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Guia de orientação sobre requisitos de informação e avaliação da segurança química Parte B: Avaliação do perigo Versão 2.1 Dezembro de 2011

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Guia de orientação sobre requisitos de informação e

avaliação da segurança químicaParte B: Avaliação do perigo

Versão 2.1 Dezembro de

2011

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ADVERTÊNCIA JURÍDICA O presente documento contém orientações sobre o Regulamento REACH, que descrevem as suas obrigações e o modo como devem ser cumpridas. No entanto, recorda-se aos utilizadores que o texto do Regulamento REACH é a única referência jurídica que faz fé e que as informações contidas no presente documento não constituem um aconselhamento jurídico. A Agência Europeia dos Produtos Químicos não assume qualquer responsabilidade pelo conteúdo do presente documento.

DECLARAÇÃO DE EXONERAÇÃO DE RESPONSABILIDADE Esta é uma versão de trabalho de um documento originalmente publicado em inglês. O documento original está disponível no site da ECHA.

Guia de orientação sobre requisitos de informação e avaliação da segurança química Parte B: Avaliação do perigo

Referência: ECHA-11-G-09-PT Data de publicação: Dezembro de 2011 Língua: PT

© Agência Europeia dos Produtos Químicos, 2011 Página de rosto © Agência Europeia dos Produtos Químicos

Reprodução autorizada mediante indicação da fonte da seguinte forma: «Fonte: Agência Europeia dos Produtos Químicos, http://echa.europa.eu/», e mediante notificação por escrito enviada ao Departamento de Comunicação ECHA ([email protected]).

Todas as perguntas ou observações relacionadas com o presente documento devem ser enviadas (indicando a referência, data de publicação, capítulo e/ou página do documento a que as suas observações se referem) utilizando o formulário de feedback para os guias de orientação. O formulário de feedback pode ser acedido através das páginas sobre os guias de orientação no sítio Web da ECHA ou directamente através da seguinte hiperligação: https://comments.echa.europa.eu/Comments/FeedbackGuidance.aspx

Agência Europeia dos Produtos Químicos

Endereço postal: P.O. Box 400, FI-00121 Helsínquia, Finlândia Morada: Annankatu 18, Helsínquia, Finlândia

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PREFÁCIO

O presente documento descreve os requisitos de informação, nos termos do Regulamento REACH, relacionados com as propriedades, a exposição, as utilizações e as medidas de gestão de risco de substâncias, bem como a avaliação da segurança química (CSA). Faz parte de uma série de documentos de orientação que têm por objectivo apoiar todas as partes interessadas na preparação para o cumprimento das obrigações previstas no Regulamento REACH. Estes guias apresentam orientações pormenorizadas para uma série de processos essenciais do REACH, bem como para alguns métodos técnicos e/ou científicos específicos que devem ser adoptados pela indústria ou pelas autoridades ao abrigo do REACH.

Os documentos de orientação foram redigidos e debatidos no quadro dos Projectos de Implementação do REACH (RIP), liderados pelos serviços da Comissão Europeia, com a participação de representantes dos Estados-Membros, da indústria e de organizações não governamentais. Após aprovação pelas autoridades competentes dos Estados-Membros, os guias de orientação foram enviados à ECHA para publicação e posterior manutenção. As actualizações das orientações são redigidas pela ECHA, sendo posteriormente sujeitas a um processo de consulta no qual participam as partes interessadas dos Estados-Membros, da indústria e de organizações não governamentais. Para mais informações sobre o processo de consulta, ver:

http://echa.europa.eu/doc/about/organisation/mb/mb_14_2011_consultation_procedure_guidance.pdf

Os documentos de orientação podem ser obtidos através do sítio Web da Agência Europeia dos Produtos Químicos

http://echa.europa.eu/reach_pt.asp

Assim que forem finalizados ou actualizados, serão publicados neste sítio Web outros documentos de orientação.

O presente documento refere-se ao Regulamento (CE) n.º 1907/2006 do Parlamento Europeu e

do Conselho, de 18 de Dezembro de 2006 (Regulamento REACH)1.

1 Rectificação ao Regulamento (CE) n.º 1907/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de Dezembro de 2006, relativo ao registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos (REACH), que cria a Agência Europeia dos Produtos Químicos, que altera a Directiva 1999/45/CE e revoga o Regulamento (CEE) n.º 793/93 do Conselho e o Regulamento (CE) n.º 1488/94 da Comissão, bem como a Directiva 76/769/CEE do Conselho e as Directivas 91/155/CEE, 93/67/CEE, 93/105/CE e 2000/21/CE da Comissão (JO L 396 de 30.12.2006); alterado por: Regulamento (CE) n.º 1354/2007 do Conselho, de 15 de Novembro de 2007, que adapta o Regulamento (CE) n.º 1907/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos (REACH), em virtude da adesão da Bulgária e da Roménia, Regulamento (CE) n.º 987/2008 da Comissão, de 8 de Outubro de 2008, no que respeita aos anexos IV e V; Regulamento (CE) n.º 1272/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Dezembro de 2008, relativo à classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e misturas; Regulamento (UE) n.º 453/2010 da Comissão, de 20 de Maio de 2010, no que respeita ao anexo II; Regulamento (UE) n.º 252/2011 da Comissão, de 15 de Março de 2011, no que respeita ao anexo I; Regulamento (UE) n.º 366/2011 da Comissão, de 14 de Abril de 2011, no que respeita ao anexo XVII (acrilamida), Regulamento (UE) n.º 494/2011 da Comissão, de 20 de Maio de 2011, no que respeita ao anexo XVII (cádmio).

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Histórico do documento

Versão Comentário Data

Versão 1 Primeira edição Maio de 2008

Versão 1.1 Foi incluída a referência correcta à secção R.7.12 no último parágrafo do capítulo B.6.2.1

Outubro de 2008

Versão 2 Foi aditado o capítulo B.8 Agosto de 2011

Versão 2.1 Rectificação do Regulamento CRE e alterações editoriais Dezembro de 2011

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Convenção para citação do Regulamento REACH

Nos casos em que se proceda à citação literal do Regulamento REACH, a mesma será indicada por texto em itálico entre aspas.

Quadro de Termos e Abreviaturas

Consultar o Capítulo R.20

Mapa de Localização

A figura abaixo indica a localização do capítulo B.8 no Documento de Orientação

Avaliação do perigo (HA)

Caracterização do risco (RC)

Riscocontrolado?

Comunicar ES via FDS

Documento no CSR

não Iteração sim

Critérios art. 14(4)? Stop

não sim

Informação: disponível - exigida/necessária

B

Avaliação da exposição (EA)

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ÍNDICE

PREFÁCIO ....................................................................................................................................... 3 

B.1  INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 

B.1.1 Objectivo deste módulo ......................................................................................................................... 9 

B.1.2 Etapas na avaliação do perigo................................................................................................................ 9 

B.2  PROCESSO DE RECOLHA E AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES ................................. 10 

B.2.1 Requisitos de informação nos termos do Regulamento REACH........................................................... 10 

B.2.2 Recolha e avaliação das informações.................................................................................................... 10 

B.3  RECOLHA DE INFORMAÇÃO – ASPECTOS PRÁTICOS................................................ 13 

B.3.1 Fontes de informação........................................................................................................................... 13 

B.3.2 Registo da estratégia de pesquisa (secção R.3.2) ................................................................................... 14 

B.3.3 Partilha de dados................................................................................................................................. 14 

B.4  AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS ......................................................... 15 

B.4.1 Relevância ........................................................................................................................................... 15 

B.4.2 Fiabilidade .......................................................................................................................................... 15 

B.4.3 Adequação........................................................................................................................................... 15 

B.4.3.1  Dados de ensaio........................................................................................................................................... 15 

B.4.3.2  Dados obtidos sem a realização de ensaios...................................................................................................... 16 

B.4.3.3  Dados humanos ........................................................................................................................................... 18 

B.4.4 Avaliação e integração de todas as informações disponíveis, incluindo a suficiência de prova............... 18 

B.5  FACTORES ESPECIAIS QUE AFECTAM OS REQUISITOS DE INFORMAÇÃO E AS ESTRATÉGIAS DE ENSAIO .......................................................................................................... 19 

B.5.1 Adaptações nos termos do anexo XI..................................................................................................... 19 

B.5.2 Outros factores que influenciam as necessidades de informação .......................................................... 20 

B.6  ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE PARÂMETROS ................................................. 21 

B.6.1 Propriedades físico-químicas ............................................................................................................... 21 

B.6.1.1  Inflamabilidade............................................................................................................................................ 22 

B.6.1.2  Explosividade.............................................................................................................................................. 23 

B.6.1.3  Propriedades oxidantes ................................................................................................................................. 23 

B.6.1.4  Outras propriedades físico-químicas .............................................................................................................. 24 

B.6.2 Parâmetros relativos à saúde humana.................................................................................................. 25 

B.6.2.1  Orientações sobre toxicocinética.................................................................................................................... 26 

B.6.2.2  Irritação e corrosão ...................................................................................................................................... 27 

B.6.2.3  Sensibilização cutânea e respiratória .............................................................................................................. 27 

B.6.2.4  Toxicidade aguda......................................................................................................................................... 28 

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B.6.2.5  Toxicidade por dose repetida......................................................................................................................... 29 

B.6.2.6  Toxicidade reprodutiva e para o desenvolvimento ........................................................................................... 30 

B.6.2.7  Mutagenicidade ........................................................................................................................................... 31 

B.6.2.8  Carcinogenicidade ....................................................................................................................................... 31 

B.6.3 Parâmetros ambientais ........................................................................................................................ 33 

B.6.3.1  Toxicidade em meio aquático ........................................................................................................................ 33 

B.6.3.2  Toxicidade dos sedimentos ........................................................................................................................... 34 

B.6.3.3  Toxicidade para microrganismos de estações de tratamento de águas residuais................................................... 35 

B.6.3.4  Degradação/biodegradação ........................................................................................................................... 35 

B.6.3.5  Bioacumulação e bioconcentração aquáticas ................................................................................................... 36 

B.6.3.6  Bioacumulação terrestre ............................................................................................................................... 37 

B.6.3.7  Toxicidade a longo prazo para as aves............................................................................................................ 37 

B.6.3.8  Toxicidade terrestre...................................................................................................................................... 37 

B.7  DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS COM LIMIAR DE EFEITO E SEM LIMIAR DE EFEITO .......................................................................................................................................... 39 

B.7.1 Caracterização da relação dose/concentração-resposta para a saúde humana ...................................... 39 

B.7.1.1  Objectivo e aspectos essenciais ..................................................................................................................... 39 

B.7.1.2  Requisitos legais para a definição de DNEL.................................................................................................... 41 

B.7.1.2.1 Derivação de DNEL ..................................................................................................................................... 41 

B.7.1.2.2 Se não for possível derivar um DNEL ............................................................................................................ 41 

B.7.1.3  Descrição geral dos aspectos a considerar na derivação de DNEL/DMEL .......................................................... 42 

B.7.1.4  Derivação de DNEL ..................................................................................................................................... 43 

B.7.1.4.1 Identificação dos descritores de dose e decisão do modo de acção..................................................................... 43 

B.7.1.4.2 Modificação do(s) descritor(es) de dose relevante(s) por parâmetro para o ponto inicial correcto.......................... 44 

B.7.1.4.3 Aplicação dos factores de avaliação ao ponto inicial corrigido para obter DNEL específicos dos parâmetros para o padrão de exposição relevante................................................................................................................................... 44 

B.7.1.5  Derivação de DMEL para parâmetros sem limiar ............................................................................................ 45 

B.7.1.5.1 A abordagem «linearizada»........................................................................................................................... 45 

B.7.1.5.2 A abordagem «Factor de avaliação em grande escala» (abordagem «EFSA») ..................................................... 46 

B.7.1.6  Método qualitativo quando não existe nenhum descritor de dose disponível para um parâmetro ........................... 46 

B.7.1.7  Seleccionar os principais efeitos na saúde para padrões de exposição relevantes ................................................. 47 

B.7.2 Concentração previsivelmente sem efeitos (PNEC) para o ambiente .................................................... 48 

B.7.2.1  Princípios gerais de derivação dos valores PNEC ............................................................................................ 48 

B.7.2.2  Derivação da PNEC para água doce ............................................................................................................... 50 

B.7.2.3  Derivação da PNEC para a água do mar ......................................................................................................... 51 

B.7.2.4  Derivação da PNEC para sedimentos e solos................................................................................................... 51 

B.7.2.5  Derivação da PNEC em estações de tratamento de águas residuais .................................................................... 52 

B.7.2.6  Derivação de PNEC para o compartimento ar ................................................................................................. 52 

B.7.2.7  Derivação de PNEC para predadores e grandes predadores............................................................................... 53 

B.8  ÂMBITO DA AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO.................................................................... 55 

B.8.1 Contexto e objectivo do capítulo .......................................................................................................... 55 

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B.8.2 Princípios gerais .................................................................................................................................. 56 

B.8.3 Determinar se a avaliação da exposição é necessária ............................................................................ 58 

B.8.4 Âmbito da avaliação da exposição........................................................................................................ 59 

B.8.4.1 Âmbito da avaliação da exposição relacionada com perigos toxicológicos para a saúde humana ............................. 61 

B.8.4.1.1 Perigos agudos classificados.......................................................................................................................... 63 

B. 8.4.1.2 Perigos a longo prazo classificados ............................................................................................................... 63 

B.8.4.1.3 Perigos não classificados............................................................................................................................... 63 

B.8.4.2 Âmbito da avaliação da exposição relacionado com perigos para o ambiente......................................................... 64 

8.4.2.1 Perigos classificados ........................................................................................................................................ 66 

8.4.2.2 Perigos não classificados .................................................................................................................................. 66 

B.8.5 Tipos de avaliação da exposição e de caracterização dos riscos ............................................................ 67 

B.8.5.1  Saúde humana ............................................................................................................................................. 67 

B.8.5.2  Ambiente .................................................................................................................................................... 68 

Apêndice 1 Classes de perigo do anexo I do Regulamento (CE) n.º 1272/2008 ............................................... 70 

Apêndice 2 Classificação relativa aos efeitos na saúde humana após exposição de curta duração.................. 71 

Apêndice 3 Classificação relativa aos efeitos na saúde humana após exposição prolongada .......................... 72 

Apêndice 4 Classificação relativa aos efeitos ambientais ............................................................................... 73 

QUADROS

Quadro B-7-1: Factores de extrapolação do risco de dose elevada para dose reduzida utilizados para derivar um DMEL............................................................................................................................................................................... 46 Quadro B-7-2: Resumo da derivação do DNEL/DMEL específico de um parâmetro...................................................... 48 Quadro B-8-1: Avaliação da exposição – descrição geral ................................................................................................ 60 Quadro B-8-2: Tipos de avaliação da exposição humana e de caracterização dos riscos ................................................. 67 

FIGURAS

Figura B-7-1: Ilustração das diferentes etapas da avaliação quantitativa dos riscos para a saúde humana para parâmetros com limiar ...................................................................................................................................................... 40 Figura B-8-1: Descrição geral do processo de decisão que determina a necessidade de realizar uma avaliação da exposição no que respeita à saúde humana e ao ambiente................................................................................................ 59 Figura B-8-2: Descrição geral do processo de decisão para identificar o âmbito de avaliação da exposição necessário no que respeita à saúde humana ...................................................................................................................... 62 Figura B-8-3: Descrição geral do processo de decisão para identificar o âmbito de avaliação da exposição necessário no que respeita ao ambiente. ........................................................................................................................... 65 

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.1 INTRODUÇÃO

B.1.1 Objectivo deste módulo

A parte R, que se destina principalmente a toxicologistas, ecotoxicologistas e avaliadores de riscos experientes, fornece informações pormenorizadas e orientações abrangentes sobre a recolha e avaliação de todas as informações disponíveis e pertinentes relativas às propriedades intrínsecas das substâncias a registar ao abrigo do Regulamento REACH, bem como sobre os requisitos de informação especificados no regulamento, a identificação de lacunas de dados e a produção de informações complementares necessárias para cumprir os requisitos do regulamento. Contém ainda orientações sobre várias das questões mais complexas no âmbito do Regulamento REACH, nomeadamente os requisitos de ensaio dos anexos VII a X, as estratégias de ensaio integradas (ITS) para cada parâmetro e as adaptações do regime normal de ensaios em conformidade com os anexos VII a X, coluna 2, e o anexo XI.

Este módulo apresenta uma perspectiva geral mais concisa sobre os requisitos de informação ao abrigo do Regulamento REACH, as estratégias de ensaio integradas para cada parâmetro e as possibilidades de adaptá-los. Destina-se a não peritos que necessitem de compreender a abordagem dos ensaios para colaborar com os peritos na elaboração de dossiês de registo e orienta o utilizador para as secções pertinentes da parte R mais pormenorizada, fornecendo orientações introdutórias em relação:

1. aos requisitos de informação especificados no Regulamento REACH

2. ao processo de recolha e avaliação de todos os dados disponíveis quanto à sua adequação, fiabilidade e integralidade

3. à utilização de todos os dados, nomeadamente os provenientes de abordagens e métodos de ensaio alternativos

4. às orientações sobre as estratégias para a produção de dados complementares necessários para a avaliação do perigo e para efeitos de classificação e rotulagem

B.1.2 Etapas na avaliação do perigo

Neste módulo, tal como na correspondente parte R, as orientações começam com uma descrição da forma como as informações-padrão exigidas no Regulamento REACH variam em função da tonelagem de uma substância e a descrição do processo geral a seguir para cumprir os requisitos do regulamento (Capítulo B.2). As etapas do processo são a seguir definidas, sendo a primeira a recolha de todas as informações disponíveis e pertinentes (Capítulo B.3) seguida pela avaliação do perigo das informações disponíveis, um processo que compreende três elementos, os quais resultam em secções do relatório de segurança química:

Etapa 1. Avaliação e integração das informações disponíveis (Capítulos B.4 a B.6)

Etapa 2. Classificação e rotulagem

Etapa 3. Determinação dos níveis limiares de perigo para a saúde humana e para o ambiente (Capítulo B.7)

A classificação e rotulagem (etapa 2) já não são abrangidas pela parte B, mas o capítulo R.7 inclui orientações sobre quais as informações que podem ser consideradas adequadas para a classificação e rotulagem de substâncias. Os critérios para classificação e rotulagem de substâncias e misturas estão previstos no anexo I do Regulamento (CE) n.º 1272/2008 (Regulamento CRE).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.2 PROCESSO DE RECOLHA E AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

B.2.1 Requisitos de informação nos termos do Regulamento REACH

Informações-padrão exigidas

O artigo 10.º do Regulamento REACH identifica as informações mínimas que devem ser apresentadas como parte de um registo. Em geral, a exigência dos requisitos de informação aumenta em função da tonelagem fabricada ou importada, tal como referido no artigo 12.º do Regulamento REACH; os anexos VI a XI do regulamento identificam os requisitos de informação pormenorizados para cada gama de tonelagem (ver também secção R.2.1).

O artigo 12.º, n.º 1, e o anexo VI exigem expressamente que todas as informações físico-químicas, toxicológicas e ecotoxicológicas disponíveis e pertinentes para o registante sejam incluídas no dossiê de registo. No mínimo, o dossiê deve incluir as informações especificadas nos anexos VII a X, tendo em conta as regras gerais para adaptação destes regimes normais de ensaios definidos no anexo XI.

As informações-padrão exigidas para registo e avaliação de uma substância são especificadas no anexo VII, coluna 1, no que respeita às substâncias registadas em quantidades ≥ 1 tonelada/ano, no anexo VIII para quantidades ≥ 10 toneladas/ano, no anexo IX para quantidades ≥ 100 toneladas/ano e no anexo X para quantidades ≥ 1 000 toneladas/ano. Sempre que for atingida uma nova gama de tonelagem, os requisitos do anexo correspondente devem ser cumpridos. Tal significa que as informações sobre uma substância registada, por exemplo, na gama de 100 toneladas/ano, terão de cumprir os requisitos especificados nos anexos VII, VIII e IX. As informações exactas exigidas para cada substância variarão em função da tonelagem, da utilização e da exposição. Os anexos devem, portanto, ser vistos como um todo e em conjugação com os requisitos globais em matéria de registo, avaliação e dever de diligência.

Adaptações das informações-padrão exigidas

Os anexos VII a X, coluna 2, especificam as regras segundo as quais as informações-padrão exigidas podem ser omitidas, substituídas por outras informações, fornecidas noutra etapa do processo ou gama de tonelagem, ou adaptadas de alguma outra forma. Além destas regras específicas, o conjunto das informações-padrão exigidas pode ser adaptado de acordo com as disposições do anexo XI. Todas as adaptações das informações-padrão exigidas devem ser justificadas no registo e no relatório de segurança química (se necessário) e os motivos para cada adaptação devem ser claramente indicados.

Estão disponíveis informações mais pormenorizadas sobre os requisitos de informação e as adaptações adequadas na parte R, capítulos R.1 a R.6, que abordam os aspectos gerais, e no capítulo R.7, que fornece orientações específicas sobre os parâmetros físico-químicos individuais e sobre os parâmetros relativos aos efeitos para a saúde humana e para o ambiente.

B.2.2 Recolha e avaliação das informações

O anexo VI descreve quatro etapas que devem ser seguidas pelo registante para cumprir os requisitos de informação exigidos para uma substância: (ver também secção R.2.2)

Etapa 1: Recolher e partilhar a informação existente

Etapa 2: Considerar as necessidades de informação

Etapa 3: Identificar lacunas de informação

Etapa 4: Obter novas informações ou propor uma estratégia de ensaio

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Parte B: Avaliação do perigo

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Etapa 1

Na etapa 1, o registante deve recolher todas as informações físico-químicas, toxicológicas e ecotoxicológicas disponíveis e pertinentes, independentemente de serem ou não necessárias informações sobre um determinado parâmetro para um nível de tonelagem específico. Essas informações incluem dados de ensaios existentes nos termos dos anexos VII a X, dados de outros ensaios in vivo ou in vitro, dados obtidos através de métodos sem a realização de ensaios (por exemplo, modelos (Q)SAR, grupos de substâncias, métodos comparativos por interpolação, abordagens de suficiência de prova), dados epidemiológicos e quaisquer outros dados que possam ajudar a identificar a presença ou ausência de propriedades perigosas da substância.

Essas informações podem ser obtidas através de diversas fontes como, por exemplo, dados internos das empresas, de outros fabricantes e importadores da substância no âmbito da cooperação num FIIS (artigo 29.º do REACH), da Agência, a pedido (artigo 26.º do REACH) ou de bases de dados ou outras fontes bibliográficas públicas ou acessíveis na Internet. Esta etapa de recolha de informações pode compreender igualmente a inclusão da substância numa categoria química adequada (cf. anexo XI, ponto 1.5 do REACH) e as informações assim obtidas (nomeadamente através da comparação por interpolação com outras substâncias), bem como as informações que são obtidas através de ferramentas informáticas, ou seja, modelos (Q)SAR. (secções R.4.3.2 e R.6)

Nesta etapa, o registante deve avaliar todas as informações disponíveis e pertinentes sobre as propriedades físico-químicas e de destino ambiental, a toxicidade e a ecotoxicidade da substância quanto à sua fiabilidade, relevância, adequação e integralidade. Embora os critérios de fiabilidade sejam de carácter geral, a decisão sobre a fiabilidade de um único elemento de informação (ou seja, como atribuir a esse elemento um nível específico de fiabilidade, por exemplo, através da classificação Klimisch) é específica do parâmetro. (secção R.4.2)

Além disso, o registante deve recolher informações sobre a exposição, as utilizações e as medidas de gestão dos riscos. Esse processo de recolha poderá exigir mais informações sobre, por exemplo, o fabrico (se este ocorrer dentro da UE), as utilizações, o manuseamento e a eliminação da substância ou dos artigos que contenham a substância (isto é, que abranjam todo o seu ciclo de vida), bem como a natureza das exposições, ou seja, as vias, a frequência e a duração. Ponderadas todas estas informações, o registante estará em condições de avaliar a necessidade de obter mais informações.

Todas as actividades de recolha de dados devem ser bem documentadas para permitir uma avaliação adequada da integralidade do dossiê do registo e evitar a repetição dessas actividades numa etapa posterior, uma vez que os fabricantes ou importadores (bem como utilizadores a jusante e distribuidores) devem reunir e manter durante um período de 10 anos todas as informações disponíveis de que necessitam para cumprir as suas obrigações no âmbito do Regulamento REACH após o último fabrico ou importação da substância.

Etapa 2

Na etapa 2, o registante deve identificar, nos anexos VII a X do Regulamento REACH, as informações-padrão exigidas de acordo com a tonelagem que fabrica ou importa. Estas informações poderão ter de ser adaptadas de acordo com os critérios específicos para o parâmetro em questão, conforme indicado na coluna 2 dos anexos, ou de acordo com os critérios gerais relativos à adaptação dos requisitos de informação especificados no anexo XI (secções R.2.1 e R.5.1).

