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1 Francisco Xarão Gérson Pereira Filho (Orgs.)

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Francisco Xarão Gérson Pereira Filho

(Orgs.)

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CADERNO DE RESUMOS

16 a 21 de novembro de 2016 Poços de Caldas – Minas Gerais, Brasil

Alfenas – Minas Gerais, Brasil

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Biblioteca Central da Universidade Federal de Alfenas

Simpósio Internacional de Filosofia, Comunicação e Subjetividade: Luso-Brasileiro-

Alemão (1. : 2016: Poços de Caldas, MG: Alfenas, MG).

SI612c Caderno de resumos do 1º Simpósio Internacional de Filosofia, Comunicação e

Subjetividade: Luso-Brasileiro-Alemão / Organizadores: Francisco Xarão; Gérson

Pereira Filho. -- Alfenas/MG : UNIFAL-MG, 2016.

149 f. -

Acesso on line: http://simposiolubral.pucpcaldas.br/wp-content/uploads/2017/05/Caderno-de-Resumos.pdf

Realização: PUCMinas - Campus Poços de Caldas, Unifal-MG, Sede Alfenas,

UBI, Covilhã, Portugal.

Simpósio realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro na Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Poços de Caldas e nos dias 17 e

21 de novembro na Universidade Federal de Alfenas, Sede Alfenas.

ISBN: 978-85-63473-20-2

1. Psicologia e filosofia. 2. Filosofia – Educação. 3. Comunicação – Filosofia.

4. Linguagem - Filosofia. I. Xarão, Francisco. II. Pereira Filho, Gérson. III. Título.

CDD-100

Arte da capa: Cefas Garcia Pereira

Editoração: Elisa Zwick

Todos os textos constantes nos Anais do Lubral 2016 são de inteira responsabilidade

de seus autores, inclusive a revisão ortográfica e gramatical.

Os trabalhos contidos nesta obra estão sob a licença Creative Commons.

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 3.0 Brasil (CC BY-NC-ND 3.0 BR)

Fonte: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/

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SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E SUBJETIVIDADE: LUSO-BRASILEIRO-ALEMÃO

16 a 21 de novembro de 2016

Comissão científica:

Prof. Dr. André Barata Nascimento (Universidade da Beira Interior – Portugal)

Profa. Dra. Camila Alves Fior (Depto. de Psicologia – PUC Minas)

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)

Prof. Dr. João Carlos Correia (Universidade da Beira Interior – Portugal)

Prof. Dr. Luis Antonio Groppo (ICHL – Unifal-MG)

Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria (ICHL – Unifal-MG)

Prof. Dr. Paulo César de Oliveira (ICHL – Unifal-MG)

Profa. Dra. Soraya Guimarães Hoepfner (Berlim – Alemanha)

Prof. Dr. Udo Fritzke Junior (Coord. de Pós-Graduação e Pesquisa – PUC Minas)

Comissão organizadora:

Prof. M.Sc. Alexandre da Costa (Depto. de Ciências da Religião – PUC Minas)

Prof. M.Sc. Davidson Sepini Gonçalves (Depto. de Psicologia – PUC Minas)

Prof. Dr. Francisco Xarão (ICHL – Unifal-MG)

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)

Prof. M.Sc. Lívia Borges Pádua (Depto. de Comunicação Social – PUC Minas)

Prof. M.Sc. Paulo Denisar Fraga (ICHL – Unifal-MG)

Prof. Dr. Ronny Francis Campos (Depto. de Psicologia – PUC Minas)

Jornalista Thiago dos Santos Quinteiro (Esp. em Filosofia – TVPoços)

Arte e Técnica: Cefas Garcia Pereira (Graduação em Ciências da Computação – PUC

Minas)

Editoração Caderno de Resumos: Profa. Dra. Elisa Zwick (ICSA – Unifal-MG)

Coordenação geral:

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho (Depto. de Filosofia – PUC Minas)

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Realização:

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, Campus Poços de Caldas

Curso de Especialização – Pós-Graduação em Filosofia

Curso de Especialização – Pós-Graduação em Psicanálise

Núcleo de Ciências Humanas/Departamento de Filosofia

Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

Curso de Psicologia

Curso de Direito

Grupos de Pesquisa/PUC Minas/CNPq: Cultura, Memória, Sociedade; Filosofia,

Religiosidade e suas Interfaces; Modos de Produção da Subjetividade

Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG

Grupo de Pesquisa/Unifal-MG/CNPq: Filosofia, História e Teoria Social

Instituto de Ciências Humanas e Letras – ICHL

Universidade da Beira Interior – UBI (Covilhã – Portugal)

LabCom.IFP – Comunicação, Filosofia e Humanidades

Sociedade Portuguesa de Comunicação

Associação Portuguesa de Fenomenologia

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Apoio Institucional/Fomento:

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Apoio logístico:

Secretaria de Relações Internacionais – PUC Minas

Centro de Recursos Computacionais – CRC/PUC Minas

Assessoria de Comunicação – PUC Minas

Secretaria da Pós-Graduação e Pesquisa – PUC Minas

Divisão Financeira – PUC Minas

Setor de Infraestrutura – PUC Minas

Labcom – PUC Minas

Gabinete do Reitor – Unifal-MG

Pró-Reitoria de Extensão – Unifal-MG

Patrocínios:

Arte em Texto Ltda. – Poços de Caldas-MG

Bar e Restaurante Peixe Frito – Alfenas-MG

Carvalho & Guerra Corretores de Seguros – Poços de Caldas-MG

Companhia de Dança Gisa Carvalho – Poços de Caldas-MG

Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani – Poços de Caldas-MG

Fonte Platina Ind. Com. Ltda. – Águas da Prata-MG

Papelaria Pontinho Multi Serviços – Poços de Caldas-MG

Restaurante do Ali – Alfenas-MG

TV Poços – Poços de Caldas-MG

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 11

PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA ................................................................................... 13

MESA 1 .......................................................................................................................... 17

Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões .............................................. 17

“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual da

sociedade brasileira......................................................................................................... 18

A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais .... 19

A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana ........................................................... 20

500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira .................................. 21

Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania ......................... 22

A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso......................... 25

A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso ........... 27

“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando memórias e

aproximando gerações .................................................................................................... 29

A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-periferia

........................................................................................................................................ 32

A ciberliteratura e a formação de professores de letras .................................................. 33

A construção social do negro ......................................................................................... 35

O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser ................................... 36

Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural ........ 37

Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê ........................................... 40

Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso? ....................................... 42

A convalescença da linguagem em Clarice Lispector .................................................... 43

Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do cinema ..... 44

MESA 2 .......................................................................................................................... 45

Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade........................................................... 45

Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz de

Heidegger........................................................................................................................ 46

A imagem entre representação e precessão .................................................................... 48

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A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das

interpretações kelseana e heideggeriana ......................................................................... 50

Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática ........ 53

Oficina de artes: território de existência ......................................................................... 55

Subjetivação e temporalidade em Sartre ........................................................................ 56

O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um estudo

psicanalítico .................................................................................................................... 57

Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa Minha

Casa Minha Vida. ........................................................................................................... 59

O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo ........................................................................ 62

A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como

espacialidade ................................................................................................................... 63

Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma (re)leitura da

Questão Judaica de Karl Marx ....................................................................................... 65

Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari ................ 67

Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana ...................................................... 69

A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica ............... 70

A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac ......... 73

Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações sociais da

pessoa humana ................................................................................................................ 74

A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações sobre o

brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas .......................................... 76

Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a pragmática

linguística ....................................................................................................................... 78

Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels ............... 80

Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de

ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade humana . 82

A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio? ....... 84

Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado ................. 86

Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino

Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas .............................................. 88

A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do

filme Avatar a partir da Teoria Crítica ........................................................................... 89

MESA 3 .......................................................................................................................... 91

Filosofia, Educação, Cultura, Ética e Sociedade ............................................................ 91

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A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969) ............ 92

A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap ........ 93

Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico ................................. 94

O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública ................ 95

A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de segurança

no âmbito do direito e da moral. ..................................................................................... 96

Habilidades de pensamento na aula de Filosofia ............................................................ 98

Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros ................................................................. 99

Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real ........... 100

O que pode e o que impede a educação pública? ......................................................... 102

A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de

alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas .......................... 104

Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor ....................... 105

O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional

brasileiro ....................................................................................................................... 108

Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários da PUC

Minas, campus Poços de Caldas ................................................................................... 110

Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com

universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas .............................................. 111

A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia ................... 112

Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica para

além dos espaços tradicionais de comunicação do saber ............................................. 114

Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do

positivismo ................................................................................................................... 115

Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller ................................... 118

A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche ................................. 119

O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o

poder soberano .............................................................................................................. 120

Religião, política e secularização: dimensões de um problema ................................... 121

Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro............. 122

A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente nas

escolas públicas do município de Poços de Caldas ...................................................... 123

Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de

aprendizagem na Universidade ..................................................................................... 126

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Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a partir de

Spengler, Ortega y Gasset e Habermas ........................................................................ 129

Quem é a Polegarzinha? ............................................................................................... 130

A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema

educacional público de Minas Gerais ........................................................................... 132

Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha ........................ 133

Ramon Llull e o diálogo inter-religioso ....................................................................... 134

Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era

globalizada .................................................................................................................... 137

Utilização de cotas na universidade.............................................................................. 138

Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua

dimensão epistêmica ..................................................................................................... 141

Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história segundo

Immanuel Kant ............................................................................................................. 142

Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa ....................... 144

O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância .................................. 147

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APRESENTAÇÃO

Em relação dialética com as crescentes transformações tecnológicas, as contínuas

mudanças nas formas de interação e comunicação humanas são impulsionadoras de

redes sociais e novas mídias de massa, ensejando impactos decisivos e novas

experiências, as quais exigem uma devida compreensão científica e crítica. Essa nova

realidade mundial desafia a comunidade acadêmica a renovar suas interpretações,

requerendo abordagens integradas, permanentemente subsidiadas pelo diálogo

interdisciplinar.

Contribuem para este ambiente reflexivo áreas de investigação como a Filosofia, a

Psicologia, a Comunicação, o Jornalismo, a Linguística, a Educação, a Arte, a

Semiótica, ao lado de outras Ciências Humanas e Sociais. Enfoques direcionados a

pesquisas no campo tecnológico, da informação e do comportamento muito têm a

colaborar para uma visão mais abrangente desses fenômenos, trazendo reflexões e

análises próprias, bem como inovadoras perspectivas teóricas e metodológicas.

Animado por este propósito é que surgiu a ideia do Simpósio Internacional de

Filosofia, Comunicação e Subjetividade (Lubral 2016). Ao integrar pesquisadores de

três diferentes países, quatro nacionalidades e diversas instituições, o simpósio priorizou

a aproximação cultural e o compartilhamento de experiências sobre formas emergentes

de interconexão, comunicação e relacionamento humanos, estudadas em diferentes

campos de abordagem.

Colaboraram para a execução deste evento o Curso de Especialização em Filosofia

oferecido desde 2010 pela PUC Minas - Campus Poços de Caldas, juntamente com

outras atividades acadêmicas realizadas pelo Núcleo de Ciências Humanas desta mesma

unidade e sua atuação nos vários cursos de graduação da PUC Minas. Também se

envolveram de modo especial os cursos de Comunicação Social e de Psicologia da PUC

Minas, além de três Grupos de Pesquisa da instituição, vinculados ao CNPq: Cultura,

Memória e Sociedade; Filosofia, Religiosidade e suas Interfaces; Modos de Produção da

Subjetividade. Do lado brasileiro destaca-se ainda a parceria e atuação do Instituto de

Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal de Alfenas (ICHL/Unifal-MG),

pelo Grupo de Pesquisa, vinculado ao CNPq, Filosofia, História e Teoria Social.

Do lado português, une-se a esta experiência o trabalho de ensino, pesquisa e produção

acadêmica desenvolvido pelo Instituto de Filosofia Prática, hoje congregado no

LabCom.IFP - Comunicação, Filosofia e Humanidades, da Universidade da Beira

Interior (UBI - Covilhã, Portugal), nas áreas de Filosofia, Comunicação e mídia,

fenomenologia, Artes e Humanidades.

Ganha relevância para o evento o fato de que em 2016 completam-se quarenta anos da

morte (1976) do filósofo alemão Martin Heidegger, um dos grandes expoentes da

filosofia fenomenológica e da ontologia na contemporaneidade; oitenta anos (1936) da

publicação de A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental (Die

Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie: ein

Einleitung in die phänomenologische Philosophie), o livro clássico de Edmund Husserl;

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e também de A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (Das Kunstwerk im

Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit), de Walter Benjamin. Todas são obras

e autores fundamentais para o pensamento filosófico crítico, essenciais no

enfrentamento dos desafios impostos pela modernidade nos âmbitos tanto científico

quanto técnico.

Além de reunir pesquisadores e especialistas das universidades promotoras do Brasil e

Portugal, o evento também contou com convidados internacionais oriundos da

Alemanha e da Sérvia, estabelecendo um elo bastante diversificado de abordagens.

Além das conferências e palestras, o Simpósio ofereceu aos participantes um minicurso

sobre a relação entre o pensamento de Heidegger e a mídia. Os participantes, vindos de

diferentes partes do Brasil, também trouxeram seus trabalhos, os quais foram

apresentados em três mesas de comunicação, conforme as seguintes linhas temáticas:

1. Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões: Esta sessão

procurou abrigar comunicações que abordaram temas relacionados ao campo da

linguagem/Filosofia da Linguagem, semiótica e comunicações simbólicas,

mídias e suas relações no contexto cultural, social, políticos, comportamental.

2. Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade: Esta sessão procurou abrigar

comunicações que abordaram temas relacionados aos campos de investigação na

Psicologia, especialmente nas conexões com as teorias e métodos filosóficos, em

torno do sujeito, do comportamento, da sociedade, tais como a fenomenologia, a

psicanálise, as teorias humanistas etc.

3. Filosofia, Educação, Cultura e Sociedade: Esta sessão procurou abrigar

comunicações que abordaram temas amplos na Filosofia, sobretudo aqueles que

se voltam às questões da educação, da ética, da cultura, da sociedade, da política,

no contexto contemporâneo.

O presente Caderno de resumos reúne todas as comunicações apresentadas nas mesas e

que traduzem o espírito interdisciplinar do evento, que valorizou diferentes temáticas a

partir de distintas áreas do conhecimento. Todas as atividades foram abertas ao público

interessado em Filosofia e suas interfaces, estudantes de graduação e pós-graduação nas

áreas afins, docentes, profissionais e pesquisadores.

Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC Minas - Campus Poços de Caldas

Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria – Unifal-MG - Sede Alfenas

Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia – UBI - Covilhã, Portugal

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PROGRAMAÇÃO SINTÉTICA

Quarta-Feira, 16/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ

8:00h - 9:00h: Recepção e credenciamento

9:00h - 10:00h: Abertura do evento. Representantes institucionais (PUC Minas, Unifal-

MG, UBI - Portugal e representação da Alemanha).

10:00h - 10:30h: Videoconferência: “Transformações pós-modernas e os impactos nas

Humanidades e na Comunicação”. Prof. Dr. João Carlos Ferreira Correia (Universidade

da Beira Interior - Portugal).

10:00h - 12:00h: Conferência: “Transformações pós-modernas das Humanidades e da

Comunicação: da paideia ao interculturalismo”. Profa. Dra. Anabela Maria Gradim

Alves (Universidade da Beira Interior - Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr.

Gérson Pereira Filho (PUC Minas).

Almoço

TARDE

13:30h - 17:30h: Sessões de comunicações

NOITE

19:00h: Conferência: “Fenomenologia, Heidegger e a Filosofia oriental”. Prof. Dr.

Antônio Florentino Neto (Unicamp). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Ronny Francy

Campos (PUC Minas).

21:30h: Lançamento de livros:

Antônio Florentino Neto e Oswaldo Giacoia Jr. (Orgs.), Heidegger e o pensamento

oriental (Campinas: Phi).

Antônio Florentino Neto, Escritos de Leibniz sobre a China (Campinas: Phi).

Maria José Viana Marinho de Mattos, Camila Alves Fior, Gérson Pereira Filho (Orgs.),

Psicologia e Filosofia (Curitiba: CRV).

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Quinta-Feira, 17/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ

8:00h: Reabertura das atividades. Mesa: “A cultura midiática contemporânea e seus

impactos”. Prof. Dr. Júlio Pinto (PUC Minas); Prof. Dr. Lucas Cid Gigante (Unifal-

MG). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Conrado Moreira Mendes (PUC Minas).

Intervalo

10:30h - 12:00h: Conferência: “Sensação e fetiche na cultura da imagem”. Prof. Dr.

Flademir Roberto Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar

Fraga (Unifal-MG).

Almoço

TARDE

13:00h - 18:00h: Minicurso: “Introdução à Filosofia de Heidegger para os estudos da

mídia”. Jornalista e Profa. Dra. Soraya Guimarães Hoepfner (Berlim - Alemanha).

NOITE

19:00h: Conferência: “Filosofia e Comunicação: subjetividade e sociedade”. Prof. Dr.

Miroslav Milovic (UnB). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Marcos Roberto de Faria

(Unifal-MG).

19:30h - 21:00h: Mesa simultânea – Auditório Dr. João Leão de Faria – Unifal-MG -

Sede Alfenas. “Filosofia, mídia, cultura e comunicação”. Prof. Dr. André Barata

Nascimento (Universidade da Beira Interior – Portugal); Prof. Dr. Flademir Roberto

Williges (IFRS). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).

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15

Sexta-Feira – 18/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ

8:00h: Reabertura dos trabalhos. Mesa: “Realidade social, cultura e ideologia”. Cineasta

Frederico Furtado; Prof. Dr. André Luiz Sena Mariano (Unifal-MG). Coordenador da

mesa: Prof. Dr. Sibélius Cefas Pereira (PUC Minas).

Intervalo

10:30h - 12:00h: Conferência: “As três antinomias da democracia e o problema da

comunicação”. Prof. Dr. André Barata Nascimento (Universidade da Beira Interior –

Portugal). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Adriano Pereira Santos (Unifal-MG).

Almoço

TARDE

13:30h - 17:30h: Sessões de Comunicações

17:30h - 18:30h: Reunião científico-institucional do evento (Comissão Organizadora,

Comissão Científica, representantes institucionais e convidados externos) – Local: PUC

Minas - Poços de Caldas, Prédio 2, Andar térreo, sala 10.

NOITE

19:00h: Apresentação cultural: “A dança dos Orixás” – Cia. de Dança Gisa Carvalho.

20:00h: Conferência: “A Filosofia depois de Heidegger”. Prof. Dr. Peter Trawny

(Universidade de Wuppertal – Alemanha). Tradução: Jornalista e Profa. Dra. Soraya

Guimarães Hoepfner. Coordenador da mesa: Prof. Dr. Gérson Pereira Filho – PUC

Minas.

Divulgação dos livros do autor: Adyton: a Filosofia esotérica de Heidegger; Heidegger

e o mito da conspiração judaica (Rio de Janeiro: Mauad).

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Sábado, 19/11 – Auditório 2 da PUC Minas – Poços de Caldas

MANHÃ

9:00h: Conferência: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr. Christoph Türcke (Escola

Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e Universidade de Leipzig -

Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. Dr. Francisco Xarão (Unifal-MG).

Divulgação do livro do autor Sociedade excitada: Filosofia da sensação (Campinas: Ed.

Unicamp) e lançamento de Hiperativos! Abaixo a cultura do déficit de atenção (Rio de

Janeiro: Paz e Terra).

11:00h: Apresentação Musical – Conservatório Musical Antônio Ferrucio Viviani.

12:00h: Encerramento.

Almoço de confraternização – por adesão.

Segunda-Feira, 21/11 – Auditório Dr. João Leão de Faria da Unifal-MG - Sede

Alfenas

NOITE

19:30h - 21:00h: Conferências Humanísticas II: “Filosofia da sensação”. Prof. Dr.

Christoph Türcke (Escola Superior de Artes Gráficas e Livreiras de Leipzig e

Universidade de Leipzig - Alemanha). Coordenador da mesa: Prof. M.Sc. Paulo Denisar

Fraga (Unifal-MG).

Auditório Dr. João Leão de Faria da Unifal-MG – Para esta conferência houve inscrição

complementar (gratuita) no site da Unifal-MG.

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MESA 1

Comunicação, Mídias e Linguagens: práticas e reflexões

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“Fora Dilma” e “Fora Temer”: A mídia e a polarização política no contexto atual

da sociedade brasileira

Beatriz Silva Curti1

Caroline Salvi Brandão2

Ana Maria Brochado de Mendonca Chaves3

Palavras-chave: mídia; contexto político; sociedade brasileira.

Diante do atual cenário político brasileiro, tornou-se possível observar um processo

polarização da sociedade decorrente de um acentuado antagonismo ideológico. Nota-se

ainda que tal processo torna-se mais evidente com a crescente participação da população

na esfera pública. Entretanto deve-se salientar que na maioria das vezes tal

envolvimento não ultrapassa o âmbito da emissão de opiniões, as quais notadamente se

revestem de caráter hostil e maniqueísta e acontecem predominantemente por meio das

redes sociais. Este engajamento dos indivíduos pode encontrar justificativa na

disseminação da informação por intermédio da mídia hegemônica Percebe-se que os

grupos discordantes criam identidades com determinadas expressões, as quais são

legitimadas e difundidas por meio da comunicação em massa. Pretende-se observar a

relação entre o fenômeno da polarização e as notícias selecionadas, neste sentido

almeja-se encontrar indícios da parcialidade das reportagens que apresentaram os

termos “Fora Dilma” e “Fora Temer”, presentes em três dos maiores sites de notícia

brasileiros (UOL, G1 e Terra), no período de um ano que antecede ao impeachment da

presidenta Dilma Rousseff. Para a realização da pesquisa, utilizou-se a ferramenta de

busca avançada do Google, com os filtros de data e ocorrência apenas no título. Como

resultado parcial, obteve-se o número de 48 notícias com o termo “Fora Temer” e 6 com

os dizeres “Fora Dilma”. Diante dos dados apresentados será feita uma análise de

conteúdo a partir da hipótese da existência de um paradoxo entre os acontecimentos

políticos e os fatos noticiados.

1 Bibliotecária na PUC Minas com MBA em Gestão Avançada de Pessoas. E-mail: [email protected]. 2 Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito. E-mail: [email protected]. 3 Professora da PUC Minas e Mestre em Educação USP. E-mail: [email protected].

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A influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos: a percepção dos pais

Alessa Marynara Silva4

Palavras-chave: Publicidade infantil; mídia; crianças; influência; pais e educadores.

Trata-se de um estudo sobre “A Influência e o Impacto de Mídia nas Crianças de 4 a 9

anos: a percepção dos pais”, cujo objetivo é analisar a percepção dos pais em relação à

influência e o impacto da mídia nas crianças de 4 a 9 anos, e seus comportamentos

como possíveis reflexos consequentes dos conteúdos midiáticos aos quais eles têm

acesso. A partir do objetivo geral, foram elaborados os específicos: contextualizar a

mídia e suas abordagens; entender a influência da mídia nessa faixa etária e

posteriormente com uma compreensão da mídia formadora de padrões e estereótipos

culturais. A tecnologia avançou muito, então vivemos um momento no qual a maior

parte da população tem ao alcance de suas mãos algum veículo de comunicação, o

tempo todo, propiciando uma influência muito grande desse conteúdo e dessas

mensagens na vida das pessoas. A partir da revisão da literatura, percebe-se que as

crianças não são capazes de discernir o propósito dos meios de comunicação social e

distinguir as informações da programação televisiva que podem mudar seu modo de

pensar, agir e se relacionar com o mundo. O desenvolvimento desse estudo procura

entender as formas de influência midiática, mostrando como se dá a relação entre os

meios de comunicação e os receptores dessa faixa etária. Na sequência, foram aplicados

questionários a um grupo de vinte pais no sentido de verificar se há influência da mídia

na formação ou no desenvolvimento das crianças. Após a coleta e organização dos

dados, percebe-se que há compreensão dos pais confirmando a influência da mídia tanto

em relação às questões do consumismo, padrões de beleza quanto nos estereótipos e

estratégias de marketing que afetam crianças. Destaca-se com esse estudo, a educação

como um recurso ao consumo consciente, despertando sempre os educandos à

criticidade, e também os pais e toda a sociedade como mediadores do processo do

desenvolvimento infantil, atentos aos conteúdos dos veículos de comunicação.

4 Graduanda em Pedagogia pela PUC Minas. E-mail: [email protected].

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A cartografia do afeto: São Paulo e Arte Urbana

Camila Geracelly Xavier Rodrigues dos Santos5

Palavras-chave: São Paulo; Arte Urbana; lugar; afeto; comunicação; cartografia.

A pesquisa investiga a arte urbana e sua intervenção no processo de comunicação da

cidade. Partindo desse objetivo, a pesquisa analisa o conceito de Arte Urbana, suas

origens, evoluções e sua possível revisão ou desconstrução, tento como objeto de estudo

a Cidade de São Paulo. Investiga-se as características comunicativas da arte urbana e

suas possibilidades de intervenção. Nesse sentido e como decorrência, objetiva-se traçar

uma cartografia afetiva da cidade. Através de apropriações estéticas e estésicas da

cidade, considera-se como hipótese que a arte pode adicionar dimensões sensíveis aos

espaços transformando-os em lugares de afeto, modificando o ambiente urbano e

tornando o uso público e privado da cidade um ser mutante hibrido. Modificam-se os

fluxos comunicacionais entre a cidade e seus usuários e se reconfiguram visibilidades

descobrindo o que estava invisível à percepção. Adotando a estratégia metodológica da

deriva proposta por Guy Debord, observa-se e analisa-se a cidade como um corpo vivo

permeado de horizontes sensíveis que permitem apreender órgãos e artérias da cidade,

ao mesmo tempo em que traçam redes ou raízes de significações. Para tanto, devemos

entender a arte urbana como a arte desprovida de aura, desconstruindo seus estereótipos

para a construção de um conceito que amplie as suas possibilidades. O projeto

apresentado não trabalha uma teoria aplicada, mas fluindo entre teorias, resgata-se

conceitos que possibilitam a ampliação do conhecimento sobre a cidade e a arte que

conserva. A proposta é criar um fluxo teórico entre vários autores a fim de criar uma

cartografia do afeto da cidade de São Paulo tendo como objeto sua arte urbana. A

pesquisa flui entre as teorias propostas por pesquisadores que investigam a arte, a cidade

e a comunicação, como David Harvey, SaskiaSassen, Richard Sennett, Milton Santos,

Walter Benjamim, Lucrécia Ferrara, DidHuberman, Augustin Berque, Hans Belting,

Jacques Rancière, Pierre Bourdieu, Siegfried Zielinski, AbyWarburg, Guy Debord,

Gilbert Simondon, Merleau-Ponty, Paul Valéry, Algirdas Greimas, Carlo Giulio Argan

e Ernest Gombrich.

5 Doutoranda em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC.

Mestra em Teoria e Crítica de Arte pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto – PT. E-mail:

[email protected].

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500 anos da Utopia de Thomas More na grande mídia brasileira

Gleyton Trindade6

Palavras-chave: Utopia; mídia; liberalismo; republicanismo.

O ano de 2016 marcou a celebração dos 500 anos de publicação da Utopia de Thomas

More, obra de reconhecida importância e impacto na própria conformação da literatura

filosófica e política no mundo ocidental. Por isto mesmo, eventos comemorativos à data

ocorreram em várias universidades ao redor do mundo, especialmente no mundo anglo

saxão. No caso do Brasil, grandes meios de mídia promoveram debates sobre a

importância e atualidade da obra clássica de Thomas More buscando repensar seu lugar

no mundo contemporâneo. Chama a atenção o fato de que tais eventos patrocinados

pelos grandes órgãos de mídia do país terminaram por adotar um discurso bastante

crítico em relação a Utopia, denunciando seus pretensos fundamentos “totalitários” e

sua suposta defesa de uma sociedade do “controle total”. Neste trabalho, pretendemos

identificar as raízes liberais e mesmo libertárias de tal leitura da Utopia, centradas na

acusação do “perfeccionismo” e no “anti-historicismo” supostamente presentes na

Utopia. Do nosso ponto de vista, tal leitura liberal de More não faria jus aos grandes

dilemas políticos enfrentados por sua obra apontados pelas leituras republicanas mais

contemporâneas. Desse ponto de vista, os eventos realizados pela mídia brasileira

revelariam muito mais sobre as matrizes ideológicas profundamente liberais e avessas à

vida pública a partir das quais os profissionais de mídia se informam no Brasil do que

propriamente sobre a clássica obra que completa seus cinco séculos neste ano.

6 Professor Adjunto da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

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Cultura da autonomia e as redes sociais na consolidação da cidadania

Maria Fabiana Lansac7

Palavras-chave: Mídias Sociais; cultura democrática; espaço de autonomia; política

pública; coesão social.

Políticas públicas de incentivo à cultura e sua relação com as expressões individuais que

são estabelecidas através de conexões por meio de mídias sociais serão analisadas com

base em eventos culturais que incentivam o uso de espaços públicos e colaboram para

consolidar a cultura da autonomia no Brasil. Esta relação é apresentada através de

aspectos encontrados no processo de consolidação e desdobramento da Virada Cultural

executada pelo Governo do Estado de São Paulo desde 2005 e pelas grandes

manifestações de ordem política ocorridas a partir do Movimento Passe Livre – MPL

em 2013, considerando o uso tecnológico como fator inerente a transformação de

espaços públicos em espaços de autonomia dentro de contexto político e cultural. A

base teórica do artigo será fundamentada no pensamento de dois autores principais:

Manuel Castells e Isaura Botelho. O primeiro autor trata da conceituação da “Cultura da

Autonomia” (CASTELLS; 2013) com ênfase para a politização das redes sociais e

também no advento da popularização do acesso rede informacional que o autor

denomina de “Galáxia de Internet” (CASTELLS; 2003). A autora fundamenta aspetos

da cultura democrática em contraponto à democratização da cultura, seja em sua

dimensão antropológica ou erudita, apresentando considerações relevantes sobre

aspectos da implementação de políticas públicas culturais e sobre a influência dos atores

políticos, sociais e econômicos que estão envolvidos neste processo (BOTELHO;

2001). Complementando o embasamento teórico serão considerados artigos que tratam

da dispersão irregular de áreas públicas decorrente do fenômeno de metropolização no

Brasil e como isto colabora para a acentuação da desigualdade social (BENFATTI, et al;

2010) sendo que este mesmo fenômeno também foi observado em diversos países da

América Latina trazendo com grandes impactos negativos para a população

(KAZTMAN e RIBEIRO; 2008). Para embasamento do texto proposto serão utilizados

dados quantitativos e análises publicadas por órgãos governamentais e institutos de

pesquisa sobre as políticas públicas culturais e sobre as manifestações populares

ocorridas desde 2001 quando teve início a implementação da Virada Cultural na cidade

de São Paulo (OLIVEIRA; 2009) até as manifestações populares de natureza política

recentemente e que abrangeram todo o território nacional (CASTELLS; 2013).

7 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Mestre em Urbanismo do

Programa de Pós Graduação em Urbanismo – PUC-Campinas; Professor PucPCaldas, Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo. E-mail: [email protected].

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Entendendo que os valores culturais e os canais participativos favorecem que se

estabeleça uma coesão social que corrobora com o fortalecimento do sentimento de

pertencimento de um indivíduo em um grupo social ou em uma comunidade. Na

sociedade contemporânea, cada vez mais dependente da tecnologia de informação e

comunicação, observa-se um fenômeno que trata da manifestação de valores individuais

que são expostos em mídias sociais e nestas o indivíduo encontra com maior facilidade

outros indivíduos que compactuam os mesmos valores, embora estes indivíduos estejam

dispersos no meio físico, suas convicções se fortalecem no meio virtual. Quando estes

valores individuais se tornam consensuais, configuram comunidades ou grupos. Com o

crescimento destas comunidades em número de integrantes e também pelo

fortalecimento do consenso conceitual, estes valores fundamentais passam a ter uma

dimensão política, fazendo com que destas ideias transponham as fronteiras

tecnológicas e sejam manifestadas de forma física. Esta transposição pode ser observada

pela apropriação de espaços públicos pela população como uma forma tradicional de

consolidação do pensamento cidadão em ação social e política. Neste ponto se observa a

consolidação da cultura da autonomia, pertencente a dimensão teórica, porém, através

da apropriação de espaços públicos ou de uso coletivo, de dimensão física, estas as áreas

utilizadas pela população de forma coletiva e orquestrada, passam a ser consideradas

como espaços de autonomia, legitimando ou buscando a legitimação do pensamento

consensual. Este fenômeno contemporâneo da cultura da autonomia, aliado às práticas

democráticas de incentivo à coesão social e mais inclusivas no âmbito da cidadania e do

respeito aos fundamentos culturais do indivíduo, serão analisados com maior

profundidade pelo artigo apresentado, baseado na ampliação do acesso e disseminação

de novas tecnologias de informação e de comunicação como instrumento facilitador das

manifestações populares que colaboram com o fortalecimento do sentimento de

pertencimento do indivíduo em comunidade e também sua cidadania. Referências

Bibliográficas: BENFATTI, D.M., QUEIROGA, E.F., SILVA, J.M. Transformações da

Metrópole Contemporânea: Novas Dinâmicas Espaciais, Esfera da Vida Pública e

Sistema de Espaços Livres. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V12,

n.2, pp.29-43, maio 2009. BOTELHHO, I. As dimensões da cultura e o lugar das

políticas públicas. São Paulo em Perspectiva, 15(2) 2001, pp. 73-83. Disponível em:

www.scielo.br/pdf/ssp/v15n2/8580.pdf. Acesso em 05/09/2016. CASTELLS, M. A

Galáxia da Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de

Janeiro, Zahar, 2003. CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança: movimentos

sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. KAZTMAN, R., RIBEIRO,

L.C.Q. Metrópoles e sociabilidade: os impactos das transformações socioterritoriais das

grandes cidades na coesão social dos países da América Latina. Rio de Janeiro:

Cadernos Metrópole 20 pp.241-261, 2ºSem. 2008. Disponível em:

file:///C:/Users/Usuario/Documents/Doutorado/ARTIGOS%20FAB/Referencia/8706-

21150-1-SM.pdf Acesso em 10/10/2016. OLIVEIRA. M.C.V. Culturas, públicos,

processos de aprendizado: possibilidades e lógicas plurais. Políticas Culturais em

Revista, 2(2), pp.122-136, 2009. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/difusaocultural/adminseminario/documentos/arquivo/Culturas,%20

publicos,%20processos%20de%20aprendizado%20-

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A notícia como definidora do tempo – e o indivíduo em relação a isso

Marcos Beck Bohn8

Palavras-chave: Notícia; televisão; tempo; memória; autonomia.

Esta pesquisa examina o grau de interferência da notícia audiovisual na percepção

humana da passagem do tempo. Em um ambiente onde os organismos midiáticos

definem suas próprias escalas temporais, novas relações temporais podem se estabelecer

entre o telespectador e as notícias consumidas. Bastante mutáveis e eventualmente nada

similares entre si, tais intervalos de tempo delimitados externamente interagem com a

linha do tempo interna do sujeito. Assim, o presente trabalho busca empreender uma

reflexão interdisciplinar sobre (i) o modo de delimitação e consolidação do tempo pela

notícia, (ii) o modo como oscila – avança e recua, acelera e atrasa – o tempo da notícia,

e, por fim, (iii) sobre uma eventual descontinuidade entre o tempo da notícia e o tempo

subjetivo do indivíduo. Como base teórica, parte-se da filosofia de Henry Bergson e de

sua descrição do modo humano de organização da recordação e da memória: através de

paradas virtuais no tempo passado. Compreendemos e apreendemos o tempo através de

uma representação linear, sendo nossas lembranças constituídas por registros fixos no

tempo unidimensional e anterior de nossa memória. As definições de tempo e memória,

por sua vez, são desenvolvidas a partir de uma perspectiva geral e sistêmica, portanto,

ontológica – notadamente, a de Mario Bunge. Assim, a memória é vista como

fundamental para a manutenção da autonomia do indivíduo. Já o conceito de tempo é

considerado a partir da percepção humana primordial que o sustenta e cria, aquela de

antes de e depois de algum evento (conforme Kenneth G. Denbigh). O tempo, aqui, é o

tempo irreversível da fenomenologia (conforme Ilya Prigogine e Isabelle Stengers).

