gerenciamento por pr ocessos em um banco de...
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MARCELO CAMPOS PAULINO
GERENCIAMENTO POR PROCESSOS EM UM
BANCO DE DESENVOLVIMENTO
Trabalho de Formatura apresentado à
Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do Diploma de
Engenheiro de Produção Área Mecânica.
SÃO PAULO
2003
MARCELO CAMPOS PAULINO
GERENCIAMENTO POR PROCESSOS EM UM
BANCO DE DESENVOLVIMENTO
Trabalho de Formatura apresentado à
Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo para obtenção do Diploma de
Engenheiro de Produção Área Mecânica.
Orientador: Prof. Doutor Roberto Gilioli
Rotondaro.
SÃO PAULO
2003
FICHA CATALOGRÁFICA
Paulino, Marcelo Campos Gerenciamento por processos em um banco dedesenvolvimento / Marcelo Campos Paulino. -- São Paulo, 2003. 125 p.
Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.
1. Gerenciamento por processos 2. Melhoria de processos I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.
AGRADECIMENTOS I
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Rotondaro, pelo apoio, orientação e conselhos, de grande valia para o
desenvolvimento deste trabalho.
Aos meus pais, Gilberto e Maria Cecília, pela dedicação, esforço, confiança e
incentivo durante os anos de faculdade, e todos os anos que a precederam.
A minha irmã, Luciana, pela compreensão e apoio em todas as fases da minha
vida.
Aos antigos amigos de Santos, em especial a todo o pessoal do Universitas, pela
consideração, apoio e ótimas recordações.
Aos novos amigos da Produção, em especial ao Rodrigo, Ribeirão, Marcão,
Luciano, Henrique e Marcelo, pelas conversas, festas, viagens, dias e noites de
estudo.
Aos demais professores da Poli, que contribuíram para o meu desenvolvimento
intelectual.
Aos amigos da Estratege, sobretudo ao Rodrigo PC e Rodriguinho, pela
camaradagem e ajuda durante esses anos de trabalho.
Enfim, a todas as pessoas que me ensinaram a ser honesto, persistente e a
acreditar na vida, contribuindo para a minha formação como homem.
A Deus, por me ajudar a concluir essa difícil fase da vida.
RESUMO II
RESUMO
O objetivo deste trabalho é aplicar uma metodologia para gerenciamento por
processos em um banco de desenvolvimento, visando à obtenção de melhorias no
desempenho de seus processos, refletidas na maior satisfação dos seus clientes.
Os processos do banco serão analisados segundo a óptica dos clientes, tanto externos
como internos. Ações de melhoria, resultantes da aplicação dos conceitos estudados,
serão propostas para os processos considerados críticos, ou seja, aqueles de grande
relevância e desempenho insatisfatório.
Palavras-chave: GERENCIAMENTO POR PROCESSOS, MELHORIA DE
PROCESSOS, QUALIDADE.
ABSTRACT III
ABSTRACT
The objective of this work is to apply a methodology for process management in a
development bank, aiming at to the attainment of improvements in its processes
performance, reflected in the bigger satisfaction of its customers.
The processes of the bank will be analyzed according to the optic of the customers,
external as well as internal. Actions of improvement, resultants of the application of
the studied concepts, will be proposals for the considered critical processes, or either,
those of great relevance and unsatisfactory performance.
Key-words: PROCESS MANAGEMENT, BUSINESS PROCESS
IMPROVEMENT, QUALITY.
SUMÁRIO IV
SUMÁRIO
1 Introdução _________________________________________ 1
1.1 Objetivos __________________________________________________1
1.2 Justificativa ________________________________________________2
1.3 Limitações _________________________________________________3
1.4 O Banco ___________________________________________________4
1.5 Metodologia de Pesquisa______________________________________7
2 Revisão Bibliográfica _________________________________ 9
2.1 Introdução _________________________________________________9
2.2 Abordagens da Melhoria de Processos _________________________13
2.3 Melhoria Contínua _________________________________________16
2.4 Reengenharia ______________________________________________22
2.5 Ferramentas para Melhoria de Processos_______________________32
3 Metodologia _______________________________________ 37
3.1 Etapa 1 - Planejamento______________________________________38
3.2 Etapa 2 - Identificação e Avaliação dos Processos ________________40
3.3 Etapa 3 - Detalhamento dos Processos _________________________43
3.4 Etapa 4 - Melhoria dos Processos _____________________________47
3.5 Etapa 5 - Acompanhamento e Controle ________________________50
4 Estudo dos Processos do Banco ________________________ 52
4.1 Planejamento ______________________________________________52
4.2 Identificação e Avaliação dos Processos ________________________53
5 Melhoria do Processo – Considerações Iniciais ____________ 65
5.1 O Processo de Análise de Crédito _____________________________65
5.2 Definição dos Objetivos de Melhoria e Indicadores de Desempenho _66
6 Estudo do Subprocesso de Análise Prévia _________________ 70
6.1 Detalhamento do Fluxo de Trabalho ___________________________70
6.2 Detalhamento do Problema __________________________________73
SUMÁRIO V
7 Estudo do Subprocesso de Análise do Projeto ______________ 87
7.1 Detalhamento do Fluxo de Trabalho ___________________________87
7.2 Detalhamento do Problema __________________________________89
8 Melhoria do Processo ________________________________ 97
8.1 Priorização das Causas______________________________________97
8.2 Propostas de Melhorias_____________________________________100
8.3 Acompanhamento e Controle________________________________111
9 Conclusões _______________________________________ 114
9.1 Análise do Trabalho _______________________________________114
9.2 Continuidade _____________________________________________115
Anexo A – Questionário para Medição dos Processos __________ 117
Anexo B – Detalhamento do Subprocesso de Análise Prévia _____ 118
Anexo C – Detalhamento do Subprocesso de Análise do Projeto __ 121
Referências Bibliográficas ______________________________ 124
LISTA DE FIGURAS VI
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Organograma do banco______________________________________6
Figura 2.1 – Estrutura horizontal versus organização vertical _________________11
Figura 2.2 – Demonstração simplificada de um processo_____________________12
Figura 2.3 – Hierarquia do processo _____________________________________13
Figura 2.4 – Fases do gerenciamento de processos de Harrington______________17
Figura 2.5 – Metodologia para reengenharia ______________________________26
Figura 2.6 – Exemplo de Diagrama de Causa e Efeito _______________________35
Figura 3.1 – Metodologia para gerenciamento por processos__________________38
Figura 3.2 – Critérios e escalas para avaliação dos processos _________________42
Figura 3.3 – Matriz para seleção dos processos prioritários ___________________42
Figura 3.4 – Exemplo de mapa de processos ______________________________45
Figura 3.5 – Matriz de priorização das causas _____________________________49
Figura 4.1 – Processos do Banco de Desenvolvimento ______________________54
Figura 4.2 – Matriz para seleção dos processos prioritários – resultados_________64
Figura 5.1 – Mapa de Processos Nível 0 – Análise de Crédito ________________65
Figura 5.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de ciclo da Análise de Crédito ______68
Figura 6.1 – Mapa de Processos Nível 1 – Análise Prévia ____________________72
Figura 6.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de Processamento Ponderados da Análise
Prévia_________________________________________________________79
Figura 6.3 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para análise da proposta
______________________________________________________________80
Figura 6.4 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para visita ao cliente__82
Figura 6.5 – Diagrama de Pareto – Tempos de Espera Ponderados da Análise Prévia
______________________________________________________________84
Figura 7.1 – Mapa de Processos Nível 1 – Análise do Projeto _________________88
Figura 7.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de Processamento Ponderados da Análise
do Projeto _____________________________________________________91
Figura 7.3 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para análise econômica
do projeto______________________________________________________92
LISTA DE FIGURAS VII
Figura 7.4 – Diagrama de Pareto – Tempos de Espera Ponderados da Análise do
Projeto ________________________________________________________95
Figura 8.1 – Matriz de priorização das causas – tempo de processamento________98
Figura 8.2 – Matriz de priorização das causas – tempo de espera _____________100
Figura 8.3 – Acompanhamento dos indicadores – Análise Prévia _____________111
Figura 8.4 – Acompanhamento dos indicadores – Análise do Projeto __________112
Figura 9.1 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Formalizar o recebimento da
proposta” _____________________________________________________118
Figura 9.2 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Inserir os dados do cliente no
sistema”______________________________________________________118
Figura 9.3 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Realizar análise econômica do
cliente” ______________________________________________________119
Figura 9.4 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Realizar análise cadastral do
cliente” ______________________________________________________119
Figura 9.5 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Emitir parecer sobre problemas
cadastrais” ____________________________________________________119
Figura 9.6 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Complementar dados faltantes”
_____________________________________________________________120
Figura 9.7 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Deliberar sobre o
enquadramento” _______________________________________________120
Figura 9.8 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Definir e cadastrar as garantias
da operação” __________________________________________________122
Figura 9.9 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Elaborar análise jurídica do
projeto” ______________________________________________________123
LISTA DE TABELAS VIII
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Melhoria x Reengenharia de Processos ________________________15
Tabela 3.1 – Simbologia utilizada para documentação dos processos ___________47
Tabela 5.1 – Metas e prazos para melhoria da Análise de Crédito ______________69
Tabela 6.1 – Tempos unitários de processamento e de espera das tarefas da Análise
Prévia_________________________________________________________77
Tabela 6.2 – Causas do tempo elevado para análise da proposta _______________81
Tabela 6.3 – Causas do tempo elevado para visita ao cliente __________________82
Tabela 6.4 – Causas do tempo elevado para cadastramento dos demonstrativos
contábeis ______________________________________________________83
Tabela 6.5 – Causas do tempo elevado para complementação dos dados da proposta
______________________________________________________________85
Tabela 6.6 – Causas do tempo elevado para o enquadramento da operação ______86
Tabela 7.1 – Tempos unitários de processamento e de espera das tarefas da Análise
do Projeto _____________________________________________________90
Tabela 7.2 – Causas do tempo elevado para a análise econômico-financeira do
projeto ________________________________________________________93
Tabela 7.3 – Causas do tempo elevado para a análise técnica do projeto_________94
Tabela 7.4 – Causas do tempo de espera elevado da Análise do Projeto _________96
INTRODUÇÃO 1
1 INTRODUÇÃO
As grandes mudanças na economia mundial, caracterizadas pela globalização e
rapidez tecnológica, vêm impondo a necessidade das organizações estarem cada vez
mais comprometidas com a busca de maior competitividade, traduzida em ganhos de
produtividade e melhoria de qualidade.
Uma nova era competitiva vem se constituindo rapidamente no ambiente
organizacional. Alteram-se, de forma rápida, as expectativas dos clientes, que estão a
cada dia mais exigentes, enquanto que do ponto de vista da oferta, a concorrência é
cada vez mais acirrada.
O gerenciamento por processos é uma abordagem gerencial que visa ao melhor
atendimento das necessidades dos clientes, através da análise e melhoria dos
processos empresariais. Assim, permite o desenvolvimento de alternativas para
minimizar os efeitos das mudanças no ambiente de negócios e aumentar a
competitividade da organização.
1.1 OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é aplicar uma metodologia para análise, melhoria e
acompanhamento dos processos de um banco de desenvolvimento, visando o
incremento do desempenho dos mesmos. Conceitos de gerenciamento por processos
serão estudados, adaptados e aplicados, possibilitando à empresa adicionar valor
agregado aos produtos e serviços oferecidos, aumentando assim a satisfação de seus
clientes.
Para o estudo e aplicação do gerenciamento por processos, este trabalho está
estruturado em nove capítulos:
INTRODUÇÃO 2
Capítulo 1: São apresentados os objetivos, justificativa e limitações do trabalho. É
apresentada também a empresa onde o trabalho foi desenvolvido. Por fim, é
esclarecida a metodologia de pesquisa utilizada.
Capítulo 2: É apresentada uma revisão bibliográfica sobre gerenciamento por
processos.
Capítulo 3: Apresenta a metodologia a ser utilizada durante a aplicação prática do
gerenciamento por processos.
Capítulos 4, 5, 6, 7 e 8: São apresentados e discutidos os resultados da aplicação
prática da metodologia, na empresa estudada.
Capítulo 9: Apresenta uma análise dos resultados obtidos e as conclusões gerais do
trabalho.
1.2 JUSTIFICATIVA
A atual velocidade e magnitude das mudanças do ambiente empresarial, tais como
novas necessidades dos clientes, ações dos concorrentes e flutuações econômicas,
introduziram a necessidade das empresas desenvolverem uma estrutura
organizacional mais ágil e capaz de reagir a tais mudanças para garantir sua
sobrevivência e ampliar sua competitividade.
Segundo RUMMLER & BRACHE (1994), “ou as empresas se adaptam ou morrem.
O sucesso dos sobreviventes depende da eficiência e da velocidade com que eles se
adaptam às mudanças do ambiente externo”.
Os clientes e mercados de qualquer empresa possuem exigências que evoluem ao
longo do tempo. A fim de sobreviver e obter sucesso, uma empresa deve sempre
acompanhar estas mudanças, buscando a melhoria nos produtos e/ou serviços
percebidos pelo cliente, de modo a obter desempenho superior aos seus concorrentes.
INTRODUÇÃO 3
Os processos são a estrutura pela qual uma organização faz o necessário para
produzir valor aos seus clientes. A adoção de uma abordagem de processos significa
a adoção do ponto de vista do cliente. Melhorando seus processos, a empresa estará
agregando valor aos clientes.
As abordagens existentes para a melhoria dos processos empresariais são numerosas
e variadas. Cada abordagem é mais relevante para um determinado ambiente de
processo. “A empresa pode escolher entre esses métodos de melhoria, ou aplicar
determinadas estruturas e técnicas para criar uma abordagem nova” (DAVENPORT,
1994).
O banco de desenvolvimento, foco do presente trabalho, tem sofrido, segundo sua
diretoria e acionistas, constantes críticas dos seus clientes, relacionadas à qualidade
dos serviços prestados. Novas demandas e necessidades têm surgido, exigindo do
banco uma postura mais ativa e adaptável à nova realidade. A organização não utiliza
nenhum método de análise e melhoria, visando aumentar a eficiência de seus
processos.
Desse modo, considera-se relevante o desenvolvimento e aplicação de uma
abordagem para melhoria de processos, baseada na adaptação de metodologias de
gerenciamento de processos, que se adeque ao ambiente de negócios específico da
empresa analisada.
1.3 LIMITAÇÕES
Por questões de confidencialidade de algumas informações, o banco foco da
aplicação do gerenciamento por processos não será nomeado, sendo designado, neste
trabalho, apenas como Banco de Desenvolvimento.
O banco de desenvolvimento analisado neste trabalho possui uma estrutura
operacional consideravelmente grande, empregando por volta de quinhentos
funcionários. A empresa fornece ao mercado inúmeros produtos de crédito, com
características às vezes distintas. Desse modo, os seus processos apresentam algumas
INTRODUÇÃO 4
variações, de acordo com o produto foco. Analisar-se-ão, durante algumas etapas da
aplicação da metodologia, apenas as variações dos processos referentes a um produto
específico (o financiamento do BNDES Automático). Julgou-se que tal produto é
representativo para o banco, e que os resultados obtidos poderão ser facilmente
ampliados para os demais produtos.
Devido ao limitado prazo para a conclusão deste estudo, somente uma parcela das
melhorias propostas serão implementadas e acompanhadas. Algumas proposições de
melhoria, por serem baseadas na adequação ou desenvolvimento de soluções
sistêmicas, exigem um horizonte mais longo para sua implementação.
1.4 O BANCO
A aplicação do gerenciamento por processos foi desenvolvida no Banco de
Desenvolvimento, durante um estágio realizado especificamente para esse fim. O
banco, devido às crescentes demandas que tem sofrido para melhoria dos seus
processos, interessou-se pela proposta acadêmica do autor, de estudar, adaptar e
aplicar uma metodologia para melhoria de processos empresariais. Assim, incentivou
a realização do trabalho, que ganhou evidência e envolvimento de diversos
funcionários da empresa.
O Banco de Desenvolvimento foi criado em 1962 e tem como missão promover e
financiar o desenvolvimento econômico e social do Estado onde está situado. Seu
capital é majoritariamente controlado pelo Governo do Estado, e está ligado a
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico. Como empresa pública,
exerce o papel de execução da política econômica do Estado, através da realização de
operações de financiamento de médio e longo prazos para investimentos em ativo
fixo e capital de giro associado, para empresas instaladas no respectivo Estado.
A ação do Banco tem como foco o fomento, apoiando a melhoria da infra-estrutura
dos municípios do Estado, desenvolvimento de atividades rurais, industriais,
comércio e serviços, visando a obtenção de benefícios sociais à população do Estado.
INTRODUÇÃO 5
O apoio ao desenvolvimento econômico e social é realizado através da concessão de
diversas linhas de financiamento às empresas e municípios situados no Estado. Os
recursos financeiros necessários são provenientes de fundos mantidos pelo governo
estadual ou por outras instituições, como o BNDES e o Banco Mundial. Em alguns
financiamentos, o banco utiliza também recursos próprios.
Os produtos oferecidos pelo banco ao mercado são as diversas linhas de
financiamento. A principal diferença entre os produtos é a origem dos recursos para
o financiamento. Para a concessão dos vários tipos de financiamento, o banco deve
verificar se o cliente atende a uma série de requisitos exigidos, de acordo com o
respectivo fornecedor de recursos. As exigências são geralmente relacionadas ao
porte da empresa candidata ao financiamento, seu ramo de atuação e ao uso que a
mesma fará dos valores financiados. Com exceção da origem dos recursos e dos
requisitos necessários, os produtos oferecidos são bastante semelhantes, só havendo
alterações nas taxas e valores das operações.
Entre os principais produtos, destacam-se: Micro-Crédito e PRONAF (para micro e
pequenas empresas); FINAME e BNDES (para médias e grandes empresas); e
financiamentos a municípios.
A estrutura organizacional do banco pode ser visualizada no organograma a seguir
(figura 1.1).
INTRODUÇÃO 6
Depto.de RelaçõesInstituc.e Comunicação
Depto.Jurídico
Depto.deRecursos Humanos
Depto.de Contencioso
Depto.de Micro ePequenas Empresas
Depto.do SetorTerciário
Depto.de Mineração,Metalurgia e Ind.Básica
Depto.de Indústriade Transformação
Depto.Rural eAgroindústria
Diretoria deOperações
Depto.de Adm.deRecursos Financeiros
Depto.de Recuperaçãode Crédito
Depto.de Gestão deAtivos Especiais
Depto.de Infraestruturae Desenv.Urbano
DiretoriaFinanceira
Depto.Planejamentoe Estudos Econômicos
Depto.de Fundos deDesenvolvimento
Diretoria dePlanejamento
Depto.de Tecnologiada Informação
Depto.Oraganizaçãoe Processos
Depto.de Patrimônioe Suprimentos
Diretoria deApoio
Depto.Controladoria
Depto.Gestão deRiscos de Crédito
Diretoria deControle
Presidência
Figura 1.1 – Organograma do banco
Fonte: Adaptado de documento do Banco de Desenvolvimento
O banco está organizado funcionalmente em algumas diretorias. A Diretoria de
Operações, também chamada de Área Operacional, é a principal responsável pela
operacionalização da concessão dos financiamentos. Os departamentos sob a sua
responsabilidade estão subdivididos, com exceção do Departamento de Micro e
Pequenas Empresas, de acordo com o ramo de atuação das empresas que atendem.
Estes departamentos são responsáveis pela captação e negociação com os clientes,
análise de crédito e outros procedimentos envolvidos na concessão dos
financiamentos.
A Diretoria Financeira é responsável pela administração dos recursos financeiros
disponíveis ao banco. Controla a disponibilidade de recursos para cada linha de
financiamento, realizando também as intermediações com outras instituições
fornecedoras de recursos (Governo do Estado, BNDES, etc).
A Diretoria de Apoio engloba três departamentos, com destaque para o
Departamento de Organização e Processos, que é o responsável pela gestão dos
processos do banco e será o principal envolvido no desenvolvimento da aplicação do
gerenciamento por processos.
INTRODUÇÃO 7
O Banco de Desenvolvimento, devido à sua natureza de empresa pública, não
apresenta concorrentes diretos no mercado de bancos de financiamento. Devido ao
apoio financeiro do Governo do Estado, oferece financiamentos com prazos mais
longos que as práticas de mercado, e trabalha com taxas de juros mais baixas. Por
outro lado, exige do cliente, para a concessão do financiamento, a apresentação de
um projeto onde esteja explicitado onde os recursos financiados serão aplicados, e
qual será o retorno dos investimentos, em termos de desenvolvimento econômico e
social para o Estado.
Apesar da inexistência de concorrência direta, o banco tem metas financeira rígidas,
estipuladas pelo Governo do Estado. Nos últimos anos, o banco tem sido fortemente
capitalizado pelo Estado, sofrendo crescentes demandas para a geração de resultados
visíveis, que não têm sido alcançados. Assim, o ambiente atual onde está inserido
exige do banco uma atuação mais eficiente perante os seus clientes.
1.5 METODOLOGIA DE PESQUISA
O desenvolvimento da metodologia e aplicação prática do gerenciamento por
processos, a ser realizada ao longo deste trabalho, segue o modelo qualitativo de
pesquisa e adota um plano de pesquisa-ação.
A pesquisa qualitativa, segundo BRYMAN (1989), é descritiva e embasada em
literatura e teoria a respeito do tema a ser abordado. A interpretação dos fenômenos e
a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. O
ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é o
instrumento-chave. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente,
neste tipo de pesquisa (SILVA, 2001).
Segundo GIL (apud SILVA, 2001), do ponto de vista dos procedimentos técnicos
utilizados, este trabalho adota a técnica de pesquisa-ação, devido à interação e
cooperação entre pesquisador e participantes visando à solução dos problemas
abordados. Na pesquisa-ação, o pesquisador é parte do ambiente de trabalho,
INTRODUÇÃO 8
colaborando na identificação e solução dos problemas estudados. Portanto, o
pesquisador influi diretamente nos resultados da pesquisa.
Finalmente, o método de coleta de dados constitui em entrevistas, observações,
questionários, levantamento de documentos (manuais, descritivos de processos,
normas etc) e dados estatísticos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 9
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo tem como objetivo fornecer a base conceitual para a aplicação do
gerenciamento por processos proposta por este trabalho. Será apresentada uma
revisão da literatura sobre os conceitos de processos e os principais métodos para a
sua melhoria.
2.1 INTRODUÇÃO
Segundo HAMMER & CHAMPY (1994), as empresas atuais estão organizadas
conforme as idéias de Adam Smith, utilizando a divisão da mão-de-obra e
fragmentação do trabalho em tarefas especializadas. A estrutura funcional, ou
vertical, é extremamente acentuada. O trabalho é quebrado em inúmeras funções,
delineadas em cima de partes limitadas do processo.
HARRINGTON (1993) concorda com HAMMER & CHAMPY (1994) ao afirmar
que “a maioria das empresas organiza-se em grupos funcionais verticais, com
especialistas de formação semelhante agrupados, para formar um centro de
conhecimentos e habilidades, capaz de executar tarefa dentro daquela disciplina”.
RUMMLER & BRACHE (1994) destacam que a forma funcional de se estruturar
uma organização não representa problema em organizações pequenas. Entretanto,
com o crescimento da organização, amplia-se a complexidade e esta visão funcional
torna-se um risco, pois o nível necessário de interação entre as pessoas que executam
um determinado processo interfuncional deixa de existir.
Diversos autores afirmam que a estrutura funcional de organização não proporciona à
empresa a agilidade e adaptabilidade necessárias para enfrentar a crescente demanda
dos clientes e as mudanças do ambiente externo em geral. Segundo HAMMER &
CHAMPY (1994), a elevação das expectativas dos clientes, o aumento da
concorrência e as crescentes mudanças no ambiente tornaram os princípios
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10
organizacionais da corporação clássica, ou seja, a especialização e divisão do
trabalho, obsoletos.
RUMMLER & BRACHE (1994) argumentam que a forma funcional de se estruturar
as organizações leva à ocorrência do fenômeno “silo”, no qual cada função trabalha
dentro de seu departamento sem interagir com as outras funções. Esta falta de
interação leva a demoras para a solução de problemas e incompatibilidades de
objetivos e metas entre departamentos. DAVENPORT (1994) acrescenta: “Não só
essa abordagem é onerosa e consome tempo, como também muitas vezes não atende
bem aos consumidores. Numa organização baseada nas funções, o intercâmbio entre
as funções é, com freqüência, descoordenado”.
A fim de permitir adaptação às novas condições do ambiente, solucionando parte dos
problemas advindos da estruturação puramente funcional, as empresas necessitam
orientar seu trabalho em torno de processos, ao invés de tarefas especializadas.
Segundo HAMMER & CHAMPY (1994), “no atual ambiente, as atividades
orientadas para tarefas estão obsoletas. Em seu lugar, as empresas precisam organizar
seu trabalho em torno de processos”. DAVENPORT (1994) concorda, ao afirmar
que “as atividades empresariais devem ser vistas não em termos de funções,
departamentos ou produtos, mas de processos-chave”.
A estrutura hierárquica funcional envolve apenas as relações de subordinação,
enquanto a estrutura por processos é uma visão da forma pela qual a organização
produz valor. Para DAVENPORT (1994), “uma estrutura organizacional baseada no
processo é uma estrutura construída em torno do modo de fazer o trabalho, e não em
torno de habilitações específicas”.
A perspectiva de processos implica uma visão horizontal do negócio, que envolve
toda a organização, começando pelos insumos dos produtos e terminando com os
produtos finais entregues aos clientes. Desse modo, os processos caracterizam-se por
serem interfuncionais, conforme pode-se observar na figura 2.1.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11
Depto.A Depto.B Depto.C Depto.D
Processo 1
Processo 2
Figura 2.1 – Estrutura horizontal versus organização vertical
Fonte: Harrington (1993)
DAVENPORT (1994) argumenta que a estrutura funcional não pode ser medida e
melhorada de forma absoluta. Entretanto, os processos possuem elementos como
custos, prazos e qualidade, que podem ser medidos e avaliados. Os processos são
voltados para clientes. Em conseqüência, uma importante medida de um processo é a
satisfação do cliente com o produto desse processo. Quando aumentamos a satisfação
do cliente, melhoramos o processo em si.
