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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO JOSÉ SAMUEL DE MIRANDA MELO JÚNIOR LONGEVIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS: UM ESTUDO DAS DIMENSÕES ORGANIZACIONAIS E SUAS IMPLICAÇÕES Rio de Janeiro 2012

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO

JOSÉ SAMUEL DE MIRANDA MELO JÚNIOR

LONGEVIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PRESTADORAS DE

SERVIÇOS: UM ESTUDO DAS DIMENSÕES ORGANIZACIONAIS E SUAS

IMPLICAÇÕES

Rio de Janeiro

2012

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JOSÉ SAMUEL DE MIRANDA MELO JÚNIOR

LONGEVIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PRESTADORAS DE

SERVIÇOS: UM ESTUDO DAS DIMENSÕES ORGANIZACIONAIS E SUAS

IMPLICAÇÕES

Tese submetida à banca examinadora como requisito para

obtenção do grau de Doutor em Administração.

Área de concentração: Estudos Organizacionais.

Orientadora: Prof.ª Doutora Deborah Moraes Zouain

Rio de Janeiro

2012

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Melo Júnior, José Samuel de Miranda

Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões organizacionais e suas implicações / José Samuel de

Miranda Melo Júnior. – 2012.

281 f.

Tese (doutorado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas,

Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. Orientadora: Deborah Moraes Zouain.

Inclui bibliografia.

1. Pequenas e médias empresas. 2. Desenvolvimento organizacional. I. Zouain, Deborah Moraes. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas.

Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

CDD – 658.022

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Aos meus pais Samuel e Joana Melo (in memoriam).

À minha esposa Ana Gabriela e filhos Samuel, Pedro e Matheus.

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AGRADECIMENTOS

.

A Deus, por me conceder o dom da vida.

Aos meus pais, pelo carinho e dedicação ao longo da minha vida.

A minha esposa e filhos, pelo apoio e compreensão da ausência no decorrer dessa caminhada.

Aos meus irmãos, Lucy, Lúcio, Paulo e Tatiana, pela amizade e preocupação constante.

A Profª Doutora Deborah Moraes Zouain, pelos esclarecimentos e ensinamentos valiosos

durante a execução deste trabalho.

Ao Prof. Doutor Francisco Barone pelo início dessa jornada e incentivador.

A Luís Carlos e Ana Beatriz pelo apoio, acolhida e amizade.

Aos amigos Edson Diniz, Marilene, Dina, Vera e Maria Ivone pela enorme colaboração,

compromisso e paciência.

Aos amigos Júlio César Maciel e Carlos Ronchi, pelo incontestável companheirismo, amizade

e apoio.

A Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) pela oportunidade e valorização.

Aos professores que contribuíram com fornecimento de informações, ajuda e compreensão.

Aos colegas do curso de doutorado pelas críticas, sugestões e convívio fraterno.

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"A ciência é, e continua a ser, uma aventura. A

verdade da ciência não está unicamente na

capitalização das verdades adquiridas, na verificação

das teorias conhecidas. Está no caráter aberto da

aventura que permite, melhor dizendo, que hoje exige

a contestação das suas próprias estruturas de

pensamento. Talvez estejamos num momento crítico

em que o próprio conceito de ciência está a modificar-

se."

Edgar Morin

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo fornecer subsídios para a discussão sobre a longevidade

das micro e pequenas empresas (MPEs) prestadoras de serviços através da relação de parceria

com a grande empresa. O enfoque delineia-se no espaço das dimensões organizacionais:

estrutura e processos, comportamento, estratégias, tecnologia / inovação e ambiente. Tal

escolha deu-se em função de duas razões: a primeira enquanto uma forma de recolocar na

agenda de discussões brasileiras a questão da importância da vida longa às MPEs como

agente dinamizador da economia; e a segunda, desmistificar a funcionalidade e indicadores de

gestão a partir de sua longevidade. O estudo faz uma imersão diante dos desdobramentos das

dimensões, com fatores que agregam um arcabouço de variáveis, discutidas à luz do

referencial teórico do sistema sócio-técnico, estudos de ciclo de vida, na “lógica” da

complexidade e nas evidências epistemológicas das dimensões organizacionais, creditando

fatores tangíveis e intangíveis à margem de práticas da gestão das MPEs longevas. A

estratégia metodológica sustentou-se em uma pesquisa quali-quantitativa, com investigação

descritiva, explicativa e aplicada, com instrumentos de análise de dados primários e

secundários e pesquisa de campo com aplicação de entrevistas e questionários. Foram

pesquisadas 82 MPEs prestadoras de serviços com longevidade a partir de cinco anos e

parceira da grande empresa. Após a análise dos dados evidenciou-se que as dimensões

organizacionais alteram de forma sinérgica na vida dessas empresas. Os resultados

comprovam ainda, que a parceria com a grande empresa explica significativamente na

longevidade das MPEs. Ao final o estudo apresenta-se um quadro de indicadores de gestão

das MPEs longevas, por dimensão organizacional.

Palavras-chave: Micro e pequena empresa. Serviços. Longevidade. Parceria.

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ABSTRACT

This textis intended to present a basis for the discussion on the longevity of micro andsmall

companies, denoted here by the Brazilian acronym MPEs, service providers based on the

partnership withbig companies. The focus is put on the organizational dimensions space:

structureand processes, behavior, strategy, technology/innovation and environment.

Thereason for such choice is twofold: first, as a way of reviving the Brazilian

discussionsabout the importance of the longevity of the MPEs as an agent of the

economydynamics; second, to demystify its management functionality and indicatorsbased on

its longevity. This study is immersed on the dimension manifolds, asfactors that aggregate a

collection of variables, discussed under the light oftheory reference of the social-technological

system, life-cycle analysis,complexity “logic” and epistemological evidences of

organizational dimensions,accounting for marginal tangible and intangible factors of

thelong-living MPEs’ management. The methodological strategy was based in qualitativeand

quantitative survey , with descriptive investigation, explicit and applied,using instruments for

primary and secondary data analysis and field research with application of interviews and

questionnaires.Eighty two service providers MPEs with longer than five years longevity and

partnersof big companies were investigated. After the data analysis it is clear thatthe

organizational dimension interfere in a synergistic way in the companies’life. The results also

support that the partnership with the big companyexplains in a large amount the longevity of

the MPEs. At the end of the study, itis presented a frame with the management indicators of

long-living MPEs byorganizational dimension.

Keywords: MPEs. Services. Longevity. Partnership.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Delimitação do Estudo ...................................................................... 28

Figura 2 – Modelo de Análise ............................................................................ 36

Quadro 1 – Especificidades que distinguem as empresas prestadoras de

serviços de bens ................................................................................

50

Quadro 2 – Evidências das operações de serviços ............................................... 53

Quadro 3 – Estímulos para economia de serviços - Políticas Governamentais ... 60

Quadro 4 – Estímulos para economia de serviços – Mudanças Sociais .............. 61

Quadro 5 – Estímulos para economia de serviços – Tendências de Negócios .... 63

Quadro 6 – Estímulos para economia de serviços – Avanço em Tecnologia de

Informação ........................................................................................

64

Quadro 7 – – Estímulos para economia de serviços – Internacionalização ............ 68

Figura 3 – Evolução dos tipos de sistemas e funcionamento nas organizações 78

Quadro 8 – Matriz de características do empreendedor e autores ....................... 82

Quadro 9 – Fatores de gestão e funcionalidade da longevidade na literatura ...... 105

Quadro 10 – Estudos e Pesquisas sobre Longevidade com Tipologias da

Empresa .............................................................................................

106

Quadro 11 – Comparação da base de Análise das Dimensões das Pesquisas ....... 122

Quadro 12 – Organização tradicional versus equipes autogerenciáveis ................ 135

Quadro 13 – Perspectivas sobre estratégia ............................................................. 141

Quadro 14 – Definição do processo de aquisição, socialização e codificação....... 145

Quadro 15 – Principais características dos processos de aprendizagem ................ 146

Quadro 16 – Dimensões organizacionais e variáveis contingenciais .................... 152

Quadro 17 – Especificidades Estruturais das MPEs ............................................. 181

Quadro 18 – Especificidades Comportamentais das MPEs ................................... 189

Quadro 19 – Especificidade Estratégica das MPEs .............................................. 198

Quadro 20 – Especificidades Tecnológicas/inovação das MPEs .......................... 208

Quadro 21 – Especificidade Ambiental das MPEs ................................................ 215

Quadro 22 – Indicadores de gestão das MPEs prestadoras de serviços longevas,

por dimensão organizacional ............................................................

222

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução do número de estabelecimentos por porte – Brasil 2000 –

2010 (em milhões) ...........................................................................

31

Gráfico 2 – Evolução do número de empregos por porte – Brasil 2000 - 2010

(em milhões) .....................................................................................

33

Gráfico 3 – Distribuição das micro e pequenas empresas por setor de atividade

econômica Brasil 2000-2010 (em %) ...............................................

58

Gráfico 4 – Metodologia ..................................................................................... 154

Gráfico 5 – Identificação do informante .............................................................. 168

Gráfico 6 – Escolaridade empreendedor/gestor ................................................... 169

Gráfico 7 – Curso superior do empreendedor/gestor .......................................... 170

Gráfico 8 – Ramo de atividade das MPEs ........................................................... 171

Gráfico 9 – Longevidade das MPEs ..................................................................... 172

Gráfico 10 – Correlação de tempo real de parceria versus tempo real de

existência - longevidade (com autliers) ............................................

173

Gráfico 11 – Correlação de tempo real de parceria versus tempo real de

existência – longevidade (sem autliers) ...........................................

174

Gráfico 12 – Longevidade média por classe de receita bruta anual ....................... 175

Gráfico 13 – Número de empregados .................................................................... 176

Gráfico 14 – Correlação de tempo real de existência - longevidade versus

número real de empregados ..............................................................

177

Gráfico 15 – Correlação de tempo real de parceria versus número real de

empregados .......................................................................................

178

Gráfico 16 – Receita bruta anual ............................................................................ 179

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Receita Líquida - Ranking (250 empresas que mais crescem) ........ 33

Tabela 2 – Critérios de classificação do tamanho das empresas ....................... 41

Tabela 3 – Taxas de sobrevivência e mortalidade consolidadas para o Brasil .. 102

Tabela 4 – Estudos sobre Ciclo de Vida ............................................................ 115

Tabela 5 – Resumo das proporções de maior frequência relativo ao perfil do

empreendedor/gestor, com teste Qui-quadrado (χ²), segundo as

variáveis ...........................................................................................

170

Tabela 6 – Resumo das proporções de maior frequência relativo ao perfil da

empresa, com teste Qui-quadrado (χ²), segundo as variáveis ..........

179

Tabela 7 – Dimensão de Estrutura e Processos – frequência absoluta e percentual

por pontuação atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo

as variáveis .......................................................................................

182

Tabela 8 – Dimensão de Estrutura e Processos – Resumo das proporções da

pontuação de maior frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor

médio, segundo as variáveis .............................................................

186

Tabela 9 – Dimensão Comportamental – frequência absoluta e percentual por

pontuação atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo as

variáveis .................................................................................................

190

Tabela 10 – Dimensão Comportamental – Resumo das proporções da pontuação

de maior frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo

as variáveis...........................................................................................

195

Tabela 11 – Dimensão de Estratégia – frequência absoluta e percentual por

pontuação atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo as

variáveis .................................................................................................

199

Tabela 12 – Dimensão de Estratégia – Resumo das proporções da pontuação de

maior frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as

variáveis .............................................................................................

205

Tabela 13 – Dimensão de Tecnologia/Inovação – frequência absoluta e percentual

por pontuação atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo

as variáveis ............................................................................................

209

Tabela 14 – Dimensão de Tecnologia/Inovação – Resumo das proporções da

pontuação de maior frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor

médio, segundo as variáveis ................................................................

213

Tabela 15 – Dimensão Ambiental – frequência absoluta e percentual por pontuação

atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo as variáveis .....

216

Tabela 16 – Dimensão Ambiental – Resumo das proporções da pontuação de maior

frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as

variáveis ............................................................................................

220

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LISTA DE SIGLAS

ALUMAR – Consórcio de Alumínio do Maranhão

APL – Arranjo Produtivo Local

BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo

BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China

CEBRASSE – Conselho Deliberativo da Central Brasileira do Setor de Serviços

CEMAR – Companhia Energética do Maranhão

CEPEAD – Centro de Pós Graduação e Pesquisas em Administração

CVO – Ciclo de Vida da Organização

EPP – Empresas de Pequeno Porte

EUA – Estados Unidos da América

FNQ – Fundação Nacional da Qualidade

GE – Grande Empresa

GEM – Global Entrepreneurship Monitor

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDIC – Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior

ME – Micro Empresa

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MGE – Média e Grande Empresa

MIT – Massachusetts Institute of Technology

MPE – Micro e Pequena Empresa

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NUME – Núcleo de Marketing

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG – Organização Não Governamental

ORT – Organização Racional do Trabalho

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PIB – Produto Interno Bruto

PME – Pequena e Média Empresa

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TEA – Taxa de Empreendedores Iniciais

TI – Tecnologia de Informação

TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação

UACS – Unidade de Atendimento Coletivo Comércio e Serviços

UEMA – Universidade Estadual do Maranhão

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNIURB – Universidade de Urbino Carlo Bo

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................... 14

1.1 Introdução....................................................................................................... 14

1.2 O problema da pesquisa................................................................................. 18

1.2.1 Objetivo final.................................................................................................... 18

1.2.2 Objetivos intermediários................................................................................... 18

1.3 Demarcação científica.................................................................................... 19

1.4 Delimitação do estudo.................................................................................... 27

1.5 Relevância do estudo ..................................................................................... 29

CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................... 35

2.1 Definição e classificação das MPEs .............................................................. 36

2.2 Modalidades taxonômicas para classificação das empresas ...................... 42

2.3 Serviços: particularidades e contemporaneidade ....................................... 44

2.3.1 Características das prestadoras de serviços ..................................................... 49

2.3.2 Cenários e estímulos para economia de serviços ............................................. 55

2.4 Destruição criativa ......................................................................................... 70

2.4.1 Empreendedorismo: semeando vida longa ...................................................... 80

2.4.2 A micro e pequena empresa e a responsabilidade social ................................. 87

2.5 Dimensão ontológica da complexidade ........................................................ 91

2.5.1 Compreensão da complexidade organizacional .............................................. 95

2.6 Perspectivas de longevidade ......................................................................... 101

2.6.1 Ciclo de vida das organizações: constructos das pesquisas ............................. 108

2.6.2 Homeostasia e delineamentos do CVO ........................................................... 118

2.7 Dimensões organizacionais: constructo teórico .......................................... 120

2.7.1 Dimensão estruturas e processos...................................................................... 129

2.7.2 Dimensão comportamental............................................................................... 131

2.7.3 Dimensão estratégia.......................................................................................... 136

2.7.4 Dimensão tecnologia/inovação......................................................................... 141

2.7.5 Dimensão ambiental......................................................................................... 149

CAPÍTULO 3 - QUESTÕES EPISTEMO-METODOLÓGICAS ............ 154

3.1 Categoria de análise........................................................................................ 154

3.2 Tipo de pesquisa ............................................................................................. 156

3.3 Universo e amostra ........................................................................................ 157

3.4 Coleta e tratamento dos dados ..................................................................... 159

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28

3.5 Limitação do método ..................................................................................... 165

CAPÍTULO 4 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 167

4.1 Características do empreendedor / gestor ................................................... 168

4.2 Características das MPEs prestadoras de serviços .................................... 170

4.3 Análise da dimensão estrutura e processos ................................................. 179

4.4 Análise da dimensão comportamental.......................................................... 186

4.5 Análise da dimensão estratégia..................................................................... 196

4.6 Análise da dimensão tecnologia/inovação..................................................... 206

4.7 Análise da dimensão ambiental..................................................................... 213

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 224

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 230

APÊNDICES................................................................................................................... 248

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CAPÍTULO 1

1.1 Introdução

A complexidade que envolve a discussão e, principalmente, as proposições

relacionadas ao desenvolvimento e longevidade das Micro e Pequenas Empresas (MPEs),

com suas idiossincrasias e fenômenos, revelam que não há um modelo único de tratamento e

análise, nem mesmo um único modelo de atuação pública nesse segmento de empresas, pois,

para cada local, cada região e cada país há estruturas e comportamentos diferentes, que

evidenciam dicotomias. Os problemas manifestados podem ser similares, mas as formas de

expressarem-se são diferentes, o que demanda diferentes análises e soluções. Para essa

constatação, verifica-se que as MPEs se manifestam em todos os setores seja primário,

secundário e terciário, por intermédio de diferentes funcionalidades administrativas, com

delineamentos, que podem ser formais e informais, independentes ou associadas a uma grande

empresa ou a uma rede de pequenas empresas.

As MPEs de serviços no Brasil despertam grandes interesses de diversos

segmentos da sociedade tais como: instituições financeiras, órgãos de apoio e fomento,

governos federal, estadual e municipal, fornecedores, dentre outros, em função de o setor de

serviços representar mais de cinquenta por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional,

conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011). Diante desse contexto e

da complexidade que envolve essas organizações, compreende-se uma gama de variáveis e

dimensões que precisam ser desmistificadas em prol da melhoria de resultados para o

segmento em discussão.

Gradualmente, as análises e estudos feitos sobre as MPEs foram capazes de

revelar que, de fato, estão em curso vários processos de reposicionamento desse segmento no

sistema de diversas economias. Estes processos envolvem desconcentração produtiva de

grandes empresas, novas e diversificadas formas de articulação entre as MPEs e as grandes

empresas como, por exemplo, o crescimento da terceirização1 e a dinâmica de consolidação

1 Modo de utilização de serviços de pessoas físicas ou jurídicas não pertencentes ao quadro de pessoal da

organização ou dele desvinculadas para realização de tarefas por seus próprios meios e responsabilidade,

objetivando racionalizar custos operacionais, economizar recursos e desburocratizar sua administração

(DUARTE, 2009, p. 538).

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de redes2 e federações de MPEs, tanto em setores industriais difusores de progresso técnico,

quanto em indústrias tradicionais, assim como no setor de serviços. Evidencia-se que, nas

últimas décadas do séc. XX esse segmento de empresa, obteve importantes transformações no

contexto econômico e administrativo. É possível afirmar que as MPEs conquistaram uma

agregação de valor enquanto função econômica adicional ou oposta, em certos enfoques,

àquela que, tradicionalmente, lhe era conferida: gerar renda e emprego à margem do núcleo

dinâmico da economia e em condições de produtividade e de trabalho (salário, qualificação de

mão de obra, dentre outros) nitidamente inferiores às encontradas nas grandes empresas. De

empresas de segunda categoria, MPEs foram alçadas à plena cidadania empresarial, posto

que:

[...] as pequenas empresas têm o seu dinamismo como pólo gerador de empregos e

comprovadamente condicionadas a uma nova funcionalidade econômica,

relacionada à superação do modelo fordista de produção e ao advento do pós-

fordismo ou especialização flexível. A revalorização das pequenas e médias

empresas se desenvolveu no bojo da crise da produção em massa de bens

padronizados, típica do fordismo, e das possibilidades abertas - pela introdução de

tecnologias micro-eletrônica e de informação na produção industrial; pelas

oscilações qualitativas e quantitativas da demanda; e pela crescente agregação de

serviços à produção de bens (MOTTA, 1998, p. 18).

La Rovere (1999) destaca que tais eventos exigiram das empresas novas formas

de organização, delineadas pela necessidade de maior flexibilidade das estruturas capazes de

traduzir dinamismo e desempenho consistente.

De maneira geral, as novas condições criadas pela crise da produção fordista e

pela emergência da “especialização flexível3” reduziam a desvantagem das MPEs vis-à-vis às

grandes empresas, em termos de competitividade-custo, conferindo-lhes, ademais, vantagens

competitivas (em relação às maiores) no que se refere ao atendimento dos requisitos de

qualidade, de diferenciação dos produtos e de servicing4.

2 A palavra rede remete à noção de interdisciplinaridade, pois tem várias definições em diversos campos de

aplicação desde a computação passando pela teoria das organizações até a teoria da comunicação. A utilização

geral do termo consolidação de redes refere-se a uma estrutura de ligações entre atores de um sistema social

qualquer. Rede de empresas pode ser compreendida como um complexo de relações cooperativas que dinamizam

a ação de seus agentes em torno de objetivos comuns ou complementares. 3 Modelo de organização industrial, com exemplos exitosos na Terceira Itália, Alemanha, França, que tiveram

como base a expansão de pequenas e médias empresas, cuja adaptabilidade a flutuações de demanda e

dinamismo inovador tornando-as organizações importantes neste novo modelo industrial que tem se delineado

nas últimas décadas. É uma estratégia de inovação permanente: acomodação para a mudança ininterrupta, em

vez de um esforço para controlá-la. Essa estratégia é baseada no equipamento flexível, multiuso; trabalhadores

especializados e criação, através de políticas, de uma comunidade industrial que restringe as formas de

competição àquelas inovações favoráveis. O termo abrange a situação de pequenas empresas que se articulam

cooperativamente e também aquela em que uma grande firma subcontrata empresas pequenas. Engloba também

o caso de grupos semi-autônomos, estrutura adotada internamente em certas empresas (AMARAL FILHO, 2011;

CELESTE,1993). 4 Serviço.

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16

Longenecker et al. (2007) afirmam que as pequenas empresas podem produzir

bens e serviços com mais eficiência em algumas áreas, atuar como concorrentes econômicas

vigorosas e desempenhar algumas funções nos negócios – como distribuição e fornecimento

com mais experiência que as grandes empresas.

Outro viés de discussão está associado aos estudos da administração que, em todo

seu processo evolutivo da teoria administrativa – do movimento da administração científica

ao movimento com enfoque sistêmico e contingencial, foram desenvolvidos através de

análises e abordagens nas grandes corporações (impessoais, formais, e profissionais

predominantemente) como forma de entender suas demandas e problemáticas. Cancellier;

Almeida e Estrada (2005) descrevem que as teorias organizacionais têm se dedicado aos

estudos que contemplam as grandes empresas, com pouca ou nenhuma atenção às pequenas.

Há autores que afirmam que os estudos organizacionais, quando aplicados às

questões das pequenas empresas merecem atenção particular, em função das diferenças

existentes entre as empresas de grande e pequeno porte. Para estas empresas objetivarem a

homeostase5 e evitarem a estagnação, pressupõe o aprofundamento da análise científica como

mecanismo de evidenciar suas dramaturgias e especificidades, obtendo uma orientação

estratégica (KANTER, 2010; SANDERS, 2011; CASTOR, 2009; STURDY, 2004; LEONE,

1999).

A discussão diante dessas constatações revela que as empresas, independentes do

seu porte, deverão estabelecer mecanismos de reconhecimento, interdependência e dinamismo

com os diversos fatores envolvidos no processo, como forma de obter maior sinergia e

longevidade. Assim, não cabe, nesta análise, avaliar a competência das grandes empresas

nesse cenário, mas revelar a funcionalidade das pequenas com suas características e

dimensões, estabelecendo-se modelos de gestão viável para as MPEs no contexto das

empresas prestadoras de serviços. Também, destaca-se, nessa discussão, a trajetória de

parceria entre a grande e a pequena empresa, supondo-a conditio sine qua non para maior

longevidade das micro e pequenas empresas.

Apesar dos fatores evidenciados, esse segmento de empresas se revela ainda

bastante incipiente de um tecido organizacional6 consistente, com dinamismo apropriado e

adaptável a turbulências ambiental e capaz de evidenciar melhores resultados diante do

fenômeno da mortalidade das pequenas empresas no Brasil. O foco de atenção dos

5 Equilíbrio dinâmico do sistema.

6 Conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e gerenciais das empresas, nos procedimentos, nas

instruções, na documentação, na implementação de técnicas de gestão. É a codificação dos processos

organizacionais, de forma sinérgica – pressupõe a interação e conjugação das partes do sistema (KIM, 2005).

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17

pesquisadores sobre a temática das MPEs tem sido caracterizado sobre três temas que

apresentam forte inter-relação: 1) o processo de criação de novas empresas, especialmente as

de base tecnológica; 2) os Arranjos Produtivos Locais (APLs); e 3) a mortalidade empresarial.

A elevada taxa de mortalidade é característica das pequenas empresas. Contudo, o diagnóstico

das causas de mortalidade não é suficiente para compreender os fatores que levam à

longevidade empresarial.

Dessa forma, destaca-se a importância de se discutir a vida das organizações, suas

características e fatores impulsionadores para uma maior longevidade. Embora as pesquisas

estejam voltadas para a compreensão da mortalidade, entende-se que a imersão científica

diante da longevidade das organizações torna-se imperativo nesse cenário de limitações das

MPEs.

A importância das pequenas empresas para o país é unanimidade na discussão da

literatura. Nesse contexto, justifica-se o desenvolvimento deste trabalho como relevante para

que o assunto seja amplamente debatido nas diversas esferas públicas, alcançando a atenção

devida na agenda de discussão do desenvolvimento sustentável da região. Para isso, reputam-

se, também, de grande relevância que sejam compreendidas as especificidades associadas à

longevidade das MPEs. Ratifica esse entendimento, a crítica de Hoffman (2004) de que há um

distanciamento das pesquisas acadêmicas e o ambiente7 de negócios. O autor acredita que o

equilíbrio entre teoria e prática trará benefícios para o desenvolvimento de novas pesquisas na

área organizacional. Mello e Melo Jr.; Mattar (2011) constatam essa afirmativa na pesquisa

sobre o perfil do profissional administrador, o distanciamento da teoria com a prática nos

cursos de graduação em administração, afirmação apontada com veemência pelos

administradores, professores e empresários de segmentos diversos de empresas diante desse

profissional.

Logo, esta tese apresenta a devida importância das MPEs, em especial as

prestadoras de serviços, no contexto social, econômico e tecnológico. Ela contém

inquietações que são trabalhadas com visão crítica, compreendendo a teoria organizacional

como objeto e a teoria social como sujeito para a construção de um conhecimento embasado

na realidade social. Por sua vez, a funcionalidade corporativa da micro e pequena empresa são

exploradas a partir da análise das dimensões organizacionais das MPEs, aqui traduzidas pelas

variáveis: estrutura e processos, tecnologia/inovação, comportamento, estratégias e ambiente,

com enfoque para as organizações de serviços no contexto brasileiro.

7 Representa tudo aquilo que cerca uma organização. Quando citado apenas a palavra ambiente significa

ambiente externo (LACOMBE, 2004)

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18

Adotou-se o modelo de análise semelhante ao utilizado pelo programa conduzido

pelo Massachusetts Institute of Technology - MIT: "The Management in the 1990's Research

Program" como uma referência para as suas diversas pesquisas. Com este modelo, delineado

nas dimensões organizacionais, procura-se desmistificar e explicar as organizações de

pequeno porte, quais fatores são determinantes na longevidade, e se as decisões tomadas pelos

gestores geram as consequências sobre os resultados da empresa. Outro enfoque da pesquisa

está relacionado com a parceria da pequena e da grande empresa, seus pressupostos e

idiossincrasias que permeiam essa relação, entretanto, há o entendimento da importância do

distanciamento de uma teoria única da grande empresa.

1.2 O problema da pesquisa

Considerando-se que uma área temática tão abrangente como essa, configurada

pelo conhecimento da organização, pode dar origem a diversas questões e a diferentes

problemas de pesquisa, este estudo estabelece uma linha de investigação em determinado

recorte do tema e com abordagem específica, em que levanta as seguintes indagações:

Existem alterações significativas na longevidade das MPEs, a partir de suas dimensões

organizacionais? Qual a relação e influência da parceria entre a pequena empresa e a

grande empresa na longevidade daquela?

De forma a responder às questões apontadas se faz necessário o desenvolvimento

dos objetivos que passaram a direcionar e a articular os caminhos deste estudo.

1.2.1 Objetivo final

Entender como as dimensões influenciam a longevidade das micro e pequenas

empresas prestadoras de serviços através da relação de parceria com a grande empresa.

1.2.2 Objetivos intermediários

Analisar a gestão das MPEs de serviços em suas dimensões organizacionais;

Investigar as especificidades das MPEs de serviços, a partir de sua funcionalidade;

Elucidar os fatores que contribuem para longevidade das MPEs prestadoras de

serviços;

Analisar o processo de ciclo de vida das organizações no contexto das MPEs;

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19

Evidenciar as características de cada dimensão organizacional envolvida no

processo de gestão das MPEs;

Verificar a relação das MPEs prestadoras de serviços com a grande empresa e as

possíveis consequências para sua longevidade;

Propor um quadro de referências teórico-prático com direcionamentos para

auxiliar a longevidade desse segmento.

1.3 Demarcação científica

A trajetória da pequena empresa e sua longevidade de forma sustentável

dependerá do aprofundamento da literatura diante de seus fenômenos e de suas dramaturgias.

Desmistificar a funcionalidade desse segmento de empresa é imperativo e pressupõe

compreender suas facetas e especificidades organizacionais. Nesse contexto, considera-se

preponderante para a ampliação da abordagem de análise corporativa dessas empresas,

analisar os fatores internos deste segmento de empresa, diante de suas dimensões

organizacionais, características administrativas e limitações. Delineando-se dimensões

organizacionais como: estrutura e processos, comportamento, estratégia, tecnologia / inovação

e ambiente. Considerando o referencial conceitual, o estudo descreve como suposições /

hipóteses as seguintes proposições e argumentos:

Proposição 1: A primeira suposição está associada à existência de dimensões

organizacionais que interferem de forma substancial nos resultados desse segmento de

empresas, ou seja, que, se não bem elaboradas e desenvolvidas, tornam-se fatores restritores

da longevidade das MPEs.

As dimensões próprias das MPEs, estrutura, tecnologia/inovação, estratégia,

comportamento e ambiente estabelecem suas especificidades geradas no sistema das pequenas

empresas e são determinantes para longevidade desse segmento de empresa. Assim sendo, as

dimensões organizacionais são geradoras de uma maior longevidade para as pequenas

empresas? Há correlação da longevidade das MPEs e a condução das variáveis dimensionais

no processo da ação administrativa?

Argumentos: 1 – Conforme o referencial explorado, as dimensões organizacionais

das micro e pequenas empresas (MPEs) nas suas mais diversas especificidades, com suas

peculiaridades, descrevem disfunções organizacionais e fatores impulsionadores nas suas

características e práticas administrativas.

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20

Hall (2004) evidencia que o entendimento dessas especificidades é pré-requisito

para que se possa contribuir com a longevidade e o sucesso dessa categoria de empresas, seja

em termos de melhoria de sua gestão e/ou na mudança de postura dos empreendedores.

Entretanto, Figueiredo (2004) afirma que há uma tendência de se negligenciar a dimensão

organizacional (gerencial) da capacidade tecnológica, ou seja, é bem maior a ênfase dada para

o “capital humano”8, em detrimento do “capital organizacional”

9. No entanto, a dimensão

estrutural é uma dimensão organizacional e apresenta especificidades típicas das pequenas

empresas.

A suposição de que o segmento de empresas de pequeno porte tem uma melhor

flexibilidade às mudanças ambientais que as grandes empresas, considerando sua anatomia

simples e enxuta10

, lhes credenciam como empresas viáveis e prospectoras em cenário de

turbulência. Nesse entendimento, segundo Crosta (2000), por serem menores, as MPEs

permitem a seus proprietários uma visão mais privilegiada de seu “dia a dia”, em função do

contato mais próximo com cada funcionário e, como consequência, alcança-se uma maior

flexibilidade.

Longenecker et al., (2007) creditam esse contato direto é apontado como uma das

principais vantagens da pequena empresa. Tomando por base essa visão, De Sordi (2008)

observa que, na busca por soluções eficazes, as empresas passaram a rever suas estruturas

organizacionais e passaram a arquitetá-las com enfoque para o cliente e, não mais, por

agrupamentos de atividades. Supõe-se, então, que o processo de formação da estruturação da

empresa moderna vai além da visão contingencial, o que implicaria a interdependência e

integração dessas dimensões, facilitando, assim, o processo de aprendizagem organizacional,

traduzida pela maior flexibilidade e longevidade da empresa.

Conforme os estudiosos clássicos, a dimensão tecnologia favorece a correlação

de forças na ação administrativa, influenciando a estrutura e estratégia do sistema

organizacional, podendo a tecnologia ser analisada e categorizada (OLIVEIRA, 2009;

SOIFER, 2002; PERROW, 1976; THOMPSON, 1976; WOODWARD, 1965). Ademais, ela

está na base do sistema produtivo e de prestação de serviço e, em diferentes momentos da

8 Refere-se tanto à capacidade, habilidade e experiência quanto ao conhecimento formal, que as pessoas detêm e

que agregam valor a uma organização. 9 Potencializa a integração, de modo que cada ativo intangível humano e da informação, assim como os ativos

tangíveis físicos e financeiros, não só se alinhem com a estratégia, mas também se integrem e atuem juntos para

alcançarem os objetivos estratégicos da organização (KAPLAN; NORTON, 2004). 10

Com otimização dos níveis organizacionais, cargos e funções da empresa, tornado-a mais horizontal.

Estruturação organizacional caracterizada por maior amplitude de controle/supervisão e poucos níveis

hierárquicos.

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21

civilização humana, verifica-se sua presença como fator de sustentação, estando associada à

organização social (FLECK, 2005; WOOD JUNIOR, 2002).

Por sua vez, a competição global e a aceleração da taxa de inovação tecnológica11

implicam novas ameaças e oportunidades (WHITTINGTON, 2006). Figueiredo e Vendoveloo

(2006) descrevem a inovação nas organizações como uma ocorrência por meio da absorção do

novo saber e do velho conhecimento, reciclado via processos rápidos de aprendizagem, que

quanto mais rápidos, melhores, desde que haja retenção. Nelson e Winter (2005) destacam

que a inovação constitui o fator determinante do processo dinâmico da economia e, ao mesmo

tempo, fundamental para definir os paradigmas de competitividade econômica, especialmente

no atual crescimento da competitividade em nível regional e global. Isso significa que a

tecnologia passou a ser considerada uma variável endógena ao processo de desenvolvimento

e/ou sistema econômico e, sem dúvida, vem assumindo um papel crescente, sendo cada vez

mais importante, na estrutura econômica determinante (DOSI, 2006; KIM, 2005; LEONARD-

BARTON, 1998).

Nesse contexto, para garantir sua capacidade de competir e sobreviver no mercado

com exigências em nível internacional, as empresas, constantemente, procuram inovar, tanto

em termos de tecnologia quanto por meio de novos modelos de gestão (HAMEL e

PRAHALAD, 1995). Supondo a dimensão tecnologia / inovação, há uma insuficiência de

recursos tecnológicos. Mas por outro lado, existe uma maior possibilidade de as MPEs

produzirem inovações incrementais, desde que haja um tecido organizacional compatível para

a assimilação, absorção e domínio da tecnologia (DOSI, 2006; KIM, 2005).

O fator estratégia descreve-se a partir da análise do processo de planejamento,

fatores de absorção de informação e condições de inovação associados à prestação de

serviços. A estratégia é um padrão percebido em um conjunto de ações, frutos de decisões

empresariais e gerenciais (MINTZBERG; QUIINN, 2001). Porter (1999) enuncia que a

estratégia representa uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente conjunto de

atividades.

Na possibilidade da especificidade para o tratamento das dimensões nesse

segmento de empresas, aqui descrita, a estratégia representa que há uma adequação própria na

condução da organização, estando as metas e os objetivos básicos do empreendimento

atreladas ao empreendedor.

11

Representa a ampliação da produção e serviços à introdução do novo. Transformação do conhecimento em

produtos, processos e serviços que possam ser colocados no mercado. Emergem, enquanto gênese, de processos

que muitas vezes são desprezados nos estudos das novas combinações da estrutura produtiva (Kim, 2005).

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22

A racionalidade no processo de decisões estratégicas inerentes à pequena empresa

pressupõe um delineamento descrito pelo empreendedor e de forma centralizada. A

dependência da estrutura organizacional à estratégia da empresa é moldada em grande parte,

pelas condições do ambiente (GIANESI; CORRÊA, 2009; CHANDLER, 1962). Greiner

(1998) apresenta a adequação da estrutura à estratégia como uma junção normativa, mas a

descreve na prática como um ajuste necessário às pressões de mercado.

A dimensão comportamental é uma variável a ser trabalhada considerando as

organizações como entidades sociais complexas (MINTZBERG, 2007; MORIN, 2001). O

gerenciamento profissional representa o fulcro do pensamento clássico, mas, recentemente

surgiu um novo modelo para a gerência – o líder heroico, cujas visões transcendem os

cálculos secos da rotina profissional (WHITTINGTON, 2006; MINTZBERG, 2003).

Da perspectiva sistêmica, o viés individualista da literatura de liderança subjuga

os esforços coletivos que, afinal, fazem de uma organização o que ela é, ou seja, o

individualismo heróico também obscurece as condições sociais para liderança (TENÓRIO,

2008; WHITTINGTON, 2006). Cygler (2001) expressa que, nesse novo cenário, as

organizações devem combinar harmoniosamente, modelos de estrutura e comportamento, que

trabalhem sem sobressaltos, características do caos e da ordem.

A suposição é que haja pouca capacidade de entendimento da complexidade

organizacional e confiança apenas na capacidade empreendedora individual do proprietário,

estabelecendo-se uma gestão com poder de adaptabilidade, em determinadas contingências,

embora centralizadora. O processo de gestão nas MPEs perpassa por uma maior compreensão

das relações sociais e de trabalho do empreendedor e colaboradores, e, inclusive, das

demandas dos stakeholders12

.

As organizações se legitimam à margem do universo que as envolve. A discussão

do ambiente no cenário das MPEs prestadoras de serviços pressupõe evidenciar os limites e

fronteiras que as separam. O ambiente ambíguo, complexo, mutável e com diversidades

estabelecem um fator restritor da percepção e interpretação por parte das organizações de

pequeno porte.

Nesse contexto, as suas linhas amplas de formação e seu senso de direção e

criação ficam sob responsabilidade do executivo principal ou empreendedor, separando, desta

forma, a concepção da implantação e o pensamento em ação de forma compartilhada. Além

12

Agentes que estão diretamente interessados nas ações e atividades da empresa.

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23

disso, a concepção da organização como sistema aberto13

reformula a visão reducionista da

preocupação com as variáveis somente controláveis da organização e permeia a necessidade

da sinergia organização versus ambiente.

As organizações devem manter um alinhamento constante com o ambiente

(LONGENECKER et al., 2007; WHITTINGTON, 2006; LIMA, 2003; PORTER, 1986).

Barney e Hesterly (2011) evidenciam a suposição que se alicerça em três pontos: dependência

excessiva de mecanismo de incentivo fiscal, influência imperativa dos fatores sociais e pouca

identificação de marca do negócio.

Proposição 2: O processo de gestão das micro e pequenas empresas tem

especificidades diferentes e próprias que se distanciam das grandes empresas, não podendo

ser tratadas de forma reducionista, quando associadas aos fenômenos das grandes

corporações. Logo, as MPEs têm uma gestão com especificidades distintas da grande

empresa?

Argumento: 1 - Os estudos da administração, em todo seu processo evolutivo da

teoria administrativa – do movimento da administração científica ao movimento da

contingência – foram desenvolvidos por meio de análises e abordagens nas grandes

corporações (impessoais, formais, e profissionais predominantemente) para entender suas

demandas. A aplicação desses modelos à gestão das micro, pequenas e médias empresas é

inadequada, em função das especificidades de cada uma delas (PINHEIRO, 1996, p.234).

São, também, inadequadas quando associadas à realidade econômica de uma determinada

região, com fenômenos diferentes e cenários distintos.

Nesta perspectiva, referindo-se ao monitoramento ambiental, Cancellier; Almeida

e Estrada (2005) comentam que as teorias organizacionais têm se dedicado aos estudos que

contemplam as grandes empresas, com pouca ou nenhuma atenção às pequenas. Kanter

(2010); Nonaka (2007) observam que os estudos organizacionais, quando aplicados às

questões das pequenas empresas, merecem atenção particular, em função das diferenças

existentes entre as empresas de grande e pequeno porte. A esse respeito, Faria; Imasato (2007)

apontam que a literatura privilegia os interesses e necessidades dos estrategistas da grande

empresa, o que reforça a lacuna de conhecimento para os estrategistas da pequena e média

empresa no país. O estudo parte do conhecimento hipotético-dedutivo, considerando as teorias

a serem analisadas e verificadas, podendo confirmar ou falsear os fenômenos.

13

Linguagem da abordagem de sistemas que conceitua como um sistema que troca energia com outros sistemas

em forma de interdependência e integração.

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24

Argumento: 2 - Há evidências de que o segmento de empresas de pequeno porte

tem melhor flexibilidade às mudanças ambientais que as grandes empresas, considerando a

dimensão estrutural; Argumento: 3 - O índice de mortalidade das pequenas empresas revela a

necessidade de melhor compreensão dos fenômenos desse segmento de organizações,

indicando ajustes na condução e adaptabilidade diante da realidade das pequenas empresas.

Bortoli Neto (1980) explica que as MPEs não são miniaturas de uma grande

empresa e que, portanto, uma uniformidade de tratamento para os problemas das MPEs e para

as grandes empresas seria inadequada. Hessen (2003) formula que o racionalismo é um juízo

de necessidade lógica e de validade universal do mundo da experiência e que está em

permanente transformação, consequentemente, é incapaz de transmitir qualquer saber

genuíno.

As críticas de Longenecker et al. (2007) sobre a afirmação de que os problemas ou

dimensões das pequenas empresas são necessariamente similares à das grandes empresas é de

um racionalismo sem precedentes. Por sua vez, Dalsasso (2010) e Arruda et al., (2007)

consideram que a ausência de uma melhor compreensão diante dos fenômenos da pequena

empresa limita a possibilidade de sinergia em longevidade por parte destas.

A suposição é que o processo de gestão das pequenas empresas tem

especificidades diferentes e próprias que se diferem das grandes empresas, não podendo ser

tratadas de forma reducionista, quando associadas aos fenômenos das grandes corporações.

Proposição 3: Não há modelo único de análise, nem mesmo único modelo de

intervenção para as micro e pequenas empresas;

Argumento: 1 - Para cada local, cada setor, cada região e cada país há estruturas

e comportamentos diferentes para esses segmentos. Argumento: 2 - Os problemas

manifestados podem até ser parecidos e iguais, mas as formas de manifestações são

diferentes, o que demanda diferentes análises e soluções. Para evidenciar essa constatação,

Arbache (2001) afirma que as MPEs se manifestam em todos os setores e com efetiva

contribuição para a competitividade da grande empresa, sendo uma parceira no seu processo

de produção. Atuando formalmente e informalmente, independentes ou associadas a uma

grande empresa ou a uma rede de pequenas empresas, elas representam um núcleo dinâmico

da sociedade e da economia (SANDERS, 2011; CASTOR, 2009; LONGENECKER et al.,

2007; LEONE, 1999; ROBBINS, 1998; KRUGLIANSKAS, 1996).

A perspectiva de êxito na administração não se coaduna com o absoluto, o

concreto ou com o pensamento linear para as coisas mutáveis e diferentes na sua essência.

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Mintzberg (2007) argumenta que a teoria não pode ser considerada como uma verdade

concreta, como um dogma, mas sim como uma possível explicação de um fenômeno.

Ademais, Motta (2001) infere que possivelmente os fenômenos administrativos e

organizacionais têm variedades e interdisciplinaridade, impossíveis de serem enquadrados em

um modelo. Hamel e Prahalad (1995) indicam que a compreensão das dimensões e identidade

organizacional pressupõem abordar o conjunto de valores e sentidos existentes de forma

tangível e intangível por um grupo. Nesse sentido, Carvalho e Ronchi (2005) consideram que

sendo a cultura organizacional um conjunto de valores percebidos e tidos como válidos pelo

grupo, então esta cultura terá impacto no desempenho da organização. Logo, o estudo da

longevidade das MPEs não pode estar condicionado a generalizações e de forma cartesiana.

Logo, é necessário desmistificar o conteúdo cultural dessas empresas e suas interfaces.

Faria e Imasato (2007) argumentam que o conhecimento produzido nos Estados

Unidos é problemático no Brasil, porque não reconhece questões de poder e de política

ressaltados por Weber (1999) nem os diferentes tipos de estrategistas que fazem parte de

economias emergentes.

[...] o conhecimento em estratégia produzida nos Estados Unidos reproduz dois

pressupostos importantes: a) estrategistas do mundo público devem ser substituídos

por estrategistas da grande empresa; b) outros tipos de capitalismo devem ser

substituídos pelo modelo de capitalismo dos Estados Unidos. E estes pressupostos

são efetivamente problemáticos quando tais conhecimentos são legitimados como

verdade absoluta num contexto distinto, como o brasileiro (FARIA; IMASATO,

2007).

Supõe-se, portanto, que é viável aprofundar as discussões diante desse segmento,

sem determinismo da literatura da grande empresa e estabelecendo uma construção do

conhecimento que contribua para a longevidade das MPEs.

Proposição 4: As MPEs, quando associadas à grande empresa, obtêm uma melhor

perspectiva de longevidade.

Argumento: 1 – Quando associadas à grande empresa as MPEs têm a

possibilidade de construir um tecido organizacional com codificações administrativas

sinérgicas, considerando a relação que permeia a prestação de serviços para a grande empresa.

Essa relação condiciona-se à absorção de tecnologias e ferramentas de gestão para a

viabilidade dos serviços.

Argumento: 2 – A aproximação da pequena empresa e a grande empresa permite

repensar a identidade cultural da pequena empresa no momento em que sua dinâmica

comportamental se reflete em novas práticas.

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Argumento 3 – O processo de inovação da Grande Empresa (GE) estabelece uma

consonância de aproximação com os mecanismos de gestão das MPEs de serviço e,

considerando a relação formal dessa prestação do serviço, a sua continuação estará associada

à capacidade de absorção, manutenção e construção de um tecido tecnológico próprio da

pequena empresa.

Quanto à construção de parcerias entre as empresas para obtenção de capacidade

tecnológica que lhe dará um tecido organizacional mais consistente e capaz de enfrentar a

adversidade econômica e tecnológica, Figueiredo (2005) descreve:

[...] as empresas que operam em economias emergentes ou de industrialização

recente não detêm capacidades tecnológicas básicas exigindo dessas organizações a

necessidade de estabelecerem um processo de aproximação chamado de “fronteira

tecnológica internacional” como forma de obterem a aprendizagem para construir e

acumular sua capacidade tecnológica (FIGUEIREDO, 2005, p. 14).

Kim (2005) salienta que as empresas que desenvolvem uma rede ampla e ativa

com organizações com tecido organizacional com base tecnológica, fortalecem suas

habilidades em identificar a capacidade de outras empresas e em aprender com elas na

construção de sua própria capacidade tecnológica14

.

[...] as organizações e setores da economia, incluindo o Estado, que não procuram

investir em tecnologia para poder inovar, acompanhada de um aparato institucional

mais eficiente, estão condenados a desaparecer nesses mercados - isto é, a perder

espaço para aquelas empresas que visualizam a inovação como meio de

diferenciação (LEONARD-BARTON, 1998, p. 102).

As suposições descritas são geradas a partir dessas proposições e argumentos

estabelecidos neste trabalho, no qual se verificam fatores potencializadores e limitadores da

longevidade das MPEs de serviços. Os resultados do desempenho desse segmento de

empresas, com base em longevidade e mortalidade evidenciam disfunções, havendo de forma

determinística fatores restritores de atuação e funcionalidade das MPEs, sendo essas

dimensões influenciadoras nos seus resultados. A partir dessas suposições, determinam-se os

núcleos principais, designados de dimensões organizacionais, classificadas em: estrutura e

processos, comportamento, tecnologia e inovação, estratégias e ambiente.

14

Capacidade de assimilação, absorção e uso da tecnologia. São variáveis que agregam valor para o processo

tecnológico, traduzindo um mecanismo de feedback para o sistema. Representa uma tipologia extremamente

consistente a partir da construção do sistema físico – com aparato de base de dados transferível, sistema recursos

humanos compreendida pela experiência e talento acumulado, sistema organizacional / processos de gestão e

produtos e serviços (FIGUEIREDO e VENDOVELOO, 2006, p. 213).

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27

Reitera-se, por fim, que a literatura da administração, geralmente, evidencia uma

funcionalidade das organizações de forma genérica, como se os fenômenos da grande empresa

fossem os mesmos das pequenas, assim como, a solução para os referidos problemas. Na

realidade, os estudos organizacionais, quando aplicados às questões das pequenas empresas

merecem atenção particular, em função das diferenças existentes entre as empresas.

1.4 Delimitação do estudo

O estudo pretende analisar as dimensões organizacionais e suas implicações na

longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviço e a relação dessas

empresas com a grande empresa.

A análise explorará a área de serviços buscando desvendar suas principais

particularidades e especificidades, limitando-se a discuti-las no bojo da abordagem para as

MPEs.

As prestadoras de serviços são correspondentes ao objeto de estudo, sendo um

subconjunto das pequenas empresas que fazem parte do conjunto das empresas que, por sua

vez, fazem parte do universo das organizações. Logo, a abrangência da pesquisa atinge:

empresas – empresas prestadoras de serviços – parceiras da grande empresa - micro e

pequenas empresas – com suas interfaces com o ambiente e suas facetas no subsistema

organizacional. Com relação à gestão organizacional das pequenas empresas, a tese versará

sobre a dinâmica organizacional no tocante às dimensões: estrutura e processos,

comportamento, estratégias, tecnologia/inovação e ambiente. Nessa análise, serão discutidos

as inter-relações e indicadores de cada dimensão, necessárias para uma maior longevidade

dessas organizações.

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28

Figura 1 – Delimitação do estudo

A abrangência do estudo dessas abordagens referentes às MPEs de serviços dar-

se-á sobre a realidade brasileira e mais especificamente no Maranhão em seus aspectos gerais.

Em que pesem a relevância e a utilidade de diversas disciplinas para a

compreensão do fenômeno, esse estudo priorizará a abordagem da administração e seus

desdobramentos do saber: planejamento estratégico, gestão estratégica e análise ambiental,

estruturas e processos organizacionais, recursos tecnológicos (aqui compreendido a tecnologia

na sua forma concreta e abstrata), inovação, processo comportamental, gestão da produção e

serviços, e gestão de marketing de serviços. Ressalta-se que essas disciplinas estarão sendo

trabalhadas de forma interdependente e sistêmica para o alcance do objeto da pesquisa.

As outras áreas do saber estão contempladas como: Psicologia, Sociologia,

Antropologia e Filosofia, traduzindo-se a interfaces em suas relações. Considerações

históricas e econômicas, por exemplo, são feitas ao longo do estudo, mas não constituirão

referências prioritárias. Ademais, deve ser ressaltado que os campos de investigação são

suficientemente diversos para possibilitar a desejada análise multipolares do fenômeno, mas

haverá maior ênfase nas variáveis do tema central que se refere à questão das dimensões

organizacionais, vulnerabilidade, competitividade e longevidade das MPEs prestadoras de

serviços.

Os estudos sobre esse segmento de empresas na sua grande maioria prioriza o

processo de apoio e crédito às MPEs. Schumpeter (1982) afirma que o crédito é essencial ao

processo econômico, pois parte das inovações são financiadas com recursos de terceiros.

Embora a assertiva seja pertinente, nesta tese esse viés não será de forma prioritária foco de

discussão. Quanto à inovação representa uma dimensão do estudo associada à tecnologia.

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29

A delimitação do estudo quanto a sua abrangência e recorte teórico circundou os

limites da pesquisa. Na busca de referendar essas empresas, trabalhou-se a relevância da

pesquisa tanto para o mundo empresarial e acadêmico quanto para a sociedade.

1.5 Relevância do estudo

A busca pela compreensão dos fenômenos organizacionais tem evidenciado os

estudos da administração, com referenciais de forma multidisciplinar, nos últimos anos,

tornando a discussão “acalorada” no momento em que se revela a interdependência da

organização versus administração.

Os estudos a respeito das MPEs não têm sido valorizados no Brasil. Borba e

Piccoli (2005) pesquisaram 16 periódicos com conceitos A, B e C pelo Sistema Qualis/Capes,

nos anos 2000 a 2004 e concluíram que, dos 1958 artigos publicados, apenas 3% (68 artigos)

tratavam de pequenas e médias empresas.

Leone (1999), citada por Cancellier; Almeida e Estrada (2005) afirmam que as

pequenas empresas têm problemas e desafios particulares e que já merecem uma teoria

específica que possa conduzi-las para a melhoria de suas ações administrativas e compreensão

de suas relações de interdependência com as diversas dimensões organizacionais e

ambientais. Na discussão longevidade, praticamente não há estudos direcionados a esse

fenômeno na pequena empresa, restringindo-se, na maioria das vezes, a associá-los à

realidade da Média e Grande Empresa (MGE). Essa descrição é endossada na afirmação de

que:

[...] Apesar de haver certo consenso, mesmo que velado, em relação à importância

das micro e pequenas empresas no tocante ao crescimento econômico, à geração de

empregos e à distribuição de renda, não há propriamente teorias ou ensaios teóricos

robustos que justifiquem e expliquem a existência e a sobrevivência dos pequenos

empreendimentos (AMARAL FILHO, 2011, p.17).

Longenecker et al. (2007) evidenciam que no Brasil, as informações sobre as

MPEs ainda são pouco levantadas e analisadas por órgãos oficiais, se comparadas a

importância desse segmento na economia e no cotidiano da vida das pessoas. Isso ocasiona a

pouca produção de conhecimento sobre o cenário e realidade dos pequenos negócios,

limitando a construção de políticas públicas com direcionamento adequado para a promoção

das empresas desse porte.

Embora não haja prioridade nos estudos diante desse segmento de empresas, a

importância das pequenas organizações para o país é uma constatação, uma vez que conforme

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30

dados do Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE, 2010), as empresas formais, no

Brasil, alcançaram 6,88 milhões de unidades, dos quais as MPEs respondem por 99% do

mercado brasileiro empresarial e ainda são responsáveis pelo emprego de 67% da população

economicamente ativa do país no ambiente urbano, contribuindo com 20% do volume de

riquezas gerado pela nação e 28% do faturamento bruto da atividade empresarial. Tais dados,

quando associados às atividades empreendedoras, demonstram uma grande perspectiva para o

País.

A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2010), que é realizada

anualmente pela Babson College dos Estados Unidos e pela London Business School da

Inglaterra, destaca que nos países que constituem a União Europeia, os empreendimentos de

micro e pequeno porte somam 19 milhões e representam 98% de todos os empreendimentos,

enquanto na China, Japão e Austrália, os pequenos negócios representam, respectivamente,

99%, 99,7% e 96% dos empreendimentos totais. Nas nações em desenvolvimento, a sua

participação é ainda mais expressiva e o seu papel mais relevante, pois contribuem para o

crescimento econômico, a criação de empregos, geração de renda e o desenvolvimento local e

regional.

No caso do Brasil, a pesquisa aponta para o alcance em 2010 da maior taxa de

empreendedorismo entre países membros do grupo que integra as maiores economias do

mundo (G20) e do grupo que reúne os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC). Os

dados da pesquisa revelam que o país registrou o melhor resultado dos últimos 11 anos em

que participa da pesquisa, com a maior Taxa de Empreendedores Iniciais (TEA): 17,5% da

população adulta (18 a 64 anos). Esse percentual revela que 21,1 milhões de brasileiros

exerceram atividade empreendedora naquele ano e refere-se aos empreendimentos com até

três anos e meio de atividade.

O segmento das MPEs se destacou na década de 2000, pois suplantaram a barreira

dos 6 milhões de estabelecimentos, segundo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE, 2011). A pesquisa revela que neste período, o crescimento médio do

número de MPEs foi de 3,7% a.a. Entre 2000 e 2005, o crescimento médio chegou a 4,8%

a.a., enquanto na segunda metade da década o ritmo de crescimento foi de 2,9% a.a. Em 2000,

havia 4,2 milhões de estabelecimentos, chegando em 2010 a um total de 6,1 milhões em

atividade. Portanto, nos anos 2000, houve criação de aproximadamente 1,9 milhão de novos

estabelecimentos (Gráfico 1).

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31

Gráfico 1 – Evolução do número de estabelecimentos por porte – Brasil 2000 - 2010 (em milhões)

Fonte: MTE. Rais

Esses dados evidenciam a vocação empreendedora do brasileiro e sinalizam na

importância de aprofundamento do conhecimento das “dramaturgias” desse porte de

empresas, considerando que apesar da positiva correlação existente entre a importância das

micro e pequenas empresas para o País e as altas taxas de empreendedorismo, o Brasil ainda

hoje apresenta um índice alto de mortalidade para empreendimentos com até quatro anos de

existência, quando comparado a países desenvolvidos da América do Norte e da Europa.

Castor (2009) argumenta a importância da sobrevivência desses empreendimentos

como condição indispensável para o desenvolvimento econômico do País. Tais fatores são

ratificados por Wood Junior (2007) ao mencionar que são as pequenas empresas e

microempresas quem distribuem renda, contribuindo para dirimir a dívida social como os

menos favorecidos, abrindo-lhes novas oportunidades. Entretanto, Saviani (1995) aponta que

os estudos de forma geral no Brasil e no mundo mostram que os dois primeiros anos de

atividade de uma nova empresa são os mais difíceis, o que torna esse período o mais

importante em termos de monitoramento da sobrevivência.

Porter (1999) observa o fenômeno da mortalidade das empresas de pequeno porte

no mundo com preocupação e propõe que deva ser tratado de forma sistêmica, ou seja, não

basta o tratamento superficial das disfunções desse segmento. Arruda et al. (2007) destacam a

necessidade do aprofundamento da discussão do aparato de sua longevidade e uma teoria que

possa transpor essa ausência de informações com sustentação científica. Contudo, uma das

principais explicações para ocorrência da mortalidade reside no fato de o empreendedor

brasileiro não possuir conhecimento de gestão e enfrentar a competitividade de mercado de

forma despreparada (AMARAL FILHO, 2011; LEMES, 2010; MACHADO, 2007).

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32

Por outro lado, o faturamento das MPEs também cresceu consideravelmente nos

últimos anos. No primeiro semestre de 2010, a receita real registrou aumento de 10,7%

comparado ao mesmo período de 2009. Este indicador aponta que as pequenas empresas

superam o ritmo de crescimento da economia brasileira (SEBRAE, 2011).

Tal situação faz com que a maioria das MPEs apresente características

administrativas peculiares e que influenciam diretamente na longevidade e no sucesso em

longo prazo. Para essas empresas objetivarem uma maior sustentabilidade e evitarem a

estagnação, é importante que busquem uma orientação estratégica para ganhar escala e

longevidade. Quando a organização evolui para um crescimento diante de suas demandas,

suas atividades se tornam mais complexas e sofisticadas, necessitando que o empreendedor

reconheça suas características corporativas, com potencialidades e limitações (BARNEY e

HESTERLY, 2011; MINTZBERG, 2007; PORTER, 1999).

No entanto, deve-se considerar que saber o direcionamento do negócio em

consonância com as oportunidades e o caminho viável para o alcance dos objetivos

organizacionais torna-se de extrema relevância, mas também necessária se faz a obtenção de

informações consistentes para auxiliar na gestão das empresas (MONTANA e CHARNOV,

2010; CERTO, 2010; GEUS, 1998). Associando-se às MPEs terem características bastante

distintas e os estudos realizados em grandes empresas, como já descrito, não atendem as suas

necessidades e não podem ser generalizados para compreendê-las.

As MPEs contribuem excepcionalmente, ao fornecerem novos empregos,

introduzirem inovações, estimularem a competição, auxiliarem as grandes empresas e

produzirem bens e serviços com eficiência (LONGENECKER et al., 2007). Segundo o

Anuário Estatístico da micro e pequena empresa (SEBRAE, 2011) entre 2000 e 2010, as

micro e pequenas empresas criaram 6,1 milhões de empregos com carteira assinada, elevando

o total de empregos nessas empresas de 8,6 milhões de postos de trabalho, em 2000, para 14,7

milhões, em 2010 (Gráfico 2).

De 2000 a 2010, o crescimento médio do número de empregos nas MPEs foi de

5,5% a.a. Na primeira metade da década, foi gerado 2,4 milhões de postos de trabalho nas

MPEs, com crescimento médio de 5,1% a.a. No período 2005-2010, esse movimento se

intensifica resultando em 3,7 milhões de empregos, com crescimento médio de 6,1% a.a. O

bom desempenho das MPEs na década apenas confirma a sua importância na economia.

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33

Gráfico 2 – Evolução do número de empregos por porte – Brasil 2000 - 2010 (em milhões)

Fonte: MTE. Rais

Pesquisa da Deloite (2011) com empresas que compõem o ranking das 250

Pequenas e Médias Empresas (PMEs) que mais crescem no Brasil totalizaram receitas

líquidas que, juntas, somam R$ 12,26 bilhões (de acordo com as demonstrações financeiras

referentes a 2010), com crescimento médio de 36% entre 2008 e 2010. Destaca-se da referida

pesquisa a constatação da diversificação das atividades econômicas com preponderância para

as pequenas empresas.

Tabela 1 - Receita líquida - Ranking (250 empresas que mais crescem)

R$ Bilhões Crescimento (%)

2008 2009 2010 2008-2010 Taxa Anual

7,56 9,39 12,26 97 36

Fonte: Deloite (2011)

Os números indicam um reposicionamento das MPEs com crescimento e

expansão dos negócios. Por exemplo, as 296 empresas da Bolsa de Valores de São Paulo

(BM&FBOVESPA) que apresentaram suas respectivas informações financeiras até o final de

2010 obtiveram, nos mesmos períodos, um crescimento anual de 20% e consolidado de 80%.

As MPEs representam um dos principais agentes de fomento da economia, não

somente brasileira como mundial. Logo, desprezar o potencial desses empreendimentos

significa desvalorizar importante agente de alavancagem do desenvolvimento e, na ponta do

processo, subestimar a inclusão social. Dada essa relevância, a sua análise se faz necessária

para compreensão dos fenômenos que envolvem esse segmento de empresas.

Apesar de a maioria dos estudos sobre MPEs estarem atrelados à mortalidade e

disfunções desse segmento de empresas, que se entende serem pertinentes, há poucas

Page 36: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

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produções científicas nessa área. O objetivo que permeia essa tese vai ao encontro da vida,

com fatores que traduzem sobrevivência e longevidade.

Desta forma, justifica-se o desenvolvimento deste trabalho como relevante para

que o assunto seja amplamente debatido nas diversas esferas: pública e privada, alcançando a

atenção devida na agenda de discussão do desenvolvimento sustentável da região. Para

estabelecer a devida importância das MPEs, em especial as prestadoras de serviços, no

contexto social, econômico e tecnológico em que estão inseridas, e, por conseguinte, a

melhoria do quadro de desenvolvimento nacional. Por outro lado, pretende-se agregar e

disseminar o instrumento desta pesquisa como fator de geração de conhecimento para as

organizações de pequeno porte e, paralelamente, evidenciar as dimensões e sua dinâmica

corporativa, traduzindo os modelos de gestão para adaptabilidade e longevidade das

organizações.

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35

CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO

Para uma melhor compreensão do problema de pesquisa e sustentação da análise

realizada, é utilizado referencial teórico da discussão sobre a longevidade das MPEs,

contemplado a partir de fatores qualitativos e quantitativos dessas empresas.

O estudo transcreve a dicotomia da aplicação teórica na funcionalidade das MPEs,

focalizando as tendências (e não modismos) evolutivas no desenvolvimento das organizações

e sinaliza para a necessária destruição criativa do que está posto na busca da desconstrução

dessa lógica determinística nas organizações.

A revisão da literatura é discutida com o acervo de teorias que ofereça explicações

acerca dos fenômenos desse segmento de empresas e sua longevidade, evidenciando o

pensamento crítico que deve permear a investigação e o contexto em que as organizações, e

em especial as MPEs, se deparam, inclusive a partir da taxonomia e classificação das MPEs e

prestadoras de serviço.

O embasamento teórico do trabalho apresenta o ressurgimento desse segmento de

empresas com perspectiva de inserção e participação crescente na economia nacional e

maranhense. A parceria com a grande empresa representa um viés de discussão e evidencia-se

o importe dessa união, sem dependência da MPE em relação à Grande Empresa (GE), mas

com forte influência para a longevidade dessas empresas.

A discussão perpassa inicialmente pela definição e classificação das MPEs no

mundo e no Brasil, a taxonomia de classificação das empresas e as prestadoras de serviços

com sua particularidade, características e estímulos à economia de serviços. São apresentadas

as questões teóricas e epistemológicas que fundamentam esta tese no tocante ao processo de

mudança de modelagens organizacionais, configurando a “destruição criativa” no sistema

organizacional, com o empreendedorismo aduzido como elemento de destaque para a

longevidade das empresas, assim como, a responsabilidade social sendo contextualizada a

partir da reflexão da aproximação do relacionamento do negócio e a sociedade, analisando-se

em pesquisas empíricas a forma e a condução das MPEs nessa perspectiva.

Abordam-se de forma minuciosa as teorias do Ciclo de Vida Organizacional

(CVO) e a condição de homeostasia, referenciada com explicações sobre processos em

contextos locais identificáveis, que justifiquem a compreensão de vida longa para as

empresas. A seguir, é descrita a tendência de integração e abordagem múltipla que permeiam

o constructo sistêmico e entendimento da complexidade organizacional.

Page 38: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

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O tratamento teórico se legitima, nesta tese, diante das dimensões organizacionais

com base em estrutura e processos, comportamento, estratégia, tecnologia / inovação e

ambiente e consequentes indicadores de gestão e suas interfaces. O estudo se alicerça no

sistema sócio-técnico, na “lógica” da complexidade e nas evidências epistemológicas das

dimensões organizacionais, creditando fatores tangíveis e intangíveis à margem de práticas de

gestão das MPEs longevas.

Figura 2 – Modelo de análise

O modelo de análise apresenta o constructo teórico associado à longevidade das

MPEs e os desdobramentos das dimensões organizacionais e sua interface endógena e

exógena. Entretanto, a condição dos indicadores das dimensões é propositiva associando-se

com o que é tangível e intangível por serem delineamentos distintos praticados. O objeto de

pesquisa, as MPEs prestadoras de serviços longevas, é explorado com rigor científico.

2.1 Definição e classificação das MPEs

O conceito do que seja pequeno, médio ou grande é relativo, ou seja, varia de país

para país. A determinação da relação pequeno e grande quanto à classificação do tamanho da

empresa, ou seja, ao porte da empresa dependerá do referencial trabalhado. Uma empresa

considerada ou enquadrada como média em um determinado país, cujas condições

econômicas do tipo capitalista, ainda não estejam devidamente consolidadas, ou apresentem

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um modelo econômico com uma estrutura planificada, talvez possa até ser enquadrada como

uma pequena empresa em outro país, cujas condições descritas anteriormente sejam

completamente diferentes, isto é, caso sua estrutura econômica seja plenamente estruturada e

desenvolvida. Longenecker et al. (2007) afirmam que os padrões relativos ao tamanho são,

em geral, arbitrários, adotados para servir a um fim específico. Essa afirmativa está em

consonância com as várias classificações existentes de MPEs, conforme Tabela 2.

As micro e pequenas empresas, embora sejam vistas como espécies de empresas,

esse segmento é reconhecido como parte integrante da estrutura empresarial brasileira prevista

na Constituição Federal, no Código Civil e na legislação pertinente à atividade econômica

desenvolvida pelas empresas em geral.

A Lei Complementar nº 123 de 14 de dezembro de 2006 da Presidência da

República instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte,

mas foi alterada pela Lei Complementar nº139 de 10 de novembro de 2011 que no Capítulo II

– Da definição de microempresa e de empresa de pequeno porte expressa:

Art. 3o Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou

empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa

individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no

Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,

conforme o caso, desde que:

I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou

inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);

II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita

bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a

R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais)

§ 1o Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste artigo, o

produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos

serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as

vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.

O legislador brasileiro define as MPEs como as empresas de menor potencial

econômico. Essa descrição é refutada por Amaral Filho (2011) ao observar que as pequenas

empresas são sustentáculos de uma economia, capazes de dinamizar a economia dos

municípios e bairros das grandes metrópoles, agregando valor a produtos e serviços.

Assim também, uma pequena empresa numa economia altamente desenvolvida

pode apresentar características de uma média empresa, se for analisada sob a ótica de uma

economia não totalmente desenvolvida. São situações não excludentes. Segundo a

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2009, p.32):

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38

[...] Além das dificuldades de conciliar os diferentes critérios utilizados para

classificar as PMEs, as comparações internacionais são dificultadas pelo fato de que,

enquanto alguns países adotam a empresa como unidade de estudo, em outros, as

estatísticas disponíveis referem-se aos estabelecimentos. Finalmente, existem

divergências quanto às classificações nos setores da economia e ao período utilizado

para coletar as informações.

Hall (2004) afirma que a definição e classificação de pequena empresa são

bastante complexas. Elas variam muito, tanto no Brasil como em outros países, pois existem

maneiras de classificá-las: qualitativamente (ex.: estruturas internas e processos de gestão) e

quantitativamente (ex.: número de funcionários e receita bruta anual) e a combinação de

ambos. Essas classificações são importantes por que, muitas vezes, as empresas, conforme o

porte em que se enquadram, podem usufruir de benefícios financeiros, previstos na legislação

brasileira, baseado em políticas públicas (AMARAL FILHO, 2011; CASTOR, 2009).

Nesse sentido, para uma determinada corrente de pensamento, o emprego e o

investimento são as duas variáveis mais aceitáveis. É estabelecido um teto ou intervalo dentro

dos quais as empresas devem se enquadrar a fim de receberem uma determinada conceituação

(LONGENECKER et al., 2007). No afã de estabelecer uma conceituação mais precisa, há

algumas definições que se valem dos critérios de volume de vendas e do consumo de energia

elétrica (esta será descartada como variável para estabelecer a conceituação). Há certo senso

comum a caracterizar o perfil das micro e pequenas empresas do país. São traços típicos que

as qualificam, por exemplo, como organizações predominantemente familiares, de sociedade

limitada e sediada nas proximidades dos grandes centros econômicos.

No entendimento de Motta (1998), a heterogeneidade dos conceitos advém

precisamente do fato de que cada país apresenta características gerais diversas, isto é, com

fatores e condições geográficas, políticas, sociais e econômicas peculiares.

O nível de desenvolvimento tecnológico, de inovação, de incentivos financeiros e

fiscais, dentre outros que estabelecem as especificidades de cada empresa e cenários de cada

país, revelando a complexidade na abordagem da análise e do conceito das MPEs (LEONE,

1999; LONGENECKER et al., 2007; MOTTA, 1998).

No que se refere ao contexto mais específico, a própria natureza das MPEs

estabelece alguns obstáculos para a definição apropriada. Analisar estas empresas de forma

linear apenas restringe a possibilidade de desenvolvimento de políticas que atendam

eficazmente a esse segmento de empresas. Assim, a definição de Micro, Pequeno, Médio e

Grande empresa varia de país a país. Por exemplo, na Alemanha, na França e nos Estados

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Unidos, empresas com até 500 empregados se encaixam na definição de Micro, Pequena e

Média Empresa, enquanto o Japão considera empresas com até 300 empregados.

O Brasil e os Estados Unidos utilizam-se dos mesmos padrões, número de

funcionários e faturamento anual. No entanto, nos Estados Unidos, tanto a quantidade de

funcionários, quanto a de faturamento das pequenas empresas, refletem números bem maiores

do que os brasileiros (citado acima), sendo isso um reflexo da economia desses países.

As MPEs italianas têm participação efetiva tanto no mercado doméstico como

internacional. Essa presença ampliou-se pela polilítica governamental de proteção às

empresas italianas, ou seja, beneficiadas pela intervenção do Estado com medidas

intervencionista e protecionista, aumentando os negócios e diversificando as estratégias e

competitividade dessas empresas em relação às grandes organizações. Na Itália, as MPEs são

mais de quatro milhões ou 99,9% de todas as empresas. Os 81,7% da força de trabalho é

empregada nesse segmento de empresas. As micro empresas são 94,9% do total das empresas

formais e empregam 48% da força de trabalho total, conforme Centro Universitário

Residenziale di Bertinoro que realiza pesquisa econômica anualmente.

Alguns países latino-americanos, como Chile e Colômbia, consideram como

empresa de pequeno e médio porte com até 200 empregados. Contudo, também existem

países que classificam as empresas em função do valor do capital realizado, como é o caso de

Taiwan, embora haja conceitos utilizados em diferentes países. Assim, o critério é mais

restrito em Taiwan e menos nos Estados Unidos. É importante também observar que o critério

utilizado no Reino Unido e nos países da União Europeia para definir o porte das empresas é

cerca de duas vezes maior do que o adotado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), que utiliza como referência o critério do Mercado Comum do

Sul (Mercosul).

