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14 de outubro de 2014 Negócios de Impacto Social: Da estrutura da Empresa Nascente a sua aproximação com o Poder Público. Coordenação Acadêmica: Profa. Mônica Steffen Guise Rosina Coordenação Executiva: Alexandre Pacheco da Silva Pesquisador: Felipe Figueiredo Gonçalves da Silva Estagiário: Carlos Augusto Liguori Filho Apoio: 1

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Guia jurídico empresarial sobre classificações das empresas (LTDA ou SA) e mecanismos de governança

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  • 14 de outubro de 2014

    !!!!!!!!!!!!

    Negcios de Impacto Social: Da estrutura da Empresa Nascente a sua

    aproximao com o Poder Pblico. !

    Coordenao Acadmica: Profa. Mnica Steffen Guise Rosina Coordenao Executiva: Alexandre Pacheco da Silva Pesquisador: Felipe Figueiredo Gonalves da Silva

    Estagirio: Carlos Augusto Liguori Filho

    !!Apoio: !

    !

    !1

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    Sumrio: !1. LENT: Inovao dentro dos muros da Escola de

    Direito..3 !2. Formao da Empresa Nascente6

    !2.1. Entrada e sada de scios.13 !2.2. Estrutura de capital, investimento e crescimento da empresa nascente..30 !2.3. Governana da Empresa Nascente.53 !2.4. Custos da Empresa Nascente..76 !

    3. Aproximao com o Poder Pblico93 !3.1. Os desafios para a contratao da empresa nascente via Lei de Licitaes Pblicas (Lei n. 8.666/1993).96 !3.2. Terceirizao: subcontratao de empresa nascente por empresas licitadas...119 !3.3. Os riscos e os limites da contratao direta via inexigibilidade de licitao138 !3.4. Modelo hbrido de Contratao: Convnios com o Poder Pblico patrocinados pela iniciativa privada..153 !

    4. Consideraes Finais..163

    !2

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    !LENT: Inovao dentro dos muros da Escola de Direito !Em agosto de 2013 iniciaram-se as atividades do Laboratrio de Empresas Nascentes de

    Tecnologia (LENT), um espao de ensino multidisciplinar que oferece capacitao em

    prtica jurdica aos alunos de graduao em Direito, Administrao e Economia das

    Escolas da Fundao Getulio Vargas.

    !O Laboratrio uma iniciativa mpar que tem o objetivo de aproximar alunos de

    graduao do ecossistema de fomento empresas nascentes de base tecnolgica e

    capacit-los para lidar com os desafios desse segmento. O LENT desenvolvido no

    mbito do Grupo de Ensino e Pesquisa em Inovao (GEPI) da FGV DIREITO SP para

    identificar quais so os principais desafios jurdicos para o desenvolvimento de micro,

    pequenas e mdias empresas de tecnologia no Brasil.

    !Formatado como um espao de ensino, o LENT oferece atividades de prtica jurdica e

    empreendedorismo e serve como arena de interao e fomento ao ecossistema da

    inovao em micro e pequenas empresas desenvolvedoras de novas tecnologias no Brasil.

    !As atividades do LENT so desenvolvidas a partir de casos reais concebidos pelos

    coordenadores do LENT em conjunto com entidades parceiras (empreendedores,

    aceleradoras e investidores), tendo como principal finalidade ensejar o intercmbio entre

    empresas nascentes, aceleradoras, investidores e os nossos alunos.

    !Parte da capacitao promovida no mbito do LENT envolve a provocao para que os

    alunos se enxerguem no apenas como prestadores de servios jurdicos, mas sim como

    verdadeiros parceiros de negcio em novos empreendimentos, auxiliando

    empreendedores, sobretudo, na viabilizao de projetos inovadores.

    !!3

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    A primeira edio do Laboratrio (agosto-dezembro/2013) focou suas atividades no

    universo de acelerao de micro e pequenas empresas de base tecnolgica voltadas

    oferta de servios de comrcio eletrnico. Em sua primeira edio o LENT foi patrocinado

    pela Buscap Company e pelo escritrio neolaw., tendo a colaborao das aceleradoras

    Wayra, Aceleratech e Artemsia, bem como do Instituto Inspirare.

    !No desenvolvimento das atividades da primeira edio do LENT foi recorrente o

    aparecimento da temtica dos negcios de impacto social como um desafio efervescente

    no Brasil. Das falas dos investidores aos perfis dos empreendedores, os negcios de

    impacto social entraram no radar dos participantes do LENT e serviriam para tematizar a

    segunda edio do laboratrio.

    !Em fevereiro de 2014 iniciaram-se as atividades da segunda edio do LENT, que teve por

    tema negcios de impacto social. O LENT - Negcios de Impacto Social foi concebido a

    partir de um esforo conjunto da Potencia Ventures e pelo Instituto Inspirare, que disponibilizaram alm de tempo, toda a sua infra-estrutura de parceiros para possibilitar a

    realizao da 2 edio do Laboratrio e a produo do presente relatrio. Cabe aqui um

    especial agradecimento as duas entidades nas pessoas de Ana Flvia Castro, do Instituto

    Inspirare, e para Vivianne Naigeborin, da Potencia Ventures, pois sem elas o projeto no

    teria sado do papel.

    !Durante suas as atividades, o Laboratrio tambm contou com a generosa colaborao do

    fundo Virtuose, com a presena de Bernardo Gradin em nossos debates, bem como com

    a participao das aceleradoras Artemisia e Pipa, com as presenas de Renato Kiyama e

    Dhaval Chadha, e da Vox Capital, com a presena de Gilberto Ribeiro e de Daniel Izzo.

    Participaram tambm representantes das empresas nascentes Fbrica de Aplicativos,

    Catraca Livre, Geekie e Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovao (IPTI).

    A segunda edio do laboratrio foi estruturada em torno de dois grandes desafios

    jurdicos para os players que atuam com negcios de impacto social: a estruturao

    societria de empresas nascentes e as contrataes destas com o Poder Pblico. Os

    alunos tiveram a oportunidade de ouvir dos parceiros laboratrio os obstculos que eles

    !4

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    enfrentaram para o fomento de empresas nascente de base tecnolgica no Brasil. Aps

    estes encontros, foram criados planos de trabalho que tiveram como resultado o contedo

    presente neste relatrio.

    !O presente relatrio um primeiro esforo dos alunos do LENT em apontar variveis

    relevantes na formao da empresa nascente e em sua aproximao com o Poder Pblico,

    de modo a qualificar a tomada de deciso do empreendedor no Brasil.

    !Mesmo que o presente relatrio tenha lidado com desafios apontados no mbito dos

    negcios de impacto social, no se restringem a este universo, podendo ser tambm

    compartilhados por muitas startups que atuam no ecossistema de inovao do pas. Da

    talvez a dupla relevncia dos objetos de estudo que nortearam as atividades do LENT.

    !Cada tema foi abordado em um mdulo do laboratrio, o primeiro lidando com a

    formao da empresa nascente a partir de sua estruturao societria e o segundo a

    partir da aproximao entre a empresa nascente e o Poder Pblico, via contrataes.

    !Props-se aos alunos que, ao final de cada mdulo, elaborassem em grupos um

    documento relatando a pesquisa realizada e apontando suas concluses. Os resultados

    foram apresentados aos parceiros e cada um dos grupos ficou responsvel por redigir dois

    captulos do presente relatrio. Este foi dividido em duas partes: a parte I com as

    questes sobre estruturao societria e a parte II com as questes sobre contrataes

    pblicas.

    !O LENT, assim, se insere como espao de formao dos futuros profissionais capazes de

    auxiliar empresas, aceleradoras, investidores, dentre outros profissionais que tem como

    objetivo o crescimento do ecossistema de inovao no pas.

    !!!

    !5

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    2. Formao da Empresa Nascente !Qual o melhor regime societrio para constituir uma empresa nascente: o das sociedades

    limitadas ou o das sociedades annimas de capital fechado? Esta , fundamentalmente, a

    pergunta que se pretende responder nesta primeira parte do relatrio de pesquisa. Muito

    embora a pergunta seja relativamente simples, sua resposta est longe de ser.

    !A deciso sobre o regime societrio de constituio da empresa nascente fundamental e

    tem diversos impactos no processo de escalada da startup: da estrutura de custos da

    empresa captao de investimentos externos, a forma societria pode igualmente

    ajudar a alavancar ou a obstaculizar o desenvolvimento do negcio.

    !Muito embora a legislao brasileira permita a migrao entre regimes societrios aps a

    constituio da empresa, o processo para alterao dos registros comerciais altamente

    burocratizado. Alm dos custos e entraves burocrticos, h que se levar em conta o

    dispndio considervel de tempo para que se possam fazer as alteraes necessrias em

    conformidade com a lei. Tempo certamente um dos recursos mais escassos no

    ecossistema de inovao, razo pela qual a degladiao burocrtica pode acabar

    comprometendo ou at inviabilizando a escalada da empresa nascente, sobretudo

    quando se est diante de tratativas para captao de recursos externos.

    !A problemtica no indita na literatura jurdica especializada. H dcadas a questo

    vem sendo abordada de diversas formas sem, no entanto, ser possvel identificar algum

    posicionamento firme, conclusivo, respaldado no direito brasileiro.

    !Em parte isso se deve forma pela qual sempre se pretendeu responder pergunta

    formulada: confrontando textos normativos em seu sentido abstrato com entendimentos

    doutrinrios tradicionais, quase sempre abordando a problemtica sob lentes estritamente

    tericas, carentes da insero de elementos pragmticos na construo dos argumentos

    lanados.

    !6

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    Alm disso, quase no h material que enfrente a problemtica inserida no contexto do

    ecossistema de inovao no pas, considerando as peculiaridades do universo de

    operao das startups, sobretudo no que concerne atrao de investimentos externos

    para alavancagem da empresa.

    !Diante desse contexto, os alunos do LENT foram desafiados a elaborar um documento

    que contemplasse um comparativo entre as caractersticas do regime societrio das

    sociedades limitadas e das sociedades por aes fechadas, no contexto das empresas

    nascentes que buscam escalar seu negcio com ajuda de aceleradoras e/ou investidores

    externos.

    !O desafio lanado aos alunos foi o de identificar na legislao, na jurisprudncia e nas

    orientaes normativas dos rgos regulatrios/registrais das sociedades comerciais as

    caractersticas tpicas de cada regime societrio, suas aproximaes e seus

    distanciamentos.

    !Foram relacionados quatro grandes temas relevantes para a o processo de escalada das

    empresas nascentes, sobretudo as startups de negcios de impacto social . Para cada 1

    tema relacionado os alunos deveriam apresentar as vantagens e desvantagens das

    caractersticas dos tipos societrios no contexto das empresas nascentes. Alm disso, a

    proposta de trabalho inclua dois desafios adicionais:

    !(i) redao de um documento que seja til a empreendedores, investidores e

    aceleradoras para que possam orientar de forma qualificada as tomadas de deciso sobre os arranjos societrios das empresas nascentes; e

    !(ii) identificao dos desafios jurdicos relevantes que potencialmente possam

    demandar alteraes legislativas no contexto de fomento inovao.

