geografia, território e tecnologia

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    Geografia, Territrio e Tecnologia

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    Territrio eTecnologia

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    Sumrio

    A Revoluo Tecnolgica e o Territrio: Realidades e Perspectivas 7 Milton Santos

    Tecnoplo: uma Forma de Produzir na Modernidade Atual 19

    Luiz Cruz Lima

    A Tecnificao da Prtica Mdica no Brasil:em Busca de sua Geografizao 41Raul Borges Guimares

    As Metamorfoses Tecnolgicas do Capitalismo no Perodo Atual 57 Hindenburgo Francisco Pires

    A Questo da Industrializao no Rio de Janeiro: Algumas Reflexes 91Mrcio de Oliveira

    A (des) Ordem Mundial, os Novos Blocos de Poder e o Sentido da Crise 103Rogrio Haesbaert

    Ontologia Analtica: Teoria e Mtodo 129Armando Corra da Silva

    O Espao: Une/Separa/Une 135Eunice Isaias da Silva

    Depoimento: 143 A AGB e o Pensamento Geogrfico no BrasilManuel Correia de Andrade

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    Capa de Aida CassianoReviso dos textos em ingls: Enali M. De Biaggi

    Copyright 1991 by AGB

    TERRA LIVRE uma publicao semestral da AGB - Associao dos GegrafosBrasileiros, em co-edio com a Editora Marco Zero Ltda., Rua Hermes Fontes, 174, VilaMadalena, So Paulo, CEP 05437, Telefone: (011) 813-3905.

    Este nmero 9 foi publicado em maio de 1992.

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    Editorial

    Muito se tem escrito acerca da tecnologia, desde os novos fatores delocalizao espacial das atividades de base tecnolgica, at os efeitos sociaisque uma inovao tecnolgica acarreta. A dimenso geogrfica desta discusso aqui tratada, reunindo artigos que versam sobre a estruturao do territrio e as novas tecnologias, passando pelos arranjos espaciais que se do nointerior dos plos tecnolgicos, indo at o caso da prtica mdica embasadana tecnologia e suas conseqncias geogrficas.

    Nos demais artigos encontramos uma interpretao da dinmica dos

    blocos de pases que assistimos no mundo, contribuies tericas acerca decategoria espao, e uma anlise da AGB e da produo da geografia noBrasil, na seoDepoimento.

    Procuramos, ao organizar este nmero, trazer para o interior deTERRA LIVRE o temrio da tecnologia. A amplitude da questo certamenteditar a necessidade de paut-la em novas ocasies, permitindo a outrosgegrafos exporem suas opinies para a sociedade.

    TERRA LIVRE est sendo publicada com algum atraso. Este atrasomerece uma explicao.

    Desde o nmero anterior no contamos com o apoio das agnciasfinanciadoras (na preciso de aprontar a revista at a realizao do II EncontroNacional de Ensino de Geografia, autorizamos a impresso do apoio daFundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo - FAPESP, naexpectativa de um parecer positivo, o que no se deu). Tanto o ConselhoNacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), quanto aFAPESP, negaram-se a apoiar nossa revista.

    A justificativa do CNPq foi de ordem estritamente formal. O parecerenviado no aponta nenhuma ressalva quanto ao mrito da publicao,porm, alega a ausncia de algumas normas para indeferir o pedido. Asalteraes que introduzimos neste nmero respondem s exigncias formais.Assim, os leitores passam a contar com o Resumo dos artigos, traduzido emingls, alm das palavras-chave de cada texto (as demais exigncias jconstavam de nossa prtica editorial). Sem dvida estas informaesauxiliam o leitor, que ganha com a incorporao destas medidas. O que causaestranheza o fato do CNPq ter apoiado nossa publicao ao longo de 5anos e nunca ter se manifestado com relao ao no enquadramento deTERRA LIVRE nas normas, que, de repente, so sacadas como trunfo paraimpedir o auxlio. Como o CNPq recebeu todos os nmeros anteriores, erade se esperar que essas exigncias fossem indicadas desde o nmero 1.

    No que diz respeito FAPESP, tivemos outra situao. Neste casoo(a) Sr(a) consultor(a) alegou que os artigos no eram produto de pesquisa,

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    e, portanto, no merecedores de publicao. Ainda que dois textos tivessemorigem em apresentaes verbais, isto no significa que os autores, o Prof.Aldo Paviani, reconhecido pesquisador da UNB que dispensa apresentao, ea Prof Snia Furian, professora do Departamento de Geografia da USP,atualmente doutorando-se na Frana, no desenvolveram pesquisa. Porm, oque mais nos produziu indignao foi a presena de outros artigos onde, demaneira explcita, os autores indicavam tratar-se de produto de experincia depesquisa desenvolvida, em alguns casos, com a participao de estudantesdos nveis fundamental e mdio, e, em outros casos, do ensino superior.Tambm tivemos anlises de contedos programticos oficiais de ensino dageografia do Estado de So Paulo e da Argentina. No considerar estasiniciativas cientficas uma postura cerceadora.

    Afinal, o que cientfico? Acreditamos ser dispensvel, por falta deespao e para poupar os leitores, altercar esta questo. O que nos preocupa a atitude do (a) sr(a) consultoria) da FAPESP. No podemos viver sob a tica do exclusivismo. Impedir a veiculao de certas posturas junto cincia,isto sim uma atitude anti-cientfica. Pois do debate democrtico e ticoque se reforam e se revem as posies tericas, norteadoras da produoacadmica. Da ser fundamental a diversidade de abordagens envolvidas nacontenda.

    TERRA LIVRE jamais esteve a cargo deuma interpretao da geografia. Ao contrrio, os que nos antecederam estiveram atentos pluralidadede posies, o que mantivemos nesta gesto, como, inclusive, constava nanossa carta de intenes, quando da eleio em julho de 1990, em Salvador -BA.

    Por fim cabe um apelo aos associados, assinantes e leitores em geralpara se manifestarem junto s agncias de apoio citadas, na direo de quereconsiderem seus pareceres, j que as instituies so maiores que aspessoas que por elas passam. o caso de nossa quase sexagenria entidade,que depois dos esforos de muitos gegrafos conseguiu materializar nossapublicao. Uma revista com circulao e aceitao nacional e internacional,graas excelncia das contribuies que vimos tendo. A AGB maior que aTERRA LIVRE, mas esta ltima uma importante forma de expressar nosso modo de pensar, buscando contribuir para o debate das questes contemporneas. No podemos deixar que esvaziem este canal de circulao de nossas idias junto sociedade e comunidade cientfica.

    Wagner Costa Ribeiro

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    A REVOLUO TECNOLGICA E OTERRITRIO: REALIDADES E PERSPECTIVAS

    Milton Santos

    Nas pocas de grande mudana, um dos graves problemas que seimpem aos estudiosos o encontro do novo. Sem isso, o seu trabalhocientfico e a possibilidade de uso desse trabalho ficam comprometidos. Detodo modo, o presente que buscamos jamais conhecemos inteiramente. Sejaisso uma desculpa para o carter exploratrio do texto que segue e que seapresenta mais como uma hiptese de trabalho e uma base de discusso,empreendidas sobretudo a partir de anlise do emprico, ainda que semdesprezo pelos ensinamentos tericos.

    O fato de que o processo de transformao da sociedade industrial emsociedade informacional no se completou inteiramente em nenhum pas, fazcom que vivamos, a um s tempo, um perodo e uma crise, e assegura,igualmente, a percepo do presente e a presuno do futuro, desde que omodelo analtico adotado seja to dinmico quanto a realidade emmovimento e reconhea o comportamento sistmico das variveis novas quedo uma significao nova totalidade.

    Nesse exerccio, o ponto de vista adotado aqui , sobretudo, o de nossocampo de estudo, isto , o do espao territorial, espao humano. Mas ainterdependncia, ao nvel global, dos fatores atuais de construo do mundodeve assegurar s propostas aqui avanadas um certo interesse no que toca sdemais cincias sociais. Com a globalizao do mundo, as possibilidades deum enfoque interdisciplinar tornam-se maiores e mais eficazes, na medidaem que anlise fragmentadora das disciplinas particulares pode maisfacilmente suceder um processo de reintegrao ou reconstruo do todo.Nesse processo de conhecimento, o espao tem um papel privilegiado, namedida em que ele cristaliza os momentos anteriores e o lugar de encontroentre o passado e o futuro, mediante as relaes sociais do presente que nelese realizam. Desde que um enfoque particular se proponha com uma visocontextual, deve ser possvel, atravs da soma de estudos setoriais, recuperara totalidade. E a globalizao das relaes sociais, assim como o carter

    *Professor do Departamento de Geografia da FFLCH-USP - So Paulo.

    TERRA LI VRE -AG B So Paulo pp. 7-17 n 9 ju lho-dezembr o 91

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    aparentemente irrecorrvel da modernidade atual so, por outro lado, dadosque devem permitir uma viso prospectiva.

    A REVOLUO CIENTFICO-TCNICA E SUAS CONSEQNCIAS

    O Perodo Tcnico-cientfico

    A fase atual da histria da Humanidade, marcada pelo que se denominade revoluo cientfico-tecnica, freqentemente chamada de perodo tcnico-cientfico (ver, por exemplo, RICHTA, R.,La Civilisation au Carrefour,Paris, Editions du Seuil, 1974). Em fases anteriores, as atividades humanasdependeram da tcnica e da cincia. Recentemente, porm, trata-se da interdependncia da cincia e da tcnica em todos os aspectos da vida social, situao que se verifica em todas as partes do mundo e em todos os pases. Oprprio espao geogrfico pode ser chamado demeio tcnico-cientfico (tratamos do assunto emEspao e Mtodo, So Paulo, Editora Nobel, 1985).Essa realidade agora se estende a todo o Terceiro Mundo, ainda que emdiferente proporo, segundo os pases. Na Amrica Latina, no h pas emque essas transformaes no se dem, entronizando a cincia e a tecnologiacomo nexos essenciais ao trabalho e vida social, ao menos para os respectivos setores hegemnicos, mas com repercusso sobre toda a sociedade.

    Nesta nova fase histrica, o mundo est marcado por novos signos,como: a multinacionalizao das firmas e a internacionalizao da produo e

    do produto; a generalizao do fenmeno do crdito, que refora ascaractersticas da economizao da vida social; os novos papis do Estado emuma sociedade e uma economia mundializadas; o frenesi de uma circulaotornada fator essencial da acumulao; a grande revoluo da informao queliga instantaneamente os lugares, graas aos progressos da informtica.

