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AVALIAÇÃO DO RISCO AMBIENTAL CALOR EM UM LABORATÓRIO DE SOLDA Daniele Drumond Neves (Multivix ) [email protected] Denise Simões Dupont Bernini (Multivix ) [email protected] Kelly Schaefer David Epichin (Multivix ) [email protected] Durante a jornada de trabalho do docente no laboratório de solda, o mesmo fica exposto a riscos químicos, fumos metálicos, e riscos físicos, ruído contínuo e intermitente, calor e radiações não ionizantes. O laboratório tem por finalidade ppromover treinamentos na área de soldagem tanto para alunos da instituição como para a comunidade. O setor conta com cinco docentes, vinte cabines equipadas com material para solda. Procedeu-se uma avaliação quantitativa do agente físico calor realizando uma medição no local onde permanecem os trabalhadores. Utilizou-se um medidor de stress térmico que indica o Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo - IBUTG, para determinação do limite de tolerância. O resultado de IBUTG obtido foi comparado com os valores do Anexo nº3 da NR 15. Além disso, estudaram-se medidas de controle desse risco, de modo a preservar a saúde e integridade física dos trabalhadores. Palavras-chave: Exposição, Riscos, Calor, Solda, Insalubridade, IBUTG XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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AVALIAÇÃO DO RISCO AMBIENTAL

CALOR EM UM LABORATÓRIO DE

SOLDA

Daniele Drumond Neves (Multivix )

[email protected]

Denise Simões Dupont Bernini (Multivix )

[email protected]

Kelly Schaefer David Epichin (Multivix )

[email protected]

Durante a jornada de trabalho do docente no laboratório de solda, o

mesmo fica exposto a riscos químicos, fumos metálicos, e riscos físicos,

ruído contínuo e intermitente, calor e radiações não ionizantes. O

laboratório tem por finalidade ppromover treinamentos na área de

soldagem tanto para alunos da instituição como para a comunidade. O

setor conta com cinco docentes, vinte cabines equipadas com material

para solda. Procedeu-se uma avaliação quantitativa do agente físico

calor realizando uma medição no local onde permanecem os

trabalhadores. Utilizou-se um medidor de stress térmico que indica o

Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo - IBUTG, para

determinação do limite de tolerância. O resultado de IBUTG obtido foi

comparado com os valores do Anexo nº3 da NR 15. Além disso,

estudaram-se medidas de controle desse risco, de modo a preservar a

saúde e integridade física dos trabalhadores.

Palavras-chave: Exposição, Riscos, Calor, Solda, Insalubridade,

IBUTG

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

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1. Introdução

Empresas dos mais diversos segmentos oferecem condições inadequadas à saúde do

trabalhador em seu ambiente laboral, seja ela relacionada à ergonomia, vibrações, fumos

metálicos, radiação não ionizante, ruídos ou a condições de desconforto térmico.

De acordo com Lida (2000), quando um funcionário é obrigado a suportar altas temperaturas,

durante a sua jornada, observa-se uma baixa significativa no rendimento e velocidade de

trabalho, fazendo-se necessário aumentar o número de pausas. É possível verificar também

que ocorre uma maior propensão a acidentes (principalmente em temperaturas superiores a

30ºC), uma vez que diminui a concentração do trabalhador durante a realização da sua tarefa.

Os primeiros empenhos organizados para o estabelecimento de índices de conforto térmico

foram realizados nos Estados Unidos no período de 1913 a 1923. Desde então esse assunto

vem sendo estudado em diferentes partes do mundo e uma série de métodos para avaliação de

conforto térmico tem sido propostos (RUAS, 2001).

Dentro desse contexto, surgiram as normas brasileiras para avaliar a condição de conforto

térmico no ambiente laboral, a exemplo tem-se a Norma de Higiene Ocupacional 06 (NHO 6),

a Norma regulamentadora 15 (NR 15) e a Norma Regulamentadora 17 (NR 17), que visam

contribuir com a saúde do trabalhador, colaborando no controle da exposição e na prevenção

de doenças ocupacionais.

