gestão da assistência farmacêutica · veja um exemplo de relato de experiência exitosa do...

67
Gestão da Assistência Farmacêutica Eixo 2: Serviços Farmacêuticos Módulo 5: Dispensação de medicamentos UnA-SUS EaD

Upload: others

Post on 04-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

O Módulo Transversal 1 apresentou, por meio de 3 unidades e por inserções nas demais unidades do Curso, a interface entre a gestão, o planejamento e a avaliação dos serviços farmacêuticos.

UnA-SUSM

ódulo 5: Dispensação de medicam

entos

Gestão da AssistênciaFarmacêutica

Eixo 2: Serviços Farmacêuticos

Módulo 5: Dispensação

de medicamentos

UnA-SUS

EaD

Page 2: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Dispensação De MeDicaMentos

Módulo 5

Page 3: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

GOVERNO FEDERALPresidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Saúde Alexandre Rocha Santos PadilhaSecretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Mozart Júlio Tabosa SalesDiretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES/SGTES) Felipe Proenço de OliveiraSecretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) Carlos Augusto Grabois Gadelha Diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF/SCTIE) José Miguel do Nascimento JúniorResponsável Técnico pelo Projeto UnA-SUS Francisco Eduardo de Campos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINAReitora Roselane Neckel Vice-Reitora Lúcia Helena PachecoPró-Reitora de Pós-Graduação Joana Maria PedroPró-Reitor de Pesquisa e Extensão Edison da Rosa

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDEDiretor Sérgio Fernando Torres de Freitas Vice-Diretora Isabela de Carlos Back Giuliano

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICASChefe do Departamento Míriam de Barcellos FalkenbergSubchefe do Departamento Maique Weber BiavattiCoordenadora do Curso Eliana Elisabeth Diehl

COMISSÃO GESTORACoordenadora do Curso Eliana Elisabeth DiehlCoordenadora Pedagógica Mareni Rocha FariasCoordenadora de Tutoria Rosana Isabel dos SantosCoordenadora de Regionalização Silvana Nair LeiteCoordenador do Trabalho de Conclusão de Curso Luciano Soares

Coordenação Técnica Alessandra Fontana, Bernd Heinrich Storb, Fernanda Manzini, Kaite Cristiane Peres, Guilherme Daniel Pupo, Marcelo Campese, Samara Jamile Mendes

AUTORESNoemia Liege Maria da Cunha BernardoLígia Hoepfner

Page 4: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

© 2013. Todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal de Santa Catarina. Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.

Edição, distribuição e informações:Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitário 88040-900 Trindade – Florianópolis - SCDisponível em: www.unasus.ufsc.br

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIALCoordenação Geral da Equipe Eleonora Milano Falcão Vieira e Marialice de MoraesCoordenação de Design Instrucional Andreia Mara FialaDesign Instrucional Equipe Necont Revisão Textual Judith Terezinha Müller LohnCoordenadora de Produção Giovana SchuelterDesign Gráfico Felipe Augusto Franke Ilustrações Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann PaschoalDesign de Capa André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann Paschoal Projeto Editorial André Rodrigues da Silva, Felipe Augusto Franke, Rafaella Volkmann PaschoalIlustração Capa Ivan Jerônimo Iguti da Silva

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL (2ª EDIÇÃO)Coordenação Geral da Equipe Eleonora Milano Falcão Vieira e Marialice de MoraesCoordenação de Produção de Material Andreia Mara FialaDesign Instrucional Soraya FalqueiroRevisão Textual Judith Terezinha Muller LohnDesign Gráfico Taís Massaro

Page 5: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

SUMÁRIO

unidade 2 – dispensação de MedicaMentos ................................. 7Lição 1 - Dispensação: um serviço de saúde ........................................ 9Lição 2 - Serviço de dispensação: a estruturação do processo de

dispensação ................................................................................. 25Lição 3 - Estrutura física e recursos humanos para a organização do

serviço de dispensação ................................................................ 37Lição 4 - Componentes das atividades do serviço de dispensação ..... 40Lição 5 - Registro das informações do serviço de dispensação ......... 53Lição 6 - A dispensação no modelo de atenção à saúde brasileiro ...... 57

RefeRências ......................................................................... 64

Page 6: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2

Módulo 5

Page 7: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 7

UNIDADE 2 – DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Ementa da Unidade

• Dispensaçãoparaomodelodeatençãoàsaúdevigentenopaís.

• Dispensação:serviçodesaúde.

• Estruturaçãodoserviçodedispensação.

• Estruturafísicaerecursoshumanos.

• Sistemadeinformação.

Carga horária da unidade: 30 horas.

Objetivos específicos de aprendizagem

• Compreender a dispensação como um serviço farmacêuticodentro de uma concepção centrada no olhar sociocultural,refletindosuacontribuiçãoparaosistemadesaúde.

• Reconheceraimportânciadoserviçodedispensaçãocomoumdeterminantenaorganizaçãodosserviçosdesaúde.

Apresentação

Sejabem-vindoàunidadedeDispensaçãodemedicamentos.

Nestaunidade, lançamosmãode ferramentasedispositivosquedirecionamadispensaçãoparaummodelodeserviço,oquenãosignifica“deixardefazererradoparafazerocerto”,masaproximar-sedeummodelodetrabalhoqueressaltaofoconaconsolidaçãodasredesdeatençãoàsaúde,osvínculoseascorresponsabilizaçõesentreosusuários,trabalhadoresegestores.

TendoemvistaqueesteCursotemporfinalidadequalificaragestãodaassistência farmacêutica,nestasegundaedição,estaunidadeserádiscutidacomduasoutrasunidades:contextosocioculturaldousodemedicamentosefarmacovigilância;temasestesdeextremaimportância,considerandoqueoserviçodedispensaçãotemcomofocoasseguraraousuáriodosistemadesaúdeousoracionaldomedicamentoefavoreceroacessoaomesmo.

Page 8: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner8

A estruturação desta unidade compreende conteúdos, textoscomplementares e atividades, que permitem a você identificarferramentas existentes, que podem auxiliar a transpor asdificuldadesdagestãodadispensação.Apresenta,ainda,subsídiospara discussão e reflexão de como entender, avaliar e planejarestratégiasparatransformaraatividadededispensaçãoemserviçodedispensação.

Odesafioésuperaraentregadosmedicamentoserealizaramudançaparaoaproveitamentodecapacidadesparaodesenvolvimentodeaçõesquecontribuamparaosresultadosdasaúdedapopulação.Acomplexidadedosatosdapráticafarmacêuticaqueoserviçodedispensaçãopodeoferecerpodeestarlimitadapelascondiçõesdetrabalho,comoainfraestruturaeagestão.Porém,anossabusca,juntamentecomvocê,éoferecerumserviçosegundoanecessidadedo usuário ou da comunidade, de acordo com os princípios dosistemadesaúde.Nossodesafioéaconstruçãodeummodelodeserviçodedispensação.

As diferentes unidades deste Curso e os conteúdos destaunidade contribuirão para a construçãodesses conhecimentos epara a reflexão sobre a importância do desenvolvimento dessashabilidades.

Conteudistas responsáveis:

NoemiaLiegeMariadaCunhaBernardoLígiaHoepfner

Conteudista de referência:

NoemiaLiegeMariadaCunhaBernardo

Conteudistas de gestão:

SilvanaNairLeiteMariadoCarmoLessaGuimarães

Page 9: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 9

ENTRANDO NO ASSUNTO

Lição 1 - Dispensação: um serviço de saúde

Comesta lição, vocêserácapazdeentenderoqueéumserviçoemsaúde,quaissãooselementosquecaracterizamadispensaçãocomo um serviço e como sistematizar a dispensação para estemodelo. Este conceito vem a partir da tese publicada por Soares(2013), onde é proposto ummodelo teórico para a dispensação,baseadonarealidadedosistemadesaúdenacional.

Umserviçopodeserdefinidocomoações,esforçosoudesempenhos,essencialmenteintangíveis,partindodopressupostodequeoqueéoferecidoaooutronemsempreresultanapropriedadedeumbem/produto (KOTLER, 2000). A intangibilidade está relacionada comaquilo que não se percebe fisicamente, e, para Soares (2013), aintangibilidadeestá relacionadacomaconcriaçãodevaloresentreaspartesenvolvidas.

Porexemplo,aoplanejarasaçõesdefornecimentodemedicamentosanti-hipertensivos em todas as unidades de saúde do município,está-se assegurando a entrega de um produto. Por outro lado,planejar e articular ações para o fornecimento integrado com asaçõesparaousoracionaldomedicamentonasunidadesdesaúdedeveconsiderar,alémdofornecimentodoproduto,oresultadoqueomedicamento teránasaúdedousuário. Issosignifica incorporarnovoselementosedirecionaroserviçoparaoutrasfinalidadesalémdoproduto.

SegundoSoares(2013),apartirdasreflexõesdeConillecolaboradores(1991), o papel de um serviço de saúde está relacionado com arecuperaçãodoindivíduoeasuaautonomia.Assim,aoentenderadispensaçãocomoumserviçodesaúde,épossívelconsiderá-laumatecnologiasocial.Umatecnologiasocialpromoveoempoderamentodapopulação,atrocadeconhecimentoentreosatoresenvolvidos,atransformaçãonomododeaspessoasserelacionaremcomalgumademanda, a inovação a partir da participação, o desenvolvimentode instrumentos para realização de diagnósticos e avaliaçõesparticipativas(ITS,2004).

Page 10: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner10

Ao considerar a dispensação como um serviço de saúde, o resultado é a

contribuição na mudança do estado de saúde da população, a partir do

fornecimento do insumo, do empoderamento da população e da troca de

conhecimento entre os envolvidos.

Portanto, partindodopressuposto que o resultadode um serviçode saúde, prestado dentro dos princípios antes apresentados, éa produção de uma tecnologia social, é necessário que ele tenhaelementosquecomprovem:

1) umarazãodeexistir;

2) umprocessodedecisãoenvolvido;

3) opapeldousuário(corresponsabilização);

4) umasistemática(planejamentoeaplicaçãodeconhecimentodeformaorganizada);

5) a construção de conhecimento (produção de novos conheci-mentosapartirdaprática:conhecimentostradicionais,popula-res,experimentaçõesrealizadaspelosusuárioseconhecimentotécnico-científicosparageraçãodesoluções);

6) asustentabilidade(econômicaesocial);

7) aampliaçãodeescala(geraaprendizagensqueservemderefe-rênciaparanovasexperiências).

Observe,nasdescrições,aseguir,comoépossívelvisualizaresseselementosconstitutivosdadispensação,comoumserviçodesaúdeecompotencialidadedeproduzirumatecnologiasocial.

Serviço de dispensação: a razão de existir

Vamos entender melhor estes elementos dentro do serviçode dispensação, a partir do marco conceitual e regulatório dadispensação.

NoBrasil,oreconhecimentodadispensaçãoocorreu,em1973,pelaLein.5991,queregeo“controlesanitáriodocomérciodedrogas,medicamentos, insumos farmacêuticosecorrelatos”, tendoo focoda ação em disponibilizar o insumo. Cria-se, então, o conceitoquedispensaçãoéo fornecimentodo insumo.Esseconceito teve

Page 11: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 11

grande influência na determinação do processo e na estruturaçãodadispensaçãoatéosdiasatuais,comopodeservistonarevisãorealizadaporAngonesi(2008),aoconcluirqueeranecessário“fazerchegaromedicamentoatéousuário”.

A partir da Política Nacional de Medicamentos, elaborada em1998, instituiu-seoacessoaoserviçodedispensaçãoaousuário,orientandoparaapromoçãodousoracionaldosmedicamentos,econceituandoadispensaçãocomo:

[...] o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da orientação, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos (BRASIL, 1998, p.26).

Após a Política Nacional de Medicamentos, em 1998, tem inícioo processo de reorientação da assistência farmacêutica, quandoa logística deve não ser mais o foco principal das intervençõesfarmacêuticas,iniciando,assim,adiscussãosobreaqualidadedosserviçoseapromoçãodoacessoeusoracionaldosmedicamentosessenciais(VIEIRA,2008).

Em2009,aAgênciaNacionaldeVigilânciaSanitária(Anvisa)publicoua Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n. 44, que dispõesobre as boas práticas farmacêuticas para o controle sanitário dofuncionamento,dadispensaçãoedacomercializaçãodeprodutosedaprestaçãodeserviçosfarmacêuticosemfarmáciasedrogarias.AResoluçãoreforçaagarantiadedireitoàinformaçãoeorientaçãoquantoaouso,armazenamento,controledosmedicamentos,assimcomoasresponsabilidadesdoprescritoredofarmacêutico.

A dispensação, a partir de ummarco regulatório, tem uma razãodeexistir? Tem, e, segundodescrito nocadernodedebate sobretecnologia social (ITS, 2004), está relacionada com a solução dedemandassociaisconcretas,vividaseidentificadaspelapopulação.

Reflexão

No seu serviço, a população reconhece a importância da dispensação e

percebe a intervenção do farmacêutico? E qual o apoio do(s) gestor(es)?

Quais são os indicadores de qualidade que este serviço está gerando?

Page 12: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner12

Vejaumexemplode relatodeexperiênciaexitosado farmacêuticono SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) temumacoordenaçãodaAssistênciaFarmacêutica,segundoaqualasatividades dos farmacêuticos foram direcionadas para a Atençãoprimária,eestesforamlotadosnoscentrosdereferênciadosdistritossanitárioserealizamasupervisãodasUnidadesBásicasdeSaúdedaFamília,criandoocargodefarmacêuticodistrital.

Relato de experiência:A partir da necessidade de gerenciar o Programa de Medicamentos de

Dispensação e de promover o Uso Racional de Medicamentos, foi elaborado

o Protocolo de Assistência Farmacêutica na Estratégia da Família.

Após seis meses de acompanhamento junto às Equipes de Saúde da

Família, foi identificada a necessidade de elaborar um manual contendo

informações sobre conservação e entrega dos medicamentos. Até

aquele momento, a entrega de medicamentos era realizada por qualquer

integrante da ESF (agente comunitário, auxiliar de enfermagem,

enfermeiro, médico, recepcionista ou vigilante). Na grande maioria das

unidades não havia controle de estoque, o que facilitava o desvio ou

perda por prazo de validade dos medicamentos, pois não havia alguém

que se responsabilizasse pela farmácia.

Foi elaborado um protocolo contendo informações sobre Armazenamento,

Dispensação e Medicamentos de Saúde Mental. Incluindo os formulários

de controle de estoque e de solicitação de medicamentos à Central de

Abastecimento Farmacêutico, uma Relação Municipal de Medicamentos

(Remume) com indicação terapêutica, modelos de receituários e a lista

dos serviços de saúde prestados em cada distrito sanitário do município.

Este documento foi apresentado e discutido com membros das ESF e

repassado aos demais integrantes da equipe, posteriormente.

A partir do acompanhamento dos farmacêuticos distritais, o cenário de

cuidados com os medicamentos sofreu grande impacto. Foi obtida uma

redução de 90% no número de medicamentos perdidos por vencimento

ou má conservação.

Os outros profissionais de saúde, principalmente médicos e cirurgiões

dentistas, acolheram bem a proposta se tornando parceiros desta

iniciativa. No início, alguns integrantes das equipes tiveram certa

resistência às mudanças, principalmente ao que tange à entrega e

controle de estoque de medicamentos.

Porém, passado algum tempo pode-se perceber a existência de outro

olhar para o trabalho do farmacêutico, havendo inclusive uma busca por

essa assistência por parte das equipes. Fator relevante foi à solicitação de

ter o profissional farmacêutico mais integrado à equipe, acompanhando

diariamente as unidades básicas, com relatos sobre a falta de

Page 13: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 13

conhecimento sobre medicamentos por parte de enfermeiros e auxiliares

de enfermagem, além de sobrecarga de trabalho e falta de tempo.