    A Percepo da Simultaneidade

    O fenmeno da simultaneidade ganha, hoje, novo contedo. Desdesempre, a mesma hora do relgio marcava acontecimentos simultneos,ocorridos em lugares os mais diversos, cada qual, porm, sendo no apenasautnomo como independente dos demais. Hoje, cada momento compreende,em todos os lugares, eventos que so interdependentes, includos em ummesmo sistema de relaes. Os progressos tcnicos que, por intermdio dossatlites, permitem a fotografia do planeta, permitem-nos uma viso

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    emprica da totalidade dos objetos instalados na face da Terra. Como asfotografias se sucedem em intervalos regulares, obtemos, assim, o retrato daprpria evoluo do processo de ocupao da crosta terrestre. Asimultaneidade retratada fato verdadeiramente novo e revolucionrio, para oconhecimento do real e o correspondente enfoque das cincias do homem,alterando-lhes, assim, os paradigmas.

    Unicidade Tcnica e da Mais-Valia

    O espao geogrfico agora mundializado redefine-se pela combinaodesses signos. Seu estudo supe que se levem em conta esses novos dadosrevelados pela modernizao e pelo capitalismo agrcola, pela especializaoregional das atividades, por novas formas e localizaes da indstria e daextrao mineral, pelas novas modalidades de produo da energia, pelaimportncia da circulao no processo produtivo, pela grandes migraes,pela terciarizao e pela urbanizao extremamente hierrquicas. O espaorural e urbano so redefinidos, na sua transformao, pelo uso sistemticodas contribuies da cincia e da tcnica e por decises de mudana quelevam em conta, no campo e na cidade, os usos a que cada frao doterritrio vai ser destinada. Trata-se de uma geografia completamente nova.Todo esforo de conceituao exige que os novos fatores ao nvel mundial(cuja lista certamente no esgotamos) sejam levados em conta, tanto aonvel local, como regional ou nacional. Os estudos empricos ganham apartir desse enfoque.

    Para a compreenso de um sem-nmero de realidades, e particularmenteno que se refere ao espao, o aparecimento de dois novos fenmenosconstitui a base de explicao de sua nova realidade. De um lado, o perodoatual vem marcado por uma verdadeira unicidade tcnica, isto pelo fato deque em todos os lugares (Norte e Sul, Leste e Oeste) os conjuntos tcnicospresentes so "grosso modo" os mesmos, apesar do grau diferente decomplexidade; e a fragmentao do processo produtivo escala internacionalse realiza em funo dessa mesma unicidade tcnica.

    Antes, os sistemas tcnicos eram apenas locais, ou regionais, e tonumerosos quantos eram os lugares ou regies. Quando apresentavam traossemelhantes no havia contemporaneidade entre eles, e muito menosinterdependncia funcional. Por outro lado, a impulso que recebem essesconjuntos tcnicos atuais (ou suas fraes) nica, vinda de uma s fonte, amais-valia tornada mundial ou mundializada, por intermdio das firmas e dosbancos internacionais. O conhecimento emprico da simultaneidade doseventos e o entendimento de sua significao interdependente so um fatordeterminante da realizao histrica, ao menos para os setores hegemnicos

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    da vida econmica, social e poltica. Mas estes arrastam todos os demais.Da porque nos referirmos a uma empiricizao da universalidade (SANTOS,M. "Geography in the late twentieth century: new roles for a threateneddiscipline", nmero especial sobre "Epistemology of social science",

    International Social Science Journal, Unesco, 1984, vol.36, n 4).

    Fluxos de Informao Superpostos aos Fluxos de Matria

    O papel crescente da informao nas condies atuais da vidaeconmica e social permite pensar que o espao geogrfico e o sistemaurbano, considerado como o esqueleto produtivo da Nao, so atualmentehierarquizados por fluxos de informao superpostos a fluxos de matria nopropriamente hierarquizantes. Os objetos so utilizados segundo um modeloinformacional que amplia a esfera do trabalho intelectual; na verdade, osnovos objetos j nascem com um contedo em informao, de que lheresultam papis diferenciados na vida econmica, social e poltica.

    A importncia da informatizao e da creditizao do territrio, o novopapel dos bancos e dos diversos meios de transmisso das mensagens, acrescente necessidade de regulao de qualquer tipo de intercmbio (inclusiveas trocas de natureza social e cultural) pelo Estado, mas tambm por outrasinstituies e organizaes em diversos nveis, o imperativo de estar semprese adaptando s condies, em permanente mudana, da economia internacional, a necessidade de reconverso das economias regionais e urbanas soalguns dos elementos a levar em conta para a construo de um quadro dereflexo, que leve em conta as especificidades novas que, sob formasmateriais aparentemente imutveis, respondem rapidamente s modificaessobrevindas s relaes internacionais e internas de cada pas.

    UM PERODO E UMA CRISE

    Parece importante colocar desde logo algumas idias de base.

    Uma Crise e Um Perodo

    A primeira a questo da crise, da crise no como apenas umatransio entre perodos, mas da crise como perodo. Durante a histria dospases subdesenvolvidos, dentro do sistema capitalista e da Amrica Latina,em particular, esta talvez a primeira ocasio na qual estamos diante de ummomento de crise e que tambm se define como um perodo, na medida em

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    que as variveis que o definem so durveis, estruturais, dando um novocarter s realidades que nos cercam.

    Solidariedade das Mutaes no Plano Mundial

    Um outro dado a sublinhar, agora, o fato de que, mais que emqualquer outro momento da histria da humanidade, h uma solidariedade dasmutaes em plano mundial; e essa solidariedade , em grande parte,administrada. A administrao da solidariedade, seja como colaborao entrepases e firmas ou como nova forma de dependncia, um dado fundamentalno entendimento do que se passa. Em particular, impe-se uma mudanaepistemolgica, s vezes radical, conseqncia das mudanas histricasmencionadas.

    Conhecimento do Planeta e Empirizao dos Universais

    Em terceiro lugar, e pela primeira vez na histria, possvel saber emextenso e em profundidade o que se passa na superfcie da Terra. Quemconhece, e para que se conhece, outro assunto. O fato que apenasalgumas poucas potncias, alguns poucos grupos tm o conhecimento dofilme do mundo, isto , aquilo que ocorre na face do Planeta. Ao mesmotempo em que, pela primeira vez na histria do homem, os universaistornam-se passveis de empirizao, o processo de totalizao pode serconstatado empiricamente. Teramos, desse modo, penetrado na era de ouroda teorizao e do discernimento das perspectivas: era de ouro ou nada, seno pudermos utilizar os instrumentos que esto diante de ns para construirum novo pensamento.

    O MEIO TCNICO-CIENTFICO

    A fase atual, chamada tambm de perodo cientfico, do nosso ponto devista particular, , em primeiro lugar, a fase na qual se constitui, sobreterritrios cada vez mais vastos, o que se chamar de meio cientfico-tcnico,isto , um momento histrico no qual a construo ou a reconstruo doespao se dar com um contedo de cincia e de tcnica.

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    Nova Composio Orgnica do Espao

    O fato de que o espao seja chamado a ter cada vez mais um contedoem cincia e tcnica traz consigo um grande acervo de conseqncias, aprimeira das quais, certamente, uma nova composio orgnica do espao,pela incorporao mais ampla de capital constante na instrumentalizao doespao (instrumentos de produo, sementes selecionadas, fertilizantes,pesticidas, etc.) ao mesmo tempo em que se do novas exigncias quanto aocapital varivel indispensvel. Como conseqncia das novas condiestrazidas pelo uso da cincia e da tcnica na transformao do territrio, hmenos emprego ligado produo material e uma maior expresso doassalariado em formas diversas (segundo os pases e segundo regies em cadapas), uma necessidade maior de capital adiantado, o que vai explicar aenorme expanso do sistema bancrio. O mapa respectivo mostra como osterritrios se cobrem cada vez mais da presena de bancos, de tal maneira quearriscamos dizer que se nos anos 50 o nexo que explicava, de certa forma, aexpanso capitalista, era o consumo, desde os fins dos anos 70 esse nexo dado pelo crdito. De tal forma que poderamos falar de uma creditizao doterritrio, que dar uma nova qualidade ao espao.

    Formas de Ajustamento

    Cabe, igualmente, lembrar que nesta fase se corporifica aquelaanteviso de Marx, segundo a qual, ao ser vigente o trabalho universal, isto, o trabalho intelectual como forma de universalizao da produo,teramos uma maior rea da produo com uma menor arena da produo.Isto , a produo em sentido lato, isto , em todas as suas instncias, sedaria em reas maiores do territrio, enquanto o processo produtivo direto sedaria em reas cada vez menores. Essa uma tendncia facilmenteassinalvel em muitos pases da Amrica Latina. Ela tornada possvel emboa parte pela possibilidade agora aberta difuso das mensagens e ordensem todo o territrio, atravs dos enormes progressos obtidos com astelecomunicaes. A creditizao do territrio, a disperso de uma produoaltamente produtiva, no seriam possveis sem a informatizao do espao.O territrio hoje possvel de ser usado, com o conhecimento simultneodas aes empreendidas nos diversos lugares, por mais distantes que elesestejam. Isso permite, tambm, a implantao de sistemas de cooperaobem mais largos, amplos e profundos, agora associados mais estreitamente a

    motores econmicos de ordem no apenas nacional, mas tambminternacional. De fato, os eventos so, hoje, dotados de uma simultaneidadeque se distingue das simultaneidades precedentes pelo fato de que so

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    movidas por um nico conjunto motor, a mais-valia ao nvel mundial que em ltima anlise responsvel, direta ou indireta, pela forma como oseventos se do sobre os diversos territrios. Essa unificao faz-se em grandeparte atravs do nexo financeiro e conduz a uma reformulao do espao escala mundial.

    O ajustamento do espao s novas condies do perodo tem dadosparticulares, que so ao mesmo tempo fatores de implantao e de aceleraodo processo. Um deles o modelo econmico, do qual um subttulo omodelo exportador que agrava a sua ao em funo da dvida.

    Emergncia de um Novo Espao

    H emergncia de um novo espao e de uma nova rede urbana. Nasfases mais recentes, constata-se, em primeiro lugar, a luta pela formao deum mercado nico, atravs da integrao territorial. Um novo momento, oatual, conhece um ajustamento crise desse mercado, que um mercadonico e segmentado; nico e diferenciado; um mercado hierarquizado earticulado pelas firmas hegemnicas, nacionais e estrangeiras que comandamo territrio com apoio do Estado. No demais lembrar que, ainda aqui,mercado e territrio so sinnimos. Um no se entende sem o outro.

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    graas a uma seletividade ainda maior no uso das novas condies derealizao da vida social. Com isso, uma nova hierarquia se impe entrelugares, uma hierarquia com nova qualidade, a partir de uma diferenciaomuitas vezes maior do que ontem entre diversos pontos do territrio.

