gravações e fotografias obtidas por particulares

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  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Vanessa Marina Bagarrão Valente

    Da Valoração de Gravações e Fotografias Obtidas

    por Particulares no Processo Penal

    Dissertação com vista à obtenção do grau de

    Mestre em Direito na área de Ciências Jurídicas Forenses

    Orientador

    !ro"essor Doutor Frederico de #acerda da Costa !into

    Janeiro de $%&'

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

    2/113

    Vanessa Marina Bagarrão Valente

    Da Valoração de Gravações e Fotografias Obtidas

    por Particulares no Processo Penal

    Dissertação com vista à obtenção do grau de

    Mestre em Direito na área de Ciências Jurídicas Forenses

    Orientador

    !ro"essor Doutor Frederico de #acerda da Costa !into

    Janeiro de $%&'

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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     À minha Mãe:

     Pela tua fortaleza de espírito, pela bondade dos teus sacrifícios,

     pelo teu amor incondicional.

     À memória dos meus avós. Eterna saudade.

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Declaração de Compromisso Antiplágio

    Declaro( )or min*a *onra( e em cum)rimento do dis)osto no artigo $%+,- do

    .egulamento do $/+ Ciclo de 0studos Conducente ao 1rau de Mestre em Direito( 2ue o

    trabal*o 2ue a)resento 3 original( de min*a e4clusiva autoria( e 2ue todas as citaç5es estão

    corretamente identi"icadas/ 6en*o consciência de 2ue a utili7ação de elementos al*eios não

    identi"icados constitui uma grave "alta 3tica e disci)linar/

    8V

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Agradecimentos

    Fernando !essoa di7ia 2ue viver não 3 necessário9 necessário 3 criar/ 0 nen*uma criação(

    a)esar de todo o trabal*o solitário 2ue im)lica( se "a7 so7in*a/

    -ssim os meus agradecimentos vão )ara todos a2ueles 2ue "i7eram )arte da min*a

    "ormação )essoal e acad3mica e 2ue contribuíram )ara a2uilo em 2ue me tornei e )ara o 2ue

    construí( construo e 2uero continuar a construir/

    : min*a Mãe e ao meu !ai )elos sacrí"icios "eitos )ara me )ro)orcionarem a mel*or 

    educação )ossível( dando,me os valores *umanos e intelectuais necessários à )rossecução

    dos meus ob;etivos acad3micos/

    -o meu irmão )ela generosidade( )elos bons e4em)los e )ela ins)iração/

    : min*a "amília( in"eli7mente se)arada )or um vasto oceano de saudade( )ela alegria de

    viver e )ela valori7ação da união/

    -os meus grandes amigos de in"

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    odo de citar e outros esclarecimentos

     =a )rimeira citação "eita( as monogra"ias são identi"icadas )elo nome do autor( seguido

    do título da obra( tomo ou volume( local de edição( editora( ano de )ublicação e res)etiva>s?

     )ágina>s?/ Os artigos escritos em )ublicaç5es )eri@dicas são identi"icados )elo nome do

    autor( seguido do título do artigo( nome da )ublicação( volume ou nAmero( ano e

    res)etiva>s? )ágina>s?/

     =as citaç5es seguintes( as obras são a)enas re"erenciadas )elo nome do autor e )elas

     )rimeiras )alavras do título da monogra"ia ou do artigo e )ela>s? res)etiva>s? )ágina>s?/

    uando a obra em causa este;a dividida em tomos ou volumes( "ar,se,á tamb3m a sua

    re"erência/

    - re"erência de ;uris)rudência 3 "eita atrav3s da indicação >abreviada? do tribunal 2ue

     )ro"eriu a sentença( seguida da res)etiva data/ - indicação dos relatores( do nAmero do

     )rocesso e do sítio da 8nternet ou da )ublicação onde a res)etiva decisão se encontra

    dis)onível encontra,se na #ista de Juris)rudência colocada no "inal da dissertação/ - mesma

    "a7 uma re"erência com)leta a todas as decis5es mencionadas >tanto no te4to )rinci)al(como em notas de roda)3? e está dividida de acordo com a organi7ação dos tribunais 2ue as

     )ro"eriram e( dentro destes( da decisão mais recente )ara a mais antiga/

    - data da consulta de decis5es ;uris)rudenciais( 2uando e"etuada atrav3s do sítio da

    8nternet( não se encontra mencionada na lista uma ve7 2ue a autora )rocedeu a uma

    reconsulta das "ontes durante a revisão da dissertação( a de ;aneiro de $%&'/

    -s citaç5es de autores estrangeiros são )re"erencialmente "eitas na língua original/

    0ventuais traduç5es da autora serão sem)re acom)an*adas do te4to original/

    V8

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    !ista de Abreviaturas e "iglas

    --FD# -ssociação -cad3mica da Faculdade de Direito de #isboa

    --/ VV/ -utores Vários

    -c/ -c@rdão

    -cs/ -c@rdãos

    -l/ alínea

    -ls/ alíneas

    -rt/ artigo

    -rts/ artigos

    BFDEC Boletim da Faculdade de Direito da Eniversidade de Coimbra

    B1  Bundeserichtshoff

    Bver1  Bundesverfassunsericht

    Ca)/ ca)ítulo

    CC C@digo Civil

    C0J Centro de 0studos JudiciáriosC=!D Comissão =acional de !roteção de Dados

    Coord/ coordenação

    C!! C@digo de !rocesso !enal

    C.! Constituição da .e)Ablica !ortuguesa

    C6 C@digo do 6rabal*o

    Delib/ Deliberação

    0d/ edição

    Fasc/ Fascículo

    J8C Jui7 de 8nstrução Criminal

    GE1  !unsturheberrechtsesetz

    M! Minist3rio !Ablico

    O!C Hrgãos de !olícia Criminal

    !1. !rocuradoria 1eral da .e)íblica

    V88

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    .eim)/ reim)ressão

    .O- .evista da Ordem dos -dvogados

    .!CC .evista !ortuguesa de Ciência Criminal

    I6J Iu)remo 6ribunal de Justiça

    It!O "trafproze#ordnun  

    6C 6ribunal Constitucional

    60D 6ribunal 0uro)eu dos Direitos do omem

    6.C 6ribunal da .elação de Coimbra

    6.1 6ribunal da .elação de 1uimarães

    6.# 6ribunal da .elação de #isboa

    6.! 6ribunal da .elação de #isboa

    Vol/ volume

    V888

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    #esumo

    -s gravaç5es e "otogra"ias obtidas )or )articulares )odem assumir,se como )rovas

    es)ecialmente relevantes na descoberta da verdade( )odendo no entanto con"lituar com os

    direitos "undamentais à )rivacidade( à )alavra ou à imagem dos visados/ =ão 3 su"iciente

    2ue se a"aste a)enas a violação do seu direito á )rivacidade( uma ve7 2ue os direitos à

     )alavra e à imagem( inde)endentes do )rimeiro( a)arecem como os direitos )rimordialmente

    violados e )enalmente tutelados no art/ &+ do C@digo !enal/ - sua admissibilidade como

     )rova está num )rimeiro momento de)endente da licitude na obtenção e utili7ação das

    mesmas( tal como )revê o art/ &K+ do C@digo de !rocesso !enal/

    De "orma a de"ender a sua licitude e admitir a sua valoração no )rocesso( os tribunais

    su)eriores têm vindo a invocar construç5es baseadas essencialmente em causas de

     ;usti"icação legalmente )revistas )ara a"astar a "alta de consentimento do visado )elas

    gravaç5es ou "otogra"ias/ 0mbora concordando com uma )osição mais "le4ível e de maior 

     )onderação dos interesses em ;ogo ao inv3s de negar a sua utili7ação como )rova( cremos

    no entanto 2ue algumas dessas soluç5es so"rem de alguns e2uívocos e não devem ser isentasde críticas/

    !or "im( mesmo 2ue se c*egue a uma conclusão )ositiva acerca da licitude da recol*a e

    utili7ação das gravaç5es e imagens obtidas )or )articulares( as mesmas não devem ser 

    automaticamente admitidas como )rova( sendo ainda necessário )roceder,se a uma

     )onderação aut@noma( dentro do )r@)rio )rocesso e atendendo às suas normas legais

    es)ecí"icas( sobre as suas reais "inalidades no caso concreto/

    8L

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    Abstract

    .ecordings and )*otogra)*s obtained b )rivate individuals can be tNo o" t*e most

    relevant evidences in *el)ing "inding t*e trut*9 *oNever( t*e can also con"lict Nit*

    "undamental rig*ts suc* as )rivac( s)oen Nord or image o" t*e targets/ 8t is not enoug*

    t*at onl t*e violation o" t*e rig*t to )rivac is Nit*draNn because rig*ts to s)oen Nord or 

    image( unattac*ed "rom t*e "irst one( s*oN u) inde)endentl as t*e main violated rig*ts and

    are criminall )rotected in article &+ o" t*e criminal code/ 8ts use as evidence is( on a "irst

    moment( de)endent on t*e )rivatePs conduct laN"ulness( as it is stated in article &K+ o" t*e

    criminal )rocedure code/

    8n order to consider its laN"ulness( and acce)t its use as evidence( )ortuguese *ig*er 

    courts *ave been de"ending constructions mostl based on legal causes o" de"ense/ -lt*oug*

    agreeing Nit* a more "le4ible )osition o" Neig*ing all t*e interests at stae instead o" 

    dening its use as evidence( Ne believe notNit*standing t*at some o" t*ese solutions are

    misleading and s*all not be s)ared "rom critics/

    #astl( even i" Ne reac* a )ositive conclusion about t*e laN"ulness o" obtaining and

    using recordings and )*otogta)*s carried out to court b )rivate individuals( t*e must not be *oNever automaticall admitted as evidence( still being necessar to )roceed to a

    se)arate Neig*ting( Nit*in t*e criminal )rocedure and its oNn legal rules( about t*eir real

     )ur)oses in t*e case/

    L

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    Declaração do $%mero de Caracteres da Dissertação

    0m cum)rimento do n/+ $ do art/ Q&+ do .egulamento do $/+ Ciclo de estudos

    conducente à obtenção do grau de Mestre( declaro 2ue o cor)o da dissertação( incluindo

    es)aços e notas( ocu)a um total de &'&()&* caracteres/

    L8

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    +ntrodução

    Ema das mel*ores "ormas de se medir a evolução e o nível de

    desenvolvimento de uma sociedade 3 a de observar o modo como o )rocesso

     )enal "oi sendo e 3 ar2uitetado e a)licado/ 0 isto )or2ue se trata de uma área em

