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COMISSÃO CIENTÍFICA Jaime Reis José Amado Mendes Miguel Figueira de Faria Pedro Lains COORDENAÇÃO Miguel Figueira de Faria José Amado Mendes DICIONÁRIO DE HISTÓRIA EMPRESARIAL PORTUGUESA Séculos XIX e XX VOLUME I INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

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COMISSÃO CIENTÍFICAJaime Reis José Amado MendesMiguel Figueira de Faria Pedro Lains

COORDENAÇÃO

Miguel Figueira de Faria José Amado Mendes

DICIONÁRIODE HISTÓRIAEMPRESARIALPORTUGUESASéculos XIX e XX

VOLUME I

INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

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Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 7

ÍNDICE GERAL

Índice das Instituições Bancárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Apresentação, de Miguel Figueira de Faria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Introdução, de Jaime Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Colaboradores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Entradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Instituições Bancárias e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo sem entrada realizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 635

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Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 19

INTRODUÇÃO

JAIME REIS

O presente volume compendia uma enorme massa de informação relativa às

instituições de crédito em atividade no território nacional desde os primórdios

do moderno sistema financeiro português até à atualidade. Não sendo exausti-

vo, pois tal seria evidentemente impossível, reúne e organiza, no entanto, tudo

o que se conseguiu saber de relevante sobre as mesmas. Nalguns casos — os

daquelas que tiveram uma longa, bem documentada e eventualmente aciden-

tada vida — as entradas são extensas e desenvolvidas. Noutros, em que a infor-

mação escasseou ou a existência foi efémera, elas são mais curtas e sintéticas.

Em todas elas, porém, procurou-se, esperançosamente, desenhar um retrato

tão completo e informativo quanto possível desta miríade de bancos comer-

ciais, de investimento ou de crédito predial, assim como de casas bancárias,

companhias de crédito, caixas económicas e de crédito agrícola, que habitaram

o País entre os princípios do século XIX e os do século XXI. Sem falsa modéstia,

poder-se-á dizer que este é um instrumento imprescindível para todos os que

pretendam estudar, ou simplesmente conhecer, esta dimensão fundamental

do nosso passado económico.

Esta introdução destina-se a tornar a leitura destas páginas tão proveitosa e

agradável quanto possível. Procura fazê-lo fornecendo, em traços muito largos,

um enquadramento de história bancária portuguesa adequado a este propósito.

Este será resumido, a fim de a sua consulta não se tornar demasiado pesada, nem

acabar por se substituir à matéria das entradas. Ao mesmo tempo, pro curará

tornar mais compreensível o teor das histórias individuais que aqui se juntam,

proporcionando ao leitor uma visão geral da evolução deste sector, assim como

uma definição das principais fases históricas que este atravessou, fundada em

princípios analíticos. São diversos os critérios que se poderiam utilizar para

fazer esta periodização. Se nenhum é satisfatório isoladamente, tão pouco as

suas combinatórias agradarão a todos. Assim, optou-se por uma narrativa inin-

terrupta, sem segmentos claramente diferenciados, mas em que se chama a

atenção para as viragens mais marcantes no longo percurso percorrido pelo sis-

tema bancário português nestes duzentos anos. Nisto, atendemos aos aspectos

políticos e institucionais, não descurámos evidentemente os económicos e finan-

ceiros, e prestámos atenção aos aspectos empresariais, que são cruciais quando

se estuda qualquer conjunto de empresas. Deste modo, emergiram, embora

mesclando-se também entre si, as seguintes épocas: dos inícios até à década de

1860; desde a década de 1860 até 1925; de 1925 até 1974; e de 1974 até à atualidade.

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INTRODUÇÃO

20 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

Formalmente, o sistema bancário português teve início em 1821, com a

constituição do Banco de Lisboa. Tratava-se de uma sociedade por ações, com

o avultado capital social de 5000 contos de réis. Embora fortemente protegido

pelo governo e a coroa, era pertença de um grupo alargado de acionistas, prin-

cipalmente oriundos da praça de Lisboa, a quem competia escolher os corpos

gerentes da empresa. Gozava de vários privilégios pouco vulgares para aquele

tempo, entre os quais o de emitir notas convertíveis em moeda de ouro ou

prata, que seriam sempre aceites pelo Estado em pagamento de obrigações

fiscais. À semelhança do que acontecia noutros países europeus, uma das suas

principais incumbências era contribuir para sanear o sistema monetário, de

há algum tempo abalado por políticas de emissão excessiva de papel moeda

requeridas pelo esforço de guerra em que as nações se viram envolvidas no

fim do século XVIII e início do seguinte. Para o conseguir, esperava-se que

adquirisse esses bilhetes inconvertíveis, através do mercado, e os amortizasse

em seguida, uma operação que se tornou mais demorada do que o previsto,

uma vez que o «denominado papel-moeda» apenas desapareceu da circulação

durante os anos 1850.

Durante o quarto de século seguinte à sua fundação, foi fraca a concor-

rência de outros bancos que o de Lisboa teve de enfrentar. Apenas um — o

Banco Comercial do Porto (1835) — se apresentou na cena financeira do País

pouco depois da implantação do Liberalismo, com um capital bastante exíguo

e sem constituir ameaça para o seu antecessor, cujas operações se concentra-

vam na capital, não obstante a existência no Porto de uma sua filial. No decur-

so destes anos, o Banco de Lisboa não diferiu dos seus congéneres de outros

países quanto à sua principal vocação, a de fazer empréstimos aos governos

da época, em geral a braços com dificuldades financeiras de natureza mais

ou menos grave. Motivava-o não só o retorno atraente que esta dívida gerava

e a segurança de que gozava o crédito feito ao Estado. Igualmente importante

era a dificuldade em resistir às exigências duma entidade que lhe concedera

privilégios excecionais aquando da fundação, e que tinha na mão o poder de

os renovar quando se extinguisse o contrato ao abrigo do qual fora constituí-

do. Em conformidade, observa-se que a maior parte das atividades de crédito

a particulares passava ao lado do Banco de Lisboa, que por sua vez retirava

dessa atividade apenas 10 % a 30 % dos seus lucros, sendo o restante o resul-

tado de dívidas do Estado.

Com a exceção de uma breve suspensão de pagamentos em 1827-1828, o

Banco de Lisboa atravessou as primeiras duas décadas da sua vida sem atribu-

lações de maior. Conseguiu mesmo resultados bastante satisfatórios. Apesar

de ter tido de conviver durante estes anos com uma guerra civil, constantes

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 21

perturbações políticas e uma grande fragilidade nas finanças públicas, o que

naturalmente afetava o seu negócio bancário, conseguiu quintuplicar os seus

lucros brutos e multiplicar por três o seu ativo total entre 1823 e 1845. Em

contraste, em 1846, teve de enfrentar uma gravíssima crise de origem política

e financeira, à qual não foi também indiferente um excessivo e imprudente

aumento dos seus créditos sobre o Estado. O resultado foi ter de se fundir com

a Companhia Confiança Nacional, um grupo económico também ele demasia-

damente comprometido com o financiamento da dívida pública, vindo assim a

constituir-se nesse ano o Banco de Portugal. Com privilégios muito parecidos

com os do seu antecessor, incluindo o do monopólio da emissão de notas con-

vertíveis, a nova entidade teria a enorme capitalização de 8000 contos de réis.

Uma vez estabilizado, no entanto, o novo banco deixaria de trilhar o caminho

seguido pelo Banco de Lisboa, mantendo daí por diante numa escala mais

modesta as suas operações com o Estado, e afirmando decididamente a voca-

ção comercial que iria pautar a sua atuação durante as próximas décadas.

Numa economia tão pequena e pouco desenvolvida como a portuguesa,

não surpreenderá que, perante uma entidade desta dimensão e no clima de

incerteza então vivido, o sistema bancário não tenha conseguido atrair novas

instituições financeiras durante toda a década que se seguiu à crise de 1846.

Passada esta fase, porém, começaram a surgir capitais e capitalistas vocaciona-

dos para esta atividade, num crescendo ao longo das décadas de 1860 e 1870,

que só se estancaria com a crise de 1876. Com início em 1856, este autêntico

boom da banca deu azo ao aparecimento, por todo o País, embora com o seu

maior peso em Lisboa e no Porto, de várias dezenas de novos bancos cujos ati-

vos totais se traduziram por um crescimento, entre 1860 e 1875, de 650 %. Na

sua maior parte constituído por bancos puramente comerciais e de dimensão

muito variável, este conjunto incluía duas novas entidades monopolistas, uma

na prestação de crédito predial e outra no âmbito das colónias portuguesas, e

ainda oito bancos, também comerciais, mas com o direito de emissão de notas

convertíveis fora do distrito de Lisboa.

São vários os fatores que terão contribuído para este processo de expansão:

a pacificação da vida política durante a década de 1850, com a Regeneração; a

participação da economia no processo de globalização então em curso e o cres-

cimento interno daí advindo; o rápido aumento da oferta monetária; e a adesão

de Portugal ao padrão ouro (1854), todos terão ajudado a criar um ambiente

favorável a este tipo de iniciativas. Ao mesmo tempo, o saneamento das finan-

ças públicas e a crescente facilidade dos governos em aceder à poupança

nacional e internacional para se financiarem terão libertado novos recursos

financeiros. A estes viria a juntar-se o f luxo cada vez maior de remessas de

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INTRODUÇÃO

22 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

emigrantes portugueses no Brasil, sobretudo depois do fim da guerra do Para-

guai, igualmente em busca de aplicações promissoras no País.

Um terceiro condicionalismo a considerar aqui é o marco regulatório des-

ta atividade, que até 1867 era bastante dissuasor da entrada no sector. Ao abri-

go do Código Comercial (1833), de Ferreira Borges, a fundação de qualquer

sociedade anónima em Portugal exigia uma autorização legal por decreto e

um processo prévio de aprovações, que eram tudo menos fáceis de obter. Sem

que isto tenha impedido por completo que alguns bancos dotados de grandes

meios e de inf luência política se constituíssem antes daquela data — foram

ao todo nove — é difícil negar que isto tenha colocado um travão a um movi-

mento mais abrangente. Com a Lei de Sociedades Anónimas de 1867 tudo

mudou, passando-se de uma situação altamente restritiva para uma de grande

liberdade em termos da criação deste tipo de entidades, incluindo bancos. Não

surpreende, portanto, a súbita aparição de um grande número destes últimos,

promovidos por interesses, por vezes apenas com recursos fracos e pouco aces-

so ao poder político, eventualmente também menos idóneos para a atividade

bancária.

Em poucos anos o País viu-se assim dotado de uma pletora de bancos,

cerca de 60, mormente sob a forma de sociedades anónimas, e espalhados por

todo o território, para além de um número significativo de bancos privados e

de outras instituições financeiras. Embora subitamente grande, este sistema

era também frágil. Entre os bancos comerciais, muitos eram resultado de pro-

cessos especulativos, pequenos, fracamente capitalizados, inadequadamente

geridos e muitas vezes sobrecarregados de créditos de solidez questionável.

Não tardou por isso que sobre eles desabasse uma crise sistémica em 1876,

precipitada essencialmente por um choque financeiro externo, mas logo pro-

pagada pelas debilidades que os infirmavam. O governo teve de decretar uma

suspensão geral de pagamentos e o Banco de Portugal foi chamado a intervir

para preservar instituições que fossem sólidas, mas estivessem a atravessar

um período de dificuldade. Salvaram-se deste modo quatro quintos do total e,

em particular, os bancos de maior dimensão.

Não obstante o dramatismo desta perturbação, a década e meia que

mediou até à crise bancária seguinte, em 1891, foi novamente um período

de crescimento. Em contraste com o antecedente, porém, este deu-se quase

exclusivamente em termos orgânicos, sendo escassíssima a criação de novas

entidades, o que não impediu que os ativos bancários totais tivessem aumen-

tado, pela via do crescimento interno, em cerca de 50 %. De notar, também,

que, apesar de um debate público vigoroso em torno da questão da regulação

bancária, nada foi alterado no status quo em resposta às dificuldades vividas

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 23

em 1876. Manteve-se, assim, a postura oficial de grande liberdade de iniciativa

nesta matéria.

