história do brasil imperial

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História do Brasil Imperial

Elia Barbosa

Page 3: História do Brasil Imperial

Copyright © Sociedade de Educação Tiradentes

B238h Barbosa, Elia. História do Brasil imperial. / Elia Barbosa. – Aracaju: UNIT, 2011.

160 p.: il. : 22 cm.

Inclui bibliografia

1. Brasil - História – Segundo reinado, 1840-1889. I. Universidade Tiradentes – Educação a Distância II. Titulo.

CDU : 981.053

Jouberto Uchôa de MendonçaReitor

Amélia Maria Cerqueira Uchôa Vice-Reitora

Jouberto Uchôa de Mendonça JúniorSuperintendente Geral

Ihanmarck Damasceno dos SantosSuperintendente Acadêmico

Eduardo Peixoto RochaDiretor de Graduação

Jane Luci Ornelas FreireGerente de Educação a Distância

Ana Maria Plech de BritoCoordenadora Pedagógica de Projetos Unit EAD

Lucas Cerqueira do ValeCoordenador de Tecnologias Educacionais

Equipe de Produção de Conteúdos Midiáticos:

AssessorRodrigo Sangiovanni Lima CorretorAncéjo Santana ResendeFabiana dos Santos

DiagramadoresAndira Maltas dos Santos Claudivan da Silva SantanaEdilberto Marcelino da Gama Neto Edivan Santos Guimarães

IlustradoresGeová da Silva Borges JuniorMatheus Oliveira dos Santos Walmir Oliveira Santos Júnior

WebdesignersFábio de Rezende CardosoJosé Airton de Oliveira Rocha JúniorMarina Santana MenezesPedro Antonio Dantas P. Nou

Equipe de Elaboração de Conteúdos Midiáticos: SupervisorAlexandre Meneses Chagas

Assessoras PedagógicasKalyne Andrade Ribeiro Lívia Lima Lessa

Redação:Núcleo de Educação a Distância - NeadAv. Murilo Dantas, 300 - FarolândiaPrédio da Reitoria - Sala 40CEP: 49.032-490 - Aracaju / SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: www.ead.unit.br

Impressão:Gráfi ca GutembergTelefone: (79) 3218-2154E-mail: grafi [email protected]: www.unit.br

Banco de Imagens:Shutterstock

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Apresentação

Prezado(a) estudante, A modernidade anda cada vez mais atrelada ao

tempo, e a educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disciplinas on-line, que possibi-litam a você estudar com o maior conforto e comodi-dade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.

Por meio do nosso programa de disciplinas on-

line você pode ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o mundo na mo-dernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.

Mesmo com tantas opções, a Universidade Tiraden-

tes optou por criar a coleção de livros Série Bibliográfica Unit como mais uma opção de acesso ao conhecimento. Escrita por nossos professores, a obra contém todo o con-teúdo da disciplina que você está cursando na modalida-de EAD e representa, sobretudo, a nossa preocupação em garantir o seu acesso ao conhecimento, onde quer que

você esteja.

Desejo a você bom aprendizado e muito sucesso!

Professor Jouberto Uchôa de Mendonça

Reitor da Universidade Tiradentes

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Sumário

Parte 1: A independência e a consolidação da ordem imperial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Tema 1: O processo de independência do Brasil:

da vinda da corte portuguesa ao rompimento defi nitivo . . 13

1.1. Transferência da Corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1.2. “O Fico” e a Proclamação da Independência . . . . . . . . . . 23

1.3. Reorganização política do país . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31

1.4. O Governo de D. Pedro I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Tema 2: Regência e maioridade: dos confl itos à política conciliadora. . .47

2.1. Período Regencial (1831-1840) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

2.2. Revoltas no Período Regencial: Balaiada e Sabinada . . 56

2.3. O sistema político no Segundo Reinado . . . . . . . . . . . . . 64

2.4. Revolução Praieira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Parte 2: Estrutura econômica e o quadro social e cultural do Brasil Império . . . . . 81

Tema 3: Economia no Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83

3.1. Da escravidão ao trabalho livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

3.2. Ciclo do café . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91

3.3. Industrialização no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

3.4. Urbanização no Brasil século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Tema 4: Vida privada no Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

4.1. Costumes da Corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

4.2. Representações acerca da morte

no Período Monárquico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129

4.3. Dos olhares aos altares:

namoro e casamento no Brasil Imperial . . . . . . . . . . . . 138

4.4. Educação no Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

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Ementa

O Processo de independência do Brasil: da vinda da Corte Portuguesa ao rompimento defini-tivo.Transferência da Corte, o fico e a proclamação da independência, reorganização política do país, o governo de D. Pedro I. Regência e maioridade: dos conflitos á política conciliadora. Período Regen-cial (1831-1840), revoltas no período Regencial: Ba-laiada, Sabinada e Farrapos, o sistema político no Segundo Reinado, Revolução Praieira. Economia no Império. Da escravidão ao trabalho livre, ciclo do café, industrialização no Brasil, urbanização no Bra-sil do século XIX. Vida privada no Império. Costumes na Corte, representações acerca da morte no perío-do monárquico, dos olhares aos altares: namoro e casamento no Brasil imperial, educação no império.

Objetivos

Geral

Compreender a História do Brasil com ascensão do poder monárquico, a constituição da nação a partir dos aspectos sociopolítico e econômico que configuraram o cenário nacional.

Específicos

• Estudar o processo de independência do Brasil com a vinda da corte portuguesa e seu rompimento definitivo;

• Analisar as transformações no cenário na-cional a partir da reorganização política do país;

Concepção da Disciplina

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• Compreender a política do Governo de D. Pedro I e as consequências da sua adminis-tração para sociedade brasileira;

• Analisar os acontecimentos do período Re-gencial (1831-1840), com ênfase nas revoltas ocorridas durante esse período;

• Compreender as permanências e rupturas no sistema político do Segundo Reinado;

• Esclarecer as transformações da economia do Império brasileiro a partir das transforma-ções na mão de obra e suas consequências na organização da sociedade brasileira;

• Estudar a vida privada no Império, enfati-zando os modos de vida, transmissão dos costumes e comportamentos.

Orientação para Estudo

A disciplina propõe orientá-lo em seus procedi-mentos de estudo e na produção de trabalhos cien-tíficos, possibilitando que você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor metodológico e o espírito crítico necessários ao estudo.

Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é algo novo, é importante que você observe algumas orientações:

• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendi-zagem (AVA). Organize-se de tal forma para

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que você possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexão;

• Esforce-se para alcançar os objetivos pro-postos na disciplina;

• Utilize-se dos recursos técnicos e huma-nos que estão ao seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas reflexões. Estamos nos referindo ao con-tato permanente com o professor e com os colegas a partir dos fóruns, chats e encontros presenciais. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual de Apren-dizagem – AVA.

Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em contato com o professor, além de acessar o AVA.

Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza que a área da Educação a Distância pau-ta-se na autonomia, responsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de con-cepção de educação.

Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógica e técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos recursos tecnológicos que contri-buirão na mediação entre você e o professor.

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A INDEPENDÊNCIA E A CONSOLIDAÇÃO DA ORDEM IMPERIAL

Parte 1

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1O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao rompimento defi nitivo

O objetivo principal deste tema é compreender o processo de independência do Brasil e como a vinda da corte portuguesa e seu rompimento definitivo contribuiu para a mudança do modelo até en-tão utilizado, o pacto colonial1. Responsável pelas transformações no cenário nacional, levando a reorganização política do país.

No conteúdo 1.1, estudaremos a transferência da corte portu-guesa para o Brasil e toda a movimentação que essa mudança provo-cou. No 1.2 trataremos das questões que desencadearam a indepen-dência do Brasil. O conteúdo 1.3 mostrará a reorganização política do país independente. Por fim, no conteúdo 1.4, trataremos do governo de D. Pedro I, e as consequências da sua administração para socie-dade brasileira.

1 Modelo utilizado no Brasil Colônia, no qual era estabelecido o pacto comercial entre Colônia e Metrópole.

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1.1. Transferência da Corte

Você estudou em História do Brasil Colonial como estava organizada a sociedade, a política e a economia no Brasil naquele período, sobretudo a im-portância do Pacto Colonial para a metrópole. Dessa forma, veremos como as mudanças ocorridas com a transferência da Corte alteraram o pacto colonial, uma vez que a sede do governo, localizada anteriormen-te na metrópole, foi transferida para a colônia. Na historiografia brasileira encontramos alguns estudos que entendem esse momento histórico, como fuga e outros como estratégia da Corte Portuguesa.

A transferência da Corte para o Brasil deve ser observada desde a saída da Corte de Portu-gal, devido a invasão francesa a península Ibérica, como também a presença da Inglaterra nesse pro-cesso de transferência, que resultou em acordos econômicos, afetando, sobretudo o pacto colonial.

Embarcações que conduziram a Família Real para o Brasil

Fazia parte dos quatorze navios que trouxe-ram a família real ao Brasil, pessoas que trabalha-vam, e que estavam ligadas a corte portuguesa.

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rompimento defi nitivo

Esses navios, além de transportar os novos mo-radores para o Brasil, trouxeram também os bens pessoais, obras de arte, livros entre outros.

É notório que a transferência da Corte para o Brasil, teve impacto sobre as cidades brasileiras, sobretudo Rio de Janeiro, que foi transformada em um núcleo urbano. Período de grandes migrações de estrangeiros, principalmente portugueses, como também de brasileiros, dobrando assim a popula-ção do Rio de Janeiro.

As mudanças ocorridas no Rio de Janeiro para o recebimento da Corte estavam baseadas no mo-delo de renovação urbana de Portugal e Brasil no século XVIII, ao mesmo tempo em que destacava o poder real absoluto, por outro lado o estabeleci-mento de uma ordem ilustrada.

Essa mudança da Corte para Colônia repre-sentava uma metropolização da cidade, ou seja, o Rio de Janeiro agora passava a representar a antiga metrópole que era Portugal.

As transformações no Rio de Janeiro iniciam dois meses antes da chegada da família real ao Brasil. Uma parte da população recebia com satisfa-ção a ideia de que a cidade seria a nova residência do príncipe. Mas, para muitos, a chegada da corte trouxe consequências, visto que, foram despejados para que suas residências fossem ocupadas pelos funcionários do governo.

Foram feitas reformas no palácio vice-real, nas igrejas, a cidade recebeu decoração e ilumina-ção especial para o recebimento da Corte. Mudan-ças que alcançaram também a educação do perí-odo, tanto a biblioteca real como as aulas régias foram ampliadas, foram criados também a Impren-sa Real e a escola de Medicina.

Buscava-se com essas modificações transfor-mar o Rio de Janeiro em uma cidade “civilizada”

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e para isso, necessitava melhorar suas condições físicas, ou seja, embelezar a cidade, bem como me-lhorar a questão cultural e econômica.

Com a transferência da Corte para o Brasil, algumas mudanças foram efetivadas visando trans-formar a Colônia em uma sede do governo, fato que acabou prejudicando o interesse da metrópole. Podemos destacar a Abertura dos Portos a todas as nações e a elevação do Brasil a categoria de Reino Unido em 1815.

Até a Abertura dos Portos a todas as nações em 1808, Portugal realizava com o Brasil a maior parte de seu comércio internacional, além de con-sumidor, era distribuidor do comércio exterior da Colônia. Com a abertura dos portos e os Tratados de Comércio com a Inglaterra foi concedida a ela tarifas mais favoráveis. Qual foi então a consequên-cia para o império luso? Com isso, Portugal perdeu sua posição privilegiada no sistema de monopólio que possuía com a Colônia, uma vez que obtinha lucro com fretes marítimos, alfândegas e a exporta-ção para a Colônia.

Apesar da tentativa de D. João VI (1767-1826) em limitar as vantagens dos ingleses, atribuindo vantagens para importação de vinhos, azeites e produtos fabricados por Portugal, essa tentativa de D. João não só desagradou aos países mais de-senvolvidos que estavam interessados no comércio como também o Brasil, que percebia nessa atitude o interesse de Portugal em manter o seu monopó-lio, desagradando também aos brasileiros.

De acordo com (COSTA, 1999, apud TOLLENA-RE, p.41) em Notas Dominicais,

Tollenarre, que percorria o Bra-sil entre 1816 e 1818, observava quanto era difícil ser ao mes-mo tempo rei de Portugal e

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rompimento defi nitivo

do Brasil e agir paternalmente para com os dois povos que ti-nham interesses opostos. ‘Um,’ dizia ele, ‘não pode viver sem o monopólio, o progresso do outro exige sua supressão.”

Nesse período eram comuns panfletos em Portugal e no Brasil visando o restabelecimento do Pacto Colonial, a oposição mostrava as desvanta-gens do Pacto Colonial para o Brasil, destacando as vantagens em possuir um comércio livre.

Qual era a situação do estado português naquele contexto? Portugal estava em um mo-mento de crise em sua economia, principalmente com a Revolução Industrial. Dessa forma, o re-torno de D. João VI ao país, era visto como uma forma de resolver essa situação. Para eles, com o retorno de D. João seriam anuladas as rega-lias concedidas ao Brasil e claro, restabeleceria o Pacto Colonial.

Entretanto, o que não era esperado era a oposição da Colônia e da Inglaterra, que foram beneficiadas com a transferência da Corte para o Brasil. As mudanças ocorridas com a abertura os portos causaram impulso na economia.

A população não aceitava mais as instituições coloniais, os privilégios que os portugueses possuí-am na sociedade, os muitos impostos e a burocracia existente, fatos que levaram aos conflitos.

Acontecimentos como a Revolução Liberal na Espanha também influenciaram Portugal e o Brasil. D. João VI procurou evitar que Portugal fosse afeta-do pelas idéias revolucionárias. Para isso, estabe-leceu medidas que beneficiaram o comércio portu-guês. Entretanto, essa ação não foi suficiente, em 24 de agosto de 1820 ocorreu à manifestação, que ficou conhecida como Revolução do Porto.

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Representação da Revolta do Porto

Você deve está curioso para saber o que os manifestantes reivindicavam na Revolução do Por-to. Eles reivindicavam para Portugal uma Constitui-ção com base no modelo Espanhol, como também defendiam o retorno de D. João VI a Portugal. Esse acontecimento chegou ao Brasil que teve a adesão de vários setores da sociedade.

No entanto, é importante destacar que os mo-tivos eram diferentes dos de Portugal. De um lado, os comerciantes e militares portugueses interessados ao retorno do Pacto Colonial. Do outro, fazendeiros, comerciantes, funcionários da Coroa radicados no Brasil, comerciantes brasileiros e estrangeiros, que acreditavam que poderiam com a revolução, por fim ao absolutismo e aos monopólios.

A Revolução do Porto apresentava-se como representante dos princípios liberais, entretanto em Portugal defendia princípios antiliberais, pois na verdade desejava a retirada das concessões feitas por D. João VI ao Brasil.

Após a Revolução do Porto o que se pode observar no Brasil é a criação das Juntas Gover-nativas Provisórias que deveriam ser constituídas nas províncias brasileiras. D. João VI foi levado a

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assumir o compromisso de cumprir a constituição votada pelas Cortes. Por outro lado, D. João VI bai-xou um decreto que estabelecia que as Câmaras do país deveriam ter igual juramento, dando para eleições de deputados para as Cortes de Lisboa.

Não era interesse de D. João VI retornar a Portu-gal, mas em 25 de abril, ele retorna, onde iria encontrar uma Assembléia hostil e com muitas reivindicações. Deixando como regente seu filho Pedro (1798-1834).

Entretanto, apesar de todos esses aconteci-mentos, uma grande parte da população, principal-mente do meio rural e escravos, não acompanha-vam as disputas que estavam ocorrendo no Brasil. Em geral, eram fiéis ao rei e apenas preocupados com o não restabelecimento do pacto colonial, pois era prejudicial a economia.

Dentro desse cenário, as medidas estabele-cidas pelas Cortes demonstraram os interesses de Portugal em restabelecer os privilégios que possu-íam antes da transferência da Corte para o Brasil. Motivo de conflito entre os liberais portugueses e os brasileiros.

De acordo com Costa, mesmo antes da che-gada dos representantes brasileiros a Lisboa “as Cortes decidiram transferir para Portugal o Desem-bargo do Paço, a Mesa de Consciência e Ordens, o Conselho da Fazenda, a Junta de Comércio, a Casa de Suplicação e outras repartições instaladas no país por D. João VI.” (COSTA, 1999, p.45). Eram res-ponsabilidades do Desembargo do Paço as ques-tões relacionadas à justiça, a Mesa de Consciência e Ordens cuidava do direito e administração dos mestrados das Ordens Militares; o conselho da Fa-zenda cuidava da centralização dos rendimentos da Fazenda Real Portuguesa; já a Junta do Comércio cuidava das leis e ordens para o desenvolvimento do comércio e por fim, a Casa de Suplicação, era

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uma espécie de tribunal superior do Reino. Por De-creto também foi estabelecido o retorno do príncipe regente para Portugal, nesse caso seria nomeado um representante do governo para cada província, o que seria chamado de governador de armas2.

Essas decisões provocaram reações no Brasil, demonstrando que apesar da presença dos deputa-dos brasileiros em Lisboa, nada poderia fazer, pois estavam em número menor que os representantes portugueses.

A cada dia, aumentavam no Brasil os adep-tos a Independência, que se manifestavam por panfletos, contra a política estabelecida pela Corte, bem como convidando a população e o príncipe a resistirem.

As idéias liberais e constitucionais foram al-tamente divulgadas em jornais e Panfletos, muitos chegados de Lisboa, outros produzidos no Rio de Janeiro e na Bahia, mas que levou ao debate em outras localidades a exemplo do Pará, Maranhão e Pernambuco.

Muitos jornais publicavam cartas escritas en-tre amigos, sempre mostrando posições políticas dos autores, como também passaram a publicar ensinamentos sobre a Constituição em suas publi-cações, em alguns momentos fazendo paródias das orações religiosas.

Os impressos produzidos periodicamente passaram rapidamente a ser discutidos nas ruas, cafés e praças. Geralmente, a autoria dos panfletos era mantida no anonimato por causa da censura. O aumento do número de periódicos no Rio de Janei-ro (1821-1822) foi tão grande que foi chamado de “praga periodiqueira”, inicialmente eram publica-ções semanais e posteriormente se transformariam em publicações diárias, é inegável o caráter político e ideológico das publicações.

2 Nome dado em Portugal ao título dos comandantes territoriais do Exército Português.

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rompimento defi nitivo

É importante salientar, que existia também uma publicação que podemos chamar de jornal ofi-cial a Gazeta do Rio de Janeiro (1808), entretanto limitava-se a publicar atos oficiais, fazer elogios a família real e ao governo, além de não participar de nenhuma polêmica política.

Os panfletos, folhetos e periódicos expres-savam as idéias políticas do período. Essas pu-blicações eram elaboradas por intelectuais da elite, que desejavam que o público leitor conse-guisse extrair da leitura dessas publicações um significado. Entretanto, não podemos deixar de observar que nesse período ainda são poucos os leitores, uma vez que existia um alto índice de analfabetos. Mas que não deixaram de ter acesso a notícia através da oralidade, com as leituras em voz alta e com as discussões dos acontecimentos políticos nas lojas e praças da cidade. Outro fator que não impediu o acesso ao jornal foi preço, estava acessível a grande parte da população.

As tensões foram agravadas com as idéias recolonizadoras defendidas pelas Cortes, uma vez que a maioria da classe dominante no Brasil era simpática a instituição de uma monarquia dual, mas sempre protegendo os interesses do Brasil. Exemplo desse pensamento era José Bonifácio (1763-1838).

Bonifácio apresentava-se contrário a partici-pação da população “massa” no processo de Inde-pendência, juntamente com outros que defendiam essa mesma posição, esses ficaram o quanto pude-ram a favor da monarquia portuguesa. Uma solução que parecia para eles como ideal para consolidar a autonomia desejada, sem com isso mobilizar a população, está na figura do príncipe regente.

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INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

BERBEL, Márcia Regina. A Independência do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1999.

Nesse livro a autora aborda o processo da Indepen-dência a partir do contexto internacional, na forma-ção do novo país sul-americano no de 1822, de acor-do com as tensões tanto internas como externa.

NEVES, Lúcia Maria Bastos P. Cidadania e participa-ção política na época da Independência do Brasil. Caderno Cedes. Campinas, v. 22, n. 58, p. 47-64, dez., 2002. Disponível em: <http://www.cedes.uni-camp.br>. Acesso em: 14 de jun. 2011.

O artigo analisa a Independência do Brasil, a par-tir das idéias e práticas políticas através do rela-cionamento do indivíduo com o Estado através de periódicos e panfletos políticos. Buscando através dessa analise a noção de cidadania está ainda em construção no Brasil.

PARA REFLETIR

Reflita um pouco sobre a atuação de D. João VI nes-se processo de transferência da Corte para o Brasil, quais cuidados e apoios ele precisou buscar para que essa transferência ocorresse de forma segura? Compartilhe com seus colegas a sua opinião.

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23Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

rompimento defi nitivo

1.2. “O Fico” e a Proclamação da Independência

Após a transferência da Corte para o Brasil, a grande dúvida que se colocava era sobre como a monarquia iria conduzir o cenário econômico e, sobretudo, político do país. A grande dúvida estava na permanência do príncipe no Brasil e quais as re-percussões dessa decisão, principalmente com rela-ção à Independência do Brasil. Assunto que iremos discutir nesse conteúdo.

Não acatando as ordens de Lisboa, o príncipe, atende aos pedidos do Senado da Câmara do Rio de Janeiro e permanece no Brasil. A princípio, esse acontecimento, não era visto como uma ruptura com Portugal, pois, existia a possibilidade de criar uma monarquia dual, podendo ser a sede do governo, em alguns períodos no Brasil, e em outros em Portugal.

No entanto, o Brasil desejava permanecer com certa autonomia que fora conquistada, tanto administrativamente como comercialmente.

Como os portugueses e brasileiros viam essa autonomia? A presença do príncipe no Brasil repre-sentava para os portugueses a tentativa de manter Brasil e Portugal unidos, para os brasileiros que defendiam a monarquia dual acreditavam que a presença do príncipe era fundamental. Mas, para os que defendiam a Independência, a presença do príncipe representava a possibilidade de realizar a independência sem modificar a ordem vigente.

Em decreto de 7 de março de 1821 ficou estabelecido que D. Pedro ficaria encarregado do governo provisório do Brasil. Isso representava a manutenção do poder central. Foi sugerida a D. Pe-dro a utilização do modelo eleitoral da Constituição Espanhola, entretanto esse modelo limitava os po-deres de D.Pedro, motivo pelo qual, essa sugestão não foi aceita.

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O príncipe regente ficou responsável tanto pela economia, justiça e fazenda, além de outras atribuições como perdoar a pena de morte, pro-ver todos os cargos, entretanto era vedada a ele a nomeação dos bispos. O príncipe procurou fa-zer algumas reformas, mas sempre destacando que respeitaria as leis e que anteciparia os benefícios da Constituição, garantindo apoio a educação, co-mércio e agricultura. Em algumas reformas diminui ou suprimiu alguns impostos.

Apesar da difícil situação financeira que pas-sava o Brasil, D. Pedro conseguia governar o país sem maiores problemas. Uma notícia que iria agitar o governo de D. Pedro foi a votação pelas Cortes das Bases da Constituição, isso foi um golpe a autono-mia da regência de D.Pedro, com isso a Junta seria responsável em examinar as leis que seriam promul-gadas. D. Pedro, então com habilidade política con-segue obter uma junta mais moderada, conseguindo a participação de dois oficiais por Regimento.

Na verdade, a criação dessa Junta não conse-guiu atrapalhar o Governo de D. Pedro que nesse pe-ríodo, como ele mesmo reconhecia estava limitado a Província do Rio de Janeiro. Apesar das várias mani-festações a favor ou contra a separação do Brasil de Portugal, o príncipe permaneceu sem se manifestar. No entanto, em 9 de dezembro de 1821, chegam os decretos ao Rio de Janeiro estabelecidos pela Corte, que exigia o retorno de D. Pedro e o fim das insti-tuições criadas no período que a cidade foi sede da monarquia. D. Pedro escreve ao pai D. João informan-do as repercussões que o decreto causou no país e a impossibilidade do cumprimento desse decreto.

Com o apoio dos homens de prestígios, e fiéis a Monarquia, o príncipe declarou o “Fico” em 9 de janeiro de 1822, fato que causou muita tensão na colônia e metrópole. Esse dia ficou conhecido na

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25Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

rompimento defi nitivo

história do Brasil com a histórica frase pronunciada por D. Pedro: “Como é para o bem de todos e felici-dade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!” É bom ressaltar, que essa decisão, estava mui-to mais ligada aos interesses da aristocracia do que aos interesses do povo, uma vez que não alterando a realidade socioeconômica do país a aristocracia iria apoiar o processo de Independência do Brasil.

Ainda no ano da Independência, foi convocada uma As-sembléia Geral das Províncias do Brasil, onde deveria estabele-cer em quais condições o Brasil permaneceria unido a Portugal. A tentativa de manter-se unidos não deu certo, pois Portugal precisa-

ria reconhecer a autonomia da Colônia, consequen-temente o livre-comércio, mas na verdade o que as Cortes queriam mesmo era abolir esse direito.

A rebeldia do príncipe foi recebida em Portu-gal com muita tensão. José Bonifácio foi conside-rado traidor em Portugal, dificultando ainda mais qualquer tentativa de conciliação.

Nesse cenário, três partidos estavam presen-tes: um partido português, que visava defender a política das Cortes, o segundo partido formado de brasileiros e portugueses, que desejavam autono-mia, e eram simpatizantes da monarquia dual, mas percebendo a dificuldade em manter-se unidas as duas Coroas, aceitaram a idéia de ruptura com Por-tugal, e o terceiro, o Partido Republicano, favorável a Independência, e defensores de idéias mais radi-cais e democratas.

D. Pedro I

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História do Brasil Imperial26

Durante a liderança do príncipe, vários gru-pos estavam presentes, apesar das divergências, fato que não impedia estarem próximo do príncipe.

Após o “Fico” foi convocado um Conselho de Procuradores Gerais das Províncias, visando anali-sar as decisões das Cortes e sua aplicação no Bra-sil. Também deveriam ser pensadas reformas den-tro do permitido pelo Poder Executivo.

O príncipe lançou um Decreto que proibia o desembarque de tropas vindas de Portugal, bem como a saída de batalhões que estavam sediados no Rio de Janeiro, mas não era favorável ao fato do príncipe ter permanecido no Brasil.

Muitas foram às tentativas por parte de José Bonifácio para conseguir apoio de outros países, fato que desagradou a Portugal que recebia várias notícias, muitas delas desencontradas sobre o que realmente acontecia no Brasil.

Ao final de agosto de 1822, chega ao Brasil a notícia que as Cortes reduziram o príncipe a um de-legado temporário das Cortes. O príncipe que nesse período estava em viagem, tomou conhecimento das ordens de Portugal, entre elas a possibilidade do envio de tropas ao Brasil. José Bonifácio então escreve ao príncipe: “o dardo está lançado e de Portugal não devemos esperar senão a escravidão e horrores” (COSTA, 1999, p.49).

Era possível perceber a algum tempo, que não daria certo uma monarquia dual. Não existia outra opção, senão romper com Portugal e o príncipe ti-nha duas opções: ou Proclamava a Independência, ou obedeceria as Cortes e voltava a Portugal.

