geografos legislacao form mercado trabalho

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Gegrafos, Legislao, Formao e Mercado de TrabalhoPEDROSO, Nlson Garcia, (Org) CONFEA/AGB 1996.

APRESENTAO .........................................................................................................................................................2 FORMAO PROFISSIONAL DO GEOGRAFO ........................................................................................................3 A TICA PROFISSIONAL E O PROFISSIONAL DA GEOGRAFIA ..........................................................................5 OS GEOGRAFOS NO MERCOSUL: CONTRASTES DO CAMPO DE ATUAO PROFISSIONAL DOS GEOGRAFOS ENTRE OS PAISES DO PRATA * ......................................................................................................10 O PERFIL DO GEGRAFO ................................................................................................................................................11 REAS DE AO E ATUAO..........................................................................................................................................11 ATRIBUIES DO GEGRAFO .........................................................................................................................................11 MERCADO DE TRABALHO DO GEGRAFO ......................................................................................................................12 SETOR PBLICO .............................................................................................................................................................12 SETOR PRIVADO.............................................................................................................................................................12 GEGRAFO E A FUTURA SRIE ISO 14.000...........................................................................................................16 PERFIL DOS GEGRAFOS NO MERCADO DE TRABALHO NO ESTADO DE SO PAULO* ..........................21 CURSO DE LEGISLAO PROFISSIONAL PARA BACHARIS EM GEOGRAFIA E GEGRAFOS................24 I - INTRODUO .............................................................................................................................................................24 II - O CURSO DE LEGISLAO E OS PRINCIPAIS DIPLOMAS LEGAIS................................................................................24 III - O CURSO DE LEGISLAO PARA A FORMAO DO PROFISSIONAL DA GEOGRAFIA .................................................25 IV - ESTRUTURAO BSICA PARA OS CURSOS DE LEGISLAO PROFISSIONAL ...........................................................26 GEGRAFOS BRASILEIROS: SINOPSE HISTORICA* ..........................................................................................28 LEGISLAO PROFISSIONAL PERTINENTE AOS GEGRAFOS.......................................................................30

Texto original, PEDROSO, Nlson Garcia, (Org). Gegrafos, Legislao, Formao e Mercado de Trabalho publicado pelo CONFEA/AGB 1996. Foi extrado pelo sistema de OCR scanner, e editado sobre formato A4, com margens econmicas (2,5 na esquerda e as demais com 1,5). O Editor, Leonardo Jos Teixeira [email protected]

APRESENTAO

A publicao ora apresentada o resultado de alguns anos de trabalho da comisso de assuntos profissionais da AGB e de sua representao junto ao CONFEA, trabalho este refletido na coletnea de legislao, nas atividades de base como senso de gegrafos e o curso de legislao profissional, mas tambm, e principalmente, no estreitamento de relaes com as associaes profissionais de gegrafos, de vrios Estados, que tem trazido excelentes frutos.

Alis, foram nestes trabalhos e nestes contatos que fomos percebendo um desconhecimento muito grande no s sobre a legislao que rege o exerccio profissional, mas tambm sobre os novos desafios a serem enfrentados coletivamente: nossa participao no MERCOSUL e nas certificaes de qualidade. Isto nos motivou a coletar e sistematizar este material na forma de uma publicao.

As temticas aqui apresentadas, postas sob a tica de alguns autores, esperam ser vistas, criticadas a adicionadas em outros aspectos significativos atravs de novas contribuies vindas de companheiros gegrafos engajados no mercado de trabalho. Enquanto isto no ocorre fica o nosso agradecimento pelas contribuies prestadas por estes autores: companheiros gegrafos, scios da AGB e membros de APGs.

Vale considerar tambm que, pela natureza dos assuntos tratados, estes devem servir de base para o incio de discusses sobre as questes apresentadas e que envolvem o cotidiano dos profissionais e a expectativa de trabalho de estudantes de bacharelado em geografia.

Agradecemos tambm ao CONFEA pelo auxlio financeiro para a elaborao desta primeira publicao da CAP-DEN e a ajuda prestada por alguns de nossos colegas gegrafos e professores na leitura e

observaes sobre os textos apresentados.

Esperamos estar dando um primeiro passo na direo da valorizao profissional e de um contato cada vez mais estreito, produtivo e tico entre os gegrafos, e suas entidades representativas.

NELSON GARCIA PEDROSO Representante da AGB junto ao CONFEA/CDEN e Coordenador da Comisso de Assuntos Profissionais AGB/DEN

FORMAO PROFISSIONAL DO GEGRAFOMauro Srgio F. Argento

Os estudos ambientais assumem, hoje em dia, um papel de fundamental importncia nos contextos econmico, poltico e social do pas. Esta afirmativa pode ser facilmente comprovada, atravs da simples leitura de um jornal ou diante de uma televiso, aonde a mdia, eficientemente, vem veiculando assuntos pertinentes problemtica ambiental. As exigncias dos Relatrios de Impactos sobre o Meio Ambiente (RIMAs). Os projetos de Estudo de Impactos Ambientais (EIAs), a preocupao com a vulnerabilidade urbana, a problemtica rural, a proliferao de projetos de controles ambientais, o acompanhamento tmporo-espacial de reas degradadas, o gerenciamento costeiro, a gesto territorial da Amaznia brasileira, o ecoturismo do Pantanal Mato-grossense, so apenas alguns exemplos que podem substanciar o potencial de mercado aberto a diferentes setores do conhecimento. Admitindo que ambiente pode ser entendido como um conjunto estruturado de dados em rea (espao), fica patente o carter transdisciplinar dos estudos ambientais, j que os dados, aqui referidos, podem se apresentar com diferentes enfoques, como nas perspectivas qualitativas ou quantitativas, nos contedos de natureza fsica, bitica e antrpica, o que permite o engajamento dos mais variados segmentos profissionais. No caso especfico do profissional Gegrafo, existe um elo marcante entre a definio de ambiente, acima considerada, e o objeto da sua prpria formao bsica que, em ltima anlise, recai na compreenso da natureza dos eventos que se distribuem no espao. Assim, o ambiente pode se revestir num marketing para a ampliao de mercado de trabalho do Gegrafo. Mas ser que hoje estamos formando Gegrafos com condies tcnico-cientficas capazes de competir num mercado de trabalho to exigente em funo das caractersticas transdisciplinares, como as apresentadas acima. Neste ponto recai a essncia de nossas reflexes: o currculo de Geografia talvez seja um dos mais condizentes em termos de uma abrangncia transdisciplinar. De seu escopo, obrigatoriamente constam disciplinas de natureza fsica como Geologia Geral, Geomorfologia, Climatologia, matrias de natureza bitica como a Biogeografia, e de natureza social, relacionadas ao setor das Cincias Humanas, como a geografia dos transportes, das indstrias, agrria, dentre outras. Acresce que, ao nvel de disciplinas instrumentais, o currculo da geografia tambm contempla uma gama de tcnicas que esto diretamente vinculadas s perspectivas ambientais, como as utilizadas no geoprocessamento onde a Cartografia Computadorizada, o Sensoriamento Remoto, a Estatstica Ambiental e os Sistemas de Informaes Geogrficas compem sua base operacional. Assim, a nosso ver, existem as condies bsicas para que a formao dos profissionais Gegrafos possa ser considerada de alto nvel tcnico-cientfico, j que em sua formao esto associadas disciplinas que apresentam contedos terico e prtico e que, na sua maioria absoluta, esto direcionados s questes espaciais, por conseguinte, contemplando as especificidades ambientais. No entanto, com todo esse potencial apontado, existe uma deficincia no enfoque pragmtico, fato este observado na maioria dos profissionais que tratam da cincia geogrfica, incluindo-se aqui, tanto as questes sociais como algumas especificidades da rea fsica. Ao nosso ver, a nvel pragmtico, os gegrafos esto muito aqum de suas reais possibilidades competitivas e isto espelhado, principalmente, pela falta de agressividade no trato transdisciplinar. Este fato transpassado, ao alunado, na divulgao acadmica, o que implica numa formao de profissionais que dota o aluno com certa insegurana, quando exposto integrao multidisciplinar. Este fato facilmente documentado quando se faz. a um recm- formado em Geografia, uma pergunta corriqueira ao nvel de sua formao bsica como, por exemplo: - Voc sabe estabelecer uma carta temtica de scio-economia, com vistas a um projeto de gesto territorial. com abrangncia municipal? Qual a base de dados a ser levantada? Qual a escala de detalhamento a ser atrelada ao projeto? Como criar um Banco de Dados ajustvel a essa base de dados? O mesmo raciocnio poderia ser levantado para questes de tratamento de RIMAs, de mapeamentos de reas de risco nos sistemas aqutico e terrestre, de critrios para monitoramento fluvial de bacias de drenagem dentre outras questes de natureza mais setorial. Este ponto que, no nosso entender, se traduz na maior restrio relacionada formao bsica do profissional gegrafo, poderia ser de certa forma minimizado, caso houvesse o cumprimento das obrigatoriedades dos estgios curriculares em empresas que desenvolvem trabalhos relacionados aos