No decurso desta fase de consolidação e de amadurecimento, acabariam

por definir-se as características principais do sistema financeiro, que já tinham

começado a emergir antes de 1876. Merece a pena considerá-las aqui, tanto

mais que são elas que em grande parte determinariam, até ao fim da II Guerra

Mundial, os avatares da atividade bancária em Portugal. O primeiro aspecto

a salientar é a escassa dimensão relativa deste sector em termos comparativos

internacionais, o que fez de Portugal um dos países menos «bancarizados»

da época. Medida pelo valor per capita dos ativos financeiros totais, Portugal,

junto com a Espanha, teve sempre, até 1914, uma dimensão inferior e, nalguns

casos, muito inferior aos das restantes economias da periferia europeia (Reis,

2005) 1. O segundo tem a ver com a estrutura desigual do sistema. Neste avul-

tava um número reduzido de grandes instituições comerciais, com o Banco de

Portugal muito à frente dos restantes, e um grande conjunto de pequenos ban-

cos, muitas deles dispersos pela província, para além de algumas caixas eco-

nómicas, em geral de escala diminuta. Uma única entidade de carácter estatal

e vocacionada para a poupança, a Caixa Geral de Depósitos, excecionalmente

representava nos fins do século XIX uns 5 % dos passivos bancários totais. Uma

terceira faceta residia no facto de a esmagadora maioria destas instituições

circunscreverem as suas atividades às respetivas sedes. Ao contrário do que se

passava em muitos outros países, eram raras as que mantinham de uma for-

ma consistente uma rede de filiais, deixando assim de poder usar este instru-

mento para diversificar geograficamente o âmbito da sua ação, reduzir o risco

e alargar a sua capacidade de captação de recursos. Em 1910, a presença de

filiais de instituições financeiras por quilómetro quadrado era, em Portugal,

20 vezes menor do que nas economias periféricas da Escandinávia e 4 vezes

menor do que na Itália.

Uma tal situação propiciava alguma instabilidade e ineficiência, decor-

rendo daqui algumas consequências menos positivas. Uma delas foi uma ten-

dência quase geral para a falta de especialização funcional, traduzindo-se por

participações nos mais variados negócios que nem sempre estes bancos domi-

navam ou mesmo conheciam. Outra foi uma clara propensão para se envolver

em projetos de liquidação demorada, quando não duvidosa, o que acarretava

problemas de vulnerabilidade. Os dados de balanço dos principais bancos reve-

lam que nos anos de 1865 a 1914 os seus rácios de créditos de longo prazo para

1 Os países nesta comparação são a Noruega, a Dinamarca, a Suécia, a Itália e a Espanha.

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INTRODUÇÃO

24 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

créditos a curto prazo usualmente excediam os 100 %, em vários casos mesmo

os 200 % (Reis, 2003). Os riscos associados a esta situação eram, no entan-

to, atenuados por uma outra característica do sistema bancário português do

pré-I Guerra Mundial, nomeadamente a sua dificuldade em captar depósitos.

Os bancos ficavam, assim, a depender, para a sua atividade, principalmen-

te de capitais próprios, o que lhes conferia maior segurança e estabilidade e

os poupava ao risco de corridas de depositantes quando os negócios não iam

de feição. Fazia também com que os créditos de longo prazo fossem menos

problemáticos, visto que a liquidez de caixa, nestas condições, não seria uma

preocupação excessiva.

A despeito destes defeitos sistémicos, não se poderá dizer que, globalmente,

as primeiras cinco ou seis décadas da moderna história bancária portuguesa

se tenham saldado pelo insucesso. As estatísticas oficiais e os relatórios anuais

das instituições revelam que, fora dos momentos de crise, a maioria dava

lucros, e que na maior parte estes eram razoáveis. Duas notas dissonantes, no

entanto, chamam a atenção para a existência de alguma debilidade estrutural.

Uma delas é a fraca presença em Portugal de capital estrangeiro neste sector,

numa época em que as principais potências económicas europeias canaliza-

vam grandes somas para atividades financeiras além fronteiras. A outra é a

dificuldade persistente deste sector em atrair um volume significativo de pou-

panças internas sob a forma de depósitos, a denotar uma perceção do risco

envolvido negativa e ou que a remuneração que os bancos portugueses ofere-

ciam ficava aquém do que se podia obter em outros investimentos.

Em 1891, Portugal sofreu a sua segunda crise bancária, só que desta vez

a gravidade foi muito maior do que da primeira pela conjugação com ela de

outras crises — financeira, monetária e económica —, todas elas potenciadas

por acontecimentos internacionais adversos. No caso da crise financeira do

Estado português, avultam como causas a rápida acumulação de dívida pública

desde 1880, especialmente a amortizável externa, a instabilidade política no

País e a crise financeira internacional, precipitada pela queda da casa Barings

de Londres. Em conjunto, isto privou o governo da possibilidade de contrair

nova dívida, como costumava acontecer em tais situações, e precipitou uma

moratória parcial nos seus pagamentos e a implementação de políticas severas

de austeridade. Ao mesmo tempo, a queda rápida do câmbio brasileiro levava

à contração das remessas dos emigrantes no Brasil, ao desequilibro da balança

de pagamentos e à fuga de capitais para o estrangeiro na expectativa da depre-

ciação da moeda, o que viria inevitavelmente a ocorrer. Perante o esgotamento

das reservas metálicas do País, foi decretada em maio de 1891 a suspensão do

padrão ouro, iniciando-se, assim, um regime de curso forçado para as notas

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 25

agora emitidas em regime de monopólio pelo Banco de Portugal. Entretan-

to, vinha a descobrir-se que alguns dos principais bancos comerciais tinham

emprestado em excesso para projetos de baixa liquidez e encontravam-se for-

temente comprometidos, o que levaria à suspensão de pagamentos e ao encer-

ramento e ou à fusão de alguns deles, assim como a um pânico generalizado

dos seus depositantes.

O impacto nacional destes acontecimentos foi enorme e prolongado. Em

termos reais, o choque inicial da crise traduziu-se por um recuo de cerca de

8 % do produto interno bruto per capita, o qual só recuperou o seu nível de

antes da crise em 1897. Por causa da suspensão de pagamentos, o Estado viu-

-se excluído dos mercados externos de capitais, apenas conseguindo regressar

a eles onze anos depois e de forma muito contida, após acordo com os credores,

em 1902. A moeda portuguesa nunca mais regressaria à convertibilidade efe-

tiva em ouro, embora tivesse regressado por breve período ao padrão ouro, em

1931, tendo os portugueses doravante de se contentar com o papel moeda e

uma taxa de câmbio sujeita a variações mais ou menos intensas.

No plano do sistema bancário, em contraste com 1876, foram muitas e

importantes as mudanças sobrevindas. Na sequência da crise, o número de

bancos comerciais caiu para cerca de metade, quer por fusões com outros quer

por encerramento, e durante os anos seguintes, até 1914, quase não voltou a

crescer em termos de volume total de ativos. Na praça do Porto, onde foi par-

ticularmente sentido o impacto destes acontecimentos, pouco restou do sector

bancário de antes de 1891. Em consequência, uma parte importante das suas

operações de crédito passou a ser efetuada por casas bancárias de responsa-

bilidade ilimitada, que vieram ocupar este espaço agora deixado livre, e tam-

bém pelo Banco de Portugal, sobretudo no Porto, e com o encorajamento do

Estado, que temia um efeito recessivo se esta intervenção não tivesse lugar.

A nível nacional e apesar de ter perdido uma boa parte das suas reservas de

ouro na voragem, o Banco de Portugal acabou por sair bastante beneficiado

da evolução seguida pelo sistema bancário. Satisfez uma velha reivindicação,

que foi a de acabar com a pluralidade de emissão dos bancos no norte, ficando

assim com o monopólio nacional desta função. Por imperativo das periclitan-

tes finanças do Estado, tornou-se de novo o seu credor interno mais impor-

tante, o que fez aumentar significativamente os seus lucros anuais e a parte

destes que correspondia às operações com o Tesouro. Entretanto e em virtude

da maior vulnerabilidade de muitas instituições financeiras, foi chamado com

mais frequência e maior intensidade a dar apoio, sempre com sucesso, a estas

entidades durante as suas dificuldades cíclicas, o que lhe conferiu um grau

crescente de inf luência e prestígio institucional. Cada vez mais, o Banco de

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INTRODUÇÃO

26 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

Portugal estava a assumir informalmente as funções de banco central, ainda

que isto nunca fosse declarado publicamente.

Ao contrário do sucedido no pós-1876, desta vez a magnitude da crise

convenceu os políticos acerca da necessidade de rever o enquadramento ins-

titucional, demasiado laxista, em que tinha operado até então o sector finan-

ceiro da economia. Para além de consolidar a função emissora no Banco de

Portugal, cuja dispersão era tida como uma das causas da crise, foi criada, em

dois passos sucessivos, em 1894 e 1896, uma nova moldura regulatória. O traço

mais saliente desta consistia em reconhecer a singularidade desta atividade e

a consequente necessidade de tratar as sociedades anónimas de responsabi-

lidade limitada nela envolvidas de um modo diferente do de todas as outras

sociedades por ações. A principal preocupação era incrementar a transparên-

cia das operações dos bancos, impondo, por exemplo, uniformidade na apre-

sentação dos seus balanços e balancetes, desincentivar operações que envolves-

sem ações próprias ou de outros bancos, dificultar o acesso ao sector a novos

bancos, exigindo a autorização prévia do governo, e permitir a intervenção do

Estado na gestão de qualquer instituição financeira em que se verificassem

irregularidades ou ilegalidades 2.

Os anos da I Guerra Mundial e os imediatamente a seguir caracteriza-

ram-se por um elevado nível de turbulência política e económica em Portugal.

No segundo destes planos, são de destacar um tremendo surto inf lacionista,

com os preços a aumentar 30 vezes entre 1914 e 1924, uma brutal desvaloriza-

ção da moeda, de 7,9 para 134 escudos por libra esterlina no mesmo intervalo,

e uma sucessão de enormes deficits orçamentais que obrigaram a um aumento

de 2000 % na emissão monetária do País. Tudo isto foi acompanhado por um

clima de especulação febril nos mercados, a que não foram alheios, no rescaldo

do conflito internacional, a inf lação citada, mas também o regresso à paz e o

surto de crescimento da economia real a ela associada de cerca de 4 % ao ano

entre 1918 e 1924.

Obviamente, o sistema bancário não podia ficar imune a toda esta agita-

ção. Embora mantendo estável o número das instituições — à volta de 25 — em

apenas sete anos, este experimentou uma elevada e desusada rotação. Foram

criados 17 novos bancos (incluindo a passagem a esse estatuto de algumas

casas bancárias, que tinham responsabilidade ilimitada) e houve 16 liquida-

ções. Ao mesmo tempo, assistiu-se a um aumento astronómico no valor total

dos ativos bancários, embora, devido à inf lação, esta variação, em termos reais,

2 Valério et al. (2007, vol.1).

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 27

não fosse muito além dos 30 % para o mesmo período. Acrescia uma grande

vulnerabilidade, a qual se viu amplamente demonstrada pela eclosão das três

crises bancárias que se fizeram sentir com alguma severidade em 1920-1921,

1923 e 1925. Dois fatores em particular conduziram a esta fragilidade sistémi-

ca. Um era o facto de os bancos do pós-guerra se terem tornado, em termos

reais, mais pequenos e portanto mais sujeitos à instabilidade do que dantes.

O outro era muitos terem embarcado, a partir do fim do conflito mundial,

numa senda de alavancagem crescente que a prazo os deixou numa posição

difícil de sustentar. Nalguns casos, a esta evolução não foi alheio o acesso

demasiado fácil ao sector de dirigentes com escassa experiência financeira e

ou idoneidade para os respetivos cargos.

A primeira metade da década de 1920 deixou um legado institucional

importante para a evolução do sistema bancário português e que surgiu sob

a forma de um novo quadro regulatório para o sector em reação às crises do

imediato pós-guerra. A Lei Bancária de 1925, aprovada ainda em tempo da

República, ref letiu, por um lado, a impressão generalizada de que uma das

principais causas das crises tinha sido uma apetência excessiva por ganhos,

que era desestabilizadora e devia ser travada, e, por outro, um sentimento

«anti-plutocrático» crescente por parte da opinião pública. Esta apoiou por

isso, contra a oposição veemente dos bancos, um conjunto de medidas drásti-

cas, mas necessárias, que viriam a perdurar por várias décadas. Destas, qua-

tro merecem particular destaque. Uma foi o reconhecimento de que, sendo

o sistema bancário um determinante crucial das variáveis monetárias, a sua

monitorização deveria ser confiada ao ministério das finanças e não ao das

obras públicas, obviamente menos vocacionado para a tarefa. As directrizes

nesta matéria seriam definidas pelo governo, mas a sua implementação com-

petiria ao Banco de Portugal, um reconhecimento adicional do papel de banco

central, que se esperava cada vez mais que este viesse a assumir. A segunda

medida foi o fortalecimento da posição do Banco de Portugal em relação aos

demais, a fim de lhe conferir a necessária capacidade para os disciplinar. Isto

obteve-se restringindo as suas operações comerciais diretas junto do público e

alargando o âmbito do seu redesconto às instituições bancárias. A terceira foi

a constatação de que a intervenção direta das autoridades neste sector prevista

na legislação de 1894-1896 tinha sido insuficiente para atenuar as crises. Para

reforçá-la, aumentaram-se as penalidades por atos irregulares ou delituosos e

aumentaram-se os meios e o campo de ação deste policiamento. Por último,

impuseram-se mínimos de capital conforme os diferentes tipos de banco, que,

para ladear as dificuldades suscitadas pela vertiginosa inf lação do pós-guerra,

foram fixados em ouro.