Quanto aos eventos, podem vir a ser retratados pelas notícias, constituindo assim um

novo evento, desta vez audiovisual, em que uma representação de fatos é elaborada

sobre uma representação do tempo, continuamente recriando e reforçando a lógica

humana linear de retrospecção. Considera-se, entretanto, que a intensidade do fluxo

noticioso possa estar além da capacidade de processamento interna do indivíduo,

gerando até mesmo um descompasso em nosso processo perceptivo. A investigação

analisa a íntegra de um telejornal, especificamente no que tange aos intervalos de tempo

estabelecidos em cada notícia separadamente. Até o presente momento, tal análise

8 Jornalista, Master of Arts em Transnational Communications and Global Media pelo Goldsmiths

College da Universidade de Londres, Mestre e Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

E-mail: [email protected].

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indica ser possível tomar como procedente a hipótese de que o fluxo noticioso

contemporâneo, ao interagir com as paradas virtuais da recordação subjetiva do

indivíduo, pode alterar sua memória, interferindo em sua autonomia.

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A comunicação empresarial e a relação de dominação significada no consenso

Maria Isabel Braga Souza9

Palavras-chave: Comunicação empresarial; estratégias de comunicação; sujeito;

análise de discurso.

Buscamos apontar alguns efeitos de sentido que atravessam as relações entre sujeitos e

instituições, refletindo o modo como os materiais de comunicação empresarial se

constituem enquanto interlocução da empresa com seu público, organizando os sentidos

que estão em circulação, instituindo relações e padrões em espaços discursivos

específicos para que essas formulações possam se significar, produzindo consenso e

evitando conflitos. Esse efeito de coerência no discurso é uma forma de poder, já que o

político também se faz presente na relação entre o que é dito e os sentidos que se farão

compreender. Trazendo essa reflexão para os discursos empresariais, podemos entender

os mecanismos de funcionamento desses enunciados que materializam o

posicionamento da empresa e outras posturas que podem ser consideradas mecanismos

de regulação. Ancoramos este trabalho na Análise de Discurso de linha francesa,

fundamentado, principalmente, nos estudos de Michel Pêcheux e Eni Orlandi. Nos

discursos das empresas vemos representada a atual conjuntura do capitalismo

manipulatório, que busca moldar o trabalhador para que ele, inserido neste sistema, dê

resultados que corroborem com o que dele é esperado enquanto força de trabalho. A

busca pelo controle de atitudes e comportamentos pelas empresas é representada nos

discursos com sentidos de valores e expectativas, de crescimento profissional, de ação e

reação, causa e consequência, uma estratégia que faz com que essas delimitações se

tornem evidentes para o trabalhador que está atravessado pela memória de que o bom

funcionário faz carreira, é dedicado, que agindo assim ele (se) significa na sociedade de

maneira ímpar e atinge seus objetivos pessoais e profissionais. O modo como a empresa

denomina seu trabalhador, para não dizer, ou dizer, funcionário, colaborador ou outra

denominação, remete a uma classificação desta mão-de-obra como parte integrante da

empresa e transferir para ela suas obrigações enquanto força de trabalho produtiva,

responsável pelos resultados da organização, pelos seus próprios resultados enquanto

mão-de-obra, e resultados da vida pessoal, o ser humano, que tem suas outras

especificidades também influenciadas pelo trabalho. Na contemporaneidade, as

empresas buscam materializar os seus valores que devem ser interpretados e seguidos

9 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Vale do

Sapucaí. E-mail: [email protected].

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por aqueles que compõem a sua força de trabalho, fazendo com que estes sujeitos, em

sua posição sujeito trabalhador, multipliquem estes ideais de gestão corporativa. Para

análise do discurso empresarial selecionamos recortes de alguns dos textos produzidos

pela multinacional Alcoa Alumínio S/A. A empresa está presente em mais de trinta

países e possui cerca de 60 mil funcionários. No Brasil se instalou em 1965, possui

escritórios, unidades de exploração e empreendimentos em nove diferentes Estados,

atuando na produção do metal, desde a extração da bauxita até sua transformação em

diversos produtos. Um primeiro aspecto a se destacar nos materiais de comunicação, é

que a empresa nomeia seus funcionários, independentemente da posição hierárquica que

ocupam, como “Alcoanos”. Analisando o uso dessa regularidade nos textos produzidos

para o público interno e externo da empresa, percebemos que há um esforço para nivelar

os trabalhadores, de modo que todos os vinculados a mesma empresa tenham atitudes,

repliquem posturas e posições ideológicas, como espelhos da organização. Criando a

categoria “Alcoanos”, a empresa busca a padronização e quem não se inscreve nesta

posição estará fora da parcela dos que, pelo imaginário, entendem ser iguais perante à

organização. O termo pode ainda ser compreendido como um nome próprio, uma

identificação, com a grafia da primeira letra maiúscula, assim como acontece na grafia

dos nomes em nossa sociedade. Os “Alcoanos” se conhecem, têm ideologia própria e se

inscrevem na mesma posição. Os “Alcoanos” têm competência para disseminar a

postura da empresa entre eles próprios, é o poder que, como água, inunda os

funcionários, para que corroborem com um propósito. Ao se depararem com a

nomenclatura “Alcoanos” os funcionários silenciam o “eu”, o indivíduo se oculta para

se inscrever nestes enunciados mercadológicos. Esse silenciamento, ocasionado pelo

consenso e domínio, faz com que os indivíduos/funcionários se nivelem ao padrão da

empresa, às suas ideologias, se assujeitando à formação discursiva do capital. No

discurso da Alcoa quem está inserido neste ambiente consensual é competente por agir

dessa maneira e não de outra, inscrevendo os funcionários em uma visão de dentro para

fora, um imaginário onde eles são diferentes, quando comparados a outros

trabalhadores, de outras empresas. Esse imaginário é reflexo de como a multinacional se

significa, evidenciando que quem não cumpre o que está estabelecido é desqualificado.

Nossa formação social nos remete ao capital e a denominação “Alcoanos” produz um

efeito de verdade, dá existência a algo inexistente: o coletivo da empresa inventado, o

“nós” Alcoa. O termo “Alcoano” legitima a multinacional, produzindo um imaginário

do bom lugar para se trabalhar, da boa empresa, dos bons produtos para se consumir, de

uma instituição parceira da sociedade, preocupada com o social e o ambiental. É o poder

justificado, atravessado pelos parâmetros capitalistas que fortemente estão nos textos da

atualidade e são incorporados à empresa de modo que os diferentes públicos - interno e

externo - também se signifiquem neste discurso, mesmo que não se deem conta disso.

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“Sacudindo a memória” na internet: recontando histórias, resignificando

memórias e aproximando gerações

Kátia Maria Pacheco Saraiva10

Palavras-chave: Internet; histórias; resignificação; memórias; gerações.

A globalização vem provocando mudanças profundas nos parâmetros da condição

humana. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro a Globalização-

as consequências humanas (1999) vivemos em uma época de liquidez e de fragilidade

dos vínculos afetivos em consequência do aumento do individualismo e do

enfraquecimento de atitudes solidárias. Por outro lado, é a globalização que também nos

permite um maior contato com diferentes formas de cultura, permitindo que troquemos

experiências, ora sendo influenciados, ora influenciando novos comportamentos. A

convivência humana na sociedade atual nos propõe constantes desafios e nos convoca a

inventar ou (re)inventar convívios intersubjetivos e intergeracionais. O nosso primeiro

grande desafio é o de voltarmos o olhar não só para nossa própria identidade, mas

principalmente para a construção das identidades das outras pessoas ou grupos com os

quais estabelecemos relações. E são justamente a busca pela (re)invenção de convívios e

a possibilidade de (re)encontros significativos e criativos – valorizando as experiências

pessoais, mediadas e realizadas como um objeto de estudo de um Projeto de Extensão

Universitária – que impulsionam o presente trabalho. Assim, emerge a proposta de um

projeto de extensão universitária denominado: Projeto Intergeracional “Sacudindo a

Memória”: recontando histórias, resignificando memórias e aproximando gerações, que

visa promover a sensibilização, a conscientização, a desconstrução de estereótipos e a

compreensão mais equilibrada acerca do processo de envelhecimento. Tudo por meio da

valorização das memórias autobiográficas contadas pelos idosos anônimos e invisíveis,

que representam a “memória viva da cidade”. Trata-se de um projeto cujo caráter é

eminentemente sociocultural, educativo, comunicativo e interdisciplinar, pois busca

fortalecer e consolidar a interdisciplinaridade entre os cursos de Psicologia e de

Publicidade e Propaganda. Os objetivos do projeto são: a) implementar práticas que

promovam a aproximação intergeracional, pois essas propiciam uma maior

sensibilização, conscientização e a quebra de estereótipos, tanto do processo de

envelhecimento, quanto da importante função social do idoso como guardião da

memória da cidade; b) a elaboração de um documentário em mídia digital – dentro de

10 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em

Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional

pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: [email protected].

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uma linguagem mais adequada e um formato mais contemporâneo sobre as memórias

autobiográficas narradas pelos idosos da cidade – que leve os jovens a resgatar as

tradições e a conhecer e refletir sobre a identidade cultural local, podendo-se constituir

um acervo de memórias das pessoas a ser disponibilizado na web. c) promover o bem

estar físico-mental e a qualidade de vida de todos os envolvidos. O Público alvo do

projeto são pessoas idosas com mais de 60 anos, de ambos os sexos, de diferentes

classes sociais que refletem a identidade sociocultural do município de Poços de Caldas.

Quanto aos beneficiários diretos, estes são 15 idosos e 10 jovens universitários de

ambos os cursos Psicologia e Publicidade e Propaganda; soma-se a esse quantitativo um

grande número de beneficiários indiretos, que são mais de 400 alunos dos cursos de

Psicologia e Publicidade e Propaganda, com grande potencial de ampliação desse

quantitativo, visto que há de se considerar as famílias dos idosos envolvidos e o

imensurável número de acessos possíveis do referido documentário na rede mundial de

computadores (mídias sociais como o “facebook” e o “youtube”). Quanto as etapas do

projeto, pode-se dividir em cinco momentos: 1º: Preparação técnica dos estudantes por

meio de diversas oficinas; 2º: Coleta de histórias/informações com os idosos locais

(método da história de vida) e pesquisa nos livros/arquivos que relatam a memória da

cidade; 3º: A preparação do documentário por meio de reuniões semanais conjuntas

entre os alunos para construção do roteiro, edição das imagens, confecção da identidade

visual do projeto e elaboração de todos os materiais que serão disponibilizados na web;

4º: Eventos de exibição do documentário no Centro Cultural da Cidade aberto ao

público e outro na Universidade para os discentes de ambos os cursos envolvidos. 5º: O

encerramento com a avaliação e a reflexão sobre os resultados, com participação de

alunos e idosos. Para coleta de dados, utilizou-se a observação participante, o método de

história de vida e foram feitos registros dos relatos de todos os encontros tanto em diário

de campo, quanto fotográficos. Além disso, ao final do projeto, será aplicado um

pequeno questionário com o objetivo de buscar os significados da experiência como um

todo, tanto para os idosos, quanto para os discentes. Trata-se de um projeto que ainda

está em andamento, mas caminhando para as etapas finais; ou seja, etapa de montagem

do documentário, postagens de teasers na Web e preparação para o evento de

lançamento/exibição do mesmo, que ocorrerá em novembro de 2016. Em relação aos

resultados, já se pode perceber, por meio da observação participante e dos relatos

colhidos dos próprios atores envolvidos (alunos e idosos) que todos apontam ser uma

experiência muito significativa e enriquecedora, que tem proporcionado bons encontros,

plenos em potencializar a disposição de agir, a reflexão e o poder criativo de seus

participantes. Assim, pode-se perceber que o projeto vem oferecendo a possibilidade de

articulação entre as práticas psicológicas, que promovem tanto o bem estar e a interação

entre as diferentes faixas etárias, quanto o desenvolvimento sociocultural de idosos e de

jovens através de um processo de educação recíproca. Deste modo, pode-se pensar que

esse tipo de prática ajuda a criar condições para o desenvolvimento de futuros

profissionais mais sensíveis às questões do envelhecimento e, também, contribui para

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uma evolução humana e social mais ampla, no sentido de usufruir da cultura existente e

ajudar a criar uma nova; principalmente com a utilização de um dos recursos

comunicacionais mais importantes da contemporaneidade – a internet – entendendo-se

que o mundo virtual não está apartado da vida e pode ser compreendido como área de

interlocução possível em que experiências podem ser recontadas, armazenadas,

compartilhadas e resignificadas. Além disso, o projeto pretende sensibilizar a

comunidade em geral para a riqueza sociocultural, o patrimônio imaterial da cidade e o

valor da troca de experiências entre gerações.

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A literatura como processo de subjetivação: entre o sujeito periférico e o devir-

periferia

Jailton Farias da Silva11

Palavras-chave: Sujeito periférico; subjetivação; devir-periferia.

Diante da emergência de intensa produção literária que surge nos grandes centros

urbanos brasileiros, a partir dos anos 2000 e se exprime em saraus e publicações de

diversas editoras sob os qualificativos de "marginal" e "periférica", procuramos

pensar nas implicações políticas das enunciações produzidas a partir desse fenômeno.

Objetivamos refletir sobre o deslocamento que a emergência desse fenômeno literário

provoca no enunciado periferia e a subjetivação a ele atrelada: o sujeito periférico.

Entendemos, seguindo Deleuze e Guatarri, que o sujeito é produzido a partir de arranjos

entre os agenciamentos em conexão, podendo se abrir pra novas conexões (processo de

dessubjetivação) ou se fechar em "identidades" mais ou menos fixas (processo de

sujeição). Nesse sentido, pretendemos, nessa comunicação, apresentar a ambivalência

que identificamos nos agenciamentos coletivos de enunciação da literatura marginal

periférica, na medida em que esses agenciamentos rompem com uma maquinação

produtora de periferias (como territorialidades composta pelo signo da ausência)

potencializando um devir-periferia (como processo de desterritorialização que faz fugir

os enquadramentos e abre para criação de possíveis). No entanto, não perdemos de vista

as forças de captura e de reterritorialização do sujeito periférico que diante da

modulação oriunda da sociedade de controle (Deleuze) agencia as diferenças diluindo-

as em diversidade.

11 Mestrando em Ciências Sociais pelo PEPGCSO (PUC-SP). E-mail: [email protected].

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A ciberliteratura e a formação de professores de letras

Fabiano Correa da Silva12

Palavras-chave: Literatura; ciberliteratura; mídias; formação de professores.

Mais do que nunca, as novas tecnologias têm sido tema de muitos trabalhos acadêmicos

nas mais diversas áreas do conhecimento, possibilitando assim uma gama muito variada

de percepções, análises e até mesmo conclusões a respeito de como estas inovações

tecnológicas afetam direta e indiretamente a vida de todos os cidadãos. As mídias que

um dia se convergiram em multimídias, variadas mídias trabalhando em conjunto (o

rádio, a TV, a própria escrita), tornam-se, graças aos avanços da computação, em

hipermídias: mídias que se convergem em um único suporte: o computador (aqui

representado por toda esta tecnologia dos suportes digitais: tablets, smartphones,

computadores pessoais – notebooks – relógios digitais com funções avançadas e até

mesmo eletrodomésticos), tecnologias estas que já transformam o cotidiano das pessoas,

desde o grande empresário ao vendedor ambulante, do estudante primário ao

universitário, da auxiliar de escritório ao faxineiro do prédio, da doméstica à patroa.

Diante de todos estes fatos constatados e experimentados diariamente pelas pessoas,

propomos a seguinte discussão: como a escola se apropria destas tecnologias? Ou

melhor: como se dá a formação de professores para utilizar, valorizar e disseminar estas

inovações em sala de aula? Em nosso trabalho de pesquisa, aqui apresentado em forma

reduzida apenas como um demonstrativo de nossa questão primária, propusemos a

pensar especificamente como a formação de professores de Letras utiliza-se das novas

tecnologias como forma de valorização da cultura literária em nosso país, afinal, a arte

da escrita tem sido algo considerado ultrapassado, demasiado chato e cansativo por uma

grande parcela dos graduandos e até mesmo dos docentes. A partir destas reflexões, nos

deparamos com o termo Ciberliteratura, muito bem definido por Santaella (2012, p.

231) e que ainda é algo novo e a ser decifrado, pois até mesmo a nomenclatura ainda é

divergente, chamada de “Literatura Digital”, “Literatura gerada por computador”,

“Literatura cibernética”, dentre outros nomes que surgem para tentar definir esta arte

literária produzida, consumida e apreciada especificamente com o uso das novas

tecnologias midiáticas da computação, sendo necessário o suporte da tecnologia digital

para poder existir: “Diferente da literatura digitalizada, a literatura digital não se

12 Graduado em Letras; mestre em Educação; doutorando em Educação do Programa de Pós-graduação

em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba; professor de Língua Portuguesa na Faculdade

Santa Lúcia; professor de Língua Portuguesa na Instituição de Ensino São Francisco. E-mail:

[email protected].

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caracteriza pela mera digitalização de um texto previamente existente na forma

impressa. Antes, trata-se de experimentos literários que fazem uso simultâneo da

linguagem literária e da linguagem de programação de computador para a construção

dos textos” (KIRCHOF, 2013, p. 129). Diferentemente do que muitos pensam, este tipo

de arte literária não se resume, ou melhor, não é a transposição ou digitalização de obras

literárias em suporte impresso para a versão digital, apesar de este ser um projeto

importante de preservação e acesso às obras clássicas da literatura universal.

Desfazendo esta confusão, nos deparamos com algo que é novo nos cursos de formação

de professores de Letras, pois a Ciberliteratura não é simplesmente uma evolução da

obra impressa em obras digitalizadas, mas uma forma diferenciada de consumir,

apreciar e valorizar a arte literária. Quando falamos em Ciberliteratura, estamos falando

em diferentes formas de produzir arte utilizando-se do suporte do computador, sendo,

como já dissemos anteriormente, impossível acontecer fora deste. Ou seja, os recursos

tecnológicos, tais como o hipertexto, as hipermídias, as mídias digitais, são parte

integrante da “ciber-obra literária”. Diante de todos estes fatos, é de fundamental

importância a formação de professores de Letras que, primeiramente, conheçam estas

obras ciberliterárias e, consequentemente, as trabalhem com seus alunos nas aulas de

Literatura na escola, buscando contornar os problemas de desinteresse com a arte

literária e com a leitura em geral: “é imprescindível, contudo que a escola atraia o

aluno-leitor para a nova era da literatura, em especial, para a Ciberliteratura, pois

esta vem promovendo mudanças na história da leitura e destacando a função do leitor,

o qual se tornou protagonista do processo por se configurar de modo ativo, um

hiperleitor” (XAVIER & DAVID, 2014, p. 50). Não estamos afirmando que a

tecnologia (a Ciberliteratura) resolverá todos os problemas de falta de interesse dos

estudantes em relação à leitura e à arte literária, no entanto, é uma preciosa ferramenta

que pode muito contribuir para a valorização desta arte, afinal, os alunos têm um

contato muito próximo e íntimo com as novas tecnologias, pois são, como afirma

Prensky (2001), nativos digitais. É iminente que o professor de Literatura trabalhe estas

novas tecnologias em sala de aula, demonstrando a Ciberliteratura como forma de

produção artística para estes educandos, despertando nos mesmos o interesse pela

leitura, produção e “degustação” da arte ciberliterária: “El uso por parte de los Nativos

Digitales hace que los docentes necesiten implantar nuevas Tecnologías en la

enseñanza, adecuadas a los lenguajes que ellos emplean .Se trata de comprobar si esto

ayudaría a mejorar su motivación y contrastarlo con técnicas tradicionales” (NÚÑEZ

& GUARDIA, 2011, p. 88).

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A construção social do negro

Ivo Phelipe Silva Petreca13

Palavras-chave: Racismo; violência; resistência; negros.

O trabalho a ser apresentado tem como objetivo analisar e compreender a construção

social do negro por meio da mídia. Visto que os negros são apresentados na televisão na

forma caricaturas, homens como motoristas, sambistas e malandros e mulheres como

“mulatas” que tem apenas o corpo valorizado ou em séries e novelas de época,

construindo assim uma imagem pejorativa do negro limitando-os nas telas a papéis

subalternos. A pesquisa está sendo realizada a partir de reflexões de bibliografias

consagradas. Por exemplo, Hannah Arendt como ponto de partida para discutir a

construção social negativa do outro. Também está sendo utilizado Pierre Bourdieu para

análise da violência simbólica que é gerada por essa construção e, por fim, Rosalia

Diogo e Nila Lino Gomes e suas contribuições para os temas racismo e o negro na

mídia na atualidade. Enfim, os resultados preliminares da pesquisa, estão identificando

inúmeras formas resistências à construção social imposta pela mídia, seja por meio de

músicas, literatura ou valorização e aceitação da beleza negra.

13 Graduando em Relações Internacionais pela PUC MINAS (Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais) - Poços de Caldas e Graduado em Licenciatura em História pela UNIFEOB (Centro Universitário

Octavio Bastos – São João da Boa Vista - SP). E-mail: [email protected].

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O conceito de comunicação presente/ausente em Vilém Flusser

Ana Cecília Aragão Gomes14

Palavras-chave: Comunicação; epistemologia; Vilém Flusser.

A presente pesquisa tem como principal motivação responder à seguinte questão: que

conceito de comunicação está presente/ausente na obra de Vilém Flusser? As

implicações desta questão poderão ser mais claras se abordarmos o problema por outros

aspectos: como o conceito de comunicação é construído e desconstruído? Como Flusser

comunica o seu conceito de comunicação? E como este conceito interfere na percepção

cognitiva, ética e estética da comunicação? Aqui, intenciona-se investigar qual é a

episteme que Vilém Flusser constrói ao pensar a comunicação. Sendo assim, os

objetivos da pesquisa são: identificar e analisar os rastros conceituais na obra do autor e

verificar como eles se relacionam na construção/desconstrução do conceito de

comunicação; e sua contribuição para a sedimentação de seu ponto de vista

epistemológico. Parte-se do pressuposto de que a comunicação supõe um modo de dizer

que gera um modo de pensar, encontrando-se, assim, no tempo contínuo. A

comunicação é entendida como capacidade de estar em permanente “transformação, e

não transporte” (MCLUHAN, 2005), persistindo, portanto, como comunicabilidade.

Desse modo, podemos inferir que para Flusser a comunicação se torna anterior à própria

cultura e é ela que gera os impactos e transformações que engendram e constróem

outras configurações culturais. Esse ponto de vista é importante, porque problematiza e

reformula o conceito de comunicação e cultura. Para melhor investigar essa hipótese,

utilizaremos o método arqueológico-filosófico desenvolvido por Agamben (2010) a

partir da obra de Foucault (2008), a fim de apreender o conceito de comunicação em

Vilém Flusser, presente em índices/rastros (GINZBURG, 2007) (FERRARA, 2015),

dispersos em toda sua obra. Alguns dos rastros conceituais já identificados são:

comunicação humana (FLUSSER, 2014); jogo (FLUSSER, 2011a); discurso,

conversação/diálogo, código, abstração, nulodimensionalidade, abismo (FLUSSER,

2007b e 2011a); tecnoimagem, tecnoimaginação (FLUSSER, 2011; 2008a); aparelho,

programa, funcionário (FLUSSER, 2011b); ciência como dúvida (FLUSSER, 2011). A

partir desta análise, acredita-se que será possível apreender e refletir sobre o conceito de

comunicação subjacente na obra do autor, observando sua relevância conceitual para a

comunicação como área científica.

14 Doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP,

orientanda da Profa. Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-SP). E-mail: [email protected].

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Televisão: linguagem, imagem e comunicação no contexto da Indústria Cultural

Rosangela Trabuco Malvestio da Silva15

Palavras-chave: Televisão; imagem; linguagem; Indústria Cultural.

A televisão é um dos meios de comunicação de maior alcance da Indústria Cultural,

adentra lares, comércios, hospitais, escolas, com a intenção de distrair e informar.

Inicialmente inventada para entreter as pessoas, logo foi utilizada pela Indústria Cultural

para transformou-se em uma máquina de reprodução da ideologia. Devido à

semiformação (‘Halbbildung’), os indivíduos têm a experiência formativa barrada, e os

conteúdos culturais, ao serem transformados em bens de consumo, estão servindo

apenas à ocultação dos procedimentos sociais, estão desprovidos da negatividade. Desta

forma, este artigo tem por objetivo discorrer sobre os impactos da televisão na formação

do pensamento humano, no contexto da sociedade capitalista. Para tanto em um

primeiro momento, pautado nos autores da Teoria Crítica, destaca a finalidade de

entretenimento da televisão ao ser inventada, mas com o passar dos anos, sua

programação foi utilizada para formar o imaginário da população em uma única direção:

da semiformação (Halbbildung). Na sequência analisa como a televisão formata o

pensamento, transmitindo cenários prontos e acabados, reduzindo o imaginário e a

imaginação, pois fecha as mensagens nos ângulos que lhe convém. Ao final, espera-se

contribuir para demonstrar que a televisão contribui para eliminar a tensão crítica entre

o que é e o devir. No contexto da sociedade do consumo, a introdução dos meios

eletrônicos na vida diária do homem causa impactos que influenciam diretamente a

maneira de perceber e compreender a realidade. As tecnologias de comunicação, ou

mass media16, desenvolvidas no início do século XX, têm como característica

fundamental a comunicação de massa. Produzidos sob o modelo industrial, tais recursos

visam promover o comércio. Não obstante, Palangana (1999) adverte que a

comunicação de massa, incentiva o estado de coisificação. Ao ser inventada, a televisão

teve seu uso direcionado para o entretenimento e informações. Por meio de suas

imagens coloridas e de sua linguagem, tem auxiliado na formação de valores e opiniões,

direcionando o pensamento num determinado sentido – naturalização das relações

sociais –, impossibilitando questionamentos e reflexões. Um aspecto importante é que a

15 Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, Doutoranda em Educação pela

Universidade Federal de São Carlos. 16 O termo mass media começou a ser usado pela sociologia norte-americana, após a Segunda Guerra

Mundial (SOUZA, 1996).

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televisão, por meio de seus programas, não tem a intenção de promover um pensamento

mais elaborado. O cunho de entretenimento desenvolve uma aparente ideia de

neutralidade e imparcialidade (ALMEIDA, 2000). Apesar dessa pseudoneutralidade,

cujo fim maior seria divertir e agradar o espectador, relaxando suas tensões do dia de

trabalho, sabe-se que os anunciantes pagam pela programação minuto a minuto, e pelas

propagandas que, diga-se de passagem, não são baratas, até porque seus fins são

econômicos. Devido aos aspectos técnicos e artísticos, a televisão é planejada de acordo

com padrões industriais, atendendo ao consumidor em domicílio. Ela preenche a lacuna

que ainda restava para a vida privada, levando para dentro das casas uma realidade

previamente selecionada e significada; uma realidade que chega aos indivíduos como a

única e verdadeira representação do real. Outro fato importante, explicitado por Adorno

(1995), é que a TV acomoda as pessoas em suas casas. Elas não precisam mais se

deslocar para ir ao teatro, ao cinema, a lugares públicos. A reunião da família em frente

à televisão confere a seus membros a sensação de estarem envolvidos em uma situação

comunitária, com sensação de partilha. Todavia, por meio de uma observação mais

atenta, percebe-se que as pessoas, nessa condição, tendem a não conversar e, quando

comentam algo, é sobre o que está sendo veiculado na televisão e não sobre seus

problemas. Esta forma de “distração” leva à incapacidade de expressão. Utilizando o

termo empregado por Adorno (1971), ocorre uma imediação social, que seria o

contrário da mediação, quer dizer, esta pressupõe comunicação entre pares e aquela

apenas a escuta das informações recebidas, sem reflexões, nem discussões. Cumpre,

pois, uma função deformativa. Referindo-se à semiformação (‘Halbbildung’), Adorno e

Horkheimer (1990) a atrofia da imaginação do consumidor de hoje não tem necessidade

de ser explicada em termos psicológicos, posto que ela está concretizada na sociedade.

Maar (1995) adverte que os meios de comunicação de massa estão tomando o lugar

formativo da escola. A linguagem e a imagem veiculadas pela televisão, são um dos

principais instrumentos da Indústria Cultural. O modelo de comportamento padronizado

– unidimensional – é amplamente divulgado por meio da comunicação de alcance

universal, alimentando os mecanismos de reprodução social. A linguagem e a imagem,

são responsáveis pela formação do pensamento que o indivíduo tem de mundo, fixando

diferenças e semelhanças, que nem sempre correspondem à realidade. Conclui-se que a

televisão é um instrumento eficaz quando posta a serviço da ordem capitalista.

Depreende-se a necessidade dos educadores terem muita clareza sobre tais implicações

se querem fazer do seu trabalho uma atividade formativa, um foco de resistência a esse

processo de semiformação (‘Halbbildung’). O desafio é contra-argumentar o que chega

na forma de verdade pronta e acabada. Se os programas televisionados, que massificam,

não permitem ver nas imagens pseudodemocráticas e na linguagem regulada pela mídia

uma fonte de deformação humana, da qual o modo de produção capitalista já não pode

prescindir, esse trabalho de decodificação há que ser feito, evidentemente, pela

educação. Referências: ADORNO, T. W. Televisão, consciência e Indústria Cultural.

In: COHN, G. (Org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Companhia

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Editora Nacional e Editora da USP, 1971. p. 346-354. ADORNO, T. Televisão e

formação. In: Educação e emancipação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.

75-95. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: O iluminismo como

mistificação das massas. In: LIMA, C.L. Teoria da Cultura de massa. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 1990. p. 159-206. ALMEIDA, M.J. A educação visual na televisão vista

como educação cultural, política e estética. Revista online: Prof. Joel Martins,

Campinas, S.P., v. 2, n.1, p. 2-5, out.2000. MAAR, W. L. A indústria

(des)educa(na)cional: um ensaio de aplicação da Teoria Crítica ao Brasil. In: PUCCI, B.

(Org.). Teoria Crítica e Educação: a questão da formação cultural na Escola de

Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos: EDUFSCAR, 1995. p.139-150.

PALANGANA, I.C., Individualidade: afirmação e negação na sociedade capitalista.

São Paulo: Plexus / EDUC, 1998. SOUZA, J. B. Meios de comunicação de massa:

jornal, televisão, rádio. São Paulo: Scipione, 1996.

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Experimentações na escrita com o arquivo do Coletivo Cê

Tatiana Plens Oliveira17

Palavras-chave: Divulgação cultural; escrita; arquivo; Coletivo Cê.

A comunicação consistirá na apresentação das investigações realizadas até o momento

na pesquisa do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Laboratório de

Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp), em andamento desde o ano de

2015, acerca das potencialidades estéticas e políticas da escrita na divulgação do

movimento de criação artística do Coletivo Cê – agrupamento de artistas que trabalham

a linguagem teatral em Votorantim/SP. As investigações têm se desdobrado na

realização de experimentações com o arquivo de fotografias e textos dos processos de

criação artística vivenciados pela mestranda junto ao coletivo nos últimos anos e em um

deslize nas linhas de força que tensionam a escrita e o arquivo. Um esforço de pesquisa

e criação que se contamina pelo que incita Silvio Gallo (2008) em um diálogo com a

obra de Gilles Deleuze, por tornar um problema que parte do sensível como mobilizador

e motor do pensamento, e construir, a partir dele, algo que possibilite enfrentá-lo, que

não o transforme em um método ou uma metodologia, mas pelo qual seja possível vivê-

lo, experimentá-lo em sua singularidade. O enfrentamento de um problema que assola o

pensamento por meio do encontro com os materiais de pesquisa (palavras, conceitos,

imagens, linhas) mobilizado pela crença de que é justamente nesses encontros, na

instauração de zonas de vizinhança entre esses materiais que algo novo pode surgir. É

ao longo da vivência do problema que parece ser possível inventar outros modos de

trabalhar a escrita com um arquivo, que permitam experimentá-lo sensivelmente e nos

lancem a novos problemas. Investigações impulsionadas por uma aposta no arquivo

como uma questão do porvir (VILELA, 2010), por uma abertura ao movimento vivo do

tempo, contagiadas pela conexão que o filósofo David Lapoujade (2013) estabelece com

a obra de Henri Bergson, através da qual nos conectamos a noção de memória como

“reserva de energia”. Pensamos com Lapoujade que a memória permanece ativa, na

espera, armazenando uma potência em reserva até atingir a energia necessária para

explodir num ato livre, como uma exigência de expressão e criação, como o levante de

uma energia que ainda não tem expressão no real, que exige a criação de um modo de

17 Mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp, especialista em Jornalismo Cientifico

pela Unicamp (2012) e graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Sorocaba

(2010). É integrante do grupo de pesquisa e criação multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e

educações do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-Unicamp). E-mail:

[email protected].

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torná-la visível, de fazê-la vibrar na superfície das imagens e das palavras desse arquivo

por meio da experimentação. Uma abertura a outros ritmos de duração nesse arquivo a

partir da potência que ele armazena e do que a experimentação com ele pode agenciar.

Movimentos arquivistas que buscam trazer algo diferente do significado, algo que se

caracteriza como uma exigência, uma intenção, uma tendência, um impulso que se

encontra no nível do vital e que pode ressoar na superfície das imagens e das palavras

convocando-as a outras direções. Perseguimos a ideia do curador Márcio Doctors

(2012) de que a constituição de um arquivo é um ato de recolhimento que permite a

liberação dos materiais que o integram em direção a outras possibilidades de articulação

espirituais e mentais. É o ponto de partida de onde outros acontecimentos derivam,

capazes de estabelecer uma conexão mais sutil e sensível com os processos de criação

artística desse coletivo, de inventar outras formas de visibilidade e outros modos de

inteligibilidade (RANCIÈRE, 2012) desses movimentos de criação artística. Um esforço

de pesquisa e criação que se arrisca a experimentar o arquivo por meio de uma

articulação entre pensamento e sensibilidade, uma entrega a movimentos arquivistas

como modos de soprar a linguagem, como uma maneira de possibilitar que esse arquivo

seja atravessado por uma ventania, que imagens e palavras sejam rachadas e fissuradas

por linhas, arames, ventos, desejos, delírios, abertas ao por vir. Criações onde as

próprias imagens e palavras inventam um testemunho desses processos de criação

artística, não pelo que foi visível, mas pelo que se torna visível nas suas superfícies,

onde elas assumem uma “função-testemunha”, atuando como ritmos que medem as

variações do tempo e da vida, pelos seus diferentes níveis de intensidade, a “potência de

futuro” de um arquivo (DELEUZE, 2007). Investigações que têm se desdobrado na

composição de uma escrita, entre imagens e palavras, afetada pela conexão entre os

materiais de pesquisa na busca por fabricar outras forças para a divulgação dos

processos de criação vivenciados junto ao Coletivo Cê e por proliferar outros modos de

funcionamento para as imagens e as palavras na divulgação cultural.

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Jogando com teorias: games studies, e a semiótica com isso?

Rafael Antônio Dias18

Orientador: Conrado Moreira Mendes19

Palavras-chave: Narratologia; ludologia; games; semiótica.