    !A proposta incluiu a diviso dos alunos em grupos, que foram incumbidos de realizar as

    pesquisas e redigir o captulo respectivo do Relatrio sobre o tema sorteado. A verso

    !7

    O tema da segunda edio do LENT negcios de impacto social. Os temas tratados no relatrio foram 1

    apresentados aos alunos no contexto da acelerao de negcios de impacto social. Muito embora o comparativo entre os regimes societrios no seja especfico para os negcios de impacto social, foi atravs da sua dinmica que os alunos do LENT foram apresentados s questes do relatrio e desafiados a enfrenta-las.

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    final do documento, com a compilao das pesquisas sobre os temas selecionados, ser

    disponibilizada aos aceleradores, empreendedores e investidores parceiros do LENT, bem

    como a qualquer outro interessado.

    !A anlise se deu em um contexto de empresas que tem como meta a gerao de

    impactos sociais. O recorte temtico do relatrio se deu pela juno do referencial terico

    de negcios de impacto social, aliado a questes relevantes para a formao de qualquer

    empresa nascente de base tecnolgica. Nesse sentido, vale mencionar o conceito de

    negcios de impacto social utilizado pelo LENT em suas atividades.

    !Negcios de impacto social so aqueles que se propem a oferecer solues reais e

    escalonveis para problemas sociais da populao de baixa renda. As solues oferecidas

    precisam ser reais porque tm de operar no plano concreto e efetivo da realidade diria

    das pessoas de baixa renda, e precisam ser escalonveis porque a mensurao do

    impacto social da ferramenta englobar, dentre outros fatores, a quantidade potencial de

    pessoas que podem ser beneficiadas pelo negcio.

    !Muito embora seja difcil lanar uma definio inconteste do que sejam negcios de

    impacto social, algumas caractersticas so compartilhadas e geralmente aceitas pelos

    players envolvidos neste universo. Em primeiro lugar, os negcios de impacto social

    focalizam expressamente a populao de baixa renda visando oferecer solues de

    acordo com as necessidades e particularidades da populao. essencial que a empresa

    vise expressamente gerar impacto social dentro de sua misso e que a soluo oferecida

    componha a atividade principal do negcio.

    !Em segundo lugar, negcios de impacto social precisam ser escalveis, ou seja, passveis

    de ampliao do seu alcance e replicao em outras regies. Por fim, por serem negcios,

    preciso que sejam estruturados em um modelo robusto que permita a subsistncia do

    projeto independentemente de doaes, contribuies ou qualquer tipo de filantropia.

    !

    !8

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    Alm disso, por se tratar de empresas que se dispem a realizar atividades que geram

    impacto social, elas visam o lucro e perfeitamente possvel que operem a distribuio de

    dividendos para os seus scios.

    ! comum que a mensurao dos negcios de impacto social seja feita pelo sistema GIIRS 2

    (Global Impact Investing Report System), que apesar de ter muitas limitaes o mais

    usado na mensurao de impacto social. O mtodo de avaliao de impacto GIIRS, em

    sntese, composto por indicadores que se so divididos em 5 grandes blocos, tendo

    pesos diferentes e sendo definidos a partir de perguntas:

    !A) Governana (como por exemplo ter um conselho de administrao com

    responsabilidades definidas em estatuto); !B) Colaboradores (por exemplo, percentual de funcionrios satisfeitos com seu

    trabalho); !C) Comunidade (como por exemplo se alguma parcela da empresa de

    propriedade de trabalhadores); !D) Meio ambiente (por exemplo, a presena de um sistema de gerenciamento

    ambiental); e !E) Modelo de negcios com foco socioambiental (esse bloco no tem

    perguntas especficas, sendo definido a partir de uma avaliao das outras perguntas e do em que medida a empresa se volta para problemas socioambientais). !

    Nem sempre, contudo, este o mtodo utilizado para mensurao do impacto. De

    qualquer forma, h ao menos duas grandes dimenses para avaliar a efetividade da

    soluo ofertada: a quantidade de pessoas afetadas (ainda que potencialmente) e a

    qualidade da soluo (o quanto a soluo contribui para suprir as necessidades do pblico

    alvo).

    !Nesse sentido, a primeira parte do Relatrio contempla quatro temas relativos formao

    de empresas nascentes de base tecnolgica que atuem com negcios de impacto social,

    apontando para quais os desafios de sua estruturao societria:

    !9 Para mais detalhes sobres o GIIRS, ver: http://giirs.org/about-giirs/how-giirs-works2

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    !(a) Estrutura do Capital e Escalada da Empresa; !(b) Organizao e Governana da Empresa; !(c) Desafios para entrada e sada de Scios; e !(d) Custos da Empresa Nascente. !!

    Cada tema foi abordado por um grupo de alunos do LENT, que se responsabilizou pelo

    comparativo dos regimes societrios no que diz respeito temtica que lhes incumbe.

    Cada tema, portanto, corresponder a um captulo especfico desta primeira parte e, ao

    final, sero apresentadas as concluses a que chegaram os alunos, com a consolidao

    das pesquisas sobre os quatro temas selecionados.

    !O primeiro captulo discute os desafios e as possibilidades para entrada e sada de scios

    na empresa, contrastando as caractersticas dos dois modelos societrios em anlise. A

    entrada e sada de scios nas startups pode ser analisada atravs de diversas perspectivas.

    possvel observar o ingresso e a sada da perspectiva do agente (investidor, acelerador,

    fora de trabalho etc.), bem como possvel analisar a questo pela perspectiva do

    instrumento utilizado para entrada (mtuo conversvel em participao, opo de compra,

    debntures conversveis etc.) ou sada (alienao de participao com drag along, com tag

    along, put option, call option etc.).

    !A discusso central do primeiro captulo como a escolha entre os tipos societrios S.A.

    de capital fechado e sociedade limitada impacta nas formas pelas quais um scio, em suas

    diversas dimenses, pode ingressar e se retirar de uma empresa nascente, tendo em vista

    as peculiaridades relativas s diferentes formas de participao que cada um deles pode

    exercer na empresa e o contexto de acelerao de negcios de impacto social.

    !Alm disso, discute-se a importncia da reteno de talentos durante a entrada e sada de

    scios na empresa nascente, em particular no que concerne ao papel das clusulas de lock

    in que quase sempre comporo os contratos de investimento na startup.

    !!10

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    O segundo captulo discute como o regime societrio da empresa nascente pode

    impactar a estruturao do capital e a escalada do negcio. As startups buscam na

    acelerao o auxlio necessrio para aprimorar suas virtudes e corrigir suas fragilidades,

    que muitas vezes nasceram com ela, tendo como um de seus principais desafios a

    produo de riqueza a partir de uma estrutura de capital que delimite com preciso a

    participao de cada scio a partir de sua contribuio.

    !Para estruturar a reflexo, seis tpicos foram relacionados para compor a estrutura do

    captulo: (i) quem sero os scios (fundadores, tcnicos, prestadores de servios etc.)? (ii)

    como cada tipo de contribuio (capital, bens, trabalho etc.) ingressa como participao

    societria? (iii) possibilidade da adoo de estrutura de capital a partir da lgica de vesting

    ou cliffs; (iv) responsabilidade de cada um dos scios - em especial durante momentos de

    subscrio e integralizao; (v) distribuio de lucros (dividendos mnimos e participao

    preferencial) vs. reinvestimento na empresa; e (vi) clusulas de diluio de participao

    para a entrada de novos investidores. Os tpicos constituem a base da segunda parte do

    comparativo entre os regimes jurdicos da sociedade limitada e da sociedade annima de

    capital fechado.

    !O terceiro captulo apresenta uma anlise qualitativa sobre como a escolha do tipo

    societrio (S.A. fechada ou Ltda.) restringe ou amplia as opes da empresa no que diz

    respeito governana do negcio (quruns de votao e possibilidade de estipulao de

    vetos), concentrando-se na formao e composio de seus rgos sociais (conselhos e

    diretoria) nas sociedades limitadas e de annimas de capital fechado. A anlise leva em

    conta as necessidades e as possibilidades financeiras de estruturao da empresa

    nascente com enfoque em negcios de impacto social.

    !Para organizao das ideias no captulo foram selecionados quatro aspectos de

    governana empresarial latentes no ecossistema dos negcios de impacto social: (i) uma

    anlise acerca das vantagens e desvantagens da existncia dos diversos rgos de

    governana da empresa (Conselho Fiscal, Conselho Administrativo, Diretoria); (ii) sua

    competncia e (iii) qurum necessrio para tomada de decises e vedaes em cada um

    dos modelos sociais; (iv) os requisitos ou impossibilidades de participao de no-scios

    !11

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    na composio desses rgos (a Aceleradora, por exemplo, pode participar como

    membro da diretoria como base no modelo societrio escolhido? Como pessoa jurdica

    ou atravs de representante como pessoa fsica?).

    !O quatro captulo discute a plausibilidade jurdica de uma mxima disseminada no

    ecossistema de inovao: a sociedade annima, mesmo a de capital fechado, mais

    custosa (cara) a seus scios do que a sociedade limitada, razo pela qual seria mais

    eficiente s empresas nascentes constiturem-se inicialmente como limitadas. A reflexo

    proposta gira em torno dos custos de constituio e manuteno dos tipos societrios a

    partir do regime jurdico dos seus respectivos regimes jurdicos.

    !Quatro perguntas nortearam a discusso deste captulo: (i) quais os custos de

    integralizao de ativos (bens, direitos, servios etc.) na empresa no momento da

    integralizao? (ii) quais as diferenas entre a S.A. de capital fechado e Ltda. quanto

    possibilidade de escolha de regimes de apurao simplificada de tributos? (iii) quais so as

    exigncias de publicao de informaes previstas na legislao em relao a limitada e a

    S.A. de capital fechado? (iv) quais so as obrigaes de registro entre os tipos societrios?

    !Por fim, o quinto captulo apresenta algumas consideraes finais.

    !!!!!!!!!!!!!!

    !12

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    2.1. Desafios para entrada e sada de scios

    Equipe: Camila Valverde, Jessica Nemeth, Giulia Bonadio, Mariana Coutinho e Melina Tseng Oishi

    !No direito societrio, a questo da entrada e sada de scios tpico de grande debate

    em termos de estratgia e planejamento empresarial. No caso das empresas nascentes de

    tecnologia, h uma srie de peculiaridades da interveno de eventuais investidores nos

    momentos de entrada e de sada que podem impactar a escalada do negcio. Neste

    relatrio so apresentadas as principais ferramentas jurdicas para entrada e sada de

    scios e discutido como estas ferramentas podem ser utilizadas pelas aceleradoras e

    startups do ecossistema de inovao.

