gestão e avaliação de risco em saúde ambiental

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  • SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

    BRILHANTE, OM., and CALDAS, LQA., coord. Gesto e avaliao de risco em sade ambiental [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999. 155 p. ISBN 85-85676-56-6 Available from SciELO Books .

    All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

    Todo o contedo deste captulo, exceto quando houver ressalva, publicado sob a licena Creative Commons Atribuio - Uso No Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 No adaptada.

    Todo el contenido de este captulo, excepto donde se indique lo contrario, est bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

    Gesto e avaliao de risco em sade ambiental

    Ogenis Magno Brilhante Luiz Querino de A. Caldas

    (coord.)

  • GESTO AVALIAO DE RISCO EM SADE AMBIENTAL

  • FUNDAO OSWALDO CRUZ

    Presidente Paulo Marchiori Buss

    Vice-Presidente de Desenvolvimento Institucional, Informao e Comunicao

    Paulo Gadelha

    EDITORA FIOCRUZ

    Coordenador Paulo Gadelha

    Conselho Editorial Carla Macedo Martins Carlos E. A. Coimbra Jr. Carolina . Bori Charles Pessanha Gilberto Hochman Jaime L. Benchimol Jos da Rocha Carvalheiro Jos Rodrigues Coura Luis David Castiel Luiz Fernando Ferreira Maria Ceclia de Souza Minayo Miriam Struchiner Paulo Amarante Vanize Macedo

    Coordenador Executivo Joo Carlos Canossa P. Mendes

  • GESTO AVALIAO DE RISCO EM SADE AMBIENTAL

    OGENIS MAGNO BRILHANTE &

    LUIZ QUERINO DE A. CALDAS (Coordenadores)

    Segunda reimpresso

  • Copyr ight 1999 dos autores Todos os direitos desta edio reservados FUNDAO OSWALDO CRUZ / EDITORA

    ISBN: 85-85676-56-6

    I edio: 1999 I reimpresso: 2002 2 a reimpresso: 2004

    Projeto grfico, capa e editorao: Ruben Fernandes

    Copidesque e preparao de originais: Marcionlio Cavalcanti de Paiva

    Reviso: Fernanda Veneu

    Superviso editorial: Walter Duarte

    Catalogao-na- fonte Centro de Informao Cientfica e Tecnolgica Biblioteca Lincoln de Freitas Filho

    B857g Brilhante, Ogenis Magno (coord.) Gesto e avaliao de risco em sade ambiental. / coordenado por Ogenis Magno Brilhante e Luiz Querino de A. Caldas. - Rio de Janeiro : Editora FIOCRUZ, 1999.

    155p., il., tab., graf. 1. Sade ambiental. 2. Poltica ambiental. 3. Anlise de risco. 1. Caldas, Luiz Querino de A. (coord.).

    CDD - 20.ed. - 363.7

    2004 EDITORA FIOCRUZ Av. Brasil, 4036 - l andar - sala 112 - Manguinhos 21040-361 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (21) 3882-9039 e 3882-9041 Fax: (21) 3882-9006 e-mail: [email protected] http://www.fiocruz.br/editora

  • A U T O R E S

    O G E N I S M A G N O B R I L H A N T E

    Engenheiro sanitarista, doutor em cincia ambiental pela Universidade Paris XII (Frana); professor-visitante da Faculdade de Engenharia de Processos e Gesto Ambiental da Universidade de Delft (Holanda); professor e pesquisador associado do Departamento de Saneamento e Sade Ambiental da Escola Nacional de Sade Pblica/Fundao Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ); coordenador de projetos de pes-quisa, consultor e professor de disciplinas de mestrado e doutorado na rea da polui-o, impacto e risco na sade ambiental; autor de diversos trabalhos publicados em peridicos nacionais e estrangeiros, com participao em vrios congressos cientfi-cos internacionais.

    L U I Z Q U E R I N O D E A R A J O C A L D A S Mdico e bilogo, mestre em farmacologia e professor de toxicologia; doutor pela Universidade de Bradford (Inglaterra), atua na rea da sade ambiental, foi consul-tor permanente do Centro Pan-Americano de Ecologia Humana e Sade, da Organi-zao Pan-Americana da Sade ( E C O / O P A S / O M S ) ; pesquisador-visitante da Escola de Sade Pblica da Universidade de Harvard (EUA) e Coordenador do Centro de Controle de Intoxicaes da Universidade Federal Fluminense (UFF).

    L E N E H O L A N D A S A D L E R V E I G A

    Biloga, mestre em biofsica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pesquisa-dora da Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no Departamento de Prote-o Radiolgica Ambiental, atuando na rea de avaliao de risco de poluentes radi-oativos e no-radioativos sade humana. Autora de diversos trabalhos publicados em peridicos nacionais e estrangeiros, com participao em vrios congressos ci-entficos internacionais. Desenvolveu trabalhos de cooperao na rea de Avaliao de Risco com o Oak Ridge National Laboratory (EUA).

    H O R S T M O N K E N F E R N A N D E S

    Engenheiro, doutor em geoqumica ambiental pela Universidade Federal Fluminense; pesquisador da Comisso Nacional de Energia Nuclear, consultor da Agncia Inter-nacional de Energia Atmica; coordenador de Projetos de Avaliao de Impactos Ambientais por substncias txicas com nfase na rea de minerao e sistemas hdricos; autor de diversos trabalhos publicados em peridicos nacionais e estran-geiros, com participao em vrios congressos cientficos internacionais; represen-tante da CNEN no Comit de Certificao Ambiental (CCA).

  • SUMRIO

    PREFCIO 9

    APRESENTAO 1 3

    1. GESTO AVALIAO DA POLUIO, IMPACTO RISCO NA SADE AMBIENTAL... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Ogenis Magno Brilhante

    2 . PROCEDIMENTOS INTEGRADOS DE RISCO GERENCIAMENTO AMBIENTAL: PROCESSOS MODELOS . 7 5 Horst Monken Fernandes & Lene Holanda Sadler Veiga

    3 . Risco POTENCIAL EM TOXICOLOGIA AMBIENTAL 9 3 Luiz Querino de A. Caldas

    4 . AVALIAO DE RISCO PARA A SADE HUMANA ECOSSISTEMAS 1 1 9 Lene Holanda Sadler Veiga & Horst Monken Fernandes

    GLOSSRIO 1 4 5

  • PREFCIO

    So muito antigos, na Histria da humanidade, os primeiros registros sobre as relaes entre ambiente e sade. Os perigos que cercavam o consumo de gua e alimentos contamina-dos, por exemplo, esto na Bblia e em documentos egpcios e gregos ainda mais remotos.

    Tambm a sade pblica, desde seus primrdios, assim como a prpria medicina, ocuparam-se das relaes do ser humano com o meio ambiente.1 Utilizando enfoques vari-ados, de Hipocrates aos dias de hoje, as cincias da sade tm procurado as causas, os modos de transmisso e a preveno das doenas no hbitat humano.

    Segundo Canguilhem,2 possvel identificar duas concepes bsicas sobre doena que se alternam na Histria: a da doena como desequilbrio do organismo ou quebra de harmonia com o meio ambiente e a concepo ontolgica da doena como um ser ou algo que penetra no ser humano e o adoece. Em ambas, de qualquer forma, o ambiente joga o seu papel, pois no primeiro caso, trata-se de uma desarmonia com o meio a ser enfrentada; no outro, algo ou um ser estranho, proveniente de fora, do ambiente que o cerca, produz no interior do ser a doena e a morte.

    John Snow, com o seu clssico Sobre a Maneira de Transmisso do Clera,3 de 1854, funda a epidemiologia e marca o incio de uma nova era na anlise das condies de sade e doena dos grupos humanos. Seu tema, como sabemos, a descoberta das 'relaes perigo-sas' entre o ambiente contaminado (a bomba d'gua de Broad Street) e a terrvel e devasta-dora infeco intestinal produzida pelo vibrio colrico na populao londrina.

    A revoluo pasteuriana, que consagra a teoria do germe no final do sculo passado e representa uma das mais notveis contribuies cientficas na Histria da humanidade, tal-vez possa ter produzido, em alguns de seus seguidores de mentalidade mais estreita, a cer-teza de que tudo estivesse resolvido no longo e doloroso percurso do adoecer e do morrer humano, com a idia da unicausalidade e da resoluo dos problemas com o ataque aos germes no organismo humano, atravs de substncias que a moderna cincia iria produzin-do. Na realidade, Pasteur e seus seguidores, com muita argcia, jamais ignoraram o papel do meio ambiente, propondo a clssica trade agente-hospedeiro-ambiente para explicar o processo de transmisso dos germes recm-descobertos.

    Oswaldo Cruz enfrenta, no incio do sculo, no Brasil, com soros, vacinas e reforma urbaha, 4 ; 5; 6 atravs de uma intensa ao sobre o meio ambiente, as epidemias que ameaa-vam fechar o Pas ao comrcio exterior e devastar a economia nacional e no apenas as vidas humanas, como vinham fazendo.

    1 ENTRALGO, P. L. Historia de la Medicina. Barcelona: Salvat, 1978. 2 CANGUILHEM, G . O Normal e o Patolgico. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1978. 3 SNOW, J. Sobre a Maneira de Transmisso do Clera. So Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1990. 4 COSTA, N. Lutas Urbanas e Controle Sanitrio. Petrpolis: Vozes/Abrasco, 1985. 5 FRAGA, C . Vida e Obra de Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro: J. Olympic 1972. 6 BRITTO, N. Oswaldo Cruz: a construo de um mito na cincia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz.

  • O mundo comea a despertar para a questo ambiental, de forma intensa e global, apenas h cerca de 30 anos. Em 1972, as Naes Unidas convocam a Conferncia de Esto-colmo, "que levou os pases em desenvolvimento e os industrializados a traarem, juntos, os 'direitos' da famlia humana a um meio ambiente saudvel e produtivo". 7 Vinte anos aps, no ciclo de grandes conferncias que visam a preparar o mundo para o sculo XXI, a ONU convoca a RIO-92, Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento, que produz dois documentos bsicos para orientar ambientalistas, cientistas, ativistas e a populao em geral: a Agenda 21 e a Carta da Terra."

    Antecedendo a Conferncia RIO-92, duas importantes iniciativas no que tange sa-de e ambiente desenvolvem-se no plano global: a implantao da Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que gera um documento de primeira linha, Nosso Fu-turo Comum, tido como o grande inspirador das deliberaes havidas entre os Chefes de Estado presentes na Conferncia do Rio; e a realizao da III Conferncia sobre Promoo da Sade, em Sundsvall/Sucia, em 1991, com o tema dos "ambientes favorveis sade".9

    Todos correm para apresentar seus documentos de posio e influir nos resultados da RIO-92. A Organizao Mundial da Sade (OMS) produz Nosso Planeta, Nossa Sade,10 que se transforma num marco para aqueles que atuam na confluncia dos dois temas, sade e ambiente. A prpria Escola Nacional de Sade Pblica da Fundao Oswaldo Cruz (ENSP/ FIOCRUZ), preparou e lanou, poca, um dos mais completos documentos sobre o assunto: Sade, Ambiente e Desenvolvimento," coletnea de 28 artigos, em dois volumes, reunindo quase 70 autores de diversas instituies do Pas.

