gestÃo participativa dos recursos naturais e ... · resumo a gestão participativa comunitária...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS E AMBIENTAIS ANETE BARROSO AMÂNCIO MANAUS - AMAZONAS 2006 GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: Estudo de Caso dos Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS E AMBIENTAIS

ANETE BARROSO AMÂNCIO

MANAUS - AMAZONAS

2006

GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: Estudo de Caso dos Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIA AGRÁRIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS E AMBIENTAIS

ANETE BARROSO AMÂNCIO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, (PPG-CIFA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Mestre. Em Ciências Florestais e Ambientais, na Área de Concentração de Gestão Ambiental e Áreas Protegidas

Orientador:

Profº. Dr. Julio César Rodríguez Tello

Manaus – Amazonas 2006

GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: Estudo de Caso dos Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

DIGITAÇÃO DE IMAGENS Andréa Barroso Amâncio ILUSTRAÇÕES E DESENHOS Andréa Barroso Amâncio TRADUÇÃO DOS RESUMOS Salvador Rojas Stafani Harbonier FOTOGRAFIAS Anete Barroso Amâncio e arquivo IBAMA/AM Raphael Castanheira-IDSM

Ficha Catalográfica (Catalogação na fonte realizada pela Biblioteca Central-UFAM)

A484i Amâncio, Anete Barroso

Gestão participativa dos recursos naturais e desenvolvimento de comunidades sustentáveis na amazônia brasileira: estudo de caso dos Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá / Anete Barroso Amâncio. - Manaus: UFAM, 2006.

88 f.; il. color.

Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) –– Universidade Federal do Amazonas/PPGCIFA, 2006.

Orientador: Prof. Dr. Julio César Rodríguez Tello

1. Recursos naturais - Gestão 2. Desenvolvimento sustentável 3. Participação social 4. Áreas de Proteção Ambiental I.Título

CDU 504.062(811.3)(043.3)

ANETE BARROSO AMÂNCIO

GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO DE COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: Estudo de Caso dos Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, (PPG-CIFA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Mestre. Em Ciências Florestais e Ambientais, na Área de Concentração de Gestão Ambiental e Áreas Protegidas

BANCA EXAMINADORA:

Profº Julio César Rodríguez Tello, Doutor Profº Henrique dos Santos Pereira, Doutor Profº Lizit Alencar da Costa, Doutor

ii

DEDICAÇÃO

A Minha mãe Etelvina, avó Raimunda Duarte e mestre Profº Dr. Eduardo Coutinho (in memoriam).

Aos Meus familiares

Txapuã, Whefaxi e Taiguara, Andréa,Txaiá e Amâncio.

A Profº.Dr. Henrique dos Santos Pereira

e Juliana Simões pelo incentivo e apoio ao Programa AAV no Amazonas

Aos Meus Amigos

Profº Dr. Julio Tello/UFAM, Paulo Roberto/IDSM. Arminda e Carmélia.

Aos Agentes Ambientais Voluntários,

Indígenas e Populações Tradicionais da Amazônia

iii

AGRADECIMENTOS

A DEUS pela proteção e força invisível;

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA e servidores. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá Aos professores: Jackson Rego, Adilson Hara, Lizit Alencar, Moisés, técnica Elzimar e colegas de mestrado da UFAM em especial Auxiliadora, pelo apoio e incentivo.

Meu muito obrigada.

iv

RESUMO

A gestão participativa comunitária dos recursos naturais na RDS Mamirauá,

através do Programa Agente Ambiental Voluntário do IBAMA, refletiu um novo conceito de

democracia participativa, onde a qualidade de vida, se processa como as águas da várzea,

enriquecem a cada experiência, a cada ciclo, contribuindo para se reescrever, que o homem no

espaço e no tempo vem planejando e construindo seu lócus de aprendizagem social,

delineando um novo projeto na sociedade, a sociedade organizada e participativa. Isto

constitui também a verdadeira construção do conhecimento da realidade histórica dos povos.

Ao longo dos capítulos, encontram-se inseridas citações que serviram de base para

se entender a formação social presente na organização da sociedade civil, como das

populações tradicionais da Amazônia, trilham caminhos diferenciados numa política de

gerenciamento dos recursos naturais locais. Para tanto, a reconstrução da história oral dos

atores sociais presentes (ribeirinhos, indígenas e populações tradicionais organizadas), no

processo de identidade cultural, contribuiu para se compreender que a Amazônia é

extremamente vulnerável no que diz respeito à conservação de sua sóciodiversidade,

ambiental e cultural. Tal fragilidade poderá ser superada pela ação social participativa,

trabalhando a memória de suas ações conquistadas na práxis do cotidiano e no processo de

ensino e aprendizagem, como exemplo para o melhoramento da qualidade de vida das futuras

gerações.

Palavras chaves: Agente Ambiental Voluntário, Gestão Participativa, Desenvolvimento Sustentável.

v

ABSTRACT

The communitarian participative administration of the natural resources in the RDS

(reserva de desenvolvimento sustentavel) Mamiraua, from the IBAMA program of Volunteer

Enviromental Agent, it is a new concept of participative democracy, where the life quality is

enrichment every day, like the annual river cycles, with new experiences and new social

knowledge. In this way we have the possibility to have a new social project with a more

organized and participative society. This is a true knowledge construction of the communities

historic reality.

In this work we could find in different chapters, information, that will help us to

understand the social formation in the civil organization of the native and traditional

population from the Amazonian region and how they create diferentes manners to manage the

natural local resources. So it is very important the reconstruction of the oral history from the

people, which live there for long time, like indigenous, ribeirinhos and traditional groups

organized. This process of reconstruction of cultural identity is contributing to comprehend

the Amazonian region. In this way, we could understand the vulnerability of the social,

enviromental and cultural diversity, and how this fragility could be overcome with the

participative action, working with the traditional knowledge through the educative process,

thinking for example, in a better future life quality for the next generations.

Words Keys:

Volunteer Enviromental Agent, Administration Participative, Development Sustentable.

vi

RESUMÉ

La gestion partipative communautaire des ressources naturelles de la RDS

Mamirauá, par le programme Agent Environnemental de l’IBAMA, a montré un nouveau

concept de la démocratie participative, où la qualité de vie contribue à ce que l’ homme

construise le processus d’apprentissage social, détaillant un nouveau projet dans la societé

organisée et participative. Ceci constitue également la vraie construction de la connaisssance

de la réalité historique des peuples.

Au fil des chapitres, on trouve des citations qui servirent de base pour

comprendre que l'information social présente au sein de l’organisation de la societé civile,

comme des populations traditionelles de l’Amazonie, trace des chemins différents pour la

politique des gestions des ressouces naturelles locales. Pour autant la reconstruction de

l’histoire par des acteurs sociaux présents (riverains, indigènes et populations traditionelles)

dans le processus d’identité culturelle, a contribé pour comprendre que l’Amazonie est

extrêmement vulnerable. En ce qui concerne la conservation de la sociodiversité

environnementale et culturelle, une telle fragilité pourra être surmontée si l’action sociale

participative travaille la mémoire des actions conquises au quotidien et lors du processus

d’apprentissage, comme par exemple pour l’amélioration de la qualité de vie des futures

générations.

Mots clé :

Agent volontaire pour le milieu ambiant, Gestion participative, Auto développement.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Imagem de satélite (Landsat 7) da RDSM e Amaná 25 Fonte: Embrapa, 1999 e Lúcio Couto-IBAMA. Figura 2: Localização dos setores da RDSM 26 Fonte: IDSM. Figura 3: Localização da RDSM 27 Fonte: IDSM Figura 4: Comunidade Jarauá: Revoada de Pássaros 29 Fonte: Anete Amâncio (Dez. 2004)

Figura 5: Paisagem cênica da comunidade Jarauá. 29 Fonte: Anete Amâncio (2005). Figura 6: Comunidade Jarauá: família tratando o pirarucu. 44 Fonte: Anete Amâncio (2004). Figura 7: Comunidade Jarauá, cultivo de plantas medicinais. 44 Fonte: Anete Amâncio (2005). Figura 8: Colégio do Lago do Cururu em Manacapuru 55 Fonte: Anete Amâncio (2005). Figura 9 e 10: Manejo de Pirarucu (Arapaima gigas) em Fonte Boa/AM. 57 Fonte: José Maria/ IDSFB (2005). Figura: 11: AAV do Parque Sumaúma/AM 59

Fonte: Anete Amâncio (2005). Figura 12 e 13: Agente Ambiental Voluntário da RDSM. 60 Fonte: IDSM (2002). Figura 14: Estudos de legislações ambientais pelos comunitários da RDSM. 62 Fonte: Anete Amâncio (2004). Figura 15: Comunidade Jarauá, curso de AAV 62 Fonte: Anete Amâncio (2005). viii

Figura 16: Comunidade Jarauá curso AAV. 63 Fonte: Leonardo Maeda (2005). Figura 17: Comunidade Jarauá, curso de AAV. 64 Fonte: Anete Amâncio (2005).

ix

LISTA DE TABELAS

Quadro 1: População por setores da RDSM 47 Fonte: Paulo Roberto do IDSM (2002). Quadro 2: AAVs na RDSM em 2006. 64 Fonte: IDSM. Gráfico 1: Faixa etária de AAVs. Da RDSM 66 Fonte: arquivo Ibama/AM (2006). Gráfico 2: Grau de Instrução de AAVs da RDSM. 67 Fonte: arquivo Ibama/AM (2006). Gráfico 3: Missões da fiscalização e monitoramento dos AAVs pelo IDSM no período de 1994-2004. Fonte: Paulo Roberto/IDSM 69 Gráfico 4: Recursos naturais retidos pela fiscalização e monitoramento do IDSM 70 em parceria com o Ibama/Tefé no período de 1994-2004. Fonte: Paulo Roberto. Gráfico 5: Missões de fiscalização e monitoramento dos AAVs da RDSM em parceria com o IDSM e Ibama/Tefé no ano de 2005. Fonte: Paulo Roberto. 71 Gráfico 6 e 7: Recursos naturais apreendidos em ações de fiscalização e monitoramente entre Ibama/Tefé, IDSM e AAvs em 2005. Fonte: arquivo Ibama/AM 73 Gráfico 8: Equipamentos apreendidos em missão de fiscalização e monitoramento

em parceria Ibama/Tefé, IDSM e AAVs no período de 1994-1004. 74 Fonte: Paulo Roberto/IDSM.

Gráfico 9: Equipamentos apreendidos em missões de fiscalização e monitoramento

pelas parcerias do Ibama/Tefé, IDSM e AAVs, no ano de 2005. 74 Fonte: Paulo Roberto/IDSM.

x

LISTA DE SIGLAS

AM Amazonas

AAV Agente Ambiental Voluntário ADESC Associação de Desenvolvimento Sustentável do lago do Cururu AVIVE Associação Vida Verde da Amazônia

COIAB Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira

COEP Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida. CENA Coordenação de Expressão Naturalista da Amazônia

CEDI Centro Ecumênico de Documentação e Informação

DIPRO Diretoria de Proteção Ambiental do IBAMA DICOF Divisão de Controle e Fiscalização do IBAMA

FUNAI Fundação Nacional do Índio

GPD Grupo de Preservação e Desenvolvimento de Tefé/AM GRANAV Grupo Ambiental Natureza Viva IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais

Renováveis

IDSM Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

IDSFB Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Fonte Boa

INPA Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia

IPAAM Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas

MEB Movimento de Educação de Base NAAV Núcleo de Agente Ambiental Voluntário do IBAMA ONU Organização das Nações Unidas

xi

PYRÁ Programa Integrado de Recursos Aquáticos e da Várzea da

Universidade Federal do Amazonas

PROVÁRZEA Projeto de Várzea do IBAMA PROMANEJO Projeto de Manejo Florestal do IBAMA RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável SDS Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas SAS Sistemas Abertos Sustentáveis UC Unidade de Conservação UFAM Universidade Federal do Amazonas UNB Universidade Federal de Brasília WWF Global environmental conservation organization

xii

SUMÁRIO

Folha de Aprovação ii Dedicatória iii Agradecimentos iv Resumo v Abstrat vi Resumé vii Lista de figuras viii Lista de tabelas x Lista de abreviaturas e siglas xi Sumário xiii INTRODUÇÃO 01 1- OBJETIVOS 05 1.1 Objetivo Geral 05 1.2 Objetivos Específicos 05

2- REVISÃO DE LITERATURA 06

2.1 A sintonia cósmica entre o homem e a natureza amazônica. 06 2.2 Conceitos e concepções sobre as diversidades dos recursos naturais e sociais Amazônicos. 09 2.3 A preservação dos recursos naturais de áreas protegidas como condições de Auto-sustentabilidade pelas populações tradicionais. 10 2.3.1 A Educação Ambiental direcionada ao processo de gestão ambiental. 14 2.3.2 A Gestão Participativa em áreas protegidas brasileiras. 17

xiii

2.3.2.1A Gestão Participativa dos recursos naturais pelas ações do voluntariado. 18

2.3.3 Legislações Ambientais como suporte á Gestão Participativa em áreas protegidas 20 3- MATERIAIS E MÉTODOS 23 3.1 Aspecto Geral da Macro-Área do Estudo de Caso e das Unidades Amostrais. 23 3.1.1 Aspectos Históricos. 23 3.1.2 Criação. 24 3.1.3 Localização e Acesso. 25 3.1.4 Recursos Naturais. 28 3.1.5 Geologia / Solos. 30 3.1.6 IDSM. 31 3.1.7 Unidades Amostrais: RDSM como marco referencial para outras Regiões da Amazônia. 31 3.2 Procedimentos Metodológicos. 32 3.2.1 Material. 33 3.2.2 Amostragem. 34 3.2.3 Métodos e Instrumentos de Coleta de Dados. 34 3.2.3.1 O Estudo de Caso dos participantes da RDSM. 35 3.2.3.2 Compilação de Informações e Processamento dos Dados. 36 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 37 4.1 A gestão participativa dos recursos naturais pelos comunitários da RDSM. 43 4.2 A inclusão social como marco referencial para as políticas públicas no processo de Desenvolvimento Sustentável. 47 4.2.1 Manejo de recursos naturais no município de Iranduba/AM. 49 4.2.2 Gestão Participativa da ASPAC no município de Silves/AM. 51

xiv

4.2.3 Gestão Participativa da AVIVE no município de Silves/AM. 52 4.2.4 Gestão Participativa do GRANAV no município de Parintins/AM. 52 4.2.5 Manejo dos Recursos Naturais nos Lagos: Calado, Parú, Cururu e Jacaré no município de Manacapuru/AM. 53 4.2.6 Projetos de Desenvolvimento Comunitário de áreas subsidiárias da RDSM: Z-32 em Maraã e IDSFB em Fonte Boa. 55 4.2.7 Integração social dos comunitários na Gestão do Parque Sumaúma. 58 4.3 O Programa Agente Ambiental Voluntário. 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS 78 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84 APENDICE Relatório Socioeconômico ANEXOS Parecer do Comitê de ética da UFAM Hino de Preservação de Lagos

xv

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

1

INTRODUÇÃO

A partir do século XVIII, a Amazônia, foi bastante estudada por naturalistas,

botânicos e zoólogos, dentre estes Alexander Von Humboldt (1769-1859), muito embora não

tenha penetrado em território atualmente brasileiro, que impressionado com a heterogeneidade

e exuberância da vida orgânica vegetal dessa cobertura florestal, deu-lhe o nome de Hiléia.

Nesse sentido, a Hiléia Amazônica é considerada pela sociedade científica como o

maior celeiro do mundo de recursos naturais, possui um elevado número de espécies animais

e vegetais ainda não pesquisados pela comunidade científica, atraindo para si discursos

preservacionistas em todo o mundo, principalmente quando se considera que, historicamente,

a Amazônia recebe atenção especial dada a sua importância geográfica, ecológica, econômica

e cultural. Dentre estas, na ecológica em particular, os estudos ictiológicos ressaltam a riqueza

de espécies de peixes na bacia amazônica, calculando-se que esta bacia possua a ictiofauna

mais diversificada de todas as bacias hidrográficas do mundo (JUNK, apud SALATI. 1983).

Na década de 1960 a humanidade tomou consciência dos abusos cometidos contra

a natureza em nome do crescimento econômico. Na verdade, o ser humano sempre se utilizou

de recursos naturais em seu benefício: água, madeira, frutas e outros alimentos extraídos das

matas, minerais, o próprio ar pareciam bens inesgotáveis e acessíveis a toda e qualquer pessoa

e em qualquer momento. Os abusos, num problema de escala, começaram com a Revolução

Industrial, no século XVIII, acentuando-se nos séculos XIX e XX chegando ao século XXI.

Atualmente, o homem busca meios de controlar o quase incontrolável processo de degradação

ambiental, principalmente o considerado aumento populacional, fator preponderante para uma

reflexão.

Essa tomada de consciência a respeito da degradação do meio ambiente levou a

Organização das Nações Unidas (ONU) a convocar uma grande conferência de países

membros, com a colaboração de cientistas no sentido de estudar o fenômeno, foi a Reunião de

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

2

Estocolmo (Suécia), realizada em 1972, também conhecida por ECO-72. Nos primeiros anos

da década de 1970 observou-se um esforço internacional em defesa da ecologia (do grego

oikog oikos, que quer dizer “casa”), significando o planeta que serve de moradia a bilhões

de seres humanos. Muito embora o primeiro estudioso a formalizar uma definição do termo

ecologia, tenha sido o alemão Ernest Haeckel (1866). (AMÂNCIO, 1998, p. 38)

Neste trabalho o enfoque dado na magnitude do bioma Amazônico, foi pensado em

desenvolver estudos na inter-relação homem e natureza, tendo em vista que nos tempos atuais

a Amazônia vem sendo depredada com atos irresponsáveis no que tange a preservação desses

recursos naturais como garantia da sobrevivência das populações que dela necessitam.

