fumantes universitários

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    Artigo original

    Um estudo comparativo entrecaractersticas de personalidade deuniversitrios fumantes, ex-fumantes eno-fumantes

    Regina de Cssia Rondina*

    Ricardo Gorayeb**Clvis Botelho***Ageo Mrio Cndido da Silva****

    Recebido em 18/01/2005. Revisado em 18/01/2005. Aceito em 16/05/2005.

    Trabalho financiado pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado deMato Grosso (FAPEMAT) e baseado na tese de doutorado intitulada Arelao entre caracter st icas de personal idade e tabagismo emuniversitrios, apresentada Faculdade de Filosofia, Cincias e Letrasde Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (FFCLRP/USP), em16/06/2004.

    * Doutora em Psicologia pela Universidade de So Paulo (USP/RP);Mestre em Educao pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),Cuiab, MT; Psicloga pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),PR. Professora do curso de Psicologia, Faculdade de Cincias da Sade

    (FASU)/Associao Cultural e Educacional de Gara (ACEG), Gara, SP.** Ps-doutor pela Duke University, EUA. Doutor em Psicologia. Professorassociado de Psicologia Mdica, Departamento de Neurologia, Psiquiatriae Psicologia Mdica, USP/RP, SP.

    *** Doutor em Pneumologia pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).Professor de Clnica Mdica, Faculdade de Cincias Mdicas, UFMT,Cuiab, MT. Professor orientador do curso de Mestrado em SadeColetiva, UFMT, Cuiab, MT.

    **** Mestre em Sade e Ambiente pela UFMT, Cuiab, MT. Professorassistente, Universidade de Cuiab (UNIC), Cuiab, MT.

    dimenses predominantes de personalidadesupostamente relacionadas ao tabagismo:extroverso (E), neuroticismo (N) e psicoticismo(P). Alm disso, destacam-se pesquisas

    baseadas na teoria do fator sensation seeking(busca ou necessidade de sensaesestimulantes)3,4, alm de trabalhos norteadospelo modelo terico das cinco grande dimensesde personalidade (Big Five)5.

    A literatura apresenta tambm numerososestudos sobre a relao entre tabagismo ecaractersticas de personalidade diversas,como busca de novidades, sintomas deansiedade e depresso, traos obsessivo-compulsivos, impulsividade, agressividade,t imidez, al ienao social , auto-estima,tendncias a comportamentos anti-sociais,no-convencionais e de risco, locus of control,

    hostilidade, entre outras6-14.O cmputo geral das pesquisas sugere

    que fumantes tendem a ser maisextrovertidos, tensos, ansiosos, depressivos,impulsivos e com mais traos de neuroticismo,psicoticismo, hostilidade, sensation seeking,tendncias a comportamentos anti-sociais,no-convenc iona is , de r i sco, busca de

    INTRODUO

    O estudo da relao entre tabagismo e perfilde personalidade tem uma longa e controversa

    histria1. A maioria das pesquisas publicadasnas ltimas dcadas foi efetuada tendo comoquadro de referncia o modelo terico propostopor Eysenck2. Segundo esse enfoque, h trs

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    Anlise estatstica

    Os participantes foram agrupados em trscategorias, segundo o critrio de consumo ou

    no de tabaco: foram classificados comofumantes (F) universitrios que declararamconsumir pelo menos um cigarro por dia hpelo menos um ano; como ex-fumantes (EF) osque declararam ter deixado de fumar; e comono-fumantes (NF) os que assinalaram o itemno-fumante no questionrio.

    Inicialmente, foi efetuada uma c omparaoentre as mdias dos escores brutos obtidosnas trs categorias, em cada escala depersonalidade do CPS, atravs da anlise devarincia ANOVA (nvel de signi f icnciaestatstica p = 0,05). Em seguida, foramefetuadas duas anlises de regresso logstica

    univariada, tomando-se as categorias desujeitos como variveis dependentes. Naprimeira, considerou-se como variveisindependentes os fatores sociodemogrficos(sexo, idade, renda, estado civil, rea, turno eano do curso, insero no mercado de trabalho)e os escores nas 10 escalas do CPS. Ascategorias F x NF foram tratadas comovariveis dependentes. Na segunda anlise,considerou-se como variveis independentesos escores no CPS, fatores sociodemogrficose consumo de tabaco (idade de incio doconsumo e nmero de tentativas de abandonodo hbito). As categorias F x EF foram tratadas

    como variveis dependentes. Finalmente,foram efetuadas duas anlises de regressologstica mltipla para averiguar as odds ratios(com 95% de intervalo de confiana) deassociao entre os escores dos universitriosnas 10 escalas do CPS e as categorias F x NFe F x EF, ajustando-se, simultaneamente, todasas escalas do CPS e as demais variveis.