No caso de parâmetros específicos, a coluna 2 especifica as regras segundo as quais as informações-padrão podem ser omitidas ou exigidas. Em muitos casos, estas regras referem-se a informações sobre outras propriedades ou parâmetros da substância em questão e essas informações também deve ser fiáveis, ou seja, terem sido sujeitas a avaliação na etapa 1 (capítulo R.7).

Sempre que o registante aplicar os critérios do anexo XI (ou seja, relativamente à necessidade científica da informação, à possibilidade técnica do ensaio e à dispensa de ensaios com base no

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Parte B: Avaliação do perigo

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nível de exposição) para adaptar as informações-padrão exigidas, deve basear essa adaptação em informações fiáveis e adequadas, tal como especificado no anexo XI, e documentá-la de acordo com as orientações fornecidas (secção R.5.1).

São aplicáveis regras específicas às substâncias de integração progressiva fabricadas ou importadas numa tonelagem compreendida entre 1 e 10 toneladas/ano que não satisfaçam os critérios do anexo III. Nesse caso, as informações-padrão exigidas são restringidas às informações físico-químicas, toxicológicas e ecotoxicológicas disponíveis e pertinentes para o registante e, no mínimo, aos parâmetros físico-químicos do anexo VII. O registante deve comprovar documentalmente, de forma pormenorizada, que os critérios do anexo III não estão cumpridos, ou seja, através da apresentação de informações disponíveis e fiáveis sobre as propriedades relevantes para os critérios de classificação e/ou sobre as utilizações, conforme adequado. São apresentadas na Parte R. orientações mais pormenorizadas sobre os requisitos de informação relativos às substâncias do anexo VII (secções R.2.1 e R.2.3).

Etapa 3

Na etapa 3, o registante deve comparar as necessidades de informação sobre a substância identificada na segunda etapa com as informações fiáveis e pertinentes já disponíveis identificadas na primeira etapa. No que respeita aos parâmetros cujos requisitos, nos termos do Regulamento REACH, não possam ser satisfeitos com informações disponíveis e pertinentes, devem ser obtidos dados em conformidade com a quarta etapa.

Etapa 4

Sempre que, durante a etapa 3, for identificada uma lacuna nos dados relativamente aos requisitos de informação incluídos nos anexos VII ou VIII, o registante deve realizar um ensaio nos termos do artigo 13.º.

Sempre que, durante a etapa 3, for identificada uma lacuna nos dados relativamente aos requisitos de informação incluídos nos anexos IX ou X, o registante deve elaborar uma proposta de ensaio e incluí-la no dossiê de registo de acordo com o artigo 10.º, alínea a), subalínea ix). Enquanto aguarda os resultados desse ensaio, o registante deve implementar e/ou recomendar medidas de gestão de riscos provisórias e incluí-las nos seus cenários de exposição e no relatório de segurança química como documentação para o controlo dos riscos (cf. REACH, anexo I, ponto 0.5).

No que respeita aos parâmetros enumerados nos anexos VII a X, coluna 1, foi criada uma estratégia de ensaio integrada (ITS) para fornecer orientações específicas sobre os parâmetros quanto à forma de recolher e avaliar informações disponíveis e considerar as necessidades de novos dados e estratégias de ensaios. É apresentada uma perspectiva geral destas estratégias de ensaio no Capítulo B.6 e estão disponíveis informações pormenorizadas nas secções R.7.1 a R.7.11.

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.3 RECOLHA DE INFORMAÇÃO – ASPECTOS PRÁTICOS

No capítulo R.3, são fornecidas orientações pormenorizadas sobre estratégias de pesquisa de informação e fontes de informação que podem ser consultadas na primeira etapa crítica de recolha de todas as informações disponíveis sobre uma substância, ou informações que podem ser úteis para informar sobre as propriedades dessa substância. As secções seguintes do presente documento apresentam apenas uma breve síntese da orientação e aconselhamento disponibilizados nos capítulos referidos da Parte R.

B.3.1 Fontes de informação

Nos termos do Regulamento REACH, os registantes são obrigados a proceder à recolha e apresentação de todas as informações disponíveis e pertinentes sobre as propriedades intrínsecas de uma substância, independentemente da quantidade fabricada ou importada, nomeadamente: (ver também a secção R.3.1)

a identidade da substância

as propriedades físico-químicas

exposição/utilizações/ocorrência e aplicações

a toxicidade em mamíferos

a toxicocinética (secção R.7.12)

as categorias químicas (secção R.6.2)

a ecotoxicidade

o destino ambiental, incluindo a degradação química e biótica.

Uma primeira etapa crítica consiste em reunir todas as informações disponíveis sobre uma substância e quaisquer informações pertinentes que possam clarificar as propriedades da substância. Estas informações necessárias podem ser obtidas através de um grande número de fontes que incluem (mas não se limitam a):

ficheiros internos de empresas e associações comerciais (incluindo dados sobre ensaios)

bancos de dados e bases de dados de dados compilados

conjuntos de dados aprovados, tais como o programa da OCDE relativo às substâncias químicas com um volume de produção elevado (OECD HPV Chemicals Program)

bibliografia publicada

motores de busca da Internet e sítios Web relevantes

modelos (Q)SAR (secção R.6.1)

partilha de dados num fórum de intercâmbio de informações sobre uma substância (FIIS)

São apresentadas informações e orientações complementares sobre o tipo de dados que podem ser úteis, bem como uma lista de artigos úteis sobre pesquisa de informações em matéria de saúde e de perigo e uma lista indicativa de alguns dos mais importantes bancos de dados e bases de dados disponíveis, nas secções R.3.1 a R.3.4. Além disso, está disponível uma lista de modelos (Q)SAR no sítio Web do Gabinete Europeu de Produtos Químicos (http://ecb.jrc.it/QSAR)

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.3.2 Registo da estratégia de pesquisa (secção R.3.2)

A estratégia de pesquisa exacta para uma dada substância dependerá em grande medida dessa substância. Independentemente da estratégia utilizada, é importante registar os pressupostos subjacentes, o que foi pesquisado e quando a pesquisa foi realizada, bem como os resultados obtidos.

B.3.3 Partilha de dados

Nos termos do artigo 29.º do Regulamento REACH, deve ser criado um Fórum de Intercâmbio de Informações sobre uma Substância (FIIS) para todas as substâncias de integração progressiva sempre que existir mais do que um potencial registante. O objectivo do FIIS será o de facilitar a partilha de informação para efeitos de registo e evitar a duplicação de estudos. Para tal, é necessário chegar a acordo sobre os direitos de acesso aos estudos relativos a ensaios em animais, em conformidade com as condições obrigatórias de partilha de dados no FIIS. Em geral, o FIIS deve chegar a acordo sobre esta matéria e apresentar conjuntamente as informações obtidas através da aplicação dos anexos VII a XI sobre ensaios, a classificação e rotulagem da substância e quaisquer propostas para novos ensaios. Estão disponíveis mais orientações sobre este aspecto no documento Orientações sobre partilha de dados.

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B.4 AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS

Todas as informações disponíveis sobre uma substância que forem recolhidas devem ser avaliadas quanto à sua adequação para fins de classificação e rotulagem, determinação do estatuto de PBT ou mPmB e determinação de um descritor de dose a utilizar na avaliação de segurança química (CSA). As informações devem ser avaliadas quanto à sua integralidade (se as informações disponíveis são conformes com as informações exigidas nos termos do Regulamento REACH) e qualidade (relevância, fiabilidade e adequação).

B.4.1 Relevância

A relevância é o grau de adequação dos dados e dos ensaios a uma determinada identificação de perigo ou caracterização do risco.

B.4.2 Fiabilidade

A fiabilidade é a qualidade inerente a um relatório de ensaio ou a uma publicação relativamente à metodologia normalizada preferencial e à forma como o processo experimental e os resultados são descritos para demonstrar a clareza e a plausibilidade das conclusões. É importante distinguir entre métodos fiáveis e informações fiáveis.

O código Klimisch (secção R.4.2) consiste num sistema de classificação da fiabilidade dos dados. O sistema inclui 4 categorias de fiabilidade:

1. Fiável sem restrições

2. Fiável com restrições

3. Não fiável

4. Insuficiência de dados

Este sistema, bem como outros sistemas de classificação idênticos, permite a classificação e a organização das informações para revisão posterior.

Os novos ensaios toxicológicos e ecotoxicológicos devem ser realizados de acordo com os princípios das boas práticas de laboratório (BPL) e, preferencialmente, com a utilização de um protocolo regulamentar aprovado (por exemplo, os protocolos UE e OCDE). Os dados existentes podem ter sido obtidos antes da aplicação dos requisitos de boas práticas de laboratório e da normalização dos métodos e, por esse motivo, a fiabilidade dos estudos existentes deve ser cuidadosamente avaliada.

B.4.3 Adequação

A adequação consiste na utilidade dos dados para efeitos da avaliação do perigo e do risco.

B.4.3.1 Dados de ensaio

Utilização de dados de ensaio determinados por métodos normalizados europeus ou internacionais

Nos termos do artigo 13.º, n.º 3, do Regulamento REACH, os ensaios necessários para obter informações sobre as propriedades intrínsecas das substâncias devem ser realizados de acordo com os métodos de ensaio previstos em regulamento da Comissão ou outros métodos internacionais de ensaio reconhecidos pela Comissão ou pela Agência como apropriados. As

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análises e os ensaios toxicológicos e ecotoxicológicos devem ser realizados em conformidade com os princípios das boas práticas de laboratório (BPL). O novo Regulamento relativo aos métodos de ensaio (Regulamento (CE) n.º 440/2008 do Conselho) contém todos os métodos de ensaio anteriormente incluídos no anexo V da Directiva 67/548/CEE. Os dados obtidos através de um destes métodos são per se considerados adequados para utilização regulamentada. Outros métodos de ensaio normalizados internacionalmente podem ser futuramente reconhecidos pela Comissão ou pela Agência como sendo adequados para obtenção de dados para utilização regulamentada.

É intenção da Comissão que o Regulamento relativo aos métodos de ensaio seja adaptado ao progresso técnico sempre que um novo ensaio seja desenvolvido, cientificamente validado e aprovado para utilização regulamentada pelos coordenadores nacionais dos Estados-Membros.

Utilização de dados de ensaios determinados através de outros métodos

Os dados de ensaios derivados de outros tipos de experiências e/ou sem estarem em conformidade com os princípios das boas práticas de laboratório poderão também ser considerados adequados para utilização nos termos do Regulamento REACH, desde que sejam satisfeitas as condições descritas no anexo XI, ponto 1.1., do mesmo regulamento.

Utilização de dados in vitro nos termos do Regulamento REACH

Na avaliação da adequação dos dados in vitro há que ter em conta considerações especiais. Deve ser feita a distinção entre a adequação da metodologia e a adequação dos dados produzidos por um método. Actualmente, são referidas como adequadas duas categorias de métodos in vitro no âmbito do Regulamento REACH:

Métodos validados. Os exemplos incluem ensaios in vitro para corrosão cutânea e ensaios in vitro de genotoxicidade, tais como o ensaio de mutagenicidade com Salmonella typhimurium (teste de Ames).

Ensaios in vitro que satisfaçam os critérios de pré-validação internacionalmente aprovados, por exemplo, do Centro Europeu de Validação de Métodos Alternativos (ECVAM).

Os critérios para validação e aprovação integrais de um método de ensaio (incluindo ensaios in vitro) são fornecidos no documento de orientação da OCDE GD 34 (OECD GD 34) (secção R.4.3.1, quadro R.4.-1).

Utilização de informações adequadas derivadas de métodos in vitro

As informações adequadas determinadas por estudos in vitro podem ser utilizadas das seguintes formas:

As informações determinadas através de ensaios in vitro cientificamente validados e aprovados para fins de regulamentação podem substituir parcial ou integralmente os ensaios em animais, dependendo do objectivo para o qual o método de ensaio foi validado. Um dos principais critérios de aprovação para utilização regulamentada é o de adequação das informações obtidas nos ensaios in vitro para fins de classificação e rotulagem e/ou avaliação do risco.

As informações derivadas de métodos in vitro adequados podem ser utilizadas para adaptação do regime normal de ensaios, em conformidade com o anexo XI. Para mais informações, ver a secção R.4.3.1.

B.4.3.2 Dados obtidos sem a realização de ensaios

Os dados obtidos sem a realização de ensaios consistem em dados produzidos por modelos (Q)SAR e sistemas especializados, bem como dados obtidos através de abordagens de agrupamento (análogos e categorias químicas).

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Parte B: Avaliação do perigo

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Dados (Q)SAR

Os dados obtidos através de modelos (Q)SAR podem apoiar a dispensa de ensaios ou determinar novos ensaios. De acordo com o anexo XI do Regulamento REACH, podem ser utilizados resultados da aplicação de modelos (Q)SAR em substituição de ensaios, se forem integralmente satisfeitas as seguintes condições:

Os resultados provierem da aplicação de um modelo (Q)SAR validado cientificamente.

A substância se enquadrar no domínio de aplicabilidade do modelo (Q)SAR.

Os resultados se adequarem aos fins de classificação e rotulagem e/ou de avaliação dos riscos.

Se for fornecida documentação adequada e fiável sobre o método aplicado.

Se alguma destas condições não for satisfeita, os resultados dos modelos (Q)SAR não poderão ser utilizados em substituição do ensaio mas poderão ser utilizados como parte da abordagem de suficiência de prova.

Os documentos de orientação do REACH apresentam um guia sobre modelos (Q)SAR no Guia de orientação sobre requisitos de informação e avaliação da segurança química, capítulo R.6: modelos Q(SAR) e agrupamento de substâncias químicas (http://guidance.echa.europa.eu/docs/guidance_document/information_requirements_r6_en.pdf?vers=20_08_08) e o sítio Web da OCDE (www.oecd.org/env/existingchemicals/qsar) fornece informações sobre como determinar a validade dos modelos. Os modelos (Q)SAR devem ser documentados no formato do modelo do relatório (Q)SAR (QMRF) e as previsões dos modelos individuais devem ser documentadas no formato de estimativa do relatório (Q)SAR (QPRF). A avaliação da validade e da fiabilidade da estimativa dos modelos (Q)SAR deve ser complementada com uma avaliação da relevância da previsão para fins de regulamentação, o que inclui uma avaliação da integralidade. São fornecidas orientações abrangentes sobre modelos (Q)SAR e sistemas especializados na secção R.6.1, com especial incidência nos seguintes aspectos:

como estabelecer a validade de um modelo (Q)SAR,

como estabelecer a adequação do resultado de um modelo (Q)SAR para fins de regulamentação,

como documentar e justificar a utilização regulamentada de um modelo (Q)SAR, e

onde encontrar informações sobre modelos (Q)SAR.

Dados obtidos através de métodos comparativos por interpolação e abordagens de agrupamento

Os métodos comparativos por interpolação e as abordagens de agrupamento podem ser utilizados para satisfazer os requisitos de informação no âmbito do Regulamento REACH. Os registantes que utilizarem estes métodos devem apresentar uma justificação científica e demonstrar que a abordagem utilizada é adequada para fins de regulamentação (classificação e rotulagem e/ou avaliação do risco). A adequação da abordagem deve ser avaliada para substâncias individuais de interesse. São fornecidas orientações abrangentes sobre abordagens de agrupamento na secção R.6.2, com especial incidência nos seguintes aspectos:

o conceito de categoria, a sua base mecânica e a relação entre categorias e modelos QSAR,

as principais abordagens para preencher lacunas de dados, tais como métodos comparativos por interpolação, análise de tendências e modelos QSAR,

os procedimentos faseados para comparação por interpolação de análogos e categorias químicas,

questões específicas a considerar para tipos específicos de categorias, e

aspectos práticos da concepção e documentação de abordagens por categoria.

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B.4.3.3 Dados humanos

Podem ser apresentados e utilizados para diferentes finalidades quatro tipos essenciais de dados humanos:

1. Estudos epidemiológicos analíticos sobre populações expostas (caso-controlo, estudos de coorte e transversais), que são úteis para identificar uma relação entre a exposição humana e os efeitos e podem fornecer os melhores dados para avaliação dos riscos.

2. Estudos epidemiológicos descritivos ou sobre a correlação dos dados, que são úteis para identificar áreas para posterior investigação, mas pouco úteis para a avaliação dos riscos, dado que muitas vezes apenas podem identificar padrões ou tendências mas não podem verificar o agente causal ou o nível de exposição humana.

3. Relatórios de casos, que podem demonstrar efeitos que não podem ser observados em animais utilizados em ensaios. É necessária uma avaliação aprofundada da fiabilidade e relevância dos relatórios de caso, uma vez que estes muitas vezes não contêm informações críticas sobre, por exemplo, a pureza da substância, a exposição humana e os efeitos.

4. Estudos controlados sobre voluntários humanos, que são admissíveis em casos muito raros. Os ensaios com voluntários humanos são fortemente desencorajados, mas se já existirem dados de boa qualidade disponíveis, devem ser utilizados conforme adequado em casos devidamente justificados.

B.4.4 Avaliação e integração de todas as informações disponíveis, incluindo a suficiência de prova

A abordagem de suficiência de prova (WoE) não constitui uma expressão cientificamente bem definida nem um conceito formalizado acordado. Envolve a avaliação da relevância, fiabilidade e adequação de cada elemento de informação disponível, a confrontação dos vários elementos de informação e a obtenção de uma conclusão sobre o perigo. Este processo envolve sempre a apreciação por peritos. É importante documentar e comunicar como a abordagem de suficiência de prova foi utilizada de uma forma fiável, consistente e transparente.

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B.5 FACTORES ESPECIAIS QUE AFECTAM OS REQUISITOS DE INFORMAÇÃO E AS ESTRATÉGIAS DE ENSAIO

B.5.1 Adaptações nos termos do anexo XI

Tal como observado na Secção B.2.2, as adaptações das informações-padrão exigidas no âmbito do Regulamento REACH são possíveis em determinadas condições; além das considerações específicas sobre os parâmetros indicadas na coluna 2 dos anexos VII a X, o anexo XI define três áreas para adaptação:

1. Ensaios aparentemente desnecessários do ponto de vista científico

A utilização de dados já existentes, abordagens de suficiência de prova, métodos sem a realização de ensaios e métodos in vitro pode fornecer informações que podem ser consideradas válidas, fiáveis, pertinentes e adequadas para o objectivo proposto (classificação e rotulagem, avaliação das propriedades PBT e/ou caracterização do risco). São apresentadas orientações mais pormenorizadas na secção R.5.2.1.

2. Ensaios tecnicamente impossíveis de realizar

O anexo XI, ponto 2, do Regulamento REACH determina que os ensaios de um parâmetro específico podem ser dispensados se for tecnicamente impossível realizar o estudo devido às propriedades da substância:

- Os ensaios podem ser dispensados com base nas propriedades físico-químicas de uma substância, tais como fraca solubilidade em água, pressão de vapor, reactividade, etc., evitando assim a aplicação de determinados métodos de ensaio.

- A administração de doses exactas e consistentes de uma substância pode não ser possível devido às suas propriedades físico-químicas, por exemplo, ensaios de compostos não solúveis em água quanto à toxicidade nos peixes e em culturas de células submersas.

São apresentadas orientações mais pormenorizadas sobre estes aspectos na secção R.5.2.2.

3. Ensaios de exposição adaptados à substância ou dispensa desses ensaios

Em determinadas situações, o padrão de exposição da substância a registar pode justificar a adaptação da estratégia de ensaio, podendo dar origem à dispensa, determinação, substituição ou alteração dos estudos obrigatórios para o cumprimento do Regulamento REACH. São apresentadas mais informações e orientações sobre dispensas com base no nível de exposição e determinação das necessidades de informação nos anexos VIII (pontos 8.6 e 8.7), IX, X e XI do Regulamento REACH e nos capítulos R.5.1 e R.7 do presente documento de orientação.

Qualquer adaptação deve ser devidamente justificada e documentada com base numa abordagem de suficiência de prova qualitativa ou semi-quantitativa (tendo em conta as opções da coluna 2) ou numa avaliação quantitativa da exposição em conformidade com o anexo I, incluindo a definição de cenários de exposição (tendo em conta as opções do anexo XI).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.5.2 Outros factores que influenciam as necessidades de informação

Toxicocinética

As informações sobre a toxicocinética de uma substância podem identificar o tipo e o formato de estudo ideal, incluindo as definições de dose, ou até tornar desnecessários mais ensaios. Estão disponíveis mais informações sobre a toxicocinética na secção R.7.12.

Substâncias que exigem considerações especiais durante os ensaios

As informações e os métodos adequados utilizados para as substâncias designadas como substâncias não padronizadas, substâncias complexas, substâncias de composição variável ou desconhecida, produtos de reacção complexos ou materiais biológicos (substâncias UVCB) devem ser avaliados caso a caso. São apresentadas orientações mais pormenorizadas sobre estas considerações na secção R.7.13.

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.6 ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS SOBRE PARÂMETROS

O capítulo R.7 contém orientações específicas pormenorizadas sobre a recolha, a avaliação e, quando necessário, a obtenção de informações sobre as propriedades físico-químicas e os diferentes parâmetros relativos à saúde humana e ao ambiente, a fim de ajudar os registantes a fornecerem informações adequadas e pertinentes para efeitos de registo no âmbito do Regulamento REACH.

Uma componente essencial destas secções específicas sobre parâmetros é a Estratégia de Ensaio Integrada (ITS) que fornece orientações sobre a forma de definir e obter informações pertinentes sobre as substâncias a fim de cumprir os requisitos do Regulamento REACH.

O presente documento apresenta os princípios básicos das orientações fornecidas para cada um dos parâmetros na secção R, que deve ser consultada para informações e aconselhamento mais aprofundados. Devem ser tidas em conta as considerações gerais a seguir apresentadas relativas às orientações específicas sobre parâmetros:

- Na avaliação do perigo, os parâmetros estão interligados:

as informações coligidas num parâmetro podem influenciar a avaliação do perigo/risco de outro parâmetro e ser utilizáveis em mais do que um parâmetro.

- Os métodos para obter informações suplementares devem ser fiáveis:

os novos ensaios devem ser realizados em conformidade com os métodos de ensaio especificados num regulamento da Comissão ou através de métodos reconhecidos pela Comissão ou pela Agência como adequados. Os novos ensaios de (eco)toxicidade devem respeitar as boas práticas de laboratório e outras normas equivalentes.

- Produtos de degradação e metabolitos devem ser tidos em consideração:

poderá ser necessária investigação complementar para produtos de degradação e metabolitos se tal for considerado relevante para a avaliação da segurança química, a avaliação das propriedades PBT ou a classificação e rotulagem.

- Deve ser seleccionada a via de exposição adequada para ensaios de toxicidade:

a escolha da via de exposição deve ter em conta todas as informações disponíveis, por exemplo, as propriedades físico-químicas da substância e a(s) via(s) de exposição humana relevante(s). A extrapolação via-a-via pode ser possível numa base casuística.

Deve ser desenvolvido um resumo circunstanciado de estudo na IUCLID 5 para cada parâmetro com informações disponíveis ou solicitadas. Se estiver disponível mais do que um estudo sobre o mesmo parâmetro (por exemplo, dados de mais do que um ensaio ou dados de ensaios e dados que não são de ensaios), o estudo principal deverá ser identificado. Em geral, o estudo-chave é o estudo que suscita a preocupação mais elevada, a menos que esse estudo seja considerado não válido ou inadequado. Nesse caso, deve ser igualmente desenvolvido um resumo circunstanciado de estudo para o estudo que demonstre uma preocupação mais elevada do que o estudo-chave, mesmo se não for utilizado para a avaliação do perigo.

B.6.1 Propriedades físico-químicas

O dossiê de registo de uma substância já inclui dados sobre a maioria das propriedades físico-químicas gerais numa gama de tonelagem baixa (a lista contém ligações para as secções relevantes no capítulo R.7):

Substâncias fabricadas/importadas em quantidade igual ou superior a 1 tonelada/ano

- Estado da substância a 20 °C e 101,3 kPa

- Ponto de fusão/ponto de congelação (secção R.7.1.2)

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- Ponto de ebulição (secção R.7.1.3)

- Densidade relativa (secção R.7.1.4)

- Pressão de vapor (secção R.7.1.5)

- Tensão superficial (secção R.7.1.6)

- Hidrossolubilidade (secção R.7.1.7)

- Coeficiente de partição n-octanol/água (secção R.7.1.8)

- Ponto de inflamação (secção R.7.1.9)

- Inflamabilidade (secção R.7.1.10)

- Propriedades explosivas (secção R.7.1.11)

- Temperatura de auto-ignição (secção R.7.1.12)

- Propriedades oxidantes (secção R.7.1.13)

- Granulometria (secção R.7.1.14)

Substâncias fabricadas/importadas em quantidade igual ou superior a 100 toneladas/ano

- Estabilidade em solventes orgânicos e identidade de produtos de degradação relevantes (apenas necessário se a estabilidade da substância for considerada crítica) (secção R.7.1.16)

- Constante de dissociação (secção R.7.1.17)

- Viscosidade (secção R.7.1.18)

No relatório de segurança química, serão avaliados os efeitos potenciais na saúde humana associados, no mínimo, a três propriedades físico-químicas: explosividade, inflamabilidade e poder oxidante. A avaliação dos efeitos potenciais decorrentes da capacidade das substâncias químicas de provocarem acidentes, em especial incêndios, explosões ou outras reacções químicas perigosas, abrange:

perigos resultantes da natureza físico-química dos agentes químicos,

factores de risco identificados na sua armazenagem, transporte e utilização, e

gravidade estimada de uma ocorrência.

