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1 Grupos Brasileiros de Pesquisa em Inovação nas Ciências Sociais Aplicadas Autoria: Denise Barbieux Resumo São muitos os estudos, como os de Schumpeter (1984; 1988) e Nelson (1993), que discutem a importância econômica da inovação para o desenvolvimento de países. A difusão das idéias destes autores ao longo dos anos permitiu que a economia e a administração avançassem nesta área do conhecimento, focando seus estudos nas atividades inovativas das empresas. Já Pavitt (1984) contribuiu no deslocamento do foco da empresa para o setor, o que incluiu a discussão da influência setorial na busca pela inovação. A partir dos anos 1990, os estudos de inovação em ciências sociais aplicadas, como os de Freeman (1988) e Lundvall (1992) passaram a considerar o contexto nacional, não só setorial, em que a empresa está inserida, cunhando o termo Sistema Nacional de Inovação. Esta discussão ressaltou a importância de outros atores na busca pela inovação, tais como instituições governamentais, financeiras e de ensino e pesquisa. Neste mesmo período, mudanças ocorreram nos países em desenvolvimento e no papel que estes países desempenham na economia mundial, tornando relevante o entendimento da inovação e a identificação de seus atores em países como Brasil, China e Coréia. No caso do Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia [MCT] possui papel fundamental no Sistema Nacional de Inovação por iniciar e manter programas de fortalecimento da infra-estrutura de Ciência e Tecnologia, através de incentivos na formação de grupos de pesquisa, na formação e qualificação de pesquisadores e no estabelecimento de diretrizes para a inovação com o intuito de gerar desenvolvimento e competitividade para o país. Considerando que o MCT é um ator importante no incentivo à inovação no Brasil e que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [CNPq] é o responsável pelo incentivo à geração do conhecimento de fronteira, o presente trabalho busca mapear os grupos de pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas que estudam inovação no Brasil. Isto foi realizado pela identificação dos grupos que estavam cadastrados no banco de dados do site do CNPq e que continham a palavra “inovação” na sua descrição. Foram considerados os grupos que estavam com seus dados atualizados no ano de 2009, resultando em 302 no total da área pesquisada. Destes, 160 grupos de pesquisa representavam as áreas de Administração e Economia e foram avaliados, em uma primeira etapa, com relação a sua distribuição geográfica. O estado de São Paulo apareceu com o maior número de grupos de pesquisa. Em uma segunda etapa, utilizando software de tratamento de dados, foi evidenciado o tempo de existência, a quantidade de pesquisadores e as linhas de pesquisa, resultando em uma caracterização destes grupos. A análise léxica, realizada nesta etapa com as linhas de pesquisa, resultou em uma diferenciação na abordagem da inovação entre a Administração e a Economia. Além disso, o mapeamento e análise de conteúdo, resultante deste trabalho, evidenciaram as semelhanças e diferenças entre as abordagens da inovação nesta área do conhecimento conforme a região do país.

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Grupos Brasileiros de Pesquisa em Inovação nas Ciências Sociais Aplicadas

Autoria: Denise Barbieux

Resumo São muitos os estudos, como os de Schumpeter (1984; 1988) e Nelson (1993), que discutem a importância econômica da inovação para o desenvolvimento de países. A difusão das idéias destes autores ao longo dos anos permitiu que a economia e a administração avançassem nesta área do conhecimento, focando seus estudos nas atividades inovativas das empresas. Já Pavitt (1984) contribuiu no deslocamento do foco da empresa para o setor, o que incluiu a discussão da influência setorial na busca pela inovação. A partir dos anos 1990, os estudos de inovação em ciências sociais aplicadas, como os de Freeman (1988) e Lundvall (1992) passaram a considerar o contexto nacional, não só setorial, em que a empresa está inserida, cunhando o termo Sistema Nacional de Inovação. Esta discussão ressaltou a importância de outros atores na busca pela inovação, tais como instituições governamentais, financeiras e de ensino e pesquisa. Neste mesmo período, mudanças ocorreram nos países em desenvolvimento e no papel que estes países desempenham na economia mundial, tornando relevante o entendimento da inovação e a identificação de seus atores em países como Brasil, China e Coréia. No caso do Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia [MCT] possui papel fundamental no Sistema Nacional de Inovação por iniciar e manter programas de fortalecimento da infra-estrutura de Ciência e Tecnologia, através de incentivos na formação de grupos de pesquisa, na formação e qualificação de pesquisadores e no estabelecimento de diretrizes para a inovação com o intuito de gerar desenvolvimento e competitividade para o país. Considerando que o MCT é um ator importante no incentivo à inovação no Brasil e que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [CNPq] é o responsável pelo incentivo à geração do conhecimento de fronteira, o presente trabalho busca mapear os grupos de pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas que estudam inovação no Brasil. Isto foi realizado pela identificação dos grupos que estavam cadastrados no banco de dados do site do CNPq e que continham a palavra “inovação” na sua descrição. Foram considerados os grupos que estavam com seus dados atualizados no ano de 2009, resultando em 302 no total da área pesquisada. Destes, 160 grupos de pesquisa representavam as áreas de Administração e Economia e foram avaliados, em uma primeira etapa, com relação a sua distribuição geográfica. O estado de São Paulo apareceu com o maior número de grupos de pesquisa. Em uma segunda etapa, utilizando software de tratamento de dados, foi evidenciado o tempo de existência, a quantidade de pesquisadores e as linhas de pesquisa, resultando em uma caracterização destes grupos. A análise léxica, realizada nesta etapa com as linhas de pesquisa, resultou em uma diferenciação na abordagem da inovação entre a Administração e a Economia. Além disso, o mapeamento e análise de conteúdo, resultante deste trabalho, evidenciaram as semelhanças e diferenças entre as abordagens da inovação nesta área do conhecimento conforme a região do país.

