fraudes financeiras: uma anÁlise nos controles...
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Rev. Científica Eletrônica UNISEB, Ribeirão Preto, v.7, n.7, p.102-116, jan/jun. 2016.
FRAUDES FINANCEIRAS: UMA ANÁLISE NOS CONTROLES INTERNOS
IMPLANTADOS EM EMPRESAS RIBEIRÃO PRETANAS
Jamila Abdulrhman Alassiri - Acadêmica do Curso de Administração do Centro
Universitário ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected]
Milton Rezende Silva - Acadêmico do Curso de Administração do Centro Universitário
ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected]
Alessandra Camargo Santana - Mestre em Ciências Contábeis pela FECAP-SP. Docente do
Curso de Administração do Centro Universitário ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP
Resumo
O estudo mostrou as principais fraudes ocorridas em micro e pequenas empresas em Ribeirão
Preto e as medidas implantadas pelos empresários para o fortalecimento desses controles de
gestão. Usou-se a pesquisa descritiva, qualitativa, questionário e entrevista para embasar o
estudo. As principais fraudes cometidas foram a de roubo de mercadorias e práticas indevidas
realizadas por funcionários sem experiência. As medidas apontadas é a utilização de relatórios
operacionais e processos contábeis e Softwares com monitoramento online das vendas
reduzindo consideravelmente as fraudes existentes.
Palavras-chave: Fraudes financeiras, Controle interno, Pequenas e médias empresas.
Abstract
The study aimed to detect the main frauds in micro and small businesses in Ribeirão Preto
which measures implemented by entrepreneurs to strengthen these management controls. It was
a descriptive and qualitative research with questionnaire and interview to conduct the study.
The main frauds committed in a micro and small enterprises were the theft of goods stock as
well as improper practices carried out by staff without experience. The controlling measures
were pointed out was the use of operational reporting and accounting processes as well as
software with online monitoring of sales.
Keywords: Financial frauds, Internal control, Small and medium organizations.
Introdução
Em decorrência do momento político econômico vivido pelo Brasil, várias denúncias
de fraude envolvendo valores substanciais de desvio monetário governamental afloraram, tanto
em empresas públicas como nas privadas obrigando a criação primordial e manutenção de um
controle interno a todas as empresas. Com foco de proteger o patrimônio empresarial, esses
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controles são fundamentais para sua sobrevivência, uma vez que influenciam nos resultados
contábeis e demonstram sua credibilidade.
Controle interno é um processo – efetuado pela diretoria, gerência e outras pessoas da
entidade – projetada para proporcionar uma razoável garantia de alcançar os objetivos
nas seguintes categorias: (a) confiabilidade dos relatórios financeiros; (b)
conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis e (c) eficácia e eficiência nas
operações. (ANTUNES, 1998, p.54).
O presente estudo teve como objetivo geral detectar as principais fraudes ocorridas em
micro e pequenas empresas na cidade de Ribeirão Preto e quais as medidas implantadas pelos
empresários para o fortalecimento desses controles de gestão. Para isso, elaborou-se a seguinte
problemática: “Quais as principais fraudes ocorridas em micro, pequenas e médias empresas, e
quais os procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos controles
internos?”. Ainda foram avaliados, os principais riscos que envolvem a atividade empresarial,
bem como a percepção dos empresários sobre a legislação vigente que envolve fraudes
financeiras.
1 Referencial Teórico
1.1 Controles Internos na Gestão de Empresas
A Gestão empresarial segundo Pereira (2008) é a atividade de se conduzir uma empresa
ao atingimento do resultado desejado por ela, apesar das dificuldades. E para que isso se
concretize é necessária utilização de adequados controles internos, uma vez que a gestão
empresarial está diretamente relacionada a eles.
O citado autor ainda define controle interno como sendo um processo estruturado até
certo ponto, e os administradores por sua vez lançam mão do mesmo para atingirem os objetivos
amplos e específicos dos proprietários.
Já os controles internos são medidas de prevenção e gestão de riscos realizados
constantemente pela empresa a fim de proteger seus ativos, obterem melhores resultados
financeiros e realizarem tomada de decisão com base em resultados eficientes e confiáveis.
