funcionamento das economias no século xx

36
1 O MODO DE ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DAS ECONOMIAS NACIONAIS NO SÉCULO XX 1 Ana Bela Nunes 0 Introdução Na fase actual da economia mundial contemporânea, a eficiência económica e as consequências ambientais dos sistemas económicos concretos vêm, há já algum tempo, a ser questionadas, levando mesmo à sua rápida e profunda transformação na última década. Esses sistemas foram o resultado de adaptações a factos económicos que surgiram ao longo dos últimos dois séculos 2 e em especial desde meados da segunda década do nosso século. Perspectivar historicamente as formas de organização e de funcionamento dos espaços económicos relevantes neste período parece ser um exercício fundamental para compreender os processos de transição em curso na economia mundial. Assim, este texto pretende sintetizar a evolução dos sistemas económicos concretos a partir da Primeira Guerra Mundial 3 . O tipo de espaço relevante escolhido para a análise aqui desenvolvida é a economia nacional 4 , apesar de o funcionamento da economia mundial contemporânea e de o aparecimento de espaços 1 Este texto serviu de base à lição de síntese apresentada em provas públicas de agregação realizadas em 1996 no Instituto Superior de Economia e Gestão. Agradeço os comentários do arguente da prova, Prof. Doutor Nuno Valério, e dos dois consultores anónimos desta revista. 2 Para uma caracterização sistemática da época do crescimento económico moderno, em que se inseriram e evoluíram as sociedades humanas nos últimos cerca de 200 anos, v. Kuznets (1969) ou Nunes e Valério (1995). 3 A evolução dos sistemas económicos concretos até à Primeira Guerra Mundial durante o crescimento económico moderno não cabe no âmbito deste trabalho. Essa análise é naturalmente também importante uma vez que nesse período o sistema capitalista de mercado liberal se fortaleceu e alastrou, sem rival, em detrimento de formas de funcionamento rotineiras ou baseadas no mando tradicional e de formas de organização comunitárias. Tanto os processos de modernização como os de integração dos espaços económicos levados a cabo até ao início deste século estão estreitamente associados à consolidação e cristalização daquele sistema económico. 4 Para uma noção de economia nacional e de outros espaços económicos relevantes v. Nunes e

Upload: picalm

Post on 16-Aug-2015

218 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

economia

TRANSCRIPT

1 OMODODEORGANIZAOEFUNCIONAMENTODAS ECONOMIAS NACIONAIS NO SCULO XX1 Ana Bela Nunes 0 Introduo Na fase actual da economia mundial contempornea, a eficincia econmicaeasconsequnciasambientaisdossistemaseconmicos concretos vm, h j algum tempo, a ser questionadas, levando mesmo sua rpida e profunda transformao na ltima dcada. Essessistemasforamoresultadodeadaptaesafactos econmicosquesurgiramaolongodosltimosdoissculos2eem especialdesdemeadosdasegundadcadadonossosculo. Perspectivarhistoricamenteasformasdeorganizaoede funcionamentodosespaoseconmicosrelevantesnesteperodo pareceserumexercciofundamentalparacompreenderosprocessos de transio em curso na economia mundial. Assim,estetextopretendesintetizaraevoluodossistemas econmicos concretos a partir da Primeira Guerra Mundial3. Otipodeespaorelevanteescolhidoparaaanliseaqui desenvolvidaaeconomianacional4,apesardeofuncionamentoda economiamundialcontemporneaedeoaparecimentodeespaos 1Estetextoserviudebaseliodesnteseapresentadaemprovaspblicasdeagregao realizadasem1996noInstitutoSuperiordeEconomiaeGesto.Agradeooscomentriosdo arguente da prova, Prof. Doutor Nuno Valrio, e dos dois consultores annimos desta revista. 2 Para uma caracterizao sistemtica da poca do crescimento econmico moderno, em que se inseriram e evoluram as sociedades humanas nos ltimos cerca de 200 anos, v. Kuznets (1969) ou Nunes e Valrio (1995). 3AevoluodossistemaseconmicosconcretosatPrimeiraGuerraMundialduranteo crescimentoeconmicomodernonocabenombitodestetrabalho.Essaanlise naturalmentetambm importanteumavezquenesseperodoosistemacapitalistade mercado liberal se fortaleceue alastrou, sem rival, em detrimento de formas de funcionamento rotineiras ou baseadas no mando tradicional e de formas de organizao comunitrias. Tanto os processos de modernizao como os de integrao dos espaos econmicos levados a cabo at ao incio destesculoestoestreitamenteassociadosconsolidaoecristalizaodaquelesistema econmico. 4 Para uma noo de economia nacional e de outros espaos econmicos relevantes v. Nunes e 2 supranacionais,maisoumenosformais,teremvindoacondicionar crescentemente os espaos nacionais5. Noponto1sosistematizadososaspectostericosrelevantes para a anlise que aqui se desenvolve6. No ponto 2 apresentam-se, naturalmente de forma exemplificativa e a partir de uma matriz tipificadora, casos concretos que correspondem a economias nacionais em certos perodos histricos significativos para os objectivos do trabalho. No ponto 3, como concluso do estudo da evoluo dos sistemas econmicosconcretosdoperodoapsaPrimeiraGuerra,faz-seuma breverefernciaestabilidaderelativaestendnciasevolutivas daqueles sistemas7. 1 - Os sistemas econmicos. Matrizes modelares simples 1.1 - Modos de organizao e funcionamento: sistema capitalista de mercado e sistema socialista de direco central Em sentido amplo um sistema econmico pode ser definido como uma rede de instituies e organizaes cujo objectivo o desempenho da funo econmica8 de uma sociedade. Existembasicamentedoisenfoques,cominteresseanaltico,na Valrio (1995), pp. 44-47. 