Houve também relatos de usuários que demonstraram satisfação em

poder contar com mais um referencial profissional para esclarecer

dúvidas quanto ao uso do medicamento. Hoje nas Unidades Básicas

de Saúde da Família (UBSF), a dispensação de medicamentos é uma

atividade desenvolvida exclusivamente pelo farmacêutico e/ou pelo

auxiliar de farmácia, sob supervisão do farmacêutico.

Houve um grande apoio da gestão municipal, o que foi fundamental

para implantação e sucesso deste protocolo. Os gestores municipais

entenderam a importância deste trabalho e deram continuidade com

a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), onde os

farmacêuticos distritais passaram a compartilhar esta responsabilidade

com novos profissionais de saúde. A partir desse momento, os

farmacêuticos da Atenção Básica e do NASF passaram a dar assistência

integral às Equipes de Saúde da Família. Entendeu-se que a presença

do farmacêutico junto às equipes de Saúde da Família e o planejamento

de ações de assistência farmacêutica têm como consequência o

aprimoramento das etapas do ciclo da assistência farmacêutica, além

do trabalho com a comunidade, contribuindo para o acesso e uso

racional de medicamentos, o serviço descentralizado e com qualidade,

desenvolvido pelo farmacêutico na equipe de saúde.

(Trecho extraído de O papel do farmacêutico distrital no âmbito da estratégia de saúde da família no município de

Campina Grande/PB da publicação “Experiências exitosas de farmacêuticos no SUS” (ano 1, número 1, 2013), do

Conselho Federal de Farmácia, transcrito conforme o original).

Segundo Pinheiro (2010), para o fortalecimento dos serviçosfarmacêuticosnaatençãoprimária,énecessário:

• boagestãoderecursoshumanos;

• incentivoereconhecimentodovalordosprofissionais;

• procedimentos para a gestão de conflitos e processosparticipativos;

• responsabilizaçãoerepresentaçãodosinteressesdacomunidade;

• modelodegovernançabaseadonoempoderamento;

• incorporaçãodosserviçosfarmacêuticosnaAtençãoPrimáriaàSaúde;

Page 14: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner14

• que as ações sejam intersetoriais, por meio de alianças comatoreschavenoprocesso;

• terapoiopolíticonoâmbitolocal,municipale,quandoforocaso,estadualenacional;

• terresultadosqueimpactamnamelhoriadaqualidadedevidadoindivíduo,dafamíliaedacomunidade.

Assim, o caminho para que a dispensação tenha uma razão deexistir e seja organizada como um serviço de saúde necessita desistematizaçãodesteserviço.Aestratégiaéqueissoocorradeformacompartilhadadentro dosprincípios doSUSe, assim, seja obtidaumadiretrizouumprotocoloqueinstrumentalizeasaçõesedefinaasresponsabilidadesdasações.

Na Figura 1 está representada uma proposta demapa conceitualparaoprocessodesistematizaçãodeumServiçodeDispensação,baseadonoquefoidiscutidoatéomomento.

Page 15: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 15

Implantação deServiço de

Dispensação1. Planejamento

2. AlinhamentoEstratégico

3. Desenvolvimentodo projeto

4. Avaliação

1. De�nição do grupo de trabalho

2. Descrição da proposta

3. De�nição do objetivo da implantação do serviço

4. Desenvolvimento da justi�cativa da implementação do serviço

9. De�nição das atividades

10. De�nição do orçamento

11. De�nição do Cronograma de desenvolvimento

12. De�nição de Indicadores

5. Descrição do serviço de dispensação

6. De�nição das expectativas

População

Pro�ssionais de saúde

Gestores

7. De�nição dos fatores de sucesso

De�nir a rede de apoio

Implementação na atenção primária

8. De�nição das restrições

Ter um grupo de trabalho

Período de execução

1. Apresentação da proposta no local onde será desenvolvido

2. Ampliar o grupo de trabalho com representantes de outras áreas não farmacêuticas

3. Rever os itens do planejamento com a equipe ampliada

4. Apresentar a proposta para o gestor municipal e/ou estadual

Figura 1 - Mapa conceitual para construir uma sistematização de um serviço de dispensação

Page 16: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner16

Essasetapasdescritasacontecemciclicamente.Apartirdomomentoemqueaconteceumaalteraçãoemumadasetapas,éimportantecompartilhar as informações para que todos os atores sintam-sepertencentesaoprojetoe,assim,mantenham-semotivados.

Como estratégia, a partir do momento que se constituir o grupode trabalho,é fundamentaldefiniraperiodicidadedas reuniõesdogrupo,terumaagendaeconstituiratasparaaavaliaçãodoprocessoeregistrodasinformações.

Serviço de dispensação: um processo de decisão envolvido

Reflexão

Com os conceitos apresentados e com a regulamentação da

dispensação, atualmente, este serviço está articulado com os demais

serviços de saúde? Qual a influência sobre o desfecho na saúde do

paciente e nos resultados da saúde?

Vejamosaseguintesituação:DonaFranciscavaià farmácia,ondesão “dispensados” os medicamentos do município, para buscarseus medicamentos utilizados no tratamento da pressão arterial(hidroclorotiazida25mg,umavezaodia);dodiabetes(glibenclamida5mg,trêsvezesaodia,emetformina850mg,trêsvezesaodia);edohipotireoidismo(levotiroxina50mcg,umavezaodia).Duranteoatendimentofoiavaliado:

• Prescrição: Dados do prescritor, do usuário e as informaçõesrelacionadasaosmedicamentoseàvalidadedareceita.

• Estoque:Verificou-seadisponibilidadenoestoque.

Apósavaliação,foramrealizadososprocedimentosadministrativos,comoo registrodaentregadosmedicamentosnacarteirinhaenosistema.Foram,ainda,realizadasasorientaçõesdeuso,como:

• Ingerirosmedicamentosconformeaprescriçãomédica.

• O medicamento do tratamento do hipotireoidismo deve seringeridoemjejum.

A usuária foi questionada se tinha alguma dúvida, ela agradeceu,pegouseusmedicamentosefoiparacasa.

Page 17: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 17

Nocaminhoparacasa,DonaFranciscaencontrouumaamiga.Vejaodiálogoqueseestabeleceuentreelas:

- Oi Dona Francisca, como a senhora está?

- Estou bem, porém meu diabetes anda muito alto.

- Como a senhora sabe?

- Eu estava com muita sede durante a noite e a dor na perna cada vez

pior, fui ao médico, ele pediu para fazer exames. Quando eu levei os

resultados foi constatado que estava muito alta. Ele me disse que eu

preciso fazer dieta, caminhadas e pediu para eu tomar o remédio do

diabetes pela manhã, no almoço e no jantar. Antes, eu tomava só pela

manhã e à noite.

- A senhora está conseguindo fazer o que o médico pediu?

- Eu estou seguindo a dieta da nutricionista, mas não estou conseguindo

caminhar por causa da dor nas pernas e, além disso, tenho muita

dificuldade de tomar um remédio do diabetes, porque sinto dor de

estômago.

- E a senhora comentou isso com o médico?

- Fiquei tão assustada com tudo que o doutor falou que eu esqueci.

Eu fui buscar mais remédios agora, e o farmacêutico reforçou o que o

médico tinha me explicado e falou para tomar os remédios em jejum.

Aamigafalouquetambémutilizaremédioparaodiabetesenãotemdordeestômago, e, se elaquisesse, elapodiaolhar os remédiose ver se conseguia ajudar. Ao ver os medicamentos que DonaFrancisca estava utilizando, ela perguntou qual fazia mal, e DonaFranciscamostrouoblisterdemetformina.Aamigaperguntoucomoelatomava,eDonaFranciscafalouqueeraemjejum(umahoraantesdasrefeições,comágua).

ApósouviratentamenteDonaFrancisca,aamigaexplicouparaelaqueaagentedesaúdehaviafaladoquenemtodososmedicamentosprecisamser tomadosem jejum,equeosdodiabetespodemsertomadoscomalimentosparaevitaradordeestômago.

Dona Francisca agradeceu a informação e passou a utilizar omedicamento conforme o conselho da amiga. Três meses após,sentiamenosdornaspernas,inicioucaminhadas(trintaminutospordia),reduziuopeso,odiabeteseahipertensãoficaramcompensados.

Retomandoareflexãoapartirdasituaçãoproblemaapresentada,podeserexemplificadauma lacunaobservadanoprocessoassistencial,queéaintervençãosobreautilizaçãodosmedicamentos.Entretanto,seDonaFranciscadecidissenãoutilizaromedicamentoporquestõesrelacionadas às suas crenças pessoais, ou por falta de confiançano prescritor ou nomedicamento fornecido pelo sistema público,

Page 18: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner18

a lacuna ou o fenômeno seria o mesmo? O fenômeno pelo qualestamosampliandoadiscussãovisaintervirsobreocomportamentodousuário,porqueousoestárelacionadoaocomportamento.

Assim,prezadoestudante, paradiscutir dispensaçãoé necessárioentendê-lacomoumserviçodesaúde,transcenderaacessibilidadeaomedicamentoebuscar umnovoparadigma, emqueo serviçode dispensação esteja alinhado aos princípios do Sistema ÚnicodeSaúde,garantidopelaConstituiçãobrasileira,emqueofocoéapromoção,aproteçãoearecuperaçãodasaúde.

Soares (2013, p. 127) afirma, a partir das suas revisões sobre otema, que “a dispensação demedicamentos atual não apresentacaracterísticas,asquaissãoessenciaisparaclassificá-lanodomíniodeserviço”,umavezque,segundooautor,serviçoéumprocessoque aplica recursos e competências profissionais essenciais(conhecimentoehabilidades).

Os procedimentos em saúde visam à promoção, proteção erecuperação da saúde. Por exemplo, dentro de umprocedimentoocorrem várias intervenções, entretanto ocorrem atos que são decompetênciadoprofissional.

No caso da situação problema exposta, vivenciada pela DonaFrancisca,descritanesta lição,observe,noQuadro1,quais foramascompetênciasprofissionaisessenciaisobservadasnoserviçodomédico,donutricionistaedofarmacêutico.

Quadro 1 - Competências profissionais

pRofissional RecuRsos coMpetências

MédicoAnamnese médica

Exames laboratoriaisDiagnóstico da doença

Prescrição de medicamentos

Nutricionista Anamnese nutricionalDiagnóstico nutricional

Prescrição de dietaFarmacêutico Medicamento Fornecimento do medicamento

Podemos observar que os profissionais indicados no Quadro1 utilizam recursos para a recuperação da saúde da paciente,assim como possuem competências exclusivas. Entretanto, ascompetênciasdomédicoedonutricionistaestãorelacionadascomaavaliaçãodoestadodesaúde,easdofarmacêuticorelacionam-secomaprovisãodoinsumopararecuperarasaúde.

Poressemotivo,Soares(2013)defendeque:

O modelo de dispensação de medicamentos deveria ser integrado ao processo de cuidado no SUS, considerando o acesso como um atributo; o acolhimento,

Page 19: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 19

vínculo e responsabilização, a gestão e os aspectos clínico-farmacêutico como seus componentes; e o uso racional dos medicamentos como propósito (p.127).

Ainda,segundoomesmoautor,oserviçodedispensaçãodeveestarestruturadoesistematizadodemodoaasseguraraintegralidadedosserviçosdesaúde(SOARES,2013).

Além disso, a estruturação deste serviço precisa favorecer oatendimento, a relação direta do farmacêutico com o usuário,respeitando a individualidade e a privacidade, impactando ocomportamentodoprescritor,dofarmacêuticoedousuário.

Assim,oQuadro1seriaalterado:

pRofissional RecuRsos coMpetências

FarmacêuticoAvaliação da prescrição Anamnese farmacêutica

Decisão sobre o fornecimento do medicamento

Plano de uso do medicamento

Considerando os elementos de um serviço de saúde e pensandonadispensaçãocomoumserviçodesaúde,éfundamentalterclaroqueeleestárelacionadocomagarantiadaqualidadedosresultadosem saúde, uma vez que a dispensação possui uma interconexãocomosdemaisserviços farmacêuticosque integramaassistênciafarmacêuticaecomoprocessoassistencialdousuário.

Éimportantereconhecerqueadispensação,comopartedoprocessodecuidadodousuário,representaomomentoemqueousuáriotema oportunidade de, ainda dentro do sistema de saúde, identificar,corrigir ou reduzir os possíveis riscos associados à terapêuticamedicamentosa prescrita. Por outro lado, é o primeiro momentoem que os profissionais das unidades de dispensação interagemdiretamentecomousuário.Nessesentido,elanãoéofimouoiníciodeumprocessoassistencial,mas,sim,acontinuaçãodoprocessodecuidado.

Serviço de dispensação: Sistematização

A sistematização das ações no serviço de dispensação visa oplanejamentoeaaplicaçãodeconhecimentode formaorganizadaparaalcançarasmudançasnoestadodesaúdedousuário.Visa,ainda,queesteprocessoestejaorganizadodetalformaqueoportunizeaconstruçãodeconhecimento(produçãodenovosconhecimentosa partir da prática: conhecimentos tradicionais, populares,experimentaçõesrealizadaspelosusuárioseconhecimentotécnico-científicosparageraçãodesoluções).

Page 20: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner20

Você jáestudouoplanejamentoemsaúde,noMóduloTransversal-Gestão da assistência farmacêutica, e pode conferir como essaferramenta é importante. Para compreender melhor e incorporaressareorientaçãoconceitual,faz-senecessáriovisualizarainstituiçãode uma nova cultura, na qual o desafio é pensar na dispensaçãodentrodeumsistemadeserviçose,assim,poderplanejar,executar,avaliar e controlar as ações com a clareza das competências eresponsabilidades definidas, assim como a sistematização dosprocessoseaintegraçãoentreosserviçosfarmacêuticosedesaúde.

Serviço de dispensação: contribuindo para a construção de conhecimento

Primeiramente,éimportantequeoprofissionalsecoloquenolugardooutro,queoatendadeformaintegral,apartirdaconstruçãodevínculoe,consequentemente,oportunizemomentosparaaconstruçãodenovos conhecimentos em relação à sua saúde. Entretanto, o quevemoséumatendimentoeumprocessoburocráticoecomfoconasnecessidadesdoserviçoerefletindonapopulaçãoumaexperiênciadebanalizaçãodosofrimentoalheio,vividanoSUS.

Retomando alguns pontos discutidos na unidade 1 desteMódulo,os usuários do SUS (considerando-os como indivíduos ou grupossociais, sejam eles familiares ou de redesmais extensas), quandochegamaosserviços,trazemsuasexperiênciaseseusconhecimentossobreoprocessosaúde-doença-atenção,alémdesuasexpectativasdeatendimento.Ouseja,nãoconstituemumacaixaousacovazio,que precisa ser preenchido com nossos saberes e conselhos. Aocontrário, como vimos em exemplos citados no decorrer desteMódulo,osusuáriostêmautonomiaparatomardecisõescombasenoqueconhecemequeexperienciam.Porém,muitasvezes(ouquasesempre),odiálogosimétricoentreusuárioseprofissionaisdesaúdenãoéefetivadonaprática,porqueessesúltimosnãoseencontrampreparadosparacompartilhareparaescutaroqueousuáriotemparadizeroumanifestararespeitodesuador,deseusofrimento.

Nessesentido,comoo farmacêuticoéoprofissionalde referênciaparacontribuircomoconhecimentosobremedicamentose,assim,articularaçõesdeeducaçãoemsaúde,estasdevemserconstruídascoletivamente comos usuários, e considerando suas expectativassobreoquedesejamcompartilharduranteessasações.