Devido aos fatores causados pelo stress térmico, este trabalho propõe investigar a exposição

ocupacional ao calor em um ambiente de ensino, laboratório de solda, onde o docente fica

exposto ao agente durante três horas, duração da aula prática. E ainda propor medidas de

controle a este risco ambiental e aos demais identificados no local, apenas através de

levantamento bibliográfico, de forma a preservar a saúde do trabalhador no seu ambiente

laboral.

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1 Objetivos

1.1 Objetivo geral

Investigar a exposição ocupacional ao calor no laboratório de solda, através do método do

Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo (IBUTG), definida pela NR 15, anexo nº 3,

de forma a garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores.

1.2 Objetivo específico

a) Realizar a medição das variáveis que influenciam no calor;

b) Identificar se o risco ambiental calor é capaz de gerar insalubridade à atividade e

estudar as medidas de controle de modo a preservar a saúde dos trabalhadores.

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3 Revisão bibliográfica

3.1 Corte e solda de materiais metálicos

De acordo com a NR (Norma Regulamentadora) 34, considera-se como trabalho a quente:

―As atividades de soldagem, goivagem, esmerilhamento, corte ou outras que possam gerar

fontes de ignição tais como aquecimento, centelha ou chama‖.

Dentro da fabricação de peças metálicas, a soldagem é o mais importante processo industrial.

Este processo e processos afins são também utilizados na recuperação de peças desgastadas,

para a aplicação de revestimentos de características especiais sobre superfícies metálicas e

para corte. A sua relativa simplicidade operacional dentre outros fatores, determinam o

sucesso da soldagem (MONDENESI et al, 2012).

Sendo assim, solda consiste na união de peças metálicas por diversos processos, tendo como

princípio transformar as superfícies de união em estado líquido ou pastoso, através do calor,

pressão ou ambos simultaneamente. Poderá ou não ser empregado metal de adição para se

executar efetivamente a união (ITSEMAP, 2010).

As três fontes diretas de calor mais comuns são as seguintes:

a) chama, produzida pela combustão de um gás combustível com ar ou oxigênio;

b) arco elétrico, produzido entre um eletrodo e as peças a soldar, ou entre dois eletrodos;

c) resistência elétrica oferecida pela passagem de corrente entre duas ou mais peças a soldar.

Em especial, utiliza-se amplamente o arco elétrico na fabricação industrial, porque se aplica a

quase todos os metais a serem soldados e em todas as espessuras imagináveis (SENAI, 1996).

A solda apresenta algumas vantagens como: redução do peso; economia de tempo; melhor

fluxo de força; suporte de elevadas solicitações mecânicas; quando comparado a outros

processos de junções de peças, tais como rebitar, aparafusar, soldar brando, etc.

Os processos antigos de soldagem quase não têm aplicação devido ao aperfeiçoamento. Com

a utilização de novas tecnologias, atingiram-se elevados índices de eficiência e qualidade na

soldagem (SENAI, 1996).

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3.2 Calor

De acordo com Martins (2005), define-se como calor uma forma de energia que pode

provocar a evaporação dos líquidos, fundir os sólidos e dilatar os corpos. Esta energia pode

ser produzida pela combustão ou ser originada pelo atrito de corpos, entre outras

possibilidades.

O organismo humano funciona como uma máquina, onde o hipotálamo, localizado no sistema

nervoso central, regula sua temperatura. A partir de qualquer variação térmica, a temperatura

do corpo ativa mecanismos internos de compensação. Caso haja a necessidade de abaixar a

temperatura interna, o hipotálamo promove vaso dilatação e sudorese, de forma a transferir

esse calor para o meio externo. Embora o corpo se adapte ao meio, os limites de temperatura

interferem consideravelmente no bem estar das pessoas (RUAS, 2001).

O agente físico calor é responsável por causar o stress térmico cujo grau varia de acordo com

a idade, característica do corpo e a saúde do trabalhador. A Tabela 1 identifica os possíveis

sintomas de stress térmico associados a intervalos de temperatura aparente ou índice de calor

(IC) (SILVA E ALMEIDA, 2010).