O gerenciamento por processos é uma abordagem gerencial baseada na visão dos
processos da organização, que visa aumentar a satisfação dos clientes através da
melhoria dos processos empresarias.
Mas, enfim o que é processo?
HARRINGTON (1993) define processo como: “Qualquer atividade que recebe uma
entrada (input), agrega-lhe valor e gera uma saída (output) para um cliente interno ou
externo. Os processos fazem uso dos recursos da organização para gerar resultados
concretos”.
Para DAVENPORT (1994), processo é “simplesmente um conjunto de atividades
estruturadas e medidas destinadas a resultar num produto especificado para um
determinado cliente ou mercado. É uma ordenação específica das atividades de
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12
trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, e inputs e outputs
claramente identificados: uma estrutura para a ação”.
“Define-se um processo empresarial como um conjunto de atividades com uma ou
mais espécies de entrada e que cria uma saída de valor para o cliente” (HAMMER &
CHAMPY, 1994).
Dentre as várias definições de “processo” apresentadas, pode-se evidenciar que um
processo necessariamente possui um fornecedor para as entradas (inputs) e um
cliente para as saídas (outputs) e é formado por uma ou mais atividades relacionadas,
visando atender às necessidades de um ou mais clientes. Observamos na figura 2.2
os principais elementos constituintes de um processo.
ProcessamentoEntradas Saídas
Fornecedores Clientes
Figura 2.2 – Demonstração simplificada de um processo
Fonte: Elaborado pelo autor
De acordo com HARRINGTON (1993), as organizações são compostas por
processos altamente complexos, envolvendo milhares de pessoas, e por processos
simples, que requerem alguns segundos de seu tempo. Em função dessas diferenças,
HARRINGTON (1993) acha necessário que se estabeleça uma hierarquia do
processo. A figura 2.3 exemplifica a estrutura hierárquica, partindo do
macroprocesso e descendo até o nível de tarefas, que são as unidades mínimas da
organização horizontal.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13
Subprocessos
Atividades
Tarefas
Atividades
Tarefas
Macroprocessos
Figura 2.3 – Hierarquia do processo
Fonte: Harrington (1993)
HARRINGTON (1993) afirma, ainda, que do ponto de vista macro os processos são
as “atividades chave” necessárias para administrar e/ou operar as organizações. Um
macroprocesso pode ser subdividido em subprocessos, que são inter-relacionados de
forma lógica, isto é, nas atividades seqüenciais que contribuem para a missão do
macroprocesso. Todo subprocesso é constituído de um determinado número de
atividades. Como o próprio nome indica, elas são ações necessárias para produzir um
resultado particular. Cada atividade é constituída por um determinado número de
tarefas, que são normalmente executadas por indivíduos ou por pequenas equipes.
Elas constituem as menores partes dos processos.
2.2 ABORDAGENS DA MELHORIA DE PROCESSOS
Visando aumentar a satisfação dos clientes, os processos empresariais devem ser
melhorados. As crescentes necessidades dos clientes, aliadas ao ambiente cada vez
mais mutável e competitivo, tornaram indispensáveis às organizações de hoje o
aprimoramento dos seus processos empresariais.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14
DAVENPORT (1994) distingue cinco abordagens básicas para a melhoria dos
processos: (a) gerenciamento de custos baseado nas atividades (sistema ABC); (b)
análise de valor do processo; (c) melhoria contínua; (d) engenharia de sistemas de
informação; (e) reengenharia de processos. Discutir-se-ão aqui apenas as abordagens
de melhoria contínua e reengenharia de processos, por serem a base para a
metodologia proposta para este trabalho.
Tanto a reengenharia como a melhoria contínua visam à obtenção de melhorias nos
processos da organização. Ambas utilizam a visão dos processos da empresa, ou seja,
partem do pressuposto que os processos empresariais são os elementos foco para as
melhorias. As duas metodologias propõem-se a tornar os processos mais eficientes e
eficazes, visando aumentar a satisfação dos clientes. Entretanto, os enfoques
adotados para a obtenção das melhorias são distintos.
A reengenharia de processos consiste, basicamente, na reestruturação completa dos
processos alvo de melhorias. O objetivo da reengenharia é introduzir inovações
significativas tanto nos processos, como nas estruturas organizacionais que os
cercam. A implementação de inovações visa obter mudanças radicais no desempenho
dos processos.
Segundo DAVENPORT (1994), a reengenharia “envolve um distanciamento do
processo para que se indague qual o seu objetivo geral e, em seguida, uma mudança
criativa e radical para realizar melhorias de grande vulto na maneira pela qual esse
objetivo é alcançado”.
A melhoria contínua, por outro lado, defende a implementação de melhorias
localizadas nos processos já existentes, de modo a aumentar o seu desempenho, sem
a ruptura proposta pela reengenharia. Enquanto a reengenharia propõe-se a projetar
um processo inteiramente novo, a melhoria contínua limita-se a propor a execução do
mesmo processo atual, com uma eficiência e eficácia um pouco maiores.
Na tabela 2.1, observam-se as principais diferenças entre a melhoria contínua e a
reengenharia de processos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15
Tabela 2.1 – Melhoria x Reengenharia de Processos
Melhoria Reengenharia
Nível de mudança Gradual RadicalPonto de partida Processo existente Estaca zeroFrequência da mudança De uma vez / contínua De uma vezTempo necessário Curto LongoParticipação De baixo para cima De cima para baixoÂmbito típico Limitado, dentro de funções Amplo, interfuncionalRisco Moderado AltoHabilitador principal Controle estatístico Tecnologia da informaçãoTipo de mudança Cultural Cultural / estrutural
Fonte: Davenport (1994)
A reengenharia de processos parte de uma relativa estaca zero, e não dos processos
existentes, como a melhoria contínua. Os planejadores do novo processo devem
perguntar a si mesmos: “Sem nos preocuparmos com a maneira pela qual alcançamos
esse objetivo no passado, qual a melhor maneira possível de consegui- lo, agora?”
(DAVENPORT, 1994).
Enquanto as iniciativas de melhoria contínua, como o próprio nome reflete, visam
melhorias constantes e progressivas nos processos, a reengenharia de processos,
devido a sua natureza radical, é geralmente uma iniciativa única. O prazo para
implementação de melhorias localizadas nos processos é mais reduzido, se
comparado ao necessário para implantar processos inteiramente novos.
DAVENPORT (1994) argumenta que a reengenharia de processos, devido ao nível
de mudança organizacional exigido, requer geralmente mais de dois anos para sua
implementação, enquanto que a melhoria contínua permite a obtenção de benefícios
graduais em poucos meses.
A participação de baixo para cima, na hierarquia organizacional, é característica dos
programas de melhoria contínua. Os empregados são estimulados a examinar e
recomendar mudanças nos processos de trabalho dos quais participam. Já a
reengenharia de processos se faz, tipicamente, muito mais de cima para baixo.
DAVENPORT (1994) afirma que, devido a interfuncionalidade dos processos,
somente as pessoas de hierarquia mais alta, por controlarem diversas unidades
funcionais, são capazes de identificar oportunidades de inovação.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16
Os programas de melhoria contínua são geralmente aplicados às estruturas
organizacionais existentes, envolvendo, portanto, mudanças em processos dentro de
âmbitos funcionais limitados. A reengenharia de processos, por outro lado, envolve a
redefinição de processos amplos, que transpõem as barreiras funcionais.
DAVENPORT (1994) ressalta que tanto a melhoria contínua como a reengenharia de
processos exigem uma mudança cultural, principalmente no que diz respeito a
medição de resultados e delegação de poderes aos empregados. A reengenharia, além
disso, devido às mudanças drásticas que promove nos processos, costuma impactar
de forma relevante na cultura e relações de poder da organização.
Os programas de melhoria contínua procuram utilizar técnicas de controle estatístico
do processo, visando minimizar as fontes de variação dentro do processo,
aumentando assim seu desempenho. HARRINGTON (1993) destaca que a utilização
da tecnologia da informação, para a melhoria contínua, só deve ser levada em
consideração após a melhoria do processo em si estar concluída.
A reengenharia, por outro lado, utiliza a tecnologia da informação e outros
instrumentos para mudança dos processos, entre eles os fatores organizacionais e de
recursos humanos. Segundo HAMMER & CHAMPY (1994) e DAVENPORT
(1994), estes instrumentos possibilitam o projeto de processos muito superiores aos
processos atuais.
Nos tópicos a seguir são detalhados, respectivamente, os conceitos de melhoria
contínua e reengenharia de processos. São descritas também as metodologias
existentes para a implementação de ambas as abordagens.
2.3 MELHORIA CONTÍNUA
O gerenciamento de processos de Harrington, neste trabalho designado como
melhoria contínua, pode ser definido como “a busca de atividades que agregam
valor, segundo o cliente” (HARRINGTON, 1993). Esta abordagem é alicerçada em
conceitos do gerenciamento da qualidade total (TQM).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17
Através do gerenciamento de processos, são analisados profundamente todos os
processos de uma organização, suas entradas e saídas, bem como seus objetivos e
valor agregado ao cliente. Procura-se identificar as principais deficiências dos
processos e saná- las, através da implementação de ações de melhoria.
2.3.1 METODOLOGIA PARA MELHORIA CONTÍNUA
Apresenta-se aqui a metodologia de gerenciamento de processos proposta por
HARRINGTON (1993), denominada APE – Aperfeiçoamento de Processos
Empresariais. Por meio desta metodologia, o autor defende a idéia de que a melhor
maneira de aumentar a lucratividade e a competitividade das empresas está no
aperfeiçoamento contínuo de seus processos empresarias.
A metodologia de HARRINGTON (1993) é composta por cinco fases, conforme
observado na figura 2.4. As mesmas são descritas nos tópicos a seguir.
Aperfeiçoar continuamente
Organizar para o aperfeiçoamento do processo
Medir e Controlar
Entender o processo
Aperfeiçoar
Figura 2.4 – Fases do gerenciamento de processos de Harrington
Fonte: Harrington (1993)
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18
♦ FASE I - Organizar para o aperfeiçoamento do processo
A primeira fase da metodologia de HARRINGTON (1993) consiste no planejamento
do projeto de melhoria de processos, objetivando assegurar o sucesso, estabelecendo
liderança, entendimento e comprometimento. As seguintes atividades são realizadas:
• Treinamento dos executivos e equipe envolvida;
• Definição do modelo de aperfeiçoamento e nível de detalhe;
• Comunicação das metas do projeto de melhorias;
• Obtenção de visão geral dos processos da empresa;
• Seleção dos processos críticos;
• Definição dos donos dos processos e dos grupos de trabalho.
O objetivo desta fase é definir e comunicar os objetivos e escopo da melhoria de
processos, incluindo o nível de detalhe e abrangência necessários para aplicação da
metodologia. A comunicação corporativa é de grande importância, visando garantir o
comprometimento e a obtenção de melhores resultados.
É obtida, nesta fase, uma visão geral dos processos da empresa e sua hierarquia. São
identificados os processos críticos, ou seja, aqueles que serão foco das propostas de
melhorias. A seleção destes constitui uma das etapas mais importantes da
metodologia, pois a escolha de processos errados pode ocasionar falta de resultados
consistentes. Os critérios para seleção dos processos críticos podem ser: maior
número de problemas e / ou reclamações, maior relevância para o atendimento dos
objetivos da empresa, maior custo ou tempo de ciclo, entre outros.
Para cada processo crítico, designa-se um “dono do processo”. Este constitui o
indivíduo que terá a responsabilidade e autoridade sobre os resultados deste
processo.
♦ FASE II - Entender o processo
Esta fase tem como objetivo entender os processos empresariais da empresa, em
todos os seus aspectos. Os principais tópicos desta fase são:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19
• Definição do escopo, missão e fronteiras do processo;
• Elaboração do fluxograma do processo;
• Levantamento dos dados de custos, tempos e valor;
• Atualização da documentação do processo.
Conforme HARRINGTON (1993), o ponto de partida e pré-requisito para a
implementação de qualquer oportunidade de melhoria nos processos é o bom
entendimento de algumas de suas características, como:
• Fluxo: métodos de transformar as entradas em saídas.
• Eficácia: grau com que as expectativas dos clientes são atendidas.
• Eficiência: grau de aproveitamento dos recursos para produzir uma saída.
• Tempo de ciclo: tempo necessário para transformar uma entrada em uma
saída.
• Custo: dispêndio de todo o processo.
Nesta fase são imprescindíveis o entendimento e visualização, in loco, de toda a
hierarquia e funcionamento do processo, até o nível de tarefa. Isso possibilitará a
identificação de problemas, sendo o ponto de partida para o aperfeiçoamento do
processo. As informações coletadas constituirão, também, a base para se estabelecer
metas de aperfeiçoamento e para avaliar os resultados do processo.
Para HARRINGTON (1993), os fluxogramas são uma ferramenta poderosa para o
entendimento do processo e de seu relacionamento com outros processos. Mas, para
isso, deve-se verificar a exatidão da documentação do processo, garantindo a
fidelidade dos fluxogramas na representação do mesmo.
♦ FASE III – Aperfeiçoar
O objetivo desta fase é garantir a eficácia e melhorar a eficiência dos processos,
através de algumas atividades que se fazem necessárias, como:
• Identificação das oportunidades de aperfeiçoamento: erros e retrabalhos, alto
custo, qualidade deficiente, grandes atrasos e acúmulo de serviços;
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20
• Eliminação da burocracia;
• Eliminação de atividades que não agregam valor;
• Simplificação do processo;
• Padronização;
• Treinamento dos empregados;
Para HARRINGTON (1993), o aperfeiçoamento de um processo implica em
modificá- lo a ponto de torná-lo, além de eficaz, mais eficiente e adaptável. Conforme
o autor, existe um conjunto de ferramentas, abaixo relacionadas, que podem ajudar a
melhorar a dinâmica do processo:
1. Eliminação da burocracia: removendo tarefas administrativas, aprovações e
papeladas desnecessárias.
2. Eliminação da duplicidade: removendo atividades idênticas, que são
executadas em partes diferentes do processo.
3. Avaliação do valor agregado: avaliando todas as atividades do processo
empresarial para determinar sua contribuição no atendimento das
exigências do cliente.
4. Simplificação: reduzindo a complexidade do processo.
5. Redução do tempo de ciclo do processo: determinando maneira de
comprimir o tempo de ciclo para atender ou superar as expectativas dos
clientes e minimizar os custos de armazenagem.
6. Tornando o processo á prova de erros: dificultando a execução errônea de
uma atividade.
7. Modernização: fazendo uso efetivo do equipamento e do ambiente de
trabalho para melhorar o desempenho geral.
8. Linguagem simples: reduzindo a complexidade da maneira com que
escrevemos e falamos, elaborando documentos fáceis de serem
compreendidos por todos os usuários.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21
9. Padronização: selecionando uma única maneira de fazer uma atividade e
fazendo com que todos os empregados executem sempre as atividades
daquela maneira.
10. Parcerias com fornecedores: a saída de um produto depende altamente da
qualidade das entradas que o processo recebe. O desempenho geral de
qualquer processo melhora as entradas fornecidas pelos fornecedores.
11. Aperfeiçoamento do quadro geral: essa técnica é usada quando as dez
ferramentas de fluxo dinâmico dão o resultado desejado.
12. Automação e/ou mecanização: usando ferramentas, equipamentos e
computadores para executar tarefas rotineiras e tediosas, a fim de liberar os
empregados na execução de atividades mais criativas.
Na fase de aperfeiçoamento, a equipe identifica as maiores oportunidades de
melhoria, ou seja, reconhece e atribui prioridade aos problemas que prejudicam o
bom desempenho do processo, para que sejam atingidas as metas propostas.
♦ FASE IV - Medir e controlar
Na fase de medições e controle do processo, o objetivo é obter dados que suportarão
a melhoria contínua, ou seja, a implementação de um sistema de controle que
possibilite um aperfeiçoamento contínuo do processo. Para isso são necessárias as
seguintes atividades:
• Desenvolvimento de controles e metas para avaliação do processo;
• Estabelecimento de um sistema de feedback;
• Auditar o processo periodicamente.
Através do controle, os processos podem ser observados e monitorados. Com metas
bem definidas, e um sistema de controle do processo eficiente, reúnem-se esforços
naqueles pontos que necessitam de maior urgência para aperfeiçoamento. Evita-se
também que os ganhos já realizados sejam perdidos, ou tornem-se obsoletos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22
O sistema de controle deve permitir a mensuração do desempenho do processo não
apenas no seu ponto final, como também nas suas atividades intermediárias. Tal
desempenho pode ser medido em termos de eficácia e eficiência, e expresso em
termos físicos (por exemplo, tempo para realizar uma tarefa, tempo de ciclo) ou em
moeda (por exemplo, custo do valor agregado, custo de mão-de-obra etc.).
♦ FASE V - Aperfeiçoar continuamente
O aperfeiçoamento contínuo, ou melhoria contínua do processo, é o objetivo desta
fase. As seguintes atividades são realizadas:
• Identificação e eliminação de problemas do processo;
• Benchmarking (avaliação comparativa) do processo;
• Retorno à fase de entendimento do processo.
Segundo HARRINGTON (1993), o aperfeiçoamento contínuo de um processo é
necessário mesmo que seu desempenho seja o melhor da espécie, pois afirma que
parar de melhorar é regredir em relação à concorrência, já que esta melhora seus
processos continuamente.
2.4 REENGENHARIA
HAMMER & CHAMPY (1994) definem a reengenharia como “o repensar
fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais que visam
alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de
desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade”.
A reengenharia implica no abandono das estruturas atuais e dos procedimentos
tradicionais atualmente executados pela organização. Determina a redefinição
drástica da maneira como o trabalho é realizado na empresa, visando proporcionar
valor ao cliente. HAMMER & CHAMPY (1994), a fim de melhor definirem o
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 23
conceito de reengenharia, destacam quatro aspectos principais desta, apresentando-os
através de quatro palavras-chave:
§ Fundamental
A reengenharia não parte de qualquer premissa ou suposição relacionadas à
forma como a empresa opera hoje. Primeiro determina o que uma empresa
precisa fazer, depois como fazê- lo. Ela não trata nada como verdade consagrada.
Ignora o que existe e se concentra no que deveria existir.
§ Radical
Significa a desconsideração das estruturas e procedimentos existentes, criando
formas inteiramente novas de realizar o trabalho.
§ Drástica
A reengenharia implica uma melhoria relevante do desempenho do processo.
Melhorias pontuais e incrementais, realizadas no âmbito restrito de um
departamento ou tarefa, não são reengenharia.
§ Processos
A reengenharia deve se voltar para a reestruturação de um processo empresarial
amplo, e não para unidades funcionais. As tarefas individuais dentro desse
processo são relevantes, mas de nada valem para o cliente se o processo global
não apresenta um desempenho satisfatório.
HAMMER & CHAMPY (1994) apresentam também algumas características comuns
dos processos empresariais que passaram pela reengenharia:
Vários serviços são combinados em um
A principal característica dos processos revistos pela reengenharia é a integração de
tarefas, antes distintas, em uma tarefa ou serviço único. Quando um mesmo
indivíduo é responsável pela totalidade de um processo, há a eliminação de diversas
interfaces entre tarefas, reduzindo os erros, atrasos e reparos por elas gerados. Nos
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24
casos em que não é possível atribuir a responsabilidade de todas as etapas de um
processo extenso a uma única pessoa, podem ser utilizadas equipes de trabalho. Os
componentes de cada equipe devem reunir, conjuntamente, todas as habilidades
necessárias para completar determinado processo.
Os trabalhadores tomam as decisões
Além de combinar os processos horizontalmente, como descrito no item anterior, há
também a integração vertical do trabalho. A integração vertical significa a
descentralização da tomada de decisões. Os próprios trabalhadores realizam, agora,
parte do serviço antes realizada pelos gerentes.
As etapas do processo são realizadas em uma ordem natural
Nos processos que sofreram reengenharia, o trabalho é seqüenciado de acordo com
as necessidades reais de precedência. Ou seja, duas etapas de um processo são
executadas seqüencialmente somente se a conclusão da primeira for realmente
necessária para a consecução da segunda. São eliminadas, desse modo, linearizações
forçadas do trabalho, que restringem a execução natural das etapas do processo.
Várias tarefas passam a ser simultaneamente realizadas, acelerando, assim, a
execução do processo.
Os processos têm múltiplas versões
A fim de atender às demandas do ambiente atual, são necessárias múltiplas versões,
ou variações, do mesmo processo, ajustadas às exigências de diferentes mercados,
situações ou insumos. Os processos tradicionais, extremamente abrangentes,
propõem-se a atender uma ampla gama de situações especiais e exceções. Por isso,
acabam se tornando muito complexos e freqüentemente ineficientes. Já um processo
de múltiplas versões é claro e simples, pois cada versão trata apenas dos casos para
os quais é apropriada.
O trabalho é realizado onde faz mais sentido
Nas organizações tradicionais, o trabalho é realizado em torno de especialistas,
envolvendo, portanto, uma variedade de departamentos. Nos processos submetidos à
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 25
reengenharia, o trabalho ultrapassa as fronteiras organizacionais, visando melhorar o
desempenho global do processo. Grande parte do trabalho realizado nas organizações
consiste na integração de partes de trabalhos correlatas realizadas por unidades
organizacionais independentes. A reorganização do trabalho através das fronteiras
organizacionais elimina a necessidade dessa integração.
Verificações e controles são reduzidos
Os processos devem utilizar sistemas de controle e verificações apenas quando são
economicamente justificáveis. Muitas vezes, o próprio sistema de controle é mais
dispendioso que as eventuais perdas que ocorreriam na ausência deste. Sistemas de
controle menos custosos geralmente adotam técnicas de análise de padrões de
comportamento, ao invés de controle de casos individuais.
A reconciliação é minimizada
Outra forma de trabalho que deve ser minimizada pela reengenharia de processos é a
reconciliação. Esta surge quando há excessivos pontos de contato, ou interfaces,
entre o processo e seu exterior. Quando o número de pontos de contato externo de
um processo é reduzido, diminui a possibilidade de recebimento de dados
incoerentes, que exijam a reconciliação.
Um gerente de caso proporciona um único ponto de contato
O “gerente de caso” é um indivíduo que age como um intermediário entre um
processo complexo e o cliente. Atua, em relação ao cliente, como se fosse
responsável pelo processo inteiro. Desse modo, é capaz de responder a
questionamentos dos clientes e resolver seus problemas de maneira mais eficaz.
Operações centralizadas / descentralizadas híbridas prevalecem
Cada departamento de uma empresa pode atuar de maneira autônoma aos demais,
oferecendo produtos e serviços a seus mercados específicos. Entretanto, a tecnologia
da informação permite que a empresa obtenha economia de escala e coerência entre
os departamentos, que são características inerentes a processos centralizados. Desse
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26
modo, é possível combinar, no mesmo processo, as vantagens da centralização e da
descentralização.
2.4.1 METODOLOGIA PARA REENGENHARIA
Baseando-se nas interpretações apresentadas por HAMMER & CHAMPY (1994) e
DAVENPORT (1994), decompõe-se a implementação da reengenharia em cinco
etapas principais, visualizadas na figura 2.5.
Redefinição dos processos
Identificação dos processos
Entendimento dos processos
Seleção dos processos a serem reformulados
Identificação dos habilitadores de melhorias
Figura 2.5 – Metodologia para reengenharia
Fonte: Adaptado de Davenport (1994)
Nos tópicos a seguir detalha-se cada etapa.
♦ Identificação dos processos
Segundo HAMMER & CHAMPY (1994), os processos empresariais costumam estar
fragmentados e encobertos pelas estruturas organizacionais. Desse modo, é
necessária a identificação dos processos que a organização executa. Para a
implementação da reengenharia, as seguintes atividades devem ser realizadas
inicialmente:
• Identificação dos processos e seus objetivos, em nível macro;
• Determinação dos limites dos processos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 27
HAMMER & CHAMPY (1994) colocam que raramente uma empresa contém mais
de dez processos principais. O autor cita exemplos de processos empresariais:
desenvolvimento de produtos, vendas, atendimento de pedidos. Já DAVENPORT
(1994) afirma que a maioria das empresas, até mesmo as muito grandes e complexas,
podem ser decompostas em menos de vinte processos principais.
Uma vez identificados os processos em alto nível, os limites entre eles devem ser
estipulados. Como a definição dos processos é muitas vezes subjetiva, esses limites
são freqüentemente arbitrários.
♦ Seleção dos processos a serem reformulados
A etapa de seleção determina os processos que devem ser tratados, permitindo à
empresa concentrar-se nos que mais necessitam de mudança radical. HAMMER &
CHAMPY (1994) destacam que nenhuma empresa é capaz de reformular
simultaneamente todos os seus processos. O autor apresenta três critérios para
escolha dos processos a serem redefinidos:
• Grau de disfunção – devem ser considerados para reformulação os processos
com maior nível de problemas, ou disfunções;
• Importância – são prioritários os processos que exercem maior impacto
sobre os clientes da empresa;
• Exeqüibilidade – determina os processos mais aptos de serem redefinidos
com sucesso. Quanto mais abrangente é o processo, e maior o investimento
necessário para a sua reformulação, menor será a probabilidade de sucesso
do esforço de reengenharia.
DAVENPORT (1994) também discorre sobre os critérios para seleção de processos.
Os critérios que apresenta são em parte semelhantes àqueles evidenciados por
HAMMER & CHAMPY (1994):
• Importância do processo para a execução da estratégia da organização;
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28
• Condições reais do processo – presença de problemas e necessidades de
melhoria;
• Qualificação do processo – clima cultural e político dos processos. Interesse
dos patrocinadores para melhoria do processo;
• Extensão administrável do projeto – facilidade para execução do projeto de
reengenharia, em termos de geografia, produtos atingidos etc.