    Toda esta histria importante para poder registrar os avanos que se vo produzindo na j longa trajetria de polticas, estudos e prticas na rea de sade e ambiente. As instituies acadmicas tm dado sua inestimvel colaborao para o progresso, seja das polticas, seja dos conhecimentos imprescindveis para o desenvolvimento de prticas efetivas neste campo.

    O livro que ora prefacio, de Ogenis Magno Brilhante & Luiz Querino de A. Caldas, dois professores da Escola Nacional de Sade Pblica, inscreve-se na melhor tradio dos estudos que renem fundamentos conceituais e inovaes. De fato, trabalham com um tema de ponta, contemporneo e fascinante: o risco em sade ambiental. Mas no o fazem com diletantismo acadmico, seno com o objetivo do manejo do risco, vale dizer, com avaliao e gesto dos mesmos.

    Aliam, neste Gesto e Avaliao de Risco em Sade Ambiental, as bases conceituais -que permitem uma boa introduo queles que desejam iniciar-se no t ema-com a apresen-tao de inovaes metodolgicas ainda no aplicadas em nosso pas.

    7 COMISSO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE DESENVOLVIMENTO. NOSSO Futuro Comum. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1991.

    8 CONFERNCIA DAS NAES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE DESENVOLVIMENTO. Agenda 21 e Carta da Terra. Braslia: Senado Federal, 1996.

    9 WORLD HEALTH ORGANIZATION ( W H O ) . Creating Supportive Environments for Health. Geneva: W H O , 1996. 10 WORLD HEALTH ORGANIZATION ( W H O ) . Our Planet, our Health: report of the WHO Commission on Health

    and Environment. Geneva: W H O , 1992. 11 LEAL. M . C . et al. Sade, Ambiente e Desenvolvimento. So Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco,

    1992. 2v.

  • Como defendem os autores, "a avaliao de risco um processo analtico muito til, que gera valiosas contribuies para a 'gesto' do risco", seja pelas organizaes de sade pblica, seja por aquelas responsveis pela poltica ambiental.

    A essa altura, vale lembrar a estratgia da 'intersetorialidade'. De fato, o enfrentamento de problemas no campo da sade e ambiente s vai ser efetivo se articular, de forma harm-nica, complementar e integrada, disciplinas, profissionais e rgos pelo menos dos dois setores governamentais envolvidos; assim como, se grupos de interesse da sociedade civil, envolvidos com a temtica da sade e do ambiente, conseguirem estabelecer alianas mu-tuamente benficas para a luta por leis e normas exaradas dos Legislativos e pela implementao de polticas pblicas favorveis sade e ao ambiente, por parte dos Execu-tivos.

    Os autores tm uma preocupao adicional de grande relevncia: adaptar as propostas de avaliao de risco para a realidade do nosso pas. Completam o estudo discutindo o tema da gesto ambiental, informada pela avaliao de risco.

    Pelo somatrio de tais elementos, este livro traz enormes contribuies e avanos para um tema de ponta, que a confluncia da sade e ambiente. Da primeira experincia da ENSP, em 1 9 9 2 , com o curso sobre "Gesto de Risco em Sade Ambiental", at agora, o "grupo avanou enormemente. Vo-se cumprindo etapas, como esta, na direo de objetivos maiores como o que se aproxima para a ENSP: preparar, na sua recm-criada Escola de Governo em Sade, profissionais para a gesto da sade ambiental, com a base cientfica da avaliao de risco.

    PAULO MARCHIORI BUSS PROFESSOR TITULAR DIRETOR

    ESCOLA NACIONAL DE SADE PBLICA/FIOCRUZ

  • A P R E S E N T A O

    O meio ambiente se constitui hoje um dos temas essenciais de poltica governamental e uma das maiores preocupaes dos cidados, seja nos pases industrializados ou no. A conscincia poltica e social neste assunto um fato. Cada vez mais um nmero maior de pessoas v na degradao ambiental uma ameaa sade e ao bem-estar social.

    Atualmente, um grande nmero de especialistas dos mais variados campos da cincia se ocupa da proteo da sade humana. O enfoque tradicional da sade pblica atual se combina com os modernos conceitos da interdependncia da sade com os fatores ambientais, o qual podemos denominar de sade ambiental.

    Todos os problemas relativos aos contaminantes ambientais esto, de uma maneira ou de outra, associados ao crescente processo de industrializao verificado desde o final do sculo passado, onde, ao lado do incremento da pesquisa, do desenvolvimento e da difuso de novas tecnologias, os processos de produo e seus produtos, tm contribudo para pr em perigo ou causar prejuzos sade do homem e dos ecossistemas.

    Estes contaminantes ambientais so, na atualidade, denominados de riscos tecnolgicos ambientais e esto classificados em dois grupos: os riscos tecnolgicos, aqueles decorren-tes das atividades desenvolvidas pelo homem e os riscos naturais, os oriundos de distrbios da natureza. Os primeiros podem ser controlados tanto na probabilidade de ocorrncia quanto nas conseqncias, ao passo que os segundos, em geral, no podem ser controlados no que se refere probabilidade de ocorrncia, somente nas suas conseqncias.

    Estes riscos, especialmente os tecnolgicos, tm provocado grandes transformaes em nosso planeta, causando alteraes em escalas locais: contaminao por radiao, por produ-tos qumicos e nvoa cida nos grandes centros urbanos; em escalas regionais ou continentais: chuvas cidas; em escala global: destruio da camada de oznio e efeito estufa.

    H um crescente consenso de que os problemas de sade ambiental s sero resolvi-dos ou minorados com o desenvolvimento e a aplicao de polticas ambientais claras e eficientes, em que o princpio do desenvolvimento sustentvel seja aplicado na soluo das questes de meio ambiente, economia e sociedade. O processo de avaliao de risco ambiental um instrumento metodolgico importante para a execuo de uma poltica de sade ambiental.

    Tal processo est sendo usado para satisfazer uma grande gama de propsitos, entre os quais auxiliar na gesto do risco e propiciar subsdios aos rgos reguladores para toma-da de decises.

    A avaliao de risco um processo analtico muito til que gera valiosas contribuies para a gesto do risco, da sade pblica e para a tomada de decises de poltica ambiental. Foi desenvolvida porque os agentes regulamentadores e a opinio pblica exigiram que os cien-tistas fossem alm da pura observao das relaes entre exposio a poluentes e seus efeitos nas populaes e no meio ambiente, para responder a questes sociais sobre o que no seguro.

  • O primeiro cdigo de procedimentos para a avaliao de risco em sade foi estabele-cido nos Estados Unidos, em 1983, pela Academia Nacional de Cincias (National Research Council - NRC).1 Este procedimento, internacionalmente reconhecido, dividido em qua-tro partes e foi desenvolvido para caracterizar os efeitos adversos de agentes na sade hu-mana, particularmente oriundos da exposio aos qumicos: identificao do risco; avalia-o dose-resposta; avaliao da exposio e caracterizao do risco.

    Ainda nos Estados Unidos, o rpido desenvolvimento tecnolgico teve como conse-qncias o aparecimento de inmeras situaes de risco e o surgimento de vrios stios contaminados que fizeram com que a opinio pblica pressionasse o Congresso a tornar mais rgidas as leis e os procedimentos de controle e preveno do risco (os chamados superfunds). Para isto foi instituda pelo Congresso, em 1990, uma Comisso encarregada de fazer ampla investigao sobre as implicaes polticas e o uso apropriado da avaliao e da gesto do risco nos programas de regulamentao das leis para a preveno de cncer e de outros efeitos crnicos sade humana, oriundos da exposio a substncias perigo-sas. A comisso publicou, em julho de 1996, um relatrio no qual proposta uma nova padronizao para a avaliao de risco (Commission on Risk Assessment and Risk Management, 1996).2 Este novo processo engloba o estudo do risco causado por vrios contaminantes, compartimentos, fontes de exposies, assim como os valores sociais, per-cepes e tica, que tem como objetivo maior a gesto do risco.

    Os seguintes componentes so includos neste novo procedimento: formulao de problema em um contexto amplo; anlise dos riscos; definir as opes; tomar decises; propiciar meios para que as decises sejam implementadas (intervenes) e fazer uma ava-liao da efetividade das aes implementadas.

    A comisso tambm reconhece que avanos importantes tm sido feitos no desenvol-vimento cientfico do processo de avaliao de risco. Desenvolvimentos futuros iro me-lhorar ainda mais o reconhecimento e o clculo dos riscos a que os humanos esto expostos quando em contato com produtos qumicos ou outros agentes do meio ambiente, e prover marcadores biolgicos para medir a exposio, os efeitos indutores e a variao na suscetibilidade. A comisso reconhece ainda que os riscos provenientes da exposio a micrbios e a radiaes (e no somente a agentes qumicos) precisam ser mais estudados.

    No Brasil, um dos nicos programas que trata do assunto 'risco' foi regulamentado em 1995, pelo Ministrio do Trabalho, e carece de abrangncia na rea da sade ambiental.

    Das agncias regulamentadoras espera-se, por exemplo, o controle do risco do apareci-mento de cncer e de outras doenas, e/ou que estes sejam reduzidos a nveis suficientemente baixos.

    1 WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Environmental and Health, The European charter and commentary. In: FIRST EUROPEAN CONFERENCE ON ENVIRONMENT AND HEALTH, Frankfurt, 7-8 Dec. 1989. Regional Publication. European Series, 35, 1990.

    2 COMMISSION ON RISK ASSESSMENT AND RISK MANAGEMENT. Risk Assessment and Risk Management in Regulatory Decision-making. Draft Report for Public Review and Comment, June 13, 1996.

  • Para que isto seja conseguido, algumas questes fundamentais devem ser respondidas: O que significa risco ambiental, risco sade e risco segurana? Por que so importantes? Quais as similaridades entre os conceitos de meio ambiente, a sade e a segurana; quais as diferenas? Por que estudamos meio ambiente, sade e segurana em circunstncias sepa-radas e no de forma integrada? Quais os procedimentos existentes para identificar e avaliar os riscos associados com o meio ambiente, a sade e a segurana? Como podem esses riscos ser sistematicamente analisados e identificados? Se identificados, quais os mtodos disponveis para remedi-los? O leitor mais atento encontrar, em cada captulo deste livro, subsdios que podero responder a estas questes e ajudar a identificar, analisar e, em algu-mas situaes, contribuir para a tomada de deciso concernente ao problema da rea.

    No entanto, quando trabalhamos com a gesto de risco, precisamos saber a maneira de usar os recursos disponveis na avaliao de risco, na anlise econmica, na coleta de informaes sociais e culturais, com a finalidade de melhorar seu manejo, torn-lo mais eficiente e mais transparente aos olhos do pblico para que se obtenha reduo dos riscos a menores custos.

    Enfrentamos um enorme desafio para administrar eficientemente os riscos sade associados com o vasto espectro da poluio gerada pelas atividades no planeta.

    Como exemplo, vale lembrar que os poluentes introduzem no meio ambiente substnci-as ou formas de energia passveis de causar danos sade humana, aos recursos biolgicos e sistemas ecolgicos, ao patrimnio esttico-cultural e ao uso futuro dos recursos naturais.

    Aps sua emisso por uma fonte qualquer, os poluentes percorrem diversos cami-nhos, em sua difuso no ambiente, at chegarem ao solo, ar e/ou gua. Seu nvel de concen-trao em cada ponto do percurso depender de diversos fatores: taxa de emisso, caracte-rsticas de disperso (em funo das propriedades do poluente e do meio) e taxa de remoo do meio por agentes fsicos, qumicos e/ou biolgicos ao longo de todo o percurso. A interao entre poluente e meio receptor resulta em um efeito cuja natureza, escala e importncia, bem como a sua variao ao longo do tempo, so elementos que denotam a complexidade do tema.

