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1 História 12º ano MATÉRIA DO 1º PERÍODO – TESTE 1 MÓDULO 7: CRISES, EMBATES IDEOLÓGICOS E MUTAÇÕES CULTURAIS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX 1. AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX 1.1. UM NOVO EQUITÍBRIO GLOBAL Objectivo 1. Analisar as transformações políticas ocorridas após a Primeira Guerra Mundial A Primeira Guerra Mundial (por vezes também designada por Grande Guerra) decorreu entre Agosto de 1914 e Novembro de 1918. Em 1919 começaram a celebrar-se os primeiros acordos de paz, que definiram uma nova geografia política para a Europa. Comparando o mapa político da Europa em 1914 com o novo mapa europeu do pós-guerra, evidenciam-se as seguintes transformações: 1-0 desmembramento dos impérios A derrota militar dos impérios europeus (alemão, austro-húngaro e otomano) e a realização de uma paz separada, em 1917, pelo império russo, precipitaram a mudança de regime político nesses territórios: a Alemanha, unificada desde 1871, viu-se transformada numa Republica (de Weimar); o império austro-húngaro sofreu uma cisão da qual resultaram dois países independentes. a Áustria e a Hungria; o império otomano, que já se encontrava em decadência desde o século XIX, sofreu o golpe final, transformando-se na Turquia; o império russo - e a dinastia Romanov que o governava - acabou devido à Revolução de 1917, que instaurou o poder dos sovietes. Pode afirmar-se, em consequência, que o pós-guerra instaurou a adopção do regime democrático pela maioria dos países europeus (em 1920, à excepção da Rússia soviética e dos regimes autoritários da Hungria e da Turquia. a Europa era composta por países de sistema politico liberal), 2-A criação de novos países e a alteração de fronteiras -a Finlândia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia tornaram-se estados independentes da Rússia, pais que perdeu uma parte substancial do seu território em virtude de ter antecipado a saída da guerra; -criaram-se os Estados da Polónia, da Checoslováquia, da Hungria e da Jugoslávia; -no Médio Oriente, o Líbano e a Síria foram colocados sob a tutela da Grã-Bretanha, enquanto a Palestina ficou sob tutela da Franga; -os países vencedores - tais como a França, a Itália, a Bélgica e a Roménia - viram as suas fronteiras ampliadas; pelo contrario, aos países derrotados - como a Alemanha, a Áustria, a Bulgária ou a Turquia - foram retirados vastos territórios. Porém, a deslocação de fronteiras não agradou nem a uns nem a outros: vários povos ficaram integrados em países com os quais não se identificavam e alguns países (por exemplo, a Itália), apesar de vencedores, consideravam insuficientes os territórios atribuídos. 3- A imposição de penalizações territoriais e económicas aos países derrotados Isabelle Valente

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Page 1: história 12º ano ines teste 1 e 2 1º período

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História 12º anoMATÉRIA DO 1º PERÍODO – TESTE 1

MÓDULO 7: CRISES, EMBATES IDEOLÓGICOS E MUTAÇÕES CULTURAIS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

1. AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX1.1. UM NOVO EQUITÍBRIO GLOBAL

Objectivo 1. Analisar as transformações políticas ocorridas após a Primeira Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial (por vezes também designada por Grande Guerra) decorreu entre Agosto de 1914 e Novembro de 1918. Em 1919 começaram a celebrar-se os primeiros acordos de paz, que definiram uma nova geografia política para a Europa. Comparando o mapa político da Europa em 1914 com o novo mapa europeu do pós-guerra, evidenciam-se as seguintes transformações:

1-0 desmembramento dos impérios A derrota militar dos impérios europeus (alemão, austro-húngaro e otomano) e a

realização de uma paz separada, em 1917, pelo império russo, precipitaram a mudança de regime político nesses territórios: a Alemanha, unificada desde 1871, viu-se transformada numa Republica (de Weimar); o império austro-húngaro sofreu uma cisão da qual resultaram dois países independentes. a Áustria e a Hungria; o império otomano, que já se encontrava em decadência desde o século XIX, sofreu o golpe final, transformando-se na Turquia; o império russo - e a dinastia Romanov que o governava - acabou devido à Revolução de 1917, que instaurou o poder dos sovietes.

Pode afirmar-se, em consequência, que o pós-guerra instaurou a adopção do regime democrático pela maioria dos países europeus (em 1920, à excepção da Rússia soviética e dos regimes autoritários da Hungria e da Turquia. a Europa era composta por países de sistema politico liberal),

2-A criação de novos países e a alteração de fronteiras -a Finlândia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia tornaram-se estados independentes

da Rússia, pais que perdeu uma parte substancial do seu território em virtude de ter antecipado a saída da guerra;

-criaram-se os Estados da Polónia, da Checoslováquia, da Hungria e da Jugoslávia;

-no Médio Oriente, o Líbano e a Síria foram colocados sob a tutela da Grã-Bretanha, enquanto a Palestina ficou sob tutela da Franga;

-os países vencedores - tais como a França, a Itália, a Bélgica e a Roménia - viram as suas fronteiras ampliadas; pelo contrario, aos países derrotados - como a Alemanha, a Áustria, a Bulgária ou a Turquia - foram retirados vastos territórios. Porém, a deslocação de fronteiras não agradou nem a uns nem a outros: vários povos ficaram integrados em países com os quais não se identificavam e alguns países (por exemplo, a Itália), apesar de vencedores, consideravam insuficientes os territórios atribuídos.

3- A imposição de penalizações territoriais e económicas aos países derrotados

A recuperação dos países vencedores à custa dos países vencidos constituiu uma das principais fragilidades dos acordos de paz. A Alemanha, em particular, sofreu duramente as condições ditadas o chamado diktat, em alemão - expressas no Tratado de Versalhes. Este tratado determinava um conjunto de amputações e divisões no território alemão:

-a zona fronteiriça da Alsácia-lorena, que a Alemanha havia conquistado aos franceses na guerra franco-prussiana de 1871, foi reintegrada na França. Este país demonstrava um especial interesse na humilhação da Alemanha (não foi por acaso que a assinatura da paz teve lugar na Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, o mesmo local onde, em 1871, a França capitulara perante o império alemão);

-a zona do Sarre ficou sob o controlo da Sociedade das Nações até que a sua população decidisse, por plebiscito, a quem entregar a soberania desse território;

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História 12º ano-a criação dos estados independentes da Áustria, da Polónia e da

Checoslováquia foi responsável pela perda de território alemão;-a Alemanha ficou dividida em duas partes pelo "corredor de Dantzig";-a cidade de Dantzig (actual Gdansk, na Polónia) foi entregue à tutela da

Sociedade das Nações;-a Alemanha foi destituída de todas as suas colónias, as quais passaram

para a posse das principais potências vencedoras.Para além das alterações ao nível da geografia política, a Alemanha foi

obrigada a pagar indemnizações aos países vencedores - as tão controversas reparações de guerra, exigidas a um pais arruinado - e viu o seu arsenal de defesa reduzido, quer em armamento, quer ao nível do exército.

