fundamentos da desigualdade: uma abordagem teórica€¦ · permitem o entendimento desse fenômeno...

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Texto para Discussão 003 | 2019 Discussion Paper 003 | 2019 Fundamentos da Desigualdade: Uma Abordagem Teórica Cassiano José Bezerra Marques Trovão Professor Adjunto do Departamento de Economia e do Programa de Pós-graduação em Economia (PPECO). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Economia Política do Desenvolvimento (GEPD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Sofia Pádua Manzano Mestre em Economia Social e do Trabalho pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

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Texto para Discussão 003 | 2019

Discussion Paper 003 | 2019

Fundamentos da Desigualdade: Uma Abordagem Teórica

Cassiano José Bezerra Marques Trovão

Professor Adjunto do Departamento de Economia e do Programa de Pós-graduação em Economia (PPECO). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Economia Política do Desenvolvimento (GEPD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Sofia Pádua Manzano

Mestre em Economia Social e do Trabalho pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

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Fundamentos da Desigualdade: Uma Abordagem Teórica

Agosto, 2019

Cassiano José Bezerra Marques Trovão

Professor Adjunto do Departamento de Economia e do Programa de Pós-graduação em Economia (PPECO). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Economia Política do Desenvolvimento (GEPD) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Sofia Pádua Manzano

Mestre em Economia Social e do Trabalho pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

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Sumário

1. Introdução............................................................................................................................ 2

2. A origem da desigualdade e o surgimento de novas dimensões ......................................... 2

3. O Estado de Bem-Estar Social: da regulação à oferta de bens e serviços ........................... 8

4. Uma nova era de desigualdades ........................................................................................ 15

5. Conclusão .......................................................................................................................... 18

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Resumo

O objetivo do presente artigo é apresentar, a partir de um enfoque teórico, os fundamentos da

desigualdade e sua concepção enquanto um fenômeno complexo, dinâmico e multidimensional.

Trabalha-se com a ideia de que a desigualdade materializa-se na diferenciação entre classes

sociais, famílias e pessoas, segundo critérios que vão muito além das disparidades de acesso à

renda monetária. O desenvolvimento dessa hipótese dá-se a partir de uma investigação teórica

que busca resgatar a contribuição de diversos autores que se dedicaram ao estudo desse

fenômeno. As principais conclusões que emergem dessa investigação são: a desigualdade é

deveras complexa para se restringir a uma única dimensão como, por exemplo, a dimensão

econômica referente à concentração da renda e seu estudo precisa ser aprofundado. Contribui-

se, assim, para a orientação de políticas públicas, no âmbito do Estado, e a busca de

instrumentos e mecanismos essenciais para a sua superação.

Palavras-chave: Desigualdade multidimensional, fundamentos teóricos, Estado, políticas

públicas.

Abstract

The aim of this paper is to present, from a theoretical approach, the foundations of inequality

and its concept as a complex, dynamic and multidimensional phenomenon. It works through

the idea that inequality materializes itself as a differentiation between social classes, families

and individuals. This criteria goes far beyond the disparities in access to monetary income. The

development of this hypothesis is based on a theoretical research that seeks to rescue the

contribution of several authors who have devoted themselves to the study of this phenomenon.

The main conclusions are that inequality is quite complex to be restricted to a single dimension,

for example, the economic dimension related to the concentration of income and that it is

necessary to study it deeply in order to guide public policies, under the rule of the State, looking

for necessary tools and mechanisms to overcome it.

Keywords: Multidimensional Inequality, Theoretical Foundations, State, Public Policies.

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1. Introdução

A evolução do capitalismo e o desenvolvimento das forças produtivas têm permitido a

criação de bens e serviços que alteram a condição de vida em sociedade. No entanto, a realidade

histórica mostrou que as características do modo de produção capitalista não têm proporcionado

uma distribuição igualitária desses bens e serviços. De outro modo, o capitalismo tem feito com

que a distribuição dos frutos do progresso técnico apresente um peso relevante para a definição

dos problemas relacionados ao fenômeno da desigualdade e sua recorrência nas sociedades

capitalistas. Esses problemas impuseram uma agenda de pesquisa que suscitou distintas

interpretações e concepções sobre a origem e os fundamentos da desigualdade.

O objetivo do presente trabalho é resgatar algumas das principais contribuições que

permitem o entendimento desse fenômeno recorrente e complexo que tem moldado as relações

sociais no capitalismo moderno. Ainda que elaboradas sob condições econômicas distintas,

essas contribuições continuam relevantes para a definição teórica da desigualdade

contemporânea. Isso porque o capitalismo transforma esse fenômeno impondo-lhe

caraterísticas dinâmicas, ao mesmo tempo em que aprofunda aquelas que se encontravam em

sua origem. Nas próximas seções serão abordados, primeiramente, a origem e o surgimento de

novas dimensões da desigualdade. Em seguida, o papel do Estado de Bem-Estar Social para a

regulação dos contratos e a oferta de bens e serviços. Na terceira seção, será discutida a ideia

do surgimento de uma nova era de desigualdades. E, por fim, alguns comentários são feitos à

guisa de conclusão.

2. A origem da desigualdade e o surgimento de novas dimensões

Rousseau, em seus estudos, deixou evidente que os fundamentos da desigualdade

possuíam relação com a divisão da terra, a divisão do trabalho e o mérito. Esses elementos

materializavam-se na propriedade, enquanto direito privado. Para esse autor, a desigualdade

surgiu na sociedade quando a primeira propriedade da terra criou uma distinção entre os

homens.

O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e

encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da

sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria

poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos,

tivesse gritado aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis

perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém!”. Parece,

porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de não mais poder ficar como

estavam: porque essa idéia de propriedade, dependendo muito de idéias anteriores que

só puderam nascer sucessivamente, não se formou de repente no espírito humano: foi

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preciso fazer muitos progressos, adquirir muita indústria e luzes, transmiti-las e

aumentá-las de idade em idade, antes de chegar a esse último termo do estado de

natureza. (Rousseau, 2001: 91)

A partir da sua investigação, pode-se definir um dos fundamentos da desigualdade,

isto é, a diferenciação no acesso à terra. A desigualdade de acesso à propriedade da terra está

inserida na dimensão patrimonial desse fenômeno. Na origem da sociedade civil, a posse da

propriedade da terra deslocou o homem de sua posição de bem-estar. Rousseau aponta que o

momento em que um homem necessitou da ajuda de outro para uma determinada atividade

(socorro, suprimento proporcionado por outros) fez com que desaparecesse a condição de

igualdade entre os membros de uma comunidade. Ao expor suas ideias, esse autor introduz a

propriedade e a exploração do trabalho em sua forma seminal (transformação de florestas em

campos lócus do surgimento da escravidão e da miséria) como elementos fundantes de um

fenômeno que assumiria distintas formas em diversas dimensões.