Por outro lado, como observado por Ferraz (2002), a diversidade de situações

possíveis nas condições de entrada e saída de diferentes mercados faz com que existam

múltiplas imagens do que deve parecer uma população de MPEs bem sucedidas. Ainda diante

da problemática da classificação desse segmento, Longenecker et al. (2007) revela que, em

determinadas situações, a firma está classificada conforme a referência estabelecida, mas

apresenta receita excepcionalmente elevada e, consequentemente, faturamento incompatível

com sua classificação.

No entanto, considerando que o estudo investigatório refere-se às MPEs no Brasil,

e mais especificamente no setor de serviços em São Luís, buscam-se nas fontes bibliográficas

definições que expressam a realidade desse segmento em nosso país. Assim sendo, BNDES,

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órgão de financiamento, considera a microempresa com receita bruta anual até R$ 2,4 milhões

e a pequena empresa sendo aquela que tem receita operacional bruta entre R$ 2,4 milhões e

R$ 16 milhões. A Receita Federal também classifica as MPEs conforme o Simples Nacional,

ou seja, valores estabelecidos para Lei Geral da MPE.

Outra classificação baseada na renda bruta anual é do Simples Nacional e o Art. 3º

da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que classificam as MPEs de acordo com sua

formação jurídica e seu faturamento anual, sendo que a Microempresa (ME) é o empresário

individual (antiga firma individual) a que se refere o artigo 966 do Código Civil Brasileiro.

No caso, a sociedade empresarial (comercial) ou a sociedade simples (civil) que em cada ano

tenha receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360 mil. Para as Empresas de Pequeno Porte

(EPP), considera-se o empresário (antiga firma individual) a que se refere o artigo 966 do

Código Civil Brasileiro, a sociedade empresarial (comercial) ou a sociedade simples (civil)

que obtenha, em cada ano, receita bruta superior a R$ 360 mil e igual ou inferior a R$ 3,6

milhões, conforme citado acima. Logo, o mecanismo de análise para classificar as MPEs

considera a receita anual, diferenciando-o apenas quanto aos valores auferidos.

Com o objetivo de realização de estudos e pesquisas, o SEBRAE adota o critério

estabelecido pelo IBGE, classificando as empresas segundo o número de funcionários,

combinado com o setor de atuação da empresa e se diferenciando pela quantidade de

funcionários (Tabela 2).

Nesse contexto, cabe destacar que não existem padrão e critério únicos para

determinar o porte de tais unidades produtivas. Como descrito acima, as empresas, em geral,

são classificadas segundo o número de empregados ou pela receita bruta anual.

Para a realização desta pesquisa, a referência adotada para a classificação das

micro e pequenas empresas é a utilizada pelo SEBRAE e o Estatuto da Micro e Pequena

Empresa alterada pela Lei Complementar nº 139. Logo, evidenciando-se dois critérios: por

número de empregados, considerando serem prestadoras de serviços às empresas, com até 49

empregados (classificação para atividade de serviços) e pela receita bruta anual até 3,6

milhões de receita bruta anual. Hall (2004) recomenda a utilização da definição do SEBRAE

para os estudos sobre micro, pequenas e médias empresas, entre outras coisas, por ser uma

base simples, muito conhecida e utilizada largamente por pesquisadores do país.

Embora não sejam consideradas as especificidades de negócios distintos, que

podem ser mais ou menos intensivos em relação à utilização de mão de obra como fonte

geradora de receitas, bem como a de outros órgãos de apoio e fomento das MPEs que as

classificam de forma similar.

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Tabela 2 - Critérios de classificação do tamanho das empresas

PAÍS REFERÊNCIA MICRO PEQUENA MÉDIA

BRASIL

BNDES (receita bruta

anual) R$ 2,4 milhões

Acima

R$ 2,4 e até

R$ 16 milhões

Acima

R$ 16

milhões

até R$ 90

milhões

Lei Geral MPE (receita

bruta anual), alterada pela

Lei Complementar nº 139.

R$ 360 mil

Acima R$ 360

mil e até R$ 3,6

milhões

--

Receita Federal (receita

bruta anual) R$ 360 mil

Acima R$ 360

mil e até R$ 3,6

milhões

--

SEBRAE

– Indústria (empregados) 19 20 a 99 100 a 499

– Comércio e serviços

(empregados) 9 10 a 49 50 a 99

IBGE 19 20 a 99 100 a 499

CANADÁ (empregados) -- -- 250

CORÉIA DO SUL

(empregados) Indústria -- 20 300

ESTADOS UNIDOS

(empregados) -- -- 500

JAPÃO (empregados)

Indústria

300

Setor atacadista -- -- 100

Setor de varejo e de

serviços -- -- 50

MÉXICO (empregados) Indústria -- 100 250

REINO UNIDO e UNIÃO

EUROPEIA

Receita bruta anual -- US$ 7,1

milhões

US$ 40,4

milhões

Empregados 10 50 250

TAIWAN

Indústria (empregados) -- -- 200

Comércio e serviços

(empregados) -- -- 50

Indústria (capital realizado) -- -- US$

1,8milhões

Comércio e serviços

(receita bruta anual) -- --

US$

2,4milhões

Fonte: Small Business Administration; OCDE (2009); BNDES; IBGE; SEBRAE (2011); Receita Federal;

UIA(2006); DTI (2008); Deloitte Touche Tohmatsu (2008); SMEA (2008); MOEA (2009).

Taxas de câmbio: R$ 1,77/US$.

A característica supramencionada se torna especialmente interessante quando se

consideram as empresas prestadoras de serviços diferenciais (consultoria, tecnologia, serviços

jurídicos, por exemplo), pouco intensivas de mão de obra e geradora de resultados altos

(ALMEIDA; BENEVIDES, 2005, p.2).

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42

2.2 Modalidades taxonômicas para classificação das empresas

A taxonomia ou taxionomia surgiu como ciência das leis da classificação de

formas vivas e, por extensão, ciência das leis da classificação. Tradicionalmente, taxonomia é,

por definição, classificação sistemática. São, portanto, “Estruturas” que fornecem uma

maneira de classificar as coisas - organismos vivos, empresas, produtos e serviços, em uma

série de grupos hierárquicos para torná-los mais fáceis de identificar, estudar ou localizar. O

objetivo é classificar com a finalidade de servir de instrumento para a organização e

recuperação de informação sobre empresas e instituições (TERRA, 1998). Também são vistas

como meios de acesso atuando como mapas conceituais dos tópicos explorados em um

serviço de recuperação.

Bailey (2007) evidencia que a importância do desenvolvimento de taxonomias

para o negócio da empresa tem sido um dos pilares da gestão do conhecimento. A taxonomia é

utilizada acentuadamente na literatura de sistema de informação. No caso específico desta

tese, a finalidade é referendar o objeto de pesquisa e suas categorias associadas às dimensões

organizacionais.

É célebre a definição de empresa dada por Asquini (2005) que define a empresa

por quatro perfis que correspondente a: 1 - Perfil subjetivo: a empresa é o empresário, pois

empresário é quem exercita a atividade econômica organizada, de forma continuada. Nesse

sentido, a empresa pode ser uma pessoa física ou uma pessoa jurídica, pois ela é titular de

direitos e obrigações; 2 - Perfil funcional: a empresa é uma atividade, que realiza produção e

circulação de bens e serviços, mediante organização de fatores de produção (capital, trabalho,

matéria prima etc.); 3 - Perfil objetivo (patrimonial): a empresa é um conjunto de bens.

A palavra empresa é sinônimo da expressão estabelecimento comercial. Os bens

estão unidos para uma atividade específica, que é o exercício da atividade econômica. A

empresa, portanto, tem todos esses significados. Há também um quarto perfil, criticado pela

doutrina por não corresponder a qualquer significado jurídico, mas apenas por estar de acordo

com a ideologia fascista, que controlava o Estado italiano por ocasião da positivação da teoria

da empresa: 4 - Perfil corporativo: a empresa é uma instituição, uma organização pessoal,

formada pelo empresário e pelos colaboradores (empregados e prestadores de serviços), todos

voltados para uma finalidade comum. Para fins do art. 966 do Código Civil, a palavra

empresa tem como significado o segundo perfil mencionado acima. Empresa, portanto, é a

atividade econômica organizada.

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43

A organização é a união de vários fatores de produção, com escopo de realização

de bens ou serviços. O empresário, assim, é quem realiza essa empresa, expressão tomada

como sinônimo de atividade. Toda essa atividade organizada deve ter um sentido econômico.

Se o objeto não for a produção ou a circulação de bens ou de serviços, não estaremos diante

da empresa. Essa é a teoria da empresa que estuda a atividade econômica organizada para a

produção ou a circulação de bens ou de serviços. É o que se lê, claramente, no caput do art.

966 do novo Código Civil.

A validação dos estudos sobre empresas formulam a heterogeneidade como a

característica das empresas que operam no diversos setores produtivos da economia no Brasil.

São vários os fatores de diferenciação entre as empresas. Gastaldi (2005) e Rossetti (2003)

apresentam as modalidades taxonômicas para classificação das empresas sob o objeto ou

natureza dos produtos e quanto à classificação jurídica:

Segundo o objeto ou natureza dos produtos e serviços, a empresa é classificada

como:

a) Empresa rural: também chamada de empresa agrícola, é aquela cujas

atividades estão voltadas à exploração da agricultura ou da pecuária. Inclui-se, ainda, nesta

classificação, a atividade extrativista vegetal;

b) Empresa industrial: é aquela que tem por objeto a transformação de matéria-

prima em coisas úteis, acabadas ou semiacabadas, e destinadas ao consumo ou à produção.

Estão inseridas, ainda, nesta classificação, as empresas de extrativismo mineral;

c) Empresa comercial: é a firma cujo objeto consiste na realização de um

serviço útil específico como a venda de mercadorias diretamente ao consumidor (empresa

varejista), ou a compra direto do produtor e a revenda ao varejista (empresa atacadista);

d) Empresas de prestação de serviços: têm por objeto a prestação de atividades

humanas úteis em si mesmas, isto é, o desenvolvimento de trabalhos especializados como os

realizados por bancos, financeiras, agências de publicidade, empresas de transporte, lazer,

comunicação, estética, desenvolvimento de softwares, bem como os serviços prestados por

profissionais autônomos como administradores, contadores, advogados, médicos e demais

categorias de profissionais.

As evidências dessa classificação encontram-se associadas aos perfis subjetivo,

corporativo e funcional da empresa através dos quais serão delineadas as estratégias e a

organização da empresa e, consequentemente, sua longevidade.

Quanto à classificação jurídica, três fatores são principais: (i) Firma individual: o

primeiro proprietário tem responsabilidade ilimitada por dívidas e obrigações e o patrimônio

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da empresa, não raro, se confunde com seu patrimônio pessoal; (ii) Sociedade por cotas: esta

se divide em: - Sociedade geral, na qual os sócios compartilham os lucros, as perdas e são

responsáveis por todas as dívidas; - De responsabilidade limitada, na qual a responsabilidade

e participação nos lucros são limitadas pelo montante de capital alocado no negócio por cada

sócio. (iii) Sociedade por ações: possui vida ilimitada devido à flexibilidade nas negociações e

transferências de propriedade das ações (GASTALDI, 2005).

O nível de responsabilidade e a participação nos lucros variam de acordo com o

montante de ações adquirido por cada sócio. Rosseti (2008) explica que o tipo de classificação

de empresas por modalidade jurídica sofre influências reguladoras e condiciona o

comportamento da empresa, que deve estar ligada aos perfis subjetivos e institucionais.

Diante da categorização apresentada, a pesquisa foi trabalhada quanto ao objeto

ou natureza dos produtos - Empresas de prestação de serviços; quanto à classificação jurídica,

considerando a especificidade das MPEs os três fatores acima apresentados foram utilizados.

2.3 Serviços: particularidades e contemporaneidade

A discussão sobre serviços revela-se de difícil definição em razão de sua

diversificação de oferta desse segmento. O Código de Defesa do Consumidor, criado pela Lei

nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, em seu Art. 3º, parágrafo 2º, define que serviço é

qualquer aividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de

natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de

caráter trabalhista. Não se incluem os de caráter trabalhista para os quais existem jurisdição e

competência em lei específica. Essencialmente define-se serviços como atos que criam valor

ou benefícios para os clientes, provocando uma mudança esperada no demandante ou aquele

que almeja o serviço.

Dentre as definições da temática, destaca-se Rathmell (1974, apud GOUVÊA;

YAMAUCHI, 1999, p. 12) que define serviço como sendo:

[...] uma mercadoria comercializável isoladamente, ou seja, um produto intangível

que não se pega, não se cheira, não se apalpa, geralmente não se experimenta antes

da compra, mas permite satisfações que compensam o dinheiro gasto na realização

de desejos e necessidades dos clientes.

Por sua vez, Kotler e Armstrong (2003, p.191) estabelecem serviços como

qualquer atividade ou benefício que uma parte possa oferecer a outra, que seja essencialmente

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intangível e não resulte na propriedade de qualquer coisa. “Sua produção pode ou não estar

vinculada a um produto físico”. Ressalta-se, ainda, que Mauad e Pamplona (2003) também

apontam que os serviços estão no centro da atividade econômica em todos os países, com suas

especificidades e se diferenciando de gerir uma produção de bens.

[...] Serviços são atividades econômicas que uma parte oferece a outra. Geralmente

baseados no tempo, seu desempenho traz a seus destinatários os resultados

desejados, objetos ou outros ativos pelos quais os compradores têm

responsabilidade. Em troca de dinheiro, tempo ou esforço, os consumidores de

serviços esperam receber o valor do acesso a bens e mãos de obra, habilidades

profissionais, instalações, redes e sistemas, mas eles não costumam deter a

propriedade de qualquer um dos elementos físicos envolvidos (LOVELOCK et al.,

2011, p.21).

Las Casas (2007) evidencia que serviço pode, também, ser definido como sendo

uma transação realizada por empresas ou empresários cujo objetivo não esteja associado à

transferência de um bem. Ainda o autor afirma que o serviço com qualidade é aquele que tem

a capacidade de proporcionar satisfação. Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000) argumentam que

os serviços envolvem uma forma de locação por meio da qual os consumidores podem obter

benefícios.

Os clientes valorizam experiências e soluções desejadas e estão dispostos a pagar

por elas. O termo locação, na literatura, é utilizado como uma forma de expressar o período de

tempo limitado, ou seja, na maioria das vezes de forma predeterminada. Essa afirmativa Kon

(2004) apresenta serviço como alguma atividade ou benefício que se pode oferecer de forma

essencialmente intangível15

, sua produção pode ou não estar ligada a um produto físico.

[...] serviço é um processo, consistindo em uma série de atividades maio ou menos

intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas

interações entre cliente e os funcionários de serviços e/ou recursos ou bens físicos

e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para

problemas. Neste sentido, as características básicas que podem ser identificadas nos

serviços são: processos consistindo em atividades ou uma série de atividades em vez

de coisas; no mínimo, produzidos e consumidos simultaneamente; o cliente

participa, em parte, do processo de produção (GRÖNROOS, 2003, p. 265).

Porém, é mais importante conhecer o que caracteriza serviços do que entender

essa diferença, num primeiro momento, pois conforme Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000)

nos anos 90, a economia deixou de ser predominantemente de manufatura, passando para o

15

Intocável e impalpável. No caso de serviços, os clientes, para conhecê-los, necessitam usá-los, pois não

podem, aprioristicamente, ser tocados, sentidos ou comprovados, mas exigem ser testados (DUARTE,

2009,p.362).

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46

setor de serviços. Corrêa (2008) explica que serviços são demasiado múltiplos para permitir

tratamento uniforme, mas relaciona que numa declaração de conceito de serviços há

elementos importantes: experiência sobre o serviço, resultado da prestação de serviço,

operação do serviço e valor do serviço. Esses elementos delineiam um vasto leque de

atividades que envolvem a área de serviços.

Todavia, a disseminação do conhecimento e tratamento com rigor científico sobre

serviços é feita a partir dos trabalhos de Fischer (1933); Colin Clark (1940), conforme

argumentam Melo et al. (1998, p.8). Primeiramente, a definição de serviços foi caracterizada

de forma genérica - “setor terciário”, justamente para diferenciar dos setores primário

(agricultura e mineração) e secundário (manufatura).

No Brasil, os trabalhos desenvolvidos no Núcleo de Marketing (NUME), e

Estratégia do Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração (CEPEAD) da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a partir da década de 30, são alguns

exemplos de iniciativas no sentido de ampliar o conhecimento sobre serviços.

Las Casas (2007) destaca que o processo de atuação e participação em escala

ascendente das empresas de serviços no ambiente de negócios tornou evidente a necessidade

de melhor compreensão da sua heterogeneidade e especificidade. Uma série de fatores a partir

da assimetria nos serviços modernos para legitimar estudos sobre inovação em serviços são

justificados:

– as fronteiras entre as atividades inter e intra-setoriais entre a indústria e os setores

de serviço tornaram-se mais tênues devido à elevação da segmentação gerada pelas

assimetrias tecnológicas e ao adensamento dos fluxos de cooperação de

conhecimento e informações estratégicas; – há uma nítida tendência de redução dos

ciclos de desenvolvimento e de vida de produtos industriais e de serviços: ela é

estimulada pela aceleração das mudanças tecnológicas e pelo uso de TICs. Esta

maior atividade de inovação de produto e processo na indústria tende a gerar uma

pressão mais intensa por novos critérios de funcionamento corporativos gerenciais,

de qualidade, produtividade e de inovação nos serviços industriais; – os novos

padrões de consumo são caracterizados pela alta volatilidade, customização e

complexificação de produtos e serviços; – há expedientes agressivos de terceirização

e/ou subcontratação de atividades corporativas internas, como os utilizados por

organizações que buscam focalizar suas estratégias em competências centrais ou as

que transformam custos fixos em variáveis, aumentando suas margens de

flexibilidade operacional. Neste sentido, observa-se o crescimento da terceirização

dos serviços especializados de alto conteúdo de conhecimento como design,

engenharia de projeto, processo e sistemas; as novas estratégias competitivas

baseadas na inovação e nas dinâmicas de globalização e hierarquização das cadeias

de valor impõem novos paramentos de logística, planejamento, P&D, até mesmo

com maiores oportunidades de internacionalização para alguns tipos de serviços,

sobretudo aqueles de maior intensidade tecnológica; – ainda que o setor secundário

exerça forte força gravitacional no setor terciário, em várias dimensões, os

segmentos de serviços apresentam dinâmicas econômicas e comerciais próprias em

relação ao desenvolvimento industrial (KON, 2004, p.69).

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47

As oscilações e transformações no novo cenário econômico mundial impulsionam

modelagens de gestão com possibilidades de adaptabilidade e permeadas de uma filosofia

orientada para mercado (DALSASSO, 2010; PORTER, 1999). O modelo gerencial industrial

que está embasado nas (i) estratégias de localização, promoções de vendas e propagandas; (ii)

mão de obra e custos operacionais baixos; (iii) estruturas verticalizadas e centralizadas, passa

a se notabilizar pela perda de espaço considerando suas limitações diante da dinâmica do setor

de serviços (HOFFMAN et al., 2009, p.182).

A visão da administração conservadora e burocrática - organização como uma

máquina, passa a dar lugar a uma organização segundo Morgan (2002) centrada em duas

imagens para as organizações: como cérebros, alicerçada em uma filosofia rebuscada com

sistemas de processamento de informações; e com organizações como hologramas, com

conectividade e redundância, com alta capacidade de criação e de auto-organização (WOOD

JUNIOR, 2002, p.26). O sistema / organização é orientado para a visualização do ser humano

em sua dimensão integral e multidimensional.

O embasamento se sustenta na racionalidade substantiva16

e no sistema natural17

,

e sua abordagem ambiental que considera tanto o sistema fechado18

como o sistema aberto. As

organizações passam a ser vistas como um sistema natural, e o ambiente quando conturbado

pelas relações internas e externas podem indicar o surgimento de um sistema caótico.

Nesse contexto, surge um modelo de gerenciamento orientado para o mercado,

capaz de rever e reaprender constantemente com o propósito de agregar valor para o cliente.

Esse modelo privilegia a importância do homem na organização, a comunicação com o cliente

e o sistema de operação da empresa – estratégias de serviços (BETHLEM, 2004; HOFFMAM

et al., 2009; CERTO, 2010).

Essas mudanças alteram de forma efetiva a funcionalidade das organizações em

suas estruturas e processos de trabalho. As empresas prestadoras de serviços e os profissionais

precisam estar atentos a essa evolução nas relações de trabalho, para que possam garantir seu

espaço nesse novo mercado, cada vez mais competitivo (HARGREAVES et al., 2005).

Embora o cenário esteja propício para a construção do saber diante das empresas

de serviços, a teoria das organizações evidencia a quebra de paradigmas. Oliveira (2011)

analisa as mudanças correntes no ambiente global como fatores incontroláveis às estratégias

16

Ramos (1983) destaca que se manifesta pelo mérito intrínseco dos valores que a inspira, com elevado

conteúdo ético e orientado por um critério transcendente. Atributo natural do ser humano que se manifesta pela

utilização do senso ético e através da qual as pessoas pautavam suas ações. 17

Concebe a organização como um conjunto de partes interdependentes que, juntas, constituem um todo, que por

sua vez, interagem com um ambiente mais amplo. 18

Linguagem da abordagem de sistemas que conceitua um sistema que não troca energia com outros sistemas.

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corporativas, pressionando as empresas a buscarem novas formas de sobrevivência19

e

manutenção20

, principalmente em se tratando das MPEs.

As empresas de serviços estão em um ambiente competitivo21

pautado por forças:

privatização de alguns serviços públicos e sem fins lucrativos; necessidade de as organizações

públicas e sem fins lucrativos gerarem novas receitas; pressões para a melhoria da

produtividade; internacionalização e globalização; os fabricantes como fornecedores de

serviços; regulamentações; exigências da qualidade dos serviços; crescimento de cadeias de

serviço e redes de franquia e contratação e promoção de gerentes inovadores (KON, 2004;

COBRA, 2004; GIANESI E CORRÊA, 2009; LOVELOCK et al, 2011).

A forma como as prestadoras de serviços irão enfrentar e reagirem a esses desafios

permitirá saber se essas forças se tornarão ameaças ou oportunidades para a sobrevivência

com crescimento e competitividade dessas empresas.

Cobra (2004) comenta que em serviços podem ser processadas pessoas, objetos

físicos e informações, e a natureza do processamento pode ser tangível ou intangível.

Lovelock et al. (2011) observam que as ações tangíveis impactam o corpo das pessoas ou suas

posses físicas e as intangíveis ocorrem na mente das pessoas ou envolvem seus ativos

intangíveis.

Hoffman et al. (2009) evidenciam que muitos serviços contêm elementos de bens

tangíveis, assim como, na perspectiva dos bens serem também agregados por fatores

intangíveis. Gianesi e Corrêa (2009) consideram que quando se compra um produto, este vem

acompanhado de um serviço facilitador – um esclarecimento ou aconselhamento, ao passo

que quando um serviço é comprado, quase sempre vem acompanhado de um produto

facilitador.

[...] Os serviços no varejo compreendem os serviços ao consumidor e os serviços

utilitários. Os serviços ao consumidor são aqueles que, agregados ao produto físico,

interferem diretamente na percepção do produto total oferecido ao cliente,

ampliando a percepção do valor recebido. Os serviços utilitários são aqueles

essenciais para o funcionamento do varejista, sem os quais ele não poderá operar

adequadamente, como: vigilância e segurança, limpeza, manutenção, eletricidade,

iluminação, logística etc. (MATTAR, 2011, p.338).

19

Ato ou efeito de sobreviver. Aquilo que subsiste após um desaparecimento ou perda. 20

Conjunto de atividades e recursos aplicados aos sistemas e equipamentos, visando garantir a continuidade de

sua função dentro de parâmetros de disponibilidade, de qualidade, de prazo, de custos e de vida útil adequado. 21

Representa as variáveis ambientais que influenciam diretamente as ações estratégicas da organização: clientes,

concorrentes, fornecedores, novos entrantes e substitutos. Associa-se ao ambiente próximo ou de tarefa,

ressalvando-se que também recebe influência da empresa.

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O produto de serviço, portanto, é um produto, na medida em que entrega a

solução, e é de serviço, por que nessa solução predomina a componente serviço ou intangível,

em relação à componente físico ou tangível (LOVELOCK et al., 2011).

Em termos gerais, há uma complementaridade entre bens e serviços. A prestação

de serviços se efetiva pela entrega ao consumidor de uma ação com geração de atividade que

tem como resultado um desempenho (GRÖNROOS, 2003). A ideia de serviços como

desempenho implica em considerar que aquilo que se obtém do resultado não é um objeto e

sim uma performance que não pode ser sentida, tocada ou experimentada da mesma forma

que se faz com bens tangíveis.

As abordagens realizadas remetem à lógica da ampliação da importância do setor

de serviços para a sociedade. Outra lógica seria a concepção com relação empresa e

consumidor, processo de operação e atendimento às necessidades do cliente, sentida e

traduzida pela relação duradoura. O encontro entre a empresa e o cliente, a forma da oferta e a

forma do recebimento do serviço, ou seja, a valorização da criação de valor para o cliente

nesse processo (GRÖNROOS, 2003; CERTO 2010; KON, 2004; GIANESI e CORRÊA,

2009; LOVELOCK et al., 2011).

Observa-se a valorização da interação e relação entre os atores do processo,

considerando-se a existência de uma dramaturgia da “hora da verdade” com a pertinente

construção do processo e com o envolvimento necessário da equipe (FITZSIMMONS e

FITZSIMMONS, 2000).

2.3.1 Características das prestadoras de serviços

As principais dimensões das organizações de serviços representam elementos

essenciais ao estudo destas organizações, pois determinam, de forma direta ou indireta, as

abordagens e estratégias de gestão que podem ou não ser aplicadas a elas (HOFFMAN et al.,

2009). Embora sejam muitas as características da prestação de serviços que as diferenciem da

produção de outros bens de consumo, as principais apresentadas na literatura é quanto à

Intangibilidade, Inseparabilidade, Variabilidade, Perecibilidade, Relação com o cliente e

Uniformidade, conforme se demonstra no quadro abaixo:

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DIMENSÕES INDICADORES

- Intangibilidade

- Ausência de fator concreto na verificação do serviço

- Os serviços não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou

cheirados antes da compra;

- Inseparabilidade

- Interconexões entre provedor de serviços, o cliente que recebe o

serviço, e outro que compartilham;

- Contato direto com o cliente de forma simultânea;

- Os serviços são inseparáveis de seus fornecedores;

- Variabilidade

- Variação da coerência e consistência da transação de um serviço

para o próximo;

- A qualidade do serviço depende de quem os proporciona, onde e

como são proporcionados;

- Perecibilidade

- Demanda maior do que a oferta disponível e menor do que o nível

ótimo de oferta;

- Os serviços são usados somente no momento em que são oferecidos,

ou seja, serviços não podem ser estocados para venda ou uso futuro;

- Relação com o cliente - Diversificação de serviços para oferecer ao cliente;

- Geralmente envolve uma relação contínua com os clientes.

- Uniformidade - Devido à inseparabilidade e ao alto envolvimento, cada serviço pode

ser único, com uma possível variação de qualidade.

Quadro 1 – Especificidades que distinguem as empresas prestadoras de serviços de bens

Fonte: adaptado de Lovelock et al. (2011, p.38); Kotler e Armstrong (2003, p. 456); Churchill e Peter (2003,

p. 293);

Com relação específica às organizações de serviços, esse não é ainda um tema

com conclusões cristalizadas e definitivas (MELO et al 1998; KON, 2004), mas já existem

consensos a respeito de algumas características significativas e determinantes para a

diferenciação de serviços em relação a outras atividades econômicas.

Lovelock et al. (2011) afirmam que intangibilidade é a característica fundamental,

distintiva entre serviços e mercadorias. Hoffman et al. (2009) referem-se ao fato de que os

serviços somente existem, de fato, no momento em que são produzidos. A intangibilidade é

uma característica peculiar dos serviços que não permitem que sejam tocados ou sentidos da

mesma maneira que os bens físicos. Corroborando esse entendimento, Gianesi; Corrêa (2009)

evidenciam que a intangibilidade torna difícil para os atores do processo de gestão, avaliar

resultados e qualidade do serviço.

Quanto aos clientes, estes percebem mais riscos na compra dos serviços do que de

produtos, baseando-se, fortemente, na reputação da empresa prestadora de serviço, uma vez

que, sem uma imagem organizacional sólida há uma tendência de queda dos serviços

prestados.

Cobra (2004) argumenta que não preexistem fatores concretos em relação ao

processo de negociação. O cliente/consumidor dos serviços não dispõe de algo tangível,

concreto sobre o qual possa ser feito qualquer tipo de experimentação (entende-se qualquer

uso de um dos cinco sentidos – tato, visão, audição, gustação e olfato) antes da aquisição do

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produto. As consequências da intangibilidade de serviços e que não ocorrem nos bens

tangíveis, trazem dificuldades para as organizações de serviços, uma vez que está relacionada

com a falta de proteção por meio de patentes, a falta de estoques de serviços, a difícil missão

de apresentar os atributos dos serviços e estabelecer valor de pagamento – preços dos serviços

(YIP, 2003).

A interdependência nos indicadores da prestação de serviço se caracteriza na

inseparabilidade dos serviços em comparação com bens físicos tangíveis (mercadorias)

(ZEITHAML e BITNER, 2003). Logo, refere-se ao fato de que, tipicamente, serviços são

produzidos e consumidos simultaneamente, num processo de inter-relação entre o fornecedor

e o consumidor, o que implica, em muitos casos, a participação ativa do consumidor/cliente

no processo de produção do serviço (GOUVÊA e YAMAUCHI, 1999, p.3).

Além disso, Grönroos (2003) destaca que serviços são processos em que o

consumo é inseparável dos processos de produção e entrega, a oferta de serviço é, por

definição, dinâmica. Essa afirmativa no conduz a característica de inseparabilidade, pois o

serviço existe enquanto o processo de produção continuar. Em uma estrutura dinâmica, a

oferta ampliada de serviço surge como um produto. Nesse sentido, a análise se configura em

uma abordagem sistêmica / contingencial da administração, revelando a necessidade de

compreensão diante das empresas prestadoras de serviço, longevidade das MPEs a partir

desse tratamento.

[...] a inseparabilidade reflete as interconexões entre o provedor de serviços, o

cliente que recebe o serviço e outros clientes que compartilham a mesma

experiência. Inseparabilidade refere-se a (1) conexão física do provedor de serviço

com o serviço prestado; (2) envolvimento do cliente no processo de produção do

serviço; (3) envolvimento de outros clientes no processo de produção do serviço. A

interação entre cliente e provedor de serviços define um incidente crítico. Os

incidentes críticos representam a maior oportunidade tanto para os ganhos quanto

para perdas no que concerne à satisfação e retenção do cliente (HOFFMAN et al.,

2009, p.37).

A discussão quanto a organizações de serviços revela a alta aderência à

variabilidade, estando associada à produção de serviços como a repetibilidade que se

identifica na produção de mercadorias. Isto se deve ao fato de que a produção de serviços

depende de quem produz, de quem consome e das circunstâncias (quando, onde, de que

maneira) que cercam o ato de produzir (GOUVÊA e YAMAUCHI, 1999, p.3), como: maior

variabilidade dos insumos e produtos operacionais; a grande presença de pessoas no sistema

operacional, que gera maior variabilidade, tanto nos insumos, como nos produtos do serviço,

ao contrário dos bens manufaturados, que podem ser produzidos sob condições controladas.

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52

Essa proposição evidencia a necessidade da criação de mecanismos de realimentação do

sistema como possibilidade de diminuição das variações na qualidade proporcionada.

A utilização da tecnologia da informação, como os e-service22

na busca de um

melhor monitoramento com o cliente agrega informações que podem auxiliar no atendimento

ao consumidor, podendo ser customizadas23

as operações. A prioridade é tornar as operações

quantizadas24

, com capacidade de busca25

e com capacidade de automatização26

. A

implantação desse modus operandis27

permite à prestadora de serviços maior competitividade

de custos, de velocidade e de inovação. Verifica-se na literatura a relevância e a agregação de

valor para o sistema com diminuição das limitações provenientes da heterogeneidade das

operações.

A indicação para padronização dos processos, auxiliada pela tecnologia da

informação (web, por telefone celular), atrai a participação dos clientes nos procedimentos

diante de informações, dúvidas, reclamações, oferta de serviços a serem demandados,

cadastros, dentre outros assuntos que, a partir desse mecanismo, os clientes tornam-se

participantes ativos no processo – chamados “funcionários parciais” (GIANESI e CORRÊA,

2009; ZEITHAML e BITNER, 2003).

Kon (2004) apresenta o fator temporal dos serviços descrevendo a perecibilidade

como resultado da restrição do tempo, pois se não consumidos cessam de existir. Para definir

a qualidade do que é perecível, ou seja, que tem vida curta, porém, com uma duração definida,

que pode ser de horas, dias, semanas, e até meses. A literatura traduz os serviços com

característica de Perecibilidade como não havendo “tempo de vida”, pois se encerram tão logo

cessa a atividade do prestador de serviços. Kotler e Armstrong (2003) evidenciam que o termo

Perecibilidade se aplica principalmente a produtos alimentícios que são, na maioria das vezes,

mercadorias e, portanto, não se encaixam, por nenhum critério, na condição de serviços. YIP

(2003) refere-se à perecibilidade como a característica típica dos serviços que é a de não

poderem ser armazenados.

Como decorrência natural dos efeitos da intangibilidade, da inseparabilidade e da

variabilidade, não é possível fazer estoques de serviços. Somente é possível produzir o que

22

Serviço eletrônico disponível por meio da internet, que executa tarefas, soluciona problemas ou realiza

transações. 23

Tirar vantagem inerente a cada encontro de serviço desenvolvendo serviço que satisfaçam as exatas

especificações de cada cliente. 24

Decomposição de serviços monolíticos em componentes modulares. 25

Capacidade e facilidade com que as informações podem ser procuradas. 26

Substituição de tarefas que requerem trabalho humano por aquelas que requerem máquinas. 27

Significa "modo de operação", utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade

seguindo sempre os mesmos procedimentos.

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53

estiver sendo, simultaneamente, consumido. Esse aspecto gera problemas para a ação

organizacional conforme afirmam Hoffman et al. (2009) que sem o benefício da manutenção

de um estoque, equiparar demanda e oferta das empresas prestadoras de serviços constitui um

grande desafio, sendo um fator limitador da eficácia das organizações.

Nessa perspectiva, a relação com o cliente tem sido a dimensão de serviços com

maior ênfase na atualidade, sendo considerado fator de consonância com as vantagens

competitivas da empresa. A implementação da estratégia de serviço exige ações adequadas na

operacionalização e, nesta linha, Grönroos (2003) observa que o impacto do serviço sobre o

relacionamento com os clientes pode ser atrativo em três aspectos: (i) desenvolvimento de

novos serviços para oferecer ao cliente; (ii) ativação de serviços existentes, mas ocultos ou

elementos de serviços em um relacionamento de negócio; e transformação do componente de

bens no elemento de serviço em relacionamento com o cliente. Em concordância com esses

aspectos Mintzberg (2003) explora essa relação como indissociável para criação de valor

entre as partes dando significado ao serviço prestado.

EVIDÊNCIAS INDICADORES

- Avaliação do cliente

sobre serviços mais

complexo;

-Por não possuírem substância física, podendo somente ser experimentados;

-Não podendo vê-lo nem testá-lo antes da contratação ou compra,

percepção de maior risco;

- Elementos intangíveis

dominam a criação de

valor.

-Importância do fortalecimento da imagem organizacional sólida;

-Identificação confiável do serviço tornando-o percebido pelo cliente –

adequação à necessidade do cliente;

- Bens são objetos e coisas

e serviços são ações,

esforços ou desempenho;

-Tradução da necessidade dos clientes em especificações, traduzidas em

operações – pacote com mais predominância de produtos ou serviços;

-Valor agregado a bens e serviços condicionados aos elementos tangíveis

e intangíveis;

- Tempo como fator de

grande importância;

-Entrega em tempo real na presença do cliente;

-Competitividade de respostas imediatas – menos tempo de espera,

traduz satisfação ao cliente;

- Participação do cliente

no processo de produção;

-Início das operações pela demanda do cliente, em termos de quando e

como, estabelecendo os inputs do sistema;

-Padronização – clientes ativos nos processos - “Funcionários parciais”;

- Produção e consumo de

forma simultânea;

-Afeta a gestão da qualidade, pois elimina a oportunidade de intervenção

do controle de qualidade;

-Necessidade de flexibilidade para a variação de volume nos sistemas de

operações de serviços;

- Cliente não obtém

propriedade do serviço;

-Necessária fidelização do cliente;

-Sentido de necessidade e operação constante com a prestadora de

serviço;

- São efêmeros e não

estocados.

-Associada à característica de perecibilidade dos serviços, não podendo

ser guardado ou inventariado;

Quadro 2 - Evidências das operações de serviços

Fonte: A partir do referencial teórico

Page 56: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

54

Gianesi e Corrêa (2009) retratam a perspectiva de produtos e serviços como

operações sendo uma tendência moderna. O sistema de operações segue os parâmetros de

sistema aberto com flutuações aleatórias com ajustes constantes nas entradas, no processador,

nas saídas e com o feedback entre o real e o desejável pelo prestador de serviços. As funções

de operações - projetos, planejamento e controle, recursos humanos, suprimentos,

manutenção, distribuição e controladoria adquirem uma interface com as demais funções da

empresa como: marketing e finanças criando um efeito sinérgico e agregando valor ao cliente

considerando a possibilidade de eficácia e efetividade no sistema de operação da empresa. As

evidências das operações de serviços são sintetizadas no Quadro 2.

As evidências nas operações devem ser vistas como complementares uma vez que

o ciclo de variação dessas frequências, nas características dos serviços, modifica a atuação da

empresa e sua relação com o ambiente imediato28

(GOUVÊA e YAMAUCHI, 1999;

PORTER, 1986; CHURCHILL e PETER, 2003).

Grönroos (2003) ensina que para empresas prestadoras de serviço, a qualidade de

serviço percebida pelo cliente é o que impulsiona o lucro, contanto que os clientes consumam

o serviço de maneira tal que o custo de produzi-lo não exceda as receitas por ele geradas.

Embora haja essa busca pela aproximação com o cliente, os serviços são mais difíceis de

serem avaliados considerando que não há como utilizar um critério específico de comparação

por se tratar de bens intangíveis, cuja visão varia de pessoa a pessoa.

Outro aspecto relevante é levantado por Gouvêa e Yamauchi (1999), os quais

evidenciam as características da prestação de serviço como a improtegibilidade, que se refere

ao fato de que os processos de produção dos serviços não podem ser protegidos por patentes

ou registros. Logo, podem ser facilmente copiados por fornecedores concorrentes e a

precificação subjetiva que tem como fator restritor a subjetividade, decorre do fato de que,

devido à variabilidade do produto, bem como a intensa interação com o cliente, o serviço,

dificilmente, pode ter uma precificação antecipada ou regular.

O reconhecimento das dimensões das organizações de serviços propicia o

desenvolvimento de ações estratégicas como forma de maior adaptabilidade dessas empresas

diante das variáveis que interferem na sua longevidade. As características das empresas

prestadoras de serviços podem ser consideradas gerais e revelam uma relação direta com as

dimensões das organizações de pequeno porte nas suas mais diversas particularidades se

constituem objeto de estudo deste trabalho.

28

Caracteriza-se pela relação da empresa com seu ambiente de negócio mais próximo. Formado por variáveis de

relação próxima com a operacionalização da empresa

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55

2.3.2 Cenários e estímulos para economia de serviços

A discussão diante da atividade de serviços29

tem sido uma das questões de maior

visibilidade no contexto da economia dos países, e se apresenta como uma das áreas de

grande expansão e crescimento nos últimos anos. O setor de serviços destaca-se por ser

responsável pela maior parcela do PIB mundial e pela geração de empregos e riqueza, que

crescem a taxas mais elevadas que nos outros setores da economia (IBGE, 2008).

A área de serviços tem sido exaustivamente discutida por pesquisadores como

Davis, Giarini, Schoell, Cowell, Ivy, Quinn, Gagnon, Herskeet, Gummesson, dentre outros,

que evidenciam nos últimos anos a relação do crescimento da prestação de serviços no mundo

com as transformações aceleradas em que vive-se (LOVELOCK et al. 2011; LAS CASAS,

2007; GRONROOS, 2003).

A importância desse segmento como atividade econômica é histórica, tanto que na

antiga Grécia os jovens recebiam educação já associada à atividade de serviços,

posteriormente, foram se desenvolvendo outras atividades de serviços, como os de transporte

de especiarias e tecidos através da rota da seda, na baixa Idade Média (CORRÊA, 2008). As

mudanças nos processos de produção estabeleceram, de alguma forma, a variabilidade com

relação à importância dessa área no contexto econômico.

Durante a Revolução Industrial a área de serviços teve um crescimento regular

com posterior apogeu no século XX, tornando-se um setor agregador de geração de riquezas e

empregos. A prestação de serviços cobre um vasto leque de atividades e, com frequência,

bastante complexas, que os tornam difíceis de definir. Em sua origem, a palavra serviço era

associada ao trabalho que os servos faziam aos seus mestres. Com o tempo, uma associação

mais ampla surgiu corporificada na definição do dicionário como “ação de servir, ajudar ou

beneficiar; conduzir para o bem-estar ou vantagem do outro”.

O aprofundamento de estudos que revelem de forma mais minuciosa o ecletismo e

a dinâmica de atuação e desenvolvimento do setor de serviço torna-se imperativa e necessária

o maior aprofundamento dos fenômenos desse segmento de negócios. Gröonroos (2003)

descreve que compreender a natureza de serviços, conhecer os fenômenos, entender as

ferramentas gerenciais que permitem seu aproveitamento e coordenar sua aplicação constitui

alguns dos atuais desafios da ciência da administração.

29

Parte da economia de uma nação representada por serviços de todos os tipos, incluindo os oferecidos por

organizações públicas e sem fins lucrativos.

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56

[...] O setor de serviços está passando por uma mudança quase revolucionária, que

afeta drasticamente como vivemos e trabalhamos. Novos serviços são lançados

continuamente para satisfazer nossas necessidades existentes e outras que nem

sabíamos que tínhamos. Há menos de dez anos, poucas pessoas preveriam a

necessidade de e-mails, serviços bancários on line, hóspedes de sites na Web e

muitos outros novos serviços. O tamanho das organizações de serviços varia muito.

Em uma extremidade de escala estão as gigantescas corporações internacionais que

operam em setores diversos. Na outra extremidade da escala, existe um vasto

conjunto de pequenas empresas de propriedade e operações locais (LOVELOCK et

al., 2011, p.4).

As mudanças das “partículas” do processo de trabalho e as significativas

mudanças tecnológicas alteraram radicalmente a forma como as organizações se comportam

diante do ambiente competitivo. Gramigna (2007) destaca que as mudanças que estão agora

acontecendo são diferentes das do passado, quando um confortável padrão de continuidade

predominava. As mudanças atuais são, ao contrário, descontínuas. As análises feitas

consideram que esta descontinuidade é provocada pelas mudanças econômicas e tecnológicas.

Wood Junior (2002) aponta que os reflexos dessas mudanças são: redução da

parcela da população ocupada com atividades de trabalho intensivo, diminuição do número de

empregos de tempo integral, aumento da demanda por especialistas e crescimento do setor de

serviços e do número de organizações baseadas em informação.

O contexto evolutivo das relações interorganizacionais ocorridas no Brasil nos

últimos vinte anos, apresenta mudanças significativas no panorama das empresas: (1)

crescimento do número de fusões e aquisições, resultando na concentração de capital e

desnacionalização, que ocorreu em muitos setores; (2) alterações substanciais nas cadeias

produtivas; (3) avanço da privatização e redução do peso das estatais na economia; (4)

crescimento do número de organizações do terceiro setor, as chamadas Organizações Não

Governamentais (ONGs); e (5) surgimento de novos empreendimentos, com ênfase para

aplicação de e-business30

e internet.

Nesse contexto, Masiero (2009) considera as revoluções das tecnologias de

informação e das comunicações como novas formas de serviços delineando, assim, uma

extensão na estrutura dos negócios. Por isso, demandam padrões de serviços de qualidade e

personalizados; incrementos de upgrades constantes em processos internos da organização;

trabalhadores capazes de aprender e reaprender com o básico e o complexo, além da criação

de mecanismos de atratividade e aproximação com os clientes.

30

Representa a condução de negócios, via internet, de uma forma mais ampla e abrangente, não somente para

comprar ou vender, mas também para oferecer serviços aos clientes e interagir com parceiros de negócios.

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57

Outro fator importante é quanto ao foco de preocupação unicamente com o

processo de produtividade, que tem uma visão reducionista e limitada, considerando as novas

demandas do panorama competitivo e pelas transformações tecnológicas e econômicas que

revigoram o setor de serviços e sua importância na sociedade (FITZSIMMONS e

FITZSIMMONS, 2000). Mesmo diante dessa perspectiva vive-se em uma economia de

serviços, mas na maioria das escolas de administração o estudo acadêmico ainda é dominado

por uma perspectiva industrial (GIANESI e CORRÊA, 2009, p.4).

[...] As mudanças culturais, econômicas, tecnológicas e demográficas, somadas ao

maior poder de compra da população, criaram um consumidor bem informado, que

não exige apenas preço e qualidade, mas uma série de fatores que induzem

diretamente à procura de respostas pelas empresas às questões de: O que produzir?

Como produzir? Para quem produzir? A partir do momento em que se passou a

controlar a inflação e com a elevação da competitividade, inclusive internacional,

conhecer cada vez mais o consumidor e suas escolhas futuras passou a ser

fundamental para nortear os planejamentos estratégicos e operacionais das empresas

(MATTAR, 2011, p. 146)

Lovelock et al. (2011) afirmam que em países desenvolvidos, os serviços

baseados em conhecimento - definidos como os que fazem uso intensivo da alta tecnologia

e/ou que possuem força de trabalho relativamente capacitada – têm se revelado um

componente dinâmico da economia. Na maioria das nações desenvolvidas, o setor de serviços

corresponde entre dois terços e três quartos do PIB. Esse fenômeno também se constata no

Brasil. A maioria dos países emergentes tem verificado esse crescimento no setor de serviços.

A economia brasileira historicamente tem forte influência do setor agrário, sendo

até hoje importante exportador de produtos como a soja, laranja e o café. Com abundância nos

recursos naturais, é grande explorador de minérios e petróleo, além de ser forte na indústria de

base (como siderurgia) e no setor de tecnologia avançada (como aviação). Ainda assim, o

Brasil faz parte dos países onde o setor de serviços predomina 66%, e esta participação vem

crescendo com transformações ocorridas nos últimos 50 anos, em razão do desenvolvimento

do setor industrial no período pós-guerra.

A pesquisa SEBRAE (2011) apresentou o processo evolutivo por setor de

atividades das MPEs e evidenciou que a indústria está ligeiramente em queda sua participação

relativa, saindo de 11,4% do total das MPEs, em 2000, para 10,7%, em 2010. A indústria

possuía 657 mil MPEs em 2010. A queda das participações relativas do comércio e da

indústria se deve ao fato de o ritmo de expansão das MPEs nesses setores ter sido inferior à

média das MPEs. Os setores do comércio e indústria apresentaram idênticas taxas de

crescimento de 3,1 % a.a., contra 3,7% a.a. na média nacional. Já o crescimento da

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58

participação relativa do setor de serviços em 3,4% nesse período, está associado ao ritmo mais

acelerado de criação de novas empresas nesses setores, com taxas de crescimento de 4,8% a.a.

Gráfico 3 – Distribuição das micro e pequenas empresas por setor de atividade econômica Brasil 2000-2010

(em %)

Fonte: MTE. Rais

Com relação à remuneração média real dos empregados formais nas micro e

pequenas empresas no período de 2000 e 2010, houve um crescimento de 1,4% a.a., passando

de R$ 961, em 2000, para R$ 1.099, em 2010. Este resultado ficou acima tanto do

crescimento da renda média do total de trabalhadores (0,9 % a.a) do mercado formal, quanto

daqueles que estavam alocados nas médias e grandes empresas (0,4% a.a). A renda média real

dos trabalhadores nas MPEs mostrou melhor desempenho na segunda metade da década, com

ampliação de 2,8% a.a. Os dados revelam a melhoria das MPEs do setor de serviços no

mercado e sinaliza melhores ganhos e pagamentos salariais para seus empregados.

As empresas e empreendimentos de serviços tiveram crescimento acentuado e

passaram a liderar a geração de empregos formais no país, desbancando a indústria, em

decorrência do bom momento do mercado, evidenciado nos últimos anos. De acordo com

dados do MTE/RAIS (2010), dos 247 mil novos empregos com carteira assinada criados em

setembro daquele ano, 94 mil (40%) eram do setor de serviços.

As descrições quanto a justificativas do crescimento do setor de serviços e que

estimulam as transformações da economia de serviços se fundamentam, ainda, na capacidade

de este setor viabilizar as atividades de outros setores, ou seja, sendo uma atividade que

independente da segmentação de atuação da empresa, seja indústria, comércio ou ONGs, seja

de porte micro, pequena, média ou grande empresa há possibilidade de acessibilidade às

organizações de serviços. Lovelock et al., (2011) evidenciam que há um setor de serviços

oculto em muitas corporações de grande porte, que são classificadas pelos profissionais da

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59

estatística governamental como pertencentes aos setores manufatureiros, agrícolas, ou de

recursos naturais.

A diminuição das estruturas corporativas na busca de maior competitividade de

custos estabelece uma mudança na dinâmica de funcionalidade das empresas, estando

voltadas para suas atividades fins e delegando para outras empresas aqueles serviços

considerados necessários, mas com caracterização de área meio da empresa, possibilitando a

demanda por empresas de serviços. Essa constatação se revela com o fenômeno da

terceirização nas últimas décadas.

Não obstante, o paradigma da horizontalização das empresas, ou seja, diminuição

no nível hierarquico, na busca de tornar a ação administrativa menos burocrática e com

competitividade de custos, privilegia as empresas de pequeno porte, sendo considerada nesta

tese, como o fenômeno da desverticalização do processo produtivo mundial.

Wood Junior (2002) destaca que o aumento da instabilidade ambiental e,

particularmente, o acirramento da competitividade colocaram questões da mudança como

central para sobrevivência das organizações. O foco passou a ser mudar para criar uma

performance competitiva, mas, por outro lado, as mudanças se iniciam no ambiente macro e

de negócios, esfacelando todos os planejamentos corporativos, exigindo das organizações

capacidade de adaptabilidade (PORTER, 1999; MINTZBERG, 2003; CERTO, 2010).

Nesse contexto, os principais fatores que estimulam as transformações da

economia de serviços no Brasil estão relacionadas com as políticas governamentais, as

mudanças sociais, tendências de negócios, avanços na tecnologia de informação e a

internacionalização dos negócios (GIANESI e CORRÊA, 2009; LOVELOCK et al., 2011).

Os fatores associados às políticas governamantais se concentram nas

privatizações, novas regulamentações e novos acordos comerciais. A partir dos anos 80 houve

reformas políticas liberalizantes, sem, no entanto, haver consenso diante dessas ações. O

ambiente corporativo brasileiro passaria por ampla reestruturação como: abertura comercial,

políticas de ajustes fiscais dos fluxos financeiros e efetivação do processo de privatizações.

Soma-se a esse processo, a implantação de novas regulamentações que sinalizam a

aproximação e preocupação com o consumidor, mesmo que de forma embrionária.

Essas medidas de forma direta ou indireta acabaram por influenciar a economia de

serviços no Brasil. Contudo, esse contexto apresentado foi disseminado em toda a América do

Sul, sendo um movimento estruturante da política neoliberal em todo o mundo.

Page 62: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

60

POLÍTICAS

GOVERNAMENTAIS EXEMPLO

IMPACTO SOBRE A ECONOMIA

DE SERVIÇOS

- Privatização

-Postura neoliberal -Novos entrantes no mercado, maior

competitividade com fusões e alianças

estratégicas.

-Privatização de serviços de

infraestrutura, como serviços de

utilidade pública e de transporte.

- Novas regulamentações de

projeto ao consumidor, aos

empregados e ao ambiente

-Código de defesa do consumidor;

empreendedor individual; participação

das MPEs na prestação de serviços,

inclusive público; trabalho

participativo no processo, nos lucros e

mudança nas relações de trabalho.

-A política estimula o setor de

serviços; a negociação direta entre

trabalhador e empregador é valorizada;

democracia no processo decisório das

empresas.

- Novos acordos comerciais

em serviços

-Empresas do exterior podem assumir

a provisão de serviços básicos, como

água, saúde, transporte e educação.

-Transferência de experiência além das

fronteiras; novos investimentos

resultam em melhor infraestrutura e

qualidade.

Quadro 3 – Estímulos para economia de serviços - Políticas Governamentais

Fonte: Adaptado de Gianesi e Corrêa, 2009; Lovelock et al., 2011

As mudanças sociais se delineiam pelo aumento das expectativas dos clientes,

com maior compreensão de suas necessidades e com exigências na qualidade. Lovelock et al.

(2011) consideram qua as demandas e o comportamento dos consumidores também evoluirão

em resposta às mudanças na demografia e nos valores, assim como as novas opções.

Ressalta-se também, o fator ético como critério de decisão nos negócios por parte da

organização, traduzindo o comportamento do gestor / empresa em seu ambiente de transações

comerciais.

No tocante a sofisticação do consumidor, a conceituação proposta aqui tem uma

visão mais ampla, com a acolhida das organizações diante da sociedade. Mas, compreende-se

que o papel dos órgãos regulamentadores não devem ser desprezados, visto que esse

amadurecimento de mercado ainda se almeja alcançar. As partes, ao buscarem suas demandas,

se complementam em um processo de negociação duradoura capaz de expressar um processo

de ganha-ganha na relação prestação de serviço com capacidade de oferta ampliada e a

satisfação do serviço pelo cliente.

Gianesi e Corrêa (2009) associam diretamente o fenômeno da terceirização ao

reconhecimneto da relação fornecedor-cliente, como forma de integração das diversas funções

da empresa. Paladini (2004) considera o movimento de terceirização como uma oportunidade

de incentivar a qualidade das pequenas empresas. Ao se credenciarem para assumir parte do

processo produtivo de uma grande empresa, torna-se imprescindível às pequenas organizações

apresentar qualidade em processos, produtos e serviços.

Page 63: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

61

A terceirização impulsionou o segmento das micro e pequenas empresas na área

de serviços. As MPEs tornaram-se parceiras da grande empresa, uma vez que através dessa

relação de forças complementares buscou a redução da elevada carga tributária que, em

especial, afetava a competitividade de custos fixos, como a folha de pagamento com as

contribuições previdenciárias. Outra vantagem relevante dessa relação para a grande empresa

é a concentração de seus esforços para área fim, privilegiando as atividades de mensuração

dos clientes.

MUDANÇAS SOCIAIS EXEMPLO IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA DE

SERVIÇOS

- Aumento das expectativas

dos consumidores

- Maior expectativa de

qualidade de serviço e

conveniência.

- Prioridade na qualificação das equipes; ampliação

dos serviços e horário de funcionamento para atender a

clientela, proporcionando maiores oportunidades de

empregos por meio período.

- Sofisticação dos

consumidores

- Mais gasto em

diversão, lazer e

turismo.

- Criação de uma variedade mais ampla de ofertas em

serviços; desenvolvimento de novos serviços em pontos

que fomentam as economias locais.

- Terceirização de serviço

- Serviços pessoais,

públicos e da

iniciativa privada

ampliados;

- Novos prestadores de serviços incluem tanto empresas

locais quanto cadeias nacionais/ regionais

- Ampliação da parceria MPEs e a Grande empresa.

- Maior poder de

endividamento da classe

média - maior desejo de

comprar experiência versus

objetos

- Mais gastos em

serviços diversos.

- Novos competidores surgem; centros de estética e

hotéis de tipo resort;

- Maior demanda por serviços – aumento das categorias

de prestação de serviços.

- Mudanças tecnológicas;

- Maior acesso das pessoas

aos produtos tecnológicos –

computadores, celulares,

tablete etc.

- Maior demanda por

equipamentos de alta

tecnologia - notebooks

e telefones celulares

3G, tablete etc.

- Processo de trabalho privilegiando a alta tecnologia –

mudança no processo de trabalho;

- Necessidade de projetista, engenheiros e profissionais

de marketing para esses tipos de equipamento.

- Maior acessibilidade à

informação e de forma

ilimitada.

- Internet, podcast e

redes sociais.

- Aproximação das empresas com o mercado –

mudança no relacionamento com o cliente – contato on

line – em tempo real.

- “Migração reversa”

- Retorno dos

imigrantes a sua

região de origem –

Investimentos e

desenvolvimento nas

regiões ainda não

exploradas

- Transferência de investimentos para as regiões ainda a

serem exploradas e com isenções fiscais.

- Mudança Demográfica -

População em expansão,

porém envelhecendo

- Aumento da

quantidade de idosos; - Mais serviços para atender às necessidades dos mais

velhos, incluindo cuidados com a saúde. - Maior

variedade e serviços. - Construção de casa

de repouso

Quadro 4 – Estímulos para economia de serviços – Mudanças Sociais

Fonte: Adaptado de Gianesi e Corrêa, 2009; Lovelock et al., 2011

Kanter (2010) menciona cinco tipos de tecnologia que têm implicações sobre um

vasto conjunto de setores de serviços: tecnologias de força e energia, materiais, métodos de

trabalho, projetos físicos e tecnologia da informação (TI). O avanço da tecnologia e o acesso a

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62

informação estão intimamente relacionados e influenciando diretamente a economia de

serviços.

As tendências de negócios revelam as expectativas de atuação no mercado das

empresas. A velocidade com que as ideias e correntes dominantes se tornam ultrapassadas e

outras se apresentam, evidenciam, portanto um ciclo de transformações intermitentes. Geus

(1998) considera as mudanças como sendo contínuas e fundamentais, no mundo exterior,

gerando um turbulento meio ambiente de negócios que exige uma contínua gestão de

mudança dentro da empresa. Logo, essas novas tendências é um reposicionamento das

empresas em seus processos internos e de atuação no mercado. Por outro lado, também há, de

tempo em tempo, o retorno àquilo que antes estaria, a princípio, obsoleto.

As alterações e os critérios utilizados para prestação de serviço são ferramentas

fundamentais para a diferenciação dos concorrentes num mercado competitivo.

[...] O contexto empresarial contemporâneo é caracterizado por grande dinamismo,

alta complexidade e considerável interdependência entre os setores econômicos e

sociais. Uma hipótese também usualmente aceita é que novas formas

organizacionais estão emergindo desse contexto. Essas novas formas são mais

usualmente denominadas pós-burocrática, pós-industriais ou pós-modernas. É claro

que esses termos não são necessariamente intercambiáveis e apresentam problemas

derivados da liberdade com que cada autor os emprega. O conceito de organização

pós-burocrática refere-se à flexibilidade do modelo burocrático weberiano. O

conceito de organização pós-industrial aparece geralmente ligado ao crescimento do

setor de serviços (WOOD JUNIOR, 2002, p.171).

Considerando a preocupação com relação à qualificação das novas formas de

classificação dessas organizações, a validade da referência aqui utilizada não se prende a

visão reducionista e muito criticada desse constructo gerencial – tendência demasiada para

instrumentalização do conhecimento, a serviço da prática gerencial e ao atendimento do

conhecimento somente ao interesse econômico, que permeia essa atividade.

Assim, o objetivo da utilização da referida literatura prende-se como forma de delinear

o espaço / tempo, um marco de referência das mudanças.

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63

TENDÊNCIAS DE

NEGÓCIOS EXEMPLO

IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA DE

SERVIÇOS

- Concorrência e foco em

retorno do capital integralizado

de forma mais célere.

- Busca por retorno

imediato com menos

custos e mais ganhos.

- Busca por novas fontes de receita, como taxas

adicionais, preços mais elevados e adoção de

estratégias de gestão de receita, além de cortes no

atendimento ao cliente para reduzir custos.

- Ênfase sobre produtividade e

competitividade de custos –

redução de custos.

- Migração para

tecnologias de autos

serviço.

- Repensar o sistema de entrega de serviços, investir

em novas tecnologias que substituam os processos

tradicionais de trabalho.

- As empresas manufatureiras

agregam valor por meio de

serviços e vendem serviços.

- Crescimento das

consultorias e

serviços de TI.

- Concorrência com provedores de serviços de outros

setores, como as tradicionais consultorias em gestão.

- Desverticalização do

processo produção –

viabilidade – terceirização;

- Processo de gestão

voltada para os

serviços essenciais

ou da área fim das

organizações.

- Trabalho racionalizado para evitar duplicação;

marketing é alavancado e a eficiência operacional

aprimorada. - Mais alianças estratégicas.

- Foco na qualidade e na

satisfação do cliente.

- As organizações

definem padrões

mais rigorosos e

buscam atingi-los de

modo consistente.

- Programas de treinamento para capacitar a equipe de

atendimento; investimento em modernização das

instalações que ofereçam mais conforto.

- Crescimento de franquias.

- Expansão mundial

das redes de

restaurantes de fast-

food.

- Desafio de manter padrões de serviços consistentes

por todo o mundo sem deixar de se adaptar às

preferências culturas locais.

- Ênfase no marketing de

serviços;

- Expansão do

marketing de

serviços em todos os

setores – inclusive

nas organizações

sociais.

- Levantamento de fundos para melhorar as

instalações; acréscimo de novos serviços de geração

de receita; incremento tecnológico e melhoria nos

relacionamentos. - Importância da imagem

organizacional.

Quadro 5 – Estímulos para economia de serviços – Tendências de Negócios

Fonte: Adaptado de Gianesi e Corrêa, 2009; Lovelock et al., 2011

Oliveira (2009) menciona o grau de complexidade de integração dos elementos

componentes do processo de transformação de um sistema e da dinâmica de funcionamento

dos subsistemas que o interagem. O desenvolvimento da tecnologia da informação pressupõe

a alteração na funcionalidade interna das empresas.

[...] As inovações tecnológicas são um produto tanto da ciência quanto da estrutura

social. Os conceitos de modernização, eficiência, produtividade e qualidade

possuem valorações diversas conforme premissa social sobre seu uso. Por exemplo a

informatização, a automação e a robotização não se implantam por simples

substituição de procedimentos técnicos, mas exigem uma nova concepção do

ambiente de trabalho e de organização social da produção (MOTTA, 2001, p.11).

Hoffman et al. (2009) destacam a necessidade da capacidade de a empresa

dominar a mudança tecnológica. Collins (2006) retrata a mudança induzida pela tecnologia

não como fator de novidade. E pergunta, qual é o papel da tecnologia? Em vez disso, a grande

dúvida é “De que forma as empresas que trilharam o caminho da excelência pensam diferente

Page 66: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

64

sobre tecnologia?” As empresas que veem a tecnologia como uma fonte de inovação, ao

contrário de um “mal necessário”, são particularmente bem-sucedidas. O foco nos últimos

anos na Tecnologia de informação (TI) é mencionado por Lovelock et al., (2011) como uma

concentração na fusão entre a tecnologia de computadores e a de telecomunicações, que

facilitaram o desenvolvimento de serviços sem fio e da internet, cujos componentes mais

conhecidos são o e-mail e a World Wide Web.

AVANÇO EM

TECNOLOGIA DE

INFORMAÇÃO (TI)

EXEMPLO IMPACTOS SOBRE A ECONOMIA DE

SERVIÇOS

- Expansão da internet.

- Informações on line; e-

service – serviço eletrônico

disponível via internet;

- Criação de novos serviços que reúnam as várias

fontes de informações;

- Novos modos de apresentação do serviço/produto;

- Ausência de controle diante das falhas de

atendimento e de produtos – facilidade de exposição

das disfunções.

- Maior largura de banda.

- Permite a entrega de

conteúdo educacional

sofisticado e interativo.

- Diversificação no formato de qualificação e

capacitação dos recursos humanos;

- Revisão do planejamento dos processos de entrega

dos serviços.

- Maior interação empresa / cliente com sites Web.

- Equipamentos móveis

compacto.

- Tabletes, Telefones

celulares 3G que integram

muitas funções de alta

tecnologia.

Competitividade de velocidade na prestação;

- Serviços avançados de marketing e manutenção

necessários

- Redes sem fios.

- Shoppings, cafeteiras e

hotéis fornecem esse

serviço (gratuito ou pago)

para atrair.

- Oferta dos serviços de forma gratuita;

- Maior agregação de valor para a comunicação com

o cliente.

- Softwares mais rápidos

e potentes.

- Desenvolvimento de

software customizado por

empresas de consultoria

especializada;

- Necessidade de treinamento de engenheiros de

software para desenvolver pacotes de serviços;

- Aumento da oferta do serviço, com a ampliação do

alcance da tecnologia.

- Digitalização de textos,

gráficos e vídeos.

- Provedores de serviços de

download on-line.

- Segurança nos provedores de serviços;

- Exigência na manutenção de um site seguro e

confiável, com garantia de arquivos livres de vírus

para download.

Quadro 6 – Estímulos para economia de serviços – Avanço em Tecnologia de Informação

Fonte: Adaptado de Gianesi; Corrêa, 2009; Lovelock et al, 2011

A participação brasileira no fluxo do comércio mundial é bastante limitada. Em

termos administrativos e econômicos, diversas razões poderiam ser levantadas, das mais

simples, como isolamento do mundo ou “isolacionismo”: Brasil pré-1930, às mais

comprovadas como a ausência de políticas públicas voltadas para o estímulo às exportações,

moldada numa forma de ação calcada na exagerada tutela do Estado, pela via da

discricionariedade administrativa, contando em contra partida com o acomodamento dos

próprios agentes econômicos (PINHEIRO, 2000).

Além do enclausuramento da economia num modelo protecionista, pois neste, ao

lado das restrições do tipo administrativo, licenciamentos, quotas, contingenciamentos,

Page 67: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

65

controle de preços, dentre outros, proliferaram práticas oficiosas que embaraçaram o

desenvolvimento do comércio externo brasileiro. Essa postura trouxe consideráveis prejuízos

para o desenvolvimento do país, em particular para a indústria. Portanto, nostalgias

protecionistas não se justificam.

No período compreendido entre meados dos anos 60 e dos anos 80, as exportações

cumpriram o papel fundamental de fornecer divisas e aumentar a renda doméstica, ampliando

o leque de oportunidades aos investimentos nos setores eleitos pelo processo de substituição

de importações. Pinheiro (2000) explica que as exportações de bens manufaturados foram

beneficiadas por certa estabilidade cambial até o final dos anos setenta e por um generoso

sistema de incentivos e subsídios à exportação que se estendeu até o final do primeiro

quinquênio dos anos oitenta.

No final da década de 80 o desempenho exportador do Brasil foi lamentável, e

várias explicações diante da análise histórico-econômico podem ser constatadas. O país

deixou de ter uma política de exportação voltada para a conquista de mercados externos, seja

em função de euforia do Plano Cruzado, seja pelo foco quase exclusivo das autoridades

econômicas no controle do processo inflacionário. Para AMARAL (2002) o fato de a

atividade exportadora não ser uma prioridade a partir da constatação da ausência de uma

política de exportação consistente, relegou a segundo plano, ações imprescindíveis para a

competitividade sistêmica da economia nacional, incluindo uma oferta de infraestrutura que

permitisse uma integração logística do país com os mercados globais, um regime tributário

compatível com os requisitos de expansão das vendas externas, e instrumentos eficazes para a

promoção de exportações.

No início dos anos 90, o processo recessivo impulsionou as exportações, dada sua

natureza contra cíclica. Todavia, a valorização do real, com a implantação das primeiras

medidas de estabilização em 1994 (Plano Real - cujo sucesso foi estabilizar a inflação após

sucessivas tentativas de congelamento de preços e de salários, bem como de mudanças de

moeda), aliada ao crescimento de mercado doméstico, levou a uma gradativa perda do

dinamismo do “quantum” exportador após um período inicial de rápido crescimento.

A economia brasileira passou na segunda metade do século XX por diferentes

ciclos de abertura e fechamento de sua economia. Rezende (2004) destaca que desde o final

da década de oitenta, os governos vêm adotando medidas de liberalização comercial,

rompendo a longa tradição da política intervencionista do Estado na regulação da economia,

favorecendo as forças de mercado como orientadoras do crescimento econômico.

Page 68: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

66

A crescente importância do comércio internacional no contexto da economia de

serviços tem provocado o crescimento significativo da busca de mecanismos que possam

dinamizar e estabelecer o aprofundamento do conhecimento no processo de exportação das

empresas prestadoras de serviços, como também de formas mais eficazes para obter sucesso

nessa iniciativa.

O fato de o Brasil contar com uma base ainda estreita de empresas e setores

atualizados tecnológica e organizacionalmente, traz duas importantes implicações como

considera Pinheiro (2000), (i) reforça a importância de uma política ativa de atração de novos

atores para esses segmentos já em processo avançado de modernização, estruturando grandes

plataformas de exportação, como caminho mais rápido de resposta exportadora; (ii) explica

em grande medida a fragilidade do país nos mercados globais, e sua incapacidade de lidar

com os choques de preço no mercado internacional. Ainda com relação à baixa

competitividade das empresas exportadoras:

[...] ressentem-se da falta de um tecido industrial mais abrangente, que se articule

minimamente com o mercado internacional, objetivando ganhar parcelas de mercado

dos concorrentes externos. Com produtos distintivos, mas fabricados em escalas

reduzidas de produção, concentram seus esforços nas vendas destinadas ao mercado

doméstico. De fato, a concessão de generosos subsídios fiscais e financeiros,

centrados na formação de preços recebidos pelos exportadores, mostrou-se incapaz

de gerar uma dinâmica sustentada de expansão de vendas externas de uma parcela

substancial de empresas, em um cenário onde a concorrência internacional está

estabelecida, cada vez mais, nos fatores extra preço (MOTTA, 1998, p.127).

Fleury et al. (2007) consideram o comércio internacional vital para um país, bem

como para as empresas, por várias razões: o comércio expande mercados, cria oportunidades

para a produção e distribuição de bens, permite às empresas explorarem oportunidades

crescentes em outros países e as torna menos dependentes do seu mercado interno. Muitas

organizações acreditam que o comércio internacional possa ajudá-las a detectar as

necessidades e as mudanças nos hábitos dos consumidores, a reduzir custos, a adquirir novas

alternativas para estratégias de distribuição, a prover informações valiosas sobre mercados

potenciais ao redor do mundo e a incrementar o contato com as inovações de produtos

desenvolvidos pelos concorrentes. A internacionalização não se resume a uma extensão das

vendas domésticas, pois não existe uma função de produção que aplique um trade-off 31

puro

entre a produção para atender ao mercado interno e a atividade exportadora (YIP, 2003, p.26).

31

Refere-se à necessidade da organização de escolher critérios competitivos para sustentar sua estratégia de

negócios, embora alguns destes critérios possam ser "incompatíveis" operacionalmente (TANURE e DUARTE,

2006)

Page 69: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

67

O conhecimento teórico sobre empresas exportadoras brasileiras também é

bastante reduzido, e, muitas decisões são tomadas no setor de exportação ou de

internacionalização de empresas, sem um conhecimento detalhado dessa realidade. As teorias

que tratam da internacionalização de empresas possuem três abordagens: racionalidade

econômica, aspectos comportamentais e, posteriormente, os aspectos de competitividade e

posicionamento passaram a ser utilizados (FLEURY et al., 2007, p.43) .

Segundo dados oficiais da Balança Comercial Brasileira de 2008 publicada pelo

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), onde estavam

cadastradas 20.408 mil empresas exportadoras, das quais 50,6% eram de micro e pequeno

porte, porém representaram 1,9% de todas as exportações brasileiras no período em

detrimento às grandes empresas, que representaram 21,9% e um volume de exportações na

ordem de 91,9%. Os dados são totalmente excludentes, se comparados à realidade e

desempenho das micro e pequenas empresas na Europa, que têm uma participação sólida no

cenário internacional, inclusive pela relação dos consórcios de exportação.

A mudança do cenário mundial traduzida pela liberalização econômica teve papel

fundamental na transformação de comportamento das empresas na busca de novos mercados,

não se restringindo ao seu mercado doméstico. Arbache (2001) explora essa crescente

participação brasileira no comércio exterior em decorrência também dessa abertura e

ampliação econômica, menos regulamentada e menos estatizada, uma vez que os setores e/ou

firmas mais competitivos ganham importância e os preços relativos mudam em favor dos bens

e dos fatores que, por outro lado, ganham projeção com o aumento do comércio internacional

e com a maior liberdade de funcionamento dos mercados.

A criação de um cenário de mercado mais sinérgico com a internacionalização

também impulsionou ações estratégicas de negócios voltados para o mercado internacional –

formação do Mercosul. Logo, a compreensão para a motivação das empresas para a

internacionalização se caracteriza primordialmente pelos fatores macroambientais do que

precisamente pelo ambiente de negócios.

Page 70: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

68

INTERNACIONALIZAÇÃO EXEMPLO IMPACTO SOBRE A ECONOMIA DE

SERVIÇOS

- Mais empresas operando em bases

transnacionais.

