inovação inovação
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Agroindústria
Estudos Setoriais deInovaçãoEstudos Setoriais deInovação
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
Projeto:
Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam
conhecimento para realizar inovação tecnológica
Relatório Setorial:
AGROINDÚSTRIA
Pesquisadores:
Mauro Borges Lemos (Cedeplar/UFMG)
Eduardo Gonçalves (FEA/UFJF)
Thiago Caliari (Cedeplar/UFMG)
Edson Paulo Domingues (Cedeplar/UFMG)
Pedro Vasconcelos Amaral (Cedeplar/UFMG)
Ricardo Machado Ruiz (Cedeplar/UFMG)
Assistentes:
Marcelo Brito Brandão
Márcia Alves Pereira
Verônica Lazarini Cardoso
Belo Horizonte, de 2009
2
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4
2. INDÚSTRIAS À MONTANTE ............................................................................................... 6
2.1. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA................................................................................. 6
2.1.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS ........................................................................ 13
2.1.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS ......................................................................................... 21
2.1.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS ................................................................. 27
2.2. ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA ........................................................................ 32
2.2.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS ........................................................................ 32
2.2.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS ......................................................................................... 40
2.2.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS ................................................................. 50
2.3. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ................................................................................. 59
2.3.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS ........................................................................ 59
2.3.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS ......................................................................................... 66
2.3.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS ................................................................. 75
3. INDÚSTRIAS À JUSANTE ................................................................................................ 82
3.1. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA............................................................................... 82
3.1.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO .................................... 89
3.1.2. ALIMENTOS PROCESSADOS ...................................................................................... 93
3.1.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES ............................................................................. 99
3.1.4. LATICÍNIOS ........................................................................................................... 106
3.2. ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA ...................................................................... 113
3.2.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO .................................. 113
3.2.2. ALIMENTOS PROCESSADOS .................................................................................... 121
3.2.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES ........................................................................... 129
3.2.4. LATICÍNIOS ........................................................................................................... 137
3.3. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ............................................................................... 145
3.3.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO .................................. 145
3.3.2. ALIMENTOS PROCESSADOS .................................................................................... 151
3.3.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES ........................................................................... 156
3.3.4. LATICÍNIOS ........................................................................................................... 162
4. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS .................................... 168
4.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS ........................................................................... 168
3
4.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS ............................................................................................ 171
4.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS .................................................................... 177
4.4. INDÚSTRIAS À MONTANTE ............................................................................................ 182
4.4.1. MEDIDAS ESPECÍFICAS POR SETOR ......................................................................... 183
5. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 187
4
1. INTRODUÇÃO
Esse relatório é subproduto do Produto 8 – “Indústrias objeto de programas para
fortalecer a competitividade” do Projeto “Estudo sobre como as empresas brasileiras nos
diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológica”
e remete ao estudo do Sistema Agroindustrial. Como forma de facilitar as delimitações e
especificidades do setor, o relatório foi dividido em duas partes. Na primeira analisam-se
as indústrias à montante da agricultura, relativas a produtos químicos inorgânicos, com
ênfase em fertilizantes, defensivos agrícolas e máquinas e equipamentos agrícolas. Na
segunda, analisam-se as indústrias à jusante da agricultura, com ênfase nos setores de
abate de carnes e pescados, alimentos processados, óleos e rações para animais e
laticínios.
A Seção 2 descreve as especificidades da indústria à montante, apresentando a cadeia
produtiva, a estrutura e evolução de cada indústria e seu sistema setorial de inovação. A
Seção 3 apresentada os mesmos tópicos, mas agora para o conjunto de indústrias à
jusante.O estudo da cadeia produtiva quantifica e apresenta as transações de compra e
venda internas a essa cadeia, assim como as transações com outras indústrias
fornecedoras e compradoras fora da cadeia. Assim, a idéia é fornecer um quadro
produtivo da cadeia, indicando o peso relativo de cada setor, o volume dos fluxos intra e
inter-industriais da cadeia, os efeitos multiplicadores diretos e indiretos de produção e
emprego gerados para o conjunto da economia brasileira.
Já a análise da estrutura e evolução temporal das indústrias procura captar
temporalmente a processo de de liderança tecnológica, através das categorias empresas
líderes, seguidoras, frágeis e emergentes. São apresentados indicadores de participação
de mercado, de margens de lucro e de concentração econômica dos setores, cobrindo o
período 1996/2006, construídos a partir da Pesquisa Industrial Anual (PIA).
Na análise do sistema setorial de inovação são apresentados os indicadores de inovação
segundo as categorias de firmas líderes, seguidoras, frágeis e emergentes, procurando
caracterizar seus regimes, segundo oportunidades tecnológicas, formas de acumulação
de conhecimento e de apropriação dos retornos da inovação. Já o tópico final –
5
Oportunidades tecnológicas, estratégias e propostas – apresenta algumas propostas de
políticas setoriais.
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2. INDÚSTRIAS À MONTANTE
2.1. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA
As vendas dos setores à montante da agricultura são distribuídas, na Tabela 2.1, de
acordo com o tipo de demanda final, como exportações, consumo das famílias,
investimentos, consumo do governo e outras demandas, e de acordo com a demanda
intermediária, que corresponde ao consumo de todos os setores produtivos da economia.
O destino principal da produção dos setores de produtos químicos inorgânicos, de
defensivos e de máquinas e equipamentos agrícolas está distribuído na forma de
demanda intermediária, nos dois primeiros casos, e de investimento (formação bruta de
capital fixo), no terceiro caso, uma vez que por construção da matriz de insumo-produto o
grande percentual das vendas de qualquer tipo de bens de capital são para a demanda
final, na forma de investimento para o consumo doméstico das firmas e de exportação
para o consumo externo. Além da variação de estoques, as vendas de bens de capital
para a demanda intermediária deve-se às despesas de manutenção e reparação, que no
caso das máquinas e equipamentos agrícolas são relativamente elevadas.
Cerca de 91% e de 97% da produção de químicos inorgânicos e de defensivos,
respectivamente, são destinadas a outros setores da economia, enquanto que 58% da
produção de bens de capital agrícolas compõem a formação bruta de capital fixo. As
exportações são, em geral, pequenas, representando cerca de 5% da demanda dos
setores mencionados. Isso se justifica em face da magnitude da agricultura brasileira que
consome maior parte do que é internamente produzido, ainda que setores como os de
bens de capital agrícola venham apresentando sucessiva melhora do desempenho
externo ao longo da década de 2000, como será visto nas próximas seções.
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Tabela 2.1 Distribuição das vendas setoriais, por categoria da demanda final e intermediária
(% das vendas totais, 2005)
Exportações Consumo das Famílias
Investimento Consumo do Governo
Outras Demandas
Total
1771 584 81 0 278 2714 28813 31527(5,6%) (1,9%) (0,3%) (0,0)% (0,9%) (8,6%) (91,4%) (100%)
786 237 16 0 -606 432 15987 16419(4,8%) (1,4%) (0,1%) (0,0)% (-3,7%) (2,6%) (97,4%) (100%)
3831 2104 41172 0 7666 54773 16220 70993(5,4%) (3,0%) (58,0%) (0,0)% (10,8%) (77,2%) (22,8%) (100%)
Quimicos Inorganicos
Defensivos agrícolas
Máquinas Agricolas
SetoresDemanda Final
Demanda Intermediária
Demanda Total
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005, RAIS, PIA.
As cadeias produtivas dos três setores são mostradas nas Figuras 2.1, 2.2 e 2.3. As setas
representam fluxos monetários partindo dos setores de origem (vendedores) para os de
destino (compradores). Para a indústria de produtos químicos inorgânicos, as vendas (R$
14,2 bilhões) se destinam principalmente para os setores agrícolas e extrativistas (41,8%),
como fertilizantes, e para outros setores como, fabricação de resinas e elastômeros
(22,1%), defensivos agrícolas (13%), artigos de borracha e plástico (12,8%) e demais
químicos (10,2%), por estarem incluídos também nesse setor de químicos inorgânicos as
produções de cloro e álcalis, de gases industriais e dos próprios intermediários para
produção de fertilizantes, como ácido nítrico, ácido sulfúrico, ácido fosfórico, amônia
(amoníaco liquefeito), fosfatos de amônio e uréia. Em relação às compras do setor (R$
13,1 bilhões), verifica-se a grande dependência de setores petroquímicos e químicos, pois
cerca de 42% são provenientes de refino de petróleo e coque, enquanto que 39% provêm
de “demais químicos”. Aproximadamente 14% dos insumos usados (em valor) pelo setor
são oriundos de indústrias extrativistas (mineração).
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Figura 2.1 Cadeia Produtiva da Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos, transações
intersetoriais, 2005 (R$ milhões).
Produtos e preparados químicos diversos
Refino de petróleo e coque
Químicos Inorgânicos
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal
Fabricação de resina e elastômeros
Artigos de borracha e plástico
Demais Químicos
Outros da indústria extrativa 1853
628
13165 14228
5951
3146
1855
1822
1454
5526
5158
Defensivos agrícolas
Demais Químicos 3047
Consumo das Famílias 584
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
O setor de produtos químicos inorgânicos, um dos principais fornecedores de insumos
agrícolas, depende especialmente de setores como petroquímica e mineração. As
principais matérias-primas para fabricação de fertilizantes são o nitrogênio (N), o fósforo
(P) e o potássio (K).1 Esses produtos químicos são fabricados e combinados a partir
matérias-primas básicas provenientes da petroquímica, como o gás natural, o resíduo
asfáltico do petróleo (RASF) e a nafta, e da mineração, como rocha fosfática, enxofre e
rochas potássicas. Com base nesses insumos, são obtidos produtos intermediários, como
ácido sulfúrico, ácido fosfórico, amônia anidra e fertilizantes simples, o que permite a
produção de fertilizantes básicos, como uréia, sulfato de amônio, fosfato monoamônio
(MAP), superfosfato simples e cloreto de potássio. Esses últimos dão origem aos
fertilizantes granulados e às misturas do tipo NPK.
Em relação ao setor de defensivos agrícolas (Figura 2.2), é possível notar que as vendas
internas se destinam, em sua maioria, para agricultura, silvicultura e exploração florestal
(96%). No que se refere aos fornecedores, há preponderância de químicos inorgânicos 1 Segundo Dias e Fernandes (2006), o nitrogênio aumenta a produtividade agrícola pois é componente das proteínas e da clorofila; o fósforo é responsável por processos vitais das plantas, armazenamento e utilização de energia, crescimento de raízes e melhoria da qualidade de grãos, aceleração do amadurecimento dos frutos; o potássio realiza o equilíbrio das cargas no interior das células vegetais, controla a hidratação e as doenças da planta.
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(30%), “demais químicos” (23,5%), produtos e preparados químicos diversos (15,8%),
álcool (12,7%), artigos de borracha e plástico (11,4%) e produtos de metal (6,4%). Nota-
se que as importações (cerca de R$ 1,8 bilhões) são relevantes, se medidas em
proporção das compras totais do setor (28,5%), sendo responsáveis por déficits
crescentes ao longo dos últimos anos no Brasil, como será abordado nas seções
seguintes.
Por fim, a Figura 2.3 mostra que as vendas destinadas à formação bruta de capital fixo
(R$ 41,1 bilhões) e às exportações (R$ 3,8 bilhões) são os principais destinos da
produção, na forma de demanda final. Como já observado, é relevante as vendas de
peças e acessórios para a agricultura, silvicultura e exploração florestal, que é o principal
setor da demanda intermediária, , com transações que totalizam cerca de R$ 4 bilhões ou
72% das vendas intersetoriais. A presença de setores como petróleo e gás natural e
minério de ferro ilustra a capacidade de oferta do setor, fornecendo também para setores
não-agrícolas, especialmente peças e acessórios de tratores agrícolas usados como
máquinas tracionadas de apoio. Em termos de fornecedores, a figura demonstra compras
que totalizam mais de R$ 18 bilhões, das quais 40,6% se devem à fabricação de aço e
derivados, 25% a produtos de metal, 16,2% à metalurgia de metais não-ferrosos, 10,2% a
máquinas, aparelhos e materiais elétricos e 7,8% a artigos de borracha e plástico.
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Figura 2.2 Cadeia Produtiva da Indústria de Defensivos Agrícolas, transações intersetoriais,
2005 (R$ milhões).
Álcool
Químicos Inorgânicos
Defensivos agrícolas
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal
Pecuária e pesca
Produtos e preparados químicos diversos 971
783
6153 9496
9103
393
1855
1447Demais Químicos
1646
Exportações786
Artigos de borracha e plástico
Produtos de metal -exclusive máquinas e
equipamentos
704
393
Importações
1754
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
Figura 2.3 Cadeia Produtiva da Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas, transações
intersetoriais, 2005 (R$ milhões).
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Fabricação de aço e derivados
Máquinas Agrícolas
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal
Petróleo e gás natural Metalurgia de metais não-ferrosos
1886
18495 5547
4013
802
7512
4646
Produtos de metal -exclusive máquinas e
equipamentos1878
Artigos de borracha e plástico 1449
732
3002
Minério de ferro
Investimento
45003
3831Exportações
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
Para avaliar a magnitude do impacto potencial sobre a atividade econômica decorrente da
elevação da produção (ou demanda) do setor considerado, foi construída a Tabela 2.2
11
que apresenta os multiplicadores simples de produção dos setores. Nesse caso, se a
demanda por produtos químicos inorgânicos, defensivos e máquinas agrícolas crescer
1%, o crescimento induzido da produção na economia será de 2,38%, 2,30% e 1,87%.
Desses impactos, 1,12%, 1,12% e 1,03% representam o aumento da produção nos
próprios setores de químicos inorgânicos, defensivos e máquinas agrícolas,
respectivamente (efeito multiplicador direto), enquanto que o aumento da produção dos
outros setores da economia (efeito multiplicador indireto) será de, respectivamente,
1,26%, 1,18% e 0,84%. Com exceção do setor de bens de capital agrícolas, nota-se que
os valores dos multiplicadores da produção dos setores de químicos inorgânicos e
defensivos agrícolas estão acima da média observada para a economia brasileira em
2005 (1,88).
O efeito multiplicador indireto predomina sobre o direto, com exceção de máquinas
agrícolas. Por se tratar de indústrias produtoras de insumos de natureza intermediária,
tanto produtos químicos inorgânicos quanto defensivos agrícolas apresentam elevados
efeitos multiplicadores, possuindo natureza estratégica para a economia brasileira, pois
possuem significativo número de encadeamentos intersetoriais, viabilizam a
competitividade da produção agrícola e a oferta de alimentos a baixos preços. Além disso,
a produção de defensivos agrícolas envolve elevado grau de conhecimento tecnológico
nas áreas de química fina e biotecnologia. Embora possua menor efeito multiplicador total
em comparação com os dois últimos, o setor de bens de capital agrícolas possui grande
potencial de difusão de tecnologia e produtividade para a agricultura e outros setores,
revelando também natureza estratégica para a economia brasileira.
Tabela 2.2
Multiplicadores Simples de Produção (2005)
Setor Multiplicador Simples de Produção Participação no total (em %) Total Direto Indireto Direto Indireto
(A+B) (A) (B) (A/Total) (B/Total) Químicos Inorgânicos 2,38 1,12 1,26 47,04 52,96 Defensivos agrícolas 2,30 1,12 1,18 48,60 51,40 Máquinas Agrícolas 1,87 1,03 0,84 55,15 44,85
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
De forma análoga, com o intuito de avaliar o impacto dos setores sobre a geração de
empregos nos próprios setores assim como nos outros setores da economia brasileira,
12
foram calculados os coeficientes setoriais de emprego, que representam o número de
trabalhadores dividido pelo valor da produção (Tabela 2.3). Os indicadores revelam que
os setores de produtos químicos inorgânicos, defensivos e máquinas agrícolas, nessa
ordem, possuem maior capacidade geradora de empregos totais, ainda que tal
capacidade se apresente modesta em relação a outros setores da economia brasileira,
que são mais intensivos em trabalho.2
Tabela 2.3 Coeficientes setoriais de emprego
(Ocupações/valor da produção em R$ milhões de 2005)
Setor Coeficiente de Emprego
(Pessoal Ocupado/R$ milhões)
Total Superior Médio Inferior
Químicos Inorgânicos 1,5 0,4 0,6 0,5
Defensivos agrícolas 1,4 0,6 0,5 0,3
Máquinas Agrícolas 0,9 0,1 0,4 0,4 Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
Em termos de nível educacional dos empregos gerados, nota-se que os defensivos
agrícolas possuem maior indicador que relaciona o pessoal ocupado de nível superior ao
valor da produção do setor (0,6 contra 0,4 de químicos inorgânicos e 0,1 de máquinas
agrícolas). Em termos relativos, tal desempenho pode ser explicado pela natureza dos
conhecimentos científicos exigida no setor e pela necessidade de emprego de
agrônomos. Nos outros setores se destacam empregos com qualificação média e inferior.
Entretanto, os multiplicadores de emprego, decompostos por qualificação da mão-de-obra
(Tabela 2.4), revelam que, quaisquer que sejam os setores considerados, aumentos de
produção decorrentes de demandas adicionais criam preponderantemente empregos com
qualificação inferior. Em termos ilustrativos, nota-se que o setor de defensivos agrícolas
possui efeito multiplicador de 14,2 e o setor de químicos inorgânicos possui multiplicador
de 11,3. Máquinas agrícolas possuem menor multiplicador (8). Isso revela uma
capacidade de geração de 14, 11 e 8 empregos para cada R$ 1 milhão de produção de
cada setor, respectivamente. Desses empregos totais, a maioria é de qualificação inferior
para todos os setores. Cerca de 52% dos 14 empregos gerados com demanda adicional
2 Indicadores comparáveis de subsetores do complexo têxtil-vestuário, como vestuário, fiação e tecelagem e malharias são de, respectivamente, 14,08, 10,59 e 10,46.
13
de R$ 1 milhão no valor de produção do setor de defensivos agrícolas são de qualificação
inferior, o que pode refletir a produção de pesticidas genéricos (com patente expirada)
através da importação de ingredientes ativos de maior valor agregado. Esse tipo de
produção não exige mão-de-obra qualificada, ao contrário do pessoal que trabalha nas
áreas de P&D das empresas líderes de mercado e de tecnologia. Entretanto, tais
empregos se concentram nas sedes das empresas multinacionais que dominam o setor.
No caso dos químicos inorgânicos, 47% dos empregos é de qualificação inferior, o que se
pode explicar pela natureza relativamente simples das atividades de muitas firmas do
setor em termos de misturar ingredientes e insumos básicos dos fertilizantes, como uréia,
sulfato de amônio, fosfato monoamônio (MAP), superfosfato simples e cloreto de potássio,
dando origem aos fertilizantes granulados e às misturas do tipo NPK.
Tabela 2.4
Multiplicadores Simples de Emprego (Ocupações/R$ milhões de 2005)
Total (A+B+C) Superior (A) Médio (B) Inferior (C) Superior Médio Inferior
Químicos Inorgânicos
11,3 1,8 4,2 5,3 16 37 47
Defensivos agrícolas
14,2 2,2 4,5 7,4 16 32 52
Máquinas Agrícolas
8,0 1,1 3,4 3,5 14 42 44
SetorMultiplicadores Simples de Emprego
(Ocupações/R$ milhões) Participação por qualificação no
multiplicador total (%)
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, 2005.
2.1.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 1.0), o setor de
produtos químicos inorgânicos possui a seguinte composição:
Produtos Químicos Inorgânicos (CNAE-241): compreende a fabricação de gás cloro, de hidróxidos e óxidos dos metais alcalinos, como hidróxido de potássio, hidróxido de sódio, etc.; a fabricação de intermediários para adubos e fertilizantes como ácido nítrico, ácido sulfúrico, ácido fosfórico, amônia (amoníaco liquefeito), fosfatos de amônio, uréia, etc.; a fabricação de adubos e fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos, compostos e complexos, para uso agrícola e doméstico; a fabricação de fertilizantes compostos NPK, etc.; a fabricação de gases industriais ou médicos, líquidos ou comprimidos como gases elementares (oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, etc., ar líquido ou comprimido, gases refrigerantes, gases inertes como dióxido de carbono, misturas de gases industriais, acetileno, etc.); a
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fabricação de gelo seco (anidrido carbônico); a fabricação de corantes e pigmentos inorgânicos de origem mineral ou sintética, em forma básica ou concentrada; a fabricação de elementos químicos - exceto metais, gases industriais elementares e elementos radioativos produzidos pela indústria de combustíveis nucleares; a fabricação de sílica-gel; a fabricação de outros produtos químicos inorgânicos como ácidos, bases, seus sais, etc.
Esse estudo foca especialmente a produção de fertilizantes, dado seu caráter de insumo
estratégico na agricultura. Há três tipos básicos de fertilizantes: nitrogenados, fosfatados e
potássicos.3
Os fertilizantes nitrogenados dependem essencialmente da amônia anidra para sua
produção. As unidades produtivas desse tipo de fertilizante são instaladas perto de
refinarias petroquímicas. No Brasil, podem ser citadas as seguintes fábricas de
fertilizantes nitrogenados: FAFEN, com unidades em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA);
Ultrafertil, em Cubatão (SP) e Araucária (PR).
Os fertilizantes fosfatados precisam de rochas fosfáticas e de ácido sulfúrico para sua
produção. No primeiro caso, o Brasil possui rochas que precisam passar por processos
químicos (“flotação”) para eliminar impurezas e tentar elevar o teor de fósforo do mineral
fluorapatita. No segundo caso, a obtenção de ácido sulfúrico ocorre por intermédio do
enxofre, que é um mineral inexistente no Brasil. Outra forma de obtenção do enxofre é por
meio da recuperação de gases ácidos do petróleo, o que é realizado pela Petrobrás.
Entretanto, a estatal produz apenas 7% do enxofre demandado no País, que é destinado
a indústrias químicas, de cosméticos e de papel e celulose.
Os fertilizantes potássicos são oriundos de processos de beneficiamento de rochas desse
mineral. A Cia. Vale do Rio Doce é a única empresa que produz potássio no País,
operando, por concessão da Petrobrás, a jazida de Taquari/Vassouras em Sergipe.
O setor de produtos químicos inorgânicos, especialmente fertilizantes, tem sua dinâmica
intimamente vinculada à sazonalidade da agricultura brasileira. Desse modo, estimativas
apontam que 70% das vendas de fertilizantes ocorrem no segundo semestre do ano,
3 Boa parte das informações referentes aos tipos de fertilizantes baseia-se em Dias e Fernandes (2006).
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coincidindo com o plantio da safra de verão, principalmente das culturas de soja, milho,
café e cana-de-açúcar, as quais absorvem 73% dos fertilizantes consumidos no País.4
Além da sazonalidade, a conjuntura econômica agrícola tem impactos diretos sobre o
setor de produtos químicos inorgânicos. Entre 1996 e 2006, o valor bruto da produção
(VBP), como percentual do VBP da indústria de transformação brasileira, apresentou
tendência de crescimento até 2004, atingindo 2,9% (Tabela 2.5). Nota-se que a série de
VBP apresenta máximo valor também em 2004, com cerca de R$ 13,3 bilhões em
vendas. A partir desse momento, tal tendência sofre inflexão, com vendas tornando-se
42% menores em 2005 (R$ 7,7 bilhões), em comparação com 2004. A crise teve origem,
de acordo com Dias e Fernandes (2006), por três fatores: problemas climáticos em
regiões específicas do País, como a longa estiagem da região Sul; aumento dos preços
dos insumos, refletindo alta das cotações internacionais de petróleo; apreciação do real
frente ao dólar; baixos preços recebidos pelos agricultores; e endividamento dos
produtores rurais, principalmente da cultura de soja (Ferreira e Vegro, 2006a; Dias e
Fernandes, 2006). O período de 1996-2005 também é marcado por redução ininterrupta
do indicador de agregação de valor no setor (VTI/VBP), o qual se recupera ligeiramente
em 2006, comparando-se com 2005, atingindo o patamar de 0,35.
Esse comportamento também pode ser constatado pela receita líquida de vendas.
Corroborando os dados da Tabela 2.6, o setor apresenta considerável oscilação da taxa
de crescimento anual da receita líquida de vendas, embora no período 1996-2006 ainda
seja possível observar crescimento médio de 2,5%. O ano de maior queda foi o de 2005,
em relação a 2004, com taxa negativa de crescimento de 22,8%. O Gráfico 2.1 permite
observar tal comportamento, deixando claro que o resultado obtido em 2005 interrompeu
uma tendência de crescimento mais vigorosa que havia se iniciado em 2002. Mesmo
assim, o resultado de 2006 é R$ 6 bilhões maior que o do início do período, em 1996.
4 Estimativa extraída de Dias e Fernandes (2006). Em 2007, as culturas que mais usaram fertilizantes foram: soja (33,9%), milho (19,3%), cana-de-açúcar (13,8%), café (6,3%) algodão herbáceo (4,9%) e arroz (3,1%), totalizando 75,8% do consumo total (Ferreira e Vegro, 2008).
16
Tabela 2.5 Valor Bruto da Produção e da Transformação
Industrial na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos. Período: 1996-2006 (em R$ bilhões)
Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 5,1 2,5 0,44 1,93
1997 7,2 3,3 0,41 1,91
1998 8,1 3,1 0,35 2,10
1999 5,7 2,3 0,39 2,35
2000 6,3 2,5 0,36 2,25
2001 8,5 3,5 0,36 2,34
2002 9,1 3,6 0,36 2,28
2003 10,5 4,2 0,37 2,82
2004 13,3 5,4 0,34 2,90
2005 7,7 2,9 0,30 2,24
2006 6,8 2,6 0,35 1,99 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Tabela 2.6 Receita Líquida de Vendas na Indústria de
Produtos Químicos Inorgânicos. Período: 1996-2006.
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 20,3 -
1997 18,6 -8,4
1998 21,8 17,4
1999 25,1 15,2
2000 24,6 -2,1
2001 26,9 9,2
2002 25,5 -4,9
2003 31,1 21,9
2004 34,9 12,1
2005 26,9 -22,8
2006 26,1 -3,2
1996-2006 - 2,5 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
17
Gráfico 2.1 Receita Líquida com Vendas Industriais de Produtos Químicos Inorgânicos.
Período: 1996-2006 (em R$ bilhões).
0
10
20
30
40
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
O processo de desconcentração regional da agricultura brasileira, com a recente
ocupação dos cerrados e regiões da floresta amazônica, aumentou a dependência
externa brasileira em relação aos fertilizantes e aos seus insumos. Ao lado do crescente
consumo, há uma tendência recente de encarecimento dos preços pagos pelos
agricultores pelos fertilizantes, especialmente de janeiro de 2007 a setembro de 2008,
conforme Gráfico 2.2.
A escalada dos preços internos dos fertilizantes deve-se ao aumento dos preços de suas
matérias-primas no mercado internacional, as quais, por sua vez, acompanharam o
aumento dos preços do petróleo, que é necessário para produção de nitrogênio. Além
disso, a crescente demanda mundial de alimentos trouxe reflexos sobre os preços dos
fertilizantes. Apenas a partir de outubro de 2008 é que se nota reversão da tendência de
aumento iniciada em 2006 por causa de fatores vinculados ao desaquecimento
econômico em virtude da crise financeira mundial e conseqüente escassez de crédito, os
quais afetaram negativamente os preços das commodities agrícolas, diminuindo a
demanda dos produtores agrícolas brasileiros.
18
Gráfico 2.2 IPA do setor de fertilizantes em relação ao IGP-DI (normalizado para 100)
0
50
100
150
200
250
ago
/94
fev/
95
ago
/95
fev/
96
ago
/96
fev/
97
ago
/97
fev/
98
ago
/98
fev/
99
ago
/99
fev/
00
ago
/00
fev/
01
ago
/01
fev/
02
ago
/02
fev/
03
ago
/03
fev/
04
ago
/04
fev/
05
ago
/05
fev/
06
ago
/06
fev/
07
ago
/07
fev/
08
ago
/08
IPA-OG - fertilizantes / IGP-DI IGP-DI / IGP-DI
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IpeaData.
O Gráfico 2.3 revela que o cloreto de potássio, o sulfato de amônio e a uréia
apresentaram variação de preços em dólar (FOB) de, respectivamente, 156%, 100% e
80% entre 2007 e 2008.5 Todos esses insumos, no entanto, já sinalizavam tendência de
alta desde o ano de 2003, após relativa estabilidade no período 1996-2003.
Logo, necessidades crescentes de uso de fertilizantes e encarecimento internacional da
matéria-prima refletem-se no comportamento das importações brasileiras, constatado pelo
Gráfico 2.4, que possuem vertiginoso crescimento, principalmente a partir de 2006. Em
2008, as importações alcançaram o valor de US$ 8,9 bilhões contra US$ 2,7 bilhões de
2006, o que significa um crescimento de 226%. Como a exportações são relativamente
inexpressivas, há um déficit comercial crescente no setor. Não há qualquer perspectiva de
reversão dessa tendência no curto prazo, se forem consideradas alguns fatores
conjunturais apontados na literatura, entre os quais podem ser citados: 1) aumento da
demanda mundial de fertilizantes, tendo em vista a maior necessidade de produção de
5 Informações de Ferreira e Vegro (2008) revelam que esses e outros insumos dos fertilizantes continuaram a apresentar brusca variação positiva nos primeiros meses de 2008.
19
alimentos; 2) maior uso de fertilizantes nas culturas voltadas para a produção de
combustíveis limpos; 3) colapso da oferta de curto prazo de insumos como gás natural,
ácido sulfúrico e ácido fosfórico; e 4) encarecimento dos insumos cuja produção depende
do petróleo (Ferreira e Vegro, 2008).
Gráfico 2.3 Preço de Importação de Insumos da Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos
(em US$/tonelada). Período: 1996-2008.
0
100
200
300
400
500
600
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
US
$ /
to
ne
lad
a
Uréia Sulfato de Amônio Cloreto de Potássio
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Dias e Fernandes (2006) também ressaltam que a produção brasileira de fertilizantes é
prejudicada por elevados custos de produção decorrentes, em parte, das dificuldades
logísticas, representadas pela insuficiente infra-estrutura portuária e pelos preços dos
fretes da matéria-prima. Além disso, constata-se também que tributos, como ICMS,
oneram a produção nacional de fertilizantes em relação às importações, que gozam de
isenção desse tributo.6 Todos esses fatores causam a substituição da produção interna
pelas importações, o que se coloca como fator explicativo adicional para o
comportamento recente das importações brasileiras de fertilizantes e seus insumos. O
6 A ausência de isonomia tributária inviabiliza produção e investimentos de fertilizantes fosfatados em empresas, como Fosfertil e Copebrás, em função de vantagens tributárias de produtos importados. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=12-12-2007&codmateria=4682031&codcategoria=306&tp=12&searchTerm=fertilizantes_nacionais&scrollX=0&scrollY=709&tamFonte=.
20
Gráfico 2.5 sinaliza essa tendência ao mostrar uma variação 387% das importações de
adubos entre 2006 e 2008.
Gráfico 2.4 Exportações e Importações da Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos.
Período: 1996-2008 (em US$ milhões).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Dentre os três principais macronutrientes da agricultura, a principal dependência brasileira
é em relação ao potássio, ainda que a capacidade nacional de produção de nitrogênio e
fósforo sejam também menores que as necessidades de consumo. Em 2006, o Brasil
consumiu 2,24 milhões de toneladas de nitrogênio (terceiro maior consumidor mundial),
2,83 milhões de toneladas de fósforo (quarto maior consumidor mundial) e 3,39 milhões
de toneladas de potássio (terceiro consumidor mundial). Essa dependência alimenta
intenções do governo brasileiro de realizar investimentos no setor, a partir da Petrobrás e
através de parcerias da estatal com empresas privadas, como no caso de exploração de
jazidas. A incerteza gerada pela expansão do cultivo no Centro-Oeste e a dificuldade de
entrada do produto importado a preços competitivos, dada a distância da região dos
portos e o conseqüente custo elevado do frete, fomenta hipóteses como a integração para
trás por parte de produtores e comercializadores de soja do Centro-Oeste (Dias e
Fernandes, 2006).
21
Gráfico 2.5 Importação de Fertilizantes (em US$ milhões). Período: 1996-2008.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
Adubos
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
2.1.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o setor de
defensivos agrícolas possui a seguinte composição:
Defensivos Agrícolas (CNAE-246): compreende a produção de formulações químicas e seus princípios ativos para o controle de insetos na agricultura e para uso doméstico; a fabricação de formulações químicas e seus princípios ativos para o controle de fungos na agricultura; a fabricação de formulações químicas e seus princípios ativos para controle de ervas daninhas na agricultura; a fabricação de outros defensivos agrícolas (acaricidas, formicidas, etc.).
A principal cultura usuária de defensivos agrícolas no Brasil é a de soja, totalizando 38,5%
do valor total das vendas. Outras culturas, que se destacam pelo consumo, são: cana-de-
açúcar (12,6%), algodão herbáceo (10,3%), milho (7,5%), café (4,9%) e citros (4,2%). Se
forem somadas, representam 78% do valor comercializado em 2006.7
7 Ferreira et al. (2008).
22
Entre 1996 e 2006, o valor bruto da produção (VBP), como percentual do VBP da
indústria de transformação brasileira, apresentou tendência de crescimento até 1999,
atingindo 1,04% (Tabela 2.7). Entretanto, tal tendência é interrompida no ano de 2000,
retornando a apresentar crescimento após esse ano até 2004, quando o VBP atinge seu
maior valor no período 1996-2006 (1,39%). Com a crise agrícola de 2005, a trajetória
desse indicador retorna a diminuir sua participação no total da indústria de transformação.
Em relação a 2004, a queda do VBP equivale a uma perda setorial de R$ 6,2 bilhões. A
relação entre o valor agregado e o valor bruto da produção possui comportamento ainda
pior, tendo em vista que o indicador recua de 0,40 em 1999, valor máximo do período
1996-2006, para 0,33 em 2006. Nota-se que tal valor situa-se num patamar inferior ao do
ano de 1996 (0,38).
Por outro lado, o comportamento da receita líquida de vendas apresentou crescimento no
período 1996-2006 de 4,1% ao ano (Tabela 2.8), ainda que tenha ocorrido oscilação
acentuada no período, que reflete as tendências dos outros indicadores, apontadas no
parágrafo anterior. Se comparados os Gráficos 2.1 e 2.6, verifica-se que a trajetória da
receita líquida de vendas entre fertilizantes e defensivos é muito similar, compartilhando
momentos de ascensão e quedas, pois ambos os setores são intimamente ligados ao
comportamento produtivo da agricultura.
23
Tabela 2.7 Valor Bruto da Produção e da Transformação
Industrial na Indústria de Defensivos Agrícolas. Período: 1996-2006 (em R$ bilhões).
Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 7,1 2,7 0,38 0,68
1997 8,1 3,0 0,37 0,76
1998 9,5 3,2 0,33 0,92
1999 11,0 4,5 0,40 1,04
2000 9,0 3,3 0,37 0,81
2001 11,2 3,6 0,32 0,98
2002 10,3 4,0 0,39 0,91
2003 12,7 4,7 0,37 1,15
2004 16,7 6,2 0,37 1,39
2005 11,1 3,9 0,35 0,93
2006 10,5 3,5 0,33 0,83 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Tabela 2.8 Receita Líquida de Vendas na Indústria
de Defensivos Agrícolas. Período: 1996-2006.
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 6,9 -
1997 7,5 9,2
1998 9,1 20,5
1999 10,2 12,2
2000 8,6 -15,5
2001 10,5 21,7
2002 10,0 -4,8
2003 12,8 28,3
2004 15,8 23,4
2005 11,0 -30,6
2006 10,3 -5,9
1996-2006 - 4,1 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
24
Gráfico 2.6 Receita Líquida com Vendas Industriais de Defensivos Agrícolas.
Período: 1996-2006 (em R$ bilhões).
0
4
8
12
16
20
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
O Gráfico 2.7 revela aumentos de preços relativos dos artigos de suprimentos
agropecuários, que é um índice que mede variações de preços de fertilizantes, defensivos
agrícolas e medicamentos veterinários. Nota-se que o IPA-Suprimentos Agropecuários
apresenta aumento relativo em relação ao IGP durante a maior parte do período
considerado após fevereiro de 1999. A tendência de aumento se mostra mais forte a partir
de dezembro de 2006 até outubro de 2008, quando os preços desses artigos passam a
retornar para a média geral de preços.
A trajetória das importações de defensivos agrícolas apresenta forte aumento a partir de
2002 até 2004 (Gráfico 2.8). Em 2002, as importações totalizavam US$ 496 milhões, ao
passo que, até 2004, houve 126% de aumento, atingindo a cifra de US$ 1,1 bilhões. Esse
desempenho das importações pode ser explicado pelo comportamento da taxa de
câmbio, pois coincide com a fase de contínua apreciação da moeda nacional frente ao
25
dólar.8 Outro argumento que explica a evolução das importações até 2006 é a magnitude
e o destino dos investimentos realizados no Brasil pelas empresas do setor. Segundo
Terra (2008), observa-se que os investimentos realizados em 2006 e 2007 representaram
apenas 22% do total de 2001 e destinaram-se à modernização das plantas produtivas, ao
invés da ampliação da capacidade produtiva. Dessa forma, as necessidades crescentes
da agricultura brasileira foram atendidas pela produção externa.
Gráfico 2.7
IPA do setor de suprimentos agropecuários em relação ao IGP-DI (normalizado para 100)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
ago
/94
mar
/95
ou
t/9
5
mai
/96
dez
/96
jul/
97
fev/
98
set/
98
abr/
99
no
v/9
9
jun
/00
jan
/01
ago
/01
mar
/02
ou
t/0
2
mai
/03
dez
/03
jul/
04
fev/
05
set/
05
abr/
06
no
v/0
6
jun
/07
jan
/08
ago
/08
mar
/09
IPA-EP suprimentos agropecuários / IGP-DI IGP-DI / IGP-DI
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IpeaData.
O ano de 2004 também marca reversão da tendência de aumento das importações, que
caem 88% até 2007. Isso se explica por causa da crise do agronegócio brasileiro, em
particular das culturas de soja, algodão, arroz, feijão e trigo, pois outras culturas
continuaram a consumir mais defensivos em relação aos anos anteriores, como cana-de-
açúcar, café, batata inglesa, citros, tomate envarado, fumo e maçã, por causa do
aquecimento da demanda interna ou de preços internacionais em alta.9 Nota-se que a
queda das importações de defensivos se acentua ao longo de todos os meses de 2006
8 Dados do IPEADATA mostram que o Real apresenta tendência de apreciação frente ao Dólar desde o final de 2002 até recentemente em meados de 2008. 9 Ferreira e Vegro (2006b). Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=6452.
26
até 2007, o que se explica pelo endividamento dos produtores rurais que diminuíram as
compras de defensivos. Estimativas apontam que a dívida agrícola aumentou de 35,3%
do PIB, em 1999, para 54,8%, em 2006.10 As dívidas foram contraídas no período de
aquecimento do agronegócio (2002-2005) e aumentaram com a queda dos preços
agrícolas a partir de 2006.
Gráfico 2.8
Exportações e Importações de Defensivos Agrícolas. Período: 1996-2008. (em US$ milhões)
0
200
400
600
800
1000
1200
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
As exportações de defensivos agrícolas apresentaram crescimento de 53%, no período
1996-2006. A trajetória de crescimento foi interrompida pela crise financeira internacional,
que afetou as vendas externas dos anos de 2007 e 2008. Há indícios, porém, de que as
exportações têm se concentrado em produtos ou ingredientes de menor valor agregado e
com menor densidade tecnológica. A Tabela 2.9 mostra o indicador valor/peso (US$
FOB/Kg) dos produtos exportados e importados. No caso das exportações, tal indicador
sofre redução ao longo do período, passando de 6,65 US$/Kg em 1996 para 3,84 US$/Kg
em 2008. Ao mesmo tempo, as importações de ingredientes ou de produtos de alto valor
agregado para fabricação de defensivos no Brasil mostra duas fases distintas. Na 10 IICA (2007, p. 67).
27
primeira, houve tendência decrescente até 2002, quando o indicador diminui de 7,36
US$/Kg para 5,85 US$/Kg. Na segunda fase, porém, o indicador retoma tendência de
crescimento, atingindo 7,51 US$/Kg. O aumento do valor agregado médio dos produtos
importados reflete dependência tecnológica crescente do Brasil no setor.
Tabela 2.9
Valor Médio das Exportações e Importações de Defensivos Agrícolas. Período: 1996-2008
(em US$ FOB / Kg) Ano Importação Exportação
1996 7,36 6,65
1997 7,71 6,58
1998 7,91 7,10
1999 7,50 5,92
2000 6,80 5,45
2001 6,13 5,37
2002 5,85 5,63
2003 6,16 4,90
2004 6,63 4,99
2005 7,24 5,32
2006 6,71 5,31
2007 7,18 5,21
2008 7,51 3,84 Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
2.1.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o setor de
máquinas e equipamentos agrícolas possui a seguinte composição:
Tratores, máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e obtenção de produtos animais (CNAE-293): compreende a fabricação de máquinas para agricultura, como arados, grades, adubadoras, semeadeiras, colhedeiras, trilhadeiras e semelhantes; a fabricação de máquinas e aparelhos para extinção de pragas: pulverizadores, polvilhadeiras e semelhantes; a fabricação de máquinas e aparelhos de tração animal; a fabricação de máquinas e equipamentos para avicultura, apicultura, cunicultura e criação de pequenos animais (incubadoras, criadeiras, comedouros, colméias, fumigadores, etc.); a fabricação de máquinas, aparelhos e materiais para obtenção de produtos de origem animal (ordenhadoras mecânicas, tosquiadores de lã, etc.); a fabricação de máquinas para beneficiamento ou preparação de produtos agrícolas, como máquinas para
28
beneficiar algodão, café, arroz, debulhadoras para milho, instalações para classificação, seleção e beneficiamento de frutas e semelhantes; a fabricação de carroçarias e carretas agrícolas; a fabricação de peças e acessórios para máquinas agrícolas; a instalação de máquinas agrícolas; a fabricação de tratores agrícolas, bem como suas peças e acessórios.
O setor de máquinas e equipamentos agrícolas possui valor da produção e valor
adicionado que atingem valor máximo, em 2004, de R$ 13,3 bilhões e R$ 5,4 bilhões,
respectivamente (Tabela 2.10). Esses valores representam 160% e 116% de aumento em
relação ao ano de 1996 e sinalizam o último ano de aquecimento do agronegócio
brasileiro antes da crise de 2005 e 2006, que reduziram as encomendas de bens de
capital por parte dos agricultores. Nota-se que em 2004 o setor aumentou sua
participação no valor de produção da indústria nacional para 1,11%. Aliado ao bom
momento de aumento dos preços das commodities, o crescimento que se verificou até
2004, pode também ser atribuído ao Programa MODERFROTA,11 que financiou vendas
de tratores e colheitadeiras para produtores agrícolas brasileiros, com juros subsidiados e
pré-fixados, com prazo de cinco anos para pagamento.
Entretanto, após os dois anos de crise, a participação se reduziu para 0,54%. Isso se
deveu ao declínio dos preços das principais commodities e expressivo aumento nos
custos de produção da indústria, considerando-se o preço do aço e dos pneumáticos
(Vegro e Ferreira, 2005). Independente dos valores de produção registrados nos anos de
aquecimento econômico, o indicador VTI/VBP mostra um decréscimo, de 0,49 para 0,38,
do grau de agregação de valor na produção nacional de máquinas e equipamentos
durante todo o período.
11 Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras, que foi instituído pelo Banco Central do Brasil através da Resolução 2.699 de 24/02/2000 com recursos do BNDES e Agência Especial de Financiamento Industrial (FINAME).
29
Tabela 2.10 Valor Bruto da Produção e da Transformação
Industrial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas. Período: 1996-2006 (em R$ bilhões)
Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 5,1 2,5 0,49 0,49 1997 7,2 3,3 0,46 0,68 1998 8,1 3,1 0,39 0,78 1999 5,7 2,3 0,41 0,54 2000 6,3 2,5 0,40 0,57 2001 8,5 3,5 0,41 0,74 2002 9,1 3,6 0,40 0,81 2003 10,5 4,2 0,40 0,95 2004 13,3 5,4 0,40 1,11 2005 7,7 2,9 0,37 0,65 2006 6,8 2,6 0,38 0,54 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
A receita líquida do setor é coerente com a descrição acima, mostrando valor máximo em
2004 (R$ 13 bilhões) e redução de 38,8% desse valor em 2005, ainda que o período,
como um todo, tenha registrado crescimento de 3,3% a.a. (Tabela 2.11). O Gráfico 2.9
mostra que o ciclo de crescimento nas vendas, iniciado em 1999, fora interrompido em
2004.
Em relação ao comércio exterior, o setor teve déficit comercial no período 1999-2001
(Gráfico 2.10). A partir de 2001, as exportações iniciaram trajetória de vigoroso
crescimento até 2008. A fase de crescimento iniciada em 2001 é atribuída ao impacto da
desvalorização do real a partir de 1999 e ao desenvolvimento de produtos, marketing,
distribuição, logística e assistência técnica por parte dos produtores nacionais (Vegro e
Ferreira, 2001). A introdução do Programa MODERFROTA também criou efeitos indiretos
sobre as vendas externas de tratores e colheitadeiras, ainda que este não fosse o objetivo
inicial do Programa. Isso ocorreu devido ao ganho de escala e ao aumento de
capacitação tecnológica que foram decorrentes dos investimentos financiados pelo
Programa (Pontes, 2004).
30
Tabela 2.11 Receita Líquida de Vendas na Indústria de Máquinas e
Equipamentos Agrícolas. Período: 1996-2006.
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 5,1 - 1997 7,1 38,8 1998 8,1 13,5 1999 5,7 -29,4 2000 6,3 9,8 2001 8,4 33,8 2002 9,0 7,9 2003 10,4 15,0 2004 13,0 25,5 2005 8,0 -38,8 2006 7,1 -10,8
1996-2006 - 3,3 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Gráfico 2.9
Receita Líquida com Vendas Industriais de Máquinas e Equipamentos Agrícolas. Período: 1996-2006 (em R$ bilhões).
0
3
6
9
12
15
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
O desaquecimento das vendas externas ocorrido em 2005 deveu-se à valorização da
moeda nacional e à queda nas cotações das commodities no mercado internacional, que
afetaram os agricultores de forma geral. Soma-se a isso o fato de as vendas brasileiras
31
serem muito concentradas para países da América do Sul (51% em 2005), que possuem
agronegócio similar ao do perfil brasileiro, fazendo com que os ciclos de negócios e seus
efeitos sejam coincidentes (Vegro et al., 2005; Ferreira e Vegro, 2006). O desempenho
das exportações, em 2007 e até meados de 2008, foi positivo, mesmo com intensa
valorização cambial, sugerindo forte competitividade internacional. Em 2008, as
exportações superaram R$ 2,3 bilhões, sendo 177% maiores que o valor de 2002 ou
259% maiores que o ano de 1996.
Gráfico 2.10 Exportações e Importações da Indústria de Máquinas
e Equipamentos Agrícolas. Período: 1996-2008 (em US$ milhões).
0
500
1000
1500
2000
2500
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
As importações apresentam ritmo de crescimento até superior às exportações, a partir de
2002. O ano de 2008 representa valor 204% superior ao de 2002 ou 827% em relação a
1996. Nota-se que, mesmo com a crise dos anos de 2005 e 2006 e com câmbio
desfavorável, as compras de máquinas e equipamentos do exterior apresentaram valores
superiores ao do ano de 2004, refletindo as encomendas realizadas na época de bons
preços agrícolas (2002-2004).
32
2.2. ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA
2.2.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS
No setor de produtos químicos inorgânicos foram identificadas 9 empresas líderes, 99
seguidoras e 127 frágeis (Gráfico 2.11; Tabela 2.12). Todas as líderes são inovadoras de
produto, enquanto que 48% inovam em processo e 77% apresentam esforço (interno ou
externo) de P&D.
Gráfico 2.11 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Produtos Químicos
Inorgânicos (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis
Nota: 9 Firmas Líderes, 99 Firmas Seguidoras e 127 Firmas Frágeis. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As empresas líderes são, em geral, de grande porte, possuindo em média 811
empregados, o que representa três vezes o tamanho das seguidoras ou dez vezes o
tamanho das frágeis (Tabela 2.13). O maior porte explica a capacidade de inovar em
produto e em processo.
33
No caso das seguidoras, as duas tendências de inovação apontadas acima não ocorrem
com tanta frequência. Parcela bem menor das seguidoras inova (52%), ainda que a
inovação de produto (42%) seja mais frequente que a de processo (32%). O envolvimento
das firmas com atividade de P&D situa-se em torno de 27%. No caso das frágeis, apenas
29% destas inovam, sendo mais comum a inovação de processo que a de produto,
existindo uma parcela mínima de firmas que se envolvem com atividade de P&D (4%).
Tabela 2.12
Porte das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis na Indústria de Fabricação de Produtos Químicos Inorgânicos, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 9 99 127
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 7302 25805 10104
Salários Totais (R$ milhões) 373,3 885,9 154,3
Faturamento (R$ milhões) 6057,4 22542,2 3470,6
Lucros Totais (R$ milhões) 360,1 1557,6 153,4
Investimento Total (R$ milhões) 425,7 671,8 78,9
Exportação Total (R$ milhões) 43,1 411,1 -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 2.13 Indicadores da Indústria de Fabricação de Produtos Químicos Inorgânicos para
Líderes, Seguidoras e Frágeis, 2005 Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 9 99 127 Salário médio (R$) 4261 2861 1273 Salário médio no pessoal industrial (R$) 2305 2441 1345
Pessoal Ocupado Médio 811 260 80 Faturamento médio (R$ milhões) 649,2 228,1 27,4 Lucro/Custo (%) 5,9 7,3 4,5 VTI/Faturamento (%) 20,6 24,8 18,3 Exportações/Faturamento (%) 0,7 1,8 - Importações/Custos (%) 5,6 10,9 12,2 Investimento/Faturamento (%) 7,0 3,0 2,3 Gasto P&D/Faturamento (%) 0,3 0,2 0,04
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
34
Embora constituam apenas 4% do número total de empresas, as líderes são responsáveis
por 19% do faturamento, 26% dos salários, 36% dos investimentos e 17% dos lucros. Em
relação às exportações, as líderes possuem menor propensão a exportar vis-à-vis as
seguidoras, tendo em vista o indicador de exportação como proporção do faturamento, ou
seja, 0,7 contra 1,8 (Tabela 2.13). Por outro lado, o valor exportado por empresa é de R$
4,8 milhões nas líderes e de R$ 4,1 milhões nas seguidoras. Ambos os valores são baixos
porque a estratégia principal tanto de nacionais quanto de filiais de multinacionais é a de
abastecer o mercado interno, cujas necessidades são crescentes, como mencionado na
seção anterior.
A Tabela 2.13 também aponta diferenças salariais das líderes em relação às seguidoras e
frágeis, que refletem a absorção de pessoal mais qualificado no que tange ao pessoal
ligado à área administrativa. Os salários das líderes são, em média, 49% maiores que os
das seguidoras e 234% maiores que os das frágeis. Por outro lado, em relação ao
pessoal alocado no “chão de fábrica”, o salário médio pago pelas líderes não segue
mesma tendência, sendo inclusive inferior ao que é pago nas seguidoras.
As seguidoras representam 42% do número de empresas, 60% do pessoal ocupado, 63%
dos salários, 70% do faturamento e 57% do investimento total (Tabela 2.13). Tanto as
seguidoras quanto as frágeis possuem indicadores de importações sobre custos cujos
valores se destacam em relação às líderes. Isso assinala a tendência de importação de
ingredientes para fabricação de fertilizantes, tendo em vista que as empresas de menor
porte atuam nos mercados de misturadores, importando os ingredientes para venda no
mercado interno. Nos últimos anos, também tem havido tendência de grandes empresas
do setor, como Bunge, Cargill e Trevo, atuarem no segmento de mistura, de acordo com
Fernandes et al. (2009).
As frágeis, que constituem 54% do número total de empresas, disputam um mercado
pulverizado, de alcance regional, e, em geral, produzem e comercializam misturas NPK
de fertilizantes simples, os quais também podem ser adquiridos e comercializados por
elas. Nesse sentido, apenas atendem o mercado interno e são responsáveis por
pequenas parcelas do faturamento (11%) e do investimento total (7%) realizado pelo
setor.
35
O número total de empresas do setor mostra evolução positiva no período de 1996-2005,
com taxa de crescimento de aproximadamente 27,94% (Tabela 2.14). O Gráfico 2.12
confirma que a tendência de crescimento do número de empresas continua em período
recente. A Tabela 3.3 revela que o crescimento do período 1996-2005 se deve mais ao
período 2000-2005 em relação ao período 1996-2000, comparando-se as taxas de 2,94%
contra 24,29%. Em relação ao porte, as empresas das faixas de até 49 empregados
(26,74%) e de 50 a 99 empregados (46,43%) apresentaram evolução significativa no
período. O maior crescimento, porém, ocorreu em empresas de porte intermediário (de
250 a 499 empregados), cujo número saltou de 10 para 20 empresas no período. Por
outro lado, o número de empresas de grande porte (acima de 500 até 999 empregados)
reduziu-se de seis para apenas três.
Tabela 2.14 Número de Empresas na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos
em 1996, 2000 e 2005. Número de empresas Taxa de crescimento (%) Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 632 651 801 3,01 23,04 26,74 DE 50 A 99 56 62 82 10,71 32,26 46,43 DE 100 A 249 44 40 50 -9,09 25,00 13,64 DE 250 A 499 10 15 20 50,00 33,33 100,00 DE 500 A 999 6 2 3 -66,67 50,00 -50,00 1000 OU MAIS 0 0 1 - - - Total 748 770 957 2,94 24,29 27,94 Fonte: RAIS/MTE.
36
Gráfico 2.12 Número de Empresas da Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos (1996-2008)
748
1102
0
200
400
600
800
1000
1200
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE.
Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas da indústria de produtos
químicos inorgânicos serão apresentados adiante, para o período de 1996 a 2006,
segundo a classificação líderes-seguidoras-frágeis. A metodologia consiste em identificar
tais empresas em 2005 e calcular seus indicadores ao longo do período, para se obter
uma análise temporal das firmas do setor classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.
Em relação ao início do período analisado, as quatro maiores empresas do setor
apresentam evolução crescente de participação de mercado, variando de 25% em 1996
para 40% em 2004 (Gráfico 2.13). Após o ano de 2005, que marca um momento de crise
para a agricultura brasileira, o indicador CR4 se reduz para 32% em 2006, mas ainda
assim apresenta significativa evidência de concentração em relação ao ano de 1996. No
mesmo período, também é possível descrever comportamento similar para a participação
de mercado das oito maiores empresas (CR8). O poder de mercado das líderes está
associado à tendência de haver concentração da cadeia produtiva, em que algumas
empresas são altamente verticalizadas, produzindo desde as matérias-primas a
fertilizantes compostos, além de possuírem marcas globais e ampla rede de distribuição
dos seus produtos. Mesmo assim, em relação aos setores de defensivos e máquinas e
37
equipamentos agrícolas, a concentração de mercado pode ser considerada baixa, em que
a participação das líderes não impede a existência de um grande número de
competidores no mercado final de fertilizantes e componentes NPK, conforme
comparação realizada por Lemos (1992) para essas indústrias na década de 80.
É importante notar que o indicador de primazia apresenta relativa estabilidade de 1996
até 2000, ano em que parece haver uma quebra estrutural na qual a maior empresa do
setor passa a dominar, em 2001, 46% do mercado, em relação a 31% do ano de 2000
(Gráfico 2.14). O aumento de participação de mercado da líder coincide com o
nascimento, em 31 de agosto de 2000, da Bunge Fertilizantes, que foi formada pela
incorporação da Fertilizante Serrana à Manah, que passou ao controle da multinacional
Bunge em abril do mesmo ano. Nota-se que sua posição de liderança é sólida e, mesmo
com a crise agrícola do ano de 2005, o indicador permanece relativamente estável em
torno de 48%, embora com pequena redução comparativamente ao ano de 2002.
Gráfico 2.13
Participação de Mercado das Maiores Empresas de Produtos Químicos Inorgânicos (1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
38
Gráfico 2.14 Indicador de Primazia da Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos (1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Em relação aos indicadores de mark-up das 4 maiores firmas (Gráfico 2.15), nota-se, em
geral, uma forte oscilação no período 1996-2005 em torno do valor mínimo de 27% e do
valor máximo de 49%. Em relação aos setores de defensivos e máquinas e equipamentos
agrícolas, as margens de lucro são menores, o que reflete um padrão competitivo
caracterizado por homogeneidade de produto, baixas barreiras à entrada e maturidade
tecnológica (Lemos, 1992). A série de mark-up do total de firmas do setor apresenta
mesmo comportamento, porém com amplitude um pouco inferior à observada acima. É
possível constatar que as margens de lucro do total de empresas passam a apresentar
padrão de oscilação menos intenso que o das quatro maiores firmas do setor e, de modo
geral, níveis percentuais superiores ao destas últimas.
39
Gráfico 2.15 Mark-up das Firmas na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos (1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Pelo Gráfico 2.16, é possível observar o comportamento do indicador de Entropia de Theil
para o período 1996-2006, a fim de descrever o grau de concentração desse setor. Nota-
se que há duas fases bem distintas que são apontadas pelo indicador. De 1996 a 2004 há
nítido crescimento da concentração de mercado, ao passo que, de 2004 adiante, o
crescimento do indicador assinala relativa redução da concentração de mercado para
níveis similares ao de 2003.
40
Gráfico 2.16 Entropia de Theil para Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos (1996-2006)
3,4
3,6
3,8
4
4,2
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Entropia de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
2.2.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
O setor de defensivos agrícolas é composto apenas por sete firmas líderes e 36
seguidoras. Todas as líderes são inovadoras de produto e investem em P&D. Ampla
maioria (86%) inova em processo. Nas seguidoras apenas 33% das firmas inovam, sendo
a freqüência de inovadores de produto e processo de, respectivamente, 22% e 25%. Em
relação ao investimento em P&D, apenas um terço o realiza.
41
Gráfico 2.17 Inovação nas Firmas Líderes e Seguidoras de Defensivos Agrícolas (%)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Nota: 7 Firmas Líderes e 36 Firmas Seguidoras Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As Tabelas 2.15 e 2.16 permitem analisar as diferenças entre as líderes e
seguidoras, com base em diferentes indicadores. As líderes constituem 16% do número
total de empresas, sendo responsáveis por 77% do faturamento, 68,5% dos lucros totais,
78% da massa salarial total, 69% dos investimentos, 61% das exportações e 60,5% do
pessoal ocupado. Todos esses indicadores apontam que um número reduzido de
empresas domina a maior parte do mercado de defensivos agrícolas no Brasil. Essas
empresas dominam os dois conjuntos possíveis de produtos do mercado: patenteáveis,
frutos de esforços de P&D e criadores de lucros extraordinários, e genéricos
(equivalentes), que apenas precisam de registro nos órgãos públicos para efetuar sua
produção, tendo em vista que suas patentes já expiraram. Informações de Frenkel e
Silveira (1996) revelam que as líderes atuam também nos mercados de produtos
equivalentes que permitem ganhos de economias de escala e venda de matérias-primas
básicas (ingredientes ativos) para outros produtores de defensivos agrícolas. Em 2008, o
42
mercado de produtos equivalentes era estimado em 70% do valor global do mercado de
defensivos.12
Tabela 2.15 Porte das Firmas Líderes e Seguidoras na Indústria de
Defensivos Agrícolas (2005) Indicador Líderes Seguidoras
Número de empresas 7 36
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 8229 5372
Salários Totais (R$ milhões) 528,9 151,3
Faturamento (R$ milhões) 9707,3 2937,2
Lucros Totais (R$ milhões) 344,7 158,3
Investimento Total (R$ milhões) 323,1 143,9
Exportação Total (R$ milhões) 171,8 110,0
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As seguidoras, em sua maioria, exploram o mercado de produtos genéricos, tendo em
vista o não envolvimento com inovação e ausência de esforço relevante em P&D, para
grande parte delas.
A disparidade em relação ao tamanho de firmas nas categorias de líderes e seguidoras é
muito evidente. Enquanto as líderes faturam, aproximadamente, R$ 1,4 bilhão por firma,
as seguidoras, em média, faturam R$ 81 milhões. Indicadores de pessoal ocupado por
empresa também sinalizam tais diferenças de tamanho, tendo em vista que as líderes e
as seguidoras possuem, em média, 1.175 e 149 empregados. O tamanho maior das
primeiras explica a capacidade de suportar os custos fixos elevados de P&D. As
diferenças constatadas se refletem na remuneração média percebida pelos empregados,
não somente do quadro administrativo, mas também do “chão de fábrica”. Comparando-
se salários médios nas duas categorias, nota-se que nas líderes o salário médio é 128%
maior num caso e 87% no outro.
12 Estimativa disponível em: http://www.coplana.com/gxpfiles/ws001/design/RevistaCoplana/2008/Outubro/pag18-19.pdf. Além disso, informações de Martins (2000) revelam que 75% das empresas entrevistadas do setor de agroquímicos dependiam dos produtos genéricos, que representavam, no mínimo, 66% do seu faturamento.
43
Tabela 2.16 Indicadores da Indústria de Defensivos Agrícolas para
Líderes e Seguidoras (2005) Indicador Líderes Seguidoras
Número de empresas 7 36
Salário médio (R$) 5356,3 2347,0 Salário médio no pessoal industrial (R$) 4453,9 2378,5
Pessoal Ocupado Médio 1175 149
Faturamento médio (R$ milhões) 1386,8 81,8
Lucro/Custo (%) 3,5 3,3
VTI/Faturamento (%) 24,3 32,1
Exportações/Faturamento (%) 3,3 4,9
Importações/Custos (%) 31,4 20,5
Investimento/Faturamento (%) 1,8 3,7
Gasto P&D/Faturamento (%) 0,6 0,3 Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Há também uma tendência de as líderes agregarem menos valor à atividade produtiva,
pois o indicador VTI/Faturamento destas é de 24%, ao passo que nas seguidoras o
indicador é de 32%. Essa diferença deve refletir o comércio intragrupo das líderes,
considerando que são filiais de multinacionais que mantém intercâmbio com suas
matrizes no exterior. Coerente com esse argumento é o indicador que mostra a relação
entre importações e custos que, no caso das líderes e seguidoras, é 30,4% e 20,5%,
respectivamente. Essa evidência corrobora a tendência de crescimento do valor agregado
médio das importações, constatada na seção 2.1.3, sinalizando que as líderes
tecnológicas são responsáveis pelas importações de insumos e princípios ativos de
complexa sofisticação tecnológica.
O número de empresas do setor mostra redução de 11,54% no período de 1996-2000 e
aumento de 12,17% no período 2000-2005. Esse crescimento, porém, não foi capaz de
produzir uma taxa positiva de aumento do número de empresas para o período 1996-
2005 (Tabela 2.17), embora o Gráfico 2.18 sinalize recuperação do número total de
empresas no período mais recente. O desempenho até 2005 pode ser explicado pelas
tendências mundiais do setor que o tornaram mais concentrado, reduzindo especialmente
o número microempresas (até 49 empregados). Nota-se que os estratos de 250 a 499
44
empregados observou 100% de aumento, enquanto que as grandes empresas (de 500 a
999 empregados) aumentaram de zero para duas.
Tabela 2.17 Número de Empresas na Indústria de Defensivos Agrícolas em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%) Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 106 88 96 -16,98 9,09 -9,43
DE 50 A 99 10 11 12 10,00 9,09 20,00
DE 100 A 249 11 11 13 0,00 18,18 18,18
DE 250 A 499 3 5 6 66,67 20,00 100,00
DE 500 A 999 0 0 2 - - -
1000 OU MAIS 0 0 0 - - -
Total 130 115 129 -11,54 12,17 -0,77 Fonte: RAIS/MTE.
Gráfico 2.18 Número de Empresas da Indústria de Defensivos Agrícolas (1996- 2008)
130
157
0
40
80
120
160
200
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE.
O número de fabricantes é modesto se considerada a evidência de que o mercado
brasileiro é o maior do mundo, estimado em US$ 7,1 bilhões em 2008, o que supera o
45
consumo o mercado norte-americano, equivalente a US$ 6,6 bilhões, segundo a
Associação Nacional de Defesa de Vegetal (ANDEF).13
A evolução dos indicadores de participação do mercado das quatro e oito maiores
empresas evidencia que o segmento industrial de defensivos agrícolas é mais
concentrado que o de fertilizantes, além de ter havido um aumento da concentração ao
longo do período analisado (Gráfico 2.19). Em relação a 1996, os indicadores CR4 e CR8
variaram de 51% para 61% e de 71% para 84%, respectivamente. É importante enfatizar
a relativa estabilidade desses indicadores nesse setor, em relação ao setor de produtos
químicos inorgânicos, aparentemente mais afetado pela crise da agricultura brasileira de
2005. A constatação acima é corroborada pelo Gráfico 2.20, que assinala o
comportamento do indicador de Entropia de Theil para o período 1996-2006. Nota-se que
o indicador se reduz em todo o período, indicando ininterrupta tendência de concentração
de mercado.
A indústria de defensivos agrícolas pode ser caracterizada como oligopólio diferenciado,
em que número reduzido de subsidiárias de multinacionais lideram econômica e
tecnologicamente o mercado. O padrão de competição está baseado na diferenciação de
produto vertical, que é realizada com intensa atividade de inovação tecnológica, como nos
setores baseados em ciência (Lemos, 1992).
As barreiras à entrada no setor não estão vinculadas à existência de grandes economias
de escala,14 pois estas são modestas em relação aos outros segmentos da indústria
química, mas sim a outras três características do setor.15 Primeiro, é crescente o
conteúdo científico da P&D do setor, em razão da convergência da base de conhecimento
dos setores farmacêutico, de sementes, de alimentos, de agrotóxicos e de biotecnologia,
o que tem claros rebatimentos sobre o aumento do custo de efetuar P&D. Segundo, o
setor possui procedimentos legais e de registros de produtos burocráticos e custosos em
termos de tempo. Terceiro, a produção de defensivos exige a construção de redes de
distribuição e de assistência técnica aos usuários. 13 Disponível em http://www.clipex.com.br/noticias/n_mostra_noticia.php?c=00400&t=1&n=2760&v=Suino.com. 14 Frenkel e Silveira (1996) justificam esse argumento a partir da característica do processo produtivo, que ocorre através de bateladas e não de forma contínua. 15 Esses argumentos podem ser encontrados em Velasco e Capanema (2006), Martinelli Júnior e Waquil (2002) e Koshiyama e Martins (2008).
46
Gráfico 2.19 Participação de Mercado das Maiores Empresas de Defensivos Agrícolas (1996-
2006)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 2.20
Entropia de Theil para a Indústria de Defensivos Agrícolas (1996-2006)
2,2
2,4
2,6
2,8
3
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Entropia de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
47
Modificações no marco legal, ocorridas entre 2002 e 2006, visando a simplificação do
registro e a redução do seu custo, foram vistas como prováveis redutoras das barreiras à
entrada, que se tornaram maiores após a promulgação da Lei 7.802 de 1989 (Lei dos
Agrotóxicos).16 Antes dos decretos desses anos, o sistema de registro dos defensivos
com patentes vencidas era baseado no recolhimento de referências bibliográficas
disponíveis na literatura internacional sobre testes de toxicidade crônica dos produtos. O
sistema de registro por equivalência realizava a comparação de características físico-
químicas entre o produto pleiteante para registro e aquele já registrado.17 Isso representa
decréscimo do número de estudos necessários, do custo e do tempo para consecução do
registro. Entretanto, as empresas líderes também foram beneficiadas pela nova
sistemática de registro, possibilitando a estas maiores economias de escala e escopo.
Segundo Terra (2008), não existe até o momento evidências de que tais mudanças no
marco legal tenham sido efetivas no sentido de diminuir a concentração de mercado,
ainda que os primeiros registros por equivalência tenham sido efetuados com atraso em
relação às datas dos decretos por causa de ações judiciais conduzidas pelas empresas
detentoras dos dados dos produtos de referência. De fato, os dados mostrados nos
Gráficos 2.19 e 2.20 indicam, ao contrário, crescente concentração de mercado.
Mesmo assim, analisando dados disponibilizados pela Associação Brasileira dos
Defensivos Genéricos (AENDA),18 é possível verificar que, enquanto a evolução do
número total de ingredientes ativos no período 2005-2008 foi de 4,6%, o número de
ofertantes de produtos agroquímicos com determinado ingrediente ativo aumentou,
mostrando maior concorrência no setor, em razão da mudança no marco legal. Houve
aumento de 31% do número de ingredientes ativos por três ou mais empresas, enquanto
os ingredientes ofertados por uma só empresa cresceram apenas 2,7% no período 2005-
2008. No entanto, o número de ingredientes ativos ofertados por uma só empresa ainda
representa 73% do total dos ingredientes em 2008 contra 11% e 16% de ingredientes
oferecidos por duas e três ou mais empresas, respectivamente. Ainda que os efeitos
16 A referida lei instituiu um novo sistema de registro, atualizou penalidades, delegou competências fiscalizadoras a diferentes órgãos e esferas do setor público e definiu padrões de aplicação e de comercialização dos produtos de acordo com sua toxicidade (Terra, 2008). 17 Esses decretos tiveram que ser complementados com a Lei dos Dados Proprietários de 2002 porque a nova sistemática de registro passou a depender da publicação de dados dos produtos de referência, que eram protegidos pelos direitos autorais. A Lei estabeleceu prazos e regras para utilização pública de dados de propriedade de terceiros. 18 Disponível em: http://www.aenda.org.br/new_defensivos.htm.