Serviço de dispensação: a corresponsabilidade do usuário

Oprocessodedecisãocompreendeformasdemocráticasdedecisãoa partir de estratégias, especialmente, dirigidas àmobilização e àparticipação da população. Importante lembrar que aqui não está

Page 21: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 21

somente a decisão de fornecer ou não o medicamento, mas adecisãodequalmedicamentoter,eque,portanto,envolveaseleção,programação,aquisiçãoedistribuiçãodosmedicamentos.

Você deve estar se perguntando: “E a participação da população?Onde está inserida?”. Vamos lembrar que um dos princípios doSUSéaparticipaçãoeocontrolesocial,equeo localonde issoémaisevidenciadosãoosConselhosdeSaúde.Essestemasdevemser debatidos nos espaços de controle social. O usuário deve serestimuladoaparticipardagestãodoSUSpormeiodaparticipaçãonosConselhosdeSaúde(local,municipal,estadual,ounacional),ondesãodiscutidasquestõesimportantesrelacionadasaosistemadesaúde.

Ousuáriodevesercorresponsávelpeloseutratamentoedeveseguiroplanodetratamentopropostopeloprofissionaloupelaequipedesaúderesponsávelpeloseucuidado,quedevesercompreendidoeaceitopelapessoa;deveinformaraoprofissionaldesaúdeouàequiperesponsávelsobrequalquerfatoqueocorraemrelaçãoàsuacondiçãodesaúdeeassumiraresponsabilidadepelarecusaaprocedimentos,examesoutratamentosrecomendadosepelodescumprimentodasorientaçõesdoprofissionaloudaequipedesaúde.

Serviço de dispensação: contribuindo para a sustentabilidade social

Um dos grandes desafios na sociedade contemporânea, altamente

complexa e desafiadora, é promover a qualidade de vida.

Oprocessoavolumadodetrabalho,oativismomecânicodarepetiçãodo trabalho na saúde, frente a crises e sofrimentos, vemgerandoum alto índice de esgotamento nos profissionais, e o impacto éforteparaapromoçãodabaixadaqualidadedevida.Aodirecionarestratégiasemétodosdearticulaçãodeações,saberesesujeitos,pode-se, efetivamente,potencializar agarantiadeatenção integralresolutiva e humanizada nos serviços de saúde e, assim, ter umaequipemotivadaparaalcançarosresultados.

Abasedasustentabilidadedosserviçosemsaúdesãoaspessoase, para tanto, é necessário estar atento para o gerenciamento deconflitos pormeio de um sistemade comunicação, que pode sercompostodereuniõesperiódicas,e-mail,eque,depreferência,asdecisõessejamcompartilhadasintersetorialmente,comofoidescritoantes.Outraestratégiaimportanteparaaspessoassãoosfeedbacks,paraquecadaatorpossareconhecersuacontribuiçãonoprocessodeconstruçãoeavaliarsuasações.

Page 22: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner22

Serviço de dispensação: Ampliação de escala, gerando aprendizagens que servem de referência para novas experiências

Oreferencialteóricosobreaorganizaçãodadispensaçãocomoumserviçoé escasso, epropor umnovomodelo contextualizadonasdiversidadeserealidadesdopaís torna-seumcompromissosocialcomaqualidadedasaúdedapopulação,apartirdaproduçãodetecnologiasquecontribuamparaodesenvolvimentodoBrasil.

Como referido inicialmente nesta lição, o resultado de um serviçodevetercomofocoaconcriaçãodevalores,e,então,éfundamentalqueadispensaçãoestejasistematizadadetalformaquepromovaoacolhimento.

Oacolhimento,deacordocomaPolíticaNacionaldeHumanizaçãodaAtençãoedaGestãodoSUS,refere-seàrecepçãodousuário,desdea suachegadaaoserviçodesaúdeatéaescutaativadassuasnecessidades,incluindopreocupações,angústias,solicitações.Éumaformadeatenderatodosqueprocuramosserviçosdesaúde,garantindo uma atenção resolutiva e articulada com os demaisserviços,quandonecessário.

O acolhimento é considerado uma estratégia de interferência no

processo de trabalho e pode ser reconhecido como uma forma de

otimizar a informação e facilitar o acesso.

Napráticaprofissional,énecessárioquesejaadotadaumaposturaacolhedora,querespeiteaindividualidade,aprivacidade,efavoreçaatrocadeinformações.

A informação e a comunicação são fundamentais na relação doserviço de dispensação com os usuários, e são tão importantescomoomedicamento.Aformacomoseestabeleceessarelaçãoécrucial,eoconceitodeacolhimento,nessesentido,éoquemarcauma importantediferençaemcomosedáa relaçãodevínculo.Aresponsabilizaçãovisacomprometer-secomasaúdedosusuáriosemqualquerpontodeatençãoàsaúdeemqueestejam.

Paratanto,éfundamentalreconheceraimportânciadedesenvolvera habilidade de escuta, e isto significa escutar com o objetivo dereconhecer a necessidade de todos os envolvidos no serviço dedispensação:usuários,funcionários,farmacêuticosegestores,para,assim,namedidadopossível,integrarofocodoserviçoemquevisacontribuirparaamelhoriadosresultadosemsaúde.

Page 23: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 23

Osaberescutarocorrequandoseestabeleceumarelaçãodeduasvias,ambasaspartesfalamerespeitamoqueumeooutrotêmadizer.Aspartesperguntam,expressamopiniões,trocaminformaçõesetentamcompreenderoquecadaumestácomunicando.

Nesse sentido, ressalta-se a importância do contato visual, deconcentrar-se no que o outro está falando, demostrar que estáprestandoatençãonaescutadooutro,pormeiodegestos (comobalançaracabeça),sons(hum...hum...).

RetomandootextoO som da floresta,descritonoMóduloTransversal- Gestão da assistência farmacêutica, escutar é uma arte, querequer treino, concentração, desprendimento. Assim, para escutarénecessário:

1) Saberperguntar

• Iniciarodiálogocomperguntasabertas.

• Fazer perguntas para tentar identificar os sentimentos dooutro.

• Ajudarooutroarefletirsobreseussentimentosedúvidas.

• Evitarjulgarooutropelasuaaparência,formadeseexpressaroumesmo,pelosseushábitosecomportamentos.

• Exploraropiniõesdooutrosobreostemasdaconversa.

2) Saberinformar

• Descreverediscutirainformaçãorelevante,usandolinguagemsimplesetermosquetenhamsignificadoparaooutro.

• Ter a habilidade da comunicação de maneira efetiva, istoé, assegurar queooutro conheça seusdireitos eobtenhainformaçõesbásicassobreosserviçosquelhesãooferecidos.

• Verificar se o outro entendeu direito o que deve fazer(esclarecerpossíveisdúvidasoumácompreensão).

• Resumir tópicos importantes da conversa (preocupações,esquema terapêutico, decisões tomadas etc.), no final daconversa.

Page 24: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner24

3) Saberresponderàsnecessidadesdooutro

• Respeitaroqueooutrodiz epergunta, istoé, ter sempreemmentequeooutrotambémtemsuasprópriasopiniões,preocupaçõeseformasdeseexpressar.

• Deixarqueconteahistóriadele.

• Responderdemaneiradireta,objetivaesimplesàsperguntasdooutro.

• Assegurarquesuaposturacorporal,suasexpressõesfaciaisetomdevozindiqueminteresseerespeito.

• Nãocriticarnemrepreenderooutro.

• Nãoignorarasqueixasoucomentáriosdooutro.

• Falar com o outro de modo que ele se sinta confortávelpara expressar-se, estimulandoa conversa comperguntasabertas,transmitindoconfiança,respeitandoseuspontosdevista.

• Evitar interromper o outro quando ele está falando doproblemaqueoaflige.

• Pedir ao outro que fale ou explique mais sobre o que opreocupa.

• Reafirmaretransmitirconfiança,semcriarfalsasexpectativassobreomotivodaconversa.

• Felicitá-loporeleestarprocurandoajudaparaseuproblema.

• Comunicar informações ao outro de uma maneira firme,mas,aomesmotempo,delicadaeencorajadora,ajudando-oa superar dificuldades de expressar seus sentimentos epreocupações.

• Saberaidadee/ouograudeescolaridadeesuacapacidadedecompreensãodalinguagemquevocêutiliza.

• Usartomdevozeexpressãofacialamáveisefalarpalavrasencorajadoras.

• Estabelecerumarelaçãoabertaedeconfiançamútua.

Page 25: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 25

• Compartilharereconhecersentimentoscomooutro.

• Motivarpráticassaudáveis.

Comopodeserobservadonestalição,pensaremdispensaçãocomoumserviçodesaúdevaialémdebuscarummarcoregulatóriosobreocontrolesanitáriodocomérciodemedicamentos,devendoatingiraevoluçãodoprocessodegeraçãoeproduçãodemedicamentos(industrialização),atéaentregadoinsumocomfoconaorientaçãoeprevençãodeagravos(relacionadosàsreaçõesadversas),conformeafirmaSoares(2013).

Discutir dispensação como um serviço é visualizar a construção de

um processo integrado, com a incorporação de novos valores para o

sistema de saúde e para a população.

As atividades clínicas na área farmacêutica são muito recentes em

termos de desenvolvimento profissional. O conhecimento científico

e a atividade corporativa precisam estar articulados em favor do

desenvolvimento de um serviço clínico farmacêutico que torne-se uma

necessidade aos usuários, ou seja, um meio valoroso e valorizado para

se alcançar bons resultados em saúde.

Pensando em estimular esse debate, reunimos grandes farmacêuticos

especialistas brasileiros da área clínica para uma conversa, na qual o

tema é a clínica farmacêutica na dispensação. O debate contou com

a presença dos especialistas Cassyano Januário Correr, Mauro Silveira

de Castro e Leonardo Régis Leira Pereira, e teve como convidadas as

professoras Silvana Nair Leite e Mareni Rocha Farias, sendo mediado

pelo professor Luciano Soares.

Confira o vídeo no AVEA.

Ambiente Virtual

Lição 2 - Serviço de dispensação: a estruturação do processo de dispensação

Estaliçãotemporobjetivodescreverasistematizaçãodaatividadededispensaçãoapartirdosregulamentosvigentes.

Page 26: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner26

Para o aprofundamento do tema, consulte a publicação Diretrizes para estruturação de farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde,

elaborada pelo Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério

da Saúde, disponível na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Apartirdasreferênciasutilizadas,adispensaçãoéumadasatividadesdaassistência farmacêuticaconsideradaprivativado farmacêutico.Esse novoparadigmaorienta que o farmacêutico é o responsávelpelo fornecimento domedicamento, bem como pelas orientaçõesparaseuusoadequado(ANGONESI,2008).

O serviço de dispensação deve estar estruturado e sistematizadodemodo a assegurar que omedicamento esteja sendo entregueao usuário certo, na dose prescrita, na quantidade adequada equesejamfornecidasasinformaçõessuficientesparaousocorreto(OMS, 1993). Além disso, acrescentamos que essa estruturação,respeitando a individualidade e a privacidade, deve favorecer oatendimentoearelaçãodiretadofarmacêuticocomousuário.

Segundoas instruções técnicasparaaorganizaçãodaassistênciafarmacêutica na Atenção Básica (BRASIL, 2006), os objetivos dadispensaçãodevemser:

• garantirocumprimentodaprescriçãopormeiodofornecimentodomedicamentocorretoeemquantidadeadequada;

• contribuirparaaadesãoaotratamento;

• minimizarerrosdeprescrição;

• proporcionaratençãofarmacêuticadequalidade;

• informarsobreousocorretodomedicamento.

Oprocessodedispensaçãonãoconfiguraapenasaocasiãoemquedeterminadaprescriçãoéaviada,mas,sim,umconjuntodeações,istoé:

• Obter prescrição - adquirir, alcançar, interpretar, entender,executar,analisar.

• Fornecer-abastecer,proporcionaronecessário.

Page 27: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 27

• Entregar-passaràsmãosouàpossedealguém.

• Avaliar–aferir,medir,julgar.

• Informar-darinformeouparecersobre,comunicar,darnotícias.

• Orientar-dirigir,guiar,caminharjunto,reconhecereexaminarasituação.

• Educar-promoveratrocadesaberesentreossujeitos.

Para que isso ocorra, é necessário planejamento e organizaçãodas atividades de dispensação, assim como das estruturas física,organizacional e funcional; bem como são necessários recursoshumanosqualificadoseaelaboraçãodeummanualcomnormaseprocedimentos,pois,seadispensaçãofordestituídadeinformaçõesbásicas, pode levar a resultados inesperados, que podemcomprometerasaúdedousuário.

As atividades que envolvem a dispensação não podem ser consideradas

apenas como uma troca de prescrições por mercadorias. Tão importante

quanto o medicamento, a informação de como utilizá-lo cumpre um

papel fundamental e nunca deve ser omitida.

Oserviçodedispensaçãodeveestarorganizadoafimdeassegurarao usuário os princípios do SUS: universalidade, equidade eintegralidade.Nessesentido,constituem-sedireitosdousuário:

• agarantiadoacessoaosmedicamentosporpartedosistema;

• o tratamento diferenciado aos desiguais, oferecendo mais aquemprecisamais,procurandoreduziradesigualdade;

• seratendidonassuasnecessidades,sendoqueosserviçosdesaúdedevemestar organizadosdemodo a oferecer todas asações.

A dispensação é um ato farmacêutico, ela acontece quando há

supervisão direta do profissional farmacêutico, caso contrário ocorre,

simplesmente, o fornecimento de medicamentos.

Page 28: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner28

Porserumatorealizadodiretamenteaosusuáriosdoserviço,devem-seconsiderarosprincípiosdahumanização.Noentanto,portercomoprincipalobjetivooprocessodeuso,têm-selimitações.Tambémháqueseconsiderarqueasinformaçõesoraisaumentamaslimitaçõesdosresultadosterapêuticos,poisénormalnãosememorizareaprendertudooquesefala.Por isso,adispensaçãodemedicamentosdeveserumprocessocentradonousuárioenãosomentenoprocessodeentregademedicamentosedeinformações(OPAS,2011).

Paraquetudoissofuncioneadequadamente,énecessárioplanejareorganizar.Eessasatividadessomentesãopossíveiscomumaboagestão,pormeiodadefiniçãoderesponsabilidades.

Assim, para se desempenhar a atividade de dispensação, dentrodo conceito de serviço de saúde, é necessário considerar comoaconteceoacessoaoserviço.

Oacessoestárelacionadocomacapacidadedosusuáriosemobterosserviçoseprodutosnecessáriosnolocalemomentosoportunos,ausência de barreiras geográficas, financeiras, organizacionais,socioculturais, étnicas e de gênero ao cuidado. Deverão serestabelecidas alternativas específicas na relação entre acesso,escala, escopo, qualidade e custo, para garantir o acesso, nassituaçõesdepopulaçõesdispersasdebaixadensidadepopulacional,combaixíssimaofertadeserviços.Oacessopodeseranalisadopormeio da disponibilidade, comodidade e aceitabilidade do serviçopelosusuários.

Adisponibilidadedizrespeitoàobtençãodaatençãonecessáriaaousuário e sua família, tanto nas situaçõesde urgência/emergênciaquantodeeletividade.Acomodidadeestárelacionadaaotempodeesperaparaoatendimento,aconveniênciadehorários,aformadeagendamento,afacilidadedecontatocomosprofissionais,oconfortodos ambientes para atendimento, entre outros. A aceitabilidadeestá relacionada à satisfação dos usuários quanto à localização eaparênciado serviço; à aceitaçãodosusuáriosquanto ao tipodeatendimentoprestado;e,também,àaceitaçãodosusuáriosquantoaosprofissionaisresponsáveispeloatendimento.

A organização da dispensação possui como estratégia superar a

fragmentação, mediante definição de fluxos na construção de um

conjunto de ações articulado e sincronizado, que influencia as áreas dos

serviços de saúde da mesma forma que é influenciado por elas.