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1. Introdução É comumente aceito nos dias de hoje que a inovação se apresenta como um processo interativo de geração, difusão e aplicação de conhecimento (TÖDTLING, LEHNER, KAUFMANN, 2009), no qual, encontram-se envolvidos diversos setores: o de negócios, representado pelas empresas; o de ciência, representado pelas universidades e centros de pesquisa; e os atores políticos, representados por instituições e órgão governamentais. Todos buscam o fortalecimento do Sistema Nacional de Inovação. Este sistema, como já estudado por vários autores como Lundvall (1992), Nelson (1993) e Edquist (2004), enfatiza a interação entre os atores na formação de um contexto que acaba determinando de que forma isto influencia a inovação. No Brasil, isto não é diferente e, segundo Figueiredo (2004), a infra-estrutura tecnológica, aqui entendida como um conjunto de arranjos institucionais organizados com o objetivo básico de facilitar a disseminação de tecnologia e outros conhecimentos, e de inovação (universidades e seus diversos departamentos, institutos públicos e privados de pesquisa, centros de formação e treinamento, consultorias, banco de dados) pode contribuir para o processo inovador das firmas. Corroboram com este pensamento algumas teorias que abordam a interação entre atores na busca pela inovação através do conhecimento. A da hélice tripla menciona que a pesquisa científica conduzida em instituições de pesquisa representa um papel importante na criação da inovação, utilizando a ciência como fonte para o desenvolvimento (ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 2000). Segundo Chesbrough (2006), o open innovation aposta nas relações de desenvolvimento do conhecimento com atores externos, como instituições de pesquisa, através da adoção e adaptação de novas tecnologias em seus produtos. Além disso, o governo também possui um papel importante, pois, através de leis de incentivo, podem aproximar firmas e instituições de pesquisa, criando um ambiente favorável para as práticas de inovação (DODGSON, 1993; MANSFIELD, 1995) e transferência de conhecimento. Em função disso, são encontradas, em documentos de política tecnológica no Brasil, recomendações de fortalecimento dos vínculos entre empresas e a infra-estrutura de tecnologia e inovação, ou seja, estímulos para um maior ajuste entre os vários atores que compõem o sistema nacional de inovação. Com o intuito de saber que outros atores participam da atual realidade brasileira com relação à pesquisa em inovação, é necessário entender como se desenvolveu esta infra-estrutura no Brasil e de que forma está sendo incentivada. O tema estratégia de inovação industrial entrou formalmente na agenda de discussão e ação governamental no Brasil no final dos anos 1960 (FIGUEIREDO, 2004) com a publicação do Plano Nacional de Desenvolvimento, seguido por três versões do Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Desde então, e, principalmente, a partir da década de 1990, tem havido uma profusão de estudos baseados em descrições, análises e propostas relativas a estratégias de inovação industrial no país (FIGUEIREDO, 2004). Pesquisas nesta área do conhecimento buscam evidenciar o desenvolvimento econômico do Brasil, sua competitividade e inserção no mercado internacional. Segundo Figueiredo (2004), durante o final dos anos 1990, o governo federal, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, liderou uma meritória iniciativa de sistematizar, de maneira detalhada e exaustiva, os vários elementos relacionados ao sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação [CT&I] considerados necessários ao desenvolvimento nacional, através da edição do documento Ciência, Tecnologia e Inovação: desafio para a sociedade brasileira – Livro Verde (MCT, 2001). Em setembro de 2001, como resultado da Conferência Nacional de CT&I, foi gerado o Livro Branco da ciência, tecnologia e inovação, cujo objetivo é “apontar caminhos para que a CT&I possam contribuir para a construção de um país mais