    RESULTADOS

    Perfil sociodemogrfico e padro de

    consumo de tabaco

    Dentre os 1.245 estudantes, 46 (3,69%)tiveram seus questionrios invalidados porerros no preenchimento e foram excludos.Assim, a amostra ficou composta por 1.199alunos, sendo 44,22% (517/1.169) do sexomasculino (30 estudantes no preencheram oitem sexo no questionrio) e 55,77% (652 /1.169) do sexo feminino, com mdia de idadegeral da amostra de 24,5 e desvio padro 6,9anos. Foi encontrada prevalncia de 6,67% (80/1.199) de fumantes, 6,58% (79/1.199) de ex-

    fumantes e 86,73% (1.040/1.199) de no-fumantes.

    O consumo de tabaco variou de 1 a 40cigarros por dia. A mdia de consumo dirio no

    sexo masculino foi de 10,6, e no sexo feminino,de 8,9 cigarros por dia. Fumantes iniciaram ohbito aos 17,2 anos de idade e efetuaram 1,2tentativa de abandono do tabagismo, emmdia. Dentre os 79 ex-fumantes, o consumovariou de 1 a 50 cigarros por dia, e o incio dohbito se deu, em mdia, aos 16,1 anos deidade. Ex-fumantes efetuaram 2,1 tentativas deabandono do tabagismo, em mdia.

    Os escores nas escalas do CPS

    Anlise de varincia ANOVA

    A tabela 1 apresenta as mdias dosescores brutos das trs categorias de sujeitos.A anlise ANOVA revelou diferena entre asmdias nas escalas R, E, M e O do CPS. importante notar que, na escala O, fumantesobtiveram, em mdia, escores menores emrelao a ex-fumantes (p = 0,056; diferenalimtrofe) e a no-fumantes (p = 0,01). Ex-fumantes obtiveram, em mdia, escoresmenores em relao a no-fumantes (p = 0,03).Esses dados sugerem uma associao inversaentre tabagismo e a escala O do CPS.

    Regresso logstica

    Fumantes x no-fumantes

    Atravs da regresso logstica mltipla,ajustando-se para todas as var iveissociodemogrficas e todas as escalas do CPS,observou-se que apenas o fator idade e osescores de M, O e R permaneceram associados categoria F (tabela 2). fundamentalobservar que a regresso detectou associaoinversa entre tabagismo e a escala O do CPS(odds ratio < 1). Isso equivale a dizer que oaumento nos escores em O corresponde diminuio na probabilidade de o sujeito se

    enquadrar na categoria F (tabela 2).

    Fumantes x ex-fumantes

    A regresso logstica mltipla revelouque apenas os fatores idade, rea do curso,idade de incio do consumo e os escores deR, A e M permaneceram assoc iados categoria EF (tabela 3). As associaesinversas (negativas) encontradas entre acategoria EF e os escores de R e M sugerem

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    que fumantes obtiveram maiores escoresnessas escalas em comparao aos ex-fumantes. Por outro lado, a assoc iaodetectada entre a escala A e a categoria EF

    positiva (odds ratio > 1). Isso sugere que, medida que aumentam os escores em A,aumenta a probab i l i dade de o su je i topertencer categoria EF (tabela 3).

    * Modelo de regresso logstica mltipla ajustado para todas as variveis sociodemogrficas e todas as escalas do CPS.

    Tabela 1 - D is t r ibu io das mdias e desv io padro dos escores de fumantes , ex- fumantes e no-fumantes nas Escalas de Personal idade de Comrey (CPS)

    Tabela 2 - Modelo de regresso logst ica mlt ip la* para os escores de fumantes e no-fumantes nasEscalas de Personal idade de Comrey (CPS)

    Escalas do CPS Fumantes (F) Ex-fumantes (EF) No-fumantes (NF)

    . .

