glicerina bruta na alimentaÇÃo de suÍnos nas fases …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES PRÉ-INICIAL E INICIAL Laudicéia Oliveira da Rocha Orientador: Dr. Romão da Cunha Nunes GOIÂNIA 2013

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Page 1: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS

FASES PRÉ-INICIAL E INICIAL

Laudicéia Oliveira da Rocha

Orientador: Dr. Romão da Cunha Nunes

GOIÂNIA

2013

Page 2: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R672g

Rocha, Laudicéia Oliveira da.

Glicerina bruta na alimentação de suínos nas fases pré-

inicial e inicial [manuscrito] / Laudicéia Oliveira da Rocha. -

2013.

67 f. : tabs.

Orientador: Prof. Dr. Romão da Cunha Nunes. Co-

Orientadores: Prof. Dr. José Henrique Strighini; Profª. Drª.

Alessandra Gimenez Mascarenhas.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás,

Escola de Veterinária e Zootecnia, 2013.

Bibliografia.

Inclui lista de tabelas. 1. Glicerina – Digestibilidade - Suíno. 2. Leitão (Suíno)

- Desempenho. 3. Leitão (Suíno) – Metabolismo. I. Título.

CDU: 636.4.084.52

Page 3: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

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LAUDICÉIA OLIVEIRA DA ROCHA

GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS

FASES PRÉ-INICIAL E INICIAL

Tese apresentada como requisito para a

obtenção do grau de Doutorado em Ciência

Animal junto à Escola de Veterinária e

Zootecnia da Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração:

Produção Animal

Linha de Pesquisa:

Metabolismo nutricional, alimentação

e forragicultura na produção animal

Orientador:

Prof. Dr. Romão da Cunha Nunes – UFG

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. José Henrique Stringhini - UFG

Prof. Drª Alessandra Gimenez Mascarenhas - UFG

GOIÂNIA

2013

Page 4: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [ x ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Laudicéia Oliveira da Rocha

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [x]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor

Agência de fomento: Sigla:

País: UF: CNPJ:

Título: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES PRÉ-INICIAL E

INICIAL

Palavras-chave: desempenho, digestibilidade, glicerol, leitões, morfologia

intestinal, metabolismo Título em outra língua:

Palavras-chave em outra língua:

Área de concentração: Produção Animal

Data defesa: (dd/mm/aaaa) 27/02/2013

Programa de Pós-Graduação: Ciência Animal

Orientador (a): Romão da Cunha Nunes

E-mail: [email protected]

Co-orientador (a):* José Henrique Stringhini e Alessandra Gimenez Mascarenhas

E-mail: [email protected]/[email protected] *Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. _______________________________________ Data: 25/ 03/2013 Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo

suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante

o período de embargo.

Page 5: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

iv

LAUDICÉIA OLIVEIRA DA ROCHA

GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES PRÉ-

INICIAL E INICIAL

Tese defendida em 27/02/2013 pela Banca Examinadora constituída

pelos professores:

_________________________________________ Prof. Dr. José Henrique Strighini - EVZ/UFG

(PRESIDENTE/ORIENTADOR)

______________________________________ Prof. Dra. Heloísa Helena de Carvalho Mello - EVZ/UFG

(MEMBRO DA BANCA/MEMÓRIA)

_________________________________ Prof. Dra. Eliane Sayuri Miyagi - EVZ/UFG

(MEMBRO DA BANCA/INTERNO)

______________________________________ Prof. Dra. Simone Koprowski Garcia - EV/UFMG

(MEMBRO DA BANCA/EXTERNO)

_________________________________ Prof. Dr. Joao Batista Lopes - CCA /UFPI

(MEMBRO DA BANCA/EXTERNO)

iii

Page 6: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

v

“Se fiz o melhor deverás não sei,

mas fiz tudo para que o melhor fosse feito.

Não sou o que deveria ser, mas tenho a certeza

que já não sou o que era antes."

adaptado de Martin Luther King

iv

Page 7: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

vi

OFEREÇO,

Ao meu marido, Leandro Corrêa Fernandes, pela participação constante em minha vida, pelo incentivo em meio as adversidades e apoio contínuo em meus sonhos, atuando como amigo e companheiro.

DEDICO,

À minha mãe, Lindaura Maria de Oliveira da Rocha que mesmo de tão longe sempre acreditou, incentivou e empenhou-se para a minha formação pessoal e profissional.

v

Page 8: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

vii

AGRADECIMENTOS

A Deus, por todo o amparo, pelos passos iluminados quando eu enxergava somente

a minha escuridão. Por tem selecionado pessoas especiais para ajudar na realização do

meu projeto de doutorado.

A minha família, pelo apoio incondicional. A minha mãe, Lindaura Rocha meu

exemplo de força e luta. Aos meus sogros, Walteir Correa e Nair Fernandes, pelas

orações e carinho. As minhas cunhadas, Sandra Kelling e Maria Fernandes, pelas

palavras de incentivo durante todo o doutorado. Também ao meu concunhado, Carmen

William Kelling obrigada pela motivação e preocupação.

Ao meu esposo, Leandro Corrêa Fernandes, obrigada pelo apoio em cada

decisão tomada, por me acompanhar sempre em tudo, por incluir o doutorado sanduiche

como parte do seu plano de vida. Habib! Você foi imprescindível para que cada etapa do

doutorado fosse cumprida, pois foi meu equilíbrio, Te amo!

À Universidade Federal de Goiás/Escola de Veterinária e Zootecnia que por meio do

Programa de Pós-graduação me concederam a oportunidade de realizar este estudo.

Agradeço, em especial ao meu orientador, Prof. Dr. Romão da Cunha Nunes, pela

paciência e zelo ao longo desses quase sete anos. Aconselhando-me desde a

especialização até o meu doutorado, e tudo isso sem medir esforços para que eu

realizasse o tão sonhado Doutorado Sanduiche. O senhor, com sua serenidade inquieta

me direcionou a passos acertados. Sei que sem o seu esforço para conseguirmos

realizar esse trabalho nada teria sido possível.

Ao comitê de orientação, os professores Drª. Alessandra Gimenez Mascarenhas e

Dr. José Henrique Stringhini, agradeço pela paciência, ajuda e força nos momentos de

dificuldades. O auxílio de cada um de vocês que me foi dispensado foi importante para a

conclusão desse projeto.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, a todos os professores, pelos

ensinamentos e oportunidades, em especial ao professor Dr. Eurípedes Laurindo Lopes,

pelo incentivo e conselhos dados para a realização do Doutorado Sanduiche;

A Professora Nadja Susana Mogyca Leandro pelas correções e direcionamentos na

idealização do projeto de pesquisa. A Professora Dra. Heloísa Helena de Carvalho Mello

pelos conselhos durante a realização dos experimentos e da tese;

As professoras Dra. Cintia Silva Minafra e Rezende e Dra. Maria Clorinda Soares

Fioravanti, bem como ao Professor Dr. Paulo Henrique Jorge da Cunha, que cederam

reagentes, abriram as portas de laboratórios e me deram condições para realizar

determinadas análises.

vi

Page 9: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

viii

As professoras da Universidade de Murcia, Departamento de nutrição animal Drªs

Josefa Madrid Sánchez e Fuensanta Hernández Ruipérez pelo tempo, atenção e

conhecimento compartilhados. Obrigada por mostrarem sempre disponíveis frente à

necessidade.

Aos professores Dr. Antonio Muñoz, Dr. Miguel Lopés, Dr. Juan Orengo, Dr.

Francisco Pallares e Dr. Guillermo Ramis pelo apoio durante o estágio de doutorado na

Espanha.

Às minhas grandes amigas e companheiras Juliana Luís e Silva e Cláudia Paula de

Freitas Rodrigues agradeço pelo amor, apoio e troca de experiências. Vocês foram meus

tentáculos para a concretização dos experimentos.

As amigas, Roberta Dias pela realização das análises sanguíneas e de ácido

láctico. Fernanda de Paula pela ajuda valiosíssima na análise estatística, e Janaína

Araújo pela ajuda durante o abate e colheita de amostras, eu lhes agradeço e jamais

esquecerei o que fizeram por mim.

Aos alunos do Curso de Graduação em Zootecnia, Isabela Cruvinel, Allysson

Frebonio, Priscila Neves, Erika Franco, Heloisa e Camila pela ajuda e apoio durante o

experimento. Obrigada ao Moisés Resende, colega de mestrado, pelo apoio durante todo

o experimento, sem a sua ajuda e do Allyson na pesagem dos animais tudo seria mais

complicado. Será inesquecível cada gesto e apoio dado.

As companheiras e amigas que conheci durante minha estada na Espanha, em

especial Simone Garcia, Kássia Gomes, Aida Sáez e Eliete Santana, pelos momentos e

experiências compartilhadas. Também quero agradecer as colegas do departamento de

Nutrição Animal Lucía Valera, Sonia Nova e Carmen Villodre pela ajuda e simpatia.

Obrigada às companheiras Luciana Rufino e Fabyola Carvalho, que tanto me

ajudaram durante o abate e colheita de dados.

Aos funcionários da Escola de Veterinária e Zootecnia e do Departamento de

Produção Animal agradeço pela ajuda, apoio, paciência e amizade. Ao apoio técnico dos

Laboratórios de nutrição animal, de solos, de patologia nas pessoas de Eder Fernandes,

Carlos Dambros, Antonio Sousa e Lorena.

Aos funcionários Neide Aparecida, Francisco Medeiros, Franklin dos Santos,

Antonio Idalino, Valtuir Cardoso, Aristóteles pela ajuda durante todos os ensaios,

obrigada pelo auxílio.

Aos técnicos laboratoriais da Universidade de Murcia Magdalena Valverde, Mary

Carmen, Ana Belén González, Fara Sáez, Juan Sánchez Laura Gálvez y Esmeralda

García pela grande ajuda durante o tempo das análises. Cada passo e explicações foram

importantes para o êxito do trabalho.

vii

Page 10: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

ix

Agradeço a CARAMURU Alimentos, ao Grupo M.CASSAB, a NUTRON Alimentos e

a HAWK nutrientes, que gentilmente cederam os ingredientes necessários para a

fabricação das dietas experimentais. Também agradeço as empresas espanholas

SOCIEDAD AGRARIA DE TRANSFORMACION, e GRUPO JUAN JIMÉNEZ GARCÍA

pela doação dos ingredientes para fabricação das rações experimentais.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela

bolsa de estudos concedida durante o programa de doutorado no Brasil e estágio

sanduiche na Espanha.

A todos que colaboraram direta ou indiretamente na realização do doutorado,

agradeço a Deus pela vida de vocês, por tê-los colocados em meu caminho e por ter

tocado em seus corações para ajudar-me e por contribuir para a realização deste

trabalho.

A todos meu muitíssimo obrigada!

viii

Page 11: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

x

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS xi

RESUMO xiii

ABSTRACT xv

CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 1

1. INTRODUÇÃO 1

2. OBJETIVOS 3

2.1. Objetivo geral 3

2.2. Objetivos específicos 3

3. REVISÃO DA LITERATURA 3

3.1 Obtenção de Glicerol e glicerina bruta 4

3.2 A glicerina bruta na alimentação de leitões na fase de creche 8

3.2.1 Absorção e metabolismo do glicerol 13

4. REFERÊNCIAS 14

CAPÍTULO 2 GLICERINA BRUTA EM SUBSTITUIÇÃO AO SORO DE

LEITE EM PÓ PARA LEITÕES NA FASE PRÉ-INICIAL 20

RESUMO 20

ABSTRACT 21

1. INTRODUÇÃO 22

2. MATERIAL E MÉTODOS 23

2.1 Delineamento experimental, instalações e tratamentos 23

2.2 Abate, colheita e análises de amostras 25

2.3 Análises Estatísticas 27

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 27

4. CONCLUSÃO 35

5. REFERÊNCIAS 35

ix

Page 12: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xi

CAPÍTULO 3 GLICERINA BRUTA PARA LEITÕES NAS FASES PRÉ-

INICIAL E INICIAL 40

RESUMO 40

ABSTRACT 41

1. INTRODUÇÃO 42

2. MATERIAL E MÉTODOS 43

2.1 Experimento de Digestibilidade 43

2.2 Experimento de Desempenho 45

2.2.1 Colheita de amostras e análises 48

2.3 Análise estatística 50

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 50

4. CONCLUSÃO 62

5. REFERÊNCIAS 62

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

67

x

Page 13: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xii

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2. GLICERINA BRUTA EM SUBSTITUIÇÃO AO SORO DE LEITE

EM PÓ PARA LEITÕES NA FASE PRÉ-INICIAL

TABELA 1. Ingredientes e composição centesimal e química das

rações experimentais

24

TABELA 2. Desempenho e digestibilidade aparente (ileal e retal) de

leitões na fase pré-inicial alimentados com glicerina bruta

em substituição ao soro de leite em pó

28

TABELA 3. Valores de glicose, frutosamina e IGF1 no plasma

sanguíneo e nível de glicerol na urina de leitões na fase

pré-inicial alimentados com glicerina bruta em substituição

ao soro de leite em pó 29

TABELA 4. Peso carcaça eviscerada, peso relativo de órgãos e pH de

diferentes segmentos do trato gastrintestinal de leitões na fase

pré-inicial alimentados com glicerina bruta em substituição ao

soro de leite em pó 31

TABELA 5.

Concentração de ácidos graxos cadeia curta e ácido lático

no conteúdo intestinal de leitões na fase pré-inicial

alimentados com glicerina bruta em substituição ao soro de

leite em pó 32

TABELA 6. Histomorfometria intestinal de leitões na fase pré-inicial

alimentados com glicerina bruta em substituição ao soro de

leite em pó 34

CAPÍTULO 3. GLICERINA BRUTA PARA LEITÕES NAS FASES PRÉ-INICIAL E

INICIAL

TABELA 1. Composição centesimal e nutricional da ração referência 44

TABELA 2. Composição centesimal e nutricional das dietas

experimentais de leitões nas fases pré-inicial e inicial

46

xi

Page 14: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xiii

TABELA 3. Coeficiente de digestibilidade aparente da energia bruta, da

matéria seca, da matéria mineral, e coeficiente de

metabozabilidade da energia bruta e matéria seca da

glicerina bruta

51

TABELA 4. Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo

diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões

alimentados com dietas com níveis de glicerina bruta na fase

pré-inicial (23 a 46 dias)

52

TABELA 5.

Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo

diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões

alimentados com dietas com níveis de glicerina bruta na fase

inicial (47 a 70 dias)

53

TABELA 6. Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo

diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões

alimentados com dietas com níveis de glicerina bruta na fase

creche (23 a 70 dias)

54

TABELA 7. Avaliação econômica das dietas experimentais 56

TABELA 8. Ocorrência de diarréias de leitões alimentados com

glicerina bruta

57

TABELA 9. Perfil bioquímico e hematológico de leitões alimentados

com glicerina bruta

58

TABELA 10. Peso da carcaça eviscerada, peso relativo de órgãos e pH

em diferentes segmentos do trato gastrointestinal de leitões

alimentados com glicerina bruta

60

TABELA 11. Histomorfometria intestinal de leitões de 30 kg de peso

alimentados com glicerina bruta

61

xii

Page 15: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xiv

GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES

PRÉ-INICIAL E INICIAL

RESUMO

A glicerina bruta é alternativa às fontes energéticas na ração de leitões, por ser

ingrediente de boa disponibilidade, alta digestibilidade e baixo custo. Foram

realizados dois ensaios de desempenho de leitões na fase pré-inicial alimentados

com rações com glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó (ensaio I) e

a lactose (ensaio II) e inclusão de glicerina bruta na ração da fase inicial (ensaio II).

Os tratamentos experimentais foram: (ensaio I) ração com 20% de soro de leite em

pó e 0% de glicerina bruta; ração com 10% de soro de leite em pó e 9% de

glicerina bruta e ração com 18% de glicerina bruta. No ensaio II, os tratamentos na

fase pré-inicial foram a substituição de 0%; 2%; 4% e 6% de lactose por glicerina

bruta e na fase inicial a inclusão de 0%; 2%; 4% e 6% de glicerina bruta. O

delineamento experimental foi de blocos casualizados. No ensaio I não foram

observadas diferenças para o ganho de peso e a conversão alimentar, porém

houve efeito da glicerina bruta no desempenho na fase pré-inicial, com o nível de

9% de glicerina bruta apresentando o maior consumo de ração, e 18% resultando

em maior coeficiente de digestibilidade no reto para matéria seca (P=0,063) e

proteína (P=0,004). A concentração de ácido lático no duodeno, jejuno e no íleo foi

maior nos animais alimentados com soro de leite. O glicerol na urina aumentou

com o incremento de glicerina bruta nas rações. Não houve diferença nos

parâmetros histomorfométricos nos segmentos de duodeno, jejuno e íleo. No

ensaio II, não houve diferença no desempenho dos leitões na fase pré-inicial com

a substituição da lactose por glicerina bruta. Contudo, observou-se efeito

quadrático para peso final e ganho de peso na fase inicial. O nível de 2,75%

resultou em maior peso final, e 2,97% glicerina bruta propiciará o melhor ganho

diário. Na fase de creche, houve diferença para peso final, ganho de peso e

consumo de ração. O nível de 2,77% de glicerina permitiu o maior consumo médio

diário. Para variável de ganho de peso o nível de glicerina na dieta de 2,76%,

resulta em maior ganho. Houve efeito na incidência de diarréia na fase pré-inicial

xiii

Page 16: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xv

(p=0,001) e fase de creche (p=0,02). A glicerina bruta pode ser incluída em até

18% nas dietas de leitões recém-desmamados como ingrediente alternativo ao

soro de leite em pó, e pode substituir a lactose na fase pré-inicial, sem afetar o

desempenho de leitões. No nível de até 2,97%, a glicerina promove o maior ganho

médio diário para a fase inicial.

