econômica diferente da observada no restante da Europa, que passava por um processo acelerado de industrialização. Como era a situação política e econômica da sociedade russa naquele período?

2 Desde o início do século XX, vários partidos passaram a fazer oposição ao governo do czar Nicolau II.

a) Sobre esses partidos, relacione as duas colunas.

o que já conquistei

( a ) Partido Populista

( b ) Partido Constitucional Democrata.

( c ) Partido Operário Social-Democrata Russo – grupo dos mencheviques.

( d ) Partido Operário Social-Democrata Russo – grupo dos bolcheviques.

( ) Defendia a passagem revolucionária para o Socialismo.

( ) Defendia um socialismo agrário e um governo democrático.

( ) Defendia a implantação de um regi-me constitucional e parlamentar.

( ) Defendia a passagem moderada para o Socialismo.

b) Qual desses partidos chegou ao poder com o evento da Revolução de Outubro de 1917?

3 Cite ao menos três fatores que levaram ao processo revolucionário na Rússia.

4 Explique o que foi o Domingo Sangrento e sua relação com a política czarista.

50

Page 51: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

5 Sobre a Revolução Russa de 1917, associe as colunas corretamente.

( a ) Dinastia dos Romanov.

( b ) Lenin.

( c ) Exército Vermelho.

( d ) Exército Branco.

( ) Exército financiado pelos que defendiam a aristocracia russa.

( ) Governantes derrubados na Revolução de Fevereiro.

( ) Principal líder socialista que encaminhou os bolcheviques e os sovietes para a Re-volução de Outubro.

( ) Exército socialista que defendia a Revolu-ção de Outubro.

6 O que significavam as reivindicações populares russas quando a população saía às ruas para clamar por paz, terra e pão?

7 Quais foram os motivos que levaram a Rússia a se retirar da Grande Guerra?

8 Numere a segunda coluna em relação à primeira.

( 1 ) Economia no período czarista.

( 2 ) Nova política econômica.

( 3 ) Economia planificada.

( ) O Estado controla toda a atividade eco-nômica.

( ) Dependência do capital estrangeiro.

( ) Princípios capitalistas que iriam atuar

em conjunto com princípios econômicos comunistas.

( ) Coletivização forçada das terras dos

camponeses.

( ) Latifúndios.

51

Page 52: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

capí

tulo Período

Entreguerras: Crise de 1929

4

Com o fim da Grande Guerra (1918), os países envol-

vidos no conflito mundial concentraram-se em resolver os

problemas internos, principalmente aqueles relacionados

a questões econômicas. A partir de 1929, houve uma grave

crise nos Estados Unidos, a Grande Depressão. Uma crise

econômica produz alterações sociais, como redução das

condições de consumo e aumento nas taxas de desem-

prego. Observe a imagem desta página. Você já viu essa

forma de manifestação popular nos dias atuais?

Economia estadunidense após a Grande Guerra

A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque

Grande Depressão

New Deal

Efeitos da Crise de

1929 pelo mundo

o que vocêvai conhecer

PROTESTO de professores. [ca. 1930]. 1 fotografia, p&b.Protesto de professores pela falta de pagamento, em Chicago, nos Estados Unidos, durante os anos da chamada Grande Depressão

©Shutterstock/Everett Historical

52

Page 53: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Relacionar a participação dos Estados Unidos na Grande Guerra à prosperidade econômica vivida pelos estadunidenses na década de 1920.

Conhecer o contexto que levou os EUA à Crise de 1929.

Identificar os efeitos causados pela crise em vários segmentos da população, com destaque para o desemprego e a fome.

Compreender o que foi o New Deal e conhecer suas principais diretrizes.

Reconhecer os efeitos da Crise de 1929 em países europeus que estavam se reer-guendo após a destruição causada pela Grande Guerra.

Identificar os impactos da Crise de 1929 nas exportações brasileiras.

objetivos do capítulo

Economia estadunidense após a Grande Guerra

A economia dos Estados Unidos não foi abalada pela Grande Guerra (1914-1918) da mes-

ma forma que os países europeus. Isso aconteceu porque o país entrou no final do conflito

e as batalhas não ocorreram em seu território. Por outro lado, a Europa teve boa parte de

seu território devastada pelas batalhas. Com o grande número de mortos e a falta de mão

de obra, o continente carecia de todos os gêneros de primeira necessidade e de produtos

industrializados, uma vez que o parque industrial europeu tinha sido destruído.

Nos Estados Unidos, as indústrias produziram em larga escala durante a Grande Guerra,

os silos estavam cheios. Dessa forma, passaram a fornecer aos países europeus alimentos e

produtos industrializados. Além disso, os estadunidenses começaram a abastecer os mer-

cados que anteriormente eram supridos pela indústria europeia, como a América Latina e a

Ásia. Com a economia aquecida pelo poder de consumo do mercado interno e pelo aumento

das exportações, os Estados Unidos passaram a viver um período de prosperidade que gerou

uma grande euforia econômica.