    Ao considerar o destino de substncias perigosas, h que se pensar que estes materi-ais, emitidos na atmosfera, sem critrio, so resultantes de qualquer processo de operao destinado ao seu desuso e/ou destruio. Subentende-se ento que estes no vo ser reutilizados, recuperados ou reciclados. Portanto, ficaro disponveis em algum comparti mento da natureza ou permanecero no ambiente at a sua disposio final.

    Neste caso, quem se ocupar do processo e da gesto de avaliao de risco para o ambiente e populaes que porventura estejam expostas?

    Resduos de substncias perigosas e risco toxicolgico constituem um novo captulo na Histria da sociedade contempornea, que soube fazer mas no soube dispor de seus dejetos. Quais os perigos para o ecossistema? Quais os danos efetivos? Quem so os culpa-dos - existem culpados?

    parte dos direitos humanos, hoje poucas so as sociedades desenvolvidas (ou no) que se preocupam em manejar, tratar ou destruir os resduos que produzem, sejam de ori

  • gem artesanal, industrial ou comercial, o que, at ento, nas sociedades primitivas os pr-prios ecossistemas naturais se encarregavam de destruir ou reciclar. Com o passar dos anos, dcadas, a progressiva saturao dos mecanismos de degradao do ambiente tem tornado cada vez mais exgua a destruio ou reciclagem destes pela natureza.

    Ao longo da evoluo do conhecimento, a Histria nos tem proporcionado preocu-paes to antigas como os ensinamentos que nos deixou Hipocrates, 300 anos a.C. Em seu livro, Ares, guas e Lugares, teceu comentrios tericos sobre as inter-relaes entre enfermidade e ambiente, com opinio definitiva sobre o papel do ambiente contaminado na sade e no bem-estar dos cidados. Ainda que na medicina tenhamos construdo, por sculos, a noo de domnio e primazia da raa humana, somente nas ltimas dcadas tomamos conscincia da estreita interao homem-ambiente e sua importncia no compo-nente sade, seja individual ou coletivo.

    A realidade biolgica dos fatos tem sido cientificamente revelada pari passu, sem que exista qualquer contestao a sua obviedade. Como assinala Leaning, 3 no h como negar a dependncia dos seres humanos do meio ambiente em que vivem. O ciclo O 2 -CO 2 , os ritmos circadianos, as influncias eletromagnticas ou mesmo a gratificao e os bene-fcios mental e espiritual so exemplos inexorveis da necessidade de convivncia harm-nica do ser humano com a natureza.

    Seria uma grande falcia considerar que nossa capacidade de adaptao est muito adiante de outros seres do mundo animal e que, portanto, somos imunes s mudanas climticas, s disfunes dos ecossistemas naturais ou s foras vivas e limitaes ambientais que definem o curso de nossas vidas.

    A humanidade, segundo Carson, 4 na busca incessante de riqueza, bem-estar e pro-gresso est destinada a sucumbir, por assim dizer, nos seus prprios dejetos, devido a um crescente incremento da atividade industrial e econmica global e, por conseguinte, da presena de numerosos xenoqumicos no degradveis no ambiente.

    Em seu curso normal, a natureza capaz de renovar-se. Entretanto, medida que os processos de acumulao antropognica (principalmente) de substncias qumicas ultra-passam os limites de reciclagem do ambiente, ou se introduzem novos compostos no-degradveis, haver, sem dvida, um grande transtorno dos sistemas biolgicos. Desta forma, novas estratgias de trabalho devem contemplar o estudo do risco qumico. Muitos problemas que hoje enfrentamos so resultado de mais de 200 anos de prticas imprprias de manejo de substncias perigosas de origem diversa.

    3 LIANING, J. The medical consequences of environmental degradation. In: SYMPOSIUM LECTURE, Great Boston-PSR: Harvard University/MIT, Oct. 1992. 4p.

    4 CARSON, R. Silent Spring. Boston: Cambridge Press (Reimpresso). Dec. 1987, 1995.

  • Uma tentativa no muito bem-sucedida de implantar a Avaliao de Risco em Sade Ambiental foi feita pelo Ministrio da Sade que, dentro de sua Diviso Tcnico Normativa, criou um setor que recebeu o mesmo nome, cujo primeiro diretor, dr. Roque Monteleone, divulgou e tentou conscientizar as autoridades sobre a importncia desta cincia emergente na rea da sade ambiental, em particular na de toxicologia. Na poca, proferiu palestras e promoveu reunies para discutir a aplicao, pelo menos rudimentar, destes conhecimentos no Brasil. Porm, em nosso pas, somente na dcada de 90 implementaram-se os primeiros estudos sobre a Anlise de Risco em Toxicologia.

    Nos primeiros anos, poucos eram os profissionais nacionais que dominavam ampla-mente o tema. Algumas consultorias j se aventavam a desenvolver programas de controle e gesto de risco, mas bem ao estilo do risco ocupacional voltado para coeficiente de gravi-dade, taxas de morbi-mortalidade e acidentes nos ambientes de trabalho. Exerccios valio-sos na rea atuarial tiveram, porm, pouca repercusso para a sade e para o meio ambiente. Em 1992, iniciamos na Escola Nacional de Sade Pblica, da Fundao Oswaldo Cruz, talvez o primeiro curso sobre Gesto de Risco em Sade Ambiental no Brasil. Com durao de 50 horas, incluiu atividades no laboratrio de informtica da Escola. Nele, foram abor-dados seis principais temas:

    poluio, impacto e risco na sade ambiental;

    avaliao econmica ambiental;

    avaliao integrada de risco e gesto ambiental;

    avaliao de risco para a sade humana e dos ecossistemas;

    risco potencial em toxicologia ambiental;

    risco epidemiolgico.

    Em 1993, o curso foi repetido e mais bem adaptado s condies brasileiras, ou seja, vrios exerccios executados durante sua realizao foram relatos de casos de experincias aqui adquiridas. Nessa segunda oportunidade, o interesse pelo assunto se multiplicou, fato demonstrado pela afluncia de alunos de diversas partes do territrio nacional com um contingente de aproximadamente 50 participantes com diferentes formaes profissionais.

    Em 1994, houve uma interrupo formal do evento na FIOCRUZ, uma vez que a maioria dos docentes se afastaram de suas atribuies para desenvolver atividades ligadas ao tema em instituies no Pas ou no exterior. Este foi o caso dos drs. Horst Monken Fernandes, Lene Holanda Sadler Veiga e dos coordenadores, drs. Luiz Querino de A. Caldas e Ogenis Magno Brilhante, em cujas biografias, resumidas no incio desta obra, relatam seus recen-tes treinamentos na rea.

    O presente livro fruto do amadurecimento de idias e conceitos ministrados na po-ca, com a incorporao de novas estratgias metodolgicas e nova sistemtica de trabalho neste campo, usualmente aplicadas em pases desenvolvidos. Em sua essncia, trata de evocar

  • exemplos que podem ser empregados no cotidiano, conferindo a estes menos incertezas e mais balizamento cientifico. Todavia, bom frisar que durante os trabalhos de reviso tcnica e/ou elaborao do texto no soubemos de outra iniciativa que atendesse aos mesmos critrios propostos no curso, tampouco de entidades que se preocuparam com o assunto na rea da sade ambiental, lapso substancial para o desenvolvimento do tema em nosso pas.

    Ainda sobre esta matria, existem vrias definies e abordagens conceituais sobre polui-o, meio ambiente, impacto, risco e sade. Neste livro, tais conceitos so apresentados de acordo com a experincia individual de cada um dos autores, isto , meio ambiente, sade, proteo radiolgica e toxicologia ambiental. Assim, o leitor encontrar definies que podero parecer repetitivas, mas que na verdade denotam a tica peculiar de cada tema. Isso no um fato inusitado, pois recentemente especialistas da rea formaram uma comisso especial justa-mente para tentar harmonizar os diversos procedimentos e conceitos existentes no assunto.

    O livro composto por quatro captulos. No primeiro o leitor encontrar um conjunto de informaes e conceitos sobre sade ambiental, poluio, impacto e risco. As questes da gesto e da poltica de sade ambiental so amplamente discutidas, assim como tambm so apresentados o histrico, a evoluo e os procedimentos para a execuo de projetos de gesto e avaliao e risco em sade ambiental. Com relao a este ltimo item, o autor apresenta um modelo geral de risco com informaes essenciais sobre o processo de anlise de risco e das tcnicas e mtodos utilizados nas diversas fases da avaliao de risco. Finalmente, apresenta as semelhanas e diferenas existentes entre os estudos de impacto ambiental e os estudos de avaliao de risco e de sade.

    O captulo 2 trata dos procedimentos integrados de risco e gerenciamento ambiental. Aps breve introduo sobre princpios e definies, aborda a elaborao de cenrios e mode-los conceituais para o meio ambiente. Diversos exemplos, incorporando modelos matemti-cos, fluxogramas e tabelas so apresentados e discutidos luz do conhecimento atual.

    Focalizando as questes emergentes relacionadas ao risco potencial em toxicologia ambiental, o captulo 3 discute alguns conceitos bsicos sobre o tema, na viso do toxicologista, e relaciona a toxicognese das substncias perigosas como meio de discrimi-nar e quantificar o risco qumico txico. Apresenta, ainda, informaes e exemplos que mostram as nuances envolvidas no processos de assessoramento do risco.

    Finalizando este trabalho, o captulo 4 divide-se em duas partes: a primeira faz uma apresentao minuciosa dos procedimentos existentes para avaliao de risco sade hu-mana, que inclui os seguintes assuntos: critrios de toxicidade sistmica, avaliao dose-resposta, critrio de toxicidade para carcingenos e no-carcingenos, avaliao da exposi-o e, finalmente, caracterizao do risco. Na segunda, os autores descrevem o risco ecol-gico, discutindo problemas relacionados reduo da abundncia e produo de algumas espcies e apresentando mtodos e atributos do risco ecolgico, no qual vrios exemplos utilizando estudos quantitativos so exibidos.

    OGENIS MAGNO BRILHANTE & Luiz QUERINO DE A. CALDAS

  • GESTO AVALIAO DA POLUIO, IMPACTO

    RISCO NA S A D E AMBIENTAL

    O G E N I S M A G N O B R I L H A N T E

    CONCEITOS DE SADE AMBIENTAL

    As correlaes entre meio ambiente e outros fatores comearam a ser estabelecidas somente no final do sculo passado. A poltica relativa a meio ambiente se limitava, por assim dizer, sade pblica. At h pouco tempo, seu campo de atuao era quase total-mente voltado para a preveno e o controle de doenas infecciosas.

    A tecnologia do sculo XX mudou radicalmente tal situao. Atualmente, vasta gama de especialistas dos mais variados campos da cincia se ocupa da proteo da sade huma-na. O enfoque tradicional da sade pblica, hoje, se combina com os modernos conceitos da interdependncia da sade com os fatores ambientais (sade ambiental) (WHO, 1990).