Palavras-chave: desempenho, digestibilidade, glicerol, leitões, morfologia intestinal,

metabolismo.

xiv

Page 17: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xvi

CRUDE GLYCERIN IN DIETS FOR PIGS IN PRE-STARTER AND

STARTER PHASE

ABSTRACT

The crude glycerin is an alternative for energy sources in the diet of

piglets, for it is an ingredient of good availability, high digestibility and low cost.

Two experiments were conducted on the performance of piglets in pre-starter

phase in diets with crude glycerin in replacement to whey powder (test I) and

lactose (test II) and inclusion of crude glycerin in diets of starter phase (test II).

The experimental treatments were: (I test) diet with 20% of whey powder and 0%

crude glycerin; diet with 10% of whey powder and 9% crude glycerin and diet with

18% crude glycerin. In test II, the treatments in the pre-starter phase were the

replacement of 0%, 2%, 4% and 6% of lactose by crude glycerin in the starter

phase adding 0%, 2%, 4% and 6% of crude glycerin. The experimental design was

randomized blocks. In test I no differences were observed for weight gain and feed

conversion, but there was effect of crude glycerin on performance in pre-starter

phase, with the level of 9% of crude glycerin presenting the higher feed intake, and

18% resulting in higher digestibility coefficients for dry matter in the rectum (P =

0.063) and protein (P = 0.004). The concentration of lactic acid in the duodenum,

jejunum and ileum were higher in animals fed with whey. The glycerol in urine was

higher with the increase of crude glycerin in diets. There was no difference in

histomorphometric parameters in the segments of small intestine. In test II, there

was no difference in the performance of piglets during the pre-starter phase with

the replacement of lactose by crude glycerin. However, there was a quadratic

effect for final weight and weight gain in the starter phase. The level of 2.76%

resulted in higher final weight, and 2.97% crude glycerin will improve our daily

gain. In the nursery phase, there was no difference to the final weight (P = 0.056),

weight gain (P = 0.074) and feed intake (P = 0.037). The level of 2.79% of glycerin

allowed the higher average daily consumption of 0.955 kg of ration and the greater

weight gain (0.572 kg) was when the level of glycerin in the diet was 3.2%.There

was effect on the incidence of diarrhea in the pre-starter phase (p = 0.001) and

xv

Page 18: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

xvii

nursery phase (p = 0.02).The crude glycerin can be employed up to 18% in the

weaned piglets’ diets as an alternative ingredient for whey powder and can replace

lactose in the pre-starter phase, without affecting the performance of piglets. In the

level of 2.97%, the glycerin promotes the higher average daily gain for the starter

phase.

Keywords: performance, digestibility, glycerol, piglets, intestinal morphology,

metabolism.

xvi

Page 19: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

1

CAPITULO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a forte preocupação social em diminuir os problemas

de poluição ambiental e a dependência de petróleo incentivou as políticas

energéticas de diversos países induzindo o uso de combustíveis limpos, biodiesel

e bioetanol. Esses produtos são chamados de biocombustíveis por serem

derivados de biomassa renovável, que podem substituir parcial ou totalmente os

combustíveis fósseis (ANP, 2011).

Com o aumento da produção do biodiesel, aumentou a oferta de glicerina

bruta, principal subproduto que corresponde a 10% do volume total de biodiesel

(MA & HANNA, 1999; THOMPSON & HE, 2006). Consequentemente com o

aumento da disponibilidade da glicerina no mercado ocorreu a queda do seu

preço, gerando a preocupação quanto ao uso do excedente e busca por novas

formas de aplicação.

As propriedades físico-químicas da glicerina a torna um composto versátil,

com grande variedade de aplicações na indústria farmacêutica, bélica e alimentícia

(GAUDRÉ, 2009). A molécula do glicerol está relacionada a inúmeros processos

metabólicos, exercendo importante função fisiológica como fonte de energia,

agente crioprotetor e osmorregulador para diversos microrganismos e animais

(ARRUDA et al., 2007). Estas constatações estimularam a realização de pesquisas

quanto ao uso de glicerina bruta na alimentação animal, com destaque para a

espécie suína (MOUROT et al., 1994; THOMPSON & HE, 2006, LAMMERS et al.,

2008b).

Nesse contexto, com a finalidade de reduzir o custo das dietas de suínos,

sobretudo custo energético, a glicerina bruta passou a ser incluída nas rações de

leitões na fase de creche (VAN HEUGEN et al., 2008; ZIJLSTRA et al., 2009).

Nesses estudos foram testados níveis de inclusão de glicerina em substituição ao

milho, principal fonte energética, considerando tratar-se de um produto de sabor

adocicado, de palatabilidade e alta digestibilidade (WAPNIR et al., 1996;

LAMMERS et al., 2008a,b), podendo substituir a lactose e o soro de leite em pó

Page 20: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

2

(GROESBECK et al., 2008; SHIELDS et al., 2011), ingredientes tradicionalmente

incluídos nas dietas de pós-desmame, como fontes energéticas de alta

digestibilidade, com a finalidade de facilitar a transição da dieta líquida (leite da

porca) para a dieta sólida.

O período pós-desmama é marcado pelo consumo reduzido de alimento,

mobilização da pequena reserva energética do leitão e por alterações na mucosa

intestinal, que ocorrem em função da mudança da dieta, reduzindo a capacidade

de digerir e absorver os nutrientes (LALLÈS et al., 2007).

Nesse sentido, o uso de glicerina nas dietas de leitões na fase de creche

poderá reduzir as complicações associadas com a fase pós-desmame, uma vez

que é fonte energética de rápida absorção intestinal, por ser constituinte do

processo metabólico da glicólise, gliconeogênese e da lipogênese. Dessa forma a

glicerina poderá desempenhar relevante papel nutricional e fisiológico com

interferência positiva sobre o desempenho de suínos na fase de creche.

Page 21: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

3

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o desempenho de leitões nas fases pré-inicial e inicial alimentados

com rações contendo glicerina bruta, bem como a digestibilidade aparente da

glicerina bruta.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2.2.1 EXPERIMENTO 1

*Avaliar o desempenho de leitões na fase pré-inicial alimentados com dietas

contendo glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó;

*Determinar a digestibilidade aparente ileal e retal da glicerina bruta;

*Avaliar os parâmetros sanguíneos e parâmetros digestivos de leitões na fase

pré-inicial;

* Realizar medidas histomorfométricas do intestino dos leitões na fase pré-inicial.

2.2.2 EXPERIMENTO 2

*Avaliar o desempenho de leitões na fase pré-inicial alimentados com dietas

contendo níveis de glicerina bruta em substituição a lactose;

*Avaliar o desempenho de leitões na fase inicial alimentados com dietas com

níveis de glicerina bruta;

*Determinar a digestibilidade aparente da glicerina bruta em leitões na fase inicial;

*Avaliar os parâmetros sanguíneos e parâmetros digestivos dos leitões na fase de

creche alimentados com glicerina bruta;

*Realizar medidas histomorfométricas do intestino dos leitões na fase de creche

alimentados com glicerina bruta nas rações;

*Realizar a avaliação financeira das dietas experimentais.

Page 22: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

4

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Obtenção de Glicerol e glicerina bruta

Em diversos países têm-se incentivado o uso de fontes energéticas

renováveis que causem menor impacto ao meio ambiente, mediante a emissão

reduzida de gases causadores do efeito estufa após sua queima, bem como o

interesse de diminuir a dependência do petróleo dos países produtores, que vem

praticando preços cada vez mais altos, baseado na premissa que os combustíveis

fósseis são fonte energética finita e não renovável.

O biodiesel tem se destacado como alternativa promissora de combustível

renovável, cujo interesse crescente alavancou a capacidade de produção em todo

o mundo nos últimos anos. A União Européia foi pioneira na produção de

biodiesel. Atualmente é a maior produtora mundial, com produção estimada em

2012 de 10,850 milhões de litros. Os países produtores de maior expressão são a

Alemanha, França e Espanha, com cerca de 2.670; 2.390 e 800 milhões de litros

produzidos em 2012, respectivamente (USDA, 2012).

O Brasil, com 44,1% da sua matriz energética advinda de fontes

renováveis, também se destaca como referência na produção e uso de

combustíveis limpos e renováveis. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP)

a produção efetiva brasileira de biodiesel foi de aproximadamente 2,673 milhões de

m3, correspondentes a 42% da capacidade de produção nacional. No ano de 2011,

a região Centro-Oeste produziu 1,037 milhões de m3 de biodiesel, nesse mesmo

ano o estado de Goiás deteve a produção de 505,6 mil m3 de biodiesel, sendo o

maior produtor nacional (ANP, 2011).

A principal matéria-prima da produção do biodiesel na Europa é advinda

da canola e do girassol, enquanto nos Estados Unidos e no Brasil é a soja. O

biodiesel brasileiro é produzido a partir de óleos vegetais, em maior escala o de

soja (77%); gordura animal (16%) e algodão (4%) (ANP, 2011).

O biodiesel é definido como mono-alquil éster de ácidos graxos, derivado

de fontes como óleos vegetais e gorduras animais, obtido mediante o processo de

transesterificação de óleos vegetais com alcoóis (metanol ou etanol) pela catálise

Page 23: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

5

básica, utilizando o hidróxido de sódio (NaOH) ou hidróxido de potássio (KOH)

como catalisadores. Pode ser obtido ainda pela esterificação desses materiais na

presença de catalisadores ácidos, na qual ocorre a transformação de

triglicerídeos em moléculas menores de ésteres de ácidos graxos, tendo como

subproduto a glicerina bruta, correspondente a 10% do volume total de biodiesel

ou na proporção de 0,1 kg de glicerina/litro de biodiesel, com teores de glicerol

variando de 60% a 95% (MA & HANNA, 1999; THOMPSON & HE, 2006).

A primeira etapa consiste na quebra dos triglicerídeos em diglicerídeos,

seguida da conversão desses diglicerídeos em monoglicerídeos e finalmente de

monoglicerídeos em glicerina. A reação de transesterificação consiste em

substituir a molécula de glicerina por álcool primário de cadeia curta, para

produzir ésteres e glicerol na presença de catalisador, com a finalidade de

aumentar a velocidade da reação (VAN GERPEN, 2005). Ao final da etapa de

transesterificação, os ésteres e a glicerina formam uma massa líquida de duas

partes, facilmente separáveis por decantação ou centrifugação. A parte superior,

menos densa, contém os ésteres metílicos ou etílicos constituintes do biodiesel.

A parte inferior, mais pesada, encontra-se composta de glicerina bruta, água,

álcool, catalisador (NaOH ou KOH) e outros subprodutos da reação, como mono

e diglicerídeos (ARRUDA et al., 2007).

Para que a produção de biocombustível seja econômica e ecologicamente

viável é essencial que se consigam aproveitar todos os produtos gerados dessa

cadeia. Portanto, os biocombustíveis devem fornecer benefícios ambientais,

serem economicamente competitivos e produzidos em larga escala sem, contudo,

comprometer a produção de alimentos. Além disso, deve-se ainda considerar a

adequada utilização dos coprodutos resultantes da produção do biodiesel.

A raiz etimológica grega glycks deu origem aos termos glicerol e glicerina,

portanto sinônimos, que significam doce. É um poliálcool, pertencente à função

álcool com três hidroxilas, com estrutura química C3H8O3. Suas propriedades

singulares permitem com facilidade a formação de pontes de hidrogênio

significativamente fortes, justificadas pelos seus pontos de fusão e de ebulição

relativamente altos, se comparados aos de outras substâncias de peso molecular

semelhante (MORRISON & BOYD, 1978). O termo glicerina geralmente é atribuído

Page 24: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

6

ao coproduto gerado no processamento do biodiesel, e glicerol ao composto

gerado no metabolismo animal, ou composto puro (DOZIER et al., 2008).

A glicerina é rica em energia, proveniente de fonte renovável, possuir alta

digestibilidade e eficiente utilização pelos animais, podendo contribuir na menor

inclusão de milho e outros alimentos energéticos com alto valor comercial (LAMMERS

et. al., 2008a,b; KERR et. al., 2009).

Segundo HENN & ZANIN (2009), se apenas 1% da glicerina bruta

advinda da produção do biodiesel for destinada à fabricação de rações para

monogástricos representaria um consumo potencial de 480 mil toneladas de

glicerina/ano, portanto, sendo possível destino para o excedente de glicerina bruta

produzida no Brasil.

O Estado de Goiás, em 2011, produziu 46.876 mil m3 de glicerina bruta

advinda do biodiesel (ANP, 2011). Com essa grande oferta, a glicerina bruta

poderá ser usada na produção de suínos. Desta forma, a glicerina pode ser fonte

eficiente de energia em dietas de suínos, desde que sejam respeitados os limites

de inclusão e verificando a qualidade desta matéria prima.

A glicerina bruta apresenta coloração variada que vai desde o âmbar claro

ao marrom escuro, devido a presença de catalisadores, de cinzas, de metanol, de

água, de lipídios e de biodiesel (RIVALDI et al., 2007). Os padrões mínimos de

qualidade da glicerina bruta devem apresentar valores de glicerol de 800 g/Kg,

umidade de 130 g/Kg, metanol de 150 mg/Kg, e os valores mínimos de sódio e

matéria mineral deverão ser garantidos pelo fabricante, uma vez que podem

variar em função do processo produtivo empregado (MAPA, 2010).

THOMPSON & HE (2006) observaram concentrações variáveis de cinzas

(0,65% a 5,5%), de sódio (1,06% a 1,40%), de lipídios (1,1% a 60,1%), de

carboidratos (26,9% a 83,8%) e de proteína (0,05% a 0,44%), em amostras de

glicerina bruta obtidas de diferentes fontes de matérias-primas. Os autores

observaram que essa variação era menor quando a glicerina bruta era obtida de

óleos puros em comparação com resíduos de óleos vegetais. LAMMERS et al.

(2007) verificaram que os produtos comerciais apresentam níveis variáveis de

glicerol (70% a 93%), umidade (8% a 20%), minerais (2% a 10%) e metanol (100

a 750 mg/kg).

Page 25: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

7

Do mesmo modo, HOLTKAMP et al. (2007) encontraram níveis de 85%

de glicerol, 10% de água e 3% a 7% de sais em glicerina bruta proveniente da

produção de biodiesel. Os autores ainda observaram variação nos teores de

energia bruta na faixa de 3.600 a 3.750 kcal/kg, dependendo do grau de pureza.

BARTELT & SCHNEIDER (2002) determinaram a energia bruta do glicerol puro

(99,9%) em 4.312 kcal/kg. Segundo HANSEN et al. (2009), a glicerina bruta

utilizada nas dietas de suínos, é influenciada pelo grau de pureza e tipo de

glicerina, pela quantidade de minerais e variação dos parâmetros como: pH,

metanol e matéria orgânica.

As variações nas características físicas, químicas e nutricionais da

glicerina bruta irão depender do tipo de gordura animal ou óleo vegetal e do tipo de

catalisador empregado na produção de biodiesel (RIVALDI et al., 2007; KERR et

al., 2009). Portanto, dependendo da origem da glicerina bruta haverá variações

nos níveis de energia bruta, de sódio, potássio e metanol, características que

devem ser levados em consideração ao se formular as rações (LAMMERS et al.,

2008b; KERR et al., 2009).

Em razão da característica energética e do sabor adocicado, a glicerina

constitui-se como ingrediente promissor, podendo substituir em parte, os

concentrados energéticos da ração (BARTELT & SCHNEIDER, 2002). Na Diretiva

2008/84/EC a União Europeia estabeleceu critérios específicos quanto à pureza da

glicerina usada como aditivo alimentar. Na Diretiva 70/524/EEC15 estabelece o uso

de glicerina como aditivo alimentar, destinado para todas as espécies ou categorias

de animais. O Regulamento nº 1831/200317, estabelece que a glicerina seja

classificada como ingrediente alimentar para animais (EFSA, 2010).

Neste sentido, nos últimos anos tornou-se relevante do ponto de vista

científico, econômico e ambiental o destino de parte da glicerina proveniente da

indústria de biodiesel na inclusão de dietas de animais de produção. Os resultados

ainda são controversos sobre o valor nutricional e qualidade da glicerina. Os

trabalhos científicos ainda são limitados não só sobre o efeito deste ingrediente no

desempenho, mas também quanto ao metabolismo, absorção e efeitos residuais.

Também é necessário observar se a utilização deste produto compete com os

preços dos ingredientes da formulação de alimentos.

Page 26: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

8

3.2 A glicerina bruta na alimentação de leitões na fase de creche

O uso de ingredientes de qualidade e de alta digestibilidade são alternativas

utilizadas ao formular dietas para leitões na fase de creche. Assim, ingredientes

como leite em pó, lactose, hemácias e plasma sanguíneo, dentre outros, tem por

finalidade melhorar a palatabilidade e a digestibilidade, além do amadurecimento

intestinal. Porém, como elevam o custo, estes são retirados das rações pré-iniciais e

iniciais, resultando em piora no desempenho e aumento de leitões refugos, com

consequente prolongamento dos dias para abate dos animais na terminação.