O homem livre em estado de natureza não guarda qualquer relação com aqueles que

enfrentam os obstáculos e as formas pelas quais a desigualdade se manifesta na sociedade

moderna. Como aponta Rousseau, o Contrato Social fez com que o homem renegasse sua

liberdade individual em detrimento da vontade coletiva, vendo, assim, a legitimação da

desigualdade patrimonial fundada na propriedade privada.

O Contrato Social representa a alienação da liberdade individual, característica da

condição natural humana, e a configuração de uma liberdade coletiva relacionada à vida em

sociedade, o que legitimaria a desigualdade fundada na propriedade privada. Segundo Rousseau

(2001), essa alienação define que a comunidade, ao aceitar a existência dos bens de outras

pessoas, os legitima sem reconhecer a usurpação, o direito e o gozo, pelo simples fato de possuir

um determinado bem.

A propriedade privada e sua legitimação pela sociedade permanecem como

elementos que conformam a desigualdade contemporânea, ainda que esse fenômeno tenha

assumido formas novas e mais complexas. O entendimento da perpetuação desses elementos,

enquanto parte fundante da desigualdade, permite que se assuma que uma possível solução

nessa dimensão exija alterações nas estruturas das instituições da sociedade. As instituições

modernas não se mostram capazes de garantir a homogeneização das condições de acesso à

terra, nem proporcionam uma elevação do bem-estar por meio do acesso aos bens e serviços

criados pelo progresso do capitalismo e que se mostram necessários à reprodução da vida na

sociedade moderna.

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A teoria desenvolvida por Marx também contribui para a definição dos

fundamentos e das formas que assume a desigualdade no processo de reprodução social. A

visão de Marx aponta que toda produção é uma forma de apropriação e, por isso, não se trata

de “se a riqueza se desenvolve melhor sob esta ou aquela forma de propriedade. Mas é uma

pura tautologia afirmar que não pode haver produção, nem tão pouco sociedade, quando não

existe nenhuma forma de propriedade. Uma apropriação que não se apropria de nada é uma

contradictio in subjecto (contradição nos termos).” (Marx, 1982: 14)

Outro aspecto do fenômeno da desigualdade levantado por esse autor refere-se à

separação entre o resultado da produção e sua apropriação por aqueles que contribuíram para o

processo produtivo. Para Marx (1982: 24), na sociedade capitalista, a relação entre o produtor

e o produto acabado é uma relação exterior. O acesso ao objeto produzido por aqueles que o

produziram depende das relações que esses mantêm com os outros indivíduos. Marx (1982: 25)

destaca que o trabalhador não se apropria diretamente do produto ao término da produção.

“Entre o produtor e os produtos interpõe-se a distribuição, a qual, mediante leis sociais,

determina a parte do mundo dos produtos que cabe àquele; interpõe-se, portanto, entre a

produção e o consumo.”

Cabe, aos agentes da produção, a distribuição entre renda imobiliária, salário, juro

e lucro. A parte de cada agente depende de sua forma de inserção no processo de produção,

sendo o trabalhador aquele que recebe salário, o capitalista aquele que pode auferir juros e

lucros e os proprietários os que se apropriam da renda imobiliária. Essa separação é uma

característica marcante da sociedade capitalista.

Marx (1983) ainda aponta que, no modo de produção capitalista, a expressão

máxima do processo de reprodução e acumulação de capital é a forma de valorização D – D’,

isto é, dinheiro que gera mais dinheiro. Tanto Marx quanto Keynes (1936) reconheceram que

essa é a forma de valorização que melhor expressa os movimentos do capital e que expõe sua

caraterística intrinsecamente concentradora.

A partir dessa lógica apontada por Marx (1983), pode-se definir que a acumulação

e a concentração da riqueza monetária são dimensões distintas daquela relacionada à

propriedade da terra e do consumo monetário possibilitado pelos salários obtidos pela venda da

força de trabalho, no âmbito do mercado. No entanto, deve ficar claro que o surgimento de

novas dimensões não invalida ou reduz o peso das outras. A desigualdade parece se transformar

pela absorção de novos elementos, tornando-se um fenômeno cada vez mais complexo. Tanto

o acesso à terra apontado por Rousseau, quanto a acumulação de riqueza monetária apontada

por Marx, podem ser incluídos na dimensão da desigualdade associada ao patrimônio. Nessa, a

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propriedade privada assume formas que permitem a afirmação de que a desigualdade

distanciou-se da terra para encontrar na esfera financeira outro espaço de reprodução.

Webb e Webb (1995) trouxeram para o campo do estudo da desigualdade, no início

do século XX, o elemento que Marx havia apontado como aquele que personifica as

características mais marcantes do modo de produção capitalista: a reprodução do capital sob a

forma D – D’ e a tendência à concentração desse capital em sua forma monetária. Para esses

autores, a posse de riqueza monetária, isto é, a desigualdade de patrimônio financeiro, deveria

ser considerada por qualquer estratégia que pretendesse enfrentar o fenômeno da desigualdade

em toda sua complexidade. O enfrentamento da desigualdade em sua dimensão patrimonial-

monetária1 só seria viável a partir de uma ação contrária à tendência à concentração do próprio

sistema. Seriam necessários mecanismos externos à esfera privada/individual de decisão,

podendo englobar a regulação da propriedade e das estruturas econômica e financeira, além de

uma reforma nos sistemas tributários. Esses instrumentos deveriam ser somados a uma

estratégia para inibir a perpetuação da desigualdade oriunda da transmissão da propriedade por

herança.

