ginger kaderabek - relações públicas

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    - Tem um cara estranho na linha dois. Deve ser para voc,Williams - berrou o editor-chefe.- T, este o meu setor mesmo: aberraes da natureza, ca-

    ras estranhos e tarados em avidade - murmurou Anne Williams,apertando ferozmente o boto do telefone e quebrando a unha aofaz-lo. Aconchegou o fone ao ouvido e indagou: - Em que possoajud-lo?

    - Eu que certamente posso ajud-Ia. Tenho uma grandehistria que dever ir para o seu jornal. Acho que tambm h dequerer uma fotograa, talvez minha e de minha tripulao, ao ladode nossa nave espacial, com nossos capacetes debaixo de nossosbraos direitos - proferiu uma voz esganiada.

    - Bem, meu senhor, muito grata por se lembrar do Star, mas que nossa equipe pequena e no creio que algum esteja livre

    - disse Anne maciamente, no seu tom pico de querer dizer deixe-me em paz, tenho mais o que fazer, enquanto uma outra parte desua mente assimilava o que a voz dissera. - O senhor falou numafotograa em frente sua espaonave?

    - Sim, a menos que achasse melhor uma fotograa do interior.

    Relaes pblicas

    Ginger Kaderabek

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    Temos uma sala de controle notavelmente projetada que interessa-ria seus leitores, disso tenho certeza.

    - Este mesmo persistente - pensou Anne, e - el s normasda companhia de nunca ser rude, mesmo com pessoas desequili-

    bradas - cambiou para a fase dois. - Como sabe, somos um jornal dembito local. desta regio?

    - Na verdade sou do planeta Quixyl, sabe, mas pareceu-meque seria de interesse local a nossa descida, de vez que isto ocor-reu num campo de alfafa local, pertencente a um certo H.A. Smith,conforme est na caixa do correio. Conservamos nossos anteparosde invisibilidade levantados, naturalmente, a m de evitar dano por

    parte de meninos pequenos e outras criaturas navas.- Naturalmente, est bem que mantenha levantado seu ante-

    paro de invisibilidade, todavia, j que no temos do reclamaesde cidados locais, no sei se haveria interesse local suciente para

    juscar uma histria - asseverou Anne, enquanto pensava: Pronto,isto deve bastar. Anal de contas, talvez consiga fechar este nmeroantes do encerramento.

    - Olhe, esta histria vai terminar sendo importante para omundo inteiro, contudo, julgamos que, como jornal local, mere-ceriam uma primeira oportunidade. No entanto, se no esvereminteressados, nada nos impede de procurarmos o Herald-Cizen -contraveio a voz, assumindo o familiar tom insinuante de um rela-es pblicas.

    - Realmente no sei o que lhe dizer, meu senhor. Estou certa

    de que daria uma matria interessante, mas tenho mesmo de con-sultar meu editor a respeito. Pode esperar um momento?

    - Certamente.- Rapaz, mas voc me largou mesmo um biruta, Bill. Ele insiste

    para que faamos uma matria a respeito da sua espaonave, quese encontra no momento invisibilizada no meio de um campo dealfafa. Ameaa entregar a histria para o Herald-Cizen, e eu lhedisse que ia consultar um editor a respeito. O que me diz, editor?

    - O que acha? Pareo maluco?- No to maluco quanto este sujeito. Imagino se os psiquia-

    tras esto informados a respeito dele. Parece um relaes-pblicas

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    que embirutou de vez.- Trate de se livrar dele e voltar para o trabalho. Temos uma

    edio para fechar.Tirando o fone do gancho, ela disse: - Lamento t-lo feito es-

    perar, meu senhor. Detesto lhe dizer isto, porm meu editor noest realmente interessado na sua histria. Gostaria de ajudar,mas... - Sua voz rastejou pela trilha da hipocrisia afora.

    - Mas vocs tm de publicar nossa histria! Estou lhe dizendo, de importncia fundamental para mim e para minha tripulao.Cada um deles prometeu sua companhia de abrigo que traria paracasa recortes de nossa descida triunfal - anunciou o que telefonava,

    bem menos arrogante.- Como j disse, meu senhor, lamento bastante, mas que

    no posso connuar falando, pois est na hora do fechamento.Existe algum telefone onde possa ser encontrado?

