funÇÕes logarÍtmicas e exponenciais: uma … · esse destaque é porque a função logarítmica...

35
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - SEDIS ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO Iris Lúcia Dantas FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA ABORDAGEM PARA O ENSINO MÉDIO Currais Novos/RN 2016

Upload: vanphuc

Post on 07-Nov-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - SEDIS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO

Iris Lúcia Dantas

FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA ABORDAGEM

PARA O ENSINO MÉDIO

Currais Novos/RN

2016

Page 2: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - SEDIS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO

Iris Lúcia Dantas

FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA ABORDAGEM

PARA O ENSINO MÉDIO

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Ensino de Matemática para o

Ensino Médio da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte - UFRN como parte dos

requisitos para obtenção do Título de Especialista

em Ensino de Matemática para o Ensino Médio.

Orientador: Prof. Benedito Tadeu Vasconcelos

Freire

Currais Novos/RN

2016

Page 3: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial

Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.

Dantas, Iris Lúcia.

Funções logarítmicas e exponenciais: uma abordagem para o Ensino Médio / Iris

Lúcia Dantas. – Currais Novos, RN, 2016.

34f. : il.

Orientador: Prof. Benedito Tadeu Vasconcelos Freire.

Monografia (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Secretaria de Educação à Distância. Coordenação do Curso de Especialização em

Ensino de Matemática para o Ensino Médio.

1. Logaritmos. 2. Função logarítmica. 3. Função exponencial. 4. Gráficos.

5. Exemplos e aplicações. I. Freire, Benedito Tadeu Vasconcelos. II. Título.

RN/UF/BSE-CCET CDU: 519.662

Page 4: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

Iris Lúcia Dantas

FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA ABORDAGEM

PARA O ENSINO MÉDIO

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Ensino de Matemática para o

Ensino Médio da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte - UFRN como parte dos

requisitos para obtenção do Título de Especialista

em Ensino de Matemática para o Ensino Médio.

Banca Examinadora

_______________________________________________________

Presidente: Prof. Benedito Tadeu Vasconcelos Freire

_______________________________________________________

2º Membro: Prof. Iesus Carvalho Diniz

________________________________________________________

3º Membro: Prof. Odilon Júlio dos Santos

Currais Novos (RN), 23 de Julho de 2016

Page 5: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

DEDICATÓRIA

Primeiramente à Deus, aos meus pais

Inácio e Tereza, meus irmãos e demais

familiares.

Page 6: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, que em sua bondade, deu-me forças para a conclusão deste trabalho.

A todos os professores do Curso de Especialização em Ensino de Matemática para o Ensino

Médio pelo apoio e profissionalismo durante todo o curso, em especial ao meu orientar Prof.

Benedito Tadeu Vasconcelos Freire pela orientação, confiança e entusiasmo dedicados a esta

monografia.

Aos meus queridos pais, Tereza Maria Dantas e Inácio Aleixo Dantas, por estarem em todos os

momentos ao meu lado, me apoiando e incentivando. E também aos meus amigos e colegas do

Curso, em especial, João José e Maria do Socorro que tanto me apoiaram nos momentos

difíceis, por me ouvirem e incentivarem.

Page 7: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

RESUMO

Esse trabalho mostra, primeiramente, o surgimento de uma poderosa ferramenta matemática

que contribuiu durante aproximadamente, três séculos e meio para simplificar os cálculos

aritméticos: os logaritmos. Assim, os logaritmos foram criados, na primeira metade do século

XVII, para facilitar os cálculos matemáticos tornando-se um instrumento de cálculo eficiente,

pois tem como propriedade fundamental transformar produtos em soma.

Com o advento das calculadoras eletrônicas, os logaritmos perderam sua função inicial, mas

não perderam posição de destaque no ensino da Matemática e nas aplicações nas ciências

modernas. Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial,

constituem uma única maneira de se descrever, matematicamente, a evolução de uma grandeza,

cuja taxa de crescimento (ou decréscimo) é proporcional à quantidade daquela grandeza

existente num dado momento.

A seguir são apresentados inúmeros apelos gráficos e exemplos para facilitar e incentivar a

leitura dos estudantes.

Palavras-chave: Logaritmos, função logarítmica, função exponencial, gráficos, exemplos e

aplicações.

Page 8: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

ABSTRACT

This work shows, first, the emergence of a powerful mathematical tool which contributed for

about three and a half centuries to simplify the arithmetic: logarithms. Thus, the logarithms

were created in the first half of the seventeenth century to facilitate the mathematical

calculations become an efficient calculation tool, it has a fundamental property transform

products sum.

With the advent of electronic calculators, logarithms lost their original function, but lost leading

position in the teaching of mathematics and applications in modern science. This emphasis is

because the logarithmic function and its inverse, the exponential function, are a unique way of

describing mathematically the evolution of a quantity whose growth rate (or decrease) is

proportional to the amount that existing magnitude at a given time.

Following are numerous charts appeals and numerous examples to facilitate and encourage the

reading of students.

Keywords: Logarithms, logarithmic function, exponential function, graphics, examples and

applications.

Page 9: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9

2. LOGARITMO ..................................................................................................................... 10

2.1 - Definição ......................................................................................................................... 10

2.2 - Consequências da definição de Logaritmo ......................................................................11

3. FUNÇÕES LOGARÍTMICAS ............................................................................................ 11

3.1 - Definição ......................................................................................................................... 12

3.2 - Propriedades básicas ........................................................................................................ 12

3.3 - Gráfico da função logarítmica .......................................................................................... 16

3.4 - Logaritmos decimais ........................................................................................................ 17

3.5 - Logaritmos naturais ......................................................................................................... 18

4. FUNÇÃO EXPONENCIAL ................................................................................................ 21

4.1 - Propriedades .................................................................................................................... 21

5. EXEMPLOS BÁSICOS ....................................................................................................... 25

6. APLICAÇÕES ..................................................................................................................... 28

6.1 - Juros contínuos ................................................................................................................ 28

6.2 - Desintegração radioativa .................................................................................................. 29

6.3 - O método do carbono 14 .................................................................................................. 31

6.4 - Resfriamento de um corpo ............................................................................................... 32

7. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 33

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 34

Page 10: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

9

1. INTRODUÇÃO

O objetivo do nosso trabalho consiste do estudo das funções Logarítmica e Exponencial

a nível do Ensino Médio. Apresentamos apelos gráficos e inúmeros exemplos para facilitar e

incentivar a leitura dos estudantes.

Com relação a metodologia, fizemos pesquisas bibliográficas em livros, dissertações e

outros arquivos da internet, com o objetivo de analisar gráficos e exemplos que fossem

acessíveis aos alunos do Ensino Médio.

Page 11: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

10

2. LOGARITMO

2.1 - Definição

Dado um número real a > 0 e a ≠ 1, o logaritmo de um número x > 0 na base a é o

expoente y a que se deve elevar a de tal modo que 𝑎𝑦 = 𝑥.

loga x = y ⟺ ay = x

Onde, a é a base do logaritmo, x é o logaritmando e y é o logaritmo. O logaritmo de base 10

é chamado logaritmo decimal, sua representação é dada da seguinte forma: log10 𝑥 = log x.

No caso geral, para um número real qualquer r, é interessante saber o que significa uma

potência irracional. Por exemplo, o que significa: 2√2, 10√2, 10√3, 2𝜋, etc.?

Definimos 𝑎𝑦, para y um número irracional, usando a noção de limite, que é um conceito

estudado num curso de Cálculo Diferencial e Integral ou de Análise Matemática.

Por exemplo, para definir 2√2, como √2 = 1,414213562..., pensamos na sequência seguinte,

formada a partir da expansão decimal de √2:

𝑎1= 1, 𝑎2 = 1,4 = 14

10, 𝑎3 = 1,41 =

141

100, 𝑎4 = 1,414 =

1414

1000, ... ,

Então, cada termo da sequência é uma fração e, partir dela, consideramos a sequência

𝑏𝑛 = 2𝑎𝑛:

𝑏1 = 21, 𝑏2 = √21410, 𝑏3 = √2141100

, 𝑏4 = √214141000, ... ,

que é crescente e limitada (𝑏𝑛 < 22, para todo n ∈ N), o que implica (por resultados estudados

em cursos de Cálculo ou Análise) que ela possui um limite. Isto é, lim𝑛→∞

𝑏𝑛 = lim𝑛→∞

2𝑎𝑛 existe.