A responsabilização da Alemanha pelas perdas da guerra juntamente com a definição de uma paz ''orquestrada" pelas principais potências vencedoras, denominadas por Conselho dos Quatro Grã-Bretanha, França, Itália e EUA - são consideradas as duas principais razões para a precariedade da paz.

Objectivo 2. Avaliar o papel desempenhado pela SDNEm 1918, o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, dirigiu ao Congresso

americano uma mensagem em que propunha 14 princípios - os "14 pontos"- que norteassem as negociações do pós-guerra. Ora, o décimo quarto ponto defendia a constituição de "uma organização geral das nações".

Em 1919, foi criada a Sociedade das Nações (SDN), com sede em Genebra, na Suíça (conhecida pela sua posição neutral nas guerras), com dois objectivos principais: manter a paz e fomentar a entreajuda a nível internacional. Para fazer cumprir estes objectivos, os países que assinaram o Pacto da Sociedade das Nações comprometiam-se a:

-manter relações internacionais "abertas e francas" (no seguimento das recomendações de Wilson que, nos "14 pontos", propunha o fim dos acordos secretos);

-reduzir os armamentos;-respeitar o direito internacional e os tratados;-submeter à análise da SDN as questões passíveis de gerar conflitos;-boicotar economicamente o país que desencadeasse uma guerra.Deste modo, aquando da sua criação, o principal papel da SDN foi contribuir para

que os Europeus recuperassem a confiança na possibilidade de uma Europa próspera e pacífica.

Porém, persistiam vários obstáculos a uma paz segura:a)Os países derrotados foram excluídos, quer dos tratados de paz, quer da SDN.b)Alguns dos povos vencedores estavam insatisfeitos com as resoluções dos

tratados de paz.c)As minorias nacionais não se sentiam respeitadas na definição do novo

mapa político da Europa, o que conduziu, desde cedo, a ocupações territoriais.d)Os EUA, apesar de constituírem uma potência que afirmava o seu poder

económico e o seu protagonismo politico, não integraram a SDN e não aprovaram o Tratado de Versalhes, contribuindo para o descrédito da organização.

e)Os países vencedores, em vez de procurarem soluções viáveis para a crise económica europeia, privilegiaram a questão das reparações de guerra, obrigando os países derrotados a pagar indemnizações aos países vencedores como meio de agradar à opinião pública sedenta de vingança,

Rapidamente, a SDN se mostrou incapaz de desempenhar o papel de mediadora de conflitos, o que comprometeu os fundamentos da sua existência.

Objectivo 3. Explicar a forte dependência da Europa em relação aos Estados Unidos no termo da Primeira Guerra Mundial

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História 12º anoOs EUA suplantaram, economicamente, a Europa desde finais do século XIX.

Assim, durante a Primeira Guerra Mundial, estavam em condição de emprestar avultadas quantias aos países europeus, alem de lhes fornecerem bens e serviços.

No final da guerra, perante uma Europa destroçada, a perda da hegemonia europeia agravou-se em favor da ascensão dos Estados Unidos da América:

-enquanto a Alemanha perdeu 15% da população mobilizada para a guerra, os EUA, que apenas intervieram no conflito a partir de 1917, perderam 3% das suas tropas:

-os índices industriais da Franca e da Alemanha decaíram acentuadamente entre 1913 e 1920 devido as dificuldades de reconversão da economia de guerra, enquanto os EUA registaram um crescimento industrial assinalável no mesmo período;

-os cidadãos europeus sofreram, após a guerra, o fenómeno da inflação. A alta de preços foi motivada por uma emissão de papel-moeda desproporcionada em relação as reservas de metal precioso e por uma elevada procura de bens de consumo sem a equivalente resposta por parte da produção. Vivia-se, portanto, a situação paradoxal de miséria extrema no meio da abundância de notas (as quais eram, quase sempre, insuficientes para pagar os produtos de primeira necessidade).

Porem, nos EUA, apesar de uma crise em 1920-21, conseguiu evitar-se o aumento da circulação fiduciária, pois o país detinha cerca de metade do ouro mundial.

Face a ruína económica dos países europeus, os EUA continuaram a ser os credores da Europa após a guerra: o Reino Unido era o principal país devedor, seguido da França, da Itália, da Bélgica e da Rússia.

Gerou-se um "triângulo" financeiro, segundo o qual os EUA emprestavam dinheiro à Alemanha; esta podia, assim, pagar as reparações de guerra a Franga e a Inglaterra, as quais, por sua vez, pagavam, então, as dívidas contraídas aos EUA.

Se a ajuda americana contribuiu para a recuperação da economia europeia, os EUA, por seu turno, viveram uma etapa de progresso económico - os "loucos anos 20", que viria a terminar, abruptamente, com a crise de tipo capitalista de 1929.

1.2. A IMPLANTAÇÃO DO MARXISMO-LENINISMO NA RÚSSIA: A CONSTRUÇÃO DO MODELO SOVIÉTICO

Objectivo 4. Descrever as condições sociais, políticas e económicas que determinaram a Revolução Russa de Fevereiro de 1917

A Revolução Russa de 1917 teve origem num conjunto de factores de ordem politica, social e económica que é importante destrinçar.

Factores políticosa)O império russo era chefiado pelo czar Nicolau II, em regime de

autocracia: o imperador detinha o poder absoluto, embora procurasse agradar a alta nobreza e ao clero.

b)A inesperada derrota na guerra russo-japonesa de 1904 contribuiu para o descrédito da dinastia Romanov.

c)Em 1905, o descontentamento do povo manifestou-se sob várias formas - por exemplo, foi então que surgiram as primeiras assembleias de operários (chamadas sovietes). Porem, as suas reivindicações foram reprimidas com violência: na Revolução de 1905 - o Domingo Sangrento uma manifestação pacifica contra a condição miserável da população que foi esmagada impiedosamente pelas tropas do czar.

d)O descontentamento face ao regime político agravou-se com a

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História 12º anoparticipação da Rússia, a partir de 1914, na Primeira Guerra Mundial: dos 13 milhões de soldados mobilizados, os mortos e desaparecidos rondavam os 13%.

e)O Parlamento russo (a Duma) foi alvo de uma certa abertura política por parte do czar, contudo, não suficiente para acalmar os ânimos,

f)Vários partidos políticos propunham a liberalização do regime; coube à facção mais radical do Partido Social-Democrata - os bolcheviques - a preparação da revolução de Outubro de 1917.

