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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. – UNIVALI
GABRIELA CORRÊA KLEINE
A REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM CASO DE EMBRIAGUEZ HABITUAL
Biguaçu
2015
1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
GABRIELA CORRÊA KLEINE
A REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM CASO DE EMBRIAGUEZ HABITUAL
Monografia submetida à Universidade do
Vale do Itajaí, como requisito parcial para
a obtenção do grau de Bacharel em
Direito, pela Universidade do Vale do
Itajaí, Centro de Ciências Sociais e
Jurídicas, campus de Biguaçu.
Biguaçu, 05, junho de 2015.
2
GABRIELA CORRÊA KLEINE
A REVERSÃO DA JUSTA CAUSA EM CASO DE EMBRIAGUEZ HABITUAL
Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de Concentração: Direito do Trabalho
Biguaçu/SC, 05 de Junho de 2015.
Prof. MSc. Leonardo Vieira de Ávila
UNIVALI – Campus Biguaçu
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, principalmente, a minha mãe, que não mediu
esforços pela minha formação e educação que sempre me proporcionou. A minha
irmã e meus amigos que sempre me apoiaram e me incentivaram.
4
AGRADECIMENTOS
“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse
por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos
impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam
muito.” Chico. Xavier.
Cada ciclo que se encerra na nossa vida é necessário agradecer, por toda
a oportunidade que nos foi dada e por termos vencido mais um obstáculo. Agradeço,
primeiramente, a Deus, por estar sempre ao meu lado, iluminando meu caminho.
No entanto, o agradecimento de mais um ciclo encerrado vai em especial
a minha mãe, que nunca mediu esforços para me dar uma educação digna. Sempre
batalhou para o melhor, não poupando conselhos, apoio e incentivos para que eu
vencesse mais essa etapa. Sou grata a ela por todos os ensinamentos e agradeço
todos os dias por tê-la ao meu lado.
Agradeço também a minha irmã, que sempre me apoiou e me incentivou
em cada escolha que eu tive.
Não posso deixar de agradecer ao meu orientador, Leonardo Ávila, que
não poupou esforços para a realização e conclusão do presente trabalho, além de
todos os ensinamentos durante toda a jornada acadêmica, foi um professor e
orientador que levarei para sempre na minha memória.
Não posso deixar de agradecer todos os professores que me
acompanharam durante a graduação, vocês foram essenciais a minha formação.
E por fim, agradeço aos meus amigos que sempre estiveram ao meu
lado. Foi com vocês que compartilhei minhas angústias, minhas preocupações,
minhas alegrias e tantas outras coisas durante todos esses anos.
A todos vocês, o meu muito obrigada!
5
“Aprenda a viver dentro de suas possibilidades. Buscar
uma vida de aparências, fora da sua realidade, só o leva
para um abismo sem volta. Construa a sua vida aos
poucos, lutando a cada dia e extraindo da vida o que ela
tem de melhor: a simplicidade.”
Chico Xavier.
6
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu,_____de______2015.
Gabriela Corrêa Kleine
Bacharel(a)
7
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CF/88 Consolidação Federativa da República do Brasil de 1988
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CPC Código de Processo Civil
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
MP Medida Provisória
OMS Organização Mundial da Saúde
PDV Plano de Demissão Voluntária
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
8
ROL DE CATEGORIAS
Direito Do Trabalho: Conjunto de princípios e regras jurídicas aplicáveis às
relações individuais e coletivas de trabalho subordinado, de caráter eminentemente
social, destinados à melhoria das condições de emprego.1
Contrato De Trabalho: É o acordo tácito ou expresso mediante o qual ajustam as
partes pactuam direitos e obrigações recíprocas.2
Justa Causa: Consiste na prática do ato doloso ou culposamente grave por uma
das partes e pode ser o motivo determinante da resolução do contrato.3
Empregador: Pessoa física ou jurídica que, assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços.4
Empregado: Toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário, conforme dispõe o art. 3
da CLT.5
1 ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14.
ed. São Paulo: Rideel, 2014. p. 30. 2 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. p. 503.
3 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
4 SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo: Método, 2014. p.82 5 VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto
Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.903.
9
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................ 11
ABSTRACT ........................................................................................................ 12
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13
1.DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO .............................................. 15
1.1 BREVE HISTÓRICO ..................................................................................... 15
1.2 CONCEITO ................................................................................................... 18
1.3 NATUREZA JURÍDICA ................................................................................. 19
1.4 CARACTERÍSTICAS .................................................................................... 22
1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE TRABALHO ............................... 27
1.5.1 Quanto à Forma de Celebração................................................................. 28
1.5.2 Quanto à Forma de Consentimento ........................................................... 29
1.5.3 Quanto aos Sujeitos Contratuais ............................................................... 30
1.5.4 Quanto à Duração...................................................................................... 31
1.6 DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO ........................................ 35
2.DA JUSTA CAUSA ......................................................................................... 40
2.1 CONCEITO ................................................................................................... 40
2.2 DISPOSIÇÕES LEGAIS ACERCA DA JUSTA CAUSA ................................ 41
2.2.1 Taxatividade .............................................................................................. 41
2.2.2 Forma e Local ............................................................................................ 42
2.3 ÔNUS DA PROVA ........................................................................................ 43
2.4 HIPÓTESES LEGAIS .................................................................................... 43
2.4.1 Ato de Improbidade .................................................................................... 43
2.4.2 Incontinência de Conduta .......................................................................... 44
2.4.3 Mau Procedimento ..................................................................................... 44
2.4.4 Negociação Habitual .................................................................................. 45
2.4.5 Condenação Criminal ................................................................................ 45
2.4.6 Desídia ....................................................................................................... 46
2.4.7 Violação de Segredo da Empresa ............................................................. 47
2.4.8 Indisciplina e Insubordinação ..................................................................... 47
10
2.4.9 Abandono de Emprego .............................................................................. 47
2.4.10 Ato Lesivo à Honra e Boa Fama .............................................................. 48
2.4.11 Ofensa Física ........................................................................................... 49
2.4.12 Prática Constante em Jogos de Azar ....................................................... 49
2.4.13 Atos Atentatórios à Segurança Nacional ................................................. 49
2.5 JUSTA CAUSA EM CASO DE EMBRIAGUEZ ............................................. 50
2.6 AÇÃO DE REVERSÃO DA JUSTA CAUSA ................................................. 54
2.6.1 Fundamentos para Propositura ................................................................. 55
3. ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS ................................................................ 59
3.1 EMBRIAGUEZ HABITUAL ............................................................................ 59
3.2 EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO ....................................................................... 63
3.4 ÔNUS DO EMPREGADOR .......................................................................... 67
3.5 ÔNUS DO EMPREGADO ............................................................................. 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 73
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ......................................................... 75
11
RESUMO
Trata-se de pesquisa monográfica acerca da reversão da justa causa em caso de
embriaguez habitual. Os contratos de trabalho podem ser realizados com prazo
determinado para sua cessação ou por prazo indeterminado. Os que possuem prazo
indeterminado possuem várias formas para que seja extinto, uma delas é a justa
causa. Será considerado dispensa por justa causa todos os casos que se
enquadram no rol taxativo do art. 482 da CLT, dentre eles, há a embriaguez habitual
e em serviço. No entanto, atualmente, segundo decisões jurisprudenciais e a
classificação Organização Mundial de Saúde, a embriaguez habitual é considerada
doença, e, portanto, não poderá o empregado ser dispensado por justa causa,
devendo o empregador o encaminhar ao órgão de Previdência Social, ou seja, o
INSS, para que seja afastado para o devido tratamento. Sendo assim, é cabível
apenas a dispensa por justa causa em caso de embriaguez em serviço. Para atingir
o objetivo da pesquisa, serão apresentados os pontos de vistas doutrinários e
jurisprudenciais acerca do tema. A presente monografia está inserida na Linha de
Pesquisa Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário.
Palavras-chave: Justa causa. Embriaguez habitual. Embriaguez em serviço.
Alcoolismo. Doença.
12
ABSTRACT
This is a monographic research about the reversion of dismissal for due cause in
case of habitual drunkenness. Employment contracts can be signed with fixed term
to end or for an indefinite period. The open-ended contracts have many forms to be
terminated, one of them is the due cause. It will be considered just cause for
dismissal all cases established by the restrictive list of article 482 of Labor Code,
among them there is the usual drunkenness and the drunkenness during working
hours. However, nowadays, according to court decisions and World Health
Organisation’s classification, the usual drunkenness is considered a disease and
therefore the employee can not be dismissed for due cause, in which case the
employer must refer him to Social Security’s agency where he can be removed from
work to perform the appropriate treatment. For this reason, the dismissal with due
cause is only applicable in case of drunkenness during working hours. To achieve
the purpose of this research, will be presented points of view from doctrine and
jurisprudence about the theme.
Keywords: Due Cause. Usual Drunkenness. Drunkenness during Working hours.
Alcoholism. Disease.
13
INTRODUÇÃO
“Enquanto você sonha, você está fazendo o rascunho do
seu futuro.” Charles Chaplin.
Atualmente, a embriaguez é considerada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) uma doença, onde o alcoólatra é aquela pessoa que bebe
compulsivamente, cuja dependência causa transtornos na vida profissional e
pessoal do dependente.
Sendo assim, o alcoólatra não poderá ser dispensado do trabalho por
beber no ambiente de trabalho, deverá o empregador o afastar através do órgão
Previdenciário Social para que, assim, busque o devido tratamento.
É nesse contexto que se insere o tema da presente pesquisa, qual seja: a
reversão da justa causa em caso de embriaguez habitual.
Por conseguinte, para abordagem do tema, o presente trabalho encontra-
se pautado nas seguintes premissas: embriaguez habitual e/ou embriaguez em
serviço; ação de reversão; ônus de provar a embriaguez.
Quanto à problemática de estudo, destacam-se os questionamentos
jurídicos com relação ao que é considerado embriaguez habitual, e o que é
embriaguez em serviço, e como será considerada a sua dispensa por justa causa.
No que tange aos procedimentos metodológicos, será utilizado o método
de pesquisa bibliográfica exploratória, onde consiste no estudo através de doutrinas,
bem como jurisprudências dos principais tribunais trabalhistas. Com relação ao
procedimento de abordagem, será utilizado o método dedutivo, ou seja, é o método
que se baseia no estudo das leis e doutrinas. De tal modo, iniciou-se o presente
trabalho com o estudo dos contratos de trabalho e sua origem, finalizando com a
conclusão sobre o referido tema, a respeito da reversão da justa causa em caso de
embriaguez habitual.
Para análise do tema proposto, a pesquisa encontra-se dividida em três
capítulos de desenvolvimento, quais sejam:
14
Iniciou-se com a presente introdução, na qual foi apresentado o referido
tema, além dos métodos utilizados, bem como, o objetivo e a estrutura da presente
pesquisa.
No primeiro capítulo será apresentado um breve histórico com relação
aos contratos de trabalho, no qual surgiram desde a Revolução Industrial, logo em
seguida, passou a se estudar sobre todos os aspectos com relação aos contratos de
trabalho, sua classificação e características, segundo a Consolidação das Leis
Trabalhistas, além de suas formas para extinção do mesmo.
No capítulo seguinte será estudado a respeito da justa causa, uma das
formas de extinção do contrato de trabalho, na qual suas hipóteses estão descritas
em um rol taxativo, que deverão se coadunar outras disposições legais a respeito do
tema, tais como imediaticidade, proporcionalidade e entre outros. Será examinado
ainda a respeito da ação de reversão de justa causa e seus procedimentos.
No último capítulo serão abordados todos os aspectos jurisprudenciais
acerca da embriaguez habitual e a embriaguez em serviço, bem como sua
caracterização, e a quem incumbe provar a dispensa em caso de tal hipótese. Será
estudado, portanto, o tema principal da referida pesquisa.
E por fim, tem-se a conclusão, a qual traz as considerações finais sobre o
referido tema.
15
CAPÍTULO 1
DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO
Nesse capítulo serão abordados o conceito de contrato de trabalho, as
principais características na formação de um contrato de trabalho e na relação de
emprego entre empregado e empregador, como a subordinação, onerosidade, intuitu
personae, e etc., bem como analisará as suas principais classificações quanto a sua
forma de celebração e consentimento, além da sua duração, onde veremos que
poderá existir contrato de trabalho com prazo determinado e com prazo
indeterminado para o seu término, sua natureza jurídica, e sem esquecer de como
surgiu os contratos de trabalhos nas relações de trabalho. Serão abordadas também
as formas de extinção do contrato de trabalho.
1.1 BREVE HISTÓRICO
Na Antiguidade Clássica, no mundo grego romano, o trabalho possuía um
sentido material, era reduzida a coisa, o que tornou possível a escravidão. A
condição de escravo derivava do fato de nascer de mãe escrava, de ser prisioneiro
de guerra, de condenação penal, de descumprimento de obrigações tributárias, de
deserção do exército, entre outras razões. 6
Nessa forma de trabalho, o homem perde a posse de si mesmo. Ao
escravo era confiado trabalho manual, considerado vil, enquanto os homens livres
dedicavam-se ao pensamento e à contemplação, para os quais os escravos eram
considerados incapazes.7
O Direito do Trabalho e o contrato de trabalho passaram a desenvolver-se
com o surgimento da Revolução Industrial. Com os novos métodos de produção, a
agricultura também passou a empregar um número menor de pessoas, causando
desemprego no campo. 8
6 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
7 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
16
Inicia-se assim, a substituição do trabalho manual para o trabalho com o
uso de máquinas. Havia necessidade de que as pessoas viessem, também, a operar
as máquinas não só a vapor, mas as máquinas têxteis, o que fez surgir o trabalho
assalariado. Daí nasce uma causa jurídica, pois os trabalhadores começaram a
reunir-se, a associar-se, para reivindicar melhores condições de trabalho e de
salários, diminuição da jornada excessiva (os trabalhadores prestavam serviços por
12, 14 ou 16 horas diárias) e contra a exploração de menores e mulheres.9
Substituía-se o trabalho adulto pelo das mulheres e menores, que
trabalhavam mais horas, recebendo salários inferiores. A partir desse momento,
surge uma liberdade na contratação das condições de trabalho. O Estado, por sua
vez, deixa de ser abstencionista, para se tornar intervencionista, interferindo nas
relações de trabalho.10
O Estado estava atuando para a manutenção da ordem pública. Não
intervinha nas relações privadas. Acarretava a exploração do homem pelo próprio
homem. O trabalho era considerado mercadoria. Como havia muita oferta de
trabalhadores e pouca procura, o empregado aceitava as condições impostas pelo
patrão, recebendo salários ínfimos e trabalhando 15 horas por dia, sem descanso ou
férias.11
Essas mudanças desencadearam a discussão sobre a flexibilização do
empregado, cujos significados variam conforme o sistema legal que se adote e o
grau de desenvolvimento dos países. Muitos sustentavam que a predominância de
norma imperativa nos institutos jurídicos era o fato gerador da crise das empresas,
uma vez que lhes retirava as possibilidades de se adaptarem-se a um mercado
turbulento.12
Afirmavam que a rigidez daí advinda impedia a competitividade das
economias europeias e o aproveitamento das oportunidades de inovação
tecnológica. Outros, ao contrário, atribuíram a culpa pela crise econômica à estrutura
orgânica e aos métodos de gestão, típicos da concepção fordista da produção, e
9 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
10 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
12 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
17
viam a rigidez das instituições mais como um resultado da crise do que como sua
origem.13
A experiência interindividual e social dos últimos duzentos anos
encarregou-se de demonstrar quão quimérica e falaciosa podem ser essas noções
de liberdade e a vontade, no contexto das relações entre pessoas e grupos sociais.