A glicerina bruta tem potencial para substituir parte dos cereais e do óleo

nas rações de suínos, pois é fonte de energia, mas também pode substituir outros

ingredientes, como a lactose e soro de leite seco, que geralmente são incluídos

nas dietas de leitões desmamados aos 21 dias (VAN HEUGEN et al., 2008).

MOUROT et al. (1994) destacaram que o glicerol dietético fornece energia

para o corpo, o que pode beneficiar leitões desmamados que estão normalmente

em estado de deficiência de energia devido ao apetite limitado em função da

desmama precoce e do tipo do alimento. O glicerol é fonte de energia proveniente

da hidrólise de triacilgliceróis e, portanto, facilmente disponível para

termorregulação e trabalho muscular (LIN, 1977).

TIBBLE et al. (2007) recomendaram a utilização da glicerina na

alimentação de leitões desmamados precocemente. De acordo com esses

autores, a glicerina é ótima alternativa energética na substituição dos cereais. Os

valores de energia metabolizável (EM) da glicerina é de 3.207 kcal/kg

representando 94% do teor de EM do milho (LAMMERS et al., 2008b) e a energia

digestível (ED) de 3.344 kcal/kg semelhante à lactose (NRC, 1998 e ROSTAGNO

et al., 2011).

CARVALHO et al. (2012) determinaram os níveis de energia

metabolizável da glicerina bruta derivada de fonte de óleo vegetal e glicerina bruta

mista (óleo de soja e gordura animal) e encontraram valores energéticos de 4.556

e 4.488 kcal/kg, respectivamente. Os autores concluíram que é possível utilizar

até 12% de ambos os tipos de glicerina bruta em dietas para leitões sem se

prejudicar o desempenho.

Page 27: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

9

KERR et al. (2009), ao estimarem o teor da energia bruta (EB) da

glicerina de diferentes fontes de biodiesel e com diferentes graus de pureza,

verificaram variação de 2.535 e 5.206 kcal/kg e valor médio EM 85,4% em relação

à energia bruta. Os autores concluíram que a glicerina é boa fonte de energia,

porém o grau de pureza, ou seja, o conteúdo de glicerol, metanol e ácidos graxos

livres é que determinará o nível de inclusão.

Os teores de metanol da glicerina utilizado nas rações não devem ser

superiores a 150 ppm, pois níveis superiores podem causar problemas

metabólicos, gastrointestinais, vômitos, acidose e cegueira. Níveis aumentados de

NaCl também podem limitar a inclusão de glicerol na dieta (KERR et al., 2009).

De acordo com HANSEN et al. (2009), suínos alimentados com dietas contendo

níveis de 0%, 4%, 8%, 12% e 16% de glicerina bruta com 0,29% de metanol, não

apresentaram sintomas clínicos de toxicidade nem mesmo com 16% de glicerol

na dieta. Ao analisarem as rações peletizadas, os autores verificaram que uma

proporção significativa do metanol tinha evaporado.

LAMMERS et al. (2008b) realizaram estudo utilizando a glicerina bruta

com pureza de 86% de glicerina, originária do biodiesel da soja, para suínos na

fase de creche, com níveis de inclusão de glicerina de 0%, 5% e 10% nas rações

de suínos com 7 a 12 kg de peso (fase pré-inicial) e 12 a 23 kg de peso (fase

inicial). Os autores verificaram que os níveis de glicerina bruta não afetaram o

consumo médio diário, o ganho de peso e a conversão alimentar.

Também foram testadas dietas com inclusão de 4% e 8% de glicerina

bruta em substituição ao farelo de trigo nas dietas de leitões de 7 a 22 kg de peso,

e os tratamentos com glicerina apresentaram maior digestibilidade aparente da

energia em relação ao tratamento controle, além de maior ganho de peso.

Verificou-se melhoria no déficit de energia dos leitões, que geralmente ocorre em

razão da desmama, e com a consequente diminuição do apetite, devido à

mudança da dieta e pela redução do consumo da ração pré-inicial (ZIJLSTRA et

al., 2009). Assim, os autores concluíram que níveis de até 8% de glicerina podem

ser usados em dietas para leitões na fase pré-inicial sem reduzir a taxa de

crescimento e eficiência de utilização dos alimentos.

VAN HEUGTEN et al. (2008) determinaram o efeito do lactose (10% vs

20%) e relação a 0% e 10% de glicerina bruta, em dietas de leitões na fase de

Page 28: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

10

creche e não observaram efeitos no consumo diário de ração, ganho de peso e

conversão alimentar ao suplementar 20% ou 10% de lactose. No entanto, a

lactose é tradicionalmente incluída em níveis elevados na primeira dieta após o

desmame para facilitar a passagem do leite da porca para a alimentação sólida.

Os animais que receberam dietas suplementadas com glicerina e lactose, ambos

a 10%, apresentaram aumento do peso corporal na segunda semana pós-

desmame. Também se notou melhoria na eficiência alimentar durante a primeira e

segunda semana pós-desmame.

PAPADOMICHELAKIS et al. (2010) observaram melhoria no ganho de

peso em 10% e 4% nos grupos de leitões que receberam 7,5% e 15% de

glicerina. Houve aumento do consumo em 5,5% no grupo alimentados com dietas

contendo 7,5% de glicerol. A conversão alimentar de 1,77% (0 % de glicerina)

melhorou para 1,64% e 1,63% nos grupos de 7,5% e 15% de glicerina,

respectivamente. Porém, LAMMERS et al. (2008c) observaram declínio no ganho

de peso dos suínos, quando esses recebiam dietas com níveis acima de 10% de

glicerina bruta.

Leitões com 21 dias de idade e 6,6 kg foram alimentados com dietas

com 20% de lactose e níveis de 2,5%, 5%, 7,5% e 10% de glicerina durante

duas semanas. Segundo SHIELDS et al. (2011) a glicerina na ração aumentou

linearmente o ganho de peso e a ingestão diária.

Em relação ao nível plasmático, quando a glicerina bruta é adicionada a

alimentação animal, verifica-se aumento nos níveis de triglicerídeos e de

colesterol, à medida que aumenta os níveis de inclusão da glicerina bruta nas

rações (NARAYAN & McMULLEN, 1979).

MOUROT et al. (1994) constataram que a inclusão de 5% de glicerina

derivada do óleo de colza proporcionou aumento linear dos níveis de colesterol no

sangue de suínos (35 a 100 kg). Esses autores não verificaram efeito na

concentração de triglicerídeos no plasma, indicando que existe relação entre os

níveis circulantes e a concentração de triglicerídeos no fígado e no tecido do

músculo semimembranoso de suínos. KIJORA et al. (1995) observaram aumento

nos níveis plasmáticos de glicerol quando a inclusão de glicerina na dieta

aumentou até 30%.

Page 29: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

11

HANSEN et al. (2009), analisando as concentrações plasmáticas de

glicose, glicerol e ácidos graxos não esterificados em leitões que recebiam

dietas com diferentes níveis de inclusão de glicerina bruta (0%, 4%, 8%, 12% e

16%), verificaram interação das dietas e das semanas de amostragem em

função do nível de glicerol no plasma. Na segunda semana de amostragem, não

houve efeito da dieta sobre os níveis plasmáticos de glicerol, porém houve

aumento linear quando os níveis plasmáticos foram analisados antes do abate.

Suínos na fase inicial de 15 a 30 kg, alimentados com dietas contendo

glicerina semipurificada, não apresentaram efeitos significativos nos

parâmetros plasmáticos da glicose, do colesterol e dos triglicerídeos

(GALLEGO et al., 2012). Os autores sugerem que, para dietas de suínos de 15

a 60 kg de peso, é possível incluir até 14% de glicerina semipurificada e

neutralizada, sem interferir nas variáveis plasmáticas. Do mesmo modo,

CARVALHO et al. (2012), ao testarem a glicerina bruta (vegetal e mista) com

altos teores de ácidos graxos totais nas dietas de leitões de 15 a 30 kg, não

observaram efeito nos parâmetros plasmáticos da glicose e do colesterol

quando o nível de inclusão foi de até 12%.

Substituição de 0%; 5%; 10% e 15% de glicerina pura (99,9% glicerol)

pelo amido de milho, em dietas de leitões machos castrados, com 34 kg de

peso, observou-se que houve diminuição da energia metabolizável da glicerina

bruta com o aumento da taxa incorporação, provavelmente devido às perdas

urinárias (BARTELT & SCHNEIDER, 2002). De acordo com LIN (1977), essa

perda dependerá da capacidade de reabsorção renal. O glicerol absorvido

através do trato gastrintestinal é convertido em glicose no fígado. No entanto,

se a capacidade do fígado é excedida, o excesso de glicerina é excretada na

urina. Níveis plasmáticos de glicerol aumentaram no grupo de suínos que

recebiam 4% de glicerina bruta na dieta (KIJORA et al., 1995).

BARTELT & SCHNEIDER (2002) observaram que o glicerol apresenta

absorção quase completa (99%) antes do fim do intestino delgado, quando a

taxa de incorporação de glicerina na ração é de 5%. Em suínos, a absorção é

bem rápida, pois 91% do glicerol ingerido é absorvido antes da porção proximal

do jejuno. Essa elevada taxa de absorção se dá em razão do pequeno peso

molecular (DOZIER et al., 2008). Essas características são positivas, sobretudo

Page 30: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

12

em relação à altura das vilosidades e a profundidade das criptas, que são

indicadores da saúde do aparelho digestivo dos leitões e estão diretamente

relacionadas com a capacidade de absorção da membrana mucosa.

Portanto, é o reflexo de equilíbrio entre a atividade mitótica das células

das vilosidades e das criptas intestinais (CERA et al., 1988), pois a redução

transitória da integridade da parede intestinal dos leitões após o desmame está

associada com a diminuição da capacidade digestiva, devido principalmente ao

encurtamento das vilosidades no intestino delgado e à atividade reduzida das

enzimas digestivas. Assim, as alterações morfológicas e fisiológicas refletem

declínio nas taxas de crescimento, aumento da susceptibilidade a doenças

entéricas e imunossupressoras (LALLÈS et al., 2007).

A glicerina bruta também possibilita redução de custo das dietas de

leitões (15 a 30 kg) em até 11%, ao comparar dietas sem glicerol bruto (0%) ou

contendo até 12% de glicerol bruto, obtido da transesterificaçao de óleo vegetal e

de gordura animal (CARVALHO et al., 2012). Segundo ZIJLSTRA et al. (2009), a

glicerina bruta proporciona redução no custo das rações iniciais para os

produtores e melhora as características físicas das dietas de leitões, com a

redução de pó. Contudo, a inclusão de 4% de glicerina na ração é suficiente

para aglomeração e aderência no tanque de mistura e nas tubulações de

distribuição das dietas fareladas (LINDERMAYER et al., 2009). Os problemas de

aglutinação se dão em função da viscosidade desse líquido, que pode dificultar

a mistura da ração (KERR et al., 2009).

Quanto maior o teor de glicerina (2% a 16%), mais agregada se torna a

ração, o que em condições comerciais de sistema automático de dietas

fareladas ou até mesmo úmidas (dietas purê), teores acima de 5% ou 6% de

glicerina provavelmente tornarão difícil a distribuição alimentar (GROESBECK et

al., 2008; HANSEN et al., 2009).

A glicerina bruta originada do processo de produção de biocombustíveis

consiste em ingrediente alternativo, passível de uso na alimentação de leitões

na fase de creche. No entanto, a viabilidade econômica quanto à utilização da

glicerina bruta dependerá do preço dos ingredientes, especialmente milho,

lactose e óleo de milho ou de soja, ou até mesmo de outras fontes de energia.

Page 31: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

13

3.2.1 Absorção e metabolismo do glicerol

A absorção do glicerol pode ocorrer no estômago, porém mais lenta que a

absorção no intestino delgado. A absorção intestinal em suínos é rápida cerca de

91% do glicerol ingerido é absorvido antes da porção proximal do jejuno

(BARTELT & SCHNEIDER, 2002). É solúvel em água e, portanto facilmente

absorvido no intestino delgado, provavelmente devido ao pequeno peso molecular

do glicerol que é metade do peso molecular da glicose ou da frutose. O que

possibilita ser absorvida passivamente, em vez de formar micela com sais biliares,

como os que costumam ocorrer com ácidos graxos de cadeia média e grande

(DOZIER et al., 2008). LIN (1977) ponderou que a taxa de absorção de glicerol no

lúmen intestinal equivale a ¼ da absorção de glicose e que a concentração entre

os compostos não é afetada.

Após a ingestão da glicerina bruta pelo leitão, o glicerol pode ser utilizado

como precursor da glicose na gliconeogênese, ou ainda oxidado para a produção

de energia na via glicolítica e ciclo de Krebs. Na gliconeogênese, o glicerol será

fosforilado pela glicerol-quinase, resultando em glicerol 3-fosfato que é oxidado em

diidroxiacetona fosfato (NELSON & COX, 2002) e segue a rota gliconeogênica para

formação de glicose. A enzima glicerol-quinase é encontrada principalmente no

fígado (80% a 90%) e nos rins (10% a 20%) (LIN, 1977; ROBERGS & GRIFFIN,

1998), é catalisadora da transferência de grupo fosfato do ATP para o glicerol,

formando o glicerol-3-fosfato (BRISSON et al., 2001).

O glicerol 3-fosfato além de fornecer o esqueleto de carbono para a

gliconeogênese é carregador de equivalentes redutores do citosol para a

mitocôndria para fosforilação oxidativa, e participa da estrutura de lipídeos (LIN,

1977). A maior parte do glicerol ingerido ou sintetizado pelos suínos seguirá o

mesmo caminho dos triacilgliceróis, podendo ser armazenados com fonte de energia

metabólica ou na incorporação dos fosfolipídios de membrana (NELSON & COX,

2002). Em leitões na fase de creche devido à necessidade de crescimento corporal,

o glicerol será destinado à síntese de novas membranas.

O glicerol atua como precursor de numerosos compostos e como

regulador de vários mecanismos bioquímicos intracelulares (LIN, 1977; LAGES &

LUCAS, 1997). É componente do metabolismo normal dos animais, encontrado

Page 32: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

14

na circulação e nas células. Sendo resultante da lipólise no tecido adiposo, da

hidrólise dos triglicerídeos das lipoproteínas e da gordura dietética. Porém,

poucas são as informações sobre as implicações metabólicas da suplementação

de glicerina nas rações. O glicerol é metabolizado predominantemente no fígado e

nos rins. De acordo com LIN (1977), o fígado é responsável por,

aproximadamente, 3/4 da capacidade total do corpo de metabolizar o glicerol,

enquanto os rins são responsáveis por 1/5 desta capacidade de metabolização,

tendo também papel essencial na reabsorção, evitando que os excessos de

glicerol sejam perdidos via urina.

Segundo MOUROT et al. (1994), o glicerol pode ser muito útil na

alimentação de leitões recém-nascidos e desmamados precocemente, por ser

fonte de energia prontamente disponível que poderá melhorar o déficit de energia,

que geralmente ocorre nesses animais. O sabor adocicado também poderá

aumentar a ingestão de alimentos. Entretanto, é necessário elucidar estudos que

levem em consideração as implicações metabólicas da suplementação exógena

de glicerol nas dietas de suínos.

4. REFERÊNCIAS

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Estatístico 2011. 2011. Disponível em: http://www.anp.gov.br/?pg=57890.

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20

CAPÍTULO 2. GLICERINA BRUTA EM SUBSTITUIÇÃO AO SORO DE LEITE

EM PÓ PARA LEITÕES NA FASE PRÉ-INICIAL

RESUMO

Avaliou-se a substituição do soro de leite em pó por glicerina bruta nas

rações de leitões na fase pré-inicial. Foram utilizados 18 leitões machos inteiros,

desmamados aos 23 dias de idade, com peso inicial de 7,28 ± 0,53 kg. O

delineamento foi de blocos ao acaso. Os tratamentos foram: tratamento controle

contendo 0% de glicerina bruta e 20% de soro de leite em pó; tratamento com 9%

de glicerina bruta e 10% de soro de leite em pó e o terceiro tratamento com 18%

de glicerina bruta. O trato gastrintestinal foi removido, pesado e medidas de pH

foram tomadas, sendo, em sucessão, colhidas amostras do conteúdo intestinal do

jejuno, duodeno, íleo, ceco, cólon e reto e amostras para análise

histomorfométricas de intestino delgado. Não se observou diferenças de ganho de

peso diário e conversão alimentar. Porém, com 9% de glicerina bruta houve

incremento sobre o consumo de ração. Não houve diferenças nos coeficientes de

digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta no íleo, mas no reto o

tratamento com 18% de glicerina bruta apresentou maior digestibilidade da MS e

da PB. Não houve diferença para peso relativo de órgãos e pH dos diferentes

segmentos intestinais. A concentração de ácido lático no duodeno, jejuno e íleo

foi maior para os animais alimentados com soro de leite. Não houve efeito da

dieta sobre os parâmetros sanguíneos, no entanto, o conteúdo de glicerol na urina

aumentou a medida que aumentavam os níveis de glicerina bruta na ração. Não

houve diferença de altura, largura, área de vilosidades, profundidade das criptas e

relação vilosidade:cripta nos segmentos de duodeno, jejuno e íleo. Observou-se

no tratamento sem glicerina bruta, nível mais alto de células caliciformes. A

glicerina bruta pode ser incluída em até 18% nas dietas de leitões recém

desmamados como ingrediente alternativo ao soro de leite em pó.