    2ue )or e4celência a inevitável tensão valorativa 2ue está sem)re )resente dentro

    de todos os cam)os ;urídicos se agudi7a e e4ige res)ostas "irmes e necessárias à

    concreti7ação de uma sociedade idealmente livre e ;usta/ Ie de um lado temos o

     )rogresso t3cnico e cientí"ico 2ue nos dotou de "orma e4traordinária de

    ca)acidades 2ue )ara os mais desatentos a)enas )odem ser encontradas no mundo

    da "icção cientí"ica( do outro temos tamb3m a )rogressiva conscienciali7ação de

    colocação do omem no centro do )ensamento "ilos@"ico( )olítico e cientí"ico(

    recon*ecendo,se 2ue as diversas instituiç5es )or ele criadas se encontram ao seu

    serviço e não o contrário/ Mas o mesmo )rogresso 2ue nos )ermitiu uma evolução

    astron@mica tanto a nível t3cnico,cientí"ico( como a nível *umano trou4e tamb3mconsigo as armas ca)a7es de ani2uilar a conservação desse estádio de

    desenvolvimento( )odendo mesmo )otenciar uma evolução em sentido negativo de

    recuo 3tico/

    R nesta dualidade interessante 2ue o Direito( e es)eci"icamente o )rocesso

     )enal( lutam )or buscar e2uilíbrios e soluç5es( sendo certo 2ue a sua evolução

    muitas ve7es não consegue acom)an*ar o rá)ido desenvolvimento tecnol@gico/

    0ssa "alta de acom)an*amento leva a 2ue uns )roclamem a constante

    desatuali7ação das soluç5es ;urídicas 2ue resultam )osteriormente em )erdas )ara

    a e"icácia da ;ustiça e do )r@)rio desenvolvimento social( mas leva a 2ue outros

    de"endam um maior rigor na )roteção dos direitos "undamentais a"etados(

    invocando uma es)3cie de escudo contra o 2ual *ão de esbarrar todas as atividades

     )otencialmente lesivas desses direitos/ Iendo certo 2ue as duas )retens5es não são

    incom)atíveis( a verdade 3 2ue a *armoni7ação entre ambas tem sido uma tare"a

    &

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    com)le4a e cu;as soluç5es "inais se a"iguram ainda *o;e como longín2uas/

    Ie 3 certo 2ue atualmente os meios tecnol@gicos se con"iguram como um

     )recioso au4ílio )ara todos os intervenientes no mundo ;urídico( tamb3m não 3

    menos certo 2ue o seu

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    Motivaç5es e ob;etivos enunciados( cabe "inalmente )roceder a uma breve

    delimitação do tema 2ue nos )ro)omos tratar de modo a tornar com)reensível a

    e4tensão e limites da nossa investigação/

    -ssim iremos tratar a)enas de )rovas recol*idas )or particulares/ ueremos

    com isto di7er 2ue o res)onsável )ela recol*a terá de ser um su;eito 2ue se

    encontre e4cluído de 2ual2uer tare"a investigativa legalmente determinada como

    os O!C ou o M! e 2ue não ten*a 2ual2uer relação com nen*uma das

    mencionadas entidades assim( tamb3m e4cluímos deste tratamento a "igura geral

    dos c*amados T*omens de con"iançaU( de todos a2ueles 2ue atuem sob a direção

    de insttendo ou não )or base uma

     )r3via e es)ecí"ica intenção de "a7ê,lo?/

    De)ois( não trataremos de 2ual2uer meio de )rova recol*ido )or um )articular(mas a)enas de gravaç5es de vo7 ou imagem ou de "otogra"ias e registos "ílmicos  

    assim estão e4cluídos do nosso ob;eto casos em 2ue )articulares ten*am obtido

    outro ti)o de )rovas como v. .( diários ou outros documentos escritos/ !or "im

    note,se 2ue não têm a)licabilidade as normas do C!! relativas a meios de

    obtenção de )rova( como o art/ &+ relativo a escutas tele"@nicas ou o art/ K+ da

    #ei n/+ KW$%%$/

    8remos começar )or en2uadrar o tratamento destes )rocessos t3cnicos de uma

    "orma breve e geral de e2uacionação do )roblema ao nível dos vários "ins e

    interesses )romovidos )elo )rocesso )enal e de)ois de uma "orma concreta 2uanto

    ao regime legal 2ue seguem/ De)ois iremos averiguar acerca das res)ostas

    es)ecí"icas e das tendências da ;uris)rudência dos tribunais su)eriores( incluíndo

    as ;usti"icaç5es( condiç5es e crit3rios 2ue de "orma mais comum têm sido

    Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    invocados )ara )ermitir a sua utili7ação )robat@ria( re"letindo sobre a sua

     )ertinência/ Finalmente( a Altima )arte da nossa investigação será reservada )ara

    um tratamento crítico acerca da a)arentemente inevitável ligação 2ue 3 "eita entre

    o crit3rio da >i?licitude da conduta do )articular e4igido )elo art/ &K+( n+ & do C!!

    e o conse2uente e e2uivalente ;uí7o de valoração da res)etiva )rova assim obtida/

    X

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    &( Os processos t,cnicos de gravação de vo- e registo de imagem como meio deprova

    &(&( Fins do processo penal e .proibições de/ prova

    O )rocesso )enal 3 )or e4celência o instrumento ade2uado a concreti7ar a

    a)licação do direito )enal&/ Contudo( esta a"irmação neutra$  e descom)rometida

    não nos dá nen*um alicerce sobre o 2ual se )ossa construir e descobrir as reais

    valoraç5es )erseguidas )elo )rocesso/De uma "orma generali7ada( a doutrina e a ;uris)rudência têm a)ontado a

    descoberta da verdade( a reali7ação da ;ustiça( o restabelecimento da )a7 ;urídica e

    a )roteção dos direitos "undamentais dos envolvidos como as suas verdadeiras

    "inalidadesQ/ =ão se tratará a2ui de alcançar uma verdade ob;etiva nem a todo o

    custo/ !ara ;á )or2ue )ela )r@)ria nature7a do decorrer do )rocessoX e tamb3m da

    ideia de relatividade e "alibilidade das teorias absolutas do con*ecimento'( seria

    uma uto)ia )ensar,se 2ue essa verdade lim)a e )ura se a)resentaria como o

    resultado "inal da atividade dos su;eitos )rocessuais envolvidos/ De)ois( )or2ue o

    0stado no e4ercício do seu $us puniendi não se encontra legitimado a recorrer a

    todo e 2ual2uer meio )ara buscar essa verdade com e"eito( im)5em,se,l*e

    limitaç5es 3ticas e legaisK  intrans)oníveis 2ue( a não e4istirem( )oderiam

    & 10.M-=O M-.E0I D- I8#V-( %urso de Processo Penal ( volume 8( 'Y ed/( #isboa 0ditorialVerbo( )/ $Q9 M-=E0# MO=608.O 1E0D0I V-#0=60( Processo Penal ( 6omo 8( QY ed/( Coimbra-lmedina( $%&%( )/ $X9 F81E08.0DO D8-I( &ireito Processual Penal ( .eim)/ da ed/ &X( Coimbra

    Coimbra 0ditora( $%%X( )/ $X/$ F81E08.0DO D8-I( &ireito Processual..., )/ X%/Q F81E08.0DO D8-I( &ireito Processual...( ))/ XQ e XX9 10.M-=O M-.E0I D- I8#V-( %urso...,

    vol/ 8( )/ $X9 F0.=-=D- !-#M-( TO !roblema !enal do !rocesso !enalU( in  'ornadas de &ireito Processual Penal e &ireitos (undamentais( coord/ Fernanda !alma( Coimbra -lmedina( $%%X( ))/ X&e X$9 .-E# IO-.0I D- V081-( TO Jui7 de 8nstrução e a 6utela de Direitos FundamentaisU( in  'ornadas de &ireito Processual Penal e &ireitos (undamentais( coord/ Fernanda !alma( Coimbra-lmedina( $%%X( )/ &'9 -c/ Eni"ormi7ador do I6J n/+ W$%%/

    X C#-.- C-#08.OI( T!rova e verdade no )rocesso ;udicial/ -s)etos e)istemol@gicos emetodol@gicosU( in  )evista do MP ( -no $( n+ &XX( abrW;un $%%( )/ Q/

    ' M-.8=- 1-ICH= -B0##Z=( *os +echos en el &erecho( $Y edição( Barcelona Marcial !ons( ))/ e /

    K C#-.- C-#08.OI( T!rova e verdade///U( )/ X/

    '

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    17/113

    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    desvirtuar as suas instituiç5es e a sua autoridade / =esses termos( estando a busca

    da verdade orientada )ara a reali7ação da ;ustiça( )odemos concluir 2ue este

    Altimo "im não )oderá ser sacrali7ado a um ob;etivo )rimordial e absoluto/ =o

    entanto tamb3m se com)reende 2ue a demonstração do "uncionamento e"ica7 do

     )rocesso e dos seus mecanismos )unitivos( contribuindo )ara o aumento da

    con"iança dos cidadãos no "uncionamento da ;ustiça( )ode resultar numa maior 

    vontade de cum)rir as normas/ I@ 2ue essa e4igência terá sem)re de ser 

    com)atibili7ada com os direitos "undamentais de 2uem entra em contacto e 3

    individualmente a"etado )elo )rocesso/

    - e"icácia e a reali7ação da ;ustiça s@ terão real valor na medida em 2ue

    ten*am sido estruturadas num camin*o legalmente con"orme com as im)osiç5es

    derivadas da a"irmação do )rincí)io da dignidade *umana e do 0stado de Direito

    democrático como valores essenciais do ordenamento ;urídico/

    !ara 2ue estas "inalidades )rocessuais se concreti7em torna,se necessário

    recorrer à )rova( 2ue se assume como uma condição essencial )ara se c*egar à

    verdade material( ao restabelecimento da )a7 ;urídica e à reali7ação da ;ustiça/Mas a )rova no

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    art/ Q$+ da C.! e 3 igualmente desenvolvida no art/ &$K+ do C!!/

    -s gravaç5es e "otogra"ias )odem constituir meios de )rova assa7 valiosos na

    descoberta da verdade material( na concreti7ação da ;ustiça e na e"icácia da

     )erseguição criminal( aumentando a crença no "uncionamento do sistema )or )arte

    da sociedade( mas tamb3m na garantia de reali7ação dos )r@)rios direitos de

    de"esa do arguido e dos interesses legítimos das vítimas/ =o entanto( a sua recol*a

    e utili7ação )ode ter como base um atentado aos direitos tutelados( es)ecialmente

    no caso em 2ue se;am obtidas )or )articulares/ Com e"eito( uma coisa será )ensar,

    se na admissão destes meios de )rova 2uando se;am recol*idos )or autoridades

    devidamente investidas em )oderes de investigação e cu;a atuação se encontra

    disci)linada e bali7ada )or um regime normalmente a)ertado( em 2ue a legalidade

    da sua atuação se encontra su;eita à "iscali7ação do J8C/ Outra coisa será )ensar no

    caso de )articulares 2ue( desligados de 2ual2uer "iscali7ação )r3via desse ti)o( se

    arroguem à "unção de investigação e )erseguição criminal/ =o entanto( tamb3m os

     )articulares no

  • 8/18/2019 Gravações e Fotografias Obtidas Por Particulares

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    2ue dei4amos como )ano de "undo e 2ue estará sem)re )resente nas re"le45es 2ue

    "ormos "a7endo ao longo da dissertação/

    &(0( Os processos t,cnicos de gravação de vo- e registo de imagem como provadocumental

    8m)orta( de "orma breve( averiguar onde )oderemos en2uadrar estes meios de

     )rova de "orma a delimitar as suas "ontes normativas/

    6endo indicado )reviamente 2ue não encontramos 2ual2uer "onte legal comrelevisto 3( onde o autor não )ossa ser identi"icado&Q?/

    Ie "or a)resentada uma gravação contendo declaraç5es an@nimas e onde )or 

    nen*uma "orma se consiga identi"icar o seu autor( "ica )recludida a sua utili7ação

    &$ Ialvo se esse documento "or( ele mesmo( ob;eto ou elemento do crime/ 10.M-=O M-.E0I D-I8#V-( %urso...( vol/ 88( )/ $$X/