Page 29: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 29

NestemomentodoCursoéimportantequevocêconheçaaRelaçãoNacional de Medicamentos Essenciais (Rename), as pactuaçõesdaComissão IntergestoresBipartite (CIB)noseuEstado,oelencode medicamentos do município, o financiamento e as etapas daassistênciafarmacêuticaanterioresàdispensação,pois,paraexistirdispensação,énecessárioqueomedicamentoestejadisponível!

SegundoTravassoseMartins(2004),oacessoéaprovisãodocuidadoadequado,nomomentoadequadoenolocaladequado.Oacesso,nesse caso, não abrange qualquer uso; ao contrário, limita-se aousoqualificado,istoé,aquelequeocorrenomomentoadequadoaoatendimentodoproblemadesaúdedousuário,utilizandorecursoscorretoseexecutadosdaformacorreta.

Para relembrar os conceitos de acesso, recomendamos que você retome

a unidade 2 - O acesso aos medicamentos no sistema público brasileiro e a construção da Assistência Farmacêutica do Módulo 2 - Políticas de saúde e acesso aos medicamentos. Sugerimos, ainda, a leitura do artigo:

Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde, de Travassos e Martins, disponível na Biblioteca.

Ambiente Virtual

A dispensação dos medicamentos pode ser feita de maneiracentralizada ou descentralizada. Quando feita em apenas umafarmácia central tem vantagens e desvantagens. Podemos citarcomovantagemummaiorcontrole, jáqueali éonde,geralmente,está alocado o farmacêutico e, portanto, tem-se a possibilidadedeumasupervisãodiretadoprocessodedispensaçãoeummaiorcontroledoatendimentodosfuncionários.

Como desvantagem, pode-se citar o deslocamento do usuário atéessa farmácia central, que,muitas vezes, está localizada na regiãocentral do município, dificultando o acesso de alguns usuários.Inicialmente, pode-se pensar que, assim, diminui-se o custo compessoaleinfraestrutura,mas,dessamaneira,ocorreconcentraçãodedemandae,portanto,onúmerodefuncionáriostendeaseromesmo.Semumaestratégiadetrabalho,queaproximeoserviçofarmacêuticodasunidadesdesaúde,pode-seperderocontatocomacomunidade,com as unidades de saúde e com os profissionais, especialmentedaEstratégiadeSaúdedaFamília (ESF),sendoqueessecontatoéfundamental para o desenvolvimento de estratégias visando o usoracionaldemedicamentos.Demodogeral, tem-seumbomserviçofarmacêutico,comboagestãooperacional,maspoucointegradoaoserviçodesaúde,principalmentedopontodevistadagestãoclínica.

Page 30: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner30

Já,adescentralizaçãodadispensaçãotemcomovantagemomaiorrespeito ao usuário, facilitando o acesso ao medicamento. Nestalógica, o nível central, responsável pela assistência farmacêuticamunicipal, deve trabalhar de forma integrada com o serviçofarmacêuticoeosprofissionaisdesaúde,especialmentedaESF,poisénessesespaçosqueseestabeleceocontatodiretoediáriocomusuáriose,porisso,éaliquesedevedeterminaredirecionartodasaspolíticasenormaselaboradasnonívelcentral.

Muitosmunicípios,principalmenteosdepequenoporte,centralizamos medicamentos na farmácia central do município, geralmentelocalizadaemunidadesdereferênciaoupoliclínicasecomapresençadofarmacêutico.Contudo,épossível,tantonessesmunicípioscomoemmunicípiosmaiores,adescentralizaçãodadispensaçãocomacriaçãodeunidadesregionais,queatenderiammaisdeumaunidadedesaúde;ouadispensaçãoemunidadesdesaúdeestratégicas,queteriam a presença do farmacêutico,melhorando, assim, o acessoaosserviçosfarmacêuticospelosusuáriosdosistema.

Omodelodescentralizadodadispensaçãoemunidadesdesaúdecomfarmacêuticoresponsávelpossibilitaainserçãodestenaequipede saúde, para a realização dos serviços técnico-gerenciais eassistenciais,evitandoqueessemodelosejareconhecidocomoumserviçodesorganizado,comfaltademedicamentos, ineficiêncianocontroledeestoquesearmazenamentoinadequado.

SegundoestabelecidonasDiretrizesparaestruturaçãodefarmáciasnoâmbitodoSistemaÚnicodeSaúde/MinistériodaSaúde(2009):

• Osserviços técnico-gerenciaisexigemprofissionaiscapacitadospara aplicar conhecimentos e informações epidemiológicas,administrativasegerenciaisparaoplanejamentoeaexecuçãodasações.

• Os serviços técnico-assistenciais referem-se às atividadesclínicas,enecessitamdeumaequipeplenamentecapacitadaparaaplicarconhecimentossobreosmedicamentos,aterapêutica,ashabilidadeseascompetênciasparaestabelecerarelaçãocomosusuáriosdosserviçoseaequipeassistencialegerencial.

NaFigura2,aseguir,estãoapresentadosexemplosdessesserviços,categorizadosdeacordocomaclassificaçãodasDiretrizes:

Page 31: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 31

TécnicoGerencial

Programação, solicitação de medicamentos, armazenamento, recebimento,estocagem, controle de estoque, inventário, descarte de resíduos.

Dispensação, orientação farmacêutica, seguimento farmacoterapêutico,educação em saúde, suporte técnico para equipe de saúde.

TécnicoAssistencial

Figura 2 - Exemplos de Serviços Farmacêuticos classificados de acordo as Diretrizes para estruturação de

farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Fonte: BRASIL, 2009.

Asinformações,muitasvezes,nãochegamaonívelcentraldegestãopornãoexistireminstrumentosoupessoalqualificadoparadetectá-las,registrá-laserepassá-lasadequadamente.Aliadoaisso,temofatodequemuitasSecretariasMunicipaisdeSaúdenãopossuemounãocontamcomumnúmerosuficientede farmacêuticos.Essecenário contribui para o atendimento inadequado aos usuários doSUS,alémdefavorecerperdasfinanceiras,elevadamobilizaçãoderecursos e, principalmente, uso irracional demedicamentos, baixacoberturapopulacionalebaixaresolutividadedosserviçosdesaúde.

Os medicamentos que compõem o elenco da Relação MunicipaldeMedicamentosEssenciais(Remume)podemserdistribuídosnasunidadesdesaúde,desdequesejarespeitadaalegislaçãovigente,comdestaquepara:aPortariaSVS/MSn.344/1998;aResoluçãoRDC Anvisa n. 20/2011; as Portarias GM/MS n. 1.554/2013 e n.1.555/2013;equeosprofissionais,responsáveispeladispensaçãodessesmedicamentosaosusuários,sejamqualificadosetreinadosparaessefim.

Links

Para saber mais sobre a legislação vigente, acesse os seguintes

endereços:

Portaria SVS/MS n. 344/1998: <http://www.anvisa.gov.br/hotsite/

talidomida/legis/Portaria_344_98.pdf>

Resolução RDC Anvisa n. 20/2011: <http://www.anvisa.gov.br/sngpc/

Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf?jornal=1&pagina=174&da

ta=01/07/2010>

Portaria GM/MS n. 1.554/2013: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/

saudelegis/gm/2013/prt1554_30_07_2013.html>

Portaria GM/MS n. 1.555/2013: <http://www.brasilsus.com.br/

legislacoes/gm/119968-1555.html>

Page 32: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner32

Outra forma de acesso aos medicamentos, utilizada por algunsmunicípios,emdiversasregiõesdopaís,éaentregadomedicamentoemdomicílio,pormeiodemotoboys,agentescomunitáriosdesaúde,correiosetc.

Links

Não deixe de ler o artigo de Simões e Monteiro, publicado em 2005,

sobre a experiência do Projeto Remédio em Casa, no município do Rio de

Janeiro. O artigo está disponível no endereço: <http://www.saocamilo-

sp.br/pdf/mundo_saude/35/estrategias_apoio.pdf>

Reflexão

Esses modelos de acesso aos medicamentos têm gerado muita

discussão, considerando que, por um lado, com a entrega em domicílio,

tem-se a certeza de que o usuário teve acesso ao medicamento. Mas,

ele teve acesso ao serviço farmacêutico?

Quando falamos em serviço farmacêutico, estamos falando deaçõesque visamgarantir a atenção integral, articulada e contínuadasnecessidadesedosproblemasdesaúdedapopulação, tantoindividual como coletiva, tendo o medicamento como um doselementosessenciais,contribuindoparaseuacessoequitativoeusoracional.

Reflexão

E no modelo que conhecemos, com o usuário se deslocando até a

unidade de saúde ou à farmácia central para buscar seus medicamentos,

está sendo promovido o acesso ao serviço farmacêutico?

Antesdepensarmosemcomopromoveroacessoaosmedicamentoseemcomofazercomqueesseacessosejahumanizado,temosquerefletirsobrealgumasquestões.

Page 33: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 33

Reflexão

Muitas vezes, os gestores querem que o usuário receba o medicamento,

sem, porém, refletir que, com o ato de apenas entregá-lo ao usuário,

não estará promovendo o acesso. Será que não estamos escondendo o

problema? “Tapando o sol com a peneira”?

Quando o medicamento é enviado por um serviço de entrega,simplesmenteparatirarousuáriodaunidadedesaúde,diminuindoasfilasparaatendimento,estamosapenasescondendooproblema,enãopromovendooacessoaoserviço.

Não vamos definir aqui um modelo ideal de organização dadispensaçãonoseumunicípio,pois cada local temcaracterísticasdiferentes. Não existe um modelo nacional ou internacional, masexistem, sim, aspectos estratégicos relacionados à realidadegeográfica, demográfica e socioeconômica da área, ao perfilepidemiológico, número de unidades de saúde no município, àestruturafísicaefuncional.

As unidades de dispensação deverão estar em local de fácil acesso para

o recebimento e a dispensação de medicamentos e demais serviços

ofertados, atendendo aos critérios de referência territorial e de facilidade

de acesso à população. Portanto, ao definir como será essa organização,

seja ela centralizada, descentralizada, ou outra forma, é importante

lembrarmos que devemos promover o acesso ao serviço farmacêutico.

Alémdaorganizaçãodadispensaçãonomunicípio,deve-sepensartambémnaorganizaçãodadispensaçãonasunidadesdesaúde;nãoapenasnaorganizaçãodoespaçofísicoefuncional,mastambémdoserviçodefarmácia.

Énecessárioqueofarmacêuticocompreendaedefina,demaneiraexplícita, o serviço que fornecerá ao usuário, sendoque a equipe(gestores e equipe de saúde) deve articular a maneira de pensarsobreoserviçoaserprestado.

A farmácia deve apresentar layout próprio, de forma a priorizar aáreadeatendimentoondeosusuáriospossamreceberatendimentopersonalizado e individualizado, seguindo uma concepção

Page 34: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner34

humanizadadosserviçosofertadosebuscandoo reconhecimentodaunidadecomoreferêncianaprestaçãodeserviçosfarmacêuticos.

Reflexão

Agora, imagine que você é o usuário do serviço e necessita de uma

informação. Chegando ao guichê, percebe que ele contém grade ou

vidro, dificultando enxergar ou ouvir a pessoa que está “atendendo”.

Como você se sente? Imagine um idoso com dificuldade auditiva ou uma

mãe com um filho doente no colo.

Para um ambiente confortável, existem componentes que atuamcomomodificadoresequalificadoresdoserviço,como,porexemplo:atendimento semgradesou vidraça, para facilitar a comunicação;disponibilidadedemesasecadeirasparaoatendimento;colocaçãodeplacasdeidentificaçãodoserviçoexistenteesinalizaçãodosfluxos;iluminação adequada; ausência de ruídos; e tratamentodas áreasexternas(BRASIL,2009).Além,semdúvida,depessoalcapacitadoe treinado para o desenvolvimento de atividades administrativas,logísticaseassistenciais.

Esse espaço deve permitir, também, a troca de informações deformasemiprivativaouprivativa.Paraarealizaçãodesseserviço,éimportantequeseatendaousuárioemlocalquepermitaumdiálogosem interferentesauditivosouquedistraiamaatençãodousuário;que ofereça conforto e sensação de acolhimento, onde tanto ofarmacêutico quanto o usuário, estejam sentados. A estrutura doserviço de farmácia deve dispor, preferencialmente, de acesso àinternet,telefoneematerialbibliográfico.

Outradificuldadenasunidadesdesaúdeéafaltadeespaçoparaafarmácia.Emmuitoscasos,osmedicamentosficamarmazenadosemvárioslocais,comocozinha,copa,banheirosenochão,dificultando,emuito,oprocessodedispensaçãoecontroledetodasasetapasdaassistência farmacêutica,alémdeestaremarmazenadosem locaisimpróprios.

Reflexão

A partir do que já foi exposto, quais competências e habilidades são

necessárias para a organização do serviço de dispensação?

Page 35: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 35

LeiaorelatodafarmacêuticaAna,domunicípiofictíciodeTerraFértil.

Ana, farmacêutica, que há dois anos foi contratada por meio deconcursopúblicoparaatuarnomunicípiodeTerraFértil,comumapopulação de 27.000 habitantes, relata que, quando assumiuseu cargo, detectou situações que interferiam diretamente nadispensação,taiscomo:

• Faltademedicamentosna farmáciacentralenasunidadesdesaúde.

• O elenco dos medicamentos fornecidos não contemplavaalgumaspatologias,porexemplo,epilepsiaehipotiroidismo.

• Reclamação dos usuários do CAPS (Centro de AtençãoPsicossocial)quantoaoacessoaosmedicamentos.

• Grande quantidade de medicamentos vencidos na farmáciacentral e nas unidades de saúde, que correspondiam a 5%do estoque geral e 10%do orçamentomensal da assistênciafarmacêutica.

• Estrutura física inadequada para o serviço farmacêutico, porexemplo:temperaturaelevada,mobiliário,limpezaevidro.

• Nãoerafornecidooinsumoparaotratamentododiabetes,porexemplo:seringa,lancetas,tiraseglicosímetros.

• Osmedicamentosdetuberculoseehanseníaseeramentreguesnavigilânciaepidemiológica.

• Os medicamentos judiciais eram entregues pelo motorista daprefeitura.

• Ofarmacêuticonãodispensavamedicamento,esteserviçoerarealizadopelosfuncionários.

• Arelaçãoentreoserviçofarmacêuticoeasunidadesdesaúdeerafocadanareposiçãodeestoque.

• Oserviço farmacêuticonãoestavaenvolvidonasatividadesdeeducaçãoemsaúde.

A partir da detecção desses problemas, a farmacêutica tomoucomoprimeiramedidadesenvolveroplanejamentoestratégicocomobjetivodeviabilizaroacesso, tendocomo focodoserviçoouso

Page 36: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner36

racionaldomedicamentoe,assim,melhorarasatisfaçãodousuáriocomoserviçofarmacêutico.

Parainiciarasatividades,Anapercebeuquenecessitavadealgumasinformações:

• Ondeháentregademedicamentonomunicípio?

• Existe algum funcionário responsável pela entrega dosmedicamentos?Queméesseresponsável?Equaloperíododeentrega?

• Deondevêmosrecursosparaaestruturaçãodasfarmácias?

• Comoosrecursospodemserutilizados,eporqueissoinfluenciaaorganizaçãoeoprocessodedispensação?

• A organização do serviço no município promove o acessodos usuários ao tratamento medicamentoso e ao cuidadofarmacêutico?

• Épossível,nasuarotina,outrasatividadescomoeducaçãoemsaúde, visita às unidadesde saúde, inserçãonaComissãodeFarmáciaTerapêutica?

Evocê,seidentificoucomasituaçãovividapelafarmacêuticaAna?Para a sistematização dos serviços de dispensação é importantedefinir:

• Ondeserãofornecidososmedicamentos.

• Quantasunidadesterãoimplantadososerviçodedispensaçãoeseissoimplicanaintervençãodiretadofarmacêutico.