A partir dessas contribuições, percebe-se que o processo de produção capitalista

tem permitido o surgimento de uma forma de desigualdade que altera a relação entre produtor

e produto acabado. Nos termos colocados por Marx, essa é uma relação puramente exterior, ou

seja, o retorno do produto ao sujeito depende das relações desse com outros indivíduos. Em sua

visão, a apropriação dos produtos acabados é determinada por leis sociais, em que a distribuição

do excedente é condicionada ao modo de produção. Para o autor, a distribuição da produção é

ex post, enquanto os membros da sociedade são distribuídos pelos diferentes tipos de produção

de forma ex ante. A divisão dos frutos do progresso aparece, então, como um resultado da

distribuição dos indivíduos no próprio processo de produção. Em outros termos, quer dizer que

a participação dos indivíduos na apropriação dos resultados da produção depende de sua

condição de subordinação às relações de produção.

A partir da contribuição de Marx, constata-se que a participação dos trabalhadores

no processo distributivo se dá por meio da possibilidade de adquirir produtos pela via do salário.

Isso, segundo essa visão, submeteria os indivíduos a uma lei social que reflete sua posição na

sociedade e no processo de produção. Nesse ponto, surge um novo fundamento que contribui

para a concepção da desigualdade, qual seja, a forma de inserção social subordinada dos

indivíduos no processo de produção. A partir da contribuição de Marx, percebe-se que a

1 Ver Tawney (1931) e Webb e Webb (1923)

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desigualdade assume uma forma que separa os indivíduos em proprietários e não proprietários

dos bens de capital. Os primeiros possuem uma posição privilegiada, enquanto os segundos são

constrangidos a vender sua força de trabalho para receberem um salário e, só então, fazerem

parte da distribuição dos produtos que eles próprios produziram. Esse constrangimento é o

resultado da própria existência do capital e da propriedade.2 Os trabalhadores dependem dos

salários e a ausência de controle sobre as condições e a organização da produção submete-os a

uma condição desfavorável na relação de venda e compra da única mercadoria que possuem,

sua própria força de trabalho. Isso implica em uma subordinação no processo de produção.

Desse modo, a distinção entre proprietários dos meios de produção e proprietários da força de

trabalho apresenta-se como fundamento chave para a concepção do fenômeno da desigualdade3.

Percebe-se, assim, que a evolução do modo de produção capitalista proporcionou o

aparecimento de distintas configurações de produção, que passaram a conviver com novas

formas de desigualdade. Uma delas emerge daquilo que Marx (2004) denominou de subsunção

real do trabalho pelo capital. Essa é a expressão da subordinação do trabalho ao capital, isto é,

da desigualdade real que emerge da relação capital-trabalho.

O advento da grande indústria e o desenvolvimento das forças tecnológicas

materializaram a desigualdade que surge da diferenciação entre aqueles que possuem o capital

e aqueles que têm como única opção a venda de sua força de trabalho4. O capitalismo

consolidou uma forma de desigualdade que está associada à necessidade/obrigatoriedade de o

trabalhador vender sua força de trabalho em troca de dinheiro para poder comprar bens e

serviços necessários à sobrevivência.

Na medida em que o trabalho é para o capital uma mercadoria e sua aquisição só se

realiza na expectativa de que haja uma valorização do próprio capital, qualquer empecilho à sua

realização acaba por colocar em risco a sobrevivência do trabalhador5. Esse risco, também

apontado por Keynes (1936), advém da subordinação do trabalho ao capital, que tem no

desemprego involuntário a sua mais precisa expressão. Essa forma de desemprego evidencia o

2 “(...) distribuição aparece como distribuição dos produtos e assim como que afastada da produção, e, por assim

dizer, independente dela. Contudo, antes de ser distribuição de produtos, ela é: primeiro, distribuição dos

instrumentos de produção, e, segundo, distribuição dos membros da sociedade pelos diferentes tipos de produção,

o que é uma determinação ampliada da relação anterior.” (Marx 1982, p. 11) 3 A Revolução Industrial fez o regime do capital avançar sobre as formas pretéritas de produção levando à

subsunção a produção de mercadorias. Isso representa que uma parcela cada vez maior da sociedade viu os meios

de produção serem subtraídos, levando-a a vender sua força de trabalho no mercado para ter acesso aos bens

necessários à sobrevivência. 4 Ver Marx, K. (2004). 5 Ver Dedecca (2009)

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desejo frustrado de o trabalhador vender sua força de trabalho, podendo, esse, em grande parte

dos casos, não encontrar quem queira comprá-la.

Na esfera econômica, o desenvolvimento do capitalismo permitiu que a expansão

da produção material possibilitasse a satisfação de algumas necessidades humanas. Ainda que

o sistema não se tenha mostrado capaz de solucionar o problema distributivo de forma

automática, como bem observou Keynes (1936), o desenvolvimento das forças produtivas, ao

proporcionar a superação de entraves ao desenvolvimento econômico, permitiu a expansão da

produção e criou, e ainda cria, uma gama de bens e serviços que alteraram e alteram a condição

de vida da sociedade. (Keynes, 1930).

Na esfera jurídica, o capitalismo e suas transformações proporcionaram o

surgimento de uma sociedade baseada na liberdade de contratação no âmbito do mercado.6 De

acordo com Castel (1998), os trabalhadores passaram a ter sua inserção na sociedade por meio

de contratos definidos no mercado de trabalho. Essa nova ordem jurídica, que passou a reger os

contratos de trabalho e forçou os trabalhadores a se preocuparem com sua força de trabalho e o

sustento de sua família, não pode ser pensada sem a participação do Estado. Esse apresentou

um papel importante por legitimar os novos instrumentos institucionais de regulação das

relações sociais.

Mais que isso, a expansão dos meios de produção transformou o espaço urbano,

criando um mercado de trabalho que passou a se caracterizar como o ambiente propício para a

reprodução do antagonismo identificado por Marx entre possuidores e não possuidores de

capital.

É inegável que as transformações proporcionadas pelo desenvolvimento capitalista,

como apontou Keynes (1930), expandiram a produção e criaram novos bens e serviços,

melhorando o padrão de vida da sociedade. No entanto, a história do século XX revelou que

esse modo de produção não se mostrou capaz de equacionar autônoma e automaticamente a

distribuição dos frutos do progresso, nem de impedir a ampliação da miséria e da desigualdade

no âmbito da relação capital-trabalho.

Keynes (1930) enxergava que o progresso das forças produtivas se mostrava capaz

de trazer uma melhora expressiva das condições sociais; porém, para isso, deveria haver um

mecanismo para que o avanço da produtividade não se transformasse em um avanço da

desigualdade. Tal mecanismo passaria pela ação efetiva do Estado.