Dessa forma ao manter um controle interno eficiente, as empresas conseguem identificar
possíveis falhas erros ou fraudes financeiras e assim tomar as medidas necessárias para evitar
possíveis prejuízos à empresa ou minimizar suas perdas.
Além das funções gerarem uma base sólida para a atividade empresarial, os controles
internos garantem a adequação da empresa quanto às leis e normas a serem seguido, e o ponto
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de partida para a obtenção e manutenção dos stakeholders (grupos de interesse estratégico, os
quais investem ou possuem ações da empresa).
“A expressão ‘controle interno’ passou a ser utilizada como um meio de distinguir os
controles originados dentro ou pela própria organização, daqueles de origem externa, como é o
caso dos controles impostos pela legislação” (PEREIRA, 2008, p.6).
Fonte: Adaptado de Pereira (2008, p. 6)
Figura 1 – Papéis do controle interno versus controle externo.
1.1.1 Estrutura do Controle Interno
O controle interno pode ser o fator chave para o sucesso ou fracasso de uma empresa.
Bem estruturado, ele pode ser o facilitador para a reestruturação e renovação da empresa, ou o
responsável por sua decadência.
Desta forma veremos como funciona sua estrutura, e quais os principais aspectos para o
seu bom desenvolvimento e suporte da atividade empresarial.
Gestores
Controle Interno
Proprietáros
(shareholders)Controle Externo
Sociedade
(others stakeholders)
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Quadro 1 – Estrutura do controle interno
Políticas
Compreende o conjunto declarações e regras de caráter administrativo em relação às práticas da
empresa e suas intenções como guia para obtenção de um determinado objetivo. Podendo ser
consideradas “guias de raciocínio” para tomada de decisões em níveis inferiores.
Objetivos
São entendidos como o plano estratégico no amplo sentido, ele precede a escolha das metas e
seleção, desenho, implementação e manutenção dos sistemas que asseguram a segurança na
execução dos objetivos.
Metas
Considerados os alvos específicos e quantificados sendo denominados de metas operacionais,
padrões operacionais, nível de desempenho ou resultados esperados. Devem ser mensuráveis, com
adequado grau de realismo e consistentes com os objetivos estratégicos. Os riscos de sua não
realização devem ser explicitamente reconhecidos.
Plano de
organização
Modo pelo qual se organiza um sistema. A estrutura organizacional necessita corresponder a uma
divisão operacional, adequada e balanceada, de trabalho, de forma que sejam estabelecidas as
relações de autoridade e responsabilidade entre os vários níveis, pelas parcelas de trabalho
exigidas para a consecução dos objetivos da empresa, e de maneira que sejam definidas,
claramente, as responsabilidades e autoridades dos diversos níveis.
Métodos e
medidas
Estabelecem os caminhos e os meios de comparação e julgamento para se chegar a determinado
fim, mesmo que não tenham sido preestabelecidos formalmente (normas, sistemas, manuais de
serviço, etc.)
Proteção do
patrimônio
Forma pela qual são salvaguardados e defendidos os bens e direitos da empresa (custódia, controle
e contabilização de bens, alçadas, normas, entre outras).
Exatidão e
fidedignidad
e dos dados
contábeis
Corresponde a precisão dos dados dispostos na contabilidade. A classificação dos dados dentro
de uma estrutura formal de contas, seguida da existência de um plano de contas que facilite o seu
registro, preparação e contabilização de um manual descritivo do uso das contas conjugado à
definição de procedimentos que possibilitem a análise, a conciliação e a solução tempestiva de
quaisquer divergências são elementos significativos para a expressão da fiel escrituração contábil.
Eficiência
operacional
Compreende a ação ou força a ser posta em prática nas transações realizadas pela empresa. A
definição de adequado plano de organização aliada aos métodos e procedimentos bem definidos,
assim como a observação de normas salutares no cumprimento dos deveres e funções com a
existência de pessoal qualificado, treinado para desenvolver suas atividades e adequadamente
supervisionado por seus responsáveis, tendem a implementar a desejada eficiência nas operações.
Interdependê
ncia
Todos os elementos acima se interfluenciam de forma acentuada, intrínseca, sendo essenciais para
o controle interno adequado, uma vez que uma deficiência significativa de um desses itens
comprometera o funcionamento eficiente de todo o sistema.
