heidebreder, edna - cap. ii - a psicologia pré-científica

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CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Brasileira do Livro, SP Heidbreder, Edna, 1890- H369p Psicologias do século XX / Edna Heidbreder; tradução 5.a ed. de Laufo S. Blandy. - 5. a ed. - São Paulo:. Mestre Jou, 198L Inclui Cronologia de psic61ogos do séc. XX. Bibliografia. 1. Psicologia _ Hist6ria 2. Psicologia - Teorias, métodos etc. 3. -Psic61ogos L Título. CDD-150.904 -150.19 -150.92 1. Escolas psicol6gicas 2. Psic61ogos: Biografia e obra 3. Século 20: Psicologia: Hist6ria 4. Sistemas psicol6gicos 150.19 150.92 150.904 150.19 Doutora em Filosofia, professora emérita da Universidade de Wellesley (Mass., Estados Unidos) PSICOLOGIAS DO , SECULO XX ~~-.'~ -~.,~~,,~fP Tradução de: LAURO S. BLANDY EDITORA MESTRE JOU SllO PAULO

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Psicologia

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  • CIP-Brasil. Catalogao-na-FonteCmara Brasileira do Livro, SP

    Heidbreder, Edna, 1890-H369p Psicologias do sculo XX / Edna Heidbreder; traduo5.a ed. de Laufo S. Blandy. - 5.a ed. - So Paulo:. Mestre

    Jou, 198L

    Inclui Cronologia de psic61ogos do sc. XX.Bibliografia.

    1. Psicologia _ Hist6ria 2. Psicologia - Teorias,mtodos etc. 3. -Psic61ogos L Ttulo.

    CDD-150.904-150.19-150.92

    1. Escolas psicol6gicas2. Psic61ogos: Biografia e obra3. Sculo 20: Psicologia: Hist6ria4. Sistemas psicol6gicos

    150.19150.92150.904150.19

    Doutora em Filosofia, professora emrita daUniversidade de Wellesley (Mass., Estados Unidos)

    PSICOLOGIASDO

    ,SECULO XX

    ~~-.'~-~.,~~,,~fP

    Traduo de:

    LAURO S. BLANDY

    EDITORA MESTRE JOUSllO PAULO

  • Considerados sob ~sse aspecto, como programas de aoe. bases de .mo!~l, ~s sIstema:s podem ser considerados comosmtomas sIgmflcatIvos da sItuao da psicologia em certoslugares, em ~ertas pocas e n~s mos de determinados gru-pos de pe.sqUls~dores; e tambem como indicaes dos aspec-tos da pSIcologIa que parecem estar recebendo maior nfasedo_q~e o necessrio, n.um dado conjunto de circunstncias.Nao e.o caso de.se la~tIma~ o fato de haver uma valorizaoexce~slVa da pSICologIa,pOISela atrai a ateno para assun-tos Importantes, estimula a crtica e, quase certamente compensad~ por uma valoriza? exc~ssiva no sentido opo~toem outras epocas e lugares. POISo progresso da cincia nopode ser considerado o trabalho de um s homem ou de umgrupo de homens,_~ ci!1~~_Lum grande empreendimentosocIal, no qual as contribuies maI8V-aITsasdeumrnCIiVa-opodem ser os seus maiores err~~.( >.

    . de~se pon~o de vista, en ao, que os sistemas de psico-logIa serao consIderados neste estudo; no como certos ouerrados, ~em como aproxima~es mais ou menos completasao c~mheClmento,mas na medIda de sua influncia no desen-volvImento real da cincia psicolgica. Podem ser melhorcompreendidos no como afirmaes de um fato cientficonem como resu.mos do conhecimento existente, mas como pro~cess~s ,e .manelr~s de cheg,a~ ao conhecimento, como etapasprOVlsonas, porem necessanas ao desenvolvimento de umac~ncia, como cria?es de trabalhadores que, num empreen-d~mento confuso e, as vezes, depressivo, devem conservar noso o seu garbo mas tambm a sua energia. Pois nunca demais repetir que a cincia no age somente luz darazo, mas assim como outros empreendimentos umaaventura incerta, que se passa '

    Swept with confused alarms ofstruggle and fligthVarrida por alarmes confusos da luta e debandada,

    .:Verssflnais da' clebre poesia de Matthew Arnold, "Dover Beach".(N. da Ed.)

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    Tales (640-548 a.C.); Herclito (535-475a.C.); Demcrito (460--370 a. C. ) ; Anaxgoras (499-428 a. C. ) ; Scrates (436-338 a. C. ) ;Plato (427-348 a. C. ); Aristteles (384-322 a. C. ); Descartes ; Hobbes (1588-1679); Locke (1632-1704); Berkeley (1685--1753); Hume (1711-1776); Kant (1724-1804); Reid

  • to, se forem bem compreendidas, podem ser postas em ordeme clareza: que possvel definir a matria estudada, estabe-lecer o problema principal, conciliar os mtodos de investi-gao, determinar as relaes com outros tipos de conheci-mento, identificar os elementos ou processos bsicos, deter-minar as caractersticas prprias e indicar o seu esboogeral ou orientao caracterstica. Conhecer um sis-tema saber como. ele. se porta em. relao a. todos estesassuntos e princ-lpa.1men1e-s'iiber'-ponto de vista do' qiiar-~osCllSden. -Pois o ponto principal de um sistema de psiCo-logi~.a posio da qual ele-engll)a'o seu campo, -a posIo.privilegiadaa"parfir --d- qiiaTexainfria os dados. concretos ,~-!aclrida- e da qua,l distingue um padro coerente qU(nnesd unidade:----- -, ,

    Mas, sejam quais forem os sistemas de psicologia, noso simplesmente estruturas lgicas estticas, completas,que possam ser consideradas como tantas outras coisas inde-pendentes, separadas e completas, para serem analisadasfora das condies que lhes deram origem. Pois os sistemasde psicologia atualmente existentes - os conjuntos de fatose suposies que agem como sistemas - no so, muitasvezes, sistemas no exato sentido da palavra, nem, certa-mente, formaes de pensamento, hermticas e completas,elaboradas de modo consistente em todos os seus detalhes. 1Pelo contrrio, resultam de longas e, s vezes, obscuras cor-rentes de desenvolvimento histrico; porque a psicologia,como qualquer outro empreendimento do intelecto humano- talvez mais do que a maioria - tem estado sujeita aconfuses, compromissos, e mal-entendidos, muitos dos quaistm sua origem em passado remoto.

    particularmente significativo o fato de o interessepela psicologia desenvolver-se no s tarde, mas tambm poracaso. nO pensamento evoluiu aparentemente sem introspec-2; Jil()1l()fiacomea com a cosmologia, e a cinCia co~ aastronomia e a fsica.n Isto no quer dizer que os seres hu-manos noestefam~dese o incio interessados neles mesmos.Esto interessados pelo mundo em primeiro lugar porque ohabitam, porque este contm as coisas que acham importan-tes. Porm a sua prpria existncia e natureza, embora for-

    tro do qual todos os interesses humanos irradiam,mem o cen t certas O pen-, , '0 simplesmente supos as como _.~-~--fora:::'t~o nl~I~~~eo, no tem c.?Escin~i~.i~.s~l!_~~~!..J2org~~~aIll_._ '~---'ooo(fe-OOServ-Io_;ee~~~ c~:;::e~~~s~~~f'l''- f deparam-se mais ce o o aiS , .,'I oso ~ -------'-- h ?" e esta pergunta da Ori-

    ento' \"Como podemos con ecer. , h' tm . \~'----'---d- cessos humanos de con eClmen o.gem a um exame. o~ 1?ro b 'm na tica e naAs indagaes pSlcologlcas surgem, tam e t', duta do

    , l't'. questes referen es a conteoria SOCiale po I Ica, as ,_ com o Estadohomem para com seus conc~dadaos e pa:a ria natureza doorientam facilmente a atenao para a ,prop '" , '_homem. Em cincia, a psicologia provelO da fISlO.!.~Ia,prm_, t d fl'sl'ologia dos rgaos --

  • ve, de alguns dos relevantes pontos de vista psi~gicosdo passado. -

    Isto no significa ser possvel retornar ao princpio.Mesmo nas primitivas cosmologias gregas, antes de ter sidofeita a distino entre a mente e o corpo, muitas das concep-es encontradas na moderna psicologia, muitas das suasmaneiras peculiares de lidar com seu material, j existiam eem geral, j tinham amadurecido. Uma dessas foi a tenta~tiva, ~eita du.rante tod[l~~~~~()~~9! no sentido dereduzIr o umverso a seus elementos mais simples. Os anti-gos gregos, Com a mais absoluta honestidade, queriam saberde que era feito o mundo. Encontraram uma resposta quan-do analisaram a sua complexidade como era vista em algumelemento isolado - agua, ar, tomos - ou num sistema deelementos. A tarefa a que se propuseram era a de reduziro complexo ao simples, e sua afirmao era a de que o com-plexo e a variedade constituem o mundo da aparncia, emcontraste com a realidade subj acente, que simples. Estasduas coisas nunca deixaram de impressionar o intelecto hu-mano. Implicam que o universo ou alguma parte do mesmoque esteja sendo estudada podem ser compreendidos se desco-brirmos as unidades de que se compem. A fsica encontroutais unidades no tomo; a biologia, nas clulas; e a psicolo-gia, dependendo do ponto de vista adotado, nas idias sim-ples, sensaes, ou traos do comportamento que incluem asassociaes el~mentares~e, e.stmulo-respos~a'l~as, seja ..qual for a umdade, o prmclpIO de construao sempre omes~o; in~:,:,a~~~a..1KlJ!ll~~J2!.iliii~"grosse~fao~.util,.._

  • "ninologias do Sculo XX

    ., t mente reaparece em psicologia.tu um problema que frequen e t to contra o fato de conside-~:este ltimo detalhe - t pro es o uma explicao completaruI' a re~u~o. dos/le~el~~xc~~ras o seu princip~l signifi-.- que da a fIloso Ia e. . uma opinio intImamenteclLdopara a moderna pSl;.coIOgI\otestos contra as vrias for-relacionada coI? ~s contmu~~~ifere muito da revolta que omas do sensaclOlllsmo, e n d mais recentes em psicologia,movimento da Gestalt, u~ ?:mo psicolgico de nossoS dias.tlAtA dirigindo contra: o a tmI enta um modo muito dife-

    Um quarto movIm~n o repres ri em est associada aorente de d~si. \ Um terceiro desenvolvimento foi aquele iniciado por Ana-\:~~ ){goras. Como Herclito, ele acreditava que uEIa..!edl!_~

    ~dJ elementos sim]>~.~,.1.!-()_~~!i_~~~a..compl~te o mu~o,-(\ rpas a SIJ-crttIca foi menos r-

  • objetiva; se a investigao sobre a natureza ltima da rea-lidade no , em ltima anlise, um tanto intil.

