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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia Mestrado Integrado em Arquitectura 2014/2015 História da Arquitectura Portuguesa I 4º TD1 Mosteiro dos Jerónimos Discentes: José Edmir gonçalves de Faria Docente: Arq. Patrícia Santos Pedrosa

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia

Mestrado Integrado em Arquitectura 2014/2015

História da Arquitectura Portuguesa I 4º TD1

Mosteiro dos Jerónimos

Discentes: José Edmir gonçalves de Faria Docente: Arq. Patrícia Santos Pedrosa

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Índice

Introdução ........................................................................................................................ 3

1. Enquadramento Histórico ............................................................................................ 4

2. Mosteiro dos Jerónimos ............................................................................................... 8

2.1. O Restelo e Belém antes do Mosteiro ................................................................... 8

2.2. As fases de construção do Mosteiro ................................................................... 10

2.3. Organização funcional ......................................................................................... 14

2.4. O Portal principal ................................................................................................. 18

2.5. O Portal Sul .......................................................................................................... 19

3. Concepção geométrica e formal das abóbadas nervuradas ...................................... 21

Conclusão........................................................................................................................ 22

Bibliografia ...................................................................................................................... 23

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Introdução

O presente trabalho é sobre o Mosteiro dos Jerónimos, primeiramente fala-se sobre o

estilo arquitectónico em que o mesmo se enquadra, fazendo um enquadramento geral

deste estilo na Europa e o surgimento em Portugal, posteriormente desenvolve-se a

história do mosteiro, abordando sobre os motivos que levaram a sua construção e vida

após sua concepção, arquitectos participantes nas diferentes fases de construção,

datas marcantes para o mosteiro, e no final do trabalho falar-se-á das principais

características e detalhes que o mosteiro possui representadas em imagens e ou

desenhos.

O trabalho é composto por textos tendo como fontes livros e páginas virtuais (sites)

assim como algumas imagens, as imagens cujas referências do autor não forem

citadas, são elas de minha autoria. Composto por dois principais capítulos, será feita

uma pequena introdução e conclusão de cada para uma melhor interpretação do

trabalho.

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1. Enquadramento Histórico

Será abordado neste capítulo o surgimento do Estilo

Manuelino na Europa e em Portugal enquanto o

reinado de D. Manuel I (1469-1521). Falar-se-á

ainda dos diferentes construtores (portugueses e

estrangeiros) que chegaram a estender este estilo

de arquitectura, retratando as transformações que

o mesmo trouxe, e o exemplo de cidades que

conservaram esta arquitectura até os dias de hoje.

O estilo Manuelino ou Gótico tardio surge e

desenvolve-se em Portugal finais do século XV e

inicio do XVI, principalmente enquanto o reinado de

D. Manuel I [Fig.1], do qual originou-se o nome.

O Manuelino é resultado da junção de diferentes

estilos, bebe da continuidade da arte quatrocentista introduzida nas correntes do

Gótico,tem influências inglesas, incorpora ainda tipologias do norte da Europa e

mediterrânicas, também do plateresco espanhol e o ordenato mudéjar. De 1490 a

1530 podemos notar variadas soluções a nível de plantas. Já a volumetria manteu

como palavra ordem a simplicidade, com um ritmo quebrado pela união de corpos. A

decoração ornamental é numerosa e exuberante, contendo essencialmente nos seus

desenhos motivos naturalistas, a simbologia dos descobrimentos, a heráldica régia,

etc, parece querer ultrapassar-se apresentando um hiper-realismo deslumbrante. O

Manuelino é uma arte muito carregada. (Stocker, 2008)

Fig. 1 – D. Manuel I no seu reinado.

(DIAMOND, 2013)

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A maneira de construir no princípio do século XVI em Portugal não era diferente do de

outras áreas pela Europa, tanto nessas regiões como em Portugal as estruturas do final

do Gótico perduraram. Com bases neste tipo de construção, permitiu-se a quase

unificação dos espaços, a iluminação para dentro dos edifícios aumentou através da

abertura dos vãos e da unidade das abóbadas, aparecendo nelas novas nervuras de

traçado curvo. Pela Europa apareciam vários exemplos de uma ornamentação

excessiva baseada na natureza. O final do Gótico teve um impacto diferente por cada

zona da Europa, por cada uma delas viver realidades e ou ter características próprias.