48
desejados de redução da concentração de mercado não tenham ocorrido ainda, porque
as próprias líderes de mercado podem se beneficiar da nova sistemática de registro de
produtos e não somente as pequenas e médias empresas, a mudança no marco legal foi
bem-vinda e pode sinalizar maior concorrência no longo prazo.19
O indicador de primazia entre as quatro e as oito maiores empresas do setor apresenta
decréscimo de 35% para 30% entre 1996 e 2001, com tendência de aumento deste valor
até 42% em 2005 (Gráfico 2.21).
Gráfico 2.21 Indicador de Primazia da Indústria de Defensivos Agrícolas (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Entretanto, a participação de mercado da maior empresa, em relação às quatro maiores,
retorna para o valor de 35% em 2006. A primazia entre as oito maiores segue padrão
similar, situando-se entre os limites de 25% e 20% em todo o período. Isso sinaliza que
19 O caso dos herbicidas formulados com base no ingrediente ativo IMAZETAPIR é ilustrativo. Com base nas séries de preços desse princípio ativo, disponibilizadas pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), é possível verificar que em janeiro de 2007 a unidade de cinco litros da marca comercial Pivot (Basf) era cotada em R$ 169,31. Segundo a AENDA, havia um só ofertante de marca comercial com esse princípio ativo em 2007 (Basf). Em 2009, é possível observar sete ofertantes diferentes com outras marcas comerciais, sendo que o preço médio da marca Pivot reduziu-se em 20% em abril de 2009 (R$ 141,61).
49
existe acirrada disputa de mercado entre as líderes do setor, impedindo que a
participação da principal empresa cresça constantemente. De fato, existem algumas
evidências de alternância da posição de liderança no mercado brasileiro. Com base em
informações da literatura do setor,20 se forem comparados os anos de 2005 e 2002, nota-
se que a Bayer CropScience e Syngenta, respectivamente com 18,8% e 15,4% de
participação de mercado, alternaram de posição no período (Syngenta com 17,2% e
Bayer CropScience com 14%), enquanto Basf e Monsanto mantiveram suas posições de
terceira e quarta maiores empresas no mercado brasileiro. As subsidiárias de
multinacionais que dominam o mercado brasileiro possuem vantagens competitivas
associadas ao comércio intrafirma, pois possuem oferta garantida de matéria-prima e
produtos intermediários e acesso direto a um fluxo contínuo de inovações por parte das
matrizes.
Em relação aos indicadores de mark-up, nota-se que, tanto o das quatro como o das oito
maiores, assim como do conjunto da indústria, há padrão de comportamento similar,
apresentando duas fases mais nítidas de decréscimo, que são entre 2000 e 2002 e entre
2003 e 2005, com momentos de recuperação do poder de mercado nos anos
intermediários desses períodos (Gráfico 2.22). De modo geral, o mark-up das quatro
maiores situa-se em patamar sempre superior ao das outras empresas. No entanto, essa
constatação não se mantém para o indicador das oito maiores, pelo menos entre 2001 e
2003 e entre 2005 e 2006, em que os níveis de mark-up da indústria superam os das oito
maiores empresas. Em geral, as margens de lucro do setor de defensivos agrícolas reflete
a elevada concentração de mercado existente, tendo em vista que as quatro maiores
empresas possuem margens que alcançam 70% em 2006, ao passo que as quatro
maiores empresas de fertilizantes e bens de capital agrícolas possuem margens
equivalentes a 27% e 56%, respectivamente.
20 Estimativas de 2002 são provenientes de Velasco e Capanema (2006), enquanto as de 2005 são extraídas de Ferman (2008).
50
Gráfico 2.22 Mark-up das Firmas na Indústria de Defensivos Agrícolas (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
2.2.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS
No setor de máquinas e equipamentos agrícolas foram identificadas 11% de firmas líderes
tecnológicas, 53% de seguidoras, 33% de frágeis e 3% de emergentes. O número de 29
firmas líderes é grande, em relação aos outros setores analisados (9 em produtos
químicos inorgânicos e 7 em defensivos agrícolas). Todas as líderes são inovadoras
(produto), sendo que 32% inovam em processo e 86% investem em P&D. Em relação às
seguidoras, cerca de 44% inovam em produto, 28% em processo e 19% realizam esforço
interno de P&D. As frágeis possuem indicadores modestos de inovação, ressalta-se a
existência de sete empresas emergentes que se destacam em termos de inovação de
produto, realizam percentualmente mais inovações de processo que as líderes e, em sua
totalidade, investem em P&D.
51
Gráfico 2.23 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis da Indústria de Máquinas e
Equipamentos Agrícolas (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadoras de Produtos Inovadoras de Processos Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Nota: 29 Firmas Líderes, 136 Firmas Seguidoras, 84 Firmas Frágeis e 7 Firmas Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A Tabela 2.18 apresenta indicadores relativos ao pessoal ocupado, salários, faturamento,
lucros, investimentos e exportações. Ao contrário do setor de defensivos agrícolas, a
Tabela 3.7 mostra que as líderes somente são mais importantes que as seguidoras no
que se refere à participação nos lucros totais. As seguidoras respondem por 58% do
faturamento, 43% dos lucros totais, 65% da massa salarial total, 69,7% dos investimentos,
65,5% das exportações e 67,7% do pessoal ocupado. Por outro lado, as líderes
empregam 253 trabalhadores em média, com faturamento médio quase três vezes maior
que o das seguidoras, assim como maior lucratividade, conforme indicador Lucros/Custos
que é de 5,3% contra 3,1% (Tabela 2.19). Esse desempenho econômico e financeiro se
reflete sobre os salários médios tanto do pessoal administrativo quanto do pessoal
alocado no “chão de fábrica”, que são cerca de 55% e 51% maiores, respectivamente,
nos casos das líderes. Por outro lado, as líderes não conseguem superar a propensão a
exportar, a propensão a investir e a tendência a agregar valor das seguidoras. Isso
porque os indicadores Exportações/Faturamento, Investimento/Faturamento e
52
VTI/Faturamento das seguidoras são respectivamente, 14,3%, 3,5% e 32,5% e das
líderes, 11,7%, 2% e 26,7%.
Tabela 2.18 Porte das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes na Indústria de
Máquinas e Equipamentos Agrícolas (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 29 136 84 7
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 7340 27072 5065 501
Salários Totais (R$ milhões) 194,5 464,3 47,8 5,0
Faturamento (R$ milhões) 3416,2 5337,8 322,6 64,3
Lucros Totais (R$ milhões) 172,9 165,2 32,5 11,7
Investimento Total (R$ milhões) 68,7 186,1 8,5 3,9
Exportação Total (R$ milhões) 400,7 761,5 - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
O mercado de máquinas e equipamentos agrícolas possui produtores de equipamentos
agrícolas de uso final e fabricantes de peças e componentes. O capital estrangeiro está
mais presente no primeiro grupo, produzindo máquinas automotrizes para os mercados
nacional e internacional. Outras empresas nacionais, de grande e médio porte, produzem
implementos agrícolas de tração mecânica para o mercado doméstico e externo,
enquanto outras empresas nacionais de menor porte produzem equipamentos de menor
complexidade para mercados regionais e nacional. Em relação ao segundo grupo, há
inúmeros produtores de peças e componentes, de pequeno e médio porte e com gestão
familiar, estabelecendo relações de subcontratação com as grandes empresas do
primeiro grupo. É importante ressaltar que, além de fornecerem peças e componentes
para fabricantes de tratores e colheitadeiras, produzem implementos agrícolas com marca
própria e fornecem peças e componentes para a indústria automobilística (Tatsch, 2008).
53
Tabela 2.19 Indicadores da Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas para Líderes,
Seguidoras, Frágeis e Emergentes (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 29 136 84 7 Salário médio (R$) 2208 1429 787 840 Salário médio no pessoal industrial (R$) 2125 1404 879 648
Pessoal Ocupado Médio 76 10 10 120 Faturamento médio (R$ milhões) 116,6 39,2 3,8 9,6 Lucro/Custo (%) 5,3 3,1 10,6 21,7 VTI/Faturamento (%) 26,7 32,5 39,6 37,8 Exportações/Faturamento (%) 11,7 14,3 - - Importações/Custos (%) 4,8 3,8 0,2 - Investimento/Faturamento (%) 2,0 3,5 2,6 6,1 Gasto P&D/Faturamento (%) 1,1 0,2 0,1 3,1 Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Segundo informações da literatura do setor (Castilhos et al., 2008), as líderes do mercado
brasileiro são, geralmente, subsidiárias de multinacionais que estabeleceram suas
fábricas no País ou adquiriram empresas nacionais, tendo em vista que o setor passou
por um processo de reestruturação mundial desde o final da década de 1970. Ilustram o
processo de fusão e aquisição do setor os seguintes casos:
- CNH Global: conglomerado que resultou da fusão mundial, em 1999, da New
Holland e da Case IH, a qual, por sua vez, surgiu em 1985 com a aquisição da
International Harvester pela Case;
- Agri-Tillage: norte-americana que se estabeleceu em 1999 no Brasil, com a
aquisição da empresa nacional Narciso Baldan & Irmãos, criada em 1928;
- John Deere: norte-americana que assumiu o controle acionário da nacional
Schneider Logemann & Cia. Ltda (SLC), em 1999;
- AGCO: norte-americana que adquiriu várias empresas nacionais e estrangeiras
instaladas no País, como, por exemplo, a marca finlandesa Valtra, originalmente Valmet,
em 2005; a marca canadense Massey Ferguson em nível mundial (em 1994) e no Brasil
(em 1996); o direito de distribuição dos produtos da marca Fendt do Brasil em 1998; e
empresas nacionais como Indústria de Máquinas Ideal em 1996 e da Schaedler & Filhos
Ltda em 2007
- Grupo Khun: francesa que adquiriu a Metasa S.A. Indústria Metalúrgica, em 2005.
54
Além dessas, o setor ainda possui grupos tradicionais nacionais como Metisa, Facchini,
Dedini, Stara, Jumil, Semeato, Kepler Weber Industrial, Casp e Agritech Lavrale S.A.
Maquinário Agrícola e Componentes, que passou a ter essa razão social após adquirir a
Yanmar Indaiatuba em 2002, com apoio de outra empresa nacional, Grupo Francisco
Stédile.21
As frágeis, por sua vez, dominam parcela pequena do mercado, sendo menos
representativas em relação aos indicadores mencionados. Embora o faturamento médio
das frágeis seja trinta vezes menor que o das líderes e dez vezes menor que o das
seguidoras, agregam muito valor em relação ao faturamento, com indicador
VTI/Faturamento de 39,6% contra 26,7% e 32,5% das líderes e seguidoras,
respectivamente, o que reflete, possivelmente, distorções dos dados de balanço das
empresas informados no questionário da PIA.
Por outro lado, as emergentes são empresas de pequeno porte, em média com cerca de
72 empregados, que se destacam por sua intensidade tecnológica, como demonstrado
pelo indicador gasto com P&D/Faturamento que é três vezes superior ao das líderes, ou
seja, 3,1% contra 1,1%. Outros indicadores, como intensidade de investimento
(Investimento/Faturamento), propensão à agregação de valor em relação ao seu tamanho
(VTI/Faturamento) e percentual de lucro sobre custo, também se destacam em relação
aos indicadores de líderes e seguidoras, demonstrando grande potencial em termos
tecnológicos e de geração de valor agregado.
O número de empresas apresentou variação positiva de 72,39% no período 1996-2005,
refletindo forte tendência de crescimento do setor no Brasil (Tabela 2.20). Os estratos que
mais cresceram foram o de até 49 empregados, com expansão de 80,15%, e o de
empresas com mais de 1000 empregados, com aumento de 66,67%. Há evidências de
que o número de empresas continuou com forte crescimento no período recente (Gráfico
2.24).
21 O Grupo Francisco Stédile envolve as seguintes empresas: Agrale e suas subsidiárias (Agrale Montadora, Agrale Argentina, Agrale Comercial e Lintec), Agritech Lavrale, Germani Alimentos, Germani Cereais, Fundituba e Fazenda Três Rios. (Disponível em: http://www.agralemarrua.com.br/agrale/website/website.nsf/TEMP?ReadForm&SECA=INSTITUCIONAL&PAGI=INSTITUCIONAL).
55
Tabela 2.20 Número de Empresas na Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas em 1996,
2000 e 2005.
Número de empresas Taxa de crescimento
(%) Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 650 901 1171 38,62 29,97 80,15 DE 50 A 99 52 69 69 32,69 0,00 32,69 DE 100 A 249 31 30 39 -3,23 30,00 25,81 DE 250 A 499 14 11 15 -21,43 36,36 7,14 DE 500 A 999 7 6 6 -14,29 0,00 -14,29 1000 OU MAIS 3 2 5 -33,33 150,00 66,67 Total 757 1019 1305 34,61 28,07 72,39 Fonte: RAIS/MTE.
Gráfico 2.24 Número de Empresas da Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas (1996-
2008)
757
1530
0
400
800
1200
1600
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE.
As séries que retratam a participação de mercado das quatro e oito maiores firmas do
setor de maquinas e equipamentos agrícolas revelam padrões de comportamento
similares (Gráfico 2.25). Ambas apontam mudança de patamar em 2000, quando a
participação de mercado das quatro e oito maiores firmas salta de 41% e 56% para 50% e
56
63%, respectivamente. A partir desse ano até 2003, o CR4 e o CR8 crescem até 57% e
69%, quando sofrem ligeira redução até o ano de 2006, em virtude da crise da agricultura
brasileira. O período de crescimento de participação das maiores firmas do setor coincide
com a fase de valorização das commodities agrícolas e crescimento de produção
nacional, associado à política governamental de fomento à produção e financiamento da
produção de máquinas e tratores agrícolas (Programa MODERFROTA).
Gráfico 2.25 Participação de Mercado das Maiores Empresas da Indústria de Máquinas e
Equipamentos Agrícolas (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
A consolidação da posição das líderes também está associada ao surgimento dos
“bancos de fábrica”, que se tornaram repassadores de recursos do MODERFROTA do
BNDES, como John Deere S.A., De Lage Landen Brasil S.A., Rabobank International
Brasil S.A. e CNH Capital S.A. Entretanto, antes mesmo da criação do programa pelo
BNDES, a própria AGCO do Brasil Ltda. assumiu funções bancárias por causa da
escassez de crédito rural, em 1998, com a Agricredit do Brasil Ltda, que era joint-venture
com De Lage Landen (grupo holandês Rabobank).
57
Mesmo com o intenso crescimento do número de firmas constatado anteriormente, o setor
apresenta tendência de concentração do mercado crescente no período 1996-2006, tendo
em vista a redução do indicador de Entropia de Theil (Gráfico 2.26). Isso se explica pelo
fato de que as fusões e aquisições do setor, que contribuíram para a concentração de
mercado, foram acompanhadas pela estratégia de desverticalização, em que as grandes
empresas focaram suas atividades nas etapas mais lucrativas das cadeias produtivas
(Castilhos et al., 2008). Logo, a concentração de mercado, acompanhada pela
desconcentração técnica, propiciou o surgimento de grande número de empresas de
pequeno e médio portes, como constatado pelos dados acima.
Gráfico 2.26
Entropia de Theil para Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas (1996-2006)
0
1
2
3
4
5
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Entropia de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Em contraste com os indicadores CR4 e CR8, o comportamento do indicador de primazia
apresenta maior instabilidade no período 1996-2006, indicando que há intensa
competição entre as líderes para dominar maior parcela de mercado (Gráfico 2.27). Após
atingir os valores de 35% e 19% em 1999, a participação da líder em relação às quatro e
oito maiores do setor decresceu até 2001, atingindo os valores de 28% e 21%. A partir
desse ano, há um salto até 2002, quando as participações atingiram, respectivamente,
58
45% e 35%. Novas reduções de participação da líder ocorrem até 2005, com recuperação
somente em 2006.
Gráfico 2.27
Indicador de Primazia da Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
De modo geral, os indicadores de mark-up de todas as firmas, das quatro e das oito
maiores firmas do setor cresceram de 37%, 33% e 39%, em 1996, para 44%, 56% e 49%,
em 2006 (Gráfico 2.28). A evolução de tais indicadores no período 1996-2006 é mais
favorável que aquela observada nos setores de defensivos agrícolas e fertilizantes.
59
Gráfico 2.28 Mark-up das Firmas na Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas
(1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
2.3. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO
2.3.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS
A trajetória tecnológica da indústria de fertilizantes foi criada a partir de uma inovação
radical que foi a síntese da amônia em 1910. A manutenção da mesma base tecnológica
desde o período entre guerras, porém, diminuiu o dinamismo da indústria de fertilizantes e
fez vários conglomerados químicos saírem da atividade produtiva de fertilizantes na
década de 1980 e se concentraram em serviços de transferência de tecnologia (Lemos,
1992).
Os avanços tecnológicos do setor são muito dependentes de inovações nos processos
pelos quais são obtidos as matérias-primas e os produtos intermediários com os quais os
fertilizantes são fabricados. Em geral, nota-se que os processos de fabricação são
60
tecnologicamente maduros e conhecidos, como nos casos da obtenção da mistura de
hidrogênio e nitrogênio para a produção de amônia anidra e de produção de ácido
sulfúrico.22 Por sua vez, a fabricação de fertilizantes compostos não é tecnicamente
complexa, pois envolve a mistura física de fertilizantes simples nas proporções
adequadas. Por outro lado, grande parte dos equipamentos e processos usados no Brasil
precisam ser licenciados, o que é ilustrado pela tecnologia da Monsanto para fabricação
de ácido sulfúrico, da Rhodia para obtenção de ácido fosfórico e das empresas Kellog,
ICI, Exxon Bechtel, CF Braun, Uhde Haldor Topsoe para fabricação de amônia (Dias e
Fernandes, 2006).
Por envolver tecnologias de processo conhecidas e maduras, não surpreende a baixa
intensidade de P&D da indústria de produtos químicos inorgânicos, medida pela
proporção dos gastos de P&D em relação ao faturamento, que é de 0,15% e situa-se bem
abaixo da média da indústria de transformação (0,66%). Isso indica que a probabilidade
de inovar a partir de recursos investidos em atividades de busca é pequena, o que denota
que o setor possui baixa oportunidade tecnológica, além de pequena cumulatividade, pois
a compra de conhecimento incorporado em máquinas e equipamentos tende a prevalecer
sobre a aquisição de conhecimento intangível. Nota-se, pela última coluna da Tabela
2.21, que aproximadamente 48% de todos os gastos com inovação do setor são
direcionados para tal finalidade, ao passo que os gastos com P&D interno e externo e
com aquisição de outros conhecimentos totalizam apenas 25,5%.
Através da Figura 2.4, nota-se que as seguidoras concentram a maior parte dos
investimentos totais e dos gastos em P&D, ainda que a presença de inovadores de
produto seja mais vinculada às líderes, como visto na seção 3. Com base nos indicadores
de intensidade de investimento e P&D (Tabela 2.13, da seção 2.2.1), as líderes se
destacam em relação às seguidoras pois aquelas gastam o equivalente a 7% do
faturamento com investimentos e 0,3% com P&D, enquanto estas 3% e 0,2%,
respectivamente. Nota-se, porém, que a diferença em relação à intensidade de P&D entre
22 Segundo Dias e Fernandes (2006), na produção de amônia não são conhecidos avanços tecnológicos relevantes, embora no caso do ácido sulfúrico seja possível mencionar inovações de processo como a“dupla absorção”, que maximizou a recuperação de calor com emissão de SO2 menor do que 100 ppm, além do uso de uma nova válvula especial de cerâmica.
61
líderes e seguidoras não é tão proeminente vis-à-vis outros setores industriais da indústria
de transformação.
Figura 2.4 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis
36%
57%
7%
Investimento
33%
64%
3%
Gasto em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A esse respeito, pode-se visualizar na Tabela 2.21, que 17,5% dos gastos com inovação
realizados pelas líderes são voltados para P&D interno, o que é muito próximo da parcela
de 16,7% que as seguidoras efetuam com essa modalidade de gasto. A diferença,
contudo, parece ser mais clara em outras formas de conhecimento intangível,
particularmente aquelas vinculadas à compra de P&D e à aquisição de outros
conhecimentos para inovar, tendo em vista que a proporção de recursos destinada às
modalidades citadas acima é de, respectivamente, 5,1% e 22% nas líderes contra 1,1% e
0,7% das seguidoras. Por outro lado, as seguidoras tendem a gastar grande parcela de
recursos destinados à inovação com projetos industriais (30%), além dos gastos em
máquinas e equipamentos (47%)
62
Tabela 2.21 Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de
Produtos Químicos Inorgânicos, por categoria de empresa (2005)
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Total
Número de empresas 9 99 127 235 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
80,8 (100%)
199,5 (100%)
12,5 (100%)
292,9 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
14,1
(17,5%)
33,4 (16,7%) - 47,5
(16,2%)
Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
4,1 (5,1%)
2,1 (1,1%)
1,5 (12,0%)
7,7 (2,6%)
Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
17,8 (22,0%)
1,3 (0,7%)
0,5
(4,0%)
19,6 (6,7%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
37,8 (46,8%)
95,3 (46,8%)
6,5 (52,0%)
139,6 (47,6%)
Treinamentos (em milhões de R$)
2,2 (2,7%)
2,4 (1,2%)
0,1 (0,8%)
4,7 (1,6%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
2,5 (3,1%)
4,7 (2,4%)
0,4 (3,2%)
7,6 (2,6%)
Projeto industrial 2,2 (2,7%)
60,5 (30,3%)
3,5 (2,8%)
66,2 (22,6%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Em relação ao papel de atores externos para a ocorrência da inovação, a Tabela 2.22
informa que as fontes de informação mais acessadas pelas empresas líderes do setor de
produtos químicos inorgânicos são: instituições de testes (78%), universidade (67%),
conferências e encontros (33%), feiras e exposições (22%), aquisições de licenças (22%),
redes de informação (22%) e centro de capacitação (11%). As seguidoras utilizam com
mais freqüência redes de informação (18%) e universidades (13%). As outras fontes são
pouco acessadas. Em relação às frágeis, quando inovam, o que é um fenômeno bem
raro como visto anteriormente, usam redes de informação como uma forma mais
acessível e menos custosa de obter informação para inovar e compensar fragilidades
internas.
63
Tabela 2.22 Fontes de Inovação na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos
(número de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 9 99 127 Importância alta para Universidade
6 (66,7%)
13 (13,1%)
1 (0,7%)
Importância alta para Centro de apacitação
1 (11,1%)
8 (8,1%)
1 (0,7%)
Importância alta para Instituições de teste
7 (77,8%)
4 (4,0%)
3 (2,3%)
Importância alta para Aquisição de licença
2 (22,2%)
4 (1,0%)
0 (0,0%)
Importância alta para Conferências e encontros
3 (33,3%)
11 (11,1%)
10 (7,9%)
Importância alta para Feiras e exposições
2 (22,2%)
10 (10,1%)
3 (2,3%)
Importância alta para Redes de informação
2 (22,2%)
18 (18,1%)
17 (13,4%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A Tabela 2.24 mostra que a cooperação para inovar é praticada por parcela relevante das
empresas líderes (67%), em comparação com as seguidoras (20%) e frágeis (4%). No
caso das líderes é surpreendente a proporção de empresas que cooperam, tendo em
vista a realidade brasileira, principalmente com universidades (56%). No caso das
seguidoras, a cooperação é mais frequente com clientes e consumidores (12%) e, em
menor grau, com outra empresa do grupo (5%), universidade (5%) e fornecedores (3%).
No caso das frágeis, quatro das cinco empresas que cooperaram, dentro de um total de
127, contrataram empresa de consultoria como fonte de informação para inovar.
64
Tabela 2.24 Cooperação para Inovação na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos
(números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 9 99 127
Cooperação para inovação 6 (66,7%)
20 (20,2%)
5 (3,9%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
1 (11,1%)
12 (12,1%)
4 (3,1%)
Importância alta para cooperação com fornecedores
0 (0,0%)
3 (3,0%)
1 (0,8%)
Importância alta para cooperação com concorrentes
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com outra empresa do grupo
1 (11,1%)
5 (5,1%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com empresa de consultoria
0 (0,0%)
1 (1,0%)
4 (3,1%)
Importância alta para cooperação com Universidade
5 (55,6%)
5 (5,1%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com Centro de capacitação
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Cooperou P&D com fornecedores 1 (11,1%)
4 (4,0%)
0 (0,0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A Tabela 2.25 revela que a participação de multinacionais na fabricação de produtos
químicos inorgânicos é predominante na categoria de líderes (67%), ao passo que as de
capital nacional constituem a maioria (74%) das seguidoras. Não há diferenças
significativas em termos dos indicadores de exportação, propensão a inovar e compra de
máquinas e equipamentos nas líderes e nas seguidoras, exceto por uma maior propensão
à exportação no caso das seguidoras de capital estrangeiro.
65
Tabela 2.25 Distribuição das Firmas Líderes e Seguidoras na Indústria de Produtos Químicos
Inorgânicos por Origem do Capital (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 3 6 73 26
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total
78,0% 82,8% 61,3% 64,5%
Inovadoras (% do total) 100% 100% 52,2% 51,2%
Exportadoras (% do total) 100% 100% 89,3% 100%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
A tabela abaixo mostra a distribuição do financiamento do BNDES ao setor de produtos
químicos inorgânicos. Cabe ressaltar que os dados apresentados referem-se a todos os
contratos de empréstimos do BNDES entre 1996 e 2006. Por isso, mais de um
empréstimo pode estar vinculado a uma só empresa.
Através da Tabela 2.26, nota-se que a proporção de firmas que acessam o BNDES como
fonte de financiamento é relevante nas três categorias. No entanto, a maior parte do
recurso emprestado ao setor é tomado pelas seguidoras (67%). Em relação às líderes e
às frágeis, o percentual de financiamentos totaliza 28% e 5%, respectivamente.
Tabela 2.26
Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Produtos Químicos Inorgânicos (valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de firmas 9 99 127
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
5 (55,5%)
62 (62,6%)
57 (44,8%)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 384.006 915.770 65.389
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
66
2.3.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
A dinâmica inovadora do setor de defensivos agrícolas está tradicionalmente vinculada à
área de conhecimento da química, tendo em vista que, tecnicamente, defensivos podem
ser definidos como moléculas químicas que possuem atuação biológica contra insetos,
ácaros, ervas, fungos e outros animais que atacam culturas agrícolas. Dessa forma,
inovações de produto no setor só podem ser geradas se novas moléculas químicas forem
descobertas. Nesse caso, o regime de apropriação garante a exploração de lucros de
natureza schumpeterianos porque novas moléculas são patenteáveis. Isso segmenta o
mercado de produtos finais em dois: o de produtos patenteados e o de produtos
genéricos, cuja proteção já expirou e a produção depende apenas de registro em órgão
público.
A década de 1940 assinalou uma reestruturação da base técnica da indústria de
defensivos agrícolas, representada pela troca da química inorgânica pela química
orgânica sintética. A partir disso, os padrões para a trajetória tecnológica da indústria
foram: controle total da tecnologia de processamento dos intermediários químicos obtidos
de matérias-primas petroquímicas e carboquímicas; organização das atividades internas
de P&D; uso de patentes para garantir direitos de propriedades do inovador; alto nível de
obsolescência do produto final e intensidade de introdução de novos produtos (Lemos,
1992).
A base tecnológica vinculada à química apresenta tendências de sinergias verticais e
horizontais para atividades de P&D, o que leva uma firma a conquistar competência
específica na área de química fina. Logo, uma trajetória natural é a diversificação da firma
na cadeia química por meio de integração horizontal e vertical. A especialização de uma
firma numa “árvore genealógica” de grupos químicos básicos gera toda uma trajetória
específica de inovações. A especificidade do conhecimento da firma em química final
aumenta o grau de apropriação dos retornos da inovação e constrói barreiras à entrada,
especialmente a proteção por patentes. As características técnicas do setor abrem uma
trajetória natural para inovações incrementais garantida pela obsolescência de produtos
existentes, tendo em vista a resistência desenvolvida pelas pragas e suas reações
reprodutivas aos efeitos letais dos pesticidas, pela demanda de novos produtos (Lemos,
1992).
67
Ressalta-se que o lançamento de novos produtos não é muito freqüente no setor porque é
preciso longo tempo para avaliar testes nas plantações e esperar licenças junto aos
órgãos públicos. Em média, estima-se que, da descoberta da molécula até o lançamento
do produto, são necessários sete anos de P&D (Martinelli, 2005). Além disso, o setor
passa por amadurecimento tecnológico (Hartnell, 1996), tendo em vista que é crescente a
dificuldade para descoberta de novos ingredientes ativos. Isso contribui ainda mais para
alargar o ciclo de inovações do setor. Dessa forma, o desenvolvimento de inovações
incrementais de novas formulações, a partir de uma molécula base, são mais atraentes,
proporcionando maior rapidez de retorno e ganhos de escopo. Outras trajetórias
tecnológicas do setor estão relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias mais limpas,
produtos menos tóxicos e mais eficientes, assim como o desenvolvimento de novas
embalagens que facilitem o manuseio dos produtos.
Em conseqüência da dificuldade de introdução de inovações no setor, houve aumento da
importância econômica do segmento de mercado de produtos genéricos, que passou a
ser estratégico economicamente não somente por empresas seguidoras e de menor
estrutura econômica e tecnológica, mas também pelas líderes. Por causa disso, as
empresas líderes do setor adquiriram empresas de genéricos a fim de estender o prazo
de recuperação de investimentos dos produtos cujas patentes já expiraram.
O surgimento da biotecnologia moderna criou novas oportunidades tecnológicas para o
setor de defensivos agrícolas, à medida que as áreas de química e biotecnologia
tornaram-se única base de conhecimento científico para vários setores, tais como
farmacêutico, sementes, alimentos e defensivos agrícolas. O setor de defensivos
agrícolas passa a usar a engenharia genética e estudos genômicos para criação de novas
variedades de vegetais, combater pragas e melhorar qualidade dos alimentos. É
importante destacar também que a trajetória tecnológica da biotecnologia, pela qual se
produzem sementes transgênicas, tem como objetivo prolongar a trajetória da síntese
química, tendo em vista os vultosos investimentos realizados ao longo das décadas nas
descobertas de novas moléculas químicas (Martins, 2000).
A partir disso, duas conseqüências são constatadas no setor de defensivos agrícolas: 1)
aumento do custo de P&D, tendo em vista que, segundo estimativas do setor, as
atividades agroquímicas pela rota biotecnológica possuem necessidades de gastos de
68
P&D equivalentes a 25% do faturamento, enquanto que, pela via tradicional, os
percentuais são de 10%;23 2) redirecionamento de investimentos das líderes mundiais, por
meio de joint-ventures e acordos cooperativos, e aumento do número de fusões e
aquisições no setor, com nítidos desdobramentos no mercado brasileiro, principalmente a
partir dos anos 90. O aumento do número de fusões e aquisições é visto como uma
estratégia conduzida pelas empresas líderes mundiais do setor para reduzir riscos e
incertezas no mercado de agrotóxicos, pois uma descoberta na área de biotecnologia
pode inviabilizar uma linha completa de produtos do setor (Koshiyama e Martins, 2008) ou
como alternativa para ampliar economias de escala e escopo em P&D (Martinelli e
Waquil, 2002). Dessa forma, ao adquirirem firmas com competência na área de
biotecnologia, as líderes do segmento de defensivos ampliam sua base tecnológica,
diversificam seu processo produtivo, aumentam sua competitividade e ampliam
participação no mercado.
A configuração atual do setor ilustra várias operações de fusão e aquisição no sentido
descrito acima. A Syngenta, uma das maiores empresas do setor no mundo, é resultante
da fusão horizontal da Zeneca e da Novartis em 2001. A Dow AgroSciences, que resultou
da fusão da Sanachem e da Dow Elanco em 1996, adquiriu, entre 1998 e 2001, várias
empresas de outros setores, particularmente sementes, como FT Biogenética, Dinamilho
Carol, Sementes Hatã, Híbridos Hatã, Híbridos Colorado, Empresa Brasileira de
Sementes e Rohm & Haas. Em 2001, a Bayer adquiriu outra grande empresa do setor
que era a Aventis. Por sua vez, a Monsanto adquiriu, entre 1997 e 2001, a Sementes
Agroceres, a FT Pesquisas e Sementes, a Alkagro e, recentemente, a Pharmacia, que era
a segunda maior empresa de sementes do mundo. Informações da própria empresa
mostram que, em 2004, a Monsanto formou a American Seeds Inc. (ASI), dedicada ao
milho e à soja. Em 2007, adquiriu a Agroeste, no Brasil, além de outras empresas de
sementes no mundo (i.e. Delta & Pine). Em 2008, inseriu-se no segmento de cana-de-
açúcar com a compra das empresas brasileiras Alellyx e CanaVialis, sendo que em 2009
adquiriu grupo Maeda (MDM), que foca o mercado de algodão convencional e
transgênico. A DuPont, que é uma das lideres mundiais do setor químico e do mercado de
herbicidas, adquiriu 80% da Pioneer Hi-Bread International, do setor de sementes, 50%
da Merck, formando a DuPont Merck Pharmaceutical, constituiu joint-venture com a
23 Estimativas de Martinelli (2005).
69
Griffin, em 1998, além de adquirir a Protein Technologies International (PTI), divisão
alimentícia do Grupo Ralston Purinam, em 1999.24
No Brasil, as fusões e aquisições contribuíram para aumentar o grau de
desnacionalização das firmas do setor, tendo em vista que, das quatro maiores empresas
nacionais, três foram adquiridas por empresas multinacionais ao longo dos anos 90,
conforme Koshiyama e Martins (2008). Como as empresas líderes do mercado brasileiro
são subsidiárias de multinacionais, o Brasil não tem papel de destaque na divisão
internacional do trabalho em P&D, que envolve primordialmente pesquisa básica. As
novas moléculas químicas são descobertas nos laboratórios de P&D das matrizes das
grandes empresas mundiais, como Syngenta, Monsanto, Dupont e FMC. As unidades
brasileiras realizam atividade de P&D em torno da molécula já descoberta para fins de
criação de soluções e formulações para fins específicos e novas misturas.25
A intensidade de P&D da indústria de defensivos agrícolas, medida pela proporção dos
gastos de P&D em relação ao faturamento, é de 0,43%, estando abaixo da média da
indústria de transformação (0,66%). Ainda que o padrão mundial de inovações no setor,
se considerada a rota biotecnológica seguida pelas líderes do setor no mundo, seja
intensivo em esforço interno de P&D e marcado por alta oportunidade tecnológica e
cumulatividade, isso não se reproduz no Brasil e reforça a tese de que as multinacionais
realizam tais gastos em suas matrizes no exterior, relegando às subsidiárias instaladas no
Brasil funções menos intensivas em P&D.
Ainda que a média de gastos de P&D em relação ao faturamento seja menor que a da
indústria de transformação, a composição interna dos gastos totais com inovação ilustra
que o setor de defensivos agrícolas possui maior oportunidade tecnológica que o de
fertilizantes, analisado na seção anterior. Se for considerada a distribuição dos gastos
totais das líderes, verifica-se que a participação dos gastos internos com P&D é de 33%.