O Direito do Trabalho, a propósito, é fruto da descoberta do caráter um tanto
falacioso e quimérico de semelhante equação jurídica. 14
Não obstante, as graves limitações à liberdade e ao exercício pessoal da
vontade em inúmeras situações contemporaneamente relevantes, preserva-se como
essencial o reconhecimento de que tais valores são dados inerentes à contextura
das relações sociojurídicas típicas do mundo contemporâneo. É que esse
reconhecimento permite vislumbrar-se um potencial de avanço e desenvolvimento
do plano da liberdade e vontade no quadro das relações humanas –
desenvolvimento e avanço inviáveis em estruturas sociojurídicas que não tivessem
tais elementos como integrantes estruturais de suas relações características. 15
No Direito do Trabalho, a figura do contrato desponta com toda sua faceta
enigmática. É que, de um lado, está-se diante talvez do mais eloquente exemplo de
contrato de adesão fornecido pelo mundo contemporâneo, onde o exercício da
liberdade e vontade por uma das partes contratuais – o empregado – encontra-se
em polo extremado de contingenciamento. 16
De outro lado, porém, a simples presença das noções de liberdade e
vontade no contexto dessa relação contratual já alerta para o potencial de ampliação
de seu efetivo cumprimento em harmonia com avanços sociopolíticos democráticos
conquistados na história.17
13
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 14
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 15
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 16
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 17
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013.
18
1.2 CONCEITO
Define-se o contrato de trabalho como negócio jurídico expresso ou tácito
mediante o qual uma pessoa natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou
ente despersonificado a uma prestação pessoal, não eventual, subordinado e
onerosa de serviços.18
A denominação contrato de trabalho surge com a Lei nº 62, de 5/6/1935,
que tratou da rescisão do pacto laboral.19 Pode ser definido o contrato empregatício
como o acordo de vontades, tácito ou expresso pelo qual uma pessoa física coloca
seus serviços à disposição de outrem, a serem prestados como personalidade, não
eventualidade, onerosidade e subordinação ao tomador.20
Portanto, contrato individual de trabalho é o acordo de vontades, tácito ou
expresso, pelo qual uma pessoa física, denominado empregado, compromete-se,
mediante o pagamento de uma contraprestação salarial, a prestar trabalho não
eventual e subordinado em proveito de outra pessoa, física ou jurídica, denominada
empregador.21
Contrato de trabalho é gênero, e compreende o contrato de emprego.
Contrato de trabalho poderia compreender qualquer trabalho, como o do autônomo,
do eventual, do avulso, do empresário etc. Contrato de emprego diz respeito à
relação entre empregado e empregador e não a outro tipo de trabalhador. Daí por
que se falar em contrato de emprego, que fornece a noção exata do tipo de contrato
que estaria sendo estudado, porque o contrato de trabalho seria o gênero e o
contrato de emprego, a espécie.22
Representa o contrato de trabalho um pacto de atividade, pois não se
contrata um resultado. Deve haver continuidade na prestação de serviços, que
deverão ser remunerados e dirigidos por aqueles que obtêm a referida prestação.
18
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 19
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 20
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 21
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 22
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
19
Tais características evidenciam a existência de um acordo de vontades,
caracterizando a autonomia privada das partes.23
1.3 NATUREZA JURÍDICA
Várias teorias surgiram relacionando a natureza jurídica do contrato de
trabalho aos contratos típicos do Direito Civil, como o contrato de compra e venda, o
arrendamento, a empreitada, a locação de serviços, a sociedade, o mandato, a
parceria etc., o que não foi aceito pelos operadores do Direito, uma vez que as
características do contrato de trabalho não se compatibilizam com os diplomas
civilistas acima relacionados.24
O contrato de trabalho compreende obrigações de fazer por partes do
empregado, de prestar serviços. As teorias mais modernas que pretendem explicar a
natureza jurídica do contrato de trabalho são a teoria contratualista e a teoria
anticontratualista.25
A teoria contratualista indica a natureza contratual da relação entre
empregado e empregador. Trata de vínculo de natureza contratual, pois a
manifestação de vontade, dando origem ao vínculo de trabalho, e possibilidade a
sua manutenção, pode se apresentar de forma expressa ou mesmo tácita. A
liberdade de trabalho, assim, deve ser garantida como preceito fundamental.26
Segundo Barros (2012, p. 189), “As teorias contratualistas procuram
identificá-lo a um contrato de direito civil: ora a uma compra e venda, ora a uma
locação, ora a uma sociedade, ora a um mandato.”27
Martins (2014, p. 102), diz que “A teoria predominante entende que o
contrato de trabalho tem natureza contratual. Trata-se de um contrato, pois depende
de única e exclusivamente da vontade das partes para sua formação. Há, portanto,
23 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 24
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 25
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 26
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 27
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. p. 189.
20
um ajuste de vontades entre as partes. Os efeitos do contrato não derivam apenas
da prestação de serviços, mas daquilo que foi ajustado entre as partes. 28
A execução é decorrente do que foi ajustado. O mero ajuste de vontades
produz, portanto, efeitos jurídicos. A eficácia jurídica ocorre desde o ajuste das
partes, adquirindo eficácia com a execução do trabalho. A liberdade em assentir, em
ajustar o contrato de trabalho, é fundamental. 29
O trabalho do empregado é livre, assim como é livre a vontade da pessoa
passar a trabalhar para a empresa. “A existência do contrato pode também ocorrer
com a prestação de serviços sem que o empregador a ela se oponha,
caracterizando o ajuste tácito. ”30
Já a teoria anticontratualista tenta explicar que a natureza jurídica do
contrato de trabalho, identifica com o contrato de sociedade, argumenta que tanto o
empregado quanto o empregador colocam em comum, respectivamente, trabalho e
capital, tendo em vista dividir o benefício que daí se origina. Embora essa teoria seja
mais condizente com a dignidade humana, não pode ser aceita, exatamente porque
no contrato de trabalho não há affectio societatis, ou seja, a comunhão de interesse
na proporção existente no contrato de sociedade. 31
Aliás, infere-se do próprio conceito do art. 2 da CLT que, quem assume os
riscos do empreendimento econômico é o empregador, portanto, só ele poderá
participar das perdas; em compensação, ele participa dos lucros de forma muito
mais intensa do que os empregados. Ora, na sociedade, os sócios participam, em
tese, das perdas e dos lucros de forma igualitária.32
Segundo, Garcia (2013, p. 136):
a teoria da relação de trabalho defende que a existência do vínculo trabalhista não exige pactuação ou manifestação da vontade neste sentido, bastando a ocorrência (objetiva) da prestação dos serviços, o que já seria suficiente para fazer incidir as regras jurídicas pertinentes, evidenciando uma relação de natureza estatutária.
28
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 102. 29
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 30
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p 102. 31
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 32
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
21
Entende-se que o trabalho, em si, já faz com que o empregado seja
inserido na empresa.33
Nesse sentido, a teoria negava a natureza contratual do Direito do
Trabalho, negando a manifestação da vontade do empregado. A teoria
anticontratualista não progrediu, uma vez que desconsiderava a manifestação de
vontade das partes, essencial ao contrato de trabalho.34
Alguns doutrinadores entendem ainda que há uma terceira teoria, a teoria
mista, ou teoria da concepção tripartida.
Segundo Martins (2014, p. 102):
a teoria da concepção tripartida do contrato de trabalho seriam três seus elementos: haveria um contrato preliminar destinado à futura constituição da relação de emprego, devendo o trabalhador se apresentar em determinada data e o empregador permitir o trabalho; relação de inserção na empresa, o trabalhador iria se inserir na empresa, cumprindo o contrato de trabalho; e o acordo de vontades, estabelecido pelo contrato em que seriam estabelecidas as condições de trabalho. Afirma-se que o contrato preliminar estaria inserido no contrato de trabalho ou seria uma das cláusulas do pacto
laboral.35
Assim, prevalece no Brasil, como regra geral, a forma livre de celebração
do contrato, que pode assumir o caráter expresso (verbal ou escrito) ou tácito.
Inferem-se do art. 468 da CLT que a legislação brasileira adotou a corrente
contratualista, mas o art. 2, 503 e 766 da CLT enquadram-se na corrente
anticontratualista, confundindo empregador com a empresa.36
Predomina, entretanto, a teoria contratualista, considerando a vontade
como elemento indispensável à configuração do contrato.37 Entende-se, então, que
o contrato de trabalho tem natureza contratual. É o pacto laboral um contrato típico,
33
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p.. 136. 34
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 35
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 102. 36
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 37
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
22
nominado, com regras próprias, distinto do contrato de locação de serviços do
Direito Civil, de onde se desenvolveu e se especializou.38
A relação de trabalho é gênero, englobando a prestação de serviços do
funcionário público, do empregado, do avulso, do autônomo, do eventual, do
empresário. Relação de emprego é sua espécie. Contrato de trabalho é gênero,
sendo espécie o contrato de emprego. 39
Mesmo no regime em que a legislação estabelece cotas para admissão
do empregado, como de deficientes, de aprendizes, o empregado só irá trabalhar na
empresa se assim o desejar, indicando também o ajuste de vontade entre as
partes.40
1.4 CARACTERÍSTICAS
Trata-se de um contrato de direito privado, sinalagmático, de execução
continuada, consensual, intuitu personae em relação ao empregado, oneroso e do
tipo subordinativo.41
É considerado contrato de direito privado, pois a essência do contrato
(prestação de serviço) é de natureza privada, inclusive, quando o Estado é o
empregador, pois neste caso age como particular, sem privilégios frente ao Direito
do Trabalho. Ademais, os sujeitos dos contratos são particulares.42
Segundo, Delgado (2013, p. 507)
O posicionamento desse contrato no âmbito privado do Direito é, hoje, indubitável, embora já tenha sido, em períodos passados do ramo justrabalhista, objeto de certa controvérsia. Tal posicionamento deriva da natureza essencialmente privada não só dos sujeitos pactuantes (mesmo o Estado, quando contrata empregados, via CLT, age como particular, sem prerrogativas especiais em face da legislação trabalhista, como também dos interesses envolvidos e, por fim, da própria relação central desse contrato.43
38 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 39
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 40
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 41
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 42
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 43
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. p. 507.
23
Nesse mesmo sentido, Saraiva (2014, p. 99) diz que:
As partes são livres para estipular as cláusulas do contrato, desde que respeitem as normas de proteção mínima ao trabalhador, inscritas na CFRB/88 e no diploma consolidado.44
É considerado um contrato bilateral, pois envolve obrigações de ambas as
partes, caracterizando-se por ser sinalagmático, tendo em vista a reciprocidade no
conjunto das prestações.45
Segundo, Martins (2014, p. 109) “a um dever do empregado corresponde
um dever do empregador. O dever de prestar o trabalho corresponde ao dever do
empregador de pagar salário, que se constitui num direito do empregado, daí sua
comutatividade e bilaridade.”46
Nesse mesmo aspecto, Resende (2012, p. 249) diz que:
É contrato sinalagmático, porque dá origem a obrigações contrárias, contrapostas. Há um equilíbrio, ainda que apenas formal, entre as prestações de ambas as partes. Essa característica aparece se considerado o contrato como um conjunto de direitos e obrigações para ambas as partes. Do contrário, não haveria sinalagma durante a interrupção contratual, em que o empregado não presta serviços, pelo que faltaria a obrigação do empregado.[...] É sinalagmático, no sentido de que é bilateral e cria obrigações para ambas as partes, e comutativo, no sentido que há equivalência entre a prestação de serviço e a contraprestação salarial.47
Será considerado um contrato consensual, em contraposição ao contrato
formal ou solene. Com efeito, o contrato de trabalho exige apenas o acordo entre as
partes, ou seja, o mero consentimento, independentemente de qualquer solenidade
(pode ser até tácito) ou forma especial (pode ser verbal ou escrito, se expresso, ou,
repita-se, apenas tácito).48
44
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.p.99. 45
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 46
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p.109. 47
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. p 249. 48
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
24
Para Garcia (2013, p. 146), “o contrato é consensual, uma vez que se
aperfeiçoa com o consenso na manifestação de vontade, expressa ou tácita, não
exigindo a entrega da coisa (como ocorre nos contratos reais), nem qualquer
formalidade ou solenidade.”49
A prestação de serviços é de trato sucessivo, não se esgota com a
realização de um ato singular. Ela pressupõe a execução de prestações na
organização empresarial, apesar da intermitência da relação jurídica e da
condescendência dos critérios diretivos do empregador, no tocante a determinados
empregados.50
No tocante ao contrato de trabalho, cumpre salientar que o ajuste
dispensa formalidades, salvo algumas exceções. A regra geral é traduzida pela
consensualidade, a qual se caracteriza pela ausência de formas especiais prescritas
em lei, sendo suficiente para atribuir validade ao contrato, o simples consentimento.
Ressalta-se, entretanto, que existem contratos de trabalho cuja formalidade é
exigida, sem, contudo perderem a característica consensual.51
É considerado intuito personae, pois envolve uma única parte contratual,
o empregado, sendo estranha ao outro ente pactuante (no que tange ao empregador
predomina, como se sabe, a impessoalidade, isto é, a despersonalização de sua
figura contratante).52
Enquanto o empregador é figura subjetivamente infungível no contexto do
contrato de trabalho, sob pena de descaracterizar-se esse contrato, autoriza a
ordem justrabalhista, em princípio, a plena fungibilidade da figura do empregador,
que pode, assim, ser sucedido por outrem no contexto da mesma relação de
emprego.53
49
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 146. 50
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 51
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 52
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. 53
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013.