Em países como a Inglaterra e a França presenciou-se o trajecto e ritmos das correntes

que vinham de trás sem se notarem grandes variações. Em Ducado da Borgonha e

Coroa de Castelo aumentaram-se as construções com o tempo, quer da acção dos

grandes senhores, como também dos grupos profissionais, este último caso ocorrendo

em especial na Flandres e Países Baixos. (Dias, 2002, pp. 24-25)

Nesta época assistiu-se o reviver de formas decorativas islâmicas principalmente da

região da Andaluzia. Os Mouros já eram um povo que dedicava-se à carpintaria, à

olaria e trabalhos em gesso naquela altura, mas a tendência do Ornato Mudéjar

corresponde a uma moda usada pelo reino de Castela, de forma particular ao circuito

da corte, local este que Portugal importou e passou a implementar em obras nas

regiões de Sintra e Évora. (Dias, 2002, p. 25)

D. Manuel I tal como seus antecessores, era conhecido como Rei de Portugal e dos

Algarves de Aquém e Além-mar, encarnou um projecto político imperial, baseando-se

na imagem de César da Antiguidade Clássica, de expandir o seu território pelo mundo

fora, assim como a verdadeira fé. Tinha como objectivos conquistar vastos territórios,

tal como fez Augusto ou mesmo ultrapassá-lo, passado a ser conhecido mais tarde por

Senhor da Guiné, do comércio, das conquistas, das navegações, da Arábia, Pérsia e

Índia. (Dias, 2002, p. 22)

Manuel I via-se como braço activo e um expansionista da Roma Cristã, pelo poder que

tinha ou julgava ter, precisava de alguma maneira tornar este poder visível, o mesmo

só podia ser notado se fosse exercido ou representado; A arquitectura e a arte

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tornaram-se a melhor representação de um poder que vai perdurar anos e anos. (Dias,

2002, pp. 22-23)

A época de D. Afonso V (1432-1481) e D. João II (1455-1495) não foram tão produtivas

no ramo da arquitectura civil e religiosa, isto no território europeu, ao contrário

destes, D. Manuel I mesmo antes do seu reinado já mostrava interesse nas empresas

de arte. Após ter tomado o poder, Manuel I começou uma data de obras quer de

reconstrução e acrescentamento, quer de raiz para marcar a sua majestade, e pelos

motivos ditos no parágrafo anterior. Portugal carecia de mão-de-obra especializada,

Manuel contratou construtores estrangeiros da Flandres, de França, de Castela e da

Alemanha que se incorporaram nas campanhas, estas dirigidas por espanhóis e

portugueses. Dos participantes portugueses podemos destacar Francisco Arruda (14??-

1547) e Diogo Arruda (14??-1531), autores da Torre de Belém e da Casa do Título

Capítulo do Convento de Cristo; Destaca-se ainda Mateus Fernandes, pai e filho,

responsáveis pelo Estaleiro Batalhino; Dos construtores estrangeiros, destacam-se o

francês Boytac (1460-1527), fez parte na Batalha em Jerónimos e em Coimbra; de

forma particular destaca-se o espanhol Juan del Castillo (1470-1552), que concluiu as

obras de Belém e Tomar, por introduzir o modelo moderno de arquitectura adoptando

técnicas da renascença e a pô-la nas obras mais importantes de D. João III. (Dias, 2002,

pp. 25-27)

Com esta junção de diferentes construtores e outros preceitos já citados, pode dizer-se

que nasce este(a) estilo/arquitectura conhecido como Manuelino, que foi transportada

muito para além da Europa. Regiões como madeira e as Vilas das Ilhas dos Açores

foram construídas várias Capelas, Igrejas, Câmaras, Hospitais, Fortalezas, Palácios e