    Esse novo enfoque reconhece que, em princpio, quase todos os aspectos do meio ambiente afetam potencialmente a sade. Isto verdadeiro no s para agentes especficos, como microorganismos ou outras entidades biolgicas, foras ou agentes fsicos e qumi-cos, mas tambm para elementos dos meios urbano e rural: casas, locais de trabalho, reas de lazer, infra-estruturas, indstrias; e os principais componentes do mundo natural, como a atmosfera, o solo, a gua e as muitas partes da biosfera.

    Essa complexidade e multidisciplinaridade causada pelo rpido desenvolvimento tecnolgico, traduzido notadamente pelo aumento na utilizao dos recursos naturais e na sntese industrial de novas substncias, requer que a questo da sade seja tratada de forma integrada com os fatores ambientais e as questes econmicas. A melhora da qualidade da sade ambiental estar necessariamente ligada ao desenvolvimento de processos ecologica-mente sustentveis.

    Hancock (1993) formulou um modelo de gesto de sade ambiental, em que trata das relaes entre sade (incluindo fatores sociais), meio ambiente e economia. Em tal modelo,

  • para que a economia fosse ambientalmente sustentvel, seria necessrio que a atividade econmica no utilizasse recursos renovveis - como plantas, animais e solo - , alm dos seus limites de renovao ou de recomposio (sustentabilidade); no deveria poluir o ar e os ecossistemas terrestres e aquticos de tal forma que no pudessem se recompor; nem poderia perturbar ou desequilibrar a atmosfera ou outros ciclos e sistemas naturais at onde a viabilidade dos ecossistemas estivessem comprometidos.

    Nesse modelo, a economia precisaria ser no somente ambientalmente sustentvel, como tambm socialmente sustentvel, conceito que inclui o princpio da eqidade e no qual a sade humana depende no s da gerao e distribuio eqitativa da riqueza, mas de um meio ambiente vivel. A viabilidade , ento, um conceito antropognico, ligado no apenas sustentabilidade da vida em geral, mas criao de condies que possam supor-tar a vida e, em particular, que propiciem uma boa qualidade de vida.

    POLUIO MEIO AMBIENTE

    CONCEITOS

    No est ainda definido com exatido o conceito de poluio, nem h divulgao correta do mesmo na esfera da populao. Para uns, poluio modificao prejudicial em um ambiente onde se encontra instalada uma forma de vida qualquer; para outros, essa forma de vida tem de ser o homem, e outros mais a entendem como alterao ecolgica nociva, direta ou indiretamente, higidez humana (Branco & Rocha, 1987; Margulis, 1990).

    No sentido em que a empregamos, 'poluio' um neologismo. Em 1958, os dicion-rios de lngua francesa Larousse empregava o termo para designar profanao de um tem-plo, e o Robert, em 1970, o utilizava no sentido de tornar algum ou algo doente ou perigoso.

    Do ponto de vista ecolgico, poluio definida como qualquer alterao da compo-sio e das caractersticas do meio que cause perturbaes nos ecossistemas, ou ainda, como uma interferncia danosa nos processos de transmisso de energia.

    Consiste em distrbios ambientais consubstanciados em fatos ou fenmenos desfavo-rveis, diretos ou indiretos. Os primeiros compreendem ataques sade e aos bens, como a promoo de deslocamentos populacionais ou o desequilbrio social, ou ainda, implicaes na qualidade de vida, como a poluio sonora e esttica, entre outras inconvenientes.

    Os distrbios ambientais indiretos incluem intromisses nos sistemas biolgicos na-turais, como a diminuio da fotossntese pela poluio atmosfrica.

    DESPOLUIO, CUSTO DA POLUIO DESPOLUIR AT ONDE?

    O termo 'despoluio' apareceu somente no final dos anos 70 e pode ser empregado no sentido de retirar do meio exterior aquilo que pode ser nocivo. Por exemplo, retirar da gua o que pode ser prejudicial ao meio exterior ou para um uso especfico. Esta definio

  • envolve trs coisas. Primeiro, que saibamos o que preciso retirar, ou seja, o que nocivo. Isto implica conhecimento do sentido de medir, da medio da despoluio e tambm do sentido das conseqncias a longo prazo.

    Para responder o que medir, apresentaremos o seguinte exemplo: a anlise de uma gua bruta normal pode revelar presena de centenas ou at de milhares de substncias. Nessas condies seria impossvel analis-las e medi-las. depois, at onde medir? Isto , deveramos medir at que ordem: mg/L, micrograma/L ou nanograma/L? Agora, vejamos as seguintes situaes: se desejamos que os peixes vivam nos rios, precisamos saber que tipo de peixe queremos - por exemplo, carpa ou truta. Se desejamos gua de boa qualidade em um porto, precisamos saber se esta qualidade ser a necessria para que o porto seja utiliza-do tambm como local de recreao - por exemplo, canoagem - ou para criar mexilhes para consumo humano. Assim, podemos perceber que existe uma vasta gama de utilizao da gua que pode mudar muito as coisas. No primeiro e segundo exemplos, se a utilizao da gua escolhida fosse para criar trutas e mexilhes, a qualidade destas guas deveria ser melhor que para as outras opes. Isto envolveria, por exemplo, um grau de despoluio maior e, conseqentemen-te, a elevao dos custos.

    GERAO CONTROLE DA POLUIO A gerao e o controle da poluio abrangem uma complexidade de relaes entre os

    vrios fatores envolvidos nas diversas atividades humanas. Despoluir inclui custo financei-ro importante e como os efeitos da poluio presentes e futuros no so precisamente co-nhecidos, fica difcil estimar cifras.

    A identificao e a definio dos componentes de um programa de controle da polui-o muito importante para auxiliar no planejamento e na gesto ambiental, e diversos autores j tentaram isso. Nesses trabalhos, a atividade produtiva e os grupos de presses so atores valiosos. Na Figura 1, observa-se o modelo de controle da poluio proposto por Gilad (1979) e apresentado na srie Public Health in Europe, 8.

    O modelo parte do princpio de que toda atividade humana, seja produo ou consumo, produz resduos, alguns dos quais podem ser reutilizados ou reciclados nos processos de pro-duo (Figura 1, setas 1 -3). Os resduos que no podem ser reutilizados ou reciclados tornam-se lixo depositado no meio ambiente, seja na sua forma original ou aps passar por algum tipo de tratamento (Figura 1, setas 7-9). O meio ambiente tem uma certa capacidade natural de assimilar determinados tipos de dejetos sem causar efeitos negativos a si prprio (Figura 1, seta 10). Os dejetos no assimilados resultam em poluio (Figurai, seta 11). Os efeitos conhecidos ou desconhecidos da poluio despertam uma reao do pblico (Figura 1, setas 12-13). Quan-do esta reao do pblico se torna importante, aparece no sistema a formulao de legislao especfica ou, se no caso j existe uma, cresce a presso para torn-la mais rigorosa (Figura 1, seta 14a). Tal legislao pode se tornar mais ou menos rigorosa em razo da influncia dos vrios atores intervenientes no processo de gerao da poluio (Figura 1, seta 15) e, assim, influenciar todo o processo. Algumas legislaes podem facilitar ou encorajar o aumento da reciclagem dos resduos antes de estes se tornarem lixo; isto pode ser obtido por taxao dife-renciada, subsdios, instrumentos de mercado e outros meios.

  • Pode-se, tambm, modificar o processo de produo ou o produto para se reduzir a quantidade de lixo produzido, ou ainda, pode-se mudar a sua composio, tornando mais fcil sua reciclagem dentro do processo de produo (Figura 1, setas 16-17). Outros tipos de legislaes podem ainda determinar a aplicao de tratamentos mais eficazes ou prover subsdios, indultos etc. (Figura 1, seta 18).

    Devemos ter em mente que o tratamento, por si prprio, no reduz a quantidade de resduos, mas simplesmente reduz seu volume e, por meio de mudanas biolgicas e fsico/ qumicas, torna mais fcil a sua disperso ou assimilao. Alguns tipos de legislaes po-dem exigir o uso de mtodos de disperso e disposio com alto coeficiente de segurana, explicitando mtodos de anlises e parmetros ambientais a serem rigidamente controlados (Figura 1, seta 19). Outros tipos de legislaes tambm tentam regulamentar os nveis de poluentes permitidos, deixando poluidores e agncias ambientais com liberdade de esco-lher os mtodos e a tecnologia necessria para se atingir os objetivos de poluio fixados (Figura 1, seta 20).

    Quase todos os processos de reduo da poluio tm elevado custo financeiro. A somatria dos custos acumulados em todas as medidas envolvidas na diminuio da polui-o representa o valor total do controle da poluio (Figura 1, setas 21-22). Estes custos, quando repassados direta ou indiretamente para os preos dos produtos, interferem nas atividades produtivas e de consumo (Figura 1, seta 25). Isto, por sua vez, pode resultar no interesse do pblico ou na formao de grupos de presso com o propsito de minimizar as despesas relacionadas poluio, diminuindo assim a presso sobre a atividade econmica (Figura 1, seta 26). Tais grupos pressionam tanto os legisladores quanto os rgos de con-trole por mudanas na legislao com o fim de abrand-la, torn-la mais restritiva ou rigo-rosa. No final, o sistema mantm o seu equilbrio por meio do conflito entre os grupos de presses e os grupos de interesses especiais; o processo poltico essencial, nestes casos, para resolver tal questo.

    Os efeitos presentes e futuros da poluio ambiental no so de todo conhecidos. Por isso o custo da poluio muito difcil de ser estimado com grande exatido. Assim, a anlise pura e simples de custo/benefcio no fornece subsdios completamente vlidos para uma tomada racional de deciso (Figura 1, setas 101-105).

  • CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE

    Existem vrios conceitos para o neologismo 'meio ambiente', porm o que nos pare-ce mais apropriado com o objeto deste captulo o postulado pelo Conselho Internacional da Lngua Francesa:

    Meio ambiente um conjunto, a um dado momento, de agentes fsicos, qumicos, biolgicos e de fatores sociais suscetveis de provocar um efeito direto ou indireto, imediato ou a termo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.

    Para melhor qualificar a ao do homem sobre seu meio preciso definir os dois seguintes termos:

    Alteragene: toda substncia ou todo fator que provoque uma alterao do meio ambiente.

    Perturbao: toda alteragene que comporte um risco notvel para a sade e a qua-lidade de vida do homem ou que pode lhe atingir indiretamente, atravs de reper-cusses sobre o seu patrimnio cultural e econmico.

    Meio ambiente pode ainda ser definido como um meio fsico suscetvel de alterao pela atividade humana. Neste caso, ele restrito poro do espao do sistema Terra-Atmosfera, onde se realiza o conjunto de condies fsicas que asseguram o desenvolvi-mento da vida e, mais particularmente, da vida humana. Este espao caracterizado pela presena de dois fluidos - o ar e a gua - cujas propriedades permitem a distribuio, ao nvel do solo, da energia fornecida ao planeta pelo sol e, por conseguinte, da repartio dos climas, que, por sua vez, regula a circulao atmosfrica e o ciclo da gua. Compreende ento, mais precisamente, a fina pelcula atmosfrica que envolve a Terra, as guas de su-perfcies continentais e marinhas, assim como as camadas superficiais do globo que servem de reservatrio para as guas subterrneas. O estado do sistema em um dado instante e a sua evoluo com o tempo resultam das transferncias de massa, de energia e da quantidade de movimento que existe entre a gua, o ar e a Terra sob o efeito da energia solar.