    As principais questes abordadas so estruturadas da seguinte maneira:

    !Em um primeiro momento ser apresentada uma breve conceituao das ferramentas

    jurdicas para entrada e sada de scios. Estabelecidas as premissas conceituais, o foco

    ser a aplicao das ferramentas no contexto das empresas nascentes, levando em conta

    o mtodo e processo da acelerao de negcios. Por trs h uma questo central que

    servir de fio condutor da anlise: como a escolha entre os tipos societrios de sociedade

    limitada e S.A. de capital fechado afeta a entrada ou sada do scio-investidor?

    Acelerao de startups

    As aceleradoras surgiram com o intuito de ajudar os empreendedores a

    construrem e consolidarem suas startups, e para que essas mesmas startups consigam

    lucrar e se manter no mercado. O intervalo de tempo entre a criao de uma empresa e

    seu break even ou seja, quando elas conseguem atingir uma razovel sustentabilidade

    Entrada de Scios Sada de Scios Permanncia de Scios

    Opo de Compra Direito de Preferncia Clusula de lock-in

    Mtuo Conversvel Clusula de tag along

    Debnture Conversvel Clusula de drag along

    !13

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    financeira sozinhas costuma ser muito grande, e levando em conta que esse tempo

    pode determinar o sucesso ou fracasso da empresa, nesse perodo que entra a

    aceleradora. Trata-se aqui de um investimento de risco, ainda que pequeno (gira em torno

    de R$10 mil e R$100 mil), e a aceleradora deve lidar com a ausncia de regulamentao

    especfica da atividade de empresas nascentes.

    Em geral, a acelerao ocorre da seguinte maneira:

    !!!!!!!!

    na etapa da seleo que aplicamos as noes de entrada de scios, enquanto na distribuio, geralmente aplicamos as de sada de scios.

    !Entrada e sada de scios em startups !As aceleradoras surgiram com o intuito de auxiliar os empreendedores a construrem e

    consolidarem suas startups, e para que essas mesmas startups consigam lucrar e se

    manter no mercado. O intervalo de tempo entre a criao de uma empresa e seu break even ou seja, quando elas conseguem atingir uma razovel sustentabilidade financeira sozinhas costuma ser muito grande, e levando em conta que esse tempo pode

    determinar o sucesso ou fracasso da empresa, nesse perodo que entra a aceleradora.

    Trata-se aqui de um investimento de risco, ainda que pequeno (gira em torno de R$10 mil

    e R$100 mil), e a aceleradora deve lidar com a ausncia de regulamentao especfica da

    atividade de empresas nascentes.

    !14

    !

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    !Entrada de Scios

    (a) Opo de Compra !Tambm conhecida como call, a opo de compra de aes um acordo estipulado em

    contrato, na qual o seu titular (tomador da opo) pode, na forma prevista

    contratualmente, comprar as aes do lanador da opo. Atravs desta clusula, o

    tomador da opo poder a qualquer momento exerc-la, obrigando o sujeito que

    outorgou o contrato venda de suas aes, com o preo ou a frmula de preo

    previamente estabelecidos.

    !Esse tipo de clusula pode estar presente tanto em Sociedades Annimas quanto Limitas.

    Uma particularidade das Sociedades Annimas (ou Sociedades por aes) a

    possibilidade de realizar um aumento de capital social pela opo de compra (art. 166, III

    da LSA), sem que haja a obrigatoriedade da deliberao do Conselho Fiscal para que haja

    esse aumento de capital (art. 166 2 da LSA). Isso acaba flexibilizando e simplificando os

    processos previstos no acordo de acionistas. No entanto, a nica condio para que haja

    um aumento de capital social independente de reforma estatutria por meio autorizao

    prvia para aumento de capital social (art. 168 da LSA). De acordo com o art. 168, 3 da

    LSA, essa predefinio do estatuto conter um limite de capital autorizado, determinado

    em Assembleia Geral, podendo a companhia outorgar a opo de call dentro dessa

    limitao de aumento de capital social. Mesmo assim, essa previsibilidade pode ser

    vantajosa, por configurar-se numa maior segurana por definir como se dar a opo de

    compra.

    !Em geral, as Sociedades Limitadas enfrentam alguns entraves para esses tipos de

    disposies contratuais no compartilhados pelas SAs, gerando alguns empecilhos nos

    contratos de acelerao, que demandam flexibilidade e agilidade para colocar em prtica

    os termos contratados.

    !

    !15

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    Num contexto de acelerao, o call pode assegurar aceleradora o direito de, em certo

    momento ou a qualquer tempo, exigir a venda compulsria de parte ou da totalidade das

    aes de propriedade da startup, nos termos do contrato. Essa opo geralmente

    utilizada por investidores estratgicos, no caso a aceleradora, que tem por intuito abarcar

    parte do crescimento da startup por meio de participao societria.

    !(b) Mtuo Conversvel !O mtuo conversvel no uma simples clusula de opo de conversibilidade, mas sim

    um contrato hbrido e complexo. Hbrido, porque se caracteriza como um contrato de

    dvida que tem por principal objetivo a realizao de um investimento. Complexo, pois

    se d por meio do estabelecimento de uma srie de previses, como metas e regulao

    das rodadas de investimento, que determinaro como a relao entre as partes se

    desenvolver ao longo da vigncia do contrato.

    !O funcionamento do contrato de mtuo conversvel se d seguinte forma: o investidor

    deseja realizar no s um investimento na empresa nascente, mas tambm um

    acompanhamento de metas, que levaro a empresa ao desenvolvimento desejado. Isso

    porque o real interesse do investidor ter para si parte do proveito que a startup obtiver

    com a acelerao, o que se concretizaria com a converso do mtuo em participao

    acionria. Desse modo, a principal funo do cumprimento de metas associado rodada

    de investimentos , justamente, para que se retire o risco que o investidor poderia ter

    pelo possvel fracasso da startup. Com isso, caso a empresa falhe com as metas o

    investidor tem o direito de cobrar pelo emprstimo concedido, terminando-se o contrato.

    !O estabelecimento de metas e a regulao das rodadas de investimento so certamente

    as maiores vantagens desse tipo de contrato. A estrutura confere maior segurana ao

    investidor, viabilizando um aporte mais agressivo de capital, que talvez por outra via no

    fosse realizado. A segurana do investidor de grande importncia para que ele consiga

    enxergar benefcios na manuteno a longo prazo da relao e, assim, contribua para um

    crescimento maior e mais rpido da empresa.

    !!16

  • 14 de outubro de 2014

    Como exemplo de previso contratual que busca acompanhar as metas alcanadas pela

    empresa nascente investida e sirvam de parmetro para o investidor converter seu

    investimento em participao societria, temos as clusulas apresentadas a seguir, as quais

    foram retiradas de um contrato de acelerao desenvolvido pela Wayra e pelo escritrio Derraik & Menezes Advogados:

    !1 - Considera-se Usurio a pessoa fsica ou jurdica que tenha realizado seu cadastro no sistema da Companhia.

    2 Considera-se Cliente a pessoa fsica ou jurdica que contratou os servios ou o fornecimento de produtos da Companhia, mediante remunerao.

    1.6. No obstante, no caso das metas acima no terem sido cumpridas pela Companhia nos prazos e formas acordadas, a ACELERADORA se reserva no direito e a liberalidade de acordar eventual reviso das metas e prazos, restabelecendo no menor espao de tempo possvel e a seu critrio, um novo calendrio com a Companhia, em funo do andamento do Projeto, no constituindo, em consequncia, uma causa de resciso automtica.

    [...] !Clusula V CONVERSO DO MTUO EM PARTICIPAO SOCIETRIA:

    5.

    5.1.Salvo em caso de descumprimento das obrigaes por parte da Companhia conforme previsto na Clusula 9 do presente Contrato, a converso do Mtuo Conversvel em participao societria da ACELERADORA na Companhia (Converso) ocorrer (i) de forma obrigatria ou (ii) a critrio e por opo da ACELERADORA, nas hipteses previstas abaixo.

    5.1.1.Pressupostos para Converso a critrio e por opo da ACELERADORA:

    a) Aps decorrido o prazo de 18 (dezoito) meses e, em at 24 (vinte e quatro) meses a contar da data em que tiver ocorrido o desembolso da primeira parcela do Mtuo Conversvel, sem que tenha ocorrido um Investimento Qualificado conforme definido abaixo;

    b) A qualquer tempo, no caso de uma operao de reestruturao societria que cause uma alterao de controle ou aquisio da Companhia. Na hiptese ora prevista, a ACELERADORA ter direito a capitalizar o valor do Mtuo Conversvel de forma prvia alterao de controle ou aquisio da Companhia. Para os fins da

    Metas 30 dias 60 dias 90 dias

    Produto

    Usurio

    Clientes

    Faturamento (total)

    !17

  • 14 de outubro de 2014

    presente clusula, entende-se como alterao de controle quando as pessoas ou entidades que detenham, direta ou indiretamente, ao menos 50% do capital social da Companhia, percam o direito de, de qualquer forma, efetivamente administrar e dirigir os negcios da Companhia. O prazo para a ACELERADORA manifestar seu interesse em realizar a Converso se iniciar no dia seguinte ao recebimento da comunicao enviada pela Companhia e Equipe Desenvolvedora descrevendo e justificando a operao pretendida, ou;

    c) Na Data do Vencimento do presente Contrato, caso no tenha ocorrido a Converso por qualquer outra hiptese.

    !No existe um tipo contratual especfico previsto em lei para o mtuo conversvel. Seu

    cabimento no direito brasileiro admitido pela regra geral do art. 426 do Cdigo Civil. A

    ausncia de regulamentao legal confere maior espao para a arquitetura contratual mas,

    ao mesmo tempo, traz consigo o nus da necessidade de se elaborar um contrato que

    seja efetivo e consiga regular os aspectos mais sensveis da relao.

    !Para que o mtuo conversvel seja vivel, no entanto, fundamental que a startup esteja

    constituda como uma SA, para viabilizar o ingresso do investidor e permitir a

    regulamentao das rodadas futuras de investimentos. O contrato requer grande

    flexibilidade legal, por um lado pela viabilizao da possvel entrada do investidor na

    empresa, e por outro lado para que se estabelea um acordo de acionistas, na qual a

    empresa poder prever um maior aporte de capital no futuro, sem que seja necessria

    nova formalizao.

    ! possvel concluir que o mtuo conversvel se adequa perfeitamente ao contexto dos

    investimentos de impacto social. Alm desse tipo de contrato conferir maior segurana ao

    investidor, o estabelecimento de metas pode ser associado avaliao de impacto social

    do negcio. O amplo espao para criao de mecanismos e regulao de aspectos da

    relao permite com que o instrumento seja adaptado a investidores com perfis

    diferentes, o que novamente se mostra muito produtivo no universo dos negcios de

    impacto social.