• Omodelo:centralizadooudescentralizado.

• Aprioridadedoslocaisondeseráimplantadaadispensação.

• Asatividadeseresponsabilidadesqueenvolvemesteserviço.

• Os instrumentos que certifiquem a definição de atividades eresponsabilidades,como:protocolos,escaladeatividades.

• Osmeiosparaavaliaremoserviçonoâmbitolocalemunicipal,incluindoindicadoresdesatisfaçãodousuário.

Page 37: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 37

Aestruturaçãodoserviçodedispensaçãocontribuiráparaagestãodele,bemcomoparadelinearoplanejamentodasaçõesintegradasaoserviçodesaúdeemelhorarosresultadosdasaúdedosusuáriosdoSUS.

Lição 3 – Estrutura física e recursos humanos para a organização do serviço de dispensação

Ao final desta lição, você estará apto a identificar e discutir aimportância da estrutura física e dos recursos humanos para aorganizaçãodoserviçodedispensação.

AsperdasfinanceirasparaasSecretariasMunicipaisdeSaúde têmsido consideráveis pela falta de observação de alguns detalhes naquestãodosmedicamentos.Infelizmente,osdesperdíciossãodedifícilmensuraçãoquantitativa,vistoqueoscálculosenvolvemoutrosníveisdecomplexidadedosistemadesaúde,eatémesmooutrossetores.

É crucial a modernização da estrutura física das farmácias e a presença

institucionalizada dos profissionais farmacêuticos. Essa lógica se faz

necessária para o caráter multiprofissional e interdisciplinar no SUS, bem

como para a garantia mínima de dois de seus princípios: integralidade

da assistência e humanização do atendimento.

Comogestor,vocêdeveverificarseaáreafísicadasfarmáciasdaRededeAtençãoàSaúdedomunicípioatendeademandapopulacionalexistentenaáreadeabrangência,permitindoadisponibilizaçãodosserviçosnecessários.Essasáreas tambémdevemsercompatíveiscom as demais atividades de assistência farmacêutica, com asquantidades e os tipos de produtos a seremestocados, e comaperiodicidadedareposição.

Émuitoimportanteoplanejamentoparaadequaçãodosambientesdafarmácia,devendo,paraisso,seremconsideradosoPlanoDiretordoMunicípio,asnormassanitáriasvigentes,eosrequisitosexigidospelaNBRABNTn.9.050,de31demaiode2004,quedispõesobreacessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentosurbanos(ABNT,2004).

Alémdetudoisso,afimdemelhoraraestruturaçãodaassistênciafarmacêuticanomunicípio,umpercentualdeaté15% (quinzeporcento)dasomadosvaloresdosrecursosfinanceirosdoComponente

Page 38: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner38

BásicodaAssistênciaFarmacêutica,estadualemunicipalpodeserutilizado, anualmente, para atividades destinadas à adequação deespaçofísicodasfarmáciasdoSUSrelacionadasàAtençãoBásica,à aquisição de equipamentos e mobiliário destinados ao suportedasaçõesdeassistênciafarmacêutica,eàrealizaçãodeatividadesvinculadas à educação continuada, voltada à qualificação dosrecursoshumanosdaassistência farmacêuticanaAtençãoBásica,sendovedadaautilizaçãodosrecursosfederaisparaestafinalidade,conformeestabelecidonaPortariaGM/MSn.1.555/2013.

O gestor deve ter claro que, para utilização desses recursos, asatividadeseosrecursosfinanceirosaplicadosdeverãoconstarnosinstrumentos de gestão do SUS (Plano de Saúde, ProgramaçãoAnualeRelatórioAnualdeGestão).

Nós,particularmente,consideramosqueosbenefíciosdeestruturaçãoemanutençãodeumserviçodefarmáciatêmumenormepotencialparasuperarosseuscustoscomalgumasatitudes,como:

• diminuindo o número de usuários que evoluem a um nível demaiorcomplexidadedeatendimentoe,portanto,demaiorcusto;

• diminuindo a quantidade de produtos que são descartadospor ultrapassar o prazo de validade e, consequentemente,economizando com a aquisição de produtos em quantidadedemasiadaecomocustododescarte;

• aumentando o atendimento das prescrições por existir umamelhordistribuiçãodosmedicamentoseinsumosnasfarmácias,evitandofaltasdestes;

• aumentandoonúmerodeitensatendidosporprescrição,devidoamaiorinteraçãoentreoprescritoreofarmacêuticonasunidadesdesaúde.

A farmácia é um espaço identificado como uma estrutura físicaquepermitenãosomenteaguardacorretademedicamentos,mastambémumespaçohumanizadode atendimento aos usuáriosdoSUS,dotadodeumsistemaeficientedeinformaçãoaosinteressesdoconjuntodosprogramaseaçõesdesaúde.

Emumaboagestãoéfundamentaloestabelecimentodeprocessosestratégicos, iniciando pela gestão dos recursos humanos, quesão os que fazemos processos ocorrerem (OPAS, 2011). Sendoassim, a farmácia deve dispor de recursos humanos suficientes,tantoparaosserviçostécnico-gerenciaisquantoparaaassistênciaaosusuários,mobilizadosecomprometidoscomaorganizaçãoea

Page 39: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 39

produçãodeserviçosqueatendamàsnecessidadesdapopulação.Oquantitativodessesrecursosdevevariarconformeonúmerodeatendimentos diários e a complexidade do serviço prestado pelafarmácia(BRASIL,2009).

Portanto, farmácias comunitárias, implantadas de acordo com as

normas sanitárias vigentes, devem ser referência para a dispensação de

medicamento para uma determinada população adscrita, organizando

os registros, a dispensação, o acompanhamento dos tratamentos e

desenvolvendo ações de educação em saúde para promover o uso

racional dos medicamentos e a otimização de processos logísticos.

Um fator de grande relevância que tem impedido a criação eo desenvolvimento de serviços farmacêuticos é a escassez deprofissionaisfarmacêuticosnoSUS,sobretudonasunidadesbásicasdesaúde.Emgeral,osgestoresaindanãoestãosensibilizadosquantoà importância desse profissional para a eficiência da assistênciafarmacêuticanosmunicípios.

Outro fato é o envolvimento demasiado do farmacêutico nasatividadestécnico-gerenciais,distanciando-sedasassistenciais.ComaconsolidaçãodoSUS,estassemostramcomoumapossibilidadedeatuaçãodoprofissionalfarmacêutico,quepodeatuartantononívelgerencial/administrativo,quantoematividadesassistenciaisouclínicas.

A importância dos medicamentos na recuperação da saúde dos

usuários do sistema, o volume cada vez maior de recursos empregados

na aquisição destes e a dificuldade na gestão central e local dos

medicamentos justificam a inserção, cada vez mais, do profissional

farmacêutico no sistema de saúde (LEITE; CORDEIRO, 2005).

De importânciacadavezmais reconhecida,asquestões inerentesà capacitação de recursos humanos ocupam lugar de destaquenas estratégias de implementação do SUS. A capacitação detodos os funcionários para atuar na farmácia é indispensável, e éfundamentalqueosgestoresdasaúdeedaassistênciafarmacêuticadesenvolvam e mantenham um plano de educação permanenteparaessesprofissionais.Umamaneirade realizar acapacitaçãoépormeiodomatriciamento,oqualserámelhordetalhadonalição6,destaunidade.

Page 40: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner40

AformaçãoeeducaçãopermanentedosrecursoshumanosdevemestardeacordocomosobjetivosdoSUSedaAtençãoBásicaecom as funções do serviço farmacêutico. É fundamental que asexperiênciasdeaprendizagemvenhamdainteraçãocomosdemaisatores dos serviços e do sistema de saúde e da comunidade,informaçãosobreproblemasdesaúdemaisrelevantessocialmenteecomumaaçãocentradanoindivíduo,nafamíliaenacomunidade.Os serviços devem atuar como campo de prática, tanto para aformaçãocomoparaaeducaçãopermantedopessoaldoserviçofarmacêutico.

Éimportantequeotrabalhoemequipesejaumprocessodinâmico,aberto e participativo na construção técnica, política e social damudançadotrabalhoemsaúdeparaaaplicaçãodeumnovomodelodeatenção(OPAS,2011).

Alémdaênfasenaformaçãoeeducaçãocontinuadaepermanentedo profissional farmacêutico, é preciso considerar, também, acapacitaçãoeotreinamentodopessoaldeapoio,comoosauxiliaresdoserviço.Esserecursoéfundamental,pois,emmuitasocasiões,são estes profissionais que têm contato direto com o usuário doserviço,razãopelaqualdevemconhecerosprincípioseosvaloresdo sistema e do serviço. Como parte do trabalho em equipe, noentanto, é fundamental que esteja claro até onde chega o papeldessesprofissionaisnoprocessodeatenção.Daíaimportânciadequeagestãoderecursoshumanostenha,claramente,definidasasfunções dos diferentes componentes da equipe, assim como ascompetênciaseaformaçãonecessárias.

Um elemento chave na formação dos profissionais é a ética,considerandonãosomenteosaspectosdaatençãoàsaúde,mastambémosaspectoséticosdatomadadedecisões,tantonoâmbitoclínicocomogerencial,a investigaçãoqueenvolvesereshumanos,a inter-relação entre os membros da equipe de saúde e com acomunidade,aspectosdomeioambiente,entreoutros.Éimportanteconsiderararealidadesocioeconômica,osvaloreseasconvençõesinstituídasporumadeterminadacomunidadeousociedade.

Lição 4 – Componentes das atividades do serviço de dispensação

Nesta lição, vamos observar, refletir e discutir o processo dedispensação,paraquevocêestejaaptoaorganizareordenaresseserviço.

A dispensação é composta de atividades que visam assegurar aqualidade do medicamento, classificadas como administrativas e

Page 41: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 41

assistenciais,cujo focoéo resultadonasaúdedousuário.Paraaorganização dessas atividades, recomendamos algumas leiturascomplementares para que você possa recordar alguns tópicos jáestudados.

Sugerimos a leitura dos seguintes documentos para recordar alguns

pontos da dispensação:

•  Assistência Farmacêutica na Atenção Básica: instruções técnicas para sua organização, do Ministério da Saúde. 2. ed., 2006.

•  Serviços farmacêuticos na atenção primária à saúde, de Rafael Mota

Pinheiro, publicado no periódico Tempus - Actas de Saúde Coletiva.

Esses arquivos estão disponibilizados na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Para discutir a gestão do serviço de dispensação, é necessárioque esse processo seja estruturado, planejado e sistematizado,respeitandoasespecificidadesdosmunicípios.

Segundo Correr (2007), a dispensação faz parte do processo deatençãoàsaúdedousuário,eseconfiguracomoomomentoemqueo farmacêutico, frenteaumaprescriçãoouaumasolicitaçãodo usuário, assume a corresponsabilidade na utilização domedicamento,pormeiodoquesepodechamardevalidaçãodousodomedicamento.ComovocêpodevernaFigura3,oprocessodeveestarestruturadodetalformaquesejapossível:

Avaliar eresolver

problemas dereceituário

1Ampliar o

conhecimentodo usuário

sobre osmedicamentos

2

Facilitar aadesão ao

tratamento

3

Figura 3 – Descrição dos objetivos do processo de dispensação.

Fonte: CORRER, 2007.

Page 42: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner42

A dispensação deve ser realizada pelo farmacêutico, e o processo deve

estar organizado de tal forma que permita um atendimento ágil, sem,

contudo, interferir na qualidade (CORRER, 2007).

O farmacêuticonemsempreestarádisponível paraoatendimentodosusuárioseonúmerodefuncionáriosdafarmáciapodenãosersuficiente para atender a demanda. Por essa razão, é importanteque estejamdefinidosquais funcionários da unidadede saúdeoudafarmáciaestarãoenvolvidosnesseserviço,bemcomoqueestessejam treinados e estejam dispostos a seguir os procedimentosimplantados.

Osprocedimentosoperacionaispadrãodevemdescrevercomosedáoatendimento.

Parasistematizaroprocesso,énecessáriorecordaralgunspontosquevocêaprendeusobredispensaçãoerefletirsobrequaissãooscenáriosdadispensação.

NoSUS, a dispensação dosmedicamentos se dá a partir de umreceituário médico ou odontológico, e o tratamento pode sercontínuo,comoparahipertensão,diabetes,hipotireoidismo;ouporumperíododeterminado,comoantibioticoterapia,analgésicos.

Pode,ainda,seraprimeiravezqueousuárioutilizaráumdeterminadomedicamento ou está em continuação do tratamento. Pode sertambémaprimeiravezqueutilizaoserviçodafarmáciapública.

Para recordar alguns pontos fundamentais da dispensação,

recomendamos a leitura do texto A dispensação de medicamentos: uma reflexão sobre o processo para prevenção, identificação, e resolução para problemas relacionados à farmacoterapia, de Galato e colaboradores,

publicado no periódico Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences,

disponível na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Adispensaçãoenvolveetapasquevisampromoverousoracionaldomedicamentoassimcomocontribuirparaocontínuoacessoaele,conformeexpressadonaFigura4.

Page 43: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 43

Figura 4 - Processo da Dispensação

Etapa 1: Recepção do usuário: na perspectiva do acolhimento

Atividades:

• Recepcionarousuário.

• Escutartodasasnecessidadesdousuário.

• Verificaradisponibilidadedosmedicamentossolicitados.

• Identificarosolicitante(própriousuário,cuidadorouterceiro).

• Identificarousuáriodomedicamento(criança,adulto,gestante,idoso).

• Verificaraexperiênciadeusodo(s)medicamento(s).

Pormeiodorelatodecasodescritoaseguir,vamosanalisarcomopodemosincorporaresseconceitoemnossaprática.

J.R.M. de 72 anos, sexo masculino, após consulta com o médico da

família, foi à farmácia solicitar o medicamento que havia sido prescrito

porque a hipertensão arterial sistêmica estava descompensada. O usuário

foi atendido com muita cordialidade e informado de que o medicamento

não era padronizado no município e, portanto, deveria adquiri-lo em uma

farmácia comunitária de caráter privado. O funcionário que o atendeu foi

Page 44: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner44

tão atencioso que verificou, inclusive, o custo do medicamento.

Prescrição: Valsartana 80mg. Tomar 1 comprido a cada 12 horas, uso

contínuo.

Vamosanalisaroprocesso:

OsenhorJ.R.M.foirecepcionadoeouvidosobreasuanecessidade?

Sim,poiselefoiatendidocomcordialidade,easuasolicitaçãoeraomedicamentoparaotratamentoparaahipertensãoarterialsistêmica.

Prezadoestudante,sergentil,cordial,escutarfoiresolutivo1?

O caminho para o acesso ao medicamento existe, porém eleé desconhecido, e essa falta de informação inviabilizou queacontecesseaintegralidadenoatendimentodesseusuário,umavezqueelerealizouaconsultamédica,teveumdiagnóstico,umplanoterapêuticoeatecnologiautilizadaparaaresoluçãodoseuproblemanãoestavaacessível.

Após ser constatado que há disponibilidade do medicamento noserviçodedispensação,éimportantesabersequemestábuscandoé o próprio usuário, o cuidador ou terceiros, bemcomoquanto àexperiênciadeusodomedicamento(primeiravezoucontinuaçãodetratamento).

Quandodaprimeiravezqueousuáriovaiutilizaroserviçodafarmáciapública,érealizadoocadastrodousuário(nome,endereço,telefone).Casoocadastrojáexista,éimportanteverificaraexperiênciadeusodo medicamento e avaliar o histórico de dispensação (atraso naretiradademedicamentodeusocontínuo,retiradadomedicamentoemoutraunidadedesaúdeoufarmáciadomunicípio).

O cadastro do usuário em um sistema informatizado facilita a

avaliação dos resultados e permite o acompanhamento do histórico da

dispensação.