A relação entre o campo comunicacional e os jogos eletrônicos é recente. Assim, o

intuito deste estudo é, dentro dos quadros teóricos da comunicação, mas também de

teorias próximas, colocar em evidência a pertinência dos games como objeto

comunicacional e também de significação. Pois, como afirma Perani (2014, p. 2), no

País, “não é tarefa fácil encontrar trabalhos que reflitam sobre os jogos eletrônicos como

objetos comunicacionais, e suas possíveis contribuições para o campo”. No mesmo

sentido, Mendes e Oliveira (2013, p. 136) afirmam que “na fase de busca bibliográfica

ampliada [sobre o estado da arte dos games studies no Brasil] os resultados não foram

tão expressivos [...]: na área de comunicação, poucos registros foram feitos, quase

sempre em artigos e sempre com foco em quadros teóricos externos à comunicação”.

Entretanto no exterior já existem linhas de pesquisa firmadas sobre esses temas e que

tem ganhado cada vez mais relevância no Brasil. Tais pesquisas ganharam o nome de

games studies, e no que se refere a ele, Vianna (2004) afirma que o campo “nasce já

cindido numa briga teórica [...]: a disputa entre os narratologistas, mais americanos, e os

ludologistas, mais europeus”. Entretanto, referente a essa discussão, Freitas e Mendonça

(2012, p. 111) afirmam que, atualmente, essa dualidade arrefeceu, porém, uma

articulação entre ambas as perspectivas ainda não foi efetivamente construída. Nesse

sentido, a pesquisa que se propõe visa justamente a relacionar os aspectos

narratológicos com os aspectos ludológicos do jogo-eletrônico, colocando em evidência

pertinências teóricas com relação ao seu estudo, neste caso mais especificamente com

relação aos estudos em comunicação e semiótica. Para tal serão investidos estudos de

pesquisa e análise nas questões da semiótica de Greimas (2014) e de Landowski (2014)

correlacionado-os às questões da narratologia e a ludologia, demonstrando suas

pertinências, fazendo estudo exploratório de literaturas já disponíveis sobre esse tema

agregando a esse campo de estudos noções que podem contribuir para o futuro

desenvolvimento de novas pesquisas.

18 Estudante de Graduação e bolsista do PROBIC/FAPEMIG do 8º semestre do Curso de Publicidade e

Propaganda na PUC Minas. E-mail: [email protected]. 19 Professor da PUC Minas. Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo. E-

mail: [email protected].

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A convalescença da linguagem em Clarice Lispector

Dênis Ribeiro de Souza20

Palavras-chave: Modernidade; sujeito; arte; linguagem.

O crítico literário e também filósofo alemão Walter Benjamin é responsável por

importantes contribuições a respeito da teoria da literatura. Versátil pensador, Benjamin

ainda dialoga em seus textos com a filosofia, a religião e a história. Uma de suas

contribuições de maior relevância reside na reflexão da obra de arte no contexto da

modernidade. Para Benjamin o discurso moderno, aventado pelos modos de reprodução

capitalista, ofuscam ou inibem a linguagem da pura expressão artística, encontrada,

segundo o autor, nos antigos textos sagrados e místicos ou na expressão barroca.

Partindo desses pressupostos benjaminianos busca a presente pesquisa analisar a

linguagem literária a fim de encontrar as possibilidades da expressão artística da que

Benjamin falava e para tanto se apropria do texto O ovo e a Galinha de Clarice

Lispector como seu corpus de análise. A autora brasileira possui em muitas de suas

obras linguagem de forte teor místico, além de formação judaica, tal como Walter

Benjamin, o que permite estabelecer as relações de cotejo com o pensador alemão.

20 Graduado em Letras pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e pesquisador agregado ao grupo

de estudos Literatura, linguagem e outros saberes, coordenado pela professora Dra. Aparecida Maria

Nunes, também pela Unifal. E-mail: [email protected].

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Em cartaz: a guerra dos super herois pelo mercado na indústria cultural do

cinema

Igor Rafael de Paula21

Jhonatan da Silva Corrêa22

Palavras-chave: Universo cinematográfico; Indústria Cultural; consumo.

A partir da década de trinta do século XX, nos EUA, emerge nesse país novos tipos de

mídia (como rádio e cinema), alcançando diversas camadas sociais, expandindo-se, anos

mais tarde, para grande parte do ocidente. O cinema que era tido como estrangeiro,

importado, passa a ser de todos (MORIN, 2002). Ademais, não representando mais uma

manifestação cultural, sendo, portanto, a própria denominação da indústria

cinematográfica, representando a lógica capitalista existente em seu cerne (ADORNO &

HORKHEIMER, 1947). Então, em 2008, a Marvel Studios iniciou um fenômeno inédito

na indústria cinetográfica estadunidense, inaugurando seu universo cinematográfico,

Marvel Cinematic Universe23, que movimentou, em apenas oito anos, aproximadamente

US$ 10,5 bilhões. Neste sentido, em 2013, A DC Comics, juntamente com a Warner

Bros Studios, entrou nesse mercado para competir com a Marvel Studios, trazendo

também outras franquias com super herois, criando a DC Extended Universe24,

movimentando, em três anos, mais de US$ 2,5 bilhões. Esse movimento inédito vem

ressignificando a indústria do cinema, criando vários nichos de mercado que envolve

inúmeros tipos de produtos licenciados, configurando um rentável mercado que

estimula o consumo de itens banais, transformando o público numa massa de consumo

do espetáculo e de seus derivados (DEBORD, 1967). Desse modo, influenciando-o e

preparando-o, através das publicidades, à subordinação (BAUMAN, 2008). Para tanto,

este trabalho objetiva refletir sobre a segmentação do consumo pela indústria cultural do

cinema, através de uma análise de conteúdo dos produtos licenciados da representação

cinematográfica da UCM e da DCEU.

21 Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;

[email protected]. 22 Graduando em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Alfenas-MG;

[email protected]. 23 UCM. 24 DCEU.

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MESA 2

Filosofia e Psicologia: questões da subjetividade

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Virtualidade e subjetividade contemporânea: contribuições da fenomenologia à luz

de Heidegger

Guilherme de Souza Beraldo 25

Kátia Maria Pacheco Saraiva 26

Palavras-chave: virtualidade; subjetividade; Heidegger

A Internet chegou para ficar isso é inegável. Como submetermo-nos a ela sem

questionamento e reflexão? A internet está sendo uma revolução cultural tão poderosa

para a humanidade como foi a invenção da imprensa por Gutenberg. Sua velocidade e

possibilidades espantosas podem sugerir visões de perda de pilares básicos na cultura

como a que entendemos até agora, mas também sugere riquezas infinitas. Como

psicólogos, precisamos acompanhar, participar, opinar e investigar os fenômenos que

ocorrem neste campo. Antes de temermos, condenarmos ou aderirmos cegamente ao

fenômeno virtual, nos cabe perguntar antes de responder, pensar antes de classificar. O

mundo virtual é um mundo fantástico, mas reconhecer o papel da virtualidade na

experiência humana não significa esquecer as outras facetas do viver ou tentar viver

qualquer uma delas de forma descontextualizada. Em toda e qualquer dimensão a ser

percorrida, há um Eu que a percorre e este Eu não se desconecta das dimensões

restantes. O real, o sonho, o virtual existem e precisam coexistir para enriquecer as

dimensões restantes das relações humanas. Deste modo, o virtual não é assunto somente

para a informática. O virtual não está apartado da vida e da psicologia e podem ser

entendidos como áreas de interlocução possível onde experiências e objetos são

desfeitos e refeitos. O virtual, deste modo, não é um campo estranho que aliena o sujeito

de si mesmo, nem um mundo falso ou mentiroso; ou o é, tanto quanto a experiência

cotidiana pode ser. Independente de estarmos diante de uma tela de computador, o que

surge ali é um modo como compartilhar uma realidade, deixando vir à tona, a um só

tempo, a verdade e a mentira, o real e o ilusório. As humanidades digitais eram um

campo relativamente marginal até o final do século XX, mas agora têm sido considerada

por muitos pesquisadores, de diferentes formações, como parte essencial do

conhecimento humanístico contemporâneo. Esta mudança de visão tem em suas bases o

reconhecimento de que a sociedade se encontra cada vez mais organizada em rede e

25 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicólogo pela PUC Minas.

E-mail: [email protected]. 26 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em

Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional

pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: [email protected].

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que, cada dia mais, as pessoas se utilizam de novas ferramentas de rede em seu

cotidiano e que a internet constitui uma representação de práticas e interações sociais

jamais imaginadas, demonstrando assim a complexidade que é a vida on-line. Pierre

Lévy, ao estudar o fenômeno virtual, propõe-se a analisar e ilustrar um processo de

transformação num modo de ser num outro. Em vez de ser definida pela sua atualidade

ou concretude, no virtual a identidade dirige-se a um campo de interrogações, de uma

série de identidades possíveis, orientadas para um devir, um poder vir a ser. Ora, assim

como navegar na Web, escrever um livro, inventar uma nova receita, tudo isso,

igualmente, nos permite sermos criativos e ultrapassar o espaço físico e a cronologia do

relógio ou do calendário. Neste sentido a experiência virtual é também uma experiência

criativa. Quando ouvimos falar sobre o “mundo” virtual podemos compreender o que se

quer dizer com isso, ou seja, tudo aquilo que se relaciona com os mais recentes meios

de comunicação, em especial a internet. No entanto, a partir da perspectiva

fenomenológica proposta por Heidegger, “mundo” é tudo aquilo que se abre em

perspectiva para o ser do Dasein. Compreendido como o ente que coloca em questão o

seu ser, o Dasein é convocado ontologicamente a dar conta da produção de sentidos

para sua existência, que é restrita pelo tempo. Neste sentido, aquele que se coloca em

relação com o virtual não é um outro Eu, mas sim aquilo que nós mesmos somos e que

está constantemente em jogo. O acesso a infinitos “mundos” proporcionado pelo

advento da internet amplia o alcance das possibilidades humanas no que diz respeito à

aquisição de conhecimento e mesmo de novas relações sociais. No entanto, este novo

“mundo” é o mesmo no qual estamos desde sempre lançados. Enquanto construção

humana, a internet e a virtualidade são desdobramentos de uma realidade, e neste

sentido não estão constituídas fora do que Heidegger compreende como a mundanidade

do mundo. Significa dizer que a imaterialidade do virtual não anula a perspectiva de que

o Dasein se encontra sempre no mundo e se constitui a partir deste. Não há, assim, uma

“outra realidade” presente no virtual, mas sim um novo modo de se relacionar com o

mundo que está aí desde sempre. Quando tomamos a possibilidade de relações sociais

travadas por meio do virtual, devemos ter em conta que a impessoalidade muitas vezes

presente na comunicação por esses meios pode potencializar a relação de ente-a-mão

que o Dasein venha a travar com o outro. A relação desta natureza desqualifica o outro

na sua condição existencial, tornando-o simplesmente mais um ente intramundano. É na

relação de cuidado do Dasein que ele se liga ao outro enquanto ser de possibilidades,

caracterizado pela sua indeterminação. Assim, pode-se pensar que o virtual tem

capacidade para permitir novas trocas sociais, porém a questão do cuidado pode-se

perder na impessoalidade da comunicação virtual. Também podemos problematizar a

permeabilidade da chamada Mass Media por meio da virtualidade. Aumentando sua

capacidade de “formar opinião”, os grandes meios de comunicação vêm se tornando

agentes uniformizadores da “opinião pública”. Esse fenômeno aponta para uma captura

do Dasein pelo falatório, dificultando a colocação por si mesmo do sentido do ser.

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A imagem entre representação e precessão

André Dias de Andrade27

Palavras-chave: Fenomenologia; virada icônica; Merleau-Ponty.

Mostramos como as noções de “representação” e “precessão”, bem como o debate que

elas ensejam, permitem restaurar a originalidade e atualidade da filosofia de Maurice

Merleau-Ponty. Para tanto, após uma exposição a respeito daquilo que constitui a

denominada virada "icônica" ou "pictórica", atinente ao pensamento filosófico,

sociológico e estético das últimas décadas e promulgada primeiramente por W. J. T.

Mitchell e G. Boehm no início dos anos 1990, é possível reconstruir de maneira

rigorosa o sentido deste redescobrimento e retorno à imagem. Trata-se, após tal

contextualização, de desenvolver a hipótese de que uma ideia basilar da imagem já se

faz presente em algumas das teses do fenomenólogo francês, na medida em que ele

constrói uma teoria da visão não tributária do paradigma representacionista clássico,

mas pensa a realidade da imagem por si mesma. É manifesto, a partir de então, que o

visível e a visão não são feitos de coisas ou se prestam à coisas, das quais sua figuração

seria um aspecto secundário - antes, a visibilidade ou dimensão imagética fundamental

do mundo é compreendida como um fazer ver, e sua compreensão como um

pensamento segundo a imagem, em que não há uma significação ou texto pré-

estabelecido a respeito do qual a imagem seria a tradução mais ou menos perfeita.

Vincular Merleau-Ponty à iconic turn ou entrever o germe desta nos seus escritos, não

configura então um diagnóstico de época, mediante o qual constatamos que nossa vida

está cada vez mais assolada por imagens e pelo consumo destas - na esteira de uma "era

da iconofagia" tal como aponta Baitello (2005) -, mas assumir que toda experiência

possui a característica e a marca da iconicidade; logo, trata-se de proceder a um

verdadeiro primado da imagem. Propusemos, em nossa pesquisa, o diálogo entre a

fenomenologia e as novas investigações em torno do estatuto da imagem, uma vez que

mais aquém das categorias propostas nas últimas duas décadas a fim de dar conta desta

virada, tais como a de "sintomatologia" da imagem (ALLOA, 2010), seu aspecto

"subjuntivo" e "não-indicial" (GAMBONI, 2004) e a reabilitação e generalização dos

conceitos específicos da estética para a totalidade de nossa experiencia (JAMESON,

1995), cremos encontrar já na ideia de "precessão" uma chave para pensar de for a

positiva a imagem. Se a experiência da imagem não é a de um encontro – que pressupõe

o abismo – entre signo e significação, mas de um ver-com, de um ver-mediante a

27 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos

(UFSCar). E-mail: [email protected].

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imagem, tal como fica claros nos escritos merleau-pontianos, a imagem me olha e pensa

por mim tanto quanto eu a observo. Nesse sentido ela promove uma verdeira abertura e

revelação do mundo, ela é meio de acesso a este e não sua duplicação - de modo que há

uma "textura imaginária" (ou imagética) do real (MERLEAU-PONTY, 1960). Assim,

segue-se nossa hipótese: está anunciada já em Merleau-Ponty a derrocada da

subsequente virada linguística (linguistic turn; RORTY, 1967) dos anos 1960, na

medida em que compreendemos ali o germe da virada icônica (iconic turn) que viria a

ser explicitamente elaborada nos anos 1990? Cremos verificar tal hipótese com o auxílio

do conceito de precessão e através da análise de um exemplo profícuo quanto a isso,

presente em O olho e o espírito, sobre como o real enquanto tecido imagético e

consagrado à visibilidade promove uma "frequentação", anterior à linguagem

propriamente dita, entre os entes do mundo; trata-se do reflexo dos objetos na superfície

de uma piscina, que não os representa mas faz vê-los de uma outra maneira que

diretamente, mediante a essência viva e imagética da água, do mesmo modo que nossa

imagem especular não se reduz à explicação que a física e a ótica lhe fornecem, mas

antes dizem algo a respeito deste aspecto fundamental de nossa experiência que é "ver

algo". É isso que significa ver-com as imagens, em regime de precessão, e não ver

"apesar" delas; apesar da água, do espelho, do ecrã etc. A imagem me assombra e sou

possuído por ela mais do que a possuo como se a contempla-se à distância, por meio do

véu da representação. Há uma “autoridade” da imagem que é, na verdade, sua condição

de precessão – o fato dela “preceder a si mesma” e apresentar, junto da figuração, sua

chave de leitura própria; por conseguinte, rompe-se com o representacionismo em

direção a uma nova ontologia da imagem.

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A concepção de justiça na Alegoria da Caverna de Platão: uma comparação das

interpretações kelseana e heideggeriana

Fernanda Israel Pio28

Bruno Fraga Pistinizi29

Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves30

Palavras-chave: Alegoria da Caverna; Kelsen; Heidegger; Justiça.

O problema de pesquisa que norteia o trabalho trata das diferenças e semelhanças entre

as interpretações de justiça de Hans Kelsen em A Ilusão da Jusiça e de Martin

Heidegger em A teoria platônica da verdade, com relação à alegoria da caverna narrada

em A República de Platão. A pesquisa se desenvolveu como trabalho de conclusão do

curso de graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

no primeiro semestre do ano de 2016, sob orientação do Professor Mestre Bruno Fraga

Pistinizi e coorientação do Professor Mestre Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves. Foi

utilizado o método dedutivo, com a leitura e fichamento de citação da obra platônica,

seguida do estudo e fichamento de citação das obras de Kelsen e Heidegger,

compreensão auxiliada por manuais de filosofia do Direito e de introdução ao

pensamento dos autores estudados. O texto se desenvolve em quatro capítulos. O

primeiro se propõe a expor uma leitura livre da alegoria da caverna, o segundo trata do

Juspositivismo de Kelsen, subdividido em três seções, que tratam da vida e da obra do

autor, do Positivismo e da interpretação da alegoria. O terceiro capítulo se desenvolve

da mesma maneira que o segundo, Heidegger, vida e obra, da Fenomenologia e da

interpretação da alegoria. O quarto capítulo traz reflexões conclusivas. A Alegoria da

Caverna é introduzida pela personagem de Sócrates no texto de A República. Descreve

um cenário em que homens algemados desde a infância no interior de uma caverna,

tendo apenas a possibilidade de ver as sombras do mundo exterior reproduzidas na

parede da caverna, para eles, portanto, o real são as sombras. Um prisioneiro, no

entanto, é liberto e arrastado para fora da caverna, sendo obrigado a se adaptar à

luminosidade e à percepção da realidade para além das sombras. Após essa adaptação se

segue um movimento inverso, o liberto retorna às sombras e novamente sofre um

processo de adaptação dos olhos, além de ser desacreditado ao dividir sua experiência

com os prisioneiros que temem perder a visão ao sair da caverna. Pudemos observar na

28 Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:

[email protected]. 29 Mestre em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorando do

Departamento de Ciências Sociais da PUC São Paulo. E-mail: [email protected]. 30 Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação

da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: [email protected].

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interpretação de Kelsen uma “restrição” do campo de análise, tomando como essencial

o que considera o objetivo único da alegoria: apontar para onde o homem deve

direcionar seu espírito a fim de que aja corretamente em assuntos públicos e privados.

Para ele, na alegoria as correspondências estabelecidas são em relação ao Bem e o justo,

criticando o estabelecimento de ideias para coisas “baixas”, do mundo material, ou seja,

quando se fala de ideia, fala-se puramente de valores. Kelsen identifica uma guinada da

doutrina das ideias rumo à ontologia. Afirma que há uma modificação do caráter da

ideia que deixa de se vincular exclusivamente à norma e passa a se relacionar com uma

forma de explicação do mundo. Heidegger, por sua vez, trata das transições como ponto

central para a reflexão. Essas transições se referem à adaptação dos olhos do prisioneiro

durante seu trânsito para fora da caverna e posterior retorno. Relaciona tal fenômeno

com o conceito de Paideia, “formação”. Ele afirma que no texto platônico há uma

mudança na essência da verdade. Heidegger considera a verdade e seu modo de

mutação como pressuposto para a formação, busca recuperar a compreensão dos

primeiros pensadores gregos, e relaciona o termo à desvelamento. Afirma que a partir

da alegoria ocorre uma modificação no conceito de verdade, que passa a se fundamentar

na razão e no intelecto, afastando-se da ontologia. Concluímos que as interpretações têm

pontos em comum, quais sejam: a percepção da guinada na ideia para Kelsen que se

relaciona à mudança na essência da verdade pontuada por Heidegger; a modificação ou

guinada, para os dois se dá em função de um direcionamento do olhar, ou na forma de

explicação do mundo, elementos de certa forma similares; a identificação de

características positivistas na narrativa platônica e o intento em distanciar-se da

metafísica. Quanto às diferenças podemos ressaltar: a nomeação por Kelsen dos

elementos ideia e norma que correspondem à verdade e ente, respectivamente, na

interpretação de Heidegger; a concepção de justiça que para Kelsen se relaciona à

legitimidade e à ideia e, para Heidegger, se relaciona à verdade como desvelamento; a

reincidência de Kelsen à metafísica, mesmo tendo desenvolvido um argumento

contrário, por relacionar a Justiça à legalidade e consequentemente à norma que tem

caráter metafísico, “erro” não cometido em Heidegger que ao nosso ver estabelece uma

crítica à metafísica, relaciona a Justiça à verdade e consequentemente ao ente, que não

tem característica metafísica e retorna a reflexão à ontologia e à fenomenologia.

Percebemos dessa forma, uma crítica ao posicionamento da verdade e da ideia na razão

humana que é denominada “direcionamento do olhar” por Heidegger e a “forma de

explicação do mundo” para Kelsen. Neste “erro” ambos não incorrem. Kelsen, no

entanto se curva à metafísica por ter posicionado a norma de caráter metafísico onde

Heidegger posiciona o ente. Justiça, portanto, para Kelsen se relaciona à legalidade e à

norma, Para Heidegger, justiça se relaciona com verdade que por sua vez é identificada

como desvelamento. Referências: HANS, Kelsen. A Ilusão da Justiça, tradução de

Sérgio Tellaroni. 3. ed. Editora Martins Fontes, São Paulo 2000. HEIDEGGER, Martin.

Marcas no Caminho, tradução de Enio Paulo Gichini e Ernildo Stein. Editora Vozes.

São Paulo, 2008. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Márcia de Sá

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Cavalcante. Editoras Vozes. 1988. MAMAN, Jeannette Antonios. Ao encontro de

Heidegger: a noção de ser-no-mundo. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de

São Paulo. [S.l.], v. 102, p. 611-615, jan. 2007. ISSN 2318-8235. Disponível em:

<http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67772/70380>. PLATÃO. A República,

introdução, tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.

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Oliva Sabuco: análise da contribuição do seu pensamento para a psicossomática

Elenice Maria Caixeta31

Palavras-chave: Oliva Sabuco; psicossomática; corpo e alma.

O objetivo deste trabalho é analisar a contribuição do pensamento de Oliva Sabuco para

a psicossomática32. Desta forma, utilizaremos como fonte fragmentos da principal obra

de Oliva Sabuco, como o título: “Nova Filosofia da natureza humana não conhecida e

não alcançada pelos antigos filósofos que melhora a vida humana e a saúde” (1587), e

também discussões teóricas de autores que analisa o pensamento de Oliva. Assim, a

pesquisa adota o método da análise historiográfica como forma de se construir um

conhecimento cientificamente conduzido. Historiografia, conforme o sentido que aqui

empregaremos, significa o exame da escrita, dos métodos e das interpretações

produzidas pelo conjunto dos historiadores. Desta forma, a historiografia se volta para a

produção dos variados discursos históricos. Ela reflete sobre os historiadores e suas

obras, considerando sempre sua historicidade, ou seja, sua relação com o tempo e o

espaço em que foram produzidas. Oliva Sabuco de Nantes Barrera (1562-1620) foi uma

importante filósofa do Renascimento espanhol e pioneira na medicina psicossomática,

que teve como professor o humanista e gramático Pedro Simón Abril. No início do

século XX a autoria da obra citada acima foi questionada, José Marco Hidalgo traz a

conhecimento documentos de Miguel Sabuco, pai de Oliva Sabuco, alegando ser de sua

autoria a obra, mas o fato relevante é que o privilégio da publicação na época foi

concedido a sua filha. No entanto, a obra de Oliva Sabuco discute a importância do

autoconhecimento do sujeito humano, pra que este entenda a si mesmo e a sua natureza,

bem como aprender sobre as causas naturais do por que a vida, a morte ou doenças. No

período vivido por Oliva era comum à filosofia relacionar-se com a medicina e a

medicina coma a filosofia, no entanto Oliva propunha uma renovação do conhecimento

médico da época, dominado até então pelo galenismo. Em seus colóquios, Oliva

apresenta suas ideias filosóficas-médicas, ressaltando uma fisiologia de preeminência

cerebral, em que o homem pode ser visto como uma árvore de cabeça para baixo, ou

seja, a raiz humana seria o cerebro. Assim, Oliva partilhando de ideias de Platão ressalta

que paixões imoderadas pertubam a harmonia entre o corpo e a alma, pois a harmonia

da saúde se estabelece no cérebro. Neste sentido, ela defende a importância do afeto

sobre a saúde, ressaltando que as paixões podem matar ou deixar doenças no corpo. As

31 Mestranda do Programa de Pós-graduação em História Ibérica – PPGHI da Universidade Federal de

Alfenas – UNIFAL. E-mail: [email protected] - Pesquisa desenvolvida na disciplina: A

Filosofia na Península Ibérica Medieval, ministrada pelo Professor Paulo César de Oliveira. 32 Cerchiari apud Cardoso (1995, p.5) “O termo psicossomático, na expressão mais comum, pode

reportar-se tanto ao quesito da origem psicológica de determinadas doenças orgânicas, quanto às

repercussões afetivas do estado de doença física no indivíduo, como até confundir-se com simulação e

hipocondria, onde toma um sentido negativo” (CERCHIARI, 2000).

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paixões fazem parte do sistema psíquico, externa ao corpo, no entanto natural a ele.

Nesta concepção, Deus deu as paixões aos homens como impulsos para conservação de

sua natureza. Assim, a alma nasce com algumas inclinações, que são: alegria, desejo,

esperança, amor, alegria, dor, medo, vergonha, raiva, etc. Inclinações que são inerentes

à alma, e afeta o corpo e a alma, porém são acionados por algo exterior, que são as

ações vinculadas à vontade e ao livre arbítrio, mas que também podem se torna vícios.

Desta forma, as paixões humanas muitas vezes arrastaram para perseguir o que faz

sentir bem e não o que o entendimento julga como correto. Portanto, concluimos por

meio das análises feitas até o momento que o pensamento de Oliva Sabuco defende uma

antropologia cristã do século XVI, em que a composição natural do homem se dá pelo

corpo e pela alma. E que conhecer a natureza da alma favorece ser uma pessoa saudável

e feliz. O que trazendo para o campo da psicossomática é o estudo das relações mente e

corpo.

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Oficina de artes: território de existência

Paula Carpinetti Aversa33

Palavras-chave: Artes; subjetividade; território de existência; agenciamentos; devir.

A partir de uma experiência em uma oficina de artes visuais, realizada no Centro de

Artes e Esportes Unificado Jardim Itamaraty (zona leste da cidade de Poços de

Caldas/MG), pretende-se trabalhar a noção de território de existência que envolve

espaços construídos através de agenciamentos tanto de elementos materiais (extensivos)

e afetivos (intensivos), produzindo um lugar para viver. Território como contorno

mínimo em relação ao qual o sujeito pode entrar e sair, fronteira entre o dentro e o fora.

Podemos pensar a Arte como um território que oferece referência, mas também dá

abertura e sustentação para outros devires, outras subjetividades, outros modos de vida.

33 Graduada em Psicologia pela USP. Graduada em Artes Visuais pela UNESP. Mestre em Artes pela

UNESP. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação da UNESP de Assis. E-mail:

[email protected].

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Subjetivação e temporalidade em Sartre

Gabriel Gurae Guedes Paes34

Palavras-chave: Sartre; existencialismo; tempo; fenomenologia.

No romance A Náusea as coisas perdem para Roquentin a qualidade de instrumentos,

perdem toda e qualquer qualidade que deles se possa abstrair. Em parte podemos dizer

que isso ocorre pela perda do passado lamentada pelo personagem. Precisamos do

passado para reconhecer um rosto familiar que já vimos e mesmo para utilizar um

objeto que vai funcionar como já funcionou antes. Mas, em O ser e o nada Sartre nos

mostra que a espera que no futuro as coisas aconteçam conforme os acontecimentos

passados não é um retorno ao passado, mas uma espera quanto ao futuro. É o projeto de

retomar no futuro o que já se fez no passado que torna as coisas previsíveis. O projeto

futuro torna possível um perfilar de qualidades finitas no real em meio à infinidade

transbordante das coisas existentes. Roquentin tem dificuldades para abstrair do

presente elementos que se relacionem a um porvir, porvir este que ao mesmo tempo

daria sentido ao passado como aquilo que é retomado ou modificado. Desse modo, o

mundo aparece como um “transbordar”, tudo pode acontecer e as coisas não podem ser

definidas ou utilizadas. Roquentin conclui que deve abandonar o real em favor do

imaginário, “salvar-se” pela arte escrevendo um romance. O objetivo do nosso trabalho

é confrontar a dissolução do tempo vivida por Roquentin com a concepção de tempo

apresentada em O Ser e o nada. Essa estratégia, além de esclarecer a inseparabilidade

entre tempo e subjetividade, permite questionar a “salvação” de Roquentin apresentando

uma concepção de tempo que torna possível articular realidade e imaginário sem

abandonar a possibilidade de dar sentido à vida real.

34 Doutorando do Programa de Pós-graduação em filosofia da UFSCar. Bolsista CAPES. E-mail:

<[email protected]>.

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O desejo da futura profissão na perspectiva de crianças institucionalizadas: um

estudo psicanalítico

Vivian Inácio da Rosa35

Cristiano de Jesus Andrade36

Palavras-chave: Criança institucionalizada; profissão; psicanálise.

O abandono, a violência física e mental, a vulnerabilidade e a negligência sofrida pela

criança são fatores que contribuem para uma possível institucionalização. Os atos

violentos contra crianças acontecem em sua maioria no âmbito familiar e envolvem não

apenas familiares, mas também pessoas que não mantém laços de parentesco. Neste

contexto, as situações de maus tratos vivenciadas pela criança dentro do lar sugerem o

seu encaminhamento a uma instituição, como forma de afastá-la da situação de

violência em família. O objetivo principal desta pesquisa foi investigar a influência do

abandono sobre o desejo de uma futura escolha profissional por crianças

institucionalizadas, com idade de 6 a 11 anos, de um abrigo situado em uma cidade do

interior de São Paulo. Esta pesquisa configurou-se em uma pesquisa descritiva, de

natureza qualitativa e estratégia de campo em relação à fonte de informações. Os dados

foram coletados por meio de entrevistas, narrativas de história de vida, escuta ativa e

observações participativas. A análise dos relatos, à luz da teoria psicanalítica,

identificou que a escolha das profissões expressa as ideias conscientes que as crianças

possuem sobre si mesmas, emergindo de um outro sentido existente no inconsciente

sobre o próprio desejo. Ou seja, a privação dos cuidados parentais desperta nestas

crianças o desejo de cuidar e proteger o outro. Para Melani Klein (1926) apud Fulgencio

(2008), não podemos traduzir a linguagem do inconsciente para a consciência sem

emprestar-lhe palavras do nosso domínio consciente. A profissão escolhida poderia,

neste caso, fornecer legitimidade as suas ações a partir de seus desejos inconscientes e

seus valores. Em relação ao gênero foi possível identificar que as meninas desejam

escolhas profissionais relacionadas à ajuda e ao acolhimento; enquanto que os meninos

desejam profissões relacionadas à defesa e à proteção. Concluímos que estas crianças,

ao vivenciarem relações permeadas de atitudes rudes e violentas se percebem

vulneráveis e frágeis, projetando no outro sua vulnerabilidade. E que além do abandono,

35 Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE;

especializando em Saúde Mental pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected]. 36 Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE,

mestrando em Psicologia da Saúde pela UMESP (Universidade Metodista de São Paulo). E-mail:

[email protected].

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as atitudes sociais que prevalecerem durante muito tempo a respeito da masculinidade e

da feminilidade também influem no desejo de uma futura escolha profissional; pois

todas as crianças desejaram profissões tradicionalmente “apropriadas” para homens e

mulheres, respectivamente. Referência Bibliográfica KLEIN, M. (1926). A técnica da

análise de crianças pequenas. In: A psicanálise de crianças. Obras completas de

Melanie Klein. Vol. 2. Rio de Janeiro: Imago.

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Corpo, moradia e a produção de subjetividades na gestão do habitar: o Programa

Minha Casa Minha Vida.

Gabriela Acerbi Pereira37

Palavras-chave: Habitação; subjetividade; corpo; políticas sociais; sujeito.

A pesquisa tem interesse central na produção de subjetividades no campo das políticas

sociais de habitação popular, com foco nas experiências das beneficiárias e beneficiários

do Programa Minha Casa Minha Vida (faixa 1). De modo específico, articula-se uma

discussão em torno das relações estabelecidas entre sujeitos e a política habitacional

social, considerando subjetividades enquanto produzidas por instâncias individuais,

coletivas e institucionais nessas novas reconfigurações espaciais que atravessam

estruturas físicas, políticas e afetivas dos moradores beneficiados. Nesse sentido,

questões da corporalidade, noção de subjetividade, práticas na/sobre a casa e cuidados

de si associam-se às discussões sobre resistência e direito, numa tentativa de

acompanhar, com o esforço do trabalho etnográfico, desdobramentos e associações

entre modos de vida, produção de subjetividade e propostas da política pública da

questão urbana contemporânea. O projeto toma como ponto de partida a questão da

moradia e seus desdobramentos no campo da produção de subjetividades, considerando

as transformações da administração urbana, as novas relações traçadas entre habitação,

ética, política e modos de subjetivação na dinâmica do habitar. Nesse sentido, os efeitos

das políticas habitacionais, a questão do controle na contemporaneidade e a construção

dos condomínios populares do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV38) são

repensados no cotidiano das beneficiárias e beneficiários, tendo em vista os modos de

ocupação e novas experiências minoritárias associadas às práticas individuais na casa

“própria” e às questões da governamentalidade na dinâmica do habitar. Ainda que

associado à política pública e à experiência social que se consolida a partir dela, uma

reflexão também no campo molecular, dos projetos individuais e produção de

subjetividades tendo em vista motivações na esfera dos desejos e dos afetos: enfim, uma

tentativa de deslocar o Estado da centralidade, atentando-se ao que ocupa as margens

dele e os modos de habitá-lo. Tem-se em vista uma reflexão em torno da centralidade do

sujeito para uma abordagem do contemporâneo (MALUF, 2013), considerando o sujeito

social não só como objeto da pesquisa, mas também sua dimensão conceitual, analítica

37 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestranda em

Ciências Sociais pela PUC SP. E-mail: [email protected]. 38 http://www.cidades.gov.br/index.php/minha-casa-minha-vida.html. Acessado em 09/06/2015.

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e estratégica na construção da reflexão. Considerando as reconfigurações associadas aos

modos de habitação das beneficiárias e beneficiários, elabora-se uma reflexão associada

à dinâmica dos condomínios no dia a dia de seus ocupantes, tendo em vista as

construções discursivas e não discursivas que circunscrevem as experiências nas

habitações e que proporcionam reflexões associada as concepções de território do

campo subjetivo, tendo em vista o campo das experiências que se constróem a partir da

casa, essa espaço considerado próprio, íntimo e associado ao campo das subjetividades.

