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Gota D’água Uma tragédia Brasileria Chico Buarque e Paulo Pontes

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Gota D’água Uma tragédia Brasileria

Chico Buarque e Paulo Pontes

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Resumão do resumo • Gota d'água, que a Civilização Brasileira relança com novo projeto gráfico, pode ser

considerada uma Medéia moderna e brasileira. Os talentos de Chico Buarque e Paulo Pontes se reuniram para revitalizar o texto clássico de Eurípedes, escrito quase meio milênio antes de Cristo, submetendo-o a uma injeção de nossa realidade urbana. Joana, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional apaixona-se pelo sambista Jasão, que desponta para o sucesso com uma música chamada Gota d’água. Creonte é o todo-poderoso do local, dono das casas, muito rico, o poder corruptor por excelência. Alma, sua filha, é uma burguesinha metida. O coro tradicional dos gregos é, nesta obra, composto pelas vizinhas de Joana: enquanto lavam roupa, desenrolam o fio da história, que culmina em tragédia. A tragédia original versa sobre o amor da maga Medéia pelo herói Jasão. Ela foge com ele, tornando-se sua mulher e dando-lhe dois filhos. Mais tarde, Jasão, por conveniência, abandona-a para desposar a filha de Creonte, rei de Corinto. Medéia, como vingança, provoca a morte da noiva graças a seu poder de magia e ― auge da tragédia ― mata as duas crianças, preparando, com a carne delas, uma comida que serve a Jasão. Paulo Pontes e Chico Buarque souberam reconhecer o perene na tradição, transportando os valores que ela contém ao tempo que vivemos. Se Medéia é uma história de reis e feiticeiros, Gota d’água é uma história de pobres e macumbeiros

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O Gênero Lírico-dramático

• O Gênero Dramático (ou Teatral) faz parte de um dos três gêneros literários, ao lado do gênero lírico e épico.

• No entanto, o gênero dramático, como o próprio nome indica, são os textos literários feitos com o intuito de serem encenados ou dramatizados. Do grego, a palavra “drama” significa “ação”.

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• Tragédia: representação de acontecimentos trágicos, geralmente com finais funestos. Os temas explorados pela tragédia são derivados das paixões humanas, do qual fazem parte personagens nobres e heroicas,

• Gota d’água é escrita em versos utilisando-se de toda a estilística desse gênero.

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O Título

• Gota d’água: o samba de Jasão e ao mesmo tempo a situação limitrofe que são submetidos os mais pobres.

Tragédia Brasileira não é apenas uma referência ao drama grego mas a nossa realiddade

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• Gota d’agua, de Chico Buarque e Paulo Pontes, faz a releitura da tragédia grega “Medéia”, de Eurípides, adaptando-a ao contexto social, cultural, ideológico e econômico brasileiro, mais precisamente, à cidade do Rio de Janeiro, na década de 1970. A partir da visão de Buarque e de Pontes, Medéia transforma-se na sofrida Joana e Jasão torna-se um famoso sambista, autor da canção que nomeia a peça. Segundo Barros (2005):

• "A combinação dessas diversas mídias - a dança e a música do candomblé, a interferência do rádio e do jornal na vida das pessoas, o coro das vizinhas fofoqueiras, a coreografia do boato, a canção popular - contribui para abrasileirar a tragédia grega e dar a ela novos contornos culturais" (BARROS, 2005, s.p.).

• De acordo com a apresentação da obra, escrita pelos próprios autores, Gota d’água, a tragédia, é uma “reflexão sobre o movimento que se operou no interior da sociedade, encurralando as classes subalternas”. Assim, podemos afirmar que, de forma implícita, a peça discute a temática da discrepância social, além de problemas éticos e morais da sociedade moderna, e aborda a falácia utópica da meritocracia, apresentando-a como um dos falsos discursos que sustentam as bases do atual sistema. Sobre isto, Barros (2005) argumenta:

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• "Sem condições e perspectivas de melhoria, alguns vêem, no exemplo do sambista cujas canções são tocadas no rádio, a ilusória via do sucesso como possibilidade de ascensão. A gota d’água do espetáculo é o samba de Jasão; é também a condição de Joana, mulher apaixonada que, no seu abandono, é capaz de atitudes extremas; mas é também, e sobretudo, a condição de um povo sem casa, sem chances, sem a voz que lhe reste" (BARROS, 2005, s.p.).

• Segundo Barros (2005), elementos da cultura brasileira, como o samba e a macumba, são adicionados ao mito por meio da releitura, além disso, o mito passa a focar nas mazelas sociais a partir do sofrimento dos moradores do conjunto habitacional, que são explorados por Creonte, dono das casas. Além de vários elementos de hipertextualidade presentes na peça, destacam-se: “música, dança, coreografia, iluminação, além do rádio e do jornal, combinam-se para efetuar essa transformação no texto grego” (s.p.).

• A partir da leitura de ambas as obras, Medéia e Gota d’água, podemos afirmar que, além da intertextualidade explícita, presente tanto na essência da história quanto na manutenção de nomes de alguns personagens, mantem-se, também, o intuito de fazer com que os interlocutores possam refletir sobre questões sociais e políticas complexas a partir do contato com a peça.

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• De acordo com Barros (2005), em Gota d’água, Medéia torna-se Joana, mulher do povo e moradora de um conjunto habitacional, e esposa de Jasão, homem mais novo e sambista que passa a fazer sucesso no rádio a partir do apoio que recebe da esposa. O rei Creonte é transposto no dono do conjunto habitacional onde moram os principais personagens da peça, além disso, é pai de Alma, noiva de Jasão.