Tabela 1- Sintomas de stress térmico

Temperatura Aparente Nível de Perigo Síndrome de Calor (Sintomas)

27º a 32ºC Atenção

Possível fadiga em casos de

exposição prolongada e atividade

física

32º a 41ºC Muito Cuidado

Possibilidade de câimbra,

esgotamento e insolação para

exposição prolongada e atividade

física

41º a 54ºC Perigo

Câimbra, insolação, e esgotamento

prováveis. Possibilidade de dano

cerebral (AVC) para exposições

Superior a 54ºC Extremo Perigo Insolação e Acidente Vascular

Cerebral (AVC) iminente.

Fonte: Adaptado de Ciocci (2004) apud Silva e Almeida (2010)

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3.3 Conforto térmico

O homem é uma máquina biológica, estando sujeito a adaptação das condições do seu

ambiente laboral. A sua temperatura interna mantém-se constante em 37ºC ± 0,3ºC,

independentemente da temperatura externa. As condições físicas adversas do ambiente de

trabalho podem levar à execução da atividade fora da zona de conforto térmico, o que, por sua

vez, interfere na satisfação e execução do trabalho (WYON, 1996).

Sendo assim, define-se conforto térmico, de acordo com Ruas (1999), como:

A sensação de bem-estar experimentada por uma pessoa, como

resultado da combinação satisfatória, nesse ambiente, da temperatura

radiante média (trm), umidade relativa (UR), temperatura do ambiente

(ta) e a velocidade relativa do ar (vr) com a atividade lá desenvolvida e

com a vestimenta usada pelas pessoas.

As condições de conforto térmico são função de uma série de variáveis. Para avaliar tais

condições, o indivíduo deve estar apropriadamente vestido e sem problemas de saúde ou de

aclimatação. Existem diversas variáveis para avaliar o conforto térmico, variando

diferentemente algumas delas ou até todas, porém as condições finais podem proporcionar

sensações ou respostas semelhantes ou até iguais. Este fato levou os estudiosos a desenvolver

índices que agrupam as condições que proporcionam as mesmas respostas — os índices de

conforto térmico (SILVA E ALMEIDA, 2010).

De acordo com Costa et al (2004), o conforto térmico pode ser analisado através de diversos

métodos, que têm por base o balanço térmico da pessoa, aliados, em alguns casos, a aspectos

subjetivos. Esses métodos têm aplicação específica, sendo regulamentados por normas

internacionais. Entre essas normas destacam-se a ASHRAE 55/92, e a ISO 7730/94, que se

destinam à avaliação de ambientes termicamente moderados. A primeira utiliza o índice

―temperatura efetiva‖ e recomenda uma percentagem de satisfação mínima de 80% dos

usuários. A segunda adota o índice ―voto médio esperado‖ (PMV), que indica a sensação

térmica esperada, e o índice de ―percentagem de pessoas insatisfeitas‖ (PPD), que indica a

percentagem de insatisfação com a referida sensação, devendo ser no máximo 10%.

Conforme Ruas (1999), as variáveis que apresentam maior influência no conforto térmico são

reunidas em dois grandes grupos: as de natureza ambiental e as de natureza pessoal.

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Consideram-se variáveis de natureza ambiental, temperatura do ar, temperatura radiante

média, velocidade relativa do ar e umidade relativa do ar ambiente. E as de natureza pessoal,

tipo de vestimentas e tipo de atividade física executada, representada pelo metabolismo

(RUAS, 1999).

De acordo com o mesmo autor, foi realizada a separação das variáveis apenas para efeito de

classificação, uma vez que o que vai determinar a sensação de conforto ou desconforto

térmico é o efeito sinérgico de todas as variáveis.

Howell e Stramler apud Xavier (1999) identificam que além das variáveis expostas existe o

fator psicológico que deve ser levado em consideração nos estudos de conforto térmico, sendo

tão ou mais significativas do que as padronizadas. Considera-se então: temperatura percebida

pela pessoa, sentimento próprio de se sentirem mais aquecidas ou mais refrescadas do que

outras pessoas, tolerância percebida ou tolerabilidade, ajustamento ou adaptação.

Em linhas gerais, o conforto térmico é alcançado por trocas térmicas que são influenciados

por vários fatores, ambientais e pessoais, governados por processos físicos, como convecção,

radiação, evaporação e eventualmente condução. Além do equilíbrio entre o corpo e o meio

ambiente (XAVIER, 1999).