O objectivo da avaliação dos perigos decorrentes das propriedades físico-químicas consiste na determinação da classificação e rotulagem de uma substância em conformidade com o Regulamento CRE. Se as informações não forem adequadas para uma decisão sobre a classificação de uma substância em relação a um determinado parâmetro, o registante deverá indicar e justificar a medida ou decisão que tiver adoptado em consequência.

Estão disponíveis mais informações sobre a avaliação específica de perigos físico-químicos no capítulo R.9.

B.6.1.1 Inflamabilidade

Do ponto de vista da segurança, é importante ter em consideração a inflamabilidade de uma substância. Devem ser adoptadas precauções especiais durante o manuseamento, a utilização e a armazenagem de substâncias inflamáveis a fim de evitar incêndios ou explosões. A inflamabilidade é geralmente considerada como a facilidade com que uma substância se pode queimar ou inflamar. Raramente uma substância é susceptível de se inflamar espontaneamente (pirofórica) ou em contacto com água.

Com base nas informações coligidas, é possível fazer uma distinção entre a classificação e rotulagem de substâncias inflamáveis e as suas fontes de ignição potenciais (por exemplo, em

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contacto com água, faíscas electrostáticas, soldadura/brasagem), as quais, em combinação, podem criar efeitos graves para a saúde humana.

A respectiva classe de perigo determinará os meios técnicos que devem ser providenciados para evitar ocorrências que, em combinação com outros parâmetros, como i) limites de explosividade, ii) pontos de inflamação (aplicável apenas para líquidos) ou iii) temperatura de auto-ignição, podem resultar em restrições claras às condições de utilização.

Gases: Um gás inflamável é um gás que tem uma gama de inflamabilidade ao ar a 20 ºC e à pressão normal de 101,3 kPa. O limite de explosão inferior (LEL) e o limite de explosão superior (UEL) devem ser determinados e documentados no relatório de segurança química ou deve ser emitida uma declaração que certifique que o gás não é inflamável. Os limites de explosão inferior e superior são normalmente expressos como % de gás no ar por volume.

Líquidos: O ponto de inflamação é uma das principais medidas da inflamabilidade de um líquido. Mede a temperatura mais baixa à qual a mistura de ar/vapor acima do líquido é susceptível de se inflamar. Esta medida fornece alguma indicação da facilidade com que se inicia a combustão dessa substância.

Sólidos: Um sólido inflamável é uma matéria sólida que entra facilmente em combustão. Um incêndio em pós metálicos é especialmente difícil de extinguir. É útil conhecer as propriedades explosivas antes de o ensaio ser realizado. A velocidade de combustão mais rápida deve ser registada, em conjunto com a pureza, o estado físico e o teor de humidade da substância em estudo.

B.6.1.2 Explosividade

Explosividade é definida como a tendência de uma substância para sofrer uma decomposição violenta e rápida, em condições adequadas, para produzir calor e/ou gás. A possibilidade de uma substância com propriedades explosivas causar ou não uma explosão depende de vários factores. Foram definidos ensaios-padrão com parâmetros fixos para ultrapassar estas variáveis.

Para a maioria das substâncias, a explosividade não constitui uma preocupação e os ensaios podem ser dispensados com base numa consideração da estrutura. Os gases não precisam de ser objecto de ensaio e os líquidos não precisam de ser ensaiados quanto à sensibilidade à fricção.

Os procedimentos de despistagem descritos na secção R.7.1.11 representam uma estratégia de ensaio para propriedades explosivas.

A Comissão Europeia publicou orientações de boas práticas destinadas a avaliar e prevenir a formação de atmosferas explosivas no local de trabalho, a evitar a ignição de atmosferas

explosivas e a controlar os efeitos de explosão2. Outras obrigações para avaliação e utilização em segurança de substâncias explosivas são especificadas na Directiva 96/82/CE do Conselho de 9 de Dezembro de 1996 relativa ao controlo dos perigos associados a acidentes graves que envolvem substâncias perigosas (ver secção R.9.1).

B.6.1.3 Propriedades oxidantes

As substâncias com propriedades oxidantes podem dar origem a uma reacção altamente exotérmica em contacto com outras substâncias, em especial com substâncias inflamáveis (ver 2 Comunicação da Comissão relativa ao guia de boa prática de carácter não obrigatório para a aplicação da Directiva 1992/92/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa às prescrições mínimas destinadas a promover a melhoria da protecção da segurança e da saúde dos trabalhadores susceptíveis de serem expostos a riscos derivados de atmosferas explosivas, disponível em http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2003:0515:FIN:PT:PDF. Estão disponíveis mais informações em http://ec.europa.eu/employment_social/emplweb/publications/publication_en.cfm?id=56

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supra e a secção R.7.1.10). Podem provocar irritação na pele, olhos e vias respiratórias uma vez que podem reagir com os tecidos humanos em condições de temperaturas elevadas, destruindo assim o material biológico.

Para a maioria das substâncias, as propriedades oxidantes não constituem uma preocupação e os ensaios podem ser dispensados com base numa consideração da estrutura. No que respeita aos sólidos, não devem ser realizados ensaios em substâncias explosivas ou altamente inflamáveis. Os peróxidos orgânicos formam uma classe separada de substâncias que são sempre oxidantes.

São apresentadas orientações sobre a recolha e avaliação das informações disponíveis na secção R.7.1.13. Os procedimentos de despistagem descritos representam uma estratégia de ensaio integrada para propriedades oxidantes. Se forem aplicados de forma correcta, apenas serão objecto de ensaio as substâncias suspeitas de terem um resultado positivo num dos ensaios relativos às propriedades oxidantes.

Nem todas as substâncias que têm propriedades oxidantes são realmente perigosas; algumas são apenas ligeiramente oxidantes e apresentam um perigo muito reduzido. Para distinguir as substâncias que são perigosas, as propriedades oxidantes de uma substância são comparadas com as propriedades de substâncias-padrão de referência.

B.6.1.4 Outras propriedades físico-químicas

Durante a avaliação da segurança química devem ser tidas em conta várias outras propriedades físico-químicas que são também importantes.

O ponto de ebulição é uma das propriedades mais úteis para a caracterização de compostos orgânicos. Além de indicar o estado físico (líquido ou gasoso) de uma substância à temperatura ambiente, o ponto de ebulição serve como um indicador de volatilidade mesmo para leigos, sendo que pontos de ebulição elevados indicam menor volatilidade. O ponto de ebulição é um factor essencial nas equações que fornecem estimativas da pressão do vapor de substâncias químicas em função da temperatura.

O valor do ponto de ebulição também é útil para a identificação de substâncias puras e, em conjunto com o ponto de fusão e o índice de refracção, como critérios de pureza. Os resultados obtidos para misturas ou amostras impuras devem ser cuidadosamente interpretados. O ponto de ebulição é um dos critérios utilizados para atribuir a uma substância a categoria de inflamabilidade adequada (ver supra).

A pressão de vapor é um parâmetro-chave para determinar o destino ambiental e o comportamento de uma substância e a subsequente exposição de trabalhadores, consumidores e ambiente. A pressão do vapor de uma substância química permite um conhecimento significativo do transporte e partição de uma substância química no ambiente e em instalações comerciais. A volatilidade de uma substância química pura depende da pressão de vapor, e a volatilização da água depende da pressão de vapor e da hidrossolubilidade. A forma em que uma substância química será encontrada na atmosfera dependerá da pressão de vapor. A condição das águas de superfície e a velocidade do vento terão um efeito significativo em qualquer evaporação de substâncias químicas.

Os dados da pressão de vapor são obrigatórios como pré-requisito para estudos ambientais e em animais. Esses dados informam se uma substância pode ser utilizada para estudos de inalação como um vapor e se são necessárias condições de oclusão para estudos cutâneos (para limitar a evaporação da pele).

A hidrossolubilidade é um parâmetro significativo, especialmente para avaliações ambientais, uma vez que a mobilidade de uma substância sujeita a ensaio é determinada em grande medida pela sua hidrossolubilidade. A hidrossolubilidade pode afectar igualmente a adsorção e dessorção dos solos e a volatilidade dos sistemas aquáticos. O conhecimento da hidrossolubilidade é um pré-requisito para a definição das condições de ensaio, por exemplo, toxicidade em meio aquático ou bioacumulação.

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A determinação da hidrossolubilidade não é obrigatória se a substância for hidroliticamente instável a pH 4, 7 ou 9 (semi-vida inferior a 12 horas), facilmente oxidável na água ou inflamável em contacto com a água. A hidrossolubilidade, a estabilidade hidrolítica e a constante de dissociação ácida estão interligadas e não é possível medir qualquer uma destas propriedades sem ter algum conhecimento das outras duas.

O coeficiente de partição n-octanol/água (Koa) é um dos parâmetros-chave físico-químicos e é utilizado em vários modelos de cálculo e algoritmos para partição ambiental, absorção, biodisponibilidade, bioconcentração, bioacumulação e também toxicidade e ecotoxicidade humanas. Dado que o Koa é um parâmetro crítico para a avaliação da segurança química (CSA), classificação e rotulagem (C&R) e avaliação das propriedades PBT, deve ser determinado com a maior exactidão possível. O Koa não precisa de ser determinado se a substância for puramente inorgânica.

O coeficiente de partição n-octanol/água (Koa) é definido como a razão das concentrações no ponto de equilíbrio de uma substância dissolvida num sistema bifásico que consiste em dois solventes praticamente não miscíveis, o n-octanol e a água (secção R.7.1.8). O Koa é moderadamente dependente da temperatura e medido normalmente a 25 °C. Pode ser determinado quer por um método de cálculo adequado baseado na estrutura molecular quer por um ensaio laboratorial. É possível encontrar na bibliografia e nas bases de dados em linha sobre substâncias químicas, valores de Koa previstos e medidos para uma grande variedade de substâncias orgânicas. Os valores de Koa determinados em ensaios de elevada qualidade ou revistos por peritos e classificados como «valores recomendados» são preferenciais em relação a valores de Koa determinados de outras formas.

B.6.2 Parâmetros relativos à saúde humana

Existem determinados princípios genéricos, relevantes para os requisitos de informação e a avaliação do perigo, que devem ser tidos em conta para muitos parâmetros relativos aos efeitos:

Se as estratégias de informação específicas sobre parâmetros forem seguidas, as informações devem ser suficientes para adoptar uma decisão de classificação de perigo e fornecer os dados necessários para a avaliação do perigo e derivação do DNEL.

De acordo com o anexo VI do Regulamento REACH, o registante deve reunir todos os dados de ensaio disponíveis sobre a substância a registar, bem como todas as outras informações disponíveis e pertinentes sobre a substância, independentemente de ser obrigatório ou não um ensaio para determinado parâmetro na gama de tonelagem específica.

Quando existir uma lacuna de informação que deva ser preenchida, há que obter novos dados (anexos VII e VIII do REACH) ou propor uma estratégia de ensaio (anexos IX e X do REACH), em função da tonelagem. Só em último recurso, quando estiverem esgotadas todas as outras fontes de dados, podem ser efectuados ou propostos novos ensaios em vertebrados.

As informações toxicológicas podem ser obtidas através de bases de dados e publicações como livros, revistas científicas, documentação relativa a critérios, monografias e outras publicações. Também podem ser relevantes os dados publicados sobre análogos estruturais e propriedades físico-químicas.

Em princípio, são possíveis três tipos de adaptações de ensaios tendo em conta a exposição: dispensa de um estudo com base no nível de exposição, determinação de novos estudos com base no nível de exposição ou selecção da via de exposição adequada. Estas adaptações não são relevantes para todos os parâmetros (ver capítulo R.5)

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Na abordagem por categoria, nem todas as substâncias necessitam de ser sujeitas a ensaio para cada parâmetro. No entanto, as informações finais compiladas para a categoria devem demonstrar ser adequadas para apoiar a avaliação do perigo, a avaliação do risco e a classificação para a categoria e os seus elementos. O conjunto final de dados deve permitir a avaliação dos parâmetros não sujeitos a ensaio, preferencialmente por interpolação entre estes e os elementos da categoria.

A adesão às orientações relativas aos ensaios e às boas práticas de laboratório assegura a fiabilidade dos dados (ref. à avaliação de dados no capítulo R.4).

O aumento do efeito relacionado com a dose é um dos critérios para a avaliação dos resultados positivos do ensaio. Em alguns casos, efeitos como a saturação da bioactivação podem originar uma resposta constante a níveis de exposição mais elevados.

A derivação de DNEL é obrigatória para a avaliação de segurança química (CSA) das substâncias fabricadas/importadas/utilizadas em quantidades superiores a 10 toneladas/ano mas não para substâncias compreendidas entre 1 e 10 toneladas/ano.

Se estiverem disponíveis dados para várias espécies, devem ser escolhidas as espécies mais sensíveis para efeitos da avaliação da segurança química, desde que sejam as mais relevantes para os seres humanos.

Nos capítulos seguintes é apresentada uma síntese das orientações para a avaliação do perigo e dos requisitos de informação específicos dos parâmetros.

B.6.2.1 Orientações sobre toxicocinética

Embora o Regulamento REACH não exija especificamente a obtenção de informações toxicocinéticas, exige que todas as informações disponíveis e pertinentes sejam utilizadas para avaliar o comportamento toxicocinético de uma substância e que a avaliação do perigo para a saúde humana considere o perfil toxicocinético da substância. O perfil toxicocinético de uma substância descreve a sua absorção, a sua distribuição, o seu metabolismo e a sua excreção.

O conhecimento do comportamento toxicocinético de uma substância, determinado a partir dos dados disponíveis, poderá fazer evitar novos ensaios em termos de previsibilidade de outras propriedades. Os estudos toxicocinéticos podem fornecer informações úteis e importantes, por exemplo, sobre a biodisponibilidade de uma substância, a (não)-linearidade e saturação das vias de absorção, metabólicas ou de excreção, a acumulação de compostos parentais ou metabolitos nos tecidos, a potencial bioactivação de uma substância e o seu modo de acção toxicológica. É importante ter em conta estes e outros factores semelhantes durante a interpretação dos dados, na definição de categorias, na extrapolação entre espécies e entre vias de exposição e na optimização do modelo de ensaio, por exemplo, aquando da escolha das doses adequadas para estudos in vivo. A modelagem toxicocinética (empírica e fisiologicamente baseada) poderá calcular a toxicocinética de uma substância de uma forma mais rápida e menos onerosa do que os estudos clássicos in vitro e in vivo e reduzir ainda a utilização de animais de experiência. A secção R.7.12 apresenta orientações mais abrangentes sobre os dados toxicocinéticos e a sua aplicação.

Os apêndices da secção R.7.12 enumeram exemplos e informações pertinentes para a toxicocinética, incluindo vários parâmetros fisiológicos úteis para espécies comuns de laboratório e seres humanos (apêndice R.7.12-1), a utilização futura de métodos in silico (informática) e/ou in vitro (apêndice R.7.12-2), um exemplo de desenvolvimento de um factor de avaliação através de modelagem toxicocinética fisiologicamente baseada (PBK modelling) (apêndice R.7.12-3), cálculos da percentagem de absorção cutânea com base em estudos in vivo em roedores, em combinação com dados in vitro, e uma proposta para uma abordagem por etapas para a avaliação do risco (apêndice R.7.12-4).

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B.6.2.2 Irritação e corrosão

A irritação e a corrosão referem-se aos efeitos locais sobre a pele, os olhos ou o sistema respiratório. A corrosão provoca lesões irreversíveis nos tecidos enquanto as irritações cutânea, ocular ou das vias respiratórias são consideradas reversíveis e normalmente menos graves.

Os requisitos de informação relativos à irritação/corrosão já estão definidos para a gama de tonelagem mais baixa (1 a 10 toneladas/ano). Devem ser avaliados em primeiro lugar todos os dados disponíveis sobre seres humanos e animais, a classificação actual, o pH da substância e os estudos de toxicidade aguda por via cutânea existentes. As substâncias fortemente ácidas ou alcalinas, bem como os oxidantes fortes, são reconhecidamente irritantes ou corrosivos, dependendo da concentração. Quando os dados disponíveis para uma substância na gama de tonelagem compreendida entre 1 e 10 toneladas/ano não permitirem uma conclusão sobre a irritação ou corrosão, devem ser realizados ensaios in vitro. Na gama de tonelagem seguinte (10 a 100 toneladas/ano), os estudos in vivo de irritação ocular e cutânea constituem as informações-padrão exigidas. No entanto, antes de ser proposto um ensaio in vivo, devem ser consideradas regras específicas de adaptação, estabelecidas no anexo VIII, coluna 2, e regras gerais de adaptação, estabelecidas no anexo XI. Actualmente, não existem ensaios validados para a irritação das vias respiratórias. As substâncias que são corrosivas para a pele não devem ser objecto de um ensaio ocular in vivo. Para obter informações pormenorizadas sobre estratégias e requisitos, ver a secção R.7.2.6.

Em alguns casos, os dados pertinentes são provenientes de estudos de caso ocupacionais e de relatórios. As orientações gerais sobre a avaliação da qualidade dos dados devem ser aplicadas na avaliação dos dados humanos (ver capítulo R.4). No que respeita à irritação ocular e cutânea, os resultados dos ensaios in vivo são relevantes dado que os mecanismos destes efeitos locais são considerados os mesmos em animais e nos seres humanos. Foram constatadas algumas diferenças entre as espécies no mecanismo de irritação das vias respiratórias. Uma substância química cuja corrosividade para a pele seja conhecida ou previsível será automaticamente considerada como gravemente irritante para os olhos. Os dados obtidos através de modelos QSAR ou métodos comparativos por interpolação/abordagem por categorias podem ser utilizados de acordo com os princípios estabelecidos no anexo XI.

Os dados humanos disponíveis sobre irritação dérmica e das vias respiratórias têm servido de base para a definição dos limites de exposição profissional em vários casos. Nos casos em que uma substância satisfaz os critérios relevantes de classificação, normalmente não são necessários novos ensaios. A secção R.7.2. contém orientações pormenorizadas sobre avaliação e estratégias de ensaio integradas.

As informações sobre a concentração exacta que provoca a irritação ou corrosão nem sempre estão disponíveis. Se essas informações não existirem, deve ser adoptada uma abordagem qualitativa, em que a resposta positiva/negativa é obtida através dos ensaios e as medidas de gestão de riscos serão determinadas pela gravidade do efeito (consultar Parte E). No caso das substâncias corrosivas, devem ser adoptadas medidas rigorosas para impedir qualquer contacto. Ocasionalmente, se os sinais clínicos de irritação ou corrosão tiverem sido registados num estudo dérmico ou de inalação por dose repetida, poderá ser obtido e utilizado um DNEL para a caracterização do risco (ver capítulo R.8, apêndice 9).

B.6.2.3 Sensibilização cutânea e respiratória

A sensibilização cutânea é causada por agentes que podem activar o sistema imunitário, o que provoca uma resposta alérgica. As exposições subsequentes da pele podem provocar dermatite alérgica de contacto ou dermatite atópica. Após exposição por inalação, os efeitos adversos para a saúde incluem asma ou alveolite alérgica extrínseca. A hipersensibilidade das vias respiratórias pode ser causada por mecanismos imunológicos ou não imunológicos.

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Os requisitos de informação relativos à sensibilização cutânea (normalmente um ensaio dos gânglios linfáticos locais (LLNA)) são estabelecidos na gama de tonelagem de 1 a 10 toneladas/ano. Os ensaios in vivo com substâncias corrosivas numa concentração ou dose que provoque corrosividade devem ser evitados. Os dados disponíveis, se forem suficientes para classificação e determinação do pH da substância, devem ser avaliados antes do ensaio in vivo. No que respeita à sensibilização respiratória, não são exigidas informações-padrão. Em alguns casos, os dados humanos disponíveis poderão ser suficientes para a avaliação do perigo.

Na avaliação dos resultados do ensaio dos gânglios linfáticos locais, devem ser consideradas as provas de toxicidade local e de inflamação cutânea, bem como as informações disponíveis sobre irritação cutânea. O ensaio dos gânglios linfáticos locais tem mostrado correlacionar-se relativamente bem com os dados humanos relativos à sensibilização cutânea e poderá, por conseguinte, ser utilizado para a avaliação do perigo.

Os dados humanos, por exemplo, estudos clínicos de diagnóstico, vigilância médica de trabalhadores e relatórios de caso (na literatura médica), poderão ser utilizados para a avaliação do potencial de sensibilização das substâncias. Se forem fiáveis e relevantes, os dados humanos são normalmente preferíveis aos dados obtidos com animais. No entanto, a inexistência de resultados positivos obtidos em humanos não deve necessariamente sobrepor-se aos dados positivos e de boa qualidade obtidos com animais.

A análise com modelos (Q)SAR poderá ser útil, uma vez que pode basear-se no facto de o potencial de sensibilização cutânea de uma substância química estar relacionado com a sua capacidade de reagir com as proteínas cutâneas para a formação de conjugados covalentemente ligados e o reconhecimento destes pelo sistema imunitário. Na maioria dos casos, esta situação deve-se a uma reactividade electrofílica da substância. Os modelos QSAR para sensibilização respiratória ainda não estão disponíveis.

Não existem ensaios in vitro para a sensibilização cutânea ou respiratória oficialmente adoptados. A secção R.7.3 contém orientações pormenorizadas sobre avaliação e estratégias de ensaio integradas.

No que respeita aos sensibilizantes respiratórios, a primeira abordagem deve ser a caracterização qualitativa dos riscos com base na categorização potencial (sensibilizantes fortes/extremos e moderados) e na definição das medidas de gestão dos riscos (MGR), tal como descrito na Parte E. O DNEL deve ser estabelecido (se possível) para avaliar a probabilidade restante/residual dos riscos após a aplicação das medidas de gestão de riscos. A derivação de um DNEL pode basear-se nos dados obtidos através do estudo dos ensaios dos gânglios linfáticos locais e/ou pela suficiência de prova que utilize os dados de ensaios dos gânglios linfáticos locais e os dados humanos históricos.

B.6.2.4 Toxicidade aguda

A toxicidade aguda refere-se aos efeitos adversos que resultam de uma exposição única ou de curta duração. Os mecanismos e sintomas relevantes variam. São, muitas vezes, observadas alterações patológicas nos órgãos e tecidos, as quais podem provocar a morte. Vários efeitos sistémicos podem provocar toxicidade aguda, sendo a citotoxicidade basal e selectiva exemplos dos mecanismos subjacentes. As substâncias corrosivas podem provocar toxicidade aguda; uma vez que a corrosividade é um efeito local, é tratada no capítulo sobre irritação/corrosão.

Os requisitos de informação relativos à toxicidade aguda por via oral são estabelecidos na gama de tonelagem de 1 a 10 toneladas/ano. As substâncias corrosivas e as substâncias já sujeitas a ensaio de inalação não precisam de ser ensaiadas. Na gama de tonelagem seguinte (10 a 100 toneladas/ano), as informações-padrão exigidas abrangem igualmente os ensaios cutâneos e de inalação. O requisito é adaptado em função das propriedades físicas da substância e da provável via de exposição humana.

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Os dados humanos sobre toxicidade aguda podem estar disponíveis, por exemplo, em centros de informação antivenenos e em relatórios de casos clínicos. Os casos humanos reflectem exposições excepcionais e devem ser cuidadosamente avaliados aquando da selecção de medidas de gestão dos riscos. Em comparação com outros parâmetros, existem relativamente poucos modelos (Q)SAR capazes de prever a toxicidade aguda. Os dados relevantes existentes sobre toxicidade aguda em animais podem ser obtidos através de literatura científica e de bases de dados.

Embora não existam actualmente ensaios in vitro que tenham sido oficialmente adoptados, existem ensaios de citotoxicidade presentemente em fase de validação que poderão eventualmente substituir os ensaios de toxicidade sistémica aguda por via oral.

No final da avaliação da toxicidade aguda, a natureza e reversibilidade dos efeitos tóxicos devem ser consideradas. Se não forem observados sinais de toxicidade aguda no ensaio-limite (normalmente uma dose de 2 000 mg/kg), não será normalmente exigida a classificação da substância quanto à toxicidade aguda. Para informações pormenorizadas, ver a secção R.7.4.