No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro às margens do Riacho Ipiranga em São Paulo, bradou um das frases mais conhecidas na história do Bra-sil: “Independência ou morte”. Oficialmente o Bra-sil estava separado de Portugal, consolidando uma

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rompimento defi nitivo

ruptura política, que já havia sido iniciada com a abertura dos portos.

D. Pedro aceita o título de De-fensor Perpétuo do Brasil, títu-lo que lhe parecerá, no futuro a sagração do país à primazia monárquica, fronteira de to-das as veleidades soberanas do povo (FAORO, 2001, p. 315).

Apesar de já proclamada a Independência, o governo Português tentou retomar a situação an-terior, mas o apoio do governo Inglês à Indepen-dência do Brasil fez com que Portugal não tentasse recuperar sua antiga colônia. Isso por que Portugal dependia economicamente da Inglaterra.

Desde a assinatura dos Tratados de 18103, Portugal perdeu o monopólio do Brasil, ficando dependente do capitalismo inglês. Como podemos observar no trecho abaixo:

Digne-se Vossa Majestade to-mar em consideração que Por-tugal é um reino de pequena extensão e escassamente po-voado [...] que o ramo mais útil de sua agricultura, que é o vinho, se acha em decadência pela abertura dos portos do Brasil aos vinhos de todas as nações, que a nossa indústria se paralisou consideravelmente com a livre entrada em Portugal e no Brasil dos produtos ingle-ses, desapareça brevemente dos mares a bandeira portu-guesa (SARAIVA, 1978, p. 271).

A Independência do Brasil para a Ingla-

terra industrializada representava a abertura de

3 Comércio e Navegação e Aliança e Amizade.

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novos mercados, tanto como fornecedores como consumidores.

Com a Independência podemos perceber a diferença entre os grupos que estavam no poder, de um lado os radicais e do outro os conservado-res. José Bonifácio reunia no “Apostolado” socieda-de secreta, pessoas de projeção social. Existia tam-bém a loja “Grande Oriente” essa nomeou D. Pedro como grão-mestre e assumiu o controle da situação por algum tempo, até ser temporariamente fecha-da. O governo agora passa para mãos de uma elite que irá ocupar altos cargos da administração e do governo. Mas quem eram essas pessoas? Pode-se dizer que eram fazendeiros e comerciantes.

Nesses grupos, muitos tinham sido funcioná-rios da Coroa, mas com a Independência ocuparam cargos importantes na vida política e administrati-va, de forma geral eram homens que estavam aci-ma dos cinquenta anos e poucos tinham origem portuguesa. Esses eram defensores da sociedade escravista, com grandes propriedades e interessa-dos na exportação de produtos tropicais. Defen-diam uma economia agrária, e eram contrários ao desenvolvimento das indústrias no Brasil.

A Independência vem cumprir um anseio des-se grupo, pois assegurava a liberdade de comércio e autonomia administrativa. Assim o poder estará nas mãos dessa minoria, isso dificulta o imperador de dirigir a nação, fato que posteriormente o leva a abdicação em 1831.

Nesse cenário é importante destacar que gran-de parte da população encontra-se marginalizada, não obstante ser constituída por escravos, que não eram considerados juridicamente, cidadãos.

Observem que mesmo com a Independên-cia, foram preservados aspectos da sociedade, da economia e a escravidão, na verdade o grande in-

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29Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

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teresse com a Independência era o fim do Sistema Colonial, pois restringia a liberdade de comércio e autonomia administrativa. Na verdade, o que va-mos perceber nesse processo é que passamos do domínio português para o domínio britânico.

É importante observar, que diferente de ou-tras Revoluções, a exemplo da Francesa, no Brasil a proclamação formal da Independência não trouxe vantagens as classes inferiores. Apesar da Consti-tuição estabelecer igualdade de todos perante a lei e a garantia de liberdade individual. Entretanto, apesar da Independência, continuamos a possuir uma grande parte da população escrava, que juridi-camente não eram considerados cidadãos.

Entre outros aspectos a Constituição assegu-rava direito a propriedade, liberdade de pensamen-to de expressão e segurança individual, no entanto o que veremos nesse período é o desrespeito a es-ses direitos, sobretudo, para as camadas inferiores, uma vez que esses direitos transformaram-se em instrumentos dos grandes proprietários.

Encontramos nesse processo de Independên-cia do Brasil, a manutenção da ordem econômica e da escravidão, muito distante do que pregava os princípios as idéias liberais, princípios esses que ficaram para outros movimentos.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

COSTA, Emília Viotti da. José Bonifácio: mito e his-tória”. In: Da Monarquia à República. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999. p.61-130.

O texto destaca a importância política de José Bo-nifácio no processo de Independência, consolida-ção e manutenção da unidade nacional. O texto

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também aborda a atuação de José Bonifácio atra-vés da sua imagem subjetiva e personalista. PIMENTA, João Paulo G. A Independência do Brasil e o liberalismo português: um balanço da produção acadêmica. Revista Digital de Historia Iberoame-ricana. Semestral. v. 1, n.1, 2008. Disponível em: <http://revistahistoria.universia.cl/pdfs_revistas/arti-culo_83_1224649242546.pdf>. Acesso em: 26 de jun. 2011.

O artigo enfatiza as várias interpretações sobre a separação entre o Brasil e Portugal, desde as mais clássicas, passando pela análise de novas pesqui-sas e sugerindo temas possíveis de investigação.

PARA REFLETIR

Vamos refletir um pouco: será que o Brasil tornou--se independente com a Proclamação? Em sua opi-nião, quando nos tornamos um país independente? Ou ainda não podemos ser considerados um país independente? Compartilhe com seus colegas.

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1.3. Reorganização política do país

No ano de 1822, o príncipe D. Pedro estabe-leceu que nenhum decreto vindo da Corte deveria ser cumprido, sem a sua autorização. Nesse mesmo ano recebeu o título de Defensor Perpétuo do Bra-sil, pelo Senado da Câmara do Rio de Janeiro.

A coroação de D. Pedro I

No Rio de Janeiro, o príncipe teve apoio a esse movimento, diferente do ocorrido em outros lugares do país, como nas províncias do Norte, onde existia uma grande concentração de comer-ciantes portugueses. José Bonifácio enviou a essa região emissários com o objetivo de ganhar apoio das classes dominantes da região.

No Rio de Janeiro nesse período, era discutida a viabilidade da Constituição, que fora elaborada pe-las Cortes. Entretanto, desejava-se uma Constituinte com representantes de várias regiões do país. O Se-nado da Câmara do Rio de Janeiro estava preocupa-do com as idéias recolonizadoras da Corte, pois se-ria prejudicial ao Brasil, sobretudo economicamente.

Essas questões criaram um clima de tensão e conflito no Brasil. Para enfrentar a oposição em

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alguns lugares que se negava a obedecer às ordens do príncipe, como no caso da Bahia, foi contratado por José Bonifácio o general francês Pedro Labatut (1776-1849), este deveria combater as tropas do general Madeira localizada na Bahia.

[...] que serviria na guerra pe-ninsular, alistara-se depois nos exércitos revolucionários da América, colaborando na cam-panha da Colômbia com Bo-lívar, com quem acabara por se desentender. Partira depois para as Antilhas, a seguir para a Guiana Francesa e, fi nalmen-te, localizara-se no Rio de Ja-neiro. “No Brasil, chefi aria o chamado exército pacifi cador, assumindo o posto de briga-deiro.” (COSTA, 1999, p.51).

Mesmo antes da proclamação formal da In-dependência, D. Pedro, através do Decreto de 1822 convoca uma Assembléia Constituinte, que ressalta a união com Portugal. Para José Bonifácio, a convo-cação da Constituinte não deveria ser feita através de uma assembléia democraticamente eleita, mas por eleição indireta de acordo com a maioria, isso foi de fato o que aconteceu.

É importante destacar que nesse processo de eleição, tinha uma forte questão classista. A quem era dado o direito do voto? Era permitido votar todo o cidadão casado ou solteiro. Mas estavam excluídos desse processo os que recebessem sa-lários, soldados, religiosos, criminosos e adminis-tradores rurais. Observem que a maioria do povo estava excluída do processo político, e uma minoria tinha acesso ao poder.

Essa medida com a Convocação da Consti-tuinte representava uma declaração de Indepen-

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33Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

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dência, juntamente com ela foram tomadas outras medidas que buscavam autonomia do Brasil. Entre elas que fosse considerada como inimigas tropas portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.

O príncipe faz um manifesto para as nações amigas, no qual afirma o interesse em salvar a uni-dade do Império. Esse documento, juntamente com o manifesto de autoria de Gonçalves Ledo (1781-1847) representam apelos de Independência.

Nesse sentido, José Bonifácio tenta apoio com os países Europeus, nomeando vários repre-sentantes brasileiros junto a vários governos, entre eles Lisboa e Paris.

Todo esse cuidado demonstrado por José Bonifácio deve-se a oposição das grandes potên-cias a qualquer tipo de revolução que aconteces-se na Europa e na América. Buscava também o apoio da Áustria e para isso contava com a prin-cesa Leopoldina4 (1797-1826) esposa do príncipe D. Pedro, na tentativa de tranquilizá-lo sobre a monarquia do Brasil.

Após a Independência a grande questão que se colocava era aprovação da Constituição. Obser-vamos que essa discussão foi proposta desde a eleição da Assembléia Constituinte.

No Rio de Janeiro, o imperador em defesa da Constituição, jurava defendê-la se fosse digna do Brasil e dele próprio. Os membros que compunham a Constituinte seguiam uma posição liberal e mo-derada, ao defender uma monarquia constitucional com direitos individuais, sendo necessário limitar o poder do monarca. A Constituição aparecerá contra-ditória, pois ao mesmo tempo quer manter igualda-de sem democracia.

Essa posição da Assembléia desagradou Dom Pedro, sobretudo pelas funções do Poder Executivo, ou seja, do Imperador e do Legislativo. O imperador

4 fi lha do imperador da Áustria.

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tinha interesse em manter um Executivo forte, ou seja, com grandes poderes em suas mãos. No entan-to, os constituintes queriam evitar, que o imperador pudesse dissolver no futuro a Câmara dos Deputa-dos, ou mesmo ter poder de veto sobre as leis.

Apesar da forte atuação no período da Inde-pendência, José Bonifácio foi afastado do Ministé-rio que ocupava e era criticado tanto pelos libe-rais quanto pelos conservadores. Após sua saída do Ministério, José Bonifácio juntamente com seus irmãos faz oposição ao governo e aos democratas.

D. Pedro irá dissolver a Assembléia Consti-tuinte com apoio dos militares. Foi elaborado en-tão, um projeto de Constituição, que foi promulga-da em 25 de março de 1824. A primeira Constituição destaca-se pelo fato de ter sido imposta pelo rei para o “povo”, não obstante ela organizar poderes e garantir direitos individuais.

A Constituição de 1824 definiu como forma de governo a monarquia hereditária e constitucio-nal. É importante, destacar que a Constituição de 1824, tem no Poder Moderador, a organização polí-tica do país, onde o chefe do executivo comanda a administração e a política. De acordo com a Cons-tituição de 1824:

Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Política de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e in-dependente, que não admitte com qualquer outra laço al-gum de união, ou federação, que se oponha á sua Indepen-dencia. Art. 2. O seu territorio é dividido em Provincias na fórma em que actualmente se acha, as quaes poderão ser subdivididas, como pedir o

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35Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

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bem do Estado. Art. 3. O seu Governo é Monarchico Heredi-tario, Constitucional, e Repre-sentativo. Art. 4. A Dynastia Imperante é a do Senhor Dom Pedro I actual Imperador, e Defensor Perpetuo do Brazil. Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continua-rá a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões se-rão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. (PLANALTO5, 1824)

Em 1826, teremos a reabertura das câmaras, retomam as disputas entre comerciantes, que se dedicavam ao tráfico e as exportações e do ou-tro lado os fazendeiros, aristocratas que possuíam mais status que posse. Aparece também no cenário político as províncias que iriam complicar a reorga-nização política, como é o caso de Pernambuco e o que conhecemos como Amazônia e Rio Grande do Sul, que quiseram participar das decisões políti-cas do país, que até então, estava concentrado nas mãos dos estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

O imperador tenta conciliar essa situação, comprometendo-se com todos, buscando a forma-ção de uma nova aristocracia, bem como a reorga-nização do exército. Na tentativa de neutralizar a oposição, cria a Guarda de Honra e o batalhão do Imperador, não obteve êxito devido a guerra exter-na que o país estava envolvido.

No âmbito político, o legislativo foi dividido em Câmara e Senado, para o primeiro a eleição se-ria temporária, enquanto para o segundo vitalícia,

5 PLANALTO. Constitui-ção Política do Império de Brasil de 1824. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm> Acesso em 20 de maio de 2011.

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além do uso da lista tríplice em cada província para esse cargo, ficando a critério do Imperador a esco-lha. Assegurando dessa forma um Senado vitalício e ao mesmo tempo obediente. Controlava também a Câmara de Deputados, que não contrariavam os interesses do Imperador com receio que o mesmo dissolvesse a Assembléia, como tinha feito ante-riormente.

Esse clima tranquilo que o Imperador esta-va vivenciando, não durou por muito tempo. No ano de 1827, aparecem no cenário político duas lideranças contrárias à política do Imperador. O pri-meiro Bernardo Pereira de Vasconcellos (1795-1850) e o segundo Evaristo da Veiga (1799-1837) que de forma inicial esboçaram o que deveria ser o siste-ma parlamentar brasileiro. Assunto posteriormente discutido no cenário político brasileiro. Desde 1826 que Bernardo de Vasconcelos, deputado mineiro opõe-se ao governo do Imperador, nesse ano soli-citou a presença do ministro na Câmara para pres-tar conta de seus atos e discutir o orçamento. Já Evaristo da Veiga esboçava sua oposição no jornal, convocando os Ministros a representação dos inte-resses da maioria.

Entretanto, é importante ressaltar que o co-mando político do país restringia-se ao círculo ínti-mo do Imperador. Nesse sentido não existia entre o Imperador e a opinião pública um órgão conciliador e pacificador entre ambos.

Para Feijó “é uma aristocracia fantástica, des-pida de todos aqueles atavios que ornam os ti-tulares da Europa. Faltava-lhes dinheiro, grandes ações,” (FAORO, 2001, p. 339).

Com relação ao voto esse ocorria de forma indireta, sendo escolhido um corpo eleitoral res-ponsável pela eleição dos deputados, como tam-bém era censitário, pois só poderia votar quem

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possuísse alguns requisitos, principalmente de or-dem econômica. As mulheres não tinham direito político.

Para as províncias, os presidentes foram es-colhidos pelo Imperador. Também foram instituídos o Conselho de Estado formado por conselheiros vitalícios, que deveriam ser consultados em situ-ações difíceis, como também o Poder Moderador, que concentrava nas mãos do Imperador o poder. Este não dispensava o controle e o governo do país, apresentava-se na função de “equilibrar” qual-quer desavença que pudesse acontecer. No tocante a religião tinha como religião oficial a Católica, mas permitiu que fossem feitos cultos particulares pelas outras religiões.

Tanto a dissolução da Assembléia Constituin-te em 1823, como a promulgação de Constituição de 1824, foi alvo de confronto de alguns grupos com o Imperador. Vejamos como isso ocorreu.

Várias manifestações ocorreram no nordeste, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Podemos destacar como representante de manifestação desse período a Confederação do Equador, representando as elites regionais preocu-padas em perder sua autonomia política.

A Confederação do Equador aconteceu em 1824, no nordeste brasileiro. Esse movimento teve antecedentes na Guerra dos Mascates (1710-1711) e a Revolução Pernambucana de 1817. Aliados as questões espaciais e econômicas de Pernambuco, a dissolução da Assembléia Constituinte por D. Pedro I não foi bem recebida em Pernambuco. Além do momento de crise que a província estava enfren-tando, não aceitava o fato de pagar altas taxas ao Império. Em Pernambuco esperava uma nova Cons-tituição, federalista e que permitisse a autonomia das províncias. Ao mesmo tempo, surgem outros

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grupos que começaram a defender o federalismo e a criticar o poder do Imperador estabelecido pela Constituição.

Destaca-se a figura de Frei Caneca (1779-1825), para quem o federalismo era o modelo compatível com as condições do Brasil, além de condenar car-gos vitalícios e o poder moderador. A Confederação do Equador foi dissolvida pelo exército, sendo Frei Caneca e os líderes da revolta condenados a morte.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

RAMOS, Sandra Regina Pereira. A responsabilidade do Poder Judiciário na construção do Estado Monár-quico Constitucional (Brasil - 1823-1842). In: EN-CONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA: PODER, VIOLÊN-CIA E EXCLUSÃO, 19., 2008. São Paulo. Anais. São Paulo: ANPUH/SP – USP, 2008. Cd-Rom.

O texto analisa as práticas do Poder Judiciário, des-tacando-os enquanto sujeitos privilegiados da elite imperial, observando suas relações com o poder político e sociedade civil, bem como a sua impor-tância na formação das instituições nacionais.

CARVALHO, Marcus. Rumores e rebeliões: estraté-gias de resistência escrava no Recife, 1817-1848. Revista Tempo, Niterói v. 3, n. 6, p. 1-15, dez.1998.

O texto analisa a relação entre alguns movimentos políticos e a resistência dos escravos do Recife, através da análise das fugas e dos motins urbanos realizados não apenas por escravos, mas por ou-tros segmentos da sociedade.

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39Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

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PARA REFLETIRReflita uma pouco: como as decisões de D. Pedro enquanto Defensor Perpétuo do Brasil irão contri-buir para o desenvolvimento do país? Compartilhe com seus colegas.

1.4. O Governo de D. Pedro I

Apesar de dominar o cenário político do perí-odo, D. Pedro encontrou muitas dificuldades para se manter no poder, mesmo dissolvendo a Constituinte e a Constituição. Mas, no cenário externo, o Brasil tinha problemas com a Província da Cisplatina.

No ano de 1825, houve a separação da Pro-víncia da Cisplatina do Brasil e sua incorporação as Províncias Unidas do Rio do Prata que futuramente, seria a Argentina, essa disputa leva a guerra entre esses países.

O Brasil perdeu a guerra, ocasionando pre-juízos financeiros para ambas. Além do desgaste da imagem do Rei, uma vez que utilizou da força para recrutar a população para a guerra, além de contratar, no exterior, tropas para o exército brasi-leiro. Com a presença de mercenários alemães que ficaram no Rio de Janeiro, o Brasil precisou pedir proteção aos navios ingleses e franceses para con-trolar essa situação.

A Inglaterra, mediadora em estabelecer a paz entre os países, pois havia interesse em restabele-cer o comércio com esses países. O tratado, além de estabelecer a paz, possibilitou o surgimento de um novo país o Uruguai e a navegação pelo Rio Prata de grande interesse tanto para o Brasil como para Inglaterra.

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A derrota brasileira na Guerra em 1827 trou-xe alguns problemas para o exército, sobretudo de ordem moral, aliado as insatisfações dos militares, sobretudo, pela pouca mobilidade social oferecida pelo exército.

É interessante observar, nesse período da abdicação de D. Pedro a aliança estabelecida en-tre membros do exército com Borges da Fonseca6

(1808-1872) enquanto representante dos liberais exaltados, no entanto pouco sabemos como a pro-ximidade do exército com esse liberal irá influenciar a abdicação de D. Pedro. O que sabemos é que Borges da Fonseca utilizava o espaço do seu jornal O Republico para denunciar as atrocidades cometi-das no exército tanto relacionadas aos castigos físi-cos, como as punições sofridas por alguns militares foram pegos com publicações de bases liberais.

Além das despesas militares, o Brasil passa-va por crise com os produtos de exportação com os preços mais baixos, a exemplo do café, cacau e algodão. Os impostos com a importação não eram suficientes, além do tratado imposto pela Inglaterra sobre as tarifas de 15% para entrada de seus pro-dutos no país.

O Banco do Brasil estava em crise desde a retirada de ouro, antes de partir para Portugal7. As medidas tomadas pelo rei não resolveram o proble-ma, pelo contrário, aumentou o custo de vida da po-pulação com a grande emissão de moedas de cobre.

Não é para admirar que a acu-mulação de papel resultasse, como resultou, no desapareci-mento total de metais precio-sos, a elevação extraordinária do câmbio, o espantoso en-carecimento de todos os gê-neros. Para combater, o mal, agravada a insolvência do ins-

6 Jornalista e formado em Direito na Alemanha.

7 D. João faz retirada de ouro ao retornar para Portugal com a Família Real

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tituto de crédito (insolvência defi nida na incapacidade de trocar o papel por ouro) com as maquinações fraudulentas dos diretores, foi extinto e li-quidado o Banco do Brasil - 1829-31 (FAORO, 2001, p.347).

Muitos foram os descontentamentos entre portugueses e brasileiros. Nesse período a política estava dividida entre liberais e absolutistas, mas com tantos acontecimentos muitos foram para o lado liberal. Os absolutistas eram favoráveis a or-dem e a propriedade, com um imperador forte. Di-ferente dos liberais que queriam a liberdade consti-tucional, que possibilitasse a oposição ao governo.

Na população urbana e no Exército era comum o sentimento antilusitano, além dos problemas com atraso no soldo8, a cúpula do exército estava des-contente com as derrotas e o fato de oficiais portu-gueses ocuparem postos de comando. Outro fator que levou a esse sentimento antilusitano, foi a mor-te de D. João VI e a possibilidade do Brasil voltar a ser colônia de Portugal, uma vez que D. Pedro preci-saria assumir também o trono Português.

As disputas políticas aumentaram no Brasil e, em sua viagem a Minas, o imperador é recebido com pouco entusiasmo pela população. Os portu-gueses com o objetivo de demonstrar apoio do Rei realizaram alguns eventos, mas em contrapartida existia a oposição dos brasileiros, que culminou na famosa “noite das garrafadas”. A comemoração aconteceu em área que funcionava o comércio por-tuguês e, nesse lugar, brasileiros e portugueses tro-cavam insultos. Em seguida os brasileiros atacaram as casas dos portugueses que reagiram jogando garrafas e cacos de vidro. Essa noite ficou conheci-da como a “noite das garrafadas”.

8 Pagamento

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Esse conflito contou com a participação de mui-tos negros e pardos, fato que é visto por alguns es-tudiosos como agravante. Pois de um lado estavam portugueses pobres e do outro escravos e libertos, concorrentes no trabalho. Entretanto, não podemos afirmar que apenas esse motivo levou a participação dos negros no conflito. Sabe-se também que nesse período era de grande dificuldade financeira, como também dificuldade de abastecimento de alimentos.

Por outro lado, teremos também a presença de pessoas da elite e de camadas médias da socie-dade carioca. Segundo a imprensa do período esta-va de um lado os liberais federalistas e do outro os antifederalistas, representados pelos portugueses.

A artilharia da Marinha tentou resolver o con-flito nas ruas perdendo alguns de seus artilheiros em alguns episódios.

Desses fatos resultou veemente manifesto político redigido por Evaristo da Veiga e endereçado ao Imperador. Ali, assinalava-se que “[...] nenhum povo tolera, sem resistir, que o estrangeiro venha impor-lhe, no próprio país, um jugo ignominioso”. D. Pedro I, para acalmar os ânimos, nomeou um novo mi-nistério constituído somente de brasileiros. Foi em vão. (RE-VISTA O ANFÍBIO, 2008, p.16)

É importante salientar que todo esse conflito resultante da “noite das garrafadas” não pode ser entendido como apenas resultado de interesse de um grupo, pois, como vimos, os envolvidos tinham interesses distintos. Entretanto, para alguns histo-riadores, o que na verdade desgastou muito mais a imagem do Imperador não foi a “noite das garrafa-das” em si, mas as notícias vinculadas na imprensa.

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43Tema 1 | O processo de independência do Brasil: da vinda da corte portuguesa ao

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Outro acontecimento que irá marcar esse pe-ríodo que antecede a abdicação de D. Pedro foi as-sassinato do jornalista Líbero Badoró9 (1798-1830) em novembro de 1830. Conhecido por defender os ideais de liberdade da Revolução Francesa, defen-dia também a Constitucionalismo. Apesar de não ter sido comprovada a participação de D. Pedro, o assassinato ocorreu em um momento de grandes agitações e insatisfação popular, fato que fez os inimigos do governo utilizar esse acontecimento para seus interesses. Esse acontecimento desgasta ainda mais a imagem do Imperador que é alvo da imprensa do período.

Vários protestos e seu desejo em recuperar o trono português ocupado pelo irmão Dom Miguel (1802-1866), levaram a abdicação de Dom Pedro em favor de seu filho D. Pedro II (1825-1891) em abril de 1831, este com apenas cinco anos de idade.

A abdicação foi considerada pelos Moderados como melhor solução, pois se encontrava desacre-ditado por todos e para manutenção do regime, ou seja, o trono para seu herdeiro. Já os republicanos e liberais desejavam uma nova ordem política.

Aliado aos vários acontecimentos que le-varam à abdicação de D. Pedro, vale destacar a oposição da imprensa, uma vez que desde 1824 vigorava a chamada Liberdade de Imprensa. A mes-ma utilizava utilizava os espaços dos seus jornais, apoiando os ataques dos deputados ao Imperador. Não obstante, alguns jornais foram fechados e os autores dos artigos presos ou deportados acusa-dos de republicanos.

Os jornais começaram a fazer fortes críticas ao governo a partir, principalmente das disputas do partido Português e Brasileiro. É importante obser-var que com o crescimento da imprensa irá reforçar a crise que levou a abdicação de D. Pedro.

9 Médico e redator do Observador Constitucional de São Paulo.

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Vários foram os fatores que levaram à abdi-cação do Imperador, desde o antilusitanismo an-terior a Independência, a atuação da imprensa e a posição do Imperador perante a Constituição.

À péssima situação fi nanceira do Estado, o comportamen-to autocrático de D. Pedro I e de seus ministros, e seu envolvimento na política por-tuguesa, sua desregrada vida pessoal, o fracasso da aven-tura expansionista na Cispla-tina, o privilégio concedido aos lusitanos com nomeação e promoção dos ofi ciais mili-tares e administrativos, tudo corroía inexoravelmente o prestígio do jovem sobera-no (MAESTRI, 1997, p.59).

Ao perceber a crise da sua popularidade o Imperador, preferiu abdicar e com essa decisão es-taria salvando dois tronos, uma atitude muito ra-cional de D. Pedro.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

OLIVEIRA, Eduardo Romero de. O império da lei: ensaio sobre o cerimonial de sagração de D. Pedro I (1822). Revista Tempo [online], v. 13, n. 26, p. 133 -159, 2009.

O texto irá analisar o ritual de coroação do Impe-rador D. Pedro I a partir do cerimonial régio da monarquia constitucional brasileira. Observando a importância deste para a autonomia do reino e na definição do poder político do Império.

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LAURENZANO, Mayra Cristina. A Marinha de Guerra e sua Atuação na Guerra de Cisplatina: contribui-ções para a formação do Estado Nacional. In: EN-CONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA - USOS DO PASSA-DO, 12., 2006. Rio de Janeiro: ANPUH, 2006. O texto analisa a formação dos Estados Nacionais na região platina a partir dos confrontos dos mo-delos políticos da Argentina, que era republicana, com o Brasil monárquico constitucional, no qual deveriam ser definidos os limites naturais.