3.3.1 Equilíbrio térmico

Para que uma pessoa encontre o conforto térmico, é necessária a averiguação de três

condições fisiológicas e ambientais, sem as quais o estado de conforto não é capaz de ser

atingido, sejam elas:

―que a pessoa encontre a neutralidade térmica; que a temperatura de

sua pele e a sua taxa de secreção de suor, estejam dentro de certos

limites compatíveis com sua atividade, que a pessoa não esteja sujeita

a nenhum tipo de desconforto térmico localizado‖ (Xavier, 1999).

O organismo ganha ou perde calor para o meio ambiente conforme a equação do equilíbrio

térmico (RUAS, 2001).

Onde:

M – Calor produzido pelo metabolismo, sendo um calor sempre ganho (+);

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C – Calor ganho ou perdido por condução/convecção

R – Calor ganho ou perdido por radiação (+/-)

E – Calor sempre perdido por evaporação (-)

Quando Q>0, tem-se o acúmulo de calor, o que caracteriza-se como sobrecarga térmica, ou

seja, locais onde há temperaturas elevadas, já quando Q<0, indica perda de calor, que

identifica hipotermia, locais com temperaturas baixas.

3.4 Legislação pertinente

3.4.1 Norma Regulamentadora 15 (NR 15)

A NR 15 (1978) trata de condições insalubres dos locais de trabalho, apresentando limites de

tolerância, além de outros agentes, para exposição ao calor. De acordo com as normas

regulamentadoras, os trabalhadores devem conviver em ambientes que lhes proporcionem

conforto e condições para um bom desempenho no trabalho.

Em seu anexo 3, a norma identifica os limites de tolerância para exposição ao calor, onde a

mesma deve ser avaliada através do ―Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo‖ –

IBUTG.

3.4.2 Norma Regulamentadora 17 (NR 17)

―Esta norma visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação

das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto,

segurança e desempenho eficiente.‖ (NR 17, 1978)

O artigo 17.5 desta norma estabelece os parâmetros para a condição de conforto térmico.

Condições ambientais de trabalho:

―17.5.1‖. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas

às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do

trabalho a ser executado.

17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que

exijam solicitação intelectual e atenção constante, tais como: salas de

controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise

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de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições

de conforto:

b) índice de temperatura efetiva entre 20ºC (vinte) e 23ºC (vinte e três

graus centígrados);

c) velocidade do ar não superior a 0,75m/s;

d) umidade relativa do ar não inferior a 40 (quarenta) por cento―

(NR17,1978).

3.4.3 Norma de Higiene Ocupacional 6 (NHO 6)

O objetivo da norma é ―estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação da exposição

ocupacional ao calor que implique em sobrecarga térmica ao trabalhador, como consequente

risco potencial de dano à sua saúde‖ (NHO 06, 2001).

A avaliação também é feita utilizando IBUTG, porém difere da NR 15 (1978), apenas em

relação aos intervalos da taxa metabólica, uma vez que a NHO 06 (2001) apresenta mais

intervalos com variações menores de um para o outro.

3.4.4 International Organization for Standardization (ISO)

As normas internacionais referente aos estudos de conforto térmico foram elaboradas pela

American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers, Inc. (ASHRAE).

A relação entre estas normas é o fato de que ambas usam como base estudos realizados em

câmaras (XAVIER, 1999).

As principais normas encontram-se relacionadas abaixo:

ISO 7730/94 - Ambientes térmicos moderados - determinação dos índices PMV e PPD e

especificações das condições para conforto;

ISO/DIS 7726/96 - Ambientes térmicos - instrumentos e métodos para a medição dos

parâmetros físicos;

ISO 8996/90 - Ergonomia - determinação da produção do calor metabólico;

ISO 10551/95 - Ergonomia de ambientes térmicos - verificação da influência do ambiente

térmico usando escalas subjetivas de julgamento;

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ISO 9920/95 - Ergonomia de ambientes térmicos - estimativa do isolamento térmico e

resistência evaporativa de um traje de roupas;

4 Materiais e métodos

Para elaboração deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas tanto em livros

didáticos como em trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação, dissertações de

mestrado e teses de doutorado, além das normas regulamentadoras aplicáveis.