Os dados relativos aos valores LD50 (dose letal média) e LC50 (concentração letal média) poderão proporcionar uma base suficiente para a obtenção de um DNEL. Em alguns casos, contudo, a abordagem qualitativa é mais adequada, uma vez que os ensaios não fornecem informações sobre todos os aspectos da toxicidade aguda nos seres humanos. Acima de 10 toneladas/ano, é desnecessária, na maioria dos casos, a derivação do DNEL a partir de um estudo de toxicidade aguda, dado que o DNEL derivado a partir de um estudo de toxicidade por dose repetida é normalmente suficiente para assegurar que não ocorrem efeitos adversos.

Quando for realizado um ensaio-limite e não forem observados efeitos adversos para a saúde, a dose-limite poderá ser considerada como o descritor de dose na definição do DNEL.

Em casos raros, quando não é possível definir a dose tóxica aguda devido às limitações dos protocolos de ensaio, deve ser executada uma caracterização qualitativa dos riscos de toxicidade aguda para as substâncias que revelem uma toxicidade aguda/toxicidade após exposição única muito elevada (ou seja, com a classificação Acute Tox 1 e 2 ou STOT SE 1 em conformidade com o Regulamento CRE). Deverão ser aplicadas medidas de gestão dos riscos muito rigorosas a estas substâncias (por exemplo, sistemas fechados), de modo a assegurar o controlo dos riscos (ver Parte E). Basicamente, as medidas de gestão dos riscos devem assegurar que as concentrações máximas que excedam o DNEL de longo prazo não ocorrerão. Deve notar-se que, normalmente, os resultados dos ensaios padrão de toxicidade aguda permitem uma caracterização quantitativa dos riscos.

Sempre que existir um potencial para exposições máximas elevadas (por exemplo, na recolha de amostras ou na ligação/separação de recipientes) e se tiver sido identificado um perigo de toxicidade aguda (conducente à C&R), deve ser definido um DNEL para exposições máximas (inferiores a 15 minutos) (ver secção R.8, apêndice 8).

B.6.2.5 Toxicidade por dose repetida

A toxicidade por dose repetida refere-se aos efeitos tóxicos gerais que ocorrem após dosagem diária com uma substância durante 28 ou 90 dias, ou a maior parte da duração de vida, em caso de exposição crónica. Os efeitos examinados nestes estudos poderão incluir alterações na morfologia, fisiologia, crescimento ou duração de vida, química clínica ou comportamento.

Na gama de tonelagem de 10 a 100 toneladas/ano, são definidas as informações-padrão exigidas para um estudo de 28 dias e na gama de tonelagem seguinte é necessário efectuar um estudo de 90 dias. A via de exposição mais adequada no ensaio é a via provável de exposição humana.

Antes da realização de ensaios in vivo, por exemplo, das propriedades físico-químicas da substância, devem ser considerados os dados existentes de ensaios em animais, os dados toxicocinéticos, a toxicidade específica (por exemplo, imunotoxicidade, neurotoxicidade), a

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corrosividade, a exposição humana e as relações estrutura-actividade (SAR). Para informações pormenorizadas sobre estratégias de ensaio integradas, ver a secção R.7.5.6 e o anexo VIII.

De acordo com as orientações relativas aos ensaios, a dose mais elevada de três doses deve ser escolhida com o objectivo de induzir efeitos tóxicos, evitando contudo a morte. Deve seleccionar-se uma sequência descendente de níveis de dose que permita detectar qualquer resposta relacionada com a dosagem e determinar o nível sem efeito adverso observável (NOAEL) associado à administração da dose mínima.

É de salientar que também os estudos de toxicidade reprodutiva e para o desenvolvimento poderão fornecer informações sobre os efeitos toxicológicos gerais decorrentes de exposições repetidas.

Os dados relativos aos estudos de toxicidade de dose repetida devem permitir a relação dose-resposta e a determinação do limiar do efeito e, além disso, podem servir de base para a avaliação da segurança química e a classificação de substâncias. Se forem fiáveis e relevantes, os dados epidemiológicos positivos disponíveis serão preferíveis aos dados obtidos com animais. Actualmente, não estão aprovados métodos alternativos in vitro disponíveis para substituir os ensaios em animais na detecção de toxicidade após exposição repetida. As abordagens de modelos QSAR não estão ainda adequadamente validadas para a toxicidade por dose repetida e não podem ser feitas recomendações sólidas relativamente à sua utilização numa estratégia de ensaio neste domínio. Para informações mais pormenorizadas, ver a secção R.7.5.

Normalmente, é possível obter um nível sem efeitos adversos observáveis (NOAEL) ou um nível mínimo com efeitos adversos observáveis (LOAEL) através de estudos de toxicidade por dose repetida. Por último, os factores de avaliação dentro da mesma espécie e entre espécies são aplicados normalmente (ver secção B.7.1). No caso de não serem observados efeitos adversos num ensaio-limite (até 1 000 mg/kg de massa corporal), a substância não necessita normalmente de ser avaliada quanto à toxicidade por dose repetida.

B.6.2.6 Toxicidade reprodutiva e para o desenvolvimento

A toxicidade reprodutiva refere-se a efeitos como fertilidade reduzida, efeitos nos gónadas e perturbação da espermatogénese, e abrange igualmente os efeitos tóxicos no desenvolvimento. Os efeitos no desenvolvimento referem-se, por exemplo, ao crescimento e ao retardamento do desenvolvimento, malformações e défices funcionais no desenvolvimento dos descendentes.

Os requisitos de informação são definidos, em primeiro lugar, para a gama de tonelagem de 10 a 100 toneladas/ano, sendo obrigatórios ensaios de despistagem para a toxicidade reprodutiva/para o desenvolvimento. Na gama de tonelagem de 100 a 1 000 toneladas/ano, deve ser realizado um estudo de efeitos tóxicos no desenvolvimento pré-natal. São obrigatórios estudos de efeitos tóxicos na reprodução em duas gerações, se o estudo de 28 ou 90 dias indicar efeitos adversos nos órgãos reprodutivos ou tecidos.

O estudo de efeitos tóxicos na reprodução em duas gerações corresponde às informações-padrão exigidas para a gama de tonelagem superior a 1 000 toneladas/ano. Em qualquer gama de tonelagem, não são necessários ensaios de carcinogenicidade e de mutagenicidade em células germinativas para análise de agentes carcinogéneos ou mutagéneos cujos riscos sejam controlados. Os factores que podem influenciar os requisitos de ensaio são as relações quantitativas estrutura-actividade (QSAR), as propriedades mutagénicas e cancerígenas, os dados disponíveis sobre humanos expostos à substância e as preocupações com desreguladores endócrinos.

Os estudos epidemiológicos, conduzidos em coortes de população geral ou coortes ocupacionais, podem fornecer informações sobre a toxicidade reprodutiva. Embora não sejam directamente dirigidos para a investigação da toxicidade reprodutiva, os estudos de toxicidade por dose repetida podem revelar efeitos nos órgãos reprodutivos dos animais submetidos a ensaio. O objectivo da avaliação consiste em distinguir entre um efeito específico sobre a reprodução e um efeito

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reprodutivo adverso, o qual é uma consequência não específica para a toxicidade geral, embora, em muitos casos, os dados não permitam que seja feita uma distinção definitiva.

A relação estrutura-actividade (SAR) oferece abordagens para avaliação da toxicidade reprodutiva, por exemplo, no caso em que o potencial de toxicidade possa ser extrapolado ou interpolado através de uma categoria ou série homóloga. Actualmente, não existem orientações oficiais adoptadas para ensaios in vitro relevantes para a toxicidade reprodutiva. Recentemente, três ensaios foram declarados cientificamente válidos pelo Centro Europeu de Validação de Métodos Alternativos e os resultados positivos desses ensaios podem ser úteis. Para mais informações, ver a secção R.7.6.

Sempre que os dados disponíveis o permitirem, deve ser derivado o valor do DNEL para os efeitos sobre a fertilidade (DNELfertilidade), bem como para a toxicidade para o desenvolvimento (DNELdevesenvolvimento). Regra geral, a toxicidade reprodutiva é considerada como tendo um mecanismo subjacente do limiar de dose e os dados de ensaio devem fornecer um NOAEL (nível sem efeitos adversos observáveis) ou um LOAEL (nível mínimo com efeitos adversos observáveis).

B.6.2.7 Mutagenicidade

Os riscos provocados por substâncias mutagénicas devem ser controlados para prevenir lesões/alterações genéticas. Estas alterações podem provocar cancro se ocorrerem em células somáticas ou causar alterações genéticas hereditárias se ocorrerem em células germinativas.

As informações-padrão exigidas relativas à mutagenicidade já estão previstas no nível de tonelagem mais baixo (estudo in vitro de mutação genética em bactérias). Na gama de tonelagem seguinte, de 10 a 100 toneladas/ano, são exigidas informações sobre indução de mutações genéticas e indução de aberrações cromossomáticas. Caso seja observado um efeito mutagénico nos estudos in vitro, é necessário obter informações através de um estudo in vivo apropriado de genotoxicidade em células somáticas. Poderão estar disponíveis dados baseados em (Q)SAR ou em grupos de dados. Os requisitos de informação dos anexos ao Regulamento REACH não exigem a obtenção destes tipos de dados, mas estes seriam úteis na análise de suficiência de prova. Em muitos casos, a exactidão dos dados QSAR será suficiente para ajudar ou permitir um ensaio ou uma decisão regulamentar específica, enquanto noutros casos a incerteza poderá ser inaceitável devido às graves consequências de um eventual erro. Os dados humanos estarão disponíveis apenas ocasionalmente.

Durante a avaliação dos dados de ensaio, devem ser consideradas a activação metabólica e as propriedades físico-químicas da substância de ensaio. Os dados toxicocinéticos são importantes para analisar se o composto de ensaio atinge efectivamente o órgão-alvo. Normalmente, os ensaios in vivo e os dados obtidos através de células de mamíferos são considerados de grande significado. A relevância do tipo de indicadores dos ensaios como os ensaios de ligação ao ADN ou os ensaios de intercâmbio de cromatídeos irmãos é considerada menor. As substâncias que são mutagénicas em células somáticas in vivo e podem atingir células germinativas são avaliadas quanto à possibilidade de causarem alterações genéticas hereditárias e, consequentemente, classificadas como mutagéneos de categoria 2. Para orientações pormenorizadas, ver a secção R.7.7.1.

Normalmente, não é possível obter um DNEL a partir dos dados disponíveis. Por conseguinte, deve ser adoptada uma abordagem qualitativa sempre que seja necessário adoptar medidas rigorosas para prevenir qualquer exposição humana a substâncias mutagénicas. A avaliação qualitativa e as respectivas categorias de gestão dos riscos são explicadas na Parte E.

B.6.2.8 Carcinogenicidade

As substâncias cancerígenas podem aumentar a incidência de tumores na população exposta. A carcinogenicidade pode envolver mutações e eventos não genéticos. Embora o mecanismo

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subjacente seja, em muitos casos, a ocorrência de alterações genéticas, existem outros mecanismos não genotóxicos, como a proliferação continuada de células e a comunicação intercelular alterada. A carcinogenicidade genotóxica difere de muitos outros tipos de toxicidade em que o efeito é retardado. Caso estejam envolvidos mecanismos genotóxicos, o efeito é considerado como não tendo um limiar de efeito.

As informações-padrão exigidas relativas à carcinogenicidade estão previstas apenas no nível de tonelagem mais elevado (acima de 1 000 toneladas/ano). No entanto, mesmo nesse nível, a realização de um ensaio de carcinogenicidade dependerá, por exemplo, do facto de a utilização ser dispersiva ou generalizada ou de a exposição ser frequente/prolongada, e de a substância ser classificada como mutagéneo de categoria 3 ou poder induzir hiperplasias e/ou lesões pré-neoplásicas em estudos de dose repetida.

Uma vez que os mutagéneos de categoria 1A e 1B são provavelmente cancerígenos e se pressupõe que o risco é gerido em conformidade, estas substâncias não precisam normalmente de ser submetidas a ensaio.

A estratégia de ensaio integrada para a mutagenicidade visa fornecer um «alerta rápido» para o risco cancerígeno. Existem provas significativas de uma correlação positiva entre a mutagenicidade de substâncias in vivo e a sua carcinogenicidade em estudos prolongados com animais. Além disso, a hiperplasia e as lesões pré-neoplásicas observadas em estudos de toxicidade por dose repetida poderão contribuir para a suficiência de prova do potencial cancerígeno.

Podem estar disponíveis ou ser obtidos dados determinados através de modelos QSAR ou métodos comparativos por interpolação/abordagem por categorias. Estes tipos de dados seriam úteis uma vez que os alertas estruturais de carcinogenicidade estão bem caracterizados e estão disponíveis fontes de informação de consulta pública (por exemplo, modelos QSAR já preparados, ver secção R.7.7.8) para determinados grupos de substâncias.

A abordagem de suficiência de prova é importante para a avaliação do potencial cancerígeno.

Sempre que estiverem disponíveis, os bioensaios de carcinogenicidade ou os dados humanos epidemiológicos fiáveis serão as informações mais relevantes da avaliação. Contudo, a maioria dessas informações não está disponível. É importante que o modo de acção subjacente (limiar ou não) seja incluído na avaliação uma vez que afecta a definição de DNEL e as medidas de gestão dos riscos.

Para fins de regulamentação, é geralmente aceite que uma substância com provas suficientes sobre genotoxicidade deve ser tratada como cancerígena. As substâncias com algumas, mas insuficientes, provas de carcinogenicidade devem ser avaliadas caso a caso. Os bioensaios e estudos de curta e média duração em roedores transgénicos devem ser considerados se estiverem disponíveis e poderão ser até propostos em substituição dos bioensaios convencionais em roedores. A avaliação da carcinogenicidade na gama de tonelagem inferior a 1 000 toneladas/ano é baseada, por exemplo, em dados de mutagenicidade, estudos de toxicidade por dose repetida e QSAR/categorias (ver secção R.7.7.8).

No caso de substâncias cancerígenas sem limiar e existindo dados adequados sobre cancro em animais, deve ser adoptado um nível derivado de exposição com efeitos mínimos (DMEL). Tal implica a utilização de um factor de avaliação em larga escala específico do parâmetro, ou seja, um factor de 10 000, para assegurar que a exposição causa um risco mínimo. O descritor de dose específico BMDL10 é dividido por esse factor de avaliação. Esta e outras abordagens «linearizadas» são descritas na secção R.8.5.2. Quando não for possível determinar um DMEL, deve ser adoptada uma abordagem qualitativa na avaliação; seria necessário o nível mais restrito de medidas de gestão dos riscos para evitar os riscos causados pelas substâncias cancerígenas (ver Parte E).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.6.3 Parâmetros ambientais

B.6.3.1 Toxicidade em meio aquático

A toxicidade em meio aquático refere-se à propriedade intrínseca de uma substância para prejudicar um organismo aquático após uma exposição de curta duração e/ou prolongada a esta substância na água.

A exposição a substâncias através da água é considerada geralmente a via predominante, mas os organismos aquáticos também podem ser expostos através dos alimentos (por exemplo, a substâncias lipofílicas). É feita distinção entre efeitos a curto prazo (denominados agudos) e efeitos a longo prazo (crónicos):

Toxicidade aguda: Toxicidade para organismos aquáticos expostos a substâncias durante um período de tempo compreendido entre algumas horas e alguns dias (relativamente curto em comparação com a duração do ciclo de vida dos organismos). Os efeitos são normalmente expressos como concentrações letais médias ou concentrações efectivas médias (CL50/CE50), que é a concentração de ensaio na qual 50 % dos organismos são afectados ou na qual é medido um efeito de 50 % para um parâmetro específico (por exemplo, efeitos sobre a taxa de crescimento nas algas).

Toxicidade crónica: Toxicidade para organismos aquáticos expostos a substâncias durante um período prolongado. A duração da exposição (ou do ensaio de exposição) pode variar significativamente em função das espécies utilizadas mas, em geral, é relativamente longa em comparação com a duração do ciclo de vida do organismo. Esses efeitos crónicos incluem normalmente uma variedade de parâmetros como a sobrevivência, o crescimento e a reprodução. A concentração de ensaio mais elevada na qual não foi observado qualquer efeito (Concentração

Sem Efeitos Observáveis ou NOEC3) é o parâmetro utilizado com maior frequência, que pode ser, muitas vezes, substituído por uma CE10 que pode ser calculada com base na relação concentração-efeito.

A secção R.7.8.4.1 contém informações adicionais relativas aos pormenores e à derivação desses valores.

As informações mínimas que devem estar disponíveis incluem dados de ensaios de toxicidade a curto prazo em invertebrados e dados sobre a inibição do crescimento em plantas aquáticas na gama de tonelagem mais baixa (1 a 10 toneladas/ano), bem como dados de ensaios de toxicidade a curto prazo em peixes na gama de tonelagem seguinte (10 a 100 toneladas/ano). Nas gamas de tonelagem mais elevadas, os dados relativos aos efeitos a longo prazo em invertebrados e peixes devem ser considerados em função dos resultados da avaliação de segurança química.

Embora a classificação seja baseada nas informações disponíveis, uma comparação completa com os critérios exigiria informações sobre a toxicidade aguda em meio aquático para os peixes, Daphnia e algas. A inexistência de efeitos a longo prazo em concentrações de 1 mg/L pode ser utilizada para desclassificar uma substância. Serão disponibilizadas informações adicionais no Guia de orientação sobre classificação e rotulagem.

A Parte C contém mais orientações sobre como realizar uma avaliação PBT.

Todos os dados disponíveis sobre toxicidade em meio aquático devem ser analisados na avaliação do perigo e, se adequado, aplicados para derivar uma PNEC (Concentração previsivelmente sem efeitos) para o compartimento aquático. O conjunto mínimo de dados exigido para os três níveis tróficos é composto por dados a curto ou a longo prazo. Dependendo do

3 A definição científica formal de NOEC (Concentração Sem Efeitos Observáveis) é a concentração de ensaio imediatamente inferior à concentração de ensaio mais baixa (LOEC) que não produz efeitos significativos do ponto de vista estatístico quando comparada com o controlo (OCDE 211, 1998b).

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Parte B: Avaliação do perigo

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resultado de uma eventual caracterização dos riscos, poderão ser úteis informações complementares.

A secção R.7.8.4.1 contém informações pormenorizadas sobre a interpretação dos dados existentes, incluindo orientações sobre a utilização de dados de ensaios e de dados obtidos sem recurso a ensaios, espécies recomendadas, parâmetros relevantes e fiabilidade dos dados. A secção R.7.8.4 contém igualmente informações sobre o tratamento de substâncias difíceis. O apêndice R.7.8-1 contém informações suplementares sobre as propriedades das substâncias, os sistemas de ensaio e outros factores que influenciam a avaliação dos ensaios em meio aquático.

A secção R.7.8.5 contém orientações sobre a avaliação da toxicidade da substância nos casos em que todas as informações disponíveis são adequadas para efeitos de decisões regulamentares e nos casos em que existem lacunas de dados a preencher.

A secção R.7.8.5.4 contém considerações específicas sobre como obter conclusões globais para os diferentes parâmetros regulamentares no que respeita à toxicidade em meio aquático, ou seja, classificação e rotulagem, avaliação PBT e avaliação de segurança química. A secção R.7.8.5.3 contém uma estratégia de ensaio integrada para avaliar a toxicidade em meio aquático.

B.6.3.2 Toxicidade dos sedimentos

Os sedimentos podem actuar como recipiente para produtos químicos através da absorção (ligação) de contaminantes a partículas e como fonte de produtos químicos para alimentadores de partículas através de ressuspensão ou de reposição na fase aquosa por dessorção. Devido a este processo, os sedimentos minimizam os efeitos da contaminação das águas superficiais, mas podem prolongar a exposição ao longo do tempo e, desse modo, constituir um perigo para as comunidades aquáticas (pelágicas e bênticas), que não é previsível directamente a partir das concentrações na coluna de água. Por conseguinte, as substâncias que possuem uma capacidade significativa de deposição em sedimentos ou de absorção de sedimentos devem ser avaliadas no que respeita à toxicidade para organismos sedimentares (bênticos).

Uma vez que a exposição dos organismos bênticos a substâncias ligadas a sedimentos é geralmente prolongada, os ensaios prolongados com parâmetros subletais como a reprodução, o crescimento ou a germinação são mais relevantes.

No que respeita ao parâmetro relativo à toxicidade para organismos sedimentares não são exigidos dados-padrão para volumes de produção ou importação até 1 000 toneladas/ano (anexos VII, VIII e IX). No entanto, a necessidade de dados (de ensaio) pode ser imposta em tonelagens inferiores a 1 000 toneladas/ano para substâncias com log Koa > 3 ou com outras propriedades que sugiram a probabilidade de adsorção para sedimentos.

Para tonelagens ≥ 1 000 toneladas/ano, se os resultados da avaliação de segurança química apontarem para a necessidade de investigar mais profundamente os efeitos da substância e/ou dos produtos de degradação relevantes nos organismos dos sedimentos, o registante deve propor um ensaio de toxicidade a longo prazo. A escolha do(s) ensaio(s) apropriado(s) depende do resultado da avaliação de segurança química.

A secção R.7.8.10.1 contém informações pormenorizadas sobre a interpretação de dados existentes, incluindo orientações sobre a utilização de dados de ensaios e de dados obtidos sem recurso a ensaios. Estão igualmente disponíveis informações relativas a organismos preferenciais, parâmetros relevantes, vias de exposição, composição dos sedimentos, métodos de contaminação, alimentação, duração da exposição, qualidade da água, concepção e sistemas de ensaios.

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.6.3.3 Toxicidade para microrganismos de estações de tratamento de águas residuais

A toxicidade para microrganismos de estações de tratamento de águas residuais (STP) deve ser avaliada com o objectivo de proteger as funções de remoção de nutrientes e de biodegradação e o desempenho geral dos processos das estações de tratamento de águas residuais municipais e industriais.

Para volumes iguais ou superiores a 10 toneladas/ano, são necessárias informações sobre inibição respiratória em lamas activadas. A inibição respiratória é apenas um dos vários efeitos possíveis sobre micróbios, mas é o indicador com maior aceitação sobre a actividade combinada de microrganismos em lamas activadas. Devem ser obtidas informações sobre a inibição da nitrificação se existirem indícios de que a substância pode ser tóxica para bactérias nitrificantes.

A toxicidade para microrganismos de estações de tratamento de águas residuais não é utilizada para a classificação de perigo para o ambiente nem para a avaliação PBT/mPmB. Os dados apenas terão aplicação na avaliação de segurança química em que é necessário derivar e utilizar uma PNECmicrorganismos (aqui designada PNECstp) como medida de toxicidade para o cálculo do risco para as estações de tratamento de águas residuais.

Na ausência de QSAR bem definidos para a toxicidade nas estações de tratamento de águas residuais, serão utilizados preferencialmente dados de inibição microbiana determinados experimentalmente para derivar uma PNECstp. Os dados de toxicidade microbiana disponíveis devem ser avaliados e, se adequado, utilizados para determinar uma concentração previsivelmente sem efeitos (PNECstp).

O principal objectivo da estratégia de ensaio integrada para a toxicidade nas estações de tratamento de águas residuais consiste em assegurar que todas as informações relevantes e disponíveis sobre efeitos e exposição podem ser utilizadas de uma forma integrada muito antes de serem iniciados novos ensaios. A estratégia de ensaio integrada permite ajustar os dados desfavoráveis ao nível da despistagem através de ensaios de nível superior. O regime proposto pode ser adoptado pelas estações de tratamento de águas residuais industriais e/ou domésticas (municipais), sendo aplicável a partir do padrão de emissão de substâncias químicas.

B.6.3.4 Degradação/biodegradação

A degradação consiste na perda ou transformação de uma substância química no ambiente devido a processos abióticos ou bióticos. A degradação abiótica ou não biológica pode ocorrer pela acção de processos físico-químicos como a hidrólise, a oxidação e a fotólise. A biodegradação pode ocorrer na presença de oxigénio (biodegradação aeróbica) ou na ausência de oxigénio (biodegradação anaeróbica). Deve ter-se em conta se a substância sujeita a avaliação pode ser degradada para dar origem a produtos de degradação estáveis e/ou tóxicos. Se essa degradação puder ocorrer, a avaliação deve ter devidamente em conta as propriedades (incluindo efeitos tóxicos e potencial de bioacumulação) dos produtos que possam ser criados.

As informações mínimas que devem estar disponíveis já na gama de tonelagem de 1 a 10 toneladas/ano são as informações sobre a elevada biodegradabilidade (das substâncias orgânicas). Na gama de tonelagem seguinte (10 a 100 toneladas/ano) devem também estar disponíveis informações sobre a hidrólise. Nas gamas de tonelagem mais elevadas, devem ser tidas em conta outras informações sobre a degradação nos vários compartimentos ambientais, dependendo do resultado da avaliação de segurança química.