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dinâmico, competitivo e socialmente mais justo” (MCT, 2002, p.21), para o período 2002-2012. Este período está chegando ao fim e é necessário avaliar em que situação se encontra os grupos de pesquisa que estudam inovação em Ciências Sociais Aplicadas no Brasil, quantos são, onde estão e que rumo a pesquisa sobre inovação está tomando no país. Este trabalho não tem a pretensão de avaliar se o Brasil está mais ou menos inovador, mas sim analisar o delineamento e desdobramentos da pesquisa ligada à inovação, através das linhas de pesquisa dos grupos de administração e economia. Isto se deve ao fato de que, atualmente, a palavra “inovação” possui outras perspectivas que não apenas a inovação tecnológica. Desta maneira, é necessário saber que assuntos estão na agenda da pesquisa de fronteira no Brasil com relação às várias facetas da inovação dentro das Ciências Sociais Aplicadas. Para isto, este trabalho aborda no próximo item a inovação, suas perspectivas e seus desdobramentos no Brasil. Complementando esta abordagem, é possível evidenciar a origem e atual situação do Brasil com relação à Ciência, Tecnologia e Inovação e os grupos de pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas. A seguir, apresenta-se o método utilizado, os resultados encontrados e limitações do estudo. Ao final, conclui-se este trabalho com as considerações finais. 2. A Inovação no Brasil

A inovação, como já discutida por diversos autores desde Schumpeter (1984, 1988), é capaz de gerar competitividade nas empresas e garantir o desenvolvimento. Para Dosi (1988), a inovação consiste em pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos produtivos e formas de organizar os recursos.

Por outro lado, mais importante do que o próprio resultado alcançado com a inovação, em novos produtos, novos processos, novas tecnologias e novos serviços, está o processo de inovar, que decorre da necessidade de mudança em função de uma nova tendência técnico-científica, de uma exigência do mercado; e, segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), da própria necessidade de sustentabilidade.

Mais do que isso, o processo de inovação é o conjunto amplo de atividades de pesquisa e desenvolvimento que articula, de modo a criar valor, conhecimentos, competências e informações para, a partir de uma base tecnológica pré-existente, estabelecer novos padrões de aplicação e, por isso, gerar desenvolvimento. Nesse contexto, a inovação é definida como a aplicação de novos conhecimentos, originados da combinação criativa das informações e dos conhecimentos disponíveis. Para Moreira et al. (2007), no atual mundo capitalista e globalizado, o conhecimento é capaz de gerar grande valor quando incorporado rapidamente em produtos, processos ou serviços. Como o Brasil vem aumentando sensivelmente a sua base de conhecimento, mostrado através do aumento da relevância de suas publicações, como constatado por Mugnaini, Jannuzzi e Quoniam (2004), é importante que se explore esse ativo de maneira a trazer benefícios para a sociedade.

A realidade atual mostra, de um lado, a crescente dinâmica das empresas em buscar a inovação e, de outro, o aumento das exigências de valor pelo consumidor, o que gera um ambiente de alta competitividade e com rápida difusão da tecnologia. O problema, fruto desta realidade, é que desenvolver soluções tecnologicamente inovadoras tornou-se uma tarefa cada vez mais complicada. E é neste contexto que entram os outros atores do sistema de inovação.

Corroborando com isso, vários estudos, como os de Lundvall (1992) e Nelson (1993), apontam que as atividades de inovação de uma empresa dependem parcialmente da variedade e da estrutura de suas relações com as fontes de informação, conhecimento, tecnologias,