5 Aimportnciadosespaossupranacionaisnosculoxxeoseuimpactereguladorsobreas economiasnacionaisdeve-seaumconjuntodetransformaesimportantes.Porumlado,o aparecimentodeumaeconomia mundial contempornea,nicaeconomiaglobalexistente,que foisempreumaeconomia-mundocapitalistademercado,masquetendeuafuncionarnops-guerra com alguma regulao atravs da criao de instituies e organizaes de coordenao econtrolo internacional (o GATT,oFMIeoBIRD,aOECE/OCDE,asagnciasespecializadas dasNaesUnidas,etc.)cominterfernciaclaranasformasdeintervenoeconmica nacionais.Poroutro lado,as tentativas maisou menos bemconseguidasdeconstituirespaos supranacionaistantoanveldaseconomiasdemercado(CEE,EFTA,NAFTA,MERCOSUL) comodaseconomiasdedirecocentral(COMECON),quereduzemombitodaspolticas econmicas nacionais e levam aceitao de intervenes decididas supranacionalmente. 6Nosepretendeaquitratarasteoriasetcnicaseconmicasdossistemaseconmicos. Algumas referncias bibliogrficas nesse mbito encontram-se em Nunes (1996a). 7Nosepretendeigualmentefazeraquiumbalanodaeficinciarelativadossistemas econmicos no sculo xx. Em Maddison (1995) so apresentados dados quantitativos sobre um nmero significativo de economias que permitem essa avaliao por conjunturas relevantes. 8 Odesempenhodafunoeconmica numasociedadetemavercomascondies materiais da vida humana concretamente a afectao de bens e servios escassos para a satisfao das necessidades econmicas. 3 abordagemdossistemaseconmicos:omododefuncionamentoe modo de organizao. Pormododefuncionamentoentende-seaformacomoas diversasunidadeseconmicasquecompemasociedadecoordenam entresiosseusplanosindividuais.Relaciona-secomograude centralizao nas decises sobre a afectao dos recursos e bens finais ecomasformasdecontroloeconmico.Entende-seporcontrolo econmicoasformasemecanismosdeintervenodoestado9 utilizadosparatentarmelhoraraeficincia,corrigirperturbaesou falhas nas formas de coordenao dominantes. Aseconomiasemqueasdecisessobreaquelaafectaoso tomadaspredominantementedeformadescentralizadapelasunidades microeconmicas(empresasefamliasnalinguagemcomumdateoria econmica),atravsdasuainteraconomercadoemfunode mecanismosdepreosederestriesoramentais,sodesignadas economiasdemercado.Aseconomiasemqueasdecisessobrea afectaosotomadaspredominantementeporacoadministrativa centralizadadeautoridadesestataissodesignadaseconomiasde direco central. Pormododeorganizaoemsentidoestritoentende-seas caractersticas das unidades econmicas, aspecto que se relaciona, em termosglobais,comaestrutura dapropriedade,nomeadamentecomo predomnio da propriedade privada ou da propriedade pblica. Aseconomiasemcujosistemaeconmicopredominaa propriedadeprivadadosmeiosdeproduofundamentaisso referenciadascomotermocapitalista.Aseconomiasemcujosistema econmicopredominaapropriedadepblica,basicamenteestatal,dos meiosdeproduofundamentaissoreferenciadascomotermo socialista10 9Note-sequeaacodoestadopodeseradecisodenointervir,deixandoos mecanismos de mercado actuarem. 10Nocabeaquidesenvolveraquesto,relativamentecomplexaecomumaforte componentejurdico-poltica,dadistinoentrepropriedadepblica,propriedadeestatale propriedade social. Lavigne (1970) e Kornai (1992) so referncias teis para a discusso destas noes.Emrigorapropriedadesocial(diferencivelemfunodosobjectivosdasua 4 Aconsideraosimultneadestaduplaabordagem11pode conduzir a uma representao matricial dos sistemas econmicos onde possvel colocar na diagonal principal o que so considerados os dois modelostericosdebaserelevantesparaaanlisedoperodoem estudo:osistemacapitalistademercado12eosistemasocialistade direco central13. O quadro 1.1 apresenta a referida matriz. Acredita-se que o cruzamento das duas abordagens aumentar a capacidadeanaltica,emespecialparaestudoscomparativosde sistemas concretos, como se espera demonstrar no ponto 214. Contudo,paraqueestaafirmaosejaverdadeiranecessrio precisaralgunsaspectosrelativamenteacadaumadasduas abordagens utilizadas. actividade),enquantopropriedadedacolectividadenoseuconjunto,sseriaatingidano comunismo,tendonapropriedadeestatal(pblica)enapropriedadecooperativa(privada) formasintermdias.Paraosobjectivosdestaanliseoptmosporassociarotermoeconomia socialista ao predomnio da propriedade estatal (pblica), apesar da importncia da propriedade cooperativa nas economias socialistas. Note-se ainda, contudo, que as formas cooperativas e de gestocolectivadostrabalhadores,enquantoformaglobaldeorganizaoeconmica,so historicamente raras e pouco duradouras, como veremos no ponto 2. Por outro lado, nas poucas experinciashistricasrelevantes, 1914/1920-1931. A interveno do Estado na economia de acordo com os princpios econmicos liberais limitava-se a assegurar o fornecimento dosbenspblicostradicionais,nomeadamenteadefesaeajustia,e garantir o funcionamento dos mecanismos de mercado concorrencial. Esto aqui igualmente includos os casos de aplicao de um dos tipos de poltica conjuntural de resposta crise e depresso da viragem da dcada de 20 para a dcada de 30, nomeadamente o que podemos designarporintervencionismosimples,emqueseincluiaFrana,a InglaterraeaindaapolticadeNewDealdoPresidenteRooseveltnos EUA.Estecasopodesuscitaralgumacontrovrsiaumavezque surgiramentoalgumasformasdirectasdeintervenomenos clssicas,paraalmdapolticatpica,inicialmentedeflacionistae posteriormenteinflacionistaaplicadasnageneralidadedospases. Refiram-senomeadamente,nodomniodaagricultura,ocontrolode quantidades e a fixao excepcional de preos e as medidas de mbito social. Estes aspectos podem ser argumentos vlidos para a deslocao docasoamericanoparaoelementodamatrizcorrespondente intercepo do mercado regulado e capitalismo privado20. 