PARA REFLETIR

Reflita sobre a atuação de D. Pedro na Guerra da Cisplatina e o que essa disputa representou para o Brasil Monárquico. Compartilhe com seus colegas.

RESUMO

Neste tema você pode conhecer como ocorreu o processo de Independência do Brasil. Compreen-dendo como se deu as alterações do Pacto Colonial com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil. Vimos também nesse tema que a vinda da família real mudou o cenário das cidades brasilei-ras. Como também as alterações políticas com “O Fico” de D. Pedro desobedecendo a Corte Portu-guesa, estabelecendo um novo cenário político no

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Brasil, que estava submisso as suas ordens. Perce-bemos também as disputas dos partidos políticos e a criação de novas instituições no Brasil Imperial.

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Regência e maioridade: dos confl itos à política conciliadora2

O objetivo deste tema é analisar os acontecimentos do perío-do Regencial (1831-1840), com ênfase nas revoltas ocorridas durante esse período, bem como compreender as permanências e rupturas no sistema político do Segundo Reinado. No conteúdo 2.1, trataremos do sistema político no Brasil durante o período Regencial e toda a movimentação dos partidos da época. No conteúdo 2.2, mostraremos os acontecimentos que desencadearam a Sabinada, na Bahia, e a Balaiada e as questões a elas relacionadas.

No conteúdo 2.3, será apresentado o sistema político no pe-ríodo do Segundo Reinado. Momento no qual D Pedro II procura de forma estratégica agradar aos partidos políticos, também trataremos de forma breve de alguns pontos que provocaram problemas eco-nômicos, políticos e sociais para o Império a exemplo da Guerra do Paraguai. Por fim, no conteúdo 2.4, trataremos da Praieira e de todos os problemas que envolveram os chamados Praieiros.

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2.1. Período Regencial (1831-1840)

Com a abdicação10 de D. Pedro I em favor do seu filho D. Pedro II, inicia o período conheci-do como período regencial, ou da “menoridade”. Até o momento em que D. Pedro será considerado maior, o país será governado por Regentes. Assume a frente desse grupo Nicolau de Campos Verguei-ro (1778-1859), juntamente com outros estadistas como Bernardo José da Gama (1782-1854), padre Diogo Antônio Feijó (1784-1843), Honório Hermeto Carneiro Leão(1801-1856), entre outros.

Como veremos a seguir, o Brasil foi dirigido por três regências até o príncipe assumir o trono, foram elas: Regência Trina Permanente, Regência Una do Padre Antônio Feijó e Regência Una de Pe-dro Araújo Lima.

Você deve estar curioso para saber quem ficou administrando o país em nome do pequeno prín-cipe? A primeira Regência Trina foi composta por: Nicolau de Campos Vergueiro, José Joaquim Carneiro Campos (1768-1836) e o general Francisco de Lima e Silva (1785-1853). O primeiro foi redator da Cons-tituição, o segundo fazia parte do grupo liberal e o terceiro era chefe das forças que conduziu o proces-so de abdicação de forma pacífica.

Os regentes provisórios: Lima e Silva, José Joaquim Carneiro e Vergueiro

A primeira regência foi breve, durou pouco mais de dois meses de 7 de abril a 17 de junho de

10 O mesmo que renunciar. Essa é também uma tenta-tiva do imperador de não perder o trono o domínio do Brasil.

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1831, a segunda regência, chamada de Regência Trina Permanente ocorreu de 17 de junho de 1831 a 12 de outubro de 1835, essa foi composta por José da Costa Carvalho (1796-1860), João Bráulio Muniz (1796-1835) e permanecendo no poder Francisco de Lima e Silva (1785-1853). Foi estabelecida tam-bém a Regência Una do Padre Antônio Feijó (1835-1837) e por última a Regência Una de Pedro Araújo Lima (1837-1840). Percebe-se que essas constantes mudanças na administração do governo do Brasil atende interesses dos grupos políticos que dispu-tam o poder.

Com as muitas agitações desse período, a Câmara e o Senado buscaram eleger rapidamente, a Regência Trina Permanente, composta por gru-pos liberais moderados. Esse grupo escolheu como ministro da Justiça padre Antônio Feijó, que tinha como principal missão conter os motins, além da oposição a José Bonifácio, então tutor do futuro D. Pedro II e inimigo da regência, responsável por inspirar uma Revolta no Rio de Janeiro.

Diante dessas agitações, o então ministro da Justiça reprime os conflitos, sobretudo os do Rio de Janeiro, chegando a convocar auxílio de Minas Gerais e São Paulo, mas não foi necessário, uma vez que os rebelados recuaram. Mas, o que então fazer para garantir a ordem a organização das tropas?

Foi então criada nesse período a Guarda Na-cional11 que teria uma função importante, uma vez que as tropas eram indisciplinadas e de difícil con-trole civil. A criação da Guarda também dá o senti-do de movimento popular, que visava a busca do nacionalismo.

Na década de 1850, a Assembléia indicava a presença de algumas milícias em alguns movimen-tos revolucionários, é importante ressaltar que es-sas milícias auxiliavam as Guardas Municipais. Com

11 Composta de brasileiros que tinham uma situação econômica mais privilegiada por isso, tinham o direito a voto. Sua principal função era manter a ordem nas cidades do país.

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a criação da Guarda Nacional, ela ficou responsável pela ordem interna.

Mesmo com a criação da Guarda Nacional, não foi possível controlar as várias rebeliões que surgiram durante as regências, uma vez que os mo-vimentos protestavam contra a centralização das províncias do Rio de janeiro, São Paulo e Minas Gerais, entretanto eram as províncias de Pernambu-co, Maranhão e Bahia, responsáveis pelo enriqueci-mento do tesouro nacional.

Qual a situação dos partidos políticos nesse conturbado momento da história do Brasil?

No Período Regencial estavam no cenário político três partidos compreendidos em: liberais exaltados que queriam uma maior autonomia para as províncias; os restauradores conhecidos também como “caramurus” desejosos do retorno de Dom Pedro I e por fim, os liberais. Entretanto, com a morte de D. Pedro I existiu a junção de parte do partido moderado com os exaltados, formando os Liberais, de igual forma a outra parte do partido moderado iria se unir aos restauradores, formando os Conservadores. Os dois atuaram de forma mar-cante no cenário político e nas tomadas de deci-sões no país

Como as Revoltas de 1831 resultaram em der-rotas e não derrotas, houve uma separação entre os moderados e exaltados. Após esse momento, existiu a discussão sobre a volta de D. Pedro, prin-cipalmente pelos restauradores. Já os moderados estavam envolvidos com a reforma da Constituição, conseguiram que fossem aprovados no projeto da Constituição: uma monarquia federativa, a criação das Assembléias Legislativas Provinciais e Senado eleito, sendo discutido no senado em 1832. Nesse mesmo ano, foi criada a Sociedade Conservadora da Constituição, composta por restauradores, estes

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defendiam que a Constituição deveria permanecer como outorgada por D. Pedro I.

Os restauradores organizaram um levante na tentativa de restaurar D. Pedro I ao poder. Para os moderados essa manifestação foi patrocinada por José Bonifácio, isso fez com que Feijó declarasse luta aos Andradas12.

José Bonifácio de Andrada e Silva foi consi-derado, juntamente com D. Pedro responsável pela separação do Brasil de Portugal, bem como atribu-ído a ele a consolidação da Independência e a uni-dade nacional. José Bonifácio estudou em Coimbra e ao retornar ao Brasil em pouco menos de dois anos se tornou ministro de D. Pedro.

Considerado por muitos historiadores como Pa-triarca da Independência, chegou ao Brasil após lon-gos anos de serviço a Coroa, fato que deu a ele gran-de prestígio, além da sua participação em defesa ao território português aos ataques de tropas inimigas.

José Bonifácio de Andrada e Silva (1773-1838), juntamente com o capitão-geral João Carlos Augusto de Oyenhausen (1776-1838) e o seu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844), são convocados representar o Brasil nas Juntas Governativas seguindo as orientações da Corte de Lisboa, então devido a participação na revolução liberal13 que José Bonifácio aparecerá no cenário político do brasileiro.

Essa participação dos políticos brasileiro na Corte Portuguesa era uma tentativa recolonizadora de Portugal, que não estava satisfeito com a abertu-ra dos Portos e a extinção dos monopólios. Os depu-tados brasileiros perceberam que não seria possível enfrentar a maioria de deputados portugueses.

No Brasil, os políticos, sobretudo do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, ao perceber os interes-ses de recolonização enviaram petições a D. Pedro

12 Os Andradas eram o nome pelo qual era conhecido José Bonifácio de Andrada e seu irmão Martim Francisco.

13 Movimento liberal do Porto em 1821 que visava a organização consti-tucional do país.

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pedindo proteção para o Brasil. José Bonifácio que elaborou a petição de São Paulo. Será nesse ce-nário que D. Pedro escolheu permanecer no Brasil como líder, do que retornar a Portugal e ocupar um cargo secundário naquele país.

Após decidir ficar no país, D. Pedro precisava de apoio de homens considerados fiéis à Coroa. José Bonifácio foi escolhido para assessorá-lo tanto pela sua experiência administrativa como pelo re-conhecimento de seus serviços a Monarquia. Com isso você pode observar que foi grande influência de José Bonifácio enquanto membro do governo.

A grande questão que se coloca nesse perío-do estava na possibilidade da restauração, precisava ser a retirada de José Bonifácio da função de tutor de D. Pedro, para que isso não fosse uma ameaça. Na prática, esse retorno de D. Pedro não iria acon-tecer, estava-se interessado nesse período nas refor-mas constitucionais sem a participação do Senado.

Com as Reformas foi possível aos deputados eleitos em 1823, participar da reforma da Consti-tuição de 1824, sendo nomeados para essa função três membros que fizeram algumas mudanças cons-titucionais. Entre elas, transformaram em órgão consultivo os Conselhos de Províncias, passando em vários aspectos os poderes para os Deputados a serem eleitos, sendo também extinto o Conselho de Estado.

Dentro dessas reformas também teremos a aprovação do Código de Processo Criminal, que dava aos municípios uma maior autonomia judi-ciária. Como também a modificação do modelo de Regência Trina para Una, com isso passa a ser elei-ta com voto direto. A essas mudanças foi dado o nome de Ato Adicional. É importante ressaltar que o senado vitalício irá permanecer. De acordo com o Ato Adicional.

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Art. 1º: O direito reconhecido e garantido pelo art. 71 da Cons-tituição será exercido pelas Câmaras dos distritos e pelas Assembléias que, substituindo os Conselhos Gerais, se estabe-lecerão em todas as províncias, com o título de Assembléias Legislativas Provinciais [...]Art. 3º: O Poder Legislativo Geral poderá decretar a or-ganização de uma segunda Câmara Legislativa para qual-quer província, a pedido de sua Assembléia, podendo esta segunda Câmara ter maior du-ração do que a primeira [...] (ANDRADE, 1991, p. 593-600)

Escolhido na eleição de 1835, candidato do partido moderador o padre Antônio Feijó irá derro-tar o candidato do partido exaltado pernambuca-no Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti (1797-1863).

Antônio Feijó, apesar de representante do partido moderador, foi considerado em alguns mo-mentos como radical, pois aceitou propostas de descentralização das províncias, ao mesmo tem-po em que conseguiu controlá-las. Por outro lado, apresentava uma posição considerada radical, re-primindo os comerciantes e os “caramurus”

O padre Antônio Feijó também não conseguia conter as rebeliões do Pará e Rio Grande do Sul14, além de entrar em conflito com a Igreja, tentando interferir em questões internas, sendo favorável ao fim do celibato clerical.

No ano de 1837, Feijó renuncia por motivos de saúde, seu substituto senador pernambucano e conservador Pedro Araújo Lima (1793-1870). No ano de 1838, haverá eleição para mandato de quatro

14 Ele foi acusado de não agir com o devido rigor na Revolução Farrou-pilha.

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anos e agora como regente único, nessa eleição irá disputar Araújo Lima (1793-1870) e Holanda Caval-canti de Albuquerque (1797-1863), saindo vitorioso o primeiro.

Inicia-se então, a Regên-cia de Araújo Lima, este consi-

derado conservador, surpre-endeu ao levar Bernardo Pereira de Vasconcelos um líder moderado para o Ministério das

Capacidades. Não obstante ele trata de se defender das acusações. Segundo ele, considerava-se

um liberal, segundo ele “quando a liberdade

era nova no país, estava nas aspirações de todos.” Entretanto, com as mudan-ças tornou-se regressista. Segundo ele

Quem sabe se, como hoje defendo o país contra a de-sorganização, depois de havê-lo defendido contra o despotismo e as comissões militares, não terei algum dia de dar outra vez a minha voz ao apoio e à defesa da liber-dade? [...] Os perigos da so-ciedade variam; o vento das tempestades nem sempre é o mesmo; como há de o po-lítico, cego e imutável, servir a seu país? (RIBEIRO, [18--])

Na verdade, Vasconcelos queria parar as re-voluções que estavam acontecendo nesse período.

Regente Araújo Lima

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Durante a sua regência enfrentou várias agitações que iniciaram nas regências anteriores e como es-tudaremos ao longo desse tema. É importante res-saltar que em sua regência as revoltas foram forte-mente reprimidas com o uso da violência.

No ano de 1836, ocorreram as eleições para Câmara com maioria regressista. Houve nesse mo-mento a união do legislativo com o executivo, am-bos regressistas, dessa forma conseguiram comba-ter as várias rebeliões ocorridas nesse período.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

MOREL, Marco. Período das Regências: 1831-1840. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Coleção desco-brindo o Brasil.

O texto analisa as ações do período regencial e sua contribuição na formação da nação brasileira, para isso discute como a sociedade desse período foi alvo de ações que em muitos casos, sendo sacri-ficadas em nome da Independência do Brasil e da formação dessa nova ordem nacional.

FELDMAN, Ariel. Uma crítica às Instituições repre-sentativas no período das regências (1832-1840). Almanack braziliens (versão on-line), n. 04, São Paulo, nov. de 2006. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/alb/n4/a04n4.pdf> Aces-so em: 02 de abril de 2011.

O texto parte da análise de um periódico Pernam-bucano através dos escritos de Miguel do Sacra-mento Lopes Gama, para este os brasileiros não estavam prontos para ser regidos por instituições democrático-representativas. Na verdade, essa

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afirmação será utilizada a partir de 1837 pelos conservadores.

PARA REFLETIR

Agora reflita sobre a importância da Regência para história do Brasil. Em sua opinião, existia outro mo-delo de governo que poderia ser adotado naquele momento? Compartilhe com seus colegas.

2.2. Revoltas no Período Regencial: Balaiada e Sabinada

Vários segmentos da sociedade estavam in-satisfeitos com as bases do Império, ou seja, o escravismo e a grande propriedade. Esses movi-mentos regionalistas visavam a descentralização e até mesmo o republicanismo, durante o período das regências as revoltas foram reprimidas através do Exército, da Armada e Guarda Nacional.

Muitas foram as Revoltas no Brasil Imperial, no Pará a Revolta da Cabanagem; passando pelo Maranhão e Piauí com a Balaiada, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina com a Farroupilha e a Sa-binada na Bahia.

Apesar de ser considerado um Estado fiel ao governo central e apoiar os ataques a Pernambuco em 1817, as idéias “francesas” ou liberais penetram a Bahia, mesmo com o conservadorismo dos se-nhores de engenho do Recôncavo e de alguns fa-zendeiros. Entretanto, alguns estudiosos acreditam

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que a repressão forte ao movimento de 1817, tinha como objetivo moderar os ânimos dos maçons e democratas baianos.

É importante perceber que apesar da questão étnica, os interesses políticos e as idéias libertárias estavam acima dessa questão. As idéias liberais eram aceitas por importantes figuras de Salvador e do Recôncavo Baiano.

No ano de 1837, inicia a revolta que foi cha-mada de Sabinada, na Província da Bahia, tendo como líderes Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, João Carneiro da Silva (1781-1851), Daniel Gomes de Freitas e Manoel Gomes Ferreira.

Manifestantes da Sabinada

A insatisfação também ocorria da Bahia, uma vez que o principal produto de exportação o açú-car estava em crise. Além das epidemias no gado, secas, presença de atravessadores no comércio e aparecimento de moedas falsas que dificultava a vida da população.

Aliada aos conflitos que já discutimos no conte-údo anterior, e a essa realidade, a Bahia foi responsá-vel por petições ao governo, e em alguns momentos saques, revoltas e manifestações de rua. É importante destacar que desde a emancipação existia nas provín-cias debates sobre os princípios liberais.

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Antes mesmo da tomada do poder pelos Sa-binos15, já havia uma grande crítica sobre as ques-tões políticas na Bahia e reuniões de clubes libe-rais. Com esse cenário, o presidente da província estava preocupado com a possibilidade de uma rebelião, entretanto, não conseguiam evitar os en-contros dos rebeldes.

Figura principal do movimento, professor e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha era co-nhecido por participar da propaganda revolucioná-ria, como também era conhecido por envolvimento em brigas, causando a morte de um homem e do assassinato de sua mulher. Foi preso, deportado para Rio Grande e ao ter contato com Republicanos e liberais gaucho, planeja libertar a Bahia. Apesar de líder do movimento, não será escolhido para ser presidente por ser muito exaltado, ocupando a posição de secretário do governo.

No dia que antecede ao dia 7 de novembro, conhecido como o dia de início da Sabinada pela historiografia, é importante destacar que o Corpo de Artilharia do Forte de São Pedro se amotinou, teve como colaboração além de Sabino, outros ci-vis. Segue então, na manhã seguinte para a praça do Palácio. Na tentativa de se defender as autori-dades, esperam que os praças e homens do Corpo Policial resistam ao ataque, entretanto, eles irão aderir ao levante.

Dessa forma, a única saída encontrada pelos governantes foi fugir nas embarcações que estavam na Baía de Todos os Santos. Juntamente com eles foi levada grande parte do tesouro da capital. Com a sa-ída dos governantes da Bahia, o dia 07 de novembro de 1837 é marcado como início da Sabinada.

Os revoltosos vão a Câmara Municipal e apre-sentam as propostas do novo regime, destacando o desligamento do governo central do Rio de Janei-

15 Os seguidores de Antonio Sabino.

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ro. Foi eleito um governante, Inocêncio da Rocha Galvão, mas este não se encontrava no Brasil. As-sumindo um vice-presidente indicado por Sabino, João Carneiro da Silva Rego, deputado, proprietário de terras e escravos, visando representar com dig-nidade o novo Estado.

Se os revolucionários controlavam a situação, por que então a revolta falhou?

Após a tomada da capital, um erro militar causou sérios problemas ao movimento, pois não ocuparam nem o Recôncavo, nem as vilas, locais de luta contra os portugueses. Grande parte da popu-lação fugiu da capital, temendo um confronto com o governo central. Na tentativa de conter o esva-ziamento da cidade, os revolucionários afirmaram o retorno ao Império com a coroação de D. Pedro II.

Na tentativa de acabar com o governo insta-lado em Salvador, o governo central teve o apoio dos governantes fugidos de Salvador, e que esta-vam instalados no Recôncavo e com a ajuda dos senhores de engenho locais. A estratégia utilizada foi o cerco da capital tanto por terra como mar, im-pedindo o abastecimento, o comércio e a expansão da revolta.

Essa disputa durou quatro meses e a popula-ção sofreu com a fome e a violência da guerra. Uma das medidas do governo revolucionário foi permitir a saída das mulheres, crianças e idosos da cidade. Outra medida considerada de desespero por par-te dos revoltosos foi o recrutamento de soldados entre escravos e condenados. Os combates finais ocorreram de 13 a 16 de março de 1838, iniciando a busca pelos rebeldes do movimento.

Com tantos rebeldes presos, as prisões pú-blicas foram insuficientes, foram utilizadas tam-bém barcas prisionais e alguns revoltosos foram cumprir pena em outros lugares como Fernando

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de Noronha e Rio Grande do Sul. Os líderes do movimento como Sabino e Carneiro Rego foram condenados a morte, conseguindo anistia com a coroação de D. Pedro II, ambos foram degredados, o primeiro inicialmente a Goiás e posteriormente ao Mato Grosso e o segundo, para São Paulo.

Durante as revoltas no Brasil Império, perce-bemos que as províncias envolvidas nas disputas com o Governo, estavam passando por crises eco-nômicas, fato que não será diferente no Maranhão, local onde ocorreu a revolta que iremos estudar abaixo. Outro fator que irá contribuir para isso é o fato da população não concordar com o recruta-mento forçado para forças militares.

É importante ressaltar que não podemos resumir as causas da Revolta a apenas um acontecimento, mas sim, a vários fatores: como o Ato Adicional que contribuirá para insatisfação nas províncias, com medidas descentralizadoras, como também a chamada “Interpretação do Ato Adicio-nal” que estabelecia medidas mais centralizadoras.

A Balaiada ocorreu entre os anos de 1838-1941, uma das explicações para o nome dado ao movimento, deve-se ao apelido de um dos seus líderes Manoel Francisco dos Anjos Ferreira.

Combate dos Balaios

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A crise sofrida pelo Maranhão estava a prin-cípio relacionada ao algodão, sua principal riqueza, que sofria com a concorrência do mercado interna-cional. Com isso, tanto a população pobre como a classe média já influenciada pelos princípios libe-rais, não estavam satisfeitos. Aliado a esse fato, a classe média não estava contente com o controle político dos grandes proprietários agrários. Essa re-volta tomou a cidade de Caxias, importante cidade do Maranhão e instituiu um governo provisório.

Em janeiro de 1839, o peque-no grupo da vila da Manga já havia recebido a adesão de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, e o movi-mento estendia-se até o Piauí, para onde se dirigiu Raimun-do Gomes a fi m de entrar em contato com Lívio Lopes Cas-telo Branco e Silva, um liberal exaltado de Campo Maior. No transcorrer do primeiro se-mestre de 1839, o movimento rebelde alcançou proporções gigantescas, culminando com a tomada de Caxias, o maior centro comercial do sertão ma-ranhense, em julho desse mes-mo ano. (SANTOS, 1983, p.79)

A disputa política no Maranhão nesse perío-

do estava entre os governistas e os “Bem-te-vis”, representantes da população urbana. O partido re-cebeu esse nome, a partir de um periódico publi-cado por eles. A grande divergência desse período estava na “lei dos prefeitos” na qual os prefeitos passaram a ter vários poderes, entre eles de auto-ridade policial.

Outra crítica dos “Bem-te-vis” era a grande separação entre os políticos da Corte e os das pro-

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víncias, mas era interesse também da província conseguir prestígio na administração do Império. Os “bem-te-vis” acusavam os cabanos pelo cres-cimento da revolta, segundo eles ocasionada pela ineficiência da administração, quanto pela corrup-ção da guarda nacional.

O jornal “Bem-te-vi” era utilizado enquanto espaço de manifestação e difusão de idéias repu-blicanas. Nesse espaço fazia campanhas em favor do movimento, utilizando-se também manifestos dos chefes do movimento.

Conhecida na historiografia por cenas violen-tas, a Balaiada contou com o apoio dos escravos fugidos e vaqueiros, que por um lado fortaleceu o movimento, mas fez com que a classe média saísse da guerra, apoiando o Império.

O medo das dimensões que a participação dos negros poderia trazer a esse movimento modi-ficou o comportamento do Partido Liberal. É impor-tante ressaltar que inicialmente os líderes do mo-vimento não queriam a participação dos escravos, pois ao convocar “cidadãos brasileiros e amigos da Pátria” foram excluídos desse grupo os chamados feitores e escravos.

Com a ofensiva do governo, várias eram as posições dos liberais (Bem-te-vis), os que estavam na capital, queriam vencer as eleições do período e permanecer no poder, no interior existiam os que apoiavam realmente o movimento e outros que se colocavam na situação de vítimas, e por isso obri-gado a colaborar.

Com a forte repressão de Luís Alves de Lima e Silva16 (1803-1880), os balaios resistiam como também temiam entregar-se ao governo, uma vez que muitos foram obrigados a combater os colegas do movimento. Ao final da revolta, restou apenas D. Cosme (1800-1842) e suas tropas, formadas ba-

16 O futuro Duque de Caxias.

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sicamente por escravos e que não tinham interesse em voltar a escravidão. Assim, lutaram até a morte, sendo D. Cosme enforcado em praça pública, ser-vindo de punição exemplar a população.

Com a vitória das forças militares imperiais do Governo central, sob o comando do coronel Luís Alves de Lima e Silva, os revoltosos presos foram perdoa-dos pelo Imperador e o comandante dessa vitória, recebeu o título de Barão de Caxias pelo Imperador.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

ARAÚJO, Dilton Oliveira de. Bahia: a elite e os ca-minhos da pacificação no pós-sabinada. Politeia: Histórica e Social, Vitória da Conquista, v. 5, n. 1, p. 153-175, março, 2007.

O texto apresenta os principais acontecimentos da Sabinada, a partir da tomada de Salvador. Partindo da análise do jornal Correio Mercantil, o autor bus-ca compreender quais as formas de controle utiliza-das pela elite baiana após a Sabinada.

JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Balaiada: cons-trução da memória histórica. História. São Pau-lo, v.24, n.1, p. 41-76, [s.d] 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a03v24n1.pdf>. Acesso em: 30 de abr. de 2011.

O texto apresenta as diferentes abordagens sobre a Balaiada através das fontes memorialísticas, mos-trando que em diferentes momentos históricos esse movimento foi tido como manifestação da barbárie e, em outros, movimento que permitiu a ascensão social, sobretudo dos negros.

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PARA REFLETIR

Após conhecer a Sabinada e Balaiada, qual o fato que chamou a sua atenção nessas disputas? Discu-ta com seus colegas.

2.3 O sistema político no Segundo Reinado

De acordo com a Constituição de 1824, o Im-perador era considerado menor até completar de-zoito anos de idade, de igual forma pela lei ao completar catorze anos de idade o herdeiro do tro-no faria juramento ao presidente do Senado. Dessa forma, apenas ao completar dezoito anos D. Pedro faria outro juramento e seria coroado Imperador. No entanto, com sua maioridade antecipada, D. Pedro faz o juramento em 24 de julho de 1840 e coroado em 18 de julho de 1841. Essa foi uma decisão que visava solucionar os problemas que aconteciam na administração regencial.

Após alguns anos de grande influência de ou-tros líderes, Dom Pedro agora já con-segue administrar o país, mostrando que possui autoridade sobre o partido e mantém tanto o con-trole financeiro como político do país.

Fazendo uso do Poder Mode-rador, Dom Pedro anistia os liberais e D. Pedro II, após coroação como

imperador do Brasil

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dissolve a Câmara dos Deputados. Estabelece tam-bém, visando a estabilidade do governo, a alter-nância do poder entre liberais e conservadores.

O sistema político do Segundo Reinado deve ser entendido a partir das relações do poder local com o nacional no preenchimento dos cargos governamentais. Com o sistema político centrali-zado o chefe local utilizou-se disso para conseguir outros cargos públicos (presidente de província, juiz de direito, chefe de polícia, delegado munici-pal e etc.) como também a eleição da Câmara dos Deputados.