Em 1903, o industrial Henry Ford abriu as portas da Ford Motor Company, em Highland

Park, nos Estados Unidos. Cinco anos depois da inauguração, a empresa lançou o Ford T, que

foi o carro mais fabricado no mundo durante 45 anos. Para acelerar a produção, Henry Ford

desenvolveu uma linha de montagem; esse método era revolucionário e visava aumentar a

produtividade de uma fábrica.

O antigo processo de produção em que um mesmo operário trabalhava do começo ao

fim de um processo produtivo foi subdividido em pequenos segmentos de produção. Assim,

foram eliminados todo tipo de movimentos supérfluos dos operários, o que aumentou o

ritmo de trabalho e diminuiu o custo da produ-

ção. Essa técnica permitiu o barateamento dos

bens de consumo, assim, Henry Ford popula-

rizou o automóvel, que se tornou o sonho de

consumo dos estadunidenses.

MODELOS Ford T. 1927. 1 fotografia, p&b.

Da esquerda para a direita na imagem: o primeiro modelo T, de 1908; o primeiro automóvel criado por Henry Ford em 1896; e o

modelo T de 1927.

©Album/akg-images/Album/Fotoarena

53

Page 54: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

A economia estadunidense, marcada pela euforia de produção,

comércio e consumo após a Grande Guerra, começou a dar sinais de

superprodução quando os estoques de diferentes produtos aumen-

taram além da capacidade de consumo do mercado. Isso aconteceu

porque alguns países da Europa foram reconstruindo seu parque

industrial, voltaram a cultivar os campos e, a cada ano, passaram

a comprar quantidades menores de produtos dos Estados Unidos.

Dessa maneira, o que não era vendido para a Europa era armazena-

do em depósitos e celeiros.

O governo dos Estados Unidos criou campanhas procurando

alertar os produtores sobre o fato de que a superprodução trazia

prejuízos. Porém, em razão do liberalismo econômico, o governo

não tinha mecanismo para controlar a produção e pouco pôde fa-

zer para evitar a catástrofe que se anunciava.

Lei Seca

Em paralelo à superprodução, em 1920 começou a vigorar a Lei Seca nos Estados Unidos.

Por meio dessa lei, ficou proibida a produção, o transporte e a venda de qualquer bebida

alcoólica. Os defensores da Lei Seca acreditavam que os bares, os cassinos e o consumo de

bebidas alcoólicas eram responsáveis pelo desemprego e pela péssima qualidade de vida de

parte dos trabalhadores.

Na tentativa de solucionar esses problemas, o governo estadunidense incluiu a Lei Seca

no seu texto constitucional, medida que perdurou até o ano de 1933. Como a importação e a

exportação de bebidas alcoólicas também foram proibidas, o governo acabou descumprindo

os princípios do liberalismo econômico vigentes no país, que tinha como um de seus pilares

a liberdade de comércio.

Entretanto, a proibição não acabou com a produção e o consumo. O contrabando e a pro-

dução de bebidas continuou acontecendo e venda acontecia regularmente em bares clandes-

tinos. Tais práticas contavam com a conivência de autoridades corruptas, que faziam “vistas

grossas” ao comércio ilegal. Nesse con-

texto, as quadrilhas que monopolizavam

a produção clandestina e o contraban-

do, chefiadas pelos chamados gângste-

res, passaram a dominar outros setores,

como o jogo e a prostituição.

DESTRUIÇÃO de bebida alcoólica em Chicago. 1921. 1 fotografia, p&b.

Funcionários do governo jogam fora bebida produzida de forma clandestina, em 1921

gângsteres: membros de uma quadrilha; contrabandistas; ladrões.

©A

lam

y S

tock

Ph

oto

/Fo

toa

ren

a

A superprodução é uma

situação em que um ou diversos

setores da economia produzem

mais mercadorias do que o

mercado é capaz de consumir.

No liberalismo econômico,

o governo não controla

diretamente as atividades

econômicas e procura não

interferir nas decisões tomadas

pela iniciativa privada. Assim,

a ordem econômica tende a se

estabelecer pelo mecanismo

da concorrência – o equilíbrio

entre a produção, o consumo

e o preço é determinado

pela oferta e pela procura.