- Multinacionais -

possuem inúmeras

operações ao redor do

mundo.

- Aumento do escopo do serviço a ser

fornecido; treinamento da equipe sobre os

mercados locais para aprimorar suas

habilidades, competência e padrões de

atendimento.

- Fusões e alianças internacionais.

- Fusões entre

companhias áreas

internacionais, bancos,

seguradores etc.

- Maior alavancagem de mercado e

eficiência operacional.

- Offshoring do atendimento ao

cliente.

- Operações de call center

transferidas para Índias,

Filipinas etc.

- Investimento em tecnologia e

infraestrutura estimula as economias locais,

eleva o padrão de vida e atrai setores

correlacionados.

-Concorrentes estrangeiros invadem

mercados domésticos.

- Bancos internacionais,

como HSBC, fazem

negócios nos Estados

Unidos.

- Desenvolvimento de rede de filiais pela

aquisição de um ou mais bancos regionais;

- Investimento maciço na desconcentração –

com filiais novas e melhoradas e em canais

eletrônicos.

Quadro 7 – Estímulos para economia de serviços – Internacionalização

Fonte: Adaptado de Gianesi e Corrêa, 2009; Lovelock et al, 2011

Quanto às forças impulsionadoras para a internacionalização das empresas

brasileiras destacam-se conforme a literatura: a conquista do mercado doméstico pelas

empresas; necessidade de manter taxas efetivas de crescimento, utilizando-se de suas

vantagens competitivas adquiridas; cenário de expansão do setor em que está inserido,

oscilação da economia nacional na chamada “década perdida”32

dentre outras. Tanure e

Duarte (2006) exploram essas questões como forças que são muito bem caracterizadas como

“a reativa, na qual as decisões ocorrem em face da escassez de oportunidade no Brasil, ou a

proativa, na qual a internacionalização é vista como estratégia intencional de crescimento,

independentemente das condições de mercado de origem”.

As evidências de uma nova forma de organização para enfrentar essa situação

global, inicia-se a partir da década de 80 como afirmam Pugh e Hichson (2004), com o

surgimento de empresas mundiais com diferentes capacidades, sendo identificadas como:

multinacionais, globais e internacionais. As multinacionais estabelecem uma forte presença

local, respondendo às oportunidades do mercado doméstico, com agrupamentos

desconcentrados e relativa descentralização em termos de recursos e responsabilidades.

32

Representa o período entre os anos 80 e boa parte dos anos 90, alguns anos após o milagre econômico, época

do crescimento econômico temporário promovido na ditadura militar nos anos 60 até 1973 e que após o seu

tempo trouxe uma fraca produção das indústrias e queda do Produto Interno Bruto (PIB) que deixou sérias

consequências sociais, políticas e econômicas para o Brasil.

Page 71: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

69

Kotler (2006) credita às empresas globais competitividade de custos conferindo-

lhes vantagens financeiras, de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), de produção, de logística

e de marketing, além de uma reputação que não está ao alcance de concorrentes que atuam

localmente. Ressalta-se que esse tipo de empresas investe na construção de instalações em

escala mundial, para distribuir produtos padronizados para os mercados demandantes.

A verificação por parte das empresas brasileiras de que não há perspectiva de

retorno imediato no mercado internacional, pressupõe o reconhecimento da importância dessa

interface com o mercado internacional agregando valor para as competências institucionais,

influenciando seus processos de trabalho e sua lógica de gestão (PORTER, 1986; FLEURY et

al., 2007; YIP, 2003; LOVELOCK et al., 2011).

Estudo do MDIC (2009) incluiu dados inéditos que registraram uma

surpreendente participação das MPEs de serviços no comércio exterior do país. Nesse ano, as

MPEs representaram 78% das exportadoras de serviços no Brasil e 11,4% do valor exportado

pelo segmento. Em resumo: R$ 1,00 em cada R$ 10,00 exportados foi gerado por uma micro

ou pequena empresa. A importância das MPEs de serviços nas exportações acompanha o

crescimento do setor na economia brasileira. Também no ano passado, a prestação de serviços

respondeu por 65% do PIB e por mais de 70% dos empregos formais. Além disso, recebeu a

maior parte dos investimentos estrangeiros diretos realizados no país nesse período.

Peterli (2001) destaca que a maior participação das MPEs no comércio exterior

brasileiro descrita de forma eficiente e eficaz, com consequente possibilidade de

competitividade internacional, requer o necessário reconhecimento: (i) da trajetória

tecnológica da empresa brasileira exportadora; (ii) da organização dos distintos setores

industriais correlacionados ao padrão de especialização das trocas internacionais; (iii) da

possibilidade das exportações serem expandidas naturalmente a partir de valores e atributos

nacionais desejados socialmente.

Após uma década dessa afirmativa, o alicerce defendido continua atual e presente

na realidade da economia exportadora brasileira. A interdependência dessas variáveis, e a

conscientização de que as políticas de exportação devem facilitar a participação de forma

integrada e conjunta das empresas exportadoras, poderá maximizar a participação brasileira

no fluxo do comércio mundial.

A entrada no ambiente internacional pelas empresas brasileiras varia dependendo

do seu ramo de negócios, não havendo um modelo específico de entrada. O assunto ainda

requer um maior aprofundamento de pesquisas que venham a melhor explicar o fenômeno da

internacionalização da América Latina e especificamente das empresas brasileiras.

Page 72: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

70

2.4 Destruição criativa

A construção de mecanismos que evidencie as respostas para o alcance dos

resultados organizacionais está impregnada na administração. O pragmatismo e a

racionalidade delineiam uma administração reducionista e com poucas perspectivas de

compreender os fenômenos organizacionais. A discussão diante dos fenômenos –

longevidade, sustentabilidade, funcionalidade, inovação, tecnologia, dentre outros fatores da

MPEs está condicionada pela literatura da grande empresa.

Na busca desse pragmatismo, sempre é discutida a mortalidade, desprezando-se as

características e indicadores de sobrevivência, ou seja, a longevidade desse segmento de

empresa. Permear outro viés de discussão para a pequena empresa torna-se imperativo e

representa uma “destruição criativa” daquilo que existe e ainda do que não foi desvendado.

Schumpeter (1982) destaca o processo de mudanças tecnológicas que revoluciona

incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, criando elementos novos e

destruindo o antigo. É o processo de destruição criadora. Não obstante as ideias de

Schumpeter terem sido elaboradas para explicar as flutuações de uma economia, são possíveis

adaptar algumas de suas argumentações para explicar as flutuações de um setor específico

dessa economia (WINDRUM, 2008; GALLOUJ, 2002).

Mintzberg (2007) considera que uma teoria não pode ser considerada como uma

verdade absoluta, como um dogma, mas sim como uma possível explicação de um fenômeno.

E na tentativa de legitimar as ações administrativas, criam-se fontes da verdade e da sabedoria

no momento em que se traduz, no cerne das organizações, o contexto de previsibilidade e de

certeza, sem que se perceba a força das infinitas variáveis que podem, no sopro dos ventos,

destruir o castelo de areia tão frágil e insustentável, diante da incoerência com que se retratam

os fenômenos organizacionais.

Por um lado, procura-se um caminho tranquilo, fácil, sem declive e seguro, como

resposta aos objetivos da organização, quando na verdade, se é que existe a verdade, talvez a

procura por um caminho não seja possível considerando a magnitude de quando se depara

com os acontecimentos e turbulências da vida. Leonard-Barton (1998) descreve,

analogicamente, que o saber das organizações não é um lago estático, mas nascentes,

constantemente reabastecidas por correntes de novas idéias.

Destaque-se que o aparato das teorias organizacionais retrata a fragmentação do

conhecimento na busca incessante da eficiência como a salvação do universo, com a

investigação de variáveis, a priori internamente nas organizações, traduzidas por uma

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71

necessidade de cada época e consolidando-se nos estudos acerca do processo de trabalho e o

do adestramento do “ser não pensante – o homem”. Nessa perspectiva, adotam-se a

formalização, normas e regulamentos – com modelo ideal e anatomia estática da organização,

recursos humanos e a informalidade, condicionamentos de liderança e motivação, atrelados a

esse pragmatismo.

A discussão representa tentativas de retratar os fenômenos organizacionais e

administrativos, sendo conduzidas para as estruturas e processos de trabalho, das formas

tradicionais e racionalistas que integram o modelo do “homem econômico”, capaz de lidar

com toda a complexidade do mundo real. Um subproduto do capitalismo é o domínio de toda

a vida por um cálculo econômico, que Schumpeter (1982) chama de "racionalidade", e

assinala quão poderosamente a maneira econômica de pensar concede recompensas e sanções:

prêmios e penalidades são medidos em termos pecuniários subindo e descendo ao fazer ou

perder dinheiro, respectivamente.

Por sua vez, Prestes Motta (2008) descreve que a racionalidade humana é formada

por critérios considerados satisfatórios pelos atores que decidem, mas que não otimizam suas

escolhas. Arruda et al. (2007) consideram a empresa como uma “caixa preta”33

operada para

encontrar-se com as condições marginais relevantes com respeito às entradas e às saídas,

desse modo maximizando lucros, ou mais exatamente, o valor atual.

Vê-se claramente que há uma relação direta com o modelo mecanicista na teoria

organizacional, ao se retratar o homem no processo de produção the best way34

, o padrão de

produção, o processo de controle desse homem através de uma supervisão funcional, divisão

do trabalho e especialização, cujo foco é a administração por objetivo com a valorização das

funções clássicas da administração, ou seja, com uma carga excessiva de princípios,

evidenciando a visão reducionista para a solução dos problemas das organizações,

independente do porte da empresa, seja, micro, pequena, média ou grande empresa.

Apresenta-se um formato inflexível, imaginando-se uma única solução para os

problemas. Nessa perspectiva, a teoria organizacional enfatiza as abordagens determinísticas,

não podendo, assim, reconhecer as empresas como agentes (DOSI, 2006; KOSA e THOENIG,

2003; LAVILLE, 2001).

33

Refere-se a um sistema cujo interior não pode ser desvendado, cujos elementos internos são desconhecidos e

que só pode ser conhecido “por fora”, através de manipulação externas ou de observação externa. Utiliza-se o

conceito de caixa preta em duas circunstâncias: quando o sistema é impenetrável ou incessível; quando o sistema

é excessivamente complexo, de difícil explicação ou detalhamento. 34

Tradução – melhor maneira de fazer. Terminologia utilizada na abordagem clássica da administração no fluxo

mecanicista - estudo de tempos e movimentos. Representava a ideia da única combinação dos elementos simples

recolhidos.

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72

Ramos (1981) expressa que a síndrome comportamentalista tem grassado nas

teorias organizacionais contemporâneas uma disposição socialmente condicionada que afeta a

vida das pessoas, quando estas confundem as regras.

[...] O espectador não deve ter a necessidade de nenhum pensamento próprio, o

produto prescreve toda a reação: não por sua estrutura temática - que desmorona na

medida em que exige o pensamento – mas através de sinais. Toda a ligação lógica

que pressuponha um esforço intelectual é escrupulosamente evitada (ADORNO e

HORKHEIRMER, 1985, p.128)

A perspectiva humanística - comportamental é traduzida pela informalidade,

comportamento e as relações pessoais e grupais, condicionamentos de liderança e motivação,

para tornar a produtividade mais “afável” para o homem operador do processo. Os indivíduos

e seus grupos de referência são os “atores” no processo. O entendimento é que, embora

houvesse uma mudança de ênfase, a condução do processo continuava centrada nos

fenômenos organizacionais, desprezando as facetas múltiplas que envolvem uma relação com

a sociedade.

Silva (2008) explica que essa abordagem considera o processo de gestão como um

processo social, porque as ações administrativas são, principalmente, concernentes ao

relacionamento entre pessoas, mais do que ao direcionamento de tarefas.

[...] o padrão de inferência com relação à mudança pode ser definido como: para se

mudar uma organização é necessário se alterar atitudes, comportamentos e a forma

de participação dos indivíduos. Isto envolve, por exemplo, desde intervenção

sociopsicológica de pequenos grupos para incentivar a colaboração, passando pela

revisão de práticas de motivação, liderança e distribuição de poder (MOTTA, 2001,

p. 99)

Entretanto, o funcionalismo da maximização do lucro na administração é uma

função restritora na convergência do conhecimento da administração com outras formas do

saber, além de se distanciar de uma perspectiva mais coerente das relações de trabalho no

mundo das organizações. Para os intelectuais da Escola de Frankfurt35

, no trajeto para a

ciência moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituíram o conceito pela forma, a

causa pela regra e a probabilidade (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p.21).

Corroborando essa assertiva, Wood Junior (2002, p.99):

[...] as organizações orientadas pelo enfoque gerencial mecanicista tendem a gerar

um comportamento caracterizado pela cefaléia, falta de visão crítica, apatia, e

35

Consistia em um grupo de intelectuais e uma teoria social específica, surgida na Alemanha no final da década

de 20 e início da década de 30.

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73

passividade. O foco do controle sobre as partes inibe o autocontrole e o controle

entre as partes, resultando no baixo grau de envolvimento e responsabilidade e

provocando nessas organizações uma fragilidade de sobrevivência.

Tenório (2004) expressa essa ideia quando sentencia que não basta ser possível

identificar as interfaces sociais ou grupos informais, instrumentalizar a ação administrativa

segundo cânones positivistas, decidir por meio de sofisticados equipamentos eletrônicos, se

não se possui uma visão crítica da teoria organizacional e das suas consequências práticas.

Japiassu e Marcondes (2011, p. 137) destacam essa posição assumida pelos estudiosos

frankfurtianos como resultado de um paradigma36

maior, o do esclarecimento, “caracterizado

pela defesa da ciência e da racionalidade crítica, contra a fé, a superstição e o dogma

religioso”.

O paradigma do esclarecimento tem de forma acentuado a influência de Immanuel

Kant37

(1704-1804), a razão pura possui os princípios ordenados pelo quais ela procura captar

a natureza, só conhecendo aquilo que ela ordena segundo estes princípios. Estes conceitos são

articulados com a intuição (experiência), definindo o conhecimento compreendido como

construção da razão. O esclarecimento, na visão do filósofo, estimula uma visão crítica do

mundo guiada pela razão e não pela crença em dogmas. Motta (2001) julga que as teorias se

manifestam limitadas quando se isolam se radicalizam e se arrogam validade exclusiva.

Quando se aceita a pluralidade, descobrem-se novas maneiras de ver a realidade,

redescobrindo novos sentidos para as coisas e, possivelmente, novos objetivos de estudos

(WHITTINGTON, 2006).

Travestida de uma abordagem múltipla, aprofunda-se, na administração, a partir

da teoria estruturalista, os estudos com relação ao ambiente, a valorização da totalidade das

partes e a necessidade de interface entre os elementos envolvidos no sistema. No caso das

organizações, revelando- se no mercado ou nos fatores de congruência com a gestão pública

ou privada.

A abordagem sistêmica/contingencial preconiza o sucesso da organização e da

administração condicionada aos fatores imperativos do ambiente e da tecnologia que

sustentaram os estudos da administração na segunda metade do século XX (BURNS e

STALKER, 1961; LAWRENCE e LORSCH, 1973; THOMPSON, 1976; WOODWARD,

36

É a representação de um padrão a ser seguido.Conjunto de premissas que estabelece limites e proporciona

orientação para tomar decisões e resolver problemas dentro desses limites, bem como para julgar, perceber e

interpretar fatos. As premissas do paradigma fundamentam o modo de pensar e comprender a vida (LACOMBE,

2004). 37

Filósofo alemão do Iluminismo.

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74

1965; CHANDLER, 1962). Salienta-se que os fatores imperativos do ambiente e da

tecnologia foram validados em pesquisa na grande empresa, o que não invalida os resultados,

mas também não representa um estudo dos fenômenos da realidade da pequena empresa

(LOVELOCK et al., 2011, p.210).

Nessa perspectiva, Mintzberg (2007) comenta que o enfoque

sistêmico/contingencial se contrapõe à visão reducionista da solução única e linear para os

problemas organizacionais e se distancia da literatura na administração. Castor (2009) expõe a

importância de adotar o enfoque sistêmico, o que significa basicamente enfatizar a totalidade

na abordagem dos problemas e situações, ou seja, é como procurar associar diferentes pontos

de observação e conhecimentos de diferentes disciplinas.

Burns e Stalker (1961) em pesquisa feita com executivos e assessores das

empresas, com enfoque para o padrão de administração e desempenho econômico daquelas

organizações, mensuraram as condições ambientais, com variação de estabilidade previsível a

turbulências do ambiente. Os pesquisadores, a partir dos resultados da pesquisa,

estabeleceram dois sistemas opostos de funcionalidade e de estrutura administrativa:

mecanístico e orgânico.

A abordagem imperativa do ambiente e da tecnologia evidencia o contexto

contingencial na tradução das teorias organizacionais. A compreensão dessa lógica que

embora não se distancie da racionalidade, nos propicia um entendimento de modelagens

distintas, mas com execuções em consonância com os fatores ambientais e de tecnologia que

envolve a organização. Uma conclusão importante a ser considerada a essa explanação é que,

enquanto os sistemas orgânicos não forem hierárquicos do mesmo jeito que são os

mecanicistas, eles permanecerão estratificados. Uma segunda observação é mencionada por

Hatch e Cunlifer (2006) a respeito da área de compromisso para com a empresa – o perímetro

pelo qual o indivíduo mostra-se rentável como uma fonte a ser utilizada pela organização de

trabalho – é muito mais abrangente em sistemas orgânicos que nos mecanicistas.

Outra observação é explorada por Robbins e Coulter (1998) a respeito do sistema

mecanístico e orgânico, o esvaziamento da significação do sistema de comando hierárquico,

pelo qual a cooperação é assegurada e que serve para monitorar a organização funcional sob

um sistema mecanicista, é contraposto pelo desenvolvimento de crenças mútuas sobre os

valores e objetivos da empresa. O crescimento e aumento de valores, crenças e condutas

institucionalizadas em forma de compromisso, ideologia e maneiras em torno da imagem da

empresa no seu ambiente industrial, comercial e de serviços tornam boas as perdas da

estrutura formal.

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75

[...] as duas formas de sistemas representam a polaridade, não uma dicotomia; há

como tentamos mostrar, estágios intermediários entre as extremidades

empiricamente conhecidas. A relação de uma forma com a outra é flexível, posto que

uma empresa que oscila entre uma relativa estabilidade e uma mudança relativa

pode também oscilar entre as duas formas. Uma empresa pode frequentemente

operar com um sistema de gerenciamento que inclui ambos os tipos. A forma

orgânica, divergindo de uma objetividade familiar e fixa da estrutura hierárquica, é

frequentemente experimentada pelo gerente como uma desconfortável,

constrangedora ou constantemente ansiosa busca pelo conhecimento acerca do que

ele deveria estar fazendo, ou o que é esperado dele e apreensão similar sobre o que

os outros estão fazendo. Na verdade, como veremos a seguir, esse tipo de resposta é

necessário se a forma orgânica da organização for efetivamente trabalhar. De forma

compreensível, tal ansiedade é demonstrada com ressentimento quando a aparente

confusão que o toma não é explicada. Nessas situações, todos os gerentes em alguns

momentos anseiam por uma definição e estrutura (BURNS e STALKER, 1961,

p.72)

Thompson (1976) propõe que as ações das empresas fundamentam-se nos

objetivos desejados e nas convicções sobre relações de causa e efeito, mas em um tipo de

processo de interação, respondendo às condições ambientais, assim como, os meso-processos

da organização social. Tomando por base essa ideia, Wood Junior (2002) observa que o

processo interativo é alcançado com a interação com o ambiente, das análises de respostas

administrativas e organizacionais para a discussão da relação da administração com o

desenvolvimento social. Essas ações são ditadas pela convicção das pessoas sobre como

alcançar os objetivos desejados e constituem a tecnologia - também denominada racionalidade

técnica.

Pugh e Hickson (2004) evidenciam que os padrões ou normas de racionalidade,

requerem das organizações ao mesmo tempo coordenação interna, ou seja, no subsistema

ajustamentos demandados pelas circunstâncias externas. As normas de racionalidade

defendida por Thompson para aplicação nas organizações, frequentemente enfatiza a

importância dos registros (codificação) sobre as atividades para possibilitar mensuração do

desempenho. Na visão de Thompson (1976), o objetivo da gerência e a direção, ao projetar

organizações e tomar decisões, devem ser o eficaz alinhamento entre a estrutura

organizacional, a tecnologia e o ambiente.

A discussão sobre os motivos que levam as pessoas a construírem organizações

foi o elemento inicial de análise para Lawrence e Lorsch (1973) conduzirem seus estudos e

pesquisas sobre estrutura e o funcionamento das organizações. O comportamento

organizacional nessa perspectiva é evidenciado por Pugh e Hickson (2004) como elemento

principal de análise. E os elementos-chave da sua abordagem: 1 – pessoas, e não organizações

têm objetivos; 2 – as pessoas têm que estar juntas para que as diversas atividades nas

organizações possam se coordenar; e 3 – a eficácia da organização é medida pelo grau de

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adequação com que as necessidades dos seus membros são satisfeitas através das interações

com o ambiente. O modelo Lawrence e Lorsch enfatiza a dependência da adequação da

estrutura organizacional ao ambiente. Wood Junior (2002) destaca as organizações como

organismos em constantes relações com o meio, na busca da harmonia entre a estratégia, a

estrutura, a tecnologia e as dimensões humanas.

A questão da longevidade como objeto central, perpassa pelos elos dessas

dimensões com constructo do conhecimento capaz de alicerçar seu tecido organizacional. As

estruturas organizacionais e as regras, que são fruto da racionalidade predominante na

organização, correspondem à visão de mundo de valores dos grupos que detêm o poder, com

imagens que refletem a lógica de seus interesses (MORGAN, 2002, p. 61).

Geus (1998) menciona a notável importância do ambiente tornando-se

simplesmente parte do “nosso jeito de fazer as coisas”, de considerar os efeitos de forças

externas, os quais se comparados com as regras corporativas, a princípio parece ilógico.

Mintzberg (2003) considera a apropriação dos fatores da funcionalidade administrativa e a

capacidade de a gestão estabelecer a percepção no ambiente tornando simétrica a relação, sem

determinar hierarquicamente a importância dessas facetas.

O contraste dos valores existentes entre os modelos de administração representa a

condição da possibilidade da destruição criativa capaz de fragilizar a abordagem dominante.

O segmento das MPEs no Brasil, por anos, ficou à margem no processo produtivo, obtendo

fragmentos de escala econômica, sem possibilidade de viabilidade, mesmo em parceria com a

grande empresa. A sociedade é representativa nesse processo sendo impulsionadora principal

de mudança. Tenório (2004) critica as teorias organizacionais afirmando que desde o advento

da automação rígida aos nossos dias, da automação flexível, têm repetido a mesma proposta:

“soldar” os homens aos sistemas produtivos, quer na produção de bens ou na de serviços.

Logo, a ingenuidade não deve conduzir a lógica das ações individuais e organizacionais de

forma mecânica e de causa e efeito (Gráfico 3).

A organização postulada como ente prospectante da sociedade tem o seu papel de

prover para o social, com refreada condução para sua essência capitalista. Para isso, o modelo

mecanístico e estrutural pautado no tangível e restringindo-se ao subsistema de produção e a

modelagem estrutural, tornam-se reducionistas. A evolução dos sistemas com maior

amplitude permite o contraditório, na essência da dialética, e se evidenciando no tratamento

da informação com a cibernética.

O entendimento da organização, nessa perspectiva, distancia-se cada vez mais da

condicionante tangível, e passa a evidenciar os fatores de intangibilidade que possibilita uma

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melhor leitura dos fenômenos das organizações. Os sistemas aberto e orgânico retratam a

visão da organização “viva”. A esse respeito, Morgan (2002) cita que a compreensão de como

o subsistema humano e cultural se transforma e interage com outros subsistemas é vital.

Schein (1984) expressa que a cultura organizacional é composta por premissas -

conceitos, princípios, regras, formas de comportamento, que passam a ser institucionalizadas

e codificadas pela organização como maneira certa de agir diante de seus problemas. Assim, a

cultura não fica restrita a aspectos subjetivos do ser, mas abrange quaisquer atividades

humanas, sejam cognitivas, afetivas, sensoriais ou motoras (CARVALHO; RONCHI, 2005).

Essa evolução dos sistemas caracteriza mudança de comportamento

organizacional que inevitavelmente celebra a compreensão da complexidade, ou seja, da

totalidade. O comportamento, nessa dinâmica, reproduz-se como um dos fatores

preponderantes na gestão das organizações. Schein (1984) apresenta pressupostos subjacentes,

divididos em 03 conjuntos colocados em ordem cronológica aos quais é acrescentado um

quarto pressuposto, caracterizado como o mais importante:

[...] Modelo racional econômico: “é a representação mental correspondente aos gerentes que consideram os empregados motivados, primeiramente, pelos incentivos econômicos manipulados pela organização” – concepção taylorista de gerenciamento; Modelo social: “desenvolvido a partir da conscientização da necessidade do trabalhador se identificar com os demais, em particular com o grupo de trabalho, através de relacionamentos” – influência das normas e pressões do grupo no processo produtivo; - Modelo de auto-realização: “necessidade dos trabalhadores exercitarem seus conhecimentos, capacidades e habilidades de forma adulta é, por isso, frustrada, emergindo-se assim a alienação e a insatisfação” – as organizações anulam o significado de qualquer trabalho realizado pelo empregado. Modelo Complexo: “as necessidades humanas se enquadram em muitas categorias e variam de acordo com o desenvolvimento do estado pessoal do indivíduo e de sua situação de vida” – desta maneira a motivação varia segundo as pessoas, a situação e o momento a que se refere. Logo, os empregados são capazes de aprender novas motivações através de novas experiências organizacionais, podendo também responder a diferentes estratégias gerenciais (SCHEIN, 1984, p. 29).

Nessa perspectiva apresenta-se o processo de evolução dos tipos de sistemas com as

devidas funcionalidades organizacionais.

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78

Figura 3 – Evolução dos tipos de sistemas e funcionamento nas organizações

O enfoque é pela flexibilidade dos atos dos gestores, com comportamentos

compatíveis com o líder e a contingência nas situações de trabalho passa a ser uma

FUNCIONALIDADE - ORGANIZAÇÕES TIPOS DE SISTEMA:

- Mecânico/Clássico

- Físico/Estrutural

- Racional; atrito e desgastes nos pontos de

contato - ligação entre as partes;

- Necessidade de “lubrificação”, sistema

fechado. Tangível

- Existência de campo de forças;

- Situação de equilíbrio estável;

- Relação causa – efeito - anatômico.

- Dialético

- Aberto

- Cibernético

- Orgânico

- Sócio-técnico

- Complexo

- Modificações por processo dialético:

• tese versus antítese = síntese;

• atual versus ideal= possível. Visão crítica.

- “Loops” de retroinformação ou retroalimentação

/ feedback;

- Processo e mecanismo de ajustamento;

- Correção de disfunções.

- Amplitude de abordagem;

- Fenômeno dual;

- Sinergia com o meio;

- Interdependência das partes;

- Homeostase e entropia.

- Alto poder de adaptabilidade;

- Sistema “vivo” – autorregulação;

- Níveis mínimo e máximo de tensão e de

estímulos.

- Componentes tecnológicos e componentes

humanos ou sociais.

- Integração;

- Causalidade múltipla;

- Contingência, descontinuidade;

- Proposição multidisciplinar;

- Enfoque sistêmico - alicerçado no

conhecimento e na totalidade.

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79

preocupação dos empreendedores para manter os funcionários motivados.

O enfoque pós-contingencial é pautado nos aspectos interno e relacional das

organizações, ou seja, possuem uma carga da referência sistêmica da administração traduzida

pelo contexto humano e cultural que se relaciona com outros subsistemas; gerencial,

estrutural, estratégia e técnico. Posteriormente, os casos de sucesso, acompanhados de uma

infinidade de modismos e de modelos de gestão, (benchmarking38

, downsizing39

, just in

time40

, reengenharia de processos41

) para explicar a competitividade das organizações,

dominam as discussões, reproduzindo essas facetas sem considerar adequadamente as

condições locais ou regionais e de fato expressando uma lógica perversa as relações de

trabalho (SANDERS, 2011; MOTTA, 2008; BERTERO; CALDAS e WOOD JUNIOR,

1999).

A preocupação com as relações de trabalho é evidenciada e o papel do gestor se

sobrepõe, exigindo-se uma característica de personalidade suficientemente flexível para

alterarem seu comportamento em relação às necessidades de tratar, de forma apropriada em

situação determinadas.

Certo (2010); Hall (2004) verificam que nessa nova ordem estabelecida na

administração há uma ampliação da abordagem, o que não se caracteriza por uma mudança

efetiva de pensamento e funcionalidade, mas sim por uma inevitável necessidade de adaptar-

se a um cenário de infinitas transformações que interferem, direta ou indiretamente, no

processo de gestão na busca do “equilíbrio” dinâmico do sistema. Wood Junior (2001)

formula que os novos formatos organizacionais surgem como respostas a mudanças

ambientais, com base nos limites e contradições do modelo burocrático weberiano. Hamel e

Prahalad (1995) afirmam que nas empresas retardatárias os problemas de transformação

organizacional são proporcionais às crises (reestruturação violenta e total), pois perderam a

liderança na tarefa de transformação do setor.

38

Técnica sistemática e contínua de medida comparativa das práticas e do desempenho de uma organização, em

relação a outra reconhecidamente excelente (DUARTE, 2009). Melhores práticas administrativas, para avaliar

produtos, serviços e métodos de trabalho. Pode ser aplicado a qualquer nível da organização, em qualquer área

funcional (SILVA, 2008). 39

Não há significado direto descrito na língua portuguesa, mas no mundo corporativo delineia a diminuição da

estrutura organizacional tornando-a horizontalizada. Simplificação estrutural e diminuição dos níveis funcionais

e hierárquicos de uma organização (DUARTE, 2009). 40

Termo usado para indicar que um processo é capaz de responder instantaneamente à demanda, sem

necessidade de qualquer estoque adicional, seja na expectativa de demanda futura, seja como resultado de

ineficiência no processo (SILVA,2008). 41

Redesenho de processos, que envolve a readequação dos processos empresariais, estruturas organizacionais,

sistemas de informação e valores da organização, objetivando uma guinada nos resultados dos negócios da

organização (MASIERO, 2009).

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80

Nesse contexto, embora se discuta a relação entre as partes, fica restrito aos

fatores envolvidos, mas não se percebe a busca da interdependência com outros

conhecimentos, continuando o seu conteúdo isolacionista, não convergindo para a construção

do saber integrado e emancipativo com outros saberes. O desabafo de Mintzberg (2007) com

relação às teorias serve de reflexão na construção do saber crítico:

[...] todas as teorias são falsas, representando apenas palavras e símbolos em

pedaços de papel, para a realidade que pretendem descrever. Estas teorias não são a

realidade, mas sim uma forma de simplificação destas. Escolhemos as teorias de

acordo com a forma como elas são úteis para explicar a realidade, e não porque elas

são verdadeiras. (MINTZBERG, 2007, p.10).

A imersão da pesquisa se constrói diante do terceiro setor, mais precisamente das

prestadoras de serviços. Nesta tese evidencia-se a dinâmica da discussão da longevidade em

detrimento da mortalidade. A constante indicação quanto aos apoios ou críticas quanto ao

fator financeiro frequente nas pesquisas sobre MPEs é aqui tratada de forma secundária sem

desmerecimento de sua real importância, mas evidenciando-se a modelagem de cada

dimensão organizacional e o ambiente e suas inter-relações; o repensar da lógica racionalista;

a indicação do ciclo de vida das empresas e a complexidade inerente ao processo de gestão

das empresas.

2.4.1 Empreendedorismo: semeando vida longa

O estudo do empreendedorismo tem sido abordado a partir de várias perspectivas

e disciplinas. A inovação e mudança como perspectivas de melhorias na produtividade e

competitividade econômica são concepções que legitimam a “era do empreendedorismo”.

Masiero (2009) menciona-os como inusitada revolução social neste novo século. Schumpeter

(1982) evidenciou de forma efusiva para o fato de o empreendedor quebrar o equilíbrio do

sistema econômico de oferta e procura com a introdução de novos produtos e serviços, novos

métodos de produção ou conquistando novos mercados. Esse fenômeno foi chamado de

“destruição criativa”.

Dornelas (2005) destaca que os empreendedores estão eliminando barreiras

comerciais e culturais, encurtando distâncias, renovando conceitos, quebrando paradigmas e

gerando empregos e riqueza para a sociedade. Drucker (1995) define empreendedor como o

indivíduo que tem atitude de unir ou administrar recursos na forma de uma empresa,

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assumindo riscos constantes com o negócio e com alto poder de alcance de resultados diante

das oportunidades.

O comportamento do empreendedor brasileiro é analisado pelo Global

Entrepreneurship Monitor (GEM) faz dez anos, de forma ininterrupta. A classificação de

empreendedores é disseminada como iniciais e estabelecidos. Os empreendedores iniciais têm

42 meses (três anos e meio), período que a literatura considera latente para a sobrevivência de

um empreendimento. E dessa amostra subdividem-se em dois tipos: nascentes, aqueles à

frente de negócios em implantação – busca de espaço, escolha de setor, estudo de mercado e

que geraram remuneração a pelo menos três meses; e novos, cujos negócios já estão em

funcionamento. Os empreendedores estabelecidos são aqueles à frente de empreendimentos

com mais de 42 meses.

Na última década, as MPEs têm melhorado sua longevidade, mesmo que de forma

acanhada. Os motivos dessa melhora estão associados à estabilidade econômica e ao

empreendedorismo. Zouain; Oliveira; Barone (2007) afirmam que a criação de um ambiente

favorável ao desenvolvimento de negócios no Brasil passa pelo estímulo ao

empreendedorismo. Ainda os autores, evidenciam que o tema é crucial na agenda presente do

desenvolvimento socioeconômico brasileiro, pois afeta diretamente o processo de inclusão

dos jovens no mercado de trabalho. O Brasil apresenta a sexta maior taxa de

empreendedorismo em estágio inicial (TEA), no ranking dos vinte e dois países com nível

comparável de desenvolvimento. De 2001 a 2008 a TEA manteve-se em torno de 13%. Para

análise desta tese foi pesquisado os empreendedores estabelecido considerando que as

empresas estão ativas a mais de cinco anos de existência.

Degen (2009) descreve que a disposição de assumir riscos por parte dos

empreendedores varia com seu preparo e conhecimento para desenvolver seu negócio e outros

interesses que inibem sua decisão de fazê-lo. A tentativa é explicar o comportamento do

dirigente da pequena empresa e os desdobramentos no processo de gestão da organização.

A ênfase atual visa estimular a formação de empresas de sucesso, que possam ter

vida longa e diminuir os riscos inerentes aos processos de abertura, gestão e inovação nas

organizações. Assim sendo, Schumpeter (1982) classifica como empreendimento a realização

de combinações novas e empresários inovadores cuja função é realizá-las, como: criação de

um novo negócio; inovação nos métodos de produção; inovação em produtos e serviços;

descoberta de novas fontes de insumos e abertura e diversificação de novos mercados. Neste

ínterim, é preciso ressaltar que, se tais combinações não forem levadas à prática, não são

economicamente relevantes para a sociedade.

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O interesse por estudos na busca de desmistificar o empresariado e as novas

empresas, com suas características e vantagens competitivas deu origem a uma vasta literatura

refletindo várias disciplinas nesse conteúdo. Souza (2005) em revisão conceitual apresentou a

diversidade de características relacionadas ao empreendedor.

Características

Autores

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TO

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Buscar Oportunidades x x x x x x x x x x x 11

Conhecimento do Mercado x x x x x 5

Conhecimento do Produto x x x x x 5

Correr Riscos x x x x x x x x x x 10

Criatividade x x x x x x x x x 9

Iniciativa x x x x x x 6

Inovação x x x x x x x x x x x x x x x x 16

Liderança x x x x x x x 7

Necessidade de Realização x x x x x 5

Proatividade x x x x x 5

Visionaridade x x x x x 5

Quadro 8 - Matriz de características do empreendedor e autores

Fonte: Souza (2005)

A matriz das características de empreendedores revela de forma pontual a

predominância da inovação como fator de diferencial do empreendedor. A busca por

oportunidades, correr riscos e criatividade predominou nas análises dos estudiosos.

Nesse contexto, o tratamento do empreendedorismo requer uma atenção quanto à

abordagem conceitual, considerando que há uma interdependência com facetas da visão

funcional focado no papel de empreendedor; os estudos de gestão e organização tem se

concentrado no processo; enquanto que as ciências sociais tendem a enfatizar os aspectos

pessoais (BARNEY; HESTERLY, 2011; DEGEN, 2009; FILION, 1999).

Uma vertente de estudos empíricos de medidas de empreendedorismo retrata a

relação da atividade econômica explicada por pequenas empresas. Também se somam estudos

que utilizam dados sobre autoemprego, número de participantes do mercado (concorrência)

ou uma empresa start-ups como um indicador de atividades empresariais (OCDE, 2009, p.

22).

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Essa vertente tem o constructo de base do empreendedorismo. Na formação do

profissional da área da administração, o ensino do empreendedorismo tem se caracterizado

como fator preponderante e inclusive está presente nas escolas de administração. Mello, Melo

Jr e Mattar (2011) em pesquisa nacional sobre o perfil do profissional da administração

constataram o empreendedorismo em suas habilidades e competências, sendo indicado por

professores e empresários como diferencial desse profissional.

É imprescindível a discussão do empreendedorismo nas universidades, e priorizar

sua discussão em qualquer curso, visto que empreendedorismos deveria:

[...] potencializar e focar: na identificação e no entendimento das habilidades do

empreendedor; na identificação e análise de oportunidades; em como ocorre a

inovação e o processo empreendedor; na importância do empreendedorismo para o

desenvolvimento econômico; em como preparar e utilizar um plano de negócios; em

como identificar fontes e obter financiamento para o novo negócio; e em como

gerenciar e fazer a empresa crescer (DORNELAS, 2005, p.52).

Gifford et al. (2009) explicam que o conhecimento está intimamente associado à

função de empreender. A característica de personalidade do empreendedor não tem uma lógica

perfeita, mas se legitima na atitude de ousar diante do profundo conhecimento da dinâmica

organizacional e de mercado. Na investigação destas questões, a abordagem adotada deve

considerar um conjunto de fatores, a partir de uma perspectiva sistêmica, a influência do

processo empreendedor e consequentemente o desenvolvimento empresarial. Filion (1999 p.

11) afirma que “Quanto mais completo for o conhecimento do empreendedor e, ainda, sua

imagem e entendimento de um setor de negócios, tanto mais realista será sua visão”.

Esses fatores podem, de forma simplificada, ser agrupados nas seguintes

categorias, considerando a literatura, nas condições:

- sociais e econômicas – representa um impacto sobre o perfil das famílias a partir

do qual potenciais empreendedores podem surgir. Em sociedades onde existe um alto grau de

fragmentação social, por exemplo, é de se esperar que uma parcela considerável da população

tenha dificuldades de acesso à educação ou rendimentos básicos que permitem poupar para

empreender.

Em contraste, nas sociedades mais interligadas (com acesso à tecnologia da

informação) existem canais mais frequentes de comunicação entre pessoas de diferentes

setores sociais. Estes melhoraram a interação, aprendizagem e o fluxo de informações

relevantes para a atividade empresarial (MASIERO, 2009); Drucker (1995) pontua que o

empreendedorismo pode ser motivado por mudanças sociais como: incongruências entre o

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real e o ideal; mudanças macroeconômicas e microeconômicas., acontecimentos externos

inesperados. Essa realidade é constatada no cenário brasileiro.

Níveis de renda também afetam o empreendedorismo. A alta renda per capita tem

um impacto positivo sobre o volume e diversidade da demanda por bens e serviços,

ampliando o escopo de oportunidades para a emergência de novas empresas baseadas no

conhecimento e diferenciação da oferta (GEM, 2010a).

Além disso, as condições macroeconômicas, tais como o comportamento da

demanda ou o grau de estabilidade econômica têm um impacto sobre o contexto no qual o

empresário possa identificar oportunidades e decidir para empreender. Gastaldi (2005);

Rossetti (2003) afirmam que a estabilidade e o crescimento econômico têm um efeito positivo

sobre as expectativas dos indivíduos que se veem na posição de criar sua empresa.

Schumpeter (1982) sentencia que a condição para o desenvolvimento econômico decorre da

existência do empreendedorismo e novas combinações produtivas. O ambiente econômico, na

visão do autor, seria modificado a partir de indicadores associados ao empreendedorismo.

- Gestão do conhecimento – essa categoria associa-se diretamente a mudança na

estrutura industrial mundial, para uma menor concentração, descentralização e incremento

tecnológico (AMARAL FILHO, 2011). O processo de mudança tecnológica e a intensificação

da concorrência global provocado pela globalização e liberalização econômica, a hipótese de

que o incentivo ao empreendedorismo significa promover competitividade de um país, hoje,

parece mais válida do que nunca. Mas, de forma imperativa, o conhecimento é um dos

componentes principais para viabilizar essa “era do empreendedorismo”, auxiliando a difícil

tarefa de manter-se competitivo e com longevidade. A função da gestão do conhecimento é

permitir para uma organização a possibilidade de alavancar seus recursos, em termos

holísticos, sendo uma estratégia para gerenciar ativos da organização, apoiando a gestão na

tomada de decisão, maximizando sua competitividade e capacidade de criatividade e inovação

(NELSON; WINTER, 2005; NICOLSKY, 2001; PORTER, 1999; WOOD JUNIOR, 2007;

ZANJANI et al. 2009).

- Cultura e sistema educacional – a cultura é o conjunto de normas e valores de

uma sociedade. Vários aspectos culturais, como o valor social atribuído ao empresário,

atitudes em relação ao risco de fracasso, e a presença exemplar de modelos empresariais são

fatores culturais que têm um impacto sobre a formação da vocação empresarial (HAMEL;

PRAHALAD, 1995).

Em sociedades que têm uma cultura favorável ao empreendedorismo, é mais

viável para pessoas que desejam ser empreendedores a ganhar reconhecimento social, de ser

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independente. Hoffman (2004) declara a família, o sistema educacional, as empresas em que

trabalhou anteriormente, e os meios de comunicação como fatores que definem contextos que

são particularmente influentes sobre a cultura e tem um impacto na formação da motivação do

empreendedor. Carvalho e Ronchi (2005) ponderam que a cultura é sempre evolutiva e auto-

organizadora, mas não pode ser considerada como atributo altamente definido. Tomando a

ideia de Morgan (2002), a dimensão cultura está na invisibilidade da organização e

metaforicamente o que conseguimos perceber é uma minúscula partilha de sua presença. Essa

assertiva transporta a discussão para o entendimento do imaginário do empreendedor como

requisito indispensável na gestão das MPEs.

- Políticas Públicas e Regulamentação – Esta categoria inclui o conjunto de regras

e políticas que têm impacto na criação de empresas (impostos, requisitos processuais

necessários para estabelecer formalmente uma nova empresa, iniciativas e programas para

desenvolver o empreendedorismo etc.). A Lei da Micro e Pequena Empresa foi um marco

histórico de apoio e regulamentação para esse segmento empresas no Brasil, pois afeta, por

exemplo, oportunidades de negócios e o acesso, questões fiscais, a aquisição de vocações e

habilidades, e entrada no mercado (LEMES, 2010). É surpreendente que o atual debate

discute a importância do empreendedorismo principalmente em relação aos países

desenvolvidos e que a questão de como promover o empreendedorismo parece ser

principalmente uma preocupação de decisão política (OCDE, 2009).

A existência de suporte adequado para empresários, para pessoas que desejam

expandir suas empresas, deve ser permeada pelos governos. O interesse no estudo das

políticas e instituições que promovem o empreendedorismo tem crescido significativamente

nos últimos anos, bem como o número de países implementando iniciativas para estimular a

criação de empresas.

- Estrutura Produtiva e dinamismo – O perfil setorial e regional, bem como o

tamanho, das empresas existentes e instituições, isto é, a estrutura produtiva, afeta o tipo de

trabalho e profissional, a experiência que os indivíduos podem obter antes de se tornarem

empreendedores pode contribuir, em diferentes graus para o desenvolvimento de

competências empresariais no mercado de trabalho e na formação de suas redes de

relacionamentos. As MPEs, por exemplo, são geralmente considerados bons "canteiros" para

os empresários porque, nas empresas, os indivíduos obtém uma compreensão mais ampla da

função empresarial que eles fazem em grandes corporações (LOGENECKER et al., 2007)).

Além disso, expõe Sanders (2011) o dinamismo dos vários setores ou mercados e a magnitude

das barreiras à entrada, influencia o perfil das oportunidades de iniciar novos

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empreendimentos e, consequentemente, a natureza das empresas criadas. Encontrar novas

combinações de fatores de produção é um processo de descoberta empresarial que se tornará o

motor que impulsiona o desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1982).

A importância da inovação tecnológica, agregando valor como processo no

contexto corporativo, funciona como eixo central do desenvolvimento desse sistema. A

inovação tecnológica na perspectiva de processos é formada por um conjunto de atividades

inscritas em determinado período, que acaba por introduzir no mercado uma ideia em forma

de produtos e serviços novos – com êxito, criatividade e pela primeira vez (MASIERO, 2009,

p. 416).

- Condições pessoais – Esta categoria refere-se ao perfil sociodemográfico do

empresário e de competências empresariais (propensão para assumir riscos, a tolerância para o

trabalho duro, gestão de capacidades, criatividade etc.). Por definição, competências

empresariais têm um impacto sobre os vários aspectos do processo empresarial e, como

indicados nos parágrafos acima, são influenciados pela família, setores educacionais e

ambientes de trabalho (HAMEL; PRAHALAD, 1995; ROBBINS, 2005). Quanto mais

reducionista as abordagens para o fenômeno empresarial, mais tenderão a se concentrar

exclusivamente sobre esse fator.

As categorias apresentadas são complementares e representam de forma latente

evidências na literatura sobre empreendedorismo. Um dos grandes desafios associado às

MPEs é a gestão profissional. A grande variação da forma como essas empresas são

administradas, na maioria das vezes de forma até mesmo hereditária caracterizando-se uma

gestão familiar, sem demérito, revela-se limitada quanto à gestão profissional.

[...] há um espectro entre extremos que apresentam, de um lado, profissionais com

poucas qualificações e, de outro, aqueles altamente qualificados. Na extremidade

menos profissional do espectro, encontram-se empreendedores e outros gestores que

confiam muito na experiência passada, nos caprichos pessoais para determinar a

direção da empresa. Na maioria das vezes, as idéias de motivação desses

empreendedores estão baseadas na maneira como foram tratados em

relacionamentos profissionais e familiares anteriores. (LONGENECKER et al.,

2007, p. 330).

A área do empreendedorismo, por seu aspecto eclético, tem diferentes níveis de

análise de estudo: individual, grupal, organizacional, regional e da sociedade em geral. A

diferenciação entre empreendedor e gestor é feita por Filion (1999, p. 12): “os gerentes

buscam atingir metas e objetivos a partir dos recursos disponíveis, dentro de uma estrutura

predefinida ou copiada. De alguma forma, os empreendedores são detectores de espaços de

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mercado e criadores de contextos”. A diferenciação sentencia o formato do gestor para a

funcionalidade corporativa, para o aparelho da gestão, conduzindo processos de trabalho e

delineando ações de execução operacionais e liderando pessoas.

O empreendedor busca uma maior amplitude de atuação, de forma mais

estratégica com ênfase para o ambiente e os aspectos que consolidem a competitividade

empresarial. Essa lógica associada às MPEs representa a atuação do proprietário desse

segmento de empresas atuarem nas duas facetas. A condução do estudo das MPEs se agiganta

quando admite a necessidade da integração do papel do empreendedor na complexa seara que

envolve o desafio de ser uma organização longeva. A visão sistêmica e a complexidade são

consideradas parte integrante da cadeia de valor do empreendedor.

2.4.2 A micro e pequena empresa e a responsabilidade social

A discussão sobre responsabilidade social tem dominado a literatura associada a

organizações nos últimos anos. A perspectiva de competitividade no mundo dos negócios tem

potencializado a área de estratégia como forma de construir mecanismos que evidenciem as

respostas para o alcance dos resultados organizacionais. Essa constatação remete aos estudos

de estratégia e questões sociais, assim como sua importância, como fator de diferencial

utilizado pelas corporações. E ainda, o crescente poder político e econômico das grandes

corporações, aos grandes escândalos corporativos e às reações conduzidas por ativistas e

outras organizações a esse poder, traduzem a inevitável aproximação da área de estratégia e a

responsabilidade social (FARIA e SAUERBRONN, 2008).

Verifica-se uma forte tendência desse viés, como cita Orchis (2002), de que as

empresas devam assumir compromisso com a qualidade ambiental, equidade social, retorno

econômico, além de incorporar conceitos e práticas da responsabilidade social empresarial

como princípio de existência. Mesmo com a afirmação da necessária atitude por parte das

corporações para com o social, Porter e Kramer (2006) propõem uma nova maneira de revelar

o relacionamento do negócio e a sociedade, não se tratando o sucesso organizacional e o bem-

estar social como um jogo de soma zero.

Banerjee (2008) traça os debates sobre o papel das empresas nessa nova

perspectiva, através do movimento da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) a partir da

discussão da corporação estando guiada pelos seus interesses econômicos e obtendo a

capacidade de operar sobre a base da virtude cívica. A primeira noção é refletida também em

teorias econômicas da empresa onde o foco está na eficiência requerida para a maximização

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das oportunidades e a segunda na noção da legitimidade da organização no mercado a partir

do seu papel diante da sociedade.

O movimento da globalização posiciona de forma imperativa uma velocidade da

informação, transformando cenários e paisagens num movimento constante, em que o grande

desafio para as novas gerações se encontra na busca de novos caminhos (KIM, 2005), para

que a sociedade consiga agregar valores éticos e sociais, no sentido de preservar o ambiente e

o bem-estar do ser humano como um todo.

Tachizawa (2002) observa a expansão da consciência coletiva com relação ao

social e a complexidade das atuais demandas ambientais que a sociedade exige, induz a um

novo posicionamento por parte das organizações em face de tais questões. Faria e Imasato

(2007) argumentam que é urgente utilizar a estratégia, como filosofia de gestão, a fim de que

seja incorporada em economias emergentes por organizações públicas, empresas de pequeno e

médio porte, organizações sem fins lucrativos, e até mesmo organizações não governamentais.

O sistema capitalista consiste numa série de instituições, inclusive os mercados

como instituições de troca, as empresas como instituições de produção e o

Estado como criador e regulador das relações entre as instituições – sendo ao

mesmo tempo uma instituição política... isso sugere que precisamos muito mais

de uma perspectiva explicitamente institucionalista, que incorpore as instituições

extra mercado e não-estatais como elementos integrais, não sendo meros

apêndices (CHANG, 2002, p.5)

Analisar a responsabilidade social pressupõe uma dialética construtiva com

enfoque sistêmico. Por representar uma diversidade de análises, em um contexto filosófico,

seria o ato de semear ações em prol do próximo, conjugando a atitude de fazer o bem ao

maior número de pessoas, fundamentando-se em princípios éticos e morais.

Faria e Sauerbronn (2008) comentam que a abordagem estratégica, a partir dos

anos 80, delineou-se pela perspectiva utilitária com foco para as vantagens que as empresas

podem tirar de oportunidades de mercado decorrentes de um comportamento socialmente

responsável. Whittington (2004) explica que os estudos passam a tentar explicar as vantagens

da aplicação da RSE, com ênfase para o desempenho social da empresa e o atendimento dos

objetivos estratégicos da organização. As afirmativas sinalizam no direcionamento da

aplicação da RSE para todas as empresas independente do porte.

Barbiere (2009) considera empresa sustentável aquela que procura incorporar os

conceitos e objetivos relacionados com o desenvolvimento sustentável em suas políticas e

práticas de modo consistente. A incorporação das dimensões de sustentabilidade econômica,

social e ambiental por parte da empresa, significa adotar estratégias de negócios e atividades

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que atendam às necessidades das empresas e dos seus stakehouders atuais, enquanto

protegem, sustentam e aumentam os recursos naturais.

O Instituto Ethos (2004), define como empresa socialmente responsável aquela

que possui capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários,

prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, meio ambiente, governo e

sociedade). Para a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ, 2005), responsabilidade social é o

relacionamento ético e transparente da organização com todas as partes interessadas, visando

ao desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais

para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades

sociais.

A responsabilidade social deixou de ser uma opção para as empresas. É uma

questão de visão, de estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência. No entanto,

responsabilidade social está geralmente relacionada à imagem de grandes corporações que

investem em projetos sociais e comunicam através do relatório e balanço social conhecido no

mercado como diferencial destas organizações.

Porter; Kramer (2006) sentenciam que os estudos empíricos realizados nos

últimos anos, na busca de compreender o processo de RSE nas empresas, revelaram as

pequenas empresas sensibilizadas com ações sociais, mesmo que de forma incipiente e

imatura, comprovando que não se limita às grandes corporações o conteúdo social,

Em pesquisa desenvolvida pelo Instituto ETHOS (2004) sobre a Responsabilidade

Social nas Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo, os resultados foram

reveladores e significativos para compreensão da atuação das pequenas empresas no processo

de RSE. Inicialmente foi constatado que 74% dessas organizações realizaram pelo menos uma

ação social nos 12 meses que precederam a pesquisa.

O estudo aponta que o exercício da responsabilidade social das pequenas e

microempresas paulistas, priorizam ações de caráter filantrópico e/ou de caridade (38%), em

períodos regulares, de baixo valor financeiro, sem acompanhamento dos resultados pelos

executores e sem divulgação. Também foram constatadas ações sociais na área da saúde

(29%).

Em menor proporção, há uma sucessão heterogênea de programas com idosos e

jovens, de prevenção e combate às drogas e ao álcool, participação em projetos culturais,

meio ambiente, educação, proteção aos animais, segurança e preservação do patrimônio

público. Em 67% dos casos, as ações foram realizadas por meio de doações em dinheiro; em

43%, doações de produtos da empresa; em 21%, doações de alimentos; em 19%, trabalho

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voluntário dos próprios empresários; 6% citaram o trabalho voluntário de funcionários; 4%

cederam espaço para atividades sociais; e 22% citaram outras formas de promoção do bem

comum.

Quanto à relação com funcionários, são 66% as pequenas e microempresas, ou

seja, elevada proporção que possuem algum sistema de sugestões de melhoria de processo

e/ou produto. Dezoito por cento têm programas de participação dos colaboradores nos lucros.

No tocante aos valores defendidos, verificou-se forte concentração nos itens relacionados aos

clientes, como "respeito" (79%) e "qualidade do atendimento" (62%).

Os resultados revelam também que, no Nordeste, as atividades sociais estão em

crescimento e sendo institucionalizada nas organizações.

[...] não faltam iniciativas locais, nacionais e empresariais na forma de diretrizes,

normas de gestão voluntárias e outros instrumentos administrativos e

operacionais que traduzem as perspectivas desse movimento. E à medida que os

resultados se revelam positivos, tanto internamente, no processo de trabalho,

quanto externamente com relação, entre vários fatores, ao da imagem

organizacional, as práticas de RSE se institucionalizam, tornando-se uma

realidade em todas as empresas e perante a sociedade (BARBIERE, 2009,

p.137).

Estudo realizado por Peliano e Beghin (2005) em sua segunda edição (a primeira

realizada em 2003), evidencia que tanto nas empresas situadas no Sudeste quanto no Nordeste

são os proprietários os principais responsáveis pelas ações sociais realizadas pelas empresas

(53% e 64% respectivamente). Os resultados apontam que a escolaridade elevada do

proprietário é um fator influenciador na participação das empresas em projetos sociais, ou

seja, o resultado do estudo indica que uma melhor formação educacional favorece uma atitude

empreendedora e sensível para a responsabilidade social.

Os empresários consideram as práticas de RSE como uma estratégia da empresa

de atuação no mercado, porém mais de 50% deles não possuem orçamentos específicos para

as ações sociais. Ainda de acordo com a pesquisa, os empresários do Nordeste são,

aparentemente, os mais satisfeitos com as ações sociais e os que percebem melhores

resultados nos seguintes itens: satisfação pessoal 72%; inserção da empresa junto à

comunidade 67% e melhor imagem da empresa 53%. Os dados revelam que a aplicação da

RSE nessas empresas estabelece uma melhor adaptação aos fatores externos e converge para

uma aderência corporativa versus sociedade.

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Para os pesquisadores, de forma geral, as pesquisas (dados coletados) confirmam

que MPEs estão de fato legitimadas no processo de RSE, através da aplicabilidade de projetos

sociais (LEONE, 1999; ORCHIS, 2002; PELIANO e BEGHIN, 2005).

Tachizawa (2002) considera que os ganhos provenientes das ações de

responsabilidade social resultam no chamado retorno social institucional, que se legitima

quando a maioria dos consumidores privilegia a atitude da empresa de investir em ações

sociais. As consequências dessa percepção é um melhor desempenho da empresa com o

reconhecimento público.

A pesquisa ETHOS (2004) considerado documento de referência na literatura e

indica os procedimentos para adoção da responsabilidade social na micro e pequena empresa.

Está estruturado em sete diretrizes que formam um conjunto de frases afirmativas e

apreciativas, a saber: “adote valores e trabalhe com transparência, valorizem empregados e

colaboradores, façam sempre mais pelo meio ambientes, envolva parceiros e fornecedores,

proteja clientes e consumidores, promova sua comunidade e comprometa-se com o bem

comum”.

Tratar e reaprender o processo de responsabilidade social empresarial requer

desmistificar o relacionamento da empresa (independente do porte) e o bem-estar social.

Pensar que a empresa desenvolve ações sociais por mero dever cívico, pode parecer no

mínimo ingênuo, por outro lado, exigir e demandar das empresas uma resposta para as

mazelas ou disfunções sociais é exagero limitado de alcance de resultados efetivos.

O Estado tem o seu papel e função nessa realidade, tendo legitimidade de atuação.

A compreensão dessa dramaturgia é valiosa e pertinente. Potencializar a participação das

pequenas empresas nesse processo contínuo e nobre pode representar maior sustentabilidade.

Não cabe limitar o papel da grande empresa nessa discussão, mas evidenciar a sensibilidade

das pequenas empresas diante da responsabilidade social.

A postura e comportamento da empresa cidadã, com base na atuação socialmente

responsável, é conduzir suas ações levando em consideração aspectos e necessidades de um

maior número de agentes, participantes do seu entorno dentre trabalhadores, fornecedores,

consumidores, investidores, governos, comunidade, em suma a sociedade.

2.5 Dimensão ontológica da complexidade

Os filósofos e pensadores dos séculos XIX e XX em seus escritos já formulavam

aspectos com características de complexidade. O tratamento dos fenômenos e métodos de

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pesquisa científica traduziam o viés da complexidade em sua essência, embora não houvesse a

intenção de tratar a complexidade como uma forma de conhecimento. Kuhn (1992) sentencia

que o paradigma da complexidade não pode ainda nascer, porque o da simplicidade ainda não

pode morrer. Essa descrição enseja uma reflexão diante da conceituação sobre complexidade.

Dessa ideia, Quel (2006) argumenta que se a realidade do homem é complexa, tal afirmação,

sendo feita pelo próprio homem, se limitará à gama de conhecimentos disponíveis e

assimilados pela humanidade.

Para Genelot (1992) o pensamento complexo não é o que evita ou suprime o

desafio, mas o que ajuda a revelá-lo e, por vezes, mesmo a ultrapassá-lo. Já Habermas (1989)

defende que toda ação é uma interação e pode ser definida como solução de um problema

coordenado entre os planos de ação de dois ou mais atores, de forma que as ações de um

possam ser esgotadas nas ações do outro. Enquanto isso, Morin (2001) considera os

problemas algo inerente ao homem e que a complexidade não está à margem do fenômeno

real. Ela é o seu princípio mesmo. O fundamento físico daquilo que nós chamamos realidade

não é simples, mas complexo.

A ontologia da complexidade insiste que a abordagem do racional negligencia as

estruturas de sistemas dinâmicos com múltiplos atores e efeitos de feedback; uma verdadeira

compreensão destes sistemas só pode ser adquirida através do estudo da complexidade que é

sua própria essência (HOFFMAN, 2004; CYGLER, 2001; HASSARD e PYN, 1990). Logo,

se legitima a partir de um conjunto da natureza dos sistemas complexos, que seriam

caracterizados pela não linearidade e pelo feedback constante (PUGH e HICKSON, 2004).

[...] eu não posso tirar, nem pretendo tirar do meu bolso um paradigma da

complexidade. Um paradigma [...] é no fundo, o produto de todo um

desenvolvimento cultural, histórico e civilizacional. O paradigma da complexidade

surgirá do conjunto de novas concepções, de novas visões, de novas descobertas e de

novas reflexões que vão conciliar-se e juntar-se (MORIN, 2003, p. 112)

Um sistema complexo é definido como aquele em que muitos agentes

independentes interagem uns com os outros em múltiplas (por vezes infinitas) maneiras. Esta

variedade de atores também permite a "auto-organização espontânea" que às vezes acontece

em um sistema. Esta auto-organização ocorre nos sistemas sem que haja um responsável ou o

planejamento da organização realizado. Em vez disso, é mais um resultado de organismos /

agentes constantemente adaptados ao outro. Gifford (2009) destaca os sistemas complexos

como também adaptativos (desde que de uma forma que os beneficiem) traduzindo um efeito

sinérgico no subsistema e no ambiente.

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O pensamento linear não se coaduna com as mudanças e os sistemas não são

controlados. Em vez disso, o comportamento do sistema coerente é gerado pela competição e

cooperação entre os atores sempre presentes. Essa consideração evidencia a relação das MPEs

e GP no sentido da cooperação, isso em razão da “delegação” por parte da grande empresa aos

serviços considerados secundários no seu subsistema para as micro e pequenas empresas com

expertise naquela prestação de serviços.

De Sordi (2008) considera os componentes de um sistema, em uma organização,

como responsáveis pela ação de realizar onde todos têm níveis de estruturação semelhante a

uma organização composta de divisões, com vários serviços que estão inseridos em um

composto de trabalhadores diferentes em perfil e em expectativas na empresa.

A suposição de que existem princípios subjacentes a todas as "propriedades

emergentes", ou traços que emergem das interações de muitos intervenientes diferentes é um

fator marcante na ideia da complexidade. Na visão de Hatch e Cunlife (2006) ela emergiu das

ciências, principalmente a física. E a teoria da complexidade delineia-se em questões com

possibilidade de acontecimentos ou não, mas possuem eventos de compreensão dessa

dinâmica como:

1 – Cada sistema é único e adaptável;

2 – Cada elemento do sistema responde a informações locais;

3 – As interações dentro do sistema complexo não são lineares, não são

explicáveis em relações simples de causa e efeito;

4 – Os sistemas complexos estão sempre em mudança e de forma imprevisível;

5 – As organizações são sistemas emergentes;

6 – A ordem pode emergir do caos – Auto-organização.

Inversamente, grandes alterações podem ter um efeito quase insignificante sobre o

sistema como um todo. Devido a isso, controlar qualquer sistema complexo pode ser utópico.

Embora possa ter ordem, ninguém absolutamente regula um sistema complexo.

[...] A inteligência parcelada, compartimentalizada, mecanicista, disjuntiva,

reducionista, destrói a complexidade do mundo em fragmentos distintos, fraciona os

problemas, separa o que está unido, unidimensionaliza o multidimensional. Trata-se

de uma inteligência ao mesmo tempo míope, hipermetrope, daltônica, caolha; ela

muito frequentemente acaba ficando cega. Ela aborta todas as possibilidades de

compreensão e de reflexão, eliminando, também, todas as possibilidades de um juízo

corretivo ou de uma visão a longo prazo. Dessa forma, quanto mais os problemas se

tornam multidimensionais, mais existe incapacidade de se pensar sua

multidimensionalidade; quanto mais progride a crise, mais progride a incapacidade

de se pensar a crise; quanto mais os problemas se tornam planetários, mais eles se

tornam esquecidos. Incapaz de visualizar o contexto e a complexidade planetária, a

inteligência cega se torna inconsciente e irresponsável (MORIN, 2003, p.71).

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A complexidade aspira ao conhecimento multidimensional, inter e

transdisciplinar. Embora haja interdependência e complementaridade, mas sob o ponto de

vista epistemológico, possuem enfoques diferentes:

[...] O termo disciplina constitui-se em um corpo específico de conhecimento

demonstrável, com antecedentes de aprendizagem com treinamento, procedimentos,

métodos e áreas de conteúdos. A multidisciplinaridade é quando a solução de um

problema torna necessário obter informações de duas ou mais ciências ou setores do

conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no processo sejam modificadas ou

enriquecidas. O termo interdisciplinaridade é utilizado para designar o nível em que

a interação entre várias disciplinas ou setores heterogêneos de uma mesma ciência

conduz a interações reais, a uma certa reciprocidade no intercâmbio levando a um

enriquecimento mútuo. A transdisciplinaridade envolve não só as interações ou

reciprocidade entre projetos especializados, mas a colocação dessas relações dentro

de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre disciplinas. (PIAGET, 1996,

p.52).

Geus (1998) tecendo comentário ao pensamento de Piaget cita a defesa do

estudioso diante da importância do conhecimento para causar a mudança, chamada de

“aprendizado pela adaptação”, onde sua essência era mudar a própria estrutura interna para

permanecer em harmonia com o ambiente modificado. Essa dinâmica permite uma

aproximação e integração das partes, com a verificação da forma das diversas disciplinas do

conhecimento humano. Tomando por base essa ideia, Morin (2001, p.136) afirma que “a

ciência nunca teria sido uma ciência se não tivesse sido transdisciplinar”.

A teoria da complexidade não é o conhecimento ou o ponto de chegada, mas a

possibilidade de uma partida. Para superar a atual crise, é preciso abdicar das antigas crenças

que referenciam a visão de mundo predominante e repensar a forma como se vê a realidade.

Em torno desse propósito comum, as organizações devem descobrir e criar novas formas de

gestão mais coerentes com a natureza viva e complexa do universo. O entendimento desses

fenômenos permite a possibilidade de imersão do repensar ao tratamento dado às

organizações e consequentemente às MPEs prestadoras de serviços.

Na visão de Morin (2001) não é a solução, mas a possibilidade de tratar os

problemas de uma maneira mais adequada para o encontro de possíveis soluções. Isto posto,

assume-se a construção de um processo sabendo, de antemão, que o solo é frágil e que toda

construção teórica já não pode ser edificada sobre certezas absolutas e leis universais.

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2.5.1 Compreensão da complexidade organizacional

Os eventos da humanidade no último século evidenciam a necessidade de novas

propostas de tratamento para os fenômenos desse paradoxo que é atualmente a vida. Com

antagonismos tão abrangentes e ao mesmo instante próximos, mas sem compreensão do

homem organizacional e da gestão corporativa para solucionar o que está fora do alcance, a

busca passa a ser inevitavelmente o conhecimento. Os problemas e variáveis que as

organizações se defrontam atualmente evidenciam o imperativo da complexidade dos

fenômenos existentes no cotidiano das organizações. Morin (2001) destaca a forma como o

conhecimento é construído. Dosi (2006) observa o conhecimento como independente da

pessoa que inicialmente o criou.

Certo (2010) considera que a sociedade moderna oferece problemas de natureza

intrinsecamente complexos, causados pela interação de fatores antes inexistentes no mundo

das organizações. O enfoque sistêmico permite o arcabouço conceitual da ideia de

complexidade dos fenômenos que atingem as organizações e que devem ser considerados na

análise organizacional (MINTZBERG, 2007; WOOD JUNIOR, 2002). Nessa linha de análise

e investigação, os estudiosos das organizações delineiam diversos pensamentos para a

compreensão de como as organizações funcionam e quais fatores influenciam na sua estrutura

organizacional e no seu bem-estar.

[...] há de se estabelecer uma ruptura do pensar administrativo linear, historiográfico,

acrítico, voltado para o pragmatismo de efeitos autoritários, substituindo-o por uma

atitude mais criativa e transformadora das relações intraorganizacionais [...] e essa

atitude não se dará se o ensino e a prática do conhecimento em administração

continuar segundo os postulados tradicionais dos compêndios de administração, quer

no plano da gestão pública, quer no da administração privada (TENÓRIO, 2008, p.

22).

Na perspectiva do pensamento complexo, não se deve considerar o objeto do

saber em sua realidade objetiva, sem interferência do sujeito que o analisa. Essa dinâmica

evidencia o distanciamento do “sujeito seguro”, baseados na certeza absoluta. MINAYO

(2003) explora essa ideia com a necessidade de ser percebidos como sujeitos interrogantes

que tentam, diante da complexidade e constante transformação que caracterizam o mundo,

encontrar pontos de apoio que auxiliem na percepção das características das novas ordens que

vêm sendo construídas, ainda que provisórias, convivendo com dúvidas e incertezas.

Genelot (1992) critica a incapacidade do homem de compreender e dominar estes

fenômenos em sua totalidade como aditivo ao conceito de complexidade. Gramigna (2007)

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destaca que o conhecimento deve ser codificado sendo um bom mecanismo para armazenar

grandes quantidades de conhecimento e para criar uma organização de memória para todos os

funcionários. A compreensão diante da complexidade das coisas revela a inequívoca

necessidade da busca do conhecimento diante do tangível e intangível. Desse modo, o

conhecimento sendo um produto social cria uma rede que ordena e traduz vários materiais –

máquinas, pessoas, prédios, codificações, conceitos, que interagem construindo novas

aprendizagens.

[...] Há casos em que a organização é vista como comunhão de conhecimentos

implícitos, ou seja, de contextos de interpretação. Somente através do processo de

socialização, e não através de um contato com as regras e procedimento, é que um

novato na empresa pode encontrar seu lugar (CHANLAT et al, 2007, p.115).

Barney e Ouchi (1986) tratam do aprendizado da economia organizacional, sob a

lente das teorias organizacionais, muitos menos quanto às aplicações específicas de conceitos

e modelos e muito mais quanto ao modelo de pensamento sobre organização e sobre o

fenômeno organizacional. Mintzberg (2003) descreve a importância da análise do equilíbrio a

partir da importância da valorização na teoria das organizações do fator interorganizacionais e

a diferenciam das abstrações da teoria neoclássica.

Nonaka (2007) expressa três elementos importantes no conceito de conhecimento:

(i) o indivíduo ou sujeito do conhecimento - inevitável interação do homem com os

fenômenos; (ii) ligação com o objeto ou realidade dos acontecimentos – capacidade da

percepção do fenômeno; e (iii) associa-se ao experimento, ou seja, o relacionamento entre

sujeito e objeto. Por conseguinte, o sujeito e o conhecimento passam a constituir um elemento

único, trata-se da inseparabilidade entre ambos. O conhecimento deriva das observações,

percepções, assimilação, questionamentos, interações e incursões com a realidade vivenciada,

com o acúmulo do aprendizado do homem (GRIFFORD, 2009; MINAYO, 2003; MORIN,

2001).

Por outro lado, Huff (2007) observa que não se pretende fornecer todo o

conhecimento sobre um fenômeno estudado, mas deve-se respeitar suas diversas dimensões,

pois, o homem é um ser sociocultural e os fenômenos sociais – entre eles os fenômenos

organizacionais – são, ao mesmo tempo, culturais, econômicos, psicológicos, políticos etc.

Nesse entendimento, Leonard-Barton (1998) destaca que a complexidade surge

como dificuldade, como incerteza e não como clareza ou como resposta. A compreensão das

redes de conhecimento implica em aprofundar o processo de aprendizagem nas organizações.

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Enquanto isso, Hatch e Cunlife (2006) observam que a Teoria da rede42

em

administração explica a estrutura das relações entre os atores: indivíduos, grupos e

organizações, uma vez que, preocupa-se com a criação do conhecimento dentro das

organizações. Este é um mundo no qual a racionalidade tem limites cognitivos, políticos e

organizacionais. Cognitivamente, a atenção é um recurso chave escasso. “Os indivíduos não

conseguem dar atenção a tudo de uma vez, nem tampouco estar em todos os lugares ao

mesmo tempo” (CAPRA, 2002, p. 97).

A gestão das organizações, nesta perspectiva, pode ser entendida como o processo

de assegurar mínima convergência e coerência em um ambiente caótico, complexo, ambíguo,

tanto em sua dimensão objetiva, quanto em sua dimensão subjetiva (WOOD JÚNIOR, 2001).

A crescente complexidade organizacional pretensamente trazida sob controle pelo

ordenamento das relações intra e interorganizacionais de acordo com o modelo de

racionalidade funcional, é incapaz de explicar as ambiguidades presentes nas organizações

(WHITTINGTON, 2006, p.76).

Nesse sentido, para os autores, os partidários das abordagens pós-modernas nas

organizações precisam se esforçar por clarificar essas relações de poder, visando expor a

fragilidade da concepção clássica de organização e, consequentemente, dos mitos da

estabilidade e previsibilidade.