objetivos da Geografia. Esta seria uma maneira de expor o aluno, em fase de complementao do curso, a uma socializao profissional, j que o contato direto com outros profissionais gegrafos e de outros setores afins ao conhecimento geogrfico traria, alm de um salutar convvio, um aprendizado capaz de fortalecer a sua base tcnico-cientfica e, com isso, introduzir o esprito profissional agressivo to comum na Engenharia, Medicina e Economia. Por outro lado, o confronto com problemas aplicados nortearia novos aprendizados, bem diferentes dos problemas acadmicos, conforme hoje se nota na apresentao da maioria das monografias, dissertaes de mestrado ou teses de doutorado preciso buscar um maior contexto de contrapartidas sociais nos assuntos relacionados Geografia. No passado, os cursos, apresentavam sua malha curricular com uma pseudo-abrangncia terico-instrumental, e seu produto final tinha uma resposta com maior contedo filosfico-conceitual muito distante das solues dos problemas reais a nveis sociais e que necessitam de alto contedo aplicado (instrumental). Este fato no quer dizer que o gegrafo deve ser apenas um tecnocrata, um apertador de teclado de computador ou algo similar, muito pelo contrrio, o que procuramos alertar que ele deve se espelhar no pragmatismo das cincias, que, hoje apresentam as melhores opes de mercado com a Engenharia, Economia, Arquitetura e Medicina. No entanto, j existe uma melhor conscientizao para este problema e as perspectivas de ajustar as disciplinas tericas a contedos prticos j uma realidade que vem sendo sentida, pelo menos, nas Universidades Federais e Estaduais. Ao nvel de instituies que oferecem as condicionantes para a formao de um profissional gegrafo, existe uma certa contradio entre as instituies federais e estaduais e as particulares, principalmente no que diz respeito s disciplinas instrumentais e na capacitao docente. A ausncia de equipamentos mais sofisticados para o desenvolvimento da parte instrumental de Sensoriamento Remoto em base orbital, de cartografia computadorizada, de equipamentos laboratoriais para anlises sedimentolgicas e qualidade de gua, na grande maioria das instituies particulares acarreta a formao deficiente de profissionais que se engajam na cincia geogrfica. sabido, no entanto, que o grande mercado em Geografia o Magistrio, principalmente do primeiro e segundo graus e, com isso, no existe um grande oferecimento de cursos de Bacharel-Gegrafo, o que diminui a possibilidade de ampliao de mercado para recm formados pelas instituies mais categorizadas. Um fator salutar, nessa anlise, consiste na proliferao de cursos de especializao voltados ao setor do meio ambiente, onde o profissional gegrafo tem uma efetiva participao. Com isso facilita-se o nivelamento dos profissionais que podem adquirir, principalmente, uma base prtica no trato dos assuntos geogrficos. A mo-de-obra especializada, como foi acima referida, ainda necessita de maior afinamento com as questes prticas, j que, a nosso ver, na formao terica do alunado as instituies vem atendendo de forma satisfatria. A ausncia de um Currculo Mnimo atualizado, esperado com ansiedade h quase 35 anos um ponto que vem dificultando as aes do exerccio da profisso, no mbito dos CREAs. Cabe ressaltar, aqui, a existncia de um processo referente a esse assunto, que tramita junto ao CNE (Conselho Nacional de Educao), ex-CFE (Conselho Federal de Educao), que busca equacionar tal questo desde 1994. Acresce que os gegrafos devem estar atentos a Lei 9.311 , de 24 de novembro de 1995, que trata da formulao e avaliao da poltica nacional de Educao e da qualidade do ensino. No inciso primeiro do artigo terceiro est explicitado que os procedimentos a serem adotados para as avaliaes a que se refere o caput incluiro, necessariamente, a realizao, a cada ano, de exames nacionais com base nos contedos mnimos estabelecidos para cada curso, previamente divulgados e destinados a aferir conhecimentos e competncias adquiridos pelos alunos em fase de concluso dos cursos de graduao. obvio que para atender esta exigncia legal - avaliao baseada no contedo mnimo do curso - e para que haja critrios padronizados a nvel nacional, o currculo mnimo atualizado dever estar implantado e implementado em todas as Instituies de Ensino que ministram o Bacharelado. Este ponto de fundamental importncia para a valorizao profissional do gegrafo, pois alm de permitir com eficincia a aplicao da lei, agilizar o cadastramento dos novos profissionais nos CREAs, e assim, possivelmente, ampliar as condies legais exigidas pelo mercado de trabalho. Em sntese, a qualidade do profissional gegrafo, para o trato das questes espaciais, pode ser tida como de bom padro conceitual. No entanto, a parte tcnica, a nosso ver, ainda est longe de suas reais possibilidades e isto vem dificultando a sua aplicao no mercado, que vem se ampliando dia a dia. fundamental que se tenha conscincia de um mercado exigente e que se possa moldar o profissional para atender a esse mercado especializado antes que outras cincias afins ocupem este espao, como hoje j vem se sentindo.

A TICA PROFISSIONAL E O PROFISSIONAL DA GEOGRAFIAEvandro Andaku

I - ticaNo sentido comum, como conceito utilizado pela sociedade em geral, o termo tica no precisa ser explicado. Todos sabem relativamente bem o que tica. Alguns a definem como um estudo ou uma reflexo, sobre os costumes ou sobre as aes humanas. Outros, como o comportamento correto em face de valores e costumes. objeto de estudo da cincia, da filosofia, da teologia. Enfim, o termo tica, pode ser ampla e longamente dissertado sob os mais diversos prismas, pelos mais diversos estudiosos e curiosos da vida e comportamento humanos. No entanto no cabe aqui uma reflexo pretensiosa sobre a tica em seu sentido amplo. A discusso que queremos promover se restringe a um campo especfico, de aplicao concreta, qual seja a questo da tica profissional, e especificamente a tica na rea atinente ao profissional da Geografia e suas relaes com outros profissionais e com a sociedade em geral.

II - O Profissional de GeografiaTodas as profisses regulamentadas, ou seja, as profisses reconhecidas cujas atividades receberam do legislativo brasileiro uma regulamentao atravs de uma lei especfica e prpria, possuem certas normas de funcionamento, de organizao e de comportamento que devem ser rigorosamente observadas. Para que essas normas legais sejam devidamente observadas e aplicadas foram criados os chamados Conselhos. Assim que temos o Conselho de Medicina, O Conselho dos Contabilistas, etc. A prpria Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB como um conselho, englobando todos os advogados, embora com outra denominao. Como o Brasil uma federao, temos os Conselhos Federais e, para cada estado, os Conselhos Regionais, sendo os primeiros, geralmente, as instncias ltimas de administrao e deciso, dependendo do que estipula a lei regulamentadora da profisso e da criao do Conselho. Quer isso dizer que a comunidade de uma profisso especfica pode e deve estabelecer suas prprias normas de funcionamento, desde que respeitadas as demais profisses e observadas as normas gerais legais da sociedade. Ns, profissionais da Geografia, somos, enquanto Gegrafos, regulamentados pelo Sistema CONFEA/ CREAs, e enquanto professores de Geografia, pelo Ministrio da Educao e Cultura - MEC, j que a Educao atendida por rgo prprio do governo federal. A diferenciao entre licenciado em Geografia e bacharel em Geografia, e entre professor de Geografia e Gegrafo, embora clara, no percebida por muitas pessoas. O professor de geografia, portador da licenciatura, dever se inscrever na Delegacia de Ensino do MEC para poder exercer o magistrio. O gegrafo, portador do bacharelado, dever se inscrever no CREA. Podemos portanto conceituar Gegrafo como o indivduo com bacharelado em Geografia e inscrito no CREA. uma definio legal. Um bacharel em direito no inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil no pode, legalmente falando, ser chamado de advogado. Um bacharel em qumica no pode ser chamado de qumico se no estiver inscrito no conselho dos qumicos, e assim por diante. Um bacharel em Geografia no inscrito no CREA no pode ser chamado de Gegrafo. Estritamente falando. No so muitos aqueles que sabem que o CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, engloba outros profissionais. Alm de ns gegrafos, o CREA engloba tambm por exemplo, engenheiros, agrnomos, arquitetos, tecnolgicos, gelogos, meteorologistas e agrimensores e tcnicos de 2 grau de reas afins. O Conselho a nvel federal chama-se Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, o CONFEA, que junto com os Conselhos Regionais dos diversos estados, formam o que denominamos de Sistema CONFEA/ CREA. Portanto o indivduo formado por uma faculdade de Geografia com o ttulo de bacharel em Geografia, caso queira exercer a profisso da chamada rea tcnica tal como os estudos de impacto ambiental e seus

respectivos relatrios e avaliaes, dever necessariamente se inscrever no CREA de seu estado, atender s suas normas legais e observar o seu Cdigo de tica. Se no faz isso ele infringe a lei. E, portanto passvel de punio legal. Quem estabelece tudo isso? a lei que regulamentou a profisso do Gegrafo, a lei 6.664 de 26 de junho de 1979 e tambm a lei 3.194, pela qual estamos inseridos no Sistema. Algum pode imaginar um bacharel formado em Medicina que no esteja inscrito no CRM ou um bacharel em Direito no inscrito na OAB? Reiterando o que j se disse, eles no so, legalmente, mdico ou advogado. Eles simplesmente no podem exercer a profisso. Caso o faam e sejam descobertos, no apenas sofrero as punies impostas pelos Conselhos. Eles tero cometido um delito penal, previsto pelo artigo 47 da Lei das Contravenes Penais. o chamado exerccio ilegal da profisso. E sero judicialmente processados por isso.

III - A tica ProfissionalA) A tica entre Gegrafos As responsabilidades dos profissionais em geral no que concerne tica, no entanto, no se restringe to somente quelas previstas perante os seus respectivos conselhos. H normas de conduta que devem ser observadas na relao entre os prprios colegas. Por exemplo, o dever de no criticar outro profissional com o objetivo de lograr vantagens frente a seus colegas. Muitas vezes os Conselhos inserem essas normas nos Cdigos de tica Profissional. So normas imperativas, cuja desobedincia podem levar a graves punies. Como exemplo ainda, podemos citar aquele professor de Geografia, no inscrito no CREA, que, portanto, no gegrafo perante o Conselho e a lei, que realiza trabalho de consultoria tcnica para empresas. Esse indivduo est sendo anti-tico e a rigor, est infringindo a lei. B) A tica entre profissionais de formao diferenciadas 1) Em 04 de Novembro de 1985, o Congresso Nacional decretou e o Presidente da Repblica sancionou uma lei alterando a definio de quem reconhecido como gegrafo. A to polmica lei 7.399 estabeleceu por exemplo que: - Artigo 2 . O exerccio da profisso de Gegrafo somente ser permitido: I- ... II - ... III - ... IV - ... V aos portadores de ttulos de Mestre e Doutor em Geografia, expedidos por Universidades oficiais ou reconhecidas; VI - ..." O que fez a lei, alterando parcialmente a anterior, foi a de incluir os mestres e doutores em Geografia dentro da profisso de Gegrafo. Aparentemente no h nada de errado. Apenas aparentemente, porque aqui a polmica grande. Acreditamos ter havido um equvoco quando da elaborao desta alterao. Vamos supor um bacharel em Cincias Sociais ou um licenciado em Estudos Sociais ou mesmo um licenciado em Geografia, portanto um indivduo que no freqentou os bancos de uma Faculdade de bacharelado em Geografia. Caso ele faa um mestrado em Geografia, digamos em Geografia da Populao, ele seria reconhecido, segundo a lei citada acima, como Gegrafo e portanto poderia se inscrever no CREA e poderia portanto ser responsvel, digamos, pelo Relatrio de Impacto Ambiental para a construo de um lixo, ou de uma usina hidreltrica. Qual a capacidade real de um profissional que teve uma formao to somente em Estudos Sociais e depois um mestrado em Geografia Humana para ser responsvel por um trabalho to tcnico na rea das chamadas cincias exatas ou biolgicas? Ele no teve em seu histrico escolar necessariamente matrias como geomorfologia, hidrologia, Biogeografia, etc. Disciplinas na maior parte das vezes ausentes das grades curriculares da maioria das faculdades de licenciatura em Geografia ou Estudos Sociais, e quando presentes se prestam to somente finalidade didtica, sem aprofundamento da parte tcnica.