Palavras-chave: digestibilidade, glicerol, leitões, morfologia intestinal.

Page 39: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

21

CHAPTER 2. CRUDE GLYCERIN IN SUBSTITUTION OF WHEY POWDER FOR

PIGLETS IN PRE-STARTER PHASE

ABSTRACT

It was evaluated the substitution of the whey powder by crude glycerin

in diets for piglets in pre-starter phase. 18 non castrated male piglets were

used, weaned on the 23rd d of age, with initial BW 7.28 ± 0.53 kg.The

experiment design consisted of randomized blocks. The diet treatments were:

control treatment containing 0% of crude glycerin and 20% of whey powder;

treatment with 9% of crude glycerin and 10% of whey powder and the third

treatment with 18% of crude glycerin. The gastrointestinal tract was removed,

weighed and the pH measured, then were taken samples of the content of

jejunum, duodenum, ileum, cecum, colon and rectum and samples for

histomorphometric study of the small intestine. There was no difference on

daily weight gain and food conversion. Although, there was an increase on the

feed intake with 9% of crude glycerin. There were no differences on dry matter

and crude protein digestibility coefficients in the ileum, but in rectum the

treatment with 18% of crude glycerin presented higher DM and CP digestibility.

There was no difference for relative organ weight and pH of different GIT

segments. The concentration of lactic acid in duodenum, jejunum and ileum

was higher for the animals fed with whey. There was no effect of diet on blood

parameters, however, the glycerol content in urine increased as long as the

levels of crude glycerin in the feed were higher. There was no difference on

height, width, area of villi, depth of the crypts and the villus:crypt relation in

duodenum, jejunum, and ileum segments. The treatment without crude glycerin

showed higher levels of goblet cells. 18% of crude glycerin can be employed as

an alternative ingredient in piglets’ diets replacing whey.

Keywords: digestibility, glycerol, gut morphology, piglets.

Page 40: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

22

1. INTRODUÇÃO

No cenário de instabilidade da suinocultura, marcado pela alta dos

grãos destinados a alimentação dos suínos, tem se buscado fontes energéticas,

com boa disponibilidade e baixo custo que possam minimizar o custo de

produção.

Diante da expansão da matriz energética brasileira, sobretudo de

biodiesel. Vislumbra-se a possibilidade de uso de glicerina bruta, coproduto

dessa cadeia de produção, como ingrediente das rações de suínos. Por se tratar

de fonte renovável, rica em energia, de alta digestibilidade e com eficiente

utilização pelos animais (LAMMERS et. al., 2008a,b; KERR et. al., 2009).

Representando possível uso do excedente de glicerina advinda do biodiesel e

podendo contribuir na menor inclusão de alimentos energéticos, com alto valor

comercial. Trata-se de um composto fundamental no metabolismo normal dos

animais, atuando como precursor e como regulador de vários mecanismos

bioquímicos intracelulares.

Pesquisas pioneiras foram desenvolvidas nos anos 90 com a inclusão

de glicerina bruta nas dietas de suínos em diferentes fases e categorias.

Nessas pesquisas, fica vislumbrada a possibilidade da inclusão de 10% de

glicerina bruta na dieta em substituição aos cereais, sem comprometer o

desempenho de suínos nas fases de creche, de crescimento e de terminação

(MOUROT et al., 1994; KIJORA et al., 1995; KIJORA et al., 1997). Entretanto,

nesses estudos os resultados apresentam grande variação, quanto ao

desempenho de leitões e a qualidade da carne, em função da percentagem de

inclusão de glicerina bruta na alimentação.

Segundo KIJORA & KUPSCH (1996) e GROESBECK et al. (2008), a

inclusão de 10% de glicerina bruta nas dietas de leitões resultam em melhorias

no ganho de peso, consumo de ração e na eficiência alimentar. Por outro lado,

MOUROT et al. (1994) e LAMMERS et al. (2008a) não observaram efeito sobre

o desempenho de leitões na fase de crescimento.

A glicerina bruta pode ser adicionada às rações de leitões em

substituição aos cereais (milho e trigo) e fontes de lactose (soro de leite em

Page 41: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

23

pó), consistindo em fonte alternativa de energia para as dietas (KERR et al.,

2009), pois apresenta valor de EM de 3.207 kcal/kg (LAMMERS et al., 2008a),

correspondente a 94% do teor de EM de milho e ED de 3.344 kcal/kg

semelhante à lactose (NRC, 1998). Além disso, a glicerina bruta é ingrediente

de digestibilidade elevada (89% a 92%) (LAMMERS et al., 2008b) e sabor doce

(KIJORA et al., 1995). Essas características são de grande importância na

seleção de ingredientes em rações para suínos no pós-desmame em razão do

desmame precoce, visto que os leitões necessitam de ingredientes de fácil

digestão, compatíveis com seu sistema digestivo imaturo.

Objetivou-se determinar o efeito da glicerina bruta em dietas de leitões

no pós-desmame em substituição ao soro leite em pó.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Delineamento experimental, instalações e tratamentos

O experimento foi realizado na Faculdade de Veterinária da Universidade

de Murcia, Espanha. O experimento foi regulamentado segundo a orientação

nacional e regulamentação da União Europeia (Decreto Real Espanhol - RD

1201/2005 e Diretiva UE 86/609/CEE e 2003/65/CE). O período experimental foi de

18 de fevereiro a 03 de março de 2011.

Os tratamentos experimentais testados consistiram: 1) dieta controle com

0% de glicerina bruta, 2) dieta com 9% de glicerina bruta e 3) dieta com 18% de

glicerina bruta (TABELA 1).

Foram utilizados 18 leitões machos inteiros, linhagem comercial (25%

Landrace x 25% Large White x 50% Duroc), desmamados aos 23 dias de idade e

com peso vivo inicial de 7,28 ± 0,53 kg, alojados em nove baias de 2 m2, contendo

dois animais em cada baia. O delineamento experimental foi de blocos

casualizados, totalizando três tratamentos e três repetições para o ensaio de

desempenho.

Page 42: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

24

TABELA 1. Ingredientes e composição centesimal e química das rações

experimentais

*Composição da glicerina bruta: glicerol: 85,00%; metanol: <0,5%; Umidade: 9,22%; cinzas: 4,51%; Fosfato: 0,11%; sódio: 1,66%; potássio: 0,05%; ***Quantidade/Kg: vit. A: 15000 IU; vit. D3: 2000 IU; vit. E: 40 mg; vit. K3: 2 mg; vit.B1: 2 mg; vit. B2: 5 mg; vit. B6: 3 mg; vit.B12: 0,03 mg; pantotenato de cálcio: 15 mg; ácido fólico: 0,6 mg; colina: 250 mg; biotina: 0,150 mg; Fe: 125 mg carbonato; Cu, 155 mg sulfato de cobre 5H2O; Zn, 100 mg óxido de zinco; Mn: 40 mg de sulfato de magnésio; I: 1 mg iodato de potássio; Se: 0,3 mg selenito de sódio.

INGREDIENTES, % 0% 9% 18%

Milho floculado 36,28 34,95 33,62

Glicerina bruta* - 9,00 18,00

Soro de leite em pó 20,00 10,00 -

Flocos de cevada 11,00 11,00 11,00

Farinha de cevada 11,00 11,00 11,00

Farinha de peixe 7,00 8,00 9,00

Concentrado proteico de soja 5,01 6,15 7,28

Farelo de soja 4,00 4,00 4,00

Óleo de soja 2,15 2,24 2,33

Dióxido de titânio 0,70 0,70 0,70

Premix vitamínico e mineral*** 0,30 0,30 0,30

Carbonato de cálcio 0,86 0,83 0,81

Fosfato bicálcico 0,61 0,82 1,04 L-Lisina HCl 0,43 0,43 0,43

DL-Metionina 0,21 0,21 0,21

Cloreto de sódio 0,20 0,10 -

L-Treonina 0,172 0,19 0,21

L-Triptofano 0,08 0,08 0,08

Total 100,00 100,00 100,00

COMPOSIÇÃO QUÍMICA

EM, kcal/kg 3.427 3.429 3.429

Lisina Total, % 1,40 1,40 1,40

Metionina Total, % 0,54 0,55 0,56

Metionina+cistina Total, % 0,83 0,83 0,83

Treonina Total, % 0,91 0,91 0,91

Triptofano Total, % 0,28 0,28 0,28

Lactose, % 13,6 6,8 -

Matéria Seca 92,15 90,35 89,83

Proteína Bruta 20,03 20,53 22,25

Glicerol 0,00 9,72 17,43

Fibra Bruta 2,18 2,40 2,22

Page 43: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

25

Para o ensaio de digestibilidade aparente ileal e retal, cada animal

consistiu na unidade experimental, totalizando seis repetições. Assim como, para

os estudos dos parâmetros sanguíneos e histomorfométricos.

A glicerina bruta foi proveniente do biodiesel de canola, com 85% de

glicerol, foi incorporada às dietas em substituição ao soro de leite em pó, com 68%

de lactose. As dietas experimentais foram formuladas segundo as recomendações

do FEDNA (2006), e continham marcador indigestível, dióxido de titânio (TiO2), na

concentração de 0,7%. A digestibilidade Ileal e retal é calculada usando a

equação: [1 - [(TiO2 na ração /TiO2 ileal ou retal) x (% Nutriente ileal ou

retal/%Nutriente na ração)]] x 100. O TiO2 foi analisado segundo o procedimento

descrito por MYERS et al. (2004).

O galpão experimental era provido de três aquecedores no corredor e

lâmpadas incandescentes em cada baia para ambientação da sala e controle

médio da temperatura máxima 30ºC e mínima 26,6ºC. Cada baia estava equipada

com um bebedouro tipo chupeta e um comedouro semiautomático. Os leitões

tinham acesso ad libitum ao alimento e à água, durante todo o ensaio.

2.2 Abate, colheita e análises de amostras

No 14º dia do experimento, amostras de sangue foram coletadas na veia

jugular por punção em tubos a vácuo com heparina, 4 mL (BD ® tubos sob vácuo,

Plymouth PL67BP-UK). O sangue foi processado no mesmo dia, no Hospital de

Análise Clínica Animal da Universidade de Murcia. Foram realizadas análises da

glicose, da frutosamina e de IGF-1. Após a colheita do sangue, os animais foram

pesados e anestesiados com injeção de tiopental sódico (Tiobarbital, Braum

Medical SA Vetoquinol, Barcelona, Espanha; 200 mg/kg de peso corporal).

Os animais foram sangrados e imediatamente abertos no abdômen, desde o

esterno ao púbis. Após abertura abdominal foram feitas amarrações na porção

caudal do esôfago e na porção caudal do reto, para em seguida efetuar a retirada

do trato gastrintestinal (TGI) inteiro. O TGI total foi pesado e também órgãos

como: fígado, rins e baço. Em seguida, foi pesado o estômago cheio e vazio e

coletadas amostras de conteúdo do estômago, duodeno, jejuno, íleo, ceco, cólon

e reto. O pH foi medido por meio da inserção de eletrodo unipolar nos frascos que

Page 44: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

26

continham conteúdo intestinal (medidor de pH Crison 507) (CANIBE et al., 2007).

Após a colheita, as amostras foram armazenadas em frascos sob -20 ºC, para

posterior análise. Além disso, o conteúdo da digesta ileal foi amostrado para

posterior liofilização.

Para a análise histológica foram obtidas amostras do jejuno, duodeno e íleo.

Duas amostras de um cm, obtidas da porção mediana de cada segmento, foram

fixadas por imersão em solução de formalina tamponada a 10%, segundo a

metodologia de NOFRARÍAS et al. (2006) e CANIBE et al. (2007). As amostras

dos segmentos intestinais para estudo histomorfológico foram desidratadas e

processadas por automação durante 18 horas. Em seguida, duas lâminas foram

preparadas a partir de cada amostra. Cada lâmina continha duas secções

cortadas em 4 μm, coradas com hematoxilina e eosina.

As medições foram feitas usando o sistema de análise de imagem com

ampliação de 10x (microscópio Leica DM6000β, câmera Leica DFC280 e software

Leica QWIN). Foram medidas a altura total, a altura sem o ápice, o ápice, a

largura da base, a largura superior das vilosidades e a profundidade de cripta, e

realizada leitura de dez vilosidades e a profundidade de dez criptas. A relação

vilosidade/cripta foi calculada dividindo a altura das vilosidades pela profundidade

das criptas. A área de superfície de absorção foi estimada mediante a equação

S(1)+(2) = π (r2/R) + π (R+r) x √ h2+(R-r)2, em que: R: medida da base/2; r: medida

do ápice/2; h: altura da vilosidade (NOFRARÍAS et al., 2006).

Com base na morfologia celular, contaram-se as células caliciformes e

linfócitos distinguíveis na ampliação de 40× (microscópio Olympus BX61,

câmara Olympus U-CMAD3, Visiopharm System Integrator). A contagem das

células caliciformes e dos linfócitos foi em dez vilosidades por segmento

(NOFRARÍAS et al., 2006). Todas as análises histomorfométricas foram

realizadas pela mesma pessoa.

A análise química das dietas experimentais foi realizada de acordo com

AOAC (2006). Os teores de matéria seca do conteúdo do reto foram

determinados utilizando estufa de ventilação forçada a 55 °C durante 48 horas. A

matéria seca das dietas foi determinada após secagem das amostras a 105 °C

até peso constante.

Page 45: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

27

O teor de proteína bruta (N x 6,25) da alimentação, do conteúdo do íleo,

do conteúdo do reto foi analisado pelo método de Kjeldahl. Também foram

realizadas análise de cinzas da ração e conteúdo do íleo. Para análise do

conteúdo mineral, as cinzas foram solubilizadas com 50 mL de ácido nítrico 0,6 N

e subsequentemente filtradas. Os teores de Ca, K e Na presente nas dietas, reto

e íleo foram analisados por espectroscopia de absorção atômica. O teor P foi

determinado pelo método molidato-vanadato.

A concentração de glicerol na ração, no íleo, no plasma e na urina foi

determinada pelo kit K-GCROL/Megazyne. A concentração de ácidos graxos

voláteis no cólon e no ceco foi medida por cromatografia gasosa como descrito

por JOUANY (1982) e MADRID et al. (1999a). Um grama de conteúdo intestinal a

partir de cada segmento, foi acidificado 0,032 mL H2SO4 (50:50), em seguida 0,46

mL de H2O foi adicionado e centrifugado (14.000 x g durante sete minutos, a

temperatura de 4 ºC). Logo após, 0,25 mL de sobrenadante foi misturado com o

padrão interno (3-metil-valérico). O padrão de ácidos graxos de cadeia curta foi o

mesmo que o descrito por JENSEN et al. (1995). O ácido lático dos segmentos de

duodeno, jejuno, íleo, ceco e cólon foram determinados conforme o método

descrito por TAYLOR (1996) e MADRID et al. (1999b).

2.3 Análises estatísticas

Os dados foram submetidos a análise de variância segundo o programa

estatístico SPSS (2006). Quando observadas diferenças significativas entre as

médias dos tratamentos, aplicou-se o teste t Student. O nível de significância

adotada foi de 10%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve diferença no ganho de peso e conversão alimentar. Contudo,

houve efeito da dieta sobre o consumo médio de ração (CMD), em que o maior

CMD foi observado nos leitões alimentados com o tratamento com 10% de soro

Page 46: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

28

de leite em pó e 9% de glicerina bruta em comparação com o tratamento com

18% de glicerina bruta (Tabela 2).

TABELA 2. Desempenho e digestibilidade aparente (ileal e retal) de leitões na

fase pré-inicial alimentados com glicerina bruta em substituição ao

soro de leite em pó

Variáveis* 0% 9% 18% EP** P****

Peso Inicial, kg 7,32 7,24 7,26 1,49 0,981

Peso final, kg 8,66 9,44 9,19 3,38 0,679

Ganho de peso médio, kg/d 0,19 0,31 0,28 0,023 0,738

Consumo médio de ração, kg/d 0,28a 0,47b 0,35ab 0,017 0,017

Conversão alimentar 1,45 1,49 1,27 0,100 0,284

Digestibilidade Ileal**

Matéria seca 73,68 70,76 70,12 1,331 0,564

Proteína bruta 93,53 93,53 94,23 0,369 0,644

Glicerol - 99,68 99,88 - -

Digestibilidade Retal**

Matéria seca 80,20a 80,33a 81,92b 0,320 0,063

Proteína bruta 70,32a 72,75a 77,01b 0,611 0,004

*Valores médio de n=3; **Valores médio de n = 6; ***EP: erro padrão da média;

****P: valor da análise de variância; a,bMédias com letras diferentes na mesma

linha diferiram significativamente a P<0,10.

Os animais apresentaram baixa ingestão, principalmente durante a

primeira semana experimental, devido à mudança de ambiente e dieta. A dieta

sem glicerina bruta foi menos consumida em comparação com os tratamentos

com glicerina bruta. O sabor levemente adocicado tornou as rações com 9% e

18% de glicerina bruta mais palatável, fator que pode ter contribuído para o

consumo de alimento, assim como nos estudos de KIJORA et al. (1995), que

observaram aumento no consumo de alimentos devido ao sabor levemente doce

das dietas suplementadas com glicerina bruta.