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práticas e recursos humanos e financeiros. Cada interação conecta a empresa com outros atores do sistema de inovação: laboratórios governamentais, universidades, departamentos de políticas, reguladores, competidores, fornecedores e consumidores. Segundo Moreira et al. (2007), o ambiente brasileiro está favorável ao desenvolvimento de inovações. Dentre as evidências dessa transformação, para Moreira et al. (2007), estão: (1) crescimento da base de pesquisadores e o reconhecimento internacional do Brasil por sua vocação em algumas áreas do conhecimento; (2) o crescimento dos investimentos em C&T nos últimos anos; (3) criação de um marco regulatório relacionado à inovação, incluindo incentivos fiscais; (4) iniciativas de disseminação da cultura da inovação; (5) o desenvolvimento da indústria de capital de risco; e (6) o aumento do investimento em inovação por parte das empresas. Dentre estas evidências, este trabalho pretende explorar com maior profundidade o crescimento da base de pesquisadores em Ciências Sociais Aplicadas, pois tal transformação demonstra o fortalecimento da infra-estrutura de Ciência, Tecnologia e Inovação desta área do conhecimento no Brasil; sendo caracterizada pela formação e importância dos grupos de pesquisa que estudam inovação, relacionada ao desenvolvimento econômico do país. 3. Da Ciência, Tecnologia e Inovação aos Grupos de Pesquisa O Ministério da Ciência e Tecnologia [MCT] foi criado pelo Decreto 91.146, em 15 de março de 1985, concretizando o compromisso do presidente Tancredo Neves com a comunidade científica nacional. Com a incorporação das duas mais importantes agências de fomento do país – a Financiadora de Estudos e Projetos [FINEP] e o CNPq e suas unidades de pesquisa –, o MCT passou a coordenar o trabalho de execução dos programas e ações que consolidam a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O objetivo dessa política é transformar o setor em componente estratégico do desenvolvimento econômico e social do Brasil, contribuindo para que seus benefícios sejam distribuídos de forma justa à toda a sociedade (MCT, 2009). Segundo o MCT (2009), é por meio do conjunto de instituições que são exercidas as suas funções estratégicas, desenvolvendo pesquisas e estudos que se traduzem em geração de conhecimento e de novas tecnologias, bem como a criação de produtos, processos, gestão e patentes nacionais. Além disso, o Ministério da Ciência e Tecnologia atua fortemente na construção e consolidação das bases legais sobre inovação tecnológica, em especial no processo de implementação da Lei de Inovação e sua regulamentação. No Brasil, o marco regulatório sobre inovação tecnológica está organizado em torno de três vertentes: a constituição de ambiente propício às parcerias estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas; o estímulo à participação de instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação; e o incentivo à inovação na empresa. Estas vertentes se desdobram na expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação [CT&I], através da formação de recursos humanos pela ampliação do número de bolsas de formação, pesquisa e extensão concedidas pelo CNPq, e através da consolidação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica do país, incluindo as redes formadas por universidades, centros de pesquisa e institutos tecnológicos. Este conjunto de ações impulsiona e integra as políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. A consolidação deste sistema preconiza sua estruturação junto ao setor empresarial, estados e municípios, tendo em vista as áreas estratégicas para o desenvolvimento do país e a revitalização e consolidação da cooperação internacional (MCT, 2009). Com relação à formação de recursos humanos, o CNPq é uma agência do Ministério da Ciência e Tecnologia destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à

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formação de pesquisadores no país. Sua história está diretamente ligada ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil contemporâneo (CNPq, 2009). Além disso, com a inserção cada vez mais premente da função social na produção tecnológica e científica a missão do CNPq foi repensada. Dessa forma, em 1995 foi instituída a nova missão:

“Promover o desenvolvimento científico e tecnológico e executar pesquisas necessárias ao progresso social, econômico e cultural do país” (CNPq, 2009).

Atualmente, o CNPq, é uma fundação, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que desde sua criação até hoje, é uma das maiores e mais sólidas estruturas públicas de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação [CT&I] dos países em desenvolvimento. Os investimentos feitos pelo CNPq são direcionados tanto para a formação e absorção de recursos humanos, quanto para financiamento de projetos de pesquisa que contribuem para o aumento da produção de conhecimento e da geração de novas oportunidades de crescimento para o país (CNPq, 2009), o que tem contribuído para a consolidação do Sistema Nacional de CT&I. A partir de um projeto desenvolvido desde 1992, o CNPq criou o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, constituindo-se na base de dados que contêm informações sobre os grupos de pesquisa em atividade no país. O Diretório mantém uma base corrente, cujas informações são atualizadas continuamente pelos líderes de grupos, pesquisadores, estudantes e dirigentes de pesquisa das instituições participantes. Segundo o CNPq (2009), a base de dados possui três finalidades principais: é um instrumento para o intercâmbio e a troca de informações; tem caráter censitário no auxílio de planejamento estratégico ao fomento; e por fim, tem importante papel na preservação da memória da atividade científico-tecnológica no Brasil. Segundo o próprio CNPq (2009), as informações contidas nessas bases dizem respeito aos recursos humanos constituintes dos grupos de pesquisadores, estudantes e técnicos; às linhas de pesquisa em andamento; às especialidades do conhecimento; aos setores de aplicação envolvidos; à produção científica e tecnológica; e aos padrões de interação com o setor produtivo. Além disso, cada grupo é situado no espaço pela sua região, UF e instituição, e no tempo. Da mesma forma que em outros países, os grupos de pesquisa inventariados estão localizados em universidades, instituições de ensino superior, institutos de pesquisa científica, institutos tecnológicos e em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de empresas estatais ou ex-estatais. Os levantamentos dos dados dos grupos de pesquisa não incluem os grupos localizados nas empresas do setor produtivo (CNPq, 2009). Além disso, cada grupo deve organizar-se em torno de uma liderança, isto é, ter um pesquisador-líder e estar “abrigado” em uma instituição previamente autorizada pelo CNPq. Todo o procedimento de captura de dados para o inventariamento dos grupos é virtual e seguro, realizado na internet por meio de uma senha. Além deste procedimento, cabe aos dirigentes institucionais de pesquisa das instituições participantes o cadastramento dos líderes de grupos e a certificação dos mesmos na base de dados. Esta iniciativa do CNPq em ter uma base de dados eletrônica disponível no seu site é o que diferencia o Brasil dos outros países. Então, além da base de dados ser segura, ter controle de origem, o que imprime qualidade à essa base de dados pesquisada, ela ainda está disponível para consulta, com se fosse um repositório de pistas do conhecimento do que está sendo produzido no país. Portanto, isto fez com que fosse possível extrair informações com confiabilidade, sem a necessidade de se elaborar questionários e aguardar a adesão dos grupos