No se trata apenas de questionar as capacidades tcnicas desses indivduos. preciso refletir sobre as responsabilidades futuras do trabalho realizado. Se aps a construo de uma usina hidreltrica por exemplo, se descobre que o local era inadequado, constituindo em erro de carter hidrolgico ou geolgico, que poderia ser evitado por estudos e avaliaes mais amplas, ou que o impacto da obra causou degradao ambiental no prevista pelo Relatrio de Impacto Ambiental assinado por um Gegrafo. A apurao dos fatos em esfera poltico-administrativa, ou em esfera judicial pode, em casos como esse, acabar atingindo no somente o profissional, mas tambm as outras pessoas, fsicas ou jurdicas, envolvidas na questo. Poderia portanto trazer graves prejuzos imagem pblica do profissional, dos profissionais da Geografia ou do prprio Conselho. Isso uma hiptese, mas um fato que pode vir a se tomar realidade, tendo em vista o permissivo legal questionado (A lei 7.399 de 04.11.85), que na verdade foi instituda to somente para contemplar os provisionados em cargos pblicos ou que exerciam a profisso de docentes nas escolas de bacharelados em Geografia no instante da publicao da lei 6.664. H alguns anos os gegrafos, assim entendidos corretamente como os formados por uma faculdade de bacharelado em Geografia e devidamente inscritos no CREA, vm tentando apoio da comunidade geogrfica para a revogao desta lei. O prprio Conselho subscreve esse entendimento e o tem apoiado. 2) Existem ainda normas ticas que devem ser observadas no que toca a especificidade do trabalho a ser realizado. Muitas vezes uma mesma tarefa pode ser realizada por profissionais diferentes, igualmente competentes perante a lei. Outras vezes uma mesma tarefa, embora possa na prtica ser realizada por profissionais diferentes, a lei determina que somente um deles pode realiz-lo. Para exemplificar o primeiro caso, citemos a edificao de prdios que pode ser realizado (projetado) pelo engenheiro civil, pelo arquiteto e, caso se situe em zona rural, pelo engenheiro agrnomo. Como exemplo da segunda hiptese temos a execuo de previses meteorolgicas que, embora tanto o gegrafo (por sua formao em climatologia) como o meteorologista possam faz-lo, a lei determina que de competncia exclusiva do meteorologista. Nesses casos imperativo o respeito aos outros profissionais. Para se ter uma idia do rigor com que essas normas ticas tm que ser respeitadas, ilustrativo o exemplo dado pelos tribunais brasileiros. Muitas vezes ocorre de um profissional ser ao mesmo tempo advogado e engenheiro. Num processo que envolvesse por exemplo a construo de um edifcio, ou o funcionamento de uma mquina, aquele profissional poderia, em tese, tanto advogar para seu cliente, como elaborar um laudo tcnico na rea- de engenharia para o mesmo cliente a fim de utiliz-lo como demonstrao de um determinado direito relativo controvrsia da questo tcnica. Porm ele no pode atuar como advogado e engenheiro num mesmo processo. Ou ele o advogado ou o assistente que far um laudo tcnico. No pode acumular as duas funes num mesmo processo. assim que tem decidido os tribunais. Isso porque se ali ele atua como advogado, deve deixar a parte tcnica extra-jurdica ao profissional competente e viceversa, respeitando o campo profissional dos que atuam naquela rea, sejam eles engenheiros (no caso de percias e elaborao dos respectivos laudos em edificaes, mquinas, etc), contadores (no caso de percias contbeis, auditorias, etc), gegrafos (percias sobre impactos causados no ambiente por acidentes causados por indstrias, etc.), ou outros profissionais. S assim estar assegurado um mnimo de iseno na realizao das atividades profissionais, quando assim se exige. No caso da geografia e das cincias afins, essas linhas divisoras so mais tnues e delicadas. No so poucas as vezes que a execuo de uma tarefa suscita dvidas sobre qual profissional deve faz-lo. s vezes a dvida fica entre o gegrafo e o gelogo. Outras vezes entre o gegrafo e o agrimensor. Outras vezes ainda entre o gegrafo e o arquiteto. Ou ainda entre o gegrafo e o engenheiro, e assim por diante. So as chamadas reas de sombreamento ou as interfaces. Na realidade existem conflitos e os profissionais esto procurando assegurar os trabalhos, de um modo ou de outro, atribudos s suas carreiras, aos seus respectivos campos de atuao, por diversos meios, por exemplo, atravs de lobby junto ao poder legislativo para aprovao de leis que lhes convm, ou atuando concretamente no mercado de trabalho. H cerca de uma dcada vimos a briga (uma verdadeira guerra) entre os profissionais farmacuticos e os biomdicos que se estendeu at o interior da Cmara Federal, na votao de uma lei que mudava as competncias tcnicas numa determinada tarefa (dava aos biomdicos a possibilidade de serem profissionais responsveis por laboratrios de anlises clnicas, atribuio esta dos farmacuticos bioqumicos). Com a mobilizao da classe farmacutica na poca, foi colocado em votao um projeto substitutivo no qual permanecia a competncia exclusiva dos farmacuticos, admitindo-se porm os biomdicos formados at aquele ano.

Agora, novamente um projeto de lei tenta tirar atribuies do profissional da farmcia. Encontra-se em tramitao no Congresso Nacional um projeto de lei estabelecendo que mesmo pessoas no formadas em faculdades de farmcia e bioqumica podem ser responsveis legais pelo funcionamento de um estabelecimento farmacutico. O que vemos na realidade dos dois casos citados o interesse particular (donos de escolas, grandes empresas do ramo farmacutico, etc) tentando se sobrepor ao interesse pblico, em verdadeiro detrimento mais da sade pblica, do que da prpria classe profissional, embora esta tambm saia prejudicada. Estes exemplos so dados apenas para ilustrar o que a desmobilizao de uma categoria profissional pode acarretar. As conseqncias de uma omisso s vezes so irreversveis. A ateno de uma classe profissional ao que se passa a nvel poltico deve ser permanente, sob pena de se ter cada vez mais um campo de atuao menor. No se trata aqui de se defender um corporativismo ou reserva de mercado. Ou uma relao permanentemente contenciosa com os demais profissionais de reas afins. Mesmo porque o mundo exige cada vez mais profissionais polivalentes. Na realidade o que defendemos uma discusso ampla da questo que envolve desde os currculos mnimos dos diversos cursos das diversas faculdades at o que se espera de cada profissional em sua competncia tcnica especfica para a prestao do melhor servio sociedade. A lei no pode estar contra a sociedade. E para que isso no ocorra necessria a atuao da sociedade civil. Nesta se insere os conselhos e os seus profissionais. Dentro do Sistema CONFEA/ CREA tambm temos nossas divergncias. E o que mais preocupa os gegrafos atentos ao que se passa no interior do sistema, a desmobilizao dos colegas enquanto classe, o que enfraquece uma categoria j de antemo pouco representada dentro do sistema, e mesmo diante da sociedade. C) A tica nas relaes sociais e a responsabilidade perante a sociedade. - O Cdigo de Defesa do Consumidor. A questo tica to extensa que inclui ainda o posicionamento do profissional diante das relaes sociais e da prpria sociedade. No basta que ele seja inscrito no Conselho, que exera sua atividade conforme sua competncia tcnica, devidamente prevista pela lei, e que respeite os colegas de profisso e de reas afins. preciso ainda cumprir seus deveres enquanto cidado e agir diante da sociedade, sempre de acordo com as normas gerais de Direito. Para isso, os instrumentos legais acabam por estabelecer normas que atingem o indivduo enquanto profissional. Entre esses instrumentos podemos citar o Cdigo Civil, o Cdigo Penal, a legislao tributria, etc. Mas o mais importante e que atinge os profissionais mais diretamente o Cdigo de Defesa do Consumidor. O Cdigo de Defesa do Consumidor, institudo por uma lei federal no ano de 1990 (Lei 8.078 de 11.09.90), e portanto vlida para todo o territrio nacional, incluiu os prestadores de servio como sujeitos passveis da relao comercial, sejam eles mdicos, advogados, despachantes, dentistas ou qualquer outro prestador de servio, profissional liberal ou no. O trabalho do gegrafo ou da empresa na qual ele trabalha uma prestao de servio a algum. Este algum um consumidor. E o gegrafo um fornecedor (prestador de servio). Portanto o trabalho do gegrafo regulado tambm pelo Cdigo do Consumidor. Da a importncia do Gegrafo estar atento aos aspectos legais de seu trabalho, uma vez que poder ser acionado judicialmente, por aquele que o contrata, quando este se sente prejudicado na relao profissional contratado-contratante, ou sinta que o trabalho realizado no atendeu s suas expectativas. Como exemplo de situaes passveis de ser objeto de um contencioso judicial poderamos citar a hiptese da construo de um determinado prdio que acaba por causar danos irremediveis no meio ambiente local que no foram previstos pelo gegrafo quando este elaborou o relatrio de impacto ambiental ou quando o profissional promete um determinado resultado de seu trabalho e este resultado no alcanado. So situaes em que o gegrafo pode se ver processado, civilmente, para devoluo do dinheiro eventualmente a ele pago, ou abatimento do preo combinado. Ou ainda pelos prejuzos, muitas vezes de valores astronmicos, causados por um mau trabalho. E poder ainda eventualmente responder aes na rea criminal por uma conduta ilcita no relacionamento com aquele que contratou seus servios.

A atuao do gegrafo portanto no mercado de trabalho no pode se dar antes de um conhecimento seguro a respeito das normas regulamentadoras da profisso de gegrafo e das normas legais que abarcam o profissional. Quando falamos em tica portanto, no estamos apenas a falar de um comportamento moralmente aceito. Estamos a falar tambm, e principalmente, de regras concretas e reais que devem pautar estritamente o trabalho do profissional e sua postura diante dos outros em geral, sob pena de se tomar sujeito passivo em uma lide processual, diante do poder judicirio, e ter com isso, sua carreira prejudicada ou mesmo prematuramente encerrada por fora de uma deciso administrativa e/ou judicial. Algumas faculdades incluem nos currculos de seus cursos, a disciplina da deontologia, procurando dar a seus alunos e futuros profissionais, uma viso clara destas questes to importantes que podem determinar a forma de conduta dos profissionais. No caso do gegrafo, ele se encontra atualmente, totalmente desassistido, desamparado, ignorando a nova realidade que o mundo hoje impe nas relaes profissionais. Muitos membros da comunidade geogrfica, s vezes utilizando forma errnea denominaes legais, s vezes ignorando que so regidos por uma determinada lei, podero incidir inadvertidamente em disposies de lei, infringindo-as, e quando percebem a complexidade e gravidade da questo aqui discutida, podero se ver em uma situao desfavorvel e irreversvel. D- Os Cdigos de tica Seguindo uma tendncia dos Conselhos das mais diversas categorias, o CREA, no obstante possuir j h algum tempo um Cdigo de tica, est formalizando um Cdigo de Processo tico, que se destina a estabelecer e uniformizar os procedimentos dentro do Conselho dos atos praticados dentro dos processos administrativos que apuram as faltas ticas cometidas por profissionais. O objetivo dar maior agilidade, segurana, e igualdade de tratamento aos processos abertos pelo Conselho contra os profissionais. Ou seja, o Cdigo de tica estabelece o que pode e o que no pode no comportamento profissional. O Cdigo de Processo tico - estabelece a forma como ser processado o profissional caso infrinja os dispositivos do Cdigo de tica. Em linguagem jurdica chamamos o primeiro de lei material e o segundo de lei adjetiva. Com o Cdigo de Processo tico, o profissional, caso tenha cometido uma infrao tica, saber a forma como ser processado, e saber portanto a forma como poder e dever se defender, assim como os procedimentos que so tomados durante o processo e a forma como ser julgado. O avano neste campo enorme. A partir do sistema CONFEA/ CREA e das instituies congneres dos demais pases, temos um Cdigo de tica para o Mercosul, desde o final do ano de 1993. O Cdigo, estabelecido pela Comisso de Integrao de Agrimensura, Agronomia, Arquitetura e Engenharia para o Mercosul, simples, porm abrangente, estipulando aos profissionais do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, normas bastantes claras em captulos especficos, regendo os (1) deveres do profissional para com a sociedade, (2) deveres para com a dignidade da profisso, (3) deveres para com os demais profissionais, (4) deveres para com os clientes e o pblico em geral, (5) deveres entre os profissionais que se dedicam funo pblica e os que o fazem na atividade privada, (6) deveres em sua atuao ante contratos, estabelecendo ainda regras a respeito (7) dos profissionais ligados entre si por relao de hierarquia, (8) dos profissionais nos concursos e das incompatibilidades no exerccio profissional. Como podemos ver, conforme avana a sociedade, avana a legislao. O Direito corre atrs dos fatos para tentar resolver situaes e dirimir conflitos que surgem em qualquer sociedade democrtica. O Mercosul a cada dia uma realidade mais prxima. Cabe aos profissionais estarem atentos s regras que regem as relaes profissionais. Esses novos cdigos aqui mencionados devem estar cada vez mais presentes nas estantes dos gegrafos que se entendem profissionais.

