guia de estudos - diplomacia cultural brasileira

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1 DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA Introdução ao tema: O uso da diplomacia como ferramenta de relacionamento entre os Estados há muito é utilizada, desde quando os Estados ainda se configuravam como cidades-Estado e também durante a antiguidade, o período da Idade Média e até mesmo para representações da figura papal. A diplomacia configurada como “moderna”, surge após a Paz de Westfália em 1648, quando um sistema de equilíbrio europeu é instaurado e representações permanentes no exterior são apresentadas como importante objeto de criação e manutenção de alianças entre Estados. Vale ressaltar que diante desta nova estrutura e momento histórico, a idéia de pertencimento a certo território, país, e as questões identitárias, se tornam mais evidentes entre os povos. As transformações atravessadas pela sociedade internacional mediante os períodos de conflito e enfrentamento entre países, além do desenvolvimento tecnológico e das telecomunicações, fazem com que as relações diplomáticas se re-estruturem expandindo em seus campos de atuação e influência. A diplomacia descaracteriza seus esforços como simples arbitragem política em resoluções de guerra e se fortalece nos demais aspectos das negociações, veiculação de informações e representação estatal. Todas estas mudanças são responsáveis pela construção de uma espécie de “nova diplomacia”. Neste contexto se insere a diplomacia cultural, a observação de um ponto de partida diferente nas relações e transferências entre países no sistema globalizado atual; a história cultural influenciando a maneira de pensar dos Estados. Histórico do tema: Construir um significado para diplomacia parece ser uma tarefa simples - relações internacionais administradas por meio de embaixadas, tendo por figura representativa o

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Guia de estudos - Diplomacia Cultural Brasileira

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Page 1: Guia de estudos - Diplomacia Cultural Brasileira

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DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA

Introdução ao tema:

O uso da diplomacia como ferramenta de relacionamento entre os Estados há muito é

utilizada, desde quando os Estados ainda se configuravam como cidades-Estado e também

durante a antiguidade, o período da Idade Média e até mesmo para representações da figura

papal.

A diplomacia configurada como “moderna”, surge após a Paz de Westfália em 1648,

quando um sistema de equilíbrio europeu é instaurado e representações permanentes no

exterior são apresentadas como importante objeto de criação e manutenção de alianças entre

Estados. Vale ressaltar que diante desta nova estrutura e momento histórico, a idéia de

pertencimento a certo território, país, e as questões identitárias, se tornam mais evidentes

entre os povos.

As transformações atravessadas pela sociedade internacional mediante os períodos de

conflito e enfrentamento entre países, além do desenvolvimento tecnológico e das

telecomunicações, fazem com que as relações diplomáticas se re-estruturem expandindo em

seus campos de atuação e influência. A diplomacia descaracteriza seus esforços como simples

arbitragem política em resoluções de guerra e se fortalece nos demais aspectos das

negociações, veiculação de informações e representação estatal.

Todas estas mudanças são responsáveis pela construção de uma espécie de “nova

diplomacia”. Neste contexto se insere a diplomacia cultural, a observação de um ponto de

partida diferente nas relações e transferências entre países no sistema globalizado atual; a

história cultural influenciando a maneira de pensar dos Estados.

Histórico do tema:

Construir um significado para diplomacia parece ser uma tarefa simples - relações

internacionais administradas por meio de embaixadas, tendo por figura representativa o

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diplomata, diante das questões do cerne político dos Estados – mas em que se constitui a

diplomacia cultural?

O conceito de cultura, diferentemente do significado de diplomacia, se transparece

mais complexo de alcançar. Antropologicamente, cultura se define como sistemas de valores

utilizados por grupos ou indivíduos para afirmarem suas identidades; a suprema manifestação

da forma com que vivem. Esta idéia, mesmo não sendo uma definição fechada e única, ajuda

a compreender que a fusão de ambas as situações, diplomáticas e culturais, auxiliam no

entendimento dos propósitos de pessoas diferentes, revestidas de valores diferentes e de que

forma suas vidas e/ou Estados se mantém diante destas diferenças.

O caso brasileiro é interessante de se observar, uma vez percebida a grande

miscigenação cultural presente no país. São diversos grupos culturais de distintos países e

continentes presentes na construção da história regional. Essa facilidade de integração e

absorção destas diversidades faz do Brasil um candidato forte à utilização da diplomacia

cultural em sua política externa.