Misericórdias à maneira deste Portugal Continental. (Dias, 2002, p. 27)

Actualmente o Manuelino conserva-se em Açores na Matriz da Praia da Vitória, na

Matriz de Ponta Delgada, na Matriz de São Sebastião de Terceira e muito mais. A

Arquitectura Manuelina chegou a espalhar-se também por África, em Marrocos, por

exemplo, os construtores manuelinos deixaram fortalezas que em nada diferem das do

reino português, tal como em Ceuta, Tânger, Azamor, Arzila, Safi, etc. Em cidades dos

portugueses na Índia foi onde o manuelino mais evoluiu, em Goa é visível o grandioso

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trabalho de arte do Portal da Igreja do Convento de São Francisco [Fig.2]. As igrejas de

Chaúl e Baçaim contendo abóbadas nervuradas e também a capela do baluarte da Ilha

de Moçambique [Fig.3] são consideradas no mínimo trinta ou quarenta à frente do seu

tempo. (Dias, 2002, pp. 27-28)

Este capítulo é importante, pois nele consta as razões que levaram o surgimento do

Manuelino, seus impulsionadores, os elementos de inspiração para a concretização

desta arte, sua expansão, e as cidades que ainda conservam este estilo.

Fig.3 – Capela Nossa Senhora do Baluarte, Moçambique, século XVI. (Kristensen, 2007)

Fig. 2 – Convento de São Francisco, portal da Igreja, Goa, século XV. (Dias, 2002, p. 28)

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2. Mosteiro dos Jerónimos

2.1. O Restelo e Belém antes do Mosteiro

Neste capítulo será abordado sobre o local de implantação do mosteiro, os principais

motivos que levaram a construção do mesmo, suas diferentes fases de construção ao

longo do tempo, será feita ainda a análise espacial do mosteiro tal como sua técnica de

construção.

Restelo é resultado de uma zona propícia do Tejo em que haviam embarcações de

navios, local apropriado e seguro para a ancoragem de navios que pretendiam seguir

viagem. A aldeia localiza-se onde agora é a margem direita da Rua de Belém. O Tejo

banhava a aldeia, entre ela e o local depois surgiu a Capela do Restelo, havia um curso

de água, a Ribeira dos Pocinhos, descia por onde actualmente é a Rua dos Jerónimos. A

origem do nome Restelo é desconhecida, mas julga-se que teve raízes Mouras, pois

apesar de aquela terra pertencer ao património real, era habitada e agricultada na sua

maior parte por gente moura. (Alves, 1989, pp. 10-11)

Em 1295, data de referência explícita da aldeia de Restelo, pois nesta data dá-se um

incidente naval relatando a entrada de um grande número de navios de guerra

castelhanos tomando posse de navios portugueses carregados de mercadorias. Em

defesa o Almirante de Portugal Micer Pessagno (1280-?) alcançou a frota Castelhana e

saiu-se vitorioso capturando as forças inimigas e pertences portugueses. Este

parágrafo relata a importância logística e estratégica que o Restelo possuía. As

referências do Restelo como porto de refúgio e comércio eram grandiosas. (Alves,

1989, p. 11)

O Restelo teve grande importância como porto de mar na expedição naval em 1415 à

conquista de Ceuta. Após a conquista de Ceuta as actividades do porto eram cada vez

maiores, as armadas tinham sucesso ao percorrer as costas de África, mais tarde a

Índia. O movimento pelo porto aumentava consideravelmente, porém as dificuldades

também agravavam-se. Pequenas embarcações chegavam a permanecer várias

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semanas no porto, à espera de melhorias do tempo, a escassez de água tanto do povo

da terra como do mar foi um facto que também lá se vivenciou, doenças, mortes; A

cidade cresceu de tal maneira que as estruturas que lá se encontravam não

conseguiam corresponder as necessidades dos habitantes. Os locais de cultos mais

próximos ficavam longe, carecia na aldeia fiéis católicos e sacerdotes que pudessem

prestar serviços de sacramento e missa caso fosse necessário. D. Henrique (1394-1460)

governador da Ordem da Cavalaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Cristo e