    &Q !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio do %PP 3 luz da %)P e da %E&+ ( XY ed/( #isboaEniversidade Cat@lica 0ditora( $%&&( )/ X'/

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    como meio de )rova&X/

    !or "im( uma 2uestão 2ue tamb3m nos )arece im)ortante 3 a )ossibilidade de

    o"iciosamente ou a re2uerimento( um documento ;unto aos autos )oder ser 

    declarado como "also( de acordo com o art/ &%+( n+ &/ =esse caso( e at3 se o

    tribunal "icar com "undada sus)eita da "alsidade do documento( c@)ia deste deve

    ser transmitida ao M! )ara 2ue abra um in2u3rito de "orma a determinar eventuais

    res)onsabilidades criminais >n+ $ do art/ &%+?/ Certo 3 2ue se o tribunal declarar 

    na sentença a sua convicção de "alsidade do documento como meio de )rova( este

     )erde o seu valor )robat@rio/ - im)ort

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    do material recol*ido/ =os casos em 2ue este )roblema )ossa ser levantado( )arece

    não e4istir na lei uma solução direta )ara o resolver( estando a sua valoração

    de)endente da entidade 2ue avalia livremente a )rova/ Mas isso 3 um )roblema

    geral e transversal a todos os meios de )rova como se sabe( at3 a )r@)ria )rova

    testemun*al( su;eita a )rocessos )sicol@gicos de )erceção sub;etiva ou de "alsas

    mem@rias( )ode levantar o mesmo )roblema&/ -ssim )ara n@s 3 essencial 2ue

    duas coisas "i2uem escritas/ ue cautela se;a a )alavra de ordem )ara o int3r)rete

    e a)licador( tornando,se não s@ necessário a"astar conceç5es 2ue absoluti7em a

    e"icácia e veracidade destes meios de )rova( como tamb3m a a)resentação de

    outros meios de )rova com)lementares/ 0 2ue se e4i;a a e4istência de um

     )rocedimento )ericial obrigat@rio de veri"icação do estado das gravaç5es ou

    "otogra"ias de modo a garantir o seu nível de "iabilidade ;á não a)enas com base

    no bom senso do ;ulgador( mas atrav3s da e4istência de um )arecer t3cnico 2ue

    con"ira outro ti)o de solide7 no momento da tomada de decisão &/

    De)ois de identi"icarmos o en2uadramento legal da mat3ria dentro da )rova

    documental( c*egamos agora à nossa norma )rimordial 2ue a)arentemente nos dáa res)osta )ara o )roblema da utili7ação )rocessual das gravaç5es e "otogra"ias

    obtidas )or )articulares/ 0ssa norma 3 o art/ &K+( n+ & cabe agora( no )onto

    seguinte do )resente ca)ítulo( )recisar o signi"icado desta norma/

    &(1( A proibição de utili-ação de gravações de vo- e registo de imagem 2uandoobtidas de forma il3cita

    Em as)eto "undamental 2ue carateri7a o art/ &K+ do C!! e 3 recon*ecido )or 

    toda a doutrina e ;uris)rudência( 3 a escol*a do crit3rio da ilicitude )enal )ara

    determinar a )ossibilidade de utili7ação destes meios de )rova &/ =os casos em 2ue

    & !-O#O 6O=8=8( Manuale...( ))/ QQ e ss/& ME\O] CO=D0( TIobre el valor )robatorio///U( )/ &&Q/& COI6- -=D.-D0( "obre as Proibi2es...( )/ $Q9 10.M-=O M-.E0I D- I8#V-( %urso...( vol/

    88( )/ $$X9 #0-#,0=.8E0I e I8M-I I-=6OI( %PP 1notado( vol/ 8( QY edição( #isboa .ei dos

    &%

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    se conclua )ela ilicitude( o artigo estabelece uma verdadeira )roibição >de

    valoração? de )rova$%( im)edindo a sua utili7ação )rocessual/

    0m nosso entender( desta a"irmação de )rincí)io e4traída da leitura do art/

    &K+( n+ & resultam dois as)etos a analisar &? as normas 2ue devem ser tidas em

    conta )ara a"erir a e4igida ilicitude9 $? as conse2uências 2ue )odemos retirar da

    escol*a deste crit3rio ao nível dos valores e das "inalidades do )rocesso 2ue acima

    identi"icámos/

    0m relação à )rimeira 2uestão( como re"ere COI6- -=D.-D0( por e4pressa

    remissão da lei processual, a disciplina da admissibilidade5inadmissibilidade

    ad$etiva destes meios de prova comea por ser um problema de licitude5ilicitude

    material $&/ =esse sentido( )elo menos num )rimeiro momento( torna,se im)erioso

    recorrer a normas )enais )ara averiguar se uma determinada conduta levada a cabo

     )or um )articular )ode )reenc*er a "actualidade tí)ica )ertinente/

    Ema )rimeira 2uestão a colocar será a de saber se 2uando o art/ &K+( n+ & do

    C!! "ala em ilicitude nos termos da lei penal  2uer se re)ortar a todas as normas

     )enais )revistas e es)al*adas )elo ordenamento ;urídico ou a)enas às normasconstantes do C!/ - res)osta a esta 2uestão )ode ter relev

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )osterior( uma ve7 2ue esta 2uestão será tratada a )ro)@sito da admissibilidade de

    utili7ação de gravaç5es )rovenientes de sistemas de videovigilviolação de segredo?( "ormas es)eciais de crimes de devassa/

    $X COI6- -=D.-D0( %omentrio %onimbricense do %ódio Penal: parte especial, 6omo 8 >dirigido )or Figueiredo Dias?( $Y ed/( Coimbra Coimbra 0ditora( $%&$( ))/ &%K' e &%KK/$' !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio do %P 3 luz da %)P e da %E&+ ( #isboa Eniversidade

    Cat@lica 0ditora( $%&%( )/ 'Q/

    &$

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    manter a unidade do sistema ;urídico relativamente aos seus valores

    "undamentais$K/ - )ossível utili7ação destes meios de )rova estará sem)re

    de)endende da sua licitude "ace à lei )enal substantiva/ 8sto não 2uer di7er(

    contudo( a nosso ver 2ue uma gravação ou "otogra"ia obtida de "orma lícita ten*a

    de ser sem)re necessariamente admitida como )rova/

    Mas será 2ue com base nesta escol*a do legislador )odemos ir ainda um )ouco

    mais longe e retirar uma outra conse2uência( nomeadamente ao nível da

     )onderação entre os valores de )rossecução da verdade e ;ustiça e a )roteção dos

    direitos à )rivacidade( imagem ou )alavra( con"eridos )elas normas )enais acima

    mencionadasS Iabemos 2ue o direito )enal assume,se como a ultima ratio  de

     )roteção de bens ;urídicos identi"icados como "undamentais numa determinada

    sociedade/ =esse sentido( estabelecendo o legislador o recurso à lei )enal como

    condição de admissão da )ossibilidade de utili7ar estes meios de )rova )oderemos

    a"irmar a2ui uma )revalência da de"esa desses bens ;urídicos sobre as "inalidades

    ti)icamente a)ontadas ao )rocesso )enalS

    COI6- -=D.-D0 retira da2ui )recisamente esse conclusão a escol*a dolegislador signi"ica 2ue os valores )rinci)ais )erseguidos )elo )rocesso )enal são

    subalterni7ados em relação aos bens ;urídicos )enalmente tutelados$/ -ssim(

    inde)endentemente de se invocarem )ossíveis causas de e4clusão da ilicitude )ara

    legitimar uma determinada conduta levada a cabo )or um )articular( essas causas

    nunca )odem ter como base a invocação dos interesses associados ao )rocesso

     )enal/ Ou se;a( a invocação da reali7ação da ;ustiça( da descoberta da verdade( da

     )roteção dos direitos "undamentais dos o"endidos ou a restauração da )a7 ;urídica

    não têm "orça su"iciente )ara )ermitir a )rodução ou utili7ação não consentidas de

    gravaç5es ou "otogra"ias )ara "ins de )erseguição criminal/ Daí 2ue COI6-

    -=D.-D0 ten*a re"erido 2ue o mero propósito de $untar, salvauardar e carrear 

     provas para o processo penal não $ustifica o sacrifício do direito 3 palavra e do

    $K JO.10 M8.-=D-( T!rocesso )enal///U( )/ '/$ COI6- -=D.-D0( "obre as Proibi2es...( )/ $Q/

    &Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    direito 3 imaem em -ue invariavelmente redundam a produão ou utilizaão não

    consentidas destas reprodu2es mec6nicas$( "ormulação 2ue "oi seguida )or 

    outros autores$( e alguma >minoritária? ;uris)rudênciaQ%/

    -ssim( à )artida( inter)retando o art/ &K+( n+ & do C!! no sentido de

    consubstanciar uma escol*a do legislador )ela )revalência dos bens ;urídicos

     )rotegidos )elas normas )enais sobre os "ins tí)icos do )rocessoQ&( )arece 2ue

    encontramos a solução do nosso )roblema as gravaç5es e "otogra"ias( )or2ue

    obtidas sem consentimento( nunca )odem ser valoradas como )rova/ =o entanto(

    acrescente,se 2ue essa im)ossibilidade de valoração s@ di7 res)eito a casos 2ue se

    identi"i2uem com o mero )ro)@sito de tra7er )rova )ara o )rocesso/ Como

    esclarece COI6- -=D.-D0( se estiverem em causa outras "inalidades

    transcendentes ao )r@)rio )rocesso( a sua utili7ação )ode ser admitida Q$/

     =o entanto( a ;usri)rudência tem admitido uma res)osta di"erente )ara o

     )roblema( )ro)ondo uma construção mais "le4ível de valoração deste ti)o de

     )rova baseada tamb3m em "inalidades ti)icamente )rocessuais/ =o )r@4imo

    ca)ítulo iremos colocar a descoberto essa divergência( avançar com as ra75es ;urídicas 2ue a "undam e )or "im identi"icar e analisar criticamente os crit3rios

    genericamente invocados )ara legitimar a sua utili7ação )robat@ria/

    $ COI6- -=D.-D0( "obre as Proibi2es...( )/ $Q/$ #0-#,0=.8E0I e I8M-I I-=6OI( %omentrio...( )/ X&( JO.10 M8.-=D-( T!rocesso

     )enal///U( ))/ '& e '$( B0=J-M8M .OD.81E0I( &a prova penal: Bruscamente... 17s8 face7s8oculta7s8 dos m0todos ocultos de investiaão criminal ( tomo 88( 0ditora .ei dos #ivros( $%&%( )/ 'K$(M8#0=0 M-.68=I( 1 admissibilidade...( )/ KK/

    Q% -c/ 6.# de %QW%'W$%%K9 -c/ 6.# de Q%W&%W$%% ou -c/ 6.! de $QW%XWW$%%/Q& COI6- -=D.-D0( TIobre a valoração( como meio de )rova( em )rocesso )enal( das gravaç5es

     )rodu7idas )or )articularesU( in  Estudos em +omenaem ao Prof. &outor Eduardo %orreia( vol/ 8(Boletim da FDEC( Coimbra( &X )/ K&'/

    Q$ ue )ode consistir em casos em 2ue este;a em causa uma situação em 2ue se im)on*a a salvaguarda devalores considerados su)eriores como a vida( a integridade "ísica ou a liberdade do arguido/ COI6--=D.-D0( "obre as Proibi2es...( )/ $Q e M8#0=0 M-.68=I( 1 1dmissibilidade...( )/ &/