Não houve diferença entre as dietas testadas sobre os coeficientes de

digestibilidade ileal na matéria seca e da pro. Entretanto, ocorreu aumento nos

coeficientes de digestibilidade no reto, em que o tratamento com 18% de

Page 47: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

29

glicerina bruta melhorou a digestibilidade da MS (P=0,063) e da PB (P=0,004),

em comparação as demais dietas. Além disso, a digestibilidade ileal do glicerol

foi muito alta, com valores entorno de 99% nas dietas com glicerina bruta.

ZIJLSTRA et al. (2009) verificaram que a digestibilidade de energia em

leitões desmamados aumentou com a inclusão de até 8% de glicerol bruto em

substituição ao trigo. Além disso, LAMMERS et al. (2008a) e KERR et al. (2009)

encontraram valores elevados de EB (3.625 e 3.789 kcal/kg) e EM (3.207 e 3.236

kcal/kg, respectivamente). Assim, observou-se que a glicerina bruta pode ser

usada como ingrediente energético em função dos valores energéticos serem

semelhantes aos do milho, da lactose e do soro de leite em pó.

Não houve alterações nas concentrações plasmáticas de glicose, de

frutosamina e de fator de crescimento semelhante à insulina (IGF1) com a inclusão

de glicerina bruta nas dietas dos leitões recém-desmamados (Tabela 3). Embora

sujeitas a alterações de acordo com estado de saúde do animal, condição

alimentar e tipo de dieta, tanto o nível de glicose, como do IGF1 e glicoproteínas

demonstram que os leitões apresentaram estado nutricional normal.

TABELA 3. Valores de glicose, frutosamina e IGF1 no plasma sanguíneo e nível

de glicerol na urina de leitões na fase pré-inicial alimentados com

glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó

Variáveis* 0% 9% 18% EP** P

Glicose, mg/dL 101,017 114,117 110,357 4,52 0,507

Frutosamina, µmol/L 33,733 38,400 25,757 4,49 0,511

IGF1, ng/mL 65,650 113,217 112,900 14,19 0,324

Glicerol urina, g/L 0,0070a 0,0673b 0,1053c 0,008 0,001

*Valores médio de n= 6; **EP: erro padrão da média; a,b,c Médias seguidas de

letras diferentes diferem a (P<0,10)

Segundo NARAYAN & McMULLEN (1979), na metabolização do glicerol

no fígado ocorre efeito estimulador na síntese de ácidos graxos livres,

triglicerídeos, colesterol e das lipoproteínas plasmáticas, além de aumentar os

níveis de colesterol e de triglicerídeos no tecido hepático. A frutosamina é um

indicador das flutuações das concentrações de glicose, dessa forma os

resultados demonstram que a condição energética entre diferentes grupos de

Page 48: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

30

leitões foram semelhantes, explicado em razão das características das rações

que eram isocalóricas, não produzindo alterações em nível plasmático.

A análise de glicerol na urina apresentou diferença à medida que

aumentaram os níveis de glicerina bruta. Segundo LAMMERS et al. (2008a) e

MENDONZA et al. (2010), o glicerol é fonte prontamente disponível, mas que os

excessos são excretados através da urina. De acordo com seus estudos os

animais suplementados com glicerina bruta na dieta apresentaram

concentrações maiores de energia e de glicerol na urina. O aumento observado

nesse estudo pode estar relacionado com a capacidade de metabolização do

glicerol pelos rins, que desempenha papel essencial na reabsorção, evitando

que os excessos de glicerol sejam perdidos via urina (LIN, 1977).

Não houve diferença entre os tratamentos testados para peso da

carcaça eviscerada, pesos relativos do tato digestivo, estômago cheio e vazio,

do fígado e dos rins (Tabela 4). A substituição parcial ou total do soro de leite

em pó por glicerina bruta na alimentação de leitões não afeta o tamanho

desses órgãos. Da mesma forma, não houve diferenças na quantidade do

conteúdo do estômago e do pH ao longo do trato gastrintestinal, em relação

aos tratamentos testados.

Os dados encontrados neste estudo estão de acordo com resultados

das pesquisas realizadas por FRANKLIN et al. (2002), MANZANILLA et al.

(2004) e TAJIMA et al. (2010). Entretanto, é valido lembrar que o consumo de

alimentos e os tipos de ingredientes fornecidos nas dietas de leitões na fase de

pós-desmama, tem por finalidade permitir o desenvolvimento enzimático e

amadurecimento do TGI, podendo minimizar a colonização de agentes

patogênicos oportunistas no intestino.

Portanto, o desenvolvimento do TGI e do pH ideal nos diferentes

segmentos intestinais favorece o desenvolvimento das funções de alimentação,

armazenamento temporário, transporte de nutrientes e a digestão adequada do

alimento, permitindo a absorção de água e de nutrientes. Estas funções estão

relacionadas com a saúde intestinal dos leitões, sendo pré-requisito para a

adaptação dos leitões aos eventos desafiadores que podem ocorrer

especialmente no período pós-desmame (METGES, 2010).

Page 49: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

31

TABELA 4. Peso ca rcaça eviscerada, peso relativo de órgãos e pH de diferentes

segmentos do trato gastrintestinal de leitões na fase pré-inicial

alimentados com glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó*

Variáveis 0% 9% 18% EP2 P

Carcaça eviscerada (g) 7475,2 8159,4 7842,2 271,3 0,630

Trato digestivo (%PV) 13,64 13,46 14,49 <0,001 0,326

Fígado (%PCV) 3,21 3,21 3,32 0,175 0,951

Rins (%PCV) 0,56 0,54 0,56 0,015 0,864

Estômago cheio (%PCV) 3,55 3,69 3,78 0,175 0,874

Estômago vazio (%PCV) 0,92 0,93 1,03 0,029 0,219

Estômago cheio (% TGI) 22,52 23,87 22,26 1,007 0,760

Estômago vazio (%TGI) 5,85 6,03 6,05 0,117 0,771

pH

Estômago 4,37 3,57 3,61 0,226 0,350

Duodeno 5,95 5,86 5,95 0,092 0,898

Jejuno 6,55 6,59 6,44 0,086 0,731

Íleo 7,21 7,26 7,37 0,081 0,720

Ceco 6,00 5,95 6,03 0,035 0,609

Colón 6,74 6,61 6,69 0,087 0,830

*Valores médio de n=6; **EP: erro padrão da média; ***P: valor da análise de variância

Não foram observadas diferenças na concentração de ácidos graxos

cadeia curta (AGCC) na digesta intestinal dos leitões no cólon (Tabela 5). No

entanto, houve aumento do ácido acético (P=0,084) e na relação C2/(C3+C4) na

digesta intestinal no ceco com a inclusão de 18% de glicerina bruta, apresentando

maiores valores.

Esse aumento de ácido acético não pode ser associado à quantidade de

fibra da dieta, uma vez que todas as rações tinham a mesma quantidade de

farinha e de flocos de cevada. Tampouco pode ser relativo à quantidade de

glicerina bruta. Os AGCC são os principais produtos finais do metabolismo

microbiano no intestino grosso de suínos, e sua produção pode variar de acordo

com a quantidade e tipos de substratos presentes no intestino grosso

(BERGMAN, 1990).

Page 50: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

32

TABELA 5. Concentração de ácidos graxos cadeia curta e ácido lático no

conteúdo intestinal de leitões na fase pré-inicial alimentados com

glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó*

Colón 0% 9% 18% EP** P***

Total AGCC, mmol/kg 123,06 137,20 135,12 7,907 0,771

Acético, % molar 61,11 62,38 63,48 0,691 0,411

Propiônico, % molar 22,24 20,76 20,27 0,596 0,437

Butírico, % molar 12,37 13,50 12,74 0,389 0,509

Isobutírico, % molar 1,23 0,88 0,95 0,100 0,392

Valérico, % molar 1,37 1,30 1,35 0,059 0,317

Isovalérico, % molar 1,64 1,15 1,18 0,131 0,895

C2/C3 2,81 3,04 3,16 0,114 0,479

C2/C4 5,01 4,69 5,07 0,193 0,656

C2/(C3+C4) 1,79 1,84 1,94 0,064 0,634

Ceco

Total AGCC, mmol/kg 179,35 169,67 168,83 6,154 0,767

Acético, % molar 56,44a 55,67a 59,39b 0,711 0,084

Propiônico, % molar 28,10 26,79 25,10 0,763 0,289

Butírico, % molar 14,26 15,53 13,80 0,032 0,642

Isobutírico, % molar 0,24 0,15 0,18 0,800 0,549

Valérico, % molar 0,66 0,75 1,34 0,309 0,502

Isovalérico, % molar 0,27 0,09 0,16 0,045 0,323

C2/C3 2,01 2,12 2,39 0,076 0,128

C2/C4 4,04 3,69 4,50 0,205 0,250

C2/(C3+C4) 1,33a 1,33a 1,53b 0,043 0,088

Acido Lático (mmol/kg digesta)

Duodeno 203,4a 184,7ab 169,2b 6,90 0,092

Jejuno 172,8a 93,7b 100,9b 10,80 0,028

Íleo 359,1a 108,2b 37,2b 21,50 0,000

Ceco 41,0 29,2 29,8 5,90 0,711

Colón 23,0 30,1 31,0 3,50 0,655

*Valores médio de n=6; **EP: erro padrão da média; ***P: valor da análise de

variância; a,b,cLetras diferentes na mesma linha diferem entre si (P<0,10)

Page 51: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

33

Os nutrientes não digeridos no intestino delgado serão fermentados por

bactérias do intestino, produzindo alguns ácidos graxos de cadeia curta que são

facilmente absorvidos e que exercem efeitos tróficos na manutenção da mucosa

intestinal (METGES, 2010).

A concentração de ácido lático diferiu de acordo com os tratamentos

testados. Observou-se maior quantidade de ácido lático no intestino dos animais

que receberam dietas com soro de leite em pó (Tabela 5). Assim, o soro doce de

leite em pó, por ser ingrediente rico em lactose, consiste em ótimo substrato para

o crescimento de bactérias láticas produtoras de ácido lático (KIM et al., 1978).

Segundo FRANKLIN et al. (2002), a taxa e a quantidade da produção de ácido

lático dependem do segmento do intestino, da população microbiana padrão e da

densidade desta presente no intestino, além da fonte do substrato e tempo de

passagem intestinal.

A concentração de ácido lático aumentou nos segmentos do duodeno (P

=0,092), jejuno (P=0,028) e no íleo (P<0,001), nas dietas com 20% de soro de

leite em pó. Não foram observadas diferenças na concentração de ácido lático

no ceco e cólon. KIM et al. (1978) observaram maior fermentação microbiana no

ceco e cólon de ratos alimentados com dieta rica em lactose. O ácido lático na

alimentação é substrato energético para leitões na fase de creche, propiciando

alterações benéficas nas características anatômicas do TGI, porque promove a

proliferação de bactérias benéficas, aumentando a área de absorção da mucosa

intestinal e reduzindo o pH (RAO, 2007).

Não houve diferença para as variáveis altura, largura, área de superfície de

contato das vilosidades, profundidade das criptas e relação vilosidade:cripta nos

segmentos de duodeno, jejuno e íleo (Tabela 6). Os valores morfométricos deste

estudo estão em escala comparável com dados de animais saudáveis desmamados

precocemente conforme CERA et al. (1988) e MANZANILLA et al. (2009).

As características de integridade das vilosidades e a profundidade de

criptas são importantes indicadores da saúde do aparelho digestivo dos leitões,

portanto, estão diretamente relacionados com a capacidade de absorção da

membrana da mucosa (BUDDLE & BOLTON, 1992). Do ponto de vista teórico a

relação vilosidade:cripta reflete o equilíbrio entre a atividade mitótica das células

da cripta (CERA et al., 1988).

Page 52: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

34

TABELA 6. Histomorfometria intestinal de leitões na fase pré-inicial alimentados

com glicerina bruta em substituição ao soro de leite em pó*

Duodeno 0% 9% 18% SE** P***

Altura de Vilosidade, µm 341 401 384 14,60 0,298

Base da vilosidade, µm 129 142 136 4,13 0,456

Superfície de contato, µm2 134819 132354 118970 8711 0,699

Profundidade de cripta, µm 225 214 238 7,70 0,377

Vilosidade:cripta 1,56 1,88 1,66 0,07 0,246

Células caliciformes1 0,05 0,10 0,08 0,01 0,247

Linfócitos1 1,21 1,06 1,56 0,13 0,224

Jejuno

Altura de Vilosidade, µm 389 408 383 10,5 0,571

Base da Vilosidade, µm 148 144 149 3,70 0,780

Superfície de contato, µm2 122538 127786 116686 4316 0,515

Profundidade de cripta, µm 203 207 213 4,00 0,616

Vilosidade:cripta 1,94 1,97 1,81 0,06 0,461

Células caliciformes1 0,12 0,15 0,14 0,01 0,782

Linfócitos1 1,23 1,31 1,60 0,07 0,116

Íleo

Altura de Vilosidade, µm 346 340 379 12,0 0,303

Base da Vilosidade, µm 151 139 147 2,50 0,165

Superfície de contato, µm2 103478 106216 118827 4062 0,233

Profundidade de cripta, µm 174 189 196 4,80 0,197

Vilosidade:cripta 2,00 1,82 1,96 0,07 0,629

Células caliciformes1 0,44a 0,17b 0,22b 0,03 0,005

Linfócitos1 1,94 1,74 1,84 0,13 0,854

*Valores médios de n = 6; **EP: erro padrão da média; *** P: valor da análise de

variância; 1Número das células caliciformes e linfócitos/1000 µm2

Este estudo foi realizado na fase de desmama, que é caracterizada por

alterações ambientais e nutricionais. A baixa ingestão das dietas, como foi

observado, é descrito como um dos principais fatores que resultam na estrutura

danificada do intestino, com encurtamento das vilosidades, aprofundamento da

cripta e menor área disponível para a absorção de nutrientes. Porém, no presente

Page 53: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

35

ensaio, a substituição total ou parcial do soro doce de leite em pó por glicerina

bruta não afetou as medidas morfométricas avaliadas. Não foram observadas

diferenças significativas nas células caliciformes e linfócitos quando foram

avaliados os segmentos de duodeno e de jejuno. No entanto, no segmento de

íleo, o tratamento controle apresentou o nível mais elevado de células

caliciformes.

As células caliciformes são responsáveis pela produção de muco protetor

que recobre a superfície do epitélio intestinal. Consequentemente, a diminuição

das células caliciformes e as mudanças na composição da camada de muco

podem comprometer a sua espessura e permitir a translocação bacteriana na

lâmina própria e subsequente recrutamento de células inflamatórias (GASKINS,

2001), o que pode diminuir a função de absorção dos nutrientes na dieta. Deste

modo, existe uma relação direta entre a integridade da mucosa do TGI e a taxa de

crescimento de leitões (LI et al., 1991).

4. CONCLUSÃO

A glicerina bruta pode ser utilizada como fonte alternativa ao soro de leite

em pó nas dietas dos leitões em até 18%, sem alterar o desempenho, resultando

em melhor digestibilidade no íleo e coeficiente de digestibilidade da MS e da PB

no reto, sem alterar o peso relativo dos órgãos e parâmetros sanguíneos.

5. REFERÊNCIAS

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Page 58: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

40

CAPÍTULO 3. GLICERINA BRUTA NAS RAÇÕES PARA LEITÕES NAS FASES

PRÉ-INICIAL E INICIAL

RESUMO

Objetivou-se avaliar a substituição da lactose por glicerina bruta em

dietas de leitões na fase pré-inicial e inclusão de glicerina bruta para leitões na

fase inicial. No ensaio de digestibilidade da glicerina bruta foram utilizados 12

leitões machos castrados, com peso inicial de 22,2 ± 2,6 kg, distribuídos em

blocos ao acaso. Os tratamentos consistiam de ração referência com 0% de

glicerina bruta e ração teste com 12% de glicerina bruta. Para avaliar o

desempenho foram usados 80 animais machos, castrados, com peso inicial de

6,64 ± 0,8 kg. Os tratamentos consistiram em 0%; 2%; 4% e 6% de glicerina

bruta. O valor de EB da glicerina bruta proveniente do biodiesel de soja foi de

6.251 kcal/kg, o que evidencia o alto potencial energético desse ingrediente. No

ensaio de desempenho observou-se efeito quadrático no peso final e ganho de

peso na fase inicial. O nível de 3,51% de glicerina bruta propiciou melhor peso

final. O melhor ganho de peso diário foi referente ao nível de glicerina bruta de

2,97%. Na fase de creche houve diferença para peso final, ganho médio diário e

consumo de ração. O ponto de máxima inclusão de glicerina bruta foi de 2,77%.

Para o GMD o nível de 2,76% de glicerina bruta possibilitou o melhor ganho.

Não se observou efeito na conversão alimentar. Houve efeito significativo sobre

a incidência de diarréia na fase pré-inicial (p=0,001) e fase de creche (p=0,02).

Houve diferença na porcentagem de TGI, intestino delgado e fígado dos leitões

que não receberam glicerina na ração. Os triglicerídeos no plasma sanguíneo

dos leitões aumentaram, à medida que aumentou o nível de glicerina na dieta. A

melhor eficiência econômica da glicerina na ração foi de 6% na fase pré-inicial e

2% na fase inicial. Assim, a glicerina pode substituir a lactose na fase pré-

inicial, sem afetar o desempenho de leitões, e pode ser usada em até 2,97%,

promovendo o maior ganho médio diário para a fase inicial.