    !Mas este amplo espao de regulamentao nem sempre ser proveitoso e pode acabar

    repelindo alguns empreendedores que tm receio do sistema amplo de controle que se

    pode estabelecer. O receio maior o de desequilbrio contratual, que poderia amarrar

    !18

  • 14 de outubro de 2014

    demais a startup. Certamente isto significa que a negociao deve ser cautelosa, mas de

    modo algum indica que o empreendedor necessariamente estar preso e controlado pelo

    investidor. As peculiaridades do negcio e do investimento definiro caso a caso o

    equilbrio da relao.

    !(c) Debnture Conversvel !

    Com previso na lei n 6.404/76, a Lei das SAs, debntures conversveis so ttulos

    de crditos que possibilitam a converso em participao acionria. Ou seja, podem

    configurar uma alternativa quele que deseja investir nas empresas, que optar entre

    executar o ttulo ou adquirir parte da empresa. A sua converso em aes est prevista no

    art. 57 da lei das S/A. O art. 22 tambm prev a conversibilidade das aes quando

    determinado pelo estatuto da empresa.

    !Ao titular de debntures conversveis conferida uma renda fixa, que independe

    do desempenho da sociedade, e ele passa a obter o ttulo de credor com relao

    empresa. principalmente neste ponto que as debntures se diferem das aes

    ordinrias, pois os adquirentes das aes no se tornam credores, e sim scios, tendo uma

    renda varivel conforme o desempenho da empresa. vlido ressaltar a maior proteo

    que se forma em torno do investidor debenturista quanto aos eventuais riscos que a

    atividade de investir pode trazer, j que, como dito anteriormente, o crdito da debnture

    independe dos lucros da empresa.

    ! permito s S/A a emisso de debntures conversveis, dado que a redao do

    art. 52 da lei 6404/76 dispe sobre o assunto com a seguinte redao: A companhia

    poder emitir debntures que conferiro aos seus titulares direito de crdito contra ela,

    nas condies constantes da escritura de emisso e, se houver, do certificado. Contudo,

    existe um ponto de extrema divergncia, pois no existe entendimento uniforme quanto

    possibilidade de emisso ttulos de crdito em uma sociedade limitada. vlido atentar

    para o fato de que tanto a Junta Comercial de So Paulo quanto a do Rio de Janeiro

    entendem que no possvel a emisso de debntures por sociedade limitada.

    !!19

  • 14 de outubro de 2014

    A Lei das SAs determina que as debntures sejam emitidas apenas com a

    autorizao dos acionistas, no podendo ser a deciso de emisso tomada pela diretoria

    isoladamente.

    !No contexto de entrada de scios em aceleradoras, as debntures conversveis

    podem ser vistas como uma alternativa ao empresrio que necessita de recursos

    financeiros para financiar sua atividade em um prazo relativamente curto. Tambm so

    uma opo para uma possvel classe de programadores que desenvolveram o primeiro

    prottipo do produto, dado que contrat-los como funcionrios pode ser oneroso aos

    scios fundadores devido aos custos previstos na Consolidao das Leis Trabalhistas (CLT).

    Ou seja, com a emisso de debntures, possvel transformar essa classe de

    programadores em scios que recebem uma renda fixa que independe do desempenho

    da sociedade, podendo ser vantajoso a ambas as partes. Ademais, esta uma forma

    rpida e menos burocrtica para receber os investimentos

    !Sada de Scios

    (a) Direito de Preferncia

    O direito de preferncia diz respeito compra e venda de aes previstas em acordo de

    acionistas, em que o acionista vendedor se obriga a oferecer as aes ofertadas ante aos

    signatrios do acordo, nas mesmas condies do que foi oferecida a terceiros. Nesse

    caso, se algum acionista decide se retirar da companhia, o acionista remanescente tem o

    direito de pagar o mesmo preo, prazo e condies de pagamento oferecido pelo terceiro

    interessado de forma a barrar sua entrada.

    !Assim, o direito de preferncia se constitui como um acordo de bloqueio. Ele cria uma

    dupla obrigao ao ofertante: a de comunicar aos demais pactuantes a inteno de

    vender, em concorrncia com terceiros, e a de preferir o dos demais convenentes como

    beneficirios.

    !

    !20

  • 14 de outubro de 2014

    Ademais, o direito de preferncia contempla a existncia de duas espcies: o Direito de

    Primeira Recusa (Right of First Refusal), que o direito de preferncia clssico em

    circulaes de aes, e o Direito de Primeira Oferta (Right of First Offer):

    !I. Direito de Primeira Recusa (Right of First Refusal): Consiste na obrigao

    de oferecer aos acionistas pactuantes as aes que foram alvo de uma oferta de compra por um terceiro. Neste caso, o acionista vendedor deve oferecer as aes ao demais acionistas membros do acordo, nos mesmos termos e condies da oferta do terceiro.

    !II. Direito de Primeira Oferta (Right of First Offer): Ocorre quando o

    acionista vendedor deseja alienar suas aes, sem que tenha sido proposta a aquisio delas por terceiros. Neste caso, o acionista alienante deve oferecer as aes aos acionistas pactuantes antes de terceiros.

    !Numa sociedade limitada pode haver uma clusula que preveja o direito de preferncia

    dos scios remanescentes quando houver inteno de um dos scios em vender suas

    cotas da sociedade. Neste caso, o scio que deseja vender suas cotas deve oferec-las

    aos demais scios formalmente, informando o valor das cotas que pretende vender e a

    forma de pagamento. A partir dessa comunicao os demais scios exerceriam seu direito

    de preferncia na compra das cotas ofertadas ou a liberariam para venda a terceiros.

    !Portanto, em uma primeira etapa do processo de acelerao, o direito de preferncia

    um instrumento jurdico atravs do qual possvel barrar a entrada de novos scios

    cobrindo as ofertas de aquisio de participao societria dos scios que esto presentes

    dentro da empresa.

    !Uma aceleradora e uma startup compem um plo de interesses bastante diversificado,

    que nem sempre segue uma lgica empresarial tradicional. possvel que ocorra uma

    reunio de figuras de naturezas e interesses distintos, como fundadores que no atuam

    com papel tcnico na operao da startup, de importante papel na criao e elaborao

    do empreendimento; fundadores tcnicos da equipe, que conseguem elaborar o produto

    ou servio que a empresa visa oferecer; investidores aceleradores, que realizam

    investimentos (sejam estes de infraestrutura ou financeiros) na empresa e possuem, assim

    como os fundadores, interesse que a empresa evolua e prospere; e investidores

    !21

  • 14 de outubro de 2014

    institucionais, que geralmente desejam realizar um arranjo do tipo venture capital e

    possuem um perodo de sada da empresa.

    !Ao articular o direito de preferncia com todos estes participantes, v-se que, para um

    empreendedor que deseja angariar investimentos, barrar a entrada de novos investidores

    no parece muito til. J para um investidor acelerador que realizou esforos e

    investimentos para que a empresa evolusse quando ela estava em seu incio, ou seja, em

    uma poca na qual um reconhecimento de seu potencial era difcil, possuir o poder de

    barrar possveis investidores pode assegurar melhores condies para sua sada. Devido a

    estes investimentos por parte do acelerador, interessante para ele em um primeiro

    momento que uma relao de crescimento inicial seja preservada. Para isto, pode ser

    realizado um compromisso com o empreendedor de no aceitar a entrada de terceiros

    nesta primeira etapa de crescimento, ou ao menos exigir aquiescncia prvia do

    investidor.

    !Do ponto de vista da opo de compra ou do mtuo conversvel, til que seja

    previamente estabelecida a possibilidade da existncia do direito de preferncia uma vez

    que haja a compra ou converso. Portanto, uma clusula que estabelecesse que at a data

    limite do exerccio da opo de compra ou da converso de mtuo no haveria entrada

    de novos scios na empresa tambm seria bastante interessante para resguardar uma

    primeira situao de reconhecimento entre empresa e investidor.

    !Deste modo, seria possvel estabelecer dois momentos diferentes no ciclo de acelerao:

    primeiramente, uma tentativa de estabelecer uma clusula expressa na qual no se

    permita que outras pessoas, durante esse processo, entrem nesse empreendimento; e um

    segundo momento, aps a opo de compra ou converso, quando pode ser exercido um

    direito de preferncia tradicional na condio de acionista, algo que interessa

    principalmente ao acelerador uma vez que fornece a ele instrumentos de resguardo para

    atrair pessoas que faam sentido para o empreendimento, e benfico que os

    investidores compartilhem dos mesmos valores ou teses de investimento. Se a inteno

    do empreendimento gerar impacto social, por exemplo, empresas aceleradoras

    !22

  • 14 de outubro de 2014

    conhecem investidores que trabalham neste ramo e que possuiro conhecimento de

    mercado, expectativas e valores alinhados com os da aceleradora.

    ! possvel que um investidor inexperiente que enxerga a startup apenas como uma

    oportunidade imediata no tenha pacincia em relao quele empreendimento ou

    expectativas realistas em relao a seu crescimento. Assim, o direito de preferncia

    interessante como um instrumento para alinhamento de valores entre quem vai entrar na

    empresa, e para que o investidor acelerador possa proteger a situao da empresa atravs

    do bloqueio da entrada de um eventual participante que ele no considere benfico para

    o progresso da empresa.

    !(b) Clusula de tag along !O mecanismo da clusula de tag along prev a possibilidade de venda conjunta das aes

    de uma empresa pelo mesmo preo e condies daquele que as est alienando. O tag

    along previsto na legislao brasileira (Lei das S.A., Artigo 254-A) e assegura que a

    alienao, direta ou indireta, do controle acionrio de uma companhia somente poder

    ocorrer sob a condio de que o acionista adquirente se obrigue a fazer oferta pblica de

    aquisio das demais aes ordinrias, de modo a assegurar a seus detentores o preo

    mnimo de 80% do valor pago pelas aes integrantes do bloco de controle, conforme

    entendimento dado pela BOVESPA.

    !Sendo assim, se o acionista controlador, por exemplo, optar pela venda de aes a

    terceiro, os minoritrios tambm o podem fazer, como podemos ver no exemplo a seguir.

    Vale lembrar que, conforme veremos abaixo, o tag along s surge a partir do momento

    em que se renuncia o direito de preferncia quela poro de aes a ser vendidas.