    \ Os sofistasJ_-n!p._dQ~stepont()de vista, deram uma

    \( i~ g~r~~~~~~~iid~~::,~~n~::n~lo:ian~~~:~~~~::~~h:~~~a:~r,~"" \,assim vieram a interessar-sp0i" assuntos. quepoem ,'ser

    Ichamad,~L~,IIl,~~!F:J.(piJ.n>Io,'.psIcI~,8fcos:'fAlem'isso; 'seuestudo era prtico. Era inevitvel que a prpria abundn-cia de especulaes sobre o universo, a exibio de explica-es sucessivas, todas igualmente plausveis, acabasse porimpressionar algumas mentes, principalmente pela inutili-dade de tal especulao. Os sofistas, de qualquer forma, re-cusaram-se a se ocupar com tentativas de compreender anatureza fundamental da realidade. Dedicaram-se, em vez

    ~\\:,>\,~,,[::~~~~ydt~J1~!fifd~:f~]r~f~1I~l~j~~~~~ird~~~:-;~i=" Lti~s. pe modo deliberadamente superficial e habilmente

    prtico, aceitaram, mediante pagamento, treinar os jovensnas artes da persuaso - as quais eram muito teis na Gr-cia onde os homens subiam ao poder convencendo os seussemelhantes e' dominando as massas. Havia, naturalmente,sofistas e sofistas, representando uma escala de integridadeintelectual que ia desde o gosto pelo exerccio livre da inte-ligncia crtiea at o desejo de "fazer o pior parecer melhor".Porm, quaisquer que fossem as suas idias sobre a utilidadeou no da dialtica, estavam interessados pelo processo emsi. Encontravam nele alguma coisa em que se ocupar, algoque podia ser exercido, cultivado e controlado, e alm disso,que - no importando a natureza ltima da realidade - erade valor no mundo dos assuntos da vida diria. Com umaatitude curiosamente idntica da moderna psicologia apli-cada, dedicaram-se a realizaes (" )ecficas e situaes con-cretas, muito mais interessados em manipular o imediato eo real do que em mergulhar no fundamental e no profundo.Seria um erro, naturalmente, atribuir aos que 'atualmentetrabalham em psicologia aplicada as idias associadas aossofistas gregos, mas qualquer que fosse o ponto de partidaterico de suas atividades, alguma coisa, idntica no tem-peramento de ambos. A grande virtude da psicologia aplica-da a sua ligao benfica com o reareo imeditO,()sehbito de manfur:-se prxlma;ouj)eJmerios--viSfa~~'::IDa:-'teri~ds ,que"osseres'liuiiiaIlospoae~"rii-i!~~,~c.QntrQ13L."-- Uiriaconsequricla fildlreta aos ensinamentos dos sofis-tas foi a filosofia de ~Scrate~, uma das figuras mais pito--'-

    . . d d de Atenas no sculo V antes"pscas da brIlhante soClefa. e encantado~ excntrico, soci-tIo Cristo. Scrates. er~ flO{. .dade de s~a vida fora atrairVIIIe generoso; a prmclpa a IfV.Il 'fI'CM e da por meio de. ara as conversas IOSO , . " b011 Jov~n~ P t - faz-Ios ver que suas Idelas .S? ~elima habll argumen aa~, d 'da mesmo os mais tnvlals~ ( \ I0,11 assuntos fundamera~tr~a:~ seu objetivo era coloca- S()c\~f(c/~' .IlI'am co~fusas e con ra 1 idade' de definir as suas palavr~l'"llUBoUYJ~~~a~te a ~if;~~los a descobrir o que a razo mQ!?- \el r'nanl:l!!.~~k~ol O sucess-que obteve fazendo aque-t.rlLva,~2~2~~yer~(r''d r de verdades aparentemente bvias., \l~~q~e o OUViram UVIa velhice,foi julgado e condenado afoi tao grande que, em su~ r .-o do Estado e corrom-morte, sob acusao de mmar a re IgIa !~{;'1(lllt'a juventude. ofistas Scrates acreditavaltpcf

    D~ mes.ma _forma que ~~u:eza do 'universo intil mas, ,;,:;que a m~e~tIgaao sobre/t nva que u ti;Qo~,9_l!he

  • cada vez maior nfase s influncias sociais na vida humanae est cada vez mais se aproximando dos problemas ticos.

    \

    O mais famoso aluno de Scrates foi Plato, que esta-i:>eleceupela ..priIlleira vez uma distino defImda entre a

    Ilm~,!!1g:'a ma!~!\ distino essa que tem aparecido de modobastante destacado na psicologia at os nossos dias. Platoera um aristocrata, tanto por nascimento quanto por tempe-ramento, um homem que tinha pouco interesse pelas coisascomuns da existncia diria, e que se dedicou de modo maiscompleto possvel vida intelectual, pois acreditava que vi-vendo pelo rn:terect;-2:~em-est:aria':exprinino-as su-asinaio~es l!0ssibilidades.J Em-sua:- vida-de-cntemplao~-lm-preSSIOnou-se profundamente pela diferena entre as idias,

    , que so manifestadas pela :r:~z2e os lL~i~Jos q!le so reveTados pelos sentidos;. e colocando as idias num mundo a elas

    . pertencente;-consd.erava-as to reais quanto as do mundoconhecido pelos sentidos. As idias, observou Plato, possuemuma perfeio que nunca encontrada nas coisas concretas.A idia da beleza, por exemplo, permanente, sem defeitos,imutvel, absoluta; ao passo que as coisas belas, que sobonitas somente em relao a uma outra, so imperfeitas,mutveis e contingentes. Para Plato parecia evidente quetudo que permanente, perfeito, imutvel e absoluto deveriaser mais real do que os corpos perecveis, mutveis e imper-feitos os quais, por mais beleza que pudessem conter, pode-riam apenas se aproximar da beleza pura. Portanto, pressu-ps um mundo de idias, do qual o mundo "real" - aquelerevelado pelos sentidos - apenas uma cpia imperfeita.A. matria a substncia na qual as idias se expressam por~esmas:-iiias--a-'sua--propna-nafurezatrnlmpossveI -sua perfeIta expresSo, porque Impoo'suas"prprills hmItii-&oessOre-ela~C"s-(fespr'ae sjia. ji1.lrez8..~....Assim, Plt"no somente estabeleceu uma distino entre a mente e amatria, mas tambm associou tais termos a conjuntos devalores opostos. A mente foi identificada com o bem e obelo. A matria era o inimigo, a parte nIS-Inferior dohomem e do universo, algo para ser combatido e subjugado.Esta distino, juntamente com os valores atribudos porPlato aos termos, tem permanecido at hoje. Existe aindauma tendncia no pensamento dirio para considerar a men-te como sublime e a matria como inferior. Em alguns seto-res, entretanto, houve uma curiosa inverso. Os triunfos dacincia moderna tm sido os da cincia fsica; o mtodo e oponto de vista cientficos tm estado associados com o estu-

    do da natureza fsica; e para aqueles "que adquiriram umtmnjunto de valores diferente do de Plato - que confron-L,un o que cientfico com aquilo que no , em lugar dolIobfe e do vil - a mente e a matria trocaram de lugar nacllwulade valores. a matria que se entrega cincia; A mente que perturba e intratve1. Por etapas si~ples,A mente identificada em primeiro lugar com maIS ele-VAdobem, em seguida com o que inefvel e inacessvel, efinalmente com o que mstico e no cientfico; e em conse-lJU(mcia,a distino platnica, em grande parte atr~vs dosVAloresque ainda se atm s suas palavras, at hOJe reper-clUlena cincia.

    Quando Plato considerava os homens, pensava nelesIIllturalmente do ponto de vista de seu prprio interesse pelavldu do intelecto. Classificando as foras humanas desde amniH elevada at mais baixa, citava em primeiro lugar al'llzl\o,que reside na cabea; depois, a coragem, que se encon-LI'ILno peito; os sentidos e os desejos, que ficam no abdome.I'lntrw considerava essas foras como partes da alma e porhulO utilizou um modo de pensar idntico ao que seria maistAI'de chamado de' faculdade psicolgica. Reconheceu tam-hc'rn as diferenas individuais entre os homens. No EstadoIdmLl,a Repblica, os homens deveriam ser escolhidos paraIIlCl\l~\vrios misteres de acordo com suas habilidades. Os do-LlI.doMde razo superior seriam dirigentes; os que possussem(HlI'ugemseriam guerreiros; resto da humanidade seriacomposta de arteses, comerciantes, trabalhadores e escravos

    necessrios ao Estado, porm de classe inferior aos mili-tAI'(lMc estadistas, da mesma forma em que os desejos e osIUlnUclosso inferiores coragem e razo. Esta parte do r

    flcUlHnmentode Plato, entretanto, teve pouca influncia so- . -,';l

    .'..I.'.C.I...'l ..PSI.O.C..olog.iaom.oder.na'lA p..r.i.n.C.iPa.l..f..o.n.te...,d.e.sua .. lonflUn.~".'.".....}.fl'V\. +' ai" t\8tf!. na distIno entre a mente e a mate na ; sua lden- ~, ~ \;CL1tlcao(!a mente com o extraterr~n~ - e que amda perSIste .~,}l-~r'_ I

    ::~1I~:~en~deo/;EJj~a.lJ~fi/~~~~~nIfi~cl~!~t'~e~fIC~'mental ~t~;{JU~Mlis ospr6p:ros-gregs-n-(fesrs~firm~aetenfi com- ~

    IlfClClndera mente. Aristteles. aluno e sucessor de Pl.at_o," Al certo ponto seu nval, ao tentar fazer uma avahaao1IIllt\pl'eensveldo ser humano, dirigiu-se s coisas da mente,11mnneira idntica a tudo o mais na ordem natural. Entre-tAnto, sua distino entre a mente e a matria _n~o foi ama/llum ele Plato. Pensou mais em termos de matena e for-mA, No modo de ver as coisas e em temperamento, Arist

  • --

    . . o . t ~'~~teles era muito diferente de Pia to. Estava interessado peloconcreto e pelo real ao contrrio de Plato, e desviando suaateno naquela direo, no encontrou uma diferena mar-cante entre a matria e a mente ou, como dizia, entre a ma-tria e a forma. Tinha a impresso de que uma no podiaexistir sem a outra. A forma existe no objeto concreto, afir-

    \I!J.a~~~.l._,!!o _como uma entidade separada. A matria ~ forma potenCiI, o oojeto'real-lormaatarri-nama-\~t~!"ia,,_.~_..!l:._uniode forma e mafrra:--p mrmore matriapara a esttua; esta a forma atualizada no mrmore. Almdisso, a distino entre a forma e a matria no absoluta;o mrmore, que matria para a esttua, forma para asorganizaes inferiores da matria. Desse modo a realidadeconcreta dispe-se em uma seqncia na qual impossvelindicar um ponto qualquer'-eizer-queae um lado l1lnat-'rra;-eae'utr'o~fo~marEs{e'onceTtdecflil

