grandes projetos federais impactos economias do ne.pdf

229
1 P r o j e t o Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste N o t a T é c n i c a 1 3 CONSOLIDAÇÃO DOS ESTUDOS: SÍNTESE DOS RESULTADOS www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br www.redesist.ie.ufrj.br

Upload: eduardo-mattos

Post on 05-Dec-2014

75 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

1

Projeto AAnnááll iissee ddoo MMaappeeaammeennttoo ee ddaass PPooll íítt iiccaass ppaarraa

AArrrraannjjooss PPrroodduutt iivvooss LLooccaaiiss nnoo NNoorrttee,, NNoorrddeessttee ee MMaattoo GGrroossssoo ee ddooss IImmppaaccttooss

ddooss GGrraannddeess PPrroojjeettooss FFeeddeerraaiiss nnoo NNoorrddeessttee

Nota Técnica 13

CONSOLIDAÇÃO DOS ESTUDOS:

SÍNTESE DOS RESULTADOS

www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br

www.redesist.ie.ufrj.br

Page 2: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

2

SUMÁRIO

GRANDES PROJETOS FEDERAIS: IMPACTOS SOBRE AS ECONOMIAS DOS ESTADOS DO NORDESTE ...................................................................................... 03

CARACTERIZAÇÃO E IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DO ESTADO DE ALAGOAS E PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS .......... 28

INFRAESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O PAC NA BAHIA , .......................... 49

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS EM ESTADOS NORDESTINOS - CEARÁ ........................................................................................ 76

INVESTIMENTOS EM INFRA-ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O CASO DO PAC NO MARANHÃO ............................................................................................ 100

IMPACTOS DOS GRANDES PROGRAMAS FEDERAIS E REFLEXÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PIAUÍ . ............................................................................................................................... 123

OS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA PARAIBANA E A NECESSIDADE DE UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO .................... 143

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DE PERNAMBUCO E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS ............................................. 163

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO RIO GRANDE DO NORTE .................................................................................................................... 183

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO ESTADO DE SERGIPE E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS ............................................................................ 208

Page 3: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

3

GRANDES PROJETOS FEDERAIS: IMPACTOS SOBRE AS ECONOM IAS DOS

ESTADOS DO NORDESTE

Valdênia Apolinário

Maria Lussieu da Silva

Odair Lopes Garcia

Introdução

Esta Nota Técnica 13 é uma consolidação dos estudos e sintetiza os

resultados apresentados nas Notas Técnicas 10 e 11 dos estados contemplados na

pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais

no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em

Estados Nordestinos”, precisamente no que se refere aos impactos dos Grandes

Projetos Federais nos estados do Nordeste1.

O projeto de pesquisa foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), por meio do Fundo Especial de Projetos (FEP) e

realizado por inúmeras universidades brasileiras, a partir da experiência da

RedeSist, ao contar com os seus membros, enquanto coordenadores estaduais.

A primeira fase do projeto intitulada “Análise do Mapeamento e das Políticas

para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil” foi realizada entre

maio de 2009 e fevereiro de 2010, e envolveu 13 (treze) estados, a saber: Acre,

Amazonas, Pará, Mato Grosso, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,

Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Esta fase contemplou um

histórico da atenção dada aos arranjos em cada um dos estados selecionados,

enfatizando como os vários responsáveis pelo apoio percebem o conceito,

operacionalizam as ações, se defrontam com os desafios e vantagens em atuar a

partir do enfoque em Arranjos Produtivos Locais (APLs).

A segunda fase do projeto intitulada “Impactos dos Grandes Projetos Federais

em Estados Nordestinos”, objeto desta Nota Técnica, foi realizada entre os meses

de março a setembro de 2010, abrangendo os nove estados da Região Nordeste, e

1 As versões completas das 70 Notas Técnicas Estaduais decorrentes do estudo podem ser encontradas em www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br. É parte integrante deste estudo uma primeira etapa que trata da Análise do Mapeamento e Políticas para APLs no Norte, Nordeste e Mato Grosso, cujos resultados compuseram um primeiro livro.

Page 4: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

4

teve por objetivo avaliar as informações referentes à identificação, caracterização,

estágio de execução dos grandes projetos federais; refletir sobre os seus impactos

nas economias estaduais enfatizando o período 2007-2009; e, propor ações para o

desenvolvimento dos estados envolvidos.

Constituem os Grandes Projetos Federais (GPFs) aqueles relacionados: (i) ao

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); (ii) à Política de Desenvolvimento

Produtivo (PDP); (iii) ao Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT); (iv)

ao Programa Territórios da Cidadania (PTC); (v) e às Zonas de Processamento de

Exportações (ZPEs).

O período em que os GPFs são idealizados coincide com um momento em

que os indicadores da economia brasileira se mostram relativamente estáveis, a

despeito da crise internacional recente. Aspectos como taxa de juros, inflação,

câmbio e controle fiscal sinalizam a possibilidade de crescimento do investimento no

país e de enfrentamento de problemas que ainda persistem, a exemplo dos que

afetam a competitividade brasileira, inibem a produtividade, mantêm a pobreza e as

desigualdades regionais/sociais. Desta forma, os projetos acima têm por meta

contribuir para o estabelecimento uma infraestrutura econômica e social capaz de

superar os entraves à promoção do desenvolvimento mais acelerado e sustentado

do Brasil.

Quanto à metodologia adotada para analisar os impactos dos GPFs, adverte-

se que a preocupação central não foi estimar numericamente os efeitos destes sobre

as economias estaduais, mas indicar em que medida tais projetos

superam/minimizam os entraves ao desenvolvimento das economias dos estados da

região nordeste, resguardando assim a endogenia destes em relação aos desafios

estaduais.

Para a realização dos estudos foram coletados e sistematizados dados e

informações disponíveis em sites e documentos oficiais, dentre outras fontes

secundárias. Equipes estaduais também organizaram e participaram de eventos

afins aos temas. Além destas fontes, entrevistas realizadas com policy makers,

gestores públicos, lideranças políticas e empresariais foram relevantes para a

análise dos impactos dos projetos e proposições de políticas. No rol dos

entrevistados em alguns estados encontram-se Secretarias Estaduais, Companhia

Docas, Petrobras, Caixa Econômica Federal (CEF), Federação das Indústrias,

Termelétricas, Fundação Nacional de Saúde, Departamento Nacional de Infra-

Page 5: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

5

Estrutura de Transportes (DNIT), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA), Instituto do Meio Ambiente, Universidades Federais, dentre outros.

Este capítulo contém três seções, além desta introdução. A segunda

apresenta a caracterização e análise dos Grandes Projetos Federais nos estados. A

terceira é dedicada às considerações finais e a quarta seção apresenta os estudos

realizados nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,

Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

2 Caracterização Análise dos Impactos dos GPFs no N ordeste/Estados

Os Grandes Projetos Federais abrangem várias dimensões, com destaque

para as econômicas e sociais. Destes, quatro são voltados mais diretamente para as

atividades econômicas, quais sejam: PAC, PNLT, PDP e ZPEs. As ações nas áreas

de infraestrutura logística estão contempladas no PNLT e PAC. Este último também

inclui ações de infraestrutura energética, enquanto as atividades industriais estão

contempladas pela PDP e ZPEs. De outra parte, empreendimentos voltados para a

infraestrutura social e urbana fazem parte do PAC e do PTC.

O Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) constitui um modelo

de planejamento nacional de caráter indicativo para o sistema federal de transportes.

Foi elaborado nos anos de 2006/2007 para servir de base para os investimentos

contidos no Plano Plurianual (PPA) de 2008-2011.

O Plano tem caráter nacional e federativo e é direcionado à multimodalidade

da matriz de transportes, tendo por princípio beneficiar o território, a segurança

nacional e o meio ambiente. Entre seus objetivos estão a retomada do processo de

planejamento, a otimização e racionalização dos custos e a inversão da matriz de

transporte, dando preferência ao uso mais intensivo e adequado das modalidades

ferroviária e aquaviária.

Uma ressalva ao PNLT refere-se à metodologia adotada, uma vez que esta

toma por base os 110 mais importantes produtos da economia brasileira, que

representam 90% do PIB. Todavia, tal fato pode ter deixado de considerar

importantes produtos vendidos e comprados nos estados e, conseqüentemente, os

trechos por onde se dão os fluxos de comércio. Um exemplo é que importantes

BR’s em alguns estados não foram contempladas no Plano, embora devam ter

Page 6: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

6

aumentada sua demanda com a expansão de atividades econômicas a médio e

longo prazo.

O PAC foi lançado em 22 de janeiro de 2007, sendo constituído por um

conjunto de medidas que visam contribuir para a elevação das taxas de crescimento

econômico do país. As medidas estão organizadas em cinco blocos: investimento

em infraestrutura; estímulo ao crédito e financiamento; melhora do ambiente de

investimento; desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário; e, medidas

fiscais de longo prazo.

Os investimentos em infraestrutura têm por objetivo eliminar os principais

obstáculos que restringem o crescimento da economia, reduzir os custos e aumentar

a produtividade das empresas, estimular o aumento do investimento privado e

reduzir as desigualdades regionais. Os empreendimentos em logística previstos no

PNLT e que estão em alguma fase de execução estão contidos no PAC. Assim,

dada a sua importância e magnitude, os investimentos em infraestrutura previstos no

PAC/PNLT receberam atenção especial na presente pesquisa.

No PAC, o foco está direcionado a três eixos essenciais: i) Logística

(rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); ii) Energia (geração e

transmissão de energia elétrica, produção e refino de petróleo e gás natural, fontes

alternativas e combustíveis renováveis); e, iii) Infra-estrutura social (difusão de

energia elétrica para a zona rural, saneamento básico, construção de moradias,

metrôs e ampliação do acesso a recursos hídricos).

Cabe destacar que o PAC possui empreendimentos considerados exclusivos

e regionais. Os primeiros dizem respeito às obras realizadas em cada uma das

economias estaduais. O segundo são investimentos que abrangem no mínimo duas

unidades da federação. Dentre estes últimos, destacam-se em importância para a

economia regional os projetos da Ferrovia Transnordestina e a Transposição do Rio

São Francisco. Este último também se destaca pelo caráter polêmico que o

acompanha.

A tabela 1 compara os investimentos previstos em empreendimentos

exclusivos no Brasil e Nordeste. No lançamento do PAC em 2007 estavam previstas

ações que totalizavam R$ 321.311,80 milhões de investimentos no país.

Considerando os três eixos que constituem o Programa, R$ 46.997,30 milhões

(14,63%) correspondiam a obras e ações na infraestrutura logística, R$ 187.736,90

Page 7: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

7

milhões (58,43%) na infraestrutura energética e R$ 86.577,60 milhões (26,94%) na

infraestrutura social e urbana.

Observa-se que após o acréscimo aos valores de 2007 a maior expansão em

nível nacional ocorreu nas inversões na infraestrutura social e urbana (acréscimo de

R$ 134.559,30 milhões ou 155,42%), seguido do eixo da infraestrutura logística

(expansão de R$ 25.187,90 milhões ou 53,59%) e energética (R$ 47.825,30 milhões

ou 25,47%). Na região os incrementos seguiram a mesma ordem, mas a expansão

nos gastos com o eixo social e urbano cresceu relativamente menos (89,94%),

enquanto o aumento das previsões com a logística foi muito semelhante ao

verificado em nível nacional (56,56%) e a previsão de gasto na infraestrutura

energética cresceu o dobro da nacional (51,03%).

Tabela 1 - Evolução dos investimentos previstos em empreendimentos exclusivos no Brasil e Nordeste

R$ milhões

UF

2007-2010 Pós 2010

TOTAL GERAL

LOGÍSTICA ENERGÉTICA

SOCIAL E

URBANA

TOTAL LOGÍSTICA ENERGÉTICA

SOCIAL E

URBANA

TOTAL

BR 46.997,30 187.736,90 86.577,60 321.311,80 667,2 124.748,10 81,4 125.496,70 446.808,50

NE 10.202,10 27.421,70 23.050,90 60.674,70 0 6.345,80 81,4 6.427,20 67.101,90

VALOR DOS EMPREENDIMENTOS EXCLUSIVOS - 2009

BR 72.185,20 235.562,20 221.136,90 528.884,30 7.728,70 544.314,20 529,70 552.572,60 1.081.456,90

NE 15.972,50 41.414,70 43.782,50 101.169,70 1.505,40 97.455,00 304,70 99.265,10 200.434,80

ACRÉSCIMOS AOS VALORES DE 2007

BR 25.187,90 47.825,30 134.559,30 207.572,50 7.061,50 419.566,10 448,30 427.075,90 634.648,40

NE 5.770,40 13.993,00 20.731,60 40.495,00 1.505,40 91.109,20 223,30 92.837,90 133.332,90

TAXA DE VARIAÇÃO

BR 53,59 25,47 155,42 64,60 1.058,38 336,33 550,74 340,31 142,04

NE 56,56 51,03 89,94 66,74 1435,74 274,32 1444,45 198,70

Fonte: www.brasil.gov.br/pac/relatorios_estaduais. PAC 2007 e Balanço do 3º ano. (Elaboração própria)/NT10-RN

Page 8: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

8

Quanto ao Programa Territórios da Cidadania (PTC), trata-se do mais

abrangente instrumento de implementação de políticas públicas com enfoque

territorial e foi criado por decreto do Governo Federal em 28 de fevereiro de 2008.

Os Territórios da Cidadania têm por base os Territórios Rurais definidos pelo

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), desde 2003. Tais espaços são

formados por conjuntos de municípios unidos pelo mesmo perfil econômico e

ambiental e com identidade e coesão social e cultural. A gestão de cada um dos

territórios é feita por colegiados de composição paritária de membros do Estado e da

sociedade civil. Salienta-se que a participação colegiada existente no PTC e a

capacidade de integrar várias políticas e ações são reconhecidas como méritos

deste programa.

O objetivo do programa é contribuir para a superação da pobreza e das

desigualdades sociais no meio rural (inclusive de gênero, raça e etnia),

desenvolvendo aquelas áreas por meio de ações que contemplem: i) integração das

políticas públicas com base no planejamento territorial; ii) participação social na

gestão das políticas públicas; iii) ampliação da oferta dos programas básicos de

cidadania; iv) integração produtiva das populações pobres e dos segmentos sociais

mais vulneráveis; e, v) valorização da diversidade social, cultural, econômica,

política, institucional e ambiental das regiões e das populações.

Cada um dos grandes temas abrangidos pelo PTC contempla inúmeras ações. O

Quadro 1 apresenta exemplos de ações, por temas, nos estados.

Direitos e desenvolvimento social: Programa Bolsa Família – Benefício Bolsa Família; Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa com Deficiência; Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa Idosa; Serviço Sócio-Educativo do PETI).

Organização sustentável da Produção: Qualificação Social e Profissional de Trabalhadores para o Acesso e Manutenção ao Emprego, Trabalho e Renda em Base Setorial (PlanseQs); PAA - Aquisição de Alimentos Provenientes da Agricultura Familiar; Crédito Pronaf; Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Estruturação e Dinamização de Arranjos Produtivos Locais – CONVIVER; Cresce Nordeste; Nordeste Territorial; Crédito Pronaf; Programa de Implementação e Modernização de Centros Vocacionais Tecnológicos – CVT.

Saúde, saneamento e acesso a água: Ampliação do Acesso da População dos Territórios à Atenção Básica por meio da Estratégia Saúde da Família; Ampliação da Cobertura do Trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde à População dos Territórios da Cidadania; Ampliação do Acesso à Saúde Bucal na Atenção Básica.

Educação e cultura: Capacitação e Formação Profissional de Nível Médio e Superior para a Reforma Agrária; Implantação de Casas Digitais Rurais; Programa Arca das Letras; Brasil Alfabetizado; ProJovem Campo – Saberes da Terra; Expansão das Escolas Técnicas.

Page 9: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

9

Infraestrutura: Concessão de Crédito Instalação às Famílias Assentadas; 2) Implantação e Recuperação de Infra-estrutura de Projetos de Assentamento; Reestruturação de Unidades Produtivas Financiadas pelo Fundo de Terras e da Reforma Agrária; Programa Luz Para Todos; FNHIS - Habitação de Interesse Social; FNHIS - Planos Habitacionais de Interesse Social).

Apoio à gestão territorial: Apoio ao Fortalecimento da Gestão Social nos Territórios.

Ações Fundiárias: Obtenção de terras para Assentamento de Trabalhadores Rurais.

FONTE: PTC. Elaboração Própria/NT10-RN.

Quadro 1 – Síntese das Ações previstas do PCT segundo temas

Segundo a distribuição dos recursos nos estados, dois temas respondem por

grande parte dos recursos aplicados: ‘Direitos e desenvolvimento social’, que

contempla os programas de transferência direta de renda, especialmente o Bolsa

Família; e, ‘Organização sustentável da produção’, cujos programas visam financiar

o custeio e o investimento agropecuários, sendo reembolsáveis.

Os impactos mais imediatamente observados destas ações são a redução da

pobreza absoluta e da pobreza extrema na Região Nordeste e nos estados. Por

outro lado, os recursos alocados aos programas ligados à ‘Organização sustentável

da produção’ tiveram comportamento crescente nos últimos anos, o que contribuiu

para a geração de indicadores positivos em inúmeras atividades agropecuárias nos

Territórios.

No tocante à Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), esta foi lançada

em maio de 2008 objetivando consolidar o crescimento de longo prazo da economia

brasileira, aproveitando o novo cenário de consolidação da estabilidade e

previsibilidade econômica.

Logo, as metas foram pensadas para uma economia em um ambiente

favorável de crescimento e sustentabilidade. Porém, o desencadear da crise

financeira internacional restringiu parte das propostas da PDP.

O crescimento deveria ser alcançado através do cumprimento de macrometas

acordadas com o setor privado, que incluem a ampliação do investimento fixo, da

participação das exportações brasileiras no comércio internacional, elevação dos

gastos privados em P&D e a dinamização das MPEs. Para atingir essas metas, a

política dispõe de instrumentos ações e programas subdivididos em três níveis de

política: i) ações sistêmicas, focadas em fatores geradores de externalidades

positivas para o conjunto da estrutura produtiva; ii) programas estruturantes para

Page 10: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

10

sistemas produtivos, orientados por objetivos estratégicos e tendo por referência a

diversidade da estrutura produtiva doméstica; e, iii) destaques estratégicos, temas

de política pública escolhidos deliberadamente em razão da sua importância para o

desenvolvimento produtivo do País no longo prazo.

Os programas para destaques estratégicos que compõem a PDP foram

estabelecidas seis dimensões: i) ampliação das exportações; ii) fortalecimento das

MPEs; iii) integração produtiva da América Latina e Caribe, com foco inicial no

Mercosul; iv) integração com a África; v) produção sustentável; e, vi) regionalização.

A Tabela 2 compara os desembolsos do BNDES2 em Programas para

Destaques Estratégicos, entre as regiões brasileiras e estados nordestinos.

Os dados revelam que as regiões Sudeste e Sul absorveram a maior parte

dos recursos desembolsados, para todos os temas. No Nordeste, os estados das

Bahia, Pernambuco e Ceará respondem pela maior participação nos desembolsos,

também para todos os temas.

No tema ‘Exportações’ os estados da BA, PE e CE em conjunto foram

responsáveis por praticamente 100% dos recursos absorvidos nos anos analisados

neste ‘destaque’. Em ‘Dinamização de MPEs’ os estados da BA, PE e CE em

conjunto foram responsáveis por praticamente 70% dos recursos absorvidos nos

anos analisados. Para o destaque estratégico ‘Produção sustentável’ os recursos

desembolsados são bastante baixos se comparados aos demais, o que sugere que

este tema pouco sensibilizou a demanda privada.

2 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o principal responsável pela execução orçamentária da PDP. Assim, como forma de avaliar tal política, utilizou-se como proxy os recursos despendidos pelo BNDES na PDP no período 2008-2009.

Page 11: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

11

Tabela 2 – Desembolsos do BNDES em Programas para Destaques Estratégicos da PDP (2008-2009).

NORDESTE AL BA CE MA PB PE PI RN SE CENTRO OESTE NORTE SUDESTE SUL BRASIL

2008 127.409.194 - 67.043.912 36.489.100 - - 17.073.864 - 6.802.318 - 7.013.348 284.409.520 10.505.945.822 1.906.453.59412.831.231.478

% 0,99 - 52,62 28,64 - - 13,40 - 5,34 - 0,05 2,22 81,88 14,86 100,00

2009 149.874.991 - 75.585.103 4.777.515 - - 69.512.373 - - - 22.697.700 94.095.000 12.013.980.066 3.349.135.064 15.629.782.821

% 0,96 - 50,43 3,19 - - 46,38 - - - 0,15 0,60 76,87 21,43 100,00

NORDESTE AL BA CE MA PB PE PI RN SE CENTRO OESTE NORTE SUDESTE SUL BRASIL

2008 1.011.053.124 22.443.458 321.976.383 154.073.124 67.872.127 55.878.677 254.355.834 28.983.545 64.254.108 41.215.868 973.269.341 403.178.615 3.904.390.896 2.834.180.889 9.126.072.865

% 11,08 2,22 31,85 15,24 6,71 5,53 25,16 2,87 6,36 4,08 10,66 4,42 42,78 31,06 100,00

2009 1.471.267.918 46.168.695 450.992.155 248.042.897 110.246.086 84.667.771 299.761.944 65.712.725 102.305.147 63.370.472 1.065.489.818 494.464.162 5.046.778.168 3.541.801.189 11.619.801.255

% 12,66 3,14 30,65 16,86 7,49 5,75 20,37 4,47 6,95 4,31 9,17 4,26 43,43 30,48 100,00

NORDESTE AL BA CE MA PB PE PI RN SE CENTRO OESTE NORTE SUDESTE SUL BRASIL

2008 32.711.043 - 6.434.192 25.927.112 - 349.740 - - - - 16.710.406 19.838.355 64.811.195 1.633.369 135.704.368

% 24,10 - 19,67 79,26 - 1,07 - - - - 12,31 14,62 47,76 1,20 100,00

2009 11.516.981 - 5.453.636 4.803.020 - 783.432 476.892 - - - 9.159.459 40.946.408 47.998.522 3.561.763 102.449.584

% 11,24 - 47,35 41,70 - 6,80 4,14 - - - 8,94 39,97 46,85 3,48 100,00

NORDESTE AL BA CE MA PB PE PI RN SE CENTRO OESTE NORTE SUDESTE SUL BRASIL

2008 7.627.156.702 150.907.897 3.150.180.360 960.925.835 1.092.356.717 279.281.722 1.647.072.216 77.364.861 186.313.461 82.753.634 - 4.951.781.149 - - 12.578.937.851

% 60,63 1,98 41,30 12,60 14,32 3,66 21,59 1,01 2,44 1,08 - 39,37 - - 100,00

2009 22.067.292.510 260.520.147 3.366.299.359 1.968.816.4611.599.462.092 370.346.915 13.026.464.648 820.270.279 346.896.586 308.216.025 - 11.213.494.767 - - 33.280.787.277

% 66,31 1,18 15,25 8,92 7,25 1,68 59,03 3,72 1,57 1,40 - 33,69 - - 100,00

EXPORTAÇÕES

DINAMIZAÇÃO DE MPE's

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

REGIONALIZAÇÃO

Fonte : BNDES(b). Elaboração própria.

Page 12: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

12

O tema ‘Regionalização’ merece especial atenção pelo fato dos recursos

serem destinados exclusivamente às regiões Norte e Nordeste.

Na PDP este programa é composto por um conjunto de cinco ações, que são

desencadeadas em 26 medidas de apoio/incentivo. São exemplos de medidas de

apoio/incentivo: i) Instituir o Programa de Zonas de Processamento de Exportação

(ZPE); ii) Financiar investimentos produtivos com recursos do FNE 2009 e aderentes

aos PPAs; iii) Executar a Política Nacional de Arranjos Produtivos Locais; iv)

Elaborar diagnóstico sobre os impactos das políticas de APL nos Estados; v) Apoiar

o desenvolvimento local no entorno de grandes projetos; vi) Apoiar o

desenvolvimento de produção familiar; vii) Realizar atendimento direto a empresas;

viii) Aumentar a competitividade em áreas prioritárias para PNDR; ix) Promover o

desenvolvimento local em áreas e APLs marginalizados de apoio.

O Gráfico 1 demonstra a importância do tema ‘Regionalização’ na PDP, que

responde por praticamente 50% dos recursos desembolsados, contra 22% em

‘MPEs’ e 30% em ‘Exportações’. Destaque-se que cerca de 65% dos recursos do

programa de regionalização da PDP foram absorvidos pelo Nordeste.

Fonte : BNDES(b). Elaboração própria/NT10-RN

Gráfico 1 - Desembolsos do BNDES em Programas para Destaques Estratégicos da PDP (2008-2009)

Page 13: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

13

Os Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP

podem ser divididos em três esferas, conforme o Quadro 2.

Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas - Complexo Industrial da Saúde; Tecnologias de Informação e Comunicação; Energia Nuclear; Complexo Industrial de Defesa; Nanotecnologia e Biotecnologia. Programas para Consolidar e Expandir a Liderança e Programas para Fortalecer a Competitividade - Complexo Automotivo, Bens de Capital, Têxtil e Confecções, Madeira e Móveis, Higiene/Perfumaria e Cosméticos, Construção Civil, Complexo de Serviços, Indústria Naval e Cabotagem; Couro, Calçados e Artefatos; Agroindústrias; Biodiesel;Plásticos. Programas para Consolidar e Expandir a Liderança e Programas para Fortalecer a Competitividade - Complexo Aeronáutico; Petróleo, Gás Natural e Petroquímica; Bioetanol; Siderurgia e Mineração, Celulose; Carnes.

Fonte : PDP. Elaboração Própria.

Quadro 2 : Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP

Estes programas estão orientados por objetivos estratégicos e, segundo a

PDP, consideram a diversidade da estrutura produtiva doméstica e buscam: i)

manter ou posicionar sistema produtivo ou empresa brasileira entre os cinco maiores

players mundiais; ii) manter ou posicionar o sistema produtivo brasileiro entre os

cinco maiores exportadores mundiais; iii) construir competitividade em áreas

estratégicas; iv) posicionar marcas brasileiras entre as cinco principais de seus

respectivos mercados; e v) ampliar o acesso da população a serviços básicos para a

qualidade de vida.

Os Gráficos 2, 3 e 4 resumem os desembolsos do BNDES nos três Programas

Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP, na Região Nordeste.

Nos ‘Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas’, dos recursos

destinados a região Nordeste praticamente 90% foram destinados ao estado de

Pernambuco, enquanto que 8,66% foi absorvido pelo o estado da Bahia (Gráfico 2).

Em ‘Programas para Consolidar e Expandir a Liderança da PDP’, dos

recursos destinados a região Nordeste 72,91% concentraram-se no estado de

Pernambuco e 20,88% no estado da Bahia (R$ 3,4 bilhões). Os demais estados do

Nordeste em conjunto são responsáveis por apenas 6,19% dos recursos destinados

a região, ressaltando o caráter ainda concentrado dos desembolsos neste tema

(Gráfico 3).

Nos ‘Programas para Fortalecer a Competitividade’ os estados de

Pernambuco, Bahia e Ceará em conjunto foram responsáveis por captar mais de

Page 14: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

14

70% dos recursos destinados a região. Os demais estados em conjunto não

ultrapassaram a marca dos R$ 4 bilhões (Gráfico 4).

Fonte : BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN

Gráfico 2 - Desembolsos do BNDES em Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas da PDP (2008-2009)

Fonte : BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN

Gráfico 3 - Desembolsos do BNDES em Programas para Consolidar e Expandir a Liderança da PDP (2008-2009)

Page 15: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

15

Fonte : BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN

Gráfico 4 - Desembolsos do BNDES em Programas para Fortalecer a Competitividade da PDP (2008-2009)

Assim, do exposto nos estudos quanto à PDP e tomando-se como proxy os

desembolsos do BNDES, avalia-se que a absorção dos recursos mostra-se

concentrada, tanto na sua perspectiva nacional, com destaque para o Sudeste e Sul,

quanto em sua dimensão regional, com destaque para os estados da BA, PE e CE.

Desta forma, exceto para o destaque ‘Regionalização’, o total de recursos

absorvidos pelo Nordeste são pequenos em comparação com as regiões e

concentrados em alguns estados.

Adverte-se, contudo que uma possível razão para a baixa demanda

empresarial pelos recursos em alguns estados, talvez esteja associada à existência

de outros incentivos mais vantajosos e atraentes do que aqueles disponibilizados

pelo BNDES, dentro da PDP. Além deste fator, a localização de matrizes de

algumas empresas no centro-sul, e conseqüente registro de desembolsos noutra

região (exemplo Petrobras), somada à pouca visibilidade da PDP nos estados,

podem ser fatores que explicam a baixa absorção dos recursos pelo

Nordeste/estados.

Considerando a baixa absorção dos desembolsos BNDES na PDP por parte de

muitos estados nordestinos, recomendam-se esforços visando ampla e irrestrita

divulgação quanto aos instrumentos operados pela PDP, bem como estímulos e apoio

Page 16: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

16

ao acesso a estes recursos pelos variados sistemas produtivos existentes, desde os

intensivos em conhecimento codificado, quanto os tradicionais.

Quanto às Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs), os estudos

fazem uma retrospectiva do seu retorno à agenda de política e demonstra que parte

dos desafios para a sua implementação relacionam-se à clareza na legislação

reivindica pelos capitais que serão atraídos, a exemplo dos prazos dos benefícios

concedidos, o perfil de empresas que serão atraídas (se empresas exportadoras de

bens de alta tecnologia e/ou exportadoras de commodities locais/regionais

processadas em suas instalações), e o impacto destas zonas sobre a estrutura

produtiva estadual.

A política para implantação de ZPEs sofreu transformações qualitativas

significativas no ano de 2001, quando foi elaborado o Projeto de Lei nº 5.456. As

mudanças tornaram as ZPEs brasileiras operacionalmente bem mais próximas do

modelo internacional. Entre as modificações importantes está a permissão da venda

no mercado interno de até 20% de sua produção, além de vantagens fiscais e

tributárias como a isenção do PIS-PASEP, do COFINS, do PIS-PASEP-Importação e

do COFINS-Importação; carência do Imposto de Renda nos cinco primeiros anos de

operação (10 anos no caso das Regiões Norte e Nordeste).

Todavia, os estudos revelam que nos estados em que as ZPEs já foram

aprovadas, estas ainda não estão em funcionamento. Logo, os impactos de

comprometimento com a melhoria do padrão industrial do estado, aumento das

exportações, criação de empregos e geração de renda, são apenas potenciais.

Por fim, além do desafio de melhor avaliação sobre a adequação desse

instrumento para promoção dos sistemas nos quais pretende intervir, o

funcionamento efetivo das ZPEs depende ainda de significativos investimentos em

infraestrutura, sendo exemplo a logística de transporte ainda inexistente em muitas

áreas de instalação de ZPEs, sobretudo o transporte ferroviário interligado à

Ferrovia Transnordestina. Além disso, falta clareza quanto ao aproveitamento de

variados modais visando estimular o processo de integração entre as diferentes

regiões produtoras dos estados com as ZPEs, e dos estados com a economia

regional/nacional.

Page 17: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

17

3 Considerações Finais

Cada um dos Grandes Projetos Federais, individualmente, é capaz de causar

impactos socioeconômicos significativos. Assim, é inegável a relevância destes para

a economia dos estados do Nordeste.

Os estudos revelam que cada um dos estados analisados participa com cerca

2,0% empreendimentos exclusivos (2007 – 2010) previstos no PAC, o que

corresponde em alguns casos a aproximadamente 50% do PIB anual de cada

estado.

Todavia, é preciso reconhecer os limites de qualquer projeto/programa em

alterar os desequilíbrios e contradições que caracterizam as economias capitalistas,

e ainda, de transformar a estrutura econômica e social que de regiões brasileiras, e

do Nordeste, em particular.

Assim, reconhecendo este limite, admite-se que os GPFs contemplam

obras/ações gerais, porque praticamente idênticas, mas fundamentais na agenda

para o desenvolvimento estadual/regional, sendo exemplos a duplicação e melhorias

de BRs, o aprofundamento do calado de portos, a internalização da cadeia de

petróleo e gás, a construção de aeroporto intermodal como entreposto para o

Continente, a implantação de refinarias/usinas eólicas e termelétricas, a construção

de estaleiros, o saneamento urbano e rural, o abastecimento de água, a construção

e melhoria de habitações, o acesso a energia elétrica, o (re)assentamento de

famílias, a atuação a partir Arranjos Produtivos Locais. Logo, é possível afirmar que

grandes benefícios decorrerão da conclusão destas obras/ações, sobretudo nas

áreas mais diretamente beneficiadas.

Contudo, os resultados dos estudos quanto ao estágio de execução das

obras/ações revelam que várias não foram concluídas, estando maiormente noutros

estágios (em obras, em licitação ou em ação preparatória). Além disso, para

algumas ações/obras, o número de municípios atingidos por tais esforços mostrava-

se bastante aquém do total de municípios do estado, sugerindo benefícios apenas

locais e com baixo poder de reversão de indicadores econômicos e sociais que

ainda caracterizam os estados do Nordeste, a exemplo do elevado déficit

habitacional e da baixa cobertura de saneamento.

De outra parte, em geral os impactos dos GPFs mostram-se difusos, no

sentido de que tanto podem minimizar graves problemas, a exemplo da

Page 18: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

18

infraestrutura necessária para a inserção competitiva das empresas nos mercados

globalizados. Como, por outro lado, podem deslocar o PIB estadual para outras

regiões do estado e/ou reforçar a concentração já existente nas Regiões

Metropolitanas, o que resultará em externalidades negativas como violência,

favelização, pressão sobre os serviços públicos, criação de novos ‘vazios’. Além do

mais, sistemas produtivos mais frágeis podem não sentir impactos isoladamente da

oferta de infraestrutura e outros incentivos, o que mantém a importância do olhar

sobre as especificidades, já longamente assinalada na primeira etapa deste estudo.

Uma preocupação quanto aos GPFs refere-se à incorporação pouco

contundente dos elementos constitutivos de uma sociedade do conhecimento, mesmo

na PDP, incluindo temas e ações claras de política educacional e de apoio à Ciência,

Tecnologia e Inovação (CT&I), que estimulem a consolidação de sistemas

estaduais/regionais de inovação e contribuam para a alteração do lugar destas

economias na divisão regional/nacional/internacional do trabalho, permitindo o alcance

do desenvolvimento numa perspectiva sistêmica e sustentável.

A implementação de projetos/programas gerais em diferentes economias

estaduais pode manter/aprofundar desigualdades inter e intrarregionais, cabendo atuar

também sobre os caminhos que conduzam à efetiva internalização dos efeitos positivos

esperados localmente.

Por fim, acredita-se que os GPFs somente produzirão efeitos mais permanentes

e equilibrados se sustentados em políticas de estado, elaboradas e submetidas à

avaliação e permanentemente aperfeiçoadas por policy makers, gestores públicos,

lideranças políticas e empresariais, organismos de ensino, pesquisa e representação. A

realização deste estudo caminha nesta direção, devendo-se somar inúmeros outros

esforços que aprofundem e aclarem o caminho para a geração de oportunidades que

compatibilize e conduza ao crescimento econômico, conservação ambiental e equidade

social.

4. Apresentação dos Estudos

O estudo visou contribuir para uma análise dos impactos dos GPFs nas

economias dos estados da região Nordeste, bem como propor políticas para a

superação de entraves ao desenvolvimento destas economias, a partir dos efeitos

esperados dos projetos. Os resultados ora apresentados estão dispostos em 09

Page 19: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

19

capítulos, um para cada estado. Nestes, foram destacados os principais projetos

contemplados, identificados o seu estágio de execução e avaliados os seus

impactos, além da recomendação de políticas.

O Capítulo 2 analisa os impactos dos GPFs no estado de Alagoas a partir da

identificação das obras e/ou políticas contempladas. Os projetos/políticas PAC,

PTC e PDP aportaram cerca de R$ 4,41 bilhões para Alagoas entre 2008 e 2009, o

que representou 24,8% do PIB estadual (de 2007).

Em termos de infraestrutura logística, o estado foi contemplado com obras

rodoviárias, ferroviárias e portuárias. Dentre estas destacam-se: a Construção do

Cais para contêineres no Porto de Maceió, Duplicação e modernização da BR

101/AL Norte e Sul, Ferrovia Nova Transnordestina.

Quanto os empreendimentos em infraestrutura energética estavam previstas

obras voltadas para usinas termelétricas, gasodutos, linhas de transmissão,

levantamentos geológicos, geoquímicos, hidrogeológicos.

O Eixo Infraestrutura Social são previstas obras de fornecimento de água,

saneamento e habitação, totalizando 254 projetos em Alagoas, beneficiando todos

os 102 municípios no estado. As obras contratadas pelo estado, em sua maioria,

têm foco na distribuição de água, mas há obras de energia no Programa Luz para

Todos e de revitalização de bacias hidrográficas.

O capítulo destaca que o eixo cidadania contemplado no PTC deteve a

maior parcela da alocação dos recursos previstos, em torno de 71% e é onde se

insere ações como transferência direta de renda, a exemplo do Bolsa Família,

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e Benefício a Idosos e

Deficientes.

Quanto à análise dos impactos dos GPFs em Alagoas, o capítulo ressalta

que, em termos de importância para a economia estadual, somente o PAC e o PTC

apresentam-se como relevantes. Isto porque PNLT foi incorporado pelo PAC, não

existe atualmente projeto de implantação de ZPE no estado, e a PDP ainda é muito

tímida e incipiente.

A despeito da importância dos GPFs, o capítulo apresenta desafios ao estado

que impedem o seu desenvolvimento em bases sustentáveis. Assim, as

recomendações são voltadas para o enfrentamento das fragilidades nos sistemas de

educação e saúde, da frágil teia empresarial, da grande grande informalidade das

MPEs.

Page 20: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

20

O Capítulo 3 apresenta os resultados do estado da Bahia em relação aos

GPFs. A análise dos impactos dos GPFs está ancorada sobre os entraves ao

desenvolvimento da economia baiana. Entre eles destacam-se a forte concentração

espacial e setorial; existência de baixo dinamismo econômico por grande parte dos

municípios da Bahia; Infraestrutura logística deficiente e incompleta; baixa

integração econômica; Ausência de um sistema regional de inovação; sérios

problemas sociais. Nesse sentido, foram particularmente analisados os impactos da

PAC como forma de perceber em que medida este programa traria elementos para

superação dos entraves elencados.

O capítulo destaca o estágio e impactos de obras de infraestrutura logística

como o Metrô, o trem urbano de Salvador e construção da Ferrovia de Integração

Oeste-Leste. A análise dos projetos de infraestrutura energética destaca o gasoduto

(Gasene) e na infraestrutura social e urbana destaca obras voltados para a

recuperação da bacia do São Francisco.

A despeito dos impactos positivos do PAC previstos para o estado da Bahia,

avalia que são insuficientes para alterar a matriz de transporte do estado bem como

para superar os graves problemas sociais existente no semi-árido baiano.

No que se refere a proposição de políticas, o estudo sugere articular política

de planejamento estadual com a nacional para viabilizar a compatibilidade ex-ante

das políticas e evitar eventuais redundância; alavancar as cidades médias do

Estado, para que possam atuar como campo de atração das cidades muito

pequenas; usar todos os instrumentos de política disponíveis para enfrentar o

quadro de pobreza estrutural do Estado; revisar o Programa PROGREDIR para

reorientar a política local voltada para APLs.

O capítulo quatro apresenta o estudo dos GPFs no estado do Ceará. Neste

estado, o PAC contemplou 840 projetos, sendo 799 no eixo infra-estrutura social e

urbana (habitação e saneamento básico) e 41 na infraestrutura logística e

energética. Tais projetos estão concentrados nas regiões próximas à capital e no sul

do estado, e somente cerca de 10% estão concluídos. São destaques projetos

como a Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco e o Eixão das águas.

Dos projetos previstos para o estado do Ceará são exemplos: infraestrutura

logística, no que tange a rodovias, o estudo destaca como o de maior investimento a

construção do arco rodoviário metropolitano, que liga a BR-116 com o Porto e o

Complexo Industrial do Pecém. Também estão contemplados neste eixo obras nos

Page 21: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

21

portos do estado. Na infraestrutura energética há obras como implantação de

parques eólicos,cujo efeitos é tornar o estado auto-suficiente em geração de

energia; usina de biocombustível e projeto de regaseificação de GNL, sendo este

apontado como um dos principais projetos de infraestrutura do estado. No eixo

infraestrutura social e urbana os investimentos visam garantir segurança hídrica,

reforço ao abastecimento de água para consumo humano e industrial (Pecém)

advindo do eixão das águas, saneamento básico e urbanização e habitação. Além

destes, o Ceará também tem investimentos dentro do PTC, ZPes e PDP.

No geral, o estudo avalia que grandes projetos do Governo Federal

apresentam consonância com às necessidades do estado, especialmente com

relação à infraestrutura. Dentre as propostas mais específicas de políticas, o estudo

revela como central a necessidade de se elevar substancialmente a qualidade dos

gastos realizados, sobretudo no que se refere à natureza do planejamento realizado

e, principalmente, do seu foco.

Os impactos dos GPFs na economia maranhense tratados no capítulo 5 estão

associados sobretudo ao PAC. Este programa destinou cerca de 500,0 milhões

para o Maranhão, superando a própria dimensão de sua economia no contexto

brasileiro. Dentro dos eixos previstos no PAC, o estudo revela que a os

investimentos em energia foram os mais significativos, contemplando principalmente

à construção de hidrelétricas, a despeito de seu impacto ser mais de cunho nacional

do que local.

A análise sobre os investimentos do PAC demonstra que uma das

características presentes nos projetos previsto para o Maranhão são direcionados

para uma melhor utilização dos recursos disponíveis no estado. Aponta ainda que o

PAC carece de complementação de políticas em nível regional que levem em conta

as especificidades locais, sobretudo àquelas que possam contemplar ações voltadas

para os setores mais frágeis de economias como a do Maranhão, onde a dotação de

infra-estrutura e outros incentivos não têm o efeito multiplicador esperado.

Como sugestão de políticas, o estudo aponta que as esferas estaduais e

municipais de governo devem se encarregar de suprir as deficiências das políticas

federais em questões relativas às especificidades de cada região, de modo que os

impactos de iniciativas como o PAC fiquem potencializados, provendo os efeitos do

Programa de um caráter mais sistêmico. Nesse sentido, defende que o incentivo à

Page 22: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

22

geração, aquisição, difusão e uso de conhecimento no sistema produtivo local, é um

bom começo.

O capítulo 6 apresenta o estudo dos GPFs no estado da Paraíba. No que se

refere ao PAC, os investimentos em infra-estrutura logística previstos contemplam

rodovias (duplicação, adequação de capacidade e modernização da BR 101), portos

(dragagem, derrocamento, recuperação de cais e melhorias na infraestrutura do

Porto de Cabedelo), aeroportos(reforma e ampliação do terminal de passageiros,

reforço da pista de pouso, pistas de rolamento, pátios de estacionamentos de

aeronaves e obras complementares do Aeroporto Internacional Presidente Castro

Pinto).

No eixo infraestrutura energética destacam-se obras como usinas

termelétricas, empreendimentos de energia eólica e subestação de transmissão de

energia elétrica. Destas obras as que se encontram em estágio mais avançado aos

empreendimentos de energia eólica.

Quanto à infraestrutura social e urbana o estudo desta o Programa Luz para

todos, o qual objetiva atender as demandas de energia elétrica no meio rural.

Todavia, o capítulo ressalta que as obras de porto e aeroporto são

insuficientes para suprir as necessidades já existentes no estado e que os

investimentos em energia elétrica mantêm pouca relação com as necessidades

locais, além de serem poluentes. Também questiona a capacidade de geração local

de ocupação e renda de algumas ações/obras.

As políticas recomendadas estão associadas à geração de uma sociedade do

conhecimento no estado.

O capítulo 7 apresenta o estudo dos GPFs em Pernambuco. O capítulo

afirma que 6,29% do valor dos investimentos do PAC destinam-se a Pernambuco, o

que representa 2,7 vezes mais investimentos do que sua participação na economia

nacional, que foi de 2,34% em 2007, segundo dados do IBGE. Também destaca que

50,38% dos investimentos previstos do período de 2007 a 2010 para Pernambuco

estão concentrados na Região Metropolitana de Recife (RMR).

Dentre as obras estratégicas encontram-se a Petroquímica de Suape, a

Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul. Cada um destes grandes projetos

apresenta impactos que podem ultrapassar as fronteiras estaduais. Todavia,

localmente investimentos como os de Suape estão mudando a dinâmica econômica

de Pernambuco, em razão de uma nova configuração urbana das cidades do

Page 23: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

23

entorno de Suape, bem como a cadeia de negócios ligados à engenharia civil

reivindicada pelos empreendimentos.

Dentre recomendações apontadas destacam-se políticas de integração da

RAL e da Petroquímica com a economia estadual; apoio financeiro à exportação do

pólo naval; aceleração da construção da infraestrutura de transporte; estudos e

intervenções nos APLs para evitar que a mudança na matriz de transporte leve a

dinâmica de drenagem da economia do interior; implantação efetiva de todos os

programas propostos no estudo de impacto ambiental da transposição do Rio São

Francisco.

O capítulo 8 apresenta o estudo dos GPFs no estado do Piauí. Os

investimentos do PAC no estado estão orçados em R$ 11,8 bilhões, 1,8% da

previsão de gasto total no país. Nos empreendimentos exclusivos, os maiores

gastos estão no eixo infraestrutura social e urbana.

O capítulo aponta que o conjunto das obras/ações dos GPFs tiveram

impactos positivos na economia piauiense, com destaque para avanços na

implantação da infraestrutura econômica e social, promoção econômica a partir do

aumento da produção e elevação produtividade e da diversificação da economia

estadual e, consequentemente, criação de oportunidades de trabalho e geração de

renda. Além destas, enfatiza ações específicas de inclusão social e combate a

pobreza.

Precisamente quanto à PDP, o estudo revela que no caso do Piauí, não foi

possível perceber nenhum tipo de interlocução com o setor privado e considera que

as ZPEs são relevantes para a economia do estado.

Por fim, o capítulo indica que o enfrentamento das limitações ao

desenvolvimento requer um planejamento estratégico que considere a visão geral

do estado em relação ao país e ao Nordeste, quanto às suas prioridades e

investimentos. Além disso, cabe uma maior articulação com a sociedade civil

organizada, inclusive representações do setor empresarial.

O capítulo 9 refere-se ao estudo dos GPFs no Rio Grande do Norte. O estado

participa com 1,7% do total dos empreendimentos exclusivos do PAC (2007 – 2010)

no País e 9,37% na Região Nordeste.

O valor total dos empreendimentos previstos no período de 2007 a 2010

totalizam R$ 9.478,10 milhões, distribuídos entre infraestrutura logística (11,05%),

energética (54,79%) e social e urbana (34,16%). Para o período pós-2010 o valor

Page 24: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

24

previsto atinge R$ 2.565,60 milhões, concentrados quase que totalmente em energia

(98,67%) e social e urbana (0,57%).

Dentre as principais obras destacam-se a adequação da BR 101/RN, pista do

Aeroporto São Gonçalo do Amarante, dragagem e aprofundamento do acesso

aquaviário do Porto de Natal, repotencialização do sistema de atracação do Terminal

Salineiro de Areia Branca, Usinas termelétricas (Baía Formosa, Vale do Açu e

Potiguar III), Refinaria Potiguar Clara Camarão, Parque Eólico Alegria I e II.

Os empreendimentos em infraestrutura social e urbana contemplam obras

direcionadas para habitação, saneamento básico e recursos hídricos, além de ações

na área de distribuição de energia elétrica pelo Programa Luz para Todos.

O capítulo enfatiza ainda ações relativas ao PTC e PDP, além da implantação

de duas ZPEs. Quanto ao PTC destacam-se os programas de transferência de

renda - Programa Bolsa Família (24,74%) e o Benefício de Prestação Continuada da

Assistência Social à Pessoa Idosa (4,39%) e com Deficiência (14,55%) – e os de

caráter produtivo – Cresce Nordeste (17,40%), Nordeste Territorial (7,10%) e Crédito

Pronaf (6,24%). Essas ações, tanto pelo valor do desembolso quanto pelo número

de pessoas atendidas são responsáveis pelas principais mudanças ocorridas nos

municípios contemplados nos Territórios da Cidadania. Com relação à PDP, é baixa

a absorção dos recursos por parte da iniciativa privada potiguar. No destaque

estratégico ‘Regionalização’ da PDP, por exemplo, o estado participou com apenas

2,44% dos recursos do programa no Nordeste em 2008. Em 2009 o estado tem sua

participação ainda mais reduzida (1,57%).

A avaliação geral dos GPFs no capítulo reafirma a importância destes para a

economia potiguar, ao tempo em que indica a necessidade de tornar as áreas e

setores atingidos efetivamente mais competitivos, mais dinâmicos e menos

desiguais em relação ao estado/região/país e de ampliar os benefícios para as

demais áreas e atividades não contempladas no estado. Assim, os GPFs constituem

um passo fundamental rumo à superação dos entraves assinalados, devendo-se

somar a estes esforços políticas de desenvolvimento estadual/regional mais

abrangentes e integradas.

O Capítulo 10 analisa os principais resultados do estudo em Sergipe. Neste, o

principal projeto em andamento é PAC.

No eixo infraestrutura logística está prevista a duplicação e modernização da

BR-101. No eixo da infraestrutura energética, os recursos objetivam garantir

Page 25: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

25

segurança energética e modicidade tarifária para Sergipe e para Região Nordeste, a

ampliação da malha de gasodutos de modo a assegurar o suprimento de gás

natural, bem como desenvolver e ampliar a produção de petróleo no estado.

O capítulo destaca obras como a Usina Termelétrica à óleo em Nossa

Senhora do Socorro; Usina Termelétrica à Biomassa em Capela, exploração e

produção de petróleo no campo de Piranema em Estância e exploração e

desenvolvimento da produção de petróleo no estado (em conjunto com Alagoas).

No eixo infraestrutura social e urbana ressalta a ampliação do sistema de

esgotamento sanitário de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro (com a revitalização

da Bacia do Rio Sergipe e despoluição de praias) e a ampliação do sistema de

abastecimento de água de Aracaju e municípios interioranos, dentre outros.

O capítulo também enfatiza a importância do PTC e da PDP para o estado de

Sergipe.

Como reflexão reconhece a importância dos GPFs como forma de eliminar

gargalos presentes na economia sergipana, mas afirma ser muito cedo para se fazer

uma avaliação precisa dos impactos dos investimentos, sobretudo do PAC, no

estado.

REFERÊNCIAS

AMARAL FILHO, Jair, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Ceará – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Fortaleza/CE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

AMARAL FILHO, Jair, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Ceará e Proposição de Políticas – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes p rojetos federais no Nordeste . Fortaleza/CE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Rio Grande do Norte – Rio Grande do Norte. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produti vos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. Natal/RN, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Rio Grande do Norte e Proposição de Políticas – Rio Grande do Norte. PROJETO DE

Page 26: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

26

PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Natal/RN, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Paraíba – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. João Pessoa/PB, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Paraíba e Proposição de Políticas – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impac tos dos grandes projetos federais no Nordeste . João Pessoa/PB, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Bahia – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. Salvador/BA, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Bahia e Proposição de Políticas – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste . Salvador/BA, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. HANSEN, Dean Lee, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Sergipe – Sergipe. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Aracaju/SE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/SE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

HANSEN, Dean Lee, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Sergipe e Proposição de Políticas – Sergipe. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste . Aracaju/SE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/SE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Alagoas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. Maceió/AL, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Alagoas e Proposição de Políticas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA

Page 27: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

27

(BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impac tos dos grandes projetos federais no Nordeste . Maceió/AL, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. MOURA, João Gonçalo de, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Maranhão – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. São Luís/MA, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/MA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

MOURA, João Gonçalo de, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Maranhão e Proposição de Políticas – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste . São Luís/MA, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/MA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. MOUTINHO, L. M. G. et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Pernambuco – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Norde ste. Recife/PE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

MOUTINHO, L. M. G. et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Pernambuco e Proposição de Políticas – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste . Recife/PE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Piauí – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos fed erais no Nordeste. Teresina/PI, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Piauí e Proposição de Políticas – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste . Teresina/PI, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

Page 28: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

28

CARACTERIZAÇÃO E IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDE RAIS NA

ECONOMIA DO ESTADO DE ALAGOAS E PROPOSIÇÃO DE POLÍT ICAS1

Maria Cecília Junqueira Lustosa / Coordenadora Estadual – UFAL

Francisco José Peixoto Rosário – UFAL

Luciana Caetano da Silva – UFAL

Geanne Daniella Clementino da Silva – UFAL

Michelle Cristiane de Lima Nunes – UFAL2 3

Introdução

Com o intuito de analisar os impactos dos Grandes Projetos Federais (GPFs)

em Alagoas, este artigo sintetiza a caracterização desses projetos, verifica seus

impactos na economia alagoana e tece algumas proposições de políticas visando o

desenvolvimento do estado numa perspectiva sistêmica, endógena e sustentável.

Alagoas é um dos estados mais pobres do Brasil, apresentando os piores

indicadores sociais. Mais da metade da população vive com rendimento médio

domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal e cerca de um terço com até

um quarto deste. Essa situação de pobreza, associada ao analfabetismo de um

quarto da população, geram elevados índices de desnutrição em crianças menores

de cinco anos no estado, 9,5% (ENSP, 2006).

O Estado foi descaracterizado em suas instituições e organizações voltadas

para apoiar o desenvolvimento local, criadas na década de 1960. Com o desmonte

da estrutura desenvolvimentista de Alagoas, ao longo dos últimos 20 anos, o estado

ficou impossibilitado de acompanhar, minimamente, os novos paradigmas do

desenvolvimento econômico global, pautados na incorporação de conhecimentos

nos mais diversos campos produtivos.

A despeito do quadro de subdesenvolvimento, o atual governo de Alagoas

estabeleceu, basicamente, duas vertentes de política de desenvolvimento: a 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Alagoas”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa. 3 Colaboraram ao longo desta segunda parte da pesquisa os estagiários Bruno Pimentel da Silva, Caio Henrique Mendes Alves Pinto, Emanuel Lucas de Barros e Hutemberg de Tácio Bezerra Rodrigues, do curso de Economia da UFAL.

Page 29: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

29

primeira, a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia e Logística

(SEDEC), está pautada na criação de uma infraestrutura própria para atrair grandes

empresas em torno de cinco grandes projetos estruturantes, a saber: i) mineração

no agreste, com a Mineradora Vale Verde; ii) expansão da planta de policloreto de

vinila (PVC) da Braskem, que irá fornecer matérias primas para as empresas da

indústria de plásticos que estão se instalando no estado; iii) estaleiro EISA no

município de Coruripe; iv) usinas nucleares, nas margens do rio São Francisco; v)

zona de processamento de exportação.

A outra vertente é o fomento aos arranjos produtivos locais, com o Programa

de Arranjos Produtivos Locais (PAPL), buscando a inclusão social, coordenado pela

Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento (SEPLAN) juntamente com o

Serviço de Apoio às Micro e Pequena Empresas em Alagoas (SEBRAE/AL). São 13

arranjos alvo da política, todos compostos por micro e pequenas empresas (MPEs),

com grande informalidade, sendo oito deles de base agrícola e localizados no

interior do estado

Conhecendo a atual realidade de Alagoas e o relativo avanço realizado nos

últimos anos, é possível traçar um panorama geral dos impactos dos Grandes

Projetos Federais (GPFs) na estrutura social e produtiva do estado. São eles: (i)

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), (ii) Programa Nacional de Logística

e Transporte (PNLT), (iii) Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), (iv)

Programa Territórios da Cidadania (PTC) e (v) Zonas de Processamento de

Exportações (ZPEs).

Para a realização deste artigo, foram utilizadas as Notas Técnicas 10 e 11 da

pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais

no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais

no Nordeste – Alagoas”, cujos dados secundários foram obtidos de publicações e

sítios da internet dos órgãos oficiais e privados de estatística. Foram realizadas

entrevistas semiestruturadas com integrantes das organizações4 responsáveis pelos

GPFs no estado.

4 Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Energia e Logística de Alagoas (SEDEC), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Secretaria de Estado de Infraestrutura (SEINFRA), Agência de Fomento de Alagoas (AFAL), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Eletrobrás Distribuidora de Alagoas (EDAL).

Page 30: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

30

Este artigo está dividido em quatro seções além desta introdução. A primeira

faz uma caracterização do GPFs em Alagoas. A segunda discute os impactos de tais

projetos na economia alagoana. Na terceira seção, são apresentadas algumas

proposições de políticas para o desenvolvimento do estado, buscando

endogenização produtiva, de forma sistêmica, sustentável e includente. Por fim, a

última seção traça as considerações finais.