As informações sobre a degradabilidade das substâncias químicas podem ser utilizadas na avaliação do perigo (por exemplo, para efeitos de classificação e rotulagem), na avaliação do risco (para avaliação da segurança química) e em avaliações de persistência (para avaliação PBT/mPmB).

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Parte B: Avaliação do perigo

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A avaliação da degradação e da persistência baseia-se normalmente em dados obtidos em ensaios-padrão sobre elevada biodegradabilidade e hidrólise. Também podem ser tidas em conta previsões efectuadas a partir de modelos QSAR de biodegradação. Os resultados de ensaios onde é simulada a biodegradação em água, sedimentos aquáticos e solo são considerados dados de nível superior que podem ser igualmente utilizados para esses efeitos. Outros tipos de dados de ensaio que podem ser tidos em conta na avaliação do perigo ou risco potencial para o ambiente incluem os dados de simulação de estações de tratamento de águas residuais, a biodegradabilidade inerente, a biodegradabilidade anaeróbica, a biodegradabilidade em águas marinhas e a transformação abiótica. Ao determinar os dados de nível superior ou de degradação simulada que são necessários, devem ser tidos em conta o comportamento de partição da substância química e o seu padrão de libertação ou emissão. (Ver secção R.7.9)

B.6.3.5 Bioacumulação e bioconcentração aquáticas

Bioconcentração é a acumulação de uma substância dissolvida na água por um organismo aquático. O factor de bioconcentração (BCF [L/kg] é a relação entre a concentração de uma substância num organismo e a sua concentração na água no estado estável. Pode ser determinado de duas formas, estática ou dinâmica (secção R.7.10.1.1). Os factores de bioconcentração estáticos e dinâmicos (cinéticos) com igual validade são permutáveis para fins regulamentares.

Acumulação é um termo genérico para o resultado líquido da absorção (ingestão), distribuição, metabolismo e excreção (ADME) de uma substância num organismo. Estes processos são abordados em pormenor no documento de orientação sobre a toxicocinética nos mamíferos (secção R.7.12). A bioacumulação diz respeito à ingestão a partir de todas as fontes ambientais, incluindo a água, os alimentos e os sedimentos. O factor de bioacumulação (BAF) pode ser definido como a relação entre a concentração da substância num organismo e a sua concentração na água ou em sedimentos no estado estável. Estes factores podem ser utilizados para estimar a concentração de uma substância química num organismo vivo em sedimentos ou água contaminados.

A biomagnificação diz respeito à acumulação através da cadeia alimentar. Pode ser definida como um aumento da concentração interna (teor de gordura normalizado) de uma substância em organismos em níveis tróficos sucessivos numa cadeia alimentar. O potencial de biomagnificação pode ser expresso como um factor de biomagnificação (BMF) ou como um factor de magnificação trófica (TMF).

Em tonelagem igual ou superior a 100 toneladas/ano, deve ser ponderada a realização de um estudo de bioacumulação num organismo aquático (preferencialmente peixes).

O potencial de bioacumulação deve ser tido em conta no que respeita aos efeitos a longo prazo e à classificação de perigo para o ambiente. Para a maior parte das substâncias orgânicas não ionizadas, a classificação pode basear-se inicialmente no log Koa se não estiverem disponíveis medições fidedignas do factor de bioconcentração em peixes.

O potencial de bioacumulação («B») faz parte da avaliação PBT/mPmB. Os dados de uma medição fiável do factor de bioconcentração para peixes ou invertebrados são geralmente necessários para as conclusões finais sobre o factor de bioacumulação na avaliação PBT ou mPmB. Pode ser efectuada uma despistagem de acordo com critérios de selecção baseados no log Koa para as substâncias orgânicas susceptíveis de acumulação por difusão passiva.

Na avaliação da segurança química, os valores dos factores de bioconcentração em peixes e de biomagnificação são utilizados para a avaliação de intoxicação secundária na vida selvagem, bem como na exposição humana por via alimentar. Para cenários marinhos, pode também ser relevante um factor de biomagnificação para aves e mamíferos. Pode ser utilizado um factor de bioconcentração em invertebrados para criar um modelo de cadeia alimentar baseado no consumo de invertebrados que habitam os sedimentos ou moluscos.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Se o log Koa (relevante apenas para substâncias orgânicas não ionizadas) não for um bom indicador do potencial de acumulação (ver secção R.7.10.6), deve ser utilizada a estratégia de ensaio integrada e poderá ser necessário um ensaio in vivo. Se não estiverem disponíveis factores de bioconcentração para peixes, podem ser utilizados factores de bioconcentração determinados para outras espécies.

Para a avaliação do risco no nível inicial, pode ser utilizado um factor de bioconcentração previsto. Se a relação PEC/PNEC baseada no pior factor de bioconcentração (BCF) ou nos valores predefinidos do factor de biomagnificação (BMF) indicar riscos potenciais em qualquer nível trófico, a relação BCF/BMF pode ser ajustada se necessário. Pode ser utilizado um procedimento de suficiência de prova para um parecer especializado sobre os dados disponíveis e para decidir quanto à necessidade ensaios complementares (secção R.7.10.5).

B.6.3.6 Bioacumulação terrestre

A bioacumulação do solo para as espécies terrestres é expressa pelo factor de acumulação biota-solo (BSAF), idêntico ao factor de acumulação biota-sedimento para os organismos bênticos. Em alternativa, a concentração no organismo pode ser relacionada com a concentração na água capilar do solo, através do cálculo de um factor de concentração [L/kg]. Estes factores podem ser utilizados para estimar a concentração de uma substância química num organismo vivo em solos contaminados.

O Regulamento REACH não exige informações sobre a bioacumulação terrestre mas, dependendo do resultado da avaliação de segurança química, a realização desse estudo pode ser útil.

Se a substância for um composto orgânico não ionizável, podem ser utilizados métodos de estimativa baseados no Koa para produzir as informações necessárias relativas ao factor de bioconcentração terrestre. Se o valor previsto do factor de concentração sugerir a existência de risco, as informações relativas à bioacumulação devem ser ajustadas. Em geral, os dados de ensaio apenas serão necessários na gama de 1 000 toneladas/ano se a avaliação de segurança química identificar a necessidade de mais informações sobre a bioacumulação terrestre. O acompanhamento no terreno pode proporcionar dados adicionais sobre o risco de bioacumulação. (Ver secção R.7.10.12)

B.6.3.7 Toxicidade a longo prazo para as aves

Os estudos de toxicidade em aves podem medir efeitos letais e subletais resultantes de exposição de curta duração por via oral, efeitos letais ou subletais de médio prazo (até vários dias) ou efeitos letais e na reprodução resultantes de exposição prolongada por via alimentar (até 20 semanas). No entanto, devido à fraca correlação entre os efeitos a curto e longo prazo, apenas os estudos a longo prazo são considerados adequados para efeitos de avaliação da segurança química.

O objectivo dos ensaios de toxicidade em aves consiste em fornecer dados que podem ser utilizados para a avaliação da intoxicação secundária, caso a avaliação da segurança química demonstre a necessidade de um tal estudo (relevante nomeadamente para substâncias com potencial de bioacumulação e elevada toxicidade em mamíferos).

Os dados obtidos a partir das espécies utilizadas em métodos-padrão de ensaio são considerados representativos de todas as espécies. Os estudos alimentares são preferenciais, uma vez que são mais relevantes para a via de exposição em investigação. (Ver secção R.7.10.18)

B.6.3.8 Toxicidade terrestre

Devido à complexidade e diversidade do ambiente terrestre, apenas é possível realizar uma avaliação abrangente dos efeitos para a totalidade do compartimento através de um conjunto de parâmetros de avaliação que abranjam (i) as diferentes vias através das quais os organismos

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Parte B: Avaliação do perigo

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terrestres podem ser expostos a substâncias (ou seja, ar, alimentos, água capilar, solo de controlo) e (ii) os mais relevantes grupos taxonómicos e funcionais de organismos terrestres (microrganismos, plantas, invertebrados, vertebrados) susceptíveis de serem afectados.

O âmbito da avaliação do efeito terrestre está limitado aos organismos do solo num sentido restrito, ou seja, a organismos invertebrados que vivem a maior parte do tempo da sua vida debaixo do solo e são expostos a substâncias por via do solo, nos termos do Regulamento REACH adoptado e em conformidade com a prática utilizada anteriormente na avaliação do risco ambiental de substâncias novas e existentes na UE.

As informações relativas à toxicidade a curto prazo para os organismos do solo devem ser tidas em conta para substâncias em quantidades superiores a 100 toneladas/ano, a menos que a exposição directa e indirecta não seja provável. Para substâncias em quantidades superiores a 1 000 toneladas/ano, as informações relativas à toxicidade a longo prazo devem ser tidas em conta em função dos resultados da avaliação de segurança química.

As informações relativas à toxicidade para os organismos terrestres não são utilizadas para a classificação e rotulagem nem para a avaliação PBT. Caso seja provável a ocorrência de exposição relevante do ambiente terrestre, este compartimento deve ser tido em conta na avaliação de segurança química.

Ao avaliar a exposição terrestre e a subsequente toxicidade para os organismos do solo, são relevantes diferentes tipos de informação. As informações úteis incluem as propriedades físicas e químicas das substâncias e os sistemas de ensaio, bem como os dados de ensaios disponíveis (in vitro e in vivo) e os dados de métodos sem recurso a ensaios, tais como o Método da Partição no Equilíbrio. (Ver secção R.7.11)

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.7 DETERMINAÇÃO DOS NÍVEIS COM LIMIAR DE EFEITO E SEM LIMIAR DE EFEITO

B.7.1 Caracterização da relação dose/concentração-resposta para a saúde humana

B.7.1.1 Objectivo e aspectos essenciais

Nos termos do Regulamento REACH, os fabricantes, importadores e utilizadores a jusante devem assegurar que fabricam, colocam no mercado ou utilizam substâncias de modo a que estas não afectem adversamente a saúde humana. Para a avaliação desses efeitos, deve ser efectuada uma comparação entre a exposição prevista e o potencial de efeitos adversos. O presente capítulo apresenta uma breve descrição da forma de caracterizar o potencial para efeitos adversos, ou seja, a «potência» da substância como informação para a caracterização dos riscos (Parte E). A presente secção destina-se a esclarecer o processo e os conceitos aos leitores não informados. O Capítulo R.8 apresenta uma descrição mais pormenorizada. Reconhece-se que serão necessários conhecimentos e experiência profundos em matéria de toxicologia para compreender as orientações pormenorizadas e realizar uma avaliação de segurança.

Para realizar uma avaliação abrangente de perigos e segurança são necessárias informações sobre o destino das substâncias no corpo (toxicocinética, ou seja, absorção, distribuição, metabolismo e excreção) e sobre os seguintes parâmetros relativos à saúde humana: toxicidade aguda, irritação e corrosividade, sensibilização, toxicidade por dose repetida, mutagenicidade, carcinogenicidade e toxicidade reprodutiva, bem como qualquer outra informação disponível sobre a toxicidade da substância. Deve notar-se que, nos termos do Regulamento REACH, as informações-padrão relativas a estes parâmetros dependem da tonelagem. No entanto, antes de realizar ensaios para obter esses dados, devem primeiro ser recolhidas e analisadas todas as informações disponíveis, incluindo dados humanos recolhidos e comunicados de forma correcta (ver Capítulos R.3 e R.4). A avaliação destas informações de perigo deve visar a identificação do NOAEL (ou outro descritor de dose) para os principais efeitos para a saúde e as incertezas que envolvem o NOAEL. Subsequentemente, um DNEL (nível derivado de exposição sem efeitos) é derivado dividindo o NOAEL pelos factores de avaliação que representam as incertezas (por exemplo, no que respeita à extrapolação entre espécies e entre os seres humanos). O DNEL representa um nível de exposição acima do qual os seres humanos não devem ser expostos. Nos casos em que não é possível derivar nenhum DNEL, o Regulamento REACH exige que seja realizada uma avaliação qualitativa. No entanto, no que respeita aos parâmetros sem limiar (por exemplo, carcinogenicidade sem limiar), se os dados permitirem, o desenvolvimento de um valor de referência (semi)quantitativo (DMEL = nível derivado de exposição com efeitos mínimos) poderá ser útil (ver abaixo). A figura B.7-1 ilustra as diferentes etapas do procedimento DNEL quantitativo.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Figura B-7-1: Ilustração das diferentes etapas da avaliação quantitativa dos riscos para a saúde humana para parâmetros com limiar

NB: Esta figura diz respeito apenas à caracterização quantitativa dos riscos. Mais adiante e na Parte E indica-se quando e como esta caracterização será complementada com uma caracterização qualitativa dos riscos.

Conclusões sobre a classificação e rotulagem da substância no que respeita à necessidade de avaliação da exposição e de caracterização dos riscos (CR)

Um dos objectivos da avaliação de perigo para a saúde humana é a classificação e rotulagem da substância nos termos do Regulamento CRE. A partir das avaliações de perigo por parâmetro relativo à saúde humana acima descritas, pode concluir-se se a substância cumpre os critérios relativos a qualquer uma das categorias ou classes de perigo enumeradas no artigo 14.º, n.º 4, do Regulamento REACH, com a redacção que lhe é dada, desde 1 de Dezembro de 2010, pelo artigo 58.º, n.º 1, do Regulamento CRE, nomeadamente:

as classes de perigo 2.1 a 2.4, 2.6 e 2.7, 2.8 (tipos A e B), 2.9, 2.10, 2.12, 2.13 (categorias 1 e 2), 2.14 (categorias 1 e 2), 2.15 (tipos A a F).

as classes de perigo 3.1 a 3.6, 3.7 (efeitos adversos para a função sexual e a fertilidade ou para o desenvolvimento), 3.8 (efeitos que não sejam efeitos narcóticos), 3.9 e 3.10.

a classe de perigo 4.1:

a classe de perigo 5.1,

Estas classes e categorias (apenas) serão descritas doravante como «classes ou categorias de perigo nos termos do artigo 14.º, n.º 4» (ou seja, excluindo especificamente as propriedades PBT ou mPmB)

Se a substância for classificada, é necessário realizar uma avaliação da exposição e uma caracterização dos riscos a fim de assegurar que os riscos associados aos valores de exposição previstos (para todos os cenários de exposição reais da substância para o fabrico, utilizações

Definir os descritores de dose (p. ex., NOAEL) com base nas informações e estudos toxicológicos

Se necessário, modificar o descriptor de dose para o ponto inicial correcto

Calcular o factor de avaliação global com base em todas as incertezas envolvidas na avaliação

Criar o DNEL dividindo o descriptor de dose pelo factor de avaliação global

Realizar a caracterização dos riscos (CR) para cada via de exposição isolada (e prolongada/aguda /populações diferentes) dividindo a exposição pelo DNEL pertinente; o controlo do risco exige um rácio < 1

Quando o risco para cada via de exposição isolada for controlado, realizar uma CR para exposição simultânea através de todas as vias de exposição, se adequado

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Parte B: Avaliação do perigo

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identificadas e fases do ciclo de vida resultantes) são controlados. Sempre que possível, os DNEL devem ser calculados, mesmo para substâncias não classificadas.

B.7.1.2 Requisitos legais para a definição de DNEL

B.7.1.2.1 Derivação de DNEL

Sempre que possível, o ou os DNEL devem ser derivados para todas as substâncias sujeitas a registo que são fabricadas/importadas/utilizadas em quantidades iguais ou superiores a 10 toneladas por ano, como parte da avaliação de segurança química (CSA). Os DNEL devem ser documentados no relatório de segurança química (CSR). Se for necessário realizar uma avaliação da exposição e uma caracterização dos riscos, o DNEL deve ser subsequentemente:

utilizado na parte de caracterização dos riscos da avaliação de segurança química, e

comunicado como parte da ficha de dados de segurança (FDS).

No que respeita à derivação de DNEL, o Regulamento REACH especifica, inter alia, que pode ser necessário identificar DNEL diferentes para cada população humana pertinente (por exemplo, trabalhadores, consumidores e pessoas que possam ser expostas indirectamente, através do ambiente) e, eventualmente, para determinadas subpopulações vulneráveis (por exemplo, crianças e mulheres grávidas), bem como para diferentes vias de exposição (oral, cutânea ou por inalação) e diferentes durações de exposição. Ao definir o DNEL, devem ser tidas em conta as incertezas das avaliações (por exemplo, envolvendo diferenças de espécie, diferenças na sensibilidade entre seres humanos e qualidade da base de dados). O DNEL pode ser considerado um nível sem efeitos «global» para uma dada exposição (via, duração, frequência), contribuindo para as incertezas/variabilidade nesses dados e na população humana exposta.

No que respeita à exposição no local de trabalho, podem já existir valores-limite de exposição profissional (VLE). Em circunstâncias específicas, os VLE e/ou as informações subjacentes utilizadas para definir os VLE podem ser utilizados para derivar os DNEL. O apêndice R.8-13 contém mais informações a este respeito.

A comparação exposição/DNEL para cada cenário de exposição, em princípio, representa uma ferramenta simples para caracterização dos riscos, em especial para utilizadores a jusante que não têm à disposição os dados relativos a perigos. Para todos os cenários de exposição, o risco para os seres humanos pode ser considerado como adequadamente controlado se os níveis de exposição não excederem o DNEL adequado.

B.7.1.2.2 Se não for possível derivar um DNEL

Nem sempre será possível derivar os DNEL para um parâmetro. Os casos mais óbvios são aqueles em que não existem dados de ensaio, quer porque não são necessários ensaios com base nos argumentos expostos (ver Capítulo R.5 para mais informações) ou porque os ensaios não eram tecnicamente possíveis devido às propriedades de uma substância.

Mais importante, essa possibilidade é igualmente aplicável quando

uma substância exerce o seu efeito através de um «modo de acção sem limiar» (por exemplo, substâncias mutagénicas e substâncias cancerígenas genotóxicas). Nesse caso, pressupõe-se geralmente que os riscos residuais não podem ser excluídos mesmo em níveis de exposição muito baixos. Consequentemente, não é possível determinar uma dose sem efeitos potenciais;

uma substância exerce o seu efeito através de «um modo de acção com limiar», mas os dados disponíveis não permitem uma identificação fiável do limiar (por exemplo, sensibilização e irritação).

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Parte B: Avaliação do perigo

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Se não for possível derivar um DNEL, o Regulamento REACH determina que «será efectuada uma avaliação qualitativa da probabilidade de os efeitos serem evitados ao pôr em prática o cenário de exposição» na parte de caracterização dos riscos da avaliação de segurança química.

Na abordagem qualitativa, é privilegiada a avaliação da adequabilidade do controlo da exposição na população humana em questão, utilizando informação que não seja um DNEL para descrever qualitativamente a potência do efeito para a saúde, o que depois é utilizado na definição de cenários de exposição com medidas de gestão dos riscos e condições de funcionamento para controlar as exposições e, por conseguinte, os riscos.

No caso de efeitos sem limiar (por exemplo, substâncias cancerígenas sem limiar) poderá ser útil incluir um elemento semi-quantitativo nesta avaliação qualitativa, a fim de avaliar a probabilidade de que os efeitos sejam evitados. Nesses casos, e no pressuposto de que existem dados disponíveis que o permitam, o registante deve desenvolver um DMEL (nível derivado de exposição com efeitos mínimos), ou seja, um nível de referência dos riscos que é considerado como de muito baixa preocupação para um determinado cenário de exposição. Os DMEL derivados em conformidade com as orientações devem ser considerados como níveis de efeitos toleráveis; deve notar-se que não se trata de um nível em que não podem ser previstos efeitos potenciais, mas antes que expressa um nível de exposição correspondente a um risco baixo e possivelmente teórico. Um DMEL constitui um valor de referência associado ao risco que deve ser utilizado para optimizar as medidas de gestão dos riscos.

Convém sublinhar que, no que respeita a substâncias cancerígenas e mutagénicas, a Directiva relativa a agentes cancerígenos (2004/37/CE) estabelece que as exposições no local de trabalho devem ser evitadas/minimizadas na medida em que for tecnicamente viável. Uma vez que o Regulamento REACH não substitui a Directiva relativa a agentes cancerígenos, a abordagem para controlar a exposição no local de trabalho deve estar conforme com este requisito de minimização. A abordagem através do DMEL é útil na preparação da avaliação de segurança química, para avaliar a probabilidade restante/residual de existência de riscos. Com base em tal avaliação, o registante poderá querer optimizar a forma como utiliza ou recomenda utilizar a substância, através de uma revisão do ou dos cenários de exposição prováveis relevantes para utilização da substância.

B.7.1.3 Descrição geral dos aspectos a considerar na derivação de DNEL/DMEL

Com base nas especificações indicadas no Regulamento REACH, devem ser considerados vários aspectos na derivação de DNEL. Deve notar-se que são necessários conhecimentos especializados para este efeito.

Requisitos em matéria de dados: a derivação de DNEL é obrigatória para a avaliação da segurança química (CSA) de substâncias fabricadas/importadas/utilizadas em quantidades superiores a 10 toneladas por ano. Para a derivação de DNEL, devem ser avaliadas todas as informações disponíveis sobre perigos e, sempre que possível, devem ser estabelecidos descritores de dose (N(L)OAEL, dose de referência, etc.). Os dados podem ser provenientes de observações em estudos com seres humanos, estudos com animais de experiência (por exemplo, estudos de toxicidade por dose repetida de 28/90 dias), estudos in vitro e outras fontes que não envolvam a realização de ensaios (modelos (Q(SAR), métodos comparativos por interpolação ou categorias de substâncias químicas). Uma vez que são necessárias informações toxicológicas complementares em cada nível de tonelagem mais elevado, o que permite avaliações mais sólidas, os DNEL devem ser reconsiderados em cada nível de tonelagem mais elevado. O mesmo se aplica se forem disponibilizadas novas informações toxicológicas significativas.

Incerteza/variabilidade: o Regulamento REACH determina que sejam corrigidas as diferenças entre os dados sobre toxicidade (muitas vezes obtidos a partir de estudos com animais) e a verdadeira situação da exposição humana, tendo em conta a variabilidade e a incerteza nas e entre as espécies. Para corrigir essas diferenças, devem ser aplicados factores de avaliação (FA).

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Parte B: Avaliação do perigo

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Os factores de avaliação aplicados apenas corrigem incertezas/variabilidade nos dados reais e não em incertezas de exposição.

Populações e vias: poderá ser necessário derivar DNEL para os trabalhadores (exposição cutânea e por inalação) e a população em geral (consumidores e pessoas expostas através do ambiente; exposição cutânea, por inalação e/ou oral). Caso seja pertinente, poderá também ser necessário avaliar exposições combinadas através de diferentes vias. Em circunstâncias específicas, poderá igualmente ser necessário derivar os DNEL para determinadas subpopulações, por exemplo, que abranjam uma sensibilidade mais elevada específica das crianças.

Duração da exposição: dependendo do cenário de exposição, a duração da exposição pode variar de um evento único até uma exposição durante vários dias/semanas/meses por ano, podendo inclusivamente ser contínua (como é o caso, por exemplo, das pessoas expostas através do ambiente). Uma vez que a duração da exposição terá frequentemente impacto sobre o(s) efeito(s) que possa(m) ocorrer, poderá ser necessário derivar DNEL para várias durações de exposição (DNELlongo prazo e DNELagudo), fazendo corresponder, tanto quanto possível, a duração da exposição no estudo de toxicidade com a duração da exposição no cenário de exposição.

Efeitos sistémicos e locais: dependendo da substância, poderá ser necessário estabelecer DNEL para efeitos sistémicos, para efeitos locais (cutâneos ou por inalação) ou para ambos.

Unidades: as estimativas de exposição são normalmente expressas como valores externos (por exemplo, quantidade da substância na pele ou concentração no ar inalado). O DNEL deve, assim, por predefinição, ser expresso nos valores externos de exposição correspondentes. As unidades de dose externas pertinentes para o DNEL são mg/pessoa/dia (ou mg/cm2 área corporal/dia), mg/kg massa corporal/dia e mg/m³ para as exposições cutânea, por via oral e por inalação, respectivamente.

B.7.1.4 Derivação de DNEL

B.7.1.4.1 Identificação dos descritores de dose e decisão do modo de acção

Como parte da avaliação dos estudos de toxicidade, os descritores de dose (por exemplo, NOAEL, NOAEC, BMD, LD50, LC50, T25) devem ser identificados para o parâmetro em causa. No que respeita a um parâmetro específico, é possível que estejam disponíveis dados de mais do que um estudo válido e relevante (por exemplo, em espécies diferentes, com durações diferentes) e que seja identificado mais do que um descritor de dose para esse parâmetro. Uma vez que não é possível saber antecipadamente quais destes descritores de dose serão mais relevantes para o DNEL específico do parâmetro, poderá, por vezes, ser relevante derivar DNEL para mais do que um descritor de dose por parâmetro antes de seleccionar o menor DNEL para esse parâmetro. Tal dependerá de uma avaliação especializada, incluindo a utilização de uma abordagem de suficiência de prova. Uma parte integrante desta etapa é a consideração do modo de acção.