Coordenador máximo dos empreendimentos marítimos portugueses viu-se obrigado a

intervir, e perante tal situação, ordenou a construção de uma igreja, Santa Maria de

Belém, mesmo já existindo naquele lugar uma Capela; Ordenou também a construção

de um chafariz estabelecendo algumas condições para o uso do mesmo, construiu

casas anexadas ao presbitério e terrenos grandes que serviram de hortas e pomares

que permitiram a sustentabilidade da instituição. (Alves, 1989, pp. 11-16)

Durante o século XV na Igreja de Santa Maria de Belém, continuavam a ser feitas

procissões para expedições marítimas portuguesas, fez-se ali vigílias para Nicolau

Coelho (1460-1504), Vasco da Gama (1468/69-1524), Paulo da Gama (1465-1499),

muitos outros navegantes antes das expedições para a Índia, houve ainda nesta

mesma igreja uma missa para Cabral (1467/68-1520) antes de partir para a descoberta

oficial do Brasil em 1500. Nesta altura a Igreja já tinha sofrido grandes modificações

canónicas, pois já não era usada para esse fim, passou a ser sede de uma comunidade

monástica da Ordem de S. Jerónimo, dando nascimento ao brilhante Mosteiro de

Santa Maria de Belém [Fig.4]. (Alves, 1989, p. 18)

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Fig.4 – Fachada longitudinal da Igreja e Mosteiro de Santa Maria de Belém. (Haupt, 1903)

2.2. As fases de construção do Mosteiro

Após 46 anos da morte de D. Henrique, é dada a autorização papal a D. Manuel I (rei

no poder) no ano de 1496 de fundar o mosteiro da Ordem de S. Jerónimo. Em 1500

começa a instalação canónica do Mosteiro como instituição monástica, obedecendo a

uma razão clara e metódica. Em 1502 faz-se o lançamento da primeira pedra. Segundo

cronistas, a área que se estipulava construir o mosteiro seria quatro vezes maior do

que foi edificado, o mosteiro contaria com quatro claustros de diferentes tamanhos e

funções e quatro dormitórios, foram construídos apenas um de cada elemento

referido. Atribui-se hoje direitos de autoria à Boytac pela traça do mosteiro. A função

que D. Manuel adoptaria para o mosteiro era totalmente diferente da visão que D.

Henrique tinha em mente, Manuel tinha como objectivo criar um lugar de oração

pública e solene. O dinheiro para o financiamento das obras do mosteiro era retirado

das receitas resultantes das expedições à Índia e África num total de 5% de todo o

dinheiro feito por lá, com isso Manuel tinha o necessário para levar a obra adiante.

Nesta primeira fase da construção do mosteiro cuja direcção é atribuída a Boytac que

vai até fins de 1516, estavam feitas as seguintes obras: o alpendre no piso térreo,

extenso corpo de 193*10 m, a poente da igreja, com 27 arcos; a capela-mor primitiva;

a galeria por cima do alpendre, com destino a passagem para um palácio projectado

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real a poente; as paredes da igreja estavam erguidas; as janelas e cimalhas achavam-se

lavradas e prontas a assentar; existiriam já as pilastras octógonas na nave,

transformadas posteriormente em pilares decorativos por Castillo; o campanário-

torre; os arcos do cruzeiro; as primitivas capelas dos topos de transepto; o claustro,

estavam já construídos os quatro lanços térreos cobertos de abóbada de cruzaria; os

lanços abertos para o terreiro por quatro arcos, subdivididos em dois e cada um

subdividido em outros dois. Sendo assim se daria por concluída a obra de Boytac.