Pessoal
É necessário lembrar que estes planos de políticas, sistemas e organizações são “ferramentas”
utilizadas por pessoas. Dentro de uma visão sistêmica da empresa, fácil é compreender que,
mesmo com sistemas, políticas etc; adequadamente planejados, a eficiência administrativa será
comprometida, se a empresa não dispuser de um quadro de pessoal adequadamente dimensionado,
capaz, eficiente e motivado.
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Fonte: Adaptado de Universidade de Brasília, Auditoria interna.
Por sua vez, dois fatores, que embora não apareçam com claras definições no conceito
de Controle Interno, estão presentes em todos os fatores anteriormente citados:
Quadro 2 – Outras estruturas do controle interno
Interdependên
cia
Todos os elementos acima se interfluenciam de forma acentuada, intrínseca, sendo essenciais para o
controle interno adequado, uma vez que uma deficiência significativa de um desses itens comprometera
o funcionamento eficiente de todo o sistema.
Pessoal
É necessário lembrar que estes planos de políticas, sistemas e organizações são “ferramentas” utilizadas
por pessoas. Dentro de uma visão sistêmica da empresa, fácil é compreender que, mesmo com sistemas,
políticas etc. adequadamente planejadas, a eficiência administrativa será comprometida, se a empresa
não dispuser de um quadro de pessoal adequadamente dimensionado, capaz, eficiente e motivado.
Fonte: Adaptado de Universidade de Brasília, Auditoria interna.
Com base nos fatores acima expostos, podemos definir Controle Interno como sendo
o conjunto de políticas estratégicas e operacionais, procedimentos e definições de
estrutura organizacional, operado por pessoas capacitadas, e que visam salvaguardar
os ativos da empresa, assegurar a fidedignidade das informações contábeis e
gerenciais e estimular a eficiência operacional (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
AUDITORIA INTERNA, LINHA 07).
Desta forma, além de resguardar os ativos da organização, o controle interno também
fornece os resultados das operações para a tomada de decisão, o que norteará a empresa no
cumprimento de seu plano estratégico em busca de seus objetivos.
1.2 Riscos da Atividade Empresarial
A gestão de riscos é o fator principal para que o planejamento estratégico seja
estabelecido, considerando que não se pode elimina-lo totalmente, há uma necessidade
minimiza-lo evitando prejuízos operacionais e incertezas.
Alday (2000) descreve Planejamento Estratégico (PE) como a gestão de medidas que a
organização realiza para enfrentar as ameaças e aproveitar as oportunidades. Assim, para que
haja a gestão dessas medidas, é necessário identificar as ameaças e as oportunidades do
mercado.
1.2.1 Análise de Mercado de Porter
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O Modelo das cinco forças de Poter caracteriza-se como uma ferramenta para a
definição estratégica da empresa, visando obtenção de vantagem competitiva, que permite
avaliar os riscos e a atratividade de um setor econômico, sendo que uma delas está dentro do
próprio setor analisado.
A ação e intensidade dessas cinco forças resultam no desempenho em potencial no qual
a organização possa vir a alcançar, sendo elas:
1. Novos entrantes: essa força analisa qual o grau de dificuldade para iniciar
operação no mercado em relação a inovação, a participação de mercado, e disputa por recursos
substanciais. Conclui-se que quanto maior as barreiras para a entrada de novos concorrentes,
maior sua atratividade, maior seu investimento e maior seu risco.
2. Substitutos: refere-se a variável ligada diretamente no preço final do serviço ou
produto, ou seja, se existem outros meios de suprir a mesma necessidade do cliente, sendo eles
parcial ou total. Desta forma quanto maior a quantidade de serviços ou produtos substitutos,
menor a atratividade do setor e maior o investimento em qualidade e em inovação.
3. Fornecedores: essa variável analisa a força exercida pelos fornecedores no
mercado, em relação a qualidade e disponibilidade, forma de pagamento e prazo para entrega.
Quanto menor os recursos oferecidos e maiores os custos de troca de fornecedor, maior o poder
de barganha do fornecedor.