As participações dos três principais gastos cujo conhecimento é de natureza mais
intangível (P&D interno, compra de P&D e aquisição de outros conhecimentos externos)
totalizam 42,6% dos recursos, ao passo que os gastos exclusivos com conhecimento de
24 Informações retiradas de Koshiyama e Martins (2008, p. 221-224), Velasco e Capanema (2006) e dos sítios das empresas na internet. 25 Martinelli e Waquil (2002) mencionam a unidade brasileira da DuPont como exceção, por causa da existência de um laboratório no País para descoberta de moléculas.
70
natureza tangível, incorporado em máquinas e equipamentos, situam-se em torno de 13%
(Tabela 2.27).
Tabela 2.27
Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de Defensivos Agrícolas, por categoria de empresa (2005)
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Total
Número de empresas 7 36 43 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
141,4 (100%)
76,6 (100%)
218,0 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
47,0 (33,2%)
7,8 (10,2%)
54,8 (25,2%)
Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
8,7 (6,2%)
0,1 (0,1%)
8,8 (4,0%)
Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
4,5 (3,2%)
21,7 (28,3%)
26,2 (12,0%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
18,6 (13,1%)
23,4 (30,5%)
42,0 (19,3%)
Treinamentos (em milhões de R$)
10,0 (7,1%)
0,3 (0,4%)
10,3 (4,7%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
32,5 (23,0%)
2,3 (3,0%)
34,8 (15,9%)
Projeto industrial 20,0 (14,2%)
21,0 (27,5%)
41,1 (18,9%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As seguidoras, porém, seguem padrão diferente das líderes, pois concentram a maior
parte dos gastos de inovação com aquisição de máquinas e equipamentos (30,5%), com
outros conhecimentos externos (28,3%) e com projeto industrial (27,5%). Nota-se que os
gastos com P&D interno constituem apenas 10% do total de recursos alocados para
inovação. Esse padrão se justifica por causa da atuação nos segmentos de mercado em
que os produtos são genéricos, de patentes expiradas, ou em que é preciso produzir sob
licenciamento, com conseqüente pagamento de royalties, como se atesta pela elevada
proporção de recursos gastos, acima destacados, com outros conhecimentos externos.
As maiores empresas de capital nacional que operam no segmento de genéricos são:
Nortox (Arapongas – PR), Produquímica (Curitiba – PR), Iharabras S.A. Indústrias
Químicas (Sorocaba – SP), Sipcam Isagro Brasil S.A. (Uberaba - MG), Buschle & Lepper
(Joinville – SC) e Agro Química Maringá S.A. (Diadema –SP).
71
De fato, o número de pesquisadores com titulação de mestrado e doutorado destinados à
atividade de P&D nessas empresas é pouco expressivo, sendo 0,3% e 0,1% do total de
pessoas ocupadas (Tabela 2.28). Esse percentual é muito pequeno se considerado o
conteúdo científico das pesquisas em biotecnologia.
Tabela 2.28
Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Defensivos Agrícolas, 2005
Indicador Líderes Seguidoras
Número de empresas 7 36
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
8229 (60,5%)
5373 (39,5%)
Número de doutores em P&D – exclusivo 10 (0,1%)
9 (0,2%)
Número de mestres em P&D – exclusivo 25 (0,3%)
12 (0,2%)
Número de outros em P&D – exclusivo 181 (2,2%)
63 (1,2%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
Através da Figura 2.5, nota-se que os investimentos totais e os gastos em P&D
concentram-se nas empresas líderes, especialmente os últimos que totalizam 88% dos
gastos. Com base nos indicadores de intensidade de investimento e P&D (Tabela 2.16, da
seção 2.2.2), as líderes se destacam mais do que as seguidoras em relação à intensidade
de P&D, com 0,6% contra 0,3%, ao passo que as seguidoras são mais intensivas em
investimentos tangíveis, com 3,7% contra 1,8%, o que reflete o envolvimento maior destas
com conhecimento incorporado em máquinas e equipamentos.
72
Figura 2.5 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes e Seguidoras da Indústria de
Defensivos Agrícolas
61%
39%
Investimento
88%
12%Gastos em P&D
Líderes Seguidoras
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Em relação ao papel de atores externos para a ocorrência da inovação, a Tabela 2.29
informa que as fontes de informação mais acessadas pelas empresas líderes do setor de
defensivos agrícolas são: redes de informação (41%), conferências e encontros (29%),
universidade (29%), feiras e exposições (27%), instituições de testes (14%), aquisições de
licenças (14%) e centro de capacitação (14%). A posição das redes de informação é
coerente com os diversos canais que as grandes empresas do setor, subsidiárias de
multinacionais, estabeleceram com outras empresas do grupo e com instituições de
ensino e pesquisa em outras partes do globo. As seguidoras, porém, atribuem importância
alta à aquisição de licença e às conferências e encontros, com 29% de freqüência cada.
Tabela 2.29
Fontes de Inovação na Indústria de Defensivos Agrícolas (número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras
Número de empresas 7 36
Importância para Universidade 2 (28,6%)
1 (2,8%)
Importância alta para centro de capacitação
1 (14,3%)
0 (0,0%)
Importância alta para instituições de teste
1 (14,3%)
3 (8,9%)
Importância alta para aquisição de licença
1 (14,3%)
2 (28,6%)
Importância alta para conferências e encontros
2 (28,6%)
2 (28,6%)
Importância alta para feiras e exposições
2 (27,1%)
5 (13,1%)
Importância alta para redes de informação
3 (41,4%)
6 (16,1%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
73
A cooperação para inovar é praticada por parcela relevante das empresas líderes (73%),
em comparação com as seguidoras (2,8%). No caso das líderes, não surpreende a
proporção de empresas que cooperam com outras empresas do grupo e com
universidades, refletindo as características do setor de, respectivamente, presença de
subsidiárias de multinacionais e da base de conhecimento vinculada à biotecnologia
(Tabela 2.30).
Tabela 2.30 Cooperação para Inovação na Indústria de Defensivos Agrícolas
(números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras
Número de empresas 7 36
Cooperação para inovação 5 (72,7%)
1 (2,8%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
2 (28,6%) -
Importância alta para cooperação com fornecedores
1 (14,3%)
1 (2,8%)
Importância alta para cooperação com concorrentes
2 (28,6%) -
Importância alta para cooperação com outra empresa do grupo
4 (57,2%)
1 (2,8%)
Importância alta para cooperação com empresa de consultoria - -
Importância alta para cooperação com Universidade
3 (42,9%)
1 (2,8%)
Importância alta para cooperação com Centro de Capacitação
1 (14,3%) -
Cooperou em P&D com fornecedores 1 (14,3%)
1 (2,8%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A Tabela 2.31 revela a exclusiva participação de multinacionais na fabricação de
defensivos agrícolas na categoria de líderes. Por outro lado, na categoria de seguidoras
constata-se a predominância de firmas com capital nacional (75%), que investem em
grande parte em máquinas e equipamentos, inovam com pouca freqüência e são em sua
totalidade exportadoras. Nas líderes, há maior percentual de inovadoras (89%) vis-à-vis
as nacionais (16%).
74
Tabela 2.31 Distribuição das Firmas Líderes e Seguidoras na Indústria de
Defensivos Agrícolas por Origem do Capital (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 7 27 9
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total (%)
11,5 38,4 8,0
Inovadoras (% do total) 100 16,0 88,9
Exportadoras (% do total) 100 100 100
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
No caso do setor de defensivos agrícolas (Tabela 2.32), tanto as líderes quanto as
seguidoras acessam de forma relevante os recursos do BNDES, ainda que as primeiras
se destaquem com 66% do total de empréstimos no período 1996-2006.
Tabela 2.32
Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Defensivos Agrícolas
(valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras
Número de firmas 7 36
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
6 (85,7%)
33 (90,6)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 75247,6 38441,9
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
75
2.3.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS
O setor de máquinas e equipamentos agrícolas pode ser incluído no mesmo paradigma
tecnológico da indústria automobilística, baseado no motor de combustão interna, ainda
que siga uma trajetória tecnológica específica, influenciada pelas características da
agricultura. Após a última inovação radical dessa trajetória tecnológica,26 o avanço técnico
do setor tem sido limitado a inovações incrementais, particularmente motor (tipo, tamanho
e potência) e sistema de direção (direção hidráulica). Após a década de 1960, a indústria
mundial encontrou design dominante que propiciou padronização tecnológica. Isso criou
economias de escala que se tornaram barreiras à entrada, reforçando a natureza
oligopolista do setor. Tais economias de escala, oriundas da padronização, permitiram
que os grandes produtores mundiais explorassem economias de complementaridade
derivadas das sinergias de P&D e da linha de produção integrada horizontalmente de
tratores, colheitadeiras e alguns implementos. Além disso, economias de distribuição
surgiram a partir da construção de uma rede de vendas unificada para máquinas e
implementos agrícolas sob uma única marca comercial, por causa da emergência do
design dominante Ferguson (Lemos, 1992).
Atualmente, as inovações do setor continuam sendo, em sua maioria, incrementais,
visando aperfeiçoar a praticidade do usuário, tendo em vista a necessidade de seguir o
modo de plantio, que não muda com freqüência (Tatsch, 2008). Os clientes (agricultores)
têm papel de destaque na criação de inovações incrementais, exigindo interação
produtor-usuário pela qual conhecimento de natureza tácita é repassado aos produtores
de bens de capital agrícolas.
A intensidade de P&D da indústria de bens de capital agrícolas, medida pela proporção
dos gastos de P&D em relação ao faturamento, é de 0,58%, estando abaixo da média da
indústria de transformação (0,66%). Em relação ao setor de fertilizantes e de defensivos
agrícolas, o setor de máquinas e equipamentos agrícolas possui maior grau de
intensidade de P&D, o que pode refletir a expressiva participação de firmas nacionais
entre as líderes tecnológicas e seguidoras. Das 29 líderes e 136 seguidoras, 27 e 122 são
26 O setor é marcado por três principais inovações radicais que são: design Fordson em 1917; Farmhall em 1925 e Ferguson em 1947 (Lemos, 1992).
76
de capital nacional, respectivamente. Essa informação contrasta com a maciça presença
de subsidiárias de multinacionais na liderança de mercado, verificada na Seção 3.3.
A composição interna dos gastos totais com inovação ilustra que o setor de máquinas e
equipamentos agrícolas realiza expressivo esforço interno de P&D, que consome 37,9%
dos gastos totais (Tabela 2.33). Outros 33,8% são empregados na compra de máquinas e
equipamentos, enquanto que 20,9% se destinam a projetos industriais. No caso das
líderes tecnológicas, a distribuição dos gastos totais é ainda mais favorável à atividade de
P&D. Aproximadamente 48% dos gastos são empregados nessa modalidade contra 33%
em projetos industriais e 15% em máquinas e equipamentos. De fato, a Figura 2.6 mostra
que 72% do total de gastos com P&D do setor são efetuados pelas líderes, enquanto que
seguidoras, frágeis e emergentes são responsáveis por 23%, 1% e 4%.
Tabela 2.33 Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de
Máquinas e Equipamentos Agrícolas, por categoria de empresa (2005)
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total
Número de empresas 29 136 84 7 256 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
79,8 (100%)
41,3 (100%)
11,1 (100%)
7,9 (100%)
140,1 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
38,5 (48,2%)
12,2 (29,6%)
0,3 (2,7%)
2,0 (25,3%)
53,0 (37,9%)
Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
0,6 (0,8%)
0,03 (0,1%)
0,2 (1,8%) - 0,8
(0,6%) Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
0,1 (0,1%)
0,13 (0,3%)
0,1 (0,9%) - 0,3
(0,2%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
11,7 (14,7%)
20,5 (49,7%)
9,3 (83,8%)
5,9 (74,7%)
47,3 (33,8%)
Treinamentos (em milhões de R$)
0,4 (0,5%)
0,7 (1,7%) - - 1,1
(0,8%) Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
2,5 (3,1%)
4,6 (11,1%)
1,0 (11,1%) - 8,1
(5,8%)
Projeto industrial 26,0 (32,6%)
3,1 (7,5%)
0,2 (7,5%) - 29,3
(20,9%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As seguidoras, porém, seguem padrão diferente das líderes, pois concentram a maior
parte dos gastos de inovação com aquisição de máquinas e equipamentos (49,7%),
77
enquanto que os gastos com P&D totalizam 29,6% do total, os quais, ainda assim, são
significativos em se tratando do padrão de seguidoras vis-à-vis os setores de defensivos e
fertilizantes, com proporções de 10% e 17%, respectivamente.
Figura 2.6 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e
Emergentes.
26%
70%
3% 1%Investimento
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
72%
23%
1% 4%Gasto em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Ainda que as multinacionais realizem P&D no Brasil,27 as estatísticas que mostram o
papel das líderes no P&D do setor devem-se majoritariamente às líderes de capital
nacional, pois as funções mais complexas de P&D estão nos países sedes das
multinacionais. A título de ilustração, embora as duas líderes tecnológicas de capital
estrangeiro se apropriem de 82% do faturamento do total das 29 líderes do setor, a
participação nos gastos totais de P&D interno é de 46%. Isso equivale a uma intensidade
média de P&D de 0,63% para as líderes estrangeiras e de 3,45% para as líderes
nacionais.
Por outro lado, os investimentos tangíveis do setor são realizados, em sua maior parte,
pelas firmas seguidoras (70%). Isso evidencia clara segmentação do regime tecnológico,
no qual as líderes tecnológicas possuem intensidade de P&D quase seis vezes maior que
a das seguidoras (1,1% contra 0,2%), como mostrado na Seção 2.2.3. Mesmo com tal
intensidade de P&D, é modesta a proporção de pessoas com titulação de doutorado e
mestrado exclusivamente dedicados à atividade de P&D nas líderes, respectivamente,
27 O caso da AGCO exemplifica isso, pois, além de transferir para o Brasil a produção de tratores que eram produzidos em Coventry (Inglaterra), criou um centro tecnológico em Canoas (RS) com investimentos de US$ 4 milhões em 2003 (Pontes, 2004).
78
0,01% e 0,08% (Tabela 2.34), o que reflete a tendência de empresas brasileiras de não
absorverem mestres e doutores para fins de P&D.
Tabela 2.34 Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Máquinas e
Equipamentos Agrícolas (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 29 136 84 7
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
7340 (11,4%)
27072 (53,1%)
5065 (32,9%)
501 (2,6%)
Número de doutores em P&D - exclusivo
1 (0,01%)
1 (0,003%) - -
Número de mestres em P&D - exclusivo
6 (0,08%)
2 (0,006%) - -
Número de outros em P&D - exclusivo
269 (3,6%)
259 (1%)
25 (0,5%)
111 (22,1%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
Em relação às fontes de informação para inovar, a Tabela 2.35 revela que a participação
em redes de informação ocorre em 72,4% dos casos, seguida da participação em feiras e
exposições (24,1%), que é uma fonte tradicionalmente usada pelo setor de bens de
capital. No caso de seguidoras e frágeis, as proporções de empresas que atribuem alta
importância a essas duas fontes são também altas em relação às demais. O grau de
importância atribuída às redes de informação pode refletir a presença de subsidiárias de
multinacionais que mantêm intenso intercâmbio de informações, conhecimento,
experiência e suporte técnico para inovar com suas matrizes, além da existência de
arranjos produtivos locais, como no Rio Grande do Sul, nos quais é comum haver
cooperação dentro e fora do arranjo (Tatsch, 2008).
Por outro lado, a cooperação, constatada na literatura, em alguns arranjos produtivos
locais, não parece se reproduzir em todo o Brasil. Verifica-se, pela Tabela 2.36, que a
cooperação ocorre em menos de um terço das líderes, em apenas 1,5% das seguidoras e
não é praticada por frágeis ou emergentes. Tais proporções são menores que nos setores
de defensivos e fertilizantes analisados nas seções 2.3.1 e 2.3.2. Quase todas as líderes
que cooperam (8 empresas) informaram que clientes e consumidores assumem
participação principal nos arranjos cooperativos. Essa evidência traduz uma característica
das inovações do setor, que precisam ser desenvolvidas de acordo com as necessidades
do agricultor, focando a praticidade do usuário.
79
Tabela 2.35 Fontes de Inovação na Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas
(número de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 29 136 84 7
Importância para Universidade 1
(3,4%)
9 (6,6%) - -
Importância alta para centro de capacitação
4 (13,7%)
9 (6,6%)
3 (3,6%) -
Importância alta para instituições de teste
5 (17,2%)
8 (5,8%)
6 (7,1%) -
Importância alta para aquisição de licença - 1
(0,7%) - -
Importância alta para conferências e encontros
5 (17,2%)
18 (13,2%)
6 (7,1%) -
Importância alta para feiras e exposições
7 (24,1%)
37 (27,2%)
14 (16,6%)
3 (42,8%)
Importância alta para redes de informação
21 (72,4%)
23 (16,9%)
12 (14,1%)
7 (100%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 2.36 Cooperação para Inovação na Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas
(números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 29 136 84 7
Cooperação para inovação 9 (31,0%)
2 (1,5%) - -
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
8 (27,6%)
2 (1,5%) - -
Importância alta para cooperação com fornecedores - 1
(0,7%) - -
Importância alta para cooperação com concorrentes - - - -
Importância alta para cooperação com outra empresa do grupo - 1
(0,7%) - -
Importância alta para cooperação com empresa de consultoria
3 (10,3%) - - -
Importância alta para cooperação com Universidade
2 (6,8%) - - -
Importância alta para cooperação com Centro de Capacitação
3 (10,3%) - - -
Cooperou em P&D com fornecedores 2 (6,8%)
1 (0,7%) - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
80
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A Tabela 2.37 revela expressiva participação de firmas nacionais tanto na categoria de
líderes tecnológicas quanto na de seguidoras. Nas líderes, há maior propensão a
investimentos em máquinas e equipamentos nas filiais de multinacionais em relação às
nacionais, enquanto que não são constatadas diferenças em termos de propensão a
inovar e exportar. Na categoria de seguidoras, constata-se que as nacionais predominam
em termos de proporção de empresas que realizam investimentos e que exportam.
Embora 73,4% das multinacionais seguidoras exportam, todas as nacionais seguidoras
são exportadoras. Por outro lado, nota-se percentual mais elevado de multinacionais
seguidoras que inovam (79%), em relação às nacionais (50,9%), talvez pela facilidade de
trazer produtos ou processos de suas matrizes que já são existentes no mercado
internacional, mas não no mercado doméstico.
Tabela 2.37
Distribuição das Firmas Líderes e Seguidoras na Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas por Origem do Capital
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras
Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 27 2 122 14
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total
51,6% 89,5% 60,0% 40,4%
Inovadoras (% do total) 100% 100% 50,9% 79,0%
Exportadoras (% do total) 100% 100% 100% 73,4%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
Em relação ao setor de máquinas e equipamentos agrícolas (Tabela 2.38), mais da
metade das seguidoras acessam o BNDES como fonte de financiamento, enquanto nas
outras categorias o percentual é de 44,8% (líderes), 42,8% (emergentes), 35,7% (frágeis).
Entretanto, em termos de participação no total de recursos captados, as líderes
destacam-se com 67%, as seguidoras com 32%. Frágeis e emergentes representam
0,78% dos recursos emprestados.
81
Tabela 2.38 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria Máquinas e
Equipamentos Agrícolas (valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de firmas 29 136 84 7
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
13 (44,8%)
73 (53,7%)
30 (35,7%)
3 (42,8%)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 958760 459655 8289 2909
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
82
3. INDÚSTRIAS À JUSANTE
3.1. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA
A matriz de insumo-produto revela as ligações entre os setores econômicos nas compras
e vendas de produtos entre os setores, no uso de fatores de produção (capital e trabalho)
e nas vendas dos setores para os componentes da demanda final. Para o propósito deste
estudo, uma matriz de insumo-produto foi construída a partir das informações
disponibilizadas pelo IBGE (IBGE, 2008) e os dados obtidos pela equipe. Assim,
procedeu-se na abertura setorial da matriz para os setores em foco, quando necessário.
Os dados utilizados nessa etapa foram obtidos da PIA-2005 e se referem à utilização de
insumos intermediários e valor bruto da produção.
Para este relatório, o setor “Agroindústria” foi desagregado em 7 sub-setores,
desmembrado em indústrias à montante e indústrias à jusante. As indústrias à montante
(3 sub-setores) foram analisadas nas seções anteriores, sendo reservada para as
próximas seções a análise das indústrias à jusante, desmembrada em 4 sub-setores, a
saber: Abate e Preparação de Carnes e Pescado, Alimentos Processados, Óleos e
Rações e, por fim, Laticínios. A matriz construída permite avaliar a inserção destes
setores na estrutura produtiva brasileira, a partir de indicadores de composição das
vendas, das inter-relações setoriais na cadeia produtiva e com as demais cadeias
produtivas.
A identificação das cadeias produtivas seguiu a metodologia tradicional (Haguenauer,
Bahia, Castro et al., 2001). A delimitação das cadeias produtivas dos setores analisados
considerou as transações de maior valor, até o total de 70% do consumo e/ou
fornecimento intermediário. Foram desconsiderados nesse cálculo, para cada setor, o
auto-consumo (intra-setorial), os serviços e os insumos de uso difundido (tanto compras
como vendas).
A partir da matriz de insumo-produto foi implementado um modelo de insumo-produto,
que gerou os multiplicadores de produção e emprego dos setores analisados, seguindo o
padrão da literatura (e.g. Miller e Blair, 1985). Dados obtidos pela equipe do projeto
83
permitiram obter multiplicadores de emprego por qualificação da mão-de-obra (ensino
superior, ensino médio e inferior).
As vendas setoriais foram decompostas em 4 categorias para a demanda final:
exportações, consumo das famílias, formação bruta de capital fixo (investimento) e outras
demandas (consumo do governo e variação de estoques). A demanda intermediária
corresponde ao consumo de todos os setores produtivos da economia.
A Tabela 3.1 (partes a e b) apresenta a decomposição das vendas dos setores
agroindustriais nessas categorias. A distribuição do valor da demanda indica que os
setores de Alimentos Processados e de Óleos e Rações possuem escala semelhante
(cerca de 64 bilhões de reais), e bastante acima de Laticínios (35 bilhões). O setor de
Carnes e Pescado é o que apresenta o maior volume de produção e demanda, cerca de
83 bilhões de reais. A diferença de nível de demanda é acompanhada pela
heterogeneidade da sua composição entre os setores. Os dados indicam que o Consumo
das Famílias é o principal componente da demanda dos setores de Laticínios (73,5%),
Carnes e Pescados (54,6%) e Alimentos Processados (55,5%). As Exportações são mais
significativas para Carnes e Pescados (25,5%) e Óleos (17,1%). A Demanda
Intermediária é uma fonte de demanda significativa para Óleos (57,2%), indicando seu
uso significativo em outros processos produtivos. Para os demais sub-setores a demanda
intermediária representa cerca de 20% da demanda total.
Tabela 3.1a
Componentes da Demanda Setorial, em R$ milhões
Demanda Final
Setor Exportações Consumo
das Famílias
Investimento Consumo
do Governo
Outras Demandas Total Demanda
Intermediária Demanda
Total
Carnes e Pescado 21067 45223 43 0 -1624 64708 18064 82772
Alimentos Processados 7179 35875 35 0 5805 48894 15760 64654
Óleos e Rações 10892 16314 54 0 -23 27237 36402 63639
Laticínios 368 26038 17 0 182 26605 8813 35419
Elaboração própria a partir da MIP 2005, RAIS, PIA.
Tabela 3.1b
84
Componentes da Demanda Setorial, em % da Demanda Total
Demanda Final
Setor Exportações Consumo
das Famílias
Investimento Consumo
do Governo
Outras Demandas Total Demanda
Intermediária Demanda
Total
Carnes e Pescado 25,5 54,6 0,1 0,0 -2,0 78,2 21,8 100,0
Alimentos Processados 11,1 55,5 0,1 0,0 9,0 75,6 24,4 100,0
Óleos e Rações 17,1 25,6 0,1 0,0 0,0 42,8 57,2 100,0
Laticínios 1,0 73,5 0,0 0,0 0,5 75,1 24,9 100,0
Elaboração própria a partir da MIP 2005, RAIS, PIA.
As Figuras 3.1 a 3.4 apresentam as cadeias produtivas dos setores. Para se ter uma
análise mais completa, a cadeia foi expandida com a representação de componentes da
demanda final, quando significativos.
As cadeias produtivas dos setores mostram compartilhar um grupo comum de
fornecedores (compras), especialmente de 2 setores: Agricultura, silvicultura, exploração
florestal, Artigos de borracha e plástico e Produtos de metal. As vendas intermediárias,
apesar da preponderância do fluxo intra-setorial em todas as cadeias (representada na
figura dentro retângulo do próprio setor), mostram-se ligadas principalmente à demanda
dos demais setores agroindustriais. O que mais distingue o perfil de vendas setoriais nas
cadeias são os componentes da demanda final: para Laticínios é o Consumo das
Famílias, para Óleos e Rações, além do Consumo das Famílias, as Exportações
representam uma parcela importante das vendas. Na cadeia de Laticínios (Figura 3.4)
destacam-se as compras de Pecuária e Pesca, associadas ao uso pelo setor de leite e
derivados; os insumos agrícolas representam a segunda parcela mais significativa de
compras. As vendas do setor se concentram para os demais setores de alimentos e,
principalmente, para o consumo das famílias.
85
Figura 3.1 Cadeia produtiva do setor Carnes e Pescado, 2005 (R$ milhões)
Produtos de metal -exclusive máquinas
e equipamentos
Artigos de borracha e plástico
Carnes e Pescado
Curtimento e outras preparações de
couro
Demais Alimentos
Consumo das Famílias
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal 5172
1081
753
41682
66290
4439
3050
1389
21067
45223
34676
4947
Pecuária e Pesca
Exportações
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
Figura 3.2 Cadeia produtiva do setor Alimentos Processados, 2005 (R$ milhões)
Produtos de metal -exclusive máquinas
e equipamentos
Artigos de borracha e plástico Alimentos
ProcessadosDemais Alimentos
Consumo das Famílias
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal 5779
862
600
7241
43054
11470
7179
35875
4648
Exportações
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
86
Figura 3.3 Cadeia produtiva do setor Óleos e Rações, 2005 (R$ milhões)
Produtos de metal -exclusive máquinas
e equipamentos
Artigos de borracha e plástico
Óleos e Rações
Pecuária e pesca
Demais Alimentos
Consumo das Famílias
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal 24428
1355
944
30184
27206
16265
8590
5814
10892
16314
2545
17437
Pecuária e Pesca
Exportações Refino de petróleo e
coque 912
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal
Perfumaria, higiene e limpeza
1187
674
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
Figura 3.4
Cadeia produtiva do setor Laticínios, 2005 (R$ milhões)
Produtos de metal -exclusive máquinas
e equipamentos
Artigos de borracha e plástico
Laticínios Demais Alimentos
Consumo das Famílias
Agricultura, silvicultura,
exploração florestal 2951
436
303
12356 1244
26038
8464
4348
Pecuária e Pesca
Celulose e produtos de papel 202
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
A Tabela 3.2 apresenta os multiplicadores simples de produção dos 4 setores. Os
resultados indicam um multiplicador abaixo ao da média da economia brasileira para
87
Alimentos Processados, com predomínio do efeito direto. Esse fato se explica devido ao
pequeno número de setores que fornecem insumos ao setor (baixo encadeamento “para
trás”) e, principalmente, ao fato das vendas estarem concentradas no Consumo das
Famílias, que limita a repercussão dos efeitos multiplicadores a partir das vendas
intermediárias (efeito de propagação “para frente”). O setor de Óleos e Rações apresenta
um multiplicador bastante elevado, o que se deve aos fortes encadeamentos para trás
(especialmente com a Agropecuária) e para frente (Pecuária e Demais Alimentos), o que
também se reflete no elevado componente indireto do multiplicador (efeitos que
repercutem nos demais setores da economia). Carnes e Pescados e Laticínios
apresentam efeitos multiplicadores similares e próximos da média nacional. Nestes
setores há certo equilíbrio de efeitos diretos (no próprio setor) e indiretos (nos demais
setores da economia).
Tabela 3.2
Multiplicador Simples de Produção (2005)
Multiplicador Simples de Produção Participação no total
Setor Total Direto Indireto Direto Indireto
Carnes e Pescado 2,25 1,06 1,19 47,28 52,72
Alimentos Processados 1,53 1,08 0,45 70,47 29,53
Óleos e Rações 2,96 1,39 1,56 47,13 52,87
Laticínios 2,07 1,14 0,93 55,20 44,80
Fonte: MIP 2005, elaboração própria.
Os multiplicadores de emprego são obtidos a partir dos coeficientes de emprego de todos
os setores da economia e da matriz de multiplicadores (inversa de Leontief). Seu cálculo
segue o descrito em Miller e Blair (1985). Os multiplicadores de emprego representam,
para cada setor, a capacidade de geração e propagação de empregos na economia
decorrente da expansão da produção (ou demanda) dos seus produtos. Assim, os
multiplicadores indicam quais setores possuem capacidade relativamente maior de
geração de emprego na economia, tanto em termos totais como por qualificação (nível
educacional) da mão-de-obra.
A Tabela 3 apresenta os multiplicadores de emprego para os setores agroindustriais
analisados (coluna Total). Os resultados se relacionam aos multiplicadores simples de
88
produção e aos coeficientes de emprego setoriais, e indicam que os setores Óleos e
Rações e Carnes e Pescados geram maiores efeitos multiplicadores de emprego na
economia: o primeiro gera 78,2 empregos por 1 milhão de reais de produção; e o segundo
gera 64,4 empregos por 1 milhão de reais de produção. Os efeitos multiplicadores de
emprego de laticínios (47,5) e Alimentos Processados (29,9) são inferiores, o que se deve
tanto ao baixo coeficiente direto de emprego sobre produção, como aos baixos
multiplicadores de produção, como analisado anteriormente.
A Tabela 3 também apresenta os multiplicadores de emprego por qualificação da mão-de-
obra. Para a construção desse multiplicador os dados de emprego de todos os setores da
matriz foram decompostos em 3 componentes, de acordo com a qualificação (educação)
dos trabalhadores: superior, médio e inferior. Coeficientes de emprego, que representam
o número de trabalhadores dividido pelo valor da produção, foram obtidos para cada um
dos setores, e, conjugados com o modelo de insumo-produto, permitiram o cálculo de
multiplicadores de emprego por nível de qualificação.
Os resultados da Tabela 3, colunas Superior-Médio-Inferior, indicam que a maior parte do
efeito de geração de emprego dos setores ocorre no nível de qualificação inferior. O setor
de Processamento é o único que apresenta uma participação de geração de efeito
multiplicador de emprego do tipo médio mais significativo (cerca de 28% do efeito total),
apesar do efeito multiplicador ser menor (apenas 8,4 empregos por milhão).
Relativamente a outros setores da economia, a proporção de geração de empregos de
nível superior é bastante baixa.
Tabela 3.3
Multiplicador Simples de Emprego (ocupações/R$ milhões , 2005)
Multiplicadores Simples de Emprego (Ocupações/R$ milhão)
Participação por qualificação no
multiplicador (%)
Setor Total Superior Médio Inferior Superior Médio Inferior
Carnes e Pescado 64,4 2,3 10,7 51,3 4 17 80
Alimentos Processados 29,9 1,6 8,4 19,9 5 28 67
Óleos e Rações 78,2 2,9 11,9 63,4 4 15 81
Laticínios 47,5 1,9 8,4 37,1 4 18 78
Fonte: MIP 2005, RAIS, PIA, elaboração própria.
89
3.1.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o setor de abate e
preparação de carne e pescado tem a seguinte definição:
Abate e Preparação de Produtos de Carne e Pescado (CNAE-151): compreende o abate de reses em matadouros e frigoríficos (bovinos, suínos, ovinos, caprinos, bufalinos, eqüídeos); a produção de carne verde, congelada ou frigorificada; a produção de conservas de carne e produtos de salsicharia e outros embutidos em continuação ao abate; a produção de banha de porco em rama ou refinada, sebo, toucinho, óleos e gorduras comestíveis de origem animal, em continuação ao abate; a produção de extratos e sucos de carne, em continuação ao abate; a produção de farinha de carne e de despojos de carne; a produção de couros e peles secos ou salgados, em continuação ao abate; a obtenção de subprodutos do abate como couros e peles sem curtir, lãs de matadouro, dentes, ossos, etc.; o abate de aves e a preparação de carnes e subprodutos; o abate de coelhos e outros pequenos animais e a preparação de carnes e subprodutos; a preparação de conservas de carne (seca, salgada, defumada e conservada, enlatada ou não) não associada ao abate; a produção de lingüiças, salsichas a granel ou enlatadas, produtos embutidos e de salamaria e de salsicharia não associada ao abate; a preparação de banha não associada ao abate; a produção de patês e pratos à base de carne; a preparação de peixes, crustáceos e moluscos (frigorificados, congelados, salgados, secos) e a fabricação de conservas do pescado, mesmo quando efetuadas em barcos-fábrica; a produção de qualquer tipo de farinha do pescado; a produção de alimentos para animais à base de pescado.
O setor apresenta-se como um dos mais dinâmicos da agroindústria nacional, com
empresas competitivas a nível mundial. No caso das carnes bovinas, a brasileira JBS
Friboi desponta como a maior empresa mundial do setor, com uma capacidade de corte
de 66.000 cabeças de gado ao dia em 2008. Além disso, o crescente aumento de
capacidade dessa empresa retrata de alguma maneira o aumento de mercado que o setor
nacional experimentou nos últimos anos28.
Para tanto apresentamos a Tabela 3.4 abaixo com a evolução do valor bruto da produção
(VBP) e do valor da transformação industrial (VTI) no setor. Há um grande aumento no
VBP, da ordem de 104% no período de 10 anos de informações, acompanhado de
aumento de 99% no VTI, o que aponta para uma relação VTI/VBP estável, com pouca
modificação no valor agregado pela indústria. Ademais, o aumento do setor foi acima da
28 Ainda vale lembrar que em setembro de 2009, com o processo de associação com a brasileira Bertin, terceira maior empresa frigorífica nacional, e a compra da americana Pilgrim´s Pride, a JBS Friboi tornou-se a maior companhia de alimentos do mundo, superando a norte-americana Tyson Foods, com faturamento global da ordem de R$ 30 bilhões, mais que o dobro da Brasil Foods (fusão entre Sadia e Perdigão).
90
média nacional, visto que a porcentagem de participação no VBP nacional passou de
3,19% em 1996 para 4,02% em 2006.
Tabela 3.4
Valor Bruto da Produção e da Transformação Industrial, em bilhões de Reais
Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 25,0 8,4 0,33 2,42
1997 28,1 9,1 0,32 2,66
1998 30,0 9,5 0,32 2,90
1999 31,4 9,9 0,32 2,96
2000 32,6 8,6 0,26 2,94
2001 37,0 10,3 0,28 3,23
2002 36,1 10,9 0,30 3,19
2003 37,3 12,8 0,34 3,38
2004 40,6 13,5 0,33 3,38
2005 44,6 14,6 0,33 3,74
2006 51,1 16,6 0,33 4,02
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – carne e pescado.