Palavras chave: desempenho, digestibilidade, glicerol, perfil sanguíneo, suíno.

Page 59: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

41

CHAPTER 3. CRUDE GLYCERIN IN DIETS FOR PIGLETS IN PRE-STARTER

AND STARTER PHASE

ABSTRACT

This study evaluated the substitution of lactose by crude glycerin in diets

for piglets in the pre-starter phase and inclusion of crude glycerin for piglets in

the starter phase. In the crude glycerin digestibility assay were used 12 barrows

with an initial weight of 22.2 ± 2.6 kg, in randomly distributed blocks. The

treatments consisted of reference feed with 0% of crude glycerin and feed test

with 12% of crude glycerin. In performance were used 80 barrows, with an initial

weight of 6.64 ± 0.8 kg. The treatments consisted in 0%, 2%, 4% and 6% of

crude glycerin. The value of GE crude glycerin produced from the soy biodiesel

was of 6.251 Kcal/Kg, what evidences the high energy potential of this

ingredient. In performance test the quadratic effect was observed for FW and

DWG. The level of 3.51% of crude glycerin provided an increased final weight.

The best daily weight gain referent to the crude glycerin level of 2.97%. In the

nursery phase there was difference for FW, DWG and FI. The point of maximum

inclusion of crude glycerin was of 2.77%, obtaining average daily intake. For the

ADG, the level of 2.76% of crude glycerin allowed the best gain. No effect was

observed in food conversion. There was significative effect on the incidence of

diarrhea in the pre-starter phase (p=0.001) and nursery phase (p=0.02). There

was difference in the percentage of GIT, small intestine and liver of piglets that

did not have glycerin in the diet. The triglyceride blood levels of piglets

increased, as long as the glycerin level in diet was higher. The best glycerin

economic efficiency in diet was of 6% in the pre-starter phase and of 2% in the

starter phase. Thus, the glycerin can replace lactose in the pre-starter phase,

without affecting the performance of piglets, and can be used by up to 2.97%,

promoting increased average daily gain for the starter phase.

Keywords: blood profile, glycerol, digestibility, pig, performance.

Page 60: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

42

1. INTRODUÇÃO

Diante da necessidade de se contornar a problemática de alto preço dos

insumos e consequentemente das dietas e, devido ao papel fundamental da

nutrição animal, foram impulsionados os estudos acerca do uso de glicerina bruta

na alimentação animal, não sendo diferente em suínos, por ser fonte alternativa

às fontes energéticas, de boa disponibilidade, alta digestibilidade e baixo custo

(LAMMERS et al., 2008a,b; KERR et al., 2009).

A glicerina pode ser muito útil na alimentação de leitões recém-nascidos e

desmamados precocemente, por ser fonte de energia prontamente disponível que

poderá melhorar o déficit de energia, que geralmente ocorre nesses animais, face

a redução do consumo da ração, devido à mudança da dieta, do ambiente e nova

organização social (MOUROT et al., 1994; ZIJLSTRA et al., 2009). O sabor

adocicado também poderá aumentar a ingestão de alimentos pela melhoria da

palatabilidade, resultando em aumento o consumo, por tornar a ração mais

atrativa, atuando de maneira positiva no desempenho dos leitões (GROESBECK

et al., 2008).

A glicerina bruta é recomendada na alimentação de leitões desmamados

precocemente. Por se tratar de um composto facilmente absorvido no intestino

delgado dos leitões, sendo metabolizado no fígado e direcionado para a

gliconeogênese, sendo fonte de energia prontamente disponível. Segundo VAN

HEUGTEN et al. (2008), leitões que receberam as dietas suplementadas com

glicerina e lactose, ambos a 10%, apresentaram aumento do peso corporal e

melhoria da eficiência alimentar durante o pós-desmame.

GROESBECK et al. (2008), avaliando os efeitos da inclusão de 3% e 6%

de glicerina bruta (90,7% de glicerol e 136 ppm de metanol) e 6% e 12% de

glicerina bruta associada com óleo de soja sobre o desempenho de leitões na

fase de creche, observaram efeito linear positivo no ganho diário de peso dos

leitões que receberam glicerina bruta na dieta.

A lactose é o principal ingrediente usado nas dietas de leitões, usado na

fase de transição da maternidade para creche, com a finalidade de estimular o

consumo, propiciar amadurecimento intestinal. Trata-se também de ingrediente

rico em energia e de alta digestibilidade. Porém, por ser ingrediente importado e

Page 61: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

43

de elevado custo, busca-se sua substituição pela suplementação exógena de

glicerina bruta nas dietas de leitões, levando em consideração as possíveis

melhorias sobre as características de desempenho, e redução dos custos das

dietas. Mais também, busca-se avaliar as implicações metabólicas a nível

intestinal e sanguíneo em leitões na fase de creche. Portanto, objetivou-se avaliar

a digestibilidade da glicerina bruta na ração de suínos de 15 a 30 kg de peso e o

desempenho de leitões alimentados com rações contendo glicerina bruta em

substituição à lactose na fase pré-inicial e inclusão de glicerina bruta nas rações

para a fase inicial.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O projeto experimental foi submetido à Comissão de ética no uso de

animais (CEUA), da Universidade Federal de Goiás, sendo protocolado sob o

número 073/2012.

2.1. Experimento de digestibilidade

O ensaio de digestibilidade foi desenvolvido no Setor de Suinocultura

do da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás.

Foram utilizados 12 leitões machos castrados, com 22,2 ± 2,6 kg de peso vivo

para determinação da digestibilidade da glicerina bruta.

Os animais foram alojados em gaiolas metabólicas como descritas por

PEKAS (1968), o delineamento experimental foi de blocos ao acaso, sendo

dois tratamentos e seis repetições. O arraçoamento foi realizado duas vezes

ao dia, às sete e dezesseis horas. Os tratamentos foram: ração referência

farelada à base de milho e farelo de soja, com 0% de glicerina bruta, formulada

para atender às exigências nutricionais de suínos na fase inicial, animais com

faixa de peso de 15 a 30 kg, conforme ROSTAGNO et al. (2011) e a inclusão

de 12% de glicerina bruta à ração referência (Tabela 1). A glicerina bruta foi

obtida da extração de biodiesel da soja, e continha 87% glicerol.

Page 62: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

44

TABELA 1. Composição centesimal e nutricional da ração referência

INGREDIENTES %

Milho grão 69,69

Farelo de soja 45% 25,79

Óleo de Soja 1,01

Fosfato bicálcico 1,40

Calcário 0,74

Sal comum 0,41

Suplemento mineral* 0,25

Suplemento vitamínico** 0,25

L-Lisina HCL 0,34

L-Treonina 0,09

DL-Metionina 0,03

L-Triptofano 0,004

TOTAL 100,00

Variáveis Composição nutricional

Energia metabolizável Mcal/kg 3.230

Proteína Bruta (%) 18,13

Lisina Digestível (%) 1,04

Metionina Digestível (%) 0,29

Treonina Digestível (%) 0,65

Triptofano Digestível (%) 0,19

Cálcio (%) 0,73

Sódio(%) 0,20

Fósforo Disponível(%) 0,36

*Suplemento mineral: 5mg de cobre; 80 mg de zinco; 80 mg de ferro; 20 mg de manganês; 0,25 mg de selênio e 0,14 mg de I; **Suplemento vitamínico: 6.000 UI vit. A; 1.320UI vit D3; 12mg vit. E; 1,47 mg vit. K3; 0,9 mg vit. B1; 3 mg vit. B2; 1,8mg vit. B6; 12 mcg vit. B12; 0,3 mg ác. fólico; 9,3 mg ác. pantotênico; 18 mg niacina; 0,09 mg biotina; 240 mg de colina.

O período experimental foi de 15 dias. Durante a fase de adaptação, foi

quantificado diariamente o consumo voluntário da cada animal. Foram

adicionados 2% de Fe2O3 nas rações para determinar o início e o final do

período de coleta fezes (SAKOMURA & ROSTAGNO, 2007). As fezes coletadas

diariamente foram pesadas e homogeneizadas, foi retirada a alíquota de 20% do

conteúdo total e acondicionada em saco plástico e armazenada sob refrigeração

para congelamento.

Após o término do período de coleta, as fezes foram descongeladas à

temperatura ambiente e homogeneizadas, depois foram secas em estufa de

Page 63: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

45

ventilação forçada a 55ºC por 72 horas. Após esse processo, as amostras foram

moídas em moinho de martelo e, em seguida, acondicionas em embalagens

plásticas para determinar a matéria seca, a energia bruta e as cinzas.

A urina excretada foi colhida uma vez por dia em recipientes contendo 20

mL de HCl (1:1), com a finalidade de evitar perda de nitrogênio e proliferação

bacteriana. Para reter as impurezas principalmente de pêlos e fezes, foi colocado

filtro no funil coletor. Após a pesagem a urina foi homogeneizada e colhida à

alíquota de 20% ou 150 mL do conteúdo total diário, que foi armazenada em

embalagens plásticas e guardadas para o congelamento. Ao final do período de

coleta, as amostras foram homogeneizadas e retirada uma nova amostra para

secagem a 55ºC por 72 horas em estufa de ventilação forçada para a determinação

de matéria seca, energia bruta e cinzas.

As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Nutrição

Animal no Departamento de Produção Animal, de acordo com a metodologia

descrita por SILVA & QUEIROZ (2002). A energia bruta da ração, fezes e urina foi

determinada por bomba calorimétrica adiabática Modelo PARR. Os coeficientes de

digestibilidade da energia bruta, da matéria seca, das cinzas, e o coeficiente de

metabolização foram calculados conforme (SAKOMURA & ROSTAGNO, 2007).

2.2. Experimento de desempenho

O experimento consistiu na avaliação do desempenho dos animais

machos castrados, híbridos comerciais, de 23 a 46 dias (fase pré-inicial) e de 47

a 70 (fase inicial), cujas variáveis estudadas foram o ganho de peso, o consumo

de ração e a conversão alimentar.

Os tratamentos testados foram de rações fareladas à base de milho e

farelo de soja contendo quatro níveis de glicerina bruta (0%, 2%, 4% e 6%). Na

fase pré-inicial (23 a 46 dias de idade) a glicerina bruta foi utilizada em

substituição à lactose (Tabela 2). Na fase inicial (47 a 70) a glicerina bruta incluída

na ração. Em ambas as fases as rações eram isonutritivas, formuladas para

atender às exigências nutricionais dos animais segundo recomendado por

ROSTAGNO et al. (2011).

Page 64: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

46

TABELA 2. Composição centesimal e nutricional das dietas experimentais de leitões nas fases pré-inicial e inicial

Ingredientes

Fase pré-inicial Fase inicial

T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4

Milho grão 55,95 55,95 55,95 55,95 69,69 67,30 64,94 62,56

Farelo de soja 45% 15,06 15,06 15,06 15,06 25,79 26,26 26,73 27,20

Leite desnatado em pó 10,00 10,00 10,00 10,00 - - - -

Lactose 6,00 4,00 2,00 0,00 - - - -

Glicerina bruta 0,00 2,00 4,00 6,00 0,00 2,00 4,00 6,00 Plasma sanguíneo 5,00 5,00 5,00 5,00 - - - -

Óleo de Soja 3,29 3,29 3,29 3,29 1,01 0,93 0,85 0,77

Fosfato bicálcico 1,78 1,78 1,78 1,78 1,40 1,40 1,41 1,41

Calcário 0,55 0,55 0,55 0,55 0,74 0,73 0,73 0,72

Sal comum 0,24 0,24 0,24 0,24 0,41 0,41 0,41 0,41 Suplemento mineral e vitamínico* 0,5 0,5 0,5 0,5 0,50 0,50 0,50 0,50

L- Lisina HCL 0,93 0,93 0,93 0,93 0,34 0,33 0,32 0,32

L- Treonina 0,44 0,44 0,44 0,44 0,09 0,09 0,09 0,09

DL- Metionina 0,15 0,15 0,15 0,15 0,03 0,03 0,03 0,03

L- Triptofano 0,11 0,11 0,11 0,11 0,01 0,03 0,00 0,00

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Variáveis Composição nutricional

Energia metabolizável (kcal/kg) 3.400 3.230

Proteína Bruta (%) 20,00 18,13

Lisina Digestível (%) 1,45 1,04

Metionina Digestível (%) 0,41 0,29

Treonina Digestível (%) 0,91 0,65

Triptofano Digestível (%) 0,26 0,19

Cálcio (%) 0,85 0,73

Sódio (%) 0,28 0,20

Fósforo Disponível (%) 0,50 0,36 *Suplemento mineral e vitamínico: 5 mg de cobre; 80 mg de zinco; 80 mg de ferro; 20 mg de manganês; 0,25 mg de selênio e 0,14 mg de I; 6.000UI vit. A; 1.320UI vit D3; 12 mg vit. E; 1,47 mg vit. K3; 0,9 mg vit. B1; 3 mg vit. B2; 1,8 mg vit. B6; 12 mcg vit. B12; 0,3 mg ác. fólico; 9,3 mg ác. pantotênico; 18 mg niacina; 0,09 mg biotina; 240 mg de colina.

46

Page 65: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

47

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro

tratamentos e cinco repetições, perfazendo o total de 20 unidades

experimentais. Para o desempenho da fase pré-inicial e inicial, foram utilizados

80 animais híbridos comerciais (Agroceres vs Danbred), com pesos de

desmama de 6,64 ± 0,8 kg, e com média de 23 dias de vida. Cada unidade

experimental foi composta por quatro animais, alojados em gaiolas suspensas

com 2 m2, um comedouro de PVC com duas bocas e um bebedouro automático,

tipo chupeta. O consumo de ração e água foi à vontade. A duração do período

experimental foi até os animais atingirem média de 15,59 ± 0,19 kg para fase

pré-inicial e 30,79 ± 0,84 kg para fase inicial.

Para avaliação financeira das dietas com glicerina bruta, foram

estabelecidos os preços das matérias-primas no mercado e calculado o custo da

ração por quilograma de peso vivo ganho, conforme equação:

Yi (R$/kg) = Qi x Pi/ Gi;

Em que:

Yi = custo da ração por kg de PV ganho no i-enésimo tratamento;

Qi = quantidade de ração consumida no i-enésimo tratamento;

Pi = preço por kg da ração utilizada no i-enésimo tratamento;

Gi = ganho de peso do i-enésimo tratamento;

Foi calculado também o Índice de Eficiência Econômica (IEE) e o Índice de

Custo (IC), segundo metodologia proposta por GOMES et al. (1991).

IEE (%) = MCe/CTei X 100 e IC (%) = CTei/MCe X 100;

Em que:

MCe = menor custo da ração/kg ganho observado entre os tratamentos;

Ctei = custo do tratamento i considerado.

Foram utilizados os preços dos insumos da região de Goiânia-GO para

calcular os custos das rações experimentais: milho grão R$ 0,58/kg, farelo de soja

Page 66: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

48

R$ 1,44/kg, óleo de soja R$ 1,98/kg, lactose R$ 12,5/kg e glicerina bruta R$

0,44/kg. Preços referentes ao dia 06 de novembro de 2012.

Foi mensurado o escore fecal dos animais, com a verificação foi diária e

sempre às 17h. A consistência das fezes foi classificada com 0 – fezes com

consistência normal; 1 – fezes moles; 2 - fezes pastosas; 3 – fezes líquidas ou

aquosas. O escore de fezes de 0 e 1 foram considerados não diarréicos e 2 e 3

com diarréia (VASSALO et al., 1997).

A temperatura e a umidade máxima e mínima do galpão experimental

foram monitoradas com hidrotermômetro digital. A média de temperatura foi de

29,2ºC (máx.); 20,2ºC (mín.) e média de umidade de 77,4% (máxima) e 55,2%

(mínima).

2.2.1 Colheita de amostras e análises

Antes do abate foi colhida amostra de sangue por venopunção jugular em

tubos de vácuo com heparina, EDTA (ácido etilediaminotetracético e sal

dissódico) a 10% e sem anticoagulantes (tubos vacutainer®). O sangue foi

processado no mesmo dia, no Laboratório Multiusuário da pós-graduação em

Ciência Animal, para análise do perfil hematológico e bioquímico. Foram usados

reagentes comerciais (LABTEST®). A realização das análises sanguíneas foi

segundo o procedimento determinado pelo fabricante para cada kit de reagente.

A análise do perfil hematólogico foi realizada com o suporte tecnológico

do BC-2800 vet, analisador de hematologia compacto, automático. A partir das

amostras coletadas foram confeccionadas lâminas para a avaliação morfológica

das plaquetas e leucócitos. Os esfregaços foram secos ao ar e corados pela

técnica de Leishman. Para a determinação do fibrinogênio plasmático foi utilizada

a técnica do microhematócrito.

Para a realização das provas de função hepática e proteinograma e

lipidograma sérico. As amostras foram centrifugadas depois da retração do

coágulo. O soro foi separado em alíquotas e congelado à –20°C até o momento

da realização dos exames de glicose, proteína sérica, albumina, globulina e

colesterol. As proteínas séricas foram determinadas pelo método colorimétrico,

Page 67: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

49

por reação com o biureto. A leitura foi feita em espectrofotômetro com

comprimento de onda de 545 nm. A concentração sérica de colesterol foi

determinada pelo método enzimático colorimétrico, por reação catalisada pela

enzima colesterol oxidase e a dos triglicerídeos pelo método enzimático

colorimétrico, mediante a reação catalisada pela lipoproteína lípase, ambos com

leitura em analisador automático de química clínica.