Definimos,

2√2 = lim𝑛→∞

2𝑎𝑛 .

Propriedade fundamental

A propriedade que segue é uma consequência imediata da definição 2.1. Dados os

números reais positivos a, u, x, com a ≠1, tem-se:

log𝑎(𝑢𝑥) = log𝑎(𝑢) + log𝑎(𝑥).

De fato, chamando p = log𝑎 𝑢 e q = log𝑎 𝑥, segue que 𝑎𝑝 = u e 𝑎𝑞 = x.

Logo, u ∙ x = 𝑎𝑝. 𝑎𝑞 = 𝑎𝑝+𝑞, e pela definição, log𝑎(𝑢𝑥) = p + q = log𝑎 𝑢 + log𝑎 𝑥.

Page 12: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

11

2.2 - Consequências da definição de Logaritmo

Pela definição acima, tem-se:

i) log𝑎 1 = 0, pois 𝑎0 = 1, ∀ a ∈ R+, a ≠ 1.

ii) log𝑎 𝑎 = 1, pois 𝑎1 = a, ∀ a ∈ R+, a ≠ 1.

iii) log𝑎 𝑎𝑛 = n , 𝑎𝑛 = 𝑎𝑛, ∀ a, n ∈ 𝑅, a > 0 a ≠ 1.

iv) 𝑎log𝑎 𝑏 = b, pois se log𝑎 𝑏 = x ⟹ 𝑎𝑥 = b ⟹ 𝑎log𝑎 𝑏 = b , ∀ a, n ∈ R+, a ≠ 1.

v) log𝑎 𝑥 = log𝑎 𝑦 ⟺ x = y, ∀ a, x, y ∈ R+, a ≠ 1.

De fato, se log𝑎 𝑥 = m e log𝑎 𝑦 = n ⟹ 𝑎𝑚 = x e 𝑎𝑛 = y.

Logo:

Para x = y ⟹ 𝑎𝑚 = 𝑎𝑛 ⟹ m = n ⟹ log𝑎 𝑥 = log𝑎 𝑦.

Para log𝑎 𝑥 = log𝑎 𝑦 ⟹ m = n ⟹ 𝑎𝑚 = 𝑎𝑛 ⟹ x = y .

vi) log𝑏 𝑐 = log𝑎 𝑐

log𝑎 𝑏, ∀ a, b, c ∈ R+, a ≠ 1, b ≠ 1, c ≠1.

De fato, se log𝑏 𝑐 = p, log𝑎 𝑐 = q e log𝑎 𝑏 = r ⟹ 𝑏𝑝 = c, 𝑎𝑞 = c e 𝑎𝑟 = b.

Assim, c = 𝑎𝑞 = 𝑏𝑞 = (𝑎𝑟)𝑝 = 𝑎𝑟𝑝 ⟹ 𝑎𝑞 = 𝑎𝑟𝑝.

Como 𝑎𝑞 = 𝑎𝑟𝑝 ⟹ q = rp, ou seja, p = 𝑞

𝑟 ⟹ log𝑏 𝑐 =

𝑞

𝑟 =

log𝑎 𝑐

log𝑎 𝑏

Portanto, log𝑏 𝑐 = log𝑎 𝑐

log𝑎 𝑏

A seguir, o logaritmo é tratado como função e suas propriedades demonstradas de

acordo com essa abordagem.

3. FUNÇÕES LOGARÍTMICAS

Devido aos excessivos procedimentos repetitivos apresentados de forma mecanizada, os

logaritmos talvez correspondam a um dos tópicos mais artificialmente mistificados no Ensino

Médio. Por isso recomendamos, na abordagem de logaritmos no Ensino Médio, que seja dado

ênfase à ideia fundamental de que o logaritmo é o expoente em uma exponenciação, facilitando

assim consideravelmente a compreensão das propriedades e características básicas das funções

logarítmicas. Chamamos ainda a atenção para o fato de que a propriedade algébrica

fundamental dos logaritmos – transformar produtos em soma – está no centro de sua origem

histórica. Observe que, sem o auxílio de calculadoras e computadores, com os quais estamos

cada vez mais acostumados, efetuar uma multiplicação é muito mais trabalhoso que efetuar uma

adição, principalmente no caso de números com muitos algarismos decimais. Por isso, uma

Page 13: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

12

ferramenta matemática que permitisse reduzir o trabalho de fazer uma multiplicação ao de uma

adição era muito importante no passado.

Denotamos tal função por f(x) = log𝑎 𝑥 em que o número a é chamado base. De maneira

geral, as funções logarítmicas mais usadas são aquelas cuja base a é maior do que 1. Entre a

infinidade de valores que a base de um logaritmo pode assumir, o que justifica a infinidade de

sistemas de logaritmos possíveis, existem dois sistemas particularmente importantes:

i) sistema de logaritmos decimais: é o sistema da base 10, também chamado sistema de

logaritmos vulgares ou de Briggs (Henry Briggs, matemático inglês, 1556-1630), quem

primeiro destacou a vantagem dos logaritmos da base 10, tendo publicado a primeira tábua

(tabela) dos logaritmos de 1 a 1000 em 1617. Indicamos o logaritmo decimal pela notação

log10 𝑥 ou simplesmente log x.

ii) sistema de logaritmos neperianos: é o sistema de base e (e = 2, 718281::: número

irracional), também chamado de sistema de logaritmos naturais. O nome neperiano vem de John

Napier, matemático escocês (1550-1617), autor do primeiro trabalho publicado sobre a teoria

dos logaritmos. O nome natural se deve ao fato de que no estudo dos fenômenos naturais

geralmente aparece uma lei exponencial de base e.

Com o propósito de como saber se, para resolver um determinado problema, devemos

usar o modelo de função logarítmica, neste momento, apresentamos uma definição formal para

tal função, seguida de informações e propriedades que a caracterizam.

3.1 - Definição

Uma função real f: R+ → R chama-se função logarítmica quando é caracterizada pelas

seguintes propriedades:

A) f é uma função crescente, isto é, x < y ⇒ f(x) < f(y);

B) f(x ∙ y) = f(x) + f(y) para quaisquer x, y ∈ R+ .

Para cada x ∈ R+, o número real f(x) chama-se logaritmo de x. Vamos mostrar a seguir

as propriedades básicas das funções logarítmicas, decorrentes das propriedades A e B acima.

3.2 - Propriedades básicas

(i) Uma função logarítmica f: R+ → R é sempre monótona injetiva, isto é, números positivos

diferentes têm logaritmos diferentes.

Page 14: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

13

Demonstração:

Se x, y ∈ R+ são diferentes, então ou x < y ou x > y. No primeiro caso resulta de A que f(x) <

f(y). No segundo caso tem-se f(x) > f(y). Em qualquer hipótese, de x≠ 𝑦 conclui-se que f(x) ≠

f(y).

(ii) O logaritmo de 1 é zero, ou seja, logb 1 = 0.

Demonstração:

Por B tem-se f(1) = f(1∙1) = f(1) + f(1). Logo, f(1) = 0.

(iii) Os números maiores do que 1 têm logaritmos positivos e os números positivos menores do

que 1 têm logaritmos negativos.

Demonstração:

Como f(x) é uma função crescente, toma-se 0 < x < 1 < y.

De A resulta f(x) < f(1) < f(y).

Logo, f(x) < 0 < f(y).

(iv) Para todo x > 0, tem-se f (1

x)= −f (x).

Demonstração:

Como x ∙1

𝑥 = 1 da propriedade B tem-se que f (𝑥 ∙

1

𝑥) = f(1), f(x) + f(

1

𝑥) = f(1) = 0.

Então, f(1

𝑥)= −f(x).

(v) Para todos números reais positivos x; y, tem-se: f (x

y) = f (x) – f (y).

Demonstração:

f (𝑥

𝑦) = f (𝑥.

1

𝑦) = f (x) + f (

1

𝑦) = Por propriedade 4, 𝑓 (

1

𝑥) = −f (x), então, f (

𝑥

𝑦) = f (x) – f (y).

(vi) Para todo x ∈ R+ e todo número racional r = p/q tem-se f (xr) = r ∙ f (x).