Quandoosolicitanteforumterceiro,aetapadeorientação,namaioriadasvezes,ficasuprimida,epode-seavaliaranecessidadedeoutrosmeiosdecomunicação,taiscomo,informeescrito,comunicaçãoviaagentedesaúdeoupormeiodevisitadomiciliar.

Ser resolutivo no serviço de dispensação é alcançar

as premissas deste serviço: ter o acesso como atributo e o uso racional do

medicamento como foco.

1

Page 45: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 45

Lembre-se de que:

Identificar o solicitante impactará na escolha do método de comunicação

utilizado para orientar o usuário sobre o uso correto do medicamento.

Para a etapa seguinte, análise da prescrição, é necessário identificar o

usuário do medicamento (adulto, criança, idoso, gestante).

Apenas identificando o cenário (início ou continuação de tratamento) é

possível identificar a experiência que o usuário tem com o medicamento.

Etapa 2: Análise da prescrição

SegundoCorrer(2007),nadispensaçãocomreceituário,subentende-sequeousuáriojáfoiavaliadoporoutroprofissionaldesaúde(médicooudentista)equeofocodesseprocessodeveserainterpretaçãodasinformaçõesdisponíveisnaprescrição,comoobjetivodeaumentaraschancesdoêxitoterapêutico.

Estaetapagaranteque:

• aprescriçãoestejalivredeerroslegais;e

• estejamsendorespeitadososparâmetrosbásicosdeindicação,posologiaecontraindicações.

Veja como erros de prescrição podem influenciar o resultado terapêutico.

Para isso, recomendamos a leitura do texto: Erros: evitar o evitável, de

Lenita Wannmacher, da série Uso Racional de Medicamentos: Temas

selecionados. O artigo está disponível na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Segundoexpostonoartigo44daRDCn.44/2009,ofarmacêuticodeveavaliarasprescrições,observandoosseguintesitens:

I legibilidadeeausênciaderasuraseemendas;

II identificaçãodousuário;

III identificação domedicamento, concentração, dosagem, formafarmacêuticaequantidade;

Page 46: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner46

IV mododeusarouposologia;

V duraçãodotratamento;

VI localedatadaemissão;

VII assinaturaeidentificaçãodoprescritorcomonúmeroderegistronorespectivoconselhoprofissional.

Durante esta etapa é importante conhecer paraqual problemadesaúde foi prescrito o medicamento e se o usuário utiliza outrosmedicamentos, para que possa ser avaliada a dose e a duraçãode tratamento. Nesse momento, além de ponderar o grau deconhecimento que o usuário tem sobre o seu medicamentoou tratamento, também é possível avaliar o risco de interaçõesmedicamentosas,reaçõesadversasecontraindicação.

Durante a análise da prescrição, é necessário responder algumasperguntas:

• Aposologiaestácorreta?Adoseprescritaestádentrodamargemterapêuticadeefetividadeesegurança?

• Asindicaçõesestãoadequadas?Omedicamentoprescritotemindicaçãoclínicarelacionadacomaqueixaousintomarelatadopelousuário?

• Existemsituaçõesespeciais(gravidez,idosoecriança)?

• Existem outras situações clínicas, outros medicamentos ououtrasdoençasconcomitantes?Avaliaçãodoriscodeinteração,precauções,contraindicaçãooureaçãoadversa.

Segundo Correr (2007), quando forem percebidas falhas que

comprometem o entendimento sobre o medicamento, a dose ou forma

farmacêutica, frequência, duração de tratamento, aumentando o risco

de erro na dispensação, pode-se utilizar fontes de informação, relato do

próprio usuário ou contatar o prescritor.

Veja,aseguir,algumassituaçõesquenecessitamserdiscutidascomoprescritore/ouusuário,visandogarantirasegurançadotratamentoeaobtençãodemelhoresresultadosterapêuticos.

Page 47: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 47

• Nãoháinformaçãosuficiente.

• Formafarmacêuticaincompatívelcomousuário.

• Faltadomedicamento/nãohásubstituições.

• Usuário reclama de falta de resposta do tratamento (mesmoestandoousocorreto).

• Contraindicaçãocomriscoparaasaúde.

• Duplicidadesemjustificativa.

• Interaçãomedicamentosa: evidência científicaparao riscoe agravidadepotencial.

• Efeitocolateral.

• Existeumaalternativamaissegura.

• Provocanãoadesão.

• Prescriçãosemreferênciabibliográfica/evidênciacientífica.

• Quandoainformaçãodousuárionãoestádeacordocomoqueestánaprescriçãoounabibliografia.

• Quandonãohápossibilidadederesolveroproblemaencontrado,deveráserconsideradaanãodispensaçãodomedicamento.

• Casonãohajanenhumanãoconformidade,apróximaetapaseráaseparaçãodo(s)medicamento(s).

Etapa 3: Separação

Nestaetapa,deveseravaliadaa integridadedoproduto,nomedomedicamento,dosagem,datadevalidadeeaquantidadenecessáriapararealizarotratamento.Aquantidadeseparadasempredeveserconfrontadacomaprescriçãonomomentodaentregaaousuário.

Etapa 4: Registro

Consisteemrealizaraidentificaçãonaprescriçãodositensatendidose não atendidos e a data da dispensação. Para os tratamentosde uso contínuo o registro pode ser realizado em carteirinhasespecíficas(hipertensão,diabetes,anticoncepcionais).Porexemplo,

Page 48: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner48

medicamento entregue, quantidade, duração do tratamento eprescritor.Essesregistros,pormeiodedadosnuméricos,possibilitamdemonstraraimportânciadoserviçofarmacêutico,representandoasuaprodutividade.Lembre-sedequeessesdadossãofundamentaisparaaavaliaçãoeoplanejamentoestratégicodoserviço.

Algunsmunicípiosutilizamsistemasinformatizadosparaocadastrodetaisinformações.Essetemaseráabordado,aindanestaunidade,napróximalição.

Etapa 5: Avaliação

Nesse momento, o objetivo é analisar quais orientações serãofornecidasaousuárioparaquesejaatingidooobjetivo terapêuticopropostoequecontribuaparaousoracional.

Veja, a seguir, dois aspectos importantes a serem consideradosduranteaetapadeavaliação,deacordocomaexperiênciadeusodomedicamento.

Situação 1 - Início de tratamento (ousuárionãotemexperiênciaanteriorcomousodomedicamentoprescrito)

Nesse caso, o atendimento deve ser realizado, preferencialmente,pelofarmacêutico,eofocodoprocessodeusodeveser:

• oobjetivodotratamento;

• aposologia;

• asprecauçõesdomododeuso;

• aconveniênciaedisposiçãodousuárioemutilizaromedicamento;e

• omododeconservaçãodoproduto.

Para realizar a orientação, é necessário avaliar a compreensãodousuáriosobreasorientaçõesdoprescritor.

Situação 2 - Continuação de tratamento

Ofocodeveseroresultadodousodomedicamento.Inicialmente,oatendimentopodeserrealizadopeloauxiliarquedeveteraobrigaçãode investigar se o tratamento está sendo efetivo, ou seja, se estáalcançando os objetivos terapêuticos. Por exemplo: se a pressãoarterialestácontroladaouseascrisesdeasmareduziram.

Page 49: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 49

Énecessáriocertificar-sedequeo tratamentoestásendoseguro,senãoestãoocorrendoreaçõesadversas,senãosurgiuumnovoproblemadesaúdeousenãoagravoualgumexistenteapósoiníciodotratamento.

Também é importante averiguar se o usuário não está tendodificuldadesemutilizaromedicamentoeseestá tendoadesãoaotratamento.

Caso nenhumproblema seja identificado, o auxiliar pode seguir oprocedimento de fornecimento demedicamentos. Quando houveralgum problema identificado, o usuário deve ser encaminhado àavaliaçãodofarmacêutico.

Veja,agora,algunsexemplosdeperguntasquepodemauxiliá-lonomomentodeavaliaroresultadodosmedicamentos,deacordocomapercepçãodousuário.

• Paraqueo(a)senhor(a)vemusandoestemedicamento?

• Comoestáotratamento,sente-semelhor?

• Apressãoarterial(aglicemia,ocolesterol...)estácontrolada?

• O(a)senhor(a)temtoleradobemamedicação?

• Sentiualgumareaçãodiferenteoualgumefeitoindesejável?

• Adaptou-sebemaomedicamento?

• Sentealgumadificuldadenautilização?

Casoousuáriotenharespondidoalgumadasperguntasanterioresdeformanegativa,énecessárioverificarcomoeleprocedeaoutilizaromedicamentoprescrito.Paraisso,vocêpodefazerperguntascomo:

• O(a)senhor(a)temtomadoamedicaçãotodososdias?

• Aquehorastemtomado?

• Conte-me, como exatamente o(a) senhor(a) está tomando osseusmedicamentos?

Page 50: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner50

Caso o prescritor tenha feito alguma alteração de dose ou forma

farmacêutica, é imprescindível avaliar a compreensão do usuário sobre

o processo de uso do medicamento.

Etapa 6: Plano de ação

Oobjetivodestaetapaé,emconjuntocomousuário,definiromelhorplanopara realizaro tratamento,assimcomoaconselhareeducarsobre o uso correto dosmedicamentos. A informação deve estaradequadaàsnecessidadesdecadausuário:

• Nome,dose,frequênciaeduração.

• Cuidadosespeciais(preparoouadministração).

Lembre-sedeorientarousuáriosobreousodemedicamentosquenecessitamdeumpreparo,administraçãoouarmazenamentomaiscomplexo.Paraisso,duranteaseparaçãodoprodutopergunte-se:

• Exigecondiçõesespeciaisdearmazenamento?

• Devesermantidosemprenaembalagemoriginal?

• Requerabrirdealguma formaespecialou temuma tampadesegurança?

• É necessária alguma preparação especial antes de suaadministração?

• Precisadealgumatécnicadeadministraçãoespecial?

• Apresentaalgumacondiçãoespecialdeadministração?

• Necessitadeexplicaçãosobrecomoutilizaraformafarmacêutica?

• Hánecessidadedeorientaçõessobreautocuidado,precauçõesereaçõesadversas,interaçõescommedicamentosoualimentos?

Nesta etapa, podem ser utilizados instrumentos que facilitem a adesão,

como etiquetas e esquemas.

Page 51: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 51

Oshoráriosdeadministraçãodomedicamentopodemseravaliadosjuntamentecomousuário,considerandoseushábitosalimentares,suas atividades diárias, para que sejam definidos de acordo comoshábitosdevidadele.Porexemplo,seomedicamentodeveseringeridoemjejumoudeestômagovazio,verificarohoráriodocafédamanhã,seéviávelingerirantesdocaféouduashorasdepoisetc.

Procuresubstituirasexpressõescomo“osenhordevetomarassim...”porosenhorpoderiatomarassim,ou,oqueosenhorachadetomartalhora,seriamelhor?

Vale ressaltar que é importante conhecer a experiência que o usuário

tem com o uso do medicamento. Trata-se de um cenário de início de

tratamento ou de um cenário de continuação?

Uso de pictogramas

Segundo Galato e colaboradores (2006), o uso de pictogramas(símbolos gráficos) ou de sinalização constitui uma importanteferramentaparafacilitaracomunicaçãoduranteasorientaçõessobreousodosmedicamentos.Vejaalgunsexemplos.

Sampaio e colaboradores (2008) aplicaram um questionário,contendo12figuras,envolvendo83usuários,combaixaounenhumaescolaridade,atendidosnosistemapúblico,eobservaramque,entreasfigurasapresentadas,9 foramcorretamentecompreendidaspor63usuários,apontandoqueestapodeserumaótimaestratégiaparaacompreensãodaprescriçãomédica.

Emoutroestudorealizado,oobjetivofoidesenvolverpictogramascominformações sobre a utilização demedicamentos. Desenvolveram-se6pictogramase foramrealizadas73entrevistas,4pictogramasforam considerados legíveis, com mais de 67% de compreensão(GALATOet al.,2006).

Os pictogramas podem ser muito úteis, no entanto, é necessário

certificar-se de que o usuário compreendeu o significado deles. Como

os artigos citados mostram, todos os estudos identificaram pictogramas

incompreensíveis ou pessoas que não os compreenderam.

Page 52: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner52

Émuitoimportantequeousuárioconheça:

• oobjetivoeobenefíciodotratamentoparaasuasaúde;

• aformadeadministrarcorretamenteosmedicamentos;

• aformadeconservaçãodosmedicamentosemcasa.

Eisalgumasdicasdecomunicação:

• Pergunteseunomeeprocurechamá-lopelonome.

• Uselinguagempopular,claraeobjetiva.

• Façasomenteperguntasclaraseobjetivas.

• Cuideparanãosobrecarregarousuáriodeinformações.

• Peçaaousuárioquemostrecomovaiutilizarosmedicamentos.

• Saibaouvircomatenção.

• Nuncainterrompasuafala.

• Demonstre confiança e interesse, evitando displicência oudesatenção.

• Mantenhaumsorrisocordialesinceroduranteoatendimento.

• Sejahonesto.

Certifique-se:

• Ousuáriosabeparaqueéotratamento?

• O usuário sabe a forma de administração, a frequência e aduraçãodotratamento?

Para o processo de dispensação, existem várias metodologias propostas,

e a correta é aquela que possibilita a comunicação adequada com

aquele usuário específico.

Page 53: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 53

Nesta etapa, o foco também é avaliar a dispensação dosmedicamentosdeusocontínuo,epode,ainda,subsidiaraavaliaçãoda adesão, quando é possível visualizar o histórico de retiradados medicamentos. Nessa fase é que avaliamos a necessidadede outros serviços farmacêuticos como o acompanhamento farmacoterapêutico2, a farmacovigilância, os programas deeducaçãoemsaúdeevisitadomiciliar.

Lição 5 – Registro das informações do serviço de dispensação

Aofinaldestalição,vocêserácapazdeentenderaimportânciadoregistrodas informações,poisoquenão foidocumentadonão foirealizado!Nesta lição,abordaremoso registrodas informaçõesdoserviçodedispensação,sejaeleinformatizadooumanual.

Reflexão

Afinal, como podemos realizar esses registros? Que informações devem

ser registradas? Por que devemos fazer o registro?

Os profissionais envolvidos nos serviços farmacêuticos devemconhecer os sistemasde informação em saúde existentes no seulocaldetrabalho.Umsistemadeinformaçãoemsaúdedeveincluiracaptaçãodedados,oprocessamento,adisponibilizaçãoeousodainformaçãonecessáriaàmelhoriadaefetividadeeaeficiênciadosserviçosdesaúde,medianteumamelhorgestãoemtodososníveisdecuidado.Temcomofinalidadepromoverapoioaoprocessodedecisãoemcadaníveldaorganização.Assim,alémdeconheceremanipularainformaçãoexistente,demaneiraintegradaaosdemaisprocessos de trabalho, deve também propor e alimentar cominformaçõesseusprocessosmaisespecíficos.

Bom,vamoscomeçarporonde registraressas informações.Hoje,existem inúmeros sistemas informatizados para o registro dasinformações do serviço farmacêutico, incluindo a dispensação,muitos deles interligados aos prontuários e a outros serviços dasunidadesdesaúde.Essessistemassãoelaborados,emsuamaioria,porempresasprivadasedevemserpagosparaquesetenhaacessoaoserviço.Seseumunicípiopossuiumsistemadesses,informe-sebem como ele funciona e procure alimentá-lo com o registro dosserviços farmacêuticos. É importante considerar não apenas asatividadesadministrativasfarmacêuticas,comocontroledeestoque,programação e entrega, mas também as atividades assistenciais

Para saber mais sobre acompanhamento farmacoterapêutico, acesse a unidade optativa de Modelos de seguimento farmacoterapêutico, ofertada no Módulo 9 - Tópicos especiais em ética, educação em saúde e modelos de seguimento farmacoterapêutico. O tema da farmacovigilância será abordado na unidade 3, deste Módulo.