    !8. TAG ALONG !8.1. Alternativamente aos direitos de primeira oferta ou de preferncia dispostos acima, os ACIONISTAS RECEPTORES DE PRIMEIRA OFERTA ou os ACIONISTAS OFERTADOS (expresso esta que para os efeitos apenas desta Clusula 8 incluir todos os ACIONISTAS), conforme for o caso, tero o direito (mas no a obrigao) de exigir que o ACIONISTA OUTORGANTE DE PRIMEIRA OFERTA ou ACIONISTA OFERTANTE, conforme for o caso, inclua na ALIENAO, na mesma proporo das

    !23

  • 14 de outubro de 2014

    AES OFERTADAS, suas AES, pelo mesmo preo por ao e nos mesmos termos e condies (TAG ALONG). Para tanto, os ACIONISTAS RECEPTORES DE PRIMEIRA OFERTA ou os ACIONISTAS OFERTADOS, conforme for o caso, enviaro ao ACIONISTA OUTORGANTE DE PRIMEIRA OFERTA ou ao ACIONISTA OFERTANTE notificao manifestando sua inteno de exercer o direito de TAG ALONG no PERODO DE EXERCCIO (NOTIFICAO DE TAG ALONG), nos prazos previstos nas Clusulas 6.2 e 7.3 acima. !8.2. Caso os ACIONISTAS RECEPTORES DE PRIMEIRA OFERTA ou ACIONISTAS OFERTADOS, conforme o caso, deixem de enviar a NOTIFICAO DE TAG ALONG dentro do PERODO DE EXERCCIO, ou tenham declinado quanto ao exerccio do TAG ALONG, o ACIONISTA OFERTANTE ou outorgante ter o direito de realizar a ALIENAO para o terceiro interessado, nos mesmos termos e condies anteriormente informados. !8.3. Caso exercido o TAG ALONG, e o terceiro interessado no tenha manifestado interesse em adquirir as AES que, em decorrncia do TAG ALONG, foram acrescidas s AES OFERTADAS, a quantidade de AES a ser ALIENADA ao terceiro interessado dever ser proporcionalmente reduzida. Caso a alienao pretendida seja de aes representativas de 100% da participao do ACIONISTA OFERTANTE ou do ACIONISTA OUTORGANTE DA PRIMEIRA OFERTA, e o terceiro interessado no deseje adquirir todas as AES da COMPANHIA, o ACIONISTA OFERTANTE ou o ACIONISTA OUTORGANTE DA PRIMEIRA OFERTA poder optar por, em lugar de reduzir proporcionalmente as AES a serem ALIENADAS, desistir do negcio. !

    Em geral, trata-se de uma clusula vantajosa tanto para o investidor/acelerador como para

    a startup, especialmente porque um mecanismo que garante a liquidez dos direitos do

    scio minoritrio e permite, no futuro, outros rounds de investimento, como, por exemplo,

    utilizando-se de opes de subscrio, opes de compra, direitos de no-diluio e

    direitos de primeira negociao. um tipo de poltica de sada de investimentos aps um

    determinado perodo para que, no momento da distribuio, a aceleradora tenha seu

    retorno ao encontrar um investidor interessado no empreendedorismo da startup.

    !Pode ainda ser utilizada para prever eventuais mudanas no controle acionista da

    empresa, o que pode afetar os interesses da aceleradora no raro caso de um investimento

    a longo prazo.

    !!!!!

    !24

  • 14 de outubro de 2014

    (c) Clusula de drag along !O drag along, ou obrigao de venda conjunta, o dispositivo que estabelece que caso o

    acionista majoritrio, em geral o empreendedor, receba uma proposta de compra, ele

    poder condicionar venda as aes dos minoritrios (investidores). Ou seja, no caso do

    estatuto ter previsto tal clusula, os minoritrios tero a obrigao de vender sua

    participao acionria ao proponente pelo preo ofertado e aceito pelo controlador; ou

    por percentual desse preo previamente estabelecido.

    ! o oposto do que acontece no tag along. Neste caso, os acionistas majoritrios que pretende vender suas aes arrastam, isto , tm o direito de obrigar que os demais

    acionistas signatrios do acordo, vendam as prprias aes, nas mesmas condies de

    oferta. Geralmente, estipula-se um preo mnimo. Esta modalidade facilita a venda se o

    comprador pretende adquirir a totalidade das aes vinculadas ao acordo.

    !Vejamos um breve exemplo desse dispositivo em um estatuto de acionistas:

    !DA OBRIGAO DE VENDA CONJUNTA (DRAG ALONG)

    As Partes que, em conjunto, sejam titulares de 51% (cinquenta e um por cento) ou mais das Aes ON (Controlador Alienante), e que desejem Alienar o Controle da Companhia a Terceiro Interessado (no relacionado com as Partes), tero o direito de exigir que quaisquer dos Acionistas Minoritrios Alienem as Aes ON de que so titulares, em conjunto com o Controlador Alienante, at a totalidade das Aes ON de que so titulares, de maneira proporcional participao de cada um no capital social votante da Companhia, nas mesmas condies, inclusive de preo por Ao. Para os fins deste Acordo de Acionistas, o termo Drag Along significa o direito de determinar a venda conjunta das Aes.

    i) Para o exerccio do Drag Along previsto nesta Clusula, o Controlador Alienante dever enviar ao(s) Acionista(s) Minoritrio(s) notificao neste sentido, informando o nome do Terceiro Interessado, o preo por Ao, bem como os demais termos e condies pelos quais desejam Alienar suas Aes ON (Notificao de Drag Along).

    ii) O(s) Acionista(s) Minoritrio(s) dever(o), no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias contados do recebimento da Notificao de Drag Along, quando se tratar de Parte Relevante, responder se deseja(m) exercer o Direito de Preferncia a que se refere a Clusula 6a acima, para adquirir a totalidade das Aes ON do Controlador Alienante, pelo preo por Ao constante da Notificao de Drag Along. No caso de resposta negativa ou de ausncia de resposta no prazo aqui previsto, o Controlador Alienante poder efetivar a venda da totalidade das Aes ON, nas mesmas condies previstas na Notificao de Drag Along, obrigando-se o(s)

    !25

  • 14 de outubro de 2014

    Acionista(s) Minoritrio(s) a praticar todos os atos necessrios efetivao da Alienao de suas Aes ON.

    iii)O Drag Along previsto nesta Clusula no se aplica na hiptese de Alienao de Aes ON de propriedade de Acionista para seu controlador, controlada ou seus herdeiros.

    !A clusula frisa a possibilidade do exerccio do direito de preferncia pelos scios

    minoritrios. Portanto, caso esteja prevista clusula de direito de preferncia, o drag

    along, assim como o tag along, s poder ser exercido aps a negativa de compra da

    integralidade das aes pelos minoritrios no direito de preferncia.

    !No caso da previso dessa espcie de clusula no acordo de acionistas, em um ambiente

    de acelerao, pode parecer em um primeiro momento que os acionistas majoritrios, em

    geral os empreendedores, que esto sendo protegidos. Entretanto, o drag along uma

    clusula mais adequada ao interesse dos acionistas minoritrios que seriam os

    investidores. Isso porque os investidores realizam investimentos pensando no

    desinvestimento. Em algum momento, o investidor tem que devolver o dinheiro ao seu

    fundo. Nesse sentido o interesse do investidor que esse retorno seja bem alto e rpido.

    Por conseguinte, razovel que ele prefira dispositivos que aumentem a liquidez e a

    possibilidade de realizao desses desinvestimentos.

    ! nessa circunstncia que surge a clusula de drag along inversa: um dispositivo capaz

    de aumentar as chances de desinvestimento. o investidor que obriga a venda do

    empreendedor. So recorrentes os casos em que o investidor, em processos de

    acelerao, sob presso para realizar o desinvestimento devido a proximidade do prazo

    para liquidar o fundo, aceita uma proposta de venda por um preo abaixo do valor de

    mercado. O empreendedor nessa venda seria arrastado para essa mesma condio o que

    para ele seria extremamente desfavorvel.

    !Dessa forma, recomenda-se que haja um valuation mnimo para o exerccio do drag along

    inverso pelo investidor. O investidor fica ento impedido de vender a sua parte e arrastar

    os demais acionistas a um preo abaixo do fixado. Esse mecanismo evita que o

    empreendedor seja obrigado a vender o equity por um valor depreciado. O valuation

    mnimo pode ser fixado tambm em clusulas de drag along tradicionais. !26

  • 14 de outubro de 2014

    !As clusulas de drag along tradicionais, na qual o majoritrio, ou seja, o empreendedor

    fora a venda do minoritrio (aqui tido como investidor), tambm se coadunam de

    maneira mais favorvel aos interesses dos investidores. Isso porque caso os

    empreendedores manifestarem-se no sentido de vender a integralidade de suas aes,

    demonstram que nem os prprios criadores do estabelecimento consideram uma boa

    idia continuar com a empresa. Os fundadores de certa forma desistiram. Por

    consequncia os investidores acabam tambm perdendo o interesse em continuar com

    aes dessa mesma empresa. Deve-se enfatizar que os investidores, em um contexto de

    acelerao, querem maximizar o retorno. A desistncia dos fundadores pode significar

    ento um sinal relevante para aqueles investidores que desejam fazem a melhor venda.

    !Deve-se considerar tambm que a clusula de drag along nem sempre o melhor

    dispositivo para forar o comprometimento dos empreendedores com a empresa se

    comparado a outros mecanismos como o de reteno de talentos (lock-in).

    !Visto isso para que a operao de acelerao seja benfica para ambos os lados,

    importante que o investidor e o empreendedor entendam as preocupaes um do outro.

    Tanto o investidor quando os empreendedores devem ponderar seus interesses a fim de

    que a sada dos acionistas no se torne um problema.

    !Permanncia de Scios

    (a) Clusula de lock-up

    Tambm conhecida como lock-up, o dever de permanncia mnima obrigatria, ou seja,

    o compromisso que o empreendedor assume frente a startup e seus investidores de

    permanecer na empresa como administrador e/ou scio por perodo determinado de

    tempo. O lock-up uma disposio contratual de blindagem, comum em acordos de

    investimento e acordos de scios, sendo utilizada quando a permanncia do

    empreendedor primordial para o desenvolvimento da empresa. Veja-se, por exemplo:

    !Seo I Restrio Transferncia de Aes (Lock-Up)

    !27

  • 14 de outubro de 2014

    !5.1. Lock-Up dos Acionistas Existentes. Durante o prazo de 2 (dois) anos contados desta data (Perodo do Lock-Up), nenhum dos Acionistas Existentes poder Alienar, sob qualquer forma, direta ou indiretamente, suas Aes ou seu direito de subscrio, total e/ou parcialmente, entre si e/ou para quaisquer terceiros, sem a prvia e expressa concordncia da GP e da EIP, na forma desta Seo I (Lock-Up). 5.1.1. A restrio prevista no item 5.1. acima no ser aplicvel nas seguintes hipteses (i) transferncia por qualquer dos Acionistas Existentes de 1 (uma) ao ordinria, a qualquer ttulo, com o intuito de possibilitar a eleio para cargo no Conselho de Administrao da Companhia, bem como a posterior transferncia de tal ao pelo referido conselheiro de administrao, aps o trmino do seu mandato, para o Acionista Existente ou para o seu sucessor no cargo; e (ii) transferncia pelos Acionistas Existentes de Aes realizada para pessoa jurdica controlada, direta ou indiretamente, pelos Acionistas Existentes, sem prejuzo destes permanecerem solidariamente responsveis com os respectivos cessionrios pelo integral cumprimento das disposies deste Acordo. 5.1.2. O alienante e o adquirente das aes transferidas nos termos do item 5.1.1. acima sero considerados, para todos os fins e efeitos deste Acordo, um nico Acionista.