6 Ver Castel (1998).

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O mesmo Estado que, juridicamente, formalizaria as relações sociais e contribuiria

para a legitimação da desigualdade em suas dimensões patrimonial (imobiliária e financeira) e

naquela oriunda da oposição entre proprietários da força de trabalho e proprietários do capital,

seria impelido a concentrar esforços para que essas desigualdades fossem substancialmente

menores, garantindo melhores condições de distribuição dos bens e serviços gerados no

processo de produção e melhores condições de vida para a sociedade. Os anos dourados do

capitalismo evidenciaram a importância do papel do Estado para as transformações do

fenômeno da desigualdade, especialmente em sua dimensão social.

3. O Estado de Bem-Estar Social: da regulação à oferta de bens e serviços

O capitalismo do século XIX ficou marcado por muitas transformações como: o

processo de monopolização/oligopolização/cartelização das empresas, a ascensão do capital

financeiro e dos fluxos de capitais, além de mudanças nas relações entre as nações. Segundo

Polanyi (1944: 209), os Estados passaram a conviver com diversas tensões em diferentes

esferas. No âmbito das economias domésticas, houve uma série de desequilíbrios: declínio da

produção, elevação do desemprego e queda dos rendimentos. No que tange ao ambiente político

interno às nações, a luta e o impasse das forças sociais (tensão de classes) eram cada vez mais

constantes. Na esfera econômica internacional, as tensões materializavam-se em problemas de

Balanço de Pagamentos (quedas nas exportações, termos desfavoráveis de troca, escassez de

matérias primas importadas e redução dos investimentos estrangeiros), que se somavam às

“pressões sobre o câmbio” e sobre a conversibilidade das moedas nacionais. Por fim, quanto à

política internacional, fortaleciam-se as rivalidades imperialistas em um cenário em que a

pressão do desemprego acirrou as disputas entre os países por mercados estrangeiros, colônias

e zonas de influência.

Com o Sistema Financeiro Internacional e o próprio capitalismo em crise no início

do século XX, a livre regulação, segundo Polanyi (1940), mostrou sua verdadeira face. Em sua

interpretação, o laissez-faire não se mostrava capaz de solucionar as contradições e os

problemas intrínsecos ao próprio modo de produção capitalista. Ao contrário, o regime liberal

provocou inúmeros transtornos à reprodução da vida em sociedade. As contradições do

capitalismo, primeiramente apontadas por Marx, aprofundaram a dimensão econômica da

desigualdade, especialmente quanto à dinâmica do mercado de trabalho e os problemas

relacionados à redução dos níveis de emprego e renda.

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Enquanto o emprego era abundante, os rendimentos seguros, a produção contínua, o

padrão de vida seguro e os preços estáveis, a pressão intervencionista era naturalmente

menor do que se tornou quando as quedas adiadas transformaram a indústria num

amontoado de ferramentas em desuso e esforços frustrados. (Polanyi 1944, p. 206)

Os impasses promovidos pelo capitalismo liberal abriram espaço para o que Polanyi

(1944: 233) descreveu como uma “reforma da economia de mercado, alcançada ao preço da

extinção de todas as instituições democráticas, tanto no campo industrial como político”. Essa

reforma viria com a intervenção pesada estatal na figura do fascismo, que bloqueou a atuação

política dos cidadãos e reprimiu qualquer tipo de movimentação popular. Segundo esse autor,

o fascismo estabeleceu-se e enraizou-se em uma sociedade de mercado cujo funcionamento

estava comprometido, o que favoreceu sua difusão para outras esferas: econômica, filosófica,

social, artística, cultural e religiosa.

Essa reforma da economia de mercado, para Polanyi (1944: 282), ocorreu em três

fases intimamente relacionadas à esfera econômica: na primeira, de 1917 a 1923, os governos

enxergavam o fascismo como o instrumento capaz de restaurar a lei e a ordem, para que os

mecanismos de mercado voltassem a funcionar; na segunda, de 1924 a 1929, houve um

enfraquecimento do fascismo enquanto força política, num momento de intenso crescimento

econômico; já na última fase7, de 1930 em diante, a Grande Depressão e o flagelo do

desemprego marcaram a crise geral da economia de mercado, permitindo ao fascismo tornar-se

uma realidade, um poder mundial.

A partir dos anos 1930, o impasse do sistema de mercado “tornou aparente o

verdadeiro significado do fascismo”. O debacle de Wall Street tomou grandes proporções. A

economia mundial entrou em colapso. Houve de fato, uma reorganização internacional, em que

três potências (Japão, Alemanha e Itália) opuseram-se ao status quo e interromperam a paz que

marcou o período imediato após Primeira Grande Guerra. A Inglaterra abandonou o padrão-

ouro, dívidas externas passaram a ser repudiadas, os mercados de capital e o comércio mundial

perderam força. O cenário era mais complexo e atingia não só a economia, mas, também, a

política internacional8.

Nesse cenário de instabilidade, emergiu um conjunto de transformações que alterou

mundialmente a realidade política, econômica e social. A primeira delas foi a coletivização das

fazendas na Rússia nos anos 1930, que posteriormente se consolidaria na ascensão do

7 Para Polanyi (1944: 283), “[o fascismo] emergia, agora, como uma solução alternativa para o problema de uma

sociedade industrial. A Alemanha tomou a iniciativa, numa revolução de âmbito europeu, e o alinhamento fascista

deu à sua luta pelo poder uma dinâmica que logo abarcou os cinco continentes. A história estava na engrenagem

de uma mudança social”. 8 Ver Polanyi (1944) capítulo 20.

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socialismo. De acordo com Polanyi (1944), a ausência de um sistema equilibrado de poder, a

desintegração econômica mundial e a incapacidade de o mercado mundial absorver a produção

agrícola, que evidenciavam a “incapacidade da economia de mercado em estabelecer uma

ligação entre todos os países”, fizeram com que a Rússia buscasse uma alternativa na

autossuficiência, a partir do controle estatal do comércio exterior e das indústrias básicas.