Para além de suas promessas de bem-estar, segurança e qualidade de vida, uma reflexão

associada aos possíveis desdobramentos cotidianos nas relações que as pessoas possam

estabelecer com a casa que passa a ser própria, não referentes às adequações espaciais e

formas de representação oferecidas pelo planejamento público quanto a concepção de

cidadão e formalizações jurídicas em relação ao direito à moradia, mas o que poderia

(ou não) estar além, estar imerso ou então vazar. Quem é o sujeito para quem se projeta

uma habitação e o que esse sujeito projeta e constrói a partir dela são questões que

permeiam o artigo, assim como interrogações associadas aos modos de ocupação da

casa, práticas de si, corpo e construção da noção de pessoa (MAUSS, 2003). Um

circuito de discussões que se associa às questões da territorialidade, do fluxo dos

acontecimentos e da “restauração da cidade subjetiva” (GUATTARI, 2000 [1992],

p.169), apontadas pelo autor através da temática da diferença, das questões da

singularidade e da ressingularização (GUATTARI, 2000) no campo das experiências

constituídas dentro e fora da esfera institucional. Nesse sentido, uma tentativa de

retomar a questão urbanística tendo em vista os “destinos” que a cidade, a política e a

técnica produzem e as transformações no âmbito dos sujeitos e suas dimensões

existenciais. Em diálogo, se ofereçe a tentativa de contextualizar o processo de

racionalização das cidades, como em Carne e Pedra: O corpo e a cidade na civilização

ocidental, como em Sennet (2008), trazendo reflexões sobre a história da cidade contada

através da experiência corporal do povo, tomando o corpo não só como uma referência

para entender o passado, mas também suas expressões na arquitetura, no urbanismo e na

vida cotidiana. Nesse sentido, uma descrição sobre essas interpelações institucionais no

campo do corpo, da moradia e dos modos de ocupação ao longo da história ocidental,

onde a carência dos sentidos tornou-se mais notável através de governos e projetos

arquitetônicos que estimularam a consolidação de um corpo passivo, neutralizado por

regras de locomoção, pela velocidade das cidades urbanas, pelos espaços de passagem,

pelo trânsito e por uma série de outras condições físicas que o deslocamento, a

segmentação, a dispersão geográfica das cidades e as tecnologias modernas

proporcionaram (SENNET, 2008, p.19). Ainda sobre experiências corporais na cidade,

deseja-se a consolidação de elaborações associaçãsa criação de habitações de interesse

social e o fortalecimento do medo de contato associado à necessidade da purificação e

segregação (2008, p.297) associadas à imagem sacralizada do corpo na cidade, um lócus

de poder e também uma esfera derivada de todas essas vivências específicas de

conformação (SENNET, 2008, p.300), territorialização, assujeitamento e também

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singularização e agenciamentos. Sobre essas variações proporcionadas pela aquisição da

casa, indaga-se as modificações espaciais, interrupções e alinhamento de novos trajetos

a partir da mudança para os condomínios, assim como os desdobramentos no campo

subjetivo associados ao financiamento social para população de baixa renda. Expressões

como subjetividade endividada (LAZZARATO, 2011) surgem para pensar essa

dinâmica que associa a gestão de políticas públicas de habitação ao consumo/aquisição

de moradias populares, assim como a gestão do desejo a partir de políticas sociais de

inclusão. No mesmo caminho, problematiza-se a concepção de casa própria, enquanto

lógica de pertencimento gestada pelo Estado, que conecta diretamente obtenção de casa

aos direitos do cidadão e a concepção do morar, assim como suas relações com a

construção de noções de sujeito.

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O existencial ‘ser-com’ em Ser e Tempo

Andressa Alves Souto39

Palavras-chave: Dasein; eu; ser-com; coexistência; significação.

Neste trabalho, procurarei apresentar um estudo sobre a relação entre alteridade e

mundo desenvolvida, principalmente, a partir do IV capítulo de Ser e Tempo do filósofo

alemão Martin Heidegger. Neste contexto, ele levanta a questão sobre o “quem” do

Dasein – modo de ser do homem - e a estrutura do ser-com-os-outros. Segundo

Heidegger, não se pode investigar o Dasein como se investiga o modo de ser das coisas

subsistentes, segundo uma quididade; antes, deve ser investigado como um “quem”,

segundo a existencialidade que lhe é própria. Esta investigação parte da cotidianidade

em que o Dasein está já inserido originariamente e na qual, na maior parte das vezes,

permanece. A busca pelo “quem” do Dasein, por sua vez, envolve três discussões, a

saber: (i) a questão do modo de ser do Dasein; (ii) a questão da identidade pessoal; e

(iii) a questão da autoconsciência. Heidegger pretende desconstruir as duas últimas, a

fim de traçar um novo ponto de partida na abordagem sobre a relação com o outro. Em

relação à primeira, ele sustenta que o ser-com os outros é um modo de ser do Dasein.

Tendo em vista estes aspectos, buscarei analisar o modo como Heidegger desenvolve a

compreensão desta estrutura nesta obra. Através disso, argumentarei que a estrutura do

‘ser-com’ é essencial para o projeto heideggeriano de superação do modelo cartesiano

de subjetividade. Para tanto, este trabalho se estruturará em duas partes: num primeiro

momento, será apresentada a discussão heideggeriana acerca do modo de individuação

do Dasein cotidiano, realizada no §25 de Ser e Tempo; e, num segundo momento, serão

analisadas as estruturas do ‘ser-com’ (Mitsein) e da coexistência (Midasein).

39 Doutoranda em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:

[email protected].

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A desconstrução da ideia objetiva de mente em Heidegger: O Dasein como

espacialidade

Nara Cristina Moreira Almeida40

Palavras-chave: Heidegger; Dasein; mente; espacialidade.

A inauguração da Fenomenologia por Edmund Husserl estabeleceu para o pensamento

positivo a derrocada de seus pressupostos. Crítica epistemológica e a proposta da

edificação do conhecimento vivo, isto é, conhecimento que se dá a partir das coisas tais

como se nos apresentam nas vivências, o caminho aberto por este autor foi seguido em

muitos de seus aspectos por Martin Heidegger. Com destaque, o que é posta em cheque

é a mente humana como objeto, como ente, de um sujeito psicofísico situado em um

espaço objetivo. Na visão científica, tanto este quanto aquela são reduzidos a uma

mesma lei geral mecânica que os encerra na objetividade de dois polos fechados em si

mesmos e nas dificuldades do “acesso” de um ao outro. As tentativas epistemológicas

deste “entre” sucumbiram em vazios de incompreensão e de sentido para o mundo da

vida. A obra heideggeriana Ser e Tempo reconstrói essa visão da relação mente-espaço

através da ideia de Dasein41 como espacialidade via uma ontologia existenciária

baseada na ideia do aberto em que não há uma separação entre ser e mundo. Isso posto,

o principal objetivo deste trabalho é descrever e analisar a desconstrução da ideia

objetiva de mente em Heidegger do ponto de vista da espacialidade. Será utilizada como

fonte dessas reflexões a tradução portuguesa da obra citada, de Fausto Castilho,

sobretudo sua primeira seção. Se, em uma perspectiva objetiva de ser humano chegamos

à ideia de mente como uma categoria de coisas entre outras coisas e a relação entre essa

mente e o espaço que a circunda se dá em termos de coordenadas aferidas por

mecanismos objetivos, e que, além disso, o sujeito que tem essa mente está “dentro” de

um espaço assim como uma bola está dentro de uma caixa; na perspectiva

heideggeriana, tudo isso deve ser descartado em favor de modo de inteligibilidade mais

originário e fundamental em que: 1) Não há uma “mente” como categoria, como coisa

subsistente, o que há é a pura existência, pensada em si mesma e a partir de si mesma;

40 Graduada em Psicologia pela PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected]. 41 O termo é do próprio autor, traduzido em geral como “ser-aí”, como pura abertura em-o-mundo. Este

jogo com as palavras é típico de seu pensamento e diz de um extremo cuidado quanto a fechamentos,

definições de ser humano. Para Heidegger, não há qualquer definição essencial num modo substantivo. O

ser que somos se define na própria existência e a partir da própria existência, como aquilo que cada vez

somos.

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2) Porque não há uma mente fechada, a relação estabelecida com o mundo é ontológica,

isto é, ser é ser-em-o-mundo não como uma coisa dentro da outra, mas como

existenciário; 3) Não há um espaço objetivo e extenso em que um sujeito que “possui”

uma mente é “colocado”, o que há é a mundidade como aquilo que funda o próprio ser e

estabelece entre o que antes eram dois polos distintos e separados, uma estrutura una

essencial. Em suma, este brevíssimo recorte dos aspectos centrais do pensamento

heideggeriano permite não só entendê-lo como um pensador do ser (do ser humano,

pura e simplesmente), mas na mesma medida, também como um pensador do espaço.

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Os limites da emancipação política em face da emancipação humana: uma

(re)leitura da Questão Judaica de Karl Marx

Samira Cristina Silva Pereira42

Francisco Xarão43

Palavras-chave: Emancipação; emancipação política; emancipação humana; Marx.

Propomos apresentar a crítica marxiana da emancipação política conforme tematizado

na obra Sobre a Questão Judaica. Esse é um texto de polêmica contra o jovem

hegeliano Bruno Bauer redigido no outono de 1843 e publicado em 1844 nos Anais

Franco-Alemães. O texto critica o que considera o limite da Revolução Francesa: ter

emancipado o homem somente no plano formal, na esfera do Estado, na forma da

política. A exposição de nossa comunicação está organizada em três partes. Na primeira

descrevemos as características da emancipação política conforme proposto por Marx

n’A Questão Judaica, seguido de esclarecimentos de outros autores que já estudaram

essa obra. Na segunda apresentamos as características da emancipação humana,

enfatizando as diferenças com a emancipação política. Por fim, na terceira parte

encaminha-se uma síntese interpretativa apontando o que, na visão de Marx, seriam os

limites da emancipação política quando comparados com a emancipação da humanidade

enquanto humanidade. Ao refutar o argumento teológico de Bruno Bauer, Marx conclui

que não é possível se falar de liberdade na Alemanha. Em vista disso, todos os alemães

devem se empenhar pela emancipação tanto política, quanto humana. A opressão na

Alemanha não se limitava somente aos judeus mas há todos os alemães. Ao reduzir o

problema da integração dos judeus na vida política do Estado alemão, Bruno Bauer,

conforme a crítica de Marx, reduz o problema da emancipação a um tema meramente

político. Bauer trata da parte não contemplada no Estado alemão: os judeus. Mas não do

todo, a humanidade oprimida pelo Estado e a religião. Como ilustra Marx, Bauer

substitui o estado da religião pela religião do Estado. Porém, conclui Marx, trata-se de

emancipar o ser humano enquanto humano. Não uma forma específica de sociedade ou

cultura, mas a humanidade como um todo. Mas o que é emancipação política afinal? É a

separação do homem em duas esferas: a vida pública e a vida privada. A separação entre

a sociedade civil e o Estado. De um lado o homem real, de carne e osso, que trabalha e

luta pelos seus próprios interesses. O homem privado, independente, egoísta. De outro

lado, o cidadão, homem público, de Estado, portador de direitos, cioso das coisas

públicas, do bem comum, o homem moral. A emancipação política, portanto, é a cisão

42 Bolsista de Iniciação Científica PIBICT – FAPEMIG. E-mail: [email protected]. 43 Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: [email protected].

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entre o homem e o cidadão, pela lei do Estado político. A emancipação humana, ao

contrário, é a realização plena do homem individual real através da transformação do

cidadão abstrato em força social. A emancipação humana é a não divisão entre o ser

genérico enquanto espécie humana e o ente individual, empírico. É a não alienação de

suas forças sociais em força política, na forma do Estado. Em Sobre a Questão Judaica,

o termo emancipação humana mostra-se ainda muito abstrato. Porém, já indica que ela

só se realizará pela superação da propriedade privada dos meios de produção, por uma

transformação total da sociedade. Assim, da perspectiva da emancipação humana, a

emancipação política, embora importante, do ponto de vista histórico, é ainda uma

emancipação limitada, que tem de ser superada pela próxima revolução social.

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Fernão Mendes Pinto, o peregrino à luz da singularidade em Félix Guattari

Luís César Schiavetto44

Palavras-chave: Fernão Mendes Pinto; narrativa de viagem; ensino de História.

Fernão Mendes Pinto, um peregrino na sala de aula: o século 16 no Oriente extremo da

Peregrinação, dissertação defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em

História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas – Unifal/MG, 2016, sob orientação

do professor Dr. Carlos Tadeu Siepierski, indagou o potencial temático da obra

Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, para o ensino de História nos ciclos do ensino

fundamental e médio brasileiros. Dada a invisibilidade dessa fonte bibliográfica nos

livros didáticos, introduziu-se para professores/as, alunos/as as excursões e os relatos do

viajante português durante o chamado circuito das grandes navegações. Dois eixos

temáticos oferecem possibilidades de “entradas” didático-pedagógicas ao/a professor/a

que, de forma eventual, opte por “trabalhar” a obra em suas aulas: 1- a abertura

portuguesa para a Ásia nas descrições do cronista; 2- as convenções em torno das

origens da “primeira globalização”, entre os séculos 15 e 16, captadas nos relatos da

Peregrinação. A expectativa é a de que os escritos do “peregrino” auxiliem uma melhor

compreensão dos sentidos das navegações portuguesas para além do que

tradicionalmente se vê no conteúdo de História do Brasil Colônia, por exemplo. O ponto

de partida da pesquisa se deu na própria Peregrinação. Ela foi investigada por meio da

abertura portuguesa para a Ásia e suas correlações com a expansão marítima em geral.

Em primeiro plano, bibliografia da história das “grandes navegações” contextualizou e

evidenciou o período em foco para apresentação mais pertinente do livro

(ALENCASTRO, 1998; BARRETO, 1998; BORNHEIM, 1998; GIUCCI, 1999;

LESTRINGANT, 2009; LIMA, 1998; ZIEBELL, 2002). Ao se investigar o fenômeno

inicial da globalização, por exemplo, retomou-se textos como o de Serge Gruzinski e

seu 1480-1520: A Passagem do Século (1999), notadamente preocupado em inserir

àquela época problematizações deste tempo. Esse ponto auxiliou também a escrita da

segunda parte da dissertação que se concentrou no apontamento, a partir da

Peregrinação, de “entradas temáticas” que sirvam aos professores/as como “orientações

didáticas” às aulas de História. Isto dito, perguntou-se: como empregar as narrativas e

temas da Peregrinação no ensino de História, em especial nas temáticas relacionadas à

expansão marítima portuguesa? Que concepções de mundo podem ser ali apreendidas e

que dizem respeito à constituição de sociedades não-ocidentais? As indagações se

justificam ainda mais quando se constata que apenas recentemente o relato de Fernão

Mendes Pinto passou a circular no Brasil. Desde 2005 o livro está disponível no

44 Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas –

UNIFAL. E-mail: [email protected].

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mercado editorial local; obra que, em contextos externos, é publicada ao menos desde

os inícios do século 16. Dito o contexto, um dos pontos de inflexão da dissertação

permitiu uma interpretação da “cabeça” de Fernão Mendes Pinto enquanto hipótese para

aquela personagem ser o que foi àquele tempo frente às ambições da Coroa e da Igreja

em terras asiáticas. Lembremos Fernão Mendes Pinto como crítico dos

empreendimentos luso-europeus no Oriente. Não estando a serviço de sua Coroa e

Igreja, como a maioria dos cronistas do período, por vezes ensaia voos “amargos” por

sobre as paisagens desenhadas pelos portugueses na Ásia. Em sendo assim, o pensador

francês Félix Guattari (1999), a partir de sua noção de singularidade, permite-nos

pensar o embrião de personagens anônimas e/ou históricas que, senão à margem dos

sistemas constituídos, trafegam nos descentros nervosos das estruturas de poder e em

meio às estruturas impõe singularidades nas formas das práticas de resistência e

renovação – um tomar partido da subjetividade de modo a posicioná-la sobre os

paradigmas da técnica ou, como quer o autor, das “tecnociências”: toda a tecnologia

que, em especial a partir da Idade Moderna, normatiza o percurso de pessoas e

instituições. Tal repertório “técnico-científico” teria dado “ênfase ao mundo objetal de

relações e funções, mantendo [...] entre parênteses os afetos subjetivos, de modo que o

finito, o delimitado coordenável, acabe prevalecendo sobre o infinito” (GUATTARI,

1992, p. 129), ou seja, sobre o subjetivo sempre reprimido e/ou subestimado. Deste

modo, a noção de singularidade em Félix Guattari, presente em Caosmose: Um Novo

Paradigma Estético, de 1990, possibilita um exame diferenciado das personagens que,

em “trânsito”, se deparem com impasses experimentados em qualquer tempo ou espaço.

Por meio da singularidade, o autor faz pensar uma possibilidade de transformação

operada por meio do afloramento criativo da subjetividade, capaz de nos emancipar da

“trama das redundâncias dominantes” (GUATTARI, p. 32). O desafio está em promover

micro ou macro emancipações tendo como ferramenta elementar o ilimitado colchão de

conhecimento acumulado ao longo da História. Fernão Mendes Pinto terá sido uma

dessas personagens que, ao seu modo, a partir de repertórios greco-romanos e outros,

transformou, por meio de seus escritos e presença na Ásia, o mundo mais próximo ao

seu redor. E uma vez que a “Peregrinação revela a prosaica realidade encoberta pelas

melhores e mais bem enfeitadas palavras do discurso colonial” (ALENCASTRO, 1998,

p. 199) muito do que Mendes Pinto singularizou por escrito possibilitou visões menos

condescendentes às movimentações portuguesas em contexto de navegações

quinhentistas.

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Mecanicismo materialista y psicología hobbessiana

Campo Elías Flórez Pabón45

Palavras-chave: Pasión; razón; política.

La presente comunicación pretende retomar las categorías de materialismo mecanicista

en la obra de Thomas Hobbes, a partir de dos categorías desarrolladas por su

antropología política. Primero las pasiones como un elemento determinante en la

psicología de los seres humanos en el estado de naturaleza, aplicado al discurso de la

retórica política. Segundo, el concepto de razón que supera las pasiones-retóricas

políticas, y nos invita a una vida sin miedo, esperanzada en una sociedad pacífica. Para

abordar la presente comunicación, debemos limitar nuestro campo de acción dentro de

todos sus escritos. Ante lo cual nos queda puntualizar qué obras se revisaran bajo una

metodología de comentario de texto en sus escritos, denominados políticos. Para tal

labor, se seguirá una secuencia histórica de publicación dentro de la vida del autor, con

el objetivo de ver cómo han evolucionado dichos conceptos históricamente en el

proyecto político hobbesino, y proponer si fuera necesario una actualización de los

mismos hoy. Como sugiere R. Tuck (2001, p. 57ss) en su escrito, vamos a retomar las

siguientes obras siguiendo un orden histórico de publicación para considerar estas dos

categorías, las cuales son conocidas como los escritos políticos del autor: The Elemenst

of Law, Natural and Politic (1640); De Cive (1642), Leviathan (1651). Así con estas

observaciones iniciales, para hablar sobre el presente tema hemos de partir de una corta

presentación del capítulo VI del Leviathan, el cual fundamenta la discusión sobre las

pasiones en el autor como del papel de la razón en nuestra humanidad política. En tal

sentido, el cuerpo humano será comparado con el cuerpo político, o sea el cuerpo social.

Lo que nos lleva a plantearnos de alguna forma un par de preguntas que se solucionaran

a lo largo de su Elementa philosophiae., pero que envuelven el carácter mecanicista y

materialista de la analítica hobbesiana, que en otras palabras sería preguntarnos: ¿hasta

dónde esa explicación antropológica del estado de naturaleza que habla de un ser

pasional y egoísta sirve como base para fundamentar su teoría política?, o ¿son las

pasiones fuerza motriz que impulsa a los hombres a realizar el pacto social? ¿Qué tanta

influencia tendrían las pasiones en un estado pre-social para la conformación de un

estado civil y racional?

45 Doutorando em filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, IFCH. Universidade Estadual de

Campinas. E-mail: [email protected].

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70

A subjetividade autoritária: bases frankfurtianas para a análise social crítica

Elisa Zwick46

Palavras-chave: Teoria Crítica; dialética; autoritarismo.

Este trabalho apresenta alguns arranjos conceituais integrantes da pluralidade da Teoria

Crítica na análise do binômio autoridade–autoritarismo. Focamos em textos de

Horkheimer, Benjamin, Fromm, Adorno e Marcuse. O método de abordagem é a

dialética, vista a correlação de sua natureza contraditória e articulada com a dupla

polaridade do tema. Também integramos a perspectiva do materialismo interdisciplinar,

valorizando diferentes contribuições da análise social proposta pela Teoria Crítica de

primeira geração. Apresentamos o tema via obras escritas no pós-guerra, que na

América adquiriram um viés de análise da cultura de massa. Em Horkheimer, a tônica

das investigações presentes era a padronização de comportamentos, analisados pelo

enfoque psicológico e antropológico, o que o leva a um interesse particular pelo

fenômeno da regressão. Localiza-se aqui um importante condutor de boa parte de sua

obra, que é a luta contra a barbárie e a dominação, também tema de seu livro Eclipse of

reason (HORKHEIMER, 1947), que retoma a discussão precedente colocando as ações

autoritárias na conta da razão instrumentalizada. Integrado marginalmente à tradição

frankfurtiana, Walter Benjamin desenvolve com acurácia e complexidade o fenômeno

da cultura enxertada pela barbárie. A célebre afirmação de que os oprimidos vivem em

permanente estado de exceção é pano de fundo das formulações de Benjamin (2010) em

suas teses “Sobre o conceito de história”, sistematizadas na sonora tese dialética de que

todo o documento (Dokument) da cultura é também um documento da barbárie. Isso é

pressuposto dentro de uma certa antropologia freudiana nos marcos psicológicos de

Eros e Thanatos, que repercutem no dilema entre autoconservação e sacrifício. Para

quem como Benjamin (2010, p. 225) propõe a necessidade de “escovar a história a

contrapelo”, contando-a na ótica dos vencidos, o progresso como sua lei máxima insere

a urgência da batalha contra o fascismo que, longe de ser anacrônico, é o modelo

imanente da dominação. Chama sua atenção não o assombro diante do abandono da

Bildung alemã, mas a falta de espanto no tocante à cumplicidade entre barbárie e

progresso enquanto seu fio condutor. Outro conceito caro a Benjamin é o de

experiência, que se apresenta como acontecimento autônomo. Sem uma experiência

substantiva, os indivíduos não têm como distinguir nem evitar a presença dos elementos

46 Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Professora Adjunta do Instituto de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas. E-mail: [email protected].

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71

do fascismo. Psicanalista e um dos fundadores do Institut für Sozialforschung, em seus

estudos no terreno da Psicologia Social, Erich Fromm publicou em 1942 o livro The

fear of freedom, que servia em grande parte para analisar a emergência das sociedades

totalitárias. Para ele, na modernidade os homens não haviam se encontrado com a

liberdade positiva, mas com a solidão. Porém, achando-se liberados no uso individual

de sua própria força, tecem uma perspectiva de medo, que os leva a impulsos

sadomasoquistas de renúncia à sua individualidade para restituir uma nova segurança.

Em 1973 Fromm publicou uma obra monumental, The anatomy of human

destructiveness, na qual examina a literatura de várias áreas sobre a agressividade,

rechaçando a tese dos instintivistas que naturalizam a agressão. Mas é Dialektik der

Aufklärung a obra que mudaria para sempre a compreensão da sociedade moderna.

Horkheimer e Adorno se perguntam por que a humanidade, que os préstimos iluministas

da razão e da ciência prometeram emancipar, ao invés de caminhar em direção a um

estado humano, dá cada vez mais mostras de uma queda “em uma nova espécie de

barbárie”. Para eles, a racionalidade e sua expressão maior, a ciência, no afã de liquidar

implacavelmente os mitos, terminou por recair numa nova forma de mitologia. É o que

apontam no drama de Ulisses, personagem central da Odisséia de Homero, cuja

racionalidade funda-se na astúcia de lograr a natureza externa para se autoconservar. A

manipulação técnica da natureza para sua sobrevivência cobra-lhe um sacrifício

repressivo sobre os instintos que não raro retorna sob a figura da barbárie – por

exemplo, a guerra. Não por acaso o enredo de interpretação filosófico literário que abre

o livro chega ao final com um capítulo dedicado ao antissemitismo, figura peculiar do

espírito nazista. Também na série “Studies in prejudice”, composta pelo volume

coletivo Studies in the authoritarian personality (ADORNO, 1950), reforçam-se os

elementos já dispostos anteriormente, como a repressão da natureza e o antissemitismo.

Ao reconhecer o impacto da obra de Freud na cultura e na ciência, a contribuição de

Adorno à personalidade autoritária também mantém interface com a pesquisa

psicossociológica. No entrelaçar das análises da personalidade, da consciência e da

ideologia, Adorno identifica o núcleo concreto do autoritarismo, contribuindo de modo

fundamental para deslindar o perfil do caráter fascista. A conflituosa relação entre

autoconservação e sacrifício, roteiro de Dialektik der Aufklärung, é o dilema também

presente no que Marcuse (2010) chamou de Eros and civilization, título de seu principal

estudo sobre Freud, realizado numa moldura filosófica, mas entrevendo uma validade

político-sociológica na psicanálise freudiana. Em sua convicção de que as categorias

psicológicas convertem-se em políticas, Marcuse analisa a sociedade industrial moderna

apontando sua dependência da produção e do consumo do supérfluo. O alto preço diante

da servidão voluntária humana ao potencial destrutivo do progresso técnico é cobrado

no desempenho crescente de atividades improdutivas, que aniquilam as tentativas

autônomas de articulação política. Isso fica claro nas reflexões sobre o homem

unidimensional, em que Marcuse (1978) aponta o pensamento positivista como

balizador da prioridade técnica que, por conseguinte, se torna a prioridade política.

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Doravante, aponta as contradições entre a ascensão científica e tecnológica e o aumento

da dominação e da destruição, buscando preservar a linha de Freud, que, segundo

Marcuse, contém um fundo oculto que rejeita a identidade entre civilização e repressão.

Nisto, defende que a teoria de Freud não apenas não se limita aos aspectos técnicos da

terapia como ainda pressupõe abertura para uma sociedade não repressiva, o que

configura a utopia de Eros marcusiana. A pluralidade da Teoria Crítica, notória desde a

primeira geração, aponta direcionamentos distintos, em que a crítica ao autoritarismo é

um de seus elementos comuns, cuja identificação e compreensão é uma tarefa

contribuinte para melhor elucidar o papel e o lugar desses autores como intelectuais não

conformistas, conforme a eles se referiu Alex Demirovic.

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A sensação no ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos de Condillac

David Ferreira Camargo47

Palavras-chave: Sensações; Condillac; entendimento; empirismo.

Ao remontar a origem de nossos conhecimentos e como eles podem se desenvolver,

Condillac apresenta o funcionamento das operações da alma. Tais operações são as

condições pelas quais as ideias se dão e se relacionam entre si. A sensação é, para ele, a

maneira pela qual as ideias nos chegam através dos sentidos. Diversos outros filósofos

têm negado a validade objetiva das sensações, ou seja, negam que as sensações nos

permitem um conhecimento verdadeiro das coisas. Veremos como Condillac considera

o papel da sensação enquanto ideias que têm sua validade objetiva. Mas a mera

sensação não poderia dizer o que as coisas são efetivamente. Todavia, não se poderia

negar que as ideias que nos vêm pela sensação seriam em algum grau os materiais de

nossos conhecimentos e mesmo uma condição para e efetividade deles. Além disso, a

sensação seria a origem primeira das ideias que se desdobram em diversas operações da

alma como a percepção, a atenção, a memória, a imaginação, etc. O objetivo dessa

comunicação é, portanto, apresentar qual é o papel da sensação no Ensaio de Condillac

e apontar alguns problemas que surgem a partir da consideração desse tipo de ideia

enquanto dado objetivo. Apresentar, ainda que rapidamente, como Condillac analisa a

geração da operações da alma. Tais operações são relativas ao entendimento humano, e

são a chave para se compreender como as ideias pode se tornar efetivamente

conhecimentos.

47 Doutorando em Filosofia pela UFSCar. E-mail: [email protected].

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Novas subjetividades: a contribuição da Neurociência para as representações

sociais da pessoa humana

Allisson Vieira Gonçalves48

Carlos Tadeu Siepierski49

Daniele Ferreira Soares50

Palavras-chave: Neurociência; noção de pessoa; razão/emoção.

Este trabalho é parte de uma pesquisa temática que está sendo desenvolvida ao longo

dos últimos anos no Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura Contemporâneas e que

tem por objeto a noção contemporânea de pessoa humana. O presente trabalho tem

como objetivo compreender o impacto da Neurociência nas representações sociais da

pessoa humana tendo como foco de análise a obra O erro de Descartes: razão, emoção

e cérebro humano, de Antônio Damásio. Ao longo do século XX - com a especialização

do campo mais amplo da Neurociência - surge a subárea da Neurobiologia, que passa a

estudar a biologia do sistema nervoso em um sujeito ainda vivo. As discussões colocam

em questão a mente, ou consciência, como algo que transcenderia a própria estrutura

biológica. Nesse sentido, o cérebro se torna o órgão responsável pelo comportamento

humano e a base da pessoa. Nas últimas décadas, a Neurobiologia tem problematizado

os dualismos mente/corpo, razão/emoção, próprios do pensamento cartesiano, e um dos

autores que tem contribuído para essa discussão é justamente o neurocientista Antônio

Damásio, o qual tece uma crítica incisiva sobre esses dualismos e realoca a mente no

cérebro como um processo biofísico. A contribuição de Damásio - fundamental dentro

da produção dessa área, além de ter uma repercussão para além do meio acadêmico -

colabora para uma nova concepção de pessoa humana. Como o trabalho está em fase de

desenvolvimento, apresentaremos os resultados parciais da análise de acordo com o

cronograma de trabalho do discente, iniciado em março de 2016. De acordo com

Damásio - que usa de dados médicos e de seus próprios pacientes -, o cérebro passa a

representar o indivíduo, sendo agora a base da própria pessoa e a via de compreensão

dos seus aspectos sociais. Nesse sentido, portanto, desvios sociais, ou seja,

comportamentos que prejudicam os sujeitos dentro de um contexto relacional são

associados às limitações na estrutura biológica (lesões e deformidades no cérebro). Para

explicar a racionalidade, por exemplo, o autor trabalha com o conceito de imagens

(formação e comparação). De acordo esse conceito, o cérebro percebe o corpo como um

conjunto de estados corporais que estão sendo continuamente reatualizados, pelo

48 Graduando do 8° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail: [email protected]. 49 Professor de Antropologia (ICHL/ UNIFAL-MG). E-mail: [email protected]. 50 Graduanda do 6° período de Ciências Sociais da UNIFAL-MG. E-mail:

[email protected].

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contato com o ambiente e por novas experiências. Além disso, o autor delimita as áreas

responsáveis pela razão e emoção, não para localizá-las em uma local específico no

cérebro, mas de forma a mostrar como elas são interdependentes no processo de

formação da percepção. Nesse sentido, Damásio demonstra como pacientes com lesões

em partes relacionadas às emoções também tem problemas para fazer escolhas

racionais. Os termos normal e anormal aparecem com muita frequência na sua obra,

sendo que o termo anormal é usado para identificar a categoria de doentes neurológicos,

a qual corresponde um ser humano que não possui o aparato cerebral normal para

desenvolver suas características sociais. No embate razão e emoção, o autor busca

superar esse dualismo - que relegaria as emoções aos mecanismos mais rudimentares do

cérebro - propondo que ambos operam conjuntamente no processamento de imagens,

gerando a percepção do corpo e do ambiente. Tal mecanismo associa o cérebro a uma

máquina que processa e gera imagens de forma contínua. O cérebro usa e compara essas

imagens com a realidade, para então gerar emoções e sentimentos (estados do corpo).

Esses sentimentos são a soma da percepção de um objeto e da percepção do estado

corporal criado pelo contato com o objeto. Segundo Damásio, os sentimentos seriam

resultados das emoções, contudo, existiriam sentimentos que independem de uma

emoção. Dessa forma, as emoções têm uma função no pensamento racional, ou seja, os

processos cognitivos dependem da interconexão das diversas áreas do cérebro. Essa

discussão coloca em questão uma nova percepção da subjetividade humana e contribui

para uma nova representação social da pessoa humana.

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A metonímia do desejo e o brinquedo como suporte significante: considerações

sobre o brincar na clínica psicanalítica com crianças hospitalizadas

Priscila Cristina da Silva Cid Gigante51

Palavras-chave: Psicanálise; brincar; crianças; significante; desejo.

O presente trabalho tem origem no desenvolvimento de atividades lúdicas com crianças

em uma brinquedoteca hospitalar, no contexto das quais, à fala e ao brincar das crianças

se dirigem observações e intervenções no âmbito do enfoque psicanalítico. Assim, a

abordagem do brincar se faz na medida em que o mesmo encontra-se ancorado no

discurso do sujeito falante. O lugar ocupado pela criança é, portanto, o de sujeito. A

atividade lúdica tem como suporte a linguagem – a função simbólica – e, como tal,

articula-se à gênese do sujeito. Na brincadeira, a criança expressa e coloca em

movimento seus medos, angústias, sentimentos, desejos, elaborando sua experiência

subjetiva e, no mais das vezes, substituindo uma realidade insatisfatória ou ameaçadora

por outra fantástica. Frequentemente, coloca em evidência o desejo de ser adulto como

elemento fundamental desta dinâmica. O lugar da criança no trabalho analítico é

redimensionado por Lacan, para quem a psicanálise com crianças é, antes de mais nada,

psicanálise. Torna-se visível uma ética que coloca a criança no discurso analítico

sustentando que ela deve ser escutada como sujeito do inconsciente, cuja fala independe

da idade cronológica (VIDAL, s/d). O referencial teórico norteador deste trabalho será

este postulado pela clínica lacaniana, que dirige a interpretação não à significação, mas

ao significante e seu sem-sentido, e entende a criança, antes de tudo, como sujeito do

inconsciente, cuja fala é portadora de demanda. Ao abordar o trabalho analítico com

crianças hospitalizadas, este estudo não pretende articular as possibilidades da

transferência, mas a configuração da emergência do desejo e seus desdobramentos no

brincar da criança durante os contatos possíveis. A noção de contatos possíveis, aqui

empregada, procura abarcar algumas particularidades da rotina hospitalar vivenciada no

decorrer dos atendimentos: a demanda espontânea pelo trabalho, seja por parte dos pais,

da criança ou do serviço de enfermagem, foi, praticamente, inexistente; o contato com a

criança se realiza, amiúde, durante poucos encontros ou até mesmo um único encontro;

muitos dos atendimentos são efetuados no quarto em virtude de restrições da criança

quanto ao deslocamento até a brinquedoteca; e, em um número significativo de

atendimentos, os pais ou adultos responsáveis por acompanhá-la durante a internação se

mantêm presentes. O enlace entre o brincar e a palavra é o ponto de interesse da clínica

51 Graduanda em Psicologia pela Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas – Campus de Alfenas.

E-mail: [email protected].

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lacaniana com crianças. O brincar é ao mesmo tempo entendido como significante e

como resposta do real (FERREIRA, 2000). Para Lacan, a interpretação não visa trazer

uma significação como resposta (a significação consistiria, antes, num objetivo da

clínica kleiniana), mas um sem-sentido. Na dinâmica do brincar apresentam-se diversas

expressões do sujeito, seu sintoma e seu desejo. Observa-se a repetição como sintoma

ou sinal de um gozo que aponta ao desejo, o qual, porém, nunca é acessado por

completo, como todo, mas clareado por aproximações àquilo que escapa como resposta

ou apelo do real (inconsciente). Vê-se também o deslizamento do sentido na metonímia

do desejo, que vai de um significante a outro, percorrendo a trilha de um investimento

pulsional que deixa sempre um resto e, novamente, se lança aos seus objetos. Três casos

foram escolhidos para este estudo. Em dois deles, ao tornar-se evidente o brincar em sua

dimensão de sem-sentido, cujo suporte significante é instaurado no brinquedo,

observou-se que, mesmo quando a criança fruía o prazer de uma brincadeira, deslizava,

sem mais, para outra, e, encontrando, nesta última, o atual suporte temporário através do

qual insurge, outra vez, o desejo, de novo, este escorrega para outro significante. Ou

seja, o desejo desliza de um suporte a outro, de um brinquedo a outro. No outro caso,

notou-se a produção de algo, cuja natureza era eminentemente analítica e se colocava na

ordem de um desejo por meio do qual o sujeito redimensionava, em ato, um lugar

ocupado por ele frente à expectativa da mãe, e, diferentemente dos casos anteriores, não

ocorreu um deslizamento de um suporte a outro, mas uma vacilação operante em torno

de um vazio de sentido (um sem-sentido, uma falta-a-ser), por meio do qual o

significante “brinquedo” (neste caso, um quebra-cabeça) se inscreveu como furo,

apontando à possibilidade de reposicionamento no campo do desejo do Outro.