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INTRODUÇÃO

28 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

O impacto desta legislação está ainda por averiguar em detalhe, mas tudo

leva a crer que não tenha sido inconsequente. O rácio ativos totais-capital, que

tinha vindo a subir desde 16,4 em 1920 até atingir os 28,7 em 1925, voltou em

1930 ao nível muito mais razoável de 13,6, o que revela um enorme progresso

quanto ao problema da descapitalização bancária. Outro efeito da lei foi a redu-

ção drástica de alvarás para novos bancos. Estes ficaram apenas pelos quatro

entre 1925 e 1930, um sinal claro de uma nova atitude em relação ao exercício

desta atividade, sendo de presumir que as condições da sua atribuição tenham

passado também agora a ser mais exigentes, uma vez que até 1939 nenhuma

destas entidades foi objeto de uma declaração de insolvência.

A atribulada década de 1930 deixou marcas muito menos vincadas no sis-

tema bancário português do que seria talvez de esperar e do que ocorreu efe-

tivamente pelo mundo fora. Duas circunstâncias exógenas foram importantes

para este resultado. Uma foi o desempenho relativamente positivo, apesar da

crise, da economia real. A outra foi o fraco envolvimento internacional das ins-

tituições financeiras portuguesas, o que as pôs a coberto dos piores choques

provindos da crise mundial. Ao mesmo tempo, a maior disciplina imposta

pelas autoridades encarregadas do sector impediu os exageros e sobressaltos

de outras épocas, sendo certo também que as crises bancárias dos anos 1920

tinham libertado o sistema das suas componentes mais fracas. Ao longo des-

tes dez anos, os ativos totais cresceram a uma taxa de 3,6 % ao ano em ter-

mos reais, um crescimento quase inteiramente orgânico, que implicou um

aumento significativo na escala média dos bancos portugueses, tornando-os

obviamente menos frágeis. Esta evolução foi acompanhada por um rácio ativos

totais-capital ligeiramente superior ao de 1929, mas que se manteve sempre

dentro dos limites aconselhados pela prudência. Isto e um controle mais aper-

tado explicam em boa parte que apenas cinco bancos tenham falido durante

este intervalo de tempo tão crítico, ou seja, um terço dos que tinham desapare-

cido na década anterior. É preciso reconhecer também a existência de um claro

aumento da confiança dos agentes económicos nas instituições financeiras do

País, revelada pelo rápido aumento dos depósitos totais no sistema, tornados

assim a principal fonte de aumento dos recursos financeiros da banca portu-

guesa durante esta década.

Às vésperas da II Guerra Mundial, o sistema bancário em Portugal, com

cerca de 45 bancos comerciais, era bastante diferente do que fora no final da

primeira. Grande parte das entidades que o compunham já não eram as mes-

mas, e alguns dos bancos que viriam a liderar o surto desenvolvimentista do

pós-guerra pouco ou nenhum papel desempenhavam em 1918. Em 1939, o

sector estava menos vulnerável, mais concentrado e começava a exibir traços

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 29

de uma maior especialização funcional. Estava agora também enquadrado por

duas instituições financeiras poderosas — o Banco de Portugal e a Caixa Geral

de Depósitos — com fortes ligações ao Estado e recentemente reformadas por

este no sentido de garantir a estabilidade financeira e cambial e contribuir,

ao mesmo tempo, para o desenvolvimento económico do País. Não obstante,

muitas das características ancestrais perduravam. Havia ainda demasiados

bancos, e muitos deles eram pequenos demais e de base provincial. Conti-

nuavam a faltar bancos comerciais que tivessem um escopo verdadeiramente

«nacional». Segundo alguns analistas, uma regulação apertada impunha uma

rigidez excessiva e custosa em termos de eficiência e de capacidade de apoio à

expansão da economia (Wallich, 1951).

A guerra e os anos que se lhe seguiram no imediato foram conturbados,

mas a partir do fim da década de 1940 este quadro alterou-se profundamente.

O sistema bancário português entrou numa era de crescimento vigoroso e de

transformação estrutural, passando a desempenhar ao longo do período 1950-

-1974 o seu papel de um modo muito mais relevante do que em qualquer época

anterior. Da mesma forma que o foi para a economia como um todo, esta foi

a «época de ouro» do sector financeiro. Os ativos totais tiveram uma evolu-

ção excecional, com uma taxa anual de crescimento de 9 % em termos reais

(1947 -1973), embora o número de entidades se fosse sucessivamente reduzin-

do. Este aumento do sector ocorreu, por um lado, no quadro de um número

apreciável de fusões e de aquisições, permitido pelo regime político e realizado

principalmente à custa de bancos mais pequenos, muitos de província e das

ainda numerosas casas bancárias em existência. Isto levou a que em 1960 já

só sobrevivessem cerca de 20 bancos comerciais. Por outro e contrariamente

à sua história até então, foi principalmente através de uma crescente captação

de depósitos que desta vez a expansão se fez. Para isto contribuiu em medi-

da notável uma outra novidade: o alargamento territorial dos maiores bancos,

mercê da abertura de filiais por todo o País, assim como na Europa, Brasil e

colónias. Isto colocou-os em contacto com uma nova e imensa classe de peque-

nos aforradores nunca antes atraídos pela possibilidade de constituir tais ativos

financeiros, o que os obrigou ao mesmo tempo a uma luta inédita entre eles

pelo novo f luxo de poupanças gerado pelo boom da economia e pela emigração.

Entretanto, a formação de capital no sector crescia aceleradamente também

por alargamento do capital societário alimentado em boa medida pela incorpo-

ração de reservas resultantes de dividendos não distribuídos, e que beneficiou

bastante os rácios de capitalização e reforçou a solidez e estabilidade do mesmo.

Perante um panorama tão dinâmico, não surpreende que, durante esta

época, tenham soprado também importantes ventos de mudança. Uma parte

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INTRODUÇÃO

30 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

destes afetou a organização interna das instituições financeiras. O alargamen-

to do seu âmbito físico, a extensão e diversificação das operações e um clima

mais competitivo obrigaram-nas a modernizar as suas estruturas organizati-

vas, a mecanizar tarefas, a adotar novas tecnologias de informação e de comu-

nicação e a recrutar e qualificar o seu pessoal em harmonia com as novas

necessidades de funcionamento. Outra resultou da tentativa estatal de redefi-

nir os parâmetros institucionais dentro dos quais o sector deveria atuar. A Lei

Bancária de 1957 e o seu decreto regulador de 1959 constituíram o elemento

fundamental deste projeto, além de vários outros diplomas parcelares, alguns

deles regulatórios da atividade em geral, outros orientados para o crédito e

investimento nas colónias, outros ainda para a criação de mecanismos ligados

ao Estado para o financiamento de investimentos de longo prazo na metrópole.

Várias preocupações estiveram presentes neste esforço legislativo. Uma,

cujas origens remontavam às décadas de 1920 e 1930, ou porventura mesmo à

de 1890, era, claramente, manter o sistema financeiro fortemente controlado

pelo Estado e evitar um excesso de concorrência entre os seus participantes.

Esta era uma abordagem característica em geral das políticas económicas do

Estado Novo e promovia assim um oligopólio bancário, que afinal reproduzia

em Portugal algo que se estava a passar em outros países europeus da altura.

Faziam parte disto a manutenção da proibição de criar novos bancos sem auto-

rização governamental, a fixação das taxas de juro e restrições apertadas ao

emprego que os bancos podiam dar aos seus fundos. Outro objetivo importan-

te foi forçar as instituições a utilizarem mais intensivamente os seus recursos

a bem da atividade económica nacional, algo em que a crítica contemporânea

ao desempenho do sector vinha a insistir. Procurava-se atingir esta finalidade

obrigando-as a baixar o seu rácio de cobertura das responsabilidades à vista e

f lexibilizando o modo pelo qual eram constituídas as suas reservas para este

fim. Se considerarmos todos os instrumentos disponíveis e o poder político

de que dispunha o Estado Novo, pode surpreender que, no seu conjunto, estes

espartilhos tenham contribuído menos do que seria de esperar para os objeti-

vos pretendidos. Em particular, não foi fácil isolar o sector bancário às forças

do mercado e da concorrência. São reveladoras disto as alterações ocorridas no

ranking dos principais bancos portugueses ao longo do período considerado,

assim como o crescente envolvimento destes em operações vultuosas a prazos

mais longos e em sectores eventualmente considerados menos apropriados à

sua vocação económica.

Às vésperas da Revolução do 25 de Abril de 1974, o sistema bancário portu-

guês tinha conseguido atingir um apreciável desenvolvimento. Os seus ativos

totais eram da mesma ordem de magnitude que o produto interno bruto. As

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 31

suas maiores unidades tinham chegado a uma dimensão nunca vista em Por-

tugal e tinham finalmente conseguido implantar-se a nível nacional e mesmo,

embora mais modestamente, a nível internacional. Havia um grau de inter-

-ligação importante entre as maiores e os sectores mais dinâmicos da econo-

mia real. Por outro lado, em geral, a tutela estatal estava cada vez mais apertada

e a regulação cobria tanto aspectos gerais como muitas questões de pormenor.

Em 1974-1975, o sector sofreu indubitavelmente aquele que foi o maior

choque da sua história e que o iria marcar profundamente. A causa foi uma

viragem à esquerda pronunciada na política nacional, que resultou da queda

do Estado Novo, da implantação dum regime democrático e da descoloniza-

ção. Em menos de um ano o Estado nacionalizou a maior parte do sistema

bancário, deixando de fora apenas as caixas económicas e de crédito agrícola

e três pequenos bancos estrangeiros, estes últimos por conveniência política

do momento. Ao mesmo tempo, foi proibida a criação de novas instituições

privadas de crédito.

Numa primeira fase, ainda em 1974, a reforma atingiu apenas os três

bancos de emissão — o de Portugal, o Nacional Ultramarino e o de Angola —,

o que em termos comparativos nada tinha de notável, visto que a nacionali-

zação de tais entidades já há tempos que se tinha tornado normal nos países

avançados. Num segundo momento, no entanto, em março de 1975, a mesma

medida foi alargada à totalidade da banca nacional, excetuando, evidentemen-

te, a Caixa Geral de Depósitos, a maior instituição financeira do País, que já era

estatizada. Este processo, à época invulgar na Europa, integrava-se num pro-

grama muito mais vasto de nacionalizações, que abarcava os sectores básicos

da economia, todos os grandes grupos económicos e muitas grandes empresas,

assim como uma parcela significativa do território agrícola. Em 1976, mercê

da sua consagração na Constituição da República, veio a tornar-se irreversível.

As repercussões de todas estas transformações político-económicas foram

de vária ordem. A maior e mais dramática foi a transferência compulsiva para

a posse e controle do Estado do capital bancário pertencente aos antigos acio-

nistas. Desde logo, o pessoal dirigente das instituições afetadas passou a ser

nomeado e orientado superiormente de acordo com critérios muito diferentes

dos anteriores e os objetivos empresariais passaram a pautar-se em conformi-

dade. Quanto a estes últimos, isto significou, por um lado, que as operações

de crédito ficaram a ser governadas principalmente de acordo com políticas

governamentais respeitantes ao desenvolvimento económico e «visando a

progressiva socialização da economia» (pelo menos inicialmente). Por outro,

implicou que os bancos comerciais tivessem de dedicar uma parte muito subs-

tancial dos seus recursos ao financiamento, a baixo custo, do muito acrescido

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INTRODUÇÃO

32 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

deficit das finanças públicas e se tornassem mesmo o principal financiador

interno do Estado português nesses anos.