    &X

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    0( A resposta fle43vel da 5urisprud6ncia nacional sobre a e4clusão da ilicitude

    0(&( As tend6ncias atuais e as ra-ões 5ustificadoras

    - im)ossibilidade de admitir a valoração destes meios de )rova em )rocesso

     )enal deriva da "alta de consentimento dos gravados ou "otogra"ados( )or ser esse

    o as)eto carateri7ador das incriminaç5es dos arts/ &$+ e &+ do C!/ -inda 2ue se

     )udesse invocar uma causa de ;usti"icação 2ue e4cluísse a ilicitude da conduta(

    entende,se 2ue o mero )ro)@sito de utili7ar )rocessualmente essas gravaç5es ou"otogra"ias como )rova condenat@ria do visado( não seria su"iciente )ara servir 

    como talQQ/

     =o entanto( várias decis5es ;uris)rudenciais de tribunais su)eriores têm vindo

    a colocar em causa esse entendimento com base numa )osição mais "le4ível de

    admissão destes meios de )rova/ 8lustrativa dessa a"irmação 3 a ideia vertida no

    Ac( 7#G de 1898'90880 de 2ue a repressão de crimes raves e a identificaão

    dos seus aentes, cada vez mais bem apetrechados de meios t0cnicos sofisticados,

    deve permitir -ue na investiaão criminal as autoridades possam utilizar 

     rava2es ou filmaens ocultas, mesmo as efetuadas por particulares, sob pena

    de um e4cesso de arantismo penal e processual comprometer seriamente a

    defesa dos valores fundamentais da comunidade/

    Da recol*a e análise de ;uris)rudência 2ue "i73mos( conseguimos retirar uma

    conclusão inicial a de 2ue a grande maioria das decis5es dos tribunais su)erioresem causa di7 res)eito à temática da videovigil:ncia/ De "acto( a videovigil

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    conta a sociedade de risco em 2ue vivemos e tamb3m considerando as novas

    "ormas de criminalidade como o terrorismo ou a utili7ação de m3todos cada ve7

    mais violentos na )rática dos crimes( tem,se tornado cada ve7 mais central não s@

    nas )reocu)aç5es da sociedade( como das )r@)rias autoridades estatais(

    contribuindo )ara a sua im)lementação e aceitação geraisQ'/

    I@ 2ue o "acto de a grande maioria das decis5es "avoráveis sobre a utili7ação

    destes meios de )rova di7er res)eito à videovigil

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    utili7ação )rocessual de uma )rova 2ue contenda com a imagemW)alavra do

    visado/

    Ficando ressalvada esta nota( )retendemos agora e4)or as ra75es 2ue têm sido

    invocadas )ara legitimar um entendimento de maior abertura do )rocesso )enal a

    este ti)o de )rovas( )onderando a sua )ertinência/

    R im)rescindível invocar o Ac( do "7; de 0*98'908&&( 2ue começa )or 

    e4)licar 2ue as novas "ormas de criminalidade e tamb3m a )r@)ria "orma como se

    aborda o "en@meno da criminalidade *o;e em diaQ( colocam aora, e mais do -ue

    nunca, a -uestão da liberdade e seurana e do delicado e-uilíbrio -ue lhe est

     sub$acente/ =este con"ronto( o I6J identi"ica a segurança como um elemento

    essencial na vida dos cidadãos com enormes refle4os, diretos e indiretos, em

    termos económicos ou psicolóicos( não se tratando de um direito entendido

    a)enas como garantia de e4ercício seguro e tran2uilo de outros direitos( mas sim

    como um verdadeiro direito aut@nomoQ/ 0mbora o I6J ten*a o cuidado( e bem na

    nossa o)inião( de não considerar o direito à segurança como um direito absoluto(

    a"irma no entanto a sua e2ui)aração a outros direitos "undamentais( colocando,osao mesmo nível/ Mas mais à "rente( o -c@rdão vai ainda mais longe 2uando segue

    as conclus5es do 60D em 2ue se a"irma 2ue numa sociedade democrtica, os

    interesses da seurana nacional prevalecem sobre os interesses individuais / Iem

     )re;uí7o de recon*ecer 2ue e4istem limites -ue não podem ser ultrapassados em

    nome da seurana/

    O -c@rdão )ro)5e ainda uma im)osição interessante em 2ue considera 2ue a

    Q O -c/ I6J de $%W%KW$%%& ;á recon*ecia 2ue nesta batalha entre a autoridade e o delin-uente vencer $não apenas -uem 0 mais inteliente mas sobretudo o -ue estiver melhor e-uipado tecnicamente paraobter anho de causa. ra, numa situaão destas, rave, 0 mais plausível a opinião de -ue as normasconstitucionais, a não serem interpretadas de uma forma atualizada e sensata, não serão um obstculoao crime mas uma oposião enveronhada aos delin-uentes/ 6amb3m o -c/ 6.1 de Q%W%W$%%$ temoscomo certo -ue a repressão de crimes raves e a identificaão dos seus aentes, cada vez mais bemapetrechados de meios t0cnicos sofisticados, deve permitir -ue na investiaão criminal as autoridades possam utilizar rava2es ou filmaens ocultas, mesmo as efetuadas por particulares, sob pena de ume4cesso de arantismo penal e processual comprometer seriamente a defesa dos valores fundamentaisda comunidade/

    Q Mani"estando,se contra a conceção 2ue vê o direito à segurança como direito à segurança coletiva dacomunidade ou dos cidadãos( JO.10 M8.-=D- e .E8 M0D08.OI( %onstituião...( tomo 8( )/ Q%&/

    &

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    e"etivação dessa garantia cabe tamb3m aos )r@)rios )articulares( entendidos como

    cidadãos ativos e dincoordenadores Fernalda !alma( -ugusto Iilva Dias e !aulo de Iousa Mendes?(#isboa -lmedina( $%&%( )/ &K$( "ala numa sociedade 2ue se encontra num estado( 2uanto a este ti)o de2uest5es( 2ue )ode 2uali"icar,se como de stress emocial /

    XQ !-E#O O60.O( 9nstitui2es...( tomo 8( )/ KXX/

    &

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )oder re)ressivo do 0stado con"erido )elo recurso 2uase indiscriminado a estes

    meios( os )articulares tamb3m )odem invadir o es)aço de liberdade individual uns

    dos outrosXX/

    - nosso ver( estes dois as)etos o da a"irmação da )revalência da segurança

    nacional sobre os interesses individuais e o entendimento de 2ue a segurança )ode

    ser im)osta como um dever )ara os )articulares en"ra2uecem não s@ a 2ualidade

    do re"erido -c/ do I6J como tamb3m toda a argumentação invocada )ara ;usti"icar 

    a necessidade de se )roceder a um entendimento mais "le4ível nesta área/

    Bastante mais acertada )arece,nos a a)ro4imação à necessidade de con;ugar a

    segurança com outros direitos( ao contrário de conceder,l*e um )rincí)io de

     )revalência/ 0 isto )or2ue "a7er,se com a segurança )recisamente o 2ue se critica

    em relação ao entendimento de su)erioridade dos direitos à imagem( à )alavra ou

    à intimidade não nos )arece o camin*o mais acertado/ - segurança deve ser 

    sem)re )osta ao serviço da )essoa *umana e não ser entendida como meio de

    instrumentali7á,la ou erodir o seu es)aço de liberdadeX'/

    0(0( A identificação dos crit,rios invocados para permitir a sua utili-açãoprobatin?discreto de um )enalista_( in  &ireito Penal da %omunicaão / 1luns escritos( Coimbra Coimbra 0ditora( &( ))/ &K$ e &KQ/

    X' !-E#O O60.O( 9nstitui2es..., tomo 8( )/ KXQ/

    &

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )ara )ermitir tal utili7ação/ - esse )ro)@sito( não )odemos dei4ar de mencionar 

    como mais uma das nossas conclus5es o "acto de e4istir uma grande

    *omogeneidade relativamente aos crit3rios gerais invocados/ 0sta tendência mais

     )ermissiva )ossui um relativo grau de sedimentação na nossa ;uris)rudência( na

    medida em 2ue se )ode di7er 2ue os crit3rios identi"icados são bastante re)etidos e

     )odemos "ormulá,los( com relativa liberdade( nos seguintes termos

     =ão constitui crime a obtenão de rava2es5imaens, mesmo sem o

    consentimento do visado, sempre -ue >8 exista   justa causa para esse

     procedimento , e ;8 não diga respeito ao núcleo duro da vida privada do

    mesmoXK/

    Foi com base nesta "ormulação( mencionada e re)etida em vários -c@rdãos(

    2ue identi"icámos os dois grandes crit3rios utili7ados )ara )ermitir a sua admissão

     )rocessual/ 8remos tratar( dentro deste ca)ítulo( cada um dos crit3rios

    autonomamente( analisando a "orma como são densi"icados e os )roblemas 2ue

     )odem levantar/

    0(0(&( O primeiro crit,rio= >$ão di-er respeito ao n%cleo duro da vidaprivada>

    - )rimeira 2uestão com 2ue nos devemos )reocu)ar 3 a de )erceber 2ual 3 a

     )ers)etiva da ;uris)rudência maioritária acerca da determinação das situaç5es 2ue

     )ossam cair dentro do conceito de nAcleo duro da vida )rivada/ R 2ue o art/ &$+do C! "ala em devassa da vida privada( )arecendo a)arentemente remeter )ara um

    conceito mais geral do 2ue a2uele 2ue a e4)ressão n?cleo duro da vida privada

    nos )ode a)ontar( )elo menos de "orma literal/ =ote,se 2ue esta di"erenciação

    XK -ssim -c/ I6J de $W%W$%&&9 -c/ I6J de $%W%KW$%%&9 -c/ do I6J de &'W%$W&'9 -c/ do I6J de%W%$W&X9 -c/ 6.! de $QW&%W$%&Q9 -c/ 6.! de $QW%&W$%&Q9 -c/ 6.! de $QW&&W$%&&9 -c/ 6.! de&XW&%W$%%9 -c/ 6.! de $KW%QW$%%9 -c/ 6.1 de $KW%XW$%&%9 -c/ 6.1 de $W%QW$%%X9 -c/ 6.1 de&W%'W$%%Q9 -c/ 6.1 de Q%W%W$%%$9 -c/ 6.C de &%W&%W$%&$9 -c/ 6.# de %XW%QW$%&%9 -c/ 6.# de$W%'W$%%9 -c/ 6.0 de $XW%XW$%&$9 -c/6.0 de $W%KW$%&&/

    $%

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )ode tamb3m ser encontrada no )r@)rio art/ $K+( n+ & da C.!( 2ue tutela a

     )rivacidade e a elevou a um direito "undamentalX( 2ue nos "ala em intimidade da

    vida )rivada( )arecendo re)ortar,se a um 2ual2uer as)eto mais restrito dentro do

    conceito de )rivacidade/ 8nteressa,nos então tentar com)reender com o 2ue 3 2ue a

     ;uris)rudência identi"ica e como 3 2ue concreti7a esse tal nAcleo duro da vida

     )rivada e se essa a)arente di"erenciação nas normas tem alguma relevin?discreto de um )enalista_( in &ireito Penal da %omunicaão / 1luns escritos( Coimbra Coimbra 0ditora( &( )/ &K/ =o mesmosentido( MO6- !8=6O( _O direito à reserva sobre a intimidade da vida )rivada_( in  Boletim da (&A% (vol/ #L8L( Coimbra Coimbra 0ditora( &Q( )/ '&&/