25
O empregado não poderá se fazer substituir por outrem na prestação de
serviços, salvo esporadicamente e com a aquiescência do empregador.54 Assim,
nesse mesmo sentido, Barros (2012, p. 187) diz que:
O caráter personalíssimo da relação de emprego deriva, do fato de o empregador colocar à disposição do empregador sua energia psicofísica e não da infungibilidade da prestação de serviços, pois é sabido que no âmbito da organização empresarial existem funções que pressupõem qualificações relativamente homogêneas, em que é normal a substituição de um trabalhador por outro, como também em um regime de revezamento. Esse caráter intuitu personae da prestação de serviços admite outras temporárias oi particulares exceções nas hipóteses de suspensão do contrato (afastamento por
doença, parto, acidente, greve, etc.).55
É necessária a pessoalidade em relação ao empregado, ou seja, o
contrato se forma em razão da pessoa do empregado. Como se sabe, não há
pessoalidade em relação ao polo passivo do liame empregatício, sendo regra a
despersonalização do empregador, o que fundamenta, por exemplo, a sistemática
da sucessão de empregadores. Essa característica é também chamada de
infungibilidade, pois o empregado não pode, em regra, ser substituído por outro.56
A onerosidade é também um dos caracteres do contrato de trabalho. O
empregado aceita trabalhar em favor de outrem, na medida em que é compensado
com um salário. Ele não descaracteriza se a obrigação de dar (pagar salário)
assumida pelo empregador em relação a determinados empregados verifica-se por
meio de fornecimento in natura, como alimentação ao rurícola, de cachê ao artista
ou, no tocante ao atleta, por exemplo, a título de luvas ou bichos, pois estas são as
formas especiais de retribuição dos empregados sujeitos de uma relação especial de
trabalho. 57
Cumpre salientar que a ausência da onerosidade só descaracteriza o
contrato de emprego quando o trabalhador voluntariamente dela se despoja,
trabalha gratuitamente, do contrário, o que existe é moral salarial do empregador.58
54
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 55
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. p.. 187. 56
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 57
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 58
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
26
No que diz respeito à onerosidade, Garcia (2013, p. 146) ainda completa
que:
A onerosidade significa que os serviços prestados têm como contraprestação o recebimento de remuneração, não se tratando, assim, de trabalho gratuito. O empregado trabalha com o fim de receber salário, sendo este seu objetivo ao firmar o pacto laboral. Isso significa a existência do chamado animus contrahendi, no sentido de intenção de formar o pacto laboral, com o intuito do empregado, ao contratar, de receber a contraprestação pela prestação de seu serviço, ou seja, a remuneração, para que se possa falar em relação de emprego.59
Sendo assim, a onerosidade consiste na previsão de perdas e vantagens
econômicas para ambas as partes no âmbito do contrato: há troca de sacrifícios e
vantagens na dinâmica contratual; há transferência recíproca, ainda que desigual, de
riquezas entre as partes contratuais.60
No contexto empregatício essa troca faz-se substantivamente através do
contraponto, prestação de trabalho versus parcelas salariais. Se a prestação de
serviços realizar-se sem intuito contraprestativo por parte do prestador, o contrato
existente não será o emprego, por falta da onerosidade que lhe é atávica. Observa-
se, que não descaracteriza a onerosidade o fato de ser a remuneração paga
parcialmente por terceiros (gorjetas) ou in natura.61
Por fim, a subordinação, considerado o requisito de maior relevância na
caracterização da relação de emprego, significa que a prestação dos serviços é feita
de forma dirigida pelo empregador, o qual exerce o poder de direção. O empregado,
inserido na organização da atividade do empregador, deve seguir as suas
determinações e orientações, estabelecidas dentro dos limites legais.62
59
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 146. 60
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 61
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. 62
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
27
Segundo, Barros (2012, p. 189), “o traço característico da subordinação é
a observância a diretivas constantes e analíticas sobre o modo e o tempo em que
deverá ser executada a prestação de serviços.”63
Nesse mesmo sentido, Garcia (2013, p. 144) diz que:
O empregador é quem corre os riscos da atividade exercida. O empregado, assim, presta serviços por conta alheia, o que
corresponde a “alteridade”, presente no contrato de trabalho.64
Logo, o obreiro exerce sua atividade com dependência ao empregador,
por quem é dirigido. O empregador é, por conseguinte, um trabalhador subordinado,
dirigido pelo empregador. O trabalhador autônomo não é empregado justamente por
não ser subordinado a ninguém, exercendo com autonomia e assumindo os riscos
de seu negócio.65
1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE TRABALHO
Os contratos de trabalho podem desse modo, ser expressos ou tácitos,
conforme o tipo de expressão da manifestação de vontade característica do pacto
efetivado.66
Podem ser ainda, individuais (contrato individual de trabalho) ou plúrimos,
conforme o número de sujeitos ativos (empregados) componentes do respectivo
polo da relação jurídica. Podem, finalmente, ser por tempo indeterminado ou por
tempo determinado, conforme a previsão de sua duração temporal.67
Há uma variedade de critérios para a classificação dos contratos de
trabalho. Eles se classificam quanto à forma de celebração, em escritos ou verbais;
quanto ao consentimento, em expressos ou tácitos; quanto aos sujeitos, em contrato
63
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. p. 189. 64
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 144. 65
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 66
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. 67
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013.
28
individual e contrato de equipe; quanto à duração, o contrato poderá ser
determinado ou indeterminado, e etc.68
1.5.1 Quanto à Forma de Celebração
O contrato de trabalho não tem necessariamente uma forma para ser
realizado. Pode tanto ser escrito como verbal. Qualquer contrato poderá ser feito
verbalmente, bastando haver o ajuste entre as partes.69
Não obstante, também pode ser firmado um contrato escrito por meio de
assinatura, pelas partes, de pacto específico, contendo o nome e qualificação do
empregador, o objeto do contrato, direitos e obrigações dos contratantes, jornada e
etc.70
No que diz respeito ao contrato de trabalho realizado da forma escrito,
Martins (2014, p. 118) ainda dispõe:
Devem constar por escrito os contratos de trabalho quando o exigir uma disposição legal e, em todo caso, os celebrados para a formação, por tempo ou obra ou serviço determinado, cuja duração seja superior a quatro semanas. O mesmo ocorre com os contratos a tempo parcial, de prática e a domicílio. Não observada essa exigência, o contrato de trabalho será considerado por tempo indeterminado, exceto se houver prova em sentido contrário, demonstrando sua natureza transitória. Em todo caso, qualquer das partes pode exigir que o contrato se formalize por escrito, inclusive
durante o transcurso da relação de trabalho.71
E será considerado contrato verbal os contratos cuja sua função de
informalidade ser uma característica do contrato de trabalho, admite expressamente
o art. 443 da CLT, consolidando a pactuação de liame empregatício verbal. O fato de
a CTPS não ter sido assinada, no prazo de 48 horas, contado da admissão, gera
68
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 69
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 70
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 71
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 118.
29
simples ilícito administrativo, nada impedindo que as partes tenham pactuado
verbalmente o contrato de emprego, fixando salário, horário, objeto, etc.72
No entanto, existem alguns contratos que necessariamente devem ser por
escrito. Exemplo: menor aprendiz, atleta profissional de futebol, contrato de trabalho
temporário e etc.73
1.5.2 Quanto à Forma de Consentimento
O ajuste contratual trabalhista pode firmar-se mediante duas modalidades
de expressão da vontade das partes. A primeira, concernente a uma relação
explícita, pela qual as partes estipulam o conteúdo básico de seus direitos e
obrigações recíprocas, trata-se dos contratos expressos74.
A segunda modalidade de revelação da vontade das partes é a tácita.
Pelo ajuste tácito o contrato revela-se em face de um conjunto de atos coordenados
das partes, indicativos da presença de uma pactuação empregatícia entre elas, sem
que exista um instrumento expresso enunciador dessa pactuação, trata-se dos
contratos tácitos.75
É expresso o contrato que foi acordado de forma clara, precisa, sendo
todas as cláusulas e condições do pacto laboral previamente acordadas. O contrato
expresso poderá ser escrito ou verbal.76
Por sua vez, será tácito o contrato de trabalho que se forma pela
presença dos elementos caracterizadores da relação de emprego, sem, contudo,
que exista uma ação direta dos contratantes no sentido da expressão do pacto. O
contrato se forma, neste caso, pelo comportamento das partes, seja comissivo ou
omissivo, no sentido da vinculação empregatícia.77
72
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo: Método, 2014. 73
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 74
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. 75
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2013. 76
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 77
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
30
Sobre esse mesmo aspecto, Martins (2014, p. 119) dispõe que
o ajuste das disposições contratuais pode ser tácito, mesmo que as partes não façam nenhum arranjo claro, inequívoco, nenhum entendimento direito e taxativo. O acordo tácito mostra que o contrato de trabalho pode ser decorrente dos fatos, sem que exista nenhum ajuste entre as partes. Com a continuidade da prestação de serviços, revela-se a vontade, a concordância na pactuação do contrato de trabalho. Quando o empregador não se opõe à prestação de serviço feita pelo empregado e utiliza-se do serviço deste, pagando-lhe salário, está evidenciando o contrato de trabalho acordado tacitamente. A frase popular “quem cala consente” bem revela a existência do acordo tácito, que pode ser transposto para o contrato de trabalho.78
1.5.3 Quanto aos Sujeitos Contratuais
Em relação aos sujeitos contratuais, poderão ser através do contrato
individual ou da forma plúrima, ou seja, por equipe. O contrato individual de trabalho
é aquele firmado entre um trabalhador (empregado) e um tomador de serviços
(empregador).79
O contrato plúrimo (ou por equipe), por sua vez, é o contrato
caracterizado pela presença de um feixe de contratos individuais e independentes
entre si, considerados sob alguns aspectos em conjunto, devido às peculiaridades
relativas à forma de prestação dos serviços.80
O contrato por equipe se caracteriza pela comunhão de interesses
indissociáveis, mantendo-se os obreiros vinculados ao empregador, de forma a
constituir uma única relação jurídica, como se o empregador fosse o grupo. O
exemplo clássico do contrato por equipe seria o dos músicos integrantes de uma
orquestra vinculada a algum clube, hotel, navio ou restaurante.81
Muito embora fosse possível a formação de um único contrato, regendo
liame empregatício com toda a equipe, as relações jurídicas seriam estabelecidas
78
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 119. 79
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 80
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 81
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.
31
individualmente entre os obreiros integrantes do grupo e o empregador, facultando-
se a cada trabalhador, isoladamente, buscar seus direitos trabalhistas na Justiça
especializada laboral.82
Logo, o contrato de trabalho individual é aquele que tem um único
empregado no polo ativo da relação jurídica formada, ao passo que o contrato
plúrimo é aquele que tem mais de um ou diversos obreiros no polo ativo dessa
mesma relação.83
A noção de pluridade constrói-se em função do sujeito operário da relação
e não se enfocando o sujeito empresarial. Por essa razão é que se manterá como
contrato individual de trabalho aquele pacto formado entre um empregado e diversos
entes integrantes de grupo econômico para fins trabalhistas.84
1.5.4 Quanto à Duração
Os contratos de trabalho podem ser por prazo determinado ou
indeterminado. No contrato de prazo determinado, as partes ajustam
antecipadamente seu termo, enquanto no contrato de prazo indeterminado não há
prazo para a terminação do pacto laboral.85
Na prática, predomina o ajuste por prazo indeterminado. Quando as
partes nada mencionam quanto ao prazo, presume-se que o contrato seja por prazo
indeterminado, que é o mais utilizado. O contrato de trabalho de prazo
indeterminado não é, porém, um contrato eterno, apenas que dura no tempo.86
Contrato de trabalho por tempo determinado é “o contrato de trabalho cuja
vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços específicos ou
ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada”.87
82
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 83
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 84
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 85
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 86
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 87
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014 p. 119.
32
A CLT estabelece quais são as hipóteses em que é possível a celebração
do contrato de trabalho por prazo determinado. Não cumprindo o prazo estabelecido,
o contrato passa a ser por prazo indeterminado.88
É também chamado de contrato a termo, onde somente pode ser fixado
por exceção, nos casos permitidos pela legislação vigente, em função do princípio
da continuidade da relação de emprego.89
Há o contrato determinado previsto na CLT, o previsto na Lei 9.601/98, o
trabalho temporário previsto na Lei 6.019/74, e por fim, o contrato de obra certa. O
contrato de trabalho por tempo determinado pode ser celebrado verbalmente, como
se verifica no art. 443 da CLT. 90
O término do pacto pode ser medido em razão do número de dias,
semanas, meses ou anos, ou em relação a certo serviço específico, como o término
de uma obra, ou, se for possível fixar aproximadamente, quando houver o término
de um acontecimento, como o término de uma colheita, que se realiza
periodicamente de variações estacionais de atividade agrária. O fato de o último dia
do contrato cair em feriado, domingo ou dia não útil não o prorroga para o dia
seguinte. Caso se observe o dia seguinte ao término do pacto, este já será de prazo
indeterminado.91
Só será válido o contrato por prazo determinado, se estiver se tratando de
serviço cuja natureza ou transitoriedade justifiquem a predeterminação do prazo
para as atividades empresarias de caráter transitório, ou em contrato de
experiência.92 É considerado serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a
predeterminação do prazo, nesta hipótese, o que importa é a natureza ou
periodicidade do serviço que vai ser desempenhado pelo empregado na empresa.93
Ilustrativamente, seria o caso de contratar um empregado,
temporariamente, para atender a um breve aumento de produção em certo período
88
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 89
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 90
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 91
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 92
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 93
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.
33
do ano (transitoriedade) ou mesmo para realizar serviços de montagem de uma
máquina (natureza).94
Já a atividade empresarial em caráter transitório, diz respeito à atividade
desempenhada pela empresa e não ao empregado ou ao serviço. A atividade da
empresa é temporária, provisória. A empresa apenas funcionaria em certas épocas
do ano, atuando, por exemplo, na produção e venda de fogos de artifício, ovos de
Páscoa, panetone de Natal, etc.95
O art. 445 da CLT dispõe o prazo máximo o que o contrato poderá ser
estipulado:
Art. 445 - O contrato de trabalho por prazo determinado não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do art. 451. Parágrafo único. O contrato de experiência não poderá exceder de
90 (noventa) dias.96
Assim, a regra geral é o limite temporal de dois anos para o contrato a
termo, sendo exceção o limite do contrato de experiência, que é de noventa dias.
Ultrapassando um dia que seja estes limites legais, o contrato é considerado por
prazo indeterminado para todos os efeitos legais.97
O art. 452 da CLT dispõe sobre a sucessão dos contratos a termo:
Art. 452 - Considera-se por prazo indeterminado todo contrato que suceder, dentro de 6 (seis) meses, a outro contrato por prazo determinado, salvo se a expiração deste dependeu da execução de serviços especializados ou da realização de certos acontecimentos.98
Assim, em regra, não poderá um contrato por prazo determinado ser
sucedido por outro da mesma natureza, antes de decorridos seis meses da extinção
94
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 95
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 96
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 939. 97
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 98
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 940.
34
do primeiro. A consequência jurídica, caso isso ocorra, é a desconsideração da
pactuação especial, ou seja, prevalece a indeterminação do prazo.99
Nos contratos por prazo determinado não há o que se falar em aviso
prévio, haja vista que as partes já sabem, desde o início, quando o contrato vai
findar, com exceção ao que dispõe o art. 481 da CLT.100
Art. 481 - Aos contratos por prazo determinado, que contiverem cláusula asseguratória do direito recíproco de rescisão antes de expirado o termo ajustado aplica-se, caso seja exercido tal direito por qualquer das partes, os princípios que regem a rescisão dos
contratos por prazo indeterminado.101
Em regra, é incompatível a estabilidade aos contratos por prazo
determinado. Admite-se, contudo, atualmente de forma majoritária na jurisprudência
do TST, a estabilidade do empregado acidentado no curso do contrato a termo.102
Já os contratos por prazo indeterminado são aqueles cuja duração
temporal não tenha prefixado termo extintivo, mantendo duração indefinida ao longo
do tempo. A indeterminação da duração dos contratos constitui regra geral incidente
aos pactos empregatícios.103
A contratação por prazo indeterminado é a regra geral do contrato de
trabalho, até mesmo como forma de concretização do princípio da continuidade da
relação de emprego.104
Assim, deverá ser pactuado sem determinação de prazo, passando o
empregado a integrar, permanentemente, a atividade empresarial, contribuindo com
seu labor para o crescimento da empresa.105
99
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 100
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 101
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 945. 102
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 103
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 104
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 105
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.