1 Caracterização dos Grandes Projetos Federais em A lagoas

O PAC tem por objetivo promover o crescimento econômico, o aumento do

emprego e a melhoria das condições de vida da população, seguindo um corte

temporal5 e estratégico6. As ações deste programa têm como característica uma

divisão entre investimentos de abrangência regional (incluem mais de um estado da

federação) e estadual (dentro do estado).

Alagoas tem orçado R$ 12,8 bilhões do PAC, ou seja, 2% dos investimentos

totais para o Brasil. Contudo, até o final de 2010, o estado deverá ter investimentos

na ordem de R$ 11 bilhões, divididos em R$ 4,2 bilhões em recursos destinados

exclusivamente para o estado (38%) e R$ 6,8 bilhões (62%) em projetos regionais,

mas que de alguma forma beneficiam Alagoas (BRASIL, 2010a).

Foram aportados, até final de 2009, recursos na ordem de R$ 2,1 bilhões,

aproximadamente 16% dos recursos planejados. Os recursos de pessoas físicas

para a habitação, que são incluídos nas contas totais, são de R$ 817,4 milhões em

empréstimos (BRASIL, 2010b). Esses montantes incluem as obras concluídas ou

que apresentam parcelas declaradas de conclusão, não sendo somados os

montantes em licitação ou já licitados, mas em estágio de projeto.

O montante de investimentos planejados para a Infraestrutura Logística é de

R$ 6,3 bilhões aproximadamente, divididos em duas seções: estadual e regional. A

primeira compreende as obras rodoviárias, ferroviárias e portuárias, com R$ 878,4

milhões (14%), sendo 60% desse total efetivamente aplicado. Aos empreendimentos

regionais foram destinados R$ 5,4 bilhões (86%), com aplicação efetiva de 80%

(BRASIL, 2010a).

5 O corte temporal separa os montantes de investimentos previstos até 2010 e após 2010. 6 As áreas estratégicas ou eixos do programa são: Infraestrutura Logística, Infraestrutura Energética e Infraestrutura Social e Urbana.

Page 31: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

31

Existe apenas uma obra concluída, que corresponde à sinalização de

rodovias, enquanto ainda se faz estudos e projetos para as obras de duplicação,

melhorias e manutenção das estradas federais em Alagoas – BR 101, BR 316, BR

104 e BR 423 (Tabela 1). Os investimentos em projetos e manutenção estão quase

todos concluídos com 60% e 65% respectivamente dos recursos já desembolsados.

Tabela 1 – Valor de Obras e Cronograma de execução em Infraestrutura Logística – R$ milhões

Obra Valor da obra

Parcela concluída Em obra Em licitação

Construção do cais para contêineres no Porto de Maceió

41,6 0% 41,6 0,0

Duplicação e modernização da BR-101/AL Norte e Sul

541,0 0% 0,0 541,0

Controle de velocidade 4,7 0% 4,7 0,0

Estudos e projetos contínuos 78,6 65% 27,4 0,0

Manutenção 203,6 60% 81,6 0,0

Sinalização 8,9 100% 0,0 0,0

Ferrovia Nova Transnordestina 5.421,6 0% 4.454,6 0,0

Balanças - Lote 23 20,5 0% 0 0,0 Fonte: BRASIL (2010b).

O foco dos investimentos regionais é a ampliação de linhas logísticas para

escoamento de produção, com a construção de novos trechos da Ferrovia Nova

Transnordestina e o controle da produção nas estradas, com as balanças nos postos

federais. Do total desses recursos, 99,6% foram alocados para a ferrovia e 0,4%

para as balanças.

Para Infraestrutura Energética, apenas a usina termelétrica à biomassa está

pronta e o gasoduto em andamento, o restante dos projetos está em licitação

(Tabela 2). A usina termelétrica a óleo não será mais construída.

Tabela 2 – Valor de obras e cronograma de execução em Infraestrutura Energética – R$ milhões

Obra Valor da obra

Parce la concluída Em obra Em licitação

Usina termelétrica a óleo 704 0% 0 704

Usina termelétrica a biomassa 38,4 100% 0 0

Exploração e produção 390,6 0% 390,6 0

Subestação de Zebu 36,6 0% 0 36,6

Levantamentos geológicos 155,7 0% 155,7 0

Levantamentos geoquímicos 8,6 0% 8,6 0

Levantamentos hidrogeológicos 62,6 0% 62,6 0

Gasoduto (expansão e criação) 2.485,7 33% 1657,1 0

Linha de transmissão 163,7 0% 133,2 30,5 Fonte: BRASIL (2010a).

Page 32: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

32

É importante ressaltar que Alagoas possui 23 usinas de açúcar e álcool que

poderiam gerar energia elétrica de forma sustentada, contudo apenas uma

termelétrica de biomassa foi construída no estado. No relatório do PAC não há prazo

de finalização dessas obras.

As ações de Infraestrutura Social e Urbana são de responsabilidade do

estado e dos municípios, que detêm 98% do valor orçado para essas ações até

2010. No que tange ao andamento das obras de responsabilidade do estado, 80%

estão em andamento, 18% estão concluídas e o restante está nas fases de licitação

ou contratação. Quanto às obras sob a responsabilidade dos municípios, nenhuma

delas foi concluída, mas 90% estão em andamento e as demais em licitação ou

contratação (BRASIL, 2010c).

Entre projetos de fornecimento de água, saneamento e habitação, somam-se

130 projetos em Alagoas, beneficiando todos os 102 municípios no estado. Os 124

projetos de responsabilidade municipal estão divididos em projetos de fornecimento

de água e saneamento (81) e habitação (43). Os primeiros apresentam apenas 26

projetos em obras ou em fase de licitação, correspondendo 32% dos projetos totais.

Os projetos de habitação apresentam 14 projetos em andamento, correspondendo

também a 32% dos projetos dessa área nos municípios.

As obras contratadas pelo estado, em sua maioria, têm foco na distribuição de

água, mas há obras de energia no Programa Luz para Todos e de revitalização de

bacias hidrográficas (Figura 1). O Canal do Sertão Alagoano é a obra que mais

consome recursos nesse eixo do Programa, com 58% dos recursos alocados para

as obras de responsabilidade estadual.

Figura 1 – Distribuição percentual dos recursos para as obras de infraestrutura social e urbana e urbana de responsabilidade do estado

Fonte: Elaboração própria com base em BRASIL (2010a).

O Projeto do Canal do Sertão Alagoano foi lançado em 1992 pelo Governo do

Estado em parceira o Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da

Page 33: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

33

Integração Nacional (MIN). O Canal terá uma extensão de 250 km, do município de

Delmiro Gouveia até Arapiraca, no Agreste alagoano, beneficiando 42 municípios. A

previsão de investimentos em obras civis é da ordem de R$ 700 milhões, para o

primeiro trecho, sem participação do setor privado. A vazão projetada é de 32 m3/s,

a fim de atender a diferentes demandas de água: abastecimento humano,

dessedentação animal, agricultura irrigada, pecuária e aqüicultura, agroindústria,

turismo e lazer. Atualmente, a demanda de água é de 2 m3/s (FAIÃO et al., 2008).

No tocante às obras de responsabilidade dos municípios, Maceió se destaca

em termos de prazos de execução. Os demais municípios estão em fase de

planejamento e, muitas vezes, ainda nem licitaram os estudos preliminares. Grande

parte dos recursos direcionados para Maceió é para habitação (Figura 2) e no

interior são as obras de saneamento que recebem a maior parte dos investimentos.

Figura 2 – Distribuição dos investimentos em Infraestrutura Social e Urbana para Alagoas quanto à localização

Fonte: Elaboração própria com base em BRASIL (2010a).

Analisando o total dos investimentos exclusivos de Alagoas, fica claro que as

obras de responsabilidade do estado são a menor parte, refletindo sua incapacidade

de financiamento de grandes obras estruturantes. Boa parte das obras de

saneamento municipal são projetos da alçada da Fundação Nacional de Saúde

(FUNASA). Esses projetos correspondem por 24% das obras do PAC nesse eixo.

O PNLT é um plano de caráter indicativo de médio e longo prazos,

constituindo-se em um portfólio de projetos que são inicialmente indicados pelo

estado. Quando o PAC foi lançado, em 2007, todos os projetos deste Programa em

Alagoas foram a ele integrados. O Plano Estadual de Logística e Transporte (PELT),

que representa o capítulo estadual do PNLT está em elaboração sob a

responsabilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura de Alagoas (SEINFRA) e

da SEDEC.

Page 34: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

34

Quanto à PDP, os desembolsos para Alagoas mostram-se concentrados em

alguns setores produtivos relevantes para o estado7. Poucos recursos foram

aportados para outros setores com potencial de resultados em prazos mais curtos,

principalmente àqueles ligados às cadeias produtivas e ao PAPL. Alagoas não

possui histórico de projetos importantes na área industrial, fazendo com que a

alocação de recursos do PDP para o estado em relação ao Brasil tenha sido irrisória

tanto em 20088 quanto em 20099.

Uma importante iniciativa da PDP é o Núcleo RENAPI Alagoas, que foi

instalado em julho de 2009, o segundo no Nordeste. Sua governança fica a cargo da

Federação de Indústria de Alagoas (FIEA), da Agência Brasileira de

Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da SEDEC.

O PTC criou seis Territórios da Cidadania em Alagoas (Figura 3) a partir de

um mapeamento das áreas de maior fragilidade social e com o propósito de reduzir

as desigualdades regionais e sociais através de ações de fortalecimento da

cidadania, de infraestrutura social e de incentivos à atividade produtiva.

Figura 3 – Localização dos Territórios da Cidadania em Alagoas

Fonte: Elaboração própria.

Em de Alagoas, o PTC executou 101 ações, em 2008, e 110 em 2009, com

uma previsão orçamentária de R$ 1,63 bilhão para os dois exercícios, o desembolso

efetivo fora de R$ 1,34 bilhão. Neste primeiro ano, os maiores desembolsos foram

do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), com 56% do

7 Em 2008 e 2009, respectivamente: Bens de Capital (30%-17%); Complexo Serviços (7,4%-25,6%); Construção Civil (6,3%-4,9%); Agroindústria (4,6%-2%); Bioetanol (1,2%-1%); Regionalização (43%-41,5%) (BNDES, 2010). 8 Em 2008, R$ 351 milhões foram destinados para o estado, ou seja, 2,1% em relação ao Nordeste e 0,24 % em relação ao país para os mesmo setores. 9 Para 2009, o desembolso foi de R$ 627,2 milhões , representando 1,4% em relação à região e 0,36 % em relação ao Brasil.

Page 35: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

35

total, 14% do MIN, 12% do Ministério da Saúde (MS) e 10% do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA). Juntos, esses quatro ministérios concentraram

92% do desembolso total. Em 2009, como no ano anterior, o MDS concentrou 58,4%

do total desembolsado e o MDA, 12,4%. Juntos, eles foram responsáveis por 70,8%

do desembolso.

As ações desses dois anos foram organizadas em três eixos: cidadania, ação

produtiva e infraestrutura social. A alocação de recursos mostra que o eixo cidadania

responde por aproximadamente 71% dos recursos. Nele, estão inseridas as ações

de transferência direta de renda, a exemplo do Bolsa Família, PETI10 e Benefício a

Idosos e Deficientes. Cerca de 21% dos recursos foram aportados no eixo ação

produtiva, que inclui liberação de linhas de crédito a unidades de produção inseridas

em cadeias produtivas organizadas ou em processo de organização, além de

assistência técnica.

Ao eixo infraestrutura social restaram 8%, centrados nas obras de

esgotamento sanitário para revitalização dos rios São Francisco e Paraíba, no

Programa Luz para Todos e no sistema de abastecimento de Palmeira dos Índios.

Em relação a 2008, quatro ações responderam por mais de 57% da quantia

despendida e somente o Bolsa Família recebeu quase 28% dos recursos. Para

2009, foram cinco ações responsáveis por 63,4% dos desembolsos. Mais uma vez,

o Programa Bolsa Família é o que mais recebe recursos, cerca de 29% (Tabela 3).

Tabela 3 – Ações que mais receberam recursos do PTC (2008 e 2009)

Ação 2008 (R$) % 2009 (R$) %

Crédito PRONAF 28.522.878,00 6,2 73.712.174,00 8,4 Benefício de prestação continuada da assistência social à pessoa com deficiência

67.976.099,87 14,7 147.830.227,49 16,8

Benefício de prestação continuada da assistência social à pessoa idosa

42.432.191,65 9,2 84.345.957,86 9,6

Programa Bolsa Família 126.667.608,00 27,5 252.322.364,00 28,7

Cresce Nordeste - - 85.339.331,01 9,7

Total das ações 265.598.777,52 57,6 558.212.732,4 63,4

Total despendido no ano 461.201.561,41 880.525.679,22 Fonte: Elaboração própria com base em MDS (2009; 2010).

Algumas ações tiveram um nível de execução acima das metas física e

financeira e outras ficaram aquém do previsto. Essas mudanças podem ser

explicadas por: a) mudanças na legislação que alterou valor de repasse, como o

10 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI.

Page 36: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

36

crédito instalação, de responsabilidade de INCRA; b) de pressão política para

liberação de mais recurso para uma ação cujo custo de execução era maior que o

previsto no orçamento do PTC11; c) barreiras burocráticas, a exemplo das condições

impostas à liberação de linhas de crédito; d) dificuldade de execução atrelada a

razões diversas, inclusive à qualidade e quantidade de capital humano.

Em relação à ZPE, é inexistente em Alagoas. Há a proposta de implantação

deste tipo de programa no município de Murici, mas ainda sem projeto. Entretanto,

este município foi um dos mais destruídos com as enchentes de junho de 2010. Os

investimentos do governo estadual, da ordem de R$ 60 milhões, para infraestrutura

da ZPE foram, então, destinados à reconstrução de diversos equipamentos públicos.

Ficou, portanto, suspenso por tempo indeterminado a ZPE no estado.

2 Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economi a Alagoana

Dos cinco GPFs analisados, somente o PAC e o PTC revelaram-se

importantes no estudo de caso alagoano. Todos os projetos do PNLT encontram-se

no âmbito do PAC e o projeto da ZPE está suspenso por tempo indeterminado.

A PDP, de acordo com seus objetivos, seleciona as maiores empresas com

capacidade de captar suas linhas de financiamento. Apenas 1,6% das empresas

industriais em Alagoas são de grande e médio porte (FIEA, 2007), com predomínio

dos setores sucroalcooleiro e químico.

O Núcleo RENAPI Alagoas é um esforço para a política de inovação no

estado por meio da estruturação e adensamento de um Sistema Regional de

Inovações e a eleição de empresas inovadoras. Não obstante, a tradição

empresarial do estado não está voltada para a aplicação de inovação e modernas

técnicas produtivas. Assim, o impacto das ações do Núcleo pode ser tímido, apesar

dos projetos incluídos na rede ainda estarem começando. O grande desafio para a

implementação da PDP é fazer seus programas chegarem à ponta, a fim de atingir

suas as metas e indicadores estabelecidos.

O PAC propõe algumas obras de infraestrutura que visam atenuar essa

lacuna estrutural que existe na economia alagoana. Entretanto, o andamento das 11 Os recursos do PTC aportados nas ações aqui analisadas representam um percentual do custo total da ação. O desembolso total da EDAL para financiamento do Programa Luiz para Todos foi de R$ 54,4 milhões em 2008 e R$ 80,75 milhões em 2009. A meta de execução financeira para esses exercícios no PTC foram, respectivamente, R$ 10,6 e 37,2 milhões. O mesmo ocorre com outras ações.

Page 37: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

37

obras não está acompanhando o surgimento de novos investimentos no estado.

Grande parte dos investimentos do PAC é de âmbito regional e não local,

concentrando 86% dos recursos nas obras de Infraestrutura Logística e Energética,

implicando em diluição dos valores previstos. Ressalta-se que Alagoas, apesar da

infraestrutura econômica e social precárias, recebeu a menor parcela de

investimentos do PAC para no Nordeste.

Com exceção das obras da subestação de Zebu, o Programa não aporta

investimentos para novos pontos de suprimento, fundamentais para atender à futura

demanda de energia elétrica no sertão – subestação de Olho d’Água das Flores – e

da grande região de Maceió, onde empreendimentos demandantes de energia

elétrica estão sendo implantados.

A Infraestrutura Social e Urbana do PAC possui elementos em comum com o

PTC, principalmente no que se refere ao interior do estado. A agricultura familiar é

responsável por 70% do emprego da mão de obra rural em Alagoas e demanda uma

presença mais forte do setor público para atender suas necessidades de políticas

sociais de educação e saúde, bem como apoio direto na assistência técnica,

financiamento e comercialização (CARVALHO, 2007). Assim, os investimentos do

PAC no interior do estado poderão ter um grande impacto nessa atividade. Em

especial, os perímetros irrigados do Canal do Sertão e o Programa Luz para Todos,

que levarão para o interior um novo perfil de cultura agrícola.

Não obstante, o Canal do Sertão só tem 45 km acabados dos seus 250 km de

extensão previstos em projeto. Nem todos os lotes da obra estão licitados, logo sem

previsão para o término da obra. Além do mais, sua viabilidade econômica fica

atrelada ao município de Arapiraca, o maior usuário e com maior potencial de

agricultura irrigada, porém situado no último quilômetro do empreendimento.

A limitação para a implantação bem sucedida dos perímetros irrigados no

projeto do Canal do Sertão é a sua forma de governança de abastecimento, que

ainda não foi estabelecida pelo governo do estado e a Companhia de Saneamento

de Alagoas (CASAL), pois Alagoas não tem tradição na comercialização de água

bruta.

O preço da terra nos locais dos perímetros irrigados aumentou cinco vezes,

revelando uma especulação resultante da obra. O impacto atual mais importante do

Canal do Sertão não é a maior oferta de água e sim os cerca de 800 empregos

Page 38: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

38

locais gerados e todo movimento da economia causado pelo impacto da construção

civil nos municípios em que as obras foram concluídas.

Os investimentos do PAC, mesmo que não resultem em mudanças

significativas de curto prazo na realidade econômica do estado, está aumentando o

estoque de investimentos que poderá favorecer a sustentação à demanda efetiva no

longo prazo. De imediato, o setor que mais se beneficia com as obras deste

Programa é o da construção civil, uma vez que os investimentos em logística,

energia, habitação e saneamento requerem obras novas e revitalização das

existentes.

O PTC é uma reunião de programas existentes anteriormente com nova

metodologia de gestão, que se constitui no seu ponto central. Sua construção é lenta

e não apresenta resultados imediatos. O Programa reúne ações isoladas dos

ministérios, sem sinergias entre elas, ou seja, existem os recursos para determinada

ação e os municípios conseguem buscá-los, sem necessariamente atender às

necessidades específicas das localidades. Houve aumento no aporte de recursos

dos ministérios, mas eles não chegam na ponta como deveriam.

Não obstante, essa nova metodologia de gestão das ações fortalece as

organizações existentes e possibilita o surgimento outras. A novidade é a proposta

de diálogo entre as três esferas de governo e entre os órgãos executores, na

perspectiva de aprimorar a prática de planejamento e a articulação entre as ações

inseridas no programa. O comitê estadual assume um papel fundamental nesse

contexto, cuja responsabilidade é identificar gargalos e oportunidades na perspectiva

de alavancar o desenvolvimento local e setorial.

Decorridos dois anos de implantação do PTC, ainda é cedo para uma análise

mais profunda de seus impactos. Porém, é possível observar movimentos em curso

a partir do padrão de consumo e da demanda por crédito direcionado a

empreendimentos de pequeno e médio porte, possivelmente com elevação do nível

de produção nos municípios dos Territórios, a exemplo do leite no Agreste, setor que

lidera a captação de crédito junto ao Banco do Nordeste, com recursos do FNE12.

Nas ações de transferência direta de renda – Bolsa Família e Benefícios a

Idosos e Deficientes – houve uma redução do déficit social com a inserção de novas

famílias e pessoas em programas sociais. Considerando o percentual da população

12 FNE – Fundo Constitucional para Financiamento do Nordeste, com taxa de juros subsidiada (0,5% a 6% ao ano).

Page 39: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

39

em estado de pobreza absoluta, é possível afirmar que esse novo aporte de

recursos provocou um impacto significativo, especialmente no padrão de consumo.

Essa mobilidade social pode ser percebida nos indicadores de renda e consumo,

gerando impactos sobre os mais diversos setores, principalmente no comércio. Em

algumas famílias, o benefício a idosos e deficientes, que corresponde a um salário

mínimo, é a principal fonte de renda.

No âmbito das ações de fomento a empreendimentos produtivos, cabe

destaque ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), ao

crédito liberado pelo Banco do Nordeste com recursos do FNE, ao PAA13 e ao

conjunto de ações inseridas na política de reforma agrária, sob a responsabilidade

do INCRA/SR-22.

O PRONAF e as linhas de crédito do Nordeste Territorial correspondem a

ações direcionadas ao fomento e fortalecimento da cadeia produtiva local (aquisição

de insumos, produção, beneficiamento e comercialização). As ações coordenadas

pelo INCRA/SR-22 são direcionadas à criação e ao fortalecimento dos

assentamentos rurais, na perspectiva de dar ao homem do campo condições de

extrair da terra seu próprio sustento. Em um estado marcado pela concentração do

latifúndio, a distribuição da terra atrelada a condições de uso de forma sustentável,

pode melhorar o estado de bem-estar social. Isso, porém, não é o que tem sido

observado, considerando as fragilidades de um órgão que sofre forte influência e

pressão política.

Nas ações de infraestrutura, há pouca execução no âmbito dos Territórios,

ficando quase tudo no PAC. Mesmo assim, pode-se destacar a importância do

Programa Luz para Todos, cujo objetivo é atender famílias da área rural sem acesso

a energia elétrica. Para todo o estado, em 2008 e 2009, as metas alcançadas

ficaram acima da meta prevista e, desde que foi criado o Programa, o atendimento

corresponde a 98% do déficit estadual. Segundo EDAL, foram realizadas, nestes

anos, 28.494 ligações, com desembolso de R$ 135,2 milhões e custo médio de R$

4.744,00 por ligação.

O PTC é importante para Alagoas, apesar do aspecto assistencialista de

muitas ações, como a grande participação do Programa Bolsa Família nos recursos

desembolsados. Porém, programas estruturantes, como o Cresce Nordeste, Luz

13 PAA – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar.

Page 40: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

40

para Todos e o Crédito PRONAF, vêm permitindo que o estado assegure sua

posição de maior número de assentamentos ativos no Nordeste. Portanto, se

efetivamente alinhado ao PAPL, é o PTC que surge como potencial real de modificar

as condições de subdesenvolvimento vigentes em Alagoas.

O PTC está diretamente associado aos arranjos produtivos do estado, uma

vez que dos 1414 APLs fomentados até 2009, 12 estão geograficamente localizados

nos Territórios da Cidadania, sendo oito de base agropecuária (Figura 4).

Figura 4 – Os APLs e os Territórios da Cidadania em Alagoas

Fonte: Elaboração própria

3 Proposições de Políticas para o Desenvolvimento E stadual

As proposições de políticas para o desenvolvimento devem estar ancoradas

na distinção entre facilidades de acesso e capacidades dos indivíduos. As

facilidades são a oferta de serviços para atender às necessidades fundamentais da

coletividade, como educação, saneamento, assistência técnica e crédito. As

capacidades dependem das competências adquiridas pelo sujeito, desenvolvidas ao

longo de sua vida de acordo com estímulos recebidos: alimentação, cuidados com a

saúde, educação, entre outras.

Ao tratar de proposições de políticas públicas para Alagoas, deve-se lembrar,

primeiramente, a recorrente situação de pauperização do estado nos aspectos

econômico e social. Nestas condições, as atividades produtivas ficam

comprometidas devido à baixa capacidade de absorção de conhecimentos por parte

de uma população urbana e trabalhadores rurais analfabetos. Essa base de

14 Em 2010, o APL de Laticínios deixou de fazer parte do PAPL.

Page 41: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

41

conhecimento é necessária para melhorar a forma de gestão e permitir a

incorporação de novas tecnologias que aumentem a produtividade da agricultura

familiar.

Sem a melhoria das capacidades individuais, por meio de melhorias

nutricionais, na educação e na saúde, as políticas públicas, como assistência técnica

e crédito, podem tornar-se inócuas. A estratégia central para assegurar resultados

para qualquer política de desenvolvimento em Alagoas é o aprofundamento de

políticas de cunho social.

Os grandes projetos estruturantes em Alagoas dependem não só do esforço

do governo, mas da construção de uma série de ativos complementares de

infraestrutura que dependerá de fatores que, em muitas vezes, estarão fora do

controle do estado. Em contraponto, o PAPL, em um período mais curto, pode

resultar em benefícios diretos para a comunidade, uma vez que a base do

funcionamento dos arranjos já está montada sobre a vocação produtiva local

existente. Além disso, o esforço para estruturar os APLs já tem dez anos.

Os GPFs estão de alguma forma contribuindo para Alagoas, contudo eles

precisam estar integrados a políticas locais de desenvolvimento para potencializar

seus impactos. O papel dessa integração deve ser assumido pelo governo estadual,

como o grande orquestrador desses projetos, mas apesar dos esforços não há

evidências de um planejamento de integração entre os GPFs e as políticas locais.

Seria fundamental realizar um mapeamento das diversas políticas, atores e

organismos de apoio (agenciadores, academia, bancos, entre outros) sobre os

municípios alagoanos para ver as sobreposições e melhor articular os projetos.

Há, portanto, a necessidade de políticas específicas para educação básica e

formação de mão de obra, principalmente no campo, uma vez que os APLs se

ressentem da qualidade dos trabalhadores para absorver novas tecnologias e

conhecimentos que possam ser aplicados a produção. Apesar de esforço no sentido

de condicionar o Programa Bolsa Família da frequência das crianças na escola, há

de se questionar a qualidade da maioria delas, sejam estaduais ou municipais, com

infraestrutura precária, professores com baixa qualificação e metodologias de ensino

inadequadas para a realidade local. Há também um contingente numeroso de

adultos analfabetos ou semialfabetizados na área rural precisam enfrentar os novos

desafios do atual mercado agropecuário, com uma nova dinâmica e sob novas

pressões relacionadas à qualidade na produção e regularidade de abastecimento.

Page 42: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

42

Apesar dos esforços no sentido da interiorização da UFAL, um dos objetivos

atingidos pelo PTC, o estado necessita de formação técnica e conta somente com

uma escola agrotécnica de responsabilidade federal. Uma forma inovadora de

educação é o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do governo federal.

Essa modalidade de ensino recebe verbas do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB) e pode alavancar a formação básica de muitos profissionais

necessários para os APLs.

Essa política de base pode, além de melhorar a qualidade da mão de obra,

reduzir alguns dos piores indicadores socioeconômicos, como os de saúde e

mortalidade infantil. Não é possível separar políticas que objetivam melhoria do

tecido social e políticas produtivas, pois uma sociedade só exerce determinado

modo de produção quando está plenamente adequada a ele.

No âmbito das transferências diretas de renda, é preciso planejar o

desligamento das famílias, dando-lhes as condições necessárias à geração de renda

de forma autônoma, a fim de promover mobilidade e inclusão social. Esta é uma

ferramenta eficiente apenas enquanto ação imediata, considerando o caráter de

urgência de quem tem fome. No médio prazo, tal política deve ser substituída por

políticas de geração de renda, na perspectiva de reduzir o ônus tributário, garantindo

maior dinâmica aos mercados e maior competitividade às empresas nacionais em

relação ao mercado internacional.

Do ponto de vista da produção, a principal proposta de política é a

identificação de produtos agrícolas presentes nos APLs ou em cadeias produtivas

mais adensadas, como a de Laticínios e a da Química e do Plástico, que possam ser

complementares às demandas presentes nos estados vizinhos. Esta última deve

incluir o segmento de reciclagem de plástico, numa perspectiva sustentável, com o

fechamento do ciclo de vida do produto.

Paralelamente, as ações de apoio às MPEs, a exemplo do crédito e da

capacitação técnica, devem ser fortalecidas de modo a reestruturar as cadeias

produtivas locais, com vistas à redução do índice de falências e à geração de

emprego e renda. Ações coordenadas, envolvendo o público e o privado no

diagnóstico dos mercados locais e na definição de ações estruturantes, podem

resultar em mercados mais dinâmicos e prósperos, desde que tais empreendimentos

estejam inseridos em cadeias produtivas organizadas, com canais de escoamento

Page 43: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

43

claramente definidos. A formação de cooperativas pode fortalecer pequenos

empreendimentos à medida que reduz os custos operacionais, da aquisição de

insumos ao abastecimento do mercado.

Aproveitar o potencial do Canal do Sertão para o aprofundamento da

agricultura familiar é uma forma de implementar estratégias de desenvolvimento

local. Esta é uma oportunidade de introduzir a pequena agricultura profissional em

Alagoas, pois há quatro perímetros irrigados projetados. Entretanto, será necessário

um aporte substancial de assistência técnica rural e novas tecnologias de irrigação

praticamente inexistentes no estado, pois os pequenos agricultores não têm tradição

no cultivo irrigado.

O desenvolvimento profissional da agricultura familiar em Alagoas depende

da melhoria do ambiente institucional vigente, principalmente no tocante as regras

para crédito, assistência técnica e comercialização. De certa forma, a política de

APLs tenta resolver essas questões, porém, devido aos problemas mais básicos de

organização social, o resultado desse esforço nem sempre é imediato.

Os instrumentos de crédito já estão presentes. Os bancos do Brasil e do

Nordeste possuem pacotes voltados para a agricultura familiar via PRONAF,

AGROAMIGO e NORDESTE TERRITORIAL. Além desses mecanismos, a Agência

de Fomento de Alagoas (AFAL) está atuando junto a cooperativas de produtores e

de crédito para conseguir repassar maior volume de recursos e reduzir os riscos de

inadimplência dos pequenos produtores.

No longo prazo, a melhor política pública para a agricultura seria criar uma

produção integrada com uma agroindústria, particularmente a produção oriunda dos

APLs, o que não implica em concentração produtiva e fundiária. Produção integrada

é uma forma de inserir os pequenos produtores em uma cadeia produtiva maior,

mais desenvolvida e adensada. De um lado, os produtores se especializam na

produção de matérias primas agrícolas dentro de padrões estabelecidos pelo

mercado final. Na ponta final da comercialização, está a empresa âncora – que pode

ser uma cooperativa profissional incentivada com crédito e regras de gestão claras –

orientada para o mercado e capaz de repassar tecnologia produtiva para os

produtores rurais.

O mercado para esses produtos está nos estados vizinhos, particularmente as

capitais e cidades de médio porte, onde a demanda é maior e relativamente mais

sofisticada. Além do mais, o Nordeste é um dos destinos mais procurados pelos

Page 44: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

44

turistas e novos mercados serão abertos, mas sua exploração dependerá de

padrões de qualidade em acordo com as exigências e certificações nacionais e

internacionais.

No âmbito da política de reforma agrária, o maior problema está no critério de

contratação da assistência técnica para dar suporte aos assentamentos rurais no

que se refere ao uso adequado do solo. Enquanto esta ação for utilizada para

remuneração camuflada das lideranças dos movimentos sociais, os assentamentos

rurais sofrerão com a ausência de um Plano de Desenvolvimento dos

Assentamentos Rurais (PDA) que atenda às suas necessidades. Muitos assentados

são ex-moradores de áreas urbanas que jamais tiveram qualquer contato com a

terra, o que torna a assistência técnica imprescindível à sua sobrevivência no

campo. Não é suficiente disponibilizar terra, semente e crédito para plantio. A

sustentabilidade de qualquer empreendimento, seja na área rural ou urbana, requer

um conjunto de ações bem articuladas, envolvendo vários atores sociais e agentes

econômicos.

Se por um lado, os grandes projetos estruturantes do governo estadual

podem causar um grande impacto na dinâmica econômica em Alagoas, por outro

lado, caso eles sejam realmente efetivados, irão esbarrar na precariedade do

fornecimento de energia, de água e na qualidade e disponibilidade de estradas.

Não obstante, há outros setores que merecem maiores incentivos da PDP,

como: Laticínios, pois estão com programas de melhoraria dos processos

produtivos; Amilácios de mandioca, a fim de agregar valor ao APL de Mandioca;

Alimentos, para atender a crescente demanda popular por massas e biscoitos;

Cerâmica, devido ao déficit estadual de materiais para construção, consequência do

aquecimento da construção civil; Cadeia Produtiva da Química e do Plástico, que

recebeu somente 0,3% dos desembolsos, porém está se organizando e adensando

com novos empreendimentos, sendo um dos projetos do Núcleo RENAPI Alagoas.

Diante disso, duas condições são postas para a execução dessas políticas

em Alagoas, sem considerar a resolução do gargalo social. A primeira, e mais

urgente, é o ajuste dos GPFs aos reais interesses do estado. O PAC possui uma

grande carteira de projetos, mas que para alcançar o resultado pleno no

desenvolvimento local necessita aprofundar os investimentos em: geração e

distribuição de energia no sertão e agreste em Alagoas; no aumento e melhoria da

malha viária do estado; no redimensionamento do porto; na reconstrução da ferrovia,

Page 45: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

45

particularmente nas regiões com potencial agrícola; e, por último, na melhoria das

condições de habitação e qualidade de vida da população mais carente.

O PTC, por sua vez, acaba por destinar parte de seus recursos para as

transferências do Programa Bolsa Família em detrimento do apoio ao produtor rural,

do repasse de crédito ou incentivo à criação de cooperativas e melhorias dos canais

de comercialização, via Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), por

exemplo. Esse descompasso pode acomodar a produção local, impedindo que haja

incentivos direcionados para atuação junto aos produtores estabelecidos nesses

territórios.

A segunda condição é o desenvolvimento de uma política de Ciência e

Tecnologia (C&T) que privilegie as necessidades produtivas locais. Tendo em vista

que se destaca em Alagoas a agricultura e a produção de químicos, quando se

exclui a agroindústria sucroalcooleira. Os produtos da agropecuária tradicionais do

estado, com exceção da cana-de-açúcar, são pouco estudados por parte do sistema

de pesquisa estadual. O coco, os laticínios, a horticultura, os ovinos e caprinos, a

mandioca e a piscicultura não aparecem nos produtos que recebem maiores

incentivos e atenção do sistema regional de inovação.

Além desses produtos, o setor industrial não deve ser desprezado, mais ainda

quando em Alagoas estão sediadas algumas das mais produtivas empresas da

agroindústria sucroalcooleira do Brasil e possui duas plantas da segunda maior

empresa da indústria petroquímica do país.

Portanto, incentivos ao desenvolvimento de produtos, processos e novas

tecnologias ligadas a essa indústria pode colocar Alagoas na rota de investimentos

nacionais e internacionais para o desenvolvimento tecnológico. Essas indústrias

estão passando por profundas mudanças em sua forma de concorrer, baseada

fundamentalmente em inovações em produtos e processos industriais.

Uma política de C&T voltada para o desenvolvimento do estado deve eleger

um grupo de indústrias e setores que possam ser passíveis de incentivos para

pesquisa e desenvolvimento local, principalmente via parcerias público-privada.

Esse arranjo institucional deve ser conduzido por uma orquestração entre as

secretarias de estado envolvidas com o setor produtivo, com a formação e

capacitação de mão de obra e com a produção de ciência e tecnologia.

Acrescente-se a necessidade da melhoria do conjunto de empresas do

estado, que é fundamentalmente composto por MPEs pouco inovadoras, e não

Page 46: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

46

consegue ser referência de desenvolvimento empresarial. Empresas exitosas e com

potencial de crescimento são importantes fontes de desenvolvimento econômico, no

sentido de inocular no sistema econômico novos investimentos, capacitações e

tecnologias. Tudo isso é passível de apropriação local, causando um tipo de

externalidade positiva.

4 Considerações Finais

Alagoas enfrenta alguns grandes gargalos ao seu desenvolvimento em bases

sustentáveis, saber: as fragilidades nos sistemas de educação e saúde, que

comprometem a formação de mão de obra para uma economia mais competitiva e

de maior geração de renda; a frágil teia empresarial, com muita MPEs e grande

informalidade; e a apropriação privada da máquina estatal. Desta forma, a melhoria

desse cenário passa pela intensificação na fiscalização dos recursos públicos e por

investimentos intensivos em políticas sociais não assistencialistas.

Para os anos de 2008 e 2009, o PAC aportou recursos da ordem de R$ 2,1

bilhões, o PTC aportou aproximadamente R$ 1,34 bilhões e a PDP cerca de R$ 0,97

bilhões. Juntos, trouxeram R$ 4,41 bilhões para Alagoas. Ou seja, 24,8% do PIB

estadual (de 2007) em dois anos, afetando positivamente a demanda agregada.

Apesar dos GPFs representarem um complemento para as políticas estaduais

e os esforços municipais para as melhorias sociais e econômicas, a condução e a

integração desses projetos não estão totalmente em sintonia com as necessidades

imediatas para alavancar o desenvolvimento do estado.

Os investimentos dos GPFs devem ser potencializados com políticas locais, a

fim de não se transformarem em fonte de maior iniquidade entre Alagoas e os

demais estados do Nordeste. A razão disso é o esforço de integração regional

presente nas ações destes programas para o estado que, se por um lado, facilita os

fluxos de mercadorias e serviços de quem produz para quem compra, por outro lado,

num estado eminentemente comprador e com baixa densidade empresarial como

Alagoas, esse fluxo ocorrerá no sentido de importação total de mercadorias e

serviços de outros estados, podendo asfixiar a frágil economia local.

Assim, falar em integração regional de Alagoas dentro de um contexto de

novos conhecimentos e tecnologias produtivas, só se tornará realidade na medida

em que o gargalo social for resolvido. Dessa forma, o processo e as políticas de

Page 47: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

47

desenvolvimento estaduais têm que ser analisados pela integração das esferas

econômica, social e ambiental.

Referências

BNDES. Desembolsos da PDP . Arquivo em Excell disponibilizado pela coordenação da Pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados Nordestinos Selecionados”, 2010. BRASIL. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço de 3 anos do PAC. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010a. _______. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço de 3 anos do PAC: Alagoas . Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010b. _______. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço do PAC em Alagoas . Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010c. CARVALHO, C. P. O.. Economia Popular : uma via de modernização para Alagoas. 2ª edição. Maceió: Edufal, 2007. ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA – ENSP. Súmula . Radis nº 46, junho 2006. Disponível em http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/46/sumula.html. Acesso em: 25 de julho de 2010. FAIÃO, D.; SORGATO, J.; PEDROSA, V. A.. Canal do Sertão Alagoano: o custo da energia elétrica. IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste . Salvador, 2008. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE ALAGOAS – FIEA. Relatório de Competitividade . Maceió: FIEA, 2007. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Alagoas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste. Maceió/AL, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Alagoas e Proposição de Políticas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Maceió/AL, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

Page 48: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

48

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME - MDS. Relatórios de Execução dos Territórios da Cidadania 2008. Brasília: MDS, 2009. _______. Relatórios de Execução dos Territórios da Cidadania 2009. Brasília: MDS, 2010.

Page 49: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

49

INFRAESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O PAC NA BAHIA 1,2

Hamilton de M. Ferreira Júnior / Coordenador Estadual

Renata Adriana P. Fontes Lima

Fábio Batista Mota

Thiago Reis Góes

1. INTRODUÇÃO

Este artigo constitui uma síntese de parte dos trabalhos desenvolvidos no

âmbito do projeto intitulado ‘Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos

Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes

Projetos Federais no Nordeste’. Mais especificamente, se refere às notas técnicas

(NTs) 10 e 11, disponíveis em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. O

objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão sobre possíveis repercussões futuras

do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na economia baiana. Isto, tendo

em vista à superação ou mitigação de alguns dos “gargalos” estruturais desta

economia, especialmente no que tange à sua infraestrutura. É dito que são

repercussões futuras porque, aqui, admite-se que a observação de “impactos” na

economia requer um horizonte de tempo muito mais amplo, não contemplado na

presente investigação, que considerou o período 2007-2009. Trata-se, desse modo,

de um estudo exploratório.

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Bahia”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Os autores agradecem a colaboração dos professores Cesar Vaz de Carvalho Junior e Edgard Porto Ramos, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEPLAN), e dos estagiários Alexsandra Andrade Santana (UFBA), Gustavo Orge Orrico (UFBA), Rodrigo Carvalho Oliveira (UFBA), Thiago Henrique Carneiro Rios Lopes (UEFS), Felipe Pereira Freitas Pinheiro (UFBA) e Leib Alem Braunstein (UFBA). Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa.

Page 50: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

50

Além do PAC, as NTs 10 e 11 abrangem o estudo de outros três grandes

projetos federais (GPFs): o Plano Nacional de Logística de Transporte (PNLT), a

Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Programa Territórios da Cidadania

(PTC). Todavia, no presente artigo, optou-se por discutir, apenas, o PAC. Isto, tendo

em vista tanto a sua maior importância relativa para a Bahia como a maior

disponibilidade de informações e dados, que permitiram a realização de um estudo

mais bem elaborado; para informações mais detalhadas acerca dos demais GPFs

na Bahia, vide NTs 10 e 11.

Para o cumprimento dos objetivos deste artigo, foram observados os

procedimentos metodológicos arrolados no Termo de Referência (TR) para as NTs

10 e 11, disponibilizado pela coordenação geral da UFRN. Em linhas gerais, foi

realizada uma análise qualitativa a partir dos resultados das NTs 10 e 11 – cujas

informações e dados, de caráter secundário, foram, em boa parte, obtidos em sítios

oficiais, periódicos, relatórios, documentos técnicos, dentre outros. Parte das

informações ora apresentadas foram dispostas espacialmente, em mapas, para que

se pudesse, com mais clareza, observar a disposição dos investimentos do PAC no

território baiano. Tal proposta analítica é, de certa forma, próxima do que Nelson

(1998) chamou de “teorização apreciativa”. Isto, no sentido de que se trata de uma

tentativa de análise empírica, de caráter qualitativo, das informações e dados

arrolados nas NTs 10 e 11, segundo a interpretação subjetiva dos autores sobre o

objeto estudado.

Além desta introdução, este artigo está dividido em mais três seções. A

primeira apresenta uma breve contextualização do PAC na economia do Estado da

Bahia. A seção seguinte, os “gargalos” ou elos faltantes da economia baiana. A

terceira, uma reflexão sobre possíveis repercussões futuras deste GPF na economia

estadual, inclusive no que tange aos arranjos produtivos locais (APLs) baianos. A

quarta parte apresenta breves reflexões de políticas, tendo em vista o

desenvolvimento do Estado.

Page 51: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

51

2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO PAC NA BAHIA 3

Os investimentos referentes ao PAC na Bahia totalizam R$ 51,5 bilhões,

abrangendo ações em infraestrutura logística, infraestrutura energética e

infraestrutura social e urbana. Deste montante, R$ 43,0 bilhões estão previstos para

os anos de 2007 a 2010; sendo R$ 8,5 bilhões para os anos posteriores a 2010. Tais

investimentos encontram-se divididos entre exclusivos do Estado da Bahia e de

caráter regional.

Na Bahia, os investimentos em infraestrutura logística têm por objetivos

incentivar o turismo e escoar a produção regional através da ampliação da malha de

transportes rodoviários, aeroviário, ferroviário e marítimo. Os investimentos em

infraestrutura energética buscam garantir o fornecimento de energia para o Estado e

a região e desenvolver, ampliar e modernizar as atividades relacionadas ao petróleo

na Bahia. Por sua vez, os investimentos em infraestrutura social e urbana visam

garantir a prestação de serviços essenciais à sociedade.

Das áreas de infraestrutura, a logística recebeu a menor parte dos recursos

reservados exclusivamente para o Estado da Bahia. Para esta, estão previstos R$

3.722,1 milhões, distribuídos em rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e marinha

mercante. Deste total, R$ 3.558,9 milhões (96%) são para melhoria do transporte

rodoviário, englobando obras de sinalização, manutenção, construção, adequação,

concessão e estudos e projetos de rodovias, entre outras. O restante dos recursos,

R$ 163,1 milhões (4%), destina-se para melhorias dos transportes marítimo,

ferroviário e aeroviário. Os investimentos posteriores a 2010 somam R$ 548,2

milhões.

No mesmo período, os investimentos previstos para a infraestrutura

energética totalizaram R$ 12.500,40 milhões e destinam-se à geração e transmissão

de energia elétrica, produção, exploração e pesquisa de petróleo e gás natural e

3 Este tópico está baseado no nono balanço quadrimestral do PAC, disponível em: <http://www.brasil.gov.br/pac>.

Page 52: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

52

pesquisa e produção de combustíveis renováveis. Deste total, R$ 7.363,6 milhões

(59%) são destinados a área de petróleo e gás natural, R$ 4.988,2 milhões (40%)

para geração e transmissão de energia elétrica e o restante, apenas R$ 148,6

milhões (1%), para combustíveis renováveis. Para os anos posteriores a 2010, os

recursos previstos totalizam R$ 3.951,7 milhões, divididos entre as áreas de energia

elétrica e petróleo e gás natural.

Por sua vez, os recursos destinados para investimentos em infraestrutura

social e urbana totalizam R$ 12.519,9 milhões, distribuídos nas áreas de

saneamento básico, habitação e infraestrutura urbana. Em valores, tais

investimentos correspondem a R$ 2,450,10 (20%), R$ 6.176,40 (51%) e R$

3.603,40 (29%) milhões, respectivamente. As ações na área de saneamento

abrangem abastecimento de água, esgotamento sanitário, melhorias habitacionais,

entre outras. Os investimentos em infraestrutura urbana são destinados à

universalização do acesso a luz, através do programa luz para todos, construção do

metrô na cidade de Salvador e investimentos em recursos hídricos através do

programa água para todos. Já os investimentos na área habitacional estão divididos

em empréstimos para pessoa física e urbanização e produção habitacional.

Com relação aos investimentos regionais, os recursos estão destinados para

a infraestrutura logística e energética. Do total de R$ 18.221,40 milhões, R$

11.229,00 milhões são destinados à logística e R$ 6.992,40 milhões para a área

energética. O Quadro abaixo apresenta os investimentos do PAC para a Bahia.

Eixo Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter

regional 2007 – 2010 Pós 2010 2007 – 2010 Pós 2010

Logística 3.722,10 548,3 9.057,00 2.172,00 Energética 12.500,60 3951,7 5.492,40 1500 Social e urbana 12.229,90 290 - -

Total 28.452,60 4790,0 14.549,40 3.672,00 Quadro 1 - Investimentos do PAC para o Estado da Ba hia, 2007-2010 e pós 2010, em milhões de Reais FONTE: Programa de Aceleração do Crescimento. Obs: Não inclui FNHIS e financiamento habitacional pessoa física 2009 e 2010.

Page 53: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

53

3. CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA BAIANA: ELOS FALTANT ES

A presente seção tem por fim apresentar, de forma breve, alguns dos

principais “gargalos” da economia baiana. Isto é, alguns dos aspectos econômicos e

sociais que figuram como limitantes ao desenvolvimento do Estado. Para fins de

organização e clareza na exposição, tais gargalos foram sumarizados e

apresentados em “recortes”, distribuídos nos subtópicos que seguem.

3.1.1. Forte concentração espacial

Como sabido, a economia baiana é fortemente concentrada espacialmente.

Dentre os pólos mais relevantes da sua economia, destacam-se: a RMS, articulada

com a região de Feira de Santana e com os municípios de Alagoinhas, Catú e

Pojuca – a chamada Macrorregião de Salvador –, formando o centro industrial e

econômico do Estado; o extremo sul, principalmente os municípios de Eunápolis e

Teixeira de Freitas, cuja atividade relevante é a produção de papel e celulose; o

cerrado baiano, na região oeste, onde o cultivo de soja e algodão, nos moldes do

agronegócio, determinam o vetor de crescimento econômico do oeste do Estado; a

região de Juazeiro, importante centro de atividades de fruticultura; Vitória da

Conquista, Itabuna e Jequié, como pólos de serviços regionais; e Ilhéus, como um

pequeno pólo industrial e de turismo. A Figura abaixo apresenta os principais pólos

de desenvolvimento econômico do Estado. Nela, pode-se observar que tais pólos

estão situados nas bordas do território baiano, deixando, desta forma, um grande

vazio de atividades econômicas no “miolo” do seu território.

Page 54: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

54

Barreiras

Itabuna Ilhéus

Teixeirade Freitas

Eunapolis

Vitoria daConquista

Jequié

Juazeiro

SantanaFeira de

Camaçari

Salvador

Concentração Industrial

Cidades-Pólo (Comércio/Serviços)

Figura 1 - Principais pólos de desenvolvimento econ ômico da Bahia FONTE: SEI, 2007.

3.1.2. Forte concentração setorial

Alem de espacialmente, a economia baiana é concentrada setorialmente. A

indústria de transformação possui um grande peso na composição do valor

adicionado do Estado. Dentro deste segmento, há forte participação da indústria

química e petroquímica e metal mecânica. Os serviços, sejam eles públicos ou

privados, também possuem forte participação no produto baiano. A atividade

agrícola, embora possua uma participação de 5,72% na produção do Estado, está

bastante concentrada na produção de soja, algodão e frutas.

Page 55: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

55

Tabela 1 - Participação dos setores produtivos no V A baiano Participação no VA

do Estado da Bahia (%)

Indústria de Transformação 15,26 Construção Civil 7,91 Indústria Extrativa Mineral 3,28 Outros Serviços 21,42 Pecuária e Pesca 2,42 Agricultura, Silvicultura e Exploração Florestal 5,72 Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana

5,15

Serviços de alojamento e alimentação 2,11 Comércio e serviços de manutenção e reparação 11,85 Transporte, armazenagem e correio 4,14 Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 3,83 Administração, saúde e educação públicas 16,91 FONTE: SEI, 2010.

Além de concentrada em poucos setores produtivos, a base produtiva do

Estado apresenta reduzida capacidade de agregação de valor nas suas cadeias.

Existem elos faltantes nas principais cadeias produtivas baianas, altamente

especializada na produção de commodities, sejam agrícolas – que por sua vez não

se articulam, no âmbito do Estado, com a indústria alimentícia –, petroquímicos –

basicamente ligado à segunda geração da industria petroquímica –, ou de celulose.

Trata-se, portanto, de uma base produtiva pautada em produtos intermediários,

complementar à indústria do Sul/Sudeste do país. A exceção é a indústria

automobilística, que apresenta alta capacidade de encadeamento.

3.1.3. Municípios com baixo dinamismo econômico

Outra característica da economia baiana é que, de forma geral, os seus

municípios apresentam baixo dinamismo. Em 2007, segundo dados do IBGE, o PIB

dos municípios da RMS representava cerca de 48% do PIB baiano. Os 52%

restantes pertenciam aos outros 407 municípios do Estado. Outro indicador que

evidência o baixo dinamismo dos municípios da Bahia é a elevada dependência das

receitas constitucionais, sobretudo do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Dos 417 municípios da Bahia, no ano de 2007, somente em 9 deles as receitas

próprias representavam mais que 30% das suas receitas de transferências e apenas

em 4 municípios as receitas próprias representavam acima de 40% das receitas de

transferências. Para aproximadamente 55% dos municípios do Estado as receitas

próprias equivalem a menos de 5% das receitas de transferência (SEI, 2010).

Page 56: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

56

Observa-se também uma forte concentração populacional na RMS, que,

segundo dados do IBGE (2010), concentrava, em 2007, 25% da população do

Estado. Apenas cinco municípios possuem população acima de 200 mil habitantes.

Dentre eles, Salvador, com mais de dois milhões de habitantes, e Feira de Santana,

com aproximadamente 570 mil habitantes. No interior do território baiano Figura um

grande vazio demográfico.

3.1.4. Infraestrutura logística deficiente e incomp leta

É também característica da economia baiana a baixa integração territorial e,

conseqüentemente, econômica. Existem gargalos de infraestrutura de transporte

multimodal que impedem uma maior articulação da economia baiana com os fluxos

de comércio nacional e global. As relações comerciais da Bahia se dão,

basicamente, com o Sul e o Sudeste do país. Em parte, devido à própria

característica da sua indústria, complementar à do Sul e Sudeste do país, e à

problemas na sua matriz de transporte. Tal matriz está centrada no modal rodoviário

no sentido norte-sul, via BRs 116 e 101; a Bahia não está articulada com a região

oeste do Brasil. No modal rodoviário, os principais gargalos se referem à problemas

na pavimentação e extensão da malha. A inadequação de algumas rodovias frente à

suas demandas, caso das BRs 101, 116 e 324, prejudicam e encarecem a

circulação de mercadorias.

O transporte ferroviário baiano é extremamente limitado. Restringe-se

basicamente à Ferrovia Centro Atlântica (FCA). Trata-se de uma ferrovia antiga com

trechos bastante precários, pontos críticos em inúmeras passagens de nível e

invasões de suas faixas de domínio. Seu difícil traçado impossibilita o aumento da

velocidade dos trens. Um dos pontos críticos que merece destaque é a passagem

na ponte rodo-ferroviária D. Pedro II, entre as cidades de Cachoeira e São Felix,

sobre o rio Paraguaçu. Esta passagem é uma operação complexa que dura uma

hora ou mais, durante a qual o trânsito entre as duas cidades é interrompido.

No que se refere ao modal hidroviário, o rio São Francisco é o único que

apresenta características favoráveis à constituição de uma hidrovia. Entretanto, o

grande problema da hidrovia do São Francisco é o assoreamento do seu leito,

Page 57: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

57

provocado pelo desmatamento de sua mata ciliar, o que diminui a profundidade e

atrapalha a navegação. Ademais, apresenta trechos com fundo rochoso. Também

não existe um terminal hidroviário apropriado para a intermodadalidade em seus

pontos de transbordo. Há problemas com a capacidade operacional e o acessos

multimodal aos portos. Além disto, devido à alta taxa de ocupação de berços e filas

de atracação, são gerados gastos com sobre-estadia ou redução de produtividade

nos navios. Ainda há o problema de perda de carga devido à inadequação dos

calados para atender navios de grande porte.

3.1.5. Baixa integração econômica 4

A Bahia tem na região Sudeste o seu grande parceiro comercial e na

indústria de transformação sua principal atividade econômica exportadora. Em 2006,

esta região foi o destino de 78,3% das exportações baianas. A forte parceria

comercial da Bahia com a região Sudeste foi devida, em grande parte, à relação

com São Paulo. Este Estado foi o destino de 54,5% do total das exportações

baianas, sendo 48,0% proveniente da indústria de transformação. Por sua vez, a

indústria de transformação foi responsável por 76,6% do total de exportações

baianas para outros Estados, com destaque para os produtos derivados da química

e petroquímica, com 40,8% do total. Por outro lado, as regiões Centro-Oeste e Norte

não figuram como parceiros comerciais importantes.

No que se refere às relações comerciais da Bahia com o resto do mundo,

observa-se que as mesmas também estão fortemente baseadas nos setores da

Indústria de Transformação e na Agricultura e produção Florestal. Aproximadamente

50% do comercio exterior baiano é realizado por 5 empresas de grande porte.

Acompanhando a lógica da concentração espacial da produção, o valor das

exportações baianas apresenta-se bastante concentrado num pequeno número de

municípios. Os dez maiores municípios exportadores eram responsáveis

conjuntamente por cerca de 87,0% do valor total exportado pelo Estado no ano de

2008.

4 Baseado na NT 4, disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

Page 58: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

58

3.1.6. Ausência de um sistema regional de inovação

Outro gargalo estrutural da economia baiana é a ausência de um sistema

regional de inovação. Segundo dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica

(PINTEC), do IBGE (2005), a Bahia se destaca em relação ao Nordeste no que se

refere aos gastos com inovação por parte das empresas. A Bahia responde por

aproximadamente 40% do total desses gastos, seguida pelo Ceará, com 21,2%, e

Pernambuco, com 12,5%. Todavia, a região Nordeste tem apenas 2% do total dos

gastos em P&D das empresas do Brasil; e a Bahia 0,8%. Isto sinaliza uma situação

periférica da Bahia e do Nordeste no que tange aos gastos em inovação.

Esta liderança da Bahia pode ser explicada com o auxílio da Tabela abaixo.

Como se pode observar, 12,1% das empresas inovadoras da Bahia estão no

segmento de produtos químicos e 3,1% no segmento de máquinas para escritório e

equipamentos de informática. Tais segmentos apresentam um percentual de

inovação acima da média industrial (IBGE, 2005).

