história contemporânea da mata da esperança

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA MATA DA ESPERANÇA “A História Contemporânea sobre a “Mata da Esperança” começa no ano de 1927 quando, naquela área de 437 ha, foi construído e inaugurado o serviço de abastecimento de água da Cidade de Ilhéus, na época administrado pelo Serviço Autônomo de Águas e Esgotos (SAAE). Era prefeito o Sr. Mário Pessoa da Costa e Silva (1924-1927). Esse sistema funcionou até a década de 70, período em que se desativou a captação de água da barragem da Esperança. Nesse ínterim, a área do Parque Municipal foi mantida pela Prefeitura de Ilhéus e pelo Governo do Estado através da EMBASA, circulando na área equipe de vigilância, visando conter o desmatamento e, por conseguinte, a destruição total dos recursos naturais. No inicio da década de 90, quando os municípios brasileiros começam a adequar-se à Constituição Federal e iniciam a elaboração das suas Leis Orgânicas, Ilhéus não fugiu à regra nacional. Com o afinco, competência e participação da ilustre Vereadora Dra. Vitória Berbert de Castro, responsável pela elaboração do Capítulo XV da Política do Meio Ambiente, art. 226, da Lei Orgânica do Município de Ilhéus, criou-se o Parque Municipal da Boa Esperança, a Área de Preservação Ambiental (APA) da Lagoa Encantada e os mecanismos jurídicos para criação do Fundo Municipal do Meio Ambiente, dentre outras providências. Chegamos ao ano de 1994, e encontramos o seu relato referente a brilhante participação da Sra. Rute Colares e outros na conservação do Parque. Naquela época, através do Decreto Municipal n° 42 de 17 de junho de 1994, foi criado o Jardim Botânico de Ilhéus naquela área. Em 1995 foi elaborada “Minuta” do Plano de Manejo do Jardim Botânico pela Prefeitura Municipal de Ilhéus através das suas Assessorias de Planejamento e de Meio Ambiente. E, no ano de 1996, a Prefeitura Municipal de Ilhéus assinou contrato com a Fundação Pau Brasil para que a mesma ajudasse na elaboração de projetos, captação de recursos e administração geral do Parque. Em 1997, na administração do Prefeito Dr. Jabes Ribeiro, a Fundação Pau Brasil e a CEPLAC iniciaram uma ampla discussão técnica visando a elaboração de projetos com a finalidade de dar a proteção efetiva ao Parque. A Prefeitura de Ilhéus liberou funcionários para o Convenio e a recém criada Universidade Livre do Mar e da Mata incorporou-se ao grupo de instituições mantenedoras dessa Unidade de Conservação. Nesse ínterim, evoluía a Legislação Ambiental Nacional, que nos contemplou com a Lei Federal nº 9.985, de 18 de junho de 2000, que „regulamenta o Art. 225, § 1º, incisos I, II, III, e VII da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências‟. Outras Leis de proteção aos recursos naturais foram sendo amadurecidas nos âmbitos federal, estadual e, no municipal, foi sancionada a Lei nº 2.853 que reestruturou o CONDEMA – Ilhéus, em atendimento a Lei nº 6.938. Nesse período, iniciou-se a elaboração do projeto Implantação da Infraestrutura do Parque Municipal Esperança, Ilhéus, BA, projeto amplamente divulgado pela imprensa e pelos técnicos envolvidos que, sob a orientação do Dr. João Louis Pereira, teve como participantes os profissionais: Dr. Paulo de Tarso Alvim, Dan Érico Lobão, Regina Farias, Júlia Maria Santana Salomão, Marilene Lapa e Alan Dick. Esses trabalhos foram realizados com o apoio da FUNPAB, CEPLAC, PMI, MARAMATA e do CRA. Prevê, o referido projeto, dentre outras atividades, a reforma das construções existentes, implantação de guarda corpo, construção de guarita, melhoria do acesso, construção de unidades para demonstração técnico-científica, implantação de sistemas de energia elétrica, hidráulica e tratamento de esgoto, aquisição de veículo, identificação e caracterização das áreas degradas e definição de estratégias para sua recuperação e/ou enriquecimento, capacitação para educadores e guias ecológicos, mapeamento de trilhas ecoturísticas e construção de viveiro para plantas. Enquanto um grupo elaborava o projeto acima mencionado, deu-se inicio a uma discussão interinstitucional, em busca de apoio financeiro e técnico para o bom andamento das atividades. Várias consultas técnicas e jurídicas foram feitas a instituições reguladoras como o Ministério do Meio Ambiente, CRA e IBAMA, entre outros. Essas instituições reguladoras consultadas nos informaram que a denominação e natureza jurídica do Parque da Boa Esperança deveriam atender, irrestritamente, a Lei Orgânica do Município. Pela razão exposta, através da Lei Complementar Municipal nº 001/2001, de 07 de junho de 2001, foi regulamentada a criação da Unidade de Conservação de Proteção Integral denominada Parque Municipal da Boa Esperança, atendendo assim aos Arts. 7 e 11 da Lei nº 9.985 e a Lei Orgânica Municipal. Na oportunidade foi revogado o Decreto nº 42, de 17 de junho de 1994, que criou o Jardim Botânico de Ilhéus. Em seguida, ainda no ano de 2001, foi elaborado e decretado o Plano