54

Page 55: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

A onda de conservadorismo atingiu os imigrantes, uma vez que a política contra imi-

gração se acentuou no país, com regras mais severas para impedir a entrada deles. Grupos

como a Ku Klux Klan, racista e discriminatório, ganhavam novo fôlego, colocando-se não só

contra afrodescendentes, mas contra imigrantes, socialistas e feministas – elementos enten-

didos como “opostos à liberdade” e ao “American way of life”. As características moralistas

e conservadoras do período, porém, tiveram consequências: vários intelectuais e artistas

sentiram-se perseguidos e passaram a buscar refúgio na Europa, principalmente em Paris.

Entre eles, podem ser citados os escritores John dos Passos, Ernest Hemingway, Gertrude

Stein e Francis Scott Fitzgerald.

Ao estudar como se encontrava a economia dos Estados Unidos nos anos posteriores à Grande Guerra, é possível observar três características marcantes: euforia econômica, superprodução e li-berdade econômica. Explique cada uma dessas características nos quadros abaixo.

organizando a história

Euforia econômica

Superprodução

Liberdade econômica

55

Page 56: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque

As crises econômicas não ocorrem de um dia para o outro. Elas começam em um setor da

economia e vão se espalhando para os demais até que atingem a população, normalmente,

por meio de inflação e desemprego.

O governo estadunidense assumia uma postura cada vez mais favorável ao livre mercado e

à ação dos empresários, que atuavam sem controle ou fiscalização governamental.

Parecia que a prosperidade duraria para sempre. O povo norte-americano havia criado uma sociedade de

massa em que milhões assistiam aos astros do cinema, compravam automóveis e aparelhos de rádio, trabalhavam em linhas de montagem, compravam ações – e agora as vendiam, ou o que restou delas. Em questão de semanas, a Nova Era estava morta e enterrada.

No meio do tumulto, um homem hospedado em um hotel de Nova Iorque tentou um tele-fonema, mas não conseguia linha. Ele desceu e finalmente encontrou a telefonista do hotel. Ela era moderna e avançada. Possivelmente se considerava uma Nova Mulher. Agora, quando desligou o telefone, ela estava em lágrimas. “Era meu corretor”, falou. “Estou arruinada. Tudo que me resta no mundo é meu casaco de pele de foca.”.

DAVIDSON, James W. Uma breve história dos Estados Unidos. Porto Alegre: L&PM. p. 236.

O mercado entrara em um círculo vicioso; todos compravam ações porque elas subiam e elas subiam porque todos compravam. [...]

As pessoas mais conservadoras, ou prudentes, acabavam se sentindo otárias ao ver seus vizinhos trocarem seus carros por outros muito mais luxuosos, viajarem para a Europa nos grandes transatlânticos [...]. “Ganhei na Bolsa”, eles explicavam com candura [...].

SANT’ANNA, Ivan. 1929 - Quebra da Bolsa de Nova York: a história real dos que viveram um dos eventos mais impactantes do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. p. 14.

No dia 24 de outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova Iorque encerrou o pregão com

a queda vertiginosa dos preços das ações. Nesse dia, que ficou conhecido como Quinta-Feira

Negra, ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. No dia 29 do mesmo mês, a crise

agravou-se. Grandes empresas, como a General Motors e a US Steel (produtora de aço), tiveram

perdas enormes. Pequenos, médios e grandes investidores se viram apenas com uma enorme

quantidade de papéis sem valor.

Corretores, banqueiros, investidores, clientes dos ban-

cos, todos reclamavam por seu dinheiro, motivados pelo pâ-

nico e pela desconfiança diante da realidade econômica que

se apresentava. A situação ficou difícil para todos, pois o há-

bito de investir em ações havia se disseminado na sociedade

estadunidense, como mostra o texto a seguir.

Um grande número de pessoas se reúnem do lado de fora da Bolsa de Valores de Nova Iorque durante o Wall Street Crash em 1929

©P

ho

to1

2/U

IG v

ia G

ett

y I

ma

ge

s

56

Page 57: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Como funciona uma bolsa de valores? Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.

organizando a história

Ações são títulos que correspondem a frações de determinada empresa e representam

uma parte de seu capital. Quem possui ações é dono de uma parte da empresa e, por isso,

recebe uma quantia proporcional dos lucros. Por exemplo: se um investidor compra 5% das

ações de uma empresa, ele passa a ser proprietário de 5% de todo o patrimônio dessa empre-

sa e, portanto, recebe o correspondente a 5% dos lucros que ela alcança.

As ações de uma empresa são negociadas em uma bolsa de valores. Na lógica que deter-

mina a compra e a venda de ações em bolsa, quem investe costuma adquirir ações de empre-

sas que podem gerar lucro e vendê-las quando os preços estão em alta. Quanto maior for o

número de interessados em comprar ações de uma empresa, mais elas serão valorizadas. Se

a procura for pequena ou zero, os preços das ações cairão, isto é, elas diminuirão de valor.