OS GEOGRAFOS NO MERCOSUL: CONTRASTES DO CAMPO DE ATUAO PROFISSIONAL DOS GEOGRAFOS ENTRE OS PAISES DO PRATA *Rosane Vilasboas Corra I- Introduo Com a criao do Mercado Comum do Sul, MERCOSUL, atravs do Tratado de Assuno, firmado em 1991, entre Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil com o objetivo inicial de promover uma zona de livre comrcio, criou-se tambm a perspectiva de integrao profissional entre os pases signatrios. Com o advento de um mercado comum, surge a possibilidade de novas oportunidades de trabalho, a abertura de novos mercados profissionais permitindo o intercmbio de capitais, bens, produtos, tecnologias e, principalmente, a exportao de servios profissionais da rea tcnico-cientfica no mbito integrado do MERCOSUL. Estima-se que o MERCOSUL estimule a oferta de empregos em vista da ampliao do mercado econmico da Amrica Latina. Com o objetivo de conhecer a realidade profissional dos pases do MERCOSUL, foi criado em Montevidu em 1991, a CIAM - Comisso de Integrao de Agrimensura, Agronomia, Arquitetura e Engenharia para o MERCOSUL. As principais resolues produzidas pela CIAM, at o momento, foram: 1-dispensa da traduo dos currculos de formao profissional para efeito de registro ou habilitao profissional; 2-criao do conceito de equivalncia de atribuies profissionais em razo das diferenas entre os pases; 3-discusso de um Estatuto para o CIAM; 4-criao de subgrupos para anlises especficas de atribuies profissionais por ramo de profisso; 5-estabelecimento de um Cdigo de tica do MERCOSUL para as profisses tecnolgicas, resultado dos cdigos vigentes em cada pas; 6-os profissionais devero respeitar a legislao profissional vigente no pas receptor. Antes de tecermos alguns comentrios sobre a situao dos gegrafos na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, faremos algumas consideraes sobre essa questo aqui no Brasil.

II Brasil De acordo com a legislao vigente, Gegrafo o profissional registrado nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia que possui a titulao de Engenheiro-Gegrafo, Gegrafo ou Bacharel em Geografia. Esta profisso disciplinada pelo Decreto n 23.569/33 e complementada pelas Leis n 5.194/66 e n 6.664/79 fazendo parte das profisses abrigadas pelo Sistema COFEA/ CREAs. Os gegrafos brasileiros esto inseridos dentro do Grupo ou Categoria de Engenharia, sendo profissionais da rea tecnolgica que atuam no mercado de trabalho ligado prestao de servios na rea geogrfica. Suas atividades profissionais so fiscalizadas pelos CREAs. O Licenciado em Geografia ou Professor de 1 e 2 graus e o Bacharel em Geografia ou Gegrafo so duas categorias profissionais com perfis, prticas e objetivos distintos, com regulamentaes e clientelas prprias, especficas, no devendo ser confundidas. Os gegrafos gachos possuem representao formal no Sistema CONFEA/ CREAs desde 1994, atravs da Associao dos Gegrafos Profissionais do Rio Grande do Sul, estando enquadrados no Grupo da Engenharia-Modalidade Civil. A Associao dos Gegrafos Profissionais do RS, uma entidade de carter tcnico-cientfica, fundada em 1966, que congrega os profissionais amparados pela Lei n 6.664/79.

A AGP/RS como instituio tcnica e consultiva tem como objetivos principais: - colaborar com o Estado no planejamento e no estudo de solues para os problemas geogrficos; - promover o desenvolvimento "de estudos no campo da Geografia, abrangendo o conjunto das operaes geogrficas que conduzem caracterizao do meio fsico; - representar os interesses profissionais da categoria em nvel estadual. A AGP/RS recentemente registrou no CREA/RS a primeira Tabela de Remunerao Bsica para Prestao de Servios Geogrficos. O Perfil do gegrafo O gegrafo um tcnico responsvel pela resoluo de problemas do espao geogrfico (natural ou modificado pela ao antrpica) e comprometido com as transformaes sociais, da mesma forma que outras categorias profissionais. Por sua formao e capacitao tcnica, est preparado para interpretar a interface natureza/sociedade. Ao tratar da organizao espacial e das relaes estabelecidas entre o homem e a natureza, os gegrafos tornam-se agentes modeladores do espao, cabendo-lhes analisar uma multiplicidade de variveis que compem cada rea e que constituem a dimenso da realidade humana e ambiental. Algumas das caractersticas que ajudam na profisso se traduzem atravs da objetividade, exatido e capacidade de anlise e interpretao da realidade observada. A capacidade de sntese permite ao gegrafo fazer uma leitura interpretativa e simultnea do espao social, econmico e natural. Como planejadores e produtores tcnicos, sua atuao como gestores, tanto da iniciativa pblica como privada, fundamental para promover a integrao do homem com o poder econmico, tentando compatibilizar a sustentabilidade e a qualidade de vida com a preservao dos recursos naturais. Considerando que o que rege o mercado profissional o critrio da competncia, para os gegrafos assegurarem empregos qualificados e garantir uma maior valorizao junto aos usurios dos servios geogrficos, toma-se imprescindvel, alm do diploma, ser capaz de produzir o conhecimento geogrfico, isto , saber fazer, tanto na rea tcnica como cientfica, principalmente em se tratando de uma sociedade to competitiva como a que vivemos atualmente. Como o amplo conjunto de atribuies legais do gegrafo de interfaces com as atribuies de outros profissionais, importante que ele mostre as suas atividades com o objetivo de aumentar a produo geogrfica tanto na rea do conhecimento como na rea de planejamento, uma vez que dirige pesquisas, pessoas, idias e at aes. Os gegrafos no Brasil, mesmo tendo uma legislao profissional definida, devem buscar espaos de trabalho que oportunizem cada vez mais o reconhecimento social da profisso, o que implica em maiores esclarecimentos sobre a prtica profissional do gegrafo ao mercado empresarial/consumidor e no meio universitrio, notadamente para os estagirios e bacharelandos em Geografia. A adoo de tais medidas certamente concorrer para que a insero quantitativa de gegrafos no mercado de trabalho seja compatvel com o potencial da profisso. Por outro lado, o Sistema CONFEA/ CREAs deveria coordenar aes, no sentido de divulgar sociedade todas as profisses a ele jurisdicionadas, informando sobre as atribuies que cada modalidade profissional do Sistema desempenha. reas de ao e atuao Planejamento Urbano, Rural e Regional; Consultoria, Controle Ambiental e Pesquisa. Atribuies do Gegrafo Pesquisas, avaliaes e estudos geogrficos destinados ao planejamento da produo, considerando os aspectos fsicos, humanos e econmicos da regio; Estudos e pesquisas para planejamento e implantao de poltica social, econmica e administrativa; Estudos e pesquisas de carter fisico-geogrfico, biogeogrfico, antropogeogrfico, geoeconmicos, scio-espacial, populacional;

Estudos e pesquisas visando o planejamento e organizao do espao: ordenamento territorial, parcelamento do solo urbano, zoneamento urbano e regional; Estudos e servios relativos diviso administrativa territorial: alteraes e distritos, emancipaes anexaes, fixao de limites; Elaborao de cartas, mapas, mosaicos fotogramtricos, levantamentos por plantas e mapas existentes, mosaicos de loteamentos, organizao de mapotecas, cadastros imobilirios. Elaborao de mapas e cartas com base em fotografias areas e imagens de satlites, via geoprocessamento, utilizando Sistemas de Informaes Geogrficas (SIGs); entre outros, e anlise e interpretao de fotografias areas de imagens de satlite; Elaborao de bancos de dados para introduzir mapas e plantas, cadastros imobilirios, mapas temticos em geral; Levantamento e planejamento fsico-espacial; Delimitao, caracterizao e organizao de regies geogrficas; Levantamento, mapeamento e avaliao de recursos naturais; Planos de manejo de uso de solo e das bacias hidrogrficas; Levantamentos topogrficos (quando devidamente habilitados) para fins de desapropriao, pavimentao de ruas, nivelamentos, cadastros multifinalitrios, fixao de limites, localizao de pontos, sistema metropolitano de coordenadas; Levantamentos, estudos e projetos relativos ao potencial turstico; Formao e atuao em equipes multidisciplinares de planejamento e anlise ambiental com vistas elaborao de Estudos de Impacto Ambiental (ElAs) e Relatrios de Impacto Ambiental (RIMAs); Servios de Assessoria Ambiental: avaliaes, pareceres, laudos tcnicos, percias, gerenciamento e manejo relativos aos recursos naturais; Servios de assessoria, coordenao e consultoria aos municpios, Estados ou Unio no estudo das divisas, limites e fronteiras; Servios Cartogrficos: aerofotogrametria e aerofotointerpretao; Estudos e pesquisas climticas e geomorfolgicas. Mercado de Trabalho do Gegrafo Setor Pblico Secretarias do Meio Ambiente, de Planejamento, de Obras Pblicas, de Agricultura, de Minas e Energia e outras; Empresas Pblicas ligadas preservao e/ou recuperao de recursos naturais; Institutos de Desenvolvimento Urbano e Regional; Institutos de Desenvolvimento Econmico; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente- IBAMA; Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE: Institutos Florestais Estaduais; Empresas de Assistncia Tcnica e Extenso Rural (EMATER-RS); Centros Universitrios de Pesquisas; Centros de Sensoriamento Remoto de rgos afins com as atividades geogrficas; Outros. Setor Privado Empresas de aerolevantamento; Empresas de planejamento rural (criao de agrovilas, assentamentos rurais, movimentos migratrios, colonizao agrria,...); Empresas de assessoria e consultoria ambiental (elaborao de ElAs e RIMAs); Empresas de servios topogrficos; Empresas de Turismo (criao e gerenciamento de plos tursticos e gerenciamento costeiro); Percias e avaliaes como autnomo; Outros. III - Argentina Na Argentina, as Universidades no formam gegrafos. A formao geogrfica e essencialmente terica e acadmica.