Referências: FERREIRA, Tânia. O brincar e sua função na estrutura. In: A escrita da

clínica: psicanálise com crianças. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2000. VIDAL,

Maria Cristina Vecino. O lugar da criança no discurso analítico. Letra Freudiana. Ano

X, nº 9, s/d.

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Da subjetividade a intersubjetividade: o giro da filosofia do sujeito para a

pragmática linguística

Zionel Santana52

Terezinha Richartz53

Palavras-chave: Filosofia do sujeito; razão comunicativa; Habermas.

O objetivo dessa preleção é a compreensão crítica do paradigma da intersubjetividade

nos estudos de Jürgen Habermas. Em seus ensaios sobre o abandono do Paradigma da

Subjetividade, este autor se diferencia dos demais pensadores pelos argumentos

dialógicos, diferentemente dos argumentos de seus críticos, que repousam, ainda, em

bases monológicas. O que faz com que Habermas abandone essa trajetória de uma

fundamentação sem perder a constituição crítica-racional da modernidade. Mas,

Habermas encontra dificuldades em fugir das aporias do paradigma da subjetividade.

Seu problema consistiria, segundo a reflexão habermasiana, em pensar a relação entre o

“eu” e o “outro” de forma monológica. Assim, já em “Teoria do Agir Comunicativo”

encontramos ensaios que apontam as possíveis vias de superação do paradigma da

subjetividade. Ali, Habermas apresentava suas proposições para ultrapassar as

limitações do paradigma da subjetividade por meio do conceito de razão comunicativa.

Habermas escapa, desse modo, da via solipsista adotando o paradigma da

intersubjetividade, possibilitando, com isso, a melhor formulação da Teoria do Agir

Comunicativo e da Razão Comunicativa, constituindo os fundamentos de sua teoria

critica social e abrindo novos caminhos para a superação do paradigma da

subjetividade. A passagem do paradigma da subjetividade para o da Intersubjetividade

possibilitou a Habermas o abandono do Paradigma da subjetividade. Dessa forma, pôde

o filósofo trabalhar com maior envergadura os temas cruciais de seu tempo e se

posicionar frente a questões sociais que não já não aceitam posições fechadas e

unilaterais. Habermas tem uma captação incomum da Filosofia: de um lado, ele não

aspira mais à filosofia tradicional. Essa renúncia, entretanto, não deve ser congregada

com as atitudes autodemissionárias. Pois, de outro modo, Habermas almeja prosseguir

fiel à tradição filosófica. Assim, Habermas baseia sua crítica sobre as ciências que

objetivam o conhecimento além do aspecto meramente instrumental, porém, avança na

52 Doutor em Filosofia (UGF/RJ) participa dos projetos de pesquisa do Programa de Mestrado e

Doutorado - formação de professor e ação docente. E-mail: [email protected]. 53 Doutora em Ciências Sociais (PUC/SP); Professora do Programa de Mestrado em Letras – Linguagem,

Cultura e Discurso da Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR). E-mail: [email protected].

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aclaração dos aspectos filosóficos e epistemológicos que corroboram para o processo da

edificação do conhecimento. O seu pensamento caminha para a mudança de paradigma

a fim de sair do colapso que se estabeleceu. Dessa forma, ele continua fiel à filosofia

crítica e prática, distinto da filosofia transcendental. Enfim Habermas se ampara em dois

braços do pensamento: a crítica quase transcendental, formal e pragmática, através de

uma análise da linguagem, em cuja estrutura o interesse em maioridade e comunicação

torna – se evidente e a critica quase empírica, de uma teoria da sociedade.

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Classes sociais, partido e Estado no Manifesto Comunista de Marx e Engels

Lucas Soares Miniussi54

Francisco Xarão55

Palavras-chave: Estado; classes sociais; partido; Marx.

Nossa comunicação propõe apresentar um estudo sobre o Manifesto Comunista

redigido, entre junho de 1847 e janeiro de 1848, por Marx e Engels, por deliberação da

Liga dos Comunistas. Neste texto se identifica o surgimento do conceito de classes

sociais, o papel do partido político na conquista do poder e a crítica do Estado moderno

como sendo apenas um comitê central para gerir os negócios comuns da burguesia. O

problema que investigamos é: As classes sociais, o partido político e o Estado Moderno

interferem nas relações sociais de produção e no desenvolvimento das forças produtivas

de modo a preservar ou transformar suas configurações históricas? A hipótese

norteadora desta pesquisa é que no âmbito do Manisfesto Comunista, são estabelecidas

as determinações recíprocas desta constelação de conceitos. O que pretendemos testar

com essa hipótese é se as sociedades humanas, em especial a capitalista, são formas

históricas transitórias que se mantém e se dissolvem em virtude do confronto entre as

relações sociais de produção e as forças produtivas postas em movimento pelo conflito

entre classes sociais, partido e Estado? Nossa pesquisa tem como objetivo principal

mapear essas relações e conflitos conforme apresentado na literatura especializada sobre

o Manifesto Comunista. Compreende-se aqui, inicialmente, o conceito de materialismo

histórico dialético como sendo uma concepção filosófica que aborda o ser como

realidade material, cujo movimento contraditório engendra o próprio pensamento. O

materialista histórico dialético não separa sujeito e objeto como se algum deles pudesse

existir independentemente do outro. Para o materialismo histórico dialético ser e pensar

não são a mesma coisa, mas possuem determinações recíprocas. Quando nos referimos

aos conceitos de classe social, partido e Estado estamos aplicando essa terminologia

sempre no sentido restrito definido por Marx e Engels no Manifesto Comunista e que é

o objeto desta pesquisa. Por essa razão, apresentamos nesta comunicação somente

alguns resultados preliminares da pesquisa em andamento. O Manifesto está organizado

em quatro partes. Na primeira (nominada de Burgueses e Proletários) se apresentam as

origens da classe burguesa, um esboço do conceito de crises cíclicas e o conceito de

lutas de classe, com uma breve sociologia das classes sociais no capitalismo de 1847. A

54 Bolsista Voluntário de Iniciação Científica, acadêmico do Curso de Ciências Sociais da Unifal-MG. E-

mail: [email protected]. 55 Professor Adjunto do ICHL/Unifal-MG. E-mail: [email protected].

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segunda parte – Proletários e Comunistas – discute a relação dos comunistas com o

movimento operário e suas várias tendências. Expõe uma caracterização da concepção

marxiana do comunismo e ao final apresenta um programa de dez pontos que deveriam

ser adotados imediatamente após a tomada do poder pelos proletários em luta. A terceira

parte, sobre a literatura socialista e comunista, é dedicada a apresentar e criticar as

diversas tendências socialistas em voga na Europa, em 1847, e que se contrapunham a

visão marxiana do comunismo e da revolução. Por fim, a quarta seção é uma

apresentação da “Posição dos comunistas diante dos diversos partidos de oposição” na

qual Marx e Engels rascunham elementos que mais tarde formarão sua concepção geral

sobre a organização política dos proletários ou, como denominou Lênin, a teoria do

partido político.

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Ressocialização sobre duas rodas: o trabalho do condenado como fator de

ressocialização, agente de transformação carcerária e condição de dignidade

humana

Brenda Krisley Serafim56

Palavras-chave: Ressocialização; trabalho; transformação.

A presente pesquisa visa o estudo da ressocialização das pessoas presas, a promoção da

solidariedade e a assistência às pessoas portadoras de deficiência. Foi elaborada com o

objetivo de ser implantada no presídio da cidade de Poços de Caldas-MG, e consistirá

no exercício de uma atividade laboral por parte da população carcerária, quer seja, a de

dar um fim útil às bicicletas custodiadas na Delegacia de Polícia Civil, transformando-

as em cadeiras de rodas, que beneficiarão a população carente portadora de

necessidades especiais, além de sensibilizar a sociedade em torno da causa. Os

resultados obtidos até o momento foram: parcerias firmadas com a Polícia Civil, com a

Engenharia de Produção e com o Presídio. Foi acordado com a Polícia Civil, por

intermédio do Delegado Regional, o Doutor Sérgio Elias Dias, que este auxiliará no

trâmite da doação das bicicletas para o Presídio, e promoverá, dentro de suas

possibilidades, as medidas necessárias para a consecução dos objetivos do estudo do

trabalho do condenado como fator de ressocialização. O coordenador do Curso de

Engenharia de Produção Neil Paiva Tizzo da Pontifícia Universidade Católica, bem

como alunos e professores do referido curso, desempenharão o papel de ensinar os

presidiários a técnica de transformar as bicicletas em cadeiras de rodas, e acompanhá-

los na desenvoltura dessa transformação. As cadeiras de rodas serão encaminhadas a

órgãos de assistência que as direcionarão aos necessitados. A diretora adjunta do

presídio, Monique M. M. Xavier, tem interesse na implantação de projetos em prol da

sociedade, que corroboram por meio da pesquisa, para a dignidade humana no

cumprimento da pena. A Constituinte Brasileira de 1988, prevê que não haverá penas de

trabalhos forçados, assinalando desta forma um conceito humanizado de pena,

respeitando a pessoa e a liberdade humana. Nesse sentido, a Lei de Execuções Penais de

1984, assinala o trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade

humana, com finalidade educativa e produtiva. Entretanto, a ressocialização é

prejudicada devido à precariedade do sistema prisional e a violação de direitos, fatores

estes, que obstam tal ressocialização. Nesse sentido, a problematização da pesquisa é: a

prisão como instituição social dispõe de recursos para cumprir com as funções

56 Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Direito da PUC Minas. E-mail: [email protected].

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manifestas pelo ordenamento jurídico no que diz respeito ao trabalho do condenado?

Para responder tal indagação, será utilizado como metodologia a análise de campo,

entrevistando-se os encarcerados participantes e os portadores de necessidades especiais

que forem beneficiados, para que com as informações obtidas mediante tais relatos, e a

devida análise dos resultados dos impactos do trabalho no cárcere, na reinserção social

do ex condenado e na sociedade em geral, possa-se elaborar um artigo que retrate a

experiência vivida por todos participantes. O estudo da Filosofia em benefício da

sociedade, orienta essa pesquisa, ao passo que uns dos teoricos estudados são: Beccaria,

que trouxe um contexto humanitário de pena, e o filósofo Michel Foucault, que abordou

o trabalho prisional em um estudo científico. Contudo, a pesquisa do trabalho do

condenado como fator de ressocialização, agente de transformação carcerária e

condição de dignidade humana, tem como escopo o estudo da Filosofia, em prol da

Sociedade, fazendo com que todos os resultados alçados contribua para um melhor

convívio social.

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A experiência de leitura no presídio de Poços de Caldas: como é ler no presídio?

Davidson Sepini Gonçalves57

Maíra Leda de A. Carvalho58

Palavras-chave: Sistema prisional; literatura; reeducação.

A experiência de um projeto de leitura no Presídio de Poços de Caldas, Minas Gerais,

tem respaldo na lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que dispõe sobre a remição de

parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho e da portaria conjunta

do Ministro Corregedor-geral da Justiça Federal e do Diretor-geral do Departamento

Penitenciário Nacional que instituiu, no âmbito das Penitenciárias Federais, o Projeto

"Remição pela Leitura". Na prática, o reeducando do sistema carcerário tem o prazo de

vinte e um a trinta dias para a leitura de uma obra literária, apresentando ao final deste

período uma resenha do livro, possibilitando, após avaliação e aprovação da resenha por

uma comissão, a remição de quatro dias de sua pena e ao final de até 12 obras lidas e

resenhadas, terá a possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses. A experiência

de leitura sempre gerou muitas expectativas, seja no âmbito escolar, pessoal ou social.

Afinal, a leitura é entretenimento, estudo ou compromisso social? Há leituras realmente

melhores que outras? Michele Petit pergunta: “por que ler é importante? Por que a

leitura não é uma atividade anódina, um lazer como outro qualquer? (...) de que maneira

a leitura pode se tornar um componente de afirmação pessoal e de desenvolvimento de

um bairro, uma região ou um país?” (PETIT, 2008, p. 60).59 A leitura sempre esteve

associada ao saber. Mas que saber seria esse? Informativo, reflexivo, projetivo,

transformador? E esse saber é capaz de posicionar o leitor em lugares diferentes

daqueles que tem ocupado socialmente e até mesmo eticamente? Em um dos itens que

compõe a resenha, o leitor é convidado e falar sobre sua experiência de leitura

respondendo à pergunta: como foi para você ler no presídio? Foram analisadas 100

respostas agrupadas em cinco categorias. Trata-se, portanto de pesquisa de campo,

qualitativa, de natureza básica, com objetivos explicativos. Das 100 respostas à

pergunta: como foi para você ler no Presídio, 36% referiram-se a algum tipo de reflexão

pessoal a partir da leitura do livro, geralmente ligada à condição atual do leitor; 31%

referiram-se à aquisição de conhecimento com a leitura do livro; 24% referiram-se à

leitura no presídio como possibilidade de passar melhor o tempo ou distrair-se com a

57 Professor da PUC Minas em Poços de Caldas, mestre em Filosofia pela PUC Campinas e doutorando

em Educação pela UNESP Rio Claro. E-mail: [email protected]. 58 Bacharel em Direito pela PUC Minas e Gestora Cultural pelo IFSULDEMINAS. E-mail:

[email protected]. 59 PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed. 34, 2008.

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leitura; 6% referiram-se à melhoria na ortografia e no vocabulário e 3% à leitura como

um desafio diante da pouca escolaridade e da limitada compreensão do texto. A

categoria mais expressiva revela que o leitor se sente provocado pela leitura ao ponto de

ser levado a uma reflexão sobre sua história de vida, sobre sua condição e as

possibilidades futuras; Nos dizeres de Paulo Freire (2003.p.15 e 20)60: “(...) a leitura da

palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a ‘leitura’ de mundo.

(...) A leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura dessa implica a

continuidade da leitura daquele.”. A segunda categoria mais expressiva revela a

conscientização do leitor em relação à aquisição de novos conhecimentos durante a

prática de leitura. Já asseverava Margarida Palácio (1987)61 que a leitura deve ser vista

como habilidade linguística, percebendo a relação existente entre fala, leitura e a escrita,

e suas multiciplicidades de fatores que intervém no processo destas aprendizagens como

a aquisição do conhecimento, desenvolvimento emocional, evolução de seu processo de

interação social. A terceira categoria mais expressiva revela que a leitura no presídio

atende ao anseio dos reeducandos de exercer atividades diárias que possibilitem um

melhor aproveitamento do tempo. As outras categorias de menor expressividade,

referem-se à questões pragmáticas e dificuldades encontradas no processo de leitura.

Conclui-se portanto, que a leitura no presídio de Poços de Caldas – em consonância

com os autores estudados – tem proporcionado uma experiência de reflexão, busca de

significados e aquisição de novos conhecimentos, para além da remição da pena.

60 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 2003. 61 PALÁCIO, Margarida Gomes. Os processos de leitura e de escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.

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Vem Cuidar! Promoção da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado

Alexandre da Costa62

Palavras-chave: Sociedade; envelhecimento; cidadania; idoso institucionalizado;

exclusão.

Há uma unanimidade entre os pesquisadores, gestores sociais e políticos que o aumento

da população idosa está evidente. Nos países como o Brasil esta preocupação é maior

ainda, pois este aumento populacional acontece no contexto de grande desigualdade

social. O projeto extensionista que apresentamos, com o título Vem Cuidar! Promoção

da saúde e a cidadania do idoso institucionalizado, desenvolve um trabalho com idosos

institucionalizados dentro da perspectiva da promoção da saúde e da cidadania, onde

eles são identificados com sujeitos históricos levando em consideração sua cultura,

sentimentos e questionamentos. Este direcionamento do projeto é muito importante

dentro de um contexto capitalista onde houve uma perda do valor social do idoso

tornando-o elemento descartável de um sistema que singulariza a capacidade produtiva

em detrimento de outras dimensões do humano, deixando em segundo plano o modo de

ser e estar do idoso na sociedade. Assim sendo, este projeto tem como objetivo

promover a saúde integral e a cidadania do idoso institucionalizado, na Vila Vicentina

Elvira Dias de Poços de Caldas, a fim de se ter um envelhecimento ativo e saudável. A

metodologia adotada é a da ação comunitária, pois acreditamos que esta seja a melhor

forma de atuar na Instituição Vila Elvira Dias, uma vez que professores e alunos

buscam cooperar na melhoria da qualidade de vida de uma comunidade muito específica

através de diversas ações. Dentro da perspectiva de que estas ações cooperativas

despertem em todos os envolvidos consciência participativa e critica, embasado na

alegria, na partilha e na acolhida. O projeto teve inicio em fevereiro de 2016; e

semanalmente são realizadas oficinas sobre higiene pessoal; integração grupal;

integração dos moradores da Vila com seus familiares e amigos; é trabalhado a memória

através de oficinas e jogos; passeio em pontos turísticos de Poços de Caldas; trabalho de

humanização e acolhimento com os profissionais que lidam com os idosos; Criação de

um coral musical com os idosos e ampliação da horta . O projeto inclui alunos de

variados cursos, tais como Administração, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia,

Engenharia de Produção e Medicina Veterinária; na perspectiva de ampliar o

compromisso universitário, nas várias áreas de seus cursos de acordo com seus Projetos

62 Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Campus poços de Caldas e coordenador

do projeto de Extensão Vem cuidar! Promoção da saúde e da cidadania do idoso institucionalizado.

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Pedagógicos, na atenção a este grupo socialmente vulnerável e estreitar os vínculos para

ações conjuntas com entidades que atuam com a promoção da saúde, assim como com

movimentos comunitários; além de contribuir concretamente com ações que melhorem

a capacitação profissional de nossos estudantes e professores e a formação humana e

cidadã entre o público atendido e assim tornar realidade os princípios extensionistas da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

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Bullying na escola: a percepção de um grupo de alunos do 9º ano do Ensino

Fundamental de uma escola pública em Poços de Caldas

Verônica Danziger Gomes63

Palavras-chave: Violência social; violência na escola; fenômeno Bullying.

Este estudo é resultado da pesquisa que teve como objetivo verificar a percepção de um

grupo de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental sobre a incidência ou não do

fenômeno Bullying na escola. Iniciou-se com a revisão bibliográfica sobre o tema

seguida de uma pesquisa de campo. Este projeto demanda a compreensão e a

diferenciação dos tipos de violência na sociedade, na escola e a definição do fenômeno

bullying, bem como a caracterização dos envolvidos nas situações de violência,

denominados como sujeito alvo, e/ou autores e testemunhas. Na sequência o estudo

também aborda as implicações do fenômeno para suas vítimas, apresentando os

transtornos psíquicos e comportamentais que podem ser agravados, dentre eles, a

depressão, fobias, transtornos alimentares, ansiedade e o suicídio. Ao final, foram

apresentadas estratégias de intervenção e prevenção à violência, com ênfase ao bullying

na escola. A coleta de dados foi realizada através de questionários semiestruturados

aplicados ao um grupo formado por 10 sujeitos do 9ª ano do Ensino Fundamental de

uma escola pública de Poços de Caldas, selecionados a partir da autorização concedida

pelos responsáveis, por se tratarem de menores de idade. Ao final, utilizou-se da análise

quantitativa dos dados e da abordagem qualitativa para compreender as respostas dos

alunos sobre a incidência do bullying na escola. Conclui-se que apesar dos jovens

possuírem informações suficientes para sugerir a redução do fenômeno nas escolas, o

tema ainda é menosprezado pelos jovens que, ao assumirem a postura de agressores,

justificam os atos como habituais brincadeiras próprias da idade.

63 Graduanda do 8º período do curso de pedagogia da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected].

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A natureza na tela do cinema 3D: uma análise das possibilidades e contradições do

filme Avatar a partir da Teoria Crítica

Adriano Pereira Santos64

Janaina Roberta dos Santos65

Palavras-chave: Natureza; Teoria Crítica; cinema.

Nas últimas décadas, com a crise ambiental e a emergência do “discurso verde” e do

“capitalismo verde”, o ideário do desenvolvimento sustentável passou a ser utilizado

pelos grandes veículos de comunicação, TV, Rádio, Internet e até mesmo o cinema,

como forma de construir o discurso da empresa socialmente responsável e

ecologicamente correta. A indústria cultural, nesse sentido, ocupa lugar de destaque na

difusão dos produtos culturais a serem consumidos, como é o caso do cinema, que não

só reproduz rigorosamente o mundo da percepção cotidiana, mas que, quanto maior a

perfeição com que suas técnicas duplicam os objetos empíricos, mais fácil se torna obter

a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se

descobre no filme. O cinema termina por exibir uma reprodução estereotipada da vida,

criando ilusões e ditando padrões a serem reproduzidos pelas pessoas por meio de uma

tendência à espetacularização. Atualmente, é possível observar, que as grandes

produções cinematográficas empregam novas tecnologias projetadas para conferir cada

vez mais realidade às sensações do expectador, oferecendo-lhe a possibilidade de

“entrar no filme”, “sentir o filme”, “fazer parte do filme”. Essa tecnologia chamada de

3D (terceira dimensão) oferece ao indivíduo, a sensação de participar do filme, tornando

as imagens mais próximas e muito reais à sua percepção. Considerando, nessa

perspectiva, as contribuições críticas das análises de Adorno; Horkheimer (1985) sobre

a Indústria Cultural, Walter Benjamim (1994) sobre a obra de arte na época da

reprodutibilidade técnica, e a Filosofia da sensação de Türcke (2010), o presente

trabalho tem por objetivo discutir as possibilidades e as contradições do cinema 3D,

tomando como objeto de análise o filme Avatar (2009) que foi não só um dos filmes

mais caros da história do cinema, porque um dos primeiros a ser filmado totalmente

com a tecnologia 3D, reproduzindo, portanto, a lógica da indústria cultural, ou seja, da

cultura como mercadoria, mas também, porque, no contexto em que o debate sobre a

crise ecológica se amplia e se aprofunda, suscitou diversas discussões em torno da

64 Professor de Sociologia do Instituto de Ciências Humanas e Letras, UNIFAL-MG. E-mail:

[email protected]; 65 Professora do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto de Recursos Naturais,

UNIFEI. E-mail: [email protected]

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questão ambiental, problematizando a nossa relação e percepção sobre a natureza na

sociedade contemporânea.

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MESA 3

Filosofia, Educação, Cultura, Ética e Sociedade

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A educação emancipatória e a superação da barbárie em Adorno (1903-1969)

Paulo César de Oliveira66

Palavras-chave: Filosofia; educação; Adorno.

Esta comunicação analisa, a partir do pensamento de Theodor Adorno, a questão da

emancipação no processo educacional. A educação deve, simultaneamente, evitar o que

ele chama de “barbárie” e buscar a emancipação da pessoa. Entende-se, por barbárie, o

impulso de destruição que o homem traz consigo. Esse impulso manifesta-se nas

diversas formas de agressividade que percebemos no cotidiano e pode chegar a

situações extremas, como os campos de extermínio da Segunda Grande Guerra

Mundial. A educação autoritária não consegue evitar as possibilidades destrutivas que o

homem traz consigo; por isso, Adorno propõe uma educação “emancipatória”. Esse

modelo educacional evita a repressão, se distância da reprodução tecnicista e focaliza o

aspecto produtivo da vida humana. Em outras palavras, a educação “emancipatória”

pensa a sociedade e a educação distanciando-as do caráter industrial a que é submetido a

cultura. A partir dessa perspectiva, o processo educacional pode favorecer a formação

de sujeitos críticos e emancipados; sujeitos capazes de “domesticar” o impulso

destrutivo que lhes é inerente. Desse modo, a educação forma pessoas autônomas e

contribui para que não se repitam barbáries.

66 Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alfenas – MG. E-mail: [email protected].

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A reversão dialética da tecnologia digital e a emancipação da consciência no rap

Monica Guimaraes Teixeira do Amaral67

Palavras-chave: reprodutibilidade técnica e emancipação - reversão dialética e

tecnologia digital – rap e experiência formativa juvenil

Este trabalho tem o objetivo de retomar um antigo debate entre os filósofos Walter

Benjamin (1936) e Theodor Adorno (1938) sobre as contradições e ambiguidades

inerentes ao avanço da reprodutibilidade técnica, na época - que nos anos 30 restringia-

se ao cinema e à rádio - e demonstrar como muitos dos aspectos levantados por esses

autores adquirem força e atualidade para pensar o modo como os rappers têm se

apropriado dos avanços da tecnologia digital com fins emancipatórios. Procurar-se-á

acompanhar os desdobramentos desse debate a partir de um artigo de Adorno (1955) em

homenagem póstuma ao amigo, em que reconhece a radicalidade do pensamento

estético e filosófico de Benjamin e de outro, sobre o filme (1967), em que identifica

algo de liberador quando a técnica é utilizada como “reposição objetivadora de uma

experiência”. A partir deste debate, propõe-se uma leitura contemporânea da função da

música e do cinema nos clipes e músicas dos Racionais MC’s, orientada pelas ideias de

reversão dialética de Benjamin e de emancipação da consciência de Adorno.

67 Profa Livre-Docente da Faculdade de Educação da USP.

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Conhecer e aprender a viver: reflexões acerca do fazer filosófico

Adriana Andrade de Souza68

Giseli do Prado Siqueira69

Palavras-chave: Filosofia; exercício espiritual; prática.

Este trabalho parte da hipótese de que o fazer filosófico não é somente uma atividade

intelectual, mas uma maneira de viver que transforma o ser daquele que o realiza. Esta

hipótese está fundamentada na análise de Pierre Hadot, em sua obra intitulada

“Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga”. Segundo Hadot, a filosofia antiga era um

exercício espiritual, ou seja, um modo de viver, de enfrentar a existência. O termo

espiritual confere um sentido todo próprio a este exercício e nos permite entende-lo não

só como uma obra puramente teórica, mas como uma vivência concreta. A tarefa que se

impõe para nós é a de tentar problematizar este resgate da filosofia enquanto uma

prática, um fazer, uma atividade.

68 Doutora em Ciência da Religião pela UFJF. E-mail: [email protected]. 69 Doutora em Ciência da Religião/ UFJF, professora da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:

[email protected].

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O silêncio que incomoda: uma reflexão sobre alunos de uma escola pública

Gláucia Gonzaga Galvão70

Luzia Batista de Oliveira Silva71

Palavras-chave: Sociedade; segregação sociocultural; exclusão.

Por que o silêncio e o medo de mudar? O que leva muitos alunos de escolas públicas,

que vivem à margem da sociedade, se manterem em conformidade com o papel social

que lhes são impostos? Estes são os principais questionamentos feitos para iniciar os

estudos através de observações em uma escola pública municipal na cidade de Juiz de

Fora, MG. A instituição de ensino atendia, prioritariamente, alunos que tinham no

mínimo três anos de reprovação no 6º ano do Ensino fundamental, que, pelos mais

diversos motivos, não se adequavam às normas impostas pelas instituições de ensino e

pela sociedade mas que gritam por socorro em um profundo silêncio. Durante quatro

anos de convivência pudemos evidenciar que estes alunos apresentam algumas

características em comum. Quando chegaram à referida escola carregavam consigo uma

grande conformidade com relação à sua posição social e cultural: excluídos,

marginalizados e sem perspectiva de um futuro digno. Caracterizados também, pelo

medo de lutar, pelo medo de enfrentar a realidade social na qual viviam. Meninos que

carregavam consigo uma mágoa e uma dor proporcionadas pela frieza e ódio emanado

pela sociedade o que, perante nosso olhar, acarreta no aluno o medo de questionar, de

lutar, de mudar. Particularidades estas, já incrustadas, cujo pedido de socorro afloravam

à pele através de gestos, na palavra, pela forma de olhar, pela forma de portar,

comportamentos estes que, por certo, agravavam ainda mais a segregação cultural e

social. Propomos, neste trabalho, uma reflexão sobre a dor, o medo e a falta de coragem

de mudar destes alunos silenciados, que retratam a figura da hipocrisia estabelecida por

parte da sociedade. Para compreendermos melhor a relação de suas experiências,

dialogamos, nomeadamente, com Walter Benjamin (2012), Jorge Larrosa (2015) e Jean

Marie Gagnebin (2006).

70 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade São Francisco – Itatiba –

São Paulo – Brasil. E-mail: [email protected]. 71 Docente do Programa de Pós Graduação Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Educação da Universidade São Francisco – Itatiba – São Paulo – Brasil. E-mail: [email protected].

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A alegoria platônica do anel de Giges e as implicações do uso de câmeras de

segurança no âmbito do direito e da moral.

Fernanda Israel Pio 72

Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves 73

Palavras-chave: Platão; anel de Giges; câmeras de segurança; direito; moral.

O problema de pesquisa nos leva a interpretar juridicamente a alegoria platônica do anel

de Giges como forma de lançar luz à discussão a respeito da legitimidade – para a

conduta jurídica e a conduta moral – da utilização de câmeras de segurança de

monitoramento de possíveis comportamentos ilícitos dos indivíduos na sociedade. A

fim de responder o questionamento a respeito de suas implicações no âmbito do direito

e da moral. Para tais fins, tanto a visão da filosofia quanto da filosofia do direito a

respeito da obra de Platão são trazidas. O método utilizado foi o dedutivo, com

fichamento crítico da obra platônica, bem como de referências ligadas à utilização de

câmeras e a relação entre o comportamento social entre o público e o privado no

contexto da utilização de novas tecnologias de monitoramento. Quanto às implicações

do uso de tal tecnologia, a hipótese inicial de que traria influência positiva no âmbito

jurídico foi reforçada pelo discurso Platônico, sobretudo pela relação estabelecida entre

a conduta de Giges que, ao se encontrar em uma condição de invisibilidade, modificou

sua conduta antes considerada justa para uma conduta que busca ascensão social por

intermédio da força. Outro ponto importante da relação entre o mito e o uso de câmeras

é a referência, ao final da República, ao mito de Er, que reforça a conduta moral apoiada

na existência de um ser divino e onisciente. O argumento à época de Platão poderia ser

interpretado como uma maneira de justificar a conduta moral através da “ilusão”, como

feito previamente ao estabelecer mitos que sustentassem a organização da “cidade

perfeita”. Contemporaneamente, no entanto, a figura de uma divindade que tudo vê está

cada vez mais presente, não de forma mítica, mas por meio da tecnologia de

monitoramento. A visibilidade constante, no entanto, não é suficiente para a imposição

de uma conduta moralmente correta, há no contexto do mito de Er outro elemento, a

punição. A certeza da punição seria uma forma de “incentivar” a conduta moralmente

desejável. E neste ponto o Direito complementa esta estrutura de controle e punição, já

que em nossos dias, em uma sociedade secularizada, apenas as normas jurídicas – e não

mais as morais – podem impor sanções diretas ao comportamento humano. O Direito,

72 Graduanda do curso de Direito da PUC Minas, campus de Poços de Caldas. E-mail:

[email protected] 73 Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e professor do Programa de Graduação

da PUC Minas, Poços de Caldas. E-mail: [email protected]

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portanto, na medida em que pune com o auxílio dos mais variados instrumentos de

controle e observação, contribui para a diminuição dos delitos e consequentemente à

reflexão com relação à conduta delituosa. As câmeras, assim, apresentam-se como

elemento positivo para o Direito, por auxiliar na sua tarefa de controle e identificação de

atividades delituosas. Para a moral, sua utilização é positiva quando associada ao

Direito, visto que, a pura observação das atividades cotidianas não teria influência

alguma sob a conduta se não houvesse o aspecto repressivo e punitivo do Direito que

complementam de maneira contemporânea a figura punitiva expressa pela divindade do

mito de Er. Como para Giges, a invisibilidade foi o fator decisivo para a mudança de

comportamento, principalmente por retirar o aspecto punitivo que sua conduta traria se

fosse presenciada ou registrada, para o cidadão contemporâneo, a perda da

invisibilidade, através de mecanismos e dispositivos de fiscalização, asseguram a eficaz

observância da ordem jurídica. Referências: PLATÃO. A República, introdução,

tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 1949. KANASHIRO, Marta. Surveillance Cameras in Brazil: exclusion,

mobility regulation,and the new meanings of security. Surveillance & Society. 5(3). p.

270-289. 2008. Disponível em: http://www.surveillance-and-

society.org/articles5%283%29/brazil.pdf MELGAÇO, Lucas. Estudantes sob

controle: a racionalização do espaço escolar através do uso de câmeras de

vigilância. O Social em Questão – Ano XV – nº 27, 2012. SOUSA, Luciano Dias. O

comportamento social entre o público e privado na era digital. Revista Ícone.

Volume 12, agosto de 2013.

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Habilidades de pensamento na aula de Filosofia

João Bosco Fernandes74

Palavras-chave: Habilidades; pensamento; Filosofia.

Geralmente alunos de graduação não veem com bons olhos em seus cursos a disciplina

de filosofia, com exceção dos discentes de graduação em filosofia que se sentem

naturalmente motivados para o estudo dessas matérias. Por conta disso, o objetivo dessa

pesquisa consiste em relacionar a aula de filosofia com a prática consciente de uma

"educação para o pensar", – expressão utilizada no contexto lipmaniano – dando aos

professores de filosofia recursos metodológicos e justificativas consistentes para o

desafio do desenvolvimento das habilidades de pensamento.

74 Mestre em Filosofia e doutor em Ciências da Religião. E-mail: [email protected].

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99

Hiphopnagô: letramentos rítmicos e sonoros

Cristiane Correia Dias75

Maria Teresa Loduca76

Palavras-chave: Educação e hip hop; música e dança; descolonização do currículo.

Este trabalho tem o objetivo de apresentar as reflexões suscitadas pelas atividades em

sala de aula em docência compartilhada entre professores e artistas. A observação sobre

as atividades realizadas com alunos adolescentes tem como propósito criar novos

métodos de letramentos fundamentados na valorização do corpo e do ritmo, elementos

característicos da cultura de matriz africana, identificados nas expressões estéticas no

movimento hip hop e no funk. A ideia é justamente inverter a ordem priorizada pela

cultura escolar - que tende a sobrepor a linguagem escrita à linguagem oral - de maneira

a repensar sob novas bases a formação do jovem morador da periferia. Neste sentido, o

hip hop codifica a linguagem escrita e a transforma nas diversas formas de letramentos

do corpo, como ressignificação de uma afromemória, considerando os letramentos como

práticas sociais. O movimento hip hop é uma agência de letramentos que possibilita aos

jovens descobrirem suportes escritos. Para Souza (2011), o hip hop mostra-se um

inventor de tradições, por recriar toda a história negada aos afrodescendentes ao longo

de séculos, desde a chegada dos africanos ao Brasil. Considerando-se as dificuldades

dos processos de apropriação da linguagem escrita diagnosticados atualmente nas

escolas da rede pública, relacionadas fundamentalmente ao grande distanciamento da

cultura escolar em relação à de seus alunos, evidenciou-se a necessidade de pesquisar

novas situações didáticas, em que se priorizem linguagens cujas formas de expressão

estéticas estejam pautadas pela linguagem oral. A partir da oralidade se teria acesso à

linguagem escrita. Portanto, utilizar a estética do hip hop é enfrentar as dificuldades dos

processos de aquisição da linguagem escrita formal.

75 Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: [email protected]. 76 Mestranda pela Faculdade de Educação da USP. E-mail: [email protected].

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Redes sociais, alunos e professores: a expressão virtual do ressentimento real

Marsiel Pacífico77

Palavras-chave: Indústria Cultural; tabus; redes sociais; professor; aluno.