    A simultaneidade entre os lugares no mais apenas a do tempo fsico,tempo do relgio, mas do tempo social, dos momentos da vida social. Maso tempo que est em todos os lugares o tempo das metrpoles, quetransmitem a todo o territrio o tempo do Estado e o tempo dasmultinacionais. Em cada outro ponto, nodal ou no, da rede urbana ou doespao, temos tempos subalternos e diferenciados, marcados pordominncias especficas.

    Nenhuma cidade, alm da metrpole, "chega" a outra cidade com amesma celeridade. Nenhuma dispe da mesma quantidade e qualidade deinformao que a metrpole. Informaes virtualmente de igual valor emtoda a rede urbana no so igualmente disponveis em termos de tempo. Suainsero no sistema mais global de informaes de que depende o seuprprio significado depende da metrpole, na maior parte das vezes. Est a onovo princpio da hierarquia, pela hierarquia das informaes... e um novoobstculo a uma interpretao mais frutuosa entre aglomeraes do mesmonvel, uma nova realidade do sistema urbano.

    Os momentos que, no mesmo tempo do relgio, so vividos por cadalugar, sofrem defasagens e se submetem a hierarquias (em relao ao emissore controlador dos fluxos diversos). Porque h defasagens, cada qual desseslugares hierarquicamente subordinado. Porque as defasagens so diferentespara os diversos variveis ou fatores, que os lugares so diversos.

    As questes do centro-periferia, como precedentemente colocadas, e adas regies polarizadas, ficam, assim, ultrapassadas. Hoje, a metrpole estpresente em toda parte, no mesmo momento, instantaneamente. Antes ametrpole no apenas no chegava ao mesmo tempo a todos os lugares,como a descentralizao era diacrnica: hoje a instantaneidade socialmentesincrnica.

    Trata-se assim de verdadeira dissoluo da metrpole, condio, alis,do funcionamento da sociedade econmica e da sociedade poltica. Ainda umavez, para que e para quem o funcionamento dessa sociedade assimconstituda uma outra coisa, um outro problema. O fato que estamosdiante do fenmeno de uma metrpole onipresente, capaz, ao mesmo tempo,pelos seus vetores hegemnicos, de desorganizar e reorganizar, ao seu talantee em seu proveito, as atividades perifricas e impondo novas questes para oprocesso de desenvolvimento regional.

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    Entropia e Neg-Entropia no Espao

    Tomemos, de modo figurativo, o exemplo brasileiro. No passado, SoPaulo sempre esteve presente no pas todo: presente no Rio, um dia depoisem Salvador, trs dias depois em Belm, dez dias depois em Manaus, trintadias depois... So Paulo hoje est presente em todos os pontos do territrioinformatizado brasileiro, ao mesmo tempo e imediatamente, o que traz comoconseqncia, entre outras coisas, uma espcie de segmentao vertical domercado enquanto territrio e uma segmentao vertical do territrio enquantomercado, na medida em que os diversos agentes sociais e econmicos noutilizam o territrio de forma igual. Isso representa um desafio splanificaes regionais, na medida em que as grandes firmas que controlam a

    informao e a redistribuem ao seu talante, tm um papel entrpico emrelao s demais reas e somente elas podem realizar a neg-entropia. Oespao assim desorganizado e reorganizado a partir dos mesmos plosdinmicos. O fato de que a fora nova das grandes firmas neste perodocientfico-tcnico traga como conseqncia uma segmentao vertical doterritrio, supe que se redescubram mecanismos capazes de levar a umanova horizontalizao das relaes que esteja no apenas ao servio doeconmico, mas tambm do social.

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    O DILEMA LATINO-AMERICANO

    A Amrica Latina sempre foi, desde os incios de sua histriaocidental, um continente aberto aos ventos do mundo, enormementepermevel ao novo, em todos os momentos. Da a sua vulnerabilidade e asua fora. A aceitao mais fcil e mais pronta dos modelos de modernizaolhe tem permitido saltar etapas, percorrendo em muito menos tempocaminhos que ao Velho Continente exigiram uma lenta evoluo. Por outrolado, esse processo de integrao se tem dado custa de enormes distoresdo ponto de vista territorial, econmico, social e poltico. O perodotcnico-cientfico comea a se implantar no continente sob esses mesmossignos, ajuntando novas distores s herdadas das fases anteriores. Pode-se,todavia, imaginar, neste novo perodo histrico que a fase dasorganizaes, e, tambm, a fase da inteligncia, que ser possvel reverteressa tendncia? A est, sem dvida, um grande desafio para os povos latino-americanos e os seus intelectuais, voltados a pensar o futuro a partir dasrealidades do presente. O ponto central no , apenas, a escolha das novasvariveis histricas, num mundo em que a modernidade se tornouirrecusvel; mas a dosagem de sua combinao, no mais a partir dosimperativos da tcnica, de que a economia se tornou subordinada, mas apartir dos valores, o que ensejaria uma nova forma de pensar um porvir ondeo social deixaria de ser residual e tecnologia seria atribudo um papelhistrico subordinado, em benefcio do maior nmero.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    RICHTAR, R.La Civilization au Carrefour.Paris. Editions du Seuil, 1974.

    SANTOS, M.Espao e Mtodo.So Paulo. Editora Nobel, 1985.

    Geography in lhe late twentieth century: new role for a threatereddiscipline.International Social Science Journal.UNESCO 36 (4) nmeroespecial sobre "Epistemology of social science". 1984.

    SIEGFRIED, A.Aspects du XXme Sicle,s/d.

    RESUMOO autor analisa o perodo tcnico

    cientfico, ressaltando os aspectos concernentes unicidade tcnica, que faz com que o espao geogrfico recombine- se. Os novos arranjos no espao vo ter a marca da simultaneidade das aes, devido a articulao dos sistemas tecnolgicos. Assim, so redefinidos os espaos urbanoe rural, graas incorporao do uso da cincia e da tecnologia, caracterizando o meio tcnico-cientfico. Neste sentidoemerge a metrpole, presente em toda

    parte e no mesmo momento, dando aoslugares um carter funcional.

    ABSTRACT The author analyses the techno-

    scientific period, outlining the aspects concerning the technical unicity that rearranges lhe geographical space. The new setling on space will have the sign of simultaneily of actions, due to the arti- culation of technological systems. Thus, the rural and urban spaces are redefined by the incorporating use of science and tecnology that is characteristic of the techno-scientific milieu. In this sense, the metropolis emerges and is presenteeverywhere, giving to ali places at the

    some moment, a functional character.

    Palavras-chaves: espao territorial, globalizao do mundo, perodo tcnicocientfico, meio tcnico-cientfico

    Key-words: Territorial space, globalization, techno-scientific period, techno-scientific milieu

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    TECNOPLO: UMA FORMA DE PRODUZIR NAMODERNIDADE ATUAL

    Luiz Cruz Lima

    APRESENTAO

    No ltimo quartel do sculo XX, e mais intensamente na presentedcada, nova forma de organizao empresarial tem agregado os centros deformao de pessoal de alto nvel s unidades de produo e de servios,utilizando os mais modernos recursos da microeletrnica: surgem as cidadescientficas ou plos tecnolgicos.

    Vrios eventos tm sido realizados no mundo, tratando especificamentedesse fenmeno, no que diz respeito sua dinmica, sua expanso e, apesarde recente, sua avaliao.

    No s pelos encadeamentos prprios da atividade industrial, mastambm pela interao de administraes territoriais, empresas privadas ergos acadmicos, esses novos centros produtivos promovem um padro deorganizao, antes inexistente, com tipos de relaes espaciais centradas nopoder das informaes, inserindo-se, portanto, na modernidade atual.Somamos, a esses aspectos, a capacidade de inovao e criatividade queemoldura o quadro em que se situam esses centros de inteligncia.

    Os Objetivos

    Pretendemos traar um panorama geral da estrutura das atividadeseconmicas que articula os centros de inteligncia - universidades, institutosde pesquisa - com os de produo de bens e servios, caracterizando-se comouma forma tpica do perodo tcnico-cientfico.

    Distinguiremos dois tipos de centro: os organizados a partir deinvestimentos orientados, como ocorre nos pases desenvolvidos; e os que

    * Professor da Universidade Estadual do Cear UEC - Fortaleza e doutorando do Depto. deGeografia da USP - So Paulo.

    TERRA LIV RE- AGB So Paulopp. 19-40 n 9 ju lho -dezemb ro 91

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    tm emergido de condies preexistentes, como acontece nos pases doTerceiro Mundo, tomando como exemplo basilar o caso brasileiro.

    Tentamos, no final, questionar o enquadramento dessas novas formasnuma abordagem terica.

    A metodologia

    Tomou-se, como fontes para esse estudo, alguns documentos, "papers"de eventos internacionais, relatrios de pesquisa, artigos de peridicosespecializados, relatos de reunies tcnicas, notas de conferncias, etc.

    Relacionamos, desse material, os dados fundamentais para melhorcompreender a estruturao de um parque, cidade cientfica ou plo tecnolgico, bem como a diferenciao entre eles.

    Os elementos conceituais e categorias analticas so comuns a algumasdessas fontes, porquanto elas se coadunam com o referencial terico seguido.

    Como se trata de um estudo preliminar, com pretenso a um posterioraprofundamento, no premia a verticalizao merecida sobre os agentespromovedores de cada conjunto de plos ou cada pas que domicilia essanova forma de produzir.

    A preocupao mais com o fenmeno em sua historicidade e espacia-lidade, demarcando-se, assim, sua periodizao e sua extenso territorial nomundo atual.

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    dos, com o uso de uma fora-de-trabalho altamente qualificada. Nessesentido, cabe bem a sntese do professor Uri SHAMIR, presidente daFundao Technion para a Pesquisa e Desenvolvimento, que promove ainterao da indstria com a principal universidade de Israel, a Technion: "Asrelaes entre indstria e universidade so essenciais para o desenvolvimentode alta tecnologia".1

    Dado o desenvolvimento e sofisticao dos meios de comunicao, oescalonamento do processo produtivo -scaling up - exige uma maior aproximao entre o momento de criar, de conceber e a fase de produzir. Para isso, torna-se necessrio reduzir a distncia entre a idia, o laboratrio e amquina.

    Ante um modo de produo capitalista mais universalizado e concentrador, com uso de alta tecnologia, eliminando, portanto, as fronteiras nacionais, tanto em relao produo como ao consumo, novas modalidades deorganizao do espao, da economia regional e das empresas se estruturamcom a formao desses parques. Por sua massa de informao circulante nosistema de telecomunicaes, independente da rede pblica, os centros de altatecnologia provocam o que tem sido chamado de "desregulao", isto , nomais os negcios, as informaes e as iniciativas ficam restritamentelimitadas e delimitadas pelos regulamentos do Estado. Assim, o centro depoder se desloca para o centro de informao.