    MEIO AMBIENTE SADE AMBIENTAL O meio ambiente est doente. Tal concluso consta do relatrio intitulado Que Meio

    Ambiente para o Amanh?, publicado na Holanda (Ministerie van Volkshuisvesting, 1992), que trata das evolues constatadas e previstas em escala nacional e internacional para o meio ambiente, durante o perodo de 1985 a 2010. Neste relatrio, o meio ambiente considerado um sistema de reservatrio e de reciclagem natural de todo tipo de matria. O sistema dividido em cinco nveis nos quais se produzem os efeitos da poluio, a saber:

    local: as aglomeraes (meio ambiente no interior das aglomeraes, perturbaes sonoras e descontaminao dos solos);

  • regional: as paisagens (uso de fertilizantes, disposio de resduos);

    fluvial: bacias dos rios e sistemas costeiros marinhos (uso de fertilizantes e desflorestamento);

    continental: correntes marinhas e atmosfricas (acidificao, smog);

    mundial: camadas superiores da atmosfera (deteriorao da camada de oznio, mudanas climticas).

    Muito embora cada nvel conhea problemas de poluio especficos, estes esto liga-dos entre si. Por exemplo, os problemas locais podem criar outros em nveis superiores e vice-versa. Porm, quanto mais as perturbaes esto ligadas a um nvel superior, mais lentamente seus efeitos se faro sentir. por esta razo que somente uma abordagem em diferentes nveis poder propiciar uma soluo eficaz.

    Uma rpida viso da situao do meio ambiente atual nos permite constatar os se-guintes principais problemas:

    as chuvas cidas continuam a se formar e grandes reas de florestas esto hoje comprometidas;

    o teor de amonaco proveniente principalmente da agropecuria no tem cessado de aumentar;

    a taxa de oznio na troposfera, responsvel entre outras pela formao do smog, est em elevao; a diminuio da camada de oznio na estratosfera (10 a 15 km de altitude) no tem parado de crescer, provocado especialmente pela acumula-o em alta altitude de substncias dificilmente degradveis como os clorofluorcar bonos (CFC).

    a rpida acumulao do dixido de carbono proveniente, entre outros, da utiliza-o de combustveis fsseis, ameaa o planeta com o efeito estufa. As guas inte-riores contm hoje, em alguns stios, 10 a 15 vezes mais nitrato e fosfatos que os teores naturais, o que tem provocado proliferaes incomuns de algas, alterando o equilbrio natural;

    a acumulao de metais e pesticidas, principalmente nos sedimentos dos corpos hdricos, tm trazido srias conseqncias para os peixes, mamferos e ecossistemas inferio-res. As guas subterrneas, o solo e grande parte das guas superficiais esto contami-nadas pela presena de nitrognio, fosfato e potssio proveniente em grande parte da agricultura.

    substncias dificilmente biodegradveis como os metais, pesticidas e outros com postos orgnicos constituem igualmente uma ameaa para a qualidade do solo e

  • dos lenis freticos. No caso do solo, este cada vez mais poludo por pesticidas, fertilizantes e depsitos atmosfricos, alm dos lanamentos legais e ilegais de efluentes e resduos slidos diversos;

    a poluio sonora proveniente da circulao rodoviria, ferroviria e area tampouco tem cessado de aumentar.

    Tambm pressiona o meio ambiente, alm da poluio, a ameaa de extino de re-cursos naturais vitais, dentro de alguns anos, aliada a um crescimento demogrfico crescen-te e a melhora da qualidade de vida em certas regies do planeta. o caso, por exemplo, das florestas tropicais e dos combustveis fsseis. A continuar esse ritmo de consumo atual, os recursos naturais acumulados no curso de vrios sculos sero exauridos em pouco tempo: 30 anos para o petrleo e cerca de 200 anos para o carvo, segundo alguns especialistas. Este processo ser acompanhado pelo agravamento da poluio atmosfrica, sonora, do solo e das guas, da desapario macia de espcies animais e vegetais, cujas conseqnci-as a longo prazo so em grande parte desconhecidas e de difcil previso.

    Como exemplo, no Quadro 1 observa-se um resumo dos principais poluentes, suas origens, abundncia e efeitos na sade, presentes em alguns grandes centros urbanos do planeta. Nele aparece em destaque a importante contribuio do trfego automotivo para a formao do coquetel de poluentes hoje existente nas grandes metrpoles e da poluio sonora como um considervel fator desse coquetel.

    Um outro exemplo da poluio urbana causada por metais, em sua maioria oriunda do trfego automotivo, apresentada Grfico 1. As concentraes dos metais foram obti-das atravs da anlise, por absoro atmica, de material particulado atmosfrico colhido em um tnel de Paris. Alm das elevadas concentraes de metais como chumbo, zinco, cdmio, cobre e mangans, uma anlise mineralgica por meio da difrao aos Raios X tambm mostrou a presena de grande quantidade de matria orgnica e de compostos de ferro como a magnetita, a goetita, a hematita e de outros como mica, a kaolinita, a clorita e a calcita. Dessas partculas, 72% possuam dimetros inferiores a 5 micra, o que as classifica como partculas inalveis, isto , capazes de penetrar profundamente no siste-ma respiratrio.

  • Part culas a tmosfr icas Fonte: BRILHANTE & RESENDE ( 1 9 9 5 ) . * Suscetibilidade magntica - tipo de anlise magntica cujo resultado est associado concentrao

    total de metais presentes na amostra.

    Outro grupo de poluentes tambm bastante comum no meio ambiente so os resduos e produtos qumicos.

    Estima-se que a cada ano mais de mil novos produtos qumicos so introduzidos na cadeia de produo industrial do planeta. Muitas dessas substncias so txicas ou apresen-tam algum grau de risco. Para muitas delas, no dispomos ainda de suficientes conhecimen-tos sobre toxicidade, meios de preveno ou de exposio.

    No quadro seguinte apresenta-se pequena relao dessas substncias facilmente en-contradas no Brasil, juntamente com alguns dos efeitos causados sade.

  • Milhares de stios contaminados por diversos resduos qumicos so conhecidos hoje no mundo. No Brasil, diversos casos tm sido relatados. Entre os mais conhecidos est o da 'Cidade do Meninos', stio localizado no municpio de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro, onde uma fbrica de HCH, pesticida organoclorado (Quadro 2), operou por alguns anos, sendo desativada em 1955, deixando parte de sua produo abandonada in natura, a cu aberto, nas suas proximidades. Com o passar do tempo, este pesticida foi espalhado pela chuva e a ao do vento, e at pela populao, para ser comercializado como insetici-da. Ao longo desse mesmo perodo, a populao do stio aumentou. Em 1994, aproximada-mente mil pessoas ali viviam, includas as cerca de 300 crianas moradoras em um abrigo para menores carentes. Hortalias diversas, fruteiras, vrios tipos de animais, entre gado de corte, leiteiro e tambm centenas de pessoas ainda hoje esto presentes na rea. Segundo Brilhante & Oliveira (1996), o solo superficial de uma rea de 100 m de raio, medido a partir das runas da fbrica, chamada de foco, possua concentraes dos ismeros de HCH da ordem de milhares de ppb, tendo alguns pontos amostrados atingido 192.000 ppb (Grfico 2).

  • Pontos amostrados na estrada que atravessa o stio e que, segundo moradores, teria sido aterrado com resduos de HCH, tambm mostraram resultados da ordem de milhares de ppb (Grfico 2). Concentraes elevadas de ismeros de HCH foram encontradas em 31 amostras de pessoas, sendo 17 femininas (12-59 anos) e 14 masculinos (5-69 anos) vivendo na rea-foco em torno da fbrica. Altas concentraes de HCH tambm foram medidas nos pastos utilizados como alimento para o gado. Casos de intoxicaes tm sido relatados e o perigo de contaminao indireta via cadeia alimentar constitui-se problema para a sade humana e ambiental.

  • MEIO AMBIENTE CNCER

    Muitos fatores so considerados capazes de aumentar o risco de cncer, como estilo de vida (fumo, lcool, dieta, comportamento reprodutivo) e fatores genticos e hormonais. Os agentes ambientais tambm esto implicados e so, algumas vezes, relevantes em reas e grupos populacionais especiais. Circunstncias especiais como as encontradas em exposies ocupacionais, prticas locais ou outras condies podem aumentar o risco do aparecimento de certos tipos de cncer, como os de pele e os do trato respiratrio e urinrio.

    Quando consideramos as possveis implicaes da exposio de agentes ambientais e o aparecimento de cncer, uma distino importante precisa ser feita entre dois grupos importantes de agentes: os carcingenos genotxicos - aos quais no existe limite mnimo de exposio - e os no genotxicos, onde evidncias tm sugerido que abaixo de um determinado limite, o risco do surgimento de cncer no existe.

    Trs importantes grupos de agentes ambientais, com suas possveis implicaes no aparecimento de casos de cncer, so descritos a seguir:

    RADIAO IONIZANTE

    Os efeitos na sade da radiao ionizante tm sido um tpico de estudo h vrias dcadas. Incluem-se neste grupo as rochas contendo radnio e urnio, exposies ocupacionais, acidentes e testes nucleares.

    Estas radiaes so consideradas carcingenos genotxicos e, portanto, no existe limite de exposio mnima para a induo do aparecimento de casos de cncer.

    Estudos realizados na Sucia indicam que 16% de todos os casos de cncer de pulmo na populao sueca podem ser atribudos exposio ao radnio (Pershagens, 1993).

    A exposio ocupacional outra potencial fonte de risco. Entre as pessoas expostas esto os trabalhadores de minas, de indstrias nucleares, de equipamentos hospitalares e pes-quisadores.

    Acidentes nucleares esto tambm associados ao aparecimento de determinados tipos de cncer. A partir do acidente de Chernobyl, estudos de acompanhamento de sade condu-zidos em vrias populaes expostas aos radionucldeos provenientes do reator sinistrado apontaram uma alta incidncia de cncer da tireide, em Belaurus, aparentemente devido exposio a altas doses de radioiodine (Kazakov, 1992).

    RADIAES NO-IONIZANTES

    A principal fonte de radiaes no-ionizantes so os raios ultravioleta provenientes do sol (UVR) e de fontes artificiais, e os campos magnticos, ambos de origem natural e artificial.

  • A incidncia de formas comuns de cncer de pele est aumentando de 2% a 3% ao ano. O melanoma maligno, uma forma rara de cncer de pele, com uma taxa de fatalidade de 30% a 50%, tem crescido bastante nas ltimas dcadas. Isto est associado diminui-o da camada de oznio, que deixa passar os componente mais perigosos do UVR solar (WHO, 1994).

    At o presente momento no se pode afirmar com absoluta certeza que a exposio ambiental aos campos magnticos com baixas freqncias (ELF) causam efeitos biolgi-cos adversos.

    QUMICOS

    Ainda no se conhece com exatido todo o potencial dos compostos qumicos carcinognicos. Assumido que no h limite mnimo de exposio para o aparecimento de cncer, a simples presena destes compostos no meio ambiente representa um risco potencial.

    A atmosfera um dos principais transportadores destes produtos qumicos. A ex-posio a produtos provenientes da queima incompleta de combustveis fsseis conten-do carcingenos humanos como os hidrocarbonetos poliaromticos (PAH) relativa-mente comum. Em um estudo de caso-controle realizado em Cracvia, Polnia, cerca de 4% dos casos de cncer de pulmo nos homens e 10% nas mulheres foram atribudos ao fato de essas pessoas morarem em uma rea com forte concentrao de material particulado atmosfrico (mdia anual de 150 microgramas por metro cbico de ar) (Jedrychowski, 1990).