O novo regime sob cuja égide o sector bancário passou a existir, na ótica

deste, teve aspectos positivos também. Por um lado, permitiu uma racionaliza-

ção do sistema, o que permitiu que desaparecesse cerca de uma dezena de ban-

cos, absorvidos por outros. Embora não isenta das dificuldades naturais nes-

tes processos, isto terá conduzido a uma concentração benéfica em unidades

maiores e mais diversificadas, oferecendo economias de escala e porventura

maior estabilidade sistémica. Por outro, graças ao apoio financeiro do Estado,

ajudou a atenuar o impacto negativo da descolonização sofrido pelas entidades

bancárias mais envolvidas nas chamadas «províncias ultramarinas» durante

o período pré-revolucionário, algumas das quais eram de grande dimensão.

Em terceiro lugar, fez com que os bancos entrassem numa maior dependência

relativamente ao Banco de Portugal, através da sua nova necessidade de redes-

conto, dando assim maior consistência às políticas monetárias mais ativas que

este agora começava a prosseguir, após a sua nacionalização.

Pode-se discutir em que medida o resultado líquido desta evolução terá

sido positivo. Durante a primeira década pós-1974, não há dúvida de que o

funcionamento do sistema bancário deu mostras de ineficiência significati-

va. Muitas vezes, a afetação dos recursos foi feita ao arrepio de critérios de

otimização dos resultados, devido à intrusão de considerandos não-económi-

cos nestas decisões. Isto traduziu-se por níveis de crédito malparado pouco

habituais e recomendáveis. Foi também causa desta ineficiência o ter-se de

impor ao público margens de intermediação exageradas, a fim de permitir

que os bancos cobrissem os prejuízos e, eventualmente, se recapitalizassem.

Em contrapartida, estes e outros defeitos não foram de molde a desencorajar

o aforro e o depósito bancário, agora sobretudo sobre a forma dos depósitos

a prazo, que cresceram em quase 100 %, em termos reais, entre 1974 e 1984.

As mudanças entretanto sobrevindas no ranking dos maiores bancos sugerem

que houve concorrência entre bancos nacionalizados e diferenças nos serviços

que cada um prestava aos seus clientes. Terão contribuído para isto a falta de

alternativas satisfatórias para o investimento dos aforradores, a taxa elevada de

poupança dos portugueses e o enorme crescimento da rede de dependências

bancárias criadas entretanto por todo o País. De qualquer forma, tudo isto

indica elevados índices de confiança no sistema bancário a despeito das con-

vulsões sociais e económicas que caracterizaram o período.

A mudança que ocorreu no enquadramento institucional da atividade

bancária durante a década seguinte foi quase tão rápida e dramática como a

dos anos 1974-1984, mas de sinal contrário e sem os mesmos contornos revo-

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INTRODUÇÃO

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 33

lucionários. Em consequência, em meados da década de 1990, em quase todos

os principais aspectos a situação tinha praticamente voltado ao status quo ante

1974, com o desfazer da proibição da iniciativa privada neste ramo e a aprova-

ção da reprivatização da banca nacionalizada em 1975. Os dois marcos legisla-

tivos mais importantes neste processo foram o decreto de 1983, que alterou os

limites que separavam os sectores público e privado, o que abriu deste modo a

banca, entre outros sectores, à iniciativa privada, e a revisão constitucional de

1989, que pôs termo ao «princípio da irreversibilidade das nacionalizações e da

reforma agrária» e sancionou por conseguinte a sua reprivatização. Comple-

mentaram-nos todo um conjunto de diplomas legais ao longo de cerca de uma

década, em particular aqueles que transpunham para o ordenamento jurídico

nacional, em virtude da adesão de Portugal às comunidades europeias e União

Europeia, a legislação europeia sobre bancos.

Os resultados destas alterações de enquadramento cedo se fizeram sentir.

Segundo Valério et al. (2010), foram diversos os principais traços do novo sis-

tema bancário que emergiu após o interlúdio socializante das décadas de 1970

e 1980. Em primeiro lugar, surgiram bancos nacionais privados inteiramente

novos, que rapidamente conquistaram posições de relevo no contexto nacional,

em particular o Banco Comercial Português (Faria et al., 2001) e o Banco Por-

tuguês de Investimento. Pela mesma altura, começaram a entrar no País atra-

vés de sucursais, e a ter sucesso, bancos estrangeiros, embora nenhuma destas

mais de 20 instituições se tenha podido ou querido afirmar com particular

destaque. Entretanto, regressavam à ribalta as entidades anteriormente confis-

cadas pelo Estado, embora a sua privatização nem sempre as tenha reposto nas

mãos dos seus detentores originais. Neste contexto, merece atenção o facto de

só alguns dos grandes grupos económicos do Estado Novo terem conseguido

recuperar as suas antigas posições, quer na banca quer em outros domínios.

Por último, é de realçar o esforço que alguns bancos fizeram para se inter-

nacionalizar, através de investimento no estrangeiro, uma experiência nem

sempre bem sucedida e raramente vultuosa.

À entrada da década de 1990, poucos eram os traços do sistema bancário

português que este exibira apenas uma ou duas gerações antes e que conti-

nuavam ainda a persistir. Com a exceção da Caixa Geral de Depósitos, eram

raros os nomes do imediato pós-guerra que se poderiam agora reconhecer. Em

número, era grande também a mudança. Depois da concentração que os redu-

ziu, entre 1950 e 1974, de quase 40 a pouco mais de uma dúzia, os bancos volta-

riam a duplicar, a partir de 1984, logo que as barreiras que o impediam foram

retiradas, chegando de novo o seu total à fasquia dos 30. Mais expressivo do

que tudo, porém, era o aumento na dimensão do sector como um todo. Medido

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INTRODUÇÃO

34 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

pelos seus ativos reais per capita, este revelava nestes quarenta ou cinquenta

anos um aumento de 1000 %, um indício claro de que a atividade financeira

tinha «conquistado» não só todos os quadrantes da economia, mas tinha entra-

do também em todos os recantos da sociedade portuguesa.

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

DAMAS, Carlos Alberto, e ATAÍDE, Augusto de, O Banco Espírito Santo — Uma Dinastia

Financeira Portuguesa, Lisboa, Banco Espírito Santo, 2004.

FARIA, Miguel Figueira de, TREWINNARD, Carolina Peralta, e FERNANDES, Paulo, Banco

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LAINS, Pedro, História da Caixa Geral de Depósitos, 3 vols., Lisboa, Imprensa de Ciências

Sociais, 2002, 2008 e 2011.

MENDES, José Amado, «A empresa bancária em Portugal no século XX: Evolução e estraté-

gias», in Gestão e Desenvolvimento, 11, 2002, pp. 39-56.

MEXIA, António, e LEITE, António Nogueira, «The Pattern of banking Liberalization in Por-

tugal, 1984-1990», in Working Paper, n.º 187, Faculdade de Economia, Universidade

Nova de Lisboa, 1991.

REIS, Jaime, «Bank Structures, Gerschenkron and Portugal (pre-1914)», in Douglas J. For-

syth and Daviel Verdier (eds.), The Origins of National Financial Systems. Alexander

Gerschenkron Reconsidered, London, Routledge, 2003, pp. 182-204.

REIS, Jaime, «Los Sistemas Financieros de la Periferia: Una Comparacion entre Escandina-

via y el Sur de la Europa durante el Siglo XIX», in Papeles de Economia, 105/106, 2005,

pp. 109-29.

SÉRGIO, Anabela, O Sistema Bancário e a Expansão da Economia Portuguesa (1947-1959),

Lisboa, Banco de Portugal, 1995.

VALÉRIO, Nuno (coord.), História do Sistema Bancário Português, 2 vols., Lisboa, Banco de

Portugal, 2007 e 2010.

WALLICH, Henry, The Financial System of Portugal, 2.ª ed., Lisboa, Banco de Portugal, 1951.

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Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 35

COLABORADORES

Sigla Autores Instituição

ABG Ana Bragança Gomes Instituto Superior de Agronomia, Universidade

de Lisboa.

ABM Artur Barracosa Mendonça Investigador.

ABN Ana Bela Nunes Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade

de Lisboa.

AM Alda Mourão Instituto Politécnico de Leiria. Investigadora do Centro

«Ceis 20 da Universidade de Coimbra».

AMC Ana Margarida Cruz Centro de História do Banco Espírito Santo.

APF António Pedro Ferreira Universidade Autónoma de Lisboa/Banco de Portugal.

ARA António Rafael Amaro Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra.

AS Anabela Sérgio Visiting Professor, University of St. Joseph, Macau.

CAD Carlos Alberto Damas Centro de História do Banco Espírito Santo.

CD Cristina Dias Universidade Autónoma de Lisboa.

CGG Carlos Gabriel Guimarães Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

CM Clarisse Mendes Professora do Ensino Secundário.

DMF Duarte Manuel Freitas Doutorando da Faculdade de Letras, Universidade de

Coimbra.

ECP Elisa Calado Pinheiro Universidade da Beira Interior.

FL Fernando Lopes Departamento de Economia e Gestão, Universidade

dos Açores.

FP Filipe Pinhal Economista.

FSD Fátima Sequeira Dias Departamento de Economia e Gestão, Universidade

dos Açores.

HAF Hélder Adegar Fonseca Universidade de Évora.

HSP Hugo Silveira Pereira Investigador do CITCEM — Centro de Investigação

Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»,

Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

IV Irene Vaquinhas Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra.

JAD José Afonso Diz Universidade Autónoma de Lisboa.

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COLABORADORES

36 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

Sigla Autores Instituição

JAM José Amado Mendes Universidade Coimbra/Universidade Autónoma

de Lisboa.

JLC José Luís Cardoso Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa.

JMLC José Manuel Lopes Cordeiro Universidade do Minho.

MEM Maria Eugénia Mata Nova SBE, INOVA, Faculdade de Economia,

Universidade Nova de Lisboa.

MEN Maria Eugénia Neves Professora do Ensino Secundário.

MF Manuel Faria Professor EB 2,3 de Prado.

MFR Manuel Ferreira Rodrigues Universidade de Aveiro.

MGC Marta Guilherme Cruz Bibliotecária.

MIAM Maria Inês de Abrunhosa

Mansinho

Instituto Superior de Agronomia, Universidade

de Lisboa.

NGC Nuno Guilherme Cruz Investigador.

NV Nuno Valério Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade

de Lisboa.

PEG Paulo Eduardo Guimarães Departamento de História da Universidade de Évora.

PJF Paulo Jorge Fernandes Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade

Nova de Lisboa.

PL Pedro Lains Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa.

PN Pedro Neves Instituto Superior de Economia e Gestão, Universidade

de Lisboa.

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ENTRADAS

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BANCO AGRÍCOLA, COMERCIAL E INDUSTRIAL DE PONTE DE LIMA (1875-1876)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 39

BANCO AGRÍCOLA, COMERCIAL E INDUSTRIAL DE PONTE DE LIMA (1875 -1876)O Banco Agrícola, Comercial e Industrial de

Ponte de Lima, sociedade anónima de respon-

sabilidade limitada, foi fundado em 1875, tendo

os seus Estatutos sido publicados em 6 de junho

de 1875. Dispunha de um capital nominal de

1 200 000$000 réis, dividido em ações de 50$000

réis. Com sede em Ponte de Lima, podia estabele-

cer caixas filiais, sucursais ou agências em qual-

quer localidade do reino, ilhas adjacentes, e no

império do Brasil ou qualquer praça estrangeira.

O Banco foi fundado por um conjunto de perso-

nalidades notáveis de Ponte de Lima, como Antó-

nio Pereira da Silva de Sousa e Meneses, Tomás

Mendes Norton (comerciante, cônsul de Inglater-

ra em Viana do Castelo, fidalgo cavaleiro da Casa

Real, comendador da Ordem de Nossa Senhora

da Conceição de Vila Viçosa, para além de afilha-

do de batismo de Rodrigo da Fonseca Magalhães

e pai do futuro general Norton de Matos), João

de Abreu Maia (presidente da Câmara Munici-

pal de Ponte de Lima em 1874 -1875), António de

Magalhães Barros de Araújo Queirós (5.º Senhor

da Casa das Pereiras, da Torre de Refoios, juris-

consulto, advogado, administrador do concelho

e presidente da Câmara Municipal de Ponte de

Lima em 1868 -1871), conselheiro João de Barros

Mimoso de Abreu e Lima (morgado da Carcavei-

ra e presidente da Câmara Municipal de Ponte

de Lima em 1866 -1867, Joaquim Gerardo Álvares

Vieira Lisboa (provedor da Santa Casa da Miseri-

córdia de Ponte de Lima e presidente da Câmara

Municipal de Ponte de Lima em 1861 -1865), ou

Narciso Cândido Alves da Cunha, de Paredes de

Coura, então muito jovem, mas que se iria revelar

um advogado e político influente. O Banco Agrí-

cola, Comercial e Industrial de Ponte de Lima foi

um dos numerosos bancos e casas bancárias que

se tinham constituído em resultado da afluência

de capitais ocorrida a partir de 1872. No entan-

to, a sua existência como entidade bancária foi

muito curta, uma vez que faliu e desapareceu na

voragem da crise de 1876, tendo o seu processo

de liquidação demorado anos, como ocorreu com

outros bancos que encerraram naquele período.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Diário do Governo, n.º 122, de 6 de junho de 1875,

pp. 1035 -1036. CORDEIRO, José Manuel Lopes,

«O Banco Agrícola, Comercial e Industrial de Ponte

de Lima e a crise financeira de 1876», in Alexandra

Esteves e Maria Marta Lobo de Araújo (coord.), Ponte

de Lima. Sociedade, Economia e Instituições, Ponte de

Lima, CITCEM/Município de Ponte de Lima, 2012,

pp. 139 -199.