Mintzberg (2007) observa que a teoria denota, assim, uma idéia de continuidade,

representando um processo contínuo de estudo de categorias, tipologias ou de possíveis

relações entre fatores.

[...] O universo das organizações vem se tornando cada vez mais complexo e que,

infelizmente, a forma de refletir sobre elas não está seguindo o mesmo curso. A

organização pode ser representada como o espaço onde os sujeitos são constituídos e

identificados. O sentido de mundo passa a ser dado pelas inter-relações entre

indivíduos e organizações, ou seja, “ser membro” de uma organização, gostando ou

não, marca nossa individualidade (MORGAN, 2002, p.112).

Nesse contexto, as organizações devem ser vistas como sistemas vivos, que

existem em um ambiente mais amplo do qual dependem da satisfação de suas várias

necessidades, que para serem efetivadas, é fator essencial à criação de mecanismos flexíveis,

42 Trata-se da concepção da arquitetura plástica, não linear, aberta, descentralizada, plural, dinâmica, horizontal e

capaz de auto-regulação. Suas características atribuem-lhe caráter fortemente interdisciplinar, ancorados em

perspectivas filiadas às várias correntes de pensamento, entre os quais destaca-se a teoria da complexidade. A

figura da rede é atualmente a imagem mais usada para designar ou qualificar sistemas, estruturas ou desenhos

organizacionais caracterizados por uma grande quantidade de elementos (pessoas, pontos de venda, entidades,

equipamentos etc.) dispersos espacialmente e que mantêm alguma ligação entre si (MARTINHO, 2003, p. 114).

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objetivando obter um poder de adaptabilidade diante das influencias macroambientais. Hatch

e Cunlife (2006, p.102) apresentam a complexidade:

[...] a partir de um conjunto de pressupostos a respeito da natureza dos sistemas

complexos, que seriam caracterizados pela não linearidade e pelo feedback cíclico.

As organizações seriam, portanto, sistemas adaptativos complexos, com três

qualidades que os gestores devem incentivar: variedade, interação e seleção. A

variedade significa encorajar uma multiplicidade de soluções e práticas na

organização e é associada com a descentralização na solução dos problemas. A

interação deve ser estimulada para estabelecer e suportar redes de conhecimento e

trabalho e a seleção implica na criação de padrões e medidas para guiar as escolhas

entre novas estratégias.

Geus (1999) apresentou o contraste dos valores existentes entre dois modelos de

administração: a “empresa aprendiz”43

capaz de sobreviver e prosperar com vida longa devido

a fatores como identidade coletiva, abertura para o ambiente externo, tolerância à entrada de

novas pessoas e ideias. Essa diretriz e sensibilidade da administração gerava um alto grau de

envolvimento e satisfação das pessoas / empregados. Na “empresa mecânica”44

tradicional, a

prioridade é a obtenção da máxima eficiência e produtividade, sendo que o funcionamento da

empresa é determinado e controlado pela alta administração, com implementação de

planejamento. A previsibilidade e certeza são creditadas considerando a não possibilidade de

mudança, gerando maior rigidez e consequentemente os fatores burocráticos.

Contudo, este modelo burocrático não tem capacidade de adaptação às mudanças

ambientais e torna-se muito vulnerável às turbulências do mercado (PORTER, 1986). Quel

(2006) pontua que as empresas, atualmente, têm de lidar com um mundo para o qual não

foram preparadas. Isto porque se apresentaram, por décadas, uma forma de condução

contrária e completamente reducionista.

A concepção da empresa como sistema vivo passou a ser uma metáfora muito útil

para entender as necessidades de mudança no âmbito organizacional. A tentativa das

organizações mecanicistas de controlar a mudança e manter o equilíbrio só tem gerado muita

resistência e fracassos porque as lideranças ignoram o fato de que as pessoas só encontram

significado naquilo que criam (HAMEL; PRAHALAD, 1995).

Para entender tais questões, é importante ressaltar as proposições de Morgan

(2002), que se preocupa em caracterizar as principais metáforas que podem ser utilizadas para

43

Uma organização que está continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro. Termo utilizado por

Peter Senge para a organização que aprende, fundamenta-se numa mudança de mentalidade para despertar uma

intuição compartilhada geral, permitindo a aprendizagem (DUARTE, 2009, p. 431). 44

Descrevem o funcionamento das organizações como o de uma máquina, para o alcance de seus objetivos e

metas. Característico de empresas burocráticas com valorização da previsibilidade (SILVA, 2008, p. 338).

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explicar os processos organizacionais, enfatizando que, na maioria das vezes, é necessário

“lançar mão” de várias delas visando melhorar a habilidade de compreensão dos diferentes

aspectos que coexistem e se complementam dentro das organizações, por mais paradoxais que

possam parecer.

Wood Junior(2002) interpreta as organizações a partir de metáforas, comparando-

as a imagens que permitem vê-las como máquinas, organismos vivos, cérebros, culturas,

sistemas políticos, prisões psíquicas, fluxos e transformações e, finalmente, como

instrumentos de dominação. Motta (2001) relata que a organização é mais complexa,

facilmente fragmentável, e depende da comunicação intensiva para sua integração.

Corroborando assim com Wood Junior(2002, p.252) quando afirma que:

[...] o paradigma da complexidade, em seu contexto mais global, corresponde a uma

nova concepção dos fenômenos organizacionais, capaz de penetrar na profunda rede

de paradoxos, ambiguidades e conflitos de todo tipo que constituem uma

organização. Mais, que o desenvolvimento de novos conceitos, este paradigma

implica nova forma de perceber e compreender as organizações. Representa,

simultaneamente, um desafio às premissas que permeiam a maioria das práticas

organizacionais.

O fator do “ambiente organizacional” está associado às relações específicas das

firmas com seu micro ambiente exigindo diferentes formas de lidar com os fatores,

considerando a complexidade das transações, mesmo não sendo um fator constante

(CASTOR, 2009; MOTTA, 2008; NICOLSKY, 2001; PORTER, 1999). Modelar esta

racionalidade é um ponto de partida fundamental para que a teoria econômica possa explicar

estas decisões e para construir modelos plausíveis para o comportamento dos agentes

econômicos (NELSON E WINTER, 2005).

Sanders (2011) destaca os desafios das MPEs quando se trata de longevidade e a

condiciona a partir da tradução da complexidade diante da diversidade construtiva. A intenção

de mudar e criar torna-se relevante e indispensável, principalmente diante das especificidades

desse porte de empresas. Mas, a diferenciação importante deste segmento de "organização" é

sua capacidade de se adaptar e reordenar o comportamento organizacional.

Vieira e Zouain (2006) afirmam que o nível de abrangência e o grau de

complexidade da mudança organizacional variam em conformidade com a natureza das

modificações pretendidas. Os sistemas adaptativos complexos estão constantemente revisando

e rearranjando seus blocos de construção à medida que ganham experiência.

Capra (2002) observa que o paradigma da complexidade rejeita alguns

pressupostos essenciais do conceito neoclássico tradicional, tais como informação perfeita,

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rendimentos decrescentes, e a existência implícita de um único agente racional agindo em

nome de uma organização para maximizar algum objetivo função. A respeito dessa premissa,

Genelot (1992) expõe a possibilidade de convivência entre a simplicidade racionalista e a

elaboração da complexidade.

A organização como um sistema sociotécnico aberto e com estoque de

conhecimento capaz de aprender e reaprender com os aspectos tangíveis e intangíveis

pressupõe a complementaridade dessas premissas. As organizações empresariais, aprimoradas

por séculos, ao buscarem longevidade, têm se apoiado no processo de aquisição,

transformação e disseminação de conhecimento (DOSI; 2006; NELSON e WINTER, 2005).

A epistemologia reducionista construída sobre a simplificação hipotética é

rejeitada no enfoque da complexidade.

[...] descrições administrativas sofrem correntemente de superficialidade, super

simplificação, carência de realismo. Já tinha se confinado perto demais ao

mecanismo da autoridade e tem falhado em trazer em sua órbita a outra, igualmente

importante, modelos de influência em comportamento organizacional. Tem sido

satisfatório falar de autoridade, centralização, barreiras de controle, função, sem

pesquisar definições operacionais definições para esses termos. Até descrições

administrativas alcançam um alto nível de sofisticação, tem uma pequena razão para

esperarmos que o rápido progresso será feito para identificação e verificação de

princípios administrativos válidos (SIMON, 1980, p. 62).

Todavia é fator de preocupação a apatia com que se retratam as MPEs no Brasil,

com ausência de profundidade para com seus fenômenos, sem compreensão da complexidade

organizacional, tornando-se limitada e com pouca perspectiva de sobrevivência. A parceria da

pequena e da grande empresa é defendida, nesta tese, mas sem que as pequenas empresas

estejam à mercê ou sendo um “apêndice” da maior. Logo, as MPEs traduzidas no paradigma

da complexidade devem ser vistas como processo dinâmico de transformação, com

perspectivas de mudanças constantes, cíclicas e imprevisíveis (CASTOR, 2009).

A lógica de compreensão associa-se ao repensar e reaprender, com a consciência

dos gestores para contribuir na transformação da empresa, com visão nas relações econômicas

e sociais, para que estas detentoras dessa nova concepção possam ter o poder de modificar

seus resultados visando a obtenção de maior longevidade (LEONE, 1999; MACHADO, 2007;

KRUGLIANSKAS, 1996).

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101

2.6 Perspectivas de longevidade

No mundo das organizações, o homem é o referencial de vida. A história das

organizações é semeada por passagens da vida social, do cotidiano em sociedade e com

diferentes marcos evidenciados na história da civilização humana que retratam as conquistas

através da sinergia recíproca entre homens e organização.

A administração moderna é o resultado histórico e integrado da contribuição

cumulativa de numerosos precursores, como os filósofos, físicos, economistas, estadistas,

engenheiros, empresários e outros que no decorrer dos anos desenvolveram teorias e ideias no

seu campo de atividade, procurando melhorar a administração.

Longevidade pressupõe vida longa. Duarte (2009) delineia longevidade

corporativa como a capacidade organizacional possuída por uma empresa que, durante

décadas e até séculos, conseguiram sobreviver, utilizando-se da sensibilidade de aprender. A

perspectiva de vida longa é retratada como a capacidade de a empresa adaptar-se ao ambiente

que as envolvia ou envolve, de manter, de forma comunitária, a conveniência e a coesão entre

seus integrantes, de possuir tolerância e aceitação às novas ideias e às mudanças, de controlar,

estrategicamente, seus recursos para aplicações em investimentos exigíveis ou nos momentos

propícios, evitando endividamentos de grandes riscos e, por final, de incentivar a formação de

lideranças internas (SANDERS, 2011; LOVELOCK et al., 2011; DUARTE, 2009;

LONGENECKER et al., 2007; MINTZBERG, 2003).

Geus (1998) destaca que a expectativa média de vida de uma empresa

multinacional é de 45 anos segundo a maioria das pesquisas sobre nascimento e mortalidade

corporativa. Drucker (2006) revela que no mundo, em média, as empresas não ultrapassam os

30 anos de vida.

Os estudos no Brasil sobre organizações, especificamente associado à

permanência ativa em suas atividades, tem revelado a alta taxa de mortalidade das MPEs

indicando ainda no nascedouro a ausência de evolução administrativa e de mercado que

possam representar perspectivas de vida longa. Conforme observa o SEBRAE (2007),

anualmente, no Brasil, 71% das micro e pequenas empresas fecham as portas antes de

completar cinco anos de vida.

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Tabela 3 - Taxas de sobrevivência e mortalidade consolidadas para o Brasil

FATOR MORTALIDADE SOBREVIVÊNCIA

MPEs com 2 anos de existência 26,9% 73,1%

MPEs com 3 anos de existência 31,3% 68,7%

MPEs com 4 anos de existência 35,9% 64,1%

Fonte: SEBRAE/NA

Nota: O dados das MPEs com 2 anos de existência são referentes a última pesquisa divulga em outubro de 2011,

seguindo a nova metodologia do SEBRAE/NA, as demais informações se referem a pesquisas divulgadas em

agosto de 2007.

A pesquisa revela uma melhoria nos resultados de sobrevivência até dois anos de

existência, passando de 50,6% em 2002 para 78% em 2005, com ganho de longevidade da

ordem de 27,4%, a mais de MPEs em atividade. Esse resultado é atribuído pela pesquisa a

dois importantes fatores: a maior qualidade empresarial e a melhoria do ambiente econômico.

Os empresários estão mais bem qualificados e com a experiência obtida, em sua maioria, em

empresas privadas. Outro fator relevante está associado ao percentual de empresários que

cresceu de 15% no triênio passado para expressivos 43% em 2005, ao terem identificado uma

oportunidade de negócios.

No que se refere a dados estaduais, o Maranhão ocupa a 17ª posição no ranking

brasileiro com taxa de 77,6% de sobrevivência das MPEs constituídas em 2005. Esse

resultado está na média nacional de 78%. Quanto aos dados de mortalidade, o estado ocupa a

11ª posição com 22,4% no mesmo período, e também está acima da taxa nacional que é de

22%.

Os dados sinalizam que mais da metade das MPEs criadas são extintas no prazo

máximo de 05 (cinco) anos, ou seja, as MPEs possuem um índice de sobrevivência muito

baixo no Brasil. Esse fenômeno merece destaque por parte do Poder Público para se

identificar e analisar as causas e atuar de forma a reverter esse cenário. Ainda segundo o

mesmo estudo, as empresas encerradas possuíam predominantemente as seguintes

características: menos de 02 (dois) sócios; menos de 04 (quatro) empregados; 63% eram do

segmento de comércio; 28% do segmento de serviços e 9% do segmento de indústria; 24%

obtiveram empréstimos em bancos; apenas 3% se beneficiaram de microcrédito.

O diagnóstico das causas de mortalidade não é suficiente para compreender os

fatores que levam à longevidade empresarial. De forma que, as perspectivas de longevidade

estão atreladas a possibilidade de aproximação e assimilação de conhecimentos dos modus

operandi daquelas organizações que sobrevivem na seara da mudança e da competitividade

que impera em nossos tempos. Mudança resulta de distúrbios no campo de força de

sustentação da estabilidade organizacional e sempre que as forças de mudança favorecerem,

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103

estas serão maiores para resistir a isso. Logo, a organização vai passar de um estado para

outro (CHURCHILL; LEWIS, 1983).

As organizações sempre estiveram presentes com padrões e modelagens

corporativas associadas à época e geralmente legitimando uma forma de poder. Vários autores

têm estendido suas críticas às teorias administrativas, considerando-as como reducionistas,

ideológicas, de abordagens exclusivas e/ou voltadas às exigências de uma realidade

organizacional complexa e ambígua. Sem dúvida, as discussões sobre longevidade das

organizações constituem parte importante desses estudos e críticas e longe estão de fornecer

respostas.

Conforme Motta (1998) qualquer organização pode ser vista como estrutura de

poder e dentro desta perspectiva o processo decisório é visto como um jogo em que uns

ganham e outros perdem e assim, uns apoiam e outros rejeitam. Para Pettigrew (apud

MOTTA, 1998), o processo de gestão das organizações é antes de tudo uma conjunção de

interesses, acomodação de conflito e lutas de poder.

Na literatura consegue-se perceber diversos fatores sendo contemplados, quer

sejam fator tangível ou intangível, econômico ou social, quer sejam formais e informais,

dentre outros. Essa constatação legitima a nova realidade das organizações, com abrangências

ilimitadas dos seus processos, delineando assim, o repensar do conhecimento diante dos

fenômenos administrativos e organizacionais, contextualizados para uma necessidade da

sociedade (KANTER, 2010; MASIERO, 2009). Independente das ênfases e variáveis

priorizadas nos estudos, os debates diante dos fenômenos organizacionais são antigos

considerando a importância das instituições para o homem e a sociedade.

As analogias, estudos e pesquisas a respeito da longevidade das empresas revelam

uma diversidade de motivos associados à gestão, tecnologia, capital de giro, mercado e fatores

que seriam inevitáveis, visto que, pouquíssimas empresas continuam bem-sucedidas por um

período contínuo mais longo do que trinta anos (GEUS, 1998; DRUCKER, 1995).

Collins e Porras (1995) descrevem a empresa longeva como aquela capaz de

estabelecer seus processos de ação corporativa e superar crises com resultados positivos de

forma efetiva, constante e de longo prazo. Joyce; Nohria e Roberson (2003) por sua vez,

abordaram a expectativa de vida prolongada das empresas como o resultado de fatores

diversos, não estando a longevidade condicionada somente ao desempenho da empresa, mas à

construção de uma gestão consistente na modelagem, no contexto comportamental e

tecnológico.

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Ainda, outra corrente como Fleck (2005) destaca exatamente a existência da

relação entre a longevidade e o alto desempenho organizacional. As análises feitas diante das

empresas consideradas longevas revelam em seus históricos passagens de dificuldades em

alguma fase de sua vida. A presença de mecanismos de respostas e a adaptação é uma marca

dessas empresas, revelando alta capacidade de recuperação, atribuída ao desempenho

extraordinário de longo prazo. Essa adaptação ao ambiente é percebida por Collins e Porras

(1995) em razão dos valores centrais da organização visionária, adjetivação utilizada pelos

autores para empresa longeva. Esses valores são delineados pela vontade e capacidade de

desenvolver-se em um processo evolutivo, capazes por tanto de permitirem a mudança em sua

funcionalidade, sem a perda de sua identidade e valores.

[...] Os As empresas excelentes e duradouras preservam seus valores centrais e

objetivos fundamentais, enquanto suas estratégias de negócio e práticas operacionais

se adaptam infinitamente a um mundo de transformação. Esta é a combinação

mágica entre “preservar” o núcleo e estimular o progresso (COLLINS, 2006, p.271).

Kanter (2010) afirma que a heterogeneidade deve ser a nova premissa

organizacional, e encontrar pontos em comum em meio à diversidade é o novo desafio da

empresa e consequentemente dos seus líderes.

A organização como fenômeno social é apresentada por Wood Junior(2002) com

a sustentação de que vencidas as dificuldades, pode-se dizer que essa visão tem uma série de

pontos positivos: (i) permite compreender as relações entre organização e meio; (ii) enfoca a

sobrevivência como objetivo central; (iii) valoriza a inovação e, finalmente, depreende uma

busca de harmonia entre estratégia, estrutura, tecnologia e as dimensões humanas.

A literatura sobre longevidade das organizações retrata que existe uma

diversidade de contextos e recursos possíveis de serem utilizados, propiciando o

fortalecimento da empresa. Dalsasso (2010) evidencia que além dos pontos considerados

convencionais, há possibilidades de diagnosticar a situação do empreendimento através da:

análise do ciclo de vida, diagnóstico dos resultados e da funcionalidade das áreas da empresa,

e a análise empresarial em uma abordagem mais ampla, considerando o fator ambiente.

Embora tenham essa possibilidade de diagnóstico, dados do SEBRAE (2008) revelam um

acentuado quadro de mortalidade das MPEs.

Os estudos e pesquisas sobre a longevidade das empresas evidenciam as

principais práticas de gestão utilizadas nessas empresas. Na análise, verifica-se a incidência

das práticas de gestão delineadas em: conhecimento de mercado, liderança, inovação,

valorização das pessoas, processo sucessório, senso de identidade e cultura arraigada. Os

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estudos realizados sobre o tema evidenciam os fatores de gestão ou funcionalidades como

forma de obtenção de maior longevidade das organizações. As questões mais indicadas estão

amparadas na gestão do sistema interno e do ambiente da empresa como:

GESTÃO E FUNCIONALIDADE REFERÊNCIAS

- Senso de pertencer e senso de identidade

Geus, 1998

Collins; Porras, 1995

Collins, 2006

Fleck, 2005

Arruda et al., 2007

- Conhecimento do negócio, domínio de técnicas

gerenciais e de mercado

Kanter, 2010

Mintzberg, 2003

Drucker, 1995;

Greiner, 1972

Adizes, 1999

- Característica do proprietário com indicação

para competências de liderança

Collins, 2006

Drucker, 1995

Hamel; Prahalad, 1995

Arruda et al., 2007

SEBRAE, 2008

- Adaptação ao ambiente e aprendizagem

Geus, 1998

Collins; Porras, 1995

Collins, 2006

Fleck, 2005

- Inovação

Figueiredo, 2003

Figueiredo, 2004

Figueiredo, 2005

Figueiredo;Vendoveloo, 2006

Arruda et al., 2007

SEBRAE, 2008

Quadro 9 - Fatores de gestão e funcionalidade da longevidade na literatura

Essas perspectivas são indissociáveis e interdependentes sendo forças

impulsionadoras dominantes das empresas longevas.

Assim sendo, a literatura apresentada constata a utilização dessas práticas de

gestão distribuídas na totalidade do ciclo de vida – nascimento, crescimento, estabilidade e

maturidade (ADIZES, 1999; DAFT, 1999; GREINER, 1998) influenciando para que a

organização obtenha a entropia negativa. Ressalta-se que essa indicação não efetiva o poder

de maior longevidade por parte das empresas.

Collins e Porras (1995) desenvolveram uma pesquisa entre 1988 e 1994 com

empresas norte-americanas – grandes, pequenas, privadas e públicas, industriais e de serviços,

que eram mais admiradas. A indicação foi feita por setecentos principais executivos

americanos. Ao selecionar as indicações chegaram a uma lista de 18 (dezoito) empresas

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“visionárias”. O objetivo não era estabelecer as empresas mais longevas e sim mais admiradas

e compreender os motivos relevantes nessas empresas.

Os estudos de longevidade se delineiam na investigação diante do impacto das

forças da variável ambiental nas organizações (DRUCKER, 2006). A literatura sobre

longevidade indica que as práticas de gestão utilizadas pelas empresas longevas são

determinantes para um melhor desempenho (GOLDSZMIDT et al., 2007). Apresenta-se a

seguir as principais tipologias sobre o tema.

TIPOLOGIA DA EMPRESA REFERÊNCIAS

Empresas Feitas para Vencer Collins, 1958

Empresa – Autoperpetuação Chandler, 1962

Empresa histórica e de crises Greiner, 1972

Empresa Visionária; Empresas feitas para durar Collins; porras, 1995

Empresa de Sucesso Brasil; Diegues; Blanc, 1995

Empresa Viva Geus, 1998

Empresa Grandiosa Collins, 2002

Empresa Vencedora Joyce; Nohria; Roberson, 2003

Empresa – Autoperpetuação Fleck, 2005

Empresa Duradoura Arruda et al., 2007

Empresas fora de série, empresa de vanguarda Kanter, 2010

Empresas feitas para servir Sanders, 2011

Quadro 10 – Estudos e Pesquisas sobre Longevidade com Tipologias da Empresa

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

Em estudo realizado em 27 (vinte e sete) empresas de sociedades anônimas com

mais de 25 (vinte e cinco) anos de existência, na busca de descobrir o que elas tinham em

comum que pudesse explicar por que haviam sobrevivido e com sucesso, Geus (1998)

evidenciou quatro principais componentes dessas empresas: (i) sensíveis ao meio ambiente,

eram harmônicas com a sociedade, capacidade de aprendizagem e de se adaptar

constantemente; (ii) coesas em torno da idéia de “comunidade”, dotadas de um forte senso de

identidade e vinculação próxima dos funcionários com a empresa (iii) tolerantes com as

atividades que se desenrolavam à margem – experimentos, atividades paralelas, ou seja,

aceitação ao novo, capaz de relacionamentos construtivos com outras entidades e em si

mesma; (iiii) conservadora nas finanças – controle financeiro e valorização da utilidade do

dinheiro, da reserva em caixa, da capacidade de controlar seu próprio crescimento e evolução.

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Mesmo após estabelecer esses fatores e pela própria complexidade diante do tema,

Geus (1998) admite que a identificação desses componentes “retrata que estou convencido

que as características encontradas da empresa longeva não são respostas. Elas representam o

início de uma investigação fundamental sobre a natureza e o sucesso de organizações e seu

papel na comunidade humana”. Essa afirmativa ratifica a busca de respostas sobre a

longevidade das MPEs prestadoras de serviços.

Najberg; Puga e Oliveira (2000) realizaram pesquisa com os dados do Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE) objetivando analisar a relação entre a criação e fechamento

das firmas com registro formal existentes no Brasil entre os anos de 1995 a 1997 e

correlacionando porte da firma, com tempo de existência da empresa e a longevidade. Os

resultados apontaram o índice de natalidade das firmas maior do que o índice de mortalidade.

Essa constatação prossegue verdadeira até os dias de hoje, inclusive com indicadores do

Brasil como destaque em abertura de firmas anualmente, revelando-se como país

empreendedor em novos negócios.

Hatch e Cunliffe (2006) descrevem a empresa como uma “caixa preta” operada

para encontrar-se com as condições marginais relevantes com respeito às entradas e às saídas,

desse modo maximizando lucros, ou mais exatamente, o valor atual. Sanders (2011) afirma

que a maior parte das empresas atuais é criada não para servir, e sim para vender. Suas metas

são de curto prazo e resultam em decisões mal pensadas, que exploram e destroem, em vez de

proteger e incentivar.

[...] empresas excelentes e duradouras não existem meramente para gerar retorno

para seus proprietários. Na verdade, em uma empresa que realmente prime pela

excelência, os lucros e o fluxo de caixa se tornam como sangue e a água para um

copo saudável: são absolutamente indispensáveis à vida, mas não são verdadeiras

razão da vida (COLLINS, 2006, p. 269).

Collins e Porras (1995) destacam que empresas visionárias são instituições

líderes, muito admiradas pelas outras empresas e com um longo registro de impacto

significativo sobre o mundo à sua volta. A validade de uma forma única de atuação e de

comportamento organizacional é criticada por Motta (2001) ao esclarecer que os fenômenos

organizacionais e administrativos têm variedades e interdisciplinaridades, impossíveis de

serem enquadrados em um único modelo.

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2.6.1 Ciclo de vida das organizações: constructos das pesquisas

Os estudos sobre longevidade de empresas estão geralmente acompanhados da

discussão a respeito do ciclo de vida das organizações (CVO). A construção diante do objeto

da pesquisa, vida ou morte organizacional, busca a compreensão dos fenômenos atrelados à

evolução corporativa e os efeitos positivos ou negativos, em diferentes períodos de evolução

de vida dessas organizações. Não há uma sequência evolutiva na vida das organizações de

forma linear e previsível, considerando a necessidade de a empresa se adaptar e estabelecer

respostas ao ambiente, tornando seu processo de gestão mutável ás interfaces e problemas

inerentes àquela época (DRUCKER, 2006; MINTZBERG, 2003; PORTER, 1986).

A exploração científica na busca de justificativas para esses fenômeno é pertinente

e necessária. Mas, primeiramente, deve-se buscar a reflexão do conceito de organizações

conduzidas para a vida. A inquietação diante desse fenômeno traduz umas das justificativas

para a realização desta tese. Uma delas questiona: como as organizações podem obter maior

longevidade? Outra, que fator prepondera para o fenômeno da longevidade? As dimensões

organizacionais interferem na longevidade das empresas? E finalmente, como evidenciar

conceitos inovadores de vida para as empresas?

A gestão das empresas, geralmente, se desenvolve no imediatismo, conduzidas

com a visão restrita para lucratividade, em condições e formas de atuação retratam um

distanciamento efetivo das reais necessidades da essência da vida (GEUS, 1998). Essa lógica

traduz a necessidade do repensar na condução da vida das empresas agregando valor não

somente aos interesses de seus empreendedores, mas com compartilhamento de gestão, das

pessoas e da sociedade.

Predominantemente, os modelos de ciclo de vida são sustentados por dois

pressupostos significativos, primeiro que as empresas crescem linearmente e, segundo, que

esse crescimento pode ser classificado em estágios discretos. A implicação é que as empresas

seguem o padrão de crescimento e enfrentam problemas de gestão, que seria a única medida

para crescerem e se tornarem mais complexas (GREINER; BHAMBRI, 1989).

Os modelos de múltiplos estágios têm em comum a suposição de que existem

padrões previsíveis no crescimento das organizações e que estes vão se desenrolando ao longo

do tempo, podem ser considerados como estágios discretos, já que cada etapa tem um

conjunto de características definidoras críticas (QUINN; CAMERON, 1983) e alguns

modelos argumentam que certas condições devem ser satisfeitas para que a organização faça

transição para uma fase seguinte.

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Os modelos de ciclo de vida se tornaram mais sofisticados, com o passar dos anos.

Suas formas iniciais foram amplamente conceitual e descritiva, em que fases de vida foram

concebidas em termos de uma estreita faixa de variáveis organizacionais (principalmente

tamanho, idade e taxa de crescimento). Posteriormente, interações têm refinado estes

modelos mais antigos (adicionando etapas), contextualizada particularmente em setores de

crescimento com alta tecnologia e mapeados para configurações únicas de problemas de

gestão, que argumentam pertencer à fase particular. A princípio, os ciclos de vida estão

geralmente delineados em cinco estágios, podendo chegar a dez, o que revela a ausência de

consenso quanto às etapas e quantidade dos estágios de vida das organizações. Os modelos,

também diferem nas descrições, abrangência e especificidades de CVOs (CHURCHILL e

LEWIS, 1983; GREINER e BHAMBRI, 1989; ADIZES, 1999; COLLINS e PORRAS, 1995;

ARRUDA et al 2007; COLLINS, 2002; GEUS, 1999).

Os estudos de CVO tiveram como uma das primeiras análises o modelo de

Crescimento de Greiner (1972) que descreve as fases de evolução das organizações e como

crescem. Cada fase de crescimento é composta de um período de crescimento relativamente

estável, seguido de uma "crise", quando uma séria mudança organizacional é necessária se a

empresa continuar crescendo.

Greiner originalmente propôs este modelo em 1972, com cinco fases de

crescimento, delineadas por: criatividade, centralização, delegação, coordenação e equipe.

Posteriormente, acrescentou uma sexta fase em um estudo realizado na Harvard Business

Review, em maio de 1998. As seis fases de crescimento são descritos abaixo:

- Fase 1: Crescimento através da Criatividade

Os empreendedores que fundaram a empresa estão ocupados, criando produtos e

abertura dos mercados. Não há muitos funcionários, por isso a comunicação que predomina é

informal com bom funcionamento. No entanto, com o crescimento da organização, com o

aumento da carteira de clientes e com expansão da empresa no mercado, há necessidade da

comunicação mais formalizada. As recompensas são econômicas e sociais para os

funcionários. Esta fase termina com uma crise de liderança, onde a gestão profissional é

necessária. Os fundadores podem mudar seu estilo e assumir esse papel, mas na maioria das

vezes há a contratação de profissionais para a empresa.

- Fase 2: Crescimento através da Direção - Centralização

O crescimento continua em um ambiente de comunicação mais formal,

preocupação com o orçamento e valorização da atividade de marketing, além de esquemas de

diversificação de incentivo, chamados de salários indiretos. A empresa é demandada pelo

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110

mercado, processos e serviços tornam-se numerosos, a funcionalidade organizacional passa

por um processo de codificação. Embora haja necessidade de uma maior descentralização nos

processos e maior participação dos empregados operacionais nas decisões, prevalece a

centralização nas decisões. No caso de prioridade para controle das ações internas dos

empregados, esta fase termina com uma crise de autonomia. Crise por novas estruturas e

processos da empresa, alicerçados na gestão participativa, com base na delegação.

- Fase 3: Crescimento através da Delegação

Com gerentes de nível médio liberado para reagir rapidamente às oportunidades

de novos produtos ou em novos mercados, a organização continua a crescer, com a alta

administração apenas de monitoramento e lidando com as decisões estratégicas, ou seja, as

grandes questões. Muitas empresas nesta fase redimensionam os papéis dos líderes. Esta fase

termina com uma crise de Controle.

- Fase 4: Crescimento através da Coordenação e Monitoramento

Implica em contínuo crescimento com as unidades de negócio previamente

planejadas e organizadas, com diversificação de serviços e produtos, prioridade para

investimentos e não apenas aos lucros. No caso de incentivos, estes são compartilhados e

alinhados aos objetivos corporativos, através de toda a empresa, com ganho por

produtividade. Eventualmente, porém, o trabalho torna-se submerso em quantidades

crescentes de burocracia, e o crescimento pode ficar sufocado. Esta fase termina com uma

crise Red-Tape45

, significando que uma nova cultura e estrutura devem ser introduzidas.

- Fase 5: Crescimento através da colaboração - equipe

Os controles formais de fases 2-4 são substituídos por bom senso profissional,

valorização das equipes de trabalho, abordagem comportamental valorizada, maior

flexibilidade em equipes com ênfase para projetos apoiados por sistemas de informação

sofisticados e recompensas financeiras potencializadas em todos os níveis da empresa. Esta

fase termina com uma crise de crescimento interno: crescimento adicional só pode vir através

do desenvolvimento de parcerias com organizações complementares.

- Fase 6: Crescimento através da Extra-Organizacional

Esta fase sugere que o crescimento pode continuar através de redes de empresas,

e, geralmente no caso da grande empresa, fusões, outsourcing e outras soluções que envolvam

várias empresas. As taxas de crescimento variam conforme cada fase, sendo que a duração de

cada uma delas dependerá quase que totalmente sobre a taxa de crescimento do mercado em

45

Burocrático.

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111

que a organização opera. Assim, quanto mais tempo uma fase dura, mais difícil será

programar uma transição.

Greiner (1972) partindo dessa pesquisa considera que a evolução para o

crescimento de uma organização depende de seu processo histórico. Consequentemente o

conhecimento histórico da organização por parte de seu administrador pressupõe maiores

condições de análise ambiental, identificação das fases do ciclo de vida, diagnóstico de

problemas e traçar soluções e oportunidades para a empresa. A experiência e o conhecimento

do ramo de atividade são variáveis imprescindíveis para um fator de sucesso, afirma o

pesquisador.

Miller e Friesen (1984) agregaram valor aos estudos de CVO com composição por

elementos fortemente interdependentes e que se reforçam mutuamente, tais que a importância

de cada elemento pode ser compreendida, fazendo referência para toda a configuração. As

categorias foram analisadas com as empresas que tinham mais de vinte anos de longevidade.

Os estágios do ciclo de vida das organizações foram descritos por Miller e Friesen (1984)

como: nascimento, crescimento, maturidade, renovação e declínio. De forma geral, a maioria

dos estudos é descrito em estágios que apresentam um contexto de início, crescimento,

estabilidade e declínio. O modelo de ciclo de vida das organizações baseados nesses estágios

implica, de forma sucinta, em alguns fatores qualificados em fases:

- Primeira fase: Nascimento / Existência

Conhecido como o estágio empresarial (Quinn e Cameron, 1983) ou nascimento

(Lippitt e Schmidt, 1967; Miller e Friesen, 1984), Existência (Churchill e Lewis, 1983) marca

o início do desenvolvimento organizacional. O foco é sobre a viabilidade, ou simplesmente

identificar um suficiente número de clientes para justificar a existência da organização. A

tomada de decisão é centralizada no proprietário ou no gestor no nível estratégico e a estrutura

organizacional é muito simples. Organizações neste estágio tendem a promulgar ou criar

seus próprios ambientes. A literatura sobre CVO apresenta esse estágio como sendo

predominante nas MPEs. Portanto, é nessa fase inicial que a empresa se testa diante da sua

viabilidade no mercado.

- Segunda Fase: Crescimento / Sobrevivência

Esse estágio tem como principal característica o crescimento e na maioria das

vezes rapidamente, logo, representa a busca por crescimento (ADIZES, 1979). A mudança

para o estágio de sobrevivência por parte da empresa a condiciona na busca de crescer

(Adizes, 1979), desenvolver alguma formalização de estrutura e processos é pertinente (Quinn

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112

e Cameron, 1983), e estabelecer suas próprias competências distintivas (Miller e Friesen,

1984) devem permear a ação do gestor.

Os objetivos são formulados rotineiramente nesta fase, cujo objetivo principal é a

geração de receita suficiente para continuar as operações e financiar o crescimento de modo a

manter a competitividade (CHURCHILL; LEWIS, 1983). O estágio de sobrevivência fornece

várias alternativas possíveis: algumas organizações crescem e prosperam grande, o suficiente

para entrar na próxima fase, com sucesso ou perdas "ganham retornos marginais em alguns

ciclos fiscais”, mas no caso das pequenas empresas e outras, não há como gerar receitas

suficientes para sobreviver. A maioria das organizações, nesta fase, é estruturada de maneira

funcional e a tomada de decisão é mais descentralizada do que a fase de existência. No

entanto, sabe-se que a partir da pesquisa de Churchill e Lewis (1983) em que relataram a

tendência de estagnação de algumas empresas neste estágio. Todavia, Hamel e Prahalad,

(1995) demonstram preocupação com a dimensão comportamento:

[...] Sobrevivência em ambientes competitivos dinâmicos, seja por crescimento,

permanecendo estático traz consigo uma série de desafios de gestão. Como as

empresas encontram problemas, os gestores devem desenvolver competências na

supervisão de subordinados e delegação de autoridade e responsabilidade, em suma

eles devem ter a capacidade de mudar a natureza do seu papel (HAMEL e

PRAHALAD, 1995, p.82).

- Terceira Fase: Sucesso

Comumente chamado de maturidade (Adizes, 1999), o estágio representa uma

evolução nos processos administrativos, criando mecanismos de formalização com controle

através de burocracia (Quinn e Cameron, 1983). Um problema comum nesta etapa é

encontrar o “equilíbrio” entre o formal e o informal, ou seja, as empresas tendem a

burocratizar em excesso, distanciando-se das relações informais. O modelo burocrático

weberiano predomina na funcionalidade da empresa (MILLER; FRIESEN, 1984). Descrições

de cargos, políticas e procedimentos, e as relações de subordinação hierárquica se tornaram

muito mais formal.

A estrutura organizacional é variada, com adaptações constantes, organizadas por

produtos e serviços e por área geográfica objetivando atender à demanda do mercado e

expansão dos negócios. No caso específico das MPEs, a descrição pode não ser variavelmente

dessa forma, considerando a característica de número reduzido de funcionários, mas

evidencia-se que as funções administrativas da empresa são desenvolvidas, mesmo que seja

pelo próprio empreendedor.

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113

- Estágio Quatro: Renovação

A organização exibe um desejo de voltar a um tempo de renovação (Miller e

Friesen,1984) onde a colaboração e o trabalho em equipe promovem a inovação e

criatividade. Esta criatividade às vezes é facilitada através do uso de uma estrutura matricial,

e a tomada de decisão é muito descentralizada. As necessidades dos clientes são colocadas

acima dos membros da organização.

- Estágio Cinco: Declínio

Embora as empresas possam sair do ciclo de vida em qualquer fase, a fase de

declínio pode desencadear o desaparecimento. O estágio é caracterizado por declínio, política

e poder (Mintzberg, 1984), uma vez que os membros da organização tornam-se mais

preocupados com os objetivos pessoais do que com os objetivos organizacionais. Para

algumas organizações, a incapacidade de atender às demandas externas que não foram

contempladas na etapa anterior concorrem por ocasionar um período de declínio efetivado

pela falta de lucro e perdas de fatia de mercado (MILLER e FRIESEN, 1984).

Esse fenômeno inicia-se com a perda de contratos e distanciamento das

necessidades do cliente, gerando a entropia46

. Nesse momento, há sinais de aumento dos

conflitos por poder, ou seja, as relações interpessoais e políticas se potencializam na busca por

apoio / domínio. Os objetivos individuais passam a se sobrepor aos coletivos, com maior

controle sobre as pessoas, exibindo-se evidências de autoritarismo no processo de gestão da

empresa (MINTZBERG, 1984; GREINER e BHAMBRI, 1989; JUNQUEIRA et al. 2008).

De forma geral, foram percebidas mudanças significativas na evolução de vida da

empresa, ou seja, no ciclo de vida dessas empresas: (i) alteração nas estruturas e processos das

empresas, assim como, controle das atividades operacionais; (ii) centralização nos níveis

intermediários e estratégicos; (iii) incremento de tecnologia da informação e exigência de

competência para as decisões; (iiii) busca pela inovação, característica do gestor em correr

riscos e atitude empreendedora. Esses indicadores foram percebidos nas fases de nascimento,

crescimento e renascimento, e baixo nível na fase de declínio. Os estudos que seguem essa

vertente afirmam que cada estágio manifesta certa complementaridade entre as variáveis

ambiente - situação, estratégia, estrutura e método de tomada de decisão, sinalizando a

interface entre as quatro fases iniciais e a distorção com a fase de declínio.

46

Desarticulação do sistema com tendência para a morte.

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114

O crescimento organizacional e a complexidade das atividades organizacionais no

contexto macroambiental47

e do ambiente competitivo48

no meio empresarial, representam

influências para que cada estágio demonstre certas diferenças significativas dos outros

estágios e em relação a essas quatro variáveis. A empresa com o tempo de vida altera-se em

estrutura e processos, descrevendo marcos de mudanças que apontam os estágios de seu ciclo

de vida.

[...] existem três categorias de variáveis que têm influência sobre a mudança organizacional: (1) Variáveis ambientais - dinamismo, hostilidade, heterogeneidade; (2) Variáveis estruturais ou de organização - digitalização, controle e eficácia da comunicação do sistema, a centralização da autoridade para a tomada de estratégia, a delegação de autoridade de rotina, tecnocratização, disponibilidade de recursos, a diferenciação, a posse da gestão de topo e a prevalência das tradições; - (3) Estratégia de fazer variáveis; risco proatividade, tendo, produto de mercado, inovação, análise ambiental, integração, futuro, a consciência de estratégias, capacidade de adaptação e conhecimento do setor (MILLER e FRIESEN, 1984, p.74).

A abordagem de CVO oferece uma maneira sistemática para o entendimento dos

padrões de transformação das diferentes dimensões organizacionais, tais como ambiente,

estratégia e estrutura (MILLER e FRIESEN, 1984). Essa afirmativa convalida a análise das

dimensões organizacionais, objeto de imersão científica desta pesquisa, em interdependência

com a literatura da longevidade e CVO. O modelo de ciclo de vida utilizado nesta tese é a de

Miller e Friesen. Ressalta-se que os demais modelos agregaram valor ao trabalho de forma

complementar.

É retratado que as fases de maturidade, renovação e declínio são caracterizadas

pelas grandes empresas considerando as especificidades e atribuições corporativas nesses

estágios, o que não se coaduna no contexto das MPEs. Assim, nessa perspectiva, as MPEs

estão fadadas a alcançar a evolução no ciclo de vida até o segundo estágio –

crescimento/sobrevivência. Esta afirmativa conduz a um determinismo sem precedentes, pois

a inovação, o trabalho em equipe, descentralização, prospecção de mercado, incremento

tecnológico e de informação, gestão compartilhada, dentre outros paradigmas, é possível ser

aplicado as MPEs, uma vez que, nos dias atuais, ser pequeno pode ser uma questão de escolha

estratégica. As organizações tendem a demonstrar grande lentidão na adaptação aos seus ambientes, embora

em um cenário macroeconômico desfavorável a empresa de menor porte tenha uma melhor assimilação dos

47

Conjunto de variáveis exógenas que influenciam a organização sem possibilidade de alteração ou influência

por parte da organização, apenas adaptabilidade. 48

Conjunto de variáveis do ambiente geral intrínseca e imediata ao funcionamento das organizações, isto é, a

parte que se processam as operações. Esse ambiente influencia diretamente a organização, com possibilidade de

influência da empresa.

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115

problemas com adaptabilidade convergente ao equilíbrio. Isso pode ocorrer devido a pouca homeostasia49

às

disfunções internas das atividades da empresa e as interfaces ambientais (MILLER e FRIESEN, 1984). A

programação das atividades com redundância, a incapacidade de inovar e de avaliar com precisão seu

desempenho são indicadores de ineficiência para mudança corporativa (GREINER e BHAMBRI, 1989;

ADIZES, 1999; PORTER, 1986; MINTZBERG, 2003). Os executivos com modelos de gestão conservadores e

paroquiais que não retratam a realidade externa também representam a fragilidade para mudança por parte da

organização.

Miller e Friesen (1984) sugerem que as empresas possuem caráter situacional,

estratégico, estrutural com variáveis de processos de decisão. Não têm uma perspectiva

determinista de problemas organizacionais e questões fundamentadas em uma sequência de

estágios através dos quais as organizações infalivelmente passaram. Em vez disso, o enfoque

está em identificar um conjunto de problemas fundamentais que as organizações enfrentam e

que são discutidos, mas sem mudanças substanciais. Abaixo, tabela dos estudos sobre ciclo de

vida. Contudo, esses estudos são considerados os principais sobre a matéria.

Tabela 4 – Estudos sobre Ciclo de Vida.

Continua

ESTUDO ESTÁGIO

DENOMINAÇÕES

DE ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS DE ESTÁGIO

Lippitt e

Schmidt,

1967

3 - Nascimento,

juventude, maturidade

- Nascimento (para criar uma nova organização e se

tornar viável), jovens (para ganhar estabilidade e

reputação, e desenvolver orgulho), maturidade (para

conseguir exclusividade e contribuir para a sociedade).

Com efeito, os 3 estágios são caracterizados por seis

crises

Greiner,

1972 5

- Criatividade, direção,

delegação, coordenação,

colaboração

- Cada etapa é seguida por uma "revolução" ou fase de

transição resultante de um grande problema

organizacional (isso implica que um grande problema

organizacional precede a transição de uma fase para

outra).

Adizes,

1979 10

- Infância, namoro,

adolescência,

primordial, aristocracia,

estável, a burocracia

precoce, burocracia e

morte.

- Em cada passagem do ciclo de vida um padrão típico

de comportamento emerge, como o risco e custo, visão

e planejamento.

Churchill e

Lewis,

1983

5

- Existência,

obrevivência, sucesso,

decolagem e maturidade

de recursos.

- Estágios diferenciados de importância e mudança de

características estruturais e funcionais (por exemplo,

financeira, recursos humanos, sistemas de negócios,

objetivos pessoais do proprietário, habilidades

gerenciais e delegação), ou seja, fazendo gestão de

decisões, complexidade da estrutura organizacional,

sistemas operacionais e planejamento estratégico;

envolvimento do proprietário.

49

Capacidade de aceitação de determinada variável nos parâmetros desejáveis ou aceitáveis. A homeostasia,

evidencia o equilíbrio dinâmico do sistema.

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116

Tabela 4 – Estudos sobre Ciclo de Vida.

Conclusão

ESTUDO ESTÁGIO

DENOMINAÇÕES DE

ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS DE ESTÁGIO

Quinn e

Cameron,

1983

4

- Elaboração do

empreendedor,

coletividade,

formalização e controle

de estrutura.

- Elaboração 1) Formalização de triagem, recursos;

2) Comunicação informal e estrutura; 3) de regras;

4) da estrutura

Mintzberg,

1984 4

-Formação,

desenvolvimento,

maturidade e declínio;

- Relações políticas e de poder ficam mais

acentuadas e os membros mais preocupados com as

metas pessoais.

Miller e

Friesen, 1984 5

- Nascimento,

crescimento, maturidade,

declínio e revivamento.

Afirmam que não existe

uma sequência que seja

irreversível, única e

definitiva.

- Nascimento (se tornando uma entidade viável -

jovem, dominada pelos donos e têm estruturas

simples e informal), o crescimento (distinção

estabelecida) rápido das vendas, acumulando

recursos, a estrutura funcional baseada, autoridade

delegada, maturidade - tornando-se mais

burocrático e estável, o objetivo é eficiente

funcionamento, reavivamento (diversificação e

expansão, mercados complexos e heterogêneos), a

estagnação e declínio (invadindo).

Mitra e

Pingali, 1999 6

- Sobrevivência

existência, sucesso,

sucesso do crescimento,

a decolagem, e a

maturidade de recursos.

- Os proprietários podem exercer a preferência e

implementar estratégias e assim escolher caminhos

alternativos de crescimento.

Shim et al.

2000 5

- Sobrevivência,

existência, decolagem,

sucesso, maturidade.

- Encontra provas para 5 quadros/estágio da análise

de clusters.

Adota Churchill e Lewis

(1983).

- Gerenciar fatores externos / ambientais que foram

o fator mais importante em todos os estágios.

Quinn et al

2005 4

- Nenhum crescimento,

baixo crescimento,

crescimento moderado,

alto crescimento

- Número e características dos estágios

empiricamente derivados da auto-organizada e

mapeamento técnicos.

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

Mitra e Pingalli (1999) desenvolveram pesquisa na Índia com empresas

fornecedoras de uma unidade industrial. Ao final, apresentaram oito fatores que podem

distinguir os estágios de crescimento das pequenas empresas que são identificadas pela

análise de clusters: - orientação gerencial, metas de gestão, estratégia dos negócios

atualizados, política de recursos humanos, orientação para o cliente, base de clientes, estilo de

gestão atual, a capacidade gerencial.

Os pesquisadores concluíram sobre a sequência de estágios que enquanto algumas

das amostras não apresentaram, a longo prazo, padrões evolutivos que foram mais ou menos

na linha das suposições da literatura do ciclo de vida, houve muitas exceções, e é coerente

com outros estudos, ao indicar que há uma grande variedade de caminhos de transição aberta

às organizações. E ainda, reconhecem a possibilidade de a filosofia de gestão e a capacidade

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117

da organização delinearem com precisão os caminhos futuros da empresa como fatores

imperativos para a longevidade.

Shim et al (2000) realizaram pesquisa com 416 hispano-empresas de propriedade

de varejo e serviço nos EUA. O estudo evidenciou que com o crescimento da empresa, os

gestores desenvolvem competências na supervisão de subordinados e de delegação de

autoridade e responsabilidade. A capacidade de o administrador mudar a natureza de seu

papel tende a ser maior de acordo com o crescimento do negócio. Gramigna (2007) observa

que a administração de recursos humanos é demandada com a progressão da empresa. Na

análise da pesquisa, dois fatores de gestão tiveram maior razão f na identificação de clusters:

(i) estilo gerencial na tomada de decisão e (ii) desenvolvimento do sistema operacional formal

do negócios. Este resultado, assim como em outros estudos, apontam o processo decisório e a

codificação formal na empresa como fatores incontestáveis para uma gestão consistente nas

organizações.

Os modelos de parte do poder caracterizado nos estágios estão em prever e

antecipar os problemas potenciais, bem como as necessidades gerenciais de empresas em

crescimento (Shim et al 2000). Sanders (2011); Kanter (2010) enfatizam proposição geral, de

como as empresas crescem, como se tornam cada vez mais complexas e crescentes em

demandas sobre os proprietários e gerentes, para desenvolver suas competências em cada uma

das áreas identificadas por significância (diferentes estudos sugerem diferentes conjuntos de

fatores significativos).

O estudo em questão verificou que a gestão externa / fatores ambientais não foi

afetada pela fase de crescimento, que foi encontrado para ser o fator mais importante em

todos os estágios. A relação entre a longevidade de uma empresa e seu estágio de crescimento

do negócio foi pouco encontrado, o que prejudica a validade do constructo como base para a

definição de estágios de crescimento do negócio, confirmado posteriormente por Quinn

(2005), que os estágios não parecem estar correlacionados com a idade cronológica da

organização. A pesquisa, no entanto, não explorou a variável amadurecimento e melhoria na

prática da prestação de serviços.

Quinn et al. (2005) realizaram pesquisa nos EUA em 2.903 empresas familiares,

com menos de 500 funcionários e nos setores da indústria (agricultura - biotecnologia - venda

por atacado). Os estágios foram em número de cinco: Nenhum crescimento, quando foram

identificados níveis mais elevados de problemas de recrutamento. No segundo estágio

chamado de baixo crescimento, constataram baixos níveis de problemas de formação e

recrutamento. O estágio de crescimento moderado apresentou problemas com questões de

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retenção, ou seja, menor produtividade, alto crescimento, problemas de desenvolvimento

elevado e níveis mais baixos de problemas de retenção. A suposição de que há uma correlação

entre o problema e o estágio parece limitado.

É possível supor, no entanto, que as organizações existem no tempo e que em

diferentes períodos certos problemas vão predominar. Mas, isso não caracteriza que estes

problemas não se repitam no futuro ou, de fato, que os acontecimentos sejam previsíveis.

2.6.2 Homeostasia e delineamentos do CVO

Os modelos de ciclo de vida organizacional assumem que as organizações passam

por fases previsíveis. Existe uma infinidade de ciclo de vida, estágios e modelos evolutivos,

muitos dos quais descritos nesta tese. Pode-se inferir que há pouca coerência, quer no número

de elementos que definem estes modelos, quer nos componentes constitutivo destes

elementos, que sofrem por ser linear, unidirecional, sequenciado e determinista. No entanto, é

importante notar a partir desta análise, que não se conseguiu mostrar evidência moderada de

padronização de relações entre os vários tipos de problemas e fase do ciclo de vida.

Nesta tese, a dimensão tecnologia/inovação, que representa a capacidade de

aprendizado (capacidade de absorção), destaca-se com a categorização, pois oferece uma

estrutura de organização útil para a discussão dos tipos de problemas que os gestores possam

enfrentar em termos de decisões críticas para o desenvolvimento de suas organizações. Esta

tipologia baseada em questão proporciona um avanço nas conceitualizações que identifica

problemas específicos para estágios específicos, uma vez que permite a heterogeneidade

observada de crescimento da empresa e caminhos de desenvolvimento: não há uma sequência

padrão linear de estágios ou problemas, mas há um conjunto básico de questões chave que as

empresas em crescimento pode esperar encontrar em algum ponto.

Miller e Friesen (1984) afirmam que os pontos críticos são evidenciados como a

absorção de conhecimento e soluções com sucesso para atravessar os pontos de inflexão. Ao

lidar com estes pontos críticos a empresa precisa aumentar sua capacidade de absorção. Há a

imperiosa necessidade de investigação das principais questões confrontadas, que demanda

insumos com novos conhecimentos para fornecer soluções para as crises e os desafios

gerados.

A discussão da relevância das organizações se engrandecerem em vida longa

através do ecletismo na gestão das organizações, com aplicações dinâmicas do fator

comportamental, com a valorização da capacitação, criando-se elementos de adaptação ao

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ambiente é condição sine qua non para o diferencial competitivo dessas empresas. Assim

como uma funcionalidade subjacente capaz de conduzi-las a um tecido organizacional

consistente e mutável, caracterizando-se como pré-requisito para a sobrevivência

(MINTZBERG, 2007).

As organizações, contudo buscam criar um maior dinamismo entre o processo

administrativo, a capacidade de absorção de informação do ambiente e capacidade

tecnológica (DRUCKER, 1995; FERNANDES, 2005; HALL, 2004). Não obstante, do ponto

de vista epistemológico, os estudos dimensionados nessa área não são conclusivos e sinalizam

a necessidade de serem investigados empiricamente. Como já mencionado, a literatura em

termos exploratórios ainda fica a desejar em estudos com questões tais como a longevidade,

seus fenômenos e expectativas de vida organizacional.

A constatação, diante dos estudos realizados, afasta a ideia de uma sequência fixa

linear de estágios de crescimento para um conceito mais multidimensional dos estados da

empresa, onde 'crises' ou problemas podem ocorrer em diferentes pontos e pode se repetir ao

longo da trajetória de crescimento da empresa. Embora o paradigma esteja atrelado a fatores

multidimensionais, as dimensões estabelecidas nesta pesquisa – estrutura e processos,

comportamento, estratégia, tecnologia/inovação e ambiente, são pertencentes a um grande

número de estudos da dinâmica organizacional e se destacam pela presença no ecletismo da

administração.

As perspectivas de maior longevidade para as empresas de pequeno porte surgem

nesse cenário de grandes transformações. Mas, da mesma forma com que se identifica a

importância da leitura de cenários e adaptação ao diagnóstico encontrado, também se revela a

existência de essa empresa construir e semear a aproximação com as diversas facetas do

ambiente (COLLINS, 2006).

Gramigna (2007) comenta essa relação não apenas diante de sua função

econômica e funcionalidade administrativa, mas também com possibilidade de ser percebida

pela sociedade diante de sua imagem organizacional, com a valorização da visão

mercadológica. Logo, a empresa de referência é aquela que oferece a sociedade com práticas

de gestão condizentes ao atendimento das expectativas de seus demandantes e sensível a

responsabilidade social empresarial. A sobrevivência em ambientes competitivos, seja por

crescimento ou permanecendo estática, traz consigo uma série de desafios de gestão. Os

problemas são inevitáveis e as decisões imprevisíveis são inerentes às organizações, com isso

os gestores devem desenvolver competências na supervisão de subordinados e delegação de

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autoridade e responsabilidade, em suma eles devem ter a capacidade de mudar a natureza do

seu papel.

As pesquisas atuais fornecem evidências de regressão das empresas se movendo

para trás, para baixo da sequência - que nega uma metáfora orgânica. As empresas durante

longos períodos, muitas vezes deixam de exibir a progressão do ciclo de vida comum que se

estende do nascimento ao declínio. Além disso, a quantidade de tempo gasto pelas

organizações no período de um pode variar consideravelmente (MILLER E FRIESEN, 1984).

Uma observação valiosa é que as variáveis de ambiente (situação), a estratégia,

estrutura e métodos de tomada de decisão configure em gestalts50

, e estes diferem uns dos

outros, mas enquanto essas configurações forem internamente coerentes, não estarão

conectadas entre si por qualquer sequência determinística. Além disso, estruturas, estratégias,

situações e métodos de tomada de decisão podem se tornar mais complexo nas organizações,

mas a idade, por si só, não confere maior complexidade. Há empresas que não crescem e não

se diversificam, mas simplesmente envelhecem, porque são menos propensas a encontrar

estes desafios (MILLER e FRIESEN, 1984; CHURCHILL e LEWIS,1983)

No Brasil, as pesquisas constatam que 62,5% das empresas possuem idade

inferior a 10 anos; 42,2% estão no mercado há menos de 5 anos; e 97% das empresas não

alcançam 30 anos de longevidade (IBGE, 2008).

Este trabalho evidencia questões de CVO na condução das MPEs prestadoras de

serviços, com mais de cinco anos de existência, consideradas na tese empresas longevas. Essa

conceituação provém dos resultados de mortalidade das MPEs no Brasil até o período citado.

2.7 Dimensões organizacionais: constructo teórico

A importância do conhecimento para o crescimento e longevidade dos negócios

tem, nos últimos anos, tornado-se imprescindível, afirma Mintzberg (2007). A evolução da

sociedade agrícola, industrial, da informação, do conhecimento e já se discute da sociedade da

luz com seus recursos renováveis e a natureza, condiciona a revisão de conceitos herdados

(NICOLSKY, 2001).

50

É uma palavra de origem germânica que significa “forma” ou “figura”. Em temos gerais, é o conjunto de

entidades físicas, biológicas, fisiológicas ou simbólicas que juntas formam um conceito, padrão ou configuração

unificado que é maior que a soma de suas partes. Escola do pensamento que afirma que as pessoas extraem

significado da totalidade de um conjunto de estímulos, e não de um estímulo individual. Uma perspectiva de

partes, que analisa cada componente do estímulo separadamente, será incapaz de captar o efeito total. (PUGH;

HICKSON, 2004; MINTZBERG, 2003)

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121

Os problemas da mudança apontam no caso das organizações, como essas

transformações afetam e preconizam novas modelagens. Nonaka (2007) destaca a gestão do

conhecimento, aprendizagem organizacional e inovação os processos através dos quais as

organizações respondem aos problemas de negócio.

A aprendizagem organizacional postula perspectivas que as empresas vão buscar

ativamente, o conhecimento reconhecido como ausente, mas como essencial para ajudar a

atender seus objetivos estratégicos (WOOD JUNIOR, 2007). No entanto, observa-se que

grande parte da literatura de aprendizagem organizacional se concentra em como as

organizações aprendem a partir de suas próprias experiências à custa de aprender com as

experiências daqueles que obtiveram êxito.

[...] a sabedoria gerencial convencional permanece voltada para a idéia de conservar

e maximizar o capital. Todavia, durante os últimos cinqüenta anos, o ambiente dos

negócios migrou de um mundo dominado pelo capital para um mundo dominado

pelo conhecimento. Essa migração explica o interesse pelo aprendizado

organizacional que tem emergido efetivamente. Os gestores reconhecem que, a

menos que as empresas consigam acelerar o ritmo em que aprende, seu principal

ativo ficará estagnado e seus concorrentes passarão à sua frente (GEUS, 1998, p.3).

Barney e Ouchi (1986) tratam do aprendizado da economia organizacional, sob a

lente das teorias organizacionais, muitos menos quanto às aplicações específicas de conceitos

e modelos e muito mais quanto ao modelo de pensamento sobre organização e sobre o

fenômeno organizacional. Os autores descrevem a importância da análise do equilíbrio a

partir da importância da valorização, pois na teoria das organizações do fator

interorganizacional elas se diferenciam das abstrações da teoria neoclássica do preço.

O fator do “ambiente organizacional” está associado às relações específicas das

empresas com seu micro ambiente exigindo diferentes formas de lidar com a complexidade

das transações (KOTLER e ARMSTRONG, 2003; MINTZBERG, 2003).

O modelo de abordagem para discussão diante da longevidade das MPEs está

associado às dimensões organizacionais, com a adoção, como base neste trabalho, do

programa conduzido pelo Massachusetts Institute of Technology - MIT: “The Management in

the 1990’s Research Program”. O objetivo do programa era pesquisar o processo de mudanças

nas organizações, compreender as questões gerenciais da década de 90 e como lidar mais

eficazmente e particularmente com as mudanças que giram em torno dos avanços da

tecnologia em um cenário de transformações drásticas e cíclicas.

Várias pesquisas foram realizadas com o apoio do Instituto e de grandes empresas

americanas, identificando as características de funcionalidade das empresas, em seus

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122

processos administrativos e decisório, assim como, suas vantagens competitivas. De acordo

com essas pesquisas, as organizações são delineadas por vieses de sustentação que se

relacionam de forma dinâmica, chamadas de dimensões organizacionais. As dimensões

apresentadas se caracterizam pela (i) análise da capacidade potencial de desempenho através

das dimensões: estrutura, estratégia e tecnologia. E com características de realização – (ii)

eficiência real, sendo a partir das dimensões: processos gerenciais, indivíduos e papéis. Na

pesquisa MIT (1990) a análise foi conduzida na interdependência dos processos gerenciais e

as dimensões indicadas – estrutura, tecnologia, indivíduos e papéis e estratégia descritas no

subsistema corporativo. E a dimensão ambiente apresentada como fator tecnológico e

socioeconômico externo.

A correlação com a pesquisa MIT está contextualizada em seus alicerces - dimensões:

PESQUISA GERENCIAL 1990 – MIT PESQUISA LONGEVIDADE MPEs

DIMENSÕES DIMENSÕES

- ESTRUTURA ESTRUTURA E PROCESSOS

- TECNOLOGIA TECNOLOGIA / INOVAÇÃO

- INDIVÍDUOS E PAPÉIS COMPORTAMENTO

- ESTRATÉGIAS ESTRATÉGIAS

- AMBIENTE TECNOLÓGICO EXTERNO AMBIENTE

- AMBIENTE SÓCIOECONÔMICO

Quadro 11 – Comparação da base de Análise das Dimensões das Pesquisas

De forma explicativa o programa “The Management in the 1990’s Research

Program” foi sustentada na concepção das relações interdependentes e sinérgicas das

dimensões. A sincronia e posicionamento poderiam limitar uma ou outra dimensão. O

reconhecimento de que a instituição ciência pode e deve fornecer delineamentos e

modelagens cabíveis de gerar conhecimento capaz de ser disseminado para melhoria das

relações de mercado caracteriza a importância desse programa.

A preocupação não se restringia ao retorno imediatista da lucratividade, visão

reducionista dominante nos mercados, pois as dimensões, de cada elemento, com função

específica e atuação integrada constituiriam as condições viáveis para a funcionalidade

corporativa com vieses consistentes e colaborativos para o sistema – empresa. A pesquisa

tem seus princípios pautados na visão sistêmica e com ciclos de eventos capazes de retratar

mudanças ininterruptas internamente e no ambiente.

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123

O modelo de análise considera o objeto de estudo, as MPEs e sua

interdependência com as dimensões organizacionais e a parceria com grandes empresas.

Logo, as dimensões caracterizadas nesta pesquisa são: estrutura e processos, comportamento

(que se associa a dimensão indivíduos e papéis na pesquisa MIT, 1990), tecnologia / inovação

e estratégia. Acrescentando-se no modelo de análise, de forma periférica, a dimensão

ambiente (Quadro 11).

Escrivão Filho e Perussi Filho (2010, p.270) consideram que uma organização “é

constituída, basicamente, de quatro componentes: tecnologia, estratégia, comportamento e

estrutura”. O objetivo da análise na empresa por meio desse modelo é entender as inter-

relações entre diversos componentes, buscando congruências entre elas. As dimensões são

apresentadas voltadas para o funcionamento organizacional, assim traduzida como lucro,

custos, taxa de produtividade ou de prestação de serviço. Há de outra forma, as relacionadas

com os recursos humanos, motivação no trabalho, relacionamento e atitude para com o

empregador, empreendedor, gestor ou a empresa. Mas, diz respeito ao viés de mercado com

agregação de valor para os fatores ambientais.

As dimensões organizacionais delineiam-se com diversidade de construção de

conhecimentos e com oscilações paradigmáticas permanentes no decorrer dos últimos anos. A

base das dimensões é evidenciada de forma sinérgica com o ambiente e as interfaces com as

práticas e funcionalidade organizacional. Novas formas, esquemas e modelos, atualmente

transitórios estão surgindo, estabelecendo mudanças drásticas do que está posto, e

consequentemente, no sistema empresa (HUFF, 2007; MINTZBERG, 2007; NELSON e

WINTER, 2005; HOFFMAN, 2004).

Robbins (2005) afirma que as possibilidades de análise da empresa do

conhecimento e as ações das dimensões organizacionais são limitadas pelo seu ambiente e

suas condicionantes internas. Yip (2003) considera as dimensões organizacionais condutoras

de máxima sinergia na empresa, quando há um relacionamento homogêneo e uma influência

mútua entre todos os elementos. Castor (2009) destaca a melhoria contínua no subsistema das

MPEs quando a ação administrativa se valida de novas modelagens capazes de se adaptar aos

envolvimentos com atuação pertinente à sua lógica de gestão e de mercado. A efetivação do

fluxo de trabalho, nessa condição, deve ser harmoniosa e consistente com a conversão das

necessidades advindas do ambiente.

O fator integração e relacionamento dual de influências entre as dimensões

representam a capacidade de eficácia do sistema (PINHEIRO, 1996; SILVA, 2008;

STURDY, 2004; WOOD JÚNIOR, 2002). A definição das dimensões e o papel de cada uma

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124

no processo estabelecem o potencial de desempenho, mas a capacidade de adaptação e

mudança na organização dependem da relação sinérgica entre as dimensões. O constructo

teórico referendado nessa tese explora as dimensões organizacionais como fator influenciador

das MPEs prestadoras de serviço longevas.

Porter (1986) menciona que há um corpo altamente diversificado de conceitos

científicos e descobertas sobre organizações de trabalho e as pessoas que os operam. Essa

diversidade reflete os muitos problemas que a empresa moderna e seus fenômenos apresentam

para fins científicos de estudo. Robbins (2005) destaca que para fins práticos e científicos os

problemas relacionados como o design de máquinas para a conveniência humana, avaliação

do trabalho, seleção, programas de incentivo, organização de grupo primário, supervisão e

organização de gestão sofrem do tratamento isolacionista por parte dos gestores como forma

de previsibilizar as atividades planejadas no subsistema. Motta (2001) evidencia que para se

compreender os fatores propulsores das transações, necessita-se conhecer os fatores

influenciadores da empresa, seja no ambiente de negócio ou no ambiente macro.

As formas de analisar e pensar a respeito das organizações são seriamente

limitadas em seus critérios e, com frequência, inadequadas. Estas são insensíveis às

necessidades imperativas da organização e estão em desarmonia com a dinâmica das

mudanças e da contemporaneidade. As explorações atuais fornecem indícios com análises

qualitativa e quantitativa de algumas características de rendimento e satisfação, sem

esclarecimento sobre o processo através do qual a organização se adapta, e soluciona seus

objetivos mutáveis (NONAKA, 2007; HATCH e CUNLIFFER, 2006; ROBBINS, 2005;

SCHEIN, 1984). Entretanto, estes processos dinâmicos para resolver problemas são os que

fornecem uma visão crítica da longevidade organizacional, e, sem seu conhecimento, os

“cálculos” dos fatores intangíveis e tangíveis das dimensões organizacionais e seus

desdobramentos, para uma melhor aderência corporativa ao ambiente e objetivos estratégicos

se esvaziam em uma lógica determinística e racional sem precedentes, passível de distorções

em suas respostas.

[...] a importância do reconhecimento de que existem muitas e diferentes visões

(versões) na descrição de um evento e no atribuir-lhe significado e que, como não

poderia deixar de ser, cada uma abre diferentes possibilidades para a ação, para o

reforço e a reprodução, ou para a ruptura e a transformação. Esse reconhecimento

implica tratar a produção do conhecimento dominante como parte de um contexto

epistemológico em que se realizam práticas de pesquisas normalizadas e

naturalizadas que podem estar sujeitas à contestação e resistência (VIEIRA e

ZOUAIN, 2006, p.72).

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125

A “máquina burocrática racional” traçada no modelo weberiano desenvolveu-se

no bojo da impessoalidade e da meritocracia, evidenciando-se em boa parte do século XX e

estando essa dimensão como uma de suas principais características.

[...] o mecanicismo baseia-se na racionalidade funcional e instrumental, que indica o

ajuste das pessoas e funções ao método de trabalho ou a um projeto organizacional

predefinido. Uma racionalidade substantiva, ao contrário, encoraja as pessoas a

julgar e adequar seus atos às situações, incentivando a reflexão e a auto-organização

(WOOD JÙNIOR, 2002, p.99).

Com essa veemência na condução do sistema, com a racionalidade e

previsibilidade, a fim de eliminar o caos e as consequências inesperadas, as estruturas e os

processos organizacionais condicionaram-se pela supersimplificações e pelo modelo do

desenho organizacional com funcionalidade estática e com pouco poder de adaptabilidade ao

ambiente. Lawrence e Lorsch (1973) comentam que o sistema de lógica fechada contém

todas as variáveis relevantes e somente as variáveis relevantes. As outras influências ou

variáveis exógenas51

ficam excluídas, e as variáveis contidas no sistema.

Kosa e Thoenig (2003) consideram que a “perfeição” na racionalidade técnica

requer um perfeito conhecimento das relações causa e efeito e ainda um controle sobre todas

as variáveis relevantes, ou fechamento. Para Hassard e Pym (1990) essa perspectiva

condiciona-se à ação administrativa da empresa no processo de planejamento e controle, com

pouca flexibilidade para mudanças ambientais.

Wood Junior (2002) afirma que o paradigma taylorista-fordista influenciou rápida

e profundamente todo tipo de organização. Seus princípios administrativos e visão

organizacional tornaram-se anacrônicos e impraticáveis diante do quadro de mudança do

presente. Hall (2004) destaca que há de se considerar seus componentes, níveis de influência e

abrangência e suas condicionantes. Já os fatores priorizados referem-se à amplitude de

controle – assegurando o agrupamento da quantidade de pessoas por chefias; economia de

escala – atividades semelhantes podem resultar em economias originadas de produção em

escala; coordenação – agrupamento condizente, com auxílio do grupo diante dos objetivos

pré-estabelecidos; e natureza da atividade – atenção principal para os fatores que interferem

nos resultados do processo produtivo e de serviços, caracterizando o princípio da exceção52

·.

51

Em relação à organização representa o ambiente e suas variáveis. Ocorrências influenciadoras de um

comportamento, que se iniciam no exterior do órgão, sendo difícil seu controle. 52

Princípio da Abordagem Clássica da Administração preconizado pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor

(1856-1915) na Teoria da Administração Científica. O princípio se caracteriza por evidenciar que no processo de

trabalho a preocupação deve estar voltada para os aspectos que alterem efetivamente os padrões de desempenho.

Essa regra está fundamentada na Organização Racional do Trabalho (ORT).

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126

Nesse contexto, o paradigma da “organização como máquina” conduz-se para

uma “organização como organismos”, capaz de elucidar as relações da empresa com outras

facetas, não mais restrita à sua funcionalidade, mas tornando-se expansiva e harmônica, com

aspectos de integração e interdependência entre as dimensões: ambiente, tecnologia –

inovação, estratégia e as dimensões humanas (SANDERS, 2011; ARRUDA et al., 2007;

HOFFMAN, 2004).

As críticas e as revisões feitas ao status quo, tendem a concentrar-se nos sistemas

internos e em seus componentes humanos. Mas, apesar da aparência de que a situação contra

a burocracia esteja relacionada com sua atitude ético-moral e com o contexto social, o real

denominador provém do meio ambiente. Enquanto vários propositores das “boas relações

humanas” vêm combatendo a burocracia em termos humanísticos e em nome dos valores

comportamentais, o fator preponderante é a sua incapacidade de adaptação à rápida mudança

e turbulência ambiental.