Assim o gabinete conseguiu assegurar os re-sultados eleitorais do seu interesse, uma vez que fez as nomeações de vários cargos. Nesse período tivemos eleição primárias, no qual os votantes indi-cavam os eleitores, que na eleição secundária eram responsáveis por eleger deputados provinciais e gerais, como também a lista tríplice de candidatos para escolha do Imperador.

Durante o Segundo Reinado podemos per-ceber a importância dos presidentes de província para o sistema eleitoral, por todas as indicações políticas e na tentativa de assegurar maioria na Câmara dos Deputados. Até mesmo os líderes da oposição são indicados ao ministério na tentativa de quebrar a resistência. Apenas a sociedade civil que irá ficar distante do poder.

No Segundo Reinado, o Conselho de Estado foi recriado em 1841, pois, se tratava de um órgão consultivo que auxiliava D. Pedro, além de cuidar da imagem e das ações do Poder Moderador. O período de 1840 a 1843 é conhecido como a maio-ridade nominal. O imperador mantém uma posição neutra, reguladora, com o objetivo de assegurar o regime. Sua magistratura deveria estar acima dos partidos.

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Os partidos no Segundo Reinado mantém uma ligação direta com o governo, os ministros pe-dem votos para o programa do governo tanto na câmara de Deputados como no Senado.

Em 1849, D. Pedro nomeia um gabinete con-servador, entretanto como a Câmara dos Deputados era composta por uma maioria liberal, o imperador resolve dissolvê-la. Como estava dividido o Gabine-te chefiado pelo Visconde de Olinda17 (1793-1870), que se opõe a intervenção na questão do Prata, D. Pedro intervêm visando reorganizar o Gabinete, ficando sobre a presidência do Marquês de Monte Alegre18 (1796-1860).

A formação da Liga ou Partido Progressista se dá nesse momento de cooperação política, no qual as duas correntes adversárias encarnam uma políti-ca de conciliação. Nesse período que “o rei reina e governa” o presidente do Conselho dos Ministros, o Marquês de Paraná19 (1801-1856), teve uma maior autonomia. No entanto, com a sua morte, o Impe-rador começa a trocar frequentemente o presidente do Conselho dos Ministros e ministros do gabinete, para continuar com a maioria e assim passar a con-trolar o Conselho.

Durante o Segundo Reinado, apesar das ações do governo visando a estabilidade do país, o Brasil estava envolvido com a Revolução Farroupi-lha (1835-1845). Movimento de grande repercussão no período Regencial é considerado como primeira experiência republicana. A Revolução Farroupilha, ocorreu nos estados que conhecemos na atualida-de como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Era composto por Liberais que no Rio Grande do Sul era composto por maçons de ideias republicanas que defendiam a independência dos poderes le-gislativo, judiciário e executivo. O partido Liberal também mantinha contado com maçons no Uruguai

17 Pedro de Araújo Lima, primeiro Visconde e depois Marquês de Olinda. Foi Regente, Presi-dente da Câmara dos Deputados e representava a Aristocracia do Nordeste.

18 José da Costa Carvalho chamado de Marquês de Monte Alegre era magistrado e mem-bro da Regência Trina Permanente.

19 Honório Hermeto Carneiro Leão também conhecido como Marquês de Paraná, foi Ministro da Justiça e fundador do Partido Conservador.

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e na Argentina, podemos destacar desse ciclo de contados: Bento Gonçalves da Silva (1788-1847) e Juan Antônio Lavalleja (1784-1853).

O Rio Grande do Sul não tinha reconhecimen-to do Império apesar do envolvimento em guer-ras de fronteiras, além da crise financeira, uma vez que os fazendeiros pagavam altos tributos, fatos que contribuíram para insatisfação da população. Não obstante, acusações feitas pelo Presidente da Província, Dr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga (1805-1875) a Bento Gonçalves (1788-1847) como conspirador, o mesmo não conseguiu provar na Assembléia Provincial sua acusação, que era com-posta na sua maioria pelo Partido Liberal, fato que não agradou ao partido. Em setembro de 1835, ini-cia a revolta, comandados por Vasconselos Jardim (1773-1854) e Onofre Pires (1799-1844), queriam a deposição do então presidente Antônio Fernandes Braga.

Em carta dirigida ao Regente por Bento Gon-çalves ele ressalta a insatisfação com os governan-tes enviados pelo Império e que estão dispostos ou a viver em liberdade ou mesmo a guerra.

Na carta escrita por Bento Gonçalves, ele re-latou fatos ocorridos durante o embate com as tro-pas do governo, mas que apesar disso entregou ao substituto legal Marciano Ribeiro o Governo. Isso por que era de se esperar que o líder da Revol-ta ocupasse o governo, fato que não aconteceu. Ressalta também, o que considera como condição humilhante da Província que recebe “governadores despóticos e tirânicos.” Finaliza a carta enviada por ele ao Regente com o seguinte trecho:

Em nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Senhor Regente: refl ita bem antes de responder, porque da sua res-

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História do Brasil Imperial68

posta depende, talvez, o sosse-go do Brasil. Dela resultará a sa-tisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiros que defendem contra a voracidade espanhola uma seja fecunda da Pátria, e dela também, poderá resultar uma luta sangrenta, a ruína de uma Província, ou a formação de um novo Estado dentro do Brasil. (Disponível em: http://www.semanafarrou-pilha.com.br/pdf/textos1.pdf )

Visando diminuir o conflito com os farrapos, o governo propôs uma sobretaxa de 25% a charque do Rio da Prata, possibilitando à competitividade do mercado interno a província de São Pedro do Rio Grande do Sul e a anistia e incorporação dos militares ao Exército, pondo fim a Revolução Far-roupilha.

O Estado Imperial também interferiu nas questões econômicas, mantendo a economia agro--exportadora, ao mesmo tempo em que integrava as oligarquias locais ao poder, garantindo dessa forma a unidade territorial.

Assim, questões internas foram conduzidas pelo Imperador desde a Lei de Terras, que estuda-remos no próximo tema a estatização do Banco do Brasil e principalmente o projeto da Lei do Ventre- Livre (1871).

Acontecimentos internacionais agitaram o Se-gundo reinado como a Questão Christe. O ministro britânico chegou ao Rio de Janeiro em 1860. No ano seguinte, dois incidentes foram responsáveis por um conflito com o gabinete de Caxias. Primeiro, o desaparecimento da carga do navio Prince of Wales que navegava pelo Rio Grande do Sul, levando ao pedido de indenização. Segundo a prisão de dois

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69Tema 2 | Regência e maioridade: dos confl itos á política conciliadora

oficiais da marinha britânica. Esses fatos levaram ao Brasil a romper as relações diplomáticas com a Inglaterra. O Brasil ainda precisou pagar, sob pro-testo, uma indenização a Inglaterra.

Outro acontecimento internacional que o Bra-sil se envolveu foi a Guerra do Paraguai. Conside-rada como uma das mais sangrentas disputas do século XIX.

A guerra do Paraguai (1864-1870), ocasiona-da pela disputa das terras na região da Bacia do Prata. De um lado o Paraguai e do outro a chama-da Tríplice Aliança formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai.

O início da guerra é marcado pelo aprisiona-mento do navio brasileiro (1864) que passava pelo rio Paraguai para chegar a Província do Mato Gros-so que levava na sua tripulação o recém nomeado presidente daquela província, seguido pela invasão no mesmo ano do Mato Grosso pelo Paraguai. En-tretanto, não foi apenas ao Brasil que o Paraguai invadiu, além do Rio Grande do Sul, ocupou Cor-rientes (Argentina). Em 1865, Brasil, Argentina e o Uruguai uniram-se para enfrentar o Paraguai, apoia-dos pela Inglaterra.

Portugal nesse momento era considerada uma potência econômica, por isso o interesse na questão do Prata, estabelecendo aliança com o Uruguai, visando aumentar o comércio dos seus produtos. Dessa forma tanto o Brasil, como Argen-tina e Uruguai eram contrários ao Paraguai.

O Brasil reagiu aos ataques do Paraguai, en-viando tropas para combater os invasores em Mato Grosso, mas como levava muito tempo para o des-colamento das tropas, como foi o caso das tropas enviadas de Minas Gerais para o Mato Grosso, le-varam cerca de oito meses para chegar a cidade de Coxim, encontrando a cidade já abandonada.

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Na verdade, o Brasil estava despreparado para participar de uma Guerra, apesar de possuir um alto índice populacional, não tinha um exército grande, como também não estava organizado. O serviço militar era considerado um castigo, por isso o recrutamento era sempre violento, contra a von-tade em sua maioria dos integrantes.

No início da disputa as tropas eram forma-das pelos chefes políticos gaúchos, e alguns mem-bros da Guarda nacional. Em seguida participaram também os chamados Voluntários da Pátria20 como também participaram negros alforriados e alguns escravos enviados pelos fazendeiros.

O Paraguai em um dos principais confrontos navais, a Batalha de Riachuelo (1865) é derrotado pelo Brasil e no ano de 1866 é invadido o Paraguai, três anos depois, os militares liderados pelo Duque de Caxias chegam a Assunção.

As consequências para o Paraguai foram grandes, desde a morte do presidente paraguaio Francisco Solano López (1827-1870) e a eliminação do parque industrial do país.

Outra questão importante desse período foi a chamada questão religiosa, na década de 1870 houve um conflito entre a Igreja Católi-ca Romana e o governo brasileiro. A chamada Questão Religiosa ou Crise dos bispos se deu quando em 1872 Dom Vidal e Dom Macedo, bis-pos de Olinda e Belém resolveram punir os reli-giosos que apoiavam a maçonaria. O imperador D Pedro II interviu a favor dos religiosos puni-dos pelos bispos. Eles se recusaram a obedecer as ordens do imperador, o que resultou na pri-são dos mesmos os bispos só foram absolvidos e perdoados em 1875, depois de uma série de reuniões entre altas autoridades eclesiásticas e o monarca brasileiro.

20 Eram cidadãos que apresentavam para lutar na Guerra do Paraguai.

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A maior crise política do Segundo Reinado aconteceu quando o Imperador convocou o Con-selho de Estado e dissolveu a Câmara dos Deputa-dos. No dia seguinte a esse acontecimento a capital do Império amanheceu cercada por tropas.

Apesar de participarem da Liga (ou Partido) Progressista, os três partidos (Conservador, Libe-ral e Republicano) possuíam posições diferentes quanto a democracia política, desde a forma de governo, como também se posicionavam a favor ou contra ao Poder Moderador, ao Conselho de Es-tado, a separação da Igreja do Estado entre outras questões. Com relação a questão dos escravos era possível encontrar escravocratas e abolicionistas nos três partidos.

Com a notícia da morte da filha o Imperador viaja para Europa, nesse momento a filha Isabel (1846-1921) assume a Primeira Regência, juntamen-te com o presidente do Conselho de Ministros. Com o fim da Guerra do Paraguai, o início da Propagan-da Republicana, além do processo de industrializa-ção e expansão do café, terá o início de um novo cenário na História do Brasil.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

ALVES, Francisco das Neves. Revolução Farroupi-lha e discurso historiográfico: os escritos de Car-los Dante de Moraes. Biblos, Rio Grande, 20: 131-143, 2006. Disponível em: <http://repositorio.furg.br:8080/jspui/bitstream/1/281/1/210.pdf>. Acesso em: 26 de maio de 2010. O texto apresenta a mudança historiográfica com relação à Revolução Farroupilha, transformando-a em objeto principal da história gaúcha. Essa aná-

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lise acontece através dos escritos de Carlos Dante de Moraes.

DORNELLES, Laura de Leão. Guerra Farroupilha: considerações acerca das tensões internas, reivin-dicações e ganhos reais do decênio revoltoso. Re-vista Brasileira de História & Ciências Sociais. Rio Grande do Sul. v. 2 n. 4, dez., 2010. Disponível em: <http://www.rbhcs.com/index_arquivos/Artigo.Guer-raFarroupilha.pdf>. Acesso em: 03 de maio de 2011.

O texto analisa a importância da Guerra Farroupi-lha a partir dos principais acontecimentos dessa Guerra, é importante ressaltar que procurará ana-lisar as reivindicações e os ganhos do movimento farroupilha.

PARA REFLETIR

Compartilhe com seus colegas, sua opinião, sobre antecipação da maioridade. Será que contribuiu para a História do Brasil?

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73Tema 2 | Regência e maioridade: dos confl itos á política conciliadora

2.4. Revolução Praieira

A Praieira foi um movimento que aconteceu nas províncias de Pernambuco e Paraíba (1848-1850), liderado pelo partido liberal pernambucano que disputava o poder com o partido conservador. Para os liberais a sua bandeira estava em defesa da vida, propriedade e ao combate da tirania imperial, em oposição aos Conservadores, representado no estado pelos Rego-Barros e os Cavalcantis.

Com o centenário da Revolta, outra inter-pretação foi dada a esse movimento. Segundo a historiadora Izabel Marson (2009), no sentido em-pregado por ele a Revolta está na luta dos gru-pos urbanos e rurais que estavam sendo oprimidos pela oligarquia, servindo também como uma revol-ta contra a tirania Imperial.

Nessa disputa existiam propostas diferentes, de um lado os defensores da monarquia consti-tucional liderados pelo Partido Nacional de Per-nambuco, de outro os defensores da monarquia constitucional centralizada, o Partido Conservador, e por fim setores populares urbanos com um perfil federativo.

Esse período político foi marcado pela tenta-tiva dos praieiros permanecerem no poder com as eleições, e no segundo momento com a ascensão conservadora do Marquês de Olinda (1793-1870) que levou a luta partidária a uma guerra civil.

Dessa forma, o presidente conservador Her-culano Ferreira Pena (1800-1867) fez oposição ao movimento levando ao enfrentamento violento. Além disso, o Partido Praieiro apoiou o movimento que apresentou um programa de reformas, entre elas queriam maior representação parlamentar.

Os praieiros21 estavam preparados para a luta, pois contavam com o apoio da Guarda Nacio-

21 Nome dado aos que participavam ou eram simpatizantes do movimento desencadeado pelo grupo conhecido como Partido da Praia.

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nal, apesar das possíveis demissões, estavam inte-ressados nos comandos militares visando a vitória nas eleições.

Com o adiamento das eleições teve início a revolta. Buscava-se reorganizar o modelo até então utilizado, pois com os pequenos grupos era difícil manter a comunicação e até mesmo o suprimento de munições. Isso por que, até então o movimento considerado de resistência, é agora uma Revolta. Outro problema enfrentado era a manutenção da tropa, principalmente o pagamento, uma vez que o movimento era mantido por doações.

No combate de Cruangi, foi utilizado um grande contingente formado pelas forças do norte e serviu de base para um exército organizado. O problema maior estava na falta de treinamento e disciplina de guerra para enfrentar as tropas do Governo. De acordo com a interpretação feita pela historiadora Izabel Andrade Marson, a partir da car-ta escrita por Borges da Fonseca (1808-1872) a um amigo, pode perceber as seguintes indicações:

[...] o primeiro é a menção de te-rem acabado os cartuchos e de só haver ‘uma pessoa’ – o chefe de laboratório, ferido – para a confecção de novos; o segundo é a retirada dos homens ‘em debandada,’ perdendo-se, em grande número, nas matas cir-cunvizinhas da vila; o terceiro é que esse exército não dispu-nha de força de reserva nem de munição em estoque para o caso de revezamento;o quarto, o desconhecimento da região e a conseqüente requisição de um guia; e, por último, a mo-rosidade de uma estratégia an-tiquada, baseada em peça de artilharia, e tida por ultrapas-

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75Tema 2 | Regência e maioridade: dos confl itos á política conciliadora

sada ante a movimentação do governo. (MARSON, 2009, p.71)

Apesar da dificuldade para enfrentar as tro-pas do Governo, o Movimento ainda conseguiu vencer, levando a demissão do Presidente da Pro-víncia, entretanto o governo não estava disposto nem a ceder ou a negociar. Entretanto, a ofensiva do Governo foi forte, além do envio de tropas pelo governo, foram antecipadas as eleições. Após a vi-tória no combate de Cruangi e a mudança de Presi-dente na província, os praieiros precisavam de uma boa organização. Não obstante, foram para o sul da província na tentativa de organizar o exército forte. O governo mandou suas tropas para essa mesma área na tentativa de vencê-los.

O substituto do Presidente da Província era um conhecido inimigo dos praieiros, Manoel Vieira Tosta (1807-1896). Foi sugerida também a prisão dos de-putados visando impedir a ligação dos políticos de Recife com os políticos do interior, esse fato levou a um aprofundamento da Revolta. Esses políticos não compareçam a posse do novo Presidente e tomaram “a frente do povo armado” e, segundo eles, visando a regeneração da província e do Império.

Para esse movimento, o que estava acon-tecendo no Brasil era a tentativa de manter uma Monarquia e não promover a independência, de igual forma eram contrários a centralização tanto política como econômica do Rio de Janeiro. Para os praieiros a solução estava na convocação de uma Assembléia Constituinte formada por brasileiros, representados tanto no Senado como na Câmara com a mesma quantidade. Por isso, a necessidade de utilização das armas. De acordo com Marson (2009, p. 74-75), os temas que deveriam ser con-templados na Assembléia Constituinte eram:

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1. O voto livre e universal do povo brasileiro;2. A plena e absoluta liberdade de comunicar

os pensamentos por meio de imprensa; 3. O trabalho como garantia de vida para o

cidadão brasileiro; 4. O comércio a retalho só para os cidadãos

brasileiros; 5. A inteira e efetiva independência dos po-

deres constituídos; 6. A extinção do poder moderador e do di-

reito de agraciar;7. O elemento federal na nova organização;8. A completa reforma do poder judicial, em

ordem a segurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos;

9. A extinção da lei do juro convencional;10. Extinção do atual sistema de recrutamento.

Após a vitória na disputa do Cruangi, os praieiros organizaram melhor os vários ataques que sucederam a essa disputa, utilizaram contingentes maiores e ataques de surpresa, sobretudo a lugares que poderiam conseguir munições.

Como resposta a ação do Governo, o movi-mento decidiu ocupar Recife, tanto pelo sul chegan-do ao Palácio da Presidência e do Arsenal de Guer-ra, como pelo norte, mas esse não obteve sucesso na invasão. O movimento decidiu pela retirada do grupo do Recife. Nessa disputa perderam muitos combatentes e alguns líderes. Diante dessa situa-ção qual seria a estratégia utilizada pelos praieiros?

A solução foi a divisão do grupo, sendo que alguns líderes a exemplo de Pedro Ivo e Peixoto Brito (1807-1878) conseguiram retirar uma grande parte de seus homens. Uma prática comum dos perseguidos era ficar escondido na casa de partidá-rios e amigos.

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Muitas foram as perdas para o movimento, principalmente em sua articulação, que apesar das dificuldades conseguiu tirar da cidade grande parte das tropas. O exército liberal volta a se organizar e ataca Goiana, visando obter munição. No entan-to, não teve o apoio de Pedro Ivo e Peixoto Brito, principalmente para a próxima atuação do exército. Para Pedro Ivo o melhor a ser feito era o retorno as matas, preferindo romper com o partido e continu-ar lutando no sul da província.

Apesar do domínio fácil da região de Goia-na, isso não durou por muito tempo, uma vez que as tropas que estavam protegendo Recife retorna-ram e começaram a perseguição ao movimento. O grupo sofreu muitas perdas, principalmente com o falecimento de um dos seus principais líderes João Roma. Com a impossibilidade de permanecer na Paraíba, o grupo retornou a Pernambuco.

A dissolução da Câmara representou para o movimento um grande golpe. O não acesso à im-prensa, a falta de munição, as prisões e mortes também foram motivos que dificultaram o avanço da revolta. Sobreviveram apenas as tropas do sul comandadas por Pedro Ivo. A estratégia utilizada foi o retorno a seus lugares de origem para, poste-riormente, retornar o movimento pelo sul. Seguin-do essas orientações:

Bernardo Câmara, João Félix dos Santos e Domingos Ferreira volta-ram a Escada, em busca de seus engenhos Benfi ca, Freixeiras e Sibiró; Peixoto de Brito se des-locou para Itamaracá, ganhando depois Alagoas, em mais outra tentativa de juntar reforços; en-quanto Morais, João Paulo e Bor-ges permaneceram em Pasma-do. (MARSON, 2009, p. 89-90)

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A estratégia utilizada pelo governo foi oferecer anistia ou exílio aos envolvidos na Revolução Praiei-ra de acordo com o envolvimento de cada partici-pante. Para os líderes do movimento representava a possibilidade de saída da guerra de forma honrosa, até por que como estavam divididos, não seria pos-sível a resistência. Muitos aceitaram a proposta do governo, na tentativa de salvar sua própria vida.

O único a quem o governo não apresentou op-ções foi a Borges da Fonseca, que tentou o perdão individual, que não foi concedido, entretanto, prefe-riu não fugir, sendo preso e servindo aos interesses do governo como prova ao crime de rebelião.

As tropas do governo também venceram as tropas lideradas por Pedro Ivo, que não tinha mais o apoio dos seus aliados do Movimento. Em 10 de abril de 1849 foi declarado pelas tropas do governo o encerramento da guerra. Entretanto, essa decla-ração deu início a duas importantes ações políticas tanto o perdão, como o processo de rebelião.

Mas se observamos atentamente as afirma-ções do governo após anistia e a declaração de en-cerramento da guerra podemos perceber algumas características e ações do governo que demons-travam que a guerra para ele ainda permanecia, se levarmos em consideração que existiam ainda grupos que não entregaram totalmente as armas, permanecia o recrutamento da população, havia a presença de tropas de outros lugares e acusações tanto a jornais como aos deputados praieiros.

A utilização desses argumentos serviu para perseguir os revoltosos e aprisioná-los, servindo para abertura de processo-crime. Toda essa ação visava desestruturar o Partido da Praia para as elei-ções seguintes. Com isso, alguns grupos que per-ceberam a armadilha do governo se escondiam por toda a província.

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O governo não poderia decretar a vitória com-pleta, enquanto Pedro Ivo comandasse o sul, por isso a tentativa de aprisioná-lo, mas sem sucesso. De igual forma recusou uma soma de dinheiro para sair do império e a sua anistia.

Após várias tentativas para prender Pedro Ivo, em novembro de 1849 o governo fecha o cerco a ele, prendendo os senhores de engenho que o ajudavam com alimentos e armas. O governo atuou com violên-cia no combate a esse grupo e, após algumas dispu-tas, Pedro Ivo encontrava-se cansado e doente e pro-pôs entregar-se ao Governo, mas não de Pernambuco, mas ao chegar ao Rio de Janeiro foi oferecido exílio no Pará. Como mais uma vez não aceitou, foi preso na Fortaleza de Santa Cruz, mas conseguiu fugir com ajuda dos membros do Movimento e embarcar para Europa, vindo a falecer durante essa viagem.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

SILVA, Wellington Barbosa da. Rebeldes encarcera-dos: repressão policial durante a Revolução Praieira (Recife, 1848-1849). História Social, n.16, primeiro semestre de 2009. p. 29-44.

O texto procura analisar como ocorre o policiamen-to da população durante uma das mais importantes revoltas do Império, a Revolução Praieira. Obser-vando como esse policiamento se dá, desde a po-pulação escrava, bem como a população livre.

CARVALHO, J. M. de Carvalho Os nomes da Revo-lução: lideranças populares na Insurreição Praieira, Recife, 1848-1849. Disponível em: <http://www.scie-lo.br/pdf/rbh/v23n45/16526.pdf>. Acessível em: 04 de julho de 2011.

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O texto analisa a presença e os motivos que levam a participação das classes subalternas nesse mo-vimento, uma vez que a participação dos baixos e médios escalões, artesãos estão presentes no in-quérito contra a rebelião.

PARA REFLETIR

Em sua opinião, os participantes de guerra, como é o caso da Revolução Praieira, deveriam ser anis-tiados ou condenados pelo Governo? Compartilhe com seus colegas.

RESUMO

Nesse tema estudamos como foi implantado a Re-gência no Brasil e suas principais ações, até o “gol-pe da maioridade”. A partir de então, vimos como a atuação de D. Pedro modificou o cenário brasilei-ro e como a insatisfação popular levou a diversos movimentos contra o governo, como a Sabinada, Balaiada, Farroupilha e Revolução Praieira. Também mostramos alguns problemas que D. Pedro enfren-tou na década de 1870, a exemplo da Guerra do Paraguai e a Questão da Igreja.

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ESTRUTURA ECONÔMICA E O QUADRO SOCIAL E CULTURAL DO BRASIL IMPÉRIO

Parte 2

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Economia no Império3A economia no Brasil imperial pós-independência foi seriamen-

te marcada pelos resquícios do modelo colonial. A exportação voltada aos produtos primários e aos latifúndios, bem como o escravismo, foram entraves que dificultaram a modernização econômica do novo país. Apesar dessas continuidades pode-se perceber que, nesse perí-odo foram lançadas as bases da industrialização. A agricultura cafe-eira viabilizou no sudeste uma série de mudanças que contribuíram para o desenvolvimento da região. Nesse tema veremos um pouco das questões que envolveram a modernização e as mudanças na economia nacional.

No conteúdo 3.1, mostraremos um pouco da situação da mão de obra escrava e as questões que envolvem o fim do trabalho do cativeiro nas grandes propriedades. Veremos também o modo como foi realizada a privatização das terras em nosso país. No conteúdo 3.2, trataremos do ciclo do café em terras brasileiras. Nele mostra-remos fragmentos da história do café e como ele chegou na colônia portuguesa. Ressaltaremos também a importância do mesmo para a economia brasileira. Também mostraremos como a Lei de Terra e a privatização da mesma favoreceu a grande propriedade. No conteúdo 3.3, mostraremos um pouco do processo de industrialização no pe-ríodo do Império. A nacionalização da indústria tendo como grande representante o Barão de Mauá que implantou a primeira grande indústria. Nesse processo de industrialização o capital estrangeiro se

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História do Brasil Imperial84

fez presente de forma bastante acentuada. Outro tema abordado é a indústria têxtil. Esta contribuiu imensamente com a industrialização e a mão de obra assalariada.

Por fim, no conteúdo 3.4 trataremos da ur-banização e das mudanças por ela patrocinada. Veremos de que forma a modernização do Rio de Janeiro, capital do Império, alterou os hábitos e cos-tumes daquela sociedade. Mostraremos também de que forma as cidades interioranas se apresentavam naquele contexto.

3.1. Da escravidão ao trabalho livre

A Independência do Brasil e a implantação do Império não livraram o novo país do sistema escravista. A escravização do africano foi a saída encontrada pelo colonizador europeu para explora-ção das terras do novo mundo. O modelo implan-tado pelos portugueses fundamentado na grande propriedade e na mão de obra escrava no período colonial entrou em crise no Brasil Imperial quando se desenvolveu novas formas de capitalismo e o avanço de ideias liberais. A independência políti-ca das colônias no continente americano viabilizou mudanças nas relações entre colônia e metrópole. A escravidão passou a ser vista pelos países indus-trializados como um entrave à expansão dos mer-cados e a modernização dos modelos produtivos.