2

Page 54: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner54

dedispensação,orientação,acompanhamento,visitasdomiciliares,entreoutras.

Se seu município não possui um sistema informatizado ou outilizadoatualmentenãoatendeasnecessidadesdoserviço,existeumsistemagratuito, elaboradopeloMinistériodaSaúde, oHórus- Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica, quepermiteoregistrodetodasasentradas,saídasefluxosdeprodutose demedicamentos naCentral de Abastecimento Farmacêutico enasfarmácias/unidadesdesaúde.

Como já visto noMódulo 1 - Introdução ao Curso de Gestão da Assistência Farmacêutica - EaD, neste sistema, são emitidosdiferentesrelatórios,contendoinformaçõesgerenciaisquesubsidiamo planejamento e desenvolvimento das ações de assistênciafarmacêutica na Atenção Básica: históricos das dispensaçõesdos usuários; dados sobre pacientes faltosos; procedência dasprescrições; posição de estoque; datas de agendamento daspróximas dispensações, e outras. Também estão disponíveisinformaçõestécnicas,necessáriasparaaqualificaçãodosserviçosegestãodocuidado,de formaquepossamserutilizadasduranteomomento da prescrição e na dispensação: Rename; FormulárioTerapêuticoNacional;TemasSelecionadosparaPromoçãodoUsoCorretodeMedicamentos.

OHóruspossibilitaoagendamento,oregistroearastreabilidadedadispensação,alémdoacompanhamentodousodosmedicamentos.Essesistematambémpermiterealizaroregistrodosmedicamentoscontrolados,conformeaPortarian.344/1998.

Links

Para saber mais e sobre como aderir ao sistema, acesse o link a seguir:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_

area=1675>

A qualidade de um sistema de registro é importante. Um bomsistemadeveserconfiável, seguroede fácil acesso.Quantomaiscomplexaaorganização,ovolumeeaqualidadedasinformações,maiscomplexosserãoossistemasderegistroparaquetudofiquedisponíveldaformamaisadequada.

Page 55: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 55

Reflexão

Qual sistema devo escolher?

Para responder a essa questão é necessário conhecer a realidadedoserviçoequaisinformaçõesvocêvairegistrar.Muitosmunicípiosnãotêmnenhumsistemaimplantadoouosistemaexistentenãoestáadequadoe,emoutros,arealidadenãopermiteainstalaçãodeumcomputadoremtodasasunidadesdesaúde.Omaisimportanteéqueasinformaçõesnecessáriassejamregistradaseaconsultaaestassejapossível.Oregistropodesermanual,criando-sefichasparaoregistrodadispensaçãoeacompanhamentodautilizaçãodosmedicamentos.Muitos municípios já utilizam fichas para o acompanhamento dosusuáriosdoHiperDiaeparaocontroledoestoque.

Outros sistemas utilizados são o SISMEDEX em alguns estados,ouoHórusEspecializado,paragerenciamentodosmedicamentosdo Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, e oSICLOM, para os medicamentos do programa DST/Aids. Ambostambémrealizamoregistrodadispensação.

Os registros devem ser conservados porque, além do seu valorinformativo, demonstram todas as atividades da organização. Oconsistente gerenciamento de registros garante que a integridadedestessejapreservadaenquantoforemnecessários.

Você deve estar se perguntando, ainda, “Quais informações devoregistrar?” Como já observado anteriormente, é importante saberquais informações são necessárias para o serviço em que vocêatua,seserão registradosapenasdadosbásicosdadispensação,ousevocêquer registrar tambémosdadoscomplementares,queauxiliarãonoacompanhamentodautilizaçãodosmedicamentos.

Osdadosimportantesaseremregistradossão:

• o cadastro de cada usuário, com informações como nome,endereço,telefone,númerodoCartãoNacionaldeSaúde(CNS);

• informações sobre os tratamentos prescritos (medicamentos,posologia,dosagem,quantidade);

• informações sobre o prescritor (nome, registro no ConselhoRegionaldeMedicinaounoConselhoRegionaldeOdontologia);

Page 56: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner56

• medicamentos dispensados (medicamento e quantidadedispensada);

• registrodeocorrêncianousodosmedicamentos;

• informaçõessobrequemestárealizandoadispensação.

Sem dúvida, o registro é uma questão muito importante para a gestão

dos serviços. Só com registros confiáveis é possível realizar uma

administração racional e coerente de produtos como os medicamentos.

E, é a partir dos registros que podem ser geradas as informações

necessárias para a tomada de decisão, assim como para avaliar os

resultados das ações empreendidas. São essas informações que

embasam as negociações e dão suporte ao gestor para que escolhas

difíceis possam ser feitas. Portanto, para que haja gestão em seu

serviço, em seu município, ou em sua instituição, não é possível ignorar

esta questão: investir em registro é fundamental!

O sistema também pode imprimir dados sobre o tratamento,inclusivecomfichadeorientaçãoparacontroleeacompanhamentodotratamentopelousuário.

Éindispensávelqueosistemaregistreinformaçõesdosmedicamentosatendidos e não atendidos a cada dispensação, pois essasinformaçõesserãobastanteúteisparaaprogramação,aquisiçãoecontroledeestoquedosmedicamentos.

ComapublicaçãodaPortarian.271/2013,osmunicípioseestadosterãoqueenviardadosdaassistênciafarmacêutica,incluindodadosdadispensaçãoparaoMinistériodaSaúde,paraqueesteconstituaa Base Nacional de Dados das Ações e Serviços da AssistênciaFarmacêutica e, com isso, tenha indicadores da assistênciafarmacêutica. Considerando a autonomia dos entes federados, ereconhecendoaexistênciademunicípioseestadoscomsoluçõespróprias para organizar a assistência farmacêutica, o Ministérioda Saúde procurou desenvolver uma ferramenta tecnológica quepermitisseainteroperabilidadedossistemasmunicipaiseestaduais.Assim,municípios e estadosque não aderiremaoHóruspoderãotransmitir um conjunto de dados sobre os Componentes daAssistência Farmacêutica. Essa iniciativa, denominadawebservice,faculta compatibilizar o Hórus com sistemas desenvolvidos emoutras plataformas, o que resultará em eficiência e segurança nacadeiadetransferênciadeinformações(COSTA;NASCIMENTOJR,2012;BRASIL,2013).

Page 57: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 57

Para entender melhor a importância do registro das informações, sugerimos

a leitura do artigo Utilização dos registros de dispensação da farmácia como indicador da não adesão à terapia antirretroviral em indivíduos infectados pelo HIV, de Gomes e colaboradores, publicado no periódico

Cadernos de Saúde Pública. O artigo está disponível na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Embora não seja possível afirmar se a medicação dispensada foiutilizadaadequadamente,osregistrosdasdispensaçõesrealizadastornam-se instrumentos importantes na identificação precoce dosusuáriosemriscodenãoadesão(GOMESet al.,2009).

O registro do atendimento, segundo normas e procedimentosestabelecidos, visa documentar as atividades de dispensação demedicamentos,tendoemvistanecessidadesadministrativas,técnicaseéticas.Oprocedimentodadispensaçãoresultaráemumasériederegistrosqueterãodesdeafinalidadeadministrativadedocumentaramovimentaçãode estoque, o cumprimentodasnormas legais egovernamentaisatéafinalidadegerencialdegarantiadequalidadee proteção do usuário e dos profissionais. Principalmente quandoimplementados os procedimentos mais técnicos, como os queenvolvemoaconselhamentoeaeducação,éimportanteagarantiadoregistrodasinformaçõesprestadas(MARINet al.,2003).

Agarantiadeumainformaçãodequalidadeécondiçãoessencialparaaanáliseobjetivadasituaçãosanitária,paraatomadadedecisõesbaseadasemevidênciaseparaaprogramaçãodeaçõesdesaúde(COSTA;NASCIMENTOJR,2012).

Lição 6 – A dispensação no modelo de atenção à saúde do brasileiro

Ao final desta lição, você entenderá a importância das Redes deAtençãoàSaúde,bemcomoaimportânciadoserviçodedispensaçãoestar inseridonestesistemaeautilizaçãodomatriciamentoparaacapacitaçãodosprofissionaisdasequipes.

Asfunçõesdosserviçosfarmacêuticossãomuitoamplas.Vãodesdeostécnico-gerenciaisaostécnico-assistenciais,edevemdesenvolver-senocontextodossistemasdesaúde.Oníveldeexecuçãodependedoníveldecomplexidadedosserviços.Háfunçõesquedevemserrealizadaspelofarmacêuticoesuaequipe,integradasaosistemadesaúdeeoutras,necessariamente,juntocomosdemaisprofissionaisdesaúde(OPAS,2011).

Page 58: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner58

Torna-se cada vezmais evidente a dificuldade em superar, nessecontexto, a intensa fragmentação das ações e dos serviços desaúde, bem como em qualificar a gestão do cuidado. O modelode atenção à saúde vigente, fundamentado nas ações curativas,centradonocuidadomédicoeestruturadocomaçõeseserviçosdesaúdedimensionadosapartirdaoferta,temsemostradoinsuficienteparadarcontadosdesafiossanitáriosatuaise, insustentávelparaos enfrentamentos futuros. A solução está em inovar o processode organização do sistema de saúde, redirecionando suas açõese serviços no desenvolvimento das Redes de Atenção à Saúde(RAS)paraproduzir impactopositivonos indicadoresdesaúdedapopulação(CIT,2010).

ComovocêjáestudounoMódulo2- Políticas de saúde e acesso aos medicamentos,asRASsãosistemasintegrados,quesepropõemaprestarumaatençãoàsaúdeno lugarcerto,notempocerto,comqualidadecerta,comocustocertoecomresponsabilizaçãosanitáriaeeconômicaporumapopulaçãoadscrita(MENDES,2011).

A organização do sistema, a partir das redes, permite otimizar eorganizarosrecursoseoprocessodecuidado,evitandoduplicaçõesdesnecessáriasedispendiosas.Citamos,comoexemplo,osdesafiosenfrentadosparaagarantiadacontinuidadedo tratamentodeumpacientequeestevehospitalizadoedepoisretornaparaocuidadona Atenção Básica, com uma prescrição de medicamentos nãodisponíveisnasunidadesbásicasdesaúde.

Somenteofuncionamentodosserviçosemredespermitiráabordaro problema de maneira adequada. Isso implica que a rede seresponsabilizaporgarantirresultadosemumdeterminadoterritório,ondeosrecursosdesaúdedessasáreasdevemserplanejadosemconjunto, assim como a resposta aos problemas seja de alcancedosmesmos.E,ainda,muitosdosproblemasrequeremabordagensintersetoriaisemultidisciplinares.

Fundamenta-senacompreensãodaAtençãoPrimáriaàSaúde(APS)comoprimeironíveldeatenção,enfatizandoafunçãoresolutivadoscuidadosprimáriossobreosproblemasmaiscomunsdesaúde,eapartirdoqualserealizaecoordenaocuidadoemtodosospontosdeatenção.Ospontosdeatençãoàsaúdesãoentendidoscomoespaçosondeseofertamdeterminadosserviçosdesaúde,pormeiodeumaproduçãosingular.

São exemplos de pontos de atenção à saúde: os domicílios,as unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriaisespecializadas, os centros de atenção psicossocial (CAPS), asresidências terapêuticas, as farmácias, entre outros. Grande

Page 59: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 59

parte dos profissionais de saúde ainda prioriza os equipamentos,insumoseoconhecimentoestruturadodasprofissõesemsaúdeemdetrimentodaescutaedovínculonocuidadoemsaúde.Ofocodotrabalhovivodeveseras relaçõesestabelecidasnoatodecuidarquesão:ovínculo,aescuta,acomunicaçãoearesponsabilizaçãocom o cuidado. Os equipamentos e o conhecimento estruturadodevemserutilizadosapartirdestarelaçãoenãoocontrário,comotemsidonamaioriadoscasos(CIT,2010).

AestruturaoperacionaldasRASéconstituídapelosdiferentespontosdeatençãoàsaúde,ouseja,lugaresinstitucionaisondeseofertamserviçosde saúde, epelas ligaçõesqueos comunicam.SegundoMendes (2011), oscomponentesqueestruturamasRAS incluem:a Atenção Primária à Saúde; os pontos de atenção secundária eterciária;ossistemasdeapoio;ossistemas logísticos;eosistemadegovernança.

AAPSéocentrodecomunicaçãodaRASetemumpapelchavenasuaestruturaçãocomoordenadoradaRASecoordenadoradocuidado.Mas,somenteosserviçosdeAPSnãosãosuficientesparaatender as necessidades de cuidados em saúde da população.Portanto,osserviçosdeAPSdevemserapoiadosecomplementadosporpontosdeatençãodediferentesdensidadestecnológicasparaarealizaçãodeaçõesespecializadas (ambulatorialehospitalar),nolugaretempocertos.

OsSistemasdeApoiosãooslugaresinstitucionaisdasredesondeseprestamserviçoscomunsatodosospontosdeatençãoàsaúde.A assistência farmacêutica constitui esse sistema e envolve todasassuasetapas:seleção,programação,aquisição,armazenamento,distribuição,prescrição,dispensaçãoepromoçãodousoracionaldemedicamentos.

Hoje,asfarmáciaspúblicasestãomuitodistantesdessasdiretrizesedaspolíticasdepromoçãodasaúde, intervindodeformaisoladaedissonantedaorganizaçãodoSUS(SOARES,2013).Portanto,émuitoimportantequesemudeessarealidade,jáque,comocitadoanteriormente,aassistênciafarmacêuticaéumsistemadeapoionasRAS.Oserviçodedispensaçãoestáinseridonessecontextoeestápresenteemváriospontosdarede,comonasUnidadesBásicasdeSaúde,noCAPS,nosAmbulatóriosdeEspecialidades,nasUPAS,nosHospitais,nasVigilânciasEpidemiológicas,entreoutros.

Osserviçosfarmacêuticosdevemsergeradoresdeconhecimento,apartirdainformação,adaptandoessesconhecimentosaosusuários,a suas famílias, outros profissionais ou membros das equipes desaúdesemperderdevistaasparticularidadesdosconhecimentos

Page 60: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner60

prévios,aculturaeaidentidade.Pelocontatodiretocomosusuáriosque chegam aos serviços e a estreita conexão com os demaismembros da equipe de saúde, o serviço de dispensação tem odesafio de prover uma atualização dinâmica do conhecimento emrelação às condiçõesde saúdedospacientes e das terapêuticas,nãosófarmacológicas,adaptando-seàrealidadelocal.

Pormeiodomatriciamento,épossívelaofarmacêuticoproveresseconhecimento aosmembros das equipes das unidades de saúdeda RAS domunicípio. Sua utilização, como instrumento concretoe cotidiano, pressupõe uma transformação do modo como seorganizamefuncionamserviçosesistemasdesaúde.

Oapoiomatricialobjetivaassegurarretaguardaespecializada,tantoassistencial como de suporte técnico-pedagógico às equipes. Adimensãoassistencialéaquelaquevaiproduziraçãoclínicadiretacom os usuários, e a ação técnico-pedagógica vai produzir açãode apoio educativo com e para a equipe. Essas duas dimensõespodemedevemsemisturarnosdiversosmomentos(BRASIL,2010;CAMPOS;DOMITTI,2007).

O matriciamento visa ampliar as possibilidades de construçãode vínculo entre profissionais e usuários. Pode-se dizer que é umarranjoorganizacionale,aomesmotempo,umametodologiaparaagestãodotrabalhoemsaúde,objetivandoampliaraspossibilidadesdeserealizarclínicaampliadae integraçãodialógicaentredistintasespecialidadeseprofissões.