[...] no sentido clássico, usava-se a estrutura com o objetivo de direcionar o

comportamento administrativo na crença de se eliminar incertezas, com maior

rigidez na distribuição de poder e autoridade. Privilegiavam-se as dimensões

internas e as funções administrativas, quase independentes das transações da

empresa e seu ambiente. Pregava-se o direcionamento do comportamento humano

no trabalho através de normas e controles internos e fundamentados na autoridade.

Portanto tratava-se a organização como um sistema fechado. Ao contrário da visão

clássica, a nova perspectiva reduz a importância da distribuição de autoridade e de

responsabilidade na determinação do comportamento administrativo: vê o

comportamento causado também pela interação pessoal e grupal, pelas percepções

individuais e pela forma como as informações externas são processadas

internamente (MOTTA, 2001, p.87).

A lógica passa a ser conduzida pela (i) reciprocidade de se manter um sistema

interno eficiente e coordenar os aspectos comportamentais, traduzindo um processo de mútua

concordância; e (ii) pelo poder de adaptabilidade da organização diante do ambiente. Estes

dois dilemas organizacionais podem ajudar a ordenar as engrenagens vitais, alteradas pelo

mecanismo burocrático e consideradas insuficientes. A reciprocidade e a adaptabilidade estão

embasadas na Teoria de Sistemas53

e na Abordagem Sociotécnica.

[...] a abordagem sistêmica está fundamentada em dois dos principais conceitos da

Teoria Geral de Sistemas (TGS): a) interdependência das partes e b) tratamento

complexo da realidade complexa. O conceito da interdependência das partes refere-

se à composição das entidades; o todo de sua entidade é composto de partes de

outras entidades, e estes são interdependentes em relação ao todo. O tratamento

53

Teoria que surgiu em meados de 1920, quando o biólogo húngaro Ludwing Von Bertalanfy estudou a auto-

regulação regenerativa dos sistemas orgânicos. Estes foram entendidos como sistemas abertos, ou seja,

interagindo com o meio ambiente.

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127

complexo da realidade complexa é a afirmação da grande dificuldade da sociedade

moderna que exige técnicas específicas para lidar com este tipo de pensamento (DE

SORDI, 2008, p.112).

O enfoque de sistemas enfatiza o fato de que para qualquer investigação há um

sistema apropriado a ser estudado, e a finalidade da investigação determina tanto os limites do

sistema como os subsistemas e suas linhas demarcatórias apropriadas. Drucker (1995)

menciona que a sobrevivência do sistema é tomada pelo objetivo e as partes e seus

relacionamentos presumivelmente são estipulados por processos evolutivos. Hatch e Cunliffe

(2006) analisam que as disfunções são concebidas, supõem-se, portanto, que uma parte

ofensiva ajustar-se-á de modo a produzir uma contribuição positiva ou então será desligada,

para evitar que o sistema se degenere. Logo, esta abordagem vê a organização como uma

unidade em interação com seu ambiente. Notadamente o contraste com o modelo racional

retrata essa nova concepção da administração. Pugh e Hickson (2004) exploram essa visão

com a afirmação de que esta área de pesquisa se concentra em variáveis sujeitas ao completo

controle pela empresa e, consequentemente, não contido em um sistema de lógica fechada.

Wood Junior(2002) apropria-se do modelo mecanicista observando que a

organização, nesse contexto, é um conjunto de partes ligadas por uma rede de comando e

controle. A dinâmica dos acontecimentos estabelece para a lógica do sistema fechado

limitações de atuação e de resultados diante dos objetivos organizacionais (CHANDLER,

1962; MINTZBERG, 2003; PORTER, 1986). A consequência dessa funcionalidade é o baixo

poder de adaptação e de sobrevivência por parte das MPEs.

O sistema sociotécnico, constructo de base desta tese, delineado pelo modelo do

Instituto Tavistock surgiu na Inglaterra em 1949. A sustentação está fundamentada na

organização não como um sistema único, mas como um todo sistêmico composto de muitos

sistemas interdependentes funcionando com um objetivo único (PERROW, 1976; MOTTA,

2008; ROBBINS, 2005).

Silva (2008) explica a organização como sendo um sistema sociotécnico com

enfoque no processo de transformação ou conversão em si, para uma série de atividades por

meio das quais a organização tenta alcançar objetivos. O sistema relaciona-se com as

interações entre os fatores sociais e as necessidades e demandas da parte humana da

organização, e seus requisitos estruturais e tecnológicos (MONTANA e CHARNOV, 2010).

O trabalho nessa abordagem precisa ter variedade, ser desafiador, possibilitar

aprendizagem contínua, permitir autonomia e decisão, possibilitar reconhecimento e apoio,

trazer uma contribuição social e permitir um futuro desejável. Wood Junior (2002) salienta

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128

que esse modelo propunha a substituição de estruturas burocráticas de trabalho por arranjos

não lineares baseados nos sistemas técnico e social das organizações, procurando traçar uma

correlação de interdependência entre as necessidades técnicas e humanas nas organizações.

As dimensões organizacionais estão contextualizadas principalmente na

necessidade de uma visão mais ampla ou de um conjunto de subsistemas que componha o

sistema – organização mais abrangente, para a gestão das MPEs prestadoras de serviços.

Conforme modelo de análise (Figura 2) a configuração teórica pressupõe evidências teóricas:

das prestadoras de serviços, complexidade ambiental e de atuação corporativa, teoria de

sistemas / sistema sociotécnico e ciclo de vida das organizações.

O desdobramento das dimensões está delineado no modelo de análise vinculado

aos fatores de gestão advindos dos recursos e capacidades definidas como ativo tangíveis e

intangíveis, condizentes com cada dimensão na sua essência e com a alternância de maior

prevalência, conforme dimensão analisada. Essa discussão acentua-se ainda mais adiante, nas

prestadoras de serviços, aqui entendida como ação não determinística do processo de gestão

das MPEs. Considerar o ramo de atividade das MPEs em que atuam - prestadoras de serviços,

pressupõe não incorrer no erro do pragmatismo como forma de tornar todas essas empresas

com atuação similar ou padronizar os eventos (ESCRIVÃO FILHO, 2010; FILION, 1999;

KRUGLIANSKAS, 1996).

Os desdobramentos revelam os fatores dominantes das dimensões organizacionais

e são apresentados nas discussões e considerações epistemológicas. O tratamento das

dimensões em questão inicia-se com a estrutura e processos organizacionais que se associam à

análise do trabalho e recursos disponíveis na funcionalidade da empresa. Essa dimensão

constituída da anatomia da empresa e as diversas atribuições dos órgãos e cargos da empresa

formatam um tecido organizacional em sua codificação e distribuição das ações

administrativas (NELSON; WINTER, 2005; WOOD JÚNIOR, 2002).

Por outro lado, Crozier (1997) afirma que a racionalidade é inerente às

organizações e envolve constantes tentativas de enquadrar as áreas de incerteza no escopo de

atuação dos controles e regras formais, traduzidas na codificação das atividades inerentes à

ação administrativa. Ampliando-se essa ideia, March (apud PUGH e HICKSON, 2004)

evidencia designando a oportunidade da escolha de uma alternativa; “anarquias organizadas”,

pelo fato de representar não só a ausência de clareza nos propósitos, mas a incompreensão dos

processos pelos membros da empresa.

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129

[...] A empresa é uma coalizão política de múltiplos objetivos e em permanente

mudança. A teoria de objetivos organizacionais como forma de atração das

demandas dos membros da organização em coalizão. A composição da firma não é

algo dado, mas negociado. Os objetivos da firma, igualmente, são barganhados (CYERT e MARCH, 1959, p.14).

As dimensões organizacionais descritas sustentam a discussão quanto a

longevidade das MPEs. Sua análise pressupõe identificar além de suas especificidades, as

relações de interdependência entre as próprias dimensões, conduzindo-se para a necessária

percepção da integração entre elas.

2.7.1 Dimensão estruturas e processos

A estrutura e processos se predominam em conjunto de atividades que visam à

coordenação racional e lógica do esforço coletivo e auxiliam, entre outras coisas, na divisão

de tarefas e no combate ao desperdício (D’ASCENÇÃO, 2007). A intenção com essa

dimensão é explorar na pesquisa as empresas longevas prestadoras de serviços e identificar a

concentração dos esforços dos empreendedores e gestores: (i) na distribuição do sistema de

autoridade e responsabilidade; (ii) nos níveis de hierarquia; (iii) na centralização e

descentralização; (iiii) no sistema de comunicação e de decisão.

A configuração da empresa denominada e descrita de forma tangível, formalizada

e oficializada proporciona, em parte, que os objetivos organizacionais sejam contemplados e

efetivos com o ato de organizar a distribuição dos órgãos, cargos e funções.

[...] a estrutura organizacional é um instrumento resultante da identificação, análise,

ordenação e agrupamento das atividades e dos recursos das empresas, incluindo o

estabelecimento dos níveis de alçada e dos processos decisórios, visando o alcance

dos objetivos estabelecidos pelos planejamentos das empresas (OLIVEIRA, 2009,

p.69).

Soifer (2002) destaca a verificação crescente da convicção de avaliar a eficiência

burocrática dessas empresas longevas e sustenta o enfoque retratado tanto por critérios

humanos quanto econômicos. De Sordi (2008) considera que a busca por soluções otimizadas

levou as empresas a reverem suas estruturas organizacionais, o que resultou em arquitetá-las

não mais a partir de agrupamentos de atividades, mas sob o ponto de vista de mercado.

Oliveira (2011) observa que a estrutura e os processos devem ser desenvolvidos

de forma participativa, com a realização de respectivos ajustes visando maior integração e

sinergia. Tomando por base esse pensamento, March (apud PUGH e HICKSON, 2004) define

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130

que a firma competitiva assegura um critério simples de decisão e uma habilidade para

apreender informações do mercado. Para isso é necessário que haja três compromissos

iniciais: (i) desenvolver uma teoria empírica e menos normativa; o segundo compromisso

relaciona-se com os fatores econômicos da firma: fixação de preço, alocação de recursos /

custos, a fim de tornar a empresa mais competitiva, focada para o alcance preciso de seus

objetivos e investimento; (iii) o terceiro associa-se por estabelecer um processo decisório mais

consistente através de mecanismos de levantamento de informações, utilizando a tecnologia

como parceira do processo.

O sistema de autoridade e responsabilidade demarca o alcance da área de decisão

na organização. Essa indicação diminui, mas não evita a disputa e os conflitos pelo poder.

Celeste (1993) afirma que o limite de autoridade delineia a escolha por um processo

centralizado ou descentralizado. Entretanto, Hall (2004) comenta que está longe de ser um

processo racional controlado que se move de forma estável para o desfecho, representando

escolhas. Simon (1980) destaca a concepção do conceito da “racionalidade limitada”, que

envolve não apenas a escassez de atenção, mas também limitação da capacidade mental

humana. A forma desprovida de padrões de disciplina, consistência nos argumentos, descrição

poética e tratamento dos fenômenos são marcantes nesse pensamento.

O conceito de estrutura e processos para definir que o tecido organizacional se

estabelecerá por sistemas flexíveis, temporários, que envolvem diversos profissionais, aptos

para resolver problemas ligados entre si pelos méritos em liderar e coordenar, e em avaliação

de processos, num fluxo orgânico onde assumirão, gradualmente, o lugar dos profissionais

burocratas (MINTZBERG, 2003).

Oliveira (2009) afirma que a disposição sistemática da estrutura organizacional

não é estática, ao contrário, as linhas estruturais devem indicar relações dinâmicas que

ocorrem entre os componentes do grupo. Em concordância com essa visão, Hoffman (2004)

pondera que essa dinâmica no modo de tratamento da anatomia organizacional remete à

evidência da complexidade que envolve a gestão das empresas.

O processo de incorporação dos modelos predominantes em determinado setor

pelas organizações estão inseridos em um fenômeno geral chamado pelos autores

isomorfismo estrutural, ou a tendência de as organizações de um mesmo setor possuir

estruturas, regras, modelos cognitivos e tecnologias similares.

Oliveira (2009); Arruda (2007) relatam que o problema mais evidenciado na

prevenção do crescimento e transformação das pequenas empresas é a falta de sistemas

formais - uma sequencia de atividades realizadas de acordo com um conjunto estabelecido de

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131

regras. Há uma necessidade crescente para as empresas introduzir sistemas mais formais.

Também, ainda há pouco na literatura para apontar para o grau de formalização necessário ou

para oferecer assistência prática relativa à execução de tais sistemas. Além disso, há uma

sugestão implícita de que as empresas ao encontrar um equilíbrio “ótimo” entre a não

formalização suficiente e formalização demais. No entanto, para mostrar como esse equilíbrio

pode ser encontrado, vários estudos têm sido desenvolvidos e ainda sem resultados efetivos.

Motta (2008) comenta que necessitando sobreviver e ganhar recursos, a maioria

das organizações adotará os modelos instituídos no setor. Após determinado tempo, possuirá,

consequentemente, modelos e formas similares, em uma tendência à homogeneização dessas

estruturas. A dimensão estrutura e processos se coadunam em grande parte com a

tangibilidade dos fatores organizacionais. As rotinas caracteriza essa verificação e

representam os resultados da aprendizagem que se consubstancia nas formas de responder ao

inesperado. Para Nelson e Winter (2005) o benefício da competência é atingido pela

supressão de toda deliberação no nível das escolhas, confinando o comportamento em

caminhos bem definidos e reduzindo distorções no nível de operação. Não obstante, a

existência da estrutura informal advinda a partir das relações formais é que ameniza os

“tormentos” burocráticos.

2.7.2 Dimensão comportamental

As relações de poder formal delineiam-se nas relações interpessoais entre os

pares, diante dos empreendedores, gestores, líderes, empregados, ou seja, todos aqueles em

interface para a ação organizacional. Assim sendo, cada “ator” tem o seu papel e função na

construção dessa dimensão, cuja compreensão humanística procura melhor ajustar os papéis

organizacionais às pessoas que os desempenham, valorizando suas necessidades e

habilidades.

Pugh e Hickson (2004) reconhecem as organizações como sistemas de pessoas

interdependentes, ou seja, as pessoas não trabalham somente na organização, elas constituem

a própria organização. Os fatores formais – métodos, estrutura influenciam na organização,

mas as pessoas também estabelecem uma influência nos objetivos organizacionais. Motta

(2001) argumenta, no entanto, que o indivíduo e seus grupos de referência são os centros

primordiais de preocupação, daí porque essa perspectiva tende a ver a formalidade

organizacional e a hierarquia como fonte de frustrações, hostilidades, ressentimentos, entre as

pessoas.

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132

Quinn et al. (2012) destacam a importância do valor da organização do trabalho

baseada em equipes, mas pondera que é um tanto complicado, considerando que não há

consenso quanto à definição de equipes de trabalho ou uma taxonomia única para classificar

equipes e sentimentos envolvidos na empresa.

Barney e Hesterly (2011) diferenciam equipes e grupos de trabalho com base em

critérios de processos e quanto a sentimentos. Dessa forma, os grupos são geralmente

definidos a partir das pessoas que interagem e buscam alcançar objetivos comuns, enquanto as

equipes compartilham metas e trabalham juntas, de modo interdependente. Essa verificação

alinha-se ao fenômeno da organização informal que surge espontaneamente e a partir das

relações formais existentes na organização (MOTTA, 2008; SILVA, 2008).

De forma abstrata, mas robusta em sua “estrutura”, ela trata dos objetivos do

grupo informal. Logo, a atenção e conjugação de esforços pelos gestores, no sentido de fazer

parte, ser aceito e compreender a inevitável existência dessa informalidade, pode representar

ganhos de relacionamento e minimizar os conflitos no subsistema da empresa. Motta (2008,

p.117) destaca a conceituação da organização informal como padrão global de

comportamento adotado. Nesse sentido, a “organização formal é quase uma estrutura teórica

abstrata, sem responsável real, considerando que na prática o comportamento organizacional

se afasta do plano real”.

Robbins (2005) explica a atividade empresarial como àquela que origina o nível

individual e que é sempre feita com base em uma única pessoa, o empresário. O

empreendedorismo é, portanto, induzido por atitudes de um indivíduo ou motivos, habilidades

e atitudes (SCHUMPETER, 1982). No entanto, o empresário individual não é empresa, nem

laço em um vácuo intemporal e sem espaço, visto que é afetado pelo contexto em que está

agindo. Portanto, motivos empresariais e ações são influenciados por fatores culturais e

institucionais, pelo ambiente de negócios e condições macroeconômicas. Quinn et al. (2012)

destacam a importância de o gestor enfrentar os desafios de adquirir e usar diversas

competências e integrar dinamicamente o ato de criar, competir, controlar e colaborar com

foco no aumento da efetividade individual e corporativo. Inevitavelmente, o gestor tem papel

de líder na empresa.

Longenecker et al. (2007) compactuam dessa ideia, mas enfatizam que o desafio

para líderes de pequenas empresas é desenvolver o máximo de profissionalismo possível,

mantendo, ao mesmo tempo, o espírito empreendedor da empresa. As características

comportamentais do dirigente são reveladas como um componente organizacional e

apresentam-se de forma bastante clara, sendo um fator associado às relações interpessoais.

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133

A liderança confiante inspira os funcionários para maior desempenho, ao mesmo

tempo em que os ajudam a se tornarem mais seguros com relação às suas próprias habilidades

e ao potencial de desenvolvimento (ROBBINS, 2005a). Masiero (2009, p. 152) revela que “os

funcionários querem sentir orgulho da empresa e, diante de uma oportunidade, dão o melhor

de si por uma causa em que acreditam”. Os líderes exploram esse potencial para inspirar seus

liderados a agir e a realizar grandes empreendimentos. Likert (apud PUGH e HICKSON,

2004) ressalta que os gestores com melhores índices de desempenho focam sua atenção nos

aspectos humanos dos problemas de seus subordinados e na construção de grupos de trabalho

mais eficazes que estabelecem metas de desempenho.

Castor (2009) afirma que a capacidade de criar valor através do trabalho e a

criatividade, a iniciativa, a capacidade profissional, a lealdade e o entusiasmo dos membros da

uma empresa, tudo isso tem possível poder destruidor do valor das pessoas. Gramigna (2007)

aponta que a atuação do líder, o conhecimento permeado no entendimento da complexidade

do sistema, da valorização dos funcionários a partir do comportamento, sentimento e

integração são fatores diferenciais do gestor. Schein (1984) declara que os gerentes devem ser

suficientemente flexíveis para alterarem o seu próprio comportamento em relação à

necessidade de tratar, de forma apropriada. Mintzberg et al. (2000) afirmam que o trabalho de

um gestor é caracterizado por movimentos compassados, interrupções, brevidade, variedade, e

fragmentado de atividades.

Hersey e Blanchard (apud MASIERO, 2009) discutem o conceito de liderança

predominantemente situacional, em que os gerentes devem adaptar seu estilo de liderança em

consonância com o nível de desenvolvimento dos empregados, em cada tarefa ou atividade

específica. Longenecker et al. (2007) enfatizam a importância do simbolismo aos

empreendedores, gestores e líderes como forma de comunicar as intenções corporativas e as

mensagens culturais.

Huff (2007) explica que, no nível individual, a ação é o resultado não apenas da

cognição, mas também da vontade pessoal, da habilidade gerencial. As características

individuais ajudam a entender as pessoas e seu comportamento, como indivíduo e membro de

grupos nas organizações (FERNANDES, 2005, p.126). Todavia, Pinheiro (1996) evidencia

que o proprietário-dirigente não dispõe de uma consciência administrativa, faltando-lhe uma

postura empreendedora para administrar o negócio. Essa afirmativa é sinalizada em pesquisas

sobre dirigentes de MPEs, como sendo um dos principais motivos de mortalidade dessas

empresas.

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134

Essas variáveis estão relacionadas às características do pequeno empresário,

refletindo seus valores, desejos, motivações, experiências, estilo de liderança nas ações e

decisões tomadas.

[...] embora algumas grandes corporações experimentem gestão deficientes, as

pequenas empresas parecem ser especialmente suscetíveis a essa fraqueza. Muitas

pequenas empresas não marginais ou não lucrativas, lutam dia após dia para

sobreviver. Na melhor das hipóteses, ganham apenas para sobrevivência dos

proprietários. Estão em funcionamento, mas dizer que possuem gestão seria exagero

(LONGENECKER et al., 2007, p. 331).

Esses dirigentes precisam ter a noção da realidade administrativa de suas

empresas e percepção dos benefícios, conveniência e alcance da utilização de técnicas

gerenciais básicas, e não na improvisar na gestão desses empreendimentos (CROSTA, 2000).

As características individuais ajudam a entender as pessoas e seu comportamento, como

indivíduo e membro de grupos nas organizações (MASIERO, 2009). Na análise de dados

desta tese, verificou-se no perfil do empreendedor / gestor das MPEs longevas prestadoras de

serviços, um gestor conhecedor de processos e estratégias corporativas, assim como,

informalmente, uma relação de aproximação e confiança com os empregados.

A renovação nos padrões de organização do trabalho cujas bases estão no

fordismo, revela um novo dicionário para administração: integração, flexibilidade, integração

flexível, estrutura enxuta, horizontalização, competitividade de custos, qualidade de vida,

tecnologia da informação, dentre o imaginário percebido. Fica evidente a influência da

abordagem humanística da administração nas ações corporativas e a observância de fatores

como oportunismo, julgamentos subjetivos que, entre outros, se tornam um diferencial nessa

leitura, considerando a preocupação com essas dramaturgias existentes no ambiente das

relações de trabalho (QUINN et al., 2012).

Cavalcanti (2007) explica a organização do trabalho com várias denominações,

baseadas em equipes (grupo dirigido, equipe autônoma, equipe autogerenciada, unidade

grupal). Um conjunto de textos, entre os mais recentes, com novas ideias e experiências de

vanguarda, evidencia diferenças entre a organização tradicional e as equipes autogerenciadas.

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135

ESTRUTURA

ORGANIZACIONAL ESTRATIFICADA / INDIVIDUAL PLANA / EM EQUIPES

Conteúdo da função

- Tarefa única e especializada; - Processo integral e sistêmico

- Especificidade de atuação - Multiplicidade de tarefas

- Responsabilidade restrita - Amplitude da responsabilidade

Papel da Administração - Direto e controlador - Facilitador e empoderador;

- Disponibilidade interna - Disponibilidade múltipla

Liderança

- Vertical e de cima para baixo - Horizontalizada e compartilhada com

a equipe

- Ganha / perde - Ganha / ganha

Fluxo de informação

- Controlado / limitado - Aberto / compartilhado

- Formal – líder e liderado - Formal e informal – líder e equipe

- Conhecimento tácito - Conhecimento explícito socializado –

externalizado e recíproco

Reconhecimento

- Individual / por antiguidade - Em equipes / Aptidões

- Resultados individuais - Meritocracia - Habilidades e

competências

- Confiança conquistada - Confiança semeada

Processo de Trabalho

- Gerentes planejam e controlam - Equipes planejam e controlam

- Melhoria contínua em processos. - Melhoria contínua em processos e

qualidade de vida.

Quadro 12- Organização tradicional versus equipes autogerenciáveis

Fonte: Adaptado a partir de Cavalcanti (2007); Certo (2010); Mello; Melo Jr. e Mattar (2011).

A nova dinâmica das relações de trabalho impulsiona uma lógica transformadora

do papel da organização, do empreendedor, do líder, dos empregados e da sociedade, em

suma de todos os atores envolvido nesse recorte epistemológico. No que se refere aos

funcionários, existe a cobrança do comportamento discricionário que Robbins (2005) explica

como uma cidadania organizacional que não faz parte das exigências funcionais de um cargo,

mas que ajuda a promover o funcionamento adequado da organização, contanto que haja

condição e a liberdade de atuação para prover a criatividade por parte das pessoas e equipe de

trabalho, postulando a inovação da empresa.

A capacidade de ofertar produtos e serviços condizentes com a necessidade e

expectativa do cliente se revela promissora quanto melhor for a sinergia com as dimensões

organizacionais (FILION, 1999). A importância está nas minúcias, como por exemplo,

perceber o óbvio e ao mesmo tempo empreender pela sensibilidade do conhecimento tácito e

explícito, pelo discurso advindo dos pares e daqueles que convivem o compartilhamento na

seara do ambiente organizacional. Assim sendo, a organização deixa de ser meramente um

instrumento de enriquecimento de seus proprietários, com visão limitadora do lucro

imediatista e passa a permear uma conduta pautada na responsabilidade social empresarial.

Neste sentido, a teoria organizacional é uma complementaridade da teoria social.

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136

O determinismo, independente do enfoque, abordagem e dimensão especulada, se

credita à incapacidade de tornar viável um sistema complexo que é uma organização e seus

infinitos “dramas” para sobreviver e conseguir ter legitimidade perante seu público.

Apropriar-se do processo de gestão organizacional com oferta de produção de bens e serviços

fundamentados no tecnicismo é insuficiente e inexequível (HATCH e CUNLIFFE, 2006;

MILLER, D.; FRIESEN, 1984; QUINN et al., 2012), havendo necessidade então, de se

movimentar em outras facetas organizacionais para se credenciar como competitiva e

longeva.

Uma organização, vista nesse prisma, é um conjunto de solução em busca de

problemas, questões e sentimentos procurando situações de decisão nas quais eles sejam

considerados; respostas procurando perguntas para as quais elas possam representar a solução,

e tomadores de decisão procurando trabalho (CHANLAT; FACHIN E FISCHER, 2007;

FLECK, 2005; WOOD JUNIOR, 2002; SIMON, 1980). O fator comportamental nesse

aspecto se aproxima da intangibilidade e sinaliza a filosofia empregada pelos empreendedores

e administradores na possibilidade da empresa viva (GEUS, 1998).

2.7.3 Dimensão estratégia

Representa um “olhar” diferente e mais abrangente nas proposições corporativas.

Neste trabalho, estratégia, é uma variável de análise de observação do objeto da pesquisa de

longevidade das MPEs. Escrivão Filho e Perussi Filho (2010) consideram a estratégia como

tema organizacional relevante, pois estabelece relação com o ambiente em termos sociais,

econômicos e políticos.

As organizações durante muitos anos estiveram adequadas para legitimar sua

funcionalidade e reter esforços no alcance da eficiência, descrevendo com êxito melhorias na

produtividade. Essa abordagem trivial do “chão de fábrica”54

evidencia momentos de

abundância nos ganhos, não somente pela competência no ato de produzir, mas por uma

demanda latente de mercado capaz de suprir a oferta de produto e serviços, e ainda, desejar

mais sem considerar exigências, vistas nos dias atuais, como elementares para a satisfação do

cliente e competitividade no mercado.

Há, de fato, uma crescente complexidade do ambiente organizacional como já

discutido anteriormente nesta tese. Os sobressaltos nos ambientes internos e externos das

54

Termo utilizado na Teoria da Administração Científica para representar o local da operacionalização do

trabalho ou unidade de produção.

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137

organizações, com suas mudanças abruptas e constantes na estrutura, na tecnologia e nos

relacionamento, dificultam a definição da estratégia empresarial e reforça a dependência do

sistema com relação às oscilações de mercado (CAVALCANTI, 2007, p. 40).

A análise da literatura especializada revela que os estudos atuais sobre estratégia

configuram-se por dois vieses em especial: de natureza econômica e de natureza

organizacional. De natureza econômica condiciona-se ao uso da estratégia como instrumento

de maximização da eficiência da organização em face da determinada condição de competição

(COLLINS, 2002). A configuração por natureza organizacional prioriza a relação da estratégia

com as demais dimensões da organização como estrutura e tecnologia.

A busca pela abordagem múltipla na gestão contemporânea pressupõe atender a

nova lógica do ambiente: implacável e imprevisível para que se façam previsões eficazes. A

organização está sendo avaliada atualmente não somente pela capacidade produtiva e de

qualidade, mas diante da postura e seriedade com que interage com seus demandantes de

forma geral, seja em produtos e serviços, seja pela sua sensibilidade diante dos problemas

sociais e ações de responsabilidade social empresarial. O tema estratégia está na pauta de

discussão da administração há alguns anos e com vasta publicação a respeito, com

fundamentação apropriada e algumas de forma inadequada.

[...] surgem fórmulas de estratégias para maximização de lucros, “receitas” que

acenam para a possibilidade de padronização da rentabilidade. Essas fórmulas têm

se mostrado inócuas, pois algumas são fundamentadas em experiências particulares

ou em deduções abstratas. [...] as teorias básicas sobre estratégia são quatro: a escola

clássica onde o planejamento pode adaptar e antecipar as mudanças de mercado. As

estratégias são mais bem desenvolvidas por meio da análise racional, afastada do

“campo de batalha” dos negócios. Para os evolucionistas, os mercados são muito

imprevisíveis e difíceis para justificar grandes investimentos em planejamento

estratégico. Eles aconselham os estrategistas a manter custos baixos e opções

abertas. Os processualistas também questionam a abordagem afastada dos clássicos:

as estratégias eficazes emergem diretamente do envolvimento íntimo com as

operações diárias e as forças básicas da organização. Por fim, a abordagem sistêmica

argumenta que as estratégias devem ser “sociologicamente eficientes”, apropriadas a

contextos sociais específicos. Do ponto de vista sistêmico, não há um caminho

melhor para desenvolver a estratégia: simplesmente jogue pelas regras locais

(WHITTINGTON, 2006, p.12-13).

As abordagens apresentam ponto de vista completamente diferente uma das outras

sobre capacidade humana de pensar racionalmente e agir com eficácia. Chandler (1962) e

Ansoff (1990) responsáveis diretos pela disseminação e delimitação do tema como campo de

estudo, associados à escola clássica, revelaram condicionantes do subsistema a estratégia e ao

ambiente inserido pela organização, assim como liga as noções sobre estratégias diretamente à

prática militar e à economia acadêmica.

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138

Whittington (2006) explica que as ideias econômicas sobre otimização racional e

as expectativas militares sobre comando hierárquico continuaram presentes no pensamento

clássico sobre formulação e implementação da estratégia. Mais detalhadamente, Chandler

com sua pesquisa diante das grandes corporações americanas observou, entre outros aspectos,

a dependência da estrutura em relação à postura estratégica da organização, ou seja, mudanças

de estratégias altera a estrutura organizacional.

A ênfase ao longo prazo, a concepção explícita e deliberada das metas e a

sequência lógica de ações e recursos derivados dos objetivos originais, retratam as

características do pensamento clássico sobre estratégia. Chandler (1962, p.13) sentencia a

definição de estratégia como “a determinação de metas e objetivos básicos e de longo prazo

de uma empresa; e a adoção de ações e alocação de recursos necessários para atingir esses

objetivos”. Ansoff (1989) apresentou em sua pesquisa, na década de sessenta, uma visão mais

ampla acerca da formulação e implantação da estratégia nas organizações.

Nessa perspectiva, a estratégia consiste basicamente em um conjunto de regras de

decisão para orientar o comportamento de uma organização, ou melhor, é um mix de

produto/mercado. Ao classificar o desenvolvimento da estratégia em quatro categorias:

penetração no mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produto e

diversificação, o resultado foi a melhoria de conteúdo, aquelas voltadas para interface entre

estratégia e desempenho (COLLINS, 2002). A administração, nessa visão, enriquecem suas

competências a partir da: identificação, definição de agenda de aquisição, desenvolver,

proteger e defender a liderança das competências. A busca por informações e o acesso aos

recursos, qualidade e competência nos custos também são evidenciados nessa proposta.

Porter (1986) conduziu a fundamentação voltada para a interação da abordagem

de natureza econômica e organizacional. Essa premissa implica considerar determinado curso

de ação a partir da coleta, seleção e levantamento de informações no mercado, ameaças e

oportunidades. Segundo o autor, a organização empresarial que compete em um mercado

possui uma estratégia competitiva, e cinco forças dirigem a concorrência: 1- a ameaça de

novos entrantes; 2 - intensidade da rivalidade; 3 - pressão de produtos substitutos; 4 - poder de

negociação com fornecedores; e 5 - poder de negociação com compradores.

A partir dessas forças Porter (1999) apresenta três abordagens estratégicas: (i)

diferenciação – o objetivo é criar valor de exclusividade, ser distinto do concorrente; (ii)

liderança em custos – o objetivo não está na diferenciação, mas em oferecer uma prestação de

serviço a preço competitivo; e (iii) foco (ou estratégia de concentração) de atuação – delinear

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139

sua segmentação de mercado.. De acordo com o padrão de visualização, a estratégia não é um

plano pré-concebido, mas um comportamento organizacional e de gestão consistente.

Os evolucionistas criticam o conteúdo simplista dos clássicos e sua postulação

racional. Bethlem (2004) destaca que a questão está na capacidade das organizações em

alcançar essa difereciação de forma segura. Wood Junior(2002) colabora tratando esse

conteúdo como abstrato e frágil. Para ele, os gestores perdem a força na busca da melhor

estratégia e o ambiente trata de moldar e selecionar o melhor caminho diante das diferentes

iniciativas de proposição da empresa. Logo, a ênfase dos gerentes deve se fixar nos “custo de

transação”, sendo esta a única vatantagem competitiva.

A fundamentação pautada na abordagem processualista, com apogeu na década de

setenta, credita a desordem tanto do ambiente quanto da organização, à possibilidade de

adequação. A estratégia surge das imperfeições, ou seja, emergindo da adaptabilidade à

confusão do mercado e flexibilidade. A solução satisfatória a partir da funcionalidade

corporativa é um processo de idas e vindas. As competências distintas da empresa,

considerando a complexidade interna, descrevem a importância da estratégia. Mintzberg

(1984) retrata a impossibilidade dos estrategistas, mesmo de forma astuta, não conseguirem

pensar diante de tudo. O tratamento da estratégia perpassa pelo reconhecimento das limitações

da empresa diante do mercado, na perspectiva de explorar os mercados imperfeitos e criar

competências com gradual adaptação.

A importância da construção de novas competências essenciais pelas empresas é

destacada, assim como a necessidade da revisão das funcionalidades corporativas, sendo

denominas de “arquitetura estratégica”.

[...] A arquitetura estratégica é um amplo plano de abordagem à oportunidade. A

questão abordada por uma arquitetura estratégica não é o que fazer para maximizar

nossa receita ou entrar em um mercado de produtos existente, mas sim o que

devemos fazer hoje, em termos de aquisição de competências, como preparação para

captarmos uma fatia significativa das receitas futuras em uma arena de

oportunidades emergentes (HAMEL e PRAHALAD, 1995, p.42).

Kaplan e Norton (2004) afirmam que os indicadores tradicionais de desempenho

financeiro funcionaram de forma muito eficiente na era industrial, mas estão cada vez mais

em descompasso com as habilidades e competências que as empresas tentam dominar hoje.

Nessa perspectiva, a reconfiguração da interface com os clientes, deve ser um desafio

constante.

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140

A perspectiva sistêmica caracteriza-se pela proposição que as empresas usam para

se diferenciar de acordo com os sistemas sociais e econômicos. Na acepção geral, estratégia

representa seguir uma cadeia de meios e fins, logo, tanto escolhas de mercado, quanto

adaptação ao ambiental. Verifica-se nesse constructo a influência do modelo do sistema

aberto, em que a administração estratégica está em interface de atuação com o ambiente, sem

limites e fronteiras.

As organizações não são restritas a algo específico, ou seja, não são totalmente

clássicas, nem evolucionárias ou somente processuais, as normas que caracterizam as

estratégias associam-se a regras culturais da sociedade. Nesse contexto, as diferentes tradições

culturais no mundo, podem potencialmente influenciar e orientar as estratégias. A

compreensão das facetas do cenário em outros países, também, orienta a estratégia da empresa

(FERNANDES, 2005; KAPLAN; NORTON, 2000). A idealização de modelos bem

estruturados e construídos no sentido de tornar padronizada a estratégia distancia-se cada vez

mais da literatura sobre o tema em questão.

O cenário das diferentes economias de mercado e as consequências para a

sociedade é colocado na agenda da estratégia nas empresas. Logo, a instrumentalização para o

desenvolvimento da estratégia amplia-se, perdendo descrição restrita ao subsistema da

empresa (BANERJEE, 2008). Acredita-se que o processo de gestão da performance

organizacional baseada, primordialmente, em fatores financeiros e contábeis, considerando o

paradigma de concentração em valores econômicos, não cria sinergia entre a empresa e a

sociedade nos dias atuais (TACHIZAWA, 2002).

Os temas de preocupação com a ética e a responsabilidade social ganham

relevância no cenário contemporâneo, transbordando dos âmbitos locais e nacionais para o

espaço de responsabilidade mundial. A estratégia traduz a forma pela qual a organização

compreende o ambiente e estabelece resposta às influências desse mesmo ambiente, sem

limites de abrangência (ANSOFF, 1990; CASTOR, 2009; MINTZBERG, 2003). A utilidade

da estratégia como processo contínuo e circular visando manter a organização integrada ao

seu ambiente é proposta por Certo (2010) que apresenta as estratégias de estabilidade,

crescimento e redução de despesas como forma adaptativa e influenciadora do mercado. A

sensibilidade ao ambiente complexo passa a se configurar, nessa abordagem, fator de

relevância.

Gerentes sensibilizados, do ponto de vista sociológico, podem recorrer

reflexivamente aos recursos ideológicos de sua profissão – explorar o aparato clássico do

gerenciamento estratégico não só para suas respostas técnicas (WHITTINGTON, 2006, p.43).

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VARIÁVEIS PERSPECTIVAS

CLÁSSICA PROCESSUAL EVOLUCIONÁRIA SISTÊMICA

Pensamento Prescritivo Prescritivo Descritivo Múltiplo

Estratégia Formal Elaborada Eficiente Inserida

Justificativa Maximização de

lucro Vaga Sobrevivência Local

Foco Interna (planos) Interna (política

/cognições) Externa (mercados)

Externa (mercado

e sociedade)

Processos Analítica Negociação

/aprendizagem Darwiniana Social

Influências-

chave

Economia

/militarismo Psicologia Economia/biologia Sociologia

Autores-chave Chandler; Ansoff;

Porter

Cyert & March;

Mintzberg; Pettigrew

Hannan & Freeman;

Williamson

Granovetter;

Whitley

Surgimento Anos 1960 Anos 1970 Anos 1980 Anos 1990-2000

Quadro 13 - Perspectivas sobre estratégia

Fonte: Adaptado de Whittington, 2006

A natureza complexa e imprevisível dos novos cenários, muitas vezes associadas à

falta de uma base estruturada de conhecimentos necessários para a formulação de estratégias,

impede o controle deliberado. A estratégia competitiva no ambiente complexo exige uma

sensibilidade sistêmica à diversidade das práticas econômicas contemporâneas. Essa

complexidade ambiental requer respostas imediatas às demandas da sociedade (GRAMIGNA,

2007; KOTLER, 2006; MONTANA e CHARNOV, 2010, PORTER, 1986).

[...] enquanto uma grande empresa emprega equipes de consultores e analistas para

reunir informações com o objetivo de estudar continuamente o comportamento de

fatores como as expectativas de mercados, evolução tecnológica, as alterações dos

padrões culturais da sociedade, dentre outras, uma pequena empresa talvez realize

essa prospecção de maneira mais informal, mediante o acompanhamento da

imprensa especializada, acesso aos periódicos na internet, coleta e interpretação de

informações estatísticas públicas. A capacidade de pensar estrategicamente é ainda

menos dependente do tamanho da empresa: há pequenos e médios empresários e

administradores capazes de entender situações complexas e de articular respostas

globais (CASTOR, 2009, p.37-38).

A leitura do mercado e as respostas quanto ao posicionamento organizacional e

ações de influência diante do ambiente é fator de desenvolvimento das estratégias

corporativas.

2.7.4 Dimensão tecnologia/inovação

A tecnologia é retratada com extensão à inovação, considerando a indivisibilidade

de ambas. Quando se verifica o nível de domínio tecnológico por uma empresa, observa-se a

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142

sua capacidade para utilizar o conhecimento, para adaptá-lo às novas situações que surgem e

para aperfeiçoá-los a fim de manter a competitividade da empresa (KRUGLIANSKAS, 1996).

Schumpeter (1982) afirma que o elemento motriz da evolução do capitalismo é a

inovação, seja ela em forma de introdução de novos bens ou técnicas de produção, ou mesmo

através do surgimento de novos mercados. Nelson e Winter (2005) pontuam que o papel da

inovação como elemento fundamental para o entendimento da dinâmica capitalista foi um dos

grandes feitos de Schumpeter.

A inovação nos últimos anos tem sido a vedete da nova perspectiva para o

crescimento econômico, seja de regiões sofríveis com dados reveladores diante do contexto

social e econômico, seja daquelas localidades com melhores resultados de desenvolvimento.

As organizações estão inseridas nessa realidade dicotômica. Masiero (2009) destaca que as

inovações tecnológicas são concebidas sob vários níveis de análise e abordagens, e ainda

caracterizando-se como conhecimento transformado em produto ou serviços.

Porter (1999, p.37) amplia esta definição descrevendo que a tecnologia “é o

conjunto de conhecimentos necessários para se conhecer, produzir e distribuir bens e serviços

de forma competitiva”. Esta definição apresenta duas implicações: a tecnologia abrange toda a

empresa, e é utilizada para agregar valor aos produtos e serviços proporcionando vantagem

competitiva.

O processo inovador não se restringe a produtos e processos, mas envolve novas

formas de gestão, novos mercados e novos insumos de produção (SCHUMPETER, 1982).

[...] Inovação destina-se a dar mais competitividade a uma tecnologia, ou descoberta

tecnológica, de um produto ou processo, ampliando a participação da empresa no

mercado e, assim, agregando valor econômico e lucratividade. A inovação permite

que as organizações diversifiquem suas ofertas de produtos e serviços, podendo

alavancar seus retornos de investimentos (NICOLSKY, 2001, p. 11).

Na teoria econômica dominante, baseada nos pressupostos neoclássicos, a

empresa é tratada como uma "caixa preta", cabendo-lhe apenas combinar fatores de produção

disponíveis (capital e trabalho), buscando assim, a maximização de uma função objetivo num

mercado de produtos homogêneos (DOSI, 2006). A tecnologia é tratada apenas como um

leque de técnicas, portanto, com custos de acesso e utilização desprezíveis, expressa através

de uma função de produção.

Considerada em termos dinâmicos, a concorrência adquire um aspecto peculiar,

tem implicações importantes para o sistema econômico como um todo e resultados bastante

diferentes daqueles apontados pela teoria neoclássica (KIM, 2005). Figueiredo (2005) ressalta

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143

a influência da “perspectiva neo-schumpeteriana”55

, emergindo vários estudos voltados para a

compreensão do desenvolvimento tecnológico em empresas de países em desenvolvimento.

Leonard-Barton (1998) afirma que as empresas e setores da economia, incluindo o Estado,

que não procuram investir em tecnologia para poder inovar, acompanhada de um aparato

institucional mais eficiente, estão condenadas a desaparecer nos referidos mercados - isto é, a

perder espaço para aquelas empresas que visualizam a inovação como meio de diferenciação.

A capacidade de inovação exerce um papel decisivo na determinação de quem

prospera na arena global. E representa a base de criação de vantagens estratégicas de mercado

para as empresas, fator de grande necessidade no contexto competitivo mundial. A inovação

constitui-se no fator determinante no processo dinâmico da economia e, ao mesmo tempo,

torna-se fundamental para definir os paradigmas de competitividade econômica,

especialmente no atual crescimento da competitividade em nível regional e global (NELSON

e WINTER, 2005). Neste sentido, as mudanças deixam de ser escolhas e passam a retratar a

realidade imperativa das organizações. As inovações tecnológicas emergem, enquanto gênese,

de processos que muitas vezes são desprezados nos estudos das novas combinações da

estrutura produtiva (KIM, 2005).

É importante entender esse tema no contexto das economias e/ou regiões de

industrialização tardia. Empresas que operam nesse contexto caracterizam-se pela necessidade

de moverem-se da acumulação de capacidades de mero uso ou operação de sistemas

existentes para acúmulo de capacidades para inovar tecnologias e sistemas de produção

(TACLA; FIGUEIREDO, 2003). A dependência histórica não se legitima no novo cenário,

mas pesquisas realizadas em países e empresas situadas em economias “emergentes” revelam

a trajetória tecnológica que comprova o poder de assimilação, absorção e reprodução do

conhecimento tecnológico (FIGUEIREDO; 2004, 2005, 2006; DOSI, 2006; KIM, 2005;

LEONARD-BARTON, 1998).

[...] A tecnologia passou a ser considerada uma variável endógena ao processo de

desenvolvimento e/ou sistema econômico e, sem dúvida, vem assumindo um papel

crescente, e cada vez mais importante, na estrutura econômica determinante. Nessa

nova dinâmica, delineia-se a construção e desenvolvimento diferenciado das firmas:

(a) comportamento das firmas para atingir seus objetivos, e não maximizar somente

o lucro; (b) ênfase nos conflitos intrafirmas e/o intraorganizações; (c) ênfase em

ambiente externo de atuação das firmas; (d) ênfase sobre imperfeição de

conhecimentos; necessidade de assimilação e absorção do conhecimento; (e)

55

Representa vários aprofundamentos sobre a Teoria Schumpeteriana, realizados por autores comumente

chamados de neo-schumpeterianos que surgiram, gerando novas alternativas para o tratamento da inovação e do

progresso técnico. Richard Nelson, Sidney Winter e Giovanni Dosi estão entre os principais expoentes da escola

neo-schumpeteriana e apresentam-se com um viés em contraposição ao equilíbrio, maximização e racionalidade

perfeita que são justamente as bases da teoria ortodoxa, que a teoria evolucionária questiona.

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144

aceleração de acúmulo de aprendizagem, do uso para a inovação; (f) ênfase aos

aspectos organizacionais – base qualitativa (DOSI, 2006, p. 62).

A crescente importância do conhecimento para os processos competitivos tem

estimulado os estudos sobre as condições de capacitação das empresas e tem destacado

diferentes dimensões dos processos de aprendizagem. Os estudos sobre a inovação como um

fenômeno interativo e endógeno aos processos competitivos, e inerentes aos regimes

tecnológicos específicos também têm destacado que a inovação não se refere apenas às

mudanças de natureza radical nos processos e produtos, reconhecendo a importância das

inovações incrementais e também as de natureza organizacional. “Os avanços tecnológicos

estão modificando o ambiente de trabalho e exigindo novas habilidades e competências aos

trabalhadores” (ROBBINS, 2005, p.433). Motta (2001 p. 97) ressalta a questão da evolução

tecnológica moderna em harmonia com o saber em todos os níveis da organização.

“Educação, conhecimento e habilidade em manter o fluxo adequado de informações tornam-

se fatores primordiais no progresso empresarial”.

Leonard-Barton (1998) explica que a aprendizagem é um processo da acumulação

de conhecimento da organização, mas que depende das capacitações prévias e do acesso às

fontes externas de informações. Esse processo adquire, portanto, distintos formatos e provoca

impactos diferenciados sobre o tipo de conhecimento acumulado. A criação de competências

da empresa é um processo contínuo de aprendizagem, do qual decorrem capacitações também

especificas (TACLA; FIGUEIREDO, 2003; KIM, 2005). Neste sentido, as expectativas de

melhoramentos contínuos, através do ritmo das mudanças das inovações e difusão da

tecnologia, assumem cada vez mais importância nas decisões e expectativas empresariais de

investimentos notadamente contextualizadas em ambientes de incertezas. A obtenção e a

aprendizagem tecnológica das economias emergentes têm levantado interrogações em busca

da compreensão desse fenômeno (KIM, 2005; FIGUEIREDO, 2004).

Windrum (2008); Figueiredo (2006) destacam que há uma tendência de se

negligenciar a dimensão organizacional (gerencial) da capacidade tecnológica, ou seja, grande

ênfase é dada para o “capital humano” em detrimento do “capital organizacional”. Esse

fenômeno deve causar uma entropia no processo de aprendizagem tecnológica considerando

que o acúmulo de tecnologia se efetiva no tecido organizacional e gerencial do sistema. No

que diz respeito ao processo de acumulação da capacidade tecnológica, Figueiredo (2005)

salienta que empresas que operam em economias emergentes ou de industrialização recente

não detêm capacidades tecnológicas básicas. Essa evidência exige dessas organizações a

necessidade de estabelecerem um processo de aproximação chamado de “fronteira

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145

tecnológica internacional” como forma de obterem a aprendizagem para construir e acumular

sua capacidade tecnológica. Essa afirmativa pode ser inferida diante da relação da MPE com a

GE, considerando a relação de parceria dessas empresas, creditando a possibilidade de

influência da GE nos processos internos das MPEs prestadoras de serviços como condição de

criação de valor para oferta do trabalho para a contratante, a grande empresa, caracterizando-

se a fronteira tecnológica da parceria. Logo, compreender e desmistificar o processo de

aprendizagem e inovação tecnológica é imperativo.

[...] A inovação tecnológica constitui um processo não-linear e cumulativo, e que faz

uso de várias fontes (de informação, conhecimento, tecnologias, recursos humanos e

materiais, etc.) para se realizar. Nesse sentido, as empresas e as organizações de

apoio ao sistema de inovação buscam se manter atualizadas, atuantes e competitivas

no contexto da economia baseada no conhecimento e no aprendizado

(FIGUEIREDO; VENDOVELOO, 2006, p.196).

Contudo, os estudos são realizados sob a perspectiva da economia do

conhecimento, das capacidades dinâmicas e da competição globalizada, restringindo-se a

examinar o processo de inovação em economias tecnologicamente avançadas, ou seja, em

países desenvolvidos. Posicionar-se voltado para a velocidade das mudanças com dinamismo

para a fronteira tecnológica torna-se condição sine qua non nessa perspectiva. As empresas

que operam em economias emergentes devem potencializar a capacidade tecnológica

(acumular), delineando a necessidade de as empresas dominarem não somente o processo de

desenvolvimento de capacidade tecnológica, como também, aprender a acelerar sua inovação

(FIGUEIREDO; 2004, 2005; LEONARD-BARTON,1998).

PROCESSO DESCRIÇÃO

1-Aquisição de

conhecimento externo

- Os indivíduos adquirem conhecimentos tácitos e/ou codificados advindos de fora

da empresa;

- Importação do saber externo, recorrer à assistência externa e promover

treinamento no exterior;

- Canalização sistemática de saber externo codificado.

2-Aquisição de

conhecimento interno

- Os indivíduos adquirem conhecimentos tácitos exercendo diferentes atividades na

empresa (tarefas rotineiras, aperfeiçoamento dos processos);

- Centros de P&D formalmente organizados;

- Experimentação sistemática nas unidades operacionais.

3-Socialização de

conhecimento

- Os indivíduos compartilham seu saber tácito (modelos mentais e aptidões

técnicas);

- Processo formal e informal;

- Diversificação dos treinamentos.

4-Codificação de

conhecimento

- Saber tácito individual se torna explícito – saber organizado e acessível,

facilitando a assimilação;

- Conhecimento codificado - padronização dos métodos

Quadro 14 – Definição do processo de aquisição, socialização e codificação

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2003)

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146

A dinâmica do processo é tornar o conhecimento acessível e disseminado na

empresa. As etapas 3 e 4 são cruciais para a conversão da aprendizagem individual em

aprendizagem organizacional. A correlação do processo e característica não garante a eficácia

do sistema, visto que diferentes fatores na empresa podem influenciar os processos de

aprendizagem. O funcionamento adequado do processo de aprendizagem pode auxiliar a

trajetória de acumulação de competência tecnológica, com consequente melhoria do

desempenho operacional. Seguem, de forma sintética as características de aprendizagem:

CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO

1 – Variedades

- Medição dos processos de aprendizagem ocorre entre e dentro deles;

- Nível adequado de conhecimento individual, mas incorporados ao plano

organizacional.

2 – Intensidade

- Frequência com que se cria, atualiza, utiliza e aperfeiçoa os processos de

aprendizagem ao longo do tempo;

- Pode garantir um fluxo constante de saber externo para a empresa – pode

melhorar a tecnologia adquirida e os processos de aquisição de conhecimento

interno – pode assegurar a conversão da aprendizagem individual em

aprendizagem organizacional.

3 – Funcionamento - O modo como o processo de aprendizagem opera ao longo do tempo;

- Interferir na variedade e intensidade – aumentar ou diminuir.

4 - Interação - Modo como os diferentes processos de aprendizagem se influenciam

mutuamente – socialização do saber versus aquisição do saber externo.

Quadro 15 – Principais características dos processos de aprendizagem

Fonte: Adaptado de Tacla e Figueiredo (2003); Figueiredo (2005).

O modelo desenvolvido facilita a compreensão diante da velocidade do processo

de acumulação de capacidade tecnológica que pode orientar estratégias empresariais e

governamentais de inovação. Conforme o autor, esse modelo permite examinar vínculos entre

empresas em certo setor, independente de seu tamanho e da sua nacionalidade. Pode-se

examinar, particularmente, o desenvolvimento tecnológico em pequenas e médias empresas.

Quanto ao entendimento da capacidade tecnológica de uma empresa, a análise de

seu armazenamento e acúmulo, tem nos estudos de Figueiredo (2003, 2004, 2005) uma

tipologia consistente a partir da construção do sistema físico – com aparato de base de dados

transferível, com a possibilidade de compra da tecnologia; o sistema de recursos humanos é

compreendido pela experiência e talento acumulado – nessa etapa o conhecimento tácito

prevalece e a singularidade da aprendizagem é restrita ao detentor do conhecimento; sistema

organizacional ou tecido organizacional que representa os processos de gestão, nessa etapa

devem ser privilegiados as codificações, tornando o conhecimento viável para todos da

empresa. O modelo weberiano chamaria de formalização dos processos; e a última etapa

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147

caracteriza-se pelos produtos e serviços advindos da integração e dinâmica das demais partes

que sustentam e agregam para a capacidade tecnológica.

Nessa perspectiva, para a absorção do conhecimento das tecnologias existentes a

empresa deve ampliar seus horizontes para além de seu ambiente interno. A atividade

gerencial torna-se de extrema relevância para o processo de aprendizagem organizacional.

Um dos argumentos apresentados está relacionado ao cenário de interdependência entre a

empresa, o mercado e a sociedade. Leonard-Barton (1998) delineia que as empresas diferem

consideravelmente quanto à sua capacidade de desenvolver nascentes do saber externas, isto

é, de identificar, acessar e assimilar saber de fontes externas. A lógica passa a ser a construção

de alianças para a aprendizagem.

Dentre os pontos para as alianças e para a aprendizagem das empresas há destaque

na literatura a partir de Leonard-Barton (1998, p.67):

- A natureza das deficiências de aptidão: está relacionada à incapacidade técnica

da empresa, ou seja, quando o know-how56

não está disponível ou não representa um processo

adequado internamente. As aptidões estratégicas representam para as empresas a

integralização de diferencial diante de seus concorrentes, sendo essencial para o alcance

estratégico institucional. Um fator importante a ser trabalhado pelos gerentes é a forma de

compreender a deficiência de aptidão, mas para diagnosticar a ausência é necessário

familiarizar-se com o vínculo entre estratégia e tecnologia em seu ramo de negócio.

Leonard-Barton (1998) afirma que o vínculo entre estratégia e tecnologia é

amiúde precário ou inexistente, e a deficiência pode estar em qualquer uma das pontas da

conexão desejada. Pela estratégia, as distorções podem ocorrer a partir da ausência do

compartilhamento dos gestores para com seus liderados ou na disfunção do processo de

comunicação da empresa, os dois itens causam desconhecimento do intento estratégico.

Do lado da tecnologia, as deficiências podem ocorrer a partir da obsolescência

(mercado externo alcançar ou superar a aptidão interna), considerando o não aperfeiçoamento

ou desenvolvimento de novos conhecimentos / aprendizagem tecnológicas (FIGUEIREDO,

2004). A aptidão tecnológica específica certamente é essencial para cumprir a estratégia da

empresa, sendo necessário avaliar as estruturas e processos organizacionais. O declínio das

pesquisas básicas, na medida em que houve um decréscimo nos investimento por parte das

empresas.

56

Terminologia internacional que designa o conhecimento que a organização possui determinado processo,

diferenciando-a das demais ((GOMES, 2012, p. 235).

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148

- Variedade das fontes nas quais se podem adquirir saber: o diagnóstico das

disfunções ou deficiências de aptidão é determinante para a escolha das fontes potenciais do

saber tecnológico. As fontes externas do saber tecnológico ou potenciais aliados em

tecnologia são: consultores, clientes, laboratórios nacionais, vendedores, universidades e

empresas – concorrentes e não concorrentes. A transferência do saber através das fronteiras

organizacionais é mais facilitada quando os interessados não são concorrentes diretos.

- Mecanismos de aquisição e importação: verifica-se que o processo de

importação se efetiva por observação, parcerias, alianças estratégicas, contratos de P&D, mas

de forma consistente – com grau de compromisso e potencial de aquisição, através de

aquisições e fusões, joint ventures57

e licenciamentos exclusivos. A duração ao longo do

tempo diante das fontes externas dependerá do tipo de mecanismo de absorção utilizado.

- Questões gerenciais para a formação de uma capacidade de absorção: somente

estabelecer mecanismos de aquisição e absorção de tecnologias não garante sua

integralização, pois é necessário estar preparado em processos e recursos. O esforço e o

comportamento gerencial são preponderantes para o alcance do resultado consistente para a

organização. A manutenção das pessoas na organização influencia na absorção de saber. Há

de se evidenciar que quando analisada a dimensão – pessoas – muito dos conhecimentos

podem ser tácitos, ou seja, intransferíveis.

Quanto ao entendimento da capacidade tecnológica da empresa, a análise de seu

armazenamento e acúmulo, tem-se nos estudos de Figueiredo (2003, 2004, 2005) uma

tipologia extremamente consistente a partir da construção do sistema físico – com aparato de

base de dados transferível, sendo o fator concreto; sistema de recursos humanos

compreendido pela experiência e talento acumulado, sendo o conhecimento tácito; sistema

organizacional / processos de gestão, associado aos procedimentos e rotinas, assim como, nas

técnicas e ferramentas de gestão; e produtos e serviços, referindo-se a parte mais visível da

capacidade tecnológica. Ao analisar estas questões à luz do quadro de referências do sistema

tecnológico compreende-se que a gestão por inovação pressupõe o desenvolvimento da

capacidade de absorção, manutenção e construção de um tecido tecnológico competitivo das

economias emergentes, potencializando a velocidade da inovação.

Amaral Filho (2011) explica que as MPEs apresentam bom desempenho na

difusão de inovações tecnológicas, facilitada pela flexibilidade estrutural, mas isso não

57

Terminologia internacional utilizada pela administração para designar a união entre pessoas ou empresas que

se juntam para realizar um determinado empreendimento, a partir de suas características similares nos negócios

(GOMES, 2012, p. 229)

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149

acontece facilmente, com a geração de inovações propriamente dita, de acordo com a visão

schumpteriana restrita, no tocante às empresas de porte muito pequeno e atuando em setores

tradicionais. A relação entre organização e inovação é complexa, dinâmica e multinível.

Ao analisar estas questões à luz do quadro de referências da dimensão tecnologia

compreende-se que a gestão por inovação pressupõe o desenvolvimento da capacidade de

absorção, manutenção e construção de um tecido tecnológico competitivo das economias

emergentes, potencializando a velocidade da inovação. Idéias inovadoras possuem várias

fontes. Algumas são originárias em um flash de inspiração, enquanto outras, acidentalmente

(CORAL, 2008).

2.7.5 Dimensão ambiental

As organizações existem dentro de ambientes incertos e turbulentos, ou

previsíveis e inalterados (CERTO, 2010, HALL, 2004; MOTTA, 2008). As estruturas

organizacionais, o processo de liderança e os sistemas de controle irão variar de acordo com o

ambiente (QUINN et al., 2012). Mintzberg (2003) critica as imagens altamente sistemáticas

representadas nos princípios de administração e alerta que os gestores vivem em ambientes

altamente imprevisíveis e tem pouco tempo para planejar e organizar. As demandas do

ambiente exigem dos gestores decisões imediatas.

Wood Junior (2002) considera que as organizações são sistemas abertos e devem

encontrar uma relação de interdependência apropriada com o ambiente para viabilizar sua

sobrevivência. Ratificando este pensamento, Bethlem (2004) destaca que o ambiente de uma

empresa pode ser dividido em fronteiras, em regiões, mercado ou ramos de atividades.

A corrente que discute o ambiente e que foi retratada pela Teoria da Contingência

com Burns e Stalker (1961), correlacionando o ambiente e as características das organizações,

e por Joan Woodward (1965) com enfoque diante dos impactos da tecnologia na estrutura.

Posteriormente, Lawrence e Lorsch (1973) enfocam a criação por parte das empresas do

diferencial competitivo capaz de estabelecer atratividades aos clientes. Essa demanda advém

das mudanças e diversificação de mercados que exigem uma postura antecipativa e de

flexibilidade.

A orientação com enfoque para o ambiente revela-se imperativa e é unanimidade

na literatura. As organizações nesse contexto estão ávidas de respostas diante daquilo que

pouco pode obter. Pela incerteza, volatilidade e ambiguidade, torna-se difícil não somente a

compreensão como as respostas. Martins e Pereira (2008?) em pesquisa realizada no setor

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150

têxtil com empresas longevas identificaram práticas de gestão utilizadas nas empresas, com

forte viés de mercado, com construção de planejamento voltado para o desempenho e foco no

crescimento estando à mercê do fator econômico.

O dicionário da administração passa a se configurar fora do subsistema e a

valorização dos fenômenos do ambiente de negócios se agiganta e as evidências das

organizações são diferentes – em tamanho, objetivo, tempo de existência. As teorias mais

recentes caracterizam-se por enfocar os aspectos estruturais e aspectos relacionais e políticos

do ambiente: teoria de ecologia populacional, a perspectiva das organziações em rede, teoria

da dependência de recursos, teoria dos custos de transação e a teoria neo-institucionalista.

[...] Para a teoria da ecologia populacional são os fatores do ambiente que

determinam a sobrevivência de populações de organizações de certo tipo em dado

ambiente. A organização tem pouca influência na determinação do seu destino,

tendendo à inércia e à preservação de suas estruturas [...] a perspectiva das

organizações em rede analisa os aspectos relacionais e políticos relativos à formação

de redes e à criação de vínculos entre organizações. O ambiente é considerado um

conjunto de organizações interconectadas baseadas em elementos e interesses

comuns. A teoria da dependência de recursos foca também o estabelecimento de

vínculos e links entre organizações, dentro de perspectivas de que as organizações

buscam controlar recursos escassos dos quais dependem para sua sobrevivência. A

neo-institucionalista oferece uma perspectiva teórica complexa com base na qual

analisa como os modelos e símbolos são institucionalizados em dado ambiente

passando a ser fonte de legitimidade e recursos para as organizações [...] a teoria dos

custos de transação retrata que um dos principais objetivos das organizações é

minimizar os custos envolvidos nas trocas de recursos com o meio ambiente e com

as outras organizações, economizando tempo e recursos [...] mostra que os

indivíduos, bem como os grupos organizacionais, possuem uma capacidade limitada

de obter e interpretar informações. Dessa forma, quanto mais complexo e incerto for

o ambiente, quanto mais rápidas forem as mudanças, maiores serão as dificuldades

para obter e processar informações e negociar; consequentemente, maiores serão os

custos de transação (MOTTA, 2008, p.369).

A verificação de fronteiras do sistema, particulamente a interface entre sistemas

externos e internos, e a determinação das relações dos vários subsistemas trazem contribuição

direta para a administação como forma de repensar seus conceitos e aplicações nos processos

organizacionais. Nessas abordagens, os fenômenos organizacionais não se restringem aos

fatores controláveis e postulados reducionistas, uma vez que se eleva o papel do ambiente

com suas diversas facetas incotroláveis. Fazendo um trocadilho com a dinâmica ambiental e

os gestores, Geus (1998) relata que cenários relevantes, trazidos ao nível do “ator individual”,

ajudam os gerentes e sua equipe a investigar o terreno e ver o panorama mais amplo. O

cenário exige uma nova mentalidade dos gerentes, com visões e ideias relativas ao tecido

organizacinal diferenciada e a “paisagem” os ajudam a nela reconhecer aspectos novos e

“impensáveis”.

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151

Rodriguez y Rodriguez (2011) afirmam que a necessidade de mudar o foco do

elemento ou da peça para o todo representa o desenvolvimento de uma visão sistêmica. A

crescente interdependência entre as condições mutáveis de limitação corporativa e a sociedade

evidencia esse fenômeno como ascendente nas problemáticas no ambiente de negócios.

Os meios tradicionais empregados para medir a eficácia organizacional não

refletem adequadamente os fatores determinantes da longevidade e consequentemente do

êxito organizacional (ARRUDA et al., 2007; COLLINS, 2006). Pelo contrário, estes critérios

fornecem parcelas estáticas de tempo rendimento e de satisfação, que podem ser irrelevantes,

segundo confirma Dalsasso (2010).

A controvérsia em torno da maximização e satisfação desviou a atenção de

problemas mais cruciais, como a questão de manter-se viva e em crescimento constante.

Robbins (2005) critica a visão imediatista das organizações, já que se sobrepôs a irrefutável

necessidade de vida longa. Contudo, as exigências paradoxais, as organizações em seus

subsistemas podem criar valores que permitam adaptabilidade às infinitas exigências.

Montana e Charnov (2010) afirmam que as mudanças nos métodos de produção

provocam modificações no número de funções de trabalho, na distribuição destes entre as

funções e na relação de ambos. Mundialmente, esses fenômenos ocorridos na trajetória do

processo de produção, têm conduzido inúmeras pesquisas na busca de compreender as

variações das formas correntes de prática e de comportamento organizacional (NICOLSKY,

2001).

A visão sistêmica e contingencial da administração se legitima na complementaridade

e integração, uma vez que aceita tanto abordagens tradicionais como as contemporâneas,

priorizando o momento e a situação em que está inserida o ambiente corporativo. Castor

(2009) destaca que uma MPE pode ser perfeitamente competitiva, desde que seja capaz de

identificar corretamente qual o valor que seus recursos lhe permitem criar e em que nichos de

mercado existem clientes e consumidores interessados.

Em destaque, variáveis contingenciais associadas às dimensões organizacionais das

MPEs.

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152

DIMENSÕES VARIÁVEIS CONTINGENCIAIS

Estrutura

-Arquitetura organizacional – remodelagem corporativa, do negócio e

construção da funcionalidade administrativa enxuta; Funções (redesenhadas) e

papéis (expectativas mútuas). Sistema organizacional ágil, flexível e

empoderado.

Comportamento

-Universo individual – as divergências latentes de características, potenciais e

pensamentos, inerentes às pessoas. Desejo de crescimento, autonomia e

tolerância são expectativas que corroboram para as ambiguidades. Necessária

fonte de inventividade, capacidade crítica, otimização e sensibilidade permeadas

com as pessoas. Evidência de dilemas éticos.

Estratégia

-Intervenção e adaptação – estratégia intencional de mudança, projetada no

tempo, oportunidade e foco. Interface com ambiente, dominância da informação

e percepção da cultura. Criação de crises e presciência.

Tecnologia

-Tecnologia de processos - fator imperativo, agregar para o alcance de seus

propósitos, esboçar as rotinas com creditação das pessoas e do incremento

tecnológico. Interface com inovação, produtividade e interconectividade.

Ambiente

-Incerteza ambiental – a precariedade das mudanças políticas, tecnológicas,

socioculturais e econômicas limitam o processo administrativo. A imperfeição

ambiental cria crises internas. Visão global de sustentabilidade (econômica,

social e ambiental).

Quadro 16 - Dimensões organizacionais e variáveis contingenciais.

A empresa “viva” precisa de um novo governo, cada vez menos empresas viverão

e trabalharão em um ambiente sobre o qual exerçam controle em alto grau (GEUS, 1998,

p.189). Mintzberg (1984) critica a aplicação da burocracia mecânica nas organizações em

razão da turbulência do ambiente tornando esse modelo inadequado e sem possibilidades de

responder ao mercado.

Os recursos empresariais disponíveis são inversamente proporcionais às

exigências de mercado e a disposição dos entes próximos do cotidiano da organização. O

concorrente ao mudar e estabelecer ações estratégicas de prospecção no mercado, eleva as

oscilações das mudanças além da incerteza ambiental, que emergem sobre a empresa. Esse

resultado inevitavelmente acarretará crises internas, contrastando-se com o processo

administrativo posicionado pela empresa. Nesse caso, a capacidade da empresa frente ao

ambiente é limitada.

Miotto e Oliveira (2003) apontam as crises como a identificação das fragilidades a

que está sujeita a empresa, crises como as potencializadas pelas alterações ambientais e a

influência da tecnologia, podem tansformar a organização. A tecnologia flexível permite que

as empresas se diferenciem em produtos e serviços pelo baixo custo.

Dessa forma, afirma Peng (2008, p. 54) “o nome do jogo pode ser personalização

em massa, a busca simultânea de liderança em custos e diferenciação”. A categorização do

desdobramento das dimensões organizacionais: arquitetura organizacional, o universo

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individual, a intervenção adaptativa e a tecnologia de processos serão testados, condenados ou

reverenciados nessa dramaturgia do sistema - empresa e mercado.

Um aspecto relativo às MPEs abordados por Martins e Pereira (2008?) em relação

às práticas de gestão utilizadas pelas empresas longevas diante da incerteza ambiental, são

classificadas hierarquicamente como: conhecimento de mercado, liderança, inovação

constante, valorização das pessoas, processo sucessório, senso de indentidade e cultura

arraigada.

A sustentabilidade é evidenciada por Arruda et al. (2007) como fator de relevância

para que a “empresa duradoura” obtenha competitividade. Desenvolver um agudo senso de

percepção do ambiente, da conjuntura, conhecer e compreender os mecanismos de mudança

são os fatores fundamentais para seguir esse novo caminho (WOOD JÚNIOR, 2002, p.29).

Trata-se de uma interferência no proceso evolucionário da empresa através da indentificação

de situações problemáticas. Mas, o aprendizado contínuo consiste em um enfoque

exploratório não apenas para descoberta de problemas, mas para solucioná-los (CERTO,

2010; DONADONE et al., 2012; MOTTA, 2001). Nesse sentido, a reação adaptativa

representa uma resposta planejada a problemas organizacionais.

Num passado remoto, quando muitas atividades se restringiam ao nível pessoal ou

ao contexto organizacional, as formas de administrar eram discricionárias, previsíveis e

controladas, tornando-se ilusoriamente simplórias. O comportamento organizacional, desde

então, se tornou crescentemente complexo e sujeito às influências ambientais.

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154

CAPÍTULO 3 - QUESTÕES EPISTEMO-METODOLÓGICAS

Neste capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos que

delineiam a tese. Descreve-se a categoria de análise elucidando-se a perspectiva do tipo que se

compreende ser mais apropriada para a investigação do objeto de pesquisa. Posteriormente,

serão apresentados o universo e a seleção de sujeitos. A coleta de dados é descrita com seus

procedimentos e com o tratamento de dados. Por fim, as possíveis limitações que o método de

pesquisa apresenta. Marconi e Lakatos (2006, p.83), afirmam que o método “é o conjunto das

atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o

objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões na

pesquisa”.

1ª ETAPAPESQUISAS EXPLORATÓRIAS

2ª ETAPAPESQUISA QUANTITATIVA

FASE 1 FASE 4

QUESTIONÁRIOS VIA INTERNET / APLICAÇÃO IN LOCO

VISÃO QUANTITATIVA – EMPREENDEDOR/ GESTOR / DIMENSÕES ORGANIZACIONAIS

FASE 2 FASE 3

DESK RESEARCH

ANTECEDENTES / PESQUISAS MPEs

ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE

VISÃO SISTÊMICA

PLANO NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DAS MPEs

VISÃO QUALITATIVA

Entrevista MDIC

Entrevista Empreend

Entrevistas Itália

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE

DADOS SECUNDÁRIOS

INSUMOS INSUMOS

Análise de conteúdo

INSUMOS

MPEs

Prestadoras de serviços

82 empresas

ANÁLISE E CONCLUSÕES

PROCESSAMENTO

RESULTADOS

Observação direta

Gráfico 4 – Metodologia

3.1 Categoria de análise

A descrição da categoria de análise constitui a construção entre a problematização

fixada na pesquisa e o delineamento do trabalho de elucidação sobre o campo de análise,

objeto da pesquisa, forçosamente restrito e preciso (QUIVY e CAMPENHOUDT, 2008).

Construí-lo equivale, portanto, a elaboração de um sistema coerente de investigação na

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155

pesquisa. A tese: Longevidade das Micro e Pequenas Empresas Prestadoras de Serviços: Um

estudo das dimensões organizacionais e suas implicações. O estudo foi delineado através de:

1 - Realização de levantamento de informações disponíveis e análise de dados

secundários (Desk Research); entrevistas em profundidade objetivando a visão sistêmica do

sistema das MPEs no contexto mundial e brasileiro. Como membro participante do Plano

Nacional de Capacitação das MPEs do MDIC. Os passos anteriores foram de grande

importância para o levantamento dos insumos para construção dos questionários e posterior

análise quantitativa dos dados.