Foi abatido um animal por tratamento e por repetição, totalizando 20

animais, os quais antes de serem abatidos tiveram acesso às rações experimentais

para que houvesse conteúdo intestinal nos segmentos do TGI. Os animais foram

insensibilizados, por meio de choque elétrico de alta voltagem e baixa amperagem

nas fossas temporais. Em seguida, foram desangrados e imediatamente feita à

abertura abdominal desde o esterno até o púbis e efetuada a ligadura da porção

cranial do esôfago e da porção caudal do reto.

Todo o trato gastrointestinal foi retirado e pesado (estômago cheio e

vazio, intestino delgado e intestino grosso), também foram pesados o fígado, os

rins, o pâncreas e o baço. As pesagens foram usadas para mensurar o peso

absoluto e relação órgão/corpo. No conteúdo do jejuno, duodeno, íleo, ceco,

cólon e reto foi efetuada a leitura do pH por meio da inserção de eletrodo

unipolar (pH100/pHTek®) (CANIBE et al., 2007).

Foram colhidas duas amostras de aproximadamente 1,0 cm de

comprimento por segmento intestinal (duodeno, jejuno e íleo) de cada animal.

As amostras foram lavadas em solução de formaldeído e fixadas por imersão em

formol tamponado (10%). Após 24 horas na solução de fixação, as amostras

foram lavadas em álcool 70% e posteriormente foram desidratadas conforme

(LUNA, 1968). Após a desidratação se procedeu o recorte e imersão das

amostras em parafina para obtenção dos cortes longitudinais, para confecção

das lâminas histológicas.

As lâminas continham duas seções cortadas a 4 μm. As lâminas foram

coradas com hematoxilina e eosina. As medições foram feitas mediante sistema

de análise de imagem com ampliação de 10x (Microscópio Leica, Câmera Leica

e software ImageJ). Foram medidas em cada seção de cada lâmina dez alturas

das vilosidades (VH), dez larguras das vilosidades (VW) e dez profundidades

Page 68: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

50

das criptas (CD). A média das medidas VH, VW e CD foram tratadas como a

unidade experimental (NOFRARÍAS et al., 2006; CANIBE et al., 2007).

A relação vilosidade/cripta foi calculada dividindo a altura das vilosidades

pela profundidade das criptas. A área de superfície de absorção foi determinada

mediante a fórmula S(1)+(2) = π (r2/R) + π (R+r) x √ h2+(R-r)2 , em que: R: medida

da base/2; r: medida do ápice/2; h: altura da vilosidade (NOFRARÍAS et al., 2006).

A análise histomorfométrica foi realizada pela mesma pessoa.

2.3 Análise estatística

Os dados de consumo de ração total (CRT) e diário (CRD), ganho médio

total (GMT) e ganho médio diário (GMD), conversão alimentar (CA), peso das

vísceras, pH intestinal, perfil bioquímico e hematológico, e medidas

histomorfométricas foram submetidas a análise de variância e análise de

regressão, adotado α=0,10. Foi usado o programa computacional SAS (2000). A

ocorrência de diarréia foi submetida à análise de Qui-quadrado, e adotado α=0,10.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O valor de energia bruta determinado na glicerina (87% de glicerol) foi de

6.251 kcal/kg. Os valores de energia digestível e metabolizável demonstram que

esse ingrediente é excelente fonte energética para alimentação de leitões na fase

de creche (Tabela 3). O nível energético encontrado foi elevado em relação aos

valores descrito por LAMMERS et al. (2008b) e ROSTAGNO et al. (2011), está

ocorrência pode está associado a presença de altos teores de ácidos graxos

totais, conforme observado por KERR et al. (2009) e CARVALHO et al. (2012).

Em análise de glicerinas brutas provenientes de gordura animal, KERR et

al. (2009) encontraram resultados de energia bruta variando de 5.581 à 6.021

kcal/kg, energia digestível entre 4.336 e 5.228 kcal/kg, e energia metabolizável de

4.446 á 5.206 kcal/kg. Pesquisas mais recente, analisando fontes de glicerina

bruta vegetal e glicerina bruta mista, foram encontrados valores de energia

Page 69: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

51

digestível de 5.070 e 5.143 kcal/kg e energia metabolizável de 4.556 e 4.488

kcal/kg, respectivamente (CARVALHO et al., 2012).

TABELA 3. Coeficiente de digestibilidade aparente da energia bruta, da matéria

seca, da matéria mineral, e coeficiente de metabozabilidade da

energia bruta e matéria seca da glicerina bruta

Coeficiente de Digestibilidade (CD),%* Glicerina Bruta (87% glicerol)

CD Energia bruta 81,37

CD Matéria seca 94,16

CD Matéria mineral 86,74

CM Energia bruta 63,55

CM Matéria seca 74,70

Energia bruta 6.251

*Dados na matéria seca

Nesse contexto, ZIJLSTRA et al. (2009) verificaram aumento na

digestibilidade de energia em dietas com 8% de glicerina bruta, em relação a dieta

sem glicerina. Enquanto, CARVALHO et al. (2012) encontraram coeficiente de

digestibilidade da EB, MS e MM de 96,6%; 93,1% e 91,8% para suínos na fase

inicial. Esses valores de energia variam de acordo com o tipo de glicerina

utilizada, que por sua vez varia de acordo com a fonte de biodiesel da qual é

originada e dos processos empregados na produção (THOMPSON & HE, 2006).

A diferença na composição química da glicerina bruta pode afetar seu valor

energético metabolizável. Embora a glicerina possua alto valor energético e de

digestibilidade, existe limitação do seu aproveitamento, tendo como consequência

o aumento da excreção da energia na urina e perdas na metabolização

(MENDOZA et al., 2010).

O desempenho dos leitões na fase pré-inicial alimentados com rações

com e sem glicerina bruta não foi influenciado pelos níveis de glicerina nas dietas

(Tabela 4). Segundo ZIJLSTRA et al. (2009), a inclusão de glicerina bruta

contribuiu para diminuir o déficit de energia dos leitões, em decorrência da

redução do consumo de ração, que normalmente , ocorre após a desmama. Os

autores observaram que dietas com 0%, 4% e 8% de glicerina bruta para leitões

Page 70: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

52

no pós-desmame não afetaram a eficiência alimentar e houve aumento quadrático

do GMD dos animais com a inclusão de glicerina bruta.

TABELA 4. Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo diário de

ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões alimentados com

dietas com níveis de glicerina bruta na fase pré-inicial (23 a 46 dias)

Variáveis* 0% 2% 4% 6% CV** P***

Peso Inicial (kg) 6,64 6,64 6,65 6,65 0,3 <0,0001

Peso final (kg) 15,42 16,51 15,33 15,11 7,6 0,613

GMD (kg/d) 0,36 0,41 0,36 0,35 21,3 0,137

CDR (kg/d) 0,472 0,543 0,463 0,469 11,2 0,316

CA 1,31 1,34 1,30 1,35 8,9 0,610

*Valores médios de n=20; **CV: coeficiente de variação; ***P: valor da análise de variância

McKINNEY (2009) ao substituir a lactose por glicerina bruta em dietas

peletizadas à base de milho e farelo de soja para leitões desmamados aos 6,3 kg,

não observou diferenças no desempenho dos suínos tratados com dietas

contendo diferentes níveis de lactose e glicerina bruta.

KERR et al. (2009) relataram que leitões ao receberem dieta controle sem

glicerina apresentaram melhor eficiência alimentar e ganho de peso do que os

leitões alimentados com glicerina bruta, advinda de diferentes fontes de biodiesel.

Entretanto, a inclusão de até 6% de glicerina bruta em dietas para leitões recém-

desmamados (6,5 a 15 kg) não afetou o consumo de alimento, o ganho de peso e

a conversão alimentar.

Vale salientar que a glicerina bruta consiste em ótima fonte energética,

sendo aspecto importante na alimentação de leitões desmamados precocemente.

Portanto, é fonte energética capaz de substituir cereais como milho e trigo

(LAMMERS et al., 2008b; ZIJLSTRA et al., 2009), bem como a lactose ou soro de

leite em pó (VAN HEUGTEN et al., 2008; SHIELDS et al., 2011), em função dos

níveis de ED e EM serem semelhantes a estes ingredientes e por apresentar

custo mais barato, podendo contribuir com a queda no preço da ração pré-inicial.

Embora, os resultados das pesquisas sejam controversos, a glicerina bruta

apresenta sabor adocicado, fator que pode ser positivo para estimular o consumo da

Page 71: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

53

ração. Essa capacidade edulcorante permite diminuir a adição de aditivos

edulcorantes nas dietas pré-iniciais de leitões (SHIELDS et al., 2011). Neste ensaio,

os animais não deixaram de ingerir as dietas fornecidas. O menor ou maior

consumo de rações, que costuma ocorrer em razão dos desafios físicos, fisiológicos

e comportamentais, durante a fase de transição, não foram observados na fase pré-

inicial, tampouco houve queda na taxa de crescimento após o desmame.

As variáveis, peso final e ganho médio diário na fase inicial (15 a 30 kg)

apresentaram efeito quadrático (Tabela 5). O ponto de máximo nível de glicerina

bruta de 3,51%, que resulta no melhor peso final. Enquanto para o melhor ganho

diário será quando o nível de glicerina bruta na dieta inicial foi 2,97%. Nessa fase

as variáveis, consumo de ração e conversão alimentar não foram influenciadas

pelos níveis de glicerina na dieta. LAMMERS et al. (2008b) em pesquisa usando

5% e 10% de glicerina bruta com pureza de 86% de glicerol, originária do

biodiesel de óleo de soja, para suínos na faixa de 12 a 23 kg de peso (fase

inicial), não verificaram diferenças significativas no consumo médio diário, no

ganho de peso e na conversão alimentar.

TABELA 5. Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo diário de

ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões alimentados com

dietas com níveis de glicerina bruta na fase inicial (47 a 70 dias)

Variáveis* 0% 2% 4% 6% CV** P***

Peso Inicial (kg) 15,42 16,65 15,33 15,11 7,6 0,613

Peso final (kg)1 29,75 33,11 30,67 29,70 5,7 0,085

GMD (kg/d)2 0,602 0,696 0,650 0,614 7,9 0,075

CDR (kg/d) 1,18 1,25 1,27 1,17 9,2 0,645

CA 1,96 1,80 1,97 1,91 7,8 0,485

*Valores médios de n=20; **CV: coeficiente de variação; ***P: valor da análise de variância; 1;2Efeito quadrático; 1Peso final= - 0,2706 GLICERINA2 + 1,492 GLICERINA + 30,113; R2=0,655; 2Ganho peso = - 0,0079 GLICERINA2 + 0,047 GLICERINA + 0,6089; R2=0,8066.

Entretanto, PAPADOMICHELAKIS et al. (2010) observaram melhoria no

ganho de peso em 10% e 4% a mais nos grupos de leitões que receberam 7,5% e

15% de glicerina bruta na dieta, respectivamente. Também, houve aumento de

Page 72: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

54

5,5% do consumo de ração dos leitões que recebiam 7,5% de glicerina na dieta.

Nesse estudo os autores observaram melhoria na conversão alimentar dos leitões

1,64% (7,5% de glicerina bruta) e 1,63% (15% de glicerina bruta) em relação aos

animais que receberam dietas com 0% de glicerina (1,77%).

Em estudos realizados por GROESBECK et al. (2008) , foram observados

melhores taxas de crescimento dos leitões alimentados com dietas contendo

glicerina bruta (3%, 6%, 9%, 12% ou 15%) em relação aos animais alimentados

com dieta controle sem glicerina. Também foi encontrado aumento linear do

GMD, sem diferenças na conversão alimentar dos leitões. Não observaram

diferenças na taxa de conversão alimentar na fase inicial, estando em

consonância com os obtidos por GROESBECK et al. (2008). A inclusão de até 6%

de glicerina bruta nas dietas de leitões de 15 a 30 kg de peso, não piora o

desempenho animal.

Na fase de creche, não houve diferença na CA dos leitões (6,5 a 30 kg),

alimentados com diferentes níveis de glicerina bruta (TABELA 6). Contudo,

observou-se efeito quadrático para peso final, ganho médio diário e consumo diário

de ração. O nível máximo de inclusão de 2,76% de glicerina bruta resultou no maior

peso final e melhor ganho médio diário. Para o maior consumo médio, o valor de

inclusão de glicerina foi de 2,77%.

TABELA 6. Peso Inicial, peso final, ganho médio diário (GMD); consumo diário de

ração (CDR) e conversão alimentar (CA) de leitões alimentados com

dietas com níveis de glicerina bruta na fase creche (23 a 70 dias)

Variáveis* 0% 2% 4% 6% CV** P***

Peso Inicial (kg) 6,64 6,64 6,65 6,65 0,3 <0,0001

Peso final (kg)1 29,75 33,15 30,67 29,70 5,7 0,085

GMD (kg/d)2 0,481 0,551 0,501 0,478 7,3 0,055

CDR (kg/d)3 0,821 0,925 0,862 0,816 5,3 0,003

CA 1,71 1,68 1,73 1,71 5,0 0,914

*Valores médios de n=20; **CV: coeficiente de variação; *** P: valor da análise de variância; 1,2,3Efeito quadrático: 1PF= - 0,2706 GLICERINA2 + 1,492 GLICERINA + 30,113; (R2=0,655); 2GMD= - 0,0062 GLICERINA2 + 0,0342 GLICERINA + 0,5333; (R2=0,653); 3CRD= - 0,0104 GLICERINA2 + 0,0576 GLICERINA + 0,8326; (R2=0,7315).

Page 73: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

55

Esses resultados se assemelham com os obtidos por KIJORA & KUPSCH

(1996), que também observaram aumento no GMD de leitões ao receberem

dietas suplementadas com glicerina. Em outro estudo, KIJORA et al. (1997)

testaram o uso de glicerina bruta para leitões de 27 kg e descreveram que a

adição de 10% de glicerina bruta contribuiu para o maior consumo de ração e

ganho de peso diário.

O estímulo do consumo de rações na fase de creche e melhoria na

eficiência da alimentação tem sido associado ao sabor adocicado das dietas

suplementadas com glicerina bruta (KIJORA et al., 1995). A melhoria do CRD pode

esta associado a palatabilidade das rações, uma vez que ingredientes com

melhores propriedades organolépticas têm sido apontados como estimuladores de

consumo. Dietas mais atrativas, ingredientes palatáveis e com alta digestibilidade

tem propiciado aumento de ingestão de leitões, sobretudo no pós desmame.

As pesquisas divergem quanto aos níveis de inclusão de glicerina de acordo

com o tipo (bruta, semipurificada e/ou neutralizada). São estabelecidos níveis de até

10% para glicerina bruta (LAMMERS et al., 2008b), 12% de glicerina semipurificada

(CARVALHO et al., 2012) e 14% de glicerina semipurificada neutralizada

(GALLEGO et al., 2012), sem prejuízo nodesempenho dos leitões de 15 a 30 kg.

Portanto, o processo de separação do biodiesel, a purificação da glicerina bruta,

bem como o tipo de ração (granulada ou peletizada) será determinante para

estabelecer os níveis de inclusão. Nesse estudo não se observou efeito negativo

quando se incluiu níveis de até 6% de glicerina bruta nas dietas de leitões de 6,5 a

30 kg. No entanto, torna-se importante observar o custo de inclusão da glicerina

bruta nas dietas de leitões e se contribui para minimizar o custo da dieta.

A inclusão de até 6% de glicerina bruta torna-se viável economicamente

em rações para leitões na fase pré-inicial. O nível de 6% de glicerina bruta

contribuiu com o menor índice de custo e a melhor eficiência alimentar (Tabela 7).

A inclusão de 6% de glicerina bruta na ração pré-inicial apresentou melhor

eficiência econômica (IEE) de 20,8%; 14% e 2,09% a menos em relação aos

tratamentos com 0%; 2% e 4%, respectivamente. O menor índice de custo

quando o nível de glicerina era de 6% poderá ser explicado devido ao preço do

quilograma da lactose, que é mais caro que o da glicerina bruta.

Page 74: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

56

TABELA 7. Avaliação econômica das dietas experimentais

Ração pré-inicial 0% 2% 4% 6%

CR/R$/kg PV* 0,867 0,819 0,733 0,718

Índice de Eficiência Econômica 120,8 114,07 102,09 100

Índice de Custo 82,81 87,67 97,95 100

Ração inicial 0% 2% 4% 6%

CR, R$/kg PV* 1,80 1,65 1,80 1,75

Índice de Eficiência Econômica 109,09 100 109,09 106,06

Índice de Custo 91,67 100 91,67 94,29

*CR, R$/kg PV: Custo da ração por kg de peso vivo

Na fase inicial, a melhor eficiência econômica e o índice de custo foram

com a inclusão 2% de glicerina bruta, que resultou em menor IEE de 9,09% em

relação aos tratamentos com 0% e 4% de glicerina bruta, e 6,06 em relação ao

tratamento com 6% de glicerina bruta na dieta. A viabilidade financeira do uso de

glicerina bruta será determinada pela relação de preços dos ingredientes,

especialmente milho, farelo de soja ou/e outra fonte protéica. Possivelmente a

substituição de glicerina bruta em dietas poderá diminuir o custo das dietas,

sobretudo dos ingredientes energéticos.