35
Em função do princípio da continuidade da relação de emprego,
celebrado um liame empregatício, a presunção relativa é de que ele tenha sido
pactuado por prazo indeterminado, cabendo ao empregador a prova em contrário,
conforme entendimento consubstanciado na Súmula 212 do TST.106
DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 - O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.107
Aplicam-se as regras atinentes à suspensão e interrupção contratuais,
garantida ao empregado, durante o período de afastamento, a incolumidade do
vínculo empregatício. Assim como, as garantias de emprego e os efeitos rescisórios
mais benéficos ao empregado.108
Assim, conclui-se que os contratos de trabalho surgiram a partir da
Revolução Industrial, onde houve muitas mudanças no nosso ordenamento até
chegarmos ao que encontramos em nossa legislação vigente. Vimos que o contrato
de trabalho é o negócio jurídico realizado entre uma pessoa natural, jurídica ou
entes despersonificados onde se obrigam a uma prestação pessoal, não eventual,
subordinada e onerosa de serviços. Podendo possuir estipulação para o seu
término, como os contratos determinados ou não há prazo fixado para o seu término,
no caso dos contratos indeterminados.
1.6 DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
A cessação do contrato de trabalho é a terminação do vínculo de
emprego, com a extinção das obrigações para os contratantes.109 Poderá de
extinguir por formas atípicas, ou seja, por morte do empregador ou do empregado,
pela extinção da empresa e/ou estabelecimento, por força maior, falência da
empresa e aposentadoria espontânea.
106
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 107
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.1932. 108
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 109
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
36
Uma das formas de rescisão do contrato de trabalho é através da
resilição, ou seja, quando uma ou ambas as partes resolvem, imotivadamente ou
sem justo motivo, romper o pacto de emprego.110
Poderá ocorrer de três modos:
a) dispensa sem justa causa – pode o empregador dispensar o
empregado sem justa causa, cessando, assim, o contrato de trabalho.
Para tanto, porém, deverá pagar as reparações econômicas pertinentes.
O empregador tem um direito potestativo de dispensar o empregado, ao
qual este não pode se opor, salvo as exceções contidas na lei. Terá
direito o empregado a aviso prévio, 13º salário proporcional, férias
vencidas e proporcionais, saldo de salários, saque do FGTS, indenização
de 40% e direito ao seguro desemprego.111
b) pedido de demissão do obreiro – é a situação na qual o trabalhador
rompe imotivadamente o pacto de emprego. Ao pedir demissão, o aviso
prévio surge não mais como um direito do trabalhador, mas sim, como um
dever, sob pena do empregador poder descontar os salários
correspondentes ao período do aviso.112
c) distrato – o pacto de emprego é extinto imotivadamente por vontade de
ambos os contratantes, por mútuo acordo. Todavia, tendo em vista os
princípios protetivos vinculados ao Direito do Trabalho, que objetivam
proteger o obreiro, parte hipossuficiente na relação jurídica de emprego,
mesmo que operalizado o distrato, ao trabalhador deverão ser
assegurados todos os direitos, como se a ruptura contratual fosse
imotivadamente deliberada pelo empregador. É muito pouco aplicado,
tendo apenas como exemplo o chamado Plano de Demissão Voluntária
110
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 111
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 402. 112
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. p. 267.
37
(PDV), muito utilizado por empresas públicas e sociedades de economia
mista.113
Outra forma de rescisão do contrato de trabalho é a rescisão, onde
corresponde à ruptura contratual decorrente de nulidade. É o que acontece quando
a administração pública, direta ou indireta, desrespeita o mandamento constitucional
insculpido no art.37, II da CF/88, e contrata servidores e/ou empregados públicos
sem a realização prévia de concurso, gerando a nulidade do contrato celebrado.114
Também pode ocorrer a rescisão contratual nos casos de contratos, cujo
objeto envolva atividade ilícita.115 E por fim, a resolução contratual, onde o término
do contrato ocorre em razão de alto faltoso praticado por uma ou mesmo, por ambas
as partes do pacto de emprego. Relaciona-se com a inexecução faltosa das
obrigações contratuais por parte de um ou dos dois contratantes, e pode ocorrer
tanto no contrato por prazo indeterminado quanto no contrato a termo.116
a) rescisão indireta - ocorre quando a falta grave é cometida pelo
empregador, justificando a brusca ruptura contratual do liame
empregatício. A única maneira de o trabalhador comprovar a rescisão
indireta do pacto de emprego consiste no ajuizamento de ação trabalhista,
postulando o consequente pagamento de verbas rescisórias em função
do reconhecimento da justa causa patronal.117
É o que dispõe o art. 483 da CLT
Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável;
113
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. p. 267. 114
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 115
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 116
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 117
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. p..277.
38
d) não cumprir o empregador às obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou
tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários.118
b) culpa recíproca – ocorra quando tanto o obreiro quanto o empregador
cometem falta grave, tipificadas, respectivamente, nos art. 482 e 483 da
CLT. Reconhecida a culpa em um contrato por prazo indeterminado, o
empregado fará jus, a título de indenização compensatória, a metade dos
40% do montante dos depósitos atinentes ao FGTS devidos em função da
dispensa imotivada, ou seja, terá direito a 20%.119
O art. 484 da CLT dispõe sobre o assunto:
Art. 484 - Havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do contrato de trabalho, o tribunal de trabalho reduzirá a indenização à que seria devida em caso de culpa exclusiva do empregador, por
metade.120
A justa causa se caracteriza pela falta grave cometida pelo empregador,
impeditiva da continuidade da relação de emprego. Onde justa causa é a forma de
demissão e falta grave é a conduta irregular do empregado que, por uma ou várias
vezes, leva a demissão por justa causa.121
As demissões por justo motivo impostas pelos empregadores são, em
inúmeras oportunidades, revertidas pela Justiça do Trabalho. Isso porque
normalmente o empregado que é demitido dessa maneira e sai da empresa,
somente com saldo de salário e férias vencidas, se houver, ingressa na justiça
118
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p..945. 119
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. p..280. 120
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 945. 121
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014.
39
laboral tentando a reversão da demissão e, consequentemente, o pagamento de
todas as parcelas rescisórias.122
No próximo capítulo será realizada uma análise sobre os principais
fatores com relação à caracterização da demissão por justa causa, suas hipóteses
legais, além de todos os requisitos para a sua admissão. Será distinguido o que é
embriaguez de serviço e a habitual, e por fim, será analisada a ação de reversão de
justa causa.
122
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014.
40
CAPÍTULO 2
DA JUSTA CAUSA
No capítulo em tese será analisada a forma de extinção do contrato de
trabalho em caso de demissão por justa causa, serão ponderados todos os seus
requisitos, suas hipóteses taxativas previstas em lei, além de ser abordada a ação
de reversão, ação esta que se se aplica no rito sumaríssimo ou ordinário quando
não é preenchido algum requisito fundamental e obrigatório para a configuração da
justa causa. Também se examinará sobre a justa causa em caso de embriaguez,
quando é possível a sua aplicação.
2.1 CONCEITO
Segundo Martins (2014, p. 404), “Justa Causa é a forma de dispensa
decorrente de ato grave praticado pelo empregado, implicando a cessação do
contrato de trabalho por motivo devidamente evidenciado, de acordo com as
hipóteses previstas na lei.”123
É uma circunstância peculiar ao pacto laboral. Consiste na prática do ato
doloso ou culposamente grave por uma das partes e pode ser motivo determinante
da resolução do contrato.124
A CLT prevê, no art. 482, condutas do empregado que constituem falta
grave, punível com dispensa motivada. Assim, caso o empregado adote uma destas
condutas, fica sujeito à dispensa por justa causa, o que influenciará sobremaneira
nas verbas rescisórias devidas.125
Neste mesmo aspecto, Delgado (2013, p. 1223) dispõe:
Para o Direito Brasileiro, justa causa é o motivo relevante, previsto legalmente, que autoriza a resolução do contrato de trabalho por culpa do sujeito comitente da infração, no caso, o empregado. Trata-
123
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 404. 124
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 125
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
41
se, pois, da conduta tipificada em lei que autorizada a resolução do contrato de trabalho por culpa do trabalhador.”126
Assim, toda vez que o empregado cometer falta considerada pela
legislação consolidada como grave, poderá ser dispensado por justa causa pelo
empregador. Na justa causa há a quebra da boa-fé, confiança, poder de obediência
e diligência, o que torna incompatível a continuidade da relação de emprego. 127
2.2 DISPOSIÇÕES LEGAIS ACERCA DA JUSTA CAUSA
2.2.1 Taxatividade
O art. 482 da CLT é taxativo, sendo que somente as faltas tipificadas no
referido comando legal serão passíveis de aplicação de justa causa. Não se trata,
portanto, de norma meramente exemplificativa, pois há necessidade de ser descrito
o tipo para enquadramento da falta cometida pelo empregado.128
No Brasil, entende-se que o sistema adotado é o taxativo, pois cabe
somente á lei estabelecer as hipóteses de justa causa, sendo o respectivo rol
exaustivo, e não meramente exemplificativo.129
Segundo Almeida, só será considerada conduta irregular aquela que
estiver contida, taxativamente, em lei. Em algumas oportunidades, podemos fixar a
falta grave em mais de um dispositivo legal, mas, devemos configurá-lo naquele
mais próximo, mais apropriado.130 Assim, nada impede que outros dispositivos legais
também prevejam hipóteses distintas de justa causa. O essencial é que essa
previsão seja feita pela lei.131
126
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. p. 1223. 127
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 128
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 129
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 130
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. 131
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
42
2.2.2 Forma e Local
Nossa legislação não prevê a forma de comunicação de dispensa por
justa causa. Há normas coletivas que estabelecem que o empregador deve
comunicar os motivos pelos quais o empregado foi dispensado.132
Mesmo não se verificando a referida exigência, sugere-se que a dispensa
por justa causa seja comunicada sob a forma escrita, para facilitar a prova. Esse
documento, no entanto, é apto somente para demonstrar que o empregado ficou
ciente da dispensa, mas não prova a justa causa em si, ou seja, o fato, no caso, a
falta grave que o empregador alega ter o empregado praticado.133
De todo modo, cabe destacar que a justa causa, ou motivo da terminação
do contrato de trabalho, não deve ser objeto de anotação na Carteira de Trabalho e
Previdência Social. Trata-se de informação restrita à relação entre empregado e
empregador, que não deve ser inserida no referido documento do empregado.134
Aliás, a anotação da justa causa na Carteira de Trabalho e Previdência
Social, pelo empregador, pode acarretar em danos morais e materiais ao
empregado, passando a ser devida a respectiva indenização, tendo em vista a
violação de direitos de personalidade, bem como por acarretar maior dificuldade de
obtenção de novo emprego.135
2.2.2.1 Local
Segundo Martins (2014, p. 407), o local da prática da justa causa pode
ser tanto dentro da empresa, como fora dela. A concorrência desleal ao empregador,
muitas vezes, é praticada fora do local de trabalho do empregado. Os motoristas,
132
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 133
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 134
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. 135
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
43
cobradores ou propagandistas podem cometer faltas fora da empresa, pois
trabalham externamente.136
2.3 ÔNUS DA PROVA
Segundo, Martins (2014) é do empregador o ônus da existência de justa
causa para dispensa do empregado. Trata-se de um fato impeditivo de direito do
obreiro às verbas rescisórias, que deve ser provado pela empresa.137
O princípio da continuidade da relação de emprego e da presunção
estabelece que o obreiro é dispensado sem justa causa, as demais hipóteses de
cessação do contrato de trabalho devem ser provadas pelo empregador, como na
hipótese da dispensa por justa causa ou do pedido de demissão do trabalhador.138
Assim, a pena trabalhista, mais severa, que é a rescisão do contrato de
trabalho por justo motivo, deve ser provada pelo empregador, de modo a não restar
dúvidas da conduta do obreiro. Ao empregado caberá provar, por exemplo, que agiu
em legítima defesa às ofensas do empregador ou terceiros.139
2.4 HIPÓTESES LEGAIS
O art. 482 da CLT estabelece as hipóteses de resolução do contrato de
trabalho em face de falta grave praticada pelo empregado, constituindo a dispensa
por justa causa do obreiro a penalidade mais grave que pode ser aplicada pelo
empregador.140
2.4.1 Ato de Improbidade
Traduzem obtenção dolosa de uma vantagem de qualquer ordem.
Caracteriza-se, em geral, pela prática do furto, do roubo, do estelionato ou
apropriação indébita. O ato não precisa necessariamente atentar contra o patrimônio
136
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 137
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 408. 138
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 139
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 140
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.
44
do empregador. E assim é que incorre nessa falta o empregado que falsifica certidão
de nascimento do filho ou atestado de óbito para continuar recebendo salário-
família.141
Assim, para Saraiva (2014), consiste no ato de improbidade na
desonestidade, fraude, má fé do obreiro, que provoque risco ou prejuízo à
integridade patrimonial do empregador ou terceiro, com o objetivo de alcançar
vantagem para si ou para outrem.142
2.4.2 Incontinência de Conduta
É um ato faltoso que se configura pela carência de pudor. Exterioriza-se
pela prática, em serviço, de gestos, palavras e atos obscenos contra qualquer
pessoa.143
A falta está vinculada à conduta sexual imoderada, desregrada,
destemperada ou, até mesmo, inadequada, desde que afete o contrato de trabalho
ou o ambiente laborativo.144
Incorre nessa falta o empregado que pratica o assédio sexual em serviço
contra colega de trabalho, cliente da empresa ou contra o próprio empregador.