20 Esta opo, contudo, colide com o facto de nos casos classificados como mercado regulado e capitalismoprivadoestarem fundamentalmenteoscasosemqueapolticadagestodaoferta tem maior importncia que a da gesto da procura. 17 Incluem-se ainda neste elemento os casos que so referidos, por algunsautores,comoavarianteneoliberaldaeconomiamistaem especial os casos dos EUA e da Alemanha. A partir dos finais dos anos 50 no caso alemo e do incio dos anos 60 nos EUA a evoluotomar-se-iabemmenosliberalsugerindoasuadeslocaoparaelementos com maior peso da regulao econmica - v. Van der Wee (1987)21. possvel que igualmente se pudessem colocar neste espao as tentativasmaisconsistentesdeaplicaodaideologianeoliberaldos anos 80, nomeadamente os casos precoces ingls e americano, em que severificaramreformasfiscais,desregulao(nomeadamenteo desmantelamentodossistemasdefixaodepreosedesegurana social),privatizaesetentativasdesaneamentooramental22. Provavelmente,apartirdosfinaisdosanos80einciodosanos90, quandoastendnciasneoliberaissedifundiram,podedefender-se igualmentequeoutroscasosqueaparecemnassituaesde capitalismodeEstado(commercadoreguladoouno)deveriam igualmente transitar para este elemento. Ocasochinsnoperodoposteriora1979,quandoforam implementadasreformaseconmicas,aceleradasnasegundametade dos anos 80 e sobretudo aps 1992, de difcil classificao na grelha de sistemas econmicos da matriz em anlise. Contudo, essas reformas conduziramimplementaodeumapolticaeclctica,que,emrigor, criarammaisdoqueumaeconomianacionalnombitodoterritrio chins.Assim,existemaschamadaszonaseconmicasespeciais que so tendencialmente integrveis na situao agora em anlise, isto ,comoumsistemacapitalista(ondepredominamempresasprivadas, 21Contudo,possveldefenderacontinuaodainclusodocasosalemoeamericano(a chamadaNovaEconomiadeKennedy)nosanos60nesteelementoda matriz,uma vezque setratariadeumkeynesianismomenosdirigista,caracterizadoporacescompensatriase preventivas, com base na poltica fiscal, com estabilizadores automticos, sem aces sectoriais directas. V. a este propsito Thomas (1990). 22Note-se,contudo,queestescasosseenquadramnaspolticasdeestmuloofertaeso contrarias ao estimulo da procura de tipo keynesiano, mesmo de dirigismo leve que so as mais activascontempladasnestetipodesituao.Poroutroladoosefeitosprticosemalguns aspectosno foramto liberais como isso.V.Vander Wee(1990),Thomas(1990)ePelagidis (1996) 18 existe grande participao de capitais estrangeiros e onde as empresas pblicasoumistassogeridaspelainiciativaprivada)demercadono (oupouco)regulado.Trata-sedeverdadeiraseconomiasnacionais protegidas por entraves circulao de bens e factores com o exterior, sujeitas a regimes fiscais e polticas econmicas prprias. 2.2 - Mercado no regulado e capitalismo de Estado Estoincludosnesteelementodamatrizoscasosemquea propriedade pblica relativamentemaior do que no caso anterior mas omercado,comoformadecoordenaoeconmica,continuaaser pouco regulado. Algumasconjunturasdepequenaseconomiaseuropeias,cuja entrada na poca de crescimento econmicomoderno foi relativamente precoce, so situaes exemplificativas. ocasoda polticaconjunturalderesposta crise edepresso daviragemdadcadade20paraadcadade30,quepodemos designar por social democracia, e de que a Sucia ser o exemplo mais claro. Corresponde antecipao da poltica de estado debem-estare deeconomiamistaqueviriaadifundir-senops-SegundaGuerrana EuropaOcidental,comasubidaaopoderdospartidossociais, democratas, socialistas e trabalhistas. Algunscasosdeeconomiamistadops-guerracomumaforte componentedeeconomiadebem-estarsoigualmentecaractersticos deste elemento da matriz, nomeadamente os que se enquadram no que Van der Wee (1987) considera ser a variante concertao central para sublinharopapeldoprocessodeentendimentoentreorganizaes sindicais e patronais. Noquerespeitapropriedadeexistemeconomiasemqueo sector pblico significativo em alguns sectores industriais, na banca e sobretudo nos servios pblicos (sem interferncia directa na gesto das empresaspblicasporpartedasautoridades),comonaSuciaena ustria,ButschekeBaltzarek(1994),ecasosemqueapropriedade 19 cooperativaemsectoresagro-industriaisedeconsumoimportante, como na Sucia. Noutras economias, como a Holanda, o sector pblico relativamente pequeno. Noquerespeitasformasdecontroloeconmicooscasos includoscaracterizam-seporumapolticaeconmicaconjuntural estreitamenteligadaaoplaneamentosocialmuitoflexvel,maisou menoscentralizado(consoanteoscasos)eemqueapolticade rendimentosepreosfundamental,eaindapelaexistnciadeuma forte legislao social23. Em algumas economiasverifica-sea utilizao dealgumasmedidasemecanismosautomticosdereequilbrio anticclicos originais para controlar algumas variveis24. O planeamento, porvezessofisticado,comonaHolanda25,emoutrassituaes basicamente previsional, como na Sucia, Lindebeck (1975). Nalinhadaobservaofeitaacimasobreassituaesde mercado no regulado e capitalismo privado, a propsito das tendncias neoliberaisnaGr-BretanhaenosEUA,poder-se-identificar,em algumasdaseconomiascolocadasnesteelemento,amenor preocupaocomobemestareaigualdadesociaisafavorda estabilizao econmica verificada a partir do incio da dcada de 9026, eemconsequncia,motivoparaasdeslocarparaaqueletipode situao.Pelasmesmasrazesentoreferidasemnotaoptmospor no o fazer. 2.3 Mercado regulado e capitalismo privado Esto aqui colocadas economias em que a propriedade pblica relativamente pouco importante mas em que o mercado, como forma de coordenao econmica, est sujeito a forte regulao. 23Aanlisedomodelosueco,emMeidner(1994),particularmenteclarodestetipode funcionamento econmico. 24ocasodoinvestimentonaSucia,emqueforamcriadosumimpostosobreo investimento e um fundo de reserva de investimento. 