O órgão responsável pelas relações externas brasileira é o Ministério das Relações

Exteriores, mais conhecido como Palácio do Itamaraty. As ações voltadas para as questões

culturais, internamente e externamente, são função do Ministério da Cultura e o Departamento

Cultural do Itamaraty. O DC do Itamaraty está subdividido em cinco departamentos: Divisão

de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP); Divisão de Operações de Difusão Cultural

(DODC); Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais (DAMC); Divisão de Temas

Educacionais (DCE); Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV) e Coordenação de

Divulgação (DIVULG).

Cada um destes órgãos quando conexos aos interesses políticos brasileiros e

atividades diplomáticas, favorecem o Brasil na construção de acordos e novas relações

partindo de uma abordagem mais voltada para a expansão da imagem do país como um todo,

do que somente para áreas e assuntos mais específicos.

O foco da diplomacia brasileira, segundo o site do Departamento Cultural é o

fomento da língua portuguesa e o investimento na educação e nos intercâmbios culturais. A

primeira vista, estes propósitos se mostram simplórios demais para conseguirem alcançar

qualquer tipo de relação mais profunda com outros Estados, mas vale lembrar que por meio

desta difusão de nosso idioma surgiu a união dos países lusófonos em 1996, a Comunidade

dos Países de Língua Portuguesa; como também recordar que os frutos do intercâmbio

cultural brasileiro surtiram efeito em um excepcional evento de trocas culturais em 2009, o

ano da França no Brasil.

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Esta modalidade diplomática, portanto, pode se apresenta como opção de sucesso na

interação entre os demais países e o Brasil. Iniciativas culturais junto das iniciativas

diplomáticas convencionais proporcionam um contato mais leve e íntimo entre os Estados,

uma vez que utiliza de diferenças para a construção de cooperação e objetivos comuns, que

além de questões culturais, extrapolam à outras áreas incorrendo nos campos econômicos,

sociais e políticos dos países.

Posição do Brasil:

Sabe-se por meio da agenda brasileira de política externa que a relação com as

Américas, América Latina principalmente, é prioritária para o país. O esforço mais forte

segue na relação entre os países do Mercosul – Mercado Comum do Sul. Toma-se de exemplo

o bloco, porque em seu amadurecimento como instituição internacional a qual participam

Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e também Venezuela (sua adesão foi votada e aceita em

fevereiro de 2009), ocorrem mutações nos objetivos e finalidades de cooperação não estando

estas restritas a questões econômicas e comerciais.

Órgão iniciado pelas relações bilaterais entre Brasil e Argentina, o Mercosul vêm

alcançando espaço nas interações comerciais e desta forma, compreendendo, que os reflexos

econômicos estão atrelados a outros aspectos da estrutura de um Estado. Como argumentado

antes, o Brasil é um país distinto em muitos aspectos se comparado com os outros integrantes

da América do Sul. A partir destas diferenças se ressaltam as similaridades, em um primeiro

momento, econômicas é claro, e deste ponto entende-se a necessidade de atenção às outras

áreas.

No continente sul-americano os países são em alguns casos economias caracterizadas

como semi-periféricas – esta conceituação é dada a países de industrialização mais recente,

porém produtiva, mas que lutam pela organização e a resolução de problemas sociais os quais

seguem como em países de pouco desenvolvimento e pobreza relativa. A diplomacia cultural

se encaixa neste momento, uma vez que nova agenda é criada para o Mercosul possuindo

finalidades mais sociais: abarcam-se as áreas da educação, ciência e tecnologia, cultura,

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justiça, saúde, desenvolvimento social, trabalho e meio ambiente. Analistas internacionais

denominam estas áreas de ação como as indústrias culturais do Mercosul.

Na divulgação destas atividades através do bloco econômico, o Brasil, bem como os

outros países integrantes, conseguem extrair de interesses comerciais e políticos, além da

promoção de sua culturas diversas. Interessante citar iniciativas como cursos oferecidos na

Argentina para o ensino do português (foco da diplomacia cultural brasileira) através de

recursos visuais, facilitando o aprendizado e proporcionando um meio diferente de divulgação

do país no exterior.