♦ Identificação dos habilitadores de melhorias do processo
Os habilitadores de melhorias do processo, segundo DAVENPORT (1994), são os
elementos que permitem a mudança do processo, proporcionando ao novo processo
desempenho superior ao do processo atual. As atividades por meio das quais esses
habilitadores são identificados estão relacionadas abaixo:
• Identificar oportunidades potenciais, tecnológicas e humanas, para a
mudança de processo;
• Identificar os fatores tecnológicos e humanos potencialmente limitadores.
Vários autores, entre eles DAVENPORT (1994) e HAMMER & CHAMPY (1994),
afirmam que, na reengenharia, determinados elementos devem ser considerados
quando do desenvolvimento, ou projeto, do novo processo. HAMMER & CHAMPY
(1994) incluem a tecnologia da informação como elemento fundamental para o
projeto do novo processo. Consideram também a estrutura organizacional e os
elementos de recursos humanos como imprescindíveis para o sucesso da
reengenharia. DAVENPORT (1994) também destaca a importância destes fatores,
citando, além da tecnologia da informação, a própria informação, como importante
elemento.
Segundo DAVENPORT (1994), a identificação dos habilitadores de mudança deve
examinar tanto as oportunidades como as limitações impostas pela tecnologia e
organização disponíveis. Tendo identificado as oportunidades e limitações
potenciais, é preciso determinar a sua relevância para o processo. Deve-se pesquisar,
em alto nível, as oportunidades, visando determinar como a inovação tecnológica ou
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29
humana pode ser empregada no processo. As limitações, por outro lado, de acordo
com o autor, são geralmente melhor examinadas pela discussão do que pela pesquisa.
♦ Entendimento dos processos
Uma vez selecionados os processos a serem revistos e pesquisadas as oportunidades
tecnológicas e humanas para melhoria, devem-se compreender os objetivos e
situação atual dos processos, antes de partir para a redefinição. É necessária também
uma visão das necessidades e objetivos futuros desejados para o processo revisto. As
seguintes atividades devem ser concluídas nessa etapa:
• Avaliação das estratégias da empresa;
• Avaliação da percepção dos clientes quanto aos processos;
• Criação de uma visão futura do processo;
• Entendimento, documentação e avaliação do desempenho do processo atual.
A reengenharia de processos só será útil caso melhore a empresa de maneira coerente
com a sua estratégia. A fim de permitir a coerência entre as estratégias da
organização e os processos reestruturados, DAVENPORT (1994) propõe,
anteriormente ao entendimento dos processos, a criação de uma visão futura do
processo a ser redesenhado. Esta visão corresponde aos objetivos que o novo
processo deve atingir, e as suas características principais desejadas.
DAVENPORT (1994) afirma que a construção da visão futura do processo se realiza
a partir da avaliação das estratégias da empresa e da percepção dos clientes quanto ao
desempenho atual e desejado do processo. A partir do entendimento das necessidades
dos clientes, deve-se estabelecer que tipos de melhorias serão perseguidos, quais os
objetivos mensuráveis para o desempenho do novo processo, e os prazos para sua
obtenção. As características desejadas do novo processo devem ser coerentes com as
estratégias da empresa.
Após a elaboração da visão futura do novo processo, pode-se iniciar o entendimento
do processo atual. DAVENPORT (1994) propõe, como ponto de partida para o
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 30
entendimento, a documentação do fluxo do processo. Apresenta quatro argumentos
para se documentar os processos existentes antes de proceder à inovação:
• O entendimento dos processos existentes facilita a comunicação entre os
participantes;
• Na maioria das organizações complexas, a documentação dos processos
atuais é necessária para o planejamento da implementação do novo processo;
• O reconhecimento dos problemas de um processo existente pode ajudar a
evitar sua repetição no novo processo;
• O entendimento dos processos existentes proporciona uma medida do valor
(ou ganhos) da reengenharia proposta.
HAMMER & CHAMPY (1994) complementam, destacando que devem ser
entendidos alguns pontos sobre o processo atual: “o que faz, qual o seu desempenho
e que questões críticas governam o seu desempenho”. Segundo HAMMER &
CHAMPY (1994), dado que a meta da reengenharia não é melhorar o processo
existente, e sim projetar um novo processo, não se faz necessária a análise e
documentação do processo atual em grandes detalhes. É preciso apenas uma visão de
alto nível, suficiente para a equipe adquirir o discernimento e intuição necessários
para criar um processo totalmente novo.
DAVENPORT (1994) afirma também que o processo existente deve ser avaliado em
termos dos objetivos propostos para o novo processo. Se, por exemplo, a visão futura
do processo apresenta como objetivo primordial do mesmo a redução do tempo de
ciclo, então o processo atual deve ser avaliado segundo esta variável.
HAMMER & CHAMPY (1994) ressaltam a importância da "compreensão" e não
"análise" do processo atual. A análise tradicional considera, como ponto de partida,
as entradas e saídas do processo como fixas e, a partir deste ponto, volta-se para o
seu interior para medir e examinar o que acontece. Já a compreensão do processo
nada assume como fixo. Uma equipe de reengenharia, ao compreender um processo,
não aceita as saídas existentes como dados incontestáveis.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 31
♦ Redefinição dos processos
Na etapa de redefinição dos processos, o novo processo é inteiramente projetado. As
seguintes atividades devem ser realizadas nesta etapa:
• Projeto do novo processo, em sessões de brainstorming;
• Representação gráfica do projeto do novo processo;
• Teste de um protótipo do processo e realização de ajustes necessários;
• Implementação completa do novo processo.
Segundo DAVENPORT (1994), a melhoria dos processos atuais é conseqüência
natural da sua documentação. O projeto do novo processo depende da criatividade da
equipe para analisar as informações recolhidas nas etapas anteriores, e sintetizá- la em
um novo processo.
Entre os participantes da equipe de revisão do processo, devem estar os principais
responsáveis pelas funções envolvidas no processo, representantes de áreas de apoio
(tecnologia da informação e recursos humanos, por exemplo), e clientes e
fornecedores do processo, tanto internos como externos.
HAMMER & CHAMPY (1994) apresentam argumentos semelhantes, destacando
que a redefinição é a etapa mais criativa do processo de reengenharia. Segundo o
autor, não existe um roteiro que produza, mecanicamente, definições de processos
inteiramente novos. Nessa etapa, a equipe deverá “inventar uma nova forma de
realizar o trabalho” (HAMMER & CHAMPY, 1994).
Tanto DAVENPORT (1994) como HAMMER & CHAMPY (1994) propõem que a
redefinição do processo ocorra em sessões de brainstorming. HAMMER &
CHAMPY (1994) apresentam também três procedimentos básicos que auxiliam no
redesenho do processo:
• Aplicação de um ou mais princípios da reengenharia;
• Destruição de antigos pressupostos;
• Busca de oportunidades através da aplicação da tecnologia da informação.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32
DAVENPORT (1994) recomenda a representação gráfica do projeto do novo
processo, de modo a facilitar o entendimento do fluxo do processo. Destaca também
a utilidade de se definir o novo processo em níveis de detalhe sucessivos, começando
pelo fluxo em nível macro e refinando-se sucessivamente até chegar ao nível de
tarefa.
Uma vez projetado o novo processo, este deve ser visto ainda como um protótipo,
pois haverá sucessivas interações com os demais agentes do processo e mudanças
certamente ocorrerão no projeto inicial. Segundo DAVENPORT (1994), um
protótipo do processo é uma versão do mesmo em pequena escala, que pode ser
usada para testar, de maneira segura para a empresa, a exeqüibilidade e eficiência do
novo projeto.
Após o projeto e teste do protótipo do processo, a empresa deve implementar o novo
projeto por inteiro. A transição abrupta do processo antigo para o novo pode ser
extremamente difícil, gerando riscos para a organização. DAVENPORT (1994)
propõe alternativas para a redução do risco da implementação. Entre elas destaca-se a
introdução do novo processo por fases, inicialmente em uma unidade organizacional
piloto, e a seguir gradativamente nas demais unidades.
2.5 FERRAMENTAS PARA MELHORIA DE PROCESSOS
Apresentamos neste tópico algumas ferramentas, ou instrumentos, úteis para a
melhoria de processos. Tais ferramentas podem ser utilizadas em diversos
momentos, durante o estudo para melhoria dos processos empresariais. Por serem
utilizadas no trabalho, serão apresentadas, brevemente, algumas ferramentas da
qualidade, segundo a literatura disponível. Abordar-se-ão também alguns aspectos
relacionados à utilização de softwares para melhoria de processos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 33
2.5.1 FERRAMENTAS DA QUALIDADE
As ferramentas da qualidade são instrumentos, ou técnicas, utilizados como auxílio
para a solução de problemas, tomada de decisão e melhoria contínua. Alguns autores
citam as sete ferramentas básicas da qualidade. Outros autores complementam o
assunto, introduzindo o que designam como novas ferramentas da qualidade.
Cada ferramenta constitui em algum tipo de diagrama ou gráfico, para a coleta,
organização e visualização de dados. Segundo GOETSCH & DAVIS (2000), através
desses diagramas, os dados tornam-se informações úteis, podendo ser utilizados para
solucionar problemas, aprimorar a tomada de decisões, acompanhar os trabalhos
sendo realizados, ou mesmo prever desempenhos e problemas futuros.
A metodologia proposta neste trabalho prevê a utilização de algumas ferramentas da
qualidade, que serão aqui brevemente apresentadas segundo bibliografias.
♦ Análise de Pareto
A Análise de Pareto é baseado no princípio que reconhece que, no mundo real, uma
minoria de causas ocasiona a maioria dos problemas. O princípio de Pareto prega que
20% das causas são responsáveis por 80% dos problemas verificados.
O objetivo da Análise de Pareto é justamente, em um dado cenário, separar as causas
mais relevantes, que originam a parte mais representativa dos problemas, permitindo
que os recursos destinados a sua solução sejam aplicados de maneira mais efetiva.
Segundo TREVISAN (apud VIEIRA, 1993), "Análise de Pareto é uma técnica usada
na solução de problemas, para exibir os dados sobre os mesmos, permitindo que seus
aspectos mais significativos sejam facilmente identificados. Isto é feito através de um
diagrama de barras. Os dados, agrupados de acordo com os aspectos mais
significativos, são dispostos em ordem decrescente do tamanho da barra, começando
com o maior. Podem ser valores reais, percentagens ou dados convertidos em custos.
A partir do diagrama é possível determinar quais as causas que, ao serem eliminadas,
trarão maiores benefícios, merecendo por isso uma investigação mais profunda".
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 34
Portanto, a Análise de Pareto é útil quando se deseja expressar graficamente dados
coletados, visando identificar prioridades ou importâncias para a resolução de um
problema.
♦ Diagrama de Causa e Efeito
O produto ou resultado de um processo pode ser atribuído a uma grande quantidade
de fatores, e uma relação de causa e efeito pode ser encontrada entre esses fatores. O
Diagrama de Causa e Efeito é uma técnica muito utilizada, tanto para resolver
problemas complicados como simples, a qual consiste de uma cadeia de causas
(fatores) e efeitos (características).
O Diagrama de Causa e Efeito é utilizado para se identificar e isolar as causas de um
problema. O diagrama, também chamado de espinha de peixe, devido à sua
semelhança com a mesma, é uma maneira de se visualizar como os vários fatores
associados a um processo afetam a sua saída.
ISHIKAWA (apud GOETSCH & DAVIS, 2000), criador do diagrama, prega a
visualização gráfica das relações causa-efeito, ao invés de uma simples listagem
tabular de causas. O autor argumenta que a utilização do diagrama permite que o
levantamento e aná lise das causas de um problema sejam realizados por uma equipe,
dado que normalmente uma única pessoa não domina todas as informações
necessárias. A visão gráfica introduzida pelo diagrama proporciona a manutenção do
foco da equipe durante a sua elaboração.
A figura 2.6 representa a estrutura básica de um Diagrama de Causa e Efeito. A
“espinha” central aponta para o efeito, que é o problema analisado. Cada uma das
“espinhas” médias representa uma causa que leva ao efeito. As “espinhas” médias
são normalmente relacionadas às causas consideradas principais. As causas
secundárias, que afetam as causas principais, são representadas pelas “espinhas”
pequenas, que são ramificações das “espinhas” médias.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 35
PROBLEMA
CAUSA 3
CAUSA 5
CAUSA 4
CAUSA 1 CAUSA 2
CAUSA 6
CAUSA 7
CAUSA 8
Figura 2.6 – Exemplo de Diagrama de Causa e Efeito
Fonte: Adaptado de Goetsch & Davis (2000)
Para a construção do Diagrama de Causa e Efeito, segundo GOETSCH & DAVIS
(2000), deve-se seguir os seguintes passos:
• Estabelecer o efeito, ou problema, a ser analisado;
• Relacionar, por meio da técnica de brainstorming, o maior número possível
de causas que possam afetar o efeito;
• Definir, através de discussão em equipe, as relações entre as causas e
construir o Diagrama de Causa e Efeito;
• Estipular uma importância para cada causa e assinalar as causas
particularmente importantes;
2.5.2 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E MELHORIA DE PROCESSOS
A tecnologia da informação, como já exposto no tópico 2.4.1 (Metodologia para
Reengenharia), proporciona oportunidades para melhorias do processo. A sua
utilização no novo processo contribui para o aumento de desempenho em relação ao
processo atual.
Segundo DAVENPORT (1994), além de proporcionar melhorias ao processo em si,
recursos de tecnologia da informação podem ser utilizados durante o projeto de
melhoria dos processos, para: documentar os processos; facilitar a identificação de
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 36
oportunidades de melhorias no processo atual; facilitar o planejamento e
implementação das melhorias e/ou do novo processo.
HUNT (1998) discorre sobre as características dos softwares existentes no mercado,
para mapeamento dos processos. Muitas destas ferramentas apresentam as atividades
dos processos de forma gráfica, utilizando símbolos ou objetos, com os processos
detalhados individualmente através de caixas e setas. Características especiais de
cada um destes objetos podem ser anexadas como atributos do processo ou do
próprio objeto. Alguns softwares permitem entrada de dados para custeio ABC e/ou
análises através de simulações. Segundo HUNT (1998), as ferramentas de
Mapeamento de Processos podem ser divididas em três categorias:
• Ferramentas de Desenhos de Fluxo e Diagramas: Permitem o desenho de
caixas, setas, anexação de textos etc. Tipicamente possuem capacidade
limitada para análises de custos;
• Ferramentas CASE: Fornecem um esquema conceitual para modelagem da
hierarquia e definições de processos. Tipicamente são estruturadas em banco
de dados relacional e possuem capacidade de realizar análises lineares,
estatísticas e determinísticas;
• Ferramentas de Simulação: Fornecem possibilidade de simulação contínua
ou discreta, dinâmica e outras capacidades de análises mais sofisticadas.
Normalmente permitem a animação e visualização de como os objetos
“trafegam” pelo fluxograma.
METODOLOGIA 37
3 METODOLOGIA
Uma vez apresentados os conceitos de gerenciamento por processos, deve-se
estabelecer a metodologia para sua implementação. Esta é uma adaptação do estudo
conceitual à realidade da empresa e das pessoas envolvidas.
A metodologia para gerenciamento por processos a ser utilizada foi estruturada,
sobretudo, com base em conceitos de melhoria contínua dos processos. A melhoria
dos processos será obtida através da análise e ação sobre os processos já existentes
na empresa, visando aumentar o seu desempenho. Não é escopo da metodologia
proposta a reestruturação completa dos processos, ou o projeto de processos novos.
Isso se deve a tais fatores:
• Aversão da empresa aos riscos de uma reestruturação completa dos
processos;
• Necessidade de obtenção de resultados rápidos, não havendo tempo
disponível para uma reengenharia de processos.
A metodologia divide-se em cinco etapas principais, conforme observado na figura
3.1. A estrutura geral da metodologia é uma adaptação da metodologia de
gerenciamento por processos de HARRINGTON (1993). Cada uma das etapas será
detalhada nos tópicos a seguir.
METODOLOGIA 38
Acompanhamento e Controle
Planejamento
Melhoria dos Processos
Identificação e Avaliação dos Processos
Detalhamento dos Processos
Figura 3.1 – Metodologia para gerenciamento por processos
Fonte: Elaborado pelo autor
3.1 ETAPA 1 - PLANEJAMENTO
A etapa de planejamento visa preparar o ambiente da empresa para os trabalhos de
melhoria dos processos. HARRINGTON (1993) argumenta que um projeto de
melhoria de processos mal planejado e com divulgação inexistente ou limitada dentro
da organização tem chances razoáveis de fracassar, devido a resistências da
administração e dos próprios funcionários da empresa. Desse modo propõe-se um
planejamento inicial das atividades que serão realizadas, englobando a definição dos
objetivos e escopo do projeto de melhoria dos processos, a definição da equipe e do
cronograma de trabalho. Estas definições devem ser comunicadas aos envolvidos, de
modo a se obter comprometimento.
♦ Definição dos Objetivos e Escopo do Projeto
Por mais simples e óbvio que possa parecer o entendimento do escopo de um
determinado projeto, a sua definição precisa e objetiva é essencial para que haja
sintonia entre a equipe que conduzirá os trabalhos e os seus principais patrocinadores
e interessados.
METODOLOGIA 39
Nesta fase se realizará, baseado nas recomendações de HARRIGNTON (1993), a
definição e divulgação dos objetivos e escopo do projeto de melhorias, visando obter
comprometimento das pessoas envolvidas e da administração da empresa, de cujo
apoio dependerá o sucesso da implementação das melhorias nos processos.
♦ Definição da Equipe e Cronograma de Trabalho
É consenso entre inúmeros autores, conforme apresentado na revisão bibliográfica,
que a melhoria dos processos é melhor realizada por grupos de trabalho. Desse
modo, nesta fase definir-se-á a composição da equipe de gerenciamento por
processos .
A equipe de gerenciamento por processos, ou simplesmente equipe de processos,
será composta por integrantes internos e externos, conforme as recomendações de
HAMMER & CHAMPY (1994). Os integrantes internos são aquelas pessoas que
trabalham ou já trabalharam nos processos estudados, conhecendo bem o seu
funcionamento. Estes funcionários estão aptos a avaliar a viabilidade e o impacto de
melhorias nos processos, mas, devido ao seu envolvimento direto com os processos,
freqüentemente são menos críticos e têm uma visão menos criativa quanto à
identificação de inovações.
Já os integrantes externos são pessoas que nunca trabalharam nos processos
analisados. Segundo HAMMER & CHAMPY (1994), estas são dotadas de maior
imparcialidade e visão crítica, contribuindo com a introdução de novas perspectivas e
idéias para a equipe. Recomenda-se que a equipe tenha de cinco a dez membros.
Após a definição da equipe de melhoria de processos, a fim de se concluir a etapa de
planejamento, deve-se elaborar um cronograma de trabalho. Isso permitirá um
melhor planejamento e acompanhamento dos resultados do projeto de melhoria dos
processos.
METODOLOGIA 40
3.2 ETAPA 2 - IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS
O principal objetivo desta etapa é selecionar os processos que serão alvos de
melhorias. Para isso, deve-se, uma vez concluída a etapa de planejamento,
primeiramente identificar e entender, em nível macro, os processos que ocorrem na
organização, e os seus objetivos. Em seguida, entre os processos identificados,
selecionam-se aqueles que serão foco para proposição de melhorias.
♦ Identificação e Entendimento Geral dos Processos
Deve-se inicialmente identificar, em alto nível, os processos que ocorrem na
organização. Conforme discutido na revisão bibliográfica, diversos autores destacam
a importância de que o nível de detalhe seja tal que permita a concisão quanto ao
número de processos identificados. Serão utilizadas as recomendações de HAMMER
& CHAMPY (1994), que afirmam que dificilmente uma empresa possui mais de dez
processos principais.
Para cada processo relacionado, serão identificados, baseado em HARRINGTON
(1993), os seus objetivos, fronteiras, clientes e áreas (ou departamentos) envolvidos.
As fronteiras de um processo são determinadas através da identificação das entradas
do mesmo, ou eventos iniciais que motivam a sua execução, e das saídas, ou eventos
finais que constituem no seu resultado.
♦ Seleção dos Processos Prioritários para Melhoria
Visando aumentar a eficiência da utilização dos recursos da empresa para melhoria
dos processos, e maximizar os resultados obtidos, deve-se selecionar os processos
prioritários para melhoria. Estes são os processos onde os impactos das melhorias
serão mais positivos e visíveis para a organização.
A identificação e entendimento geral dos processos e seus objetivos, realizada na
fase anterior, proporcionará subsídios à escolha dos processos prioritários. A seleção
dos processos prioritários será realizada utilizando-se uma adaptação da metodologia
proposta por BOUER (1997).
METODOLOGIA 41
BOUER (1997) propõe a avaliação dos processos segundo dois critérios:
• O impacto sobre os negócios, através da avaliação da vinculação dos
processos aos objetivos estratégicos da empresa;
• O seu desempenho, em função do atendimento às expectativas e
necessidades dos clientes.
A avaliação dos processos quanto ao impacto sobre os negócios corresponde à
importância que o processo assume para a consecução dos objetivos estratégicos da
organização. Assim, o primeiro passo para avaliar os processos é, segundo BOUER
(1997), identificar os objetivos estratégicos de referência. Estes têm vinculação direta
com a missão da empresa, seu plano estratégico e o cenário previsto para o mercado.
A partir dos objetivos estratégicos, deve-se atribuir uma importância, ou nota, a cada
processo considerado. O processo de maior nota será aquele que mais contribui para
a empresa atingir seus objetivos estratégicos.
O segundo critério para avaliação dos processos corresponde ao seu desempenho,
relacionado ao atendimento das necessidades dos clientes. Cada processo deve ser
avaliado na óptica dos seus clientes, com atribuição de uma nota. O processo de
maior nota será aquele de melhor desempenho.
Na figura 3.2 observam-se as escalas de notas adotadas para avaliação dos
processos, para cada um dos critérios utilizados. As escalas foram adaptadas pelo
autor, a partir da metodologia proposta por BOUER (1997).
METODOLOGIA 42
Fundamental
Elevado
Médio
Modesto
Fraco
5
4
3
1
2
Fundamental
Elevado
Médio
Modesto
Fraco
Fundamental
Elevado
Médio
Modesto
Fraco
5
4
3
1
2
5
4
3
1
2
Impacto sobre os negócios (I)
Ótimo
Bom
Razoável
Ruim
Péssimo
5
4
3
1
2
Desempenho em relação ao atendimento das
necessidades dos clientes(D)
Figura 3.2 – Critérios e escalas para avaliação dos processos
Fonte: Adaptado de Bouer (1997)
A partir das notas atribuídas aos processos, propõe-se, baseado também em BOUER
(1997), a utilização de uma matriz para seleção dos processos prioritários. A matriz,
visualizada na figura 3.3, contém, no seu eixo horizontal, a escala de desempenho
(D), e no eixo vertical a escala de impacto sobre os negócios (I). Cada processo deve
então ser posicionado na matriz, permitindo a seleção.
DESEMPENHO (D)
1 2 3 4 5
IMPA
CT
O S
OB
RE
OS N
EG
ÓC
IOS (I)
5
4
3
2
1
Figura 3.3 – Matriz para seleção dos processos prioritários
Fonte: Adaptado de Bouer (1997)
METODOLOGIA 43
Os processos prioritários para melhoria são aqueles posicionados no quadrante
superior esquerdo da matriz. Ou seja, são os processos de maior impacto sobre os
negócios, e que possuem um desempenho inadequado. Estes processos constituirão
no foco do estudo e das melhorias a serem propostas nas etapas subseqüentes da
metodologia.
Para cada processo prioritário selecionado, é fundamental a escolha do “dono do
processo”. Este é a pessoa que responderá pelo desempenho do processo, possuindo
autonomia para realizar alterações no processo, e acatar ou recusar proposições de
melhoria (HARRINGTON, 1993).
3.3 ETAPA 3 - DETALHAMENTO DOS PROCESSOS
O entendimento da situação e do desempenho atual dos processos prioritários é
necessário para proporcionar subsídios à sua melhoria. Além disso, é essencial a
definição dos objetivos de melhoria para estes processos. Desse modo, a proposta
desta etapa da metodologia é definir, inicialmente, que tipo de melhoria se buscará
nos processos prioritários e, a seguir, detalhar os seus fluxos de trabalho,
documentando-os em um software para modelagem de processos.
♦ Definição dos Objetivos de Melhoria e Indicadores de Desempenho
O ponto de partida para a melhoria dos processos considerados prioritários é o
estabelecimento dos objetivos de melhoria a serem perseguidos. De acordo com
diversos autores, entre eles HAMMER & CHAMPY (1994), DAVENPORT (1994) e
RUMMLER & BRACHE (1994), é de extrema importância que a melhoria dos
processos esteja em consonância com os objetivos estratégicos da empresa.
A definição dos objetivos de melhoria, nesta metodologia, é baseada nas
recomendações de DAVENPORT (1994), sobre a elaboração da visão futura do
processo, discutida na revisão bibliográfica. Para a definição dos objetivos de
melhoria, deve-se inicialmente estabelecer para quais variáveis do processo se
METODOLOGIA 44
buscará melhoria. Estas variáveis devem ser aquelas mais relevantes para a empresa,
ou seja, devem estar vinculadas aos objetivos estratégicos da organização, já
relacionados na etapa de Identificação e Avaliação dos Processos.
Tanto DAVENPORT (1994) como HARRINGTON (1993) destacam a importância
da medição do processo atual quanto às variáveis mais relevantes, através da
definição de indicadores de desempenho do processo. Por exemplo, se os objetivos
estratégicos da empresa exigirem uma redução de custos, uma variável relevante a
ser medida será, obviamente, o custo, e os indicadores de desempenho, nesse caso,
devem medir o custo de cada processo e/ ou atividade do processo.
Uma vez definidas as variáveis mais relevantes dos processos e os indicadores de
desempenho correspondentes, deve-se medir o desempenho do processo atual em
termos destas variáveis. Ou seja, é necessário obter os valores dos indicadores para o
processo atual. Como ainda não se conhece detalhadamente o processo, os
indicadores definidos neste momento são de nível macro.