Segundo Valente (1999), ao se referia ao meio ambiente, afirma que a noção de

meio ambiente engloba, ao mesmo tempo, o meio cósmico geográfico, físico e o meio social

com suas instituições, sua cultura, seus valores. Esse conjunto constitui um sistema de forças

que exerce sobre o indivíduo e nas quais ele reage de forma particular, segundo os seus

interesses e suas capacidades.

No entanto, a maior compreensão das complexidades amazônicas no que diz

respeito ao equilíbrio ecológico entre sociedade humana e populações vegetais e animais,

trouxeram fatores co-relacionados que demonstra a fragilidade da natureza frente ás ações

consideradas de alto impacto, que de forma irresponsável poderia colocar em risco as

espécies. Assim sendo, os movimentos sociais eclodiram na Amazônia desde 1975, onde a

preservação e conservação desses recursos naturais tornaram-se expressões fundamentais para

alertar a sociedade envolvente a fragilidade e riscos dos esgotamentos desses recursos naturais

em suas regiões.

Segundo Kitamura (1994), ao se referir a co-relação entre homem e natureza,

destaca que a Amazônia tem como característica marcante a co-existência de uma rica

diversidade biológica, econômica e sociocultural, nas quais as populações vegetais, animais e

humanas têm suas próprias histórias de adaptação às condições regionais.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

3

Desta forma, o estudo tem por objetivo compreender a preocupação das

populações ribeirinhas na gestão participativa dos recursos naturais da Amazônia como

pressuposto fundamental para que estas comunidades organizadas possam alcançar autonomia

nas tomadas de decisões. Assim sendo, a gestão participativa das comunidades atrai parceria

desta com os segmentos governamentais, quando poderes são delegados pelo governo na

tomada de decisões consideradas conjuntamente, presentes nos dispositivos legais.

O estudo considerou as experiências em regiões aonde este compartilhamento entre

governo e sociedade organizada, vem dando certo, buscando analisar a organização social

como o grande desafio frente às complexidades e agravamentos dos problemas ambientais nas

comunidades, principalmente se considerarmos que a partir dos anos oitenta, a Amazônia

Brasileira passou a ser o centro das preocupações ambientais mundiais devido a aceleração da

degradação ambiental.

Entretanto, este estudo comparou as experiências de regiões que desenvolveram

trabalhos de manejo de recursos naturais, dentre os quais se podem destacar: RDS

Mamirauá/AM; Silves/AM; Fonte Boa/AM; Maraã/AM e a Ilha de São Miguel na região de

Santarém/PA e outras regiões da Amazônia que trilham esses caminhos da co-gestão

participativa nos processos de educação ambiental com ênfase na fiscalização dos recursos

naturais pelos comunitários treinados e capacitados pelo programa Agentes Ambientais

Voluntários do IBAMA, tem alcançado resultados de equilíbrio ambiental entre homem e

natureza. Tal análise se encontra no capítulo Trilhando os caminhos da RDSM. Assim sendo,

essas ações vem demonstrando maior possibilidade das populações comunitárias organizadas

em interferir politicamente nas tomadas de decisões, contribuindo dessa forma, para as

mudanças ecológicas, sociais, econômicas e políticas, almejando assim o desenvolvimento

auto-sustentável.

Ao se analisar estudos de casos de gestão compartilhada na Amazônia, foram

referendados os trabalhos desenvolvidos no ordenamento dos recursos naturais da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá-RDSM. No entanto, esta análise considerou que a

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

4

formação social comunitária da RDSM foi fundamentada na organização social dos

movimentos de base na região de Tefé, considerando-a pioneira e sui generis nos processos

sociais em prol da preservação e conservação desses recursos no Estado do Amazonas.

Valente (1999), quando refere-se a questão ambiental no processo de organização

social, enfatiza textualmente que: As questões de preservação e desenvolvimento devem

interagir de maneira a se completarem, e não como questões contrárias, para que se atinja

uma consciência crítica sobre eco-desenvolvimento, a fim de se construir uma filosofia para a

Questão Ambiental. Dessa forma, a pesquisa buscou analisar esse novo paradigma de

desenvolvimento sustentável como modelo integrador de sociedade e meio ambiente,

enfatizando os parâmetros urgentes na viabilidade do planejamento ordenado voltado

fundamentalmente para a preservação e conservação dos recursos naturais e o crescimento

econômico, viabilizando assim o bem-estar social das comunidades ribeirinhas e o equilíbrio

sócio-ambiental da Amazônia.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

5

1 OBJETIVOS

1.1 Objetivo Geral

Analisar a gestão participativa dos recursos naturais pelas comunidades ribeirinhas e o

Programa Agente Ambiental Voluntário do IBAMA na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Mamirauá como Estudo de Caso.

1.2 Objetivos Específicos

a) Analisar a organização comunitária para a utilização dos recursos naturais da

RDSM;

b) Avaliar o processo de implantação da gestão participativa dos recursos naturais no

contexto social, ambiental, histórico e cultural;

c) Avaliar a contribuição dos Agentes Ambientais Voluntários no processo de gestão

participativa da comunidade de Jarauá da RDSM, como base de análise referencial

do estudo de caso;

d) Verificar a contribuição de algumas experiências de gestão participativa para o

desenvolvimento sócio -ambiental comunitário da Amazônia.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

6

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A sintonia cósmica entre o homem e a natureza amazônica

O Homem amazônico representado como ribeirinhos, comunidades organizadas ou

indígenas, possui uma particular sintonia entre ele e a natureza que os cerca, a forma de se

expressar em suas tradições culturais, o modo de falar menos e ouvir mais, o respeito pelas

plantas e animais, os momentos únicos entre entender o expressar da natureza pelos murmurar

das águas, dos ventos, do fogo. Pode-se considerar como elementos fundamentais e

integrantes do seu próprio ser.

Tal entendimento é analisado por Gonçalves (2001), ao expressar que a sintonia

entre o homem e a natureza emerge desde fundamentação da humanidade, partindo desse

pressuposto o homem busca sempre a dominação da natureza, foi na fase neolítica que o

homem buscou essa dominação no processo de cultivo da natureza surgindo assim á

agricultura, com essa atividade o homem deixa de ser nômade e passa ao plano de

sedentarismo. Segundo o pesquisador somente a physis (palavra grega que significa: aquilo

que por si brota, se abre, emerge e desabrocha e se manifesta neste desdobramento) é que se

pode analisar o comportamento humano junto a natureza.

Gonçalves (2001,p.31), ao analisar mais profundamente a participação da physis

no comportamento do homem pelos filósofos pré-socrático, expressa (...) a partir da physis

pode então chegar a uma compreensão da totalidade do real: do cosmos, dos deuses e das

coisas particulares, do homem e da verdade, do movimento e da mudança, do animado e do

inanimado, do comportamento humano e da sabedoria, da política e da justiça (...).

Observa-se no estudo de Gonçalves (2001) que os filósofos pré-socrático tinham a

natureza como centro de tudo, ficando ao homem o respeito profundo pela própria natureza

seja uma planta, uma pedra ou o vento, somente a partir de Platão e Aristóteles a humanidade

volta-se para si, quando a natureza fica em segundo plano, cabendo ao homem o domínio

sobre esta, expressando desta forma o surgimento do antropocentrismo.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

7

A dicotomia Homem e Natureza, teve forte influência nos pensamentos filosóficos

ao longo da história, somente a partir da concepção de Platão e Aristóteles, conforme visto na

citação de Gonçalves, o antropocentrismo, ganhou uma forte conotação de ações do homem

sobre a natureza, isto é, o homem passa a ser visto como o centro do mundo, respaldado e

instrumentalizado pelo método científico, penetra nos mistérios da natureza, alcançando

patamares em nome da ciência pela cadeia do DNA, o poder de CLONAR a si próprio, como

também os recursos da Natureza.

Gonçalves (2001,p.35), complementa seu estudo, dizendo: (...) A idéia de uma

natureza objetiva e exterior ao homem, o que pressupõe uma idéia de homem não-natural e

fora da natureza, cristaliza-se como a civilização industrial inaugurada pelo capitalismo. As

ciências da natureza se separam das ciências do homem; cria-se um abismo colossal entre

uma e outra.

O planejamento da pesquisa foi direcionada para a compreensão da influencia do

Homem sobre a Natureza, para se entender as complexidades e pressões sobre os recursos

naturais, pelas ações ambiciosas, irresponsáveis e inconseqüentes, por parte de alguns homens

que não medem esforços para esgotarem os recursos naturais, levando-os até a sua extinção

(ou exaustão) do planeta. Derivando com isto, no efeito dominó, consequentemente os efeitos

dominó sobre as sociedades que dependem desses recursos para suas sobrevivências.

Desta forma, considera-se que a fundamentação teórica deste estudo, obedeceria

dois momentos distintos: o primeiro tem por base obter as informações de artigos, jornais,

revistas e relatórios de diferentes procedências, sedimentados em informações primárias, e/ou

empíricas oriundas da vivência prática dos comunitários antes e depois da criação da Unidade

de Conservação e o ordenamento dos recursos naturais; Num segundo momento, tendo por

base selecionar e analisar a bibliografia disponível existentes sobre o Desenvolvimento

Sustentável. Portanto, realizou-se levantamento para permitir adotar a mais apropriada às

condições locais, partindo do pressuposto de organização social e política.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

8

Assim, superados esses dois momentos, partiu-se para a revisão da literatura que

envolvesse assuntos ligados á identidade cultural, ordenamento de recursos naturais e

principalmente o Desenvolvimento Sustentável, enfatizando a política ambiental da

Amazônia.

Entretanto, a pesquisa considerou a importância da identidade cultural como

fundamento de força e objetividade para se alcançar a melhoria na qualidade de vida de uma

população organizada. Observou-se que os depoimentos dos moradores da UC ao analisarem a

preservação e conservação dos recursos naturais, em uma precisão única de resgatar a história

de seus antepassados na linha do tempo, foram elementos fundamentais para a análise do

processo cognitivo fundamentado na teoria da pesquisa de Maurice Halbwachs (1990)

considerando que a memória como uma construção coletiva sobre o passado feita a partir

das condições sociais que o grupo vivencia no presente “lente cultural”são importantes para

a construção da identidade de um grupo. (HALBWACHS, 1990, p. 189).

No entanto, a contribuição da analise de Halbwachs 1990, foi a luz do

entendimento para se reconhecer e compreender as complexidades sócio, ambiental, cultural

e econômica das população ribeirinhas e tradicionais da UC em estudo e demais regiões

amazônicas que lutam na preservação dos recursos naturais para suas sobrevivências. A

memória construída na linha do tempo como alicerce do entendimento para essas populações

na citação de LÉVI-STRAUSS (1975:215) quando diz: “ Numa ciência, onde o observador é

da mesma natureza que o objeto, o observador, ele mesmo, é uma parte de sua observação”.

Assim sendo, compreende-se as razões que levam as populações amazônicas a eclodirem,

buscando seus direitos sociais, ambientais e econômicos, cansados e exaustos de esperar que

os mecanismos governamentais cumprissem o contido na Constituição Brasileira que é os

direitos sociais e ambientais para o desenvolvimento da nação.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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2.2 Conceitos e concepções sobre as Diversidades dos recursos naturais e sociais

amazônicos

Geologicamente a Amazônia é constituída por uma grande bacia sedimentar da Era

Paleozóica com cerca de 420 milhões de anos, quando se considera de Oeste para Leste,

traçada pelo rio Amazonas, enquanto sua sedimentação de Norte para o Sul é limitada pelo

Escudo das Guianas e Brasileiro, formados pelas rochas mais antigas do continente sul-

americano, datados da Era Pré-Cambriana. (SHUBART apud SALATI,1983).

Para Shubart (1983), a Amazônia abrange uma área de aproximadamente cinco

milhões de quilômetros quadrados, para o INPE (2006), a mesma alcança mais de 50% do

território brasileiro, possui uma grande reserva de madeiras tropicais do planeta, abriga um

imenso patrimônio natural biológico sob a forma de milhões de espécies, organismos que

regulamentam o ciclo hidrológico da maior bacia hidrográfica do mundo, com mais de 6

milhões de quilômetros quadrados e representa um grande domínio morfoclimático,

caracterizado por grandes extensões de terras baixas. ( SHUBART apud SALATI, 1983),

A formação social da Amazônia é composta em sua maioria principalmente de

indígenas e caboclos, os quais vivem tradicionalmente da agricultura itinerante, da coleta dos

recursos naturais, da caça e pesca, conferindo sobrevivências e autonomia à essas

comunidades, embasada e fundamentada em sua cultura tradicional

Segundo Lévi-Strauss (1976) ao enfatizar a importância da cultura tradicional, vem

classificar como “esqueleto cronológico” que permite definir as distâncias entre

acontecimentos e dar sentido à seqüência de eventos selecionados para a construção de uma

história linear. (STRAUSS et al, 1976)

Entende-se que a história linear na linha do tempo resgata a memória do homem

amazônico, permitindo com isso, registramos em alguns depoimentos que havia uma sintonia

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cósmica entre o homem e a natureza, até aparecerem projetos que contribuíram para o

desequilíbrio dessa dicotomia, sendo alterado com a introdução no ecossistema florestal, os

grandes projetos agroindustriais, madeireiros e pesqueiros, onde muitos desses projetos foram

responsáveis pelos desequilíbrios dos ecossistemas, resultando no desaparecimento de

espécies na região e desestimulando as perspectivas de vida do homem.

2.3 A preservação dos recursos naturais de áreas protegidas como condições de

auto-sustentabilidade pelas populações tradicionais

Desde a época da colonização, na Amazônia brasileira, grandes interesses sempre

estiveram presentes. Entretanto, para a ocupação da Amazônia, foram implementados

modelos desenvolvimentistas com implícita exclusão das populações tradicionais. Desta

forma, baseado nos índices de agravantes de impactos ambientais, em destaque as regiões de

leste e sul amazônico, o governo brasileiro visa mudanças de paradigma entre pensamento e

percepções, havendo para tanto a mudança de valores como a auto-afirmação marco

fundamental de identidade cultural regional. Para tanto, o modelo de desenvolvimento

sustentável em áreas protegidas visa conter os desmatamentos, buscando a inclusão social nas

tomadas de decisões.

Assim sendo, a floresta amazônica, em destaque o sul do estado, apresenta um

mosaico florestal alterado de forma contínua por desmatamento, o chamado Arco do

Desflorestamento, área onde encontram-se grandes latifundiários da atividade agropecuária.

Segundo INPE (2006) baseado nos recortes das cenas do satélite Landsat, o desmatamento da

Amazônia no período de Agosto de 2004 a Agosto de 2005 foi de 18.967 quilômetros

quadrados.

Para Oliveira (1991) Torna-se imprescindível desenvolver modelos de ocupação

racional da região para que haja condições de auto-sustentação da população e preservação

dos recursos naturais tão diversificado. (OLIVEIRA, 1991, p.47).

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Na reflexão dessa citação, pode-se entender a criação de diversas Unidades de

Conservação no âmbito Federal e Estadual nas áreas consideradas como ranking de

desmatamento da Amazônia, precisamente em regiões do sul da Amazônia nos anos de 2005 a

2006, como forma de garantia da preservação dos recursos naturais, bem como oportunidade

de usufruto pelas comunidades tradicionais que nelas habitam de direito e de fato. Para tanto,

faz-se necessário que haja políticas públicas para a gestão desses recursos, com projetos de

auto-sustentabilidade visando o bem estar social e ambiental.

Para Oliveira (1991), vários animais e vegetais estão ou podem estar em fase de

extinção na Amazônia, devido a retirada seletiva sem reposição, citando as espécies de

recursos madeireiros, faunísticos e pesqueiros. Enfatiza ainda, que essas retiradas são em

conseqüências das ações do homem, através de desmatamentos indiscriminados. Entretanto, o

pesquisador propõe mecanismos legais mais severos pelos órgãos governamentais, que

possam coibir os contrabandos dessas espécies. (OLIVEIRA, 1991, p.47).

Considerando a reconstrução da história oral pela linha do tempo referida na

página 9, as análises das imagens de satélite quanto ao nível acelerado de desmatamentos, o

dano ambiental irreparável quanto a extinção de espécies e a política de inclusão social

traçada pelo governo federal na criação de novas UC’s como preservação dos diferentes

ecossistemas amazônicos. Foi possível substanciar-se o estudo de caso, partindo da inclusão

social das sociedades tradicionais da RDS Mamirauá, possibilitando entender á formação

social organizada como pressuposto fundamental para o resgate da identidade cultural e a

sobrevivência desta para as gerações futuras.

Segundo Halbwachs (1990), ao definir a cultura tradicional, destaca a memória

como uma construção coletiva sobre o passado feita a partir das condições sociais que o grupo

vivencia no presente “lente cultural” para a construção da identidade de um grupo.

(HALBWACHS, 1990, 189).

No estudo de depoimentos de moradores antigos, segundo LIMA (2000), que as

ações predatórias ocorrida no passado contribuíram como problemática ambiental para o

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desaparecimento e ameaça de extinção de espécies na região de Mamirauá. Fato em que a

ação antrópica concentrado nos processos de interesses próprios, não condiz com a utopia

liberal de crescimento ou o almejado desenvolvimento sustentável, mas vem contribuindo

para a irreversível perda de espécies da biodiversidade com sérias conseqüências para a

biosfera.

Segundo Hall (1993), o Desenvolvimento Sustentável, está baseado no uso

produtivo de recursos naturais para o crescimento econômico e fortalecimento dos meios de

vida, que conserva simultaneamente a diversidade biológica e social que constituem parte

integrante deste processo. (HALL apud BECKER, 1997, p.273).