Factores sociaisA sociedade russa, nas vésperas da revolução, ainda era uma sociedade

característica do período de Antigo Regime. Era composta, na sua maioria (cerca de 85%), por camponeses que cultivavam as terras - que não lhes pertenciam - para auto consumo.

A Rússia manteve-se na cauda do arranque industrial. Consequentemente, a burguesia era um grupo ainda em formação e sem quaisquer direitos políticos e a riqueza estava concentrada nas mãos da elite detentora de terras e cargos. O operariado era um grupo minoritário, Uma sociedade tão desigualitária não poderia deixar de provocar anseios revolucionários por parte da burguesia e do povo dos campos e das cidades.

Factores económicosA estrutura arcaica da economia russa, assente numa agricultura de subsistência

e numa industrialização incipiente, aliadas a injusta distribuição de riqueza, criou o cenário propício tensão social.

Por seu turno, a participação na guerra veio agravar os problemas económicos, provocando a carência dos bens mais elementares de consumo.

Objectivo 5. Distinguir a Revolução de Outubro da Revolução de FevereiroA Revolução de Fevereiro de 1917 consistiu num movimento armado contra o

czarismo. O assalto ao Palácio de Inverno (sede da governação russa na capital – São Petersburgo) foi protagonizado pelos camponeses, operários, soldados e marinheiros associados em sovietes, Os lideres políticos que substituíram, no poder, o czar Nicolau II - Lvov e, mais tarde, Kerensky chefiaram a Rússia sob forma de uma república de tipo liberal, razão pela qual também se designa a Revolução de Fevereiro por Revolução Burguesa.

No período entre Fevereiro e Outubro de 1917, a agitação social não diminuiu. O czar havia abdicado (em Março), mas a Rússia continuava envolvida na guerra e os problemas económicos mantinham-se. A nível político, a autocracia dera lugar a um poder dual (partilhado por duas entidades: os governos liberais, por um lado, e os sovietes, por outro).

Em consequência, em Outubro de 1917 os bolcheviques, com o apoio dos sovietes, conduziram uma nova revolução, a chamada Revolução Bolchevique ou Revolução Soviética. Pela segunda vez, o Palácio de Inverno foi assaltado. O Governo Provisório foi substituído, no poder, pelo Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenine.

Lenine e Trotsky foram as figuras mais marcantes da revolução russa: aquele regressou, em Abril, da Suíça, onde estava exilado pela perseguição às suas ideias marxistas; e este, enquanto presidente do soviete de Petrogrado, desempenhou um papel fundamental na revolução, cabendo-lhe, também, a partir de 1918, organizar o Exercito Vermelho.

A Revolução de Outubro teve repercussões mais marcantes para a historia da Rússia do que a Revolução de Fevereiro, quer em termos político-sociais - foi responsável, nomeadamente, pela retirada da guerra, através do tratado de Brest-Litovsk -, quer a nível ideológico, na medida em que concretizou a primeira aplicação prática da teoria de Marx, instaurando o marxismo-leninismo.

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História 12º anoObjectivo 6. Relacionar os decretos revolucionários bolcheviques com a instauração democracia dos sovietes

A Revolução de Outubro (dias 24 e 25) foi vitoriosa graças ao apoio da população mais pobre da Rússia - camponeses sem terra, operários sujeitos a ínfimos salários, marinheiros organizada em assembleias denominadas sovietes.

No dia seguinte ao da revolução - 26 de Outubro de 1917, Lenine fez aprovar dois decretos revolucionários no II Congresso dos Sovietes:

-decreto sobre a paz - propunha a todos os povos em guerra a paz "exigida com resolução e insistência pelos operários e camponeses russos':

-decreto sobre a terra - colocava toda a propriedade fundiária privada "à disposição dos comités agrários (...) e dos Sovietes de camponeses".

Instaurando a propriedade comunitária e cumprindo a promessa de paz, os bolcheviques conseguiam, através dos decretos revolucionários, responder aos anseios dos sovietes que tanto haviam contribuído para o sucesso da revolução. A legislação revolucionária servia, assim, de instrumento para a criação de uma democracia dos sovietes, um sistema político que atendia as necessidades do proletariado urbano e campesino.

Objectivo 7. Mostrar que o -comunismo de guerra" permitiu instaurar a ditadura do proletariado

A Revolução bolchevique de 1917 pôs em pratica, pela primeira vez na História, a ideologia do filósofo oitocentista Karl Marx.

Inspirado nas ideias de Marx, Lenine defendia que a instauração de uma sociedade sem classes - o comunismo - teria de passar, previamente, por Lima etapa designada por ditadura do proletariado. Esta consistia, segundo o próprio Lenine, na "organização da vanguarda dos oprimidos em classe dominante para abater os opressores". Segundo Lenine, as democracias ocidentais eram incompletas porque apenas favoreciam a minoria dos ricos, logo, era urgente retirar a liberdade democrática aos capitalistas para que a maioria -os proletários - pudesse aceder à posse de riqueza. A ditadura do proletariado seria, assim, uma fase imprescindível para, numa etapa final a do comunismo, serem abolidas todas as diferenças sociais e, inclusive, o Estado.

Na Rússia, o conjunto de medidas conducentes à instauração da ditadura do proletariado tomou o nome de comunismo de guerra (efectivamente. estava em curso, desde 1918, uma guerra civil entre os russos que se opunham aos decretos revolucionários - denominados brancos - e os russos bolcheviques - vermelhos, que se saldou pela Vitoria do exercito vermelho em 1920),

O comunismo de guerra (1918-1921) sucedeu à democracia dos sovietes, substituindo decretos revolucionários por novas medidas, mais radicais. Em suma, o Estado passava a controlar os meios de produção (nacionalização da economia) redistribuindo, em seguida, os bens pelos cidadãos. Porém, o comunismo de guerra exigia grandes sacrifícios à população já desgastada pelo esforço de guerra e pela "paz desastrosa" (segundo Lenine) de Março de 1918. Apesar da requisição de géneros agrícolas aos camponeses, da fixação de pregos obrigatórios para os cereais, do trabalho obrigatório para os operários, a fome continuava.

A somar aos problemas económicos, a ditadura do proletariado correspondeu a uma apertada vigilância ideológica por parte da Tcheca (policia política do Partido Comunista). Foi durante a etapa do comunismo de guerra que o ex-imperador (czar) e a sua família foram assassinados.