Enquadra-se como assédio sexual não apenas aquele classificado como crime,
porque é acompanhado de chantagem, mas também o que se caracteriza pela
intimidação, pelo constrangimento, com a utilização de incitações sexuais
importunas.145
2.4.3 Mau Procedimento
É considerado o comportamento incorreto do empregado na prática de
atos pessoais que atinjam a moral, salvo o sexual, levando à perturbação do
141
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 142
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 143
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. p. 707. 144
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 145
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
45
ambiente de trabalho ou mesmo prejudicando o cumprimento das suas obrigações
contratuais.146
Será, portanto, uma atitude irregular do empregado, um procedimento
incorreto, incompatível com as regras a serem observadas pelo homem comum
perante a sociedade.147
O uso indevido do computador poderá configurar mau procedimento para
a dispensa por justa causa do empregado, caso não seja tipificado por outro motivo,
como de indisciplina ou insubordinação, como na hipótese de o empregado enviar e-
mails pornográficos a outras pessoas durante o horário de trabalho.148
2.4.4 Negociação Habitual
A negociação diz respeito aos atos de comércio praticados pelo
empregado. Essa negociação, segundo a lei trabalhista, é aquela feita sem
permissão do empregador e com habitualidade. Se houver permissão do
empregado, a justa causa estará descaracterizada, o mesmo ocorre se não houver
habitualidade.149
Essa falta consiste, na negociação habitual de bens produzidos ou
comercializados pela empresa, desde que importe em concorrência e não tenha sido
autorizada pelo empregador ou por quem o represente. 150
2.4.5 Condenação Criminal
O que caracteriza a justa causa não é a condenação criminal com o
trânsito em julgado, mas, sim, a não suspensão da pena, permanecendo o
146
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo: Método, 2014. 147
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 148
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 149
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 150
SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 3 ed. Rev. e Atualiz. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
46
empregado preso, o que importaria na impossibilidade física do obreiro prestar os
serviços.151
Caso o trabalhador seja condenado criminalmente, transite em julgado a
sentença, mas não permaneça preso, não poderá o empregador dispensá-lo por
justa causa, pois não estará o laborante impossibilitado de comparecer ao
trabalho.152
2.4.6 Desídia
Trata-se do tipo jurídico que remete à ideia de trabalhador negligente,
relapso, culposamente improdutivo. A desídia é a desatenção reiterada, o
desinteresse contínuo, o desleixo contumaz com as obrigações contratuais.153
Somente constitui falta grave se a conduta é reiterada. Admite-se,
entretanto, que, em casos extremos, um único ato dê azo à dispensa motivada por
desídia.154
Pode também ser considerado um conjunto de pequenas faltas, que
mostram a omissão do empregado no serviço, desde que haja repetição dos atos
faltosos. Uma só falta não vai caracterizar a desídia. As faltas anteriores devem,
porém, ter sido objeto de punição ao empregado, ainda que sob a forma de
advertência verbal. A configuração se dará com a última falta.155
151
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 152
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 153
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 154
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 155
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
47
2.4.7 Violação de Segredo da Empresa
Concretiza-se quando o empregado divulga produtos exclusivos da
empresa. O empregado deve ter conhecimento sobre o segredo com relação à
fórmula ou produto.156
Se funda na infringência ao dever de fidelidade e poderá configurar-se
quando o empregado violar patentes de invenção, métodos de trabalho, segredos de
fabricação ou informações comerciais. O comportamento assume maior gravidade
quando os beneficiários da infidelidade forem concorrentes do empregador.157
2.4.8 Indisciplina e Insubordinação
Indisciplina é o descumprimento de regras, diretrizes ou ordens gerais do
empregador ou de seus prepostos e chefias, impessoalmente dirigidas aos
integrantes do estabelecimento ou da empresa. Ilustrativamente, a regra afixada no
portal do salão proibindo o ingresso de pessoas, exceto, se protegidas por
equipamentos de segurança, ou a regra afixada nas paredes da fábrica de proibido
fumar.158
Já a insubordinação é o descumprimento de ordens individuais. A ordem
individual também pode ser vinculada por qualquer meio, mas normalmente é dada
verbalmente à superior hierárquico.159
2.4.9 Abandono de Emprego
Significa largar, deixar o posto de trabalho, desistir o operário de trabalhar
na empresa. Há, portanto, o desprezo do empregado em continuar trabalhando para
o empregador.160
156
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. 157
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 158
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. 159
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 160
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30º Ed. São Paulo: Atlas, 2014.
48
Há dois elementos de caracterização. O primeiro elemento é o objetivo,
indicado pelas faltas ao serviço durante certo período. O empregado deixa de
trabalhar continuamente, ininterruptamente dentro de certo período. Se o empregado
falta de forma intercalada: num dia vem, no outro não, etc., não se configura o
abandono de emprego, mas pode estar caracterizada a desídia, pelo desleixo do
empregado em trabalhar, que é a sua obrigação.161
E o segundo elemento, subjetivo, comprovando a clara intenção do
empregado de não mais retornar ao emprego, como o de possuir outro emprego ou
por manifestação expressa de não ter interesse em continuar a trabalhar na
empresa. 162
Para configurar o abandono, o obreiro deve faltar por 30 dias contínuos.
Se as faltam não forem contínuas, porém intercaladas, será configurada desídia e
não abandono de emprego.163
2.4.10 Ato Lesivo à Honra e Boa Fama
Trata-se de agressões físicas ou verbais contra o empregador ou superior
hierárquico.164 É a ofensa moral (calúnia, injúria, difamação) ou física, praticada
conta o empregador ou contra superior hierárquico do empregado. Não interessa
onde foi cometida.165
O juiz deverá examinar os vários elementos caracterizadores da falta
grave, como a intenção do empregado, o ambiente, sua escolaridade e,
principalmente, a gravidade de tais acusações. Há necessidade que os atos em
comentário sejam divulgados. No entanto, em caso de legítima defesa, própria ou de
outrem, se excluirá a justa causa.166
161
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. . 162
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 163
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 164
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. 165
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 166
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
49
2.4.11 Ofensa Física
Ocorre a ofensa física com a agressão do empregado contra qualquer
pessoa, o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem. Ocorre no local de trabalho, no serviço, mas poderá ocorrer
fora do local de trabalho, se o empregado trabalhar externamente.167
Segundo Saraiva (2014), também se refere à injúria, calúnia, difamação e
às agressões físicas, estas praticadas contra o empregador ou superiores
hierárquicos, seja no ambiente de trabalho, ou mesmo, fora dele.168
2.4.12 Prática Constante em Jogos de Azar
A doutrina não é unânime acerca do alcance à expressão jogos de azar,
se só se refere aos jogos ilícitos, ou a qualquer jogo de azar. A maioria afirma que
pode ser qualquer jogo de azar, desde que praticado no âmbito do local de trabalho
ou, se praticado fora, que repercuta negativamente no ambiente de trabalho. Do
contrário, não caberia ao empregador julgar o comportamento do empregado em
sua vida privada.169
A prática constante de jogos de azar, mesmo proibidos em lei, porém
realizados há léguas de distância do ambiente laborativo, sem possibilidade de
afetação desse ambiente, embora se trate de contravenção penal, que possa
conduzir à punição estatal do empregado, não autoriza o rompimento do pacto por
justa causa, regra geral.170
2.4.13 Atos Atentatórios à Segurança Nacional
A doutrina amplamente majoritária considera o dispositivo (art. 482,
parágrafo único da CLT) não recepcionado pela CF/88, tendo em vista se tratar de
167
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 168
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 169
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 170
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013.
50
resquício do regime militar. Ademais, ao regime constitucional vigente não existe
possibilidade de condenação criminal sem o devido processo legal. Finalmente, o
tipo em análise não tem qualquer relação com a prestação de serviços.171
Ocorre que algumas pessoas, durante o regime militar, por não
concordarem com a ditadura presente à época, organizavam algumas reuniões,
ditas pelos governantes como subversivas. Referidas reuniões objetivavam a volta
da democracia e a consequente queda do regime militar.172
Atualmente, atos que poderiam configurar essa prática seriam atos de
terrorismo ou até mesmo tripulantes comprarem armas ilegais em outros países. O
artigo denota com clareza que essa prática deve ser comprovada por meio de
inquérito administrativo, e somente após a sua devida apuração é que poderá ser
aplicada a sanção.173
2.5 JUSTA CAUSA EM CASO DE EMBRIAGUEZ
Embriaguez é o estado do indivíduo embriagado. Indica bebedeira,
ebriedade. Se embriagar é o ato de causar ou produzir embriaguez, ou seja, é o ato
de ingerir bebidas alcóolicas, de embebedar-se.174
A embriaguez habitual ou em serviço, ainda que por uma única vez,
autoriza a dispensa por justa causa, a teor do art. 482, f da CLT. Incorre nessa falta,
por exemplo, o empregado, motorista, que se apresenta embriagado ao serviço,
ainda que uma única vez. 175
Contempla duas hipóteses, em primeiro lugar, a embriaguez habitual, que
ocorre fora do ambiente de trabalho, mas repercute na atividade do trabalhador,
deverá ser habitual para se configurar, não bastando um ato isolado. Em segundo
lugar, a embriaguez em serviço, hipótese em que o empregado se embriaga no
próprio local de trabalho durante o expediente, uma única ocorrência autoriza a
171
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 172
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14 ed. São Paulo: Rideel, 2014. 173
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14 ed. São Paulo: Rideel, 2014. 174
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 175
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012.
51
dispensa motivada, notadamente se a função desenvolvida pelo empregado coloca
em risco outras pessoas, como, por exemplo, a função do motorista.176
No entanto, a Organização Mundial de Saúde define alcoolismo como:
o estado psíquico e também, geralmente, físico, resultante de ingestão de álcool, caracterizado por reações de comportamento e outras que sempre incluem como compulsão para ingerir álcool de modo contínuo e periódico, a fim de experimentar seus efeitos psíquicos e, por vezes, evitar o desconforto da sua falta; sua tolerância, podendo ou não está presente(MARTINS, 2014, p.
411).177
O álcool é uma substância psicoativa, que age sobre o sistema nervoso
central da pessoa. Ela pode interferir no funcionamento do cérebro, implicando
consequências sobre a memória, concentração, equilíbrio, etc.178
Sobre o alcoolismo, Croce (2010, p. 18) diz que:
O alcoólatra é definido pela Organização Mundial de Saúde como o bebedor excessivo, cuja dependência chegou ao ponto de lhe criar transtornos em sua saúde física, mental, nas relações interpessoais e na sua função social e econômica e que, por isso, necessita de tratamento.179
Poderá o empregado apresentar-se constantemente embriagado, sendo
considerado dependente crônico. É a pessoa doente, que necessita beber.
Desenvolve o indivíduo o delirium tremesns. 180
Será voluntária a embriaguez quando o empregado tem intenção de ficar
bêbado. A embriaguez involuntária é acidental, em que o trabalhador pode ter
ingerido a bebida por não saber do que se tratava, por pensar que era um remédio.
Poderia ocorrer de o empregado tomar um remédio para determinada doença e ficar
com sintomas de embriaguez. Nesse caso, não se caracteriza a justa causa, pois a
situação é acidental.181
176
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 177
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 411. 178
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 179
CROCE, Delton. Manual de medicina legal. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p. 118. 180
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 181
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
52
O empregado embriagado não produz o necessário, podendo causar
prejuízos aos bens da empresa, acidente do trabalho e torna-se indisciplinado e
violento. A empresa deixa de ter confiança no empregado embriagado. Este,
portanto, abala a confiança existente na relação de emprego.182
Assim sendo, embriaguez habitual é aquela que ocorre com frequência,
com a ciência de toda a sociedade, maculando a credibilidade do empregador
perante os seus clientes. A jurisprudência vem entendendo de forma pacífica que
embriaguez habitual é uma doença, uma patologia, já declinada pela própria
Organização Mundial da Saúde. 183
Em razão disso, os tribunais não admitem modernamente a justa causa
nesse caso, mas sim, a suspensão do contrato de trabalho para que o empregado
realize tratamento médico que determine seu retorno ao trabalho ou sua
aposentadoria por invalidez.184
Já a embriaguez em serviço, ocorre no local e horário de trabalho,
podendo, dependendo da atividade exercida, o obreiro embriagado causar riscos a
sua própria saúde e integridade física, dos demais colegas de trabalho e até da
coletividade, como por exemplo, o motorista de ônibus conduzir um veículo em
estado de embriaguez.185
Punir alguém por ser portador de uma doença certamente gerou uma
situação desconfortável nos tribunais. Em razão disso, vem sendo admitida uma
nova corrente jurisprudencial e doutrinária, compatível com as normas da
Organização Mundial de Saúde, segundo a qual a embriaguez habitual é realmente
uma doença e, assim sendo, não pode gerar qualquer tipo de punição. 186
Sendo assim, o empregado doente deverá ser encaminhado à Previdência
Social (INSS), recebendo os 25 primeiros dias do seu próprio empregador e, a partir
de então, ingressar no auxílio-doença, passando a receber o auxílio previdenciário,
182
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 183
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 184
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 185
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 186
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014.
53
de acordo com o teto imposto pelo INSS, conseguindo tratamento e mantendo seu
emprego.187
Em contrapartida, a MP 664 decidiu no seu art. 60, que cabe ao órgão
previdenciário pagar o auxílio doença ao empregado a partir do 31º dia. Cabendo,
portanto, ao empregador pagar até o 30º dia.188
O art. 60 assim dispõe:
“Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado que ficar incapacitado para seu trabalho ou sua atividade habitual, desde que cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei: I - ao segurado empregado, a partir do trigésimo primeiro dia do afastamento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, se entre o afastamento e a data de entrada do requerimento decorrerem mais de quarenta e cinco dias; e II - aos demais segurados, a partir do início da incapacidade ou da data de entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias. § 3º Durante os primeiros trinta dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença ou de acidente de trabalho ou de qualquer natureza, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. § 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no § 3º e somente deverá encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar trinta dias. § 5º O INSS a seu critério e sob sua supervisão, poderá, na forma do regulamento, realizar perícias médicas: I - por convênio ou acordo de cooperação técnica com empresas; II - por termo de cooperação técnica firmado com órgãos e entidades públicos, especialmente onde não houver serviço de perícia médica do INSS. § 6º Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.189
187
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. 188
BRASIL. Mistério da Previdência Social. Regras do auxílio-doença e pensão por morte da MP 664 passam a valer. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/noticias/legislacao-regras-do-auxilio-doenca-e-pensao-por-morte-da-mp-664-passam-a-valer/>Acesso em 04 jun. 2015. 189
BRASIL. Normas para a concessão do auxílio-doença e da pensão por morte. Medida Provisória nº 66 de 30 dezembro de 2014 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Mpv/mpv664.htm> Acesso em 04 jun. 2015.
54
Desse modo, o empregado mantém o vínculo empregatício e continua tendo
como se sustentar, bem como a sua família.190
2.6 AÇÃO DE REVERSÃO DA JUSTA CAUSA
A ação de reversão no processo do Trabalho poderá se desenvolver tanto
pelo rito sumaríssimo, como no rito ordinário.
Serão rito sumaríssimo todas as ações trabalhistas individuais, cujo valor
da causa seja superior a dois salários mínimos, e inferior a quarenta salários
mínimos. A apreciação da ação submetida deverá ocorrer no prazo máximo de
quinze dias do seu ajuizamento. Deverá ser instruído e julgado em audiência única,
salvo na hipótese do art. 852 H, § 1º da CLT. O pedido deverá ser certo,
determinado e líquido, ou seja, indicará o valor correspondente, não podendo a
citação ser feita por edital, incumbindo ao autor a correta indicação do nome e
endereço do reclamado.191
Neste rito, todos os incidentes e exceções que possam interferir no
prosseguimento da audiência e do processo deverão ser decididos de plano, as
demais questões serão decididas na sentença. Cada parte poderá apresentar
somente duas testemunhas, que deverão ser, comprovadamente, convidadas pelo
autor ou pelo réu. Só haverá intimação de testemunha se esta, comprovadamente
convidada pela parte, não comparecer à audiência. A prova pericial será imposta
somente se a prova do fato assim exigir, incumbindo ao juiz, fixar o prazo.192
E por fim, será rito ordinário todo o procedimento comum da Justiça do
Trabalho, o qual se encontra regulamentado no art. 837 ao 852 da CLT. Serão
apreciadas todas as ações acima de quarenta salários mínimos.193
190
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. 191
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. 192
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. 193
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014.
55
A audiência é dividida em três partes, audiência de conciliação que deve
comparecer as partes, acompanhadas ou não de seus representantes, o juiz irá
propor a primeira tentativa de conciliação, havendo acordo será lavrado termo
assinado pelas partes, não havendo o réu terá vinte minutos para apresentar defesa,
sendo intimadas para a audiência de instrução.194
Na segunda audiência, conhecida como audiência de instrução, deverão
comparecer as partes, sob pena de confissão. Serão ouvidas as testemunhas,
podendo ser requerida a produção de provas periciais e, se deferida, o processo fica
suspenso para a realização da perícia. Finda a instrução, as partes poderão aduzir
suas razões finais, no prazo máximo de dez minutos. Logo em seguida, o juiz deverá
renovar a proposta de conciliação, não sendo obtida, designará data para audiência
de julgamento.195
E por fim, a audiência de julgamento a rigor jamais ocorre, pois as partes
raramente estarão presentes. Trata-se de mais um prazo fixado pelo juiz para a
publicação da sentença.196
2.6.1 Fundamentos para Propositura
Os elementos da justa causa podem ser descritos como objetivos e
subjetivos. O elemento subjetivo é a vontade do empregado, e pode ser verificado
se agiu com culpa (negligência, imprudência e imperícia) ou com dolo, se o obreiro
realmente teve a intenção de fazer certo ato. Outros elementos subjetivos são a
personalidade do agente, seus antecedentes, seu grau de instrução ou de cultura,
sua motivação e etc.197
Portanto, será requisito subjetivo os que concernem ao envolvimento (ou
não) do trabalhador na respectiva conduta.198
194
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. 195
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. 196
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. 197
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 198
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013.