Tabela 2 - Distribuição % das empresas inovadoras d o NE e dos seus gastos pelos segmentos industriais

Empresas Inovativas*

Gastos com Inovação**

BA CE PE Intensidade tecnológica

Indústria Extrativa - - -

Alimentícios e bebidas 22,2 22,7 16,5 18,7 Baixa

Produtos têxteis 4,7 5,2 2,8 Baixa

Vestuário e acessórios 12,9 3,5 17,3 Baixa

Couro, artigos de viagem e calçados 1,8 6,1 1,1 5,7 Baixa Edição, impressão e reprodução de gravações 8,5 6,0 Média-baixa

Coque, álcool e combustíveis nucleares 0,2 1,1 Média-baixa

Produtos químicos 6,0 20,7 12,1 2,6 Média-alta

Borracha e plástico 5,6 12,4 25,6 Média-baixa

Minerais não-metálicos 11,1 4,4 Média-baixa

Metalurgia básica 0,2 1,6 Média-baixa

Produtos de metal 5,7 3,2 Média-baixa

Máquinas e equipamentos 4,6 1,6 Média-alta Máquinas para escritório e equipamentos de informática 1,0 1,5 3,1 Alta

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 0,2 0,4 Média-alta

Móveis 3,2 0,9 Baixa

Outros 11,4 7,6 58,1 57,6 78,7 - FONTE: IBGE, 2005. * Total de empresas inovativas do Nordeste distribuído em termos percentuais pelos segmentos industriais. ** Total de gastos com atividades inovativas do Nordeste distribuído em termos percentuais pelos segmentos industriais.

Page 59: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

59

Ainda com base na Tabela, observa-se que a maior parcela das empresas

inovadoras da Bahia é oriunda do segmento de borracha e plástico, com

característica tecnológica média-baixa. Por sua vez, o único segmento dinâmico da

economia baiana que apresenta um número de empresas inovadoras relevante é o

segmento de produtos químicos. Em ‘Outros’, que representa 58,1% das empresas

inovadoras, está a maior parte dos segmentos mais dinâmicos e que apresentam

maior participação no PIB da Bahia: refino de petróleo, fabricação de celulose e

outras pastas, fabricação de produtos de metal, fabricação de automóveis,

caminhonetas e utilitários, caminhões e ônibus e fabricação de peças e acessórios

para veículos.

Dos setores dinâmicos na economia baiana, apenas o de produtos químicos

apresenta resultados expressivos em relação ao número de empresas inovadoras e

ao total do gasto em P&D das empresas da região Nordeste. Embora a Bahia se

destaque em relação aos outros Estados do Nordeste, há uma distância muito

grande em relação aos Estados das regiões Sul e Sudeste.

3.1.7. Sérios problemas sociais

De acordo com os dados da PNAD, 2009, e IPEA e SEI (2010), em 2008,

32,7% da população baiana era considerada pobre, com base na linha de pobreza

de meio salário mínimo. Quando considerada a população negra, parda ou indígena,

a pobreza atingia 33,9% da população. No que se refere à indigência, e

considerando a linha de meio salário mínimo, cerca de 11% da população baiana

era tida como indigente, o que corresponde a quase 1,5 milhão de pessoas.

Os dados referentes ao Programa Bolsa Família (PBF) evidenciam graves

problemas sociais no Estado da Bahia. Em 2009, a Bahia possuía 1.581.639 famílias

beneficiadas pelo PBF, sendo o Estado brasileiro com maior número de famílias

beneficiadas por este programa. Considerado que, segundo o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (BRASIL, 2010d), o número médio de

membros das famílias beneficiadas pelo programa na Bahia é de quatro pessoas,

tinha-se na Bahia, em 2009, aproximadamente 6,32 milhões de pessoas

dependentes do PBF, ou seja, 43% da população do Estado.

Page 60: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

60

A Figura abaixo apresenta a distribuição da população baiana beneficiada

pelo PBF relativamente à população total dos municípios, para o ano de 2007. No

mapa, pode-se observar que os municípios localizados no semi-árido, região mais

deprimida economicamente da Bahia, têm parcela expressiva da sua população

sendo beneficiada pelo programa. Por outro lado, nos municípios das regiões mais

dinâmicas do Estado (litoral, RMS e Oeste baiano), onde há maiores oportunidades

de emprego e renda, é muito menor a razão entre a população beneficiária e a

população total do município.

LegendaPBF - Percentual de beneficiáriosrelativamente à população totaldo município (2007)

61 - 86

50 - 60

38 - 49

17 - 37 Figura 2 - Distribuição da população beneficiária d o PBF relativamente a população total dos municípios, 2007 FONTE: Elaboração própria com base nos dados da Matriz Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, disponível em: <www.mds.gov.br>. Nota: para o cálculo do número de beneficiários foi utilizada a média do Estado - 4 pessoas por família, de acordo com informação o MDS.

Aproximadamente 62% dos municípios baianos apresentam mais de 50% da

sua população sendo beneficiada pelo PBF (área hachurada da Figura abaixo). A

maioria deles está localizada na região semiárida do Estado. A Figura abaixo

evidência, também, que os municípios menos dinâmicos (levando-se em

Page 61: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

61

consideração o PIB) são aqueles nos quais a maior parcela da população é

beneficiada pelo Bolsa Família.

Legenda

PIB BAHIA 2006(Em milhões)

9534,31 - 24072,40

3853,36 - 9534,30

1332,59 - 3853,35

378,87 - 1332,58

0,00 - 378,86

Municípios com mais de 50%da população beneficiária do PBF

Figura 3 - Associação espacial entre o PIB municipa l e a relação da população municipal beneficiária do PBF, 2007 FONTE: Elaboração própria com base nos dados do Programa Territórios da Cidadania; SEI (2010) e IBGE (2010).

Na economia baiana, a taxa de desemprego é bastante alta. Segundo dados

do estudo de monitoramento das metas do milênio do IPEA e SEI (2010), baseado

na PNAD, 9% da população do Estado é desempregada. De todas as regiões

metropolitanas do país, a RMS apresenta a maior taxa de desemprego – segundo

dados do DIEESE (2010).

A Bahia apresenta taxas de mortalidade infantil superiores a do Nordeste.

De acordo com IPEA e SEI (2010), com base em dados do Ministério da saúde, na

Bahia a taxa de mortalidade em menores de cinco anos por mil nascidos vivos era

de 21% em 2008. A Taxa brasileira era de 18% e a do Nordeste brasileiro de 20%.

Na Bahia, a taxa de mortalidade infantil em menores de um ano por nascidos vivos

era de 18,1%, enquanto o Nordeste apresentava uma taxa de 17% e o Brasil de

15%.

Page 62: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

62

No que tange à educação, a Bahia encontra-se abaixo da média brasileira.

Em 2008, no Brasil, a taxa de alfabetização entre as pessoas de 15 a 24 anos era de

97,8%. Na Bahia, está taxa era de 97%. Com relação ao percentual de indivíduos de

7 a 14 anos que freqüentam a 1ª a 8ª série do ensino fundamental, a Bahia

apresentava uma taxa de apenas 54,6%, enquanto, no Brasil, esta taxa alcançava

94,5% (SEI; IPEA, 2010).

4. O PAPEL DO PAC SOBRE OS ELOS FALTANTES DA ECONOM IA BAIANA 5

O PAC costuma ser tomado como a retomada do planejamento pela União,

direcionando investimentos para a infraestrutura (logística, energética e social e

urbana). Em última instância, tem por objetivo fomentar o crescimento da economia

brasileira. Contempla, também, a superação de gargalos na área social,

especialmente no que se refere ao saneamento e ao déficit habitacional.

O metrô de Salvador, importante intervenção no âmbito urbano, que

permitiria maior mobilidade na metrópole baiana, ainda não foi concluído. Ademais,

seu traçado e sua extensão são insuficientes para solucionar parte dos problemas

da infraestrutura de transporte de massa na região, que vêm se mostrando uma

questão bastante complicada e imprimindo um viés negativo do ponto de vista da

competitividade regional da metrópole baiana. No que se refere ao trem urbano de

Salvador, nada foi realizado. Desse modo, os problemas relacionados a mobilidade

urbana tendem a permanecer. Isto, mesmo após as intervenções no âmbito do PAC.

No entanto, cabe destacar a iniciativa de construção da chamada Via Expressa

portuária, que se constitui como uma importante obra que facilitará o escoamento de

mercadorias na região metropolitana, além de reduzir problemas urbanos gerados

pelo intenso fluxo de caminhões que circulam na cidade de Salvador.

5 Vide Nota Técnica 10 para maiores detalhes sobre as diversas intervenções do PAC na Bahia.

Page 63: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

63

Na área de saneamento, as intervenções tendem a ser refletir nos

indicadores de saúde; é sabido que a melhoria de tais indicadores tem repercussões

sobre o desenvolvimento econômico. Aqui, destacam-se as intervenções no âmbito

da Baía de Todos os Santos, com possibilidade de forte repercussão em atividades

ligadas ao setor de turismo, fortalecendo a economia dos municípios ali localizados.

Outra importante intervenção é a construção, operação e manutenção do Sistema

de Disposição Oceânica do Jaguaribe – a primeira PPP em saneamento básico do

país. Da mesma forma, além da geração de empregos na sua fase de construção,

esta intervenção poderá requalificar urbanisticamente parte da orla de Salvador,

bem como melhorar as condições de esgotamento e, consequentemente, de saúde

das populações que margeiam a bacia do rio Jaguaribe.

O Projeto Salitre e Baixio de Irecê e a recuperação da bacia do São

Francisco são intervenções que tendem a fortalecer bases produtivas locais, seja na

agricultura ou pecuária. Estes são projetos que possuem capacidade de estimular a

produção local ao possibilitar acesso à água, um dos grandes problemas do

semiárido baiano. A Figura abaixo apresenta as demais obras na área de

saneamento e acesso à água localizadas na região semiárida. Tais investimentos

são importantes tanto do ponto de vista econômico quanto social. Como dito, esta é

a região que apresenta os piores indicadores sociais do Estado.

Page 64: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

64

Baixio de Irecê

Projeto Salitre

Sistema Adutor Cafarnaum

Revitalização da Bacia do São Francisco

Estação de Tratamento Barra do Choça e Planalto

Drenagem em Salvador

Sistema Adutor de Jacobina

Barragem Gasparino

Sistema Integrado Pedro Alexandre

Programa Águas para Todos. Investimento de R$ 143 milhões

Programa Luz para Todos. Investimento de R$ 1,5 bilhão

Figura 4 - Intervenções do PAC na Bahia na área de saneamento FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC.

De fato, em se efetivando os projetos anunciados, o PAC poderá repercutir

positivamente na qualidade de vida da população baiana, uma vez que tende a

melhorar os indicadores econômicos e sociais; embora não pareça suficiente para a

superação dos graves problemas sociais da região do semiárido. O grau de

execução do mesmo ainda é bastante limitado, considerado o prazo inicialmente

programado para a conclusão das intervenções.

Na área de logística, o principal objetivo das ações do PAC na Bahia são a

ampliação da infraestrutura do Estado, com vistas ao aumentando da

competitividade da sua economia. Como dito, as relações comerciais da Bahia com

outras regiões do Brasil se dão maiormente via modal rodoviário, através das BRs

116 e 101, e se caracterizam por relações Norte-Sul. Desse modo, os investimentos

previstos no PAC para a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste permitirá

criar um novo canal de articulação das atividades produtivas e comerciais do Estado

com outras regiões do Brasil; notadamente o Centro Oeste, o novo vetor de

desenvolvimento econômico do país. Isto, devido, em parte, às externalidades

positivas que tal intervenção pode gerar, atraindo para o interior do território baiano

fluxos de mercadorias que circulam no território nacional e novos investimentos

Page 65: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

65

privados; na medida em que estimula potencialidades existentes em alguns

subespaços baianos, caso da produção de minério de ferro na região sudoeste da

Bahia.

Os investimentos do PAC na área de infraestrutura logística, se efetivados,

poderão alterar o cenário de integração econômica e territorial da Bahia. Nesta área

do PAC, gargalos históricos da economia baiana poderão ser superados; caso do

cruzamento ferroviário na região dos municípios de Cachoeira e São Felix e do

ramal ferroviário que interliga o porto de Aratú a Camaçarí. Todavia, tais

intervenções não permitirão uma alteração significativa na matriz de transporte

baiana, concentrada no modal rodoviário.

Embora indicado na Figura abaixo, a construção do Porto Sul não está

prevista no PAC. Entretanto, a Ferrovia de Integração Oeste–Leste (FIOL), prevista

no PAC, só se viabiliza se estiver associada a um porto. Dessa forma, em se

efetivando a construção do Porto Sul, interligado a FIOL, e a construção do novo

aeroporto de ilhéus (este previsto no PAC), abre-se grande possibilidade para a

atração de investimentos privados e para mudanças na lógica econômica do litoral

sul baiano; podendo-se constituir num novo vetor de crescimento, contribuindo para

a desconcentração da atividade econômica no Estado.

Page 66: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

66

RELAM

LT Ibicoara -

-

BR-116 Construção da Ponte BA/PE

BR-101 Duplicação e Adequação do Entroncamento com a BR-324

Adequação e Melhorias Aeroporto de Salvador

Construção da Via Expressa Portuária

Variante Ferroviária Camaçari/Aratú

Contorno Ferroviário São Félix/Cachoeira

Adequação e Melhorias Porto de Aratú e de Salvador

Novo Aeroporto de Ilhéus Concessão PPP/ BRs 116/324

Drenagem e Derrocamento da Hidrovia do São Francisco

Pavimentação da BR-135 PI/BA/MG

Ferrovia de Integração Oeste Leste

Metrô de Salvador

Figura 5 - Intervenções do PAC na Bahia na área de infraestrutura logística FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC.

Com relação à infraestrutura energética, o gasoduto (Gasene) é a grande

intervenção do PAC na Bahia. A sua construção possibilitará a geração de

empregos diretos e a dinamização de segmentos como o de hotelaria, alimentação,

transporte, telecomunicações e comércio varejista em geral. Ademais, criará

oportunidades para empresas atuarem como fornecedores da Petrobrás.

Espacialmente, as ações na área energética concentram-se na RMS, fortalecendo,

assim, a região mais dinâmica do Estado.

Page 67: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

67

RELAM

LT Ibicoara - Brumado II

-

Gasene

UTE GLobal I

UTE Global II

UTE Camaçari Pólo de Apoio

UTE Monte Pascoal

LT Eunápolis-Teixeira de Freitas II C1 e C2

UTE Itapebi

LT Funil-Itapebi

LT Ibicoara-Brumado II

RELAM

UHE Riacho Seco

UHE Pedra Branca

Figura 6 - Intervenções do PAC na Bahia na área de infraestrutura energética FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC.

4.1. O PAC E OS APLs BAIANOS 6

A Figura abaixo apresenta os 14 APLs baianos identificados e apoiados e a

sua localização no mapa estadual7. Tais arranjos são bastante heterogêneos. Isto,

tanto do pondo de vista da dinâmica socioespacial em que estão inseridos quanto no

que diz respeito à base tecnológica, formalidade das empresas, capacitação técnica

e gerencial e inserção comercial. Dentre os arranjos identificados e apoiados, alguns

estão distribuídos espacialmente na região mais dinâmica do Estado, a RMS e Feira

de Santana, onde as relações formais são mais presentes e as políticas de caráter

horizontal (educação, saúde e infraestrutura de transporte) se expressam mais

fortemente. Nesta região estão os APLs de TI, transformações plásticas,

confecções, fornecedores da cadeia automotiva, fármacos e cosméticos e as

empresas de beneficiamento do APL de rochas ornamentais. Na região mais

deprimida do Estado, o Semi-árido, onde as condições de infraestrutura são frágeis,

encontram-se os APLs de caprinovinocultura, sisal, piscicultura, turismo cultural,

rochas ornamentais e derivados de cana (este último com empresas em alguns

6 Com base na NT 7, disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. 7 Atualmente, o Núcleo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais da Bahia (NE-APLs/BA) apóia 14 APLs. Destes, 11 através do PROGREDIR. Os outros três arranjos – cacau, fármacos e cosméticos e turismo cultural –, embora integrem a lista dos APLs apoiados, não são, de fato, beneficiados por políticas específicas de fomento

Page 68: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

68

municípios na região litorânea). No litoral sul do Estado se localiza o APL de turismo

e o de cacau. No Norte do Estado, mais precisamente na cidade de Juazeiro, se

localiza o APL de fruticultura e no Nordeste, na cidade de Paulo Afonso, o APL de

Piscicultura.

Legenda

PIB BAHIA 2006(Em milhões)

9534,31 - 24072,40

3853,36 - 9534,30

1332,59 - 3853,35

378,87 - 1332,58

0,00 - 378,86

Limite Municipal

APL- Arranjos Produtivos Locais

1 - Fornecedores Automotivos

2 - Caprinovinocultura

4 - Derivados de Cana

3 - Confecções

5 - Fruticultura

6 - Transformação de Plástico

7 - Psicultura

8 - Rochas Ornamentais

9 - Sisal

10 - Tecnologia da Informação

11 - Turismo

Figura 7 - APLs baianos x PIB municipal FONTE: Elaboração própria, a partir dos dados sobre o PIB municipal do IBGE e da lista dos APLs apoiados na Bahia.

Os projetos estruturantes ligados à infra-estrutura produtiva e social que

estão contemplados no PAC podem provocar externalidades positivas para os

arranjos apoiados na Bahia. Estes investimentos são fundamentais não somente

para se pensar uma política para APL que tenha um caráter estruturante. Eles se

constituem em uma ação necessária para fazer com que a Bahia venha a participar

de forma competitiva tanto nos fluxos do comércio interestadual quanto nos

internacionais. Inserção esta que vem trazendo alterações na circulação e produção

das mercadorias e serviços dentro do espaço nacional. A ausência destes

investimentos estruturantes teria como conseqüência um esvaziamento ainda maior

do espaço baiano, uma integração de seus extremos para fora do Estado, sem

articular o litoral com a parte central, “o miolo” e o Oeste do Estado.

Page 69: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

69

A Bahia tem poucas áreas economicamente dinâmicas. O Oeste ainda

tímido, com recente desenvolvimento pautado na agroindústria. O litoral

desenvolvido, sobretudo na RMS, concentrando as atividades industriais e de

serviços e a fruticultura no médio São Francisco. Observa-se, também, alguns

municípios dinâmicos, como Jequié e Vitória da Conquista. Portanto, a partir da

infra-estrutura econômica e logística adequadas será possível articular estas

distintas regiões e criar sinergias entre elas. Conforme observado, na Bahia, existem

APLs que se localizam entre estas regiões e que são importantes para a geração de

emprego e renda e podem operar como empresas ofertantes de produtos em nichos

de mercado para o resto do Brasil e para o exterior – como, por exemplo, os

produtos dos APLs de rochas ornamentais, caprinovinocultura, sisal e piscicultura.

Uma vez efetivados os investimentos previstos pelo PAC, pode-se esperar

alterações significativas na economia baiana. Os projetos relacionados à infra-

estrutura logística repercutirão espacialmente, alterando a lógica de circulação dos

fluxos econômicos que passam pela Bahia e ligará os diversos sub-espaços

baianos, hoje pouco articulados, o que permitirá uma maior integração do Estado da

Bahia com outras regiões, como o Centro-Oeste do país. Atualmente as relações de

produção/circulação da Bahia com outras regiões do Brasil (notadamente com o Sul-

Sudeste e Nordeste) ainda ocorrem hegemonicamente pelo modal rodoviário,

através das BRs 116 e 101, e se caracterizam por relações Norte-Sul.

Dentre os projetos relevantes previstos no PAC e no programa estratégico

do Governo do Estado da Bahia, que podem repercutir espacialmente, destacam-se:

Construção da Ferrovia de Integração Oeste-leste; Construção da BR 135;

Recuperação/Drenagem da Hidrovia do São Francisco; Concessões das BRs 101 e

116; Pavimentação da BR 235, 030. A efetivação destes projetos e suas articulações

com outros previstos, como a Ferrovia Transnordestina, podem representar um novo

ciclo de desenvolvimento para a região Nordeste e para a Bahia. Tais projetos

poderão articular negócios e espaços que representam possibilidades de

desenvolvimento de antigas e novas atividades (espacialmente, as relações Norte-

Sul com Oeste-Leste).

Page 70: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

70

Além dos projetos relacionados à infraestrutura de transporte, é possível

destacar outros que poderão beneficiar as regiões onde estão localizados os APLs

baianos. Por exemplo, os projetos de irrigação Salitre e Baixio de Irecê, previstos no

PAC, que são fundamentais para a produção no semiárido. Tais projetos

beneficiarão fortemente os APLs de fruticultura e caprinovinocultura. A recuperação

da hidrovia do São Francisco também pode provocar externalidades positivas para o

APL de fruticultura, visto que facilitará a distribuição da produção.

5. REFLEXÕES DE POLÍTICAS

Esta parte do trabalho se beneficia do marco analítico utilizado tanto no

‘Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira’ (ECIB), de Coutinho e Ferraz

(1994), quanto no ‘Made in Brazil: desafios competitivos para a indústria’, realizado

por Ferraz et al (1996). Em ambos, a avaliação percorria uma lista de determinantes

ou de condicionantes da competitividade da indústria brasileira e os desafios que o

conjunto da economia do país deveria enfrentar. A longa lista de elementos foram

enquadrados em sistêmicos, estruturais e empresariais. Assim fazendo, ambos os

estudos delinearam um recorte analítico capaz de dar conta de fatores ambientais

horizontais (política macroeconômica, estrutura institucional no interior da qual se

processa a atividade econômica, relações internacionais, entre outras) e fatores

ambientais verticais (políticas para setores regulados e voltadas para alavancar a

competitividade de cadeias produtivas específicas).

No âmbito dos fatores estruturais, os trabalhos acima apontados observaram

os desafios e oportunidades que tanto estreitavam o escopo das políticas internas

aceitáveis (como a possibilidade de substituição de importações no novo contexto

internacional de comércio) quanto abriam janelas de oportunidades possivelmente

aproveitáveis por alguns países. Neste último caso, se introduzidas políticas de

indução, estruturação e regime de incentivos voltados para a adoção de estratégias

competitivas sustentáveis nas diversas estruturas e configurações de mercado por

parte das empresas (fatores empresariais). O alinhamento das estruturas produtivas

locais às suas congêneres internacionais disparava um leque de políticas voltadas

Page 71: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

71

para a criação, preservação e estímulos à competitividade das específicas estruturas

produtivas nos três recortes apontados. A Bahia apresenta problemas sistêmicos,

estruturais e empresariais.

Na Bahia, o PAC tem um forte componente sistêmico ao fomentar,

reestruturar e desenvolver a malha logística do Estado, criar mercados através das

políticas de transferência de renda em todos os seus níveis institucionais, servir de

mecanismo de indução do investimento privado na economia local. Isto, além de

permitir a articulação dos espaços afastados das “bordas” do Estado. A nova malha

logística (linhas férreas, novos modais, etc.) pode fazer com que a interiorização de

atividades econômicas tenha continuidade não apenas aproveitando os baixos

salários locais, mas também outras fontes de autêntica competitividade. A atual taxa

de câmbio, em sinal contrário, penaliza a fruticultura irrigada de exportação ao

reduzir a margem de lucros dos produtores de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e dos

exportadores do Rio Grande do Norte. Ganhar competitividade é um processo lento

e de difícil aprendizado. Entretanto, a destruição do padrão de eficiência alcançado

por efeito de políticas macroeconômicas inadequadas para os exportadores da

região é rápida e muitas vezes irreversível.

Outro efeito sistêmico, em parte devido ao estímulo gerado pelo PAC, é a

preocupação com a reconstrução das políticas de planejamento em nível estadual.

No Estado da Bahia, um claro exemplo desta preocupação foi o “Pensar a Bahia”.

Em dezembro de 2009, foi lançado pelo Governo da Bahia, através da Secretaria do

Planejamento (SEPLAN), o ciclo de debates ‘Pensar a Bahia – Construindo o nosso

futuro’. Tal evento, que se estendeu até março de 2010, foi constituído por rodadas

de seminários envolvendo Governo, sociedade, empresários e especialistas e a

discussão de temas variados e relevantes para o planejamento das ações de

políticas do Estado. Um dos objetivos da SEPLAN foi fazer dos debates insumo à

elaboração de um plano de desenvolvimento para o Estado até o horizonte de 2023,

quando a Bahia completará 200 anos de independência. Desse modo, espera-se

que as diretrizes deste plano – chamado de Plano de Desenvolvimento Bahia 2023:

200 anos de independência – contribuam para orientar a elaboração da Lei de

Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012 e dos próximos três Planos Plurianuais

(PPAs).

Page 72: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

72

A articulação da política de planejamento estadual com a nacional parece

condição necessária para viabilizar a compatibilidade ex-ante das políticas e evitar

eventuais redundâncias. De todo modo, a Bahia é parte do Brasil e do Nordeste e

não crescerá com todo seu potencial sem um ajuste nas políticas estaduais de

maneira a produzir, sem duplicidade antieconômica, arranjos institucionais viáveis

(Parques e Pólos Tecnológicos avançados). Os Estados da região precisam

desenvolver jogos cooperativos de soma positiva (rendimentos crescentes) e não

apenas políticas de atração de investimentos que esvaziam os Tesouros estaduais e

inviabilizam as políticas públicas de oferta de bens públicos, externalidades e

geração qualificada de empregos. Certamente algum padrão de especialização com

fortes complementaridades inter-estaduais seria muito saudável para a região.

Outro ponto à considerar, é que não se deve perder a oportunidade de

alavancar as cidades médias do Estado, para que possam atuar como campo de

atração das cidades muito pequenas; a Bahia apresenta 417 municípios, que, por

isto, não oferecem densidade econômica e escala para negócios de tamanho

relevante, mesmo quando de escala muito reduzidas. Nesse sentido, a garantia de

um patamar mínimo de serviços públicos nas cidades de pequeno porte não deve

obscurecer o fato de que a desigualdade econômica entre os municípios da Bahia

não desaparecerá. Dadas as carências locais, “fixar o homem no campo” parece até

perversidade, mesmo quando ingênua (a Bahia tem uma região semi-árida que

representa 70% da área total do Estado, concentra cerca de 5 milhões de pessoas e

produz cerca de 25% do PIB estadual).

O ponto é que, dada a heterogeneidade da sociedade e economia local e a

enorme extensão territorial do espaço constitutivo do Estado, não se pode prescindir

de usar todos os instrumentos de política disponíveis para enfrentar o quadro de

pobreza estrutural do Estado. Trata-se não apenas de “inventar tradições”, como nos

apresentou Hobsbawm, mas de dar impulso à criatividade para repor ou desenvolver

novas instituições pró-desenvolvimento regional. O que certamente não é desejável

é recriar instituições fora do tempo e lugar. Ou seja, incapazes de articular

interesses econômicos intra-regional, fornecer crédito (que não deu certo no

passado recente) ou mesmo induzir ações de âmbito regional que façam avançar as

Page 73: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

73

complementaridades estaduais presentes ou a serem criadas. O fato é que as

políticas no Nordeste não podem ser estritamente estaduais.

O parque industrial do Estado é profundamente carente de sofisticação e

complementaridade intra-estadual. Talvez, na verdade, jamais tenha havido

qualquer possibilidade de integração inter-industrial no Estado. Não existe dúvida,

entretanto, de que o recorte de política com base em APLs se mostra imprescindível.

Neste sentido, a revisão do Programa PROGREDIR e sua adequação as

características dos seus prováveis demandantes parece ser crucial para reorientar a

política local voltada para APLs. Tal adequação deveria buscar, por exemplo,

fortalecer, também, o empresariado local, cuja fragilidade figura como severo

condicionante da competitividade das empresas baianas. A priorização do foco em

APLs, junto com uma reforçada capacidade de governança e gestão do

planejamento público e articulação interinstitucional, poderá reverter o quadro atual

de pouca efetividade da política de APLs na Bahia; pois, de fato, ela tem muito para

contribuir na geração de renda, emprego e coesão social.

REFERÊNCIAS

ATARDE. Novo ciclo de desenvolvimento econômico e social sustentável. Jornal A Tarde , Salvador, 20 junho 2010, Especial PAC Bahia, Caderno especial, p. 5. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento indústria e Comércio. Programa de Aceleração do Crescimento. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/pac/>. BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento. Balanço 3 anos (Bahia). Disponível em: < www.pac.gov.br >. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível em: <www.mds.gov.br>. COUTINHO, L.; FERRAZ, J. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira . Editora Papirus – UNICAMP, 1994. DIEESE - DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Disponível em: <www.dieese.org.br>.

Page 74: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

74

FERRAZ, J.; KUPFER, D.; HAGUENAUER, L. Made in Brazil: Desafios competitivos para a indústria . Rio de Janeiro: Campos, 1996. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Análise do Balanço de Pagamentos do estado e a importância dos APLs no Fluxo de Comércio – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Salvador/BA, setembro 2009. (NOTA TÉCNICA 4/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Síntese dos Resultados, Sugestões e Recomendações. – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produti vos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes p rojetos federais no Nordeste . Salvador/BA, janeiro 2010. (NOTA TÉCNICA 7/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Bahia – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste. Salvador/BA, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Bahia e Proposição de Políticas – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Salvador/BA, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas regionais . Disponível em: < www.ibge.gov.br >. Acesso em: 02 de julho de 2010. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) , 2005. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 de julho de 2010. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) , 2009. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 de julho de 2010. NELSON, R. The agenda for growth theory: a different point of view. Cambridge Journal of Economics , 22, p.497-520, 1998. SEI - SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DE BAHIA. Monitoramento das Metas do Milênio. Disponível em: <www.sei.ba.gov.br>.

Page 75: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

75

SEI - SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DE BAHIA. Rodadas de discussão de temas estratégicos: contrib uição ao PPA 2008-2011. Relatório, 2007. Disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br/>.

Page 76: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

76

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS EM ESTADOS

NORDESTINOS - CEARÁ1

Jair do Amaral Filho / Coordenador Estadual - UFC,2

Maria Cristina Pereira de Melo - UFC

Francisco Laércio Pereira Braga - UFC

Daniel Campos Lavor - UFC

Introdução

O presente artigo aborda essencialmente a contextualização e os impactos

dos grandes, ou simplesmente, projetos federais no Estado do Ceará em perído

recente, além de expressar reflexões sobre o tema e propor políticas. Para a

realização deste, utilizou-se de levantamentos de dados e informações secundários

disponíveis em relatórios oficiais e em fontes auxiliares. No entanto, entrevistas3

realizadas com policy makers e gestores públicos, lideranças políticas e

empresariais constituíram-se em fonte primordial para a análise dos impactos

desses projetos no Estado, assim como para as proposições elaboradas.

Este artigo está dividido em três seções, além desta Introdução e das

Considerações Finais. A seção 1 faz um levantamento breve dos grandes projetos

federais até o ano de 2010. Os projetos observados iniciam-se com os de

infraestrutura logística, infraestrutura energética, e infraestrutura social e urbana,

todos esses relacionados aos empreendimentos do PAC e do PNLT. Em seguida, é

apresentada uma caracterização dos projetos referentes à Política de

Desenvolvimento Produtivo, ao Programa Territórios da Cidadania, e a Zona de

Processamento para Exportação-ZPE.

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Ceará”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Participaram da pesquisa os estagiários Daiane Marques da Silva, Daniel Cavalcante Queiroz de Lima, Felipe Cavalcante Coelho e Renan de Carvalho Figueiredo. 3 Os autores agradecem a todos aqueles que se dispuseram conceder entrevistas, as quais foram essenciais para a fundamentação da pesquisa.

Page 77: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

77

A seção 2 busca analisar os impactos dos referidos projetos na economia do

Estado. Nesta parte, procura-se manter a mesma ordem dos itens analisados na

seção 01.

Na seção 3, são desenvolvidas reflexões e proposições acerca das políticas e

projetos observados. Pretende-se com isso construir uma apreciação em torno da

endogenia dos empreendimentos, utilizando-se também, nessa fase, as sugestões e

proposições colocadas pelos entrevistados. Isto permitiu refletir acerca do modelo de

política federal, com relação à sua contribuição para o efetivo desenvolvimento da

economia estadual. Por fim, ao longo da seção encontram-se sugestões de políticas

com vistas à promoção do desenvolvimento do Estado do Ceará.

As Considerações Finais concluem este artigo, buscando uma visão

sintetizadora do conjunto de informações e reflexões consideradas.

1- Breve Caracterização dos Grandes Projetos Federa is na Economia do

Estado do Ceará

Nesta seção será feito um breve resgate dos principais empreendimentos que

estão sendo realizados no Ceará pelos seguintes programas: (i) Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), (ii) Programa Nacional de Logística e Transporte

(PNLT), (iii) Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), (iv) Programa Território da

Cidadania (PTC) e (v) Zona de Processamento de Exportação (ZPE).

Os investimentos do PAC estão pautados prioritariamente em infraestrutura,

com objetivos voltados para o desenvolvimento sustentável, no que tange à

eliminação ou, pelo menos, redução dos obstáculos ao crescimento da economia,

pois pretendem favorecer o aumento da produtividade e a redução das

desigualdades sociais. Esses projetos de infraestrutura possuem três eixos, a saber:

Infraestrutura Logística, Infraestrutura Energética e Infraestrutura Social e Urbana.

O número de projetos do PAC no Estado do Ceará totaliza 840, dos quais 799

estão nas áreas de habitação e saneamento básico, e 41 nas áreas de infraestrutura

logística e energética. Desse conjunto, 10,2% estão concluídos, 4% em fase de

execução, 28% em fase de execução de obras e 57,9% ainda não saíram do papel

(BNDES, 2010a).

Page 78: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

78

Quando se faz a seleção dos macro-projetos, sejam eles exclusivos do Ceará

ou não, percebe-se claramente que esses se concentram principalmente nas regiões

próximas à capital, Fortaleza, ao longo do litoral, e na região Sul do Estado (MAPA

01). No mapa em questão é possível verificar três grandes projetos, o primeiro deles

é a ferrovia Transnordestina, que cortará todo o estado, desde o município de

Penaforte (região Sul do Estado) até São Gonçalo do Amarante. O segundo projeto

é referente à Transposição do Rio São Francisco, que beneficiará alguns municípios

das regiões do Cariri e do Vale do Jaguaribe. O terceiro grande projeto é o Eixão

das águas, que beneficiará os municípios da Região Metropolitana de Fortaleza-

RMF até São Gonçalo do Amarante. Nos municípios com tonalidades de cinza mais

clara são contemplados por outros projetos federais.

MAPA 01 - Municípios Cearenses Beneficiados pelos Macro-projetos Federais

Legenda: Trajeto escuro do Sul do Estado até o Norte refere-se à Transnordestina. Trajeto tracejado em cor escura e clara refere-se ao Eixão das águas. Municípios em cinza escuro referem-se aos àqueles beneficiados pela Transposição do Rio São Francisco. FONTE: Geografia – UFC, Elaboração Própria.

Page 79: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

79

1.1 Projetos Federais selecionados – Programa de Aceleração do Crescimento e

Programa Nacional de Logística e Transporte

1.1.1 Infraestrutura Logística

1.1.1.1 Transnordestina

A Transnordestina é uma ferrovia que integrará sete estados do Nordeste, e

poderá beneficiar vários setores econômicos. Seus trens transportarão 11 vezes

mais do que as máquinas atuais, o que elevará a capacidade de escoamento

agrícola da região Nordeste, especialmente Piauí e Maranhão. Com cerca de dois

mil quilômetros de extensão, esta ferrovia permitirá interligar a estrutura produtiva

dessa região com as demais regiões brasileiras.

Unindo três pontos da malha ferroviária do Nordeste - Missão Velha (CE),

Salgueiro (PE), e Petrolina (PE), permitirá alavancar, como foi dito, o

desenvolvimento econômico de diversos setores e sistemas produtivos em sua área

de abrangência, particularmente os sistemas produtivos gesseiro do Araripe, pedras

ornamentais do Cariri e o agroindustrial de Petrolina e Juazeiro. Além disso,

permitirá integrar o sistema rodoviário sertanejo com a malha ferroviária já existente,

tornando mais eficiente a logística do transporte de cargas.

A Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), de natureza privada, investirá

na Transnordestina um total de R$ 5.421,6 bilhões, sendo que os vários trechos em

construção estão em fases diferentes de andamento, mas a previsão para sua

conclusão é para dezembro de 2012 (BNDES, 2010a).

1.1.1.2 Estradas e Rodovias

No momento, o maior investimento em rodovias é a construção do arco

rodoviário metropolitano, ligando a BR-116 com o Porto e o Complexo Industrial do

Pecém. Assim, todo o movimento de carga entre as diversas vias e destinos

interligados poderá evitar sua passagem por Fortaleza (a menos que seja realmente

seu destino), otimizando o trânsito na cidade.

Page 80: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

80

A obra do contorno será executada entre o entroncamento da CE-040

(Messejana), com a BR-020 (Contorno de Fortaleza), e a BR-222, localizado nos

municípios de Eusébio, Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú e Caucaia, todos na Região

Metropolitana de Fortaleza. Orçado em R$ 162,8 milhões, o empreendimento tem

como meta duplicar 32 km de estradas. A data de conclusão é outubro de 2011

(BNDES, 2010a).

1.1.1.3 Portos

O programa de dragagem e aprofundamento do acesso aquaviário do Porto

de Fortaleza – também conhecido como Porto do Mucuripe - está previsto ainda

para o ano de 2010, com a retirada de areia do fundo do mar. O objetivo deste

programa de dragagem é aumentar a área para que os navios, principalmente os de

grande porte, possam de fato atracar no porto de Fortaleza. Com a obra espera-se

atingir uma importante meta, qual seja, a de aumentar a profundidade do Porto para

14 metros, que atualmente é de 10,5 metros, o que irá possibilitar a atracação de

navios de até 100 mil toneladas (o dobro da capacidade de recebimento atual).

Nessa obra, serão investidos R$ 63,8 milhões. O empreendimento está em fase de

ação preparatória (BNDES, 2010a).

Outro porto também importante para o Ceará é o Terminal Portuário do

Pecém, inaugurado em março de 2002, tendo sido idealizado para propiciar

operações mais eficientes a custos reduzidos, com acessos rodoviários e

ferroviários, o que o tornaria competitivo em nível nacional. Nesse porto, há vários

projetos para torná-lo mais eficiente do que é hoje, entre os quais destacam-se,

primeiro, a obra de construção do terminal múltiplos usos – que figura no Programa

Nacional de Logística e Transporte – que tem por objetivo evitar congestionamentos

de operações que possam ser causados pela implementação e funcionamento da

Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).4 Com essa usina estima-se um

crescimento de 150% na movimentação de cargas no terminal, de modo que estas

implementações se mostram de fato necessárias. O segundo, é o terminal

4 A CSP tem como sócios a Vale do Rio Doce (50%) e as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%), projeto este orçado em US$ 4 bilhões com capacidade de produção de 6 milhões de toneladas de placas de aço/ano.

Page 81: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

81

intermodal de cargas que servirá de apoio às atividades portuárias complementares,

evitando o surgimento de futuros gargalos logísticos.

1.1.2 Infraestrutura Energética

1.1.2.1 Parques Eólicos

A implantação de parques eólicos no Estado faz parte do Programa de

Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) do Governo Federal.

Tal programa poderá tornar o Ceará auto-suficiente em geração de energia, mesmo

sem possuir fontes hidráulicas para tal finalidade.

No geral, são 14 novos parques eólicos implantados no Estado, que terão

518,3 MW de potencia instalada. Somadas às três usinas já existentes, os novos

projetos darão ao Ceará 1.060,3 MW de potencia de energia eólica.

1.1.2.2 Biodiesel Petrobrás

A usina da Petrobrás Biocombustível, no município de Quixadá, é uma

subsidiária criada para concentrar os projetos de biocombustíveis da Petrobrás. A

unidade tem capacidade para produzir 57 milhões de litros de biodiesel por ano.

Uma das particularidades dessa usina são os sistemas que permitem a realização

de manutenção sem comprometer a continuidade operacional, garantindo alto

desempenho em relação à sua capacidade e à qualidade do biodiesel. Outro

diferencial dessa usina é a grande autonomia para funcionamento devido à

capacidade de armazenamento de matéria-prima, bem como de produtos

intermediário e final. O valor do empreendimento totalizou R$ 118,60 milhões entre

2007 e 2010, estando a obra totalmente concluída. (BNDES, 2010a).

1.1.2.3 Terminal de Regaseificação de GNL

O projeto de regaseificação de GNL da Petrobrás é um dos principais projetos

de infraestrutura no Estado.5 Esse empreendimento será um grande marco para o

Complexo Industrial e Portuário do Pecém e para a Endesa-Fortaleza. O terminal

5 Esse projeto, também instalado no Estado do Rio de Janeiro, foi considerado pela KPMG como um dos cem principais projetos de infraestrutura do mundo em 2010.

Page 82: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

82

terá capacidade para regaseificar 7 milhões de metros cúbicos/dia, o equivalente a

cerca de metade do consumo atual de gás natural destinado ao mercado térmico

brasileiro. O gás será usado, prioritariamente, para geração de energia elétrica nas

usinas Termoceará, Termofortaleza, ambas no Complexo Portuário e Industrial do

Pecém, e Jesus Soares Pereira (RN).

Uma das inovações do projeto GNL Petrobras é a transferência de gás natural

liquefeito entre os navios - supridor e regaseificador - por meio de braços

criogênicos, capazes de suportar temperatura de 162° C negativos. Nesse projeto,

foi investido um total de R$ 981 milhões no período de 2007 e 2010, tendo sido

concluído no mesmo intervalo de tempo. (BNDES, 2010a).

1.1.3 Infraestrutura Social e Urbana

1.1.3.1 Eixão das Águas

Eixo de integração das bacias hidrográficas de Jaguaribe e Região

Metropolitana de Fortaleza - mais conhecido como Eixão das águas - é um canal de

transposição com 255 quilômetros de comprimento, na forma de um trapézio, com

até 3 metros de altura em determinados pontos, e com vazão de 22m3/s. Esse canal

formará um complexo de estação de bombeamento, canais, sifões, adutoras e túneis

que levará água do açude Castanhão até a RMF onde reforçará o abastecimento de

água para o consumo humano além do industrial, no Complexo Portuário Industrial e

Portuário do Pecém. O investimento total previsto para esse empreendimento é de

R$ 234,30 milhões, entre 2007 e 2010. O empreendimento encontra-se em fase de

construção e conclusão, estando os trechos I, II e III já concluidos e oficialmente

inaugurados (RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ, 2009;

WWW.sohidra.gov.ce.br).

1.1.3.2 Transposição do Rio São Francisco

Há várias soluções e objetivos habitando e alimentando o imaginário coletivo

da população do Nordeste em relação ao projeto da Transposição do Rio São

Francisco. Entretanto, o objetivo principal e real desse projeto é o de oferecer

Page 83: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

83

segurança hídrica aos estados mais vulnerávéis nessa questão, na medida em que

a transposição completará os açudes estratégicos da região em momentos de déficit

hídrico. Nesse sentido, seu principal impacto estará voltado para o consumo humano

de uma parte das cidades do semi-árido nordestino. Como externalidade, o projeto

irá prover as sedes dos municípios da área de influência, direta ou indireta, da

transposição, com sistemas públicos de abastecimento de água e esgotamento

sanitário, de forma que os objetivos e benefícios da transposição sejam alcançados

de forma mais ampla. O orçamento total dos estudos e projetos está em R$

6.031.566,19. A previsão inicial para a conclusão da obra estava marcada para final

de 2010. (BNDES, 2010a).

1.1.3.3 Metrofor

O METROFOR será um metrô com 43 km de extensão, sendo 4km subterrâneos

e 4,4 km de elevado, implantado em três estágios, aproveitando ao máximo a malha

ferroviária já existente. A concepção do projeto METROFOR pretende modernizar o

sistema ferroviário existente na Região Metropolitana de Fortaleza, por meio da

eletrificação de suas principais linhas, além da aquisição de material rodante que

formará os Trens Unidade Elétricos (TUEs), da instalação de sistemas modernos de

sinalização e telecomunicações, da implantação de novas estações, da reforma das

estações já existentes, e da melhoria no sistema ferroviário de cargas, dentre outros.

Estão previstos recursos da ordem de R$ 804,30 milhões, a serem distribuídos ao

longo dos anos entre 2007 e 2010. As obras ainda estão em andamento, com 57,3%

realizadas (SEINFRA, 2010).

1.1.3.4 Saneamento e Urbanização

O Governo do Estado prevê uma série de investimentos em obras de

infraestrutura de água e esgoto até 2010. Trinta municípios terão finalizadas as

obras de sistema de abastecimento de água em suas comunidades rurais. Além

disso, 29 municípios receberão melhorias no gerenciamento dos sistemas.

Dentre os projetos de urbanização e habitação, os de maior valor no Estado

se concentram na Capital, englobando, além do Prourb Maranguapinho e Vila do

Page 84: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

84

Mar, outros seis projetos financiados pelo PAC: Preurbis Cocó, Maravilha, Lagoa do

Urubu, Lagoa do Papicu, Campo Estrela e São Cristóvão e Açude João Lopes. Ao

todo são 234 projetos de urbanização no Estado, sobretudo em Fortaleza (20

projetos). Os valores totais destas obras giram em torno de R$ 330 milhões de reais,

sendo que algumas estão em andamento e outras em fase de licitação

(RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ, 2009).

1.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP)

A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) pode ser vista como uma

ação estratégica que objetiva potencializar os efeitos do PAC (Programa de

Aceleração do Crescimento). Diferente deste, o sucesso da PDP depende menos da

ação governamental direta do que da reação do sistema produtivo, ou das

empresas, às medidas adotadas. Dessa forma, entre os objetivos da PDP

encontram-se, principalmente, resultados a serem alcançados pela iniciativa privada,

ou então, a construção de meios facilitadores para tomadas de decisão dos

empresários. Assim, podem-se identificar quatro objetivos fundamentais:

• Elevação do investimento privado;

• Ampliação e fortalecimento dos setores exportadores;

• Intensificação das inovações no sistema produtivo;

• Fortalecimento das micro e pequenas empresas de potencial exportador.

As principais ferramentas da política são: financiamento, regulação e mobilização.

1.3 Programa Territórios da Cidadania – PTC

Dentre os 60 territórios beneficiados pelo Programa Território da Cidadania

em todo país, seis fazem parte do estado do Ceará, são estes: Inhamus/Crateús,

Sertão Central e Vales do Curu/Aracatiaçu. A partir de 2009 foram incluídos também

os territórios cearenses Cariri, Sobral e Sertões do Canindé. As unidades territoriais

podem ser conferidas no MAPA 02.

Page 85: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

85

MAPA 02 - Áreas do Programa Territórios da Cidadania, Ceará (2009)

Fonte: Relatório do PAC no Estado do Ceará, 2009.

As ações do Programa Territórios da Cidadania estão divididas em três eixos

de atuação, são estes: Apoio às Atividades Produtivas, Cidadania e Direito e Infra-

Estrutura. Desses, o eixo de atuação Cidadania e Direito tem a maior previsão de

investimentos, seguido pelo de apoio às atividades produtivas e este pelo de infra-

estrutura.

Para o ano de 2009, estava previsto, somente para a região do Cariri, um total

de 84 ações com atuação de 12 ministérios que integram o referido programa, e

para a região de Sertões de Canindé um conjunto de 80 ações com a participação

de 13 ministérios. Para a região de Sobral, previa-se um total de 78 ações com a

parceria de 13 ministérios.

1.4 Zonas de Processamento das Exportações (ZPE´s)

As Zonas de Processamento de Exportação, ou ZPEs, surgem a partir da

busca de áreas dentro dos países que possibilitem os benefícios de um comércio

mais livre dos fatores de produção, reduzindo os custos sem grandes traumas ao

Page 86: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

86

sistema produtivo interno. Dessa forma, a produção realizada nas ZPEs deve ser

voltada essencialmente para o mercado externo, poupando a indústria nacional de

concorrência predatória. No caso do modelo brasileiro, é permitido que até 20% da

produção seja destinada ao mercado interno, incidindo sobre esse volume as

taxações costumeiras.

Dependendo do modelo de ZPE adotado, busca-se também uma maior

segurança institucional para as empresas investidoras. Ou seja, nessas áreas,

predominam leis específicas que buscam reduzir os riscos típicos das oscilações

políticas. No marco institucional brasileiro, este item tem se mostrado um fator

importante. Uma vez concedidas isenções fiscais por vinte anos a uma empresa, por

exemplo, nem mesmo uma mudança na lei das ZPEs poderia reduzir essas

isenções já garantidas. Estas mudanças só passariam a incidir sobre novas

empresas.

Outra característica importante adotada no modelo é a blindagem cambial

dessas empresas, que poderão adquirir insumos no mercado internacional em

moeda estrangeira. A conversão para moeda nacional poderá ocorrer somente após

a exportação, no que se referir aos pagamentos destinados aos trabalhadores,

sócios e ao governo brasileiro.

Esses fatores buscam não só estimular o desenvolvimento das empresas

exportadoras nacionais, mas também a atração de investidores externos. A ZPE

possui a seu favor uma riqueza conceitual a ser considerada. O estabelecimento de

zonas de livre comércio voltadas para exportação já é uma prática no mundo desde

a década de 1980. Assim, a declaração de que o Ceará, ou qualquer outro estado,

possui uma ZPE pode revelar, a princípio, uma série de vantagens de infra-estrutura

física e logística, além das diferenciações fiscais e institucionais. Pode ser uma

espécie de certificado positivo aos investidores externos.

É preciso destacar, entretanto, que a ZPE não se caracteriza ainda e

propriamente como investimento do Governo Federal. Na realidade, seu papel, até o

momento, tem se limitado à fixação das regras de funcionamento e à definição de

propostas de instalação enviadas pelos estados (entre as quais já se aprovou a

proposta cearense). Resta ao Governo Estadual a definição do modelo de gestão a

Page 87: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

87

ser adotado, que poderá ser público, privado ou misto e, principalmente, a realização

de todos os investimentos que irão possibilitar o estabelecimento de fato da ZPE.

2. Análise dos impactos dos Grandes Projetos Federa is na Economia do

Estado .

O Estado do Ceará tem recebido diversos investimentos em sua infra-

estrutura ao longo dos últimos vinte anos, eliminando grandes gargalos que de fato

bloquearam o crescimento no passado. Nesse caso, é de se esperar que os novos

investimentos que se realizam no momento revelem um potencial ainda maior de

impacto sobre a economia, dada a estrutura já construída. A partir disso, busca-se

nesta seção identificar a real dimensão dos resultados esperados desses novos

investimentos.

2.1 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Plano Nacional de Logística e

Transporte (PNLT)

Dentre os projetos do PAC, um deles pode ser considerado, com clareza, o

mais transformador, trata-se da ferrovia Transnordestina. Este foi um dos consensos

mais consistentes verificados entre os entrevistados e interlocutores consultados

durante a pesquisa. A nova ferrovia poderá suprir carências históricas na relação

entre interior e RMF, podendo assim implicar em um aumento da competitividade da

economia estadual e, em especial, de sua área mais pobre, o Semi-Árido. Espera-

se, com isso, a revitalização de diversos setores já existentes, assim como o

nascimento de novos, até então inviabilizados pelos altos custos de transporte e

falta de escala. Adicionalmente, o conjunto de obras na infra-estrutura energética do

Porto do Pecém virá complementar um outro projeto também estruturante da

economia do Estado, a Siderúrgica do Ceará (BNDES, 2010).

Outros projetos também se mostraram adequados, embora seu impacto seja

de natureza diferente. Em especial, destaca-se a transposição do rio São Francisco,

que eliminará grande parte das incertezas trazidas pela intermitência do rio

Jaguaribe; o Eixão, que irá integrar os grandes reservatórios, melhorando o

aproveitamento da água; a reforma no Aeroporto Internacional de Fortaleza,

Page 88: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

88

garantindo parte da estrutura de incentivo ao turismo; a dragagem do Porto do

Mucuripe, permitindo o acesso dos navios maiores; o Terminal Flutuante de

Regaseificação de GNL, criando um novo mercado, o que futuramente possibilitará

um investimento definitivo; o projeto de construção do arco rodoviário em Fortaleza,

que irá melhorar o fluxo de cargas; e o Metrofor, que permitirá uma maior qualidade

do transporte urbano e melhorará os fluxos da Região Metropolitana de Fortaleza.

Estes últimos projetos, embora essenciais, não se classificam de maneira

igual à Transnordestina, pois esta tem a promessa de gerar impactos que

ultrapassam as fronteiras do Estado, promovendo a integração regional. Mesmo que

se mostrem importantes no sentido de garantir a continuidade do crescimento

alcançado, esses projetos não aceleraram realmente a economia. São obras

importantes e bem planejadas, mas não se caracterizam claramente como projetos

indutores de um novo ritmo de crescimento econômico.

Outros projetos se mostram mais polêmicos. Dois grandes investimentos se

referem aos parques eólicos e à usina de Biodiesel. Nesses casos, as opiniões tem

se mostrado divergentes. Quanto aos primeiros, os entrevistados se dividiram entre

o forte apelo ambiental da energia eólica, e o fato dos custos atuais ainda se

mostrarem muito elevados. A discussão até o momento ainda não se mostrou

totalmente amadurecida, e carece de maior aprofundamento.

Quanto à usina de biodiesel, esta mostra grande potencial de resultados, em

especial pelo incentivo à plantação da mamona e seus impactos benéficos sobre a

pequena produção familiar. Entretanto, a cultura desse produto parece ainda mostrar

dificuldades de se impor em vários pontos, dentre eles, o custo de produção e a

organização social dos produtores e da comercialização (BNDES, 2010).

Um conjunto de outros empreendimentos do PAC se enquadra em uma

natureza diferente de investimentos. As despesas relacionadas à habitação,

saneamento e urbanização não se caracterizam especificamente como indutoras do

crescimento econômico, embora se mostrem, em sua maioria, inquestionavelmente

importantes para a saúde pública e qualidade de vida da população.

Page 89: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

89

2.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP)

Na última década constatou-se que o Ceará não tem acompanhado o

desempenho das exportações brasileiras. No ano de 2008, enquanto o Brasil

mostrou um crescimento de 23,2% de suas exportações, o Ceará cresceu apenas

11,2% (MDIC). Dessa forma, mesmo com a hipótese de que a PDP tenha tido

responsabilidade pelo crescimento das exportações brasileiras naquele ano, não

teria mostrado o mesmo resultado no Ceará.

Os instrumentos da PDP de maior relevância para o Ceará têm sido as linhas

de financiamento para os investimentos empresariais, apresentadas pelo Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES. A partir de 2008, ano

inicial da PDP, observa-se uma grande elevação nos empréstimos concedidos às

empresas cearenses, passando de R$ 447,9 milhões em 2007, para R$ 1,97 bilhão

em 2009, um aumento de mais de quatro vezes no volume total.

A maior parte desses recursos tem se concentrado em investimentos ligados

à infraestrutura do Estado, ainda que realizados por empresas. Mesmo que os

investimentos diretos na indústria tenham crescido substancialmente, a participação

nesses recursos foi reduzida de 29,1% em 2007 para 14,6% em 2009 (BNDES,

2010a).

Deve-se observar que, dentre as 10 maiores operações, apenas uma trata-se

de iniciativa essencialmente privada, o financiamento de capital de giro para a

Vulcabrás Nordeste. Quanto às demais, mesmo aquelas realizadas por empresas,

tratam-se, na verdade, de investimentos na infra-estrutura portuária e energética do

Ceará, que não deixa de ter participação privada.

Embora esses resultados apontem com muita clareza para o interesse público

envolvido nos investimentos, e para o desenvolvimento tipicamente econômico,

revelam a rigidez e a baixa participação dos setores industriais cearenses. Mesmo

que os empréstimos destinados ao Porto do Pecém e às empresas de energia

elétrica revelem-se importantes, esses pontos não foram caracterizados atualmente

como gargalos em nenhuma das entrevistas realizadas. Tratam-se de investimentos

estratégicos, preparando uma infra-estrutura para o crescimento de longo prazo do

Estado.

Page 90: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

90

Com relação às micro e pequenas empresas, observou-se um claro

crescimento no número de operações realizadas pelo BNDES no Estado. De 1.219

operações no Ceará em 2007, este número subiu para 6.004 em 2009, quase cinco

vezes mais (BNDES, 2010a).

Mesmo com uma representativa elevação no volume de recursos, ainda se

mostram, entretanto, grandes dificuldades de atender a este público. Enquanto em

2007 as MPE receberam 24,7% do total de recursos do BNDES destinados a

empresas no Ceará, em 2009 esse percentual foi reduzido para 13,2% (BNDES,

2010a). Dessa forma, entre 2007 e 2008, um ano de crescimento das exportações

cearenses, o número de MPE exportadoras decresceu de 213 para 177 (MDIC).

2.3 Programa Territórios da Cidadania (PTC)

O grande diferencial do PTC é integrar várias políticas e programas ao

mesmo tempo em que dá oportunidade à população de falar, ser ouvida e participar

das decisões relacionadas aos programas. Em razão disso, tem sido observado

pelos gestores uma elevação da auto-estima da população envolvida nos territórios

da cidadania, que se imbui de sentimento de pertencimento ao local.