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à pesquisa. Além disso, os filtros do próprio site do CNPq permitiram a caracterização dos grupos de inovação, trazendo apenas os dados da área de conhecimento que se desejava pesquisar. 4. Método Segundo Freitas, Janissek e Moscarola (2004), a internet oportuniza uma forma de coleta e de disseminação das informações nunca antes possível de ser realizada. Complementam os autores que, com ela, o pesquisador não está mais limitado pelas restrições de tempo, custo e distância, possuindo um acesso mundial praticamente instantâneo. Além disso, os autores ressaltam que a internet assume hoje um papel maior, cobrindo não somente os estudos quantitativos, mas também os qualitativos, que dão um novo sentido ao uso da Internet como fonte de informações, facilitando atividades de inteligência competitiva e de tomada de decisão. Corroborando com este pensamento, Malhotra (2001), destaca a aplicação da web como tecnologia agregadora de valor na maioria das etapas da pesquisa, ressaltando que a internet pode ser utilizada como fonte on-line de dados secundários e como meio de pesquisa exploratória através de fóruns, grupos de notícias ou mesmo de conversas informais. Ao contrário do método utilizado por Fagerberg e Verspagen (2009) que enviaram questionários via web (web survey) para identificar a comunidade científica mundial que estuda inovação, no Brasil, a comunidade científica apresenta espontaneamente seus dados, trabalhos e linhas de pesquisa no diretório dos grupos de pesquisa do CNPq. Banco de dados que está disponível na web. Em função disso, a pesquisa foi realizada, em uma primeira etapa, no site do CNPq, no diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Os grupos recuperados apresentaram-se de duas formas: ou em situação de “grupos certificados”; ou “desatualizados”. Os dados extraídos, na sua grande maioria, foram textuais, isto é, informações pouco estruturadas. Portanto, em uma segunda etapa, foi necessário um tratamento das informações por softwares de tratamento de texto, como preconizam Freitas, Janissek-Muniz, Baulac e Moscarola (2006). 4.1 Amostragem A consulta foi efetuada utilizando os seguintes filtros do site: • Inovação (todas as palavras), significando que em qualquer local do texto que apareça a palavra inovação, fará daquele grupo um grupo de pesquisa de inovação. • Grande área do grupo: Ciências Sociais Aplicadas, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 - Filtros utilizados no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq

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Os grupos de pesquisa do CNPq se dividem em 8 grandes áreas de pesquisa. Dentre estas áreas, é possível destacar a área de Ciências Sociais Aplicadas. Na abordagem da pesquisa de Inovação, a área de Ciências Sociais Aplicadas correspondia à 51,1% do total de grupos de pesquisa em Inovação no diretório do CNPq, conforme pode ser visto na Tabela 1. Tabela 1 - Quantidade de Grupos de Pesquisa em Inovação por Grandes Áreas do diretório de Pesquisa do CNPq

Grandes Áreas Frequência Percentual

Ciências Agrárias 20 3,4% Ciências Biológicas 9 1,5% Ciências da Saúde 34 5,8% Ciências Exatas e da Terra 35 5,9% Ciências Humanas 73 12,4% Ciências Sociais Aplicadas 302 51,1% Engenharias 117 19,8% Linguística, Letras e Artes 1 0,2% TOTAL DE GRUPOS 591 100,0%

A grande área de Ciências Sociais Aplicadas no diretório de grupos do CNPq é constituída por 13 áreas distintas. A Tabela 2 apresenta a quantidade de grupos de pesquisa contida em cada uma dessas áreas, sendo selecionadas as mais relevantes para o estudo. Portanto, é possível evidenciar que as áreas de Administração e Economia representavam em torno de 70% dos grupos de pesquisa em Inovação em Ciências Sociais Aplicadas, pois totalizavam 211 grupos. Tabela 2 - Quantidade de Grupos de Pesquisa em Inovação por área das Ciências Sociais Aplicadas no diretório do CNPq

Áreas em Ciências Sociais Aplicadas Quantidade de Grupos de Pesquisa

Administração 153

Arquitetura e Urbanismo 6

Ciências da Informação 20

Comunicação 16

Demografia 0

Desenho Industrial 18

Direito 13

Economia 58

Economia Doméstica 0

Museologia 0

Planejamento Urbano e Regional 13

Serviço Social 0

Turismo 5

TOTAL DE GRUPOS 302

Após, foi necessário evidenciar quais grupos de pesquisas estavam certificados. Destes, apenas 160 grupos foram certificados pelas instituições, isto é, estavam com os dados atualizados, e 51 deles, se encontravam com os dados desatualizados por mais de 12 meses, o que pode ser observado na figura 2. Posteriormente, estes grupos foram distribuídos por estados do Brasil.