    R - Tendenciosidade 44,10 8,3 41,92 9,05 41,11 8,5*

    V - Validade 14,73 6,4 14,43 5,8 14,7 5,5 ns

    T - Confiana x atitude defensiva 38,01 5,4 39,36 5,9 38,25 6,4 ns

    O - Ordem x falta de compulso 51,16 5,8 52,98 6,1 53,01 6,3

    C - Conformidade x rebeldia 38,45 6,8 38,31 6,09 39,11 5,7 ns

    A - Atividade x falta de energia 51,93 8,6 52,75 6,7 51,66 7,7 ns

    S - Estabilidade emocional x instabilidade 50,38 8,4 50,15 8,4 49,67 8,3 ns

    E - Extroverso x introverso 47,91 10,07 47,79 9,6 45,73 10,4?

    M - Mascul inidade x feminilidade 38,83 9,2 35,25 8,7 35,42 9,4**

    P - Empatia x egocentrismo 47,41 9,04 48,22 7,8 47,53 7,8 nsns = diferena estatisticamente no significativa.* Diferena estatisticamente significativa, F x NF p = 0,002. Diferena estatisticamente significativa, F x NF p = 0,01. Diferena limtrofe, F x EF p = 0,056. Diferena estatisticamente significativa, EF x NF p = 0,03.? Diferena limtrofe, F x NF p = 0,07. Diferena limtrofe, EF x NF p = 0,08.** Diferena estatisticamente significativa, F x EF p = 0,01 F x NF p = 0,001.

    Odds ratio IC (95%) p

    Fatores sociodemogrficosIdade 1,05 1,020-1,08 0,0005

    Escalas do CPSTendenciosidade (R) 1,03 1,006-1,06 0,0100Ordem x falta de compulso (O) 0,94 0,908-0,98 0,0027Masculinidade x feminilidade (M) 1,03 1,007-1,06 0,0100

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    Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):140-150

    * Modelo de regresso logstica mltipla ajustado para todas as variveis sociodemogrficas, variveis referentes a consumo de tabaco

    e todas as escalas do CPS. rea de humanas x rea de sade/biolgicas.

    DISCUSSO

    Perfil sociodemogrfico e padro de

    consumo de tabaco

    importante observar a baixa prevalnciade tabagismo (6,7%) encontrada neste estudo.Segundo dados of ic ia is , atualmente aprevalncia na populao brasileira estimada

    entre 12,9 e 25,2%32

    . Supe-se que aconscientizao acerca dos riscos do consumode tabaco esteja aumentando, em especialjunto populao univers itria, dado seu graude escolar izao. Numerosas pesquisas,efetuadas em diferentes contextos scio-geogrfico-cul turais, demonstram que aprevalncia de tabagismo inversamenteproporcional ao grau de instruo dos sujeitospesquisados17,33,34.

    Caractersticas de personalidade segundo

    o tabagismo

    Fumantes x no-fumantes

    Em dcadas anteriores, numerosos estudosdemonstraram que fumantes tendem a obtermaiores escores em E em relao a no-fumantes15,27,35. No entanto, alguns trabalhos noconfirmaram essa associao36,37. No panoramamais recente, os dados da l i teraturapermanecem conflitantes. A comparao entreos resultados de diferentes estudos denotaacentuada controvrsia nesse sentido7,16,20,23,28,38.

    Na opinio de alguns estudiosos, aassoc iao entre tabagismo e o fatorextroverso vem diminuindo, possivelmente emdecorrncia da mudana na viso social doconsumo de tabaco ocorr ida nas l t imasdcadas. O tabagismo passou a serconsiderado um hbito indesejvel em vriospases. Assim sendo, possvel que muitosfumantes extrovertidos tenham sido punidos

    (ou desaprovados) pelo consumo de tabacoem situaes de interao social, o que podeter contribudo para diminuir o gradiente deassoc iao entre tabagismo e essacaracterstica de personalidade39-41.

    Com relao ao fator N, a bibliografiatambm no consistente. No presentetrabalho, no foi encontrada associao entretabagismo e a escala S do CPS, que avaliaessa dimenso de personalidade. Em umestudo brasileiro recente efetuado com o CPS,tambm no foi detectada nenhuma associaoentre tabagismo e os escores de S7.