Essa participação se dá através do colegiado territorial que é um espaço de

discussão e negociação das demandas composto metade pela sociedade civil e

metade pelo poder público. Neste espaço, ocorrem plenárias territoriais com a

presença do prefeito onde são decididas as demandas já debatidas e aprofundadas

previamente no comitê territorial específico (saúde, educação, cultura, meio

ambiente, por exemplo). No entanto, o desafio é articular o colegiado com os

espaços com função semelhante que já existiam nos territórios.

Nesse contexto, aliado às linhas de financiamento do Pronaf, do Banco do

Nordeste do Brasil-BNB, e aos serviços de assistência técnica dos governos

estadual e municipais, têm-se também obtido resultados encorajadores, porém ainda

não mensurados, com os projetos ditos produtivos. Estes acontecem na linha da

criação de frango caipira, apicultura, psicultura, etc.

Page 91: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

91

2.4 Zona de Processamento das Exportações (ZPE)

Algumas questões críticas costumam ser levantadas e merecem comentários

no que se refere à Zona de Processamento das exportações - ZPEs:

Redução na arrecadação - Os critérios de seleção das empresas que irão

compor a ZPE deverão prever a possibilidade de empresas exportadoras brasileiras

já bem estabelecidas buscarem se introduzir na ZPE e reduzirem sua contribuição.

As condições que evitariam um movimento em massa desse tipo devem limitar

esses investimentos à ampliação das atividades, e não permitir a simples

transposição de local. Não há, dessa forma, como garantir que a arrecadação não

cresça menos. O que se observa é que esse seria um caso extremo, que ocorreria

nos termos específicos de uma indústria exportadora muito aquecida (ou seja, que já

iria crescer sem a ZPE), e com uma cadeia de insumos essencialmente externa.

Contrabando - O argumento do contrabando tem surgido em discussões

variadas. Entretanto, como as ZPEs são voltadas essencialmente para exportação,

contando também com isenção de taxas, esse argumento perde força.

Concentração de Investimentos no Litoral - É importante observar que a

diferença regional é uma das consequências do forte atraso econômico do semi-

árido, mas não a causa. Não se pode reduzir a pobreza impedindo o crescimento da

região mais desenvolvida. Isso só agravaria o problema (mesmo que reduzisse a

diferença).

Enfraquecimento da Indústria Local e, em termos agregados, Nacional -

Como 20% da produção pode ser destinada ao mercado interno (com os impostos

incidindo normalmente sobre esse percentual), isso poderá de fato causar uma re-

acomodação de setores, inclusive encarecendo insumos que passarão a observar

uma maior demanda.

Constituição de enclave – uma das grandes preocupações associadas à

montagem das ZPEs no Brasil diz respeito à formação de enclaves industriais, ou

seja, atividades isoladas sem relações orgânicas com os seus entornos,

principalmente no que se refere aos fornecedores de insumos e prestação de

serviços. É necessário dizer que, este problema, foi admitido pelos interlocutores ou

entrevistados por esta pesquisa.

Page 92: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

92

Todas essas são questões teoricamente possíveis, mas, em geral, são casos

extremos. Como a produção é voltada essencialmente para exportação, tudo deverá

ser acompanhado pela elevação da renda interna. Mesmo que alguns setores

possam ser prejudicados, esse aumento deverá estimular o crescimento de outros

setores (ou até dos mesmos). Em outras palavras, o saldo tende a ser positivo. Para

garantir isso, entretanto, é necessário principalmente que se escolham atividades

estratégicas, que mostrem um elevado aumento em sua produção devido ao fato de

se localizarem em uma ZPE.

3. Análises e Reflexões acerca dos Grandes Projetos e Programas do Governo

Federal

Se por um lado a infra-estrutura cearense já se mostra fortalecida, liberando

os novos investimentos para possibilidades menos urgentes, por outro, a diferença

de resultados entre o erro e o acerto se amplifica. O Estado já chega em uma fase

em que se exige maiores esforços e investimentos no levantamento de informações

e na montagem de uma estrutura renovada de planejamento.

Nesta seção, será considerada uma série de proposições na busca do

fortalecimento do planejamento do Governo Federal.

3.1 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Plano Nacional de Logística e

Transporte (PNLT)

Com relação à infra-estrutura logística, uma série de ações propostas pelos

técnicos e executivos da área não foi atendida pelo PAC. Em especial destaca-se a

implantação de uma rodovia ligando as regiões do Cariri com o extremo Oeste,

assim como rodovias que ligam os pólos urbanos mais importantes. Faltam,

portanto, rodovias intermediárias. Essas propostas encontram-se detalhadas nos

relatórios do próprio PNLT, que é uma peça de planejamento.

A partir das entrevistas e análises realizadas, pode-se observar ainda a

existência de três grandes gargalos que não foram contemplados pelas ações do

PAC: (i) carência de conhecimento acerca de grandes potencialidades do Estado; (ii)

deficiência na formação de mão de obra qualificada, o que remete para à falta de

Page 93: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

93

qualidade na educação; (iii) e isolamento excessivo entre três setores essenciais,

geração de conhecimento, empresas, e governo. Como pode ser observado, os três

tipos de deficiências estão interligados. Estes setores demonstram frequentemente

grandes barreiras de comunicação entre si, desperdiçando importantes

possibilidades de conciliação de interesses.

Esse distanciamento é justamente uma das causas do primeiro gargalo, ou

seja, da carência de conhecimentos essenciais. Estudos das riquezas minerais do

Estado, ou energéticas, por exemplo, apresentam-se ainda claramente deficitários

no Ceará. Uma pesquisa desse tipo se mostra frequentemente custosa para o setor

privado, com exceção de explorações pontuais. O Governo do Estado, por outro

lado, já despende anualmente volumes consideráveis de recursos para o estímulo

ao ensino, pesquisa e inovação nas Universidades. Mesmo assim, estudos desse

nível de interesse permanecem indefinidamente inexistentes, pela falta de

articulação entre esses setores.

Quanto à formação de mão de obra, novamente esse isolamento se mostra

presente. As universidades e as instituições de ensino técnico continuam a crescer

baseando-se mais em suas condições de oferta do que nas demandas apresentadas

pelo mercado. Mesmo as universidades particulares, embora mais flexíveis,

mostram-se frequentemente resistentes às mudanças de planejamento, em especial

pela cultura de rigidez absorvida das universidades públicas.

Por outro lado, a inexistência de uma cultura universitária entre os

empresários parece lhes impedir de levar suas demandas à academia. E esse

comportamento é recíproco por parte dos acadêmicos, desprovidos de visão

empresarial. Esta é, provavelmente, uma das principais causas do baixo ritmo de

inovação percebido nas empresas cearenses.

Observa-se, nesse caso, a necessidade de estruturas institucionais que

despertem a cultura de entendimento entre esses setores. Se bem desenhada, uma

estrutura dessa natureza rapidamente se mostraria auto-sustentável, dadas as

grandes potencialidades de alinhamento de interesses. Em linha com essa

observação, cabe ainda destacar a preocupação dos entrevistados com o fato de

que o PAC tem uma abordagem excessivamente física e material quando

Page 94: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

94

comparada à falta de atenção em relação aos fatores imateriais, isto é, educação,

formação de recursos humanos, conhecimento e inovação.

Essas deficiências apontam assim para a falta de conexão dos projetos do

PAC com a economia do conhecimento, paradigma do presente e do futuro.

3.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP)

Com relação à PDP, faz-se necessária uma reflexão específica. Deve-se

observar que o resultado dos investimentos governamentais de fomento ao sistema

produtivo apresentam uma dinâmica própria. As soluções mais conhecidas como

estradas, energia, represas, comunicações etc, já vem sendo realizadas

intensivamente nos últimos vinte anos. Atualmente, os problemas dessa natureza

são mais pontuais. No caso do Ceará, com a ferrovia Transnordestina encerra-se de

certa forma a fase de diagnósticos gerais de deficiências estruturais.

Assim, para melhorar a qualidade dos investimentos, é necessário um maior

grau de conhecimento de potencialidades e necessidades específicas. Caso

contrário, não há como as decisões terem, sistematicamente, um grau elevado de

eficiência. Dessa forma, a conclusão mais importante, citada por diversos dos

entrevistados, é que se faz necessário exatamente o que se preconiza para o setor

privado: maior volume de investimentos em P&D e Inovação, só que, nesse caso,

nos empreendimentos específicos do governo.

Deve-se observar que pesquisas dessa natureza possuem alta complexidade,

como as pesquisas científicas modernas, e exigem a combinação de múltiplos

conhecimentos. Em especial, deve-se ter necessariamente a combinação de

pesquisadores experientes de maior formação acadêmica, reunidos com executivos

experimentados do governo, e com participação realmente representativa dos

setores produtivos especificamente selecionados. Estes últimos terão grande

responsabilidade sobre os resultados finais, e sua correta seleção é uma das fases

que exigirá mais qualidade dos pesquisadores. De certo modo, entretanto, em muito

se depende do talento das lideranças envolvidas no processo, como nos

investimentos privados em geral.

Page 95: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

95

Por fim, deve-se enfatizar que a Política de Desenvolvimento Produtivo-PDP

revela muito claramente limites conceituais e operacionais no tocante a dois pontos:

desenvolvimento regional e micro e pequenas empresas. Seu alcance em relação a

esses campos é muito limitado. Nesse sentido, é oportuno que a PDP eleja como

um dos seus principais eixos de ação a abordagem em sistemas e arranjos

produtivos, sobretudo aqueles formados por micro e pequenas empresas. Tal

abordagem poderá unir a questão do desenvolvimento regional com as micro e

pequenas empresas-MPEs.

3.3 Programa Territórios da Cidadania (PTC)

Algumas sugestões para melhoria do Programa Território da Cidadania

podem ser levantadas. Um dos elementos cruciais a ser desenvolvido é a

informação. Precisa-se trabalhar mais para que as informações sobre as políticas,

programas e instrumentos cheguem até a população. A política precisa descer ao

nível do município (ainda se refere às macrorregiões). Apesar de alguns poucos

municípios já adotarem a mesma metodologia do PTC em programas locais, na

quase totalidade deles ainda se necessita de modernização da gestão pública para o

planejamento, elaboração, e acompanhamento de projetos. Precisa-se avançar na

questão institucional visando capacitar os gestores públicos e, por conseguinte,

modernizar a gestão.

No âmbito dos beneficiados, estes também carecem de modernização da

gestão. Programas de capacitação continuada poderiam ser implementados de

forma a obter resultados eficientes, em substituição ao que se faz hoje que são, na

verdade, ações pontuais, específicas e rápidas.

Sugerem-se, ainda, políticas voltadas para o semi-árido dentro do Programa

Luz para Todos, ampliando a rede para fins produtivos com o objetivo de permitir a

irrigação e garantir a cultura permanente no período da seca.

No âmbito do poder municipal, as interações são frágeis e a busca por maior

participação tem que passar necessariamente por um processo de capacitação dos

gestores públicos nessa esfera de poder.

Page 96: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

96

3.3 Zona de Processamento para Exportação

É essencial que o Governo Federal defina critérios claros para uma análise

ágil e transparente das empresas interessadas em se instalar na ZPE. Para isso,

deverá levar em conta os objetivos e estratégias nacionais, supervisionando e

avaliando sua perfeita aplicação.

Entretanto, para que as repercussões sobre as economias locais sejam

potencializadas, faz-se também necessário um grande volume de conhecimento

sobre as particularidades e potencialidades locais. Dessa forma, é essencial a

participação dos Estados na definição de seus critérios específicos. Mesmo que o

Governo Federal mantenha o controle de todo o processo burocrático, os Estados

devem intervir na definição das prioridades locais.

Considerações Finais

Durante o processo de análise realizado neste trabalho buscou-se precisão e

isenção sobre o tema, analisando dados reais, e ouvindo diferentes opiniões, por

vezes conflitantes, de atores conhecedores profundos de suas áreas específicas.

Em alguns momentos, a empreitada pareceu por demais ambiciosa para o limite de

tempo definido. Em diversas ocasiões permaneceu, ainda, o desejo de um maior

aprofundamento. Nesse caso, entretanto, optou-se sempre por expor a dúvida que

ainda persiste, remetendo-se às carências ainda existentes de conhecimento.

De maneira geral, entretanto, pode-se avançar que os grandes projetos do

Governo Federal têm se mostrado bem alinhados às necessidades do Estado do

Ceará, especialmente com relação à infraestrutura. Após um período de grande

escassez de investimentos federais, as intervenções analisadas trazem em conjunto

a perspectiva da formação de uma economia fortalecida, assim como o Estado, com

maior competitividade de suas regiões, e mais atratividade aos investimentos

externos. Ao mesmo tempo, uma vez planejados, os referidos investimentos

públicos poderão fortalecer o tecido sócio produtivo local.

Tais constatações se mostram revitalizadoras, trazendo expectativa de

progresso para um dos estados com maior percentual de pobres do país, onde o

Page 97: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

97

tema do crescimento econômico toma frequentemente o papel central nas

discussões sobre as políticas públicas.

Entretanto, dado o tom de urgência que o tema costuma assumir no Ceará, a

impressão de progresso e continuidade sofre o desgaste de tudo aquilo que se

depara com expectativas exacerbadas. O Ceará ainda tem muita ansiedade, típica

das regiões em desenvolvimento. Apesar de muitos indicadores socioeconômicos

mostrarem melhorias, a complexidade da sociedade atual acaba por criar novos

problemas como o aumento da violência nas grandes cidades, e a chegada

impressionantemente rápida das drogas e do crime organizado nas pequenas

cidades do interior. Apesar do desemprego não ser o causador direto dessas

questões, ele é capaz de potencializar enormemente o problema, pela falta de

expectativas atraentes no cotidiano dos mais jovens. Além disso, as falhas ainda

graves dos serviços públicos de saúde e educação de qualidade tomam dimensões

extremas em uma sociedade com um número tão grande de pobres, em torno da

metade da população estadual.

Diante disso, observa-se que o Ceará precisa da aceleração da economia em

seu sentido estrito, ou seja, do aumento na velocidade do crescimento conectando

com a economia do futuro, a do conhecimento.

Foram destacadas diversas propostas mais específicas de políticas. A

questão central, entretanto, é que é preciso uma elevação substancial na qualidade

dos gastos realizados. Para que o Governo Federal possa de fato atender e superar

as expectativas do Estado, não basta elevar o volume de recursos, mas elevar a

natureza do planejamento realizado e, principalmente, do seu foco. É necessária

uma maior base de conhecimento, aprofundado e amadurecido. Todas as propostas

remetem de alguma forma à necessidade de um novo papel do Governo, como

liderança planejadora do desenvolvimento, assumindo-se como uma entidade dual:

por um lado, mais externa, livre dos diversos grupos de influência ideológicos e

políticos locais, capaz de trazer uma visão isenta; por outro lado, mais interna e

profunda, capaz de absorver e descobrir uma maior quantidade de conhecimentos e

informações necessários para uma política de crescimento mais transformadora, ou

seja, rumo ao desenvolvimento sustentável.

Page 98: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

98

Na realidade, grande parte desse papel poderia, teoricamente, ser assumido

localmente, em vista da descentralização promovida pela Constituição de 1988. O

Governo do Estado do Ceará tem condições financeiras relativamente boas para

desempenhar esse papel. Entretanto, politicamente, não parece capaz de se colocar

nessa posição.

Dessa forma, o Governo Federal tem diante de si duas opções: assumir a

responsabilidade de completar o trabalho que o Estado não realiza sozinho, ou se

eximir da responsabilidade, e continuar desempenhando seu papel atual. É uma

questão de escolha. Cabe lembrar que, dentro do pacto federativo, o governo federal

tem duas funções cruciais a serem preenchidas, quais sejam: primeira, a de

coordenar as ações dos governos estaduais e municipais, e por vezes completá-las,

e, segunda, promover a equidade estrutural entre os entes da federação. Neste

caso, sugere-se que o papel do governo federal vá além da redistribuição de renda,

realizada por meio das transferências, e promova também a equidade das condições

estruturais responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento econômicos. Os

projetos e investimentos em curso são um bom começo.

Referências

AMARAL FILHO, Jair, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Ceará – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos f ederais no Nordeste. Fortaleza/CE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. AMARAL FILHO, Jair, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Ceará e Proposição de Políticas – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impac tos dos grandes projetos federais no Nordeste . Fortaleza/CE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. BNDES. Consulta sobre valores de operações. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Consulta_as_operacoes_do_BNDES/ MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Relatório de Macrometas e Medidas – PDP. Disponível em: www.pdp.gov.br

Page 99: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

99

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Dados do Comércio Exterior. Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/ RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ. 8º Balanço (maio a agosto de 2009). Comitê Gestor do PAC. SECRETARIA DE INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO CEARÁ (SEINFRA). Disponível em: www.seinfra.ce.gov.br/. SECRETARIA DE RECURSOS HIDRICOS DO ESTADO DO CEARÁ (WWW.sohidra.ce.gov.br)

Page 100: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

100

INVESTIMENTOS EM INFRA-ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO:

O CASO DO PAC NO MARANHÃO 1

João Gonsalo de Moura / Coordenador Estadual - UFMA

Eunice Paraguassu Moura - Uniceuma

Introdução

Desde o início da década de 80, no século anterior, uma das características

mais evidentes da economia brasileira tem sido a deterioração da capacidade do

setor público em destinar recursos para rubricas relacionadas a investimentos,

principalmente àquelas áreas de grande repercussão na atividade produtiva, como é

o caso da infra-estrutura econômica e social.

Diante desse quadro, não é surpreendente que a década seguinte (anos 90

do século XX) tenha sido também marcada por uma variedade de estudos que

mostravam a preocupação dos economistas com a importância das inversões

públicas em áraes como energia, transportes, comunicação, saneamento, dentre

outras, para reconduzir o País a uma trajetória de crescimento sustentado.

Constituem exemplos de trabalhos nessa direção as inciativas de Ferreira

(1994 e 1996); Ferreira e Malliagros (1998); Pêgo Filho et all (1999), dentre outros.

Tais estudos procuravam, sobretudo, destacar a importância da retomada dos

investimentos públicos sobre as taxas de crescimento econômico do país,

associando o fraco desempenho alcançado em períodos anteriores à concomitante

redução da capacidade do Estado em viabilizar recursos para a área de infra-

estrutura.

No entanto, conforme destacado por Domingues et all (2008, p.07), em meio

a esta grande preocupação dos economistas acadêmicos com o tema, se tornavam

cada dia mais evidentes os elos de ligação entre infra-estrutura e crescimento,

sobressaindo-se a idéia de que, obras estruturantes nas áreas de energia,

transporte, comunicação, saneamento, etc., produzem efeitos positivos imediatos

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Maranhão”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Page 101: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

101

sobre a produtividade dos investimentos privados, viabilizando assim maiores

retornos e, consequentemente, uma gama mais abrangente de projetos que se

tornam viáveis.

Na verdade esta discussão não se limitou ao período acima especificado,

uma vez que o país permaneceu praticamente inerte quanto a esta questão, até

mesmo diante do começo de um novo século, prorrogando assim o período de

letargia econômica. A diferença que se afigura nesta nova fase, contudo, é que tal

condição fica atribuída, de forma mais enfática, à deficiência do Estado em remover

os gargalos que, com o passar do tempo, se tornavam mais evidentes. Mas somente

após a consolidação da estabilidade macroeconômica, consolidada ao longo do

primeiro mandato do atual governo, pôde-se então promover o retorno do Estado ao

seu papel de provedor de infra-estrutura econômica e social, de modo a viabilizar um

processo mais demorado e robusto de crescimento econômico no País. Nesse novo

contexto, ao contrário das iniciativas passadas, o Estado não aparecia sozinho,

tendo agora a iniciativa privada, e as próprias empresas estatais, como parceiros.

Além disso, também como novidade, a esfera federal aparece aliada às

esferas estaduais e municipais de governo, de modo a evitar a sobreposição de

tarefas e desperdício de recursos, harmonizando suas ações. Esta, na verdade, é

uma das principais características do Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC), lançado em 2007 com a intenção de viabilizar um montante de investimentos

da ordem de R$504 bilhões.

Embora existam outras iniciativas oriundas da esfera federal com a

finalidade de romper com os gargalos que estavam a inibir a capacidade de

crescimento da economia brasileira, é com o PAC que se torna mais evidente a

preocupação do Estado em voltar a prover a infra-estrutura econômica e social

necessárias ao desenvolvimento mais acelerado e sustentado do País. Iniciativas

como o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT); Programa Territórios da

Cidadania (PTC); Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), etc. também são

dignos de menção nessa nova configuração, constituindo um novo contexto

caracterizado pelos Grandes Progetos Federais (GPFs). No entanto, no caso deste

trabalho, estaremos analisando especificamente o PAC.

Ou seja, nos interessa neste trabalho refletir sobre alguns dos prováveis

desencadeamentos resultantes de investimentos em infra-estrutura em economias

pouco desenvolvidas, e ainda carentes de uma estrutura produtiva minimamente

Page 102: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

102

sólida, como é o caso da economia maranhense. Certamente, em casos assim, deve

haver uma tendência ainda mais exacerbada dos prováveis impactos sobre variáveis

como a geração de emprego e renda.

Portanto, o objetivo deste trabalho é produzir algumas reflexões sobre os

impactos do PAC sobre a economia maranhense, de forma que possamos

estabelecer proposições que contribuam para garantir um padrão de

desenvolvimento que se materialize em um contexto de sustentabilidade e

convergência, ensejando assim a redução das diferenças entre regiões e indivíduos.

Na tentativa de atingir os objetivos propostos, o presente trabalho encontra-

se assim dimensionado: além desta introdução, na primeira seção será feita uma

contextualização do PAC na economia maranhense a partir de critérios como

características locais e adequação dos investimentos previstos. Na segunda seção

serão analisados os impactos propriamente ditos, enfatizando os mecanismos de

propagação na economia. Na seção seguinte, a terceira, lançaremos esforços sobre

a possibilidade de políticas complementares, ou mesmo pequenas correções nas

ações em cursos, de modo que possamos garantir a sustentabilidade e abrangência

do processo de desenvolvimento em nível local. Além disso, a quarta seção traz os

indícios de alguns fatores ausentes no referido programa, deixando para a última

etapa deste estudo as considerações finais.

1. Contextualização do PAC no Maranhão

Ao ser lançado em janeiro de 2007 o PAC pode ser compreendido como

uma tentativa de sistematizar e coordenar um conjunto de ações do Estado (nas

esferas federal, estadual e municipal) e dos agentes privados para acelerar o ritmo

de crescimento da economia. Trata-se, na verdade, de uma espécie de retorno do

Governo Federal à operacionalização de sua tarefa de agente indutor do

desenvolvimento, visando, sobretudo, o aumento do número de empregos e

melhoria das condições de vida da população.

Assim, no sentido de remover os gargalos resultantes de uma infra-estrutura

deficiente, o foco fica direcionado a três eixos essenciais:

i) Logística (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos);

Page 103: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

103

ii) Energia (geração e transmissão de energia elétrica, produção e refino

de petróleo e gás natural, fontes alternativas e combustíveis

renováveis);

iii) Infra-estrutura social (difusão de energia elétrica para a zona rural,

saneamento básico, construção de moradias, metrôs e ampliação do

acesso a recursos hídricos).

Segundo Domingues et all (2007) o mecanismo de propagação dos efeitos

dos investimentos públicos nessas modalidades produzem impactos significativos

sobre a produtividade e, por conseguinte, sobre o padrão de vida das regiões. Ou

seja, para uma dada quantidade de fatores mobilizados, se passarmos a dispor de

mais estradas, energia e meios de comunicação; resultará em maior produtividade

dos recursos produtivos, além de reduzir os custos médios de produção,

estimulando ainda mais as inversões por parte dos agentes privados. Uma maior

produtividade deve causar, certamente, um movimento de elevação da remuneração

dos fatores, inclusive da mão-de-obra, estimulando assim a demanda por bens e

serviços.

No caso do estado do Maranhão, os investimentos previstos pelo PAC, para

o período 2007 / 2010, registram um montante da ordem de R$ 9,1 bilhões, cuja

distribuição pode ser contemplada no gráfico 1, a seguir.

Gráfico 1 : Investimentos do PAC em infra-estrutura no Maranhão Fonte: Elaboração própria a partir de informações do BASA, 2009. Obs. Valores em R$ bilhões.

Page 104: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

104

A importância dos montantes anunciados no gráfico 1 se torna mais evidente

quando comparamos aquelas cifras com os valores previstos no âmbito geral do

Programa, algo que se aproxima dos R$ 504 bilhões.

Contextualizando assim a importância dos recursos destinados ao

Maranhão, no gráfico 2, abaixo, tem-se uma comparação dos valores destinados ao

estado com a própria importância de sua economia, bem como da população local

em relação aos habitantes do País como um todo.

Gráfico 2 : Contextualização dos Investimentos do PAC no Maranhão Fonte: Elaboração própria a partir de informações do IBGE. Obs. Valores em %.

Portanto, os investimentos do PAC em infra-estrutura no Maranhão

assumem um peso que ultrapassa a própria dimensão de sua economia no contexto

brasileiro. Se considerarmos que 1,8% de todos os recursos do Programa serão

investidos no estado, teremos assim uma maior representatividade desses recursos

em relação ao PIB estadual, que corresponde apenas a algo em torno de 1,2% da

produção nacional de bens e serviços.

Ainda no gráfico 2, também se observa que o Maranhão abriga 3,3% da

população do País. Isto, quando comparado à representatividade de sua produção

interna, demonstra que o PIB per capita maranhense é um daqueles cujo valor está

abaixo da média nacional. Daí a importância, inclusive, dos investimentos previstos

no PAC estarem destinando cifras relativamente mais representativas para a

economia do referido estado.

Page 105: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

105

Mas a configuração descrita no parágrafo anterior não constitui algo que

tenha a finalidade precípua de provocar uma espécie de convergência do PIB per

capita maranhense em direção à média nacional. De outro modo, trata-se apenas de

uma coincidência emanada da necessidade de aproveitar alguns recursos naturais

que, por sorte, o Maranhão ainda dispõe em abundância.

Algo que torna esta sugestão bastante plausível é a própria

representatividade dos investimentos em energia previstos para o estado; da ordem

de R$ 5,6 bilhões, conforme se observa no gráfico 1. Nesta rubrica estão

contemplados, principalmente, os gastos referentes à construção de hidrelétricas,

que têm como principal finalidade resolver um problema que é de abrangência

nacional, e não algo específico da economia local.

É importante destacar, ainda em relação à mesma questão, que o Maranhão

dispõe de um significativo potencial hidrelétrico, resultante de uma vasta

disponibilidade de rios propícios a tal fim, principalmente nas fronteiras com os

estados do Piauí e Tocantins.

Ou seja, uma vez que a maior parte dos investimentos do PAC destinados

ao Maranhão estão relacionados, de forma direta, com obras que visam o

aproveitamento do potencial hidrelétrico do estado, pode-se concluir então que

grande parte dos expressivos montantes previstos para o estado, tem como

finalidade exclusiva o aproveitamento de recursos naturais disponíveis, muito mais

que produzir um cenário de convergência da renda per capita estadual, mesmo que

isto possa acontecer como decorrência.

2. Impactos dos Investimentos do PAC

Ao contrário da maioria dos trabalhos que tratam do tema, que geralmente

se propõem a estimar numericamente os efeitos de determinado montante de

investimento sobre as taxas futuras de crescimento da economia, a intenção

preponderante neste estudo está centrada na análise dos prováveis mecanismos

através dos quais os efeitos do investimentos trazidos pelo PAC podem se propagar

no âmbito da economia local, de modo que possamos evidenciar e compreender

alguns benefícios que, de outro modo, poderiam não ficar explícitos, tendo sua

verdadeira dimensão até mesmo negligenciada.

Page 106: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

106

Tomando este ponto de vista como parâmetro, uma avaliação dos impactos

de iniciativas como o PAC na economia maranhense deve ter como foco dois

aspectos importantes, a saber:

i) As prováveis diferenças entre os desdobramentos de curto prazo em relação

àqueles que devem se manifestar apenas em período mais extenso, de

modo que apareçam com maior nitidez as possibilidades que tendem a se

materializar no estado com a presença do PAC;

ii) Os caminhos através dos quais os efeitos do PAC devem seguir para afetar

os setores mais eficientes, como também aqueles que operam sob

condições bastante rudimentares. Ou seja, como se manifestam os

reflexos dos investimentos que estão por se consolidar no estado, diante

da perspectiva de uma economia que apresenta um sistema produtivo

caracterizado pela presença de setores que operam em grau máximo de

eficiência e desempenho; convivendo lado a lado com outros setores cujos

métodos e técnicas nos remetem a uma estrutura ineficiente e de baixa

performance.

Tendo em vista os propósitos incorporados nas ações que constituem o

PAC, sugerimos então que as mesmas devem se justificar pelos possíveis reflexos

que poderão produzir no horizonte de longo prazo (porque são dinâmicos), e nos

caminhos que os impactos numa economia como a do Maranhão podem percorrer,

partindo dos setores mais eficientes em direção ao setores mais atrasados,

visivelmente menos incorporados nessas iniciativas governamentais.

No âmbito dessa perspectiva de quando e como o PAC pode afetar o padrão

de desenvolvimento local, tendo como foco uma economia baseada em profundas

diferenças setoriais, resumiremos a seguir os prováveis efeitos que deverão estar

presentes em um horizonte de tempo mais longo, aprofundando as possibilidades de

melhoria dos níveis de competitividade da economia maranhense, considerando os

mecanismos que devem operar no sentido de fazer transbordar efeitos positivos dos

setores mais competitivos para aqueles mais atrasados.

Page 107: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

107

2.1 Impactos de especialização

Uma primeira fonte de ganhos decorrentes do PAC pode estar relacionada

aos melhores destinos possibilitados aos fatores de produção existentes no estado.

Por estarem voltados para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis,

conforme mencionado na seção anterior, tem-se a oportunidade de promover um

maior grau de especialização da economia local em atividades com maior facilidade

de adaptação.

Para que uma região possa ter sua economia operando com eficiência não

basta haver apenas a plena utilização dos recursos disponíveis. Nada garante que o

pleno emprego está ocorrendo da forma mais apropriada e adequada possível,

principalmente quando a alocação em vigor é o resultado da atuação apenas das

forças de mercado. Certamente, para alcançar o melhor uso dos recursos de uma

região, muitas vezes se faz necessária a ação (interferência) do Estado na

economia.

Os grandes projetos federais no estado do Maranhão têm como uma de

suas principais características a tentativa de aproveitar os recursos naturais

existentes no estado, tendo os investimentos do PAC em energia como um dos

melhores exemplos que podem ilustrar esta situação. Nesse sentido, a

especialização pode trazer ganhos de eficiência por meio da realocação, ou seja, do

remanejamento dos fatores entre os setores operantes na região.

Ao proporcionar um maior grau de especialização a economia local poderá

colher os resultados da maior e melhor divisão do trabalho, aproveitando de modo

mais racional os recursos disponíveis. O aumento na produtividade decorrente deste

movimento pode ser entendido como aumento da produtividade resultante da melhor

eficiência alocativa.

2.2 Ganhos de produtividade

A produtividade da força de trabalho de uma região também é o resultado

dos meios disponíveis para serem utilizados pelos indivíduos como auxílio ao

desempenho de suas tarefas. Em outros termos, quanto maior for a quantidade de

Page 108: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

108

máquinas, equipamentos, ferramentas à disposição do trabalhador, maior tenderá a

ser a sua performance em um determinado período de tempo.

Ou seja, quando se consegue disponibilizar uma maior quantidade de capital

físico e de infra-estrutura por trabalhador, a tendência natural é que haja maior

produtividade da força de trabalho, resultando em maior remuneração deste fator de

produção, ou, no caso, aumento da remuneração média do trabalho.

Dessa forma, ao se analisar o conteúdo de ações como aquelas que estão

previstas no PAC pode-se dizer que os ganhos de produtividade, e a consequente

melhoria na remuneração média do trabalho, decorre da maior disponibilidade de

capital (físico e de infra-estrutura) por trabalhador.

2.3 Impactos de padrões tecnológicos

Uma terceira fonte de melhorias decorrentes da presença de grandes

investimentos, como os que estão previstos no PAC, pode resultar de uma

aceleração do grau de difusão de novas tecnologias, geralmente em maior proveito

dos setores menos eficientes. Os setores mais produtivos normalmente atuam em

mercados globalizados, onde impera um ambiente altamente competitivo. Neste

caso, as unidades produtivas têm que enfrentar não apenas os seus concorrentes

internos, mas, sobretudo, aquelas unidades instaladas nas mais diferentes regiões

do planeta. Sendo assim, as empresas se vêem obrigadas a operar dentro de

padrões que utilizem os mais avançados conhecimentos tecnológicos, de forma a

não serem superadas em algum mercado específico.

Assim, a presença de grandes empreendimentos voltados para fora em uma

determinada região viabiliza a atração de novos modelos, conhecimentos,

equipamentos, ferramentas, métodos, etc., que de outra forma não haveria

possibilidade de se viabilizar.

Existem diversos canais por meio dos quais se dá a difusão dessas

tecnologias em benefício dos demais setores operantes em uma região. Uma das

formas mais prováveis de viabilização desse mecanismo de transmissão é que, ao

transferirem algumas atividades para empresas fornecedoras, por exemplo, as

empresas cedentes desejam que as mesmas continuem sendo executadas com o

uso mais racional dos recursos empregados, tendo em vista que as tarefas

delegadas fazem parte do produto final.

Page 109: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

109

Em termos de produção isto dizer significa que, da mesma forma que antes,

os produtos precisam continuar sendo produzido da forma mais eficiente possível, o

que constitui um incentivo à difusão de tecnologias para unidades produtivas

fornecedoras.

Mas existem também formas indiretas de viabilizar a transferência de

tecnologia em um processo de maior integração entre setores competitivos e não

competitivos. O fato dos primeiros utilizarem mão-de-obra altamente qualificada,

detentora de altos níveis de investimento em capital humano (conhecimentos,

habilidades, experiências, etc.), viabiliza a atração de indivíduos com tais

características para determinado local que, de outra forma, não haveria possibilidade

de fazê-lo.

A presença de uma força de trabalho altamente qualificada, em uma região

específica, permite, por exemplo, a adoção de técnicas mais modernas nos negócios

em geral, dado que esses indivíduos contribuem sobremaneira para a difusão

desses métodos, o que proporciona uma melhor organização da produção, através

da difusão e adoção dos mesmos pelo sistema produtivo local.

Tais possibilidades capacitam o sistema produtivo de uma região a operar

com melhores indicadores de eficiência e desempenho, refletindo-se, por meio dos

rendimentos auferidos, em uma melhoria de bem-estar dos indivíduos. A viabilização

de investimentos de grande porte em economias como a do Maranhão, conforme

previsto no conteúdo do PAC, enseja a propagação de efeitos como estes.

2.4 Impactos de escala

Um dos grandes empecilhos ao alcance dos níveis de eficiência e

desempenho por parte das unidades produtivas presentes em uma região é

assegurar a escala mínima de produção necessária para conduzir os custos

unitários a um patamar condizente com as condições mínimas de sobrevivência. Isto

é ainda mais comum quando se trata de micro e pequenas empresas, em uma

economia que apresenta escassez de infra-estrutura de transportes, dificultando o

acesso a mercados.

Muitas empresas desaparecem rapidamente do mercado por conta de uma

escala de produção bastante reduzida, uma vez que não conseguem distribuir seus

Page 110: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

110

custos fixos por uma quantidade de produtos mais elevada. Este gargalo torna os

custos de produção incompatíveis com os preços vigentes no mercado.

Diante de um grande conjunto de iniciativas como o PAC, que apontam na

direção de viabilizar rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, etc. a tendência é que o

acesso a mercados distantes das áreas que circundam os empreendimentos seja

facilitado substancialmente, incrementando a possibilidade de uso de uma escala de

produção mais ampliada.

Outro mecanismo de ampliação de escala de produção, decorrente da

presença de grandes empreendimentos numa economia como a do Maranhão, é a

abertura de espaço para que os demais setores possam, por exemplo, se enquadrar

como fornecedores dos empreendimentos de porte mais avantajado, melhorando

assim o grau de utilização de suas estruturas, ou até mesmo viabilizando o próprio

incremento das mesmas.

Portanto, diante dessas possibilidades, uma fonte de ganhos mais evidentes

com a presença de investimentos como aqueles previstos pelo PAC para o

Maranhão, como é o caso de uma refinaria de petróleo, pode resultar em ganhos

emanados da ampliação da escala em outros setores da economia, principalmente

naqueles formados por unidades de pequeno e médio porte.

3. Avaliação das Políticas

A teoria do crescimento econômico apresenta uma extensa lista de fatores

que devem ser testados quando os governos desejam interferir na atividade

econômica procurando acelerar as taxas de expansão da atividade econômica.

Fatores de produção como capital físico, capital humano, recursos naturais e

tecnologia, surgem imediatamente em nossas mentes quando desejamos tratar do

tema.

Mas sempre os economistas tiveram consigo a percepção de que não basta

somente atribuir à escassez desses fatores o fraco desempenho produtivo de

determinada região, embora seja quase óbvio afirmar que, se os mesmos estiverem

disponíveis em quantidades mais elevadas, maior deverá ser a produtividade e,

consequentemente, do padrão de vida potencial da sociedade.

Visto sob este olhar o crescimento econômico é visto como um processo

contínuo de melhoria da eficiência produtiva do sistema, tendo como medida central

Page 111: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

111

a produtividade do trabalho. Trata-se aqui de uma forma de resumi-lo a uma questão

meramente técnica, onde crescimento se confunde com desenvolvimento, pois

quanto maior for a eficiência do trabalho maior também será a sua remuneração e,

consequentemente, melhor o padrão de vida.

No entanto, sem descartar esta visão, dada a sua utilidade em certas

circunstâncias, entende-se aqui que existem fatores importantes a serem

incorporados a esta análise, se apresentando como de fundamental importância a

incorporação das especificidades locais.

Normalmente, no conteúdo de iniciativas como o PAC predomina a visão

relacionada à questão meramente técnica. Entretanto, ao final desta seção,

consideraremos a possibilidade da introdução de elementos referentes às

especificidades locais como uma alternativa que pode contribuir efetivamente para a

potencialização dos efeitos positivos de um programa como aquele que constitui o

objeto do presente trabalho.

Ou seja, sem desconsiderar a importância que uma iniciativa como o PAC

representa para economias como a do Maranhão, destacaremos abaixo algumas

ações complementares no sentido de fazer com que características locais

divergentes não constituam um empecilho ao alcance dos resultados esperados.

3.1 Políticas baseadas nas quantidades físicas de fatores

As políticas voltadas para o crescimento devem priorizar variáveis que

possam afetar a disponibilidade de capital físico (investimento), incrementar o

estoque de capital humano (educação, treinamento, etc.) o conhecimento a respeito

de como combinar recursos para produzir bens e serviços (tecnologia).

Ou seja, políticas de crescimento devem atacar os empecilhos que

inviabilizam a evolução dos seguintes fatores (BEDÊ, 2008, p. 36):

i) Investimento em capital físico – taxa de juros, taxa de câmbio,

ambiente institucional, direitos de propriedade, segurança jurídica,

liberdade política, acesso a crédito, etc.;

Page 112: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

112

ii) Investimento em capital humano – universalização da educação,

educação continuada, instrução profissional, treinamento nas

empresas, estágio, etc.;

iii) Progresso tecnológico – estímulo à pesquisa, proteção à propriedade

intelectual, garantias aos registros de marcas e patentes, etc.;

iv) Uso racional dos recursos naturais – proteção ao meio ambiente,

fontes renováveis de combustíveis, reciclagem de resíduos, etc.

Nos casos enumerados acima a finalidade específica é basicamente

aumentar a eficiência do trabalho e garantir sustentabilidade ao processo de

expansão econômica com o uso racional dos recursos.

Alguns pesquisadores, cientes de que esta não é a única alternativa de

abordar a questão, passam a argumentar em prol de outras proposições que,

também de modo isolado, não dão conta do problema por completo.

3.2 Políticas baseadas na eficiência alocativa

Uma das proposições que não pode ser vista como alternativa, mas

complementar às anteriores, é aquela que procura centrar o foco na questão da

realocação de recursos. Ou seja, esta vertente evidencia as alternativas de

utilização dos recursos existentes para obter maiores níveis de produção e

rendimento. Trata-se então de uma abordagem que não cogita a possibilidade do

mercado promover uma alocação eficiente para os fatores de produção, havendo

espaço para a interferência do poder público (GENEREUX, 1995, p.77).

Quais seriam então as alternativas de política à disposição do Estado para

induzir os recursos a encontrar alternativas de emprego que possam aumentar sua

capacidade de gerar bens e serviços e colocá-los à disposição da sociedade?

i) Abertura comercial – remover barreiras tarifárias, desonerar as exportações,

remover barreiras quantitativas (quotas), política cambial favorável, etc.

ii) Benefícios e isenções fiscais – isenções e subsídios para bens que causem

externalidades positivas na produção e/ou no consumo, aplicar tributos à

Page 113: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

113

produção de bens que causem externalidades negativas na produção e/ou

no consumo, benefícios para setores estratégicos, etc.

As ações acima especificadas têm a capacidade de conduzir a economia

para um estágio mais avançado de alocação dos recursos, elevando a produtividade

e reduzindo custos, possibilitando assim uma maior disponibilidade de bens e

serviços para o consumo e um melhor padrão de vida.

3.3 Políticas baseadas na capacidade de inovação

Uma terceira opção diz respeito àqueles que fazem questão de abordar o

tema de forma mais aprofundada, dando ao mesmo uma conotação de

desenvolvimento, ao invés da visão simplificada do crescimento. Neste caso, o que

importa para o desenvolvimento é capacidade que a economia dispõe de gerar

inovações. Ou seja, importa agora o potencial disponível para mudanças de

natureza radical na forma de funcionamento do sistema (BEDÊ, 2008, p. 35-36).

São as mudanças relativas à introdução de novos produtos, novos

processos, novas formas de negociação, novos insumos, etc. que fazem com que a

economia seja conduzida a um novo estágio, rompendo definitivamente com o

equilíbrio anterior. Aqui as políticas de desenvolvimento devem estar voltadas para o

aumento a capacidade do sistema em gerar inovações, de modo que a economia

esteja sempre rompendo com o estágio em que se encontra, movendo-se para

estágios mais elevados. São políticas derivadas desta abordagem (BEDÊ, 2008,

p.36):

i) Inovações primárias – incentivo à pesquisa aplicada nas empresas, apoio ao

desenvolvimento de produtos, criação de novos materiais, etc.

ii) Inovações secundárias – capacitação empresarial, aplicação de processos

modernos em empresas de pequeno porte, difusão de novos produtos e

técnicas de produção, etc.

Page 114: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

114

Não é necessário que a inovação esteja ligada ao novo. Ao contrário, trata-

se da introdução de métodos, técnicas, produtos, processos, materiais, etc. em

determinados setores, ou regiões, mesmo que estes não representem novidade em

outros lugares ou tipos de empreendimento. A inovação é algo novo para quem a

introduz, não importando se outros já fazem uso daquele modelo. Por esta razão

faz-se necessário mobilizar os atores locais com o intuito de promover gerar,

assimilar, trocar e utilizar novos conhecimentos (CASSIOLATO, LASTRES &

STALIVIERI, 2008, P.12-15).

3.4 Políticas baseadas na demanda efetiva

Também merece destaque o grupo que observa o crescimento como um

processo resultante de estímulos proveniente da maior procura por bens e serviços,

devendo a ação do Estado está voltada para garantir que a demanda efetiva seja

sempre suficiente para absorver aquilo que os agentes decidiram colocar no

mercado, ou, de outro modo, criar as condições para induzir os tomadores de

decisão a produzir quantidades mais elevadas, de modo que o pleno emprego dos

recursos possa ser alcançada.

Esta versão também carece da crença na incapacidade do mercado em criar

uma alocação eficiente dos recursos existentes, sendo o desemprego a situação

normal produzida na ausência do Estado. Por isto, quando houver escassez de

demanda efetiva, as políticas governamentais devem ser acionadas para eliminar do

mercado o excesso de oferta (GENEREUX, 1995, p. 45-46).

A ação das políticas econômicas deve se fazer sentir na economia por meio

dos seguintes instrumentos:

i) Política fiscal – aumento dos gastos governamentais, redução de tributos

para aumentar a renda disponível, etc.

ii) Política monetária – aumento da oferta de moeda, potencialização da

capacidade bancária de criar meios de pagamento, etc.

Tem-se aqui uma concepção de política que vislumbra a capacidade que os

estímulos iniciais de renda possuem de se propagar na economia, possibilitando o

amento da oferta de bens e serviços. A expansão da demanda se reflete na

Page 115: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

115

produção, e não nos preços, principalmente devido ao fato dos defensores de tais

políticas acreditarem que a economia trabalha sempre com desemprego, ou, do

mesmo modo, com recursos ociosos, podendo ser colocados à disposição do

processo de produtivo (GENEREUX, 1995, p. 50-51).

3.5 Especificidades locais e políticas públicas

Fugir da listagem de políticas enumeradas acima constitui uma tarefa das

mais complexas para quem tem a finalidade apenas de sugerir algumas reflexões

sobre os impactos de programas como o PAC em uma economia como a do estado

do Maranhão. Mas existe ainda a possibilidade de proporcionar um certo grau de

relevância à análise aqui empreendida, mesmo sem que se produza grandes

novidades.

Por exemplo, foi mencionado anteriormente que a economia maranhense

inclina-se para uma dicotomia acentuada resultante da presença de um setor

composto por grandes empreendimentos exportadores, utilizando o que há de mais

moderno em termos de equipamentos, tecnologia, etc., com alto grau de

competitivamente; convivendo na companhia de outros setores cuja característica

marcante é o rudimentarismo e ineficiência em seus métodos e técnicas.

Além disso, a força de trabalho utilizada por esta parte competitiva da

economia local atende a padrões de qualificação que se distancia enormemente do

trabalhador médio do estado, resultando em grandes distorções em termos de

remuneração do trabalho.

Assim, dado que a realidade da economia maranhense está bem distante

dos padrões em que operam os grandes empreendimentos exportadores, se

situando em padrões bem inferiores, fica estabelecida uma espécie de

distanciamento entre os dois lados. Embora tenha havido transbordamentos

importantes ao longo do tempo, carregando alguns benefícios da parte mais

competitiva para a parte menos competitiva, tal processo poderia (e deveria) se dar

em escala bem mais ampliada. Isto acarretaria em um ponto de maior equilíbrio,

transformando o Maranhão numa economia mais eficiente e de mais alta

performance.

Mas é exatamente neste ponto que entram as particularidades que os

formuladores de iniciativas como o PAC devem absorver, no sentido de planejar

Page 116: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

116

medidas que sejam mais eficazes, ao considerar as diferenças locais em seu

conteúdo.

Diante desta proposição, pode-se dizer que as políticas até aqui

apresentadas são exequíveis e viáveis apenas quando observamos o País de forma

ampla. Por exemplo, não é possível lançar um perfil de política monetária apenas

para o Maranhão. Quando os policymakers assumem um determinado

posicionamento sobre a oferta monetária, esta decisão abrange do mesmo modo

todas as unidades da federação.

Instrumentos assim assumem as mesmas características para todo o País,

embora saibamos que os diferentes estados são afetados de modo diferente na

distribuição dos custos e benefícios de tais iniciativas. Por exemplo, a formação dos

indivíduos, a cultura empreendedora, etc. são capazes de diferenciar os impactos de

um mesmo volume de investimentos em diferentes regiões.

Embora não seja possível diferenciar a política, devido as peculiaridades de

cada unidade da federação, os benefícios e malefícios resultantes das mesmas

tendem a impactar de modo diferente em cada região. Isto acontece sem nenhuma

garantia de que as regiões mais atrasadas recebam maior parcela dos prováveis

benefícios, e aquelas que são mais adiantadas incorram em maior parcela dos

prováveis malefícios.

A política de crescimento, ou desenvolvimento, não pode se contentar que

todos cresçam à mesma velocidade, sob pena de sacramentarmos e perpetuarmos

as diferenças já existentes. Por isto, algo há que ser concebido, para além das

políticas monetária e fiscal (de incidência universal), de modo que os mais atrasados

sejam contemplados com um desempenho mais acelerado do que a performance

experimentada pelos mais adiantados.

Nesse contexto, entra em cena o papel das esferas locais de poder, no

sentido de tentar influir para que os reflexos das políticas de abrangência geral

tenham os efeitos esperados em nível local.

Como então agir para acelerar o processo de crescimento

(desenvolvimento), em uma economia como a do Maranhão, sabendo que, por

exemplo, existe uma forte dicotomia entre os setores produtivos que caracterizam a

economia do estado? Em casos assim, admitindo que as disparidades entre setores

sejam realmente significativas, poderíamos sugerir intervenções à parte no sentido

de potencializar os seguintes efeitos:

Page 117: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

117

i) Aumentar o grau médio de eficiência da economia . Neste aspecto, mesmo

as medidas abrangentes podem servir a este propósito, tendo em vista

que, por exemplo, uma maior disponibilidade de capital físico, ou de infra-

estrutura, tende a tornar o sistema produtivo mais eficiente, independente

de qual setor estejamos tratando;

ii) Realocar recursos produtivos entre os setores . Para alcançar padrões de

eficiência mais elevados, faz-se necessário transferir recursos dos setores

menos eficientes para aqueles mais eficientes, apressando então o

encontro de uma posição mais próxima do equilíbrio entre os mesmos;

iii) Aumentar a eficiência nos setores menos competitivo s. Neste caso, dado

que estes são constituídos, geralmente, por empreendimentos de micro e

pequeno porte, as necessidades mais prementes nos remetem a uma

política que vise difundir elementos como capacitação, inovação e

cooperação, de modo que a capacidade inovativa seja potencializada.

Portanto, sem deixar de mencionar a importância das políticas de

abrangência geral, se faz necessário definir medidas de natureza mais específica,

de modo a enquadrar anomalias que se manifestam no ambiente local,

potencializando assim os efeitos das ações empreendidas em cada região. No caso,

por estarem presentes no âmbito dessas anomalias, instituições como os governos

locais devem adotar medidas complementares às políticas de âmbito nacional, de

modo a obter os resultados que concretamente são esperados em casos dessa

natureza.

As esferas locais de poder podem assim assumir o papel de enquadramento

das medidas de abrangência nacional nas particularidades que o sistema produtivo

local demanda, agindo em parceria com outras esferas do poder público e demais

atores, principalmente aqueles envolvidos com a questão do desenvolvimento em

nível regional.

Cabe então um papel ativo às esferas locais de poder, adotando políticas

que potencializem os impactos de ações federais nas diferentes regiões do País,

voltando-se principalmente para iniciativas que visem a geração, aquisição e uso de

Page 118: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

118

conhecimentos, gerando capacitações e inovação (CASSIOLATO E LASTRES,

2003, P.26-27).

4. Fatores Ausentes no PAC

Alguns dos aspectos mais importantes contidos no PAC, objeto da análise

aqui empreendida, podem ser resumidos nos seguintes termos:

i) Forte concentração dos investimentos em infra-estrutura econômica; embora

alguns programas, como Territórios da Cidadania, terminem por abranger

iniciativas que dizem respeito à esfera da infra-estrutura social;

ii) Forte inclinação dos formuladores para uma visão que está centrada nos

aspectos positivos da elevação da taxa de investimento em capital físico,

negligenciando outros fatores de produção que influenciam diretamente

sobre o nível de competitividade da economia, como capital humano e a

tecnologia;

iii) Não há uma separação explícita entre os fatores que podem atuar sobre a

oferta de bens e serviços, em relação àqueles que podem se manifestar

sobre a demanda efetiva. Por exemplo, o Programa Territórios da

Cidadania contém iniciativas que vislumbram os aspectos de oferta (Luz

para Todos), bem como iniciativas que se manifestam sobre a demanda

(Bolsa Família). Ao não discriminar claramente essas diferenças,

transparece a perspectiva de que os formuladores não tiveram a clara

noção da importância de diferenciar esses elementos;

iv) A maioria das ações previstas não podem ter seus impactos previstos apenas

para determinadas unidades da federação, dado que os efeitos

decorrentes transbordam para as demais, considerando que não existem

barreiras significativas no comércio entre essas unidades geográficas;

v) Elementos como educação (capital humano), apoio à pesquisa e

desenvolvimento (tecnologia), incentivo à inovação (progresso

tecnológico) e reformas institucionais (ambiente), não são enfatizados

Page 119: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

119

claramente no PAC, embora sejam vitais para uma política que tenha

como finalidade acelerar as taxas de crescimento econômico.

Dessa forma, pode-se dizer o PAC ataca um dos problemas mais graves do

País, que é a baixa disponibilidade de infra-estrutura na economia, o que inibe a

capacidade do ambiente de negócios no Brasil em oferecer uma estrutura

condizente com a inserção competitiva de suas empresas nos mercados

globalizados. Neste aspecto, podemos prever grandes benefícios resultantes das

ações em execução nesse instante, principalmente em economias mais carentes

desses investimentos, como é o caso do Maranhão.

Por outro lado, ao deixar de incorporar explicitamente elementos como a

qualificação (uma política educacional), apoio à pesquisa e desenvolvimento

(progresso tecnológico), além da ausência explícita de incentivos à inovação, tem-se

aqui uma falha que limita a nossa capacidade de identificar, a partir das ações

delineadas, uma perspectiva seguramente sistêmica e sustentada. Tais ausências

talvez possam ser ainda mais sentidas em economias como a do Maranhão, onde o

uso de métodos e técnicas rudimentares dificulta sobremaneira o acesso dos

negócios locais a mercados organizados.

5. Considerações Finais

No caso exclusivo de uma análise para o nível estadual, como foi sugerido

ao longo deste trabalho, vislumbrar os reflexos de um programa como o PAC se

torna uma tarefa das mais complexas. É que os transbordamentos dos impactos

para outras regiões, sobretudo por conta da inexistência de barreiras às trocas entre

unidades da federação, se tornam uma perspectiva totalmente aberta.

Mas um outro aspecto ainda mais importante no plano estadual é a

diversidade de impactos do PAC, considerando que as estruturas produtivas nesses

espaços geográficos podem apresentar grandes diferenças. No caso em tela,

representado pelo Maranhão, chamamos a atenção para o fato de haver algumas

particularidades nas características locais que requerem uma interpretação dos

reflexos de modo condizente com a mesma. Evidenciamos o fato de existir na

Page 120: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

120

economia maranhense duas estruturas setoriais bem distintas, que convivem lado a

lado, provocando influências mútuas entre as mesmas.

A discussão referente às especificidades da economia local produziu

algumas reflexões importantes, assim resumidas:

i) As políticas preconizadas pelo PAC assumem um caráter praticamente

idêntico para todo o País, diferenciando-se apenas pelo volume de

recursos aplicados em cada unidade da federação;

ii) No caso do Maranhão, uma das características presentes nos projetos a

serem executados é que, em grande parte, os investimentos estão

direcionados para uma melhor utilização dos recursos disponíveis no

estado, o que poderá resultar em ganhos de maior eficiência alocativa em

período mais alongado;

iii) O PAC traz consigo uma noção de influenciar na melhoria das condições de

oferta (maior e melhor infra-estrutura), bem como a tentação de acionar

mecanismos que produzam efeitos multiplicadores sobre a renda, via

demanda efetiva (Bolsa Família), sendo ambos de grande repercussão na

economia local;

iv) Ficam negligenciados os efeitos que, talvez, sejam os mais significativos em

termos de ganhos para o ambiente local, provocados pela realocação de

recursos, provenientes dos setores menos competitivos para os setores

mais competitivos;

v) Por não tratar das especificidades locais, o PAC carece de um complemento

em nível regional que as considere. Somente assim poderiam ser

contempladas ações, por exemplo, direcionadas para os setores mais

frágeis de economias como a do Maranhão, onde o simples provimento de

infra-estrutura e outros incentivos não tem como causar, isoladamente,

impactos na proporção requerida.

É exatamente no último fator evidenciado acima que queremos centrar as

mais importantes reflexões neste documento, quais sejam:

Page 121: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

121

i) As esferas estaduais e municipais de governo deveriam se encarregar de

suprir as deficiências das políticas federais em questões relativas às

especificidades de cada região, de modo que os impactos de iniciativas

como o PAC ficassem potencializados.

ii) Ao invés de atuar como simples parceiros do Governo Federal em programas

como o PAC, as esferas locais de poder poderiam e deveriam ir além,

elaborando políticas complementares às políticas nacionais, de modo a

potencializar os reflexos das mesmas sobre o ambiente local;

Convém esclarecer que não é o caso de afirmarmos aqui que os

investimentos previstos pelo PAC não produzirão efeitos positivos sobre o sistema

produtivo de economias como a do Maranhão. Ao contrário, não há como deixar de

reconhecer a existência de reflexos positivos sobre a economia maranhense.