2 - Descrição das MPEs com a classificação dessas empresas conforme descrito

na seção 2.1. A classificação de MPEs sempre é alvo de discussão na literatura quanto a

melhor forma de aplicação nas pesquisas e não havendo concordância. Diante desse

antagonismo, foram utilizadas duas classificações, uma mescla de conceitos, que permeiam

estudos sobre o tema com critério de regulamentação e aceitas cientificamente como

pertinentes, sendo que nesta pesquisa, são não excludentes, ou seja, as empresas pesquisadas

devem atender às duas especificações. A referência adotada foi a classificação das micro e

pequenas empresas utilizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE) – por número de funcionários; e pela classificação definida na Lei Geral da Micro

e Pequena Empresa (2006) e alterada pela Lei Complementar nº 139 de 10.11.2011 – por

receita bruta anual.

3 - Diante da segmentação quanto ao tipo e natureza da empresa, foram

exploradas as MPEs prestadoras de serviço, caracterizadas conforme referencial teórico na:

intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade, perecibilidade, relação com o cliente e

uniformidade com seus respectivos indicadores. Houve o aprofundamento da discussão desse

segmento - prestadores de serviços suas particularidades e contemporaneidades, seu fator

agregador para economia brasileira, assim como, o que as evidenciam do cenário profícuo;

4 - As dimensões organizacionais são teorizadas pela: estrutura e processos,

comportamento, estratégia, tecnologia/inovação e ambiente, descrevendo-se para cada

dimensão, componentes e indicadores que evidenciem suas práticas. O estudo faz uma

imersão diante dos desdobramentos das dimensões, com fatores que agregam um arcabouço

de variáveis discutidas à luz da análise bibliográfica, pesquisa de campo, com posterior

análise de dados;

5 - As MPEs prestadoras de serviços têm parcerias contratuais com as seguintes

grande empresas: ALUMAR, Companhia de Energia Elétrica do Maranhão – CEMAR, Coca

Cola, Concessionária Fiat no MA, Grupo Mateus Supermercado, Grupo Cyrela, OI e VALE.

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6 - Verificações quanto aos fatores de longevidade, sendo utilizado por critério de

tempo de existência, aqui nesta tese entendida como aquelas em atividade com cinco anos de

existência ou mais;

7 - Cenário e resultados das MPEs nos órgãos oficiais: IBGE, SEBRAE, MDIC

(Departamento de Micro, Pequenas e Medias Empresas), MTE e Junta Comercial do

Maranhão (JUCEMA).

8 - Fatores determinantes a partir das dimensões que influenciam diretamente na

longevidade das MPEs prestadoras de serviços;

9 - Outras informações relevantes para as MPEs nas economias emergentes, no

ambiente internacional, no Brasil e no Estado do Maranhão, que favoreçam a compreensão

diante da temática longevidade.

3.2 Tipo de pesquisa

O tema em discussão preconiza a longevidade e entender esse fenômeno

pressupõe desmistificar o que a legitima. Quivy e Campenhoudt (2008, p. 31) afirmam que

“uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para um melhor

conhecimento e deve ser aceito como tal, com todas as hesitações, desvios e incertezas que

isso implica”. Gil (2002) define pesquisa como um procedimento racional e sistemático, que

visa proporcionar respostas a problemas que se apresentam.

A pesquisa sobre longevidade das MPEs prestadoras de serviços utiliza

características quantitativas e qualitativas. Collis e Hussey (2005) explicam que a utilização

do método qualitativo corresponde a análises mais subjetivas, com percepções e aplicação de

técnicas interpretativas para descreverem um fenômeno. O método quantitativo objetiva a

mensuração de fenômenos, coleta e análise de dados numéricos e aplicação de testes

estatísticos.

[...] dada a complexidade da vida organizacional, assume-se que uma metanarrativa

não é capaz de compreendê-la na sua totalidade. Da mesma forma, a utilização de

múltiplos métodos de pesquisa e investigação na análise dos fenômenos

administrativos e organizacionais pode abrir novos horizontes para sua compreensão

[...] é por vezes difícil classificar um método como qualitativo ou quantitativo, uma

vez que informações qualitativas podem ser contadas e informações quantitativas

podem ser interpretadas. Aliás, se não forem, pouco valor costumam ter (VIEIRA E

ZOUAIN, 2006, p. 14-15).

A fundamentação metodológica tem como base os procedimentos estabelecidos

em Vergara (2007), que caracteriza a pesquisa quanto a seus fins e meios. Quanto aos fins, a

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pesquisa é uma investigação descritiva, explicativa e aplicada. Constitui-se descritiva quando

expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno e as relações

entre variáveis (TRIVINOS, 2007; VERGARA, 2007).

Gil (2002) considera a pesquisa quanto aos objetivos explicativa quando se

caracteriza por esclarecer os fatores que contribuem para ocorrências de determinado

fenômeno. Logo, há um viés explicativo, pois no caso específico desta investigação buscou-se

evidenciar os fatores que delineiam a ocorrência de maior longevidade das MPEs prestadoras

de serviços associadas às grandes empresas e a partir das dimensões organizacionais. A

pesquisa é aplicada considerando que há a motivação de resolver problemas concretos das

MPEs, tornando-se um estudo de finalidade prática.

Quanto aos meios, caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, documental e de

campo. Vergara (2007) caracteriza a pesquisa bibliográfica quando há busca sistemática das

publicações em livros, revistas, redes eletrônicas, ou seja, em material de fontes primárias e

secundárias. Ressalta-se a tentativa constante da utilização de material de fonte primária.

Fundamenta-se como documental, devido ao levantamento realizado em documentos internos

das empresas, como contratos de prestação de serviços, registro de dados de fundação da

empresa, em suma, fatores codificados das empresas.

Segundo Gil (2002) a pesquisa de campo se caracteriza pela realização da

investigação empírica, quando é realizada aplicação de questionários e entrevistas nas

empresas e diante de atores inseridos na problematização. Para o levantamento de dados, a

pesquisa utilizou-se de aplicação de questionários junto às empresas com seus

empreendedores e gestores. Foram realizadas também entrevistas com autoridades ligadas ao

segmento de MPEs e proprietários de empresas de pequeno porte, essas realizadas na Itália,

considerando o modelo de referência daquele país.

3.3 Universo e amostra

O universo da pesquisa foi extensivo às MPEs do município de São Luís - MA,

sendo consideradas empresas longevas aquelas com atividades a partir de 5 (cinco) anos e

prestadoras de serviços de grandes empresas como: ALUMAR, Companhia de Energia

Elétrica do Maranhão – CEMAR, Coca Cola, Concessionária Fiat no MA, Grupo Mateus

Supermercado, Grupo Cyrela, OI e VALE. Essas grandes empresas estão situadas em áreas

diversificadas da atividade econômica e são referências nacionais e internacionais.

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A amostra caracteriza-se como probabilística, sendo selecionada de forma

aleatória simples, utilizando o cadastro da Junta Comercial - MA com classificação de

Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP) com indicação de prestadoras de

serviços. A amostra se constitui a partir da indicação do grupo de foco com seleção de

gestores / empreendedores.

O tamanho da amostra se fundamentou na teoria da inferência estatística que

disponibiliza a seguinte expressão, segundo Levine et al. (2008), para o cálculo do tamanho

da amostra, quando se trata da estimação da proporção de determinada característica

populacional p:

Em que:

n = tamanho da amostra a ser determinado;

z = valor da variável normal reduzida correspondente ao nível de confiança desejado;

e = erro amostral admitido para a estimativa de p, e;

p = proporção populacional da variável de interesse a ser estimada.

Como o nível de confiança e o erro amostral de estimação são estabelecidos a

priori, há necessidade de que se conheça uma estimativa inicial para p, ainda que de pesquisas

anteriores correlatas, para que se calcule o tamanho da amostra. Levine et al. (2008) afirmam

que na falta de um valor inicial para p, de pesquisas anteriores correlatas, pode-se,

alternativamente, maximizar o tamanho da amostra ao usar como p o valor que também

maximiza o produto p (1-p) do numerador da expressão acima, isto é p = 0,5. Ao utilizar esse

valor para proporção, obtém-se o maior tamanho de amostra possível para o nível de

confiança e erro fixados. A majoração do tamanho da amostra ao máximo possível, entretanto,

demanda mais tempo para aplicação dos questionários e aumenta consideravelmente os

custos.

Uma alternativa utilizada por pesquisadores, e naturalmente aceita, é pesquisar um

número n máximo de amostras possíveis, determinar as proporções amostrais de interesse,

usá-las como estimativas das verdadeiras proporções populacionais e, com confiança

estabelecida, determinar o erro cometido. Em termos matemáticos, pode-se determinar o erro

amostral utilizando-se a seguinte expressão, deduzida da fórmula do tamanho da amostra:

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Foram investigadas 82 MPEs prestadoras de serviços. Com base nas informações

dessas empresas e usando o programa Sphinx de pesquisa e estatística, versão 5.1,

devidamente licenciado, foram obtidas as proporções para determinação do erro cometido na

estimação da verdadeira proporção de empresas com mais de 6 anos de existência. As

proporções são:

- proporção de empresas com existência entre 5 (cinco) e 6 (anos) anos, 1- p =

0,098 (9,8%).

- proporção de empresas com mais de 6 (seis) anos de existência p = 0,902

(90,2%);

Considerando uma confiança de 90% para a estimativa da verdadeira proporção p,

o que implica em um valor de z = 1,64 na tabela da curva normal padrão, obteve-se, após a

utilização da fórmula acima mencionada, um erro amostral e = 5,3%. Logo, a proporção de

empresas com mais de 6 ano de existência encontra-se entre 85,42% e 94,98%, com 90% e

confiança.

3.4 Coleta e tratamento dos dados

O levantamento dos dados foi realizado em conformidade com os métodos

delineados. Vergara (2007) destaca que cada um dos procedimentos escolhidos para a coleta

de dados apresenta vantagens e desvantagens. Por este motivo, estes procedimentos devem

estar relacionados com os objetivos, geral e intermediário, demonstrando a pertinência das

técnicas de coleta para o problema de pesquisa.

A pesquisa bibliográfica se constituiu em estudos associados à realidade e às

dimensões organizacionais estabelecidas nas MPEs prestadoras de serviços. Foram

pesquisados livros, periódicos, artigos científicos, teses e dissertações. A intenção dessa

pesquisa é o aprofundamento do esboço teórico como forma de melhor compreender os

fenômenos associados a esse segmento de empresas (TRIVINOS, 2007).

Quanto à investigação documental, a utilização se tornou imprescindível para o

levantamento de informações disponíveis e análise de dados secundários (Desk Research),

diante das MPEs prestadoras de serviços, dos resultados efetivos das empresas no mercado,

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como, por exemplo, os documentos como normas, procedimentos, métodos, manuais,

contratos de prestação de serviços, ou seja, processos codificados da empresa. A pesquisa

documental caracterizou-se pela busca de material nos arquivos das empresas, onde foram

encontrados circulares, memorandos, estudos, avaliações, pareceres, relatórios e outros

documentos não publicados. Os documentos desempenham papel fundamental para a coleta

de dados e a sua busca deve ser sistemática e abranger, além da empresa, bibliotecas locais e

outros centros de referência (YIN, 2009).

Na realização da pesquisa de campo, além das informações levantadas junto às

MPEs prestadoras de serviços selecionadas, utilizando-se questionário específico, foram feitas

entrevistas semiestruturadas e focalizada ou em foco, nas quais os respondentes foram

entrevistados em um período de tempo de uma a duas horas, de forma espontânea, mas

seguindo certo conjunto de perguntas do assunto estudado (VERGARA, 2009; YIN, 2009). E

ainda, participação na Comissão do Plano Nacional de Capacitação das MPEs do MDIC,

objetivando o aprofundamento da compreensão do sistema e interação com os atores

envolvidos com esse segmento, inclusive com os empreendedores / gestores participantes.

Marconi e Lakatos (2006) explicam que nesse tipo de ferramenta de coleta de

dados o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada pergunta de acordo com o que

achar importante e primordial para o momento. É uma forma de se explorar mais amplamente

uma dada questão a ser pesquisada.

No total foram realizadas cinco entrevistas: três realizadas na Itália, na Cidade de

Torino. A escolha desse País foi em razão de ser referência nesse segmento de empresas e se

diferenciar do resto do mundo com relação a longevidade. “Na Itália, as PMEs são mais de 4

milhões ou 99,9% de todas as empresas. Os 81,7% da força de trabalho é empregada nessas

empresas. A micro representa 94,9% do total das empresas e empregam 48% da força de

trabalho total” (UNIURB, 2010).

Entrevistou-se dois empreendedores/gestores de MPEs e a escolha das empresas:

Ritis Telematica s.r.l. e D.N.C. Automazioni, receberam o tratamento dos critérios de

classificação, longevidade a partir de cinco anos e prestadora de serviço da grande empresa,

no caso a Indústria Fiat. Houve ainda, uma entrevista com um professor catedrático da

Faculdade de Economia e Negócios da Universidade de Torino – Itália e duas entrevistas com

autoridades do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC) na

Secretaria da Micro e Pequena Empresa.

A estratégia de levantamento de dados com entrevistas teve a finalidade diante

dos proprietários das empresas em: (i) identificar as características de funcionalidade das

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organizações longevas italianas; (ii) estabelecer a relação da longevidade entre as empresa

brasileira e a italiana, com vieses para a influência das dimensões organizacionais; e (iii) a

parceria com a grande empresa e suas implicações na longevidade. No tocante às entrevistas

com autoridades da MDIC, objetivou-se compreender as estratégias de inserção e

desenvolvimento das MPEs no Brasil. Ressalta-se que aos entrevistados foram apresentados

os objetivos da pesquisa e dirimidas quaisquer dúvidas. As entrevistas foram gravadas e

transcritas, com posterior apresentação dos dados aos entrevistados para que confirmassem as

informações coletadas (APÊNDICE C). ENTREVISTAS

Para o levantamento de dados através de questionário, o instrumento de obtenção

de informações a respeito das MPEs longevas, foi estabelecida a estratégia de busca de

cadastro das grandes empresas e levantamento na Junta Comercial do Maranhão (JUCEMA).

O critério estabelecido para escolha das empresas foi: (i) empresa existente de forma ativa há,

no mínimo cinco anos no setor de serviços; (ii) empresa em parceria com a grande empresa, e

(iii) empresa dentro da classificação de MPEs, ou seja, em quantidade de empregados e

receita bruta anual.

A primeira versão do questionário constou de 80 questões. Originalmente piloto,

ele foi testado em um grupo de quinze participantes para maior clareza. Após a revisão,

observaram-se quatro questões sem pertinência, pois já havia sido contemplada a informação

em outras questões ou estavam confusas sendo retiradas da ferramenta de coleta. Logo, ao

final ficaram 77 questões (APÊNDICE D). As questões em escala Likert foram distribuídas

nas dimensões organizacionais: estrutura e processos, comportamento, estratégias, tecnologia

e inovação e ambiente. Inicialmente, foram enviados via email para as MPEs, não havendo

êxito nas respostas, com recebimento de somente 8 questionários.

O instrumento foi, então, aplicado nas MPEs prestadoras de serviços das grandes

empresas, totalizando 125 empresas, recebendo-se 92 questionários e eliminando-se 10

respondentes por inconsistência de: preenchimento incompleto, por ter excedido o critério de

número de funcionários e excedido critério de receita bruta anual, conforme classificação de

MPEs delineada na tese.

A maioria das pesquisas realizadas sobre MPEs utiliza-se da classificação por

funcionário ou receita bruta anual e na literatura há críticas favoráveis e contra uma ou outra

destas. Na busca de um maior rigor da pesquisa foram utilizadas as duas classificações: por

número de empregados variando em até 49 e receita bruta anual com limite de até 3,6 milhões

de reais (Seção 2.1). De acordo com as orientações descritas por YIN (2009) com relação à

construção de coleta de dados com questionário, questões atitudinais, é recomendável a

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utilização de questões múltiplas ou em escalas. Assim, as questões foram distribuídas sem

uma sequência lógica, de forma a evitar respostas indutivas.

Ao final foram analisados 82 questionários aplicados junto às empresas, com

estruturação da seguinte forma: - instruções de preenchimento do questionário; - identificação

do questionário; - questões relativas ao perfil do empreendedor/gestor; questões relativas ao

perfil da empresa. Essas questões são de “fechada única” com possibilidade de somente uma

resposta dentre as opções e “fechada múltipla” com possibilidade de marcação de uma ou

mais opções de acordo com a pergunta, totalizando 15 questões. Quanto às questões relativas

às dimensões organizacionais, com 62 questões, do tipo Likert, foram divididas em cinco

grupos, conforme as categorias das dimensões:

- Grupo nº 1 – dimensão estruturas e processos;

- Grupo nº 2 – dimensão comportamental;

- Grupo nº 3 – dimensão estratégias;

- Grupo nº 4 – dimensão tecnologia e inovação; e

- Grupo nº 5 – dimensão ambiental.

YIN (2009) destaca que a escala de Likert apresenta itens em forma de afirmações

a respeito de uma categoria de análise sobre a qual se pede aos respondentes que externem sua

posição, onde as respostas correspondam à prática efetiva da gerência de sua empresa. Para

cada dimensão são apresentadas afirmações relativas às variáveis investigadas, em

consonância com a fundamentação teórica.

O respondente – o empreendedor e gestor foram estimulado a manifestar qual o

seu grau de concordância com cada afirmação, em uma escala de Likert de cinco pontos que

variava de 1 (um) para “não concordo” a 5 (cinco) para “concordo totalmente”, onde as

respostas correspondessem à prática efetiva existente. Nesta composição, o empreendedor,

gestor ou empreendedor/gestor expôs o seu modo de formulação de pensamento sobre a

dimensão organizacional, o que não necessariamente garante que seu pensamento reflita a

prática da ação administrativa. O informante recebeu orientação que não havia resposta certa

ou errada e sim aquilo que era inerente à sua empresa.

A pesquisa não teve, portanto, a pretensão de checar se o posicionamento do

empreendedor, gestor ou empreendedor/gestor corresponderia necessariamente ao seu modo

de agir na realidade. Isto demandaria o acréscimo de outras metodologias, que permitissem

verificar in loco evidências práticas da aplicação de cada uma das formulações. Contudo,

também é pouco plausível que divergissem suas respostas de suas ações práticas, pois isto

seria o reconhecimento de suas fraquezas e uma autocrítica ao seu modo de agir.

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163

Quivy e Campenhoudt (2008, p.223) destacam a importância da construção

teórica e a análise de dados que favoreça incontestavelmente a qualidade das interpretações. E

sentenciam “neste sentido, a estatística descritiva e a expressão gráfica dos dados são muito

mais do que simples métodos de exposição de resultados”. A afirmativa remete-se à

integração necessária entre a reflexão teórica prévia e a análise dos dados.

Nesse sentido, as leituras, as entrevistas exploratórias, participação na comissão

do plano nacional de capacitação das MPEs – MDIC, a aplicação dos questionários recebeu

tratamento com observação direta, análise de conteúdo, análise estatística dos dados, e o

despojamento para neutralidade, foram semeados com intenção de revelar aspectos do

fenômeno apresentado.

Para sumarização e análise estatística dos dados coletados na pesquisa de campo

aplicados nas MPEs prestadoras de serviços, foi utilizado o programa de pesquisa e estatística

Sphinx, versão 5.1.

A utilização de questionamentos com respostas categóricas, afirmações com

respostas em escala e questões com respostas numéricas, utilizadas no levantamento da

pesquisa de campo, gerou a necessidade do uso de ferramentas estatísticas como: análise de

médias, teste de Qui-quadrado, coeficiente de correlação e o coeficiente de determinação ou

explicação.

As médias foram usadas como elementos de análise nas seguintes situações: nas

questões em escala Likert de 1 a 5, para generalizar o valores atribuídos em cada variável,

com posterior comparação com o maior valor da escala. Esse tratamento tem por objetivo

indicar o que representa na prática a ocorrência de cada variável dentro da dimensão

organizacional. Essa aplicação foi também realizada quando do cruzamento de uma variável

categórica com uma variável numérica de interesse. Nesses casos, usou-se dentro de cada

categoria, a média da variável numérica, sendo possíveis importantes interpretações.

A diferença entre proporções ocorridas em vários grupos (categorias) de uma

população (MPEs prestadoras de serviços longevas), observadas através de uma amostra

pesquisada dessa população, levou à utilização de um teste estatístico específico, o Qui-

quadrado, notadamente na verificação da existência de diferença entre proporções, ocorridas

em mais de duas categorias (LEVINE et al., 2008).

[...] Basicamente, o teste de Qui-quadarado é usado para: a) verificar a existência de

relação de dependência entre duas variáveis b) verificar a existência de diferença

entre proporções, notadamente quando há mais de duas, a ser comparadas. Esse teste

estatístico que nos diz se essas diferenças são estatisticamente significantes não

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utiliza proporções amostrais. Ele compara as frequências observadas e as

frequências esperadas (MOORE, 2000, p.374)

O resultado do teste Qui-quadrado nas questões, objetiva a verificação da

ocorrência da significância ou não, das frequências ocorridas na variável mapeada, em suas

práticas de gestão, na dimensão. Ressalta-se que, ao final de cada análise da dimensão, foi

desenvolvida tabela resumo das proporções das escalas de maior frequência, com respectivo

resultado do Qui-quadrado.

O programa de pesquisa e estatística Sphinx, usado nesta pesquisa, realiza duas

tarefas, Isto é, faz o teste global, o Qui-quadrado, e cita, ao mesmo tempo, qual ou quais

proporções são estatisticamente significantes, indicando o p-valor. (exata probabilidade de

rejeitar-se a hipótese nula e ela ser verdadeira), também chamad0, de nível de significância do

teste. O valor de Qui-quadrado é calculado pela conhecida expressão:

Em que:

² = Qui-quadrado;

fo = frequência observada;

fe = frequência esperada

Para determinação das frequências esperadas, a frequência total observada é

dividida de forma equitativa entre as categorias. Analisando a fórmula de cálculo do Qui-

quadrado, verifica-se que, grandes diferenças entre os dois tipos de frequência leva a um

grande valor de Qui-quadrado.

Outro tratamento estatístico verificado foi o grau de correlação (associação) e

dependência entre variáveis numéricas como: tempo real de existência (longevidade), tempo

real de parceria com a grande empresa e número real de empregados. Para demonstração dos

resultados, usou-se o gráfico de dispersão, o coeficiente de correlação linear (r), entre duas a

duas dessas variáveis, além do coeficiente de determinação ou explicação (r²).

[...] A análise de correlação determina um número que expressa uma medida

numérica de grau da relação encontrada. Esse tipo de análise é muito útil em

trabalhos exploratórios [...] quando se procura determinar as variáveis

potencialmente importantes (BRUNI, 2007, p.285).

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Neufeld (2003, p.347) explica que “uma interpretação de r² é que ele mede

proporção da variação total existente em y explicada pela variação de x. O coeficiente de

determinação deverá ter um valor entre 0 e 1”. Esse procedimento permitiu analisar o quanto

incremento de uma determinada variável numérica explica o incremento de uma segunda

variável inserida na problematização desta tese.

3.5 Limitação do método

Toda pesquisa de cunho científico tem limitações na sua própria essência. A partir

dos métodos que serão empregados para pesquisa, espera-se a obtenção de resultados

significativos diante do objeto pesquisado, mas, como já descrito, a limitação acompanha a

vida do pesquisador e a sensibilidade para compreender essa dicotomia apenas revela seu

compromisso com a ciência.

Limitações do método:

a) A partir da seleção dos proprietários-dirigentes, gerentes e autoridades ligadas

ao segmento das MPEs a serem entrevistados, considera-se como uma

limitação não haver a possibilidade de todos participarem;

b) Tratando-se do porte das empresas (micro e pequenas) e especificamente das

prestadoras de serviços investigadas e associadas às grandes empresas, na

pesquisa considera-se limitador o fato da não possibilidade de generalizações

dos resultados para todas as MPEs;

c) Das poucas pesquisas sobre MPEs na literatura, a grande maioria privilegiam

as discussões sobre programas de apoio de acesso ao crédito e financiamentos,

flexibilidade tributária e arranjos produtivos. Os referidos conteúdos não foram

priorizados nesta tese, sendo uma limitação do estudo pela importância dos

assuntos;

d) Outro fator relevante quanto às limitações, revela-se nas dimensões a serem

trabalhadas, visto que mesmo que estas sejam representativas diante da relação

e influência da longevidade e desempenho dessas empresas, existem outros

fatores que não estão contemplados na pesquisa;

e) A pesquisa documental efetiva-se com a aceitação e autorização por parte da

empresa do acesso aos dados desejados, principalmente quando priorizadas as

informações dos documentos como normas, procedimentos, métodos, manuais,

ou seja, processos codificados da empresa;

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166

f) A pesquisa bibliográfica revela-se limitadora, visto que os estudos

empreendidos diante das MPEs ainda se mostram incipientes, fato que alicerça

também a relevância na realização da pesquisa.

g) No levantamento de dados verificou-se a ausência de conscientização da

importância da investigação científica por parte de alguns empreendedores e

gestores das MPEs e também pelas grandes empresas a elas associadas, fato

revelado na extrema dificuldade de obtenção de informações e de respostas dos

questionários.

Por fim, considera-se a neutralidade do pesquisador, uma busca incessante desse

distanciamento, uma vez que seus valores e crenças, de alguma forma, estarão traduzidos no

seu inconsciente e reaparecerão nas suas interpretações e pensamentos. A tentativa é válida,

mesmo sendo limitadora. Eco (2009) destaca que todo trabalho científico, na medida em que

contribui para o desenvolvimento do conhecimento geral, tem sempre um valor político

positivo.

Espera-se que tais procedimentos contribuam para o entendimento e compreensão

de quais seriam as implicações das dimensões organizacionais na longevidade da micro e

pequena empresa prestadora de serviços no Município de São Luís - MA, através da relação

de parceria com a grande empresa.

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167

CAPÍTULO 4 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Após a realização das pesquisas bibliográfica, documental e pesquisa de campo

são relatadas as análises e conclusões pertinentes ao tema e suas variáveis investigadas. A

análise dos dados significa trabalhar o material obtido durante a pesquisa (MARCONI e

LAKATOS, 2006).

Inicialmente, apresenta-se a discussão diante das principais características dos

empreendedores e/ou gestores das MPEs prestadoras de serviços, com indicação do seu

posicionamento, função, formação e qualificação que o legitima na empresa. Também com

relação às empresas são descortinadas com identificações referentes ao ramo de atividades de

serviços exercida no mercado, longevidade (tempo de existência de forma ativa) no mercado,

número de funcionários, período de parceria com a grande empresa e receita bruta anual. Esse

levantamento permitiu obter informações que pudesse caracterizar essas empresas nesses

vieses.

As análises foram realizadas individualmente e em cruzamentos entre questões,

conforme conhecimento preliminar do comportamento dessas organizações e metodologia

apresentada. Fleck (2005); Kanter (2010) compartilham da ideia que a perspectiva de

empresa longeva perpassa pela desmistificação das dimensões organizacionais, com a

exploração de suas aplicações: nas práticas, na integração e interdependência entre elas e

demais vetores que formam o sistema organizacional das MPEs prestadoras de serviços.

As questões relacionadas com as dimensões organizacionais estão no questionário

com o escopo em escala likert. As análises e investigações foram com base nos dados

coletados nas 82 empresas pesquisadas e com tratamento estatístico. Quivy e Campenhoudt

(2008) destacam que na preparação dos dados, a sua descrição e agregação equivale a

apresentar sua distribuição com ajuda de quadros ou gráficos, mas também a exprimir esta

distribuição em uma medida sintética.

A verificação das dimensões organizacionais foi conduzida para a imersão desses

fenômenos através do resgate da literatura, fartamente enunciadas no bojo desta tese,

evidenciando-se as categorias de análise e seus indicadores associados à dimensão trabalhada.

Seguem o levantamento de pesquisas realizadas desse segmento e com a análise estatística,

com descrição das informações obtidas nos dados quantitativos. Com as informações

coletadas e tratadas, faz-se uma discussão comparativa, da funcionalidade e práticas de gestão

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168

das MPEs longevas prestadoras de serviços, confirmando ou falseando distorções,

similaridades e diferenciais desse segmento de empresas.

Considerando o referencial explorado, as MPEs prestadoras de serviços, parceiras

da grande empresa e suas dimensões organizacionais, explora-se o tratamento dos dados com

profundidade, na busca dessa compreensão e de respostas que venham a desmistificar esse

segmento das MPEs em suas especificidades e peculiaridades, com diferenciação na

funcionalidade corporativa,

4.1 Características do empreendedor / gestor

Conforme pesquisa de campo com utilização de questionário, obtiveram-se

informações a respeito dos perfis do empreendedor / gestor e perfis das MPEs. Em análise

diante do empreendedor / gestor, usou-se a divisão em duas categorias em razão da busca da

compreensão se o empreendedor (empresário) está de fato à frente da administração da

empresa ou delegava essa função a algum profissional. Havia a possibilidade de escolha das

três opções: empreendedor, gestor e empreendedor/gestor.

Dos respondentes 63,5% são empreendedores, sendo que desses 53,7% são

empreendedores e gestores, resultado este considerado pelo teste Qui-quadrado, significante

(Tabela 5), o que revela que os empreendedores estão à frente das MPEs. Contudo, o

resultado de 36,6% de gestores indica uma forte tendência para a profissionalização na gestão

das empresas. Logo, as MPEs prestadoras de serviços, longevas e parceiras da grande

empresa, tem em seu empreendedor a gestão da empresa, mesmo havendo uma fatia

representativa delegada ao gestor.

Gráfico 5 - Identificação do informante

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169

Outra característica relevante obtida é a escolaridade dos empreendedores e

gestores, considerando que 74,4% são graduados ou possuem cursos lato sensu e stricto sensu

(Gráfico 6). Os resultados mostram que 40,2%, 29,3% e 4,9% têm ensino superior completo,

especialização e mestrado, respectivamente mostram essa realidade. Destes, os dois primeiros

foram considerados muito significantes pelo teste Qui quadrado, o que revela expressiva

qualificação profissional nas empresas longevas (Tabela 5). Os dados em referência se

contrapõem aos resultados levantados em pesquisas empíricas sobre as MPEs no Brasil,

quando indicam baixa escolaridade dos gestores e desconhecimento da gestão, sendo

considerada como uma das causas principais da mortalidade das MPEs.

Na pesquisa SEBRAE (2007a) sobre fatores condicionantes e taxa de mortalidade

das MPEs, as falhas gerenciais representaram 55% das dificuldades na condução das

atividades da empresa brasileira. Na mesma pesquisa, das empresas extintas 43% demandam

a consultoria do profissional da contabilidade para orientação e condução/gerenciamento da

empresa. No Maranhão, esse dado é alarmante, pois 84% das empresas extintas estavam

demandando contadores para administração de suas empresas. A falta de conhecimento

gerencial está entre os principais motivos da mortalidade dessas empresas (SEBRAE. 2007b).

Reforça-se que, essa constatação, não foi verificada nas MPEs longevas pesquisadas.

Gráfico 6- Escolaridade do Empreendedor / Gestor

Nessa perspectiva, ressalta-se o alto índice de empreendedores e gestores com

graduação em administração, totalizando 39%, sendo considerada muito significativa (Tabela

5). Esse resultado reforça o conhecimento de gestão por parte desses atores. Outro curso em

destaque na escolaridade é o de Engenharia com 18,3%. Esta última configuração salta aos

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170

olhos dos historiadores lembrando o “estudo dos tempos e movimentos” na forma

embrionária da administração.

Gráfico 7– Curso superior do Empreendedor / Gestor

Embora 25,6% não possuam ensino superior, vale ressaltar que destes 11% estão

relacionados em ensino superior incompleto (Gráfico 6).

A Tabela 5 de resumo das proporções de maior frequência aponta os valores de

Qui quadrado que Moore (2000) afirma ser o teste global para comparar qualquer número de

proporções populacionais, utilizando os valores observados e os valores esperados, já com

comentários acima.

Tabela 5 – Resumo das proporções de maior frequência relativo ao perfil do empreendedor/gestor,

com teste Qui - quadrado (χ²), segundo as variáveis

Variável Especificação

> Freq. % χ²

Conclusão

Teste χ²

P Valor

(%)

Identificação do

informante Empreendedor/Gestor 53,70 24,10 Muito Signif. 0,01

Escolaridade Ensino Superior Completo 40,20 124,78 Muito Signif. 0,01

Formação Acadêmica Administração 39,00 63,46 Muito Signif. 0,01

4.2 Características das MPEs prestadoras de serviços

As MPEs foram selecionadas criteriosamente, dentro da classificação definida

(Seção 2.1) e ramo de atividades por segmento de serviços. Com relação às características das

empresas pesquisadas, inicialmente, o estudo demonstra alta diversificação nos serviços

ofertados por essas empresas. Foram identificados trinta e oito ramos de atividades diferentes,

o que demanda grande quantidade de serviços. Há de se inferir que essa dinâmica de atuação

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171

das prestadoras de serviços as credenciam de forma pontual para a inserção no mercado. Ao

mesmo tempo em que, estabelecem maior aproximação com a grande empresa maximizando

o portfólio de serviços.

Gráfico 8 – Ramo de atividade da MPE

Os resultados vão ao encontro da Pesquisa Anual de Serviços (IBGE, 2011a) que

destaca a atividade de serviços como gerador de empregos, valor e renda. E constituídas por

atividades econômicas heterogêneas, as empresas desse setor têm perfil diferenciado no que

diz respeito à ocupação de pessoal e à utilização de equipamentos de tecnologia da

informação e comunicação.

Os dados conduzem à verificação da viabilidade de inserção dessas empresas

considerando o alto índice de diversificação de serviços. Escrivão Filho e Perussi Filho (2010)

explicam que as características das MPEs variam amplamente de acordo com o setor em que

as empresas pertencem, o tipo de negócio, de público-alvo, o local onde estão instaladas,

representando o fenômeno da diversidade de atuação dessas empresas.

Comparativamente aos demais setores, o setor de serviços apresenta maior

heterogeneidade, isso se deve às atividades de serviços envolverem outras que complementam

ou dão suporte às demais atividades produtivas, ou ainda, que vêm atender a um leque variado

de demandas pessoais. É, portanto, o setor com maior potencial de segmentação e

diferenciação (HOFFMAN, et al., 2009; LOVELOCK et al., 2011). Assim, por exemplo, o

setor de serviços, é o segmento de maior diversificação e o segundo maior em quantidade de

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172

MPEs, com expressivos 2 milhões de estabelecimentos aproximadamente, dentre os 6 milhões

existentes (SEBRAE/DIEESE, 2011).

Com relação às empresas pesquisadas, conforme já mencionado, foi definido o

critério de empresa longeva, na temporalidade, aquela que estivesse no mercado de forma

ativa com cinco anos ou mais. Nas análises, a longevidade é apresentada também como tempo

de existência. Conforme observa o SEBRAE (2008), anualmente, no Brasil, 71% das micro e

pequenas empresas fecham as portas antes de completar cinco anos de vida.

Gráfico 9 – Longevidade da MPE

Das empresas pesquisadas 48,8% tinham 14 anos ou mais de existência no

mercado (Gráfico 9). Este resultado foi considerado significante pelo teste Qui quadrado, com

P valor de 0,01%, o que demonstra a efetiva longevidade das organizações. A média de

“vida” dessas empresas na pesquisa está em torno de 16 anos, o que reforça a afirmação do

Qui-quadrado acima mencionado, Tabela 5.

Pesquisa do IBGE (2011b) aponta que 62,5% das empresas brasileiras possuem

idade inferior a 10 anos e 42,1% estão no mercado há pelo menos 5 anos e, apenas 2,9% do

total possuem 30 anos ou mais.

Para maior aprofundamento da discussão sobre longevidade, buscou-se a partir

dos dados da pesquisa de campo, relacionar essa variável com: o tempo real de parceria e

classe de receita bruta anual.

Para essa verificação utilizou-se a teoria da correlação linear, discutida no

tratamento dos dados, inicialmente apresentada no Gráfico 10 de dispersão:

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173

Tempo_Real _Parceria

Tempo_Real _Exis tencia

3,30

5,61

Gráfico 10 – Correlação de tempo real de parceria versus tempo real de existência - longevidade (com autliers)

NOTA: O Gráfico 10 exibe os 82 pontos de coordenadas Tempo_Real_Parceria;Tempo_Real_Existência

A dependência é pouco significativa.

Equação da reta de regressão: Tempo_Real_Existência = 0,86 * Tempo_Real_Parceria + 8,09

Coeficiente de correlação: +0,50 (Tempo_Real_Parceria explica 25% da variância de Tempo_Real_Existência).

Cada observação é representada por um ponto.

A análise revela correlação apenas moderada com 0,5 de coeficiente, indicando

haver pouca associação entre a parceria das MPEs / com a grande empresa e a longevidade.

Neste caso, a dependência entre tais variáveis indicadas pelo coeficiente de determinação (r²)

é pouco significativa, uma vez que o tempo real de parceria explica apenas 25% a

longevidade.

Observa-se, no entanto, que o Gráfico 10 apresenta-se com várias observações

com grande afastamento das restantes, caracterizando-se como atípicas, indicando existência

de autliers.

Analisando-se as MPEs participantes da pesquisa e com características de autliers

verificadas no Gráfico 10, constatou-se 12 empresas nessa especificidade. Destas, 9 empresas

tinham idade de existência entre 30 e 51 anos que comparadas com o tempo de existência das

grandes empresas parceiras, as superavam em idade de existência, não havendo, portanto, no

caso específico, possibilidade de existência de parceria entre elas, não podendo ser analisadas

sob o prisma em questão.

Acrescenta-se a esse fato mais 3 empresas com existência entre 21 e 25 anos,

tendo as suas parceiras de negócios tempo de vida próximo ou até mesmo a menor com

relação a idade dessas MPEs. Logo, para uma análise sem o efeito contaminante, retirou-se 12

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empresas com autliers do total de 82 empresas pesquisadas, constatando-se para a análise de

dependências ou não entre parceria e longevidade, o seguinte:

Tempo_Real_Parceria

Tempo_Real_Existencia

3,30

3,52

Gráfico 11 – Correlação de tempo real de parceria versus tempo real de existência – longevidade (sem autliers)

NOTA: O Gráfico 11 exibe os 70 pontos de coordenadas Tempo_Real_Parceria ; Tempo_Real_Existência

A dependência é significativa.

Equação da reta de regressão: Tempo_Real_Existência = 0,81 * Tempo_Real_Parceria + 5,37

Coeficiente de correlação: +0,82 (Tempo_Real_Parceria explica 66% da variância de Tempo_Real_Existência)

Retiradas da análise os questionários nº 5 – 51 anos, 7 – 25 anos, 11 – 35 anos, 15 – 38 anos, 27 – 46 anos, 34 –

50 anos,38 – 30 anos, 51 – 30 anos, 65 – 35 anos, 80 – 30 anos, 9 – 22 anos, 26 – 21 anos.

Cada observação é representada por um ponto.

Em uma análise mais realista, sem autliers, observa-se a existência de robusta

correlação r = 0,82, com dependência significativa, em que o tempo real de parceria explica

66% da variação da longevidade.

O resultado revela a interdependência entre a parceria das MPEs com a grande

empresa e a longevidade delas. A administração se constrói na complementaridade, havendo

outros fatores que justificam a longevidade das MPEs a partir da criação de vantagens

competitivas condizentes como: qualidade, competitividade de custos, imagem, inovação,

habilidades e competências de gestores e empregados, tecnologia empregada, variáveis

ambientais com cenário profícuo para as empresas, dentre outras que agregam positivamente

no desempenho das MPEs. De forma cartesiana, todos esses fatores mencionados explicam

34% da longevidade, reforçando a propositura da premissa de que a parceria entre as

empresas é fator de grande relevância para a sobrevivência das MPEs.

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175

A verificação realizada está em consonância com uma das premissas desta tese:

quanto maior for a parceria entre as MPEs prestadoras de serviços e a grande empresa, maior

será a longevidade daquelas.

Na associação da longevidade com a receita bruta anual das empresas a análise foi

realizada por classe de receita. Esse procedimento se justifica em razão da não obtenção da

informação por parte dos empreededores, do valor real da receita. Não foi possível, portanto,

avaliá-las através da técnica de correlação. Logo, o cruzamento se deu por uma variável

categórica e uma variável numérica através da média do tempo de existência real por classse

de receita.

Gráfico 12 – Longevidade média por classe de receita bruta anual

A discussão diante dos dados em questão, nesse caso, sinaliza no sentido de que

quanto maior for o crescimento da receita maior será a longevidade. Por outro lado, essa

afirmativa pode ser falseada considerando que estrategicamente a escolha pode ser por

continuar pequeno, o que se caracteriza por manter-se na faixa de até 3,6 milhões.

Condicionando-se a análise às descrições de planejamento e estratégias corporativas, pode-se

deduzir que as MPEs estabelecem ações de prospecção em serviços. Fleck (2005) define

longevidade como o sucesso no longo prazo ou a persistência e alto desempenho com

resultados de ganhos de receita. A longevidade será ainda tratada em análises posteriores com

outras variáveis.

Os resultados associados à quantidade de empregados nas MPEs prestadoras de

serviços evidenciam que 28,1% das empresas possuem de 10 a 20 empregados, o que pelo

teste de Qui-quadrado é significante, com p valor de 0,01% (Tabela 6). O resultado

caracteriza essas organizações nessa faixa de empregados contratados, embora, a média geral

seja de 23 empregados por empresa. Logo, esse valor representa 46,9% do número máximo de

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176

empregados admitidos nas MPEs que é de 49 empregados. Essa constatação se coaduna com

os estudos empíricos sobre MPEs no Brasil que retratam essas empresas com estruturas

enxutas e horizontalizadas.

Entretanto, os dados também revelam a existência de uma divisão equitativa para

mais ou para menos de 20 empregados por empresa, ou seja, há uma extratificação bem

delineada no número de empregados, gerando grande variabilidade, com coeficiente de

variação (CV) de 67%. Diante da constatação, buscou-se um melhor entendimento para esse

fenômeno, acrescentando-se outros dados verificados na pesquisa.

Gráfico 13 – Número de empregados

Para um melhor entendimento da estratificação e variação de empregados, foram

acrescidas outras variáveis associadas: tempo real de existência versus número de empregados

e tempo real de parceria versus número de empregados. As análises foram metodologicamente

verificadas através de correlação linear.

Analisando a relação de número de empregados com tempo real de existência ou

longevidade da empresa no Gráfico 14 observa-se:

O Coeficiente de correlação (r) com valor +0,11 revela fraca correlação entre o

tempo real de existência e o número de empregados. O coeficiente de determinação (r²) indica

que o tempo real de existência explica 1% a variação do número de empregados. O resultado

mostra que embora haja uma maior longevidade das empresas, não há aumento do número de

empregados. Gráfico 14 Logo, a empresa está obtendo longevidade nos negócios e mantendo

sua modelagem corporativa, ou seja, não há necessidade de aumento de pessoal. Deduz-se que

a explicação para o fenômeno pode estar ligada ao incremento tecnológico e o

empoderamento das pessoas na organização.

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177

Tempo_Real _Exis tencia

Numero_Real_Empregados

5,61

5,39

Gráfico 14 – Correlação de tempo real de existência - longevidade versus número real de empregados

Nota : O Gráfico 14 exibe os 82 pontos de coordenadas, Tempo_Real_Existência; Número_Real_Empregados. A

dependência não é significativa.

Equação da reta de regressão: Numero_Real_Empregados = 0,16 * Tempo_Real_Existência + 20,73. Coeficiente

de correlação: +0,11 (Tempo_Real_Existência explica 1% da variância de Número_Real_Empregados) Cada

observação é representada por um ponto. Resultado obtido pelo Programa SPHINX versão 5.1

O enriquecimento dos cargos nas organizações e a horizontalização da empresa

foi evidenciado por Mintzberg (2003). Silva (2008) explica que os gestores aprendem a

trabalhar dentro da burocracia sem aumentá-la, a fim de simplificar sistemas formais ou

substituí-los por força-tarefa e equipes multidisciplinares.

Quanto à análise do número real de empregados com o tempo de parceria,

evidenciou-se que: o resultado ilustrado do gráfico de dispersão revela o coeficiente de

correlação (r) com valor -0,03 indicando, praticamente, ausência de correlação linear entre o

tempo real de parceria e o número de empregados. Da mesma forma, o coeficiente de

determinação (r²) sentencia que o tempo real de parceria explica 0% a variação do número de

empregados.

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178

Tempo_Real_Parceria

Numero_Real_Empregados

3,30

5,39

Gráfico 15 – Correlação de tempo real de parceria versus número real de empregados

NOTA: O gráfico 15 exibe os 82 pontos de coordenadas. Tempo_Real_Parceria; Número_Real_Empregados. A

dependência não é significativa. Equação da reta de regressão: Número_Real_Empregados = -0,09 *

Tempo_Real_Parceria + 23,99 Coeficiente de correlação: -0,03 (Tempo_Real_Parceria explica 0% da variância

de Número_Real_Empregados).

Estes dados indicam que o maior ou menor tempo de parceria não determina o

maior ou menor número de funcionários, ou seja as variáveis ocorrem de forma

independentemente, Gráfico 15. Na busca de compreensão diante dessa constatação, há de se

avaliar as práticas de gestão realizadas nas MPEs longevas e analogicamente inferir que, o

não crescimento do número de empregados pode estar associado ao grau de expertize da

empresa, adquirida nesses anos de existência. Outro possível fator influenciador é o maior

incremento tecnológico implementado nas organizações, além da melhor qualificação dos

empregados, fatores que foram constatados na verificação das dimensões organizacionais.

A receita bruta anual das empresas pesquisadas está concentrada na classe de

valores entre 360 mil a 2 milhões de reais anualmente, com percentual de 68,3%, considerado

estatísticamente significante pelo teste Qui-quadrado, com p-valor de 0,01. Tabela 6 Esta

constatação identifica a predominância das pequenas empresas, examinando-se a classificação

das MPEs por receita bruta anual (Tabela 2).

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179

Gráfico 16 – Receita bruta anual

A Tabela 6 demonstra os resultados consolidados das maiores frequências verificadas

nas características das empresas pesquisadas. Estas variáveis obtiveram teste Qui-quadrado

muito significante.

Tabela 6 - Resumo das proporções de maior frequência relativo ao perfil da empresa, com teste Qui-

quadrado (χ²), segundo as variáveis

Variável Especificação

> Freq. % χ²

Conclusão

Teste χ² P Valor

(%) Variável

Categoria /Atividade da

prestação de serviço

Diversificação na

prestação de serviços 42,70 98,23 Muito Signif. 0,01 -

Longevidade 14 anos ou mais 48,80 62,44 Muito Signif. 0,01 16 anos

Número de empregados 10 a 20 empregados 28,10 27,02 Muito Signif. 0,01 23 func.

Tempo real de parceria

com a grande empresa 12 anos ou mais 30,50 22,15 Muito Signif. 0,11 9 anos

Receita bruta anual Acima de 360 mil até

2 milhões 68,30 89,02 Muito Signif. 0,01 -

Com relação aos resultados das características das empresas pesquisadas

consolidado na Tabela 9 destacam-se, ainda, os valores médios de cada variável numérica

descrita: as empresas com 16 anos de longevidade; 23 funcionários por empresa e o tempo de

parceria entre as MPEs e as grandes empresas com média de 9 anos.

4.3 Análise da dimensão estrutura e processos

A dimensão estrutura representa é básica para a instrumentalização do processo

organizacional. Certo (2010) explica que com aspectos adequados é possível propiciar para a

empresa a identidade das tarefas, a organização das funções e responsabilidades, informações

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180

e recursos aos gestores capazes de diferenciar seus resultados. A preocupação é formatar a

medida de desempenho compatível com os objetivos e condições motivadoras para realização

das atividades. A dificuldade maior é permear uma matriz corporativa coerente com os

objetivos, recursos e ambiente dominante (OLIVEIRA, 2009; D’ASCENÇÃO, 2007).

As especificidades com relação à estrutura e processos das MPEs estão

relacionadas com a organização da empresa, ou seja, sua estruturação: a divisão do trabalho,

delegação de autoridade, a forma de comunicação entre seus integrantes e processo decisório

(Quadro 17). A categoria formalização e divisão de trabalhos têm como preponderância o

contato direto e informal com funcionários e público externo. A divisão do trabalho

corresponde à atribuição da tarefa a uma pessoa ou grupo de pessoas. Oliveira (2009) e

Masiero (2009) concordam que há três aspectos principais que devem ser considerados: a

definição de responsabilidades de tarefas, as unidades de trabalho e a especialização resultante

da divisão do trabalho.

O sistema de responsabilidade traduz a distribuição do trabalho, ou seja, a divisão

de tarefas entre os diferentes membros / funcionários. Com esse procedimento, as unidades de

trabalho são agregadas pelos profissionais com suas funções e atribuições definidas. Nesse

contexto, o processo de especialização é consequência dessa divisão do trabalho. Como

resultado, há o monitoramento das operações objetivando detectar disfunções e estabelecer

ações corretivas. Barney e Herterly (2011) observam que as atividades e as estruturas da

organização são construídas por necessidade técnica, embora algumas vezes sejam por

conveniências pessoais, e sempre podem ser ajustadas conforme as novas situações exijam.

No aspecto da comunicação nas MPEs, as informações estão mais acessíveis e a

hierarquia administrativa se horizontaliza. Predominância da comunicação para baixo, que

permitem a seus proprietários uma visão mais privilegiada de seu “dia a dia”, em função do

contato mais próximo com cada funcionário, tendo como consequência o alcance de uma

maior flexibilidade. Essa verificação é retratada na maioria dos estudos sobre MPEs.

Longenecker et al. (2007) destacam que a delegação de autoridade é concebida

dos gestores aos subordinados dando-lhes o direito de agir ou de tomar decisões, pois isso os

deixa livres para realizar as atividades importantes e que são representativas a organização.

Lemes Junior(2010) critica que nas MPEs seus dirigentes têm dificuldades ou falta de vontade

para delegar. Essa forma de gerenciar a empresa impõe ao empreendedor jornadas de trabalho

cada vez mais extensas.

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181

DIMENSÃO CATEGORIAS INDICADORES

ESTRUTURA

Formalização e divisão de

trabalhos e de recursos

Poucos níveis e unidades de trabalho (cargos, setores etc.);

Maior escopo de cargo para a função de direção;

Mínima preocupação com os requisitos de um cargo.

Sistema de autoridade

Autoridade centralizada;

Maior amplitude e facilidade de controle;

Pouco ou nenhum nível de autoridade (hierarquia).

Forma de comunicação

formal e informal

Contato direto e informal com funcionários e público

externo;

Predominância da comunicação para baixo.

Sistema de decisãoDecisões em nível institucional

Participação restrita dos colaboradores

Quadro 17– Especificidades Estruturais das MPEs

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

A categorização retrata os indicadores de práticas de gestão nas MPEs,

independente do segmento de mercado. Na pesquisa empírica com as MPEs prestadoras de

serviços e longevas, com relação à dimensão estrutura e processos revelou-se um tecido

organizacional, na maioria das categorias, de forma consistente, com funcionalidade

alicerçada em processos e com forte aparato para resultados.

Para verificação dos dados quantitativos apresenta-se tabela inicial com cada

dimensão e variáveis, escala de pontuação (likert de 1 a 5) para cada registro, frequência

absoluta e percentual de ocorrência. Indica-se ainda, a relação entre a pontuação média e a

maior pontuação, traduzida em termos percentuais (Tabela 7). Todas as questões das

dimensões organizacionais receberam tratamento de teste Qui-quadrado com valores

atribuídos, conclusão do teste e p-valor. Esse procedimento estatístico permitiu a verificação

da significância estatística das pontuações de maior ocorrência (Tabela 8).

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182

Tabela 7 - Dimensão de Estrutura e Processos – frequência absoluta e percentual por pontuação

atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo as variáveis.

Variável 1 - Não

concordo 2 3 4

5 - Concordo

totalmente

Média/5

%

Formalização de cargos, funções e

estrutura organizacional

4 7 10 12 49 4,16/5

4,9% 8,5% 12,2% 14,6% 59,8% (83,2%)

Divisão do trabalho e

responsabilidades definidas

2 4 7 13 56 4,43/5

2,4% 4,9% 8,5% 15,9% 68,3% (88,6%)

Processo de trabalho e controle

definidos e conhecidos

1 1 17 20 43 4,26/5

1,2% 1,2% 20,7% 24,4% 52,4% (85,2%)

Discussão e decisão com participação

dos funcionários - operacionais

9 6 9 19 39 3,89/5

11,0% 7,3% 11,0% 23,2% 47,6% (77,8%)

Estrutura simples - poucos níveis

hierárquicos

5 3 12 10 52 4,23/5

6,1% 3,7% 14,6% 12,2% 63,4% (84,6%)

Comunicação formal e por escrito com

funcionários

20 8 19 21 14 3,01/5

24,4% 9,8% 23,2% 25,6% 17,1% (60,2%)

Parceria com grande empresa alterou a

estrutura e os processos

7 4 9 17 45 4,09/5

8,5% 4,9% 11,0% 20,7% 54,9% (81,8%)

Certificação de processos na empresa

(ISO9001, ISO14001, outros)

37 11 13 7 14 2,39/5

45,1% 13,4% 15,9% 8,5% 17,1% (47,8%)

Procedimentos e normas formalizadas

- manuais fluxogramas e regras

12 6 14 12 38 3,71/5

14,6% 7,3% 17,1% 14,6% 46,3% (74,2%)

Contratação de pessoal é formal, com

prévias atribuições do cargo

5 1 16 17 43 4,12/5

6,1% 1,2% 19,5% 20,7% 52,4% (82,4%)

Identificação do negócio 10 6 9 9 48 3,96/5

12,2% 7,3% 11,0% 11,0% 58,5% (79,2%)

Estrutura e processos delineados -

constante modernização

5 12 11 22 32 3,78

6,1% 14,6% 13,4% 26,8% 39,0% (75,6%)

Práticas de gestão (GQT, manual de

boas práticas, etc.).

17 15 21 16 13 2,92/5

20,7% 18,3% 25,6% 19,5% 15,9% (58,4%)

A dimensão estrutura e processos revelam pontos importantes que se destacam em

frequência absoluta e percentual de ocorrência com valores acima de 50%, assim distribuídos:

divisão do trabalho e responsabilidades definidas (68,3%); estrutura simples - poucos níveis

hierárquicos (63,4%); formalização de cargos, funções e estrutura organizacional (59,8%);

identificação do negócio (58,5%); parceria com grande empresa alterou a estrutura e os

processos (54,9%); contratação de pessoal é formal, prévias atribuições do cargo (52,4%).

Estas variáveis estão descritas em escala likert de 1 a 5, conforme explicada na seção 3.4,

com predominância para o valor 5 que identificava a escolha como “concordo totalmente”

(Tabela 7).

A distribuição das atividades e definição de responsabilidades formalizadas e

definidas nas MPEs é considerada estágio 4 – organização formal, classificação de

Longenecker et al. (2007) que identificam preparação de fluxos organizacionais e descrição

Page 185: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

183

de tarefas etc. Embora perceba-se a codificação nas empresas longevas, há um

compartilhamento e flexibilidade das atividades. A necessidade de repensar as estruturas e

processos de trabalho, das formas tradicionais e racionalistas que integra o modelo do

“homem econômico”, não é capaz de lidar com toda a complexidade do mundo real

(MOTTA, 1998).

Diante dos fatores formais, há de se sinalizar a importância da valorização da

informalidade, estando a primeira deliberadamente planejada em termos de autoridade e

responsabilidade, e a segunda a partir da rede de relações sociais e pessoais existentes na

estrutura formal (D’ASCENÇÃO, 2007; KRUGLIANSKAS, 1996).

A evidência da estrutura simples das MPEs é considerada pelos estudiosos como

um dos principais diferenciais dessas empresas. Mintzberg (2003) define estrutura simples

como caracterizada pela baixa formalização do comportamento e mínimo uso de

planejamento, com um fluxo de trabalho flexível. Pela simplicidade de sua estrutura, a

pequena empresa utiliza níveis de autoridade prioritariamente à comunicação pessoal através

da conversação individual com funcionários e clientes.

Hall (2004) evidencia que a comunicação mais efetiva é decorrente da estrutura

hierárquica simples e possibilita a criação de um fluxo de informação mais eficiente. De Sordi

(2008) explica que as simplificações normalmente adotadas podem ser úteis em alguma

finalidade prática, mas uma teoria da ação requer que se especifique exatamente que

processos são esses, que fins estão em jogo e como eles se desdobram.

A identificação do negócio associa-se ao conhecimento profundo do

empreendedor / gestor das MPEs. Também se delineia na busca da definição do negócio da

empresa, com a descrição de sua missão, visão e valores. Ou seja, nas empresas longevas a

percepção do negócio não está centrada somente na “mente” do empreendedor, uma vez que

essa informação é permeada e discutida com todos da empresa.

A influência da grande empresa no desenvolvimento administrativo das MPEs foi

diagnosticada na pesquisa e revela-se de grande importância para a premissa de que: a maior

longevidade das MPEs está também associada à parceria com as grandes empresas, já

referenciadas no Gráfico 11. Em entrevista realizada com o Prof. Paolo Pietro sobre a questão

da parceria das empresas italianas longevas:

[...] uma parceria com grande empresa representa o fornecimento de

produtos e serviços com a garantia de uma receita certa. Por outro

lado geralmente a pequena empresa tem uma estrutura simples com

poucos funcionários, com apenas nove dependentes gerando menos

Page 186: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

184

custos e maiores lucros. A relação da pequena e grande empresas na

Itália é duradoura, sendo influenciada além da competência

organizacional, que é o principal, da relação de amizade

(informalidade) entre as partes. A grande empresa italiana, por

incrível, às vezes sonda qual o histórico da pequena empresa (Prof.

Doutor Paolo Pietro Biancone)

A importância da análise dessa relação com as empresas italianas está associada à

verificação de serem empresas longevas e que comparadas com as MPEs brasileiras verifica-

se a assimetria desse fenômeno nestas empresas. A percepção é que na Itália a parceria tem

uma abrangência maior, visto que, não se restringe somente a prestação de serviços naquela

região. A relação se estende a outros países europeus. Essa constatação, ao contrário do que

ocorre no Brasil, pode explicar uma das razões da participação significativa das MPEs

italianas no comércio exterior daquele país.

É possível inferir que o processo de aquisição, socialização e codificação, definido

por Figueiredo (2003) no processo de aprendizagem das organizações, pode estar se

realizando nessa relação de parceria entre as MPEs e a grande empresa. E considerando as

etapas de (i) aquisição de conhecimento externo; (ii) aquisição de conhecimento interno; (iii)

socialização de conhecimento; e (iiii) codificação de conhecimento, os dados obtidos

fortificam que o conhecimento nas MPEs longevas é acessível e disseminado na empresa. As

características da aprendizagem estão associadas ao processo, com enfoque “sistêmico-

orgânico” menciona Leonard-Barton (1998).

A verificação do “concordo totalmente” quando da variável processo de

contratação de pessoal sinaliza quanto à formalização do emprego. Na relação da MPE e a GE

verificou-se a existência de protocolo de exigências da GE para as prestadoras de serviços.

Não foi possível adquirir o protocolo, mas dentre várias exigências, nele havia a indicação da

apresentação de comprovação da contratação de pessoal pela MPE e sua política de pessoal.

O assunto processo de decisão nas organizações tem estado na pauta de discussão

da administração, nos últimos anos. Os dados da pesquisa das MPEs longevas sinalizam para

uma gestão com compartilhamento da decisão entre o gestor e seus empregados. A

concordância total nessa variável foi de 47,6%, indicando a assertiva do processo decisório

participativo. Embora haja participação na discussão da ação a ser efetivada, o empreendedor

/ gestor não delega a prerrogativa da decisão. Essa constatação verificou-se quando da análise

da dimensão comportamental (Tabela 9).

A comunicação formal e por escrito não se caracterizou como prática nas MPEs

longevas. Embora, 25,6% tenha sido a maior frequência com indicador na escala likert de 4,

Page 187: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

185

houve 24,4% de empreendedores /gestores que não utilizavam a comunicação formal na

empresa, ou seja não concordavam com a afirmativa. E ainda 23,2% com a escolha 3,

sinalizando para a indecisão da prática na empresa. Silva (2008, p.263) define comunicação

como ”o processo de transferir e receber informações, estabelecendo o ingrediente que

possibilita o funcionamento coordenado da estrutura”.

Das varáveis analisadas, duas obtiveram pontuação 1 como maior frequência.

Uma relacionada com a certificação de processos ISOs e outra direcionada a práticas de

gestão (GQT e manuais). A primeira variável foi considerada no teste Qui-quadrado como

muito significante, o que revela a não realização de certificações por parte das MPEs

prestadoras de serviços e longevas (Tabela 8).

Pode-se inferir que o não uso dessas ferramentas está intimamente associado ao

distanciamento dessas práticas com as condições de recursos financeiros para implementações

no subsistema das MPEs. Com relação à segunda, associada às práticas de gestão com

indicação para a gestão da qualidade e desenvolvimento de manuais dentre outros, observou-

se haver uma tendência para equivalência das pontuações, mesmo com frequência de maior

pontuação 1, para não concordância. O teste Qui-quadrado, desta variável, indicou não

significância estatística. O resultado revela não haver ainda, efetivamente práticas

administrativas de utilização da codificação de qualidade e manuais. A não representatividade

de práticas de gestão (GQT, manuais etc.) delineadas de forma codificada nas empresas

pesquisada, sinaliza a importância da aproximação dos órgãos de fomento dessas práticas na

disseminação do conhecimento.

Em outro extremo de análise, verifica-se que a maior média ocorrida nas pontuações

foi (4,43%) na variável “divisão do trabalho e responsabilidade definida”. Enquanto que a

menor média foi (2,39%) constatada na variável “certificação de processos (Certificações

ISO) na empresa”.

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186

Tabela 8 - Dimensão de Estrutura e Processos - Resumo das proporções da pontuação de maior

frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as variáveis

Variável > Freq. (1

a 5) % ²

Conclusão

Teste ²

P Valor

(%)

Valor

Médio

Formalização de cargos, funções e

estrutura organizacional 5 59,80 83,24 Muito Signif. 0,01 4,16

Divisão do trabalho e

responsabilidades definidas 5 68,30 123,73 Muito Signif. 0,01 4,43

Processo de trabalho e controle

definidos e conhecidos 5 52,40 72,88 Muito Signif. 0,01 4,26

Discussão e decisão com participação

dos funcionários - operacionais 5 47,60 44,83 Muito Signif. 0,01 3,89

Estrutura simples - poucos níveis

hierárquicos 5 63,40 99,83 Muito Signif. 0,01 4,23

Comunicação formal e por escrito com

funcionários 4 25,60 7,15 Pouco Signif. 12,83 3,01

Parceria com grande empresa alterou a

estrutura e os processos 5 54,90 68,00 Muito Signif. 0,01 4,09

Certificação de processos na empresa

(ISO9001, ISO14001, outros) 1 45,10 34,10 Muito Signif. 0,01 2,39

Procedimentos e normas formalizadas

- manuais fluxogramas e regras 5 46,30 37,76 Muito Signif. 0,01 3,71

Contratação de pessoal é formal, com

prévias atribuições do cargo 5 52,40 65,56 Muito Signif. 0,01 4,12

Identificação do negócio 5 58,50 76,66 Muito Signif. 0,01 3,96

Estrutura e processos delineados -

constante modernização 5 39,00 27,63 Muito Signif. 0,01 3,78

Práticas de gestão (GQT, manual de

boas práticas, etc.). 1 20,70 2,15 Não é Signif. 70,89 2,92

As informações sobre a dimensão em questão, ilustrada na Tabela 8, resume o

teste de Qui-quadrado para todas as variáveis. Considerando a especificidade das empresas

serem comprovadamente longevas, espera-se a obtenção de informações que as diferenciem

em relação à fatídica mortalidade usualmente presente na “vida” das MPEs. Nesse contexto,

as observações obtidas no teste Qui-quadrado demonstram forte significância para onze das

variáveis analisadas, com p-valor de 0,01%, sendo dez destas varáveis, dentre treze, com

pontuação de maior ocorrência igual a cinco, concordo totalmente.

4.4 Análise da Dimensão Comportamental

A diversificação de conceitos científicos e descobertas sobre organizações de

trabalho e as pessoas que os operam tem sido uma das pautas de discussões da literatura em

administração. Essa diversidade reflete os muitos problemas que a organização moderna

apresenta para fins científicos de estudo. Para fins práticos e científicos é necessário, na

tentativa de isolar problemas inerentes ao design de trabalho e a conveniência humana:

Page 189: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

187

avaliação do trabalho, estilos de liderança, traços de personalidade, programas de incentivo,

capacidade empreendedora, supervisão e organização de gestão.

Contudo, a maioria dos especialistas concorda que estes problemas estão inter-

relacionados, além de certo ponto, pois a solução de um tipo de problema depende da solução

de alguns outros. Problemas no desempenho das tarefas, supervisão, entre outros têm o caráter

de problemas complexos e, portanto, exigem conhecimento adequado. Assim, a análise da

dimensão comportamental tem importância estratégica na compreensão de fenômenos da

organização do trabalho contextualizada em um viés social.

Uma empresa é um organismo formado de pessoas e meios materiais,

analiticamente, com fatores abstratos que se revigoram nas relações sociais existentes e com

aspectos relativos às crenças e atitudes, poder, responsabilidade, entre outros. Fleck (2005)

afirma que um passo importante no estudo das organizações é identificar as características de

seus componentes humanos e o delineamento das situações comportamentais no ambiente

corporativo. Por outro lado, o estudo dos aspectos econômicos e políticos também são

importantes.

As características comportamentais do gestor das MPEs são um componente

organizacional que consideram as perspectivas cognitivas (Quadro 18). O empresário da

MPE, refletindo seus valores, desejos, motivações, experiências, estilo de liderança, nas ações

e decisões tomadas revelam uma tentativa de aproximação constante de seus funcionários,

embora desenvolvendo suas ações estratégicas diretamente, ou seja, sem delegação de

responsabilidade para decidir.

Fernandes (2005) enuncia as competências como “qualidades que uma pessoa

deve ter para ocupar cargos e desempenhá-las eficazmente”. Na literatura são apresentadas

várias definições para o processo de liderança. No caso específico das MPEs, as pesquisas

delineiam, de forma geral, um perfil de líder com forte poder de autoridade, com estilo

autocrático. A maturidade e a relação informal existente com os empregados determina, na

maioria das vezes, a tendência para o comportamento democrático.

Longenecker et al. (2007) consideram o estilo de gestão na MPE, abaixo da linha

profissional, mas com características também, de serem empreendedores em inovação e na

disposição de assumir riscos. Ainda o autor menciona que as deficiências gerenciais são

típicas das pequenas empresas, mas, por outro lado, a gestão deficiente não é nem universal

nem inevitável. Pinheiro (1996) afirma que gestores de pequenas empresas, em particular das

novas ou daquelas em processo de crescimento, são limitados por situações que causam

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188

problemas: falta de dinheiro, poucos funcionários aquém da necessidade, carência de

profissionais especializados, dentre outros fatores que limitam seus resultados.

Outros empreendedores e gestores demonstram bem mais profissionalismo. São

analíticos e sistemáticos ao lidar com problemas e questões gerenciais. Por

enfatizarem a obtenção de fatos e a apresentação de soluções lógicas, sua abordagem

é descrita como de natureza científica (LONGENECKER et al., 2007, p. 330).

A generalização, nesse contexto, se associada aos empreendedores das MPEs

longevas, é frágil e não se sustenta com rigor científico. Acredita-se que a profissionalização e

a fragilidade gerencial não sejam prerrogativas das MPEs, considerando que a discussão

dessas limitações está presente na conjuntura da GE e de forma acentuada. Mas, Mintzberg

(2007) adverte que nunca se deve esquecer que sempre existirão contradições entre as forças

nas organizações. Assim sendo, os gerentes deveriam reconhecer suas limitações e repensar as

contradições criativamente, e não ignorá-las para tentar suprimi-las.

No caso da pesquisa nas MPEs prestadoras de serviços e longevas, foram

verificadas deficiências de gestão, mas o nível de escolaridade e qualificação evidencia a

profissionalização no ambiente dessas empresas. A dimensão comportamental obteve

melhores escores na análise dos dados quantitativos, o que sugere um amadurecimento no

processo da gestão humanística dessas empresas (Tabela 9 e 10).

Cavalcanti (2007) destaca a empresa como um estoque de conhecimento que

consiste em codificar e disponibilizar a informação para aplicação das ações. O conhecimento

existente no plano das ideias é transformado para o conhecimento aplicado ao plano das

ações. O conhecimento inclui todas as informações e técnicas que o gestor deve dominar e

que são necessárias ao desempenho do cargo. “O conhecimento funciona como ponto de

referência para compreensão da realidade e como base para o desenvolvimento das

habilidades” (MOTTA, 2008, p. 221). Sanders (2011) define as competências como

qualidades necessárias para uma pessoa ocupar cargos e desempenhá-las eficazmente. A

tentativa é explicar o comportamento do dirigente da pequena empresa e os desdobramentos

no processo de gestão da organização.

A discussão sobre o alto índice de mortalidade das MPEs no Brasil revela vários

vieses, mas entre os principais motivos está a ausência do conhecimento do negócio e da

complexidade do ambiente (SEBRAE, 2007). Neste estudo, as MPEs prestadoras de serviços

e longevas se caracterizam por serem diversificadas e seus empreendedores / gestores estarem

qualificados e preparados para a compreensão do mercado. A constatação estabelece uma

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189

quebra de paradigma naquele contexto apresentado até então, presente nas diversas pesquisas

sobre MPEs.

As atitudes são declarações de avaliação – tanto favorável quanto desfavorável

convergindo para um empreendedor de oportunidade a respeito de objetos, pessoas, ou

eventos. Elas refletem a forma como o indivíduo se sente em relação a alguma coisa

(ROBBINS e COULTER,1998, p.291). A atitude empreendedora é um viés de análise

considerando a necessidade da visão do negócio pelo empreendedor / gestor da pequena

empresa. Correr riscos é uma característica do empreendedor da MPE, constatada na literatura

e na pesquisa das MPEs longevas. Simon (1980) afirma que o papel exercido pela liderança é

fundamental para a pequena empresa, inclusive para aquelas de origem familiar.

Na análise dos dados da pesquisa da MPEs longevas, a relação informal é latente

e há o compartilhamento das informações, contudo, a decisão é responsabilidade única do

empreendedor / gestor. Essa constatação da centralização da decisão é encontrada também em

estudos sobre o tema.

Por sua vez, observa-se nas MPEs prestadoras de serviços e longevas uma cultura

baseada na confiança e comprometimento por parte da organização, com funcionários e

clientes. Esse resultado sinaliza na construção de estilos de funcionamento organizacional das

MPEs com uma abordagem múltipla, caracterizando o tratamento gestalt com que é retratada

a gestão organizacional. Schein (1984) define a cultura como aspecto que distingue a maneira

pela qual funciona uma organização, moldando não só o seu desempenho como os

sentimentos que os indivíduos possam ter em relação a ela.

DIMENSÃO CATEGORIAS INDICADORES

COMPORTAMENTAL

- Estilos de liderança

- Comportamento autocrático;

- Com o crescimento da organização –

comportamento democrático;

- Traços de

personalidade

- Pouco voluntariado;

- Centralizador nas decisões;

- Dirigentes autoconfiantes, autônomos, com

vontade de realizar e que corre risco.

- Conhecimento

- Pouco conhecimento de gestão.

- Pouca capacidade de entendimento da

complexidade organizacional;

- Preponderância do conhecimento tácito.

- Capacidade

empreendedora, Crenças

e Atitudes

- Confiança apenas na capacidade empreendedora

individual.

- Atitude motivada e com relação informal com

colaboradores.

- Indiferença às técnicas de gestão.

Quadro 18 – Especificidades Comportamentais das MPEs

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

Page 192: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

190

A dimensão comportamental é descrita com onze variáveis de análise.

Comparando-a com as demais dimensões, desta tese, observou-se que foi a única a apresentar

todas as varáveis com pontuação de maior frequência igual a 5 na escala likert, o que

representa, concordo totalmente.

Tabela 9 - Dimensão Comportamental - frequência absoluta e percentual por pontuação atribuída e

relação média/maior valor da escala, segundo as variáveis.