    - Estou num telefone pblico - felizmente, nosso transforma-dor de matria portl pde reproduzir suas moedas mas estoucerto de poder ouvir o telefone quando chamar - Est bem. E qual

    o nmero?- 832-9309.- E como disse que era seu nome?- Capito Quondam.- Muito bem, ento trata-se do Capito Quondam, da espao-

    nave, no 832-9309. Obrigada por telefonar, senhor. - Anne desligoucom rmeza e, aps consultar rapidamente o calendrio para ver

    se fazia lua cheia, amarrotou o papel com o nmero do telefone,jogou-o na direo da cesta e voltou a se concentrar na sua matria.

    - Cus, que dia! - exclamou Anne, enquanto se sentava diantedo seu almoo de bolachas de queijo com coca-cola e examinava aslinhas de composio naquela primeira ragem. Ouviu o telefone lda mesa do editor estridular, e Bill berrou:

    - Linha um, Williams. Acho que o mesmo doido.- Logo eu! - gemeu Anne, enquanto terminava sem pressa

    uma bolacha e alcanava o telefone.- Julguei que me fosse telefonar. H horas sufoco neste sol

    quente, procurando no perder o seu telefonema. O transformador

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    de matria no foi planejado para estas temperaturas. Deu um so-luo e forneceu-me 27 moedas de um centavo antes de me soltaroutra de dez, asseverou a voz esganiada.

    - Bem, todos ns temos nossos problemas - retorquiu Anne,

    engasgando-se com a coca-cola e fazendo gestos frencos paraum reprter que passava.

    - O que posso fazer pelo senhor?- Pode vir at aqui e rar uma fotograa de nossa nave espa-

    cial, antes que acabe nosso combusvel para o anteparo de invisi-bilidade.

    - Desculpe, meu senhor, mas creio que nosso fotgrafo aca-

    bou de sair para o almoo. No poderia o senhor mesmo rar a fo-tograa e envi-la para ns pelo correio? - redarguiu Anne, enquan-to arculava para o reprter que berrasse por ela. Ele mostrou-seirritantemente vagaroso para entender o problema, por isso Anneconnuou a ganhar tempo com o seu interlocutor de voz esgania-da.

    - Onde disse que havia descido, senhor?

    - Junto Estrada Oswego, a uns trs quilmetros de onde an-gamente exisa a igreja Basta.

    - Para um extra terreno, demonstra possuir um conhecimentonotvel da regio.

    - Ora, muito obrigado. Orgulho-me dos preparavos cuidado-sos que fao, antes de todas as misses. Que tal meu ingls? Apren-di-o estudando o curso de Dale Carnegie em tas.

    - simplesmente assombroso - murmurou Anne. - Decidida-mente no ganho o suciente para tudo isto. - o que disse?

    - No foi nada.Enquanto isso, o reprter nalmente captara a mensagem e

    berrara:- Williams, trate de vir aqui depressa.- Opa, o chefe est chamando. Tenho de ir. Muito obrigada

    por haver telefonado para o Star. - Anne falou com rapidez, enquan-to ao mesmo tempo desligava. Voltou-se para o reprter e disse:- Obrigada, voc um grande salvador. Esse maluco andou atrs demim o dia inteiro e tenho uma entrevista s duas.

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    Quando ela arrastava os passos de volta naquela tarde, o re-prter noturno disse: - Oh, Anne, pensei que vesse ido para casa.Um sujeito telefonou para voc e eu lhe dei o telefone de sua casa.Parecia um relaes-pblicas.

    - Tinha uma voz esganiada?- Tinha uma voz realmente estranha.- Muito obrigada... Estava contando que ele vesse morrido.

    Este dia foi de mal a pior e vou para casa esquec-lo com umasbebidas. Veja se no d meu nmero de casa mais de duas ou trsvezes esta noite.

    - Est bem. Tenha uma boa noite.

    Quando Anne ia subindo penosamente a escada para o seuapartamento no terceiro andar, a Sra. Ellis, que morava embaixocom 137 plantas, um so-bernardo e discos de Missa Lana, dete-ve-a no patamar.