JMLC

BANCO AGRÍCOLA DE SÃO MIGUEL (1935 -1974)Após a falência da firma bancária Raposo d’Ama-

ral Severim & Comandita, Sucessores Limi tada,

foi reconstituída a antiga sociedade sob a desi-

gnação de Banco Agrícola de São Miguel, em

conformidade com o Decreto n.º 26 075, de 21

de novembro de 1935. A nova firma era uma

sociedade anónima de responsabilidade limita-

da, tendo começado as suas operações em 1 de

junho de 1936. A nova empresa tinha por obje-

to «defender o interesse económico da ilha e o

crédito das terras açorianas», efetuando, assim,

todas as operações tendentes a realizar lucros

sobre numerário, penhor público nos títulos

negociáveis, arbítrios, empréstimos com qual-

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BANCO AGRÍCOLA DE SÃO MIGUEL (1935-1974)

40 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

quer garantia, inclusive a hipotecária, descon-

tos, cobranças, abertura de crédito, depósitos e

todas as demais operações que constituem ou

sejam conexas com o anúncio de indústria ban-

cária e as leis não proíbam, segundo informava a

sua publicidade. Segundo a imprensa enaltecia,

«nasce este novo banco de princípios de honra

de raríssima constatação não só nesta terra, mas

em qualquer parte do globo e nos tempos que

correm. Traz à banca micaelense novas moda-

lidades de crédito e estas baseiam -se numa

riqueza positiva: a propriedade urbana e rústica

que o referido estabelecimento em larga esca-

la detém» (Diário dos Açores, de 2 de junho de

1936). Os diretores da primeira gerência foram

o capitão Luís Faria e Maia Cunha, José Coelho

Chalupa e Manuel Nuno Botelho de Gusmão.

O capital social ascendia a 6 805 000$000 réis,

informando os diretores do Banco, José Carva-

lho Chalupa e Raul Mendonça, em 1938, que

o Banco se encontrava isento de contribuição

industrial por cinco anos. No relatório e con-

tas de 1940, lamentava -se a morte do capitão

Luís Faria e Maia Cunha, informando -se que,

em sua substituição, para presidente da dire-

ção, entrava o acionista Dr. Duarte Manuel de

Andrade Albuquerque Bettencourt. A partir do

exercício de 1943, a direção foi composta por

Augusto de Athayde, José de Carvalho e José de

Athayde Marques Moreira, mas, no ano seguin-

te, Augusto de Athayde era substituído por

Duarte Furtado Castanheira Lobo. A partir de

1945, a direção foi composta por Eduardo Tava-

res de Sousa Teves, Abel Machado Macedo Jr. e

Gil Jacinto Raposo. Quanto ao conselho fiscal,

o primeiro foi composto por António Augusto

Raposo (presidente), Carlos Moniz Borges Cor-

deiro e Belarmino Tavares da Silva. No ano de

1939, o conselho fiscal passou a ser constituído

por António Augusto Raposo, Carlos Moniz

Borges Cordeiro e Nicolau Pereira Raposo Jr.

Por morte de António Augusto Raposo, entrou

Duarte Cabral Amorim da Cunha, em 1942.

A partir do exercício de 1944, o conselho fis-

cal passou a ser constituído por António Gas-

par Read Henriques, Abel Machado Macedo

Jr. e Almino Rego Medeiros. No ano seguinte,

Abel Machado Macedo Jr. foi para a direção e

foi substituído por Manuel Feliciano de Melo.

No relatório de 1937, informava -se que, do ativo

do Banco, «mais de 2 mil contos se acham sem

rendimento na imobilização garantida de suas

propriedades rústicas». Em 1938, criticava -se a

«crise de capitais disponíveis e apatia de negó-

cios, facto este infelizmente do conhecimento

geral de todos nós, açorianos». Em 1939, o rela-

tório especificava que «temos prosseguido nas

tentativas de venda das propriedades transferi-

das para o Banco, sempre pelo seu equitativo e

justo valor, a fim de, com o produto das mes-

mas, habilitar esta nossa instituição, gradual-

mente, à redução do seu capital, avultado para

este nosso pequeno e ainda economicamente

abalado meio insular. Capital, porém, assim

constituído, como de todos vós é sabido, pela

imperiosa força das circunstâncias. A nossa

actividade no sector, ou exercício propriamen-

te bancário, tem sido e continuará a ser restri-

tíssima, dada também a manifesta impossibi-

lidade de podermos acompanhar as condições

privilegiadas dos antigos estabelecimentos de

crédito, dependentes e ligados ao Estado, com

suas filiais e agências nesta ilha». No relatório

referente ao exercício de 1940, lamentava -se a

guerra, facto que exigia «muito maior cautela

na movimentação de empréstimos de capitais e

correlativamente a procura da sua profícua apli-

cação a um maior alargamento de beneficiações

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BANCO AGRÍCOLA DE SÃO MIGUEL (1935-1974)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 41

e melhoramentos em propriedades rústicas,

cuja compensação em rendimentos é, sem dúvi-

da, mais lenta e diminuta, porém incontestavel-

mente mais segura».

QUADRO 1 — Contas do Banco Agrícola de São Miguel (1936 -1946)

UNIDADE: ESCUDOS

Anos Lucros e perdas Carteira de títulos Carteira comercial Contas correntes

e empréstimos caucionados

Depósitos em moeda

nacional

1936 40 245$47 47 110$00 274 146$20 470 245$47 215 425$86

1937 101 360$24 37 504$00 267 806$20 692 264$15 267 120$02

1938 141 393$40 35 084$00 473 555$20 632 38$36 342 517$41

1939 140 475$51 28 480$00 657 546$20 564 282$98 243 308$17

1940 102 417$97 s/r 830 295$50 556 983$30 345 124$15

1941 86 719$98 s/r 839 330$00 471 284$48 457 367$67

1942 174 371$88 556 300$00 358 753$28 545 566$20

1943 152 092$93 918 883$00 590 874$28 574 838$84

1944 427 288$97 720 290$00 5 863 662$99 223 602$15

1945 369 494$31 748 600$30 6 017 509$09 256 372$20

1946 635 929$03 703 856$90 11 184 603$40 234 469$55

Fonte: Relatórios e Contas, 1936 a 1946.

A carteira de títulos era constituída por ações

do Banco Lisboa e Açores *, Banco da Madei-

ra *, Banco Português do Continente e Ilhas * e

obrigações da Câmara Municipal de Ponta Del-

gada. Ao longo dos anos, no ativo, incluiu -se a

exploração de propriedades, que nunca deixou

de ser inferior a cinco mil contos de réis, dis-

tribuídos, na rubrica imobilizações, por insta-

lações, móveis e utensílios, e, na rubrica pro-

priedades, por foros e propriedades rústicas e

urbanas. Relativamente ao exercício de 1941,

explicava -se aos membros da assembleia geral

que «julgamos dispensáveis novas referências

às causas que motivaram a constituição deste

nosso estabelecimento de crédito, cujas des-

pesas de organização somaram a 112 289$22,

já liquidadas […]. No prosseguimento, pois,

da nossa orientação administrativa que, sem

descurar a conservação das propriedades urba-

nas, tem ainda abrangido o melhoramento de

algumas importantes propriedades rústicas,

a fim de se obterem um maior rendimento, e

a sua consequente valorização, afigura -se -nos

ter chegado o momento de iniciarmos também

a redução do nosso volumoso capital social».

No relatório de 1945, elucidava -se que, «depois

de feitas algumas amortizações nas contas do

activo, [não tinham sido] descurados os traba-

lhos de beneficiação, arroteamento e plantação,

nas diversas propriedades deste banco…». Nes-

te desiderato, a conta imobilizações regista o

seguinte:

QUADRO 2 — Imobilizações

1936 1939 1941 1945 1946

5 841 556$87 5 364 161$29 5 358 661$29 4 868 375$43 2 679 070$22

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL DA ESTREMADURA (1875-1876)

42 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

Quanto ao balanço social do Banco, ao longo

dos anos, verifica -se:

QUADRO 3 — Balanço social

Anos Caixa Contas litígio Débitos s/cobr. Capital Ativo

1936 275 554$03 287 934$25 273 282$96 6 805 000$00 7 944 397$34

1937 183 695$24 s/r 255 575$13 6 805 000$00 7 620 702$00

1938 284 324$44 2 400$00 153 128$16 6 805 000$00 7 522 560$55

1939 312 728$89 124 304$52 134 457$29 6 805 000$00 7 463 892$16

1940 264 158$39 40 420$87 133 657$29 6 805 000$00 7 556 543$97

1941 443 684$50 55 820$87 17 466$05 6 805 000$00 7 667 651$67

1942 1 047 797$91 64 198$97 15 566$05 6 805 000$00 7 823 968$40

1943 489 854$12 41 507$80 14 066$05 6 805 000$00 7 804 928$58

1944 649 028$68 15 503$50 s/r 6 805 000$00 20 091 667$09

1945 433 244$00 11 940$20 s/r 6 805 000$00 23 279 245$51

1946 243 563$34 s/r s/r 6 805 000$00 24 064 766$67

Fonte: Relatórios e Contas, 1936 a 1946.

Após o silêncio das fontes, a 14 de fevereiro de

1974, era cancelada a sua matrícula da firma,

na Conservatória Comercial de Ponta Delgada,

por «ter sido inscrita a dissolução, partilha e

liquidação da respectiva sociedade».

FONTE

Conservatória de Ponta Delgada, Registos Comerciais,

C -I.

FSD

BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL DA ESTREMADURA (1875 -1876)O Banco Agrícola e Industrial da Estremadura,

de infeliz memória, nas palavras de Oliveira

Martins, foi criado em 12 de março de 1875,

através de escritura de outorga de estatutos

lavrada no livro n.º 553 (f ls. 41 v. a 44 v.) do

8.º Cartório Notarial do Porto (Rua do Calvário)

do notário Emílio Alberto da Rocha Andrade.

Aproveitou -se a abundância de capitais que se

registou no Porto, entre 1873 e 1875 (provocada

pelo desbloqueio de capitais brasileiros após o

fim da guerra do Paraguai, pela expansão do

sector algodoeiro do Brasil, pela transferência

de fundos espanhóis e peruanos para Portugal,

pela especulação com os títulos de dívida do

Governo, pelo aumento do câmbio do Brasil

sobre Londres e pelas promessas de lucro fácil

dos bancos) e pela facilidade de constituição de

sociedades anónimas (Lei de 22 de junho de

1867). Os estatutos seriam registados no Tribu-

nal do Comércio em 15 de março e publicados

no Diário do Governo, em 20 de março seguinte.

Antes, em 4 de fevereiro de 1875, Eduardo Lyon,

um dos instaladores, indagava junto da Direção-

-Geral de Comércio e Indústria a existência de

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL DA ESTREMADURA (1875-1876)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 43

firma igual ou semelhante. Em 11 de fevereiro,

aquela entidade certificava a inexistência de tal

denominação. E, em 4 de março de 1875, era

depositado na Caixa Filial do Banco de Portugal

no Porto um valor referente a 5 % da primeira

série do capital. A subscrição teve lugar em

fevereiro -março de 1875. Ao contrário de alguns

outros bancos, que ostentavam uma firma

semelhante (os Bancos Agrícolas e Industriais

Vianense *, Farense * e Viseense *), não possuía

ligação à Santa Casa da Misericórdia (apesar de

João Aquiles Ripamonti por o considerar assim,

decerto iludido pela sua designação). Foram

seus fundadores o capitalista Félix Plácido San-

de, casado, morador na Rua dos Guindais, 180

(da freguesia de S. Nicolau do Porto), o proprie-

tário Eduardo Ribeiro Mendes, também casado,

morador na Rua de 9 de julho (da freguesia de

Cedofeita), e o negociante britânico Eduardo

Lyon, igualmente casado, morador na Rua da

Boavista, 350 (também da freguesia de Cedofei-

ta). Estes três indivíduos deveriam servir como

diretores até 31 de dezembro de 1880 (não ser-

viram, porque o banco encerrou portas no ano

seguinte ao da sua fundação), uma vez que fica-

va previsto que os mandatos de cada um dos

três diretores durariam cinco anos. O seu ven-

cimento fixava -se nos 100$000 réis mensais,

aos quais acrescia uma percentagem dos lucros.