A proposição mais importante é que, para se adequar a um caráter mais

sistêmico, e ter seus impactos potencializados, algumas especificidades locais

precisam ser incorporadas ao conteúdo do PAC. Isto passa pela mudança no perfil

de participação das esferas regionais de poder, deixando de lado a condição

exclusiva de parceiras em determinadas obras, para se colocar numa condição de

complementaridade, delineando políticas próprias que intensifiquem o

desenvolvimento de suas unidades. O incentivo à geração, aquisição, difusão e uso

de conhecimento no sistema produtivo local pode apontar um bom começo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEDÊ, M. A. O PAC e o crescimento da economia brasileira. Revista Integração. Ano XIV, № 52, p. 33-41, 2008. BASA. Programa de aceleração do crescimento na Amazônia: impactos e oportunidades. Contexto Amazônico. Ano 2, № 13, jan, 2009. CASSIOLATO, J. R. & LASTRES, H. M. M. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume & Dumará, 2003.

Page 122: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

122

CASSIOLATO, J. R.,LASTRES, H. M. M. & STALLIVIERI, F. Políticas estaduais e mobilização de atores políticos em arranjos produti vos e inovativos locais . In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Arranjos produtivos locais: uma alternativa para o desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: e-papers, 2008. DOMINGUES, e. P. MAGALHÃES, A. S. & FARIA, W. R. Impactos dos investimentos do PAC em Minas Gerais: efeitos sobre o crescimento e desigualdade. Texto para Discussão № 339. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2008. FERREIRA, P.C. e MALLIAGROS, T.G. Impactos produtivos da infra-estrutura no Brasil – 1950/95 . Pesquisa e planejamento econômico, v.28 nº 2, 315-338, 1998. FERREIRA, P.C. Investimento em infra-estrutura no Brasil: fatos es tilizados e relações de longo prazo. Revista Pesquisa e planejamento econômico, v. 26, nº. 2, 231-252, 1996. GENEREUX, J. Introdução à política econômica . São Paulo: Edições Loyola, 1995. GOVERNO FEDERAL. Relatório estadual do PAC (8º. Balanço). Brasília, 2009. IBGE. Contas regionais do Brasil. Rio de janeiro: IBGE, 2009. MOURA, João Gonçalo de, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Maranhão – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produti vos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes p rojetos federais no Nordeste. São Luís/MA, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/MA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. MOURA, João Gonçalo de, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Maranhão e Proposição de Políticas – Maranhão. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . São Luís/MA, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/MA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. PEGO FILHO, B; CÂNDIDO JÚNIOR, J. O; PEREIRA, F. Investimento e financiamento da infra-estrutura no Brasil. 1990/2002, IPEA (T 680). 1999.

Page 123: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

123

IMPACTOS DOS GRANDES PROGRAMAS FEDERAIS E REFLEXÕES PARA A

FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTAD O DO

PIAUÍ1

Francisco de Assis Veloso Filho / Coordenador Estadual

Cleber de Deus Pereira da Silva

Fernanda Rocha Veras e Silva

Francisco Prancacio Araújo de Carvalho2 3

1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DOS GPFS NO ESTADO

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi lançado em 2007 com o

objetivo de enfrentar os problemas que dificultam o crescimento econômico,

promovendo as infra-estruturas energética, logística e transportes, social e urbana.

Os investimentos do PAC no Piauí estão orçados em R$ 11,8 bilhões, 1,8% da

previsão de gasto total no país. Os investimentos previstos entre 2007 e 2010 são

de R$ 10,2 bilhões; após 2010, a previsão de gastos é da ordem de R$ 1,6 bilhão.

A previsão de empreendimentos exclusivos no Piauí é de R$ 3,5 bilhões.

Representa 52,7% dos empreendimentos de caráter regional e 34,5% do total de

empreendimentos previstos entre 2007 e 2010. Nos empreendimentos exclusivos,

os maiores gastos estão no eixo infraestrutura social e urbana.

A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) tem por objetivo central a

promoção do crescimento econômico e o alcance de metas relacionadas com

elevação do investimento fixo em relação ao produto, aumento do gasto do setor

privado com P&D, ampliação das exportações brasileiras no comércio internacional

e elevação do número de MPEs exportadoras.

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Piauí”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), instituição responsável pela execução do

projeto nessa unidade da federação. 3 Nessa etapa também fizeram parte da equipe de pesquisa os seguintes estudantes: Carla Dlijanne Fortes Silva Macêdo, Flávia Nayana Azevedo da Silva, Giovanna de Neiva Barriviera e Ismael do Nascimento Silva.

Page 124: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

124

Seus programas foram organizados em três níveis distintos: Ações Sistêmicas,

Programas Estruturantes e Destaques Estratégicos e os instrumentos principais

podem ser divididos em quatro categorias: instrumentos de incentivo, compras

governamentais, instrumentos de regulação e apoio técnico.

Como parte da PDP, a atuação do BNDES no estado abrangeu iniciativas

relacionadas com programas estruturantes e com destaques estratégicos, as quais

compreenderam desembolsos de, respectivamente, R$ 241,7 e R$ 1.633,8, nos

anos de 2008 e 2009. Os gastos com regionalização demonstram a importância da

descentralização da produção e do emprego através, sobretudo, de ações voltadas

para o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs). No Piauí, o

lançamento do edital para arranjos produtivos, no valor de R$ 5,0 milhões, com

recursos oriundos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza Rural (FECOP) e do

BNDES.

O Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) foi elaborado pelo

Ministério dos Transportes em parceria com o Ministério da Defesa, através do

Centro de Excelência em Engenharia de Transportes. O principal objetivo do PNLT é

planejar e organizar uma infra-estrutura básica de transporte com maior eficiência e

eficácia que coopere decisivamente para o desenvolvimento econômico do país

assegurando a equidade social.

De acordo com documento oficial do Ministério dos Transportes o PNLT é um

plano de caráter indicativo, de médio e longo prazo, associado ao processo de

desenvolvimento socioeconômico do País, em que 90% das obras previstas estão

contidas no PAC. Divididas em três etapas de execução (2008-2011, 2012-2015 e

pós 2015), as obras do PNLT buscam solucionar problemas de estrangulamento

logístico no pais, além de identificar e prevenir outros futuros gargalos.

No tocante ao estado do Piauí, são poucas as ações do PNLT. Suas obras

privilegiam, basicamente, a zona produtora de soja no cerrado piauiense no sentido

de melhorar o escoamento da produção local, uma vez que o sistema logístico do

estado é precário. Localizadas na região sul do estado, principalmente nas regiões

de divisa interestadual (Piauí-Maranhão e Piauí-Bahia) as ações são em grande

parte de construção, pavimentação e/ou adequação de estradas.

As Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) são áreas delimitadas

com o objetivo de instalação de empresas voltadas para a produção de bens com a

Page 125: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

125

finalidade de exportação. Essas empresas podem operar com redução e/ou isenção

de impostos e contribuições.

A primeira ZPE proposta pelo Estado do Piauí está projetada para o município

de Pavussu, vizinho do município de Elizeu Martins, tendo como fator crítico para

sua implantação a construção da Ferrovia Transnordestina, que permitirá a ligação

de parte do sertão nordestino, nos estados do Piauí, Maranhão e Bahia, área de

produção agropecuária e fronteira agrícola em expansão, aos dois mais importantes

portos da região Nordeste: Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco.

Aprovada a proposta de criação dessa ZPE, compromete-se o governo do

estado a constituir uma empresa administradora, conforme as diretrizes e prazos

estipulados na legislação específica. Essa empresa deverá ser uma sociedade

anônima, integradas por empresas-âncora que pretendam se instalar na área e

deverá se responsabilizar pela realização dos investimentos acima previstos para

implantação da primeira etapa do projeto.

Espera-se que essa zona de processamento atraia empresas interessadas na

industrialização e exportação de produtos dos complexos agroindustriais de grãos e

de biocombustíveis, resultantes da exploração agropecuária dos cerrados dos

estados do Piauí e do Maranhão, assim como das empresas de mineração que

realizam pesquisas geológicas ou que já se instalaram na área, atuantes, por

exemplo, na mineração de calcário, ferro, níquel e fosfato, algumas das principais

ocorrências minerais da região.

A Prefeitura Municipal de Parnaíba também apresentou proposta de criação de

uma zona de processamento nesse território, à qual destinou uma área de 270,2

hectares, com fácil acesso à infra-estrutura disponível no município.

Em termos de vantagens locacionais, o projeto enfatiza a disponibilidade de

infra-estrutura econômica: oferta adequada de energia do sistema hidrelétrico e a

implantação de usinas eólicas na área litorânea, a existência de um aeroporto com

capacidade de receber vôos internacionais e ligações rodoviárias com os portos de

Pecém e de Itaqui.

O projeto refere-se a estudos que identificam as potencialidades econômicas

da região: pecuária de leite, aqüicultura (carcinicultura, piscicultura) e pesca

artesanal, fruticultura irrigada, extrativismo vegetal (babaçu e carnaúba) e caprino-

ovinocultura. Destaca a tradicional indústria de fármacos, extraídos de vegetais

Page 126: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

126

dessa região: pilocarpina, pilosina, rutina, quercetina, rahmnose, crisarobina, l-dopa,

lapachol, resina e jalapa e óleo de rícinio.

Essa zona de processamento poderá atrair empresas interessadas na

industrialização e exportação desses produtos regionais, definindo um modelo de

ZPE voltada para negócios “verdes” ou sustentáveis.

O Programa Territórios da Cidadania (PTC) é parte da agenda social do

governo federal e compreende um conjunto de iniciativas com ênfase nas

transferências condicionadas de renda associadas às ações complementares; no

fortalecimento da cidadania e dos direitos humanos; na cultura e na segurança

pública e na infra-estrutura. Os objetivos específicos do programa são os seguintes:

a) inclusão produtiva das populações pobres dos territórios; b) busca da

universalização de programas básicos de cidadania; c) planejamento e integração

de políticas públicas; e d) ampliação da participação social.

Os recursos destinados ao programa estão previstos no PPA 2008-2011 e

alcançam o volume de R$ 11,3 bilhões, assim distribuídos, conforme os grupos de

ações: organização sustentável da produção, direitos e desenvolvimento social;

saneamento e acesso à água, educação e cultura, infraestrutura, apoio à gestão

territorial e ações fundiárias.

No estado do Piauí, a execução desse programa envolve dezesseis

ministérios, diversos órgãos estaduais e prefeituras e inúmeras associações. Para o

exercício de 2008, foram previstas 97 ações com o custo estimado em R$ 961, 8

milhões; para o ano de 2009, 111 ações, orçadas em R$ 1,4 bilhão.

2 ANÁLISE DOS IMPACTOS DO GPFS NA ECONOMIA ESTADUAL

O estado constitui um sistema periférico da economia nacional porque ficou à

parte dos principais processos de modernização econômica ocorridos em regiões

específicas do país, ao longo do século passado. Trata-se de uma economia que

gera um pequeno produto (0,5% do produto nacional) e, como resultado, oferece o

menor rendimento médio do país: sua renda per capita representa 32,2% do valor

médio nacional e 69,1% da média nordestina (dados de 2007).

Esta situação de subdesenvolvimento é configurada também com a aplicação

de um indicador mais completo de avaliação: o Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal (IDHM). Com o IDHM 0,656, o estado ocupava a 25ª posição no ranking

Page 127: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

127

das 27 unidades da federação, no ano 2000; nas dimensões específicas –

longevidade, educação e renda - os índices estaduais são, respectivamente, 0,653;

0,730 e 0,584. O IDHM do Brasil é de 0,766, enquanto os índices das dimensões

situam-se, respectivamente, em 0,727; 0,849; e 0,723. Todos os índices do estado

encontram-se abaixo das médias do país, mas a distância é maior na dimensão

renda. O estado oferece menores oportunidades para uma vida longa e saudável, de

acesso ao conhecimento e de opções de trabalho e obtenção de rendimentos.

Tendo como referência esse perfil, deve-se também destacar os aspectos

positivos e potencialidades do estado, aos talentos de sua gente, manifestados na

riqueza de sua história e de sua cultura, soma-se, por exemplo, a estrutura

educacional já implantada, principalmente na cidade de Teresina, em torno de um

núcleo constituído por uma universidade federal, um instituto tecnológico e uma

universidade estadual, abrangendo também bons colégios com elevado

desempenho nas avaliações nacionais desses estabelecimentos.

Acrescente-se à riqueza histórico-cultural e ao capital humano os recursos

ambientais dos variados ecossistemas que compõem o território estadual e que

podem ser utilizados de maneira sustentada e sustentável para o seu

desenvolvimento. O estado forma uma área de transição em termos climáticos e

vegetacionais, entre uma zona semi-árida e uma área de clima semi-úmido, ao longo

do vale do Parnaíba, onde se encontram dois biomas: a caatinga e os cerrados.

Situa-se preponderantemente sobre a bacia sedimentar do Piauí-Maranhão;

pequena porção ao norte e uma faixa na porção sudeste ocorrem sobre rochas

cristalinas. Há disponibilidade de terras agricultáveis, de recursos hídricos e de

ocorrências minerais a serem exploradas. As belezas da paisagem e a hospitalidade

de seu povo constituem atrativos para o turismo, a exemplo do eixo Jericoacoara –

Delta – Lençóis.

Nessa visão geral devem ser situados os grandes programas federais. O PAC

e a PNLT concentram seus esforços na dotação da infraestrutura logística (rodovias,

ferrovias, porto marítimo e aeroportos), energética (geração e transmissão de

energia, pesquisas exploratórias de petróleo e gás natural e levantamentos

geológicos e minerais) e ambiental e urbana (eletrificação rural, recursos hídricos,

bacias hidrográficas, saneamento e habitação).

Em termos relativos, o Piauí recebeu menos investimentos que os demais

estados da região Nordeste no ciclo de expansão dos anos de 1970 e 1980. Os

Page 128: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

128

investimentos desses programas procuram suprir essa defasagem e dotar o estado

da infraestrutura e dos serviços necessários ao seu desenvolvimento.

A PDP estabelecida pelo governo federal é importantíssima na promoção

dessas economias regionais. Lembrar que no cálculo do IDHM, as distâncias são

maiores na dimensão renda. Essa política abrange ações sistêmicas, programas

estruturantes e destaques estratégicos e utiliza-se dos instrumentos econômicos de

incentivos, compras governamentais, regulação e apoio técnico.

O governo estadual não conseguiu estabelecer a sua própria política produtiva

e não aproveitou adequadamente as oportunidades abertas pela política produtiva

nacional e atuou de maneira fragmentada junto a esse setor. Em decorrência, os

resultados alcançados ficaram abaixo das possibilidades abertas pela atuação

federal.

A falta de planejamento estratégico e a ausência de uma política econômica

suficientemente detalhada têm reflexos na discussão dos projetos de implantação de

ZPEs no estado. A política econômica do estado deve utilizar de maneira articulada

os diversos instrumentos de promoção econômica disponíveis, inclusive as

estruturas como ZPEs, submetidos ao crivo da análise econômica que traz

elementos para a tomada de decisões, tendo em vista a oportunidade e viabilidade

de aplicação desses instrumentos.

Quanto ao PTC, concentra-se na superação da pobreza e na geração de

trabalho e renda no meio rural, com atuação em três eixos: ação produtiva,

cidadania e infraestrutura. No Piauí, foram selecionados seis territórios de atuação,

segundo o zoneamento estabelecido no planejamento regional: Cocais, Entre Rios,

Carnaubais, Vale do Canindé, Vale do Guaribas e Serra da Capivara. Envolveu a

atuação de dezesseis ministérios, em articulação com o governo estadual,

prefeituras municipais e associações locais. No triênio 2007-2009, foram executadas

ações que significaram a aplicação de R$ 1,96 bilhão, valor correspondente a 36,3%

dos recursos aplicados no Nordeste.

Em conclusão, os grandes programas federais estudados tiveram impactos

positivos na economia piauiense: realizaram investimentos com avanços na

implantação da infraestrutura econômica e social necessária, implementaram

medidas de promoção econômica no sentido do aumento da produção, da elevação

da produtividade e da diversificação da economia estadual (onde se destaca o apoio

aos arranjos produtivos), as quais resultaram na criação de oportunidades de

Page 129: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

129

trabalho e geração de renda. Além desses resultados, executaram ações específicas

de inclusão social e combate a pobreza. Cabe ao estado e aos municípios dessa

unidade da federação iniciativas no sentido do desenvolvimento humano e da

sustentabilidade, assumindo suas responsabilidades e aproveitando as

oportunidades abertas pelo governo central e suas agências.

3 REFLEXÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

Planejamento da infraestrutura econômica e social

Os programas federais analisados abrangem os temas mais relevantes para o

desenvolvimento regional, temas que devem constar do planejamento estratégico do

estado. Algumas dessas iniciativas extrapolam os limites territoriais e os interesses

diretos da sociedade piauiense, estão relacionadas com alternativas técnicas e

políticas de abrangência regional ou nacional.

Condições ambientais específicas, aspectos históricos e situações regionais

colocam o estado frente a um conjunto de projetos de infraestrutura econômica

interligados. Há casos de profunda interdependência entre as iniciativas, e outros,

em que os projetos podem ser excludentes entre si, isto é, a escolha de uma opção

torna inviável a outra opção.

Do ponto de vista estadual, o rio Parnaíba constitui o núcleo dessa discussão.

Em torno dele há os seguintes empreendimentos de infraestrutura:

a) restauração da navegabilidade do rio Parnaíba, com obras e serviços de

recuperação e manutenção do canal e da hidrovia;

b) conclusão das eclusas da represa de Boa Esperança (recuperação das

obras civis e implantação da parte mecânica);

c) conclusão do porto marítimo de Luís Correia, na foz do rio Igarassu, no delta

do Parnaíba;

d) recuperação do ramal ferroviário Altos/Parnaíba/Luís Correia, interligando a

ferrovia São Luís/Teresina/Fortaleza, com o porto acima indicado;

e) construção de cinco novas represas no rio Parnaíba, para fins de geração de

energia hidrelétrica.

Ao lado desses projetos, corre a implantação da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia

Transnordestina, que interligarão as regiões produtoras de grãos nos cerrados do

Page 130: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

130

sul do Maranhão e do sudoeste do Piauí a dois grandes portos marítimos: Itaqui

(MA) e Suape (PE). Há ligações também com as propostas de implantação de um

pólo agroindustrial e/ou de um “porto seco” em Teresina e com o projeto da ZPE de

Parnaíba.

A esse núcleo básico, acrescente-se a implantação de um pólo agroindustrial

e/ou “porto seco” em Teresina, para fins de beneficiamento da soja produzida nos

cerrados drenados pelo alto curso do rio e seus afluentes, como forma de viabilizar a

hidrovia e o porto, do ponto de vista do volume de cargas; assim como a reativação

do ramal ferroviário Altos/Luís Correia e a ZPE de Parnaíba.

Tendo em vista a construção da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia

Transnordestina, cabe discutir a viabilidade da restauração da hidrovia do Parnaíba

e desses empreendimentos diretamente vinculados: implantação de um pólo

agroindustrial em Teresina, a conclusão do porto marítimo em Luís Correia e a

recuperação do terminal ferroviário Altos/Luís Correia. Esses dois empreendimentos

de interesse nacional atendem justamente as áreas agrícolas dos cerrados do Piauí

e do Maranhão que poderiam escoar sua produção pela hidrovia do Parnaíba.

A discussão do porto ganhou uma certa autonomia com relação à hidrovia do

Parnaíba, apesar de ter sido inicialmente projetado para funcionar em articulação

com essa via de transporte. As obras do porto tiveram início em 1976 e foram

paralisadas cerca de dez anos depois, tendo sido implantada parte de sua

infraestrutura (abrigo, parte de um dos cais e acessos).

As obras foram retomadas recentemente, na perspectiva de conclusão de um

dos cais e da operacionalização de um terminal de granéis líquidos para o

abastecimento da região norte do estado com derivados de petróleo. Nesse

contexto, projetou-se também a recuperação do ramal ferroviário Altos/Luís Correia,

permitindo a ligação dessa estrutura com a ferrovia São Luís/Teresina/Fortaleza.

Adicionalmente a essas controvérsias, estudos do setor elétrico recomendam a

implantação de cinco novas hidrelétricas no curso do rio Parnaíba para aumentar a

capacidade do sistema CHESF, tendo em vista projeções de ampliação da demanda

nesse setor. A implantação de mais cinco barragens no rio, adicionalmente àquela já

existente e cujas comportas nunca foram concluídas, poderia inviabilizar o uso do rio

como hidrovia, tendo em vista a elevação dos custos e do tempo dos

deslocamentos?

Page 131: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

131

Não há posicionamentos explícitos sobre as alternativas que relacionam esses

empreendimentos. O PPA 2008-2011 e o PAC avançam no sentido da hidrovia e

das hidrelétricas. A PNLT concentra-se na opção desse setor: a hidrovia. O governo

do estado apenas acompanha o governo federal, na lógica imediatista de que

qualquer investimento é aceito e bem-vindo.

Além dessas obras estruturantes, os GPFs abrangem intervenções em

segmentos nos quais, segundo o pacto federativo, é maior a competência das

unidades da federação. É importante aproveitar essa fase de crescimento

econômico e de expansão do gastos do governo federal, mas as políticas nessas

áreas não devem ser desenhadas tendo em vista apenas aspectos conjunturais.

O setor de saneamento constitui uma prioridade, talvez até mesmo uma

emergência. O modelo centralizado do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA),

com base em Companhias Estaduais de Saneamento Básico (CESB), entrou em

colapso ainda nos anos de 1980, com a crise econômica então enfrentada pelo país,

inclusive com a extinção do órgão central do sistema: o Banco Nacional da

Habitação (BNH). A falta de políticas e de recursos para financiamento do setor

resultou na perda da capacidade de coordenação da maioria dos estados, em

dificuldades para a gestão das companhias estaduais e na queda da qualidade dos

serviços.

Um novo marco regulatório foi estabelecido somente vinte anos depois, com a

Lei n° 11.445, de 05/01/2007, que estabeleceu diret rizes nacionais para o

saneamento básico. No momento, encontra-se em fase de transição, na qual uma

das principais questões é o tema da concessão desses serviços pelos municípios,

entes federados dotados dessa atribuição no novo modelo. A questão do

financiamento do setor tem sido encaminhada com a participação da CEF e com

programas de investimentos do governo federal, a exemplo do PAC.

O principal órgão do saneamento ambiental no Estado do Piauí é a sua

companhia estadual de saneamento básico: AGESPISA. Grande parte das

dificuldades enfrentadas por essa empresa tem suas causas na falência do modelo

do setor. A AGESPISA opera serviços de abastecimento de água em 144 dos 222

municípios do Piauí. Há sistemas públicos de esgotamento sanitário em apenas

quatro das cidades do estado, também gerenciados pela AGESPISA.

Nos demais municípios funcionam sistemas autônomos, administrados pela

prefeitura municipal, com a assistência da FUNASA. Como desdobramento do novo

Page 132: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

132

marco regulatório, criou-se uma companhia regional de saneamento mediante

consórcio de municípios do sul do estado: a CORESA Sul do Piauí.

A situação dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário

no Estado do Piauí apresenta-se bastante mais grave do que na média nacional,

sendo que os indicadores atuais de cobertura são ainda inferiores àqueles

verificados na Região Nordeste. Nas áreas urbanas do estado, 76,0% dos domicílios

estão conectados às redes de abastecimento de água, e apenas 4,0% estão ligados

à rede coletora de esgotos. Quando consideradas as fossas sépticas, o percentual

de atendimento em esgotamento sanitário sobe para 69,0%. Deve-se, entretanto,

destacar que 336 mil domicílios urbanos do Estado (19,0%) não dispõem sequer de

um banheiro ou sanitário (dados da PNAD, 2001).

São altos os custos para implantação e operação de sistemas de

abastecimento de água e de esgotamentos sanitário. No Piauí, as sedes municipais

estão dotadas de alguma estrutura de abastecimento de água; contudo, a maioria

desses sistemas tem abrangência limitada e seu funcionamento é intermitente. A

cobertura de esgotos sanitários é pequena e cabem discussões de alternativas

tecnológicas, como unidades sanitárias e sistemas isolados, tendo em vista

aspectos de financiamento e de gestão ambiental.

A discussão de modelos organizacionais aberta pela novo marco é

fundamental. Parece ultrapassado o modelo centralizado em uma companhia

estadual, inclusive pelas dificuldades de operação de diversos pequenos sistemas

municipais. Há indicações de maior viabilidade para de um modelo que considere

companhias regionais, mediante consórcio de municípios, e sistemas autônomos

municipais, com assistência técnica e financeira dos governos federal e estadual.

As áreas de drenagem pluvial e de limpeza de resíduos sólidos urbanos cabe

também aos municípios. União e estados devem se articular para atuar

prioritariamente em casos que extrapolem as competências e recursos locais. Por

exemplo, o controle das enchentes do rio Poti na área urbana de Teresina

dependem da construção de uma barragem no curso desse rio, no município de

Castelo do Piauí.

Os governos municipais devem ser apoiados e fiscalizados no exercício do seu

papel. Atenção especial nos serviços de coleta e disposição adequada do lixo

urbano, o que envolve inovações como seleção de materiais nos domicílios, coleta

Page 133: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

133

seletiva reaproveitamento/reciclagem de materiais, bem como grandes

investimentos na implantação e operação de aterros sanitários.

A preocupação com iniciativas locais também deve constar da política

habitacional. São importantes as políticas, os programas e os investimentos do

governo federal e de suas agências, como a CEF. Mas o estado deve reconhecer,

valorizar e difundir experiências locais bem sucedidas. O município de Teresina, por

exemplo, detém larga experiência no setor de habitação popular, abrangendo

medidas de regularização fundiária, urbanização de áreas de baixa renda e

melhorias habitacionais/sanitárias.

Na área de transportes e trânsito, deve-se atentar para as mudanças em curso

na sociedade, em especial os desdobramentos da urbanização no estado. Os

programas de investimentos em rodovias sempre deram destaque às necessidades

de escoamento da produção. Deve-se atentar para a ampliação dos deslocamentos

de pessoas em busca de serviços (comércio, educação, saúde) e para fins de

trabalho, entres as sedes de municípios e das zonas rurais para as áreas urbanas

de um mesmo município.

Esse aumento de fluxos e de volumes de pessoas em deslocamentos coloca

novos problemas e redefine prioridades, como os temas de educação para o

trânsito, controle de trânsito e prevenção de acidentes. Cabem amplas campanhas

de sinalização de cidades e rodovias, habilitação de motoristas/motociclistas e

fiscalização dos meios de transporte nos principais municípios do estado.

Política de Promoção Econômica

Como o sucesso da PDP depende de mobilização do setor produtivo, é

importante que após a implementação desse conjunto inicial de medidas sejam

criados mecanismos capazes de promover uma maior articulação com os estados.

Também se faz necessário desenvolver mecanismos eficientes para

acompanhamento dos impactos locais dos programas desenvolvidos no âmbito

dessa política.

O alcance das macrometas depende da resposta do empresariado aos

objetivos e programas definidos, mas, no caso do Piauí, não foi possível perceber

nenhum tipo de interlocução com o setor privado no que se refere à

operacionalização da PDP.

Page 134: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

134

Outras questões pontuais, observadas na elaboração desse trabalho e

levantadas pelos empresários piauienses no Fórum Piauí 2020, são imprescindíveis

para o alcance dos objetivos pretendidos na PDP, entre as quais pode-se destacar:

(i) regulamentação do projeto que trata das compras governamentais; (ii) ampliação

da regulamentação da lei geral para um maior número de municípios; (iii)

implementação de políticas públicas voltadas para o aprimoramento técnico e

científico, como programas de capacitação empresarial e de recursos humanos,

certificação e metrologia; (iv) intensificação de programas destinados à ampliação

das exportações das MPEs dado que, em geral, a busca por mercados externos

exige inovação ao mesmo tempo em que mobiliza fundos públicos e incentivos.

A instalação de ZPES no Piauí

A proposta de projetos de implantação de ZPEs é relevante e oportuna para o

Piauí. Do ponto de vista da formulação de políticas, retoma debates sobre o

fortalecimento da indústria e a relevância desse setor para o crescimento

econômico, tendo em vista seus efeitos sobre a economia regional: agregação de

valor a produtos agrícolas e minerais, criação de oportunidades de trabalho e

demanda por serviços especializados, possibilidades de articulação com arranjos

produtivos em que predominam micro e pequenas empresas, constituição de novas

áreas de produção no território estadual e diversificação da economia.

O estado nunca definiu e implementou com firmeza uma “política industrial”. O

tema consta dos planos estaduais e há uma lei de incentivos, com alguns resultados

positivos na atração de investimentos para o setor. Houve tentativas de instalação

de distritos industriais nas principais cidades do estado, mas apenas três foram

implantados, ainda que de forma parcial, nos municípios de Teresina, Parnaíba e

Picos.

O município de Teresina conta com núcleos de produção para microempresas

e está implantando com sucesso o “Pólo Industrial Sul”. Desde os anos de 1980,

publicações oficiais indicam a proposta de um “pólo agroindustrial” nessa cidade,

que de fato já existe (indústrias de beneficiamento de grãos, massas e outros

produtos agropecuários), mas não como resultado de um projeto específico.

Ao final daquela década (1980) surge a proposta das zonas de processamento

de exportações e, no início dos anos 1990, a proposta de implantação de estações

Page 135: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

135

aduaneiras de interior (“portos secos”), como instrumentos de promoção regional

nos estados do Nordeste. Essas propostas guardam semelhanças, porque são

focadas na promoção das exportações de produtos manufaturados.

Há dois projetos de implantação de ZPEs no Piauí, um de iniciativa do governo

estadual – a ZPE do Nordeste (Pavussu/Elizeu Martins) – e outro da Prefeitura

Municipal de Parnaíba – a ZPE de Parnaíba. A proposta de criação de um “porto

seco” em Teresina foi atualizada para a forma de “Centro Logístico, Industrial e

Aduaneiro” (CLIA), conforme regulamentação mais recente.

Como se procurou demonstrar, há, no Piauí, iniciativas em torno das duas

propostas, mas até o momento não foi possível mobilizar empresas que reunissem

as capacitações e os recursos necessários à implantação e operacionalização

dessas estruturas, apesar dos avanços já realizados.

A indiscutível a importância da implantação de estruturas

industriais/exportadoras, como ZPEs e CLIAs, para a promoção do desenvolvimento

regional. Contudo, cabe avaliar a adequação desses instrumentos de promoção

econômica aos sistemas econômicos nos quais se pretende intervir. Os métodos e

as técnicas da área de planejamento econômico (“análise de projetos”,

“planejamento estratégico”, etc.) podem trazer elementos para tomada de decisões e

negociações em torno desses empreendimentos.

Essa análise econômica pode contribuir na formulação da política econômica

do estado, em especial numa “política industrial”, com indicações sobre a viabilidade

a articulação entre os diversos instrumentos, tendo em vista as condições atuais e

as perspectivas da economia piauiense, no contexto da região Nordeste e dos

interesses mais amplos do país.

A política econômica do estado deve compor e articular os instrumentos

disponíveis a partir de decisões políticas submetidas a uma análise econômica

criteriosa. A experiência do PLANAP é exemplar; na elaboração desse plano

procurou-se agregar conhecimento da realidade, com participação da sociedade e

articulação entre os níveis de governo. O programa florestal que constitui o núcleo

da estratégia de crescimento econômico da bacia foi elaborada e avaliado em

termos de sua viabilidade econômica.

Assim, a “política industrial” do estado, parte de uma estratégia mais geral de

desenvolvimento econômico, deve considerar análises das condições atuais e das

perspectivas da economia piauiense e articular os instrumentos disponíveis –

Page 136: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

136

inclusive ZPEs - , tendo em vista sua viabilidade econômica (e sustentabilidade

ambiental). Especificamente quanto às ZPEs, deve-se avaliar se o estado reúne as

condições locacionais e a dotação de infraestrutura econômica básicas para esse

tipo de empreendimento, frente às condições já disponíveis em outros estados da

região (áreas industriais, portos marítimos, aeroportos internacionais, ferrovias,

rodovias, abastecimento adequado de energia elétrica, etc.)

Territórios e Cidadania

O impacto das ações do PTC no conjunto da economia e no desenvolvimento

da cidadania no estado do Piauí é diferenciado entre os seis territórios constituídos.

A distribuição de recursos obedece a critérios que tentam contemplar a

heterogeneidade demográfica, social, política e econômica dos municípios

beneficiados e encontra seus limites precisamente no baixo grau de integração das

ações executadas ao longo dos anos de 2007, 2008 e 2009. A fragmentação

excessiva das ações se constitui num empecilho para promover mudanças na infra-

estrutura e implantação de uma lógica participativa mais direta nas decisões de

interesse publico das cidades pertencentes aos territórios da cidadania.

A explicação para esse fenômeno pode ser encontrada em três variáveis que

influenciam diretamente qualquer projeto de desenvolvimento social, político e

econômico: a) a inexistência de uma burocracia moderna nas prefeituras capaz de

executar e avaliar as ações previstas nos vários programas durante sua vigência; b)

a incipiência organizacional dos conselhos gestores, comitês executivos e

associações fundadas para implementar as ações nas respectivas cidades dos

territórios contemplados; c) o grau de participação da sociedade civil no processo de

elaboração das propostas fomentadas e custeadas pelo governo federal, estadual e

municipal.

A inexistência de um aparato burocrático eficiente nas cidades (prefeituras)

desses territórios se constitui num enorme entrave para quaisquer atividades que

visem mudar determinadas condições sociais, políticas e econômicas. A

dependência estrutural (de recursos federais) das prefeituras desses municípios e

seus elevados graus de pobreza e subdesenvolvimento não tornam possível um

investimento na capacitação de funcionários e gestores objetivando superar as

Page 137: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

137

condições impeditivas que eventualmente agilizariam a execução de políticas

públicas no plano municipal.

A grande questão nesse ponto é a seguinte: teriam essas prefeituras condições

reais de coordenarem e executarem políticas públicas diante de mecanismos tão

limitadores e condições subótimas de atuação do aparato burocrático municipal?

Pelos resultados das ações executadas nota-se claramente que essa variável

explicativa é fundamental e deve ser considerada na explicação dos êxitos e limites

de políticas públicas voltadas para reduzir os níveis de desigualdades entre as

regiões, estados e municípios.

A incipiência organizacional dos conselhos gestores, associações e comitês

executivos estaduais pode ser apontada como outra variável limitadora do sucesso

de programas federais que objetivem fortalecer ou incentivar políticas públicas de

desenvolvimento regional na área da cidadania. Em regra, a formação desses

órgãos de deliberação é uma exigência legal para os municípios receberem recursos

e serem contemplados por quase todos os tipos de programas e políticas públicas

concebidos pelo governo federal.

Um dos entraves fundamentais nesse quesito diz respeito à baixa qualificação

técnica dos membros que compõem esses órgãos. Tendo em vista que a

composição desses conselhos é constituída pelos representantes dos órgãos

executores (ministérios, prefeituras, órgãos estaduais, etc.), isso já impõe limites à

ação dos membros da chamada sociedade civil. A centralização, no processo de

formulação e planejamento, e a composição majoritária dos representantes das

agências oficiais, introduzem um viés que em tese pode produzir resultados

antagônicos aos inicialmente concebidos. Se a idéia é envolver um maior número de

associações, conselhos, órgãos e redes sociais, necessariamente essa variável

deve ser considerada.

A terceira variável, grau de participação da sociedade civil, é outro indicador

importante para se avaliar o desenvolvimento da cidadania nas cidades que fazem

parte dos diversos territórios da cidadania. Essa variável relaciona-se diretamente

com a anterior. O grau ou nível de associativismo dos municípios prediz que a

existência de um leque de associações traz consigo a possibilidade da sociedade

civil e de outras instituições concorrentes exercerem um controle democrático mais

efetivo e de influenciarem na tomada de decisões políticas. Desta maneira, supõe-se

Page 138: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

138

onde for maior a vida comunitária, mais progressista e competitiva é a disputa

política

No entanto, não há uma tradição de participação na maioria esmagadora das

cidades brasileiras. Mesmo havendo um investimento para se capacitar as pessoas

numa gama variada de atividades, as realidades sociais, políticas e econômicas dos

municípios contemplados com recursos do programa território da cidadania são

bastantes adversas ao envolvimento dos cidadãos nas escolhas e decisões que

afetem os interesses dessas mesmas comunidades. No geral, como ocorre nas

experiências dos orçamentos populares, as associações são chamadas a elegerem

as prioridades de um determinado território. Todavia, como os recursos são

liberados pelo poder executivo, essa participação se restringe ao momento inicial da

formulação. Nas etapas de execução e fiscalização o controle fica bastante limitado.

No contexto das regiões brasileiras essa tradição associativa é ainda mais

escassa. A grande questão é mensurar como os grandes programas federais podem

alterar essa realidade. Somente a continuidade de tais projetos poderá de fato

alterar essa lógica de pouco envolvimento nas discussões dos temas, problemas e

soluções que digam respeito à elaboração de políticas públicas transformadoras de

práticas verticalizadas de relações entre estado e sociedade civil.

Uma das questões levantadas no Comitê de Articulação Estadual do PTC é a

grande fragmentação das ações nas cidades contempladas pelas ações dos

territórios da cidadania. A excessiva descentralização das ações entre as várias

cidades dificulta enormemente a coordenação de um plano estratégico onde se

possa avaliar gradualmente os reais impactos das medidas tomadas nas ações.

Outra questão salientada é o desinteresse da maioria dos membros de

comitês, associações e órgãos envolvidos no programa território da cidadania em

participarem das atividades de avaliação dos resultados das ações. No geral, a

participação fica limitada aos dirigentes que coordenam aquelas ações e organizam

as atividades de execução das metas estipuladas pelos ministérios.

Não obstante, a estratégia do PTC é inovadora. Sendo um projeto que se

encontra em execução e com duração apenas de três anos, a meta de integrar e

articular inúmeras ações em diversos estados do país objetivando superar condições

extremamente desfavoráveis é altamente positiva. Nesse caso, o desencadeamento

de uma iniciativa que vislumbre alterar padrões de comportamento na relação entre

estado e sociedade civil, planta um germe que poderá render grandes benefícios se

Page 139: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

139

houver uma continuidade dos objetivos propostos num programa dessa natureza.

Ou seja, os grandes programas federais somente produzirão efeitos permanentes

quando se constituírem em políticas de estado e forem permanentemente

aperfeiçoadas mediante avaliação de todas as instituições, agências, órgãos e

associações do estado e sociedade civil. Assim, as bases para prováveis mudanças

estruturais podem estar sendo edificadas.

A proposição de políticas públicas e sociais para área de cidadania deve levar

em consideração os limites detectados e as variáveis que mais diretamente podem

interferir no êxito dos objetivos previstos quando da formulação dos grandes projetos

federais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto de pesquisa abrangeu duas etapas, uma primeira voltada para a

identificação de arranjos produtivos e das políticas para arranjos e uma segunda

etapa para estudo dos impactos de grandes programas federais em unidades da

federação selecionadas. Os levantamentos, análises e indicações da primeira etapa

do projeto devem ser consideradas como um quadro geral para a segunda etapa

dos estudos.

Como um dos resultados da primeira etapa, chegou-se à indicação de que

existe no estado um quadro geral favorável à formulação de políticas e ao

planejamento governamental: a existência de planos elaborados de forma

participativa e descentralizada, com estratégias de crescimento econômico

claramente definidas, onde figuram de maneira destacada os arranjos produtivos.

Ainda nesse quadro geral, cabe destacar as articulações existentes entre

organizações do governo federal, do governo estadual e do terceiro setor, como

ficou demonstrado nos levantamentos realizados.

O PPA 2008-2011 é o instrumento que consolida as orientações para a

atuação do governo estadual nesse período. Suas diretrizes consideram quatro

dimensões (social, econômica, ambiental e institucional) e dez eixos de ação

(SEPLAN-PI, 200?c). Foi elaborado de forma participativa, tendo como suporte a

divisão do Estado em macrorregiões, territórios de desenvolvimento e aglomerações

de municípios, metodologia já empregada na elaboração do PPA 2004-2007 e do

PLANAP.

Page 140: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

140

A estratégia proposta pelo governo estadual busca um processo de

desenvolvimento que articule as quatro dimensões citadas no sentido do

crescimento econômico com inclusão social e uso sustentável dos recursos

ambientais. A estratégia de crescimento econômico diversificado abrange a

introdução de inovações e a elevação da produtividade da agricultura familiar, a

promoção de um modelo agroindustrial articulando empresas-âncora com

agricultores familiares e médios produtores rurais, com efeitos dinâmicos sobre o

consumo e benefícios para os setores de comércio e de serviços.

No núcleo dessa estratégia, o Programa de Produção de Bioenergia do Piauí

(SEPLAN-PI, 200?a) prevê a inclusão do Estado na produção de energias

renováveis e ambientalmente sustentáveis, com base no cultivo de produtos

agrícolas como cana-de-açúcar, mamona, pinhão-manso, soja eucalipto e outras

espécies florestais, matérias-primas para a produção de etanol e do biodiesel e

fontes de biomassa. Espera-se a participação de grandes empresas do ramo e a

formação de clusters, nos moldes do programa florestal previsto no PLANAP.

Foram apontadas também limitações na organização e na atuação do setor

público do Estado, as quais reduzem a capacidade de formulação e de

implementação de políticas e os seus efeitos na promoção das atividades

econômicas e dos arranjos produtivos. São elas: i) inexistência de um plano de

desenvolvimento e insuficiência dos debates e do detalhamento da estratégia de

crescimento econômico proposta; ii) fragilidade institucional e defasagens no quadro

de recursos humanos da área de promoção econômica; iii) dificuldade de articulação

intra-governamental e iv) ausência de sistemas operacionais de acompanhamento e

de avaliação.

No contexto dessa estratégia de desenvolvimento e das limitações acima

apontadas devem ser situados os grandes programas federais em execução no

estado. Considera-se fundamental a ampliação da infra-estrutura de suporte ao

desenvolvimento (logística, energia elétrica e recursos hídricos), de investimentos

em ferrovias, produção e distribuição de energia elétrica, habitação, saneamento,

turismo e irrigação, nos termos programados pelo PAC e pela PNLT.

Pode-se constatar a existência de uma articulação mais ampla entre as

estratégias estaduais e as ações do governo federal articuladas pela PDP: o Piauí

também busca alcançar o crescimento econômico, através do desenvolvimento de

Page 141: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

141

setores estratégicos, com educação de qualidade e uma agenda social pautada

sobretudo em programas de transferência de renda.

Essa articulação é vista pela análise dos principais instrumentos da PDP: a)

instrumentos de incentivo: crédito e financiamento, capital de risco e incentivos

fiscais; b) poder de compra governamental: compras da administração direta e de

empresas estatais; instrumentos de regulação técnica, sanitária, econômica,

concorrencial; c) apoio técnico: certificação e metrologia, promoção comercial,

gestão da propriedade intelectual, capacitação empresarial e de recursos humanos;

e d) coordenação intragovernamental e articulação com o setor privado.

O PTC procura combinar estratégia territorial, articulação de relações

federativas, integração de políticas públicas e participação social no sentido do

promoção do desenvolvimento local/regional. Os objetivos específicos do programa

são: a) inclusão produtiva das populações pobres dos territórios; b) busca da

universalização de programas básicos de cidadania; c) planejamento e integração

de políticas públicas; e d) ampliação da participação social.

O enfrentamento das limitações acima apontadas poderia tornar mais efetiva

as políticas e os programas de desenvolvimento econômico implementados no

estado.

Reafirma-se a relevância do planejamento estratégico para a promoção do

desenvolvimento do Piauí, considerando a visão geral desse território do ponto de

vista do país e do Nordeste, assim como as perspectivas de próprio estado e as

opções da sociedade piauiense quanto às prioridades e investimentos relevantes. A

articulação com a sociedade civil organizada, inclusive representações do setor

empresarial, é indispensável.

Reafirma-se também a relevância da definição de uma política econômica

estadual, que considere o fortalecimento institucional dos órgãos do setor: SEPLAN,

GGE APL e SEDET; a elaboração de estudos técnicos e análises de viabilidade

econômica de programas e projetos e a importância da abordagem de arranjos,

tanto na etapa de análise econômica como instrumento de política.

REFERÊNCIA

VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Piauí – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produti vos locais no Norte,

Page 142: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

142

Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes p rojetos federais no Nordeste. Teresina/PI, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Piauí e Proposição de Políticas – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Teresina/PI, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

Page 143: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

143

OS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA PARAIBANA E A

NECESSIDADE DE UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO 1

Paulo Fernando de M. B. Cavalcanti Filho / Coordenador Estadual2

Avaní Terezinha Gonçalves Torres3

Márcia de Lima Pereira4

Tabira de Souza Andrade5

Águida Cristina Santos Almeida6

1. Introdução

O mais brilhante dos economistas brasileiros afirmou que o objetivo das

sociedades periféricas, de buscar alcançar o desenvolvimento, seria um mito, pois

pressupunha duas premissas falsas: que o subdesenvolvimento seria um estágio anterior

e inferior da evolução sócio-econômica das nações e, em segundo lugar, que seria

possível a todas as nações alcançarem e permanecerem, em conjunto, no estágio

posterior e superior de “desenvolvidas” (FURTADO, 1961). A primeira premissa falseia os

mecanismos endógenos da forma de organização das economias capitalistas, a qual,

para que possa promover a acumulação, gera e pressupõe a desigualdade. A segunda

falseia o fato dos recursos naturais do planeta serem finitos, tornando uma

impossibilidade fática a replicação e generalização global do padrão de produção e

consumo das sociedades “desenvolvidas”.

Desta forma, avaliar os impactos e a adequação do modelo de promoção do

desenvolvimento colocado em prática pelo Governo Federal na Região Nordeste, através

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Paraíba”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB ([email protected]), coordenador do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE e pesquisador associado da REDESIST/IE-UFRJ. 3 Professora Assistente da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 4 Professora Assistente da Unidade Acadêmica de Economia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 5 Professora Assistente do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal da Paraíba – UFPB e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 6 Professora Assistente da Unidade Acadêmica de Economia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]).

Page 144: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

144

da estratégia de implantação de Grandes Projetos Federais (GPF), exige reconhecer os

limites de qualquer modelo/estratégia. Alterar a estrutura social através de

transformações na estrutura produtiva paraibana (e brasileira) implica enfrentar,

politicamente, os grupos de interesse econômico, a hierarquia de poder local e suas

ligações regionais/nacionais/internacionais.

Reconhecidos estes contornos, o desafio a ser enfrentado pela sociedade

paraibana pode ser sumarizado em duas metas: crescer sua renda per capita em ritmo

superior à média nacional e eliminar a pobreza e o analfabetismo neste mesmo período.

Para tal epopéia se faz necessário superar um conjunto de 12 gargalos internos, que

estrangulam o potencial da economia estadual, agravam ameaças externas e

bloqueiam/atenuam as oportunidades: 1) precária qualidade na formação educacional; 2)

inadequado perfil da qualificação profissional; 3) inadequado perfil da pesquisa científico-

tecnológica; 4) insuficiente grau de integração do sistema de inovação local; 5) defasado

padrão de especialização produtiva e tecnológica local; 6) precariedade e inadequação

do perfil da infraestrutura física; 7) reduzida disponibilidade de financiamento para o setor

privado local; 8) reduzida capacidade fiscal e financeira dos governos estadual e

municipais; 9) reduzida eficiência/eficácia/efetividade da gestão pública; 10)

envelhecimento da infraestrutura institucional; 11) adversas condições políticas; 12)

adversas condições naturais.

A sociedade paraibana demonstra crescente insatisfação com o crônico e

prolongado processo de relativa estagnação econômica e social que caracteriza a sua

trajetória histórica no último meio século. A Paraíba parece ter vivenciado uma

experiência única que reuniu condicionantes externos (regionais, nacionais e mundiais) e

internos, associados a características de isolamento político, econômico e social, que

tornaram o estado um ator meramente passivo frente aos fortes movimentos associados

à globalização das economias, bem como, quanto aos processos transformadores da

nascente Sociedade do Conhecimento.

Analisando-se a estrutura produtiva, verifica-se que indústria paraibana é

especializada em Arranjos Produtivos com perfil de baixo conteúdo tecnológico, focados

em produtos tradicionais (alimentos, minerais não-metálicos, bebidas, calçados, têxtil), os

quais, predominam nas relações comerciais com o resto do país. A indústria de

transformação representava, em 2006, apenas 10% do valor adicionado e cerca de

22,2% do PIB estadual, mas alcançava 53,7% das transações interestaduais e 92% das

exportações paraibanas. A sua agropecuária não possui grande expressão no comércio

Page 145: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

145

interestadual, pois apresenta reduzido peso no valor das vendas paraibanas, a exemplo

dos APLs de avicultura, fruticultura e bovinocultura, incluindo leite e derivados. De outro

lado, os negócios envolvendo “serviços” representam cerca de 80% das fontes de

receitas do Governo estadual, mas sua ênfase não está nos arranjos mais dinâmicos e

sofisticados tecnologicamente, e sim no comércio varejista e atacadista, entre outros.

No aspecto espacial, há um crescente deslocamento do PIB estadual em direção

ao litoral do estado, em um processo de concentração territorial de população e renda

que trás em seu bojo os riscos e externalidades negativas já experimentados por outras

capitais nordestinas: violência, favelização da periferia, desestruturação familiar, etc.. No

interior do estado, por outro lado, formam-se “vazios”: demográficos, econômicos e de

Políticas Públicas.

Ainda na dimensão territorial, a Paraíba já apresentava, historicamente, uma forte

dependência econômica de Pernambuco, uma vez que este é o principal destino das

vendas paraibanas e, também, a principal origem de suas compras. O recente e intenso

processo de transformação da estrutura produtiva pernambucana, com forte ampliação

da indústria na composição do PIB, a partir dos volumosos investimentos recebidos por

aquele estado, tenderão a intensificar a escala e o escopo desta integração produtiva,

comercial e cultural. Desta forma, ao oferecer amplas oportunidades de emprego,

Pernambuco poderá vir a “drenar” parte significativa dos recursos humanos qualificados

no estado da Paraíba, bem como, devido a sua mais sofisticada e ampla oferta de

serviços a capital pernambucana poderá vir a se beneficiar significativamente da obra de

duplicação da BR – 101, que liga as duas capitais mais próximas do país.

Este contexto, finalmente, se defronta com fatores macrodinâmicos que tornam

inevitável o seu rompimento e, portanto, a mudança das condições estruturais da

economia paraibana, configurando o alicerce para um novo padrão de desenvolvimento.

Entre estes fatores, destacam-se:

a. A ascensão da nova Sociedade do Conhecimento e a consolidação do processo de

Globalização produtiva, financeira, tecnológica e cultural, tornam a produção de

conhecimento pervasiva a toda sociedade;

b. Ressurgimento de Políticas e Ações de foco, ou com impacto, Regional, tais como

os programas Territórios da Cidadania, Programa de Aceleração do Crescimento, Plano

Nacional de Logística e Transporte, Expansão e Interiorização das IFES;

c. Novas orientações no âmbito de agências e instituições promotoras do

Page 146: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

146

desenvolvimento, em especial aquelas provenientes dos bancos de desenvolvimento

nacional e regional;

d. Desenvolvimento relativo/absoluto dos estados vizinhos da Região, que possuem

estreitas relações comerciais, produtivas, científicas, sociais e culturais com a Paraíba, a

exemplo de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará;

Neste novo contexto, as forças político-sociais comprometidas com um processo

de transformação das estruturas sócio-econômicas do estado da Paraíba devem abordar

a questão do desenvolvimento a partir dos condicionantes históricos, que se configuram

tanto em desvantagens (como a baixa disponibilidade de recursos naturais e um padrão

de financiamento dependente de fontes externas) e obstáculos (o patrimonialismo das

elites locais e conflitos políticos exacerbados e mutuamente destrutivos).

Para o rompimento deste processo circular de causação cumulativa, que reproduz

a estagnação econômica e a má-distribuição de renda se faz necessária a conjugação de

forças endógenas, comprometidas com um novo modelo de desenvolvimento para a

sociedade local, associadas ao aproveitamento de oportunidades surgidas

exogenamente (tais como os projetos federais estruturantes e os bancos de

desenvolvimento) e de vantagens locais (presença de grandes universidades e situação

logística privilegiada), associados a um conjunto de vetores de transformação presentes

em escala estadual, nacional e global.

2. Caracterização e grau de execução dos Projetos F ederais na Paraíba

2.1. PAC: Os investimentos no segmento de infra-est rutura logística

No que concerne aos investimentos em infraestrutura logística, dos modais

que compõem este eixo, quais sejam: rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e

hidrovias, a Paraíba foi beneficiada com investimentos apenas nos três primeiros

segmentos, mesmo assim, com exceção das obras/ações direcionadas ao modal

rodoviário paraibano, as iniciativas do ente federal definidas para o segmento

portuário e aéreo do estado são insuficientes para atender às necessidades locais.

As BR-101 e BR-230 fazem parte da lista de obras no estado da Paraíba.

Com relação à BR-101, destaca-se a duplicação, adequação de capacidade e

modernização do subtrecho divisa PB/RN e divisa PB/PE. As obras referentes à BR-

101/NE, a partir do investimento de R$ 412 milhões, ainda não foram concluídas. O

Page 147: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

147

último levantamento feito pelo governo federal aponta a seguinte situação: divisa

RN/PB, divisa PB/PE – 129 km: 89% da duplicação e modernização efetuadas.

Com relação à BR-230, principal eixo de fluxo de pessoas e mercadorias na

Paraíba, interligando o sertão ao litoral paraibano, o PAC inclui a duplicação e

modernização do trecho paraibano. A obra iniciou-se em 2006, através de um

convênio firmado entre o DNIT e o DER/PB, e foi concluída em junho de 2009.

Somada à duplicação, previa-se a recuperação de pista existente. No projeto de

modernização, o governo federal previa investir entre o período de 2007-2010 cerca

de R$ 84 milhões (DNIT, 2010).

No segmento aéreo paraibano, apenas o Aeroporto Internacional Presidente

Castro Pinto, localizado no município de Bayeux, foi contemplando, com reforma e

ampliação do terminal de passageiros, reforço da pista de pouso, pistas de

rolamento, pátios de estacionamentos de aeronaves e obras complementares, no

valor de R$ 18,0 milhões. A obra foi concluída no ano de 2007.

Por fim, para o Porto de Cabedelo, o único terminal marítimo da Paraíba, a

previsão de investimento de R$ 105 milhões, dos quais R$ 60 milhões seriam

efetivamente aplicados na “dragagem e derrocamento” e o restante seria destinado

à recuperação de cais e melhorias na infraestrutura do Porto. Entretanto, não se

apresentou projetos em tempo hábil, o que comprometeu o investimento orçado num

primeiro momento. Prevê-se a conclusão das obras no segundo semestre de 2010.

2.2. PAC: Os investimentos no segmento de energia e létrica

No que se refere aos investimentos em infra-estrutura energética para

realização no período 2007 a 2010 correspondem a cerca de R$ 1,7 bilhão e apenas

R$ 8,1 milhões após este período. Dentre os investimentos têm-se quatro usinas

termelétricas, 11 empreendimentos de energia eólica e uma subestação de

transmissão de energia elétrica7. No que diz respeito às termelétricas, das quatro

previstas, três estão em obras, com previsão de início das operações ainda este

ano, embora atrasadas, sendo uma localizada em Campina Grande (Borborema

Energética S.A), com capacidade de geração de energia de 169 megawatt/ hora dia,

e os outros dois estão em instalação no Distrito industrial de João Pessoa

(Termoparaíba e Termonordeste), com capacidade conjunta de geração de energia

7 Este empreendimento ainda encontra-se em fase de licitação e não tem previsão de início das obras.

Page 148: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

148

de 280.341.280 Megawatts. O empreendimento Santa Rita de Cássia (Companhia

Multiner), ainda se encontra em licitação da obra, com previsão das operações para

2011, a qual deverá ofertar 174,6 MW, com investimentos de R$ 349,2 milhões.

Os relativos atrasos no início das operações se justificam pela ausência de

recursos advindos de linhas de financiamento via BNDES, implicando na

necessidade de se buscar recursos em instituições financeiras privadas, cujas taxas

de juros eram relativamente elevadas, o que implicou na ampliação do montante

financeiro de investimentos, no caso da Usina Termelétrica de Campina Grande.