Os cursos de Graduao conferem a titulao de Licenciados em Geografia. Existe em Buenos Aires um curso de Bacharelado em Geografia, que possui Convnio de colaborao com as Universidades Brasileiras de So Paulo (USP) e Rio de Janeiro (UERJ). Na Argentina no h colgios especficos para gegrafos, nem estes esto inseridos nos Colgios de Engenheiros (exceto os poucos Engenheiros-Gegrafos). Conseqentemente, existe ausncia de legislao e atribuies legais. O Instituto Geogrfico Militar, apesar de formar gegrafos ou engenheiros gegrafos, no fornece estas titulaes, embora lhes d a formao geogrfica. Em algumas Provncias da Argentina, a organizao uniprofissional possuindo um Colgio para cada categoria profissional. Assim, temos um Colgio para Engenheiros, um Colgio para Arquitetos, cada um deles apresentando legislao profissional diferenciada dos demais. Em outras, os Colgios so multiprofissionais. Politcnicos Argentinos O grande quantitativo de Gegrafos Politcnicos argentinos (Engenheiros Agrimensores), que pertencem ao Colgio dos Engenheiros, so os profissionais que esto legalmente habilitados para trabalhar nos campos de ao e atuao dos Gegrafos, Agrimensores e Cartgrafos brasileiros. Portanto, devemos ficar atentos quando esses profissionais desempenharem suas atividades no lado brasileiro, especialmente no que se refere s atribuies dos gegrafos definidas pela Lei n 6.664/79, disciplinadora da profisso. Poucos gegrafos atuam na rea de planejamento na Argentina. ocupada majoritariamente pelos economistas, arquitetos, engenheiros agrimensores, entre outras categorias. Esses profissionais atuam em rgos ambientais tanto na esfera pblica como na privada.

IV - Uruguai A realidade profissional dos gegrafos no Uruguai semelhante da Argentina, ou seja, no so reconhecidos como profissionais liberais, somente como professores, devido a sua formao acadmica. No Uruguai, h somente uma Universidade pblica que forma Professores de Geografia (Pedagogos) e Pesquisadores (Ps-graduados). Existe a Associao de Gegrafos Universitrios - AGUDO - formada por pesquisadores. No Uruguai no h legislao profissional para gegrafos. Os pesquisadores no fazem parte dos Colgios de Engenheiros, pois so reconhecidos como Professores de Geografia. O mercado de trabalho dos gegrafos no Uruguai ocupado por Pesquisadores, que atuam em diversos rgos pblicos, atravs de convnios formados entre a Universidade e as Provncias/ Municpios, sendo contratados para a prestao de servios profissionais especializados. Exemplos: Ministrio da Habitao, os pesquisadores trabalham com Ordenamento Territorial; na Prefeitura Municipal de Montevidu, e no Instituto de Geografia e Desenvolvimento os pesquisadores fazem parte do quadro funcional. Outras categorias profissionais que desempenham as atividades dos gegrafos so: na rea urbana, os Engenheiros Agrimensores e Arquitetos. Os Engenheiros Agrimensores trabalham, inclusive com Planejamento urbano e regional, fazendo cadastros multifinalitrios, utilizando-se dos Sistemas de Informaes Geogrficas SIGs; na rea rural, os Engenheiros Agrimensores e os Engenheiros Agrnomos so quem trabalham, atuando no manejo de bacias hidrogrficas. No Uruguai, a fiscalizao do exerccio profissional exercida diretamente pelo Estado, em observncia ao cumprimento da Lei. Os profissionais se organizam atravs das Entidades de Classe, por ramo de profisso. Os gegrafos formados no Brasil, podem exercer atividades profissionais no Uruguai, porque pertencem ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, mas a recproca no verdadeira, pois os uruguaios no possuem habilitao legal para trabalharem no Brasil, uma vez que no esto inseridos dentro de um Colgio profissional (Colgio de Engenheiros ou Gegrafos), nem possuem atribuies legais pertinentes. V - Paraguai No Paraguai existe uma escola de Engenharia Geogrfica Militar, localizada em Assuno, que forma os Engenheiros Gegrafos. Esses profissionais esto inseridos no Colgio dos Engenheiros do Paraguai,

tendo habilitao para exercer atividades geogrficas tanto l como aqui no Brasil, pois em ambos os pases existem equivalncia em relao as atribuies profissionais. Fazendo-se uma avaliao da situao dos profissionais da rea geogrfica no MERCOSUL, certamente encontraremos, neste momento, mais obstculos atividade profissional do que benefcios advindos dessa integrao continental, em conseqncia das diferenas existentes nos currculos escolares, nas atribuies e legislao profissional e concorrncia no mercado de trabalho. Por enquanto, podemos constatar a inexistncia de fronteiras profissionais para os Gegrafos no MERCOSUL. A realidade dos Profissionais de Geografia nos pases do Prata nos revela que os impactos legais e reais sobre o mercado profissional dos gegrafos ainda merecem ser amplamente discutidos e avaliados pela categoria. Deve-se buscar critrios que permitam a efetiva circulao desses profissionais dentro do MERCOSUL, para que os mesmos possam atuar sem que haja reservas de mercado. Neste contexto, tomam-se irrefutveis as preocupaes do CREA/RS em relao livre circulao de profissionais, no mbito do MERCOSUL, antes do ano 2005. Trata-se de uma realidade profissional que ainda merece muito estudo e investigao. preciso definir os parmetros que iro nortear as atividades, as formas de organizao e fiscalizao profissional num terreno comum de atuao, buscando uma identidade de objetivos que sejam do interesse dos profissionais do Sistema CONFEA/ CREAs e que ao mesmo tempo garantam sociedade o nvel de qualidade dos servios prestados na rea tecnolgica. Somente quando esta etapa de integrao estiver estabilizada que os pases do Cone Sul tero amplas possibilidades de realizar acordos profissionais que promovam um desenvolvimento conjunto. A consolidao profissional do MERCOSUL tarefa primordial, considerando que j existe uma realidade cultural, social e histrica que aproxima o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. Rosne Vilasbas Corra Presidente da Associao dos Gegrafos Profissionais do Rio Grande do Sul e Conselheira da Cmara Especializada de Engenharia Civil CREA/RS

O GEGRAFO E A FUTURA SRIE ISO 14.000Maria Elizabeth de Lima VelosoI - Introduo Aps a realizao da Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, Sucia, no ano de 1972, a discusso do tema meio ambiente foi ampliada mundialmente e as aes visando a proteo dos recursos ambientais do planeta foram se diversificando e se difundindo. Naquela poca, os debates ocorriam em tom apaixonado e fundamentados em base de conhecimento tcnico-cientfico ainda no muito consistente, apesar de que j referenciados a um estgio bastante avanado de degradao dos recursos ambientais em todo o mundo. Desta poca em diante, o interesse sobre o tema continuou sempre crescente, fazendo com que nesse final de milnio, a questo ambiental seja um dos aspectos de interesse da sociedade que mais interferem no comportamento humano e em suas atividades produtivas. Refletindo esse interesse, vinte anos aps o primeiro evento, foi realizada a Conferncia do Rio de Janeiro, em julho de 1992, constituindo a maior mobilizao mundial em tomo das questes ambientais. Na oportunidade, mais de 150 pases discutiram o meio ambiente com base em conhecimento tcnicocientfico mais slido e sob novos enfoques, dentre os quais a associao meio ambiente/economia. Na ECO92, foi gerada a Agenda 21, a Declarao do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e as Convenes do Clima e da Biodiversidade, que representam pactos universais relativos qualidade de vida futura. A concretizao desses pactos pressupe mudanas culturais e de comportamento individual e coletivo de todos os povos, configurando um processo difcil e lento, especialmente naqueles pases que lutam contra problemas bsicos de sobrevivncia como falta de moradias adequadas, condies mnimas de sade de grande parte da populao, escassez de alimentao, desemprego, entre outros. Mesmo prevendo-se que a adeso ao modelo de desenvolvimento sustentado e a todas as aes voltadas proteo ambiental ocorra de modos diversos e em tempos distintos entre os diversos pases, o movimento ambientalista mundial vem se consolidando cada vez mais. Nas regies mais desenvolvidas do planeta, onde as populaes j atingiram padres de vida elevados, as demandas da sociedade por um ambiente mais preservado e por produtos no nocivos ao meio ambiente j repercutem nos hbitos individuais, nos processos produtivos e nos mecanismos de mercado. Nesse cenrio, instrumentos vem sendo criados visando o controle de qualidade de produtos, que precisam ser cada vez melhores, mais baratos e causarem o menor dano ambiental possvel, no apenas na sua utilizao como tambm em seu processo de fabricao. Podemos citar, alm dos esforos internos de cada empresa na busca de mais qualidade e competitividade, instrumentos coletivos de controle, como as Normas ISO da srie 9.000 e, especificamente na rea ambiental, os Selos Verdes. Estes selos se constituem em rtulos destinados a diferenciar os produtos com qualidade ambiental comprovada e pelos quais o consumidor, muitas vezes, se dispe apagar mais. Destinados a orientar os consumidores sobre a performance ambiental do produto, os selos so concedidos atravs de sistemas de certificao independentes, garantindo assim a padronizao e a confiabilidade das informaes passadas ao consumidor. Os selos tendem a interferir crescentemente no comrcio de bens e servios, estimulando a competio entre produtos, empresas e naes, passando a fazer parte da montagem dos cenrios futuros sobre os quais os empresrios baseiam suas decises, alcanando assim importncia significativa no comrcio internacional. Essa tendncia mundial de relacionar economia e meio ambiente afeta o comportamento das diversas atividades econmicas que cada vez mais reconhecem a necessidade de aderir ao controle ambiental pois, se at agora atitudes irresponsveis contra recursos ambientais por parte das empresas eram premiadas com ganhos em competitividade, a nova realidade mundial de mercado pune cada vez mais severamente aqueles que no tiverem a conscincia de que a preservao do meio ambiente uma questo fundamental na sociedade moderna. A adeso a essa nova filosofia pressupe alterar a gesto tradicional das empresas incorporando no processo a varivel ambiental, do que resulta o surgimento de um novo modelo de administrao nas organizaes. A implantao de um Sistema de Gesto Ambiental - SGA, habilita as organizaes a antecipar e atender s expectativas crescentes quanto ao seu desempenho ambiental, alm de garantir o

contnuo atendimento aos requisitos nacionais e internacionais de qualidade do produto colocado no mercado. Se em algumas atividades produtivas o SGA no passa de uma estratgia mercadolgica visando a ampliao de mercados, em outras reas, como por exemplo a de minerao, este tipo de gesto absolutamente indispensvel para a sobrevivncia futura da empresa pois finalmente chegou-se a concluso de que os recursos ambientais mundiais so realmente escassos e da sua utilizao eficiente depender o nvel de qualidade de vida das prximas geraes. II - As Normas da Srie IS0 - 14.000 Como instrumento que possibilita a padronizao de critrios, requisitos e qualificaes para produtos, harmonizados em linguagem internacional, so utilizadas normas discutidas e aplicadas a nvel mundial. As normas referentes Gesto Ambiental so as ISO 14.000. As normas ISO 14.000 se baseiam na norma britnica BS 7.750 relativa gesto ambiental, a qual encontra-se em vigor no Reino Unido desde 1994. Por outro lado, constituem uma evoluo das normas ISO 9.000 referentes padres de qualidade das empresas. A adoo dos dois conjuntos de normas pela empresa visa certific-la quanto a qualidade da organizao e de seu produto ou servio (ISO 9.000) e tambm comprovar que ela produz ou comercializa produtos que no destroem o planeta (ISO 14.000). A ISO estuda a integrao entre as sries 9.000 e 14.000, possibilitando futuras auditorias ambientais que tratem conjuntamente os aspectos de meio ambiente na gesto da qualidade. Dentre as normas ISO 14.000 sero tratadas seis reas principais: Sistemas de gesto ambiental. Avaliao do desempenho ambiental. Avaliao do ciclo de vida. Aspectos ambientais nas normas dos produtos. Selo ambiental Auditoria ambiental.