    Ainda no h um conceito muito preciso para os centros de altatecnologia, dado seu recente surgimento, dcada de 1960, e sua modulaoem diferentes zonas: centros abandonados das metrpoles(inners cities), emreas de operao recente ou em zonas de atividades novas.

    Conceitos

    Dada a diversidade de forma e de contedo desses centros, que variamconforme o pas, localizao e extenso, conceitos variados tm surgido paraidentific-los: tecnoplos,science parks, plos tecnolgicos, aglomerao deempresas de alta tecnologia. Para uma idia dessas variaes de tipos,tomemos dois casos: no Reino Unido, h parques com at 0,2 ha, comapoio apenas de escolas tcnicas e outros com at 52,6 ha com apoio dealgumas importantes universidades; prximo a Tquio, o governo japonsconstruiu, inteiramente, uma cidade para esta finalidade.

    Atendem s linhas de nosso trabalho, os conceitos expressos norelatrio "Estudos dos Parques Tecnolgicos no Estado de So Paulo" (USP-FEA - 1989):

    1 Folha de So Paulo - 27/10/89 - Caderno CINCIA

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    Parques tecnolgicos: "iniciativas planejadas que visam criar condiesfavorveis para que as tecnologias desenvolvidas nas Universidades einstitutos de Pesquisa & Desenvolvimento (P & D) sejam transferidas parao setor de produo, via pesquisadores que criam ou participam de empresascom o emprego das tecnologias geradas".

    Aglomerao de empresas de alta tecnologia ou parques tecnolgicosespontneos naturais: "de surgimento espontneo, numa determinada reageogrfica, um conjunto de empresas que se caracterizam pelo fato de seremcriadas por equipe de pesquisadores que, ao participarem de atividades de P &D em universidades e institutos de pesquisa, absorvem e dominam novastecnologias, bem como percebem a existncia de mercado para novosprodutos ou servios que utilizaro aquelas tecnologias".

    Dois outros conceitos, muito em voga na Frana, expressam o modeloeuropeu:

    O Tecnoplo: refere-se a uma zona adrede organizada com laboratrios,centro de convenes, completa infra-estrutura, para acolher indstria de altatecnologia. o que, em ingls, denomina-se, tambm, comoscience park.

    A Tecnoplo: conjunto geogrfico-econmico numa cidade oumetrpole onde as atividades de alta tecnologia estariam se implantando.

    Como ainda no h uma tipologia adequada e ocorre uma grandevariedade desses centros, mister se faz que haja uma especificao de suascaractersticas bsicas, quando no se enquadrar nos padres aquiespecificados.

    Cremos, no entanto, que a utilizao do conceitoA Tecnoplo atende compreenso geral, embora seja importante destacar a dos pasesdesenvolvidos, onde so mais amplas as condies de infra-estrutura.

    Em um de seus estudos2

    , o gegrafo francs H. BAKIS prope algunsconceitos como: microplo, para os que ocupam espao restrito (v. g.:26,4% dos do Reino Unido esto em rea que no excede 1 ha); tecno-aglomerado, quando abrange vrios locais, como o caso da Rota 128, emBoston, EUA; tecno-cidade, em que um novo espao urbano projetado paraesse fim, como encontramos em Tsukuba, a 60 km de Tquio.

    Finalmente, trabalhamos tambm com outro conceito, bastanteutilizado por alguns autores:

    2BAKIS, H. - Technoples, Tlports, Tlparcs, Tlbas es... Tlcommunication et Sitesa Equiper-NETCOM,v. 1, n 3 Sept., 1987 - CNRS - Univ. de Toulouse.

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    Empresas de alta tecnologia: "empresas de ponta ou de base tecnolgicainstaladas em setores como informtica, biotecnologia, robtica, mecnicafina, aeroespacial, semi-condutores, entre outras".3

    Caractersticas

    Alguns pesquisadores4 trabalham para a sistematizao da tipologiadesses parques, j se esboando algumas caractersticas que conduzem a essefim. Relacionemo-las:

    1. uma marca destacvel a presena de institutos, de laboratrios depesquisas bsicas destinados ao sistema produtivo industrial. Haver umelevado grau de integrao comum entre esses laboratrios e indstrias, afim de colaborarem na criao de produtos novos. Por isso, as tecnoploscentram-se nas atividades de alta tecnologia.

    2. Para a formao da fora-de-trabalho qualificada, universidadescompetentes e escolas de formao de tcnicos de nvel intermedirio estoinstaladas prximo s empresas. Desse modo, complementam asnecessidades da diviso tcnica do trabalho para melhor aplicao dosresultados das pesquisas bsicas dirigidas para a inovao.

    3. Torna-se primordial a um parque tecnolgico a presena de umsistema de telecomunicao, capaz de atender, com rapidez e eficincia, astrocas de informaes com o mundo, de estocar dados e de renov-los. Essesistema torna-se o corao das atividades da tecnoplo, a fim de mant-lacapacitada a fornecer, com segurana e rapidez, as mais variadas informaess empresas, alm de ter contatos permanentes com o mundo. Por outro

    lado, a tecnoplo um lugar de eventos, de banco de dados, enfim, umcentro de alto poder.54. Presena de alguns grandes grupos industriais, com determinada

    fora poltica e militar. Esse carter do parque lhe abre a possibilidade demando poltico, fundamental sua sobrevivncia e importncia. Isto marcante no caso brasileiro de So Jos dos Campos, SP.

    5. Boas instalaes de servios, completos e dinmicos, capazes deatender s funes empresariais modernas. Nesse caso, requer, em primeiro

    3MAR CO VIT CH, J. et alli - Criao de Empresas com Tecn olog ias Avanada s: asExperincias do Pacto - FEA - USP inRevista Administrao,v. 21 (2) - abril-junho ,1986.

    4DREULLE, S. e JALABERT,G.-LaTechnop. Toulousaine: le Dveloppment de la Valle de L'Hers L'Espace Geographique n 1, 1987 - p. 15-29.

    5Sobre esse tema ver PEREZ, C. -Microelectronics, Long Waves and World Structural Change: New Perspectives for Developing Countries- SPRU, Univ. Sussex - 1984.

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    lugar, um amplo setor de instituies financeiras bem equipadas e eficazes,pblicas e privadas; setores de pequenas e mdias empresas - PME -independentes ou subcontratantes das demais empresas presentes, a fim deatender a diferentes demandas: como atividades de engenharia, de marketing,de publicidade e tantos outros ramos do setor tercirio moderno.

    6. Para manter a dinmica local, no apenas das atividades produtivas,mas tambm da difuso das idias, surgem associaes e rgos quecongregam os atores ligados ao suporte da inteligncia da tecnoplo:engenheiros, tcnicos, etc.

    DREULLE e JALABERT oferecem, ainda, trs outros traos queidentificam no um parque tecnolgico, mas uma zona que se organiza paraacolher atividades de alta tecnologia, isto ,Um Tecnoplo:

    1. Aproveitando a presena de Universidade, cria-se seu prprio parquetecnolgico, com auxlio do poder pblico e/ou privado, sociedades mistas,coletividades locais e regionais, como j ocorre em vrias regies da Franae no Brasil. Desse modo, parte-se para a construo de um espao seletivoque assegure bom funcionamento do conjunto das atividades produtivas.

    2. Promoo, atravs de publicidade e de revalorizao de reaspossveis de utilizao empresarial, implantando-se equipamentos modernos.Nesse caso, so envolvidas no apenas reas deprimidas, caso dasinnerschies, mas tambm zonas propcias ao lazer ou turismo.

    3. A ao dos poderes locais para equipar com infra-estrutura algumasreas que ofeream condies para o crescimento do parque a ser instalado,dentro dos parmetros de uma tecnoplo. Objetiva-se, assim, criar recursospotenciais capazes de gerar sinergia e atrair novos investimentos.

    Como se pode notar, as tecnoplos so "ilhas" de excelncia dosistema produtivo moderno, em que se procura combinar a emergncia doconhecimento com os meios de produo.

    medida que elas se desenvolvem, qualitativamente, ou que o mundolhes exige melhores condies de produo, as tecnoplos se sofisticam comequipamentos que ampliam seu poder de influncia, na regio ou no mundo.

    Componentes-base como fora

    Esses componentes formam o que se convencionou chamar de teleportoque j se encontra, desde 1985, em vrios pontos do globo, como espaosfixos: Nova York, Dallas, So Francisco, Houston, Londres, Amsterd,Tquio e Osaka. O teleporto funciona como meio de enviar uma grandemassa de informao de um ponto a outro do planeta, sem a interveninciada rede pblica, tornando-se um ponto de convergncia dos serviosmicroeletrnicos avanados. O teleporto compe-se de:

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    a) uma estao central servida por satlite;b) uma rede de aglomerao, local e regional ec) uma infra-estrutura imobiliria, isto , edifcios de inteligncia

    (smart buildings) e escritrios com servios e equipamentos coletivos(shaked tenant services).

    Somente com a mundializao da economia e a existncia do trficointernacional da telecomunicao, o mundo moderno dispe desses recursos.Atualmente, a eles j tm acesso as PMEs, atravs de associaes,porquanto no seu incio eram reservados apenas s grandes empresas. Oteleporto um importante atrativo locacional das tecnoplos, pois ofereceum conjunto integrado de servios modernos.

    As universidades eficientes no s concentram uma boa massa crtica

    da inteligncia, como esto equipadas com capacitados instrumentostcnicos, no apenas laboratrios, mas tambm os ligados aos recursosinformacionais. E como esses centros de inteligncia irradiam inovaes eabrem necessidades no conjunto das comunidades atingidas, tornam-se elespropulsores de modernidade: uso da telemtica, da robotizao, enfim, dasnovas tecnologias, por mltiplas empresas de diferentes dimenses e porindivduos.

    Nem todos os resultados desses centros so controlados e absorvidospelos grandes conglomerados, dando oportunidade para as PMEs se desenvolverem e criarem seus nichos de mercados. Sobre este fato, encontramos emHAGUENAUER6: "Esforo de P & D por inovaes, secundrias ou paraatendimento a situaes localizadas (de pouco interesse aos complexostransnacionais), cujo investimento tenha retorno garantido nas condies demercado restrito. Quando as inovaes resultantes forem bsicas entraro,por certo, na hegemonia de determinado complexo".A insero dos recursos da modernidade atual, nas atividades econmicas, repercute em mltiplas transformaes dos fatores de produo, dosaspectos locacionais, das relaes de competitividade entre empresas, dosregimes de trabalho7, estabelecendo novos nveis de mais-valia relativa.Nesse sentido, BAKIS nos diz que "les nouvelles technologies de communi-cation peuvent modifier la division internationale du travail au sein desgrandes entreprises (multinationales notamment) et au sein des systmesmondiaux industriei, tertiaire et financier. La productivit va s'accrotre en

    6HAGUE NAUER, L. O Complexo Qumico Brasileiro organizao e dinmica interna UFRJ-IEI. Texto para discusso n 86 jan.1986.7LIPIETZ, A. e LEBORGNE, D. - O Ps-fordismo e seu Espao inEspao & Debate n 25 -ano VIII, 1988 - p. 12-29.