A mudança nos quadros econômicos não sig-nificou o rompimento imediato do sistema escra-vista. A desagregação do mesmo foi um proces-so longo e difícil. A transição para o trabalho livre aconteceu de modo diferente, em algumas regiões se deu de forma pacífica, em outras de forma san-grenta. Essa distinção estava relacionada às condi-ções econômicas sociais, políticas e ideológicas de

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85Tema 3 | Economia no Império

cada local. A libertação dos negros dependia espe-cialmente do modo como ocorreu as mudanças no âmbito do sistema colonial. No Brasil, por exemplo, a emancipação não representou o rompimento da estrutura econômica tradicional.

Nas primeiras décadas do Império não hou-ve avanços significativos na indústria e o país não oferecia condições para concorrer com os produtos manufaturados europeus. O Brasil continuou forne-cedor de matéria-prima, o que favoreceu a sobrevi-vência da situação já existente, “para os represen-tantes do parlamento, os princípios do liberalismo econômico e, de acordo com seus interesses, opu-nham-se a medidas que protegessem a indústria” (COSTA, 1999, p. 273). Para eles a indústria brasilei-ra não era de autoridade do governo, que deveria fornecer aquilo que de bem produzia, o café, o açú-car, o algodão e o tabaco, ou seja, continuaria um Brasil22 agrário e utilizando a mão-de-obra escrava.

Percebe-se assim que a economia brasileira vivia em função do mercado estrangeiro e depen-dente basicamente de dois produtos: o café e o açúcar, os dois representavam 80% do valor da ex-portação. E, para manterem suas lavouras e a mo-nopolização de seu comércio os produtores viam como única solução a exploração da escravidão. Nesses cultivos, não havia grandes preocupações com o esgotamento do solo. E os instrumentos de trabalho mais utilizados eram a foice e a enxada.

As razões pelas quais os grupos dominantes defendiam o trabalho escravo para suas lavouras era que não havia alternativa viável. Além do mais, não havia na grande propriedade rebeliões gene-ralizadas de escravos. Com exceção do Recôncavo Baiano e Salvador, onde ocorreu as maiores revol-tas de escravos, a exemplo do levante dos malês em 1835. No Rio de Janeiro, havia no mesmo perí-

22 Os princípios do liberalismo eco-nômico defendiam a não intervenção do Estado na economia. Teoria que teve como principal defensor Adam Schmit em sua obra: A riqueza da Nação.

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odo um contingente de escravo superior a 40% da população, no entanto, não houve nenhuma rebe-lião do porte da baiana. O que não significa que naquele momento o escravo aceitava sua condição. Se assim o fosse, não haveria as fugas e os quilom-bos (FAUSTO, 2006).

A escravidão humana no século XIX é repri-mida por países que muito dela havia lucrado, a exemplo da Inglaterra. Leis foram criadas com obje-tivos de banir com esse tipo de exploração. A atitu-de dos ingleses com relação ao tráfico desagradava os brasileiros que lucravam com o escravismo e continuaram com o comércio de negros contrarian-do os britânicos. A tensão aumentou após a Bill Aberdeen23 de 8 de agosto de 1845, que declarava lícita a prisão de qualquer embarcação usada para o tráfico negreiro. Por essa lei os infratores ficavam incursos em crime de pirataria e podiam ser julga-dos (COSTA, 1999 p. 284).

Como os ingleses agiram para acabar com o tráfico de escravos para o Brasil?

Os britânicos fundamentados na Lei, não se limitaram a apreensão de navios suspeitos de trá-fico de escravos. Embarcações inglesas adentraram em águas brasileiras, dispostas a se fazer cumprir as determinações da Bill Aberdeen, ameaçando in-clusive fechar os principais portos do país. Essa vigilância provocou incidentes na costa brasileira entre tripulantes dos navios ingleses e brasileiros, porém o movimento não impediu rapidamente o tráfico de escravos, a resistência a esse comércio é comprovada pelos incidentes entre traficantes e representantes da Lei.

A questão ganhou espaço no domínio po-lítico, dividindo opiniões e viabilizando medidas para finalizar com essa prática. Assim em 1850 tra-ficantes estrangeiros foram expulsos do Brasil. Os

23 Lei da Grã- Bretanha que proibia o comércio de escravos entre a África e a América.

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últimos desembarques que se tem conhecimento ocorreram em 1856. A cessação do tráfico comprova que o movimento anti-escravista, apesar de ocorrer de fora para dentro foi decisivo para a extinção do comercio internacional para o Brasil. Após as medi-das efetivas para combater o tráfico, a escravização humana estava destinada a ser banida do território brasileiro, visto que, ao tornar “ilegal a importação de escravos, a manutenção do escravismo no país perdia legitimidade” (FAUSTO, 2006, p. 107).

Como então acabaria a escravidão no Bra-sil se na grande propriedade a produção, base da economia nacional era mantida pela mão-de-obra escrava?

A Lei de Terras de 18 de setembro de 1850 tentou organizar a confusão que existia relacionada à propriedade rural. Por essa lei ficou determinado que a partir de então as terras públicas não seriam mais doadas, como acontecia desde o início da co-lonização, e sim vendidas. As terras deveriam ser registradas garantindo a posse das mesmas. Essa medida procurava evitar o acesso da terra por par-te de imigrantes. Elas deveriam ser vendidas por preços elevados que impossibilitasse o acesso de pessoas pobres. Os imigrantes que tivessem as via-gens financiadas pelo Brasil, aqui chegando eram proibidos de adquirir terras por um período mínimo de três anos. Dessa forma, os grandes proprietários tentavam atrair imigrantes que substituíram a mão--de-obra escrava.

A proibição do tráfico internacional de escra-vos viabilizou uma maior movimentação do comér-cio interno. Essa era a opção que os fazendeiros tinham para manter suas lavouras. Eles adquiriam a escravaria nas regiões distantes. A transferência de dono e de lugar não alterava em nada a condição de escravo do negro, eles continuariam habitando

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as senzalas, que em sua forma lembravam prisões. Nelas eles dormiam de forma precária, mal agasa-lhados, com alimentação precária, mal nutridos eram “minados pelas verminoses e pelas febres, pela tu-berculose e a sífilis, epidemias, de varíola, cólera e febre amarela, que assolavam o país de tempos em tempos” (COSTA, 1999, p. 286). A imposição de jor-nadas intensas de trabalho24 somadas as condições citadas acima faziam com que ocorresse um grande número de mortes entre a escravaria.

A Lei de Terras e a extinção do tráfico de es-cravos citados acima representaram um anúncio do fim da escravidão no país. Os capitais antes utiliza-dos na importação de escravos são liberados para outras atividades. Surgem várias empresas que es-boçavam mudanças e modernização25 no país. Mas a situação do escravo continuava a mesma, somen-te em 1871, a Legislação Imperial promulga uma lei de autoria do primeiro-ministro o Visconde do Rio Branco26, conhecida como Lei do Ventre Livre. Essa lei abolicionista é vista por seus críticos como uma tentativa do governo de brecar a Campanha dos abolicionistas que defendiam o fim da escravidão no Brasil.

Na verdade, a Lei do Ventre Livre nada mais foi que uma manobra parlamentar para diminuir o ímpeto da campanha em prol da abolição. Com essa medida, tentava-se retardar o rompimento de-finitivo do sistema escravista. A liberdade do negro nascido a partir da promulgação dessa lei não era assegurada visto que, o filho de escravo era obri-gado a ficar sob a tutela do dono de sua mãe até completar os oito anos de idade. Após essa idade o senhor podia receber uma indenização por ele, ou continuar tutelando o filho da escrava até os vinte e um anos, ou até mesmo alugar seus ser-viços. Onde estava então a liberdade do filho de

24 O horário de trabalho podia atingir de dezesseis a dezoito horas diárias incluindo o serão da noite.

25 A modernização do Brasil será tratada ainda nesse tema.

26 José da Silva Paranhos nasceu na Bahia em 1819 e morreu no Rio de Janeiro em 1880. Foi professor, político , engenheiro militar e governador do Rio de Janeiro em 1848. Criou a Escola Politecnica do Rio de Janeiro em 1874.

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escravos? Essa evidência contida na lei deixa claro o engodo que a mesma representava.

A retomada do movimento abolicionista em 1879, pelo deputado Jerônimo Sodré27 (1831- 1901) procura mostrar a falsa liberdade da Lei do Ventre Livre. Nesse momento intensificam-se as campa-nhas em prol da liberdade definitiva dos escravos, surge então no âmbito do movimento posições an-tagônicas. De um lado os que defendiam uma liber-dade gradual e lenta para que o país organizasse o sistema produtivo. E do outro, os que defendiam a libertação imediata, se necessário pelo uso da força28, abrindo as portas das senzalas. Os aboli-cionistas conquistaram a participação popular na campanha, o que acelerou a abolição.

O abolicionismo foi um movimento de cará-ter urbano, mesmo quando chegaram às senzalas, incentivando as massas escravas a rebelar-se. O objetivo era acelerar as reformas necessárias para o rompimento do sistema escravocrata. As campa-nhas abolicionistas promoviam conferências, quer-messes e festas beneficentes, cartas de alforria eram compradas e fugas eram promovidas. Toda essa movimentação aumentou as tensões entre se-nhores de escravos e abolicionistas.

Diante das pressões, o governo imperial ten-ta mais uma vez ludibriar as reivindicações promul-gando em 1885 a Lei Sexagenária ou Lei Saraiva - Cotegipe.

Essa lei concedia liberdade a todos os escra-vos com mais de sessenta e cinco anos de idade. É visível a contradição dessa medida visto que no país o índice médio de vida de um escravo estava em torno de trinta anos. Assim mais uma tentativa escravocrata de retardar abolição. As campanhas antiescravistas intensificam-se e a desorganização do trabalho provocada pelas fugas de escravos

27 Foi um dos maiores abolicionis-tas do Brasil.

28 Entre os abolicio-nistas mais radicais estava o ex-escravo e advogado Luís Gama e Antônio Bento, esse defen-sor das incursões pelas propriedades e defensor dos escravos fugitivos.

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faz com que os senhores proprietários de lavouras percebam que a desagregação da escravidão está ocorrendo rapidamente. E que o plano de funciona-mento da imigração é a solução.

Em 1888, apenas os representantes das antigas zonas cafeeiras ainda se apegavam à es-cravidão. Um projeto da ala conservadora previa a “libertação dos escravos, sujeita a indenização e prestação de serviços por três meses, de modo a assegurar a próxima colheita” (FAUSTO. 2006 p. 124). O projeto foi rejeitado e foi proposto abolição sem restrições. A iniciativa foi aceita pela maioria dos parlamentares e foi sancionada em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel (1846-1921). A Lei Áu-rea, como ficou conhecida, concedeu a liberdade dos escravos sem, porém garantir seu destino. O negro estava liberto, mas, sem moradia, a maioria sem qualificação de trabalho e vítimas do precon-ceito e de todas as heranças do cativeiro.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 2. ed. São Saulo: Edusp, 2006, p. 77 – 126.

Nessa parte do livro, o autor faz uma análise da trajetória da mão-de-obra escrava e do processo da legislação abolicionista no Brasil independente. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia a Repúbli-ca: momentos decisivos. 7. ed. São Paulo: UNESP, 1999, p. 226 – 342.

Nessa parte do livro, a autora trata de várias questões relacionadas à escravidão no Brasil. Mostra as contradições entre a idéia de abolição

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dos escravos, mostra também as condições de vida dos negros cativos nas senzalas e toda a discriminação racial de que foram vítimas.

PARA REFLETIR

A exploração da mão-de-obra foi desde o início das sociedades uma maneira de subjugar os mais fra-cos. Você acredita que a exploração do trabalho é uma questão resolvida no nosso país? Será que o trabalhador do campo tem seus direitos de fato? Discuta com seus colegas a esse respeito.

3.2. Ciclo do café

Por volta da metade do século XIX, o café tornou-se o mais importante produto de exporta-ção no Brasil. A história do café no solo brasileiro teve início no norte, mas foi no sudeste que ele ocupou posição e destaque e forneceu as bases da prosperidade econômica do país. A planta africana encontrou nas terras férteis do Vale do Paraíba o local para frutificar e enriquecer os proprietários da região. Essa planta é considerada um fruto exótico, da África29 difundiu-se por vários lugares do mundo inteiro.

Mas como o café chegou ao Brasil? Diz-se que ele chegou ao território brasileiro pelas mãos de um militar português Francisco de Melo Palheta (1670 - 1750). Esse homem ganhou mudas da plan-ta da esposa do governador da Guiana Francesa

29 Os etíopes utilizam o café misturado a outros ingredientes, produziam também suco fermentado de teor alcoólico. Suas folhas também eram utilizadas para fazer chá, mas a bebida só adquiriu forma e gosto como co-nhecemos hoje, no século XIV, com a torrefação. Da Etió-pia ela atravessou o Mar Vermelho e foi levado a Península Arábica. Coube aos árabes o domínio inicial da técnica de plantio e preparação do produto. A popularização do café no mundo islâmico impregnou--se naquela cultura a ponto de ser incluído na legislação turca, segundo a qual as esposas podiam pedir separação caso os maridos não provessem a cara de uma cota de café. (MARTINS, 2010, p 20-21)

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onde ela já era cultivada. Chegando ao Pará em 1727, foi realizado o plantio da cobiçada planta. Todavia em decorrência do clima a lavoura não ob-teve êxito. O café passou então a ser testado em outras províncias nordestinas sem grandes progres-sos, por fim chegou ao Rio de Janeiro onde encon-trou as condições necessárias para sua expansão.

A lavoura do café a princípio ocupou as regi-ões próximas à capital do país. Naquele local usu-fruiu de uma infra-estrutura preparada, pois a de-cadência da mineração na região mineira terminou disponibilizando a mão de obra antes empregada nas atividades relacionadas á exploração aurífera. Alem disso já havia organizado o transporte de mercadorias.

Mas como era feito esse transporte? Visto que naquela época ainda não existiam os caminhões de cargas e o transporte marinho carecia que as mer-cadorias fossem até os portos? E mais, que o trem fora inaugurado no decorrer do Segundo Reinado quando o café já havia se tornado o novo produto de exportação?

O fato é que havia uma frota de caravanas formadas por tropeiros da região de Minas Gerais, Rio de Janeiro outras regiões próximas que faziam o transporte de mercadorias utilizando as mulas. Essa atividade tornou-se um trabalho no qual, vá-rios pais de famílias garantiam o sustento dos seus filhos. Foi também graças aos tropeiros e suas ca-ravanas que surgiram novos caminhos que deram origens as chamadas estradas reais. Também foi a partir desse deslocamento constante de mercado-rias e pessoas que surgiram pontos estratégicos que fizeram surgir pequenas povoações onde os tropeiros paravam para o descanso. Locais esses que posteriormente tornaram-se vilas onde era pra-ticado o comércio, especialmente o de troca.

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O fato é que foi no lombo das mulas que as mercadorias, nesse caso o café, foram transpor-tadas. Nelas as sacas de café, saiam das fazendas para abastecer o comércio interno externo. O es-coamento do produto foi facilitado pela moderni-zação das estradas a exemplo das ferrovias como veremos ainda nesse tema.

A valorização do café no mercado internacio-nal incentivou os proprietários fluminenses a culti-vá-lo em suas propriedades. A introdução da planta foi realizada a partir de sementes de um cafeeiro plantado na região de São Cristóvão. A lavoura ex-pandiu-se rapidamente e em menos de cinquenta anos o Rio de Janeiro já havia se tornado grande exportador de café. Veja no quadro abaixo a evo-lução das vendas dos grãos de café na província.

Fonte: Acervo pessoal da autora.

A planta tornou-se cobiçada pelos donos de terra que passaram a cultivá-las. Em São Paulo e Campinas foi a porta de entrada do café para o oeste paulista. Nessa região ele teve seu apogeu, enriqueceu e fez muitos barões do café. Foi tam-bém nos cafezais que negros foram comprados, ex-plorados e castigados, para seus donos usufruírem de riqueza e prestígio na sociedade brasileira.

O capital investido na produção cafeeira em sua primeira fase foi proveniente dos comerciantes

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do Rio de Janeiro ligados as vendas de gêneros e animais produzidos na região sul da província de Mi-nas Gerais. Sendo que as maiores fortunas investidas eram provenientes das regiões de mineração que se encontrava em decadência, e seus investidores bus-cavam alternativas para aplicação de seus capitais.

Vale ressaltar também que não foram apenas os grandes investidores que iniciaram a produção do café no Brasil. Muitos dos grandes proprietários da cafeicultura iniciaram suas plantações como po-bres lavradores que alugavam terras para o plantio e com os lucros passaram a comprá-las. A maioria deles lavravam a própria terra com ajuda de fami-liares e alguns trabalhadores livres. Muitos deles acumularam fortunas rapidamente e tornaram-se grandes cafeicultores.

Outro fator que também contribuiu de forma bastante acentuada para o avanço da cafeicultu-ra no Brasil foram os poucos investimentos que a mesma necessitava. Diferente da produção açuca-reira que exigia grandes investimentos na monta-gem e manutenção dos engenhos.

A princípio, o cultivo do café necessitava de: terra e mão de obra. Enormes áreas de terra foram desmatadas para ceder espaço para os cafezais. To-davia, “não foi o café que degradou a natureza no sudeste brasileiro. Foi o espírito mercantil imediatis-ta, em busca de lucro e riqueza a qualquer custo” (MARTINZ, 2010, p.29), ou seja, a ânsia pelo poder e riqueza fez com que houvesse essa devastação.

A lavoura do café fez surgir as fazendas com suas casas suntuosas, longas extensões de terra e centenas de escravos. Tudo isso dava grande poder aos cafeicultores. A expansão cafeeira em São Paulo e no Rio de Janeiro incrementou o comércio de exporta-ção e importação. Toda a movimentação do comércio viabilizou a criação do Código Comercial do Brasil que

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substituiu as Ordenações Filipinas30. O fim do tráfico negreiro e a Lei de Terra, em 1850, possibilitaram a intensificação das atividades mercantis, pois o capital que antes era destinado para o comércio de escravos passou a ser aplicado em Bancos e sociedades co-merciais diversas. A Bolsa de Valores do Rio de Janei-ro, criada em 1848, tinha a finalidade de negociar os títulos do governo (GUIMARÃES, 2010).

Toda movimentação da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro passou a incomodar conservadores, inclusive alguns intelectuais que viam com restrições a espantosa transação mercantil no Brasil. Temia-se que o governo não aplicasse de forma conveniente os lucros resultantes dessas transações. O fato é que o café e seu comércio viabilizaram mudanças no novo país, inclusive nos costumes de seus moradores. Foi ele também que tirou o Brasil e, em especial, o gover-no, e as elites da crise após a sua independência. Ele também foi responsável pelo fato das exportações su-perarem as importações a partir da década de 1860.

A possibilidade de enriquecimento proporcio-nado pelo café provocou mudanças na paisagem das regiões onde ele foi cultivado de forma intensa. A partir do século XIX, grandes como foi citado acima extensões de florestas e cerrados foram derrubadas para ceder lugar aos cafezais, as cidades e as ferro-vias, estas necessárias para o escoamento dos grãos do cafeeiro. A construção das sedes das fazendas viabilizou projetos arquitetônicos que necessitava de mão de obra qualificada. Pedreiros, carpinteiros, mestres-de-obras e pintores eram contratados, muito deles imigrantes, pelos cafeicultores para edificarem suas moradias. Nelas ostentava-se toda a opulência e poder aquisitivo de seus proprietários.

Várias dessas casas conservadas ou não ainda existem nas fazendas onde o café foi cul-tivado em alta escala. Essas edificações são re-

30 Esta compilação jurídica foi resul-tante da reforma realizada durante o domínio Ibérico sob Portugal por Felipe I. Apesar de a Lei ser sancionada em 1595, ela só foi impressa em 1603, no reinado de Felipe II. Essas ordenações constituíram a base do direito português até o século XIX.

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tratos do poder que o mesmo ofereceu aos seus produtores. Os locais onde existiram senzalas e terreiros de secar os grãos deram espaço a jar-dins ou pastagens e até mesmo plantações de outras lavouras.

O capital adquirido através do café não ficou restrito as edificações nas propriedades. Os palace-tes nas cidades de São Paulo e na capital Rio de Ja-neiro, bem como nas cidades que se localizavam na região do café foram no decorrer do Segundo Reina-do e posteriormente na República o orgulho de seus donos. Era comum naquele período os cafeicultores construírem belas e modernas moradias nos centros urbanos onde passavam temporadas com familiares, usufruindo das modernidades e participando dos acontecimentos sociais. Era também nessas casas que os filhos das elites cafeeiras permaneciam boa parte do ano dedicando-se aos estudos e a “boa vida” que o lucro com o café podia proporcionar.

A casa mais antiga, sobrevivente dos tempos dos “Barões do Café”. Na avenida paulista, pertenceceu a Joaquim Franco Mello

Caro aluno você deve está curioso para enten-der como a mão-de-obra escrava manteve a produ-ção cafeeira no sudeste, visto que, a partir de 1850,

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fora proibido o tráfico de escravos para o Brasil. Vale lembrar que o comércio interno de escravo permane-ceu em vigor até o fim da escravidão. Mas é impor-tante que se tenha clareza de que paralelamente e em menores proporções havia a mão-de-obra livre. Esses trabalhadores vinham de diferentes regiões do país, especialmente do nordeste onde a seca as-solava o interior e suas populações migravam para lugares onde pudessem sobreviver.

A migração no decorrer dos anos de 1877 a 1880 possibilitou de certa forma a manutenção da mão de obra nas produções de café. Não podemos esquecer do trabalho do imigrante que muito con-tribuiu para o desenvolvimento da economia nacio-nal. A presença dos mesmos aconteceu de forma mais acentuada na década de 1880, quando o fim da escravidão no país já batia à porta dos senhores do café. Não podemos esquecer também das rela-ções de produção baseadas no sistema de parceria e de ameias31, que coexistiam no período.

Como vimos no início desse conteúdo, o café tornou-se a partir do século XIX o sustentáculo econômico do Brasil. Mas, ao lado do café outros produtos abasteciam o comércio interno e também estavam na pauta das exportações. O quadro abai-xo mostra o percentual do valor desses produtos bem como os períodos de produção.

Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil, 12 ed., Col. Didática. São Paulo: Edusp, 2004, p. 191.

31 Relação na qual o proprietário cede a terra para o plantio recebendo metade da produção.

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É evidente o crescimento e predomínio do café no decorrer do período imperial. Como tam-bém, é claro que o açúcar não deixou de ser produ-zido e exportado.

Lembrando também que, o escravo foi utilizado intensamente no trabalho de edificação das moradias de seus senhores. A eles cabiam os trabalhos mais pesados como: cavar o chão, carregar os materiais e preparar as misturas. Foi à mão e o suor do escravo que fez subir as paredes, abrir pequenas estradas de acesso as sedes da fazenda, preparar os terreiros e armazéns de estocagem dos grãos de café. Enfim, o negro contribuiu com todo o processo de enriqueci-mento e poder da elite cafeeira.

O café funcionou naquela época também como estimulante social, nos grandes centros a partir de 1850, ganha espaço de destaque casas onde serviam café. Esses locais passaram a ser chamados de Cafés. Os primeiros funcionavam em construções simples onde se servia bolinhos de polvilho, bolo de fubá, quitutes etc. Enquanto eram servidas, as pessoas conversavam, negociavam e ficavam interados dos acontecimentos. Posterior-mente os cafés se modernizaram e tornaram-se luxuosos, muitos deles seguiam a moda européia com ar sofisticado e continuaram sendo locais fre-quentados tanto pelas elites financeiras, quanto pelas elites intelectuais.

Pode-se dizer que os debates relacionados à abolição, à república e às finanças eram feitos entre uma xícara de café e outra. Também é ver-dade que muitos dos jornais que circularam em São Paulo e Rio de Janeiro nasceram a partir das reuniões nos cafés. Para agradar a clientela seus proprietários passaram a incrementar o cardápio bem como criar espaços de recreação onde os frequentadores pudessem usufruir aqui no Brasil,

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de locais semelhantes aos estabelecimentos euro-peus. Com o avanço da tecnologia o café, antes coado em pano, passou a ser o café expresso que saía não mais da chaleira, mas da máquina. O fato é que a maneira de fazer e servir o café não diminui o gosto do brasileiro pela bebida, que só perde em consumo para a água.

A importância do café para a economia bra-sileira fez com que a modernização de sua produ-ção fosse incentivada pelo governo e por grupos financeiros que obtinha grandes lucros com comér-cio do mesmo. Esses grupos promoviam eventos que tinha como objetivo informar aos cafeicultores brasileiros as modernidades existentes em outros países. Houve também o incentivo para que melho-rarem-se os métodos de produção, novos tipos de mudas foram trazidos do estrangeiro.

Essa busca pela manutenção e melho-ria da produção cafeeira surtiu efeitos favorá-veis respectivamente no Oeste Paulista, onde a aquisição de máquinas de beneficiamen-to dos grãos foi maior (COSTA, 1999, p. 316). Não estamos com isso afirmando que o café foi o único produto a atender o comércio de exportação. Ao lado dele, outros a exemplo do açúcar, do cacau do algodão, do couro e da borracha complemen-tavam as vendas.

As mudanças no uso do trabalho e trata-mento do café também foram sendo modernizado. Os terreiros de chão usados para secagem do café foram paulatinamente substituídos pelos de tijolos e os galpões de estocagem dos grãos, melhoradas conforme as necessidades de manutenção e condi-ções de seus proprietários. Todas as medidas, rela-cionadas á modernização, bem como nas questões financeiras na cafeicultura, viabilizou o aumento na produção e como já foi dito tornou o café a base

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de sustentação da economia nacional. As melho-rias por ele patrocinadas a exemplo do sistema de transportes e comunicações terminaram por favore-cer outros setores da economia. A riqueza que ele promoveu guiou os rumos políticos do Brasil du-rante as últimas décadas do Império e no período republicano.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2006, p. 108-112. Nessa parte do livro, o autor traça um breve histó-rico da expansão cafeeira, mostra também os an-tecedentes históricos que viabilizaram a cultura do café no Brasil bem como os benefícios que a cafei-cultura patrocinou para o país.

COSTA, Emilia Viotti. Da Monarquia a República: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: UNESP, 1999. p.195-231.

Nesse capítulo do livro, a autora mostra as formas que se buscou para manutenção da mão de obra na agricultura do café no Brasil. Ela mostra também como e onde foi implantado o sistema de parceria e todas as questões que envolveram esse modelo de produção no país.

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PARA REFLETIR

Vimos que foi a mão-de-obra escrava que, durante o período do Império no Brasil, fez enriquecer os cafeicultores. Mas, será que o negro é de fato reco-nhecido como tal? Discuta com seus colegas suas reflexões.

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3.3 Industrialização no Brasil

A industrialização no Brasil configura-se de maneira tímida e de forma lenta, os esforços para criação de uma indústria nacional logo após a In-dependência, revelaram a conscientização de um pequeno grupo que manifestou o desejo de desen-volver no novo país uma indústria nacional. Como então desenvolver a industrialização de um país recém independente de base agrária e escravista?

Através das atividades da Sociedade Auxi-liadora da Indústria Nacional esperava-se fazer a indústria proliferar no país. Todavia, a industrializa-ção brasileira a princípio parecia ser incapaz de con-correr com os produtos manufaturados europeus. A Inglaterra, favorecida pelo tratado de comércio, enviava para o Brasil uma diversidade de produ-tos dificultando o desenvolvimento da indústria nacional. A ideia de que o Brasil deveria continuar exportando seus produtos agrícolas, e importando os industrializados, passou a ser defendida por políticos de renome naquele período, a exemplo de Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850). Segundo Costa essas idéias se converteram numa das grandes doutrinas do Império (COSTA, 1999, p.273). O que de certo contribuiu para o apego as formas tradicionais de exploração dificultando o desenvolvimento industrial do país.