Demonstração:

Em primeiro lugar, observa-se que a propriedade f (x.y) = f (x) + f (y) se estende para o produto

de um número qualquer de fatores. Por exemplo,

f (x ∙ y ∙ z) = f ((xy) z) = f (x ∙ y) + f (z) = f(x) + f (y) + f (z).

E assim por diante:

f (𝑥1 ∙ 𝑥2 … 𝑥𝑛 ) = f (𝑥1) + f (𝑥2) + ... + f (𝑥𝑛).

Em particular, se n ∈ N então,

f (𝑥𝑛) = f (x ∙ x ∙∙∙ x) = f (x) + f (x) + ... + f (x) = n ∙ f (x).

Portanto, a propriedade 6 vale quando r = n é um número natural. Ela também vale quando r

= 0 pois, para todo número x ∈ R+, tem-se que 𝑥0 = 1, logo f (𝑥0) = f (1) = 0 = 0 ∙ f (x).

Page 15: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

14

Considerando agora o caso em que r = −n, n ∈ N, isto é, onde r é um inteiro negativo. Então,

para todo x > 0 temos 𝑥𝑛 ∙ 𝑥−𝑛 = 1. Logo f (𝑥𝑛) + f (𝑥−𝑛) = f (1) = 0,

e daí f (𝑥−𝑛) = − f (𝑥𝑛) = −n f(x). Finalmente, o caso geral, em que r = p/q, onde p ∈ 𝑍 e q ∈

N. Para todo x ∈ R+ temos, (𝑥𝑟)𝑞 = (𝑥𝑝/𝑞)𝑞 = 𝑥𝑝.

Logo, q ∙ f = f [(𝑥𝑟)𝑞] = f (𝑥𝑝) = p ∙ f (x), em virtude do que já foi provado.

Da igualdade q ∙ f (𝑥𝑟) = p ∙ f (x) resulta que f (𝑥𝑟) = (p/q) ∙ f (x), ou seja, que f (𝑥𝑟) = r ∙ f (x).

(vii) Uma função logarítmica f: R+ → R é ilimitada, superior e inferiormente.

Demonstração:

Dados arbitrariamente dois números reais 𝛼 𝑒 𝛽 é sempre possível achar dois números

positivos x e y tais que f(x) < 𝛼 𝑒 f(y) > 𝛽.

Torna-se um número natural n tão grande que n > 𝛽

𝑓(2). Como f(2) > 0 (propriedade 3), têm-se

n ∙ f(2) > 𝛽.

Assim, n ∙ f(2) = f(2𝑛). Portanto, f(2𝑛) > 𝛽. Agora escolhendo y =2𝑛; f(y) > 𝛽, o que mostra

que a função é ilimitada superiormente.

Para provar que f é ilimitada inferiormente, basta lembrar que f (1

𝑥) = −𝑓(𝑥). Dado qualquer

número real x, como foi provado acima, f(y) > −𝛼.

Fazendo x = 1

𝑦, isto é, y =

1

𝑥, tem-se:

f (1

𝑥) > −𝛼 ⇔ −𝑓(𝑥) > −𝛼 ⇔ 𝑓(𝑥) < 𝛼.

Uma função logarítmica não pode ser definida para x = 0, pois f (0) = f (x ∙ 0) = f (x) + f(0),

ou seja, f(x) = 0. Assim a função seria identicamente nula, o que contraria a propriedade A.

Teorema 1. Toda função logarítmica é sobrejetiva, isto é, dado qualquer número real c, existe

sempre um (único) número real positivo x tal que f(x) = k.

Demonstração: Seja uma função logarítmica f: R+ → R sobrejetiva e sejam, também, α, b ∈ R,

tal que α = a0, a1a2 ... an...

Como f é crescente e limitada, então existe um k ∈ 𝑍 tal que f(k) > b.

Seja a0+1 o menor inteiro tal que f (a0+1) > b, logo f (a0) ≤ b < f(a0+1).

Considere os números a0, a0 +1

10, a0 +

2

10, ... , a0 +

9

10, a0 + 1.

Page 16: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

15

Como f (a0) ≤ b < f(a0+1), então pode-se supor que nessa sequência há dois elementos

consecutivos 𝛼1 e 𝛼1 + 1

10 tais que f (𝛼1) ≤ b < f (𝛼1 +

1

10). Logo, existe 𝛼1 ∈ 𝑍 tal que 0 ≤

𝑎1 ≤ 9 e pondo 𝛼1 = 𝑎0, 𝑎1= 𝑎0 +𝑎1

10 segue que, f (𝛼1) ≤ b < f (𝛼1 +

1

10).

Agora, considere os números 𝛼1, 𝛼1 +1

102 , 𝛼1 +2

102 , ... , 𝛼1 + 9

102 , 𝛼1 +1

10.

Existe 𝑎2 ∈ 𝑍, 0 ≤ 𝑎2 ≤ 9, tal que se 𝛼1 = 𝑎0, 𝑎1𝑎2 = 𝑎0 + 𝑎1

10 +

𝑎2

102 , segue que f (α2) ≤ b ≤ f

(α2 + 1

102 ).

Analogamente encontra-se que:

𝛼 = 𝑎0, 𝑎1𝑎2 ... 𝑎𝑛... = 𝑎0 + 𝑎1

10+

𝑎2

102 +... +

𝑎𝑛

10𝑛 + ...

Assim, pondo 𝛼𝑛= 𝑎0, 𝑎1𝑎2...𝑎𝑛, tem-se f (𝛼𝑛)≤ 𝑏 < 𝑓 (𝛼𝑛 + 1

10𝑛), tem-se que f (𝛼) =

b, pois caso f (𝛼) < b, logo ∃ x > 0 tal que f (𝛼) < f (x) < b. Mas f é uma função crescente, logo

𝛼 < x. Tomando n grande suficiente para que x −𝛼 >1

10𝑛 , então x > 𝛼 +1

10𝑛 .

Assim, 𝛼𝑛 +1

10𝑛 ≤ 𝛼 +1

10𝑛 < 𝑥 e como f é crescente, resulta que b < f(𝛼𝑛 + 1

10𝑛) ≤ f

(𝛼𝑛 + 1

10𝑛) < f(x), o que é um absurdo, pois f (x) < b.

Se f(x) > b, logo ∃ x > 0 tal que b < f (x) < f (𝛼). Como f é crescente, logo x < 𝛼, então x < 𝛼𝑛

para algum n ∈ N. Assim, f (x) < f (𝛼𝑛) ≤ b, ou seja, f (x) < b o que contaria b < f(x). Portanto,

f (𝛼) = b.

Corolário. Toda função logarítmica f: R+ → R é uma correspondência biunívoca (bijeção)

entre 𝑅+e R.

Prova

Uma bijeção é uma função que é injetiva e sobrejetiva. A função logarítmica é injetiva

pela Propriedade A (o fato de ser crescente implica na injetividade) e o Teorema 1 nos diz que

é sobrejetiva. Portanto, a função logarítmica é uma bijeção, o que significa dizer que possui

uma inversa.

Qualquer função f dá origem à uma tábua de valores, onde numa coluna à esquerda

põem-se os valores da variável x, pertencentes ao domínio, e noutra coluna, à direita, os valores

corresponde de f(x), pertencentes ao contra domínio, veja a seguir.

x f(x)

𝑥1 f (𝑥1)

𝑥2 f (𝑥2)

... ...

Para uma função qualquer pode ocorrer que diferentes valores de x corresponda o

mesmo valor f(x). O corolário acima mostra que toda tábua de logaritmos, isto é, tábua de

Page 17: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

16

valores de uma função logarítmica, pode ser lida da esquerda para direita, o que é normal, como

da direita para esquerda.

Dado um número real qualquer y, podemos buscar na tábua o número real positivo x do

qual y é o logaritmo. Como vimos acima, esta possibilidade é fundamental para o uso dos

logaritmos no cálculo aritmético. A tabela dos logaritmos, lida da direita para esquerda, é na

realidade a tábua dos valores da função inversa da função logarítmica, que chamaremos função

exponencial.

A função exponencial g, inversa da função logarítmica f, é definida por:

g: R → 𝑅+,

satisfazendo as propriedades seguintes:

a) g(x + y) = g (x) ∙ g (y), para todo x, y ∈ R.

b) As funções f e g satisfazem:

(g ∘ f) (x) = x, para todo x ∈ 𝑅+

(f ∘ g) (y) = y, para todo x ∈ 𝑅+,

onde (g ∘ f) significa a composição de funções.