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Figura 2 - Quantidade de Grupos de Pesquisa Certificados e Não Atualizados separados por áreas e total Em uma segunda etapa, os dados dos grupos de administração e economia certificados foram importados para o software de tratamento de dados [Sphinxs], com o intuito de avaliar o tempo de existência, a quantidade de pesquisadores e análise léxica e de conteúdo das linhas de pesquisa dos grupos, o que resultou em um mapeamento dos grupos de pesquisa em Inovação em Ciências Sociais Aplicadas por região. 5. Resultados 5.1 Distribuição e Formação dos grupos de pesquisa Na primeira etapa, a amostra composta de 160 grupos certificados foi distribuída por estados do Brasil. A figura 3 mostra esta distribuição e a quantidade correspondente à Administração e à Economia.

Figura 3 - Quantidade de Grupos de Pesquisa em Inovação na Administração e na Economia por estado brasileiro

Os estados brasileiros com maior número de universidades tendem a ter maior número de grupos de pesquisa, portanto, como já esperado, o estado com maior quantidade de grupos de pesquisa em Inovação, nas áreas de Administração e Economia, é o estado de São Paulo,

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com 39 grupos. O Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de grupos de pesquisa, totalizando 18 grupos. A seguir, aparecem Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina, com 15 grupos cada. O estado do Rio de Janeiro, que concentra vários institutos de pesquisa, principalmente, econômicos, aparece em sexto lugar, com 14 grupos de pesquisa cadastrados e certificados no diretório de grupos de pesquisa do CNPq. Os outros 44 grupos aparecem distribuídos em 15 estados distintos. Existem estados no Brasil que ainda não possuem grupos de pesquisa, em inovação, cadastrados e certificados. Dentre estes estados estão: Tocantins, Acre, Rondônia, Amapá, Maranhão e Piauí. Na segunda etapa da pesquisa, além do mapeamento dos grupos de pesquisa, foi possível estabelecer a formação dos grupos de pesquisa em inovação ao longo dos anos. A figura 4 apresenta o aumento cumulativo no número de grupos de pesquisa até o ano de 2009. A partir desta figura é possível observar o início gradativo da formação dos grupos de pesquisadores em inovação anteriores à década de 1990. A partir da década de 1990, o crescimento ocorreu de forma moderada tanto na administração, quanto na economia, mas a partir de 2002, os grupos de pesquisa em administração passaram a crescer de forma mais intensa do que os grupos de economia. Este fato pode ser atribuído ao aumento significativo do número de escolas de Administração no país. Isto pode ser corroborado com dados encontrados recentemente no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [Capes] sobre o reconhecimento de cursos de pós-graduação. Dentro da grande área de Ciências Sociais Aplicadas, o número de cursos de pós-graduação recomendados pela Capes em administração é de 104 e em economia é de 52. Além disso, o crescimento mais acentuado dos grupos de inovação em 2002 pode ser atribuído à geração dos Livros Verde e Branco da Ciência, Tecnologia e Inovação, cujos objetivos eram apontar caminhos para CT&I que pudessem contribuir para a construção de um país mais dinâmico, competitivo e socialmente mais justo.

Figura 4 - Crescimento do número de Grupos de Pesquisa em Inovação na Administração, Economia e Total ao longo dos anos

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A trajetória de crescimento dos grupos de pesquisa em inovação demonstra a ampliação do número de pesquisadores e projetos de pesquisa envolvidos com a inovação em Ciências Sociais Aplicadas. Os resultados corroboram com a expansão e consolidação da infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológica pela ampliação da pesquisa e extensão, objetivo almejado pelo MCT. 5.2 Interações entre os pesquisadores nos grupos A quantidade de pesquisadores por grupo de pesquisa por estado brasileiro pode ser encontrada na figura 5. Os resultados evidenciaram que, raramente, encontra-se grupos de pesquisa com menos de 3 pesquisadores (5,0 %) e que a maioria (80,0 %) possui entre 3 e 9 pesquisadores (53,7%) e entre 9 e 15 (26,3%). Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentam de forma relevante grupos com mais de 15 pesquisadores (15,0 %). Estes grupos se caracterizam por serem interinstitucionais, isto é, pesquisadores de mais de uma universidade participam do grupo de pesquisa. Este fato explica, em parte, a participação de um pesquisador em mais de um grupo de pesquisa, dados, estes, que estão evidenciados na Tabela 3.

Figura 5 - Quantidade de pesquisadores por grupo de pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas por estado brasileiro

O máximo de grupos de pesquisa que um pesquisador participa é de 4 grupos. A maioria dos pesquisadores participam de 1 ou 2 grupos de pesquisa.