    - Voc que trabalha em jornal, querida, no poderia arranjaruma cobertura melhor para o meu clube de jardinagem? S con-seguimos umas nonhas. Precisamos realmente de algum que

    venha fazer uma cobertura das reunies.- Ora, Sra. Ellis, j lhe disse antes que no podemos fazer isto,

    a menos que tenha algum orador que interesse a todos. Sabe queno podemos fazer cobertura de tudo.

    - Poderia, se trabalhasse um pouco mais, ao invs de car be-bendo a noite inteira. Alm disso, semana que vem teremos umespecialista no culvo das orqudeas de Felenopse. Claro que todos

    se interessam por isto.- No meu telefone que est tocando? Melhor ir atender.

    No era, evidentemente, o seu telefone, porm a Sra. Ellis era umtanto surda e ela j vera o bastante para um dia s.

    Justamente quando comeava a achar de novo que havia umpouco de suco de laranja demais na sua vodca, a campainha soou.- Droga, a Sra. Ellis de novo. - Vesu um peignoir e dirigiu-se porta. Abriu-a. Era um homenzinho verde.

    - Detesto incomod-la em casa, mas nha de lhe fazer ver oquanto esta histria importante para mim e para a minha genteproferiu a voz dos telefonemas daquele dia.

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    - Voc um produto da minha imaginao - disse Anne, vol-tando a sentar e despejando mais uma boa quandade de bebidano seu copo.

    - Mas no est entendendo - retorquiu o homenzinho, num

    tom de crescente desespero, pulando de um p para o outro e gi-rando sua cauda. - No dispomos de muito tempo.

    - Tempo para qu? - indagou Anne, com voz de devaneio, en-quanto pensava: - Interessante, nunca vi um elefantezinho cor derosa e agora, com um pouco de vodca, consigo um homenzinhoverde de orelhas grandes.

    - Tempo para fazer chegar nossa histria ao jornal. A quem

    mais posso recorrer para conseguir isso? Ao editor? Ao dono? E seeu zesse um bom anncio? .

    Esforando-se por focalizar a viso no agitado ser, Anne de-clarou:

    - Se zssemos uma matria, eu quem a escreveria. Sou aredatora dos destaques - aberraes da natureza, caras estranhos etarados em avidade e - imagino - marcianos ou seja l o que voc

    for.- Sou um quixyliano, sua boba. O que precisarei fazer para

    conseguir que escreva uma simples histria acerca de uma naveextra terrena que desceu na regio coberta por voc?

    - J no pensou em me apontar sua pistola de raios e dizer:Leve-me ao seu chefe.?

    - A Regra l4-A, no item Relaes com a Populao Nava,

    probe explicitamente o uso de fora no perodo inicial de contato.- Ah, sim, ela diz isso. Mesmo assim no compreendo a pres-

    sa. Por que no aceita uma bebida e descansa?- por demais complicado para explicar para um ser singelo

    como voc, mas preciso ter uma histria no prximo nmero dojornal. Por que no pega seu bloco e toma algumas notas?

    - Negavo. Estou fora do expediente. Poderiam estar esfa-queando um sujeito ali embaixo da janela que eu s falaria com oreprter policial pela manh. Fale com o homem do turno da noite.

    - Foi o que z. Ele me disse que eu teria que falar com voc eme disse onde se encontrava.

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    - Ah, ele fez isso, o estafermo.- E se eu lhe oferecesse um transformador de matria s para

    voc? - props o extra terreno, matreiramente. - Poderia car rica.- Oh, no - retorquiu Anne, cautelosa, a voz tomada de em-

    briagus. - Tenho lido co cienca. Tudo o que eu fosse fazerse transformaria em pedras, rs ou coisa parecida, logo que vocsasse. Alm do mais, existe um regulamento da empresa que nosprobe de aceitar presentes.

    O homenzinho verde soltou um guincho de decepo, giroua cauda to rpido at torn-Ia indisnta e desapareceu, deixandouma nuvenzinha verde.

    Anne varreu a nuvem na direo do respiradouro do ar con-dicionado, tomou duas aspirinas a m de evitar ressaca e foi paraa cama.