4. Clientes: quando os compradores fecham grandes volumes ou lotes, ou se os
produtos são padronizados, ou há opção de outros fornecedores, maior o poder de negociação
dos clientes, e menor a atratividade. Pois maior será a força de barganha para redução de preços,
aumento na qualidade, flexibilidade para pagamento e busca de outros fornecedores.
5. Concorrentes: se o setor for dominado por um pequeno grupo ele naturalmente
acaba realizando um papel de coordenador, se a competitividade for volumosa a probabilidade
de guerra de preços e ações de marketing agressivas são maiores. Uma alta rivalidade pode ser
reflexa de baixo grau de investimento na diferenciação de produto ou alto grau de investimento
para expansão da atividade além de fortes barreiras à saída do mercado.
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Figura 2 – As cinco forças de Porter.
Fonte: Adaptado de Porter, 1985.
1.2.2 Análise S.W.O.T
A análise S.W.O.T desenvolvida por Albert Humphrey, também conhecida por
F.O.F.A., em português, é outra ferramenta utilizada para a elaboração estratégica da
organização, analisando seu ambiente interno e externo. Nela são identificadas as Forças e
Fraquezas da organização (ambiente interno) levando a identificação das Oportunidades e
Ameaças (ambiente externo).
1. Forças: são as vantagens e recursos que a organização possui em relação aos
concorrentes, podendo ser eles humanos como experiência, habilidades e conhecimento ou
recursos organizacionais como sistema, cultura, processos, instalações e tecnologia.
2. Fraquezas: são as desvantagens e recursos que a organização não possui em
relação aos concorrentes, podendo ser humanas ou organizacionais como já citado nas Forças.
3. Oportunidades: são forças externas (macroambientais) as quais a organização
não tem controle, o que se pode fazer é o estudo criando-se hipóteses e previsões, identificando
se há chance de crescimento no mercado o qual a atividade é praticada.
4. Ameaças: são como as Oportunidades, porém causam um impacto negativo na
organização. Cabendo assim a empresa desenvolver seus pontos fracos para transformar as
ameaças em oportunidades.
Concorrentes
Disputa do mercado por empresas ja existentes no
setor.
Clientes
Poder de negociação dos clientes.
Novos entrantes
Barreiras a entradas de novos concorrentes.
Fornecedores
Poder de negociação dos fornecedores.
Subistitutos
Ameaça de produtos e/ou serviços subistitutos.
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Figura 3 – Análise SWOT
Fonte: elaboração própria
1.3 Fraudes e Erros
Uma das alçadas da administração é a detecção e prevenção de fraudes e erros. Para que
isso ocorra, a empresa deverá reavaliar seus processos periodicamente a fim de detectar falhas
e propor melhorias para que não haja danos em sua tomada de decisão e desvio de seu
planejamento estratégico.
Tem-se como fraude, segundo as Normas de Auditoria Independente das
Demonstrações Contábeis, o ato intencional de omissão e/ou manipulação de transações,
adulteração de documentos, registros e demonstração contábeis de modo a modificar ativos,
passivos e/ou resultados. Já o termo erro refere-se ao ato não intencional na elaboração de
registros e demonstrações contábeis que resulta em incorreções, erros aritméticos e
interpretação incorreta das variações patrimoniais.
Conforme Lima, Melo, Reis, Lima e Oliveira (2012) os indícios de erros e fraudes por
parte de relatórios gerenciais fracos ou inconsistentes, representam falta de exatidão e
confiabilidade nas informações. Entretanto estes indícios podem ser gerados apenas por má
interpretação das normas e procedimentos, falta de controle por setores considerados área de
risco, instrução inadequada dos colaboradores, negligencia na execução de tarefas, retrabalho e
desperdício aumentando os custos e despesas.
Está evidente de que apesar do volume monetário que circula em micro, pequenas e
médias empresas individualmente não seja substancial em relação às empresas de grande porte,
Forças
Vantagens e recursos em relação aos
concorrentes
+
Fraquezas
Desvantagens em relação aos
concorrentes.
--
Oportunidades
Forças externas
+
Ameaças
Forças externas negativas
--
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elas representam uma grande parcela da economia quando se considera o todo. Mas a questão
é: essas empresas muitas vezes familiares, ou de bairro são vítimas de fraudes e erros
financeiros como as de grande porte? Se sim, quais as fraudes e erros mais comuns? Existe um
perfil de fraudador? (KPMG, 2011).