A medição do processo atual dará subsídios para o estabelecimento de metas de
melhoria e prazos para sua obtenção (HARRINGTON, 1993). As metas expressam,
na verdade, o valor futuro a ser perseguido pelos indicadores, e serão estipuladas
levando-se em consideração as expectativas e necessidades dos clientes do
processo (DAVENPORT, 1994).
A definição dos indicadores de desempenho do processo e de suas metas permitirá o
acompanhamento do desempenho do mesmo após a implementação das melhorias
propostas. Em outras palavras, permitirá a conclusão sobre a efetividade ou não das
melhorias implementadas. O acompanhamento dos indicadores será melhor discutido
na etapa de Acompanhamento e Controle desta metodologia.
♦ Detalhamento do Fluxo de Trabalho
Após a definição dos objetivos de melhoria para os processos prioritários, seus
indicadores de desempenho e metas, deve-se entender de forma detalhada tais
processos.
METODOLOGIA 45
Como a estrutura geral da metodologia proposta baseia-se em conceitos de melhoria
contínua dos processos, utilizaremos aqui as recomendações de HARRINGTON
(1993) para o detalhamento dos processos a serem melhorados.
Os processos serão entendidos e documentados em sucessivos níveis de detalhe,
compondo assim a hierarquia completa do processo. A descrição do processo em alto
nível, ou seja, a sua divisão em subprocessos , ocorre no primeiro nível de detalhe.
Os subprocessos são detalhados em atividades, que constituem o segundo nível de
detalhe da hierarquia. Finalmente, as mesmas são detalhadas em tarefas, que
correspondem aos componentes mínimos do processo considerados neste trabalho.
Destaca-se que não é necessário que todas as atividades sejam detalhadas até o nível
de tarefa. Há atividades que envolvem trabalho de natureza complexa, ou seja, que
não pode ser decomposto em procedimentos (ou tarefas) mais simples.
Para a documentação dos processos, utilizar-se-á a metodologia proposta por
RUMMLER & BRACHE (1994). Fluxogramas, ou mapa de processos , serão
elaborados. Estes documentam a seqüência de etapas pelas quais os departamentos
passam para converter entradas em saídas de um processo específico. Em outras
palavras, mostram como o trabalho é realizado atualmente na organização. A figura
3.4 contém um exemplo de mapa de processos, com os seus diversos elementos,
segundo RUMMLER & BRACHE (1994).
Pro
duçã
oV
enda
sC
lient
e
Realizar pedido
Submeter pedido
Checar estoque
Produzir lote
OK?OK? Enviar pedido
Sim
Comunicar cliente
Figura 3.4 – Exemplo de mapa de processos
Fonte: Adaptado de Rummler & Brache (1994)
METODOLOGIA 46
O processo de mapeamento começa pela identificação das funções ou departamentos
envolvidos nos processos, relacionando-os no eixo esquerdo e traçando uma faixa
horizontal para cada um. Estas faixas, ou raias, visam facilitar o entendimento do
fluxo do processo na empresa, permitindo a visualização das passagens entre
departamentos. A seguir, acompanha-se o processo de conversão das entradas, ou
insumos do processo, em todas as suas etapas intermediárias, até que seja(m)
produzida(s) a(s) saída(s) exigida(s).
O mapa de processos mostra como todas as funções são envolvidas à medida que o
processo é executado. Este formato de mapeamento, de acordo com RUMMLER &
BRACHE (1994), permite a identificação de interfaces críticas entre atividades, a
presença de etapas ilógicas do processo ou ausência de etapas fundamentais.
Um ou mais mapas de processos serão utilizados para representar cada nível de
detalhe observado. Os subprocessos e sua seqüência de execução serão
representados no mapa de processos nível 0. O detalhamento deste mapa de
processos, ou seja, a seqüência de execução das atividades componentes de cada
subprocesso, será representado nos mapas de processos nível 1. O mesmo raciocínio
é válido para os mapas de processos nível 2, que representarão a seqüência de
ocorrência das tarefas.
♦ Documentação em Software para Modelagem de Processos
A documentação e posterior visualização dos mapas de processos serão realizadas
com o auxílio de um software para modelagem de processos. Apesar de não ser
necessário para a aplicação do gerenciamento por processos, optou-se pela utilização
do software devido aos seguintes motivos:
• A facilidade e rapidez para elaboração dos modelos é maior do que a obtida
por ferramentas tradicionais de elaboração de desenhos e apresentações;
• O software permite uma melhor organização e consistência das informações,
além da segurança no acesso e utilização;
• Possui suporte à elaboração de fluxogramas em vários níveis de detalhe, que
é a proposta da metodologia;
METODOLOGIA 47
• Permite a publicação dos fluxogramas em formato HTML, permitindo a fácil
divulgação para toda a empresa;
• O banco já dispunha de uma licença de um software específico para
modelagem e tinha o interesse de, futuramente, utilizá- lo amplamente para o
gerenciamento de processos e documentação referente à certificação
ISO9000.
O software utilizado para documentação dá suporte completo à metodologia de
RUMMLER & BRACHE (1994) e à hierarquia do processo proposta por
HARRINGTON (1993). Além do conceito de raias, que representam as funções, ou
departamentos, responsáveis pela execução da(s) respectiva(s) etapa(s) do processo,
serão utilizadas na documentação outras simbologias próprias do software, descritas
na tabela 3.1.
Tabela 3.1 – Simbologia utilizada para documentação dos processos
Símbolo Descrição
Ponto de decisão: Utilizado quando há ramificações no fluxo do processo, ou seja, no caso da existência de mais de uma alternativa para execução.
Barra de junção: Utilizada quando é necessário que todas as atividades e/ou tarefas anteriores à barra sejam concluídas para que se possa inicar as atividades e/ou tarefas subsequentes à barra.
Fonte: Representa o início de um processo.
Destino: Representa o término de um processo.
Fonte: Elaborado pelo autor
3.4 ETAPA 4 - MELHORIA DOS PROCESSOS
Os processos prioritários para melhoria, já identificados, detalhados e documentados,
nesta etapa serão objeto de análise mais aprofundada. Através de coleta de dados, os
problemas, que levam ao não atingimento das metas para esses processos, serão
METODOLOGIA 48
detalhados, visando a determinação das suas principais causas. A seguir, melhorias
serão propostas, de modo a se reduzir ou eliminar as causas dos problemas.
♦ Análise e Identificação de Oportunidades de Melhoria
Para a melhoria dos processos prioritários, será utilizada uma adaptação da
metodologia PDCA para solução de problemas, apresentada por CAMPOS (1992). O
PDCA (Plan, Do, Check, Action) consiste em uma abordagem composta por quatro
etapas. O Planejamento (Plan), primeira fase do PDCA, inicia-se com a escolha do
problema a ser solucionado.
Já se tem, da etapa anterior da metodologia, a definição dos objetivos e metas para
melhoria dos processos prioritários. Desse modo, o problema geral a ser resolvido é o
não atingimento das metas, para os processos em questão. Este problema deve ser
detalhado, visando a sua solução. CAMPOS (1992) propõe que se descubra, através
da coleta de dados, as principais características do problema: onde ele ocorre, como,
quando. Será utilizado, como ponto de partida para a coleta de dados e análise, a
documentação dos processos já realizada na etapa anterior. O objetivo é detalhar o
problema, decompondo-o nos seus principais temas, ou subproblemas. Através de
análises de pareto, os principais subproblemas são priorizados e aqueles mais
relevantes novamente detalhados, caso necessário, até se chegar em problemas
suficientemente específicos, nos quais seja possível encontrar suas causas.
As causas são identificadas através da construção de diagramas de causa e efeito.
CAMPOS (1992) observa que, para se identificar, dentre todas as causas levantadas,
aquelas mais prováveis para o problema, deve-se coletar dados, testar e comprovar as
relações de causa e efeito. Entretanto, as características dos processos do banco
estudado, devido à intangibilidade e subjetividade inerente às operações de empresas
de serviços, dificultariam uma coleta de dados nesse sentido.
Como alternativa, propõe-se a utilização do método de priorização proposto por
DELLARETTI FILHO (1996). Utilizar-se-á uma matriz para mensurar a correlação
entre os problemas e suas causas, de modo a se identificar as causas que trazem
maiores impactos aos processos. A matriz, observada na figura 3.5, contém, nas
METODOLOGIA 49
colunas, os problemas identificados nos processos prioritários. Para cada problema se
atribui um peso, baseado em dados disponíveis, ou por votação ou consenso entre os
membros da equipe. Nas linhas, aparecem as causas fundamentais apontadas nos
diagramas de causa e efeito. Em cada intersecção é atribuído um valor que varia de
um a cinco (“x” a “xxxxx”). Este representa a intensidade de correlação entre a causa
e o respectivo problema. A escala para avaliação da intensidade de correlação foi
elaborada pelo autor.
As pontuações finais das causas, na coluna mais a direita da matriz, são calculadas
multiplicando-se o valor atribuído à cada intersecção pelo peso do respectivo
problema. A seguir esses valores são totalizados para cada linha (ou causa),
constituindo a pontuação final daquela causa. Quanto maior a pontuação final, mais
importante é a causa, ou seja, maior impacto ela tem sobre os problemas
considerados.
Prob
lema 1
Prob
lema 2
Prob
lema 3
Prob
lema 4
TOTAL
PESOS A B C D
Causa 1 xx x 2*B + 1*D
Causa 2 x xx 1*A + 2*C
Causa 3 xxx xxx x 3*A + 3*C + 1*D
Causa 4 xxxx 4*D
Causa 5 xx xx 2*B + 2*C
CAUSAS
PROBLEMAS
Figura 3.5 – Matriz de priorização das causas
Fonte: Adaptado de Dellaretti Filho (1996)
Uma vez identificadas as causas mais importantes, a melhoria do processo é obtida
por meio do bloqueio destas causas. Desse modo, finalizando a fase Plan do ciclo
PDCA, deve ser elaborado um plano de ação para o bloqueio das principais causas.
Este plano deve conter, baseado em CAMPOS (1992), respostas para as seis
perguntas básicas: o quê será feito; por quê será feito; quando será feito; onde será
METODOLOGIA 50
feito; quem fará e como será feito. Estas perguntas compõem o chamado 5W1H
(what, why, when, where, who e how), segundo CAMPOS (1992).
♦ Implementação das Melhorias
A implementação das melhorias de acordo com o plano de ação elaborado
corresponde à segunda fase do PDCA, a Ação (Do). Nesta fase, antes da
implementação ser de fato realizada, deve-se divulgar o plano de ação a todos os
envolvidos.
Dependendo do tipo de melhoria e impactos organizacionais resultantes, pode ser
necessário testar o processo revisto antes da implementação completa da melhoria.
DAVENPORT (1994) recomenda o teste do processo em pequena escala, por meio
de um protótipo. Por outro lado, melhorias localizadas, que não originam impactos
estruturais nem riscos relevantes para a empresa, podem ser implementadas
rapidamente, de modo a se obterem resultados mensuráveis em um curto intervalo de
tempo.
3.5 ETAPA 5 - ACOMPANHAMENTO E CONTROLE
A etapa de acompanhamento e controle baseia-se nas recomendações de
HARRINGTON (1993). Encontra-se também intimamente relacionada às duas
últimas fases do PDCA, a Verificação das melhorias (Check) e a Ação sobre os
resultados (Action). O acompanhamento do processo, após a implementação das
melhorias, é fundamental para se garantir a eficácia das mesmas.
Através do acompanhamento dos indicadores de desempenho definidos para os
processos, será comprovada a obtenção de melhorias. Caso as melhorias não tenham
surtido o efeito esperado, ou seja, os processos ainda não atingiram as metas, deve-se
analisar os problemas ocorridos e tomar ações corretivas. Caso necessário, segundo
CAMPOS (1992), deve-se elaborar novos planos de ação, para correção dos
METODOLOGIA 51
problemas. Neste caso, retorna-se para a etapa de Melhoria dos Processos,
reiniciando a primeira fase do PDCA.
Caso as melhorias tenham atingido seu objetivo, ou seja, os processos agora
cumprem as metas estipuladas, deve-se consolidar as alterações realizadas nos
processos, através da padronização e difusão dos novos procedimentos estabelecidos,
para se garantir a continuidade das melhorias (CAMPOS, 1992). Mesmo após a
comprovação do atingimento das metas, o desempenho dos processos deve ser
constantemente acompanhado, visando à realização de ajustes e melhoria do
desempenho. A melhoria dos processos, segundo HARRINGTON (1993), deve ser
contínua, sendo recomendado o retorno à etapa de Detalhamento dos Processos, para
a continuidade do gerenciamento por processos e obtenção de novas melhorias.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 52
4 ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO
Neste capítulo, inicia-se a aplicação prática dos conceitos de gerenciamento por
processos discutidos até aqui. Até o momento, o presente trabalho abordou os
seguintes tópicos: uma introdução sobre os objetivos do trabalho e sobre as
características da empresa onde o estágio foi desenvolvido (Capítulo 1); uma revisão
bibliográfica sobre os conceitos e metodologias existentes para gerenciamento de
processos (Capítulo 2); a metodologia proposta pelo autor (Capítulo 3).
Nos Capítulos 4, 5, 6, 7 e 8, percorre-se todos os passos da metodologia proposta,
aplicando-se os conceitos estudados à realidade dos processos do Banco de
Desenvolvimento. Será evidenciando como todo o trabalho se desenvolveu, e quais
os resultados obtidos.
Para o desenvolvimento da parte prática deste trabalho, foi composta uma equipe de
funcionários do banco, conforme propõe a metodologia utilizada. A aplicação do
gerenciamento por processos foi realizada por esta equipe, da qual o autor fez parte.
Além do desenvolvimento da metodologia, o autor foi responsável pela condução
dos trabalhos e orientação da equipe. Participou de todas as reuniões realizadas, além
de produzir o material (documentos e apresentações) utilizado nos trabalhos.
4.1 PLANEJAMENTO
O primeiro passo para a aplicação prática do gerenciamento por processos no banco é
o planejamento de como os trabalhos serão desenvolvidos. A fim de se obter o
comprometimento dos envolvidos, garantindo a obtenção de resultados positivos,
definiu-se que os trabalhos a serem realizados comporiam um projeto de melhoria
de processos.
Uma vez constituído o projeto, realizou-se a definição dos seus objetivos e escopo.
Os objetivos e escopo do projeto confundem-se com os próprios objetivos e escopo
do presente trabalho, sendo já alvo de esclarecimentos no Capítulo 1.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 53
A seguir, procedeu-se com a definição dos componentes da equipe de gerenciamento
por processos. A equipe definida continha dez funcionários do banco, além do
próprio autor. Entre os componentes, havia cinco analistas experientes, cada um
pertencente a um departamento da Diretoria de Operações. Estes departamentos são
responsáveis pela maior parte dos processos do banco. Havia também três analistas
do Departamento de Organização e Processos, que é o departamento oficialmente
responsável pelo novo projeto de melhoria de processos no banco. Os demais
componentes eram funcionários de diversas áreas da empresa.
Finalmente, elaborou-se o cronograma de trabalho para o projeto. As fases, ou etapas
do projeto correspondem justamente às etapas da metodologia proposta para este
trabalho, com exceção, naturalmente, da fase de planejamento, que no momento
acabara de ser realizada. Os resultados do planejamento foram divulgados a gerência
e a todos os funcionários envolvidos do banco.
4.2 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS PROCESSOS
Após o planejamento, o primeiro passo para a implementação do gerenciamento de
processos no banco é a identificação dos processos que ocorrem na empresa. A
identificação e entendimento geral dos processos permitem que se selecione os
processos prioritários para melhoria, que é o principal objetivo desta etapa.
4.2.1 IDENTIFICAÇÃO E ENTENDIMENTO GERAL DOS PROCESSOS
Através de reuniões com a equipe de processos, iniciou-se o entendimento geral da
área de atuação do banco, seu mercado e principais produtos e serviços fornecidos
aos clientes, de modo a subsidiar a identificação da maneira como a empresa executa
todo o trabalho, ou seja, operacionaliza o fornecimento dos seus produtos aos
clientes.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 54
O Banco de Desenvolvimento atua no mercado de crédito, fornecendo uma variedade
de produtos de crédito a empresas de diversos portes e setores da economia. Assim, o
objetivo fundamental do banco é fornecer, ou melhor, emprestar recursos financeiros
a seus clientes, em troca de ganhos provenientes das taxas de juros das operações.
O Banco de Desenvolvimento, por ser um banco público orientado ao
desenvolvimento econômico do Estado, apresenta alguns diferenciais em relação aos
bancos de financiamento privados. É política do banco que os valores emprestados
devem ser utilizados para fins que proporcionem algum tipo de retorno ao Estado,
seja em termos de desenvolvimento econômico, aumento de arrecadação de
impostos, geração de empregos ou outros tipos de benefícios sociais.
Desse modo, o banco exige, para efetivar o empréstimo, que o cliente apresente um
projeto de investimentos, no qual esteja explicitada a maneira como este utilizará os
recursos financiados, e quais são os retornos econômicos esperados.
O banco, a fim de cumprir seus objetivos gerais, ou seja, realizar operações de
financiamento, apresenta alguns processos , que compreendem todo o trabalho que é
executado na organização. Por meio de discussões com a equipe de processos,
relacionaram-se os principais processos do banco. Os processos identificados e as
suas inter-relações podem ser observados na figura 4.1.
Análise deCrédito
Acompanhamento do Projeto e do Cliente
Cobrança Recebimento LiquidaçãoDivulgaçãoe Captação Contratação Liberação
Figura 4.1 – Processos do Banco de Desenvolvimento
Fonte: Elaborado pelo autor
Merece destaque que este diagrama não deve ser entendido como um fluxograma.
Ele apenas demonstra, em alto nível, como os processos estão relacionados, não se
preocupando com a seqüência temporal exata de ocorrência destes.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 55
Apresenta-se a seguir uma descrição sucinta de cada processo, contendo os seus
objetivos, entradas (ou eventos iniciais), saídas (ou eventos finais), clientes e
principais departamentos do banco envolvidos:
§ Divulgação e Captação
O processo de Divulgação e Captação compreende todo o trabalho necessário para a
veiculação de publicidade pelo banco, nas diversas mídias disponíveis (televisão,
jornais, internet etc). O banco, atualmente, desenvolve material publicitário e elabora
campanhas somente na ocasião do lançamento de novos produtos. A Divulgação e
Captação engloba também as atividades relacionadas à prospecção de clientes e
negócios.
• Objetivos: Captar novos negócios.
• Entrada: Produto lançado no mercado.
• Saída: Novos negócios captados.
• Clientes: Gestores dos produtos. O processo em questão visa captar novos
negócios para os gestores dos produtos do banco, que são os responsáveis
pela realização das operações de financiamento, e têm metas de valores
financiados a serem atingidas. Os gestores dos produtos são clientes internos
à organização.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional (todos os departamentos
pertencentes à Diretoria de Operações).
§ Análise de Crédito
O processo de Análise de Crédito constitui todas as etapas nas quais o banco analisa
o crédito e o projeto do cliente, de modo a determinar a viabilidade e o risco do
financiamento. O processo inicia-se após o recebimento da proposta de
financiamento preenchida pelo cliente. O banco realiza uma série de verificações e
análises sobre a empresa que está solicitando o financiamento e o projeto por ela
apresentado, visando aprovar ou recusar a operação de financiamento.
• Objetivos: Analisar a viabilidade e o risco da operação de crédito.
• Entrada: Proposta de financiamento preenchida.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 56
• Saída: Operação de financiamento aprovada ou recusada pela diretoria do
banco.
• Clientes: Gestores dos produtos. Estes são os responsáveis pela
rentabilidade e qualidade das operações de crédito, sendo portanto os mais
interessados na eficiência da Análise de Crédito.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Jurídico, Patrimônio e
Serviços, Gestão de Risco, Administração de Recursos Financeiros.
§ Contratação
O processo de Contratação, que se inicia após a aprovação da operação de crédito,
consiste no trabalho de elaboração e formalização do contrato para efetivação do
empréstimo. Na execução deste processo é cumprida uma série de requisitos legais
para a liberação dos recursos financiados.
• Objetivos: Formalizar a operação de financiamento.
• Entrada: Operação de financiamento aprovada pela diretoria do banco.
• Saída: Contrato formalizado.
• Clientes: Gestores dos produtos e cliente final (empresa que solicitou o
financiamento). O contrato formalizado é a saída do processo, entregue tanto
ao cliente final como ao gestor do produto de crédito. Ambos necessitam da
formalização do contrato, como garantia ao cumprimento das condições da
operação.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Jurídico.
§ Liberação
A Liberação dos recursos corresponde ao processo de efetivamente disponibilizar ao
cliente os valores financiados. O processo se inicia após a formalização do contrato,
englobando atividades de controle, visto que o banco deve registrar contabilmente os
valores liberados, e também informar o fornecedor dos recursos sobre o
financiamento, no caso de os recursos não serem próprios do banco.
• Objetivos: Liberar os recursos ao cliente.
• Entrada: Contrato formalizado.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 57
• Saída: Recursos disponibilizados ao cliente.
• Clientes: A empresa solicitante do financiamento (cliente final).
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Administração de Recursos
Financeiros.
§ Cobrança
O processo de Cobrança compreende as atividades nas quais o banco exige do cliente
o pagamento dos valores devidos, constantes no contrato de financiamento. Há vários
tipos de cobrança: a emissão de simples cartas de cobrança, quando o prazo para
pagamento ainda não expirou; cobrança de parcelas vencidas, que pode ser realizada
pelo próprio banco ou por escritórios de cobrança terceirizados; negociação de
acordos, nos casos em que o cliente não tem condições de arcar integralmente com as
dívidas; cobrança judicial, quando se esgotaram as tentativas de negociação e o
banco aciona judicialmente o cliente.
• Objetivos: Cobrar do cliente os valores devidos.
• Entrada: Débitos do cliente com o banco.
• Saída: Valores devidos recebidos.
• Clientes: Gestores dos produtos. São os responsáveis pela rentabilidade da
carteira de operações, e também pela inadimplência relacionada aos
financiamentos concedidos.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Recuperação de Crédito,
Contencioso, Gestão de Risco.
§ Recebimento
O Recebimento corresponde ao processo no qual o banco apura e controla os valores
recebidos do cliente, referentes ao pagamento dos empréstimos concedidos. Engloba
uma série de atividades necessárias para o registro contábil e baixa dos valores
recebidos. O recebimento pode ser realizado de diversas maneiras, dependendo da
forma como o cliente efetuou o pagamento (débito em conta, boleto de cobrança etc).
• Objetivos: Controlar e registrar os valores recebidos dos clientes.
• Entrada: Pagamento efetuado.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 58
• Saída: Baixa dos valores na contabilidade.
• Clientes: Gestores dos produtos e Departamento de Controladoria. Este
último necessita do Recebimento a fim de realizar todos os fechamentos
contábeis exigidos por lei.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Administração de Recursos
Financeiros.
§ Liquidação
O processo de Liquidação engloba o trabalho executado para quitar o contrato de
financiamento com o cliente, no caso em que se verificou o término do prazo
previsto. Nesse processo ocorre a liberação dos bens dados em garantia na operação
de crédito, e o encerramento do vínculo contratual entre o banco e o cliente.
• Objetivos: Quitar o contrato com o cliente.
• Entrada: Término do prazo e condições contratuais satisfeitas.
• Saída: Contrato liquidado.
• Clientes: Gestores do produto e cliente final.
• Departamentos envolvidos: Área Operacional.
§ Acompanhamento do Projeto e do Cliente
O processo de Acompanhamento consiste nas atividades de relacionamento com o
cliente, nas quais é verificado se o mesmo está cumprindo as condições estipuladas.
É necessário que o cliente comprove a aplicação dos recursos recebidos nos itens que
foram declarados no projeto entregue ao banco. Caso contrário, o banco não liberará
a próxima parcela do financiamento. Além disso, o banco acompanha a situação
geral do cliente, desde a fase de Divulgação e Captação até a Liquidação, visando
garantir a sua adimplência e prospectando novos negócios.
• Objetivos: Acompanhar a situação do cliente junto ao banco.
• Entrada: Início do contato do cliente com o banco.
• Saída: Situação do cliente acompanhada e novos negócios prospectados.
• Clientes: Gestores dos produtos e cliente final.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 59
• Departamentos envolvidos: Área Operacional, Administração de Recursos
Financeiros.
4.2.2 SELEÇÃO DOS PROCESSOS PRIORITÁRIOS PARA MELHORIA
Uma vez identificados os processos que ocorrem no banco, realizou-se a seleção dos
processos prioritários para análise e implementação de melhorias. A seleção foi
realizada através da atribuição de duas notas a cada um dos processos, de acordo com
dois critérios de avaliação: o impacto sobre os negócios e o desempenho em relação
ao atendimento das necessidades dos clientes.
O impacto sobre os negócios representa a importância que o processo tem para a
consecução dos objetivos estratégicos do banco. Como o plano estratégico do banco
para os próximos anos ainda não estava disponível, procurou-se identificar algumas
premissas básicas que norteariam o desenvolvimento do planejamento estratégico, de
modo a permitir a avaliação da relevância estratégica de cada processo.
Através de reuniões com alguns gerentes, que são gestores de produtos do banco e
também responsáveis pelo planejamento estratégico, identificaram-se os objetivos
estratégicos de referência para a seleção e melhoria dos processos. Estes objetivos
estão relacionados com as políticas da atual administração do banco e,
principalmente, do Governo do Estado. Foi consenso, entre a gerência, que o Banco
de Desenvolvimento, de modo a atender às demandas do Estado, trabalha com os
seguintes objetivos para os próximos anos:
§ Foco no segmento de mercado representado pela média empresa.
O banco deve focar sua atuação no financiamento de empresas de porte médio
(com faturamento entre R$ 1,8 e R$ 13 milhões / ano). O objetivo é obter um
aumento, em 2004, de oito vezes no número de operações de financiamento para
as empresas médias.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 60
§ Aumento relevante do número total de operações de financiamento.