Objectivo 8. Explicar o funcionamento do centralismo democráticoEm 1922 foi criada a União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS). A

organização do Estado na Rússia soviética tomou o nome de centralismo democrático, sistema que assentava nos seguintes princípios:

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História 12º ano-o poder partia das bases da sociedade - sovietes. Os sovietes eram eleitos

pela população da URSS por sufrágio universal e, a partir deles, elegiam-se, sucessivamente, os poderes superiores (Congresso das Sovietes, Comité Executivo Central e, por fim, o Presidium e o Conselho dos Comissários do Povo, chefiado por Lenine):

-a organização do Partido Comunista (criado em 1918, a partir do anterior Partido Bolchevique) seguia a mesma estrutura: as bases do partido - denominadas células elegiam os organismos superiores (Congresso do Partido Comunista. Comité Central, até ao Politburo e Secretariado-Geral);

-as bases, por seu turno, tinham a obrigação de obedecer aos órgãos do topo do Estado;

-ao contrário do que acontecia nas democracias ocidentais, não existia separação clara entre os poderes legislativo, executivo e judicial;

-apenas o Partido Comunista era permitido, pois considerava-se que era o único partido que poderia representar o proletariado, enquanto o pretenso pluralismo democrático ocidental não ofereceria, na pratica, alternativas ao controlo do Estado pela burguesia;

-o Estado era controlada peio Partido Comunista, o que reduziu, na prática, o poder dos sovietes.

Objectivo 9. Caracterizar as medidas da NEPA NEP (Nova Política Económica) consistiu numa viragem da economia, a

partir de 1921, no sentido da liberdade de comércio corno meio de superar a terrível crise económica herdada da guerra civil de 1918-1920 e das más colheitas de 1920.

Considerando que o comunismo teria de ser construído com base no progresso económico e não apenas no poder dos sovietes. Lenine passou a defender medidas de tipo capitalista que estimulassem a produção:

-em vez de obrigar os camponeses a entregar todos os excedentes de cultivo, estabeleceu um imposto a pagar em géneros;

-permitiu que os camponeses vendessem directamente os seus produtos no mercado interno;

-devolveu as pequenas empresas ao controlo privado:-aceitou a ajuda do estrangeiro em investimentos, maquinaria, matérias-primas,

técnicos eliminou o trabalho obrigatório.A NEP, aplicada entre 1921 e 1927, resultou numa melhoria assinalável

dos niveis de produção agrícola e industrial.

1.3. A REGRESSÃO DO DEMOLIBERATISMO

Objectivo 10. Contextualizar a vaga de autoritarismos dos anos 20Após a Primeira Guerra Mundial, as populações da Europa aderiram a projectos

políticos extremistas - quer de extrema-direita, quer de extrema-esquerda.Por um lado, a vitória dos bolcheviques na URSS serviu de exemplo a diversos

levantamentos revolucionários na Europa, uma vez que provou a possibilidade de o proletariado se tornar a classe dominante.

Entre as principais revoluções de esquerda, salientaram-se, apesar de fracassadas, o espartaquismo (nome escolhido em honra do escravo romano revoltoso Spartacus), em Berlim, em 1918, liderado por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, e as revoltas dos camponeses sem terras e de operários em Itália, em 1919-1920.

Por outro lado, os movimentos de extrema-direita ganharam apoios em vários países da Europa, destacando-se, nomeadamente: o fascismo, vitorioso, na Itália, desde 1922, quando Benito Mussolini demonstrou a força social dos camisas negras na Marcha sobre Roma; o golpe de Estado (putsh, em alemão),

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História 12º anoperpetrado por Hitler, em 1923 (após o qual este esteve preso) e a ditadura do general Primo de Rivera, em Espanha, entre 1923 e 1930.

A tentação do povo pelos autoritarismos de extrema-direita deve ser contextualizada no âmbito da devastação que a Grande Guerra provocou sobre a Europa, a vários níveis:

-a inflação atingiu numerosos países (alguns, como a Alemanha, a Áustria e Portugal, de forma muito severa), o que se traduziu por dificuldades de subsistência da maioria da população;

-a agitação social era constante vagas grevistas e manifestações perturbavam a produtividade económica;

-as constantes lutas partidárias nas democracias liberais provocaram o descrédito do povo em relação ao valor dos sistemas parlamentares;

-os resultados visíveis da guerra - cerca de 10 milhões de mortos e 20 milhões de inválidos, a desorganização financeira, a instabilidade política - desiludiram as populações que já não acreditavam no espírito dos "14 pontos" do presidente Wilson;

-por último, o medo do bolchevismo e dos seus ataques ã propriedade privada pode explicar o apoio das classes médias e altas à ideologia fascista.

O antibolchevismo cresceu à medida que, na Rússia, o socialismo tomava uma feição mais dura, em consequência das decisões tomadas em 1919 durante a III Internacional Comunista (também chamada Komintern). Nesta internacional proclamou-se o modelo da Rússia como o único a seguir pelos restantes países e rompeu-se com todas as ideologias reformistas, instituindo-se, abertamente, a prática das depurações (perseguições a mem-bros do Estado ou do Partido Comunista com o objectivo de tornar mais "pura" a prática do marxismo-leninismo).

Objectivo 11. Contrapor o espírito confiante e racionalista do fim do século XIX ao clima de incerteza e pessimismo das primeiras décadas do século XX

No final do século XIX, a Europa ainda detinha a hegemonia sobre o mundo. O progresso técnico, aliado a expansão da Revolução Industrial, colocava à disposição dos países europeus bens alimentares em abundância e maquinismos novos. Graças à melhoria das condições de higiene e de cuidados médicos, a população encontrava-se em franco crescimento. A presença europeia era marcante nos restantes continentes, a cujos habitantes a Europa ensinava, orgulhosa, o seu modo civilizacional.

Porém, a guerra veio inverter toda a escala de valores do final do século XIX. Afinal, possuir mais conhecimento científico, mais alimentos, mais colónias não significava mais progresso para a Humanidade.

As consequências da guerra influenciaram de maneira profunda o pensamento dos sobreviventes, que passaram a olhar a vida com um maior relativismo.

Viveu-se, então, um período de transição na moral vigente em que todas as regras e valores tradicionais (por exemplo, o casamento, a religião. o papel da mulher) eram questionados, criando uma situação de anomia (estado de indeterminação dos valores morais a adoptar por determinada sociedade).

MATÉRIA DO 1º PERÍODO – TESTE 21-4 MUTAÇÕES NOS COMPORTAMENTOS E NA CULTURA

Objectivo 12. Equacionar as principais transformações na sociabilidade e nos costumes

O impacto da guerra, além de militar, económico e politico, incidiu, também, sobre as mentalidades,

Neste domínio, o fim da guerra trouxe consigo duas grandes transformações:1-A cultura do ócio;

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História 12º ano2-A emancipação feminina.

1-Uma vez que a guerra evidenciou o lado efémero de todo o empreendimento humano, comportamentos modificaram-se: a sobriedade e contenção da burguesia oitocentista, sempre previdente quanto ao futuro, deram lugar à cultura do ócio pelas classes médias e altas do pós-guerra.