Para tanto, a srie 14.000 compreende as seguintes normas: Nmero Reservado 14000* Descrio/Aplicao

Sistemas de Gerenciamento Ambiental Diretrizes Gerais sobre Princpios, Sistemas e Tcnicas de Suporte. Sistemas de Gerenciamento Ambiental Especificaes com Guia para Uso. 14001 Diretrizes para Auditoria Ambiental Princpios Gerais de Auditoria Ambiental. 14010 Diretrizes para Auditoria Ambiental Parte 1 : Auditoria de Sistemas de 14011-1 Gerenciamento Ambiental. Diretrizes para Auditoria Ambiental Parte 2 : Procedimentos de Auditoria de 14011-2 Conformidade Legislao e Regulamentos. Diretrizes para Auditoria Ambiental Parte 7: Critrios para a Qualificao de 14012 Auditores Ambientais Diretrizes para Revises Ambientais Iniciais 14014 Diretrizes para avaliaes de Instalaes 14015 Princpios Bsicos para Rotulagem Ambiental 14020 Rotulagem Ambiental Autodeclaraes 14021 Smbolos para Rotulagem Ambiental 14022 Rotulagem Ambiental Metodologias para testes e Verificaes Ambientais 14023 Rotulagem Ambiental Princpios Guia, prticas e critrios Procedimentos de 14024 Certificao Avaliao de Desempenho Ambiental do SGA 14031 Avaliao de Desempenho Ambiental dos Sistemas Operacionais 14032 Avaliao do Ciclo de Vida Diretrizes e Princpios Gerais 14040 Avaliao do Ciclo de Vida Inventrio Analtico 14041 Avaliao do Ciclo de Vida Anlise de Impacto 14042 Gerenciamento Ambiental Usos e Aplicaes 14043 Gerenciamento Ambiental Vocabulrio 14050 Guia para a incluso de aspectos ambientais em normas para produtos 14060 * Por deciso do TC - 207, a norma 14.000 no ter mais relao especifica com o Sistema de Gesto Ambiental, passando a ser uma descrio geral de vrias normas da srie 14.000. As diretrizes gerais passaram a ocupar o nmero 14004.

Em seu conjunto essas normas visam: Sedimentar uma abordagem internacional comum ao gerenciamento ambiental Capacitar a empresa a obter e medir aperfeioamentos no desenvolvimento ambiental Remover barreiras para o comrcio internacional Aumentar a credibilidade do comprometimento de uma organizao com a responsabilidade ambiental Promover o comprometimento de uma empresa com o seu regulamento ambiental Estipular um nico sistema para as organizaes implantarem em todos os lugares em que operam. Estabelecer um enfoque mundial para as relaes das atividades produtivas com o ambiente, objetivando como produto final um mundo mais limpo, seguro e saudvel para todos. Com a implantao de sistemas de gesto ambiental nas empresas pautadas por estas normas, pretendese evoluir em termos da reduo dos impactos gerados pelas unidades produtivas na medida que a certificao ambiental no visar somente o produto como no caso da rotulagem atravs dos selos verdes, mas todo o processo de produo, que dever estar dentro de normas que minimizem a degradao ambiental e ajudem na recuperao de danos ambientais anteriormente acontecidos. Quanto a este aspecto, entende-se que a empresa que adotar um sistema de gesto ambiental estar preocupada com a qualidade ambiental desde a obteno de matrias primas para os seus produtos at a sua disposio final sobre o meio ambiente aps a utilizao pelo consumidor. Observa-se que a certificao da empresa pelas normas ISO 14.000 de adeso voluntria e busca vantagens 4 de marketing, especialmente junto ao mercado internacional, no interferindo na utilizao de normas nacionais e regionais pelo empreendimento nem na sua adequao poltica ambiental do pas. Conquanto se reconhea os benefcios sociais e ambientais decorrentes da adoo das normas de gesto ambiental, importante reconhecer as dificuldades de sua efetiva implementao a nvel mundial face s diferenas polticas, econmicas, culturais e mesmo ambientais existentes entre os pases. Nesse sentido, cabe uma participao efetiva dos pases interessados no processo de criao e regulamentao dessas normas no sentido de no torn-las incompatveis com os interesses de cada nao. III - A regulamentao do Sistema de Gesto Ambiental - SGA A srie de normas ISO 14.000 est sendo elaborada pela International Organization for Standartization ISO - que uma organizao no-governamental criada no ano de 1947. A ISO constitui uma federao mundial de rgos de normalizao de cerca de 100 pases, estando sediada em Genebra, na Sua. Para formular as normas, a ISO organiza um Comit Tcnico - TC (Technical Comittee) ao qual se vinculam Subcomits Temticos - SC (Sub Comittee) sendo estes compostos por Grupos de Trabalho - WG (Working Groups) que formulam e expressam as normas em forma de minuta. Essa estrutura conta tambm com os Grupos de Ligao que promovem a harmonizao e a inter-relao entre as novas normas e as j existentes ou em desenvolvimento por outros TC's. O Comit Tcnico criado pela ISO para elaborar o projeto das normas ISO 14.000 o TC - 207, composto por representantes de 40 pases, dentre eles o Brasil. IV - A representao do Brasil no TC - 207 O Brasil est participando do TC - 207 atravs do GANA - Grupo de Apoio Normalizao Ambiental, criado pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT. A ABNT uma entidade civil brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1940 com o objetivo de elaborar normas tcnicas e atividades afins em mbito nacional, visando facilitar as trocas de bens e servios e promover o desenvolvimento da cincia, da tecnologia, da indstria e do comrcio no pas. Integra o Sistema Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial sendo reconhecida como nico frum nacional de normalizao. A ABNT representa o Brasil na ISO e em outras organizaes internacionais de normalizao. Participando do TC - 207, o GANA constitudo por profissionais ligados a setores representativos da economia brasileira que acompanham a formulao de proposies dos diversos Subcomits, buscando sempre a defesa dos interesses nacionais, dentro do objetivo maior de preservar e, na medida do possvel, recuperar nosso meio ambiente. Para tal foram definidos trs campos de ao que procuram tomar as atividades do GANA mais eficientes e proveitosas. Primeiramente o grupo deve manter sempre atualizadas as informaes relativas s normas

que esto sendo analisadas pelos Subcomits, atravs de contatos constantes com entidades internacionais da mesma natureza bem como com a Cmara de Comrcio Internacional. Outra ao importante a avaliao dos impactos das proposies dos Subcomits sobre a competitividade nacional. Cada norma discutida pelo TC - 207 pode trazer grande influncia competitividade da indstria nacional e alterar profundamente os processos produtivos de nossas empresas. O principal ponto de anlise est sendo, portanto, a discrepncia entre as normas a serem criadas em relao legislao nacional e s convenes internacionais de comrcio e meio ambiente firmadas pelo Brasil. Nesse sentido, avaliaes de custo - beneficio devem ser levadas a termo, levando-se em conta os ganhos e perdas econmicas e ambientais. Completando a atuao do GANA no TC - 207, a proposio de alternativas, tecnicamente embasadas, a algumas das normas analisadas importante fator de defesa dos interesses nacionais. Estas aes, se desenvolvidas com eficincia e bom senso, podem trazer grande beneficio economia nacional, servindo no s como fator de proteo ambiental como tambm como elemento de alavancagem para a parcela do setor industrial brasileiro que se mostrar interessada em se tornar ambientalmente correto e economicamente competitivo a nvel mundial. O Grupo de Apoio Normalizao Ambiental se estrutura nas mesmas bases do ISO/TC - 207, ou seja, composto por um Comit Coordenador, uma Secretaria Tcnica, seis Subcomits, (incluindo-se os Grupos de Apoio Tcnico), um Comit de Acompanhamento alm de um Grupo de Trabalho Especial, cujas estruturas e atribuies so detalhadas a seguir: O Comit Coordenador composto por representantes das empresas e entidades que so representadas no GANA e tem um Coordenador Geral, eleito pelos membros. Alm de ser o responsvel pela elaborao do Regimento Interno que rege os procedimentos do GANA, o Comit tambm responde pela representao do GANA junto a entidades governamentais, interinstitucionais e privadas que tenham algum tipo de interface com os objetivos do grupo, a programao dos trabalhos da Secretaria Tcnica, dos Subcomits e do Grupo de Trabalho Especial e pelo acompanhamento, orientao e avaliao dos programas de trabalho. O Comit coordenador tem tambm entre suas atribuies as de consolidar as anlises, avaliaes e proposies da Secretaria Tcnica dos Subcomits e do Grupo de Trabalho Especial e a de adotar esquema de trabalho que proporcione adequada participao do Brasil no TC - 207. Finalmente, o Comit o responsvel pela administrao das eventuais necessidades financeiras do grupo, sendo o responsvel pela solicitao de aportes e prestaes de contas, de acordo com os procedimentos da ABNT. A Secretaria Tcnica se constitui de um Secretrio Tcnico e um grupo de apoio administrativo definido pelo Comit Coordenador. As funes desta Secretaria so as de dar apoio gerencial e administrativo aos trabalhos do Comit Coordenador dos Subcomits e do Grupo de Trabalho Especial, gerir os Programas de Trabalho dos Subcomits e do Grupo de Trabalho Especial e coordenar a participao da delegao brasileira nos eventos do TC - 207, e finalmente gerenciar o fluxo de informaes aos Subcomits e do Grupo de Trabalho Especial controlando o recebimento e divulgao dos documentos recebidos e produzidos pelo GANA. Os Subcomits e o Grupo de Trabalho Especial atuam como clulas independentes, sendo subordinados Secretaria Tcnica. Eles so compostos por representantes indicados pelas empresas e entidades participantes e so os responsveis pela anlise dos normas propostas pelos Subcomits do TC - 207 e pela avaliao dos potenciais impactos sobre as atividades econmicas brasileiras, propondo alternativas s normas formuladas. A estrutura se completa com o Comit de acompanhamento que composto por representantes das entidades que congregam as empresas que participam do ABNT/GANA (CNI, AEB, FIESP, etc) e com o Grupo de Apoio Tcnico, constitudo por tcnicos que venham manifestar interesse em participar do grupo, tendo participao preferencial nos seminrios e workshops" a serem promovidos pelo GANA, oferecendo comentrios e pareceres sobre tpicos relevantes das normas em elaborao. Esta estrutura, semelhante a da maioria dos grupos de trabalho de todo o mundo que auxiliam na elaborao da ISO 14.000, se mostra bastante eficiente e tem condies de trazer resultados altamente positivos da participao brasileira na elaborao destas normas. V - A Implantao do SGA A implementao do SGA por uma empresa pressupe antes de tudo um processo de mudana de sua filosofia gerencial.