(Alves, 1989, pp. 19-26)

A Segunda fase é dirigida por Castillo. Em 1516 D. Manuel repensou o plano de obras,

e em Janeiro de 1517 começam as empreitadas. Estima-se 250 oficias trabalhando com

Castillo, entre eles franceses, espanhóis e portugueses. Sob a empreitada de Castillo

conclui-se o corpo da igreja; foi concluída a sacristia, o portal sul ou lateral, o portal

poente ou axial, e o refeitório. D. Manuel morre no ano de 1521. (Alves, 1989, pp. 26-

29)

Fig.5 – Mosteiro dos Jerónimos, construção correspondente ao século XVI. (DECCN@utas, s.d.)

No terceiro período da construção do mosteiro, D. João III (1502-1557) rei sucessor ao

D. Manuel I não se interessando por uma obra que não era de sua autoria, concentra-

se nas para o Convento de Cristo em Tomar. Mais tarde Diogo de Torralva (1500-1566)

como empreiteiro das obras no mosteiro, isso entre os anos de 1540 e 1551; realizou-

se o arranjo da capela-mor onde foi colocada a sepultura de D. Manuel; concluiu o

claustro principal; desenhou e passou a execução o cadeiral do coro-alto em 1550;

Construiu o vestíbulo entre a porta axial e as arcadas; o antecoro; a portaria e as

escadas primitivas. No quarto período de construção, as empreitadas ficam a cargo de

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Jerónimo Ruão (1530-1601), fixa residência no ano de 1563 como mestre de obras do

mosteiro, onde viveu até seus últimos dias. Das obras feitas por Ruão citam-se: a

actual capela-mor, inaugurada em 1572; o arranjo interno dos extremos do transepto,

concluídos posteriormente segundo seu desenho; O jardim do claustro; a varanda com

fonte, na extremidade poente das arcadas do dormitório; o pátio à esquerda da

portaria; e as galerias do pequeno claustro jónico. Finais do século XVI foram feitas

ainda pequenas obras e arranjos para o enriquecimento artístico no mosteiro. Em

1755 o mosteiro sobrevive ao terramoto, posteriormente em 1756 chega a cair uma

coluna do corpo da igreja [Fig.7] que apoiava à abóbada das naves com outro tremor

de terra; sofre um incêndio na parte dos armazéns em 1684. O mosteiro passa por

várias situações ao longo dos anos deixando-o em estado de degradação. Em 1833

passa a ser usado por alunos da casa pia, data em que deixa de existir oficialmente o

Mosteiro dos Jerónimos, mas este devido a um decreto lei que extinguiu todas as

ordens religiosas, passando o mosteiro a pertencer aos próprios da Fazenda Nacional.

(Alves, 1989, pp. 29-36)

Fig.6 – Mosteiro dos Jerónimos, construção correspondente ao século XIX. (DECCN@utas, s.d.)

Entre 1903 e 1906 são feitas obras de renovação no antigo Museu e passa a ser a nova

instalação do Museu Etnológico português. O Mosteiro dos Jerónimos em 1907 é

baptizado com o título Monumento Nacional, são realizadas mais obras no mosteiro.

Em 1940 o mosteiro é marcado pala Exposição do Mundo Português. Em 1962 são

criados anexos no corpo do edifício destinados ao Calouste Gulbenkian. Em 1983 o

mosteiro é classificado pela UNESCO como património mundial. O mosteiro vai

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sobrevivendo durante os anos sendo feitas nele obras de limpeza conservação e

restauro. (Séc. XX, s.d.)

Fig. 7 – Imagem do Mosteiro dos Jerónimos durante as obras de construção efectuadas no século XIX. (Ambiente2008,

2011)

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2.3. Organização funcional

A Planta apresenta um formato em L invertido, com volumes articulados tendo todas

as coberturas diferentes [Fig.8]. O Edifício compõe-se em duas quadras, a maior

marcada por uma arcada comprida contendo dois pisos com um corpo centralizado e

elevado, a quadra menor é constituída pela igreja, o claustro, o refeitório, a sacristia, e

a sala do capitulo. (O Mosteiro Dos Jerónimos)

Fig. 8 – Planta geral do Mosteiro dos Jerónimos. (Ambiente2008, 2011)