Pesquisadores por grupos

Freq. Percentual Participam de 1 Grupo 74 40,7% Participam de 2 Grupos 80 44,0% Participam de 3 Grupos 20 11,0% Participam de 4 Grupos 8 4,4% Total de Observações 182 100,0%

Tabela 3 - Freqüência com que Pesquisadores participam dos Grupos de Pesquisa em Inovação em Ciências Sociais Aplicadas

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A quantidade de pesquisadores nos grupos e a participação destes em mais de um grupo evidencia a rede formada nesta área do conhecimento. A interação entre pesquisadores, seja dentro da universidade, ou de forma interinstitucional, alavanca a difusão e consolidação do conhecimento gerado nos grupos de pesquisa que estudam inovação em Ciências Sociais Aplicadas, tornando-se necessário investigar o quê tais pesquisadores estão estudando. Através das linhas de pesquisa, é possível observar o conhecimento que está sendo gerado, isto é, a agenda de pesquisa dos grupos. 5.3 Agenda de Pesquisa dos Grupos Na análise léxica dos textos encontrados nas Linhas de Pesquisas dos Grupos de Ciências Sociais Aplicadas foi possível identificar os 50 temas mais citados, relacionados com a inovação. As semelhanças e diferenças entre as linhas de pesquisa dos grupos de Administração e Economia encontram-se relacionadas na Tabela 4. A lista de palavras encontra-se em ordem decrescente de citações, o que, no comparativo das duas colunas, reflete as diferentes abordagens de pesquisa entre os grupos da administração e da economia. A palavra inovação aparece semelhantemente nas duas colunas com alta citação por ser este o objetivo do estudo; caracterizar os grupos que estudam inovação. A palavra gestão encontra-se intimamente ligada à administração, enquanto que a mesma situação ocorre com relação à palavra economia, nos grupos de economia. Em termos gerais, as linhas de pesquisa dos grupos da Administração encontram-se mais voltadas para a Inovação ligada à estratégia, tecnologia, desenvolvimento, empreendedorismo, conhecimento, aprendizagem e redes. Enquanto que as linhas de pesquisa dos grupos da Economia encontram-se mais voltadas para a Inovação ligada ao desenvolvimento regional, tecnologia, indústria e arranjos produtivos. Ambos os grupos de Administração e Economia apresentam linhas de pesquisa de inovação ligadas à Sustentabilidade, ao Agronegócio e às Cadeias Produtivas. As palavras Empresa e Organização caracterizam os objetos de estudo dos grupos de pesquisa. Portanto, a citação destas não apresenta relevância nesta análise em especial. Além das diferenças na agenda de pesquisa entre a administração e a economia, também existem diferenças regionais entre os grupos de pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas. 5.3.1 Semelhanças e Diferenças regionais no Mapeamento das Linhas de Pesquisa Ao realizar a análise de conteúdo das linhas de pesquisa e cruzar com as regiões do Brasil, conforme mostra a figura 6, foi possível descobrir as diferenças e semelhanças regionais das linhas de pesquisa. O mapa que foi gerado dividiu as variáveis analisadas em quadrantes que melhor expliquem relação entre elas. Os tamanhos das figuras que compõem o mapa representam a frequência com que esta variável aparece, consequentemente, quadrados maiores, representam maior freqüência. O sudeste, região de maior representatividade, aborda a inovação nas suas linhas de pesquisa como Gestão da Inovação, enquanto que a região sul, aborda como Estratégia. A região nordeste foca a inovação como Desenvolvimento Regional. A inovação tecnológica parece ser uma abordagem adotada tanto pela região nordeste, quanto pela região sudeste. Já a região centro-oeste foca suas linhas de pesquisa de inovação na Gestão de Políticas Públicas e Sustentabilidade, enquanto que a região norte aborda a inovação voltada para arranjos produtivos. É claro que as linhas de pesquisa de cada região são complexas e não se resumem a estas abordagens, mas a simplificação, proporcionada pelo método, permitiu ver a diferença nos enfoques, caracterizando, assim, a agenda de pesquisa de cada região.

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Tabela 4 - 50 Temas mais citados pelos Grupos de Pesquisa em Inovação em Administração e Economia na Variável Linha de Pesquisa.