25Essasofisticaodeve-seaoeconomistaTinbergen,cujocontributonestareafoi premiado com o Prmio Nobel. 26 Ser o caso da Sucia a partir de 1991, segundo Meidner (1994). 20 Incluem-senesteelementocasoscaracterizadosporregimesde tipo autoritrio estveis, com capacidade de controlo social e objectivos emeiosinterventoresparalevaracaboprocessosderecuperaoou modernizao econmicas. Noquerespeitaestruturadapropriedadeverifica-seo predomniodapropriedadeprivada.Eleesmagadornocaso portugus,emqueseverificamesmoaproibioconstitucionalde criaodenovasempresaspblicas27.NocasodoJapo,noperodo considerado,apropriedadepblicarelativamentemaior,apesarde, emtermoscomparativoscomoutraseconomiasmistas,osector nacionalizadonaindstriaserpequeno.Omesmoseverificanos primeirosnovospasesindustrializadosasiticoscompequenas excepes em alguns perodos28. Note-se que, quanto capacidade de decisosobreofuncionamentocorrentedasunidadesprodutivas (propriedadereal),nomeadamentenoquerespeitaafectaode recursos e sua utilizao ela dos detentores das empresas. Noquerespeitaaosmecanismosdeintervenoestatalsode salientarseisaspectosfundamentais:agrandeimportnciadapoltica conjuntural(oramental,fiscal,monetriaecambial)comobjectivos igualmenteestruturais29;apolticadesubsdioseincentivosacertos sectores;autilizaodeformasdeplaneamentoindicativo,maisou menos bem sucedidas, incluindo programao de investimentos pblicos nolongoprazo,paraenquadraradefiniodeestratgiaeconmica comescolhamesmodesectoresprioritrios;aconstituiode organismodeintervenoecontrolo,comooMITInoJapo,emesmo sistemasdecontroloadministrativodirecto(comooregimede condicionamentoindustrialemPortugal)comefeitonacapacidade 27 Anicaexcepoausncia denovasempresas totalmentepblicas,no perododoEstado Novo, seria o Banco de Fomento Nacional, criado em 1959, apesar da importncia da presena financeira do Estado em algumas empresas e sectores. Para mais pormenores v., por exemplo, Mata e Valrio (1994) ou Nunes (1996b). 28Noquerespeitaseconomiasasiticas,apropsitodasestratgiasdeindustrializao,v. Adams e Davis (1995), pp. 21-22. 29 o caso, nomeadamente, da escolha de modelos de crescimento assentes na substituio de importaes ou na promoo das exportaes. V. ainda Adams e Davis (1995), pp. 11-18. 21 produtiva30;ocontrolodirectodasassociaessindicaisepatronais, factor inerente a regimes autoritrios. 2.4 - Mercado regulado e capitalismo de Estado Estoincludosnesteelementodamatrizoscasosemquea propriedadepblicarelativamenteimportanteeomercado,como forma de coordenao econmica, est sujeito amecanismos e formas de controlo por parte do Estado. Aseconomiasaqueestescasoscorrespondemso decomponveisemdoistipos.Umprimeiroconstitudopelas economiasmistasdoaps-guerraquealgunsreferenciampor neocolectivistas - Van der Wee (1987) - e que inclui nomeadamente a Frana, a Itlia, aGr-Bretanhae Portugal aps meados da dcada de 70. Um outro tipo abrange a maioria das economias da Europa Central e deLesteduranteosprocessosdetransioiniciadosnoincioda presente dcada.Quantoaoscasosdeeconomiamistavaleapenarelembrar sucintamentealgunsaspectos:umsectorpblicoprodutivo na indstria quechegaapesarentre25%e50%31;umagrandeimportnciada polticaeconmicaconjuntural(polticaoramental,fiscal,monetria, rendimentosepreos);aexistnciadeumarededeserviospblicos, ligada ao estado de bem-estar; o controlo de alguns preos e fixao de salriosmnimos;formasdeplaneamento,emalgunscasosregulador parasectoresessenciais(Frana),noutroscasosalvodealguma desconfianasendoapenasintroduzidotardiamenteesempolticain-dustrialdelongoprazo(Gr-Bretanha);existnciaemalgunscasosde planosdeinvestimentodelongoprazosemcontudosubstituremos mercados de capital. 30Aeficinciadoplaneamento,funodosseusmeios,dasuaflexibilidadeedoseugraude integraoglobaledaacodosorganismoseinstituiesreferidos,dependedecasopara caso.ApropsitodaseconomiasasiticasenomeadamentedoJapov.,porexempo,Smith (1995); a propsito de Portugal v. Nunes (1996b) ou mais especificamente Silva (1984). 31 Note-se que quase sempre a gesto das empresas pblicas no est sujeita a aco directa das autoridades estatais. 22 Quanto aos processos de transio da Europa Central e de Leste asuaclassificao,comoasuacaracterizao,envolvedificuldades particulares dado que, por definio, no so situaes estabilizadas. O contextointernacionaleainstabilidadepoltica,facesalteraesde regime,senoguerra,soelementoscondicionantesdas transformaes.Mesmoassimpossvelapresentaraspectoscomuns aosprincipaiscasosrelevantesquejustificamasuainclusoneste elemento da matriz. No que respeita estrutura da propriedadeverifica-se o aumento significativo do peso da propriedade privada (mais de 50 % do VAB dos sectoresdocomrcioeservios),apesardasdificuldades, nomeadamenteemgarantirosdireitosdepropriedadeeemcriar esquemas de privatizao das empresas estatais. Noquerespeitacoordenaoecontrolosoderealaros seguintesaspectos:aimportnciadaspolticasconjunturaisde estabilizaomacroeconmicaespecialmentenalutacontraa(hiper) inflao,odesempregoeosdesequilbriosoramentaleexterno32;a reformadospreosnosentidodasualiberalizao,comquebras, muitasvezesradicais,desubsdioseincentivos,emligaoaos aspectos de estabilizao;o alargamento dosmecanismos demercado naafectaodosrecursosparalelamentereduodombitoda planificaoeconmica;controlodealgunsaspectosdosprocessosde privatizaonomeadamentedasgrandesempresasestataisedas bolsas de valores. 2.5 Mercado regulado e socialismo Incluram-senesteelementodamatrizoscasosemquea propriedadepblicamaioritriaeomercado,comoformade coordenaoeconmica,estsujeitoamecanismoseformasde 32 Sobre a causa destes problemas, a importncia e dificuldade em super-los e a sua estreitaligaocomosprocessosdetransformaoestrutural,comoareformados preos,v.,entreoutros,BaldassarieMundell(ed.)