    '% M-E=],D`.81( rundesetz !ommentar ( Band 8( C/ / Bec Mnc*en( &K )/ &'K/'& 1OM0I C-=O68#O e V86-# MO.08.-( %onstituião 1notada( vol/ 8( XY ed/( Coimbra Coimbra

    $&

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    incriminação do art/ &$+( n+ & 2ue( )or um lado( )une não s@ o ato de intromissão

    nas alíneas a?( b? e c?( como tamb3m o de divulgação dos "actos relativos à vida

     )rivada nos termos da alínea d?/

    -lguns autores têm de"endido a *i)@tese de a)licar na ordem ;urídica

     )ortuguesa a con*ecida teoria das três es"eras'$( construída e desenvolvida )ela

    doutrina e ;uris)rudência alemãs de modo a determinar o conteAdo do conceito de

     )rivacidade/ De acordo com esta teoria( o maior ou menor? de )roteção

    deste direito à )rivacidade 3 delimitado em "unção da )ertença a cada uma das

    es"eras em 2ue se )ode dividir a nossa vida/ -ssim( e4istiria a

    CffentlichDeitsphre( isto 3( a es"era da vida )Ablica onde se inserem as

    in"ormaç5es suscetíveis de serem con*ecidas )or todos( estando arredada da

     )roteção garantida ao direito à reserva da vida )rivada'Q/ !or o)osição( e4istiria a

     9ntimsphre( esta relativa à vida íntima e a todos os "actos 2ue devem ser 

    subtraídos ao con*ecimento de 2ual2uer )essoa( não admitindo com)ress5es ou

    restriç5es( 2uer )or )arte do 0stado( 2uer )or )arte dos )articulares( encontrando,

    se "ora de um eventual ;uí7o de )onderação 2uando se colocassem *i)@teses em2ue se concluísse )ela sua violação'X/ =o meio destas duas estaria a  Privatsphre(

    2ue englobaria os acontecimentos e as in"ormaç5es 2ue o titular a)enas )artil*a

    com um nAmero restrito de )essoas e cu;a e4tensão seria in"luenciada )elo estatuto

    concreto do titular do direito''/ O seu nível de )roteção não seria tão intenso como

    o con"erido à  9ntimsphre( )odendo os "actos 2ue nela caíssem ser submetidos a

    um ;uí7o de )onderação 2uando con"rontados com ra75es de segurança )Ablica ou

    0ditora( $%% )/ XK/ =o mesmo sentido( MO6- !8=6O( _- )roteção da vida )rivada e a Constituição_(in  Boletim da (aculdade de &ireito da Aniversidade de %oimbra( vol/ #LLV8( Coimbra Coimbra0ditora( $%%%( )/ &K

    '$ Fa7em,no COI6- -=D.-D0( %omentrio..., )/ &%X9 !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio do%P..., )/ '$&9 F-.8- D- COI6-( TO direito )enal///U )/ &9 .86- -M-.-# C-B.-#( TO direito àintimidade e à vida )rivadaU( in  Estudos em Memória do Prof. &outor Paulo %unha( #isboa --FD#(&( )/ Q e C-!0#O D0 IOEI-( direito eral...( ))/ Q$K a Q$/

    'Q M-E=],D`.81( rundesetz...( )/ &KX/'X C#-EI .OL8=( Pasado, presente F futuro del &erecho Procesal Penal  >trad/ Hscar Julían 1uerrero

    !eralta?( &Y ed/( Ianta Fe .ubin7al Cul7oni( $%%( )/ &%X/'' M-E=],D`.81( rundesetz...( ))/ &K& e &K$/

    $$

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    de interesse )Ablico'K/ 6endo em conta a utili7ação da ;á mencionada e4)ressão

    n?cleo duro da vida privada e a leitura imediata 2ue dela )odemos "a7er( cabe

    saber se a ;uris)rudência dos tribunais su)eriores tem seguido esta teoria das três

    es"eras como "orma de concreti7ar o conceito/

    Das decis5es 2ue lemos e analisámos( s@ uma o "e7 e "oi a)enas ao nível da

    &/Y instse4ual? dos visados/ - esse )ro)@sito( o

    mesmo 6ribunal escreveu 2ue seuimos a-ui %osta 1ndrade, -uando se posiciona

    no sentido de -ue o princípio da ponderaão de interesses 0 imprestvel para os

    casos em -ue a fotorafia ou o reisto da imaem atiniu a esfera mais nuclear 

    da intimidade  7 e não apenas a esfera dos outros graus da privacidade 8, a -ual 

    constitui uma rea nuclear inviolvel, mesmo para efeitos de $ustia e de perseuião criminal, nomeadamente para utilizaão como prova no processo

     penal.  =o entanto( esta "oi a singela re"erência 2ue encontrámos relativamente à

    a)licação da teoria( sendo certo 2ue a restante ;uris)rudência não "a7 2ual2uer ti)o

    de distinção de es"eras dentro do conceito de )rivacidade'/

    Dentro dos de"ensores da a)licabilidade da teoria das três es"eras e4istem

    a2ueles 2ue de"endem 2ue a )roteção con"erida )ela nossa ordem ;urídica se limita

    a)enas à es"era íntima'. !or outro lado e4istem outros autores 2ue re;eitam esta

    se)aração entre uma es"era íntima e uma es"era )rivada/ 0stão neste cam)o MO6-

    'K M-=1O#D6 e G#08=( &as Bonner rundesetz G !ommentar ( Band &( Mnc*en Fran7 Va*len(&'( )/ &' e M-E=], D`.81( rundesetz...( )/ &K$/

    ' -ssim( -c/ 6.# de Q%W&%W$%% ou o -c/ 6.1 de $W%QW$%%X 2ue considera( a )ro)@sito do conceito dereserva da vida )rivada 2ue o -ue est constitucionalmente proteido 0 apenas a esfera privada eíntima do indivíduo/

    ' .86- -M-.-# C-B.-#( TO direito à intimidade///U( )/ Q/

    $Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    !8=6O' , 1OM0I C-=O68#O e V86-# MO.08.-K% e tamb3m B0=0D86-

    M-C C.O.80K&/ =este )onto )odemos concluir 2ue as tendências da

     ;uris)rudência têm ido no mesmo sentido das consideraç5es tecidas )or estes

    Altimos autores 2ue consideram 2ue a teoria das três es"eras )ode não ser 

    su"icientemente "orte )ara resistir aos argumentos 2ue contra ela )odem ser 

    invocadosK$/ 

    Ema critica inicial 2ue se )ode "a7er 3 a de saber se e4istem mesmo as tais

    áreas irredutíveis e intocáveis( se;am 2uais "orem as circunst

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    2ue todos os "actos e acontecimentos 2ue )ossam ser levados ao conceito de

     )rivacidade )ossuam o mesmo grau de )roteção tratando,se de um conceito tão

    vasto( abrange uma miríade de situaç5es 2ue )odem estar mais ou menos

     )r@4imas do seu nAcleo "undamental/ .elativamente a este as)eto( a teoria dos três

    graus )oder,se,á a"irmar como Atil( na medida em 2ue )ode guiar,nos no

    estabelecimento de níveis de o"ensa à )rivacidade/ Contudo( )erde a sua utilidade

    a )artir do momento em 2ue )ossa servir de "undamento a)enas )ara )roteger em

    e4clusivo a es"era da intimidade/

    0(0(&(&( A concreti-ação do conceito de vida privada do art( &'0@ do CP

    uando o art/ &$+ do C! "ala em vida )rivada tem como re"erencial a sua

    o)osição ao conceito de vida )Ablica/ - di"iculdade de encontrar uma de"inição

    concreta )ara cada um destes conceitos e a im)ossibilidade de se "a7er uma

    se)aração estan2ue entre eles tem sido um as)eto unanimemente considerado )ela

    doutrinaK'/

    !oderia invocar,se o local onde ocorre a conduta/ O art/ &$+( n+ & do C! "ala

    tamb3m em espaos íntimos  e luar privado( tornando,se essencial determinar a

    relev

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )ode tomar con*ecimento das nossas condutasK9 ;á se estivermos num local

     )rivado ou reservado( a e4)ectativa de não intromissão 3 incom)aravelmente mais

    elevada/

    0ste crit3rio 3 bastante utili7ado em várias decis5es ;uris)rudenciais( sobretudo

    em casos res)eitantes à admissibilidade de gravaç5es de videovigil

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    da vida )rivada do visado/ -)esar de )arecer uma solução relativamente lí2uida(

    consideramos 2ue as coisas nem sem)re serão assim tao lineares/ 8sto )or2ue )ara

    n@s não 3 totalmente descabido con"igurar )ossibilidades de agressão à

     )rivacidade mesmo em sítios )Ablicos%  &/ Consideramos 2ue o direito à

     )rivacidade não se deve re)ortar e4clusivamente à circunst

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    e das )r@)rias conceç5es sociais )ode levar,nos )or um camin*o )erigoso de

    relativi7ação do conceito( não devendo ser este tamb3m o camin*o ade2uado( )ois

    de outro modo nunca teríamos "orma de saber com alguma certe7a o 2ue 3 2ue

    seria )rivado ou não )or de)ender em Altima inst2uanto a esta Altima( a violação )ode ser levada a cabo )or 2ual2uer 

    "orma( uma ve7 2ue a al/ d? não estabelece nen*uma modalidade es)ecí"ica de

    conduta?( isto 3 o alaramento do universo de pessoas a ter conhecimento das

    coisas pertinentes 3 rea de reservaJK( inde)endentemente de na sua origem ter 

    e4istido um acesso legítimo a essas in"ormaç5es/ 8sto )ermite,nos concluir 2ue as

    re"eridas modalidades não )ossuem uma relação de comunicabilidade automática

    relativamente à licitude ou ilicitude do com)ortamento em 2ue se mani"estam/

    X -c/ 6.! de &XW&%W$%%( o -c/ 6.! de &&W%W$%&$( o -c/ 6.# de %XW%QW$%&%( o -c/ 6.0 de $W%KW$%&&ou o -c/ 6.0 de $XW%XW$%&$/

    ' COI6- -=D.-D0( %omentrio...( )/ &%'/

    $

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    Ie concluirmos 2ue não está em causa 2ual2uer violação da vida )rivada do

    visado( não e4istindo res)onsabilidade criminal subsumível ao art/ &$+ do C!(

     )odemos( automaticamente admitir gravaç5es de vo7 ou registos de imagem como

     )rovaS

    R 2ue o direito à reserva da intimidade da vida )rivada não 3 o Anico( nem tão

     )ouco o )rinci)al direito agredido neste ti)o de situaç5es/ Com e"eito( a )r@)ria

     )alavra e a imagem do visado )odem ser igualmente a"etadas/ -ssim sendo( cabe

    avançar mais um )asso na nossa análise e concluir se essa violação( não inserida

    dentro de um conte4to )rivado( )ode ainda assim ter lugar( tentando tamb3m

    averiguar se a ;uris)rudência dos tribunais su)eriores acol*e ou não este

    entendimento/

    0(0(0( A insufici6ncia do crit,rio= a violação aut

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    conduta( não nos )arece 2ue este;a a)enas e s@ a )roteger a intimidade da vida