Obviamente que a atuação do Estado nesse processo não pode ser vista como algo

novo. Nas palavras desse autor,

A história econômica mostra que a emergência de mercados nacionais não foi, de

forma alguma, o resultado da emancipação gradual e espontânea da esfera econômica

do controle governamental. Pelo contrário, o mercado foi a consequência de uma

intervenção consciente, e às vezes violenta, por parte do governo que impôs à

sociedade a organização do mercado, por finalidades não econômicas. (...) A fraqueza

congênita da sociedade do século dezenove não foi o fato de ser uma sociedade

industrial e sim uma sociedade de mercado. (Polanyi 1944, p. 244)

O século XX conheceu o que Polanyi chamou de “A Grande Transformação”. As

imperfeições do funcionamento dos mecanismos de mercado criavam tensões recorrentes e

acumulativas na sociedade, que a despertavam para medidas de autopreservação para impedir

ou bloquear a livre atuação do mercado.

As nações testemunharam um desenvolvimento em que o sistema econômico – o

mercado – deixava de organizar a sociedade. A realidade socioeconômica havia sido alterada.

A configuração social era definida pelo primado da sociedade sobre o sistema econômico. O

sistema de mercado auto regulável é que se transformava, pois esse já não possuía a mesma

influência sobre o trabalho, a terra e o dinheiro.

Retirou-se das mãos do mercado o trabalho (o contrato salarial deixou de ser um

contrato privado e as horas de trabalho, as condições fabris, as modalidades de contrato e o

próprio salário básico passaram a ser determinados fora do mercado), a terra (os contratos de

arrendamento da terra foram retirados da jurisdição do mercado) e o dinheiro (a administração

dos investimentos e a regulamentação da taxa de poupança passaram a ser atividades

governamentais). A redução do poder das decisões privadas sobre relações socioeconômicas

foi uma transformação radical na organização da vida em sociedade, em que o Estado passou a

assumir um papel central.

A Transformação de que tratou Polanyi (1944), culminou na emergência do Estado

de Bem-Estar Social. A presença ativa do Estado na economia e a regulação dos contratos,

somados aos esforços para alcançar o pleno emprego e ampliação da oferta de diversos serviços

públicos, permitiram uma redução da desigualdade de renda e uma elevação do bem-estar da

sociedade nos países avançados. Para Piketty (2014: 463), a maior presença do Estado na

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economia pode ser confirmada pelo fato de que, “a partir dos anos 1920-1930 e até os anos

1970-1980, assistimos a um crescimento considerável da participação dos impostos e das

despesas públicas (e, particularmente, das despesas sociais) na renda nacional dos países ricos”.

A construção do denominado Estado de Bem-Estar Social esteve intimamente

relacionada a uma dimensão da desigualdade que extrapola a esfera econômica, isto é, do

patrimônio (imobiliário e financeiro), da relação capital trabalho e da diferenciação pessoal da

renda. Essa dimensão assume a forma de uma desigualdade social.

O entendimento dessa dimensão social deve partir da ideia de que os indivíduos se

diferenciam entre si por conta do acesso a determinados bens e serviços de caráter coletivo.

Grande parte desses bens não têm sua demanda atendida necessariamente pela via monetária

(poder de compra dos salários) no âmbito do mercado. Alguns bens assumem formas que

exigem uma atuação extra mercado para que a sociedade, de forma coletiva, tenha acesso.

O surgimento do Estado de Bem-Estar social evidenciou uma dimensão da

desigualdade que escapava da capacidade de o livre mercado solucionar. A atuação do Estado

no sentido de sua superação era condição indispensável.

A respeito das consequências da crise de 1929, Tawney (1931) afirmou que a busca

pela igualdade não representava uma extinção dos diferentes atributos individuais, mas, sim, o

estabelecimento de políticas que reduziriam as desigualdades entre as classes. O papel do

Estado, para Tawney (1931), deveria partir da procura pela redução da desigualdade e a melhora

na distribuição da riqueza por meio da oferta de bens e serviços a partir da promoção de políticas

públicas de educação, saúde e proteção ao trabalho, que incentivassem os direitos coletivos.

Em termos práticos, era necessária a promoção de reformas que consolidassem a relação entre

as dimensões social e econômica. Tais reformas deveriam ser orientadas para se alcançar uma

distribuição mais equânime dos frutos proporcionados pelo capitalismo9.

É razoável que se afirme que a expansão da oferta dos bens e serviços de uso

coletivo não guarda uma relação direta com os interesses do capital. Alguns desses bens podem

até se configurar em oportunidade de ganhos monetários para os empresários. No entanto, a

redução da desigualdade social não pode prescindir da ação do Estado e da política pública. A

atuação estatal mostra-se uma condição necessária para enfrentar o que se pode chamar de

desigualdade multidimensional, fenômeno que abarca não apenas as disparidades econômicas,

mas, também, aquelas relacionadas à dimensão social.

9 Ver Dedecca (2009).

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12

A evolução do capitalismo no período do pós-guerra permitiu a expansão da

atuação do Estado. O crescimento econômico criou um ambiente favorável à redução da

desigualdade multidimensional. Além de a expansão econômica do período ter permitido a

elevação do emprego, retirando milhões de pessoas da condição de desemprego e da

insuficiência de renda, a desigualdade reduziu-se em decorrência de o Estado ter passado a atuar

diretamente para ampliar a oferta de bens e serviços que alteram a dimensão social da

desigualdade.

As condições para a expansão da oferta desses bens e serviços foram garantidas

pelo planejamento, regulação e controle por parte do Estado, que reduziram o peso e a

importância do mercado como fonte exclusiva de oferta. Em outros termos, o acesso a essa

cesta de bens e serviços passou a se dar não mais única e exclusivamente pela via monetária no

âmbito do mercado. Isso implica que a garantia das condições mínimas para a reprodução da

vida em sociedade não é exclusivamente dependente da venda da força de trabalho, do salário.

A oferta e as políticas públicas passaram a se configurar como mecanismos de enfrentamento

da desigualdade em suas distintas dimensões.

A intervenção pública do Estado de Bem-Estar Social atuou na elevação da oferta

dos bens e serviços necessários à reprodução da vida em sociedade e,

(...) permitiu [também] a redução da assimetria existente, particularmente, no

principal contrato em que funda a geração de riqueza, e de trabalho. O controle das

condições de trabalho, os direitos de organização e de greve, o seguro desemprego e

o sistema de aposentadoria deram poder de barganha aos trabalhadores na venda da

sua força de trabalho. Esta intervenção possibilitou mudanças na distribuição direta

do excedente, enquanto o sistema de tributação e as políticas sociais atuaram na órbita

da distribuição secundária. (Dedecca 2009, p. 13)

Burawoy (1990) apontou que o fortalecimento do poder político dos trabalhadores,

por conta do crescimento econômico e da elevação dos salários, contribuiu para a redução das

desigualdades econômica e social e para a consolidação do Estado de Bem-Estar Social nos

países desenvolvidos10.