No decorrer das décadas de 1840 e 1850, as técnicas utilizadas nos engenhos vão paulatina-mente passando por modernizações. Para inovar as técnicas de fabrico do açúcar instalou-se ainda no final da década 1820 em Recife, uma fábrica de pe-ças para montagem de engenho a vapor. Todavia, a concorrência com as máquinas inglesas inviabilizou a produção nacional. Como então inibir a entrada de produtos ingleses? A consolidação do poder po-

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lítico do Brasil viabilizou medidas que tirassem os privilégios dos ingleses nas relações comerciais. Em 1844, é aprovada uma lei que coloca um ponto final nas vantagens que a Inglaterra tinha até então.

A chamada Lei Alves Branco32 elevou as ta-rifas de importação. Na nova tabela, os produtos ingleses antes taxados em 15% passaram para uma faixa de 30% a 60%. Com esse avanço da lei, o Brasil supera o período dos acordos alfandegários entre países e passa a controlar sua política, adua-neira. Essa medida abriu caminho para as aventu-ras na indústria nacional.

Vale ressaltar que a criação das tarifas da lei de 1844 não visava somente incentivar a incipiente indústria nacional, mas também o aumento na ar-recadação dos impostos. Naquele contexto, aque-la era a principal fonte de renda do Estado. De qualquer forma essa mudança tarifária viabilizou a industrialização no país, inclusive do setor fabril que lentamente cresce e se diversifica a partir da lei Alves Branco. Outro fato que contribui expressi-vamente com a industrialização do Brasil foi sem dúvida a extinção do tráfico negreiro. Isso ocorreu porque os capitais antes investidos nesse lucrati-vo comércio passaram a ser investidos na indústria nacional.

Ao tratarmos das questões que viabilizou o processo de industrialização no Brasil, não deve-mos esquecer da expansão cafeeira no sudeste bra-sileiro. Sem dúvida os capitais resultantes da pro-dução e comercialização do café foram investidos na indústria nacional. Inclusive, na relacionada ao mesmo, a exemplo das fábricas de beneficiamen-tos dos grãos que foram de suma importância para o acúmulo do capital nacional. Nelas era utiliza-da a mão-de-obra escrava, mas para determinadas funções era o trabalho assalariado que prevalecia.

32 Essa lei foi pro-posta pelo ministro da fazenda, Manuel Alves Branco. Um dos efeitos dessa lei foi um surto industrial no Brasil. Nesse sentido registrou-se a pro-dução de velas, sabão e tecidos por empresas nacionais. Isso ocorreu porque o encarecimento das importações de certo tornou vanta-josa a montagem de fábricas no país.

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Especialmente nos últimos anos de escravidão, quando o imigrante passou a ser utilizado como alternativa para manutenção do trabalho tanto na zona rural quanto na zona urbana.

Outra medida favorável a indústria nacional foi sem dúvida a emissão de moedas. O Governo imperial adotou uma política fundiária na qual os empréstimos bancários possibilitaram novos em-preendimentos na economia do pobre. Mas qual foi a primeira grande indústria nacional? Onde ela foi instalada? Pode-se considerar como a primei-ra grande indústria brasileira, a empresa Ponta de Areia. A mesma foi criada por Irineu Evangelista de Souza33, o barão de Mauá. A mesma constituía-se em um estaleiro e uma fundição e localizava-se em Niterói. Seu dono era um dos maiores importado-res do país. Em 1846, entusiasmado pela lei Alves Branco ele decidiu apostar na indústria nacional. Utilizando-se de seu capital, ele fundou a referida indústria. A empresa fabricava canos de ferro, sinos, pregos e navios a vapor. O fato é que em menos de uma década, tinha uma grande quantidade de operários de várias nacionalidades. De suas forjas34 saíram navios e outros produtos, inaugurando o desenvolvimento industrial brasileiro.

Apesar de boa parte da historiografia tradi-cional, atribuir à República tudo que está relacio-nado à modernização e desenvolvimento do Brasil percebemos que muitas conquistas e transforma-ções estruturais iniciaram ainda sob o Império. Não estamos com isso afirmando, que o Brasil Imperial foi um período no qual o desenvolvimento consa-grou-se, apenas ressaltando que o período é sem dúvida, importantíssimo para que o país estruture--se rumo ao progresso, afinal, como vimos, foi nele que surgiram as primeiras indústrias, as primeiras ferrovias, os primeiros bancos etc.

33 O barão de Mauá nasceu no Rio Grande do Sul em 1813, fi lho de fazendeiro após a morte de seu pai a família fi cou pobre ele foi levado a São Paulo por um tio, onde estudou, trabalhou e fez fortuna, morreu em 1872.

34 Fole mecânico ou manual de aquecimento de carvão.

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Vale ressaltar que o Visconde de Mauá foi uma figura de grande importância não só por inau-gurar a grande indústria no Brasil, mas por várias outras participações na economia do país. Ele construiu ferrovias necessárias para o escoamen-to da produção agrícola, bem como dos produtos industrializados. Foi também por sua iniciativa que ocorreu a modernização da iluminação, bem como a introdução do telégrafo. Claro que todos esses feitos favoreciam os seus investimentos. Ainda du-rante o governo imperial, o barão de Mauá sofreu pressões do capital, estrangeiro e articulações da política nacional que não se contentava com suas ideias liberais e antiescravistas. Sem apoio ele fa-liu, deixando para trás seus sonhos: emancipar o Brasil da indústria estrangeira.

O progresso inicial dos vários empreendimentos

de Mauá estimulou vá-rios setores econômi-cos, e estrangeiros, es-pecialmente ingleses. No entanto, apesar do progresso industrial financeiro e de servi-

ços necessários naquele momento, a economia do

país ainda estava atrelada ao setor agroexportador. O surto in-

dustrial teve seu desenvolvimento ameaçado pela própria estrutura. A grande parte da aristocracia rural preferia a manutenção da política econômica que mantivesse baixos preços de importações e protegesse a exportação de sua agricultura. (TEXEI-RA; TOTINI, 1989, p. 86)

Vale lembrar que a Guerra do Paraguai re-sultou num desastre financeiro para o Brasil, pois,

Barão de Mauá

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limitou as possibilidades do governo em apoiar no-vos empreendedores nacionais. Esse foi sem dúvi-da um dos motivos que facilitou os investimentos com capital estrangeiro no país. Naquele período a burguesia industrial financeira européia estendia sua influência por todos os continentes. Seus ca-pitais eram exportados, controlavam as fontes de matérias primas, bem como, o comércio de pro-dutos industrializados. Nesse contexto os capitais ingleses foram infiltrados na América Latina, e em especial no Brasil.

O capital financeiro dos ingleses foi investi-do em vários ramos da economia, principalmente na indústria. O comércio, o transporte, a agricultura também foram agraciados pelas finanças inglesas. Ela também forneceu capital técnico, suprindo as ne-cessidades tecnológicas que se mostrava com gran-de carência de progresso. Instituições bancárias e de seguro foram inauguradas, a exemplo do Englisk Bank of Rio de Janeiro. O fato é que de 1860 a 1889, 111 empresas inglesas foram autorizadas a funcio-nar no Brasil. Mas não foram somente os britânicos que tiveram autorização para implantar empresas no território brasileiro. No citado período, outras 16 em-presas estrangeiras foram criadas, inclusive alemãs.

Ao tratarmos da industrialização no Brasil é importante que conheçamos o ramo que predo-minou no início do processo de industrialização. Como citamos nesse conteúdo a indústria têxtil foi o grande destaque do período imperial. O estímulo patrocinado pela já referida Lei Alves Branco dina-mizou a criação de centros de indústria de tecidos, sendo esse ramo o pioneiro do período. O primeiro centro de produção do mesmo foi criado na Provín-cia da Bahia. Em Minas Gerais, foram os ingleses que criam em 1848 no município de Conceição a fábrica Cana do Reino, que logo foi fechada.

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107Tema 3 | Economia no Império

Em terras mineiras onde a indústria não se deu como em São Paulo e Rio de Janeiros, agra-ciados pelos lucros da cafeicultura, o maior êxito no ramo têxtil foi empreendido pelos irmãos Mas-carenhas. Eles criaram na povoação de Caetanópo-les, município de Cedro, em 1868, a fábrica têxtil Mascarenhas e Irmãos Ltda. A mesma teve seus equipamentos importados dos Estados Unidos da América, sendo naquele período tudo que havia de mais moderno. As fábricas têxteis expandiram-se pela província de Minas Gerais, especialmente na chamada Zona da Mata e Sul. As cidades de Curvelo e Diamantina se destacaram dentre as que a referi-da indústria foi implantada.

Qual o local propício para a implantação das fábricas de tecidos?

A localização das fábricas de tecidos estava condicionada ao fator água. Eram necessárias que-das d’água que gerassem energia para o funciona-mento das máquinas, visto que, o modelo indus-trial foi o hidráulico. Pode-se afirmar que a primeira cidade brasileira a receber uma tecelagem movida à energia hidráulica foi Valença. Havia também aque-les proprietários que instalavam suas fábricas pró-ximas à suas residências. Com relação às indústrias dos irmãos Mascarenhas vale citar que a de Cedro35 gerou lucros que incentivaram seus donos a cria-rem uma nova, a sociedade Mascarenhas Irmãos e Barbosa em 1877 na cidade de Curvelo. Essa conta-va com 52 teares. Cinco anos após em 1883 houve a fusão das fábricas Mascarenhas. (LIMA, 2008).

É importante citar que a indústria têxtil no Brasil passou por dificuldades que iam desde a bai-xa qualidade da matéria prima até o baixo poder aquisitivo da população. Todavia, o ramo da tece-lagem foi sem dúvida um dos ramos que paulati-namente ganhou espaço na indústria brasileira. Em

35 Atualmente a Cia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira possui quatro fábricas em Minas gerais, uma em Sete Lagoas, uma em Caetanópolis e duas em Pirapora.

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1885, quando o abolicionismo e os ideais republi-canos agitavam a imprensa e a sociedade brasilei-ra, somente na província de São Paulo registrou-se 13 fábricas de tecidos, com 1670 operários.

Caro aluno é importante que você entenda que ao nos reportarmos a indústria têxtil no Brasil, nós nos propomos a fazer a história desse ramo, mas apenas pontuarmos alguns fragmentos da mesma. É claro que ela é muito mais do que trata-mos. Visto que, se configurou em todas as regiões do Brasil. Aqui, apenas a contextualizamos dentro do processo de industrialização do país.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

TEIXEIRA, Francisco; TOTINI, Maria Elizabete. Histó-ria econômica e administrativa do Brasil. São Pau-lo: Ática, 1989, p. 74- 87.

Esse texto mostra a recuperação da economia bra-sileira a partir dos lucros advindos da cafeicultura. Mostra também a diversificação econômica e os in-vestimentos do capital estrangeiro no Brasil. Trata também da criação de infra-estrutura financeira e comercial que viabilizou a industrialização no Brasil.

Para saber mais sobre a indústria têxtil no Brasil acesse: LIMA, Junia de Souza. Mulheres Tecidas: o trabalho feminino nas fábricas de tecidos no final do século xix e princípio do século XX. Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, Anais, 2008. Disponível em: <http://www.senept.cefetmg.br/galerias/Arquivos_senept/anais/quarta_tema5/QuartaTema5Artigo3.pdf>. Acessado em: 04 de julho de 2011.

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109Tema 3 | Economia no Império

Nesse artigo a autora trata da implantação e de-senvolvimento da indústria têxtil. Em especial em Minas Gerais.

PARA REFLETIR Apesar da industrialização no Brasil se afirmar no Brasil República foi no Período Imperial que ela teve suas bases. Vimos que o capital estrangeiro “manipulou” de certa forma a nossa industrializa-ção. Você acredita que o Brasil livrou-se de fato do capital estrangeiro? Discuta com seus colegas a esse respeito.

3.4. Urbanização no Brasil século XIX

A vinda da família real para o Brasil e, em consequência, a transferência da sede do governo português, de certo não trouxe apenas mudanças políticas. O rompimento do sistema de monopólios que vigorava até então e a Independência, criaram as condições necessárias para o processo de urba-nização em tempos imperiais. A partir de então as capitais das províncias passaram a ganhar maior destaque. Com a emancipação elas tornaram-se os centros da política e da administração do Estado brasileiro. Para atender as necessidades do novo país foram criadas Universidades. Nelas formar-se--ia a elite capaz de compor a burocracia estatal. Es-ses centros de estudos foram inicialmente criados na capital Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.

A criação das universidades estimulou novas perspectivas para a vida urbana. Você deve estar curioso para entender porque a implantação des-ses centros de ensino estimulou a urbanização. A

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partir dessa medida as elites interioranas passaram a construir residências nas cidades para que seus filhos fossem ingressar nos cursos superiores. As capitais tornaram-se centros de atenções especial-mente o Rio de Janeiro onde estava a corte. Os fazendeiros investiam nos estudos dos filhos com o objetivo de vê-los futuramente ocupando cargos políticos/administrativos que reforçaria o poder da aristocracia rural.

A abertura dos portos brasileiros integrou o Brasil ao comércio internacional em expansão e viabilizou novas relações. Apesar da base de ex-portação de produtos agrários, como vimos nesse material continuar a base da economia, houve uma maior distribuição de rendas e melhoria do sistema de transportes. Essa alteração de certa forma incen-tivou as relações comerciais nos centros urbanos, especialmente nas capitais provinciais próximas ao litoral, pelo fácil acesso aos portos de embarque e desembarque de mercadorias. Essas condições tornaram-se favoráveis a urbanização. Apesar des-sas mudanças o país continuava com o sistema es-cravista e agroexportador. Assim as condições que inibiram o desenvolvimento urbano em tempos co-loniais ainda atuavam expressivamente no período imperial principalmente na primeira metade do sé-culo XIX (COSTA, 1999, p. 240-241).

A precariedade urbanística das cidades eram destaques nas anotações de viajantes que percor-reram o país. Enquanto as cidades portuárias se modernizavam à moda européia os centros urbanos interioranos, na sua maioria, configuravam-se em meras extensões das zonas rurais. Eles apresen-tavam um aspecto descuidado, onde as casas em sua maioria eram construídas de taipa36, no modo colonial. Muitas delas pertenciam a pessoas que viviam no campo, em fazendas ou pequenos sítios

36 Parede de barro ou de cal e areia com fasquias de madeira.

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111Tema 3 | Economia no Império

e só vinham à cidade aos domingos, em dias de feiras para fazer compras e em festas especialmen-te as religiosas. Assim elas permaneciam fechadas a maior parte do tempo.

Naquelas cidades eram praticamente inexis-tentes condições higiênicas e sanitárias. As ruas em sua maioria eram sujas, esburacadas e cheias de matos. Frequentemente eram vistos animais pas-tando e deixando seus dejetos nos percursos, prin-cipalmente nos centros da cidade onde geralmente estava localizada a igreja e as casas comerciais. Nessa trafegavam carros de boi, carroças e cavalos. Também eram vistos escravos exercendo as tare-fas determinadas por seus donos, geralmente car-regando na cabeça ou nos ombros e mãos pesos superiores às suas condições físicas.

Ao tratar da urbanização das cidades do inte-rior no século XIX, Costa mostra que:

Os únicos edifícios dignos de registro eram as igrejas e os conventos, e mais raramente os edifícios da Câmara e da Ca-deia. O abastecimento de água era precário, fi cando os mora-dores na dependência de poços e chafarizes. Dada a falta de esgotos, os dejetos eram des-pejados nos ribeirões ou mar (quando a cidade era litorânea), escorrendo, freqüentemente, pelo meio das ruas. A ilumina-ção era precária prevalecendo o óleo e peixe. Nas noites de luar a cidade fi cava às escu-ras iluminada apenas pela luz da lua. (COSTA, 1999, p. 242).

Além dessa situação acima descrita, não

havia assistência médica. Esses serviços médicos eram prestados apenas nos grandes centros, onde

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as Santas Casas, instituições religiosas filantrópi-cas, inspiradas na tradição de caridade cristã ofe-recia esse tipo de assistência. As condições dos trabalhos relacionados a medicina eram precárias o que contribuía para a manutenção das práticas tra-dicionais e do curandeirismo. Muitas doenças hoje consideradas simples terminavam levando à morte dezenas de pessoas, principalmente crianças. Tanto a falta de assistência médica e as condições estru-turais de higiene quanto à falta de conhecimento dos problemas relacionados à saúde é que provo-cavam essa situação de mortandade.

Os moradores dos núcleos urbanos interio-ranos, também não tinham grandes conhecimen-tos a cerca do que acontecia no mundo. Apenas os fazendeiros de maior poder aquisitivo visitava esporadicamente os grandes centros. Essas visitas tornaram-se mais frequentes com o melhoramen-to dos meios de transporte e das estradas. A falta de informações fazia com que as pessoas recor-ressem aos mascates e tropeiros mercadores para saber dos acontecimentos e para se comunicarem com parentes e amigos moradores de outras cida-des vizinhas ou regiões. Assim esses comerciantes constituíram-se no principal veículo de comunica-ção entre as cidades.

Ao conhecer um pouco a respeito da situação urbanística, nas cidades interioranas você deve es-tar curioso para conhecer também como se configu-ram a urbanização dos grandes centros, a exemplo da capital do Império do Brasil?

Como vimos a cafeicultura no sudeste via-bilizou modificações em vários setores da região. Surgiram inovações nos ramos de transportes, do comércio, da prestação de serviços entre outros. No Rio de Janeiro, o transporte coletivo foi imple-mentado com a criação dos bondes de tração ani-

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113Tema 3 | Economia no Império

mal, depois elétrico. Eles alteraram os hábitos das pessoas, pois permitiram a aproximação das famí-lias e viabilizaram o deslocamento para locais mais distantes da capital, até então desconhecidos para muitos. Todavia, a popularização desse meio de lo-comoção não eliminou os tradicionais a exemplo dos tílburis, as diligências e os coches37.

Na metade do século também foram inaugu-radas as companhias de navegação a vapor. Ainda durante o Império as antigas estradas por onde passavam os carros de boi e as tropas de mulas que transportavam as mercadorias, inclusive o café, foram substituídas por estradas modernas. As ferro-vias seriam então as mais utilizadas, pois como vi-mos durante o Império as antigas estradas por onde passavam os carros de boi e as tropas de mulas que transportavam as mercadorias inclusive o café, foram substituídas por estradas modernas. As ferro-vias seriam então as mais utilizadas no escoamento dos produtos, fossem eles as matérias-primas, os industrializados, pois como vimos no conteúdo an-terior a indústria se fazia presente no país. Essas estradas além de desenvolver o mercado interno, estimularam indiretamente a urbanização, pois, fez surgir cidades, contribuiu também com a eliminação de outras. Mais como isso ocorreu?

Alguns centros que antes se mostravam pro-missores ficaram distantes das ferrovias, isso cau-sou o seu isolamento. E fez com que seu movimen-to decaísse e em consequência dessa queda, os comerciantes e produtores buscavam se estabele-cerem próximo as estações de embarque e desem-barque. As estradas de ferro também provocaram as transferências de fazendeiros para os grandes centros. Essas mudanças de certo também promo-veram melhoramentos de grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as ferro-

37 Tílburis – carros de dois assentos, sem capota, de duas rodas, puxa-dos por um único cavalo. Diligência carruagens para transporte de passageiros entre duas localidades. Coches, carruagens mais antigas e luxuosas.

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vias construídas até o final do século XIX destaca-ram-se a Estrada de Ferro Mauá, a Central do Brasil e em São Paulo a Santos-Jundiaí, a Ituana e a Soro-cabana. Além de Rio de Janeiro e São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco tiveram importantes ferrovias.

Vale lembrar que naquele momento acontecia também o aumento na entrada de imigrantes no país. A partir da década de 1870, quando avança o movimento abolicionista intensifica-se a quanti-dade de estrangeiros que se dedicavam a várias atividades, desde o comércio de atacado até o artesanato. Grandes levas foram para as regiões agrícolas, especialmente a cafeeira. Muitos deles assim que podiam deixava as lavouras onde viviam precariamente e migravam para outras áreas. As-sim os centros urbanos tiveram suas populações acrescidas e compostas por habitantes de diferen-tes nacionalidades. Em suas ruas e comércio mis-turavam-se as línguas, espanhola, italiana, alemã, portuguesa e tantas outras.

Muitos imigrantes já chegavam ao Brasil com capital para investir em propriedades ou no comér-cio. Outros tantos conheciam as técnicas artesanais e da construção civil. Tudo isso viabilizou a urbani-zação dos grandes centros urbanos, como São Pau-lo pela proximidade da produção cafeeira e Rio de Janeiro por ser a capital e pela presença da Corte. Para atender ao novo contexto elas foram se mo-dernizando. A iluminação a base de óleo de peixe foi substituída pela a gás. A princípio ela foi instala-da nos espaços públicos e nas casas das elites. Em 1874, cerca de dez mil residências já dispunham do conforto propiciado pela mesma.

Com a melhor iluminação das casas, salões e cafés as cidades mudaram sua aparência. Mudou também a aparência individual de seus moradores.

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115Tema 3 | Economia no Império

Acessórios como chapéus, luvas, vestidos entre ou-tros passaram a ganhar maior destaque. Os cafés e teatros passaram a ser mais frequentados. Os bai-les e saraus em clubes tornaram-se mais visitados. Tudo isso atendendo as novas expectativas de uma ascendência social na sociedade imperial.

A criação de novos restaurantes e hotéis tam-bém fizeram parte da nova imagem urbanista das grandes cidades. Para atrair a clientela seus donos colocavam anúncios nos jornais e apresentavam seus cardápios. Outro tipo de atendimento que foi intensificado foram os bordéis. Neles atuavam mu-lheres brasileiras e estrangeiras. Alguns ostentavam acomodações luxuosas e tinham como frequenta-dores as elites brasileiras e estrangeiras e comer-ciantes. Neles encontravam-se belas mulheres que encantavam os frequentadores, que eram induzidos a consumir o máximo de bebidas e com isso garan-tir os lucros do estabelecimento.

O saneamento de ruas e avenidas localiza-das nos centros comerciais e sociais passou a ser defendido como medidas sanitárias para inibir a proliferação de doenças. Novos bairros são cria-dos e a paisagem das grandes cidades passam a contar com novos projetos arquitetônicos que se configuraram no século XX. Ampliou-se também os atendimentos médico-hospitalares. Todavia, a vida urbana continuava sujeita a tragédias, a febre ama-rela atingia os habitantes inclusive na capital do Império. A cólera acometia principalmente as pes-soas mais humildes e mal instaladas. No final do período monárquico a classe médica já defendia a higienização como meio de prevenção da saúde dos brasileiros. Ideias essas que vão ganhar espaço no período posterior (ALENCASTRO, 2010, p. 80).

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INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a República. 7. ed. São Paulo: Unesp, 1999, p. 233-263.

Nesse capítulo, a autora mostra o contexto dos núcleos urbanos. Ela também trata dos melhora-mentos das cidades e do processo de industria-lização e da criação das ferrovias que proporcio-naram mudanças não só no meio de transporte, mas também como incentivadora do surgimento de novas cidades.

ALENCASTRO, Luís Felipe de. História da vida pri-vada no Brasil Império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Companhia das letras, 2010, p. 78-87.

Nessa parte, o autor mostra as medidas sanitárias que visavam inibir as epidemias no país. Ela trata também das questões relacionada a iluminação a gás e das mudanças que ela viabilizou na capital do Império.

PARA REFLETIR

Nesse conteúdo estudamos a respeito da urbani-zação no século XIX. Passado mais de um século, os problemas humanos como falta de moradia, de saneamento básico e questões de saúde ainda são problemas frequentes em nosso país. Será que os administradores atuais aplicam de forma correta as

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117Tema 3 | Economia no Império

verbas destinadas à saúde no seu município? Como está o atendimento médico em sua cidade? Conver-se com seus colegas a esse respeito.

RESUMO

Nesse tema você entrou em contato com algumas informações indispensáveis para o conhecimento das questões relacionadas à economia do Brasil no império. Aqui tratamos do trabalho escravo e de sua importância para a economia nacional. Foi mostrado de que forma a Lei de Terra promoveu a manutenção do sistema escravista e da grande propriedade. Vimos também as manobras políticas para retardar a libertação dos negros no pais. Tra-tamos também da implantação das indústrias na-cionais, viabilizadas pela Lei Alves Branco que, pôs fim ao privilégio da Inglaterra nas questões relacio-nadas às taxas sob os seus produtos. Também po-demos perceber a influência do capital estrangeiro na indústria e nas operações bancárias.

Vimos também de que forma o café tornou-se a base de sustentação da economia nacional. Foi o café que patrocinou mudanças na região cafeeira. Inclusive em São Paulo e Rio de Janeiro onde os lucros advindos de sua produção incentivaram a urbanização e a diversificação do comércio interno. A modernização dos grandes centros, as mudanças nos hábitos e costumes das pessoas foram decor-rentes da busca por novidades que aproximasse aquela sociedade da sociedade européia.

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Vida privada no Império4O cotidiano da sociedade imperial é marcado por resquícios dos

costumes coloniais. Havia por parte dos dirigentes e intelectuais da época uma grande preocupação em modernizar o país a exemplo da sociedade européia. Por outro lado defendia-se a nacionalidade dos brasileiros. Nesse tema veremos questões relacionadas ao cotidiano das pessoas. No conteúdo 4.1, trataremos dos costumes e hábitos relacionados ao cotidiano aos grupos que compunham a população brasileira. No conteúdo 4.2, mostraremos um pouco das questões relacionadas as representações a cerca da morte. Nele perceberemos uma cultura mortuária que atravessa gerações e da qual ainda se en-contra alguns vestígios em grupos de nossa sociedade atual.

No conteúdo 4.3, trataremos das questões relacionadas ao amor. Veremos os comportamentos que eram esperados do sexo masculino e do sexo feminino. Os locais propícios para o namoro e as imposições dos pais nas questões amorosas, a exemplo dos casa-mentos arranjados. Por fim no conteúdo 4.4 mostraremos fragmentos da história da educação no período imperial. Veremos como fora es-tabelecido na Lei as questões relacionadas á instrução das crianças e jovens. O modelo de ensino que fora implantado e as medidas que visavam modernizar a educação no país.

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4.1. Costumes da Corte

O período que abrange o Brasil Imperial foi marcado por lentas transformações no cotidiano, especialmente nas regiões mais distantes da corte. Os resquícios do período colonial ainda permea-vam de forma marcante aquela sociedade patriarca-lista e de estrutura agrária. As mudanças mais sig-nificativas ocorreram a partir do Segundo Reinado, quando o país já apresentava mudanças estrutu-rais. Os efeitos dessas mudanças se fazem presen-tes no consumo e nos costumes dos brasileiros. As novidades nacionais ou estrangeiras eram sempre inauguradas no Rio de Janeiro e daí irradiavam-se pelo resto do país.