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    mme temps que la spcialisation des espaces territoriaux. Le rpartion, lenombre et la nature des emplois sont ainsi en ques tions..."8

    Equipado de rede moderna de comunicao, o local da inteligncia sefortalece, interligado com o mundo, como ponto capaz de estruturao ou dereestruturao das atividades econmicas, cujo raio de abrangncia territorialvaria de acordo com sua potncia. Essa potncia, por sua vez, definida pelograu de relaes informacionais de que dispe o conjunto de crebros queforma um centro de inteligncia. A reside, hoje, um fator de forte ligao dopensar com o produzir, da cincia com a tcnica e desta com o consumo.

    Essa instrumentalizao das universidades, das instituies de pesquisaserve-lhes como um dos componentes na formao e consistncia dosparques cientficos ou plos tecnolgicos.

    AS TECNOPLOS EM ALGUNS PASES DESENVOLVIDOS

    Frana

    So, aproximadamente, vinte que se formaram em quatro diferentesperodos:

    I - As primeiras: final da dcada de 1960 e durante a dcada de 1970:a) SOPHIA-ANTIPOLIS (1969), prximo Nice, no sul do pas.

    Rene cerca de duas centenas de empresas, entre as quais a Dow Chemical,Air-France, Digital Equipement, coles des Minas.

    b) GRENOBLE (1973), conhecida como ZIRST, ou seja, Zona de

    Inovao e de Realizaes Cientficas e Tcnicas. Quase duzentas empresasocupam suas reas, destacando-se a Hewlett-Packard, o Centro de EstudosNucleares e outras ligadas ao automatismo e microinformtica.

    c) NANCY-BRABOIS INNOVATION (1977). Pouco mais de umacentena de empresas dos setores de qumica de base, agro-alimentares,biotecnologia e materiais novos compem esta tecnoplo.

    II - Segundo perodo: dcada de 1980.Situam-se cerca de seis tecnoplos nesse perodo, destacando-se quatro:

    Toulouse, Montpellier, Lion e a de Paris-sul-le-de-France, esta com cerca de35.000 pesquisadores devido a localizao do CNRS (Conselho Nacional dePesquisa Cientfica).

    III - Terceiro perodo: as ltimas implantadas.So nove as tecnoplos que abrigam empresas ligadas a novos

    materiais, robtica, biotecnologia, microeletrnica, oceanografia, etc.

    8BAKIS, H. -Gographie des Tlcommunications- PUF, Paris, 1984 - p. 121.

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    IV - Quarto perodo: so treze projetos em curso. bom destacar que a formao de uma tecnoplo no se mede em

    anos, mas em dcadas.A pesquisadora Martine DROULERS, do CNRS, em seminrio, em

    Bauru (SP), em agosto de 1989, classifica as tecnoplos francesas em trsgrupos:

    l) as de criao voluntria: Sophia-Antipolis2) as resultantes da dinmica regional: Grenoble e3) as consideradas como complexo cientfico-metropolitano: le-de-

    France-sul.

    Japo

    Segundo estudo de Kumiko FUJITA9, "construir uma cidade cientficano uma idia nova no Japo; o Estado j tinha bancado a construo dacidade cientfica de Tsukuba, na dcada de 1970". Evidentemente, esse"frenesi" de parques cientficos do final da fase urea do capitalismo, ouseja, do pice da fase A do 4a Kondratieff. Neste mesmopaper, FUJITA claro ao dizer que "todas as tecnoplos (Hokkaido, Tohoku, Kyushu,Hkoku e outras em torno do Mar do Japo) foram aprovadas durante orpido crescimento econmico dos anos 1960 e 1970".

    Embora o MITI(Ministry of International Trade and Industry) esteja frente dos projetos, eles so decorrentes de decises de Conselhos formadospor representantes dos grandes empresrios, dos consumidores, das

    organizaes acadmicas e da estrutura industrial regional.Em janeiro de 86, o Japo detinha cerca de 19 reas com tecnoplos,em quase toda sua extenso territorial, prevendo nelas ocupar, em 1990,cerca de 903.128 pessoas, o que corresponde a um incremento de 21,85% emrelao a 1980, conforme nossos clculos.

    Estados Unidos

    Os parques cientficos de alta tecnologia tiveram incio nos EstadosUnidos a partir do ps-guerra e, em especial, na dcada de 1960. Hoje, sedestacam no mundo a tecno-aglomerao da Rota 128 na Nova Inglaterra

    FUJITA, K. - The Technopolis: High Technology and Regional Development in Japan - Anais do Colloque International Nouvelle Indu st ri al isat ion - Nouvelle Urbanisation,Toulouse, set., 1987.

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    Diferentes medidas foram tomadas, conforme o tratamento poltico daadministrao da Gr-Bretanha nas ltimas dcadas. Uma dessas medidas temsido a criao de zonas econmicas, como elemento revitalizador das reasdecadentes, dentro dos planos do atual governo conservador. Nos anos 80,um boom de sciences parks surgiu em todo o Reino Unido, o que propicioua criao de uma associao, em 1984. A Associao dos ParquesCientficos do Reino Unido (UKSPA) agrega, no momento, 38 desses parques, domiciliando 784 empresas que ocupam perto de 10.000 pessoas, entreas quais renomados tcnicos e cientistas. Esto envolvidas mais de meiacentena de instituies de P & D, entre as quais inmeras universidades.13

    Embora alguns deles tenham nascido de presses de empresrios e dascoletividades locais, como possveis regeneradores industriais da economia

    regional, ainda no h indcios seguros de sua contribuio, de modosignificativo, para criao de muitos empregos e de muitas empresas. Esteaspecto levanta a dvida se eles podem ser considerados, pelo menos na Gr-Bretanha, como "centros embrionrios de desenvolvimento econmico e decriao de emprego".14

    OS PLOS TECNOLGICOS NO BRASIL

    No podemos falar de tecnoplos no Brasil, conforme o modelo dospases desenvolvidos. Isto est evidenciado em alguns trabalhos.15

    No entanto, essa nova modalidade de localizao industrial emerge emalguns pontos do pas. Dada a maior concentrao das foras produtivas naregio sudeste, nesta regio, particularmente em So Paulo, onde se

    firmam os plos mais dinmicos16

    , como o de Campinas e So Jos dosCampos. Alm destes, abordaremos os plos de So Carlos (SP) e o deSanta Rita de Sapuca (MG).

    1 3USKPA - Summary of Operational - Agosto, 1989.1 4JONES, A. D. W. e DICKSON, K. E. - Les Pares Scientifiques en Europe - L'ExperienceBritannique - Conference held in Berlin, 13-15 fevereiro 1985:Science Parks and

    Innovalion Centres: the ir Economic and Social Impact.1 5SANTOS, S. A. dos -Estudos dos Parques Tecnolgicos no Estado de So Paulo -USP -F E A - PA C TO - 1 9 8 7 .DROULERS, M. Essai Typologie des Ples Technologiques au Brsil.Doe. de RechercheCREDAL n 204 - Paris, junho, 1989.16

    Concordamos com a proposta de tipologia apresentada por Martine DROULERS, em seuestudo preliminar dos plos tecnolgicos do Brasil, no SeminrioNcleos de Modernizao Tecnolgica,Bauru, SP - agosto de 1989.

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    Campinas

    Em Campinas, distante 99 km a noroeste da cidade de S. Paulo,encontramos o primeiro projeto planejado de "ilha" cientfica do pas. Comum efetivo demogrfico prximo a um milho de habitantes, a cidade deCampinas conta com dois aeroportos: Internacional de Viracopos (o terceirodo pas) e o de Campos de Amarais, alm de estar servida por ferrovia evrias rodovias. Como detentora de uma boa infra-estrutura fsica e social,Campinas polariza uma importante regio econmica do Estado.

    Nesta cidade funcionam duas universidades: embora com pouco mais de20 anos, a Universidade de Campinas (UNICAMP) atende, em seu campusde 2,5 milhes de m2, mais de dez mil alunos, com quase a metade na ps-

    graduao; e a Pontifcia Universidade Catlica (PUC-CAMP), criada em1946, hoje mantm 39 cursos, dos quais trs de ps-graduao, com milalunos, aproximadamente. Em ambas, os cursos de maior procura so os dasreas biolgicas e de engenharia

    Ademais, como plo regional e sede de importantes empresas e decentros de pesquisa, o municpio mantm uma boa condio da qualidade devida, o que tem atrado muitos migrantes do pas e do exterior. Essascondies do a Campinas uma posio mpar num pas subdesenvolvido,como o Brasil.

    Desde a metade da dcada de 1970, germina a idia do projeto do parquecientfico. Somente no correr da dcada de 80, se concretizou o sonho, comos esforos de professores da UNICAMP e do poder pblico municipal,criando-se a Companhia de Desenvolvimento do Plo de Alta Tecnologia(CIATEC), em 1986, a partir da Companhia de Desenvolvimento Tecnolgico (CODETEC), originada em 1977. A partir desses rgos j seestruturavam duas reas: a TECNOPLO 1, com pouco mais de uma dezenade empresas e a TECNOPLO 2, com capacidade para at 500 unidadesempresariais, onde esto abrigados o Centro de Pesquisa e Desenvolvimentodo Sistema Telebrs, a fbrica de fibras ticas e componentes eletrnicosABC-XTAL, germinada esta de tecnologia desenvolvida pela universidade. Eum dos projetos arrojados em andamento o Laboratrio Nacional de LuzSincroton.

    Como muitas outras tecnoplos, as iniciativas envolvem vrios atores:universidade, poder pblico local, regional e federal, a coletividade e o setorempresarial privado.

    Com o objetivo de maior entrosamento com o empresariado e com opblico, em 1988 a UNICAMP realizou sua 1 Feira de Tecnologia,

    composta de 60 estandes, com mais de duas centenas de produtos de altonvel, desenvolvidos por seus pesquisadores.

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    So Jos dos Campos

    Situada a 100 km a nordeste da capital paulista, margem da RodoviaDutra, SJC uma cidade de porte mdio, destacando-se como um plo tecnolgico espontneo de projeo internacional, conforme estudos dos pesquisadores Srgio Alves PERILO (INPE) e Jos Adelino MEDEIROS (CNPq).So Jos dos Campos sede da Regio Administrativa do Vale do Paraba.

    mister que se atente para uma outra abordagem da formao de umcomplexo do porte de So Jos dos Campos, como a que fazem BECKER eEGLER17: " uma realizao intencional de determinados agentes polticos".