    A inalao passiva de tabaco foi recentemente implicada como fator contribuinte para o aparecimento de cncer de pulmo entre os no-fumantes que moram ou trabalham com pessoas que fumam em excesso. O resultado de uma anlise efetuada em 25 estudos epidemiolgicos indicou um aumento do risco de 20% a 30% para os no-fumantes casa-dos com fumantes (WHO, 1994).

    A preocupao com o possvel risco de contaminantes qumicos na gua potvel est diretamente ligada a certos pesticidas halogenados orgnicos (como os tri e tetracloroetilenos) e compostos inorgnicos (como os de arsnico e nitrato).

    Nos alimentos, os compostos qumicos que podem apresentar risco de cncer en-globam um certo nmero de pesticidas, compostos orgnicos (como as bifenilas policloradas, as dibenzo p-dioxinas policloradas e os dibenzofuranos policlorados); com-postos inorgnicos (como os nitratos e alguns metais) e toxinas naturais (como as micotoxinas do grupo aflatoxin).

  • IMPACTO

    CONCEITOS DE IMPACTO

    Impacto qualquer alterao favorvel ou desfavorvel, produzida por um produto, processo, ao ou atividade (Bolea & Estevan, 1984). Se esta alterao incide sobre o meio ambiente, chama-se impacto ambiental; se sobre a sade, chama-se impacto na sade; se sobre a paisagem, chama-se impacto visual e assim por diante.

    Para o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA, 1986), impacto ambiental definido como qualquer alterao das propriedades tsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades hu-manas que, direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem-estar da popula-o; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

    Define-se, ainda, impacto de um projeto sobre o meio ambiente como a diferena entre a situao do meio ambiente futuro modificado, tal como resultaria depois de uma dada interferncia, e a situao do meio ambiente futuro, tal como teria evoludo normal-mente sem tal atuao.

    TIPOS DE IMPACTO AMBIENTAL

    Os impactos ambientais podem ser de vrios tipos. Podem ser diretos ou indiretos; produzir-se a curto ou a longo prazo; ser de curta ou longa durao; ser cumulativos; reversveis ou no; ser inevitveis; locais, regionais, continentais, globais; naturais e antropognicos.

    Um impacto ambiental direto ou primrio a alterao que sofre um atributo ou elemento ambiental devido ao direta da natureza ou do homem sobre esse atributo.

    Um impacto ambiental indireto ou secundrio a conseqncia de um impacto direto. Os impactos diretos so mais fceis de se estimar, os indiretos, mais difceis.

    IMPACTO GLOBAL: EFEITO ESTUFA DESTRUIO DA CAMADA DE OZNIO

    EFEITO ESTUFA

    As atividades humanas tm produzido, ao longo das ltimas dcadas, uma elevao da concentrao de certos gases que dificultam a dissipao da radiao refletida pela Terra. Esses gases, como o gs carbnico (CO 2) e o metano (CH 4), os clorofluorcarbonos (CFCs), o oxido nitroso e o oznio atmosfrico podem perturbar o equilbrio energtico entre a Terra e a atmosfera, c por conseqncia o nosso sistema climtico.

  • A indstria no a nica responsvel por isso. Parece-nos que hoje mais da metade das fontes atuais de metano imputveis s atividades humanas provm das atividades agr-colas, como o cultivo de arroz (Lambert, 1992).

    O clima da Terra varia naturalmente ao longo do tempo: ano aps ano, no espao de alguns milhares de anos ou sobre algumas centenas de milhares de anos. A humanidade, atravs de suas atividades industriais e agrcolas, tornou-se, gradativamente, um importante fator climtico.

    O desmatamento transforma radicalmente o conjunto da circulao atmosfrica tropi-cal, modificando assim o balano hdrico e o regime das chuvas. Entretanto, o aumento da emisso dos gases com efeito estufa provocar, inelutavelmente, o aquecimento do planeta.

    Qual ser sua ordem de grandeza, sua distribuio geogrfica, seu impacto e risco sobre os balanos hdricos regionais? Acerca disso, muitas incertezas e questes existem e precisam de respostas. Sabemos que no ltimo sculo a temperatura da superfcie do planeta aumentou em meio grau (Sadourny, 1992). Ser isso um sinal do aquecimento anunciado? No momento no temos condies de responder, pois nenhuma prova existe, somente alguns indcios.

    Como resultado dessas incertezas, de uma certa dose de hipocrisia e da falta de bom senso, 159 pases e centenas de lobistas reunidos em Kyioto, no Japo, em dezembro de 1997, s conseguiram aprovar uma reduo mnima dos gases responsveis pelo efeito estufa: os EUA se comprometeram a reduzir suas emisses em 7% at o ano 2012, a Europa em 8%, enquanto os demais pases em desenvolvimento - cerca de 136 - , no se compro-meteram com nenhuma reduo (The Economist, 1997).

    DESTRUIO DA CAMADA DE OZNIO

    H dois milhes de anos, o oxignio (O 2) apareceu na atmosfera terrestre. Entre 20 e 30 km de altitude, em plena estratosfera, as radiaes solares agem diretamente sobre ele, transformando-o em oznio (O 3). Estas novas molculas envolvem o planeta e o protegem contra os ataques do sol, absorvendo os raios ultravioleta.

    Hoje sabemos que os clorofluorcarbonos, particularmente o CFC11 (CFC13) e o CFC12 (CF2C12) so os maiores responsveis pela destruio da camada de oznio.

    Sintetizados pela primeira vez em 1930, os CFCs foram considerados produtos est-veis por muito tempo, aparentemente inertes e inofensivos. Providos de mltiplas proprie-dades, tm diversas utilizaes como lquido refrigerante e propulsor de aerossis.

    A partir dos anos 70, pesquisadores mostraram que, em altitude, sob o efeito das radiaes solares, os CFCs tornaram-se grandes destruidores de oznio. Trabalhos cientfi-cos mostraram que cada molcula de CFC, antes de ser inativada, pode destruir mais de mil molculas de oznio (Science & Vie, 1991).

    Na estratosfera, o oznio formado inicialmente quando uma molcula de oxignio (O 2) absorve radiaes de ondas curtas, quebrando esta mesma molcula em dois tomos de oxignio; cada tomo de oxignio, por sua vez, se combina com outra molcula de oxig-nio, formando assim o oznio. Normalmente, as reaes fotoqumicas so catalisadas pelos

  • Nox, que removem o oznio na mesma taxa em que os mesmos so formados. O ciclo cataltico do cloro, hoje aumentando rapidamente na atmosfera, perturba esse equilbrio natural, provocando a diminuio da concentrao de oznio.

    Atualmente a maior perda de oznio tem se verificado sobre a camada que cobre a Antrtida, notadamente durante a primavera austral. Perdas tm sido medidas tambm so-bre a camada do rtico e dos grandes centros urbanos, inclusive a do Rio de Janeiro.

    Essa diminuio de oznio aumenta a incidncia dos raios ultravioleta, responsveis por diversos tipos de cncer de pele, leses oculares e enfraquecimento do sistema imunolgico dos seres humanos. Ameaam como um todo a sade ambiental do planeta. Destruindo os vegetais verdes, precursores da vida sobre a Terra, esses raios terminaro por eliminar todas as espcies evoludas.

    Recentemente, a Organizao Mundial da Sade indicou estar havendo um aumento da incidncia de cncer comum de pele na ordem de 2% a 3% ao ano. Na Inglaterra, a incidncia do melanoma, um raro tipo de cncer, com fatalidade de 30% a 50%, aumentou em 50% entre 1980 e 1986 (WHO, 1994).

    IMPACTO CONTINENTAL: CHUVAS CIDAS

    A gua da chuva nunca teve a pureza que o senso comum lhe atribui, mas o fato que ela vem se tornando cada vez mais impura. A impureza natural consiste, sobretudo, na presena de sais marinhos. Mas os gases e fuligens que resultam das atividades antropognicas interferem no processo de formao das nuvens, acidificando as chuvas. A queima de flo-restas tambm contribui para o fenmeno.

    A precipitao das chuvas cidas ou qumicas em algumas regies do planeta uma das conseqncias da poluio atmosfrica, principalmente devido interferncia humana nos ciclos da biosfera. Uma chuva considerada cida quando o seu pH inferior a 5,6. Uma vez precipitada no meio ambiente, atacam as florestas, matam os lagos, corroem mo-numentos e alteram a sade do homem e dos ecossistemas.

    Os principais gases envolvidos nos processos so os xidos de enxofre (SOx) e os xidos de nitrognio (NOx), ambos provenientes principalmente da queima de combust-veis fsseis, como os derivados do petrleo e do carvo.

    Estes xidos, quando na presena da radiao solar e de catalisadores, formam, na atmosfera, os cidos sulfrico e ntrico, respectivamente. cido clordrico e outros cidos orgnicos so tambm formados. Entre os catalisadores, os metais e os hidrocarbonetos so essenciais ao processo.

    IMPACTO LOCAL: NVOA CIDA (SMOG)

    Queimar vegetao, prtica comum nos trpicos, emite partculas e vrios gases, es-pecialmente o dixido de carbono (CO 2), hidrocarbonetos, oxido ntrico (NO) e dixido de

  • nitrognio (NO 2). Esta e outras atividades humanas, tais como a queima de combustveis fsseis, so em grande parte responsveis pelo dramtico aumento das concentraes des-ses gases na atmosfera, acarretando grandes perturbaes, como o smog fotoqumico nos grandes centros urbanos.

    O termo smog se refere a uma indesejvel mistura de gases formados na baixa troposfera pela ao da luz solar sobre os poluentes de origem humana, especialmente os xidos de nitrognio (NOx) e hidrocarbonetos provenientes dos canos de escape dos veculos, produ-zindo gases reativos que podem ser nocivos aos organismos vivos.

    O oznio o principal composto produzido no smog fotoqumico e o principal res-ponsvel pela irritao dos olhos, problemas respiratrios, danos nas plantas e culturas vegetais e pela diminuio da vida til dos pneus dos carros.

    A intensidade do smog geralmente medida pela concentrao de oznio presente ao nvel do solo. No caso do smog fotoqumico, este est comeando a aparecer tambm nos trpicos e subtrpicos, particularmente pela queima peridica de florestas e savanas (Graedel & Crutzen, 1989). Tais prticas emitem grandes quantidades de precursores do smog.

    DIFERENAS ENTRE IMPACTO RISCO AMBIENTAL

    O efeito de um impacto pode ser positivo ou negativo. J o efeito de um risco sempre negativo, adverso.

    Os estudos de risco incluem sempre o conceito de probabilidade; os de impacto, no necessariamente.

    RISCO

    CONCEITOS DE RISCO

    So vrios os conceitos, mas um ponto comum entre eles a incluso da noo de probabilidade. Para Conway (1982), risco c definido como a medida da probabilidade e da severidade de efeitos adversos; Inhaber (1982) o define como a probabilidade de ocorrer acidentes e doenas, resultando em ferimentos ou mortes.

    O SIGNIFICADO DO RISCO

    O grau do risco funo do efeito adverso que pode resultar de uma ao particular. Entre os diferentes tipos de risco existentes, podemos citar o econmico, o de vida e sade c o risco ambiental.