  • pelo seu valor intrnseco; os epicuristas acreditavam nadl~c.lP-h!1~..~.~~~pr~~IE)--os~-TrriPgls_Q=n:t1Jrii!=-"'-Jim"de._'l:>tElr.,.teJIC!8cartes,entretanto, no passava de um rebelde por tem-lltllamento. Era um homem extremamente razovel, since-ro, muito cauteloso, que, embora se tivesse devotado pro-Clum do saber, descobriu, ao atingir a maturidade, que nadaniKtia que ele soubesse com certeza. Verificando que podiaduvidar de algumas das maiores crenas dos homens, decidiudttliberadamente utilizar a dvida como um mtodo - duvi-dAr'de tudo que fosse possvel duvidar, na esperana de che-irAr'ao evidente por si e ao indubitvel. Descobriu que podiaduvidar bastante: da existncia de Deus, do mundo, e mesmoti" existncia de seu prprio corpo. De uma coisa no podiacluvidar: era o fato de que estava duvidando, e a certeza deQUIlsua dvida - isto , seu pensamento - existia, deu-lhe() fundamento para seu sistema. Estabeleceu sua con-vico na famosa frase: "Penso, logo existo", e a consideroucomo um axioma. Estabeleceu, portanto, a crena em suaprpria existncia como um ser pensante, e da por um pro-C'"110 de raciocnio dedutivo, a crena na existncia de Deus do mundo, incluindo o seu prprio corpo fsico. Sua provaclll.oxistncia de Deus consistia no argumento que ele, quelhlviduva e era um ser imperfeito, no obstante possua aIc\(.ta de Deus, um ser perfeito. E uma vez que o perfeito noll(ll\l'depender do imperfeito, necessrio admitir a existn-11111. de Deus para poder ter a idia Dele. Ento, se Del'

  • existe, o mundo deve existir, porque as idias que ns perce-bemos clara e distintamente como verdades - no aquelasque aceitamos simplesmente pela evidncia da imaginao edos sentidos - devem ser verdadeiras, "porque do contr-rio no poderia ser que Deus, sendo totalmente perfeito everaz, as tivesse colocado em ns". Assim Descartes chegoucom o seu raciocnio a tudo aquilo que a sua dvida haviadestru do. A diferena entre o seu primeiro estado e o ltimono era uma diferena nos objetos da crena, mas no fato deque os mesmos estavam agora estabelecidos racionalmente.

    Este ponto significativo. Quer dizer que embora Des-cartes combatesse o dogmatismo do pensamento escolstico,no atacou os seus mtodos intelectualistas. Recorria ra-zo em lugar da experincia. Se existe algo em Descartesmais notvel do que o esforo deliberado de um completo ce-ticismo, a sua f serena no poder do intelecto humano paraesclarecer a confuso reinante. primeira vista, parece queDescartes no leva em conta a possibilidade de a razo serinadequada para tal tarefa. Quando descobriu que no po-dia ter certeza de nada, lanou mo da razo como uma coisanatural e dedicou-se sistematicamente tarefa de elaborarum fundamento intelectual estvel para o universo. Desferiuum notvel golpe na subservincia medieval autoridade,mas, ao assim fazer, utilizou o mtodo dedutivo que tocaracterstico do pensamento medieval quanto o seu dogma-tismo.

    Existem vrias afirmaes de Descartes que so de espe-cial interesse para a psicologia. A de maior alcance entreelas o seu dualismo que, embora diferente do de Plato emsua origem, idntico em seus efeitos. De acor?~ com Des-cartes existem duas substncias: mente e matena, a subs-tncia' pensante e a extensa. Esta concepo colocou-o e~algumas dificuldades interessantes e esclarecedoras; haViaseparado a mente e a matria de modo to completo queachava difcil junt-Ias novamente de forma harmnica. Umresultado desta situao foi a teoria de que os animais, porno possurem res cogitans, ou substnc~a pens~mte, soautmatos - uma interpretao dos orgamsmos VIVOScom-plexos que especialmente interessante luz da~ recentesinterpretaes mecanicistas do comportamento ammal ~ .hu-mano. Descartes foi, na realidade, um completo mecamcIstaem referncia a todo o mundo material. Acreditava que to-das as aes do corpo humano - os movimentos dos ms-culos e tendes, as atividades da respirao, mesmo os pro-

    cessos da sensao - podem ser explicadas de acordo comprincpios mecnicos. Foi Descartes, de fato, que introduziuo conceito de ao reflexa, to largamente usado desde entoIIUS explanaes mecanicistas dos processos corporais. To-davia, Descartes se absteve de considerar os seres humanoscomo meros autmatos; acreditava que em cada pessoa haviauma alma provida de razo, uma substncia pensante, queLinha o poder de dirigir e alterar o rumo mecnico dos acon-tecimentos. Esta alma age atravs da glndula pineal nabase do crebro, e influencia os movimentos do corpo, agin-do sobre os espritos animais no sangue, o qual entrando porum nervo ou outro determina que movimento deve ser efe-tuado. Mas, a ao do corpo em si, embora sujeita dire-Aoda alma, puramente mecnica. A relao entre a menten o corpo, como Descartes a via, , portanto, de interao.A mente age sobre o corpo da maneira que acabamos de des-CI'OVer,e sofre a influncia do corpo atravs da sensao,(lmoo e ao. Descartes deixou de explicar como duaslIu1>stnciasto diferentes podem se influenciar reciproca-monte, porm estabeleceu a posio do dualismo e do intera-"Iollismo com a mxima clareza e assim reafirmou a distin-~no entre a mente e a matria no pensamento moderno.

    Outro ponto dos ensinamentos de Descartes que temuma conexo direta com a psicologia a sua crena nasIdhtHinatas. Descartes, que era to bom matemtico quan-tu fil{)sofo, admitiu que existem certas verdades necessriasnu nxiomas que constituem a base do conhecimento demons-tt'(wol. Tais verdades, segundo admitia, so inerentes na-tUl'mm humana e quando percebidas so evidentes por siItW".mas. Apesar de sua inteno de duvidar de tudo, Des-Cllu'tos no argumentou sobre a existncia das idias inatas.Il1l1ltu questo da dvida, entretanto, foi suscitada por algunsli "OU8 crticos, e alcanou tal importncia que se tornou opunto de partida da longa srie de investigaes, pelas quais01 filsofos da Gr-Bretanha desenvolveram o seu empirismoOrUlclO.

    IIm deles, contemporneo mais velho de Descartes, foiThumRs Hobbes, monarquista britnico, rude e obstinado,ano ClIIlCl'(weuum certo nmero de tratados sobre a naturezal\umll.IU\,nos quais deu es ial ateno s relaes do ho-m.un (',omo Estadot

  • uma tendncia que de especi~teresS~I>ra a psicologia,ou seja, a det"supe~illialii.a_condllta htiniiiiii\. O prin-cipal objetivo de Hobbes era justificar o poder absoluto dogoverno. Assim o fez explicando antes de tudo que h umimpulso natural em todos os homens para conseguir o quequerem e tudo o que podem obter. Este impulso, entretanto,conduz inevitavelmente ao conflito. Cada um est em lutacom todos os outros; ningum est seguro; cada um est,at certo ponto, derrotado em seus objetivos ..Esta situaointolervel termina quando os homens, impelidos pelo medoe pelo egosmo, percebem que podem conseguir segurana emaior proveito das coisas boas da vida, desistindo de seudireito natural de tomar tudo o que podem, e percebendo emtroca a garantia de proteo contra as agresses e depre-daes de seus semelhantes. Porm, este estado de coisas spode ser mantido se houver um poder bastante forte paraimp-Io, e este estabelecido quando os componentes do Es-tado concordam em abrir mo de seus direitos e poderes, emfavor de uma autoridade central. Este acordo voluntrio a justificativa para o poder absoluto daquele que governa.

    Do ponto de vista da psicologia, si~nifi~~tivo n()~-?o d~ Hobbes o uso que faz da !dia .de l'~~i:acionaV',Isto e, de que a conduta humana e dommaaa pela razo. Em-bora o medo e o egosmo, de fato, sejam considerados os mo-tivos da ao, a razo sugere "condies convenientes de paz"e orienta a forma da conduta. O medo e o egosmo atuamde uma forma calculada e no se manifestam s cegas. Emoutras palavras, a razo que controla a situaco. Dessamaneira, Hobbes fornece outro exemplo da tendncia geralde pensarmos no homem como sendo um animal racional, deexplicar a seqncia de suas aes como planejadas e previs-tas, em lugar de determinadas pelo acaso; e como sendo diri-gidas finalmente por consideraes intelectuais, ao invs depor alguma coisa to irracional como o sentimento, a emoo,e os incidentes da vida. A psicologia est continuamente des-cobrindo que os seres humanos gostam de atribuir razo omaior papel nos seus afazeres; e um sinal evidente do po-der desta tendncia o fato de ela aparecer no cnico e rea-lista Hobbes, que nunca foi acusado de tentar descrever anatureza humana de uma forma lisonjeira, por mnima quefosse.

    Porm, a atitude de Hobbes em relao ao homem ra~cional foi menos uma expresso propriamente sua do que domodo de pensar corrente na poca. De fato, isto significa~

    tivo porque uma expresso daquele modo de pensar. Outras(lolltribuies de Hobbes para a psicologia, entretanto, abri-ram novos horizontes. Uma delas um tratamento geral dosprocussos psicolgicos que os coloca de modo inequvoco nat\urrente dos acontecimentos naturais. Hobbes havia-se im-lu'uHHionadopela obra de Galileu e, aproveitando-se da pos-.tbili

  • absolutamente vlido. O outro foi um movimento mais posi-tivo, o qual, manifestando-se em parte na filosofia do sensocomum da escola escocesa, e em parte nos ensinamentos dosassociacionistas britnicos, resultou em uma psicologia que,embora fosse emprica por ser oposta racional, no che-gou a se tornar experimental.

    A origem do problema de Locke bastante interessan-te. Durante u:m debate com alguns amigos, ocorreu-lhe que,como no estIvessem chegando a um acordo, sua primeiratarefa seria descobrir quais os assuntos que esto sua altu-ra, e quais os que esto alm de sua alada. Sugeriu, por-tanto, essa questo e concordou em apresentar seu modo depensar sobre ela, na prxima reunio do grupo. Dessa for-ma, reuniu suas idias sobre o assunto em forma resumida,mas este problema, apresentado assim de forma to inteli-gente, o manteve ocupado por vrias vezes durante vinteanos de sua vida laboriosa. Sua resposta final foi dada noEssay cancerning Human Understanding, publicado em 1690quando o autor tinha 58 anos de idade. '

    O problema de Locke, preciso notar, no era exclusi-vamente psicolgico. Como os filsofos gregos, estava inte-ressado principalmente na validade do conhecimento' noexaminava o processo do conhecimento pelo seu valor i~trn-seco. Foi puramente ocasional sua pergunta "Como conhe-cemos 1". Em essncia, a pergunta era "O que concordamosem aeitar como conhecimento verdadeiro 1". Em primeirolugar, o empreendimento de Locke foi uma investigao epis-temolgica, mas desviou a ateno para os problemas psico-lgicos.