    A partir de dados at a segunda metade da dcada de 1970, COSTAressalta que houve "dois grandes momentos do crescimento industrial. O

    primeiro, que vai de 1920 a 1960, e que representa apenas 26,8% do parqueindustrial, e o segundo, de 1960 e 1977, com os 73,2% restantes". AindaCOSTA relaciona os fatores responsveis por essa evoluo: as polticas desubstituio de importaes (SI) no governo Vargas, Planos de Metas,(governo JK) e na ditadura (ps 64), alm de incentivos fiscais pelosmunicpios e estabelecimento de infra-estruturas, como a inaugurao da ViaDutra (RJ-SP), 1950, integrao rede geral de eletricidade e a construo doaeroporto local.

    "Finalmente, em 1969, com a criao da EMBRAER, por decretopresidencial, consolida-se o corpo principal do complexo tecnolgico-industrial-aeroespacial. Essa empresa passa a centralizar as atividadesindustriais relacionadas aviao civil e militar no pas, contando com oapoio do CTA/ITA e de um conjunto expressivo de empresas voltadas produo de componentes aeronuticos, tais como a AEROTEC, NEIVA,AVIBRS e outras menores de apoio. Some-se indstria aeronutica aproduo de armamentos terrestres pela ENGESA (canhes leves, carros decombate, etc.) e est definido no municpio, alm do complexo aeroespacial,tambm um verdadeiro parque industrial blico"18 (p. 81).

    No incio da dcada de 60, inaugura-se o Instituto de PesquisasEspaciais (INPE) que d a SJC maior destaque como importante complexoindustrial-aeroespacial, com a construo de satlites para coleta de dados esensoreamento remoto.

    Da, o desenvolvimento auto-sustentado desse centro tem favorecido osurgimento de PMEs por tcnicos sados de instituies e empresas locais,

    1 7BE CK ER , B. e EGLER, C. A. -O embrio do Projeto Geopoltico da Modernidade: oVale do Paraba e suas ramificaes- LAGET - Depto. de Geografia da UFRJ - vol . 4 -

    1987.1 8COSTA, W. M. da -O Processo Contemporneo de Industrializao (Um estudo sobre aexpanso da produo industrial em territrio paulista).Tese de mestrado - USP, 1982.

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    como o caso da AVIBRS, TECNASA (equipamento de comunicao),COMPOSITE (materiais compostos), QUANTUM (cermica avanada esoftware).

    Assim, MEDEIROS19 conclui: "Uma conexo apropriada entre ensino,pesquisa e indstria, respeitando-se as particularidades de cada atividade e osrespectivos perodos de maturao, torna o plo tecnolgico de SJC um casompar. Por outro lado, a existncia de pessoas aptas a transformar pesquisasem inovaes tecnolgicas fez com que a cidade antecipasse a onda que, apartir dos anos 70, implantou pelo mundo ossciences parks e suas verses".

    So Carlos

    Distante 230 km a noroeste da capital e pouco mais de 40 km deAraraquara, margem da SP-310, encontramos a cidade de So Carlos, commenos de 200.000 hab. "Apesar de sua dependncia econmica em relao aocaf, quando este entrou no perodo de decadncia, So Carlos j contavacom um incipiente setor industrial que foi solidificado gradativamente".20

    Duas universidades: USP e Federal - atendem a formao de tcnicos-profissionais da regio. Essas universidades tm repassado conhecimentospara as indstrias que brotam em So Carlos, s vezes, de iniciativas deprofessores e alunos. Alguns exemplos evidenciam o carter de seriedadecom que a comunidade acadmica local conduz seus trabalhos: a multinacional KODAK j encomendou USP local para nacionalizar uma impres

    sora a laser; o Departamento de Engenharia da Federal pesquisa a tecnologiade cermica de zircnio para aplicao de altos fornos siderrgicos.A fonte dessas iniciativas se encontra na Fundao Parque de Alta

    Tecnologia de So Carlos (PaqTc), instituda em 1984 pelo CNPq, resultante do envolvimento de vrios atores: governo federal e municipal, universidade, setor privado. Assim, foi criado, pela prefeitura, o Centro Empresarial de Alta Tecnologia (CEAT) para sediar as empresas nascentes. Centra-seo PaqTc no interesse de "criar pequenas e microempresas a partir doconhecimento j dominado na universidade por professores, alunos etcnicos. H cinqenta empresas operando em So Carlos entre pequenas e

    MEDEIROS, J. A. - Parque Tecnolgico Espontneo.Revista Brasileira de Tecnologia -v. 19, n 6, junho/1988.20ROSSI, D. C. - Aspectos da Metamorfose Urbana de So Carlos.Anais da 40 Reunio daSBPC - SP - 1988, p. 25.

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    microempresas todas, porm, de tecnologia avanada e originrias doCampusda USP ou da UFSCAR".21

    A Fundao PaqTc j realizou trs feiras de alta tecnologia, alm deoferecer outros apoios iniciativa empresarial: encontros, incubao deempresas com orientaes para registro e disponibilidade de condiesmateriais necessrias: telefone, telex e prdio para sede provisria. Aguarda-se, para breve, a instalao do Centro de Inovao Tecnolgica (CETESC),uma escola de nvel mdio para formao de tcnicos para alta tecnologia nasreas de qumica fina, cincia dos materiais, instrumentao e mecnica depreciso.

    Diferente dos dois casos anteriores, o Parque Tecnolgico de SoCarlos parece ter uma singularidade: nasceu com o objetivo concreto de fazer

    emergir, atravs da inteligncia, PMEs locais, como est explcito naspalavras do prof. Dr. Milton F. de SOUZA, do PaqTc: "A idia central foi ade criar pequenas e microempresas a partir dos conhecimentos j dominadosna universidade por professores, alunos e tcnicos. A tentativa de envolvergrandes empresas foi descartada em primeira aproximao. O resultado foi,at o momento, excelente".22

    Santa Rita de Sapuca (MG)

    Ainda, dentro da "fronteira da modernidade", encontramos o plotecnolgico de Santa Rita de Sapuca que est nofront do 'Vale daEletrnica', conjuntamente com Itajub com sua fbrica de armamentosleves e sua Escola de Engenharia, no sul de Minas Gerais. SRS se coloca

    estrategicamente no quadro mais dinmico do pas, porquanto dista 210 kmde So Paulo, o dobro desse percurso a separa do Rio de Janeiro, 380 km deBelo Horizonte e 190 km de So Jos dos Campos.

    Seu caminho para a eletrnica iniciou-se com a Escola Tcnica deEletrnica Francisco Moreira da Costa (ETE), em 1959, e com o InstitutoNacional de Telecomunicaes (INATEL), em 1956, pioneiros no pas. Ainstalao da Escola Tcnica de Comrcio e a Faculdade de Administrao eInformtica estimulou sensivelmente a criao de empresas do setor daeletrnica. Atualmente, das 65 empresas da cidade, 90% atuam nas reaseletroeletrnica, telecomunicaes e informtica.

    SOUZA, M. F. de - Os Parques Tecnolgicos e a Modernizao Industrial.Anais doSimpsio EPUSP sobre Modernizao Tecnolgica e Poltica Industrial - USP, SPset /1989.2 2BISINOTTO, D. A. - Evoluo Urbana de So Carlos, do Perodo Cafeeiro at Hoje.

    Anais da 40 Reunio do SBPC,So Paulo, julho de 1988, p. 26.

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    Para BECKER e EGLER17 , esse Vale "representa uma interface entrea eletrnica e a mecnica, para a produo de servo-mecanismos inteligentes,como sensores especiais, necessrios indstria de alta tecnologia e blica.Ele constitui um outro modelo inovador no territrio tradicional doExrcito, desta feira associada ao papel essencial de escolas superiores etcnicas locais" (p. 19).

    Santa Rita, entre Itajub e Pouso Alegre, uma pequena cidade demenos de 50.000 ha, cuja economia, at a dcada de 70, estava baseada nocaf e na produo de leite, enquanto hoje possui o INATEL, de onde temsado tcnicos capacitados. Esses profissionais desenvolvem algumascriaes em pequenas empresas que crescem conforme o mercado. Este ocaso da LEUCOTRON (fabricao da PABX, contador de glbulos brancos)e mais outras quarenta indstrias do local.

    Em fins da dcada de 70, alguns professores do INATEL tiveram a idiade desenvolver um prottipo de retransmissores de sinais de televiso eantenas parablicas e hoje produzem repetidores de sinais de microondas eantenas parablicas na LINEAR EQUIPAMENTOS ELETRNICOS, comseus 200 funcionrios. Empreendimentos desse porte tm induzido aprefeitura local a oferecer incentivos como estmulo s empresas nascentes.

    Uma das medies desse processo de crescimento est no ICM domunicpio que, em trs anos, passou do 207a lugar para entre os setentamunicpios que mais arrecadam esse imposto em MG.

    No final de outubro de 1989, SRS realizou a 4 Feira Industrial doVale da Eletrnica, principallocus de demonstrao da criatividade dotrabalho das PMEs locais.

    EM BUSCA DE UMA CONTEXTUALIZAO TERICA

    Por que essa nova forma de produzir, de criar e localizar as unidadesindustriais e de servios? Por que essa estreita interao da "inteligncia" dauniversidade, dos centros cientficos e de telecomunicao com o processoprodutivo? Que carter tem esse fenmeno nos pases centrais e nos pasesdo Terceiro Mundo? Essa integrao uma forma de produzir inerente aonovo paradigma tecnolgico? A quem serve essa integrao?

    So muitas as dvidas, diversas as questes a serem abordadas, comovrios so os caminhos a tomar em busca de resposta e de uma melhorcompreenso e apreenso dessa realidade.

    No texto, anteriormente citado, de H. BAKIS, h referncia adeclaraes de polticos franceses, envolvidos com o processo de formaodas tecnoplos, que as posicionam na teoria dos plos de crescimento de F.PERROUX:

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    "A melhor maneira de limitar o que o ponto forte parisiense tem deexcesso em relao ao resto do territrio traar uma poltica positiva quereforce os pontos fortes no parisienses. A proposta, de resto, muita vasta.Ela conduz o territrio, em seu conjunto, para um novo nvel dedesenvolvimento e isto supe uma rede de pontos fortes de plos decrescimento" (Dep. Olivier GUICHARD).

    "S a tentativa de tecnoplos a nica a interessar os investimentosestrangeiros. Sua escolha de implantao na Europa se faz entre vrioslugares e entre essas localizaes que elas comparam as possibilidades dosestados em diversas ajudas suscetveis de serem oferecidas" (Prefeito deMontpellier, M. FRCHE).