56
Os requisitos objetivos são vários. O primeiro é o de que a justa causa
seja tipificada em lei, ou seja, não haverá justa causa se não houver determinação
em lei.199
Nesse mesmo requisito, Resende (2012) dispõe que tipicidade é a
conduta faltosa deve ser prevista taxativamente em lei trabalhista. Com efeito,
grande parte das hipóteses de justa causa encontra-se arroladas, taxativamente, no
art. 482 da CLT. Outras, porém, estão também taxativamente previstas em
dispositivos esparsos.200
O segundo elemento objetivo vem a ser a gravidade do ato praticado pelo
empregado, de modo a abalar a fidúcia que deve existir na relação de emprego.201
Um dos elementos essenciais à caracterização da justa causa é a
gravidade da falta. A falta deve ser grave e a culpa do empregado deve ser
apreciada em concreto, levando-se também em consideração o tempo, o meio, a
classe social, os usos, costumes, hábitos sociais e etc.202
O terceiro requisito diz respeito ao nexo da causalidade ou nexo causal e
efeito entre a falta praticada e a dispensa. O empregado não pode ser dispensado
pelo fato de ter cometido uma falta anterior. Por exemplo: o empregado falta
seguidamente ao serviço e o empregador despede pelo fato de ter sido apanhado
dormindo no serviço há quase um mês. Não existe nexo de causa e efeito no
exemplo mencionado.203
Deverá existir uma conexão entre a conduta do empregado e a pena
aplicada.204 Outro requisito importante é o da proporcionalidade entre o ato faltoso e
a punição. O poder de aplicar penalidades ao empregado é decorrente do poder de
direção ou mais especificamente do poder disciplinar do empregador. Esse poder
199
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 200
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. 201
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 202
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 203
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 204
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012.
57
admite que o empregado seja advertido verbalmente, por escrito, suspenso e
dispensado.205
A proporcionalidade é derivada da própria gravidade da falta na qual a
pena deve ser proporcional à falta cometida. Também chamado de princípio da
dosimetria da pena.206
A imediaticidade é outro requisito fundamental na aplicação da sanção ao
empregado. A pena deve ser aplicada o mais rápido possível ou logo após o
empregador ter conhecimento da falta, para não descaracterizá-la.207
Se o empregador abre sindicância ou inquérito interno para apuração da
falta, é a partir de sua conclusão que a penalidade deve ser aplicada. Caso o
empregador assim não faça, há presunção de que a falta não foi tão grave assim, a
ponto de abalar a relação de emprego, havendo perdão tácito por parte do
empregador em relação ao ato praticado. 208
Dessa maneira, deve haver atualidade na punição do empregado ou em
sua dispensa, para que a falta cometida não fique descaracterizada. Falta não
punida é falta perdoada pelo empregador.209
Nesse mesmo sentido, Resende (2012) dispõe que somente pode ser
aplicada a punição disciplinar se a falta é atual, ou seja, a punição deve ser imediata
à conduta irregular do empregado, ou ao conhecimento desta conduta pelo
empregador, a fim de impedir que o empregador guarde sempre uma “carta na
manga” contra o empregado. Se o empregador teve conhecimento da falta e não
puniu imediatamente o empregado, considera-se que houve perdão tácito.210
E por fim, o requisito do non bis in idem, onde dispõe que se o empregado
já foi punido por uma determinada falta, não poderá o empregador arrepender-se e
aplicar-lhe outra punição mais rigorosa, sob pena de a segunda ser anulada. A
205
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 206
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16º Ed.rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. p.268. 207
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 208
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 209
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 210
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. .
58
substituição de pena mais grave por pena mais branda só tem sido admitida se o
empregado concordar.211
Martins (2014) explica que o empregador não poderá aplicar dupla
punição pelo mesmo ato praticado pelo empregado, ou seja, non bis in idem. Deve o
empregador, portanto, aplicar uma pena distinta para cada ato faltoso do
empregado, sendo que a causa da dispensa deve ser um fato totalmente diverso
dos anteriores praticados pelo obreiro ou a reiteração ou agravamento de atos já
praticados anteriormente, que são praticados mais uma vez.212
A falta praticada pelo empregado deverá ter conexidade com o serviço.
Se o empregado bate em sua mulher em sua residência, apesar de o fato ser
deplorável, não poderá ser dispensado por justa causa, pois o fato não tem haver
com o serviço.213
Não basta exclusivamente configurar alguma falta grave prevista em lei
para se caracterizar a justa causa, mas sobretudo, é preciso inclui-la em alguns
requisitos para que essa falta seja admitida, tais como os requisitos citados acima, e
que se denominam como princípios da falta grave, e que, em algumas ocasiões, são
até mesmo mais importantes do que as próprias faltas graves, visto que sem eles
não é possível aplicar a justa causa.214
Sendo assim, concluímos que faltando um dos requisitos essenciais para
aplicabilidade da justa causa, é admissível que se aplique a ação de reversão, visto
que, é necessário preencher todos os requisitos citados acima para que seja
configurada a justa causa.
Por fim, no próximo capítulo serão estudados e pesquisados os aspectos
jurisprudenciais em relação à justa causa, nos casos de embriaguez habitual e nos
casos de embriaguez em serviço.
211
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. 212
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 213
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 214
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014.
59
CAPÍTULO 3
ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS
Após o estudo, nos capítulos anteriores acerca dos contratos de trabalho,
das formas de extinção do contrato de trabalho, bem como dos principais aspectos
sobre a ação de reversão e os principais fundamentos acerca da justa causa, em
caso de embriaguez habitual e em serviço, é chegado o momento de analisar todos
os aspectos jurisprudenciais referentes à embriaguez habitual e a embriaguez em
serviço, e as possíveis controvérsias sobre o referido tema do trabalho de conclusão
de curso.
3.1 EMBRIAGUEZ HABITUAL
Conforme foi analisada e estudada no capítulo anterior, a embriaguez
habitual é aquela que ocorre repetidamente, fora do local e horário de trabalho, na
qual traz consequências para a execução das obrigações contratuais pelo obreiro.215
Ocorre com frequência, com a ciência de toda a sociedade, maculando a
credibilidade do empregador perante os seus clientes.216
Diante de tal situação, as jurisprudências vem entendendo de forma
pacífica que a embriaguez habitual é uma doença, uma patologia, já declinada pela
própria Organização Mundial de Saúde. Em razão disso, os tribunais não admitem a
justa causa nesse caso, mas sim, a suspensão do contrato de trabalho para que o
empregado realize tratamento médico que determine seu retorno ao trabalho ou a
sua aposentadoria por invalidez.217
Assim, o 10º do Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
EMBARGOS. JUSTA CAUSA. ALCOOLISMO CRÔNICO. ART. 482, “F”, DA CLT. 1. Na atualidade, o alcoolismo crônico é formalmente reconhecido como doença pelo Código Internacional de Doenças
215
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 216
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. 217
SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014.
60
(CID) da Organização Mundial de Saúde - OMS, que sob o título de Síndrome de dependência do álcool” (referência F- 10.2). É patologia que gera compulsão, impele o alcoolista a consumir descontroladamente substância psicoativa e retira-lhe a capacidade de discernimento sobre seus atos. Clama, pois, por tratamento e não por punição. 2. O dramático quadro social advindo desse maldito vício impõe que se dê solução distinta daquela que imperava em 1943, quando passou a viger a letra fria e hoje caduca do art. 482 “f” da CLT, no que tange à embriaguez habitual. 3. Por conseguinte, incumbe ao empregador, seja por motivos humanitários, seja porque lhe toca indeclinável responsabilidade social, ao invés de optar pela resolução do contrato de emprego, sempre que possível, afastar ou manter afastado do serviço o empregado portador dessa doença, a fim de que se submeta a tratamento médico visando recuperá-lo. 4. Recurso de embargos conhecido, por divergência jurisprudencial, e provido para restabelecer o acórdão do regional. (TST.ERR.586.320/1991, SBDI -1, DJ 21.05.2004, Min. João Oreste
Dalazen). Recurso da Reclamada conhecido e não provido.218
Segundo a Desembargadora Dra. Marques, o alcoolismo crônico é
considerado uma compulsão, onde o alcoólatra passa a consumir
descontroladamente substância psicoativa, retirando a capacidade de discernimento
sobre os seus atos.
Portanto, para que seja considerado alcoolismo crônico é necessário que
o consumo de bebidas alcoólicas seja ingerido continuamente e regularmente, por
um tempo bastante prolongado.219
Sobre esse aspecto, o 3º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA - EMBRIAGUEZ ART. 482, ALÍNEA F DA CLT. Configura justa causa, nos moldes do art. 482, alínea f da CLT (embriaguez habitual ou em serviço) o uso regular e sistemático de bebida alcoólica, ingerida pela manhã e à tarde, pelo empregado que, lidando com instalação de painéis elétricos, diariamente apresenta-se embriagado ao serviço, colocando em risco a própria vida, a de terceiros, bem como a reputação e o patrimônio da empresa.220
218
BRASIL, Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Legislação Federal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm> Acesso em: 04 jun. 2015. 219
DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 220
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Configura Justa Causa, nos Moldes do Art. 482, Alínea
F da Clt (embriaguez Habitual Ou em Serviço) nº RO: 707802 00440-2002-095-03-00-8. Relator: Eduardo Augusto Lobato. Justa Causa - Embriaguez. Minas Gerais: DJMG, 24 fev. 2002. Quinta Turma.
61
Ainda sobre esse mesmo aspecto, a Segunda Turma do 3º do Tribunal Regional
do Trabalho decidiu:
ALCOOLISMO - CLASSIFICAÇÃO COMO DOENÇA - DESPEDIDA POR JUSTA CAUSA - REVERSÃO. O classificado como doença, pela Organização Mundial de Saúde, através do Código Internacional de Doenças (CID). Nos termos do inciso II artigo 4º do Código Civil, "São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido". Portanto, a situação do empregado dependente de bebidas alcoólicas, comprovadamente doente, requeria submissão a tratamento médico, e não punição disciplinar. Cabe manter a r. sentença, que determinou a reversão da despedida por justa causa, pelos seus próprios
fundamentos.221
Entende-se, portanto, que comprovado o alcoolismo crônico do
empregado, o empregador deverá encaminhá-lo para o órgão de previdência social,
para seu devido tratamento e afastamento, podendo, reverter a dispensa por justa
causa e, o empregador retornar ao ambiente de trabalho.
Sobre esse aspecto Almeida (2014) dispõe que a embriaguez habitual é
realmente considerada uma doença, e assim, como todos os casos de empregados
doentes, o empregador deverá encaminhar o funcionário à Previdência Social, ou
seja, ao INSS, o qual irá receber os 15 primeiros dias de seu próprio empregador e,
a partir de então, ingressar com auxílio doença, onde passa a receber do estado o
auxílio previdenciário, de acordo com o teto imposto pelo INSS, conseguindo então o
seu tratamento e mantendo o seu emprego.222
No entanto, a MP 664 prevê que a partir de 1º de Março de 2015 o auxílio
doença passou a ser pago pelo INSS a partir do 31º de afastamento do trabalhador,
cabendo, por tanto, ao empregador pagar ao empregado até o 30º dia, conforme o
art. 60 da MP.223
221
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Inciso I Artigo 4º do Código Civil. Relator: Jales Valadao Cardoso. Alcoolismo - Classificação Como Doença - Despedida Por Justa Causa: reversão. Minas Gerais, 03 fev. 2012. 2ª turma. 222
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. . 223
BRASIL. Mistério da Previdência Social. Regras do auxílio-doença e pensão por morte da MP 664 passam a valer. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/noticias/legislacao-regras-do-auxilio-doenca-e-pensao-por-morte-da-mp-664-passam-a-valer/>Acesso em 04 jun. 2015.
62
O Tribunal Superior do Trabalho decidiu:
RECURSO DE REVISTA. ALCOOLISMO. DOENÇA CRÔNICA. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO À REINTEGRAÇÃO. De acordo com o Tribunal Regional, o reclamante é dependente químico, apresentando quadro que associa alcoolismo crônico com o uso de maconha e crack. A jurisprudência desta Corte tem se orientado no sentido de que o alcoolismo crônico, catalogado no Código Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde OMS, sob o título de síndrome de dependência do álcool, é doença que compromete as funções cognitivas do indivíduo, e não desvio de conduta justificador da rescisão do contrato de trabalho. Assim, tem-se como injustificada a dispensa do reclamante, porquanto acometido de doença grave. Recurso de revista conhecido
e provido.224
Para que seja caracterizada a embriaguez habitual há necessidade de
sua repetição, onde um único ato não caracteriza tal hipótese. O empregado poderá
ter sido advertido ou suspenso anteriormente com a primeira falta.225
Será, portanto, considerada discriminatória a dispensa do empregado
portador de síndrome de dependência de bebida alcoólica.
Nesse sentido, foi decidido:
RECURSO DE REVISTA. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA. REINTEGRAÇÃO. Na diretriz da Súmula n.º 443 do TST, Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego-. Desse modo, sendo o alcoolismo crônico catalogado no Código Internacional de Doenças - CID da Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença grave, e, ficando evidenciada nos autos a dispensa discriminatória, o Autor faz jus à reintegração postulada. Recurso de
Revista conhecido e provido.226
A respeito da dispensa discriminatória a Súmula 443 do TST assim
dispõe:
224
, BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista. Alcoolismo. Doença Crônica. Dispensa Por Justa Causa. Impossibilidade. Direito à Reintegração nº RR: 5290007420075120004 529000-74.2007.5.12.0004. Relator: Delaíde Miranda Arantes. 07 jun. 2013. 7ª Turma. 225
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 226
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista. Dispensa Discriminatória. Síndrome de Dependência Alcoólica. Reintegração nº RR: 156-23.2011.5.02.0001.Relatora Ministra Maria de Assis Calsing, 04 ago 2014. 4ª Turma.
63
Dispensa discriminatória. Presunção. Empregado portador de doença grave. Estigma ou preconceito. Direito á reintegração – Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o
ato, o emprega tem direito à reintegração no emprego.227
De acordo com o entendimento jurisprudencial e a Súmula 443 do TST
conclui-se que será considerada discriminatória toda dispensa em que o empregado
for portador de doença grave, sendo portanto, inválido o ato, merecendo o mesmo
ser reintegrado no emprego.