O Brasil oitocentista era marcado pela busca de padrões e ideias de comportamento que ob-jetivavam modernizar os brasileiros. Os hábitos e costumes no Brasil Imperial eram marcados por contradições que impunham bons hábitos à moda européia, mas convivia com a escravidão negra e a cultura afro-brasileira já impregnada naquela so-ciedade. Assim o período da monarquia brasileira oscilava entre costumes europeus e africanos sem desprezar também as indígenas. Essa mescla cultu-ral é então responsável por práticas que influencia-ram a vida cotidiana do brasileiro no contexto do século XIX.

Caro aluno, partindo dos modos de vida no período do Império, faremos uma breve análise de como foi pensada e construída a nova imagem e representação da sociedade brasileira.

Como foi dito acima, esse foi um período de oscilações entre resquícios dos costumes coloniais, a busca da brasilidade e a modernização seguindo alguns padrões europeus. Dentro desse universo de costumes procuraremos entender as práticas e

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121Tema 4 | Vida privada no Império

representações daquela sociedade, para isso nos fundamentamos em Chartier e no que ele analisa como objetivo das representações:

[...] identifi car o modo como em diferentes lugares e mo-mentos uma determinada re-alidade social é construída, pensada, a ler. As lutas e re-presentações têm tanta impor-tância como às lutas para com-preender os mecanismos pelos quais um grupo impõe ou ten-ta impor a sua concepção de mundo social, os valores que são os seus e o seu domínio (CHARTIER, 1990, p. 16-17).

Como vimos no tema I desse material, a vinda da família Real Portuguesa para o Bra-sil desencadeou uma série de mudanças. Com a independência, os defensores do nacionalismo brasileiro buscaram modos de apresentar sua brasilidade. Para demonstrar essa brasilidade, Políticos e intelectuais a exemplo de Cipriano Barata procuravam ostentar em seu vestuário tecidos de algodão brasileiro, chapéu de palha de palmeira da terra. Esse nativismo era reforça-do pela literatura da época, que retratava atra-vés dos personagens dos romances histórias re-lacionadas as origens dos brasileiros a exemplo dos índios.

O hábito de fumar usado nas varandas, nas estradas e nos campos desde o período colo-nial virou moda na Regência, todavia o charuto38 substituiu o cachimbo, preferido dos conquista-dores. O uso do charuto se generalizou entre a elite imperial, que procurava abolir o cachimbo, comum entre a escravaria, segundo costumes dos seus ancestrais africanos. Já na camada popular e

38 A Moreninha de Joaquim Manoel de Macedo defendia o charuto como pre-ferência brasileira. Esse livro foi publi-cado pela primeira vez em 1844 no Rio de Janeiro . é con-siderado o primeiro romance tipicamente brasileiro,nele é retratado os Hábitos da juventude brasileira da época. A obra foi adaptada para o cinema e telenovelas.

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no interior do país o cigarro de palha e o cachim-bo eram os mais usados. Para a elite, fumar cha-ruto representava além de luxo e modernismo, o abandono de costumes coloniais (ALENCASTRO, 2010, p.60). O pobre além de não possuir condi-ções financeiras para adquiri-los geralmente não estava preocupado em romper com práticas de seus antepassados.

As representações do modernismo euro-peu eram então usadas no Brasil Imperial para moldar os costumes e os hábitos da sociedade brasileira. Todavia essa tentativa de moderni-zação era concepção dos poderes dominantes que almejavam tornar o país civilizado à moda francesa. Para que isso ocorresse deveriam ser incorporados hábitos de consumo seguindo um novo estilo de vida. Todavia, o cotidiano daque-la sociedade oscilava entre a nova cultura e a velha cultura. As novidades e pompas apresen-tadas na Corte a exemplo dos bailes, dos con-certos e das apresentações teatrais contrastava--se com a precariedade das ruas e a exploração da mão-de-obra escrava, já eliminada nos paí-ses europeus.

A partir de 1850, a introdução de hábi-tos tidos como modernos na época marcaram o cotidiano brasileiro. Nas casas grandes das fazendas e nos sobrados urbanos, os salões eram o espaço privado de sociabilidade, onde aconteciam os saraus e os bailes. Nesses locais as damas ostentavam vestuário à moda france-sa, sinônimo de luxo e modernidade. Senhori-tas eram apresentadas a sociedade, momento propício para arranjar casamentos. O som dos pianos se fundia a conversas e risos e represen-tava sinal de bom gosto, modernidade e poder aquisitivo do dono da casa.

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123Tema 4 | Vida privada no Império

Festa na Corte do Rio de Janeiro

Enquanto as elites divertiam-se nos bailes privados, as camadas populares e escravas dança-vam ao som dos batuques e tambores nas festas de rua e nas senzalas das fazendas. O batuque representava para o negro sinal de libertação, pois nesses dias de festas eles podiam sentir-se “livres”. Os vestuários coloridos e de tecidos grosseiros se contrastavam com os dos usados pelas elites. En-quanto os sapatos e botas de boa marca desliza-vam nos salões, os tamancos ou o próprio couro do pé39 batiam nas ruas empoeiradas. Era a represen-tação de dois “mundos”.

Os batuques também eram utilizados para saudar comemorações oficiais e os cortejos impe-riais. Esse acontecimento festivo se contrastava com todo o aparato e etiqueta das festas da Cor-te. No momento acontecia a mistura do catolicis-mo dos reis com a religiosidade dos escravos afri-canos. Os negros sempre marcavam presença nas festas religiosas, especialmente quando elas eram em homenagens as suas padroeiras a exemplo de Nossa Senhora do Rosário. Nessas celebrações ha-via também uma grande mescla do sagrado e do profano. As orações, a sensualidade e a cachaça

39 Os escravos não usavam calçados, mesmo os que acompanhavam seus senhores e ostentava boas roupas a eles não era dado o direito de calçar os pés. Os pés descalços representavam um estatuto da escravidão.

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coexistiam nas procissões dedicadas aos santos.A presença desses elementos no mesmo ri-

tual causava espanto aos visitantes estrangeiros e católicos que questionavam se estavam mesmo participando de manifestações católicas. Esse es-panto não era restrito as procissões e festas públi-cas, o espaço da Igreja era o local para conversas entre homens e mulheres que falavam entre si no momento das celebrações. Isso era visto como um mau costume que deveria ser banido da sociedade brasileira (DEL PRIORE, 2005, p. 123).

Além das festas públicas, dos saraus e bailes, a elite frequentava o teatro e as apresentações de óperas e recitais. Para esses momentos a elegância das damas e cavalheiros era imprescindível e sem-pre a moda parisiense. Na capital do Império as lojas, confeitarias e cafés procuravam atender os gostos das elites. Os locais de lazer eram ponto de encontro de políticos e intelectuais que discutiam toda espécie de assuntos, desde economia e polí-tica até questões de saúde, moda e mexericos. O momento era propício também para tirar fotografias que eram utilizadas para se construir a representa-ção de um Brasil moderno. Estratégia utilizada pelo próprio D. Pedro II40 que era amante da fotografia41 e através dela construía sua auto-imagem.

Caro aluno vale lembrar que nem só de festas vivia a sociedade do Período Imperial. As doenças faziam parte do cotidiano e, era comum mortes por surto epidêmico. A precariedade ia desde a falta de estruturas sanitárias até a escassez de médicos e até a pouca credibilidade nas práticas médicas. Em momentos como o do parto a “medicina” que reinava era a das parteiras. Assim as parturientes era o grupo de alto risco, pois dependia do talento e do improviso das parteiras. A ameaça constante das mortes no parto desenvolveu cultos ligados à

40 D. Pedro II adorava ser fotografado.

41 O daguerreótipo era o aparelho fotográfi co inven-tado pelo francês Louis Daguerre em 1839. D. Pedro II foi o primeiro a adquirir o equipamento no Brasil e tornou-se um amante da fotografi a.

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125Tema 4 | Vida privada no Império

proteção na hora do nascimento. O risco de morte envolvia tanta as mães quanto os recém-nascidos, por conta desse temor as normas canônicas deter-minavam a confissão antes do parto. Isso represen-tava a aproximação entre a parturiente e a morte.

O medo do parto segundo Alencastro (2010, p. 72) “talvez tenha levado às senhoras a serem mais tolerantes na aceitação dos filhos adulterinos de seus maridos”, e até fazer vistas grossas às vi-sitas dos mesmos aos bordéis. Muitas delas acre-ditavam que os maridos que iam aos bordéis não cobravam com frequência os direitos de marido. Com isso elas livravam-se de mais uma gravidez. Muitos desses locais eram famosos e frequentados por homens de posses. Esse contexto favorecia as doenças venéreas a exemplo da sífilis que prolife-rava em todo o Brasil. Todos esses problemas rela-cionados ao sexo eram tabu no seio das famílias.

A sociedade oitocentista resistia também a tratamentos médicos relacionados à sexualidade, especialmente a feminina. Os pais e maridos não consentiam que suas filhas e esposas fossem toca-das por estranho. Os atendimentos médicos femi-ninos só penetram nessa intimidade e no recesso dos lares através do compadrio42. É o compadre médico que têm autorização para cuidar das coma-dres e afilhados.

Naquele período os padrinhos eram esco-lhidos seguindo dois critérios: o primeiro era para reforçar uma amizade já existente ou até laços fa-miliares, o segundo representava o desejo de que os padrinhos participassem da educação ou aju-dasse o afilhado em momentos difíceis. Era comum as pessoas entregarem seus filhos aos cuidados de padrinhos como também era normal pessoas pobres convidarem padrinhos de posses visando ajuda na criação de filhos ou em caso de morte

42 A relação de compadrio presente desde o Período da Colônia e ultrapassa o Império se fazendo presente na República. Era uma relação geral-mente de amizade e respeito.

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dos pais, os afilhados serem amparados pelos pa-drinhos. É claro que essa estratégia nem sempre dava certo, mas muitos foram os jovens que se tornaram pessoas importantes graças a ajuda do seu segundo pai como era a representação que se tinha do padrinho.

Outra relação comum na sociedade imperial era a da ama de leite. O aluguel de mulheres para amamentar de filhos de outras representava uma atividade econômica, especialmente nas grandes cidades. Pequenos proprietários alugavam suas ca-tivas em período pós-natal a terceiros. Esse aluguel rendia lucros e segurança de sua peça, visto que ela seria vigiada e tratada pela família do amamen-tado. Até a primeira metade do século XIX, a negra era utilizada para esse fim. Muitas foram as crianças brancas que sugaram o leite que devia alimentar os filhos das mesmas. Vários foram os motivos que desviaram os bebês das tetas das suas mães para os das negras. Dentre eles destacam-se: a morte no parto, a falta de leite, as doenças ou simplesmente a má vontade de alimentar o próprio filho.

A partir de 1850, começou a surgir na impren-sa anúncios que buscavam mulheres brancas como amas de leite. Isso ocorre em virtude dos debates na Europa a respeito dos cuidados com os bebês e as vantagens do aleitamento materno. Acredita-va-se que as qualidades culturais da mãe seriam transmitidas para os filhos. No Brasil de então es-sas teses passaram a ser também alvos de debate. Se para uns o leite não interferia na formação inte-lectual dos bebês para outros, as crianças alimen-tadas com leite de uma africana tornar-se-iam uns viciados na linguagem, nos costumes e hábitos dos africanos. As negras costumavam dar dengos aos bebês e muitos filhos de senhores criaram-se no colo de suas bás negras rodeados de mimos. O fato

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é que alimentados ou não com leite das negras o convívio e a penetração do vocabulário dos escra-vos já fazia parte da linguagem brasileira.

No que se refere às escravas da casa havia a possibilidade de que após amamentar e cuidar dos rebentos de seu senhor ela fosse alforriada. Ou talvez o próprio sinhozinho ou sinhazinha o fizes-se quando alcançasse idade adulta. De certa forma elas esperavam algum benefício, mesmo que não fosse a sonhada liberdade ao menos um tratamen-to diferenciado dos demais escravos. O que nem sempre ocorriam, muitas foram as mucamas e bás que morreram no cativeiro ou foram vendidas ou até mesmo castigadas por seus donos por defender ou alcovitar “seus meninos.” A aproximação de es-cravas com a casa grande e seus senhores muitas vezes e em vários momentos históricos resultaram em filhos bastardos que viveram à margem da vida de seu pai, e mais muitos nem sabiam que tinha em seu dono cruel o pai ou avó.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil Império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Companhia das letras, 2010, p. 12 – 93.

Nessa parte do livro o autor trata de forma eficiente os costumes da sociedade brasileira nos oitocentos.

SANTANA, Ajanayr Michelly Sobral. Entre Bailes e Batuques: a Corte afrancesada de D. Pedro II. Disponível em: < http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/ST%2006%20-%20Ajanayr%20Mi-chelly%20Sobral%20Santana%20TC.PDF>. Acesso em: 09 de maio de 2011.

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Nesse artigo a autora faz uma análise excepcional das contradições que marcaram o Período Imperial no Brasil na corte de D. Pedro II. Mostra também as representações entre o público e o privado.

PARA REFLETIR

Após a leitura a respeito de costumes da sociedade oitocentista reflita sobre alguns costumes da época a exemplo das festas. Por parte de nossa sociedade há o cuidado em preservar as nossas tradições? Há alguma semelhança entre aquelas festas e as atu-ais? O que mudou? Discuta com seus colegas suas conclusões.

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4.2. Representações acerca da morte no Período Monárquico

A morte no período do Brasil Imperial é uma das principais preocupações dos brasileiros sem distinção de sexo, cor ou posição social. Questões sobre o mundo dos mortos e dos espíritos perme-avam o imaginário daquela sociedade. O fato de estar vivo já era motivo para que se pensasse a maneira como esperar e receber a morte. Para es-ses momentos foram criados ritos que iam desde a preparação para sua chegada até o local da sepul-tura. A realização dos rituais além de criar símbolos dinamizava as devoções e a economia do período.

No início do século XIX, a morte era vista não somente como o fim do corpo, mas também como uma passagem na qual o espírito seguia para outro mundo. E para que a viagem fosse realizada de forma tranquila e que o morto chegasse a um bom lugar na eternidade, as cerimônias fúnebres eram encomendadas seguindo ritos voltados para o bem estar do mesmo. Na tradição católica, do além morte, acontecia somente nos casos em que a alma fosse parar no inferno (REIS, 2010, p. 103). E para que isso não acontecesse se podia até ne-gociar com os vivos enquanto a alma ainda estava no purgatório. E conforme negociações e arrependi-mentos dos pecados cometidos havia mudança do mesmo para o paraíso celeste. Assim, o purgatório funcionava como uma região de passagem a qual permitia a relação entre vivos e mortos

Como então acontecia a relação entre mortos e vivos?

Segundo relatos de viajantes era comum na-quele período ouvir casos de mortos que aparecia aos vivos pedindo-lhes orações, velas ou cruzes. E até mesmo as almas que pediam ajuda para se

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livrar de bens deixados na terra. As pessoas que morriam de forma violenta ou sem nenhum pre-paro, eram as que mais precisavam dos vivos. Por isso, sempre que alguém passava por uma cruz a beira de uma estrada ou em terra profana43 deveria rezar para aquela alma. A cada oração deveria ser colocada uma pedra aos pés da cruz. Quanto mais pedras mais chances de salvação o morto teria.

Para evitar o inferno depois da morte, os ricos tomavam uma série de cuidados. Muitos chegavam a organizar de forma criteriosa a sua morte. A velhi-ce era a fase da vida caracterizada pela preparação para a morte, isso ocorria por meio de rezas do Ro-sário à noite e pela elaboração de missas. Todos esses cuidados eram para que a pessoa não fosse pego de surpresa nos últimos atos entre os vivos. A partir dessa ideia, a morte prematura na qual não houve os ritos de preparação era vista como uma desventura. E trazia sofrimento para a alma do mor-to e a consciência dos entes queridos vivos.

O medo da morte contribuía com a susten-tação da Igreja no Ocidente. O receio de ir para o inferno ou para o purgatório, onde cumpria pena, fazia com que vivos procurassem os padres para aconselhamentos e celebrações de ritos. A prepa-ração para uma “boa morte” era então amparada pelos rituais católicos que buscavam a salvação da alma dos seus fiéis. Na hora da morte a devo-ção com os santos também ajudava na salvação da alma e muitos daquela época acreditavam que o seu santo daria um aviso quando o momento chegasse. Assim poderia chamar o padre e reunir a família. Essa era uma crença popular, reforçada quando por coincidência alguém afirmava que mor-reria tal dia e a morte acontecia.

Muitas pessoas organizavam a sua morte de forma oral na presença da família, do padre e

43 Locais não indicados para sepulturas como: pastos, fl orestas ou beira de estrada.

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de amigos. Nesses momentos era feita a partilha de bens, determinava-se todo o ritual “festivo” da morte, mas outros escreviam seus testamentos ou ditavam para alguém. As determinações iam desde a partilha dos bens materiais, até a organização do próprio funeral e também dos pedidos de inter-ferência de forças celestiais. Os documentos tes-tamentários às vezes eram escritos com bastante antecedência e nomeava santos como advogados no Tribunal Divino. Era indicado o tipo de missa e a quantidade considerada suficientes para abreviar a estadia no purgatório.

O vivo também expressava sua escolha do tipo de mortalha e caixão, quantidade de padres, pobres e músicos que deveria seguir o cerimonial e cortejo do enterro. Por fim era determinado o local da sepultura. Os testamentos nos oitocen-tos também eram usados para instruções de pa-gamentos de dívidas. Afinal o morto não podia levar para o outro mundo nenhuma pendência de sua vida terrena. Os credores podiam ser humanos ou sobrenaturais. No primeiro caso era determina-do para a família como resolver a pendência. No segundo era estabelecido o valor destinado para missas, doações para conventos ou igrejas de pre-ferência do santo protetor que ajudou a pessoa quando ainda era viva.

O pagamento de dívidas dos mortos con-tribuiu para manutenção construção de igrejas e conventos. Construção essas que beneficiou o po-der da Igreja no território brasileiro nos diferentes momentos de sua história. No ideário da época era muito perigoso morrer devendo promessas aos santos, pois eles poderiam não intervir em favor do morto na hora do julgamento da alma no juízo final. O que poderia levá-la para as profundezas do inferno (REIS, 2010, p. 102).

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O momento da morte era também apropria-do para a reparação moral. Fazer justiça aos que continuavam na terra era limpar-se dos pecados e enfrentar a justiça divina. Por isso era comum nos testamentos tentativas de corrigir os pecados da carne. Um dos mais comuns era o reconhecimento de filhos resultantes de relações ilícitas, especial-mente com escravas. Muitos foram os filhos bastar-dos de senhores que tiveram seus nomes incluídos na partilha de bens como herdeiros legítimos. Vá-rios também foram os escravos citados nos docu-mentos testamentários. Nesse caso a herança era sempre casas pequenas, bens materiais. Dessa for-ma tentava-se o perdão e a garantia do bem estar após a morte.

Diante de todas as questões relacionadas a morte no período em estudo é necessário que tra-temos um pouco a respeito do momento da morte e das celebrações para o defunto antes do sepul-tamento. Naquele contexto, a morte não devia ser solitária, privada.

No momento final era aconselhável que o doente estivesse em sua casa, em sua cama, rode-ado por familiares, amigos e o padre que fizesse a recomendação de sua alma. Isso ocorria após ouvir sua confissão, dar a extrema-unção e rezar a Deus o perdão dos pecados do moribundo. O ritual con-tava ainda com a presença das rezadeiras e a luz das velas44, importantes para que a passagem não fosse feita nas trevas. Segundo Reis (2010, p. 108):

Essa proteção humana que cercava a hora da morte em nossa antiga cultura funerária era fruto de uma sociedade pouco individualista, em que a vida e a morte privadas ain-da não haviam sido reduzidas

44 Ainda se faz presente em algumas regiões do Brasil atual, resquícios da cultura fúnebre dos séculos XIX, especialmente no meio rural.

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ao pequeno mundo da família nuclear tipicamente burguesa.[...] Quando a morte chegava, muitos ritos domésticos eram imediatamente executados com o corpo do morto ou em torno dele, objetivando afastar os es-píritos malignos e garantir uma partida tranquila do defunto.

A morte de bebês era naquela sociedade um fato corriqueiro e mais de 20% dos recém-nas-cidos morriam antes de completar um aninho. Ha-via na época a crença na transformação de crianças em anjinhos. Essa idéia contribuía para o consolo dos pais perante a dor da perda do filhinho que-rido. Os pais deveriam encarar a perda como uma bênção do céu e não chorar. A inocência da criança os conduzia diretamente para Deus. Para o sepul-tamento dos filhinhos as mães eram responsáveis pelas roupas parecidas com os anjos celestes, as flores brancas e em algumas regiões o ritual era acompanhado com música, comida e bebida uma festa na qual se dançava para o anjinho. (VENÂN-CIO, 2000, p. 208).

Como era realizado o funeral de um filho de

escravo?

Nos rituais fúnebres dos escravos existiam algumas diferenças dos brancos, dependendo dos costumes dos pais. Foram registrados funerais de bebês negros cujas roupas eram de tecido florido e a pessoa que carregava o corpo dançava e rodo-piava, girando sobre os pés45. Esses gestos escan-dalizavam as autoridades católicas que as conside-ravam uma deturpação dos ensinamentos cristãos. Como vimos acima os brancos também dançavam nos cortejos dos sepultamentos. A repulsa estava

45 Esse gesto ainda é comum nos fune-rais dos iniciados no candomblé.

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relacionada ao preconceito com a cultura e religião dos negros.

Vale ressaltar que os velórios e cortejos fú-nebres no Brasil do século XIX, especialmente na primeira metade, tinham a participação de muitos convidados. A capacidade de mobilizar muita gen-te estava relacionada ao prestígio do morto e de sua família. Naquele momento se fazia presente não somente amigos, mas também desconhecidos, pois quanto mais pessoas rezando mais chance o defunto tinha de salvação. Nesse momento as fa-mílias mais abastadas distribuíam cartas convites convocando amigos e autoridades para abrilhantar o funeral de seus entes queridos. Essas mensagens fúnebres, a partir da segunda metade do século, também passaram a ser noticiadas nos jornais ou em convites impressos.

O cortejo fúnebre deixava a residência do morto sempre ao pôr do sol, o fim do dia repre-sentava naquele momento o fim da vida terrena. Os que acompanhavam essas cerimônias a faziam como obrigação de fé, ou até mesmo por passa-tempo e momento de reencontro entre amigos. Nos funerais mais pomposos cada participante recebia uma vela, especialmente nas décadas de 1840 e 1850, quando a vela era considerada ponto de hon-ra. Já do ponto de vista ritualístico a queima dela contribuía para abrir o caminho do morto nas tre-vas da morte. As velas que não eram totalmente queimadas passavam a ter outra função, iluminar a vida dos vivos (REIS, 2010, p. 18).

A presença de padres nos cortejos fúnebres era considerada de suma importância. Nas primei-ras décadas do século XIX eram comuns testamen-tos que pediam até cem sacerdotes para o funeral. Em vários casos, o morto fazia parte de irmandades religiosas, o que garantia a presença dos irmãos e

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membros da mesma. Era comum também nesses funerais pomposos a presença de mendigos, po-bres e carpideiras46. A música também era bastante presente no momento dos funerais, músicos eram contratados, para os sepultamentos mais modestos tinha música apenas na igreja já os mais abasta-dos contavam com muitos músicos durante todo o trajeto, o som dos instrumentos misturava-se aos da reza, e o repicar dos sinos. Afinal os funerais da época objetivavam impressionar os vivos, mas tam-bém pressionar os diagnósticos celestiais a receber bem o morto (REIS, 2010, p. 109).

Como acontecia o funeral dos negros?

O velório do negro de posses também era realizado com pompas. Eles também atraiam mul-tidões das quais faziam parte acrobatas, músicos, danças, foguetórios, tudo em ritmo de festa. Os cortejos dos negros pobres libertos, ou não, eram geralmente organizados pelas irmandades as quais fazia parte o morto. Havia uma grande mobiliza-ção para o momento, eram levadas as bandeiras, cruzes, velas, além do esquife47 coletivo da asso-ciação. Na composição dos membros da irmanda-de existiam os que se dedicavam a divulgação da morte dos irmãos. E eram estabelecidas regras de punição para os associados que não compareces-sem aos funerais dos irmãos.

A garantia da presença dos irmãos nos fune-rais era um dos motivos de filiações as irmandades, pois na cultura da época, era muito ruim para o morto a pouca presença de pessoas no momento final de sua vida, mas nem todas as mortes eram prestigiadas por muitas pessoas. Independente-mente da cor ou posição social as vítimas de assas-sinatos ou suicídios não tinham em seus funerais

46 Mulheres que geralmente eram contratadas para anunciar as mortes e chorar nos velórios.

47 Referente a caixão onde era carregado o corpo nesse caso do mem-bro da irmandade.

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grande quantidade de indivíduos. O fato era atri-buído a falta de preparação para a morte, ou seja, o arrependimento dos pecados cometidos durante a vida.

Onde eram enterrados os mortos?

A igreja era o local preferido para os sepulta-mentos. A proximidade física entre o cadáver e as imagens de santos e anjos representava o início da aproximação entre a alma e os seres celestiais. A igreja representava então o portal do paraíso. Mas, não era somente nas igrejas que aconteciam os sepultamentos, geralmente pobres, escravos e mendigos eram colocados nos cemitérios das casas de caridades. Os protestantes por sua vez tinham seus próprios cemitérios. A partir de 1830, a socie-dade médica do Rio de Janeiro passou a criticar os enterramentos nas igrejas e os centros urbanos, aconselhava a construção de cemitérios no campo para evitar epidemias.

Cortejo de sepultamento de Negros no século XIX

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INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

SANTANA, Ajanayr Michelly Sobral. Entre Bailes e Batuques: a Corte afrancesada de D. Pedro II. Disponível em: < http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/ST%2006%20-%20Ajanayr%20Mi-chelly%20Sobral%20Santana%20TC.PDF>. Acesso em: 09 de maio de 2011.

O texto mostra toda as questões relacionadas à morte nos século XIX. Traça o perfil dos sepulta-mentos e todos os rituais mortuários realizados nos sepultamentos da época. Discute também a importância da religião no momento final do vivo.

VENÂNCIO, Renato Pinto. Maternidade Negada. In DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000, p. 189 – 222.

Neste artigo o autor mostra toda a problemática do abandono de pobres e o papel das casas de Caridade. Trata também do sepultamento de crian-ças abandonadas no cemitério das referidas insti-tuições de auxílio aos desamparados. Mostra tam-bém os índices de mortalidade dos abandonados e as críticas médicas ao abandono de bebês pelas famílias.

PARA REFLETIR

Após a leitura do conteúdo a respeito da morte e seus rituais no século XIX, faça uma reflexão sobre

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rituais da morte e dos sepultamentos em nossa so-ciedade atual. Quais as mudanças e permanências? Existem diferenças entre o sepultamento dos cató-licos e dos não católicos? Discuta suas conclusões com seus colegas.

4.3. Dos olhares aos altares: namoro e casamen-to no Brasil Imperial

Conhecer um pouco sobre o amor no Período Imperial no Brasil é uma proposta interessante e no mínimo curiosa. É importante que esse sentimento seja tratado dentro do cotidiano vivido pela socie-dade brasileira no século XIX, afinal nem só de eco-nomia e política viviam os habitantes do novo país.