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA MATA DA ESPERANÇA

“A História Contemporânea sobre a “Mata da Esperança” começa no ano de 1927 quando, naquela área de 437 ha, foi construído e inaugurado o serviço de abastecimento de água da Cidade de Ilhéus, na época administrado pelo Serviço Autônomo de Águas e Esgotos (SAAE). Era prefeito o Sr. Mário Pessoa da Costa e Silva (1924-1927). Esse sistema funcionou até a década de 70,

período em que se desativou a captação de água da barragem da Esperança. Nesse ínterim, a área do Parque Municipal foi mantida pela Prefeitura de Ilhéus e pelo Governo do Estado através da EMBASA, circulando na área equipe de vigilância, visando conter o desmatamento e, por conseguinte, a destruição total dos recursos naturais.

No inicio da década de 90, quando os municípios brasileiros começam a adequar-se à Constituição Federal e iniciam a elaboração das suas Leis Orgânicas, Ilhéus não fugiu à regra nacional. Com o afinco, competência e participação da ilustre Vereadora Dra. Vitória Berbert de Castro, responsável pela elaboração do Capítulo XV da Política do Meio Ambiente, art. 226, da Lei Orgânica do Município de Ilhéus, criou-se o Parque Municipal da Boa Esperança, a Área de Preservação Ambiental (APA) da Lagoa Encantada e os mecanismos jurídicos para criação do Fundo Municipal do Meio Ambiente, dentre outras providências.

Chegamos ao ano de 1994, e encontramos o seu relato referente a brilhante participação da Sra. Rute Colares e outros na conservação do Parque. Naquela época, através do Decreto Municipal n° 42 de 17 de junho de 1994, foi criado o Jardim Botânico de Ilhéus naquela área. Em 1995 foi elaborada “Minuta” do Plano de Manejo do Jardim Botânico pela Prefeitura Municipal de Ilhéus através das suas Assessorias de Planejamento e de Meio Ambiente. E, no ano de 1996, a Prefeitura Municipal de Ilhéus assinou contrato com a Fundação Pau Brasil para que a mesma ajudasse na elaboração de projetos, captação de recursos e administração geral do Parque.

Em 1997, na administração do Prefeito Dr. Jabes Ribeiro, a Fundação Pau Brasil e a CEPLAC iniciaram uma ampla discussão técnica visando a elaboração de projetos com a finalidade de dar a proteção efetiva ao Parque. A Prefeitura de Ilhéus liberou funcionários para o Convenio e a recém criada Universidade Livre do Mar e da Mata incorporou-se ao grupo de instituições mantenedoras dessa Unidade de Conservação. Nesse ínterim, evoluía a Legislação Ambiental Nacional, que nos contemplou com a Lei Federal nº 9.985, de 18 de junho de 2000, que „regulamenta o Art. 225, §

1º, incisos I, II, III, e VII da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências‟. Outras Leis de proteção aos recursos naturais foram sendo amadurecidas nos âmbitos federal, estadual e, no municipal, foi sancionada a Lei nº 2.853 que reestruturou o CONDEMA – Ilhéus, em atendimento a Lei nº 6.938.

Nesse período, iniciou-se a elaboração do projeto Implantação da Infraestrutura do Parque Municipal Esperança, Ilhéus, BA, projeto amplamente divulgado pela imprensa e pelos técnicos envolvidos que, sob a orientação do Dr. João Louis Pereira, teve como participantes os profissionais: Dr. Paulo de Tarso Alvim, Dan Érico Lobão, Regina Farias, Júlia Maria Santana Salomão, Marilene Lapa e Alan Dick. Esses trabalhos foram realizados com o apoio da FUNPAB, CEPLAC, PMI, MARAMATA e do CRA.