1.4 Micro, Pequenas e Médias Empresas
Apesar de não possuírem um fluxo de caixa notável, juntas as micro, pequenas e médias
empresas somam mais de 9 milhões de negócios no Brasil, sendo responsáveis por 27% do
Produto Interno Bruto (PIB), segundo Amado Neto (2009). Além de promoverem empregos e
produtos ou serviços para outras organizações.
Mas afinal o que distingue uma microempresa de uma pequena, média ou grande? A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define as classificações quanto ao porte
da empresa é por sua capacidade econômica, de acordo com o seu faturamento bruto anual,
sendo assim o valor total anual faturado pela matriz e suas filiais.
Quadro 3 – Classificação empresas de acordo com sua receita bruta anual
Classificação da
Empresa Faturamento Anual
Grupo I - Grande Superior a R$ 50.000.000,00
Grupo II - Grande Igual ou inferior a R$ 50.000.000,00 e superior a
R$20.000.000,00
Grupo III – Média Igual ou inferior a R$20.000.000,00 e superior a R$
6.000.000,00
Grupo IV – Média Igual ou inferior a R$ 6.000.000,00 e superior a R$
3.600.000,00
Pequena Igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 e superior a R$
360.000,00
Microempresa Igual ou inferior a R$ 360.000,00
Fonte: Adaptado de MARTINS, 2014, p 44
1.5 Legislação Brasileira Regulamentadora de Crimes de Fraudes Financeiras
É comum ao empresário de micro, pequeno, e médio porte, realizar o compartilhamento
dos recursos da entidade física e jurídica, ou seja, utilizar o caixa de sua empresa como extensão
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de sua conta pessoal e vice versa. Para evitar esse compartilhamento deve-se entender a
diferença entre pessoa física e jurídica, assim como seus direitos e deveres.
O novo código Civil, Lei nº 10.406, de 10.01.2002 - DOU 1 de 11.01.2002, prevê que a
Pessoa Física é a pessoa natural, ou seja, todo indivíduo que desde o nascimento até sua morte
é capaz de direitos e de sofrer imposição deveres na ordem civil, e que todos os seres humanos
nascem livre e iguais em dignidade e em direitos dotados de razão e consciência devem agir
entre eles em espírito de fraternidade. Já a Pessoa Jurídica é a entidade abstrata com existência
e responsabilidades jurídicas como a União, os Municípios, associações, sociedades, e
fundações legalmente registradas.
A Pessoa Jurídica pode ser de direito público ou privado, classificado ainda como de
direito público interno (I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os
Municípios; IV - as autarquias; V - as demais entidades de caráter públicas criadas por lei.), de
direito público externo (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito
internacional público) e de direito privado (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem
regidas pelo direito internacional público) são representadas por quem e na forma a qual seus
registros declarar, iniciando assim o início da vida jurídica, utilizando o capital, trabalho e de
forças produtivas para iniciar atividade no mercado da forma escolhida, indústria, comercio ou
prestação de serviço.
Em concordância com Silva, Nascimento e Ott (2007), o Código brasileiro sancionado
em 2002, prevê que a empresa deverá fundamenta-se nos princípios da ética e da boa-fé em
seus negócios, responsabilizando assim aos administradores em com interesses contrários aos
da organização. Da mesma forma, o Código responsabiliza os contadores aos atos relativos à
escrituração contábil e fiscal praticados, assim como atos que cause danos a terceiros.
Dessa forma fica evidente a necessidade de se inteirar da legislação vigente, no ato de
se iniciar a atividade empresarial, visto que há vários crimes de responsabilidade, que vão além
dos “crimes de colarinho branco”, os quais se estendem aos profissionais.
2 Metodologia
O presente estudo se baseia em uma pesquisa descritiva e qualitativa, com uso de
questionário e entrevista. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.31-32) definem:
A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o assunto
que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de
determinada realidade. Já a pesquisa qualitativa não se preocupa com
representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um
grupo social, de uma organização, etc.