Quanto à evolução estrutural da indústria, apresentamos abaixo resultados desde 1996
para a receita líquida de vendas. A taxa de crescimento médio da RLV é de 7,6% a.a.,
com a receita líquida de vendas saltando de US$ 25 bilhões em 1996 para US$ 52 bilhões
em 2006. A ruptura da trajetória de crescimento em 2002 deve-se principalmente à queda
dos preços globais e aumento de oferta de carne depois da crise da vaca louca em 2001.
Porém, fora esse ano, no qual há uma queda de 17% na RLV do setor, o crescimento é
constante e retrata a força do setor no quantum exportado, como pode ser observado no
Gráfico 3.2.
91
Tabela 3.5 Receita Líquida de Vendas na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de
Carne e Pescado
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 24,9 -
1997 28,5 14,2
1998 30,0 5,5
1999 30,3 0,8
2000 31,5 4,1
2001 36,8 16,8
2002 32,1 -12,7
2003 37,8 17,5
2004 41,1 8,8
2005 46,2 12,4
2006 51,8 12,2
1996-2006 - 7,6
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Gráfico 3.1 Receita Líquida com Vendas Industriais, em Reais, deflacionado pelo IPA-OG –
carne e pescado, para 2006
0
10
20
30
40
50
60
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – carne e pescado..
92
Gráfico 3.2 Valor das Exportações e Importações da Indústria de Abate e Preparação de
Produtos de Carne e Pescado, (US$ bilhões)
0
4
8
12
16
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Bil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
O crescimento da quantidade exportada pelo setor é vertiginoso, saindo de um valor de
US$ 1,6 bilhões em 1996 para aproximadamente US$ 15 bilhões em 2006. Visto que os
valores importados continuaram no patamar de US$ 700 milhões, o superávit da balança
comercial brasileira só tem crescido, alcançando o valor de US$ 14,3 bilhões em 2006.
Com isso, o Brasil desde 2004 tornou-se o principal país exportador de carne bovina do
mundo, ultrapassando a Austrália (Sabadin, 2006). O resultado é validado também pelo
aumento das exportações de carne de frango. Segundo Paula & Filho (2003), os altos
investimentos de grandes empresas e cooperativas agropecuárias a partir de 1998
resultaram em excedentes produtivos que puderam ser redirecionados para o mercado
externo, fazendo com que o Brasil se estabelecesse a partir de então como o segundo
maior exportador mundial de carne de frango, apenas atrás dos EUA.
93
Gráfico 3.3 Valor das Exportações da Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e
Pescado, por local de destino (US$ bilhões)
0
1
2
3
4
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Bil
hõ
es
(US
$)
China, Hong Kong, Macau EUA Mercosul Oriente Médio Rússia União Européia África
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC. Os dados de destinação de exportações apontam ainda para uma liderança durante todo
o período dos pedidos europeus, com um forte crescimento pós-2006 para exportações
ao Oriente Médio e Rússia. Mercados mais próximos, como os do Mercosul e o dos EUA
mostraram menor inserção dos produtos nacionais, explicado pela maior oferta interna
existente nesses mercados.
3.1.2. ALIMENTOS PROCESSADOS
Englobam-se nessa análise três CNAE´s distintas que, setor Segundo a Classificação
Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), possuem a seguinte composição:
Alimentos Processados (Cnae - 152, 157 e 158): compreende a produção de conservas de frutas (frutas em caldas, compotas, frutas conservadas em álcool, secas, desidratadas, polpas conservadas, purês e semelhantes); a fabricação de doces em massa ou pasta e geléias; a produção de concentrados de tomate (extratos, purês, polpas); a produção de conservas de legumes e outros vegetais mediante congelamento, cozimento, imersão em azeite ou vinagre; a produção de vegetais desidratados e liofilizados; a elaboração de farinha e sêmola de batata, batata frita e aperitivos à base de batata; a produção de concentrados e de sucos
94
puros de frutas, legumes e outros vegetais; a produção de mosto de uva não fermentado; a produção de polpas de frutas para sucos; a produção de leite de coco; a produção de café torrado em grãos; a produção de café torrado e moído; a produção de café descafeinado; a produção de café solúvel, extratos e concentrados de café; a fabricação de produtos de panificação industrial ou panificação tradicional (padaria) e confeitaria (pães e roscas, bolos, tortas e doces, etc.); a produção de artigos de pastelaria (pastéis, empadas, pizzas e outros salgados); a produção de farinha de rosca; a fabricação de biscoitos e bolachas; a fabricação de casquinhas para sorvetes e formas para recheios de doces e semelhantes; a fabricação de cacau torrado (amêndoas); a fabricação de pasta de cacau (massa) e de outros derivados do beneficiamento do cacau (cacau em pó, manteiga de cacau, chocolate amargo para uso industrial, torta de cacau, etc.); a fabricação de bombons, chocolates e farinhas à base de chocolate; a fabricação de balas, confeitos e semelhantes; a fabricação de gomas de mascar; a fabricação de frutas cristalizadas; gomas de mascar; a fabricação de massas alimentícias (talharim, espaguete, ravióli, etc.); a fabricação de massas preparadas (frescas, congeladas ou resfriadas) para lasanha, canelone, etc., com ou sem recheio; a preparação de especiarias e condimentos (canela, baunilha, colorau, mostarda, sal preparado com alho, etc.); a preparação de molhos de tomate, molhos em conserva, maionese, etc.; a preparação de bases para molhos; a preparação de temperos diversos desidratados, congelados, liofilizados, em conserva, etc.; a preparação de alimentos conservados (feijoadas, enlatados, etc.); a preparação de alimentos dietéticos e para crianças; a preparação de alimentos para fins nutricionais; a produção de preparações salgadas para aperitivos; a fabricação de pós para pudins, gelatinas, etc.; a fabricação de vinagres; a fabricação de fermentos e leveduras; a fabricação de produtos à base de soja; a fabricação de sopas em estado líquido ou em pó, sopas congeladas e em tabletes; o beneficiamento de chá, mate e outras ervas para infusão; a fabricação de gelo comum; a fabricação de doces - exceto de frutas; a fabricação de produtos enriquecidos com vitaminas e proteínas; a fabricação de produtos alimentícios não especificados em outras classes.
O setor de Alimentos Processados tem como uma de suas principais características a
importância dos consumidores na oferta de produtos. Wedwkin e Neves (1995) chamam
atenção para o forte impacto dos hábitos, gostos e preferências dos consumidores no
setor agroindustrial de alimentos. Sendo assim, a diferenciação de produto torna-se
necessária, com vistas a uma intensa competição por market share e baixo ciclo de vida
dos produtos (Conceição, 2007). Além disso, o setor é marcado desde o final da década
passada por um forte processo de fusões e aquisições (F&A) no mercado brasileiro,
segundo dados de Viegas (2006), que reproduz o comportamento das firmas no mercado
mundial. Somente nos anos de 2002, 2003 e 2004 o setor presenciou 51 processos de
F&A.
95
As F&A se explicam pela busca de economias de escala e escopo e pela conjugação de
aprendizado de novos processos produtivos, além de redefinição de rotinas
organizacionais.
Os resultados da análise de valor bruto da produção (VBP) e receita líquida, ambos
deflacionados pelo índice de preços IPA-OG Produtos Alimentares – não apontam
melhoria significativa para as firmas do setor. Os resultados para VBP apontam aumento
de apenas 9,76% nos 10 anos de análise. Estes números evidenciam que as firmas estão
submetidas a fortes pressões competitivas dentro do setor, de tal forma que as F&A é um
instrumento característico das firmas do setor para a defesa de suas participações de
mercado.
Porém, o processo de queda não é constante, e pela análise da tabela apresenta
impactos diretos da crise macroeconômica de 1999 e 2000. Há acréscimo de VBP até
1999, de 10%, mas uma queda brusca para o ano seguinte. A recuperação do setor só vai
acontecer em 2005, quando o VBP real consegue traspassar os valores de 1996. Para a
relação de agregação de valor (VTI/VBP) o processo não teve a mesma dinâmica, pois se
pode verificar queda constante do mesmo, fechando 2006 com 87% do valor agregado
em 1996, evidenciando que o processo de competição é fortemente baseado em preços,
que é mais relevante do que o esforço de diferenciação de produtos, essencialmente de
natureza horizontal, associada mais a esforço de marketing do que de diferenciação
tecnológica.
Tabela 3.6
Valor Bruto da Produção e da Transformação Industrial, em bilhões de Reais Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 37,9 17,9 0,47 3,66
1997 42,4 20,5 0,48 4,01
1998 40,7 18,2 0,45 3,94
1999 41,7 19,4 0,46 3,93
2000 34,6 14,5 0,42 3,12
2001 37,6 15,6 0,41 3,28
2002 37,4 14,6 0,39 3,30
2003 33,9 13,8 0,41 3,07
2004 35,6 14,4 0,40 2,96
2005 38,1 15,5 0,41 3,18
2006 41,6 17,1 0,41 3,28 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – produtos alimentares.
96
A evolução temporal da receita líquida de vendas apresenta dinâmica parecida à do VBP,
qual seja: interrupção do crescimento em 2000 e 2003, com posterior retomada para
fechar 2006 com um crescimento total no período de 7,93%.
Tabela 3.7
Receita Líquida de Vendas na Indústria de Alimentos Processados
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 35,3 -
1997 38,7 9,5
1998 37,7 -2,5
1999 38,8 2,9
2000 32,0 -17,5
2001 38,8 21,1
2002 33,4 -13,9
2003 31,9 -4,4
2004 35,0 9,6
2005 35,2 0,6
2006 38,1 8,2
1996-2006 - 0,7
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – produtos alimentares.
97
Gráfico 3.4 Receita Líquida com Vendas na Indústria de Alimentos Processados, em Reais,
deflacionado pelo IPA-OG – produtos alimentares, para 2006
10
20
30
40
50
60
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – produtos alimentares.
Aparentemente, os efeitos sobre a queda do VBP e da receita nos anos analisados têm
uma influência muito maior da demanda interna do que da queda das exportações.
Durante todo o período o setor é superavitário na balança comercial, e as exportações
não sofrem queda nos mesmos anos da receita líquida e do VBP. Além disso, os valores
exportados pelo setor são muito inferiores ao consumo interno, como visto na análise da
cadeia produtiva geral.
Ademais, o processo de crescimento das exportações pós 2003 segue a mesma dinâmica
do aumento do VBP e RLV, indicando que a retomada do crescimento pode ter influência
da demanda internacional. Com a demanda interna por produtos importados continuando
praticamente fixa, o saldo comercial brasileiro cresceu consideravelmente, atingindo
aproximadamente US$ 4 bilhões em 2008.
No entanto, a natureza de commoditie dos dois principais produtos do setor, café e seus
derivados e suco concentrado, parece ser o fator determinante desta aparente
estagnação do valor da produção, das vendas internas setoriais e exportações, uma vez
98
que possuem formações de preços dadas pelo mercado internacional. Dois fatores
atuaram simultaneamente: queda das cotações internacionais destes dois produtos na
primeira metade dos anos 2000; apreciação do real a partir de 2004. Ainda que as
exportações respondam por apenas 11% da demanda total os preços internos seguem os
preços internacionais. Neste sentido, os preços destes produtos em reais foram cadentes,
afetando o conjunto das cadeias de café e suco concentrado no mercado doméstico,
mesmo que este tenha aumentado substantivamente o quantum consumido.
Gráfico 3.5
Valor das Exportações e Importações da Indústria de Alimentos Processados, (US$ bilhões)
0
1
2
3
4
5
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Bil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC. Quanto à destinação desse aumento exportador, o gráfico abaixo remete para uma
grande importância da demanda européia e, em menor escala, dos EUA. Os demais
blocos econômicos e países têm participação unitária modesta, menores que os do
Mercosul, e por isso não foram apresentados no gráfico. Vale lembrar que dentre os
produtos da pauta de exportação, os mais influentes são commodities agrícolas da cadeia
e não alimentos processados, notadamente suco de laranja concentrado, principalmente
para os EUA, e café torrado em grãos, para a UE e EUA.
99
Gráfico 3.6 Valor das Exportações da Indústria de Alimentos Processados, por local de destino
(US$ bilhões)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Bil
hõ
es
(US
$)
EUA Mercosul União Européia
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
3.1.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o setor de Óleos
possui a seguinte composição:
Óleos e Rações (Cnae – 153 e 155): compreende a elaboração de óleos vegetais em bruto, comestíveis ou não (óleo de soja, caroço de algodão, oliva, girassol, etc.); a produção de tortas, farinhas e farelos de sementes oleaginosas e de subprodutos residuais da produção de óleos (p. ex.: linter de algodão); o refino de óleos vegetais, comestíveis ou não; a produção de ceras de origem vegetal; outros beneficiamentos processados em óleos vegetais (sopragem, hidrogenação, etc.); a produção de margarina e de outras gorduras vegetais, comestíveis ou não; a produção de preparações à base de creme vegetal; a produção de óleos não-comestíveis de origem animal; a extração de óleos de peixe e de mamíferos marinhos; o beneficiamento do arroz (arroz descascado, moído, branqueado, polido, parbolizado, ou convertido); a produção de farinha de arroz; a produção de flocos e outros produtos de arroz; o beneficiamento do trigo (moagem, produção de farinha de trigo - mesmo integral, sêmola, farelo de trigo, etc.); a produção de farinhas e massas mescladas e preparadas para a fabricação de pães, bolos, biscoitos, etc.; a produção de farinha de mandioca; a fabricação de raspa e farinha
100
de raspa de mandioca e de outros derivados; a fabricação de farinhas cruas de milho (creme de milho, gritz de milho, etc.), canjica, farelo de milho, etc.; a fabricação de fubá de milho; a fabricação de farinhas de milho termicamente tratadas ou alimentos à base de milho (pós, flocos como produtos pré-cozidos, etc.); a preparação de milho para pipoca; a fabricação de amidos e féculas de arroz, trigo, mandioca, batata, etc.; a fabricação de amidos e féculas de milho; a fabricação de óleo de milho em bruto; a fabricação de óleo de milho refinado; a fabricação de amidos e a elaboração de dextrose; a fabricação de produtos elaborados a partir do amido, como açúcares (glicose, maltose e inulina), glúten, tapioca, etc.; a fabricação de produtos à base de mel, mesmo o mel artificial; fabricação de rações e forragens balanceadas e de alimentos preparados para animais (bovinos, suínos, aves, coelhos, etc.); a fabricação de alimentos preparados para gatos, cachorros e outros animais; a obtenção de sal mineralizado; a fabricação de farinhas de araruta, centeio, cevada, coco, aveia, legumes secos, etc.; a fabricação de farinhas compostas, germens de cereais, etc.; a fabricação de aperitivos e alimentos para o café da manha à base destes produtos.
O setor de Óleos e Rações tem uma participação significativa no chamado “agronegócio”
brasileiro. Se tomarmos o agregado de todos os setores agro-industriais, o sub-setor de
Óleos e Rações representou 28% do Valor Bruto da Produção (VBP) e 23% do Valor da
transformação Industrial (VTI) em 2005. A Tabela 3.7 mostra os dados de produção e
transformação industrial do setor entre 1996 e 2006. A escala de produção do setor
esteve na média em 56 bilhões de reais, e mostrou um crescimento acumulado de 9%
entre 1996 e 2006. Interessante notar que no mesmo período o VTI caiu cerca de 9% em
termos reais, o que resulta numa taxa de transformação (VTI/VBP) 14% inferior em 2006,
relativamente ao observado em 1996.
Tabela 3.7
Valor Bruto da Produção e da Transformação Industrial, em bilhões de Reais Ano VBP VTI VTI/VBP
1996 51,7 18,3 0,35
1997 51,6 18,8 0,36
1998 51,6 16,0 0,31
1999 51,3 14,8 0,29
2000 46,1 11,7 0,25
2001 50,2 16,1 0,32
2002 65,5 19,0 0,29
2003 62,7 20,1 0,32
2004 70,3 19,5 0,28
2005 60,4 18,6 0,31
2006 56,6 16,7 0,30 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG. Ano-base: 2006.
101
A Tabela 3.8 apresenta indicadores da participação do setor de Óleos e Rações na
economia nacional entre 1996 e 2006. O setor representou, em média, 5% do VBP
nacional, empregou cerca de 2% do pessoal ocupado de todo o setor industrial brasileiro
e participou, em média, com 3,4% de toda a transformação industrial.
Tabela 3.8
Participação do setor de Óleos e Rações no total nacional, por variável Ano
Pessoal ocupado
(% da Indústria)
Valor bruto da produção
industrial (% da Indústria)
Valor da transformação industrial (% da
Indústria)
1996 2,0 5,0 3,8
1997 1,9 4,9 3,9
1998 2,0 5,0 3,4
1999 2,0 4,8 3,0
2000 1,8 4,2 2,3
2001 1,8 4,4 3,2
2002 2,1 5,8 3,8
2003 2,0 5,7 4,2
2004 2,0 5,8 3,8
2005 2,0 5,1 3,6
2006 1,9 4,5 3,0
2007 2,0 4,9 3,1
Fonte: SIDRA/IBGE
A Tabela 3.9 e o Gráfico 3.7 ilustram o comportamento da receita líquida de vendas do
setor de 1996 a 2006. Apesar das oscilações verificadas no período, a receita real de
vendas em 2006 está muito próxima da observada em 1996, em cerca de 50 bilhões de
dólares. Entre 2002 e 2004 observa-se uma considerável elevação da receita, para cerca
de 64 bilhões de reais ao ano. Esta elevação está associada ao crescimento das
exportações, como será visto adiante.
102
Tabela 3.9 Receita Líquida de Vendas na Indústria de Óleos e Rações
Ano R$ bilhões de 2006
Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 50,2 -
1997 49,7 -0,9
1998 50,3 1,1
1999 50,0 -0,5
2000 45,2 -9,6
2001 48,0 6,1
2002 63,2 31,7
2003 60,4 -4,5
2004 68,3 13,1
2005 57,8 -15,4
2006 52,3 -9,5
1996-2006 - 0,4
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Gráfico 3.7 Receita Líquida com Vendas Industriais, em Reais, deflacionado pelo IPA-OG para
2006
0
20
40
60
80
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
103
O Gráfico 3.8 apresenta o comportamento dos preços no atacado de Óleos vegetais vis-a-
vis o IGP-DI em cada ano. Em geral, os preços médios do setor tem evoluído abaixo do
IGP, com exceção de um período entre 2002 e 2004. Este comportamento logicamente
associa-se ao da receita líquida apresentado no gráfico anterior.
Gráfico 3.8
IPA do setor de Óleos e Gorduras em relação ao IGP-DI (normalizado para 100)
0
20
40
60
80
100
120
ago
/94
fev/
95
ago
/95
fev/
96
ago
/96
fev/
97
ago
/97
fev/
98
ago
/98
fev/
99
ago
/99
fev/
00
ago
/00
fev/
01
ago
/01
fev/
02
ago
/02
fev/
03
ago
/03
fev/
04
ago
/04
fev/
05
ago
/05
fev/
06
ago
/06
fev/
07
ago
/07
fev/
08
ago
/08
IPA-OG - óleos e gorduras / IGP-DI IGP-DI / IGP-DI
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IpeaData. O Gráfico 3.9 e a Tabela 3.10 apresentam os dados do comércio internacional de Óleos e
Rações. As importações desse produto são pouco significativas representando menos de
2 bilhões de dólares ao ano. O setor apresenta um saldo comercial significativo,
especialmente a partir de 2004. Em 2008, o saldo comercial foi positivo em 6,5 bilhões de
dólares. Essa dinâmica de crescimento das exportações do setor, associadas ao
crescimento do mercado internacional e ao comportamento dos preços do produto.
O Gráfico mostra o comportamento do índice de preços e quantum das exportações de
Óleos Vegetais de 1996 a 2007. Os preços, que haviam caído -36% entre 1996 e 1999,
passam a crescer de forma contínua a partir de 2000 até 2004, com queda brusca em
2005 e retomada em 2006, valorizando-se em dólares cerca de 70% entre 1999 e 2007.
104
A variação positiva de preços em dólares a partir de 2000 é acompanhada por uma
elevação expressiva da quantidade exportada até 2005 (73%), verificando-se uma
desaceleração em 2006 e 2007 (queda de -14% na quantidade exportada entre 2005 e
2007), período em que houve carestia de soja no mercado internacional e seca nas áreas
produtoras do estado do Rio Grande do Sul.
É importante observar que a retomada da trajetória ascendente dos preços em dólares do
setor a partir de 1999, especialmente da soja, só foi acompanhada pelos preços em reais
até 2003, beneficiados pela maxidesvalorização de 1999 e choque cambial da eleição de
Lula em 2002. No entanto, o efeito da apreciação do real a partir de 2004 supera a alta do
dólar das cotações internacionais, o que resulta em queda dos preços domésticos em
reais das commodities do setor, somente revertida com a carestia internacional de
alimentos no período 2007-2008.
Tabela 3.10
Exportações, Importações e Saldo Comercial – US$ bilhões (1996-2008)
Exportação Importação Saldo Comercial
1996 3,7 0,7 3,0
1997 3,4 0,8 2,7
1998 2,7 0,9 1,8
1999 2,3 0,5 1,9
2000 2,2 0,4 1,8
2001 2,7 0,4 2,4
2002 3,1 0,4 2,7
2003 4,0 0,5 3,5
2004 4,9 0,5 4,4
2005 4,5 0,5 4,0
2006 4,0 0,6 3,4
2007 5,1 0,9 4,1
2008 7,9 1,4 6,5
Fonte: Secex/MDIC.
105
Gráfico 3.9 Valor das Exportações e Importações da Indústria de Óleos e Rações, (US$ bilhões)
0
2
4
6
8
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Bil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Gráfico 3.10 Exportações de Óleos Vegetais: índice de preços em – US$ bilhões
(média 2006 = 100) e de quantum (média 2006 =100)
60
80
100
120
140
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Preço Quantidade Fonte: Funcex.
106
3.1.4. LATICÍNIOS
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o setor de Laticínios possui a seguinte composição:
Laticínios (CNAE-154): compreende as atividades de filtração, esterilização, pasteurização, homogeneização e resfriamento de leite; o envasamento de leite, associado ao beneficiamento; a produção de creme de leite, manteiga, coalhada, iogurtes, etc.; a produção de bebidas achocolatadas; a produção de leite em pó, dietético, concentrado, maltado, aromatizado, gelificado, etc.; a produção de queijos, inclusive inacabados; a produção de farinhas e sobremesas lácteas; a produção de doce de leite; a obtenção de subprodutos do leite, como caseína, lactose, soro e outros; a produção de sorvetes, bolos e tortas gelados, coberturas, etc..
A estrutura tecnológica do setor de laticínios é estabelecida e difundida. A grande
diferenciação de produto não se traduz em poder de monopólio em processos produtivos,
visto a existência dessa difusão. A comercialização e produção, portanto, obedece muitas
vezes a especificidades regionais, com pequenas indústrias trabalhando em mercados
específicos. Isso não significa a inexistência de grandes players nacionais, como
podemos ver na tabela abaixo, onde apresentamos as maiores empresas em recepção de
leite no ano de 2007.
Como se pode destacar, há hegemonia da Nestlé, com 21% de recepção entre as 16
maiores do setor. A Parmalat, empresa que se estabeleceu em território nacional no início
dos anos 90 e foi líder de mercado por praticamente todo o período dessa década sofreu
com insolvência e crises de abastecimento durante a década atual – processos estes que
serão destacados no decorrer do texto – e em 2007 figurava apenas como a quarta maior
empresa nacional. Uma característica do setor é a forte presença das Cooperativas
Centrais entre as líderes, ainda que decrescente nas duas últimas décadas, como Itambé,
Laticínios Morrinhos, Confepar, Centroleite e CCL.
107
Tabela 3.11 Maiores firmas receptoras de leite - 2007
Recepção (mil litros)
Produtores Produtores Terceiros Total Número de Produtores
DPA Nestlé 1.200.000 600.000 1.800.000 5.800
Elegê 894.369 429.638 1.324.007 18.801
Itambé 940.000 150.000 1.090.000 9.067
Parmalat 464.824 260.197 725.021 4.457
Bom Gosto 486.588 146.147 632.735 9.690
Laticínios Morrinhos 369.685 17.455 387.140 4.500
Embaré 317.961 18.612 336.573 2.208
Confepar 243.031 90.459 333.490 7.393
Centroleite 300.095 - 300.095 5.265
Líder Alimentos 223.560 25.165 248.725 5.390
CCL 119.077 128.873 247.950 2.439
Batávia 246.459 - 246.459 4.215
Frimesa 217.531 8.273 225.804 4.847
Danone 132.011 90.080 222.091 418
Nilza Alimentos 41.835 177.614 219.449 872
Grupo Vigor 138.504 62.796 201.300 1.213
Total do ranking 6.335.530 2.205.309 8.540.839 86.575
Fonte: LEITE BRASIL, CNA/Decon, OCB/CBCL e EMBRAPA/Gado de Leite.
Essas empresas são competitivas principalmente pela economia de escala e conseguem
estabelecer certo domínio de mercado devido a essas reduções de custos. Porém, as
especificidades regionais ditas acima fazem com que essas empresas atuem a nível
multi-plantas, onde cada uma dessas unidades produtivas está localizada de modo a
atender determinados mercados regionais e próximas às bacias leiteiras, fontes de
captação de leite.
No contexto de produção e agregação de valor, vê-se que na evolução não houve muitas
modificações. Os valores são reais – deflacionados pelo IPA-OG Leites e Derivados – e
demonstram estabilidade no VBP e VTI. Na porcentagem de agregação de valor
(VTI/VBP), o valor de proporção passa de 0,37 para 0,34, o que corrobora o argumento
108
de tecnologia difundida. Já na participação do VBP nacional a participação do leite sofreu
uma ligeira queda, passando de 1,86% para 1,58%.
Tabela 3.12 Valor Bruto da Produção e da Transformação Industrial, em bilhões de Reais
Ano VBP VTI VTI/VBP % VBP nacional
1996 19,2 7,2 0,37 1,86
1997 18,8 7,1 0,38 1,78
1998 19,0 7,5 0,40 1,84
1999 18,4 7,1 0,39 1,73
2000 18,5 6,8 0,37 1,67
2001 17,6 6,0 0,34 1,54
2002 17,6 6,0 0,34 1,56
2003 17,6 6,0 0,34 1,59
2004 17,4 5,3 0,31 1,45
2005 18,9 5,8 0,31 1,58
2006 20,1 6,8 0,34 1,58
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – leite e derivados.
Com relação à receita do setor, há de se destacar a pequena queda no valor,
deflacionado pelo IPA-OG Leite e derivados, índice específico do setor. Essa queda foi da
ordem de 1,7% no período 1996-2006, mas mostrou-se de maior significância nos anos
de 2001 e 2005. Essa queda de receita coincide com o processo de queda de liderança
da Parmalat, que durante praticamente toda a década de 90 figurou como a principal
empresa do setor, mas que passou por dificuldades no início da presente década, afetada
pela quebra da empresa matriz na Itália. Em que pese este contexto empresarial interno
do grupo, a crise da Parmalat também reflete uma crise de descapitalização do setor,
especialmente do setor cooperativo leiteiro.
No caso específico da Parmalat Brasil, assim como a Parmalat no mundo, entrou em
colapso e já no começo da década mostrava a perda de dinamismo. Com a aprovação da
nova lei de falências (Lei nº 11.101/2005), a Parmalat Brasil entrou em recuperação
judicial.
109
Os vales do gráfico apresentam possivelmente essa dinâmica de crise no setor, mas
apontam para uma retomada do crescimento em 2006. É bem provável que para 2007
haja ainda um processo de queda nos valores da receita, pela crise de abastecimento
causada pela apreensão de dois lotes da Parmalat pela ANVISA que estavam suspeitos
de adulteração.
Tabela 3.13
Receita Líquida de Vendas na Indústria de Laticínios
Ano R$ bilhões de 2006 Taxa de crescimento a.a. (%)
1996 20,77 - 1997 20,50 -1,3 1998 21,05 2,7 1999 21,62 2,7 2000 20,75 -4,0 2001 16,80 -19,0 2002 20,67 23,0 2003 19,61 -5,1 2004 18,89 -3,7 2005 15,74 -16,7 2006 17,51 11,3
1996-2006 - -1,7 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – leite e derivados.
Gráfico 3.11
Receita Líquida com Vendas Industriais, em Reais, deflacionado pelo IPA-OG – leite e derivados para 2006
0
5
10
15
20
25
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bil
hõ
es
(R$
)
Receita líquida de vendas Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG – leite e derivados.
110
Já numa análise de balança comercial as grandes oscilações mostram o aumento de
competitividade externa do setor. Até 2003 a balança comercial apresenta déficits, muito
disso foi devido à baixa produtividade nacional. O crescimento dessa produtividade com
demanda constante provocou a possibilidade de aumento de exportações (Ponchio,
Gomes e Da Paz, 2005). Ainda, como destacam Silva, Silva e Ghobril (2007), esse
aumento exportador deu-se mediante a abertura para mercados consumidores menos
exigentes, onde houve aumento de interação comercial provocada pelo governo Lula,
como o Mercosul e o mercado Africano. No entanto, deve ser salientado que as
exportações são pouco significativas, já que este é o setor mais “fechado” do
agronegócio, com o comércio internacional representando pouco mais de 1% do valor da
produção.
Gráfico 3.12 Valor das Exportações e Importações da Indústria de Laticínios, (US$ milhões)
0
100
200
300
400
500
600
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
Exportação Importação
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Essas afirmações são validadas pelo gráfico por destino, onde se vê a partir de 2002 uma
maior interação e maior número de exportações para o Mercosul e África. Porém, além
disso, os valores exportados para EUA da América e União Européia também cresceram,
validando o aumento de quantum por aumento de produtividade.
111
Gráfico 3.13 Valor das Exportações da Indústria de Laticínios, por local de destino (US$ bilhões)
0
50
100
150
200
250
300
350
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hõ
es
(US
$)
EUA Mercosul União Européia África
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Porém, vale destacar ainda que a despeito desse crescimento produtivo, o Brasil
encontra-se muito aquém da média e pico de produtividade mundial no ordenhamento
animal, conforme pode ser visto na tabela abaixo. Os valores são para 2004.
112
Tabela 3.14 Produção de Leite e Produtividade Animal nos Principais Países de cada
Continente/bloco, 2004
Países Produção de leite (mil t)
Vacas ordenhadas
(mil cabeças)
Produtividade animal
(litros/vaca/ano)
AMÉRICA DO NORTE 85,566 10,05 8,514
Estados Unidos 77,565 8,970 8,647
Canadá 8,000 1,080 7,407
EUROPA 209,518 46,391 4,516
Reino Unido 14,600 2,200 6,636
Alemanha 28,000 4,356 6,428
França 24,200 4,014 6,029
Rússia 30,850 10,19 3,027
OCEANIA 25,226 6,115 4,125
Austrália 10,377 2,030 5,112
Nova Zelândia 14,780 4,030 3,667
AMÉRICA DO SUL 46,356 34,009 1,363
Argentina 8,100 2,000 4,050
Uruguai 1,495 879 1,700
Brasil 23,320 20,500 1,138
Colômbia 6,090 5,820 1,046
ÁSIA 113,077 83,954 1,347
Japão 8,350 1,210 6,900
China 18,850 7,034 2,680
Turquia 9,400 5,500 1,709
Índia 37,800 39,000 969 AMÉRICA CENTRAL E CARIBE 14,354 19,970 719
México 9,950 6,850 1,452
Cuba 610 525 1,161
T O T A L 515,837 235,751 2,188 Fonte: FAO.
O país ocupa uma das últimas posições na produtividade mundial. Mesmo assim, possuía
a sexta colocação em produção de leite em 2004 (Zoccal e Gomes, 2005), o que aponta a
importância da escala na competitividade. Portanto, mesmo que a produtividade tenha
aumentado – passando de 760 litros/vaca/ano em 1990 para 1138 litros/vaca/ano em
113
2004 – há um espaço de crescimento elevado ainda via maior aumento de produtividade
à montante do setor agroindustrial.
3.2. ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA
3.2.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO
A análise dos dados da PIA-PINTEC para o setor via estrutura industrial, com base na
classificação Líderes-Seguidoras-Frágeis-Emergentes mostrou um grupo pequeno de
empresas líderes (17), seguido de um número expressivo de firmas seguidoras (179) e
um número ainda maior de firmas frágeis (411). Ademais, o setor possui 17 empresas que
podem ser consideradas emergentes.
Gráfico 3.14
Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Nota: 17 Firmas Líderes, 179 Seguidoras, 411 Frágeis e 17 Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
O Gráfico 3.14 ainda mostra que todas as 17 líderes do setor são inovadoras de processo
(100%) e cerca de 90% são inovadoras de produto. Dentre as empresas seguidoras,
somente um pouco mais de 20% são inovadoras de produto e um pouco mais de 40% são
inovadoras de processo. As empresas frágeis têm níveis muito baixos de inovação, tanto
114
de produto (pouco mais de 15%) como de processo (pouco mais de 30%). Já para as
empresas emergentes, a análise mostra que os padrões inovativos apresentam-se muito
mais próximos das empresas líderes, denotando que os investimentos dessas empresas
são acima da média do setor. Ainda, a análise das empresas que investem em P&D
mostra que os investimentos dessas empresas emergentes são relativamente maiores até
que os das próprias líderes.
Tabela 3.15
Porte das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e Pescado, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 118845 151946 46027 2594
Salários Totais (R$ milhões) 1580,3 1604,8 286,8 22,9
Faturamento (R$ milhões) 20975,2 33005,1 4182,2 226,8
Lucros Totais (R$ milhões) 1381,9 1182,5 115,1 -
Investimento Total (R$ milhões) 1001,7 1014,9 46,5 19,2
Exportação Total (R$ milhões) 4138,4 3993,9 - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Pode-se ainda constatar que, na comparação entre empresas líderes e seguidoras, o
montante absoluto é praticamente igual em todas as variáveis agregadas de análise.
Como o número de empresas líderes é aproximadamente igual a 10% do número de
seguidoras, pode-se concluir que a escala, rentabilidade e inserção internacional média
das empresas líderes são quase 10 vezes maiores que os valores das seguidoras.
Quanto à análise das empresas emergentes, os resultados de escala e rentabilidade
parecem indicar que tais empresas têm pequena participação de mercado, visto aos
baixos níveis de escala, de faturamento e de pessoal ocupado.
Na Tabela 3.16 as diferenças de rentabilidade mais uma vez são apresentadas. O
faturamento médio das empresas líderes e a taxa de lucro (Lucro/Custo) das mesmas são
bastante superiores aos resultados das empresas seguidoras, e os resultados destas
também bastante superiores aos resultados das frágeis. A discrepância nos resultados de
rentabilidade tem alta correlação com a intensidade de agregação de valor das firmas,
115
presente na variável VTI/Faturamento, onde também há predominância clara de maior
agregação de valor das líderes.