Se a substância exercer o seu efeito através de um «modo de acção com limiar», será necessário derivar um DNEL para esse parâmetro com base no descritor de dose mais relevante. Se os dados disponíveis não permitirem uma identificação fiável do limiar e, por conseguinte, não for possível derivar nenhum DNEL e descritor de dose, deverá ser adoptada uma abordagem qualitativa/semi-quantitativa (ver secção B.7.1.6).

Se a substância exercer o seu efeito através de um «modo de acção sem limiar» (por exemplo, substâncias cancerígenas genotóxicas), qualquer nível de exposição implica, em princípio, um risco e, desse modo, não é possível determinar nenhuma dose sem efeito. Para estes efeitos, tal como já foi mencionado na secção B.7.1.2.2, os DMEL devem ser derivados como parte da abordagem qualitativa, caso existam dados que o permitam.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Se não existirem dados que permitam definir um DNEL ou DMEL, deve ser aplicada a avaliação estritamente qualitativa indicada na secção B.7.1.6.

Se a substância tiver efeitos com limiar e sem limiar, os DNEL devem ainda ser determinados paralelamente à abordagem qualitativa.

B.7.1.4.2 Modificação do(s) descritor(es) de dose relevante(s) por parâmetro para o ponto inicial correcto

Em algumas situações, o descritor de dose não será directamente comparável à avaliação da exposição em termos de via de exposição, unidades e/ou dimensões. Nessas situações, é necessário converter o descritor de dose do efeito com limiar (por exemplo, NOAEL) para um ponto inicial correcto (por exemplo, NOAEL corrigido) (secção R.8.4.2).

Isto é aplicável:

1) quando existe uma diferença de biodisponibilidade entre os seres humanos e os animais de experiência;

2) quando o descritor de dose para animais se destina a uma via de exposição diferente da via de exposição humana (o que exige uma extrapolação de via para via);

3) quando existem diferenças entre as condições de exposição dos seres humanos e as dos ensaios;

4) às diferenças nos volumes respiratórios entre os seres humanos e os animais de experiência

B.7.1.4.3 Aplicação dos factores de avaliação ao ponto inicial corrigido para obter DNEL específicos dos parâmetros para o padrão de exposição relevante

A etapa seguinte do cálculo de um DNEL consiste em corrigir incertezas na extrapolação de dados experimentais para a situação real da exposição humana (secção R.8.4). Essas incertezas/diferenças são todas corrigidas individualmente através de factores de avaliação (FA). Na situação ideal, o valor para cada factor de avaliação individual deveria basear-se nas informações específicas da substância. No entanto, frequentemente é necessário utilizar factores de avaliações predefinidos.

Os factores de avaliação predefinidos para diferenças entre as espécies corrigem as diferenças de sensibilidade entre os seres humanos e os animais de experiência, com o pressuposto de que os seres humanos são mais sensíveis do que os animais de experiência. Este factor de avaliação não é necessário quando são utilizados dados humanos como ponto inicial para a caracterização dos riscos.

A sensibilidade humana em relação à agressão tóxica é diferente devido a uma diversidade de factores biológicos como, por exemplo, o polimorfismo genético, a idade, o género, o estado de saúde e o estado nutricional. Estas diferenças dentro da mesma espécie são maiores nos seres humanos do que nos animais de experiência consanguíneos. Por conseguinte, devem ser aplicados factores de avaliação que actuem sobre estas diferenças dentro de uma população em geral ou de uma população de trabalhadores, conforme adequado.

Deve ser considerado um factor de avaliação que permita a existência de diferenças na duração da exposição experimental e na duração da exposição para a população e o cenário em causa, tendo em conta que a) em geral, o NOAEL experimental diminuirá na razão inversa dos períodos de exposição e b) podem surgir efeitos adversos diferentes e mais graves com o aumento dos períodos de exposição. O factor de avaliação para a relação dose-resposta deve ter em conta o espaçamento das doses no ensaio, a forma e a inclinação da curva dose-resposta (curvas pouco pronunciadas e muito inclinadas podem justificar um factor de avaliação) e a extensão e gravidade do efeito observado no LOAEL.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Caso se justifique, deve ser aplicado um factor de avaliação na qualidade do conjunto da base de dados para compensar as potenciais incertezas restantes no DNEL derivado. Deve ser prestada especial atenção aos NOAEL (ou outros descritores de dose) derivados de dados alternativos, por exemplo, dados in vitro, (Q)SAR, métodos comparativos por interpolação ou categorias de substâncias químicas.

O factor de avaliação global é obtido através da simples multiplicação dos factores de avaliação individuais. Para derivar o ou os DNEL específicos do parâmetro para o padrão de exposição relevante (duração, frequência, via e população humana exposta), o factor de avaliação global (overall AF) deve ser aplicado directamente ao ou aos descritores de dose corrigidos da seguinte forma (exemplo com um NOAEL como descritor de dose):

AFoverall

NOAEL

AFAFAF

NOAEL corr

n

corr

_

DNELespecíficoParâmetro21

B.7.1.5 Derivação de DMEL para parâmetros sem limiar

O presente documento de orientação estabelece duas metodologias (predefinidas) que podem ser aplicadas para derivar um DMEL (secção R.8.5). O método «linearizado» resulta essencialmente em valores DMEL que representam um risco de contrair cancro ao longo da vida considerado de muito baixa preocupação. O método «Factor de avaliação em grande escala» (Large Assessment Factor) resulta, de modo idêntico, em valores DMEL que representam uma baixa preocupação do ponto de vista da saúde pública. Se os dados o permitirem, podem ser aplicadas metodologias mais sofisticadas para derivar um DMEL. A opção por essas metodologias alternativas deve ser justificada.

B.7.1.5.1 A abordagem «linearizada»

Esta abordagem de derivação de um DMEL baseia-se essencialmente no pressuposto de uma relação dose-resposta linear entre a formação de tumores e a exposição. Este elemento da abordagem linearizada é incorporado no factor de avaliação da extrapolação dose elevada para dose reduzida. O valor predefinido do descritor de dose utilizado como ponto inicial para a extrapolação linear deverá ser o valor T25 (dose que origina 25 % dos tumores em animais). Sempre que for necessário, o(s) descritor(es) de dose relevante(s) deve(m) ser modificado(s) para o ponto inicial correcto, tal como descrito supra para a derivação de DNEL, mas tendo em conta igualmente as diferenças entre as condições de exposição profissional e ao longo da vida. Os factores de avaliação devem, em princípio, ser considerados conforme indicado supra, embora, na prática, apenas o factor de avaliação relativo às diferenças do ritmo metabólico (escala alométrica) seja aplicado na maioria dos casos (com excepção de tumores locais e quando é utilizado um estudo de inalação como ponto inicial para derivar um DMEL de inalação expresso como concentração no ar).

As etapas anteriores (correcção do ponto inicial e aplicação dos factores de avaliação) devem resultar na dose diária permanente pertinente (ou seja, no que respeita à via e à absorção) equivalente à dose nos seres humanos, HT25 («Human T25»). A etapa de extrapolação de dose elevada para dose reduzida é a etapa seguinte para obter o DMEL, ou seja, um nível de exposição que é considerado representativo de um nível de risco considerado de preocupação muito reduzida (tendo em conta que para substâncias cancerígenas sem limiar não é possível identificar um nível de dosagem sem qualquer risco de cancro residual). Se for utilizada uma dose de referência (BMD10 – dose derivada que é suposta proporcionar 10 % dos tumores em animais) como descritor de dose, é necessário utilizar um factor de extrapolação ligeiramente maior.

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Quadro B-7-1: Factores de extrapolação do risco de dose elevada para dose reduzida utilizados para derivar um DMEL

Factor de extrapolação do risco de dose elevada para dose reduzida (HtLF)

Valor predefinido tumores sistémicos

Para T25 ; para BMD10

Extrapolação dose elevada para dose reduzida

Em caso de, por exemplo: - 10-5 risco

- 10-6 risco

25 000 ; 10 000

250 000 ; 100 000

O DMEL (com base num valor T25 como ponto inicial) para, por exemplo, um risco de cancro de um por 100 000 expostos (10-5) é derivado da seguinte forma:

25000

25

_

2510

1

5

AS

T

HtLFAF

TriscorepresentaDMEL corrcorr

«AF» é a abreviatura de factor de avaliação e «AS» é a abreviatura de escala algométrica. O capítulo R.8 contém informações pormenorizadas. Os níveis de risco de cancro 10-5 e 10-6 podem ser interpretados como indicadores de níveis de risco toleráveis ao definir DMEL para trabalhadores e para a população em geral, respectivamente.

B.7.1.5.2 A abordagem «Factor de avaliação em grande escala» (abordagem «EFSA»)

Este método de caracterização e avaliação dos riscos cancerígenos envolve a aplicação de vários factores de avaliação no ponto inicial em vez da extrapolação linear do descritor de dose e utiliza o BMDL10 (valor inferior do intervalo de confiança da BMD10) como descritor de dose preferencial. O descritor de dose é modificado, se necessário, e o descritor de dose corrigido é então dividido por uma factor de avaliação total de 10 000 (para a população em geral) ou 5 000 (para trabalhadores), respectivamente.

Consulte o Capítulo R.8 para obter mais informações sobre como estes factores de avaliação globais em grande escala são derivados. O DMEL para a população em geral através deste procedimento é obtido a partir de um BMDL10corr da seguinte forma:

10000

10

_

10

21

corr

n

corr BMDL

AFAFAF

BMDLDMEL

B.7.1.6 Método qualitativo quando não existe nenhum descritor de dose disponível para um parâmetro

Se não for possível estabelecer um descritor de dose fiável para um parâmetro, deve ser utilizado um método mais qualitativo. Esta situação pode aplicar-se à toxicidade aguda, irritação/corrosão, sensibilização e mutagenicidade/carcinogenicidade. Nesta situação, as indicações qualitativas da potência da substância são utilizadas para definir cenários de exposição com medidas de gestão dos riscos (MGR) e condições de funcionamento (CF) para controlar os riscos. A Parte E apresenta um método que associa a definição do cenário de exposição de uma forma proporcional à natureza e gravidade do perigo. O método baseia-se nos princípios de que a gestão dos riscos para os quais não é possível derivar valores DNEL é realizada de modo a que quanto maior for o risco mais rigorosa será a gestão dos riscos que deve ser aplicada (para mais informações, ver secção R.8.6 e Parte E sobre a caracterização dos riscos).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.7.1.7 Seleccionar os principais efeitos na saúde para padrões de exposição relevantes

Depois da derivação dos DNEL ou DMEL específicos dos parâmetros e da descrição qualitativa dos parâmetros para os quais não é possível definir DNEL/DMEL, serão seleccionados os principais efeitos para a saúde e os correspondentes DN(M)EL críticos e/ou será estabelecida a descrição qualitativa da potência (secção R.8.7 e Parte E).

Os parágrafos seguintes abordam resumidamente a selecção de DNEL/DMEL críticos. O Capítulo R.8 e a Parte E contêm informações pormenorizadas sobre como determinar parâmetros para os quais não é possível derivar DNEL/DMEL.

O DN(M)EL crítico utilizado na caracterização (semi-)quantitativa dos riscos deve ser o menor DN(M)EL obtido para a combinação relevante de população/via/padrão de exposição.

Os DNEL ou DMEL seleccionados são depois utilizados em aspectos relacionados com as exposições associadas aos cenários de exposição. Para os efeitos sistémicos a longo prazo, podem ser relevantes cinco DN(M)EL (dependendo das vias de exposição e das populações expostas). Na maioria dos casos, são necessários DNEL de longo prazo para vias de exposição cutânea e por inalação no que respeita a trabalhadores. Além disso, pode ser necessário definir três DNEL de longo prazo para a população em geral (cutânea, oral e/ou por inalação) se a substância estiver presente em produtos disponíveis para consumo ou for libertada e existir no ambiente como contaminante ambiental.

No caso de algumas substâncias para as quais existe um potencial para exposições máximas, os DNEL de longo prazo (que devem ser cumpridos em média ao longo de, por exemplo, um dia de trabalho) poderão não assegurar um nível de protecção suficiente contra efeitos sistémicos agudos, uma vez que as exposições mais curtas podem ser significativamente superiores ao DNEL de longo prazo. Como regra geral, este poderá ser o caso quando os níveis máximos de exposição excedem significativamente as exposições diárias médias. Nestes casos, deve ser estabelecido e avaliado um DNELagudo em relação aos níveis máximos de exposição a que os seres humanos podem ser sujeitos. Normalmente, tal envolveria um DNELagudo para inalação aplicado aos trabalhadores, mas também poderia ser aplicado aos consumidores e, teoricamente, a outras vias de exposição.

No caso de efeitos locais agudos e a longo prazo, poderá ser necessário definir DNEL para os trabalhadores e a população em geral expostos por via cutânea e por inalação (ou seja, quatro DNEL locais).

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Quadro B-7-2: Resumo da derivação do DNEL/DMEL específico de um parâmetro

Parâmetro Descritor de dose quantitativo1 (unidade apropriada) ou avaliação

qualitativa

Descritor de dose corrigido

(unidade apropriada)

Factor de avaliação

global aplicado

DNEL/DMEL específico do

parâmetro

(unidade apropriada)

Efeito local2 Efeito sistémico3 Local2 Sistémico3 Local2 Sistémico3

Parâmetro (……toxicidade)

- oral

- cutânea

- por inalação

1 Seleccionar a população relevante 2 As unidades são dadas em mg/m3 para a inalação, mg/cm2 para a pele e mg/pessoa/dia (calculadas, por exemplo, com base na quantidade depositada por cm2 vezes a área corporal efectivamente exposta) ou uma medida de concentração para a exposição cutânea 3 As unidades são dadas em mg/m3 para a inalação e em mg/kg por dia de trabalho para a exposição cutânea e por via oral

Em termos gerais, por conseguinte, o procedimento (semi-)quantitativo envolve a identificação de um descritor de dose com base em todos os estudos disponíveis (coluna 2), a sua correcção para a unidade apropriada (coluna 3), o cálculo do factor de avaliação global (coluna 4) e, por último, a divisão do descritor de dose pelo factor de avaliação para obter o DNEL/DMEL final (coluna 5). Este procedimento deve ser seguido para os efeitos locais e sistémicos e para as vias de exposição relevantes.

A Parte E descreve pormenorizadamente a forma de realizar a caracterização quantitativa dos riscos com base na informação dose-resposta qualitativa e/ou (semi-)quantitativa.

B.7.2 Concentração previsivelmente sem efeitos (PNEC) para o ambiente

A presente secção contém uma parte introdutória que apresenta os princípios gerais da derivação da PNEC (secção B.7.2.1) seguida de uma parte para cada tipo de valor PNEC que pode ser derivado (secções B.7.2.2 a B.7.2.7).

B.7.2.1 Princípios gerais de derivação dos valores PNEC

Objectivo

Derivar uma concentração previsivelmente sem efeitos para exposição prolongada e/ou de curto prazo de um dado compartimento ambiental (PNECcomp).

Contexto

A PNEC é a concentração de uma substância química em qualquer compartimento abaixo da qual não é de esperar a ocorrência de efeitos inaceitáveis para o ecossistema aquático e os seus organismos durante uma exposição prolongada ou de curto prazo. Preferencialmente, a PNEC é derivada a partir de dados de toxicidade para os organismos que vivam no compartimento em causa e que tenham sido obtidos através de ensaios laboratoriais ou de métodos sem recurso a ensaios. No entanto, se não existirem dados experimentais disponíveis para os organismos de um dado compartimento (por exemplo, solo), o valor PNEC pode ser calculado com base em resultados de ensaios com organismos aquáticos.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Basicamente, as informações disponíveis sobre toxicidade em ambiente aquático dependem da quantidade fabricada ou importada da substância. Normalmente, os dados relativos à toxicidade a curto prazo estarão disponíveis para organismos que representam 3 grupos/níveis tróficos de organismos diferentes (algas, invertebrados, peixes) quando uma substância é fabricada ou importada numa quantidade compreendida entre 10 e 100 toneladas por ano; no entanto, também podem estar ocasionalmente disponíveis dados de outros grupos de organismos ou sobre toxicidade a longo prazo. Para tonelagens superiores, estarão frequentemente disponíveis mais dados (cf. Regulamento REACH, anexos VII a X).

Uma vez que a diversidade nos ecossistemas é elevada e apenas são utilizadas algumas espécies no laboratório, considera-se que é mais provável que os ecossistemas sejam mais sensíveis às substâncias químicas do que os organismos individuais no laboratório. Por conseguinte, os resultados dos ensaios não são utilizados directamente para a avaliação dos riscos mas antes como base para extrapolação da PNEC.

Os métodos de extrapolação foram desenvolvidos para estimar os valores PNEC para substâncias químicas em ambientes aquáticos e terrestres. Existem dois tipos diferentes de métodos de extrapolação: métodos de factores de avaliação e métodos de distribuição da sensibilidade.

Métodos de factores de avaliação

O princípio geral destes métodos reside na divisão do resultado de um ensaio de laboratório por um factor de avaliação apropriado. Quanto mais escassos forem os dados disponíveis, maior será o factor de avaliação. As PNEC são calculadas dividindo o menor valor da toxicidade pelo factor de avaliação relevante. Os resultados de ensaios prolongados (expressos como EC10/NOEC para um parâmetro subletal) são preferenciais em relação aos dos ensaios de curta duração (EC/LC50), uma vez que proporcionam uma visão mais realista dos efeitos sobre os organismos ao longo de todo o seu ciclo de vida.

Ao estabelecer a dimensão desses factores de avaliação, devem ser considerados diversos aspectos para a extrapolação de dados de ensaios laboratoriais com espécies únicas para um ecossistema com diversas espécies. Esses aspectos compreendem:

a variação dos dados sobre toxicidade dentro do mesmo laboratório e entre laboratórios;

as variações dentro das mesmas espécies e entre as espécies (divergência biológica);

extrapolação da toxicidade a curto prazo para toxicidade a longo prazo;

dados laboratoriais para extrapolação do impacto no terreno.

Os métodos de distribuição da sensibilidade

Se estiverem disponíveis informações suficientes para uma descrição matemática da distribuição das sensibilidades entre espécies diferentes, estas informações podem ser utilizadas para calcular uma concentração de exposição baixa que actue como protecção para a grande maioria das espécies num ecossistema.

Os métodos de distribuição da sensibilidade são baseados em cálculos estatísticos e requerem valores NOEC determinados experimentalmente para diversos ensaios (mínimo de 10) com espécies de grupos taxonómicos diferentes (mínimo de 8). Estes métodos visam calcular uma concentração que se pressupõe proteger uma determinada percentagem (por exemplo, 95 %) das espécies do ecossistema contra os efeitos tóxicos.

Os pressupostos e requisitos dos métodos de distribuição da sensibilidade estão descritos em pormenor na secção R.10.3.1.3. Se os dados disponíveis não cumprirem esses requisitos (o que acontece na maior parte dos casos), são utilizados os métodos de factores de avaliação. Por conseguinte, os métodos de factores de avaliação são utilizados com maior frequência e apenas estes são descritos no presente documento. Estão disponíveis informações pormenorizadas sobre os métodos de distribuição da sensibilidade na secção R.10.3.1.3.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Etapas da avaliação

A abordagem normal consistirá em utilizar o método de factores de avaliação. Assim, são aplicáveis as seguintes etapas de avaliação:

Para o compartimento ambiental, seleccionar estudos-chave para cada nível/grupo trófico de organismos

Identificar o nível/grupo trófico de organismos mais sensível e, neste grupo, as espécies com a menor concentração com efeitos

Identificar o factor de avaliação adequado em função da informação disponível

Dividir a menor concentração com efeitos pelo factor de avaliação para derivar a PNECcomp

Cálculo

A equação geral seguinte pode ser utilizada para determinar a PNEC:

AF

}Min{ECPNEC

comp

comp

Dados

Parâmetro Descrição Fonte

Min{ECcomp} A menor concentração com efeitos válida para organismos do compartimento, ou seja, EC50 ou LC50 para a toxicidade a curto prazo ou EC10/NOEC para a toxicidade a longo prazo, dada normalmente em [mg/L] ou em [mg/kg]

Dossiê técnico [cf. art. 10.º, alínea a), subalíneas vi) e (vii)]

AF Factor de avaliação, cuja dimensão depende do tipo e da quantidade de informação disponível sobre toxicidade

Capítulo R.10.3.1

Resultado

Parâmetro Descrição Utilização

PNECcomp Concentração previsivelmente sem efeitos para o compartimento em causa, dada normalmente em [mg/L] ou em [mg/kg]

Avaliação dos riscos

B.7.2.2 Derivação da PNEC para água doce

Dependendo dos dados sobre toxicidade disponíveis para organismos aquáticos, os factores de avaliação são seleccionados para extrapolar ensaios de toxicidade com espécies únicas para uma PNEC para proteger os organismos que vivem no compartimento aquático. São distinguidos os níveis tróficos seguintes para os ambientes de água doce e marinho:

algas (produtores primários);

invertebrados/Daphnia (consumidores primários);

peixes (consumidores secundários);

outras espécies (por exemplo, decompositores).

Os factores de avaliação específicos a utilizar em função dos dados disponíveis sobre ecotoxicidade são indicados no capítulo R.10.3.1.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Exemplo:

Um dossiê relativo a uma substância fabricada em quantidades compreendidas entre 10 e 100 toneladas (requisitos do anexo VIII) tem os seguintes dados sobre ecotoxicidade

Algas: Scenedesmus subspicatus EC50 (72 horas) = 10 mg/L

Invertebrados: Daphnia magna EC50 (48 horas) = 1 mg/L

Peixes: Pimephales promelas EC50 (96 horas) = 0,8 mg/L

Nesta situação, apenas estão disponíveis dados sobre ecotoxicidade a curto prazo. O nível trófico mais sensível é constituído pelos peixes, com EC50 (96 horas) = 0,8 mg/L (=min{ECágua}).

Nos termos da secção R.10.3.1.2, o factor de avaliação a utilizar quando apenas estão disponíveis dados sobre toxicidade a curto prazo sobre os três níveis tróficos é 1 000.

A PNECágua = 0,8 / 1000 = 0,0008 mg/L = 0,8µg/L

Se for identificada uma libertação intermitente para um estádio do ciclo de vida, apenas devem ser considerados efeitos a curto prazo para a caracterização dos riscos desse estádio (apenas para o compartimento aquático). Entende-se por libertação intermitente, uma libertação «intermitente mas com uma periodicidade pouco frequente, ou seja, inferior a uma vez por mês e durante não mais de 24 horas» (secção R.16.2.1.5). Devem ser aplicados factores de avaliação específicos sobre os dados disponíveis relativos à toxicidade a curto prazo, tal como especificado na secção R.10.3.3.

B.7.2.3 Derivação da PNEC para a água do mar

São utilizados factores de avaliação diferentes na derivação da PNEC para a água do mar. A maior diversidade de táxones (espécies) no ambiente marinho, em comparação com o ambiente de água doce, pode resultar numa maior distribuição da sensibilidade das espécies. Nos casos em que apenas estão disponíveis dados sobre algas de água doce ou água salgada, crustáceos e peixes, deve ser aplicado um factor de avaliação mais elevado do que o utilizado na derivação da PNECágua para água doce. Este factor de avaliação mais elevado reflecte a maior incerteza na extrapolação. Se estiverem disponíveis dados para mais grupos taxonómicos marinhos, por exemplo, rotíferos, equinodermes ou moluscos, as incertezas na extrapolação são reduzidas e a grandeza do factor de avaliação aplicado a um conjunto de dados pode ser reduzida.

Os factores de avaliação específicos a aplicar são indicados na secção R.10.3.2.3.

B.7.2.4 Derivação da PNEC para sedimentos e solos

A PNECsedimento/solo pode ser derivada de duas formas, dependendo dos dados disponíveis.

Resultados de ensaios com organismos que vivem em sedimentos/solos

Utilizando o método da partição no equilíbrio (MPE) quando apenas estão disponíveis dados de toxicidade (resultados de ensaios ou métodos sem recurso a ensaios) para organismos aquáticos (pelágicos).

Na maior parte das vezes, a PNECsedimento/solo é derivada primeiro através da utilização do método da partição no equilíbrio e dados de toxicidade para organismos aquáticos, uma vez que raramente estão disponíveis resultados de ensaios com organismos que vivem em sedimentos/solos. Se apenas estiverem disponíveis dados sobre organismos aquáticos, a PNECsedimento/solo é calculada com base nos pressupostos de que é possível comparar a sensibilidade dos organismos pelágicos e dos organismos que vivem em sedimentos, mas que, no sedimento/solo, a disponibilidade da substância é reduzida devido à absorção para o sedimento/solo ou para a sua matéria orgânica. Tal implica a utilização de cálculos de partição,

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Parte B: Avaliação do perigo

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assumindo que o equilíbrio é obtido. A disponibilidade de dados com organismos que vivem em sedimentos determina a utilização de um ou de ambos os métodos.