No que se refere à geração de energia eólica, dez geradores, pertencentes ao

Parque Eólico Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A, já foram instalados no

município de Mataraca, situado no Litoral Norte do Estado, com capacidade de

geração individual de 4800 KW. O outro empreendimento já instalado é composto

por 13 geradores eólicos, que constitui o Parque Eólico Milleniun, também localizado

no município de Mataraca e com uma capacidade de geração de energia elétrica de

0,0095% da capacidade do País.

Os empreendimentos na Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A.

correspondem a R$ 250 milhões e os investimentos no Parque Eólico Milleniun em

torno de R$ 45 milhões. Tais empreendimentos pertencem à Pacific Hydro Ltda, cuja

base é australiana e a implementação se deu por meio do Proinfa. A escolha do

município de Mataraca deu-se ainda pela favorabilidade da força dos ventos e a

infraestrutura existente, sobretudo no que se refere à acessibilidade do município

como a rodovia federal BR 101, que interliga os Estados do Nordeste a partir da

faixa litorânea, e a BR 230, que possibilita o acesso ao Porto de Cabedelo/PB. Outro

elemento favorável à instalação refere-se ao apoio do governo do Estado com

incentivos fiscais. Cabe destacar ainda a melhora logística dada com a ampliação da

PB 065 (SANTOS, 2008).

Ainda cabe destacar o Programa Luz para todos, o qual objetiva contemplar o

atendimento das demandas de energia elétrica no meio rural através de: Extensão

de Rede, Sistemas de Geração Descentralizada com Redes Isoladas e Sistemas de

Geração Individuais. No que se refere aos investimentos na Paraíba, até fevereiro

de 2010, foram da ordem de R$ 350 Milhões, dos quais 65% foram repassados pelo

Governo Federal na forma de subvenção, uma vez que são oriundos da CDE (Conta

de Desenvolvimento Energético), correspondendo a 50.083 unidades consumidoras,

incluindo domicílios rurais, poços comunitários, escolas e postos de saúde, com uma

Page 149: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

149

população beneficiada superior a 250.000 pessoas, correspondendo ainda a 88,98%

das demandas cadastradas no Programa.

2.3. A Política de Desenvolvimento Produtivo/PDP na Paraíba

Até março de 2010, dentre os principais segmentos apoiados pela PDP na

Paraíba destaca-se a Política de Regionalização, com recursos de R$ 723 milhões,

alocados nas seguintes ações: expansão da capacidade produtiva e modernização

de empresas; Estudo realizado por pesquisadores da UFPB e UFCG para “Análise

dos Mapeamentos de APLs da Paraíba”; Política de fomento a APLs considerados

prioritários no Estado, através de parceria entre Governo do Estado e Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)8. Outro segmento que

se destaca é o fomento ao financiamento de Bens de Capital cujo montante de

recursos nesse mesmo período foi da ordem de R$ 269.920,020, cerca de 0,34% do

montante do Brasil.

No que concerne às Micro e Pequenas Empresas, como segmento

estratégico, corresponderam a gastos da ordem de R$ 174 milhões e uma das

formas identificadas de atuação nesta perspectiva remete ao Programa Primeira

Empresa - PRIME, lançado em 2009 vinculado à FINEP, o qual proporcionou apoio

a 118 empresas, dos municípios de Campina Grande, Cabedelo e João Pessoa com

geração de 596 postos de trabalho9. As ações implementadas no Estado tiveram

maior montante de Investimentos em 2009, com recursos totais de R$ 829.502.865,

mas segmentos historicamente importantes para o Estado, como é o caso de Couro

e Calçados e têxteis e confecções, receberam poucos recursos.

2.4 Os Territórios da Cidadania na Paraíba

De acordo com LIRA (2009), são seis os territórios que compõem o programa

no estado: Borborema, Cariri Ocidental, Curimataú, Médio Sertão, Zona da Mata

Norte e Zona da Mata Sul. Nota-se que o Território Rural do Cariri foi divido e

somente a parte ocidental tornou-se Território da Cidadania. As ações nos

Territórios são divididas em sete grupos: Direitos e Desenvolvimento Social,

8 O Governo da Paraíba ofereceu contrapartida equivalente aos recursos do banco, cerca de R$ 7 milhões Várias instituições integraram o comitê de elaboração do edital e de seleção de projetos, entre estas a UFPB. 9 Informações disponíveis em http://www.portalinovacao.mct.gov.br/pi/prime/indicadores/

Page 150: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

150

Organização Sustentável da Produção, Saúde, Saneamento e Acesso à Água,

Educação e Cultura, Infra-Estrutura, Apoio à Gestão Territorial e Ações Fundiárias.

No ano de 2009 o desempenho do programa, nos territórios paraibanos pode

ser assim descrito: no território Borborema ocorreu um total de 74 Ações com a

atuação de 11 ministérios, com valor previsto de R$ 400 milhões; No Cariri foram 72

Ações com a atuação de 10 ministérios que, com valor previsto de R$ 217, 5

milhões; no Médio Sertão, um total de 71 Ações com a atuação de 10 ministérios,

com valor previsto de R$ 132,8 milhões; na Zona da Mata Sul foram 74 Ações com a

atuação de 12 ministérios, com valor previsto de R$ 580,7 milhões; no Curimataú

foram 65 Ações com a atuação de 10 ministérios, com valor previsto de R$ 52,9

milhões; no Curimataú foram 56 Ações com a atuação de 11 ministérios, com valor

previsto de R$ 89,2 milhões.

2.5 O Eixo Leste: A Transposição do São Francisco n a Paraíba

O Eixo Leste levará água às regiões de Pernambuco e da Paraíba. A

captação será feita no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta – PE,

se estenderá por um caminhamento de 220 km até o rio Paraíba – PB, após deixar

parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de

Pernambuco. Está prevista uma capacidade máxima de 28 m³/s, com uma vazão

contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano. Periodicamente, em

caso de sobras de água em Sobradinho, este excedente hídrico irá para as bacias

receptoras: Poço da Cruz/PE e Epitácio Pessoa (Boqueirão/PB).

Segundo o Tribunal de Contas da União, somente 22% dos municípios a

serem beneficiados teriam capacidade de receber a água, por insuficiente avanço na

parte das obras que são da esfera estadual. Assim, o prazo para a conclusão do

eixo leste, final de 2010, não será compatível com as necessidades de ampliação da

rede de esgotamento sanitário estadual. A Agência Nacional de Águas suspendeu,

provisoriamente, a transposição para a Paraíba, até que se providencie o que falta

para a realização da obra no estado.

3. Análise dos impactos dos Grandes Projetos Federa is na Paraíba

3.1 Energia elétrica

Os investimentos em energia elétrica não estão sendo efetivados para

atender essencialmente uma necessidade em nível estadual. Em primeiro lugar, as

Page 151: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

151

Usinas Termelétricas, movidas a óleo ou carvão, mais poluentes, tem se instalado

com mais intensidade no Nordeste, pois encontram maior resistência de obtenção

de aval na região sudestina, que embora estejam no topo dentre os maiores

consumidores, possuem órgãos ambientais que atuam com mais rigor e Estados e

Prefeituras que não incentivam tais empreendimentos.

Embora esta emissão possa ser minimizada através da instalação de filtros,

especialistas afirmam que permanece ainda uma grande preocupação com o

impacto global causado pelas emissões de CO². Com a ampliação das usinas

termelétricas tem-se a necessidade de ampliação e reforço nas linhas de

transmissão que interligam as regiões que fazem parte do Sistema Integrado

Nacional e dado que as usinas operarão em sistema Standy by, ficando ociosa parte

do tempo, pode resultar numa majoração da tarifa de energia.

É discutível a perspectiva de geração de Emprego e Renda, pois apenas uma

parte do emprego é absorvido por residentes no estado. Com relação à mão de obra

especializada no segmento de energia térmica, apesar de Campina Grande contar

com Universidades e desenvolvimento na área de tecnologia, a mão de obra local

não atendia as especificidades do empreendimento, sendo em sua grande maioria

advinda do Sul e Sudeste e apenas alguns do mercado local.

Cabe ainda destacar que as termelétricas farão uso do Porto de Suape para

recebimento do óleo combustível que será utilizado para a geração de energia, visto

que o Porto de Cabedelo não tem estrutura adequada para tal atividade, onerando o

transporte até a unidade geradora e implicando em menores possibilidades de

arrecadação fiscal para o Estado. No que se refere aos investimentos em energia

eólica, apesar da energia ser “limpa”, há riscos de externalidades negativas no local

por conta da localização dos geradores instalados a beira mar do Distrito de Barra

de Camaratuba, Mataraca-PB. Outro aspecto refere-se à geração de emprego não

ser relevante para Estado, pois a Empresa tem escritório em Natal-RN.

3.2 Infraestrutura Logística

Do ponto de vista social, a principal contribuição da duplicação das BR-101,

principalmente, e BR-203 é a redução da ocorrência de acidentes automobilísticos,

enquanto que do ponto de vista econômico os impactos ocorrerão de duas formas

distintas e em momentos diferentes do tempo.

Page 152: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

152

Durante a execução da obra haverá uma expansão da demanda local, que se

distribuirá, espacial e funcionalmente, entre os fornecedores. No tocante à demanda

primária, associada ao ato de investir, esta impactará três componentes distintos: a)

fornecedores de insumos, tais como a indústria de cimento e assemelhados, que

possuem significativa produção local, com grandes empresas; b) fornecedores de

máquinas e equipamentos (veículos e outros), que estão localizados, em regra, fora

do estado da Paraíba, representadas diretamente pelas construtoras vencedoras

das licitações ou por empresas a quem estas alugam os itens de capital necessários

à obra; c) mão-de-obra associada diretamente à construção da estrada, que, em

parte, será local, principalmente os de menor qualificação e os demais, de maior

formação técnica e superior, serão em boa medida provenientes dos estados de

origem das construtoras.

Os efeitos multiplicadores desta expansão da demanda primária se

distribuirão de formas distintas, associadas a cada componente listado:

a) a indústria de cimento (e outros minerais não-metálicos) instalada na

Paraíba deverá expandir sua produção, o que impactará a renda local. Também

crescerá a receita e lucratividade da indústria fornecedora de insumos básicos,

como energia, água e comunicações, peças e componentes (de fora do estado).

b) os fornecedores de máquinas e equipamentos provocarão repercussões na

renda e no emprego fora do estado.

c) a massa salarial local, entretanto, não irá integralmente internalizar os

efeitos multiplicadores da renda no estado. Os gastos com consumo familiar

majoritariamente impactarão os alimentos in natura (tais como hortifrutigranjeiros,

apicultura e a caprinocultura). O consumo de confecções, para segmentos de baixa

renda é principalmente proveniente da produção do agreste pernambucano,

impactando apenas o comércio varejista local. A produção de calçados pode ter sido

impactada, neste caso, pelas MPEs localizadas no estado, enquanto o comércio

local poderá ter propiciado uma expansão no emprego, mas em postos precários,

associado a pequenos estabelecimentos.

Após a conclusão do investimento, haverá um impacto mais significativo em

termos de expansão da oferta, que beneficiará diretamente as empresas e,

indiretamente, os consumidores:

a) melhoria nas condições de logística para distribuição e escoamento da

produção local, especialmente em termos do comércio interestadual e internacional,

Page 153: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

153

através da interação com outras modalidades de transporte como ferrovias e portos

(SANTOS, 2008). Os principais APLs beneficiados: alimentos e bebidas, calçados,

têxtil e minerais não-metálicos. A mesorregião da mata paraibana apresenta

condições climáticas propícias a atividades agropecuárias, o que permite a

exploração intensiva de frutícolas, bem como culturas alimentares, além da

associação entre a apicultura e a produção de fitoterápicos. b) o comércio local,

principal destino das compras paraibanas realizadas em outros estados

(particularmente Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Norte); c) a expansão do

turismo litorâneo apresenta-se como a perspectiva mais óbvia, nos municípios de

Cabedelo, João Pessoa e Conde.Todas estas oportunidades, entretanto, necessitam

de um adequado e permanente monitoramento para proteção ao meio-ambiente.

No tocante ao transporte aeroviário, pelo tamanho da população e do PIB,

uma parte da demanda que poderia ser dirigida para os aeroportos paraibanos, tem

sido atendida pelo aeroporto do Recife, o qual poderá em breve mostrar sinais de

saturamento. Faz-se imprescindível construir um novo aeroporto, do contrário o

crescimento econômico local esbarrará em um gargalo logístico.

O Nordeste movimenta um fluxo de passageiros em torno de 30% do total do

país, o que mostra a importância do turismo para esta Região. Os aeroportos locais

estão subrepresentando o estado, pois atendem 3,7% deste movimento regional (o

PIB estadual representa cerca de 6% do NE), o que demonstra o gargalo que

representam para a economia local e como os estados vizinhos estão beneficiando-

se deste “vazamento” de passageiros para expandir suas economias.

O objetivo seria destravar o gargalo do acesso dos viajantes ao turismo

estadual, uma vez que a logística é complexa para viagens nacionais para João

Pessoa e Campina Grande, com pouquíssimos vôos e praticamente sem

flexibilidade de horários. Assim, boa parte dos turistas desloca-se a partir de Natal e

Recife, por via rodoviária, apenas para um city tour ou hospedando-se por poucos

dias. Assim, todo o trade turístico estadual é gravemente prejudicado.

Uma alternativa para o Porto de Cabedelo estaria na instalação de uma base

naval da Marinha Brasileira, uma vez que o país necessita descentralizar sua frota, a

qual permanece na base do Rio de Janeiro em quase 80% de seus navios. O

Nordeste é um dos espaços estratégicos a serem protegidos, pela sua exposição

oceânica, e a Paraíba localiza-se no ponto mais oriental das Américas.

Page 154: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

154

3.3 Política de Desenvolvimento Produtivo

Há necessidade de maior capacitação, sobretudo na área de gestão e

especificamente gestão da inovação, como elemento estratégico no mercado, de

forma a intensificar a elaboração de projetos para subvenção através da PDP.

Também, muitos instrumentos da política industrial ainda não se encontram

efetivamente disponíveis para MPEs, com exceção das relacionadas à Tecnologia

da Informação, e/ou estas tem dificuldades para utilizar estes instrumentos e as

respectivas políticas de financiamento, como é o caso de setores tradicionais da

economia. Apesar dos esforços na promoção de eventos que divulgam a PDP no

Estado, esta ainda não ocorre de maneira efetiva, sendo em parte desconhecida,

tanto na esfera produtiva como em parte do corpo técnico das Instituições de apoio.

3.4 Territórios da Cidadania

As ações do governo federal, através do Território da cidadania, representam o

mais direto impacto nas condições de vida da população local, e podem ser classificadas

a partir de três critérios (LIRA, 2009) : i) reforma social: são ações de caráter relevante

(como o Bolsa Família), mas de natureza provisória, pois basta uma alteração na

orientação governamental para que seja suspenso o fluxo de recursos assistenciais

previsto, anulando o seu efeito. ii) reforma estrutural produtiva: de caráter permanente,

em cujo caso mesmo havendo mudanças de governo, ou de orientação de políticas, o

impacto da ação permanece, como é o caso de uma reforma agrária. Esse tipo de

reforma provocaria, de fato, uma mudança na estrutura social e da economia da região,

alterando a configuração de concentração fundiária10; iii) manutenção da estrutura

produtiva já existente e de defesa ou proteção de grupos fragilizados política e

socialmente. É o caso das ações do programa de demarcações e de regularização de

terras, assim como outras ações semelhantes.

3.5 Transposição do São Francisco

Alguns especialistas apontam a possibilidade de conflitos dado o novo “estoque”

de água com a conclusão desse grande projeto federal. Na Paraíba pode-se perceber

que o eixo leste é o de maior relevância já que perpassa por microrregiões que

historicamente representam os menores índices de densidade pluviométrica. A bacia do

Rio Paraíba será a que receberá as águas, perpassando pelo cariri Paraibano, de forma 10 Na Paraíba, de acordo com dados de 1999, mais de 60% das propriedades rurais pertenciam a não mais que 6 mil famílias.

Page 155: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

155

a aumentar as garantias de estoques hídricos para consumo humano em diversos

municípios paraibanos que serão atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri,

Boqueirão e Acauã. Por outro lado, os valores indicados para a cobrança do uso no eixo

leste, são superiores aos estimados pelo eixo norte, ou seja, o custo da água pode vir a

torna-se inviável para atividades agrícolas.

Um dos pontos frágeis está relacionado com a gestão dessa nova água disponível,

que precisa ser gerida eficientemente pela instituição gestora, no caso a Agência

Estadual das águas da Paraíba. Serão investidos mais de R$ 1,22 bilhão exclusivamente

em obras dentro do Estado, mas não estão incluídos neste montante a implantação das

Vilas Produtivas Rurais e nem os equipamentos elétricos e mecânicos que ainda não

foram computados exclusivamente para o estado da Paraíba. A transposição de fato

pode potencializar os arranjos produtivos paraibanos, sobretudo, se os pequenos

agricultores obtiverem recursos financeiros e técnicos.

4. Proposições de políticas para o desenvolvimento estadual

A partir da abordagem de arranjos e sistemas produtivos e inovativos é

possível articular o método histórico-estrutural, característico da tradição cepalina,

ao método evolucionário, usado pela teoria neoschumpeteriana, de tal forma a

compreender a lógica interna e alguns dos principais mecanismos de realimentação

do processo de subdesenvolvimento que marca a sociedade paraibana ao longo do

último meio-século. Inicialmente, parte-se dos seguintes fatos estilizados:

A economia brasileira gera um valor, em bens e serviços, ao longo do ano,

que pode ser decomposta, de forma simples, em dois componentes (FURTADO,

1976): o Custo Social de Reprodução/CSR da população e o valor complementar, ao

qual denominaremos Excedente. Uma parte deste Excedente é apropriado pelo

Estado nacional na forma de tributos e redistribuído através dos seus gastos. Uma

fração desta renda em poder do Governo Federal é transferida aos estados, em

parte diretamente à população local, em parte através da concessão de crédito e

incentivos federais a investimentos privados, e outra parcela é apropriada pelos

Governos estaduais e municipais.

Desta forma, o controle sobre os Governos estadual e Municipais, bem

como, as Instituições, públicas e privadas, que disponibilizam fomento e apoio a

grupos econômicos, sejam estes locais ou externos, permite ao Poder local

redistribuir a fração do Excedente nacional, acrescida da apropriação de parcela do

Page 156: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

156

excedente local, através dos mecanismos estatais: Incentivos fiscais; compras

públicas; Cargos comissionados; empregos temporários na máquina pública;

Desta forma, o grupo no poder transfere renda do estado para seu núcleo de

controle, para os “agregados” por conveniência política e econômica, e para uma

fração dos marginalizados controlados eleitoralmente. Estes últimos constituem

massa de analfabetos, “puros” ou funcionais, ou ainda dos instruídos, mas

subempregados, e portanto, de fácil substituição em suas atividades, o que permite

serem cooptados como alavanca para conquista do controle estatal local.

Atuam, também, como amortecedores sociais da insatisfação da massa de

marginalizados, que permanece presa a atividades econômicas que, ou por sua

natureza, ou pela falta de intervenção pública transformadora, apresentam

baixíssima produtividade, frágeis relações sistêmicas, isolamento das fontes de

aprendizado inovativo, gargalos técnicos, logísticos e comerciais, cristalizando uma

estrutura produtiva incapaz de promover as condições de vida locais.

Uma vez que o acesso ao emprego temporário dos “subcontratados” se dá

para atividades não-produtivas e não-inovativas, a migração opera como outro

mecanismo de controle da magnitude e da distribuição do excedente local, pois é

funcional em manter o custo social de reprodução agregado em níveis reduzidos.

Através desta estrutura social e política, preserva-se o perfil produtivo e a

estrutura econômica do estado, reproduzindo-se as condições sociais e políticas, em

um círculo vicioso. As formas de acesso ao excedente apropriado localmente,

determinam a posição na hierarquia social e distribuição de renda. A desigualdade é

fruto desta hierarquia, que retroalimenta todo o sistema, manifestando-se em

padrões de consumo diferenciados, em níveis educacionais assimétricos, em

valores culturais distintos e estratificação social.

Page 157: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

157

Figura 1

Circuito de ReproduCircuito de Reproduçção do ão do

SubdesenvolvimentoSubdesenvolvimento

Poder

CoaçãoValoresHistóriaMercado

Cresc. PopulacionalAcesso a educação

Perfil produtivoPerfil de consumo

Tributos/Gasto públicoInovações

Nível de EducaçãoFinanças

PropriedadeControle do estado

inovatividade

MigraçãoHierarquia social

Sistema de preçosPolíticas Públicas

Difusão

Mantém baixo ocusto Social de

Reprodução

Define a distribuiçãodo excedente e a

Desigualdade social

Materializa como Excedente parte

da riquezagerada

Garante a capacidade

de apropriar-se doexcedente

Fonte: Representação própria, a partir de FURTADO (1974)

Para a implantação de um “novo modelo de desenvolvimento” se faz

necessário o rompimento deste circuito de reprodução do subdesenvolvimento, em

quatro frentes: 1) Democratização e Interiorização do acesso às formas de

apropriação do excedente local; 2) Reconfiguração do Perfil Técnico-Científico,

Inovativo e Produtivo Local; 3) Amplificação e Valorização da Cultura Local; 4)

Grandes Projetos Estruturadores Locais, de origem endógena.

A democratização e interiorização do excedente necessitam de processo

articulado de disponibilidade dos dois principais mecanismos de geração e

apropriação de riqueza: crédito produtivo e conhecimento. O crédito produtivo deve

ser disponibilizado aos produtores informais, às MPEs, aos articulados em

associações e cooperativas, bem como outras formas inovadoras a serem

constituídas. De outro lado, a ampliação dos campi de IES, de escolas de ensino

profissionalizante e dos pólos de educação à distância devem propiciar elevação do

nível de conhecimento científico-tecnológico relevante para o contexto local.

Concretamente, no entorno de cada campi universitário/tecnológico e escola

profissionalizante, o crédito seria favorecido (prazo, taxas e garantias) para

investimentos que demonstrassem associação entre o conhecimento gerado nas

ICTs/IES e o perfil produtivo local, bem como, em atividades que gerassem

“amenidades” urbanas, de tal forma a melhorar as condições de vida e a oferta de

serviços e amenidades urbanas, fixando “cérebros” no interior do estado, elevando a

Page 158: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

158

produtividade econômica e reduzindo o número de marginalizados. O efeito em larga

escala permitiria iniciar um processo de eliminação dos empregos públicos

temporários, sem provocar uma convulsão social, melhorando a situação fiscal do

estado e ampliando a magnitude do excedente local, permitindo formas produtivas

deste, através de investimentos públicos de impacto social.

A reorientação do perfil e papel das ICTs e IES é fundamental, direcionando

o grosso dos seus esforços para um perfil formativo e inovativo voltado, de um lado,

às especificidades locais, e de outro, às novas tecnologias “portadoras de futuro”.

Para tal, faz-se necessária a constituição de Fundos estaduais de apoio à pesquisa

e extensão, formado com recursos federais e estaduais (provenientes da “folga

fiscal” obtida), de tal forma a induzir a formação e dedicação de pesquisadores à

problemática estadual. A homogeneização da formação educacional, eliminaria o

privilégio de educação de qualidade, em escolas privadas, como critério de

hierarquização social e apropriação de riqueza. Para tal, se faz necessária a

erradicação do analfabetismo funcional, universalização do ensino médio e

massificação do ensino universitário. Espera-se elevar a produção, produtividade e

geração local de excedente, bem como, alterar a estratificação social, dar acesso ao

excedente e distribuição de renda, transformando relações políticas e sociais

A valorização da Cultura Local exige um processo nacional de

desverticalização produtiva e regionalização das indústrias culturais, com

reorientação do padrão de consumo, ajustado à diversidade local. Resultaria deste

movimento a expansão da produção local de cultura, redução da desigualdade de

consumo, reforço da produção de bens e serviços de raízes culturais locais.

O estado da Paraíba exibe um elevado percentual de trabalhadores com

nível de formação universitária, especialmente de mestrado e doutorado, mas para

os quais não há suficiente demanda por parte do setor privado ou público

(excetuando-se as universidades), resultando em evasão de cérebros ou sub-

utilização. Esta capacidade excedente apenas tende a se intensificar nos próximos

anos, caso não haja o adequado aproveitamento destes recursos humanos.

A Construção De Capacidades Inovativas Locais e Endógenas visa criar

condições para o surgimento de Grandes Projetos Estruturadores de origem local. A

implementação de um processo de intenso esforço de capacitação de recursos

humanos, prévio à instalação dos empreendimentos que deverão absorver este

contingente de mão-de-obra, muito provavelmente resulta em riscos de

Page 159: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

159

ociosidade/desperdício de recursos humanos, com subseqüente “fuga de cérebros”

para outras localidades.

Desta forma, um modelo baseado em grandes projetos de origem externa ao

estado/região, não desenvolveriam inovações localmente, pois já o fazem em

centros de pesquisa de suas matrizes. Justifica-se, portanto, a importância de se

desenvolver capacidades empresariais tecnológicas localmente, tendo como fonte

importante de novos conhecimentos o sistema de C&T local.

A Base Científico-Tecnológica Local destaca-se regionalmente, e

nacionalmente em termos relativos, em vista da baixa densidade da comunidade

científica nacional e, principalmente, regional. Em termos absolutos, a comunidade

acadêmica paraibana e, particularmente, aquela integrante das IES públicas,

mostra-se suficiente para sustentar, inicialmente, os objetivos de pesquisa na

fronteira da ciência e os esforços cooperativos de desenvolvimento tecnológico,

desde que uma fração significativa desta tenha como linhas de pesquisa temas

relevantes para a economia e sociedade locais.

Ressalta-se, ainda, que, agregando-se a infra-estrutura científico-tecnológica

distribuída na Paraíba e em Pernambuco, reúne-se um subsistema regional de

inovação líder na Região. Neste sentido, os investimentos em infraestrutura

deveriam priorizar a integração da Paraíba e Pernambuco, através não apenas dos

meios tradicionais (rodovias e telefonia), mas primordialmente pelas TICs, através

de redes metropolitanas interestaduais e disponibilização de acesso gratuito e em

banda larga à rede mundial de computadores no entorno das IES e ICTs.

5. Considerações finais

Os GPFs, em geral, materializam o excedente nacional em formas

excludentes, que reproduzem a desigualdade: acesso ao crédito/incentivos federais;

acesso ao conhecimento tecnológico; poder de mercado para fixar elevadas

margens de lucro; propriedade da terra, da água, do capital produtivo. Estes

investimentos ampliam o excedente, pois impactam a produção local pelo aumento

da produtividade econômica, mas, como regra, redistribuem para fora do estado a

maior parte do excedente gerado, seja na forma de remessa de lucros para matrizes

localizadas, geralmente, na região sudestina ou no exterior, seja na forma do

pagamento de juros, ou ainda por tributação federal.

Page 160: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

160

A parcela menor do excedente gerado é apropriada localmente pela alta-

gerência dos empreendimentos (usualmente de origem não-local) e pela

tributaçãolocal, que reproduzem o padrão de distribuição desigual. Adicionalmente, o

perfil dos investimentos realizados não se vincula às áreas “portadoras de futuro”

associadas à nova Sociedade do Conhecimento: são projetos de um paradigma

envelhecido.

A Paraíba sequer beneficiou-se, em escala significativa, dos impactos

parciais e fragmentados que este modelo “exógeno” de desenvolvimento regional

pretende implantar no Nordeste. Suas possibilidades, entretanto, estão abertas para

um novo modelo, vinculado à produção de conhecimento e a formas mais justas de

distribuição da riqueza social. Uma nova geração de Políticas resultará em vários

impactos positivos para a economia e a sociedade paraibana, pois permitirá às

empresas locais moverem suas capacidades tecnológicas para estágios superiores.

A existência de capacidades científicas que (historicamente) evoluíram à frente das

necessidades empresariais locais (embora desconectadas destas) indica que o

esforço de adaptação das linhas de pesquisa acadêmica para atender às demandas

empresariais é significativamente menor do que o esforço de criação de uma

capacidade de pesquisa previamente inexistente.

Assim, as Políticas Públicas e as estratégias produtivas devem ser

mutuamente aderentes e factíveis, de modo a evitar a dispersão de esforços e

recursos, comportamento rentista e oportunista e incompatibilidade de objetivos.

Esta aderência e factibilidade não dependem, isoladamente, das ações ou de

projetos específicos, mas resultam de um conjunto de ações e intervenções

estratégicas, formuladas por todas as instituições comprometidas com este projeto.

6. Referências Bibliográficas

Avaliação da Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP - DECOMTEC/FIESP 2008.Disponível em: <http://academico.direito-rio.fgv.br/ccmw/images/5/57/DECOMTEC.pdf>. Acesso em: 10 de maio de 2010. BRASIL. Ministério dos Transportes. Disponível em: <www.br101nordeste.com.br>. Acesso em 18 fev. 2010. CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Paraíba – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais

Page 161: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

161

no Nordeste. João Pessoa/PB, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/.

CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Paraíba e Proposição de Políticas – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . João Pessoa/PB, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. Comissão especial para inspecionar termelétrica . Disponível em: <http://www.cmjp.pb.gov.br/Noticia/2949_comissao-especial-para-inspecionar-termeletrica>. Acesso em: 31 de julho de 2010. Furtado, C. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento . Rio de Janeiro, Fundo de Cultura. (1961). __________ Prefácio a Nova Economia Política. Rio de Janeiro. Paz e Terra (1976). Incentivos para instalação de termoelétrica no mun icípio (Portal da Transparência PMCG). Disponível em: http://www.pmcg.pb.gov.br/transparencia/eixos/trabalhar/09.php. Acesso em: 20 de julho de 2010. KOMATSU, Alberto. Estudo critica infraestrutura logística do Brasil. Estadão. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,estudo-critica-infraestrutura-logistica-do-brasil,434693,0.htm>. Acesso em: 02 de jun. de 2010. LIRA, Y. B. Uma Análise do Perfil do Gasto Público Social Gover namental Federal no Estado da Paraíba: O Território da Cidad ania em 2009 . Monografia. Curso de Ciências Econômicas. UFPB. 2009. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Disponível em: <http://www.integracao.gov.br/comunicacao/noticias/noticia.asp?id=1753>. Acesso em 24 de jul. de 2010. Moradores de Mataraca denunciam fechamento de praia por empresa (30/11/2009) . Disponível em: <http://www.portalcorreio.com.br/correiodebate/matLer.asp?newsId=110924>. Acesso em: 29 de julho de 2010 Relatórios do PAC. Disponível em: www.brasil.gov.br/pac. Acesso em: 20 de maio de 2009. PEREIRA, Jônatas Rodrigues. Decadência da ferrovia na Paraíba. Disponível em: <http://estacoesferroviariaspb.blogspot.com/2009/10/decadencia-da-ferrovia-na-paraiba.html >. Acesso em: 22 de jul. de 2010. PLANO NACIONAL DE LOGÍSTICA E TRANSPORTES. Ministério dos Transportes. Ministério da Defesa. Relatório Executivo. 2007. Disponível em: <www.transportes.gov.br>. Acesso em: 20 de mar. de 2010.

Page 162: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

162

RODRIGUES, Mayra Bezerra. Cenário atual e avaliação futura da sustentabilidade hídrica do Estado da Paraíba: um e nfoque econômico . 2007. 68 p. Monografia (Graduação) – Departamento de Economia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007. SANTOS, L. K. A. Exportações de calçados na Paraíba: uma análise da competitividade sistêmica. João Pessoa/PB, 2008. Dissertação de Mestrado em Economia. P. 209. Sudeste “Exporta” usinas poluidoras (06/04/2010). Disponível em: <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090406/not_imp350554,0.php>. Acesso em: 29 de julho de 2010. TORRES, A.T.G. “Hidro-territórios (novos territórios da água): os instrumentos de gestão dos recursos hídricos e seus impactos nos arranjos territoriais . Dissertação (Mestrado). PPGG.UFPB.2007. Usinas termelétricas mais poluentes, rejeitadas no Sudeste são programadas para o Nordeste . Disponível em: < http://www.ecodebate.com.br/2009/04/07/usinas-termeletricas-mais-poluentes-rejeitadas-no-sudeste-sao-programadas-para-o-nordeste/>. Acesso em: 28 de julho de 2010.

Page 163: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

163

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DE

PERNAMBUCO E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS 1 2

Lúcia Maria Góes Moutinho / Coordenadora Estadual

Luís Henrique Romani Campos

Isabel Pessoa de Arruda Raposo

Éder Lira de Souza Leão

1. Introdução

Após passar por décadas perdendo participação na economia nordestina e

com baixo dinamismo econômico, a economia pernambucana apresentou reversão

nesta tendência nos últimos anos, apresentando uma melhora nos indicadores

conjunturais. Dados do IBGE demonstram que a taxa de crescimento real do PIB

pernambucano vem se acelerando desde 2004 a um ritmo superior àquele

observado no País e na Região Nordeste.

O intenso crescimento econômico observado em Pernambuco pode ser

creditado a diversos fatores: i) macrofundamentos em nível nacional; ii) política de

distribuição de renda baseada em elevação do salário mínimo e na expansão de

programas como o Bolsa Família e iii) decisões estratégicas de desenvolvimento

regional. Os macrofundamentos afetam a conjuntura estadual, pois a redução da

taxa real de juros, a estabilidade da inflação e do câmbio e o controle fiscal levam à

possibilidade de crescimento do investimento e, principalmente, do consumo das

famílias em todo o território nacional. O crescimento do consumo foi reforçado pela

redistribuição de renda provocada pelo aumento real do salário mínimo e

redistribuição direta de renda.

Já as decisões estratégicas de desenvolvimento regional são reflexo de um

conjunto de planos implementados pelo Governo Federal, os chamados “Grandes

Programas Federais” - GPFs: (i) o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);

(ii) a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP); (iii) o Programa Nacional de

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Pernambuco”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Estagiários: Ariany Maria Araújo Gomes - UFRPE; Lutemberg Francisco de Andrade Santana - UFRPE; Rafaela Rodrigues Lins – UFRPE e Tarcísio Regis de Souza Bastos – UFRPE.

Page 164: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

164

Logística e Transporte (PNLT); (iv) o Programa Territórios da Cidadania (PTC) e (v)

e as Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs).

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre os impactos dos GPFs na

economia de Pernambuco e propor políticas públicas que intensifiquem estes

impactos. Os GPFs materializam-se na forma de investimentos. Desta feita optou-se

por focar a análise nos investimentos que apresentam o maior volume de recursos e,

conseqüentemente o maior impacto esperado. São eles: o Estaleiro Atlântico Sul

(EAS), a Refinaria Abreu e Lima (RAL), o Pólo Petroquímico de Suape, a Ferrovia

Nova Transnordestina, o Pólo Farmacoquímico e o Projeto de Transposição do Rio

São Francisco.

O artigo está organizado em quatro seções além dessa introdução e das

referências bibliográficas. Na primeira apresenta-se uma contextualização dos GPFs

na economia de Pernambuco; a seguir realiza-se a análise dos impactos

econômicos dos GPFs; posteriormente são feitas reflexões e proposições de

políticas e, por fim, apresentadas algumas considerações finais. Acrescente-se que

as seções apresentam a mesma estrutura, ou seja, estão subdividas conforme o tipo

de GPF analisado.

2. Contextualização dos GPFs na economia de Pernamb uco

O PAC consiste em uma plataforma estratégica do governo federal que visa

estimular o crescimento da economia brasileira através do investimento em obras de

infra-estrutura. Estima-se que 6,29% do valor dos investimentos destinem-se a

Pernambuco. Isto implica que o estado está recebendo 2,7 vezes mais

investimentos do que sua participação na economia nacional, que foi de 2,34% em

2007, segundo dados do IBGE.

Os recursos empregados para a execução do PAC não são originários

apenas do Tesouro Federal, mas também de parcerias público/privadas e

investimento de empresas estatais. Entre as obras contidas no escopo do PAC que

possuem impacto muito relevante para Pernambuco pode-se citar: o Estaleiro

Atlântico Sul (Pólo Naval), a Refinaria Abreu e Lima, a Nova Ferrovia

Transnordestina, o Pólo Farmacoquímico, o Pólo Petroquímico e a Transposição do

Rio São Francisco.

Page 165: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

165

2.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroq uímica Suape, Refinaria

Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul

O Complexo Industrial Portuário de Suape representa o principal espaço de

atração de investimento industrial de Pernambuco. O argumento de atração está

calcado no fato de Suape ser um porto com calado que permite navios de grande

porte, bem como possibilidade de expandir-se rapidamente; a área do complexo

ainda permite a implantação de muitas indústrias; Suape é um centro logístico

natural dado sua localização próxima a diversas capitais e cidades de médio porte

do Nordeste e da proximidade com a Europa. Entre os investimentos estimulados

pelo PAC e pelo PDP que se instalaram em Suape estão: o EAS, a Petroquímica

Suape e a RAL. Os levantamentos realizados indicam que 50,38% dos

investimentos previstos do período de 2007 a 2010 para Pernambuco estão

concentrados na Região Metropolitana de Recife (RMR). Esta alta participação

deve-se ao fato de Suape estar na RMR.

A Petroquímica de Suape tem como produtos o ácido tereftálico (PTA),

poliéster, e seus subprodutos (incluindo o politereftalado de etileno – PET), sendo

considerada uma empresa que se convencionou chamar de 2ª e 3ª gerações. A

empresa pernambucana está inserida na fase intermediária e final da cadeia

produtiva, gerando encadeamentos a sua montante e jusante.

Atualmente o Brasil possui três pólos petroquímicos em operação: Pólo

Petroquímico de São Paulo, de Camaçari-BA e de Triunfo-RS. Apesar da existência

destes três pólos, a produção brasileira de poliéster é muito pequena, uma vez que

estes pólos concentram-se em outros produtos derivados do petróleo. Na atual

conjuntura o Brasil importa todo o PTA necessário para sua indústria química, pois a

única fábrica deste produto na América Latina encontra-se no México.

Em 2009 o Brasil apresentou déficit na balança comercial de PTA e das

aplicações no setor têxtil do poliéster de US$ 1,07 bilhões. Esta alta dependência de

importação de poliéster e seus derivados diminui a competitividade brasileira de toda

a cadeia têxtil, e, em menor proporção, de embalagens e filmes. Como o Brasil é

importador destes produtos, o complexo têxtil (incluindo confecções) possui custo

mais elevado do que os concorrentes asiáticos que contém toda a cadeia produtiva

em seus países. Assim, Petroquímica Suape tem uma importância estratégica em

nível nacional, uma vez que permite substituir importações e melhorar a posição da

balança comercial brasileira.

Page 166: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

166

Atualmente a Petroquímica Suape é controlada totalmente pela Petrobrás e a

CITEPE pela Petroquisa, que por sua vez já é uma subsidiária da Petrobrás. O

mercado alvo é o Mercosul, concorrendo com a fábrica existente no México. A

unidade produtora de PET tem tamanho similar à recentemente montada em Suape

pela M&G, mas os administradores não crêem que haverá dificuldades de colocar o

produto no mercado, tendo em vista, como já mencionado anteriormente, o forte

crescimento da demanda mundial.

A decisão estratégica da empresa controladora foi a de instalar indústria em

Pernambuco, mais próxima das ligações à jusante. Conseqüentemente, o vínculo

principal da empresa com a economia do estado é, tornar-se fornecedora de

unidades processadoras de PTA e PET já instaladas em Pernambuco. Apenas esta

ligação trará impactos positivos importantes tendo em vista o déficit de comércio

exterior estadual em produtos químicos orgânicos de R$ 594,5 milhões em 2006

(Moutinho et al, 2010b).

A outra ligação potencial forte da Petroquímica de Suape com a economia

pernambucana está no segmento têxtil. Moutinho et al (2010a) mostrou que o estado

possui três importantes pólos produtivos de confecções, dois deles na RMR

(Paulista e Recife) e um no agreste (Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe).

Desta feita, a existência de oferta de fios de poliéster poderia atrair empresas do

setor têxtil que passariam a ter vantagem competitiva por estar próximo ao mercado

fornecedor de insumos por um lado e do mercado consumidor do outro.

No que tange à Refinaria Abreu e Lima (RAL), é um projeto da Petrobras em

parceria com a PDVSA (Petróleo da Venezuela S.A) e tem previsão de entrar em

funcionamento em 2012, tendo capacidade de processar 230 mil barris de petróleo

pesado por dia. O Brasil tem, atualmente, 13 refinarias, sendo 11 da Petrobras e 2

particulares. A RAL representa um aumento de 11,5% na capacidade de refino

nacional.

A RAL é o projeto de maior investimento em andamento no estado de

Pernambuco. Orçado em US$ 12,3 bilhões, está sendo financiado por entidades

públicas e privadas. Mesmo na fase de construção, a RAL já tem gerado várias

oportunidades de empregos, principalmente nos setores de metalmecânica,

construção e montagem, eletroeletrônico, hidráulico, manutenção industrial e de

projetos de engenharia.

Page 167: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

167

É válido lembrar que construção naval já foi uma atividade consolidada no

Brasil, que sucumbiu ao longo do tempo. A retomada desta atividade no Brasil é

uma decisão estratégica ligada, principalmente, à descoberta da presença de

petróleo na camada pré-sal. O aumento da produção de petróleo cria forte demanda

por navios petroleiros, gaseiros e plataformas.

O Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota), que tem

recursos oriundos do BNDES e do Fundo da Marinha Mercante (FMM), estabelece

que o Estaleiros contatratados para construção de navios e plataformas de petróleo

devem atingir o índice mínimo de 70% de compras de equipamentos e serviços de

fornecedores nacionais. Esta retomada da indústria naval brasileira, tem em

Pernambuco sua principal referência, pois dos 49 navios previstos pelo Promef para

o Brasil, 30 (cerca de 61%) sairão dos Estaleiros de Suape.

O maior dos estaleiros é o EAS, ao qual está destinado aproximadamente R$

5,5 bilhões, o que equivale a 17,34% do orçamento do PAC. O empreendimento é

formado pelo consórcio Grupo Camargo Côrrea, Grupo Queiroz Galvão, PJMR

Empreendimentos e Samsung Heavy Industries/SHI.

2.2. Ferrovia Transnordestina e a duplicação das rodovia s BRs

O setor de transporte de cargas no Brasil enfrenta uma série de entraves que

afetam a sua eficiência. Estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte

(CNT) identificou os principais gargalos de logística e transporte no Brasil: (i) o

desbalanceamento da matriz de transportes, (ii) a legislação e fiscalização

inadequadas, (iii) a deficiência da infra-estrutura de apoio e (iv) a insegurança nas

vias. A criação do Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) em 2007

pelo Ministério dos Transportes em parceria com o Ministério da Defesa teve como

motivação principal a superação dos gargalos logísticos do País.

Os investimentos em logística previstos para Pernambuco se concentram

basicamente nas obras da Nova Ferrovia Transnordestina e da duplicação de novos

trechos das BRs 232 (São Caetano a Arcoverde), 101 (PE-PB, PE-AL e contorno de

Recife), 408 (Camaragibe a Timbaúba) e 104 (que atravessa de Norte a Sul o

Agreste Pernambucano). Além dessas, estão sendo ampliadas e melhoradas as

estruturas do Porto de Suape, Porto do Recife e Aeroporto do Recife. Entretanto, a

Nova Transnordestina é o principal projeto em infraestrutura logística que o Estado

de Pernambuco receberá. De acordo com os dados do PNLT (apud Governo de

Page 168: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

168

Pernambuco), 54,7% dos investimentos previstos entre 2008 e 2011, nos diversos

tipos de modais, destinam-se às obras da Nova Transnordestina.

A Nova Transnordestina se estenderá por um trecho de 1.728 km dos quais

pelo menos 688 km passarão por Pernambuco e o restante pelos Estados do Ceará

e Piauí. Esta obra demandará cerca de R$ 4,5 bilhões, sendo que aproximadamente

R$ 2,2 bilhões serão aplicados em Pernambuco. A Ferrovia terá a capacidade de

transportar 30 milhões de toneladas de carga por ano, com um potencial de

armazenagem estática nos terminais portuários Pecém e Suape de 900 mil

toneladas. Serão gerados cerca de 70 mil empregos na fase de construção e estima-

se que aproximadamente 550 mil postos de trabalhos serão criados direta e

indiretamente graças a Nova Transnordestina (CSN, 2010).

2.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE

O Pólo Farmacoquímico de Pernambuco, localizado às margens da BR-101

no município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco permite a

interiorização do desenvolvimento. Três importantes empresas puxarão os

investimentos e o ritmo de crescimento da produção de medicamentos e outros

farmacológicos: a Hemobrás – Empresa Brasileira de Hemoderivados e

Biotecnologia – estatal federal vinculada ao Ministério da Saúde; uma fábrica da

multinacional farmacêutica Novartis; e uma unidade da Lafepe Química, laboratório

público pernambucano, o segundo maior do Brasil. Outras empresas serão atraídas

para atender diversas demandas de serviços e produtos. A Hemobrás e Novartis

estarão investindo neste projeto mais de US$ 500 milhões cada, totalizando um

aporte de US$ 1,1 bilhão.

Até o momento, o cronograma das obras está atrasado, primeiro, por

alterações no projeto orientadas pela Agência Estadual do Meio Ambiente e

Recursos Hídricos (CPRH) e, paralisação, em razão do cancelamento e retomada

da licitação das obras iniciais. A localização do Pólo em Goiana deve-se a fatores

como: i) está às margens da BR-101 distante 63 km de Recife (PE) e 40 km de João

Pessoa (PB); ii) fácil acesso a três portos (Suape, Recife e Cabedelo) e a um

aeroporto internacional; iii) disponibilidade de lençol aqüífero; iv) ar puro e com

temperatura ambiente com média de 23ºC; v) proximidade com três centros de

ensino e pesquisa (Recife, João Pessoa e Campina Grande). O Governo do Estado

Page 169: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

169

desapropriou 345 ha de um terreno em Goiana para as futuras instalações das

empresas.

A Hemobrás foi criada pela Lei 10.972 (02/12/2004) para tornar o Brasil auto-

suficiente em alguns elementos importantes (Fatores VIII, IX, Complexo

Protombínico e o Fator de Von Willebrand) para o tratamento de doenças e casos

médicos até 2014. Considerando que, atualmente o Brasil precisa importar cerca de

R$ 800 milhões, prejudicando o equilíbrio da Balança Comercial, com a

operacionalização da Hemobrás, estima-se que serão economizados 25% dos

recursos gastos atualmente.

A transferência tecnológica e a capacitação de funcionários-chave serão

realizadas pelo Laboratoire Français du Fractionnement e des Biotechnologies num

total de R$ 16 milhões. A compra dos equipamentos será feita com outra empresa,

ainda em estudo, a um valor previsto de R$ 262,8 milhões. Os demais gastos são

com as obras, R$ 252,8 milhões e com o prédio administrativo, R$ 7,5 milhões. O

valor estimado para faturamento do empreendimento é de R$ 961 milhões anuais a

partir do 5º ano de funcionamento.

2.4 Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco

Conforme dados do Ministério da Integração Nacional, a Região Nordeste

possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28% da população brasileira. Além

da escassa quantidade de água para sua população residente, os recursos hídricos

são mal distribuídos ao longo de toda Região: enquanto o Semi-Árido da Bacia do

São Francisco dispõe de 2.000 a 10.000 m3/hab/ano de água disponível em rio

permanente; o Semi-Árido do Nordeste Setentrional, compreendendo parte do

estado de Pernambuco e os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará,

dispõe de pouco mais de 400m3/hab/ano através de açudes construídos em rios

intermitentes e em aqüíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à

quantidade de suas águas. A ONU estabelece um limite mínimo de 1.500

m3/hab/ano de disponibilidade hídrica para garantir as necessidades básicas de

sobrevivência de uma sociedade, patamares esses que revelam que a situação de

vulnerabilidade daquela população.

O projeto de transposição do São Francisco surgiu com o argumento de sanar

essa deficiência hídrica na região do Semi-Árido através da transferência de água do

rio para abastecimento de açudes e rios menores na Região Nordeste. Os objetivos

Page 170: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

170

básicos são: aumentar a oferta de água, com garantia de atendimento ao Semi-

Árido; fornecer água de forma complementar para açudes existentes na região,

viabilizando melhor gestão da água; reduzir as diferenças regionais causadas pela

oferta desigual da água entre bacias e populações.

Atualmente o projeto da transposição pertence ao eixo de Infraestrutura

Social dos investimentos do PAC, os quais contemplam a difusão de energia elétrica

para a zona rural, saneamento básico, construção de moradias, metrôs e ampliação

do acesso a recursos hídricos. O PAC garantiu mais de R$ 5 bilhões para obras,

estudos, projetos e demais ações do Projeto São Francisco, que engloba a

construção de dois canais, os Eixos Norte e Leste. A obra beneficiará uma

população estimada de 12 milhões de habitantes e está prevista para ser concluída

em 2025. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a captação de água do

rio São Francisco será de cerca de 3,5% da sua vazão disponível (MI, 2004).

O Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

(PRSF) é coordenado pela Secretaria- Executiva do Ministério do Meio Ambiente,

em parceria com o Ministério da Integração Nacional e tem um prazo de execução

de 20 anos. O PRSF terá sua continuidade assegurada com recursos do PAC entre

2007 e 2010 na ordem de R$ 1,3 bilhões. As ações previstas consistem em obras de

saneamento básico (resíduos sólidos, esgoto), contenção de barrancos e de controle

de processos erosivos, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares.

No que tange à integração das bacias, as obras ocorrerão por meio da

construção dos Eixos Norte e Leste. O Eixo Norte fará a captação nas imediações

de Cabrobó (PE), percorrerá cerca de 400 km, conduzindo água aos rios Salgado e

Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na Paraíba e

Rio Grande do Norte. Ao cruzar Pernambuco este eixo disponibilizará água para

atender as demandas de municípios inseridos em três sub-bacias do rio São

Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região do Brígida, no oeste

de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 km de comprimento que derivará

parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu. O Eixo Leste,

por sua vez, captará no lago da barragem de Itaparica, na divisa de Pernambuco

com a Bahia, começando em Floresta, passando por um caminhamento de 220 km

até o rio Paraíba (PB), após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú,

do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das demandas

da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um ramal de 70

Page 171: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

171

km que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca. Em todo Estado de

Pernambuco serão 113 municípios atendidos, e aproximadamente três milhões de

pessoas beneficiados pelas obras e mudanças no ambiente e hidrografia das

regiões. Dados do site do MI afirmam que o Eixo Leste já apresenta 49% de suas

obras realizadas, o Eixo Norte possui 37% e o Canal do Sertão Alagoano/AL (64,7

km) já finalizou 57% de suas obras.

3. Análise dos impactos dos GPFs na economia de Per nambuco

3.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroq uímica Suape, Refinaria

Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul

O impacto da Petroquímica Suape pela ótica do insumo produto foi

implementado por Campos e Kehrle (2007) e indicou que o crescimento da

economia estadual seria na ordem de 4,03% do PIB somente em decorrência da

construção do parque fabril da Petroquímica. A construção da RAL gerará

incremento de 5,99% e o EAS de 0,47%. O Plano Diretor de Suape realiza estudo

similar, mas focando o aumento da economia tendo em vista a operação das

empresas e a partir de uma atualização da matriz-insumo produto de 1999 para

2006. Em virtude das diferenças de agregação que foram necessárias para a

atualização da matriz, parte da produção da Petroquímica Suape foi lançada em

Indústria Química e parte em Refino de Petróleo e Indústria Petroquímica, o que

impede relatar os efeitos da Petroquímica Suape em separado da RAL. Contudo, os

valores são bastante elevados, pois o crescimento da produção da “indústria

química” estimado é de 74,29%, do “refino de petróleo e indústria petroquímica” de

1.885,48% e o da “indústria de transformação de material plástico” de 32,56% após

a entrada em operação de todos os investimentos estruturadores em curso em

Suape.

Os impactos diretos gerados pela Petroquímica consistem basicamente em

mudança no fluxo comercial do estado e a geração de emprego e renda. Ao invés de

importar PTA, o Estado passará a importar nafta e paraxileno (que poderá vir de

outros estados da União) passando a ser um fornecedor de PTA para todo o Brasil e

tendo capacidade de exportar para a Argentina. A elevação da produção de resina

PET deverá elevar o saldo comercial já positivo de Pernambuco neste produto. Ao

Page 172: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

172

mesmo tempo, impactos positivos poderão ser sentidos na exportação de filmes

para embalagens e de fios de poliéster.

A análise dos impactos indiretos deve, portanto, focar em externalidades

positivas e negativas que são geradas no funcionamento do novo empreendimento.

Olhando à montante, nota-se que a existência da Refinaria ao lado da Petroquímica

gera a possibilidade de uma empresa ser supridora da outra quando forem feitos

planos de expansão da Petrobrás na produção de nafta. Logo, a implantação da

Petroquímica ao lado da Refinaria, mesmo não gerando encadeamentos neste

momento, gesta vantagens em médio prazo para um setor econômico ainda em

implantação.

Outra externalidade positiva é a possibilidade de atração de empresas têxteis

para processar os fios a serem produzidos, com vistas no amplo mercado estadual

que já é exportador de vestuário. Tal fato, contudo, deve ser melhor qualificado. A

configuração produtiva de confecções pernambucana não é capaz de gerar estes

efeitos com facilidade. Isto se deve aos seguintes fatos: i) os dois principais pólos

produtivos (notadamente os que configuram APLs – Recife e agreste) são baseados

em micro-empresas informais; ii) o pólo produtivo de Paulista, apesar de ser de

empresas médias e formais, não possui densidade suficiente; iii) a concepção da

direção da Petroquímica no tocante ao setor têxtil apresenta perfil muito focado na

‘oferta’; e iv) a oferta de mão-de-obra qualificada no setor têxtil é inadequada.

Ao mesmo tempo, a entrevista com os dirigentes da Petroquímica revelou

uma postura de desconhecimento do mercado têxtil e um sentimento de que apenas

o fato de haver uma oferta de fios no estado é capaz de atrair empresas. Como a

preocupação dos dirigentes da Petroquímica Suape é com estratégias em nível

nacional, não existe grande preocupação se os beneficiados com a produção de fios

pernambucana sejam fábricas no Sul e Sudeste que deixarão de importar fios do

exterior e passarão a comprar de Pernambuco.

Quando a RAL estiver em operação, o Brasil poderá deixar de importar óleo

diesel, o que impactaria positivamente na balança comercial nacional e estadual,

assim como ocorre com a Petroquímica Suape. A construção da RAL e da

Petroquímica Suape geram grande demanda para o segmento metalmecânico em

sua fase de construção, e alguma demanda para sua manutenção. Contudo, a

pequena densidade deste em Pernambuco diminui os efeitos multiplicadores da

construção. Mas, conjugando esta demanda com a existente na construção dos

Page 173: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

173

navios do pólo naval, o potencial de crescimento deste segmento se amplia

bastante. Tal fato pode ocorrer tanto pela atração de fornecedores quanto pelo

crescimento de empresas pernambucanas. Duas empresas já foram atraídas: a

FASAL e a Máquinas Piratininga.

Além dos fornecedores de grande porte, a RAL necessitará também de micro

e pequenas empresas como fornecedores. Para isso está realizando, em convênio

com o SEBRAE-PE, capacitação empresarial para esses micros e pequenos

empresários potenciais que poderão atender diversas demandas da refinaria, tais

como: serviços gerais, alimentação, ensaios empresarias e serviços técnicos.

O conjunto de investimentos realizados em Suape mudou a dinâmica

econômica de Pernambuco visto que: i) a configuração urbana das cidades do

entorno de Suape está se alterando e ii) a cadeia de negócios ligados à engenharia

civil aqueceu-se vertiginosamente, pois, além da modernização da infraestrutura e

da construção das indústrias a demanda habitacional cresceu alavancada pelo

financiamento bancário e pelo crescimento da renda no estado.

3.2. Ferrovia Nova Transnordestina e a duplicação d as rodovias BRs

Diversos impactos e transformações na economia de Pernambuco são

esperados em decorrência das obras de infraestrutura logística vinculadas à

duplicação das BRs e construção da Nova Transnordestina. A expectativa da CSN é

que somente a obra da ferrovia deverá gerar: i) redução dos custos logísticos; ii)

aumento do valor das terras do cerrado nordestino; iii) reorganização espacial da

produção agrícola; iv) atração de novos empreendimentos para a região; v) estímulo

ao projeto nacional de biodiesel.

A redução dos custos de transporte é a causa principal geradora desses

possíveis impactos e a lógica é que a melhora da infraestrutura logística é capaz de

promover um incremento substancial na produtividade do transporte de cargas. A

Nova Transnordestina terá trens transportando 11 vezes mais potentes do que as

máquinas atuais, o que elevará a capacidade de escoamento em 20 vezes a um

consumo de combustível 72% inferior.