    5.2. Se desejarem Alienar suas Aes ou seu direito de subscrio, total e/ou parcialmente, durante o Perodo de Lock-Up, estes devero notificar por escrito a GP e a EIP (encaminhando eventual cpia da proposta feita pelo terceiro interessado) especificando: (i) a qualificao completa do interessado, sua principal atividade e, se for pessoa jurdica, a composio de seu capital social, indicando, na medida do possvel, o seu controlador final; (ii) a quantidade de aes e o percentual que as aes a serem alienadas representam em relao ao total do capital social da Companhia; (iii) os termos, o preo e as demais condies, inclusive de pagamento; e (iv) a confirmao de que este terceiro est ciente de todos os termos deste Acordo (Notificao de Transferncia no Perodo de Lock-Up). 5.3. Em at 30 (trinta) dias a contar do recebimento da Notificao de Transferncia no Perodo de Lock-Up, a GP e a EIP devero encaminhar aos Acionistas Existentes uma resposta por escrito manifestando sua aprovao ou reprovao quanto proposta de Alienao pelos Acionistas Existentes durante o Perodo do Lock-Up. 5.4. Caso a GP e/ou a EIP responda negativamente ou no responda a Notificao de Transferncia no Perodo de Lock-Up rejeitando a Alienao proposta pelos Acionistas Existentes, estes estaro expressamente proibidos de promover a referida Alienao. 5.5. Aps o decurso do Perodo de Lock-Up, os Acionistas Existentes podero Alienar as suas aes, desde que observem e cumpram os procedimentos de Direito de Preferncia e Direito de Venda Conjunta previstos nesta Clusula Quinta.

    ! possvel perceber que, caso no cumpra tal dever por um determinado perodo de

    tempo, o scio preso pela clusula corre o risco de perder seus direitos sobre o capital,

    total ou parcialmente. Justamente pelas duras conseqncias, a clusula de lock-in

    protege o investidor de eventual oportunismo. Um acordo de investimento sem garantias

    de que o empreendedor, com sua ideia inovadora, se dedicar de fato implementao

    !28

  • 14 de outubro de 2014

    dela e no levar a ideia, o capital humano e os clientes para um veculo concorrente

    extremamente perigoso e precrio.

    !Concluso !A entrada e sada de scios uma questo extremamente delicada, especialmente no que

    tange s startups e aceleradoras, cuja relao to prxima. Alm das preocupaes

    acima listadas, importante destacar e observar os meios utilizados para reteno de

    talentos.

    !Nas reunies do Laboratrio de Empresas Nascentes em Tecnologia (LENT), vimos o quo

    importante o modelo de negcio da startup de negcios de impacto social, e portanto,

    a importncia do capital humano. No prevalece a empresa que no acreditar em sua

    ideia e em seu produto, e a busca pela aceleradora justamente com o intuito de

    viabilizar o negcio e atingir massas. Ademais, a variedade de especialistas (dentre

    idealizador do projeto, especialista tcnico, programador, empreendedor, etc) tambm

    melhora a performance do negcio, ampliando o know-how e a eficincia do negcio.

    !Portanto, se o xito da startup depende das pessoas que trabalham nela e se esforam

    por ela, consequentemente a reteno de talentos um aspecto relevante aos

    investidores, no s no momento da acelerao, como tambm da distribuio. A clusula

    de lock-in o melhor exemplo de reteno dos talentos, pois determina que a pessoa

    deve se manter na sociedade por um perodo pr-determinado: caso ela deseje sair da

    startup, a venda de sua cota de aes ser to mnima que lhe prejudicar, sendo mais

    vantajoso manter-se na empresa.

    !Da mesma maneira, ressalta-se a importncia de um bom desenho de mecanismos de

    sada para os investidores, com destaque, por exemplo, para a clusula de drag along,

    que viabiliza a alienao de toda a empresa, mesmo quando os scios fundadores da

    start-up so contrrios. Outra clusula relevante a de tag along, que permite com que

    o investidor com participao minoritria possa acompanhar o controlador na alienao

    do bloco de controle.

    !29

  • 14 de outubro de 2014

    !2.2. Estrutura do Capital, Investimento e Crescimento da Empresa Nascente Equipe: Adolfo Marmoti, Laura Ceitlin, Helena Masullo e Sylvie Cadier.

    !!

    Uma empresa nascente de tecnologia tem como um de seus principais desafios equilibrar

    a produo de riqueza a partir de uma estrutura de capital que delimite com preciso a

    participao de cada scio/acionista na sociedade. 3

    !Tendo isto em vista, as seguintes variveis sero analisadas neste captulo: (i) quem sero

    os scios do negcio? (ii) como cada tipo de contribuio (capital, bens, trabalho etc.)

    ingressa como participao societria? (iii) h possibilidade de se adotar uma estrutura de

    capital a partir da lgica de vesting-cliffs? (iv) como se d a responsabilidade de cada um

    dos scios (em especial, durante momentos de subscrio e integralizao)? (v) qual a

    melhor opo: distribuir lucros (dividendos mnimos e participao preferencial) ou

    reinvestir na empresa? e (vi) por que utilizar clusulas de diluio de participao para a

    entrada de novos investidores?

    !Essas variveis sero aprofundadas a partir de reflexes sobre os aspectos relacionados

    estrutura de capital de dois tipos societrios: Sociedade Annima fechada (SA fechada) e

    Sociedade Limitada (Ltda.)

    !Quem so os scios? !Em uma empresa nascente de tecnologia, importante delinear um standard para cada

    scio, costurado pelo seu interesse e risco. Este modelo nos capacitar a entender o fluxo

    humano mais atraente para determinado escopo empresarial, nos induzindo a uma

    !30

    Juridicamente, o termo scio utilizado para caracterizar as pessoas que tm participao social em uma sociedade 3

    limitada. O termo acionista, por sua vez, refere-se queles que detm participao acionria em uma sociedade annima.

  • 14 de outubro de 2014

    perceptibilidade das implicaes presentes nas escolhas do empreendedor. Exploraremos

    o papel do Fundador, Scio Prestador de Servios e Investidor.

    !A veia pioneira do Fundador fundamental. em seus atos que respalda o crescimento

    da empresa atravs de uma ideologia coesa e firme. Sua liderana, credibilidade,

    perseverana, cultura e carisma so essenciais para direcionar os comportamentos e

    atitudes dos demais agentes na concretude dos objetivos e metas corporativas.

    !O Fundador ser o prprio empreendedor (seja ele administrador, advogado ou

    programador), que reconhece os riscos do empreendimento e tentar costurar uma

    estrutura que os diminua, aumentando suas probabilidades de sucesso. No exerccio de

    sua funo importante que ele detenha o controle na diviso societria da empresa, com

    grande influncia no Conselho de Administrao, Diretoria e Assembleia Geral para

    tomada de decises, para determinar o rumo do negcio assim como suas perspectivas

    de acordo com o seu planejamento.

    !Apesar de o Fundador estar ciente dos riscos do seu negcio, muitas vezes, acredita tanto

    no seu empreendimento que no consegue analis-los com a clareza e a frieza

    necessrias. Aqui, insere-se a figura de Aceleradoras e Advogados, os quais podem

    auxiliar, desde o incio do negcio, o empreendedor a enxergar os mais diversos riscos de

    acordo com a sua devida relevncia.

    !Normalmente, h diferentes perfis entre os prprios fundadores. Isso porque enquanto

    alguns esto mais diretamente conectados ao desenvolvimento da ideia outros preferem

    simplesmente colocar o capital necessrio para que o negcio comece a funcionar.

    Ressalta-se que esses perfis podem ser identificados em um mesmo Fundador, que ir

    tanto gerir o negcio quanto investir nele.

    !O Scio Prestador de Servios, por sua vez, normalmente, identifica-se como aquela

    pessoa imprescindvel para a consecuo do objeto social da empresa. Na grande maioria

    dos casos, no que se refere a start ups tecnolgicas de negcios de impacto social, ele

    pode consistir em um programador que no auxiliou os fundadores no desenvolvimento

    !31

  • 14 de outubro de 2014

    da ideia. No entanto, nem sempre o programador scio em uma empresa de base

    tecnolgica. Esse scio no ir entrar com o capital necessrio para que o negcio

    comece a funcionar, mas sim oferecer a sua mo de obra em troca de uma porcentagem

    no capital social da empresa. Normalmente, isso se mostra mais vantajoso do que

    contratar programadores como prestadores de servios sociedade, j que, ao se tornar

    scio, o programador estar mais motivado a continuar trabalhando naquele negcio.

    Alm disso, economiza-se uma soma relevante de dinheiro que seria despendida com a

    prestao de servios de programadores.

    !Nota-se que um scio no pode ingressar no quadro social de uma Sociedade Limitada

    ou Sociedade Annima com a mera prestao de servios, mas somente com a subscrio

    e integralizao de dinheiro, bens e crditos. Entende-se, ento, que o pargrafo segundo

    do Artigo 1.055, do Cdigo Civil, no se admite a contribuio de um scio fundada,

    nem parcialmente, na prestao de seus servios, visto que se mantem, aqui, uma nica

    categoria de scios, todos chamados a vincular os valores investidos na pessoa jurdica e a

    satisfao dos credores, limitando sua responsabilidade a tanto. Ou seja, de todos os

    contratantes, exige-se, em resumo, de subsdios exclusivamente materiais para a formao

    do capital. De inicio, isso deve ser levado em considerao ao se pensar em estrutura de

    capital, pois o Scio Prestador de Servios no poder monetizar a sua prestao de

    servios para tornar-se scio da empresa.

    !No entanto, isso pode ser contornado a partir de uma estrutura de distribuio desigual

    de lucros em uma Sociedade Limitada, pois, de acordo com o art. 1.007 do Cdigo Civil,

    o contrato ou estatuto pode declarar a parte que cabe a cada scio nos lucros e perdas.

    Assim, considerando que o Scio Prestador de Servios ter uma parcela menor do capital

    social, ele poder ter uma distribuio de lucros proporcional a dos outros scios e no ao

    valor das suas quotas. Ressalta-se que, segundo o entendimento do DNRC (Instruo

    98/03), vedada a existncia de quotas preferenciais.