As suas responsabilidades incluíam a adminis-

tração ordinária do Banco (até certos limites

monetários fixados nos estatutos), a gestão de

pessoal e a distribuição de dividendos. Os seus

substitutos eram: José Pascoal Galvão de Melo;

José António Ferreira e Manuel Joaquim Teixei-

ra. Na primeira assembleia geral constavam

Flórido Teles de Menezes e Vasconcelos (presi-

dente), Augusto Henrique de Almeida Brandão

(vice -presidente), João Correia Leite Barbosa

Júnior (1.º secretário) e João Baptista Pinto

(2.º secre tário). No conselho fiscal (órgão fisca-

lizador da direção, composto por três vogais efe-

tivos e dois substitutos), António Pinto Cardoso

da Gama, José Baptista Gonçalves Dias, Augus-

to César Ribeiro da Fonte (efetivos), António

Monteiro Leite e Luís Ferreira Alves (substitu-

tos). Estes três órgãos (direção, assembleia geral

e conselho fiscal) constituíam os corpos sociais

do Banco Agrícola e Industrial da Estremadura,

uma sociedade anónima de responsabilidade

limitada, de duração indefinida, com sede no

Porto (Praça de Carlos Alberto, 92), ao invés do

que refere Joaquim Veríssimo Serrão, que o

fixa em Lisboa. No entanto, os estatutos pre-

viam a abertura de filiais em Lisboa, no resto

do País ou no estrangeiro (sendo que cada uma

delas possuía dois diretores), e de agências

(cujos gerentes recebiam à comissão e respon-

diam com o seu património pelos prejuízos

em que incorressem), onde a direção julgasse

conveniente, designadamente na província da

Estremadura, daí a firma da sociedade. Inicial-

mente, o capital era de 1500 contos de réis, divi-

didos em 30 mil ações de 50 000 réis cada,

ficando salvaguardada à direção a possibilidade

de o elevar a 5000 contos de réis. O capital esta-

va ainda dividido em séries de 100 contos de

réis cada, encon trando -se subscrita e realizada,

à data da fundação do Banco, a primeira dessas

séries (mas não na totalidade: somente 52 con-

tos de réis foram realizados), que constituía o

fundo inicial do Banco, com que se daria início

às operações (o que, segundo a estatística ofi-

cial, terá acontecido apenas em maio de 1875).

Todos os acionistas tinham direito a voto

em assembleia geral, independentemente do

número de ações que possuíssem. Quando se

perdesse um terço deste capital efetivo, o Banco

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL DA ESTREMADURA (1875-1876)

44 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

entrava em liquidação. Para conseguir sobrevi-

ver a tempos conturbados, ficava previsto que o

Banco tivesse sempre em caixa um terço do que

possuísse e em depósitos, bem como a consti-

tuição de um fundo de reserva, composto pelas

verbas que a direção entender, mas que se consi-

derava completo assim que atingisse o valor de

apenas 50 contos de réis. Ainda segundo os esta-

tutos, os seus capitais deveriam ser emprega-

dos: na compra de terrenos na Rua da Boavista

(morada de Eduardo Lyon) ou noutro qualquer

local, destinados à construção de casas para

arrendar ou vender; na compra e venda de pré-

dios; na compra e venda de aguardente de vinho,

bem como no desenvolvimento e apuro do fabri-

co da mesma, principalmente na província da

Estremadura; no auxílio aos grandes e peque-

nos agricultores e industriais (especialmente da

província da Estremadura) e a qualquer empre-

sa do País, se assim conviesse ao Banco; final-

mente, em operações bancárias ordinárias, de

entre as quais se destacava a faculdade de emitir

notas de 5, 10 e 15 mil réis, uma vez obtida a

necessária autorização governamental, o que

não sucedeu. Além da emissão de notas, o Ban-

co podia: receber depósitos correntes e a prazo;

funcionar como caixa económica, abonando

juros aos depositários; guardar valores nos seus

cofres mediante comissão; receber géneros para

vender à comissão por conta de terceiros; des-

contar títulos do Estado, letras de terra ou de

câmbio e títulos comerciais; emprestar sobre

penhores de ouro, prata, jóias, títulos de dívida

pública, ações e papéis de crédito com cotação,

géneros e mercadorias em depósito ou viagem,

prédios e embarcações construídas ou em cons-

trução e hipotecas; fazer empréstimos ao gover-

no, câmaras municipais, empresas e compa-

nhias mediante juro e segurança; passar letras

de câmbio e risco marítimo; realizar operações

cambiais, transferência de fundos, emprésti-

mos em conta corrente com garantia e opera-

ções de crédito agrícola, comercial e industrial;

e abrir créditos em praças portuguesas e estran-

geiras. Nos seus poucos meses de existência, a

sua principal atividade foi o empréstimo sobre

penhores. O desconto de letras apenas sobrepu-

jou o empréstimo sobre penhores em dezembro

de 1875. Quanto aos depósitos, não são conhe-

cidos quaisquer valores. Em finais de 1875, a

cotação dos títulos de crédito adquiridos com

dinheiro do Banco por Eduardo Lyon e Eduardo

Ribeiro Mendes baixou imenso e de uma manei-

ra imprevisível. Simultaneamente, aqueles dois

diretores tinham aceite letras incobráveis a

conhecidos. Por outro lado, Ribeiro Mendes

tinha também levantado avultadas somas. Uma

vez que o dinheiro investido e perdido era do

Banco, este suspendeu a atividade no ano

seguinte. Em fevereiro de 1876, deixa de publi-

car as suas contas no Diário do Governo e em

maio o diretor Henrique José dos Santos Cardo-

so, eleito em 18 de março de 1876 em substitui-

ção de Eduardo Lyon, promove um inquérito às

contas do Banco, denunciando um escândalo de

desfalque e roubo. Em 3 de junho de 1876, San-

tos Cardoso, juntamente com Félix Plácido de

Sande, levou o caso a Tribunal do Comércio,

acusando o ex -diretor Eduardo Lyon e o diretor

Eduardo Ribeiro Mendes de deterem em seu

poder todo o capital realizado do Banco (deixan-

do no seu lugar valores sem qualquer importân-

cia), pelo que o Banco se via na impossibilidade

de assumir compromissos ou realizar operações

e na necessidade de encerrar. Naturalmente, os

visados negavam as acusações. Mais diziam os

alegados defraudados que nenhum outro banco

perdia com a falência do Banco Agrícola e

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL FARENSE (1873-1901)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 45

Industrial da Estremadura, uma vez que este

não encetara negócios com nenhuma outra ins-

tituição bancária. Quanto a Félix Plácido de

Sande, um dos fundadores, sentia -se atraiçoa-

do pelos outros diretores e afirmava a sua ino-

cência, alegando que não tinha o mais pequeno

conhecimento do giro bancário. Assim, aparen-

temente, o Banco Agrícola e Industrial da

Estremadura já estava ferido de morte desde a

sua criação (aliás, uma das testemunhas da

escritura de outorga de estatutos era um

homem de Oliveira de Azeméis que, acidental-

mente, se encontrava na Rua do Bonjardim no

Porto). Mais tarde, juntou -se um outro homem

— Henrique José dos Santos Cardoso — que

desconhecia, igualmente, os modos do negócio

financeiro. Eduardo Lyon seria preso na Cadeia

da Relação do Porto, enquanto sobre Eduardo

Ribeiro Mendes recaía uma ordem de prisão,

que não tinha sido ainda executada por aquele

se encontrar a monte, algures na província.

Além destes contornos fraudulentos, o Banco

Agrícola e Industrial da Estremadura fracassou

também pela crise que se registou no Porto,

a partir de 1876, tendo o Decreto de 18 de agos-

to de 1876 (concedia moratória por 60 dias para

o pagamento de letras, promissórias, depósitos,

títulos comerciais e fiduciários, suspendendo

os efeitos jurídicos dos protestos) chegado tarde

de mais, para aproveitar ao estabelecimento.

Segundo João Henrique Ulrich, o processo

do Banco foi arquivado em 31 de dezembro de

1899.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

CARNEIRO, Adolfo Cirilo, A Bancocracia, Porto, Impren-

sa Comercial, 1907; MARTINS, Joaquim Pedro de Oli-

veira, A Reorganização do Banco de Portugal, Porto,

Typographia Occidental, 1877; REIS, Jaime, «Bank

Structures, Gerschenkron and Portugal (pre -1914)», in

The Origins of National Financial Systems, 2002, pp. 182-

-199 (www.dse.unive.it; consultado em 1 de setembro

de 2008); RIPAMONTI, João Aquiles, O Crédito Agrícola

e os Bancos Rurais, Lisboa, Tipografia Portuense, 1888;

SOUSA, Fernando de, «A banca do Porto no século

XIX», in A Cor do Dinheiro, Porto, pp. 9 -26; ULRICH,

João Henrique, O Crédito Agrícola em Portugal, Lisboa,

Livraria Ferin Editora, 1908; «Escritura de outorga dos

estatutos do Banco Agrícola e Industrial da Estrema-

dura», in Diário do Governo, n.º 65 (janeiro -junho de

1875), Lisboa, pp. 515 -516; Estatística Bancária (1858 a

1892), Lisboa, Imprensa Nacional, 1894.

HSP

BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL FARENSE (1873 -1901)O Banco Agrícola e Industrial Farense foi

fundado em Faro, em 1873, por iniciativa da

Misericórdia local e de um grupo de capitalis-

tas portugueses que reuniram meios para for-

mar uma instituição que anunciava, nos seus

estatutos, o objetivo de favorecer a agricultura

e a pequena indústria. Inspirado porventu-

ra na proposta de criação de bancos munici-

pais, defendida anteriormente por Henriques

Nogueira (O Município no Século XIX, 1856),

esta instituição elegeu a área do concelho de

Faro como o seu campo privilegiado de ação.

A imprensa regional defendia então a multi-

plicação de estabelecimentos de crédito seme-

lhantes por todo o distrito, uma visão que con-

tava com o apoio ativo do governador civil. A

empresa beneficiou da ampla liberdade conce-

dida pela legislação de Andrade Corvo para a

criação de bancos agrícolas e industriais. Esse

quadro legal (§2.º do arti go 5.º da Lei de 22 de

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL FARENSE (1873-1901)

46 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

junho de 1867 e artigo 13.º, § único, da Lei de

22 de junho de 1866) permitiu -lhe garantir

as suas operações com os valores desamor-

tizados pertencentes à Misericórdia de Faro

(v. artigo 15 dos Estatutos aprovados pela mesa

da Misericórdia de Faro em 29 de julho de

1873). Porém, o otimismo inicial quanto aos

benefícios da generalização do crédito e à pros-

peridade económica que aquele banco poderia

proporcionar, em especial junto das freguesias

rurais que então se desenvolviam com base na

atividade da extração e da preparação da cor-

tiça, em breve deu lugar a sérias apreensões.

Estas deveram -se ao impacto local da crise

financeira desencadeada a partir das praças de

Lisboa e do Porto, logo no ano seguinte, asso-

ciada ainda à crise agrícola local (por motivos

climatéricos) e às dificuldades emergentes

nos negócios corticeiros. Durante o seu tempo

de vida, o capital do Banco foi composto por

30 contos de réis, sendo 20 contos subscritos

pela Sociedade Geral Agrícola e Financeira de

Portugal *, uma sociedade anónima de respon-

sabilidade limitada formada nessa altura por

capitalistas portugueses e estrangeiros com

sede em Lisboa (Mendonça, 2011), e 10 contos

pela Misericórdia de Faro, representados por

metal, títulos e propriedades. O Banco iniciou

as suas operações num edifício e com mobi-

liário cedidos pela Misericórdia. Só um ano

mais tarde contou com instalações próprias,

onde trabalhavam um guarda -livros, um escri-

turário que servia igualmente de procurador

do Banco junto dos tribunais e um tesourei-

ro, cargo exercido graciosamente pelo segundo

gerente, o barão da Ponte de Marxil. Pratica-

va taxas de juro de 8 % ao crédito, pagava aos

acionistas 7 % e aos depositantes 3 %. A maio-

ria das operações bancárias era realizada com

desconto de letras, enquanto os empréstimos

hipotecários pouco mais representavam do que

20 % da atividade creditícia. Por outro lado, o

movimento anual na Caixa Económica em 1879

não ultrapassava os 680$000 réis. A debilida-

de suscitada pela pequena escala da empresa

num contexto de crise financeira ficou patente

quando, em 1876, o resgate de um grande depo-

sitante obrigou a direção a reclamar o paga-

mento da quarta prestação das ações subscritas.