    Teve coisa parecida com ressaca, de qualquer forma, ou pelomenos certa moleza altura das orelhas. Tinha igualmente a con-vico de que ou precisava parar de beber ou deixar de trabalharem jornal. J pensara nisso antes, sem que resultado algum advies-

    se .Alguns dias depois, estava inteiramente sbria quando ba-

    teram outra vez em sua porta. Abriu. Em um homem cor-de-rosa,todo peludo.

    - Srta. Williams, suponho.- Faa o favor de entrar - disse Anne, repennamente certa de

    que fora o trabalho que desequilibrara sua razo, e no a bebida.

    Teria, pois, mais diculdade para deixar de beber.- Sou Zhan, um invesgador da Agncia de Execuo de Con-

    quista do Imprio Galcco. Estou aqui por causa de uma pequenaquesto concernente a um ser chamado Quondam que esteve aquirecentemente, acredito.

    - E verdade, Zhan. Prazer em v-lo. Gostaria de tomar umabebida? Logo que eu termine esta conversinha com voc, irei paraa Austrlia para recomear a vida.

    - Maravilhoso, certamente. Tudo de que preciso de sua assi-natura nesta declarao de que ele fez contato com voc, mas quenenhuma nocia de sua descida foi publicada no seu jornal.

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    - Sem dvida, sem dvida. Tudo que sirva para cooperar comum agente da lei. Pode me dizer a razo disto tudo?

    - Apenas entre ns, voc certamente fez um favor ao seu pla-neta. Eu que no haveria de querer viver num dos planetas de

    Quondam. Ele no mole - aoites, correntes, mquinas de eletro-tortura, essas coisas. E que condies! Um planeta que mal se ha-bilita a um Cercado de Civilizao aps a atuao de Quondam -armou a criatura, com o sotaque de um funcionrio pblico ingls.

    - Concordo que ele no se tenha mostrado muito corts svezes, mas o que foi exatamente que eu z?

    - Bem, sabe, a gente precisa ter normas de conquista. No se

    pode ter a qualquer ditador insignicante a conquistar planetas,sem passar atravs de certas vias. Seria anarquia, simplesmenteanarquia, minha cara senhora - disse ele, enrolando entre os dedoso pelo pendente do lbulo da orelha. - E evidentemente um regula-mento da maior importncia a Regra 12-F, Aviso ao Populacho.

    - Sem dvida! Que estupidez a minha! Mas no me lembro dofuncionamento desta regra em especial.

    - Deveria lembrar-se, minha cara, de vez que se aplica suaprosso. Seja como for, a vai ela: Ao descer, o dirigente do vecu-lo dever informar a populao nava do seu intento de conquistaro planeta, e tal aviso dever ser feito mediante o uso do mais pr-ximo meio de comunicao disponvel. Dentro de uma revoluoplanetria, dever aparecer uma nocia no primeiro meio de co-municao com o qual se tenha estabelecido contato, e cpias de

    tal aviso devero ser mandas no chrio dos Arquivos Galccoscomo prova de submisso a este estatuto. A no obteno dessanocia dentro do tempo especicado resultar na revogao dasDisposies 8912-0 e 8914, Permisso de Pilhagem e Permissode Conquista.

    Os disposivos desnam-se a conceder aviso aos navos e achamada oportunidade de luta, na qual a Imperatriz, que bas-tante ingnua, acredita. Naturalmente, a maioria dos comandantespreferem, na verdade, descer nas proximidades de cidades meno-res, a m de estarem preparados antes que foras mais poderosaspossam ser mobilizadas. Geralmente as foras policiais locais no

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    so sucientes para oferecer combate, embora tenha havido umcaso... Deixemos isto de lado, trate de assinar este formulrio a mde que eu possa tomar meu rumo. Jamais aguento car muito tem-po neste po de planeta.

    - Ento tudo isto signica que por eu no ter feito aquela ma-tria, Quondam no teve permisso de conquistar a Terra?

    - Claro, minha cara. J lhe disse, tudo tem que passar peloscanais competentes. Enquanto Anne assinava o documento, a pelu-da criatura cor de rosa comeou a vibrar para fora de foco.

    - Espere um instante. Quando ser emida a prxima permis-so de conquista para este planeta? .

    - Sem dvida que no sei, minha cara - sobreveio debilmentea voz. - H muita papelada para estes casos. Talvez alguns milnios.