    Quando Locke examinou j!- constitui~og.o conheciment.Q.... cop~Y:enceu-sede que.todo conhecimento dexivado de. umanica fonte,~_~~rHnci. Ma~erincia -em-'~C deduas espcies: uma provm da ..~, outra da [rfl~;em outras palavras, uma parte proveniente do~fetOSSen-_sveis--d.o_mll!llg.~:xt.eJ:ior,e outra da percepo das funesde nossa prpria mente. No existem outras fontes de co-nhecimento. No existem idias inatas. Um ponto em queLocke insiste de modo especial o de que ns no comeamos.a vida com uma reserva de axiomas ou verdades necessrias.Atravs de pginas e mais pginas, desencadeia uma guerracontra a noo de que a mente esteja provida de idias inde-pendentes da experincia. Inicialmente a mente "um papelem branco, desprovida de atributos, sem nenhuma idia".

    \"Nada existe no intelecto que no tenha passado antes pelos.:~,...:-.;..:..-----~..,._---_ -.'- ._--._-.~-_._--_._-,-----_._-_ ..,-_.~_.- ~..- .,..__ .._---._,--- ---- -._-- .. ,--'- --~-----"'---~--'-'---------'--'---"--------_.-.--:;,.

    .entidos:0 esta frase , s vezes, considerada uma formula010 da teOria do conhecimento de Locke. A sensao e a re-flexo nos do idias simples, as quais so o material comquo formado todo o pensamento humano.

    Para Locke, tudo isso era de interesse e importante,porque mostrava as capacidades e, principalmente, as limi-taes da compreenso humana. Isso lhe deu um critrio pa-rA provar a validade do conhecimento. Se pudssemos des-cobrir a origem real de uma idia, a experincia, tal idia rla aceitvel; se no se pudesse encontrar um fundamentona experincia, ela seria ilusria - teria entrado furtiva-mtmte e no seria baseada em fatos. A anlise do conheci-nUlIlto de Locke, entretanto, teve um significado tanto epis-tomolgico quanto psicolgico. Estabeleceu no pensamentoda poca uma concepo atomstica da mente - uma con-olplo da mente como sendo composta de unidades combi-nldas de vrios modos. Proporcionou um conjunto de idiasIlrnples e um plano de organizao mental que mostrou sernecossrio somente descobrir como as idias simples so reu-nldu,s, a fim de compreendermos a mente humana e todas aslUA" possibilidades. este aspecto positivo do ensino deIJllcke, lua esperana de tornar a mente inteligvel em fun-tAo de unidades e suas combinaes, que levou ao aperfeioa-milito da escola do associacionismo psicolgico.

    Porm, os lados negativo ou crtico do pensamento deljfl(~I(etambm tiveram conseqncias importantes. A expli-OIQllo do conhecimento feita por Locke, como sendo compostod. Idias simples, juntamente com sua tentativa de descreverOconhecimento de um mundo real exterior, levou-o a distin-,uir entre qualidades primrias e secundrias. As prim-rill slio aquelas tIS como movimento, a extenso, a forma, loUdez e o nmero, que existem no objeto em si. As se-.undArias so, por exemplo, as cores, sabores e sons, que de-,.ndom do aparelho sensorial do organismo. Assim, a soli-di. realmente existe no mundo exterior; mas no a cor; por-tU' (lIa algo para a qual ns contribumos, por serem osnOIIO" rgos dos sentidos de um certo tipo.

    Mas, existe alguma diferena real entre as qualidades.rlmrias e secundrias 1 Esta pergunta foi feita por Geor-,. Jhlrkeley, notvel jovem irlands, que se tornou mais tar-tt. blllpo de Cloyne. Berkeley formulou esta pergunta em1710, llO livro A Treatise concerning the Principies af Hu-mnn Knowiedge. De inteiro acordo com Locke, salientou que() IltlllHOconhecimento do mundo exterior nos chega atravs

  • dos sentidos. Tudo o que sabemos sobre uma ma, porexemplo, aquilo que os nossos sentidos nos transmitem. Sabemos que vermelha, doce e aromtica porque temos sen-saes de viso, paladar e olfato; sabemos que slida epossui volume, porque temos sensaes de tato - porquesentimos sensaes na pele e nos msculos quando oferecemresistncia presso, ou quando fazemos movimentos dosmsculos ao toc-Ia. Existe, ento, alguma diferena entreo nosso conhecimento de solidez e volume, que so qualida-des primrias, e as da vermelhido e do aroma, que so se-cundrias? Todas so provenientes da sensao e de nenhu-ma outra fonte. O prprio Locke declarou: "Dando-se o casode impedir o olho de ver a luz ou as cores; o ouvido de ouvir osom; o paladar, de saborear e o nariz, de cheirar; provar-se-que todas as cores, sabores, odores e sons, em sua forma deidias individuais, desaparecem e cessam". Berkeley levousimplesmente o raciocnio de Locke um passo adiante. Asolidez, o volume e todas as outras qualidades pri-mrias so igualmente conhecidos somente atravs da per-cepo, e esto exatamente no mesmo caso das qualidadessecundrias. A ma~ to~ensao; nada mais se-no sensao; o se esse 'EerciPiJ A doutrina principal deBerkeley a de que ser conslste- em ser percebido, e paraestabelecer esta circunstncia recorreu diretamente expe-rincia. Confiante em que a faanha impossvel, pede aoleitor para imaginar qualquer das qualidades dos objetos -tanto primrias quanto secundrias - sem uma mente queas perceba. Retirai a percepo, diz ele, e a qualidade desa-parece. Assim como no pode existir vermelho sem a per-cepo do vermelho, no pode haver solidez sem a percepoda mesma. Para tornar mais claro, no existe substnciamaterial. Conhecemos somente as qualidades sensoriais;nunca vamos alm delas; e se o tentarmos e concluirmos queexiste uma substncia imanente nelas, algo que as mantme que lhe prprio, nada estaremos acrescentando. Estare-mos fazendo simplesmente uma declarao vazia, completa-mente gratuita e sem fundamento e, em ltima anlise, incon-cebvel. Locke, que se apegou ao senso comum, conservouum ncleo de substncia material no mundo exterior; Ber-keley, que aderiu a um mtodo de raciocnio lgico, deixou-ode lado.

    Ou talvez nem isto, pois Berkeley no ignorou a diferenaentre os objetos percebidos e os imaginados. Os primeiros,afirmou, so independentes de nossa vontade; existem, quei-

    l'.unos ou no; mais ainda, possuem uma ordem uma coern-ola e firmeza que no lhes so impostas por ns. No estollIuJ(Jitosaos nossos caprichos; possuem uma realidade forad. Ils. Mas esta r:3:lidade, insiste Berkeley, no pode ser(lorlloral. A sua analIse mostrou que a substncia materialnAu real; que a e~istncia das coisas depende de serem per-allJldas; que os objetos externos no possuem um ncleo delIublltncia corporal; que no h necessidade de tal ncleo enlm mesmo imaginveI. Ainda mais a coercitividade ahult\pen~ncia, a ordem e a estabilidade dos objetos so fatosquo preclsa~ ser levados em conta; e Berkeley explica essasquahdades dlzend~ que elas residem na mente perceptiva deo.lUI -. um conceito que para ele est livre da contradio eda vaCUIdade que encontra na idia de substncia material.A.llm como nossas idias esto para as nossas mentes, anatureza toda est para a mente divina. A existncia das,ollas, finalmente, consiste na percepo de Deus. Para Ber-ktJoy, este era o ponto essencial de todo o seu tratado. AssimGomoL?ck.e, ele estava interessado em sua anlise psicol-,ICio prlllClpalmen~e pelas suas _con~eq.~ncias metafsicas.Mal do ponto de VIsta da evoluao hlstOrICa, o lado positivod. IUU pensamento teve pouca influncia. Foi o lado crtico dtlltrutivo de sua filosofia que produziu fruto no pensa-mluto subseqente.

    l~:no entanto, apesar do fato de serem seus interessesprincipalmente l?et~fsicos, Berkeley. o autor do que pro-VIVel1rnenteo primeIro tratado exclusIvamente psicolgico _

    lutlmnos quase dizer, da primeira monografia psicolgica.lU lIyro New Theory o[ Vision, publicado um ano antes dor,._a.s(!, enfrenta um problema psicolgico pelo seu valor in-"In.eco, o de mostrar como "percebemos pela viso a dis-"nela, a grandeza e a posio dos objetos" .. Berkeley tentata estudo mostrar como percebemos a distncia ou ter-h'. dime~s~, ~ assim o faz no por causa das implicaes.'io ou fllos~flCas do problema, mas simplesmente porque proble1'!1aAeXI.ste.. Berkeley adverte que no podemos per-li". r 1\ .d~s~ancIadIretamente porque "a distnia, sendo umalinhA dJr1glda de ponta para os olhos, projeta somente umponto no fundo do olho. Este ponto permanece invariavel-M.nte () me~mo quer a distncia seja maior ou menor". Sua..pllcnD.o e a de que ns percebemos a distncia como re-lult.clo da experincia; de modo mais definido certas im-.r'.llIClMvisuais tornam-se associadas com as ;ensaes do'ato fi do movimento que se verificam quando fazemos os