O banco tem como objetivo aumentar em aproximadamente 60% o número total
de operações de financiamento, já em 2004.
Verifica-se que ambos os objetivos convergem para um aumento do volume de
financiamentos concedidos. A identificação dos objetivos estratégicos de referência
permitiu a avaliação dos processos quanto ao impacto sobre os negócios, isto é, o seu
nível de correlação com os objetivos estratégicos do banco. A avaliação foi elaborada
em uma reunião na qual estavam presentes os mesmos gerentes que haviam
participado das discussões sobre a estratégia do banco. Durante esta reunião,
avaliaram-se também os processos quanto ao seu desempenho em relação ao
atendimento das necessidades dos clientes.
Os gerentes que participaram são, em sua maioria, gestores de produtos do banco.
Conforme apresentado no item anterior, os gestores são clientes da maioria dos
processos. Assim, a avaliação do desempenho pôde ser realizada sem maiores
dificuldades.
A avaliação dos processos em relação a ambos os critérios realizou-se através da
atribuição de duas notas, que variavam de um a cinco, para cada processo. Para o
critério impacto sobre os negócios, quanto maior a pontuação, maior é a relevância
do processo para o banco. Para o critério desempenho, uma nota elevada representa
um desempenho ótimo. A seguir discutem-se os resultados, que foram obtidos por
consenso.
§ Divulgação e Captação
O processo de Divulgação e Captação é extremamente importante para o sucesso da
estratégia do banco. Como o banco tem como objetivo elevar de forma relevante o
número de financiamentos concedidos, é necessário um aumento substancial do
número de clientes que compõem a sua carteira. Desse modo, o processo de
Divulgação e Captação assume um papel fundamental, pois é através dele que o
banco divulga seus produtos e capta novos clientes. Portanto, quanto ao impacto
sobre os negócios, o processo recebeu nota cinco.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 61
Apesar da sua importância, tal processo opera de forma incipiente no banco. A
divulgação só é realizada quando há o lançamento de novos produtos. Não há
nenhum tipo de acompanhamento das tendências do mercado, visando o lançamento
de produtos mais atrativos. A captação de novos clientes é muito mais passiva do que
ativa. Desse modo, quanto ao desempenho, obteve nota um.
§ Análise de Crédito
A Análise de Crédito, assim como o processo anterior, torna-se fundamental para
consecução dos objetivos estratégicos da empresa, devido à sua íntima relação com a
aprovação de novos negócios ou operações para o banco. No cenário esperado de
aumento do volume de operações, é importante que tal processo seja realizado de
forma eficiente, permitindo o rápido crescimento da carteira de clientes e operações
do banco, mas sem o comprometimento da qualidade do crédito concedido. A
Análise de Crédito é executada para todas as novas operações que o banco realiza,
garantindo a rentabilidade do banco e a manutenção da inadimplência a níveis
aceitáveis. Quanto maior o número de operações e valores financiados, maior a
importância de tal processo. Assim, o processo recebeu nota cinco, quanto ao
impacto sobre os negócios.
Com relação ao desempenho, avaliou-se que o processo não atende de forma
satisfatória às necessidades dos clientes (os gestores dos produtos). A Análise de
Crédito é realizada de forma manual, consumindo elevado tempo. É comum o banco
perder novos negócios, devido à demora para execução da análise. Gera grande
quantidade de documentos, de difícil entendimento e baixa utilidade para seus
clientes internos. Recebeu, assim, nota dois, quanto ao desempenho.
§ Contratação
A Contratação consiste apenas na formalização do contrato de financiamento entre o
banco e o cliente final. O processo será pouco afetado pelo aumento do volume de
operações. Não tem relação direta com a qualidade do crédito, nem com a
rentabilidade dos produtos do banco. Recebeu nota três, quanto ao impacto sobre os
negócios.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 62
O desempenho da Contratação foi avaliado como razoável (nota três). O processo
não tem sido foco de problemas referentes ao seu desempenho. A Contratação é
realizada de maneira relativamente rápida, sendo incomuns reclamações sobre a
qualidade do seu produto final (o contrato formalizado).
§ Liberação
A Liberação, apesar de constituir a etapa final da concessão do crédito, ou seja, a
etapa na qual o cliente final recebe os recursos financiados, não tem correlação
intensa com os objetivos estratégicos do banco. O processo é apenas conseqüência da
aprovação do crédito do cliente, sendo que todas as decisões relevantes para o banco
já foram tomadas anteriormente. Da mesma forma que a Contratação, recebeu nota
três, quanto ao impacto sobre os negócios.
O processo de Liberação tem como cliente a empresa solicitante do financiamento
(cliente externo ao banco). Após a formalização do contrato de financiamento, a
Liberação costuma ocorrer rapidamente e de forma adequada, não havendo
reclamações dos clientes a esse respeito. Com relação ao desempenho, obteve nota
quatro.
§ Cobrança
O processo de Cobrança tem pouco relacionamento com os objetivos estratégicos da
empresa. O banco não busca reduzir as perdas de crédito, ou a inadimplência, nos
próximos anos. Desse modo, o processo recebeu, quanto ao impacto sobre os
negócios, nota dois.
Quanto ao desempenho, obteve nota quatro. A Cobrança tem conseguido bons
índices de recuperação de crédito, sendo o seu desempenho avaliado como bom pelos
gestores dos produtos.
§ Recebimento
O Recebimento também possui pouca correlação com os objetivos do banco.
Receber os valores devidos é conseqüência do crédito bem concedido. O processo
não tem um papel de destaque para o aumento do volume de operações, que é o
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 63
objetivo do banco. Obteve, portanto, nota dois, com relação ao impacto sobre os
negócios.
O processo é quase totalmente automatizado, sendo bastante eficiente e eficaz.
Recebeu nota cinco, na avaliação do seu desempenho.
§ Liquidação
O processo de Liquidação consiste no encerramento do vínculo contratual entre o
cliente final e o banco. Desse modo, não possui qualquer relação com os objetivos
estratégicos do banco. Quanto ao impacto sobre os negócios, recebeu nota um.
A Liquidação tem ocorrido de forma bastante rápida e eficiente, segundo a avaliação
dos gerentes do banco. São bastante raras reclamações dos clientes finais quanto a
este processo. Obteve, assim, nota quatro, quanto ao desempenho.
§ Acompanhamento do Projeto e do Cliente
Por fim, o Acompanhamento do Projeto e do Cliente recebeu nota quatro, quanto ao
impacto sobre os negócios. Isso se deve ao seu objetivo ligado ao relacionamento
com o cliente final, visando obter novos negócios para o banco. Desse modo, tem
contribuição importante para o cumprimento dos objetivos estratégicos do banco.
Quanto ao desempenho, o processo obteve nota três. O Acompanhamento é
realizado de forma razoavelmente eficiente e eficaz, não havendo críticas
significativas quanto ao seu desempenho.
A partir da avaliação dos processos, construiu-se a matriz para seleção dos processos
prioritários, conforme observado na figura 4.2.
ESTUDO DOS PROCESSOS DO BANCO 64
P8. Acompanhamento do Projeto e do Cliente
P7. Liquidação
P6. Recebimento
P5. Cobrança
P4. Liberação
P3. Contratação
P2. Análise de Crédito
P1. Divulgação e Captação
P8. Acompanhamento do Projeto e do Cliente
P7. Liquidação
P6. Recebimento
P5. Cobrança
P4. Liberação
P3. Contratação
P2. Análise de Crédito
P1. Divulgação e Captação
DESEMPENHO (D)
1 2 3 4 5
IMPA
CT
O S
OB
RE
OS N
EG
ÓC
IOS (I)
5
4
3
2
1
P1
P8
P7
P6P5
P4P3
P2
Figura 4.2 – Matriz para seleção dos processos prioritários – resultados
Fonte: Elaborado pelo autor
Observa-se que os processos prioritários para melhoria são aqueles situados no
quadrante superior esquerdo da matriz, ou seja, são os processos de elevado impacto
sobre os negócios, e de baixo desempenho. Dois processos encontram-se nesta
situação: a Divulgação e Captação e a Análise de Crédito.
O processo de Divulgação e Captação, conforme já relatado, opera de forma
incipiente no banco. Em outras palavras, ele é realizado de maneira desestruturada,
além de ocorrer somente quando há lançamento de novos produtos pelo banco, o que
é bastante raro. Detectou-se aqui a necessidade de o banco desenvolver um processo
de Divulgação e Captação eficiente e adequado às novas demandas relacionadas ao
aumento do número de operações de financiamento. Julgou-se que seria necessário
ao banco o projeto de um novo processo de Divulgação e Captação, o que foge do
escopo deste trabalho, que visa a melhoria de processos já existentes.
Portanto, para a aplicação dos conceitos de gerenciamento por processos,
considerou-se que a Análise de Crédito é o processo prioritário para melhoria. Foi
definido consensualmente pela equipe que o gerente do Depto. de Indústria de
Transformação seria o “dono do processo” de Análise de Crédito, ou seja, o
responsável pelo seu desempenho, a partir desse momento.
MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 65
5 MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No capítulo anterior realizou-se o entendimento geral dos processos do banco e a
seleção dos processos prioritários para melhoria. O processo de Análise de Crédito
foi escolhido para uma análise mais aprofundada, visando à obtenção de melhorias
no seu desempenho.
A partir do Capítulo 5 será abordado especificamente o processo de Análise de
Crédito. O processo será detalhado e decomposto, visando a identificação de
problemas, suas causas e oportunidades de melhoria relacionadas.
5.1 O PROCESSO DE ANÁLISE DE CRÉDITO
Durante o processo de Análise de Crédito o banco verifica e analisa uma série de
informações a respeito da empresa solicitante do financiamento e do projeto que a
mesma pretende desenvolver com os recursos financiados. Conforme observado no
mapa de processos da figura 5.1, o processo pode ser decomposto em três
subprocessos: Análise Prévia, Análise do Projeto e Aprovação.
Cliente
Área Operacional
Diretoria
Proposta definanciamento
Operação aprovadaou recusadaAnálise
PréviaAnálise do
Projeto
Aprovação
Figura 5.1 – Mapa de Processos Nível 0 – Análise de Crédito
Fonte: Elaborado pelo autor
MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 66
O recebimento da proposta de financiamento preenchida pelo cliente dá início à
Análise de Crédito. O banco realiza então a análise geral das condições financeiras
da empresa, checando o seu nível de endividamento e idoneidade (subprocesso de
Análise Prévia). Ocorre então uma aprovação preliminar do crédito, realizada pela
gerência do banco. A seguir se realiza a análise do projeto apresentado pelo cliente,
onde são detalhadas as informações econômicas e técnicas sobre o projeto e a própria
empresa (subprocesso de Análise do Projeto). O processo termina após a aprovação
final ou recusa da operação pela diretoria do banco.
Os subprocessos de Análise Prévia e Análise do Projeto são realizados em todos os
departamentos pertencentes à Diretoria de Operações do banco. Cada departamento é
responsável pela concessão de financiamentos a empresas de determinado ramo.
Caso uma empresa hoteleira solicite um financiamento, a Análise de Crédito será
realizada pelo Departamento do Setor Terciário. Caso a empresa solicitante pertença
ao ramo metalúrgico, o crédito será analisado pelo Departamento de Mineração,
Metalurgia e Indústria Básica, e assim por diante. Devido a esse motivo, no mapa de
processos da figura 5.1 (página anterior), ao invés do nome do departamento, há
apenas a indicação “Área Operacional”, designando a raia onde ocorrem esses
subprocessos. O subprocesso de Aprovação, por outro lado, é sempre realizado pela
diretoria do banco.
5.2 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS DE MELHORIA E INDICADORES DE
DESEMPENHO
Uma vez entendido, de maneira macro, o processo de Análise de Crédito, deve-se
agora determinar quais serão os objetivos de melhoria para esse processo. As
melhorias a serem buscadas devem estar relacionadas aos objetivos estratégicos da
empresa. Ou seja, as melhorias obtidas devem contribuir para que o banco atinja de
forma mais eficiente os seus objetivos estratégicos.
Conforme apresentado no capítulo anterior, os objetivos estratégicos do Banco de
Desenvolvimento estão relacionados, sobretudo, ao aumento significativo do volume
MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 67
de operações de financiamento. Em um cenário de aumento da produção, o banco
deve ser mais eficiente na operacionalização da concessão de financiamentos. Ou
seja, devido ao aumento da demanda, a empresa deve obter maior rapidez na
execução dos seus processos, de modo a conseguir atender e satisfazer um maior
número de clientes e operacionalizar maior número de operações de financiamento,
em um mesmo intervalo de tempo.
O processo prioritário para melhoria, a Análise de Crédito, segundo avaliação dos
seus clientes, tem como fator crítico o seu tempo de ciclo. Este corresponde ao
intervalo de tempo decorrido do início até o fim do processo, ou seja, desde o
recebimento da proposta de financiamento até a entrega do seu produto final aos
clientes. Conforme já comentado anteriormente, o banco vem freqüentemente
perdendo novos negócios devido a demoras para a entrega do produto da Análise de
Crédito, que é a aprovação da operação pela diretoria do banco.
Os gestores dos produtos do banco avaliam que a Análise de Crédito atende às
expectativas quanto ao nível de precisão da resposta final obtida pelo processo, sobre
a viabilidade ou não da concessão do financiamento. Entretanto, tal resposta é obtida
em detrimento de um grande consumo de tempo para a execução do processo.
Desse modo, considerando-se o desempenho atual do processo e, principalmente, os
objetivos estratégicos do banco, o objetivo de melhoria para a Análise de Crédito é a
redução do seu tempo de ciclo. Esta definição foi realizada em reunião com a
equipe de gerenciamento de processos e os principais gerentes envolvidos no
processo em questão. A redução do tempo de ciclo visa tornar o processo mais ágil e
eficiente, permitindo a análise de um maior número de operações e a satisfação dos
seus clientes.
Conforme a metodologia proposta, após a definição dos objetivos de melhoria, deve-
se medir o desempenho do processo atual em termos das variáveis críticas, no caso o
tempo de ciclo. A medição se dá através da definição de indicadores de desempenho
do processo.
MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 68
Assim, definiu-se um indicador de desempenho global, que é o tempo total de ciclo
da Análise de Crédito. Este indicador foi decomposto em três outros indicadores,
cada um medindo o tempo de ciclo de cada subprocesso componente (Análise Prévia,
Análise do Projeto e Aprovação).
A fim de se obterem os valores dos indicadores para o processo atual, elaborou-se
um questionário para a coleta de dados referentes às datas de ocorrência de
determinados eventos-chave do processo. O questionário desenvolvido pelo autor,
em conjunto com a equipe, encontra-se no Anexo A. A coleta de dados se deu
através da distribuição do questionário a todos os analistas de crédito do banco, que
foram orientados a preenchê- lo com as datas sobre as análises de sua
responsabilidade, realizadas no período de um ano (maio de 2002 a maio de 2003) e
referentes ao produto BNDES Automático. Julgou-se que este produto representa o
tipo de financiamento mais comum para o banco, refletindo o comportamento dos
demais. Desse modo, visando agilizar o trabalho, coletaram-se dados apenas sobre
este produto.
Os resultados médios obtidos encontram-se no Diagrama de Pareto a seguir.
5 dias
19 dias
24 dias
0
5
10
15
20
25
30
Análise Prévia Análise do Projeto Aprovação
Subprocessos
Tem
po T
otal
de
Cic
lo (d
ias
útei
s)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%P
artic
ipaç
ão A
cum
ulad
a (%
)
Figura 5.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de ciclo da Análise de Crédito
Fonte: Elaborado pelo autor
MELHORIA DO PROCESSO – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 69
Os subprocessos de Análise Prévia e Análise do Projeto, juntos, despendem 43 dias
úteis para a sua conclusão, correspondendo à cerca de 90% do tempo total de ciclo
do processo. O subprocesso de Aprovação consome um tempo consideravelmente
inferior aos demais.
O primeiro passo para a melhoria do processo, conforme a metodologia, é a definição
de metas de melhoria e de prazos para a sua obtenção. As metas devem ser
estabelecidas de acordo com as necessidades dos clientes do processo.
Realizou-se uma reunião com os gestores dos produtos do banco, que são os clientes
internos do processo de Análise Crédito. A partir dos valores dos indicadores atuais
do processo, definiram-se as metas a serem alcançadas, observadas na tabela a
seguir.
Tabela 5.1 – Metas e prazos para melhoria da Análise de Crédito
SubprocessoTempo de Ciclo Atual
Tempo de Ciclo Meta Melhoria (%) Prazo
Análise Prévia 24 15 38% 01/01/04
Análise do Projeto 19 15 21% 01/01/04
Aprovação 5 5 0% -
Total 48 35 27% 01/01/04
Valores em dias úteis
Fonte: Elaborado pelo autor
A percepção dos gestores quanto ao desempenho atual do subprocesso de Análise
Prévia é bastante negativa. Definiu-se uma meta de redução do tempo de ciclo da
ordem de 40%, para o início de 2004. Já a Aprovação, devido ao pequeno impacto no
tempo de ciclo total, não foi alvo de metas para melhoria. A equipe de processos
focará na melhoria dos dois primeiros subprocessos.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 70
6 ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA
O subprocesso de Análise Prévia, conforme apresentado no capítulo anterior, possui
um tempo de ciclo de 24 dias, contribuindo de forma relevante para o tempo de ciclo
total do processo de Análise de Crédito, que é o foco para melhorias. Desse modo,
neste capítulo, tal subprocesso será detalhado, objetivando identificar as causas
fundamentais para o seu baixo desempenho.
Primeiramente será descrito o fluxo de todo o trabalho que ocorre na Análise Prévia.
A seguir, as etapas do subprocesso serão mensuradas, de modo a se detalhar os
problemas e encontrar suas causas.
6.1 DETALHAMENTO DO FLUXO DE TRABALHO
Visando dar subsídios à melhoria do processo, detalhou-se o fluxo de trabalho do
subprocesso de Análise Prévia. O detalhamento foi realizado somente para a variação
do processo referente ao produto BNDES Automático, devido aos motivos já
comentados. Conforme apresentado na metodologia, construíram-se diversos mapas
de processos, ou fluxogramas, de modo a proporcionar o entendimento de como as
entradas do subprocesso são convertidas em saídas, e quem realiza este trabalho. O
resultado final foi a documentação, no software para modelagem de processos, de
toda a hierarquia do processo, ou seja, a seqüência de ocorrência das atividades e a
decomposição destas em tarefas.
O levantamento do processo foi realizado em reuniões com a equipe, durante as
quais as diversas etapas do processo eram relatadas e discutidas, até se chegar ao
consenso quanto ao fluxo do processo, enquanto o autor documentava as
informações diretamente no software de modelagem. O trabalho de modelagem no
software era acompanhado pela equipe, através da utilização de um datashow.
Quando havia alguma discordância entre o relato da equipe e o fluxograma em
elaboração, discutia-se e, caso necessário, alterava-se o fluxograma. A equipe,
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 71
devido ao seu caráter multifuncional e à larga experiência no banco, mostrou-se
amplamente capacitada a descrever detalhadamente o fluxo do processo. No caso de
dúvidas sobre alguma tarefa mais específica, eram convidados para esclarecê- las
outros funcionários mais envolvidos com a tarefa em questão.
Em alguns casos realizaram-se também observações no local de ocorrência das
tarefas. A utilização da observação in-loco mostrou-se bastante limitada para o
levantamento do processo. Devido ao elevado tempo de ciclo deste, poucas tarefas
puderam ter sua execução observada do início ao fim.
Ao final de cada reunião de levantamento, tinha-se uma primeira versão do fluxo das
atividades e de suas tarefas componentes. Este fluxo, em reuniões posteriores, era
revisto e muitas vezes detalhado pela equipe, sempre com a orientação e
acompanhamento do autor.
Após algumas reuniões de levantamento, completou-se a elaboração dos mapas de
processos. A seguir estes foram disponibilizados na intranet da empresa, visando a
sua validação por outros funcionários envolvidos no processo e que não haviam
participado das reuniões de levantamento. Eventuais ajustes foram realizados no
material.
Observa-se na página a seguir o Mapa de Processos Nível 1 do Subprocesso de
Análise Prévia. Este representa o subprocesso em seu nível de detalhe mais macro,
contendo a seqüência de execução das suas atividades componentes. Os Mapas de
Processos Nível 2, que contém o detalhamento de algumas das atividades em tarefas,
encontram-se no Anexo B.
Discorrer-se-á agora, brevemente, sobre o subprocesso de Análise Prévia. Maiores
detalhes referentes à alguma atividade ou tarefa específicas serão apresentados no
momento em que tais informações mostrarem-se necessárias para o adequado
entendimento deste trabalho.
Figura 6.1 – Mapa de Processos Nível 1 – Análise Prévia
Jurídico
Comitê Gerencial
Área Operacional
Cliente
Formalizar orecebimento da
proposta
Não
Sim
Ope
raçã
o en
quad
radaP
roposta definanciam
ento
Deliberar sobre oenquadramento
Inserir os dadosdo cliente no
sistema
Analisar propostade financiamento
Cadastro OK?
Receber fichacadastral ou
parecer
Emitir parecersobre problemas
cadastrais
Análise do Projeto
Realizar análiseeconômica do
cliente
Realizar análisecadastral do
cliente
Complementardados faltantes
Figura 6.1 – M
apa de Processos N
ível 1 – Análise P
révia
Fonte: E
laborado pelo autor
ESTU
DO
DO
SU
BPR
OC
ESSO D
E AN
ÁLISE P
RÉV
IA 72
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 73
A Análise Prévia consiste no início do processo de Análise de Crédito. Ela se inicia
no momento em que o banco recebe do cliente a proposta de financiamento
preenchida. Após a formalização do recebimento da proposta, na qual a mesma é
protocolada, e do cadastro dos dados constantes da proposta no sistema do banco,
inicia-se a análise propriamente dita. Ela é composta de duas etapas preliminares:
análise econômica do cliente (avaliação da situação financeira geral da empresa) e
análise cadastral (se a empresa consta na relação do SERASA).
Caso sejam detectados problemas cadastrais com a empresa, o Departamento
Jurídico emite um parecer sobre os mesmos, indicando a sua relevância ou não. A
seguir ocorre a complementação dos dados, que por ventura o cliente ainda não tenha
enviado ao banco. Esta ocorre durante uma visita ao cliente pelo funcionário do
banco.
Finalmente, já com os dados necessários completos, é realizada a análise final da
proposta de financiamento, na qual a empresa solicitante do financiamento é avaliada
de acordo com a sua estrutura e situação no mercado. O resultado da análise é
julgado por um grupo de gerentes do banco, que recomenda ou não o
“enquadramento da operação”, ou seja, a aprovação preliminar da operação de
financiamento. Caso seja “enquadrado”, o processo terá seqüência, com o início do
subprocesso de Análise do Projeto, que é a próxima etapa da Análise de Crédito.
6.2 DETALHAMENTO DO PROBLEMA
Até esta etapa do trabalho, já se definiu uma meta para a melhoria do processo de
Análise de Crédito. O não atingimento da meta, ou seja, o elevado tempo de ciclo do
processo, é o problema geral a ser resolvido. Também já se decompôs o problema
geral em dois problemas mais específicos (elevado tempo de ciclo dos subprocessos
de Análise Prévia e de Análise do Projeto, que também não atingem as metas).
Finalmente, já se possui o entendimento detalhado das atividades e tarefas
componentes do subprocesso de Análise Prévia. O objetivo agora é detalhar o
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 74
problema do elevado tempo de ciclo dentro do subprocesso de Análise Prévia,
visando encontrar as suas causas fundamentais.
Para isso, segundo a metodologia proposta, deve-se coletar dados e detalhar o
problema em outros menores e mais específicos, até se chegar em problemas nos
quais seja possível identificar-se de modo seguro as suas causas.
Desse modo, mensurou-se as tarefas do subprocesso com relação à variável mais
relevante (o tempo de ciclo), visando melhor identificar em que partes do
subprocesso o problema do elevado tempo ocorre com maior intensidade.
Por meio de discussão inicial com a equipe sobre o tempo de ciclo da Análise de
Crédito, concluiu-se que o tempo de processamento do mesmo, ou seja, o tempo no
qual alguém está de fato executando alguma tarefa, é significativamente menor do
que o tempo total de ciclo do processo. Em outras palavras, o tempo no qual o
processo fica paralisado, devido a algum motivo ou pendência, é relevante,
contribuindo para o atraso da entrega do produto ao cliente.
Assim, optou-se por segregar o tempo de ciclo em dois fatores:
§ Tempo de processamento – o tempo efetivo de trabalho dos funcionários do
banco;
§ Tempo de espera – o tempo no qual alguma etapa do processo permanece
paralisada devido a algum motivo.
Também durante as discussões iniciais, percebeu-se que havia tarefas com um
elevado tempo de processamento, e outras que ocasionavam um grande tempo de
espera. Entretanto, nem todas as tarefas são executadas o mesmo número de vezes.
Há tarefas que consomem um elevado tempo em cada execução, mas que são
executadas somente em ocasiões específicas, quando há alguma pendência por parte
do cliente, por exemplo. Devido à relevância desse tipo de situação, optou-se por
mensurar também o volume de execução de cada tarefa do subprocesso. O objetivo
foi calcular um tempo ponderado de processamento e de espera, para cada tarefa.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 75
O tempo ponderado de processamento de uma tarefa corresponde ao tempo
necessário para executá- la uma única vez, multiplicado pelo percentual de vezes que
aquela tarefa é realizada, em relação ao total de vezes que o processo de Análise de
Crédito é executado. Chamamos este percentual de fator de ocorrência da tarefa. O
tempo ponderado de espera segue o mesmo raciocínio: corresponde ao tempo
unitário no qual o subprocesso ficou interrompido, devido à respectiva tarefa,
multiplicado pelo fator de ocorrência da tarefa. O cálculo exato efetuado será melhor
explicitado mais abaixo.