(1993),Berend(1994)eGylfason (1995). 23 controlo importantes por parte do Estado. Encontram-se neste elemento da matriz fundamentalmente casos dereformadosistemasocialista,istosituaesemqueseverificam alteraesnosmtodoseinstituiescomoobjectivodemelhorarou aperfeioaroseufuncionamentonosentidoamplodotermo,comopor exemplo,modificaesdotipodeplaneamentoeorganizaodo trabalho.Trata-sedefasesemqueaprocuradeganhosdeeficincia econmicanoimplicaamudanadaestruturapolticaeideolgica, apesardeemalgunscasos(HungriaeURSS)seterverificadomenor rigidezdaestruturapoltica.Tambmasrelaesdepropriedadeno sofremalteraessensveis,peloquealgunsconsideramtratar-se fundamentalmentedeeconomiasdedirecocentralbaseadasno controloburocrtico33directoemqueapenasseconsideraomercado uminstrumentomaisoumenosimportantedosocialismo,emrigorum instrumento de controlo da direco central. Muitos analistas, contudo, defendem que, pelo menos nos casos daJugoslvia,Hungria,Rssia/URSS(noperododaNEP)eChina, aspectosfundamentaisdaoperacionalidadedadirecocentralforam alterados34;operododasegundametadedadcadade80naURSS tersidodemasiadocurtoparagrandescertezasrelativamentesua classificao35. Umabrevedescriogeraldastendnciasdasreformasdas economias de leste aqui contempladas permitir justificar a suaIncluso neste elemento da matriz. Noquerespeitapropriedade,osectorpblicomantm-se maioritrio. Efectivamente o aumento do sector privado que por vezes uma mudana radical, s atinge seriamente sectores especficos como ocasodaagriculturanaChina36enaJugoslviaondeoseupesose 33 Sobre o conceito de burocracia nas economias de direco central, v. Kornai (1992). 34Paraanlisesmaiscircunstanciadasdestescasosv.paraoscasosdaEuropadeLesteAldcrofte Morewood(1995),Brus(1968),Brus(1986)eKornai(1990b),paraasexperinciassoviticasDavis, Harrision e Wheatcroft (1994), Gregory e Stuart (1994) e Lavigne (1994), para o caso chins Lee e Reisen (1994), Watson (1994) e World Bank (1990). 35 Asalteraescontnuasde legislaoe.a resistnciaasuaimplementaodificultama avaliao dos efeitos das reformas no sistema. 36Areformaagrcolaestabeleceuumsistemaderesponsabilidadecontratualquedeuliberdadeaos 24 tornou esmagador. Noutros, como a URSS de Gorbatchev, a legalizao incentivou a constituio de cooperativas no sector agrcola. Os sectores dereparaoemanuteno,transportedebensepassageiros, construo,comrcioaretalhoeoutrosserviospassamadepender muitodapequenainiciativafamiliar,masmuitasvezessoactividades complementaresaoempregonosectorpblico.Nosectorindustrial,a situaodiferente;mesmonocasomaisfavorveldaNEP,a privatizaorepercute-sedeformamarginalnoVABenapopulao activa empregue e a empresa privada fortemente controlada quer por restries em termos de trabalho assalariado quer atravs de contratos comoEstado;nocasodaChinadesenvolvem-seoscontratosde leasingpor parte do Estado a favor de entidades privadas e a melhoria dosrendimentosdosagricultorespermitiuoaparecimentoanvelrural da pequena iniciativa privada; noutras situaes aparecem empresas em propriedade conjunta com o estado. Note-se que nunca, nem Lenine, nem Tito, nem Gorbatchev, nem DengXiaopingdeixaramdeafirmarqueapropriedadeestatal/colectiva era a mais importante e aquela em que deveria assentar a organizao da actividade econmica. Poroutroladosurgem,nesteconjuntodeeconomias,situaes emquenoexistecorrespondnciaentreapropriedadeformalea propriedade real e em que, muitas vezes, o que est em causa quando seafirmaoaumentodosectorprivadoapenasacapacidadede deciso,geralmentecorrente,eagestoprivadasenoapropriedade jurdica. Os casos da Jugoslvia e da China so disto exemplo. Quantocoordenaoecontrolo37,doisaspectosmerecem referncia:transformaodoplaneamentoedosmecanismosde controlo directo e a poltica macroeconmica conjuntural. camponesesparadisporemdeumaparte,progressivamentemaissignificativa,daproduo,umavez garantidaumaparteparaasagnciasestataisaumpreoestabelecido.Progressivamentearelao entreocamponseoestadotornou-seadeumrendeiroaumprazomuitolargo,preparandouma eventual alienao formal da propriedade por parte do Estado. 37 No se faz aqui referncia a aspectos no directamente relevantes para a classificao das formas de intervenoecontrolodeacordocomatipologiareferidanoponto1,nomeadamentereorganizaesa nvel das organizaes superiores (ministrios e regies) no sentido da maior descentralizao, como na China e a nvel das organizaes inferiores (empresas), nomeadamente juno de empresas, como foi o caso da formao de trusts na URSS durante a fase da NEP. 25 No que respeita ao primeiro aspecto h que realar a alterao da concepodoplano,dosistemadosseusindicadoreseareduodo seumbito.Nocasojugoslavoomacroplanonotemcarcter imperativoparaaactividadedasempresassendobasicamente informativoedefinidorderciosessenciaismacroeconmicos, coexistindoplanosdiversos avriosnveis; naHungria oplaneamento, detipodirector,apenassemantmparaolongoprazo,apenasfixa imperativamenteumououtroindicadorestratgico,nomeadamentea taxa de investimento, sendo deixado s empresas liberdade de dispor de parte dos lucros e de recorrer ao crdito (como acontece igualmente no casojugoslavoondeseverificoumesmoliberalizaodaactividade bancria); as empresas podem no aceitar as directrizes emanadas dos ministrios depois de ouvidas, sofrendo naturalmenteex post. Por outro lado,estaevoluocorrespondedescentralizaoeutilizaode instrumentosindirectosnodiscricionriosnaexecuodoplano(leis, normas,regras,impostos,subsdios,preos,taxadejuroetaxade cmbio),implementaodecontratosentreasempresaspara aumentarasrelaeshorizontaiseaceitaodomercadocomo instrumentodosocialismoedecontrolodoplaneamento38.Contudo verifica-se genericamente pouca liberalizao dos preos que continuam asermaioritariamentefixadosadministrativamente,comexcepodo sectoragrcolanaChinaemqueomecanismodemercadofunciona. Para alm do caso chins, o jugoslavo, em que paralelamente se verifica algumesforodeaproximaodospreosinternacionaisea liberalizao progressiva do comrcio externo, so os que mais evoluem neste sentido. Emalgunscasosemqueasreformasforammaislonge verificaram-sedesequilbrioseconmicosimportantesquelevaram implementaodepolticasmacroeconmicascomoobjectivode controlar dfices e inflao, como no caso da Jugoslvia, da China e da Hungria. 