Os procedimentos experimentais relacionados foram realizados no Laboratório de Soldagem

de uma instituição de ensino, situado na Grande Vitória, Espírito Santo.

4.1 Caracterização do laboratório de soldagem

O laboratório de soldagem tem como principal atividade desenvolvimento de treinamentos

para os alunos da instituição. Dentre eles, curso de solda tipos TIG, MIG/MAG, eletrodo

revestido e oxicorte. Além disso, são ministrados cursos preparatórios para certificação de

soldadores e cursos abertos a comunidade, Figura 1.

Figura 1- Laboratório de Soldagem

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Contém vinte cabines onde são realizadas as soldas de diferentes tipos, Figura 2. Cada cabine

apresenta uma bancada de soldagem, banco, equipamento de solda e cortina de material não

combustível.

Figura 2 - Cabine de soldagem

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4.2 Avaliação do agente calor

Avaliou-se a exposição ao agente calor através do índice de Bulbo Úmido – Termômetro de

Globo (IBUTG), conforme ANEXO Nº 13 da NR 15 (1978). As medições foram realizadas

nos locais onde permanecem os trabalhadores, a altura da região do corpo mais exposta

(Figura 3).

Figura 3: Profissional realizando a soldagem

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Como o local de estudo é um ambiente interno sem carga solar, empregou-se a seguinte

equação:

Onde:

tbn = temperatura de bulbo úmido natural

tg = temperatura de globo

Para tanto, utilizou-se além do termômetro de bulbo úmido natural o termômetro de globo.

Ressalta-se que o funcionário se encontra em um regime de trabalho intermitente, com

período de descanso em outro local (local de descanso), portanto fez-se necessário a medição

de tbn e tg tanto para o local de trabalho como para o de descanso.

O local de descanso (Figura 4) consiste em um ambiente termicamente mais ameno, com o

docente exercendo uma atividade mais leve, que no caso seria de pé, em máquina ou bancada

trabalhando principalmente com os braços, ou seja, seria o momento em que o aluno ou

docente estaria lavando a peça que está sendo soldada.

Figura 4: Local de descanso

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A partir de observações feitas no dia da medição, identificou-se o regime de trabalho do

profissional e o tipo de atividade. A partir daí foi possível encontrar a taxa de metabolismo

no Quadro Nº 3 do anexo Nº 3 da NR 15 (1978).

Calculou-se então o metabolismo médio e em seguida verificou-se o limite de tolerância no

Quadro Nº 2 do anexo Nº 3 da NR 15, posteriormente foi realizado o cálculo do valor de

IBUTG médio ponderado para confrontar com o limite de tolerância.

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5 Resultados e discussões

5.1 Avaliação do agente físico calor no laboratório de soldagem

As avaliações foram feitas no local de trabalho e no local de descanso, Tabela 2.

Tabela 2 - Cálculo do IBUTG no local de trabalho e descanso

Parâmetros Local de Trabalho Local de Descanso

tbn (ºC) 27 25

tg (ºC) 43 33

(ºC)

31,8 27,4

O regime de trabalho consiste em tempo de trabalho de 15 minutos e tempo de descanso de 45

minutos. Sendo que os períodos de descanso de acordo com a NR 15 são considerados como

tempo de serviço.

A taxa de metabolismo foi identificada por atividade, conforme o Quadro N º3 do Anexo Nº 3

da NR 15, onde percebeu-se:

Trabalho leve: de pé, trabalho leve em máquina ou bancada principalmente com os

braços = 150 Kcal/h;

Trabalho moderado: de pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma

movimentação = 220 Kcal/h;

A partir daí, calculou-se o metabolismo de acordo com a equação:

Onde:

Mt = taxa de metabolismo no local de trabalho.

Tt = Soma dos tempos, em minutos, em que se permanece, no local de trabalho.

Md = taxa de metabolismo no local de descanso.

Td = Soma dos tempos, em minutos, em que se permanece, no local de trabalho.