A expressão "loucos anos 20" exprime o ambiente frenético que se vivia, caracterizado pelo gosto por frequentar festas onde se dançava o Charleston e clubes onde se escutava a música jazz. Nesta década surgiram as primeiras "estrelas" de cinema, como Rodolfo Valentino. As agruras da guerra faziam com que os cidadãos europeus valorizassem os momentos de felicidade e distracção, frequentassem esplanadas ou praticassem desporto.

A concentração urbana originou a criação de padrões de divertimento e de enriquecimento cultural: a vida nas cidades tendeu, assim, para a massificação (uniformização generalizada de hábitos e gostos).

2-0 papel da mulher na sociedade europeia alterou-se profundamente durante a guerra, dada a escassez de homens na população activa. Após a guerra, algumas mulheres lutaram com afinco para assegurar o direito A igualdade, com especial relevo para a igualdade política. As sufragistas, que haviam combatido pelo direito ao voto feminino desde o início do século XX (por exemplo, Emmeline Parkhurst, em Inglaterra), conseguiram conquistá-lo, nomeadamente na Alemanha, Áustria, Inglaterra e ELJA.

A par do direito de voto, a libertação das mulheres passou pelo acesso ao mundo do trabalho; apesar de as mulheres trabalhadoras ainda constituírem uma minoria e de exercerem, na sua maioria, profissões consideradas "femininas", como professora ou dactilografa, a actividade profissional foi o meio de se tornarem economicamente independentes dos homens da família.

A moda espelhava a revolução nos costumes: o abandono do espartilho (difícil de suportar para uma mulher ociosa. mas impossível para uma trabalhadora), as saias acima do tornozelo ou, mesmo, acima do joelho, o cabelo mais curto, "A la garçonne", eram algumas das caracteristicas da aparência da mulher dos anos 20.

Objectivo 13. Reconhecer a emergência do relativismo científico, a influência da psicanálise e a revolução artística como três importantes vectores da mudança cultural

A crise de valores que caracterizou o período do pós-guerra reflectiu-se nas várias dimensões da vivência humana, exercendo uma influência assinalável sobre a ciência e a arte.

1-Ciência – a crença inabalável na capacidade da ciência para explicar todos os fenómenos característica do final do século XIX a que se deu o nome de cientismo - foi abandonada no século XX. Em seu lugar, os cientistas propuseram o relativismo científico, segundo o qual a ciência não atinge o conhecimento absoluto.

Quatro teorias novas, em particular, contribuíram para colocar em questão a fé no determinismo da ciência:

-a teoria da relatividade, de Albert Einstein, que demonstrou a variabilidade do tempo e do espaço (os quais se pensava serem fixos);

-a teoria quântica, de Max Plank, que revelou a existência de unidades mínimas de matéria (os quanta) cujo movimento não obedeceria a leis rígidas,

-o intuicionismo, de Henri Bergson, filósofo que contrapunha ao espírito racionalista a intuição corno via para o conhecimento;

-a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que revolucionou a interpretação dos actos dos indivíduos ao descobrir uma dimensão oculta do pensamento humano – o inconsciente. Freud alterou, para sempre, o

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História 12º anoentendimento dos problemas de foro mental, ao propor como explicação para as neuroses a doutrina do recalcamento, segundo a qual a doença mental derivaria da luta entre o consciente – que quer recalcar experiências traumáticas – e o inconsciente – que as quer trazer a lembrança. A cura consistiria em descobrir os recalcamentos (método da psicanálise). Freud escandalizou, ainda, os seus contemporâneos pela importância que conferiu à sexualidade humana (presente desde antes do nascimento) na formação do indivíduo.

2-Arte – a arte das primeiras décadas do século XX recebeu, sintetizou e devolveu em obras de imensa genialidade todas as convulsões da vida europeia. As desilusões da guerra, o relativismo científico, o nascimento da psicanálise influíram na criação artística dos jovens europeus. O resultado foi um movimento de amplas dimensões – a que chamamos modernismo, pautado pela ruptura em relação às obras criadas nas academias do século XIX. A total liberdade de criação, sem receio do escândalo burguês, proporcionou o surgimento de algumas das mais enriquecedoras tendências estéticas do século XX.

Objectivo 14 Caracterizar as principais vanguardas artísticas1-Fauvismo- a primeira característica que ressalta da observação de uma

obra de arte fauvista é a cor intensa. As telas dos pintores Henri Matisse, André Derain e Maurice de Vlamink, de tons considerados violentos para os padrões estéticos da época, deram origem ao epíteto feras (fauves) atribuído por um critico de arte da época.

A cor era usada para conferir volume aos objectos representados, para desenhar ou diluir a perspectiva, para transmitir serenidade ao observador, mas nunca para tentar reproduzir o real. O Fauvismo defendia a libertação do artista em relação à percepção dos sentidos, no intuito de encontrar uma verdade inerente aos objectos. Enquanto grupo artístico, o Fauvismo desenvolveu-se entre 1905 e 1908, em França.

2-Expressionismo- tal como acontece no Fauvismo, o Expressionismo estabelece o primado da cor; porém, nesta corrente evidencia-se um acentuado pessimismo. Através da expressão de temas e sentimentos negativos reivindicava-se, na arte, a liberdade do pintor e a critica dos padrões oficiais burgueses. Pode considerar-se que Van Gogh e Edvard Munch foram precursores do Expressionismo.Tratou-se de um movimento alemão, iniciado em 1905 e que abarcou, no essencial, dois grupos artísticos:

-A Ponte (Die Brücke) - grupo formado em Dresden, em 1905, liderado por Ernst Ludwig Kirchner, que procurava a autenticidade na arte.A expressão dos impulsos do pintor era conseguida por meio de aproximações à arte africana e oceânica, à arte popular e às manifestações artísticas infantis.

-O Cavaleiro Azul (Der Blau Reiter) - associação de artistas que nasceu em Munique, em 1911, após urna exposição de Wassily Kandinsky e Franz Marc. Trata-se de uma vertente mais racionalizada do Expressionismo. Apesar da sua curta duração (findou com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial), estabeleceu contactos com os pintores fauves franceses e teve um papel determinante na eclosão da corrente abstraccionista.

3-Cubismo - tem como principais representantes Pablo Picasso - nomeadamente na tela As Meninas de Avignon - e Georges Braque - na tela Casas d'Estaque. Este movimento nasceu cerca de 1907, apoiado nas seguintes ideias:

-geometrização das formas: concepção, já defendida pelo pintor

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História 12º anoCézanne, de que toda a Natureza pode ser representada em esquemas geométricos nomeadamente, em cubos, o que provocou o comentário jocoso de um critico de arte que haveria de dar o nome ao movimento;

-representação de visões simultâneas - a representação de vários ângulos de um mesmo objecto é considerada mais verdadeira do que aquela que mostra apenas um plano.