Como consequência do fato de que uma função logarítmica é injetiva e sobre, segue

que, dada uma função logarítmica qualquer

f: R+ → R,

existe um único número real positivo a para o qual f(a) = 1. Este número é chamado a base do

logaritmo f.

Para explicitar a base, muitas vezes se escreve 𝑓𝑎(𝑥) em vez de f (x).

Observação:

Se 𝑓𝑎 e 𝑓𝑏 são funções logarítmicas, com 𝑓𝑎=𝑓𝑏=1 (ou seja, de bases a e b

respectivamente), então assegura a existência de uma constante positiva c tal que 𝑓𝑏(x) = c ∙ 𝑓𝑎(x) para todo x ∈ 𝑅+. Agora, fazendo x = a, resulta 𝑓𝑏(a) = c. Portanto, temos:

𝑓𝑏(x) = 𝑓𝑏(a) ∙ 𝑓𝑎(x), para todo x ∈ 𝑅+.

Esta é a fórmula de mudança de base de logaritmos. Na notação usada nos livros do

Ensino Médio, a fórmula de mudança de base de logaritmo é:

log𝑏 𝑥 = log𝑏 𝑎 ∙ log𝑎 𝑥 ou log𝑎 𝑥 = log𝑏 𝑥

log𝑏 𝑎

3.3 - Gráfico da Função Logarítmica

Reconhecer o gráfico da função logarítmica é de fundamental importância no trato com

as grandezas físicas cuja medida é feita com o uso de logaritmos, como por exemplo a

intensidade de som, a força de um terremoto, entre outras. Com relação ao gráfico cartesiano

da função logarítmica f(x) = log𝑎 𝑥, podemos dizer que:

1º) a função logarítmica é estritamente crescente se a > 1 e se 0 < a < 1, é estritamente

decrescente;

2º) o gráfico da função f (x) = log𝑎 𝑥 não toca o eixo y e não ocupa pontos nos quadrantes II e

III;

Page 18: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

17

3º) o gráfico da função logarítmica passa pelo ponto (1,0), isto é, f(1) = log𝑎 1 = 0;

4º) a função logarítmica é ilimitada, superior e inferiormente;

5º) a função logarítmica é injetiva e sobrejetiva, logo ela é bijetiva;

6º) na função logarítmica f(x) = log𝑎 𝑥(a > 0 e a ≠ 1), o eixo das ordenadas é uma assíntota

vertical do gráfico.

Figura 1: Gráfico das funções f(x) = log𝑎 𝑥 (a >1) e f(x) = log𝑎 𝑥 (0 < a < 1), obtido a partir do

programa GeoGebra.

3.4 - Logaritmos decimais

A fim de efetuar operações aritméticas, (antes do advento das calculadoras) o sistema

de logaritmos mais frequentemente utilizado era o de base 10, isto é, logaritmos decimais. A

vantagem de empregá-los resultava de adotarmos o sistema decimal de numeração.

A característica de log10 𝑥 é um número inteiro (positivo, negativo ou zero), o qual pode

ser encontrado pela posição da vírgula no desenvolvimento de x como fração decimal. Por

exemplo:

log10 145,3 = log10 1,453 + 2.

log10 0,001453 = log10 1,453 − 5.

Exemplo 1. Sabendo que log10 7 = 0,84510, calcule: log10 70, log10 700, log10 0,7.

Solução

Usando as propriedades da função logarítmica, temos:

log10 70 = log10(7 ∙ 10) = log10 7 + log10 10 = 0,84510 + 1 = 1,84510.

log10 700 = log10(7 ∙ 100) = log10 7 + log10 102 = 0,84510 + 2 = 2, 84510.

log10 0,7 = log107

10 = log10 7 − log10 10 = 0,84510 − 1 = −0,15490.

Page 19: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

18

Exemplo 2. Sem usar calculadora, calcule log10 3.

Solução

Procuramos potências de 3 mais próximas de uma potência de 10. Assim, temos que:

10.000.000.000 = 1010 < 321 = 10.460.353.203 < 1011 = 10.000.000.000 ⇒

⇒ log10 109 < log10 321 < log10 1011 ⟺

9 ∙ log10 10 < 21log10 3 < 11 ∙ log10 10 ⟺ 9 < 21 ∙ log10 3 < 11 ⟺9

21 < log10 3 <

11

21

Portanto, log10 3 ≈9

21+

11

21

2 ≈ 0,47619047

3.5 - Logaritmos naturais

A concepção geométrica de uma função logarítmica é uma ideia que vem do século

XVII. O primeiro a percebê-la foi o padre jesuíta Gregory Saint Vicent, em 1647, e depois Isaac

Newton, em 1660. Os dois reconheceram a relação que existe entre a área de uma faixa do

gráfico de hipérbole com a definição geométrica dos logaritmos.

Seja H o ramo positivo do gráfico de uma hipérbole representada pela função y = 1

𝑥 (veja

a figura 2). H é um subconjunto do plano constituído pelos pontos da forma (𝑥,1

𝑥) e pode ser

escrito por:

H = {(𝑥, 𝑦): 𝑥 > 0, 𝑦 = 1

𝑥}

Geometricamente, tem-se na Figura 2, que H é o conjunto de pontos reais (x, y), com

x > 0 𝑒 𝑥 ∙ 𝑦 = 1.

Figura 2: H representa o conjunto de pontos y =

1

𝑥.

Assim, obtém-se uma faixa de hipérbole fixando dois números reais e positivos, a e b,

com a < b como mostra a Figura 3. Tomando a região limitado pelas retas x = a, x = b, e pela

hipérbole H, tem a região, que será chamada 𝐻𝑎𝑏, onde

𝐻𝑎𝑏 = {(𝑥, 𝑦); 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏 𝑒 0 ≤ 𝑦 ≤

1

𝑥}

Page 20: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

19

Figura 3: A região hachurada é a faixa de hipérbole 𝐻𝑎

𝑏.

Do cálculo integral, tem-se que a área de uma figura delimitada por uma função f, pelo

eixo 0𝑥 e pelas retas x = a e x = b é a integral definida de f no intervalo [a, b].

A partir da definição de integral, define-se o logaritmo natural de um número real

positivo x como sendo a área da faixa 𝐻1𝑥, ou seja, ln 𝑥 = área de 𝐻1

𝑥.

Então, para x > 1

Área 𝐻1𝑥 = ∫

1

𝑥

𝑥

1 dx ,

Ou seja,

ln 𝑥 = log𝑒 𝑥 = ∫1

𝑥

𝑥

1 . (Ver figura)

Figura 4: Área da faixa do ramo H positivo da hipérbole.

Na notação para indicar o logaritmo natural de x, e é um número irracional,

denominado número de Euler, em homenagem ao grande matemático suíço Leonhard Euler

(1707 - 1783). O número e pode ser calculado por:

e = lim𝑛 →∞

(1 + (1

𝑛))

𝑛

= 1 + 1

1! +

1

2! +

1

3! + ...

e ≈ 2,718281828459

Page 21: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

20

Para 0 < x < 1, a área da faixa 𝐻1𝑥 será o logaritmo natural de x com o sinal menos a

frente

Área 𝐻1𝑥 = ∫

1

𝑥

𝑥

1 dx = − log𝑒(𝑥) = − ln 𝑥. (Ver figura)

Figura 5: Área da faixa do ramo H positivo da hipérbole

Em particular; quando x = 1, 𝐻11 se reduz a um segmento de reta, portanto tem área

igual a zero. Pode-se escrever:

ln(1) = 0;

ln(𝑥) > 0 se x > 1;

ln(𝑥) < 0 se 0 < x < 1.

O número e, base dos logaritmos naturais, pode ser caracterizado pelo fato de seu

logaritmo natural ser igual a 1, ou seja, a área 𝐻1𝑒 = 1. Escreve-se:

Área H1e = ∫

1

x

e

1 dx = ln(x)1

e = ln(e) − ln (1) = 1

Observação: Pela definição do logaritmo, ln(e) = 1. (Ver figura).