Administração Economia

Temas Linhas de Pesquisa Linhas de Pesquisa 1 Gestão 71 #Economia 27

2 Inovação 63 Inovação 23

3 #Estratégia 47 desenvolvimento 21

4 #Organização 43 #Tecnologia 15

5 #Tecnologia 36 #produtiva 15

6 #Empresa 31 #Regionais 15

7 desenvolvimento 25 #indústria 13

8 #empreendedor 24 Gestão 11

9 Conhecimento 20 #Organização 11

10 #Competitiva 16 #Empresa 8

11 #Sustentabilidade 14 #Sistema 8

12 #aprendizado 13 #Competitiva 7

13 Redes 13 #política 7

14 #política 12 #Agro 7

15 #Sistema 12 #Sustentabilidade 6

16 social 12 #trabalhador 6

17 #produtiva 11 #internacionais 6

18 #Pública 11 #mercado 6

19 #serviço 11 Arranjos 6

20 #informação 11 Locais 6

21 #trabalhador 10 #Estratégia 5

22 #internacionais 10 #Pública 5

23 #Administração 10 #ambientais 5

24 #Processo 10 Indicadores 5

25 #Agro 9 #comercial 5

26 #mercado 9 Conhecimento 4

27 #comportamentais 9 #informação 4

28 #Negócio 9 local 4

29 Pessoas 9 #empreendedor 3

30 Mudança 8 #Processo 3

31 relações 8 Produção 3

32 Marketing 7 Cadeias 3

33 Planejamento 7 Pequenas 3

34 Produção 7 saúde 3

35 #Economia 6 #serviço 2

36 #ambientais 6 Mudança 2

37 Cadeias 6 Planejamento 2

38 #Gerência 6 #Gerência 2

39 Recursos 6 #territoriais 2

40 #Regionais 5 #complexas 2

41 local 4 social 1

42 Pequenas 4 #comportamentais 1

43 #indústria 3 Recursos 1

44 Arranjos 3 45 Indicadores 3 46 #territoriais 3 47 saúde 2 48 #complexas 2 49 Locais 2 50 #comercial 1 Total de citações 680 Total de citações 294

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Figura 6 - Mapa da Análise de Conteúdo das linhas de pesquisa dos grupos por regiões do Brasil

5.4 Limitações do Estudo Algumas limitações do estudo encontram-se relacionadas com o campo de estudo. A pesquisa realizada pretendia abranger os grupos brasileiros que pesquisam inovação em Ciências Sociais Aplicadas, mas estudou os grupos representativos, restringindo a pesquisa à Administração e à Economia. Também só foram utilizados grupos de pesquisa ligados ao CNPq, podendo haver alguns grupos de pesquisa em universidades, centros de pesquisa ou empresas não cadastrados no CNPq. Com relação ao método, um número crescente de pesquisas está utilizando dados disponíveis na web ou questionários via e-mail. No caso do banco de dados do CNPq, estes dados eram confiáveis, com origem e acesso controlados, o que garantiu a qualidade e segurança dos dados. A limitação do método encontra-se na não especificidade dos dados, pois a coleta via web obriga o pesquisador a trabalhar com as variáveis pré-determinadas por um terceiro, enquanto que o questionário poderia fornecer mais especificidade à pesquisa. A partir dos resultados apresentados neste estudo, é possível elaborar um questionário específico sobre os grupos de pesquisa de Inovação desta área, que aborde as inter-relações entre os pesquisadores nacional e internacionalmente, suas publicações e participação em eventos como sugestão para um estudo futuro. 6. Considerações Finais O Brasil vem aumentando a sua base de conhecimento, fato que foi evidenciado através do aumento dos grupos de pesquisa em Inovação nas Ciências Sociais Aplicadas. Isto demonstra que a preocupação governamental em fortalecer o Sistema Nacional de Inovação, através do incentivo à formação e interação dos grupos de pesquisa, realmente está sendo aplicada de forma prática. A quantidade de investimentos, não só em CT&I, mas em incentivos às empresas para que se aproximem dos centros de pesquisa e universidades, fazem parte das iniciativas de disseminação da cultura da inovação. Meta, essa, que vem sendo perseguida pelo MCT, através dos editais de fomento da FINEP, e pelos grupos de pesquisa na geração e

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disseminação de conhecimento, através da agenda de pesquisa e das interações entre os pesquisadores. O que pôde ser percebido ao longo desta pesquisa é que os incentivos governamentais focam a inovação tecnológica e o desenvolvimento das regiões, mas as linhas de pesquisa dos grupos de inovação em Ciências Sociais Aplicadas, atualmente, contemplam outras abordagens para a inovação que não só as preconizadas pelo governo. Isto quer dizer que a Inovação passou a ter outros desdobramentos. O tema Inovação ainda é bastante novo e controverso. Segundo Fagerberg e Verspagen (2009), um dos problemas de se pesquisar Inovação é que, ela não está organizada como uma disciplina científica. Mesmo assim, foi possível observar a contribuição desta área do conhecimento na formação do Sistema Nacional de Inovação do Brasil, que está se consolidando aos poucos e que ainda possui pontos a melhorar. Como resultado positivo, mesmo não sendo o objetivo deste trabalho, vale ressaltar que o número de empresas que fazem inovações tecnológicas em produtos ou processos aumentou 8,4%, segundo dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica, edição 2005 (PINTEC, 2005), com relação à edição anterior de 2003. Portanto, parece que todo o conhecimento gerado é importante na busca pela inovação. O que não foi analisado neste trabalho, mas que parece ser o próximo desafio brasileiro está centrado na aproximação mais efetiva das bases de conhecimento do país com a malha industrial, para que, desta forma, a inovação passe a ser a mentalidade do Brasil.

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