Desse modo, visando obterem-se os tempos ponderados de cada tarefa, procedeu-se à
coleta dos tempos de processamento e de espera, e também dos volumes de
execução. Os volumes apurados são referentes ao período de maio de 2002 a maio de
2003. As seguintes técnicas foram utilizadas para a coleta dos dados:
Apuração dos volumes:
§ Contagem física dos documentos que foram processados no período
considerado. Esta técnica foi possível nos casos em que a execução da tarefa
deixava algum registro escrito: uma assinatura, carimbo, protocolo etc. Foi a
técnica utilizada na maioria dos casos. Destaca-se o fato de que não é necessário
coletar dados referentes a todas as tarefas. Quando não há ramificações no fluxo
de trabalho (não há pontos de decisão), o volume da tarefa é o mesmo daquele da
tarefa anterior.
§ Estimativas. Nos casos em que não havia registros sobre a ocorrência da tarefa,
foram coletadas, por meio de entrevistas com os funcionários envolvidos,
estimativas sobre o percentual de vezes que a tarefa era executada. Quando não
se chegava a um consenso, valores médios foram utilizados.
Apuração dos tempos:
§ Observação e cronoanálise. Utilizado para a determinação de alguns tempos de
processamento, quando a tarefa em questão possuía um pequeno tempo de
execução. Neste caso foram coletados vários tempos e calculados os tempos
médios.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 76
§ Estimativas. Quando a cronoanálise não era viável, devido aos elevados tempos
de execução e / ou espera envolvidos, foram utilizadas estimativas obtidas
durante entrevistas com funcionários envolvidos na execução das tarefas. Quando
não se chegava a um consenso, utilizava-se a média dos valores relatados. A fim
de se garantir que as estimativas obtidas constituíram uma aproximação razoável
da realidade, utilizou-se, como balizador, o tempo médio de ciclo obtido através
do questionário apresentado no Capítulo 5. Os tempos estimados foram
consolidados, considerando-se sempre eventuais paralelismos entre tarefas, e o
tempo total de ciclo calculado foi comparado àquele tempo obtido por meio do
questionário. A diferença obtida foi de aproximadamente 15%. Julgou-se que,
para os objetivos desta análise, voltada sobretudo à priorização de problemas,
este de tipo de aproximação não traria prejuízos relevantes.
O levantamento dos volumes e tempos foi realizado sempre a partir dos mapas de
processos já documentados.
Apresenta-se na tabela 6.1 o resultado da coleta de dados. Na primeira coluna têm-se
as atividades do subprocesso de Análise Prévia. A seqüência exata de ocorrência das
mesmas pode ser visualizada no Mapa de Processo Nível 1, já apresentado na
página 72. As Tarefas Componentes consistem nas tarefas que compõem cada
atividade. A seqüência de ocorrência das tarefas, dentro de cada atividade, pode ser
observada nos Mapas de Processos Nível 2, presentes no Anexo B.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 77
Tabela 6.1 – Tempos unitários de processamento e de espera das tarefas da Análise Prévia
Atividade Tarefas ComponentesVolume
Execuções (a)
Fator de Ocorrência
(%)(b=a/125)
Tempo de Processa-
mento (min) (c)
Tempo de Processa-
mento Ponderado
(min) (d=b*c)
Tempo de Espera (mim)
(e)
Tempo de Espera
Ponderado (mim) (f=b*e)
Protocolar a proposta de financiamento 125 100% 2,8 2,8 - -
Enviar a proposta ao gerente 125 100% 9,0 9,0 - -
Verificar a proposta (Gerente) 125 100% 30,0 30,0 - -
Enviar a proposta ao analista 125 100% 10,0 10,0 - - Cadastrar os dados da proposta no sistema
125 100% 240,0 240,0 - -
Gerar o Registro Geral do cliente 125 100% 60,0 60,0 - -
Abrir pasta para o cliente 125 100% 15,0 15,0 - - Informar os usuários responsáveis pelo processo
125 100% 15,0 15,0 - -
Avaliar o nível de endividamento do cliente
125 100% 30,0 30,0 - -
Cadastrar os demonstrativos contábeis 125 100% 360,0 360,0 - - Realizar análise econômico-financeira do cliente 125 100% 60,0 60,0 - -
Solicitar informações cadastrais 125 100% 5,0 5,0 - -
Pesquisar SISCOM e SERASA 125 100% 3,2 3,2 360,0 360,0 Transcrever os dados para a ficha cadastral 125 100% 14,0 14,0 - -
Analisar ficha cadastral 125 100% 10,7 10,7 - - Analisar relevância dos problemas cadastrais
89 71% 8,6 6,1 - -
Solicitar complemento de informações 18 14% 5,0 0,7 - -
Complementar informações cadastrais 18 14% - - 7.200,0 1.025,3
Elaborar parecer jurídico 89 71% 12,0 8,5 - -
Encerrar o processo 15 12% 3,0 0,4 - - Receber ficha cadastral ou parecer
Receber ficha cadastral ou parecer 110 88% 3,0 2,6 - -
Levantar dados em visita ao cliente 110 88% 600,0 528,0 - -
Solicitar complementação de dados 77 62% 60,0 37,0 - -
Complementar os dados da proposta 77 62% - - 7.200,0 4.435,2 Analisar proposta de financiamento Analisar proposta de financiamento 110 88% 1.080,0 950,4 - -
Preencher o Termo "Informações para Enquadramento" 110 88% 180,0 158,4 - -
Recomendar o Termo à Câmara de Enquadramento 110 88% 60,0 52,8 - -
Decidir sobre o enquadramento 110 88% 30,0 26,4 2.160,0 1.900,8
Registrar a decisão de enquadramento 110 88% 5,0 4,4 - -
Arquivar o processo 4 3% 15,0 0,5 - -
Fonte: Elaborado pelo autor
Deliberar sobre o enquadramento
Emitir parecer sobre problemas cadastrais
Complementar dados faltantes
Formalizar o recebimento da proposta
Inserir os dados do cliente no sistema
Realizar análise cadastral do cliente
Realizar análise econômica do cliente
Na tabela acima, os tempos são expressos em minutos. Para o cálculo dos tempos de
espera, utilizou-se, para conversão de unidades, que um dia possui 6 horas, que é o
expediente diário de trabalho dos funcionários do banco. Foram cons iderados
também somente os dias úteis, para contagem do tempo.
Merece destaque o fato de que algumas atividades não possuem uma decomposição
em tarefas. Nesses casos, conforme observado na tabela acima, na coluna Tarefas
Componentes repetiu-se a própria atividade, visando somente padronizar a
nomenclatura utilizada. Desse modo, deste ponto em diante do trabalho, para facilitar
o entendimento, toda e qualquer etapa de um subprocesso será designada como
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 78
tarefa, seja ela uma tarefa propriamente dita ou uma atividade que não possui mais
um nível de detalhamento.
A fim de proporcionar melhor compreensão das informações contidas na tabela 6.1,
detalha-se, por meio de exemplos, o entendimento de alguns dos seus valores:
§ O processo de Análise de Crédito foi executado, de maio de 2002 a maio de
2003, 125 vezes (volume de execução da primeira tarefa).
§ A tarefa “Pesquisar o SISCOM e SERASA” (a segunda tarefa da atividade
“Realizar análise cadastral do cliente”) ocorre em todas as vezes que o processo é
executado, possuindo portanto um fator de ocorrência de 100%. Ela demora
somente 3,2 minutos para ser executada (tempo de processamento, ou de
trabalho efetivo). Entretanto, o resultado (produto) da sua execução só é entregue
ao executor da próxima tarefa 360 minutos depois. Durante esse intervalo de
tempo, a próxima tarefa do subprocesso não pode ser iniciada, pois ela necessita
da pesquisa concluída e entregue. Esse tempo corresponde, portanto, a um tempo
de espera.
§ A tarefa “Complementar os dados da proposta” (última tarefa da atividade
“Complementar dados faltantes”) ocorreu somente em 77 das 125 vezes que o
processo foi executado, ou seja, em 62% das vezes (fator de ocorrência). Esta
tarefa é realizada pelo cliente final (empresa que solicitou o financiamento),
conforme observado no respectivo mapa de processos no Anexo B. Desse modo,
como não envolve o trabalho de nenhum funcionário do banco, possui um tempo
de processamento igual a zero. Entretanto, o cliente costuma demorar 7.200
minutos (20 dias úteis) para entregar ao banco a complementação dos dados.
Durante esse tempo, o subprocesso tem sua execução interrompida. Constitui
então um tempo de espera.
O objetivo da coleta de dados referentes ao tempo das tarefas é detalhar o problema
do tempo elevado de ciclo, identificando os seus principais focos. Já se realizou a
decomposição do tempo de ciclo em dois fatores principais: tempo de processamento
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 79
e tempo de espera. Cada um desses fatores constitui-se em um novo problema, cujas
causas se procura.
6.2.1 DETALHAMENTO DO PROBLEMA – TEMPO DE PROCESSAMENTO
Visando detalhar o problema do tempo de processamento elevado, elaborou-se um
Diagrama de Pareto, a partir dos valores dos tempos de processamento ponderados
de cada tarefa.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
Analisar propostade financiamento
Levantar dados emvisita ao cliente
Cadastrar osdemonstrativos
contábeis
Cadastrar osdados da proposta
no sistema
Preencher oTermo
"Informações paraEnquadramento"
Outras 25 tarefas
Tarefas
Tem
po
de
Pro
cess
amen
to P
on
der
ado
(m
inu
tos)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Par
tici
paç
ão A
cum
ula
da
(%)
Figura 6.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de Processamento Ponderados da Análise Prévia
Fonte: Elaborado pelo autor
Observa-se que as três primeiras tarefas respondem por cerca de 70% do tempo total
de processamento da Análise Prévia. Ou seja, 70% do problema do tempo de
processamento elevado está concentrado nestas tarefas. Assim, nos itens a seguir,
analisa-se cada uma das três tarefas como sendo um novo problema, visando
identificar as suas causas, que serão brevemente descritas. As causas mais relevantes
serão detalhadas no Capítulo 8, referente às propostas de solução.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 80
♦ Problema 1: Tempo de processamento elevado da tarefa “Analisar
proposta de financiamento”
A fim de se entender melhor o conteúdo desta tarefa, visando identificar se a demora
para a sua execução é ou não justificável, entrevistaram-se alguns analistas que
executam o trabalho. Durante a análise da proposta de financiamento, são avaliados,
de forma superficial, diversos quesitos relacionados à empresa que solicitou o
financiamento: a sua infra-estrutura, experiência, tecnologia de produção utilizada, o
seu desempenho no mercado e as características deste (concorrência), o sistema
administrativo e contábil utilizado, número de funcionários, o resumo do projeto
(descrição, volume de recursos, localização, investimentos programados etc) e as
garantias da operação.
A seguir, por meio de sessão de brainstorming com a equipe, elaborou-se um
diagrama de causa e efeito (figura 6.3) para o problema em questão.
Tempo elevado para análise da
proposta
Dificuldade para obter dados
Não há uma base de dados sobre o mercado
A análise émuito extensa
Falta de padronização dos dados de origem
Não há definição sobre o nível de detalhe necessário
Interrupções durante o trabalho
O sistema utilizado não é amigável
Dados faltantes e incorretos
Há informações replicadas
A seqüência para entrada dos dados não é intuitiva
A análise é executada por mais de uma pessoa
Falta de segregação de funções
O analista também
executa outras atividades
Figura 6.3 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para análise da proposta
Fonte: Elaborado pelo autor
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 81
Identificaram-se as seguintes causas fundamentais:
Tabela 6.2 – Causas do tempo elevado para análise da proposta
Causa Descrição
Não há uma base de dados sobre o mercado.
Inexistência de informações centralizadas e de fácil acesso sobre cada setor ou ramo do mercado (comércio, automobilístico, hoteleiro etc).
Falta de padronização dos dados de origem.
Os dados fornecidos pelo cliente não chegam em formato padronizado, sendo necessária uma adaptação.
Dados faltantes e incorretos.Freqüentemente, os dados necessários para a análise estão incorretos ou incompletos, exigindo uma checagem pelo analista.
A análise é executada por mais de uma pessoa.
O trâmite da análise entre diversos funcionários gera interrupções e atrasos.
Falta de segregação de funções.Os analistas que realizam o processo de análise de crédito estão envolvidos também em outros processos do banco.
Não há uma definição sobre o nível de detalhe necessário.
Não há regras claras sobre o conteúdo exigido para a análise da proposta.
Há informações replicadas. O documento produzido durante a análise possui informações replicadas, aumentando o trabalho para sua elaboração.
A seqüência para entrada dos dados não é intuitiva.
O sistema utilizado na análise ocasiona dificuldades para a inserção dos dados.
Fonte: Elaborado pelo autor
Antes mesmo da elaboração do diagrama de causa e efeito, a equipe já possuía uma
percepção razoável sobre algumas das causas para o elevado tempo consumido pela
tarefa. Entretanto, o brainstorming e a construção do diagrama proporcionaram a
identificação de causas que anteriormente passavam despercebidas. Um exemplo foi
a causa “Falta de segregação de funções”. Destaca-se que o banco tem influência
sobre grande parte das causas relacionadas. Desse modo, estas proporcionam
oportunidades de melhoria relevantes para o processo.
♦ Problema 2: Tempo de processamento elevado da tarefa “Levantar
dados em visita ao cliente”
A tarefa de levantamento de dados em visita ao cliente corresponde à observação e
coleta de dados in loco, sobre o cliente e o projeto por ele apresentado. O analista do
banco realiza uma visita à empresa que requisitou o financiamento. As causas
apontadas para o problema do tempo elevado da visita encontram-se no diagrama a
seguir:
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 82
Tempo elevado para visita ao
cliente
A visita é necessária para obtenção de dados
Os dados são solicitados de forma fragmentada e não
padronizada
Tempo elevado para locomoção
Baixo aproveitamento das viagens
Todos os clientes são visitados
Distância elevada dos clientes até o
banco
Não há critérios definindo em que casos
a visita é necessária
O analista, em cada viagem, visita somente as empresas de
sua responsabilidade
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações, no início do processo O cliente não
consegue obter sozinho os dados
solicitados
Figura 6.4 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para visita ao cliente
Fonte: Elaborado pelo autor
As causas fundamentais apontadas foram as seguintes:
Tabela 6.3 – Causas do tempo elevado para visita ao cliente
Causa Descrição
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações, no início do processo.
Não há nenhum tipo de acompanhamento ou auxílio ao cliente, relacionado à obtenção das informações necessárias para a análise.
Os dados são solicitados de forma fragmentada e não padronizada.
O banco solicita informações redundantes e em diversos momentos diferentes.
O analista, em cada viagem, visita somente as empresas de sua responsabilidade.
Cada analista é responsável por visitar somente as empresas cuja proposta de financiamento ele está analisando.
Distância elevada dos clientes até o banco.
São visitadas empresas localizadas em outras cidades, consumindo-se tempo razoável para a locomoção.
Não há critérios definindo em que casos a visita é necessária.
Devido à inexistência de critérios claros, inúmeras visitas são realizadas desnecessariamente.
Fonte: Elaborado pelo autor
Destaca-se que, entre as causas identificadas, existe uma, a “Distância elevada dos
clientes até o banco”, sobre a qual o banco tem pouco ou nenhuma influência. Ela
explica em parte o tempo elevado consumido para se visitar os clientes. Entretanto,
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 83
pouco pode ser feito para reduzir a distância até os clientes. Mesmo assim a causa foi
relacionada, visando proporcionar um entendimento completo do problema. As
demais causas, por outro lado, permitem diversas ações de melhoria. A causa “O
banco não auxilia o cliente na obtenção das informações no início do processo” foi
uma contribuição interessante proporcionada pela análise de causa e efeito.
Concluiu-se que falhas no início do processo impactam intensamente no tempo para
a visita aos clientes.
♦ Problema 3: Tempo de processamento elevado da tarefa “Cadastrar os
demonstrativos contábeis”
O cadastramento dos demonstrativos contábeis do cliente é realizado para o cálculo
de diversos índices necessários à análise das condições financeiras da empresa:
índice de liquidez, endividamento, imobilização etc. O sistema utilizado pelo banco
calcula automaticamente estes índices, a partir dos dados provenientes dos
demonstrativos contábeis fornecidos pelo cliente. Devido à simplicidade do
problema em questão, as causas foram identificadas sem o auxílio do diagrama de
causa e efeito:
Tabela 6.4 – Causas do tempo elevado para cadastramento dos demonstrativos contábeis
Causa Descrição
Os demonstrativos contábeis são extensos.
São cadastrados, na sua totalidade, o Demonstrativo dos Resultados do Exercício (DRE) e o balanço dos últimos três anos.
São necessários diversos ajustes nos dados, durante o cadastramento.
Os ajustes são devidos principalmente a informações presentes nas notas dos balanços, que devem ser consideradas na análise.
Falta de segregação de funções.Há diversas interrupções durante o cadastramento, que se torna improdutivo. Esta causa já foi apresentada na discussão do Problema 1.
Fonte: Elaborado pelo autor
Novamente obtiveram-se algumas causas que são inerentes à tarefa. Pouca ou
nenhuma melhoria pode ser obtida, relacionada à extensão dos demonstrativos
contábeis e à necessidade da realização de ajustes nos dados. Os demonstrativos
contábeis são extensos por natureza, e o seu cadastramento é necessário para o
processo. Estas duas causas levam a grande impacto no tempo de execução da tarefa.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 84
6.2.2 DETALHAMENTO DO PROBLEMA – TEMPO DE ESPERA
Da mesma forma que para o tempo de processamento, elaborou-se um Diagrama de
Pareto (figura 6.5) para o problema do tempo elevado de espera, a partir dos valores
dos tempos de espera ponderados de cada tarefa.
-
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
Complementar os dados daproposta
Decidir sobre oenquadramento
Complementar informaçõescadastrais
Pesquisar SISCOM eSERASA
Tarefas
Tem
po
de
Esp
era
Po
nd
erad
o (
min
uto
s)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Par
tici
paç
ão A
cum
ula
da
(%)
Figura 6.5 – Diagrama de Pareto – Tempos de Espera Ponderados da Análise Prévia
Fonte: Elaborado pelo autor
Observamos que as duas primeiras tarefas respondem por mais de 80% do tempo
total de espera da Análise Prévia. Desse modo, serão identificadas as causas para os
tempos elevados destas duas tarefas.
♦ Problema 1: Tempo de espera elevado da tarefa “Complementar os
dados da proposta”
Durante a visita ao cliente, já comentada anteriormente, o funcionário do banco
solicita, caso necessário, a complementação dos dados da proposta que estejam
incompletos para a conclusão do processo de análise prévia. Avaliou-se que a
complementação dos dados é necessária em aproximadamente 60% dos casos (fator
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 85
de ocorrência da tarefa). Nestes casos, conforme a avaliação realizada, o retorno do
cliente ocorre somente cerca de vinte dias após a solicitação, comprometendo assim
o tempo de ciclo do processo significativamente. Após discussão com a equipe,
chegou-se a um consenso quanto às causas para o problema:
Tabela 6.5 – Causas do tempo elevado para complementação dos dados da proposta
Causa Descrição
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações, no início do processo.
Caso o cliente recebesse auxílio e orientação adequada no início do processo, os problemas com a falta de informações seriam reduzidos. Esta causa é a mesma daquela identificada para o problema do tempo elevado da visita ao cliente.
Não há controle do recebimento das informações faltantes.
O banco não realiza um controle adequado do recebimento das informações e documentação que estão pendentes para a seqüência do processo.
Fonte: Elaborado pelo autor
A primeira causa identificada já havia ocorrido para outro problema, referente ao
tempo de processamento elevado da visita ao cliente. Percebe-se que, até aqui,
algumas causas se repetem para mais de um problema.
♦ Problema 2: Tempo de espera elevado da tarefa “Decidir sobre o
enquadramento”
O enquadramento consiste basicamente em uma aprovação preliminar da operação
de financiamento, realizada pelos gerentes do banco na etapa final do subprocesso de
Análise Prévia. Ele ocorre em uma reunião semanal, da qual participam os gerentes
dos departamentos de negócio, ou seja, aqueles departamentos envolvidos
diretamente na venda dos produtos. A aprovação preliminar é realizada com base nas
informações produzidas durante a análise prévia, que são consolidadas em um
documento específico para esse fim, o “Termo de Informações para
Enquadramento”. Para a determinação da causa fundamental do problema, após
brainstorming com a equipe, entrevistaram-se alguns gerentes das áreas de negócio,
visando uma melhor compreensão sobre a questão.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 86
Tabela 6.6 – Causas do tempo elevado para o enquadramento da operação
Causa Descrição
O enquadramento é realizado somente com a presença de vários gerentes.
Devido à limitação da agenda dos gerentes, a reunião para enquadramento é realizada somente uma vez por semana, permanecendo o processo paralisado enquanto a mesma não ocorre.
Falta de reuniões entre os gerentes, para o acompanhamento da carteira de clientes.
O principal objetivo da reunião de enquadramento acaba sendo o acompanhamento da carteira de clientes do banco, e não a aprovação da operação em si. Praticamente todas as operações são aprovadas no enquadramento.
Fonte: Elaborado pelo autor
A segunda causa apontada (“Falta de reuniões entre os gerentes”), era
completamente desconhecida pela equipe de processos, até a realização desta análise.
Poucos funcionários do banco questionavam-se sobre os objetivos reais da reunião de
enquadramento. Havia um senso comum de que ela era necessária para a aprovação
do crédito. Entretanto, a coleta de dados realizada evidenciou que mais de 95% das
operações eram aprovadas nessas reuniões. Ou seja, o objetivo principal do
enquadramento não era de simplesmente filtrar ou selecionar as operações, dado que
quase todas eram aprovadas. As entrevistas com diversos gerentes tornaram o
assunto mais claro e evidente para a equipe de processos.
Realizamos, neste capítulo, um estudo aprofundado da Análise Prévia, visando
identificar os principais problemas do subprocesso e suas causas, que ocasionam o
elevado tempo de ciclo. Estas causas, juntamente com aquelas apresentadas no
próximo capítulo, serão detalhadas e discutidas no Capítulo 8, referente à
implementação das oportunidades de melhoria.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 87
7 ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO
O detalhamento realizado no capítulo anterior, para o subprocesso de Análise Prévia,
será agora repetido para o subprocesso de Análise do Projeto, que, assim como o
primeiro, contribui de forma significativa para o tempo total de ciclo do processo de
Análise de Crédito.
Inicialmente será descrito o fluxo de trabalho da Análise do Projeto. Depois serão
apresentados os resultados da coleta de dados sobre as tarefas do subprocesso,
identificando os principais problemas e suas causas.
7.1 DETALHAMENTO DO FLUXO DE TRABALHO
O fluxo de trabalho da Análise do Projeto, da mesma forma que a Análise Prévia, foi
entendido e documentado durante reuniões com a equipe de processos.
Encontra-se na página a seguir o Mapa de Processos Nível 1 do Subprocesso de
Análise do Projeto. Representa o subprocesso em seu nível de detalhe mais macro,
contendo a seqüência de execução das suas atividades componentes. Os Mapas de
Processos Nível 2, que contém o detalhamento de algumas das atividades em tarefas,
encontram-se no Anexo C.
A Análise do Projeto inicia-se após o término da Análise Prévia, mais
especificamente depois do “enquadramento” da operação de financiamento. Como já
relatado anteriormente, o “enquadramento” consiste em uma aprovação preliminar
do financiamento, realizada durante uma reunião entre os gerentes do banco. Caso a
operação seja “enquadrada”, começa a Análise do Projeto. Caso contrário, o
financiamento não é concedido e o processo se encerra.
Figura 7.1 – Mapa de Processos Nível 1 – Análise do Projeto
Diretoria
Jurídico
Área Operacional
ClienteR
elatório de análise concluído
Operaçãoenquadrada
Elaborar análisetécnica do projeto
Elaborar a MatrizAuxiliar
Definir e cadastraras garantias da
operação
Solicitarinformações do
projeto
Elaborar análisejurídica do projeto
Inserir os dadosdo projeto no
sistema
Concluir o Relatóriode Análise
Providenciarinformações do
projeto
Elaborar análiseeconômico-
financeira do projeto
Aprovação
Análise Prévia
Figura 7.1 – M
apa de Processos N
ível 1 – Análise do P
rojeto
Fonte: E
laborado pelo autor
ESTU
DO
DO
SU
BPR
OC
ESSO D
E AN
ÁLISE D
O P
RO
JETO 88
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 89
No início da Análise do Projeto, o analista do banco solicita à empresa que requisitou
o financiamento informações detalhadas sobre o projeto que a mesma pretende
desenvolver com os recursos emprestados pelo banco. Após receber as informações,
as mesmas são digitadas no sistema do banco.
A seguir, são elaborados três tipos de análises: análise econômico-financeira, que
corresponde à avaliação dos impactos econômicos que o projeto trará para a empresa
analisada; análise técnica, na qual é estudada detalhadamente a estrutura da empresa
e sua relação com o mercado (produtos ou serviços oferecidos e as tecnologias
utilizadas, estrutura organizacional, histórico da produção etc); e análise jurídica, na
qual são verificados aspectos relacionados ao contrato social da empresa,
denominação social, composição do capital social etc. Após o seu término, as
análises são consolidadas através da elaboração da “Matriz Auxiliar”, que é uma
tabulação dos dados resultantes das análises.
Além dos três tipos de análise, são realizados também a definição e cadastramento
das garantias da operação de financiamento. O banco avalia os bens dados como
garantia à operação de crédito, julgando se são adequados e suficientes.
Finalmente, a Análise do Projeto é concluída através da elaboração do “Re latório de
Análise”, que descreve todas as informações analisadas e os resultados da análise.
Este documento, concluído, dá início ao subprocesso de Aprovação.
7.2 DETALHAMENTO DO PROBLEMA
A partir do entendimento e documentação do fluxo de trabalho da Análise do
Projeto, será detalhado agora o problema do seu elevado tempo de ciclo. O objetivo é
identificar as suas principais causas.
Assim, mensurou-se as tarefas do subprocesso com relação ao tempo de ciclo,
utilizando o mesmo método já apresentado no estudo da Análise Prévia. Aqui
também se separou o tempo de ciclo em tempo de processamento e tempo de espera.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 90
Na coleta dos volumes de execução, considerou-se também o período de maio de
2002 a maio de 2003. Os resultados encontram-se na tabela 7.1.