Tabela 3.16
Indicadores da Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e Pescado para Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Salário médio (R$) 1108 880 519 735
Salário médio no pessoal industrial (R$) 812 672 593 536
Pessoal Ocupado médio 6991 849 112 153
Faturamento médio (R$ milhões) 1204,1 184,3 10,2 13,5
Lucro/Custo (%) 7,15 3,72 2,73 *
VTI/Faturamento (%) 45,3 23,8 15,1 14,8
Exportações/Faturamento (%) 19,7 12,1 - -
Importações/Custos (%) 2,5 1,4 0,2 0,0
Investimento/Faturamento (%) 4,8 3,1 1,1 8,5
Gasto P&D/Faturamento (%) 0,1 0,02 - 0,6
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
O diferencial entre líderes e as demais é também ressaltado pela qualificação da mão de
obra empregada, evidenciada pelos níveis médios de salário. O salário pago pelas líderes
é 1,25 vezes maior que o pago pelas seguidoras. Em relação às frágeis, o diferencial é
bem maior: as líderes remuneram seus funcionários com um salário em média 2,1 vezes
maior que as frágeis. Ainda cabe destacar a baixa participação das importações nos
custos de todas as empresas, um resultado condizente com a estrutura de custos setorial.
Além disso, o nível de investimentos sobre faturamento e P&D sobre o faturamento
relativamente alta das empresas emergentes, o que aparentemente não se traduz nos
resultados de desempenho da empresa.
Como resultados principais da análise da estrutura industrial via padrões inovativos,
podemos destacar (i) predomínio de resultados em receita, escala e lucratividade para as
empresas líderes; (ii) altos investimentos das emergentes em P&D que porém ainda não
se traduziram nos resultados de desempenho dessas empresas.
116
Se considerarmos a evolução do setor exclusivamente pelo tamanho das empresas,
encontramos predominância de pequenas unidades produtivas durante toda a análise.
Porém, na observância da Tabela 3.17 pode-se destacar:
(a) Crescimento no número de empresas total, sendo que no ano de 2005 o setor
possuía 150% do número de empresas de 1996;
(b) 83% desse crescimento foi de empresas pequenas, com menos de 49
empregados;
(c) Crescimento de grandes empresas – empresas com 500 a 999 empregados e
empresas com mais de 1000 empregados –, que tiveram aumentos consideráveis
entre 1996 e 2005, com destaque para as empresas com mais de 1000
empregados, com crescimento de 231% no período.
Tabela 3.17
Número de Empresas na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e Pescado em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%)
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 1796 2233 2790 24,33 24,94 55,35
DE 50 A 99 144 154 226 6,94 46,75 56,94
DE 100 A 249 209 175 202 -16,27 15,43 -3,35
DE 250 A 499 88 102 113 15,91 10,78 28,41
DE 500 A 999 37 63 89 70,27 41,27 140,54
1000 OU MAIS 22 26 73 18,18 180,77 231,82
Total 2296 2753 3493 19,90 26,88 52,13
Fonte: RAIS/MTE.
A evolução anual do número de empresas apresentada no Gráfico 3.15 demonstra a
expansão do setor no período 1996 a 2008. O crescimento é constante e, ademais,
pujante. A comparação da tabela 3.17 com o gráfico 3.15 demonstra que no período entre
2005 e 2008 não houve queda do ritmo de crescimento – algo em torno de 7% a.a..
Possivelmente há uma correlação entre o aumento de empresas de pequeno porte e a
diminuição da clandestinidade no mercado informal, principalmente pelo aumento de
fiscalização.
117
Gráfico 3.15 Número de Empresas da Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e
Pescado, de 1996 a 2006
2296
4233
0
1000
2000
3000
4000
5000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE.
A participação de mercado das maiores empresas é apresentada no Gráfico 3.16.
Durante o período 1996-2001 o CR4 manteve-se na casa dos 30%, e o CR8 por volta de
40%. No período pós 2003 há um leve aumento de concentração do mercado, alcançando
o auge em 2005 e terminando o período com um leve aumento de valores para CR4 e
CR8 respectivamente de 32% e 45%. Esse processo provavelmente capta o aumento de
participação no mercado do frigorífico JBS Friboi que, com uma política agressiva de
aquisições aumentou sua capacidade de abate de 2002 para 2008 da ordem de
aproximadamente 1000% (5.800 para 65.700 cabeça/dia), consolidando-se como a maior
empresa mundial do setor.
118
Gráfico 3.16 Participação de Mercado das Maiores Empresas (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8 Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 3.17 Primazia da Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e Pescado
(1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8 Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
119
Na análise da primazia nota-se que os resultados para 2004 não correspondem à
concentração vista nos índices CrK. Não há modificação entre o começo e o final do
período – sendo que o Primazia 4 fica em torno de 40% e o Primazia 8 de 30% –, mas há
um salto da líder em vendas do setor em 1999.
Gráfico 3.18 Mark-up das Firmas na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e
Pescado (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O gráfico de Mark-up revela uma dinâmica oscilatória principalmente para as maiores
empresas. O agregado do setor varia entre 1996 e 2006 20% contra variação de
aproximadamente 40% das quatro maiores empresas. Ainda, o nível do Mark-up das
maiores empresas foi maior do que a média do mercado para todo o período, o que
aponta para maior possibilidade de auferir lucros acima dos normais das empresas
maiores. A análise da taxa de lucro operacional e da taxa da margem de lucro corrobora
essa afirmação.
120
Gráfico 3.19 Taxa de Lucro Operacional (1996-2006)
0%
5%
10%
15%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
TLO total TLO 4 maiores TLO 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 3.20
Taxa da Margem de lucro (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MLC total MLC 4 maiores MLC 8 maiores Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
121
É verdade que o lucro das maiores empresas é maior que a média do mercado durante
todo o período, sendo que os gráficos ainda obedecem basicamente ao mesmo padrão de
oscilação do Mark-up das empresas. Podemos dizer que essa oscilação na taxa de lucro
das empresas é provocada pelas oscilações do Mark-up, sendo que os mesmos ainda
guardam uma relação direta com a dinâmica macroeconômica do período.
Os vales da dinâmica do lucro e Mark-up das empresas aparecem nos anos de 1998,
2000 e 2002, sendo que os dois primeiros foram marcados por crises mundiais iniciadas
nos mercados asiático e russo, respectivamente, e o segundo representa uma crise
nacional, provavelmente intensificada pelo chamado “efeito Lula”.
Ainda, essa dinâmica oscilatória dos indicadores de lucro e Mark-up refletem alguns
aspectos exógenos de influência no mercado que aparecem diretamente no índice de
preço. O aumento de incidência de febre aftosa em 2000, que resultou no fechamento das
fronteiras para cerca de 1/4 da carne bovina mundial e aproximadamente 40% das
exportações de carne suína, explicam em parte a queda do Mark-up e indicadores de
lucro para aquele ano. Já os valores para 2002 são resultado do aumento de oferta
mundial e conseqüente queda de preços pela extinção da crise da vaca louca em 2001.
3.2.2. ALIMENTOS PROCESSADOS
O setor de Alimentos Processados possui um grande número de empresas analisadas
pela PIA-PINTEC, mas mantém certa proximidade com os outros setores analisados
nesse relatório no que tange à porcentagem de empresas segundo a classificação
inovativa. Apenas 2,4% são líderes, 23% seguidoras e 1,5% emergentes, sendo ainda a
maioria de 73% de firmas frágeis, com pouco conteúdo e investimento tecnológico.
122
Gráfico 3.22 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 37 Firmas Líderes, 345 Seguidoras, 1108 Frágeis e 24 Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
100% das firmas líderes declararam ser inovadoras, número igual ao das emergentes. O
percentual de firmas seguidoras declarantes inovadoras é muito menor, em torno de 60%,
e menos de 40% para as frágeis. As porcentagens caem nas análises de inovadoras em
produto e processo, e mais ainda quando o quesito é investimento em P&D. Nesse caso,
pouco mais de 60% das firmas inovadoras declararam sim no questionário, contra valores
próximos de 90% das emergentes, 30% das seguidoras e 2% das frágeis.
A análise de portes setorial explicita grande diferença entre as empresas. Quanto à
escala, as firmas líderes possuem em média 907 empregados, escala mais que 100%
superior à das empresas seguidoras, que tem uma média de 410 empregados. Para as
demais variáveis, as empresas líderes, que representam 2,4% do setor, têm 25% dos
salários totais, 28% do faturamento, 39% dos lucros, 24% dos investimentos e 13% de
todas as exportações.
123
Tabela 3.18 Porte das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes na Indústria de
Alimentos Processados, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 33563 141173 79175 7020
Salários Totais (R$ milhões) 860,8 1970,5 515,2 63
Faturamento (R$ milhões) 11166,6 23722,4 3971,5 627,8
Lucros Totais (R$ milhões 681,9 742,4 242 80,5
Investimento Total (R$ milhões) 326,9 905,3 99,1 18
Exportação Total (R$ milhões) 371,8 2473,5 0 0
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Ainda cabe destacar que apenas as empresas líderes e seguidoras realizam exportação,
com uma média de R$ 10 milhões exportados pelas líderes e R$ 7 milhões pelas
seguidoras.
As firmas líderes pagam salários quase 100% maiores que os das seguidoras, tanto no
geral quanto no salário pago ao pessoal industrial. Os maiores incentivos se refletem em
maior faturamento médio, mais de quatro vezes superior ao faturamento médio das
seguidoras. Quanto ao lucro/custo, as firmas líderes possuem também liderança em
relação às seguidoras, mas maior proximidade em relação às frágeis. Ainda pode-se
destacar como resultados interessantes:
a) Maior VTI/Faturamento das líderes, apontando para maior valor agregado por
essas empresas;
b) As exportações são mais relevantes no faturamento das empresas seguidoras,
com percentual 3 vezes maior do que das líderes;
c) Para todo o mercado as importações representam uma pequena parte dos custos,
apontando para alta suficiência de recursos e matérias-primas nacionais;
d) Há proximidade nos investimentos/faturamento para todas as empresas, mas eles
são maiores nas empresas seguidoras;
e) Baixo gasto de P&D/faturamento para todas as empresas.
124
Tabela 3.19 Indicadores da Indústria de Alimentos Processados para Líderes, Seguidoras,
Frágeis e Emergentes, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Salário médio (R$) 2137,2 1163,2 542,2 748,3
Salário médio no pessoal industrial (R$) 1516,1 973,4 565,8 594,2
Pessoal Ocupado Médio 907 409 71 293
Faturamento médio (R$ milhões) 301,8 68,8 3,6 26,0
Lucro/Custo (%) 6,6 3,2 6,3 14,6
VTI/Faturamento (%) 42,1 32,1 31,1 42,1
Exportações/Faturamento (%) 3,3 10,4 0,0 0,0
Importações/Custos (%) 2,9 2,8 1,2 9,9
Investimento/Faturamento (%) 2,9 3,8 2,5 2,9
Gasto P&D/Faturamento (%) 0,4 0,2 - 0,5
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Na evolução por tamanho de empresas, nota-se predominância de pequenas empresas
no setor, que respondem por 97% do número de empresas 1996, 2000 e 2005. A taxa de
crescimento do número de empresas no setor é de 20% de 1996 a 2005, principalmente
puxado pelo aumento de empresas com até 49 empregados. Nas grandes empresas, com
1000 ou mais empregados, o setor mantém praticamente o mesmo número, de 19 em
1996 para 20 empresas em 2005.
Tabela 3.20 Número de Empresas na Indústria de Alimentos Processados em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%)
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 20523 23484 24595 14,43 4,73 19,84
DE 50 A 99 326 359 433 10,12 20,61 32,82
DE 100 A 249 234 232 273 -0,85 17,67 16,67
DE 250 A 499 109 114 110 4,59 -3,51 0,92
DE 500 A 999 56 40 48 -28,57 20,00 -14,29
1000 OU MAIS 19 14 20 -26,32 42,86 5,26
Total 21267 24243 25479 13,99 5,10 19,81 Fonte: RAIS/MTE.
125
O ano de 2002, que teve forte desvalorização do Real frente ao Dólar e acentuada alta do
petróleo no mercado externo presenciou 20 F&A na indústria de alimentos e bebidas,
elevando o grau de concentração da indústria de alimentos brasileira (Viegas, 2006).
Esses processos de F&A presenciados no início da presente década refletem diretamente
nos valores dos índices de concentração para a indústria.
Gráfico 3.23
Participação de Mercado das Maiores Empresas (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Os indicadores CR apontam para um aumento de concentração no período pós 1998,
com crescimento dos mesmos até o ano de 2004. No início do período, as quatro maiores
empresas respondiam por pouco mais de 10% das vendas, e em 2004 esse valor subiu
para quase 30%, voltando após 2004 para a casa dos valores iniciais. O mesmo processo
de concentração é captado pela análise do gráfico de Entropia de Theil.
126
Gráfico 3.24 Entropia de Theil (1996-2006)
4,60
4,80
5,00
5,20
5,40
5,60
5,80
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Entropia de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Pelo Índice de Primazia, pode-se validar uma hipótese de aumento de concentração via
aumento de participação da maior empresa da indústria, visto que o crescimento do índice
é condizente com a dinâmica dos gráficos de CR e de Entropia de Theil. A maior empresa
respondia por quase 30% das vendas das quatro maiores do setor em 1996 e atingiu um
pico de quase 70% em 2000, caindo após isso para os valores do começo do período no
ano de 2006.
127
Gráfico 3.25 Primazia da Indústria de Alimentos Processados (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Quanto à análise de Mark-up e de Taxa de Margem de Lucro (MLC), a dinâmica é mais
oscilatória para o grupo de maiores empresas. O processo de aumento de concentração
em 1998 refletiu no aumento do Mark-up e MLC para o mesmo período, principalmente
para as grandes empresas, que mantiveram para os períodos seguintes indicadores
sempre maiores que o restante da indústria. Ainda, a queda de Mark-up e de MLC
presenciada em 2004 para 2005 para as grandes empresas também acompanha a queda
de concentração para os mesmos anos.
Para o grupo da indústria em geral, porém, as oscilações são muito mais suaves,
apontando para taxas de Mark-up entre 40% e 50% e de MLC variando entre 28% e 35%.
128
Gráfico 3.26 Mark-up das Firmas na Indústria de Alimentos Processados (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 3.27
Taxa da Margem de lucro (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MLC total MLC 4 maiores MLC 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
129
3.2.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES
A classificação das empresas do setor de Óleos e Rações em firmas líderes, seguidoras,
frágeis e emergentes, conforme metodologia baseada nos dados da PIA-PINTEC/IBGE,
apresenta um total de 25 firmas líderes, 235 seguidoras, 338 frágeis e 8 emergentes no
setor (Tabela 3.21). O Gráfico 3.28 mostra que todas as líderes e emergentes são
inovadoras, indicador que cai para 60% nas seguidoras e 40% nas frágeis. Das empresas
líderes, cerca de 90% investem em P&D, indicador que atinge apenas 25% das
seguidoras e menos de 1% a frágeis. A inovação de produto é mais freqüente que a de
processo nas empresas líderes, já entre as seguidoras a inovação de processo é
relativamente mais freqüente.
Gráfico 3.28 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Nota: 25 Firmas Líderes, 235 Seguidoras, 338 Frágeis e 8 Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A Tabela 3.21 apresenta a distribuição do porte das empresas do setor pelo critério de
líderes e seguidoras. As 235 seguidoras empregam cerca de 66 mil pessoas, ou cerca de
56% do pessoal ocupação no setor. O pessoal ocupado nas frágeis é praticamente o
130
mesmo das líderes, cerca de 24 mil pessoas. Dessa forma, as seguidoras ocupam 56%
do pessoal ocupado do setor, enquanto líderes e frágeis empregam cerca de 20% do
pessoal ocupado cada uma. O faturamento total de todas as seguidoras é 6,3 vezes maior
do que o das líderes, o que representa 81% do faturamento do setor. As seguidoras
respondem por 98% do valor das exportações do setor. Estes números indicam a
predominância das seguidoras entre as empresas do setor.
Tabela 3.21
Porte do conjunto das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes na Indústria de Óleos e Rações, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 24529 65760 24391 1802
Salários Totais (R$ milhões) 485,7 1321,2 216 16,2
Faturamento (R$ milhões) 8019,5 50979,6 3793,2 247,2
Lucros Totais (R$ milhões) 695,9 832,1 112,2 19,5
Investimento Total (R$ milhões) 711,1 1146,5 105,7 8,8
Exportação Total (R$ milhões) 117,4 6301,7 - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A Tabela 3.22 traz indicadores médios das empresas do setor. Nos números
apresentados destaca-se o diferencial entre líderes e seguidoras. O salário médio entre
esses dois grupos de empresas é bastante próximo, apesar do salário médio do pessoal
industrial ser superior nas líderes. A relação lucro/custo e VTI/Faturamento , indicadores
de lucratividade, são significativamente superiores nas líderes, assim como a relação
Investimento/Faturamento. O coeficiente Exportações/Faturamento é muito superior nas
seguidoras, relativamente às líderes.
131
Tabela 3.22 Indicadores da Indústria de Óleos e Rações, para Líderes, Seguidoras, Frágeis e
Emergentes, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Salário médio (R$) 1650 1674 738 749
Salário médio no pessoal industrial (R$) 1062 1369 694 477
Pessoal Ocupado Médio 981 280 72 225
Faturamento médio (R$ milhões) 326,9 216,7 11,2 31,2
Lucro/Custo (%) 9,5 1,7 3,0 8,4
VTI/Faturamento (%) 36,0 25,4 20,1 30,3
Exportações/Faturamento (%) 1,5 12,4 - -
Importações/Custos (%) 6,5 4,6 2,8 3,7
Investimento/Faturamento (%) 8,9 2,2 2,8 3,6
Gasto P&D/Faturamento (%) 0,3 0,2 - 0,5
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A Tabela 3.23 apresenta um quadro da evolução geral do número de firmas no setor de
Óleos e Rações. Observa-se um crescimento no número de firmas de 2000 a 2005,
especialmente no segmento de 100 a 500 empregados. O número de empresas com mais
de 1000 empregados em 2005 é praticamente o mesmo de 1996 (6 e 7 empresas). Em
termos agregados, o número de empresas se alterou muito pouco no período (Gráfico
3.29), passando de 4800 em 1996 para cerca de 5300 em 2005, um crescimento de 11%.
Tabela 3.29 Número de Empresas na Indústria de Óleos e Rações, em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%) Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 4388 4345 4826 -0,98 11,07 9,98
DE 50 A 99 214 220 267 2,80 21,36 24,77
DE 100 A 249 164 149 191 -9,15 28,19 16,46
DE 250 A 499 45 39 54 -13,33 38,46 20,00
DE 500 A 999 14 24 19 71,43 -20,83 35,71
1000 OU MAIS 7 1 6 -85,71 500,00 -14,29
Total 4832 4778 5363 -1,12 12,24 10,99 Fonte: RAIS/MTE.
132
Gráfico 3.24 Número de Empresas da Indústria de Óleos e Rações,
de 1996 a 2006
48325180
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE. Em termos agregados, o número de empresas se alterou muito pouco no período (Gráfico
TT), o que é acompanhado por uma elevação da participação de mercado das 4 e das 8
maiores empresas do setor, como mostra o Gráfico 3.30. De 1996 a 2005, os quatro
maiores produtores aumentaram sua participação no mercado de cerca de 30% para
45%; as 8 maiores concentravam cerca de 50% do mercado em 2006.
133
Gráfico 3.30 Participação de Mercado das Maiores Empresas (1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE. Elevação na concentração do setor foi acompanhada pela elevação dos indicadores de
primazia (participação da maior empresa no grupo das 4 maiores e das 8 maiores), mas
esse efeito parece ter ocorrido até 2000, e não entre 2001 e 2006 como no caso da
participação de mercado. O Gráfico 3.31 ilustra uma elevação no peso da maior empresa
na receita das quatro e oito maiores, sobretudo entre 1996 e 2000. De 2001 a 2006, o
indicador parece se estabilizar, indicando que a participação da maior empresa entre as 4
e 8 maiores pouco se alterou. Este movimento pode estar associado às variações no
número de grandes empresas (1000 ou mais pessoas ocupadas) no setor, conforme
analisado na Tabela 3.29.
134
Gráfico 3.31 Primazia da Indústria de Moagem e Produção de Óleos e Rações (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Esses efeitos de concentração são corroborados pela análise da Entropia de Theil, no
Gráfico 3.32 abaixo. A diminuição do índice até 2004 apresenta o mesmo padrão de
evolução de concentração do setor expresso no gráfico dos CRK´s, com uma pequena
queda dessa concentração para os anos posteriores a 2004.
135
Gráfico 3.32 Entropia de Theil (1996-2006)
3,2
3,6
4
4,4
4,8
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Entropia de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O mark-up no setor de Óleos e Rações como um todo se situou em torno de 40% de 1996
a 2005, mas com grande oscilação (Gráfico 3.33), especialmente nas 4 e 8 maiores.
Mostra-se visível uma queda de mark-up entre 1996 e 2000, especialmente entre as 4
maiores do setor (queda de cerca de 75% em 1996 para 40% em 2001).
136
Gráfico 3.33 Mark-up das Firmas na Indústria de Óleos e Rações (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O comportamento da Taxa de Margem de Lucro (MLC) segue o observado no Mark-up
das empresas do setor. Observa-se uma queda entre 1996 e 2001 e, apesar de uma alta
em 2003, permanece no nível de 30% em 2006, próximo a observado em 2001 (Gráfico
3.34).
137
Gráfico 3.34 Taxa da Margem de lucro (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MLC total MLC 4 maiores MLC 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
3.2.4. LATICÍNIOS
A estrutura industrial do setor de laticínios pelos dados da PIA-PINTEC apontam para
uma fragilidade no que tange ao conteúdo inovativo. De todas as empresas consideradas,
a análise mostra que apenas 1% das firmas podem ser consideradas inovadoras, 17%
seguidoras, 80% frágeis e 2% emergentes. Esse padrão reflete a baixa especialização
produtiva do parque nacional de laticínios, visto que o percentual de investimento em
atividades de inovação é baixo. Cabe destacar que essas empresas frágeis são
representadas em grande parte pelo número expressivo de pequenas cooperativas locais
de leite, espalhadas por todo o território nacional29.
29 Para maiores informações sobre localização e eficiência dessas pequenas cooperativas, sugerimos a leitura de Zoccal e Gomes (20XX), Carvalho et al (20XX), Lopes, Consoli e Neves (2006), entre outros.
138
Gráfico 3.35 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis (%).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo Investem em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 5 Firmas Líderes, 80 Seguidoras, 381 Frágeis e 12 Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Todas empresas líderes declaram realizar investimentos em inovação de produto e 80%
em inovação de processo. Todas também declaram investir em P&D. Menos de 50% das
empresas seguidoras e frágeis declararam ser inovadoras de produto ou processo. E
apenas 20% das seguidoras declararam investir em P&D, que é praticamente inexistente
nas frágeis. As emergentes, por sua vez, possuem indicadores de inovação mais
próximos das líderes, especialmente em inovação de processo e esforço de P&D.
A análise de porte dessas firmas retrata bem a diferença nos resultados de investimentos
inovativos. Em escala, as empresas líderes mostram-se muito maiores que as demais,
com uma média de 2000 empregados por empresa. Essa média para as seguidoras e
frágeis é de aproximadamente 260 e 80 empregados, respectivamente. Essa escala
reflete na diferença entre os salários totais pagos e o faturamento dessas empresas, visto
que embora constituam apenas 1% do número total de empresas, as líderes são
responsáveis por 16% do faturamento e 23% dos salários. O resultado é válido ainda para
a lucratividade e investimento em capital fixo, porém com uma maior proximidade agora
139
entre as empresas líderes e seguidoras, mas uma distância muito grande do nível das
frágeis, apesar de representarem 80% das empresas do setor.
Tabela 3.24 Porte das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes na Indústria de
Laticínios, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 9879 20889 29635 2020
Salários Totais (R$ milhões) 189,9 334,3 267,1 19,9
Faturamento (R$ milhões) 2362,6 6714,9 5320 480,4
Lucros Totais (R$ milhões) 25,3 307 150,6 20,7
Investimento Total (R$ milhões) 41,8 485,4 145 14,4
Exportação Total (R$ milhões) 23,8 46,7 0 0
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Os indicadores da indústria relacionados à escala, pessoal ocupado médio e faturamento
médio, são os que mais diferenciam as empresas líderes das seguidoras. As diferenças
dos demais indicadores são bem menos acentuadas, evidenciando que indústria de
laticínios possui uma estrutura de alta homogeneidade de produtos, ainda com grandes
diferenças de escala de produção. Podemos destacar os seguintes pontos que
evidenciam esta estrutura:
1. Pequena diferença entre os salários médios pagos pelas líderes e seguidoras tendo
em vista a grande diferença de escala;
2. Relação lucro/custo e VTI/faturamento muito semelhante entre as líderes e seguidoras
e baixa relativamente aos setores da indústria de transformação com maior
diferenciação de produtos;
3. Baixa participação das exportações no faturamento das empresas, o que evidencia
uma produção voltada para o mercado interno;
4. Baixa relação importações/custos, o que mostra uma pequena importância das
importações na estrutura dos custos de produção, pouco sensível à evolução de novos
insumos e bens de capital na indústria mundial de laticínios de melhor prática;
5. Os gastos com P&D em relação ao faturamento é baixo para todas as empresas,
muito abaixo da média da indústria de transformação nacional, o que parece
140
contraditório com o fato de que todas as líderes são por definição empresas
inovadoras para o mercado nacional e, especificamente, inovadoras de produto
Tabela 3.25
Indicadores da Indústria de Laticínios para Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12
Salário médio (R$) 1601,5 1333,7 751,0 821,0
Salário médio no pessoal industrial (R$) 1218,2 1052,9 678,6 641,5
Pessoal Ocupado médio 1976 261 78 168
Faturamento médio (R$ milhões) 472,5 83,8 13,9 41,3
Lucro/Custo (%) 3,9 4,7 2,9 4,5
VTI/Faturamento (%) 31,5 27,8 17,8 22,7
Exportações/Faturamento (%) 1,0 0,7 0,0 0,0
Importações/Custos (%) 0,7 1,7 0,0 0,0
Investimento/Faturamento (%) 1,8 7,2 2,7 3,0
Gasto P&D/Faturamento (%) 0,1 0,1 0,1 0,7
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Quanto ao critério de tamanho, os dados apontam novamente para a predominância de
pequenas empresas agroindustriais, muitas vezes cooperativas regionais de leite, que
garantem a subsistência de muitos produtores rurais: 95% das empresas do setor têm
menos que 49 empregados. O fato de que o crescimento do número de empresas no
período 1996-2005 é pequeno, de 13,4%, indica uma consolidação do mercado de
laticínios no Brasil, que nos anos 1980 e 1990 passaram por uma intensa reestruturação..
141
Tabela 3.26 Número de Empresas na Indústria de Laticínios em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%)
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 5125 5913 5831 15,38 -1,39 13,78
DE 50 A 99 143 136 158 -4,90 16,18 10,49
DE 100 A 249 105 97 111 -7,62 14,43 5,71
DE 250 A 499 27 19 24 -29,63 26,32 -11,11
DE 500 A 999 8 17 8 112,50 -52,94 0,00
1000 OU MAIS 2 3 3 50,00 0,00 50,00
Total 5410 6185 6135 14,33 -0,81 13,40 Fonte: RAIS/MTE.
Pode-se ver que esse resultado é ainda menor se observada à evolução temporal por
ano, como no gráfico abaixo. Nesse caso, o ano de 1996 parece um ano atípico na
análise, visto que em todos os anos posteriores mantém certa estabilidade no número de
empresas. Pode-se dizer que o setor é consolidado em sua evolução estrutural, com um
padrão estável de empresas estabelecidas.
Gráfico 3.36 Número de Empresas da Indústria de Laticínios, de 1996 a 2006
5410
6293
0
2000
4000
6000
8000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da RAIS/MTE.
142
Quanto aos índices de concentração de mercado, as mudanças nos índices CR4 e CR8
desde o ano de 1998 mostram certa instabilidade de liderança. Há queda de participação
das maiores de 1998 a 2004, com aumento e retomada dos padrões iniciais já em 2005.
Esses padrões mostram as modificações provocadas pela queda da Parmalat, como já
dito na análise da receita líquida de vendas.
Esse mesmo processo é retratado no índice de Primazia. A derrocada da Parmalat é
notória pós 1998, culminando com a concordata em 2004. A trajetória final, com volta aos
padrões iniciais, é condizente com o aumento de participação da DPA Nestlé no mercado,
assumindo a primeira posição no mercado, com recepção de 1,8 trilhões de litros de leite
em 2007.
Gráfico 3.37
Participação de Mercado das Maiores Empresas (1996-2006)
0%
15%
30%
45%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
CR4 CR8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
143
Gráfico 3.38 Primazia da Indústria de Laticínios (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Primazia 4 Primazia 8
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Os indicadores de rentabilidade do setor também demonstram a maior instabilidade nas
empresas maiores. Como se pode ver, tanto o Mark-up quanto a taxa de lucro operacional
é mais oscilante nas 4 maiores empresas do mercado, esboçando um padrão de maior
constância no agregado geral do setor. Na evolução temporal podem-se observar mais
uma vez os resultados da crise da Parmalat em 1999 e 2004, com queda maior de
rentabilidade para as maiores empresas.
Porém, em contraste a essa queda, a retomada dos lucros também foi maior para as
grandes empresas pós 2003, o que aponta retomada de liderança – nesse caso pelo
aumento de participação da DPA Nestlé – com melhoria dos índices de rentabilidade das
maiores vis a vis a média do setor. Ademais, a retomada de rentabilidade pós 2003
expressa correlação com aumento do consumo das famílias.
144
Gráfico 3.39 Mark-up das Firmas na Indústria de Laticínios (1996-2006)
0%
20%
40%
60%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MK total MK 4 maiores MK 8 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 3.40 Taxa da Margem de lucro (1996-2006)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
MLC total MLC 4 maiores MLC 8 maiores Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
145
3.3. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO
3.3.1. ABATE E PREPARAÇÃO DE PRODUTOS DE CARNE E PESCADO
Como apresentado na Tabela 3.16, a relação de P&D/Faturamento nas empresas do
setor de abate de carnes e pescados é muito,baixa, mesmo nas empresas líderes do
setor (relação = 0,1%), que gastam menos do que média da indústria de transformação
brasileira e a média do setor nos países desenvolvidos. Como um setor considerado low-
tech, com um regime de inovação de firmas “dominadas pelos fornecedores”, a
performance inovativa do setor no Brasil contrasta sua performance produtiva, com o
tamanho das empresas líderes, comparável a até superior às suas congêneres mundiais
e com sua liderança no comércio internacional de carnes. Mesmo assim, em valor
absoluto a participação das líderes em gastos em P&D é bem superior à participação no
investimento total do setor, como mostra a Figura 3.5, o que ocorre também com as
empresas emergentes.
Figura 3.5
Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes.
48%
49%
2% 1%Investimento
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
76%
20%4%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Em relação ao investimento, as 17 empresas líderes do setor são responsáveis por 48%
dos investimentos do setor, enquanto as 179 empresas seguidoras investem praticamente
o restante, 49%. Mesmo que os investimentos das empresas emergentes sejam de 8,5%
de seu faturamento – como visto na Tabela 3.16 – esse percentual representa apenas 1%
do investimento total.
146
Em relação aos gastos totais em P&D, 76% é realizado pelas empresas inovadoras, 20%
pelas seguidoras e 4% pelas emergentes. O maior gasto em P&D das emergentes
relativamente ao seus gastos em investimento é explicado pela maior relação
P&D/faturamento (0,6%) comparativamente à média das empresas do setor e às líderes
em particular (0,1%). .
Considerando do total dos investimentos do setor os investimentos em inovação, as
empresas líderes investiram R$ 206,5 milhões, que corresponde a 43,3% do setor,
percentual menor do que sua participação no total dos investimentos e muito menor do
que sua participação nos gastos com P&D. A distribuição destes gastos, na Tabela 3.27,
está fortemente concentrada em investimentos tangíveis, sendo 70% (ou R$ 142 milhões)
na aquisição de máquinas e equipamentos, refletindo o pequeno esforço tecnológico
interno das empresas, caracterizando seu comportamento inovativo de empresas
dominadas pelos fornecedores. Em relação ao nível de investimento em P&D interno,
observa-se que apenas as empresas líderes possuem algum esforço inovativo próprio,,
que representa 13% dos seus gastos em inovação. Em que pese a existência de
substantivos ganhos de escala em P&D, este esforço inovativo das líderes é bem inferior
ao das emergentes, que despendem mais de 50% de seus gastos em inovação através
do esforço interno. Esta é um forte evidência que as empresas emergentes atuam em
nichos de mercado de produtos diferenciados, ao contrário da padrão do setor, de
produtos homogêneos, inclusive pelas líderes. .
147
Tabela 3.27 Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de Abate
e Preparação de Produtos de Carne e Pescado, por categoria de empresa, 2005
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total
Número de empresas 17 179 411 17 624
Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
206,5 (100%)
245,3 (100%)
23,2 (100%)
2,5 (100%)
476,8 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
26,7 (12,9%)
3,5 (1,4%) - 1,3
(52,0%) 30,8
(6,5%) Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
0,8 (0,4%)
3,6 (1,5%) - - 4,4
(0,9%) Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
0,5 (0,2%)
27,6 (11,3%)
1,7 (7,3%) - 29,8
(6,3%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
142,1 (68,8%)
173,0 (70,5%)
17,9 (77,2%)
0,3 (12,0%)
333,3 (69,9%)
Treinamentos (em milhões de R$)
0,7 (0,4%)
13,1 (5,3%)
0,4 (1,7%)
0,7 (28,0%)
14,9 (3,1%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
22,3 (10,8%)
2,4 (1,0%)
0,7 (3,0%)
0,2 (8,0%)
25,6 (5,4%)
Projeto industrial 13,4 (6,5%)
22,1 (9,0%)
2,5 (10,8%) - 38,0
(7,9%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A quantidade de pessoal exclusivo para P&D e a importância das fontes externas,
Tabelas 3.28 e 3.29, evidenciam este regime tecnológico setorial. A composição de
qualificação de pessoal em P&D reflete bem a baixa importância das atividades inovativas
dentro do setor. Observa-se também que a maioria das empresas líderes, consideram de
alta importância o papel dos fornecedores e clientes e consumidores para a inovação, que
se reproduz para as demais categorias de empresas, com exceção, mais uma vez, das
emergentes, com um percentual elevado das empresas que consideram de alta
importância não apenas clientes e consumidores com também os departamentos de P&D.