    Numerosos estudos publ icados em

    dcadas anteriores demonstraram associaoentre escores altos no fator N e tabagismo26,27.No entanto, alguns trabalhos no confirmaramessa associao35,42. Segundo especialistas noassunto, em contraste com o fator extroverso,a relao entre neuroticismo e tabagismo mais consistente e parece ter crescido duranteas dcadas recentes em pases onde aprevalncia de tabagismo vem diminuindo.Indivduos mais neurticos parecem menosinclinados a abandonar o tabagismo, mesmo

    Tabela 3 - Modelo de regresso logst ica mlt ip la para os escores de fumantes e ex-fumantes*

    Odds ratio IC (95%) p

    Variveis sociodemogrficas

    Idade 1,09 1,03-1,15 0,0006

    rea do curso 0,24 0,07-0,75 0,0100

    Variveis de consumo de tabaco

    Idade de incio do consumo de tabaco 0,88 0,78-0,99 0,0400

    Escalas do CPS

    Tendenciosidade (R) 0,94 0,9000-0,99 0,0200

    Atividade x falta de energia (A) 1,04 1,0006-1,10 0,0400

    Masculinidade x femini lidade (M) 0,94 0,9000-0,98 0,0090

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    em face recente presso social para faz-lo, epodem sentir os efeitos da nicotina maisreforadores em comparao a indivduos maisestveis emocionalmente39,41.

    Entretanto, a literatura mais recente aindarevela forte controvrsia quanto a essaassoc iao7,16,17,20,28,33,43. Pesquisadoresapresentam hipteses de natureza diversasobre a divergncia entre os resultados daspesquisas. Parkes44, por exemplo, afirma queas interaes entre os escores obtidos pelosujeito nos fatores N, E e P podem estarsubjacentes inconsistncia observada naliteratura. Patton et al.1, por outro lado, sugeremque as comparaes entre os escores defumantes e no-fumantes tendem a no atingirsignificncia estatstica quando pelo menos umdesses dois grupos possui caractersticas

    heterogneas.Uma das dificuldades no entendimento

    dessa questo pode ser devida existncia dediferentes tipos de fumantes. Pessoas diferentestm diferentes razes ou motivos para fumar e,dessa forma, podem ser inf luenciadas,simultaneamente, por variveis individuais efatores situacionais1. Os autores sugerem duasclasses de situaes que disparam o desejo defumar. Uma delas consiste em situaesentediantes, que produzem necessidade deaumentar a estimulao cortical. A segundasituao parece ser produzida por estresse.Variveis situacionais e de personalidade

    podem interagir, influenciando na quantidade detabaco consumida. Para alguns indivduos(como os que tm alto nvel de extroverso), otabagismo seria mais atrativo em situaesentediantes, de modo a criar estimulaocortical, indo ao encontro de sua necessidadede aumento na estimulao. Da mesma forma,pessoas com al to grau de neurotic ismoreceberiam maior reforo atravs do tabagismoem situaes estressantes, em funo dosefeitos redutores do estresse propiciados pelotabagismo1.

    Neste estudo, chamou ateno a forteassociao negativa (inversa) encontrada entre

    tabagismo e a escala O do CPS. Em outroestudo brasileiro recente, tambm foi detectadaassociao inversa entre tabagismo e essaescala7. Um estudo de validao do CPS,efetuado pelo autor do instrumento nos anos70, tambm revelou associao inversa entretabagismo e os escores obtidos em O45.

    O conjunto desses resultados permitesupor que altos escores nessa escala depersonalidade se configuram como um fator deproteo contra o consumo de tabaco. Os

    indivduos com altos escores em (O) disseramque se preocupam com limpeza e ordem. Socautelosos, meticulosos e apreciam a rotina.Os indivduos com escores baixos inclinam-se

    a serem descuidados, relaxados, nosistemticos em seu esti lo de vida,imprudentes, e por vezes, pouco asseados30.

    primeira vista, isso sugere que fumantestendem a ser mais imprudentes, descuidadoscom sua prpr ia sade e higiene, maisrelaxados e menos metdicos em comparaoa no-fumantes. possvel que o consumo detabaco seja um reflexo dessas caractersticasde personalidade. Muitos fumantes tm poucocuidado com sua sade, pois, mesmo sabendodos riscos do tabagismo, persistem fumando.Em muitos casos, o indivduo volta a fumarmesmo aps ter sido advertido dos riscos do

    tabagismo pelo aparecimento de doenas comoisquemia do miocrdio ou tumor de pulmo,com suas respect ivas seqelas pneumectomia ou traqueostomia6,46.