Partição no equilíbrio

Se apenas estiverem disponíveis dados de organismos aquáticos, a PNECsedimento/solo é calculada com base na partição no equilíbrio.

Calcular a PNECágua ou, no caso de sedimentos marinhos, a PNECágua salgada

Calcular o coeficiente Koc (estudo-chave) identificado

Utilizar características-padrão do sedimento e respectivas condições

Efectuar cálculos de acordo com a equação que figura adiante

Para determinar a PNECsedimento para o compartimento de água doce e água marinha, deve ser utilizada a equação seguinte:

águaocsedimento PNEC)K0.0217(0.783PNEC

O valor PNECsedimento é aplicável ao sedimento-padrão com base em sólidos em suspensão acabados de preparar, com 10 % de sólidos e 10 % de carbono orgânico.

Para determinar a PNECsolo deve ser utilizada a equação seguinte:

águasolo PNECKoc)0.0104(0.174PNEC

A PNECsolo é aplicável a solos-padrão com 60 % de sólidos, 20 % de água e 20 % de ar, e com 2 % de carbono orgânico nos sólidos do solo.

Método de factores de avaliação

Se estiverem disponíveis dados com organismos que vivem em sedimentos ou em solos, a abordagem normal consiste no método de factores de avaliação descrito na secção B.7.2.1, utilizando os factores de avaliação indicados nas secções R.10.5.2.2 para os sedimentos e R.10.6.2 para os solos.

B.7.2.5 Derivação da PNEC em estações de tratamento de águas residuais

A PNECmicrorganismos é a concentração de uma substância química na água abaixo da qual é provável que ocorram efeitos inaceitáveis nos microrganismos em estações de tratamento de águas residuais, mesmo durante exposições contínuas (prolongadas).

A PNECmicrorganismos é derivada normalmente a partir de dados de toxicidade para microrganismos que vivam em lamas activadas obtidas através de ensaios laboratoriais ou de métodos sem recurso a ensaios. Pressupõe-se que os resultados de um ensaio de inibição respiratória em lamas activadas estão disponíveis. Podem estar disponíveis outros dados, conforme descrito na secção R.10.4.

Os factores de avaliação utilizados para derivar a PNECmicrorganismos são indicados na secção R.10.4.2.

B.7.2.6 Derivação de PNEC para o compartimento ar

Embora não exista um procedimento normalizado, existem várias opções para considerar dados relativos a efeitos para o compartimento ar (por exemplo, para a exposição de organismos a substâncias gasosas), uma vez que são considerados os efeitos bióticos e abióticos (ver secção R.10.7).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.7.2.7 Derivação de PNEC para predadores e grandes predadores

As substâncias que são bioacumuláveis e que têm uma degradabilidade reduzida podem acumular-se nas cadeias alimentares e acabar por provocar efeitos tóxicos nos peixes, aves e mamíferos predadores (os designados (grandes) predadores) nos níveis superiores das cadeias alimentares, incluindo os seres humanos. Este efeito é denominado intoxicação secundária.

Deve ser dada uma atenção especial à ingestão através das cadeias alimentares que seja susceptível de causar intoxicação secundária; foi desenvolvida uma estratégia para avaliar a intoxicação secundária. Esta estratégia tem em conta a PNECcomp, a ingestão directa e a concentração resultante na alimentação de organismos vivos e toxicidade da substância química nos mamíferos e nas aves. Nesta base, são calculados os possíveis efeitos em aves e mamíferos no ambiente por via da ingestão através da cadeia alimentar água/solo → organismos vivos → predador → mamífero ou ave grande predador. A extensão da cadeia alimentar depende do compartimento em questão.

Assim, se uma substância tiver um potencial de bioacumulação e uma degradabilidade reduzida, é necessário ponderar se a substância também tem potencial para provocar efeitos tóxicos se for acumulada nos organismos superiores. Esta avaliação é baseada nas classificações com base em dados de toxicidade em mamíferos, ou seja, a classificação STOT (exposição repetida) das categorias 1 ou 2 (H372 «Afecta os órgãos após exposição prolongada ou repetida», H373 «Pode afectar os órgãos após exposição prolongada ou repetida»), tóxico para a reprodução das categorias 1A, 1B ou 2 (H360F «Pode afectar a fertilidade», H360D «Pode afectar o nascituro», H360f «Suspeito de afectar a fertilidade», H361d «Suspeito de afectar o nascituro», H362 «Pode ser nocivo para as crianças alimentadas com leite materno»). Se for este o caso, deve ser realizada uma avaliação pormenorizada da intoxicação secundária.

A avaliação da intoxicação secundária consiste num processo por etapas:

1. Avaliação do potencial de bioacumulação da substância

Recolha de informações sobre o factor de bioconcentração (BCF) ou Log Koa e a degradabilidade

Comparação com os critérios seguintes

log Koa 3; ou;

BCF 100

e inexistência de propriedades de mitigação como, por exemplo, elevada biodegradabilidade ou hidrólise (semi-vida inferior a 12 horas)

Se estes critérios forem satisfeitos, avançar para a etapa seguinte.

2. Cálculo da concentração previsivelmente sem efeitos nos alimentos (PNECpredador oral)

A abordagem normal consistirá em utilizar o método de factores de avaliação. Assim, as etapas de avaliação normais são:

No que respeita ao compartimento ambiental, seleccionar estudos-chave entre os dados de toxicidade oral disponíveis para aves ou mamíferos (ou seja, recolher dados de estudos de toxicidade relativos à exposição por via alimentar e oral, de preferência estudos prolongados relativos a NOEC para, por exemplo, mortalidade, reprodução ou crescimento)

Caso os dados de toxicidade sejam fornecidos apenas como NOAEL, estes devem ser convertidos para NOEC por meio de factores de conversão, os quais dependem das espécies mamíferas ou de aves estudadas. Os factores de conversão são indicados no quadro R.10-12 da secção R.10.8.

Identificar o estudo-chave entre grupos de organismos com o menor efeito de concentração

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Identificar o estudo que forneça o menor valor CL50ave, NOECave ou NOECmamífero. Este valor constitui a TOXoral

Identificar o factor de avaliação adequado em função da informação disponível. Os factores de avaliação são indicados na secção R.10.8.

Dividir o menor efeito de concentração pelo factor de avaliação para derivar a PNECoral, predador

As equações seguintes podem ser utilizadas para derivar a PNECoral, predador

predadorpredadororal,predadororal, CONVNOAELNOEC

predadororal,

predadororal,predadororal, AF

TOXPNEC

Dados

Parâmetro Descrição Fonte

PECcomp Concentração prevista na fase aquosa [Resultado de estimativas de exposição]

log Koa Coeficiente de partição n-octanol/água Dossiê

NOAELoral,predador A menor concentração com efeitos válida de estudos de toxicidade alimentar ou oral em aves ou mamíferos, dada normalmente em [mg/kg por dia de trabalho]

Dossiê

NOECoral,predador A menor concentração com efeitos válida de estudos de toxicidade alimentar ou oral em aves ou mamíferos, expressa em [mg/kg alimentos]

Dossiê [ou calculado a partir do NOAELpredador]

TOXoral,predador O menor CL50ave, NOECave ou NOECmamífero Dossiê [ou NOECoral,predador calculado acima]

FA oral,predador Factor de avaliação, cuja dimensão depende do tipo e da quantidade de informação disponível sobre toxicidade

Quadro R.10-13 na secção R.10.8.2

Resultado

Parâmetro Descrição Utilização

PECoral Concentração prevista em presas/alimentos normalmente expressa em [mg/kg]

Avaliação do risco de intoxicação secundária

PECoral,predador Concentração previsivelmente sem efeitos em presas/alimentos normalmente expressa em [mg/kg]

Avaliação do risco para o compartimento solo

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.8 ÂMBITO DA AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO

B.8.1 Contexto e objectivo do capítulo

O artigo 14.º, n.ºs 1 e 4, do Regulamento REACH exige que a avaliação da exposição e a subsequente caracterização dos riscos sejam realizadas para as substâncias sujeitas a registo que sejam fabricadas ou importadas numa quantidade igual ou superior a 10 toneladas/ano e sempre que o registante conclua, na avaliação dos perigos, que a substância cumpre os critérios para classificação em qualquer uma das classes ou categorias de perigo enumeradas no artigo 58.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 1272/2008, que altera o artigo 14.º, n.º 4, do Regulamento REACH a partir de 1 de Dezembro de 2010, nomeadamente:

as classes de perigo 2.1 a 2.4, 2.6 e 2.7, 2.8 (tipos A e B), 2.9, 2.10, 2.12, 2.13 (categorias 1 e 2), 2.14 (categorias 1 e 2), 2.15 (tipos A a F);

as classes de perigo 3.1 a 3.6, 3.7 (efeitos adversos para a função sexual e a fertilidade ou para o desenvolvimento), 3.8 (efeitos que não sejam efeitos narcóticos), 3.9 e 3.10;

a classe de perigo 4.1;

a classe de perigo 5.1;

ou as propriedades PBT, mPmB.

Estas classes e categorias serão descritas doravante como «classes ou categorias de perigo nos termos do artigo 14.º, n.º 4».

Nestes termos, caso seja decidido que é necessário proceder à avaliação da exposição e à caracterização dos riscos para uma substância, a etapa seguinte consiste em decidir o âmbito da avaliação da exposição. Nos termos do anexo I do Regulamento REACH, a avaliação da exposição deve abranger todos os perigos que foram identificados nos termos dos pontos 1 a 4 do anexo I do Regulamento REACH. Por uma questão de clareza, deve notar-se que esses perigos identificados como necessitando de avaliação da exposição pertencem a três tipos:

perigos para os quais existem critérios de classificação e informações que permitem determinar que a substância cumpre os critérios e, por conseguinte, é classificada;

perigos para os quais existem critérios de classificação e informações sobre essas propriedades da substância que demonstram que esta possui essas propriedades, mas a gravidade dos efeitos é menor do que a referida nos critérios de classificação e, portanto, a substância não é classificada;

perigos para os quais não existem actualmente critérios de classificação, mas existem informações demonstrando que a substância tem essas propriedades de perigo.

Para ilustrar a identificação dos perigos, nomeadamente para os casos não classificados, é útil ter em conta a definição de identificação de perigos da OCDE: a identificação de perigos deve abranger os diferentes tipos e natureza dos efeitos adversos que um agente possui como capacidade inerente para os provocar num organismo, sistema ou (sub)população4. Entende-se por efeito adverso uma mudança na morfologia, fisiologia, crescimento, desenvolvimento, reprodução ou duração de vida de um organismo, sistema ou (sub)população que resulta numa

4 http://www.who.int/ipcs/publications/methods/harmonization/en/terminol_part-II.pdf - definição de identificação de perigos da OCDE.

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Parte B: Avaliação do perigo

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diminuição da capacidade funcional, numa diminuição da capacidade para compensar uma pressão suplementar ou num aumento da susceptibilidade a outras influências.5

Por outro lado, o anexo I do Regulamento REACH especifica que a avaliação da exposição deve incidir sobre todos os estádios do ciclo de vida da substância resultantes do fabrico e das utilizações identificadas. Para cada estádio do ciclo de vida, a avaliação da exposição deve abranger todas as exposições relacionadas com os perigos identificados a partir da avaliação dos perigos realizada como etapa inicial da avaliação da segurança química, tal como descrito supra.

O objectivo da avaliação da exposição consiste em obter uma utilização segura da substância. Assim, o(s) cenário(s) de exposição definido(s) a partir da avaliação deve(m) assegurar o «controlo dos riscos» resultantes de todos os perigos identificados.

As presentes orientações visam ajudar os registantes a determinar o âmbito necessário da avaliação da exposição com base no resultado da avaliação dos perigos no que respeita a efeitos para a saúde humana e para o ambiente. Baseiam-se nos princípios e nas orientações já existentes noutros capítulos do Guia de orientação sobre requisitos de informação e avaliação da segurança química (Guia IR/CSA).

As presentes orientações não abrangem matérias já abordadas noutras orientações, tais como:

argumentos expostos para decidir sobre a exigência ou a isenção de dados de registo nos termos dos anexos VIII a X;

requisitos de avaliação da exposição relativos a ensaios de exposição adaptados à substância com vista à isenção de exigência de informações-padrão nos termos do anexo XI, ponto 3 (ver capítulo R.5 do Guia de orientação);

o âmbito adicional da avaliação da exposição no que respeita às substâncias que possuem propriedades PBT ou mPmB (ver capítulo R.11 do Guia de orientação);

a apresentação, no Relatório de Segurança Química (CSR), das medidas de avaliação dos riscos e da caracterização dos riscos respeitantes aos perigos físico-químicos, uma vez que a avaliação desses perigos se rege por princípios diferentes dos da avaliação da exposição relativa a perigos toxicológicos e ecotoxicológicos. (Nota: está em curso uma revisão do capítulo R.9 do Guia de orientação para resolver este problema).

B.8.2 Princípios gerais

As avaliações de perigo para a saúde humana e para o ambiente, nos termos do anexo I do Regulamento REACH, incluem as etapas seguintes:

1. Avaliação das informações

identificação dos perigos com base em todos as informações pertinentes disponíveis 6

e

estabelecimento da relação quantitativa dose (concentração) – resposta (efeito) ou da análise semi-quantitativa ou qualitativa, quando tal não for possível;

5 http://www.inchem.org/documents/harmproj/harmproj/harmproj1.pdf - Definição de efeitos adversos da OCDE (IPCS RISK ASSESSMENT TERMINOLOGY, 2004). 6 Entende-se por «informações disponíveis», as informações ao dispor do registante no cumprimento dos requisitos de informação estabelecidos nos anexos VI a XI e na execução da avaliação destas informações. Nota: as considerações relativas à utilização e à exposição podem ser relevantes para o cumprimento dos requisitos de informação, por exemplo, a fim de determinar as vias de exposição prováveis/improváveis para os seres humanos ou a probabilidade de exposição dos solos/sedimentos. Essas considerações sobre a utilização e a exposição podem incluir a identificação de utilizações a evitar, as condições de funcionamento a assegurar para impedir a divulgação da gestão dos riscos ou da exposição aos clientes. Poderá ainda ser necessária a quantificação da emissão e da exposição para justificar a inexistência de exposição.

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Parte B: Avaliação do perigo

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2. Classificação e rotulagem;

3. Identificação de PNEC e DNEL.

As empresas que estão a preparar um registo de dossiê e a realizar uma avaliação de segurança química (CSA) devem decidir: i) se a avaliação da exposição e a caracterização dos riscos são necessárias e, em caso afirmativo, ii) qual o âmbito exigido da avaliação da exposição. Assim, o resultado da avaliação de perigos pode dar origem a um dos cenários seguintes:

a substância não cumpre os critérios relativos a qualquer uma das categorias, classes ou propriedades7 de perigo previstas no artigo 14.º, n.º 4, do Regulamento REACH: neste caso, a avaliação da exposição não é obrigatória;

a substância cumpre os critérios relativos a pelo menos uma das categorias ou classes de perigo (físico, para a saúde ou para o ambiente) ou é avaliada como tendo qualquer uma das propriedades previstas no artigo 14.º, n.º 4, do Regulamento REACH: neste caso, a avaliação da exposição é obrigatória e deve ser considerada para todas as estimativas-padrão da exposição indicadas no Quadro B-8-1.

Além disso, deve notar-se que, se um registante adaptar as informações-padrão exigidas com base em análises de exposição nos termos no anexo XI, ponto 3 («ensaios de exposição adaptados à substância»), é obrigatória uma avaliação da exposição para cumprir as condições aí especificadas.

Tal como referido na secção B.8.1, a avaliação da exposição não está limitada apenas aos perigos classificáveis ou aos efeitos adversos observados em doses/concentrações em que a classificação é aplicada, devendo abranger todos os perigos identificados na etapa 1 da avaliação de perigos (avaliação de informações). Os exemplos seguintes ilustram circunstâncias em que a avaliação da exposição deve igualmente abranger propriedades de perigo não classificadas:

os critérios de classificação ainda não estão definidos para um determinado tipo de perigo (por exemplo, perigo para o ambiente relacionado com o solo e o sedimento ou o ar) 8. Mesmo na ausência de critérios de classificação, os perigos podem ter sido identificados (por exemplo, por observação de efeitos adversos em organismos sedimentares ou do solo);

os perigos são previstos através de modelos, por exemplo, o método da partição no equilíbrio para detectar a existência de potenciais riscos nos compartimentos sedimento ou solo com base na PNEC aquática;

os critérios de classificação estão definidos (por exemplo, para toxicidade em meio aquático ou toxicidade aguda em meio aquático no que respeita à saúde humana) mas, com base nas informações pertinentes disponíveis, conclui-se que os critérios não são cumpridos e, deste modo, a substância não é classificada como perigosa para um parâmetro específico (por exemplo não existe Toxicidade para órgãos-alvo específicos resultante de exposição repetida [STOT-RE] até 100 mg/kg/d num estudo oral de 90 dias). No entanto, podem existir efeitos adversos observados em estudos de ecotoxicidade ou de toxicidade numa dose ou concentração mais elevada do que aquelas que determinam a classificação; esses efeitos adversos devem ser tidos em conta na avaliação de perigos e podem levar à derivação de um DNEL ou de uma PNEC.

Com base na identificação de perigos, na classificação atribuída e nos DN(M)EL e PNEC derivados, o registante pode concluir quais são os efeitos toxicológicos, as vias de exposição e os alvos de protecção em matéria de ambiente para os quais a avaliação da exposição é necessária.

7 Neste contexto, o termo «propriedades» refere-se a PBT e mPmB (ver secção B.8.1)

8 Consulte as orientações específicas sobre parâmetros relativas a organismos do solo e sedimentares, plantas expostas por via aérea, organismos das instalações de tratamento de águas residuais e predadores através da cadeia alimentar, bem como sobre a avaliação do potencial de formação, eutrofização e acidificação do ozono e quaisquer outros perigos para o ambiente pertinentes (capítulo R.7 do Guia IR/CSR).

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.8.3 Determinar se a avaliação da exposição é necessária

A figura B-8-1 apresenta uma descrição geral do processo de decisão para determinar a necessidade da avaliação da exposição com base nos diferentes resultados da avaliação dos perigos. Se não for cumprido nenhum dos critérios de classificação e o registante demonstrar que a substância não cumpre os critérios para ser considerada como PBT ou mPmB, não é necessária qualquer avaliação da exposição (ou seja, não é obrigatória). Se forem cumpridos os critérios relativos a qualquer classe, categoria ou propriedade de perigo9 prevista no artigo 14.º, n.º 4, o registante deverá determinar o âmbito adequado da avaliação da exposição no que respeita à saúde humana e ao ambiente.

9 Neste contexto, o termo «propriedades» refere-se a PBT e mPmB (ver secção B.8.1)

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Parte B: Avaliação do perigo

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A substância cumpre algum dos critérios para ser classificada como perigosa ou é avaliada como PBT/mPmB?

A avaliação da exposição e a caracterização dos riscos não são obrigatórias, a menos que

seja exigido um ensaio de exposição adaptado à substância.

não

Identificar estudos chave e efeitos críticos

Avaliar todas as informações disponíveis relativas à saúde humana, identificar perigos e derivar a

relação dose(concentração) resposta ou (quando tal não for possível)a análise semi quantitativa/

qualitativa

Avaliar todas as informações disponíveis relativas ao ambiente, identificar perigos e derivar a relação

dose(concentração) resposta ou (quando tal não for possível)a análise semi quantitativa/qualitativa

Avaliar todas as informações disponíveis relativas aos perigos

físico químicos

Determinar o âmbito da avaliação da exposição para a saúde humana e para o ambiente. Ter em conta todos os elementos-padrão de exposição, tal como enumerados no quadro 1 (grupos-alvo de pessoas, vias de exposição, tipos de efeitos, alvos de protecção ambiental)

Coligir ou produzir informações de acordo com os anexos VII a XI: se for exigido um ensaio de exposição adaptado à substância, a avaliação da exposição é obrigatória

por predefinição.

sim

Âmbito para a saúde humana=> Figura 2

Âmbito para o ambiente=> Figura 3

Resultados da avaliação do perigo para a saúde humana:Identificação de todos os perigos relacionados com a saúde humanaClassificação sempre que os perigos identificados cumpram os critérios de classificaçãoDNEL (para trabalhadores e/ou consumidores) para as vias de exposição e tipos de efeitos relevantes, Justificação para o facto de i) não ter sido possível derivar qualquer DNEL para um ou mais tipos de efeito ii) não ser necessário derivar DNEL para determinados tipos de efeito ou vias de exposição

Resultados da avaliação do perigo para o ambienteIdentificação de todos os perigos relacionados com o ambienteClassificação sempre que os perigos identificados cumpram os critérios de classificação PNEC para cada alvo de protecção ambientalJustificação para o facto de i) não ter sido possível derivar qualquer PNEC para um ou mais alvos de protecção ou ii) não ser necessário derivar PNEC para um ou mais alvos de protecção

Conclusões da avaliação PBT e mPmBSubstâncias (não) avaliadas como PBT ou mPmB

Resultados da avaliação dos perigos para a saúde humana decorrentes das propriedades físico-químicas

Perigos identificados quanto à explosividade, inflamabilidade e poder oxidante

Figura B-8-1: Descrição geral do processo de decisão que determina a necessidade de realizar uma avaliação da exposição no que respeita à saúde humana e ao ambiente

B.8.4 Âmbito da avaliação da exposição

O Quadro B-8-1 apresenta uma descrição geral do âmbito de uma avaliação da exposição, conforme sugerido nos capítulos R.8, R.10 e R.16 do Guia IR/CSA. Podem ser consideradas até

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Parte B: Avaliação do perigo

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35 estimativas de exposição numa avaliação-padrão da exposição: essas estimativas são

apresentadas no Quadro B-8-110

. No entanto, o registante pode ter avaliado alguns tipos de perigos ou vias de exposição como não sendo relevantes para a substância (por exemplo, ausência de efeitos adversos agudos em todas as vias) e, desse modo, a correspondente avaliação da exposição pode ser omitida, dependendo do resultado da avaliação dos perigos. Outras avaliações da exposição podem ainda ser subdiferenciadas (por exemplo, (sub)populações de profissionais sensíveis ou de consumidores).

Quadro B-8-1: Avaliação da exposição – descrição geral

Secção de avaliação de perigos

Grupo-alvo Via de exposição ou compartimento ambiental

Tipo de efeito N.º potencial de estimativas de exposição

Trabalhador Inalação 4

Cutânea 4

Ocular

Agudo e crónico, local e sistémico

1

Consumidor Inalação 4

Cutânea 4

Ocular

Agudo e crónico, local e sistémico

1

Oral Agudo e crónico, local e sistémico

4

Seres humanos através do ambiente

Inalação 1

Saúde humana

Oral (alimentos e água potável)

Sistémico crónico

1

Pelágico aquático (água doce, água do mar)

2

Sedimentos aquáticos (água doce, água do mar)

2

Cadeia alimentar aquática (predadores de água doce, predadores de água do mar, grandes predadores marinhos)

3

Tratamento de águas residuais 1

Ar11

1

Solo (agrícola) 1

Ambiente

Solo (cadeia alimentar) 1

Número de estimativas de exposição-padrão para avaliação da exposição 35

Com base na avaliação das informações de perigo disponíveis para uma substância, é possível decidir se é necessário proceder a uma avaliação da exposição para um grupo-alvo específico, tipo de efeito e duração da exposição, bem como uma caracterização dos riscos subsequente, nos termos do anexo I do Regulamento REACH.

As figuras B-8-2 e B-8-3 apresentam os fluxos de trabalho para considerar de forma sistemática os requisitos de avaliação da exposição, com base no resultado da avaliação de perigos para a saúde humana e para o ambiente. Estes fluxos de trabalho têm início nos perigos classificados

10 A lista de alvos de protecção em matéria de ambiente está conforme com o formato CSR da Ferramenta para avaliação da segurança química e apresentação de relatórios (Chesar) da ECHA. As estimativas de exposição relativas a terrenos de pastagens e águas subterrâneas (ecossistema terrestre) não são mencionadas especificamente no presente documento, uma vez que não constituem alvos de protecção por si próprias, mas apenas necessitam de uma estimativa da exposição dos seres humanos através do ambiente. 11 Diz respeito a exemplos de efeitos em plantas superiores ou de impacto na camada de ozono.

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Parte B: Avaliação do perigo

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para a substância e na avaliação da exposição associada. Além disso, o registante deve considerar:

se foram observados efeitos adversos em estudos sobre parâmetros toxicológicos realizados na concentração mais elevada possível e relevante em termos biológicos, por exemplo, nos termos das Orientações da OCDE e da UE (por exemplo, 1 000 mg/kg/d nas Orientações da OCDE, como ensaio limite para um estudo de toxicidade oral de 90 dias);

se foram observados efeitos adversos em estudos sobre toxicidade ambiental realizados na concentração mais elevada possível e relevante em termos biológicos, por exemplo, nos termos das Orientações da OCDE e da UE (por exemplo, nos termos das Orientações da OCDE como ensaio limite para um estudo de toxicidade aguda em meio aquático), tendo em conta as propriedades da substância que determinam o destino ambiental.