Entre esta data e 1878, o Banco perdeu capitais

e enfrentou dificuldades de cobrança de crédi-

tos, evitando no entanto recorrer a execuções

judiciais num contexto em que o valor da pro-

priedade rural se tinha depreciado, ao ponto de

cobrir apenas um «preço ínfimo das dívidas»

(Relatório e Contas de 1878). Os prejuízos com

os industriais corticeiros foram talvez ainda

maiores, levando o Banco a proceder a morató-

rias sucessivas de dívidas por letras. Os indus-

triais, que contraíam importantes empréstimos

usavam esse dinheiro para realizar contratos de

arrendamento de montados, a longo prazo, em

condições aparentemente vantajosas. Porém,

naquela difícil conjuntura para a indústria,

muitos conheceram revezes nos seus negócios

corticeiros e, consequentemente, mostravam

dificuldades em cumprir as suas obrigações

com os encargos financeiros assumidos, não

podendo contrair novos empréstimos para

manter esses arrendamentos ou a sua atividade

devido à crise creditícia. As falências de clientes

industriais e as dificuldades dos pequenos agri-

cultores, devido a maus anos agrícolas conse-

cutivos, acabaram por ameaçar a prosperidade

deste empreendimento. O relatório da direção

de 1880 referia explicitamente que o «estado

deplorável em que se acha reduzida a agricul-

tura, o comércio e a indústria em toda esta pro-

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 47

víncia e especialmente neste concelho de Faro

influiu poderosamente no irregular andamento

que se tem manifestado nos negócios de quasi

todos os estabelecimentos de crédito que direc-

ta ou indirectamente tem realizado emprésti-

mos neste ponto do Algarve, onde a indústria

da cortiça, exercida em grande escala, carecia

de capitais avultados». Segundo esse relatório,

às más colheitas devidas aos anos de estiagem

associou -se a limitada procura no mercado das

cortiças, com ref lexos no aviltamento dos pre-

ços industriais, conduzindo a uma situação em

que eram «raros os devedores dos bancos que

podem satisfazer os seus encargos e cumprir

as suas obrigações». As centenas de execuções

de hipotecas e reformas nas operações de cré-

dito depararam -se com uma situação em que

a depreciação do valor da propriedade rústica

não permitia já ao Banco cobrir os valores que

tinha avançado. Nesta data, os ativos do Banco

mantinham -se no patamar dos 33 contos de

réis, existindo 13,5 contos na rubrica «deve-

dores gerais» e «letras protestadas» e mais de

2 contos em caixa. Dez anos mais tarde, a sua

situação económica não tinha melhorado, visto

que os seus ativos se situavam nos 32,5 contos

de réis, havendo perto de 3 contos de réis de

dinheiro em caixa (balancete de 31 de dezem-

bro de 1890). Os depósitos da Caixa Económica

(pequenos depositantes), remunerados a 3 % de

juro anual, não ultrapassavam os 670$000 réis.

O escasso montante dos depósitos angariados

exprime igualmente a debilidade deste banco

comercial, resultante da pequena escala de ope-

rações, para fazer face a uma conjuntura finan-

ceira e económica adversa. O balancete de 31 de

dezembro de 1901 apresentava perto de 32 con-

tos de réis nos ativos, havendo 4,2 contos de réis

na rubrica «devedores gerais», 5,7 contos de réis

em «letras protestadas», 12,4 contos de réis em

empréstimos sobre letras e apenas 639$000 réis

em caixa.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

Arquivo do Ministério das Obras Públicas, Comércio

e Indústria/Direcção -Geral do Comércio e Indústria.

Repartição do Comércio e Indústria/Bancos — Banco

Agrícola e Industrial Farense (1873 -1901); O Districto

de Faro, n.º 154 (13 de março de 1879) e n.º 262 (17 de

março de 1881), Faro; MENDONÇA, Artur Ângelo Bar-

racosa, Contributos para a Expansão do Sistema Bancá-

rio no Espaço Regional (1874 -1930): O Caso do Algarve.

Texto da comunicação apresentada no XXXI Encon-

tro da Associação Portuguesa de História Económica

e Social, Faculdade de Economia da Universidade de

Coimbra, em 18 de novembro de 2011.

HAF

PEG

BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)O Banco Agrícola e Industrial Vianense (tam-

bém designado de Banco da Misericórdia [de

Viana do Castelo], Banco Agrícola, Banco Agrí-

cola Industrial de Viana ou Banco Industrial

Vianense) foi, a par do Banco Agrícola e Indus-

trial Viseense * e do Banco Agrícola e Indus-

trial Farense *, uma das poucas instituições

que aproveitaram o enquadramento legal cria-

do pelo Ministro Andrade Corvo através das

leis de 22 de junho de 1866 e de 22 de junho de

1867. Através destas, procurava desenvolver -se

o crédito agrícola e industrial ao conceder a

misericórdias, confrarias e irmandades a facul-

dade de empregar os seus valores e capitais

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)

48 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

mutuados ou possibilitando a constituição de

associações distritais ou provinciais de crédito

agrícola e industrial. Beneficiou também de

condições económicas e financeiras favoráveis

que se verificaram na década de 1870: abun-

dância de capitais no Norte de Portugal,

aumento do câmbio do Brasil sobre Londres,

perspetivas de lucro que os bancos e o jogo com

os títulos de dívida do Estado prometiam e ine-

xistência de instituições bancárias na cidade de

Viana. Surgiu em 1873 por iniciativa do escri-

vão da Santa Casa da Misericórdia de Viana do

Castelo, José Joaquim de Araújo Salgado, que,

após ter consultado jurisconsultos e funcioná-

rios de localidades onde funcionavam bancos

análogos, redigira o projeto de estatutos. Além

disso, conseguira, com a ajuda do membro da

Irmandade e deputado por Viana, Alfredo Pei-

xoto, a necessária autorização do governo para

vender as inscrições pertencentes à Misericór-

dia que haveriam de constituir parte do capital

do Banco. Em sessão da mesa da Santa Casa de

Viana de 9 de fevereiro de 1873, Araújo Salgado

apresentou os estatutos, sendo também autori-

zado a tratar de todas as operações necessárias

para organizar o estabelecimento. No entanto,

dada a seriedade da questão, foi necessário con-

vocar o Definitório da Misericórdia. Em 13 de

fevereiro, em sessão da mesa definitória, o pro-

vedor António Pinto de Araújo Correia reafir-

mou as vantagens económicas e morais do

Banco, quer para o futuro da Santa Casa quer

para a própria cidade de Viana e povoações vizi-

nhas. A possibilidade de emitir ações da insti-

tuição era vista como algo que tornaria o Banco

apelativo a um maior número de indivíduos.

Na sessão seguinte, realizada uma semana

depois (20 de fevereiro), o projeto seria aprova-

do, apesar da oposição de quatro dos definido-

res, que rejeitavam a venda dos títulos de dívida

pública referidos anteriormente e não acredita-

vam na rendibilidade do Banco, o qual, em sua

opinião, apenas serviria para fazer usura.

Segundo Costa Godolphim, em 20 de março de

1873, seria publicado o decreto governamental

que autorizava a criação do Banco Agrícola e

Industrial Vianense. Em 8 de junho, a mesa da

Misericórdia aprovou os estatutos (entretanto

alterados pelo Ministro das Obras Públicas,

o regenerador António Cardoso Avelino), os

quais são redigidos oficialmente em 14 de

junho seguinte e assinados no Paço por aquele

ministro, em 8 de julho. O Banco nascia, mal-

grado a guerra surda movida por ex -irmãos da

Santa Casa. Segundo D. Luís de Castro e João

Aquiles Ripamonti, os estatutos deste Banco

eram um decalque dos estatutos do Banco

Agrícola e Industrial Viseense. A nova institui-

ção, de duração indefinida e que tinha como

firma «Banco Agrícola e Industrial Vianense»,

estava sediada no rés -do -chão do edifício

da Misericórdia (mais precisamente na casa da

cera, ao lado da casa mortuária, da casa de

autópsias, da sala de inspeção das toleradas e

dos quartos para alienados e presos), na Praça

da Rainha, atual Praça da República, de Viana

do Castelo (freguesia de Santa Maria Maior).

Em 1897, pensou -se em estabelecer a sala de

despacho e a casa do Banco no 2.º andar da

Misericórdia, mas a liquidação iniciada em

1898 interrompeu esse projeto. O seu capital

era composto: por 13 100$000 réis representati-

vos de capitais possuídos e administrados

pela Irmandade da Misericórdia; pelo que pro-

duzisse a venda de 38 contos de réis em inscri-

ções de assentamentos possuídas e administra-

das pela Misericórdia e que não resultassem da

desamortização dos seus bens (operação que

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 49

rendeu 17 424$000 réis); por 25 contos de réis

emitidos em 1250 ações de 20$000 réis cada;

pelas quantias que recebesse na caixa económi-

ca e a título de depósito com juro; e pelo produ-

to dos títulos fiduciários que o Banco negocias-

se nos termos dos estatutos. Era ainda facultado

ao Banco a emissão de obrigações de 25$000

réis cada, representativas dos empréstimos rea-

lizados. O seu fim era auxiliar e fomentar o

progresso agrícola e industrial, por meio de

empréstimos de capitais para o granjeio, arro-

teia, aquisição e melhoramento dos prédios

rústicos e desenvolvimento da pequena indús-

tria. Também deveria desenvolver o princípio

da previdência, através de uma caixa económi-

ca, cujos depósitos seriam destinados às opera-

ções do Banco e garantidos pelo seu capital.

As suas operações limitavam -se a pessoas e

entidades que diretamente exercessem a agri-

cul tura ou a indústria no concelho de Viana do

Castelo ou nos concelhos limítrofes, e incluíam:

empréstimo sobre penhores (bens móveis, gado,

títulos de dívida pública, letras) e em conta-

-corrente, consignação de rendimentos, depó-

sitos (de alfaias, títulos de crédito ou dinheiro) e

emissão de títulos fiduciários representativos

dos empréstimos realizados. Era admi nistrado

por três gerentes efetivos (e três substitutos),

eleitos anualmente: dois pela mesa da Miseri-

córdia e o restante pelos acionistas com três ou

mais ações, sendo que apenas podiam ser elei-

tos os irmãos da Santa Casa ou os acionistas do

Banco. A presença da Santa Casa nos destinos

do estabelecimento era reforçada pelo papel do

provedor como responsável pela convocação da

assembleia geral de acionistas (praticamente

era o presidente daquele órgão social). Por

outro lado, era o conselho de distrito quem ele-

gia anualmente os três membros do conselho

fiscal do Banco e o próprio conselho fiscal

da Santa Casa da Misericórdia era tido e achado

na apreciação do relatório da gerência, a quem

cumpria genericamente administrar e repre-

sentar o Banco, gerir o quadro de pessoal e res-

ponder perante o conselho fiscal, os acionistas

e o provedor da Irmandade. Em 13 de julho

de 1873, tomam posse os gerentes propostos

pelo provedor da Santa Casa, a saber: como efe-

tivos, José Luís Gonçalves Júnior (correspon-

dente, em Viana, do Banco de Guimarães),

Sebastião da Silva Neves e António Maria Bap-

tista Camacho (um dos futuros fundadores do

Banco de Viana); e, como substitutos, José Mar-

tins Barbosa, José Lino Emílio e Vicente José da

Cunha. Nos dias seguintes, são nomeados os

restantes quadros do Banco. As operações ban-

cárias iniciaram -se em 1 de outubro de 1873,

tendo gerado até 30 de junho de 1874 (último

dia do ano económico do Banco) um lucro de

1913$170 réis (ou 495 réis por ação). Se inicial-

mente a sua ação privilegiava o crédito agrícola

e industrial, rapidamente, porém, o Banco alte-

rou a sua natureza, alegadamente para preve-

nir a sua ruína (e a da Misericórdia), causada

pela concorrência movida pelo Banco Comer-

cial de Viana. Por outro lado, tornava -se neces-

sário aumentar os prazos dos empréstimos,

porque nenhum agricultor os conseguia cum-

prir. De igual modo se queixavam os diretores

do Banco da limitação geográfica das operações

imposta pela lei de Andrade Corvo. Deste

modo, em março de 1874, a Sociedade Geral de

Crédito Agrícola e Financeira de Portugal,

sediada em Lisboa, pede para se associar ao

Banco, que veria assim o seu capital acionista

duplicado e se tornava agente daquela socieda-

de para as operações que pelos seus estatutos

estava proibido de realizar. A Sociedade Geral

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)

50 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

era o resultado da transformação da Compa-

nhia de Crédito e Progresso Agrícola de Portu-

gal, após a entrada de capitais franceses, a qual

deturpara os objetivos iniciais daquela compa-

nhia. De banco agrícola, apenas tinha o nome.