O desenvolvimento da tecnologia digital e de comu-

nicações revolucionou a compra e a venda de ações no

mercado internacional atual, pois um grande volume

de ações passou a ser negociado nos pregões eletrô-

nicos. Os investidores podem negociar suas ações de

maneira simples, rápida e a distância, utilizando meios

de comunicação por satélite, como o telefone e a in-

ternet. Isso faz as bolsas de valores ao redor do mun-

do ficarem diretamente ligadas entre si, tornando uma

dependente da outra. É possível investir em ações em

bolsas pelo mundo nas 24 horas do dia, acompanhando

os fusos horários dos diversos países.

Uma crise mundial pode se desencadear em horas

por conta da atual interdependência entre as econo-

mias globais e por empresas que atuam internacional-

mente e têm ações negociadas em bolsa ou no merca-

do financeiro. É o chamado efeito cascata ou dominó.

1 Seguindo o raciocínio proposto nos dois primeiros parágrafos, explique o que acontece com o acio-

nista quando a empresa deixa de lucrar ou vai à falência.

2 O que mudou no mundo das bolsas de valores com o desenvolvimento da tecnologia digital?

3 Por que a tecnologia digital usada nas bolsas de valores pode causar uma crise mundial?

Bolsa de Valores de Nova Iorque em 2011, em pleno funcionamento

©S

hu

tte

rsto

ck/B

art

Sa

do

wsk

i

57

Page 58: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

A Grande Depressão

Em outubro de 1929, a correria de milhares de pessoas tentando sacar os valores que

tinham depositado nos bancos provocou uma grande confusão no sistema financeiro. Os

bancos haviam emprestado o dinheiro dos depósitos aos investidores; os investidores não

conseguiram vender suas ações e não tinham como pagar os empréstimos; sem dinheiro, os

bancos não conseguiam pagar os clientes. A crise atingiu a todos.

Naquele ano, o presidente dos Estados Unidos era o republicano Herbert Hoover, que

governava de acordo com o liberalismo econômico e, por isso, não tomou uma medida efe-

tiva para conter a crise. Seu governo de-

fendia que o Estado não deveria intervir na

economia, já que as leis de mercado (oferta

e procura) logo equacionariam os proble-

mas econômicos e a prosperidade voltaria.

Contudo, não foi isso o que ocorreu. Em

pouco tempo, multiplicaram-se as falências,

o desemprego disparou, a miséria atingiu mi-

lhões de estadunidenses e a recessão aumen-

tou. De acordo com o historiador Leandro

Karnal, até 1932, 5 mil bancos estaduniden-

ses faliram; a produção industrial do país caiu

em quase 50%; o Produto Interno Bruto (PIB)

diminuiu um terço; 25% da população estava

desempregada (em alguns locais, esses índi-

ces variaram entre 50% e 80%).

Entre 1929 e 1933, o número de suicídios aumentou notavelmente em Nova Iorque. Talvez tenha sido mera coincidência. Isto é, que a maior crise econômica do mundo capitalista não possuísse relação direta com o súbito desinteresse pela existência manifestada pelos habitantes do coração financeiro do capitalismo mundial. No entanto, é provável que as falências, a ruína, a bancarrota de milhares de empresas, corretores de títulos, especuladores e o desespero de simples aplicadores de poupanças na Bolsa tenham influído nessa repentina “falta de vontade de viver”. E não era para menos. Durante os anos anteriores – com altos e baixos, é verdade – os negócios haviam sido tão febris quanto excelentes. As pessoas iam dormir apenas remediadas e acordavam milionárias. As jogadas especulativas permitiam que em questão de horas algumas ações tivessem suas cotações aumentadas em 20 ou 30%. O enriquecimento fácil e rápido era a ilusão de todos os norte-americanos.

SANDRONI, Paulo. O que é recessão. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 7-8.

©M

on

da

do

ri P

ort

foli

o v

ia G

ett

y I

ma

ge

s

Investidor da Bolsa de Valores coloca à venda seu automóvel por 100 dólares em dinheiro vivo. O cartaz anunciava que ele havia perdido tudo no mercado de ações.

58

Page 59: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

©Shutterstock/Everett Historical

História

A solução para a crise econômica co-

meçou a tomar forma apenas em 1932,

com a vitória do Partido Democrata nas

eleições presidenciais.

Fila de desempregados aguardando a distribuição

gratuita de alimentos em Chicago

1 Explique como a crise econômica nos Estados Unidos em 1929, em uma espécie de efeito dominó, atingiu investidores, bancos e seus clientes.

2 No caça-palavras a seguir, você encontrará cinco termos que representam problemas ocorridos como consequência da Crise de 29. Identifique-os.

organizando a história

M E R T A I C N Ê L A F

I U P L O K I H J F V B

S N Z A S D F G T R E R

É O R E K S E S X D Q U

R P O I T R W E V N T Í

I D E S E M P R E G O N

A E B V E T B O P L I A

A B A N C A R R O T A S

3 Depois da constatação da crise de 1929, o presidente Herbert Hoover não tomou uma medida efe-tiva para intervir na situação. Comente o que o levou a tomar essa atitude.