Continua

Variável 1 - Não

concordo 2 3 4

5 - Concordo

totalmente

Média/5

%

Os funcionários apresentam ideias e

participam das decisões

7 6 16 18 35 3,83/5

8,5% 7,3% 19,5% 22,0% 42,7% 76,6%

Capacidade de entendimento da

complexidade organizacional -

respostas ao mercado

0 7 12 29 34 4,1/5

0,0% 8,5% 14,6% 35,4% 41,5% 82,0%

O negócio, os clientes e as estratégias

de gestão são conhecidos por todos

na empresa

7 9 7 23 36 3,88/5

8,5% 11,0% 8,5% 28,1% 43,9% 77,6%

O traço de personalidade marcante

em seu comportamento é empreender

1 2 12 17 50 4,38/5

1,2% 2,4% 14,6% 20,7% 61,0% 87,6%

Cultura organizacional baseada na

confiança e comprometimento com

funcionários e clientes

0 2 7 19 54 4,52/5

0,0% 2,4% 8,5% 23,2% 65,9% 90,4%

Mecanismos de integração dos

funcionários com a organização

1 6 14 26 35 4,07/5

1,2% 7,3% 17,1% 31,7% 42,7% 81,4%

Instrumentos de avaliação de

desempenho dos funcionários

12 12 15 16 27 3,42/5

14,6% 14,6% 18,3% 19,5% 32,9% 68,4%

As decisões são estabelecidas pelo

proprietário / gestor da empresa

0 4 5 16 57 4,54/5

0,0% 4,9% 6,1% 19,5% 69,5% 90,8%

A liderança é pautada para resultados

de desempenho da empresa e

funcionários

3 9 10 20 40 4,04/5

3,7% 11,0% 12,2% 24,4% 48,8% 80,8%

A relação empregador-empregado é

próxima e há um sentimento de

lealdade entre ambos

1 3 8 22 48 4,38/5

1,2% 3,7% 9,8% 26,8% 58,5% 87,6%

O fator comportamental representa

um diferencial na gestão

1 4 10 14 53 4,39/5

1,2% 4,9% 12,2% 17,1% 64,6% 87,8%

As maiores frequências de pontuação 5 ocorreram nas seguintes variáveis: “as

decisões são estabelecidas pelo proprietário / gestor da empresa” (69,5%); “cultura

organizacional baseada na confiança e comprometimento com funcionários e clientes”

(65,9%); “o traço de personalidade marcante em seu comportamento é empreender” (61,0%);

“A relação empregador-empregado é próxima e há um sentimento de lealdade entre ambos “

(58,5%) Tabela 9.

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191

Com relação ao processo de decisão na MPE, constata-se a prerrogativa do

proprietário / gestor com poder de autoridade e de centralização da decisão. Essa verificação é

comentada por Hall (2004); Pinheiro (1996) quando analisam as pequenas empresas e

afirmam que a autoridade é centralizada e as principais decisões são exclusivas do

proprietário-dirigente, existindo um pequeno grau de delegação e descentralização

administrativa. Essa verificação da centralização nas decisões foi relatada pelos

empreendedores/gestores das MPEs italianas pesquisadas:

[...] É certo que sim, as situações são sempre discutidas com os

empregados. Mas geralmente os assuntos estão ligados à

operacionalização de algo da produção e prestação de serviços.

Sempre discuto, mas a decisão final é minha, não delego a ninguém

senão vão até pensar que não sei o que fazer diante da situação.

Quem decide sobre minha empresa sou eu (Sr. Domenico Decaroli -

Empreendedor/gestor).

Sim, todos participam e dão sugestões. Penso que as questões

estratégicas da empresa são mais difíceis de serem compartilhadas

com todos da empresa. Mas sempre que possível eles são ouvidos.

Quero deixar claro que embora possamos ouvi-los a decisão final é

minha não fujo das decisões (Sr. Leonardo Di Lorenzo -

Empreendedor/gestor).

O grau de centralização e descentralização da empresa é um fator a ser explorado,

e o equilíbrio desse vetor facilita o processo de funcionamento da empresa (FERNANDES,

2005; NICOLSKY, 2001). Oliveira (2009) explica que a descentralização pode ser

compreendida como a delegação da autoridade sistemática para todas as unidades da

organização e a centralização como a tendência a reter a autoridade.

No caso específico das MPEs em que a centralização das decisões no

empreendedor é fator permanente, revela uma fragilidade que traduz o formato de atuação

desse porte de empresas. Gradativamente, este modelo conservador é claramente divorciado

da busca pela excelência58

no cenário atual. Embora seja evidenciada a centralização nas

MPEs prestadoras de serviços e longevas, considera-se que há uma tentativa em compartilhar

os assuntos com os empregados. Na variável “os funcionários apresentam ideias e participam

das decisões” obtiveram-se 42,7% de empreendedores / gestores concordando totalmente

Tabela 9.

58

Termo escolhido por Tom Peters e Robert Waterman para caracterizar uma empresa modelar e fundamentada.

A excelência é considerada um valor (DUARTE, 2009, p. 307).

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192

Simon (1980) destaca que tomar decisões pressupõe estabelecer escolhas e

priorizar preferências pessoais e empresariais, limitando-se as alternativas disponíveis àquela

contingência. O conteúdo sobre decisão não se resume à realidade da administração, mas se

legitima na busca incessante das organizações acertarem no ato de decidir corretamente,

compreenderem como as decisões são tomadas e como deveriam ser, visando a uma maior

efetividade.

[...] as empresas devem ser consideradas como organizações que interpretam e

pensam. No entanto, tratar a empresa como unidade de análise, e explorar as

implicações desta hipótese, produz poderosos insights sobre o comportamento das

empresas e dos indivíduos. O conteúdo de suas decisões reproduz e reflete crenças

ou padrões culturais que lhes são impostos por forças sociais externas (KOSA;

THOENIG, 2003, p.93).

A discussão sobre processo decisório distancia-se dos elementos caracterizados na

previsibilidade dos acontecimentos e na certeza de que a convicção de ontem é similar aos

contextos de hoje. As facetas de hoje necessariamente acontecerão no amanhã com

dramaturgias diferentes e diversificadas. E se tratando dos acontecimentos organizacionais

irão representar tentativas de reconhecimento do novo e do desconhecido. Logo, delinear o

processo decisório com a equipe pode representar ganhos gradativos de alcance de objetivos.

O contrário, por outro lado, pode condicionar os resultados a uma soma de resultado zero.

O sistema de decisão representa uma das grandes preocupações no contexto

organizacional. De forma que a busca de como decidir, agir, realizar, não errar e acertar, são

questões que necessitam ser priorizadas por parte dos gestores nas MPEs.

O resultado relacionado à cultura organizacional é extremamente positivo,

considerando indicar que as MPEs longevas valorizam o ato de cultivar a confiança mútua

entre os principais atores dessa dramaturgia que são a empresa, funcionários e clientes.

Escrivão Filho e Perussi Filho (2010, p.276) destacam que “na pequena empresa, como se tem

um grupo pequeno, o controle efetuado na base da confiança, é, na maioria dos casos, mais

eficiente”. Perceber a importância da cultura e valorizá-la, também, a partir do

comprometimento com funcionário e clientes, pode determinar uma melhor percepção por

parte da empresa das reais necessidades e anseios daqueles.

Longenecker et al. (2007) apontam que o elemento crucial de uma gestão que

priorize a qualidade eficaz é a cultura organizacional de apoio. Valores, crenças e práticas

tradicionais seguidos pelos membros de uma empresa podem ser descritos como cultura

organizacional. Considerando a relação de parceria das MPEs prestadoras de serviços com a

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193

grande empresa, compreender a cultura organizacional torna-se conditio sine qua non para

longevidade dessas empresas.

O comportamento do gestor pautado na dinâmica de empreender, pode

possivelmente significar um dos fatores principais da longevidade das MPEs pesquisadas.

Nessa variável, a escolha de não concordância diante dessa afirmativa, apresentou frequência

de 1,2%, caracterizando um percentual insignificante diante do total de respondentes

concordantes totalmente em 61,0% Tabela 9. Outro fator relevante nessa análise associa-se à

diversificação em serviços constatada no perfil das MPEs longevas. Essa verificação pode ser

explicada pela característica de personalidade centrada no empreendedorismo.

Conforme os dados, a relação empregador-empregado se dá de forma próxima e

com lealdade evidenciando a relação informal existente no ambiente de trabalho. Hatch e

Cunliffe (2006) retratam essa relação em razão do tipo de estrutura organizacional, que

desperta sentimentos de lealdade devido à sua simplicidade, sua flexibilidade e sua

informalidade, mas, como não existem poderes que contrabalance, o principal executivo pode

facilmente abusar de sua autoridade. Deve-se considerar, também, que as relações das pessoas

devem estar atreladas à formação de um time sólido e capaz de “equilibrar” a interação entre

as habilidades técnicas e a personalidade dos indivíduos nesse processo.

Gifford (2009) afirma que as pessoas e as organizações definem e redefinem suas

relações continuamente. Da mesma maneira, as relações individuais evoluem e mudam ao

longo do tempo. Os dados sobre a relação empregador e empregado nas empresas longevas

revelam sinergia entre as partes e possivelmente ocasionando melhores resultados na gestão

das MPEs. Essa dinâmica das relações de trabalho pode influenciar na disseminação do

conhecimento na empresa. Geus (1998) comenta sobre históricos de casos que demonstram

repetidas vezes que a forte vinculação dos funcionários com a empresa era essencial à

sobrevivência em meio à mudança.

Na variável “O negócio, os clientes e as estratégias de gestão são conhecidos por

todos na empresa” obteve 43,9% de frequência de pontuação 5 (Tabela 9) a verificação do

Qui-quadrado teve conclusão de muito significância, com p-valor de 0,01%. Tabela 10 Os

dados evidenciam que há um compartilhamento das informações e descaracteriza a visão de

que o conhecimento do negócio e das estratégias na MPE é prerrogativa somente do seu

empreendedor / gestor, destaque constante nas pesquisas dessas empresas.

Huff (2007) destaca a importância do conhecimento e ressalta que se devidamente

aproveitado pode impulsionar as organizações para se tornar mais adaptável, inovadora,

inteligente e sustentável. As empresas que podem capturar eficientemente o conhecimento

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194

incorporado em suas organizações e implantá-lo em suas operações podem obter ganhos

efetivos no processo de produção e prestação de serviços.

Todas as empresas exibem comportamentos e certas características de entidades

vivas. Todas as empresas aprendem. Todas as empresas, explicitamente ou não, têm

uma identidade que determina sua coerência. Todas as empresas constroem

relacionamentos com outras entidades, e todas as empresas crescem e se

desenvolvem até o momento em que morrem. Gerenciar uma “empresa viva” é

gerenciar com uma apreciação mais ou menos sistemática, mais ou menos explícita

desses fatos da vida corporativa, em vez de ignorá-los (GEUS, 1998, p.141).

O processo de liderança nas MPEs está pautado para resultados de desempenho.

Dos respondentes 48,8% tiveram frequência com pontuação 5. O Qui-quadrado com

conclusão muito significante e p-valor 0,01% confirma essa tendência. Tabela 10 Essa

constatação foi verificada nas entrevistas com os empresários italianos, quando perguntado

sobre o estilo de liderança:

[...] Eu e mais quatro pessoas diretamente envolvida na prestação do

serviço. Minha esposa trabalha comigo também. Nossa estrutura é

pequena, mas com bastante resultado. Trabalhamos voltados para as

metas senão não sobrevivo. E os funcionários já conhecem nosso

estilo (Sr. Domenico Decaroli - Empreendedor/gestor).

[...] Sou focado para resultados. Toda empresa deve considerar suas

metas de serviços. Na nossa empresa procuramos melhorar sempre.

Revisamos nossas metas constantemente. Não tem sentido não ter a

certeza de suas possibilidades de resultados (Sr. Leonardo Di Lorenzo

- Empreendedor/gestor).

Collins (2002) menciona que líderes não são egocêntricos, mas, ao contrário, são

humildes, modestos e conciliatórios, além de demonstrarem determinação em fazer o que for

preciso para a empresa alcançar seus objetivos, suas realizações constantemente.

As análises dos fenômenos com tratamento de teste Qui-quadrado da dimensão

comportamental obtiveram resultados com muita significância nas frequências ocorridas para

a pontuação 5, com p-valor 0,01%, com exceção da variável “instrumentos de avaliação e

desempenho dos funcionários” que embora tenha obtido frequência maior 5 com 32,90%, esta

foi considerada pouco significante com p-valor de 5,31%. Tabela 10. A ausência de

mecanismos de aferição de desempenho nas MPEs prestadoras de serviços e longevas, pode

ser explicada pela estrutura simples, aproximação entre o empreendedor / gestor e seus

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195

empregados, compartilhamento das informações e integração que são características inerentes

a essas empresas.

Nesse sentido, Escrivão Filho e Perussi Filho (2010, p.276) explicam que a

inexistência de sistemas administrativos formais, frequentemente relatada nos textos sobre

pequenas empresas e apontadas como exemplo da inabilidade administrativa do dirigente,

“pode ser decorrente, simplesmente, da falta de necessidade”. Isso porque, tais sistemas foram

desenvolvidos para solucionar problemas organizacionais resultantes das complexas

estruturas das grandes empresas.

Tabela 10 - Dimensão Comportamental - Resumo das proporções da pontuação de maior

frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as variáveis

Variável > Freq.

(1 a 5) % ²

Conclusão

Teste ²

P Valor

(%)

Valor

Médio

Os funcionários apresentam ideias e

participam das decisões 5 42,70 33,24 Muito Signif. 0,01 3,83

Capacidade de entendimento da

complexidade organizacional - respostas ao

mercado

5 41,50 51,54 Muito Signif. 0,01 4,10

O negócio, os clientes e as estratégias de

gestão são conhecidos por todos na

empresa

5 43,90 40,20 Muito Signif. 0,01 3,88

O traço de personalidade marcante em seu

comportamento é empreender 5 61,00 97,15 Muito Signif. 0,01 4,38

Cultura organizacional baseada na

confiança e comprometimento com

funcionários e clientes

5 65,90 121,05 Muito Signif. 0,01 4,52

Mecanismos de integração dos

funcionários com a organização 5 42,70 48,12 Muito Signif. 0,01 4,07

Instrumentos de avaliação de desempenho

dos funcionários 5 32,90 9,34 Pouco Signif. 5,31 3,42

As decisões são estabelecidas pelo

proprietário / gestor da empresa 5 69,50 134,22 Muito Signif. 0,01 4,54

A liderança é pautada para resultados de

desempenho da empresa e funcionários 5 48,80 51,54 Muito Signif. 0,01 4,04

A relação empregador - empregado é

próxima e há um sentimento de lealdade

entre ambos

5 58,50 92,51 Muito Signif. 0,01 4,38

O fator comportamental representa um

diferencial na gestão 5 64,60 108,37 Muito Signif. 0,01 4,39

A variável final “O fator comportamental representa um diferencial na gestão” foi

a segunda maior frequência de pontuação 5, com 64,6%. O Qui-quadrado com conclusão

muito significativa e com p-valor de 0,01%. Seguindo a análise dos dados dessa dimensão e

considerando todas as variáveis verificadas, constatou-se haver uma média geral de pontuação

de 4,14 em uma escala de 1 a 5. Esse resultado representa 82,8% do valor da escala máxima

(5), significando todas as empresas pesquisadas estarem próximas da concordância em sua

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196

totalidade. As MPEs prestadoras de serviços e longevas retratam um dinamismo no contexto

comportamental.

A dimensão comportamental pode ser considerada estratégica no processo de

longevidade dessas empresas. A forma de tratamento dessa dimensão por parte dos

empreendedores/gestores das MPEs sinaliza para a percepção dos fenômenos

comportamentais e a sensibilidade para compreender a ação administrativa através e com as

pessoas. Por sua vez, deve-se ponderar que existe a racionalidade presente da relação

trabalhista entre ambos.

4.5 Análise da Dimensão de Estratégia

As organizações necessitam ajustar-se às condições e características da conjuntura

externa relevante. A força da dinâmica do meio externo sobre a organização se delineia sob

forma de oportunidades, demandas, pressões restrições, desafios, informações, de forma

contundente – nas áreas tecnológicas, econômico-financeira, mercadológica, governamental,

psicossocial, etc. Hall (2004) afirma que o entendimento dessas especificidades é pré-

requisito para contribuir com a sobrevivência e o sucesso dessa categoria de empresas, seja

em termos de melhoria de sua gestão e/ou na mudança de postura dos empreendedores.

A empresa reage a essas forças criando e semeando um tecido organizacional

capaz não somente de responder, mas que através de sua dinâmica organizacional, tenha a

capacidade de influenciar nessa complexa relação com as MPEs.

Por intermédio das principais bibliografias (CROSTA, 2000; SAVIANI, 1995;

HALL, 2004, SOIFER, 2002; PEGN, 2005), observa-se que a maioria das MPEs desconhece

o mercado em que estão inseridas e isso ocorre porque pesquisas de mercado, grau de

satisfação dos clientes é raramente realizada neste segmento. Os resultados das empresas

longevas desmistifica essa ideia do desconhecimento do mercado. O empreendedor / gestor

dessas empresas tem profundo conhecimento de sua realidade e com forte viés de estratégia

adaptativa, principalmente, diante do seu cliente principal, a grande empresa.

Oliveira (2009) expressa que para uma empresa lidar com a incerteza e construir a

organização do futuro, é preciso estar atenta às descontinuidades, às mudanças que ocorrem

no ambiente turbulento onde se vive. Golde (1986) explica que a tendência das pequenas

empresas em esquivar-se do planejamento está relacionada principalmente: ao escasso tempo

do empresário, que precisa ocupar-se em quase todas as áreas funcionais; pela limitação de

funcionários e recursos para contratação; pelo pouco conhecimento técnico de planejamento

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197

que o dirigente possui e porque, para a pequena empresa, planejar significa manipular grandes

incertezas sobre as quais ela não tem domínio.

A construção de mecanismos de mapeamento de cenários e desenvolvimento do

planejamento de longo prazo não se evidencia nas práticas das MPEs prestadoras de serviços.

Embora, haja o desenvolvimento do planejamento e dos planos de trabalho que se verifica de

forma mais operacional. Castor (2009) explica que a essência da estratégia está na capacidade

de pensar estrategicamente a respeito de elementos que compõem o cenário em que a empresa

atua e suas tendências e em articular algumas ideias centrais. A estratégia está associada à

determinação de metas e objetivos básicos de longo prazo de uma empresa e a adoção de

ações e alocação de recursos necessários para atingir objetivos (CHANDLER, 1962;

MINTZBERG; QUINN, 2001).

Leone (1999) analisa que a incerteza percebida pela falta de informação do

ambiente externo reflete sobre a estrutura organizacional, afetando o comportamento

estratégico das MPEs. Esse fato faz com que os dirigentes centralizem as decisões que nem

sempre estão disponíveis. A autora explica também que em decorrência da informalidade, a

estratégia é intuitiva, e além do mais, os funcionários estão próximos ao dirigente que pode

lhes auxiliar a mudança de direção. A centralização no ambiente das MPEs é praticamente

unanimidade na literatura. Mas, a causa desse fenômeno difere entre os estudiosos do assunto.

Nas empresas longevas, o empreendedor / gestor possui as informações, é

conhecedor das suas limitações e está constantemente voltado para seus resultados. Diante da

parceira, a grande empresa, seu horizonte permanente é permanecer no contrato e preserva a

prestação de serviço com qualidade como forma de fidelizar.

Soifer (2002) destaca a falta de conhecimento dos funcionários diante dos

objetivos estratégicos da empresa. Tomando por base essa ideia, Kanter (2010) menciona o

distanciamento dessa informação pelos funcionários pela diversificação das atividades nos

mercados. Esse desconhecimento é menos latente nas empresas longevas. Os empregados

estão mais próximos dos empreendedores e há um maior compartilhamento das ações, mesmo

constatando-se certa centralização nas ações estratégicas da empresa.

Um fator de distorção, evidenciado por Hall (2004), está na confusão entre a

pessoa física do empresário e a pessoa jurídica da empresa. Quando se analisa com maior

riqueza de detalhes o setor financeiro das MPEs, observa-se, frequentemente, que existe uma

confusão entre a pessoa física do empresário e a pessoa jurídica da empresa. O autor ressalta

ser comum o proprietário preocupar-se prioritariamente com o retorno da lucratividade,

ficando de forma secundária os investimentos, capital de giro etc.

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198

Consequentemente, não há como se ter um real fluxo de caixa, uma vez que em

suas “emergências”, o micro ou pequeno empresário recorrerá ao capital da empresa. Esta

falta de planejamento e organização financeira prejudica a implantação de um programa de

qualidade (PEGN, 2002, p.47). Essa evidência na literatura é encontrada nas MPEs

independente do seu ramo de atividade. Essa lógica é mais permanente com relação à gestão

financeira da empresa. Na entrevista realizada na MDIC essa disfunção foi mencionada:

Ainda hoje tem micro e pequeno empresário confundindo as finanças

dele com as finanças da empresa. A questão da gestão é muito

negligenciada, as melhores práticas são desconhecidas, a inovação,

então, precisa ser vista com mais seriedade [...] (Sr. Sérgio Nunes –

Diretor MDIC).

Escrivão Filho e Perussi Filho (2010) destacam que as características das MPEs

variam amplamente de acordo com o setor em que as empresa pertencem, o tipo de negócio, o

público-alvo, o local onde estão inseridas entre outros. Nessa perspectiva, o tratamento das

MPEs de forma homogenia requer ponderações de limitações e abrangência.

DIMENSÃO CATEGORIAS INDICADORES

ESTRATÉGIA

- Horizonte de contato direto

e informal com funcionários e

público externo;

- Foco no curto prazo;

- Planejamento- Ausência de conhecimento dos objetivos estratégicos

pelos colaboradores.

- Visão externa e interna

- Pouca orientação para descoberta de oportunidades e

ameaças e pontos fortes e pontos fracos;

- Condução reativa ao ambiente.

- Formalidade do processo- Informalidade no processo de formulação da estratégia;

- Processos simples e com pouca codificação.

- Disponibilidade de

informações

- Carência de informações internas e externas;

- Informações assistematizadas.

Quadro 19 – Especificidade Estratégica das MPEs

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

Considerando a análise os dados coletados, a dimensão estratégia foi descrita com

quatorze variáveis de análise. As maiores frequências absolutas e percentuais acima de 50%

na pontuação 5 nas variáveis foram: Preocupação com relação ao clima organizacional e

satisfação dos funcionários com (56,1%); Há adequação do subsistema (ambiente interno)

com as legislações vigentes (54,9%); Definição de objetivos estratégicos e diferenciais

competitivo (54,9%); O principal cliente é a parceira - grande empresa (54,9%); Há políticas

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199

de ampliação e diversificação do portfólio de produtos e serviços (51,2%). Tabela 11 A

conclusão do Qui-quadrado nessas variáveis foi de muito significante, com p-valor de 0,01%

Tabela 12.

Tabela 11 - Dimensão de Estratégia - frequência absoluta e percentual por pontuação atribuída e

relação média/maior valor da escala, segundo as variáveis

Variável 1 - Não

concordo 2 3 4

5 - Concordo

totalmente

Média/5

%

Há políticas de ampliação e

diversificação do portfólio de produtos e

serviços

7 6 14 13 42 3,94/5

8,5% 7,3% 17,1% 15,9% 51,2% 78,8%

Há planejamento e planos de trabalho 14 11 16 13 28 3,37/5

17,1% 13,4% 19,5% 15,9% 34,2% 67,4%

Possui mecanismos de avaliação das

práticas de gestão e padrões de trabalho

7 11 13 23 28 3,66/5

8,5% 13,4% 15,9% 28,1% 34,2% 73,2%

Treinamento e desenvolvimento /

aprendizado contínuo aos funcionários

4 12 11 19 36 3,87/5

4,9% 14,6% 13,4% 23,2% 43,9% 77,4%

Mantém relação com concorrentes,

mantendo aproximação e informações

6 9 21 14 32 3,70/5

7,3% 11,0% 25,6% 17,1% 39,0% 74,0%

Preocupação com relação ao clima

organizacional e satisfação dos

funcionários

3 5 11 17 46 4,20/5

3,7% 6,1% 13,4% 20,7% 56,1% 84,0%

Prestação de serviço é concêntrica, com

pouca diversificação de serviços

24 12 17 21 8 2,72/5

29,3% 14,6% 20,7% 25,6% 9,8% 54,4%

Há adequação do subsistema (ambiente

interno) com as legislações vigentes

2 3 12 20 45 4,26/5

2,4% 3,7% 14,6% 24,4% 54,9% 85,2%

Possui propaganda para massificar sua

marca e prospectar clientes

20 17 18 7 20 2,88/5

24,4% 20,7% 22,0% 8,5% 24,4% 57,6%

Possui políticas e programas de

benefícios diferenciados ao trabalhador

15 16 17 12 22 3,12/5

18,3% 19,5% 20,7% 14,6% 26,8% 62,4%

Estratégia centrada em se antecipar e se

adaptar às mudanças

3 3 12 22 42 4,18/5

3,7% 3,7% 14,6% 26,8% 51,2% 83,6%

Definição de objetivos estratégicos e

diferenciais competitivos

2 5 13 17 45 4,20/5

2,4% 6,1% 15,9% 20,7% 54,9% 84,0%

O principal cliente é a parceira - grande

empresa

10 4 7 16 45 4,00/5

12,2% 4,9% 8,5% 19,5% 54,9% 80,0%

Possui parceria e participa de projeto

cooperativo

8 5 17 22 30 3,74/5

9,8% 6,1% 20,7% 26,8% 36,6% 74,8%

A preocupação com o clima organizacional e a satisfação dos funcionários é vista

como fator relevante pelos empreendedores / gestor, tendo recebido frequência de maior

ocorrência pontuação 5 – concordo totalmente, sendo considerada estatisticamente

significante pelo teste Qui-quadrado, com p-valo de 0,01. Essa variável obteve ainda, média

de 4.2 na escala likert, representando 84% do valor máximo da escala. Essa constatação

evidencia uma visão ampla e profícua, com relação a importância do clima organizacional e

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200

satisfação dos funcionários, consequentemente para com o fator humano na MPE, o que pode

explicar a boa relação de trabalho e a latente relação de informalidade desses atores.

Siqueira (2008) explica o clima organizacional como a possibilidade da

compreensão do modo como o contexto do trabalho afeta o comportamento e as atitudes das

pessoas neste ambiente, sua qualidade de vida e o desempenho da organização. O clima

organizacional refere-se à percepção subjetiva (SCHEIN, 1884). O ambiente de trabalho

evidencia os efeitos do sistema formal, o informal "estilo" dos gestores, e outros importantes

fatores ambientais sobre as atitudes, crenças, valores e motivações das pessoas que trabalham

em uma organização (ROBBINS, 2005; BANERJEE, 2008).

Com relação à variável “Há adequação do subsistema (ambiente interno) com as

legislações vigentes”, as MPEs longevas acompanham as mudanças no fator ambiental (de

negócios) com relação à regulação / leis que regem a atividade, visto que se adaptam às

exigências nesse cenário. A verificação retrata a visão dessas empresas com as oscilações

incontroláveis do ambiente em que está inserida a MPE e reforça a concepção dos gestores em

traduzir na empresa a obediência à legislação estabelecida. O resultado da análise do Qui-

quadrado revela forte significância com p-valor de 0,01%, com média de 4,26 na escala, o que

representa 85,2% da maior pontuação.

A análise da parceria das MPEs e a grande empresa, obteve resultado médio igual

a 4, em uma escala de pontuação de 1 a 5, o que corresponde a 80% da maior pontuação

Tabela 11. Observa-se ainda, a confirmação da forte significância através do teste Qui-

quadrado, com p-valor 0,01%. Essa variável “O principal cliente é a parceira - grande

empresa” representou na dimensão estratégia, a segunda maior ocorrência de concordância

totalmente. O resultado demonstra a consistência dessa parceria, considerando as análises

apresentadas, é a grande empresa a principal cliente das MPEs prestadoras de serviços.

Na pesquisa SEBRAE/SP (2009) sobre a relação das MPEs com as médias e

grandes empresas (MGEs), quase metade (43%) das MPEs paulistas venderam para aquelas

empresas em 2009. As GEs responderam por 21% do faturamento das MPEs em 2009. E

ainda, os fatores considerados mais importantes para vender ou prestar o serviço são a rapidez

na entrega (99% de importância “grande” ou “média”) e a qualidade dos produtos e serviços

(96%). Os dados dessa pesquisa indicam que a grande empresa é provavelmente um cliente

exigente quanto ao prazo de entrega e à qualidade do produto e serviço prestado.

A variável “Há políticas de ampliação e diversificação do portfólio de produtos e

serviços”, foi considerada estatisticamente muito significante, com p-valor 0,01%. Os dados

confirmam o resultado obtido nas características das MPEs prestadoras de serviços, no item

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201

4.2, relacionada à diversificação da oferta de serviços desse segmento, no total de 34 tipos

ofertados (que ainda podem ser desdobrados em outros itens). Essa indicação está diretamente

relacionada à variável “Prestação de serviço é concêntrica, com pouca diversificação de

serviços” que obteve maior frequência de pontuação 1 – não concordo, com 29,3%, sendo

considerada estatisticamente significante pelo teste Qui-quadrado, com p-valor de 3,54%.

Tabela 12 Logo, pode-se inferir que as MPEs longevas se diferenciam na oferta diversificada

em seu portfólio de serviços.

A visão estratégica do empreendedor / gestor da empresa longeva voltada para a

qualificação e desenvolvimento do funcionário, dando-lhe possibilidade de treinamento e

aprendizagem foi evidenciada com frequência de pontuação 5 – concordo totalmente, com

43,9%. Por sua vez, o teste estatístico de Qui-quadrado teve conclusão muito significante,

com p-valor de 0,01%. A partir dessa verificação pode-se afirmar que há uma firme busca do

aprendizado contínuo para o empregado da MPEs prestadoras de serviços.

O estudo das dimensões organizacionais nas MPEs prestadoras de serviços revela

as práticas de gestão e detecta uma série de medidas que as diferenciam e legitimam essa

espécie de empresas com vida longa. A variável associada à aprendizagem é um exemplo

dessa lógica normal, para essas empresas duradouras. E a função da gestão do conhecimento

presente nessa realidade torna possível à organização potencializar seus recursos de

informação e ativos de conhecimento com mudança de comportamento e atitudes criativas

nesse ambiente.

Quel (2006) e Windrum (2008) observam que o conhecimento, se adequadamente

utilizado e aproveitado, pode dirigir a organização para se tornarem mais inovadoras,

competitivas e sustentáveis.

Assim como as MPEs prestadoras de serviços e longevas, as empresas italianas,

também estão bem intencionadas para a aprendizagem dos funcionários, pois nas entrevistas,

quando perguntados sobre - Há investimentos em capacitação dos funcionários?

[...] o funcionário somente cresce como pessoa se ele adquirir

conhecimento. Na verdade todas as pessoas deve sempre buscar

aprender algo. Temos uma política de qualificar os funcionários. Esse

planejamento é feito junto com o funcionário, mas o interesse maior

deve ser dele. Geralmente os treinamentos são específicos – voltados

para o cargo do funcionário, para a parte operacional (Sr. Domenico

Decaroli - Empreendedor/gestor).

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202

[...] Nossa companhia sempre está atenta para a necessidade dos

funcionários interna e externamente. A nossa área de atuação é

tecnologia e as mudanças acontecem muito rapidamente, temos de

acompanhar as novidades e os funcionários podem e devem aprender

constantemente e sempre preparados. Chamo a atenção que o

funcionário é responsável pelo seu conhecimento, damos as

condições, mas ele tem que querer (Sr. Leonardo Di Lorenzo -

Empreendedor/gestor ).

O processo de capacitação é uma preocupação constante dos órgãos

governamentais e mais precisamente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior – MDIC com relação a esse segmento de empresas. Em entrevista

realizada naquele Ministério, na Secretaria da Micro e Pequena Empresa com o Sr. Sérgio

Nunes de Souza (Diretor do Departamento de Micro, Pequenas e Médias Empresas) e o Sr.

Fabio de Medeiros (Analista de Comércio Exterior) Assessor especial daquele ministério,

ficou evidenciada a preocupação. Pelo relatado algumas ações foram citadas para reverter

limitações e as metas em parceria com outros órgãos fomentadores das MPEs. Seguem

trechos das entrevistas:

[...] A capacitação é necessária para que o empresário possa

entender melhor como funcionam os métodos de gestão, o mercado,

como consegue instrumentos de crédito diferenciado, de inovação, de

transferência tecnológica, então se pressupõe que terá um “plus” na

forma de gestão e com isso combater a mortalidade e chegar em

patamares internacionais, que é o objetivo principal da política.

Logo, a capacitação é um pilar (Sr. Sérgio Nunes – Diretor MDIC).

O Departamento trabalha com as principais vertentes de gestão da

empresa, ou seja, trabalha com a vertente da capacitação

empreendedora, da capacitação da gestão, com a vertente do crédito,

da inovação tecnológica, da desburocratização das normas

administrativas que estão inerentes à empresa, a exceção de aspectos

tributários, que são de competência exclusiva do Comitê Gestor, e a

outros aspectos produtivos (Sr. Fábio de Medeiros Souza – Assessor –

MDIC).

O mais importante que existe no serviço público é o Programa

Plurianual. Houve uma grande mudança de mentalidade em relação

ao que era feito antes e o que é feito agora. Tinha uma pulverização

de ações, de programas e tudo foi enxugado. Para se ter uma ideia, de

mais de trezentas, ao final tornaram pouco mais de 60. Um dos temas

mantidos pela sua extrema importância foi da micro e pequena

empresa, é um programa temático. Dentro disso, se tem um

planejamento estratégico e no caso do Departamento da Micro e

Pequena Empresa se tem toda a questão da gestão.

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203

São quatro abordagens básicas em relação à micro e pequena

empresa – quatro eixos sistêmicos (normativo/regulamentar). Do

objetivo estratégico são: - Regulamentar implementação dos

Estados... - Competitividade e Sustentabilidade; - Cooperação

internacional; - Questão da gestão do conhecimento que inclui a

capacitação. Elas são interdependentes porque fazem parte da

questão do fortalecimento da micro e pequena empresa para que seja

competitiva no mercado e consiga ter uma vida longa (Sr. Sérgio

Nunes – Diretor MDIC).

[...} A respeito da questão de instrumentos, é importante mencionar

que o Governo Federal, ou seja, o Departamento está fazendo duas

apostas importantes em termos de instrumento: a primeira se refere à

política nacional de empreendedorismo e a segunda é o Plano

Nacional de Capacitação. São duas ações de cunho estratégico. Há

ainda outras ações táticas e operacionais, acordos, ações com a Apex

e com outros Ministérios (Sr. Fábio de Medeiros Souza – Assessor –

MDIC).

Para melhor entendimento dessas ações, participou-se das discussões e debates no

MDIC com órgãos públicos e privados, fomentadores de ações voltadas para essas empresas.

A participação se efetivou como membro integrante da Comissão de elaboração do Plano

Nacional de Capacitação das MPEs para o Brasil.

Robbins (2005); Soifer (2002) consideram que são diversos os dilemas

enfrentados pelos gestores e pelos governos na busca por facilitar e incentivar políticas de

subsídios que propiciem condições adequadas à manutenção, desenvolvimento e consolidação

destes modelos de negócio, que são as MPEs.

A variáveis “Há planejamento e planos de trabalho” e “Possui mecanismos de

avaliação das práticas de gestão e padrões de trabalho” obtiveram frequências iguais a 34,2%,

com escolhas de pontuações 5. No teste Qui-quadrado foram consideradas estatisticamente

muito significantes e com p-valor de 2,60% e 0,09%, respectivamente. Tabela 12. Com

relação à primeira, o resultado se diferencia da literatura e das pesquisas sobre MPEs, quando

os resultados indicam ausência de realização de planejamento.

Ressalta-se que na relação de parceria da MPE e a GE, conforme já comentado

nesta tese, há exigência contratual com protocolo estabelecido pela GE, para realização de

procedimentos de gestão. A ferramenta de planejamento está inserida entre uma das

exigências, inclusive de entrega durante a periodicidade do contrato de prestação de serviços.

Quanto à segunda variável associada ao mecanismo de avaliação, evidencia-se a

fragilidade de instrumentos de avaliação. Embora com resultado significante, há uma

distribuição nas pontuações 3 e 4 que, somadas, chegam a 37,8%. Essa constatação foi

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204

averiguada também na dimensão comportamental na variável “Instrumentos de avaliação de

desempenho dos funcionários” tendo sido considerada não significativa.

Contudo, os resultados indicam clara tendência para efetivação do processo de

avaliação de forma codificada, nas práticas de gestão e padrões de trabalho. Considera-se que

as limitações são minimizadas no processo avaliativo e de controle do trabalho desenvolvido

nas MPEs, em razão das especificidades estruturais e de processos: estrutura simples, com

poucos níveis hierárquicos, enxuta e flexível, nessas empresas.

De Sordi (2008) destaca que o problema da extensão de controle recebe muita

atenção na literatura da administração, pela razão da busca da previsibilidade. Longenecker et

al.,(2007) evidenciam que a esfera de controle “ideal” é, na realidade, uma variável que

depende de inúmeros fatores, como natureza do trabalho e conhecimento, energia,

personalidade e capacidade do gestor e do supervisor. De acordo com a contingência, admite-

se até mesmo não haver o processo estabelecido.

A realização de propaganda e de políticas e programas de benefícios para os

funcionários obtiveram as menores frequências com 24,4% (mesmo valor para pontuação 1 e

5 na escala likert) e 26,8% (pontuação 5), respectivamente. A variável, “Possui propaganda

para massificar sua marca e prospectar clientes” no teste Qui-quadrado obteve conclusão

pouco significativa, com p-valor de 12,83%, considerado estatisticamente fora dos padrões

aceitáveis. O resultado delineia a fragilidade de estratégias marketing com intenção de

massificação de marca.

Posteriormente à constatação feita, buscou-se o levantamento de informações de

propagandas relativas às empresas pesquisadas, na tentativa de verificar se utilizavam alguma

forma de disseminação da comunicação. As buscas foram realizadas em sites, facebook,

ecommerce etc. O resultado foi que das 82 empresas pesquisadas, 76 utilizavam algumas

dessas ferramentas de internet para sua comunicação, o que representa 92,7% da amostra. Na

dimensão tecnologia/inovação constatou-se na variável “Utiliza-se de recursos de informática-

relacionar com os clientes (web site, e-mail, entre outros)” que 78,1% utilizam essas

ferramentas de comunicação com o ambiente.

Há um “espaço vazio” dessa informação sobre as MPEs na literatura, e tentar

esclarecer ao pequeno empresário quais são os instrumentos possíveis para a realização da

comunicação do seu negócio com criatividade e a custos baixos, torna-se imprescindível. Mas

analogicamente, defende-se que a comunicação e as estratégias de marketing para serem

efetivas devem ser programadas com descrição e escopo, assim como, alicerçadas para médio

longo prazo.

Page 207: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

205

Os dados revelam a participação das MPEs em parceria com outras organizações

objetivando projetos cooperativos. A conclusão do teste Qui-quadrado revelou-se muito

significante nessa relação, com p-valor de 0,01%. Nesse sentido, Tachizawa (2002) pontua

que a expansão da consciência coletiva com relação ao social e a complexidade das atuais

demandas ambientais. A sociedade exige e induz a um novo posicionamento por parte das

organizações em face de tais questões. Faria e Sauerbronn (2008) argumentam que é urgente a

utilização da estratégia de responsabilidade social como filosofia de gestão e que seja

incorporada em economias emergentes, por organizações públicas, empresa de pequeno e

médio porte, organizações sem fins lucrativos, e até mesmo organizações não

governamentais.

Tabela 12 - Dimensão de Estratégia - Resumo das proporções da pontuação de maior frequência, valor

de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as variáveis

Variável > Freq. (1

a 5) % ²

Conclusão

Teste ² P Valor

(%)

Valor

Médio

Há políticas de ampliação e

diversificação do portfólio de produtos e

serviços

5 51,20 53,00 Muito Signif. 0,01 3,94

Há planejamento e planos de trabalho 5 34,20 11,05 Muito Signif. 2,60 3,37

Possui mecanismos de avaliação das

práticas de gestão e padrões de trabalho 5 34,20 18,73 Muito Signif. 0,09 3,66

Treinamento e desenvolvimento /

aprendizado contínuo aos funcionários 5 43,90 36,17 Muito Signif. 0,01 3,87

Mantém relação com concorrentes,

mantendo aproximação e informações 5 39,00 26,42 Muito Signif. 0,01 3,70

Preocupação com relação ao clima

organizacional e satisfação dos

funcionários

5 56,10 74,10 Muito Signif. 0,01 4,20

Prestação de serviço é concêntrica, com

pouca diversificação de serviços 1 29,30 10,32 Signif. 3,54 2,72

Há adequação do subsistema (ambiente

interno) com as legislações vigentes 5 54,90 75,44 Muito Signif. 0,01 4,26

Possui propaganda para massificar sua

marca e prospectar clientes 1 24,40 7,15 Pouco Signif. 12,83 2,88

Possui políticas e programas de

benefícios diferenciados ao trabalhador 5 26,80 3,24 Não é Signif. 51,79 3,12

Estratégia centrada em se antecipar e se

adaptar às mudanças 5 51,20 64,95 Muito Signif. 0,01 4,18

Definição de objetivos estratégicos e

diferenciais competitivos 5 54,90 71,17 Muito Signif. 0,01 4,20

O principal cliente é a parceira - grande

empresa 5 54,90 67,15 Muito Signif. 0,01 4,00

Possui parceria e participa de projeto

cooperativo 5 36,60 25,44 Muito Signif. 0,01 3,74

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206

4.6 Análise da Dimensão de Tecnologia/Inovação

A dimensão tecnológica é delineada dentro dos contextos incrementais associados

ao processo de gestão organizacional e no desenvolvimento de produto e serviços. O

conhecimento, nessa perspectiva, torna-se fator preponderante e agregador de valor para

melhoria do tecido organizacional e das relações de integração e sinergia da empresa com o

mercado.

As inovações tecnológicas ocorrem quando surge um produto ou processo no

mercado (Quadro 5). “É uma mudança na tecnologia, uma forma nova de fazer algo” (SILVA,

2008, p.383). A inovação é um processo de tornar uma invenção rentável para a empresa,

afirma (PORTER, 1999, p.147). A dimensão tecnologia/inovação é descrita na literatura como

a capacidade de expansão e rentabilidade de seus negócios (DELOITTE, 2011).

Como já mencionado na seção 2.7.4, o processo tecnológico é indissociável do

sistema de inovação. A tecnologia, a inovação organizacional e as inovações tecnológicas se

entrelaçam. A capacidade da organização de inovar é uma pré-condição para a utilização bem

sucedida de inventos em recursos e novas tecnologias. Por outro lado, a introdução de novas

tecnologias, muitas vezes apresenta oportunidades e desafios complexos para as organizações,

levando a alterações nas práticas gerenciais e da emergência de novas formas organizacionais.

A disseminação do processo de inovação nas MPEs é incipiente, pois há uma

carência de informações nessa seara do saber. Por outro lado, o reconhecimento da estrutura e

processos e a dimensão comportamental dessas empresas, com características próprias e

específicas, delineiam a discussão da inovação para verificação de proposituras de tecnologias

incrementais. Nesse contexto, quando da realização de prestação de serviços com

especificidades próprias e que por adquirirem know-how, tornaram-se referência por ser

espécie singular e única para aquela realidade. Contudo, os estudos apresentam o viés de

baixa capacidade de inovar e estabelecer uma trajetória de aprendizagem tecnológica com

consistência no surgimento de novos produtos e serviços.

A literatura sobre MPEs destaca a ausência de base tecnológica, com codificação

dos processos de inovação, considerando não haver programas de P&D, com a

implementação de mecanismos gerenciais para sistematizar as atividades de inovação (OCDE,

2009). Entende-se que esse diagnóstico com relação à P&D nas MPEs não é apropriado para

esse segmento de empresas. É uma literatura para discussão da média e grande empresa.

Por sua vez, concorda-se com a verificação da inconsistência do fator gerador de

forma assistemática ao processo inovador das MPEs. Mas a lógica da pequena empresa é

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207

outra, esse processo é mais simples e dinâmico, sua envergadura pode advir da relação com os

fornecedores, através do benchmarking de concorrentes, resultantes de insights eventuais no

compartilhamento dos empreendedores e seus colaboradores. A modelagem organizacional

das MPEs permite essa “improvisação” em detrimento da ação planejada.

Evidencia-se que no caso das MPEs prestadoras de serviços e longevas, verifica-

se um agravante que altera sua condição de creditação sobre a tecnologia inovadora. Na

condição de parceira da grande empresa e de forma prolongada, recebe a efetiva influência no

aspecto da conjuntura interna e na exigência de padrões de qualidade na prestação de serviços,

impulsionando os processos inovadores. Na análise dos dados fica evidenciada essa

observação e a longevidade dessas empresas adquirindo know-how e tecido organizacional

mais coerente com seus inputs e outputs. Nessa perspectiva, a lógica da ausência de

incremento tecnológico e de processo inovador, característico na literatura sobre as MPEs,

pode não ser predominante nessas empresas longevas. Contudo, a verificação no subsistema

das MPEs sinaliza pela assistematização do processo de inovação.

A verificação da categoria de tecnologia de processamento e da informação

remete-se ao incremento dessa área nas MPEs. Todavia, o plano diretor de sistema inexiste,

havendo uma tecnologia simples, com predominância de equipamentos, técnicas e processos

de produção, em sua maioria, obsoletos (SANDERS, 2011; SEBRAE, 2007).

As alterações organizacionais, juntamente com novos serviços e processos, bem

como novos mercados, representam fatores de "destruição criativa", afirma Schumpeter

(1962). Essa analogia foi aceita nesta tese como oportunidade e construção de novas práticas

de gestão as MPEs, do tratamento das relações de trabalho e da integração empresa e

ambiente externo. Contar com um aparato tecnológico mínimo para as suas operações é o

primeiro passo para a empresa que pretende ser considerada inovadora e buscar parcerias que

possam incrementar sua participação no mercado (SEBRAE, 2008).

Kanter (2010) afirma que o conhecimento representa a base de sustentação da

inovação. No “coração” do processo de capacidade tecnológica está a ideia, o conhecimento

tácito que constitui a origem de todo o conhecimento humano e organizacional. Compreende-

se a importância de políticas públicas no sentido de fortalecer esse segmento de empresas

como estratégico. Em entrevista realizada na MDIC essa condição foi relatada da seguinte

forma:

A nossa luta é sempre neste sentido, o de produzir a política pública

que tenha efeito benéfico para a empresa e, através das instituições

que participam do Fórum Permanente, fazer com que isso chegue lá

[...] Hoje, das patentes registradas no Brasil, dois terços são do

Page 210: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

208

“serviço público” e um terço é de empresas em geral, enquanto que

no mundo é o inverso, dois terços de patentes depositadas no mundo

todo são de empresas privadas. Inovação é algo que ainda temos

muita dificuldade. De qualquer forma, avançou-se muito, o Fórum

tem uma contribuição muito grande [...](Sr. Sérgio Nunes – Diretor

MDIC).

Nonaka (2007) argumenta que o conhecimento precisa de um contexto a ser

criado. Nas MPEs essa transformação do conhecimento tácito para o conhecimento explícito,

condição imprescindível para evolução do processo inovador, se evidencia sem celeridade e

sem planejamento sistematizado. No entanto, apresentam otimismo, mesmo que em fase

embrionária.

A criação de conhecimento é um processo de mobilização de conhecimento tácito

que pode promover a sua interação com a base de conhecimento explícito da empresa

(FIGUEIREDO, 2003, 2004, 2005).

DIMENSÕES CATEGORIAS INDICADORES

TECNOLOGIA /

INOVAÇÃO

- Tecnologia de

processamento e da

informação

-Tecnologia simples;

- Predominância de equipamentos, técnicas e processos

de produção, em sua maioria, obsoletos;

- Insuficiência de recursos tecnológicos.

- Inovações

tecnológicas

- Menor probabilidade de produzir inovações radicais

- Maior possibilidade de produzir inovações incrementais

- Tecnologia evolucionária

- Processo de

aprendizagem

- Prevalece conhecimento tácito

- Assistematizado

Quadro 20 – Especificidades Tecnológicas/inovação das MPEs

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

A dimensão tecnologia/inovação foi descrita com treze variáveis de análise. A

partir da análise dos dados coletados, constatou-se que todas as variáveis de maior frequência

de ocorrência foram consideradas estatisticamente significantes, com pontuação 5, exceto a

variável “O principal apoio para realizar inovações na empresa é pela diminuição de

impostos” que obteve significância na pontuação 1 na escala likert. Iniciando a análise por

essa variável, que a princípio é surpreendente, considerando que a discussão sobre isenção

fiscal para esse segmento de empresas sempre está na pauta das reclamações e exigências das

MPEs.

A verificação da realização de processos de inovação na MPE independente da

diminuição de impostos revela o amadurecimento e a relevância com que as empresas

longevas tratam esse diferencial competitivo. Os dados estatísticos desta variável

Page 211: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

209

apresentaram significância na pontuação 1, ou seja não concordância da diminuição dos

impostos atrelada à realização de inovações na empresa, e com p-valor 3,54% Tabela 14.

Tabela 13- Dimensão de Tecnologia/Inovação - frequência absoluta e percentual por pontuação

atribuída e relação média/maior valor da escala, segundo as variáveis.

Variável 1 - Não

concordo 2 3 4

5 - Concordo

totalmente

Média/5

%

O incremento de novas tecnologias e

inovação é iniciativa do gestor /

empreendedor

3 4 14 17 44 4,16/5

3,7% 4,9% 17,1% 20,7% 53,7% 83,2%

Gestão compartilhada com a grande

empresa contribui na absorção e

assimilação de inovações incrementais

2 1 10 22 47 4,35

2,4% 1,2% 12,2% 26,8% 57,3% 87,0%

A tecnologia de processamento e da

informação é utilizada como

ferramenta

3 5 13 15 46 4,17/5

3,7% 6,1% 15,9% 18,3% 56,1% 83,4%

O processo de inovação é planejado e

discutido com os envolvidos no

processo

7 5 12 20 38 3,94/5

8,5% 6,1% 14,6% 24,4% 46,3% 78,8%

Há investimentos na capacitação dos

funcionários de forma periódica

6 15 15 15 31 3,61/5

7,3% 18,3% 18,3% 18,3% 37,8% 72,2%

Perspectiva de inovação construída a

partir da assimilação de novos

conhecimentos

1 5 12 23 41 4,2/5

1,2% 6,1% 14,6% 28,1% 50,0% 84,0%

Há troca de experiências com outras

empresas

9 13 15 8 37 3,62/5

11,0% 15,9% 18,3% 9,8% 45,1% 72,4%

O principal apoio para realizar

inovações na empresa é pela

diminuição de impostos

23 16 14 7 22 2,87/5

28,1% 19,5% 17,1% 8,5% 26,8% 57,4%

As inovações são introduzidas para

atender às necessidades do mercado

1 1 10 13 57 4,51/5

1,2% 1,2% 12,2% 15,9% 69,5% 90,2%

A marca da empresa é registrada 26 2 6 6 42 3,44

31,7% 2,4% 7,3% 7,3% 51,2% 68,8%

Adota programas de melhorias do

desempenho e da qualidade dos

serviços

6 6 10 22 38 3,98/5

7,3% 7,3% 12,2% 26,8% 46,3% 79,6%

A tecnologia / inovação é

compreendida como fator

indispensável para longevidade

1 3 10 14 54 4,43/5

1,2% 3,7% 12,2% 17,1% 65,9% 88,6%

Utiliza-se de recursos de informática-

relacionando-se com os clientes (web

site, e-mail, CD, entre outros)

2 3 4 9 64 4,59/5

2,4% 3,7% 4,9% 11,0% 78,1% 91,8%

Destacam-se com grandes frequências na dimensão tecnologia/inovação: Utiliza-

se de recursos de informática - relacionar com os clientes (web site, e-mail, CD, entre outros),

(78,1%); As inovações são introduzidas para atender às necessidades do mercado (69,5%); A

tecnologia / inovação é compreendida como fator indispensável para longevidade, 65,9%;

Gestão compartilhada com a grande empresa contribui na absorção e assimilação de

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210

inovações incrementais, 57,3%; A tecnologia de processamento e da informação é utilizada

como ferramenta, 56,1%; O incremento de novas tecnologias e inovação é iniciativa do gestor

/ empreendedor, 53,7%; A marca da empresa é registrada, 51,2%; Perspectiva de inovação

construída a partir da assimilação de novos conhecimentos, 50% Tabela 13.

A alta taxa associada à dimensão inovação demonstra a conscientização e o olhar

diferente desse empreendedor/gestor com relação a esse diferencial competitivo. Essa

constatação da importância da inovação pode ser estabelecida, entre outros aspectos, com

base no ciclo de vida da organização (CORAL, 2008).

A utilização da informática, obtendo-se resultados elevados, considera-se normal

e esperado. Mas, a utilização consciente por parte das MPEs como instrumento de

aproximação e de comunicação com os clientes, delineia uma perspectiva positiva e

importante para longevidade dessas empresas (Quadro 6). O que se verifica, no entanto, é que

os estudos a respeito destacam que boa parte das MPEs ainda é pouco informada sobre o

potencial oferecido pelas tecnologias da informação na melhoria da competitividade. La

Rovere (1999) pontua que na maioria das MPEs somente introduz inovações quando

percebem com clareza as oportunidades de negócio que elas podem trazer. Essa afirmativa,

não cabe para as MPEs prestadoras de serviços e longevas.

Nas variáveis “A tecnologia / inovação é compreendida como fator indispensável

para longevidade” e “A tecnologia de processamento e da informação é utilizada como

ferramenta” tiveram médias de pontuações 4,43 (representando 88,6% da nota máxima) e 4,17

(83,4% da nota máxima), respectivamente. Com relação à Teoria do Ciclo de Vida das

organizações, essa verificação retrata a evolução de vida da empresa, considerando que a

valorização da inovação e sua aplicação na gestão da empresa e a utilização de ferramentais

tecnológicos, representam mudanças significativas e em estágio relacionado ao crescimento e

renovação das empresas (MILLER; FRIESEN, 1984).

Uma das premissas desta tese é a defesa da parceria da MPE e a GE como fator de

maior longevidade, o que se evidencia nas análises realizadas sobre as dimensões

organizacionais. A variável “Gestão compartilhada com a grande empresa contribui na

absorção e assimilação de inovações incrementais” obteve resultado estatisticamente

significante para a frequência de pontuação 5, pelo teste Qui-quadrado, com p-valor 0,01

Tabela 14.

Em entrevista realizada no MDIC com o Diretor do Departamento das MPEs,

quando perguntado sobre a parceria das MPEs e a GE e a capilaridade nessa relação, obteve-

se o seguinte:

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211

Acredito que sim. Estamos assistindo isso na Petrobrás, nos Correios

(exemplos). O desenvolvimento tecnológico e a inovação são

proferidos pela empresa âncora. O empresário vai ter que correr

atrás, muito embora a gente vê que a micro e pequena empresa está

no quarto, no quinto estágio de fornecimento. Nos Correios é

diferente, há diversidade de serviços. Logo, a grande empresa

influenciaria na capilaridade. Ela é que puxa o desenvolvimento em

muitos casos (Sr. Sérgio Nunes – Diretor MDIC).

A possibilidade de assimilação e absorção das MPEs traduzindo uma acumulação

de competência técnica pelo envolvimento com a grande empresa reforça a importância dessa

parceria. O funcionamento adequado do processo de aprendizagem pode auxiliar a trajetória

de acumulação de competência tecnológica, com consequente melhoria do desempenho

operacional (LEONARD-BARTON, 1998; FIGUEIREDO, 2003).

O resultado da variável “O incremento de novas tecnologias e inovação é

iniciativa do gestor / empreendedor”, com conclusão no teste Qui-quadrado muito

significativo, com p-valor 0,01%. A personalização do empreendedor na MPE condiz com sua

participação efetiva nas ações e deliberações da empresa. Por outro lado, confirma a imagem

do proprietário intimamente associada ao negócio e caracterizando-se como a referência da

empresa. A constatação não é um fenômeno da pequena empresa, pois se legitima também na

média e na grande empresa brasileira.

Considerando o cenário dos negócios e as demandas advindas dessa realidade, a

dependência excessiva no empreendedor, acarretará perdas para a organização, no momento

em que, restringe a participação do corpo funcional e transformando-os em meros

espectadores das vontades do “senhor empresário”. Todavia, a iniciativa de impulsionar novas

tecnologias e a inovação é hodierno e estratégico para longevidade.

Na análise das dimensões das MPEs longevas é incontestável a visão

empreendedora e especial por parte de seus gestores ao investir na capacitação dos

funcionários e de forma periódica. Nas questões com indicação nesse sentido, todas obtiveram

alta frequência de pontuação 5 e significância com p-valor 0,01%. Essa constatação revela o

pensar diferente e a capacidade de adiar recompensas para permear o crescimento intelectual e

profissional de seus funcionários.

Hamel e Prahalad (1995) explicam que a noção de "competência central" implica

na aprendizagem e nas atividades de criação de conhecimento das empresas, que tendem a

ser cumulativo e caminho-dependente. As empresas tendem a persistir naquilo que fazem,

porque aprendizagem e conhecimento são incorporados nas relações sociais, cognição

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212

compartilhada e formas existentes de fazer as coisas (KIM, 2005; LA ROVERE, 1999;

PENG, 2008).

As variáveis “O processo de inovação é planejado e discutido com os envolvidos

no processo” e “As inovações são introduzidas para atender às necessidades do mercado”

tiveram frequência de 46,3% na maior pontuação 5 - concordo totalmente, com médias de

pontuações 3,94 (representando 78,8% da nota máxima) e 4,51 (90,2% da nota máxima),

respectivamente. O teste estatístico para ambas tiveram conclusão muito significativo, com p-

valor de 0,01% Tabela 14. Os dados são categóricos nessas variáveis indicando a existência

dessas práticas na gestão das MPEs prestadoras de serviços.

A preocupação em atender às necessidades de mercado é positiva e congrega para

a possibilidade de aceitação dos serviços prestados. Dosi (2006); Kim (2005) afirmam que as

necessidades expressas através da sinalização de mercado sejam as principais forças motoras

da atividade inovadora. Acredita-se que essa variável se sustenta mais fortemente pela

especificidade da parceria com a grande empresa, tornando a MPE dependente desse aspecto.

A atenção para o desenvolvimento de novos produtos e serviços e a melhoria

contínua dos processos, com a observância da necessidade do cliente é pertinente e “torna a

roseira mais forte”, termo utilizado por Geus (1998) para as empresas longevas com

características de serem empresas tolerantes, algo segundo ele, imprescindível em um

ambiente imprevisível. Mas, é necessário ponderar que o desenvolvimento de inovações

radicais ou incrementais deva haver o distanciamento necessário para a criação.

Tacla e Figueiredo (2003) exploram os fatores de tendências do processo de

inovação determinantes estabelecendo uma critica as fragilidades da adequação da teoria da

inovação baseada na indução pela demanda. Primeiramente pela reatividade das mudanças

tecnologias vis-à-vis as condições de mercado; em segundo, pela incapacidade de definir por

que e quando de certos desenvolvimentos tecnológicos em vez de outros e por último pelo

imperativo da mudança ao longo do tempo, da capacidade de invenção, que não mantém uma

relação direta com as condições mutáveis de mercado.

Na variável “Perspectiva de inovação construída a partir da assimilação de novos

conhecimentos” na análise de Qui-quadrado obteve conclusão muito significante, com p-valor

de 0,01. O valor médio foi de 4,2 que corresponde a 84% da maior nota 5. Identifica-se nesse

contexto, a construção do conceito de tecnologia em função do conhecimento. A relevância

dessa verificação torna o processo de inovação nas MPEs prestadoras de serviços, sinérgico e

capaz de internalizar a multidisciplinaridade desses conhecimentos, com consequente

agregação de valor aos produtos e serviços ofertados ao mercado.

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213

Tabela 14 - Dimensão de Tecnologia/Inovação - Resumo das proporções da pontuação de maior

frequência, valor de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as variáveis

Variável > Freq.

(1 a 5) % ²

Conclusão

Teste ²

P Valor

(%)

Valor

Médio

O incremento de novas tecnologias e

inovação é iniciativa do gestor /

empreendedor

5 53,70 67,15 Muito Signif. 0,01 4,16

Gestão compartilhada com a grande

empresa contribui na absorção e

assimilação de inovações incrementais

5 57,30 88,61 Muito Signif. 0,01 4,35

A tecnologia de processamento e da

informação é utilizada como ferramenta 5 56,10 73,12 Muito Signif. 0,01 4,17

O processo de inovação é planejado e

discutido com os envolvidos no processo 5 46,30 43,73 Muito Signif. 0,01 3,94

Há investimentos na capacitação dos

funcionários de forma periódica 5 37,80 19,95 Muito Signif. 0,05 3,61

Perspectiva de inovação construída a

partir da assimilação de novos

conhecimentos

5 50,00 63,12 Muito Signif. 0,01 4,2

Há troca de experiências com outras

empresas 5 45,10 34,34 Muito Signif. 0,01 3,62

O principal apoio para realizar inovações

na empresa é pela diminuição de

impostos

1 28,10 10,32 Signif. 3,54 2,87

As inovações são introduzidas para

atender às necessidades do mercado 5 69,50 132,63 Muito Signif. 0,01 4,51

A marca da empresa é registrada 5 51,20 71,42 Muito Signif. 0,01 3,44

Adota programas de melhorias do

desempenho e da qualidade dos serviços 5 46,30 46,05 Muito Signif. 0,01 3,98

A tecnologia / inovação é compreendida

como fator indispensável para

longevidade

5 65,90 114,46 Muito Signif. 0,01 4,43

Utiliza-se de recursos de informática-

relacionar com os clientes (web site, e-

mail, CD, entre outros)

5 78,10 4,59 Muito Signif. 0,01 4,59

4.7 Análise da Dimensão Ambiental

A dimensão ambiental estabelece o contexto histórico e espacial em que a

organização atua, impondo limitações e influenciando decisões. As especificidades ambientais

(Quadro 6) estão associadas à análise dos fatores influenciadores do sistema – organização.

Lobato et al (2003) julgam que para lidar com as incertezas e construir a organização do

futuro, é preciso estar atento às descontinuidades, às mudança que ocorrem no ambiente

turbulento.

As análises das dimensões organizacionais: estrutura e processos, comportamento,

estratégia e tecnologia/inovação, retrataram fenômenos existentes no subsistema das MPEs,

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214

evidenciando funcionalidades e práticas de gestão que as diferenciam por ser longevas. As

limitações e disfunções também fizeram parte da análise realizada.

A análise dos dados da dimensão ambiente discute a relação com o

macroambiente e o ambiente competitivo no segmento das MPEs prestadoras de serviços. O

delineamento é construído a partir do cenário de mercado, com as relações com a grande

empresa, concorrentes e com o ambiente maior, retratadas no contexto econômico, social e

político que permeiam esse segmento de empresas.

O ambiente passou a ser visto e valorizado com seus fenômenos da população em

estudo e que influenciam, potencialmente, em parte ou no todo uma determinada organização

inserida no contexto socioeconômico positivo com taxas relevantes de crescimento e

desenvolvimento regional. Em contra partida, pode se apresentar prejudicial para os negócios.

Este último cenário destrói as estratégias da empresa tornando-a limitadora e elevando-se os

riscos (PORTER; KRAMER, 2006).

O ambiente também comporta pressões institucionais, pelas quais se entendem

“[...] as forças econômicas, como máquinas e capital, e as forças simbólicas, como reputação

e o reconhecimento de liderança, entre outros fatores” (FERNANDES, 2005, p. 33). O autor

também assevera que a Teoria Institucional, que defende o ambiente, compele as organizações

a convergirem as suas ações e a se imitarem, em um processo chamado isomorfismo. Essa

teoria é um referencial de abordagem para compreensão da influência do ambiente nas MPEs

prestadoras de serviços.

O levantamento de informações sobre as MPEs italianas, com realização de

entrevistas, teve como objetivo a verificação desse fenômeno. A constatação revela uma

diferenciação no cenário macroeconômico, diante da crise europeia nos últimos anos. Embora

considerando a limitação da exploração da pesquisa de campo na Itália, pode-se inferir que as

dimensões organizacionais daquelas empresas longevas, são similares em grande parte com as

empresa brasileiras.

Percebeu-se uma diferença considerável com relação ao incremento tecnológico /

inovação, tendo sido verificado uma maior intensificação desse diferencial competitivo nas

empresas italianas em comparação com a brasileira. De forma geral, as constatações

encontradas nesta tese diante das MPEs prestadoras de serviços longevas, caracteriza certa

homogeneidade. Mas, com expansão significativa da empresa italiana com relação às

exportações. Ressalta-se que este estudo não teve a intenção do aprofundamento desse

fenômeno, mas indicar possíveis indicadores específicos entre ambas, o que no decorre deste

trabalho foi discutido.

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215

Na dimensão ambiente, a ênfase com relação aos fatores macroambientais na

literatura está voltada principalmente para as tecnologias e o contexto socioeconômico. Essa

dimensão pode alterar-se de forma latente positivamente ou negativamente com relação às

outras dimensões. Ao mesmo tempo, Sturdy (2004); Mintzberg (2003) consideram que os

estudos revelam que estes problemas estão inter-relacionados e em equifinalidade59

, ou seja, a

solução de um tipo de problema depende da solução de outros e de forma diversificada.

DIMENSÕES CATEGORIAS INDICADORES

AMBIENTE

- Macroambiente:

política, modelo

socioeconômico,

tecnologias e demografia

- Carente de apoio dos organismos governamentais;

- Ocupante de espaço pré-determinados da estrutura

produtiva;

- Dependência excessiva de mecanismo de incentivo fiscal;

- Influência imperativa dos fatores sociais.

- Ambiente de tarefa:

clientes, fornecedores e

concorrentes

- Compete em condições adversas com as grandes empresas;

- Pouca margem de negociação com clientes e fornecedores;

- Pouca identificação de marca do negócio.

Quadro 21– Especificidade Ambiental das MPEs

Fonte: Elaboração a partir da investigação do referencial teórico

A discussão diante dessas constatações revela que as empresas, independentes do

seu tamanho, deverão estabelecer mecanismos de interdependência com os diversos fatores

envolvidos no processo, como forma de obter maior adaptabilidade e sinergia com as

mudanças e exigências do mercado.

As variáveis apresentadas a partir da literatura levantada retratam o

direcionamento de análise e investigação deste trabalho.

[...] a organização e o ambiente devem, assim, ser entendidos em conjunto em vez de

evoluir como entidade separada. O constante acúmulo de conhecimento e

transformação auxilia as empresas a redefinir as suas visões, diálogos, práticas e

que, por sua vez, influem no ambiente através dos seus novos (ou aperfeiçoamento)

serviços e produtos (NONAKA, 2007, p.123)

A análise dos dados quantitativos da dimensão ambiental é composta de onze

variáveis. Exceto a componente “Os concorrentes representam a principal ameaça da

empresa”, com maior frequência de ocorrência na pontuação 1 – não concordo, todas as

outras apresentaram maior frequência de ocorrência na pontuação máxima 5 – concordo

totalmente Tabela 15. As onze proporções relativas a essas frequências foram consideradas,

59

O alcance dos objetivos pode ser efetivado de várias maneiras, ou seja, por caminhos diversos para atingir uma

situação estável. Essa lógica distancia a decisão de forma linear.

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216

sem exceção, muito significantes pelo teste de Qui-quadrado, com p-valor de 0,01% para as

de pontuação 5 e p-valor de 0,43% para a de pontuação 1 (Tabela 16).

As maiores frequências percentuais na pontuação 5, ocorridas nas variáveis foram:

“Persegue a excelência dos serviços como forma de satisfação dos clientes (79,3%)”; “Há por

parte da organização preocupação com a fidelização do cliente (79,3%)”; “A empresa integrou

recursos/produtos/serviços para oferecer novas soluções a seus clientes (53,7%)”; “As

informações externas são trabalhadas e divulgadas rapidamente na organização (52,4%)”. A

variável de maior frequência na pontuação 1 “Os concorrentes representam a principal

ameaça da empresa” teve (34,2%) como proporção.

Tabela 15 - Dimensão Ambiental - frequência absoluta e percentual por pontuação atribuída e relação

média/maior valor da escala, segundo as variáveis

Variável 1 - Não

concordo 2 3 4

5 - Concordo

totalmente

Média/5

%

Os concorrentes representam a principal

ameaça da empresa

28 12 21 12 9 2,54/5

34,2% 14,6% 25,6% 14,6% 11,0% 50,8%

Persegue a excelência dos serviços

como forma de satisfação dos clientes

0 0 5 12 65 4,73/5

0,0% 0,0% 6,1% 14,60% 79,3% 94,6%

As informações externas são trabalhadas

e divulgadas rapidamente na

organização

2 3 17 17 43 4,17/5

2,4% 3,7% 20,7% 20,7% 52,4% 83,4%

São realizados estudos sistemáticos de

mercado

12 10 15 13 32 3,52/5

14,6% 12,2% 18,3% 15,9% 39,0% 70,4%

Há correspondência entre as

regulamentações aplicáveis ao setor de

atuação e as ações da empresa

8 9 10 19 36 3,81/5

9,8% 11,0% 12,2% 23,2% 43,9% 76,2%

As mudanças organizacionais estão

alinhadas ao planejamento

3 7 14 24 34 3,96/5

3,7% 8,5% 17,1% 29,3% 41,5% 79,2%

Há por parte da organização

preocupação com a fidelização do

cliente

1 2 4 10 65 4,66/5

1,2% 2,4% 4,9% 12,2% 79,3% 93,2%

A empresa sofre impacto em seus

serviços com a crise econômica

7 9 15 14 37 3,79/5

8,5% 11,0% 18,3% 17,1% 45,1% 75,8%

O ambiente em seus diferentes aspectos

representa uma preocupação constante

4 0 18 25 35 4,06/5

4,9% 0,0% 22,0% 30,5% 42,7% 81,2%

Adota práticas de relacionamento ou

pesquisa sistemática para identificar as

necessidades do mercado ou dos clientes

5 3 21 19 34 3,90/5

6,1% 3,7% 25,6% 23,2% 41,5% 78,0%

A empresa integrou

recursos/produtos/serviços para oferecer

novas soluções a seus clientes

4 2 3 29 44 4,31/5

4,9% 2,4% 3,7% 35,4% 53,7% 86,2%

Page 219: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

217

A literatura descreve a maior ameaça das empresas como sendo o concorrente. O

modelo Porter (1986) apresenta a condição da intensidade da rivalidade entre competidores,

na busca por preços, proliferação de novos produtos, propagandas, ações e reações

dispendiosas etc. Na pesquisa das MPEs prestadores de serviços e longevas, o concorrente

não é considerado a principal ameaça dessas empresas, conforme os dados apresentados.

Tabela 15. A escolha possível para confirmação nesse sentido recebeu 11% na pontuação 5, e

obteve a menor frequência das pontuações. A verificação sinaliza no sentido do foco

orientado para fidelização da parceira GE.

As MPEs longevas não se desgastam combatendo os concorrentes, pois

direcionam sua capacidade interna para se diferenciar no mercado. Em sua maioria são

parceiras da coletividade, que veem uma relevância superior.

A análise de verificação da dimensão ambiental objetivava diagnosticar como as

MPEs percebem as influências ambientais. Pode-se inferir que as características verificadas

junto aos empreendedores / gestores dessas empresas, com nível de formação e qualificação,

tenham relação direta com a forma proativa de assimilação e absorção da complexidade

ambiental por parte das empresas longevas, além de outros fatores.

As variáveis na escala likert estavam distribuídas de tal forma que havendo

afirmação ou negação de uma questão pontuada de 1 a 5, necessariamente havia uma resposta

esperada ou equivalente àquela. Na variável “O ambiente em seus diferentes aspectos

representa uma preocupação constante” tinha associação direta com as outras variáveis. E

como já mencionado no início da análise desta dimensão, todas as proporções foram

consideradas estatisticamente muito significantes, com p-valor 0,01% Tabela 16.

As três variáveis de maior ocorrência “Persegue a excelência dos serviços como

forma de satisfação dos clientes”; “Há por parte da organização preocupação com a

fidelização do cliente” e “A empresa integrou recursos/produtos/serviços para oferecer novas

soluções a seus clientes” representam de forma significativa a convergência associada ao

cliente, que no caso específico destas empresas longevas, determinam a preocupação com a

parceria existente com a GE.

Esta constatação é configurada em outras dimensões organizacionais, em vários

indicadores como: principal cliente é a grande empresa, foco no mercado, melhoria com

agregação de valor constante na prestação de serviços, utilização de tecnologias de sistemas

para comunicação com os clientes, inovações incrementais a partir das necessidades do

cliente, diversificação de portfólio de produtos e serviços e reconhecimento da complexidade

organizacional como forma de respostas ao mercado.

Page 220: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

218

A MPE e a GE são apresentadas na pauta de discussões sobre o tema de

competitividade e vantagens competitivas, com configurações antagônicas e posições opostas.

Acredita-se que o caminho não seja efetivamente por esse viés, o objetivo deve ser desfazer

esse status quo, da rivalidade e da constante crítica entre elas como condição de demonstração

de seus diferenciais competitivos no mercado.

As MPEs prestadoras de serviços longevas evidenciam uma parceria com a GE

com imperfeições e limitações, é certo, mas com iniciativa de ambas pela parceria e por meio

de uma série de vantagens nessa relação, aqui chamada de fellowship in business (irmandade

nos negócios), gerando ganhos econômicos e sociais nessa realidade. A lógica sinérgica nessa

irmandade nos negócios é trabalhar a união sem dependência.