Tabela 7.1 – Tempos unitários de processamento e de espera das tarefas da Análise do Projeto
Atividade Tarefas ComponentesVolume
Execuções (a)
Fator de Ocorrência
(%)(b=a/125)
Tempo de Processa-
mento (min) (c)
Tempo de Processa-
mento Ponderado
(min) (d=b*c)
Tempo de Espera (mim)
(e)
Tempo de Espera
Ponderado (mim) (f=b*e)
Solicitar informações do projeto Solicitar informações do projeto 106 85% 30,0 25,4 - -
Providenciar informações do projeto
Providenciar informações do projeto 106 85% - - 5.400,0 4.579,2
Inserir os dados do projeto no sistema
Inserir os dados do projeto no sistema 106 85% 120,0 101,8 - -
Definir as garantias que atendem às especificações
106 85% 60,0 50,9 - -
Solicitar documentação ao cliente 106 85% 15,0 12,7 - - Providenciar documentação referente às garantias
106 85% - - 3.600,0 3.052,8
Analisar documentação referente às garantias
106 85% 15,0 12,7 - -
Solicitar avaliação das garantias 106 85% 5,0 4,2 - -
Elaborar laudo de avaliação dos bens 106 85% 120,0 101,8 - - Conferir dados do laudo de avaliação (D.PS)
106 85% 30,0 25,4 - -
Cadastrar bens avaliados 106 85% 60,0 50,9 - - Conferir dados do laudo de avaliação (A.OP)
106 85% 30,0 25,4 - -
Arquivar na pasta do cliente 106 85% 4,3 3,6 - - Elaborar análise econômico-financeira do projeto
Elaborar análise econômico-financeira do projeto
106 85% 2.160,0 1.831,7 - -
Elaborar análise técnica do projeto
Elaborar análise técnica do projeto 106 85% 1.440,0 1.221,1 - -
Solicitar documentação jurídica ao cliente 106 85% 15,0 12,7 - -
Providenciar documentação jurídica 106 85% - - 1.800,0 1.526,4
Arquivar documentação jurídica 106 85% 4,2 3,6 - -
Elaborar a análise jurídica 106 85% 60,0 50,9 - -
Elaborar a Matriz Auxiliar Elaborar a Matriz Auxiliar 106 85% 60,0 50,9 -
Concluir o Relatório de Análise Concluir o Relatório de Análise 106 85% 180,0 152,6 - -
Fonte: Elaborado pelo autor
Definir e cadastrar as garantias da operação
Elaborar análise jurídica do projeto
Conforme observado na tabela acima, o subprocesso ocorreu 106 vezes, no período
considerado. Desse modo, das 125 execuções do processo de Análise de Crédito, em
19 delas o processo foi encerrado antes do início da Análise do Projeto. Dentro da
Análise do Projeto, o número de execuções de todas as tarefas é o mesmo, ou seja,
todas possuem o mesmo fator de ocorrência. Devido a esse motivo, a coleta de dados
para esse subprocesso foi consideravelmente mais fácil do que para o subprocesso de
Análise Prévia.
Apresenta-se a seguir o detalhamento dos problemas dos tempos elevados de
processamento e de espera, para a Análise do Projeto.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 91
7.2.1 DETALHAMENTO DO PROBLEMA – TEMPO DE PROCESSAMENTO
O Diagrama de Pareto a seguir detalha o problema do tempo de processamento
elevado, identificando onde ele é mais crítico. O diagrama foi construído a partir dos
valores dos tempos de processamento ponderados de cada tarefa.
-
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
1.600
1.800
2.000
Elaborar análiseeconômico-financeira do
projeto
Elaborar análisetécnica do projeto
Concluir o relatóriode análise
Inserir os dadosdo projeto no
sistema
Elaborar laudo deavaliação dos
bens
Outras 16 tarefas
Tarefas
Tem
po
de
Pro
cess
amen
to P
on
der
ado
(m
inu
tos)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Par
tici
paç
ão A
cum
ula
da
(%)
Figura 7.2 – Diagrama de Pareto – Tempos de Processamento Ponderados da Análise do Projeto
Fonte: Elaborado pelo autor
A partir do diagrama conclui-se que as duas primeiras tarefas respondem por cerca
de 80% do problema do tempo de processamento elevado. Assim, cada uma destas
tarefas será estudada nos itens a seguir.
♦ Problema 1: Tempo de processamento elevado da tarefa “Elaborar
análise econômico-financeira do projeto”
A análise econômico-financeira do projeto corresponde à análise detalhada dos
impactos que a implementação do projeto proposto trará para a saúde financeira da
empresa e para o desenvolvimento econômico do Estado. São analisados diversos
fatores como: o fluxo de caixa atua l e futuro da empresa; os investimentos com
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 92
recursos próprios e financiados necessários para a implementação do projeto; a
capacidade de pagamento da empresa, ou seja, em que grau o faturamento futuro
desta será suficiente para o pagamento do empréstimo recebido; a quantidade de
empregos que o projeto gerará etc. Durante a Análise Prévia, alguns desses fatores já
foram analisados, mas de forma superficial. Na Análise do Projeto, agora eles são
detalhados. Em reunião de brainstorming com a equipe, elaborou-se um diagrama de
causa e efeito, de modo a explicar o tempo elevado desta tarefa.
Tempo elevado para análise
econômica do projeto
Dificuldade para obter dados
A análise émuito extensa
Falta de padronização dos dados de origem
Falta de parametrização
Interrupções durante o trabalho
Utilização de documentos em Excel e Word
Dados faltantes e incorretos
Falta de critérios para análise, gerando retrabalhos entre a An.Prévia e An.do Projeto
Falta de automatização
Falta de segregação de funções
O analista também
executa outras atividades
Figura 7.3 – Diagrama de Causa e Efeito – Tempo elevado para análise econômica do projeto
Fonte: Elaborado pelo autor
As seguintes causas fundamentais foram encontradas:
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 93
Tabela 7.2 – Causas do tempo elevado para a análise econômico-financeira do projeto
Causa Descrição
Falta de padronização dos dados de origem.
Os dados fornecidos pelo cliente não chegam em formato padronizado, sendo necessária uma adaptação. Esta causa já foi abordada no problema da análise da proposta, no subprocesso de Análise Prévia.
Dados faltantes e incorretos.Freqüentemente, os dados necessários para a análise estão incorretos ou incompletos, exigindo uma checagem pelo analista. Esta causa também se repete, como a anterior.
Falta de segregação de funções.As interrupções durante o trabalho, já abordadas anteriormente, originam impactos ainda maiores no tempo para análise econômica do projeto.
Falta de parametrização.A análise econômica é elaborada em um documento de Word, não havendo qualquer tipo de parametrização do formato ou conteúdo da análise.
Falta de critérios para análise, gerando retrabalhos entre a Análise Prévia e Análise do Projeto.
A fronteira entre a Análise Prévia e a Análise do Projeto não é bem definida, havendo retrabalhos.
Falta de automatização.A automatização é insuficiente, havendo a necessidade de se utilizar softwares auxiliares (Excel e Word).
Fonte: Elaborado pelo autor
A análise de causa e efeito tornou bastante evidente à equipe de processos a
existência de retrabalhos entre os dois subprocessos analisados (Análise Prévia e
Análise do Projeto). Foi consenso entre os membros da equipe que estes retrabalhos
levam a um aumento considerável do tempo necessário para execução da análise
econômica do projeto.
♦ Problema 2: Tempo de processamento elevado da tarefa “Elaborar
análise técnica do projeto”
A análise técnica corresponde a um estudo detalhado da estrutura da empresa,
sobretudo do seu processo de produção, tecnologias utilizadas, matérias-primas,
estrutura organizacional, relacionamento da empresa com o mercado (clientes e
fornecedores) etc. Nota-se que boa parte desses fatores já foram considerados
durante a análise da proposta de financiamento, que ocorre no subprocesso de
Análise Prévia, conforme apresentado no Capítulo 6. O objetivo da tarefa “Elaborar
análise técnica do projeto” seria detalhar tais elementos.
Por meio de discussão com a equipe, concluiu-se que a tarefa em questão é
semelhante àquela apresentada no item anterior (“Elaborar análise econômico-
financeira do projeto”). Ambas têm por objetivo realizar análises a partir dos dados
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 94
fornecidos pelo cliente, só mudando o tipo de análise. As duas visam detalhar a
análise já realizada durante o subprocesso de Análise Prévia.
Tabela 7.3 – Causas do tempo elevado para a análise técnica do projeto
Causa Descrição
Falta de padronização dos dados de origem.
Os dados fornecidos pelo cliente não chegam em formato padronizado, sendo necessária uma adaptação.
Dados faltantes e incorretos.Freqüentemente, os dados necessários para a análise estão incorretos ou incompletos, exigindo uma checagem pelo analista.
Falta de segregação de funções.As interrupções durante o trabalho originam impactos relevantes no desempenho desta tarefa.
Falta de parametrização.A análise técnica é elaborada em um documento de Word, não havendo qualquer tipo de parametrização do formato ou conteúdo da análise.
Falta de critérios para análise, gerando retrabalhos entre a Análise Prévia e Análise do Projeto.
A fronteira entre a Análise Prévia e a Análise do Projeto não é bem definida, havendo retrabalhos.
Falta de automatização.A automatização é insuficiente, havendo a necessidade de se utilizar softwares auxiliares (Excel e Word).
Não há uma base de dados sobre as tecnologias de produção.
Inexistência de informações centralizadas e de fácil acesso, referentes às tecnologias de produção mais comuns existentes.
Fonte: Elaborado pelo autor
Desse modo, conforme observado na tabela acima, as causas para o elevado tempo
de execução da análise técnica são as mesmas daquelas encontradas para a análise
econômica, exceto a última.
7.2.2 DETALHAMENTO DO PROBLEMA – TEMPO DE ESPERA
Após o melhor entendimento do problema do tempo de processamento, detalhou-se
também os fatores que levam ao tempo de espera relevante. O Diagrama de Pareto a
seguir (figura 7.4) destaca quais tarefas são as principais responsáveis pelo tempo de
espera do subprocesso.
Observamos que as tarefas “Providenciar informações do projeto” e “Providenciar
documentação referente às garantias” são responsáveis por mais de 80% do
problema. Assim, identificaram-se as causas do problema para ambas as tarefas.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 95
-
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
Providenciar informações do projeto Providenciar documentaçãoreferente às garantias
Providenciar documentação jurídica
Tarefas
Tem
po
de
Esp
era
Po
nd
erad
o (
min
uto
s)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Par
tici
paç
ão A
cum
ula
da
(%)
Figura 7.4 – Diagrama de Pareto – Tempos de Espera Ponderados da Análise do Projeto
Fonte: Elaborado pelo autor
Por meio de discussão inicial com a equipe de processos, conclui-se que os
problemas que ocorrem com as duas tarefas são extremamente parecidos. Devido à
semelhança entre os problemas e a simplicidade das suas causas, as tarefas serão
abordadas simultaneamente.
♦ Problemas 1 e 2 – Tempos de espera elevados das tarefas
“Providenciar informações do projeto” e “Providenciar documentação
referente às garantias”
Por meio destas tarefas, que são executadas pelo cliente final, o banco obtém as
informações e documentos necessários para completar a Análise do Projeto. Na
primeira tarefa, o cliente coleta e envia ao banco todos os dados solicitados sobre o
projeto a ser desenvolvido. Estes dados darão subsídio às análises econômico-
financeira e técnica, discutidas nos itens anteriores. Já os documentos referentes às
garantias, que são enviados ao banco na segunda tarefa, são necessários para a
avaliação dos bens que serão colocados como garantia à operação de financiamento.
ESTUDO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 96
Após brainstorming com a equipe, conclui-se que as seguintes causas impactam no
tempo de espera ocasionado pela demora no fornecimento das informações e
documentos:
Tabela 7.4 – Causas do tempo de espera elevado da Análise do Projeto
Causa Descrição
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações
O cliente tem muitas dúvidas e dificuldades para obter as informações, e não recebe uma orientação eficaz do banco.
Não há controle do recebimento das informações faltantes.
O banco não realiza um controle adequado do recebimento das informações e documentação que estão pendentes para a seqüência do processo.
As informações são solicitadas tardiamente.
O banco solicita as informações somente quando necessita delas. Se fossem solicitadas antes, a demora para o recebimento não impactaria no tempo do processo, como ocorre hoje.
Fonte: Elaborado pelo autor
Observa-se que as duas primeiras causas já foram tratadas anteriormente, no estudo
da Análise Prévia. Já a terceira causa é específica deste subprocesso, possuindo um
impacto relevante no seu tempo de espera.
Realizou-se neste capítulo o estudo da Análise do Projeto, apontando-se diversas
causas para os principais problemas existentes neste subprocesso, referentes ao seu
tempo de ciclo. Assim, já se realizou a análise de ambos os subprocessos críticos,
componentes do processo de Análise de Crédito, que é processo prioritário para
melhoria.
MELHORIA DO PROCESSO 97
8 MELHORIA DO PROCESSO
A identificação das causas dos principais problemas do processo de Análise de
Crédito proporciona subsídios para a sua melhoria, que é o foco deste capítulo.
Inicialmente, de acordo com a metodologia, as causas mais relevantes serão
priorizadas, segundo o seu impacto frente aos problemas verificados. A seguir,
melhorias serão propostas e implementadas, visando reduzir ou eliminar as causas
dos problemas. Finalmente, a obtenção de melhorias efetivas será comprovada
através do acompanhamento, por meio de indicadores, do desempenho do processo
revisto.
8.1 PRIORIZAÇÃO DAS CAUSAS
Obteve-se, através do estudo dos subprocessos de Análise Prévia e Análise do
Projeto, uma série de causas para os maiores problemas referentes ao elevado tempo
de ciclo. A melhoria do processo será obtida através do bloqueio das causas mais
relevantes, diminuindo ou eliminando os seus impactos sobre o tempo de ciclo do
processo. A priorização das causas é importante para a obtenção mais rápida de
melhorias, com menos esforço do banco e de seus funcionários.
Observando os resultados apresentados nos Capítulos 6 e 7, percebe-se que há
inúmeras causas que se repetem para diferentes problemas, ou seja, que ocasionam
impactos em diferentes momentos do processo. Objetivando relacionar as causas em
ordem decrescente de importância, sempre levando em consideração o seu nível de
impacto nos diversos problemas, utilizou-se a matriz de priorização proposta na
metodologia.
Encontra-se na página a seguir a matriz com os resultados obtidos, para os problemas
relacionados ao tempo de processamento. Nas colunas da matriz encontram-se os
problemas, ou seja, cada uma das tarefas que foram analisadas nos Capítulos 6 e 7.
Para cada problema atribuiu-se um peso, que foi calculado proporcionalmente ao
MELHORIA DO PROCESSO 98
tempo de processamento ponderado da respectiva tarefa. Considerou-se aí que
quanto mais alto é o tempo de processamento da tarefa, mais importante é o
problema. A somatória dos pesos de todos os problemas é igual a 10.
Anali
sar p
ropos
ta de
finan
ciam
ento
Leva
ntar d
ados
em vi
sita ao
cliente
Cada
strar
os
finan
ceira
do pr
ojeto
proje
to TOTAL
PESOS 1,9 1,1 0,8 3,7 2,5 10
Falta de parametrização. xxx xxx 18,6
Falta de critérios para análise, gerando retrabalhos entre a An.Prévia e An.do Projeto.
xxx xxx 18,6
Falta de padronização dos dados de origem. xxx xx xx 18,1
Falta de segregação de funções. xx xx xx xx 17,8
Dados faltantes e incorretos. xx x x 10
Falta de automatização. x x 6,2
Não há uma definição sobre o nível de detalhe necessário.
xxx 5,7
Não há uma base de dados sobre as tecnologias de produção.
xx 5
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações, no início do processo.
xxxx 4,4
Não há uma base de dados sobre o mercado. xx 3,8
Distância elevada dos clientes até o banco. xxx 3,3
Não há critérios definindo em que casos a visita é necessária.
xxx 3,3
Os demonstrativos contábeis são extensos. xxxx 3,2
São necessários diversos ajustes nos dados, durante o cadastramento.
xxxx 3,2
Os dados são solicitados de forma fragmentada e não padronizada.
xx 2,2
A análise é executada por mais de uma pessoa. x 1,9
Há informações replicadas. x 1,9
A seqüência para entrada dos dados não é intuitiva.
x 1,9
O analista, em cada viagem, visita somente as empresas de sua responsabilidade.
x 1,1
CAUSAS
PROBLEMAS
Figura 8.1 – Matriz de priorização das causas – tempo de processamento
Fonte: Elaborado pelo autor
MELHORIA DO PROCESSO 99
As linhas da matriz correspondem às causas dos problemas. Em cada intersecção
atribui-se um valor, que varia de 1 a 5 (“x” a “xxxxx”). Este mede a intensidade de
correlação entre a causa e o problema. Um símbolo “x” indica que a causa possui
pouco efeito sobre o respectivo problema. Em outras palavras, a causa é pouco
responsável pelo tempo elevado da tarefa. Por outro lado, a notação “xxxxx” indica
que a causa é responsável pela totalidade do problema. Neste caso, se for possível
bloquear a causa, o problema será completamente eliminado, ou seja, a tarefa não
precisará ser mais realizada, não consumindo mais nenhum tempo do banco.
Para a elaboração da matriz, solicitou-se a cada componente da equipe que atribuísse
os valores de “x” a “xxxxx” às intersecções. Já se sabia, por meio das tabelas
referentes às causas dos problemas (apresentadas nos Capítulos 6 e 7), quais causas
se relacionavam a cada problema. Desse modo, faltava apenas a atribuição dos
valores referentes à intensidade desses relacionamentos, segundo a escala adotada
(“x” a “xxxxx”).
A seguir, calculou-se a média dos valores obtidos, efetuando-se um arredondamento
quando necessário, e os resultados foram discutidos em reunião com a equipe.
Durante esta reunião, ajustes foram realizados nos resultados, aperfeiçoando-se
alguns valores, até se obter o consenso.
Os resultados demonstraram que as causas relacionadas a mais de um problema
obtiveram, como era de se esperar, pontuação total maior que as demais. O principal
benefício atingido pela aplicação do método de priorização foi justamente o de se
conseguir ponderar a importância de causas com impactos em mais de um problema.
A matriz de priorização, apesar da razoável dificuldade e subjetividade para
atribuição dos valores, permitiu que a equipe de processos, por meio de uma
discussão estruturada e focada, obtivesse um consenso quanto às principais causas a
serem atacadas.
Merece destaque também que, devido aos seus impactos distintos para o banco, e da
dificuldade de se ponderar conjuntamente as suas importâncias, os problemas
relacionados ao tempo de espera foram tratados separadamente daqueles
relacionados ao tempo de processamento. Elaborou-se então outra matriz de
MELHORIA DO PROCESSO 100
priorização, utilizando-se os mesmos critérios já apresentados. Os resultados são
apresentados a seguir.
Com
plem
entar
os da
dos d
a
prop
osta
Decid
ir sob
re o
enqu
adram
ento
do pr
ojeto
TOTAL
PESOS 3,2 1,3 3,3 2,2 10
As informações são solicitadas tardiamente. xxxxx xxxxx 27,5
O banco não auxilia o cliente na obtenção das informações
xxx xx xx 20,6
Não há controle do recebimento das informações faltantes.
xx xx xx 17,4
Falta de reuniões entre os gerentes, para o acompanhamento da carteira de clientes.
xxxxx 6,5
O enquadramento é realizado somente com a presença de vários gerentes.
xx 2,6
CAUSAS
PROBLEMAS
Figura 8.2 – Matriz de priorização das causas – tempo de espera
Fonte: Elaborado pelo autor
Nota-se que na segunda matriz há três intersecções com símbolos “xxxxx”,
indicando a correlação máxima entre causa e problema. Caso seja possível bloquear
estas causas, os problemas relacionados serão eliminados.
8.2 PROPOSTAS DE MELHORIAS
Conclui-se que, segundo os critérios adotados, as dez primeiras causas da matriz,
referentes ao tempo de processamento, respondem por mais de 80% da pontuação
total, ou seja, do total dos efeitos sobre os problemas. Estas causas serão então o foco
das propostas de melhoria descritas a seguir. Com relação aos problemas
relacionados ao tempo de espera, devido à reduzida quantidade de causas, todas
serão tratadas nas melhorias.
MELHORIA DO PROCESSO 101
Para cada melhoria proposta foi elaborado um planejamento para a sua
implementação, baseado no 5W1H. As propostas de melhoria foram desenvolvidas
pelo autor em conjunto com a equipe de gerenciamento de processos e o “dono do
processo”. No final da elaboração das propostas, estas foram apresentadas e
discutidas com os princ ipais gerentes envolvidos no processo, visando obter-se a
validação e comprometimento para a implementação das melhorias.
8.2.1 PROPOSTA 1: IMPLEMENTAÇÃO DE ROTEIRO ÚNICO PARA ANÁLISE
PRÉVIA E ANÁLISE DO PROJETO
♦ Planejamento da implementação
§ Por quê. Esta proposta de melhoria, provavelmente a de maior impacto para o
processo, está relacionada a diversas causas:
“Falta de parametrização” e “Não há uma definição sobre o nível de detalhe
necessário”. A análise econômico-financeira do projeto é elaborada em um
documento de editor de texto, não havendo qualquer tipo de parametrização do
formato ou conteúdo da análise. Há um conjunto de itens, ou tópicos básicos, que
constituem o relatório de análise. Dentro de cada item, o analista escreve
livremente, de acordo com o próprio bom-senso. Na dúvida sobre o nível de
detalhe necessário, há uma tendência para se detalhar o máximo possível,
originando relatórios extensos, pouco objetivos e que consomem elevado tempo
para sua elaboração. A falta de definição sobre o nível de detalhe também é
visível durante a análise da proposta de financiamento.
“Falta de critérios para análise, gerando retrabalhos entre a Análise Prévia
e Análise do Projeto”. A fronteira entre as análises realizadas nos subprocessos
de Análise Prévia e Análise do Projeto não está bem definida. Observando-se os
documentos que são preenchidos nas duas etapas, percebe-se que as informações
registradas são basicamente as mesmas, havendo grande retrabalho. Devido à
falta de critérios claros, a análise realizada na Análise Prévia, que deveria ser
MELHORIA DO PROCESSO 102
superficial, acaba sendo tão detalhada quanto aquela executada na Análise do
Projeto.
§ O quê. Propõe-se a elaboração de um roteiro único para a análise de crédito, que
englobe tanto a Análise Prévia como a Análise do Projeto. Este roteiro conterá os
tópicos a serem analisados em cada etapa do processo, de modo a serem
eliminados os retrabalhos. Será definido também o nível de detalhe necessário
para cada tópico. As análises realizadas passarão a ser registradas em novo
documento a ser criado, que substituirá os dois documentos atualmente
existentes.
§ Onde. O novo roteiro deverá ser utilizado por todos os departamentos da
Diretoria de Operações.
§ Como e Quem. O novo roteiro será desenvolvido pela equipe de gerenciamento
de processos, com participação de analistas de todos os departamentos da
Diretoria de Operações.
O conteúdo do roteiro será definido através da análise de uma amostra dos
documentos gerados nos últimos meses pelos subprocessos de Análise Prévia e
Análise do Projeto (“Termo de Informações para Enquadramento” e “Relatório
de Análise”, respectivamente). A partir do estudo desses documentos, se
definirão os tópicos que comporão o novo documento a ser utilizado.
A seguir, o novo roteiro será testado em caráter experimental, por um analista de
cada departamento envolvido. Cada analista realizará algumas análises de crédito
completas utilizando o novo roteiro. A implementação em definitivo ocorrerá
após a adaptação do sistema do banco, que ficou sob a responsabilidade do
gerente do Depto.de Tecnologia da Informação.
§ Quando. A implementação em caráter experimental deverá ocorrer até
01/09/2003. Caso seja bem sucedida, a implementação final terá como prazo
01/01/2004, devido à necessidade de adaptação dos sistemas do banco.
MELHORIA DO PROCESSO 103
♦ Resultados da implementação
O novo roteiro de análise foi desenvolvido a contento pela equipe de processos.
Houve certa dificuldade para a definição de alguns dos seus itens, devido às
inúmeras variações entre os documentos que foram tomados como base para a sua
elaboração. Devido à falta de padronização, cada departamento do banco utilizava
variações do mesmo relatório de análise. Diversos relatórios, referentes a empresas
de variados setores e elaborados por diferentes departamentos, foram estudados. O
outro documento considerado, o “Termo de Informações para Enquadramento”, já
estava padronizado quanto ao formato, entre os diversos departamentos do banco. O
nível de detalhe, entretanto, mostrava-se bastante diferente. Durante o estudo, ambos
os documentos foram comparados, sendo realizada a sua unificação e eliminação de
redundâncias.
O resultado foi a obtenção de um protótipo de roteiro único para a análise de crédito,
contendo cada item a ser analisado para cada etapa do processo. O novo roteiro
mostrou-se mais simples e reduzido que os documentos anteriores, devido à
eliminação dos retrabalhos existentes.
O novo roteiro de financiamento foi implementado, em caráter experimental, dentro
do prazo previsto. Os resultados foram nítidos. Segundo o feedback dos analistas que
passaram a utilizar o novo modelo, o trabalho tornou-se mais simples e
significativamente mais rápido. O novo documento, utilizado no lugar do “Termo de
Enquadramento” e “Relatório de Análise”, permitiu a obtenção de análises mais
sintéticas e objetivas.
Durante as primeiras análises realizadas através do novo roteiro, detectaram-se
necessidades de ajustes em alguns itens deste. Os ajustes foram realizados e as novas
versões do roteiro disponibilizadas. A adaptação dos sistemas do banco, permitindo a
automatização da melhoria proposta, devido ao seu maior prazo para implementação,
não pôde ser tratada neste trabalho.