  • a~ustes oculares necessrios para olhar objetos prximos oudIstantes, ou .quando movemos nossos corpos ou partes delesao nos apr?XImarmos ou ao nos afastarmos dos objetos vis-tos. Esta: e provavelmente a primeira aplicao do princpioda assocIaao a um problema exclusivamente psicolgico~alvez deva ser mencionado de passagem que Berkeley pare~CIa, em um grau fora do comum, estar ciente do papel de-sempenh~do p~las sensaes musculares e do tato nos pro-cessos p~IcologICOS.Por algum motivo, as sensaes que nosfaz~m cI~ntes de n?s~os prprios movimentos corporais so~aIs facllmen~e omItidas do que so aquelas provenientes daVIsta e do.OUVIdo,e ch~mar~m a ateno um pouco tarde nodesenvolvImento da pSIcologia. E, todavia, Berkeley utilizoue~ta~ s~nsaes no ~omente para explicar a percepo dadI~t~ncIa, c?mo tambem para mostrar que as qualidades pri-~anas, aSSImcomo as secundrias, consistem em ltima an-lIse em serem sentidas ou percebidas. O reconhecimento dasse?sa~s ~usculares e tcteis fazia, portanto, parte da dou-trma prmcIpal de sua filosofia.. Berkeley suscitou ainda um outro problema psicolgico

    dIferente, o da existncia de idias abstratas. Neste casoentretanto, o :pr,?blema ~o~considerado devido a ter rela~com a sua posIao metafIslCa. Locke, que havia condenado anoo das idias inatas, reconheceu no obstante a existncia~e,~dias abstratas. Porm, Berkeley negava a existncia deIderas abstratas, e assim o fez to abertamente devido relao deste assunto com a sua alegao de que a idia desubstncia material quando intimamente verificada torna-seinc01?-cebve~.q ~studo de B~rkel~y. interessante do pontode VIsta pSIcologICO,porque IdentifIca de modo evidente aidia com a imagem. Uma vez que n~ pode formar a idiade um homem. a .no ser que seja um "homem branco, pretoou amarelo, dIreito ou curvo, alto, baixo ou de estatura me-~ia!1a", j que no pode fazer uma idia do movimento quee dIferente daquele do corpo, e que no rpido nem lentoretilneo ou curvilneo, considera a crena em idias abstra~tas ~m "jogo de palavras". Embora essa questo no tenhasurgIdo claramente em seu estudo, a diferena entre Berke-ley e Locke sobre a possibilidade de idias abstratas inclui:ealmente a questo da possibilidade de pensamento sem~~gens. N? ~undo figuravam as perguntas: podem nossasIdeIas ser copIas das coisas em que estamos pensando? Ou,em ca~o contrrio, devem elas apresentar algum contedosensorIal que as represente de certa maneira? Podem exis.

    ti" pensamentos que no possuam nenhum contedo senso-"10.1 e que, no obstante, tenham uma funo real como pen-lIamento? Questes como estas estavam implcitas na inves-tl.cao de Berkeley; porm s surgiram como problemasclIctritamente psicolgicos dois sculos mais tarde, quando acontrovrsia do pensamento sem imagem deu-lhe a clarezado enunciado que um ambiente experimental possibilita.

    Naturalmente, Berkeley havia feito uma anlise crticade Locke muito alm do que este havia esperado, mas o fil-NOrOescocs David Hume foi ainda mais longe. Berkeley ha-via tratado o conceito de substncia material, negando aIxlstncia objetiva das coisas ou dos objetos fora das men-LtlM que as pesquisam ou da Mente. No havia, entretanto,duvidado da existncia da mente em si, nem posto em dvidatl princpio da causalidade. Ao contrrio, tinha admitido asduas coisas, dando como causa das caractersticas que distin-ruem as percepes das imagens, a mente divina que as per-cctbe, O universo, na concepo de Berkeley, possua aindaII.cum apoio; no era um simples caleidoscpio de idias.Hume pretendeu retirar este apoio, pondo em dvida tanto" tlxistncia do eu pensante como o princpio da causalidade.

    A crtica do eu feita por Hum.~ extremamente igual da Berkeley a respeito da substIiCi'materia1. Quando tentaIx.minar o eu, diz Hume, nada encontra seno percepesIloladas - amor ou dio, prazer ou dor, luz ou sombra -tuuin que corresponda ao eu que os filsofos descrevem comoumn substncia simples que persiste atravs de toda trans-rOl'nmo. Na idia do eu, ele v uma adio sem base e des-IIC'collsriaaos fatos observados, a mesma espcie de idia.flm fundamento que Berkeley encontrou na 'substncia ma-t.rllll.

    De maneira idntica, Hume trata da causalidade. AIdla de causa, diz ele, contm a idia da conexo necessria,por(lm quando ele procura lig-Ia de novo com as experin-ala. das quais ela possivelmente provm, nada encontra qued6 Irlia de necessidade, apenas contigidade e sucesso. AIxptlrincia no nos fornece nada alm de uma seqnciaInVArivel dentro do tempo; tudo o que ns realmente vemos, (jUOquando acontece A, B vem em seguida. A necessidade.rn (jue a idia de causalidade implica nunca encontrada na1I1t\,orincia. A idia de causalidade, portanto, no possuiVI'Idade objetiva. produzida na mente, e no descobertanu ubjeto. Permanece o fato, entretanto, que temos umaarema arraigada na causalidade, fato que Hume nunca nega,

  • e que tenta explicar. Nossa crena na causalidade consi-derada por ele uma questo de costume ou hbito ou ainda. - . ' -,uma aS.~?Cl~aOmUlt~ .forte. Tudo o. que sabemos que cer-tas sequenclas se venflcam do modo mvarivel, mas que, coma; repetio, proyocam na mente uma forte disposio parahgar os aconteclmentos que as compem. Se A foi sempresegu~do,p?r B, o apa~ecimento de A nos leva a esperar B.O prmClplO da causahdade, portanto, baseado num hbitotendncia ou disposio em ns existentes: no se garant~que possua validade objetiva.

    Assim, pela crtica de Hume, o mundo reduzia-se a umagregado de idias, sem substncia que as mantivesse, e semnenhuma lei que as ligasse. A crtica de Berkeley havia afas-tado a substncia material, porm havia deixado um mundode acontecimentos bem ordenados, sob a dependncia de umasubstncia espiritual. Aplicando a mesma espcie de crticausada pelo prprio Berkeley, Hume desfez tudo o que restarade ordem e de substncia que aquele havia deixado no mundo.Segundo Hume, o mundo era uma torrente de idias semconexo, permanncia, unidade ou sentido, apenas pre~entese passag~iras. Mesmo para o seu autor, havia algo de fora-do e antmatural nesta concepo. Ningum viu melhor queHume a discrepncia entre o extremo ceticismo a que seuraciocnio o havia conduzido e as exigncias da vida diria- 'mas nao apresentou uma compensao lgica para isso. ".Jan-to, jogo uma partida de gamo, converso e divirto-me commeus amigos", comenta ele, "e quando, aps trs ou quatrohoras de diverso, retorno a essas indagaes, elas me pare-cem to frias, foradas e ridculas, que no encontro maisdisposio para inici Ias novamente".

    O continuador de Hume no movimento crtico foi Ema-nuel Kant. Porm, Kant achou impossvel aceitar com aequanimidade de Hume o resultado das especulaes destru-tivas daquele. No podia concordar com uma situao naqual as cogitaes do estudo dos filsofos levavam a umaviso do mundo diferente daquela das exigncias da vidadiria. Afinal de contas, insistia Kant, o mundo como ns oconhecemos um mundo ordenado; e esta ordem como Humehavia claramente percebido, no podia ser pr~veniente dae~perinc!a .. Nem podia ser negada. Nesse caso, deveria pro-VIr da propna mente, a qual, em lugar de refletir a ordem deum mundo exterior, impe suas prprias leis sobre a natu-reza. Esta a tese que, em 1781, Kant apresentou em seulivro Crtica da Razo Pura, que fez de seu autor, at ento

    obscuro professor na .Un~v~rsidade de, Knigsberg, a figuraprincipal no mundo fllosoflco de sua epoca., .

    A experincia, de acordo co_mKa~t, e provemente deduas fontes: as coisas como elas sao e~ ~1mesmas, e a mente.A experincia um produto, uma cnaao das d';las. Ela co-mea quando as coisas em si agem sobre os .sentIdos, mas n~momento em que isso acontece, um mecamsmo c?mplex? eposto em movimento, o que torna par~ se~pre lmposslvel(tue conheamos as coisas com~ elas sao, l?dependeJ.l

    te dallOssa maneira de conhecer. Nao somente e o conteudo ~enossa experincia determinado pelos nossos. modos de sentir~ fato este que foi suficientemente reconhecIdo - ~om~ta~-bm a sua forma e disposio, sua ordem e orgamzaao saodeterminadas pela mente que a~Are~ebe e as r:t0dela. Nadapode fazer parte de nossa expenencla sem s~ dl~por de acor-do com as leis de nossa natureza: 2 e~ p~lmelro l,!ga~, .deAcordo com as formas de percepo lr:te~lata OU mtUlao,,,,pao e tempo, que so puramente subJetivas; e~ segundo,conforme uma ordem lgica im~osta p~las categon~s d~ en-tondimento, das quais a causahdade e uma delas" e. fmal-monte, naquele mundo unificado que se torna n~cessano pelaunidade' lgica do eu que percebetodosos conteudos da exp,:-rlllncia. A ordem e a coerncia. que vem?s na natureza saoa. que impomos sobre ela. As COIsasem SImes~as, portanto,nunca podem ser conhecidas como realmente ~ao ~podem se.rcmnhecidas somente como aparecem na expenencla, deter~l-tutt!lLH pelas formas de nosso pensamento. A natureza naopot1o nunca ser descoberta; a realidade, na forma e~ queIxlKto fora de nossa experincia, es~ para semp:-e. ale:n. de"OIUIO alcance. O verdadeiro conhecl,~ento metaflslco ~ ~m-l)o"Mvel;apenas o conhecimento emplnco pod~ ser a?qUlndo.NA.ollOdemos jamais conhecer o mundo como e em SImes~o,ourno existe fora de nossoS modos de conhecer. Mas ta~brnAo podemos conhecer a alma que pe.rce?~, d~ forma Ire ~_ II este o ponto particularmente Slg~lflcatIvo para a pSlClO\OlriU _ porque aconhecemos no em SImesma, mas a:pena;sunmo ela aparece no tempo, uma de nossas forI?as de mtUl-Ao, ~ to impossvel conhecer a. alma como e conhecer o~undo. Portanto, a psicologia raclOnal, que pretende ter umtlnnhtlcimento direto da alma, to impossvel quanto a m.e-t"rhdcu. Resta somente uma psic~logia .empnca, que ~aopndo tentar responder questes finals, maIS do que uma Clen-

  • cia emprica poder fazer, no caso da natureza fsica. Nemo mundo nem o eu podem ser conhecidos pela mente humanaem sua verdadeira natureza. intil tentar obter uma res-pos~a absoluta e final sobre qualquer um deles. A psicologiaaSSIm como a fsica, uma cincia emprica ou como diri~Kant, uma mera cincia emprica. '

    . O prprio Kant ~screv~u, sob, o.ttulo de Antropologia, oeqUl~alent~ a ~ma pSlc?logm emplnca; mas, em sua opinio,a pSIcologIa nao podena nunca atingir uma posio de des-t~qu~ mes~o como cincia emprica, porque o seu contedona~ e redutIvel a termos quantitativos e, portanto, no sus-cetIvel de ser tratada com a exatido que caracteriza umaverda?eira. cincia. N.o foi como psiclogo, entretanto, queKant mfluIU sobre a pSIcologia. Foi como filsofo crtico quedec~arou serem. sem fund.amento as pretenses da psicologiaracIOnal. Sua ImportncIa para a psicologia reside no fatode, ~le permanecer no extremo de uma srie de investigaes~rItIcas na qual, pelo exame de seu prprio instrumento omtelecto humano, a filosofia tornou cada vez mais evide~teque a psicologia, qualquer que seja, no metafsica. Des-cartes iniciou o movimento com seu apelo da autoridade pa-ra a razo. Hobbes, Locke, Berkeleye Hume efetuando suasanlise~ atravs .de etapas sucessivas, chega;am a um pontoonde n3;0 se POdI~ dar nenhuma justificativa absoluta paraa autorIdade do I~telecto. Kant, ao mesmo tempo que afir-mava ,0. papel do mtelecto na experincia, declarou que esteera valIdo somente dentro do campo da experincia e quetodo conhecimento que pretendesse transcender a mes~a serabs.oluto .e de cer~eza final, no tinha fundamento. A p~ico-10gI~ racI?nal fazIa parte desse conhecimento sem base. Noh.avla maIS tanta esperana, seja na psicologia, seja na f-SIC~,para se obte~ ~m conhecimento certo e absoluto. A psico-logIa, como a flslca, somente podia existir como cinciaemprica.