As MPEs configuram-se como empresas capazes de se reinventarem nessa

parceria, com grande possibilidades de longevidade e a GE reconfigurando-se nos seus custos

de produção, desburocratizando-se e ao mesmo tempo com foco em suas competências

essenciais. Consequentemente, a abrangência dessa relação, são novas negociações e

composições, é compreendida na fellowship in business, como uma relação

interorganizacional inserida na “estrutura” teórica ambiental.

Motta (2008) defende a interdependência organizacional a partir do

desenvolvimento da relação “simbiótica complementar”, não competitiva, em uma relação

horizontal fornecedor-cliente, quando o output ou produto e serviço de uma organização serve

de matéria-prima ou input para outra. Nesse contexto, Peng (2008) considera a forma de

integração pela terceirização como válida e profícua para as partes contratadas, e afirma que o

resultado constuma ser uma empresa mais focada, que prioriza aquilo que sabe fazer melhor.

A variável “As informações externas são trabalhadas e divulgadas rapidamente na

organização” obteve forte resultado estatístico (Tabela 16), de constatação dessa prática,

assim como nas dimensões anteriores, com efetivo tratamento da informação no ambiente das

MPEs longevas, mesmo que de forma não codificada, mas com utilização de ferramentas de

informática. Reconhecendo a importância da informação, Mintzberg et al. (2007) consideram

que é desafiadora, sendo um fator imperativo no processo de estratégias das empresas.

Os resultados sinalizam no compartilhamento com os empregados com relação às

situações de demanda de mercado. Não foram verificadas que demandas seriam essas,

especificamente para essa amostra de empresas, mas pode-se inferir que esteja relacionada

principalmente às atividades da prestação de serviços correlatos à parceria com a GE.

As MPEs prestadoras de serviços demonstram grande preocupação com a

legislação vigente. Sendo uma variável macroambiental e não havendo possibilidade de

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219

alteração e nem de influência da empresa diante dela, essas empresas longevas se adaptaram e

correspondem nessa condição à limitação da regulação para a ação empresarial. Silva (2008)

pondera que as forças políticas, legais e regulatórias podem agir como restritoras e como

forças de oportunidades.

O desafio a princípio, é de controlar as “condições de limitações” da empresa com

o ambiente, ou seja, relacionar a organização em sua totalidade, o sistema inteiro a seu

ambiente e não a um regulamento interno autônomo (DALSASSO, 2010; MINTZBERG,

2003).

A constatação da influência do impacto do fator econômico nas empresas, que

podem se diferenciar, ou seja, em decorrências de alterações estruturais na economia como

nas relações entre setores e na transformação da economia industrial para economia de

serviços. De outra forma, pelas alterações cíclicas relacionadas, por exemplo, taxas de juros,

índice de inflação, dentre outros. Essa verificação é exaustivamente sustentada na literatura, o

que já era esperado como resposta.

A indicação de significância com pontuação de frequência 5, diante das variáveis

“São realizados estudos sistemáticos de mercado” e “Adota práticas de relacionamento ou

pesquisa sistemática para identificar as necessidades do mercado ou dos clientes” vão ao

encontro das demais verificações da dimensão ambiental, ou seja, o despendimento para o

reconhecimento e previsibilidade das demandas do cliente, a grande empresa. A prioridade é

em relação aos seus produtos e serviços, e muitas vezes retratam a defesa de sua marca.

O levantamento de informação, em grande parte, acontece com a utilização da

tecnologia da informação em sites, emails, facebook, etc. raramente há pesquisa de satisfação

do cliente ou similares.

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220

Tabela 16 - Dimensão Ambiental - Resumo das proporções da pontuação de maior frequência, valor

de Qui-quadrado (χ²) e valor médio, segundo as variáveis

Variável > Freq.

(1 a 5) % ²

Conclusão

Teste ²

P Valor

(%)

Valor

Médio

Os concorrentes representam a principal

ameaça da empresa 1 34,20 15,20 Muito Signif. 0,43 2,54

Persegue a excelência dos serviços como

forma de satisfação dos clientes 5 79,30 185,93 Muito Signif. 0,01 4,73

As informações externas são trabalhadas e

divulgadas rapidamente na organização 5 52,40 66,78 Muito Signif. 0,01 4,17

São realizados estudos sistemáticos de

mercado 5 39,00 19,34 Muito Signif. 0,07 3,52

Há correspondência entre as

regulamentações aplicáveis ao setor de

atuação e as ações da empresa

5 43,90 33,98 Muito Signif. 0,01 3,81

As mudanças organizacionais estão

alinhadas ao planejamento 5 41,50 39,10 Muito Signif. 0,01 3,96

Há por parte da organização preocupação

com a fidelização do cliente 5 79,30 183,00 Muito Signif. 0,01 4,66

A empresa sofre impacto em seus serviços

com a crise econômica 5 45,10 35,07 Muito Signif. 0,01 3,79

O ambiente em seus diferentes aspectos

representa uma preocupação constante 5 42,70 51,54 Muito Signif. 0,01 4,06

Adota práticas de relacionamento ou

pesquisa sistemática para identificar as

necessidades do mercado ou dos clientes

5 41,50 39,46 Muito Signif. 0,01 3,90

A empresa integrou

recursos/produtos/serviços para oferecer

novas soluções a seus clientes

5 53,70 89,10 Muito Signif. 0,01 4,31

Verificou-se haver, na relação de trabalho entre as MPEs e a GE, no procedimento

de início de contrato a realização de adaptações convergentes com o tipo e a atividade a serem

realizadas pela prestadora de serviços. Também durante a prestação de serviço, foi

desenvolvido por algumas grandes empresas “sistemas de relacionamento”, caracterizado e

dimensionado na tecnologia da informação, como forma de acompanhar o processo de

prestação de serviços por metas e demandar documentos e recolhimentos de taxas e impostos,

dentre outras exigências. Além dessa rotina, geralmente há em cada grande empresa

contratante, o gestor de contratos que supervisiona especificamente o trabalho, sem qualquer

outra atribuição ou responsabilidade fora desse contexto.

Os dados sinalizam em um distanciamento da relação e em alguns casos, a

unilateralidade na relação, com centralização das informações fora da região de origem da

relação comercial e ausência de comunicação da grande empresa diante de demandas das

MPEs prestadoras de serviços.

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221

Ao final desta análise apresenta-se o Quadro 22 com os principais indicadores de

gestão das MPEs prestadoras de serviços longevas e parceiras das grandes empresas. A

descrição condiz com os relatos e resultados obtidos neste estudo.

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222

ESTRUTURAS E

PROCESSOS COMPORTAMENTAL ESTRATÉGIA

TECNOLOGIA /

INOVAÇÃO AMBIENTAL

– arquitetura simples, enxuta e

flexível;

– identificação do negócio –

missão, visão e valores;

– processos de trabalhos

definidos e codificados;

– participação dos funcionários

nas decisões nas áreas:

administrativa e operacional;

– mudança e otimização

constante em processos;

– comunicação informal com

funcionário;

– comunicação formal com

cliente – GP;

– ausência de certificações ISO

e manuais;

– horário de trabalho inflexível;

– ausência de ferramentas de

qualidade e de manuais.

– reconhecimento dos negócios;

– valorização das relações

humanas;

– proprietário com traços

marcantes de

empreendedorismo;

– cultura da confiança e

compromisso com funcionários;

– organização informal semeada

/ integração com funcionários;

– ausência de codificação na

avaliação de desempenho;

– valorização da aprendizagem

contínua;

– processo decisório

participativo, com decisão final

do empreendedor / gestor;

– liberdade de comunicação

vertical e horizontalmente;

– sentimento de lealdade entre

empresa e funcionário;

– liderança por resultados;

– senso de identidade latente.

– valorização da relação

comercial com a GP;

– visão da longevidade a partir

da parceria com a GP;

– empreendedor / gestor

qualificado;

– política de ampliação e

diversificação dos serviços;

– planejamento e plano de

trabalho;

– padronização dos serviços;

– capacitação e treinamento de

pessoal;

– preocupação com a satisfação

dos funcionários e clientes;

– ausência de propaganda;

– ausência de programas de

benefícios ao funcionário;

– proatividade e adaptabilidade

às mudanças;

– sensibilidade a parcerias em

projetos de responsabilidade

social (incipiente).

– visão do empreendedor em

incrementos tecnológicos;

– inovações incrementais /

influência da GE;

– envolvimento de funcionários

na trajetória de inovação;

– processo de inovação

assistemático;

– inovação por indução de

mercado;

– inovação independente da

isenção tributária;

– inovação como fator de

longevidade;

– utilização de TI para

relacionar-se com o cliente;

– integração do sistema da

empresa aos sistemas do cliente

(GE);

– tentativa de valorização da

marca;

– ausência de plano diretor de

tecnologia;

– parceria com Universidades.

– foco em resultado com a

parceira GE;

– busca pela satisfação e

fidelização do cliente;

– principal ameaça – perda da

parceria com a GP;

– relação fraterna com

concorrente;

– foco nas mudanças de

mercado;

– adequação à legislação;

– tentativa de adequar

planejamento operacional às

mudanças;

– Influência de fatores

macroambientais;

– sistema de relacionamento

com a GP através de TI;

– tendência de unilateralidade da

GE na relação com a MPE;

– excessiva exigência da GE

para manutenção e renovação

contratual.

Quadro 22 – Indicadores de gestão das MPEs prestadoras de serviços longevas, por dimensão organizacional

Nota: Quadro elaborado a partir do cruzamento de informações.

Page 225: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

223

Nesse sentido a discriminação dos indicadores demonstra o grau de maturidade

encontrado em cada dimensão organização. Sabe-se que o desenvolvimento das ações

administrativas nas empresas representa um dos vieses para a busca do dinamismo nos

resultados de produtividade nas empresas. Por outro lado, faz-se necessário conduzir essa

funcionalidade para uma integração com o mercado e mais especificamente para o público-

alvo, neste estudo das MPEs, representado pela grande empresa.

As empresas longevas se organizam como comunidades, e não apenas como

estruturas técnico-operacionais. Assim, ao analisar apenas a composição das forças ou

elementos que compõem o sistema das MPEs, verifica-se de maneira intrínseca a necessidade

das interdependência, integração e convívio pautado nas relações de parceria entre a pequena

e grande empresa. O cenário permite essa possibilidade tanto do ponto de vista do interesse

comercial quanto pela necessidade de ambas alcançarem objetivos efetivos.

Portanto, as janelas de oportunidades abertas pela estrutura de mercado com a

desintegração vertical do processo produtivo, concorrem para uma mudança no modelo de

gestão da grande empresa, que passou a priorizar seus serviços essenciais com visão

mercadológica em detrimento de uma diminuição da sua arquitetura organizacional.

A micro e pequena empresa legitima-se nesse contexto com oportunidades de

mostrar seu diferencial, alcançando know how com especificidades próprias e alto potencial

de diversificação de oferta. Essa afirmativa vai de encontro à verificação encontrada na

dimensão tecnologia/inovação que projeta esse segmento de empresas para uma indução de

mercado.

As dimensões organizacionais têm uma “lógica” a partir da criação de valor que

sustente a estrutura e processos, comportamento, estratégia, tecnologia/inovação e ambiente.

Contudo, as MPEs têm dinamismo próprio, mas que necessita de parcerias que lhe deem

sustentação de longevidade. Esse fenômeno é dual, pois da mesma forma que as auxiliam,

estas também, estabelecem uma propositura de suporte às fragilidades da grande empresa.

Os indicadores de gestão revelam fatores pontecioalizadores dos resultados da

longevidade das MPEs e sua funcionalidade. Mas, por outro lado, identifica-se fragilidades

que devem ser repensadas tanto do ponto de vista administrativo quanto da relação com a

grande empresa.

Page 226: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

224

CAPITULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desta tese, várias e parciais considerações foram feitas a respeito do

tema longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços: um estudo das

dimensões organizacionais e suas implicações. É hora de retomá-las para considerações finais.

Entender como as dimensões organizacionais influenciam na longevidade das

micro e pequenas empresas prestadoras de serviços através da relação de parceria com a

grande empresa foi o objetivo final. Para alcançá-lo foram analisadas a gestão das MPEs

longevas e suas dimensões de estrutura e processo, comportamento, estratégia, tecnologia /

inovação e ambiente. As análises delinearam os fatores que contribuem para longevidade,

assim como suas características e indicadores de gestão em cada dimensão organizacional. A

relação de parceria da MPE e a GE foi evidenciada e descrita em sua funcionalidade e

influência no fenômeno da longevidade.

Pensar e canalizar esforços no sentido de compreender a vida longa das

organizações micro e pequenas e seus fenômenos, considera-se desafiador e relevante no

cenário da fatídica mortalidade da maior parte das MPEs. Tornar possível revelar a

observância de fenômenos da fênix da vida dessas empresas e distanciando-se, mas sem

desprezar as mazelas e limitações já conhecidas e propagadas com relação às MPEs, favorece

a creditação de ideias convergentes com a possibilidade de descortinar as práticas e

indicadores de gestão das empresas longevas.

A discussão sobre a longevidade das MPEs a partir das dimensões organizacionais

e da parceria com a GE contraria informações dadas como prerrogativas desse segmento de

empresas na literatura, como por exemplo, a “saga” do desconhecimento de mercado por parte

dos gestores, da ausência de qualificação dos proprietários ou baixa qualidade gerencial, e

pasmem da dependência excessiva de isenções fiscais. Estes fatores foram negados pela

análise a partir da verificação dos dados obtidos. No caso específico, do fator tributário é

óbvio que a demanda sempre será no sentido de maior isenção fiscal, mas isso não representa

dependência para obtenção de competitividade nos mercados pelas MPEs.

Inicialmente, com relação às dimensões organizacionais, cada uma, tem

características próprias com grau de maturidade e resultados diferenciados. Mas, é relevante a

funcionalidade e perspectivas de melhoria percebida nas dimensões. Ou seja, os fatores

agregados de gestão e o dinamismo delas auxiliam fortemente para a maior longevidade das

empresas. Contudo, foram verificadas limitações ou ausências nessas dimensões, revelando a

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necessidade de incrementos tecnológicos, de prospecção financeira e de ações mais

estratégicas com relação à parceira GE.

A visão do tratamento da administração fundamentada na integração e sinergia se

fazem presentes para a análise dos fatores de longevidade. Os elementos do ambiente

corporativo aos quais a organização precisa adaptar-se variam de empresa para empresa e não

se adaptam perfeitamente a qualquer das distinções típicas entre elas. Os dilemas e crises

inerentes às organizações condicionam tratamentos diferenciados de gestão, que

descaracterizam a homogeneidade e aprofundam a complexidade em lidar com as MPEs. A

verificação das dimensões teve esse aparato conceitual no sentido do distanciamento do

determinismo e pragmatismo, tão presentes na literatura sobre organizações.

A dimensão comportamental obteve resultados significativos na sua totalidade,

com evidências para valorização das relações humanas: com organização informal latente -

aproximação nas relações interpessoais dos funcionários e o empreendedor / gestor da

empresa - cultura da confiança e compromisso com funcionários - sentimento de lealdade

entre empresa e funcionário; características do proprietário com nível de qualificação e traços

marcantes de empreendedorismo foi significante, demonstrando profundo conhecimento dos

negócios e com liderança pautada para resultados efetivos junto aos clientes; processo

decisório integrado com os funcionários, embora mais específico para a área administrativa e

principalmente, para o nível operacional.

A afirmativa de que as decisões acontecem de forma centralizada, presente nos

estudos sobre MPEs, compreende-se como exagerada e descabida, pois, nas decisões

possíveis de informação por parte dos funcionários, estes são demandados e dependendo do

tipo da decisão, há discussões e participação ativa, com motivação por parte dos

empreendedores / gestores para essa ocorrência. Observa-se ainda, que o ato de decidir não é

meramente uma questão de processo, mas um ritual realizado pelo empreendedor / gestor

como legitimação de conhecimento e autoridade, sendo indelegável o ato e intransferível a

responsabilidade.

Ainda quanto à dimensão comportamental, há verificação da liberdade de

comunicação vertical e horizontal nas relações entre os atores. A valorização da aprendizagem

continuada está presente nos indicadores de gestão dessas empresas, tipicamente associada à

dimensão estratégia com relação à ocorrência de capacitação e treinamento de pessoal. Por

sua vez, constatou-se a ausência de processo codificado de avaliação de desempenho.

Guardadas as devidas proporções, deve-se perceber que algumas ferramentas de

gestão são características para aplicação na GE, considerando quantidade de funcionários,

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desconcentração de atividades e espaço geográfico, tipo de atividade, grau de amplitude de

controle, dentre outros. A ponderação não tem a intenção de negar a importância do processo

de avaliação, mas postular que uma empresa com o número restrito de funcionários,

característico nas MPEs, possibilita a realização da avaliação por uma simples observação

direta e acompanhamento in loco, pois o funcionário pode trabalhar ao lado, literalmente, do

gestor.

Com relação à dimensão estruturas e processos a ocorrência não difere do que

classicamente é conhecida: estrutura simples, enxuta e flexível. A comunicação com os

funcionários se dá mais frequentemente de modo informal. Há pouca flexibilidade no horário

de trabalho. Esta verificação é forte nas prestadoras de serviços em mão de obra ofertada na

GE. O diferencial dessa dimensão comporta indicadores de gestão encontrados de forma

significativa nas MPEs, nas seguintes variáveis: definição da identificação do negócio –

missão, visão e valores; processos de trabalhos definidos e codificados, além da mudança e

otimização constante em processos. Infere-se para a presença dessas evidências, a influência

do empreendedor / gestor com conhecimento dessas ferramentas, considerando sua formação

profissional e a congruência com as exigências da grande empresa, como um dos critérios de

contratação da prestadora de serviços. Por sua vez, há limitações em processos

organizacionais, com ausência de utilização de implantação de ferramentas de qualidade,

certificações ISO, manuais dentre outros. Acredita-se que os custos para obtenção desse

diferencial ainda está distante das reais condições de investimento desse segmento.

O processo de comunicação com a GE vem nos últimos anos recebendo um

upgrade tecnológico, no sentido que a maioria das informações e demandas burocráticas

aconteça via sistema de informação. Essa relação adquire extrema formalidade, concentrando-

se, em alguns casos, com a informação sendo disseminada pela GE fora da localidade da

contratação do serviço. Essas verificações foram veementemente citadas quando da aplicação

de alguns questionários in loco nas MPEs, causando insatisfação dos prestadores de serviços.

Embora exista o papel do gestor de contrato na GE, essa função é restrita à

auditoria dos serviços realizados, com controle de metas e feedback, sendo estas também

conduzidas através da formalização de relatório no sistema de informação.

As estratégias das empresas longevas têm na parceria com a GE seu grande

desafio e preocupação. De forma significativa, as ações das MPEs estão voltadas para

fidelização desse cliente. Geus (1998) afirma que a tolerância é o indicador da abertura de um

sistema. Compreende-se o estágio das MPEs, nessa perspectiva, na relação com a grande

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empresa, tolerância essa, no sentido da aproximação, da satisfação da GE e da busca da

ampliação dessa parceria.

As MPEs caracterizam-se pela diversificação de serviços ofertados, sendo um

diferencial do segmento e tornando possível o aprofundamento daquilo que se denominou

nesta tese de fellowship in business entre a GE e a MPE.

As análises sinalizam no sentido da sensibilidade social das MPEs prestadoras de

serviços longevas, sendo uma possibilidade plausível através de alianças com outras empresas

em projetos com essa configuração, embora ainda em forma incipiente. Essa dedução credita

às MPEs uma imagem além daquela que somente é reconhecida no núcleo dinâmico da

economia, como agregadora de oferta de emprego no Brasil.

Ainda na dimensão de estratégia, duas são as principais disfunções dessas

empresas encontradas no estudo: ausências de propaganda e de programas de benefícios ao

funcionário. A limitação com relação à propaganda se insere nesse contexto sem haver

expressivamente realização de comerciais em rádio, jornal e revistas, sinalizando para

ausência de estratégias de massificação de marca. Infere-se que a ausência nesse contexto,

pode ocorrer considerando os altos custos financeiros para as MPEs podendo, também, não

ser um recurso de alcance para o seu público. Mas, conforme já mencionado nesta tese, as

empresas longevas se utilizam fortemente de sites, emails e facebook e correlatos. A

fragilidade da política salarial das MPEs é inegável e com ausência de benefício diretos e

indiretos, tão usual nas estratégias corporativas atuais. Esta constatação torna o sistema

organizacional frágil das MPEs, quando se discute a necessidade de ações estratégicas de

retenção de talentos na empresa.

As organizações de pequeno porte são continuamente criticadas pela ineficiência

no processo tecnológico e de inovação. Isto acontece por várias razões, dentre elas uma das

principais é a escassez de recursos financeiros para investir nesse diferencial competitivo.

A dimensão tecnologia / inovação nas MPEs apresenta-se em grande parte de

forma assistematizada, com ausência de plano diretor de tecnologia e com desenvolvimento

em serviços a partir da indução de mercado.

A trajetória de inovação dessas empresas se revela construída em

compartilhamento com os empregados, principalmente aqueles ligados diretamente ao

processo de serviços da empresa. Pode-se deduzir que a busca da inovação incremental

associa-se à parceria com a GE. A assimilação e absorção do conhecimento pelas MPEs com

agregação de valor para processos têm influência direta da GE, sendo fator de avaliação para

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prorrogação ou novos contratos. Perceberam-se tentativas de aproximação das MPEs com as

universidades, sendo uma ação defendida na literatura.

Quando se descreve vieses de inovação nas MPEs imagina-se algo complexo com

uma estrutura de unidade de inovação, com aparatos tecnológicos e de tecnologia de ponta.

Esse cenário se coaduna com a grande empresa. Nas MPEs essa dinâmica é singela e única,

liderada pela visão empreendedora do proprietário e o senso de identidade do trabalhador.

Uma distorção nos estudos sobre MPEs liga-se à concentração da discussão para

os aspectos do subsistema, desprezando-se as vicissitudes ambientais que emergem das

turbulências e crises de mercados. A dimensão ambiental se diferencia na origem e das outras

dimensões, considerando a impossibilidade de controle sobre as facetas imprevisíveis do

macroambiente e do ambiente de tarefa.

O caráter de dependência ambiental se revela a partir da necessidade constante de

adequação dessas MPEs à legislação, às exigências da GE, a modelagem de manutenção

contratual e da interligação dos sistemas de TI, com os desdobramentos da ação da prestação

de serviços e as incongruências advindas do poder de barganha da GE. Consideram-se os

fatores mencionados como desafiadores para a gestão das MPEs, o que evidencia a imperiosa

necessidade da criação de valor em marca e institucionalização de diferenciais competitivos.

Há um sentimento de unilateralidade por parte por parte dos gestores das MPEs

com relação às exigências da GE. Conforme mencionado quando da análise das informações,

é preciso avançar na aproximação entre ambas. Embora tenha se constatado a parceria com

tempo médio de 9 anos, considerada duradoura na literatura, torna-se estratégica a criação de

valor nessa relação. Avançar com sistemas de relacionamento em forma de TI no

gerenciamento da prestação de serviços, evidencia a relação desprovida de efeito sinérgico,

sem negar a importância da modelagem, mas necessita-se da filosofia da fellowship in

business.

No momento em que se problematizou o estudo desta tese, uma das questões

temáticas de análise diziam repeito a existência de alterações significativas na longevidade

das MPEs, a partir de suas dimensões organizacionais

As análises realizadas comprovam um tecido organizacional das MPEs

prestadoras de serviços congruentes com as dimensões organizacionais, desdobrando-se nas

empresas com diferencial e indicadores de gestão consistentes, que por sua vez estabelece

alterações significativas para longevidade dessas empresas.

A compreensão do fenômeno da longevidade foi averiguada com relação à receita

bruta das empresas, ou seja, com o cruzamento dessas informações. Percebeu-se a maior

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longevidade quanto maior o crescimento da receita. A constatação não caracteriza

dependência uma da outra, mas sinaliza positivamente para melhoria da vida das empresas

quanto maior for a receita. Essa dedução pode esclarecer que a permanência da empresa nessa

classificação, micro empresa ou pequena empresa, é uma questão de escolha estratégica dos

empreendedores / gestores.

Por outro lado, explorando o fenômeno da vida longa dessas MPEs prestadoras de

serviços, foi constatado que a longevidade não influencia no crescimento do número de

funcionários das empresas. A conclusão confirma a descrição da literatura organizacional

quanto à efetiva prática da arquitetura organizacional enxuta e horizontalizada, caracterizada

por poucos funcionários e enriquecimento dos cargos.

A segunda pergunta para resposta deste estudo: Qual a relação e influência da

parceria entre a pequena empresa e a grande empresa na longevidade daquela?

A perspectiva de maior longevidade das MPEs prestadoras de serviços a partir da

parceria com a GE foi demonstrada nesta tese. E as análises estatísticas diante dos dados

explorados revelam que a parceria com a grande empresa explica em 66% a longevidade das

MPEs. Avalia-se que outros fatores compõem o fenômeno da longevidade nas MPEs, o que

fortifica ainda mais a afirmativa.

A evidência da preocupação dos empreendedores/ gestores das MPEs com a

manutenção e prolongamento dessa relação comercial, com ações de proatividade e

adaptabilidade, realização de planejamento e plano de trabalho para os serviços na GE,

adequação à legislação e inovações incrementais permanentes durante a relação contratual

entre ambas, também auxiliam na compreensão dessa parceria e o fenômeno da longevidade.

A concepção tangível e abstrata das “coisas”, com o desenvolvimento das

empresas dotadas de novas terminologias para compreensão do mundo dos negócios: tempo

de entrada no mercado (Time-to-market), acesso à informação, visão estratégica, imagem

corporativa, conhecimento e a sua comercialização (Know-how), rede sociotécnica em

interconectividade, dentre outros fatores, que possam contribuir para verificação da maior

longevidade organizacional.

Considera-se finalmente, que o dicionário da administração e das organizações é

escrito todos os dias, revelando idiossincrasias e creditando novos elementos aos escritos.

Acredita-se que a tratativa encaminha-se para a destruição criativa com a reconstrução

permanente para empreender o “novo” daquilo que outrora foi “velho”, não esquecendo a

vida longa que se constrói na parceria e no sentimento da união.

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248

APÊNDICES

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APÊNDICE A - Termo de apresentação e consentimento

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250

APÊNDICE B - Planilha dos entrevistados

NOME CIDADE OCUPAÇÃO SITUAÇÃO /

OBSERVAÇÃO DIA

Leonardo Di

Lorenzo Torino/Itália Empreendedor

Em dependência da

empresa RITIS 11/10/2011

Domenico

Decaroli Torino/Itália Empreendedor

Em dependência da

empresa D.N.C.

Automazioni

11/10/2011

Paolo Pietro

Biancone Torino/Itália

Professor do

Dipartimento di

Economia Aziendale da

UNIVERSITÀ DEEGLI

STUDI DI TORINO

Na universidade 12/10/2011

Sérgio Nunes

de Souza /

Fabio de

Medeiros Souza

Brasília

Diretor do Departamento

de Micro, Pequenas e

Médias Empresas

No MDIC 18/01/2012

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251

APÊNDICE C – ENTREVISTAS - Continua

ENTREVISTA COM O EMPRESÁRIO ITALIANO LEONARDO DI LORENZO

EMPRESA: RITIS TELEMATICA

1. Qual o nome da empresa?

Leonardo Di Lorenzo - RITIS TELEMATICA

2. Presta serviços para uma grande empresa?

Leonardo Di Lorenzo – Sim.

3. Que empresa?

Leonardo Di Lorenzo – Indústria Fiat e a UNICRED e para dois bancos italianos;

4. Qual o ramo de atividade da grande empresa?

Leonardo Di Lorenzo – Indústria automobilística; Trabalhamos com seguros e

telemarketing.

5. A quanto tempo ela existe?

Leonardo Di Lorenzo - Desde 1909, 103 anos.

6. Qual o segredo para tanta longevidade?

Leonardo Di Lorenzo - É fundamental, ter conhecimento diante daquilo que fazemos.

Somos referência no mercado. Também a parceria, com contratos com a grande empresa. Não

conseguimos sobreviver se não tivermos um contrato com uma grande empresa, em toda

nossa história estivemos prestando serviços para empresas médias e grandes. Acreditamos

também na força da família, nossa história nos ajuda também.

7. A parceria dá mais vida para sua empresa?

Leonardo Di Lorenzo - É fundamental, não tenho nenhuma dúvida nesse sentido.

8. Como é seu processo decisório? O senhor discute os assuntos com seus empregados?

Leonardo Di Lorenzo - Sim, todos participam e dão sugestões. Penso que as questões

estratégicas da empresa são mais difíceis de serem compartilhadas, assim com todos da

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empresa. Mas sempre que possível eles são ouvidos. Quero deixar claro que embora possamos

ouvi-los a decisão final é minha não fujo das decisões.

9. A parceria entre a tua empresa e a grande, mudou, alterou a tua forma de gestão?

Leonardo Di Lorenzo - Sim, fornece informações e algumas exigências contratuais

como garantia de um nível de serviços à altura e do que é a prestação do serviço. Deixa claro

o que esta sendo contratado. A exigência e a possibilidade de perda do contrato caso algo de

errado ocorra, nos coloca em constante atenção e mudança.

10. Como foi o início da tua empresa? Existia antes da parceria? Surgiu por necessidade

ou oportunidade?

Leonardo Di Lorenzo - Já trabalhava para outros clientes inclusive para a Fiat. Se deu

em razão de quê: o papai criou a empresa e desde então temos parceria e ela é parceira no

bom sentido.

11. Habilitação?

Leonardo Di Lorenzo – Somos habilitados. Tem os critérios que o governo italiano

estabelece para esse tipo de serviço.

12. Quantos funcionários?

Leonardo Di Lorenzo – 102 empregados.

13. Tens uma estrutura com organograma?

Leonardo Di Lorenzo - Está em formação. Na empresa eles dividem as obrigações. Mas

as atividades estão distribuídas de forma “equilibrada”.

14. Há um departamento no papel, registrado o organograma dividido?

Leonardo Di Lorenzo – sim, mas muito simples. Apenas a de Administração. Mas

nossos processos são todos mapeados e com procedimentos estabelecidos. Trabalhamos com

tecnologia de segurança.

15. Foi exigência deles, uma forma de estruturar?

Leonardo Di Lorenzo - A UNICRED obrigou as condições. As grandes empresas

exigem muito, não as condeno, pois, estão pagando e querem qualidade. As vezes eles fazem

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253

reuniões e exigem o incremento de tecnologia e tentam uniformizar nosso parque de

tecnológico para comunicação. Tenho a consciência da importância do avanço tecnológico.

16. Como se dá o processo comportamental?

Leonardo Di Lorenzo – Temos uma boa relação com todos. O comportamento é com as

atividades, temos normas de conduta – direitos e deveres. Motivamos a atitude das pessoas.

Não adianta ir trabalhar, mas sem vontade, não pode. Sempre digo a eles façam da melhor

forma, pois, não sabemos o dia de amanhã. Somos amigo de todos.

17. Existe investimentos em capacitação aos funcionários?

Leonardo Di Lorenzo - Sim, qualificação, sim. Há cursos, sempre frequentam. Nossa

companhia sempre está atenta para a necessidade dos funcionários interna e externamente. A

nossa área de atuação é tecnologia e as mudanças acontecem muito rapidamente, temos de

acompanhar as novidades e os funcionários podem e devem aprender constantemente e

sempre preparados. Chamo a atenção que o funcionário é responsável pelo seu conhecimento,

damos as condições, mas ele tem que querer.

18. Esta é uma experiência da grande empresa?

Leonardo Di Lorenzo – É uma questão de visão dos empreendedores independente do

tamanho da empresa, todas necessitam de conhecimento e planejamento de aprendizagem.

Mas, as duas empresas (MPE e GE) podem trabalhar juntas nesse sentido. A capacidade

técnica é sempre importante.

19. Quem contrata exige?

Leonardo Di Lorenzo: - Todos exigem, desde os funcionários e principalmente o

cliente. A grande empresa por terem o setor administrativo desenvolvido exige muito da

gente, além da parte da prestação de serviços. As exigências são cada vez maior. Não temos a

mesma estrutura deles. Não acho que estejam errados, mas passa do limite. Devo admitir que

são bons clientes, e pagam corretamente.

20. Como se dá processo interno?

Leonardo Di Lorenzo - O processo interno é centralizado.

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21. É democrático?

Leonardo Di Lorenzo - Sim, certamente, minha irmã está a cargo desse setor. Ela

colabora. Ela é empregada.

22. A empresa é individual? Os outros empregados só trabalham?

Leonardo Di Lorenzo - Só executam.

23. A tecnologia é de ponta, avançada?

Leonardo Di Lorenzo - Sim, muito avançada. Como disse trabalhamos com tecnologia.

Vejo que a tecnologia está naquilo que necessito. Como trabalhamos com segurança e nossa

ferramenta é a tecnologia, temos de ofertar o que tem de melhor no mercado.

24. Como acontece a absorção e assimilação do conhecimento na empresa?

Leonardo Di Lorenzo – Com a evolução do trabalho. Temos uma evolução periódica,

em conhecimento e incremento nos serviços e produtos. Vendemos o produto e damos

manutenção. Primo pelo bom produto, pela assistência que dou. Tento diminuir os preçosO

produto barato aumentará o serviço

25. Como você inova em novas tecnologias?

Leonardo Di Lorenzo - Cursos de formação à distância, permanente na comercialização

do produto, tem web em estúdio, na sede. Vídeo com áudio, vídeo conferência. As condições

26. Mas isso faz parte da tua oferta de serviço?

Leonardo Di Lorenzo - No pacote já se disponibiliza pela web conferência. Dá empresa

para o cliente. Computadores. Tenho economia de tempo, de custos, logística. O estúdio é

uma simulação dentro da empresa.

27. Criou para prestar serviços em parceria?

Leonardo Di Lorenzo - Minha irmã é administradora burocrática. Assistente.

28. Que tal teu relacionamento com o cliente?

Leonardo Di Lorenzo - Estabeleciam-se contratos, fechamentos de negócios. Depois

passou a representar mais tarefas.

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29. A crise está afetando a tua empresa?

Leonardo Di Lorenzo - Não preocupa, estamos enfrentando eu diria que de forma

tranquila. Pouca interferência em nossa empresa.

30. E as políticas do governo para a pequena empresa?

Leonardo Di Lorenzo - Não há. Tudo que faço é investimento do meu trabalho e do meu

esforço. O governo não intervém. Na verdade cobre muito imposto e não temos escolha,

temos de pagar.

31. Se você estabelecesse de 0 a 10 em relação a política do governo, quanto daria?

Leonardo Di Lorenzo - Daria 4. Nosso governo favorece só as grandes empresas. As

médias e pequenas empresas, não. As pequenas sofrem muito, o apoio maior para é para

aquelas que estão em forma de consórcio ou em redes.

32. A sua empresa realiza propaganda? De que forma?

Leonardo Di Lorenzo - A principal referência é e-mail. Mala direta, catálogos,

correspondência. Aqui há uma lei, uma restrição, paga-se muito caro para por esse serviço.

33. Você tem alguma página na web?

Leonardo Di Lorenzo - Sim. Womepage.

34. Qual a seu estilo de liderança?

Leonardo Di Lorenzo – Sou focado para resultados. Toda empresa deve considerar suas

metas de serviços. Na nossa empresa procuramos melhorar sempre. Revisamos nossas metas

constantemente. Não tem sentido não ter a certeza de suas possibilidades de resultados.

35. Aumentar teus serviços?

Leonardo Di Lorenzo – Sim, no final de 2011 estaremos ampliando nossos negócios,

ampliaremos a oferta dos serviços. E possivelmente ao lado de nossa parceira. Ela já sinalizou

para novas demandas, e estaremos prontos a servi-la.

Agradecimentos do José Samuel ao Sr. Leonardo Di Lorenzo pela entrevista concedida.

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APÊNDICE C – ENTREVISTAS - Continuação

ENTREVISTA COM O EMPRESÁRIO ITALIANO DOMENICO DECAROLI

EMPRESA: D. N. C. AUTOMAZIONI

1. Qual o nome da empresa?

Domenico Decaroli D. N. C. AUTOMAZIONI

2. Sua empresa está no mercado há quantos anos?

Domenico Decaroli – Estamos no mercado há 41 anos e dignificando nossa família e os

clientes que nos contratam.

3. A sua empresa tem uma estrutura formal? Possui um organograma da empresa?

Domenico Decaroli – Não, não tenho e não possuímos um desenho da empresa. Além

da prestação de serviços na entrega do produto e preparativo de montagem, produzimos os

bancos dos carros, faço os desenhos de planificação da produção. Há uma tecnologia inserida

nesse processo. Nela é importante o conhecimento. Não começamos a fabricação particular da

parte elétrica. Trabalhamos com a gestão preventiva – associada questão elétrica e mecânica

(básica). O processo é automatizado, depois apresento a visitação, automação da máquina.

4. Qual a sua estrutura de empresa?

Domenico Decaroli – Eu e mais quatro pessoas diretamente envolvida na prestação do

serviço. Minha esposa trabalha comigo também. Nossa estrutura é pequena, mas com bastante

resultado. Trabalhamos voltados para as metas senão não sobrevivo. E os funcionários já

conhecem nosso estilo.

5. Quantos funcionários?

Domenico Decaroli – 26 funcionários

6. Existe investimento em capacitação aos funcionários?

Domenico Decaroli – Periodicamente, o funcionário somente cresce como pessoa se ele

adquirir conhecimento. Na verdade todas as pessoas deve sempre buscar aprender algo.

Temos uma política de qualificar os funcionários. Esse planejamento é feito junto com o

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funcionário, mas o interesse maior deve ser dele. Geralmente os treinamentos são específicos

– voltados para o cargo do funcionário, para a parte operacional.

7. Qual a seu estilo de liderança?

Domenico Decaroli – Sou democrático, mas voltado para resultados. Também posso ser

autoritário, dependendo da situação. Quando o funcionário é bom, independe do chefe,

pois ele sabe o que fazer. Sempre temos eu melhorar, sinto também que não é somente

uma questão de capacidade técnica, algun s funcionários tem mais atitude, compromisso

etc. Quando isso acontece é valorizado.

8. Como se dá o processo comportamental? Planejamento?

Domenico Decaroli – Interno e centralizado

9. Como é seu processo decisório? O senhor discute os assuntos com seus empregados?

Domenico Decaroli – É certo que sim, as situações são sempre discutidas com os

empregados. Mas geralmente os assuntos estão ligados à operacionalização de algo da

produção e prestação de serviços. Sempre discuto, mas a decisão final é minha, não delego a

ninguém senão vão até pensar que não sei o que fazer diante da situação. Quem decide sobre

minha empresa sou eu. Quem decide é centralizado. As decisões estratégicas são minhas.

Indispensáveis.

10. Na hora da produção quem decide?

Domenico Decaroli – Democrática é uma palavra feia (risos). Faço ajustes. Faço isto

aqui e é pouco! Pouco democrático. Ele é o projetista e eu decido. (chega funcionário e fica ao

lado do entrevistado - projetista).

11. Presta serviços para uma grande empresa?

Domenico Decaroli – Sim.

12. Que empresa?

Domenico Decaroli – COMAL / Indústria FIAT

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13. Qual o ramo de atividade da grande empresa?

Domenico Decaroli – Trabalhamos em duas correntes. Produzimos e prestamos serviços

para indústria automobilística e parceiros. A produção é de bancos de carros e elétrica

avançada.

14. A parceria influencia na longevidade da sua empresa?

Domenico Decaroli – Com certeza. A grande empresa precisa de nós pequenos.

Atualmente com uma estrutura menor essas empresas buscam nos pequenos os serviços que

eles não tem interesse em realizar. É natural, aqui na Itália a pequena e a grande empresa se

dão muito bem. Nossa empresa está ao lado da grande desde o começo.

15. A parceria entre a sua empresa e a grande, mudou, alterou a tua forma de gestão?

Domenico Decaroli – Muda considerando que para trabalhar com uma grande empresa

você tem que ter uma empresa que dê resultados e que esteja preparada para as cobranças.

16. Como se relaciona com o cliente?

Domenico Decaroli – Meu relacionamento se concentra em fazer a minha obrigação e

cumprir as metas. Nosso cliente é uma multinacional e o meu cliente é exigente. Hoje em dia

muita coisa se faz pelo sistema de informação.

17. Teus melhores clientes?

Domenico Decaroli – Meu melhor cliente: LEA, mas tenho um bom relacionamento

com todos.

18. A grande empresa oferta?

Domenico Decaroli – Só se esta será guia de funcionários, processo de solda de

montagem, etc. devo criar a solução e quando faço, máscara, dou o certificado, meu produto

será bom, faço a patente. Não sei dizer o número de patentes que produzo.

19. Habilitação?

Domenico Decaroli – Desejamos fazer certificação, mas não tenho, muito investimento

para se contratar.

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20. Tua empresa registra patente?

Domenico Decaroli – Controlo as medidas, os desenhos. A minha máquina é

controlada. Não é imitação. O outro concorrente pode copiar. Minha máquina é especial. Um

produto meu é especial. Este é um produto só meu. Fabricamos e prestamos o serviço de

montagem e revisão nos carros.

21. Como acontece a inovação tecnológica, como você acompanha?

Domenico Decaroli – Avançada. Tenho máquinas novas, controlo. Faço os programas,

meus controladores são todos especialistas, tenho também o retorno de um grupo de

fornecedores. Cada nova máquina faço capacitação. Substituo as máquinas velhas. Em duas

horas de curso, faço ensinar objetivamente. Uma máquina de 4 ou 5 anos, substituo.

Faço as etapas gradativamente. Observo a capacidade das maquinas e ajo

preventivamente nas previsões.

22. A tecnologia é de ponta, avançada?

Domenico Decaroli – Sim , de ponta, mas entendemos que a tecnologia acontece com a

experiência e com o conhecimento. Ser de ponta é relativo, pois devo desenvolver aquilo

que vai ser demandado pelo meu cliente.

23. Você pensa em novos contratantes? Há uma estratégia? Propaganda no rádio e na

tevê?

Domenico Decaroli – Mantenho contato com os funcionários das empresas e faço a

propaganda, a empresa vem aqui eu vou lá, trabalhamos 300 dias no ano para o cliente. Em

Nápoles tenho um cliente que demanda muito. Ano passado houve negócio com muitos

países. Não faço propaganda de rádio e tevê minha propaganda é a qualidade e o

compromisso com o cliente.

24. Você tem alguma página na web?

Domenico Decaroli – Não. O maior veículo de publicidade são as máquinas, boca a boca.

Catálogo eram dois. Visito outras fabricas, na Turquia, Índia, Polônia, Eslováquia.

25. É fácil colocar na internet?

Domenico Decaroli – Eis aqui meu catálogo. Um pouco da nossa história. Não quero ter

tanto quanto a internet. Já basta o que operaciono.

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26. Uma nota de 0 a 10 para o governo?

Domenico Decaroli – 0,3 não, não menos de zero! O governo cobra muito, e pagamos

taxa em média de 60 a 70% de imposto. Se não se paga, multas, processos etc. Não se poderá

errar. Política de investimento! Funcionários, bons aprendizes. Dos 4 que são aprendizes,

todos já aprenderam e formaram aqui. Certo.

27. A crise está afetando a tua empresa?

Domenico Decaroli – Não há um impacto forte. A crise sempre vai afetar nosso

negócio, mas como somos pequenos acredito que sentimos menos. A grande empresa tem

uma complexidade maior, vende milhões e qualquer retração no mercado sentem muito e as

consequências são diversas.

28. Crise europeia influencia diretamente sua empresa, de 0 a 10?

Domenico Decaroli – 04, temos competência, clientes não faltam.

29. Realizações da sua empresa de 0 a 10?

Domenico Decaroli – Oito está ótimo, as obras são modestas, sou modesto.

Agradecimentos do José Samuel ao Sr. Domenico Decaroli pela entrevista concedida.

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APÊNDICE C – ENTREVISTAS - Continuação

ENTREVISTA COM O PROF. PAOLO PIETRO BIANCONE

UNIVERSITÀ DEEGLI STUDI DI TORINO

UNIVERSITY OF TURIN

DIPARTIMENTO DI ECONOMIA AZIENDALE

DEPARTMENT OF BUSINESS ADMINISTRATION

1. O que leva as empresas italianas a serem longevas?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – as micro e pequenas empresas italianas estão

diretamente ligadas à sua família, sendo o resultado de geração em geração, filho, neto, etc.

Essa condição cria uma forma toda especial da condição de como produzir ou prestar o

serviço, que é única e singular dessa empresa familiar. Outro fator relevante que posso

destacar está ligado às condições do mercado, o cenário para as MPEs é favorável.

2. A relação de parceria entre as micro e pequena empresas e grande ajuda na

longevidade das pequenas?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Uma parceria com grande empresa representa o

fornecimento de produtos e serviços com a garantia de uma receita certa. Por outro lado

geralmente a pequena empresa tem uma estrutura simples com poucos funcionários, com

apenas nove dependentes gerando menos custos e maiores lucros. A relação da pequena e

grande empresas na Itália é duradoura, sendo influenciada além da competência

organizacional, que é o principal, da relação de amizade (informalidade) entre as partes. A

grande empresa italiana, por incrível, às vezes sonda qual o histórico da pequena empresa.

3. Os proprietários e empreendedores italianos tem formação adequada?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Na maioria das vezes sim, nossa rede de ensino

pode ser considerada satisfatória. Mas isso depende também se esse empregador foi motivado

pela família. Ele poderá ter estudado ou ser ignorante. Pois isso, aqui na Itália, a família tem o

papel fundamental. Essa condição de estudo está ligada à limitação familiar, mas o perfil é de

proprietários qualificados.

4. Quais políticas públicas são realizadas na Itália para as micro e pequenas empresas?

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Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Não é uma política oficial definida. Deriva das

Câmaras de Comércio que mantém as empresas.

5. Há suporte?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Sim. Poderá dar suporte. Mas não há suporte

satisfatório.

Então as pequenas empresas dão suporte aos grandes empreendimentos, sendo

fornecedoras das grandes empresas. Mas elas reclamam que são estranguladas pelos preços

baixos, taxas, limitações de pedidos e exigências da união europeia. Esta não recomenda

auxílio às microempresas. Às vezes é uma mão única, muita exigência e poucas garantias para

as pequenas.

6. As MPEs na Itália têm políticas de capacitação, treinamentos aos funcionários.

Trabalham a formação deles?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Há uma consciência de formação de seus

empregados e geralmente está ligado a consciência do patrão. Há limitação do proprietário,

dos donos. Limitação do material humano não deve haver, mas as MPEs se limitam na

condição financeira. A capacitação está ligada á decisão do patrão, do dirigente.

7. Como se realiza o processo decisório?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Nas pequenas manda só uma pessoa. Há a

intenção da participação dos empregados, mas de fato, a decisão é do dono. É o vínculo

familiar. Há condução familiar.

8. As MPEs ao valorizadas na Itália?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – De forma geral é sim valorizada. Mas poderiam

ter Leis que privilegiassem mais as pequenas empresas. O que garante a longevidade dessas

empresas é o diferencial competitivo – qualidade, inovação, valorização dos Recursos

Humanos, atendimento etc. A própria classificação delas na Itália é complexa. A Câmara de

Comércio não tem está classificação - consórcio de empresas. Somos só pequenas empresas e

priorizamos os consócios e redes de empresas. Sim. Isto pode ser o elemento determinante e

também a família, pode manter e empreender a empresa.

Inovação – dependerá da relação financeira. Deve-se aliar a outra empresa.

Page 265: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

263

9. Prestadoras de serviços são familiares?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Sim. De forma geral são micro e pequenas

familiares. Porém os rendimentos em nível familiar. Capacidade familiar de manter a

firma.

10. Mortalidade?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Comparada com outros países estamos entre os

mais baixos índices, mas tem aumentado a mortalidade. Temos mais concorrência e

atualmente é bastante elevada. Não tem percentual.

11. Colocando o viés familiar constante, pilar (família). Qual o outro pilar de

sustentação?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Alta qualidade. As atividades se desenvolvem

em qualquer lugar do mundo. Logo, a ampliação de negócios par outros lugares – exportação

é vital.

12. Qual a estratégia da longevidade?

Prof. Doutor Paolo Pietro Biancone – Sobreviver –equilíbrio, tradição, comunicação e

patrimônio. As falências são inevitáveis. O elevado exemplo das pequenas empresas que

entram em falência dura quanto dura uma família, uma geração, trabalho, força, de mercado,

etc. manda só um familiar. Permanecem pequenas, ligadas á família, filhos, netos, etc. Mas

não podemos deixar de valorizar a união entre as empresas, união no sentido de parceria.

Mesmo com a crise na Europa, o ambiente estrutural é propício para as MPEs e essa realidade

pode ser ao lado de empresas maiores, com lastros em compras e serviços.

Agradecimentos do José Samuel ao Sr. Paolo Pietro pela entrevista concedida.

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264

APÊNDICE C – ENTREVISTAS - Continuação

Entrevista realizada com o diretor do departamento de micro, pequenas e médias empresas,

Dr. Sérgio Nunes de Souza, com participação do Assessor Especial do MDIC, Dr. Fabio de

Medeiros Souza.

1. Qual a política do Governo Dilma voltada para as Micro e Pequenas Empresas? De

forma geral.

Sérgio Nunes – Recentemente foi anunciado o “Plano Brasil Maior”, plano com foco

não só na área industrial, mas, também, no comércio e serviço, e contempla um capítulo

específico sobre a micro e pequena empresa. O nome correto seria “Competitividade dos

Pequenos Negócios”. A idéia é esse Comitê Sistêmico e faz parte do CNDI – Conselho

Nacional de Desenvolvimento Industrial, presidido pela própria Presidenta, e essas políticas

elaboradas nesses estágios têm como prosperarem neste ambiente do CNDI. Para dar ampla

discussão e legitimidade dessas políticas existe o Fórum Permanente das Micro e Pequenas

Empresas. Na verdade, há o ambiente da “Competitividade dos Pequenos Negócios”, onde

são elaboradas, de forma objetiva, políticas públicas para micro e pequenas empresas,

oriundas de uma discussão com a sociedade e com setores envolvidos por meio do Fórum

Permanente de Micro e Pequenas Empresas.

2. Neste Fórum de Micro e Pequenas Empresas são vários os órgãos que participam,

inclusive o empresariado?

Sérgio Nunes - Temos 81 instituições do setor privado e 47 instituições do setor

público habilitadas a participarem dessa discussão.

3. Na verdade, a partir desse Fórum que serão desdobrados vários programas para o

desenvolvimento?

Sérgio Nunes – O Fórum Permanente faz uma discussão por Comitê, por grupo, por

temas de interesse. Hoje a discussão se concentra em 6 temas – Área de Comércio Exterior,

Financiamento e Investimento, entre outros.

4. O Fórum de investimento e financiamento, considerando que em todas as pesquisas

associadas à micro e pequena empresa, de alguma forma, sempre discute o fomento, a

possibilidade de investimentos e o financiamento para micro e pequenas empresas.

Houve evolução nesta área?

Sérgio Nunes – Houve, bastante, principalmente, onde fica claro quais são os custos

que uma micro e pequena empresa tem quando ela bate na porta de um banco para pegar um

financiamento. Até então se tinha uma taxa de juros que era cobrada na operação, mas não se

sabia exatamente quanto se pagava naquela operação ao final. Tem as taxas bancárias, as

taxas administrativas e movimentos de diversas ordens e não era possível mensurar. Tarefa do

Fórum nada mais é do que estender para a micro e pequena empresa o que é feito para pessoa

física que é o custo efetivo total. Então, o Banco Central, a partir de discussão que aconteceu

Page 267: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

265

no Fórum Permanente, instituiu o custo efetivo total também para a micro e pequena empresa,

o que começou a valer a partir de maio/2011.

5. E as garantias? Sempre dá discussão com agentes financeiros.

Sérgio Nunes – Isso foi uma grande evolução que tivemos dentro e, inclusive, com o

trabalho do Fórum Permanente, que são os fundos FGO – Fundo de Garantia de Operações,

vinculado ao Banco do Brasil, e FGI – Fundo de Garantia de Investimentos, vinculado ao

BNDES. Então, na verdade, para se ter uma idéia, no período de 2 anos, mais de 150 mil

empresas, que nunca tinham feito nenhuma operação com nenhuma instituição financeira, o

fizeram pela primeira vez. Este fundo entra para dar garantia que o micro e pequeno

empresário muitas vezes não tem quando precisa. Foi grande o avanço, que foi fruto do

Fórum Permanente.

6. O Fórum Permanente iniciou no Governo Lula?

Sérgio Nunes - Não. Foi criado em 1999, implementado em 2000 e, em 2006, ele foi

incorporado pela Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, Lei 123/2006.

7. O que mudou a partir da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa?

Sérgio Nunes - Mudou muita coisa, na verdade a Lei 123/2006 é um marco, é um

divisor de águas para as micro e pequenas empresas, a partir disso, tiveram respeitados os

ditames da Constituição Federal, que prevê tratamento diferenciado para a micro e pequena

empresa. Várias coisas foram criadas com a Lei 123/2006 e com seus aperfeiçoamentos – em

2007, com a Lei 127/2007; em 2008, a Lei 128/2008, e em 2011, a Lei 139/2011.

8. A Lei 139/2011 trabalhou basicamente a questão da receita bruta?

Sérgio Nunes - A Lei 139/2011 trabalhou basicamente a movimentação dos limites do

Simples Nacional. A partir de 1º de janeiro começaram a valer novos valores para micro e

pequenas empresas.

9. Sobre a situação da mortalidade da micro e pequena empresa, que está inserida e

voltada para a questão da gestão, estudos mostram que um dos motivos principais é a

má gestão e a falta de conhecimento do micro e pequeno empresário. Como o

Departamento de Micro e Pequena Empresa vê a situação? Quais ações estão sendo

inseridas?

Fabio de Medeiros - O Departamento trabalha com as principais vertentes de gestão

da empresa, ou seja, trabalha com a vertente da capacitação empreendedora, da capacitação da

gestão, com a vertente do crédito, da inovação tecnológica, da desburocratização das normas

administrativas que estão inerentes à empresa, a exceção de aspectos tributários, que são de

competência exclusiva do Comitê Gestor, e a outros aspectos produtivos.

No contexto da elaboração do PPA foi destacada a questão da mortalidade como um

dos principais problemas que tem que ser atacado pelas políticas de Governo. Hoje é um tema

central, nos próximos quatro anos o tema da mortalidade estará lá e destacamos que, no

primeiro ano de vida, são 27% de mortalidade no Brasil contra uma média de 10% ao nível

internacional - EUA, Portugal. O objetivo dessa inserção é fortalecer esses mecanismos que

vão trabalhar na questão principal que é a gestão.

A capacitação é necessária para que o empresário possa entender melhor como

funcionam os métodos de gestão, o mercado, como consegue instrumentos de crédito

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266

diferenciado, de inovação, de transferência tecnológica, então se pressupõe que terá um “plus”

na forma de gestão e com isso combater a mortalidade e chegar em patamares internacionais,

que é o objetivo principal da política. Logo, a capacitação é um pilar.

10. As ações a nível de Ministério em cima da questão da capacitação?

Sérgio Nunes - O mais importante que existe no serviço público é o Programa

Plurianual. Houve uma grande mudança de mentalidade em relação ao que era feito antes e o

que é feito agora. Tinha uma pulverização de ações, de programas e tudo foi enxugado. Para

ter uma idéia, de mais de trezentas, ao final tornaram pouco mais de 60. Um dos temas

mantidos pela sua extrema importância foi da micro e pequena empresa, é um programa

temático. Dentro disso, se tem um planejamento estratégico no caso do Departamento da

Micro e Pequena Empresa se tem toda a questão da gestão. São quatro abordagens básicas em

relação à micro e pequena empresa – quatro eixos sistêmicos (normativo/regulamentar)

Do objetivo estratégico são:

- Regulamentar implementação dos Estados...

- Competitividade e Sustentabilidade

- Cooperação internacional

- Questão da gestão do conhecimento que inclui a capacitação

Elas são interdependentes porque fazem parte da questão do fortalecimento da micro e

pequena empresa para que seja competitiva no mercado e consiga ter uma vida longa.

Fabio de Medeiros - A respeito da questão de instrumentos, é importante mencionar

que o Governo Federal, ou seja, o Departamento está fazendo duas apostas importantes em

termos de instrumento: a primeira se refere à política nacional de empreendedorismo e a

segunda é o Plano Nacional de Capacitação. São duas ações de cunho estratégico. Há ainda

outras ações táticas e operacionais, acordos, ações com a Apex e com outros Ministérios.

11. O Ministério da Micro e Pequena Empresa sai?

Sérgio Nunes – Esta é uma discussão que vem do ano passado pra cá, a expectativa é

que entrasse em pauta, mas foi retirada a urgência no final do ano passado e depois, inclusive,

saiu de pauta. A notícia é que deverá sair como Medida Provisória. Só campo da especulação,

portanto, tudo pode acontecer.

12. Se fosse destacar agentes de fomento de micro e pequenas empresas, não

necessariamente no Ministério, quais agentes externos que destacariam?

Sérgio Nunes – há o próprio agente de desenvolvimento, que foi concebido dentro da

legislação na Lei 123/2006.

13. Dentro do fomento, que auxilia a micro e pequena empresa, que dá possibilidade de

longevidade, a exemplo do Sebrae...

Sérgio Nunes - São entidades que estão no Fórum Permanente. Governos Estaduais...

14. Quanto ao estado do Maranhão?

Sérgio Nunes – Há um Fórum lá. De destaque, precisaria conversar com os contatos do

Fórum Regional do Maranhão. (conversa informal por telefone)

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267

15. De forma geral, o que destacaria na micro e pequena empresa no Brasil?

Sérgio Nunes - Infelizmente, percebe-se que há uma grande improvisação na micro e

pequena empresa e é isso que o Departamento vem tentando organizar. Estamos treinando as

empresas para que seja possível mostrar formas de fazer a gestão do negócio, de forma que a

empresa possa crescer e se desenvolver. Enquanto Governo, nossa obrigação é discutir

políticas públicas, coisas que favoreçam o micro e pequeno empresário. Agora, só isso não

basta, é preciso que o empresário também seja empreendedor suficiente para fazer com que o

seu negócio avance. A nossa luta é sempre neste sentido, o de produzir a política pública que

tenha efeito benéfico para a empresa e, através das instituições que participam do Fórum

Permanente, fazer com que isso chegue lá. É de conhecimento que a estrutura hoje do

Governo é uma estrutura inadequada e daí a justificativa, do porquê, de estar pensando em

criar uma secretaria, onde poderia ter uma abordagem muito maior, mais ampla, muito mais

sistêmica sobre o tema.

Ainda hoje tem micro e pequeno empresário confundindo as finanças dele com as

finanças da empresa. A questão da gestão é muito negligenciada, as melhores práticas são

desconhecidas, a inovação, então, precisa ser vista com mais seriedade. Hoje, das patentes

registradas no Brasil, dois terços são do “serviço público” e um terço é de empresas em geral,

enquanto que no mundo é o inverso, dois terços de patentes depositadas no mundo todo são

de empresas privadas. Inovação é algo que ainda temos muita dificuldade. De qualquer forma,

avançou-se muito, o Fórum tem uma contribuição muito grande, o próprio Ministério do

Desenvolvimento, através da nova administração de Luis Pimentel, tem incentivado, tem dado

apoio para que se faça um trabalho com seriedade, independente do destino do Departamento,

ou da existência de nova secretaria ou não, mas que possa realizar um trabalho com muito

esmero, muita dedicação, no sentido de fazer com que a empresa se desenvolva. A

importância que ela tem sobre a geração de emprego, as micro e pequenas empresas foram as

grandes responsáveis pela absorção da mão de obra e se sabe da flexibilidade do micro e

pequeno empresário em se adaptar a novas situações. Tem o Sebrae que faz um trabalho de

relevância, inclusive para o País. É preciso que o micro empresário possa perceber em ser

mais profissional na sua atividade.

16. Sr. Sérgio, o Sr. acredita que a micro e pequena empresa, ao lado da grande

empresa, teria maior “capilaridade”? As prestadoras de serviços crescem

assustadoramente, há discussão na literatura hoje sobre a questão da aproximação entre

a micro e pequena empresa e a grande empresa, principalmente na questão de serviços.

Daria ou não “capilaridade”? A grande empresa iria influenciar no processo de

inovação da pequena empresa, até para que a pequena empresa possa fornecer serviço

para a grande empresa?

Sérgio Nunes – Acredito que sim. Estamos assistindo isso na Petrobrás, nos Correios

(exemplos). O desenvolvimento tecnológico e a inovação são proferidos pela empresa âncora.

O empresário vai ter que correr atrás, muito embora a gente vê que a micro e pequena

empresa está no quarto, no quinto estágio de fornecimento. Nos Correios é diferente, há

diversidade de serviços. Logo, a grande empresa influenciaria na capilaridade. Ela é que puxa

o desenvolvimento em muitos casos.

Agradecimentos do José Samuel ao Sr. Sérgio Nunes pela entrevista concedida.

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268

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Continua

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269

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Continuação

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270

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Continuação

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271

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Continuação

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272

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Continuação

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273

APÊNDICE D – Questionário Aplicado

Conclusão

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274

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continua

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

Sociedade Industrial

Gráfica Ltda - Socingra

Serviços gráficos, reprodução e

impressão 1961 51 25 15 De 2 até 3,6 milhões

Starlog - Operador

Logístico Serviços de transportes 1962 50 33 2 De 2 até 3,6 milhões

Hc Pneus e serviços Serviços de fornecimento de mão

de obra 1965 47 48 18 De 1 até 2 milhões

Loja da Borracha Ltda Fornecimentos de produtos de

borracha , correias e mangueiras 1966 46 6 15 De 360 mil até 1 milhão

LAVATEC - Lavanderia

Técnica Ltda

Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1974 38 43 19 De 1 até 2 milhões

Atlântica Eletrônica Ltda Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1977 35 20 24 De 360 mil até 1 milhão

H. Aquino - Livraria

Estudantil

Serviços de fornecimento de

equipamento;

1980 32 15 30 De 360 mil até 1 milhão livraria, papelaria, material de

escritório;

serviços de Informática e

processamento de dados

MECOM - Mecânica e

Construção Naval Ltda

Fabricação e conserto de

peças/Usinagem 1982 30 6 25 De 360 mil até 1 milhão

JR Contabilidade e

projetos Serviços auxiliares à gestão 1982 30 18 6 De 1 até 2 milhões

Trana Transportes Ltda Serviços de transportes 1982 30 47 2 De 360 mil até 1 milhão

MECON - Serviços Ltda Serviços gerais 1982 30 6 25 Até 360 mil

Douctor Implantação de

projetos Ltda Implantação de projetos 1982 30 35 7 De 1 até 2 milhões

Center Diesel Peças e

Serviços Ltda Serviços de mecânica geral 1987 25 24 4 De 1 até 2 milhões

GMS Serviços Marítimos

Gerais Ltda Apoio portuário 1988 24 20 22 De 1 até 2 milhões

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275

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continuação

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

BRC Comercial de

Ferramentas Ltda

Serviços de fornecimento de

equipamento 1990 22 13 5 De 360 mil até 1 milhão

J. Castro Pneus Serviços de auto-peças 1990 22 12 15 De 1 até 2 milhões

Malharia Vitória

Serviços de fornecimento de

malharia (confecção de camisas e

brindes promocionais e

fardamentos profissionais

1991 21 46 4 De 1 até 2 milhões

Artecnica Com Atac de

Material Ltda.

Serviços de fornecimento de

equipamento 1991 21 34 12 De 360 mil até 1 milhão

Distribuidora Copystar

Ltda

Serviços de fornecimento de mão

de obra 1994 18 35 12 De 1 até 2 milhões

JD Aquino Barbosa

Serviços de fornecimento de

equipamento;

1994 18 7 15 De 360 mil até 1 milhão serviços de fornecimento de mão

de obra;

Móveis projetados para escritório

e espelhos

Malas Brasil Ltda. Serviços de fornecimento de mão

de obra 1994 18 20 10 De 360 mil até 1 milhão

Medições Ambientais Consultoria em meio ambiente 1995 17 10 8 De 360 mil até 1 milhão

Distribuidora Sêneca Ltda Prestador de serviços de

alimentos 1995 17 12 3 De 360 mil até 1 milhão

J.M. Construções e

Serviços Ltda Engenharia 1995 17 47 17 De 2 até 3,6 milhões

2R Serviços Técnicos Ltda Serviços de segurança do

trabalho 1996 16 48 15 De 1 até 2 milhões

Pilar Engenharia e

Manutenção Ltda

Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1996 16 49 12 De 1 até 2 milhões

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276

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continuação

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

AMG Produção e

Promoção Ltda

Serviços profissionais de nível

superior; 1996 16 15 16 De 1 até 2 milhões

serviços de propaganda e

publicidade

Raimunda Cunha Barros -

ME (Metalma) Metalurgia estrutura e aço inox 1996 16 36 10 De 360 mil até 1 milhão

Connection Informática

Serviços auxiliares à gestão;

1996 16 10 10 Até 360 mil serviços de informática e

processamento de dados;

serviços de propaganda e

publicidade

C.C. Reis E. Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 1996 16 45 13 De 2 até 3,6 milhões

Cristal Engenharia Serviços de construção civil 1997 15 47 12 De 2 até 3,6 milhões

LAC Equipamentos e

Serviços Ltda

Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1997 15 47 10 De 1 até 2 milhões

Pacheco e Oliveira Ltda. Serviços de fornecimento de

equipamento 1997 15 15 1 De 1 até 2 milhões

J.C.M. Pereira & Cia Ltda Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1997 15 14 1 Até 360 mil

Metalúrgica Santo André Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 1997 15 16 13 De 360 mil até 1 milhão

Multipla Rep. Técnicas

Ltda

Centro automotivo e comércio de

peças e motores 1998 14 19 14 De 1 até 2 milhões

Companhia dos Parafusos Comércio e prestação de serviços

com parafusos 1998 14 9 13 De 360 mil até 1 milhão

Klemauto Service Car Ltda

Manutenção preventiva e

corretiva de veículos máquina e

equipamentos e manutenção

elétrica e mecânica

1998 14 25 9 De 1 até 2 milhões

Page 279: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

277

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continuação

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

Gestor Consultoria Serviços profissionais de nível

superior 1998 14 33 14 De 360 mil até 1 milhão

C.R.M Montagem

Industrial Ltda

Serviços de fornecimento de mão

de obra 1998 14 9 10 De 360 mil até 1 milhão

CLF Projetos Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 1999 13 2 10 De 360 mil até 1 milhão

Cobraço Serviços e

Montagens Ltda

Serviços de fornecimento de

equipamento e 1999 13 42 9 De 2 até 3,6 milhões

serviços de fornecimento de mão

de obra

Martins Pereira & Cia Ltda

Fornecimento de produtos e

serviços em instrumentação

industrial

1999 13 1 12 De 360 mil até 1 milhão

Eduardo C. Engenh Serviços profissionais de nível

superior 1999 13 5 1 Até 360 mil

Nova Luz Comércio Ltda Serviços de fornecimento de

equipamento 1999 13 18 10 De 1 até 2 milhões

Bahia Auto Peças e

Serviços Outros 2000 12 39 4 De 360 mil até 1 milhão

Dentex - Produtos

Odontológicos

Serviços de fornecimento de

equipamento 2000 12 5 11 Até 360 mil

Phocos Consultoria Ltda Serviços profissionais de nível

superior 2000 12 5 12 Até 360 mil

C.C.G. Construções

Serviços de transportes;

2000 12 49 9 De 360 mil até 1 milhão serviços de fornecimento de

equipamento e

serviços de fornecimento de mão

de obra

Benservice Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 2001 11 3 11 Até 360 mil

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278

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continuação

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

Centro Automotivo

Papaléguas Comércio e prestação de serviços 2001 11 30 2 Até 360 mil

Iluminar Comércio e

Serviços Ltda Comércio varejista 2001 11 12 2 Até 360 mil

Pasa Serviços médicos e hospitalares 2001 11 6 11 De 1 até 2 milhões

Metafísio Fisioterapia

Serviços profissionais de nível

superior; 2002 10 15 8 De 1 até 2 milhões

serviços de propaganda e

publicidade

4M Construções e

Incorporações Ltda

Serviços de fornecimento de mão

de obra; 2002 10 48 4 De 2 até 3,6 milhões

serviços de limpeza, manutenção

e conservação

Mafibra Indústria e

Comércio

Fabricação e recuperação de

produtos de fibra de vidro e

estrutura metálica

2002 10 40 10 De 360 mil até 1 milhão

Artec - Automação

Tecnologia Controle,

Comércio e

Representações Ltda

Serviços de fornecimento de

equipamento;

2002 10 30 7 De 1 até 2 milhões serviços de fornecimento de mão

de obra;

serviços médicos e hospitalares

Worldsingn Comunicação

Visual

Serviços de propaganda e

publicidade 2002 10 30 8 De 360 mil até 1 milhão

Piri Piri Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 2002 10 26 2 Até 360 mil

Multimodal Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 2002 10 42 6 De 1 até 2 milhões

Semac Serviços

Manutenção e Calderaria

Ltda

Serviços de fornecimento de mão

de obra 2002 10 25 10 De 360 mil até 1 milhão

Page 281: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

279

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Continuação

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

Firm Engenharia Outros 2003 9 8 9 De 1 até 2 milhões

ENE - Escola de Negócios

Excellence

Serviços profissionais de nível

superior 2003 9 30 6 De 360 mil até 1 milhão

Henrique Refrigerações Serviços de Limpeza,

manutenção e conservação 2003 9 3 3 Até 360 mil

Samel Distribuidora Distribuidora e representação

comercial 2003 9 18 9 De 360 mil até 1 milhão

J.B. Sousa e Cia Ltda Serviços de informática e

processamento de dados 2003 9 19 5 De 1 até 2 milhões

Lider Montagens E

Manutenção Industrial

Ltda

Serviços de fornecimento de

equipamento 2004 8 49 6 De 2 até 3,6 milhões

Quantum Consultores

Associados Ltda

Serviços profissionais de nível

superior 2004 8 4 8 De 360 mil até 1 milhão

Martins e Dias Ltda -

Estação Saúde Academia de ginástica 2005 7 21 7 De 1 até 2 milhões

Escola HSP

Serviços auxiliares à gestão;

2005 7 6 6 Até 360 mil serviços de fornecimento de

equipamento;

serviços de informática e

processamento de dados

Translider Ltda Serviços de transportes 2006 6 15 1 De 2 até 3,6 milhões

J.B.S. Moreira Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 2006 6 5 4 Até 360 mil

J.C.Z. Engenharia Ltda Desenvolvimento de projetos na

área de engenharia e arquitetura. 2006 6 10 5 Até 360 mil

Mape Transportes Ltda Serviços de transportes 2006 6 30 5 Até 360 mil

Gertaxi-Map Transportes

Ltda Serviços de transportes 2007 5 46 4 De 1 até 2 milhões

Page 282: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE … · Melo Júnior, José Samuel de Miranda Longevidade das micro e pequenas empresas prestadoras de serviços : um estudo das dimensões

280

APÊNDICE E – Relação das empresas entrevistadas

Conclusão

EMPRESA RAMO DE ATIVIDADE ANO DE

FUNDAÇÃO LONGEVIDADE

NÚMERO DE

EMPREGADOS

TEMPO DE

PARCERIA

RECEITA BRUTA

ANUAL

Grafsign Serviços de propaganda e

publicidade 2007 5 15 3

De 360 mil até 1

milhão

Grupo Cefor Ltda

Serviços de fornecimento de mão

de obra; 2007 5 3 3 De 1 até 2 milhões

serviços gerais e segurança

privada

Águia Cozinha Industrial

Serviços de transportes;

2007 5 43 2 De 1 até 2 milhões serviços de fornecimento de mão

de obra e

cooperativas de trabalho

B.E.M. Soares Serviços Serviços de transportes 2007 5 3 3 Até 360 mil

Florense Ltda. Serviços de limpeza, manutenção

e conservação 2007 5 9 2 Até 360 mil

AK Construções Ltda Serviços de fornecimento de mão

de obra 2007 5 35 3 De 1 até 2 milhões

M.C.A Serviços

Administrativos Ltda Serviços auxiliares à gestão 2007 5 39 5

De 360 mil até 1

milhão

EMPRESAS EXCLUIDAS DA PESQUISA

Bono Transportes Rodoviário e Distribuidora Ltda

Justificativas:

EME Serviços

Front Serviços Gerais

J. E. A. Diniz - Eletronorte 1 - Inconsistência de dados;

Milhas Assessoria Esportiva Ltda

2 - Excedeu ao critério de receita brutal anual;

RCR Locação Ltda 3 - Excedeu ao critério de número de funcionários.

edenção Transportes & Turismo Ltda

Torneadora Leandro