Como tal requer redefinies de sua poltica, seus objetivos e seus procedimentos operacionais e administrativos em todos os nveis, visando agregar a dimenso ambiental organizao. O conhecimento das primeiras experincias de implantao de SGA em empresas brasileiras, indica que este processo ocorre em trs etapas principais. No primeiro momento necessrio que se conhea os problemas ambientais gerados pela empresa, tanto os j instalados (passivo ambiental) e os atuais, como tambm os previstos, se mantidas as condies operacionais e gerenciais vigentes na organizao. Esse conhecimento obtido pela realizao de um diagnstico ambiental que, em sua metodologia, inclui a realizao de uma avaliao de impacto das atividades produtivas da empresa. No diagnstico, a identificao dos equipamentos, tecnologias, procedimentos e outros componentes do processo produtivo que causam impacto ao meio ambiente e das medidas preventivas e corretivas necessrias para mitigar os impactos detectados, possibilita partir para a segunda etapa do implantao do SGA, ou seja, o seu planejamento. A etapa de planejamento do SGA compreende a avaliao da estrutura gerencial da empresa luz das diretrizes da ISO 14.000, redefinio da sua poltica incorporando a varivel ambiental, indicao de instrues de operaes e procedimentos gerenciais, etc. Nesse perodo preparado o Manual de Gesto Ambiental e proposta a estrutura para a gerncia do SGA. Paralelamente a essas atividades, so desenvolvidas aes visando sensibilizar e envolver os funcionrios no processo de mudana, realizados treinamentos e tambm formados auditores internos. Essa segunda etapa compreende tambm, dentre outras, as seguintes atividades: Reviso da legislao e normas aplicveis . Estabelecimento da poltica de gesto ambiental. Estabelecimento da estrutura organizacional. Estabelecimento da estrutura documental. Elaborao do Manual de Qualidade. Elaborao dos procedimentos do SGA. Elaborao de instrues de trabalho. Elaborao dos registros ambientais. Apoio no estabelecimento do sistema de confiabilidade metrolgica. Elaborao do plano de implementao de aes corretivas

Finalmente, na terceira etapa, implementado o SGA que inclui a realizao de auditorias de produto e do prprio sistema. VI - O Gegrafo e os Sistemas de Gesto Ambiental Previamente abordagem do papel do gegrafo na implementao de Sistemas de Gesto Ambiental em empresas, com base nas diretrizes das normas da srie ISO 14.000, sero feitos alguns comentrios sobre a evoluo do perfil desse profissional em sua atuao na rea de meio ambiente. A partir do incio da dcada de 70 quando foi criada a Secretaria Espacial do Meio Ambiente (SEMA) vinculada ao Ministrio do Interior e tambm os primeiros rgos estaduais de poltica ambiental, profissionais de diversas reas passaram a compor o corpo tcnico dessas entidades, que necessitavam de equipes multidisciplinares devido s peculiaridades demandadas pela atuao nas questes relativas ao meio ambiente. Na poca, devido ao enfoque com que as questes ambientais eram tratadas, essas equipes eram compostas, prioritariamente, por profissionais das reas de saneamento, biologia, sade, educao e geografia. Nos estados do Sudeste e do Sul do Brasil, alm de Braslia, desenvolveram-se as primeiras equipes voltadas para a implementao da poltica ambiental, ainda em fase de concepo e criao de seus instrumentos legais e institucionais. Tanto na SEMA, em Braslia, quanto nos rgos estaduais como o CETEC, em Minas Gerais; a CETESB, em So Paulo; ou a FEEMA, no Rio de Janeiro e rgos dos estados do sul, foi marcante a participao de gegrafos cujo perfil profissional to adequado ao tratamento das questes ambientais. Em sua formao bsica (graduao) o gegrafo adquire conhecimentos sobre os diversos componentes dos meios fsico, bitico e antrpico, bem como dos processos de interao entre os mesmos na dimenso espao temporal, que constituem elementos tcnicos-cientficos fundamentais para a anlise do meio ambiente.

Em geral, a atuao dos gegrafos em rgos de meio ambiente se fundamentava em sua formao obtida nos cursos de graduao, na medida que a demanda de prestao de servios inicialmente quase que exclusiva do setor pblico, surgiu antes que fossem oferecidos, no pas, cursos de ps-graduao que habilitassem esses e os demais profissionais para a atuao na rea ambiental. Ocorreu, portanto, para a maioria dos gegrafos, um treinamento on the job para a rea do meio ambiente. Especializaes em planejamento urbano e regional e em campos da prpria cincia geogrfica e afins, alm da utilizao do sensoriamento remoto, e outras ferramentas destinadas produo de conhecimento tcnico-cientfico, foram se agregando ao conhecimento ambiental obtido com a prtica e consolidando o 'perfil profissional do gegrafo atuante na rea do meio ambiente no pas. Nos ltimos anos, passaram a ser oferecidos por universidades pblicas e outras instituies, cursos dos diversos nveis de ps-graduao em Meio Ambiente para as diversas reas tcnicas, inclusive para os profissionais de Geografia, possibilitando o aprimoramento de sua formao. Da metade da dcada de 80 em diante, a atividade profissional do gegrafo foi marcada por outro movimento constitudo pela proliferao da atividade de consultoria autnoma ou em empresas. Ao atuar como consultores ou mesmo gerenciando empresas, os gegrafos ambientalistas somaram novos requisitos ao seu perfil profissional ampliando sua habilitao para atuar na rea. No momento, h mais de 20 anos do incio da trajetria do profissional da geografia nas atividades relacionadas s questes ambientais, existem gegrafos altamente qualificados para participarem e coordenarem equipes multidisciplinares voltadas para a implementao de sistemas de gesto ambiental, desde que adquirindo os requisitos tcnicos especficos para tal funo. Atualmente grande nmero de bons e confiveis cursos sobre a ISO 14.000 e gesto ambiental so oferecidos, possibilitando a aquisio desses requisitos. Agregando esse novo conhecimento, o gegrafo estar habilitado a exercer funes diversificadas ao longo do processo de estudo, planejamento e implementao de um SGA. Especialmente na fase de diagnstico, muitas atividades do trabalho podero ser delegadas ao gegrafo principalmente considerando-se que o diagnstico constitui basicamente uma avaliao de impacto ambiental da empresa ao longo de todo o tempo de sua atuao. Como tal, necessrio o detalhado conhecimento do meio ambiente impactado e a utilizao de um instrumental cartogrfico, aerofotogramtrico e de outros elementos usuais na prtica geogrfica. Conhecimentos mais especializados de planejamento e outros possibilitaro que o mesmo assuma outras funes na equipe. Nessa e nas demais etapas preparatrias e da prpria implantao do Sistema de Gesto Ambiental existe, portanto, campo para a participao do gegrafo que se prepara para atuar na rea ambiental. VII - Referncia Bibliogrfica ABNT/GANA- Grupo de Apoio a Normalizao Ambiental. O Brasil e a Futura Srie ISO 14.000. Rio de Janeiro, 1994. CVRD - Companhia Vale do Rio Doce - Minuta de Norma ISO / TC207 / SC 1/ N48. 1995. REIS, Maurcio J. L. - ISO 14.000 - Gerenciamento Ambiental Um novo desafio para a sua competitividade. - Ed. Qualitymark - Rio de Janeiro - 1995. Maria Elizabeth de Lima Veloso gegrafa, bacharel e licenciada pelo IGC - UFMG - 1970. Especialista em Anlise Econmica Regional e Urbana - CEDEPLAR - UFMG - 1980. Atuou como gegrafa no Instituto de Geocincias Aplicadas IGA e Planejamento da Regio Metropolitana de Belo Horizonte PLAMBEL em Belo Horizonte - MG e na Secretaria Especial do Meio Ambiente do Ministrio do Interior em Braslia. Atualmente consultora autnoma e scia-diretora da CMA - Consultoria e Projetos Ambientais Ltda, atuando nas reas de meio ambiente e planejamento urbano e regional. Fundadora e scia efetiva da APGEO - MG Associao Profissional dos Gegrafos do Estado de Minas Gerais.

PERFIL DOS GEGRAFOS NO MERCADO DE TRABALHO NO ESTADO DE SO PAULO*Lcia Midori Morimoto Nelson Garcia Pedroso Newton Jos Barros Gonalves I - Introduo O Censo de Gegrafos do Estado de So Paulo foi uma pesquisa concebida pela CAP (Comisso de Assuntos Profissionais) ligada a AGB-Seo So Paulo, objetivando obter elementos de anlise sobre a nossa categoria profissional, inserida no mercado de trabalho, com indicadores de aspectos relacionados a formao, desempenho profissional e aspiraes destes profissionais. Os seus resultados e a rede de informaes cadastrais constitudas seriam fatores fundamentais para iniciar atividades de aglutinao/recapacitao dos profissionais. Dariam tambm indicadores seguros para a Academia repensar/refletir sobre os cursos de bacharelados em geografia que so oferecidos e de promover cursos de aperfeioamento, de temticas especificas, em nvel de ps-graduao, que venha a atender as necessidades da Geografia tambm enquanto cincia aplicada: preocupao de mercado de trabalho. II- Planejamento e Desenvolvimento da Pesquisa Concomitante com a elaborao do questionrio que seria aplicado junto aos gegrafos cadastrados no CREA-SP, obteve-se junto quele rgo a listagem de gegrafos e respectivos endereos, sendo feito tambm um levantamento de empresas/rgos pblicos que tinham gegrafos em seus quadros De posse destas informaes, optou-se por um processo de distribuio dos questionrios de modo direto, entregue em mos. Considerou-se, na ocasio, que esta seria a melhor forma de distribuio, pois garantiria um maior retorno possvel de questionrios preenchidos. O objetivo no era simplesmente desenvolver uma pesquisa sobre os gegrafos atuantes no Estado de So Paulo, mas sim, cadastrar periodicamente todos aqueles que tivessem os seus registros junto ao CREA, identificando a situao em que os mesmos se encontravam em relao ao mercado de trabalho, para se ter um controle sobre a distribuio e retorno dos questionrios, estes foram todos enumerados, antes da distribuio, fato que, permitiria, aps isto, um tratamento que garantisse um sigilo das informaes prestadas, evitando constrangimentos. Os membros da CAP (Comisso de Assuntos Profissionais) assumiram a responsabilidade na distribuio e coleta de retorno de lotes enumerados destes questionrios junto as empresas. Nestas empresas foram estabelecidos contatos com pessoas representativas, que seriam responsveis pela sua distribuio e coleta. Para isto, foram constitudas fichas de controle sobre os lotes de questionrios distribudos sendo que nestas constava o nome do responsvel pela distribuio em cada empresa/rgo pblico, o membro da CAP responsvel e o nmero de identificao dos referidos questionrios. Quando optou-se por esta forma de distribuio tinha-se em mente que a maioria dos gegrafos cadastrados junto ao CREA-SP residem na Regio Metropolitana de So Paulo, onde ocorrem tambm as maiores oportunidades de trabalho, sendo a que se localizam tambm as sedes ou representaes de grandes empresas e rgos pblicos. No interior do estado, onde os gegrafos residentes e tambm as empresas/ rgos pblicos e oportunidades de trabalham ainda so esparsas o questionrio deveria ser enviado pelo correio. Estes procedimentos foram adotados pelo fato de que a pesquisa contou com muito poucos recursos para sua realizao, contando para isto somente com o apoio logstico e de gabinete prestado pela a AGB-Seo So Paulo. Obviamente o que deu de errado neste processo de distribuio que muitas das pessoas que se responsabilizaram pela distribuio e coleta dos questionrios no cumpriram estas atividades (no remuneradas) dificultando para os membros restantes da CAP a obteno do retorno dos questionrios assim distribudos. A demora excessiva com que muitas pessoas ficaram com a posse destes questionrios resultou tambm em outro fator de desmotivao para equipe da CAP. A omisso e descaso posterior, que houve da parte de alguns dos responsveis pela coleta dos questionrios nas empresas, foi outro aspecto negativo. III - Resultados Obtidos com a Pesquisa Foram distribudos 280 questionrios. As informaes aqui apresentadas so embasadas nas respostas de 105 questionrios, o que ainda no permite ainda elaborar concluses definitivas sobre o universo de mais de 600 profissionais gegrafos existentes no Estado de So Paulo. A anlise das respostas indica algumas tendncias que acreditvamos existir e outras que no imaginvamos.