A Igreja salão apresenta uma planta longitudinal em cruz latina [Fig.9], composta por

três naves, todas elas a mesma altura e reunidas numa única abóbada assente em seis

pilares com bases circulares [Fig.10], encontram-se na igreja os túmulos de Vasco da

Gama (1468 - 1524) [Fig.11], Luis de Camões (1524-1580) [Fig.12], obras do escultor

Costa Mota (1862-1930). A Capela-mor coberta de uma abóbada de berço de caixotões

de mármore, na lateral se encontram os túmulos de D. Manuel I, sua esposa D. Maria,

D. João III e D. Catarina, apoiados por elefantes de mármore [Fig.13]. O Claustro

destinava-se ao isolamento dos monges e local de meditação/oração [Fig.14]; entre a

parede sul do claustro e o muro norte da igreja corre uma escadaria abobadada, que

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os liga o transepto, com o primeiro piso do claustro ao coro-alto e ao piso superior. O

refeitório, paralelo à ala oeste do claustro no primeiro piso, com 37/9, contém uma

única abobada [Fig.15]. A Sala do Capitulo, situa-se à nascente em relação ao claustro,

compartimento rectangular, sofreu uma reconstrução em 1884 a mando de Manuel

Valadas para naquele lugar se instalar o túmulo de Alexandre Herculano (1810-1877)

[Fig.16]. Sacristia situa-se no prolongamento norte do transepto, com abóbada

suportada por colunas jónicas, contendo nele o arcaz em madeira considerado melhor

mobiliário português do século XVI [Fig.17]. O Confessionário contém 12 portas, duas

delas encontram-se inacessíveis devido à capela do Senhor dos Passos que a encoberta

[Fig.18]. (O Mosteiro Dos Jerónimos)

Fig. 9 – Planta funcional do Mosteiro dos Jerónimos, construção correspondente ao século XVI. (DECCN@utas, s.d.)

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Fig. 14- Claustro, vista do nterior do mosteiro, 2014.

Fig. 10- Vista dos seis pilares de base circular, 2014.

Fig. 11- Túmulo de Vasco da Gama. (Gaspar, 2008)

Fig. 12- Túmulo de Luis de camões. (Cruz, 2008)

Fig. 13- Capela-mor. (Cruz, 2008)

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Fig. 15- Refeitório do Mosteiro, revestido por silhar de azulejos, 2014.

Fig. 16- Sala do Capitulo, no interior o túmulo de Alexandre Herculano. (Cruz, 2008)

Fig. 17- Sacristia do mosteiro com a decoração em arcaz de madeira, 2014.

Fig. 18- Portas do confessionário, 2014.

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2.4. O Portal principal

Porta principal do mosteiro do ponto

de vista teológico e arquitectónico,

orientado a nascente, porta fronteira

ao Altar-Mor. Na parte de cima

[Fig.19] do portal encontram-se três

nichos que acolhem conjuntos de

estátuas representando o

nascimento de Cristo, a sua

anunciação, o nascimento e adoração

dos Magos.

Fig. 20 - Portal principal do mosteiro. (Vieira, 2012)

À direita [Fig.21] encontramos a estátua de D. Manuel I e São Jerónimo (seu santo

patrono), à esquerda [Fig.22] tem a estátua de sua segunda mulher rainha D. Maria

acompanha da de São João Baptista. (Vieira, 2012)

Fig. 19- Os três nichos representando o nascimento de Cristo. (Vieira, 2012)

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2.5. O Portal Sul

Apesar da sua grande dimensão e riqueza ornamental não é a porta principal do

mosteiro. Encontra-se na fachada sul tendo de vasto comprimento, virada para o Tejo,

é mais pública e vistosa. O tema principal e central do portal envolve o arco de volta

inteira, cinzelado e com esculturas de meio-relevo apoiadas na estrutura côncava do

mesmo. O portal [Fig.23] é composto por vários ornamentos e esculturas icográficas,

tendo como estruturantes as seguintes: Nossa Senhora dos Reis ou Santa Maria de

Belém aparece como figura central, sob sua protecção foi construído o mosteiro, numa

das mãos Nossa Senhora segura o menino Jesus, e noutra a oferta dada pelos magos;