Atualmente existem diversas definições de Desenvolvimento Sustentável, entre

tantos, pode-se considerar que o grau de conscientização dos comunitários com relação aos

aspectos sócio-ambientais, culturais, políticos e econômicos é pressuposto fundamental para

alcançar a gestão compartilhada dos recursos naturais. Segundo a definição do DFID (Banco

Mundial-2004), afirma que: o desenvolvimento social é “desenvolvimento eqüitativo,

inclusivo, sustentável, sensível às demandas e que possam ser responsabilizadas,

proporcionando a participação efetiva das populações em situação de pobreza e

marginalizadas”.

O termo Desenvolvimento Sustentável apareceu no dicionário mundial desde a

Conferência de Estocolmo, em 1972 organizada pelas Nações Unidas (ONU), quando se

discutia, até então, a degradação ambiental como consequência do descontrolado crescimento

populacional e da superexploração dos recusros naturais. Como resultado, houve a criação da

Declaração sobre o Ambiente Humano, que introduziu na agenda política internacional a

dimensão ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de crescimento

econômico e do uso dos recursos naturais. Ela determinou ao mundo que "tanto as gerações

presentes como as futuras tenham reconhecido como direito fundamental a vida num ambiente

sadio e não degradado". (UnB et.al,2006).

Para WWF-Brasil, Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento capaz de

suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as

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necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o

futuro.

Segundo a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que presidiu a

Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, o Desenvolvimento

Sustentável "satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações

futuras de suprir suas próprias necessidades". Ou seja, é o desenvolvimento econômico, social,

científico e cultural das sociedades garantindo mais saúde, conforto e conhecimento, sem

exaurir os recursos naturais do planeta. (UNB et al,2006).

Assim sendo, a partir da compreensão de Desenvolvimento Sustentável, no

processo de Organização Social, o estudo buscou outras regiões além das já citadas

anteriormente, que também trabalham dentro do processo de organizações comunitárias, a

destaque: Grupo Ambiental Natureza Viva de Parintins/AM-GRANAV; Grupo de

Preservação e Desenvolvimento - GPD em Tefé; Instituto de Pesquisa Ambiental da

Amazônia de Santarém/PA-IPAM; Associação dos Trabalhadores Rurais da Reserva

Extrativista do Médio Juruá/Am; Instituto Amazônico de Manejo Sustentável dos Recursos

Naturais em Santarém/PA; A Colônia dos Pescadores em Maraã/AM; A Associação dos

AAV no Lago do Limão em Iranduba/AM; A organização Comunitária pelos AAV na

Preservação e Conservação do Lago do Calado e Paru em Manacapuru/AM; A organização

Comunitária de Sistemas Abertos Sustentáveis - SAS dos Lagos do Cururu e Jacaré em

Manacapuru/AM e Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües - OGPTB.

Além dessas organizações o estudo considerou fontes primárias como depoimentos

contidos em trabalhos científicos sobre a ocupação e identidade das Comunidades Ribeirinhas

da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

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2.3.1 A Educação Ambiental direcionada ao processo de gestão ambiental.

A dicotomia Homem e Natureza se inicia nos primórdios da história da

humanidade, exercendo influência recíproca de um sobre o outro. Assim, a interferência

cobra evidência no período da “modernização e industrialização”, estabelecendo padrões de

consumo, impostos pelos sistemas capitalistas dominantes, como forma de dominação e

intervenção política, econômica - financeira, social e cultural, nos países pobres, porém,

portadores de uma grande riqueza de matéria prima.

Por outro lado, observa-se que as interferências da modernização de forma

desordenada, com um slogan de Desenvolvimento, trás conseqüências nos aspectos

econômicos, sócio-culturais e ambientais os quais tem sido de forma brutal dizimados.

O primeiro manifesto ecológico surgiu com a carta do índio da etnia Seattle

(E.U.A.) escrito em 1855, a precisão desse manifesto despertou a consciência ambientalista,

necessária para a criação de mecanismos que pudessem direcionar o rumo da política

ambiental do planeta..

Para tanto, essa política ambiental do planeta teve fundamentação na Conferência

das Nações Unidas citada na pagina 12, cujas discussões se concentraram no tema Educação

Ambiental, recomendando que (...) os organismos do Sistema das Nações Unidas e, em

particular, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e as

demais Instituições internacionais interessadas, através de consultas e de comum acordo,

adotem as medidas necessárias para estabelecer um programa internacional de educação

sobre o meio ambiente, com enfoque interdisciplinar e de caráter escolar e extra-escolar,

abrangendo todos os níveis de ensino e dirigindo-se ao público em geral. (IBAMA, 1998,

p.30).

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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Após essa Conferência Internacional, a UNESCO inicia um Programa

Internacional de Educação Ambiental em 1975. A partir disso foram elaboradas as etapas

preliminares para a formulação das diretrizes que substanciaram a Conferência de Tbilisi.

A Conferência Inter-governamental de Educação Ambiental de Tbilisi, realizada

em 1977 na Geórgia, ex-União Soviética, define a Educação Ambiental como sendo a parte

integrante do processo educativo. Deve girar em torno de problemas concretos e ter um

caráter interdisciplinar. Sua tendência é reforçar o sentido dos valores, contribuir para o

bem-estar geral e preocupar-se com a sobrevivência da espécie humana. Deve ainda,

aproveitar o essencial da força da iniciativa dos alunos e de seu empenho na ação, bem

como inspirar-se nas preocupações tanto imediatas quanto futuras. (IBAMA, 1998, p.33).

Neste viés, a Conferência de Tbilisi, direciona o conceito de educação ambiental,

como sendo um (...) um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos,

objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio,

para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios

biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de

decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida. (IBAMA op cit).

Entretanto, competência dada pela Conferencia de Tbisili á Educação Ambiental

deve ser dirigida á comunidade, de forma que esta entenda seus direitos e deveres enquanto

cidadões organizados e conscientes para a resolução de problemas ambientais, podendo

contribuir para a renovação de um processo educativo, estimulando a iniciativa, o senso de

responsabilidade e o esforço para a construção de um futuro digno e promissor para as

gerações futuras.

A educação ambiental no Brasil alcança as redes de ensino na década de 1990,

passando a ter um grande respaldo pela Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a ECO-92, realizada em 1992 na cidade do Rio de Janeiro, onde os países

participantes assumiram a Educação Ambiental com caráter de inclusão social para se

alicerçar as sociedades em Sociedades Sustentáveis, visando principalmente, as mudanças

derivadas do conceito de desenvolvimento sustentável que apresenta o imperativo ético de

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

16

responsabilidade com as futuras gerações e da oxigenação da política ambiental, com o

propósito de consubstanciar a Agenda 21.

Dez anos após a assinatura do Tratado de Educação Ambiental na ECO-92, a

cidade do Rio de Janeiro voltou a sediar o evento da RIO+10, realizada paralelamente a da

cidade de Johannesburgo (África do Sul), onde foram avaliados os parâmetros traçados na

Agenda 21.

Observa-se que desde então vários eventos vieram somar na temática de Educação

Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável, dentre os quais, o governo brasileiro tem

investido esforços nas esfera federal, estadual e municipal nas Conferências Nacionais do

meio Ambiente.

Ao analisar os processos sociedade-economia, Coimbra (2002), esclarece que tanto

a palavra Economia, do grego oikos (casa, morada, habitat) + nomia (administração),

significam “administração e governo da casa”, como Ecologia, cujo significado é o estudo do

mundo, da nossa casa”, têm sua etimologia no mesmo prefixo grego. (COIMBRA apud

NETO, 2006, p.65).

A Carta da Terra está concebida como uma declaração de princípios éticos

fundamentais e como um roteiro prático de significado duradouro, amplamente compartido

por todos os povos. De forma similar à Declaração Universal dos Direitos Humanos das

Nações Unidas, a Carta da Terra será utilizada como um código universal de conduta para

guiar os povos e nações na direção de um futuro sustentável. (COIMBRA,2002, p.378).

Como pode-se observar, os atores sociais retratados por governos, instituições não

governamentais e sociedade civil, estão elaborando as diretrizes filosóficas da Educação

Ambiental, a partir de diferentes formas de organização, como: foruns, seminários, encontros,

e conferências internacionais, alimentados pelas diferentes contribuições das organizações de

base, como presupostos de gestão equilibrada dos recursos naturais que possam garantir a vida

no planeta.

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2.3.2 A Gestão Participativa em Áreas Protegidas brasileiras

A criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável,

criada pelo Governo Federal, veio ordenar os espaços naturais no Brasil, visando à

preservação e conservação dos recursos naturais e do próprio homem.

Milano (1994) enfatiza que a idéia de áreas protegidas no mundo ocidental teve

sua origem no continente europeu, na Idade Média, de onde surgem os primeiros registros

históricos de proteção de áreas naturais. A finalidade na época era proteger essas áreas para o

lazer da aristocracia dominante (MILANO apud NETO, 2006, p.68)

Somente após a criação em 1872 nos E.U.A. do primeiro Parque Nacional do

Mundo YELLOWSTONE, foi pressuposto fundamental para que as nações tomassem atitudes

ambientais frente às necessidades de proteger os espaços territoriais dos recursos naturais.

A história do surgimento de movimentos ambientalistas com o objetivo de proteger

os recursos naturais, foi conseqüência de muitos anos de lutas. Nos anos 60 os movimentos

ativistas dos E.U.A e Europa, levantaram suas bandeiras de luta em contraposição à sociedade

tecnológica-industrial, não almejando apenas a proteção de espécies de animais, mas, com

uma visão universal, do direito pela vida planetária.

Segundo Simonner (1979) quando diz: O bom selvagem e o velho agricultor

foram considerados detentores do conhecimento e da sabedoria em razão de sua pouca

adaptação à tecnologia moderna. A aldeia rústica e modesta se tornou arquétipo da vida

comunitária e os trabalhos rurais e artesanais, eram realizadas em estreita comunhão com a

natureza. (SIMONNER apud DIEGUES, 1996, p.41).

No entanto, os governos homologam leis de criação de espaços naturais, sem o

conhecimento e participação das sociedades do entorno da UC, trouxe sérios problemas

sociais, pois não representavam as realidades das regiões pretendidas. Assim sendo, diversos

pesquisadores, defenderam a idéia de inserir as sociedades civis no processo de participação

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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no planejamento, com participação multidisciplinar e participativo no âmbito da gestão dos

sistemas ecológicos, socioeconômicos e culturais.

Segundo Gonçalves (2001) a verdadeira ação política no que tange a criação de

áreas protegidas de Uso Sustentável, teve sua fundamentação nas ações ambientalista do líder

Chico Mendes (1944-1988), que estabeleceu uma política única de organização social em

bases sindicais, percebendo que seria necessário que as populações indígenas seriam os

aliados imediatos por serem marginalizadas no processo político social, tais como os

seringueiros, onde todos dependiam da floresta para sua sobrevivência, criou assim a Aliança

com os Povos da Floresta, congregando os ribeirinhos, castanheiros, os balateiros, as

quebradeiras de coco de babaçu, os açaizeiros, além de outros trabalhadores rurais.

O ambientalista aliou-se no fortalecimento de suas ações á técnicos e cientistas e

instituições não-governamentais que colaboraram na formulação de alternativas de

desenvolvimento para essas categorias, resultando na criação dos Comitês de Apoio aos Povos

da Floresta, criado no Rio de Janeiro e São Paulo.

2.3.2.1 A Gestão Participativa dos recursos naturais pelas ações do voluntariado

O uso desordenado praticado largamente na região Amazônica pelas ações

antrópicas, tem contribuído fortemente para acentuar a devastação da região sobre os seus

recursos naturais. Observa-se que este processo atualmente e um dos principais desafios dos

governos e gestores públicos, estas irresponsabilidades vem impedindo o desenvolvimento

socioeconômico dos povos da floresta.

Na busca incessante por políticas públicas que visem a garantia dos recursos

naturais amazônicos para a preservação, conservação, objetivando a geração de renda das

populações tradicionais que vivem exclusivamente do extrativismo, surgem a mobilização

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

19

socioambiental pelos comunitários, envolvidos na busca de organizar-se através de

movimentos ambientalistas na perspectiva de ações transformadoras de conscientização,

instrumentalizando-se nos conhecimentos de seus direitos e deveres enquanto cidadões.

Desta forma, SORRENTINO (2005) explica que a educação ambiental surge

como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla

ordem, cultural e social. Sua perspectiva crítica e emancipatória, visa à deflagração de

processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão

dialeticamente indissociadas. A articulação de princípios de Estado e comunidade, sob a

égide da comunidade, coloca o Estado como parceiro desta no processo de transformação do

status quo situado, segundo Boaventura de Souza Santos, como um “novíssimo movimento

social”. A tal Estado cumpre o papel de fortalecer a sociedade civil como sede da

superestrutura. No campo ambiental, o Estado tem crescido em termos de marcos

regulatórios sem uma capacidade operacional que condiga com a demanda em vista da

redução do Estado (década de 1990) e da ausência de reformas que não sejam a do Estado

mínimo. (SORRENTINO et al, 2005).

Assim sendo, o processo participativo dessas populações organizadas vem

apresentando resultados significativos no exercício de seus direitos e deveres na compreensão

do processo e informação do propósito e conservação para manejo da natureza de forma

ordenada, permitindo-se, com que estas populações apresente a segurança da realização

planejada como o desprendimento de forma voluntária para a busca e propor alternativas de

mudança para situações previamente avaliadas.

Segundo a Lei 9.608 de 1998 ao definir Voluntariado: Atividade não remunerada,

prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou instituição privada

sem fins lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos,

recreativos ou de assistência social, ou de mutualidade.

No mundo são milhares de pessoas que prestam serviços voluntários. Segundo a

ONU 42 milhões praticam ação voluntária no Brasil. (ONU et al, 2006).

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

20

Para a Cruz Vermelha quase 100 milhões de voluntários em todo o mundo

trabalham pela missão, num espírito de humanidade, ajuda mútua e solidariedade. (Cruz

Vermelha et al, 2006).

Assim como a organização Médicos sem Fronteiras 22 mil médicos prestam

serviços voluntários de saúde à vítimas de conflitos, epidemias e exclusão social (MSF et

al,2006).

Nesta viés, a cidadania planetária pressupõe responsabilidade pessoal e

compromisso social na construção de uma sociedade na qual todos têm os seus direitos

básicos assegurados, onde a solidariedade faz parte de uma proposta educativa que se

preocupa com o bem-estar socioambiental e com a qualidade de vida no planeta.

Ações estas que possibilitaram uma nova forma de uso dos recursos naturais,

contribuindo e consolidando o conceitos de preservação e conservação e gestão participativa.

2.3.3 Legislações Ambientais como suporte á Gestão Participativa em áreas protegidas

O Brasil possui em seu território um dos maiores mosaicos de UC’s, criadas

objetivando a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras, essas UC’s estão

presentes principalmente na região norte brasileira, reduto da presença de grande

biodiversidade do planeta, cujo acesso ainda é difícil facilitando a preservação destas, contra

os grandes centros brasileiros. Entretanto, o Programa AAV do IBAMA, atua somente em

áreas protegidas ou que estão sendo discutidas a proteção, seja de áreas de Proteção Integral

ou de Uso Sustentável. O referido Programa se baseia nas diretrizes dos Instrumentos legais:

• Constituição Federativa do Brasil, 1988. em seu Art. 225 a proteção dos recursos

naturais;

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

21

• Lei Federal n° 4.771, de 1965 - Código Florestal, estabelece a proteção dos diferentes

tipos de cobertura vegetal natural;

• Decreto Lei nº 221, de 1967 – estabelece a Proteção e o estímulo a Pesca;

• Lei Federal nº 5.197, de 1967 – regulamenta a Proteção da Fauna brasileira;

• Portaria do IBAMA nº 008/96 – formulação e aplicação de normas de pesca;

• Lei Federal nº 6.938 de 1981 - regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente,

visando as condições de desenvolvimento socioeconômico como qualidade de vida;

• Lei Federal nº 6.902, de 27 de abril de 1981, que dispõe sobre a criação das estações

Ecológicas e das Áreas Proteção Ambiental;

• Lei Federal nº 7.679 de 23 de novembro de 1988- Dispõe sobre a Proibição da pesca de

espécies em períodos de reprodução e das outras providências;

• Resolução CONAMA Nº 3/1988- regulamenta a gestão participativa como mutirões

ambientais para coibir os abusos contra os recursos naturais;

• Lei Federal nº 7.804, de 18 de julho de 1989, que altera a Lei Federal nº 6.938;

• Decreto Federal nº 98.897 de 30 de janeiro de 1990, que conceitua as Reservas

Extrativistas;

• Decreto Estadual nº 12.836 de 09 de março de 1990, criação da Unidade de Conservação

Mamirauá como Estação Ecológica;

• A Lei Estadual nº 2.411 de 16 de julho de 1996, pelo Governo do Estado do Amazonas,

criou a RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ;

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

22

• Lei Federal nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998-Lei de Crimes Ambientais, que

estabelece e regulamenta as ações contra o meio ambiente;

• Lei Federal 9.608 de 1998 – Dispõe sobre o serviço voluntariado.