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Confrontando o resultado (M=167,5 Kcal/h) com o Quadro Nº 2 do Anexo Nº 3 da NR 15,

utilizou-se a faixa de metabolismo de 175 Kcal/h, sendo assim o valor máximo de IBUTG

(Limite de Tolerância) é de 30,5ºC.

Quadro 1- Limite de tolerância de acordo com a NR 15, Quadro Nº2, Anexo Nº 3

Fonte: Adaptado da NR 15, Quadro Nº2, Anexo Nº 3

Ressalta-se que não foi utilizado para esse estudo a NHO 06 devido ao fato de apenas a NR

apresentar exigência legal.

Para saber se o ambiente é considerado ou não insalubre calculou-se o valor médio ponderado

de IBUTG de acordo com a equação, utilizando os valores obtidos na Tabela 2.

Logo, como o limite de tolerância do agente calor para esse atividade é de 30,5ºC e o IBUTG

médio ponderado é de 28,5ºC. Observa-se que o resultado obtido com a avaliação está abaixo

do limite de tolerância. Porém, mesmo assim faz-se necessário a adoção de medidas

preventivas.

5.2 Medidas preventivas relacionadas à exposição ocupacional ao calor

Mesmo o valor de IBUTG médio ter dado abaixo do limite de tolerância, faz-se necessário a

adoção de algumas medidas. Constatou-se em visita ao local de estudo que o laboratório de

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solda da unidade de ensino conta com medidas de seguranças nos três aspectos: local de

trabalho, pessoal e equipamento.

É necessário que todas as pessoas que utilizam pela primeira vez o laboratório passem por um

treinamento onde são apresentados os principais riscos da atividade e as medidas de

precaução, bem como os equipamentos de proteção individual (EPIs) que devem ser

utilizados.

5.2.1 Medida de segurança no local de trabalho

O local apresenta medidas de segurança relacionada ao combate e incêndio, como extintores

(Figura 5) e barreiras contra fogo e respingos (Figura 6) que também protegem contra

radiação não ionizante.

Figura 5 - Extintor no laboratório de solda

Figura 6 - barreiras contra fogo e respingos e radiação não ionizante

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5.2.2 Medida de segurança pessoal

Todos que realizam qualquer atividade dentro do ambiente de laboratório devem estar usando

o EPI adequado, conforme a NR 06 (Figura 7 e Figura 8). Porém ressalta-se o fato que a

emprega não é obrigada a fornecer o EPI para alunos.

Figura 7: Placa indicativa do uso de EPI

Figura 8: Funcionário usando EPI no laboratório de Solda

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De acordo com a NR 15 (1978), no seu artigo 15.4.1,

A eliminação ou neutralização da insalubridade deverá ocorrer:

a) com a adoção de medidas de ordem geral que conservem o ambiente de trabalho dentro dos

limites de tolerância;

b) com a utilização de equipamento de proteção individual.

Portanto, todas as medidas preventivas estão sendo realizadas no local de trabalho

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6 CONCLUSÃO

Assim como descrito no objetivo, após todo o procedimento para reconhecimento e avaliação

do risco ambiental calor na atividade de soldagem do laboratório de solda e a atenção dada a

avaliação quantitativa do mesmo risco, pode-se concluir que:

1 O limite de tolerância para calor na atividade de soldagem analisado de acordo com a

NR 15, Quadro Nº2, é de 30,5ºC. No entanto, no valor calculado o IBUTG obtido foi

de 28,5ºC, ou seja, abaixo do limite de tolerância;

2 Há um sistema de ventilação no ambiente, amenizando qualquer situação de

desconforto térmico;

3 O local de trabalho apresenta medidas de proteção coletiva: extintores e barreiras

contra fogo, respingo e radiação não ionizante à terceiros;

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7 Referências

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº. 06 –

Equipamento de Proteção Individual, 1978.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº. 15 – Atividades

e Operações Insalubres, 1978.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº. 17 –

Ergonomia, 1978.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº. 34 – Condições

e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval, 2011.

BRASIL, Mistério do Trabalho e Emprego – FUNDACENTRO. Norma de Higiene

Ocupacional 06 – Procedimento Técnico: Avaliação da Exposição Ocupacional ao Calor,

2002.

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