     )rivada dos visados( )rotegendo igualmente a sua )r@)ria imagem e a sua )r@)ria

     )alavra de "orma inde)endente( sobrando,l*es um es)aço )r@)rio de subsistência

    materiali7ado )elo art/ &+ do C!/

    Iendo à )artida inegável a ligação entre estes três direitos ( cabe determinar se

    essa mesma ligação 3 um re2uisito essencial )ara 2ue )ossamos considerar a

    ilicitude da conduta e( )or essa via( e4cluir a admissibilidade de gravaç5es de vo7

    e registo de imagem como meio de )rova/ !arece,nos 2ue a res)osta a dar não

     )ode dei4ar de ser negativa com base no entendimento de 2ue os direitos à )alavra

    e à imagem se con"iguram como direitos aut@nomos e inde)endentes e 2ue )odem

    ser analisados em se)arado inde)endentemente da sua a"etação di7er res)eito a um

    conte4to de violação da vida )rivada/ 8nteressa,nos e4)or os argumentos 2ue nos

     )ermitem "a7er tal carateri7ação/

    6alve7 não comecemos da mel*or maneira ao di7er 2ue *istoricamente os

    direitos à )alavra e à imagem "oram descobertos no seio da )rivacidade %/ 0m

    &K( a C.! )revia a)enas o direito à reserva da intimidade da vida )rivada( sendoa imagem e a )alavra )rotegidas a)enas na medida em 2ue atentados contra elas se

    dirigissem tamb3m contra a vida )rivada&/ Mais tarde com as revis5es

    constitucionais( em &$( surge a re"erência e4)ressa ao direito à imagem e em

    & ao direito à )alavra/ - este )ro)@sito( o Ac( "7; de 0*98'908&&(

    considerando o direito à imagem como uma mani"estação do direito ao segredo da

    vida )rivada( conclui 2ue a autonomi7ação 2ue 3 "eita na lei constitucional 3 um

    crit3rio 2ue não assume relev6ncia prtica$/ Ora a nossa ver ocorre o contrário/

    Como de"ende !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio...( )/ XKQ/ JO.10 M8.-=D-( T!rocesso )enal///U( )/ Q e .86- -M-.-# C-B.-#( TO direito à

    intimidade///U( )/ X%$/% COI6- -=D.-D0( TIobre a re"orma do C@digo !enal )ortuguêsU( in  )P%% ( -no Q( Fasc/ $,X( abril,

    de7embro &Q( )/ XQ'/& Mas 3 curioso notar 2ue na lei civil tanto o direito à reserva da intimidade da vida )rivada( como o

    direito à imagem ;á se encontravam autonomi7ados desde &KK/$ O mesmo -c@rdão contraditoriamente mais à "rente( recon*ece a autonomia dos direitos à imagem e à

     )alavra/

    Q%

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    !recisamente >mas não s@? )or2ue a lei constitucional autonomi7a estes direitos(

    da2ui )odemos retirar a conclusão de 2ue se )retendeu 2ue eles tivessem

    tratamentos aut@nomosQ/ 0mbora deva "icar notado 2ue este não 3 um argumento

    de"initivo a "avor da sua autonomi7ação/ 0 isto )or2ue em outras legislaç5es

    euro)eias( a)esar de tal como )or cá e4istir um recon*ecimento constitucional

    aut@nomo destes direitos( a verdade 3 2ue( no 2ue concerne es)eci"icamente ao

    direito à imagem( a sua )roteção em termos )enais acaba )or andar sem)re

    associada à e4istência de uma o"ensa à )rivacidade/ !or e4em)lo( a Constituição

    es)an*ola recon*ece o direito à imagem como um direito "undamental e consagra,

    o autonomamente9 no entanto ao nível da )roteção )enal no art/ &+ do seu C!( a

    incriminação di7 res)eito a)enas a el -ue, para descubrir los secretos o vulnerar 

    la intimidad de outro, sin su consentimiento 7I8 utilice artifícios t0cnicos de

    escucha, transmissión, rabación o reprodución del sonido o de la imaen / Da

    mesma "orma( a rundesetz alemã recon*ece a e4istência aut@noma do direito à

    imagem( decantado de um direito geral de )ersonalidade9 no entanto( o $%& a? do

    It1B )rotege a imagem a)enas na medida em 2ue ten*a *avido uma violação daes"era da vida )essoal Verletzun des hLchtspersLnlichen *ebensbereichs durch

     BildaufnahmeN/ Cremos 2ue isso )ode estar relacionado com a )r@)ria "unção

    subsidiária de ultima ratio  reservada ao direito )enal 2ue acaba )or o)erar 

    mudanças muito mais lentas 2uando com)arado com os direitos "undamentais'(

    2ue se carateri7am )or ter uma maior velocidade no acom)an*amento dos

     )rogressos sociais( cientí"icos e tecnol@gicos/ Daí 2ue essa associação 2ue

    continua a ser "eita entre a imagem e a )rivacidade tamb3m não deva ser( da

    mesma "orma( um argumento de"initivo no sentido de se de"ender a sua inevitável

    ligação/ -t3 )or2ue a)esar de )odermos considerar 2ue a nossa lei recebeu

    Q -c/ 6.# &'W%$W&/X 0 isto sem )re;uí7o de e4istir( no direito alemão( uma norma muito antiga( datada de &%( na GE1( no

    seu QQ( 2ue )une a divulgação e e4)osição arbitrárias da "otogra"ia de outrem >mas( note,se( não )unea )rodução arbitrária( revelando a2ui uma tutela lacunosa?/

    ' COI6- -=D.-D0( T- tutela )enal///U( )/ &Q( utili7ando( a este )ro)@sito( uma com)aração curiosao direito penal marcha normalmente atrs, como os lictores romanos.

    Q&

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    in"luências de outros ordenamentos ;urídicos >es)ecialmente o alemão?( sobra,l*e

    sem)re um es)aço )r@)rio de autonomia e de consagração de soluç5es

    inovadorasK/

    - )ar da consagração constitucional do direito à imagem em &$( o C!

     )assou a )rever )ela )rimeira ve7 o crime de gravaç5es e "otogra"ias ilícitas >no

    antigo art/ &+?( ao lado dos crimes de divulgação de "actos re"erentes à

    intimidade da vida )rivada >no art/ &+? e de intromissão na vida )rivada >art/

    &%+?/ -)esar da a)arente intenção de l*e con"erir a merecida autonomia( o

    re"erido artigo encontrava,se sistematicamente inserido no Ca)/ V8( 2ue di7ia

    res)eito a crimes contra a reserva da vida )rivada/ !ara al3m disso( no caso

    es)ecí"ico das "otogra"ias ilícitas( a al/ c? do n+ & e4igia 2ue as mesmas dissessem

    res)eito ao registo de aspetos da vida particular de outrem( um regime claramente

    in"luenciado )elas consideraç5es 2ue ditavam o direito à imagem como uma

    concreti7ação tí)ica do direito à )rivacidade/ - sua desinserção sistemática

    acabou )or ocorrer em &'( )assando a dei4á,lo sob a 3gide dos crimes contra

    outros bens ;urídicos )essoais/ 0liminou,se a re"erência( no caso das "otogra"iasou "ilmes( aos aspetos da vida privada de outrem/ Ema )ista essencial e 2uase

    de"initiva no sentido da sua autonomi7ação/

    - )ro)@sito de encontrar mais argumentos )ara invocar a nossa )osição re"ira,

    se( ainda 2ue a temática em causa não este;a en2uadrada no

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    meio de )rova( estando a sua admissão )r3,ordenada( entre outros crit3rios( à

    e4istência de uma )r3via autori7ação )or )arte do J8C/ 6em,se 2uestionado se esta

    autori7ação deve ter lugar a)enas 2uando atrav3s desse registo se )ossa ter acesso

    a as)etos da vida )rivada do visado( de"endendo,se a sua desnecessidade )ara os

    restantes casos%/ Ora( a res)osta dada )or MZ.8O F0..08.- MO=60 )arece,

    nos a correta e os argumentos invocados )or este autor( 2ue res)onde 2ue essa

    autori7ação deve ter sem)re lugar( inde)endentemente de estar ou não em causa

    as)etos da vida )rivada do vigiado( baseiam,se na a"irmação da autonomia dos

    direitos à imagem e à )alavra&/

     =o entanto( não se )ense 2ue tal autonomi7ação tem o sentido de se)arar em

    absoluto estes direitos( )ermitindo a )artir da2ui de"ender,se uma )osição de 2ue

    s@ um ou outro )oderia ser violado num caso concreto/ Com e"eito( e4istem

    situaç5es de violação simult

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    Anico nem mesmo o )rinci)al interesse sub;acente à norma/ - )roibição de

    utili7ação destes meios de )rova destina,se sobretudo( e antes de mais( a tutelar os

     bens ;urídicos da imagem e da )alavra( inde)endentemente de estar em causa uma

    violação >simult

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    conteAdo dos res)etivos direitos 2ue estão na sua base/

    O direito E palavra con"ere a )ossibilidade de dominar a 2uem )ode c*egar a

    nossa comunicação >tanto na )ers)etiva de decidir 2uem )ode gravá,la ou 2uem

     )ode( de)ois de dada essa autori7ação( utili7á,la?/ - comunicação )or )alavras

    o)erada atrav3s da nossa vo7 assume,se como uma das )rinci)ais "ormas de

    desenvolvimento )essoal e social'( garantindo,nos 2ue as mesmas se destinam

    a)enas a ser )ro"eridas e ouvidas num determinado momento( atendendo a um

    certo conte4toK( sob )ena de( em Altima inst

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    a ilicitude da conduta( en2uanto 2ue no caso das "otogra"ias ou "ilmes 2ue ca)tem

    a imagem de uma )essoa( basta a)enas 2ue não contrariem a sua vontade &%%( sendo

    2ue a escol*a das di"erentes e4)ress5es )elo legislador não "oi acidental nem

    des)rovida de signi"icado&%&/ 6amb3m neste conte4to de descontinuidade entre as

    áreas de tutela reservadas à )alavra e à imagem assume es)ecial relev

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    @rgãos de comunicação social ou na internet ou da sua utili-ação como prova em

    processo/ - )ro)@sito da utili7ação re"ira,se 2ue a mesma continua a ser )unida

    mesmo 2ue a obtenção >se;a )ela )essoa 2ue a utili7a( se;a )or terceiro? ten*a sido

    atí)ica ou ;usti"icada >art/ &+( n+ &( al/ b?( )arte "inal e n+ $( al/ b?( )arte "inal?/

    0ste 3 um as)eto 2ue consideramos essencial mas 2ue será abordado com maior 

     )ormenor mais à "rente/ !or agora( interessa a)enas reter 2ue as duas condutas 2ue

     )reenc*em a )revisão do art/ &+ do C! devem ser analisadas autonomamente(

    não se )odendo di7er 2ue se comunica a legitimidade na obtenção )ara a sua

     )osterior utili7ação/

    uanto ao ob;eto da ação do crime( do lado das "otogra"ias ilícitas temos a

    imagem "ísica da pessoa  >não abrangendo )ortanto es)aços ou ob;etos( 2ue de

    resto se se re)ortarem a conte4tos )rivados go7am da )roteção do art/ &$+( n+ &(

    al/ b? do C!?9 do lado das gravaç5es ilícitas temos a  palavra falada  por outra

     pessoa  >e4cluíndo,se todas as "ormas de comunicação não orais&%K? e não

    destinada ao p?blico/ O conteAdo das )alavras 3 irrelevante( isto 3 tanto "a7 se o