• Lei Federal nº 9.795, de 1999 - Política Nacional de Educação Ambiental veio

estabelecer uma política de Educação Ambiental para a sociedade brasileira;

• Decreto Federal nº 3.179, de 1999 – Sanções aplicáveis as condutas e atividades

lesivas ao meio ambiente;

• Lei Federal nº 9.985 de 18 de julho de 2000 – Institui o Sistema Nacional de Unidade

de Conservação (SNUC), estas deverão dispor do plano de Manejo dos recursos

naturais, devendo para tanto, abranger as zonas de amortecimento e corredores

ecológicos, a qual visa ainda a inclusão social para a proteção e conservação dos

recursos naturais;

• Medida Provisória nº 2166/2001 - altera alguns itens do Código Florestal;

• Decreto Federal nº 3.834, de 5 de junho de 2001, estabelece que as UC criadas antes da

Lei do SNUC, devem ser adequadas a lei vigente de UC’s;

• Instrução Normativa do IBAMA nº 29/2002 – Acordos de Pesca;

• Instrução Normativa do IBAMA nº 3/2002 – Desmatamento;

• Instrução Normativa do IBAMA nº 4/2002 - Manejo Florestal;

• Dec. 4.519/2002 – Dispõe sobre o serviço voluntariado em Unidade de Conservação e

dá outras providencia;

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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• Instrução Normativa do IBAMA nº 66, de 23 de maio de 2005- regulamenta a gestão

participativa dos mutirões ambientais, estabelecidos na Resolução do CONAMA 03/88,

denominando-os de AGENTE AMBIENTAIS VOLUNTÁRIOS.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Aspectos Gerais da Macro-Área de Estudo e das Unidades Amostrais

Neste capítulo, foi considerado os aspectos de cunho geral sobre a Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, além de uma breve caracterização das unidades

amostrais do objeto de estudo.

3.1.1 Aspectos Históricos

O estudo relevou como pesquisa fundamental, o trabalho de Deborah Lima (1993),

onde houve registro de depoimentos de moradores da Unidade de Conservação Mamirauá.

Segundo a moradora da Boca do Lago Mamirauá, Sra Luzia Carvalho, Mamirauá na língua

Geral (Nhengatu) significa “filhote de peixe-boi”.

Para os primeiros moradores da região ao se referirem aos agravamentos dos

problemas ambientais, enfatizaram que as pressões antrópicas de pescadores e madeireiros,

sobre os recursos naturais da Reserva, contribuíram para o aumento e propiciaram o

despovoamento dos recursos naturais na região. Considerada fundamental na pesquisa de

PAUL CONNERTON (1989) quando afirma que a memória coletiva pode ser compreendida

como a moldura cultural que define parâmetros para a realização dos processos cognitivos

da memória particular de cada indivíduo. (CONNERTON et al, 1989)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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A pesquisa observou que a região da RDSM teve seus primeiros moradores

ribeirinhos desde a década de 1920, em narrações alguns colocam que até a década de 70 as

localidades da Reserva era muito fartas de comida, havia fartura de peixes principalmente o

pirarucu (Arapaima gigas) e de animais silvestres. Salientam ainda, a dependência do

comércio centralizado na presença do aviamento de mercadorias, onde o ribeirinhos sempre

estava a dever para os comerciantes os “coronéis de barranco” ou regatões, essa conotação é

entendida no passado marcado em dois tempos “tempo do patrão” entendido como o tempo do

cativeiro e o “ tempo presente , ser “liberto” .

3.1.2 Criação

A Estação Ecológica Mamirauá foi criada pelo governo do Amazonas segundo

Decreto 12.836 de 09 de março de 1990, a área total de Mamirauá é de 1.124.000 hectares.

A LEI nº 2.411 de 16 de julho de 1996, pelo Governo do Estado do Amazonas,

transformou a Estação Ecológica Mamirauá em RESERVA DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

25

3.1.3 Localização e Acesso

Figura 1: Imagem de satélite (LANDSAT 7) RDS Mamirauá e Amanã. Fonte: EMBRAPA, 1999 e Lucio Couto-Ibama.

O estudo considerou os trabalhos desenvolvidos na comunidade Jarauá da Reserva

de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, nos seguintes limites:

NORTE: Confluência do Rio Ati Paraná com o Paraná Panapuá. Desta

confluência, por este rio, até a margem direita do rio Japurá;

LESTE: Confluência do Rio Ati Paraná, com a margem direita do Rio Japurá.

Desta confluência, pela margem direita do Rio Japurá, descendo até sua confluência com a

margem esquerda do Rio Solimões;

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

26

OESTE: Confluência do Rio Ati Paraná com a margem esquerda do Rio Solimões.

Desta confluência, pelo Rio Ati Paraná, passando pelo Paraná do Bugari, até a sua confluência

com o Paraná Panapuá;

SUL: Confluência da margem direita do Rio Japurá, com a margem esquerda do

Rio Solimões. Desta confluência, pela margem esquerda do Rio Solimões, subindo até a

confluência do Rio Ati Paraná.

A RDS Mamirauá tem a integração com os municípios que fazem fronteiras,

sendo: Fonte Boa (40%), Japurá (3%), Maraã (30%), Juruá (7%), Uarini (20%). Os

municípios de Tefé e Alvarães estão designados como suportes para a implementação dos

objetivos da Unidade de Conservação.

A área focal da RDS Mamirauá, possui nove setores, assim denominados:

Mamirauá, Ingá; Aranapu; Barroso; Boa União; Jarauá; Horizonte; Liberdade e Tijuaca,

conforme é mostrado nas Figuras 2 e 3.

Figura 2. Localização dos Setores da RDSM

Fonte: IDSM

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

27

Figura 3. Localização da RDSM. Fonte: IDSM

A Iª Assembléia Geral de Uarini em 1993, classificou o sistema em Lagos:

Procriação (Preservação); Manutenção (Manutenção e Comercialização) e Reserva (Livre-

Comercialização).

Após 4 anos, se concluiu o PLANO DE MANEJO pelo PROJETO MAMIRAUÁ,

que direcionou o zoneamento da reserva em duas zonas: ZONA ou ÁREA DE PROTEÇÃO

(26,4% destinada à preservação total) e ZONA ou ÁREA DE USO SUSTENTADO,

objetivando garantir áreas suficientes para que os recursos naturais possam se manter

equilibrados.

O Plano de Manejo da RDS MAMIRAUÁ, trouxe diretrizes específicas para o

manejo de uso de áreas de várzeas, conteve o zoneamento ecológico-econômico que veio a

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

28

classificar as áreas de usos e algumas restrições consideradas áreas de proteção integral de

recursos, bem como, a política de ocupação de áreas por habitantes que migram para a região.

3.1.4 Recursos Naturais

A região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, está localizada

em área de Várzea, cuja fase terrestre é de estação de águas, obedecendo a sazonalidade da

região Amazônica, para as águas baixas ou “seca”, períodos em que os rios amazônicos são

fartos, tendo grande quantidade de alimentos silvestres e cultivados. Porém, na estação de

águas altas ou “cheias”, esta é considerada pelas populações tradicionais, época de escassez de

alimentos de origem vegetal, caracterizada pela dispersão da fauna aquática.

Atualmente, a RDS Mamirauá é reconhecida mundialmente como Reserva de

Desenvolvimento Sustentável, servindo como exemplo de equilíbrio ambiental em todos os

campos da biodiversidade amazônica (Figura 4 e 5). Ressalta-se que as ações predatórias

ainda existem, mais em pequena escala, quanto a qualidade de vida com relação a outras

regiões da Amazônia, observou-se uma diferença grande principalmente no que tange a

inclusão social nas tomadas de decisões para a gestão dos recursos naturais pelos

comunitários.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

29

Figura 4: Jarauá: Revoada de pássaros Fonte: Anete Amâncio (Dez, 2004)

Figuras 5: Paisagem cênica da comunidade Jarauá. Fonte: Anete Amâncio (2005)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

30

3.1.5 Geologia/Solos

A Amazônia possui um mosaico de recursos naturais considerados únicos no

planeta, dentre os quais a área de várzea, consideradas pela comunidade científica, como uma

área de caráter peculiar, segundo Filho (1991, p.55), possui uma área brasileira de

aproximadamente 60.000 Km2, apresenta elevada fertilidade em seu solo, em decorrência de

periodicamente está recoberta de água dos rios barrentos que ali depositam uma grande

quantidade de nutrientes trazidos ao longo do percurso do rio Solimões desde sua nascente

que se encontram nas rochas Andinas. Os lagos de várzeas e os igapós são extremamente

importantes devido a sua riqueza de nutrientes para os recursos aquáticos.

Para, Sioli (1951), a formação e composição químico-geológico originárias no

período holoceno e sua fertilidade é função da sedimentação dos nutrientes que estão

dissolvidos nas águas barrentas que anualmente recobrem as terras baixas da região.

Segundo Junk (1983), ao se referi as áreas de várzeas, enfatiza que o ecossistema

amazônico de várzea é alimentado anualmente pela fertilização, devida ás inundações, a

natureza proporciona que estas não acumulem nutrientes de forma ilimitada, as triagens da

natureza do equilíbrio ecológico acontecem quando esta devolve ao rio uma quantidade de

nutrientes equivalente aquelas recebida, em forma inorgânica, como sais minerais dissolvidos

e sedimentos, quando são transformados, em parte por meio de energia solar, em matéria

orgânica e devolvidos ao rio em forma de plantas aquáticas, detritos orgânicos, substâncias

orgânicas dissolvidas (JUNK apud SALATI, 1983).

Assim sendo, a pesquisa deste trabalho se fundamentou no ambiente natural e

social da RDSM como pressuposto para se entender a gestão participativa das populações

tradicionais no que tange a preservação desses recursos naturais, objetivando um manejo

participativo para desenvolvimento sustentável, enfatizados pelas inúmeras pesquisas de

cientistas socioambiental, os quais fundamentam esta pesquisa.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

31

3.1.6 Instituto de Desenvolvimento Sustentado Mamirauá

A administração da RDS Mamirauá está sob a responsabilidade do Instituto de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- IDSM, formado por: Conselho de administração;

Conselho Técnico-Científico e Diretoria. Criado em maio de 1999, objetivando dar

continuidade aos trabalhos de implementação até então realizado pelo Projeto Mamirauá. Foi

considerado Organização Social em 7 de julho de 1999, por decreto presidencial.

A missão do IDSM é desenvolver modelo de área protegida para grandes áreas de

florestas tropicais onde, através de manejo participativo, possa ser mantida a biodiversidade,

os processos ecológicos e evolutivos.

A sede do IDSM está localizada a 525 quilômetros de Manaus na cidade de Tefé,

no Estado do Amazonas.

3.1.7 Unidades Amostrais: RDSM como marco referencial para outras regiões da

Amazônia.

Os caminhos trilhados pelo estudo na fundamentação desta dissertação, foram

compreender que independentemente de políticas públicas empacotadas em papel de presente,

sem contribuição e reconhecimento da sociedade local, está hoje sendo desprezada por estas.

Fatos comprovados nas conferências, encontros e assembléias. Assim sendo, a pesquisa

apresenta alguns depoimentos e narrativas das Unidades Amostrais, consideradas como

referencial no suporte do Estudo de Caso.

Representantes de populações organizadas e esquecidas as margens dos rios da

Amazônia, cansadas de receber projetos oriundos dos grandes gabinetes urbanos, que são

executados em suas regiões sem a mínima consideração com as verbas públicas, o que eles em

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

32

desabafo, em uma linguagem regional enfatizam como “ impostos de goela abaixo”. Portanto,

hoje é questionado por estas sociedades o direito de planejar, executar e monitorar esses

projetos sociais oriundos de verbas públicas para suas comunidades.

3.2 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa buscou informações de comunidades que desenvolvem a gestão

participativa de recursos naturais. Para tal, foi selecionada a comunidade Jarauá da RDSM,

que serviu como base para se entender a complexidade do tema escolhido para estudo.

Utilizou-se ainda, depoimentos de comunitários e trabalhos publicados de grande

relevância no tocante a organização social e surgimento dos movimentos sociais nesta região,

assim como áreas de grande interesse na temática de gestão compartilhada de recursos

naturais de outras regiões amazônicas.

Em seguida foi avaliada a gestão participativa no manejo dos recursos naturais,

pelas comunidades organizadas, considerando que estas populações ribeirinhas são

primordiais, para o entendimento das figuras: comunidades tradicionais e ribeirinhas no

processo de união de força coercitiva na defesa de seus territórios pelas potencialidades

ambientais existente em suas regiões.

O estudo de caso como base referencial a comunidade Jarauá da Unidade de

Conservação de Uso Sustentável a RDSM, foi o marco referencial de gestão compartilhada de

ribeirinhos treinados pelo IBAMA para serem Agentes Ambientais Voluntários. Portanto,

tanto, foi considerado um paralelo de ações desses AAVs existentes em outras comunidades

dentro da gestão da RDSM no processo de disseminar essa experiência através do treinamento

pelo órgão ambiental utilizando esses conhecimentos e trabalhos organizados para outras

regiões do estado do Amazonas.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

33

3.2.1 Material

O material utilizado na fundamentação desta pesquisa constou com os seguintes

elementos:

a) Fontes Primárias presentes nos estudos de depoimentos in loco e Fontes Secundárias de

bibliografias gerais e complementares, de acordo com a abrangência que a pesquisa

requeria, tais como:

• Atores sociais: depoimentos de fundadores e moradores, abrangendo dados sobre suas

localizações e prováveis mudanças, extinções e datas, ex-moradores, regatões e pessoas

que exerceram alguma atividade econômica na região;

• Depoimentos, “in loco”, de Agentes Ambientais Voluntários formados por ocasião dos

2º e 3º cursos na RDSM na localidade Jarauá em 2005 e moradores antigos da região;

Concomitante ao estudo das fontes primárias procurou-se as fontes secundárias,

fundamentais para o resgate da história e entendimento do processo de gestão compartilhada

em regiões consideradas pressuposto fundamental desse processo, onde considera-se as fontes

abaixo como fator preponderante da pesquisa.

• Estudos históricos das missões Católicas de Jesuítas como Samuel Fritz (1922) e o

naturalista Henry Bates (1892),( LIMA et al, 1975);

• Estudos das Missões Católicas na região e o surgimento do MEB (PEREIRA et al,

2004);

• Estudos sobre o apogeu da borracha e a imigração nordestina na região (OLIVEIRA et

al, 1983).

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

34

• Questionário Sócio-econômico, aplicados aos Agentes Ambientais Voluntários na

região, respeitando os estudos históricos e culturais existentes na pesquisa de Débora

LIMA ( op cit).

b) Imagens de Sensores Remotos disponibilizada pelo googleearth e pelo Sistema de

Vigilância da Amazônia (SIPAM) e Instituto de Preservação Ambiental do Estado do

Amazonas-IPAAM, como estudo integral das UCs Mamirauá e Anamã;

c) Mapa temáticos sobre a geomorfologia da UC e o Plano de Manejo da RDSM;

d) Formulários e Questionários sócio-econômico e cultural.

3.2.2 Amostragem

As Unidades Amostrais apresentadas anteriormente, foram de fundamental

importância para a compreensão da experiência da RDSM na gestão participativa por parte

das comunidades tradicionais organizadas. A referida experiência abriu espaço para outras

regiões da Amazônia buscarem a conscientização pelo manejo dos recursos naturais como

garantia de qualidade de vida e a preservação e conservação dos recursos naturais para as

gerações futuras.

3.2.3 Métodos e Instrumentos de Coleta de Dados

A análise dos resultados foi realizada através do método hipotético-dedutivo, com a

abordagem qualitativa e quantitativa, cujo procedimento esta relacionada com os ESTUDOS

DE CASO, compreendido como o processo que permite a decomposição de todo em suas

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

35

partes constitutivas, indo sempre do mais para o menos complexo. A análise buscou penetrar,

tanto quanto possível, até os elementos mais simples e irredutíveis procedendo-se

gradualmente, sem omitir etapas intermediárias.

Segundo Souza (1995) quando diz: “...a fidelidade aos métodos com seus rigores,

muitas vezes, nos impeçam a criatividade, somos de parecer que sempre há um método ou

uma base teórica por trás de qualquer produção científica ou literária, mesmo que não esteja

muito claro para o próprio autor. O importante é saber que a metodologia científica não

existe para impedir, ou contrapor-se ao “insight”. Ela normatiza o discurso científico

facilitando a comunicação entre os pesquisadores.(SOUZA, et al 1995).

No entanto, reforçando a linha do raciocínio é importante chamar a atenção para o fato

de que mesmo não querendo estamos sempre aplicando algum tipo de método, tanto assim,

que o próprio ordenamento do material, ou seja, a fonte de pesquisa para o trabalho, ao ser

agrupado em diferentes categorias hierárquicas, define um método de estudo e leitura de

revisão bibliográfica.

3.2.3.1 O Estudo de Caso dos participantes da RDSM

A pesquisa do estudo de caso da gestão participativa dos recursos naturais na

RDSM, contou com 06 (seis) viagens á região de Tefé/AM, quando as parcerias IBAMA e

RDSM planejaram cursos de formação e capacitação de Agentes Ambientais Voluntários

para a região, o que aproveitamos para armazenar dados e aplicar questionários e coletar

depoimentos de moradores da região, bem como observar “in loco” o processo de gestão

compartilhada dos recursos naturais nos setores da RDSM, considerando que a organização

familiar no processo de manejo desses recursos e o trabalho dos Agentes Ambientais

Voluntários são fundamentais para a garantia de melhora de vida no bem-estar social e

ambiental.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

36

Entretanto, foi possível com o apoio do IDSM verificar “in loco” as experiências

dos municípios de Maraã e Fonte Boa/AM, em áreas subsidiárias da RDSM, que buscam na

trilha do projeto de sustentabilidade da área focal da RDSM um processo de inclusão social

para o gerenciamento dos recursos naturais de forma sustentável para o alcance da qualidade

de vida.

3.2.3.2 Compilação de Informações e Processamento dos Dados

Os dados foram processados (classificados), buscando estudos prévios de autores,

que trabalharam a temática, fundamentando as citações científicas como espinha dorsal desta

pesquisa. Bem como, relatórios de atividades dos AAVs do IDSM pelo setor de fiscalização

da Reserva.