  • Risco no sinnimo de perigo. Descer uma escada, por exemplo, representa um risco real de acidente. De lato, essa uma das causas mais comuns de acidentes ocorridos em residncias. Mas seria um tanto exagerado chamar esse ato de perigoso.

    Em nosso dia-a-dia estamos sempre expostos a riscos de acidentes. Se dirigirmos um carro, este pode abalroar ou ser abalroado. Se escolhermos andar em uma calada, podemos ser atropelados, e se permanecermos em casa e acendermos o fogo a gs, h possibilidade de um incndio.

    A medicina tem tentado, com algum sucesso, reduzir o risco - sem contanto t-lo eliminado - de contrairmos doenas srias. As pessoas ainda morrem de pneumonia, de AIDS e por envenenamento, por exemplo.

    RISCO VERSUS BENEFCIO

    Como impossvel eliminar o risco, o melhor a fazer tentar estabelecer uma compara-o entre o risco e os benefcios. Um nmero muito maior de pessoas morreria de frio se o governo banisse o uso de aquecedores a gs, por causa do risco de incndios ou exploses. Nesse caso, o benefcio ultrapassa o risco largamente e a deciso, desse modo, torna-se mais fcil.

    Em relao ao uso da energia nuclear, lorna-sc mais difcil decidir. Entre os benefcios oriundos desse processo, comparado gerao de eletricidade pela queima de combustveis fsseis, podemos citar: menor produo de poluentes precursores das chuvas cidas e a ausncia de mortes de trabalhadores nas minas de explorao de carvo. Contudo, o proces-so nuclear no isento de riscos. Emisso de poluio ou emisses catastrficas de radia-es, no caso de grandes acidentes c mortes de trabalhadores nas minas de urnio, podem acontecer.

    COMO EXPRESSAR O RISCO MATEMATICAMENTE

    O uso de mtodos de anlises matemticas do risco fornece subsdios objetivos e racionais para auxiliar na tomada de deciso.

    Uma maneira de expressar o risco matematicamente por intermdio do uso da pro-babilidade. Esta est sempre entre os nmeros zero e 1. Um evento impossvel de acontecer tem probabilidade igual a zero, ao passo que um evento certo de acontecer tem probabilida-de igual a 1. Todos os outros casos se situam entre esses dois nmeros.

    Probabilidade a proporo dos casos nos quais um evento ocorre. Por exemplo, a probabilidade de voc jogar um dado ao azar e obter um seis de uma em seis. Podemos escrever essa probabilidade como 1/6 ou 0,167.

    De acordo com Stewart (1990), a probabilidade de acontecer uma catstrofe numa usina nuclear - um acidente como o de Chernobyl, por exemplo - de um em cada 10 mil

  • anos, o que parece uma estatstica bastante segura. Porm, se prestarmos mais ateno, o resultado bem diferente. O que esse nmero significa que para cada reator nuclear, a probabilidade de que ocorra uma catstrofe em qualquer ano considerado de um em 10 mil, ou ainda, de 0,0001 por ano. No caso da Inglaterra, por exemplo, existem cerca de 40 usinas nucleares funcionando. Portanto, a probabilidade de uma catstrofe ocorrer em pelo menos uma dessas usinas, em um ano considerado, a soma das 40 probabilidades, ou seja, 0,004. A probabilidade de acontecer pelo menos uma catstrofe com essas usinas em um perodo de 25 anos 0.1, ou seja, 25 x 0,004. Isto , as chances so de uma em 10. Esse resultado no parece to confivel quanto o de um em 10 mil anos. Entretanto, esta so-mente uma entre as vrias maneiras diferentes de se dizer a mesma coisa.

    COMO CALCULAR O RISCO

    Diariamente, avies comerciais realizam um grande nmero de vos: todo ano alguns caem. Podemos estimar a probabilidade de uma queda dividindo o nmero destas pelo nmero total de vos. Quanto mais freqente um evento ocorre, mais exato pode ser a estimativa da sua probabilidade. No caso de um evento raro, a estimativa bem mais difcil. Por exemplo, qual seria a probabilidade de um grande terremoto acontecer no Rio de Janeiro?

    Ningum jamais mediu ou presenciou tal coisa; nessas condies, podemos estimar em zero a probabilidade de sua ocorrncia. Mas isso pode ser apenas uma subestimativa. Ainda que os terremotos sejam mais raros no Rio de Janeiro do que por exemplo no Japo ou na Califrnia, no se pode descartar a hiptese de que eles possam acontecer. Portanto, a probabilidade de um grande terremoto ocorrer no Rio de Janeiro muito baixa. Dizer de quanto ela , ento, extremamente difcil.

    Fontes inesperadas de risco, como por exemplo os CFCs, apresentam um nvel ainda maior de problemas para se conseguir chegar a um clculo exato. Antes de os produtores colocarem no mercado os CFCs como aerossis, investigaram os possveis efeitos desses agentes qumicos no meio ambiente, incluindo o possvel dano camada de oznio. Por serem usualmente estveis e, portanto, no poder reagir com o oznio atmosfrico, os pes-quisadores os escolheram. Infelizmente, ningum previu que os cristais de gelo presentes na camada superior da atmosfera poderiam torn-los reativos. Se uma anlise de risco omi-te um importante dano, seja porque no houve suficiente imaginao para consider-lo ou por insuficincia de dados, seu resultado ser inexato. Tambm de grande importncia a maneira como os pesquisadores coletam os dados e como estes so analisados.

    No caso dos desastres, por exemplo, raramente tm uma causa nica. Risco envolve cadeias de causas e efeitos, nos quais sries de eventos individuais se combinam para pro-duzir um desastre. Para se calcular o risco combinado, importante estimar as probabilida-des dos eventos individuais. Uma tcnica amplamente utilizada nestes casos a construo de uma rvore de falhas. Trata-se de um diagrama que mostra as possveis cadeias de even-tos que levam ao aparecimento de um dano.

  • Um simples exemplo o pra-quedas, no qual, em cada kit de aparelhagem, existe um pra-quedas principal e um reserva. O salto ser fatal se pelo menos um deles no se abrir. Nesse caso, a rvore de falhas uma cadeia de duas ligaes. Se a probabilidade de falha de um pra-quedas de uma em mil para cada um deles, ento a probabilidade total de uma em um milho.

    CLASSIFICAO DO RISCO

    Risco ambiental - o risco que ocorre no meio ambiente, seja ambiente interno -no caso de uma indstria, por exemplo - ou externo. O risco ambiental pode ser classificado de acordo com o tipo de atividade (exploso, descarga contnua); ex-posio (instantnea,crnica); probabilidade de ocorrncia; severidade, reversibili bilidade, visibilidade, durao e a ubiqidade de seus efeitos (Sors, 1982). No con contexto da gesto governamental, o risco ambiental pode ser tambm classifica-do como: sade pblica, recursos naturais, desas tres naturais, e introduo de no-vos produtos.

    Para a Organizao das Naes Unidas para a Proteo Ambiental (United Nations Environmental Proteccion - UNEP), O risco pode ser classificado como:

    Risco direto - probabilidade de que um determinado evento ocorra, multiplicada pelos danos causados por seus efeitos.

    Risco de acidentes de grande porte (catstrofe) - caso especial de risco direto em que a probabilidade de ocorrncia do evento baixa, mas suas conseqncias so muito prejudiciais.

    Risco percebido pelo pblico - a percepo social do risco depende em grande parte de quem responsvel pela deciso sobre aceit-lo ou no. A facilidade de compreenso e de aceitao do risco que se corre depende das informaes forne-cidas, dos dispositivos de segurana existentes, do retrospectivo da atividade e dos meios de informao.

    Nas atividades industriais, podemos encontrar, ainda, dois tipos de riscos:

    Risco com caractersticas crnicas - aquele que apresenta uma ao contnua por longo perodo. Por exemplo, os efeitos sobre os recursos hdricos, a vegeta-o, o solo e a sade.

    Risco agudo - decorrente de emisses de energia ou matria em grandes con-centraes, em um curto espao de tempo.

  • Riscos tecnolgicos ambientais (RTAs) - todos os problemas relativos aos conta minantes ambientais esto, de uma maneira ou de outra, associados ao crescente processo de industrializao verificado desde o final do sculo passado, em que ao lado do incremento da pesquisa, do desenvolvimento e da difuso de novas tecnologias, os processos de produo e seus produtos tm contribudo para pr em perigo ou causar prejuzos sade do homem e dos ecossistemas. Esses conta minantes ambientais so, na atualidade, denominados de riscos tecnolgicos ambi-entais e classificam-se em dois grupos:

    Riscos tecnolgicos - os decorrentes das atividades desenvolvidas pelo homem.

    Riscos naturais - os decorrentes de distrbios da natureza.

    fundamental ressaltar que os riscos de carter tecnolgico podem ser controlados tanto na probabilidade de ocorrncia quanto nas conseqncias. J os riscos de carter natural, em geral, somente podem ser controlados no que se refere a suas conseqncias (Awazu, 1990).

    ACEITAO DO RISCO

    Algum, em determinado momento, deve decidir se um risco aceitvel ou no. Mas o que um risco aceitvel? Uma resposta ruim para esta indagao seria: um risco aceit-vel se conseguirmos um benefcio, enquanto outros sofrero os efeitos. Estocar resduos perigosos timo, desde que seja mantido longe de mim. Um medicamento 'seguro' se posso obter lucros por meio de sua venda e outras pessoas correm risco pelo seu uso.

    Uma resposta melhor para este problema seria a de assumir que os benefcios deveri-am suplantar os riscos para a maioria das pessoas que estivessem envolvidas. Muitos pen-sam que a convenincia de dirigir um carro supera o risco de se envolver em um srio acidente. Os que praticam esportes perigosos como corrida de carros, consideram que o prazer suplanta o risco - ou talvez subestimem o risco que correm.

    A maneira como as pessoas reagem ao risco nem sempre reflete sua probabilidade. Por exemplo, a probabilidade de morrermos vitimados por um ataque terrorista em um avio pequena, se comparada com a probabilidade de morrermos em um acidente de nibus que faz o trajeto at o aeroporto. A maioria dos viajantes, contudo, est mais preocu-pada com o possvel ataque terrorista (Stewart, 1990).

    A matemtica tampouco responde a essa questo. Pode, sim, nos dar uma boa idia dos perigos envolvidos em alguma atividade c, ainda, nos fornecer importantes subsdios para debate. O simples fato de que a matemtica produz pequenas probabilidades de risco no significa que este seja imediatamente 'aceitvel'.

    Por exemplo, a fibra de asbesto pode causar uma doena fatal do pulmo. A probabi-lidade de contrairmos tal doena bem pequena, no entanto, isto no significa que devamos

  • continuar usando asbesto em vrias produtos do nosso cotidiano, como telhas, freios etc. Em todo caso, o muito pequeno nem sempre to pequeno quanto parece. Em uma populao de 40 milhes, uma doena com uma probabilidade anual de morte de um em um milho matar 40 pessoas por ano. Novamente devemos usar nosso senso comum de julgamento: os nme-ros, por si s, no podem tomar decises por ns.

    Outro problema com alguns mtodos de Avaliao de Risco so as inexatides dos dados, que podem provocar erros bastante expressivos. A anlise sensitiva um mtodo exis-tente para calcular esses erros.