Por fim, entende-se que a síndrome de dependência alcoólica é um
transtorno onde o ser humano adquire com o tempo. É o desejo intenso de consumir
bebidas alcoólicas, descontrole sobre o seu uso, continuação dos consumos apesar
das consequências, uma grande importância dada aos consumos em desfavor de
outras atividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool.228
3.2 EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO
A embriaguez em serviço caracteriza-se por uma única falta, sendo
desnecessária a habitualidade nessa falta, a repetição do ato praticado pelo
empregado, mas de um único ato. Não sendo necessário o empregado ter sido
advertido ou suspenso anteriormente.229
Nesse sentido, o 2º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
Embriaguez em serviço. Contumácia. Perdão tácito. O art. 482, alínea f da CLT autoriza a dispensa do empregado por justa causa em duas hipóteses distintas: embriaguez habitual ou em serviço. Habitual é quando o trabalhador, fora do serviço, se serve rotineiramente de bebidas alcoólicas e se embriaga, por vício, expondo-se à admiração pública e expondo negativamente o nome da empresa que o mantém como empregado. Neste caso, exige-se a contumácia, conforme é o fundamento da sentença. Mas a embriaguez em serviço, ao contrário, não exige contumácia. Uma
227
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.1947. 228
LADISLAU, Roberta Elva. Embriaguez habitual ou em serviço: a nova percepção do direito
trabalhista. Jus Navigandi,Espírito Santo, v. 1, n. 1, p.1-1, 01 abr. 2015. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/38232/embriaguez-habitual-ou-em-servico-a-nova-percepcao-do-direito-trabalhista#ixzz3ZP12l3da>. Acesso em: 04 jun. 2015. 229
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
64
vez só já é suficiente, sobretudo na profissão de vigilante, com uso de arma de fogo. Por outro lado, o fato da dispensa ter ocorrido dez dias depois da comprovação da embriaguez não tem relevância jurídica. O empregador não é obrigado a dispensar o empregado no dia seguinte. Pode apurar os fatos em prazo razoável, se a estrutura da empresa assim o exigir, sem que isso importe em perdão tácito, conceito doutrinário sem respaldo legal. Cabe ao juiz, caso a caso, verificar se a dispensa foi oportunista, quando o fato já estava no esquecimento do empregado, o que não é o caso sub judice. O recurso a que se dá provimento.230
Sobre esse mesmo sentido o 20º Tribunal Regional do Trabalho também
decidiu:
JUSTA CAUSA - EMBRIAGUEZ. O art. 482, alínea f, da CLT faz alusão à embriaguez habitual ou em serviço, sendo esta reconhecida
ainda que se concretize uma única vez.231
Assim, Delgado (2013) entende que embriaguez em serviço afeta
diretamente o contrato de trabalho. Em conformidade com a função do trabalhador
(motorista ou segurança armado, por exemplo), esta afetação pode ser muito grave,
uma vez que coloco em risco a saúde e bem-estar da própria coletividade, o que
tende a ensejar a imediata dispensa por justa causa.232
Sobre esse aspecto o 2º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
Embriaguez em serviço. Contumácia. Perdão tácito. O art. 482, alínea f da CLT autoriza a dispensa do empregado por justa causa em duas hipóteses distintas: embriaguez habitual ou em serviço. Habitual é quando o trabalhador, fora do serviço, se serve rotineiramente de bebidas alcoólicas e se embriaga, por vício, expondo-se à admiração pública e expondo negativamente o nome da empresa que o mantém como empregado. Neste caso, exige-se a contumácia, conforme é o fundamento da sentença. Mas a embriaguez em serviço, ao contrário, não exige contumácia. Uma vez só já é suficiente, sobretudo na profissão de vigilante, com uso de arma de fogo. Por outro lado, o fato da dispensa ter ocorrido dez dias depois da comprovação da embriaguez não tem relevância jurídica. O empregador não é obrigado a dispensar o empregado no dia seguinte. Pode apurar os fatos em prazo razoável, se a estrutura da empresa assim o exigir, sem que isso importe em perdão tácito,
230
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-2. Embriaguez em Serviço. Contumácia. Perdão Tácito. nº RECORD: 430200706102005 SP 00430-2007-061-02-00-5. Relator: Luiz Edgar Ferraz de Oliveira. Embriaguez em Serviço. Contumácia. Perdão Tácito.. São Paulo, 06 mar. 2009. 231
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-20. Justa Causa – Embriaguez nº 227200501120002 SE 00227-2005-011-20-00-2. 02 mar. 2006. 232
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12º Ed. São Paulo: LTR, 2013. p. 1236.
65
conceito doutrinário sem respaldo legal. Cabe ao juiz, caso a caso, verificar se a dispensa foi oportunista, quando o fato já estava no esquecimento do empregado, o que não é o caso sub judice. A
recurso a que se dá provimento.233
Ainda a exemplo do vigilante como dispensa por justa causa, o 10º
Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA. ALCOOLISMO COMO DOENÇA. DESÍDIA. ÔNUS DA PROVA. É certo que a tendência jurídica moderna considera o alcoolismo como doença, que deve ensejar o correspondente tratamento medicinal, mas, "no caso de embriaguez em serviço, ela afeta diretamente o contrato de trabalho, sem dúvida", tal como defende Maurício Godinho Delgado. O art. 482, f, da CLT diz que constitui justa causa para a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador a embriaguez habitual. Assim, para que a embriaguez constitua justa causa para a rescisão contratual, basta que esta ocorra no ambiente de trabalho, nos termos do dispositivo consolidado. Por outra face, há nos autos evidência de que o Reclamante se mostrou, também, desidioso no exercício de sua função de vigilante, consoante a prova oral. Tratando-se da máxima penalidade que o empregador pode aplicar ao empregado (CLT, art. 482), a justa causa para o despedimento requer prova robusta e convincente, cujo ônus é, inteiramente, do empregador, que, no caso, se desincumbiu a contento.234
Entende-se, portanto, para que seja configurada a embriaguez em serviço
basta que o empregado esteja alcoolizado, por uma única vez, no ambiente
laborativo, a exemplo do vigilante armado, que exerce uma função com grandes
responsabilidades, devendo ser cauteloso e não colocar em risco a saúde e o bem-
estar daqueles a quem protege.
Outro exemplo de grande relevância sobre a embriaguez em serviço é o
caso do motorista de ônibus, onde o empregado exerce uma função em que por sua
própria natureza, repele, de forma absoluta, a utilização de bebidas alcoólicas.
Sobre o motorista de ônibus o 3º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
233
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-2.- Embriaguez em Serviço. Contumácia. Perdão Tácito. nº RECORD: 430200706102005 SP 00430-2007-061-02-00-5, Relator: Luiz Edgar Ferraz de Oliveira. São Paulo, 06 mar. 2009. 6ª Turma. 234
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-10 - Justa Causa. Alcoolismo Como Doença. Desídia. Ônus Da Prova. nº ROPS: 852200800710002 DF 00852-2008-007-10-00-2 , Relator: Desembargador Braz Henriques de Oliveira. Brasília, 29 jan. 2009. 3ª Turma.
66
JUSTA CAUSA - EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO - MOTORISTA DE LINHA INTERESTADUAL. Diferentemente da embriaguez habitual, em que o empregado sofre da doença caracterizada como alcoolismo crônico, catalogada no Código Internacional de Doenças com a nomenclatura de "síndrome de dependência do álcool" (CID-F-10.2), o que ocasiona seu afastamento e tratamento médico, motivo por que inaplicável o art. 482, f, da CLT, a embriaguez em serviço é tipificada como ato de indisciplina, como mau procedimento ou incontinência de conduta, podendo resultar na dispensa por justa causa, especialmente se o empregado exerce uma daquelas funções que, por sua própria natureza, repelem, de forma absoluta, a utilização de bebida alcoólica, como a de motorista de ônibus, pois
que do seu desempenho dependem várias vidas.235
Ainda a exemplo do motorista, o 5º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. MOTORISTA. Constitui falta grave o exercício da função de motorista sob o efeito de álcool, ensejando, dessa forma, a aplicação da justa causa, até mesmo porque a mencionada infração rompe definitivamente o laço de confiança ínsito ao contrato de trabalho, tornando
desaconselhável o prosseguimento da relação de emprego.236
Será considerada embriaguez em serviço não apenas aquela que ocorre
no momento em que o empregado marca seu cartão de ponto e começa a trabalhar,
mas também, o fato de se apresentar embriagado na portaria da empresa, pois o
mesmo já teria ingressado no interior da empresa e estaria pronto para iniciar o seu
trabalho.237
Em contrapartida, o Tribunal Superior do Trabalho decidiu que o
comparecimento do empregado por três vezes consecutivas, em estado de
embriaguez, ainda que decorrido lapso de tempo entre uma e outra ocorrência,
desperta a suspeita de alcoolismo, circunstância essa em que o empregador deverá
ter cautela, pois por ser uma suspeita de alcoolismo, entenda-se como se o
empregado fosse dependente alcoólico, não podendo então, ser dispensado por
justa causa.
235
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Justa Causa - Embriaguez em Serviço - Motorista de Linha Interestadual. Relator: Marcus Moura Ferreira, Belo Horizonte: DJMG. 19 dez. 2003. 1ª Turma. 236
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho – 5. Justa Causa. Embriaguez em Serviço. Motorista. nº Record: 00010745020115050031 BA 0001074-50.2011.5.05.0031, Relator: Marama Carneiro,.Salvador, 01 abr. 2013. 1ª Turma. 237
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
67
RECURSO DE REVISTA. DISPENSA ARBITRÁRIA. INDÍCIO DE ALCOOLISMO CRÔNICO. ART. 482, F, DA CLT. 1. O comparecimento do empregado ao serviço por três vezes consecutivas, em estado de embriaguez, ainda que decorrido lapso de tempo entre uma e outra ocorrência, desperta suspeita de alcoolismo, circunstância em que o empregador, por cautela, e considerando a classificação como doença crônica pelo Código Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde OMS, deve encaminhá-lo ao órgão previdenciário para diagnóstico e tratamento, consoante lhe assegura o art. 20 da Lei nº 8.213/91 . 2. A evolução natural da sociedade propiciada pelo desenvolvimento científico realizado na área médica e de saúde pública permite novo enquadramento jurídico ao fato - embriaguez habitual ou em serviço - cujas consequências não mais se restringem ao indivíduo e à relação jurídica empregado-empregador. Nesse quadro, o art. 482, f, da CLT deve ser interpretado em consonância com os princípios fundamentais tutelados pela Constituição Federal entre os quais da dignidade humana (art. 1º, III), efetivada, no caso, por meio do acesso universal e igualitário às ações e serviços que viabilizem a promoção, proteção e recuperação da saúde (art. 196 da CF/88 c/c a Lei nº 8.213/91). 3. Nesse contexto, revela-se juridicamente correto o acórdão recorrido ao concluir que o desfazimento do pacto laboral do autor, por iniciativa da reclamada, com fundamento no art. 482, f, da CLT, materializou procedimento obstativo ao direito de ser encaminhado ao INSS para tratamento da enfermidade e, em caso de irreversibilidade, a concessão de aposentadoria provisória, o que revela a arbitrariedade da dispensa efetivada. Recurso de revista conhecido e não provido.238
Logo, entende-se que em se tratando de embriaguez em serviço, onde o
empregado comparece ao local de trabalho por três vezes consecutivas alcoolizado
desperta suspeita de dependência alcoólica, devendo então, o empregador, o
encaminhar para o órgão de Previdência Social, ou seja, o INSS, para o devido
tratamento e afastamento, sendo, portanto, o caso em questão, considerado
embriaguez habitual.
3.4 ÔNUS DO EMPREGADOR
A prova da embriaguez deverá ser feita por exame de dosagem alcoólica,
mas nem sempre as empresas possuem médicos e laboratório para esse fim. O
médico poderá constatar a embriaguez por meio de exames dos globos oculares
238
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – TST. Recurso de Revista. Dispensa Arbitrária. Indício de Alcoolismo Crônico. nº- RR: 1947007320075090092 , Relator: Walmir Oliveira da Costa, 1ª DEJT, 15 ago. 2014. 1ªTurma.
68
que ficam com abundância de irrigação sanguínea, ou através do exame do pulso,
pois são elevados os batimentos cardíacos.239
Poderá também ser demonstrada a embriaguez por meio de bafômetro,
no entanto, tal aparelho é de uso exclusivo da polícia rodoviária.240
Sendo assim, a prova da embriaguez é feita por testemunhas que irão
indicar o mau hálito do empregado, a impossibilidade de permanecer em pé ou de
andar em linha reta, a dificuldade em articular palavras, a atitude alterada e etc.241
O ônus de provar sobre a dispensa de justa causa em caso de
embriaguez cabe também ao empregador.
Assim, o 23º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
MODALIDADE DA DISPENSA. JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. CONFIGURADA. Cabe ao empregador comprovar que o obreiro cometeu falta com a gravidade suficiente para provocar a quebra da fidúcia e autorizar a ruptura do vínculo por justa causa, à medida que a ele incumbe a demonstração dos fatos modificativos e extintivos do direito obreiro, conforme preceitua o art. 818 da CLT, combinado com o art. 333, II do CPC. Assim, cabia ao réu provar que o autor foi despedido por justa causa em razão de se apresentar no trabalho embriagado, ônus do qual se desvencilhou a contento por meio da prova oral. Recurso do autor ao qual se nega provimento. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. GRAU MÁXIMO. Não obstante a prova técnica tenha constatado que o autor realizava as suas atividades em condições insalubres de grau médio, mas considerando que o autor tinha contato direto e contínuo com graxa, ou seja, óleo mineral, cuja manipulação enseja o adicional de insalubridade em grau máximo, consoante previsto no Anexo 13, da NR-15 c/c a Orientação Jurisprudencial n.º 171 da SDI-1, do TST, impõe-se majorar o adicional de insalubridade deferido para o grau máximo. Apelo obreiro ao qual se dá provimento. HONORÁRIOS PERICIAIS. ÔNUS DO SUCUMBENTE. Conforme dispõe o art. 790-B da CLT, compete àquele que foi sucumbente na pretensão objeto da perícia arcar com os honorários periciais. Assim, tendo em vista que o réu foi condenado ao pagamento do adicional de insalubridade pleiteado, é ele quem deve arcar com os honorários periciais. Destarte, impõe-se isentar o autor da despesa em questão e condenar o réu ao respectivo pagamento. Recurso do autor ao qual se dá provimento.242
239
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 240
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 241
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. . 242
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho- 23. Modalidade da Dispensa. Justa Causa. Embriaguez em Serviço. Configurada. nº RO: 141200902223000 MT 00141.2009.022.23.00-0, Relator: Desembargadora Beatriz Theodoro. 28 abr. 2011. 2ª Turma.
69
Ainda sobre o ônus do empregador em provar sobre a dispensa da justa
causa, o 10º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. O ônus da prova da existência de justa causa para a dispensa do empregado é do empregador, conforme artigo 818 da CLT, e entendimento da Súmula 212 do C. TST. Demonstrado, pela prova oral, o ato de embriaguez em serviço praticado pelo empregado, configura-se falta
suficientemente grave para justificar a despedida por justo motivo.243
Poderá a justa causa também, ser comprovada através de prova
testemunhal. Assim, o 16º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA - EMBRIAGUEZ - CARACTERIZAÇÃO - PROVA TESTEMUNHAL. Resta comprovada a ocorrência de justa causa por embriaguez em serviço quando o fato é confirmado por prova testemunhal, sem que haja a necessidade de produção de outras provas, tais como exame médico ou laboratorial para confirmar o estado etílico do empregado, ainda mais quando o obreiro tinha ciência da proibição do uso de bebidas alcoólicas no ambiente de trabalho. O poder diretivo de comando exercido pelo empregador sobre a atividade do empregado e a previsão legal de embriaguez como falta grave são fundamentos suficientes para validar a demissão do obreiro por justa causa, porque assim a lei determina (inteligência dos artigos 2º e 482, alínea f, da CLT). Recurso ordinário conhecido e não-provido.244
Logo, entende-se que a dispensa por justa causa deve ser provada,
cabendo o ônus de provar ao empregador, podendo em alguns casos, como a
exemplo da embriaguez, ser comprovada através de prova testemunhal.