59

Page 60: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

New Deal

Nas eleições presidenciais de 1932, os estadunidenses elegeram o candidato do Partido

Democrata, Franklin Delano Roosevelt. Ele estabeleceu uma nova diretriz econômica para

o país, que ficou conhecida como New Deal (Novos Rumos). Conforme essa nova política, o

Estado passou a intervir na economia, com a intenção de criar empregos, regular os preços

dos produtos agrícolas e industriais, combater os trustes e reaquecer as mais diversas ati-

vidades econômicas, concedendo empréstimos aos bancos. Outra medida importante foi o

estabelecimento de um seguro social, para fornecer “alguma” renda aos necessitados. Ou

seja, o New Deal tinha como objetivos restabelecer o consumo e

acabar com a fome, o desemprego, as falências e a miséria gene-

ralizada provocada pela crise de superprodução. Roosevelt ainda

aboliu a Lei Seca.

Os assessores de Roosevelt, responsáveis pela elaboração

do New Deal, foram influenciados pelo economista britânico John Maynard Keynes (1883-

1946), que defendia a tese de que o intervencionismo estatal na economia não era incom-

patível com o capitalismo. Para ele, o Estado deveria estimular a economia por meio de in-

vestimentos em obras públicas, que gerariam empregos, salários e estimulariam o consumo.

De acordo com o pensamento de Keynes, quando os trabalhadores recuperassem a sua con-

dição de consumidores, movimentariam o setor produtivo e o comércio, superando a crise

econômica.

Roosevelt foi bem-sucedido, pois a situação econômica e social dos estadunidenses me-

lhorou substancialmente em algumas regiões do país. Assim, ele se reelegeu presidente da

República com facilidade nas eleições de 1936.

Desde a primeira eleição de Roosevelt, os Estados Unidos entraram em um processo

de recuperação econômica, com grandes investimentos na produção de bens de consumo,

como eletrodomésticos e carros. Foi

algo semelhante ao que havia aconteci-

do antes da Crise de 1929; porém, após

1933, a ideia de felicidade para os cida-

dãos estadunidenses passou a estar re-

lacionada diretamente à obtenção des-

ses bens.

As propagandas mostravam essa

relação direta entre possuir diversos

aparelhos eletrodomésticos e ser feliz,

divulgando que esse era o modo de vida

nos Estados Unidos, considerado por

eles como o melhor do mundo. No entan-

to, a dura realidade cotidiana dos traba-

lhadores mais pobres não apresentava a

possibilidade de acesso a tais bens, as-

sim, o padrão de felicidade não podia ser

alcançado por todos os estadunidenses.

trustes: acordos entre empresas com o objetivo de restringir a concorrência e controlar os preços.

No estado de Maryland, em 1937, foi construída a primeira comunidade-modelo planejada pelos programas do New Deal.

©S

hu

tte

rsto

ck/E

ve

rett

His

tori

cal

60

Page 61: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

A ideia do “modo de viver americano” estendeu-se a vários países, estimulando o con-

sumo de produtos estadunidenses. Propagandas e filmes apresentavam, além dos bens de

consumo, os hábitos de vida das famílias estadunidenses mais abastadas. Nas sociedades

ocidentais, esse modelo acabou gerando a ambição por uma maneira de viver que valorizava

uma alimentação industrializada, lazer em passeios de carro com a família e cozinhas apare-

lhadas com todos os tipos de eletrodomésticos. O “modo de viver americano” tornou-se um

modelo para o mundo.

Analise a imagem a seguir.

interpretando documentos

De acordo com sua análise, elabore um texto relacionando a imagem com o contexto histórico esta-dunidense durante a década de 1930.

BOURKE-WHITE, Margaret. Vítimas de enchentes na fila da Cruz Vermelha. 1937. 1 fotografia, p&b. Estados Unidos.

©M

arg

are

t B

ou

rke

-Wh

ite

/Tim

e &

Lif

e P

ictu

res/

Ge

tty

Im

ag

es

O presidente Roosevelt, com o objetivo de documentar os avanços alcançados nos Esta-

dos Unidos em decorrência da implantação do New Deal, contratou uma série de fotógrafos

e pediu a eles que registrassem as melhorias levadas pelo plano a várias regiões do país.

Os fotógrafos registraram muito mais do que o solicitado. Seus trabalhos evidenciaram

as características de cada região visitada, sua gente, seus costumes e, especialmente, a po-

breza, que, apesar das medidas tomadas pelos governantes, era visível em todo o interior

dos Estados Unidos.