    Finalmente, a maneira como os seres humanos reagem ao risco influenciada tambm pelos fatores psicolgicos. Trabalhadores de profisses perigosas quase sempre falham em tomar precaues. Esto to acostumados ao perigo que passam a ignor-lo. Mesmo se tomar-mos precaues, estas nem sempre so benficas como pensamos. Uma teoria conhecida como hiptese da compensao do risco afirma que as precaues com a segurana podem levar ao aumento da exposio ao risco (Stewart, 1990).

    GESTO AVALIAO DA SADE AMBIENTAL

    HISTRICO CONCEITOS

    Os problemas ambientais modernos so marcados pela diversidade, magnitude e com-plexidade, envolvendo aspectos polticos, sociais, de sade e econmicos de grande relevn-cia. Recebendo ampla cobertura dos meios de comunicao, esses problemas projetaram-se no centro das preocupaes pblicas, tornando-se smbolo de uma nova cultura e inscreven do-se na agenda poltica mundial.

    O gerenciamento de tais problemas era at recentemente voltado para o meio ambiente local ou regional, restringindo-se quase sempre ao espao das fronteiras nacionais. O apareci-mento de impactos de abrangncias continentais e globais, como as chuvas cidas e o efeito estufa, aliado a um rpido processo de globalizao da economia e da informao, mostraram a necessidade de se expandir o gerenciamento ambiental em nvel planetrio. Um exemplo dessa nova estratgia so as convenes mundiais como a do clima, a da biodiversidade e o protocolo de Montreal sobre a camada de oznio.

    O conceito moderno de gerenciamento ambiental no se limita somente s questes rela-tivas organizao, mas incorpora tambm instrumentos de mercados e conhecimentos de di-versas cincias como economia, engenharia, ecologia, meio ambiente, sade, sociologia, segu-rana etc. Essa nova concepo de gesto multidisciplinar, na qual se reconhece que a sade do homem e dos ecossistemas est na dependncia dos fatores econmicos, sociais e ambientais, chamada aqui de gerenciamento da sade ambiental. Dentro dessa viso, fala-se, por exemplo, em sade ambiental interna, relacionada sade do meio ambiente das indstrias/empresas, de ecossistemas industriais, isto , da produo industrial baseada no funcionamento dos ecossistemas, ou ainda, da gesto de acidentes (desastres) e das polticas de desenvolvimento.

  • A preocupao com o meio ambiente do planeta recente. S comeou a tomar forma internacional a partir de 1972, quando aconteceu, em Estocolmo, Sucia, a 1 Conferncia Mundial sobre o Meio Ambiente.

    Anos depois foi formada uma comisso internacional encarregada de estudar e pro-por polticas para conciliar o meio ambiente com o desenvolvimento econmico. Tal comis-so publicou, em 1987, um documento conhecido como Relatrio Brundtland, que estabe-leceu, pela primeira vez, uma correlao entre meio ambiente e crescimento econmico, tambm chamado de crescimento sustentvel. Essa nova abordagem da questo ambiental foi referendada durante a 2 a Conferncia Mundial sobre o Meio Ambiente, realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. Neste evento as questes de sade, segurana e desen-volvimento social e econmico foram definitivamente incorporadas ao conceito clssico da gesto ambiental, hoje chamada de gesto da sade ambiental. Um dos pontos centrais do gerenciamento da sade ambiental, em nvel macro ou micro, o estabelecimento de uma poltica de sade ambiental.

    POLTICA DE SADE AMBIENTAL

    O princpio do crescimento sustentvel est hoje presente em todas as polticas ambientais, desde os nveis locais at o nvel global. Pensar globalmente e agir localmente um objetivo a ser perseguido.

    A implantao de um programa de gesto da sade ambiental, seja no nvel micro ou macro, exige a definio prvia de uma poltica de sade ambiental. Considerando-se devi-damente os problemas e caractersticas polticas, sociais, econmicas e administrativas de cada pas, pode-se dizer que desejvel que a poltica de sade ambiental de qualquer nao parta de uma estruturao legal e institucional originada no poder federal ou central, com um carter normativo. A definio de objetivos e metas a serem atingidos em termos nacionais, assim como a fixao das prioridades e condies necessrias para a participa-o de fundos financeiros nacionais ou internacionais nesses programas, deve estar clara-mente anunciados. Alm disso, as legislaes nacionais devem ser adaptadas constante-mente aos princpios das convenes internacionais.

    O conceito moderno de poltica ambiental (sade ambiental) afirma que esta deve anunciar claramente os objetivos a serem perseguidos, o horizonte de tempo necessrio para execut-los e os instrumentos para sua efetivao.

    A maioria dos pases desenvolvidos, notadamente os da Europa, como Holanda e Alemanha, possuem polticas ambientais claramente definidas, nas quais o princpio do desenvolvimento sustentvel est consubstanciado atravs dos seguintes postulados:

    gesto integrada das cadeias de produo, centrada em um ciclo o mais hermtico possvel do material, criando um circuito fechado desde a matria-prima at o res-duo, diminuindo as emisses, os despejos e a perda de matria-prima;

  • utilizao racional da energia, centrada sobre uma diminuio do consumo de combustveis fosseis e um rpido aumento do uso de energias alternativas dur-veis como o sol, o vento e a gua;

    melhora da qualidade das matrias primas e dos produtos, para aumentar o tempo do ciclo de vida e assim reduzir os problemas causados pelos rejeitos no meio am-biente.

    HOLANDA: UM EXEMPLO DE POLTICA DE SADE AMBIENTAL

    A Holanda tem, hoje, uma das polticas ambientais mais avanadas do planeta. a que mais se aproxima do conceito de sade ambiental proposto neste livro. Sua poltica ambiental aprovada pelo parlamento e os horizontes de tempo para obteno dos resulta-dos esperados so claramente definidos. Apresentamos, a seguir, um resumo dessa poltica.

    Seu objetivo resolver os problemas de sade ambiental, em princpio no prazo de uma gerao, inspirando-se no conceito do crescimento durvel. fato aceito que este objetivo no ser atingido para todos os tipos de poluies existentes, pois enquanto uma parte das conseqncias dos danos se far sentir dentro de algumas dezenas de anos, outra necessitar de muito mais tempo. Cientes destes problemas, os responsveis optaram por um prazo intermedirio, entre 20 e 25 anos, para controlar a situao ambiental e evitar sua continuada deteriorao.

    Trs caractersticas norteiam essa poltica:

    uma dupla abordagem em nvel dos efeitos e em nvel das fontes de poluio, com uma clara preferncia por esta ltima;

    uma que visa a responsabilizar os grupos-alvo pela proteo do meio ambiente. As empresas e os cidados devem assumir suas responsabilidades modifican-do comportamentos. Esta abordagem justificada pelo princpio segundo o qual as leis e as medidas de proteo ambiental s podem ser eficientes se a sua necessidade ou seu valor percebido;

    a terceira caracterstica visa integrao externa, a saber, a integrao da dimen-so ambiental com as outras polticas do poder pblico como agricultura, trans-porte, sade, indstria, energia, educao, construo etc.

    De acordo com o Plano Nacional do Meio Ambiente (National Milieu Policy - N M P ) , aprovado por aquele parlamento em 1985, espera-se alcanar os seguintes resulta-dos at o ano 2010: reduo das substncias acidificantes de 60% a 80%; a produo total de resduos deve diminuir em 10%, e 55% dos resduos produzidos devem ser reciclados. Os fabricantes sero os responsveis pelos resduos de sua produo, o que implica que os mesmos devero recuperar os produtos aps sua utilizao, para

  • ento recicl-los. A utilizao de pesticidas dever ser reduzida metade ate o ano 2000. Para resolver o problema de excesso de produo de rejeitos de animais, seria preciso que, em 1994, se tivesse tido a possibilidade de dar tratamento adequado a seis milhes de toneladas, caso contrrio, necessitar-se-ia reduzir-se o nmero total de animais no pas. O crescimento da circulao automotiva dever ser diminudo me-tade, o que envolver uma diferente utilizao dos veculos, aumentando-se o uso do transporte em comum. Para lutar contra as mudanas climticas, os rejeitos de dixido de carbono devero ser estabilizados nos nveis medidos em 1994. A utilizao dos CFCs foi praticamente encerrada em 1995 (Ministerie van Volkshuisvesting, 1992).

    GESTO DA SADE AMBIENTAL INTERNA (INDSTRIA)

    Pensar globalmente e agir localmente hoje uma filosofia que est se expandindo rapidamente. Neste sentido, o gerenciamento ambiental interno, ou seja, da indstria, tem se desenvolvido intensamente. Dentro desta perspectiva, surgiu ento o conceito da prote-o do meio ambiente industrial, abrangida pelo princpio da qualidade total, que requer, ao lado dos objetivos quantitativos de produo, a considerao de metas para diversas outras variveis, como eficincia, custos, segurana e qualidade dos produtos.

    Proteger o meio ambiente passou a ser objetivo comum e permanente de todos os setores da empresa, contemplado no quadro de objetivos mltiplos prioritrios e traduzido em cuidados ambientais, de sade e de segurana ao longo de todas as operaes industriais, com reflexos nas matrias primas selecionadas, produtos, processos, instalaes e prticas de trabalho.

    Nos ltimos anos foram tomadas vrias iniciativas destinadas a estabelecer um padro de gerenciamento ambiental aplicvel por diferentes segmentos econmicos. Assim, a partir da norma Britnica BS7750, foi e ainda est se desenvolvendo a srie ISO 14000, da International Standardization Organization, sediada em Genebra, que pretende estabelecer padres para sistemas de gerenciamento ambiental (ISO 14001); auditoria ambiental (ISO 14010,14011 e 14012); rotulagem ambiental (ISO 14020,14021 e 14024); avaliao do ciclo de vida (ISO 14040) e aspectos ambientais em normas de produtos (ISO 14060). No Brasil, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (INMETRO) o responsvel pela aplicao, credenciamento e certificao da srie ISOs. Atualmente, s a ISO 14001 est sendo operacionalizada em nosso pas.

    interessante ressaltar que a preocupao com o meio ambiente interno das indstrias de-correu do aumento da percepo dos riscos e impactos ambientais por parte dos consumidores, que passaram a preterir produtos gerados a partir de tecnologias menos agressoras ao meio ambiente.

    SITUAES DE RISCO (ACIDENTES) POLTICA DE DESENVOLVIMENTO

    Sejam de origem natural ou antropognica, os acidentes representam grande ameaa ao desenvolvimento sustentvel. Recursos preciosos so perdidos em conseqncia do fato de que um desastre faz desaparecer os resultados dos investimentos.

  • Freqentemente as atividades dedicadas ao desenvolvimento so bloqueadas por cau-sa de um desastre que assola determinada regio, exigindo a reestruturao de investimen-tos planejados a longo prazo.

    Uma deficiente poltica de desenvolvimento costuma causar danos ao meio ambien-te, que, por sua vez, pode provocar desastres de origem natural ou antropognica, ou pre-cipitar o surgimento deles.

    Exemplos disso so as cidades superpovoadas que crescem s custas da destruio do meio ambiente, com bairros construdos nos leitos dos rios, o desflorestamento agravando as conseqncias das inundaes e as avalanches de terra e lodo, ou os despejos no contro-lados que contaminam as guas.

    Junto a isso, outros eventos recentes trouxeram tona o assunto da preveno, segu-rana e preparao das p