    ~~st~ nteriI!1, ~ interesse pelos aspectos psicolgicos dae:cperlencla em SI nao esperou por essa justificao metaf-SIca. Devemos lembrar que lado a lado com a crtica do co-n.heciment~ havia um outro movimento, de carter mais posi-tIvo, que tmha sua origem na anlise emprica do conheci-mento, que Locke e seus continuadores utilizaram. Uma par-te desse movimento expressou-se na filosofia do senso comumda escola escocesa. O seu ponto de partida foi Hume como ohavia sido de Kant, mas os filsofos escoceses trata;am seusilustres conterrneos de modo muito mais drstico do que o

    diligente Kant. Os resolutos realistas escoc~ses firmaram-senum mundo slido que se recusava a ser bamdo por especula-es sutis. Estas lhes pareciam mens reais do que os obj~tos dos sentidos e da vida diria, e se a anlise racional del-Xllva uma impresso de coisas to claramente em contrastecom a realidade como ela aparece ao senso comum, achav3;m(lue isso era muito nocivo anlise racional. Thom~s Reld,professor de filosofia em Edimburgo econtempora~:o de11ume foi o fundador dessa escola. Baseava sua poslao no"insti~to" e no "senso comum". Os sentidos, afirmava, nosfl1zem imediatamente conscientes de um mundo exterior edespertam em ns uma "crena inabalvel" na existncia .dosubjetos externos. Embora seja verda,d~ n~o se; possvel JW:-tiricar nossa crena, a sua presena e mdlscu.tIvel, e ela pro-IU'ia deve ser explicada, portanto, como deVIda a uma ten-dncia inicial e instintiva implantada na natureza humana.11'oilembrado que as idias de Hume e Reid no so, afinal,muito diferentes, uma vez que ambos sustentam que a cren-QQ no possui uma base rcional, mas no obstanteexiste.Conta-se que quando este assunto foi sugerido ao Dr. ThomasBrown, um dos seguidores de Reid, Brown respondeu: "Sim,Ucid proclamou aos gritos que ns de.vemo~crer num mu.ndoexterior; mas acrescentou em voz baIxa, nao termos motIvospara esta crena. Hume alardeia que no temos motivo .paratal idia; e, a meia voz, reconhece que no podemos nos hvrardela." 3

    Mas a diferena em nfase teve enormes conseqnciaspt'ticas. A atitude da escola do senso co~~m no s cha-mou a ateno para o mundo dos fatos e.mplrlCOS,c?mo tam-bm justificou o sentido daquela atenao. Ao asSIm fazer,"dotou a posio que , em essncia, a que a cincia compar-U1ha com o senso comum - ou seja, aceitar como certo, co-mo ponto de partida, o mundo como parece ser para a per-cepo ingnua. A filosofia do senso comum adotou o mes-mo processo para o caso da religio revelada. Era, de f~to,um dos objetivos da escola escocesa protestar contra as Im-plicaes do ceticismo de Hume que pud~sse~ minar a freligiosa. Afirmar que a f e a crena sao atIt~des verda-deiras e necessrias em relao ao mundo exterIor era da:rum passo no sentido de justificar essas a~it~des com. r:speI-lu religio. Para a escola escocesa, relIgIao era sm?mmode calvinismo, e como esta escola uniu-se, logo depOIS, ao

  • a;ssociac~onismobritnico, es~bel~eu-se uma aliana, de par-tIcular mteresse para a psIcologIa norte-americana. Poisuma psicologia, que se combinava harmoniosamente com ocalvinismo, era especialmente adaptada s necessidades dasprimeiras universidades norte-americanas. Foi de fato estapsicologia - associacionismo britnico mescl~do de ~ensocomum escocs ~ a mais ensinada nos primeiros e devota-d?s te~pos ?a educao norte-americana, quando a psicolo-gIa fOI Inclulda nos currculos das universidades com o nomede filos~fia da ment~, quando a filosofia era, por via de re-~a, ensInada pel
  • altas complexidades da vida mental. Suas observaes a res-peito da idia do "Todo" so muitas vezes citadas comoexemplo de at onde desejava levar seu princpio.

    "Tijolo uma idia complexa", escreveu ele "reboco outra;essas idias, junto com as de posio e quantidade, formam minhaidia de parede. Minha id,ia de uma tbua complexa, a de viga complexa, a de prego tambem o . Essas, unidas com as mesmas idiasde posio e quantidade, compem minha idia composta de assoalho.De maneira idntica, minhas idias complexas de vidro, madeira eoutras formam minha idia composta de janela; e essas idias compos-t~,. to~as .iuntas, formam minha idia de uma casa, que formada devanas IdIas compostas. Quantas idias complexas ou compostas estojuntas na idia de mobilia? E quantas mais na de mercadoria? Eainda mais na idia do Todo?" 4

    . dl?hR;;-S!~a:~:L~jJl.filho de James Mill, achou difcil ex-plIcar as Ielas complexas em termos de idias mais simples".todasjuntas" mesmo se fosse admitido, como seu pai admi-tIra, que os elementos no retm sua distino. O filho, en-tretanto, continuou associacionista, pelomenos de nome e so-brepujou sua dificuldade por meio do conceito de "qu'micamental". As idias complexas, dizia, nem sempre so desti-nadas composio; pode-se dizer que resultam de idiassi~ples ou so geradas por elas, mas no formadas por elasaSSImcomo nos compostosqumicos aparece alguma coisa n~composto que no est presente nos elementos tomados emseparado. Da forma em que a sensao do branco no com-posta .d~~sete cores do prisma, mas gerada por elas, assim~lll;!lId~Ia complexa pode ser gerada, e no composta, deId~I!lS~Imples. Nos dois Mills, tambm, os princpios doutIhtansmo de Bentham foram combinados com as doutri-n~s ?o associ~cionis~o, dando como resultado que o associa-clOlllsmotraZIa, em SI,um conceito de motivao que explicaa conduta humana na condio um tanto super-racional de"egosmo esclarecido", uma crena de que os atos humanospodem ser explicados em funo da busca do prazer e dafuga da dor.

    Herbert Spencer, catorze anos mais jovem do que JohnStuart Mill, importante para o associacionismo principal-mente porque adotou o ponto de vista da evoluo em seupensamento psicolgico. Spencer, que acreditava na heranados caracteres adquiridos, sustentava que os traos comple-xos evoluem na raa da mesma forma que as idias comple-xas se desenvolvem nos indivduos a partir das idias sim-

    4 James Mill, Analysis 01 the Phenomena 01 the Human Mind, I, 115.

    1)188 - que os instintos, por exemplo, so formados a partirdos reflexos. Alexander Bain, contemporneo de Spencer, mais conhecido pelos seus dois livr?s The ~ense8Aan4 the/ntellect e The Emotiona an the Will. Sua ImportnCIare.:-lide no tanto por qualquer contribuio definida, nem de-vido a uma doutrina ou teoria particular, quanto pelo fatodo t\eus dois livros constiturem uma explicao sistemtica didtica do associacionismoclss~co~m seu apogeu. ~steslivros, publicados logo aps a prImeIra me~d~ ~o secul~XIX assinalam o ponto culminante do assoclaclomsmo brI-tAni~oe, portanto, podem ser considerados como marcos dahistria da psicologia. . . "

    De certo modo,o associacionismofoi a primeIra escolade psicologia. Seus adeptos formavam um grupo de homensque trabalhava sob a mesma orientao e que encarav osmaiores problemas da psicologia quase da mes~ forma.NAoconcordavam em todos os pontos - na rel~ao entre a.Id~iae a sensao, por exemplo,.e em pontos ~IS ~omose ausociao por semelhana deverIa ser reconhecIda Junto coma associao por contigidade - porm estavam todosocupados com os mesmos tipos de ques}OOse seu pensamen~apresentava um desenvolvimento contmuo. E de mo?o ~definido, os associacionistas estavam escrevendo pSIcolOgiaem lugar de filosofia. Examinavam os proble~as na formatatual das cincias naturais, buscando o seu obJeto ~a expe-rincia real, nas formaes de pensamento. que ~odlam serobservadas. Em suas mos, a mente :perdIa:mUlto de su.aaura de mistrio e infalibilidade, e a pSIcolOgiatorna-se eVI-dente, despretensiosa e emprica. A p~!nc~palta~efa da esco-la era a mesma que em toda parte a cIeI?-C18realIZa - a ten-.tativa de descobrir as leis naturais num mundo de fatos na-turais e observveis.

    At agora pouco falamos sobre os filsofos da. Europacontinental. Somente Descartes e Kant foram mencIonados, foram includos devido s suas liga&:scom o.pensamentocritico e emprico da Gr-Bretanha. Ainda maIS do q.ueos.ua contemporneos britnicos, os filsofos ~o Co~tmen~utavam s ocasionalmente.interessados. em pSlco!ogIa. ~aohavia certamente no Contmente, uma lInha contmua de m-vesti. psicolgicaque persistisse, co~o no caso do ~o-clacionismoe empirismo britnicos, atraves das.personalIda-des e dos problemasmutveis. No entanto, ~wtas das con-cepesdos filsofos continentais, embora se tIVess~ desen-volvido em tentativas de resolver problemas que nao eram

  • em si psicolgicos, influenciaram a psicologia de modo defi-nitivo.