Este trabalho se desenvolveu com o objetivo de investigar as manifestações aversivas e

afetivas do alunado em relação ao mestre, conceito que foi originalmente apresentado

por Theodor W. Adorno em suas reflexões sobre os denominados Tabus, com o enfoque

específico nesta pesquisa, para a análise dos objetos que se oferecem socialmente como

veículos de expressão dos sentimentos velados pela própria ontologia dos tabus. Como

se pode identificar ao longo da história da educação, os tabus não são um fenômeno

moderno, e ao longo dos tempos, os ressentimentos em relação ao professor foram

expressos de diferentes formas. A voz do ressentido, que sente a necessidade imanente

de externalizar suas mágoas, é costumeiramente calada pela relação de poder existente

entre o aluno e o professor pautada na falta de diálogo, sendo que o aluno

majoritariamente só expressará seu ressentimento, ao reproduzir os atos que o levaram a

tal desgosto em outro companheiro ou em um aluno mais novo, fazendo com que a

expressão do ressentimento seja o próprio ato da réplica caricata das práticas

pedagógicas que geram tal situação. Porém, atualmente um novo campo para a

expressão dos alunos se faz presente no espaço virtual, através das redes sociais virtuais,

no qual se destaca o Facebook. Podemos observar nos tempos atuais como a revolução

tecnológica e sua dinamicidade colossal, sobretudo nos avanços relativos à revolução

microeletrônica, fazem parte de nossas vidas de modo tão indissociável que torna-se

inconcebível pensar como seriam nossos dias sem todo aparato tecnológico que nos

cerca. Neste contexto, que encontra força motriz na enxurrada de estímulos audiovisuais

que são descarregados incessantemente sobre os internautas, marcar a própria existência

não poderia ter outra forma, a não ser um existir virtual fundamentado sobre uma

imagem construída de si; a grande evolução proporcionada pelos sites de

relacionamento que hoje tem bilhões de usuários ao redor do mundo, em relação aos

chats e comunicadores instantâneos, é a implementação da imagem como centro da

construção de sua identidade virtual. A frequência dos choques imagéticos é a

personificação mais latente e astuciosa da dinâmica de estímulo ao consumo capitalista,

que enquanto processo alienante, desperta as compulsões necessárias ao

77 Pedagogo (UFSCar 2006-2009), Especialista em Educação (FAVENI 2015-2016), Mestre em

Educação (UFSCar 2010-2012) e Doutorando em Educação (UFSCar), desenvolve pesquisas na área de

Teoria Crítica e Educação, com ênfase nos temas Indústria Cultural, Subjetividade, Infância e Experiência

Formativa. Atualmente é Diretor Escolar pela Prefeitura de São Carlos, onde também atua como docente

de Pós Graduação pela Faculdade Campos Elíseos, além de ser professor substituto na UNESP

Araraquara no Departamento de Didática. E-mail: [email protected].

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101

desenvolvimento de necessidades convenientes a lógica da produção. Tal processo

culmina em indivíduos que sentem a necessidade compulsiva de se constituírem tal qual

a lógica vigente, produzindo sua imagem em natureza idêntica, sobretudo com a

compulsão principal que é o escopo de toda a vida virtual, ou seja, a necessidade

obsessiva de estar sendo percebido. A necessidade de ser percebido é cobiçada pelo

internauta não somente pela imagem que ele projeta em seu avatar, mas também na

unificação de perfis em torno de um tema comum, os chamados grupos. Esses grupos

procuram reunir indivíduos que tem alguma ligação com o tema chave do círculo social,

que não tem restrições nem política funcional pré definida. Os temas variam

demasiadamente visto a abertura de possibilidades, ao ponto de ser difícil imaginar um

tema que não esteja mencionado em nenhum espaço virtual. Dentro de uma variedade

tão grande, não poderiam faltar grupos que tratem da relação professor-aluno. Os temas

relacionados aos mestres variam entre algumas categorias, como homenagens a

determinados professores, grupos de discussões entre os profissionais docentes entre

outras; mas a tônica destes círculos parece ser mesmo calcada no ressentimento do

alunado. Além de serem mais numerosos, grupos que destilam rancor contra os mestres

também são mais populares. As comunidades citadas, assim como muitas outras do

mesmo gênero tem a criação de inúmeros tópicos diários, onde os alunos podem

expressar seu rancor contra os professores. Pudemos observar como tais conteúdos em

diferentes coletividades guardam características gerais bastante similares, e tal padrão é

um importante objeto de análise para que se possam compreender os motivos subjetivos

e objetivos, engendrados na relação professor aluno, que impulsionam os discípulos a

participarem destas sessões coletivas de zombaria de seus mestres. Para a compreensão

dos fenômenos estabelecemos leituras alicerçadas a partir dos componentes da Escola

de Frankfurt, sobretudo Theodor W. Adorno e suas observações sobre as representações

aversivas em relação aos professores, os chamados “tabus”. Para tal foram selecionadas

três leituras deste autor: “Tabus a respeito do professor”; “Zur Psychologie des

Verhältnisses von Lehrer und Schüler” (“Sobre a psicologia do relacionamento entre

professores e alunos”), e todos os capítulos do livro: “Educação e Emancipação”.

Posteriormente realizamos um estudo profundo sobre a história da educação através da

leitura da “História da Pedagogia” de Cambi e do compêndio do autor Mario A.

Manacorda “História da Educação – da Antiguidade aos nossos dias”, com enfoque no

processo histórico formativo dos tabus, visto que é notável a presença de aversões e

afetividades desde o primórdio da educação formal, ocupando ao longo da história

vários espaços diferentes, com diferentes identidades e forças de expressão.

Posteriormente trouxemos de Nietzsche o conceito histórico do ressentimento, visto que

tal sentimento está constantemente presente nos tabus entre mestres e alunos, e nas

aversões que derivam de tal relação. Tendo em conta a importância que esta pesquisa

atribuiu às representações psíquicas, considerando que o processo de idealização do

aluno em relação ao mestre mostrou-se uma constante na investigação dos tabus, foi

necessário estabelecermos uma análise psicanalítico-freudiana de Superego, do Ideal de

Ego e Consciência Moral. Por fim fizemos o levantamento e catalogação dos grupos

virtuais que tinham como temática a relação de aversão e afetividade com os mestres,

onde analisamos o conteúdo das postagens à luz do repertório teórico citado.

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O que pode e o que impede a educação pública?

Cleiton Donizete Corrêa Tereza78

Palavras-chave: Educação; sociedade; trabalho; juventude; democracia.

Durante os anos de 2014 e 2015, desenvolvemos uma pesquisa na Escola Estadual

Francisco Escobar, localizada no bairro Vila José Carlos, próximo ao centro da cidade,

em Poços de Caldas-MG. Chegamos à Escola através de um projeto de pesquisa que

teve início em 2011, sobre a greve dos professores poços-caldenses em 1979, e que

resultou em uma dissertação em nível de mestrado. Trabalhando com o método

regressivo-progressivo, formulado pelo filósofo francês Henry Lefebvre, a pesquisa de

caráter interdisciplinar, envolveu esforço de entendimento dos conflitos e dificuldades

presentes na educação pública, analisando a Escola a partir de uma perspectiva de

organicidade das relações e do espaço. No percurso regressivo, a greve dos educadores

de 1979 significou um movimento fundamental para a compreensão dos desafios

contemporâneos, considerando-se o contexto de transformações políticas e econômicas,

e a emergência de novos atores sociais. O estudo cuidadoso da greve, apoiado por

expressiva documentação, envolvendo reportagens de jornal, boletins informativos,

correspondências e entrevistas, com um olhar atento ao cotidiano, possibilitou a

elucidação de questões relevantes sobre a educação e o trabalho em educação. A análise

que aqui apresentamos consiste nessa retomada das dificuldades presentes, que envolve

trabalho, educação, juventude e democracia, com a contribuição de autores que auxiliam

no entendimento da complexidade das problemáticas e das possibilidades que envolvem

as vivências e aprendizagens na escola pública. O regimento interno, o projeto político

pedagógico, os documentos oficiais do estado de Minas Gerais, as entrevistas, os

questionários e as esclarecedoras visitações, acompanhando aulas, recreios e projetos,

permitiram pensar a Escola, sua trajetória, seus percalços e afetos, que limitam ou

alargam o horizonte. Nessa reflexão, a necessidade de participação, ressignificação,

criticidade e apropriação, expressas por alunos, profissionais e gestores, enfatizaram a

necessidade de ampliação e valorização da democracia para a garantia de melhorias em

78 Professor de História da rede municipal de Poços de Caldas e da rede estadual de Minas Gerais,

especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade

Federal Fluminense (UFF), especialista em História Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica

de Minas Gerais (PUC Minas) e mestrando no programa Humanidades, Direitos e Outros Legitimidades,

no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo

(DIVERSITAS-USP). E-mail: [email protected].

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103

contraposição às normatizações estatais alienantes e às violências engendradas pela

lógica de operacionalização na sociedade burocrática de consumo dirigido.

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A ação social e a ampliação do conhecimento do mundo: relato de experiência de

alunos/as universitários/as da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Vanessa Thais de Oliveira Lima79

Antônio Marcos Dias Vieira80

Diego Lopes Calçado81

Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves82

Palavras-chave: Educação; ação social; formação intelectual.

O projeto “Educando para a Paz” é uma ação formativa de cunho social que busca a

interação entre discentes (voluntários/as) do Curso de Relações Internacionais (campus

Poços de Caldas) e alunos/as de escolas públicas do Ensino Médio em Poços de Caldas,

promovendo a troca de saberes, notadamente sobre temas cotidianos, favorecendo a

reflexão e entendimento de questões relevantes para a formação intelectual e aquisição

de capital cultural de ambos os grupos e o conhecimento e reflexão sobre temas

contemporâneos de alcance mundial, em vários campos do saber, objetivando a

consolidação de valores como a paz e a dignidade humana. De caráter extensionista, o

projeto propicia, aos discentes, o aprofundamento na reflexão sobre problemáticas

sociais a partir do compartilhar de extratos de textos de autores como Hannah Arendt,

Pierre Bourdieu, Paulo Freire, Milton Santos e Otávio Ianni. O trabalho, neste sentido,

buscou compreender os impactos na formação intelectual e na ampliação de

“conhecimento do mundo” dos/as universitários/as voluntários/os no projeto, na

perspectiva dos mesmo/as, a partir de relatos não estruturados. Discute-se, no trabalho, a

importância das ações sociais como instrumento de formação intelectual, aquisição de

capital cultural e o conhecimento de realidades socioculturais complexas e diversas para

estudantes de graduação.

79 Mestre em Economia Política Internacional /UFRJ, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas.

E-mail: [email protected]. 80 Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto

“Educando para a Paz”. E-mail: [email protected]. 81 Graduando em Relações Internacionais da PUC Minas, campus Poços de Caldas; monitor do Projeto

“Educando para a Paz”. E-mail: [email protected]. 82 Doutora em Educação/USP, docente da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected].

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Epistemologia multicultural e a questão do sujeito em Charles Taylor

Willian Martini83

Palavras-chave: Multiculturalismo; epistemologia; identidade.

As propostas de reformas educacionais com base na identidade coletiva ou em alguma

epistemologia de grupo geraram debates acirrados no cenário internacional (mais

acentuadamente nos Estados Unidos e no Canadá), principalmente na década de 1990.

As reivindicações nesse âmbito foram construídas pelos multiculturalistas84 a partir de

abordagens interdisciplinares, sendo que os argumentos usados conectam sociologia,

antropologia, estudos culturais, psicologia, filosofia, educação e áreas afins. Os seus

esforços tiveram por objetivo combater as concepções mais tradicionais do

conhecimento e denunciar os fatores casuais e discriminatórios que muitas vezes

aparecem sob a alcunha de “critérios de universalidade”. Argumentou-se, por exemplo,

que as pesquisas realizadas na área da educação sofriam “inclinações raciais” e que isso

poderia nos levar a uma nova categoria de racismo85; outros sustentaram que diferentes

grupos na sociedade possuem diferentes perspectivas e epistemologias (como a da

mulher negra), mas que tais visões são suplantadas por epistemologias dominantes86;

outros defenderam ainda que os diversos itens culturais, tais como a língua, os mitos, as

memórias ancestrais, etc., fornecem um status epistêmico aos conhecimentos de grupo

que se assemelha ao modo como uma ciência fornece uma estrutura racional para suas

alegações de conhecimento87. Os opositores afirmam, no entanto, que tais defensores da

legitimidade de múltiplas perspectivas epistemológicas não estão fazendo algumas das

distinções elementares necessárias à epistemologia (tomada como disciplina filosófica).

Na forma de uma crítica genérica e aparentemente fulminante, alegou-se que existe aí

uma séria confusão entre os campos normativo e descritivo da epistemologia; além

disso, a maneira como os problemas são colocados não deixaria claro o modo como se

estabelece a distinção básica entre crença e conhecimento (crença verdadeira e

83 Mestrando do Programa de Pós-Graduação da UFSM. E-mail: [email protected] 84 Cf. C. W. RUITENBERG; D.C. PHILLIPS (Eds.) Education, Culture and Epistemological Diversity:

Mapping a Disputed Terrain. Dordrecht, Netherlands: Springer, 2012. Esta coletânea contém um rico

debate entre autores de várias áreas, apresentando uma espécie de feedback das principais contendas

surgidas a partir do final dos anos 1980. 85 Cf. SCHEURICH, J., & YOUNG, M. Coloring epistemologies: Are our research epistemologies

racially biased? Educational Researcher, 1997, p. 4–16. 86 Por exemplo: COLLINS, P. H. Black feminist thought: Knowledge, consciousness, and the

politics of empowerment. New York: Routledge, 1990. 87 ASANTE, M. K. Kemet Afrocentricity and knowledge. Trenton: Africa World Press. 1990

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106

justificada).88 Críticos ainda menos pacienciosos, como Steven Yates, atacam o

programa epistemológico dos multiculturalistas afirmando que este deve ser rejeitado

por ser logicamente incoerente, empiricamente inadequado e política e

institucionalmente contraproducente89. Diante deste quadro, vemos que uma agenda

parcialmente influenciada por teorias pós-modernas e que busca formas mais inclusivas

de abordar o conhecimento (sobretudo em relação a grupos minoritários), encontra

duras barreiras ao deparar-se com críticos mais cautelosos ou com aqueles que se

declaram os defensores dos cânones do pensamento ocidental90. Gostaríamos de mostrar

aqui que existem diversos mal-entendidos neste debate, alguns deles em razão de pontos

centrais não explicitados, os quais, se adequadamente trabalhados, podem contudo nos

dar suplementos suficientes para uma melhor compreensão da disputa. Nesse sentido,

nossa tarefa, à guisa de metodologia, é examinar algumas ideias e conceitos

fundamentais envolvidos no breve panorama exposto até agora. Isso pode ser feito na

observação do desenvolvimento histórico e das transformações que noções morais,

epistemológicas e ontológicas seminais para o Ocidente sofreram (em conjunto) desde a

modernidade até os dias de hoje, chegando-se assim até o atual debate acerca daquilo

que Charles Taylor chama de “política de reconhecimento”. A reflexão do presente

trabalho trilha um duplo caminho: por um lado, as linhas em defesa dos modelos mais

tradicionais da epistemologia vão mostrar-se fortemente vinculadas a um tipo de

narrativa e de concepção da sociedade (e de maneira mais importante, dos valores

associados a essa sociedade) que emergiu durante os processos atrelados à construção

do self moderno, sendo relevante para nossa discussão a caracterização feita por Taylor

do sujeito atomizado e desprendido como o pressuposto da epistemologia moderna, o

qual tornou obsoletas as velhas concepções religiosas e metafísicas – mas isso, não sem

o custo de uma redução do sujeito às suas funções intelectuais e cognitivas e uma

concomitante desvalorização dos fatores culturais e simbólicos da vida coletiva; por

outro lado, com tentativas nem sempre bem-sucedidas, os proponentes de diversas

linhas do multiculturalismo91 buscam difundir não só uma nova sensibilidade na forma

de reconhecimento e respeito aos outros, mas também interseccionar linhas de

investigação aparentemente incongruentes com o fim de superar algumas das maiores

88 LEVISOHN, J., & PHILLIPS, D. C. Charting the reefs: A map of multicultural epistemology. In C. W.

RUITENBERG & D. C. PHILLIPS (Eds.) 2012, p. 39– 63 89 YATES S. Multiculturalism and Epistemology. Public Affairs Quarterly, Vol. 6, No. 4 (Oct., 1992), p.

435-456. 90 SEARLE, J The Storm Over the University. The New York Review of Books, December 6, 1990;

BLOOM, A. The Closing of the American Mind. New York: Simon & Schuster, 1987. Searle e Bloom

são dois eminentes defensores dos cânones da ciência e da razão, por vezes tomados por teóricos

conservadores, fazem as críticas mais desdenhosas e também as mais duvidosas acerca das linhas de

pesquisas que se posicionam contrariamente a alguns postulados básicos da tradição ocidental. 91 Sobre as principais diferenças teóricas e ideológicas das correntes multiculturais ver: MARTINI, W. O

Multiculturalismo e as Divergências Teóricas no Debate Multicultural. Inquietude, Goiânia, vol. 5, no 2,

ago/dez 2014.

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107

limitações das nossas pesquisas sobre diferenças culturais, atendendo assim a

reivindicações de “morais” locais e comunitárias sem no entanto debelar para um

relativismo facilmente objetável. Esclarecer alguns dos aspectos deste debate sobre

epistemologia multicultural à luz de algumas ideias centrais encontradas na obra de

Charles Taylor92 é, portanto, o propósito deste trabalho.

92 TAYLOR, C. Multiculturalismo e a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1994; As

fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo, SP: Loyola, 2005; A ética da

autenticidade. São Paulo, SP: Realizações, 2011.

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O discurso da democracia racial: um mito operante no contexto socioeducacional

brasileiro93

Caroline de Oliveira Rodrigues94

Francisco Rogerio de Oliveira Bonatto95

Palavras-chave: Preconceito racial; democracia racial; educação emancipatória.

Este estudo refere-se a uma pesquisa sobre o discurso da democracia racial no contexto

socioeducativo com apoio do Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais (PROBIC/PUC, 8043-1S), tendo por objetivos

compreender como se estabeleceram as práticas de preconceito racial ao longo da

história no Brasil; entender como a ideologia da democracia racial concorre para

permanência do preconceito racial; verificar a existência de práticas preconceituosas e

pseudodemocráticas raciais em relação aos afrodescendentes nas escolas e investigar as

intervenções dos professores para uma prática emancipatória frente ao preconceito

racial no contexto educacional. E como forma de alcançá-los, buscou-se respaldo tanto

na perspectiva teórica em estudos relacionados à antropologia, história, sociologia,

filosofia e educação, como na perspectiva prática através de entrevistas

semiestruturadas que foram realizadas com oito professores de três escolas da rede

pública de ensino do município de Poços de Caldas – MG. Deste modo, essa pesquisa

caracteriza-se como um estudo de caráter descritivo e qualitativo. Nela, trar-se-á para

discussão uma ideologia presente ainda hoje na sociedade brasileira que também

sustenta o preconceito racial, mesmo depois de declarada um mito: a democracia racial,

a qual afirma a inexistência de problemas raciais. O fato é que este discurso torna-se

uma barreira para o grupo negro em inúmeros aspectos. Daí ser então emergente o papel

da educação, na qual de maneira compromissada, crítica e reflexiva possa promover um

ensino capaz de superar os muros da escola e com isso cooperar para a promoção de

mudanças em relação a esta população. Logo, esta pesquisa empenhou-se em responder

93 Pesquisa financiada pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais – Brasil (PROBIC/PUC 8043-1S 2013-2014). 94 Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2013) e Pós-graduada

em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade

Federal de Ouro Preto (2016). E-mail: [email protected]. 95 Licenciado em Pedagogia e Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de

Lorena (1978), bacharel em Teologia - Università Pontificia Salesiana (1984), Mestre em Ciências da

Educação - Università Pontificia Salesiana (1986) e Doutor em Psicologia Social pela Universidade de

São Paulo (1998). E-mail: [email protected].

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se os professores do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -

MG estariam trabalhando para uma educação emancipatória, de forma a contribuir para

o desmascaramento da democracia racial e, consequentemente no rompimento com

práticas preconceituosas para com negras e negros. Questão esta que esse trabalho,

buscando resposta, pôde concluir que, por estarem também as escolas condescendidas

pela ideologia da democracia racial, a ação docente ainda necessita ressignificar suas

práticas, entendendo a existência do preconceito racial e seus males para que possam

contemplar também o aprendizado para a vida, visando com isso alcançar a real

democracia racial em âmbito educacional e social.

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Espiritualidade e interfaces: resultados de pesquisa realizada com universitários

da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Alessandra Valim Ribeiro96

Giseli do Prado Siqueira97

João Carlos Bastos Gonzaga98

Maria Izabel Ferezin Sares99

Palavras-chave: Religião; espiritualidade; universitários.

Este artigo baseia-se na pesquisa “Espiritualidade e suas Interfaces”, conduzida em

2016 por professores do Grupo de Pesquisa Filosofia, Religiosidade e suas interfaces da

PUC Minas, campus Poços de Caldas, com objetivo de descrever como os universitários

desse campus relacionam-se com a religião, como vivenciam a espiritualidade, qual o

posicionamento manifestado diante de questões sociais e ambientais. Com base no

levantamento realizado serão discutidos os resultados do Curso de Administração

visando compreender a realidade plural em que estão inseridos e os desafios de uma

educação que possibilite a formação integral de um gestor para o século XXI. Na

conclusão são indicadas peculiaridades locais em comparação com outros cursos da

universidade.

96 Mestrado em Administração/ USP, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas E-mail:

[email protected]. 97 Doutorado em Ciência da Religião/UFJF, Professora PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected]. 98 Doutor em Engenharia Química/ UNICAMP, Professor PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected]. 99 Doutora em Engenharia de Produção/UMIMEP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas.

E-mail: [email protected].

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Liberdade religiosa e laicidade: reflexões pautadas nos resultados de pesquisa com

universitários da PUC Minas, campus Poços de Caldas

Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves100

Everaldo Clemente da Silva101

Juliana De Nardin102

Maria Teresa Mariano103

Palavras-chave: Liberdade religiosa; laicidade; universitários.

A presente comunicação tem por objetivo apresentar resultados parciais de uma

pesquisa realizada no primeiro semestre de 2016 com universitários da PUC Minas,

campus Poços de Caldas, através da aplicação de questionário por amostragem

estratificada proporcional, com o intuito de descrever como esses entrevistados se

relacionam com a religião, como vivenciam a espiritualidade, qual o significado que

estas têm para suas vidas e o posicionamento diante de questões sociais e ambientais.

Os dados coletados através do instrumento questionário, contendo 24 (vinte e quatro)

proposições no formato de uma Escala Likert de cinco pontos, elaborado pelo Grupo de

Estudo Espiritualidade e suas Interfaces, permitiram o aprofundamento dos eixos

temáticos: sentidos da existência; alteridade; religiões; rituais; símbolos; práticas

religiosas; religiosidade/espiritualidade, tolerância e laicidade. Destaca-se que desde a

elaboração do instrumento de pesquisa e a sua efetivação enquanto aplicação

evidenciou-se que o eixo temático da laicidade é pouco compreendido por grande parte

dos entrevistados, suscitando-nos o desejo de aprofundar a discussão sobre liberdade

religiosa e concepções filosóficas contemporâneas fundamentadas no pensamento de

Andre Comte-Sponville, Luc Ferry, Marcel Gauchet, Regis Debray, Henry Pena Ruiz

dentre outros.

100 Doutora em Educação/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected]. 101 Mestre em Yoga pela Jai Narain Vyvas University. E-mail: [email protected]. 102 Mestre em Engenharia Urbana/ UFSCAR, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-

mail: [email protected]. 103 Mestre em Engenharia Ambiental/USP, Professora da PUC Minas, campus Poços de Caldas. E-mail:

[email protected].

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A formação do orador ciceroniano: do domínio da linguagem à filosofia

Isadora Prévide Bernardo104

Palavras-chave: Cícero; orador; linguagem; filosofia; formação.

Este trabalho tem por objetivo analisar a formação da figura do orador ciceroniano e o

espaço dado à filosofia nessa, observando a discussão estabelecida entre Crasso e

Antônio em De Oratore, obra escrita em 55 a.C. Cícero recupera as ideias de dois

grandes oradores do passado, Crasso e Antônio. A discussão travada entre essas

personagens nos interessa, pois, dela depreendemos como o autor formula sua figura do

orador ideal pautando-se na formação e nas diversas áreas que este deveria dominar e

atuar além da retórica, a saber: o direito, a filosofia, a história e a política; isto é, o

summus orator é o ideal ciceroniano de orador, historiador, advogado, de homem

político e sábio. Ele concentra na figura do orador tudo o que considera importante, ser

sábio, conhecer os costumes, os feitos dos antepassados e ser capaz de narrá-los e

participar da vida política; ele une uita e sapientia. Quando Crasso, em De Oratore, III,

56-73, disserta sobre a relação entre eloquência e filosofia, narra que os antigos gregos

davam o nome de sabedoria ao método de raciocinar e falar, mas entre os próprios

gregos isso foi cindido. Crasso defende a tese de que o orador deve conhecer muitas

artes e reatar os laços entre retórica e filosofia; já Antônio pensa que a eloquência

dependia do talento natural e da prática. Devemos notar que as considerações sobre a

relação do estudo da filosofia atrelado à retórica devem ser ponderadas, uma vez que

Cícero combate a todos que se afastam da vida pública apenas para filosofar e defende

uma interação entre a formação filosófica, os costumes e a prática. E uma vez

conhecendo os assuntos e atrelando-os com a arte oratória, o orador será o mais

indicado para tratá-los, pois saberá dizer de modo ornado. Então, Crasso tenta buscar

escolas que seriam mais adequadas para a formação do orador perfeito, ou seja, escolas

que não dissociavam a retórica e a filosofia. São afastados os epicuristas e os primeiros

estoicos, e aproximados os peripatéticos e os acadêmicos. Mas de nada adianta, para

Cícero, um discurso que não seja útil à república. O orador deve operar uma síntese

entre retórica e filosofia, técnica de composição e transmissão do discurso atrelada a um

conteúdo moral. E apesar de criticar a postura dos filósofos estoicos, não seria a

filosofia estoica média defendida por Panécio, adaptada ao contexto romano, praticada e

estudada por Cipião, a mais apta ao homem imerso na vida da república? Esta resposta

104 Bacharel em letras latim-português pela Universidade de São Paulo, Mestre em Filosofia e Doutoranda

em Filosofia pela mesma Universidade. E-mail: [email protected].

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não será encontrada no De Oratore, mas em De Re Publica e De Officiis, obras políticas

em que predomina o pensamento estoico. Essas visam a formação do cidadão,

principalmente o que deve estar apto a governar, que deve ser educado nas artes liberais

e nos costumes romanos. Cícero identifica vícios oriundos da educação grega na

formação romana, a saber: o seu caráter distante da vida pública e muito teórico; e o

ensino apenas de regras. Em Roma, Cícero evidencia o exercício, a aplicação da teoria

aprendida e a prática que deve visar o bem comum. A formação retórica e moral

deveriam preparar os homens para governar a república, ou seja, participar da vida

ativa, cumprir seus deveres para com a pátria. Em De Oratore, III, 74 o interlocutor

Crasso afirma: “eu mesmo sou alguém que, na infância, fui educado pela total

dedicação de meu pai [...]: para mim a disciplina foi o fórum; o professor foi a

experiência, as leis e instituições do povo romano e os costumes dos antepassados.”

Notamos que a uita, a prática e a experiência são elementos fundamentais na formação

do orador, pois “o conhecimento das coisas fica fácil se a prática (usus) firma a

doutrina”105. Assim, há complexidade e abrangência na formação do orador; não é algo

possível de ser feito isoladamente: [...] ninguém jamais pode florescer e sobressair-se

na eloquência, não só sem a doutrina do dizer, mas ainda sem uma total sapiência. É

que as outras artes se sustentam sozinhas, por si mesmas; o bem dizer, porém – isto é, o

dizer de maneira sábia, hábil e ornamentada – não tem um campo definido cujos limites

possam ser demarcados106. Cícero quer fazer do homem eloquente um sábio e de um

sábio um homem eloquente. Pois o sumo orador será o político, o homem sábio-

político, que estará apto para sempre socorrer a república, o Cipião descrito na obra que

Cícero escreveu na sequência do De Oratore, o De Re Publica. Como o orador domina

outras artes além da retórica, Cícero, em De Oratore, II, 35-41, expõe a capacidade e as

tarefas do orador. Ele deve aconselhar, incitar os inertes e moderar os desenfreados, usar

a eloquência para culpar ou para salvar inocentes, levar às virtudes, destruir os vícios,

tecer elogio aos honestos, reprimir com vigor as paixões e consolar docemente.

Portanto, o orador que aprendeu a ter domínio da linguagem, conhece a filosofia e as

outras artes liberais, não se limita a ser orador, mas carrega em si um ideal de sábio e de

político.

105 CÍCERO. De Oratore, III, 88. 106 CÍCERO. De Oratore, II, 5.

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Montaigne e a educação como “frequentação”: pensando a atividade pedagógica

para além dos espaços tradicionais de comunicação do saber

Elvis Rezende Messias107

Palavras-chave: Ceticismo; comunicação; educação; Montaigne; pedantismo.

O presente trabalho objetiva pensar as contribuições do filósofo francês Michel de

Montaigne acerca da “frequentação” do mundo como um recurso pedagógico

fundamental, especialmente no que tange à força comunicativa que emana dos diversos

tipos de linguagens, valores e referências culturais encontrados no contato com as mais

diferentes matrizes existenciais da sociedade humana. Para tanto, trilharemos um

caminho reflexivo que parte da discussão inicial sobre a ambiência cultural específica

com a qual Montaigne dialoga, levantando algumas características da educação

renascentista. A partir disso, refletiremos sobre o lugar da crítica cética montaigneana a

uma educação pedante, problematizando a dualidade de uma pedagogia que mais ensina

palavras e ideias restritas do que possibilita o contato crítico com uma realidade

existencial muito mais complexa do que nossas parcas noções livrescas. Uma vez que

Montaigne se constitui em nosso grande referencial teórico, o enfoque da análise se dá à

crítica ao pedantismo e ao dogmatismo, bem como às contribuições do ceticismo

pirrônico para a nova proposta pedagógica montaigneana. Deste modo, refletiremos

sobre os pressupostos de um sistema educacional e pedagógico que assume seu papel

comunicativo contra toda restrição cultural, em que uma educação monológica,

teorética, ensimesmada, triste, “de portas e janelas fechadas” perde consideravelmente

sua “força”. Embora seja ainda hoje muito frequente uma prática pedagógica

contraditoriamente pouco voltada para a prática, Montaigne não lhe dá aprovação,

propondo reflexões que deslegitimam ceticamente o autoritarismo dos tidos “mestres do

saber”, além de nos apresentar um cabedal filosófico que se faz instrumento de

resistência, mecanismo de luta e meio de conquista possível da autonomia constante e

inacabada.

107 Graduação e Especialização em Filosofia, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da

UNIFAL-MG. E-mail: [email protected].

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Mito, ciência e esclarecimento: crítica do pressuposto epistêmico-metodológico do

positivismo

Paulo Denisar Fraga108

Palavras-chave: Adorno e Horkheimer; mito e ciência; esclarecimento e positivismo.

Theodor Adorno e Max Horkheimer (1997, p. 37) escreveram em sua Dialética do

esclarecimento, obra que no pós II Guerra revolucionou a compreensão da

modernidade: “De bom grado o censor positivista deixa passar o culto oficial, do

mesmo modo que a arte, como um domínio particular da atividade social nada tendo a

ver com o conhecimento; mas a negação que se apresenta ela própria com a pretensão

de ser conhecimento, jamais”. A modernidade capturada pelo positivismo nos excessos

da luta do empirismo contra a metafísica, foi um dos alvos preferidos desses autores da

Teoria Crítica. Com a sua lei do desenvolvimento dos três estágios da humanidade

(teológico ou fictício, metafísico ou abstrato e científico ou positivo), o positivismo

consagrou as ideias da incompatibilidade entre eles e da fragmentação hierarquizada dos

saberes, determinada pela imposição unilateral do último sobre os demais. A passagem

acima denota a recusa de Adorno e Horkheimer a uma tal esquemática, deduzida da

crença na supremacia civilizadora da racionalidade técnico-científica. Com essa pista de

leitura, este texto destaca um dos aspectos centrais da Dialética do esclarecimento – o

entrelaçamento entre mito e razão esclarecida –, cuja análise crítica, embora

originalmente não restrita a isso, constitui-se, no fundo, num desmentido cortante não só

dos resultados sociais da hegemonia positivista (o que em geral se chama de progresso),

como igualmente do seu pressuposto epistêmico-metodológico (que presume a

independência do estatuto da razão técnica ou instrumental frente às formas anteriores

que ela julga superadas ou planeja suplantar). De começo, convém observar que o

conceito de esclarecimento (Aufklärung) de Adorno e Horkheimer não se refere a uma

época específica, nem mesmo ao século 18, conhecido como Século das Luzes ou da

Ilustração. De natureza transepocal, “o termo é usado para designar o processo de

‘desencantamento do mundo’, pelo qual as pessoas se libertam do medo de uma

natureza desconhecida, à qual atribuem poderes ocultos para explicar seu desamparo em

face dela. Por isso mesmo, o esclarecimento de que falam não é, como o iluminismo, ou

a ilustração, um movimento filosófico ou uma época histórica determinados, mas o

processo pelo qual, ao longo da história, os homens se libertam das potências míticas da

108 Professor do ICHL/Unifal-MG e doutorando em Filosofia pelo IFCH/Unicamp. E-mail:

[email protected].

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natureza, ou seja, o processo de racionalização que segue na filosofia e na ciência”

(ALMEIDA. In: ADORNO; HORKHEIMER, 1997, p. 7-8). Esta definição é

indispensável para a compreensão das duas teses basilares da obra, segundo as quais “o

mito já é esclarecimento e o esclarecimento acaba por reverter à mitologia” (ADORNO;

HORKHEIMER, 1997, p. 15). A afirmação de que “o mito já é esclarecimento”

significa que desde cedo a práxis ritual mítica dos sacerdotes logrou as divindades da

natureza a que recorria: “Todas as ações sacrificiais humanas, executadas segundo um

plano, logram o deus ao qual são dirigidas: elas o subordinam ao primado dos fins

humanos, dissolvem seu poderio, e o logro de que ele é objeto se prolonga sem ruptura

no logro que os sacerdotes incrédulos praticam sobre a comunidade crédula”. De

maneira que “a astúcia tem origem no culto” (IBID., p. 58) – afirmação significativa

para evidenciar que o mito já é esclarecimento, uma vez que, como mostra o excurso

“Ulisses ou mito e esclarecimento”, a astúcia é o componente central da ação ulissiana

em sua empreitada contra as potências míticas, constituindo-se numa característica

típica da atitude esclarecida. Mythos significa palavra, ou aquilo que se narra por meio

do que se conta (ou se diz). Visavam não só explicar para o homem nascente e temeroso

a dinâmica da lógica natural, como guardavam já o intuito de dominá-la concretamente.