Prevê, o referido projeto, dentre outras atividades, a reforma das construções existentes, implantação de guarda corpo, construção de guarita, melhoria do acesso, construção de unidades para demonstração técnico-científica, implantação de sistemas de energia elétrica, hidráulica e tratamento de esgoto, aquisição de veículo, identificação e caracterização das áreas degradas e definição de estratégias para sua recuperação e/ou enriquecimento, capacitação para educadores e guias ecológicos, mapeamento de trilhas ecoturísticas e construção de viveiro para plantas.

Enquanto um grupo elaborava o projeto acima mencionado, deu-se inicio a uma discussão interinstitucional, em busca de apoio financeiro e técnico para o bom andamento das atividades. Várias consultas técnicas e jurídicas foram feitas a instituições reguladoras como o Ministério do Meio Ambiente, CRA e IBAMA, entre outros. Essas instituições reguladoras consultadas nos informaram que a denominação e natureza jurídica do Parque da Boa Esperança deveriam atender, irrestritamente, a Lei Orgânica do Município.

Pela razão exposta, através da Lei Complementar Municipal nº 001/2001, de 07 de junho de 2001, foi regulamentada a criação da Unidade de Conservação de Proteção Integral denominada Parque Municipal da Boa Esperança, atendendo assim aos Arts. 7 e 11 da Lei nº 9.985 e a Lei Orgânica Municipal. Na oportunidade foi revogado o Decreto nº 42, de 17 de junho de 1994, que criou o Jardim Botânico de Ilhéus. Em seguida, ainda no ano de 2001, foi elaborado e decretado o Plano

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de Manejo da Unidade de Conservação – Fase 1, condição básica para aprovação de projetos em

instituições financeiras. O financiamento do projeto Implantação da Infraestrutura do Parque Municipal Esperança, Ilhéus, BA pode então ser aprovado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA/MMA). Essa instituição aceitou colaborar financeiramente com um montante inicial de R$329.273,00 (trezentos e vinte e nove mil, duzentos e setenta e três reais), cabendo a CEPLAC a administração físico-financeira do projeto.

Vale ressaltar aqui o Decreto Municipal nº 072/2001 que criou o Conselho Consultivo da UC Parque da Boa Esperança, assim como o Decreto Municipal nº 076/2001 que deu posse aos Conselheiros representantes das seguintes Instituições: CEPLAC, IBAMA, Prefeitura Municipal de Ilhéus, através da Secretaria de Planejamento, MARAMATA, FUNPAB, ORDEM, Distrito Industrial e Moradores do bairro do Banco da Vitória.

Todos esses procedimentos jurídicos são orientados pela Lei nº 9.985 e, a partir de então, com o apoio dos Poderes Executivo e Legislativo municipais, a nossa Unidade de Conservação assumiu um status jurídico que não poderá, jamais, lhe ser tirado.

Lembramos que, enquanto o Projeto acima estava sendo elaborado, até a sua aprovação, contamos com o apoio incondicional do Diretor da CEPLAC Engº Hilton Kruschewski, do Prefeito de Ilhéus Dr. Jabes Ribeiro, do chefe do Centro de Pesquisas do Cacau - CEPEC/CEPLAC, Dr. Raúl René Valle, e do Presidente da MARAMATA, Dr. Soane Nazaré de Andrade. Isso possibilitou a construção de escadas em estilo rústico localizadas em pontos de difícil acesso, por diversas vezes limpou-se a trilha principal de acesso à barragem, abriram-se novas trilhas, cercas foram levantadas com estacas doadas pelo IBAMA e outros serviços de manutenção da área foram prestados. Esses trabalhos mantiveram a área do Parque em condições de receber pesquisadores do mundo inteiro.

Assim, palco de vários projetos, o Parque foi um Hot Spot do Projeto “Sistemas de Apoio à Tomada de Decisão para o Manejo dos Ecossistemas nas Áreas Rurais de Floresta Tropical Atlântica – ECOMAN”, financiado pela Comunidade Européia. Esse Projeto foi apoiado por especialistas de diversas áreas e incluiu a participação da Universidade Nova de Lisboa, Portugal; Universidade de Hamburgo, Alemanha; Universidade Complutense de Madrid, Espanha; Universita degli Studi di Trieste, Itália; Joanneum Research, Áustria; Centro Agronômico Tropical de

Investigación y Enseñanza, Costa Rica. No Brasil, a Fundação Pau Brasil liderou a participação de cientistas e professores da CEPLAC e UESC, respectivamente. Os resultados desse Projeto foram bastante divulgados.