38Nomeadamenteparasuperarasdificuldadesdeprocessamentodeinformaoinerente direcocentralparticularmentegravequandoosmeiostcnicosdeplaneamentosoainda rudimentares, como no caso dos anos 20 na URSS. 26 2.6 Direco central e capitalismo estatal Incluram-senesteelementodamatrizoscasosemquea propriedadepblica importantenossectoresessenciaiseomodode funcionamento a direco central. Doistiposdesituaesmerecemreferncia:asconjunturasde guerra e a experincia nazi, um terceiro tipo de resposta depresso do incio dos anos 3039. Noquerespeitaestruturadapropriedadeencontram-seaqui situaestpicasemqueadistinoentre propriedadeformale realse colocadeformamaisclara.Formalmenteapropriedademantm-se privada no havendo expanso do sector pblico produtivo (ausncia de nacionalizaes),salvoemalgunscasos(Gr-Bretanha)nosectorda indstriadearmamento;naAlemanhanosanos30ter havidomesmo algumasprivatizaesfaceanecessidadesfinanceiras.Contudo,a capacidaderealdeutilizaodosrecursosedosbensintermdiose finais,tantonosectorprodutivo(sectordaindstriatransformadorae sectoragrcola)comonosectordadistribuiofoicentralizadapelas autoridades estatais40. Quantoaomododefuncionamentodesalientarocontrolo directo centralizado e o planeamento imperativo da actividade produtiva edeacumulaocomconsequnciasdirectasnoconsumo.Noque respeita Primeira Guerra Mundial, eles foram mais precoces e radicais nosImpriosAlemoeAustro-Hngaroquenocasodosaliados. Abrangeram asmatrias-primas(Departamento dasmatrias-primasde guerra:qumicas,algodo,metaisnoferrosos-cobre...),asfbricas ligadasproduomilitar(desde1912),otransportemartimoeas importaes,adistribuiodosbensescassosimportados,a reorganizaodaproduointernaparaaumentaraauto-suficincia (casodaagricultura)eacartelizaodosprincipaisramosdaindstria 39Hardach(1987),Milward(1987),Kindleberg(1987),Bettelheim(1971)eTemin(1991)so algumas referncias que enquadram estas situaes. 27 quefacilitouocontroloestataleoplaneamentoeconmico,muitas vezesdeiniciativaprivada(W.Rathenau).Nocasodosprodutos agrcolas foram criados departamentos especializados por produtos que controlavamasuacompra,armazenagemevenda.Naustriaos camponesestiveramdeaceitarrequisiesapreosfixadoscomona fasedocomunismodeguerranaRssia.Naeconomianaziocontrolo depreosequantidadesfez-seatravsdequotaseordensde afectao; oplaneamentoimperativo(poucoeficiente) incluaamaioria dossectores(mesmooagrcola)masnoostransporteseo recrutamento de mo-de-obra. 2.7 Direco central e socialismo Incluram-senesteelementodamatrizoscasosemquea propriedadepblicadominanteeomododefuncionamentoa direco central. CorrespondetipicamenteaoscasosdaURSS,dasdemocracias populares e da China nos perodos definidos na quadro 2. Centremo-nos naURSS1928-1985,umavezqueasexperinciassobastante paraleias,apesardeparticularismosinteressantes-v.Aldcrofte Morewood (1995). Asreformaseconmicassoviticaspr-Gorbachev(Liberman- anos50,Kosygin-anos60eBrejnev-finaisdosanos70(Programa paraMelhorarosMecanismosEconmicos)nomodificaramas caractersticasessenciaisquerdaorganizaoquerdofuncionamento do sistema institudo a partir da dcada de 30. Os esforos de melhorar os mecanismos de tomadas de deciso e simultaneamente de manter o controlodadirecodaeconomiaacabaramporterpoucoimpacte.O mecanismodeafectaoderecursosdominantecontinuouaserode planeamentodebalanosapesardealgumasinovaestcnicase tecnolgicas41. 40 Isto no significa que os lucros privados dos grandes produtores no tenham sido protegidos. 41 So o caso das matrizes input-output e da computao. 28 Noquerespeitaestruturadapropriedade,opredomnioda propriedadeestatalnopostoemcausapelaimportnciada propriedadecolectivadosmeiosdeproduoemalgunssectores,em especialdapropriedadecooperativanosectoragrcolaoupelolentoe semprelimitadocrescimento,geralmenteemsectoresmarginais,da iniciativa privada a nvel da chamada segunda economia. Quantoaomododefuncionamento,eleassentounocontrolo directoecentralizadoemqueoplaneamentoimperativoanualse reveloucomoprimeiroinstrumentodecoordenaooperacionaleem queosobjectivossotendencialmentedefinidosemtermosfsicos.Os objectivosdeproduodaempresaeasdecisesde investimentoso determinadospordirecosuperior,porvezesaodetalhe.Osmeios essenciais so os balanos materiais, a fixao de quotas, de preos e salrios,oscoeficientestcnicos.Osdesviosduranteaexecuodo plano exigem ajustamentos atravs de meios de controlo que minorem a impossibilidadederespostasautomticasdeumsistemadedireco central. A coero, a alterao dos planos das empresas, osmercados suplementaresparatransacesentreempresassoalgunsdesses meios. Aafectaodofactortrabalhofeitapelomercado(apesarde casosdedirecoimperativa)mascomlimitaesumavezqueo Estadotemomonopliodaprocuradetrabalhoedeinformaoe determina a estrutura de salrios. A afectao de bens de consumo depende da autoridade central quedefineosrecursosaafectarproduodebensdeconsumo.Os benssotendencialmenterepartidosemvriosblocosedistribudos regionalmente; cabe depois ao mercado afectar individualmente os bens atravs de lojas retalhistas geralmente dirigidas pelo estado. Contudo, o sistemadepreosnodefinidopelomercado(umavezqueh determinaocentraldovolumeedospreos).Nosectoragrcola cooperativo, para a parte da produo resultante de actividade privada e apartequeexcedeasentregasfixadaspelasautoridadesapreos determinados,omercadofuncionadeformamaisprximadeum sistema de mercado tpico. 