As informações obtidas contaram com os relatórios do IDSM no período de 10 anos de

atuação na preservação e conservação dos recursos naturais, através dos trabalhos da IDSM e

dos AAVs da área focal da RDSM. Considerando ainda, o questionário sócioambiental

aplicados aos AAVs formados nesses 10 anos do Programa AAV na UC, através de cursos

ministrados na área região.

No entanto, esse processo de compilação de dados nos propiciou a compreender a

Amazônia no processo de gestão compartilhada. Entendendo, que qualquer estudo ou projetos

sociais requer um grau de conscientização e ética antes de oferecer quaisquer projetos

generalizados, a particularidade específica de cada região amazônica, deve ser apreciada no

âmbito de políticas de desenvolvimento sustentável, compreendendo os sistemas de vida das

sociedades organizadas presentes nas Populações Tradicionais (seringueiros e ribeirinhos) e as

Populações Indígenas que nela habitam.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

37

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O estudo de caso, buscou a história da organização social na região de Tefé/AM,

reconhecendo que esta luta sócioambiental começou há muito tempo, na versão de moradores

da região, registrada cada etapa nos diversos comentários deste trabalho. Entretanto, a

construção do alicerce desse trabalho, não poderia somente ser estudado de forma

isoladamente a RDSM sem antes entendermos os caminhos que levaram ao longo dos tempos

as pessoas buscarem a organização social como mecanismo do processo de construção da

cidadania para uma melhor qualidade de vida.

Tal processo de construção da cidadania, foi registrado pelo pesquisador Márcio

Aires (2003) ao se referir a organização comunitária e o trabalho de base da gestão

compartilhada dos recursos naturais, fundamentado na região da RDS Mamirauá, pode

exprimir com muita precisão, quando diz: “Muito do trabalho que nós temos feito juntos para

proteger os recursos naturais e construir uma base para uma melhor estratégia de

conservação está hoje bem enraizada na sociedade. Então, não será fácil retroceder”.

Processo o qual foi pesquisado por Pereira (2004), além de depoimentos em

história oral de comunitários nos encontros da coordenação do Programa de AAVs do

Ibama/AM no decorrer de 2001 á 2006, onde foi compreendido o papel do Movimento de

Educação de Base - MEB na região, considerado a mola mestra dessa organização social.

(PEREIRA et al 2004).

O processo começou pelo trabalho da igreja católica nas regiões do nordeste

brasileiro nas cidades de Natal e Aracaju, onde foi implantado pela arquidiocese a experiência

educativa através de emissões radiofônicas. Essas ações foram consideradas positivas pois

alcançaram populações de regiões excluídas e consideradas subdesenvolvidas em todos os

aspectos humanos e ambientais. Tal marginalização da sociedade, demonstrava a incapacidade

e desinteresses dos governantes seja no campo econômico, cultural, político, sócio e

ambiental. As experiências da igreja foram ações que puderam mudar a história de algumas

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

38

regiões do país, desacorrentando a sociedade que estava a mercê das forças dominantes. Fato

observado que alguns lugares do país ainda vivem excluídos e desasistidos.

O trabalho da arquidiocese nessas regiões foi apreciado e apoiado pelo

Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil em 1961, que elaborou um plano de ação em

Movimentos Educativos. Assim, o reconhecimento surgiu pelo decreto nº 50.370 de

21/03/1961, onde o Ministério da Educação e Cultura e órgãos afins assumiram com aplicação

de recursos para o Programa a nível nacional.

Na Amazônia, esse programa foi de suma importância, observa-se o

reconhecimento das populações ribeirinhas da calha do rio Solimões, com respeito a figura

lendária que mudou a realidade local,o sacerdote Bispo Dom Joaquim, que em 15/12/1963,

contribuiu para a implantação, em caráter experimental da emissora de ondas médias na

região de Tefé/AM, objetivando alcançar os ribeirinhos daquela região.

O Movimento de Educação de Base teve um papel fundamental na formação social

da região da calha do Rio Solimões, abrangia os campo da cultura, educação, saúde, lazer,

organização comunitário, nos trabalhos pastorais e catequéticos. Estreitava os laços

amazônicos na presença de poder dividir momentos únicos de interação dos servidores do

MEB e de Populações Ribeirinhas, que frequentemente estavam presente nas casas isoladas,

vilas e comunidades. Em conversa com o servidor do IBAMA e ex-integrante do MEB, Sr.

Romane, obteve-se a informação dos laços com os ribeirinhos, quando os mesmos chegavam

nas comunidades eram tratados como parte da família desses, os efeitos das ondas médias,

tinham esse poder.

As idéias boas, não se esquecem, com essas iniciativas podemos presenciar em

várias comunidades da Amazônia a presença de rádios comunitárias. A exemplo da

organização social da RDS Mamirauá, que possui uma rádio comunitário em circuito fechado

e a expressão mais popular na região, o jornal O MACAQUEIRO.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

39

Entretanto, o estudo se fundamentou no resgate histórico de PEREIRA (2004:65),

quando analisou o surgimento dos movimentos sociais na região de Tefé/AM, a partir de

1970, com a participação da Prelazia de Tefé, através de comunicação via rádio, que visava a

educação rural pelo Movimento de Educação de Base e da Comissão Pastoral da Terra - CPT

a partir de 1980, com a finalidade de desenvolvimento de comunidades ribeirinhas carentes,

surgiu as primeiras idéias de organização social por parte de comunidades e ribeirinhos, em

resposta aos agravantes ambientais e a escassez dos recursos pesqueiros. Em 1980, esse

movimento ganhou suporte e estrutura na organização comunitária dos trabalhadores rurais,

sindicalismo e educação popular.

Vale ressaltar, que ainda se processa esses tempos nas regiões longínquas da

Amazônia brasileira, considerando que a dívida obtida pelo ribeirinho nunca é finalizada, pois,

fica sempre devendo, há juros sobre juros nos valores da mercadores, sem que o devedor

possa questionar dentro de parâmetros justos.

Assim, ao estudarmos o depoimento do comunitário e AAV. Sr. Etevaldo Lopes

dos Santos, 61 anos, membro do Grupo de Preservação e Desenvolvimento de Tefé/AM –

GPD criado oficialmente em 2/05/1992, citado por Pereira (2004 p.15) “... Antigamente,

como eu falei, não era comunidade. ... Mesmo depois que eu já estava com 18 anos de idade

(-1959), ainda não se ouvia falar em comunidade. ...D. Joaquim, que era o bispo daqui, ele

passava sempre por lá e passava essas informações de comunidade para a gente. Resolvemos

fazer uma diretoria com pessoal da localidade, era presidente, era secretário, aquelas coisas

todas, e aí formaram a nossa comunidade. Então nós fomos ver que comunidade era bom.

Observou-se ainda, que no início do ano de 2005 durante o curso de AAV para a

formação de 50 comunitários da reserva, especificamente na comunidade Jarauá, foi ouvido

o depoimento de uma moradora, a qual é considerada uma grande guerreira na defesa da

preservação a Sra. Oscarina Martins, credenciada pelo Ibama como AAV, não nega esforço

quando se trata de proteger os recursos naturais da reserva. Em depoimento único e desabafo,

a mesma confidenciou que desde criança acompanhava seus pais em reuniões comunitárias e a

primeira que ela lembra, foi uma grande assembléia organizada pela igreja católica em 1975,

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

40

calcula que havia aproximadamente 500 pessoas clamando por justiça, segunda a mesma os

responsáveis explicavam a importância da organização social para se conseguir ordenar as

ações na região. Portanto, registra-se que desde essa época nunca mais se afastou do processo

de conscientização social e política na região.

No entanto, é necessário citar o esforço próprio de um brasileiro nascido em Minas

Gerais, Sr. Paulo Roberto, que ao chegar à Amazônia acompanhava as missões católicas em

reuniões comunitárias, ouvindo esse clamor dos povos oprimidos, trabalhando junto ao

idealizador da RDSM, o biólogo José Márcio Ayres, dividindo com ele a angustia de ouvir o

apelo desses comunitários e buscar alternativa de mecanismo que resguardasse o patrimônio

natural como beneficio social daqueles que os protegia que eram as Populações Tradicionais

das regiões de Mamirauá.

A frente do setor de Fiscalização do IDSM Paulo Roberto leva as idéias pioneiras

de organização social e gerenciamento desses recursos, ao planejar e executar junto com o

IBAMA cursos de AAV na reserva, trouxe consigo como instrumento de oração, respeito e

proteção, o banner com a foto de Márcio Ayres e o seu elemento de pesquisa o primata

Uacari branco (Cacajao calvus calvus) e a citação “Muito do trabalho que nós temos feito

juntos para proteger os recursos naturais e construir uma base para uma melhor estratégia

de conservação está hoje bem enraizada na sociedade. Então, não será fácil retroceder”.

Esta citação foi proferida no decorrer dos últimos dias de vida do cientista, em entrevista

face ao Premio de reconhecimento internacional pelas ações da RDS Mamirauá em prol do

social. Leme pelo qual acredita-se que o Programa AAV conduzido pelo Ibama está no

caminho certo.

Para o morador de Tefé, senhor Firmino Walter Cavalcante (o Vavá) filho de João

Cavalcante (o grande poeta) autor do hino de Preservação de Lagos, citado nos anexos dessa

dissertação, em seu depoimento, Vavá em 2001, era presidente do GPD, quando o Ibama se

fez presente na reunião com os AAVs daquela região, e foi narrado a história da região pelo

senhor João Cavalcante (in memorium) através dos versos e prosas a história de luta dos

ribeirinhos pela defesa dos recursos naturais. No evento foi cantado que o Ibama estivera em

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

41

1994, na presença dos diretores do órgão ambiental Hamilton Casara e o senhor Leland,

expondo a luta desigual com fortes conflitos sociais, onde as autoridades do órgão ambiental,

criaram Portarias de defesa pela proteção desses recursos, principalmente os recursos

pesqueiros.

Desta forma, com a criação desses instrumentos legais, foi possível a sociedade

civil organizada, traçar uma política de defesa ambiental na região, respaldada pelo órgão

ambiental.

Para Erivam M. de Almeida, ex-coordenador do GPD, citado por PEREIRA

(2004. p.54) relata que no ano de 1996, em Tefé, houve um encontro de ribeirinhos ministrado

pela CPT, foi enfatizado que com o surgimento de portarias de defesa de lagos, poderia surgir

vários conflitos na região, devido a isso, foi pensado em criar a figura do Agente Ambiental

Voluntário, objetivando dá mais apoio as comunidades que preservavam os lagos portariados,

definidos como lagos de preservação, manutenção verdadeiros santuários, sem que a presença

humana os perturbasse, e que fosse assim permitido a procriação das espécies.

Salienta-se ainda, que no ano de 1995 o Ibama, já vinha trabalhando na RDS

Mamirauá, com o treinamento de populações para o cuidado com os recursos naturais, os

quais receberam o nome de Agente Ambiental Voluntário, criados por Hamilton Casara e o

Engº de Pesca Antonio Nery servidores do IBAMA no Amazonas.

O estudo apresenta a organização social como fonte promissora para compreender

as complexidades socioeconômicas e ambientais na reserva. Desta forma, foi considerado que

a partir de 1970, com a participação dos movimentos sociais na região do município de

Tefé/AM, surgiram as primeiras idéias de organização social por parte de comunidades

ribeirinhas, concomitantemente ao aumento dos agravantes ambientais, em especial a escassez

dos recursos pesqueiros.

Entender a complexidade que gira entorno dessa sustentabilidade, é compreender

como fator primordial a organização social alicerçada na identidade cultural da população

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

42

local. Entendemos na definição de Lima (2005), quando diz: “... as Populações da Amazônia

passaram ser chamadas de tradicionais como os seringueiros e ribeirinhos a partir da década

de 1980, baseando-se em reconhecimentos dos pontos comuns entre as proposições

ecológicas e as sociais...”. (LIMA, 2005, p.340).

Barth (2000) entende que a organização coletiva pode ser compreendida como

um processo que se adequa ao tempo e espaço, subentendendo que as fronteiras que definem

a identidade desses grupos não são geográficas nem administrativas, ao contrário, constituem-

se em formas reinventadas e reinterpretadas dinamicamente, pelo grupo, a partir dos critérios

inclusão e exclusão social. (BARTH apud LIMA, 2005).

Por outro lado, podemos entender o processo de identidade cultural nos

fundamentos e interpretações de Da Matta (1997): “ em vez de tratarmos as identidades

sociais como um conjunto de direitos e deveres que comportam ‘desvios’ e seleções

incongruentes, onde as identidades sociais estão correlacionadas a domínios, tendo relações

estruturadas entre si, que cada domínio pode ter mais ou menos recursos para institucionalizar

seu ponto de vista da totalidade social, estendendo ou não tais pontos de vista à totalidade

social. O jogo de seleções de identidades sociais está, relacionado ao jogo de poder

sistematicamente elaborado e desenvolvido pelos domínios sociais de uma sociedade”.

( DaMATTA et al,1976).

Segundo Milton Santos (1997), quando defende que a sociedade contemporânea,

marcado pelas forças do mercado, vem limitando o espaço do cidadão, diminuindo-o e

transformando-o apenas em espaço de consumidor. Questionamento típico do cidadão como:

“ A que lugar pertenço? ”, “ Que direitos isso me dá? ”, “ Quais são os meus direitos? ”, entre

outras, são respondidos através do consumo privado de bens produzidos pela mídia. O

indivíduo, quando consome, também pensa, escolhe, reorganiza seu mundo, bem como reflete

naquilo que o cerca. (SANTOS apud, NUNES, 2003, p.17).

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

43

4.1 A Gestão participativa dos recursos naturais pelas comunidades da RDSM

O Plano de Manejo da RDSM, veio ordenar a gestão participativa dos recursos

naturais da Reserva, como pressuposto fundamental para que os comunitários entendessem a

necessidade de gerenciar esses recursos naturais de forma a desenvolver sustentavelmente as

populações tradicionais da região na busca de sua autonomia nas tomadas de decisões.

A política de ocupação define regras de cada setor da RDS Mamirauá, que vem

trabalhando e estimulando as diretrizes junto aos comunitários, levando-os ao gerenciamento

dos 360 lagos da área focal, onde sete comunidades se beneficiam com o ecoturismo.

Observou-se no estudo de campo, que as famílias organizam-se em associações,

buscando o manejo dos recursos naturais. Atualmente, na RDS Mamirauá, o manejo de

recurso florestal está sendo ordenado, o manejo do jacaré está em estudo para sua ordenação

de mercado, as atividades de ecoturismo estão em plena atuação. A associação de mulheres

da comunidade Jarauá, trabalha o artesanato de forma peculiar, com cerâmicas que retratam a

representatividade da fauna silvestre local.

A figura 06, setor Jarauá, é o registro da organização social quando famílias trabalham

no manejo ordenado do recurso pesqueiro. Registraram-se, em momentos únicos, famílias

trabalhando no final da tarde, após uma jornada de luta no dia, com um dos animais mais

fascinante da Amazônia, o Pirarucu (Arapaima gigas) que após ser tratado e pesado pela

Associação Comunitária é vendido para um comprador.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

44

Figura 06: Jarauá- Família tratando o pirarucu (Arapaima gigas) Fonte: Anete Amâncio (Dez,2004)

A presença da família no trabalho comunitário, é enfatizado na pesquisa de Fraxe

(2000), quando diz: “...os laços comunitários locais, os vínculos de natureza personalizada e

o caráter extra-econômico das próprias relações de dependência social. ....operam em um

ambiente social, cultural e econômico específico, onde a organização familiar é uma

condição necessária...”.(FRAXE, 2000, p.185).

Observa-se que durante a pesquisa estava sendo estrutura na coleta de dados na

comunidade Jarauá, foi notado que as famílias quase todas são equipadas de instrumentos

eletrônicos, antenas parabólicas. Além de se observar que a comunidade foi treinada no

processo de Educação Ambiental, para um cuidado específico de limpeza da vila, onde o

sistema de fossa é biológica foi implantado na comunidade com bons resultado de higiene

pessoal e social.

Outra tecnologia usada pelos comunitários é o sistema de energia solar

fotovoltaica, iniciado em 1992, tem propiciado a melhoria de vida, com recursos do DFID-UK

esse projeto atendeu de imediato as escolas e propiciando o bombeamento de água para o

reservatório que recebe o tratamento do recursos hídrico através de filtro de areia, para o

consumo das comunidades de Mamirauá e Amaná.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

45

A relevância dos projetos sociais na RDS Mamirauá, está presente na seleção de 35

alunos que em 2004, foram selecionados pelo Programa de Bolsas para iniciação Científica

para jovens (PBIC-junior) financiado pela Fundação de Apoio a Pesquisa no Estado do

Amazonas-FAPEAM, os pesquisadores do IDSM acompanham o treinamento desses jovens

prestando-lhes a orientação de processos de produção do conhecimento científico quanto aos

recursos naturais da reserva de desenvolvimento sustentável. Outro programa educacional de

porte científico é o Grupo de Estudos e Arte-Educação-GEAE, integrante do programa Esso

Mamirauá, onde 20 alunos receberam bolsas de iniciação científica para o acompanhamento

dos resultados dos processos educativos direcionados aos cuidados com a produção dos

resíduos sólidos (lixo) e seu destino nas escolas urbanas de Tefé/AM

A comunidade separou dois espaço importantes na vila, demonstrados na figura 07

e 08, um para a cultura de plantas medicinais e horta, todas identificadas com o nome popular/

científico e o outro considerado lugar sagrado, destinado para meditação, o qual utilizamos

como ambiente de leitura das leis ambientais.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

46

Figura 07 e 08: comunidade Jarauá, cultivo de plantas medicinais e estudos de legislações ambientais em decorrência do curso de AAV. Fonte: Anete Amâncio (Dez,2004)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

47

O Quadro 1, apresenta a localização dos setores que compõem a RDS Mamirauá e

demonstra o número populacional da unidade de conservação.