Temos ainda a figura de D. Henrique (o infante) representado como guerreiro,

escultura posta no pilar central que divide as duas portas, o pilar apoia-se em dois

leões (símbolos de São Jerónimo); No timpano por cima de cada porta encontramos

imagens retratando cenas da vida de São jerónimo, padroeiro da ordem a quem foi

doado o mosteiro; E na parte superior a escultura do Arcanjo São Miguel, anjo

protector e defensor da igreja católica. (Alves, 1989, pp. 50-59)

Fig. 21- D. Manuel e São Jerónimo. (Vieira, 2012)

Fig. 22- D. Maria e São João Baptista. (Vieira, 2012)

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Fig. 23 – Esquema iconográafico do portal sul. (Alves, 1989, p. 57)

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3. Concepção geométrica e formal das abóbadas nervuradas

A seguinte análise parte de um estudo

geométrico e formal das abóbadas típicas

manuelinas concepcionadas por Juan Del

Castillo no mosteiro, nomeadamente as

abóbadas da capela norte, das naves da igreja,

e do claustro. A capela norte é definida por

duas diagonais e terceletes que formam um

octógono central com chaves de igual altura

confinado num quadrado de 9 metros, tendo

as nervuras com a mesma curvatura[Fig.24]. A

abóbada da igreja não contém arcos que

fazem ligação directa entre os pilares, há um

triângulo no topo que é definido por liernes e

um na base por terceletes. A abóbada de

berço é constituida por um octógono central

ao longo do eixo longitudinal, e ao longo do

eixo transversal por losangos conforme

imagem[Fig.25]. A abóbada do primeiro piso

do claustro é constituida por tramos tendo

uma planta rectangular de 6,78*6,15, os

tramos são unificados à maneira das

abóbadas inglesas seguindo a sua

horizontalidade [Fig.26]. (Genin & Jonge,

2009)

Este capítulo ajudou-nos a compreender os factores que levaram o surgimento do

Mosteiro dos Jerónimos, também conhecido como Mosteiro de Santa Maria de Belém,

desde o tempo do surgimento da cidade de Restelo até os motivos que levaram a sua

construção, passamos a conhecer a diferentes épocas em que o museu foi construído,

tal como os mestres participantes na sua concepção, etc.

Fig. 24 - Análise geométrica e formal da capela lateral norte da igreja

dos Jerónimos. (Genin & Jonge, 2009, p. 886)

Fig. 25 - Análise geométrica e formal da nave da igreja dos

Jerónimos. (Genin & Jonge, 2009, p. 889)

Fig. 26 - Análise Geométrica e formal de um tramo da abóbada do

claustro do mosteiro dos Jerónimos. (Genin & Jonge, 2009, p. 883)

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Conclusão

O Mosteiro dos Jerónimos afirma-se no panorama nacional e mundial como o

expoente máximo do estilo manuelino e da arquitectura monumental portuguesa, não

só pela sua dimensão e estrutura, mas também pelo o seu acabamento e

ornamentação, sendo o marco de um período da história da arquitectura, das artes e

da própria sociedade portuguesa. Contribui para a vida Lisboeta e portuguesa em

geral, não só como objecto histórico e artístico, mas também como uma importante

fonte de receitas financeiras, e chamariz para o sector turístico do país. No que tange a

sua localização, e devido a sua dimensão, é o principal objecto de ordenamento do

território que o circunda, definindo as linhas mestras do espaço ao redor, tendo

inclusive sido o objecto por onde os arquitectos que projectaram o Centro Cultural

Belém, tiveram o seu ponto de partida, e definição da materialidade.

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Bibliografia

Alves, J. (1989). O Mosteiro Dos Jerónimos I: descrição e evocação. Lisboa: Livros

Horizonte.

Ambiente2008. (25 de Jul. de 2011). Mosteiro dos Jerónimos - Lisboa. Acesso em 10 de

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