T. H. Marshall (1963: 93) observou que o Estado de Bem-Estar Social passou a

atuar na esfera social por meio da promoção do acesso a um “mínimo” dentro de uma cesta de

bens e serviços como assistência médica, moradia e educação. No entanto, sua atuação se deu

também sobre a dimensão econômica por meio de políticas de renda mínima destinada para

bens essenciais como era o caso das aposentadorias por velhice, dos benefícios de seguro e do

salário-família.

10 Cabe salientar que, nesse contexto, ganharam espaço no mercado de trabalho os contratos de natureza coletiva,

permitindo uma maior homogeneização entre os trabalhadores.

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13

O Estado de Bem-Estar Social deve ser entendido como um sistema de bem-estar

que reúne um conjunto de medidas que influenciaram, interferiram e ultrapassaram o jogo das

forças do livre mercado na busca pelo bem-estar social. Para T. H. Marshall (1963), “o grau de

igualação” entre classes sociais estaria condicionado a quatro fatores: 1) se o benefício é

universal ou é destinado a uma classe social específica; 2) se assume a forma de pagamento em

dinheiro ou de prestação de serviços; 3) se o “mínimo” é elevado ou baixo; e 4) a forma de

financiamento dos benefícios.

A ampliação de bens e serviços de forma universal (por exemplo, assistência

médica) é entendida por T. H. Marshall (1963) como um efeito direto sobre a renda corrente.

Isso poderia provocar uma ampliação da desigualdade econômica entre as classes sociais se as

camadas superiores da distribuição deixassem de pagar esse tipo de serviço, o que ampliaria

sua renda disponível para outros gastos. Isso ocorreria de forma direta caso não houvesse uma

compensação tributária, isto é, a promoção de uma taxação relativamente mais progressiva.

O autor considera isso como um efeito de menor importância, porque a ampliação

da oferta universal de um bem ou serviço representa “um enriquecimento geral da substância

concreta da vida civilizada, uma redução geral do risco e insegurança, uma igualação entre os

mais e os menos favorecidos em todos os níveis – entre o sadio e o doente, o empregado e o

desempregado, o velho e o ativo, o solteiro e o pai de uma família grande.” (Marshall, 1963:

94)

A igualdade de status, para o autor, seria mais relevante que a possibilidade de a

expansão da oferta de serviços alterar a desigualdade de renda corrente em favor dos mais ricos,

que veriam sua renda disponível ampliada. As vantagens obtidas pela elevação da renda

disponível dos mais ricos estariam, de fato, restringidas a uma única área, isto é, ao consumo

de bens de uso individual, cuja demanda exige o acesso à renda.

A expansão da oferta de serviços públicos de infraestrutura social tem o poder de

alterar profunda e qualitativamente a desigualdade social. Os serviços oferecidos pelo Estado,

alheios à capacidade de comando do dinheiro por parte do usuário/cidadão, passaram a ser uma

norma na sociedade capitalista no período de vigência do Estado de Bem-Estar Social. Segundo

T. H. Marshall (1963: 97), o direito individual deveria estar subordinado aos planos nacionais,

isto é, “as reivindicações individuais devem estar subordinadas à planificação mais ampla do

progresso social”.

Deve ser esclarecido que a ampliação da oferta de bens e serviços públicos está

diretamente relacionada à capacidade de expansão dos investimentos nos setores ligados a esses

bens. A expansão desses investimentos exige, imprescindivelmente, uma atuação do Estado.

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14

Os investimentos, orientados, direcionados e impulsionados pelo Estado passaram a cumprir

um papel relevante na redução da desigualdade social. Evidentemente que as decisões de

execução e de promoção de investimentos devem ser tomadas a partir de um planejamento

governamental, em que a elevação dos gastos em infraestrutura social esteja em acordo com as

diretrizes das políticas públicas de cunho social. O planejamento de Estado deve incorporar

elementos para a identificação das necessidades da sociedade, ser capaz de monitorar e avaliar

os projetos, os resultados e as próprias ações no âmbito da proteção social e da política pública,

de forma a tornar efetivos os investimentos que busquem a redução da desigualdade.

É necessário que se reconheça que a política social é um mecanismo de mediação

entre o investimento em infraestrutura social e o acesso ao bem ou serviço por parte da

comunidade. A política pública de cunho social, na realidade, deve ser pensada como parte

integrante de um conjunto de mecanismos, cuja “(...) finalidade é alterar situações, sistemas,

práticas e comportamentos. Implica, portanto, intervenção.” Essa intervenção tem como

pressuposto a definição de trajetórias e a escolha de instrumentos que possam levar à promoção

e à priorização de mudanças na esfera social. (Lavinas 2006, p. 250)

T. H. Marshall (1963) evidenciou que a política social do século XX teve um papel

fundamental para colocar no centro do debate socioeconômico a família e o seu lar. As políticas

públicas aceitaram a responsabilidade de transformar os investimentos habitacionais em acesso

a residências construídas. Medidas complementares à expansão da oferta dos bens e serviços

públicos como a regulamentação dos aluguéis e os subsídios para moradias mostraram-se

relevantes na redução da desigualdade social. Isso demonstra a necessidade de coesão entre

diretrizes econômicas e sociais. A construção de moradias, por exemplo, foi parte integrante,

não apenas da política econômica mais geral, como também da política social nos países

avançados11.

A maior participação do Estado na economia, somada ao maior poder de barganha

dos sindicatos, permitiu uma transformação no locus da reprodução da vida em sociedade.

Houve, de fato, no período pós II Guerra Mundial, uma redução na importância da esfera

privada e do livre mercado no âmbito dos contratos, onde se exacerbavam as contradições e

tensões nas relações econômicas e sociais. Nesse processo ampliou-se a esfera pública, a partir

de um conjunto de ações que possibilitaram a redução da desigualdade em distintas dimensões.

11 O foco do presente artigo, não é a política social em si, porém, reconhece-se sua importância como mecanismo

para garantir a efetividade e a eficácia da expansão dos investimentos em infraestrutura social. Para mais

informações sobre as políticas sociais adotadas no período do pós-guerra na Inglaterra, na França e na Alemanha.