Figura 6: Área do logaritmo natural

Page 22: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

21

4. FUNÇÃO EXPONENCIAL

A partir da definição de função logarítmica é possível se definir uma função que é

inversa da função logarítmica, ou seja,

f(x) = y = 𝑙𝑜𝑔𝑎𝑥 ⟺ 𝑎𝑦 = 𝑥.

Seja a número real positivo diferente de 1. A função f: R ⟶ 𝑅+ com f(x) = 𝑎𝑥, é dita

função exponencial de base a. Para quaisquer x, y ∈ 𝑅, a função exponencial possui as seguintes

propriedades:

4.1 - Propriedades

(1) f(x + y) = f(x) ∙ f(y)

Demonstração:

f(x + y) = 𝑎𝑥+𝑦= 𝑎𝑥 ∙ 𝑎𝑦 = f(x) ∙ f(y)

Pela propriedade 1 percebe-se que f não pode assumir o valor zero (0), a menos que seja

identicamente nula.

Por absurdo, se existisse algum 𝑥0 ∈ R tal que f(𝑥0) = 0, então, para todo x ∈ R, f(x) =

f(𝑥0+(x−𝑥0)) = f(𝑥0) ∙ f(x−𝑥0) = 0 ∙ f(x−𝑥0) = 0, logo f seria identicamente nula. Então, se f

não é uma função nula, não existe algum 𝑥0 ∈ R tal que f(𝑥0) = 0.

Mas ainda, a função f é sempre positiva, f(x) > 0, para todo x ∈ R, pois,

f(x) = f (𝑥

2+

𝑥

2) = f (

𝑥

2) ∙ f (

𝑥

2) = f (

𝑥

2)

2

> 0

(2) f(1) = a

Demonstração: Como 𝑎1 = a; f(1) = a.

(3) x < y ⟺ 𝑎𝑥 < 𝑎𝑦, quando a > 1 e

x < y ⟺ 𝑎𝑥 > 𝑎𝑦, quando 0 < a < 1.

Demonstração: A propriedade diz que a função exponencial é crescente para a > 1 e

decrescente quando 0 < a < 1.

Daí resultará que existe uma única maneira de definir o valor de f(x) = 𝑎𝑥 quando x é irracional.

Supondo que a > 1, então 𝑎𝑥 tem a seguinte propriedade,

r < x < s com r, s ∈ 𝑄 ⇒ 𝑎𝑟 < 𝑎𝑥 < 𝑎𝑠.

Não podem existir dois números reais diferentes, digamos A < B, para assumir o valor de

𝑎𝑥 com a propriedade acima. Se existissem A e B, teríamos r < x < s,r,s ∈ Q, então, 𝑎𝑟< A < B

< 𝑎𝑠 e então o intervalo [A,B] não conteria nenhuma potência de a com expoente racional, o

que é um absurdo.

Portanto, quando x é irracional, 𝑎𝑥 é o único número real cujas aproximações por falta são as

potências 𝑎𝑟 , r < x e cujas aproximações por excesso são as potências 𝑎𝑠, x < s.

(4) A função f: R → R+, definida por f(x) = 𝑎𝑥 é ilimitada superiormente.

Demonstração: Se a > 1, então 𝑎𝑥 cresce, indefinidamente quando x > 0, ou seja, lim𝑥⟶∞

𝑎𝑥 =

+∞. E se 0 < a < 1, 𝑎𝑥 torna-se arbitrariamente grande quando x < 0, ou seja,

lim𝑥⟶∞

𝑎𝑥 = +∞.

Page 23: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

22

(5) A função exponencial é contínua.

Demonstração: Isto significa que, dado 𝑥0 ∈ R, é possível tornar a diferença |𝑎𝑥 − 𝑎𝑥0| tão

pequena quanto se deseja, desde que x seja tomado suficientemente próximo de 𝑥0, ou seja,

lim𝑥⟶𝑥0

𝑎𝑥 = 𝑎𝑥0.

Mostremos primeiro que é possível tornar 𝑎ℎ tão próximo de 1 quanto desejamos, desde que

|ℎ|seja escolhido suficientemente pequeno.

Suponhamos a > 1 e h > 0. Dado arbitrariamente ε > 0, queremos mostrar que, tomando h

pequeno, teremos 𝑎ℎ < 1 + 𝜀. Se tomamos n ∈ 𝑁 tal que n > 𝑎−1

𝜀, teremos n𝜀 > a−1, logo, a <

1+ n𝜀.

Pela desigualdade de Bernoulli, (1+𝜀)𝑛 > 1+ n𝜀, então a < (1+ 𝜀)𝑛 e 𝑎1

𝑛 n < 1+𝜀.

Em resumo: dado 𝜀 > 0, existe n ∈ N tal que 1< 𝑎1

𝑛 < 1 + 𝜀. Se tomarmos h tal que 0 < h < 1

𝑛, teremos 1 < 𝑎ℎ

< 𝑎1

𝑛 < 1+ 𝜀. Assim faremos 𝑎ℎ tão próximo de 1 quanto desejamos.

Agora fixado 𝑥0 ∈ R e h = x−𝑥0, teremos 𝑎𝑥 − 𝑥0= 𝑎𝑥0+ℎ − 𝑎𝑥0= 𝑎𝑥0(𝑎ℎ − 1).

Se x se aproximar de 𝑥0, h tende a zero, 𝑎ℎ tende a 1 e 𝑎ℎ −1 tende a zero. Então

lim𝑥⟶𝑥0

(𝑎𝑥 − 𝑎𝑥0) = 0, ou seja, lim𝑥⟶𝑥0

𝑎𝑥 = 𝑎𝑥0, o que caracteriza a continuidade da função

exponencial.

(6) A função exponencial f: R → R+ , f(x) = 𝑎𝑥, a ≠1, é sobrejetiva.

Demonstração: Isto significa dizer que para todo número real b > 0 existe algum x ∈ R tal que

𝑎𝑥= b. Supondo a > 1, n ∈ N, escolheremos uma potência 𝑎𝑟𝑛, com 𝑟𝑛 ∈ Q, no intervalo

(𝑏 − 1

𝑛, 𝑏 +

1

𝑛) de modo que |𝑏 − 𝑎𝑟𝑛| <

1

𝑛, portanto lim

𝑥⟶𝑥0

𝑎𝑟𝑛 = b.

Escolhemos as potências 𝑎𝑟𝑛 sucessivamente, tais que

𝑎𝑟1 < 𝑎𝑟2< ...< 𝑎𝑟𝑛< ...b

Certamente, podemos fixar s ∈ Q, tal que b < 𝑎𝑠. Então a monotonicidade da função 𝑎𝑥 nos

assegura que

𝑟1< 𝑟2< ... 𝑟𝑛< ... < s.

Assim (𝑟𝑛) é uma sequência crescente, limitada superiormente por s. Logo, os 𝑟𝑛 são valores

aproximados por falta de um número real x, tal que lim𝑥⟶𝑥0

𝑟𝑛= x. A função exponencial sendo

contínua, 𝑎𝑥= lim𝑥⟶𝑥0

𝑎𝑟𝑛 = b, como queríamos demonstrar.

Conclui-se que para todo número real positivo a, diferente de 1, a função exponencial f:

R ⟶ 𝑅+ dada por f(x) = 𝑎𝑥 é uma correspondência biunívoca entre R e 𝑅+, crescente se a > 1

e decrescente se 0 < a < 1, com a propriedade de transformar somas em produtos, f(x + y) =

f(x) ∙ f(y).

Sua representação gráfica se encontra na Figura 7.

Page 24: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

23

Figura 7: Gráfico das funções f(x) = 𝑎𝑥 (a > 0) e f(x) = 𝑎𝑥 (0 < a < 1), obtido a partir do

programa GeoGebra.

A sua injetividade decorre da sua monotonicidade. Se a > 1, por exemplo, então x > y

⟹ 𝑎𝑥 > 𝑎𝑦 e x < y ⟹ 𝑎𝑥 < 𝑎𝑦, portanto x ≠ 𝑦 ⟹ 𝑎𝑥 ≠ 𝑎𝑦.

Observa-se da definição das funções logarítmicas f(x) = log𝑎 𝑥 e exponencial g(x) = 𝑎𝑥

e devido a bijetividade de ambas, que são funções inversas, pois, o domínio R+ da função

logarítmica é o conjunto imagem da exponencial e o domínio R da exponencial é o conjunto

imagem da logarítmica.