Caro aluno para alguns estudiosos falar do amor na História é algo não muito prático. Todavia, esse tema e outros relacionados aos costumes e cultu-ra vêm conquistando espaços na historiografia e nos mostra que é de suma importância conhecer como nossos antepassados se comportavam em questões relacionadas ao amor e a sexualidade. Acreditamos que estudar os contextos históricos sem conhecer como se relacionavam intimamente suas sociedades, é negar parte de sua história. Diante dessa conclusão pretendemos contribuir para que você, caro aluno, conheça um pouco do panorama a respeito das ques-tões referentes às práticas, aos modos, aos ideais e ao imaginário amoroso nos oitocentos.

Ao estudarmos uma sociedade em determi-nados períodos devemos ter clareza quanto as he-ranças culturais que a mesma carrega de outros tempos. E a sociedade imperial no Brasil de certo carrega tradições e costumes de períodos passados e desenvolve outros a seu próprio momento.

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O contato com textos autobiográficos possi-bilita ao historiador atual análises a respeito da vida privada das mulheres. Esses escritos soma-dos aos de “lugares do íntimo” (cartas, agendas e memórias) (ALBUQUERQUE, 2005, p. 31) têm se constituído em importante fonte de pesquisa para o conhecimento e testemunhos de determinados períodos históricos. É a partir deles que podemos constatar os sentimentos mais íntimos das mulhe-res, especialmente das que buscavam neles o refú-gio para aplacar a solidão, a saudade de amores, muitas vezes não correspondido. Também era nos seus escritos que elas assinalavam seus momen-tos alegres e felizes, ou seja, para várias mulheres esses “lugares do íntimo” eram os depositários de seus segredos e sentimentos.

As janelas eram vistas pelos pais mais zelo-sos como um lugar suspeito e perigoso. Essa visão fazia com que muitas jovens fossem vigiadas ou até mesmo proibidas de se por às janelas com fre-quência ou nelas se debruçarem. Para os genitores, as janelas de fronte para as ruas deveriam ser as menos visitadas por suas filhas. Por isso eram sem-pre recomendadas a se manterem no interior da residência ou nas que davam para os fundos onde geralmente se localizavam os pomares ou outras instalações domésticas.

O século XIX, especialmente, a primeira meta-de, foi um período no qual o Romantismo marcou a Literatura Brasileira. O amor dos romances retrata ideias sobre as relações entre homens e mulheres. O discurso amoroso dos romancistas era recheado de metáforas religiosas nas quais a mulher amada era comparada a um ser celestial. Nesses livros lia-se sobre o sofrimento e as paixões que sangravam os corações das donzelas cheias de pudor que substituí-am as palavras por olhares que as faziam enrubescer.

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A realidade de grande parte das mulheres es-tava distante das heroínas retratadas nos roman-ces, a maioria delas no cotidiano não representava grande preocupação com as vestimentas nem com a instrução, abrigavam-se nas varandas de suas ca-sas fora dos rumores da rua. O recinto do lar era para aquela sociedade patriarcal o local mais ade-quado para que as moças ficassem separadas dos rapazes. Mas era também do interior das moradias que as jovens observavam as moças que passavam na rua. Essas observações eram favorecidas pela arquitetura da época, pois as várias janelas que circundavam as casas, especialmente as de famí-lias mais abastadas, serviam de observatórios. As janelas eram “as mediadoras de olhares, recados murmurados, de rápidas declarações de amor, do som das serenatas. Ela era o meio de comunicação entre a casa e a rua” (DEL PRIORE, 2005, p.16).

As moças por sua vez preferiam as janelas fronteiriças com a rua, pois era delas que podiam observar os acontecimentos externos, especialmente o tráfego de rapazes. Muitas delas recebiam flores, bilhetinhos com versos, pequenos presentes e bei-jos distantes gesticulados, que as faziam enrubescer. Aqueles mais ousados quando tinha oportunidade se aproximava chegando a tocar e até roubar um beijo. Esses momentos eram sempre favorecidos por terceiros, pessoas que vigiavam sinalizando o mo-mento da aproximação ou do afastamento do casal. Nessa tarefa participavam amigas, moleques de re-cado, amas ou damas de companhia e até irmãs ou tias alcoviteiras. Muitos foram os amores aceitos ou proibidos que surgiram a partir dos olhares da janela e muitas foram as jovens castigadas por serem fla-gradas nela namorando.

Vale ressaltar que a janela não foi o único es-paço que facilitou os olhares e namoros de jovens

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da época. A igreja foi talvez o local onde mais os namoros acontecessem. Você deve estar surpreso e imaginando como isso acontecia? Lembre-se que a religião tinha grande influência sobre a cultura e os costumes daquela sociedade. E o evento social mais importante era a missa dominical. O momento da celebração era o melhor para o namoro. Isso ocorria porque era naquele lugar e momento que as famílias se reuniam. Algumas mais crentes ou-tras mais displicentes com os atos religiosos, mas sempre presentes.

A timidez e o acanhamento das jovens desa-pareciam na hora que iam para a igreja. Isso ocorria por que:

Nela, conversava-se com os jovens na frente de seus pais e os olhares trocados estabe-leciam verdadeiros códigos secretos [...] a igreja era o te-atro de todas as aventuras amorosas na fase mais arden-te: a inicial. Só aí as mulheres aproximavam-se e cochichavam algumas palavras com seus in-terlocutores. A religião encobria tudo. O mínimo gesto bastava para ser compreendido, e en-quanto se fazia devotamente o sinal da cruz pronunciava--se no tom da mais fervorosa prece, a declaração de amor (DEL PRIORE, 2005, p. 123).

Ao término da missa quando todos se retira-

vam do recinto era chegado o momento dos men-sageiros. Caso a dama aceitasse os sentimentos demonstrados através dos olhares e suspiros, era enviada a mensagem com a determinação dos da-dos sobre o possível encontro. Esse momento nem sempre era realizado, devido as imposições dos

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pais que sempre estavam atentos as saídas das jo-vens. Mas sempre existiam os mais displicentes ou as moças mais espertas que, com ajuda de alguém de sua confiança conseguia encontrar-se com seu amado as escondidas.

É importante citar que os rituais amorosos tinham início no percurso das famílias para igreja. Os pais andavam sempre a frente seguido da prole, iam na penumbra das lamparinas carregadas geral-mente por escravos nas famílias de posses ou por eles próprios nos menos afortunados. Nesse trajeto moças e rapazes se cruzavam e os olhares já eram lançados e os toques de mão, de braços ou cabelo aconteciam. Caso os gestos fossem aceitos, o ritual continuava na missa. Assim, a igreja e a religião eram úteis ao amor. E a presença dos fiéis em sua maioria não representava o desejo de rezar e o amor a Deus, mas o desejo de encontrar o amor de uma mulher ou de um homem.

Em várias famílias a troca de olhares e os cochichos na missa entre os enamorados eram os únicos contatos. Somente após o pedido formal e o aceito pelos pais é que os jovens podiam ter uma maior aproximação. Mas, mesmo com a permissão do namoro eles trocavam apenas algumas palavras, pois estavam sempre na presença dos pais. Afinal, para aquela sociedade um casal de namorados não deveria ficar só, pois se o namoro fosse interrom-pido a moça não ficaria falada e poderia arranjar outro pretendente. O que podia não ocorrer se a moça caísse na “boca do povo”. Caso isso acon-tecesse ela estava sujeita a ficar para titia ou ser motivo de vergonha para a família. A virgindade era então a principal condição para o matrimônio.

Todos esses cuidados às vezes eram pou-cos diante da esperteza de namorados, que com o apoio de alguém se encontravam às escondidas.

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Nesses encontros acontecia o primeiro beijo, os abraços e carícias e as declarações de amor. Em alguns casos de flagrante das famílias, o enlace matrimonial era antecipado, temia-se que o “pior” acontecesse. Mas o que seria o pior? O abandono da moça pelo seu amado ou uma gravidez, eram os principais motivos dos cuidados dos pais. E não foram raros os casos de gravidez que resultaram em casamentos apressados ou em moças retiradas do convívio familiar para longe dos olhares curio-sos onde pudesse ter o filho, fruto do pecado e da vergonha da família.

Algumas dessas jovens não chegaram a criar seus filhos que eram doados a terceiros ou aban-donados nas casas de Caridade, por ordem dos pais. Assim, a moça voltaria e era reapresentada a sociedade como se tivesse retornado de uma longa viagem. Também ocorreram os abortos, esses sem-pre recebiam o auxílio de negras velhas ou índias, conhecedoras das ervas abortíferas. Nesse caso fingia-se uma doença para que a moça cumprisse o resguardo em paz sob os cuidados da mãe ou de alguém de confiança que não tornasse público o acontecido.

Caro aluno, sabemos que antes do telefone48 ou do uso dele, o meio mais comum de contato entre as pessoas era a carta e o bilhete. E foram esses escritos os responsáveis pelo início, manu-tenção e fim de vários namoros, especialmente en-tre os casais separados pela distância ou pelo amor proibido. Eram nelas que se depositavam tudo que sentiam os corações apaixonados. Por isso, os es-critos eram esperados com ansiedade e a ausência deles era sinal de tristeza e solidão.

Ao estudarmos o amor no Brasil Imperial constatamos também que os jovens procuravam outras oportunidades além da janela e da igreja

48 O primeiro telefone chegou ao Brasil na década de 1880 e pertenceu a D. Pedro II.

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para encontrar seus amores. Era nas festas que muitos romances aconteciam. As frequentes reuni-ões em residências particulares propiciavam o con-tato entre amigos e vizinhos. A juventude da época dançava e tinha naqueles momentos a oportunida-de de enlaçar uma jovem, tocar-lhe com as pontas dos dedos e sentir a distância o perfume de seus cabelos. Esse era o máximo de intimidade que os jovens teriam naqueles bailes onde a vigilância não era totalmente esquecida.

Os cuidados com as moças nas famílias po-bres eram menores. Os afazeres dos pais possi-bilitavam às mesmas saídas as ruas ou as casas de amigas com maior frequência. O contato maior com o mundo externo fazia das moças pobres e das escravas “presas” mais fáceis para os rapazes tanto para os da sua classe social, quanto para os abastados. Muitas jovens depois de enganadas fo-ram parar nas ruas tornando-se “mulheres da vida”. Apesar de a vigilância no geral ser menor, as mo-ças pobres também sofriam com as proibições da época e os arranjos matrimoniais, muitas foram às ricas ou pobres que foram ao altar sem ao menos ter trocado carícias com seu futuro marido.

Os casamentos arranjados, os cuidados e vigi-lância dos pais contribuíam para que muitos jovens em noite de núpcias se sentissem constrangidos dian-te de suas parceiras. Elas além do constrangimento sentiram o peso da responsabilidade de ter que agra-dar a quem seria a partir daquele momento o “dono” de sua vida. O papel da mulher era ser uma boa espo-sa, mãe e dona de casa e sua missão iniciava naquela noite entre as quatro paredes. O rapaz, em vários casos, ainda muito jovem teria que comprovar sua masculinidade e caso a consumação do casamento não acontecesse seria alvo de gozações e vergonha, não só para ele mais para toda família.

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Vários foram os rapazes que pela falta de experiência sexual foram alvos de chacotas de ami-gos. Como também várias moças foram acusadas de enganar o noivo e sua família por seu marido acusá-la de não ser mais virgem, fato vergonhoso que resultava em alguns casos na devolução dela para seus pais. Assim, a noite de núpcias em vários casos era “o rude momento da iniciação feminina por um marido que só conhecia a sexualidade ve-nal” (DEL PRIORE, 2005, p. 77). Muitas foram as núpcias terminadas em lágrimas e decepções. Mas tristes ou não o casal continuava unido e cada um cumpria o seu papel na sociedade.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiro. Me-mórias de Dona Sinhá. Aracaju: Scartecci Editora, 2005.

Nesse livro, o autor faz uma análise dos escritos autobiográficos e mostra através do diário de uma mulher sergipana o modo como vivia as filhas das elites sergipanas. Através das anotações de seu co-tidiano o autor nos possibilita o conhecimento de vários acontecimentos do Período Imperial. E como as jovens se comunicavam.

DEL PRIORE, Mary. Meteorologia das práticas amo-rosas. In História do amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005, p. 119–227.

Nessa parte do livro a autora trata das questões relacionadas ao amor. As relações amorosas os ca-samentos a sexualidade são tratados dentro da-quele contexto de forma eficiente e possibilita não

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só uma leitura agradável, mas riquíssima em dados do contexto Imperial no Brasil.

PARA REFLETIR

Você conheceu um pouco a respeito de como os casais se relacionavam no século XIX. E pode re-fletir como os casais se relacionam nesse início de século XXI? Será que a liberdade sexual de hoje contribuiu com o amor de fato? Discuta suas con-clusões com seus colegas.

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4.4. Educação no Império

A Constituição brasileira de 1824, em seu ar-tigo 179 estabelecia a instrução primária e gratuita para todos os cidadãos brasileiros, mas será que todos teriam de fato acesso a escola? A lei excluía do ensino público, o escravo. Esses mesmos nas-cidos no Brasil e filhos também de pais brasileiros não eram considerados cidadãos. Apesar de eles serem grande parte da população brasileira, na-quele momento não ocupariam o espaço reservado apenas para as pessoas livres.

Os poucos recursos destinados a educação e a escassez de escolas ou criação de aulas foi desde o início do Brasil Imperial um dos entraves para o aprimoramento da instrução pública no novo país americano. Em 1827, um projeto do liberal Januário da Cunha Barbosa (1780-1846), defende um sistema nacional de educação escolar formado por: escolas elementares (pedagógicas), secundárias (liceus e ginásios) e superiores (Academia). O referido do-cumento passou por uma série de emendas e fi-nalmente quando foi aprovado em 15 de outubro de 1827, na parte referente as escolas elementares manteve o modelo de aulas avulsas públicas de primeiras letras, de origem pombalina (HILSDORF, 2005. p. 44).

Apesar de manter o antigo modelo, o docu-mento apresentou uma inovação na instrução públi-ca, as aulas podiam ser frequentadas por meninas. Em geral, no Brasil da época, não havia grande pre-ocupação pela instrução feminina, mesmo os que frequentavam aulas particulares, isto é, as filhas da elite não chegavam a aprofundar os estudos, pois aos treze ou quatorze anos já era considerada pelos pais pronta para casar. Assim, se dedicavam mais as práticas domésticas cuidavam de se prepa-

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rar para o papel atribuído a ela pela sociedade: o de boa esposa, mãe e dona de casa. A implantação de aulas públicas para o sexo feminino foi então naquele momento algo novo e moderno, visto que, antes somente as filhas de pessoas de posses ou algumas raras exceções eram instruídas.

Para instruir as filhas era comum as pessoas de posses contratarem professoras que atendiam na residência das famílias. Essas professoras eram encar-regadas de ensinar além da leitura e escrita, etiqueta e coisas de utilidade para o cotidiano das futuras do-nas de casa. Também havia escolas femininas espe-cialmente a partir da segunda metade do século nas quais as moças estudavam em regime de internatos. Lá elas aprendiam o necessário para desempenhar o papel a ela destinado naquela sociedade.

É considerada também uma tentativa de ino-vação, a implantação do Método Lancaster49 ou do ensino mútuo para organizar as aulas de primei-ras letras, especialmente, das que apresentavam maiores contingentes de alunos. Esse método era utilizado em países de governos tidos como liberal a exemplo de França e Inglaterra. Isso comprova a consonância do Brasil com o que era feito fora dele. Nesse método os alunos mais adiantados eram trei-nados para monitorar um grupo de dez alunos sob a vigilância de um inspetor. A intenção era que o ensino e aprendizado fossem realizados de forma progressiva. De modo que, a instrução dos brasilei-ros melhorasse e consequentemente sua civilidade, sem que houvesse gastos com professores.

A implantação do método lancasteriano no Brasil em 1827 não significa que se rompeu com o método individual tradicional na instrução brasilei-ra. Estudos comprovam que as aulas eram dadas tanto no método lancasteriano quanto nos tradicio-nais. Havia o receio de que os novos métodos não

49 Método lancas-teriano utilizado pelo francês Joseph Lancaster (1778-1838) utilizava a oralização a escrita em caixas de areia os silabários utilizados para o aprendizado em grupo, isso diminuía as despesas com outros materiais didáticos, a exemplo de livros que seriam utilizados apenas pelos alunos mais adiantados HILSDO-RE. 2003, p. 44.

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obtivessem bons resultados quando colocados em práticas em sala de aula.

A Lei de 1827 instala também as Academias de Direito de São Paulo e de Olinda50. Essas instituições de ensino vão formar durante décadas a classe se-nhorial daquela sociedade que vai manter o regime Imperial no Brasil. É delas que vai sair a maioria da elite intelectual oitocentista, homens que vão ocupar cargos políticos e administrativos na esfera estatal brasileira. Formar um filho, afilhado ou mesmo um protegido em Direito representava não somente sta-tus, mas a possibilidade de garantia financeira.

No que se refere à instrução secundária no primeiro Reinado, pode-se dizer que permaneceu praticamente inalterado o sistema das aulas régias, herdadas do período colonial. Nesse modelo também chamado de aulas avulsas, as aulas eram autônomas e isoladas, não havia articulação entre uma e outra. Também existiam os seminários e colégios particula-res muitos deles dirigidos por religiosos e encarrega-dos de preparar os rapazes para ingresso nos cursos superiores tanto no Brasil como na Europa, para onde iam alguns dos filhos das elites brasileiras.

Outra lei que ofereceu as bases da legislação educacional no Império foi o Ato Adicional de 12 de agosto de 1834. Ela instituiu medidas descentraliza-doras referentes à Instrução pública. A partir dela, ficou determinado que as províncias coubessem os encargos relativos à instrução primária e secundária. Tal medida acarretou uma série de problemas para as províncias que não dispunha de recursos para assumirem tamanha responsabilidade. Todavia, essa imposição representou também a possibilidade de poder local de organizar seus sistemas de ensino.

A instrução pública provincial passa então a ter regulamento próprio. No entanto, as Escolas de Primeiras Letras funcionavam em espaços ge-

50 A Faculdade de Direito de Olinda foi transferida para Recife em 1854.

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ralmente precários e separados por sexo. A preca-riedade delas iam desde a falta de bancos até o despreparo da maioria dos professores. As escolas principalmente as do interior geralmente funciona-vam na casa dos professores, onde o ensino con-corria com os afazeres domésticos. Nesses locais a frequência as aulas eram baixas, especialmente nas épocas de plantio e colheita, quando os pais usufruíam do trabalho dos filhos. As constantes faltas dos alunos também estavam relacionadas à concepção que alguns pais tinham em relação à instrução, principalmente das meninas.

A instrução feminina era vista com algumas res-trições, pois havia, no imaginário popular, o receio de que a mulher letrada escapasse ao tradicional man-donismo masculino. Além do mais quando na vila ou povoação só havia condições de criar somente uma escola de primeiras letras, esta é destinada a meninos. Apesar de todas as questões que dificultava a presença do sexo feminino nas escolas públicas, paulatinamente as mulheres foram sendo conduzidas a esses espaços.

Na Lei de 1834 houve a divisão nas obriga-ções relacionadas á instrução Publica. Ao partilhar as responsabilidades na instrução dos brasileiros, o Estado almejava equiparar o país as nações civi-lizadas. A divisão das competências foi feita entre Assembléia Legislativa Geral, Assembléia Legislati-va Provincial. Mas como foi feita essa partilha?

Deixando a cargo das Assem-bléias Provinciais o ensino de pri-meiras e os cursos de formação de professores, e sob o controle da Assembléia Geral e dos minis-tros do Império, o ensino supe-rior em geral e as aulas da própria capital do país; e, promovendo em relação ao secundário uma pseudades centralização, isto é,

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entregando aparentemente as províncias, mas de fato, para controlar a procura pelos cursos superiores, mantendo o poder central (HILSDORF, 2005, p. 47)

Para manter esse controle o poder central criou apenas um estabelecimento de ensino secundário o Colégio Pedro II (1837), no Rio e Janeiro e impossi-bilitou que os liceus e ginásios públicos ou privados descem acesso direto aos cursos superiores, obrigando assim aos alunos que fossem ingressar na Academia fazer exames no Colégio Pedro II. Com isso o ensino secundário passou a preparar de forma rápida e avulsa alunos que iam realizar exames no Colégio da Corte.

O modelo de ensino conservador manteve-se até a década de 1860, quando os liberais influencia-dos pelos modelos norte-americano e inglês retoma-ram os ideais de liberdade do século anterior. A educa-ção no Império passa então a ser vista por eles como atrasada e carente de reformas seguindo exemplos modernos. Assim, a partir da década de 1870, o cam-po educacional brasileiro tornou-se alvo de debates e polêmicas que discutiam iniciativas a serem tomadas para modernizar a escolarização daquela sociedade.

Vale ressaltar que a instrução nas províncias, passava por constantes problemas relacionados a efetivação de suas reformas. As constantes trocas de presidentes faziam com que os regulamentos do ensino decretados pelos anteriores fossem modifi-cados ou eliminados. Isso gerava oscilações não só na Lei provincial, mas também na prática esco-lar. Escolas eram abertas e fechadas, diretores de instrução pública eram substituídos sem esquecer também dos acordos políticos e apadrinhamentos que imperavam em todas as províncias.

Para atender melhor o ensino primário foram criadas escolas para preparar professoras. As chama-

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das Escolas Normais tornaram-se no decorrer do Perí-odo Imperial indispensáveis para a manutenção desse grau de ensino. A primeira delas foi criada em Niterói (1835), seguida pela da Bahia (1836). Na década de 1870 elas já haviam se configurado por todo país. E era local onde as moças aprendiam a arte de ensinar os rudimentos da instrução aos infantos brasileiros.

O aumento da frequência nas Escolas Normais femininas era decorrente dos discursos que apontavam a necessidade da educação para a mulher. Os discur-sos apontavam-nos como responsável pela moderni-zação da sociedade, pois o magistério representava a extensão da maternidade. Esses posicionamentos legi-timavam a presença das mulheres no ensino primário e deram origem à feminilização do magistério.

No cotidiano escolar os alunos estavam sem-pre em contato com a falta de matérias e os cas-tigos e regras impostos pela professora e pelos costumes da sociedade. Nas escolas interioranas era comum os professores residirem no mesmo es-paço. Na casa-escola, dedicava-se o cômodo prin-cipal para as aulas, isso colocava o aluno sempre em contato com os problemas domésticos de seus mestres. Essa prática passou a ser alvo de críticas tanto dos diretores quanto dos pais. Apesar de cri-ticadas as aulas na casa dos professores se fizeram presentes até o Brasil Republicano, especialmente, no interior das províncias.

Na década de 1870, os debates e discursos em prol da modernização, cientificidade e higienização influenciaram uma série de mudanças na instrução pública. Uma das tentativas de aprimorar o ensino brasileiro foi a Reforma do ministro do Império Leôn-cio de Carvalho de 19 de abril de 1879. Uma das me-didas dessa Lei foi oficialização da co-educação dos sexos no mesmo espaço escolar. Como vimos, as es-colas da época eram separadas por sexo, implantar

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esse núcleo pedagógico representava romper com o conservadorismo daquela sociedade.

A mistura de meninos e meninas na mesma sala de aula foi motivo de vários debates em todo Brasil. Havia escolas que recebia meninos em horá-rios distintos das meninas, isso impedia o contato entre ambos. Essa separação era defendida pelos pais que acreditavam estar zelando suas filhas.

A responsabilidade das professoras que regiam as aulas mistas era ainda maior do que as que con-duziam as aulas separadas por sexo. Cabia a elas a vigilância nas saídas das aulas, nas brincadeiras, nas conversas, na maneira de sentar e até mesmo nos ges-tos das crianças. A professora era encarregada também de retirar da sala de aula qualquer menino que mani-festasse comportamento nocivo, que afrontasse a mo-ralidade do sexo feminino (ANDRADE, 2007).

O receio de pais e professores em relação à promiscuidade no espaço escolar dizia respeito à diferença que existia na educação de meninos e meninas. Eles estavam habituados a circular com maior liberdade nas ruas das cidades, nos vilare-jos e demais espaços. Já as meninas recebiam uma educação voltada para o recato, o pudor, a discri-ção e a domesticidade. E, portanto, essa aproxima-ção deveria ser mantida em constante vigilância.

Apesar de o modelo misto ser criticado ele foi paulatinamente sendo implantado especialmente no interior das províncias51 onde os laços de parentes-cos eram mais intensos. As escolas mistas passaram a ser defendidas pelos administradores por repre-sentar uma grande economia para os cofres públi-cos. Afinal, uma única atenderia aos dois sexos.

As duas últimas décadas do Período Imperial foram marcadas por várias tentativas de moderni-zação do ensino. Muitas medidas só se consagra-ram no Período Republicano.

51 Em Sergipe as escolas mistas foram implantadas em1877, para meninos até a idade de oito anos e nos locais onde as au-toridades e os pais permitissem, todavia antes já havia notí-cias da presença de meninos em escolas femininas.

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INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

ANDRADE, Elia Barbosa. A educação feminina nos discursos dos presidentes da província de Sergipe. Disponível em: <http://www.faced.ufu.br/cabubhe06/anais/arquivos/107EliaBarbosaAdrade.pdf>. Acesso em: 12 de maio de 2011.

Nesse artigo, a autora faz uma análise dos discur-sos dos homens públicos em Sergipe. Mostra tam-bém o contexto da educação sergipana a partir do Ato Adicional de 1834, até as últimas décadas do Império quando o campo educacional dava sinais de mudanças.

MARULINO, Eduardo. Escola Primária de meninas e a educação da mulher no Brasil, em meados do século XIX. In Revista Viva. Disponível em: <http://historianovet.blogspot.com/2009/10/escola-prima-ria-de-meninas-e-educação.html> Acessado em 15 de maio de 2011.

Nesse artigo, o autor trata das questões relaciona-das a educação feminina nas últimas décadas do Império quando a instrução pública tomava novos rumos.

PARA REFLETIR

Caro aluno depois de estudar algumas questões re-lacionadas ao ensino no Brasil Imperial reflita a res-peito dos problemas relacionados á educação no

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seu município. Como estão as escolas e o ensino? Há preocupação por parte dos administradores em modernizar e promover um ensino de qualidade? Discuta suas reflexões com seus colegas.

RESUMO

Neste tema você entrou em contato com alguns cos-tumes e hábitos que faziam parte do cotidiano dos brasileiros no período do Império. Foram mostradas as representações acerca da morte e como as pes-soas eram tratadas nesse momento. Vimos que ha-via toda uma preparação para que o vivo não fosse pego de surpresa, ou seja, sem que fosse perdoado, assim ele não teria que voltar para fazer pedidos aos vivos. Também foi tratada a preparação dos fu-nerais que em alguns casos tornavam-se momentos de grande concentração de pessoas o que dava um caráter festivo ao ato de sepultamento.

Também foram tratadas algumas questões re-lacionadas ao amor e ao casamento. Vimos que as jovens eram submetidas ao autoritarismo dos pais, que na maioria das vezes arranjavam seus maridos. Mostramos que a Igreja e a religião eram utilizadas como intermediária dos contatos e en-contros relacionados a paquera e ao amor. Por fim mostramos as tentativas de mudanças que visavam implementar a educação e melhorar ao instrução dos brasileiros.

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