Os dados tabulados destes questionrios apresentaram os seguintes resultados: Os assalariados predominam na proporo de 93%, contra 7% de autnomos. Embora at agora nenhum gegrafo empresrio tenha respondido o questionrio sabemos da existncia de alguns no mbito do Estado de So Paulo. Metade dos recenseados executa, em seu trabalho profissional, mais de duas atividades. Essa uma tendncia atual do mercado de trabalho em inmeros setores: os trabalhadores so chamados a desempenhar inmeras funes, substituindo outros profissionais. Isso vem ocorrendo com os gegrafos h muito tempo, atravs da execuo de nosso trabalho por outro profissional. Alm de duas ou mais atividades, h ainda a execuo dos trabalhos de campo. Exemplificando a informao acima, 50% dos assalariados atuam em planejamento; em seguida vm as reas de execuo e a de pesquisa cientfica; por ltimo, outras atividades. A maioria dos pesquisados considera que seu trabalho, na empresa onde atua, apresenta-se num contexto multidisciplinar, no que se refere a entender determinadas reas de atuao comuns no desenvolvimento de projetos e pesquisas; seguem-se, em menor proporo, os trabalhos nitidamente isolados e os de consultoria de carter geral. Dentro desse mesmo contexto est a remunerao. O salrio do gegrafo equipara-se ao de outros membros da equipe profissional da qual faz parte; em seguida esto os que consideram estar ganhando um salrio inferior ao de outros membros da mesma equipe e, por ltimo, muito poucos consideram que ganham salrios superiores aos demais membros da mesma equipe, formada por profissionais de vrias categorias. Outro dado relevante no que se refere aos salrios pagos pelo mercado de trabalho: h gegrafos que no so registrados no CREASP e outros profissionais que possuem apenas o curso de Licenciatura em Geografia ocupando cargos em empresas estatais cujos salrios so superiores aos de gegrafos graduados, com registro no CREASP e que trabalham na mesma empresa. Somente uma pequena parcela dos profissionais possui registro na Carteira de Trabalho como Gegrafo propriamente dito; a maioria est registrada em cargos como Analista de Planejamento, Tcnico Pleno, Gerente, etc. Este fato obviamente dificulta a atuao do CREA enquanto rgo fiscalizador das atividades profissionais. Ocorre tambm uma conivncia sobre o assunto da parte dos inmeros rgos que aceitam profissionais nestas condies. Apesar de a profisso ser reconhecida por lei, grande o . descaso e o desinteresse de empresas pblicas e privadas, bem como das administraes pblicas,. em admitir o trabalhador no cargo de sua formao profissional. Na maioria das empresas e das administraes pblicas no h plano de carreira definido. Mas h, na empresa ou rgo pblico, entidade que representa os funcionrios e propicia condies para a execuo dos servios. Com a aprovao de lei federal discriminando cargos, para profissionais de nvel superior, quando forem admitidos em empresas estatais, ex: Fundao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Dentre esses cargos aparece o de Pesquisador. Dessa forma e sem respeito formao do profissional (Gegrafo de acordo com a lei, ou a de outro profissional qualquer), qualquer pessoa que possua diploma universitrio pode candidatar-se a ser pesquisador no IBGE em uma rea que no seja de sua especialidade, prejudicando os que possuem formao para exercer a funo legalmente. Um tero dos recenseados afirmaram sofrer algum tipo de discriminao no exerccio da profisso ou na procura de emprego. Quase todos afirmaram que o motivo foi a prpria formao em Geografia; para os demais, as razes foram poltico-ideolgicas. A maioria dos autnomos optou por essa forma de vnculo empregatcio porque ela permite um trabalho mais independente. Executam trabalhos para uma empresa e exercem outras atividades que no enquadram-se em planejamento, pesquisa ou servios administrativos. No que se refere a estgios a estudantes de Geografia, a maioria das empresas afirmam aceitar solicitaes e programaes de abertura de estgios; seguem-se as empresas que adotam outros comportamentos por serem pequenas e no possurem convnios com entidades que encaminham estagirios. Dos profissionais que atuam no mercado, 60% fizeram estgio relacionado ao curso de Geografia durante a graduao. Enquanto profissional atuante na rea de Geografia, 40% encontram dificuldades para o bom desempenho de suas atividades, alegando a prpria natureza ecltica do curso; em seguida citada a ausncia de material de pesquisa e estudos para as reas especficas do conhecimento geogrfico.

Todos os recenseados consideram importante que a Universidade possibilite o retorno dos ex-alunos para freqentarem cursos de reciclagem e aperfeioamento. Complementando esse dado, a maioria das empresas no oferece a seus tcnicos plano de aperfeioamento profissional. A maioria dos recenseados no considera os Encontros Nacionais e Locais, promovidos pela AGB, suficientes para possibilitar debates e apresentaes de trabalhos cientficos. Motivos apresentados so os mais diversos, desde deveriam ter outras entidades patrocinadoras at so pontuais e pouco freqentes. Apenas 11% realizaram outro curso de graduao, antes ou depois de formados em Geografia. Destes, o motivo apresentado, na maioria dos casos, foi a necessidade de complementao cultural ou tcnica, seguido pela busca de novos campos de trabalho. Estes so alguns dos itens passveis de interpretao no Censo dos Gegrafos. Muitos outros ainda esto para ser interpretados, entre eles por exemplo qual o nmero de gegrafos que fizeram curso de ps graduao e finalidades, entretanto ser necessrio obter-se um nmero muito maior de questionrios respondidos, mais prximos do universo de profissionais que compem hoje os gegrafos cadastrados junto ao CREA-SP para que se possa continuar este trabalho de sistematizao dos resultados. IV - Consideraes Finais Hoje, aps a apresentao dos resultados parciais obtidos desta experincia recomenda-se ateno nos seguintes itens considerados necessrios para a continuidade deste levantamento em realizao no Estado de So Paulo ou que sirva de exemplo para experincias similares em outros estados: desenvolvimento de um projeto de pesquisa financiado por alguma agncia fomentadora que leve adiante tal empreitada; utilizar, preferencialmente, o envio dos questionrios via malote postal, procurando para tanto estabelecer convnio com o CREA de seu estado, para: fornecimento das listagens de gegrafos cadastrados junto aos mesmos e tambm para um possvel envio desta pesquisa junto com a distribuio do peridico Jornal do CREA do seu estado, dirigidos aos gegrafos cadastrados neste rgo. Aproveitar o prprio jornal do sistema para divulgar a pesquisa em andamento. aps o retorno destes questionrios em prazos prefixados, iniciar uma atividade de repescagem dos omissos e faltantes atravs de contato pessoal, com entrega em mos do questionrio ou com cartas de esclarecimentos detalhadas sobre os objetivos da pesquisa. garantir para tanto, em ambos os casos, o retorno do questionrio com selo de Porte Pago. O modelo do questionrio aplicado em So Paulo, bem como o programa desenvolvido para a plotagem dos seus resultados encontram-se a disposies de Entidades Profissionais que queiram realizar estas pesquisas no mbito dos seus estados (APGs) e para as sees locais da AGB, existentes nos Estados, que se disponham a constituir uma CAP, que realize o trabalho no mbito de seu estado. Afora isto, a possibilidade de constituir alm do prprio Censo, de uma publicao moldes AGENDA COLETIVA DOS GEGRAFOS, que contenha na mesma a lista de profissionais/ endereos/atividades que prestam em cada Estado permite uma melhor interlocuo entre os gegrafos engajados no mercado e a sua sintonia e cooperao com a Academia. Quanto referncia dada no incio do trabalho referente a possveis atividades similares a serem executadas por APGs ou por CAPs, que venham a se constituir nas sees locais da AGB, cabe ressaltar o grau de dificuldades em se propor e encaminhar tais iniciativas dentro da estrutural atual da AGB, onde sees locais previstas nos estatutos sobrepem-se, de fato, com sees tentaculares supra estaduais e nacionais e outras formas de estruturas inadmissveis estatutariamente. Enquanto no se compatibilizar a estrutura de organizao de sees da AGB, adequando-as a uma melhor interlocuo com as esferas de organizao civil e de direito de mbitos municipal. estadual e nacional, no haver como estruturar trabalhos e atribuir competncias de ao das mesmas. Lcia Midori Morimoto. Nelson Garcia. Pedroso e Newton Jos Barros Gonalves so gegrafos e membros da Comisso de Assuntos Profissionais da AGB-Seo So Paulo.

CURSO DE LEGISLAO PROFISSIONAL PARA BACHARIS EM GEOGRAFIA E GEGRAFOS Olinda Keiko Fukuda I - Introduo O aperfeioamento das profisses no limiar do terceiro milnio exige cada vez mais profissionais conscientes do seu papel e da sua importncia no desenvolvimento da sociedade. Conscincia esta que ser alcanada medida que o profissional for se aprimorando e estreitando os laos com as suas possibilidades de trabalho para oferecer a sua contribuio para um futuro mais justo e igualitrio. Oferecer p