Setor Localização Zona Ecológica Nº de

famílias População

Aranapu-Barroso Dentro Várzea baixa 102 659

Boa União Fora Várzea 21 146

Horizonte Dentro Várzea baixa 109 647

Ingá Fora Várzea alta / terra firme 124 696

Jarauá Fora Várzea 63 338

Liberdade Fora / Dentro Várzea baixa / terra

firme 245 1.509

Mamirauá Dentro / Fora Várzea baixa/alta 96 581

Tijuaca Fora Várzea alta / terra firme 72 500

Total 872 5.076

Quadro 1- População por Setores da RDS Mamirauá Fonte: IDSM, 2006.

4.2 A inclusão social como marco referencial para as políticas públicas no

processo de Desenvolvimento Sustentável

Segundo depoimento da ministra do Meio Ambiente Marina Silva (2005), que no

esforço único, respeita e propõe ao governo aproveitar as boas experiências das comunidades

tradicionais, como seringueiros, índios, produtores não-madeireiros, pescadores artesanais e

outros povos habitantes da floresta, a serem transformadas em políticas públicas, ressaltando

que o grande objetivo do governo é a inclusão social, buscando uma dimensão ampla para os

assuntos ligados à economia, à cultura, aos valores éticos e o respeito às diferenças.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

48

Reconhece-se que a inclusão social é o passo mais importante para a se ordenar a

gestão participativa dos recursos naturais da Amazônia, levou o IBAMA/AM em 1995 a

reconhecer que a instituição ambiental, tinha um papel fundamental além de proteger pela

fiscalização os 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia, com uma minoria de

servidores qualificados, para protegerem esses recursos naturais. No entanto, era fundamental

inserir a sociedade neste contexto, propiciando instrumentos no processo de educação

ambiental, reconhecimento das leis ambientais e a conscientização de poderem lançar mão

desses direitos com apoio de alguns segmentos de poder público, a exemplo o próprio

Ministério Público, fazendo valer as diretrizes estabelecidas nos mecanismos jurídicos

constitucionalizados, até então desrespeitados por uma minoria que eram detentores de

poderes econômicos no país, que manobrando o destino da sociedade brasileira em um caos

social e injusto.

Nesse sentido, o Programa AAV do IBAMA, foi criado para apoiar e capacitar a

sociedade civil para o alcance de seus objetivos, proporcionando-a caminhos á luz da justiça,

direcionando-a ao entendimento das legislações ambientais para que estas possam se

mobilizar em um ordenamento na organização social e política para um crescimento vertical,

tendo o órgão ambiental e instituições parcerias como marco fundamental para o

entendimento do manejo do recurso natural da potente Floresta Amazônica.

Considerando, que os habitantes dessa floresta e usuários diretos buscam manejar

os recursos naturais como fonte vital para suas sobrevivências, bem como a sobrevivência de

milhares de pessoas, espécies vegetais e animais.

Assim, neste capítulo buscou-se enfatizar alguns projetos dessa categoria, os quais

presencia-se a frente da coordenadoria do Programa de AAV no Amazonas, a mobilidade

social, onde na condição de coordenadoria no órgão ambiental foi possível o

acompanhamento.

Notadamente, a pesquisa traça um paradigmas de relatos e experiências

comunitárias na gestão participativas dos recursos naturais como seguimento das experiências

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

49

da UC Mamirauá, a fim de substanciar o entendimento do processo de Educação Ambiental

traçada pelo Programa AAVs do IBAMA/AM, como referencial de interação sociedade civil

e instituições afins, após serem treinados pelo IBAMA, alcançam conhecimentos embasados

nas leis ambientais que lhes constituem o direito e deveres enquanto cidadões brasileiros,

despertando nestes, os anseios de transformar a nação brasileira em um exemplo de igualdade

social no processo de inclusão social nas tomadas de decisões que contribuirão para o

desenvolvimento econômico, ambiental e socialmente justo.

4.2.1 Manejo de recursos naturais no município de Iranduba/AM.

Reporta-se há alguns meses atrás, a coordenadoria dos AAVs do IBAMA/AM,

estava participando de reunião comunitária na região do Iranduba/AM, juntamente com outros

representantes de instituições, na 16 reunião de Acordo de Pesca para a preservação e

conservação de 11 lagos na região, homologado pela I.N.55/2005, foi ouvido o testemunho de

Presidentes comunitários, que no decorrer da passagem de um grande projeto na região, as

comunidades inseridas neste projeto foram convidadas a aprovarem os recursos que lhes

seriam destinados em decorrência desse projeto.

A reunião começou apresentando a equipe de profissionais que estavam a frente do

projeto, após discriminarem os projetos oriundos de outras regiões, achavam que poderiam ser

aplicados também naquela região, tão quanto outros locais. Desta forma, desconheciam que

algumas pessoas que ali estavam, já tinham sido treinados como AAV pelo IBAMA e que o

processo de conscientização social e política já estava enraizado.

Após muitas falácias da equipe visitantes, enquanto o povo continuava calado

(peculiaridade cultural amazônica de saber ouvir e falar o necessário), a equipe de

profissionais apresentou o custo total dos projetos a serem executados, acompanhado em um

processo final de conveniências a ata digitalizada da reunião para ser sacramentada.

Automaticamente, a reação dos comunitários pelos representantes legais das comunidades, foi

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

50

pedir a palavra, solicitando que fossem apagados todos os projetos colocados em uma lousa,

inclusive os valores, e, a partir daquele momento os comunitários iriam citar cada projeto já

amadurecido há dias, o que foi verdadeiramente uma surpresa para os visitantes, após

explicações foi somado o total dos projetos comunitários de interesses de todos, cujo valor era

o dobro do apresentado pelos servidores.

Na verdade, os comunitários já sabiam via internet o quanto ficaria orçado para

cada comunidade, o que estava sendo apresentado era a metade de seus direitos, como se eles

não soubessem nada e fossem totalmente ignorantes, subestimando a capacidade da

organização social ser um marco de fronteiras.

Desta forma, justificamos que o processo de Educação Ambiental no Programa

AAV do Ibama/Am, tem uma importância extraordinária no processo de organização social e

política brasileira – A cidadania.

Os AAVs do município de Iranduba/AM demonstrado nos exemplos acima,

despertaram para os interesses ambientais, no tocante o uso desordenado dos recursos naturais

em destaque o recurso florestal, tem-se observado nos inúmeros depoimentos e relatórios as

discussões comunitárias no tocante as atividades de preservação dos recursos naturais

florestais, onde os mesmos são utilizados como lenha para as olarias para fabricação de

cerâmicas.

Salientamos que tais atividades, sem a mínima responsabilidade com o meio

ambiente por parte dessas olarias no município de Iranduba/AM, demonstrado nos inúmeros

desmatamentos e verdadeiras crateras na retirada da argila, na região observada em imagens

de satélite, assusta a sociedade amazônica quanto a sociedade científica nas conseqüências

ambientais da região futuramente.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

51

4.2.2 ASSOCIAÇÃO DE SILVES PELA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E

CULTURAL – ASPAC

Criada em 1993 é reconhecida como a pioneira na atividade de ecoturismo na

região Amazônica, possui uma pousada denominado ALDEIA DOS LAGOS,

empreendimento administrados pelos próprios comunitários e credenciados pelo órgão

ambiental como AAVs, preservam e conservam o grande Lago de Canaçari/Rio Amazonas,

desenvolvem um trabalho de Educação Ambiental para as atividades de manejo de Lagos.

O objetivo da associação é a conscientização pela preservação dos recursos

naturais na obtenção de melhoria de vida. Nos inúmeros depoimentos desses comunitários em

decorrências da passagem do IBAMA e UFAM em junho de 2005, foi apresentado as grandes

dificuldades do povo de Silves, pela falta de recursos pesqueiros na região na década de 70 a

80, considerando que a região era muito explorada pelos pescadores exógenos á região, após

a união dos comunitários e vários treinamentos de preservação desses recursos, houve a

mobilização social para a defesa do patrimônio natural.

Durante um dos depoimentos, foi citado um caso extremamente delicado com uma

autoridade da região, que no limite de poder, quando estava pescando com seus amigos da

cidade grande, momentos de lazer, foi abordado pelos comunitários que argumentaram, que

aquele local era protegido por portaria federal como LAGO DE PRESERVAÇÃO, a

“autoridade” ofendida, determinou que os 5 comunitários – AAVs, fossem até as suas

comunidades, pegassem uma muda de roupa e se apresentassem a delegacia da região, pois os

mesmos iriam ser preso por desrespeito a autoridade municipal. Os comunitários não

desobedeceram, chegaram até a comunidade, reuniram os comunitários e foi decidido que a

prisão não seria somente para 5 pessoas e sim para toda a comunidade, que imediatamente se

deslocaram até a delegacia. Desta forma, quando lá chegaram com o acompanhamento de toda

a mídia local, foram “perdoados” pela autoridade via telefone, alegando que houvera um mal

entendido e que os comunitários deveriam retornar as suas comunidades em paz.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

52

4.2.3 ASSOCIAÇÃO VIDA VERDE DA AMAZÔNIA- AVIVE

Criada em 1999, com o fim de incentivar as mulheres e seus familiares em um

projeto comunitários de produção sustentável de óleos aromáticos da floresta Amazônica,

contribuindo assim para a geração de renda para os comunitários. A associação AVIVE conta

com parcerias de diversas instituições, o próprio Sebrae treinou as comunitárias e seus

familiares para o aperfeiçoamento do produto a nível de mercado de exportação. Atualmente,

a produção da Associação está além de óleos aromatizados, fazem artesanatos com sementes e

outros produtos da floresta. Em junho de 2005 a coordenadoria dos AAVs, juntamente com

professores da UFAM da área de ciências florestais, estiveram na cidade de Silves

credenciando os membros da ASPAC e AVIVE que são AAVs que defendem a preservação

e conservação dos recursos naturais para o sucesso de seus trabalhos e do bem estar de todos.

4.2.4 GRUPO AMBIENTAL NATUREZA VIVA- GRANAV

O Grupo surgiu pelo reconhecimento da escassez dos recursos naturais,

principalmente os recursos pesqueiros nos lagos da região de Parintins, a juventude

comunitária cansados de lutar com os invasores que adentravam em suas regiões e exploravam

os recursos sem se importar com aqueles que preservavam para suas sobrevivências. Em

relato o líder Eraldo Albuquerque (líder do GRANAV), informa a luta desigual e injusta onde

pessoas foram processadas e presas por defenderem os lagos. Segundo Eraldo a partir de

1992 em discussões comunitárias surgiu a idéia da organização comunitária como pressuposto

fundamental para se conseguir apoio das instituições. O comunitário Fernando Carvalho,

(reconhecido como idealizador do GRANAV), foi o mentor da organização comunitária para

o ordenamento da preservação e conservação dos recursos naturais.

Após a criação do GRANAV e como expressão imediata para a sociedade de

Parintins, foi organizado o 1º Encontro Ecológico do Baixo Amazonas na comunidade da

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

53

Valéria no período de 15-17 de abril de 1993, alcançando assim o reconhecimento como

instituição comunitária organizada a nível de estado do Amazonas.

Para Eraldo Albuquerque (2004), atualmente as comunidades podem planejar

projetos sustentáveis, apoiados como atividades promissoras no projeto ProVárzea do

IBAMA/AM, o grupo tem alcançado metas de fundamental importância no processo de

Desenvolvimento Sustentável. Pode-se destacar o acordo de pesca para 70 lagos de Parintins;

as atividades pesqueira e a agricultura como fonte de renda das comunidades envolvidas,

como o manejo da juta para companhia têxtil, hortaliças; a pecuária; o manejo de animais

silvestres a exemplo a capivara na comunidade de ilha das Onças e o manejo e conservação

de quelônios no projeto do Ibama/UFAM Pé de Pincha.

No entanto, a organização social comunitária vem recebendo um grande apoio do

GRANAV juntamente com o IBAMA de Parintins no programa de comunicação via rádio

diretamente com as comunidades, essa atividade via rádio, reconhecemos como fundamental

para a troca de informações a longa distancia.

4.2.5 Manejo de Recursos Naturais nos Lagos: CALADO, PARU; CURURU e JACARÉ

no município de Manacapuru/AM

Em 2001 quando o Programa foi criado no IBAMA/AM, foi presenciada em uma

reunião comunitária no Lago do Calado, a narração da história do Lago há alguns anos atrás,

quando a presença de animais era escassa e o povo passava fome ou se deslocava para os

centros urbanos em busca de melhores condições de vida.

Assim sendo, através do curso de AAV e a parceira de acadêmicos e Professores

da Universidade de Tecnologia do Amazonas-UTAM, coordenados pela Dra. Elisabete Brock,

que incessantemente envolviam os comunitários no processo de Educação Ambiental para a

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

54

preservação e conservação dos recursos naturais. Fato que foi expressamente lembrado na

história oral dos comunitários, os tempos em que a escassez de recursos naturais como peixe e

madeira, era eminente, ocorrida em detrimento da irresponsabilidade de exploradores

exógenos a região, que extraiam esses recursos e não davam a mínima importância para as

comunidades do entorno dos lagos Parú e Calado.

No entanto, após começarem os trabalhos de organização social e apoio do órgão

ambiental e principalmente as atividades de mobilização social para o reflorestamento das

matas ciliares, trouxe novamente para os Lagos, após 3 anos de descanso, espécies de peixes

considerados desaparecidos na região, dentre os quais o Peixe-Boi (Trichecus inunguis)

ameaçado de extinção. Além de podermos destacar a mobilidade social das gicanas ambientais

no processo de Educação Ambiental.

Ainda, no município de Manacapuru/AM, destacamos a experiência dos

comunitários-AAVs dos Lagos Cururu e Jacaré, apoiados pelo Projeto PYRÁ da

Universidade Federal do Amazonas, coordenados pelos Drs. Vandick e Nídia, que

incessantemente lutam pelo fortalecimento da organização social e política para a gestão

participativa dos recursos naturais, inserindo ainda, instituições parceiras para conjuntamente

poderem treinar esses comunitários em cursos de aperfeiçoamento e técnicas de manejo

desses recursos naturais.

A experiência vem mobilizando a sociedade para o entendimento dos Sistema

Abertos Sustentáveis de Várzea, a comunidade conseguiu com a parceria do órgão ambiental

IBAMA, madeiras para a construção de um colégio, figura 8, construídos pelos próprios

moradores que não agüentavam mais os sacrifícios de suas crianças que tinham de viajar 8

horas por dia, em via fluvial, correndo risco nas correntezas do Rio Solimões, para poderem

estudar.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

55

Figuras 8: Colégio Lago do Cururu/Manacapuru. Fonte: Anete Amâncio (2005).

4.2.6 Projetos de Desenvolvimento Comunitários de Áreas Subsidiárias da RDSM:

Colônia dos Pescadores Z32 em Maraã e o IDS de Fonte Boa/AM.

O IBAMA treinou no mês de fevereiro/2006, 47 pessoas no município de

Maraã/AM em parceria com a Colônia dos Pescadores e o IDSM. O trabalho da Colônia dos

Pescadores está sendo visto como um dos pioneiros na região, demonstrando a categoria de

pescadores preocupados com o meio ambiente e em busca de atividades ordenadas para o

desenvolvimento econômico da categoria. Pensando nisto, foi solicitado pela IDSM um curso

de AAV para a sociedade da colônia dos pescadores e comunidades envolvidas no processo

de manejo de recurso pesqueiro.

Durante o relato dos lideres da Colônia dos Pescadores, foi explicado que o projeto

trabalha de forma ordenada lagos da área subsidiária da RDSM como demonstra as figuras 9 e

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

56

10. A atividade de ordenamento pesqueiro começou com o Pirarucu (Arapaima gigas) e

Tambaqui (Colossoma macropomum) começou há 03 anos e atualmente estão trabalhando em

projetos com diversas empecíeis de quelônios.

A Colônia dos Pescadores de Maraã, tem 499 sócios, classificados como: antigos,

intermediários e novos, envolvidos no trabalho de manejo, retirou no ano de 2005 cerca de

2.500 pirarucu, os quais foram distribuídos 10 para cada sócio antigo, 07 para os sócios

intermediários e 03 para os sócios novos. A receita desse produto fez com que o comércio de

Maraã esgotasse a venda de rabetas, fogões e geladeiras, os quais foram adquiridos pelos

sócios da colônia com a venda desse produto. Foi narrado que tal sonho de aquisição por

parte desses profissionais era quase impossível antes do ordenamento dos recursos naturais,

mas com essa atividades era possível melhorar a qualidade de vida.

No mês de março/2006 o IBAMA treinou 37 AAVs no município de Fonte

Boa/AM em parceria com a IDSFB e a IDSM. O projeto da IDSFB com o manejo de Pirarucu

começou em 2002, foi apresentado pelo Presidente da IDSFB que em 2004 foi preservado

para o manejo os recursos Pirarucu e tambaqui, cerca de 152 lagos. Atualmente está envolvido

no projeto 100 comunidades equivalente á 1.000 famílias totalizando 4.000 pessoas. No ano

de 2004 houve uma produção e rendimento econômico de um total de R$ 2.167.324,00,

envolvendo o manejo de diversas espécies.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

57

Figuras 9 e 10: Manejo de Pirarucu em Fonte Boa/Am. Fonte: José Maria/IDSFB (2005).