29 3-Concluso:apropsitodastendnciasdeevoluodos sistemas econmicos Aanliserealizadaconduzaalgumasbrevesconclusesa propsito da evoluo dos sistemas econmicos aps a Primeira Guerra Mundial. 3.1 A estabilidade relativa dos sistemas econmicos De uma forma geral, quanto mais afastados da diagonal principal esto os casos, mais instveis so as situaes a que correspondem e menor nmero de casos existe. Assim, verifica-se ao longo do sculo XX atendnciaconcentraodas economias nacionaisnassituaesde mercadonoreguladoecapitalismoprivado,mercadoreguladoe capitalismo de estado e direco central e socialismo. Estefactodeve-seaquecertassituaesapresentam incoernciaspornoserpacficoimporformasdecoordenaoe controloadministrativascentralizadasaempresasprivadas,como pareceserdealgummodoinconsistentecoordenarecontrolar basicamente pelo mercado estruturas em que o peso do sector pblico predominante.Trata-sedecasosemquealigaoentreoselementos do par ordenado da matriz tnue ou provoca frico/repulso minando a sustentao das situaes42. Oesquemaapresentadonoquadro3.1pretendetraduziresta realidade. 42 As formas de deciso impessoal Inerentes ao mercado so difceis de compatibilizar com o exerccio da propriedade por parte do Estado; por outro lado, a imposio da direco central colidecomosdireitosdepropriedadenoquerespeitacapacidadededecisoprivada.Em EidemeViotti(1978)esobretudoemKornai(1990a)eKornai(1992)encontram-seanlises circunstanciadassobreacoerncia/viabilidade/espontaneidadedosistemacapitalistade mercadoedesocialismoclssico(dedirecocentral)eaincoerncia/inviabilidadealongo prazo/noespontaneidadedasformasconcretasdesocialismodemercado,apesarde,em termos tericos, Lange (1936-7) demonstrar a viabilidade deste sistema. 30 QUADRO 3.1 Sistemas econmicos: grau de estabilidade __ Ligao estvel _____ Ligao pouco estvel------- Ligao efmera Neste esquema acresce, relativamente ao conjunto das situaes contempladasnamatriz,umaoutraligao:asformasdepropriedade cooperativaeautogestocomaformadecoordenaoassociativa.A suaintroduoaqui(naprticaconsideradamenosimportantequeas outras)temavercomdoisaspectos,umdecarctertericooutrode carcter emprico. Porumladotrata-sedeumaligaoparticularmentecaraaos primeirossocialistaseconsideradacomoaessnciadosistemaideal. Refiro-mefundamentalmenteaoschamadossocialistasutpicos,em especial a Proudhon, mas tambm a Marx e a Lenine. Poroutroladoelafoitentadaimplementaremduassituaes histricasquedespertaram,independentementedasuapouca importncia real, grande interesse: a Jugoslvia aps 1950 e a China na altura do grande salto em frente e da revoluo cultural. Aexperinciadestassituaesdemonstrou,contudo,quea verdadeiraligaodasformasdepropriedadecooperativaeda autogestoaosmecanismosdecoordenaofoioucomadireco centraloucomomercadoregulado.Aligaotericaapenasse mantm na prtica como forma de coordenao no predominante mas auxiliar. PrivadaMercadoEstatalCooperativa/AutogestoCoordenao associativaDireco centralMercado reguladoMista31 3.2 - Tendncias de evoluo dos sistemas Os quadros 3.2.1 e 3.2.2, que se seguem pretendem detectar as tendnciasverificadasaolongodoperodoeasprevisveisamaisou menos curto prazo. Noquerespeitastendnciasjverificadasresolveu-se,para manterosesquemasdefcilleitura,noincluiratransformaodas economiasdemercadonoreguladoedecapitalismoprivadodo princpiodosculoXX.Trata-sedasituaooriginriadepraticamente todasaseconomiascujoscasossoaquitratados,comaeventual excepodoJapo, edecasos emqueatransformaoinicialseter dadoapartirdeeconomiascujomododefuncionamentomaioritrio regionalmentenoseriaomercadomasarotinaouomando tradicional43. o caso nomeadamente da China. Pelamesmarazonoseincluiuatendnciaparaa convergnciadosdiversostiposdeeconomiamistadesenvolvidosno ps-Segunda Guerra Mundial e que se ter verificado na dcada de 60. Quantoprospecohquereferirqueoproblemadano refernciasformasdecoordenaoecontroloInternacionais,se colocaaindacommaisacuidadeparaaanlisedeeventuaiscenrios futuros,umavezqueoprocessodeintegraoeconmica supranacionalemesmoescalamundialsevislumbracadavezmais intensoeextensoemesmocomcapacidadedeseimpor significativamente s formas nacionais. 43 Sobre estes conceitos v., nomeadamente, Hicks (1969) e Valrio (1986). 32 QUADRO 3.2.1Sistemas econmicos: tendncia IModode funcionamentoModo de organizaoCapitalismo privado Capitalismo de Estado SocialismoMercado no reguladoMercadoReguladoDirecocentral Tendncia verificada Tendncia provvel Esteprimeirocenrioreflecteastendnciasmaisrecentes verificadasempraticamentetodoomundoparaadesregulaoe privatizao e paralelamente para formas internacionais de coordenao baseadasnareorganizaodasunidadesprodutivasescalamundial. Note-se,contudo, que na realidade aquelas tendncias se tero ficado, emalgunsaspectos,bemaqumdoesperadoedesejadopelos responsveisdessaspolticas.V.,porexemplo,Pelagidis(1996),que provacomoatendncianeoliberaldosanos80acabouporcriar estados,mesmonaseconomiasmaisdesenvolvidasdemercado,mais despesistas e selectivamente mais intervencionistas. 