    No entanto, aprofundando mais essaquesto, possvel acrescentar outros ngulosde interpretao para o assunto. interessantssimo notar que a literatura comoum todo contm numerosas pesquisas(norteadas por modelos tericos diversos,efetuadas com base em di ferentesinstrumentos de avaliao psicolgica e emmomentos histr icos dist intos), queapresentam resultados surpreendentemente

    similares aos deste trabalho. Como exemplo,no estudo de Williams47, fumantes obtiverammenores escores em relao aos no-fumantesno fator ordem (composto por traos comopreocupao com asseio, l impeza eorganizao). Smith48 encontrou relaoinversa entre tabagismo e o fator depersonalidade fora de carter (representadopor adjetivos como ordeiro, consciencioso,responsvel).

    Mais recentemente, diversos estudos vmapontando resul tados congruentes nessesentido19,49. Pesquisas efetuadas (total ouparcialmente) com base no modelo terico BigFive Personality, por exemplo, revelaramassociao inversa entre tabagismo e osescores na dimenso de personal idadeconscienciosidade20,49,50. Todo indivduo comescores altos em conscienciosidade pode serdescri to como consciencioso, cuidadoso,conf ivel , t rabalhador , bem organizado,meticuloso, escrupuloso, autodisciplinado,asseado/limpo, pontual, prtico, energtico,ambic ioso, l igado a t rabalho/negcios,esclarecido, perseverante5.

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    H diferentes hipteses sobre a naturezadessa associao. Segundo Tucker et al.51,traos acentuados de conscienciosidade nainfncia so associados a um risco menor de

    tabagismo e de outros comportamentos no-saudveis na vida adulta. Possivelmente,algumas pessoas se engajem emcomportamentos no-saudveis devido altaimpulsividade e falta de considerao com asconseqncias de curto e longo prazo de seucomportamento 51. Alm disso, a dimensoconscienciosidade engloba caractersticascomo perseverana e disciplina, o que podecontribuir para a adoo de comportamentossaudveis52. Um indivduo pode, por exemplo,acreditar que o tabagismo uma ameaa sade, mas sua falta de disciplina e habilidadespara levar planos adiante pode atuar como uma

    barreira, impedindo a modif icao nocomportamento de fumar52.

    possvel tambm traar um paralelo ouuma similaridade entre os dados encontradosno presente trabalho e a associao inversaentre tabagismo e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), detectada em algunsestudos22,53. Trabalhos como esses denotamque a prevalncia de tabagismo em portadoresde TOC menor em relao populao emgeral e tambm em comparao observadaem outros transtornos psiquitricos. O TOCpode ser considerado como uma desordemde hiper f rontal idade que se t raduz em

    sintomas como ateno exagerada,planejamento detalhado, inquietao,preocupao exagerada, senso deresponsabilidade, falta de espontaneidade,emoes controladas e rituais de cuidado elimpeza22,53.

    O presente estudo no investigou apresena de TOC ou outras psicopatologiasnos participantes da pesquisa. No entanto,chama ateno a s imi lar idade entre ascaractersticas do TOC e as caractersticasavaliadas pela escala O do CPS. Supe-se queisso seja um indcio para novos estudos.Pesquisas de cunho prospect ivo e/ou

    transversal, direcionadas a investigar se existeassociao entre traos de personalidadenormal e a presena de s intomaspsicopatolgicos, bem como as inter-relaesentre personalidade/psicopatologia/tabagismo,podem contribuir para a compreenso doassunto.

    Considera-se a hiptese de que a baixaprevalncia de tabagismo em portadores deTOC es te ja re lac ionada aos e fe i tosneuroqumicos da nicotina no crtex rbito-

    frontal22. As prevalncias de tabagismo emportadores de TOC e em esquizofrnicosparecem representar dois extremos de umcont inuum. Es tudos baseados em

    neuroimagem revelaram que pacientes comTOC apresentam at i v idade metab l i caacentuada no cr tex rb i to - f ronta l . Emcontraste, esquizofrnicos exibem atividademetablica reduzida no lobo frontal22. Umavez que a nicotina incrementa a atividade nolobo frontal e tambm reduz a anormalidadena f is iologia sensorial , possvel que otabagismo atue como uma tentat iva deautomedicao para esquizofrnicos. Poroutro lado, teoricamente, a nicotina causariaum efeito deteriorador em portadores de TOC,reforando os sintomas obsessivos, o quepoderia contribuir para a baixa prevalncia