O Cubismo desenvolveu-se sob duas facetas:a)O cubismo analítico ( desde 1907 até cerca de 1912) - sem deixar o

figurativismo (não chega a ser pintura abstracta), explorava ao máximo as possibilidades de decompor os objectos em facetas geométricas que se justapunham.

A destruição das leis da perspectiva tornava mais difícil, para o observador, identificar o objecto representado, o que contribuiu para reforçar o escândalo deste novo estilo artístico. Ao contrário do que acontecia com o Fauvismo e com o Expressionismo, o Cubismo analítico prescindia das cores fortes para salientar o efeito das perspectivas conjuntas.

b)O Cubismo sintético (desde 1912 ate meados dos anos 20) - embora continuando a decompor as figuras em várias facetas, eliminou o pormenor, criando, por isso, uma síntese das várias perspectivas. A cor regressou às telas, as quais foram trabalhadas com o aproveitamento de materiais de uso quotidiano (espelhos, cordas. Papeis…). Tal como as correntes artísticas anteriormente descritas, o Cubismo também procurava uma verdade na arte que não podia ser reduzida à representação de, apenas, uma perspectiva ou da imitação da cor percepcionado pelos sentidos,

4-Abstraccionismo - a geometrização cubista e a valorização das cores puras no Fauvismo e no Expressionismo foram preparando caminho a uma das maiores revoluções da arte europeia do século XX: o Abstraccionismo, isto é, o abandono da representação de um objecto identificável. O Abstraccionismo surgiu em 1910 e desenvolveu-se segundo duas tendências de cariz muito diferente:

a) O Abstraccionismo sensível ou lírico (também chamado abstraccionismo musical) - Wassily Kandinsky (artista russo) justificava a opção pelo abstraccionismo por este permitir criar, na pintura, uma linguagem universal, feita de uma combinação, o mais perfeita possível, de formas e de cores. A maneira do que acontece com a música (forma de arte que Kandinsky muito admirava), a pintura seria pura comunicação, sem obstáculos culturais entre a emoção do artista e a fruição do observador.

b) O Abstraccionismo geométrico - segundo Piet Mondrian, o Cubismo (movimento ao qual pertencera) foi um movimento que ficou incompleto, pois manteve-se figurativo. A resposta foi a criação, em 1917, da revista O Estilo (De Stijl), na Holanda, propondo o Neoplasticismo. Para Mondrian, em vez de emoção interior (teoria subjectiva), o pintor deve expressar a "realidade pura", as verdades universais, sem sentimentos subjectivos (teoria objectiva). O resultado foi o equilíbrio de contrastes entre formas geométricas de linhas rectas - rectângulos e quadrados - e a utilização, apenas, de cores primárias e do branco, do cinza e do preto.

Numa Europa destruída pela guerra, o Abstraccionismo partia em busca de verdades essenciais. Reuniu múltiplos seguidores e foi a corrente mais duradoura.

5-0 Futurismo -o célebre Manifesto do Futurismo, escrito por Marinetti (italiano), em 1909, definia as bases em que assentava o novo movimento: elogio da técnica, da máquina, da velocidade, da sociedade industrial, do

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História 12º anofrenetismo urbano; rejeição da arte do passado (para grande escândalo dos apreciadores de arte) e do moralismo.

Influenciados pelas novas teorias do relativismo científico, segundo as quais a Natureza apresentava irregularidades e imprevisibilidade, os futuristas privilegiaram o dinamismo na arte. O Futurismo abarcou os vários géneros artísticos, da literatura à pintura, passando pelo teatro, a arquitectura, a escultura, a música e a fotografia.

Na pintura (que também teve o seu Manifesto, em 1910), a "sensação dinâmica" bebia das lições do Cubismo: a decomposição das figuras em volumes (decomposição volumétrica) e a representação simultânea de vários pontos de vista (simultaneísmo).

Alertados pelas teorias de Einstein, os pintores procuraram representar, nas suas telas, o tempo e o espaço.

O movimento futurista declinou com a Primeira Guerra Mundial: a crise de valores provocada pela guerra atingiu, também, a crença num futuro glorioso, logo, desacreditou a estética futurista que, irreverente, defendera a guerra como conceito.

6-0 Dadaísmo - em 1916, na Suíça, um grupo de jovens fugidos da guerra exprimiu o seu repúdio pelo conflito militar, pelas convenções sociais e, inclusive, pela arte através da escolha deliberada do absurdo. A palavra dada, escolhida ao acaso do dicionário francês, foi adoptada como designação do grupo dadaísta de Zurique (Cabaret Voltaire), o que exprime bem a opção dos artistas pelo ilógico, o escandaloso, o desconcertante.

Exemplos do Dadaísmo são a reprodução da obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, a qual foram acrescentados bigodes, ou um urinol que é exposto com o título Fonte (Marcel Duchamp). Subvertendo os conceitos de arte, jogando com a acção do inconsciente (não esqueçamos a influência das teorias de Freud), o Dadaísmo preparou terreno para o Surrealismo, ao qual aderiram, nomeadamente, os dadaístas Francis Picabia, Max Ernst, Man Ray e Andre Breton. Tecnicamente, o Dadaísmo inventou formas ainda hoje praticadas na arte, como o assemblage e o ready made.

7-0 Surrealismo - em 1924, Andre Breton publica, em França, o Manifesto do Surrealismo. Transpondo para a arte o imenso campo do inconsciente aberto por Freud, os surrealistas exprimiam-se a partir do "automatismo psíquico puro", isto é, procurando abstrair-se da racionalidade. A representação dos sonhos e das sensações, o desenho e a escrita automáticos revelariam, assim, um mundo que se sobrepõe ao real (em francês, surréalisme, significando, literalmente, "sobre” o real).

O Surrealismo recebeu influências de outras vanguardas: aproximava-se do Dadaísmo na liberdade formal (uso de diferentes técnicas) e no jogo do acaso; porém, este é revelador do inconsciente para os surrealistas, enquanto para os dadaístas o acaso não tem uma lógica a desvendar. Por seu turno, a expressão de uma interioridade do artista, que não precisa de colher os seus temas no mundo exterior, aproxima o Surrealismo da corrente expressionista.

Entre os principais artistas surrealistas contam-se, alem de André Breton, Max Ernst, René Magritte, Luís Buñel, Salvador Dalí, Joan Miró' e André Masson.

O grupo de artistas franceses separou-se em 1928, no entanto, o Surrealismo não terminou.