33 QUADRO 3.2.2Sistemas econmicos: tendncia IIModode funcionamentoModo de organizaoCapitalismo privado Capitalismo de Estado SocialismoMercado no reguladoMercadoReguladoDirecocentral Tendncia verificada Tendncia provvel Estesegundocenrioreflecteacontinuaodastendnciasdo ps-Segunda Guerra no sentido da manuteno da economia mista e do estado de bem-estar. Ele reflecte as dificuldades que as ideias e prticas neoliberais dos ltimos anos tm sentido face aos problemas sociais, de desestruturao econmica e de co-evoluo dos sistemas econmicos edabioesfera,maisoumenoscomplexos,surgidos.Segundoalguns autores - v. ainda Pelagidis (1996) -, esses problemas tendem a agravar-se e a exigir a manuteno de forte controlo estatal. 34 REFERNCIAS ADAMS,F.Gerard,eDAVIS,IngerMarie(1994),Theroleofpolicyineconomic development: comparisons of the East and Southeast Asian and Latin American exprience, in Asian-Pacific Economic Literature, 8 (1). ALDCROFT,DerekH.,eMOREWOOD,Steven(1995),Economicchangeineastern Europe since 1918, Aldershot, Edward Elgar. BALDASSARRI,Mrio,eMUNDELL,Robert(ed.)(1993),BuildingthenewEurope. Eastern Europe's transition to a market economy (vol. 2), New York, St. Martin's Press. BEREND,IvanT.(1994),EndofCenturyglobaltransitiontoamarketeconomy: laissez-faire on the priphries, in Berend (ed.) (1994). -(ed.)(1994),Transitiontoamarketeconomyattheendofthe20thcentury, Mnchen, Sdosteuropa Geselshaft. BETTELHEIM,Charles(1971),L'conomieallemandesouslenazisme,Paris, Maspero. BORNSTEIN, Morris (ed.) (1973), Introdution, in Bornstein (ed.) (1973). -(1973),PlanandMarket.EconomicreforminEasternEurope,NewHaven,Yale University Press. BRUS,Wlodzimierz(1968),Problmesgnrauxdufonctionnementdel'conomie socialiste, Paris, Maspero. - (1986), Histoire conomique de l'Europe de l'Est (1945-1985), Paris, La Dcouverte. BUTSCHEK,FelixeBALTZAREK,Franz(1994),"Austria'stransformationtomarket economy - a lesson of 'Sozialpartnerschaft', in Berend (ed.) (1994). DAVIS,R.W.,HARRISON,M.,eWHEATCROFT,S.G.(1994),Theeconomic transformationoftheSovietUnion,1913-1945,Cambridge,Cambridge University Press.EIDEM, Rolf, e VIOTTI, Staffan (1978), Economic systems, Oxford, Martin Robertson. GREGORY,Paul;STUART, Robert(1994),Sovietandpost-sovieteconomic structureandperformance,(5thedition),NewYork,HarperCollinsCollege Publishers.DURAND, Jean-Pierre (dir.) (1994), La fin du modle sudois, Paris, Syros. EUCKEN, Walter(1947),Cuestionesfundamentalesdelaeconomiapolitica,Madrid, Revista de Occidente. 35 GYLFASON,Thorvaldur(1995),ReforminEasternEurope,inJournalofWorld Trade, 29 (3).HARDACH,Gerd(1987),TheFirstWorldWar1914-1918,Hammondsword,Pelican Books.HICKS, John (1969), A theory of economic history, London, Oxford University Press.KINDLEBERG,CharlesP.(1987),TheworldIndepression1929-1939, Hammondsword, Pelican Books. KORNAI,Jnos(1990a),Theaffinitybetweenownershipandcoordination mechanisms. The common experience of reform in socialist countries, Helsinki, WIDER (United Nations University). - (1990b), The road to a free economy. Shining from a socialist system. The example of Hungary, New York, W. W. Norton. -(1992),Thesocialistsystem:thepoliticaleconomyofcommunism,Oxford, Clarendon Press. KUZNETS,Simon(1969),ModernEconomicGrowthrate,structure,andspread, New Haven, Yale University Press. LANGE,Oskar(1936-7),OntheeconomictheoryofsocialisminReviewof Economic Studies, 3 [parcialmente publicado in Nove e Nuti (eds.) (1972)]. LAVIGNE, Marie (1970), Les conomies socialistes sovitique et europennes,Paris, Armand Colin. -(1994), Capitatismes L'Est. Un accouchement difficile, Paris, Econmica. LEE,Chung,eREISEN,Helmut(1994),Fromreformtogrowth:Chinaandother countries in transition in Asia and central and eastern countries, Paris, OECD. LINDBECK, Assar (1975), Swedish economic policy, London, MacMillan Press.MADDISON,Angus(1995),L'conomiemondiale.Analyseetstatistiques,Paris, OCDE. MATA,Eugenia,eVALRIO,Nuno(1994)HistriaeconmicadePortugal.Uma perspectiva global, Lisboa, Presena.MEIDNER,Rudolf(1994),Essoretdclindumodlesudois,inDurand(dir.) (1994). MILWARD,AlanS.(1987),War,economyandsociety1939-1945,Hammondsword, Pelican Books.NOVE, Alec, e NUTI, D. M. (ed.) (1972), Socialist economics, Hamondsworth, Penguin Books. 36 NUNES,AnaBela,eVALRIO,Nuno(1995),Ocrescimentoeconmicomoderno. Introduoaumahistriadaeconomiamundialcontempornea,Lisboa, Presena. NUNES,AnaBela(1996a),Odesafiodosocialismodedirecocentralao capitalismodemercadoliberalnaeconomiamundialcontempornea,Lisboa (lio de sntese para provas de agregao apresentadas no ISEG-UTL). -(1996b),ContraiandregulationinthePortugueseeconomy:1945-1973,Lisboa, documento de trabalho n.9 2, GHES-ISEG.PELAGIDIS,Theodore(1996),Politiquesconomiquesetdesestructuration industrielledanslespaysdveloppsdepuislesannesquatre-vingts,in L'actualit Economique, 72 (1).SMITH,Heather(1995),IndustrypolicyinEastAsia,inAsian-PacificEconomie Literature, 9(1).SILVA,Manuela(1984),OplaneamentoemPortugal:liesdaexperinciae perspectivasdefuturo,inOPlaneamentoeconmicoemPortugal:liesda experincia, Lisboa, S da Costa.TEMIN,Peter(1991),SovietandNazyeconomicplanninginthe1930s,in Economic History Review, 44(4). THOMAS, Jean-Paul (1990), Les politiques conomiques au XX sicle, Paris, Armand Colin. VAN DER WEE, Herman (1987),Prosperity and upheavel. The world economy 1945-1980, Harmondsworth, Pelican Books.-(1990),Histoireconomiquemondiale.1945-1990,Louvain-la-Neuve,Academia Ducuiot. VALRIO,Nuno(1986),Sistemaseconmicos,Lisboa,ISE-UTL(projectode disciplina apresentado para provas de agregao em Economia). WALLERSTEIN, Immanuel (1989), The modem world- system III: the second era great expansion of the capitalism world economy, San Diego, Academic Press. WATSON,Andrew(1994),China'seconomicreforms1987-1993:growthand cycles, in Asian-Pacific Economic Literature, 8(1). WORLDBANK(1990),Chinabetweenplanandmarket.AWorldBankcountry study, Washington, D. C, World Bank.