De tal modo que “o mito queria relatar, denominar, dizer a origem, mas também expor,

fixar, explicar. Com o registro e a coleção dos mitos, essa tendência reforçou-se. Muito

cedo deixaram de ser um relato para se tornar uma doutrina”. Isso porque “todo ritual

inclui uma representação dos acontecimentos bem como do processo a ser influenciado

pela magia. Esse elemento teórico do ritual tornou-se autônomo nas primeiras epopeias

dos povos”. Assim, numa referência que inclui a perspectiva de Homero, Adorno e

Horkheimer dizem que “os mitos, como os encontraram os poetas trágicos, já se

encontram sob o signo daquela disciplina e poder que Bacon enaltece como o objetivo a

se alcançar” (IBID., p. 23 - grifos PDF). Essas condições permitem explicar, na

dialética própria do esclarecimento, a tese segundo a qual “os mitos que caem vítimas

do esclarecimento já eram o produto do próprio esclarecimento” (ID.). No

esclarecimento a natureza é profanada de sua aura sagrada mitológica. O inanimado que

o mito animava em seus rituais é novamente inanimado nos laboratórios da razão

esclarecida. Mas, para inanimar tudo, o sujeito esclarecedor precisa operar ele mesmo

de forma inanimada, porquanto acrítica. Esse seu método, contudo, o encarcera, não lhe

permitindo escapar ileso. Assim, ele mesmo, sujeito animado, termina por identificar-se

ao que é inanimado, pois a pretensa neutralidade da lógica frente às coisas faz o

conhecimento regredir até a imediatidade, isto é, à lógica da própria coisa. Doravante,

se “a pura imanência do positivismo”, essa tendência de submeter tudo sob o controle

da repetição, que aparece como “seu derradeiro produto”, na verdade “nada mais é que

um tabu, por assim dizer universal”, cuja proibição maior é de que “nada mais pode

ficar de fora, porque a simples ideia do ‘fora’ é a verdadeira fonte de angústia”, e se o

esclarecimento pode ser definido como a “radicalização da angústia mítica” (ADORNO;

HORKHEIMER, 1997, p. 29), é porque aquilo que está no esclarecimento é o que já

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estava de há muito nos mitos, ou seja, uma implacável lei de dominação do existente.

No decurso desse evolver de raízes imemoriais, muito longe da pretensão

autossuficiente de poder liquidar tudo em que se possa expiar um resquício mítico, o

esclarecimento acha-se ele mesmo enredado nos mitos. Sem mais poder renunciar à

busca da luz, Prometeu continua amarrado no seu rochedo. Com ele vive, em ferida

aberta, o dilema da ciência moderna: a dialética da autoconservação e do sacrifício, uma

vez que a dominação da natureza externa pressupõe a da natureza interna. A atualidade

da vingança da natureza, e a barbárie que espreita a humanidade, são um dueto turvo do

retorno do recalcado, cuja tragédia faz ver que há muito mais contradições ‘entre o céu e

a terra’ do que supõem as lineares presunções da filosofia positivista.

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Cultura e sublime em “sobre o sublime”, de Friedrich Schiller

Bárbara Ferrario Lulli109

Palavras-chave: Cultura; sublim; Schiller.

Este trabalho compreende parte da pesquisa desenvolvida à FAPESP (Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que tem como um de seus principais

objetivos a compreensão do desenvolvimento do conceito de sublime em sua relação

com a cultura e, especialmente, com a arte trágica na filosofia estética de Friedrich

Schiller. No que tange à arte trágica e seu fundamental papel à cultura, Schiller atribuiu

grande importância ao sentimento sublime por ela desencadeado. Assim, de acordo com

o filósofo, o sublime é capaz de elevar o homem sobre o antagonismo que lhe é imposto

durante a modernidade. Este tema é apresentado primeiramente por Schiller em Do

sublime, escrito em 1793, onde o autor dialoga com a filosofia kantiana a fim de

explicar tal fruição estética. Contudo, em 1801, ao reunir suas obras em uma única

edição, Schiller pública Sobre o sublime, uma possível reformulação do mesmo texto,

porém, com uma abordagem diferenciada. Neste último, Schiller enfatiza

preferencialmente as condições humanas diante da cisão causada pela modernidade e

atribui ao ensaio o caráter neohumanista idealizado pelo Classicismo de Weimar.

Apresentaremos, portanto, algumas das principais distinções entre ambos os textos,

contudo, nos concentraremos principalmente em “Sobre o Sublime”, de modo a

discorrer sobre este conceito, desencadeado pela arte trágica que, segundo o filósofo,

seria capaz de elevar o homem acima deste antagonismo da modernidade e torna-lo

livre por meio de seu integra formação [Bildung], isto é, pela cultura.

109 Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Bolsista FAPESP (Iniciação

Científica). E-mail: [email protected].

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A relação entre cultura e biologia na obra madura de Nietzsche

Felipe Thiago Dos Santos110

Palavras-chave: Nietzsche, Corpo, Organismo, Wilhelm Roux, Cultura.

O pensamento acerca da biologia e do corpo na obra de Nietzsche se insere criticamente

num debate que remonta, dentre outras, as teorias de preformistas e epigenistas. Dentre

uma multifacetada gama de perguntas que acirram o debate biológico do Século XIX,

destacamos especificamente aquela que, para o problema que ora nos importa, é de

impar relevância, a saber, se haveria a possibilidade de explicar todos os fenômenos da

vida exclusivamente de modo mecânico ou seria necessário, para tal intento, recorrer à

princípios que estão para além do âmbito orgânico. Embora singular, as ideias de

Nietzsche acerca do corpo e dos organismos assumem certos traços que remontam as

teses do zoólogo e embriologista alemão Wilhelm Roux presentes na obra Der Kampf

der Teile im Organismus (1881). Tomamos por intento, mostrar como Nietzsche vai

para além das teorias citadas anteriormente, uma vez que, para ele, no processo da vida

(Lebenprozess) e sua formação (Gestalt), o fundamental é a dinâmica que surge

propriamente Do-interno-vindouro (Von-Innen-her). Neste sentido, recorre o filósofo à

obra de Roux, ao reconhecer nos organismos a existência de um arranjo (Vorbereitung)

de uma ação que se manifesta como luta. Se, por um lado, essa luta dos organismos se

nos afigura de modo oculto, por outro, é possível reconhecer a interação ficcional das

forças (Zusammenspiel) dos organismos pelos seus traços mais íntimos: auto-regulação,

assimilação, secreção, regeneração e estimulo de vida. Mostraremos, por fim, como tal

luta pode ser demonstrada na concepção de cultura de Nietzsche, uma vez que, para o

autor, a cultura se mostra como um organismo que aponta para o crescimento de força

ou para seu declínio interno, concepção evidentemente esboçada nas críticas de

Nietzsche ao compositor Richard Wagner.

110 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Filosofia da UFSCAR, bolsista CAPES. E-mail:

[email protected].

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O aberto: conceitos heideggerianos recepcionados por Agamben no debate sobre o

poder soberano

Virgilio Chediak111

Palavras-chave: Biopolítica; Agamben; Heidegger; soberano; humano.

O presente trabalho se prontifica a expor de forma sintética, a leitura e apropriação

promovida por Giorgio Agamben sobre alguns importantes conceitos de Heidegger,

presentes em sua obra O Aberto: o Homem e o Animal. Tais conceitos são utilizados

pelo filósofo italiano na construção de uma análise do exercício do poder soberano em

momentos antes e após a Revolução Francesa. A separação no entendimento entre o que

é o animal e o que é o humano pode construir, nos Estados modernos, um espaço

privilegiado por onde se produz mecanismos de poder, nos quais se operam de maneira

incessante a manipulação e o controle dos corpos. Pelo menos é o que diagnostica a

priori o importante filósofo. Partindo desse princípio, em sua obra O Aberto: o Homem

e o Animal, o pensador italiano oferece uma robusta análise do papel de alguns ramos

do saber contemporâneo tais como biofilosofia e as ciências humanas. Segundo o autor,

as ciências atuam enquanto legisladoras das decisões políticas nas quais a escolha da

fronteira entre animal humano e animal não humano fornecem ao Estado soberano os

termos e os instrumentos nos quais a moral e a política devem se abater por sobre os

espaços públicos e a vida e os corpos dos súditos. Em suma, indivíduo humano, aos

olhos do soberano pós-moderno, em geral resume-se à vida biológica que habita o

corpo, à vida reptiliana ou ainda, vida nua. Esse extrato biológico-animal, tomado como

integralidade do humano acaba por munir o Estado do discurso necessário e eficiente

para o estabelecimento de um código de exceção permanente, que no que Agamben

nomeia de mundo pós-histórico, despolitiza a vida humana, abrindo espaço para a

prática da “gestão integral” da vida nua em favor do constructo do ordenamento

jurídico, da economia/mercado, do exercício de porder de polícia, ou mesmo na

construção da linguagem dos Direitos Humanos por exemplo. Para tal pesquisa, serão

utilizadas as obras Homo Sacer e O Aberto: o homem e o animal, de Giorgio Agamben,

bem como obras de referência tais como Introdução a Giorgio Agamben: uma

arqueologia da potência, de Edgardo Castro e o artigo O Aberto:o homem e o animal de

Giorgio Agamben – uma tentativa hipertextual, de Ranieri Ribas.

111 Professor de História e especialista em Filosofia pela PUC-Poços. E-mail: [email protected].

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Religião, política e secularização: dimensões de um problema

Sandro Amadeu Cerveira112

Palavras-chave: Religião; política; secularização.

O presente trabalho procura apresentar uma breve revisão da polêmica a respeito do

processo de secularização como ocorrido na parte norte do ocidente, também chamada

de laicização, e sua aplicabilidade e utilidade na compreensão de processos político

institucionais. De forma introdutória pretende-se problematizar a hipótese de que a

secularização ou laicização, entendida como o processo de perda do predomínio do

campo religioso sobre as demais esferas institucionais e culturais, implique, de forma

necessária, na redução da crença e da prática religiosa com consequente redução da

força dos valores religiosos na esfera pública. A análise proposta busca, a partir de

pensadores como Max Weber e Giacomo Marramao, detectar e explicitar quais seriam

os aspectos constitutivos do conceito de secularização nos autores clássicos bem como

verificar se as derivações que a associam a uma diminuição da força do campo religioso

encontram embasamento na forma como esse processo foi pensado por esses autores.

112 Prof. Adjunto do ICHL/Unifal-MG.

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Astúcia ou malandragem: uma reflexão sobre a fenomenologia do brasileiro

Tiago Lazzarin Ferreira113

Palavras-chave: Astúcia; malandragem; racionalidade; fenomenologia do brasileiro.

A presente comunicação tem o objetivo de desenvolver uma reflexão a propósito da

astúcia do homem burguês, que tem como protótipo o personagem Ulisses na epopeia

homérica Odisséia, de acordo com a análise feita por Theodor Adorno e Max

Horkheimer na obra Dialética do Esclarecimento; e a malandragem do “brasileiro no

melhor dos casos”, conforme a formulação do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser

em “A Fenomenologia do Brasileiro”. Esta reflexão consiste na tentativa fazer dialogar

duas concepções teóricas elaboradas a partir de contextos socioculturais distintos, mas

que compartilham da preocupação de submeter à crítica os fundamentos da

racionalidade do homem contemporâneo. A partir disso, serão verificados os possíveis

contrapontos e convergências de ambas as perspectivas filosóficas, subsidiando a

compreensão de manifestações artísticas que explicitam as contradições da sociedade

nas suas particularidades históricas.

113 Doutorando na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Mestre em Educação

pela FE-USP (2012).

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A ação docente mediante o discurso da democracia racial: um estudo proeminente

nas escolas públicas do município de Poços de Caldas114

Caroline de Oliveira Rodrigues115

Palavras-chave: Mito da democracia racial; cultura do preconceito; escola pública;

ação docente; município de Poços de Caldas.

Encarecendo-se grande insatisfação ao ver a disparidade da cultura do preconceito racial

coexistir na atualidade brasileira, cujo pilar central que a sustenta é a ideia oriunda do

século passado que pontua nosso país como um território democrático racialmente,

ditando serem todos os brasileiros frutos de uma miscigenação biológica e cultural entre

índios, negros e brancos e, consequentemente, firmando inexistir no Brasil, preconceitos

e problemas de origem racial, este estudo atém-se a melhor compreender esta

conjuntura ideológica. A rigor viceja essa necessidade, uma vez que este mecanismo

denominado democracia racial, ainda que já o seja declarado um mito, obscurece as

demais ideologias que buscam inferiorizar a/o negra (o) e suas profundas decorrências.

Isso porque este ditame, agindo no plano cultural como forma de continuar veiculando-

se por entre a sociedade, providencia à ausência de questionamentos, críticas e reflexões

até mesmo em aspectos que parecem óbvios demais – como extirpar o preconceito

racial se o mesmo pela lógica dessa ideologia inexiste? Questão que realmente torna-se

um obstáculo para enfrentamento e cisão da opressão com a enorme população negra

participe deste país, já que não havendo transparência e busca por ruptura com velhos

paradigmas, o percurso que provê flagrante injustiça em todos os sentidos para com este

grupo, prevalece. Daí, a importância de ir-se de encontro aos problemas de ordem

racial, presentes tanto no plano material, como no plano simbólico, de modo a cerceá-

los. E, crendo que hoje em dia a educação é gratuita e obrigatória, apetece esse lócus

como espaço senão principal, um dos fundamentais para providenciar a emancipação do

alunado e decorrentemente, o galgar para uma real democracia no seu sentido mais

amplo. Até por que, julga-se ser tarefa da instituição escolar, além do acolhimento de

alunos de maneira satisfatória, oportunizar a todos um ensino de qualidade, cuja

providencia por uma educação que favoreça reconhecimento identitário, valorização e

114 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Especialista em Gestão de

Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais, pela Universidade Federal de Ouro

Preto (2014-2016). 115 Graduada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Pós-graduada em

Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Relações Etnorraciais pela Universidade Federal de

Ouro Preto. E-mail: [email protected].

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respeito pela diversidade, transparência da realidade, formação cidadã, combate ao

racismo e esperança por igualdade em direitos estejam ali presente. Todavia, ainda que

a educação tenha este compromisso constitucional (1988), a mesma não fica ilesa na

reprodução, mantimento e compartilhamento explícito ou implícito, voluntário ou

involuntário de ideologizações em âmbito intrainstitucional. É neste sentido que se

insurge a necessidade de uma pesquisa como forma de atentar-se a postura dos

membros escolares frente ao discurso da democracia racial, em especial, os que jazem

intimamente ligados à prática educativa: os professores, pois há de se pensar que nem

todos os profissionais da educação possuam conhecimento, preparo, consciência,

sensibilidade e comprometimento suficiente para lidar com esta problemática, pois

ainda que a lei 10.639/03, da qual modificara a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, tornando com isso obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira e a

lei 11.645/08 que por sua vez acrescenta ao texto da lei de 2003 a obrigatoriedade

também do estudo de história e cultura indígena dê abertura para declaração do real e

sua superação, há de se pensar que este profissional possa ser tanto contrário como

adepto desta mitologia, ora proscrita à população como uma verdade absoluta, ora

introduzida por diferentes meios dentro do aparelho escolar. Desta forma, entendendo

que as leis supramencionadas tem obrigatoriedade no ensino fundamental e médio, bem

como defendendo a necessidade de uma educação pública de qualidade, em que vale

assinalar ser nela, onde a camada popular, da qual a maioria da população

afrodescendente mantém acesso, este estudo buscou responder se os professores do

ensino fundamental I do sistema educacional público do município de Poços de Caldas -

MG compactuam com práticas de emancipação ou reprodução frente aos inventários

pseudodemocráticos de nível racial existentes em nossa sociedade, que se manifestam

em forma de preconceitos, desigualdades e exclusões? Com vista ao problema

conscrito, esta pesquisa de cunho qualitativo, se fez tanto sob uma perspectiva teórica

com embasamento humanístico, quanto empírica, utilizando-se de realização de

entrevistas semiestruturadas com sete professores que ministram aulas no ensino

fundamental I de três escolas públicas do município de Poços de Caldas – MG.

Destarte, as informações coletadas nas entrevistas, depois de transcritas, foram tratadas

por meio da Análise de Conteúdo, podendo assim, por meio deste procedimento,

correlacionar a pesquisa de campo com o levantamento bibliográfico, de modo que em

linhas gerais, pode-se observar que embora seja sabido que esse sustentáculo nada mais

é do que um mito, muitos não o percebem como um problema, apelando-se comumente

para as suas condescendências, já que o mesmo encontra-se cravado no plano simbólico.

Daí a necessidade extrema de se tornar transparente o que está em oculto, demonstrar

que muito do que se entende como natural, é consubstancialmente social, providenciar

um emancipar-se e, em consequência, um avante ao grito e à resposta pela igualdade.

Tarefa ainda que em grande medida apostada na escola, se torna dificultada no seu

cumprimento, uma vez que confirmara-se como o discurso da democracia racial através

do seu poder ideológico, está presente inclusive na prática docente. Logo, há carência de

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125

passos largos e precisos serem dados rumo ao encontro da emancipação não somente

institucional, mas também humana para que, talvez assim, cheguemos perto de uma real

democracia racial em âmbito socioeducacional, até porque, sendo esta pesquisa oriunda

de um problema social, pode e assim se deseja, ser ela passível de mudanças. Dito isso,

espera-se que capacitação, supervisão, monitoramento e avaliação de nível macro a

micro educacional aconteça, podendo-se com isso refletir na formação de cidadãos

emancipados, críticos, reflexivos e participativos.

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126

Projeto de extensão “Intergeracional Sacudindo a Memória”: uma estratégia de

aprendizagem na Universidade

Vanessa da Silva Lima116

Larissa Karine Rodrigues138

Kátia Maria Pacheco Saraiva117

Palavras-chave: Educação; extensão universitária; competências e habilidades;

aprendizagem.

A educação é um processo contínuo de mudança vivido pelo ser humano ao longo de

toda a sua vida o que em outras palavras significa dizer que ela está além dos limites

institucionais. Relembrar esse princípio é reafirmar que existem diversas possibilidades

de aprendizagem, em diversos tempos, nas diversas idades, em diversos lugares e em

diversos contextos. Partindo do princípio de que a ação educativa é um ato dialógico e

vivencial, é possível pensar a experiência de sermos outros, de olhar, de saber e de

sentir com os outros. Neste sentido pode-se dizer que a concepção de aprendizagem que

se pretende enfocar com este trabalho encontra raízes na proposta de educação para o

século XXI da UNESCO intitulado “Educação um tesouro a descobrir” ou comumente

denominado “Relatório Jacques Delors”: Neste documento há a concepção de quatro

pilares da educação ou quatro formas de aprendizagem as quais as políticas

educacionais devem basear-se: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver

juntos e aprender a ser. Ampliando esta concepção de aprendizagem Vygotsky

apresenta o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, na qual o individuo

consegue realizar atividades com o auxilio do outro, ou seja, existe um “espaço em

potencial” aonde é possível ocorrer transformações e aquisições de conhecimentos e

habilidades, mas sempre enfatizando a necessidade da presença do “outro social”, do

mediador no processo de aprendizagem. A partir do exposto pode-se refletir em que

medida uma das atividades oferecidas pela universidade que se refere aos projetos de

extensão pode promover uma aprendizagem diferenciada, pode produzir uma ação

transformadora não só na comunidade, mas sobretudo nos estudantes que participam

dos projetos. Assim o presente trabalho tem como objetivo investigar de que medida o

Projeto de Extensão Intergeracional “Sacudindo a Memória” tem contribuído para a

formação acadêmica dos estudantes extensionistas, e quais as habilidades e

116 Graduandas do Curso de Psicologia da PUC- Minas. E-mails: [email protected] e

[email protected]. 117 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas. Psicóloga, Mestre em

Psicologia Clínica pela PUC-RJ. Especialista em capacitação de profissionais de trabalho Intergeracional

pela Universidade de Granada- Espanha. E-mail: [email protected].

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127

competências desenvolvidas neles através da participação neste projeto. Trata-se de um

Projeto que tem como proposta propiciar ações educativas gerativas (competências) e

produzir reflexões acadêmicas (habilidades) destinadas a compreender a função social

de guardião da memória dos indivíduos idosos, os quais representam cada dia mais uma

boa parcela da população. O projeto está em consonância com alguns ideais éticos

de igualdade, de pluralidade e de liberdade enquanto valores humanos e garantia de

igualdade de direitos entre eles, uma vez que o aumento da expectativa de vida humana

é um processo universal e atinge a todos. Embasa-se na Política de Extensão

universitária da PUC Minas (2006), a qual reforça a premissa de que os saberes

produzidos devem estar a serviço da dignidade dos homens e a universidade deve

contribuir para a compreensão dos problemas que afetam a sociedade, com atenção às

suas dimensões éticas. O projeto de intergeracional “Sacudindo à Memória”, cujo

caráter é eminentemente social, interdisciplinar e cultural, surgiu da necessidade de se

criar uma estratégia de aproximação e troca entre gerações, principalmente entre alunos

de um curso de graduação em Psicologia e Publicidade e Propaganda e idosos da

comunidade local. O projeto privilegia variáveis de natureza sociocultural no que se

refere à construção das relações intergeracionais e o impacto dessas relações nas visões

de mundo dos envolvidos, ou seja, podem ajudar a revisar estereótipos e imagens pré-

concebidas sobre a outra geração. A hipótese inicial do projeto é que o mesmo auxilia

os estudantes no desenvolvimento de muitas habilidades e competências, uma vez que

neste trabalho eles vivenciam muitas experiências não só com pessoas idosas de

contextos sociais e culturais diferentes, mas vivenciam as quatro modalidades de

aprendizagens: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender

a ser. Desta forma, para a coleta de dados tem se utilizado diários de bordo e de campo

escritos pelos estudantes, e ao final do projeto uma entrevista individual. Trata-se de um

projeto ainda em andamento, logo, há dados parciais. Este tem funcionado como uma

estratégia humanizadora e de promoção da aprendizagem de “viver com o outro” uma

vez que os estudantes organizam-se em equipes nos trabalhos que desempenham e vem

relatando, através de falas espontâneas, a ressignificação de suas histórias e memórias a

partir dos idosos narradores. Outro aspecto a ser ressaltado refere-se à postura do

coordenador do projeto, pois todas as decisões são feitas coletivamente, através reuniões

coletivas e a distribuição de tarefas e de ações respeita a singularidade , ou seja, estão de

acordo com as habilidades de cada um, assim, o coordenador transforma-se num

mediador que viabiliza ações pedagógicas transformadoras no grupo. Tem sido um

importante instrumento de aprendizado. Pode-se comprovar essa afirmativa pelos

relatos produzidos pelos diários de bordo dos estudantes, pelas falas espontâneas, pelo

engajamento da equipe, pela assiduidade nas reuniões e atividades, dentre outros.

Portanto, pode-se dizer que o valor de projetos como esse reside na liberdade de

expressão, de criação, de resignificação dessas narrativas e a partir delas produzir

aprendizagem e conhecimento, o que poderá propiciar tanto aos alunos quanto aos

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professores uma possibilidade de refletir, desmistificar estereótipos e exercitar valores

como cidadania e solidariedade.

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129

Técnica e política: considerações sobre a ambiguidade da revolução técnica a

partir de Spengler, Ortega y Gasset e Habermas

Eduardo Ramalho Rotstein 118

Palavras-chave: Filosofia da técnica; revolução técnica; política.

A questão da técnica, que entra na pauta do debate filosófico em meados do século XIX

com a difusão das máquinas e o nascimento da grande indústria, ganha hoje atenção

renovada do mundo intelectual por causa de inventos nos campos da informática e da

biologia que ameaçam subverter a relação dos homens entre si e com a natureza. Nesta

apresentação abordamos a questão da técnica com base na distinção tradicional entre

produção e prática, indagando como e em que grau o desenvolvimento técnico afeta em

particular o agir político e a organização social. Das contribuições de Spengler, Ortega y

Gasset e Habermas à Filosofia da Técnica depreende-se que a relação entre técnica e

política admite interpretações diversas e dificilmente conciliáveis. Se, de um lado, a

criação técnica é encarada como uma revolta ou uma resistência do homem contra as

coerções da natureza, numa analogia bastante antiga com a revolução política, de outro

lado, tal criação apresenta-se em tempos recentes ligada de modo mais efetivo com o

âmbito prático, ao tornar-se o próprio fator de uma organização social tão ou mais

coercitiva que a natural, em que a margem da atuação política é reduzida ao mínimo.

118 Doutor em Teoria Psicanalítica pela UFRJ, com estadia acadêmica no instituto Geschwister-Scholl da

Universidade Ludwig-Maximilian de Munique (LMU). Pós-doutorando do Programa de Pós-graduação

em Filosofia da UFRJ. E-mail: [email protected].

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130

Quem é a Polegarzinha?

Rafaela F. Marques119

Palavras-chave: Michel Serres; novas tecnologias de informação e comunicação;

ensino de Filosofia; Polegarzinha.

Segundo Edgar Morin – valendo-se da afirmação de Voltaire –, em livro publicado

ainda na década de 1990, “mais vale uma cabeça bem-feita que uma bem cheia”120 (p.

21). Essa afirmação, mais que nunca, pode ser inteiramente transposta e aplicada para os

dias atuais. Com o advento das NTIC (novas tecnologias de comunicação e

informação), a configuração social, e mesmo espacial, do mundo modificou-se

consideravelmente. Um dos primeiros pontos que refletem e evidenciam essa mudança é

justamente a educação, e em um segundo momento a própria filosofia. Daí a

necessidade de se repensar as maneiras de educar, além, é claro, dos temas mesmo da

discussão filosófica. Partindo então dessa necessidade, o filósofo francês Michel Serres

vem publicando obras que possuem, dentre outros temas, justamente aqueles

relacionados à educação e às NTIC. A metodologia utilizada para o desenvolvimento

deste texto foi basicamente leitura, análise e problematização de bibliografia. Além

disso, durante o ano de 2014, enquanto bolsista PIBID/Filosofia – UFSJ, desenvolvi um

projeto de intervenção em escolas públicas de São João del-Rei que teve como objetivo

introduzir questões referentes à escrita acadêmica para alunos do terceiro ano do Ensino

Médio público. Nesse momento trabalhamos o livro Polegarzinha, e a identificação por

parte dos estudantes com as descrições de Serres foi algo que me chamou muito a

atenção e essas análises também farão parte do presente trabalho. Dessa maneira, nossa

metodologia consiste basicamente em análise bibliográfica e análise de relato de

experiência. Michel Serres, que representa nosso principal referencial teórico, tem

publicado também livros que tratam da diminuição das distâncias do mundo121, onde

aparecem, por exemplo, um novo tipo de cidade que o autor chama de Vilanova, que é

uma cidade não utópica, mas pantópica: ela é universal, está em todos os lugares. Na

atualidade tem-se a capacidade de ir de um lugar a outro sem precisar sair, de fato, do

lugar onde se está. Vilanova é exatamente essa capacidade de habitar os mais diversos e

distantes lugares sem que seja necessário um deslocamento físico, ou, mesmo que este

deslocamento exista, ele é mais rápido que fora tempos atrás, com os aviões, os trens

119 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar. E-mail:

[email protected]. 120 MORIN, E. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 121 Como La légende des anges (1993) e principalmente Atlas (1997).

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131

super rápidos e outros meios de transporte desta ordem. Além, é claro, dos

deslocamentos virtuais possibilitados por videoconferências, transmissões ao vivo do

Facebook, reuniões via Skype, e tantas outras maneiras de compreender e habitar um

mundo que não é mais somente aquele físico, atual e engessado. Segundo Serres (p. 12)

“as imagens vindas de longe deixaram de nos surpreender; separados por mil léguas,

conseguimos reunir-nos para uma teleconferência e inclusivamente, trabalhar juntos.

Deslocamo-nos sem mover um dedo.”122 Sendo assim, seria difícil acreditar que as

pessoas, a maneira de se relacionar social e pedagogicamente, permaneceria a mesma

diante de um mundo agora tão extenso e ao mesmo tempo tão acessível. Os pretensos

conteúdos “ensinados” nas escolas estão disponíveis às crianças e adolescentes, tudo é

facilmente acessado, o papel do professor – que em tempos idos era o detentor do saber,

aquele que tiraria os “alunos” (ou seja, indivíduos que ainda não possuíam a luz da

razão) das trevas da ignorância –, sofre, do mesmo modo, uma mudança, uma

reconfiguração demandada não só pelo mundo, mas também pelos próprios estudantes.

Esse novo “público” das escolas, essas pessoas que andam com um universo de

informação no bolso – os smartphones –, são o que Serres chama de a geração da

Polegarzinha, que deu título a seu livro lançado em 2013. E essa geração, esses

adolescentes e crianças nascidos já nos anos 2000, não só aprendem diferentemente de

nós, nascidos em 1980 ou 1990, como também “é de outra forma que escrevem”. E

Serres justifica o termo adotado em sua obra de 2013: “Foi por vê-los, admirado, enviar

SMS com polegares, mais rápidos do que eu jamais conseguiria com todos os meus

dedos entorpecidos, que os batizei, com toda a ternura que um avô possa exprimir, a

Polegarzinha e o Polegarzinho”123 (p. 20). É esta a geração que pretendemos investigar

aqui. Refere-se a essas novas pessoas, que habitam um novo lugar – Vilanova – e que

aprendem, namoram, se relacionam e habitam o mundo de maneira diferente, nossa

intenção de trabalho. Intentaremos apresentar conclusões e análises que evidenciam essa

modificação capital ocorrida na maneira de educar e aprender, naquela relacionada ao

deslocamento físico no mundo mesmo, e, evidentemente, do advento dessa nova

geração de crianças e adolescentes que possuem toda a informação possível em suas

mãos e demandam de seus professores e pais, não mais um ensino de conteúdos ou

temas fixados previamente. Os estudantes querem ser ouvidos, participando ativamente

da própria educação. Ademais, os Polegarzinhos, não precisam aprender todas as

capitais dos estados brasileiros, mas compreender as relações demográfico-sociais

dessas capitais, por exemplo. É no sentido dessa inovação que se dirigem nossas

análises.

122 SERRES, Michel. Atlas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 123 SERRES, Michel. Polegarzinha: uma forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e

de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

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A ideologia neoliberal como forma de linguagem neutra e seus impactos no sistema

educacional público de Minas Gerais

Hudson Luiz Vilas Boas124

Palavras-chave: Neoliberalismo; educação pública; ideologia.

O objetivo do presente trabalho é apresentar, em síntese, alguns dos reflexos da

ideologia neoliberal no sistema público de Educação do estado de Minas Gerais. O

referencial teórico está embasado em leituras e digressões sobre CHOMSKY (2008) que

mostra como a linguagem dá significado e sentido às ideias abstratas; em GADOTTI

(1992) que se dispõe a debater a importância da diversidade cultural e a pluralidade de

ideias dentro do ambiente escolar; e, por último, em SANTOMÉ (2003), onde temos

uma breve descrição dos impactos das políticas neoliberais na educação. Uma vez que a

conjuntura das políticas educacionais em Minas Gerais, a partir da década de 1990,

demonstra sua centralidade na hegemonia das ideias neoliberais sobre a economia e seus

desdobramentos sobre a sociedade, fica patente a transformação que se deu pela

adequação de propósitos do Estado e, sobretudo, pela difusão de uma linguagem voltada

para a formação do indivíduo baseada na meritocracia. Para tanto, essa linguagem

encrava no seio da educação pública ideias ancoradas na naturalização da competição

entre indivíduos ou na ascensão pessoal baseada no esforço sem considerar a

desigualdade de oportunidades. Também faz parte desse bojo a concepção de que as

desigualdades sociais e a concentração de renda devem ser tidas como sintomas de

subdesenvolvimento cultural e econômico. No mais a linguagem adotada pela ideologia

neoliberal se utiliza de maneira sofisticada de dispositivos que visam transferir o poder

do espaço público, onde o povo pode exercer certo tipo de influência sobre ele, para

organizações privadas, que, por sua vez, serão gerenciadas pelos desejos do mercado. A

estratégia neoliberal para a educação se expressa da seguinte forma: colocando a

educação apenas como obrigação constitucional de um Estado mínimo, apresentando-a

como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das oportunidades”. Por

outro lado, a escola continua sendo um espaço com grande potencial de reflexão crítica

da realidade, com incidência sobre a cultura das pessoas. O ato educativo contribui na

acumulação subjetiva de forças contrárias à dominação, apesar da exclusão social.

124 Especialista em Filosofia Contemporânea pela PUC Minas e em Gestão Escolar pela Faculdade

Pitágoras; professor de Sociologia na rede estadual de Minas Gerais e coordenador no curso pré-

vestibular Educafro – núcleo Laudelina de Campos Melo, Poços de Caldas. E-mail:

[email protected].

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133

Mouros x Cristãos: do conflito armado aos outros campos da batalha

Lucas Magalhães Costa125

Paulo César de Oliveira 126

Palavras-chave: Reconquista; Filosofia; guerra; ideologia.

A pesquisa tem por objetivo estudar a transposição, do campo de batalha para o campo

da espiritualidade, dos vários elementos da guerra entre Mouros e Cristãos. Esta

transposição se materializa no espetáculo cênico dos jogos bélicos medievais e na

cultura nas Cavalhadas e amplamente discutida na filosofia de Santo Agostinho. O

método utilizado foi a pesquisa qualitativa mediante a qual se analisou a Batalha de

Ourique (1139), que culminou com a fundação de Portugal, e a Batalha de Navas de

Tolosa (1212), um marco no avanço dos reinos Cristãos sobre o território dominado

pelos Mouros em terras espanholas. Essas batalhas constituem um referencial histórico,

uma vez que tratam de dois dos principais confrontos armados do período conhecido

como Reconquista da Península Ibérica (711-1492). Este movimento é visto como a

retomada do território europeu pelos Cristãos e a consequente expulsão dos

Muçulmanos. A vitória nestas batalhas serviu de veículo para a ideologia da

Reconquista e produziu uma confluência geradora de um culto a Deus, fundamentada,

sobretudo, na filosofia de Santo Agostinho que justifica a guerra. Espera-se evidenciar

que a guerra entre Mouros e Cristãos não se restringiu ao campo de batalha, mas foi

transposta para o terreno da celebração, discutida no campo filosófico abrindo caminho

para o enraizamento na sociedade da época e posterior de uma mensagem que defendia

mediante as vitórias bélicas uma possível ideia de superioridade cristã.

125 Lucas Magalhães Costa. Jornalista e Mestrando em História Ibérica da Universidade Federal de

Alfenas. E-mail: [email protected]. 126 Paulo César de Oliveira. Professor Doutor em Filosofia do Mestrado em História Ibérica da

Universidade Federal de Alfenas. E-mail: [email protected].

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Ramon Llull e o diálogo inter-religioso

Maria Regina Teixeira Weckwerth127

Palavras-chave: Cristianismo; judaísmo; religião; diálogo; intolerância.

Um povo pode somente ter uma religião? Judaísmo, cristianismo, islamismo?

Responder esta questão é parte do aprofundamento no estudo da intolerância e

perseguição aos judeus no medievo da Península Ibérica, resultando na Inquisição no

período Moderno. Para tanto, o estudo de Raimundo Lulio, filósofo do século XIII,

destaca-se por sua inserção num contexto histórico em que, a par da reconquista do

território peninsular, sob domínio islâmico, desenvolve sua obra, cuja ideia central

funda-se no diálogo entre as religiões para que o mundo viva em paz. O presente

resumo foi embasado no estudo de textos e resumos, envolvendo a análise da obra: O

livro do gentil e dos três sábios 128; Revista Psicologia – General y Aplicada129; Palestra

apresentada no Centro de Cultura Judaica130. Considerando a história da Península

Ibérica, palco exemplar de representação do conflito interreligioso desde o século IV,

anos 320, nas origens hispânicas surge as primeiras manifestações, Adversus Iudaeos.