Objectivo 15. Salientar a novidade das suas propostas estéticasAs primeiras décadas do século XX foram caracterizadas, ao nível da

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História 12º anoarte, pelo Modernismo: um conjunto de propostas estéticas extremamente ricas que revolucionaram a arte europeia e anteciparam processos artísticos actuais. Por se colocarem na dianteira da inovação foram chamadas vanguardas. Apesar das diferentes correntes que integram, parti lham entre si vários aspectos nomeadamente:

1-A reivindicação da liberdade artística contra os preceitos académicos, isto é, contra as regras artísticas convencionais ensinadas nas escolas de arte.

2-A inspiração na arte de outros continentes (africano, asiático, oceânico).3-A procura de uma autenticidade na arte, de uma verdade intrínseca.4-A recusa em imitar a realidade detectada pelos sentidos.5-A influência das novas correntes cientificas que destronaram o cientismo do século

XIX.6-Em termos técnicos, a pintura subverteu regras centenárias, propondo:

-a destruição das leis da perspectiva (inicialmente pelo Fauvismo e pelo Expressionismo e explorada aprofundadamente pelo Cubismo):

-a ousadia das cores puras (no Fauvismo e no Expressionismo) ou das cores neutras (no Cubismo)

-a mistura de materiais anteriormente desprezados (introduzida pelo Cubismo).7-O abandono da arte figurativa (Abstraccionismo).8-A tentativa de representar o tempo na obra de arte (em especial. no

Futurismo).

Na literatura não foi menor o combate pela liberdade artística: a substituição de uma narração descritiva do exterior pela representação do sujeito narrativo (por exemplo, em Proust), a fusão entre palavra e forma (nomeadamente, nos poemas caligramados de Apollinaire), a escri ta automática, de pendor dadaísta (em Paul Éluard e em André Breton) e, finalmente, o monólogo interior em James Joyce condensam algumas das revoluções que transformaram para sempre o conceito de literatura no século XX.

1.5. PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA

Objectivo 16. Relacionar a situação económica, social e política de Portugal no pós-guerra com a falência da Primeira República

A Primeira República foi implantada, em Portugal, a 5 de Outubro de 1910, no meio de um grande entusiasmo civil e praticamente sem resistência militar. Havia muito que os problemas económicos (em especial, a dependência externa) e políticos (a incapacidade do modelo rotativista de resolver os problemas nacionais, o fracasso da monarquia em assegurar os pianos colonialistas portugueses) provocavam o descrédito no sistema monárquico, facto habilmente aproveitado pelo partido republicano português.

Porém, o contexto nacional e internacional não favoreceu o sucesso da primeira experiência republicana portuguesa:

Contexto políticoa)A guerra: apenas quatro anos após a instauração da república, teve inicio

a Primeira Guerra Mundial, A discussão política sobre o papel de Portugal no conflito saldou-se pela decisão de intervir, com o Corpo Expedicionário Português, desde 1916, a fim de auxiliar a Inglaterra e de proteger as colónias cobiçadas pela Alemanha.

b)A instabilidade governativa: a Constituição de 1911 definira um modelo político segundo o qual o poder legislativo, representado pelo Congresso, detinha a supremacia política; daqui decorria a facilidade com que o Congresso, na falta de maioria parlamentar, destituía os governos, impossibilitando a prossecução de qualquer tipo de política governativa.

A divisão dos republicanos em numerosos partidos políticos (dos quais o mais

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História 12º anoimportante era o Partido Democrático) tornava ainda mais difícil a formação de maiorias parlamentares.

Contexto económicoa) As consequências económicas da participação na Grande

Guerra: apesar de não se terem verificado encontros militares em solo português, os factores de desorganização económica fizeram-se sentir de forma aguda:

-a carência de bens essenciais (pão, carvão, gás, açúcar, batatas) fez subir os preços dos produtos, os quais eram sujeitos ao racionamento (cada família podia adquirir apenas uma quantidade fixa de bens de consumo);

-para compensar a falta de meios de pagamento, os governos republicanos aumentaram a quantidade de Massa monetária em circulação: em consequência, a moeda desvalorizou, o que provocou a inflação e a perda de poder de compra dos assalariados. Quanto mais escudo desvalorizava, maior era o custo de vida, o qual aumentou continuamente entre 1910 e 1926.

b) Os problemas estruturais da economia portuguesa acentuaram-se com a guerra: a falta de investimento na indústria fez crescer o défice da balança comercial; a dependência das finanças estrangeiras conduziu ao aumento da dívida pública.

Contexto sociala)A perda das bases de apoio da república: a subida do custo de vida

provocou o descontentamento social, em particular das classes medias e do operariado.

b)A agitação social: em virtude dos problemas económicos e políticos, verificaram-se vagas grevistas, atentados à bomba, propaganda anti-republicana: o exemplo da Revolução Russa de 1917 intensificou o movimento operário, que ganhou nova força a partir de 1919, com a criação da Confederação Geral do Trabalho. Só no ano de 1920 registaram-se 39 greves. Em resposta, a classe capitalista criou, em 1922, a Confederação Patronal (União dos Interesses Económicos).

c)A oposição da Igreja: num país maioritariamente católico, as medidas anticlericais promulgadas pelo ministro Afonso Costa tiveram efeitos catastróficos sobre a opinião pública, pelo que a República perdeu grande parte do suporte popular.

Em 1915, foi criado o Centro Católico Português, que reuniu apoios contra a República, fazendo eleger deputados ao Parlamento.

A progressiva desagregação da República fez-se sentir em diversas investidas políticas de cariz autoritário, nas seguintes datas:

-de 1911 a 1913, Paiva Couceiro tentou, por diversas vezes, restaurar a monarquia portuguesa;

-1915, com a ditadura militar do general Pimenta de Castro;-1917-1918, sob a ditadura do major Sidónio Pais (a chamada "República Nova");-1919, proclamação da “Monarquia do Norte”, na sequência da guerra

civil de Janeiro e Fevereiro do mesmo ano.Em 1926, o golpe de Estado do general Games da Costa pôs fim a

Primeira Republica e iniciou um longo período de 48 anos de autoritarismo em Portugal (ate à Revolução de 25 de Abril 1974).

Objectivo 17. Justificar a permanência da estética naturalista, em Portugal, nas primeiras décadas do século XX

Nas primeiras décadas do século XX, enquanto, em França, desabrochavam as vanguardas artísticas (0 Fauvismo, o Expressionismo. „), Portugal permanecia fiel a corrente naturalista que percorrera a Europa

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História 12º anodesde a segunda metade do século XIX. Na pintura (em que se destacavam Malhoa, Columbano e os mais jovens Carlos Reis e Alberto de Sousa), seguia-se à risca os preceitos do Naturalismo, praticando-se a pintura de ar livre e as descrições da vida popular. Na literatura, vingava uma corrente nacionalista dedicada ao louvor das qualidades supostamente nacionais o escritor Teixeira de Pascoaes, nomeadamente, cultivava o “saudosismo”.