    Uma dessas concepes o paralelismo de Espinosa, con-temporneo de Descartes e, como este, o autor de um dosgrandes siste~as raci~nalistas do sculo XVII. Em algunsdos seus escntos, Espmbsa tratou de problemas especifica-mente psicolgicos; mas, de forma bastante estranha, so-mente atravs de sua doutrina metafsica do paralelismo queele faz parte da psicologia na atualidade. E mesmo essa dou-trina tem sido usada em psicologia de uma forma que noparece representar o pensamento de seu autor. Pois o para-'lelismo de Espinosa fazia parte de sua concepo da reali-dade, como uma unidade que tudo inclua e que embora tendoum nmero infinito de qualidades, uma s e~ si e se apre-senta percepo humana somente atravs de dois de seusatri~utos, matria e mente. Basicamente, Espinosa foi ummOnIsta; a crena na unidade do mundo e que se situa nabase de sua filosofia era algo para a qual sentia tanto umanecessidade emocional quanto intelectual. Mas, em psicologia,o conceito de paralelismo, extrado do contexto que deu seusignificado ao seu autor, foi usado por algumas escolas comoum meio adequado para tratar do problema mente-corpo.~eu mrito, as~im como tal mtodo, reside no fato de permi-tIr a um pesqUIsador levar em conta tanto os acontecimentosfsicos quanto os mentais e observar sua relao de modoemprico sem envolver-se na metafsica de sua relao lti-ma. O paralelismo de Espinosa foi considerado realmentetil em psicologia, exatamente porque pode ser tomado emseparado de seu contexto e usado sem se considerar as suasimplicaes metafsicas. O mental e o fsico podem ser enca-rados como duas correntes de acontecimentos, nenhuma agin-do como causa da outra, mas juntamente constituindo umsistema, no qual a variao de uma normalmenteacompanhada de uma variao da outra. Esta concepotorna possvel preservar o dualismo da mente e matria eainda evitar as dificuldades da interao das duas. Um mo-do de pensar um tanto parecido encontra-se no ocasionalismode Malebranche e na harmonia preestabelecida de Leibniz,representando ambos, como Espinosa, o racionalismo do s-culo XVII.

    Leibniz, realmente, como Descartes e Espinosa estabe-leceu o ltimo dos trs grandes sistemas racionalis~s do s-culo. Sua concepo de realidade era a de um "universo pul-verizado", composto de um nmero infinito de centros de

    t'ora imateriais, sem dimenso, chamados mnadas. Seuh(tbito mental de "pulverizar" est tambm presente em suasl~()ntribuies s cincias especiais; no clculo infin~tesimal,do qual foi um dos inventores, e nas p~tit~s_per~ept~ons q~eIIHtiwincludas em uma de suas contrlbUIoes a pSICologIa.1'~Htudoutrina das petites perceptions virtualmente a dou-tri na do inconsciente, e da continuidade do inconsci~~te como consciente. Da mesma forma em que o mundo vISIvel po-elc' ser reduzido a mnadas invisveis, assim tambm nossaconscincia clara retorna conscincia obscura ou mesmo aII",Ladosmentais inconscientes. Leibniz utilizou o bramido doUlUrpara exemplificar o significado disto. um fato ineg-vlll que ouvimos este som; todavia, os "peque~os sons" dosljuais ele deve ser composto - aqueles produ~ldos pe~as on-dM isoladas que constituem o mar - nao serIam OUVIdossel'ILdaum deles ocorresse sozinho. No obstante, devemos serum pouco afetados pelas ondas isoladamente, porqu~ "do con-tl'(u'ia no teramos a percepo de centenas de mIlhares deIludas, pois uma centena de milhar de nada~ no .pode pro-dwdr alguma coisa". Talvez a moderna pSIcologIa devesseJlI't'ferir, em seu todo, explicar este fenme_no em funo daMllIlIatotal dos estmulos, do que em funao da soma totalIbLHpercepes inconscientes. Mas o ponto significativo IJllt' em Leibniz h um reconhecime~_to defini?o do~ proces:MOM mentais inconscientes, uma regIao da pSICologIa que, e(IMctll,lRdodizer, tem provocado o mais vivo interesse n.a psi,.l'ologia atual. As doutrinas dos psica~alistas, _por mal~ q~eIloHHumdiferir em forma e carter das mdagaoes de ~el?~lZ,ufio obstante possuem algo em comum com os raClOcmlOStlxntos e as percepes penetrantes de um dos fundadores doI!1l'ulo.

    Leibniz estava por demais interessado no problema dasltlias inatas, Locke, deve ser lembrado, negava a existnciadollLS,mas baseava seu argumento na hiptese de que taisIdMas eram tanto presentes quanto ausentes, completamenterormadas ou inexistentes. Locke levou muito em conta o fa-to de os axiomas bsicos no se encontrarem nas mentes11"", crianas, dos selvagens e dos no instrudos, e s apare-I'tll'em quando o indivduo vive as experincias que so ca-"tl.zes de produzi-Ios. Para Leibniz, tudo isso podia ser ver-IInde e todavia o conceito da mente como um "papel emhl'llII~O"ou "tabula rasa" no poderia ser a nica explica-tlo possvel. Sugeriu o "mrmore com nervuras" como umaAltl\rnativa. Assim como um bloco de mrmore pode ser mar-

  • cado com nervuras a fim de torn-l o mais adequado para aesttua de Hrcules do que para qualquer outra, tambm o serhumano pode nascer com idias no completamente for-madas, ?Ias com tendncias e predisposies que tornam o de-sen~olvlmento de certas idias altamente provvel e adequa-~o ~ sua ~atureza. Esta concepo no difere daquela dosm~tmtos lIvre.m,ente organizados, que aceita por um certonumero de pSlcologos hoje em dia - isto , que certos tiposde comportamento so inatos, no no sentido de surgiremcompl~tamente forma~os, perfeitos, e com a regularidade.mecamc~ d~ um!! cadeia de reflexos, mas no de existirem co-mo tendenclas a reao, cujos detalhes so adquiridos por1!mprocess~ d~ aprendi~agem por ensaio e erro, em respostaas caractenstIcas de sItuaes reais. De acordo com estemodo de pensar, os tipos de ao conhecidos como instintosso produzidos .por ~doi~conjuntos de fatores, os que fazempa~te da ~onstItUlao mata e aqueles proporcionados pelomeIO ambIente.

    . No ~culo XVIII, persistia o racionalismo do sculo an-terior, nao como uma tendncia para formar sistemas fecha-d.o~como os de Espinosa e Leibniz, mas no formalismo, clas-SIcIsmo e no prazer da construo lgica que caracterizou opensamento desse perodo. Na Frana, as duas principaiscorrentes de. pensa;mento psicolgico foram tentativas paralevar as. teorias eXIstentes at suas concluses lgicas. Umadelas fO.Ia repres~ntada por Lamettrie e Cabanis. Descartes,co~o VImos, ~x~h~ava os animais como sendo autmatos eutIhzou os p~~nclplOsmecanicistas de forma bastante exten-sa .pa::a exphcar. o comportamento humano. Em 1748, La-mettrle em ~eu hvr? L'Homme Machine tomou a deciso queDescartes nao querIa tomar e afirmou que todas as aes doss~res.. humanos P?dem ser explica das mecanicamente.Cmquenta anos maIS tarde, o mdico Cabanis reafirmou edesenvolveu a mesma opinio. Declarou que a mente sim-plesmente uma funo do corpo, mais propriamente do c-rebro, t SIue as .aes humanas, inclusive a~ mais complica-das funoes do mtelecto e as mais avanadas expresses des~~ n~tu~eza. ~or~l, no so nada mais do que as conse-qUtn,c~asmevltavelS de uma lei natural agindo em seu cor-po fISICO. O materialismo e o mecanicismo eram aceitos debom grado como constituindo uma explicao inteiramenteadequada da conduta humana.

    Da mesma forma, Condillac, abade de Mureaux, escre-vendo na metade do sculo, levou a teoria do conhecimento

    de Locke ao extremo de um completo sensacionismo. Lockehavia reconhecido duas fontes de conhecimento: a sensaoe a reflexo. Condillac reduziu todo o conhecimento a umanica fonte: a sensao. Apresentando sua teoria, imaginouuma esttua, formada por dentro como um ser humano, po-rm coberta com uma camada de mrmore. Em primeirolugar, removeu o mrmore do nariz e colocou uma rosa sua frente. A esttua tem agora uma sensao de olfato; afragrncia da rosa representa sua conscincia total. A rosa retirada e a sensao torna-se memria. Outros objetosso colocados em frente esttua - uma violeta, um jasmime uma assa-ftida. Os seus odores caractersticos so destavez comparados com a imagem - memria da rosa e comas imagens - memria de cada uma das outras, resultandoque algumas so percebidas como agradveis e outras desa-gradveis. Dessa forma surge o desejo por algumas e aver-so por outras, e as paixes e a vontade aparecem comoconseqncia da comparao entre as sensaes agradveise desagradveis. De maneira idntica so produzidas todasas funes do intelecto; da comparao das sensaes sur-gem a reflexo, o juzo, a abstrao, a generalizao e o ra-ciocnio. Quando permitimos outras sensaes para a esttua_ as de paladar, audio, viso e .tato - a sua vida psqui-ca torna-se muitssimo mais complexa. O sentido do tatotem importncia especial, uma vez que proporciona o pontode partida para a idia de um corpo, e portanto, do mundoexterior. Porm, tudo o que acontece na mente e todas asidias por ela produzidas so derivados da sensao. O co~-tedo integral da mente, inclusive suas operaes, nada maIS do que sensao que se transforma de vrias ma;nei.ras. Atese de Condillac a ltima palavra em sensaClOmsmo, eta"mbm em empirismo, considerando este termo como indi-cativo de uma teoria do conhecimento que se forma e se de-senvolve atravs da experincia. Mas, importante obser-var que o sistema de Condillac no emprico no sentido deoposto ao racional. sempre at ofim uma construo l-gica; e no uma descrio de fatos observados. Talvez deva--se notar tambm que Condillac no era materialista. Par-tindo de sua convico de que todos os fatos~ mentais soapenas sensao transformada, poderia ter acreditado facil-mente, com os materialistas franceses de sua poca, que asensao produzida pelo funcionamento dos rg~os dos ~en-tidos e do crebro. Mas o abade de Mureaux nao fez IstO.De modo claro e definido, sups uma alma que, embora dis-

  • tinta do corpo, era, no que diz respeito psicologia nadamais do que a simples capacidade para sentir. Entr~tantoeste ponto no importante em seus ensinamentos. Condil~!ac le~bra~o. principalmente. por afirmar que a sensaoIsolada e sufIcIente para explIcar as mais complexas fun-es da mente humana.