A partir do ECOMAN e de publicações internacionais, o Parque Municipal da Boa Esperança tornou-se mundialmente conhecido. Outros projetos também foram elaborados visando o aproveitamento do potencial natural da Unidade de Conservação. Também, alguns problemas sociais foram mitigados, nos bairros do Banco da Vitória, Malhado e Fundão.

Em sentido amplo, além de Projetos específicos, durante esse tempo, a equipe teve um grande número de colaboradores: Dr. Jabes Ribeiro (PMI), Dr. Raúl René Valle (CEPLAC/FUNPAB), Dr. João Louis Pereira (CEPLAC/FUNPAB), Dr. Soane Nazaré de Andrade (MARAMATA), Dr. Paulo de Tarso Alvim (FUNPAB), Dr. Max de Menezes (UESC/FUNPAB), João Lemos e sua equipe (CEPEC/CEPLAC), IBAMA, CRA, OAB, Ministério Público, CONDEMA-Ilhéus, Polícias Federal, Militar e Civil, munícipes, técnicos e parceiros de jornada que, por inúmeras vezes, ofertaram sua força de trabalho para o sucesso desse Projeto.”

Este é apenas um breve relato das atividades desenvolvidas nos últimos anos, tendo a Unidade de Conservação Parque Municipal da Boa Esperança como referência. Esperamos que possa ser incluído nos arquivos históricos para uso de todos. Colocamo-nos a sua disposição para maiores esclarecimentos, se necessário for.

João Louis Pereira (Ph.D) - Engª Regina Farias - Raúl René Valle (Ph.D)

(by R2Cpress - 09/03/2006)

ESTUDOS REALIZADOS POR PESQUISADORES DA CEPLAC

Vegetação: Constatamos no campo que a mata vinha sofrendo pressões antrópicas das populações que residem nas suas bordas, principalmente na extração de varas e esteios para

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construção de casas e lenha para cozinhar. Informamos que 1994 houvera um desmatamento

onde foram retiradas madeiras de “Lei”, usando-se motoserras, tratores e caminhões. Já em 1995 acontecera um incêndio próximo da “estrada real”. (Estrada de acesso à mata pelo bairro do Banco da Vitória, desde há época das SESMARIAS). Comunicamos que a mata na região Noroeste sofrera uma agressão pela linha de transmissão da Coelba, com isso abrindo um caminho para penetração do homem ao interior da mata. Alertamos para a presença de inúmeros caçadores que capturavam semanalmente animais como: Tatus, Cutias, Luiz Caixeiros, Teiús e Tamanduás, informações prestadas pelos próprios caçadores que encontramos no interior da mata.

Pelo levantamento do vôo fotográfico/panorâmico em junho de 1995 – Informamos que do total de 405 ha da mata, apenas 266 ha ou 65,68% dela era realmente mata primária intacta, 115,8 ha ou 28,59%, se tratava de mata primária, mas já perturbada pelo homem.

Informamos também, através de mapas, baseados em levantamento aerofotogramétricos, que a mata em todo seu maciço, representava em 727,5 ha em 1944, já 20 anos depois (1964), esta mata caíra para 512,7 ha, ou seja, fora desmatado 214,8ha, representando 29,52% de desmatamento. Em 1974, a mata é destruída em mais 63 ha , ficando um remanescente de 449,7ha. E finalmente em 1994 (ano do estudo), esta mata era de apenas 437,2 ha, ou seja, só restava 60,10% da mata de 1944.

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Hidrologia: Informamos que a rede de drenagem desta mocrobacia, que tem todas suas nascentes

no complexo da mata, possui uma superfície aproximada de 359 ha, com uma densidade de drenagem da ordem de 25,06m/ha. O ribeirão principal tem sua nascente a Noroeste da mata, com uma extensão de 1.800 metros. Seus afluentes são riachos perfazendo um total aproximado de 9.000 metros e que a represa que é formada por estes riachos tem uma área aproximada de 7,5 ha.

Solos: Relatamos que são solos profundos, com mais de 2 metros de profundidade, de fertilidade baixa, com uma textura franco-argilosa e de boa drenagem. Coletamos as amostras de solos e classificamos pela nomenclatura regional de solos, Colônia, Valença e Hidromórfico, que são solos com horizonte óxido (B Latossólico).

Como se vê, desde o final de 1995, tudo que poderia ser feito para o Jardim Botânico funcionar já estava concluído, ficando apenas o poder público (Prefeitura), fazer a parte dela.

Nota: Para saber mais sobre a Mata da Esperança leiam o livro de Moema Parente Angel, que relata a visita de Maximiliano da Áustria a Ilhéus, em 1860.

(by R2CPress - 16/02/2006)