Ver T. H. Marshall (1963), capítulo 8.

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15

A regulação estatal dos contratos, os contratos de natureza coletiva, o crescimento

econômico, a ação sindical e, especialmente, a atuação do Estado na ampliação da oferta dos

bens e serviços públicos permitiram à sociedade alcançar uma nova condição de vida e de bem-

estar, em que se verificou uma redução da desigualdade em suas dimensões econômica e social.

4. Uma nova era de desigualdades

A partir de seus principais fundamentos (propriedade da terra, contrato social,

acumulação de riqueza monetária e subordinação real do trabalho ao regime do capital) e da

construção do Estado de Bem-Estar Social, que pode ser considerado um dos principais

mecanismos para o seu enfrentamento, pode-se afirmar que a desigualdade tem assumido

formas distintas que se materializam em duas dimensões básicas: uma de natureza econômica

(patrimônio imobiliário e financeiro, distribuição funcional e pessoal da renda) e uma de

natureza social (associada à ampliação do acesso a bens e serviços de uso coletivo que permitem

a reprodução da vida em sociedade).

O capitalismo tem proporcionado à sociedade transformações na forma como as

suas necessidades básicas são atendidas e seu avanço tem contribuído para aprofundar esse

processo, que altera e amplia o número de dimensões pelas quais a desigualdade se manifesta.

Essas mudanças afetam a própria condição desigual a que a sociedade está submetida e,

também, as relações entre economia, política e sociedade. Segundo Fitoussi e Rosanvallon

(1996), essas mudanças têm se processado em quatro fases:

A primeira, a partir do século XVII, levou a instauração do Estado moderno dando

forma e consistência ao território e à nação. Num segundo tempo, no século XVIII, a

sociedade civil emancipou-se, permitindo o surto da economia de mercado e o

desenvolvimento de uma certa autonomia individual. No século XIX, a grande

viragem consistiu numa ‘invenção do social’, que permitiu a reorganização das

condições da vida em comum e o exercício da solidariedade, que nem o Estado

clássico nem o mercado eram capazes de assumir. O século XX pôde acreditar por um

momento ter consolidado este edifício através dos regimes de proteção social. Mas ei-

lo doravante abalado pela internacionalização da economia e pela crise do Estado

Providência. Por isso, é de fato uma quarta viragem que devemos hoje enfrentar, no

que se refere à reformulação das condições do laço social e cívico na era da Europa e

da mundialização. (Fitoussi e Rosanvallon 1996, p. 2)

Os anos de ouro da economia mundial e a construção do Estado de Bem-Estar

Social, que expandiu a oferta de serviços e benefícios garantidos pelo Estado, criaram um

ambiente favorável para a redução das desigualdades. No entanto, a capacidade de dar

continuidade a esse processo tem sofrido contestações. Segundo esses autores, o Estado de

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16

Bem-Estar Social teve seus pilares abalados e seu escopo alterado pelos movimentos mais

gerais da Economia, o que teria impactado sobremaneira a esfera social.

Como apontaram Fitoussi e Rosanvallon (1996), a quarta fase desse processo

configura uma “Nova Era das Desigualdades”. Essa se refere explicitamente ao avanço do

capital em direção a novos espaços em sua busca incessante por valorização monetária. A

internacionalização da produção e a ampliação do processo de financeirização têm se

configurado como os principais caminhos para atingir esse objetivo12. Certamente, esse

movimento trouxe consequências para a esfera da regulação pública e para a própria reprodução

da vida em sociedade.

O avanço da iniciativa privada sem qualquer regulação, orientação ou controle

sobre os setores produtores de bens e serviços públicos poderia trazer obstáculos para a redução

da desigualdade social. Isso porque a sociedade estaria obrigada a recorrer aos mecanismos de

mercado e à renda monetária para ter acesso aos bens e serviços que garantem a reprodução da

vida em sociedade.

A história pós 1970 tem demonstrado uma tendência bastante clara de aumento da

desigualdade, especialmente em sua dimensão econômica (renda e patrimônio). Esse processo

tem ocorrido em que grande parte dos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos

e naqueles que atingiram um estágio avançado do Estado de Bem-Estar Social, como é o caso

da França13. De acordo com Fitoussi e Rosanvallon (1996):

Há dois motivos de sofrimento que para começar se sobrepõem no mal-estar

contemporâneo. O mais visível é o que procede das alterações económicas. Mas há

também um segundo, mais subterrâneo, que remete para os efeitos destrutivos do

individualismo moderno. A crise que atravessamos é assim indissociavelmente

económica e antropológica; é, ao mesmo tempo uma crise da civilização e uma crise

do indivíduo. (Fitoussi e Rosanvallon 1996 p. 2)

Na visão desses autores, três crises estariam em curso: 1) crise das instituições de

instauração dos laços sociais e da solidariedade (Estado de Bem-Estar Social); 2) crise do

mundo do trabalho (relação entre economia e sociedade); e 3) crise do modo de constituição

das identidades individuais e coletivas (crise do indivíduo).

A partir da contribuição desses autores, pode-se afirmar que o desenvolvimento do

capitalismo, além de transformar a vida em sociedade, tem criado recursos em abundância. No

12 A “financeirização da riqueza” está relacionada ao peso e à influência dos ativos financeiros nas economias

modernas. A partir dos anos 1980, (...) as classes médias [e] as empresas ampliaram expressivamente a posse de

ativos financeiros. (...) A acumulação de ativos financeiros assumiu um papel central nas decisões dos agentes.

Ver Braga (1993) e Coutinho e Belluzzo (1998). 13 Para mais detalhes sobre a evolução histórica da desigualdade econômica ver Piketty, 2014 p. 24.

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17

entanto, sua lógica própria, livre de controle, não tem solucionado os problemas distributivos.

Fitoussi e Rosanvallon (1996) apontam que a evolução do capitalismo, de fato, tem colocado

no mesmo barco velhas e novas desigualdades, o que torna o fenômeno cada vez mais

complexo. A concomitância entre formas e dimensões distintas representa, de fato, uma

característica imanente desse fenômeno, a saber, a cumulatividade. A coexistência entre

desigualdades velhas e novas, ou, como Fitoussi e Rosanvallon (1996: 43) as denominam,

estruturais (tradicionais) e dinâmicas, é oriunda da própria lógica de funcionamento e da

“evolução diferenciada do sistema” capitalista.