    2ue "oi gravado "oi um diálogo com)letamente neutro ou banal ou se se trata deuma conversação relativa a algum crime&%/ .e"ira,se 2ue se )ode colocar a

    2uestão de sabermos 2ue crit3rio devemos utili7ar )ara determinar se as )alavras

    eram ou não destinadas ao )Ablico atendendo a um crit3rio ob;etivo como )or 

    e4em)lo o local onde as mesmas são )ro"eridas ou a)elando a um elemento

    sub;etivo baseado na vontade 2uerida )elo do autor das )alavrasS 6anto COI6-

    -=D.-D0&% como !8=6O D0 -#BEE0.E0&% consideram 2ue a norma dá

     )revalência ao elemento sub;etivo atrav3s da e4)ressão destinadas>>O/ -ssim(

     )alavras não destinadas ao )Ablicos serão a2uelas 2ue  seundo a vontade de -uem

    &%K COI6- -=D.-D0( %omentrio..., )/ &$%Q e !-E#O !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio...,  )/ 'QK/

    &% CO=I6- -=D.-D0( %omentrio...( )/ &$%X/&% COI6- -=D.-D0( %omentrio..., )/ &$%'( re"erindo( embora( 2ue o crit3rio ob;etivo tamb3m deve

    servir de com)lementação/&% !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio..., )/ 'QK/&&% !elo contrário( o $%&( n+ & do It1B re"ere nichtLffentlich esprochene ort ( ou se;a( )alavras não

     )ro"eridas )ublicamente( )arecendo estar a2ui em causa a o)ção )or um elemento mais ob;etivo/

    Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    as profere, se destinam a círculos de pessoas individualizadas ou numericamente

    determinadas ou liadas por vínculos recíprocos&&&/

    6anto do lado das gravaç5es como das "otogra"ias consideradas ilícitas( a

    gravação ou ca)tação tem de di7er res)eito a outra pessoa  >e4)ressão utili7ada

    tanto no n+ &( al/ a? como no n+ $( al/ a? do art/ &+ do C!?( estando e4cluída da

    sua área de tutela tí)ica os casos em 2ue as mesmas são "eitas )elo )r@)rio visado/

    0(0(0(&(&( A atipicidade de gravações ou fotografias feitas pelo autor dasmesmas

    Ie as )alavras gravadas ou a imagem "orem )ro"eridas ou ca)tadas )elo autor 

    das mesmas( a conduta )erde a sua relevart/ &%+ C!? ou um crime de in;Aria >art/ &&+ C!?/ 6odas as decis5es

    mencionadas concluíram )ela admissibilidade de o o"endido )oder utili7ar essas

    mesmas gravaç5es como )rova do>s? crime>s? em causa/ 0 isto )or2ue re"erem

     )recisamente 2ue o caráter voluntário da gravação não )ode ser uma conduta

    subsumível ao art/ &+ C! assim( o Ac( do 7#! de 8)98090881( identi"ica

    corretamente 2ue o reisto não resultou de -ual-uer iniciativa heteronómica dos

     poderes p?blicos ou de terceiros, mas de um ato da própria recorrente -ue,voluntariamente, pretendeu -ue a sua voz ficasse reistada no sistema de

     ravaão do telefone do marido da assistente9 tamb3m o Ac( do 7#P de

    &&& COI6- -=D.-D0( %omentrio...( )/ &$%K/ Ião )or via disso consideradas )Ablicas as )alavras )ro"eridas em reuni5es de @rgãos abertos ao )Ablico( em comícios )olíticos( con"erências de im)rensa(entrevistas de rádio ou de televisão( etc/9 )elo contrário( não serão destinadas ao )Ablico )alavras

     )ro"eridas em reuni5es à )orta "ec*ada ou de acesso condicionado( numa sala de aula( numa conversaentre amigos ou entre um "uncionário ou agente da -dministração !Ablica e um cidadão( etc/

    &&$ -c/ 6.! de &W%KW$%%$9 -c/ 6.! de &W&$W&9 -c/ 6.# de %'W%$W$%%Q9 -c/ 6.0 de XW&$W$%%&/

    Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    &'9890880 ressalta o "acto de a gravação não ter sido e"etuada por iniciativa dos

    assistentes ou de terceiros. (oi o próprio aruido -ue liou para o  telemóvel dos

    assistentes e dei4ou aí ravadas, no voice mail , as mensaens -ue entendeu&&Q9

    igualmente o Ac( do 7#? de B9&09088&  a"asta o argumento da "alta de

    consentimento de 2uem dei4ou as re"eridas mensagens( uma ve7 2ue "oram

     )ro"eridas com base na sua livre e espont6nea vontade e sem -ual-uer intervenão

    do assistente( considerando 2ue não *ouve intromissão do denunciante na vida

     )rivada ou domicílio da arguida( indo mais longe at3 ao )onto de a"irmar 2ue

    aconteceu e4atamente o contrário ou se;a( as mensagens gravadas )ela arguida

    no atendedor de c*amadas do denunciante 3 2ue )oderiam ser consideradas uma

    intromissão na sua vida )rivada ou nas suas telecomunicaç5es/ O Ac( do 7#P de

    &9&09&''( de"endendo a mesma solução )ara um caso idêntico( "a7 uma analogia

    interessante considerando 2ue a ravaão a-ui funciona como uma mensaem

    diriida pelo aruido ao ofendido, tal como acontece nos casos de uma carta

    escrita( sendo 2ue( neste Altimo caso( nunca se 2uestionaria a sua

    inadmissibilidade como meio de )rova/ Com e"eito( 2uanto a estas situaç5eses)ecí"icas( concordamos em geral com o entendimento )ro"erido )elas doutas

    decis5es/ R in2uestionável a nosso ver 2ue o art/ &+( n+ & do C! não visa

     )roteger o autor das )alavras nos casos em 2ue "oi ele )r@)rio( de "orma

    consciente e voluntária( a )roceder à gravação das mesmas( tendo a )er"eita noção

    de 2ue elas estavam a ser gravadas/ -inda )ara mais( tendo em atenção 2ue não

    e4iste 2ual2uer ato ou intenção )or )arte de 2uem recebe a mensagem de vo7 de

     )roceder à sua gravação( uma ve7 2ue a mesma ocorre de "orma automática sem

    2ual2uer intervenção do titular do tele"one/

    Da mesma "orma( do lado das fotografias( encontrámos Ac( do 7#? de

    &19&&908&&( 2ue tratou de se )ronunciar sobre a admissibilidade como )rova de um

    &&Q -)esar de neste -c@rdão( a )r@)ria gravação em si não ter sido usada como meio de )rova/ -ntesrecorreu,se ao de)oimento de testemun*as 2ue( a )edido dos assistentes( tomaram con*ecimento dasmensagens gravadas e 2ue transmitiram esse con*ecimento ao tribunal/

    Q

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    con;unto de "otogra"ias em 2ue dois arguidos eram retratados em cenas de

    intimidade se4ual com vários menores/ - douta sentença contrariou a decisão do

    J8C do tribunal a -uo&&X e admitiu o meio de )rova em 2uestão uma ve7 2ue as

    "otogra"ias eram da autoria dos )r@)rios arguidos e )or isso não )oderiam ser 

    subsumíveis nem ao art/ &$+ nem ao art/ &+ do C!/

    - )ro)@sito desta 2uestão nunca nos )odemos es2uecer 2ue a incriminação em

    causa tamb3m )une a utili7ação das gravaç5esWimagens( *i)@tese 2ue se deve

    colocar autonomamente/ =o caso das gravaç5es de vo7( 3 verdade 2ue os recetores

    das mensagens o"ensivas não tiveram 2ual2uer intervenção na sua recol*a( omesmo se )assando )ara o caso das "otogra"ias/ =o entanto( acontece 2ue são

    terceiros e não os )r@)rios autores a re)rodu7ir )osteriormente as gravaç5es ou as

    imagens( a)resentando,as como meios de )rova( *avendo 2ue 2uestionar se essa

    conduta não )oderá ser subsumível às als/ b? dos n+s/ & e $ do art/ &+ do C!/ 0

    isso "oi um raciocínio 2ue não "oi o)erado em nen*uma das decis5es

    mencionadas/

    -)esar dessa "al*a( cremos 2ue nestes casos a utili7ação das gravaç5es ou

    "otogra"ias continua a não ser )unida/ 0 isto )or2ue as als/ b? dos n+s/ & e $

    re)ortam,se às gravaç5es ou "otogra"ias re"eridas na alínea anterior / Ora( as ditas

    alíneas não incluem as gravaç5es e "otogra"ias reali7adas )elo autor das mesmas

    na sua área de tutela tí)ica e )ortanto não )odem entrar em e2uacionação )ara se

     )unir a sua utili7ação&&'/

    &&X O argumento utili7ado )elo J8C )ara re;eitar a admissão "oi o de 2ue as "otogra"ias consistiam na )rática de um ilícito criminal( uma ve7 2ue não tin*a *avido 2ual2uer consentimento de utili7ação dasmesmas no )rocesso )or )arte das vítimas do abuso se4ual >nem de 2uem tin*a )oder )ara o dar emnome delas?/ Ou se;a( o indi"erimento do )edido nem se2uer teve )or base a tutela dos direitos à

     )rivacidade e à imagem dos sus)eitos( mas sim dos menores visados e )recisamente )or essa ra7ão( anosso ver( o meretíssimo J8C deveria ter c*egado à conclusão o)osta/ R 2ue( mesmo tendo sido"otogra"ados contra sua vontade( )ara al3m das "otogra"ias re)rodu7irem materialmente o crime emcausa( não se deve )resumir 2ue a sua utili7ação em )rocesso "osse contrária à sua vontade/

    &&' =o mesmo sentido( M8#0=0 M-.68=I( 1 admissibilidade...( )/ KQ/

    X%

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    0(0(0(&(0( A redução teleol

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    2ue a2uele 2ue se coloca numa )osição atentat@ria das normas ;urídicas e contrária

    ao Direito )ossa )oder invocar )osteriormente a sua )roteção/ Com base nestas

    consideraç5es( tem sido comum e consensual entre a doutrina e a $urisprud@ncia &&

    de"ender 2ue 2uem )rocedeu à gravação ou à "otogra"ia não deva ver a sua

    conduta criminali7ada/ Ora( não sendo a sua conduta criminali7ada( )ortanto lícita