    "A Europa tem necessidade de alguns pontos de amarrao naperspectiva de mercado nico. E estes pontos de amarrao so astecnoplos" (Prefeito de Toulouse, Dominique BANDIS).

    A avaliao crtica preliminar dessa postura seria a possvel"concepo errnea de que o plo de desenvolvimento seja um monumentoindustrial erguido glria da futura industrializao regional, uma garantiade certo crescimento econmico", como nos fala J. PAENLINK (apudSANTOS, 1979, p. 135)2 3. Para uma melhor avaliao do fato tecnoplo,ante teoria de Perroux, temos que verificar para quem serve o crescimentopropiciado, se para alguns ou para todos.

    Dentro do modelo dos pases centrais, as tecnoplos tm envolvido acomunidade em geral, sindicatos, polticos, empresrios e a universidade.Ento, a estrutura em que se firma a tecnoplo no se limita a algumasempresas grandes, embora se edifique numa economia capitalista, em que aconfigurao territorial atende a lei do lucro e sua prpria organizao secontextualiza na "tomada de decises e de dominao". A partir dessascontradies, h toda uma discusso sobre os plos de crescimento e adifuso das inovaes, o conceito de ncleo-periferia, etc.

    J nos pases subdesenvolvidos, os parques tecnolgicos assumemoutra dimenso, dado seu carter diferenciado. Enquanto nos pases centraisse busca, na essncia, nova forma de gerar mais-valia com a incorporao doconhecimento cientfico, no Terceiro Mundo h, ainda, a tentativa de reduziro gap entre os pases ricos e os pases atrasados, alm de criar e inovarprodutos e processos para diminuir as importaes. Tambm objetiva-setornar a universidade mais capaz de compensar os investimentos nelarealizados, especialmente hoje que "a cincia cada vez mais comandada pela produo".24

    2 3"SANTOS, M. -Economia Espacial: Crticas e Alternativas.HUCITEC - SP - 1979.2 4SANTOS, M. - Materiais Para o Estudo da Urbanizao Brasileira no Perodo Tcnico-cientfico. ISeminrio de Estudos Urbanos- UnB, maio de 1988.

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    Essa tentativa de reduzir as importaes se difunde nos NICs, o quetem levado os pases centrais a tomarem medidas protecionistas eintensificarem inovaes que ameaam as vantagens comparativastradicionais dos NICs. Da a necessidade de mobilizar as universidades, nosentido de pensarem para a produo material.

    No trato da relao entre universidade e empresa, RATTNER25 propeque "ao governo, assistindo s pequenas e mdias empresas, financiando aspesquisas nas universidades que preparam tambm os recursos humanos parao setor produtivo, cumpre tambm a tarefa de prover planos e programas deorganizao espacial, cujos efeitos na economia de transporte, habitao,emprego e meio ambiente contribuiro para o desenvolvimento geral daproduo" (p. 75). O mesmo autor sugere, ainda, possveis estratgias para

    desenvolver e consolidar uma infra-estrutura cientfica-tecnolgica num pasde recursos financeiros minguados num momento de intensos avanos.A simples relao entre cincia e tcnica no explica a origem e o

    desenvolvimento cientfico, sendo para isso necessrio apreender o momentohistrico e suas exigncias, momento este que define os limites dodesenvolvimento das tcnicas e das cincias.

    Alm da apreenso da organizao social do momento, misterconhecer as relaes sociais e as relaes de produo que reinam entre oshomens de uma determinada sociedade. O carter dessas relaes indica ocaminho, os impulsos e os nveis do desenvolvimento tcnico-cientfico deuma poca.

    Aprendemos com BERNAL2 6 que "en las primeras pocas la cinciaiba seguiendo a la industria; ahora tiende a alcanzarla, y esto hace que sehaga comprensible con mayor claridad la posicin que la cincia ocupadentro de la produccin" (p. 62).Acompanhando-se a evoluo cientfica e tcnica ps-RevoluoIndustrial, no sculo XIX que vamos notar "uma crescente interdependnciade investigao tcnica, que transformou as cincias na primeira foraprodutiva"27. Isto se dava porque as conseqncias prticas da cincia maisse aproximavam, dia a dia, das pessoas e os prprios cientistas mantinhamesse interesse. "A cincia do sculo XX tambm foi transformada pelo

    25RATTNE R, H. -Poltica Industrial - Projeto Social.Brasiliense, 1988.BERNAL, J. D. -La Cincia en la Historia -Ed. Nueva Imagen - Univ. Autnoma de

    Mxico, 1986.27

    HABERMAS, J. -Tcnica e Cincia como Ideologia- Biblioteca de FilosofiaContempornea Edies 70, p. 68.

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    notvel desenvolvimento de sua tecnologia que facilitou a pesquisa emmuitos campos novos"28.

    Tal como MARCUSE, HABERMAS aceita que "a tcnica e a cinciacumprem tambm hoje a funo de legitimao da dominao"27. E esta sefaz atravs da racionalidade que a legitima pelas foras produtivas cujoresultado superior a produtividade. Em outras palavras, a potencialidadecriada no perodo tcnico-cientfico, como sobre-produtividade, estabelece-secomo um "enquadramento institucional funcionalmente necessrio"27.

    Em seu recente trabalho, provocado pelos debates em torno dastecnoplos, SILVA29 ressalta com clarividncia: "No final desse perodo (otcnico-cientfico), agora, no final do sculo XX, a revoluo dos espaos edas formas apresenta um produto final que est sendo chamado de tecnoplo.Sua fora dinmica ultrapassa as determinaes histricas e pe-se como ummodelo de organizao do espao que, dotado de sinergia, ganha condies deautomao, que estabelece as premissas clssicas dos movimentos pretritosde concentrao do valor, de um modo novo, que lida com a concentrao-disperso de modo automtico, gerando flexibilidade".

    Com a inverso do capital tcnico e a utilizao do capital social ecultural nas dimenses requeridas, s com o envolvimento de mltiplosagentes scio-econmicos e polticos e das condies da mundializao daproduo-consumo possvel a formao das tecnoplos.

    TENDNCIAS E CONCLUSO

    A tecnoplo no mais, simplesmente, como os distritos industriais,uma rea delimitada e estruturada para acolher fbricas. , em maioramplitude, um espao novo de criao, envolvido na projeo damodernidade atual e do futuro. Neste parmetro, as tecnoplos se destacam,no momento histrico atual, com mltiplas dimenses:

    1. umlocus de mais integrao do pensar com o produzir, doaproveitamento imediato da cincia pela tcnica e da utilizao desta para odesempenho daquela.

    2. Como a fase econmica vivenciada pelo paradigma tecnolgico atualreduz o trabalho intensivo, os fatores locacionais valorizam-se em funo daracionalidade e no da abundncia, da qualidade e no da quantidade, da rapidez

    RONAN, C. A. -Histria Ilustrada da Cincia- Univ. de Cambridge - v. IV - Cap. 10,p. 78. Crculo do Livro, So Paulo, 1987.2 9SILVA, A. C. da -A Metrpole e as Razes da Razo Tcnica- mimeo. - Depto. deGeografia - US P - Out. de 1989.

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    de transformao e no da fixidez, do raio de abrangncia e no de simplespresena local das unidades de produo.

    3. Dado o carter dinmico da criatividade, as firmas desses centros deinovaes so levadas a uma maior interao com o mercado global. Sabendo que a modulao poltico-administrativa mantm uma grande lentido,o mercado global chama a si vrias responsabilidades: sistema informacio-nal, investimento em P & D, mecanismos de capital de risco, alm dedeterminar regimes de trabalho fora dos parmetros tradicionais.

    4. Planejada ou espontnea a tecnoplo, o espao na dimenso temporal torna-se altamente tcnico e especializado e, ao especializar-se, tem nele forjada uma nova cultura, uma sociedade tecnopolitana, conduz-se sele-tividade espacial, mas parte de um todo que abrange nova ordem do pensar e

    do agir.No resta dvida que o perodo tcnico-cientfico simultneo s organizaes transnacionais e a racionalidade ainda no se separou da dominao,ficando a dvida: at que ponto e at quando uma nova forma criada com oconjunto da sociedade no ser totalmente tomada em proveito de unspoucos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    RESUMO Esboo geral da estrutura de uma

    nova forma de produzir, surgida a partir dos anos 70, que articula os centros deinteligncia com as unidades de produo,uma das caractersticas do perodo

    tcnico-cientfico. Depois de apresentarvrios exemplos nos pases mais ricos e

    destacar os plos tecnolgicos jexistentes no Brasil, o autor tenta situar o

    fenmeno numa abordagem terica e da partir para as tendncias dessa integrao do pensar com o produzir.

    ABSTRACT In this study, lhe author outlines lhe

    new way of producing that connects research inslitutes and universities withlhe unities of production. The first technopolis (science park) appeared inlhe seventies. After presenting differentexamples of technopolis (science park) in developed countries and in Brazil, lhe author points out lhe phenomenon under a theorical approach to show lhe tendencies of interacting science with production.

    Palavras-chave: desregulaogap. Pas Recentemente Industrializado (NIC),paradigma tecnolgico, plo tecnolgico, sinergia-tecnpolo.Key words: unadjustmentgap, Newly Industrialized Country (NIC) tecnological

    paradigm, science park, sinergy synergism tecnopolis.

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    A TECNIFICAO DA PRTICA MDICA NOBRASIL: EM BUSCA DE SUA GEOGRAFIZAO

    Raul Borges Guimares*

    O tema proposto amplo e de grande complexidade. Certamente, no por acaso que no setor sade haja uma tendncia, no momento atual, deidentificar a prtica de sade como prtica mdica, fundamentalmente comoprtica tcnica ligada idia da incorporao do desenvolvimento tecnolgicocomo o caminho para a melhoria dos problemas de sade.

    CORDEIRO (1990) estima que o mercado mundial de materiais,substncias especiais e equipamentos mdicos atinge US$ 20 bilhes, sendomaior para as tecnologias que esto relacionadas microeletrnica, aosnovos materiais, mecnica fina e biotecnologia, representando umcrescimento, em quatro anos, de 45%. Apenas nos EUA, 168 tecnologias deuso mdico devero ser introduzidas no mercado em um prazo de cinco aquinze anos.

    Esta complexidade tecnolgica crescente dos equipamentos recm-incorporados s prticas de sade em geral e na prtica mdica, em particular,est criando novas demandas de consumo que pressionam o Estado a um

    esforo de expanso dos seus servios e sistemas de controle a partir dessesparmetros tcnicos dados pela tecnologia importada ou pela atuao diretade grandes grupos econmicos que detm o seu domnio.