    No mesmo sculo, Jean Jacques Rousseau fez pesquisasem um setor do pensamento psicolgico totalmente diverso.~ ~o~v~l contribuio de Rousseau para a psicologia foi suaInsIstnCIa no papel desempenhado pelo sentimento e pelaemoo na formao humana. A psicologia teve sempre atendncia para ser intelectualsta. Tanto os empiristas quan-to os racionalistas haviam analisado o ser humano como sen-do uma criatura, cuja atividade primordial seria o saber, o~nsamento e a descoberta da verdade. Mas, era evidente pa-ra Rousseau que a natureza real do homem era a emocional.A idia de que o homem essencialmente um ser possuidorde jdi~ e razo, Rousseau considerava no somente falsa,como amda uma falsidade unida a todos os males da civili-zao, pois ele acreditava no "selvagem nobre" e no "retorno natureza", e encarava a civilizao como sinnimo de escra-vido. A seu ver, as convenes e as restries da sociedadeeram prejudiciais parte mais ntima do homem; e por seuprprio carter abusivo aos olhos de seus contemporneos- e que se expre8!Wu em palavras e atos - Rousseau per-maneceu em franco protesto contra o formalismo e a artifi-cialidade de sua poca. Entretanto, a sua influncia na psi-cologia no . fcil de estabelecer, pois foi principalmentecomo terico poltico e como individualista sem peias queimpressionou o mundo. Certamente ele no se enquadra emnenhuma das correntes de desenvolvimento bem definidasque conduziram cincia psicolgica. Porm o homem quelanou as sementes da revolta na Frana do sculo XVIII, eque protestou contra o frio intelectualismo da filosofia, bemcomo contra o convencionalismo artificial na sociedade hu-mana, tornou impossvel para a psicologia, mesmo a acad-mica, negligenciar completamente o lado emocional da natu-reza humana. A emoo havia permanecido por muito tem-po como um campo ignorado e pouco explorado, e a psicolo-gia ficara por muitos anos acentuadamente intelectualista.Agora, .no entanto, o campo das emoes tinha sido franca"'mente indicado e reconhecida sua enorme importncia.

    Porm as correntes que estavam impelindo a psicologiaem direo ao empirismo e ao naturalismo no deixavam de

    r concorrentes. Eram, na realidad~, reaes contr.a o pen-unumto oficialmente aceito. Na Alemanha, por exemplo,hAvia Christian Wolff, prottipo do tacionalismo, formalis-mu fi dogmatismo, cuja escola de pensamento floresceu du-'Ant. a primeira metade do sculo XVIII. Wolff impor-tinta para a psicologia moderna, mormente em raz~o de"Iml tHlsinamentos exem.plificarem to claramente dOIS h-hltulI tio pensamento que tinham de ser extirpados sea psi-enluM'laquisesse se tornar uma cincia. O primeiro. a afir-"UlQlo de que a psicologia racional proc~rou o

  • bio, em vez da associao, a tnica de seu sistema. Todaidia, de acordo com Herbart, possui a tendncia de se con-servar e afastar as outras com as quais seja incompatvel; evariam em poder. Quando uma idia encontra outra maisforte ou um grupo de idias com as quais incompatvel, lanada abaixo do limiar da conscincia. A idia no des-truda, entretanto, mas persiste, embora no momento sejainconsciente. Aquela que sej a em si mesma fraca pode aden-trar a conscincia e a se conservar no caso das outras aci-ma do limiar da conscincia serem afins. As idias, j deposse do campo da conscincia, geralmente repelem aquelascom as quais no tenham afinidade; porm as idias noinibidas, seguindo a tendncia geral de subir tona da cons-cincia, so assimiladas pelas que estejam na conscincia na-quela ocasio. Herbart chama este processo de apercepo,e o grupo no qual a idia que chega introduzi da conhe-cido como massa de apercepo. A vida mental assim prin-cipalmente uma luta entre idias, todas ativas, esforando--se para conseguir e conservar um lugar na conscincia, ecada uma repelindo todas as outras com as quais no sejacompatvel.

    Esta concepo permitiu a Herbart pensar nos fenme-nos mentais em funo da mecnica mental, e tambm emtermos quantitativos. As idias variam tanto em tempo dedurao quanto em fora ou intensidade; portanto, o mate-rial psicolgico apresenta duas variveis mensurveis inde-pendentes. Aplicando este princpio, Herbart escreveu fr-mulas matemticas para exprimir as leis da mente. Acre-ditava, entretanto, que a psicologia jamais se tornaria expe-'rimental. importante observar este fato como indicativoda maneira bastante gradual pela qual evoluiu o conceito depsicologia como cincia. Kant, na segunda metade do sculoXVIII, e:t;nboraconsiderasse a psicologia uma cincia emp-rica, era de opinio que ela nunca se tornaria quantitativa.Herbart, na primeira metade do sculo XIX, acreditava queembora a psicologia pudesse se tornar quantitativa nuncaseria experimental. E, contudo, foi parcialmente atravs daconcepo da psicologia quantitativa de Herbart 5 que a mes-ma se desenvolveu como cincia experimental durante o meiosculo aps sua morte.

    Herbart estava tambm interessado em educao e ointeresse generalizado em aplicar a sua teoria na tcnica do

    Clllalnorepresenta um importante passo no sentido de reco-t1IUl(~era psicologia como cincia tendo algo para servir aosA'azeres prticos da vida diria. Durante algum tempo osl,rofcs80res em toda parte, tr~varam co~hecime~to com a:sfAmosas cinco etapas da tcmca herbartIana, metodo destI-"Ado a construir na mente do aluno uma massa de apercep-AlI apropriada recepo do novo materi~l a ser aprese~-LAdo. Desde a poca de Herbart, a educaao e a psICologiatA\mestado intimamente relacionadas, e mesmo hoje em diaAClducao provavelmente o ramo mais extenso da psico-1I).l. aplicada. . ,..

    t importante observar tambm que a pSICologlade Her-bArl exigia o reconhecimento dos processos inconscientesaUvos. Sua concepo das idias como sendo ativas, e per-.I.tindo abaixo do limiar da conscincia quando inibidas e forando-se continuamente para ~onseguir comp~et~ ~x-pr"lIo, lutando com outras idias, e notavelmente ldentIcali teorias do inconsciente admitidas pelos psicanalistas.

    Um dos discpulos de Herbart em psicologia, W. F.Volkmann, escreveu um livro didtico que possui c?m a psi-tlOlllll'iahe.r:bartiana quase a mesma relao que eXlste entreo. dois livros de Bain e o associacionismo britnico. Assi-nAlAo ponto culminante e apresenta as pri~c~pais c0J.1tri6ui-~. de uma linha de pensamento caracterls~ICa. At que a.).teologia experimental fosse bem estabelec~da, o. L~~rbuchd. Volkmann foi amplamente usado como livro dldtico ~All1manha. A data de sua publicao 1856, um ano apos11 Rl'nrecimento do livr? The Se~es and the Int~llect e qua-Lruanos antes da pubhcao do lIvro The Emotums and theWtll. interessante que, por volta da metade do sculo, aAIMmanhae a Gr-Bretanha produziram cada uma em sepa-rado um tratado apresentando a psicologia pr-experimental.m lIua forma mais avanada. conveniente, portanto, con-.hl"rar esses livros como assinalando o fim de um perodoliA histria da psicologia. William James, ao comentar aIJIIlcologiadeste perodo - ainda no ~da pelo mtodo,x.J)erimental - descreveu a obra de Bam com palavras que'Imlc'mser tambm aplicadas de Vol~a~n, c?IDose~do :'0ulllmo marco da juventude de nossa ClenCla,amda nao ~-nlc'Il e geralmente intelectual, como a qumica de Lavoisier,I til 1.1 anatomia antes da inveno do microscpio".

    ~ a metad~ do sculo XIX, a longa era da psicologia'1""~('entfica chegara ao fim. Porm, no decurso desse !K'-rlcKlo tinha avanado muito. Comeando com especulaes

  • acidentais ligadas aos problemas prticos da humanidade edas sociedades e busca da verdade final, surgiu como umcorpo de conhecimentos estudados pelo seu valor intrnseco eexistindo por sua prpria conta. Entre os gregos, antes dapsicologia existir como uma disciplina isolada, a cosmologiae a epistemologia, a tica, a teoria poltica e as atividadesprticas haviam todas enfrentado questes sobre a nature-za humana. Nessa ocasio, entretanto, estas questes noforam objeto de um interesse psicolgico real. No foramestudadas pelo seu valor intrnseco, mas pela luz que lan-avam sobre outros problemas; foram estudadas porque fa-ziam parte de tentativas para compreender o universo ouplanejar a maneira racional de viver. Alm disso, foram so-lucionadas menos na base da observao do que da especula-o, e as observaes sistemticas que delas se originarameram gerais e abstratas. Mas, por essa mesma razo, as pri-meiras observaes permanecem nos esboos definidos dosconceitos racionais, ainda no maculados pela mincia dosfatos que foram posteriormente revelados pela observaocuidadosa e que, mais do que nunca, no se coadunam como modelo conceitual. Em conseqncia, muitos dos proble-mas tratados pelos gregos - de substncia e processo, daspartes e do todo, da mente e da matria, do indivduo e dasociedade, das causas prximas e remotas, da abordagemmatemtica para o entendimento, e o problema geral do co-nhecimento - foram estabelecidos de tal maneira que tmservido desde ento de pontos fixos de referncia e comoinstrumentos conceituais nas cogitaes da psicologia.

    Na poca atual, na Europa Ocidental, surgiram nova-mente os problemas psicolgicos. Por algum tempo, a filo-sofia esteve bastante interessada pela crtica do conhecimen-to, e da surgiu um interesse psicolgico ativo. Em suas li-nhas gerais, o movimento crtico iniciou-se partindo do apelo autoridade eclesistica para o apelo razo e, em seguida,do apelo razo, como concebida pelos metafsicos, ao daevidncia dos fatos como existem na cincia. Um dos frutosdesse movimento foi o interesse pela psicologia em si, e queeventualmente expressou-se pela formao de duas escolas,o associacionismo e o herbartismo. Nesse nterim, surgiramproblemas tpicos da psicologia - os da possibilidade deidias inatas e abstratas, da natureza da percepo do espa-o, das leis de associao, da relao entre os processos cons-cientes e inconscientes. Haviam surgido poucas tendnciasbem definidas,entre elas a possibilidade de explicar as ati-

    vldAr\(IH humanas de forma mecanicista, e de analisar a na-'ur.za humana de modo atomstico. Na maioria dos ca~os,durAnte este perodo, a psicologia havia supe;intelec~uahza-do Imper-racionalizado o seu material, porem havI~ tam-Wm f(lcebido bastante evidncia de que 3: vida .afetIva dohom.un poderia ser muito importante, e tmha vIslumbradopu.r ILl~UIIO a possibilidade de que dar ateno ao aspecto ma-IOr du. natureza humana poderia ser muito esclar.ecedo;.HAVIM. Kucedidotudo isso de uma forma longe de ser s~stema-tio.: n\m disso, haviam sido aperfeioados uma: atItude eum mtodo definido de estudo. Na. metade do seculo .XIX,I plIl(!o)og-iahavia aprendido a consIderar o seu m~t~rlal de tudo como parte da natureza e a tentar explIca-Io em.rmo" naturais. Estava aprendendo, tambm, a observar o U material, bem como pensar sobre o mesmo..A ~ resumo, plllco\og-iaestava pre~tes a se .tornar uma clenc~a: Tanton. mAtria como no metodo havIa-se tornado emplrlCa; fal-"VI pouco para passar a ser experimental.