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Ao utilizar o Método Qualitativo a atenção está na melhor compreensão do fenômeno
pesquisado, visto do ponto de vista do grupo em questão. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009,
p.31 e 32) dissertam também a respeito da pesquisa qualitativa buscar a explicação dos porquês,
sem que haja quantificação dos valores, já que os dados a serem analisados classificam como
não métricos.
Dessa forma, o questionário aplicado às micros, pequenas e médias empresas
ribeirãopretanas busca a compreensão dos empresários em relação as situações já enfrentadas,
ou não, de fraudes e erros, e de que forma, ou não, foram realizadas as alterações em seus
controles internos a fim de evitar novos casos, ou pelo menos a frequência deles.
O questionário foi elaborado dividindo-se nos seguintes tópicos:
Objetivos Perguntas do questionário
Avaliar o perfil das empresas pesquisadas 1 a 3
Conhecer as principais fraudes financeiras e econômicas ocorridas
em pequenas e médias empresas; 4
Avaliar os principais riscos que envolvem a atividade empresária; 5 e 6
Conhecer quais as medidas implantadas por empresários para
melhorias do controle interno; 7
Avaliar a percepção dos empresários sobre a legislação vigente que
envolve fraudes financeiras 8 e 9
3 Análise de Dados
Tabela 1 – Amostragem de aplicação do questionário.
Área / Porte Quantidade Percentual
Comércio 7 70%
∙ Micro 4
∙ Pequeno 1
∙ Médio 2
Educação 2 20%
∙ Pequeno 2
Agronegócio 1 10%
∙ Micro 1
Total 10 100%
Fonte: elaboração própria
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O perfil da amostra a qual foi submetida o questionário, foi de empresários cujo suas
atividades localizavam-se na cidade de Ribeirão Preto, com uma faixa etária entre 20 e 54 anos
e de ambos os sexos, nos setores de Educação, Comércio e Agronegócio, havendo variação no
porte da empresa entre micro, pequeno ou médio.
Gráfico 1 – Principais fraudes financeiras em micro, pequenas e médias empresas ribeirao pretanas
Fonte: elaboração própria
A segunda principal fraude identificada, na verdade, é classificada como erro, pois não
há o ato intencional por de trás da ação.
Gráfico 2 – Principal Força de Porter identificada pelos empresários.
Fonte: elaboração própria
Ainda vale ressaltar a identificação simplória de crise econômica e variação de mercado,
como fator chave de risco à atividade empresarial apontada por uma das empresas, pois com
informações corretas oriundas de dados do controle interno confiáveis, a organização tem
condições de se preparar e se antecipar para possíveis crises. A Empresa situada na área da
20%
40%
30%
10%
Principais fraudes ocorridas
Empresas que não registraram
ocorrencias de fraudes e/ou erros
Roubo de mercadorias
Funcionários que não trabalhavam na
prática
Aplicação de práticas contábeis
indevidas
37%
25%
12%
13%
13%
Força de Porter que mais afeta o desempenho da empresa.
Substitutos
Concorrentes
Novos entrantes
Fornecedores
Não souberam opinar
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educação, ainda cita a dependência do governo para abertura de concursos públicos iniciando
assim novas turmas, tal fator é classificado com risco elevado, principalmente em momentos os
quais há recessão, e/ou crise política.
Gráfico 3 – Visão quanto a legislação reguladora de fraudes financeiras.
Fonte: elaboração própria
Gráfico 4 – Procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos controles internos
Fonte: elaboração própria
Não souberam
opinar
37%
Legislação
adequada
25%
Alta carga
tributária
25%
Baixa
ficalização
13%
Outra
38%
Entendimento quanto a legislação reguladora de fraudes financeiras.
37%
12%13%
25%
13%
Procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos
controles internos
Não souberam opinar
Não possuem
Acompanhamento do proprietário
Processos e relatórios diários
Sistema ERP via web, integração com
vendas online
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Conclusão
Em virtude dos fatos obsevados, conclui-se que a principal fraude financeira em micro,
pequenas e médias empresas é a de roubo de mercadorias, e que os empresários alegam ter
sofrido com essa e outras fraudes e que não possuem conhecimento adequado de como evita-
las, bem como a prática adequada de implementação e otimização de seus controles internos,
além de possuirem uma visão simplória e/ou nula da legislação regulamentadora de tais fraudes
financeiras.
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