A foto de 1937 mostra pessoas que haviam sofrido com uma enchente nos Estados Unidos. No cartaz, lê-se: “Mais alto padrão de vida/Não há jeito como o jeito americano”.

61

Page 62: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Uma das fotógrafas contratadas foi Dorothea Lange, responsável por mais de duas mil fo-

tos, entre elas, um conjunto de cinco imagens que ficaram conhecidas como Migrant Mother

(Mãe Migrante), produzidas em fevereiro de 1936, em Nipomo, Califórnia.

Dorothea Lange relatou sua experiência com a mulher foto-

grafada, Florence Thompson, na revista Fotografia Popular, edi-

tada em 1960.

Eu vi e me aproximei da mãe como se fosse atraída por ímã. Não me recordo como expliquei minha presença ou minha câmera, mas eu me lembro que ela não fez nenhuma pergunta. Fiz cinco fotogra-fias me aproximando cada vez mais da família. Não pedi seu nome ou sua história. Ela apenas me contou que tinha 32 anos e que es-tava se alimentando de alguns vegetais congelados dos campos da vizinhança e dos pássaros que as crianças mataram. Tinha vendido os pneus de seu carro para comprar o alimento. Sentou-se na barra-ca com suas crianças, e pareceu saber que meus retratos poderiam lhe ajudar e, assim, ela ajudou-me.

Texto integrante da exposição de fotografias Estados Unidos – início do século XX, realizada pela Galeria da Caixa, em Curitiba, em setembro de 2008.

LANGE, Dorothea. Mãe migrante. 1936. 1 fotografia, p&b. Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.

©A

lbu

m/F

oto

are

na

O texto a seguir aborda a vida nos Estados Unidos na década de 1930.

interpretando documentos

Num certo momento, calculou-se que (excluindo as famílias que habitavam no campo) mais ou menos 34 milhões de homens, mulheres e crianças não tinham renda alguma: tra-tava-se de 28% da população. Os proprietários não conseguiam receber os aluguéis e, conse-quentemente, não podiam pagar os impostos; as receitas nas cidades desabaram, acabando com o sistema de assistência social (tal como era) e com os serviços. [...] Em algumas áreas, as escolas fecharam durante a maior parte do ano. Em Nova Iorque, em 1932, mais de trezentas mil crianças ficaram sem escola por falta de recurso e, entre aquelas que eram socorridas pelo Departamento de Saúde, 20% mostraram casos de desnutrição.

JOHNSON, Paul. Tempos modernos: o mundo dos anos 20 aos 80. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército/Instituto Liberal, 1994. p. 205.

Leia as afirmativas a seguir e, com base no trecho lido, classifique-as em verdadeiras (V)

ou falsas (F).

a) ( ) É correto afirmar que toda a sociedade estadunidense que viveu a grande euforia econô-mica dos anos de 1930 nunca mais conseguiu se restabelecer.

b) ( ) A desnutrição citada no texto é efeito da pobreza a que muitas famílias estavam sujeitas no período pela falta de emprego.

c) ( ) O texto indica como a Grande Depressão ocasionada pelos eventos de 1929 afetou de

maneira indistinta diferentes setores da sociedade.

62

Page 63: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

Leia o texto a seguir e faça as atividades propostas.

organizando a história

A maior crise econômica da história do capitalismo, na década de 1930, pôs fim às certe-zas econômicas e sociais dos anos 1920. Bancarrota, desemprego e miséria social em massa caracterizaram os Estados Unidos depois do colapso financeiro do país em outubro de 1929. Diante do que mais tarde foi chamado de “Grande Depressão”, o Estado então retomou as pro-postas reformistas da era progressista, implementando um programa inovador de intervenção estatal em todas as áreas da economia e sociedade.

KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2018. p. 197.

1 O programa inovador ao qual o texto faz referência foi

a) ( ) a Lei Seca.

b) ( ) o New Deal.

c) ( ) o liberalismo econômico.

d) ( ) a Liga das Nações.

2 Preencha a tabela a seguir com as informações solicitadas sobre esse programa inovador.

Quando foi implementado? Quais ações foram adotadas?Quais foram suas consequências?

3 A fotógrafa Dorothea Lange fazia parte de um programa do governo que tinha a missão de docu-mentar os efeitos da Grande Depressão na sociedade e os efeitos da recuperação econômica. Sobre a implantação do programa do presidente Theodore Roosevelt, responda:

a) Por que documentar essas ações seria importante?

63

Page 64: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

Efeitos da Crise de 1929 pelo mundo

A crise acabou se alastrando por diversos países a partir de 1929. Aqueles que tinham

ligações econômicas e comerciais mais diretas com os Estados Unidos foram os que mais

sofreram com seus efeitos.