Essametodologiapretendeassegurarmaioreficáciaeeficiênciaaotrabalhoemsaúde,mastambéminvestirnaconstruçãodeautonomiadosusuários.Oapoiomatricialprocuraconstruireativarespaçoparacomunicação ativa e para o compartilhamento de conhecimentosentreprofissionaisdereferênciaeapoiadores.

Essametodologiadetrabalhodeveseraproveitadapelofarmacêuticopara interação com as equipes das unidades básicas de saúde,principalmentepelo fatodeamaioriadospontosde fornecimentode medicamentos nos municípios não contarem com a presençadesse profissional. O farmacêutico poderá investir na dimensãotécnico-pedagógica,compartilhandoconhecimentoscomaequipe,paraqueelapossaseaproximardaresolutividadedesejada,semprelembrandoque,aorealizarapoioaoutraequipe,emumapopulaçãodiferente,teráqueoferecerconhecimentosdiferenciadosparaseremincorporadospelanovaequipe.

É importantequesepromovaaformaçãodasequipesquantoaos

Page 61: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 61

aspectos relacionados às competências necessárias para que oserviçosejarealizadocomexcelênciae,aomesmotempo,contribuirparaaformaçãoeeducaçãocontinuadaepermanentedosdemaisprofissionais de saúde, em todos os aspectos relacionados àsfunções e atividades dos serviços farmacêuticos realizados nasunidadesdesaúde.

Oconceitodeapoiomatriciale,maisainda,suapráticaconstituemaspectosrelativamentenovosnoâmbitodoSUS.OsNASFutilizammuito esta metodologia de trabalho e o farmacêutico é um dosprofissionais inseridos nessa equipe. A atuação de farmacêuticosjuntoaoSUSéumarealidadeemváriosmunicípios,sejanagestãodaassistênciafarmacêutica,sejadiretamentenocuidadoaosusuários.

A inclusão da assistência farmacêutica como uma das áreasestratégicas de atuação dos NASF visa assegurar o acesso aosmedicamentoscomsegurança,eficáciaeresolubilidadedaatenção,pormeiodaatividadefarmacêuticacomprometidacomosprincípiosda Atenção Primária. Assim, essa émais uma possibilidade de ofarmacêutico exercer suaprofissãode forma integradaàs equipesde Saúde da Família e contribuir para a resolutividade das açõesemsaúde,conformeestabelecemasdiretrizesdaESF,daPolíticaNacional de Medicamentos e da Política Nacional de AssistênciaFarmacêutica.

Para aprofundamento do tema, sugerimos a leitura do artigo Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde, de Campos e Domitti, publicado no

periódico - Cadernos de Saúde Pública, e o Caderno de Atenção Básica número 27: Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família,

publicado pelo Ministério da Saúde. O artigo e o documento estão

disponíveis na Biblioteca.

Ambiente Virtual

Para que, de fato, a atuação do farmacêutico noNASF contribuapara aumentar a qualidade da assistência farmacêutica e aresolubilidade das ações de saúde, é fundamental que esseprofissionaldesenvolvahabilidades,conhecimentoseatitudesparaatuardeformainterdisciplinar,comasequipesdeSaúdedaFamíliaedopróprioNASF,noplanejamentoenaexecuçãodasações,esecorresponsabilizepelasaúdedapopulaçãodaáreadeabrangência,naperspectivadaintegralidadedocuidado(BRASIL,2010).

Page 62: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner62

Comrelaçãoaoserviçodedispensação,oprofissionalfarmacêutico,no NASF, pode atuar utilizando as seguintes metodologias detrabalho:

• reuniõescomasequipesdaESF;

• educaçãoemsaúdeeatividadescomunitárias;

• visitadomiciliar;

• atendimentoindividualeoufamiliar;

• atendimentoconjuntocomoutroprofissionaldesaúde;

• discussãoeconstruçãodeProjeto Terapêutico Singular3;

• conciliação de medicamentos realizada na farmácia, eencaminhamentoparaacoordenaçãodocuidado;

• discussão do território e contra referência, principalmente, emcasosdedispensaçãocentralizada.

Lembramos, ainda, que o processo de trabalho dos profissionaisdoNASFdeveserdesenvolvidopormeiodoapoiomatricial,comacriaçãodeespaçoscoletivosdediscussõeseplanejamento.

Durante a dispensação, podem ser detectados problemasrelacionados à farmacoterapia e, assim, quando necessário, ofarmacêuticodeverealizaradiscussãodocasocomaequipe,para,posteriormente,encaminharosusuáriosparaosgruposdeeducaçãoemsaúdee∕ouparaatendimentoindividual.

Oprocessodetrabalhodesseprofissionalprecisaserdesenvolvidodetal formaquepriorizeocuidado,nãose limitandoàsatividadesadministrativas e nem se distanciando das assistenciais. OfarmacêuticodoNASFdeveinteragircomonívelcentraldegestãodaassistênciafarmacêuticaecomacoordenaçãodasunidadesdesaúde, propondoa normatizaçãodosprocedimentos relacionadosà assistência farmacêutica, a fimde obtermelhores resultados noacesso,naracionalizaçãodosrecursosenousodosmedicamentos(BRASIL,2010).

O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é uma

ferramenta usada para realizar ações e cuidado em saúde com base na

abordagem centrada na pessoa. Conjunto de propostas de condutas

articuladas para uma pessoa ou para um coletivo, que

podem ser famílias, grupos ou comunidades.

3

Page 63: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 63

Concluímos os estudos desta unidade. Acesse o AVEA e confira as

atividades propostas.

Ambiente Virtual

Análise Crítica

O serviço de dispensação tem como estratégia o acesso aomedicamento e, como foco, a promoção do uso racional dosmedicamentos.Assim,parasuaefetividade,énecessárioqueesseserviçosejaplanejadoearticulado,dentrodosprincípiosdoSUSecomosdemaisserviçosdesaúde.

O acesso insuficiente aos medicamentos essenciais constitui umproblema bastante grave e importante. Adicionalmente, o acessofísicoefinanceiro,nãosetraduz,necessariamente,nousocorreto,reforçandoanecessidadedepriorizartambém,aoladodadiscussãodoacesso,aqualidadedosserviçoseprodutosoferecidosemrelaçãoaoprovimentodemedicamentos,bemcomoaresponsabilizaçãoeaconstruçãodevínculos.

Sendoassim,énecessárioqueofarmacêuticocompreendaedefina,demaneiraexplícita,oserviçoqueforneceráaousuário.Omodelodeserviçoprestadonãodeveestar centradonoproduto;deve-sepensaremummodelodentrodoconceitodeserviçodesaúde,cujaimagemobjetosejaaconcriaçãodevalores.

O planejamento e a organização desse serviço devem incluir aestrutura física, organizacional e funcional, bemcomoos recursoshumanos qualificados e a elaboração de ummanual comnormaseprocedimentos.Adispensaçãoéaetapaemqueosprofissionaisdasunidadesdedispensaçãointeragemdiretamentecomousuário.

Paraodesenvolvimentodosserviços farmacêuticos,aquidescritoscomo técnico-assistenciais, é necessária uma equipe, plenamente,capacitadacomconhecimentossobreosmedicamentos,aterapêutica,ashabilidadeseascompetênciasparaestabelecerarelaçãocomosusuáriosdosserviçoseaequipeassistencialegerencial.

Aqualificaçãodagestãocontribuiparaaampliaçãodoacessodapopulaçãoaosmedicamentos,acessonãorestritoaoproduto,mascom a garantia da qualidade e dos serviços prestados. Requer areestruturação,tantofísicacomoderecursoshumanos,demandandonovasformasdepensar,deestruturar,dedesenvolveredeproduzirserviçoseassistênciaemsaúde(BRASIL,2010).

Page 64: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner64

Referências:

ANGONESI,D.Dispensaçãofarmacêutica:umaanálisedediferentesconceitosemodelos.Ciência e Saúde Coletiva, sup.13,p.629-640,2008.

AssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ABNT).Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaço e equipamentos urbanos.RiodeJaneiro:SededaABNT,2004.105p.

BRASIL.MinistériodaSaúde.Portarian.3.916/MS/GM,de30deoutubrode1998.AprovaaPolíticaNacionaldeMedicamentos.DiárioOficialdaUnião,PoderExecutivo,Brasília,DF,10nov.1998.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologiae Insumos Estratégicos. Assistência Farmacêutica na Atenção Básica:instruçõestécnicasparasuaorganização.Brasília:MinistériodaSaúde,2006.100p.Disponível:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/assistencia_farmaceutica_atencao_basica_instrucoes_tecnicas.pdf>

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia eInsumosEstratégicos.DepartamentodeAssistênciaFarmacêuticaeInsumosEstratégicos.Diretrizes para estruturação de farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério daSaúde,2009.44p.:il.–(SérieA.NormaseManuaisTécnicos).

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DepartamentodeAtençãoBásica.Diretrizes do NASF:NúcleodeApoioàSaúdedaFamília.Brasília:MinistériodaSaúde,2010.152p.:il.–(SérieA.NormaseManuaisTécnicos)(CadernodeAtençãoBásica,n.27).

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 271/MS/GM, de 27 defevereiro de 2013. Institui a BaseNacional deDados de ações eserviços da Assistência Farmacêutica e regulamenta o conjuntodedados, fluxoecronogramadeenvio referenteaoComponenteBásicodaAssistênciaFarmacêuticanoâmbitodoSistemaÚnicodeSaúde(SUS).DiárioOficialdaUnião,PoderExecutivo,Brasília,DF,28fev.2013.

CAMPOS,G.W.S;DOMITTI,A.C.Apoiomatricialeequipedereferência:umametodologiaparagestãodotrabalhointerdisciplinaremsaúde.Cadernos de Saúde Pública,RiodeJaneiro,v.23,n.2,p.399-407,fev,2007.

Page 65: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 65

CFF. Conselho Federal de Farmácia. Experiências exitosas de farmacêuticos no SUS. v. 01, p. 01- 80, 2013. Disponível em:<http://www.cff.org.br/userfiles/file/noticias/Experiencias%20exitosas%20site.pdf>

CIT.GrupoTécnicodaComissão Intergestores Tripartite.DiretrizesparaOrganizaçãodasRedesdeAtençãoàSaúdedoSUS.2010.

CONILL,E.M.;MENDONÇA,M.H.;SILVA,R.A.P.R.;GAWRYSZEWSKI,V. Organização dos serviços de saúde: a comparação comocontribuição.Cadernos de Saúde Pública,v.7,n.3,p.328-46,1991.

CORRER, C.J. A prática farmacêutica de dispensação demedicamentos.Materialdidático.2007.

COSTA, K. S.; NASCIMENTO JR., J. M. do. HÓRUS: inovaçãotecnológicanaassistênciafarmacêuticanoSistemaÚnicodeSaúde.Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.46, supl.1, dez. 2012.Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000700013&lng=pt&nrm=iso>.Acessoem:16out.2013.

GALATO, F.;CASAGRANDEJUST,M.;GALATO,D.;BARROSDASILVA,W.Desenvolvimentoevalidaçãodepictogramasparaousocorreto dos medicamentos: Descrição de um estudo-piloto.Acta Farmacêutica Bonaerense,sup.25,p.131-138,2006.

GOMES,R.R.F.M.,et al.Utilizaçãodosregistrosdedispensaçãodafarmáciacomoindicadordanão-adesãoàterapiaantirretroviralemindivíduosinfectadospeloHIV.Cadernos de Saúde Pública,v.25,n.3,p.495-506,2009.

ITS (INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL). Caderno de Debate.Tecnologia Social no Brasil.2004

KOTLER,P.Administração de marketing.SãoPaulo,2000.

LEITE,S.;CORDEIRO,B.C.O farmacêutico na atenção à saúde.Itajaí,SC:UniversidadedoValedoItajaí,2005.

MARIN, N. et al. Assistência farmacêutica para gerentes municipais.RiodeJaneiro:OPAS/OMS,2003.

MENDES,E.V.As redes de atenção à saúde.Brasília:OrganizaçãoPan-AmericanadaSaúde,2011.

Page 66: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Bernardo e Hoepner66

OMS (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD). El papel del farmacéutico en el sistema de atención de salud. Informede laReunióndelaOMS.OPS/HSS/HSE/95.01.Tokio,1993.

OPAS (ORGANIZACIÓN PAN-AMERICANA DE LA SALUD). Guía Servicios Farmacéuticos en la Atención Primaria de Salud.Washington,2011.

PINHEIRO, R.M. Serviços farmacêuticos na atenção primária àsaúde.Tempus Actas Saúde Coletiva,p.15-22,2010.

SAMPAIO,L.F.;SILVA,L.M.L.;VELHO,G.C.C.;MARTINS,M.G.G.;CASTILHO,S.R.;ALTENBURG,S.P.Pictogramascomo linguagempara a compreensão da prescrição medicamentosa. Revista Brasileira de Farmácia,sup.89,p.150-154,2008.

SIMÕES,M.J.; MONTEIRO, G.M. Estratégia de apoio às políticasde saúde.A experiência doprojetoRemédio emCasa.O mundo da Saúde, v. 30, p. 289-299, 2006. Disponível em: <http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/35/estrategias_apoio.pdf>

SOARES, L. O acesso ao serviço de dispensação e a medicamentos: modelo teórico e elementos empíricos. 2013. 249p.Tese(DoutoradoemFarmácia)–ProgramadePós-GraduaçãoemFarmácia,UniversidadeFederaldeSantaCatarina,Florianópolis,2013.

TRAVASSOS, C.; MARTINS, M. Uma revisão sobre os conceitosdeacessoeutilizaçãodeserviçosdesaúde.Cadernos de Saúde Pública,v.20,supl.2,p.S190-S198,2004.

VIEIRA, F.S. Qualificação dos serviços farmacêuticos no Brasil:aspectosinconclusosdaagendadoSistemaÚnicodeSaúde.Revista Panamericana de Salud Pública,v.24,n.2,p.91-100,2008.

Page 67: Gestão da Assistência Farmacêutica · Veja um exemplo de relato de experiência exitosa do farmacêutico no SUS (CFF, 2013). O município de Campina Grande (PB) tem uma coordenação

Unidade 2 - Dispensação de medicamentos 67

Autores

Noemia Liege Maria da Cunha Bernardo

PossuigraduaçãoemFarmácia,pelaUniversidadeParanaense(1993),habilitação em Farmácia Industrial, pela Universidade Estadual deMaringá (1994);especializaçãoemFarmacologia,pelaUniversidadeFederaldoParaná(2005);emestradoemFarmácia,pelaUniversidadeFederal de Santa Catarina (2010). Atualmente, é professora naUniversidadedoValedo Itajaí,emSantaCatarina.Temexperiênciana área de Farmácia, com ênfase em Atenção Farmacêutica,FarmáciaClínicaeFarmáciaHospitalar,atuando,principalmente,nosseguintestemas:implantaçãodeserviçosfarmacêuticos,assistênciafarmacêutica,medicamentos,atençãofarmacêuticaesegurançadospacientes.

http://lattes.cnpq.br/1047114367084356

Ligia Hoepfner

Possui graduação em Farmácia, pela Universidade Federal deSanta Catarina (1999); especialização em Farmácia Hospitalarcom introdução à Farmácia Clínica, pelo Hospital das Clínicas daUniversidadedeSãoPaulo (2000); emestradoemFarmácia, pelaUniversidade Federal de Santa Catarina (2005). Foi professoracolaboradoradaUniversidadedaRegiãode Joinville, no cursodeFarmácia;professoradocursodeespecializaçãointerinstitucionalemGestãodaAssistênciaFarmacêutica;e,atualmente,écoordenadoradaAssistênciaFarmacêuticadaSecretariadeSaúdedoMunicípiodePomerode,emSantaCatarina,efarmacêuticadoNúcleodeApoioàSaúdedaFamília(NASF).Atua,principalmente,nosseguintestemas:assistênciafarmacêuticaevigilânciaemsaúde.

http://lattes.cnpq.br/7870135739923419