Para esses autores, as desigualdades estruturais/econômicas, originárias da forma

de inserção no processo de produção – acesso ao mercado de trabalho e da

diferenciação/hierarquização dos rendimentos do trabalho – estariam interiorizadas pela

sociedade. Evidentemente, que isso não quer dizer que se possa considerá-las como legítimas

ou como algo imutável. A interiorização das desigualdades econômicas reflete uma condição

recorrente em que essas se apresentam como partes indissociáveis da própria lógica e

configuração da forma de produção no capitalismo.

As desigualdades dinâmicas, que definem as diferenças entre os grupos e/ou classes

sociais também decorrem da evolução e das transformações do sistema capitalista. A partir do

momento que essas novas formas superam o caráter transitório e passam a se perpetuar ao longo

do tempo, o resultado preeminente é a divisão e a segregação de grupos sociais, que culmina

em um processo de exclusão. Uma divisão mais equitativa da produção agregada não impede

que a lógica do sistema capitalista imponha uma condição desigual entre classes sociais, pois,

como apontado anteriormente, o fenômeno é mutável, podendo assumir, por exemplo, formas

associadas às desigualdades de gênero e/ou de raça/cor da pele.

A posição de Fitoussi e Rosanvallon (1996) é a de que o crescimento das

desigualdades ocorre por três razões: 1) enfraquecimento dos princípios de igualdade na

estrutura social; 2) crescimento das desigualdades estruturais (desigualdades de rendimentos,

de despesas, de patrimônio, de acesso à educação, entre outras); e 3) surgimento de novas

desigualdades, oriundas de evoluções técnica, jurídica e/ou econômica.

Essas novas desigualdades possuem especificidades como: 1) diferenciação no

âmbito dos contratos de trabalho (novas formas de contratação, trabalhos temporários,

terceirização e trabalho precário); 2) desigualdades de gênero e de grupos étnicos quanto à

inserção no mercado de trabalho; 3) desigualdades regionais; 4) geracionais, associadas à

previdência ou à dificuldade de inserção do jovem no mercado de trabalho; 5) disparidades

provenientes da regressividade do sistema tributário; e 6) desigualdades associadas à vida

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cotidiana (associadas à condição de reprodução da vida em sociedade e ao acesso aos bens

públicos.)14.

Por guardarem forte relação com a dimensão social da desigualdade, as formas da

desigualdade relacionadas ao cotidiano das pessoas são uma peça chave no entendimento da

complexidade desse fenômeno, especialmente por representarem obstáculos e dificuldades

imediatas para o desenvolvimento da sociedade. As formas associadas ao bem-estar e à

condição de vida são uma parcela expressiva do fenômeno como um todo por englobar

elementos como: 1) acesso à saúde de qualidade; 2) problemas associados à habitação; 3) acesso

a equipamentos públicos como parques, creches e os de lazer em geral; 4) dificuldades de

mobilidade urbana e de tempo gasto no trajeto da casa para o trabalho; e 4) contrastes entre

centro e periferia das grandes e médias cidades.

O caráter acumulativo dos distintos fundamentos da desigualdade e as novas formas

de desigualdade (raça, região, cor de pele, idade etc.) em sua característica de influência

transversal sobre o fenômeno como um todo, exige que esse seja tratado com cautela de maneira

a se evitar subestimar sua complexidade.

5. Conclusão

Objetivamente, este artigo procurou elucidar e contemplar, mesmo que de forma

não definitiva, os fundamentos e os elementos que permitem definir a desigualdade enquanto

um fenômeno complexo, dinâmico e cumulativo que apresenta características estruturais

condicionadas à lógica de funcionamento e de organização do sistema capitalista.

Portanto, é evidente que o tratamento desse fenômeno deve partir de uma

abordagem multidimensional. Ademais, essa deve compreender e reconhecer a coexistência

cumulativa entre velhas e novas desigualdades. Deve se propor a qualificar e quantificar as

informações disponíveis sobre os elementos e fundamentos que conformam a desigualdade em

toda a sua complexidade. Não pode relegar a segundo plano a condição social diferenciada entre

os grupos/categorias/classes sociais. Finalmente, exige-se que essa abordagem seja capaz de

orientar estratégias para o enfrentamento da desigualdade, levando em conta a relevância da

lógica de funcionamento do capitalismo, as forças sem controle que atuam no sentido de agravar

a condição social da sociedade e a importância dos mecanismos extra mercado e o papel do

14 Para uma discussão mais aprofundada, ver Fitoussi e Rosanvallon (1996), capítulo 2.

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Estado para a redução da desigualdade, como ficou evidente na construção do Estado de Bem-

Estar Social.

O esquema apresentado no Quadro 1 sumariza a discussão exibida neste artigo.

Apresentam-se os principais fundamentos do fenômeno da desigualdade sob uma ótica

multidimensional desde sua origem (desigualdade no acesso à terra) até suas formas

contemporâneas (desigualdades transversais), que incorpora a denominada “Nova Era das

Desigualdades”. Deste modo, ao reconhecer os processos que conduziram e conduzem a

sociedade a uma condição desigual, procurou-se contribuir para o debate metodológico-

analítico de forma a ampliar o escopo da análise sobre a desigualdade de forma a auxiliar o

desenvolvimento de estratégias para o seu enfrentamento.

Quadro 1 - Síntese das dimensões da desigualdade multidimensional

Fonte: Elaboração própria.

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ECONÔMICA

SOCIAL

OUTRAS DIMENSÕES

• Distribuição pessoal da renda

• Capacidade de consumo de bens individuais

• Emprego (desemprego)• Acesso a crédito

Mercado de Trabalho

• Distribuição Funcional da renda

Relação Capital-Trabalho

Patrimônio

Desigualdade de acesso

Políticas públicas

Financeiro

• Ativos (portfólio)• Riqueza Monetária

Imobiliário• Terra• Espaços urbanos

DESIGUALDADE

• Habitação• Saneamento• Água encanada e tratada

• Energia elétrica• Segurança• Lazer

• Saúde• Educação• Transporte coletivo

• Acesso ao Sistema de Proteção Social

• Previdência Social

• Programas de transferência de renda

• Política Social

Transversais

• Regional• Geracional• Gênero• Raça/cor• Urbano/rural

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