148
Tabela 3.28 Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Abate e
Preparação de Produtos de Carne e Pescado, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
118845 (37,2%)
151946 (47,6%)
46027 (14,4%)
2594 (0,8%)
Número de doutores em P&D – exclusivo
9 (0,007%)
1 (0,001%) - -
Número de mestres em P&D – exclusivo
29 (0,02%)
2 (0,002%) - -
Número de outros em P&D – exclusivo
324 (0,3%)
68 (0,04%) - 22
(0,8%) Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
Tabela 3.29 Importância de Fontes Externas para Inovação na Indústria de Abate e Preparação
de Produtos de Carne e Pescado (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Importância alta para departamentos de P&D
8 (47,0%)
4 (2,2%) - 11
(64,7%) Importância alta para fornecedores
9 (52,9%)
49 (28,1%)
83 (20,2%)
1 (5,8%)
Importância alta para clientes e consumidores
11 (64,7%)
44 (25,3%)
53 (12,9%)
14 (82,3%)
Importância alta para concorrentes
2 (11,7%)
23 (12,8%)
22 (5,3%)
4 (23,5%)
Importância alta para empresas de consultoria
2 (11,7%)
6 (3,4%)
9 (2,1%)
1 (5,8%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Nos aspectos relativos à fonte de informação, é unânime a importância de feiras e
exposições e redes de informação para o desenvolvimento de inovações. Ou seja, o
contato com o empresariado através de exposições ou algumas redes de informação
parecem primordiais para os próprios empresários no desenvolvimento tecnológico do
setor, o que confirma a natureza do regime tecnológico do setor de firmas dominadas
pelos fornecedores.
149
Tabela 3.30 Fontes de Inovação na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de Carne e
Pescado (número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Importância para Universidade
5 (29,4%)
6 (3,4%) - 11
(64,7%) Importância alta para centro de capacitação
2 (11,7%)
7 (3,9%)
4 (0,9%)
1 (5,8%)
Importância alta para instituições de teste
2 (11,7%)
8 (4,4%)
23 (5,6%)
10 (58,8%)
Importância alta para feiras e exposições
7 (41,2%)
39 (21,8%)
39 (9,5%)
1 (5,8%)
Importância alta para redes de informação
7 (41,2%)
39 (21,8%)
51 (12,4%)
13 (76,4%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Neste sentido, a cooperação não é considerada uma forma relevante para a inovação no
setor, inclusiva para a maior parte das líderes. Apenas 47% (7) das líderes responderam
cooperar com outras firmas e instituições para a realização de inovações, especialmente
com os fornecedores, das quais 6 responderam cooperar em P&D com fornecedores.
Tabela 3.31 Cooperação para Inovação na Indústria de Abate e Preparação de Produtos de
Carne e Pescado (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 17 179 411 17
Cooperação para inovação 8 (47,0%)
13 (7,3%) - -
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
3 (17,6%)
3 (0,003%) - -
Importância alta para cooperação com fornecedores
4 (23,5%)
5 (2,8%) - -
Importância alta para cooperação com concorrentes - 3
(0,003%) - -
Cooperou em P&D com fornecedores
6 (35,3%)
1 (0,001%) - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
Numa análise de participação de capital estrangeiro, pode-se ver que as empresas do
setor são predominantemente nacionais. Esse resultado é auto-explicativo, tendo em vista
150
a vantagem comparativa nacional no setor e a inexistência de uma indústria mundial de
carnes, com firmas multinacionais atuando em mercado globais, como ocorre em outras
indústrias baseadas em recursos naturais, como mineração e petróleo. Assim, do total de
606 empresas no setor, apenas 2% são estrangeiras. Porém, na comparação de
capacidades inovativas, vê-se que as estrangeiras investem pelo menos tanto quanto as
nacionais. No caso das líderes, apenas 2 em 17 são estrangeiras.
Tabela 3.32 Firmas Estrangeiras dentre as Líderes, Seguidoras e Frágeis na Indústria de Abate e
Preparação de Produtos de Carne e Pescado (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 15 2 170 9 407 3
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total (%)
11,1 17,3 36,9 25,8 39,9 58,3
Inovadoras (% do total) 100 100 48,5 59,2 36,3 100
Exportadoras (% do total) 100 100 75,6 100 - -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
Pode-se dizer que o setor de preparação e abate de carne e pescados é amplamente
apoiado pelo BNDES. Todas as firmas líderes, 62% das seguidoras, 43% das frágeis e
100% das emergentes recebem financiamento do BNDES. Em relação ao montante
repassado pelo banco, pode-se ver um predomínio de investimentos nas empresas
líderes onde, na média, recebem algo em torno de R$ 270 milhões. As empresas
seguidoras recebem menos, numa média de R$ 24 milhões, mas mesmo assim um
montante bastante elevado. Segundo informações do próprio BNDES, o setor de carnes é
o que mais recebe financiamentos de investimento, o que explica o alto valor dos
repasses para o setor (Grigorovski, 2001, BNDES, 2008).
151
Tabela 3.33 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Abate e Preparação de
Produtos de Carne e Pescado (valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de firmas 17 179 411 17
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
17 112 179 17
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 4611527 4426266 83313 2022
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
3.3.2. ALIMENTOS PROCESSADOS
Ainda que relativamente baixo para a média da indústria de transformação brasileira, o
setor de Alimentos Processados do país possui níveis de investimentos e gastos em P&D
mais elevados comparados aos demais setores agroindustriais. A relação
P&D/faturamento das líderes (0,4%) é 4 vezes superior às suas congêneres dos três
outros setores (0,1%). No entanto, na comparação entre as emergentes setoriais este
indicador de esforço tecnológico é semelhante,
Figura 3.6 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e
Emergentes.
24%
67%
8% 1%Investimento
44%
53%
3%Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Em termos absolutos a maior parcela é realizada pelas empresas seguidoras, que
desembolsam 67% do total de investimentos e 53% do total de gastos com P&D. As
empresas líderes seguem na sequência, com parcelas de 24% do total de investimento e
152
44% dos gastos com P&D. Na média, porém, as líderes gastam R$ 5,79 milhões com
atividades inovativas, contra R$ 1,40 milhões das empresas seguidoras.
A distribuição do percentual de gastos em investimentos para a inovação, Tabela 3.34,
mostra a predominância dos gastos para a aquisição de máquinas e equipamentos, que
representaram 48% do valor total investido em atividades inovativas pelas líderes e 49%
do total investido pelas seguidoras. Esta composição dos gastos em inovação indica que
o esforço inovativo próprio da indústria também é baixo, à semelhança dos demais
setores agroindustriais analisados. Para as líderes e emergentes, os percentual de gastos
com P&D vem em segundo lugar, o que indica um esforço inovativo superior em
comparação às seguidoras, o que sugere que estas últimas operam exclusivamente em
mercados de produtos homogêneos, que não exigem esforço inovativo próprio.
Tabela 3.34 Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de
Alimentos Processados, por categoria de empresa, 2005
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total
Número de empresas 37 345 1108 24 37 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
214,3 (100%)
487,6 (100%)
56,3 (100%)
15,1 (100%)
773,3 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
42,9 (20,0%)
52,1 (10,7%) - 3,0
(20,0%) 98,0
(12,7%) Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
0,9 (0,4%)
0,9 (0,2%) - - 1,8
(0,2%) Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
- 56,4 (11,6%) - - 56,4
(7,3%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
103,7 (48,4%)
238,9 (49,0%)
55,3 (98,2%)
7,9 (52,1%)
405,8 (52,5%)
Treinamentos (em milhões de R$)
4,6 (2,1%)
4,7 (1,0%)
1,0 (1,8%)
0,4 (2,4%)
10,7 (1,4%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
31,5 (14,7%)
52,2 (10,7%) - 1,2
(7,9%) 84,9
(11,0%)
Projeto industrial 30,7 (14,3%)
82,3 (16,9%) - 2,6
(17,5%) 115,7
(15,0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. O indicador de participação dos trabalhadores envolvidos exclusivamente em P&D
corrobora as evidências que o regime tecnológico do setor também é “dominado pelo
fornecedor”: apenas 0,81% do total estão envolvidos exclusivamente com P&D, sendo os
153
doutores representam 0,04% do total de empregados. Aquele percentual cai para 0,35%
nas empresas seguidoras e é praticamente inexistente nas empresas frágeis. Para as
emergentes, há 1,39% dos trabalhadores em P&D, mas com 1,28% desses empregados
sem pós-graduação.
Tabela 3.35 Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Alimentos
Processados, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
33563 (12,9%)
141173 (54,1%)
79175 (30,3%)
7020 (2,7%)
Número de doutores em P&D – exclusivo
15 (0,04%)
15 (0,01%) - 1
(0,02%) Número de mestres em P&D – exclusivo
44 (0,13%)
28 (0,02%)
-
5 (0,07%)
Número de outros em P&D – exclusivo
222 (0,66%)
464 (0,33%)
35 (0,04%)
90 (1,28%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE. O resultado acima parece contraditório com as informações sobre o grau de importância
atribuída pelas empresas dos fatores que contribuem para seu processo de inovação.
Para as líderes, a esperada alta importância dos clientes e consumidores e dos
fornecedores se equivalem ao percentual de firmas que declararam alta importância dos
departamentos de P&D, em torno de 50%. No caso das emergentes este percentual de
firma é ainda mais elevado (60%), apesar de terem despendido, no período de referência,
apenas 12,7% em P&D interno no gasto total de inovação que realizaram.
Tabela 3.36 Importância para Inovação na Indústria de Alimentos Processados
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Importância para departamentos de P&D
19 (52,5%)
59 (17,1%)
4 (0,3%)
15 (61,4%)
Importância alta para fornecedores
16 (43,5%)
93 (26,9%)
136 (12,3%)
2 (9,1%)
Importância alta para clientes e consumidores
21 (57,9%)
89 (25,8%)
155 (14,0%)
12 (50,6%)
Importância alta para concorrentes
8 (20,4%)
42 (12,3%)
76 (6,8%)
12 (50,0%)
Importância alta para empresas de consultoria
6 (14,9%)
17 (5,0%)
36 (3,2%)
3 (13,3%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
154
Quanto às fontes de inovação, maior importância foi dada para feiras e exposições em
todas as classificações por inovação, apontando mais uma vez a importância do
conhecimento tangível em capital fixo (máquinas e equipamentos) como elemento central
do regime setorial de inovação. Quanto às cooperações inovativas, pode-se ver que a
relevância é baixa até mesmo dentre as empresas líderes, na qual apenas 29% das
empresas declararam algum tipo de cooperação.
Tabela 3.37
Fontes de Inovação na Indústria de Alimentos Processados (número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Importância para Universidade
8 (22,1%)
4 (1,2%)
43 (3,9%)
2 (9,1%)
Importância alta para centro de capacitação
4 (11,2%)
12 (3,4%)
35 (3,2%)
5 (20,1%)
Importância alta para instituições de teste
9 (23,1%)
24 (7,1%)
39 (3,5%)
4 (17,9%)
Importância alta para feiras e exposições
24 (63,5%)
76 (22,0%)
121 (10,9%)
6 (22,8%)
Importância alta para redes de informação
16 (42,8%)
66 (19,1%)
149 (13,4%)
15 (61,9%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 3.38 Cooperação para Inovação na Indústria de Alimentos Processados (números de
empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 37 345 1108 24
Cooperação para inovação 11 (29,4%)
24 (7,1%)
7 (0,7%)
3 (13,6%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
4 (11,2%)
9 (2,5%)
1 (0,1%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com fornecedores
5 (13,9%)
11 (3,3%)
6 (0,6%)
2 (9,0%)
Importância alta para cooperação com concorrentes
2 (5,8%)
2 (0,6%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Cooperou em P&D com fornecedores
3 (8,5%)
10 (2,8%)
3 (0,3%)
1 (4,1%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO O setor de alimentos processados possui uma participação de capital estrangeiro acima
do observado para o setor de carnes. Como sugere Viegas (2006) e Conceição (2007),
155
houve um processo de internacionalização do capital com (i) a abertura comercial
provocada pelo governo Collor no início dos anos 90; (ii) a estabilização econômica
provocada pelo Plano Real; (iii) concessões de empréstimos realizadas pelo BNDES a
multinacionais a partir de 1991, no mesmo âmbito da abertura comercial.
Nesse contexto, 19% das empresas líderes e 11% das seguidoras são internacionais, não
existindo nenhuma frágil e emergente com capital estrangeiro. Porém, as empresas
nacionais despendem mais recursos com investimentos em máquinas e equipamentos,
são mais inovadoras e exportam mais.
Tabela 3.39 Firmas Estrangeiras dentre as Líderes e Seguidoras na Indústria de Alimentos
Processados (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras
Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 30 7 308 37
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total (%)
82,0 65,9 46,6 44,4
Inovadoras (% do total) 29,9 7,1 196,3 32,6
Exportadoras (% do total) 29,9 7,1 263,8 37,2
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS A maior parte das empresas é financiada por agentes públicos, principalmente entre as
empresas líderes e seguidoras, onde o percentual é de 73,6% e 67,4%, respectivamente.
No período de 1996 a 2006 as empresas seguidoras receberam o maior montante
absoluto, representando de R$ 1,4 bilhões. Porém, na média as empresas líderes
recebem mais, com R$ 10,248 milhões contra R$ 4,086 milhões das seguidoras.
156
Tabela 3.40 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Alimentos Processados
(valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de firmas 37 345 1108 24
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
27 (73,6%)
233 (67,4%)
304 (27,4%)
12 (48,4%)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 379208,3 1409698,7 167522,3 -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. Segundo dados do BNDES (2008), somente para 2007 foram desembolsados pelo órgão
financiamentos para o setor de alimentos da ordem de R$ 2,1 bilhões, que
corresponderam a 45% do total de investimentos na agroindústria.
3.3.3. PRODUÇÃO DE ÓLEOS E RAÇÕES
Como apresentado na Tabela 3.22, a taxa de investimentos em capital fixo do setor de
Óleos é relativamente baixa, especialmente para as seguidoras e frágeis. As empresas
líderes investem 8,9% de seu faturamento, enquanto as seguidoras investem 2,2%,
frágeis 2,8%. O elevado percentual de investimento das líderes representa 36% do
investimento do setor (Figura 3.7), já o grande número de empresas seguidoras, mesmo
com baixa taxa de investimento, implica numa participação de 58% de todo o investimento
da indústria, sendo os demais 6% de responsabilidade das firmas frágeis e emergentes.
A distribuição do gasto em P&D no setor segue um padrão semelhante, de grande
concentração nas seguidoras (77% do total) e líderes (22%). No entanto, esta significativa
diferença do percentual de investimentos entre líderes e demais categorias de empresas
não se reproduz em relação ao percentual de P&D sobre o faturamento, estando próximo
ao das seguidoras (0,3% contra 0,2%) e abaixo das emergentes (0,3% contra 0,5%). O
padrão setorial é de um regime tecnológico semelhante aos demais setores
agroindustriais, tecnologicamente “dominados pelos fornecedores”, caracterizado pelo
pequeno enforço inovativo próprio e compra de conhecimento codificado na forma de
capital fixo.
157
Figura 3.7 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e
Emergentes.
36%
58%
5% 1%Investimento
22%
77%
0% 1%Gasto em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Neste sentido, os investimentos em inovação são concentrados na a aquisição de
máquinas e equipamentos, que representam 43,3% dos gastos totais em inovação das
líderes, enquanto os elevados gastos em projeto industrial, de 23,8%, para indicar a sua
complementaridade com a introdução de novas máquinas, que possivelmente demanda
um esforço de adaptação de projetos detalhados de engenharia. Reflete também a baixa
intensidade de conhecimento científico incorporado nos produtos do setor. A aquisição de
outros conhecimentos e treinamentos representam apenas 4% do total gasto com
atividade inovativas pelas líderes.
Assim, um setor que representa 5% da produção industrial brasileira concentra uma parte
pouco significativa dos gastos em P&D. A média das líderes da indústria de
transformação é de 0,94%, enquanto as líderes do setor gastam com P&D somente 0,3%
de seu faturamento.
158
Tabela 3.41 Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de Óleos
e Rações, por categoria de empresa, 2005
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total
Número de empresas 25 235 338 8 605 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
142,0 (100%)
651,5 (100%)
37,6 (100%)
10,7 (100%)
841,8 (100%)
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
24,6 (17,3%)
90,8 (13,9%)
0,1 (0,3%)
0,9 (8,4%)
116,4 (13,8%)
Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
1,6 (1,1%)
1,0 (0,2%) - 0,4
(3,7%) 2,9(0,3%
) Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
3,1 (2,2%)
4,8 (0,7%)
0,5 (1,3%)
0,1 (0,9%)
8,4 (1,0%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
61,6 (43,3%)
449,6 (69,0%)
31,6 (84,0%)
7,1 (66,4%)
550,0 (65,3%)
Treinamentos (em milhões de R$)
2,4 (1,7%)
2,9 (0,4%)
0,4 (1,1%)
0,2 (1,9%)
5,9 (0,7%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
15,0 (10,6%)
36,3 (5,6%) - 0,9
(8,4%) 52,3
(6,2%)
Projeto industrial 33,8
(23,8%) 66,0
(10,1%) 5,0
(13,3%) 1,1
(10,3%) 105,8
(12,6%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A baixa intensidade da inovação no setor fica patente nos dados de pessoal dedicado a
atividades de P&D no setor. A Tabela 3.42 indica o pequeno número de mestres e
doutores ocupados em P&D tanto nas líderes como nas seguidoras.
159
Tabela 3.42 Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Óleos e Rações,
2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 24529 65760 24391 1802
Número de doutores em P&D - exclusivo
6 (0,02%)
15 (0,02%) - 3
(0,2%) Número de mestres em P&D - exclusivo
13 (0,05%)
20 (0,03%) - 1
(0,05%) Número de outros em P&D - exclusivo
160 (0,7%)
379 (0,6%)
5 (0,02%)
24 (1,3%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
A concentração dos gastos em inovação das empresas líderes nas compras de máquinas
e projetos industriais não se reflete na pouca importância que a maioria das empresas
atribui aos gastos internos de P&D (Tabelas 3.43 e 3.44.). Vale ressaltar também o peso
de clientes e consumidores como importantes fontes externas para inovação nas
empresas líderes (64%) e emergentes (62%), o que pode indicar o atendimento a nichos
específicos de mercado. Para as empresas seguidoras, as fontes externas de inovação
mostram-se todas pouco importantes, o que fortalece a conclusão de que nestas
empresas o processo de inovação se associa somente à aquisição de máquinas e
equipamentos padronizados.
Tabela 3.43 Importância de Fontes Externas para Inovação na Indústria de Óleos e Rações
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Importância para departamentos de P&D
15 (60%)
28 (12%) - 6
(75%) Importância alta para fornecedores
9 (36%)
55 (23%)
84 (25%)
2 (25%)
Importância alta para clientes e consumidores
16 (64%)
59 (25%)
43 (13%)
5 (62%)
Importância alta para concorrentes
5 (20%)
37 (16%)
41 (12%)
3 (37%)
Importância alta para empresas de consultoria
5 (20%)
13 (5%)
13 (4%)
2 (25%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
160
As fontes externas da inovação (Tabela 3.44) pelas líderes baseiam-se em Universidades,
Feiras e exposições e Redes de informação, todos importantes para cerca de 36% das
líderes. Estes indicadores para as seguidoras são baixos e inferiores aos das líderes.
Tabela 3.44 Fontes de Inovação na Indústria de Óleos e Rações (número de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Importância para Universidade
9 (36%)
8 (3%)
21 (6%) -
Importância alta para centro de capacitação
3 (12%)
7 (3%)
21 (6%) -
Importância alta para instituições de teste
2 (8%)
16 (6%)
10 (3%) -
Importância alta para feiras e exposições
9 (36%)
55 (23%)
84 (25%)
3 (37%)
Importância alta para redes de informação
9 (36%)
45 (19%)
80 (24%)
3 (37%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
O estabelecimento de cooperação para inovação não é uma característica fundamental
do setor (Tabela 3.45). Apenas para 48% das líderes a cooperação para inovação é
citada como relevante. Apenas 12 das 25 firmas líderes atestam que cooperam para
inovar, distribuindo-se em cooperação com clientes (4 empresas) e fornecedores (4).
Entre as seguidoras a cooperação para inovação é ainda mais baixa, representando
apenas 25 empresas (11% do total).
Tabela 3.45
Cooperação para Inovação na Indústria de Óleos e Rações (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 25 235 338 8
Cooperação para inovação 12 (48%)
25 (11%)
8 (2%)
1 (12%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
4 (16%)
1 (0,4%)
3 (1%) -
Importância alta para cooperação com fornecedores
4 (16%)
8 (3%)
5 (2%)
1 (12%)
Importância alta para cooperação com concorrentes - - - - Cooperou em P&D com fornecedores
4 (16%)
4 (2%)
2 (0,6%) -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
161
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO Em relação à participação do capital estrangeiro na indústria, em 2005 as firmas de
capital internacional representavam 5 empresas das 25 líderes, e 20 das 235 seguidoras.
A inovação é uma característica comum entre nacionais e estrangeiras líderes, mas entre
as seguidoras o percentual de estrangeiras que inovam é maior. Um diferencial entre
líderes nacionais e estrangeiras está no investimento em máquinas e equipamentos em
relação aos gastos totais em inovação, nas líderes internacionais essa relação é maior –
53% em relação a 16% das firmas nacionais.
Tabela 3.46
Firmas Estrangeiras Dentre as Líderes e Seguidoras na Indústria de Produção de Óleos e Gorduras (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 20 5 215 20
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao gasto total em inovação
16% 53% 42% 54%
Inovadoras (% do total) 100% 100% 64% 87%
Exportadoras (% do total) 92% 100% 58% 100%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
Os dados acerca da distribuição de financiamentos públicos na indústria de Óleos estão
na Tabela 3.47. Os dados representam valores acumulados entre 1996 e 2006, e podem
representar a mesma empresa em anos distintos. A participação de seguidoras e
emergentes em financiamentos do BNDES é significativa, com 60% das líderes e 75%
das seguidoras com financiamentos. Em termos de volume de financiamento, o montante
para as seguidoras é quase 5 vezes maior, o que reflete a participação dessas empresas
no setor.
162
Tabela 3.47 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Produção de Óleos e
Gorduras (valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de firmas 25 235 338 8
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
15 (60%)
177 (75%)
165 (49%)
6 (75%)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 390.593 1.966.793 210.161 12.673
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
3.3.4. LATICÍNIOS
Por tratar-se de setor com tecnologia difundida e madura, os investimentos e gastos com
atividades inovativas realizados pelas empresas na grande maioria das vezes não são
relativamente baixos, mesmo relativamente aos demais setores agroindustriais
analisados, especialmente em P&D. A percentual de gastos em P&D em relação ao
faturamento é de apenas 0,1% para as líderes, o que indica um regime tecnológico
inteiramente dominado pelos fornecedores, através da compra de conhecimento tangível
em capital fixo
Do total de gastos com investimentos em inovações, 71% é realizado pelas seguidoras,
cabendo às líderes a fatia de apenas 6%. A análise da tabela abaixo mostra que esse
montante de gastos é utilizado quase que primordialmente na aquisição de maquinário,
com vistas a incremento e adequação de tecnologia. O mesmo acontece com as
empresas frágeis, nas quais o maior montante de gastos fica a cargo das máquinas e
equipamentos. As empresas emergentes parecem destoar deste padrão inovativo uma
vez que seus investimentos representam 2% do total, enquanto seus gastos em P&D
representam 22%, indicando um percentual sobre o faturamento de 0,7%, uma evidência
de que atuam em nichos de produtos diferenciados da indústria de laticínios.
163
Figura 3.8 Investimentos e Gastos em P&D de Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e
Emergentes.
6%
71%
21%2%
Investimento
21%
28%29%
22%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 3.48
Distribuição Percentual dos Gastos em Atividades Inovativas da Indústria de Laticínios, por categoria de empresa, 2005
Indicador Tipo de empresa
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Total
Número de empresas 5 80 381 12 478 Gastos em atividades inovativas (em milhões de R$)
12,5 401,2 113,4 12,9 539,9
Gastos em P&D interno (em milhões de R$)
3,0 (24,3%)
4,2 (1,0%)
3,8 (3,3%)
2,8 (22,1%)
13,8 (2,6%)
Gastos em P&D externo (em milhões de R$)
0,0 (0,0%) - 0,6
(0,5%) 0,3
(2,7%) 0,9
(0,2%) Aquisição de outros conhecimentos (em milhões de R$)
0,0 (0,0%)
1,4 (0,4%)
0,2 (0,2%)
0,0 (0,2%)
1,6 (0,3%)
Aquisição de máquinas e equipamentos (em milhões de R$)
4,3 (34,8%)
290,0 (72,3%)
71,0 (62,6%)
7,3 (57,1%)
372,7 (69,0%)
Treinamentos (em milhões de R$)
0,8 (6,6%)
4,1 (1,0%)
0,7 (0,6%)
0,2 (1,3%)
5,8 (1,0%)
Gasto em introdução das inovações (em milhões de R$)
2,9 (23,1%)
45,7 (11,4%)
2,8 (2,4%)
0,2 (1,6%)
51,6 (9,6%)
Projeto industrial 1,4 (11,2%)
55,7 (13,9%)
34,5 (30,4%)
1,9 (15,0%)
93,5 (17,3%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. O baixo esforço tecnológico pode ser analisado também pela capacitação dos recursos
humanos incumbidos de atividades tecnológicas. É praticamente inexistente a presença
de mestres e doutores nas atividades de P&D, tendo participação pequena ainda do
número de outros pesquisadores, que podem ou não serem graduados.
164
Tabela 3.49 Composição dos Trabalhadores de P&D Exclusivo da Indústria de Laticínios, 2005
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12
Pessoal Ocupado (número de pessoas)
9879 (15,8%)
20889 (33,5%)
29635 (47,5%)
2020 (3,2%)
Número de doutores em P&D – exclusivo
0 (0,0%)
2 (0,01%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Número de mestres em P&D – exclusivo
0 (0,0%)
2 (0,01%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Número de outros em P&D – exclusivo
41 (0,4%)
60 (0,3%)
22 (0,1%)
43 (2,1%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE. Mesmo com o baixo número de pessoal especializado em P&D, as empresas líderes
declaram alta importância para seus departamentos de P&D, o que é paradoxal. Em
relação às seguidoras e frágeis, a prioridade é o relacionamento com clientes,
consumidores e fornecedores, respectivamente. Para as emergentes, também há grande
incidência de respostas de departamentos de P&D. Na relevância das fontes de inovação,
todas as categorias tiveram como maior incidência de respostas a importância das feiras
e exposições. Já sobre a incidência de cooperação para inovação, apenas a categoria de
empresas líderes teve alta incidência em cooperação, não sendo relevante mais nenhuma
informação.
De certa forma, os resultados mostram um regime tecnológico do setor sem evolução,
com elevado nível de maturação tecnológica.
Tabela 3.50 Importância de Fontes Externas para Inovação na Indústria de Laticínios
(números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12 Importância para departamentos de P&D
5 (100%)
10 (12,7%)
0 (0,0%)
9 (79,0%)
Importância alta para fornecedores
1 (20,0%)
17 (21,2%)
61 (16,0%)
8 (67,3%)
Importância alta para clientes e consumidores
1 (20,0%)
29 (36,5%)
56 (14,8%)
4 (35,7%)
Importância alta para concorrentes
0 (0,0%)
8 (10,0%)
23 (6,2%)
2 (14,6%)
Importância alta para empresas de consultoria
0 (0,0%)
26 (32,6%)
15 (4,1%)
2 (14,6%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
165
Tabela 3.51 Fontes de Inovação na Indústria de Laticínios
(número de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12
Importância para Universidade
0 (0,0%)
20 (25,4%)
9 (2,3%)
2 (14,6%)
Importância alta para centro de capacitação
0 (0,0%)
4 (5,5%)
5 (1,3%)
2 (14,6%)
Importância alta para instituições de teste
0 (0,0%)
4 (5,6%)
12 (3,3%)
4 (37,6%)
Importância alta para feiras e exposições
3 (60,0%)
31 (39,1%)
69 (18,0%)
7 (58,7%)
Importância alta para redes de informação
1 (20,0%)
9 (11,4%)
48 (12,6%)
7 (58,7%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 3.52 Cooperação para Inovação na Indústria de Laticínios (números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 5 80 381 12
Cooperação para inovação 3 (60,0%)
23 (29,0%)
11 (2,8%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores
1 (20,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com fornecedores
2 (40,0%)
2 (2,5%)
4 (1,1%)
0 (0,0%)
Importância alta para cooperação com concorrentes
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
Cooperou em P&D com fornecedores
3 (60,0%)
2 (2,5%)
3 (0,7%)
0 (0,0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO Em uma análise por estrutura de capital, só não há predomínio de capital nacional entre
as empresas líderes, visto que duas empresas possuem capital estrangeiro –
possivelmente a DPA Nestlé e a Parmalat, duas das maiores empresas estrangeiras que
operam em território nacional. Para as demais categorias, a participação é majoritária
nacional. Porém, todas as empresas de capital estrangeiro são consideradas inovadoras.
166
Tabela 3.53(a) Firmas Estrangeiras Dentre as Líderes e Seguidoras na Indústria de Laticínios
(números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras
Nacionais Internacionais Nacionais Internacionais
Número de Empresas 3 2 78 2
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total (%)
12,5 24,0 61,2 87,4
Inovadoras (% do total) 100,0 100,0 46,0 100,0
Exportadoras (% do total) 100,0 100,0 26,0 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 3.53(b) Firmas Estrangeiras Dentre as Frágeis e Emergentes na Indústria de Laticínios
(números de empresas e participação no total, 2005)
Frágeis Emergentes
Nacionais Internacionais Nacionais
Número de Empresas 380 1 12
Investimento em máquinas e equipamentos em relação ao investimento total (%)
54,3 82,2 52,8
Inovadoras (% do total) 44,0 100,0 79,0
Exportadoras (% do total) 0,0 0,0 0,0
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS Com relação aos financiamentos públicos, há uma participação muito grande dos
governos no setor. Grandes porcentagens de empresas, independente da categoria de
classificação inovativa, recebem financiamentos públicos. Os montantes são elevados e
apresentam uma média de financiamento de R$ 33 milhões para as empresas líderes, R$
5 milhões para as empresas seguidoras, R$ 354 mil para as frágeis e R$ 660 mil para as
emergentes. Somente por parte do BNDES os investimentos no setor de laticínios em
2007 somaram R$ 240 milhões, perdendo em quantum financiado no setor agropecuário
apenas para o setor de carnes e de cana-de-açúcar (BNDES, 2008).
167
Tabela 3.54 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Laticínios
(valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de firmas 5 80 381 12
Número de firmas financiadas pelo BNDES (1996 a 2006)
4 (80,0%)
39 (49,0%)
201 (52,6%)
12 (100%)
Valores contratados pelo BNDES (R$ milhares) 166126,9 401264,0 135610,2 8043,4
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
168
4. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS
4.1. PRODUTOS QUÍMICOS INORGÂNICOS
O processo de acumulação de conhecimento da indústria de produtos químicos
inorgânicos é marcado por baixo nível de oportunidades tecnológicas e de apropriação,
tendo em vista a maturidade tecnológica de produtos e processos da produção de
fertilizantes ou de seus insumos básicos. Se, por um lado, a natureza homogênea dos
produtos do setor e o baixo nível de apropriação permitem um grande número de
ofertantes de fertilizantes no setor, a necessidade de escala crescente de produção, por
outro lado, fez emergir grande número de fusões e aquisições para domínio de mais
etapas da cadeia produtiva, desde a fabricação das matérias-primas até os fertilizantes
básicos e misturas NPK.
Mesmo com o processo de fusão e aquisições ocorrido ao longo da década de 1990 e
com relativo aumento de participação das quatro e oito principais líderes de mercado no
período 1996-2006, o setor possui baixa concentração econômica vis-à-vis outros setores
a montante do agronegócio, como defensivos e máquinas e equipamentos agrícolas.
Existem 127 empresas que podem ser consideradas frágeis tecnologicamente, enquanto
99 são seguidoras e 9 são líderes.
Em termos de regime tecnológico, as líderes tecnológicas são pouco intensivas em
conhecimento, além de quase não se distinguirem das seguidoras, pois possuem
intensidade de P&D equivalente a 0,3% contra 0,2% destas. Por outro lado, as líderes
tecnológicas de produtos químicos inorgânicos são intensivas em capital, investindo 7%
do faturamento. Esse percentual não só é alto em relação às seguidoras do próprio setor
(3%), quanto em relação às líderes de defensivos agrícolas (1,8%) e de máquinas e
equipamentos agrícolas (2%). A intensidade em capital reflete a crescente escala de
produção, como mencionado acima.
Ao longo do período 1996-2008, foi possível constatar que a expansão agrícola no País,
principalmente das culturas de soja e cana, gerou demanda crescente de fertilizantes, não
sendo atendida pela produção nacional. Associado ao aumento das cotações
169
internacionais dos insumos dos fertilizantes, houve crescentes déficits na balança
comercial do setor. Com base nas perspectivas inflexíveis de aumento do consumo futuro
de fertilizantes, por causa da tendência de aumento da produção de soja e de
combustíveis limpos e da crescente demanda mundial por alimentos, são necessárias
medidas para atenuar a dependência externa no setor, tendo em vista que o aumento dos
custos dos insumos agrícolas pode exercer fortes impactos sobre os preços dos
alimentos.
Algumas medidas de política industrial para o setor de produtos químicos inorgânicos, em
especial para o setor de fertilizantes, são enumeradas nas seguintes propostas abaixo:
1. Investimentos para aumentar a oferta não somente de fertilizantes como dos seus
insumos. Nesse sentido, são convenientes investimentos da Petrobrás para
aumento de produção de gás natural, uréia e amônia.30 A participação da estatal
brasileira é importante tendo em vista o volume de capital exigido para construir
tais plantas industriais. Outros investimentos estatais podem ser interessantes no
sentido de diminuir a dependência nacional das importações ou do fornecimento de
filiais de empresas multinacionais, que concentram grande parcela do mercado
brasileiro, como Bunge, Mosaic e Yara.31 Os investimentos que envolvem parcerias
com empresas privadas para exploração de jazidas minerais, como a de potássio
na Amazônia, devem ter cuidadosa avaliação ambiental, tendo em vista que a
exploração sustentável é um aspecto indissociável das políticas industriais
contemporâneas.
2. Estímulos à produção nacional através de isonomia tributária dos fertilizantes
nacionais e importados, a exemplo da isenção de ICMS usufruída pelos importados
e das diferentes alíquotas que oneram produção nacional de acordo com o estado 30 A terceira unidade da Petrobrás para produção de nitrogenados (amônia e uréia) tem custo orçado em US$ 2 bilhões, além de previsão para operação em 2013, com produção de um milhão de toneladas. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=29-4-2009&codmateria=5540765&codcategoria=306&tp=12&searchTerm=fertilizantes. 31 O recente anúncio de intenção de criação de uma empresa bi-nacional para produção de fertilizantes entre Brasil e Rússia assinala a possibilidade de transferência de tecnologia externa para o Brasil e de diminuição da dependência do fornecimento de fertilizantes por parte das três principais empresas privadas do setor (Bunge, Mosaic e Yara), o que ocasiona incertezas de mercado para a agricultura brasileira, como crises de oferta, imprevisibilidade de custos e desestímulo à produção. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=19-8-2009&codmateria=5770276&codcategoria=306&tp=12&searchTerm=fertilizantes&scrollX=0&scrollY=1152&tamFonte=.