• Segundo a pesquisadora, o coro da tragédia grega, formado pelas anciãs de Corinto, é substituído pelas vizinhas e pelos vizinhos de Joana: Zaíra, Estela, Maria, Nenê, Cacetão, Xulé, Boca Pequena, Amorim e Galego. Destacamos, aqui, que, adaptada às convenções sociais ocidentais modernas, o mito passa a ser apresentado com dois coros: um masculino e outro feminino, cada um apresentando e defendendo um determinado interdiscurso social ligado a questões de gênero. Além disso, ao transpor a pompa e os elementos divinos do texto clássico para a atualidade, a obra pressupõe que as questões humanas, como os sentimentos e os conflitos, são comuns em todas as classes sociais, independentemente se experienciados por reis e príncipes ou por lavadeiras e gigolôs.

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Personagens • Joana - protagonista, amante de Jasão, com quem tem dois filhos; • Jasão - malandro, compositor de sambas; • Creonte - empresário / construtor • Egeu - velho, dono de oficina. • Alma - filha de Creonte, casa-se com Jasão. • Corina, Zaíra, Estela, Maria, Nenê - comadres lavadeiras. • Cacetão • Galego - Gringo Proprietário do Boteco • Xulé • Boca Pequena - fofoqueiro, intrigante. • Amorim • Filhos (1 e 2)

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Ato 1: A construção dos perfis

• As mulheres partidárias a Joana: preocupação com o sofrimento, a inércia e a loucura.

• O discurso masculino: Jasão e o sucesso • Creonte : representante do poder aquisitivo.

Os políticos que agradam o povo mas o exploram e oprimem; símbolos da exploração

• Mestre Egeu: crítico, pensante e amigo dos protagonistas

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Ato 2: começando o fim

• Boatos do casamento; • Indignação de Joana: Preocupação com o outro:

as pessoas a julgando e rindo dela; • Deixar os filhos com os padrinhos; • Expulsão de Joana por Creonte; • Estratégias do poder: perdão da dívida o que

acaba com a movimentação do Mestre Egeu; • A massa que se deixa manipular; • O desfecho trágico.

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Os motivos de cada um

• Joana: entrega, amor, dedicação família e construção do garoto ( p.88)

• Jasão: Idade, desencantamento, sociedade patriarcal ( não fala dos filhos)

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A música • Já lhe dei meu corpo, minha alegria

Já estanquei meu sangue quando fervia Olha a voz que me resta Olha a veia que salta Olha a gota que falta pro desfecho da festa Por favor Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d'água Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d'água

• https://www.youtube.com/watch?v=d6--xY4Cdwk

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A Ingratidão • Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de sua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável!

• Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.

• Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja.

• Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

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Outra música: Flor da idade https://www.youtube.com/watch?v=SVfZZ8_2Sfk

• A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia Pra ver Maria A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia A porta dela não tem tramela A janela é sem gelosia Nem desconfia Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

• Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família A armadilha A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha Que maravilha Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

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• Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua A gente sua A roupa suja da cuja se lava no meio da rua Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua E continua Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

• Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava A filha que amava Carlos que amava Dora Que amava toda a quadrilha

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Intertexto - Drummond

• João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história

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Figuras de linguagem

• Assonância e aliteração • Paronomásia: extrai expressividade da

combinação de palavras que apresentam semelhança fônica (e/ou mórfica), mas possuem sentidos diferentes

• Anáfora: repetição de uma palavra ou grupo de palavras no início de duas ou mais frases sucessivas, para enfatizar o termo repetido

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O símbolo da cadeira: P49 • CREONTE — Escute, rapaz, você já parou pra pensar direito o que é uma

cadeira? A cadeira faz o homem. A cadeira molda o sujeito pela bunda, desde o banco escolar até a cátedra do magistério Existe algum mistério no sentar que o homem, mesmo rindo, fica sério Você já viu um palhaço sentado? Pois o banqueiro senta a vida inteira, o congressista senta no Senado e a autoridade fala de cadeira O bêbado sentado não tropeça, a cadeira balança mas não cai É sentando ao lado que se começa um namoro. Sentado está Deus Pai, o presidente da nação, o dono do mundo e o chefe da repartição O imperador só senta no seu trono, que é uma cadeira co’imaginação Tem cadeira de rodas pra doente Tem cadeira pra tudo que é desgraça Os réus têm seu banco e o próprio indigente, que nada tem, tem no banco da praça um lugar para sentar. Mesmo as meninas do ofício que se diz o mais antigo têm escritório em todas as esquinas e carregam as cadeiras consigo E quando o homem atinge seu momento mais só, mais pungente de toda a estrada, mais uma vez encontra amparo e assento numa cadeira chamada privada (Tempo.) Pois bem, esta cadeira é a minha vida Veio do meu pai, foi por mim honrada e eu só passo pra bunda merecida

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• “se você repete só um estribilho/ no coco do povo, e bate, e martela,/o povo acredita naquilo só/ acaba engolhindo qualquer balela/ acaba comendo sabão em pó”

• A atitude dos vizinhos é fruto de alienação, visão míope que não lhes permite alcançar a profundidade das questões sociais nas quais estão inseridos, falta de formação política

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• Boa Prova e até novembro com Vidas Secas • Sucesso