MELHORIA DO PROCESSO 104
8.2.2 PROPOSTA 2: SEPARAÇÃO DA FUNÇÃO DE ATENDIMENTO AO
CLIENTE
♦ Planejamento da implementação
§ Por quê. Esta proposta visa bloquear a causa “Falta de segregação de funções”.
Os analistas que realizam o processo de Análise de Crédito estão envolvidos
também em outros processos do banco. Executam trabalhos de captação de novos
negócios, atendimento de clientes, consulta de saldos de financiamento etc.
Todos esses trabalhos são executados de forma simultânea e confusa, não
havendo delimitação clara das responsabilidades. Isso prejudica o desempenho de
diversas tarefas, sobretudo a análise da proposta de financiamento, durante a
Análise Prévia, e as análises econômico-financeira e técnica, durante a Análise
do Projeto, comprometendo os seus tempos de execução.
§ O quê. Propõe-se a criação de uma função específica de atendimento ao cliente,
retirando essa responsabilidade do analista de crédito. Essa função será
desempenhada por um funcionário em cada departamento, que atenderá os
clientes nos casos não relacionados à análise de crédito (consulta de saldos e
fornecimento de informações sobre os produtos do banco, principalmente).
§ Onde. A melhoria será implementada em todos os departamentos da Diretoria de
Operações.
§ Como e Quem. Deverá ser selecionado, em cada departamento, pelo respectivo
gerente, o funcionário que desempenhará a função. Este funcionário deverá ser
orientado quanto ao seu novo papel. Cada gerente será também responsável por
avisar os demais funcionários envolvidos.
§ Quando. O atendimento se iniciará em 01/08/2003.
♦ Resultados da implementação
Devido à sua simplicidade, a melhoria foi implementada rapidamente, sem nenhum
tipo de dificuldade. A avaliação dos analistas sobre os resultados obtidos foi positiva.
As interrupções durante o trabalho de análise eram uma reclamação constante dos
MELHORIA DO PROCESSO 105
funcionários. Destaca-se que ainda há algumas tarefas não relacionadas à análise de
crédito, que são executadas pelos analistas. Avaliou-se que a centralização total das
funções traria impactos drásticos no conteúdo do trabalho dos diversos cargos do
banco, exigindo um estudo mais aprofundado para a determinação da sua viabilidade.
Tal estudo pode ser realizado futuramente pela equipe de gerenciamento de
processos.
8.2.3 PROPOSTA 3: ACOMPANHAMENTO DO RECEBIMENTO DAS
INFORMAÇÕES E DOCUMENTOS
§ Por quê. A proposta está relacionada a várias causas:
“Dados faltantes e incorretos” e “O banco não auxilia o cliente na obtenção
das informações”. Não há nenhum tipo de auxílio ao cliente, relacionado à
obtenção das informações necessárias para a análise. A falta de informações gera
problemas na realização do processo: a visita ao cliente é realizada quase no final
da Análise Prévia, visando sobretudo coletar, ou orientar para que o cliente
colete, os dados faltantes. Se houvesse uma orientação logo no início, a visita não
seria necessária. As informações faltantes ou incompletas também levam a um
grande tempo de espera para o banco, já que este é obrigado a esperar pela
chegada dos dados para dar continuidade ao processo.
“Não há controle do recebimento das informações faltantes”. O banco não
realiza um controle adequado do recebimento das informações e documentação
que estão pendentes para a seqüência do processo. Devido à falta de controle, o
analista responsável freqüentemente não cobra do cliente o envio das
informações, ocasionando atraso no processo.
§ O quê. Propõe-se a realização, por cada analista de crédito, de um controle do
recebimento das informações e documentos dos clientes, através do
preenchimento de uma planilha de acompanhamento contendo as datas de
solicitação de cada informação e o status do seu recebimento. Os analistas
MELHORIA DO PROCESSO 106
deverão checar diariamente a planilha, cobrando e auxiliando os clientes na
obtenção e envio das informações.
§ Onde. O controle do recebimento deverá ser realizado por todos os
departamentos da Diretoria de Operações.
§ Como e Quem. A planilha de acompanhamento será elaborada pela equipe de
gerenciamento de processos, com participação de analistas de todos os
departamentos da Diretoria de Operações. Os gerentes dos departamentos serão
responsáveis pela orientação dos analistas quanto aos novos procedimentos. O
Depto.de Tecnologia da Informação será responsável pela especificação e
desenvolvimento de um sistema de controle do status dos processos,
automatizando o acompanhamento efetuado inicialmente em planilha eletrônica.
§ Quando. A implementação deverá ocorrer até 01/08/2003. O sistema de controle
do status dos processos deverá ser implementado até 01/01/2004.
♦ Resultados da implementação
A planilha de acompanhamento foi elaborada como planejado, e os analistas dos
diversos departamentos orientados sobre o novo controle. Os resultados obtidos
variaram de acordo com o departamento. Em algumas áreas a planilha foi
amplamente utilizada pelos analistas, gerando resultados visíveis. Já em outras áreas
o comprometimento obtido foi abaixo das esperado.
A automatização do acompanhamento, inicialmente implementado por meio de
planilha eletrônica, será de grande importância para a obtenção de resultados mais
consistentes, pois garantirá a realização do controle por todos os analistas.
MELHORIA DO PROCESSO 107
8.2.4 PROPOSTA 4: CRIAÇÃO DE UMA BASE DE DADOS SOBRE O MERCADO
E TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO
♦ Planejamento da implementação
§ Por quê. A proposta está relacionada às causas “Não há uma base de dados
sobre as tecnologias de produção” e “Não há uma base de dados sobre o
mercado”. O analista, a fim de realizar a análise da proposta de financiamento,
deve pesquisar uma série de dados relacionados ao mercado da empresa cliente
(consumidores, concorrência, tendências internacionais etc). Esta pesquisa é
elaborada para cada cliente analisado, utilizando-se sobretudo a internet, e
consome tempo significativo. Cada analista realiza suas próprias pesquisas sobre
o mercado. É comum um analista realizar uma pesquisa completa sobre um
mercado já plenamente estudado e pesquisado por outro analista. O mesmo
ocorre com a pesquisa sobre as tecnologias de produção, realizada durante a
análise técnica do projeto.
§ O quê. Propõe-se a criação de uma base de dados centralizada e corporativa,
contendo as características mais importantes dos diversos mercados e tecnologias
de produção relacionados às empresas clientes do banco. Esta base será
consultada pelos analistas durante a execução das tarefas de análise da proposta
de financiamento e análise técnica do projeto.
§ Onde. A base de dados será disponibilizada na rede corporativa do banco.
§ Como e Quem. Elegeu-se um analista do Depto.de Indústria de Transformação
como o responsável pela elaboração da base de dados. Este funcionário deverá
envolver outros analistas, se necessário, visando coletar e consolidar as
informações já disponíveis nos relatórios de análise desenvolvidos nos últimos
meses, sobre os mercados e tecnologias de produção. As informações
consolidadas serão então disponibilizadas na rede do banco. O gerente do
Depto.de Tecnologia da Informação ficou responsável pela verificação da
necessidade de se sistematizar a nova base de dados. Os gerentes de todos os
departamentos envolvidos serão responsáveis por orientar os funcionários quanto
à utilização da base de informações.
MELHORIA DO PROCESSO 108
§ Quando. A base deverá ser disponibilizada até o dia 15/08/2003.
♦ Resultados da implementação
A elaboração da base de dados mostrou-se mais trabalhosa do que o imaginado.
Houve problemas relacionados à falta de padronização das informações disponíveis,
o que dificultou a consolidação dos dados. Uma primeira versão da base de dados,
elaborada em planilha eletrônica, foi disponibilizada no mês de setembro, contendo
informações sobre alguns setores do mercado. O trabalho de elaboração e
refinamento prosseguiu durante os meses subseqüentes.
Os resultados obtidos pela implementação desta oportunidade de melhoria foram
consistentes. Eliminou-se parte do trabalho realizado durante as tarefas de análise da
proposta de financiamento e análise técnica do projeto. Para a garantir a continuidade
das melhorias, é fundamental a constante atualização e refinamento da base de dados.
8.2.5 PROPOSTA 5: SOLICITAÇÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO E
AS GARANTIAS NO INÍCIO DO PROCESSO
♦ Planejamento da implementação
§ Por quê. Esta proposta visa bloquear a causa “As informações são solicitadas
tardiamente”, referente ao elevado tempo de espera. O banco solicita as
informações sobre o projeto e as garantias da operação somente quando necessita
delas, durante o subprocesso de Análise do Projeto. Se fossem solicitadas antes, a
demora para o recebimento não impactaria no tempo de espera do processo,
como ocorre hoje.
§ O quê. Propõe-se que as informações sobre o projeto e as garantias da operação
sejam solicitadas ao cliente no início da Análise Prévia. O recebimento desses
dados será controlado pelo analista responsável através da mesma planilha de
acompanhamento citada na respectiva proposta de melhoria.
MELHORIA DO PROCESSO 109
§ Onde. A melhoria será implementada em todos os departamentos da Diretoria de
Operações.
§ Como e Quem. O gerente de cada departamento deverá orientar os analistas
quanto aos novos procedimentos a serem adotados.
§ Quando. A melhoria será implementada até 01/08/2003.
♦ Resultados da implementação
A melhoria, bastante simples, foi implementada dentro do prazo previsto. Os
analistas passaram a solicitar ao cliente, no início da Análise Prévia, todas as
informações necessárias inclusive para a Análise do Projeto. Segundo avaliação da
equipe de processos, a redução do tempo de espera foi bastante visível em alguns
casos.
8.2.6 PROPOSTA 6: ELIMINAÇÃO DO ENQUADRAMENTO COMO REQUISITO
PARA APROVAÇÃO DA OPERAÇÃO
♦ Planejamento da implementação
§ Por quê. A proposta está relacionada às causas “Falta de reuniões entre os
gerentes, para acompanhamento da carteira de clientes” e “O
enquadramento é realizado somente com a presença de vários gerentes”,
referentes ao elevado tempo de espera do processo. Há uma norma do banco que
determina que toda operação de financiamento, antes de ser aprovada pela
diretoria, deve ser “enquadrada” por um comitê, ou grupo de gerentes. O
“enquadramento” é realizado semanalmente, em uma reunião específica para essa
finalidade. Desse modo, é freqüente que o processo permaneça paralisado
durante vários dias, aguardando pelo “enquadramento”. Entretanto, verificou-se
que o principal objetivo dessa reunião semanal é de discussão e troca de
informações entre os gerentes, sobre a carteira de clientes do banco. Praticamente
todas as operações são “enquadradas”. Os gerentes costumam passar a
MELHORIA DO PROCESSO 110
responsabilidade pela recusa de alguma operação para a diretoria do banco, que
realizará a aprovação final, no subprocesso de Aprovação.
§ O quê. Propõe-se a alteração do escopo das reuniões de enquadramento. As
reuniões continuariam existindo, mas com o objetivo apenas de discussão e
acompanhamento da carteira de clientes e das operações em análise pelo banco.
A figura do “enquadramento” seria eliminada como requisito para seqüência do
processo.
§ Onde. A melhoria será implementada em todos os departamentos da Diretoria de
Operações.
§ Como e Quem. Elegeu-se o gerente do Departamento de Organização e
Processos para realizar todo o trâmite político necessário para a mudança das
normas do banco. Será necessária a aprovação da diretoria para implementar a
proposta de melhoria.
§ Quando. A meta é realizar a implementação até 01/10/2003.
♦ Resultados da implementação
Devido a dificuldades para aprovação da proposta de melhoria junto à diretoria do
banco, até o início de novembro a melhoria ainda não havia sido implementada.
8.2.7 CAUSAS NÃO TRATADAS
Do total de quinze causas que respondem pela maioria dos problemas (dez causas
referentes ao tempo de processamento e cinco referentes ao tempo de espera), as
seguintes causas não foram alvo de propostas de melhoria:
§ “Falta de padronização dos dados de origem”. O bloqueio desta causa exigira
uma reestruturação quase completa do processo de Análise de Crédito. Os
benefícios obtidos não justificariam o esforço para implementação. Assim, essa
causa não foi tratada.
MELHORIA DO PROCESSO 111
§ “Falta de automatização”. A solução para essa causa está relacionada ao
desenvolvimento de novos sistemas e adaptação dos existentes. Devido aos
maiores prazos necessários para a especificação das necessidades sistêmicas, o
desenvolvimento e implementação em si, optou-se por não tratar esta causa no
momento.
8.3 ACOMPANHAMENTO E CONTROLE
A fim de se comprovar a obtenção das melhorias e realizar eventuais ajustes no
processo, procedeu-se o acompanhamento dos indicadores de desempenho definidos
para a Análise de Crédito. O objetivo é confrontar o desempenho do processo com as
metas de melhoria estipuladas.
Os dados para se obterem os valores dos indicadores foram coletados através da
checagem dos documentos produzidos pela Análise de Crédito nos vários
departamentos, para o período de 01/06/2003 a 01/11/2003. A partir de 01/08/2003,
quando foram implementadas as primeiras melhorias, os indicadores passaram a ser
acompanhados mensalmente. Encontram-se abaixo os resultados para o subprocesso
de Análise Prévia.
15 dias
24 dias
0
5
10
15
20
25
30
35
mai/02-mai/03
jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 MetaJan 04
Período
Tem
po
To
tal d
e C
iclo
(dia
s ú
teis
)
Figura 8.3 – Acompanhamento dos indicadores – Análise Prévia
Fonte: Elaborado pelo autor
MELHORIA DO PROCESSO 112
Os primeiros resultados das melhorias apareceram em setembro. Neste mês, o
desempenho do subprocesso já superou a meta esperada, mostrando a efetividade das
melhorias implementadas. A tendência do subprocesso para os meses subseqüentes é
de redução maior do tempo, devido à implementação do Roteiro Único para Análise,
que até então se encontrava em fase experimental. Durante a fase de
acompanhamento, realizaram-se alguns ajustes no subprocesso. Os principais pontos
tratados foram relacionados ao treinamento e orientação aos funcionários, sobre os
novos procedimentos a serem executados.
O desempenho do subprocesso de Análise do Projeto é visualizado a seguir.
15 dias
19 dias
0
5
10
15
20
25
mai/02-mai/03
jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 MetaJan 04
Período
Tem
po
To
tal d
e C
iclo
(dia
s ú
teis
)
Figura 8.4 – Acompanhamento dos indicadores – Análise do Projeto
Fonte: Elaborado pelo autor
Os ganhos obtidos com a Análise do Projeto foram bastante significativos, a partir do
mês de outubro. O resultado positivo foi devido principalmente à redução do tempo
de espera do subprocesso, devido à proposta de Solicitação das Informações sobre o
Projeto e as Garantias no Início do Processo, segundo informações fornecidas pelos
analistas.
Para ambos os subprocessos, as metas foram cumpridas antes dos prazos definidos.
Excetuando-se alguns ajustes realizados no processo, conforme comentado nos
resultados das implementações, não foi necessária a execução de novo ciclo de
melhorias. Entretanto, torna-se necessário a continuidade do acompanhamento,
MELHORIA DO PROCESSO 113
visando garantir que as melhorias ainda em fase de implementação também
obtenham resultados efetivos.
Finalmente, de acordo com os princípios da melhoria contínua, é interessante que o
banco adote novas metas para melhoria, visando aumentar cada vez mais o
desempenho dos seus processos.
CONCLUSÕES 114
9 CONCLUSÕES
Encerra-se, aqui, o trabalho de aplicação do gerenciamento por processos no Banco
de Desenvolvimento. Neste capítulo se tecerá uma conclusão geral sobre a
efetividade da metodologia utilizada e dos resultados obtidos pelo trabalho.
Finalmente aspectos relacionados à continuidade do estudo serão abordados.
9.1 ANÁLISE DO TRABALHO
O presente trabalho tinha como objetivo a aplicação de uma metodologia para
análise, melhoria e acompanhamento dos processos do Banco de Desenvolvimento,
de modo a se obter o aumento do seu desempenho e da satisfação dos clientes.
Durante o desenvolvimento do trabalho, apresentou-se inicialmente o escopo do
estudo, a justificativa para o tema abordado e uma visão geral do banco onde se
propunha a aplicação prática do gerenciamento por processos. A seguir, foi
apresentada uma revisão bibliográfica sobre gerenciamento por processos, contendo
conceitos e técnicas propostas por vários autores. Diversos conceitos foram
apresentados e comparados, proporcionando uma visão geral sobre os principais
métodos disponíveis para melhoria de processos empresariais.
A partir dos conceitos apresentados, propôs-se uma metodologia para a aplicação do
gerenciamento por processos na empresa estudada. A metodologia foi uma adaptação
de algumas técnicas existentes, para a realidade específica do Banco de
Desenvolvimento. A seguir, a metodologia elaborada foi aplicada na empresa foco.
Os processos do banco foram identificados e avaliados, segundo a sua relevância
estratégica e o desempenho. Aqueles considerados críticos foram detalhados e
profundamente analisados, visando à detecção de problemas e identificação das suas
causas. Propostas de melhoria foram elaboradas e, em sua maioria, implementadas,
objetivando a eliminação dos principais problemas e aumento do desempenho dos
processos. A obtenção das melhorias foi acompanhada, através da medição de
CONCLUSÕES 115
indicadores de desempenho para o processo. O comportamento de tais indicadores
revelou uma melhoria do processo quanto ao seu desempenho, que atingiu as metas
estipuladas pelos seus clientes.
As restrições de tempo para o desenvolvimento do estudo impossibilitaram a análise
detalhada de um maior número de processos e de suas variações, e a implementação
completa de todas as propostas de melhoria identificadas. Entretanto, estas são
limitações naturais de um trabalho de formatura. Assim, julgou-se que o presente
trabalho atingiu os seus objetivos pretendidos. O gerenciamento por processos foi
aplicado no Banco de Desenvolvimento, obtendo-se resultados visíveis para a
empresa.
A metodologia proposta mostrou ser eficaz, proporcionando o foco nos principais
problemas dos processos e suas causas. Os processos do Banco de Desenvolvimento,
antes da elaboração deste trabalho, poucas ou nenhuma vez haviam sofrido ações de
melhoria estruturadas. Desse modo, apresentavam e ainda apresentam significativas
deficiências, havendo inúmeras oportunidades para melhoria.
Devido às limitações de qualquer equipe de gerenciamento por processos, seria
impossível obter-se a melhoria de diversas variáveis, em diversos processos,
simultaneamente. O gerenciamento por processos no banco focou-se somente no
tempo de ciclo, pois esta é, e muito provavelmente continuará sendo, pelos próximos
anos, a variável mais relevante para a empresa e seus clientes.
9.2 CONTINUIDADE
Percebeu-se, durante a aplicação do gerenciamento por processos, que muitos
processos do banco possuem potencial para melhorias ou reestruturações radicais. Há
a percepção, entre os gestores da empresa e os funcionários de um modo geral, que o
banco tem potencial para sofrer uma reestruturação completa em um futuro não tão
distante. Apesar disso, manteve-se o foco na melhoria contínua dos processos, de
acordo com a metodologia proposta. A compreensão, documentação e
CONCLUSÕES 116
acompanhamento dos processos, proporcionados pela aplicação da metodologia
utilizada, poderão subsidiar uma futura reestruturação completa do banco, se esse
assim o desejar.
O autor, para o desenvolvimento do trabalho, contou com a colaboração de uma
equipe de funcionários do banco. Estes se envolveram profundamente na
implementação do gerenciamento por processos na empresa. É de extrema valia para
o banco que esta equipe dê continuidade aos trabalhos de análise e melhoria dos
processos, utilizando a metodologia agora já testada.
A seqüência lógica para continuidade do trabalho, após a implementação completa
das melhorias identificadas, seria o estudo e definição de um novo processo de
Divulgação e Captação. Este processo foi apontado como extremamente crítico para
o atingimento dos objetivos estratégicos da empresa. Entretanto, não foi foco de
análise neste trabalho.
Para a definição do novo processo, deve-se utilizar uma abordagem mais voltada à
reengenharia de processos. Fica como sugestão a adaptação da metodologia utilizada
neste trabalho, para contemplar também o projeto de novos processos.
A obtenção da visão dos processos da organização, além de proporcionar, por si
mesma, melhorias de desempenho, dá subsídios à utilização de uma série de outras
ferramentas para gestão empresarial. O mapeamento dos processos pode ser utilizado
para a implementação de um sistema de custeio baseado em atividades (ABC). Neste
caso, para cada atividade mapeada, ter-se- ia um custo associado, permitindo uma
análise ainda mais apurada visando à melhoria dos processos.
O ABC permitiria também a apuração mais precisa do custo dos produtos do banco.
Por sua vez, a obtenção do custo por produto é o passo inicial para a adoção de um
sistema para rentabilização de produtos.
Enfim, o gerenciamento por processos é uma abordagem extremamente valiosa, que
deve ser explorada visando à obtenção de diferenciais estratégicos e uma
competitividade cada vez maior da empresa no mercado.
ANEXO A – QUESTIONÁRIO PARA MEDIÇÃO DOS PROCESSOS 117
ANEXO A – QUESTIONÁRIO PARA MEDIÇÃO DOS PROCESSOS
Depto.: ___________________________________
Analista: __________________________________
Produto: BNDES Automático
Período: 05/2002 a 05/2003
Favor preencher o nome da empresa cliente e a data de conclusão de cada evento, para cada operação analisada.
Nome da EmpresaProtocolo da
PropostaEnquadramento
Conclusão da Análise
Recebimento do Risco
Aprovação Diretoria
Aprovação da FRO
Questionário para Levantamento de Processos
ANEXO B – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 118
ANEXO B – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE
PRÉVIA
Área Operacional
Cliente
Proposta de
financiamento
Protocolar aproposta de
financiamento
Enviar aproposta ao
gerente
Enviar aproposta ao
analista
Inserir os dadosdo cliente no
sistema
Verificar aproposta(Gerente)
Figura 9.1 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Formalizar o recebimento da proposta”
Fonte: Elaborado pelo autor
Área Operacional
Cadastrar osdados da proposta
no sistema
Abrir pastapara o cliente
Gerar oRegistro Geral
do cliente
Informar osusuários
responsáveis
Formalizar orecebimento da
proposta Realizar análiseeconômica do
cliente
Realizar análisecadastral do
cliente
Figura 9.2 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Inserir os dados do cliente no sistema”
Fonte: Elaborado pelo autor
ANEXO B – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 119
Área Operacional
Realizar análiseeconômico-financeira
do cliente
Cadastrar osdemonstrativos
contábeis
Avaliar o nível deendividamento do
clienteInserir os dadosdo cliente no
sistema
Figura 9.3 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Realizar análise econômica do cliente”
Fonte: Elaborado pelo autor
D.PS
Área Operacional
Fich
a ca
dast
ral
Solicitarinformaçõescadastrais
Transcrever osdados para aficha cadastral
Analisar fichacadastral
Inserir os dadosdo cliente no
sistema
CadastroOK?
PesquisarSISCOM eSERASA
Figura 9.4 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Realizar análise cadastral do cliente”
Fonte: Elaborado pelo autor
Jurídico
Área Operacional
Cliente
Sim
Não Não
Sim
Não
Elaborarparecer jurídico
Solicitarcomplemento de
informações
Parecerfavorável?
Complementarinformaçõescadastrais
Encerrar oprocesso
CadastroOK?
Receber fichacadastral ou
parecer
Sãorelevantes?
Analisarrelevância dos
problemascadastrais
Figura 9.5 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Emitir parecer sobre problemas cadastrais”
Fonte: Elaborado pelo autor
ANEXO B – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE PRÉVIA 120
Área Operacional
Cliente
Sim
Não
Levantar dadosem visita ao
cliente
Complementar osdados daproposta
DadosOK ?
Solicitarcomplementação
de dados
Analisarproposta de
financiamento
Figura 9.6 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Complementar dados faltantes”
Fonte: Elaborado pelo autor
Comitê Gerencial
Área Operacional
Não
Operaçãoenquadrada
SimRecomendar o
Termo à Câmarade Enquadramento
Preencher o Termo"Informações paraEnquadramento"
Operaçãoenquadrada?
Registrar adecisão de
enquadramento
Arquivar oprocesso
Decidir sobre oenquadramento
Análise doProjetoAnalisar
proposta definanciamento
Figura 9.7 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Deliberar sobre o enquadramento”
Fonte: Elaborado pelo autor
ANEXO C – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 121
ANEXO C – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE
DO PROJETO
Figura 9.8 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Definir e cadastrar as garantias da operação”
D.PS
Jurídico
Área Operacional
Cliente
Definir as garantiasque atendem àsespecificações
Solicitardocumentação ao
cliente
Cadastrar bensavaliados
Solicitar avaliaçãodas garantias
Conferir dados dolaudo de avaliação
(A.OP)
Conferir dados dolaudo de avaliação
(D.PS)
Arquivar na pastado cliente
Providenciardocumentaçãoreferente às
garantias
Elaborar laudo deavaliação dos bens
Inserir os dados doprojeto no sistema
Analisardocumentaçãoreferente às
garantias
Figura 9.8 – M
apa de Processos N
ível 2 – Atividade “D
efinir e cadastrar as garantias da operação”
Fonte: E
laborado pelo autor
AN
EXO
C –
DETA
LHA
MEN
TO D
O S
UB
PRO
CESSO
DE A
NÁ
LISE DO
PR
OJETO
122
ANEXO C – DETALHAMENTO DO SUBPROCESSO DE ANÁLISE DO PROJETO 123
Jurídico
Área Operacional
Cliente
Solicitardocumentação
jurídica ao cliente
Arquivardocumentação
jurídica
Elaborar aanálise jurídica
Inserir os dadosdo projeto no
sistema
Providenciardocumentação
jurídica
Figura 9.9 – Mapa de Processos Nível 2 – Atividade “Elaborar análise jurídica do projeto”
Fonte: Elaborado pelo autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 124
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOUER, G. Gerenciamento por processos . (Apostila do curso de Planejamento e Organização da Qualidade) – Departamento de Engenharia de Produção, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1997.
BRYMAN, A. Research methods and organization studies. Londres: Routredge, 1989.
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