    de tabag ismo em por tadores dessaperturbao. H casos clnicos de pacientesque apresentam p iora nos s in tomasobsess ivos aps o consumo de umcigarro22,53. Alm disso, postula-se que obaixo consumo de tabaco em portadores deTOC possa ser reflexo de um fator genticosub jacente , re lac ionado aos s i s temasserotonrgico e colinrgico53. A bibliografiasobre personalidade e tabagismo revela quetraos como comportamento impulsivo e dealto risco, extroverso, comportamentos no-convencionais e tendncias anti-sociais sore lac ionados a consumo de tabaco e

    precedem a in i c iao do hb i to .Coincidentemente, muitos desses traos soraros em portadores de TOC, o que poderiaexplicar a baixa prevalncia de tabagismoem portadores dessa perturbao 22.

    Tambm chamou ateno no presenteestudo a assoc iao encontrada entretabagismo e a escala M do CPS. Isso leva asupor que al tos escores nessa escalaconsti tuem-se em fator de r isco paratabagismo. Sabe-se que indivduos comescores altos em M

    (...) dizem-se teimosos, dures, no se

    perturbam com bichos rastejantes, com visode sangue e no choram facilmente, tendo

    pouco interesse em histrias de amor.

    Indivduos com escores baixos neste fator

    inclinam-se a chorar facilmente, perturbam-se

    com sangue e coisas rastejantes, pegajosas,

    tais como cobras e insetos, e tm grande

    interesse em histrias romnticas.30

    Ao contrrio do que parece, a escala M doCPS no investiga a sexualidade dos sujeitos,

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    mas apenas caractersticas associadas aosesteretipos sociais de mascul inidade efemini l idade30. Em um estudo bras i le i rorecente, foi tambm detectada associao

    significante entre tabagismo e os escoresobtidos nessa escala do CPS7. O trabalhorevelou que a associao entre tabagismo e Mpermanece, mesmo mantendo sob controle ainterferncia da varivel sexo7. Assim sendo,supe-se que, em mulheres, o hbito de fumartabaco possa estar relacionado, de algumaforma, internal izao do esteret ipomasculino.

    Finalizando, cabe destacar a associaoaqui encontrada entre tabagismo e a escala Rdo CPS. Sabe-se que

    (...) a escala R um poderoso recurso de

    verificao da consistncia das respostas dossujeitos e integra, junto com a escala V, o

    critrio tcnico-cientfico de validao do CPS.

    Atravs dessa escala, possvel detectar a

    simulao dos indivduos que buscam, de forma

    sistemtica, distorcer as suas verdadeiras

    respostas, de modo a descrever-se como sendo

    portadores de uma personalidade que de fato

    no tm.30

    Isso denota que fumantes distorceram maisos protocolos do CPS (consc iente ouinconscientemente) em comparao aos no-fumantes. Possivelmente, universi tr ios

    fumantes tenham dissimulado as respostas, nosentido de apresentar uma personalidadeaceita socialmente:

    Quanto mais elevado o escore, maior foi a

    tendncia do sujei to em responder s

    afirmaes de forma socialmente desejvel,

    com distores sistemticas, buscando a

    descrio de uma personalidade utpica.30

    Em ltima instncia, supe-se que isso sejareflexo de um desejo de aceitao socialsubjacente. A caracterstica psicolgica aquiobservada (desejo de aprovao social) pode

    estar relacionada baixa prevalncia detabagismo encontrada neste trabalho. possvelque alguns fumantes tenham omitido o hbito defumar tabaco, de modo a se descreveremsegundo normas socialmente aceitas.

    Fumantes x ex-fumantes

    Neste trabalho, no foi detectada diferenaentre as duas categorias de sujeitos nasescalas E e S do CPS. Observa-se tambm

    acentuada controvrsia entre os resultados dediferentes estudos quando se comparam osescores de fumantes e ex-fumantes nos fatoresE e N7,16,17,43,54. Provavelmente, isso se deve,

    pelo menos em parte, ao fato de que os critriosutilizados para a definio da categoria EFvariam de um estudo para outro55.

    Destaca-se, no presente trabalho, adiferena encontrada entre os escores defumantes e ex-fumantes na escala M do CPS.Estima-se que o aumento nos escores em Mcorresponda diminuio na probabilidade deo sujei to pertencer categoria EF. Issoequivale a dizer que, neste trabalho, osuniversitrios que abandonaram o tabagismoincl inam-se mais a chorar faci lmente,perturbam-se com sangue e coisas rastejantes,pegajosas, tais como cobras e insetos, e tm

    grande interesse em histrias romnticas30emcomparao com os fumantes.