Houve efeito significativo para a incidência de diarréia na fase pré-

inicial (p=0,001) e de creche (p=0,014) (TABELA 8). Os diferentes níveis de

glicerina bruta nas dietas pré-inicial e inicial não podem ser associados à

prevenção, tampouco à incidência de diarréia após desmama ou até mesmo na

fase de creche. As dietas experimentais de pós-desmame continham 5% de

plasma sanguíneo spray dried, ingrediente que é citado como fonte de

imunoglobulinas que auxiliam no equilíbrio da microbiota, resultando na

melhoria do desempenho e do estado de saúde do leitão recém-desmamado.

Desta forma, a qualidade nutricional da dieta, especialmente relacionado aos

ingredientes digestíveis como plasma sanguíneo, o leite em pó desnatado, a

lactose e até mesmo a glicerina bruta pode ter sido importante no controle da

microbiota patogênica e na ocorrência de diarréias.

A melhor consistência fecal é devido à boa digestibilidade e ao

aproveitamento eficiente do alimento pelos animais. Durante toda a fase pré-

Page 75: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

57

inicial (6,5 a 15 kg) e creche (6,5 a 30 kg), a menor incidência de diarréias foi

observada no grupo de animais que receberam dietas com 2% de glicerina

bruta. Essa menor incidência poderá ser um dos fatores que contribuíram com

melhor ganho médio de peso e melhor consumo diário de ração, conforme

dispostos nas tabelas de desempenho.

Diversos fatores podem ter sido preponderantes na incidência de

diarréias, sobretudo nos primeiros 14 dias pós-desmame. Fatores

estressantes, como a separação da porca, o transporte, o novo ambiente, as

novas organizações hierárquicas, podem provocar alterações

histomorfológicas, deixando o leitão mais exposto às perturbações intestinais.

Assim, o fornecimento de dietas de qualidade, com ingredientes de alta

digestibilidade, permite promover a melhora na saúde intestinal, redução do pH

e o aumento da população de lactobacilos intestinais, com redução da

ocorrência de diarréia.

TABELA 8. Ocorrência de diarréias de leitões alimentados com glicerina bruta*

*Análise de Qui-quadrado; **Sem diarréia (0 - fezes normais; 1 - fezes moles); ***Com diarréia (2 - fezes pastosas; 3 - fezes aquosas ou líquidas).

Tratamentos SEM** % COM*** % P-Valor

Fase pré-inicial (6,5 a 15 kg)

0% 386 82,5 82 17,5

2% 399 85,3 69 14,7 P=0,001

4% 386 82,5 82 17,5

6% 352 75,2 116 24,8

Fase pré-inicial (15 a 30 kg)

0% 469 93,6 32 6,4

2% 469 93,6 32 6,4 P=0,389

4% 458 91,4 43 8,6

6% 470 93,8 31 6,2

Fase de creche (6,5 a 30 kg)

0% 855 88,24 114 11,76

2% 868 89,58 101 10,42 P=0,014

4% 844 87,10 125 12,90

6% 822 84,83 147 15,17

Page 76: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

58

Os triglicerídeos aumentaram linearmente com a elevação dos níveis de

glicerina bruta (Tabela 9), o que pode estar relacionado com a metabolização do

glicerol no fígado, que apresenta efeito estimulador na síntese de ácidos graxos

livres, colesterol, lipoproteínas plasmáticas e triglicerídeos (NARAYAN & McMULLEN,

1979). As proteínas totais e as globulinas apresentaram efeito linear decrescente

com o aumentou dos níveis de glicerina bruta. As globulinas são anticorpos, que

quando aumentados indicam estímulo à função de defesa imunológica. Os dados

referem-se a valores de suínos em condições saudáveis.

TABELA 9. Perfil bioquímico e hematológico de leitões alimentados com

glicerina bruta

Perfil Bioquímico (g/dL)* 0% 2% 4% 6% CV** P***

Glicose 99,87 93,56 106,06 94,98 13,9 0,236

Colesterol 68,87 51,53 59,88 47,93 35,7 0,642

Triglicerídeos1 52,61 54,81 63,04 89,21 38,7 0,060

Proteínas Totais2 6,46 6,48 6,01 6,05 6,9 0,101

Albumina 3,42 3,40 3,09 3,40 13,1 0,382

Globulina3 3,03 3,08 2,92 2,65 5,6 <0,0001

Perfil Hematológico*

Leucócitos 12555 12227 12412 12012 23,9 0,924

Proteína plasmática 6,6 6,7 6,6 6,4 5,6 0,411

Plaquetas 327,0 323,6 433,4 270,6 45,0 0,553

Hemoglobina 12,0 12,0 12,0 11,5 6,9 0,510

Hemácias 6,9 7,1 7,2 6,9 7,3 0,536

VG 37,9 38,4 38,4 36,1 4,7 0,133

VCM4 55,7 54,2 53,7 52,9 3,8 0,091

HCM 17,4 16,8 16,7 16,7 4,4 0,634

CHCM5 31,6 31,2 31,2 31,7 1,7 0,001

Fibrinogênio 320,0 280,0 270,0 320,0 43,8 0,824

*Valores de n=5; **CV: coeficiente de variação, ***P: valor da análise de variância; 1TRIGLICERÍDEOS = 47,213 + 5,9015 GLICERINA (R2=0,8221); 2PROTEINA TOTAL = - 0,085x + 6,505 (R² = 0,7425); 3GLOBULINA = - 0,0657 GLICERINA + 3,1176 (R² = 0,7743); VCM = - 0,45 GLICERINA + 55,47 (R² = 0,9468); CHCM = 0,0563 GLICERINA 2 – 0,3205 GLICERINA + 31,619 (R² = 0,9999)

Page 77: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

59

Os resultados do perfil bioquímico são semelhantes a pesquisa de

HANSEN et al. (2009), que não observaram efeito da glicerina bruta (0%, 4%, 8%,

12% e 16%), nas concentrações plasmáticas de glicose, glicerol e ácidos graxos.

Também estão semelhante aos resultados observados por GALLEGO et al. (2012),

que não verificaram alterações nos parâmetros plasmáticos da glicose, do

colesterol de leitões (15 a 30 kg) alimentados com glicerina semipurificada.

No perfil hematológico dos leitões foi observado efeito linear decrescente

para a variável VCM quando foi adicionada glicerina bruta na dieta dos leitões. E

efeito quadrático para a variável CHCM, as concentrações metabólicas no plasma

animal são indicadores da condição nutricional e fisiológica dos animais. Os valores

médios encontrados no perfil bioquímico e hematológico dos leitões enquadraram-

se nos intervalos de referência propostos pela literatura (FRASER,1991).

As variáveis, peso trato digestivo, peso relativo do fígado, rins e intestino

delgado apresentaram efeito linear decrescente, em que os animais que recebiam

dietas com 0% de glicerina bruta apresentaram maior porcentagem dessas

variáveis em relação aos demais tratamentos (Tabela 10). Os pesos dos órgãos

podem variar de acordo com o consumo de energia e/ou proteína (PLUSKE et al.,

1997). GOMES et al. (2007) relataram que maiores pesos dos órgãos do sistema

digestivo e órgãos não digestivos, bem como o maior comprimento do intestino

delgado em leitões podem afetar negativamente a eficiência alimentar, uma vez

que o animal utiliza, para a sua manutenção, a energia que seria destinada à

produção. Não houve efeito negativo sobre a eficiência alimentar, como se pode

observar na Tabela 6, de desempenho de leitões na fase de creche.

Observou-se efeito quadrático no peso relativo do baço e do pâncreas dos

leitões, o nível de 2,73% de glicerina bruta resulta em menor peso de pâncreas; e

3,04% de glicerina resultou em aumento do peso de baço. Houve aumento das

globulinas, estimulando a função imunológica. Suplementação elevada de glicerina

pode suplantar a capacidade que o sistema enzimático dispõe para sua

metabolização. Níveis de 20% de glicerina na dieta de ratos aumentaram o peso do

fígado com aumento das enzimas lipogênicas (LIN et al. , 1976). No entanto, não

houve aumento do peso relativo do fígado em relação aos tratamentos quando

incluiu a glicerina bruta nas rações de leitões, visto que o fígado é um local de

degradação de aminoácidos, metabolismo de nitrogênio e glicerol.

Page 78: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

60

TABELA 10. Carcaça eviscerada, peso relativo de órgãos e pH em diferentes

segmentos do trato gastrointestinal de leitões alimentados com glicerina bruta

Variáveis* 0% 2% 4% 6% CV2 P

Carcaça eviscerada (g) 26,34 27,04 25,86 26,35 4,2 0,855

Trato digestivo (%PV)1 15,84 14,92 14,20 13,66 6,0 0,006

Fígado (%PCV) 2 3,85 3,52 3,33 3,25 13,2 0,037

Rins (%PCV)3 0,81 0,78 0,70 0,68 17,6 0,089

Baço (%PCV) 4 0,20 0,27 0,23 0,22 19,4 0,090

Pâncreas (%PCV) 5 0,24 0,20 0,21 0,26 20,7 0,031

Estômago vazio (%PCV) 0,91 0,90 0,92 0,88 11,0 0,876

Intestino delgado (%PCV) 6 8,94 8,11 7,55 7,27 13,1 0,038

Intestino grosso (%PCV) 6,72 6,93 5,72 5,60 19,9 0,207

Estômago vazio (%TGI) 4,86 5,13 5,59 5,60 12,4 0,143

Intestino delgado (%TGI) 47,26 46,18 45,82 45,91 7,2 0,747

Intestino grosso (%TGI) 35,60 39,43 35,14 35,61 19,3 0,831

pH* 0% 2% 4% 6% CV* P***

Estômago 2,8 3,1 3,08 3,92 30,8 0,231

Duodeno 5,8 4,4 5,6 5,9 25,0 0,288

Jejuno 6,4 6,1 6,3 6,3 6,8 0,758

Íleo 4,5 4,8 6,2 6,4 34,9 0,350

Ceco 5,4 5,4 5,5 5,6 6,3 0,437

Colón 5,9 5,7 5,8 6,0 4,6 0,102

Reto 6,6 6,8 6,4 6,7 8,1 0,992

*Valor médio de n=5; **CV:coeficiente de variação; ***P:valor da análise de variância; 1%TGI = - 0,363 GLICERINA + 15,744 (R² = 0,9865); 2FÍGADO = 0,0161 -0, 0995 GLICERINA + 3,786 (R² = 0,9267); 3RINS = - 0,0235 GLICERINA + 0,813 (R² = 0,946); 4BAÇO = - 0,005 GLICERINA2 + 0,031 GLICERINA + 0,207(R² = 0,6231); 5PANCREAS = 0,0056 GLICERINA 2 – 0,0303 GLICERINA + 0,2395(R² = 0.9978); 6%ID = - 0,2785 GLICERINA + 8,803 (R² = 0,9535)

Não houve diferenças no pH nos diferentes segmentos medidos (P>0,10),

em função dos níveis de glicerina bruta. O consumo de alimentos e os tipos de

ingredientes fornecidos nas dietas de leitões têm por finalidade permitir o

desenvolvimento e amadurecimento do TGI. Para o desenvolvimento do TGI e o pH

ideal nos segmentos intestinais propiciam o desenvolvimento das funções de

Page 79: GLICERINA BRUTA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS NAS FASES …

61

alimentação, armazenamento temporário, transporte de nutrientes e a digestão

adequada, permitindo a absorção de água e nutrientes. Não foi observada, irritação

da mucosa intestinal, referente à infecção, injúria ou toxidez, que alterasse de modo

anormal o peso dos órgãos dos animais.

Não houve diferenças nas variáveis analisadas no segmento de jejuno.

Houve efeito quadrático nas variáveis, altura de vilosidade e área de superfície de

contato no duodeno. Em que o nível de glicerina bruta de 4,88%; resultou no

achatamento da base da vilosidade, e consequentemente aumento da área de

contato, a partir do nível de 3,49% de glicerina. Também no íleo, houve efeito linear

crescente para altura da vilosidade e superfície de contato (Tabela 11).

TABELA 11. Histomorfometria intestinal de leitões de 30 kg de peso alimentados

com glicerina bruta

Variáveis* (µm) 0% 2% 4% 6% CV*** P***

Duodeno

Altura de Vilosidade 1133,1 1166,2 1220,6 1040,7 16,6 0,119

Base da vilosidade 463,9 483,2 551,6 520,3 12,7 0,029

Superfície de contato 1231050 1300277 1505275 1282989 19,3 0,018

Profundidade de cripta 660,5 749,5 728,5 668,5 18,3 0,456

Vilosidade:cripta 1,74 1,58 1,69 1,56 17,1 0,675

Jejuno

Altura de Vilosidade 1244,1 954,4 1177,6 1063,7 17,2 0,101

Base da Vilosidade 528,9 536,7 500,9 589,7 13,0 0,307

Superfície de contato 1487450 1156664 1313200 1674778 36,9 0,810

Profundidade de cripta 749,2 764,6 739,5 738,7 17,2 0,911

Vilosidade:cripta 1,68 1,26 1,62 1,51 26,8 0,519

Íleo

Altura de Vilosidade 471,8 506,3 479,4 562,9 16,6 0,082

Base da Vilosidade 909,5 1047,9 1017,8 1008,3 17,4 0,253

Superfície de contato 1023748 1219587 1126048 1271601 23,6 0,064

Profundidade de cripta 477,8 591,1 551,9 618,2 21,4 0,304

Vilosidade:cripta 1,04 0,867 0,857 0,919 21,6 0,574

*Valores de n=5; **CV: coeficiente de variação; ***P: valor da análise de variância; BASE DA VILOSIDADE = - 3,1556 GLICERINA2 + 30,819x + 456,43 (R² = 0,7582);

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62

AREA DE CONTATO = - 18220 GLICERINA 2 + 127358 GLICERINA + 10e5 (R² = 0,6365); ALTURA DE VILOSIDADE = 12,32 GLICERINA + 468,14 (R² = 0,5939); AREA DE CONTATO = 32501 GLICERINA + 10e05(R² = 0,5914)

O fornecimento da ração com alto valor nutricional e digestivo promovem

menores alterações digestivas (MILLER et al., 1986). Alterações

histomorfométricas estão associadas a falta de suprimento contínuo de alimento,

o que não ocorreu com os leitões após a desmama. As variáveis, altura de

vilosidade e profundidade de cripta são indicadores importantes da saúde do

aparelho digestivo dos leitões e estão diretamente relacionadas com a

capacidade de absorção da membrana mucosa. A altura das vilosidades reflete

o equilíbrio entre a atividade mitótica das células das criptas e a descamação

produzida por agressores externos (CERA et al., 1988). Nesse estudo as

medidas histomorfometria nos segmentos do intestino delgado encontram-se em

escala comparável com os dados obtidos por CERA et al. (1988) e

MANZANILLA et al. (2004).

4. CONCLUSÃO

A glicerina pode substituir a lactose na fase pré-inicial, sem afetar o

desempenho de leitões. A glicerina bruta pode ser usada em até 2,97%,

promovendo o maior ganho médio diário para a fase inicial. A inclusão de 6% de

glicerina bruta permite o menor custo da dieta na fase pré-inicial, enquanto que o

nível de 2% de glicerina bruta contribui em melhor índice de eficiência econômica

das rações iniciais.

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67

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A glicerina bruta constitui-se ingrediente alternativo às dietas de leitões na

fase de creche, substituindo o soro de leite em pó e a lactose, especialmente

quando o objetivo é a formulação de dietas de baixo custo. Nível de 6% de

glicerina bruta pode substituir a lactose, resultando em menor custo da ração.

O sabor adocicado da glicerina pode estimular o consumo das dietas de

leitões no pós-desmama, podendo contribuir na melhoria de ingestão de alimento.

É indicada para a fase de creche devido ao déficit de energia que os animais de

pós-desmama apresentam, provocadas pela alteração da dieta e baixa ingestão

de nutrientes. O nível de 18% desse ingrediente pode ser incluídos nas rações de

pós-desmama.

A glicerina bruta é fonte de energia de absorção fácil, nas rações iniciais

nível de 2,75% resulta em melhor peso de leitão, e o de 2%, resulta em menor

índice de custo das dietas para rações iniciais. Desta forma, a glicerina bruta pode

ser utilizada em dietas iniciais como ingrediente energético visando diminuir a

inclusão de cereais e até mesmo do óleo.

A glicerina bruta advinda do biodiesel apresenta diferenças nas suas

composições químicas, fator que deverá ser levado em consideração ao adquirir o

produto e formular as dietas para leitões. Embora não existam relatos quanto à

intoxicação de leitões mediante a ingestão de glicerina bruta, é necessário observar

os níveis de metanol, cloreto de sódio e potássio antes de formular as dietas dos

leitões.

Ao adicionar a glicerina bruta nas dietas para suínos faz-se necessário a

sua pré-mistura com o farelo de soja para impedir a formação de grânulos e

permitir a mistura adequada dos ingredientes. Níveis de 9% e 18% podem

favorecer a aglutinação da ração pronta, formando grânulos maiores, no entanto é

possível desintegrar manual ou mecanicamente esses grânulos.

A viabilidade econômica da inclusão de glicerina bruta na alimentação de

suínos será determinada pela relação de preços entre os ingredientes presentes

nas dietas.