    à lu7 do ordenamento ;urídico( a ;uris)rudência admite estes meios de )rova/ -

    este )ro)@sito( re"ira,se a )osição de !8=6O D0 -#BEE0.E0 2ue considera

    2ue )odem ser valoradas como )rova as reprodu2es da materialidade da palavra

    criminosa, uma vez -ue o art. ;H da %)P não reconhece um direito 3

     palavra criminosa, e, portanto, o direito penal 7...8 não protee a palavra

    criminosa( entendendo 2ue pela mesma razão, o direito penal tamb0m não protee

    a materialidade da imaem do crime&$%/ =o mesmo sentido( o Ac( "7; de

    0*98'908&&  considera 2ue contrariamente ao defendido por aluma doutrina,

    entendemos -ue o comportamento ilícito do titular do direito 3 palavra e imaem

    no uso da mesma determina a perda da dinidade penal da ofensa do referido

    direito 7...8. 1 protecão acaba -uando a-uilo -ue se protee constitui a prticade um crime9 a)esar de o Ac( 7#! de 8198)9088 ter considerado nulas as )rovas

    obtidas atrav3s de uma c

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )roteção )rimária con"erida )ela norma do art/ &+ do C! cu;a ação tí)ica se

     basta a)enas e s@ com a ca)tação ou utili7ação da imagem "ísica da )essoa(

    ine4istindo -ual-uer referencial a4iolóico para essa captura5utilizaão&$&    

     )arece ser um raciocínio contrário não s@ à sua )osição no )rocesso( como

    tamb3m aos "undamentos )olítico,criminais do direito )enal( sendo 2ue "oi este

    Altimo 2ue os considerou como tendo a mais ine-uívoca dinidade&$$/ Mas mesmo

    2ue se trate de uma )essoa cu;a conduta mani"este uma o)osição ao Direito( não

    seria de"ensável )ensar 2ue ela se;a desmerecedora de todo e 2ual2uer ti)o de

    tutela a isso o obriga não s@ o valor da dignidade *umana como es)írito

    inter)retativo de todo o sistema( como a )r@)ria )osição de su)erioridade 3tica do

    Direito/

     =ão 2ueremos com isto de"ender 2ue 2uem se;a con"rontando com este ti)o de

    situaç5es deva ser )unido criminalmente/ Ie 3 verdade 2ue temos bastantes

    reservas em aceitar a o)eratividade da redução teleol@gica do ti)o( tamb3m não

    menos verdade 3 2ue a incriminação da conduta não se "ica s@ )ela análise dos

    elementos do ti)o/ Iobrará sem)re es)aço e um es)aço relevante )ara aa)licação de causas de ;usti"icação 2ue e4cluam a ilicitude( como a legítima de"esa

    ou o direito de necessidade e 2ue a nosso ver )odem ter a vantagem de considerar 

    outros circunstancialismos im)ortantes 2ue não têm lugar se se e4cluir logo a

    relev)or e4em)lo( a )osição em 2ue se

    encontrava o )articular 2ue e"etuou a gravação ou registou a imagem &$Q  estava a

    de"ender,se de uma agressão ou( )elo contrário( estava sim)lesmente a arrogar,se

    ao )a)el de @rgão investigat@rio com o "im de )erseguir criminalmente o visadoS?/

    &$& IR.18O !0=-( TOs )rodutos da videovigil

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    0(0(0(&(1( A concord:ncia e o acordo presumido

    !or "im deve salientar,se 2ue tratando,se de direitos cu;os ob;etos concedem

    ao seu titular o seu domínio e4clusivo( a concord)resumida? nos casos das "otogra"ias ou "ilmes

      deve valer como um acordo 2ue e4clui a ti)icidade/ 8sto signi"ica 2ue *avendo

    acordo )or )arte do )ortador concreto&$X  na gravação das suas )alavras ou na

    ca)tação da sua imagem e na sua utili7ação( a ilicitude deve ser e4cluída logo ao

    nível do ti)o/

    Ie o acordo "or e4)resso( não e4istem dAvidas de 2ue o mesmo e4clui a

    ti)icidade da conduta9 )or3m( a)lica,se a mesma solução )ara o acordo )resumido

    ou este Altimo 3 antes uma causa de ;usti"icação 2ue não o)era logo ao nível do

    ti)oS !8=6O D0 -#BEE0.E0 )ronuncia,se )ela )rimeira )osição(

    considerando 2ue h acordo presumido -uando o portador do bem $urídico sabe

    -ue as suas palavras estão a ser ravadas e não se op2e 3 ravaão ( esclarecendo

    2ue o mesmo vale )ara a "otogra"ia ou "ilmagem&$'

    / !elo contrário( COI6--=D.-D0 considera o acordo )resumido como uma causa de ;usti"icação 2ue

    e4clui a ilicitude( mas não a ti)icidade&$K/

    -lguma ;uris)rudência tamb3m se tem mani"estado )ela licitude da obtenção

    de imagens de videovigila

    &$X Ou dos )ortadores concretos( nas *i)@teses em 2ue e4istam vários intervenientes na gravação/ =esteAltimo caso( consideramos 2ue será necessária a e4istência de consentimento de todos eles )ara 2ue se

     )ossa e4cluir a ti)icidade/ Contra( !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio..., )/ 'Q/&$' !8=6O D0 -#BEE0.E0( %omentrio...( )/ 'Q/&$K COI6- -=D.-D0( %omentrio..., )/ &$$Q/

    XX

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    testemun*a? deu a posteriori o seu consentimento )ara a utili7ação da imagem9

    relativamente a outro dos "ilmados >o arguido?( o tribunal entendeu 2ue a recol*a

    da sua imagem tamb3m não )oderia ser ilícita uma ve7 2ue dizem/nos as reras

    da e4peri@ncia -ue não desconhecia a e4ist@ncia da c6mara  visto 2ue o mesmo

    *avia e4teriori7ado a )reocu)ação de usar um ca)u7 )recisamente )ara não ser 

    recon*ecido nas imagens9 no mesmo sentido( Ac( 7#! de 8B981908&8  2ue

    argumenta 2ue o aruido viu as c6maras de filmar e, mesmo assim, não se absteve

    de praticar os factos 7...8 pelo -ue, pelo menos tacitamente, aceitou a captaão

    das suas imaens9 tamb3m o Ac( 7#P de 81980908&8 considera 2ue no caso em

    apreo, não 0 possível afirmar -ue a ravaão da imaem do aruido foi

    efectuada contra a sua vontade, pois 7...8 no interior do estabelecimento em

    causa, e4iste um aviso escrito advertindo o p?blico da e4ist@ncia de   sistema de

    videoviil6ncia/

    R claro 2ue nos casos em 2ue tais gravaç5es ou "otogra"ias( mesmo 2ue

    licitamente obtidas( se;am )osteriormente utili7adas como )rova em )rocesso

     )enal contra o visado( será l@gica a conclusão de 2ue di"icilmente irá *aver acordono sentido de )ermitir a sua utili7ação )or2ue obviamente isso irá esbarrar 

    contra os seus interesses )rocessuais legítimos de de"esa/ =esse sentido( teríamos

    de ultra)assar à mesma o )roblema do im)edimento da utili7ação das gravaç5es

    ou "otogra"ias( inde)endentemente de termos e4cluído a ti)icidade ou a ilicitude

    no momento da sua obtenção com base no acordo )resumido/

    X'

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    0(0(1( O segundo crit,rio= >aver 5usta causa na sua obtenção>

    0(0(1(&( A via da ponderação de interesses conflituantes

    -"irmando,se como direitos "undamentais( os direitos à )rivacidade( à imagem

    e à )alavra go7am do regime )rotetor do art/ &+ da C.!/ !or via disso( nos termos

    do seu n+ $( as restriç5es a estes direitos s@ )odem o)erar nos casos e4pressamente

     previstos na %onstituião/ =o entanto( tem sido o entendimento geral de 2ue esta

    norma não )roíbe de "orma absoluta a )ossibilidade de restrição legal a direitos2ue não vêm na norma constitucional 2ual2uer ti)o de )revisão a essa

     )ossibilidade/ =ão "aria sentido invocar outra )osição uma ve7 2ue os direitos em

    causa não e4istem isoladamente( mas antes num es)aço de co,*abitação com

    outros direitos ou interesses 2ue bene"iciam desse mesmo estatuto e 2ue se

    a"irmam como igualmente essenciais )ara a )r@)ria sobrevivência da comunidade

    *umana/ 0ssa realidade de convivência tradu7,se não s@ num inevitável )rocesso

    de modelação dos limites e do conteAdo 2ue os direitos ou interesses em causa

    o)eram uns sobre os outros/

    Com base nisso( e atendendo às es)ecí"icas necessidades decorrentes da

    com)atibili7ação de interesses 2ue *á de ocorrer ao nível da )rova( alguma

     ;uris)rudência tem recorrido a esta )ossibilidade de restrição con"erida )elo n+ $

    do art/ & da C.! )ara( de)ois de identi"icar um con"lito de interesses( resolver o

    mesmo a "avor da )revalência do direito à segurança ou dos interesses inerentes àe4igência coletiva de uma ;ustiça e"ica7&$( com base na análise do )rincí)io da

     )ro)orcionalidade/

    Dando igualmente cor)o a este entendimento( *á muito 2ue a ;uris)rudência e

    os autores alemães se têm mani"estado em sentido semel*ante( o)tando )or esta

    via )ara resolver os )roblemas de utili7ação de gravaç5es ou "otogra"ias obtidas

    &$ F81E08.0DO D8-I( T!ara uma re"orma global do )rocesso )enal )ortuguêsU( in  Para uma =ova 'ustia Penal  >--/ VV/?( Coimbra -lmedina( &Q( )/ $%K/

    XK

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

     )or )articulares/ -ssim( na determinação das )rovas 2ue )odem ser admitidas( a

    resolução da 2uestão 3 "undamentada com base num )rincí)io de )onderação de

    interesses( admitindo,se a desconsideração de direitos "undamentais a"etados

    2uando con"rontados com as necessidades inerentes ao combate à criminalidade

    mais grave/ =o 2ue concerne a )rovas tra7idas ao )rocesso )enal )or )articulares(

    a sua inadmissibilidade não se encontra à )artida vedada se a mesma )assar )elo

    teste do )rincí)io constitucional da )ro)orcionalidade >Serhltnissm#iDeit ?&$/

    Ora( este )rincí)io im)5e 2ue o ;ulgador )ondere a título casuístico e à lu7 das

    circunstrelativa à admissibilidade de um diário a)reendido )or um )articular como meio

    de )rova?/ =a )rimeira decisão( o 6C identi"icou a e4istência de um con"lito entre

    dois )rincí)ios constitucionais )or um lado( uma ;ustiça e"ica7 >einer TirDsamen

     )echtspflee?( 2ue se a"irma nos im)erativos da a)licação e"ica7 da lei( na luta

    contra o crime( no interesse )Ablico da má4ima determinação )ossível da verdade

    e na e4igência da manutenção de uma ;ustiça 2ue "uncione9 )or outro( o direito à

     )alavra do visado/ =o caso( atendendo à )ouca gravidade da incriminação( o 6C

    acabou )or não admitir a gravação/ =ote,se 2ue a sua inadmissibilidade não "icou

    a dever,se à sua ilicitude "ace à lei )enal( mas antes à valoração insu"iciente do

    &$ !artindo do )rincí)io de 2ue não está em causa 2ual2uer as)eto )ertencente à es"era mais íntima dovisado )or2ue( em caso a"irmativo( a ;uris)rudência e a doutrina alemãs não têm admitido 2ual2uer ti)ode ingerência nessa es"era/

    &$ C.-81 B.-D#0( T6*e 04clusionar .ule in 1ermanU( in  +arvard *aT )evieT( Vol/ K( n/+ '(mar/ &Q( )/ &%X&/

    X

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    Da Valoração de 1ravaç5es e Fotogra"ias Obtidas )or !articulares no !rocesso !enal

    interesse na investigação do crime/ 0 o crit3rio utili7ado )ara a"erir dessa

    valoração seria o da gravidade do delito em causa&Q%/

     =a segunda decisão re"erida( o B1 identi"icou( ao lado da )rivacidade do

    visado( o interesse do 0stado na