O trabalho apresentado pela IDSFB, é considerado uma atividade promissora, pois

os profissionais do instituto acreditam no ordenamento do recursos naturais pelo manejo das

espécies, o mais importante notado neste projeto é notadamente a organização comunitárias

que desperta para outros interesses sociais, como a formação de sindicatos, cooperativas e

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

58

associações, como fundamentos de organização para a mobilização de direitos e deveres

sociais, no processo como garantia de qualidade de vida.

Reportamo-nos, que no dia 15/10/2005 foi apresentada uma matéria jornalística

da TV Amazonas, onde a mesma demonstra que o manejo do recurso pesqueiro

principalmente o Pirarucu, que 2,5 toneladas de peixe Pirarucu da RDSM foi vendido na feira

da cidade de Tefé á R$ 5,00 (cinco reais) o quilo, enquanto em Manaus chega á R$15,00

(quinze reais) o quilo, configurando que é possível ter qualidade de vida quando há o manejo

do recurso natural de forma ordenada.

A RDSM considerada um projeto piloto de exemplo ordenado de manejo de

recursos naturais da Amazônia no processo de inclusão social na gestão participativa,

incentivando outras regiões da Amazônia a buscarem também essas atividades, a destaque os

trabalhos da Colônia dos Pescadores de Maraã e o IDSFB/AM como experiências em áreas

subsidiárias da RDSM.

4.2.7 Organização comunitária urbana da Unidade de Conservação Estadual - Parque

Sumaúma.

O IBAMA recebeu o convite para treinar 50 comunitários em uma Unidade de

Conservação Estadual Urbana - o Parque Estadual Sumaúma, sendo decretado pelo governo

do Amazonas a criação do único Parque urbano no Estado com 50.9 hectares.

O Parque possui verdadeiros mananciais, rico em espécies florísticos e faunísticos,

com nascentes de igarapés que fazem parte do cenário da cidade de Manaus.

A UC Parque Sumaúma está localizado no coração do bairro de Manaus a

CIDADE NOVA 1, sofrendo grandes influencias pela sociedade do entorno, na exploração de

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

59

suas riquezas naturais, além de invasores, que insistem na ocupação das terras. Com a

formação de consciência ambientalista de 50 comunitários que se organizaram na criação de

uma organização não governamental para desenvolvimento de projetos sociais e educacionais

objetivando transformar o Parque em um local cultural e ambiental no processo de

Educação Ambiental.

Os comunitários consciente da importância da conectividade do Parque Sumaúma

com outros fragmentos ecológico na região, buscam apoio de outras instituições no processo

de conscientização para a extensão do projeto com a criação de outras UC seja municipal ou

Estadual, com isso a cidade de Manaus teria um corredor ecológico urbano criado legalmente.

Reconhecemos que tal atividade a exemplo dos comunitários do Parque Sumaúma,

figura 11, estão servindo como exemplo a outros comunitários estaduais e municipais, que

também visam a criação de UC urbana garantindo com isso a vida silvestre e a qualidade de

vida dos munícipes.

Figuras 11: AAV do Parque Estadual Sumauma/Am. Fonte: Anete Amâncio(2005).

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

60

4.3 O Programa: AGENTES AMBIENTAIS VOLUNTÁRIOS

Figura 12 e 13- Agente Ambiental Voluntário da RDSM Fonte: IDSM (2002).

A eclosão de movimentos sociais na região Amazônica teve força na década de

noventa, quando seguimentos governamentais, a exemplo do Conselho Nacional do Meio

Ambiente–CONAMA, que em 1988 homologou a Resolução nº. 03/88 e do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -IBAMA, que em 2001

homologou a IN.19/01, em seguida a IN. 66/05, reconhecendo desta forma, o direito das

populações comunitárias organizadas no gerenciamento dos recursos naturais, a fim de

garantir esses recursos naturais para as gerações futuras.

A partir desses instrumentos legais, deu-se início a formação e capacitação das

lideranças comunitárias organizadas, que após treinamento de 45 horas e credenciamento,

monitorados por instituições parceiras, demonstram que podem ser conduzidas mudanças de

atitudes individuais, modificando o comportamento existente daqueles que acreditam no

programa. Desta forma, podem conduzir conhecimentos de educação ambiental e cidadania

aqueles que agridem ao meio ambiente explorando os recursos naturais de forma desordenada.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

61

O Programa Agente Ambiental Voluntário do IBAMA, formou a primeira turma

em 1995 na região da UC Mamirauá com a participação de 102 comunitários, que foram

credenciados para serem capacitadores ambientais e fiscalizarem as pressões contra o meio

ambiente. Em 2001, foi homologada pelo IBAMA a Instrução Normativa 19/01,

posteriormente a IN.66/05, um suporte maior para as ações de fiscalização na região. Assim

sendo, as figuras 12 e 13, são registros dos trabalhos de organização social para o

gerenciamento dos recursos naturais de RDS Mamirauá.

Partindo desse pressuposto, o estudo de caso pesquisou informações orais e

registros bibliográficos para entender a percepção dessa organização social no que tange o

desenvolvimento social e ambiental dessa região desde 1995 até os dias atuais.

Entretanto, para se alcançar entendimentos e conhecimentos necessários para

compreender a gestão participativa de recursos naturais enfatizando principalmente a

formação no processo de Educação Ambiental e principalmente o papel da cidadania na

construção de interesses para que a organização social alcance a melhoria de qualidade de

vida. As figuras 14 e 15, demonstram comunitários sendo treinados pelo órgão ambiental e o

IDSM em um processo didático de 45 horas de conteúdo programático com ênfase na

Educação Ambiental dos recursos naturais da Amazônia e suas complexidades

socioambientais.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

62

Figuras 14: Jarauá- Curso de AAV. Fonte: Anete Amâncio (2005)

Figuras 15: Jarauá- Curso de AAV. Fonte: Anete Amâncio (2005)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

63

Durante o treinamento, a frente da coordenadoria desse Programa, foi possível

observar-se o interesse e esforço físico dos comunitários, bem como, uma troca de

experiências herdadas de gerações e gerações, considerados como um degrau de momentos

únicos na história de formação de consciência política ambiental da localidade.

O centro comunitário, local onde a cultura regional se faz presente nas festas

comunitárias da comunidade Jarauá, onde os comunitários reúnem-se para troca de

experiências, traçam políticas de ações, foi transformado em uma sala de aula (figura 16 e

17), onde foi trilhado os caminhos percorridos no túnel do tempo por seus antepassados,

considerando que nessa sala de aula estavam presentes pessoas idosas e jovens enriquecendo

uns aos outros, buscando entender as entrelinhas das leis ambientais como suporte elementar

para suas liberdades sociais como parceiros diretos para a gestão participativa dos recursos

naturais de forma ordenada.

Figuras 16: Jarauá- Curso de AAV. Aula ministrada por Anete Amâncio Fonte: Leonardo Maeda (2005)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

64

Figuras 17: Jarauá- Curso de AAV, aula ministrada pelo Engº Pesca Leonardo Maeda. Fonte: Anete Amâncio (2005).

DISTRIBUIÇÃO DOS AAVS DA RDSM NAS RESERVAS - 2006

SETOR – RESERVA AMANÃ Número de AAVs

Coraci 03

São José 02

Amanã 02

SETOR - RESERVA MAMIRAUÁ

Mamirauá 14

Ingá 05

Liberdade 03

Horizonte 04

Aranapu-Barroso 03

Boa União 03

Tijuaca 03

Jarauá 06

TOTAL 48

Quadro 2, AAVs na RDSM em 2006 Fonte: IDSM, setor de Fiscalização- Paulo Roberto

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

65

O quadro 2, representa a distribuição dos AAVs, em atuação nos diferentes setores

da RDSM, durante os anos de 1995-2006, onde desde 2001 estamos a frente da

coordenadoria do programa AAV. Considerando que a RDSM formou no processo de

Educação Ambiental 219 comunitários e 07 técnicos do IDSM neste período. Porém, o

quadro apresenta somente 48 AAVs, informamos que esse número são os que estão atuando

na preservação, monitorando os lagos, recebendo ajuda do IDSM, com rancho e uma cota de

gasolina para o monitoramento.

Acredita-se, em se tratando dos demais AAVs que não aparecem no quadro

demonstrativo do IDSM, como atuantes, devam estar latente em áreas afins, pois os processos

de Educação Ambiental nas 45 horas de conteúdo programático ministradas nas diferentes

disciplinas de noções básicas dos recursos naturais da Amazônia, foram armazenados no

processo de crescimento e amadurecimento da conscientização socioambiental, os quais

devem estar sendo aplicados de forma peculiar no seio comunitário, de diversas formas.

Registrou-se, poucos AAVs da RDSM, que passaram pelo triagem no processo de

descredenciamento, por não condizerem com os procedimentos éticos que a IN.66 requer.

Portanto, cabe a instituição parceira do IBAMA, no caso da RDSM é o próprio IDSM que

presta periodicamente relatório das ações dos AAVs ao órgão ambiental federal.

Nestes aspectos, apresenta-se resultados através de gráficos que dentro da precisão

de fatos e dados contidos em fontes secundárias, armazenados nos bancos de dados do IDSM

e IBAMA, possibilitando entender diversos mecanismos que contribuíram em uma única

leitura das ações de organização comunitárias dos AAVs da UC.

O gráfico 1, apresenta os dados da faixa etária dos AAVs da RDSM, o qual

demonstra que os AAVs na faixa de 30 á 49 anos, do sexo masculino, são os que mais se

destacam, seguindo por jovens de 18 á 29 anos, o que consideramos a análise, que houve

grande influencia da geração passada no processo de pontear a fragilidade da região na falta

de recursos naturais, servindo como incentivo a organização social comunitária no processo de

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

66

amadurecimento, conscientização e organização para o gerenciamento dos recursos naturais

da região.

Diante do referido mecanismo de pesquisa, o referido gráfico, demonstra que ainda

não foi possível demonstrar aos gestores da UC, juntamente com os comunitários, que a

necessidade primária de se inserir o sexo feminino em uma escala de percentual médio, para

treinamento de AAVs, com o intuito de alcançar um índice melhor no processo de veiculação

de ações na verticalidade da Educação Ambiental como pressuposto fundamental para o

desenvolvimento sustentável.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Número de AAVs

18-29 30-49 50-100

Faixa Etária

Homem

Mulher

Gráfico1: Faixa etária de AAVs da IDSM Fonte: IBAMA/AM (2006)

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

67

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Número de AAVs

18-29 30-49 50-100

Faixa Etária

Homem

Mulher

Gráfico2: Grau de Instrução de AAVs da RDSM Fonte: IBAMA/AM (2006)

Analisando os gráficos 1 e 2 no processo percentual, entende-se que 84,8 de AAVs

treinados na UC não chegaram a concluir o ensino fundamental, onde 9,1 completaram o

ensino fundamental, 3,0 conseguiram completar o ensino médio e cerca de 1,5 chegaram a

ensino superior, porém não concluíram, finalmente 1,5 concluiu o ensino superior. Tal

pressuposto, são mecanismos para acreditar-se a possibilidade desse percentual alcançar um

nível maior nos próximos 05 anos com um nível maior de escolaridade.

Ainda nesta vertente, apresenta-se alguns gráficos, os quais foram considerados

fundamentais para se compreender os trabalhos dos AAVs na UC, a tomada de decisões e

ações que levaram o fortalecimento do programa na região.

Desta forma, enfatiza-se que o processo fundamental ao inserir o comunitário no

processo de preservação e conservação dos recursos naturais da localidade, é afirmar que a

responsabilidade não está somente nos órgãos ambientais seja: governamental ou não

governamental, mas, principalmente para o comunitário, pois é dos lagos e das matas que este

tira a sua sobrevivência, reforça a sua identidade cultural.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

68

Imbuídos dessas responsabilidades, os comunitários lançam mão dos direitos

enquanto cidadões brasileiros, considerando que este país é um país que mais tem legislações

ambientais. Reconhecem nas aulas didáticas, a importância de se entender os direitos

constituídos e, de forma equilibrada e inteligente, angariar forças oriundas de entidades e

pessoas isoladas a frente de órgãos federais, estaduais e municipais, acreditam que a

impunidade ambiental tem seu tempo determinado nesta região, é questão de tempo, frases

proferidas pelos AAVs da UC, quando se questiona até quando se resistirá as pressões

exógenas. Fatos, registrados no presente, quando a realidade da localidade da calha do rio

Solimões, alguns anos atrás duvidava-se que um dia se conseguiria punir os culpados pelos

maiores crimes ambientais na região e, atualmente se presencia a cada dia o Ministério

Público sentenciando poderosos na região, a compensar ao estado por seus crimes ambientais.

O gráfico 3, apresenta uma leitura das ações de fiscalização e monitoramento dos

AAVs em um período de 10 anos no período de 1994 á 2004, analisado pelo setor de

fiscalização do IDSM.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

69

5

9 9

5 5

3

11

8

5

1

3

0

2

4

6

8

10

12

Número de Missõ

es

1994 1996 1998 2000 2002 2004

Período

Gráfico 3, missões da fiscalização e monitoramento dos AAVs de RDSM no período de 1994 á 2004 Fonte: IDSM/Paulo Roberto

Observou-se, que missões foram executadas no período de 1994 á 2004,

composta pela sociedade civil da reserva, IDSM e IBAMA, atuando na pressão junto aos

exploradores dos recursos naturais da reserva.

O estudo analisa que no ano de 1994, foram feitas as primeiras ações com 5

missões. Porém, com a formação de 102 pessoas em 1995 em decorrência do 1º cursos de

AAV, as missões passaram para 9 ao ano, consequentemente o ano seguinte obteve o

equilíbrio de missões. Continuando a análise, o ano que obteve maiores ações dos AAVs, foi

o ano 2000, justificando que neste período a RDSM recebia maiores incentivos financeiros da

Inglaterra por acreditar nos trabalhos do pesquisador Márcio Ayres.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

70

Observou-se ainda, que a partir de 2001 a missões foram diminuindo,

consequentemente registrado que o seu maior financiador diminuiu as contribuições em

conseqüência da doença do pesquisador e idealizador da RDSM Dr. Márcio Ayres, em que

2003 veio a falecer.

O gráfico 4, apresenta a quantidade de recursos naturais apreendidos neste período

1994 – 2004, na RDSM, nos trabalhos dos AAVs e órgão ambientais da região.

59587,1

30743,8

10000

4184,1

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

Kilogramas

Tambaqui Pirarucu Jacaré Outros Peixes

Ovos de quelônios: 2870 unidades Madeiras: 1408 toras/ 5557,41 m³ Carne de Caça: 1205 kls Gráfico 4, Recursos Naturais retidos pela Fiscalização e monitoramento da IDSM em parceria com o IBAMA/Tefé e AAVs no período de 1994 á 2004 Fonte: IDSM/Paulo Roberto Reconhece-se que os dados apresentados no gráfico 4, enfatiza o respeito aos

moradores da Reserva, na busca incessante de permitir que os recursos naturais fossem

respeitados na sua maior essência de reconhecimento do homem pela natureza, permitindo

que espécies ameaçadas de extinção como o Peixe-boi (Trichecus inunguis), tivessem a

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

71

chance de poderem procriar, criar seus filhos e o que mais importante permanecerem no

território que lhes é peculiar.

15069

1886

176

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

Kilogramas

Tambaqui Pirarucu Peixes diversos

Gráfico 5, missões da fiscalização e monitoramento dos AAVs de RDSM e IBAMA/Tefé em 2005 Fonte: IDSM/Paulo Roberto Os gráficos 5, 6 e 7 seus dados apresentam uma leitura única da ação fiscalizatória

e o monitoramento no exercício de 2005, ação incessante por parte do IDSM frente a luta

desigual entre os que querem preservar em detrimento do meio ambiente e de uma maioria de

moradores da unidade de conservação e aqueles que cobiçam essa preservação em prol de

uma minoria.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

72

Considerou-se que as ações dos gráficos do período de 1994 á 2004 estão

espelhadas no gráfico mais atualizado do ano de 2005, pois nesses períodos houve

reconhecimento das organizações científicas, dando o devido credito a RDSM na preservação

e conservação dos recursos naturais, pela organização social no manejo desses recursos para a

qualidade de vida, consciência da comunidade organizada que entende que o processo de

Educação Ambiental e inclusão social, faz com estes despertem a conscientização ambiental e

reafirma a teoria que guardando e poupando se investe no futuro das próximas gerações.

Observa-se ainda, que no gráfico 4 no período de 10 anos houve a exemplo a

apreensão de 59.587 kgs de Tambaqui (Colossoma macropomum) e 30.743 kgs de Pirarucu

(Arapaima gigas). Porém somente no ano de 2005 o gráfico 5, demonstra que houve a

apreensão de 15.069 kgs Tambaqui e 1.886 kgs de Pirarucu. Dados que comprovam a cobiça

por aqueles que não pensam no futuro e não tem nenhuma postura ética no que concerne a

moral de respeitar os trabalhos daqueles que realmente merecem, a luta pela preservação está

cada vez mais acirrada.