Obviamente, as relações e cooperações culturais extrapolam o ambiente do

Mercosul. Na interação entre as comunidades de imigrantes no país, pode-se recordar o caso

da comunidade japonesa que no ano passado completou cem anos e auxiliou em relações

comerciais e tecnológicas (bio combustíveis e as televisões digitais) entre o Brasil e o Japão;

bienais, exposições e eventos brasileiros pelo mundo encontradas no site do DC como o mês

do Brasil na Noruega (promovendo a cultura, o turismo e a culinária brasielira), Congresso

sobre Machado de Assis em Havana, Festival da Cultura Brasileira na Bulgária (exibições de

filmes brasileiros, demonstrações de capoeira, culinária brasileira, música popular e

exposições de artes plásticas); além das intervenções brasileiras no Haiti para sua restauração

que não se mantém a questões políticas onde exposições de artistas brasileiros e haitianos

estão sendo organizadas por todo o país.

Posição dos outros países:

A posição brasileira de economia em desenvolvimento, as chamadas “economias

emergentes”, se tornam atrativas aos olhos dos diversos países em situação de maior

desenvolvimento tanto quanto aqueles em situação igual. Torna-se interessante a utilização de

aspectos como o cultural para a aproximação entre outros países e o Brasil no fortalecimento e

criação de cooperações futuras em outras áreas de atuação, além do fato de que o

fortalecimento dos laços entre os países faz com que seja favorável e prioritária as interações

entre Estados que encontram seus objetivos comuns e interesses.

Vale ressaltar que a exposição a qual o Brasil e sua política externa passam

atualmente, atrai aos olhos dos países uma vez que se estipula grandeza para o futuro

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diplomático/representativo do país no sistema internacional; será no mínimo interessante

manter relações “conosco”.

Voltando ao ano da França no Brasil, em setembro de 2009 em visita ao país o

presidente francês Nicolas Sarkozy, no embalo das interações culturais, procurou estreitar

laços em outras áreas com o presidente Luís Inácio; desde então já se seguiram o andamento

de cooperações diversas nas áreas de infra-estrutura e segurança.

Nicolas iniciou as conversações segundo a “intenção” do governo brasileiro de

adquirir trinta e seis caças franceses para finalidade de transporte militar, estas, segundo

relatos da mídia em declarações do presidente Lula, estariam bem avançadas. Além disso,

cooperação entre trocas tecnológicas de cunho militar, o que envolve talvez o ponto mais

delicado e forte de todas as relações, a construção do submarino nuclear brasileiro junto de

outros quatro convencionais. Outra cooperação interessante sendo tratada entre os países é a

construção de uma ponte de 400 km de extensão ligando Brasil e Guiana Francesa, no

objetivo de se trazer o desenvolvimento até a região.

Entende-se então, o quão longe pode-se levar relações diplomáticas que se iniciam

por meios culturais. No caso brasileiro e francês observa-se a fuga do foco na América do Sul

e o interesse de países da Europa na relação com o Brasil, sendo o continente europeu um dos

fortes representantes em opinião e decisões no sistema internacional.

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Principais pontos para debate:

• As questões culturais podem redirecionar ou fazer com que os Estados repensem suas

relações?

• A diplomacia cultural pode ofuscar a diplomacia convencional em alguma área de

atuação específica?

• É correto imaginar que as alterações tecnológicas e os avanços das telecomunicações

são responsáveis pela utilização da diplomacia cultural na atualidade?

• Quais as principais motivações do Brasil para se utilizar da diplomacia cultural?

• O Brasil é efetivo no fomento de sua língua mãe?

• Qual a relevância e responsabilidade das Organizações Internacionais e outras

instituições internacionais na prática da diplomacia cultural?

• Por meio do Mercosul, Unasul, dentre outros projetos de integração regional, o Brasil

se esforça realmente para a articulação diplomática cultural?

• As relações com a França e outros países da Europa ofuscam as relações regionais;

entre Américas?

• O Brasil possui motivações militares no continente justificando este re-planejamento

militar?

• Existe um interesse velado entre França e Brasil diante de seus interesses de reforma

do Conselho de Segurança das Nações Unidas?

Referências adicionais para pesquisa:

http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/a_nova_diplomacia_imprimir.html http://www.mre.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=68&Itemid=357 http://www.mre.gov.br/dc/textos/revista7-mat19.pdf http://www.administradores.com.br/artigos/diplomacia_brasileira_prioriza_america_latina/35450/ http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000100021&script=sci_arttext http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1295164-5601,00.html http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1290422-5601,00-SARKOZY+VEM+AO+BRASIL+ASSINAR+ACORDOS+DE+COOPERACAO+MILITAR+E+CONSTRUCAO+DE.html