    Alm disso, fundamental salientar aassociao positiva, detectada neste trabalho,entre a categoria EF e os escores obtidos naescala de A do CPS. Sabe-se que os indivduoscom escores altos neste fator

    (...) gostam de atividades fsicas, trabalho

    rduo e exerccios, possuindo grande energia e

    perseverana, esforando-se para atingir o

    mximo de suas capacidades. Os que possuem

    escores baixos em A inclinam-se a umainatividade fsica, falta de vigor e energia,

    cansam-se rapidamente e possuem poucamotivao para superar-se.30

    possvel que o xito no abandono dotabagismo seja um reflexo de caractersticascomo energia, perseverana e esforo. Umindivduo pode, por exemplo, acreditar que otabagismo uma ameaa sua sade, massua falta de disciplina e de habilidades paralevar seus planos adiante pode atuar como umabarreira, impedindo a modif icao nocomportamento de fumar52. Por outro lado, tem-se a hiptese que caractersticas como maiorvigor, energia, disposio para atividades

    fsicas e exerccios sejam uma conseqnciadireta do abandono do tabagismo, o que,comprovadamente, resulta em uma melhoriaimediata nas funes orgnico-fisiolgicas dosujeito.

    Finalmente, a associao inversa entre osescores obtidos em R e a categoria EF,encontrada neste trabalho, sugere que ex-fumantes distorceram menos as respostas nosprotocolos do CPS em comparao aosfumantes.

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    CONCLUSES

    importante atentar para as limitaesdeste estudo. A populao com caractersticas

    prprias (universi tr ios), os nmerosrelativamente pequenos de fumantes e ex-fumantes aqui encontrados e analisados (n =80 e n = 79, respectivamente), bem como oslimites do universo pesquisado (apenas umauniversidade), so fatores que dificultam acomparao com outros trabalhos. Ainda sonecessr ios novos estudos, por tanto,envolvendo populaes com di ferentescaractersticas e maior tamanho amostral, paraa confirmao desses resultados.

    Contudo, possvel supor que este trabalhopossa contribuir, de alguma forma, com osprogramas de preveno ou tratamento da

    dependncia. A identificao de caractersticasde personalidade associadas ao consumo detabaco pode subsidiar o trabalho deprofissionais da rea de sade e de reas afinsno processo de elaborao/aperfeioamento deestratgias teraputicas (como tcnicas deaconselhamento, por exemplo).

    Agradecimentos

    Fundao de Amparo Pesquisa doEstado de Mato Grosso (FAPEMAT), pelofinanciamento deste estudo.

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    RESUMO

    Introduo: O estudo da relao entrepersonalidade e tabagismo pode subsidiar o

    tratamento da dependncia.

    Objetivos: Identificar caractersticas depersonalidade de fumantes, ex-fumantes e no-

    fumantes.

    Mtodo: Foram selecionados 1.245 estudantesmatriculados na Universidade Federal de Mato

    Grosso. Foi aplicado um questionrio padronizado

    para levantamento do perfil sociodemogrfico epadro de consumo de tabaco dos estudantes,

    seguido pela verso revisada das Escalas Comrey de

    Personalidade (CPS). Utilizou-se a anlise de

    varincia ANOVA para comparao dos escores de

    fumantes, ex-fumantes e no-fumantes no CPS e

    duas anlises de regresso logstica mltipla para

    avaliar as associaes entre os escores do CPS e

    tabagismo.

    Resultados: Foi encontrada prevalncia de6,67% de fumantes, 6,58% de ex-fumantes e 86,73%

    de no-fumantes. A primeira anlise de regresso

    logstica detectou associao positiva entre a

    categoria fumante e os escores nas escalas de

    masculinidade (M) e tendenciosidade (R) e

    associao inversa com a escala de ordem x falta decompulso (O) do CPS. A segunda detectou

    associao negativa da categoria ex-fumante com os

    escores obtidos em R e M e positiva com a escala de

    atividade x falta de energia (A) do CPS.