De fato, os investimentos logísticos provocarão uma reformulação da matriz

de transporte do Estado que afetará a organização do espaço produtivo em

Pernambuco, em virtude da intensificação das relações comerciais entre empresas,

ou dos chamados efeitos linkages. Em outros termos, a melhoria da infraestrutura

Page 174: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

174

logística cria condições para que várias aglomerações econômicas possuam novos

canais de comunicação e comercialização, possibilitando novas perspectivas e

ações estratégicas para os empreendimentos locais, facilitando não somente o

comércio interno, mas também as exportações e o acesso a novas informações e

inovações.

O gesso e o granito do APL gesseiro do Araripe de Pernambuco poderão

facilmente atravessar todo o Estado a partir do trecho Trindade-Salgueiro-Suape

previsto para a Nova Transnordestina. A via ferroviária também é uma opção para o

transporte de gás natural para suprir as calcinadoras enquanto não existir o

gasoduto ligando a região a Caruaru. Prevê-se a captação e movimentação, pela

Ferrovia, de 3 milhões de toneladas de gesso e gipsita. Caso se viabilize a Hidrovia

do São Francisco e a ligação do Ramal Petrolina-Parnamirim, a movimentação pode

alcançar, no mesmo ano de referência, cerca de 5,5 milhões de toneladas (Governo

de Pernambuco, s/d). Os APLs de fruticultura, vitivinicultura também poderão

ampliar significativamente o seu volume de escoamento da produção através dos

trechos Petrolina-Parnamirim, Salgueiro-Suape da Nova Transnordestina.

Este corredor logístico, além de promover a integração multimodal de

transporte (duplicação das BRs e ferrovia Transnordestina), prevê ainda a

implantação de empresas de logística que serão responsáveis pela armazenagem,

montagem e distribuição dos produtos. Algumas dessas empresas inclusive já

começam a se instalar no Complexo de Suape. Outra iniciativa do gênero está

prevista para Salgueiro: a Plataforma Logística Multimodal em Salgueiro/PE (PLMS).

3.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE

A criação de um pólo biotecnológico em plena zona canavieira de

Pernambuco gera um contraste com a realidade subdesenvolvida da população por

tratar-se de segmento de alta tecnologia. A tradição do setor sucroalcooleiro

perpassa a história e economia do estado, trata-se uma realidade enraizada sobre a

cultura e identidade do território da mata pernambucana, que por vezes parece

arrefecer o surgimento de outros segmentos econômicos, como também de não

contribuir com o desenvolvimento socioeconômico da população. Goiana é um dos

poucos exemplos da zona da mata onde a diversificação econômica apresenta-se

embrionariamente. Contudo, tal diversificação está baseada em atividades primárias,

extrativistas ou agroindustriais que agregam pouco valor. Assim, a implantação de

Page 175: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

175

um pólo farmacoquímico em Goiana representa o potencial de mudança no perfil

econômico e social do município.

Serão 900 empregos diretos que fogem ao padrão de trabalho degradante

com salário mínimo sazonal das usinas canavieiras ou mesmo das aposentadorias

rurais e outros benefícios de transferência direta dos Governos. Contudo, o maior

questionamento é se é possível treinar os residentes da região para assumirem

postos nas linhas produtivas, ou se haverá apenas transferência de pessoas

capacitadas para a cidade. Se esta segunda opção ocorrer, os impactos sociais não

serão tão positivos, pois diminuirá a coesão social atualmente existente.

3.4. Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco

Há muita polêmica em torno deste projeto. De um lado o Governo defende

que a transposição promoverá a garantia de água para o desenvolvimento

sócioeconômico dos estados mais vulneráveis à seca. Por outro lado, alguns

ambientalistas, profissionais da área de recursos hídricos e membros da sociedade

civil organizada contra-argumentam que haverá impactos ambientais negativos

podendo desmatar matas ciliares, poluir o Rio, modificar seu ecossistema, extinguir

ou reduzir espécies, comprometer a vazão do Rio, além de não atender toda a

população do Semi-Árido que sofre com o problema da seca.

A polêmica em torno da transposição ocorre, sobretudo, em relação ao Eixo

Norte, que prevê o desvio de águas para o Ceará. Isto porque o Eixo Leste, que

levará água para Pernambuco e Paraíba utilizará rios dentro da própria bacia, o que

não configura transposição. Com vistas a avaliar os prós e os contras da

transposição o RIMA traz uma lista com os impactos nas mais variadas dimensões

do bem-estar da população potencialmente afetada. A ponderação entre os

impactos positivos e negativos do relatório apresenta problemas, pois supôs que a

água transposta seria utilizada para produção agropecuária, além da humana, o que

não é possível por lei, nem recomendável tendo em vista as vazões do projeto.

Diante da ambigüidade acerca do impacto líquido que a obra da Transposição

deverá trazer para as regiões contempladas por ela, é difícil assumir uma posição

definitiva sobre se de fato haverá benefícios para a economia de Pernambuco. A

própria geração de empregos com as obras e a intensificação do comércio e

serviços que está ocorrendo no seu entorno pode não representar um ganho

permanente para a população, já que também se espera êxodo e desestruturação

Page 176: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

176

de laços familiares das populações que precisarão ser deslocadas nas regiões por

onde passarão os canais.

4. Reflexões e proposições de políticas

Foi demonstrado, então, que o grande volume de investimentos federais em

Pernambuco é um dos fatores responsáveis pela mudança de rumo no padrão de

crescimento econômico. Ao mesmo, os GPFs poderão gerar mudanças na estrutura

de oferta que levem à melhoria no padrão de desenvolvimento. Para auxiliar que

esta potencialidade se efetive são necessárias ações complementares, algumas de

cunho mais pontual, conforme se apresenta nesta seção.

4.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroq uímica Suape, Refinaria

Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul

A grande concentração dos GPFs no complexo de Suape, além de apresentar

os impactos positivos já comentados, gera dois grandes problemas a serem

enfrentados. O primeiro refere-se à enorme concentração produtiva que está sendo

gestada no estado. Esta concentração gera desde problemas políticos sobre a

divisão dos impostos gerados (que se concentrarão em um ou talvez dois

municípios) até problemas de deslocamento de mão-de-obra como a geração de

emprego em municípios no extremo sul da RMR quando a maior parte das pessoas

desempregadas com experiência em empregos industriais mora no extremo norte. A

forte implantação de empresas em Suape também gerou a necessidade de se

reduzir o tamanho da área de reserva ambiental. Somando a isto está o fato de que

os GPFs estão ligados ao setor de petróleo e gás, reconhecido por gerar acidentes

ambientais de grandes proporções. Ou seja, os GPFs gerarão desequilíbrios

políticos, sociais e ambientais além dos impactos positivos já citados.

Assim, o principal norte para políticas públicas deve ser a mitigação destes

desequilíbrios. Parte disto já está previsto no Programa Territórios da Cidadania

(PTC) que descentraliza os esforços do Governo Federal na área social. Contudo,

os dados deste programa indicam que há a necessidade de maior celeridade em sua

implantação. O volume de investimentos e empregos gerados fora da RMR ainda é

insuficiente para contrabalançar a enorme concentração em Suape. Infelizmente

ainda não existem notícias de políticas que visem mitigar os efeitos ambientais dos

projetos em Suape.

Page 177: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

177

A forte alteração da estrutura produtiva estadual no complexo de Suape

explicitou a grande carência de mão-de-obra qualificada em diversos segmentos

produtivos. Parte desta carência já vem sendo sanada com a implantação de

escolas técnicas, ampliação da rede de ensino superior e iniciativas do sistema S. A

grande dificuldade será transformar pessoas com baixa escolaridade e nenhuma

experiência anterior no trabalho industrial em operadores de máquinas

computadorizadas e com alta precisão.

No tocante à RAL o mais importante é fortalecer o processo de criar

fornecedores locais a partir de micro e pequenas empresas. É sabido que a

Petrobrás possui política de contratação que exige dos seus fornecedores alto nível

de qualidade, formalização e grande porte. Mesmo estes fornecedores devem provar

que usam fornecedores que também seguem aos preceitos de qualidade da

Petrobrás. Tal atitude é necessária e não deve ser mudada. Mas o processo atual de

cadastramento e treinamento pelo SEBRAE de eventuais fornecedores é insuficiente

para que haja a criação de uma rede relevante de micro e pequenos empresários

ligados aos grandes fornecedores da Petrobrás. O BNDES deve descentralizar

ainda mais suas linhas de financiamentos para facilitar a formalização e a busca

pela qualidade destes empresários.

Pelo que foi exposto anteriormente, a implantação da Petroquímica Suape

trará impactos positivos de grande monta para a economia estadual. Contudo, o

formato que vem sendo adotado pode levar a que a empresa torne-se um enclave

dentro da economia estadual, pois apenas três grandes empresas são potenciais

compradoras da petroquímica, sendo que uma delas também será concorrente em

um dos produtos finais, o PET. O fato da M&G ter deixado a sociedade da

Petroquímica e possuir unidade de fabricação de PET de grandes dimensões, pode

fazer com que seja estratégico manter outros fornecedores (mesmo importando)

para garantir a competitividade no médio e longo prazo.

Desta feita, é preciso que políticas públicas sejam moldadas para que ocorra

a integração da empresa, principalmente com a cadeia têxtil e de confecções. Para

tanto a sugestão é que haja a liderança do Governo Estadual em programa que

tente estimular esta integração. A partir de estudos realizado por Moutinho et al

(2010a), a instituição que deveria liderar este programa seria o ITEP. Como este

órgão já está realizando atividades juntos aos APLs de confecções, poderia ser o

catalizador de ações que levassem a parcerias entre médias empresas de

Page 178: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

178

confecções do estado com alguma grande empresa têxtil no sentido de inovação em

tecidos, principalmente seguindo a linha dos ‘tecidos inteligentes’.

O pólo naval que está em gestação em Suape está totalmente focado em

atender às necessidades de um único comprador, a Petrobrás. Tal estratégia é

muito arriscada e pode levar a que dentro de uma ou duas décadas o pólo venha a

definhar, como já ocorreu com outros pólos navais no Brasil e no mundo. O BNDES

deve criar mecanismos financeiros para que estes estaleiros possam atender não

apenas a Petrobrás, mas também vender equipamentos para outras petroleiras e

armadores do mundo.

4.2. Ferrovia Transnordestina e a duplicação das ro dovias BRs

O principal problema que se apresenta em todos os GPFs de cunho logístico

em Pernambuco é o considerável atraso nas obras. A morosidade na

desapropriação de terras, na obtenção de licenças ambientais e até mesmo na

construção dilui os impactos de geração de emprego e renda ao longo de mais anos,

o que diminui eventuais transbordamentos para outros setores além da construção

civil. Ao mesmo tempo os impactos positivos com a mudança da estrutura logística

são postergados.

Também é digno de nota a ausência do projeto da CSN do trecho Petrolina-

Parnamirim, o qual será fundamental para o escoamento da produção da fronteira

agrícola irrigada do Vale do São Francisco e traria a possibilidade de melhorar o

escoamento da produção agrícola do oeste baiano.

O principal desafio para a elaboração de políticas públicas está, contudo, nos

efeitos de uma mudança tão drástica da matriz logística. Os modelos teóricos que

tratam da questão do custo de transporte sobre o ordenamento territorial mostram

que mudanças deste tipo ocorrem em bifurcação, ou seja, a região que recebe a

ferrovia e a melhoria de rodovias pode tanto apresentar um crescimento vertiginoso

quanto a drenagem de suas atividades produtivas.

Um bom exemplo deste tipo de risco se encontra na atividade gesseira da

região do Araripe. A construção da Nova Transnordestina pode representar uma

ameaça às empresas do APL gesseiro, pois como a água é um recurso escasso na

região, a redução dos custos de transporte possibilitada pela nova ferrovia, pode

tornar mais barato o transporte da gipsita em pó para ser hidratada em outras

regiões abundantes em água do que fabricar os artefatos de gesso na própria

Page 179: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

179

região. Conseqüentemente, há uma tendência esperada de haver transferência das

fábricas de artefatos de gesso do Araripe para a Zona da Mata ou RMR, o que neste

caso aprofundaria ainda mais a concentração produtiva já existente nessas regiões.

Neste caso específico de Araripe, para que ainda seja rentável produzir artefatos em

gesso na região do Araripe é preciso haver diferencial competitivo com base em

inovação tecnológica.

4.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE

A criação desse Pólo precisará de investimentos nas áreas educacional,

profissional, empresarial e de construção de capital social no município de Goiana.

O Pólo irá necessitar de um grande contingente de mão-de-obra com características

que a microregião não possui. A redução dos custos de transporte e a proximidade

de Recife e João Pessoa (dois importantes centros universitários e de pesquisa que

estarão envolvidos diretamente com o pólo) geram a possibilidade de que o pessoal

acima de médio escalão não venha a morar em Goiana, diminuindo os impactos

positivos deste empreendimento e fazendo com que os esforços de descentralização

e deslocamento produtivo que este projeto personifica não surtam efeito esperado.

Desta feita uma importante política pública é dotar o município de infraestrutura

social que seja capaz de fixar a mão-de-obra no próprio município.

Dado ao volume bilionário desses investimentos e a representação do seu

impacto para a economia e sociedade, seria importante e plausível que as empresas

previstas para o pólo se articulassem junto ao Governo Estadual e Federal ou

SENAI para que fosse criada ao menos uma escola técnica e profissional e também

unidades avançadas de Campi das universidades objetivando a capacitação de seus

possíveis funcionários, auxiliando, assim, na fixação da mão-de-obra.

4.4. Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco

Como já citado anteriormente, a forte oposição à realização da transposição

do São Francisco promoveu a apresentação de um grande conjunto de programas

propostos pelo relatório de impacto ambiental. Cumpre destacar que, boa parte dos

programas propostos é desejável para a região da transposição, mesmo que a

mesma não seja efetuada, ou seja, atende a carências já existentes. Também é

importante salientar que as propostas de convivência com a seca feitas pelos

Page 180: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

180

opositores da transposição não devem ser postas de lado, supondo que apenas a

transposição será capaz de resolver o problema da seca.

5. Considerações finais

Neste artigo pode ser visto que os impactos positivos dos GPFs envolvem o

aquecimento conjuntural da economia pernambucana e a mudança em sua estrutura

de oferta, com a inserção de subsetores antes inexistentes e a acentuada melhoria

da matriz logística. Alterações tão radicais na oferta certamente levam a que o

aquecimento hoje existente se converta em um processo dinâmico de ganho de

vigor econômico. Contudo, a concentração dos investimentos industriais e o formato

dos investimentos logísticos, podem levar a que se intensifique a concentração

intraestadual de renda. As políticas propostas no artigo visam diminuir a

probabilidade de que isto ocorra e aumentar as chances de que o desenvolvimento

se espraie de forma mais justa entre as microrregiões pernambucanas.

A partir das análises anteriores é possível elencar um conjunto de medidas

que podem ser tomadas visando ampliar os impactos positivos dos GPFs e também

reduzir os seus impactos negativos: i) criação de políticas mais explícitas de

descentralização na atração de investimentos, passando pela facilitação no

processo de concessão de crédito; ii) agilização na implantação do PTC; iii) políticas

de integração da RAL e da Petroquímica com a economia estadual, principalmente a

partir do ITEP; iv) política de apoio financeiro à exportação do pólo naval; v)

avaliação dos cursos de capacitação e da colocação dos egressos para certificar-se

de que os mesmos estão suprindo a necessidade de mão-de-obra e gerando

oportunidades para as pessoas; vi) aceleração da construção da infraestrutura de

transporte; vii) estudos e intervenções nos APLs para evitar que a mudança na

matriz de transporte leve a dinâmica de drenagem da economia do interior; viii)

construção de infraestrutura social em Goiana para fixação de mão-de-obra

qualificada; ix) implantação efetiva de todos os programas propostos no estudo de

impacto ambiental da transposição do Rio São Francisco.

Referências

CAMPOS, L. H. R.; KEHRLE, L. R.. Uma utilização da matriz de insumo-produto para avaliação de três investimentos estruturadores em SUAPE. In: V Encontro Nacional de Estudos Regionais e Urbanos, 2007, Recife. V ENABER. Recife: ABER, 2007.

Page 181: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

181

CNT, COPPEAD/ UFRJ. Transporte de cargas no Brasil: Ameaças e oportunidades para o desenvolvimento do País. Diagnóstico e plano de ação. Disponível em: http://www.cnt.org.br/portal/(F(0SwtYplGi1mZf3bcAxRmVCiYJd_seJ2EIg85coFR20IY9Cn20roLFaKjtZODYvqjc5Xfca3Y7LKSmt1MyW9oi5bqzKYUNVuJWaOH9VA941))/arquivos/cnt/downloads/coppead_cargas.pdf. 2010. CSN. Transnordestina Logística S.A. 2010. Disponível em: http://www.csn.com.br/portal/page?_pageid=595,244768&_dad=portal&_schema=PORTAL. FARIA, C. Transposição do Rio São Francisco. 2008. Disponível em <http://www.infoescola.com/hidrografia/transposicao-do-rio-sao-francisco/>. GOVERNO DE PERNAMBUCO. S/D. Disponível em: http://www.google.com.br/#hl=ptBR&source=hp&q=%22Nordeste%3A+Economia+e+InfraEstrutura%22+transnordestina&btnG=Pesquisa+Google&aq=f&aqi=&aql=&oq=%22Nordeste%3A+Economia+e+InfraEstrutura%22+transnordestina&gs_rfai=&fp=8bdc8aec77382032. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL (MI). Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional: Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Julho de 2004. Disponível em <http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp>. _____________________. Projeto São Francisco. <http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp> Acesso em agosto de 2010. MOUTINHO, L. M. G. et al. Mapeamento, metodologia de identificação e critérios de seleção para políticas de apoio nos Arranjos Produtivos Locais – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Norde ste. Recife/PE, maio 2009. (NOTA TÉCNICA 2/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Análise do Balanço de Pagamentos do estado e a importância dos APLs no Fluxo de Comércio – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mat o Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Recife/PE, setembro 2009. (NOTA TÉCNICA 4/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Caracterização, Análise e Sugestões para Adensamento das Políticas de Apoio a APLs Implementadas nos Estados – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Norde ste . Recife/PE, dezembro 2009. (NOTA TÉCNICA 5/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

Page 182: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

182

MOUTINHO, L. M. G. et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Pernambuco – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos gr andes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Pernambuco e Proposição de Políticas – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste . Recife/PE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>.

Page 183: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

183

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS

NO RIO GRANDE DO NORTE1

Valdênia Apolinário / Coordenadora Estadual

Maria Lussieu da Silva

Odair Lopes Garcia

João Matos Filho

Denílson da Silva Araújo

Rosangela dos Santos Alves Pequeno

Estévani Pereira de Oliveira

Yuri Cesar de Lima e Silva2 3

INTRODUÇÃO

Este capítulo constitui uma síntese das pesquisas desenvolvidas no âmbito do

projeto “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no

Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no

Nordeste”, especialmente nas Notas Técnicas 10 e 11. Seus objetivos são analisar

os impactos dos GPFs na redução dos gargalos econômicos e sociais do Rio

Grande do Norte e propor ações que possam elevar seu grau de endogeneidade.

Além desta introdução este artigo está dividido em mais três seções. A

primeira apresenta aspectos sócio-econômicos e desafios ao desenvolvimento do

estado. Na segunda caracterizam-se os principais gargalos da economia local

frentes às ações executadas pelos Grandes Projetos, incluindo uma avaliação

qualitativa dos seus impactos. A terceira apresenta as considerações finais e propõe

políticas e ações para superar os gargalos remanescentes e aumentar a

endogeneidade dos efeitos dos GPFs.

1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Rio Grande do Norte”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa. 3 Agradecemos ao estagiário Igor Costa Freire Luzardo por sua participação na segunda etapa da pesquisa.

Page 184: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

184

2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E DESAFIOS AO DESENVOLV IMENTO DO

ESTADO

Parte-se do princípio que os GPFs têm por suposto eliminar ou reduzir os

gargalos da economia local, entendidos aqui como restrições que limitam ou

impedem o crescimento econômico e a equidade social. A endogenia, caracterizada

pelas interações geradas localmente, favorece o desenvolvimento pelo seu efeito

multiplicador tanto na economia como em outras dimensões sociais. A endogenia

dos grandes projetos também mantém relação com as características locais, tais

como a disponibilidade de recursos naturais, humanos, ciência e tecnologia e de

coordenação, entre outros. Todos estes aspectos definem o grau de interação entre

as políticas e ações dos GPFs com a economia estadual/local.

O Rio Grande do Norte (RN) é um estado relativamente pequeno. Localizado

na porção oriental da região Nordeste (NE), possui um território de 52.796,791 km2,

o que corresponde a 0,62% do território nacional e 3,41% do nordestino (IDEMA,

2002). A contagem da população realizada pelo IBGE em 2007 somou 3.014.228

habitantes, representando 5,85% da população nordestina e 1,64% da brasileira.

A economia potiguar apresentou desempenho bastante satisfatório no período

entre 1985 e 2006. A sua taxa geométrica de crescimento (3,45% aa) foi maior que a

brasileira (2,93% aa) e a do NE (2,58% aa)4. Neste último ano o PIB atingiu R$

20.557 milhões (0,87% do PIB nacional), classificando o estado em 18º lugar entre

as demais unidades da federação e na 5ª colocação no contexto nordestino. Seu

PIB per-capita alcançou R$ 6.754, ficando 12,01% acima da média regional (R$

6.029), mas representando somente 53,23% da média nacional (R$ 12.688). Esse

valor colocava o estado na 3ª posição no NE e em 22ª no país (IBGE, 2008a).

A economia do estado depende fortemente dos gastos públicos. A

participação dos gastos em administração, saúde e educação públicas e seguridade

social atingiram 25,81% do valor agregado bruto (VAB) em 2006. Em seguida vem o

comércio (12,73%), revelando a menor importância da produção local.

Uma das características do sistema produtivo potiguar é sua dependência da

exploração de recursos naturais. Entre as atividades industriais, a extrativa mineral

participava com 10,17% do VAB em 2006, reflexo do seu grande potencial mineral, 4Calculado a partir do PIB a preços de mercado constantes de 2000. Dados disponíveis em www.ipea.gov.br/ipeadata.

Page 185: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

185

com registro de significativas reservas em mais de trinta elementos. Entretanto, a

prospecção, extração, refino e transformação do petróleo e gás é a principal

atividade da indústria, compondo uma cadeia produtiva integrada com interação

significativa entre os agentes.

A indústria de transformação (6,97% do VAB) é baseada na produção de

bens de consumo duráveis. As indústrias de alimentos e bebidas, têxtil, confecções,

calçados, minerais não metálicos, borracha e plástico e química, respondiam por

mais de 90,35% do valor bruto da produção industrial em 2006 (PIA/IBGE, 2008). As

maiores empresas são filiais de grupos nacionais e regionais, cujas matrizes estão

localizadas nos estados do sudeste, com plantas espalhadas por diversos estados

do Nordeste e em outras regiões do país.

As atividades relacionadas ao turismo expandiram-se nos últimos anos,

tornando o estado um dos principais destinos nacionais e internacionais, refletindo-

se na participação de 2,50% das atividades de alojamento e alimentação no VAB. As

atividades turísticas têm efeitos sobre uma ampla gama de atividades. A construção

civil (5,78%), através de investimentos na formação da infraestrutura, equipamentos

turísticos e construção de imóveis é uma delas, assim como as atividades

imobiliárias, cuja participação (8,29%) ultrapassou a da indústria de transformação

na composição do VAB.

Na agropecuária, a pecuária e pesca (3,50%) suplantaram a importância da

agricultura (2,86%) na formação do VAB. Nas atividades da pecuária leiteira, a

melhoria da qualidade do rebanho bovino provocou um crescimento significativo na

produtividade da produção de leite e seus derivados. A expansão e melhora do

rebanho de ovinos e caprinos também foram significativas nos últimos dez anos.

Na aqüicultura o estado se tornou o maior produtor e exportador nacional de

camarão. No APL da carcinicultura existe um elevado grau de integração. Os

produtores locais dominam a tecnologia e são auto-suficientes em todos os elos da

cadeia, contando com o apoio de pesquisas desenvolvidas no próprio estado. A

pesca oceânica, realizada por empresas que utilizam modernas técnicas para

captura e a posição privilegiada em relação ao trajeto dos cardumes, tornaram o

estado o maior produtor e exportador nacional de atum, meca e espécies afins5.

5 A participação dos outros componentes no VAB em 2006 foi: produção e distribuição de energia elétrica, gás, água e saneamento básico – SIUP - (2,56%), transporte, armazenagem e correio (3,73%), intermediação financeira (3,68%), serviços de informação (3,05%) e serviços prestados às empresas (3,00%)

Page 186: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

186

Na agricultura, a fruticultura representa cerca de 50,0% do valor bruto da

produção. Aqui também o estado destaca-se em relação às culturas de melão,

melancia, banana, castanha de caju e abacaxi. Produzidas por grandes, médios e

pequenos produtores são destinadas ao abastecimento dos mercados nacional e

internacional.

Deve-se salientar que a maioria dessas atividades é apoiada por políticas

públicas estaduais. Além disso, apesar de serem commodities minerais ou

agropecuárias, a produção local incorpora doses significativas de tecnologia,

geralmente desenvolvidas em parceria com instituições locais de ensino e pesquisa,

que possibilitam a manutenção de grande parte das atividades, apesar dos efeitos

perversos da taxa de câmbio sobre os principais produtos da pauta de exportações

do estado.

Uma das conseqüências do padrão de crescimento baseado na

disponibilidade de recursos naturais é a concentração produtiva onde estes estão

disponíveis ou são ambientalmente favoráveis. Aliados à concentração construída

historicamente, apenas oito municípios - Natal, Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo

do Amarante, Macaíba, Areia Branca, Macau e Guamaré -, detinham 63,57% do PIB

em 2006 e abrigavam 45,97% da população em apenas 8,84% da área total do

estado. Em contrapartida, 139 dos menores municípios somavam apenas 20,36% do

PIB, ocupando 66,00% da área e contendo 35,56% da população do estado.

À concentração espacial da produção e da riqueza corresponde a

concentração pessoal da renda. A PNAD do ano de 2008 revela que 44,2% da

população local auferia rendimento domiciliar per capita de até ½ salário mínimo, o

que os classifica na faixa de pobreza absoluta; outros 20,2% estavam na categoria

de extrema pobreza, com rendimento domiciliar per capita de até ¼ de salário

mínimo (IPEA 2010). Assim, cerca 2/3 dos habitantes do estado são classificados

como pobres ou miseráveis.

Condições semelhantes são observadas na infraestrutura urbana. Segundo

dados da Fundação João Pinheiro, em 2007 o déficit habitacional do estado era de

117.647 residências, das quais 85.191 localizavam-se nas zonas urbanas e 32.456

nas zonas rurais6. Os indicadores de saneamento básico mostram que 82,8% do

6 O conceito utilizado pela Fundação para estimar o déficit habitacional está explicitado na NT 11/RN. O déficit total correspondia a 14,0% do total de residências particulares de 2007, enquanto a média nacional era de 11,1% e a regional de 15,0% (Tab. 3.5 da NT 11/RN).

Page 187: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

187

total da população não tem acesso à coleta de esgoto, embora o índice de cobertura

dos que dispõem de abastecimento de água distribuída por rede geral atingisse

88,1%. Os indicadores de educação da PNAD de 2009 mostram que 13,81% das

pessoas com dez anos ou mais de idade não têm instrução ou tem menos de um

ano de estudo, 27,38% têm de um a quatro anos, 19,71% cursaram de 5 a 8 anos,

25,86% têm de 9 a 11 e 7,86% têm 12 anos ou mais de escolaridade.

As características socioeconômicas apresentadas acima revelam a

importância que as políticas públicas podem assumir na superação dos entraves ao

desenvolvimento do estado.

3 GARGALOS EM INFRAESTRUTURA E IMPACTOS DOS GPFs

3.1. PAC E PNLT

O PAC envolve os empreendimentos voltados para a superação/redução dos

gargalos em infraestrutura logística, energética e social e urbana, concentrando o

maior volume de recursos aplicados no estado entre os GPFs. O valor total dos

empreendimentos previstos no período de 2007 a 2010 totalizam R$ 9.478,10

milhões, distribuídos entre infraestrutura logística (11,05%), energética (54,79%) e

social e urbana (34,16%). Para o período pós-2010 o valor previsto atinge R$

2.565,60 milhões, concentrados quase que totalmente em energia (98,67%) e social

e urbana (0,57%).

Tabela 1 - Investimentos previstos pelo PAC no Rio Grande do Norte

EIXOS 2007-2010 PÓS 2010 TOTAL

R$ MILHÕES PART.% R$ MILHÕES PART.% R$ MILHÕES PART.%

LOGISTICO 1.047,00 11,05 19,50 0,76 1.066,70 8,86

ENERGÉTICO 5.193,60 54,79 2.531,40 98,67 7.725,00 64,14

SOCIAL E URBANO 3.237,50 34,16 14,70 0,57 3.252,20 27,00

TOTAL 9.478,10 100,00 2.565,60 100,00 12.043,90 100,00

Fonte: Balanço do 3º ano do PAC/Elaboração própria.

A seguir são examinados os gargalos em cada um desses eixos e avaliados

os impactos esperados das respectivas ações.

Page 188: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

188

3.1.1. Gargalos e impactos dos investimentos em in fraestrutura logística

A precariedade do sistema de transporte é apontada como um dos principais

obstáculos para a competitividade da economia nacional. No Rio Grande do Norte é

uma restrição à recepção de grandes blocos de investimentos. Além disso, como

produtor e exportador de commodities minerais e agrícolas tal infraestrutura é

fundamental para a competitividade da produção local. No PNLT estão previstas

vinte e duas intervenções abarcando os quatro modais, sendo que parte deles está

no PAC.

3.1.1.1. Modal rodoviário

O volume de produtos comercializados no mercado interno em 2008 atingiu

cerca de 288 mil toneladas de frutas, 23 mil toneladas de camarão, 6.124 toneladas

de peixes, 3.100 mil toneladas de sal marinho, 706 mil toneladas de cimento e,

prevê-se, dez milhões de toneladas de ferro em 2010.

Para atender a essa demanda, o estado conta com oito rodovias federais e a

malha estadual, sendo que no PAC estão previstas somente a duplicação e a

adequação da rodovia BR 101 e de trechos da BR 226. Intervenções nos trechos

estaduais das BR´s 104, 304 e 437, assim como a via de acesso ao Aeroporto

Internacional de São Gonçalo do Amarante estão incluídas no PNLT, sem prazo

para execução. Nas outras três BR´s (405, 406 e 110), que cortam o estado, não

estão previstas ações específicas (Fig.1).

Page 189: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

189

Fonte: Elaboração Própria

Figura 1 - Empreendimentos previstos em infraestrutura logíst ica no Rio

Grande do Norte

A adequação e duplicação da BR 101 é a mais significativa, pois em seu

traçado até Pernambuco interliga os portos de Areia Branca/RN, Natal/RN,

Cabedelo/PB e Suape/PE. Além disso, corta as regiões metropolitanas das capitais

desses estados, onde se concentram a produção industrial e de serviços. No seu

percurso também se encontram importantes atividades do agronegócio,

principalmente a produção de açúcar e de álcool, e as atividades turísticas. Para

além de Pernambuco, ela interliga o estado com seus principais parceiros

comerciais na região Sudeste.

No trecho em construção, a BR 101 atravessa sete municípios potiguares,

nos quais obras complementares tornarão mais seguro e fluente o tráfego de cargas

e pessoas. Além disso, os efeitos da obra serão potencializados por outros GPFs,

como a construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante e a instalação da

ZPE de Macaíba, ambos na Região Metropolitana de Natal.

A adequação do entorno da cidade de Mossoró contribuirá para desafogar o

tráfego nas rotas que seguem para o estado do Ceará, utilizadas para o escoamento

Page 190: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

190

do sal marinho, cimento e frutas, com destino aos portos cearenses ou estados do

sudeste e centro-oeste através da BR 116.

3.1.1.2. Modal aquaviário

Os principais itens da pauta de exportação do estado em 2008 somaram 167

mil toneladas de frutas, 6 mil toneladas de camarão, 2,4 mil toneladas de pescado,

300 mil toneladas de sal e, estima-se que serão exportadas 10 milhões de toneladas

de ferro em 2010. As mercadorias são transportadas por rodovias para os portos de

Natal/RN, Pecém/CE, Fortaleza e Suape/PE7. Pelo porto de Natal é exportado

principalmente açúcar, enquanto pelos portos cearenses são escoadas as frutas e

por Suape a maior parte dos produtos da indústria de transformação e o minério de

ferro. O Porto-Ilha de Areia Branca é dedicado à exportação de sal marinho.

Dois obstáculos impedem a maior utilização dos portos potiguares: a pequena

profundidade das áreas de evolução e atracação das embarcações e a baixa

freqüência das linhas de navegação, principalmente no porto de Natal. Parte do

problema da profundidade será resolvida pelas ações estabelecidas no PNLT e

contempladas no PAC. Os investimentos na dragagem, aprofundamento, ampliação

de berço de atracagem do Rio Potengi permitirá o recebimento de navios com

capacidade entre 60 mil/t a 65 mil/t, dobrando a capacidade atual do porto de Natal.

No Porto-Ilha a repotencialização do sistema de atração e as melhorias no terminal

de estocagem permitirão aumentar o número de embarcações atendidas e a

ancoragem de navios de até 80 mil/t.

A atração de mais carga para o porto de Natal criará demanda para superar o

gargalo representado pelo limitado número de linhas. Também se espera o

estabelecimento de linhas de cabotagem que levará à endogenização de atividades

voltadas para o mercado local, hoje realizadas em estados vizinhos. A redução do

preço final de mercadorias beneficiará o consumidor do estado e tornará mais

competitiva a produção local. Complementarmente, a navegação de cabotagem

reduzirá o tráfego nas rodovias.

7 A participação do Porto de Natal no valor total da balança comercial em 2008 foi de 25,37%, menor que a de Pecém (26,41%) e pouco mais do que por Suape (26,41%), sendo o restante escoado por outros portos.

Page 191: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

191

Os melhoramentos realizados no Porto-Ilha reduzirão o custo unitário do

transporte do sal, permitindo inclusive que os produtores locais concorram em

melhores condições com as importações, uma vez que pelo porto também é

escoada parte da produção consumida pelas nos estados do Nordeste, Sudeste e

Sul do país.

No PNLT está prevista a construção do Terminal Transportador de Correia de

Longa Distância (TCLD) em Porto do Mangue, destinado ao escoamento do minério

de ferro, complementando a construção ferroviária entre Jucurutu e Porto do

Mangue, com o objetivo de integrar nesses modais a exportação de minério de ferro,

que hoje utiliza caminhões bi-trens em uma viagem de 185 km até atingir a ferrovia

Transnordestina na Paraíba, seguindo por mais 350 km até o porto de Suape (PE).

Esta composição de modais (rodoviário e ferroviário), totaliza 535 km até o porto de

Suape (PE). Todavia, as jazidas distam 125 km dos pontos costeiros mais próximos.

3.1.1.3. Modal aéreo

O principal fluxo de transporte aéreo do estado é o de passageiros, formado

na sua maior parte por turistas nacionais e estrangeiros. Atualmente conta-se com

dois aeroportos. O Aeroporto Internacional Augusto Severo localizado em

Parnamirim, à 10 km de Natal atende à demanda nacional e internacional; o

segundo, localizado em Mossoró, tem capacidade para receber vôos domésticos,

ligando o município às principais capitais do país. Contudo, este último encontra-se

inoperante para vôos comerciais há quatro anos.

O Aeroporto Internacional passou por uma grande reforma para ampliação e

modernização em 2001, mas sua capacidade instalada foi superada em 2006,

quando recebeu 996 vôos internacionais e 8.383 domésticos, movimentando cerca

de 1,4 milhões de passageiros, operando a 121% de sua capacidade instalada

(AGN, 2008).

A estimativa é de que cinco milhões de passageiros e 16 a 20 mil toneladas

de carga serão transportados em 2020. Esses fluxos deverão ser atendidos

principalmente pelo Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante que se

encontra em construção. A pista de pouso foi construída, e as obras de

terraplanagem, drenagem, pavimentação e a infra-estrutura de proteção ao vôo e

Page 192: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

192

navegação aérea estão previstas para serem entregues em dezembro de 2010. A

primeira fase do projeto está prometida para 2014.

Esse empreendimento constitui um complexo aeroportuário intermodal, que

exigirá investimentos em rodovias, ferrovias e no transporte marítimo. Após sua

conclusão, será um dos maiores aeroportos do mundo e o maior da América do Sul,

funcionando como um entreposto para o continente. A conclusão da primeira fase

permitirá o atendimento de cinco milhões de passageiros/ano e 25 mil toneladas de

carga/ano. Ao término das obras, sua capacidade será de 40 milhões de

passageiros/ano e de 1,5 milhões de toneladas de carga/ano.

Os efeitos multiplicadores do conjunto de atividades a serem desenvolvidas

no complexo aeroportuário são enormes. Espera-se a geração de cerca de 30 mil

empregos diretos. Além de eliminar o gargalo representado pela infraestrutura aérea

atual, sua instalação deverá atrair empresas de serviços especializadas, e suas

atividades deverão ser complementares à instalação da ZPE de Macaíba.

Entretanto, para o Aeroporto Augusto Severo o PNLT prevê uma ação de

construção, sem prazo para ser realizada, o que mantém o gargalo representado

pela excedente demanda atual.

3.1.1.4. Modal ferroviário

A ausência do transporte ferroviário é um dos principais gargalos logísticos

enfrentados pelo estado. Produtor e exportador de commodities minerais e de frutas,

o custo torna o transporte rodoviário o menos indicado. Os ramais ferroviários

existentes estão desativados. No PNLT estão previstas somente a implantação e

construção da ligação entre Jucurutu e Porto do Mangue - destinada ao escoamento

do minério de ferro -, e a remodelação do trecho entre Afonso Bezerra e Mossoró,

dedicada principalmente ao transporte de sal.

A preocupação com esse gargalo fez com que a Associação Comercial e

Industrial de Mossoró realizasse estudo de viabilidade técnica e econômica para a

construção de um trecho ferroviário ligando Mossoró a Natal. Nesse estudo,

estavam previstas a recuperação dos trechos Ceará-Mirim/Macau e do trecho

urbano da linha 1 da CBTU, além da construção de ligações ferroviárias entre

Mossoró/Assu, Mossoró/Areia Branca, Assu/Afonso Bezerra, Guamaré à linha

Afonso Bezerra/Macau, Natal/São Gonçalo do Amarante e Jucurutu/Assu. No total

Page 193: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

193

seriam recuperados 242,0 km e construídos 228,2 km de linhas, revelando

necessidades bem acima das previstas no PNLT.

Essas linhas transportariam minério de ferro, frutas, óleo diesel, cimento

ensacado e calcário, integrando os modais ferroviário, aéreo e marítimo. Também

viabilizaria a implantação da ZPE do Sertão, já autorizada.

O transporte urbano de passageiro na Região Metropolitana de Natal é

deficiente, tanto em capacidade como nos trajetos oferecidos. Estudo realizado

sobre as perspectivas de crescimento da Região Metropolitana de Natal propõe a

implantação de um sistema de transporte urbano moderno – Veículo Leve sobre

Trilhos (VLT) – como solução mais adequada para superar as deficiências atuais e

evitar o agravamento futuro, como aquelas propostas pelo PNLT para outras capitais

de estados nordestinos.

6. 3.1.2. Gargalos e impactos dos investimentos em infraestrutura

energética

Os empreendimentos exclusivos em infraestrutura energética previstos no

PAC estão concentrados na geração e distribuição de energia elétrica, na

construção de uma refinaria para produção de gasolina e nafta e em ações que

visam o desenvolvimento da produção de petróleo e gás nos estados do Rio Grande

do Norte e Ceará (Fig. 2). O valor dos empreendimentos previstos nesse eixo atingia

R$ 5.193,6 milhões até 2010 e R$ 2.531,4 milhões pós-2010.

3.1.2.1. Geração e transmissão de energia elétrica

Os investimentos em geração compreendem cinco usinas termelétricas (UTE)

e dois empreendimentos para geração de energia eólica. Em fins de 2009, duas

UTE’s haviam sido construídas (Assú e Potiguar III), duas estavam em processo de

licitação (Baia Formosa e MC2 de Macaíba) e outra se encontrava em obras

(Termonordeste). Os dois empreendimentos para geração de energia eólica (UEE) -

Alegria I e Alegria II -, encontravam-se em processo de licitação.

Dois projetos de distribuição de energia elétrica complementam as ações

desse eixo. A implantação da linha de transmissão Paraíso-Açu II e a instalação da

Page 194: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

194

subestação Natal III. A linha de transmissão encontrava-se em obra no final de 2009,

enquanto a implantação da subestação encontrava-se em processo de licitação.

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 2 - Localização dos empreendimentos em energ ia previstos no PAC

A entrada em operação das UTE’s e UEE’s tornará o estado auto-suficiente

na produção de energia elétrica, pois a oferta potencial ultrapassa a demanda atual

de cerca de 600 MW. Essas unidades produzem nos momentos em que há picos de

demanda ou quando a capacidade dos reservatórios das hidrelétricas tende a níveis

críticos. Assim, constituem uma importante reserva para o sistema elétrico nacional

uma vez que a energia gerada é disponibilizada ao mercado através do Sistema

Integrado Nacional (SIN).

Os impactos derivados das UTE’s na economia local são limitados. Isto

porque, uma vez realizados os investimentos, dos quais as máquinas e

equipamentos constituem a maior parcela e têm origem externa, sua capacidade de

alavancar novas atividades é relativamente pequena. Além disso, o emprego de

mão-de-obra direta para sua operação é reduzido.

A UTE de Assu, entretanto, foge a esse padrão, pois também produz vapor,

utilizado para injeção nos campos de petróleo localizados no município de Alto do

Rodrigues. Por esse motivo ela opera continuamente e emprega cerca de oitenta

trabalhadores. No caso das UEE’s, como os estados vizinhos também terão

Page 195: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

195

unidades implantadas, existe a possibilidade de emergir um arranjo produtivo que

inclua vários elos dessa cadeia, ampliando os efeitos multiplicadores e

endogeneizando as suas atividades.

3.1.2.2. Empreendimentos em petróleo e gás

A prospecção, exploração e obtenção de derivados do petróleo e gás se

transformaram na principal atividade econômica do estado. O espaço ocupado tende

a crescer a cada rodada de licitação para licenciamento de novas áreas, envolvendo

maiores investimentos para sua exploração, transporte, refino e distribuição. A área

de exploração de petróleo em terra cobre boa parte da região oeste. As plataformas

localizadas em quatro pontos da costa (Pescada, Arabaiana, Ubarana e Agulha)

constituem a maior fonte da produção.

A logística no processo de exploração e distribuição do petróleo e gás envolve

a utilização de oleodutos, rodovias e navios. Parte da produção dos poços é

transportada por caminhões até reservatórios ligados ao oleoduto para conduzi-los à

Unidade de Tratamento e Processamento de Fluídos (UTPF), localizada em

Guamaré. A produção das plataformas chega até esse ponto através de oleoduto ou

conduzido por navios. Nessa unidade são transformados em gás liquefeito de

petróleo (GLP), querosene de aviação (QAV) e óleo diesel.

A essa estrutura deverá ser acrescida a Refinaria Potiguar Clara Camarão

(RPCC), com a finalidade de produzir gasolina e nafta. O empreendimento, incluído

no PAC em 2008, deverá ser concluído em 2010. A inversão de R$ 450,0 milhões

representa apenas 8,66% do total dos investimentos previstos para o período 2007-

2010 nesse eixo. A RPCC terá capacidade de processar 30 mil barris de

petróleo/dia, produzindo 4,5 mil barris de gasolina automotiva diariamente. O volume

de produção será suficiente para abastecer o mercado potiguar, considerando o

consumo mensal de aproximadamente 22,6 milhões de litros. Este empreendimento,

somado à produção já existente de óleo diesel e querosene de aviação, tornará o

estado auto-suficiente em todos esses derivados, os quais poderão ser exportados

para os estados vizinhos a partir de expansão posterior da produção potiguar.

Os empreendimentos relacionados à extração e refino de petróleo, ao

contrário dos dedicados à geração de energia elétrica, têm grande potencial

multiplicador. A implantação da RPCC complementa a planta de refino já existente.

Page 196: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

196

Além da geração de empregos diretos, estimado em 700 trabalhadores, a entrada

em operação da Refinaria e a expansão prevista das atividades na planta de

Guamaré deverão causar um impacto significativo nas empresas locais fornecedoras

de bens e serviços - cuja estimativa de faturamento em 2010 era de cerca de R$ 500

milhões - complementando ação desenvolvida no sentido de endogeneizar e induzir

a multiplicação dos efeitos dos investimentos.

3.1.3. Gargalos e impactos dos investimentos em inf raestrutura social e urbana

No contexto do PAC os investimentos em infraestrutura social e urbana

englobam ações que visam melhorar as condições de vida da população. Os

empreendimentos deste eixo contemplam obras direcionadas para habitação,

saneamento básico e recursos hídricos, além de ações na área de distribuição de

energia elétrica pelo Programa Luz para Todos.

3.1.3.1 Habitação

Como salientado, o déficit habitacional do estado era crescente e estimado

em 117.647 domicílios, dos quais 72,4% estavam localizados nas áreas urbanas.

Além disso, existia carência de projetos de urbanização.

Os recursos do PAC para essa área estavam estimados em R$ 142,1

milhões, distribuídos entre 67 projetos que contemplavam 39 municípios. Desse

total, 86,9% foram destinados para os projetos de urbanização com a finalidade de

melhorar a condição de vida das famílias de baixa renda. O restante foi destinado a

ações de provisão habitacional (12,1%), elaboração de Planos Municipais de

Habitação (0,9%) e prestação de assistência técnica (0,1%).

A maior parte dos recursos financeiros concentrou-se nos três maiores

municípios potiguares: Natal (78,1%), Parnamirim (6,7%) e Mossoró (1,2%). Na

capital foram destinados ao reassentamento de famílias localizadas em beiras de

córregos e áreas de risco em várias comunidades; em Mossoró, para a provisão

habitacional da favela do conjunto Vingt Rosado; em Parnamirim, para a

urbanização da comunidade quilombola Moita Verde.

Avalia-se que o impacto dessas obras sobre o déficit habitacional total será

muito pequeno (0,6%), pois atingiu apenas 717 famílias, das quais 31,8% residem

Page 197: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

197

em Assu e Mossoró. A despeito disso, tais impactos são fundamentais para a

melhoria das condições de vida da população das comunidades beneficiadas.

3.1.3.2 Saneamento Básico

No estado, o abastecimento de água atingia 81,8% do total dos domicílios

permanentes e em 81,8% deles o lixo era coletado regularmente. O esgotamento

sanitário, entretanto, só atendia 17,7% dos domicílios, colocando em risco a saúde

de 82,1% da população (PNAD, IBGE, 2008). A esse problema, soma-se a

disposição inadequada do lixo recolhido, ampliando o problema ambiental e de

saúde pública8.

As obras de saneamento básico do PAC englobam os serviços de

abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e drenagem urbana.

Sob a responsabilidade do Ministério das Cidades encontram-se 62

empreendimentos distribuídos em 19 municípios, com investimentos previstos de R$

844,0 milhões. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) é responsável por 155

projetos distribuídos em 93 municípios pequenos, com aporte financeiro estimado

em R$ 78,4 milhões.

Tendo em vista a precariedade das condições de esgotamento sanitário, os

100 projetos aprovados somaram R$ 499,0 milhões (54,1% do total). Entretanto,

somente as obras de esgotamento sanitário do município de Arez foram concluídas,

enquanto 57% encontravam-se em ação preparatória e 32% tinham obras em

andamento no final de 2009.

A seleção dos empreendimentos foi orientada pelos baixos índices de

cobertura dos serviços de esgotamento sanitário. Os municípios selecionados, com

exceção de Mossoró (31,2%), Natal (31,4%) e São Gonçalo do Amarante (34,8%),

apresentavam menores índices ou nenhuma cobertura. Mesmo concentrando a

maior parte dos recursos financeiros para execução dos projetos direcionados ao

esgotamento sanitário, eles não são suficientes para eliminar esse gargalo histórico.

Assim, espera-se que com os recursos do chamado PAC 2 a cobertura atinja 86%

da população da capital e amplie o serviço no interior do estado.

8 Comparativamente, a média de cobertura no Nordeste é de 32,2% e de 52,5% no Brasil.

Page 198: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

198

3.1.3.3. Recursos Hídricos

As ações do PAC na área de recursos hídricos distribuem-se em projetos de

irrigação e do Proágua, que trata dos sistemas adutores para distribuição de água

para consumo humano e dessedentação animal. Além desses, também foi incluída a

interligação de bacias do Rio São Francisco.

Os investimentos em recursos hídricos, no que se refere às adutoras, tiveram

início na década de 1990 com o objetivo de fornecer água de forma mais equilibrada

para os municípios do estado, uma vez que existia um grande conjunto de pequenos

açudes e a presença de grandes reservatórios de água – como é o caso do Açude

Itans, Gargalheiras e Armando Ribeiro. Por outro lado, não existia água subterrânea

em quantidade suficiente em algumas áreas.

As obras das adutoras previstas no PAC foram pensadas a partir do sistema

já existente. Desta forma, a Adutora do Alto Oeste busca beneficiar 26 municípios e

alguns distritos na Regional de Pau dos Ferros. A adutora do Seridó tem como

objetivo principal dotar a região de um sistema integrado de abastecimento de água

potável, com capacidade para atender às respectivas populações até o ano de 2027.

E por fim, a Adutora Serra de Santana, em sua terceira etapa já concluída, visa o

abastecimento de água nas comunidades de sua área de influência, substituindo o

precário sistema anterior que abastecia parte da região com água não apropriada

para o consumo humano.

No Rio Grande do Norte, o Eixo da Transposição do Rio São Francisco

abrange a bacia do rio Piranhas–Açu, onde suas águas entram na bacia deste rio na

Paraíba e acaba beneficiando o Alto Oeste do estado, região que é considerada a

mais carente de recursos hídricos. Assim, o principal impacto da entrada do eixo da

transposição do São Francisco no Sistema Adutor Alto Oeste é a contribuição para a

garantia do abastecimento de água, uma vez que este enfrenta problemas climáticos

típicos de uma região semi-árida, dentre os quais se destaca a elevada evaporação

dos reservatórios já existentes. Além disso, apresenta a possibilidade de geração de

um excedente de água capaz de ser utilizado também em atividades produtivas.

Page 199: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

199

3.2. IMPACTOS DO PTC

Conforme ressaltado 44,2% da população potiguar estavam classificados na

faixa de pobreza absoluta e outros 20,2% encontravam-se na categoria de extrema

pobreza, somando cerca de 2/3 do total de habitantes do estado, grande parte dela

pertencente à zona rural. Nesse contexto, é que se pode avaliar a importância do

PTC, que foi instituído em 2008 no Rio Grande do Norte, dando continuidade à

abordagem territorial adotada desde 2003 pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA).

Atualmente, os territórios são constituídos por conjuntos de municípios

reconhecidos como espaço de identidade cultural historicamente construídos, em

cuja agregação se leva em conta indicadores sociais (IDH, incidência do PBF, entre

outros). Existiam seis Territórios da Cidadania até 2009 (Fig. 3), coincidindo e

ampliando os Territórios Rurais anteriormente delimitados pelo MDA. Em 2010 foram

acrescentados mais quatro Territórios abrangendo o restante do estado.

Fonte: Emater/RN.

Figura 3 - Mapa dos territórios da cidadania do Rio Grande do Norte – 2010

Page 200: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

200

As políticas implementadas nos exercícios de 2008 e 2009 foram agrupadas

pelo MDA em sete temas e 54 tipos de ações, das quais 22 consumiram R$ 719

milhões, representando 95% do total de recursos. Nesse conjunto, destacam-se os

programas de transferência de renda - Programa Bolsa Família (24,74%) e o

Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa Idosa (4,39%) e

com Deficiência (14,55%) – e os de caráter produtivo – Cresce Nordeste (17,40%),

Nordeste Territorial (7,10%) e Crédito Pronaf (6,24%). Essas ações, tanto pelo valor

do desembolso quanto pelo número de pessoas atendidas são responsáveis pelas

principais mudanças ocorridas nesses municípios.

3.2.1. Programas de transferência direta de renda

O PBF é a ação mais importante nos Territórios da Cidadania segundo o

critério de alocação de recursos. Trata-se de um programa de transferência direta de

renda com condicionalidades que tem por objetivo assistir famílias em situação de

pobreza e pobreza absoluta, além de contribuir para a redução da desigualdade na

distribuição da renda e garantir a elevação dos níveis de educação e saúde das

crianças e adolescentes. Em 2010 foram atendidas 170.070 famílias residentes nos

municípios incluídos no PTC.

O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social é um direito que

garante um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e

ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria subsistência ou de

tê-la provida por sua família. Em 2009, 5.959 maiores de 65 anos receberam R$

31,5 milhões, enquanto 19.454 pessoas deficientes receberam R$ 104,7 milhões.

Assim, os recursos alocados nesses Programas nos territórios do Rio Grande do

Norte atingiram R$ 314 milhões.

Os impactos mais visíveis da implementação desse conjunto de programas foi

a imediata redução das taxas de pobreza e, consequentemente, a retirada de

parcelas expressivas da população da condição de pobreza extrema e absoluta:

entre 1995 e 2008, os dados da PNAD revelam que o percentual de pobreza

absoluta no estado caiu de 63,8% em 1995 para 44,2%, enquanto o percentual de

pobreza extrema, que era de 34,5% decresceu para 20,2% no mesmo período.

Page 201: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

201

3.2.2. Programas de incentivos à produção

O Cresce Nordeste é um programa de crédito instituído pelo Governo Federal

em 2004 e desde então administrado pelo Banco do Nordeste com vantagens em

relação às taxas de juros e prazos de pagamento. Sua fonte dos financiamentos é o

Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Em 2009, o montante

de recursos alocados para o Rio Grande do Norte foi de R$ 125 milhões através de

216 contratos.

Nordeste Territorial foi a denominação dada à estratégia lançada pelo BNB

em junho de 2008, cuja concepção básica associa geração de negócios à

organização de cadeias produtivas. Até o final de 2009 foram identificadas 16

cadeias produtivas no Nordeste entre as quais se incluem a bovinocultura de leite;

bovinocultura de corte; turismo; couro e calçados; petróleo gás; saúde; cana-de-

açúcar; silvicultura; avicultura; ovino-caprinocultura de corte. No Rio Grande do

Norte ocorreram 596 operações no valor de R$ 51 milhões nos seis Territórios da

Cidadania em 2009, representando 51,3% das operações contratadas no estado

(1.162), mas correspondendo a 76,6% do valor total das operações.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF foi

criado em 1996 com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do

segmento rural constituído por agricultores familiares. No Rio Grande do Norte os

valores contratados atingiram R$ 44,8 milhões com 8.743 contratos nos Territórios

da Cidadania, o que representou 91,07% do valor total contratado no estado.

Portanto, a soma dos financiamentos das atividades produtivas em 2009

atingiu R$ 221 milhões, mas o resultado se deve principalmente ao longo período

em que esses Programas estão sendo mantidos.

Nos Territórios da Cidadania observam-se experiências positivas de

expansão, integração industrial e inserção dos produtos da agricultura familiar nos

mercados internos – privado e institucional – e nos mercados de commodities

agrícolas, entre os quais o leite bovino e caprino, mel de abelha e amêndoa de

castanha de caju são os mais importantes. Deve-se salientar que políticas públicas

no âmbito estadual também contemplam esses segmentos, reforçando os efeitos

dos programas federais.

Page 202: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

202

3.3. PDP E ZPEs: IMPACTOS PREVISTOS

A estrutura industrial do estado baseia-se na exploração de recursos naturais,

na indústria extrativa mineral e em sua indústria de transformação prepondera a

produção de bens de consumo duráveis. A alteração dessas características não

deverá ocorrer a curto e médio prazo, considerando o padrão de financiamento

observado na PDP e as perspectivas estruturais das ZPEs.

Os destaques estratégicos da PDP abrangem diversos complexos produtivos

e buscam a ampliação das exportações, o fortalecimento das MPEs, a integração

produtiva da América Latina e Caribe, a integração com a África, a produção

sustentável e a regionalização.

Tomando por base os valores financiados pelo BNDES às empresas do

estado, verifica-se que os mesmos são relativamente pequenos quando comparados

com os demais estados da região: em 2008, para o financiamento das exportações

foram destinados R$ 6,8 milhões, o que correspondeu a 5,34% do total regional;

para as MPEs foram alocados R$ 64,3 milhões (6,36%) e para a regionalização R$

186,3 milhões (2,44%). Em 2009, o programa voltado para exportações não recebeu

financiamentos, enquanto para MPEs atingiram R$ 102,3 milhões (6,95%) e nos

financiamentos para regionalização foram aplicados R$ 346,9 milhões (1,57%).