    !Tambm, na Sociedade Annima Fechada, as aes ordinrias e as aes preferenciais

    podero ser de uma ou mais classes, de acordo com as vantagens que elas confiram aos

    seus titulares, de modo que possvel emitir uma classe especfica de aes ao

    !32

  • 14 de outubro de 2014

    programador, por um preo mais baixo, mas que lhe conceda determinadas vantagens,

    como a garantia de distribuio mnima de dividendos.

    !O papel do Investidor o de entrar no negcio com capital, de modo a viabilizar o seu

    sucesso. Em start ups, esses agentes podem ser tanto fundos de investimento quanto

    sujeitos com capacidade de injetar recursos financeiros na empresa nascente.

    Normalmente, eles entram na empresa quando ela j est solidificada h um tempo

    razovel. Diferente do fundador, o critrio principal para a entrada desse agente o risco

    que se apresentar caso o negcio no se desenvolva com desenvoltura.

    !Considerando que o seu interesse reside na valorizao da empresa para venda futura,

    parece-nos que a estrutura ideal para esse perfil a Sociedade Annima Fechada. Isso

    porque ela apresenta estratgias mais fceis de entrada e sada da sociedade.

    !O fato de poder-se emitir aes de diferentes espcies e classes aos acionistas

    vantajoso, na medida em que, muitas vezes, o Investidor prefere possuir aes ordinrias

    para influenciar na consecuo da gesto da empresa e aumentar o seu valor, para vender

    suas aes futuramente. E, em outras tantas, ele contenta-se com aes preferenciais que

    lhes garantem prioridade na distribuio de capitais ou no reembolso de capital (artigo 16,

    da Lei 6.404/76). Tambm, em uma Sociedade Annima, h a vantagem de as aes

    poderem ser emitidas sem valor nominal (art. 11 e 14 da Lei n 6.404/76), de modo que o

    valor dessas aes flutuante, podendo aumentar e diminuir de acordo com o mercado.

    !No que diz respeito transferncia de quotas, na Sociedade Limitada, o scio pode optar

    por ceder as suas quotas para terceiros. Essa cesso pode ser disciplinada pelo contrato

    social. Todavia, na omisso de tal dispositivo no contrato, o art. 1.057 do Cdigo Civil,

    disciplina a cesso de quotas, prevendo duas situaes distintas: (i) cesso de quotas a

    quem seja scio, que livre da anuncia dos demais scios; e (ii) cesso de quotas a

    terceiros estranhos sociedade, sendo que a cesso fica condicionada inexistncia de

    oposio de scios que representem mais de 25% do capital social, restando, pois,

    cesso a condicionante de aprovao de do capital social. Ou seja, percebe-se que, se

    !33

  • 14 de outubro de 2014

    no contrato social no existir disposio regulando a cesso de quotas, transferi-las para

    terceiros ser pouco malevel.

    ! Ainda assim, o scio tem o direito de sair da sociedade. Isso se dar mediante

    notificao, com antecedncia de 60 dias (artigo 1.029 do Cdigo Civil), tendo em vista a

    prevalncia do interesse na preservao da empresa. Nesse caso, a sada do scio sem

    cesso para terceiros tambm pouco malevel.

    ! Por outro lado, em Sociedades por Aes Fechadas, a venda de aes mais malevel,

    pois a regra a livre circulao de aes. Em outras palavras, o scio poder alienar as

    suas aes livremente, sem estar ancorado ao assentimento dos demais membros da

    mesma sociedade. Todavia, permite a lei que o estatuto da sociedade fechada imponha

    certas restries transferncia. Assim, comum estabelecer, por meio de acordos de

    acionistas, que o acionista que desejar alienar suas aes dever, primeiramente,

    oferec-las aos demais, ou, ainda, condicionar o ingresso de terceiros observncia de

    determinados requisitos ou concordncia da totalidade dos acionistas Alm disso, o

    scio pode optar por sair da sociedade com maior facilidade, caso seja do seu prprio

    interesse a fim de gerar recursos prprios ou, destarte, permitir a entrada de um scio

    estratgico. Assim, infere-se com a leitura do disposto artigo acima mencionado, que a

    vontade de extinguir o liame societrio , ento, absoluta, pois ningum pode ser

    compelido a permanecer indefinidamente associado.

    !Como cada tipo de contribuio ingressa como participao societria? !Para dar incio sua atividade econmica, a sociedade necessita de recursos, como

    mquinas, tecnologia, servios, trabalho, etc. De modo geral, esses recursos podem ser

    obtidos de duas maneiras: pela capitalizao ou pelo financiamento. Na capitalizao, a

    companhia recebe dos scios os referidos recursos, de modo que ela no tem o dever de

    restitu-los ou remuner-los, pois em troca da capitalizao os scios/acionistas adquirem

    participao societria. Por outro lado, no financiamento, a companhia se torna devedora

    dos prestadores de recursos, por exemplo, de um banco.

    !!34

  • 14 de outubro de 2014

    No incio do negcio, o capital social deve ser formado pela contribuio de cada scio

    na sociedade. O capital social consiste no montante necessrio para se constituir e iniciar

    as atividades de uma nova empresa enquanto essa no gera recursos suficientes para se

    sustentar, sendo formado pela contribuio dos scios. Normalmente, os scios

    transferem capital, bens ou crdito do seu patrimnio ao da pessoa jurdica para que a

    sociedade comece a funcionar, de modo que o nmero de quotas/aes adquiridas ser

    proporcional sua contribuio no capital social.

    !No que se refere formao inicial do capital social, devem-se distinguir dois termos: a

    subscrio e a integralizao. A subscrio consiste no montante de recursos prometidos

    pelos scios para a formao da sociedade, enquanto a integralizao consiste no

    montante que os scios efetivamente lhe entregaram. Assim, ao constituir-se a sociedade,

    os scios avaliam que ela precisa, por exemplo, de R$ 100.000.000,00 e, em seguida,

    estabelecem a proporo da contribuio de cada um, ou seja, a parte dos recursos que

    cada scio se compromete a disponibilizar em favor da pessoa jurdica em formao. Esse

    o capital subscrito. Na sequncia, chegam ao acordo sobre quando o compromisso tem

    de ser atendido, isto , o prazo para a entrega sociedade dos recursos em questo. Se

    os scios decidirem que, no incio, necessrio apenas 1/4 daqueles recursos, o total do

    capital integralizado ser de R$ 25.000.000,00, sendo inferior ao capital subscrito que

    equivale a R$ 100.000.000,00.

    !Aqui, tambm se inserem os conceitos de quota e ao. A quota a parcela constituda

    em bens ou dinheiro que cada scio incorpora para a formao total do capital social de

    uma Sociedade Limitada. A ao um ttulo nominativo negocivel que representa quem

    possui uma frao do capital social de uma Sociedade Annima, sendo que ela pode ser

    ordinria nominativa (ON) ou preferencial nominativa (PN). Desse modo, a quota e a ao

    consistem em uma parcela do capital social que confere direitos patrimoniais e pessoais

    aos scios. Os primeiros so direitos do scio de participao nos lucros e no patrimnio

    lquido da sociedade aps sua liquidao. J os segundos correspondem ao direito de

    participao do scio como na gesto do negcio.

    !

    !35

  • 14 de outubro de 2014

    Quanto s diferenas principais entre quotas e aes, percebe-se que as primeiras no

    podem ser convertidas em entidade patrimonial autnoma, do mesmo modo que no

    podem constituir-se em valor mobilirio. Alm disso, diz-se que a Sociedade Limitada

    uma sociedade de pessoas e a Sociedade Annima uma sociedade de capital.

    !Sociedade Limitada !O capital social de uma Sociedade Limitada pode ser divido em quotas iguais ou

    desiguais. No caso de quotas iguais, consideremos o seguinte exemplo: o capital social da

    XYZ Ltda. ser de R$ 150.000,00, dividido em 150.000 quotas, no valor nominal de R$

    1,00 cada uma, e assim distribudo entre os scios: JOO - 75.000 quotas R$ 75.000,00 e

    PEDRO - 75.000 quotas R$ 75.000,00. Por outro lado, no caso de quotas desiguais, pode-

    se apresentar o seguinte exemplo: o capital social ser de R$ 150.000,00, dividido em

    duas quotas nos valores nominais de R$ 100.000,00 e R$ 50.000,00, e assim distribudo

    entre os scios: JOO - 1 quota R$ 100.000,00 e PEDRO - 1 quota R$ 50.000,00.

    !Em uma Sociedade Limitada, os scios podem comprometer-se mediante pagamento em

    dinheiro, conferncia de bens ou crditos sociedade, sendo lhes vedada, por lei, a

    contribuio que consista em prestao de servios. Quanto contribuio em dinheiro,

    no h qualquer previso legal que exija a integralizao de um percentual mnimo do

    capital subscrito no ato da constituio da sociedade, tampouco que fixe um prazo

    mximo para a sua integralizao. J em relao contribuio mediante conferncia de

    bens, a integralizao com bens suscetveis de avaliao em dinheiro no se submete

    obrigatoriamente avaliao pericial, mas pela exata estimao dos bens conferidos ao

    capital social. A no necessidade de avaliao de bens pode ser benfica na medida em

    que d espao para os scios decidirem sobre o valor do bem a ser integralizado, bem

    como diminui gastos com custos periciais. Quanto contribuio mediante prestao de

    servios, vedada pelo art. 1.055, 2 do Cdigo Civil, tem-se na prtica que as

    sociedades permitem o ingresso de, por exemplo um pesquisador que tem em seu nome,

    em troca de seu trabalho, uma parte do capital subscrito da empresa. Pois neste caso no

    est havendo contribuio, mas sim uma mera participao societria como remunerao

    do trabalho sendo prestado.

    !36

  • 14 de outubro de 2014

    !Sociedade Annima Fechada !Uma Sociedade Annima tem seu capital social dividido em aes, que podem ser

    ordinrias ou preferenciais. Aes ordinrias do direito a voto em Assemblia Geral.

    Aes preferenciais no do direito a voto, mas sim preferncia no recebimento de

    dividendos.

    !Nessa modalidade jurdica, os scios podem comprometer-se mediante pagamento em

    dinheiro ou em qualquer espcie de bens suscetveis de avaliao em dinheiro. Em

    relao contribuio em dinheiro, pelo menos 10% do capital social subscrito dever ser

    integralizado em dinheiro, no ato da subscrio, podendo esse montante ser integralizado

    por um ou mais acionistas da companhia. Quanto contribuio mediante conferncia de

    bens, a integralizao se submete obrigatoriamente avaliao pericial, a qual dever ser

    submetida aprovao da Assembleia Geral. A obrigatoriedade da avaliao pericial

    positiva na medida em que no abre espao para discusses quanto ao valor do bem a

    ser integralizado, apesar de representar um custo adicional. Tem-se, ainda, a possibilidade

    de ingressar na sociedade apenas com trabalho, sendo o prestador de servios, neste

    caso, responsvel por uma parte do capital subscrito da empresa.