Aquela oferta foi aprovada em sessão da mesa

de 25 de abril de 1874 pelo conselho fiscal e

acionistas do Banco e redundou numa revisão

dos seus estatutos (após autorização régia).

O capital passou a valer 50 contos de réis (total-

mente realizado somente a partir de 1876), divi-

dido em 2500 ações no valor nominal de 20$000

réis, ao qual se acrescia o fundo da Misericór-

dia no valor de 30 524$000 réis. A Sociedade

Geral tornava -se deste modo o principal acio-

nista do Banco e o Banco Agrícola e Industrial

Vianense assumia uma vertente eminente-

mente comercial, aproveitando também a gran-

de latitude concedida às suas operações pela lei

de 1867. Com a entrada da Sociedade Geral no

Banco, as operações deste, que anteriormente

se dirigiram à lavoura (através de empréstimos

sobre penhores), passaram a assumir o carácter

rotineiro de desconto de letras e operações

sobre efeitos comerciais e fundos públicos. A

instituição passou a funcionar mais como ban-

co comercial do que como banco agrícola,

aproveitando -se do facto de a lei não lhe limitar

a taxa de juro praticada. Para completar a meta-

morfose, foram os estatutos alterados e aprova-

dos pelo governo em 30 de junho de 1874. Neles

se declarava que a Municipalidade de Viana do

Castelo, e não a Misericórdia, funda (apesar de

já estar fundado) por tempo indefinido o Banco

Agrícola e Industrial Vianense. A Irmandade

passou a ter apenas direito a eleger um dos

gerentes (e o seu substituto), ficando a eleição

anual dos outros dois (e suplentes) a cargo da

Sociedade Geral e dos acionistas possuidores

de três ou mais ações (muitos dos acionistas

eram membros da Irmandade: destes destaca-

-se, além dos gerentes do Banco, António Ber-

nardino de Meneses, lente de Teologia em

Coimbra). Neste processo eram eleitores e tam-

bém elegíveis os mesários e membros do con-

selho fiscal da Irmandade. Até à liquidação do

Banco iniciada em 1898, foram gerentes, pela

parte da Santa Casa, António Fernando de

Morais (1875/1876 -1877/1878, 1879/1880),

Manuel Joaquim Vieira (1878/1879), José Lino

Emílio (1880/1881 -1886/1887), António Maria

Baptista Camacho (1887/1888 -1891/1892) e

José Júlio Pinto Ribeiro (1892/1893 -1898/

1899). Além destes, foram também gerentes

eleitos pelos acionistas José Luís Gonçalves

Júnior (em 1875 e entre 1877 e 1879 ), Manuel

Joaquim Vieira (em 1874/1875 e 1877/1878),

António Fernando de Morais (1878/1879),

António Maria Baptista Camacho (1894/1895-

-1897/1898), António de Abreu de Lima Pereira

Coutinho (1897/1898 e 1898/1899) e João

Augusto Loureiro da Rocha Páris (1894/1895-

-1898/1899). A importância da Santa Casa na

gestão do Banco mantinha -se evidente. A dis-

cussão dos relatórios da gerência (invariavel-

mente aprovados por unanimidade e sem dis-

cussão) era feita no Consistório da Misericórdia,

perante os mesários, o conselho fiscal da

Irmandade e o seu provedor (como presidente

destas assembleias), além dos acionistas. E tal

como dantes, o conselho fiscal do Banco era

escolhido pelo conselho de distrito da Santa

Casa. No entanto, a própria Misericórdia fazia

concorrência ao Banco no que respeita à con-

cessão de empréstimos a juros e sobre hipote-

cas. Em algumas ocasiões, era levantado

dinheiro à ordem no Banco para se aplicar na

concessão de empréstimos por conta própria.

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VIANENSE (1873 -1898)

Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias 51

Além disso, a Irmandade recorria também a

instituições concorrentes para depósitos, para

averbamento de títulos financeiros, para des-

conto de letras ou para aplicações financeiras.

Sintomático desta política foi a opção tomada

em 1882 de levantar 365$000 réis da caixa eco-

nómica do Banco para se comprar títulos de

empréstimo da Câmara Municipal de Viana do

Castelo, por se entender que era mais produtiva

a aplicação desse capital em tais títulos. Toda-

via, o Banco chegou a acudir às necessidades

financeiras da Irmandade (1881), quando a des-

pesa desta sobrepujou as suas receitas. Quanto

aos depósitos recebidos, o seu valor andou sem-

pre em torno dos 17 contos de réis. Os valores

em caixa oscilaram entre os 16 contos de réis

em 1874 e os 800$000 réis em 1890, atingindo

uma taxa média de cobertura dos depósitos na

ordem dos 33 %. Os seus lucros, inicialmente,

mostraram -se promissores. Em crescendo até

1876, começaram a cair após a crise e recessão

verificada e iniciada naquele ano. Contudo,

entre 1876 e 1879 os lucros líquidos superaram

os 4 contos de réis, tendo o dividendo sido sem-

pre superior a 1$000 réis por acção (dividendo

de 5 % a 7 %). A partir de 1880 e até 1898 ronda-

ram os 3500$000 réis. Os dividendos não mais

ultrapassaram os 800 réis por acção (3 % -4 %).

Quando esta quebra dos lucros se verificou, a

gerência optou por anular as verbas destinadas

ao fundo de reserva. De facto, entre 1880 e

1884, o fundo de reserva não aumentou. O con-

trário se verificou a partir de 1893. A partir des-

te ano (excetuando o ano de 1895), foram atri-

buídas verbas elevadas para fundo de reserva

(sempre superiores a 500$000 réis e por vezes

superiores a 1000$000 de réis, quando antes o

máximo fora de 200$000 réis). A rentabilidade

média anual (dada pela percentagem do capital

do Banco coberta pelos seus lucros líquidos,

segundo conceito de Jaime Reis) fixou -se nos

7,5 % (atingindo valores máximos naquele qua-

driénio 1876 -1879). Em 1896, o Banco convertia

mais de 5 contos de réis de letras em emprésti-

mos garantidos por bens de raiz por se enten-

der que assim a dívida ficava mais garantida.

No ano seguinte, a gerência liquidava e suspen-

dia os empréstimos sobre penhores, porque,

sendo de pouca monta, eram sobrecarregados

com uma taxa de imposto de selo excessiva e

por vezes superior ao juro que auferiam. Ape-

sar destas medidas, em 1898 iniciar -se -ia o pro-

cesso de liquidação do Banco Agrícola e Indus-

trial Vianense, na sequência da grave crise

económica que afetava a Misericórdia. Em ses-

são da mesa da Santa Casa, realizada em 6 de

outubro de 1898, o provedor João Coelho de

Castro Vilas Boas apresenta as dificuldades

financeiras por que passava a instituição, uma

vez que os géneros de primeira necessidade

vinham encarecendo progressivamente e algu-

mas das suas receitas vinham diminuindo,

incluindo -se nessas receitas o dividendo do

Banco. Sendo considerado impossível conti-

nuar a gerir deste modo a Santa Casa, tornara -se

urgente obstar a que as dificuldades aumentas-

sem. A solução proposta passou pela liquidação

do Banco, providência que parecia ao provedor

poder remediar em grande parte o mal por que

passava a Santa Casa da Misericórdia de Viana

do Castelo e criar uma situação mais desafoga-

da para o futuro, dada a diminuição do rendi-

mento do capital que a Santa Casa tinha empre-

gado no Banco (mais de 1200$000 réis anuais,

verba muito superior às previsões de prejuízos

com a liquidação). Refira -se que dos 44 contos

de réis que constituíam o capital da Misericór-

dia de Viana, 30 estavam empatados no Banco.

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BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VISEENSE (1868 -1977)

52 Dicionário de História Empresarial Portuguesa, Séculos XIX e XX Instituições Bancárias

D. Luís de Castro, João Ulrich e João Aquiles

Ripamonti adiantam ainda que o facto de o

Banco se encontrar numa zona de pequenos

proprietários onde a oferta de capitais a preços

cómodos era grande, de ter sofrido a concorrên-

cia de três bancos comerciais (Banco de Viana *,

Banco Mercantil de Viana * e Banco Comercial

de Viana *) e de ter concedido empréstimos com

menos critério (que o obrigaram a execuções

judiciais e à compra de grande porção das suas

próprias ações e de ações de outros bancos)

contribuíram para o seu insucesso. Seja como

for, a proposta de liquidação seria aprovada

por unanimidade, sendo concedidos plenos

poderes ao provedor para proceder à operação.

A comissão liquidatária era composta por João

Augusto Loureiro da Rocha Páris (gerente

suplente do Banco Mercantil de Viana), João

Passos de Oliveira Valença e José Júlio Pinto

Ribeiro. Em fevereiro de 1898, o crédito da

Santa Casa em relação ao Banco ascendia a

30 860$000 réis (29 151$600 réis de capital,

660$000 réis em acções e 1048$400 réis per-

tencentes ao Recolhimento de S. Tiago, admi-

nistrado pela Santa Casa), no entanto, nessa

altura, apenas receberia metade dessa verba,

não em numerário, mas em créditos que o Ban-

co tinha sobre os seus clientes. Em 1907, 174

das suas ações seriam tomadas pelo Banco

Mercantil de Viana em liquidação de uma con-

ta. Estas desapareceriam do rol de fundos f lu-

tuantes daquela instituição em 1914. Segundo

o Anuário Comercial de Portugal, a comissão

liquidatária do Banco subsistiu ainda até 1921.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

CASTRO, D. Luís de, Crédito Agrícola Democrático, Lis-

boa, Livraria Clássica Editora, 1911; GODOLPHIM, Cos-

ta, As Misericórdias, Lisboa, Imprensa Nacional, 1897;

REIS, Jaime, «Os bancos portugueses 1850 -1913»,

in Anais da Conferência Internacional de História de

Empresa, Niterói, 1991, pp. 42 -91; RIPAMONTI, João

Aquiles, O Crédito Agrícola e os Bancos Rurais, Lisboa,

Tipografia Portuense, 1888; TELES, Basílio, O Proble-

ma Agrícola, Porto, Livraria Chardron, 1899; ULRICH,

João Henrique, O Crédito Agrícola em Portugal, Lisboa,

Livraria Ferin Editora, 1908; Banco Mercantil de Viana,

Relatório da Gerência (1907, 1913 -1914), Biblioteca do

Banco de Portugal (BPR/PT -00100/), 1908, 1914 -1915;

«Escritura de sociedade anónima de responsabilida-

de limitada do Banco de Viana», in Diário do Gover-

no, n.º 64 (Janeiro -Junho 1875), Lisboa, pp. 523 -524;

Estatística Bancária (1858 a 1892), Lisboa, Imprensa

Nacional, 1894; Santa Casa da Misericórdia de Via-

na do Castelo, Arquivo Distrital de Viana do Castelo

(3.24.3.22), (3.24.3.7 a 3.24.3.10), 1863 -1908.

HSP

BANCO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL VISEENSE (1868 -1977)O Banco Agrícola e Industrial Viseense foi

fundado na cidade de Viseu pela Santa Casa da

Misericórdia da mesma cidade, aproveitando

as oportunidades concedidas pela Lei de 22 de

junho de 1867, de Andrade Corvo, que, entre

outras coisas, regulava, pela primeira vez, a

constituição de sociedades anónimas e visava

incentivar a criação de instituições de crédito

agrícola e industrial pelas irmandades, confra-

rias e misericórdias. Com efeito, seis meses

após a saída da referida lei, em 5 de dezembro

de 1867, já a mesa da Santa Casa da Mise ri-

córdia de Viseu tinha aprovado, junto dos

irmãos, os seus estatutos e reunido os princi-

pais documen tos obrigatórios para a respetiva

aprovação régia. Para além dos estatutos apro-