Concílios e Tratados são realizados envolvendo a polêmica antijudaica e a tensa

convivência entre cristãos e hebreus. Cenário que se transformará com a invasão

muçulmana em 711, complicando ainda mais essa convivência. Toledo é reconquistada

por Afonso VI (1109), abrindo enorme progressão histórica na Hispânia Medieval, que

por apelo “científico”, estabelece um convívio harmônico entre os três credos, mesmo

coexistindo num território permanentemente em guerras, invasões, fome e peste. A

conhecida Escola de Tradutores de Toledo viveu seu ápice no reinado de Afonso X, o

sábio (1221-1284), cuja política de tolerância estabelece normas de convivência entre as

três culturas, não esquecer que se estabelecem segundo princípios rígidos e, o fator

“igualdade” não se faz absolutamente presente. O “outro”, ainda que tolerado, não

escapa à humilhação e sob uma série de disposições legais que o relegam a condição de

cidadão de segunda categoria. Em seus textos jurídicos, Las siete partidas, Afonso X

127 Mestrando em História da Península Ibérica, Universidade Federal de Alfenas, com formação em

Psicologia e especialização na área de Psicanálise Profunda e em Psico Sócio Patologia. E-mail:

[email protected]. 128 COSTA, Ricardo: O livro do gentil e dos três sábios - Resumo comentado. www.ricardocosta - Site

visitado 17/09/2016. 129 ARAUJO, Luis - Costa – Raimundo Lulio – www.mecd.gob.es/dctm/Revista de educação- Site

visitado 11/09/2016. 130 PARDO, Pastor Jordi - Diálogo Interreligioso real ou aparente durante a Idade Média. htpps:\\ dialnet.

unirioja.es/descarga/articulo/2227031.pdf - Site visitado 11/09/2016.

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135

faz lembrar o crime dos judeus: “desonrando Aquele que os tinha privilegiado e

honrado deram-Lhe uma aviltante morte na cruz, e, por esse grande erro e maldade,

perderam a honra e o privilégio que tinham”. Na corte Catalão-Aragonesa, as coisas não

eram muito diferentes. Ramon de Penyafort, embora defendesse a conversão dos infiéis,

não descarta o uso da força bruta se necessário, e o constrangimento do afastamento de

cargos públicos e do direito de viver na cidade, confinados em bairros distantes. Jaime I,

o conquistador (1213-1276), adota a política de conversão obrigatória dos infiéis e

submete-os às pregações dos frades dominicanos. Em 1229, Jaime I reconquistou a

pequena ilha de Maiorca, que se encontrava sob o poder muçulmano e três anos após a

reconquista nasce Ramon Lull, (1232), cujo relacionamento com as culturas judaica e

muçulmana deram-lhe os ingredientes fundamentais para o desenvolvimento de sua

obra. Ramon Lull, pertencia à nobreza, foi mordomo real e tutor do Infante D. Jaime II

de Maiorca. Casado, pai de dois filhos desfruta da vida mundana na corte até passar a

ter visões sobrenaturais, que o levam a aspirar um estado mais elevado. Torna-se amigo

de Raimundo de Peñafort, dominicano, mas, se encanta com o espírito de São Francisco

que inspirou o século XIII com o amor a Deus e a toda a obra criada. Llull aspira

converter infiéis com as armas da verdade e da fé em harmonia. Aprende o árabe e se

expressa nela falando e escrevendo. Empreende uma série de viagens, fazendo

pregações em sua terra natal, ao Norte da África, na Síria e na Palestina. Sua vida é ação

e contemplação. Aprende sem cessar, escreve, predica e aborda com valentia os

problemas da ciência e da alma. É criticado e denunciado pelo dominicano Nicolas

Eymerich que condena suas obras por proposições heréticas e apontadas no Índice; os

reis de Espanha, Carlos V e Filipe II, recorrem aos Pontífices fazendo-os ver a pureza

de sua obra; Pio IX o declara Beato e não lhe cabe a menor sombra de heresia. Ramon

Llul queria converter judeus e muçulmanos ao cristianismo. A Idade Média se move

nessa esfera, “só existe uma verdadeira religião salvífica que deve demonstrar ao

“infiel” o grau de seu erro”, e nesse aspecto não inova, entretanto, seu método,

buscando evidenciar onde estava o erro, baseiam-se, não nos elementos que as

diferenciam, mas, servindo-se dos elementos que as unem, ou seja, a crença em um

único Deus e os princípios que O definem. Nisto nada havia a ser negado. As três

religiões reveladas possuíam em comum o monoteísmo, as heranças da filosofia e da

ciência grega, permitindo a Llul construir uma estrutura conceitual e cosmovisisonal

compreensível e aceitável desde que profundamente estudado. O Livro do gentil e dos

três sábios escrito nos anos 1274-1276, após o célebre Debate de Barcelona (1263),

nasce da insatisfação de Llull com a forma e os resultados deste e, a partir de um

diálogo imaginário entre três sábios, cada qual representando seu credo, e um ateu a

beira da morte, desejoso de saber a verdade. O recurso da natureza e seus atributos

divinais são parte integrante deste diálogo, e que se realiza pela ilustração de árvores e

flores outorgadas por Deus aos sábios. As árvores, seguindo a metodologia Luliana,

expressam em raízes, tronco, ramos, flores, folhas e frutos, representações das

qualidades, virtudes e vícios (pecados capitais), e suas interações seguindo um critério

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de análise e síntese com a finalidade de procura da verdade. Na verdade, esse diálogo

imaginário, na representação ideal de um diálogo, reflete a expressão do debate ocorrido

de fato. Llull destaca-se nesse período medieval em pró do diálogo e da tolerância,

entretanto, conforme alega Ricardo Costa131 em sua análise: “...o fim da Idade Média e

o alvorecer da Modernidade,... trouxeram, em seu conjunto, muito mais intolerância e

derramamento de sangue.

131 COSTA, Ricardo – conforme citado.

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Um debate sobre os rumos da cultura popular negra e o seu reconhecimento na era

globalizada

Elaine Cristina Moraes Santos132

Monica Guimaraes Teixeira do Amaral133

Palavras-chave: Cultura, identidade, globalização, reconhecimento.

Os processos de mundialização financeira, econômica, cultural e política só ocorreram

com o desenvolvimento dos meios de comunicações. A globalização entendida como

produção, distribuição e consumo de bens e serviços, organizados a partir de uma

estratégia mundial faz com que a cultura seja transmitida, por meio das mídias,

conforme um padrão social universal. Operando desse modo, a sociedade “de produção”

(industrial) deu origem à “sociedade do consumo”. Os meios de comunicação e todo

tipo de informação começaram a ser utilizados para atingir milhões de pessoas ao

mesmo tempo, independentemente do lugar onde estiverem. A mídia e os apelos

publicitários passaram a influenciar de maneira direta a cultura e a opinião das pessoas.

As referências do cidadão contemporâneo, são trazidas de diversas partes do mundo,

influenciando diretamente na construção de sua identidade. Diante do novo quadro

social, torna-se relevante o questionamento sobre os rumos da cultura popular e das

referências nacionais de cada povo ou cultura. Para pensar neste fenômeno, tomaremos

o que o sociólogo Stuart Hall, um dos maiores estudiosos sobre a identidade cultural na

pós modernidade, entende por sujeito pós-moderno. A partir de um diálogo entre a

Teoria Crítica de Adorno e Horkheimer, da chamada Escola de Frankfurt, e os estudos

do multiculturalismo crítico, será estabelecido um debate sobre os rumos da cultura

popular negra e o seu reconhecimento na era globalizada.

132 Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: [email protected]. 133 Docente da Pós-Graduação em Educação da FE-USP. E-mail: [email protected].

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138

Utilização de cotas na universidade

Kênia Eliber Vieira134

Betânia Alves Veiga Dell’Agli 135

Palavras-chave: Cotas na universidade; permanência; diversidade.

Na tentativa de diminuir as desigualdades no ingresso e permanência no ensino superior

no Brasil, em 2013, deu-se início a “Lei de Cotas” para as Universidades Federais, que

regulamenta a utilização de ações afirmativas com caráter social e racial, que estabelece

a reserva de vagas para ingresso nas Instituições Federais de Ensino Superior e nos

cursos técnicos, de no mínimo 50% para estudantes que tenham cursado o ensino médio

em escolas públicas. Dentro dessa reserva, 50% deverão ser preenchidas por estudantes

com renda familiar igual ou superior a 1,5 salários-mínimos per capita. Ficou

estabelecido ainda, o preenchimento por autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em

proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da

Federação onde está instalada a instituição, segundo o censo do IBGE. Esta política

pública é transformadora das relações sociais, trazendo para a universidade uma parcela

da população, que por outro meio, atualmente, não conseguiria alcançar tal nível e que

levará para a comunidade em que vive essas novas experiências. Também levará à

comunidade acadêmica uma diversidade necessária ao seu desenvolvimento pessoal e

social, pois pode se deparar com características até então não vivenciadas, com o

desafio de se relacionar com pessoas que apresentam outros pontos de vista e contextos

sociais. Esta pesquisa teve como objetivo a análise da situação acadêmica e de evasão

dos ingressantes após a aplicação desta Lei e investigar o julgamento desta comunidade

quanto à justiça das ações afirmativas. Nossa hipótese era encontrar um elevado número

de opiniões contrárias às reservas e que alunos cotistas teriam maior dificuldade

acadêmica, necessitando de apoio para sua permanência. O método adotado foi o

descritivo, de abordagem quantitativa e um estudo de campo. A coleta de dados foi

realizada na Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG, no curso Bacharelado

Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BCT) e foi dividida em 02 etapas: a primeira

consistiu no levantamento de dados sociodemográficos e acadêmicos e foram analisados

os dados fornecidos pelo Setor Acadêmico, de 682 discentes para análises estatísticas

dos dados de situação acadêmica e evasão. Os resultados demonstram que os alunos são

na maioria dos estados de Minas Gerais e São Paulo (68,05%), evidenciando que

mesmo com a adoção do ENEM e do SiSU, que possibilita uma maior dinâmica, os

134 Mestra em Educação, Ambiente e Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de

Ensino - UNIFAE. E-mail: [email protected]. 135 Doutora em Educação, pela UNICAMP. Docente no Programa de Mestrado em Educação, Ambiente e

Sociedade, pelo Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE. E-mail:

[email protected].

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139

candidatos escolheram Universidades mais próximas às suas residências, principalmente

entre os cotistas, o que pode estar relacionado às suas possíveis dificuldades de

permanência em localidades distantes. Verificamos que os alunos cotistas apresentam

pior desempenho no percurso acadêmico, entretanto, não evadem na mesma proporção

da sua dificuldade. Os cotistas que ingressaram na reserva que apresentava o caráter

social, econômico e racial associados, encontram maiores dificuldades, evidenciando a

necessidade de algum tipo de assessoria para sua permanência. A variável raça/etnia é

responsável por reduzir mais a média acadêmica do que a renda baixa. Apesar do

desempenho inferior dos cotistas em relação ao dos demais alunos, esta política atinge o

objetivo de proporcionar maior diversidade, e o hiato de desempenho entre cotistas e

não cotistas é um preço modesto em prol da diversidade e da equalização das

oportunidades. A segunda consistiu na aplicação do questionário para identificar a

opinião dos participantes acerca da justiça da utilização de cotas e participaram 317

alunos e 15 docentes do curso. O resultado demonstrou no geral, maior concordância

com os argumentos a favor da justiça de cotas. Entretanto, verificamos que os não

cotistas, são em média, menos favoráveis que os alunos cotistas, o que pode significar

um interesse pessoal no julgamento. Encontramos maior aceitação da cota social do que

da cota racial e acreditamos que no Brasil, a miscigenação produziu alguns mitos, e a

população entende a discriminação mais como o resultado da estratificação social do

que das diferenças de cor, sendo o negro discriminado não por ser negro, mas por ser

pobre. Entretanto, a cor da pele se apresenta como central na definição do nível da

classe social que o indivíduo pertencerá, pois, os negros recebem menores salários que

seus colegas não negros, e apresentam maiores dificuldades em conseguir emprego

formal segundo o Ministério do Trabalho. Isto demonstra que os programas de inclusão

que priorizem apenas a renda não são suficientes para inclusão racial. Evidenciou-se

ainda a discordância da utilização das cotas no Ensino Superior em detrimento de um

maior investimento no Ensino Básico. Entretanto, argumentamos que não deveria haver

uma oposição entre as políticas adotadas, mas, sim, uma combinação entre elas, visto

que, cotas não dispensam, mas exigem, uma política mais ampla de igualdade de

oportunidades implementada conjuntamente. Constatamos também nas respostas, a

interpretação da igualdade formal, que não considera o processo histórico de exclusão,

não compreendendo que as cotas representam as discriminações legítimas ou positivas,

possibilitando uma “verdadeira igualdade”. A questão que tratava da exigência feita

pela lei de que as vagas sejam preenchidas por autodeclarados pretos, pardos ou

indígenas foi considerada injusta pelos professores que participaram. Porém, é o mesmo

critério utilizado no Censo Demográfico pelo IBGE, e também na maioria das políticas

de cotas raciais utilizadas em algumas universidades. Ainda, a classificação realizada

por terceiros leva em conta a aparência física, podendo incluir, além do fenótipo, sinais

de status como vestimentas e maneira de falar. Já a autoclassificação pode resultar de

“um processo reflexivo e complexo de socialização”, incluindo-se neste processo a

ascendência, a cultura e a forma como a sociedade classifica e valoriza seus membros.

A diversidade escolar proporcionada pela política de cotas, poderá cumprir não apenas

seu papel de propiciar oportunidades a uma população até então excluída, como também

proporcionar uma maior interação entre os sujeitos de diferentes etnias, culturas,

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140

origens, habilidades, interesses e níveis sociais, promovendo, neste novo cenário de

complexas relações, o preparo desse futuro profissional para avaliar, elaborar juízos que

subsidiarão sua ação e refletir sobre ela, favorecendo a construção de sociedades mais

justas.

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Entre a Ciência e a Filosofia: notas sobre a análise de discurso francesa em sua

dimensão epistêmica

Maria Eugênia Zanchet136

Dóris Maria Luzzardi Fiss137

Palavras-chave: Análise de discurso francesa; Filosofia; epistemologia.

A necessidade da compreensão dos fenômenos decorrentes das novas formas de

comunicação atualiza a inevitabilidade de sua percepção a partir do seu caráter

complexo. A Análise de Discurso francesa (AD) fundada por Michel Pêcheux, enquanto

disciplina de entremeio, convoca, grosso modo, a mobilizar efeitos de sentidos que

ressoam em discursos dados através da consideração dos modos pelos quais tais

discursos foram produzidos. É, por esta razão, uma análise que considera os diferentes

fatores pressupostos na produção de fenômenos discursivos a partir de três interfaces

com regiões de conhecimento pelas quais foi tocada desde seu surgimento: linguística,

ideológica e psicanalítica. Trata-se de um movimento demarcado pelo batimento entre

interpretação e descrição dos estados de coisas no mundo, autorizado pela análise do

comportamento discursivo dos sujeitos envolvidos. As peculiaridades das circunstâncias

enunciativas são consideradas como estando implicadas na relação entre aquilo que é

enunciado por meio do ato discursivo e a materialidade histórica. Com o passar do

tempo e as alterações às quais foi submetida a disciplina – entre elas, o crescimento da

importância legada à Psicanálise dentro do seu corpus de funcionamento,

questionamentos acerca do seu status epistêmico se fizeram imprescindíveis. O presente

trabalho tem como principal objetivo a realização de considerações que localizam o

exercício analítico da AD desde seu caráter propriamente filosófico até a sua viabilidade

epistemológica enquanto metodologia científica. Procura-se, para que tal tarefa seja

desenvolvida, que sejam apresentados os aspectos responsáveis pela inserção da AD no

hall das disciplinas filosóficas e, ademais, demonstrada a sua relevância para a

compreensão dos fenômenos discursivos e, portanto, sua relação com a ciência.

136 Graduada em Filosofia – Licenciatura pela UFRGS, Mestranda no Departamento de Ensino e

Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS e pós-graduanda em Psicanálise no Instituto de

Psicologia da UFRGS. E-mail: [email protected]. 137 Professora Adjunta no Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS –

Área: Didática. Professora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS – Linha

de Pesquisa: Arte, linguagem, currículo. E-mail: [email protected].

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142

Publicidade como um dos aportes para o progresso da humanidade na história

segundo Immanuel Kant

Wagner Barbosa de Barros138

Palavras-chave: História; progresso; esclarecimento; publicidade.

Em meados de 1460 Guttenberg promove uma transformação que redimensiona os

parâmetros reflexivos da humanidade, não referente somente a facilidade com que os

livros poderiam ser feitos, deixando a técnica da escrita manual “exemplar por

exemplar” para trás, mas sobre a potencialidade que é inserida na difusão das

descobertas científicas da época. A impressão dinamiza a maneira de se publicar e, com

isso, até certo ponto, democratiza o hábito da leitura, visto que os livros se tornaram

mais baratos conquanto podiam serem feitos em maior quantidade e em menor tempo.

A cultura da escrita perpassa por inúmeros avanços e retrocessos desde que se

fundamenta sobre os livros (antes e pós-Guttenberg), e um dos motivos desta marcha é

justamente o conteúdo que os livros carregam. Inúmeras obras foram proibidas durante

a história do homem por sobrepujarem os limites reflexivos de uma época, com o cunho

principalmente político e religioso (sendo que em determinadas épocas ambas as

instâncias eram praticamente a mesma). A liberdade da publicidade nunca foi uma

regra, porém se instaurou desde sempre como uma, para que seja possível fazer a

ligação entre as duas pontas da leitura: escritor e leitor. Quando um autor elabora sua

obra, tem um intuito em relação a ela, isto é, tem uma mensagem a ser transmitida, com

isso, a conversa que estabelece é com o leitor, o qual é o destinatário dessas reflexões,

posteriormente, esse leitor com outros que tiveram contato com essa obra, discorrem

sobre ela, e, com aqueles que não a leram, recomendam sua aquisição, que após o terem

feito e a cortejado, dão continuidade a essa espécie de corrente. É nesta relação que a

comunicabilidade das ideias se fundamenta. A conversa entre duas pessoas é

intermediada via papel e sem que ela distorça as falas, como numa brincadeira de

telefone sem fio, se obriga a entrega literal de seu conteúdo. Os livros são instrumentos

essenciais da reflexão filosófica, visto que – com exceção de Sócrates – todos os

filósofos utilizaram dessa arte em suas reflexões. O mesmo cerceamento que recaiu

sobre os cientistas físicos durante suas descobertas afetou os metafísicos, ao ponto de

justamente essa questão ser pauta de suas reflexões. Debruçaram então, suas meditações

sobre a potencialidade que o livro e seu conteúdo poderiam exercer na totalidade

humana e, consequentemente, as restrições e as motivações sobre as quais eram

estabelecidas. Mais do que uma ferramenta de divulgação, percebeu-se que os livros

eram instrumentos de formação, somando ao pensamento novas nuances de suas

conformações. Ainda que o material impresso seja uma das engrenagens desse aparato

138 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos

(UFSCar). E-mail: [email protected].

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143

transformador, o conteúdo imagético é quem o coloca para funcionar. O que levou

alguns filósofos a dedicarem suas letras ao assunto foi a percepção de que estavam

diante de um instrumento filosófico imensuravelmente potente. Assim, destacamos

dentre eles o filósofo alemão Immanuel Kant, para o qual a publicidade, por meio de

obras impressas, é tida como recurso primordial para o desenvolvimento da

humanidade. Em seus ensaios histórico-políticos pontua que a condition sine qua non

para que a humanidade saia de sua menoridade é o uso público da razão. Na

especificidade do pensamento kantiano, este uso é pautado pela liberdade de expressão

perante determinado assunto por meio de um livro, por exemplo, sem que nesta

exposição haja qualquer espécie de cerceamento na formulação da reflexão. O

esclarecimento (Aufklärung), conceito essencial para a filosofia do pensador alemão,

somente é possível na medida em que a liberdade reflexiva for proporcionada aos

homens. O livro e a liberdade de sua publicidade se tornam essenciais para este

processo, pois entremetem os meios necessários à reflexão requerida neste progredir da

humanidade. Para Kant, quando um pensamento é publicizado por meio de um livro, é

como se esta reflexão fosse posta diante de um tribunal, onde será cortejada, analisada e

julgada pelos membros do foro, no caso, os leitores. O valor da reflexão compõe-se pela

potencialidade que a compreende, porém, a possibilidade de sua publicidade, sem que

pretenda atender a uma expectativa exterior a sua elaboração, fomenta considerações tão

mais profundas do que pretendia, pois não atende a nenhum requisito e, desta maneira,

pode responder ou questionar toda e qualquer natureza (tanto para quem escreve quanto

para quem o lê, na medida em que o texto fomenta a meditação do sujeito),

possibilitando à comunidade dos homens uma reflexão livre, que traz somente

benefícios à sua história. O uso privado da razão, que se opõe ao primeiro uso, é aquele

feito pelo homem enquanto cumpre uma função ou cargo público. Nele o

esclarecimento (Aufklärung) não é possível pois quem o faz submete-se às prescrições

do cargo em exercício, deste modo, um funcionário do exército, por exemplo, ainda que

pondere de maneira destoante sobre uma determinada asserção da qual deve operar em

sua função, não pode deixar de assim fazê-lo, para que o bom funcionamento de sua

instituição ocorra. Portando, neste uso, o pensamento, ainda que permaneça livre em sua

essencialidade, não pode exteriorizar-se desta maneira, conquanto se subordina a

determinações alheias a si. Nosso objetivo, à vista disso, é demonstrar, por meio dos

escritos histórico-políticos kantianos, como o filósofo alemão contribuiu para a reflexão

acerca da importância da liberdade de pensamento e, consequentemente, como o livro

pode ser considerado como instrumento essencial para esse feito. Na medida em que

discorrermos sobre as especificidades de sua compreensão de esclarecimento

(Aufklärung) e do progresso da humanidade na história, será possível assimilarmos o

papel que o livro e seu conteúdo, concebido e publicizado livremente, podem

desempenhar no aperfeiçoamento das disposições da humanidade.

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144

Fundamentos da bioética a partir de uma espiritualidade não religiosa

Marcio Fabri dos Anjos139

Alexandre da Costa 140

Palavras-chave: Espiritualidade; Secularização; Bioética.

Segundo Vilém Flusser, com a busca contemporânea por desenvolvimento econômico e

Qual a relação de Bioética com a Espiritualidade? É possível tecer um discurso bioético

sobre este tema? Qual a motivação de se escrever nesta perspectiva? Talvez para uma

parcela de pensadores, a bioética se resumiria em tratar de assuntos ligados estritamente

à área da saúde. No entanto, entendemos a bioética com horizontes amplos para discutir

uma gama variada de assuntos. Não se pode negar que o ser humano contemporâneo

busque o sagrado. Percebemos em nossa sociedade uma forte presença do religioso. Nas

artes, na mídia e em muitas situações do cotidiano nos deparamos com o religioso nas

suas variadas formas. Inclusive nas muitas decisões éticas o religioso se faz presente.

Entretanto essa presença se mostra em uma perspectiva de uma espiritualidade

diversificada. E, é justamente neste ponto que queremos tecer nossa reflexão bioética.

Qual o fundamento da espiritualidade na perspectiva bioética? Qual o seu papel na vida

humana? E o que significa toda esta diversidade de espiritualidade? Podemos falar de

uma espiritualidade não religiosa? A busca de espiritualidade pelo ser humano pós

moderno renasce a margem dos caminhos da espiritualidade instituída, e mira um novo

olhar misterioso e gratuito sobre o mundo. Mas é necessário saber de qual

espiritualidade estamos falando, por isso a importância de conceituá-la e situá-la no

universo humano. O ser humano não é apenas um produto da natureza, nem do meio em

que se vive, tais como os outros animais não humanos. Mas pelo contrário, ele organiza

o mundo ao seu redor a partir de um referencial simbólico. Pensa sua realidade a partir

do significado, termo este que constitui a unidade de toda ordem cultural. A vida não se

torna possível quando se afirma que ela tem sentido, mas quando se afirma qual é seu

sentido. Para o ser humano, a vida necessita ter sentido, e a espiritualidade tão almejada

por ele, visa oferecer uma possibilidade conferir sentido a sua existência. E esta

necessidade nasce de sua interioridade, de sua dimensão psíquica como alguns autores

assim o denominam. Assim sendo, o sentido da vida não é dado, mas construído, não se

descobre, mas se atribui. É uma construção a partir de uma realidade cultural, mas

necessita transcendê-la para dialogar com a complexidade humana. No entanto, afirma

Thomas Luckmann que há uma forte evidência que na modernização das culturas, as

espiritualidades tradicionais se tornaram vazias de sentido, não somente nos vastos

139Doutor em Teologia; Coordenador do programa de Pós graduação em Bioética do Centro Universitário

São Camilo; vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética. E-mail: [email protected]. 140 Doutorando em Bioética pelo Centro Universitário São Camilo. E-mail:[email protected].

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145

setores da população, como também nos pertencentes de determinadas igrejas. É

interessante notar que esse fenômeno se deu pelas características peculiares que a

modernidade possui, tais como: o imperativo da racionalidade (científica), a ideia de

autonomia do sujeito e a diferenciação das instituições, como destaca Hervieu-Léger.

Mesmo com grande avanço da ciência e da tecnologia, podemos cogitar que o ser

humano ainda experiência a vida com ambiguidades, levando-o à busca pela

transcendência e uma necessidade à totalização de sentido de vida. No “mundo da vida”

(Lebenswelt), que o ser humano realiza suas atividades significativas juntamente com

outras pessoas. Toda sociedade está empenhada na tarefa nunca completada de construir

um mundo de significado humano. Com a urbanização e a construção do mundo

moderno, as pessoas aderidas ao sentido científico, racional e tecnológico, tem buscado

modos inteiramente seculares de cosmificação (sensus religiosus). Porém, a vida secular

sempre mantém o ser humano em uma tríplice limitação, expressa por: fragmentação,

finitude e falta de sentido, como observa Severino Croatto . Se a vida moderna e a

religião hegemônica são formas de construir o mundo social, na modernidade, elas, ao

mesmo tempo, impendem às pessoas de experienciarem a construção de um mundo

significativo. Essa condição, descrita como “teoria da secularização”, faz com que os

indivíduos entrem na denominada crise estrutural de sentido. Em uma nova constituição

social de sentido de vida humana, ou seja, na busca de repostas para a crise de sentido,

as pessoas têm entrado em contato com outras formas religiosas, não hegemônicas, que

possibilitam outras experiências, tais como: a magia, a interiorização, a experiência

direta com o sagrado (espaço sagrado, tempo sagrado, corpo sagrado), símbolos vivos, e

até mesmo formas ‘religiosas’ não revestidas de deuses e crenças. Para o pensador

Catalão Marià Corbí, a modernidade com todo seu avanço tecnológico fez

desaparecerem as condições de vida que tornavam necessárias as culturas pré-industriais

e suas mitologias e religiões. Os sistemas de programação coletiva baseados nessas

religiões e mitologias perderam sua função de dar sentido e por isso mesmo entraram

em colapso e esvaziaram-se. Assim, ele propõe uma espiritualidade leiga sem crenças e

sem deuses, voltada para o conhecimento silencioso e o caminho interior. Todavia,

nesta espiritualidade leiga, livre da submissão a sistemas de crença, deve preservar o

legado espiritual presente nas várias tradições religiosas como contribuição para uma

sociedade mais pacífica e livre. Seria possível esta abordagem? Gianni Vattimo

desenvolve o pensamento que ele denomina de pensamento enfraquecido, ou seja

niilismo, na perspectiva de um cristianismo secularizado. Ele parte da releitura dos

filósofos Nietzsche e Heidegger, e assim mostra o declínio da metafísica no ocidente.

Para ele a morte de Deus põe fim à crença nos valores absolutos e abre o tempo da pós-

modernidade, época da pluralidade e propícia para o florescimento da nova

hermenêutica da religiosidade cristã. Esta interpretação é possível porque, em suas

raízes, encontra-se a inaugural experiência da kênosis de Jesus: esvaziamento do divino

que, na encarnação, aceita os limites do secular para transformar-se em amor sempre

relacional. Com isso, a caritas, principal mandamento deixado pelo Cristo, é

interpelação e critério para a vivência atual da espiritualidade. Caritas que é muito mais

o aspecto vivencial da experiência cristã do que uma verdade absoluta e estática. Desta

maneira esta pesquisa quer analisar o discurso religioso atual á luz da bioética, tendo

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146

como fundamento as novas formas de espiritualidade que promovem experiências

religiosas para além das tradições institucionalizadas. Esta pesquisa se realiza dentro da

perspectiva de Fundamentos da Bioética. Área que oferece os subsídios necessários para

compreender a Bioética inserida no pluralismo religioso e a sua complexa relação com a

modernidade. Esta pesquisa tem o cunho qualitativo hermenêutico que busca interpretar

diversos autores que versam sobre religiosidade e pós modernidade. Buscamos o caráter

interpretativo de tal maneira que no processo hermenêutico em que as verdades, sem se

negarem, são compreendidas em novas coordenadas. Todo conhecimento humano é

interpretação, mas de uma realidade que tem sua objetividade independente do sujeito.

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O uso da Internet e a formação de gênero feminino na infância

Ana Paula Ferreira141

Palavras-chave: Internet; gênero; infância.

A presente pesquisa tem como problema analisar os papéis sociais em alguns sites

destinados ao público infantil feminino e de modo específico pretende repensar o lugar

da linguagem no processo de atribuição de sentidos em relação a gênero. Discute a

formação humana mediada pela linguagem dentro de um cenário cultural, delimitado na

pesquisa por sites de grande acesso pelo público infantil feminino, dentre os quais:

“Meus jogos de meninas”, “Super Meninas” e “Barbie”. O olhar da análise direcionou-

se em relação à apresentação estética e aos tipos de jogos disponíveis, refletindo sobre

estereotipias do modelo feminino e o lugar da mulher evidenciado na linguagem dos

sites. Para compor o referencial em relação a gênero utiliza-se de leituras para se

compreender a mulher no Brasil sob a égide do capital e a educação de corpos. De

acordo com as análises obtidas é marcante a presença da cor rosa e jogos que valorizam

a beleza e sensualidade com discursos normatizadores que impactam na formação da

subjetividade e nas representações do gênero feminino, servindo em grande medida para

posicionarem a mulher na sociedade de mercado como consumidora em duas frentes

principais: de bens e serviços principalmente na área estética e de consumidora também

de um ideário de mulher e de feminilidade fortemente marcado pela sedução e desejo.

Faz-se a comparação de como os sites dos meninos estão formatados, mas a escolha na

pesquisa pelos impactos em relação às meninas se justifica porque sócio historicamente

apresenta-se dependente da figura masculina. Lembrando que a exposição de crianças à

internet é cada vez maior, essa pesquisa tem sua importância em questionar que tipo de

linguagem é veiculada a esse público, deixando claro que os sites e seus jogos fazem

uma educação dos corpos.

141 Mestranda Universidade Federal de Alfenas (Unifal), militante do Coletivo Feminista Jaçanã Musa dos

Santos (Poços de Caldas – MG) e supervisora pedagógica do Estado de Minas Gerais. Endereço

eletrônico: [email protected]

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148

Índice de Autores

A

Adriana Andrade de Souza ............................. 94

Adriano Pereira Santos ................................... 89

Alessa Marynara Silva .................................... 19

Alessandra Valim Ribeiro ............................ 110

Alexandre da Costa ................................ 86, 144

Allisson Vieira Gonçalves .............................. 74

Ana Cecília Aragão Gomes ............................ 36

Ana Maria Brochado de Mendonca Chaves ... 18

Ana Maria Brochado de Mendonça Chaves 104,

111

Ana Paula Ferreira ........................................ 147

André Dias de Andrade .................................. 48

Andressa Alves Souto .................................... 62

Antônio Marcos Dias Vieira ......................... 104

B

Bárbara Ferrario Lulli ................................... 118

Beatriz Silva Curti .......................................... 18

Betânia Alves Veiga Dell’Agli ..................... 138

Brenda Krisley Serafim .................................. 82

Bruno Fraga Pistinizi ...................................... 50

C

Camila Geracelly Xavier Rodrigues dos Santos

................................................................... 20

Campo Elías Flórez Pabón ............................. 69

Carlos Tadeu Siepierski .................................. 74

Caroline de Oliveira Rodrigues .................... 108

Caroline Salvi Brandão................................... 18

Cleiton Donizete Corrêa Tereza ................... 102

Conrado Moreira Mendes ............................... 42

Cristiane Correia Dias .................................... 99

Cristiano de Jesus Andrade ............................ 57

D

Daniele Ferreira Soares .................................. 74

David Ferreira Camargo ................................. 73

Davidson Sepini Gonçalves ............................ 84

Dênis Ribeiro de Souza .................................. 43

Diego Lopes Calçado ................................... 104

Dóris Maria Luzzardi Fiss ............................ 141

E

Eduardo Ramalho Rotstein ........................... 129

Elaine Cristina Moraes Santos ...................... 137

Elenice Maria Caixeta ..................................... 53

Elisa Zwick ..................................................... 70

Elvis Rezende Messias .................................. 114

Everaldo Clemente da Silva .......................... 111

F

Fabiano Correa da Silva .................................. 33

Felipe Thiago Dos Santos ............................. 119

Fernanda Israel Pio ................................... 50, 96

Francisco Rogerio de Oliveira Bonatto ......... 108

Francisco Xarão ........................................ 65, 80

G

Gabriel Gurae Guedes Paes............................. 56

Gabriela Acerbi Pereira ................................... 59

Giseli do Prado Siqueira ......................... 94, 110

Gláucia Gonzaga Galvão ................................ 95

Gleyton Trindade ............................................ 21

Guilherme de Souza Beraldo .......................... 46

H

Hudson Luiz Vilas Boas ............................... 132

I

Igor Rafael de Paula ........................................ 44

Isadora Prévide Bernardo .............................. 112

Ivo Phelipe Silva Petreca ................................ 35

J

Jailton Farias da Silva ..................................... 32

Janaina Roberta dos Santos ............................. 89

Jhonatan da Silva Corrêa................................. 44

João Bosco Fernandes ..................................... 98

João Carlos Bastos Gonzaga ......................... 110

Juliana De Nardin ......................................... 111

K

Kátia Maria Pacheco Saraiva ............ 29, 46, 126

Kênia Eliber Vieira ....................................... 138

L

Larissa Karine Rodrigues .............................. 126

Lucas Magalhães Costa ................................. 133

Lucas Soares Miniussi .................................... 80

Luís César Schiavetto ..................................... 67

Luzia Batista de Oliveira Silva ....................... 95

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M

Maíra Leda de A. Carvalho ............................ 84

Marcio Fabri dos Anjos ................................ 144

Marcos Beck Bohn ......................................... 25

Maria Eugênia Zanchet................................. 141

Maria Fabiana Lansac..................................... 22

Maria Isabel Braga Souza ............................... 27

Maria Izabel Ferezin Sares ........................... 110

Maria Regina Teixeira Weckwerth ............... 134

Maria Teresa Loduca ...................................... 99

Maria Teresa Mariano .................................. 111

Marsiel Pacífico ............................................ 100

Monica Guimaraes Teixeira do Amaral ....... 137

Monica Guimarães Teixeira do Amaral ......... 93

N

Nara Cristina Moreira Almeida ...................... 63

P

Paula Carpinetti Aversa .................................. 55

Paulo César de Oliveira .......................... 92, 133

Paulo Denisar Fraga ..................................... 115

Priscila Cristina da Silva Cid Gigante ............ 76

R

Rafael Antônio Dias ....................................... 42

Rafaela F. Marques ....................................... 130

Rosangela Trabuco Malvestio da Silva ........... 37

S

Samira Cristina Silva Pereira .......................... 65

Sandro Amadeu Cerveira .............................. 121

T

Tatiana Plens Oliveira ..................................... 40

Terezinha Richartz .......................................... 78

Tiago Lazzarin Ferreira ................................. 122

V

Vanessa da Silva Lima .................................. 126

Vanessa Thais de Oliveira Lima ................... 104

Verônica Danziger Gomes .............................. 88

Virgilio Chediak............................................ 120

Virgílio Diniz Carvalho Gonçalves ........... 50, 96

Vivian Inácio da Rosa ..................................... 57

W

Wagner Barbosa de Barros ........................... 142

Willian Martini ............................................. 105

Z

Zionel Santana ................................................ 78

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Realizado nos dias 16, 17, 18 e 19 de novembro de 2016, na Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, Campus Poços de

Caldas e nos dias 17 e 21 de novembro na Universidade Federal de

Alfenas - Unifal-MG, Sede Alfenas.