Europa

Os Estados Unidos investiram milhões de dólares em alguns países do continente euro-

peu para auxiliar no revigoramento de suas economias, abaladas com a Grande Guerra. Com

a Crise de 1929, esse processo de investimentos

foi cancelado. A Alemanha sentiu os efeitos de

imediato; foi o país mais atingido, pois recebia até

então grandes empréstimos dos Estados Unidos

para seu processo de reconstrução.

O desemprego se alastrou por toda a Europa,

agravando a situação, que já era crítica, e aumen-

tando a fome e a miséria. Calcula-se que, no mun-

do todo, cerca de 30 milhões de pessoas tenham

perdido seus empregos em decorrência da catás-

trofe econômica de 1929.

Brasil: a crise do café

A Crise de 1929 assumiu caráter internacional e, no Brasil, os efeitos também foram sen-

tidos na produção cafeeira da época. Os Estados Unidos eram os principais consumidores do

café brasileiro e interromperam a compra do produto com a ocorrência da crise; em seguida,

foram os países europeus que pararam de comprar o café brasileiro.

No Brasil, em 1906, ocorreu o Convênio de Taubaté, uma

reunião entre os produtores de café e os governantes de São

Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Os cafeicultores

desejavam que os governantes de seus estados comprassem

e armazenassem o café excedente por um preço mínimo,

determinado por eles. Assim, o preço alto ficaria garantido

para os produtores e esses governos assumiriam o prejuízo.

Além disso, queriam que o governo se comprometesse a fa-

zer propaganda do café brasileiro no exterior para estimular

a exportação. Em contrapartida, eles se comprometeriam a

não aumentar seus cafezais para que o governo pudesse, nos

©u

llst

ein

bil

d/u

llst

ein

bil

d v

ia G

ett

y I

ma

ge

s

Desempregados alemães aguardam distribuição de jornais com anúncios de possíveis empregos

A revista O Malho, de 3 de março de 1906, ironizou em sua capa as resoluções tomadas pelo Convênio de

Taubaté, que beneficiavam apenas os produtores de café

©B

ibli

ote

ca N

aci

on

al

64

Page 65: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

anos seguintes, colocar o café estocado no mercado. Entretanto, os cafeicultores continua-

ram a aumentar suas produções, uma vez que o governo brasileiro sempre comprava e esto-

cava o café que não encontrava compradores estrangeiros. Com o Convênio de Taubaté, o

preço do café foi mantido alto de forma artificial.

Tal política consistia na compra, estocagem e até destruição da mercadoria, com o objeti-vo de manter ou recuperar seu preço internacional. Embora produtores mineiros e fluminen-ses tenham sido reticentes a medidas tão radicais, elas, com o apoio do governo federal e de empréstimos internacionais, acabaram sendo implementadas. Contrariando as expectativas liberais da época, a valorização obteve êxito: entre 1907 e 1915, o preço internacional do café praticamente dobrou. O alívio foi tal que as safras-monstros de 1917 e 1921 acabaram [...] sendo enfrentadas da mesma maneira. Em 1925, a defesa do café torna-se permanente.

DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 239.

Os resultados obtidos com o Convênio de Taubaté trouxeram algumas consequências:

Foi durante a Grande Guerra (1914-1918) que, simultaneamente à produção de café,

ocorreu a ampliação da industrialização no Brasil, principalmente em São Paulo. Porém, ao

fim do conflito, grandes potências, como Inglaterra e Estados Unidos, retomaram sua pro-

dução industrial e passaram a fornecer novamente seus produtos ao Brasil. Dessa forma, a

iniciante indústria brasileira entrou em crise, pois ainda não estava apta a suportar a concor-

rência. A economia brasileira continuava sendo sustentada pela produção cafeeira.

Em 1929, quando aconteceu a grande crise nos Estados Unidos, os silos brasileiros esta-

vam abarrotados de café das safras anteriores e, para deixar ainda mais tensa a situação, a

colheita bateu recorde naquele ano. Não havia compradores para o café brasileiro e as falên-

cias ocorreram em todos os setores.

Assim, a Crise de 1929, iniciada nos Estados Unidos, em pouco tempo atingiu a frágil eco-

nomia brasileira voltada para a monocultura exportadora. Para se ter uma ideia mais clara do

cenário que se formou, basta considerar que o café era o carro-chefe da economia brasileira

e 73% da produção era exportada para os Estados Unidos.

Crescimento

da indústria Com o lucro garantido, os

cafeicultores ampliaram

seus investimentos na

lavoura cafeeira, além de

passarem a investir parte

dele na nascente indústria

de São Paulo.

Aumento da

dívida externaPara a compra e

estocagem do

café excedente, o

governo passou a

contrair empréstimos,

principalmente com

os Estados Unidos e a

Inglaterra.