Se não tiverem sido observados efeitos adversos em estudos nas concentrações/doses mais elevadas e recomendadas que foram sujeitas a ensaio, este facto indica normalmente que não

foram identificados perigos e que não podem ser derivados quaisquer DNEL ou PNEC12

e, deste modo, não será necessário proceder à avaliação da exposição para essa via de exposição, tipo de efeito ou alvo de protecção. Se o estudo não tiver sido realizado de acordo com as normas da UE ou com as orientações da OCDE e forem observados efeitos adversos (em especial, se os níveis de dose em que os efeitos são observados forem apenas ligeiramente superiores à dose-limite especificada nas orientações da OCDE para esse parâmetro), o registante deve apresentar uma justificação por ter ignorado os efeitos (por exemplo, porque não são relevantes do ponto de vista biológico), ou realizar uma avaliação da exposição tal como faria para qualquer outro perigo identificado.

B.8.4.1 Âmbito da avaliação da exposição relacionada com perigos toxicológicos para a saúde humana

A figura B-8-2 apresenta um diagrama esquemático para considerar de forma sistemática as necessidades de avaliação da exposição das diferentes populações humanas, vias de exposição, tipos de efeitos e duração da exposição. Este diagrama baseia-se nos princípios descritos na Parte E (Caracterização dos riscos) e no capítulo R.8 (Dose [Concentração]-Resposta relativa à saúde humana) do Guia IR/CSA. Nota: para permitir a caracterização dos riscos para os seres humanos através do ambiente são necessárias de forma sistemática estimativas da exposição para os diferentes compartimentos ambientais quando um DNEL é derivado para uma exposição sistémica a longo prazo por inalação e pelas vias orais para a população em geral.

No que respeita aos trabalhadores e aos consumidores, não são necessárias avaliações da exposição de curta duração ou prolongada caso não tenham sido observados efeitos adversos para nenhum dos parâmetros pertinentes para a saúde humana. De igual modo, a avaliação da exposição de seres humanos através do ambiente (alimentação, água potável e ar ambiente) pode ser omitida neste caso.

12 Nota: Não é sempre aplicável a perigos ambientais de substâncias com fraca solubilidade em água. De notar também que a observação de efeitos (eco)toxicológicos graves (por exemplo, mortalidade) em doses ligeiramente acima do valor limite exige uma avaliação da exposição.

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Parte B: Avaliação do perigo

62

A substância cumpre os critérios para ser classificada em termos de toxicidade sistémica

aguda ou local em qualquer uma das vias de exposição?

=> 8.4.1.1

não

no

Âmbito para a saúde humana

A avaliação da exposição para a saúde humana não é

necessária.

A substância cumpre os critérios para ser classificada

em termos de toxicidade local ou sistémica a longo prazo em qualquer uma das vias de

exposição?=> 8.4.1.2

não

Existem outros efeitos adversos, observações ou

informações da avaliação de perigo (que não obrigam a classificação) que suscitem

preocupação?=> 8.4.1.3

Dependendo da preocupação, pode ser necessária uma avaliação da exposição para exposição de curta duração e/ou

prolongada.

A avaliação da exposição é obrigatória para uma exposição de curta duração.

A avaliação da exposição é obrigatória para uma exposição prolongada.

sim

sim

sim

Figura B-8-2: Descrição geral do processo de decisão para identificar o âmbito de avaliação da exposição necessário no que respeita à saúde humana

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Parte B: Avaliação do perigo

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B.8.4.1.1 Perigos agudos classificados

O apêndice 2 apresenta um quadro com as classificações que podem determinar a necessidade de avaliação relacionada com exposições de curta duração. Sempre que estiver disponível um

DNEL de curta duração,13,

é necessário realizar a correspondente avaliação da exposição de curta duração, utilizando o mesmo período de referência do DNEL (por exemplo, 15 minutos para trabalhadores) para demonstrar de forma quantitativa que este DNEL não será excedido. Se não estiver disponível nenhum DNEL, é necessária uma caracterização qualitativa dos riscos para justificar que as medidas de gestão dos riscos descritas no cenário de exposição minimizam/impedem suficientemente a exposição de curta duração.

Devem ser especialmente considerados os possíveis efeitos adversos irreversíveis/graves devidos a uma exposição de curta duração. Na toxicidade reprodutiva, mesmo uma única exposição de curta duração pode provocar falhas reprodutivas irreversíveis. Os efeitos da toxicidade sobre o desenvolvimento, classificados ou não classificados, associados a uma exposição de curta duração ou por ela provocados, podem suscitar uma preocupação específica. Uma única exposição de curta duração durante um período sensível do desenvolvimento embrionário e/ou fetal pode causar malformações ou outros perigos para o desenvolvimento. Para controlar os riscos destes efeitos adversos, é necessário assegurar que a exposição de curto prazo estimada ou medida não excede o DNEL diário para toxicidade reprodutiva. Por conseguinte, recomenda-se que, nos casos em que tenha sido estabelecido um DNEL reprodutivo, a avaliação da exposição abranja tanto a exposição de curta duração como a exposição prolongada no que respeita ao nível e à frequência da exposição.

B. 8.4.1.2 Perigos a longo prazo classificados

O apêndice 3 apresenta um quadro com as classificações que determinam a necessidade de avaliar a exposição prolongada. Sempre que estiver disponível um DNEL, a avaliação da exposição deve demonstrar quantitativamente que o DNEL de longo prazo não será excedido pela exposição média num dia de trabalho (para profissionais) ou num dia de consumo (para consumidores). Se não estiver disponível nenhum DNEL, é necessária uma caracterização qualitativa dos riscos para justificar que as medidas de gestão dos riscos descritas no cenário de exposição minimizam/impedem suficientemente a exposição.

B.8.4.1.3 Perigos não classificados

Além dos perigos classificados, o registante deve considerar os efeitos adversos que não dão origem a classificação. Se os critérios para a classificação do perigo identificado não forem cumpridos, poderá ainda ser possível derivar um DNEL e, desse modo, será necessária uma avaliação da exposição (ver casos c) e d) adiante). Se uma substância não cumprir os critérios para classificação e não for possível derivar um DNEL, pode ainda subsistir um perigo; nesse caso, o registante deverá considerar o nível e o tipo de perigo identificado e justificar as condições de utilização descritas no cenário de exposição numa caracterização qualitativa dos riscos (ver casos a) e b) adiante). Seguem-se alguns exemplos desses casos, embora também possam eventualmente ocorrer outros:

caso a): indícios decorrentes de dados humanos, alertas estruturais e/ou a classificação relativa à sensibilização cutânea podem sugerir que a substância pode ter propriedades de sensibilizante respiratório, mas as informações não são suficientemente definitivas para cumprir os critérios de classificação. Nota: podem existir dados limitados sobre estes tipos de efeitos para os quais o Regulamento REACH não prevê a exigência de informações-padrão. Desta forma, nestes casos, os dados existentes podem dar origem à conclusão de que existe um perigo e, por conseguinte, é necessária uma avaliação da exposição;

13 Valores-limite de exposição profissional (VLE) a ter em conta, se aplicável.

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caso b): indícios de que a substância pode ter efeitos adversos nas vias respiratórias, por exemplo, provenientes de estudos de efeitos agudos sobre a irritação local, na ausência de dados adequados de toxicidade de inalação em doses repetidas para avaliar este parâmetro;

caso c): efeitos observados que não dão origem a uma classificação para toxicidade por dose repetida mas são considerados adversos, por exemplo, efeitos graves que ocorrem apenas com níveis de exposição acima do limiar da classificação para toxicidade por dose repetida;

caso d): quaisquer outros efeitos adversos observados para os quais possa ser derivado um DNEL mas que não dão origem a uma classificação.

B.8.4.2 Âmbito da avaliação da exposição relacionado com perigos para o ambiente14

A figura B-8-3 ilustra o processo de decisão para considerar as necessidades de avaliação da exposição no que respeita a alvos de protecção ambiental.

No que respeita às propriedades ecotoxicológicas, o processo de decisão sobre quais os alvos de protecção ambiental que devem ser abordados na avaliação da exposição baseia-se nos princípios já definidos nos capítulos R.10 e R.16 do Guia IR/CSA. Para considerar a necessidade de uma avaliação da exposição no que respeita à intoxicação secundária, podem ser aplicados os critérios previstos na secção B.7.2.7 do Guia IR/CSA.

O ponto seguinte dá particular atenção à avaliação da exposição e à caracterização dos riscos para substâncias pouco hidrossolúveis. É feita referência aos princípios e fluxos de trabalho definidos nas estratégias de ensaio integradas para a água, o solo e os sedimentos, tal como descrito nos capítulos 7b e 7c do Guia IR/CSA.

14 Nota: Esta orientação não é aplicável aos metais.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Figura B-8-3: Descrição geral do processo de decisão para identificar o âmbito de avaliação da exposição necessário no que respeita ao ambiente.

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8.4.2.1 Perigos classificados

O apêndice 4 apresenta um quadro com as classificações que determinam a necessidade de avaliar a exposição ambiental.

No que respeita às substâncias que são classificadas como nocivas, tóxicas ou muito tóxicas para os organismos aquáticos (ou seja, H412, H411, H410 e H400), pode ser derivada uma PNEC aquática. Nestas circunstâncias, existem perigos não classificados para os compartimentos sedimento e solo porque a toxicidade para organismos aquáticos é utilizada como indicador de preocupação para organismos sedimentares e do solo; é também realizada uma caracterização

dos riscos, utilizando o método da partição no equilíbrio 15

para derivar as PNEC para o sedimento e o solo. Deste modo, a avaliação quantitativa da exposição, ou seja, a derivação de PEC, é obrigatória para os compartimentos ambientais água, sedimento e solo.

As substâncias que têm apenas a classificação ambiental «Pode provocar efeitos nocivos duradouros nos organismos aquáticos» (ou seja, a classificação H413) foram consideradas persistentes no meio aquático e potencialmente bioacumuláveis com base em dados de ensaios ou outros. Existem também perigos potenciais destas substâncias para os compartimentos sedimento e solo, uma vez que estas substâncias são potencialmente bioacumuláveis em todos os organismos e também potencialmente persistentes no sedimento e no solo. Deste modo, a avaliação da exposição é obrigatória para os compartimentos ambientais água, sedimento e solo, podendo ser quantitativa ou qualitativa, conforme adequado.

As substâncias PBT e mPmB foram classificadas como persistentes e bioacumuláveis (e as primeiras também como tóxicas) no ambiente em geral. Assim, a avaliação qualitativa da exposição é obrigatória para os compartimentos ambientais água, sedimento e solo.

8.4.2.2 Perigos não classificados

Se existirem dados de ecotoxicidade que demonstrem a existência de efeitos em organismos aquáticos mas a substância não estiver classificada como perigosa para o ambiente aquático, ainda pode ser derivada uma PNEC aquática, que indique um perigo para o ambiente aquático. Nestas circunstâncias, existem também perigos não classificados para os compartimentos sedimento e solo porque a toxicidade para organismos aquáticos é utilizada como indicador de preocupação para organismos sedimentares e do solo; é ainda realizada uma caracterização dos

riscos, utilizando o método da partição no equilíbrio 16 para derivar as PNEC para o sedimento e o

solo. Deste modo, a avaliação quantitativa da exposição, ou seja, a derivação de PEC, é obrigatória para os compartimentos ambientais água, sedimento e solo.

Se existirem dados de ecotoxicidade em organismos sedimentares que demonstrem efeitos, pode ser derivada uma PNEC do sedimento e existe um perigo para este compartimento. Por conseguinte, é obrigatória uma avaliação da exposição para o sedimento.

Se existirem dados de ecotoxicidade em organismos do solo que demonstrem efeitos, pode ser derivada uma PNEC do solo e existe um perigo para este compartimento. Por conseguinte, é obrigatória uma avaliação da exposição para o solo.

Os efeitos em instalações de tratamento de águas residuais podem normalmente ser avaliados em conjunto com a caracterização dos riscos para a água.

15 Na ausência de informações provenientes de estudos do solo e do sedimento, as PNEC para estes alvos de protecção podem ser determinadas a partir de informações sobre a toxicidade em meio aquático, com base no método da partição no equilíbrio (ver capítulos R.10.5.2.1 e R.10.6.1 do Guia IR/CSA). O método da partição no equilíbrio é aplicável nas condições seguintes: Não existe um modo de acção específico que potencie a adsorção aos sedimentos; a substância não é muito adsorvente; a adsorção apenas é potenciada pelo log Koa; não existem estudos experimentais em solos e sedimentos disponíveis que demonstrem que não são esperados efeitos; para aplicar o método da partição no equilíbrio a substâncias com um log Koa > 5, consulte o Guia IR/CSA Parte E.4.3.3. 16 Ver nota de rodapé 12.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Existirão casos em que a avaliação da exposição é necessária noutras circunstâncias, por exemplo, para avaliar a intoxicação secundária ou para substâncias que são perigosas para a atmosfera. A decisão deverá ser tomada pelo avaliador de riscos numa base casuística.

B.8.5 Tipos de avaliação da exposição e de caracterização dos riscos

O resultado da avaliação dos perigos determina o tipo de avaliação da exposição e de caracterização dos riscos.

B.8.5.1 Saúde humana

O quadro B-8-2 resume os tipos de avaliação da exposição que podem ser necessários em matéria de saúde humana e ilustra a associação entre o âmbito da avaliação da exposição e a caracterização e a gestão dos riscos (ver o Guia IR/CSA para mais informações). O quadro combina o âmbito da avaliação da exposição (ou seja, vias de exposição e tipo de efeitos) com o tipo de caracterização dos riscos necessário (ou seja, quantitativa ou qualitativa) e o objectivo de gestão dos riscos correspondente (por exemplo, limitação da exposição a um valor RCR < 1 ou minimização da exposição).

A coluna da esquerda do quadro B-8-2 indica se foi identificado um perigo com base nos efeitos observados. As duas colunas seguintes estabelecem a diferenciação entre os diferentes tipos de efeitos classificáveis e se podem ou não ser derivados DNEL. O termo «Não» na coluna DNEL indica que, para o efeito observado, os dados disponíveis ou a natureza do efeito não permitem a determinação de um descritor de dose e, por conseguinte, não é possível derivar um «nível sem efeitos».

Este resultado determina o tipo de caracterização dos riscos (ou seja, quantitativa ou qualitativa), o objectivo da gestão dos riscos (ou seja, limitar a exposição a um nível sem efeitos ou minimizar a exposição) e o tipo de estimativa da exposição necessário (ou seja, uma exposição média durante um dia e/ou uma exposição de curta duração durante uma única ocorrência). Se não for possível derivar um DNEL, os elementos da avaliação (semi)quantitativa poderão ainda ser necessários. Por exemplo, pode estar disponível um DMEL (nível derivado de exposição com efeitos mínimos) que possa ser comparado com estimativas da exposição, caracterizando uma «exposição minimizada». Na ausência de um DMEL, o registante deve fornecer estimativas da exposição como elementos de prova da eficácia das medidas de gestão dos riscos descritas no cenário de exposição.

Quadro B-8-2: Tipos de avaliação da exposição humana e de caracterização dos riscos

Perigos identificados

Critérios de classificação

cumpridos17

DNEL pode ser derivado

Gestão dos riscos visa: Estimativa da exposição Tipo de caracterização dos riscos

Sim Local agudo Sim Limitar a exposição em vias específicas a RCR < 1

Obrigatória para exposição de curta duração

Quantitativa

Sim Local agudo Não Minimizar a exposição em vias específicas

Elementos de prova potencialmente necessários

Qualitativa ou semi-quantitativa

Sim Sistémico agudo Sim Limitar a exposição combinada a RCR < 1

Obrigatória para exposição de curta duração

Quantitativa

Sim Sistémico agudo Não Minimizar a exposição em todas as vias

Elementos de prova potencialmente necessários

Qualitativa ou semi-quantitativa

Sim Local crónico Sim Limitar a exposição em vias específicas a RCR < 1

Obrigatória para exposição média diária

Quantitativa

Sim Local crónico Não Minimizar a exposição em Elementos de prova Qualitativa ou

17 Ver advertências de perigo que indicam efeitos locais agudos e sistémicos (apêndice 2) e efeitos crónicos (apêndice 3).

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Perigos identificados

Critérios de classificação

cumpridos17

DNEL pode ser derivado

Gestão dos riscos visa: Estimativa da exposição Tipo de caracterização dos riscos

vias específicas potencialmente necessários semi-quantitativa Sim Crónico

Sistémico Sim Limitar a exposição

combinada a RCR < 1 Obrigatória para exposição média diária

Quantitativa

Sim Crónico Sistémico

Não Minimizar a exposição em todas as vias

Elementos de prova potencialmente necessários

Qualitativa ou semi-quantitativa

Sim Não Sim Sim Não Não

Se os perigos identificados não determinarem uma classificação, deve ser efectuada a mesma diferenciação das linhas acima entre tipos de efeitos e vias de exposição.

Não Não Não A avaliação da exposição não é necessária para a via e o tipo de efeito correspondentes. Nota: se um registante adaptar requisitos de informação com base em considerações de exposição do anexo XI, secção 3 («ensaios de exposição adaptados à substância»), deve justificar a adaptação com uma avaliação da exposição, a qual deve sempre incluir estimativas de exposição.

No que respeita à saúde humana, é importante notar que:

os efeitos locais e sistémicos devem ser diferenciados a fim de especificar as medidas de gestão dos riscos e determinar a respectiva caracterização dos riscos para as vias de exposição única (efeitos locais) ou para vias de exposição combinadas (efeitos sistémicos) para uma determinada substância. Uma vez determinada a necessidade de medidas de gestão dos riscos por via da exposição, as medidas efectivas para limitar ou minimizar a exposição devem ser adoptadas preferencialmente na origem da exposição (ou seja, confinamento e controlos de engenharia em vez de equipamento de protecção individual);

os efeitos de curta duração e os efeitos prolongados devem ser diferenciados a fim de especificar a gestão dos riscos e as potenciais estimativas de exposição necessárias para exposição máxima ou exposição única;

ao estabelecer a diferenciação entre os tipos de efeitos locais observados e as vias de exposição correspondentes, devem ser tidos em conta os elementos seguintes. A observação de efeitos cutâneos determina normalmente considerações relativas aos efeitos potenciais sobre as vias respiratórias (excepto se existirem informações suficientes disponíveis no que respeita aos efeitos respiratórios). Recomenda-se igualmente que a observação de determinados efeitos locais agudos determine considerações sobre a eventual existência de efeitos prolongados mecanicamente idênticos. São exemplos destes efeitos a irritação cutânea ou ocular, que pode determinar uma preocupação relativamente a uma irritação respiratória não só aguda como também prolongada. Obviamente, o efeito sobre as vias respiratórias apenas é relevante se a substância tiver uma pressão de vapor suficientemente elevada ou formar um aerossol ou poeira nas condições de utilização previstas;

a disponibilidade de um descritor de dose (e, por conseguinte, uma possível derivação de DNEL) deve ser diferenciada da situação em que não é possível derivar um DNEL a partir dos efeitos observados. Se não existir nenhum DNEL disponível, as medidas de gestão dos riscos visarão minimizar a exposição e os riscos serão caracterizados de forma qualitativa. Numa tal situação, as estimativas da exposição apoiarão a demonstração da eficácia das medidas de gestão dos riscos em detrimento de uma caracterização quantitativa dos riscos.

B.8.5.2 Ambiente

O tipo de avaliação da exposição que pode ser exigido para o ambiente pode ser quantitativo ou qualitativo. Pode aplicar-se a diferentes compartimentos ambientais, ou seja, água, sedimento ou solo. O objectivo de protecção do ambiente pode variar em função dos compartimentos. Além disso, podem ser necessários, numa base casuística, outros tipos de avaliação da exposição para

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Parte B: Avaliação do perigo

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a caracterização dos riscos, por exemplo, para avaliação de intoxicação secundária ou efeitos na atmosfera. Os efeitos em instalações de tratamento de águas residuais podem normalmente ser avaliados em conjunto com a caracterização dos riscos para a água.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Apêndice 1 Classes de perigo do anexo I do Regulamento (CE) n.º 1272/2008

Classes de perigo

2 Perigos físicos 3.1 Toxicidade aguda 3.2 Corrosão/irritação cutânea 3.3 Lesões oculares graves/irritação ocular 3.4 Sensibilização respiratória ou cutânea 3.5 Mutagenicidade em células germinativas 3.6 Carcinogenicidade 3.7 Toxicidade reprodutiva: efeitos adversos para a função sexual e a fertilidade ou para o desenvolvimento 3.8 Toxicidade para órgãos-alvo específicos – exposição única (que não sejam efeitos narcóticos) 3.9 Toxicidade para órgãos-alvo específicos – exposição repetida 3.10 Perigos de aspiração 4.1 Perigoso para o ambiente aquático 5.1 Perigoso para a camada de ozono

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Parte B: Avaliação do perigo

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Apêndice 2 Classificação relativa aos efeitos na saúde humana após exposição de curta duração

A avaliação dos perigos determinará ou não a atribuição de uma das frases seguintes, em conformidade com os critérios descritos no Regulamento CRE. Caso sejam atribuídas essas frases, poderá ser necessária uma avaliação relativa à exposição de curta duração (sistémica e/ou local) numa ou várias vias de exposição.

Toxicidade aguda 1 e 2 H300, H310, H330

Toxicidade aguda 3 H301, H311, H331

Toxicidade aguda 4 H302, H312, H332

Toxicidade para órgãos-alvo específicos após exposição única (STOT SE):

Afecta os órgãos H370, H371

Irritação respiratória H335

Sonolência e vertigens H336

Perigo de aspiração H304

Corrosivo para as vias respiratórias EUH071

Tóxico por contacto com os olhos EUH070

Corrosão/irritação cutânea H314, H315,

Lesões oculares graves/irritação ocular H318, H319

Sensibilização respiratória/cutânea H334, H317

Toxicidade reprodutiva H360, H361

Mutagenicidade em células germinativas H340, H341

Nota: No que respeita às substâncias tóxicas para a reprodução e às células germinativas mutagénicas, a avaliação da exposição de curta duração pode ser igualmente relevante, uma vez que uma única ocorrência de exposição de curta duração pode dar origem a efeitos adversos.

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Parte B: Avaliação do perigo

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Apêndice 3 Classificação relativa aos efeitos na saúde humana após exposição prolongada

A avaliação dos perigos determinará ou não a atribuição de uma das frases seguintes, em conformidade com os critérios descritos no Regulamento CRE. Caso sejam atribuídas essas frases, poderá ser necessária uma avaliação relativa à exposição prolongada numa ou várias vias de exposição.

Toxicidade para órgãos-alvo específicos após exposição repetida (STOT RE): Afecta os órgãos H372, H373

Toxicidade para órgãos-alvo específicos após exposição única (STOT SE): Irritação respiratória H335

Fissuras na pele EUH066

Corrosivo para as vias respiratórias EUH071

Sensibilização respiratória/cutânea H334, H317

Mutagenicidade em células germinativas H340, H341

Carcinogenicidade H350, H351

Toxicidade reprodutiva H360, H361, H362

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Parte B: Avaliação do perigo

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Apêndice 4 Classificação relativa aos efeitos ambientais

Água, sedimentos, solo e microrganismos

A avaliação dos perigos determinará ou não a atribuição de uma das frases seguintes, em conformidade com os critérios descritos no Regulamento CRE. Nesses casos, a avaliação da exposição ambiental é obrigatória.

H400 Muito tóxico para os organismos aquáticos

H410 Muito tóxico para os organismos aquáticos com efeitos duradouros

H411 Tóxico para os organismos aquáticos com efeitos duradouros

H412 Nocivo para os organismos aquáticos com efeitos duradouros

H413 Pode provocar efeitos nocivos duradouros nos organismos aquáticos

Intoxicação secundária

A avaliação dos perigos determinará ou não a atribuição de uma das frases seguintes, em conformidade com os critérios descritos no Regulamento CRE. Caso essas frases relativas à saúde humana sejam atribuídas, a avaliação da exposição relativa a intoxicação secundária poderá ser necessária se a substância tiver um log Koa ≥ 3 ou BCF ≥ 100 e não for facilmente biodegradável.

H373: Afecta os órgãos após exposição prolongada ou repetida (cat. 2)

H372: Afecta os órgãos após exposição prolongada ou repetida (cat. 1)

H360: Pode afectar a fertilidade ou o nascituro (cat. 1A ou 1B)

H361: Suspeito de afectar a fertilidade ou o nascituro (cat. 2)

H362: Pode ser nocivo para as crianças alimentadas com leite materno

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