O 3º Tribunal Regional do Trabalho decidiu:
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ EM SERVIÇO. PROVA. A rescisão por justa causa deve ser cabalmente provada, uma vez que constitui severa mácula na vida profissional do trabalhador, acarretando-lhe sérios prejuízos de ordem econômica e social. Não havendo nos autos prova robusta sobre o cometimento de falta grave pelo empregado, ônus de prova que compete ao empregador, nos termos
243
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-10. Justa Causa. Embriaguez em Serviço. nº RO: 1361201100310009 DF 01361-2011-003-10-00-9 RO, Relator: Desembargador Dorival Borges de Souza Neto . DEJT, 16 mar. 2012. 1ª Turma. 244
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho- 16. Justa Causa - Embriaguez - Caracterização - Prova Testemunhal, nº 21201001116001 MA 00021-2010-011-16-00-1, Relator: José Evandro de Souza, 26 abr. 2011.
70
do inciso II, do artigo 333 do CPC, é incabível o término do contrato
de trabalho por culpa do reclamante.245
Desse modo, o art. 333, II do CPC dispõe: “Art. 333 – O ônus da prova
incumbe: II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor”.246
O 16º Tribunal Regional do Trabalho também decidiu:
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ - ÔNUS DA PROVA. É do empregador o ônus de provar a justa causa do trabalhador, devendo fazê-lo de forma robusta e cabal, haja vista tratar-se da penalidade mais gravosa na seara trabalhista, afora o fato de que a continuidade da relação de emprego é um princípio que beneficia os trabalhadores. Desvencilhando-se desse encargo, mediante prova, há que prevalecer a justa causa do empregado, a exemplo do trabalhador que apresentou sintomas de embriaguez em serviço, falta esta que assume proporções sérias pelas consequências que pode acarretar, haja vista que, como motorista, labutava numa atividade que requer atenção e diligências redobradas face ao caótico trânsito dos centros urbanos e que exige plenas condições de trabalho para evitar acidentes. Recurso ordinário conhecido e não-provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, oriundos da 5ª Vara do Trabalho de São Luís, em que é recorrente DANIEL DE MOURA PENHA e recorrido TRANSPORTES COLETIVOS MARANHENSE LTDA - TCM, acordam os Desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe
provimento, nos termos deste voto.247
Nesse mesmo aspecto, a Súmula 212 do TST dispõe:
Despedimento. Ônus da prova (Res. 14/1985, DJ 19.09.1985) O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção
favorável ao empregado.248
245
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho -3 - Justa Causa. Embriaguez em Serviço. Prova. nº RO: 00121201005803002 0000121-93.2010.5.03.0058, Relator: Anemar Pereira Amaral. DEJT, 11 abr. 2011.Sexta Turma. p. 202 246
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.394. 247
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho -16. Justa Causa. Embriaguez - Ônus Da Prova nº 1009200601516003 MA 01009-2006-015-16-00-3, Relator: José Evandro de Souza. 12 dez. 2008. 248
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.1932.
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Ainda sobre esse aspecto, o art. 818 da CLT assim dispõe: “Art. 818 – A
prova das alegações incumbe à parte que as fizer”.249
Segundo Martins (2014), é do empregador o ônus da existência de justa
causa para dispensa do empregado.250 O princípio da continuidade da relação de
emprego e da presunção estabelece que o obreiro é dispensado sem justa causa, as
demais hipóteses de cessação do contrato de trabalho devem ser provadas pelo
empregador.251
Assim, entende-se que o ônus de provar a justa causa cabe ao
empregador, podendo o mesmo utilizar as provas periciais e testemunhais para o
auxiliaram, sendo estas válidas para comprovação da dispensa por justa causa,
cabendo então, provar o término do contrato de trabalho por todos os meios de
provas cabíveis.
3.5 ÔNUS DO EMPREGADO
Ao discutir acerca do ônus do empregado no que tange a existente de
doença incapacitante para o labor, examinar-se-á a obrigação que recai sobre a
figura do trabalhador em produzir provas capazes de convencer o magistrado acerca
da sua alegação. Nesse sentido, o 16º Tribunal Regional do Trabalho assim decidiu:
JUSTA CAUSA. EMBRIAGUEZ HABITUAL OU EM SERVIÇO. ÔNUS DA PROVA - ALCOOLISMO. É do empregador o ônus de provar a justa causa do trabalhador, devendo fazê-lo de forma robusta e cabal, por se tratar da penalidade mais gravosa na seara trabalhista, afora o fato de que a continuidade da relação de emprego é um princípio que beneficia os trabalhadores. Desvencilhando-se desse encargo, mediante provas orais e da própria confissão do recorrente, há que prevalecer a justa causa do empregado, que, durante a jornada de trabalho, ingere voluntariamente bebida alcoólica, provocando acidente automobilístico e graves transtornos às atividades regulares da empresa. Não se desconhece o atual entendimento acerca do alcoolismo e de seus reflexos para o DIREITO do trabalho, pois, encarado como uma doença, tal como reconhecido pela OMS, a justa causa em questão sói por ocasionar afastamento do trabalhador para tratamento de saúde, com gozo do auxílio-doença e a posterior estabilidade provisória no serviço.
249
VADE MECUM. Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Niciletti. 16 ed. atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. p.987. 250
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. 251
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
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Entretanto, cabe ao autor alegar e comprovar ser portador dessa enfermidade. Recurso conhecido e não-provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, oriundos da 4ª Vara do Trabalho de São Luís, em que é recorrente ISAIAS ARAGÃO DA COSTA e recorridos CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S.A. e COMPANHIA VALE DO RIO DOCE - CVRD, acordam os Desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos deste voto. (grifo do autor).252
De acordo com a decisão acima, entende-se que é do empregado o ônus
de provar a sua dependência alcoólica, nos casos em que o mesmo for dispensado
por justa causa devido à embriaguez em serviço, e se defender alegando que possui
tal dependência.
Devendo demonstrar claramente sua dependência, através de exames
médicos, e por testemunhas, por exemplo.
Diante dos argumentos citados acima, além dos aspectos jurisprudenciais
apresentados, conclui-se que a embriaguez habitual é uma dependência alcoólica,
portanto, segundo a Organização Mundial de Saúde é atualmente considerada uma
doença, não podendo então, o mesmo ser dispensado por justa causa, devendo o
empregador o afastar através do Órgão de Previdência Social, ou seja, o INSS, para
devido tratamento do empregado, podendo em alguns casos, ser reintegrado as
suas atividades na empresa.
E por fim, a embriaguez em serviço é aquela onde basta que o
empregado compareça ao trabalho sobre os efeitos de bebida alcoólica uma única
vez, a exemplo do motorista de ônibus e do vigilante, causando sérios prejuízos aos
demais, podendo então, ser dispensado por justa causa.
Sendo assim, o ônus de provar a dispensa por justa causa cabe
exclusivamente ao empregador, que na qual deverá demonstrar que o empregado
estava alcoolizado durante o horário de trabalho. Podendo a demonstrar por todos
os meios cabíveis, cabendo também, a prova testemunhal. Entretanto, cabe ao
próprio empregado provar sua dependência alcoólica quando o mesmo alegar que
possui tal dependência.
252
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-16. Justa Causa. Embriaguez Habitual ou em Serviço. Ônus da Prova – Alcoolismo. nº 365200700416007 MA 00365-2007-004-16-00-7, Relator: José Evandro de Souza. 07 out. 2008.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Novas folhas, novas flores, na infinita benção do
recomeço” Chico Xavier.
Diante do exposto na presente pesquisa, conclui-se que atualmente os
principais tribunais trabalhistas entendem de forma pacífica que a embriaguez
habitual é considerada uma doença, como classificou a própria Organização Mundial
de Saúde e, por essa razão, não poderá o empregado, que é dependente alcoólatra,
ser dispensado por justa causa.
Sendo comprovado que o empregado é dependente alcoólatra, o
empregador deverá o encaminhar para o órgão de Previdência Social, ou seja, o
INSS, onde será afastado para o devido tratamento, recebendo a partir do 31º dia
afastado do órgão Previdenciário o auxílio-doença.
No entanto, comprovado que o empregado ingeriu bebida alcoólica
apenas uma única vez no ambiente laborativo, e não sendo comprovado pelo
mesmo que é dependente alcoólatra, este poderá sim, ser dispensado por justa
causa, nesse caso, o empregador deverá comprovar que o empregado estava no
ambiente laborativo ingerido bebida alcoólica.
Vale ressaltar que o ato de ingerir bebida alcoólica no trabalho será
considerado a partir do momento em que o empregado se apresenta embriagado já
na portaria da empresa.
Sendo assim, entende-se que será considerada embriaguez habitual
àquela que ocorre repetidamente, fora do local de trabalho e horário de trabalho,
trazendo consequências para a execução de suas obrigações contratuais.
Portanto, para que seja considerada embriaguez habitual é necessário
haver a repetição do ato.
Logo, entende-se que o alcoolismo crônico é o consumo de bebidas
alcoólicas repetidamente e compulsivamente, por um tempo bastante prolongado.
Sendo está um transtorno que o ser humano adquire com o tempo.
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Vale lembrar, que será considerada discriminatória a dispensa por justa
causa do empregado dependente alcoólatra.
E por fim, a embriaguez em serviço é aquela que se se caracteriza por
uma única falta, não sendo necessária a sua habitualidade, muito menos a sua
repetição. À exemplo da embriaguez em serviço. temos o caso do motorista de
ônibus e o vigilante portador de arma de fogo, funções essas que, além de colocar
em risco a vida do próprio empregado, coloca em risco a vida das demais pessoas,
devendo nesses casos, o empregado, ser dispensado imediatamente pelo
empregador.
Nessa situação, cabe ao empregador comprovar, por todos os meios de
provas cabíveis, inclusive, por prova testemunhal, que o empregado estava ingerido
bebida alcoólica durante suas atividades laborativas.
Nos casos em que o empregado alegue que é dependente alcoólatra o
mesmo deverá comprovar, através de exames médicos, que é alcoólatra.
Em contrapartida, a todos os aspectos mencionados entendemos que é
uma situação completamente complicada para o empregador, pois diante da
situação de encontrar um empregado alcoolizado na hora das suas atividades
laborativas a primeira medida cabível que o empregador tomaria seria de dispensar
o empregado por embriaguez em serviço, respeitando, desse modo, o princípio da
imeticidade, cabendo destarte, ao próprio empregado comprovar que possui tal
dependência e buscar o seu devido tratamento. Assim, são nessas ocorrências, por
conseguinte, que serão cabíveis as ações por reversão da justa causa.
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REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS
ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito do Trabalho: material, processual e legislação especial. 14. ed. São Paulo: Rideel, 2014. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. São Paulo: Ltr, 2012. BRASIL, Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Legislação Federal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm> Acesso em: 04 jun. 2015. BRASIL. Mistério da Previdência Social. Regras do auxílio-doença e pensão por morte da MP 664 passam a valer. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/noticias/legislacao-regras-do-auxilio-doenca-e-pensao-por-morte-da-mp-664-passam-a-valer/>Acesso em 04 jun. 2015. BRASIL. Normas para a concessão do auxílio-doença e da pensão por morte. Medida Provisória nº 66 de 30 dezembro de 2014 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Mpv/mpv664.htm> Acesso em 04 jun. 2015. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho- 16. Justa Causa - Embriaguez - Caracterização - Prova Testemunhal, nº 21201001116001 MA 00021-2010-011-16-00-1, Relator: José Evandro de Souza, 26 abr. 2011. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho- 23. Modalidade da Dispensa. Justa Causa. Embriaguez em Serviço. Configurada. nº RO: 141200902223000 MT 00141.2009.022.23.00-0, Relator: Desembargadora Beatriz Theodoro. 28 abr. 2011. 2ª Turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho -3 - Justa Causa. Embriaguez em Serviço. Prova. nº RO: 00121201005803002 0000121-93.2010.5.03.0058, Relator: Anemar Pereira Amaral. DEJT, 11 abr. 2011.Sexta Turma. p. 202. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-10 - Justa Causa. Alcoolismo Como Doença. Desídia. Ônus Da Prova. nº ROPS: 852200800710002 DF 00852-2008-007-10-00-2 , Relator: Desembargador Braz Henriques de Oliveira. Brasília, 29 jan. 2009. 3ª Turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-10. Justa Causa. Embriaguez em Serviço. nº RO: 1361201100310009 DF 01361-2011-003-10-00-9 RO, Relator: Desembargador Dorival Borges de Souza Neto . DEJT, 16 mar. 2012. 1ª Turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-2. Embriaguez em Serviço. Contumácia. Perdão Tácito. nº RECORD: 430200706102005 SP 00430-2007-061-02-00-5, Relator: Luiz Edgar Ferraz de Oliveira. São Paulo, 06 mar. 2009. 6ª Turma.
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BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Configura Justa Causa, nos Moldes do Art. 482, Alínea F da Clt (embriaguez Habitual Ou em Serviço) nº RO: 707802 00440-2002-095-03-00-8. Relator: Eduardo Augusto Lobato. Justa Causa - Embriaguez. Minas Gerais: DJMG, 24 fev. 2002. Quinta Turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Inciso II Artigo 4º do Código Civil. Relator: Jales Valadao Cardoso. Alcoolismo - Classificação Como Doença - Despedida Por Justa Causa: reversão. Minas Gerais, 03 fev. 2012. Segunda turma. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho-3. Justa Causa - Embriaguez em Serviço - Motorista de Linha Interestadual. Relator: Marcus Moura Ferreira, Belo Horizonte: DJMG. 19 dez. 20031ª Turma. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – TST. Recurso de Revista. Dispensa Arbitrária. Indício de Alcoolismo Crônico. nº- RR: 1947007320075090092 , Relator: Walmir Oliveira da Costa, 1ª DEJT, 15 ago. 2014. 1ªTurma. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista. Alcoolismo. Doença Crônica. Dispensa Por Justa Causa. Impossibilidade. Direito à Reintegração nº RR: 5290007420075120004 529000-74.2007.5.12.0004. Relator: Delaíde Miranda Arantes. [s.l.], 07 jun. 2013. 7ª Turma. CROCE, Delton. Manual de medicina legal. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12. ed. São Paulo: Ltr, 2013. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. LADISLAU, Roberta Elva. Embriaguez habitual ou em serviço: a nova percepção do direito trabalhista. Jus Navigandi,Espírito Santo, v. 1, n. 1, p.1-1, 01 abr. 2015. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/38232/embriaguez-habitual-ou-em-servico-a-nova-percepcao-do-direito-trabalhista#ixzz3ZP12l3da>. Acesso em: 04 jun. 2015. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 ed. São Paulo: LTR, 2014. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014. RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 16 ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2014. SUSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 3 ed. Rev. e Atualiz. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
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