Ascensão social

dos imigrantesOs imigrantes que

chegavam ao Brasil para

substituir a mão de obra

escravizada nas lavouras

de café traziam novos

conhecimentos sobre o

trabalho na agricultura e

também na indústria.

65

Page 66: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

No ano seguinte, em 1930, grandes

transformações políticas ocorreriam no

Brasil. Nesse contexto, o problema da

economia ligada à superprodução do

café exigia uma solução rápida. Foi cria-

do, então, o Conselho Nacional do Café,

que visava diminuir os efeitos da crise e

dar novos rumos à economia brasileira.

Suas principais decisões foram: a

queima de milhares de sacas de café; a

diminuição das áreas de cafezais; o incen-

tivo à policultura; e o desenvolvimento

da indústria brasileira.

O Brasil tornou-se um símbolo do desperdício do capitalismo e da seriedade da Depressão, pois seus cafeicultores tentaram em desespero impedir o colapso dos preços queimando café em vez de carvão em suas locomotivas a vapor. (Entre dois terços e três quartos do café vendido no mundo vinham desse país.)

Enquanto os Estados Unidos viviam os efeitos da Grande Depressão, Mahatma

Gandhi lançava uma campanha pela desobediência civil com base na não violência

pelo fim do domínio britânico na Índia.

No dia 6 de abril de 1930,

como gesto simbólico, Gandhi

recolheu um punhado de sal do

mar, no episódio que ficou co-

nhecido como a Marcha do Sal.

Na Índia, a venda do sal era mo-

nopólio britânico e seu gesto

questionava o domínio inglês

na região. O episódio resultou

na prisão de Gandhi, mas abriu

o caminho para a independên-

cia da Índia, reconhecida pelos

britânicos em 1947.

outras histórias

Gandhi na Marcha do Sal, em 1930

©W

ikim

ed

ia C

om

mo

ns

Vagão repleto de café que havia sido comprado pelo governo sendo usado como combustível para as locomotivas

O historiador Eric Hobsbawm assim descreve a situação vivida:

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 97.

©K

ey

sto

ne

-Fra

nce

/Ga

mm

a-K

ey

sto

ne

via

Ge

tty

Im

ag

es

66

Page 67: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

História

1 Explique como a linha de montagem adotada por Henry Ford contribuiu para a expansão industrial e o aumento do consumo durante a década de 1920.

2 De que maneira a euforia dos anos de 1920 contrastava com a Lei Seca, que passou a vigorar nos Estados Unidos nessa mesma década?

3 A Crise de 1929, iniciada nos Estados Unidos, deve ser entendida como

a) ( ) decorrente da dependência da economia estadunidense em relação à economia mundial.

b) ( ) consequência do bom planejamento dos economistas adeptos do liberalismo.

c) ( ) uma crise do sistema capitalista, na qual, ao se produzir sem controle e em larga escala, sem que a população tivesse condições de consumir, foi gerada uma crise de superprodução.

d) ( ) uma crise advinda da relação entre a baixa oferta de produtos e o alto poder aquisitivo dos consumidores.

e) ( ) o resultado da política de recuperação econômica idealizada por Roosevelt e seus asses-sores diretos.

4 A respeito da Crise de 1929, responda às questões a seguir.

a) O que foi a Crise de 1929?

b) De que maneira as ações da Bolsa de Valores influenciaram a Crise de 1929?

o que já conquistei

67

Page 68: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br · x Proclamação da República xRepública da Espada x República Oligárquica x Movimentos sociais na Primeira República x Fim da Primeira

c) A Crise de 1929 foi isolada e pontual, isto é, aconteceu apenas nos Estados Unidos? Justifique sua resposta.

d) Por qual motivo podemos afirmar que a Crise de 1929 foi também uma crise do liberalismo econômico?

5 Em seu discurso de posse na presidência dos Estados Unidos em 1933, Roosevelt falou sobre a pro-funda crise econômica e social que assolava o país.

[...] Grande quantidade de cidadãos desempregados vê surgir à sua frente o problema sinistro da existência, e um número igualmente grande labuta com escassa remuneração. [...] Esta nação exige ação, e ação imediata.

SYRETT, Harold C. (Org.). Documentos históricos dos Estados Unidos. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 285.

labuta: trabalha.

A “ação imediata” citada por Roosevelt deu-se por meio de uma nova política econômica.

a) Como foi chamada essa política?

b) Cite as principais medidas que faziam parte dessa política.

6 Complete o esquema a seguir com informações sobre os eventos na linha do tempo.

(1906) Convênio de Taubaté

(1930) Medidas do governo brasileiro para conter a crise

Em 1929, os silos brasileiros

estavam abarrotados

de café.

68