Graficamente, pode-se observar que os gráficos são simétricos em relação a reta

bissetriz dos quadrantes ímpares. A seguir, o gráfico da função exponencial, da função

logaritmo e da diagonal do plano, a reta y = x.

Os gráficos estão representados abaixo, nos dois casos: ver figuras 8 e 9.

Figura 8: Gráfico das funções f(x) = 𝑎𝑥 (a >1), y = x e f(x) = log𝑎 𝑥 (a >1), obtido a partir do

programa GeoGebra.

Page 25: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

24

Figura 9: Gráfico das funções g(x) = 𝑎𝑥(0 < a < 1), y = x e f(x) = log𝑎 𝑥 (0 < a < 1), obtido a

partir do programa GeoGebra.

Isto significa dizer que: Em outras palavras, o ponto (x, y) está no gráfico de 𝑎𝑥 se, e somente se, o ponto (y, x) pertence

ao gráfico da função logaritmo. Que significa isto, geometricamente?

A diagonal do plano é a reta formada pelos pontos (x, x) que têm abscissa igual à ordenada.

Dado um ponto qualquer (x, y) no plano, o ponto (y, x) é o simétrico em relação à diagonal, ou

seja, é o lugar onde o ponto (x, y) vai cair quando se dobra o plano em torno da diagonal. Para

convencer-se disto, basta notar que os pontos (x, x), (x, y), (y, y) e (y, x) são os vértices de um

quadrado. A reta y = x é a mediatriz do segmento cujos extremos são (x, x) e (y, x) porque as

diagonais de um quadrado são perpendiculares e se cortam mutuamente ao meio.

Portanto, os pontos do gráfico da função exponencial são simétrico dos pontos do gráfico da

função logaritmo, em relação à diagonal.

Page 26: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

25

5. EXEMPLOS BÁSICOS A seguir será mostrado muitos problemas que favorecem a aplicação das propriedades básicas

dos logaritmos.

Exemplo 1. Calcule log√2 32.

Solução:

Temos que,

log√2 32 = log2

12

25 = log2

12

(21

2)10

= 10 ∙ log2

12

(21

2) = 10 ∙ 1 = 10

Exemplo 2. Calcule log2 8 − log1

2

8

Solução:

Temos que,

log2 8 − log1

2

8 = log2 23 − log1

2

23 = 3 ∙ log2 2 − log1

2

(2−1)−3 = 3 − (−3) = 6

Exemplo 3. Calcule o valor da expressão S = log2 √25

+ log2 8 + log21

4.

Solução:

Temos que,

S = log2 √25

+ log2 8 + log21

4 = log2 2

1

5 + log2 23 + log2 2−2 =

= 1

5 ∙ log2 2 + 3 ∙ log2 2 − 2 ∙ log2 2 =

1

5+ 3 − 2 =

6

5.

Exemplo 4. Calcule log15(11.390.625).

Solução:

Basta observar que o número 11.390.625 = 156. Agora, usando as propriedades básicas dos

logaritmos, temos:

log15(11.390.625) = log15(156) = 6 ∙ log15 15 = 6.

Exemplo 5. Calcule o valor da expressão E = log𝑎 𝑎 ∙ √𝑎5

+ log1

𝑎

√𝑎3

√𝑎.

Solução:

E = log𝑎 𝑎 ∙ √𝑎5

+ log1

𝑎

√𝑎3

√𝑎 = log𝑎 𝑎 ∙ 𝑎

1

5 + log1

𝑎

𝑎13

𝑎12

= log𝑎 𝑎6

5 + log1

𝑎

(1

𝑎)

1

6 =

6

5 +

1

6 =

41

30.

Exemplo 6. Resolva o sistema de equações:

{ 𝑥 + 𝑦 = 70log10 𝑥 + log10 𝑦 = 3

Solução:

A segunda equação pode ser escrita como:

log10 𝑥. 𝑦 = 3 = log10 103 ⟹ x ∙ 𝑦 = 103 ⟹ y = 𝑥

103 .

Substituindo o valor de y na primeira equação, obtemos:

Page 27: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

26

x + (103

𝑥) = 70 ⟺ 𝑥2+ 1000 = 70x ⟺ 𝑥2 −70x + 1000 = 0 ⟹ x = 20 ou x = 50.

Se x = 20 ⟹ y = 70−20 = 50. Se x = 50 ⟹ y = 70−50 = 20.

Exemplo 7. Prove que: 1

log2 𝑀+

1

log3 𝑀+

1

log4 𝑀+

1

log5 𝑀 + ... +

1

log100 𝑀 =

1

log100! 𝑀 ,

onde 100! = 1 ∙ 2 ∙∙∙ 3 ∙ 4 ∙∙∙100.

Solução:

Observe que, pela fórmula de mudança de base, temos:

log𝑎 𝑏 = log𝑏 𝑏

log𝑏 𝑎 =

1

log𝑏 𝑎.

Agora, aplicando o resultado acima para cada parcela da expressão dada, fazendo a = M, b ∈

{2, 3, 4, ... , 100}, obtemos:

log𝑀 2 + log𝑀 3 + log𝑀 4 + log𝑀 5 +... + log𝑀 100 = log𝑀(2 ∙ 3 ∙ 4 ∙ 5 ∙∙∙ 100) =

= log𝑀(100!) = log100! 100!

log100! 𝑀 =

1

log100! 𝑀

Exemplo 8. Mostre que log10 30 < 3

2.

Solução:

Observe que log10 10 = 1 e que

log10 1000 = log10(10 ∙ 10 ∙ 10) = log10 10 + log10 10 + log10 10 = 1 + 1 + 1 = 3.

Por outro lado, como 900 < 1000 e a função log10 𝑥 é uma função crescente, temos que:

log10 900 < log10 1000 ⟺ log10(30 ∙ 30) < log10 103 ⟺

log10 30 + log10 30 < 3log10 10 ⟺ 2 ∙ log10 30 < 3 ⟺ log10 30 < 3

2.

Exemplo 9. Mostre que log10 2 é um número irracional.

Solução:

Suponha o contrário, isto é, que log10 2 seja um número racional. Neste caso, existem dois

números inteiros m, n com n ≠ 0, tais que log10 2 = 𝑚

𝑛 . Sem perda de generalidade, podemos

supor que m e n não possuam fator em comum, além de ±1.

Assim,

10𝑚

𝑛 = 2 ⟹ (10𝑚

𝑛 )𝑛

= 2𝑛 ⟺ 10𝑚 = 10𝑛 ⟺

2𝑚 ∙ 5𝑚 = 2𝑛 ⟺ 5𝑚 = 2𝑛−𝑚,

que é uma contradição, pois:

i) Se n > m, segue que o número do lado direito é par e o do lado esquerdo é ímpar.

ii) se n < m, segue que o lado esquerdo da igualdade é um número inteiro, enquanto o número

do lado direito não é.

Page 28: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

27

Exemplo 10. Se log5(log3 (log2 𝑥)) = 0, encontre o valor de x.

Solução:

Usando o fato de que a função logarítmica é injetiva, podemos concluir que:

log5(log3 (log2 𝑥)) = 0 ⟺ log5(log3 (log2 𝑥)) = log5 1 ⟹ log3(log2 𝑥) = 1 ⟺

⟺ log3(log2 𝑥) = log3 3 ⟹ log2 𝑥 = 3 ⟺ log2 𝑥 = log2 23 ⟹ x = 8.

Exemplo 11. Encontre o maior subconjunto dos números reais positivos para o qual a função

log1

2

(log2 (log1

2

𝑥)) está definida.

Solução:

Como a função logarítmica está definida somente nos números reais positivos, temos que:

(i) x > 0; (ii) log1

2

𝑥 > 0 ; (iii) log2 (log1

2

𝑥) > 0.

A condição (ii) pode ser reescrita como:

log1

2

𝑥 > 0 ⟺ log2 𝑥

log21

2

> 0 ⟺ log2 𝑥

log2 2−1 > 0 ⟺

⟺ log2 𝑥

−1 > log2 2 ⟺ log2 𝑥 < − log2 2 ⟺ log2 𝑥 < log2 2−1 ⟹ 0 < x <

1

2.