A insistência no Naturalismo pode ter-se prendido com o contexto político da época; a mudança de um regime com cerca de 800 anos de idade (a monarquia) para um novo regime (a Republica) parecia exigir, da parte dos novos poderes, uma fundamentação teórica e Uma justificação a todos os níveis, entre os quais, o da arte.

Os republicanos adoptaram, para se afirmarem, uma postura patriótica, que se reflectiu no apoio às correntes nacionalistas.

Por outro lado, o atraso da revolução industrial e da expansão urbana, em Portugal, relativamente aos países desenvolvidos da Europa (França, Inglaterra, Alemanha), pode explicar a insistência na descrição de um mundo rural, idealizado mas que, de facto, era predominante.

Objectivo 18. Caracterizar o primeiro e o segundo modernismosOs primeiros sinais do Modernismo português surgiram no contexto

de exposições de caricaturas e desenhos de humor, nas quais os artistas (por exemplo, Manuel Bentes), dada a "menoridade" do tema, se permitiam usar uma técnica mais livre; alias, a primeira utilização da palavra modernismo data de 1915, aquando da Exposição de Humoristas e Modernistas.

Cronologicamente, os estudiosos da literatura distinguem duas etapas no movimento modernista em Portugal:

1. Primeiro Modernismo: designa o movimento que se afirma na segunda década do século XX (1911-1918).

O Primeiro Modernismo, apesar de efémero, foi mais arrojado do que o Segundo Modernismo. Duas fontes históricas revelam-se fundamentais para a compreensão das novas propostas artísticas:

a) A revista Orpheu - dirigida por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro em 1915, a publicação dos números 1 e 2 da revista (chegou a imprimir-se o número 3, que não foi, então, editado) deu a conhecer um estilo literário completamente diferente de tudo o que se fizera ate então.

A revista inclui textos e pinturas fundamentais da literatura portuguesa. No número 1, a Ode Triunfal de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa) é o poema que inaugura o Futurismo português, patente, desde o belíssimo inicio, em:

"A dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo"

O poema 16 de Mário de Sá-Carneiro escandalizou a sociedade da época com versos como:

“As rãs hão-de coaxar-me em roucos tons humanos Vomitando a minha carne que comeram entre estrumes"

O número 2 de Orfeu também inclui obras-chave da revolução artística, em especial:

-as pinturas de um artista assumidamente excêntrico, Santa-Rita Pintor-o poema de Fernando Pessoa Chuva Oblique;-a Ode Marítima de Álvaro de Campos.

A revista Orpheu causou aceso escândalo. Em resposta, a geração de Orfeu, orgulhosa das suas opções, ripostava. O Manifesto Anti-Dantas, de José de Almada

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História 12º anoNegreiros, reagia a um artigo do escritor (e médico) Júlio Dantas e reforçava ainda mais o escândalo pelo estilo do ("Morra o Dantas, morra! Fim!”).

b) A revista Portugal Futurista - após a 1a Conferência Futurista de José de Almada Negreiros no Teatro República, em 1917, saiu o único número da revista Portugal Futurista, com colaborações, nomeadamente, de Santa-Rita Pintor (que aparece com a legenda "O grande iniciador do movimento futurista em Portugal"), Fernando Pessoa, Apollinaire, Mário de S6-Carneiro. Álvaro de Campos publicava, aqui, um Ultimatum, onde se poderia ler:

"E tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em Africa!".

Por seu turno. Almada Negreiros, depois de um longo elogio ao valor da guerra, terminava o seu Ultimatum futurista as gerações portuguesas século XX com a frase:

"O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximotodas as qualidades e todos os defeitos.Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades”

A revista foi apreendida pela polícia antes de poder chegar ao público: a república deixava de tolerar a vanguarda artística.

2. Segundo Modernismo: a expressão designa a corrente artística que se manifestou nos anos 20 e 30 do século XX (1920-1940).

O contexto de ditadura que vigorava, em Portugal, desde 1926, colocou entraves à manifestação de irreverência e originalidade que havia caracterizado a Primeiro Modernismo.

Na pintura, destacaram-se, nomeadamente, Almada Negreiros (que, no primeiro modernismo. se tinha revelado, sobretudo, como escritor), a sua esposa Sarah Afonso, Eduardo Viana, o casal Robert e Sonia Delaunay. Em revistas (por exemplo, a ABC), em exposições ou através de encomendas (ficou famosa a decoração de A Brasileira do Chiado) puderam difundir as vanguardas estéticas como o Expressionismo, o Cubismo, o Abstraccionismo. Quanto ao Surrealismo, manifestou-se tardiamente em Portugal: só durante a Segunda Guerra Mundial é .que se afirmou claramente um grupo surrealista, liderado por António Pedro e António Dacosta.

Na l iteratura, a segunda geração de artistas do Modernismo expressou-se, enquanto grupo, na revista Presença, publicada entre 1927 e 1940, dirigida por José Régio – a quem se deve o mérito de ter publicado parte da obra de Fernando Pessoa – João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca (mais tarde substituído por Adolfo Casais Monteiro).

O Modernismo, tornado veículo ideológico do Estado Novo, esmoreceu na sua segunda etapa.

Objectivo 19. Analisar os percursos artísticos de Amadeo de Souza-Cardoso, Atmada Negreiros e Eduardo Viana

Apesar das diferenças de estilo, os três artistas apresentam traços comuns:-viveram um período das suas vidas no estrangeiro, onde recolheram

influências das vanguardas europeias, e regressaram a Portugal devido ao eclodir da Primeira Guerra Mundial;

-rejeitaram ou nem sequer frequentaram as escolas de Belas-Artes pois, apesar de dominarem a técnica, consideravam-na um obstáculo à verdadeira

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História 12º anoexpressão artística.

No entanto, trata-se de três percursos singulares, dotados de um estilo muito próprio:

Amadeo de Souza-Cardoso – viveu apenas 31 anos, no entanto, experimentou vários caminhos dentro das vanguardas: realizou pinturas de cariz abstracto, expressionista, cubista e dadaísta. Era admirador incondicional da obra do pintor Modigliani, como se pode verificar pela preferência por figuras longilíneas e estilizadas.

Almada Negreiros – colaborou activamente nas revistas Orpheu e Portuga! Futurista. O seu Manifesto Anti-Dantas é plenamente modernista, pela reacção a todas as formas de conservadorismo artístico.

O seu contributo para a decoração do café A Brasileira do Chiado marcou a pintura portuguesa.

Eduardo Viana – segue as influências de Cézanne, mas também da técnica cubista. Regressou da sua estada em Paris em 1915, devido à guerra, produzindo telas de cores fulgurantes e perspectiva esbatida.

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