    Discusso: Fumantes foram mais tendenciosose adotaram mais o esteretipo social da

    masculinidade em relao a no-fumantes e ex-

    fumantes. Fumantes se descreveram mais como

    descuidados, relaxados, imprudentes, no-

    sistemticos e pouco asseados em comparao aos

    no-fumantes. Ex-fumantes apresentaram mais vigor,

    energia e disposio em relao aos fumantes.

    Supe-se que esses resultados possam subsidiar

    programas de tratamento da dependncia nicotnica.

    Descritores: Personalidade, tabagismo, estudantesuniversitrios.

    ABSTRACT

    Introduction: The study of the relationshipbetween personality and smoking behavior can be

    useful in the treatment of tobacco dependence.

    Objectives: To identify personality traits insmokers, ex-smokers and non-smokers.

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    Methods: A total of 1,245 students enrolled atUniversidade Federal de Mato Grosso were selected.

    A standard questionnaire was applied aiming at

    identifying sociodemographic characteristics and

    tobacco consumption patterns in the students,

    followed by the revised version of the Comrey

    Personality Scales (CPS). ANOVA analysis of

    variance was used to compare the mean scores

    obtained in smokers, ex-smokers and non-smokers,

    and two multiple logistic regression analyses were

    used to determine the associations between CPS

    results and smoking behavior.

    Results:A prevalence of 6.67% of smokers, 6.58%of ex-smokers and 86.73% of non-smokers was found.

    The first logistic regression analysis revealed a positive

    association between the smoker category and the

    scores obtained in the masculinity x femininity (M) and

    response bias (R) scales, as well as a negative

    association with the order x lack of compulsion (O)

    scale. The second analysis detected a negative

    association between the ex-smoker category and the Rand M scales, as well as a positive association with the

    activity x lack of energy (A) scale.

    Discussion:Smokers presented biased responsese tended to adopt the social stereotype of masculinity

    more often than non-smokers and ex-smokers.

    Smokers described themselves as more careless,

    negligent, imprudent, non-systematic and unorganized

    as compared to non-smokers. Ex-smokers showed

    more energy e disposition when compared to smokers.

    The present data are assumed to be useful to programs

    aimed at treating tobacco dependence.

    Keywords: Personality, smoking, college students.Title: A comparative study of personality traits in

    college undergraduate smokers, ex-smokers and non-smokers

    RESUMEN

    Introduccin: El estudio de la relacin entrepersonalidad y tabaquismo puede contribuir al

    tratamiento de la dependencia.

    Objetivos: Identificar caractersticas depersonalidad de los fumadores, ex fumadores y no

    fumadores.

    Mtodo: Se seleccion a 1245 estudiantes de laUniversidad Federal de Mato Grosso (Brasil). Se

    utiliz un cuestionario y una versin revisada de las

    Escalas Comrey de Personalidad (CPS). Para

    comparacin de los puntos de los fumadores, ex

    fumadores y no fumadores en el CPS se utiliz el

    anlisis del variable ANOVA, y dos anlisis de

    regresin logstica mltiple para evaluar las

    asociaciones entre los puntos en el CPS y el

    tabaquismo.

    Resultados: Se encontr una predominancia del6,67% de fumadores, 6,58% de ex fumadores y

    86,73% de no fumadores. El primer anlisis de

    regresin ha detectado asociacin positiva entre la

    categora fumador y el puntaje en (M) y (R) y

    asociacin inversa con la escala (O). La segunda ha

    detectado asociacin negativa entre la categora ex

    fumador y el puntaje en (R) y (M) y positiva con la

    escala de Actividad X Falta de Energa (A).

    Discusin: Los fumadores fueron los ms

    tendenciosos y adoptaron ms el estereotipo socialde la masculinidad, con relacin a los no fumadores y

    ex fumadores. Los fumadores se describieron como

    descuidados, desordenados, imprudentes, no

    sistemticos y poco limpios, si comparados a los no

    fumadores. Los ex fumadores presentaron ms vigor,

    energa y disposicin con relacin a los fumadores.

    Se supone que estos resultados puedan contribuir a

    programas de tratamiento de la dependencia de la

    nicotina.

    Palabras clave: Personalidad, tabaquismo,estudiantes universitarios.

    Ttulo: El estudio comparativo entre caractersticasde personalidad de universitarios fumadores, ex

    fumadores y no fumadores

    Correspondncia:Regina de Cssia RondinaRua Palmares, 34617501-510 Marlia SPFone: (14) 3433-8179E-mail: [email protected]

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