    Tais consideraes nos orienta para a anlise das condies e dascaractersticas espaciais resultantes desse processo de difuso tecnolgica eprivilegia o entendimento da tecnologia em sade como produto deestruturas sociais concretas e como um fator capaz de produzir, reproduzir ede alterar essas mesmas estruturas.

    possvel, assim, analisar a inovao tecnolgica por que passa aprtica mdica a partir das exigncias de altos investimentos e lucros porparte das grandes firmas. A demanda por novos equipamentos e processos uma demanda induzida por quem produz essas novas tecnologias, tornandoprematuramente obsoletas as tcnicas de produo e podendo afetar padresde comportamento e a prpria estrutura social.

    *Professor do Depto. de Geografia FCT-U NESP de Presidente Prudente.

    TERRA LIVRE - AGB So Paulo pp. 41- 55 n 9 julho-d ezembr o 91

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    Portanto, a recorrncia dos empresrios a tecnologias capital-intensivasobedece a este conjunto de fatores de ordem estrutural, ao contrrio do queaparentemente se apresenta como resultantes do "progresso cientfico emprol de um atendimento de melhor qualidade". Isto significa estar assumindoque, acima de tudo, numa sociedade dividida em classes como a nossa, ainovao tecnolgica necessariamente apresenta um certo comprometimentopoltico, apesar da fora com que se manifestam os fundamentos ideolgicosda "neutralidade da tecnologia".

    Tendo em vista esta perspectiva terico-conceitual, constatamos umaescassez muito grande de publicaes a respeito de trabalhos de naturezaemprica que permitam uma melhor compreenso desse fenmeno de nossarealidade.

    No Brasil, com base nos trabalhos de BRAGA (1978), BIAZZI EFURTADO (1986) E AUGUSTO (1986) foi possvel verificar que aproduo e consumo de equipamentos mdicos tm implantao recente,sobretudo no que se refere aos aparelhos eletro-mdicos.

    Esses autores utilizaram-se em seus estudos dos dados de valor deproduo, nmero de estabelecimentos e pessoal ocupado na produo epessoal ocupado total dos censos industriais do IBGE, de 1979,1975 e 1980e as pesquisas industriais de 1974, 1976, 1977, 1978 e 1979. Os dados deimportao tiveram como fonte os Anurios da CACEX para os anos de1970 at 1980.

    A leitura desses trabalhos permite apontar algumas caractersticas daproduo nacional e importao de equipamentos mdico-hospitalares noBrasil.

    A produo nacional teve um crescimento real ao longo da dcada de1970 da ordem de 266%, o que corresponde a uma taxa anual mdia decrescimento de 13,8%. Ao mesmo tempo, as importaes apresentaram umcrescimento anual mdio de 8,7%.

    Conforme podemos observar nas figuras 1 e 2, o grupo de produtos queteve maior participao em termos de valor de produo composto de umagrande variedade de materiais de baixo valor unitrio e de amplo consumo(algodo, gaze, atadura, esparadrapo, etc...). No entanto, h uma ntidatendncia diminuio (de 67,2% em 1970 para 53,9% em 1980) em virtudeda expanso relativa do grupo de equipamentos eltrico-eletrnicos.

    O grupo de produtos eltrico-eletrnicos constitui-se na principal frentede inovao tecnolgica de produtos para a medicina. Sua produoexpandiu-se a taxas prximas a 30% ao ano na primeira metade da dcada de1970 e a 11,7% ao ano no perodo de 1975/1980.

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    Esta expanso implicou num aumento da participao desse grupo nototal da produo de equipamentos mdico-hospitalares de 17% em 1970 para28,4% em 1980. Quanto s importaes, estas continuam a crescer a taxassignificativas mesmo no perodo ps-75 (10% de taxa anual de crescimento).A participao das importaes desse grupo no total do setor o maisexpressivo (52,8% em 1980) - figura 3.

    Um levantamento preliminar no IBGE e Associao Brasileira dasIndstrias de Equipamentos Mdico-Hospitalares e Odontolgicos (ABIMO)demonstrou que o setor continuou crescendo durante a dcada de 1980 emtermos de mo-de-obra ocupada. O nmero de firmas ampliou de 30 indstrias existentes em 1962, ano de fundao da ABIMO, para aproximadamente400 indstrias existentes em 1987. A distribuio da origem do capitalaponta um predomnio de capital totalmente nacional (78,2%) e de pequenoporte (50,57%).

    Contudo, constatou-se tambm um crescimento relativo da participaode capital misto com controle estrangeiro e de empresa de grande portequando comparados os dados de 1986 e 1987.

    Ser preciso o manuseio de um maior nmero de dados da dcada de1980 como um todo para a averiguao da relevncia dessas mudanas. Estesestudos, em andamento, devero ou no consolidar a hiptese de que o graude sofisticao tecnolgica da demanda e a predominncia crescente das empresas multinacionais na gerao de tecnologia so elementos explicativosdo dinamismo do setor.

    Tal hiptese est respaldada pelos estudos citados acima e em parte por

    levantamento de dados do IBGE (1988) que evidenciam um ntidocrescimento do nmero de estabelecimentos que prestam servios de sadeno Brasil.

    Utilizando-se da diferenciao desses estabelecimentos realizada peloIBGE, entre estabelecimentossem internao e estabelecimentoscominternao, verificamos que o primeiro tipo nitidamente o principalresponsvel pelo intenso crescimento do nmero de estabelecimentos queprestam esses servios.

    Enquanto os estabelecimentossem internao tiveram um crescimentorelativo de 446% no perodo de 1970-80, no mesmo perodo osestabelecimentoscom internao tiveram apenas o crescimento de 60%.

    Esta dinmica, to acentuadamente diferenciada, provocou uma inversona oferta de servios de sade, passando os estabelecimentossem internaoa se constiturem no grupo majoritrio (vide figura 5).

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    FIGURA 4

    N DE E STABELECIM ENTOS QUE PRESTAM

    SERVIOS DE SADE NO BRASIL

    F I G U R A 5

    OFERTA DE SERVIOS DE SADE( com e sem interna o )

    F o n t e : I B G E

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    Embora devamos relativizar tais resultados, uma vez que na prtica asdiferenas entre esses dois tipos de servios nem sempre se verifica,podemos apontar como uma das caractersticas dessa oferta de servios o fatode seu crescimento concentrar-se em estabelecimentos de menorcomplexidade tecnolgica (sem internao).

    Este fato, associado seletividade na distribuio espacial dessa oferta(mapa 1), d-nos uma noo da forma em que se relaciona a produo/importao de produtos mdico-hospitalares no pas com o seu consumo.

    Evidentemente, o maior mercado para esses produtos, principalmenteos do tipo eletro-eletrnico, so os estabelecimentos com internao(hospitais, basicamente). Estes, pela sua prpria natureza, exigem umamaior complexidade tecnolgica e encontram-se concentrados em So Paulo,

    Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paran e Rio Grande do Sul.Verifica-se na prtica que entre o queixoso que procura os servios e ostrabalhadores da sade encontramos uma cadeia de mediaes cada vez maior,preenchida por procedimentos controlados pela indstria. Resulta da umculto coisa, ao saber-fazer, tcnica. Sade se compra a prestao,escolhendo o produto pela qualidade, pelo preo e pelo modo de atendimento.Compra-se e consome-se. Convertendo-se a sade em objeto de consumo,produo para o mercado, sade coisificada.

    Uma das expresses concretas desse movimento, hoje, odeslocamento dos processos de alto custo do hospital para o servioambulatorial realizado por terceiros, especialmente aqueles associados stransformaes tcnicas do processo de diagnstico e teraputica com base naincorporao de equipamentos eletro-eletrnicos.

    Esse fenmeno est provocando um "transbordamento do hospital" pelacidade atravs do surgimento de um nmero cada vez maior de firmas, aquidefinidas "como locus de acumulao de capital (...) no correspondendonecessariamente a uma firma jurdica real, podendo compreender na verdadevrias entidades de tal natureza" (GUIMARES, 1981: 25). Tais firmas seconstituem na fora capaz de (re)estruturar a rede tecnolgica no espaourbano, condicionando, ao mesmo tempo, um certo padro de circulaointerna por parte dos usurios desse servio. Servio este cada vez maisfragmentado, segmentado, estratificado socialmente.

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    assim que, no caso brasileiro, concordando com FORSTER eYASLLE-ROCHA (1991: 71), "a cobertura assistencial e as causas dashospitalizaes so diferenciadas... porque as condies existenciaisenfrentadas pela populao, os riscos de adoecer, a percepo da doena edemanda por assistncia, o acesso e a estrutura, bem como as fontes definanciamento dos-servios de sade so igualmente diferenciados".

    Somente no municpio de So Paulo, constatou-se a existncia, apsrealizarmos levantamento de dados no Conselho Regional de Medicina doEstado de So Paulo (CRM) e na Associao Brasileira de EquipamentosMdico-hospitalares e Odontolgicos (ABIMO), de cerca de 500 instituiesque prestam servios de sade, utilizando aproximadamente 3600 tipos deequipamentos.

    Por sua vez, dada a escassez de informaes empricas disponveis,torna-se difcil uma avaliao mais aprofundada da produo e consumodesses equipamentos no Setor Sade.

    O trabalho de NOVAES (1991) em 15 hospitais gerais paulistanos,onde foram coletadas informaes de 1256 equipamentos, pioneiro. Paraesse total de equipamentos foram encontradas 96 marcas que, subdivididasem modelos, se constituram em 277 marcas e modelos diferentes. Destes,60% eram importados, sendo 44% do total originado dos EUA.

    Como podemos analisar essas inovaes tecnolgicas por que passa aprtica mdica nas ltimas dcadas?

    Analisando o embate terico que h hoje a respeito do desenvolvimentotecnolgico e a produo do espao, foi possvel esboar os parmetrosmetodolgicos que permitem apreender a inovao tecnolgica em sadecomo questo.

    De um lado, os trabalhos que discutem as polticas setoriais de sadepouco avanam na compreenso da sua dimenso espacial. Quando o fazem,transformam o espao num espao-superfcie, suporte de relaes sociais,"divorciado do tempo". Isto resulta na perda da apreenso das diferenas dasformaes econmico-sociais.

    Estes mesmos trabalhos mostram-nos fartos exemplos dos diversossignificados que a questo da inovao tecnolgica assume para seus autores.

    Posicionando-nos diante desta produo terica, pensamos naperspectiva do espao enquanto umproduto que reflete historicamente aestrutura scio-econmica e comocondio da reproduo desta mesmaestrutura.

    O capitalismo desenvolveu-se ocupando espao, produzindo espao. Sea introduo de novos equipamentos mdico-hospitalares na prtica mdica

    acaba por subjugar o processo de trabalho mdico aos interesses do capitalindustrial, esta s foi possvel espacializando-se.

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    Assim que L