    !Ambos os regimes so um tanto quanto parecidos quanto ao tipo de contribuio

    ingressando como participao societria, no entanto, a Sociedade Annima Fechada

    ainda mais vantajosa porque, medida que apresenta um sistema um tanto quanto mais

    rgido e fiscalizatrio, tem menos riscos de apresentar problemas na transformao da

    contribuio em participao societria, ainda que o sistema na Sociedade Limitada seja

    mais rpido e simples.

    !!!!!

    !!37

  • 14 de outubro de 2014

    (a) A lgica de vesting-cliffs !Cliffs e vestings so mecanismos que ajudam a estruturar as participaes societrias no

    contexto dinmico da operao de uma startup. Eles auxiliam a definir as participaes

    societrias de cada scio, seja ele fundador ou funcionrio, desde o incio do negcio, a

    partir de critrios que determinam como se dar o caminhar de cada um na empresa.

    ! Exemplifiquemos com situaes hipotticas. Uma startup de negcios de impacto

    social foi criada por quatro fundadores um administrador, um advogado e dois

    programadores. Todos contribuiro com capital e bens para o capital social. Porm,

    enquanto o administrador, o advogado e um dos programadores trabalharo

    exclusivamente para a startup, o outro programador no ir abrir mo do seu trabalho em

    outra empresa. Assim, os primeiros acabaro trabalhando muito mais do que o ltimo. Na

    hora de formar a sociedade, os fundadores precisam definir qual ser a estrutura

    societria, ou seja, qual ser a participao societria de cada um na start up. No caso,

    no parece justo que todos tenham desde o incio 25% de participao quando h um

    scio que no se dedica exclusivamente ao negcio.

    !Outra situao hipottica pode envolver funcionrios da start up. Imagine que um dia os

    scios resolvam embarcar um funcionrio muito importante e do para ele uma

    participao de 5% na sociedade. Um ms passa e esse funcionrio/acionista resolve se

    desligar da empresa, mas mantm a sua participao acionria. Anos se passam e a

    empresa cresce de forma impressionante. Quando ela est no seu auge, esse funcionrio

    retorna exigindo sua participao de 5%, apesar de ter ficado somente um ms na

    empresa aps ter recebido a referida porcentagem do capital social.

    !Ainda, pode-se imaginar a necessidade de um mecanismo de incentivo para que

    funcionrios tcnicos, como programadores, atinjam metas pr-determinadas pelos

    scios. Isso porque os scios podem desejar implantar um mecanismo que estabelea

    critrios para a aquisio sucessiva de participao societria por esses funcionrios.

    !!38

  • 14 de outubro de 2014

    O que fazer em situaes como essas? Eis que surge a lgica do vesting. Esse mecanismo

    utilizado com relao a todos os acionistas que no compraram sua participao na

    empresa, o que inclui fundadores, funcionrios, conselheiros e advisors. Vesting tem

    ligao com o verbo vestir, ou seja, significa que essas pessoas devero vestir as aes

    que tm direito por um determinado perodo de tempo. Traduzindo, esse mecanismo

    consiste em um perodo de carncia, no qual a sucessiva aquisio de participao

    societria condicionada ao atingimento de metas ou critrios previamente

    estabelecidos. H vrios tipos de perodos de carncia que podem ser utilizados, quais

    sejam: a carncia com data pr-fixada (cliff-vesting), a carncia direta (straight vesting), a

    carncia de desempenho (performance vesting) e a carncia em passos (step vesting).

    !Aqui, optou-se por analisar em mais detalhes o cliff-vesting, muito utilizado por start ups.

    O perodo inicial para que acionistas possam adquirir qualquer participao acionria

    denominado cliff. A aquisio por perodos sucessivos, aps a consumao do cliff,

    chamada de vesting. Por exemplo, determinada startup com um ano de vida contrata um

    Diretor de Marketing e lhe d o direito de vestir 5% de aes em quatro anos. Assim,

    ele receber 25% das aes de direito, ou seja, 1.25% da empresa (25% dos 5%) ao final

    do primeiro ano (12 meses) que o cliff. Caso ele saia da empresa antes do primeiro

    aniversrio, portanto, no receber nada. O prazo inicial de um ano, sem qualquer

    transferncia de aes, importante porque d tempo aos acionistas de terem certeza do

    valor dessa pessoa. O restante (75% dos 5%) ser dividido pelos 36 meses restantes que

    o vesting. Ou seja, o Diretor adquirir 36 parcelas de 0.104166% a partir do dcimo

    terceiro ms na empresa, de modo que quanto mais tempo nela ele permanecer, mais

    aes ele vestir. No caso de ele sair antecipadamente, faz-se o clculo para descobrir

    com quanto o acionista ficar e o saldo restante permanecer com os acionistas que

    estavam originalmente diludos. H tambm que se ressaltar a possibilidade de estipular

    tanto o cliff quanto o vesting em torno de metas de performance especfica do sujeito, de

    modo que ele s receber as aes caso atinja as metas pr-determinadas. No exemplo

    acima, o Diretor de Marketing no receberia todo o ms a porcentagem de 0.104166%,

    pois esse ganho estaria condicionado a metas pr-estabelecidas, como a elaborao de

    um portflio de produtos.

    !!39

  • 14 de outubro de 2014

    Nota-se que existem situaes que alteram o curso desse esquema, como a entrada de

    um investidor na empresa. Nesse caso, o vesting pode ser acelerado ou o acionista sujeito

    ao vesting pode ser diludo pelo valor de direito e no pelo valor vestido No ltimo caso,

    todas as parcelas a receber sero reajustadas de acordo com a diluio. Afinal, se isso no

    for feito, quem possui um vesting longo receberia as mesmas parcelas de uma pizza bem

    maior que a originalmente acordada.

    !O mecanismo de vesting pode ser tanto utilizado em Sociedades Limitadas quanto em

    Sociedades Annimas. Em ambas isso pode ser feito por meio de dois mecanismos: (i)

    contrato de cesso de quotas/aes, que ser utilizado quando um scio (normalmente, o

    fundador) desejar transferir suas quotas ou aes diretamente ao indivduo sujeito ao

    mecanismo de vesting; e (ii) aumento do capital social, sendo que por meio dessa opo

    os scios originais sero diludos pelas novas aes (se da mesma classe) ou quotas

    emitidas em decorrncia do vesting.

    !No caso de uma Sociedade Limitada, o contrato social pode prever um aumento do

    capital social da empresa. Ressalta-se que ele s poder ser aumentado se todas as atuais

    quotas, ou seja, anteriores ao pretendido aumento, tiverem sido integralizadas (artigo

    1.081 do Cdigo Civil). O aumento dever ser aprovado por membros que representam

    75% do capital social e os scios tero o direito de preferncia para participar do

    aumento, na proporo das quotas de que sejam titulares, at trinta dias aps a

    deliberao.

    !O direito de preferncia pode ser cedido, total ou parcialmente, a qualquer scio ou

    terceiro, desde que no haja oposio de titulares de mais de 25% do capital social. Uma

    vez decorrido o prazo de preferncia e havendo quotas que ainda no tenham sido

    subscritas, elas sero oferecidas a terceiros (no caso, que no obtiveram o direito de

    preferncia). Subscrita a totalidade do aumento, haver reunio ou assemblia dos scios,

    para que seja aprovada a modificao do contrato social.

    !O mecanismo de vesting pode ser inserido no contrato social ao prever que o aumento do

    capital social estar condicionado efetivao de alguns critrios, como o atingimento de

    !40

  • 14 de outubro de 2014

    metas por um terceiro, como um programador. No caso, o aumento do capital social seria

    aprovado e os scios cederiam o seu direito de preferncia ao programador, de modo que

    esse subscreveria as novas quotas (apesar de no integraliz-las em bens ou dinheiro) e

    seria aprovada modificao do contrato social para constar essas alteraes. Os scios

    originais podem optar por integralizar em bens e dinheiro as novas quotas subscritas por

    terceiros (no caso, o programador), mas no integralizadas por eles, com o propsito de

    blindar a responsabilidade, j que os scios so solidariamente responsveis at a

    integralizao do capital social.

    !Outra opo firmar um contrato de cesso de quotas entre o scio e terceiro. De acordo

    com o Cdigo Civil, na omisso do contrato, o scio pode ceder sua quota, total ou

    parcialmente, a quem seja scio (direito de preferncia), independentemente de audincia

    dos outros, ou a estranho, se no houver oposio de titulares de mais de um quarto do

    capital social. Para que a cesso seja eficaz, deve ocorrer modificao do contrato social e

    sua respectiva averbao. Ressalta-se que at dois anos depois de averbada a

    modificao do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionrio, perante a

    sociedade e terceiros, pelas obrigaes que tinha como scio.

    !O grande problema de se utilizar o mecanismo de vesting em Sociedades Limitadas est

    no alto custo de transao. Isso porque necessrio modificar o contrato social para que a

    subscrio de novas aes se efetive, o que pode levar tempo. Alm disso, o aumento do

    capital social e a cesso de quotas a terceiros esto muitas vezes condicionados a no

    oposio dos demais scios.

    !Portanto, acredita-se que o vesting tem mais sentido em Sociedades Annimas. Afinal, as

    aes so mais maleveis do que as quotas, de modo que para a sua transferncia no

    necessrio alterar constantemente o estatuto social. Alm disso, a diferenciao entre

    aes ordinrias e preferenciais positiva, pois possibilita a criao de um pacote

    criativo de vesting. J no caso da Sociedade Limitada, necessariamente deve-se aditar o

    contrato social, o que implica custo e tempo adicional para efetivar o vesting.

    !

    !41

  • 14 de outubro de 2014

    Alm disso, aumentar o capital social mais fcil e rpido em Sociedades Annimas.

    Normalmente, atravs de alterao no estatuto social que ocorre um aumento do capital

    social, de modo que depois de aprovado por uma Assemblia Geral Extraordinria, as

    novas aes sero oferecidas aos acionistas (direito de preferncia) e, as aes no

    subscritas pelos acionistas, sero oferecidas a terceiros. No entanto, a Lei das S/A prev

    que em algumas situaes ocorra aumento do capital autorizado. Ou seja, um aumento

    do capital social, com a emisso de novas aes, independentemente de alterao do

    estatuto.

    !O estatuto social que contm clusula de capital autorizado deve obedecer a certos

    dispositivos, como a obrigatoriedade do conselho de administrao (art. 138 da Lei das S/

    A). De acordo com o art. 168 da Lei das S/A, essa autorizao do estatuto social dever

    especificar:

    !a) o limite de aumento, em valor do capital ou em nmero de aes, e as

    espcies e classes das aes que podero ser emitidas;

    !b) o rgo competente para deliberar sobre as emisses, que poder ser a assemblia-geral ou o conselho de administrao;

    !c) as condi