A condição (iii) pode ser rescrita como:

log2 (log1

2

𝑥) > 0 ⟺ log2 (log1

2

𝑥) > log2 1 ⟹ log1

2

𝑥 > 1 ⟺ 0 < x < 1

2.

Portanto, as três condições são satisfeitas se, e somente se, 0 < x < 1

2.

Page 29: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

28

6. APLICAÇÕES

Daremos uma breve amostra de como a função 𝑒𝑥 e os logaritmos naturais surgem

espontaneamente em certas questões onde o aumento ou a diminuição de uma grandeza de faz

proporcionalmente ao valor da grandeza num dado instante.

6.1 - Juros contínuos (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática. SBM. 2ª edição,

Rio de Janeiro, 1996, pág. 93)

Um capital e, empregado a uma taxa de k por cento ao ano, rende, no fim do ano, juros

no valor de kc/100. Ponhamos 𝛼 = 𝑘/100. Então, c renderá, no final de um ano, juros no valor

de 𝛼𝑐. Decorrido um ano, o capital torna-se a c + 𝛼𝑐, ou seja, c (1 + 𝛼). Passados dois anos, o

novo capital 𝑐1 = c (1 + 𝛼), empregado à mesma taxa, tornar-se-á igual a 𝑐1 = c (1 + 𝛼) = c (1

+ 𝛼)2. Em m anos, teremos c (1 + 𝛼)𝑚.

Se tomarmos uma fração 1/n de ano, o capital e, empregado à mesma taxa de juros,

deverá render 𝛼𝑐/𝑛 de juros, de modo que, decorrida a fração 1/n de ano, o capital c transforma-

se em

𝑐1 = 𝑐 +𝛼𝑐

𝑛= 𝑐 (1 +

𝛼

𝑛).

Empregando este novo capital 𝑐1 e esperando mais 1/n de ano, obtemos 𝑐1(1 + 𝛼/𝑛)

ou seja, c(1+ 𝛼/𝑛)2. Prosseguindo assim, vemos que, se dividimos o ano em n partes iguais e,

depois de decorrido cada um desses períodos de 1/n de ano, capitalizamos os juros rendidos,

reinvestindo sucessivamente à mesma taxa, quando chegar o fim do ano, em vez de c (1 + 𝛼),

obteremos um capital maior, ou seja, possuiremos

c (1+ 𝛼

𝑛)𝑛.

Um investidor exigente desejará que seus juros sejam capitalizados (isto é, juntados ao

capital) a cada instante. Se isto ocorrer, no fim do ano ele receberá em troca do investimento c,

o total de

lim𝑛→∞

𝑐(1 +𝛼

𝑛)𝑛 = c ∙ 𝑒𝛼.

Este tipo de transação, em que os juros são capitalizados continuamente, é o que se

chama de juros contínuos.

Assim, por exemplo, o capital de Cr$ 1,00 empregado a juros contínuos de 100% ao

ano, no final de um ano será transformado em e cruzeiros. Este fato pode ser usado para explicar

a um agiota o significado do número e. Se a taxa de juros é referida a anos (k% ao ano, 𝛼 =𝑘/100), então um capital c empregado a essa taxa será transformado, depois de t anos, em:

lim𝑛→∞

𝑐(1 +𝛼𝑡

𝑛)𝑛 = c ∙ 𝑒𝛼𝑡

Exemplo de aplicação (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática. SBM. 2ª edição,

Rio de Janeiro, 1996, pág. 94)

Empregando-se um capital c a juros contínuos de 20% ao ano, em quanto tempo este

capital será dobrado?

Page 30: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

29

Solução

Aqui, 𝛼 =20

100= 0,2. Devemos achar o número t de anos de modo que,

c ∙ 𝑒0,2 𝑡 = 2c, ou seja, 𝑒0,2 𝑡 = 2.

Segue-se que 0,2 t = ln 2, donde

t = ln 2

0,2 =

0,693

0,2 = 3,46.

Assim o tempo necessário para dobrar o capital é de 3,46 anos, ou seja,

aproximadamente 3 anos e meio. Note-se que este tempo não depende do capital inicial. Fixada

a taxa de juros, leva-se o mesmo tempo para dobrar um capital grande ou um capital pequeno.

6.2 - Desintegração radioativa (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática.

SBM. 2ª edição, Rio de Janeiro, 1996, pág. 95 e 96) Os átomos de uma substância radioativa (como o rádio ou o urânio) possuem uma

tendência natural a se desintegrarem, emitindo partículas e transformando-se em outra

substância não-radioativa. Assim sendo, com o passar do tempo, a quantidade de substância

original diminui (aumentando, consequentemente, a massa da nova sustância transformada).

Isto é feito de tal maneira que, num determinado instante, a quantidade de matéria que se

desintegra de um corpo radioativo é proporcional à massa da substância original presente no

corpo naquele instante. A constante de proporcionalidade 𝛼 é determinada experimentalmente.

Cada substância radioativa tem sua constante de desintegração 𝛼.

Consideremos um corpo de massa 𝑀0, formado por uma substância radioativa cuja taxa

de desintegração é 𝛼. Se a desintegração se processasse instantaneamente, no fim de cada

segundo, sendo 𝑀0 a massa no tempo t = 0, decorrido o tempo t = 1 segundo, haveria uma perda

de 𝛼𝑀0 unidades de massa, restando apenas a massa

𝑀1 = 𝑀0 − 𝛼𝑀0 = 𝑀0(1 − 𝛼).

Decorridos 2 segundos, a massa restante seria

𝑀2 = 𝑀1(1− 𝛼) = 𝑀0(1 − 𝛼)2.

Em geral, passados s segundos, restaria a massa 𝑀𝑠 = 𝑀0(1 − 𝛼)𝑠.

Mas as coisas não se passam assim: a desintegração se processa continuamente.

Procurando uma aproximação melhor para o fenômeno, fixemos um inteiro n > 0 e imaginemos

que a desintegração se dá em cada intervalo de 1/n de segundo. Depois da primeira fração 1/n

de segundo a massa do corpo a reduziria a

𝑀0 − (𝛼

𝑛) 𝑀0 = 𝑀0 (1 −

𝛼

𝑛).

Decorrido 1 segundo, teriam ocorrido n desintegrações instantâneas e, efetuadas as n

reduções, restaria do corpo a massa 𝑀0(1 − 𝛼/𝑛)𝑛. Dividindo o intervalo [0,1] em um número

n cada vez maior de partes iguais, chegaremos à conclusão de que, ao final de 1 segundo, a massa do

corpo ficará reduzida a

lim𝑛 →∞

𝑀0 (1 −𝛼

𝑛)

𝑛= 𝑀0 ∙ 𝑒−𝛼.

Page 31: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

30

Se quisermos calcular a massa ao fim de t segundos, deveremos dividir o intervalo [0,t]

em n partes iguais. Em cada intervalo parcial a perda de massa será 𝑀0 ∙ 𝛼𝑡/𝑛. Repetindo o

argumento acima chegaremos à expressão

M(t) = 𝑀0 ∙ 𝑒−𝛼𝑡

que fornece a massa do corpo depois de decorridos t segundos.

É claro que, em vez de segundos, poderíamos ter adotado outra unidades de tempo.

Mudando a unidade de tempo, a constante 𝛼 deve ser alterada proporcionalmente.

Na prática, a constante 𝛼 fica determinada a partir de um número básico, chamado a

meia-vida da substância. A meia-vida de uma substância radioativa é o tempo necessário para

que se desintegre a metade da massa de um corpo formado por aquela substância.

Exemplo de aplicação (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática. SBM. 2ª edição,

Rio de Janeiro, 1996, pág. 97)

O polônio 218 tem meia-vida igual a 2 minutos e 45 segundos, enquanto o polônio 214

tem meia-vida de 1,64× 10−4 segundos. Os isótopos do rádio têm meia-vida conforme

indicamos abaixo:

rádio 226: meia-vida 1.620 anos

rádio 228: meia-vida 6,7 anos

rádio 223: meia-vida 11,68 dias

rádio 224: meia-vida 3,64 dias.

Os diversos isótopos do urânio têm uma meia-vida da ordem de 109anos. Se sabemos

que um certo elemento radioativo tem meia-vida igual a 𝑡0 unidades de tempo, isto significa

que uma unidade de massa desse elemento se reduz à metade no tempo 𝑡0. Assim,

1

2 = 𝑒−𝛼𝑡0 .