170
da federação. Deve-se também incorporar na Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP) o pleito do setor de desoneração tributária referente às despesas
portuárias e de frete de mercadorias que encarecem o preço dos fertilizantes.
3. Incentivar a pesquisa básica e aplicada sobre minerais de rochas brasileiras.
Segundo Dias e Fernandes (2006), há pesquisadores de 17 instituições de ensino
e pesquisa brasileiras, como UFSCar, UFBA, UnB e unidades da EMBRAPA, que
estão envolvidos em pesquisas sobre obtenção de potássio de rochas brasileiras,
financiadas por recursos dos Fundos Setoriais do Agronegócio e Mineral, do
Ministério da Ciência e Tecnologia. Há também pesquisas sobre novos compostos
minerais, com base em arenito zeolítico que é encontrado em rochas do sul do
Maranhão, que podem ser misturados aos fertilizantes nitrogenados, aumentando
sua eficiência.32 Pesquisas como essa podem diminuir a quantidade de fertilizantes
nitrogenados que é usada no campo, além de diminuir o impacto ambiental do uso
excessivo de fertilizantes, o que é geralmente constatado em culturas de rosas e
hortaliças.
4. Sobre redução de impactos ambientais é necessário lidar com dois problemas
relacionados à produção de fertilizantes. No primeiro caso, um subproduto da
produção de fertilizantes é o gesso (sulfato de cálcio). Esse material pode atingir o
lençol freático por causa de águas residuais ácidas que são derivadas do gesso. O
tratamento do gesso, além de impedir o dano ambiental mencionado, pode
apresentar diferentes benefícios, como: correção da acidez do solo ao remover o
alumínio, fonte de enxofre para plantas e uso na construção civil, bem como em
edificações, compactação e acostamento de estradas. No segundo caso, há a
produção de efluentes alcalinos líquidos amoniacais e ácidos (principalmente
fosfórico) e as emissões gasosas dos óxidos de enxofre e nitrogênio das fábricas
de ácido sulfúrico e nítrico, entre várias outras. Há leis rígidas em vigor e há
preocupação constante da ANDA em acompanhar o desenvolvimento da
legislação.
32 Disponível em http://74.125.93.132/search?q=cache:cfDkTV3U5r0J:www.agrosoft.org.br/agropag/101483.htm+ur%C3%A9ia+%C3%A9+insumo+para+fertilizante+nitrogenado&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br.
171
4.2. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
O processo de acumulação de conhecimento da indústria de defensivos agrícolas possui
alto nível de oportunidades tecnológicas e de apropriação, tendo em vista as
possibilidades abertas pela biotecnologia em firmas que já possuíam competência
específica na área de química fina. Em termos de liderança tecnológica, o mercado
brasileiro de agroquímicos é dominado por sete empresas e 36 seguidoras. As líderes são
filiais de grandes corporações internacionais que competem no segmento de produtos de
alto valor agregado, resultantes de intensos investimentos em P&D de suas matrizes, com
retornos da inovação apropriados por patentes. As seguidoras são compostas, em sua
maioria, por empresas nacionais, com reduzida capacidade de realização de P&D, que
focam o mercado de produtos genéricos.
Em termos de regime tecnológico, as líderes tecnológicas são muito intensivas em
conhecimento, particularmente nas áreas de química fina e biotecnologia. A intensidade
de P&D das líderes equivale a 0,6% contra 0,3% das seguidoras, ainda que o percentual
das líderes seja modesto em relação aos investimentos em P&D realizados pelas
matrizes dessas empresas no exterior. Embora gastem 61% de todos os recursos
destinados a investimentos no setor, as líderes possuem menor indicador relativo de
intensidade de capital, tendo em vista que investem 1,8% do faturamento ao passo que as
seguidoras investem 3,7%.
A sobrevivência das firmas seguidoras no longo prazo, porém, é incerta e dependente das
estratégias das líderes tecnológicas e de mercado do setor, que envolveram fusões e
aquisições a fim de aquisição de competências em biotecnologia e domínio do mercado
de genéricos, que representa grande parcela do mercado brasileiro. O processo de fusões
e aquisições horizontais e verticais no Brasil refletiu tendências mundiais de incorporação
de empresas com know-how em biotecnologia, especialmente manipulação genética de
sementes para produção de novas variedades de plantas resistentes a classes de
pesticidas específicos, de acordo com o interesse comercial das empresas. No caso
brasileiro, há especial intenção de dominar técnicas de engenharia genética vinculadas a
culturas com grande potencial de mercado mundial, como as de soja e cana-de-açúcar.
172
Como reflexo dessas mudanças, houve significativo aumento de participação das quatro e
oito principais líderes de mercado no período 1996-2006, que alcançou, respectivamente,
61% e 84% em 2006, em que pesem as expectativas de maior concorrência com a
modificação do marco legal que introduziu o sistema de registro por equivalência, entre
2002 e 2006.
A concentração econômica é alta não só em termos absolutos quanto em relativos, em
comparação com setores de fertilizantes e máquinas e equipamentos agrícolas, sem
tendência de diminuição aparente. Ao contrário, as perspectivas de concentração
econômica aumentam se consideradas as barreiras à entrada do setor, como
procedimentos legais de registros de produtos, construção de redes de distribuição e de
assistência técnica aos usuários, conteúdo científico crescente da P&D e, principalmente,
as possibilidades de comandar o ritmo e direção das inovações, tendo em vista a sua
influência sobre o grau de obsolescência tecnológica dos produtos existentes, e de
investir em biotecnologia para produção de sementes transgênicas adaptadas às marcas
de seus defensivos agrícolas. Com isso, as empresas podem vender aos agricultores um
pacote inteiro de produtos, que vai desde a semente manipulada geneticamente ao
pesticida que comercializa.33
Ilustram tais estratégias a introdução de sementes transgênicas para culturas34 que
produzirão seus próprios inseticidas, o que reduzirá o tamanho do mercado para
empresas sem competência científica em biotecnologia e sementes transgênicas, como é
caso de muitas seguidoras brasileiras que produzem inseticidas. Além disso, a adesão
dos agricultores às sementes transgênicas está associada à compra dos defensivos para
os quais a resistência das sementes foi gerada. Em 1995, a Calgene/Rhône-Poulenc
lançou a primeira semente transgênica de algodão resistente ao herbicida bromoxynil. A
AgrEvo/Plant Genetic System lançou a primeira semente transgênica de Canola resistente
ao glufosinate. A Monsanto lançou a semente de soja resistente ao Roundup e,
33 Além disso, a empresa pode impor aumentos de preços aos agricultores, como ilustra o caso da Monsanto que aumentou recentemente em 26% os royalties cobrados por suas sementes de soja modificadas geneticamente e tolerantes ao herbicida Roundup em Mato Grosso. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=21-8-2009&codmateria=5775595&codcategoria=83&tp=12&searchTerm=monsanto. 34 Como é o caso das sementes transgênicas produzidas pela Monsanto de batata, algodão e milho que contêm o BacilusTuringiensi.
173
posteriormente, as de canola e algodão.35 No caso da soja, que consome em torno de
40% dos agroquímicos vendidos no Brasil,36 a participação das lavouras com uso de
semente modificada geneticamente e resistente ao herbicida da Monsanto alcança 58%
da safra nacional. Mas, embora a participação da soja transgênica tenha aumentado e
conquistado 87% da produção mundial,37 ainda há mercado para a soja convencional
porque alguns países (europeus) pagam mais ou porque os custos com a lavoura
transgênica podem superar os da convencional se rotações de cultura não forem
realizadas no campo, a fim de evitar o surgimento de ervas daninhas resistentes ao
glifosato, o que exige consumo de outros tipos de herbicidas.
Ainda que a trajetória tecnológica da biotecnologia seja utilizada pelas grandes
corporações internacionais para garantir a reprodução do capital investido na trajetória
química, desde meados do século XX, o mercado disponível às empresas seguidoras é
incerto em função de tendências tecnológicas futuras. Algumas dessas visualizam
impactos da nanotecnologia sobre a criação de uma “agricultura inteligente”, com base na
convergência da biotecnologia, tecnologias de informação e comunicação e
nanotecnologia (Dulley, 2005).
De fato, há evidências que grandes corporações, como Basf e Bayer, desenvolvem
pesquisas sobre a formulação de pesticidas em nanoescala, enquanto a Syngenta
comercializa defensivos agrícolas formulados como microemulsões (Dulley, 2004). Os
investimentos dessas empresas na nanotecnologia sugerem fusão dessa área de
conhecimento com a biotecnologia, antecipando diversas aplicações para a agricultura,
como: 1) otimização da eficácia das partículas de pesticidas pela nanoencapsulação; 2)
programação das cápsulas para liberação do princípio ativo sob diferentes condições; 3)
redução de danos às culturas; 3) diminuir a perda de pesticidas por evaporação; 4)
35 Várias tentativas de introdução de tecnologias para aumentar o poder de mercado das grandes corporações internacionais foram praticadas desde o fim da década de 1990. Algumas estiveram envolvidas com intensa polêmica, o que fez algumas companhias recuarem. Podem ser citadas como exemplo as tecnologias Terminator e Traitor. A primeira foi desenvolvida pela Monsanto que pretendia produzir sementes estéreis para que os agricultores, a cada safra, tivessem total dependência da empresa para compra de sementes. Por causa da repercussão desfavorável, a empresa produziu a segunda tecnologia que consistiu em sementes com suicídio programado geneticamente. A fim de permitir que a semente germinasse, o agricultor seria forçado a adquirir o agroquímico vendido pela multinacional. Estratégias similares foram perseguidas por AstraZeneca e Novartis, que formaram a atual Syngenta (Martins, 2000). 36 Estimativa de MAPA (2009). 37 Estimativas de 2009, disponíveis em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/lucros-secaram-490818.shtml.
174
diminuir danos a outras espécies; 4) reduzir impacto ambiental; 5) facilitar o manuseio de
pesticidas de elevada concentração; 6) evitar entupimento de bicos aspersores; 7)
diminuir a quantidade de defensivos usada ao mesmo tempo em que se pode obter maior
tempo da atividade química; 8) redução do contato humano com o pesticida e de outros
impactos ambientais.38
Os avanços tecnológicos recentes podem revolucionar a base tecnológica da agricultura
tradicional e trazer sérias conseqüências em termos perda de competitividade, maior
dependência tecnológica, desemprego ou mesmo insegurança alimentar, tendo em vista
que grandes corporações internacionais investem e dominam tais técnicas. A fim de
minimizar seus impactos socioeconômicos sobre a sociedade brasileira, seriam
importantes as seguintes medidas abaixo:
1) Construir fortes incentivos fiscais, creditícios e financeiros para que empresas
brasileiras que ainda atuem no segmento de agroquímicos internalizem
capacidade de P&D, interagindo com instituições de ensino e pesquisa que tenham
competência em biotecnologia e nanotecnologia. A proposta de criação de
incentivos de natureza tributária deve ser mais enfatizada pela PDP, que avança
pouco nesse sentido, em relação ao arcabouço legal representado pela “Lei de
Inovação” e “Lei do Bem”. O surgimento de novos paradigmas tecnológicos
permite a criação de “janelas de oportunidade” que apenas podem ser
aproveitadas por empresas com mínima capacitação tecnológica para dialogar
com instituições de ensino e pesquisa e realizarem um processo de catching up. A
ausência de esforços internos de P&D pode inviabilizar quaisquer possibilidades
de entrada no setor abertas com mudanças de paradigmas. Essa recomendação
equivale a uma tentativa de fazer a firma nacional migrar da categoria de seguidora
para líder tecnológica do setor. Instituições de pesquisa brasileiras, como
EMBRAPA e Centro Tecnologia Canavieira (CTC), possuem know-how em
biotecnologia que podem ser repassadas a empresas nacionais que adquirirem
capacidade mínima de P&D, como ilustram os casos recentes de parceria entre a
Basf e EMBRAPA, para desenvolvimento de sementes de soja tolerantes aos
38 A meta mais ambiciosa da nanotecnologia é produzir alimentos por intermédio de fabricação molecular (Dulley, 2004).
175
herbicidas do grupo químico das imidazolinonas,39 e CTC, para desenvolvimento
de variedades de cana-de-açúcar mais produtivas e resistentes à seca da região
Centro-Oeste.40 Incentivos à formação de parcerias entre as empresas nacionais e
instituições de pesquisa, seriam importantes para que aquelas entrem no
segmento de sementes transgênicas.
2) Estimular um grande programa de P&D em biotecnologia e nanotecnologia com
aplicações na agricultura e nos seus insumos à montante, como é o caso dos
defensivos agrícolas. O programa deveria envolver várias instituições de ensino e
pesquisa com know-how nas áreas citadas, assim como as empresas nacionais do
setor. Há intenções similares na PDP, como se pode constatar. Primeiro, a PDP
vislumbra a criação de grupos de trabalho para fins de desenvolvimento da
nanotecnologia em áreas selecionadas. Umas das áreas que deveria incluir
especialistas em nanotecnologia e representantes do setor privado é o setor de
agroquímicos. Tal proposição tenta criar maiores oportunidades tecnológicas e
maior acumulação de conhecimento para o empresariado nacional. Segundo, a
PDP prevê medidas que visam: 1) “fomento à conservação e uso sustentável de
Recursos Genéticos para agricultura e alimentação (insumos para a
biotecnologia)”; 2) “fomento à inovação no agronegócio”; 3) aumentar os
investimentos públicos e privados para difusão da biotecnologia nas empresas
nacionais através do Fundo Setorial de Biotecnologia (CT-BIOTEC).
3) Estimular a produção nacional de defensivos para atenuar os problemas de déficit
crescente da balança comercial do setor, além de estimular maior agregação de
valor local. Para tal, poder-se-ia vincular, conforme sugestão de Velasco e
Capanema (2006), a liberação de crédito agrícola do governo à compra de
defensivos produzidos no Brasil. Nesse caso, as multinacionais que quisessem
vender produtos importados aos agricultores teriam que financiá-los, ao invés do
39 Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=14-8-2009&codmateria=5762567&codcategoria=306&tp=12&searchTerm=basf&scrollX=0&scrollY=1062&tamFonte=. 40 Disponível em: http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?dtmateria=5-8-2009&codmateria=5746384&codcategoria=306&tp=12&searchTerm=basf.
176
Governo. Essa medida poderia, inclusive, aumentar a oferta de crédito agrícola no
Brasil.
4) Direcionar incentivos fiscais às empresas que investissem no controle biológico de
pragas agrícolas, conforme proposta do Projeto de Lei 2319/03 de Incentivo ao
Controle Biológico (Fronzaglia, 2006), que foi arquivada por causa de mudança de
legislatura em 2007. Por essa proposta, a empresa produtora de defensivos
agrícolas aplicaria percentual de sua receita bruta anual no desenvolvimento de
agentes biológicos, com possibilidades de deduções do Imposto de Renda, até
certo limite. Essa proposta poderia ser realizada em parceria com outras empresas
do setor de produtos biológicos para controle de pragas ou instituições de ensino e
pesquisa, aproveitando o arcabouço legal da “Lei do Bem”. Dessa forma, o
desenvolvimento de agrotóxicos financiaria o controle biológico.
5) Adequar a produção nacional de fertilizantes a normas técnicas internacionais,
geralmente mais rigorosas, a fim de proteger o meio ambiente brasileiro e
capacitar empresas nacionais a competir no exterior. É sabido que muitos dos
defensivos agrícolas, banidos em nações desenvolvidas, são usados largamente
nos países em desenvolvimento pela simples incapacidade de os produtores lerem
as instruções nos rótulos e avisos de precaução (Ferman e Antunes, 2008). Além
disso, para adequar a linha de produtos nacionais às exigências de mercados
internacionais, para superação de barreiras técnicas, seria necessário construir um
núcleo de informações com pessoal altamente qualificado em comércio exterior e
na cadeia de defensivos, na linha proposta pelos autores acima.
177
4.3. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS
O processo de acumulação de conhecimento da indústria de máquinas e equipamentos
agrícolas guarda estreita relação com o setor de bens de capital e com o setor
automobilístico. Por isso, nota-se a dependência da escala de produção, que é comum a
ambas indústrias citadas, e a existência de ritmo relativamente lento de introduções de
novos processos e produtos e de dependência dos mecanismos de aprendizado por
fazer, buscar, usar e interagir, que são características muito comuns aos setores de bens
de capital, que permitem o domínio de informações, de natureza tácita, adquiridas através
de interação usuário-produtor.
Considerando a taxonomia adotada nesse estudo, nota-se que o setor é heterogêneo,
combinando a convivência de 29 empresas líderes, 136 seguidoras, 84 frágeis e 7
emergentes. Ou seja, do total de 256 empresas, 26% possuem eficiência produtiva, por
inovarem em processo, e 42% apresentam capacidade de desenvolver produtos, ainda
que a maioria seja novidade apenas para a firma (conduta imitativa).41 De qualquer forma,
alguma capacidade de inovação de produto e processo é pré-requisito para alcançar o
mercado internacional de forma competitiva. Há, porém, informações de que uma
empresa de capital estrangeiro do setor de máquinas e equipamentos mecânicos voltados
para os setores sucroalcooleiro e de alimentos tenha produzido uma inovação radical
(Strachmann e Avellar, 2008), o que demonstra o potencial do Brasil para liderar
mundialmente a produção de bens de capital das grandes lavouras existentes no País,
como cana-de-açúcar e soja, por exemplo. Os autores também mencionam que até
mesmo subsidiárias de multinacionais, quando operam em setores em que mercado
brasileiro propicia vantagem competitiva, como é o caso de álcool e suco cítrico, possuem
autonomia inovadora maior do que o padrão de inovação dessas empresas em países
hospedeiros, que é geralmente marcado por simples adaptações locais de inovações
desenvolvidas nas matrizes.
Em termos de regime tecnológico, as líderes tecnológicas, com 72% dos gastos totais de
P&D e 26% dos gastos totais com investimentos do setor, são mais intensivas em
41 Seis das 29 líderes declararam ser inovadoras de produto e processo para o mercado brasileiro, enquanto uma inovou em produto não existente no mercado mundial.
178
conhecimento e menos em capital, em relação às seguidoras, que realizam 70% dos
gastos totais de investimento e 23% dos gastos totais em P&D do setor. Isso se reflete
numa relação P&D sobre investimento da ordem de 56% para as líderes e 6,6% para as
seguidoras. Logo, nota-se que as líderes estão em regime tecnológico de maiores
oportunidades, cumulatividade e apropriação, explorando nichos de mercado de alto valor
agregado. As seguidoras são mais intensivas em investimento de natureza tangível
embora possuam performance exportadora similar às líderes, em termos de participação
média das exportações no faturamento. Essa estratégia tem produzido mudança do
patamar de participação das oito maiores empresas do mercado a partir de 2000 e
relativa estabilidade dessa concentração a partir de então. O mesmo se pode dizer sobre
a líder de mercado do setor, conforme o indicador de primazia.
De modo geral, o setor de máquinas e equipamentos agrícolas cresceu em termos de
importância produtiva, medida tanto pela participação do valor bruto de produção no total
da indústria de transformação brasileira, no período 1996-2004, quanto pelo crescente
número de empresas no período 1996-2008. Em paralelo, o setor passou por significativo
número de fusões e aquisições no Brasil ao longo das décadas de 1990 e 2000, o que
levou à concentração do mercado em torno das oito principais empresas do setor. Em
geral, as líderes de mercado são empresas de capital estrangeira de grande porte, como
AGCO, John Deere, CNH Global e Agri-Tillage, que abastecem o mercado interno e
exportam máquinas automotrizes. Empresas brasileiras integram o grupo de líderes e
seguidoras tecnológicas, produzindo implementos agrícolas de tração mecânica para o
mercado doméstico e externo. Outras de pequeno porte especializaram-se na produção
de peças e componentes estabelecendo relações de subcontratação com as líderes
tecnológicas e de mercado, embora não seja raro atuarem com marcas próprias em
segmentos de equipamentos agrícolas e estabelecerem estratégias de fornecimento de
produtos para a indústria automobilística.
A competitividade externa exibida pelo setor, como atesta a variação de 259% das
exportações no período 1996-2008 e principalmente a partir da trajetória crescente
iniciada em 2002, reflete o envolvimento de líderes tecnológicas em inovações de produto
e processo, além dos efeitos indiretos de programas governamentais de suporte ao setor,
como o MODERFROTA. A partir desse Programa, a indústria brasileira atingiu maior
179
escala de produção e capacitação tecnológica, propiciando a renovação da frota nacional
de tratores e colheitadeiras.
Em termos de diretrizes de política industrial para o setor de máquinas e equipamentos
agrícolas, são apresentadas abaixo algumas propostas em consonância com os
resultados encontrados na pesquisa:
1. Estimular a consolidação de um regime tecnológico das empresas líderes e
seguidoras mais intensivo em conhecimento na geração de novos produtos,
pela posição estratégica que ocupam na agroindústria nacional, permitindo a
difusão da produtividade no setor de agronegócios, com rebatimentos
positivos sobre oferta de alimentos, balança comercial e liderança tecnológica
do Brasil no segmento.
2. Além disso, as políticas de incentivos à exportação da indústria, como
PROEX-Financiamento, PROEX-Equalização e o Novo Revitaliza
Exportações, poderiam fortalecer as empresas nacionais e seguidoras para
atingirem metas de aceleração do crescimento de suas exportações.
3. Suporte à atuação do SEBRAE junto às empresas pequenas e de médio
porte, que muitas vezes se localizam em arranjos produtivos locais,
especialmente na criação de consórcios de exportação, de agregação de valor
e de criação de central de compras. Ilustram tais proposições as iniciativas do
SEBRAE do Rio Grande do Sul que procurou induzir e desenvolver junto às
empresas estratégias de diversificação de produtos, destinando-os também à
indústria automobilística, de agregação de tecnologia a produtos e processos
e de prospecção de mercados externos. Sobre este último ponto, os agentes
do arranjo local foram estimulados a criarem um consórcio de exportação
(Greentech), tentando ampliar o mercado na América do Sul, Leste Europeu e
Austrália. A entrada no mercado australiano envolveu parceria com a
EMBRAPA que auxiliou no desenvolvimento de uma plantadeira com três
linhas adequada às características do solo daquele país. Em Horizontina foi
criada uma central de compras de matérias-primas e insumos para o setor
180
metal-mecânico, com objetivos de reduzir custos entre as empresas
fornecedoras da John Deere (Tatsch e Passos, 2007).
4. Embora o número de emergentes seja muito reduzido (7), deveriam receber
maiores aportes ou condições mais favoráveis em programas especiais do
BNDES, tendo em vista que a participação atual das emergentes nas fontes
de recursos do BNDES totalizam apenas 0,2% dos recursos financiados ao
setor a que pertencem. O seu potencial tecnológico é significativo, tendo em
vista que suas relações P&D/faturamento e P&D/investimento são de 3,1% e
51%. Outra proposta que poderia atingir pequenas empresas emergentes
seria a subvenção de projetos de inovação, ao invés de financiamento, nos
quais os riscos seriam repartidos com o BNDES e parte dos royalties seriam
empregados para financiar outros projetos. Esta proposta poderia estar
articulada à capacidade embrionária de inovação existente nas empresas
emergentes ou nas empresas pequenas e médias das categorias líderes e
seguidoras;
5. Com relação a esse último ponto, é preciso criar condições de acesso ao
crédito a empresas de médio e pequeno porte, para fins de capital de giro e
aquisição de máquinas e equipamentos, com juros baixos, tendo em vista que
as grandes empresas do setor possuem condições de financiamento próprias.
Isso é particularmente importante porque grande número de pequenos e
médios fabricantes de implementos agrícolas e peças e componentes, muitas
vezes inseridos em arranjos produtivos locais.
6. Fortalecimento e ampliação do Programa MODERFROTA atuando sobre
fatores identificados como gargalos do programa: 1) grande prazo decorrido
entre o envio da proposta de financiamento e a liberação de recursos, o que
prejudica o fluxo de caixa do fabricante e da concessionária; 2) escassez de
recursos do Programa.
7. Outras medidas, também com caráter de suporte institucional, estão
vinculadas à ampliação dos esforços de promoção da produção do setor no
181
exterior através de instituições como Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (APEXBRASIL), que pode financiar a
participação em feiras internacionais. A participação em feiras é uma fonte
tradicional de informações para inovar, além de aumentar a visibilidade de
produtos nacionais no exterior.
8. No âmbito da PDP foram aprovadas medidas para o setor de bens de capital
que contemplam: 1) desoneração tributária do investimento, como
depreciação acelerada em 50% do prazo e crédito de 25% do valor anual da
depreciação contra a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido para
investimentos em todos os setores, permissão para depreciação de máquinas
e investimentos utilizados no setor de bens de capital em 20% do tempo
normal e eliminação da incidência do IOF de 0,38% nas operações de crédito
do BNDES; 2) incentivos ao investimento; 3) financiamento à produção e à
sua modernização, como redução do spread básico e da taxa de
intermediação financeira do BNDES; 4) duplicação do prazo para a indústria
no Produto FINAME de 5 para 10 anos. Portanto, os diversos programas da
PDP deveriam incluir também, explicitamente, as máquinas e implementos
agrícolas. Além disso, as medidas de alcance horizontal que implicam
desoneração de investimentos e inovação são bem-vindas para o setor de
bens de capital agrícolas: depreciação acelerada (ou imediata, no caso de
bens de capital para fins de P&D), redução do prazo para utilização dos
créditos do PIS/Cofins em bens de capital para doze meses para aquisição de
bens de capital novos, eliminação da incidência de IOF nas operações de
crédito para aquisição de bens de capital e junto à FINEP.
9. Redução de impactos sociais decorrentes da tendência recente de
mecanização das lavouras de cana-de-açúcar. A mecanização da colheita de
cana-de-açúcar no Estado de São Paulo tem benefícios ambientais, porque o
corte manual exige a queima da palha da cana, e de produtividade e
competitividade da produção brasileira, além de gerar demanda para as
empresas que dominam o setor. Estima-se que 90% do mercado seja
dominado pelas multinacionais John Deere e CNH, enquanto que 10% sejam
182
apropriados pela brasileira Santal.42 Como uma colheitadeira realiza o
trabalho de 100 homens que cortam cana queimada ou 200 homens que
cortam cana crua, será necessário criar programas sociais de qualificação e
recolocação no mercado de trabalho, principalmente se for levada em
consideração a existência de escassez de mão-de-obra qualificada
(soldadores, montadores e torneiros) na Santal ou mesmo para operar
tratores e colheitadeiras equipados com computador de bordo, rastreador via
satélite e ar condicionado.
4.4. INDÚSTRIAS À MONTANTE
Como visto anteriormente, as indústrias à montante da agricultura possuem elevado nível
de maturação tecnológico, com um processo de inovação essencialmente incremental e
fortemente baseado nos fornecedores de máquinas e equipamentos, ou seja, são
dominadas pelos fornecedores da indústria de bens de capital. Isto significa um esforço
inovativo pequeno em conhecimento novo, de natureza intangível, quer seja na compra
de conhecimento externo (P&D externo e formas de licenciamento de know-how) e,
principalmente realização de P&D interno à firma.
Este regime tecnológico não permite dizer que estes setores agroindustriais no país
possuem sistemas próprios de inovação, no sentido de uma articulação interativa de
firmas entre si e com instituições de pesquisa que funcione efetivamente como uma rede
de informação e produção de conhecimento. Assim, as oportunidades tecnológicas
desses setores no Brasil são limitadas, uma vez que não sofrem pressão competitiva para
adquirir, adaptar e gerar tecnologias de ponta, como o uso da biotecnologia e
nanotecnologia para novos produtos e processo produtos, típicos dos segmentos da
indústria de alimentos de países industrialmente avançados, ainda que muitas empresas
multinacionais líderes nesses mercados estejam há anos estabelecidas no Brasil.
Seguem propostas já discutidas no âmbito da PDP que podem atenuar esta fragilidade
estrutural da agroindústria nacional. Neste caso, a formulação de políticas deve ser mais
42 Estimativa de 2007, disponível em: HTTP://WWW.SINDLAB.ORG/NOTICIA02.ASP?NOTICIA=10319.
183
focada para o conjunto do complexo agroindustrial do que para setores específicos,
considerando a perspectiva de dinamizar a inovação tecnológica das firmas
agroindustriais.
1) Criar regras de enquadramento tributário diferenciadas para produtos
agroindustriais de maior valor agregado destinadas à exportação
Essa medida parece importante por focar no esforço de inovação tecnológico das
empresas. Existe a esse respeito Projeto de Medida Provisória em elaboração para
encaminhamento à Secretaria Executiva da PDP (ABDI) até agosto/09
2) Fortalecer Negociações Fitossanitárias com ações pró-ativas e sistemáticas
Uma vez já está instalado um Grupo de Trabalho (GT) para discutir assuntos
relacionados às negociações internacionais, através do fortalecimento da área de análise
de risco das pragas de vegetais. Estão sendo disponibilizados R$ 3 milhões pelo CTAgro,
para este fim.
3) Adequar legislação de registro de agrotóxicos às exigências da UE
Esse é um item muito importante, pois as restrições da EU no uso de agrotóxicos
podem afetar seriamente o desempenho exportador do complexo agroindustrial brasileiro.
O Brasil poderia solicitar a aceitação, pela UE, dos LMR’s definidos pelo Codex
Alimentarius.
4.4.1. MEDIDAS ESPECÍFICAS POR SETOR
CARNES E PESCADOS
1 – Elaboração de diagnóstico para a cadeia pesqueira.
2 - Elaborar e disseminar estudo de mercado externo para carnes de ovinos e caprinos
184
ALIMENTOS PROCESSADOS
1 - Definir estratégia para aprimoramento das condições de acesso do café solúvel ao
mercado da UE.
ÓLEOS E RAÇÕES
O investimento e a inovação do setor de Óleos e Rações está associado, em grande
parte, à aquisição de maquinas e equipamentos, o que representa uma ampliação da
capacidade de produção. Os dados da capacidade de processamento do setor estão
apresentados na tabela abaixo. Entre 2001 e 2008 a capacidade de processamento no
setor cresceu 44%, enquanto a de refino cresceu 33%. Informações do setor indicam que
ele opera com uma ociosidade média de 32%, o que significa a possibilidade de aumentar
a produção de farelo e óleos vegetais em aproximadamente 16,5 milhões de toneladas
(Amaral, 2009). O elevado nível de ociosidade pode estar associado a estratégias de
bloqueio à entrada de novas empresas no setor, o que de certa forma sacrifica margem
de lucro e mark-up no curto prazo mas preserva o poder de mercado das maiores
empresas no longo prazo.
Tabela 4.1 Capacidade Instalada no setor de Óleos e Processados de Soja
(milhões de toneladas/ano)
Capacidade de Processamento
Capacidade de Refino
Capacidade de Envase
2001 35.62 5.34 4.65
2002 36.48 5.40 4.43
2003 38.04 5.38 4.47
2004 43.48 5.94 4.54
2005 45.24 6.00 4.54
2006 47.36 6.60 5.26
2007 49.34 7.02 5.19
2008 51.30 7.11 5.16
Fonte: ABIOVE (2009)
185
Na verdade, o setor de Óleos e Processados é um elo à jusante da principal inovação na
cadeia da soja brasileira, que é a soja transgênica que elevou substantivamente a
produtividade do cultivo da soja. Entre 1990 e 2007, a produção de soja em grão cresceu
191%, enquanto a área colhida cresceu 79% (dados do sistema SIDRA-IBGE, Produção
Agropecuária Municipal). A parceria produtor-indústria de processamento tem sido citada
como elemento importante da inovação e aumento da produtividade da soja, além dos
fatores naturais, da economia de escala e do baixo custo de produção.
Uma perspectiva importante no setor de Óleos e Processamento surge com a ampliação
(compulsória) da utilização do biodiesel no Brasil. A mistura de biodiesel no país obedece
à Lei nº 11.097/2005 e à Resolução nº 2, de 27 de abril de 2009, do Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE). Estas estabelecem a mistura obrigatória de 2% de biodiesel
no diesel convencional a partir de 2008 e 5% a partir de 2013; enquanto o CNPE
determinou o aumento desse percentual para 4% a partir de julho de 2009. Segundo
informações do setor, em 2008 foram utilizadas em torno de 1 milhão de toneladas de
biodiesel, número pode atingir 1,3 milhão de toneladas em 2009 e 3,1 milhões de
toneladas em 2020. Essa produção exigirá um volume adicional equivalente de óleos
vegetais, e os dados de capacidade ociosa e de processamento indicam que pode esta
demanda pode ser plenamente atendida sem a necessidade de expansão substancial da
área plantada de soja. Provavelmente, o desenvolvimento de outras oleaginosas para a
produção de biodiesel será incentivado com o aumento da demanda pelo produto, como
por exemplo, girassol e colza, que possuem maior teor de óleo do que a soja.
Uma característica técnica importante do processamento de soja indica que a demanda
por biodiesel, embora seja uma nova demanda para o setor, não será o fator
impulsionador da expansão da produção. Isso porque o esmagamento da soja produz
necessariamente óleo e farelo em percentuais praticamente constantes, em tornos de
78% de farelo protéico e 19% de óleo. Portanto o planejamento futuro do setor leva em
conta a expansão da demanda de farelos, uma vez que apenas a expansão para a
produção de biodiesel geraria um excedente de farelo no mercado, o que poderia
pressionar os preços e a lucratividade do negócio. O esmagamento de soja possui
portanto parte de sua dinâmica ligada à demanda por proteínas vegetais, especialmente
nas rações de aves e suínos (o produto participa com cerca de 18% da composição de
186
rações). Assim, o consumo de carnes de aves e suínos deverá ser o elemento mais
significativo na demanda pela produção do setor.
Um dos principais obstáculos apontados pelo setor está na logística de transporte. A
matriz de transporte da cadeia da soja se baseia no modal rodoviário em longas
distâncias (acima de 1000km), com pequena participação do meio ferroviário e
hidroviários. Comparativamente, a matriz de transporte da cadeia nos Estados Unidos é
dominada melo modal hidroviário (ABIOVE, 2009). Assim, a melhoria da infra-estrutura de
escoamento da soja provavelmente beneficiará o setor de moagem, aumentando a
competitividade dos seus produtos no mercado externo.
1 - Apoiar o fortalecimento da competitividade da Cadeia do Trigo no Brasil
LATICÍNIOS
1 - Apoiar programa de rastreabilidade do rebanho bovino para produção de leite
Aprovado projeto no CTAgro para fortalecimento da Rede de Laboratórios de
Controle da Qualidade do Leite. Previsão de implantação: Serão beneficiados oito
laboratórios até dezembro/2009.
187
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