Acredita-se, que se faz necessário um maior envolvimento não só das comunidades

internas da RDSM, como também um trabalho de envolvimento por todos os seguimentos

políticos e educacionais no processo de resgate a moral e os bons costumes éticos e culturais á

sociedade envolvente da UC. Procedimento de responsabilidade de todos os municípios que

fazem fronteira com a UC, pelo fato em que a mesma é um referencial teórico e científico para

todos os projetos de sustentabilidade e equilíbrio ambiental para a humanidade.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

73

12

33

5

132

0

20

40

60

80

100

120

140Uunidad

e de Anim

ais

AnimaisAbatidos

QuelôniosVivos

Jacaré Ovos deAnimais

800

20

0

200

400

600

800

1000

kilogramas

Jacaré Capivara

Gráfico 6 e 7: Recursos naturais apreendidos pelas ações de fiscalização do IBAMA/IDSM e AAVs na UC. No ano de 2005. Fonte: IDSM/Paulo Roberto

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

74

878

429

143 99 92 87 86 60 59 39 29

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Unidad

e

Madeira

Anzol

Haste

Espinhel

Arpoeira

Canoa

Caixa de Isopor

Espingarda Sa

l

Terçado

Faca

Gráfico 8: Equipamentos retidos em missões da fiscalização e monitoramento, IBAMA/IDSM e AAVs, no período de 1994 á 2004 Fonte: IDSM/Paulo Roberto

170

526

12 24 8

56

130

45

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Unidade

Malhadeiras

Arrastão

Haste

Caixa de Isopor

Arpoeira

Arpão

Anzol

Outros

Invasores

Gráfico 9: Equipamentos retidos em missões da fiscalização e monitoramento, IBAMA/IDSM e AAVs, no ano de 2005 Fonte: IDSM/Paulo Roberto

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

75

Observa-se que no Gráfico 8 e 9, registra-se ações de fiscalização e monitoramento

pelas instituições parceiras IBAMA e IDSM tendo o apoio dos AAVs por deterem vasto

conhecimento da região, o gráfico 8 representa e período de 10 anos, enquanto o gráfico 9 no

exercício de 2005. Dados estimados nas apreensões de equipamentos. Observa-se um elevado

índice de equipamentos apreendidos, fato que notadamente demonstra maior atuação das

instituições e sociedade no monitoramento dos lagos da UC. Ainda, enfatiza a presença

constante de invasores, mesmo consciente dos riscos, preferem enfrentar as dificuldades,

consciente da reserva de recursos naturais a ser capturados, o que se pode classificar como

irresponsabilidade de não querer entrar também para o sistema de preservação, preferindo

saquear daqueles que duramente se sacrificam para preservarem almejando o futuro melhor.

Os trabalhos do IDSM e IBAMA, estão presente nos inúmeros relatórios de

atuação dos AAVs e dos Guardas Parques da reserva, não colocou-se esses dados,

considerando que a análise maior como modelo de gestão participativa está presente nesses

período de 1994 á 2004, servindo de parâmetros os dados de 2005, como forma de

disseminação desse programa para outras regiões da Amazônia.

Durante os anos de trabalhos juntos a coordenadoria dos AAVs do IBAMA/AM e

o IDSM, presenciou-se junto aos comunitários o depoimento dos servidores do IDSM,

enfatizando que esses recursos preservados é um tesouro dos próprios comunitários e poderão

ser manejados de forma ordenada.

Considerando ainda, que os procedimentos de organização em que o setor de

fiscalização do IDSM se projeta, foram apresentados no cursos de AAV em Maraã/AM

realizado no período de 11-17/02 de 2006, estão estruturadas nas diretrizes abaixo:

1. O sistema de vigilância e monitoramento dos lagos da reserva, hoje está baseado no

trabalho dos AAVs e GPs, estas pessoas são acompanhadas de um técnico extensionista

e do supervisor de fiscalização a quem reportam suas atividades. Desta forma, a cada

dois meses é feita uma reunião de avaliação e planejamento;

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

76

2. O trabalho dos AAVs e GPs é constante e estão em atuação 4 GPs e 48 AAVs,

cobrindo todos os setores políticos das duas reservas (Mamirauá e Amaná). O sistema

conta com 10 voadeiras (15, 30 e 40 hp); 02 motores rabeta (8 hp);

3. Há dois sistemas rádios de comunicação: 01 em VHF e o outro em SSB;

4. Os guarda-parques são contratados como funcionários do IDSM e os Agentes

Ambientais têm um contrato de prestação de serviço. Cada equipe recebe alimentação

para ser usada quando em serviço e combustível, cuja quantidade varia de acordo com a

necessidade/pressão que cada setor sofre. Em média cada setor recebe por mês 350/450

litros de gasolina;

5. Esse trabalho é complementado pelas missões mensais de fiscalização acompanhadas

pelo IBAMA ou IPAAM e Polícia Militar quando alguns dos AAVs e GPs também

participam;

6. Os setores que atuam na fiscalização, alguns receberam voadeira para o trabalho, estes

assinam um termo de cessão, onde se comprometem a assumir metade dos custos com a

manutenção das voadeiras;

7. A Reserva Amanã conta com duas bases flutuantes e que também têm rádio;

8. Cada AAV e GP, recebe do IDSM, capa de chuva, boné, camisa, colete, bota, pasta, bota

e colete salva-vidas;

9. As equipes estão equipadas com caixa de 1ºs socorros, lona, caixa de ferramentas,

balança, bateria, farol, lanterna, garrafas térmicas e GPS.;

10. Todas as informações das ações de fiscalização constituem um banco de dados para

IDSM, considerando ainda, que o IDSM mantêm atualizado o outro banco de dados

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

77

sobre as invasões por parte de pessoas exógenas que exploram os recursos naturais e

suas procedências regionais.

Neste viés, pode-se considerar que as Populações Tradicionais, amparadas no

direito adquirido, podem administrar os patrimônios naturais das áreas protegidas

consideradas pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação-SNUC como áreas de uso

sustentáveis. Vale ressaltar, que não somente as áreas protegidas de Uso Integral e Uso

Sustentável, classificadas pelo SNUC, mas também, áreas em que a sociedade organizada,

buscou junto aos órgãos competentes implementar os ACORDOS de PESCA instrumento

legal constituído na I.N. 29/02. Considerando que estas sociedades podem dar grande

contribuição para o país no que diz respeito aos conhecimentos associados à biodiversidade

dos diferentes ecossistemas amazônicos. Considera-se assim, que políticas públicas sejam

integradas como ação de governo, seja: federal, estadual ou municipal em parceria e respeito

ás comunidades.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

78

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“... a sociedade contemporânea, marcada pelas forças do

mercado, vem limitando o espaço do cidadão, diminuindo-

o e transformando-o apenas em espaço de consumidor.

Questionamento típico do cidadão como: “ A que lugar

pertenço? “; “ Que direitos isso me dá?”; “Quais são os

meus direitos?”, entre outras, são respondidos através do

consumo privado de bens produzidos pela mídia. O

indivíduo, quando consome, também pensa, escolhe,

reorganiza seu mundo, bem como reflete naquilo que o

cerca. (SANTOS et al,1997).

Antes de qualquer discussão teórica a respeito dos recursos naturais e humanos,

deve-se estabelecer o seguinte princípio: o homem, o espaço e o tempo constituem os três pré-

requisitos para qualquer reflexão equilibrada a respeito do fenômeno, cuja anatomia

conjuntural e sintônica impõem-se de modo compulsório.

Por natureza o homem tende a racionalizar suas atitudes e procurar justificativas

para os motivos que o levam a tomar as mais variadas e, não raro, inesperadas decisões em

todos os campos de suas diversas atividades naturais e artificiais, práticas e teóricas.

A preocupação mundial, presente em diversas representações, seja governamental

e não governamental para uma política de Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentável,

insiste que o desenvolvimento deva ser incorporado às pautas de discussão dos programas

econômicos e de outras discussões relevantes a níveis nacional e internacional. Consideram

importante que os assuntos ambientais recebam o mesmo tratamento dado aos assuntos

políticos e econômicos.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

79

A humanidade presencia o desaparecimento de milhões de espécies de plantas,

animais e outros organismos no planeta terra - mais do que a extinção maciça na história

geológica, incluindo a extinção de espécies, se medidas urgentes não forem tomadas,

reconhece-se que:

• Plantas e animais selvagens são vitais à sobrevivência humana. Eles representam fonte de

alimentos, medicamentos e matérias-primas essenciais. São importantes para as melhorias

futuras no cultivo de plantas e animais para o desenvolvimento de novos medicamentos e

produtos industriais. Plantas e animais também são úteis no controle de pestes e enchentes, na

manutenção da produtividade do solo e na degradação do lixo;

• A destruição do habitat pelas atividades humanas presentes nos polígonos antrópicos

registrados por imagens de satélite, principalmente no sul da Amazônia, é a causa primeira da

extinção e perda da diversidade biológica em todo o mundo.

Na verdade, ecologia e cultura parecem constituir “pesos” no orçamento de muitos

dirigentes públicos, tal qual a área da educação. Atitude semelhante, pode-se sentir no setor de

turismo. Entretanto, há exemplos de administrações de bens naturais e culturais de interesse

turístico que obtiveram superávits além de preservarem os bens patrimoniais. A titulo de

exemplo podemos citar a Costa Rica que tem sabido explorar inteligentemente seus recursos

naturais, assim como também acontece com o México, Equador, Belize, Estados Unidos,

Quênia, África do Sul e diversos países europeus. Da mesma forma com relação a bens

culturais, em países do velho mundo e em outros como, Japão, Tailândia etc. Sem dúvida,

projetos de turismo “eco-cultural” que considerem adequadamente a dinâmica

custos/benefícios dispõem de melhores pré-requisitos de êxito, no mundo contemporâneo.

A diferença entre as nações ricas e pobres, ou seja, países centrais e países

periféricos, é grande e crescente, passível de ser reconhecida através de dados estatísticos,

porque, em muitos países periféricos, pobreza, dívida externa, necessidade de exportar para

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

80

adquirir moeda estrangeira, políticas de governo inadequadas e a superpopulação fazem com

que os recursos naturais sejam utilizados em excesso, de forma inadequada e muitas vezes são

totalmente destruídos.

Degradação ambiental e pobreza estão intimamente relacionadas. Populações em

crescimento tornadas pobres através de programas econômicos mal formulados e inadequados

são forçadas a usar em excesso e degradar os recursos, a fim de garantir sua sobrevivência,

fazendo com que os recursos danificados não suportem mais por muito tempo, o crescimento

econômico desenfreado. Historicamente, se constata que tal fato bloqueou o potencial de

desenvolvimento de muitas sociedades e reduziu sua estabilidade. O investimento básico das

pessoas prósperas e governos, no campo da ecologia, é o que toda economia precisa para se

desenvolver em harmonia e é isto o que está faltando em muitos países.

No entanto, sabemos que o desmatamento de grandes áreas de florestas ameaça o

potencial de desenvolvimento de um país, pois elas respondem por muitas funções

importantes à produtividade nacional a longo prazo. Sabe-se também, que além de prover

moradia para centenas de milhões de pessoas, as florestas protegem bacias de águas, regulam

o tempo e a temperatura, previnem a erosão e a sedimentação dos rios, fornecem alimentos,

fibras e madeira para construção, além de carvão vegetal e forragem aos animais de criação.

Considerando ainda, a maior riqueza da Amazônia está enraizada na presença das

diferentes etnias existentes, alicerce para se entender as populações tradicionais que aqui

residem com suas culturas diferenciadas como filhos amazônicos, muito mais que o ouro e a

prata, sua cultura está fundamentada, nos artesanatos, ritos e mitos, demarcando verdadeira

fronteiras culturais com expressões comportamental sui genere.

Analisar o comportamento do homem amazônico, seja sociedade indígena ou

Populações Tradicionais, é adentrar em seu mundo específico, é mergulhar na biodiversidade

deste grande bioma, como a gênese de todo o existir. Observando uma cultura material por

exemplo, a expressão da verdade, a sabedoria do EU, a ciência do saber, a sintonia cósmica,

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

81

traçada no linear da peculiaridade do homem amazônico, é entender a interelação deste com a

natureza. Pois quando ele pisa na natureza, ele pisa devagarzinho e com segurança para não

despertar os seus que ali repousam, esse pensamento tem fundamento na citação do indígena

Bororo TXIBAE EWORORO, quando diz: “...O homem branco, aquele que se diz civilizado

pisou duro não só na terra, mas na alma do meu povo e os rios cresceram e o mar se tornou

mais salgado porque as lágrimas da minha gente foram muitas...”. (EWORORO,1976.p.35).

Nessa perspectiva, foi possível compreender-se as lições oferecidas pelas

sociedades Tradicionais, durante esses anos de pesquisa junto a essas populações, no processo

de funcionamento de sistemas de acesso, propriedade e gestão de recursos naturais, são

reconhecidas pelas países desenvolvidos (centrais), segundo Vieira, “... esses sistemas

particularmente são dignos de atenção, essa linha de investigação tem mostrado que, se o

respeito pelo uso sustentado dos recursos tornar-se algo compartilhado pela comunidade,

aumentam as chances de êxito de formas de gestão capazes de favorecer o alcance simultâneo

de distribuição mais eqüitativa da riqueza gerada e de aumento das margens de

sustentabilidade dos recursos. ... A participação das populações constitui um pressuposto

decisivo para o fortalecimento de sistemas comunitários”. (VIEIRA apud VIOLA, 1998,

p.68)

Entretanto, o estudo buscou compartilhar com as populações comunitárias

organizadas, acreditando que quanto maior o número de pessoas treinadas e capacitadas,

desde que respeitando integralmente os conhecimentos culturais, possa interligar a identidade

cultural e o processo de organização social e política.

As pesquisas junto as populações ribeirinhas registraram o depoimento de

comunitários, que alegam o desconhecimento das legislações ambientais e os métodos de

procedimentos junto as atividades de menor impacto ao meio ambiente, demonstraram que o

programa trás oportunidades de reconduzir o entendimento entre pessoas da própria

comunidade e pessoas exógenas à comunidade.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

82

Consideramos que as ações dos AAVs da RDS Mamirauá, demonstradas nos

quadro apresentados neste trabalho, contribuíram para o reconhecimento da sociedade do

entorno da Reserva, que antes exploravam desordenadamente os recursos naturais da área,

sem levar em consideração as comunidades que dependiam desses recursos para suas

sobrevivências.

Fato observado em viagens realizadas a Tefé/AM, onde a coordenadora do

Programa AAV do Ibama, foi abordada por empresários madeireiros e pescadores da região,

cujo objetivo era desacreditar o Programa na região e desestimular o trabalho das

comunidades organizadas, a exemplos os AAVs de RDS Mamirauá, usavam denúncias

incabíveis, com isto comprovavam o descontentamento de não poderem mais explorar os

recursos naturais da reserva como faziam antes da organização comunitária, ações

denunciadas pelos comunitários como contribuição para o desaparecimento e minimizar de

inúmeras espécies da região.

Observa-se que algumas empresas madeireiras, presente na região de Tefé/AM

desde muitos anos, passaram por um processo de falência, caracterizando assim as inúmeras

teorias científicas apresentadas neste trabalho, em que enfaticamente contribuíram para se

entender que a organização social consciente de seus valores enquanto cidadões, puderam

mudar os rumos da história de suas vidas.

A essência da Consciência Ambientalista propagada no final deste milênio

desempenha um papel importante de dinamismo e força para a sobrevivência da humanidade

no planeta. Esta evolução demanda uma nova qualidade de vida onde os efeitos negativos ao

Meio Ambiente são reconhecidos como riscos para o Homem em todos os campos: Físico,

biológico, cultural, social e psíquico.

A relevância desse tipo de política social, faz com que esta pesquisa entenda as

três bases de estudo traçadas no enfoque de ecodesenvolvimento na pesquisa de Vieira

(VIEIRA, apud Viola,1998. p.90), ou seja:

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

83

1. A hipótese de um “modelo” que tem favorecido a definição de propostas de absorção

da questão sócio-ambiental no capo de políticas governamentais em vários países;

2. Um conjunto de diretrizes metodológicas visando a criação de estratégias concretas

de intervenção corretiva, baseadas nos postulados interdependentes de eqüidade

social, eficiência econômica, autonomia política e prudência ecológica;

3. Um novo critério de racionalidade social, baseado na crítica ao efeito de externalização

dos custos sociais e ambientais dos processos de modernização.

Neste enfoque, o modelo de gestão participativa dos recursos naturais pelos

comunitários da RDS Mamirauá, refletiu num novo conceito de democracia participativa,

onde o modelo de qualidade de vida, é processada como as águas da várzea, enriquecem a

cada experiência, a cada ciclo, contribuindo para se re-escrever que o homem no espaço e no

tempo vem planejando e construindo sua aprendizagem social, delineando um novo projeto

de sociedade participativa e militante.

Estudo de Caso de Agentes Ambientais Voluntários na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

84

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ANEXOS

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HINO DA PRESERVAÇÃO DE LAGOS

Autor: João Cavalcante/Grupo de Tefé /CPT

A luta que a gente enfrenta lá na comunidade não é mole irmão Peixeiro invade e rouba sem dó, quando sobra um bodó, ainda está muito bom A gente um dia acaba aprendendo que o lago preservado é a nossa salvação Se a gente não se organizar, o peixe vai sumir e a fome vai matar ISSO É A VIDA DE AMOR NÃO É VIDA DE AMOR

ISSO É VIDA DE IRMÃO NÃO É VIDA DE IRMÃO ISSO É VIDA DE PAZ NÃO É VIDA DE PAZ DEUS QUER LIVRE A VIDA DE IRMÃO (bis) Não pense que a luta dos lagos que já foi começada vai um dia parar Nós temos que levar adiante com muita segurança pra não desanimar. Os peixes, as aves, as matas, a caça existente não podemos acabar Se não o pobre trabalhador, vai ficar na pior sem poder caminhar. ISSO É VIDA DE AMOR. NÃO É VIDA DE AMOR........ Não pense que o povo esmorece e a luta não cresce contra a devastação Devemos preservar a natureza ela é a riqueza de nossa região! A união é que nos dá coragem para continuar a luta de preservação. A vida dos pacus e tambaquis é que vai garantir o pirão de amanhã ISSO É VIDA DE AMOR SIM É VIDA DE AMOR ISSO É VIDA DE IRMÃO SIM É VIDA DE IRMÃO

ISSO É VIDA DE PAZ SIM É VIDA DE PAZ DEUS QUER LIVRE A VIDA DE IRMÃO (bis)