Tomando logaritmos, temos:

ln (1

2) = −𝛼𝑡0,

ou seja,

−ln 2 = −𝛼𝑡0,

donde

𝛼 = 𝑙𝑛2

𝑡0 .

Isto nos mostra como calcular a taxa de desintegração 𝛼 quando se conhece a meia-

vida 𝑡0. Reciprocamente, tem-se 𝑡0 = ln 2/𝛼, o que permite determinar a meia-vida 𝑡0 em

função da taxa 𝛼.

Page 32: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

31

6.3 - O método do carbono 14 (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática.

SBM. 2ª edição, Rio de Janeiro, 1996, pág. 97 e 98)

O carbono 14, indicado por 𝐶14, é um isótopo radioativo do carbono, formado na

atmosfera devido ao bombardeio da terra por raios cósmicos. Através dos tempos, a quantidade

de 𝐶14 na atmosfera tem-se mantido constante porque sua produção é compensada por sua

desintegração. Os seres vivos absorvem e perdem 𝐶14 de modo que, em cada espécie, a taxa de

𝐶14 também se mantém constante. (O carbono 14 é criado nos vegetais durante o processo da

fotossíntese e absorvido pelos animais através da ingestão, direta ou indireta, de vegetais.)

Quando o ser morre, a absorção cessa mas o 𝐶14 nele existente continua a desintegrar-se. Este

fato pode ser usado para determinar a idade de um fóssil ou de um objeto muito antigo feito de

madeira.

Para isto, precisamos saber que a meia-vida do 𝐶14 é de 5570 anos. Como vimos acima,

segue-se daí que a constante de desintegração do 𝐶14 é

𝛼 = ln 2

5570 =

0,6931

5570 = 0, 0001244.

Exemplo de aplicação (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática. SBM. 2ª edição,

Rio de Janeiro, 1996, pág. 98)

Vejamos como esse conhecimento foi usado para dirimir uma controvérsia. Num castelo

inglês existe uma velha mesa redonda de madeira que muitos afirmavam ser a famosa Távola

Redonda do Rei Artur, soberano que viveu no século V. Por meio de um contador Geiger

(instrumento que mede radioatividade) constatou-se que a massa M = M(t) de 𝐶14 hoje existente

na mesa é 0,894 vezes a massa 𝑀0 de 𝐶14 que existe num pedaço de madeira viva com o mesmo

peso da mesa. 𝑀0 é também a massa de 𝐶14 que existia na mesa quando ela foi feita, há t anos.

Sabemos que,

M = 𝑀0 ∙ 𝑒−𝛼𝑡,

Donde M/𝑀0 = 𝑒−𝛼𝑡. Isto significa que 0,894 = 𝑒−0,0001244𝑡. Daí tiramos:

t = ln(0,894)

0,0001244 =

0,1121

0,0001244 = 901 anos.

Se a mesa fosse mesmo a Távola Redonda, ela deveria ter mais de 1500 anos.

Page 33: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

32

6.4 - Resfriamento de um corpo (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática.

SBM. 2ª edição, Rio de Janeiro, 1996, pág. 98)

Uma situação análoga à da desintegração radioativa é a de um objeto aquecido, colocado

num meio mais frio (ar ou água, por exemplo) cuja grande massa faz com que a temperatura

desse meio permaneça constante, sem ser afetada pela presença do objeto mais quente. A lei do

resfriamento de Newton afirma que, nessas condições, a diferença de temperatura D, entre o

objeto e o meio que o contém, decresce com uma taxa de variação proporcional a essa própria

diferença.

Como no caso da desintegração radioativa, esta lei se traduz matematicamente assim:

chamando 𝐷0 a diferença de temperatura no instante t = 0 e D(t) a diferença num instante t

qualquer, tem-se D(t) = 𝐷0 ∙ 𝑒−𝛼𝑡 onde a constante 𝛼 depende do material de que é constituída

a superfície do objeto.

Exemplo de aplicação (LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática. SBM. 2ª edição,

Rio de Janeiro, 1996, pág. 99)

Num certo dia, a temperatura ambiente é de 30º. A água que fervia numa panela, cinco

minutos depois de apagado o fogo tem a temperatura de 65º. Quanto tempo depois de apagado

o fogo, a água atingirá a temperatura de 38º?

Solução

No momento em que se apagou o fogo (t = 0), a temperatura da água era de 100º e a do

ambiente 30º. Logo 𝐷0 = 100 − 30 = 70. Passados t minutos, a diferença da temperatura da

água para a do meio ambiente é dada por D(t) = 70 ∙ 𝑒−𝛼𝑡. Para determinar a constante 𝛼,

usamos a informação de que,

D(t) = 70 ∙ 𝑒−5𝛼 = 65− 30 = 35.

Portanto, 𝑒−5𝛼 = 35/70 = 1/2. Tomando logaritmos naturais, vem que:

−5𝛼 = ln(1

2 ) = −ln 2 , logo 𝛼 =

ln 2

5 =

0,693

5 = 0,1386.

Queremos saber o valor de t para o qual,

D(t) = 70 ∙ 𝑒−0,1386𝑡 = 38 − 30 = 8.

Novamente tomamos logaritmos para resolver a equação 70 ∙ 𝑒−0,1386𝑡 = 8, obtendo

−0,1386t = ln (8

70) = −ln (

70

8)

Donde,

t = 𝑙𝑛(

70

8)

0,1386 =

2,1691

0,1386 = 15,65 minutos

(Pouco mais do que 15 minutos e meio).

Page 34: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

33

7. CONCLUSÃO

O logaritmo é um conteúdo matemático que, embora tenha sido criado para efetuar

cálculos, há muito tempo ultrapassou esses limites, pois é ferramenta fundamental em várias

apelos gráficos e aplicações. Diversificar as áreas de aplicação pode ser um instrumento para

que os alunos percebam que o logaritmo não é apenas mais um objeto matemático, mas que

está mais presente em sua vida do que se pode imaginar. Foi assim com a criação das tábuas de

logaritmos, e consequentemente suas funções logarítmicas e exponenciais que propiciaram um

avanço extraordinário nos estudos sobre astronomia no século XVII e simplificou os cálculos

aritméticos nos três séculos seguintes.

Trabalhar com situações-problemas diversificadas é uma forma de chamar a atenção dos

alunos e assim compreenderam o conteúdo estudado. Tendo a atenção dos alunos, é preciso que

eles percebam que, é possível resolver os problemas propostos, lendo e analisando o enunciado,

identificando o objetivo da questão e as pistas implícitas e/ou explícitas inseridas na questão.

Com as técnicas de abordagens para as funções logarítmicas e exponenciais, foi possível

mostrar sua dimensão nas propriedades, nos gráficos e em vários exemplos que despertassem e

incentivassem a leitura dos estudantes no Ensino Médio.

Page 35: FUNÇÕES LOGARÍTMICAS E EXPONENCIAIS: UMA … · Esse destaque é porque a função logarítmica e sua inversa, a função exponencial, constituem uma única maneira de se descrever,

34

8. REFERÊNCIAS

BOYER, C. B.; MERZBACH, U. C. História da Matemática. São Paulo: Blucher, 2012.

FRAENKEL, Renato. Logaritmos: um curso alternativo. Revista do Professor de

Matemática. RPM 04. Disponível em: <http://www.rpm.org.br/cdrpm/4/5.htm>. Acesso em:

02/05/2016.

LIMA, Elon Lages. Sobre a evolução de algumas ideias matemáticas. Revista do Professor

de Matemática. RPM 06. Disponível em: <http://www.rpm.org.br/cdrpm/6/1.htm>. Acesso em:

02/05/2016.

LIMA, Elon Lages. Logaritmos. Coleção do Professor de Matemática, Sociedade Brasileira de

Matemática, 2ª edição, Rio de Janeiro, 1996.

LIMA, Elon Lages. et al. Temas e problemas. Rio de Janeiro: SBM, 2010.

LIMA, Elon Lages. A Matemática do Ensino Médio. Rio de Janeiro: SBM, 2012.

DANTE, Luiz Roberto. Matemática, volume único. 1 ed. São Paulo: Ática, 2005.