Os Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP

abrangem três Programas: Mobilizadores em Áreas Estratégicas, Consolidar e

Expandir a Liderança Fortalecer a Competitividade.

Nos Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas foram destinados para a

região Nordeste, em 2009, 3,29% (R$ 370 milhões), sendo que no Rio Grande do

Norte foram alocados apenas R$ 1,0 milhão. Na região Nordeste foi concentrado

20% dos recursos destinados ao Programa para Consolidar e Expandir a Liderança

(cerca de R$ 16,3 bilhões), dos quais ao Rio Grande do Norte foram destinados em

torno de R$ 20,1 milhões. Finalmente, para os Programas para Fortalecer a

Competitividade ao Nordeste foi destinado 8,57% (R$ 12,8 bilhões), e o Rio Grande

do Norte recebeu apenas R$ 580 milhões.

A capacidade de alterar o perfil econômico pode ser avaliada pela distribuição

setorial dos recursos: nas áreas estratégicas R$ 1 milhão (100% do total) foram

concentrados no setor de tecnologia de informação e comunicação; para consolidar

e expandir a liderança os R$ 18,5 milhões (92,14%) estão concentrados no setor de

Page 203: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

203

mineração e para Fortalecer a Competitividade os recursos foram concentrados nos

setores: bens de capital + FINAME (R$ 276,3 milhões - 47,64% do total); complexo

de serviços (R$ 219,9 milhões - 37,91%); e têxtil e confecções (R$ 40,8 milhões ou

7,03%).

Com relação às ZPEs, as duas já aprovadas no estado também não deverão

alterar a composição da produção industrial. A ZPE de Macaíba, autorizada em julho

de 2010, encontra-se em fase preparatória para licitação da PPP que definirá a

empresa que administrará a ZPE e em sua implantação deverão ser investidos cerca

de R$ 9,0 milhões de reais.

A expectativa para a atração de investidores externos esta ZPE aponta para

as indústrias de bens de consumo duráveis, os quais participam com mais de 90%

do valor bruto da produção industrial potiguar9. A atração de multinacionais deverá

provocar um aumento na intensidade média de capital e de produtividade da

indústria local. A possibilidade de direcionar até 20% da produção para o mercado

interno também aumentará a participação da indústria local nos fluxos de comércio.

Os efeitos multiplicadores com a endogeneização através da compra de insumos

locais, entretanto, dependerão de sua composição, mas não deverá ser muito

elevada, levando-se em consideração o que se observa com a indústria já instalada

e o panorama internacional.

A ZPE do Sertão será instalada no município de Assu numa área de

aproximadamente um mil hectares. A instalação da infraestrutura está orçada em R$

18 milhões de reais, embora a área já conte com água tratada e encanada,

cabeamento ótico, energia, sinal de telefonia celular e internet.

Sua viabilidade depende da instalação de um modal ferroviário que a ligue à

Transnordestina, uma vez que deverá se dedicar ao processamento de minerais

disponíveis na região oeste do RN e em outros estados do Nordeste, tendo em vista

o aumento da demanda verificado no mercado internacional por essas commodities.

Ao basear-se no processamento de minerais, essa ZPE se diferencia

totalmente do padrão internacional. Sua operação, segundo seu idealizador, deverá

ocorrer através de transferência de tecnologia de ponta os para produtores locais de

empresas internacionais que estejam na vanguarda tecnológica das respectivas

áreas. Nesse sentido, sua concretização representará a endogeneização completa,

9 Aventa-se a possibilidade de atração de empresas voltadas para a microeletrônica e informática, interagindo com as atividades do Instituto de Neurociências de Natal.

Page 204: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

204

por consumir matéria-prima local/regional, introduzir inovações em segmentos que

atualmente encontram-se defasados através da transferência tecnológica.

Portanto, como o maior volume de recursos da PDP está concentrado em

atividades da indústria mineral, serviços, têxtil e confecção e as atividades

esperadas para as ZPEs vão nessa direção, ambos tendem a reforçar a estrutura

industrial existente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS

Cada um dos GPFs promove impactos específicos sobre diferentes

dimensões devido a sua natureza, constituindo um processo cujas interações são

complexas e difíceis de serem abarcadas em sua totalidade, por ocorrerem em

espaços e temporalidades diferentes, com seus efeitos se estendendo por longos

períodos de tempo.

De outra parte, não é realista esperar que os obstáculos que limitam o

desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte sejam superados

exclusivamente com os GPFs implementados atualmente. Em primeiro lugar nem

todos são de responsabilidade do Governo Federal. Em segundo, são muitos e não

podem ser suplantados em espaço curto de tempo. Entretanto, mesmo sobre

aqueles que estão sendo projetados podem ser feitas algumas observações sobre

seu andamento e desempenho.

A primeira delas é o fato de que alguns dos empreendimentos, como a

adequação da BR 101 e o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante,

estão em execução há muito tempo. A BR 101 está em construção desde 2005 e o

Aeroporto está projetado desde 1996. Tendo por base esses dois casos, a

expectativa em relação aos investimentos programados e aqueles que sequer

entraram nos Programas, é desalentadora.

Em segundo lugar, deve-se ter em conta que muitos empreendimentos

previstos no PAC pertencem, por concessão, à iniciativa privada. Entre esses, os

investimentos nas UTEs, UEEs e, principalmente, a recuperação do transporte

ferroviário, dependem da esfera de decisão privadas, aumentando as incertezas em

relação à sua execução.

A avaliação dos impactos, mesmo que qualitativa é difícil de ser efetuada. Por

exemplo, embora no geral os impactos dos empreendimentos e ações do PAC no

Page 205: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

205

eixo social e urbano possam ser considerados pequenos (redução de 0,6% do déficit

habitacional do estado), seus efeitos localizados são significativos. O fornecimento

de água potável e a cobertura de saneamento básico reduzem a incidência de

moléstias de veiculação hídrica, melhorando a qualidade de vida, a produtividade e a

eficiência das populações por elas atendidas.

Sob o aspecto da endogenia, o caso mais significativo se observa na cadeia

do petróleo e gás, onde ações direcionadas ao desenvolvimento de fornecedores

locais fizeram com que fossem introduzidas inovações em produtos e processos,

disseminando essas práticas e aumentando a eficiência geral do sistema. Nessa

mesma cadeia ocorre a integração com institutos de pesquisa, universidades,

centros de tecnologia e de formação de recursos humanos, constituindo um modelo

que deveria ser estendido a outras atividades produtivas e APLs do estado.

Logo, uma avaliação geral dos GPFs reafirma a importância destes para a

economia potiguar, ao tempo em que indica a necessidade de tornar as áreas e

setores atingidos efetivamente mais competitivos, mais dinâmicos e menos

desiguais em relação ao estado/região/país e de ampliar os benefícios para as

demais áreas e atividades não contempladas no estado. Assim, os GPFs constituem

um passo fundamental rumo à superação dos entraves assinalados, devendo-se

somar a estes esforços políticas de desenvolvimento estadual/regional mais

abrangentes e integradas.

Desta forma, visando conferir maior grau de endogenia dos GPFs frentes aos

desafios e limitações ao desenvolvimento do estado, apresentam-se proposições de

políticas.

• Promoção da Endogenia: com exceção da carcinicultura, em todas as demais

atividades do estado existem oportunidades para adensar as cadeias

produtivas, especialmente quando se tem em conta as possibilidades abertas

pelos GPFs na infraestrutura logística. Para isso, estruturar a política pública

visando apoiar novos APLs, bem como os já identificados é fundamental, na

medida em que permite a geração local de ocupação e renda;

• Melhoria na qualidade dos Gastos Públicos: a adoção de medidas que

possam aumentar a efetividade dos gastos públicos, especialmente nas áreas

mais carentes (esgotamento sanitário, saúde, educação básica,

abastecimento de água) seriam fundamentais para reduzir os gargalos e

Page 206: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

206

permitir um maior aproveitamento dos investimentos dos GPFs e daqueles

que virão com o PAC 2;

• Desconcentração do Crescimento e do Desenvolvimento Econômico: a lógica

do capital naturalmente faz com que os investimentos acabem sendo

concentrados nos espaços em que ocorrem as atividades mais dinâmicas,

como é o caso da maioria dos investimentos previstos pelos GPFs. Portanto,

é necessário que se adote políticas específicas para o aproveitamento dos

recursos disponíveis nos outros espaços ou se criem vantagens comparativas

para dinamizá-las;

• Mudanças na matriz de transportes e na Infraestrutura Logística: o PNLT

apresentou duas lacunas. Primeiramente, BR’s importantes ficaram fora do

horizonte dos investimentos propostos. A segunda, foi não contemplar

totalmente o modal ferroviário, importante para o estado. A elaboração de um

Plano Estadual de Logística de Transporte deverá levar essas questões em

consideração e pleitear que investimentos sejam feitos nesses dois modais.

• Implantação de Políticas Públicas voltadas para a Ciência e Tecnologia: é

preciso que o Estado promova ações voltadas para o desenvolvimento

científico e inovações tecnológicas capazes de potencializar as iniciativas de

desenvolvimento econômico do estado.

• Implantação de uma Política de reestruturação e modernização da

administração pública estadual: deve ser priorizada a formação e qualificação

de recursos humanos, bem como reintroduzir o planejamento e a avaliação

como prática para uma gestão pública eficiente, eficaz e efetiva.

REFERÊNCIAS

APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Rio Grande do Norte – Rio Grande do Norte. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impac tos dos grandes projetos federais no Nordeste. Natal/RN, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Rio Grande do Norte e Proposição de Políticas – Rio Grande do Norte.

Page 207: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

207

PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Norde ste . Natal/RN, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (Governo de Minas Gerais). Déficit Habitacional no Brasil 2007. Brasília, 2009. Disponível em: http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-deficit-habitacional-no-brasil. Acesso em: 02 mai. 2010. GOVERNO FEDERAL. Territórios da cidadania. Disponível em: www.territóriosdacidadania.gov.br. Acesso em: 28 de abril de 2010. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR (MDIC). Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) , 2008. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/pdp/>. Acesso em: 07 dez. 2009. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Manual ZPE. In: Arquivo PDF 2009, 53p.

Page 208: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

208

IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO ESTADO DE SERGIPE E

PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS 1

Dean Lee Hansen / Coordenador Estadual - UFS2

Elmer Nascimento Matos - UFS

Rodrigo Rocha Pereira Lima - FASER

Michele Santos Oliveira - UFS

Daniela Regina Santos de Jesus - UFS,

Ricardo Oliveira Lacerda de Melo - UFS3

INTRODUÇÃO

O estado de Sergipe está localizado na Região Nordeste, possui 21,9 mil

km2 sendo, em termos territoriais, o menor estado da Federação Brasileira. O

território sergipano está dividido em 75 municípios e possui uma população estimada

de 1.939.426 habitantes, o que representa 1,1% da população brasileira e 3,9% do

total da região Nordeste. Aproximadamente 536.505 pessoas, ou seja, 27,7% da

população sergipana reside na zona rural. Em 2007, o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) de Sergipe foi de 0,770, denotando que embora seu IDH de 0,816

ainda esteja abaixo da média geral do Brasil, o nível de desenvolvimento e

condições de vida da população sergipana foi avaliado como superior ao do

Nordeste, que apresentou IDH de 0,749. Tal comparação mostra que embora no

âmbito regional Sergipe tenha apresentado melhores condições de vida, quando

comparado a outros estados da federação fora da região Nordeste, seu IDH ainda

reflete a permanência de desigualdades regionais, expressas sobretudo nos

indicadores de longevidade, renda e educação (Oliveira, 2010). No que se refere à

economia do estado, a participação do PIB sergipano no PIB nacional permaneceu

constante durante o intervalo de 2002 a 2007 (Jesus, 2010). Somados, esses dados

mostram que o caso sergipano caracteriza-se como um ótimo objeto para o estudo 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Sergipe”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (ver Hansen et al., 2010a e 2010b). 2 Os autores agradecem o importante papel desempenhado na pesquisa pelos bolsistas Lídia Carvalho Silva, Alisson Diego Rocha do Nascimento, Eliane Correia dos Santos Silva e Fernanda Marília dos Santos. 3 Colaborador externo.

Page 209: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

209

do potencial de desenvolvimento impulsionado pelos investimentos dos Grandes

Projetos Federais (GPFs).

Deste modo, o presente artigo busca avaliar o impacto dos Grandes Projetos

Federais implementados em Sergipe, como também propor políticas públicas a fim

de operacionalizar ou aperfeiçoar a gestão dos grandes projetos no estado. A

pesquisa em tela corresponde às Notas Técnicas 10 e 11 do projeto do BNDES

“Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e

Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados

Nordestinos Selecionados”. O artigo é composto por quatro seções. A primeira

seção contextualiza os Grandes Projetos Federais existentes em Sergipe, mais

especificamente os programas PAC, PDP, e PTC. Na seção 2, são analisados os

impactos dos GPFs na economia sergipana. Os resultados estão baseados em

dados secundários e em entrevistas realizadas nas instituições responsáveis pelos

projetos federais em Sergipe. A seção 3 apresenta reflexões e proposições de

políticas sobre os GPFs em Sergipe. Este artigo também faz amplo uso do material

coletado em entrevistas. Por fim, a seção 4 traz as conclusões finais do artigo.

CONTEXTUALIZAÇÃO DOS GPFS NA ECONOMIA DO ESTADO DE SERGIPE

O avanço e consolidação do crescimento e desenvolvimento econômico e

social requerem projetos de desenvolvimento de alcance nacional, ou seja, que

tenham origem em escalas mais amplas, como é o caso do Programa de Aceleração

do Crescimento (PAC), da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), do

Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT)4, do Programa Territórios da

Cidadania (PTC) e do programa Zonas de Processamento de Exportação (ZPE)5. E

esta exigência apresenta-se de forma acentuada em áreas de desenvolvimento mais

críticas, como a da região Nordeste do Brasil e, especificamente, de Sergipe. Neste

sentido, é preciso compreender e assinalar como os grandes projetos de

abrangência nacional e regional estão inter-relacionados com a agenda do

desenvolvimento brasileiro.

4 Sergipe não foi agraciado até o momento com obras do PNLT. 5 Em Sergipe, a ZPE ainda está em fase de finalização.

Page 210: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

210

Contextualização do PAC na economia do estado

No caso de Sergipe, o principal projeto em andamento no estado é o

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo Governo Federal

em 2007 e que tem por finalidade alavancar o crescimento global da economia

brasileira. O programa objetiva por meio da promoção de investimentos em vetores

de infraestrutura eliminar gargalos e criar externalidades, estimular investimentos

privados e reduzir as desigualdades regionais e sociais. Também abrange ações

para ampliação do crédito, incentivos fiscais, aumento na qualidade do gasto público

e melhoria da gestão governamental.

Embora os investimentos públicos em infraestrutura mereçam a principal

atenção por conta da sua importância para a aceleração do crescimento e do grande

volume de recursos alocados, outras medidas importantes contempladas pelo Plano

para estimular o investimento produtivo privado são o estímulo ao crédito e ao

financiamento, a melhoria do ambiente de investimento, a desoneração e

administração tributária e as medidas fiscais de longo prazo.

A distribuição regional dos investimentos mostra preocupação em combater

as desigualdades regionais, conforme mostra a Tabela 1. A região Nordeste foi

contemplada com investimentos totais expressivos, sobretudo na infraestrutura

Social, Urbana e Energética, sendo ultrapassada apenas pelo Sudeste. A região

Norte foi a terceira em investimentos totais alocados.

Tabela 1 - Brasil - Distribuição regional dos investimentos do PAC por infraestrutura, em R$ bilhões – 2007 - 2010

Região Logística Energética Social e Urbana

Total

Norte 6,3 32,7 11,9 50,9

Nordeste 7,4 29,3 43,7 80,4

Sudeste 7,9 80,8 41,8 130,5

Sul 4,5 18,7 14,3 37,5

Centro-Oeste 3,8 11,6 8,7 24,1

Nacional 28,4 101,7 50,4 180,5

Total 58,3 274,8 170,8 503,9

Fonte: Programa de Aceleração do Crescimento: 2007-2010 (material para a imprensa), disponível em www.brasil.gov.br/pac.

Page 211: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

211

O PAC destinou para Sergipe cerca de 9,3% do PAC do Nordeste e 1,5% do

seu total nacional. Após 2010, está prevista a alocação de mais R$1,6 bilhões.

Outros investimentos serão realizados por meio dos empreendimentos de caráter

regional, com destaque para a ampliação do gasoduto que ligará Sergipe a outros

estados nordestinos (R$1,6 bilhões). A Tabela 2 traz uma síntese desses

investimentos.

Tabela 2 - Sergipe - Investimentos do PAC por eixo, em R$ milhões - 2009

Eixo Empreendimentos Exclusivos Empreendimentos de Caráter Regional

2007 – 2010 Pós 2010 2007 – 2010 Pós 2010

Logística 607,8 - - -

Energética 3.247,0 1.598,3 1.598,6 315,1

Social e Urbana

2.004,2 - 16,0 -

TOTAL 5.859,0 1.598,3 1.614,6 315,1

Fonte: PAC Sergipe - 7º balanço: janeiro a abril de 2009, disponível em www.brasil.gov.br/pac.

A infraestrutura logística objetiva ampliar a estrutura já existente para

melhorar as condições da interligação de Sergipe com os demais estados do

Nordeste e apoiar o turismo com a duplicação e modernização da BR-101. Os

investimentos previstos totalizam R$ 607,8 milhões, o equivalente a 8,1% do total do

Nordeste.

No eixo da infraestrutura energética, os recursos do PAC em Sergipe estão

sendo direcionados para obras que objetivem garantir segurança energética e

modicidade tarifária para Sergipe e para Região Nordeste, a ampliação da malha de

gasodutos de modo a assegurar o suprimento de gás natural, bem como

desenvolver e ampliar a produção de petróleo no estado. Até 2010, a alocação

prevista de recursos do PAC exclusivamente para o setor de infraestrutura

energética do estado é de R$ 3,2 bilhões, o que equivale a 11% do total destinado

para a região Nordeste. Para que tais objetivos sejam alcançados, planeja-se a

execução das seguintes obras:

� construção da Usina Termelétrica à óleo em Nossa Senhora do Socorro;

� construção da Usina Termelétrica à Biomassa em Capela;

Page 212: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

212

� exploração e produção de petróleo no campo de Piranema em Estância e

� exploração e desenvolvimento da produção de petróleo no estado (em conjunto

com Alagoas).

Os investimentos dos recursos do PAC no eixo de infraestrutura social e

urbana têm como metas a universalização do acesso das famílias à energia elétrica,

através do programa Luz Para Todos; melhorar as condições de vida da população

por meio da ampliação do sistema de esgotamento sanitário de Aracaju e Nossa

Senhora do Socorro (com a revitalização da Bacia do Rio Sergipe e despoluição de

praias); ampliar o sistema de abastecimento de água de Aracaju e municípios

interioranos; urbanizar favelas removendo moradias localizadas em áreas de risco

em Aracaju e outros municípios e construir habitações em dezenas de municípios.

Os valores alocados para este eixo correspondem a R$ 2,0 bilhões e representam

4,9% do total investido no Nordeste.

Há ainda outros investimentos em andamento previstos no PAC, mas que

são frutos de emendas parlamentares e/ou obrigações constitucionais. Entre eles

estão o Plano de Desenvolvimento da Educação (expansão da Rede Federal de

Ensino Superior e de Escolas Técnicas), o Programa Universidade Para Todos

(PROUNI) e o programa Territórios da Cidadania (o crédito PRONAF – Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Programa Bolsa Família e o

Programa ProJovem entre outros).

Contextualização do PDP na economia do estado

O objetivo da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) é o de promover

a competitividade de longo prazo da economia brasileira, consolidando a confiança

na capacidade de crescer, com uma maior integração dos instrumentos de política

existentes, fortalecimento da coordenação entre instituições de governo e

aprofundamento da articulação com o setor privado.

Dos mais de 800 instrumentos sistematizados dentro da PDP, os que

apresentam maior facilidade para visualização e mensuração são os financiamentos

do BNDES, que cresceram de forma significativa de 2008 a março de 2010.

Dentre os setores mais relevantes para a economia sergipana, os que mais

se beneficiaram das linhas de financiamento do BNDES, entre janeiro de 2008 e

Page 213: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

213

março de 2010, foram as atividades do complexo de serviços, a construção civil, as

agroindústrias, de produção de bioetanol, têxteis, de confecções, madeira e móveis.

Os dados referentes aos desembolsos do BNDES em Sergipe mostram que

apenas nos três primeiros meses de 2010, já foram investidos mais de 60% de todo

o valor desembolsado em 2008 nas MPEs. Esse dado revela que o BNDES tem

conseguido expandir sua atuação no estado, ver Tabela 3.

Tabela 3 - Sergipe - PDP - Desembolsos do BNDES por área - 2008 a 2010*

Áreas 2008 2009 2010 Regionalização 82.753.634,41 308.216.024,52 55.371.432,74 Bens de Capital+FINAME 71.436.535,78 87.918.501,67 38.661.514,52 MPEs 41.215.868,34 63.370.471,50 27.756.071,27 Complexo de Serviços 24.372.230,00 188.408.300,63 21.791.202,33 Construção Civil 14.298.939,16 10.689.584,45 7.897.736,66 Agroindústrias 9.868.121,68 12.825.427,86 5.649.476,94 Bioetanol 0,00 0,00 500.000,00 Plásticos 1.999.999,00 1.282.064,77 348.326,67 Carnes 392.140,00 1.276.115,20 338.000,00 Têxteis e Confecções 4.282.574,03 913.424,91 277.903,34 Madeira e Móveis 9.625,03 318.398,07 68.375,63 Higiene, Perfumaria e Cosméticos 0,00 0,00 62.917,49 Tecnologia de Informação e Comunicação 50.645,12 278.160,99 46.045,54 Aeronáutico 0,00 0,00 3.041,89 Biodiesel 0,00 0,00 0,00 Celulose e Papel 0,00 0,00 0,00 Complexo Automotivo 0,00 93.000,00 0,00 Complexo Industrial de Saúde 1.960,66 0,00 0,00 Couro, Calçados e Artefatos 0,00 0,00 0,00 Defesa 0,00 0,00 0,00 Exportação de Serviços 0,00 0,00 0,00 Exportações 0,00 0,00 0,00 Indústria Naval e Cabotagem 0,00 0,00 0,00 Mineração 426.000,00 229.995,75 0,00 Petróleo, Gás natural e Petroquímica 0,00 256.603,68 0,00 Produção Sustentável 0,00 0,00 0,00 Siderurgia 27.371,31 0,00 0,00 TOTAL 251.135.644,52 676.076.074,00 158.772.045,02 Fonte: BNDES6 * Janeiro a Março de 2010

A existência de um número significativo de ações no âmbito da PDP em

conjunto com o paulatino e constante aumento dos desembolsos realizados no

âmbito da linha de financiamento destinada à compra de máquinas e equipamentos

6 Dados enviados diretamente pela área responsável do BNDES.

Page 214: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

214

novos (FINAME), conforme informações disponibilizadas pelo BNDES, também

permitem inferir a ocorrência de uma modernização das empresas sergipanas.

Contextualização do PTC na economia do estado

Com base no modelo de territorialização, o Programa Território da Cidadania

(PTC), proposto pelo MDA, consiste em um programa do governo estadual de

Sergipe sob a forma de estratégia de desenvolvimento territorial sustentável que tem

por objetivo a superação da pobreza e a geração de emprego e renda no meio rural.

As ações deste programa procuram atender às necessidades do território no qual

atuam por meio da inclusão produtiva das populações pobres, do planejamento e

integração de políticas públicas, buscando a universalização de programas básicos

de cidadania e através da ampliação da participação social. Para tanto, suas ações

têm como foco o combate às desigualdades e a pobreza no meio rural orientado

pela perspectiva da estratégia territorial e dos territórios de identidade. Não obstante,

a exequibilidade das ações do PTC depende de forma significativa da consolidação

das relações federativas e da integração de políticas públicas.

O destaque dado pelo PTC às ações federais está refletido na mobilização

de 19 Ministérios, dos quais 15 estão executando ações, a exemplo do Ministérios

da Casa Civil, Educação, Desenvolvimento Social e da Integração. Além dos

ministérios, o PTC também conta com a participação de outros Órgãos do Governo

Federal tais como a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco do Nordeste (BNB), o

Banco do Brasil (BB) e o Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O projeto abarca 135 ações que foram definidas sob três eixos estruturantes,

a saber: apoio às Atividades Produtivas, Cidadania e Direitos e Infraestrutura. Suas

ações estão voltadas, deste modo, para a organização sustentável da produção,

para questões fundiárias, para a educação e cultura, para os direitos e

desenvolvimento social, saúde, saneamento e acesso a água, para o poio à gestão

territorial e para a infraestrutura.

Os recursos captados pela região Nordeste alcançaram a cifra de R$ 5,4

bilhões. A forma como os recursos destinados para o estado de Sergipe foram

distribuídos por ações pode ser verificada na Tabela 4.

Page 215: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

215

Tabela 4 - Sergipe - PTC - Recursos Distribuídos por Ações - 2010

GRUPO AÇÕES VALOR

Ações Fundiárias 1 R$ 7.245.000,00

Apoio à Gestão Territorial 5 R$ 718.964,00

Direitos e Desenvolvimento Social 11 R$ 252.114.886,68

Educação e Cultura 13 R$ 68.304.949,48

Infraestrutura 3 R$ 19.966.670,00

Organização Sustentável da Produção 20 R$ 192.562.595,11

Saúde, Saneamento e Acesso à Água 18 R$ 117.454.148,04

Total 71 R$ 658.367.213,13

FONTE: MDA, por meio de entrevista concedida pela articuladora estadual (2010).

ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS GPFs NA ECONOMIA SERGIPANA

Impactos do PAC na economia do estado

Os projetos de infraestrutura do PAC visam acelerar o crescimento

econômico por meio do desbloqueio de estrangulamentos responsáveis pela perda

de dinamismo da economia brasileira. Estes projetos buscam, portanto, através da

redução dos gargalos na oferta de infraestrutura (transporte e energia), minimizar a

incerteza microeconômica das atividades produtivas e melhorar a competitividade

sistêmica da economia (Carneiro, 2008).

Neste âmbito, avalia-se que os investimentos direcionados para o eixo do

petróleo e gás são os que apresentam maior potencial para dinamizar a economia

sergipana. Esta asserção é corroborada não apenas pelo volume de recursos

alocados (R$3,2 bilhões) mas, principalmente, pela participação significativa do setor

na formação do PIB do estado, que deverá crescer com o aumento da produção.

Como demonstra a Tabela 5, e segundo a série de dados disponibilizados

pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), já é possível identificar nos últimos anos

uma recuperação e crescimento da produção de petróleo e gás em Sergipe. Esta

recuperação tem permitido o aumento da arrecadação de royalties pela receita

estadual e pelos diversos municípios, garantindo para estes últimos uma importante,

senão a maior, fonte arrecadadora de recursos.

Page 216: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

216

Tabela 5 - Brasil e Sergipe - Produção de petróleo e gás natural e royalties distribuídos: 1999-2008

Produção de petróleo (mil barris)

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Terra 8.740 8.904 9.212 9.681 10.840 11.433 11.909 12.044 12.889 12.371

Mar 5.079 4.564 3.860 3.251 2.650 2.530 2.307 2.300 2.404 4.823

SE Total 13.819 13.467 13.072 12.932 13.490 13.962 14.216 14.344 15.293 17.194

Brasil Total

400.78

2

450.62

6

471.86

2

530.85

5

546.080

540.717

596.25

5

628.79

7

638.01

8

663.27

5

SE/BR (%) 3,4 3,0 2,8 2,4 2,5 2,6 2,4 2,3 2,4 2,6

Produção de gás natural (milhões m3)

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Terra 59,7 58,6 59,3 59,6 66,2 76,3 79,0 84,2 93,2 91,2

Mar 806,4 815,0 752,5 741,9 666,3 601,2 538,7 525,2 453,9 766,5

SE Total 866,0 873,6 811,9 801,4 732,5 677,4 617,7 609,4 547,1 857,8

Brasil: total 11855,

2 13282,

9 13998,

8 15525,

2 15792,

1 16971,

2 17699,

2 17706,

2 18151,

7 21592,

7

SE/BR (%) 7,3 6,6 5,8 5,2 4,6 4,0 3,5 3,4 3,0 4,0

Royalties distribuídos

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

SE/BR (%)¹ 5,0 4,6 4,2 3,9 3,9 3,9 3,8 3,8 4,0 4,2

SE/BR

(%)² 4,2 3,4 2,9 3,8 3,7 3,5 3,3 3,3 4,0 4,2

Fonte: ANP, disponível em www.anp.gov.br, acesso em 31/07/2010. ¹ Refere-se aos royalties distribuídos entre os Estados brasileiros. ² Refere-se aos royalties distribuídos entre os municípios brasileiros.

Embora seus efeitos sejam percebidos nos municípios produtores (devido

aos royalties distribuídos), a maior beneficiária do setor extrativista mineral é

Aracaju. Isso ocorre não apenas por ela ser a sede das principais empresas do

núcleo do setor, mas também por concentrar o maior número e os mais importantes

fornecedores de produtos e serviços. Aracaju também tem sentido os efeitos

positivos deste setor através do efeito renda. A grande massa salarial gerada tem

contribuído para a geração de externalidades nos setores terciário (serviços e

comércio) e da construção civil, isto porque grande parte dos seus trabalhadores

residem e realizam seu consumo na capital.

Ao fomentar a agroindústria sucroalcooleira, os investimentos no grupo de

Biocombustíveis têm ajudado a consolidar as regiões norte e noroeste de Sergipe

como produtoras de etanol, contribuindo deste modo para a geração de renda e

Page 217: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

217

emprego. Contudo, devido às suas características ela tende a criar naquelas regiões

uma concentração fundiária atrelada à monocultura da cana-de-açúcar, o que é

preocupante, uma vez que pode contribuir para o agravamento do quadro social.

Por sua vez, avalia-se que os investimentos atrelados aos blocos de

Recursos Hídricos, Saneamento, Habitação e Educação permitirão alavancar o

capital social de Sergipe, fator fundamental para impulsionar não apenas melhorias

nas condições de vida da sua população, mas também ajudar a estruturar condições

para o desenvolvimento dos APLs, principalmente aqueles ligados ao setor da

construção civil, como é o caso do APL de cerâmica vermelha.

Como o setor da construção civil é o segmento econômico mais favorecido

pelos impactos dos investimentos do PAC em Sergipe, ele atua positivamente sobre

a indústria de cimento (empresas dos Grupos Votorantin e João Santos) e sobre os

APLs sergipanos7 de cerâmica vermelha dos municípios de Itabaianinha e de

Itabaiana (que produzem principalmente telhas e tijolos).

Os efeitos do PAC sobre a economia sergipana estão contribuindo

positivamente para a manutenção da trajetória de crescimento anual do PIB do

estado acima das médias nacional e regional, como já vinha ocorrendo em anos

anteriores à sua implementação.

Tomando como base a literatura sobre a economia regional brasileira que

trata da integração das economias nacional e regional a partir da década de 1970 no

ciclo econômico, é possível deduzir que as economias regionais mais favorecidas

com os investimentos do PAC tendem a acelerar seu crescimento com os efeitos

positivos decorrentes.

Contudo, também é necessário levar em consideração que os efeitos do

PAC sobre as economias estaduais são difusos, não garantindo, portanto, uma

relação linear entre as Unidades da Federação mais beneficiadas pelos

investimentos do PAC e aquelas que recebem os efeitos mais positivos (LEMOS,

2009). Isto porque os grandes eixos de investimentos são demandantes de

indústrias de bens de capital, de bens intermediários e de bens de consumo

duráveis, e essas indústrias estão concentradas nos estados das regiões Sudeste e

Sul e no estado do Amazonas. Com isto, a ocorrência de vazamentos inter-regionais

7 Sobre o mapeamento dos APLs em Sergipe ver a Nota Técnica 5/SE - BNDES.

Page 218: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

218

de renda tendem a minimizar os efeitos potenciais de crescimento das economias

estaduais mais contempladas com os recursos do PAC. E este é o caso de Sergipe,

onde predomina a indústria de bens de consumo não duráveis, e da maioria dos

estados do Nordeste em que a participação em relação ao Brasil do VTI é inferior ao

da participação do emprego.

Como chama a atenção Lemos (2009: 183-4), “As economias estaduais

menos desenvolvidas, com estruturas produtivas menos complexas, possuem

baixos efeitos multiplicadores intra-regionais, que resultam em maiores vazamentos

inter-regionais.”

Segundo o estudo efetuado por Lemos (2009) os estados do Nordeste (à

exceção do Ceará) estariam apresentando impactos positivos do PAC abaixo da

média nacional. No caso específico de Sergipe os impactos seriam negativos, em

função dos enormes vazamentos de renda inter-regional e intra-regional, contudo

esta afirmação soa de forma estranha. Se considerarmos o efeito renda, a geração

de impostos e as compras realizadas junto à economia sergipana por determinados

setores componentes do PAC, como é o caso do setor de petróleo e gás,

terminaremos duvidando daqueles efeitos regressivos. Atendo-nos ao setor de

petróleo e gás, podemos verificar que a entrada em operação da plataforma

marítima de Piranema (da Petrobras) proporcionou uma inflexão na produção de

petróleo e gás em Sergipe que causou, consequentemente, efeitos dinâmicos sobre

o seu PIB, emprego e renda.

Não obstante, Matos (2009) destaca a fragilidade da base industrial da

economia sergipana, em razão de: primeiro, da forte dependência do processo de

acumulação de capital estadual frente aos investimentos originários do Estado

nacional e de outras regiões, a exemplo dos incentivos fiscais do sistema

34/18/FINOR da Sudene, dos investimentos realizados pelo II PND e daqueles

atraídos em tempos mais próximos pela “guerra fiscal”; segundo, como os capitais

locais se integraram de forma reduzida àqueles processos, eles se

metamorfosearam de modo a encontrar espaço de valorização e vetores de

investimentos compatíveis com seu papel ao longo da dinâmica de integração

produtiva nacional. Sem porte competitivo na indústria, os capitais locais

encontraram espaço no setor terciário, principalmente no comércio, nas atividades

imobiliárias e da construção civil, nos serviços sob outorga do setor público

Page 219: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

219

(comunicações e transporte, por exemplo) – pois durante o período sob os anos de

chumbo da ditadura militar brasileira, prestaram serviços políticos e depois sob o

guarda-chuva dos acordos políticos eleitorais, conseguiram, mesmo que de forma

cíclica, capturar o Estado nacional, estadual e municipal –, e mais recentemente

passaram a atuar no setor de turismo, garantindo eixos de acumulação de capital

sob os interesses mais imediatos e dependentes das intermediações da própria elite

econômica e política local.

Como o PAC privilegia investimentos produtivos locais com base na dotação

de recursos naturais, não seria possível mudar aquela estrutura industrial. Por outro

lado, como a política pública estadual de desenvolvimento industrial resume-se à

guerra fiscal através do Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI),

este termina por não priorizar políticas específicas de atração de indústrias de maior

intensidade tecnológica e de maior Valor de Transformação Industrial (VTI),

conseguindo apenas atrair investimentos industriais em função da competitividade

espúria, principalmente calcada na baixa remuneração da mão de obra. A

manutenção desse quadro sem alterações na competitividade sistêmica da

economia sergipana implica numa continuidade na acumulação de capital pela

indústria de Sergipe, mas ao custo ou em detrimento de um maior adensamento

tecnológico de suas cadeias produtivas.

Por conseguinte, pode-se concluir que Sergipe apresenta um quadro

desalentador para a sua estruturação, modernização e diversificação industrial,

formado pela ausência de políticas públicas orientadoras e indicadoras de seu

espaço como escolha locacional em um projeto integrado nacionalmente e a sua

substituição pelas livres forças de mercado, pelo caos competitivo da guerra fiscal,

pela depauperação de suas condições infraestruturais, pela política

macroeconômica voltada aos interesses da órbita financeira em detrimento da

produtiva e pela sua menor capacidade em concorrer com outras regiões para atrair

segmentos centrados em ciência e tecnologia (Matos, 2009).

Assim, ainda que os investimentos em infraestrutura possam desobstruir

gargalos e permitir ganhos de externalidades, seus efeitos sobre a capacidade

dinamizadora do desenvolvimento econômico e social permanecem limitados, não

alterando significativamente o quadro de vantagens comparativas estadual.

Page 220: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

220

Como pode ser observado na pesquisa de campo relatada na Nota Técnica

11 do BNDES, o Quadro 2 (Hansen et al., 2010b), oferece uma perspectiva

complementar a esses argumentos identificando as principais transformações

ocorridas em Sergipe impulsionadas pelo PAC. Ao basear-se nas entrevistas

realizadas com os dirigentes das instituições ou dos gestores responsáveis pelos

projetos e ações no estado, ela oferece uma visão de como os atores envolvidos na

implementação dessas políticas públicas percebem o ambiente socioeconômico e

avaliam a efetividade dos processos em que estão diretamente envolvidos.

Os representantes da ACESE e da SEPLAN-SE apontam como um dos

principais efeitos do PAC o crescimento da valorização imobiliária da região,

afirmação que, por sua vez é contradita pela Prefeitura de Maruim. A FAPITEC

salienta o crescimento dos investimentos em infraestrutura e a dinamização do setor

de construção civil promovida pelos programas de habilitação. Aponta também para

importantes avanços na área de transportes, que resultaram num aumento

significativo na circulação dos produtos e, assim, na incrementação do comércio. De

um modo geral, verificou-se a existência de consenso ente os entrevistados de que

os impactos do PAC no estado ainda não aparecem de forma nítida, o que dificulta

uma identificação mais precisa.

No que toca à questão sobre se o PAC tem estimulado os investimentos

privados, as respostas foram unanimemente positivas. Segundo os entrevistados,

vários setores foram beneficiados, sendo o da construção civil aquele que apresenta

os dados mais significativos. Outros setores apontados como diretamente

beneficiados pelo PAC foram o agronegócio, a indústria naval, o setor de energia

(especialmente o de Etanol), a indústria extrativa, o setor de turismo (com

investimentos no parque hoteleiro) e nos setores de bens de consumo de massa,

como vestuário, confecções, calçados e bebidas.

Impactos da PTC na economia do estado

A identificação do grau de desenvolvimento dos Grandes Projetos Federais

(GPFs) em relação à economia do estado e entorno do PTC foi realizada a partir dos

dados coletados nas entrevistas realizadas com os gestores das instituições que

estão diretamente ligadas às ações do programa. No que segue, serão salientadas

Page 221: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

221

as principais informações coletadas sobre o impacto da PTC para o

desenvolvimento de Sergipe.

Para a SEPLAN/SE, o PTC tem fortalecido a infraestrutura produtiva do

estado ao apoiar vários programas, tais como: o de construção de armazéns de

grãos, casas de mel e beneficiadoras de milho no Alto Sertão Sergipano; a

construção de três casas de farinha no Território do Baixo São Francisco e de uma

Beneficiadora de mandioca, em processo de licitação, no Território do Sertão

Ocidental; na construção de um Mercado Atacadista no município de Poço Verde e

ao promover capacitações em diferentes áreas e apoio na assistência técnica e

extensão.

O MDA, que está envolvido em várias das principais ações ligadas ao PTC,

enfatizou ações já executadas ou parcialmente executadas até o momento, a saber:

a assistência social, técnica e jurídica às famílias acampadas; a assistência técnica

e a capacitação de assentados; a assistência técnica e a extensão rural (ATER) para

mulheres rurais; a assistência técnica e a extensão rural (ATER) para os

Quilombolas; a ATER para agricultores familiares; a concessão de crédito para a

instalação de famílias assentadas; o crédito PRONAF; a disponibilização de insumos

para a agricultura familiar; a elaboração do Plano Safra Territorial; a implantação de

casas digitais rurais; o licenciamento ambiental de assentamentos da reforma

agrária; a obtenção de terras para o assentamento de trabalhadores rurais; a

organização produtiva das mulheres trabalhadoras rurais; o programa Arca das

Letras e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

No que diz respeito à avaliação das instituições sobre a melhoria dos

indicadores de saúde, saneamento e acesso à água, bem como às melhorias nos

indicadores da educação e da cultura no estado e das populações no entorno onde

estão localizadas as ações do PTC, verificou-se a existência de algumas

divergências entre a avaliação de duas instituições. Para a CODEVASF, as ações

destinadas a melhorar o fornecimento de água potável apresentam resultados

positivos e mensuráveis. Em sua avaliação essas ações proporcionaram uma

melhora na qualidade de vida das populações localizadas a 15 km do rio São

Francisco. Além disso, os efeitos positivos das ações de saneamento básico e da

coleta e tratamento de resíduos sólidos decorrentes dos projetos de compostagem

contribuem para a racionalização no tratamento do lixo com a existência de aterro

Page 222: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

222

sanitário, bem como para geração de emprego e renda através do reaproveitamento

de resíduos sólidos nos aterros sanitários. Já sob a ótica da SEPLAN/SE, os

programas direcionados, sobretudo, para as áreas de saneamento e educação

tiveram um índice de execução abaixo do estimado e que por isso precisam ser

reavaliados. Quanto aos programas para a educação no campo, a SEPLAN/SE

avalia que os baixos índices de execução são um reflexo da ineficiência das

administrações municipais.

REFLEXÕES E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS

Reflexões e proposições de políticas sobre o PAC

Como visto na seção anterior, ainda é muito cedo para se fazer uma

avaliação precisa dos impactos dos investimentos do PAC na economia sergipana.

Contudo, avalia-se que para que estes surtam os efeitos desejáveis na promoção do

desenvolvimento do estado, as fases de operacionalização e de gestão dos projetos

precisam ser acompanhadas por políticas de coordenação capazes de oferecer

respostas eficientes aos problemas identificados em sua fase de execução, bem

como aos fenômenos que têm historicamente obstado o desenvolvimento do estado,

a exemplo da forte dependência do processo de acumulação de capital estadual

frente aos investimentos originários do Estado nacional e de outras regiões e da

concomitante baixa integração dos capitais locais nos investimentos destinados ao

desenvolvimento da base industrial do estado.

Várias são as linhas apontadas como empecilhos para o bom andamento do

PAC no território nacional e na economia sergipana, daí as mais amplas proposições

de políticas públicas que foram recolhidas nas entrevistas feitas com os

representantes das instituições responsáveis pela gestão ou acompanhamento dos

projetos financiados pelo PAC em Sergipe. Embora as proposições levantadas

apresentem um grau de convergência, algumas delas estão mais diretamente

ligadas às percepções dos interlocutores estruturadas a partir de seu campo

específico de atuação e das funções que desempenham.

Entretanto, a efetiva implementação e transmissão dos efeitos positivos do

PAC para o território sergipano ainda é obstada por fatores que requerem atenção,

tais como a ausência de investimentos em outras áreas de infraestrutura e logística,

Page 223: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

223

a melhoria dos fatores de competitividade sistêmica e a introdução de demandas

específicas regionais e não apenas eixos de investimentos transversais, bem como

a melhoria da gestão e acompanhamento dos projetos do PAC8.

Para a Secretária de Estado do Planejamento, Habitação e do

Desenvolvimento Urbano de Sergipe, Maria Lúcia de Oliveira Falcón, é necessário

implementar políticas públicas de distribuição de renda, mudar o perfil industrial de

Sergipe, desconcentrar intra-regionalmente as atividades produtivas do estado,

universalizar o caráter republicano da máquina e da política pública estadual. Ela

também destaca a necessidade de alocar investimentos para a ampliação do porto

com a colocação de equipamentos que trabalhem com contêineres; para a

ampliação do aeroporto de Aracaju e a criação do aeroporto em Canindé, para

facilitar o escoamento da produção; para a duplicação da BR235, para escoar a

produção da Bahia pelo porto e a necessidade de políticas públicas voltadas para a

setorialização e por fim ampliação da capacidade energética.

Como o entendimento para a ampliação e melhoria das políticas públicas

está atrelado aos interesses representados, a Associação Empresarial e Comercial

de Sergipe (ACESE)9 aponta a reforma tributária como o principal entrave para a

melhoria do ambiente econômico sergipano, mas também indica outras linhas

necessárias de políticas públicas. Ele também apresenta as seguintes

considerações e sugestões de políticas:

� A economia sergipana também apresenta outros gargalos como os presentes

nas linhas de financiamento específicas para atender determinados segmentos

(porte, tipo de produto); na qualificação da mão de obra, inclusive na construção

civil, e os provocados pela baixa de diversidade de produtos, que dificulta o

acesso a novos mercados e que também implica na abertura de novos campos

de investimento;

Para o Prefeito do Município de Maruim10, as potencialidades locais devem

ser mais estimuladas e exploradas em linha com a ideia do desenvolvimento local o

que incluiria:

8 Ver também Quadro 7 na Nota Técnica 11 do BNDES– Hansen et al., 2010b. 9 O entrevistado foi o Gerente Executivo da ACESE, Ben-Hur Neres de Barros. 10 Gilberto Maynard.

Page 224: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

224

� a identificação da vocação das pessoas da comunidade: como cada município

apresenta potencialidades específicas, deveria-se dividir a economia em setores

e voltar os investimentos para a capacitação de pessoas, promovendo assim o

desenvolvimento da economia local.

De um modo geral, avalia-se que, para obter sucesso, a adoção de

programas de investimentos em infraestrutura, como é o caso do PAC, precisa

contar de forma simultânea com mecanismos de coordenação de acompanhamento

e de gestão dos projetos, sem os quais tenderá a se afastar de seus objetivos. Além

disso, os programas de investimentos em infraestrutura precisam ser acompanhados

por políticas públicas que permitam a sua plena adoção, sem criar restrições

impositivas, sobretudo nas diretrizes macroeconômicas. No caso brasileiro, deve-se

evitar o choque de interesses entre os princípios norteadores da adoção do Plano de

Aceleração do Crescimento e as políticas econômicas, sobretudo a monetária e a

cambial.

Reflexões e proposições de políticas sobre o PDP

Apesar da PDP ser considerada de grande importância para estimular o

desenvolvimento produtivo do Estado, os representantes da classe empresarial

apontam que o grande problema é a dificuldade de acessar os instrumentos da PDP,

o que ocorreria, sobretudo, devido à falta de conhecimento, por parte do setor

produtivo, sobre a existência dos mais de 800 instrumentos. Em diálogos mantidos

entre os representantes da classe empresarial com os gestores da PDP foram

solicitadas medidas direcionadas para a organização das informações referentes

aos instrumentos das políticas públicas, de forma que os empresários possam

identificar aqueles que são mais adequados para o seu caso, o que possibilitaria

uma maior aproximação entre a PDP e o setor produtivo.

A grande dificuldade da PDP para atingir um número significativo de

empresas pertencentes aos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

identificados em Sergipe, é o alto grau de informalidade de tais empreendimentos.

Para que tais empresas possam usufruir da grande maioria dos benefícios

concedidos através da PDP, fazem-se necessários programas voltados ao estímulo

Page 225: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

225

da cultura empresarial, voltados para os micro e pequenos empresários, bem como

pacotes de estímulos à formalização de suas atividades11.

Reflexões e proposições de políticas sobre o PTC

Sobre o PTC, ainda com base no questionário aplicado, frente à solicitação

de que apresentassem uma visão crítica sob a forma de sugestões a respeito de

políticas públicas que poderiam ser implementadas com o fim de aprimorar os

Grandes Projetos Federais de modo a aumentar seu impacto no desenvolvimento

regional e local de Sergipe, os entrevistados apresentaram algumas sugestões 12

sintetizadas no que segue.

O representante da Empresa de Desenvolvimento Sustentável do Estado de

Sergipe (PRONESE) destacou a necessidade de desenvolver políticas baseadas em

novas pesquisas e que repercutam na agricultura familiar de Sergipe. Ele também

sugeriu a implementação de um maior compartilhamento de projetos entre as

secretarias de Estado e os Ministérios de modo a possibilitar que as políticas

convirjam na mesma direção, sendo necessário, portanto, maior integração entre as

políticas e programas estabelecidos pelas instituições que participam do Conselho

de Ações do Estado de Sergipe (CAE). Além disso, salientou a importância do

desenvolvimento de estratégias que estimulem as instituições a pensarem

coletivamente a estrutura de processos produtivos, bem como pensarem num

crescimento ordenado das pequenas e médias cidades.

Seguindo a mesma linha, a representante da Secretaria de Estado do

Planejamento, Habitação e do Desenvolvimento Urbano (SEPLAN/SE) acrescentou

que o impacto no desenvolvimento Territorial, local ou regional dos Grandes Projetos

Federais terá maior efeito quando seu planejamento considerar os projetos

implementados como complementares e não como projetos individualizados,

reforçando, assim, a afirmação de que a articulação entre as instituições e a

integração das políticas deve ser perseguida pela Coordenação do PTC.

11 Ver o Quadro 8 na Nota Técnica 11 do BNDES– Hansen et al. (2010b). 12 O Quadro 9 da Nota Técnica 11 do BNDES – Hansen et al. (2010b) traz uma mostra mais completa das sugestões apontadas para o PTC.

Page 226: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

226

Por fim, as sugestões apontadas pelo MDA dizem respeito à construção de

uma estratégia estadual para feiras, a construção de escolas no campo que

permitam o acesso a bibliotecas, e maior articulação das políticas públicas através

de grupos de trabalhos nos colegiados e nos ministérios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A retomada da preocupação com o crescimento econômico levou o Governo

Federal a lançar o Programa de Aceleração do Crescimento em 2007, tendo por fim

não apenas atingir aquele objetivo, mas também o de reduzir as desigualdades

regionais e de ampliar a inclusão social. Com isto, a geração de externalidades

produtivas e de redução das mazelas sociais poderão mostrar que a agenda de

decisão das políticas econômicas não deve ter como única meta a estabilidade

monetária, mas um caráter multidimensional onde o desenvolvimento econômico e

social seja o fim de qualquer projeto de Nação.

O PAC é uma tentativa, embora contraditória com a política monetária e

cambial, de recolocar o Brasil numa trajetória de crescimento e desenvolvimento

econômico, através do fomento das atividades produtivas, da geração de renda e de

emprego. Ao longo da história econômica brasileira, os períodos em que o capital

financeiro esteve submetido à regulação foram os que apresentaram as maiores

taxas anuais de crescimento econômico: 1950-59 – 7,1%, 1960-69 – 6,1%, 1970-79

– 8,9% e caindo após a desregulamentação: 1980-89 – 3,0%, 1990-99 – 1,7% e

2000-09 – 3,3%.

Assim, embora existam limitações sobre a indução das atividades

econômicas, o PAC representa para as economias estaduais a possibilidade de

eliminar gargalos presentes em suas atividades produtivas e de gerar externalidades

para o investimento privado. Embora Sergipe ainda sofra com vazamentos de renda

inter-regional e intra-regional, os impactos do PAC têm representado fatores de

melhoria para o ambiente de investimentos, sobretudo daqueles oriundos da carteira

de investimentos do setor de petróleo e gás. Outra atividade que tem se beneficiado

de forma significativa com o PAC é a cadeia produtiva da construção civil.

Contudo, ao longo de sua implementação e execução têm sido

diagnosticados entraves para o seu bom desempenho. Dentre eles ganham

destaque as falhas de coordenação e de gestão dos projetos, como é o caso da

Page 227: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

227

duplicação da BR101 saída norte de Aracaju que se arrasta por vários anos, ver

Hansen et al. (2010a) Além desta questão, embora seus investimentos contribuam

para a desconcentração produtiva inter-regional, o PAC tem contribuído

negativamente para a manutenção ou reprodução do fenômeno da desconcentração

concentrada. Isto porque os maiores núcleos urbanos são os mais contemplados

com investimentos de infraestrutura, principalmente os sociais urbanos. Outro

problema identificado na pesquisa é a necessidade de sua implementação, dado seu

caráter multidimensional, concomitante com outras políticas econômicas de estímulo

à atividade econômica, para evitar a volatilidade dos recursos investidos.

No caso PDP, verificou-se que sua atuação desencadeou uma dinâmica

mais acelerada para o desenvolvimento produtivo do país, desenvolvendo e

buscando novos instrumentos que permitam que o setor produtivo brasileiro dê um

salto rumo à competitividade. O PDP proporcionou a criação de diversos

instrumentos, muitos deles originados em discussões entre os ministérios e o próprio

setor produtivo, o que permitiu uma maior adequabilidade dos instrumentos em

relação às reais necessidades das empresas, avançando significativamente em

relação à política anterior (Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior –

PITCE), que não gerou os resultados esperados.

Apesar desta maior aderência entre a nova política de desenvolvimento

produtivo e as necessidades das empresas, ainda existe uma lacuna a ser

preenchida, que diz respeito à dificuldade de se conhecer todos os instrumentos

existentes, para então poder buscar se apropriar dos benefícios por eles gerados.

Diante desta situação faz-se necessária a promoção de algumas ações que

poderão corrigir as distorções existentes, permitindo a manutenção da PDP no

caminho traçado. Verifica-se, então, a necessidade de se desenvolver ações no

sentido de facilitar a formalização de um número significativo de empresas que

poderiam alcançar patamares econômicos mais elevados, caso pudessem contar

com os incentivos da PDP.

Outra ação importante é a criação de um portal que permita aos empresários

identificar os instrumentos adequados às necessidades de suas empresas. Como

sugestão poder-se-ia criar um portal onde as empresas respondessem algumas

Page 228: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

228

perguntas-chave (porte, setor, etc.) e o sistema indicasse quais dos instrumentos

existentes são os mais adequados para suas necessidades e especificidades.

Por fim, o objetivo do PTC, a partir de uma estratégia de desenvolvimento

territorial sustentável, é o de superar a pobreza e gerar trabalho e renda no meio

rural. Em Sergipe, até o presente, os recursos do PTC totalizaram R$

658.367.213,13. Várias de suas ações já trouxeram benefícios como o

fortalecimento da infraestrutura produtiva, construção de casas de farinha,

eletrificação rural, assistência técnica e extensão e cursos para promover a inclusão

produtiva. No entanto, também se verificou a existência de gargalos como a baixa

efetividade das ações decorrente do descumprimento dos compromissos firmados

pelos prefeitos dos municípios apoiados. Para melhorar a situação foram indicadas

sugestões interessantes, especialmente a ideia de criação de estratégias

institucionais comuns de gerenciamento e monitoramento dos projetos em todas as

suas fases, o que incentivaria as instituições a ampliar seu papel na coordenação do

processo de desenvolvimento no estado e a pensar coletivamente a estrutura de

processos produtivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARNEIRO, Ricardo. (2008) Impasses do desenvolvimento brasileiro: a questão produtiva . Texto para Discussão. IE/UNICAMP, n. 153. Campinas, HANSEN, Dean Lee, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Sergipe – Sergipe. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos f ederais no Nordeste. Aracaju/SE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/SE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. HANSEN, Dean Lee, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Sergipe e Proposição de Políticas – Sergipe. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impac tos dos grandes projetos federais no Nordeste . Aracaju/SE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/SE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. _______. Produção Industrial Anual . (2010) Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em 31 maio 2010.

JESUS, Daniela R. S.. (2010) Arranjos Produtivos Locais de Sergipe: Caracterização, Política e Articulação Comercial . 146 f. Dissertação (Mestrado

Page 229: GRANDES PROJETOS FEDERAIS IMPACTOS ECONOMIAS DO NE.pdf

229

Profissional em Desenvolvimento Regional e Gestão de Empreendimentos Locais) – Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação em Economia – NUPEC, Universidade Federal de Sergipe/UFS, Aracaju, Sergipe. LEMOS, M. (Coord.). (2009) Perspectivas do Investimento na Dimensão Regional . Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2008/2009. 241 p. Relatório integrante da pesquisa “Perspectivas do Investimento no Brasil”, em parceria com o Instituto de Economia da UNICAMP, financiada pelo BNDES. Disponível em: http://www.projetopib.org/?p=documentos . Acesso em 16 out. 2009.

MATOS, E. N. (2009). A dinâmica urbana e a inserção na economia regional : o caso de Aracaju (1970-2005). Campinas, IE/Unicamp. Tese de Doutorado.

OLIVEIRA, Michele S.. (2010) Aglomerações e Vantagens Competitivas Locacionais: Uma Avaliação das Políticas e Ações de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais de Sergipe . 118 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Regional e Gestão de Empreendimentos Locais) – Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação em Economia – NUPEC, Universidade Federal de Sergipe/UFS, Aracaju, Sergipe. PAC Sergipe – 7º balanço : janeiro a abril de 2009. Disponível em www.brasil.gov.br/pac, acesso em 05 nov. 2009.